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O Paciente Inglês ” , de 1996 . Graças à sua mensagem , pude corrigir o erro no texto . De novo , muito obrigado . Sérgio [ … ] opinião é de que é um filme em tudo superior ao tão endeusado e oscarizado Guerra ao Terror / The Hurt Locker , de Kathryn Bigelow , de 2008 . Ainda se farão , é claro , dezenas e dezenas de filmes sobre a [ … ] Uma Simples Formalidade / Una Pura Formalità / Une Pure Formalité De : Giuseppe Tornatore , Itália-França , 1994 Complemento de anotação em 2011 : “ Na Itália , um diálogo a portas fechadas entre um comissário de polícia doido por literatura e um escritor suspeito de assassinato . ” Esta é a sinopse do Cinéguide francês sobre o filme de Giuseppe Tornatore de 1994 . O guia é de uma capacidade de síntese incrível : dificilmente suas sinopses ultrapassam quatro linhas . Eis agora a sinopse de Leonard Maltin , no Movie Guide , o guia de filmes mais vendido no mundo : “ O inspetor de polícia Polanski , investigando um assassinato que acaba de acontecer , interroga o mundialmente famoso escritor Depardieu , que não consegue se lembrar o que estivera fazendo naquela tarde . Em wildscreen , mas com boa parte confinada em uma sala escura , deprimente . ” Eis ainda uma terceira sinopse , de autoria de Tad Dibbern , que está no IMDB : “ Onoff é um famoso escritor que não publica livro novo faz algum tempo , e se transformou numa pessoa reclusa . Quando ele é pego pela polícia numa noite de tempestade , sem qualquer identificação , sem fôlego , depois de correr como um louco , sem lembrança dos eventos recentes , o inspetor fica cheio de suspeitas . Através do interrogatório , o chefe dessa solitária , isolada , mal tratada delegacia de polícia tentar estabelecer o que aconteceu , penetrando na mente do escritor que admira , para resolver uma morte misteriosa . ” *** Estou apresentando essas três sinopses antes de transcrever minha própria anotação , feita em 1997 , assim que terminei de ver o filme pela primeira e única vez . Quando , em 2008 , resolvi criar este site , coloquei no ar minha anotação – e passei a receber comentários , alguns bastante agressivos , dizendo que eu não havia entendido coisa alguma do filme . Agressividade dos comentários à parte , de fato eu não tinha entendido o que o diretor Tornatore quis dizer em seu filme . Poderia ter simplesmente jogado fora o post ; porém , por uma questão de honestidade para comigo mesmo , mantive minha anotação , acrescentando que de fato precisava rever o filme . Novos comentários vieram , alguns bastante mais educados do que os primeiros , como os do professor Wilson Garcia , do Recife . Em respeito a quem enviou os comentários , e a mim mesmo , continuo mantendo o post no ar ,
mesmo não tendo ainda revisto o filme para refazer minha anotação . Eis aí o que escrevi em 1997 . Mais abaixo estão comentários esclarecedores . *** Anotação em 1997 : O filme parte de uma idéia bárbara , sensacional ( na apresentação , não se diz argumento e roteiro de Giuseppe Tornatore , mas sim “ idéia original e roteiro ” ) . E conta com dois atores monstros , embora o francês Gérard Depardieu e o polonês-cidadão-do-mundo Roman Polanski estejam dublados para o italiano . Conta ainda com a música de Ennio Morricone , uma câmara excelente , uma cenografia muito bem cuidada ( de Andrea Crisanti ) . E , no entanto , o final é um tanto decepcionante ; o filme perde o fôlego , fica confuso , não desata os nós – pelo menos foi a sensação que tive nesta primeira vez . Posso estar enganado . Mas a sensação que tive foi de que Tornatore ainda não tinha maturidade suficiente para tratar das muitas e complexas questões que aborda . ( Ver complemento abaixo . ) A idéia central : a confrontação de dois homens dentro de uma delegacia de polícia , o representante do Estado , a autoridade , e o suspeito de um crime , e as disputas pelo poder que nascem daí , as inversões do mando de jogo quando se descobre que o suspeito não é um homem comum , e sim uma figura ilustre , importante , respeitada na sociedade . E mais : a discussão sobre arte , sobre a arte que o artista produz e o ser humano às vezes abjeto que é o artista ; o endeusamento do artista ; as vacilações de caráter do artista , a crise do bloqueio , a incapacidade de continuar criando . Tudo dentro de um tour-de-force no embate , durante uma noite de tempestade , entre duas personalidades num recinto fechado , que é em boa parte a essência das artes cênicas todas . A abertura do filme é brilhantíssima . Um revólver dispara . A câmara vai correndo numa floresta em meio a uma chuva forte ; percebemos imediatamente que a câmara são os olhos de um personagem que corre , resfolega ; a câmara vira para a esquerda , para a direita , para correr entre as árvores . A seqüência dura toda a apresentação . Ao final da apresentação a pessoa que corre se depara com policiais . Só aí vemos que é Dépardieu . A polícia pede os documentos , ele não tem ; é levado para a delegacia , uma delegacia pobre , de interior da Itália , lugar nada turístico , onde há diversas goteiras . A primeira imagem que temos , assim , é do homem indefeso diante da máquina do Estado , um homem molhado até os ossos , a quem não dão o direito de tomar um banho , botar uma roupa seca , e que fica à espera da chegada , nunca se sabe quando , da autoridade ,
o comissário de Polícia , interpretado por Polanski , brilhantíssimo . E aqui talvez seja preciso lembrar que de fato Polanski é um grande ator – como já havia demonstrado à exaustão em A Dança dos Vampiros , Chinatown , O Inquilino . Começa o interrogatório ; o preso diz que se chama Onoff , e o comissário diz que então se chama Leonardo da Vinci . Porque , veremos em seguida , Onoff é um escritor famoso , de quem o próprio comissário é leitor ardoroso , a ponto de saber recitar frases inteiras . O comissário leva um tempo até se convencer de que o preso fala a verdade , é de fato Onoff . E então temos a segunda imagem – a autoridade se curvando diante da pessoa importante . O comissário muda completamente o tratamento do preso , faz com que ele troque de roupa , bote roupa seca ; passa a tratá-lo com a reverência do pequeno funcionário público diante de um homem famoso . E o preso então bota banca , se sente reconhecido , acha que passou a dominar a cena . Acontece que , embora com reverência , o comissário continua a fazer perguntas – e o preso entra em contradições , não sabe responder a questões básicas . Houve um crime no lugar , naquela noite , informa o comissário ao preso , e ele precisa saber a verdade . O espectador vê fragmentos de imagens que passam rapidamente pela cabeça do preso ; ou ele de fato teve uma amnésia parcial , e não sabe o que aconteceu durante três horas daquela noite , ou está escondendo fatos da autoridade . Tudo isso é muito bem contado ; Tornatore cria com brilhantismo um clima caustrofóbico , de demência , de insanidade . A partir daí é que Tornatore perde a mão , eu acho . A história começa a ficar confusa ; ficamos sabendo que o escritor famoso está em profunda crise existencial por não conseguir escrever novas obras , e que a última que publicou foi na verdade roubada de um mendigo que ele conheceu e admira ; não fica claro se ele matou alguém , ou se forjou um estranho suicídio montando um boneco em forma de gente com suas próprias roupas e colocando no interior velhas fotos e lembranças . Não fica claro o que aconteceu com a visita que recebeu , uma mulher misteriosa , que tanto pode ter sido sua ex-mulher quanto uma nova amante . Complemento em novembro de 2009 : Várias pessoas escreveram mensagens para o site ( estão aí logo abaixo ) dizendo que eu não entendi nada . Ou que o filme permite várias leituras – uma delas é a de que Onoff ( on x off ) já chegou à “ delegacia ” desligado da vida material , e a delegacia , naturalmente , é apenas uma metáfora . Estão certas essas pessoas , errei . Vou rever o filme e escrever de novo sobre ele . Mas deixo a
anotação original aqui , em que , aliás , eu até admitia que podia mesmo estar enganado . Estava . A gente erra mesmo ; errei . Tornatore não perdeu a mão . Quem não tiver espiritualidade suficiente para entender que Onoff já se encontrava em espírito quando chegou à “ delegacia ” , assista de novo e entenda a “ delegacia ” post mortem . COmo disse ocolega Carlos , On Off é uma puta sacada…e é muito bom saber que tem genet que não entende o filme de primeira…é sinal que é bom de mais e não segue os passos dos blockbusters…AO caro colega q não entendeu , digo,,,,veja novamente e leve em consideração dicas postadas aqui..verá q o filme é fantático … . ( não contamos o fim , apenas damos dicas para não estragar a surpresa ) Conforme já foi comentado por outros aqui , o crime que Onoff cometeu foi o seu próprio suicídio e ele já estava desligado da vida material quando chegou à delegacia . O filme é sensacional , roteiro inteligentíssimo do início ao fim e com um final surpreendente = ) Mas credo em cruz , Kathren , não precisava de tanta agressividade . Você não leu o complemento que escrevi e que está lá direitinho , dizendo que errei , que não entendi o filme ? Nossa , moça , pra que tantas pedras na mão em cima do pobre coitado que não entendeu o filme mas que se penitenciou por isso ? Está com algum problema na vida ? Boa sorte pra você , moça , nesta vida e na outra . Mas menos ódio , por favor … Sou Wilson Garcia e encontrei o seu site quando procurava pelo Google informações sobre o filme “ Uma simples formalidade ” . Estou copiando o que você escreveu para discutir com meus alunos de cinema digital numa faculdade aqui do Recife . Mas o que desejo mesmo é cumprimentá-lo e dizer que gostei muito do seu site e dos textos . Estou colocando-o entre os meus preferidos quando se trata do assunto cinema . Grande abraço . Olá , Wilson . Muito obrigado pela mensagem e pelo elogio extremamente gentil . Interessante é que você tenha conhecido o site exatamente através de um filme que não entendi – de fato , não percebi a coisa do On e Off , do já estar morto . Preciso rever o filme . Poderia até ter retirado o post , mas resolvi deixar assim mesmo … De qualquer forma , agradeço muito a sua mensagem . Um abraço . Sérgio Olá Sérgio . Percebi sua dúvida , bem como sua abertura para a outra visão , que os seus amigos colocaram . É muito curioso o que ocorre com os espectadores diante da proposta do filme . Ainda nesta semana , uma turma de cerca de 20 alunos o assistiu e como entre eles há as mais diversas ideologias religiosas/não-religiosas , logo na abertura do debate uma aluna , católica , em seu
comentário demonstrou imensas dificuldades de compreender aquele final e fez algumas conjecturas desconexas . Imediatamente , um aluno , espírita , rebateu dizendo que o filme tratava claramente da vida após a morte , especialmente do que ocorreria / ocorre com os suicidas e citou como fonte de consulta um livro , segundo ele , psicografado por Chico Xavier e escrito pelo Camilo Castelo Branco-espírito , onde narra os fatos por ele , Camilo , vividos no pós-mortem . Como se sabe , Camilo suicidou-se . Ao final do debate , o raciocínio do aluno espírita prevaleceu sobre as opiniões dos demais . Um certo consenso natural . Intriga-me este filme desde a primeira vez que o vi . Tenho notícias de que o diretor Giuseppe Tornatore estará aqui por Recife no próximo mês de maio , por ocasião da realização do Cine-PE 2011 . Penso em conversar com ele sobre a proposta do filme , se me for possível . Por outro lado , gostaria de sugerir a você , caso ainda não o tenha visto , assistir o filme “ À primeira vista ” e , quem sabe , escrever sobre ele . Trata-se da experiência de um cego que vive a experiência da visão por alguns meses e depois torna à cegueira . O filme é baseado em fatos reais e me é muito útil no estudo das imagens , especialmente do fenômeno da percepção visual . Caso lhe sirva , aí está . Grande abraço . pois é , parece que o “ trabalho ” do comissário era convencer o cara de que ele morreu / se suicidou . da pra perceber que o carro em que ele parte no final desce por um vale , o que me pareceu alusão ao vale dos suicidas . . Antes de tudo , está de parabéns o blogueiro pela humildade . De fato errou , como todos nós erramos . Estúpido é o ser humano que xinga alguém por isso . Quanto ao filme , uma belíssima obra de arte ( assisti ao original em francês , sem dublagem , Une Pure Formalité , com legendas , óbv , rs ) , fotografia bela , diálogos e texto riquíssimos , e atuações espetaculares do Polanski e Depardieu , especialmente deste último . De fato o final é espiritual , a “ delegacia ” é como que um “ hospital psiquiátrico ” onde o SUICIDA fica para recobrar a memória e tomar consciência do que fez , antes de “ seguir viagem ” . Isso fica bem claro nos diálogos finais ( “ ele sabe ? ” , “ não , ninguém sabe quando chega ” ) . Basta reassistir o filme com essa ótica que tudo fica MUITO claro , os diálogos , as expressões dos atores , etc . É um filme na linha Os Outros , Sexto Sentido , Ilha do Medo , etc , mas MUITO mais profundo e mais rico – embora menos tenso . Certamente foi uma das inspirações do Scorsese para fazer
Ilha do Medo . *** Apenas mais uma observação : você comentou que o Depardieu e o Polanski estavam dublados para o italiano . Assisti a versão original ( em francês ) . Se for assistir novamente , assista a original . Filme dublado não dá . Cara Vanda , Muito obrigado pelas suas duas mensagens . Quanto à coisa da dublagem , concordo em princípio com você : filme dublado não dá . Mas há algumas poucas exceções , quando as dublagens são feitas pelo próprio diretor , em geral porque o elenco tem atores de diferentes nacionalidades . Neste caso aqui , tenho quase certeza de que a versão dublada para o italiano foi feita pelo próprio Tornatore . Assim como , por exemplo , Visconti fez uma versão em italiano de “ Violência e Paixão ” , e uma em inglês , aproveitando a voz de Burt Lancaster . Um abraço , e obrigado . Sérgio assisto este filme repetidamente a vários anos , na época meu ex disse ser loucura de imaginar um filme sobrenatural , indagar acontecimentos pós morte , fiquei feliz , depois de tantos , ver pessoas q compartilham da minha análise . a folha lançou uma vez fita vejam se , já lançaram em dvd . concordo com o sérgio que o filme tem passagens confusas . eu jamais tinha entendido que o filme trata de um morto que nao sabe que morreu . Para mim tinha ficado a impressao de que o escritor vivia uma crise de identidade . na verdade ele era um mendigo que achava que era o escritor . ele confundia suas lembrancas com de alguma outra pessoa e o delegado procurava ilumina-lo disso . estou aqui porque fui pesquisar na net pra ver se alguem me fornecia explicação pelo filme pois o filme é excelente sob muitos aspectos Adorei ter lido a crítica e todos os comentários feitos , DEPOIS de ter visto o filme , porque , assim como o crítico , eu também não tinha entendido o filme . Foi um prazer ter dito a mim mesma aquele ” ahhh…então era isso ! ” . Exceto pela forma meio agressiva em 1 ou 2 textos , toda a discussão e os comentários feitos aqui foram uma delícia , mas eu pergunto : O que mais esperar de um quarteto como este ( Depardieu , Polanski , Tornatore e Morricone ) além de puro brilhantismo ? ? Maravilhoso . Na primeira vez que assisti , fiquei realmente preso ao jogo da retórica e nem questionei o final . Vendo novamente , seis anos após é que entendi da sua falta de convencimento que estava morto . Isso não quer dizer que seja um filme espírita , pelo contrário , o “ réu ” estava ali a ser condenado pelo suicídio , mas em momento algum assume outra vida . Quanto ao idioma , tanto no francês , quanto no italiano ( leciono este ) , são maravilhosos . Como bem disse um colega acima , filmes
de dupla nacionalidade ou com atores de países diferentes , se traduzidos pelo autor , continuam originais . O que não dá , é para assistir Germinal , por exemplo , em português . Parabéns pela humildade e inteligência , pois percebestes que a honestidade para consigo mesmo é a melhor forma de rever , reaprender e evoluir . entendo o filme como o purgatório pós suicídio , mas tem uma cena do Polanski tirando a arma do plastico e vendo a arma com seis balas no tambor , essa é uma dúvida q fica na minha cabeça qnto ao suicídio , onde estaria a bala , pq tornatore fez essa cena se qria justificar o suicídio no sentido da delegacia enquanto o purgatório , entendi o filme de prima como de fato o purgatório , mas a cena da arma com 6 balas no tambor me deixou encasquetado , mesmo com dialogo no final referente a nova alma q se encontra bebendo leite na delega . É um filme excelente , há muito tempo atrás ja havia assistido em VHS mais de uma vez , hj revi de novo pois consegui baixar , não se acha o filme em DVD . não havia tido essa interpretação espírita , talvez o filme tenha várias interpretações , essa do suícidio é uma outra visão e alguns fatos talvez levem a esse , analisando agora a partir desses comentários , mas não sei , tem esse comentário do Pablo Treuffar , o sonho que Onoff tem qdo acorda na delegacia ” Paola , tive um sonho sonhei que tinha matado meu editor … ” Acho que esse final intrigante e discutivel que nos faz pensar sobre o filme por tanto tempo . Carissimo realmente o filme para quem não conhece a doutrina espirita é intrigante e sem nexo . Mas o filme foi brilhante , não era somente o Pardie que era morto , todos eram mortos e estavam em outra dimensão . Foi um resgate daquela alma que ja estava preparada , até porque seu suicidio ja havia aconticido a muito tempo antes……o o inspetor começou um trabalho de psicologia para faze-lo lembra de tudo….foi espetacular….se quiser conversar mais o meu email é mcbucci@bucciadvogados.com.br Interpretações magistrais de Polanski e Depardieu . No final ficou claro pra mim que Onoff não estava mais nesta vida . Procurei aqui na internet comentários sobre o filme para conferir outras opiniões . Constato que o mundo é feito de espíritos humildes e pretensiosos . Linda a sua postura , a sua coragem e a sua integridade , Wilson . Pessoas como você fazem toda a diferença . Parabéns ! “ Relações de poder ” e “ espiritismo ” . Marxismo e relativismo . Fizeram com o filme o que os pastores fazem com a Bíblia : interpretam conforme lhes convém . A delegacia é o purgatório . Por isso muitos ainda permanecem lá . Onoff , ao contrário , conscientizou-se do suicídio . Os que não acreditam no conceito de céu e inferno é porque
estudaram apenas as pinturas renascentistas e não tendo fôlego para o aprofundamento teológico , caíram em falsas doutrinas por acharem a explicação de tudo “ mais fácil ” . 2 Trackbacks [ … ] com tudo mundo ; eu , que estou a muitos anos-luz de ser um Roger Ebert , não entendi , por exemplo , um filme de Giuseppe Tornatore – e já me malharam várias vezes por isso . Ebert poderia ter reescrito seu texto – mas não . [ … ] Mistério na Neve / Smilla’s Sense of Snow De : Bille August , Alemanha-Dinamarca-Suécia , 1997 Nota : Resenha para a Agência Estado , em 1997 : Mistério na Neve tem dois pontos excelentes . O primeiro é a abertura do filme , a seqüência inicial . ( Como diriam os jornalistas , o lead . O lead , o primeiro parágrafo de um texto , tem que ser atraente , fisgar o leitor , fazê-lo se interessar pelo assunto . ) O lead do diretor Bille August é absolutamente brilhante . Dinamarquês , ganhador de duas Palmas de Ouro em Cannes , a quem o mestre Ingmar Bergman confiou a tarefa de dirigir um filme sobre a vida de seus pais , baseado em roteiro dele mesmo ( As Melhores Intenções ) , Bille August desta vez se meteu no mundo dos policiais , dos thrillers . E fez um lead brilhante , um plano-seqüência na paisagem estranha , imponente , desolada , de outro mundo , quilômetros de gelo a perder de vista na Groenlândia , até chegar a um solitário pescador esquimó com seus cães , minutos antes de um cataclisma . A cena – nos avisa uma legenda logo de cara – se passa na última década do século XIX . E então acontece o cataclisma . Corte rápido , e estamos em Copenhagen , nos dias de hoje , acompanhando uma mulher estranha , linda mas sempre tensa , nervosa , desconfiada , uma outsider , uma desajustada , uma pessoa que não pertence à sociedade da Dinamarca de hoje , um bicho estranho no ninho da civilização . Até seu nome é estranho : Smilla . O nome dela está no título original do filme , Smilla’s Sense of Snow – o sentido da neve de Smilla . O segundo ponto excepcional desse filme é exatamente o personagem de Smilla , que o escritor ( também dinamarquês ) Peter Hoeg , o diretor Bille August e a atriz Julia Ormond criaram . Se você viu a nova versão de Sabrina , esqueça a carinha bonita e charmosa de Julia Ormond naquele filme ; neste aqui a atriz está bonita , sim , mas com uma beleza esquisita , longe de qualquer padrão , agressiva , nervosa , com o semblante sempre duro , marcado , de quem sofreu e sofre muito na vida . Smilla é um personagem absolutamente fascinante , que vai se revelando aos poucos , enquanto se desenrola a trama intrincada , complexa , que vai
unir aquele cataclisma acontecido no século passado na Groenlândia à morte de um garotinho que mora no mesmo prédio que Smilla . O legista , a polícia , todas as autoridades dizem que ele caiu do teto do prédio ; contra tudo e todos , Smilla garante que ele foi assassinado . Ela sabe disso porque examinou as pegadas dele na neve do teto do prédio , e de neve ela entende : ela tem o sentido da neve . A Escandinávia tem se mostrado pródiga em belos livros e filmes de suspense , mistério , histórias policiais , thrillers . O sueco Stieg Larsson ( 1954-2004 ) foi e é um fenômeno mundial , com um monte de milhões de livros vendidos . O norueguês Jo Nesbø , nascido em 1960 , seis anos , portanto , depois de Larsson , segue pelo mesmo caminho ( seu livro lançado mais recentemente no Brasil , Boneco de Neve , fala em 20 milhões de exemplares vendidos no mundo ) , com a vantagem de que não morreu tão jovem quanto o colega sueco , e continua produzindo abundantemente . Esse Pål Sletaune , do mesmo ano de Jo Nesbø , poderia perfeitamente ter escolhido a carreira de escritor – é autor de quatro roteiros originais . Preferiu escrever suas histórias diretamente para as telas . Pelo que mostra neste Babycall , tem imaginação , capacidade , talento para contar histórias . Assim como tem talento e segurança para contá-las no cinema . Babycall é o título original do filme – assim , com a expressão em inglês . No mercado de língua inglesa , Babycall foi exibido como The Monitor ; aparentemente não teve lançamento no circuito comercial brasileiro ; foi exibido pelo canal Max com o título de Babá Eletrônica . Uma tradução correta – literal . Essa engenhoca que parece um walkie-talkie , e que as mães usam para ouvir os ruídos do quarto do bebê , tem função importante na trama . Um terror que não vem de outro mundo , e sim de dentro da cabeça É uma história de suspense , quase terror , daquele tipo em que o terror é psicológico . Não está em seres de outro mundo ou outra dimensão ( embora haja um pequenino passo nesse território ) , e sim na cabeça das pessoas . Essa cabeça que , como dizia o jovem Walter Franco , pode explodir . Ou seja : está muito mais perto de O Inquilino e Repulsa ao Sexo de Polanski , O Iluminado de Kubrick , do que de Os Outros de Amenábar e O Sexto Sentido de M . Night Shyamalan . Começa com a tela negra , enquanto ouvimos uma voz masculina chamar por Anna e perguntar onde está Anders . A primeira imagem que se vê é um close-up de uma mulher aparentemente agonizante , caída no chão , sangue na boca , no nariz . E em seguida volta-se no tempo . Não há letreiros para indicar isso , mas fica
absolutamente claro que é um flashback . Aquela mulher que estava agonizante – Anna , o papel dessa extraordinária Noomi Rapace – está no banco de uma van . A van a deixa diante de um gigantesco prédio de apartamentos . Ela e o filho Anders ( Vetle Qvenild Werring , na foto ) , garoto de oito anos , vão se instalar num apartamento do prédio enorme . Para os padrões brasileiros , seria um prédio classe média média ; para os padrões escandinavos , deve ser um conjunto “ popular ” , simples , sem ostentação mas com conforto , limpo , bem cuidado . Ao entrar no apartamento , Anna fecha todas as cortinas . Anna tem no rosto uma permanente expressão de pavor , de um medo profundo . O espectador fica torcendo por aquela mulher apavorada A conta-gotas , bem pouco a pouco , através de diálogos não absolutamente explícitos , o espectador vai sabendo que o marido de Anna é violento , bateu nela e no filho . Anna e Anders estão agora em endereço desconhecido para que o marido não possa encontrá-los ; a Justiça proibiu o marido de chegar perto deles , mas Anna teme que ela desrespeite a sentença . Está sob a vigilância de agentes sociais do Estado . O pavor de Anna é tamanho que ela a princípio não quer permitir que Anders freqüente escola ; os agentes a convencem de que isso é impossível , o garoto tem que ir à escola . Anna então o leva , mas fica junto do pátio – recusa-se a sair de perto do filho ameaçado . O espectador se compadece daquela mulher apavorada , se simpatiza com ela , torce por ela . Uma tomada indica que há ali algo mais estranho do que se pensava Um funcionário da escola vai ao pátio para conversar com Anna . Ela foge dele , entra num ônibus – mas assim que entra aperta a campainha para poder descer na parada mais próxima , para então voltar para perto de Anders . Um homem sentado no ônibus percebe a aflição da mulher . Explica que mudaram o ponto , mas que ele está logo ali à frente . Descerão os dois na mesma parada . O homem se chama Helge ( Kristoffer Joner ) , e trabalha como vendedor numa grande loja de departamentos , no setor de eletro-domésticos e eletrônicos . Anna comprará dele uma babá eletrônica . Ele pergunta a idade do bebê , Anna responde que o filho tem oito anos . Helge simpatiza com aquela mulher visivelmente transtornada . No apartamento , Anna ouvirá choro de criança , súplica de criança , voz ameaçadora de adulto . Mas os sons não vêm do quarto de Anders – ali tudo parece estar em paz . Anna volta à loja , conversa com Helge . Ele explica que às vezes ruídos de casas próximas entram na babá eletrônica ; mas basta sintonizar nas duas caixinhas o mesmo canal para que isso não
aconteça . Quando a narrativa já está ali pela metade , há uma tomada que indica para o espectador que há algo ainda mais estranho do que tudo que havia sido mostrado antes . A câmara faz close-ups do rosto de Noomi Rapace-Anna , e o espectador vê o pavor A história é fascinante . Lançam-se muitas dúvidas ao longo da narrativa , o espectador tem todo o direito de ficar confuso , perplexo – mas todas as pontas serão competentemente ligadas . Não restará furo algum . Babycall é um belo filme por causa da trama perturbadora , da maneira com que o diretor Pål Sletaune a relata – madura , sem efeitos fáceis , fogos de artifício – , e , sobretudo , pela interpretação extraordinária dessa jovem atriz . Lisbeth Salander , a personagem criada pela imaginação desvairada de Stieg Larsson , é de fato extraordinária , completamente fora de série . É uma das personagens mais fascinantes da literatura e do cinema dos últimos muitos anos . Gruda na cabeça da gente , como se fosse alguém real , de carne e osso . Ao ser levada para o cinema , Lisbeth Salander foi encarnada por duas atrizes igualmente fora de série , primeiro essa sueca Noomi Rapace , depois pela americana Rooney Mara . Me recusei a ver a refilmagem americana de Os Homens Que Amavam as Mulheres ( para que , se a sueca era ótima ? ) , mas todo mundo elogiou o desempenho de Rooney Mara como Lisbeth Salander ; e depois ela nos impressionou demais , a mim e a Mary , por seu desempenho fantástico em Terapia de Risco / Side Effects , de Steven Soderbergh ( 2013 ) . Noomi Rapace está estrondosamente brilhante como essa Anna , essa mãe em permanente pavor , mãe abnegada que faz de tudo para proteger seu filho do monstro brutal que é o próprio pai dele . Ela não é uma mulher de beleza esplendorosa – e isso ajuda . Tem um rosto forte , de feições marcantes ; o corpo parece frágil , pequeno , indefeso , e a postura corporal dela , e todo o seu rosto , exalam pavor . A câmara faz close-ups do rosto de Noomi Rapace-Anna , e o espectador vê o pavor ali . O rapaz que se compadece de Anna pode não ser exatamente o que aparenta Também Helge , o vendedor da loja que se aproxima da pobre Anna , é um personagem muito interessante , bem construído e bem interpretado por Kristoffer Joner . Helge é educado , prestativo , percebe que Anna é uma mulher tremendamente angustiada – mas ele também tem problemas . Seu comportamento , seu jeito não muito à vontade , nervoso , às vezes faz o espectador suspeitar de que ele pode não ser o que aparenta . Em ações paralelas à história de Anna , vemos que a mãe de Helge está em estado vegetativo em um hospital . O médico conversa com ele – tenta
, de maneira educada , polida , fazer Helge compreender que não há volta para a mãe , e que depende apenas dele a decisão de continuar mantendo-a viva com auxílio das máquinas , ou terminar com aquela agonia . No final da narrativa , haverá uma surpreendente revelação sobre Helge . São muito loucos , esses escandinavos Há muito tempo venho vendo filmes no DVD ou gravados no HD do cabo , de tal forma que me habituei a dar rewind , voltar atrás para ver de novo uma sequência , um detalhe , uma frase , uma expressão , um movimento de câmara . Este Babycall vimos enquanto passava no Max ; estava gravando , e por isso tinha a consciência de que poderia rever um detalhe ou outro , se quisesse , quando quisesse – mas a experiência de ver um filme sem poder usar o controle para dar rewind ajudou a me deixar fascinado e perplexo com essa obra . Revimos o início do filme logo em seguida . Revimos com atenção a cena da van . É tudo certinho , bem feitíssimo , não há furo . Se o espectador for extremamente atento , naquela seqüência da van ele poderá intuir o que virá . Conforto material demais , sol de menos . São muitos loucos , esses escandinavos . E talentosos . 2 Comentários Sérgio , fiquei muito confusa , mas por agora não tenho paciência para revê-lo.(mea culpa ) . O seguinte , achei que Anders e Anna são Helge adulto e a mãe em estado terminal . Os quadro formam são na verdade dois . O filme pertence aquela categoria de mães castradoras e esquizofrênicas … Vou parar que já falei muita bobagem . Desculpe não tenho a sua inspiração para escrever . Abraços Caríssima Maria Teresa , você não falou nenhuma bobagem . Pode até ser que sua interpretação seja correta . Ou pode perfeitamente ser que o filme seja mais obra aberta do eu supus . Ou seja : que ele possa ser interpretado de mais de uma maneira . ATENÇÃO : SPOILER BRAVO ! Quem não viu o filme não deve ler isto . De qualquer forma , aí vai a forma com que eu entendi : No final , revela-se que Hegel havia sido abusado quando criança . E a mãe dele tinha conhecimento disso . Revela-se também que o garoto Anders estava morto fazia já dois anos , assassinado pelo pai . O filho que Anna tentava proteger estava só na imaginação dela . Dizem que é Pecado / People Will Talk De : Joseph L . Mankiewicz , EUA , 1951 Nota : Anotação em 2007 , com complemento em 2008 : Mais uma delícia da série ah , como era melhor o cinema nos anos 30 a 60 – e mais uma das quase incontáveis provas de que ainda há muitos clássicos da era dourada a serem vistos . É uma espécie assim – quase 50 anos à frente – de Patch Adams , de
1998 , aquele com o Robin Williams sobre médico que quer dar alegria aos doentes . Aqui , Cary Grant faz o papel um médico absolutamente especial , anticonvencional , talvez como todos devessem ser , em cuja clínica , por exemplo , as pessoas comem a hora que quiserem ( e não na hora que as enfermeiras determinam ) . Um colega da faculdade de Medicina onde ele dá aulas , pessoa de caráter e estatura moral pequenos , por ciúme e inveja , tenta investigar o passado dele , para descobrir algum podre que possa bani-lo do quadro de professores . Paralelamente , o médico se apaixona por uma jovem solteira que está grávida ( epa : outro tema muito adiante da época do filme ) de um caso eventual . A moça é interpretada porJeanne Crain , um dos mais perfeitos rostos femininos de Hollywood . Sofisticado , inteligente , irônico , mordaz , como tudo em que o diretor Joseph L . Mankiewicz põe a mão . Frank e o Robô / Robot &amp; Frank De : Jake Schreier , EUA , 2012 Nota : A idéia básica é interessante , poderia talvez resultar em um bom filme : num futuro próximo , homem idoso , que vive sozinho numa casa isolada e enfrenta a perda da memória , passa a ter como cuidador um robô . A princípio , é claro , rejeita ferozmente a nova companhia . Depois , com o tempo , não só aceita a presença do robô como desenvolve uma amizade , uma cumplicidade com ele . Acrescente-se a essa boa idéia básica um certo toque do Ray Bradbury , de Fahrenheit 451 : no maravilhoso mundo novo , os livros estão sendo substituídos pela plataforma digital . O protagonista , o velhinho Frank do título , é um ávido leitor , enquanto a bela biblioteca da cidadezinha próxima de sua casa está passando por uma modernização , os livros , esses danados desses suportes físicos , indo para a reciclagem . Solidão , velhice , perda da memória , a difícil convivência entre o velho e seus filhos adultos , amizade e cumplicidade entre homem e máquina , o admirável mundo novo que prescinde de suportes físicos , onde tudo vai para a nuvem . Temas interessantes , fascinantes mesmo . E , para completar , um bom elenco . O excelente Frank Langella , que recentemente nos brindou com belíssimas interpretações em Frost / Nixon , de 2008 , e A Caixa , de 2009 , faz o velhinho Frank . A sempre maravilhosa Susan Sarandon faz Jennifer , a bibliotecária que ama profundamente os livros e é pega pela modernização , pela informatização de seu local de trabalho . O filho de Frank , Hunter , rapaz inteligente , talentoso , formado em Princeton , que venceu na vida muito jovem , é interpretado pelo galã James Marsden . A filha , Madison , uma believer , ativista social , que luta pela melhoria das condições de vida
em países miseráveis da Ásia , vem na pele e na beleza ofuscante de Liv Tyler . A voz do robô ( que não tem nome , tadinho , e durante todo o filme é tratado apenas como “ o robô ) tem a voz de Peter Sarsgaard . A trama mistura ficção científica , comédia , drama familiar e thriller Ficção científica , comédia , drama familiar . O autor do argumento e do roteiro , Christopher D . Ford – ele é um garotão jovem e , antes deste aqui , havia escrito apenas os roteiros de uma série de TV , Atom TV – já estava com elementos de vários gêneros . Mas , como se isso não bastasse , quis acrescentar à sua trama um pouco de thriller policial . Tramas policiais têm público garantido , e então lá vai : no passado , Frank , aquele senhor que está perdendo a memória , é apaixonado por livros e por Mozart , havia sido um ladrão de jóias . Tipo assim : já que tinha mesmo um tanto de Fahrenheit 451 , por que não acrescentar uma pitada de Poder Absoluto , de Clint Eastwood ? E Frank vai descobrir , para seu absoluto júbilo , que os programadores do robô não incutiram nele noções de certo ou errado perante as leis dos homens e dos deuses . O robô não tem em sua programação nada que diga que roubar é contra a lei . Muitos elogios de espectadores no IMDb , nota 3.5 em 5 no AllMovie Dessa combinação de diversos elementos resultou um filme que parece ter fascinado muitos espectadores . No IMDb , os leitores demonstram seu encanto . “ Gostei de Robot &amp; Frank , embora não saiba muito bem por que se referem ao filme como uma comédia ou uma comédia sobre amigos ” , escreveu um leitor da Flórida . “ Na verdade , é um filme bastante sério e a rigor depressivo – mas altamente original . Frank Langella interpreta um velho que está indo embora mental e fisicamente . Exasperado , seu filho decide fazer alguma coisa para livrar-se da preocupação com o pai – e compra um robô que vai cuidar dele . No entanto , a memória de Langella é intermitente – e a parte criminosa de seu passado está viva e atuante . E ele espera que o robô possa ajudá-lo no próximo golpe . ” Um leitor do IMDb da Holanda se entusiasmou : “ O filme é interessante , surpreendente , de encher o coração , inteligente , provocante , engraçado , subestimado , bem escrito e bem dirigido . Traz interpretações de primeira por atores de primeira ” . Um leitor da Virginia escreveu : “ Um filme engraçado &amp; tocante que consegue fazer a audiência se identificar e simpatizar com o personagem de Frank Langella , um ex-ladrão de jóias que está ficando senil . ( … ) O filme é inteligentemente e ambiguamente passado no ‘ futuro próximo ’ ,
e então as pessoas que hoje têm entre 30 e 40 anos poderiam facilmente ser os Franks de amanhã : ainda usando as gírias dos anos 2000 &amp; 2010 , sem medo das mais recentes tecnologias , mas de alguma maneira aturdidas por elas , e capazes de ficar bem agastadas quando os jovens perguntam sobre sua ‘ relação com a mídia impressa ’ . O AllMovie , o elegante , respeitável site que traz bons textos sobre os filmes , não fez uma crítica sobre Frank e o Robô , apenas a sinopse , que dá uma visão geral . O texto é assinado por Jason Buchanan , de quem já li diversas boas críticas , e trata com carinho o filme que define como “ uma terna comédia dramática de ficção científica ” . A nota dos editores do AllMovie para o filme é 3.5 estrelas em 6 – a mesma média dos votos dos leitores . A direção é fraca , há sequências de um ridículo atroz , e a trama é cheia de furos Tudo isso posto , digo que eu , pessoalmente , achei o filme muito , muito ruim . E não vi o filme com má vontade , ou cansado , ou coisa parecida . Tinha interesse em vê-lo , e no início ele chegou a me deixar bastante curioso sobre o que poderia vir a seguir . No final , achei que Frank e o Robô desperdiça o que tem de bom – aqueles elementos citados na abertura desta anotação , e seu bom elenco . Os defeitos estão no roteiro e na direção – esta , de Jake Schreier , um iniciante , assim como o roteirista , Christopher D . Ford . Foi o primeiro longa dirigido pelo rapaz . Os leitores do IMDb que citei ( e há diversas outras avaliações tão positivas quanto as que reproduzi ) parece que se encantaram com os temas interessantes , e deixaram de ver a quantidade imensa de furos , de improbabilidades , de falhas óbvias na história . Tipo : o que poderia explicar que Frank , ex-presidiário ( 16 anos atrás das grades , em duas condenações diferentes ) , tivesse aquele padrão de vida , morando naquela casa gigantesca ? Como seria possível que a perda de memória de Frank fosse tão seletiva ? O camarada se esquece de quem foi sua mulher , a mãe de seus filhos , o fato de que o filho já saiu da universidade faz muitos anos , o fato de que o restaurante de que gosta já fechou , mas mantém a mente absolutamente lúcida para planejar os roubos . Ah , truco ! Se a visita da filha Madison ao pai ( por mais bela que seja Liv Tyler ) não é um amontoado de situações ridículas , então definitivamente não sei mais o significado do ridículo . Idem ibidem para toda a sequência da polícia cercando a casa de Frank , tudo de um ridículo atroz . E o que
dizer da descoberta que Frank faz ao ver uma foto na sala da bibliotecária Jennifer ? O Sexto Sentido / The Sixth Sense De : M . Night Shyamalan , EUA , 1999 Nota : Anotação em 2001 : Que prazer sensacional – e raro – rever um filme de suspense e gostar tanto quanto da primeira vez . Neste caso específico , é fascinante ver o filme sob outra ótica , depois de saber o segredo que o diretor indiano radicado na Filadélfia só revela no final . E o filme é fascinantemente bem construído também para ser revisto , e portanto visto sob a outra ótica . Não há falha alguma , tudo se encaixa , tudo funciona . É , de fato , um dos melhores thrillers dos últimos tempos . E como trabalha bem esse garotinho Haley Joel Osment . Ele foi indicado para o Oscar de coadjuvante – tinha 11 anos quando fez o filme - , assim como a australiana Toni Collette . Ao todo , o filme teve seis indicações – as outras foram filme , direção , roteiro original e montagem . Não levou nenhum Oscar , mas teve no total 31 prêmios mundo afora e 37 indicações . A questão é que o filme é extraordinário demais – o que levou todo mundo a ficar esperando mais obras-primas de M . Night Shyamalan . E ele não conseguiria fazer mais um filme à altura deste aqui . 3 Comentários Eu adorei este filme quando o vi pela primeira vez ! Achei-o inteligente , pois tudo revela o final , mas ninguém percebe as pistas . Revi-o há poucos dias , continua inteligente , mas perdeu a graça da surpresa . Em compensação , achei ainda mais pedacinhos de pão que o diretor deixou pelo caminho … enfim , tem uma graça diferente , investigativa . E , na minha opinião , o mais impressionante neste filme , mais até do que o desempenho do menino , é o trabalho do Bruce Willis … contido , centrado e bem diferente do brucutu dos filmes de ação que costuma protagonizar . Outro filme que considero perfeito . Montagem absurda , atuacoes primorosas e um roteiro magnifico . Obras desse naipe me fazem adorar a setima arte . Tambem gostei bastante de A Vila e Corpo Fechado . Ja Fim dos Tempos , Ultimo Mestre do Ar e o pavoroso Dama da Agua eu nao entendi direito o que o talentoso indiano tinha na cabeca quando resolveu realiza-los , talvez seja sonho de infancia fazer filmes infantis e catastrofe . Ultimamente produziu um bom terror chamado Demonio . Talvez seja muito complicado tentar fazer algo melhor que o perfeito ( isso e ppssivel ? rsrsrsrsr ) , pensei que Nollan nunca superaria Amnesia mas , com pelo menos dois ou tres subsequentes , atingiu a mesma posicao na minha opiniao . De quaquer forma MN Shyalaman e um dos grandes diretores de minha geracao . Nunca vou esquecer : i see dead people .
Também gosto imenso deste filme e ainda hoje o estive a rever mais uma vez . Embora o final já não cause surpresa continuo a gostar . E podemos verificar que tudo está certo , não há nada errado . Um prazer ver filmes deste gabarito . Postar um Comentário O seu email nunca é publicado ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * Jeffrey – De Caso com a Vida / Jeffrey De : Christopher Ashley , EUA , 1995 Nota : Anotação em 1998:Um filme extremamente corajoso . E , além disso , extremamente bom , inteligentíssimo , cheio de belas sacadas , grandes idéias , tudo muito bem executado . Não foram poucas as pessoas que já escreveram que Philadelphia , de Jonathan Demme , de 1993 , a primeira obra do cinemão de Hollywood a falar da aids , é politicamente correto , bem intencionado , mas pouco corajoso , pouco sério e profundo , tocando só muito de leve no fato de o personagem central ser homo . Até o Maltin , a coisa mais mainstream dos guias , diz : “ Não sabemos sobre ele ( o personagem de Tom Hanks ) , ou seu amante ( Banderas ) ” . Pois bem . Este Jeffrey veio definitivamente preencher a lacuna , me parece . Este é um filme extremamente corajoso . Verdade que a aids hoje é uma praga que atinge heteros , homens , mulheres e crianças . E também , vendo-se por outra perspectiva , é verdade que o cinema , há cem anos marchando sempre na direção de explicitar mais e mais todas as coisas , e mais e mais tem tocado em tudo que um dia já foi considerado tabu ; basta ver , por exemplo , as cenas de homossexualismo de O Padre , o belíssimo filme inglês . E mesmo Hollywood já fez pelo menos um filme absolutamente sensível sobre aids – Armadilha Selvagem / In The Gloaming , do ex-Super-homem Christopher Reeve . Mas , apesar de ser necessário reconhecer essas verdades , também é verdade que os homens homo são ainda boa parte das vítimas da doença . E a aids ainda se mantém com a pecha da peste gay . O filme parte daí . Mostra a história de Jeffrey ( Steven Weber ) , um rapaz homo em Nova York – e só levissimamente “ veado ” , ou seja , com trejeitos que parecem femininos – que decide parar de transar , pelo medo da aids e pelo desgosto com as relações que só conseguem se basear em atestados médicos indicando ausência do HIV . Na terceira ou quarta seqüência ele está se apaixonando . Mais tarde , veremos que o homem por quem Jeffrey se apaixona , Steve ( Michael T . Weiss ) , é soropositivo . Diante disso , Jeffrey foge da relação , apesar dos conselhos insistentes do maior amigo , Sterling ( Pat Stewart ) , que vive uma relação estável com Darius (
Bryan Batt , interpretando o que antigamente chamávamos de bicha louca ) , ele também soropositivo . Darius morrerá da aids ; e aparecerá como um bom fantasma para se despedir de Jeffrey ensinando a grande lição : “ Odeie a aids , não a vida ” . A coragem , assim como o brilho do filme , não vem apenas porque ele assume discutir francamente os relacionamentos homo diante da ameaça da praga . A coragem e o brilho vêem basicamente da forma como ele optou por abordar o tema . Não é uma estrutura de drama – embora haja momentos pesados , densos , sérios . Ao contrário : é uma abordagem divertida , alegre , bem humorada . O filme é contado em capítulos , quase numa estrutura de esquetes de TV , como os franceses da nouvelle vague gostavam de fazer ; os atores conversam com o espectador , da maneira como Woody Allen sempre gostou de fazer ; na primeira cena de beijo homo , mostra-se um grupo de pessoas vendo o filme , os garotos indignados e repugnados , as garotas nervosamente achando graça . A deusa Sigourney Weaver dá um show em um engraçadíssimo esquete ironizando os gurus de auto-ajuda . Madre Teresa de Calcutá comparece algumas vezes à cena , em um achado inteligentíssimo , até provocativo , mas de forma alguma desrespeitoso . Um padre ( ele também homo ) dá lições sobre a vida e a religião – em um diálogo sério , mas com um tom hilariante . Tem graça , tem estilo , é inteligente e divertido . Mas não é uma brincadeira besta com um assunto sério ( como é , por exemplo , o filme Ruth em Questão / Citizen Ruth , uma abordagem absolutamente infeliz sobre a luta pelo direito ao aborto ) . Não , não é uma brincadeira besta . Tem o que dizer a respeito do tema – e diz , e é sério e importante o que diz , embora faça questão de não ser sisudo ou chato . A peça na qual o filme se baseia estreou em Nova York em 1993 , o mesmo ano do filme Philadelphia . Em 2008 , vejo no IMDB que o diretor Christopher Ashley ficou sem realizar filme algum desde este Jeffrey . Só em 2008 foi dirigir um outro , Last Call . Uma pena , porque o cara tem talento e sensibilidade . Trem da Vida / Train de Vie De : Radu Mihaileanu , França-Bélgica-Holanda-Israel-Romênia , 1998 Nota : Fazer uma comédia sobre a perseguição dos nazistas aos judeus é um ato de coragem . Mas Trem da Vida , que o diretor romeno radicado na França Radu Mihaileanu realizou em 1998 é mais ousado ainda que uma simples comédia , porque é um filme não realista – é uma farsa , uma fantasia , uma obra de realismo fantástico , do surrealismo , quase um nonsense . Um ano antes de Trem da Vida , o italiano Roberto Benigni
havia feito uma comédia sobre o mesmo tema , A Vida é Bela , um filme de grande sucesso e , na minha opinião , um tanto superestimado , com seus três Oscars , outros 52 prêmios e 31 indicações . Não que Benigni tivesse , é claro , inventado a roda . Os judeus – assim como os ciganos , homossexuais , portadores de deficiência – ainda estavam sendo presos e enviados para os campos de concentração quando Charles Chaplin fez O Grande Ditador ( 1940 ) e Ernst Lubitsch realizou Ser ou Não Ser ( 1942 ) , duas comédias ácidas , duras , mas comédias , sobre o nazismo . O grande diferencial de Trem da Vida , me parece , é o fato de ser uma narrativa nada , nada realista . E , nisso , ele foi um precursor de uma série de filmes que seriam feitos nos países surgidos dos escombros do comunismo , como a Geórgia e , em especial , a própria Romênia natal de Radu Mihaileanu . Filmes que denunciam , com extrema violência , imensa virulência , o outro regime totalitarista que dominou diversos países europeus ao longo de várias décadas do século XX . Era como se aqueles diretores , que viveram sob as ditaduras comunistas , tivessem tanto ódio do totalitarismo imposto pelo império soviético que se insurgiam também contra o estilo narrativo que o Estado comunista exigia , o realismo socialista , optando pelo oposto dele – um estilo surrealista , quase nonsense . Como já escrevi aqui : Em Os 27 Beijos Perdidos , feito por Nana Djordjadze em 2000 na Geórgia , a terra natal de Stálin , há um navio que passeia pelas ruas da pequena cidade e pelos campos ao seu redor , um marinheiro que perdeu o mar , um oficial que manda a artilharia disparar seus canhões em direção ao local em que sua mulher o trai com outro homem , um sujeito que amarra rolamentos no pauzão de 27 centímetros e depois não consegue tirá-los de lá e a cidade inteira tem que acudi-lo ; e , numa seqüência antológica , um camarada que está comendo uma mulher de pé , encostando-a numa mesa , usa , para ficar mais alto e facilitar o trabalho , dois livrões de Karl Marx sob os pés – livros que em seguida vão pegar fogo . Em Casamento Silencioso / Nunta Muta , feito em 2008 na própria Romênia , a narrativa do diretor Horatiu Malaele passeia pelo paranormal , vê fantasmas , bota os atores para atuar como que em um teatro farsesco , faz um surrealismo que deixaria Fellini humilhado de inveja . O louco da aldeia é que dá aos sábios a idéia de fugir num trem Essa fuga do realismo , essa vingança não só contra a ditadura , mas também contra a sua estética , é o cerne de O Trem da Vida – mais ainda que a opção , corajosa e difícil , pelo riso . O
filme conta a história de um vilarejo judeu , um shtetl , no verão de 1941 , quando as tropas nazistas dominavam a maior parte da Europa , e , no seu avanço , iam prendendo milhares , milhões de judeus , que em seguida eram deportados , em trens , para os campos de concentração e extermínio . Não se especifica em que país fica aquela pequena aldeia – pode ser qualquer um da Europa Central ou do Leste , como a própria Romênia ( onde boa parte do filme foi rodado ) . Quem primeiro avista os nazistas chegando a uma aldeia próxima é Schlomo ( Lionel Abelanski , na foto acima ) , o louco daquela aldeia , daquele shtetl específico . É Schlomo que conta o que viu para o conselho de sábios do shtetl , chefiado pelo Rabino ( Clément Harari ) – e é ele também , o louco da aldeia , que dá a idéia : antes que chegue o trem nazista para deportá-los , a aldeia poderia criar o seu próprio trem , pintá-lo como um trem nazista , e fantasiar alguns de seus habitantes como soldados nazistas . E assim eles poderiam viajar e escapar das prisões – viajar rumo à Rússia , depois rumo à Palestina . Ao ver o movimento frenético da vila no dia seguinte à reunião do louco com os sábios , uma das mulheres sentencia : – “ Deus , por que são os homens que dirigem o mundo ? E um louco mostra o caminho ! ” Uma atmosfera onírica , surrealista , impregnada de um humor desavergonhado Dá-se uma grande discussão para definir quais deles representarão os nazistas . Naturalmente , ninguém quer o papel do opressor . Mas o conselho de sábios vota e decide : Mordechai ( Rufus ) , um dos bons comerciantes da aldeia , será o chefe do destacamento nazista incumbido de “ deportar ” os judeus . A aldeia entra numa atividade febril – e são maravilhosas , esplendorosas as sequências , com belos travellings , elaborados planos gerais da aldeia trabalhando freneticamente , preparando o grande golpe . Essas sequências são tornadas mais fantasticamente belas pela trilha sonora , de autoria de Goran Bregovic , o grande músico natural de Sarajevo . O filho do Rabino , Yossi ( Michel Muller ) , é enviado até uma cidade para providenciar passaportes falsos com um amigo da comunidade . O tal amigo era um comunista ferrenho , e Yossi volta à sua aldeia comunistinha da silva , falando que ninguém deveria fugir de coisa alguma , que em breve o comunismo dominaria o mundo e tudo seria uma única e feliz nação socialista , formado apenas pelos homens novos , conforme ensinava o camarada Stálin . Na hora de providenciar um profissional para pôr para andar a locomotiva , o máximo que conseguem é um jovem idealista , um burocrata do Ministério dos Transportes , que nunca dirigiu coisa alguma na vida . Mas ao menos ele tem
um livro com instruções sobre como manejar uma locomotiva . E por aí vai – tudo numa atmosfera onírica , surrealista , mas sempre impregnada de um humor desavergonhado , escrachado . A garota mostra os seios para o jovem comunista : “ Isto aqui não é melhor que Marx ? ” A garota mais bela da aldeia , Esther ( Agathe de La Fontaine , na foto ) , apaixona-se perdidamente por um garoto boa pinta , filho de Mordechai , e que havia sido convertido ao comunismo pela doutrinação de Yossi . Quando a bela conta ao pai o objeto de sua paixão , desperta a ira dele : ela não pode , de jeito nenhum , se apaixonar por um comunista que além de tudo é filho de um nazista . Sim , porque a maioria dos vilarejos passa a acreditar piamente que seus compatriotas , seus amigos até dias atrás , que agora vestem fardas nazistas , passaram a ser de fato nazistas . O próprio Mordechai , depois de algumas aulas de alemão , passa a achar que ele é , de fato , um oficial nazista que tem o direito de dar ordens aos prisioneiros judeus . E , lá pelas tantas , a bela Esther se cansa da perspectiva de continuar virgem para todo o sempre , abre a blusa e mostra os peitos de estátua renascentista para o neo-comunista filho do neo-nazista : – “ Isto aqui não é melhor que Marx e Engels e Lênin ? ” O rabino faz negócio com Deus Num determinado momento , o trem – que anda em círculos , sem sair muito do lugar de origem – é cercado de nazistas de verdade . O rabino negocia com Deus : – “ Meu Deus , nunca imaginei mesmo que todos nós escaparíamos . Mas faça com que as crianças e os jovens atravessem a fronteira e vivam em paz na Palestina . ” E , já que está mesmo negociando , prossegue : – “ Mulheres e homens também . Afinal , as crianças precisam dos pais . E , já que salvou tanta gente , por que abandonar os velhos ? O que foi que eles fizeram ? ” “ A Terra só é Santa em um lugar ? ” Usar o humor ao se falar de uma das maiores tragédias da história da humanidade é algo perigoso . Qualquer passo em falso e se pode cair da corda bamba no ridículo , no grotesco . Radu Mihaileanu é um equilibrista de mão cheia . Um talento absurdo nessa arte perigosa . Jamais pisa em falso . Jamais comete uma vulgaridade . Jamais erra o tom . E tempera as tiradas surreais , oníricas , de sonho ruim , de pesadelo terrível , com pitadas de imensa simpatia pelos homens , pelos pobres seres humanos . Como no diálogo de um garotinho com sua mãe , no trem : O garotinho : – “ Ainda estamos longe ? ” A mãe : – “
Sim , meu querido . ” O garotinho : – “ A Terra só é Santa em um lugar ? ” A mãe : – “ Tem razão . A Terra todas podia ser Santa . Bastaria querer . E nada mais seria distante . ” Trem da Vida foi o terceiro filme do diretor . Havia feito um curta-metragem em 1980 , o ano em que se radicou da França , fugindo da ditadura patética de Nicolau Ceausescu . Em 1993 realizou Trahir e , em 1997 , para a TV , seu segundo longa , Bonjour Antoine . Em 1998 , ano de Trem da Vida , estava com 40 anos de idade . É daquele tipo de artista que não produz demais ; ao contrário , sua filmografia não é longa . Em 2002 veio outro filme para a TV , Les Pigmées de Carlo ; em 2005 , Um Herói do Nosso Tempo . E , em 2009 , realizaria O Concerto , uma obra-prima maravilhosa , acachapantemente bela . O Concerto tem várias das características que Mihaileanu já burilava em Trem da Vida . É também uma comédia , que muitas vezes passa longe dos naturalismos , do realismo pão-pão , queijo-queijo ; também flerta com o nonsense , com a atmosfera onírica , surrealista . Também comete exageros – sem que isso , no entanto , desequilibre , desbalance a narrativa . E , como Trem da Vida , O Concerto é um panfletaço anti-totalitarismos , anti a entrega apaixonada e cega das pessoas às ideologias Logo depois de ver O Concerto , poucos dias atrás – o que me deu muita vontade de rever este Trem da Vida – , anotei que o filme demonstra , como outras obras-primas do cinema , que as pessoas estão acima dos Estados , das ideologias , dos nacionalismos ; que as pessoas são todas iguais ; raça , existe uma só , a humana , seja a pele de que cor for , a íris dos olhos de que cor for ; que são as ideologias , as fórmulas inventadas pelos que se pretendem dominadores das pessoas , que criam , nutrem e exacerbam os preconceitos entre os grupos de uma raça que afinal é a mesma ; que , se fossem deixadas a seus próprios destinos , se não fossem instigadas pelas máquinas governamentais , as pessoas poderiam conviver de forma melhor , talvez até quase fraterna . Quando passam a ser comunistas ou fantasiados de nazistas , os personagens deixam de ser fraternos Trem da Vida insiste muito nessa noção , que está presente também em O Concerto . Em Trem da Vida , isso é realçado o tempo todo : os amigos da aldeia , uma vez divididos entre judeus e ( falsos ) nazistas e recém convertidos ao comunismo , tornam-se quase inimigos mortais . E a fantasia , a farda falsa , quase transforma o bom Mordechai num nazista . Dá vontade de ver os outros filmes desse sujeito de imenso
talento – os anteriores , e o que ele fez depois de O Concerto , La Source des Femmes , o poço das mulheres , uma produção de 2011 ( o filme estreou no Brasil em janeiro de 2012 ) . Credo em cruz : nesse novo filme , ele reúne a fantástica Hiam Abbas , de Lemmon Tree , A Noiva Síria e O Visitante , com a revelação Hafsia Herzi , a garotinha da dança do ventre de O Segredo do Grão . Um romeno-francês , uma palestina de Nazaré , uma francesa descendente de tunisianos e argelinos . Promete , promete . Radu Mihaileanu é grande . Radu Mihaileanu é supra-nacional , como a música , o cinema , como toda arte que vale a pena . Minha Vida de Cachorro / Mitt Liv Som Hund De : Lasse Hallström , Suécia , 1985 Nota : Anotação em 2010 : Minha Vida de Cachorro é um belo filme , sensível , com um bem dosado equilíbrio entre tristeza e graça . Não tem contra-indicação : é agradável até para quem , como eu , não gosta especialmente de filmes sobre infância , o mundo visto através dos olhos de uma criança . A criança em questão é Ingemar , um moleque de uns 12 anos , raciocínio de adolescente bem mais velho em diversas situações , e comportamento e aparência de bem mais novo que isso . Ele é interpretado por Anton Glanzelius , que está absolutamente perfeito no papel . A ação se passa no final dos anos 50 – em 1959 , para ser preciso . Não há letreiro informando a data , mas , em uma seqüência no final , toda a pequena cidade em que está Ingemar acompanha a luta em que em Ingemar Johansson derrotou Floyd Patterson e tornou-se campeão mundial dos pesos pesados , o primeiro e creio que único sueco a conquistar o título . A luta aconteceu em 1959 , um ano depois que o Brasil foi campeão mundial de futebol em Estocolmo . Essa informação não está aí solta – está é fora de lugar . Volto ao assunto mais tarde . Nosso Ingemar , então , é assim : uma figurinha um tanto complexa . Volta e meia tem atitudes de moleque de sete anos de idade – briga aos tapas com o irmão mais velho , Erik ( Manfred Serner , à esquerda na foto ) , que deve ter uns 16 ; faz manha , derruba leite na mesa e no chão ; remexe o prato de comida e não come nada , irrita os mais velhos . Ao mesmo tempo , faz longas filosofadas sobre o peso das coisas da vida – compara tragédias . Para se consolar da sua dor , pensa em histórias mais tristes ainda , como a de uma freira que foi ajudar as pessoas na Etiópia e acabou morta a pauladas . Ou sobre a cadelinha Laika , que os russos tinham acabado de mandar para o espaço num
Sputnik e que morreria lá de fome . É um menino muito bem informado . Bem , também estamos falando de Suécia , primeiríssimo mundo , boa educação . Um garoto com sortes na vida – e enfrentando uma tragédia Ingemar tem algumas sortes na vida . Tem uma namoradinha linda na sua cidadezinha – e , na cidadezinha do seu tio , para onde será mandado duas vezes , será disputado por duas garotinhas ; uma delas , Saga ( Melinda Kinnaman ) é uma gracinha de menina , boa no futebol e no boxe e bastante oferecidinha a ele , Ingemar . O tio ( Tomas von Bromssen ) é uma grande figura , sujeito sempre alegre , brincalhão , bem humorado , assim como sua mulher . E ainda tem Berit ( Ing-Marie Carlsson , na foto abaixo ) , a mulher mais gostosa da cidadezinha , por quem aliás o tio tem uma forte atração ; Berit gosta de Ingemar , ficam amigos , e , quando o escultor da localidade a chama para posar nua , ela leva Ingemar junto para as sessões na casa do artista , que é para manter a coisa meramente profissional , sem sexo envolvido . A tragédia na vida de Ingemar é que sua mãe ( Anki Liden ) , uma bela mulher que foi fotógrafa , está muito doente , e cada vez pior . É para que ela possa descansar , longe daquele moleque travesso dentro de casa , que Ingemar é enviado para a casa do irmão dela , na outra cidadezinha . Ingemar ficará lá cercado por pessoas que gostam dele e o tratam bem – mas longe da mãe e da outra grande paixão de sua vida , a cadelinha Sickam . Um dos grandes méritos do diretor Lasse Hallström e de seus roteiristas é criar uma galeria de tipos interessantes , fascinantes , bem desenvolvidos . Nisso ele tem a ajuda do elenco , todo ele extraordinário . Temos o tio , figura de bem com a vida , tarado por mulheres , por futebol , por boxe ; trabalha numa fábrica de vidro – aparentemente , o lugar que dá emprego para boa parte dos habitantes da cidadezinha ; e , nas horas vagas , está sempre produzindo alguma coisa ; tem jeito para tudo ; construirá para Ingemar brincar uma casinha no terreno ao lado da casa onde mora . Temos um velhinho bem velhinho e doente que vive com o tio de Ingemar , tarado e safado , que vive a pedir ao garoto que leia para ele textos de uma revista que descrevem roupas íntimas de mulheres . Temos a já citada Berit , figura sensacional , que sabe que é a mulher mais cobiçada do lugar e leva isso numa boa , na maior . A mulher do tio , que tem , como ele , um bom humor a toda prova . Temos o doidão do lugar , que gosta de tomar banho pelado no riacho em
pleno inverno nórdico . E temos a garotinha Saga ( na foto mais abaixo ) , uma figura também muito interessante , a princípio preocupada em esconder os seios que começam a crescer , para poder continuar jogando futebol com os garotos , e depois interessada em mostrá-los e oferecê-los a Ingemar . Falei da coisa de o Brasil ter sido campeão do mundo na Suécia em 1958 – tem a ver com a história . O tio de Ingemar é apaixonado pelo Brasil , fala de samba , do futebol brasileiro , tem fotos de sua viagem ao Rio de Janeiro . Se o Lula visse o filme , diria que foi graças a ele que o Brasil se tornou conhecido mundialmente , e é por causa dele que na Suécia se fala tanto de Brasil . Claro , claro . Um diretor de belos filmes O filme se baseia numa novela autobiográfica de um escritor chamado Reidar Jonsson . Lasse Hallström , então com 39 anos ( nasceu em Estocolmo , em 1946 ) , foi um dos autores do roteiro . Tinha já uma carreira firme , na Suécia ; havia dirigido seis longa-metragens , inclusive ABBA : The Movie , de 1977 , sobre o conjunto musical que era o maior produto de exportação da Suécia . Com Minha Vida de Cachorro , tornou-se conhecido internacionalmente . O filme foi indicado para os Oscars de melhor filme estrangeiro e melhor roteiro adaptado , e também para o Bafta de filme estrangeiro ; não levou nenhum dos três prêmios , mas ganhou o Globo de Ouro de filme estrangeiro e mais 12 prêmios mundo afora . Hallström ainda faria mais dois filmes na Suécia depois de Minha Vida de Cachorro , mas , a partir do início dos anos 90 , estabeleceu-se em Hollywood . Fez diversos bons filmes , em geral falando do mesmo tema , a vida em família , as relações familiares – Meu Querido Intruso / Once Again , de 1991 , em que reuniu novamente Richard Dreyfuss e Holly Hunter , que haviam feito juntos Além da Eternidade / Always , de Steven Spielberg ; Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador/What’s Eating Gilbert Grape , de 1993 , com Johnny Depp e um à época desconhecido Leonardo DiCaprio ; Chocolate , de 2000 , uma gostosa fábula em homenagem à liberdade de comportamento , com Juliette Binoche no auge da beleza ; Chegadas e Partidas / The Shipping News , de 2001 , um drama poderoso com Kevin Spacey em grande forma ; e Um Lugar para Recomeçar / An Unfinished Life , de 2005 , que fala de violência de marido contra mulher e , de novo , relações familiares , perdas de entes queridos , com um elenco de primeiríssima , Robert Redford , Morgan Freeman , Jennifer Lopez . São , todos eles , bons , ótimos filmes – mas meu preferido , entre todos , é Regras da Vida / The Cider House Rules , de 1999 ,
um filme sobre crianças sem pais e uma vibrante , forte , corajosa defesa do aborto , outro filme com elenco extraordinário , reunindo Tobey Maguire , Charlize Theron , Delroy Lindo , Paul Rudd e Michael Caine , em um dos melhores papéis de sua longa e veneranda carreira ( ele levou o Oscar de coadjuvante ) . Em Minha Vida de Cachorro – na minha opinião o segundo melhor filme desse diretor de diversos filmes bons – , Hallström consegue criar um maravilhoso clima que mistura bem tristeza e bom humor , pancadas da vida com momentos de alegria . Muita gente tenta essa mistura e se dá mal ; Hallström fez a receita perfeita . Ah , sim , para registrar . Já vi muito crítico falar mal de Hallström , chamá-lo de coisas como sentimental , sentimentalóide , piegas . E que viva o sentimentalismo e a pieguice . “ Uma impressão ao mesmo tempo inquietante e engraçada ” Vou dar uma olhadinha em outras opiniões . É sempre bom . Leonard Maltin deu 3 estrelas em 4 : “ Ao mesmo tempo cômico e comovente , é uma descrição tremendamente honesta da natureza muitas vezes confusa da infância . Glanzelius está excelente no papel principal . ” No AllMovie , Karl Williams diz que o tom bem humorado , quase nostálgico do filme se mistura surpreendentemente bem com a história e as situações francas , pesadas , deixando uma impressão ao mesmo tempo inquietante e engraçada , um tributo à habilidade com que o filme é dirigido por Lasse Hallström . Ele informa também que o filme fez tremendo sucesso nos cinemas de arte das grandes cidades americanas . O guia de Jean Tulard diz que é um filme caloroso que explora com muita ternura e pertinência os segredos da alma de um garoto . Jamais cai no melodramático – ao contrário , é um filme cheio de humor . [ … ] em 2010 : Quase um quarto de século depois do filme que o revelou para o mundo , Minha Vida de Cachorro , de 1985 , o diretor sueco radicado desde o início dos anos 90 nos Estados Lasse Hallström volta [ … ] [ … ] legenda sequer para identificar qualquer um dos seis entrevistados – pela ordem , o diretor Lasse Hallström , o autor e roteirista John Irving e os atores Michael Caine , Tobey Maguire , Charlize Theron e [ … ] Ciladas / Pièges De : Robert Siodmak , França , 1939 Nota : Anotação em 2000 : Raridade muito interessante de se ver , e ainda um bom filme , 60 anos depois . Uma boa história de suspense . A polícia de Paris investiga desaparecimento de diversas mulheres , e taxi girl de dancing é contratada por investigador para servir de isca para o culpado ; acaba se envolvendo com um playboy milionário ( Maurice Chevalier , simpático , canastrão e bom chansonier ) , que eventualmente é preso acusado de ser o assassino .
Tem graça , humor ; meio que se perde em casos paralelos , às vezes . Mas é bom . Feito em 1939 , o ano em que começou a Segunda Guerra , este foi o último filme da primeira fase européia do diretor Robert Siodmak ( 1900-1973 ) . A história de Siodmak é interessantíssima ; americano de Memphis , estudou na Universidade de Marburg , e começou a carreira longa na Alemanha . Saiu do país com a ascensão do nazismo , radicou-se na França e fez alguns filmes lá ; em 1939 , ano deste filme , fugiu de novo do nazismo , voltando para os Estados Unidos , onde , entre 1941 e 1952 , fez diversos filmes , vários deles noirs . Diz Jean Tulard , no seu Dicionário de Cinema – Os Diretores : “ Com os alemães em Paris , Siodmak fugiu para os Estados Unidos . Essa terceira fase de sua carreira é a mais célebre . Irá se distinguir no filme noir , do qual já havia pressentido a importância . A Dama Fantasma , baseado em Irish , Silêncio nas Trevas , Assassinos , que toma por tema uma novela de Hemingway , Baixeza , Dúvida , Uma Vida Marcada valem a pena ser vistos por sua iluminação expressionista ( o enterro em Assassinos ) , pelos seus personagens loucos ou sádicos ( Franchot Tone em A Dama Fantasma , Laughton em Dùvida ) , pelo erotismo ( Yvonne de Carlo em Baixeza , a piteira de Barbara Stanwyck em Confissão de Telma , pelo suspense ( a vítima muda de Silêncio nas Trevas ) , pela evocação do submundo das cidades ( Uma Vida Marcada ) . ” Depois dessa fase americana , o diretor retornaria à Europa , onde a partir de 1953 filmou na Alemanha e na França do pós-guerra . Figuraça . A Casa dos Sonhos / Dream House De : Jim Sheridan , EUA , 2011 Nota : A Casa dos Sonhos pode ser definido com duas frases com adversativas . A primeira : foi feito no Canadá , o diretor é irlandês , dois dos principais atores são ingleses e a terceira é australiana – mas é uma produção americana . Bem : me decepcionou . E , pelo que se vê no IMDb , decepcionou também Jim Sheridan e Daniel Craig . Não é culpa deles . Diretor e ator se esforçam para fazer seu trabalho direito . Daniel Craig , esse ator que se firmou como um ótimo James Bond mas também consegue trabalhar em filmes sem o personagem mítico do agente que tudo pode , tem uma bela interpretação . O problema – ao menos é o que eu achei – é a história , a trama . Argumento e roteiro são assinados por David Loucka , e , embora seja piada ruim e pré-fabricada , é impossível evitar : lá pelas tantas , parece que deu a louca no autor . A sensação é de que ele quis criar uma
história de suspense , mistério , quase terror , que tivesse uma reviravolta profunda , como , por exemplo , os excelentes Os Outros , de Alejandro Amenábar ( 2001 ) , ou O Sexto Sentido , de M . Night Shyamalan ( 1999 ) . Deu com os burros n’água . Na casa de sonhos de que fala o título vive uma família de sonhos O que se mostra no começo , na primeira metade do filme , é o seguinte : Um editor de livros de uma grande editora de Nova York , chamado Will Atenton ( o papel de Daniel Craig ) , sujeito respeitado , querido pelos colegas , consegue tomar a decisão de pedir demissão . Está determinado a mudar de vida . Havia comprado uma casa – ampla , confortável – num daqueles subúrbios de classe média ao Norte de Nova York . Não se precisa o lugar – fala-se até o nome da cidadezinha , New Ashford , mas deve seguramente ser um nome fictício . Pode ser Connecticut , ou algum Estado da Nova Inglaterra . Ali , na calma do subúrbio , longe da agitação da metrópole , ele pretende escrever um livro . ( Penso agora que Jack Torrance , o personagem de Jack Nicholson em O Iluminado / The Shining , de Stanley Kubrick , também tinha planos de escrever um livro na solidão do hotel fechado para o período mais rigoroso de inverno nas Montanhas Rochosas . Aliás , o cartaz do filme , que está no alto deste post , também faz lembrar O Iluminado . ) Will sai então do trabalho pela última vez . Neva – é inverno bravo . Toma um trem para seu subúrbio . Na casa recém-comprada , esperam por Will uma mulher que o ama e duas filhinhas que o adoram . A mulher , Libby , vem encarnada por Rachel Weisz com aquela beleza esplêndida toda dela , e as filhinhas são duas gracinhas , a mais velha , Trish ( Taylor Geare ) , aí com uns nove anos , e a mais jovem , Dee Dee ( Claire Astin Geare ) , com uns seis . Durante alguns minutos , pinta-se o quadro da família perfeita , a família de sonhos na casa de sonhos de que fala o título . A casa não é daqueles monumentos de ostentação , não é um palacete , uma mansão . É uma casa sólida , ampla , confortável . Se as sociedades fossem justas , todas as famílias deveriam ter uma casa como aquela , uma casa não milionária , pois a existência de milionários pressupõe também a existência de miseráveis . A família dentro da casa dos sonhos é a família dos sonhos . Uma mulher belíssima , feliz , amorosa , empenhada em limpar , pintar o novo lar . Um marido que trabalhou bastante e agora se dá ao direito de ficar mais tempo com a família . Duas crianças adoráveis , bem cuidadas pelos pais atenciosos
. Marido e mulher se amam e o sexo é ótimo . Exatamente na metade dos 92 minutos do filme , há uma reviravolta completa A perfeição de sonho dura só alguns minutos . Começam a surgir fatos estranhos . A filhinha mais nova vê um homem parado do lado de fora da janela . Will a convence de que não havia ninguém , mas no dia seguinte vê na neve marcas de pés que passaram ao redor da casa . E aí vem a revelação : naquela casa que a família comprou ao sair de Nova York havia acontecido uma tragédia . Cinco anos antes , o dono da casa tinha tido um acesso de loucura e assassinado suas duas filhinhas e sua mulher . Ninguém havia dito isso para eles , quando compraram a casa . Quando a narrativa está exatamente na metade dos 92 minutos de duração , há uma reviravolta completa . As coisas se complicam , e muito . E haverá nova reviravolta completa mais para o final . Os produtores tiraram o filme das mãos do diretor e fizeram a montagem final No ótimo All Movie , o filme foi classificado com 3.5 estrelas em 5 . A crítica , assinada por Cammila Collar , trata o filme com grande simpatia – e respeito pelos leitores . Não revela o que não pode ser revelado . Diz ela : “ É difícil escrever sobre um thriller com uma reviravolta no final , já que presumivelmente você não quer entregar a reviravolta . Mas seria ainda mais difícil escrever sobre um filme como Dream House , em que há múltiplas reviravoltas que chegam bem antes de se chegar ao clímax final – e em que ainda há muitos mistérios a serem resolvidos . Dream House vira as mesas algumas vezes , muito tarde no jogo para ser parte da premissa , mas cedo depois para ser parte do final . ” Mais tarde , o texto diz : “ Mas se você gosta da idéia de bons atores em uma narrativa que é em parte suspense , em parte drama , você não ficará desapontado . ” Segundo o IMDb , o diretor Jim Sheridan teve brigas feias com o chefão da produtora Morgan Creek , Jim Robinson , sobre como desenvolver o roteiro e a produção do filme . Nas exibições-teste para platéias fechadas , viu-se que a resposta dos espectadores não era boa , e Sheridan refez algumas sequências . Aí então a produtora tirou os filmes das mãos do diretor e resolveu ela mesma fazer sua montagem . “ Sheridan , Daniel Craig e Rachel Weisz se recusaram a participar da promoção do filme para a imprensa ” , afirma o IMDB . Ainda segundo o site mais enciclopédico sobre filmes que existe , Jim Sheridan chegou a pedir ao Sindicato dos Diretores , o Director’s Guild of America , que seu nome fosse retirado dos créditos . Deve posteriormente ter desistido disso , e até aparece num filmete de divulgação que
acompanha o filme no DVD . Ali se vê claramente , no entanto , que o veterano realizador não está nada à vontade para falar do filme que acabou sendo montado sem a sua supervisão . Na entrevista , ele basicamente insiste em que poderia ter optado por usar imagens criadas por computação , mas preferiu usar o sistema antigo , de filmar cenários criados para o filme , para ser mais realista . É necessário lembrar : Jim Sheridan é um excelente diretor e roteirista de poucos filmes . Poucos mas bons . É autor ou co-autor dos roteiros de Meu Pé Esquerdo , Terra da Discórdia , Em Nome do Pai , Mães em Luta , O Lutador , Terra de Sonhos . Vários deles abordam os sangrentos conflitos na Irlanda dividida entre católicos e protestantes . Dirigiu quase todos as obras citadas acima , com exceção de Mães em Luta , maravilha de filme , que foi dirigido seu amigo Terry George . “ O filme não ficou muito bom . Mas eu encontrei minha mulher . Bom negócio ” O que , para mim , mais define como a própria equipe avalia A Casa de Sonhos é uma frase de Daniel Craig que está também no IMDb . Ele e Rachel Weisz se apaixonaram durante as filmagens . Casaram-se algum tempo depois . Às vezes a vida imita os filmes – até a vida de atores de cinema . Os ingleses Daniel Craig e Rachel Weisz tiveram que ir filmar no Canadá uma produção americana dirigida por um irlandês para se encontrarem . Diz o IMDb : “ Quando perguntado sobre o filme , Craig disse : ‘ O filme não ficou muito bom . Mas eu encontrei minha mulher . Bom negócio ’ ” . As Múmias do Faraó / Les Aventures Extraordinaires d’Adèle Blanc-Sec De : Luc Besson , França , 2010 Nota : Anotação em 2011 : Uma diversão deliciosa , espetacular , tão bem humorada quanto maravilhosamente bem realizada , com um visual acachapante , um ritmo ágil , frenético , uma reconstituição de época de babar , excelentes piadas , excelente texto . Nunca fui grande fã de Luc Besson , mas este é um divertissement perfeito , de se aplaudir de pé como na ópera . Não tem jeito , não tem como fugir : é a versão francesa , à la Besson , do Indiana Jones , a criação de Steven Spielberg , George Lucas e Lawrence Kasdan . Adèle Blanc-Sec , personagem inventada pelo desenhista Jacques Tardi – só os franceses para dar à heroína um sobrenome com o bouquet de vinho – é de fato um Indiana Jones de saias e corpete . Que , embora bem rapidamente , quase pudicamente , num determinado momento até se mostra sem as saias e o corpete – oulalá ! Claro : para saborear este petisco , é preciso que o respeitável espectador deixe de lado a lógica , a exigência de qualquer verossimilhança . Amantes apenas de filmes sérios
, “ de arte ” , e idiotas da objetividade não se dariam bem . Trata-se , aqui , de uma aventura-ficção-fantasia , uma lógica de desenho animado . Assim , temos que , na gloriosa Paris de 1911 , no pré-guerra , na época dourada do cancã ( eta grafia feia , mas é ela que está nos dicionários ) , um idoso cientista , Espérandieu ( Jacky Nercessian ) , usando dons telepáticos , faz viver um pterodáctilo que estava dentro de um gigantesco ovo pré-histórico , do período jurássico , em um museu de ciências naturais da capital francesa . O animalão quebra a casca do ovo , anda tropegamente pelo museu , ensaia umas batidas de asa , voa , rebenta o teto da edificação e sai viajando pelos céus de Paris . O pterodáctilo avista um carro , no qual um figurão da política canta uma famosa dançarina de cancã – minutos antes , o espectador já havia presenciado um sensacional número de dança em um teatro lotado . O animalão ataca o bólido , que cai no Sena . O caso vira manchete de todos os jornais , mexe com os brios do governo , o presidente dá ordens ao ministro do Interior para que o bicho assassino seja imediatamente capturado . O policial encarregado do caso será o sonolento e glutão – porém íntegro – inspetor Albert Caponi ( Gilles Lellouche , deliciosamente exagerado e careteiro ) . Um início de trama esplendorosamente inteligente Enquanto isso … Todo o filme é absolutamente delicioso , mas o início da trama , a forma com que Besson vai apresentando os personagens , as situações , é uma coisa esplendorosamente inteligente , bem sacada , divertida – e rápida . O primeiro personagem que vemos não é importante na história – e o narrador avisa isso , com todas as letras . Somos apresentados a diversos personagens , num ritmo frenético , envolvente . O primeiro deles , o pouco importante , é um passante , pedestre , transeunte , que , ao voltar para casa , à 1 da madrugada , após um jogo de cartas com amigos regado a uísque 12 anos , pára numa praça para fazer xixi – e , ao olhar para uma estátua , vê luzes no céu , crê estar ficando louco , sai correndo . As luzes que ele viu vinham do apartamento do cientista Espérandieu : no seu surto telepático para fazer despertar o ptedorodáctilo , o idoso sábio levita , e faz levitar os objetos da sua sala , que produzem luzes . Mas , enquanto tudo isso está ocorrendo em Paris , a intrépida Adèle Blanc-Sec , a heroína da história , está no Egito , à procura da tumba do faraó Ramsés II . A criatividade , a inventividade de Besson para montar as aventuras de Adèle Blanc-Sec dentro da tumba do faraó devem ter deixado Spielberg e Lucas com inveja . As sequências em que primeiro vemos Adèle são geniais , espetaculares .
Assim como Indiana Jones tem que enfrentar um rival que rouba dele suas preciosas descobertas , Adèle Blanc-Sec também tem seu inimigo , o terrível vilão Dieuleveult ( interpretado por um Mathieu Amalric tão maquiado que fica praticamente irreconhecível ) . Dieuleveult aparece na tumba , com um grande bando de capangas , no momento exato em que Adèle parecia ter conseguido seu objetivo , o de encontrar o caixão onde há cinco mil anos repousava a múmia de Patmosis , que seria o médico pessoal do faraó . Mas Dieuleveult ( o som do nome faz lembrar a expressão Deus o quer ; como nas histórias de Astérix , os nomes dos personagens são grandes piadas ) é o vilão , e Adèle Blanc-Sec é a heroína , e assim ela conseguirá escapar das garras do bandido e , eventualmente , chegar de volta sã e salva a seu apartamento parisiense com o ataúde com a múmia de Patmosis . Um médico de cinco mil anos atrás para fazer reviver a irmã da heroína Bem , mas quem é exatamente Adèle Blanc-Sec ? É assim : Indiana Jones é um dublê de professor de arqueologia e arqueólogo-aventureiro , certo ? Adèle é uma dublê de jornalista investigativa e arqueóloga-aventureira . Sabe tudo e mais um pouco – e , como aventureira , tem a mesma destreza de Indiana Jones , ou talvez um pouco mais . O objetivo de Adèle ao levar para Paris a múmia do médico pessoal do imperador Ramsés II não é tão fácil de explicar . O caso é um tanto complexo – embora com perfeita lógica , dentro da lógica de uma aventura-ficção-fantasia baseada em história em quadrinhos . O professor Espérandieu ( e o som do nome remete a esperando Deus , certo ? ) consegue , com seus poderes telepáticos , fazer voltar a viver um animal de milhões de anos atrás . Se consegue isso , poderá conseguir também fazer reviver um médico egípcio morto há uns cinco anos . Adèle espera que Espérandieu desperte a múmia de Patmosis , para que ele trate de sua irmã gêmea , Agathe Blanc-Sec ( Laure de Clermont , à esquerda na foto abaixo ) . Agathe repousa em uma cama no apartamento de Adèle . Tem um soro na veia , e Adèle a trata como uma doente . Na verdade , Agathe está mortinha da silva , mas Adèle , a heroína da história , conta como certo que poderá curá-la – com a ajuda de Espérandieu e de Patmosis . Besson é um descobridor de mulheres estonteantes Me alonguei na sinopse da história , o que talvez seja bobo e desnecessário – mas achei a trama tão absolutamente fascinante que não me contive . A trama é fascinante , e a realização do filme é melhor ainda . Deixei para mais adiante o nome da atriz que faz Adèle Blanc-Sec , essa heroína supimpa , que tem a agilidade física de um Indiana Jones e fala na velocidade e na inteligência
de uma Hildy Johnson , a personagem de Rosalind Russell em Jejum de Amor / His Girl Friday , do mestre Howard Hawks . Chama-se Louise Bourgoin , a atriz que faz Adèle Blanc-Sec . Está ótima no papel , Louise Bourgoin . É simpática , atrevida , rápida no gatilho verbal e físico . Faz as mais imprevistas , inusitadas coisas – e encara quem a vê e se assusta com seus atos com a maior cara de pau , de quem não está nem aí . Tem mil caras . Fantasia-se de uns seis ou sete personagens diferentes – homens e mulheres – para tentar conseguir um de seus objetivos , lá pela metade da narrativa : transmuta-se em freira , advogado , enfermeira , guarda carcerário , o escambau . É bonita , atraente . Mas … pensei eu , quando ela aparece pela primeira vez … Bem , é bonita , mas não é assim uma coisa acachapantemente linda como , por exemplo , Natalie Portman ou Milla Jovovich , ou agressivamente atraente como Rie Rasmussen . Por que será que Besson , um descobridor de mulheres estonteantes , foi escolher Louise Bourgoin ? , me perguntei . ( Um descobridor de mulheres estonteantes . Lembrando : Besson dirigiu Natalie Portman em 1994 , quando ela era uma garotinha inexperiente de 13 anos , em O Profissional . Foi o responsável por levar Milla Jovovich da bem sucedida carreira de topmodel para o estrelato no cinema , em O Quinto Elemento , de 1997 , e Joana d’Arc , de 1999 . Rie Rasmussen , menos conhecida mas tão bela quanto as outras duas , foi a estrela de Angel-A , a fantasia em glorioso preto-e-branco que Besson fez em 2005 . ) Depois deste filme , o céu é o limite para Louise Bourgoin Louise Bourgoin , vi na internet assim que o filme acabou , é uma grande estrela da TV francesa . Nascida em 1981 , filha de um professor de filosofia e uma psiquiatra , estudou Belas Artes durante cinco anos – os pais queriam que ela tivesse uma carreira estável , como professora de artes plásticas . Mas a moça era muito bonita , passou a trabalhar como modelo e daí foi para a televisão em 2004 . Em um dos quadros que protagoniza semanalmente , faz personificações de personalidades famosas – já se travestiu de Ségolène Royal , a candidata socialista à presidência derrotada por Sarkozy , e também de Carla Bruni , a atual primeira-dama , e também de Jean Sarkozy , o filho do presidente . Não é à toa , portanto , que Besson criou tantos tipos diferentes em que ela se fantasia no filme . Mas a moça não é apenas uma estrela de TV . Estreou no cinema em 2008 no principal papel feminino da comédia amarga A Garota de Mônaco , e teve um pequeno papel em O Pequeno Nicolau . Depois deste filme aqui , o céu é o limite : está com
três filmes em produção ou em fase de pós-produção . Não percebi , ao ver o filme , que já tinha visto a atriz , e me impressionado com sua beleza O que é a memória – ou a falta dela . Só agora , nesta altura da anotação , fui ver o que escrevi sobre A Garota de Mônaco . E estão lá frases assim : E lá pelas tantas “ surge Audrey ( Louise Bourgoin ) , a garota do título – uma mulher lindíssima , gostosíssima , e mais todos os íssimas e érrimas possíveis e imagináveis , uma força da natureza , um vulcão , um tesão , uma coisa absurda , imensa , interminável , sempre com as roupas mais ínfimas , menores que as de uma rainha da bateria em plena Sapucaí . ” “ De longe , a melhor coisa do filme se chama Louise Bourgoin , a mulher íssima e érrima que faz Audrey . Louise Bourgoin ( nascida em 1981 ! ) foi , de fato , como sua personagem Audrey , uma moça do tempo numa emissora de TV ; depois deste filme , vem sendo comparada a Brigitte Bardot . Tem tudo a ver – até porque , no meio da apresentação da previsão de tempo , a garota Audrey canta ‘ Sur la Plage Abandonée ’ , uma canção que BB gravou com sua voz sensualíssima nos anos 60 . A canção reaparece nos créditos finais , na gravação de BB . ” “ Louise Bourgoin é de fato belíssima , gostosérrima , uma real força da natureza , como era Brigitte , um dos maiores símbolos sexuais dos últimos séculos . Vejo no iMDB que Louise Bourgoin já fez cinco filmes depois deste aqui . ( … ) Que Louise Bourgoin – eta mulherão , siô – faça bons filmes . ” Ótimas piadas , tramas gostosa , visual soberbo É o tal negócio : vivendo , aprendendo – e esquecendo , e depois aprendendo de novo . Mas é fantástico : neste filme , ela não me pareceu tão linda nem tão gostosa quanto em A Garota de Mônaco . OK : naquele , ela aparece o tempo todo em roupas absolutamente sumárias , e neste está sempre muitíssimo vestida , com camadas e mais camadas de roupa – com exceção daquele rápido momento , já citado , em que ela tira a roupa diante da múmia do médico do faraó para tomar banho . E , além de tudo , ela está bem diferente , aqui . Em A Garota de Mônaco ela está loura ( na foto menor , ao lado ) ; aqui está com o cabelo castanho . Na verdade , o fato de Louise Bourgoin ter caras diferentes a cada filme , sua capacidade de se fantasiar de diferentes pessoas reais na TV , de diferentes personagens neste filme aqui , isso só indica que a moça , além de beleza , tem talento . E pelo menos um bom filme
Louise Bourgoin já fez . É , repito , uma deliciosa diversão , este As Múmias do Faraó . Só a piadinha quase no final , quando o faraó comtempla o prédio do Louvre , já valeria o filme . Mas é apenas uma das dezenas e dezenas de boas piadas – fora a trama deliciosa , o talento da realização , o visual soberbo . 4 Comentários Bom filme as cenas onde Adele voa em cima do pterodáctilo com a lua ao fundo e o final onde Ramses II sai pra “ explorar ” o local saindo do museu dado de cara com o Arco do Triunfo para mim são as melhores , sem contar os diálogos , muito bons , rsrsr . ‘ Oi eu sou o hebert como vai vcs ? vou falar um pouco sobre ah mumia . Uma múmia é um cadáver , cuja pele e órgãos foram preservados intencional ou acidentalmente pela exposição a produtos químicos , frio extremo ( múmias de gelo ) , umidade muito baixa e etc . Atualmente , o mais antigo cadáver humano mumificado ( naturalmente ) descoberto foi uma cabeça decapitada , com de 6000 anos , encontrado em 1936.1 As múmias mais famosas são as egípcias , destacando-se as dos faraós , Tutancâmon , Seti I e Ramsés II , embora a primeira múmia egípcia conhecida , apelidada de “ Ginger ” , remonta a cerca de 3300 a.C . 6 Trackbacks [ … ] Mathieu Amalric , grande ator , mais de 70 filmes no currículo , diretor bissexto , autor de 12 títulos , incluindo curtas e documentários , ganhou o prêmio de direção em Cannes por Turnê , seu terceiro longa como realizador . [ … ] [ … ] E não são só os americanos que adoram uma múmia . Só para dar um exemplo , o francês Luc Besson fez em 2010 um filme delicioso em que múmias de faraós e seus ajundantes passeiam pela Paris do início do século XX , As Múmias do Faraó / Les Aventures Extraordinaires d’Adèle Blanc-Sec . [ … ] [ … ] Elemento ( 1997 ) esbanja imaginação , criatividade ; Angel-A ( 2005 ) é uma brincadeira gostosa ; As Múmias do Faraó ( 2010 ) é o que de melhor pode haver como cinema diversão . Mas acho que , com Lucy , Besson garante [ … ] Postar um Comentário O seu email nunca é publicado ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * lunes , 7 de abril de 2014 Porque la primavera es alegría y hay que celebrarla dándonos el gusto con algo dulce , como estos pastelitos de limón . Que a parte de ser deliciosos , nos dan ese toque refrescante a cítricos . A que apetece ? Parece ser que la meteorología nos ha dado una tregua , a ver cuanto nos dura . Estão Todos Bem / Everybody’s Fine De : Kirk Jones , EUA-Itália , 2009 Nota : Anotação em 2010 :
Estão Todos Bem é um bom filme sobre temas importantes , fundamentais : família , pais , filhos , o relacionamento entre eles , o que os pais tentam passar para os filhos , e o que acabam na realidade passando , em geral um resultado muito diferente do que se pretendia ; e as mentiras – ou no mínimo omissões da verdade – que surgem . E então é interessante verificar que , bem nos créditos iniciais , há uma mentirinha – ou , no mínimo , a omissão da verdade . Lá está dito que o filme é “ escrito e dirigido por Kirk Jones ” . Há uma convenção sobre a forma de se assinar a autoria dos roteiros . De uma maneira geral , a expressão “ written by ” – que é usada neste filme – significa que a pessoa foi a autora do argumento original e do roteiro . E não é verdade que o argumento de Estão Todos Bem seja de autoria de Kirk Jones . Essa mentira , ou omissão , é corrigida nos créditos finais , aquelas letrinhas pequenas , depois do final do filme , que muita gente não vê – em geral , as pessoas se levantam das poltronas do cinema ou da sala nessa hora . Então , lá quase no final dos créditos finais , em letrinha pequena , está a verdade inteira : Baseado no filme Stanno Tutti Bene , de Giuseppe Tornatore , 1990 , roteiro de Giuseppe Tornatore , Massimo De Rita e Tonino Guerra . Mas ainda bem que a verdade é dita – ainda que tarde , exatamente como algumas verdades da família retratada no filme só serão ditas bem no final . Antes tarde do que nunca . Stanno Tutti Bene , no Brasil Estamos Todos Bem , nos Estados Unidos Everybody’s Fine ( exatamente o título desta refilmagem feita em 2010 ) , foi o terceiro filme de Tornatore , logo depois de Cinema Paradiso , o maravilhoso filme que deu a ele fama mundial . Só vi o filme uma vez – segundo vejo nas minhas anotações , em julho de 1991 , em Buenos Aires , durante uma semana que passamos lá , Mary , Fernanda e eu ; infelizmente , só anotei os dados básicos , não escrevi nada sobre ele na época . E me lembro pouco do filme , em que o personagem central , interpretado pelo grande Marcello Mastroianni , percorre diversas cidades da Itália , se não me engano da Sicília até Milão , tentando visitar os filhos . Estão Todos Bem deu muita vontade de rever Estamos Todos Bem . Um homem solitário que sente falta da mulher e do trabalho É um bom filme , esta refilmagem americana , repito . Robert De Niro faz o papel que no filme original era o de Mastroianni . Nos últimos tempos , De Niro , grande ator , andou fazendo filmes com uma certa preguiça , fazendo uma caricatura de Robert De Niro
. Neste aqui , não – ele me pareceu muito bem , como costuma ser quando de fato quer , quando se interessa pelo papel que está fazendo . Compôs um personagem cheio de matizes – Frank Goode é um homem solitário , que sente o tempo todo a falta da mulher com quem viveu quatro décadas e morreu faz oito meses apenas ; vive muito confortavalmente em uma bela casa , tenta se convencer de que não sente falta do trabalho , agora que não precisa mais trabalhar , mas o fato de não haver mais o trabalho , assim como o de não haver mais a companheira de quase a vida toda , deixam um grande vazio na sua vida . No entanto , não é um homem que se entrega à angústia , que sucumbe a ela . Esforça-se para tocar a vida ; diz , várias vezes ao longo do filme , para várias pessoas , que está bem . É um batalhador . Quando a ação começa , Frank está se preparando e preparando sua grande casa agora vazia para receber a visita dos quatro filhos , todos já adultos , espalhados por diversas cidades , todas longe da dele . De propósito , o filme hora nenhuma especifica a cidade em que Frank mora . Pode ser qualquer uma – só é importante saber que todos os filhos não estão ali , estão bem longe , espalhados pelo país gigantesco . Como tantos pais , ele nunca tinha sido muito próximo dos filhos . Trabalhava demais , dentro daquela perspectiva tão absolutamente comum de que o papel do pai é o de ser um bom provedor material – e de fato Frank pôde prover estudo para todos eles . Contato mesmo , afeto , conversa , entendimento , eles tinham era com a mãe . Frank estava cuidando dos preparativos para receber os filhos , nos primeiros minutos da narrativa , e Mary já antecipava : ninguém vai vir . Sim , nenhum dos quatro virá . Em seguidos telefonemas , três deles dão explicações , justificativas – todos estão com problemas específicos que os impedem de sair de suas cidades naquele momento . Frank tem problemas de saúde – nada gravíssimo , fatal , mas seus pulmões não estão bem , ele toma medicação , seu médico diz que ele não deve viajar , em especial de avião . Frank tenta argumentar com ele , diz que viajaria de trem ou de ônibus , mas o médico o desaconselha , diz que ele precisa é descansar , ficar em casa , cuidar do jardim . Frank parte em busca dos filhos – vai a Nova York , depois a Chicago , depois a Denver , depois a Las Vegas . Estão Todos Bem tem muitas coisas previsíveis . Nada contra uma história previsível – isso não é uma crítica , é só uma constatação . O roteirista e diretor Kirk Jones usa alguns elementos que realçam essa coisa da previsibilidade . Por exemplo
: os fios . Frank Goode passou a vida em uma empresa ( presume-se que de sua propriedade ) que encapava fios com PVC , para protegê-los da chuva , do sol . Ele conta isso para uma vizinha de poltrona no trem para Nova York , a primeira das escalas de sua viagem de Odisseu , de Ulisses , pelos quatro cantos do país . Da janela do trem , vêem-se os fios – de energia , de telefonia . A câmara focaliza fios quando ouvimos a voz em off das duas filhas de Frank conversando ao telefone . Exatamente essa mesma imagem vai se repetir diversas vezes , ao longo do filme , sempre que há uma conversa telefônica entre os irmãos : a câmara focaliza fios , as vozes em off dos filhos conversam ao telefone . Há uma bela sacada : numa determinada hora do encontro de Frank com Amy ( Kate Beckinsale ) , a filha publicitária bem sucedida em termos materiais , Frank a vê como a garotinha de uns dez anos que ela havia sido . É uma bela sacada , mas é absolutamente previsível que ela voltará a aparecer quando Frank encontrar os outros filhos – e de fato volta , exatamente da mesma maneira . Frank os revê como eles eram quando garotinhos . Estão Todos Bem se repete na previsibilidade – e , de novo , aqui não vai juízo de valor . Não estou dizendo que isso seja ruim – é só uma constatação . O filme tem também uma série de coisas boas , de pequenos bons detalhes . Como Frank deixa Amy embaraçada ao tirar fotos dela no prédio em que ela trabalha . Como o filho de Amy em um segundo percebe que o avô não sabia usar as rodinhas de sua mala . Como Frank deixa Robert embaraçado quando surge de sopetão no teatro em que sua orquestra ensaia , fazendo desagradável barulho com a mala com rodinhas . Como Frank é antiquado – usa máquina fotográfica com filme , na era das fotos digitais . Belos detalhes que compõem bem os personagens , a história , o clima . E , no final , uma canção composta para o filme por Paul McCartney Kirk Jones fez um filme bem intencionado . O que ele pretende passar para o espectador , as conclusões a que ele chega são todas corretas , moralmente corretas . São bons toques para todos os pais do mundo . Exatamente por ser bem intencionado , a muita gente ele parecerá ingênuo , sentimentalóide , babaca . A crítica do AllMovie , por exemplo , desce a lenha , usa adjetivos como falso , óbvio , barato . Não me lembrava de ter ouvido o nome do diretor . Vejo que Kirk Jones nasceu em 1964 , em Bristol , na Inglaterra . Começou no cinema publicitário , no início dos anos 90 – e de fato seu filme tem um bom visual , uma fotografia de primeira qualidade , característica
básica de quem passou pelos filmes comerciais . Opa ! Seu primeiro filme foi Waking Ned Devine , no Brasil A Fortuna de Ned , uma absoluta delícia , “ um filme irlandês abençoadamente bem-humorado , de bem com a vida ” , segundo anotei quando o vi , em 1999 – o filme é de 1998 . Depois disso ele ficou vários anos sem filmar ; voltou em Nanny McPhee , de 2005 , uma comédia para toda a família , com a maravilhosa Emma Thompson ( que assina o roteiro ) fazendo uma babá mágica . Este aqui foi o terceiro filme do diretor . A trilha sonora de Estão Todos Bem é do italiano radicado na Inglaterra Dario Marianelli , autor da excepcional trilha de Desejo e Reparação / Atonement , da ótima trilha de Orgulho e Preconceito , da ótima trilha de O Solista / The Soloist , entre muitas outras Além das composições de Marianelli , a trilha tem belas músicas incidentais , canções suaves , num estilo folk – sweet songs and soft guitars . No finalzinho do filme , na última tomada , e ao longo dos créditos especiais , uma nova canção de Paul McCartney ! Só aí me lembrei da informação : sim , eu tinha lido que Sir James Paul McCartney havia composto uma canção especialmente para um filme de safra recentíssima , que havia sido indicada para um prêmio importante – de fato , “ ( I Want to ) Come Home ” foi indicada para o Globo de Ouro . O DVD do filme inclui um filmete de uns dez minutos em que o próprio Paul conta a história da música – desde o momento em que seu agente recebeu um telefonema de alguém que gostaria de saber se ele aceitaria compor uma canção para encerrar um filme que estava sendo produzido . Paul conta a história daquele jeito dele , aquele jeito de garoto , fazendo um monte de piadas , algumas sem graça – mas que ficam engraçadas por causa do absoluto charme de artista genial . Conta que passaram o filme já praticamente pronto para ele , num cinema do SoHo – e , no final , no lugar em que deveria entrar sua nova canção composta especial e especificamente para aquele momento , tinham colocado Aretha Franklin cantando “ Let It Be ” . E aí Paul diz algo assim : “ Parecia fácil – era só eu compor outro ‘ Let It Be ’ e cantar como Aretha Franklin . Aí até pensei em desistir . ” Claro que não desistiu . Ah , se a música que ele compôs é boa ? Claro que é boa : é McCartney , pô ! Três minutos e 35 segundos do melhor pop que pode haver . Já gravei , já baixei , estou ouvindo feliz como pinto no lixo . O CD da trilha sonora , vejo agora , não traz as canções , nem mesmo a de Paul – tem apenas as composições
da Marianelli . É um filme bastante bom , Estão Todos Bem , a refilmagem de Stanno Tutti Bene de Tornatore . Mas só por esse filmete de uns dez minutos com Sir James Paul já valeria a pena . 3 Comentários Assisti a versão americana , agora . É boa . Mas , ai , a versão original é primorosa , da trilha sonora – que acho que é do Morricone , um google me ajudaria , mas relevo – passando pela fotografia e culminando com o grande , grande Marcello fazendo o que ele faz melhor : permitindo nos ver a réstia de fragilidade que nos é própria ´por sermos humanos . Lembro de não ter gostado desse filme . Assisti pulando algumas partes , achei pra baixo e também previsível , meio clichê . Sou do time que o considerou sentimentalóide . Mas como você disse , alguns detalhes são bons , só que sozinhos não salvam o filme . Lembro de um desses detalhes , quando ele falava ao telefone com uma das filhas : ela disse que a mãe deles sabia ouvir , já ele era mais do tipo que só sabia falar ( ou teria sido o contrário ? ) . Enfim , às vezes falta isso aos pais , saber ouvir os filhos , principalmente na adolescência , quando há um afastamento natural . Aliás , falta isso a muita gente , principalmente nos dias atuais . Ninguém quer ouvir ninguém . Triste . Não achei o filme sentimentalóide ( sic ) . O pai que tenta reestabelecer relações com os filhos numa momento de sua vida que as coisas triviais , cotidianas já não fazem mais sentido . E os filhos buscando desculpas para não terem um contato mais próximo com o pai , justamente porque estão naquela fase da vida em que estão buscando justamente o que o pai buscava quando eles eram crianças e de , uma certa forma , emulando o comportamento do pai , na função de provedor da família , evitando o contato com o passado e , por consequência , com seus sentimentos . O turn point dos filhos acontece exatamente quando eles percebem que tal contato é inevitável e evitar a aproximação com o pai seria negar as próprias origens e , paradoxalmente , ter um comportamento diferente em relação à prole e ao mundo , do que o pai deles teve nas infâncias . Previsível sim , assim como o comportamento humano também é previsível , ou seja , como diz Sérgio isso não é uma crítica mas uma constatação . [ … ] até já é uma tradição : Estamos Todos Bem / Stanno Tutti Bene , de Giuseppe Tornatore , de 1990 , Estão Todos Bem/Everybody’s Fine , de Kirk Jones , de 2009 , refilmagem do original italiano , Não se Preocupe , Estou Bem!/Je Vais Bien , [ … ] [ … ] vez em quando , porém , De Niro desliga o piloto automático . Fez isso , por
exemplo , em Estão Todos Bem , de 2009 , refilmagem americana da obra de Giuseppe Tornatore com Marcello Mastroianni . Na minha [ … ] Postar um Comentário O seu email nunca é publicado ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * Ela Queria Riquezas / Rings on Her Fingers De : Rouben Mamoulian , EUA , 1942 Nota : O diretor , Rouben Mamoulian , é respeitável . No elenco estão o impecável Henry Fonda , a fantástica , apaixonantemente bela Gene Tierney , aos 22 aninhos de idade , mais a simpatia de Spring Byington , num papel diferente do que era o seu padrão . Produção da Fox em 1942 , Hollywood da época dourada . Pois é . E , no entanto , este Rings on Her Fingers , no Brasil Ela Queria Riquezas , é uma imensa bobagem . A trama não se segura de pé , e tem mais furos que um queijo suíço ou que Bonnie e Clyde após serem fuzilados milhares de vezes no final do grande filme de Arthur Penn . A rigor , a rigor , não é um filme que defenda idéias , princípios ruins . Ao contrário . A moral da história é muito boa – é aquela grande verdade básica de que o dinheiro não é e não deve ser a meta na vida , e o bom mesmo é a felicidade , o amor . O problema é que , para chegar até essa moral , a fábula percorre caminhos perigosos . E tropeça , e falha , e cai umas trocentas vezes . Um homem e uma mulher que parecem ser milionários – mas são golpistas A narrativa começa numa loja extremamente chique de roupas para mulheres ricas , extremamente ricas , em Manhattan , o umbigo do mundo capitalista naquele ano de 1942 em que o filme foi feito assim como hoje , muito mais de meio século depois . Susan Miller ( o personagem de Gene Tierney ) é uma das vendedoras da loja – e ela , assim como a mulher que veio depois de Amélia na vida do narrador do velho samba , só pensa em luxo e riqueza . Conversando com a colega , entre o atendimento a uma cliente e outra , consegue sintetizar em uma frase a frustração que sente na vida : – “ Acho que nascemos do lado errado do balcão . ” Mas logo chegam à loja um homem e uma mulher de meia idade , com todo jeitão de milionários . Chamam-se Warren ( Laird Cregar ) e Maybelle Worthington ( a simpática Spring Byington , que em geral fazia o papel de mãe de família simpática , trabalhadora , esforçada , perfeita ) . Os dois ficam de imediato fascinados com a beleza de Susan . Estavam ali para comprar roupas para Lilian – que dizem ser sua sobrinha – usar na festa daquela noite . Mas Warren acabou de ser informado de que Lilian havia abandonado a dupla
, se casado e dado no pé . E então resolvem convidar a linda vendedora para ir à festa com as roupas finas compradas na loja , no lugar de Lilian . Há então um corte no tempo . Não se mostra a festa – pula-se para o dia seguinte . Um mensageiro entrega a Susan um envelope enviado por Warren e May , contendo uma nota de US$ 100 , algo que a garota jamais havia visto na vida . Susan vai até a casa dos dois , a princípio querendo devolver o presente . Dá-se então o seguinte diálogo : Susan : – “ Me digam , vocês são mesmo milionários ? ” Warren ( depois de ele e May caírem na gargalhada ) : – “ Por quê ? ” Susan : – “ Bem , parece que está faltando alguma coisa . ” May : – “ Só os milhões – uma questão de tecnicalidade . ” Warren : – “ Sabe , a natureza brincou conosco : nós deveríamos ter nascido com sangue azul , e então devotamos nossa vida a corrigir esse erro biológico . ” Susan : – “ O que vocês fazem ? Se não são milionários , o que vocês são ? ” May : – “ Bem , somos uma espécie de excesso de taxa de juros . Criticar-nos seria uma atitude anti-americana . ” Warren : – “ Somos meras abelhas que pegam um pouco de néctar das flores que têm tanto . E você também pode ter um pouco . ” O golpista consegue vender para o protagonista um iate que não era dele Em suma : Warren e May são bandidos , golpistas . Posam de milionários para andar entre milionários e dar neles golpes , usando como atrativo , como isca , uma jovem extremamente bela , como era Lilian , e como agora propõem que seja Susan . Exatamente de que forma aplicam os golpes , isso o filme não explicita . Mostra-se que procuram arranjar para a moça linda um casamento milionário – mas se , enquanto o casório não acontece , eles cafetinam a moça em troca de muita grana , isso a gente não fica sabendo . Nem ficaria mesmo sabendo , numa produção hollywoodiana de 1942 , com o Código Hays de autocensura dos estúdios ainda em pleno vigor . O fato é que , logo depois desse diálogo que o IMDb transcreveu , e eu peguei dele , vão surgindo aquelas imagens de etiquetas de hotéis e navios que eram coladas às malas : Warren , a sra . Maybelle Worthington e sua filha Linda Worthington – o novo nome de Susan – andaram viajando por Havana , Rio de Janeiro , Hamilton nas Bermudas , Cidade do México . E , com dez minutos de filme , estão na praia em Palm Beach , Califórnia . May está sentada em uma cadeira de praia , debaixo de um guarda-sol , e a ex-Susan-agora-Linda está deitada , de maiô ,
numa toalha estendida na areia . E tenho que confessar que só por essa sequência – de resto boba como todo o filme – em que vemos a jovem Gene Tierney de maiô já vale a pena ver este Rings on Her Fingers . May diz uma bela frase . Reclama que , dali , vendo os homens no mar , fica difícil reconhecer quem é milionário : – “ Sem roupa , todos os homens parecem bem financeiramente . ” Um funcionário do hotel , carregando um telefone , e parado exatamente ao lado de May , grita pelo sr . Wheeler . Um jovem senhor se identifica , sai do mar , vem atender ao telefone – Henry Fonda estava , na época , com 37 anos , mas parecia ter uns 30 . Danado de bonito , o pai de Jane e Peter , avô de Bridget . O sr . Wheeler atende ao telefonema de uma pessoa interessada em lhe vender um barco , um pequeno iate . O iate está ancorado no mar , bem na frente do hotel , a algumas dezenas de metros da praia . Wheeler vai fazendo perguntas sobre o barco , e olhando para ele . Só que , entre ele e o barco há um avião , perdão , há aquela Gene Tierney toda – e ela se vira para um lado , se vira para outro , deita de costas , de bruços , balança o pezinho no ar . O vigarista Warren então bola um plano para vender para Wheeler , por US$ 15 mil , pagos em dinheiro , um iate … que , evidentemente , não pertence a ele . Assim que percebe o golpe – e percebe o golpe de imediato – , Wheeler vai à polícia , tenta descrever o homem que o roubou . Prometem que vão tentar encontrá-lo . O trio de vigaristas sai às pressas de Palm Beach , Warren e May felizes com o golpe bem sucedido . Já Susan-Linda não está nada bem . Sente culpa , remorso – e o espectador percebe que ela tinha ficado bastante encantadinha com o homem que ajudou a roubar . O sujeito roubado não é o milionário que parecia ser . Era um trabalhador com um salário razoável , e os US$ 15 mil que entrega ao vigarista era tudo que ele havia conseguido juntar na vida . Gene Tierney interpreta muito bem a moça pobre que aprende bons modos O que vem a partir daí é cada vez mais bobo , mais sem sentido , e cada vez com mais furos . Acho que não seria spoiler dizer que a mocinha que odiava o mundo por estar do lado errado do balcão , que só pensava em luxo e riqueza , e virou comparsa de uma dupla de vigaristas , rapidamente resolve voltar à vida honesta e dura , pobre , quebrada , sem grana . É , de fato , uma trama danada de boba . Mas , ao
rever o inicinho do filme para checar uns detalhes para não cometer erros nesta anotação , notei com mais clareza uma coisa que já havia percebido quando vi o filme inteiro . É o seguinte : é sensacional a transformação por que passa a personagem de Gene Tierney entre a sua existência como Susan , a garotinha pobre criada no Brooklyn que era ruim na escola e , vendedora em loja chique , morria de inveja dos ricos , e a moça que se passa por filha de uma milionária , e que vemos pela primeira vez na tal sequência em Palm Beach . Susan fala gírias e expressões populares ( no segundo encontro dela com May mostrado no filme , ela fala “ Gee ” , interjeição próxima da caramba , putz , e May diz para ela não usar aquela palavra nunca ) . Masca chickete abrindo bem a boca . Faz gestos estabanados . Pensando bem , como conseguiu aquele emprego numa loja muito chique de Manhattan ? Pois é . Mais um furo de um roteiro cheio de furos . Que ela reapareça já bem diferente , no modo de falar , de andar , de gesticular não deve necessariamente ser definido como furo , porque a dupla de vigaristas pode ter , naquelas viagens deles pelas Américas e Caribe , aplicado um curso intensivo de Professor Henry Higgins em cima dessa Eliza Doolittle . Mas o que é fascinante é que , tão absolutamente jovem , aos ridículos 22 anos de idade , essa moça de beleza estonteante ( e que teria uma vida mais trágica do que a de todas as suas personagens ) consegue interpretar maravilhosamente a moça pobre que vira fina e chique . Claro , o fato de o diretor ser Reuben Mamoulian ajuda muito , mas a verdade é que a interpretação de Gene Tierney nesta comedinha bocó já demonstra seu talento . Três anos mais tarde , em 1945 , ela estrelaria Laura , um dos clássicos mais adorados do cinema americano . E , vinte anos depois deste Rings on Her Fingers , em 1962 , Gene Tierney e Henry Fonda voltariam a estar juntos no elenco de um filme , o ótimo drama político Tempestade Sobre Washington / Advise &amp; Consent , realizado por Otto Preminger , o mesmo diretor de Laura . Foi um dos últimos filmes da carreira de Gene Tierney , e a sensação que sempre tive foi de que Preminger deu um papel a ela um tanto para ajudá-la . ( No meu texto sobre Laura , faço um resumo das muitas tragédias que se abateram sobre essa mulher de beleza incomparável . ) Maltin diz que o filme é uma tentativa de repetir do sucesso de The Lady Eve Leonard Maltin deu 2.5 estrelas em 4 ao filme , e escreveu sobre ele uma única frase : “ Vigarista Tierney se apaixona por Fonda em vez de depená-lo ; romance padrão com bom elenco na esperança de repetir o sucesso que Fonda
teve com The Lady Eve ” . The Lady Eve no Brasil teve o título de As Três Noites de Eva , e foi lançado em 1941 , um ano antes deste Rings on Her Fingers . O diretor é o grande Preston Sturges , e dele a sempre cricri Pauline Kael disse o seguinte : “ Barbara Stanwyck estica sua perna sensacional , e Henry Fonda tropeça nela . Ela é uma vigarista profissional do baralho , e ele um cientista milionário que entende mais de cobras do que de mulheres ; nenhum dos dois jamais esteve tão engraçado ” . Um dia preciso rever The Lady Eve . Quando vi pela primeira vez , em 2000 , não entrei em sintonia com o filme , achei bobo demais . Mas este Rings on Her Fingers não preciso rever . É , sem dúvida alguma , bobo demais . E além disso , pelo que mostram Maltin e Pauline Kael , cópia da idéia do outro filme . A Caixa / The Box De : Richard Kelly , EUA , 2009 Nota : Anotação em 2010 : A Caixa cita Sartre duas vezes . Mas a sensação que tive foi que a trama é assim uma mistura do Fausto , de Goethe , ou de O Retrato de Dorian Gray , de Oscar Wilde , com as histórias do muito menos reconhecido Fredric Brown . Mas vamos por partes . Parece que o filme foi um fracasso de público e crítica . No entanto , não é ruim , de forma alguma – ao contrário . É uma interessante mistura de ficção / fantasia com ficção científica com thriller de suspense , mas na verdade é uma parábola moral , uma grande metáfora que questiona os códigos de valores das pessoas , da sociedade . A Caixa abre com um texto que vai sendo escrito como se fosse no antigo , antiqüíssimo telex – à medida em que as palavras vão aparecendo na tela , ouvimos um barulhinho semelhante ao que o telex fazia . É um memorando interno – confidencial – para o vice-diretor da Agência de Segurança Nacional , NSA na sigla em inglês . Diz o seguinte : – “ Ressuscitação do paciente Arlington James Steward confirmada pelo hospital . Paciente recebeu alta da unidade de queimadura na manhã de 24 de julho , indo a local não revelado . Paciente construiu um dispositivo de finalidade não reconhecida . Especificações foram confirmadas pelo Projeto Marte . Paciente está entregando o dispositivo a residências privadas . Mais informações em breve . ” Um letreiro nos avisa que estamos na Virgínia , em 1976 , e as primeiras seqüências mostram um início de manhã na casa dos Lewis , um casal na faixa dos 35 anos , com um filho de uns dez . O relógio na cabeceira marca 5h45 , e Norma ( Cameron Diaz ) e Arthur ( James Marsden ) acordam com o som da campainha . Norma desce as escadas , vai até a
porta da frente , vê pelo olho mágico um grande carro preto se afastando ; abre a porta e no chão , diante dela , está um embrulho em forma de cubo . A família – os pais mais o filho Walter ( Sam Oz Stone ) se reúne em uma mesa em volta do embrulho . Lá dentro está uma caixa , um cubo , com uma luzinha em cima ; há uma chave , e um grande cartão com a seguinte frase : “ O sr . Steward vai visitá-los às 17h . ” O salário é apertado , e a família perde a bolsa de estudos do filho O diretor e roteirista Richard Kelly se dá , assim , um bom espaço de tempo – um dia inteiro – para apresentar os Lewis ao espectador . Arthur Lewis é um cientista , formado em engenharia ; trabalha na Nasa , a agência espacial americana ; está envolvido no Projeto Marte – o envio de uma sonda ao planeta , que passaria para a Terra fotos e informações – , mas espera obter um dos cobiçados lugares de astronauta . Naquele dia , ficará sabendo que não passou nos testes . Norma Lewis é professora de literatura de um bom colégio , onde seu filho Walter estuda com bolsa ; na aula que o espectador vê , naquele dia inicial , ela está falando de Sartre , Huis Clos , Entre Quatro Paredes ( que em inglês se chamou No Exit ) , aquela frase famosérrima , “ o inferno são os outros ” . Um aluno surpreende a todos perguntando por que a professora manca ; mais surpreendente ainda é que a professora Norma , em vez de ignorar a impertinência ou mandar o aluno para fora da classe , senta-se em cima da mesa , tira a bota , a meia , e expõe à classe o pé deformado , sem quatro dedos . Pouco depois , Norma é chamada pelo diretor do colégio , que a informa que , infelizmente , a escola não poderá mais dar bolsa de estudo aos filhos dos professores . Arthur e Norma vivem com conforto , mas o salário dos dois é apertado , dá apenas para pagar as contas – sem a bolsa de estudos para Walter , e sem o aumento que Arthur teria caso obtivesse a vaga como astronauta , a família vai passar um grande aperto . Steward não tem boa parte da face esquerda ; tem uma imensa queimadura que consumiu parte do rosto . Norma fica assustada com a aparência dele , assim como o espectador . Muito mais assustador é o que ele tem a oferecer : – “ Eu tenho uma oferta a fazer ” , informa ele a Norma . “ Se você puxar o botão ( da caixa entregue pela manhã ) , duas coisas vão acontecer . Primeiro , alguém , em algum lugar do mundo , que vocês não conhecem , vai morrer . Segundo , vocês
receberão um pagamento de US$ 1 milhão . Vocês têm 24 horas para decidir . ” O trato com o diabo – a alma de Fausto em troca da vida eterna . A alma de Dorian Gray em troca da eterna juventude . A questão que o filme coloca para o espectador é esta : você mataria um desconhecido para ganhar uma fortuna ? Um detalhinho mínimo que me chamou a atenção foi o nome do personagem misterioso interpretado por Frank Langella , o ator que fez o excelente Nixon em Frost / Nixon . Arlington James Steward . Faz lembar , claro , James Stewart , o grande ator . Arlington é o nome do cemitério militar na Virgínia , perto de Washington , onde são enterrados muitos dos militares americanos mortos em combate . E Steward é comissário de bordo , mordomo , administrador – algo que o personagem revelará ser . Um nome sugestivo , muito bem sacado . O autor da história é Richard Matheson , homem de obra vasta Fredric Brown ( 1906-1972 ) jamais obteve a respeitabilidade de Isaac Asimov , ou Arthur C . Clarke ( aliás , citado algumas vezes ao longo do filme ) , ou Clifford D . Simak , mas é um brilho de escritor . Escreveu algumas das parábolas morais mais enxutas , mais violentas , mais cortantes da ficção científica de que tenho notícia . Como tantos outros autores de ficção científica – a começar dos três citados no início do parágrafo – , usava suas histórias para fazer belas considerações sobre os grandes valores morais , os descaminhos da humanidade , o talento inesgotável do homem para destruir tudo à sua volta , desde o vizinho até as fontes de vida do planeta . Fredric Brown seguramente assinaria embaixo dessa história criada por um conterrâneo e praticamente contemporâneo seu , Richard Matheson , nascido em 1926 . Matheson é o autor do conto “ Button , Button ” , em que o filme se baseia . É um escritor prolixo , tem obra vastíssima ; foi também roteirista de diversos filmes , vários deles baseados em livros de sua própria autoria . Confesso ( e já confessei aqui coisas muito mais graves ) : nunca tinha ouvido falar , ou não me lembrava de ter ouvido falar em Richard Matheson . Ignorância minha . Não tenho idéia de se as pessoas ligam o nome às obras dele . Richard Matheson foi o autor , em 1951 , da novela The Shrinking Man ; concordou em vender os direitos de adaptação do texto para o cinema desde que ele mesmo escrevesse o roteiro , e foi o autor do roteiro de The Incredible Shrinking Man , de 1957 , hoje tido como um clássico . Foi o autor do conto “ Duel ” e também do roteiro do filme do mesmo nome – Encurralado , o filme que revelou o gênio Steven Spielberg . Foi também o autor da novela I Am Legend ; como até já
foi dito aqui neste site , esse livro de Matheson virou o filme The Last Man on Earth , em 1964 , dirigido por Ubaldo Ragona e estrelado por Vincent Price ; em 1967 virou um curta-metragem espanhol com o título de Soy Leyenda ; aí a Warner comprou os direitos de filmagem do livro , e , em 1971 , lançou The Omega Man , dirigido por Boris Segal , com Charlton Heston no papel que tinha sido de Vincent Price e , em 2007 , foi refilmado com Will Smith no papel central e Alice Braga com boa participação . E tem muito mais . Richard Matheson foi autor de diversas das tramas de Histórias Maravilhosas / Amazing Stories e No Limite da Realidade / Twilight Zone , duas séries que marcaram época na TV . O sujeito tem uma imaginação inesgotável . É sempre bem-vindo um filme que discute valores morais Matheson não participou desta adaptação de seu conto “ Button , Button ” para o cinema . Aos 83 anos , desfruta de merecidíssima aposentadoria . Sua história foi escrita para o cinema pelo jovem Richard Kelly , garotão nascido em 1975 , exatamente no Estado da Virginia , bem pertinho de Washington , D.C , o Estado onde ficam as sedes da CIA e da Agência de Segurança Nacional . Em 2001 , Richard Kelly escreveu e dirigiu Donnie Darko , um filme que eu não vi , mas , aparentemente , deixou meio mundo impressionado . Sabe fazer cinema , o garotão Richard Kelly . Cria clima , deixa o espectador curioso , temeroso , às vezes abertamente apavorado . Dirige bem os atores ( até a insossa Cameron Diaz está bem ) , não tenta criativóis , invenciones – nem seria preciso , com uma trama que envolve o sobrenatural , o além do que conhecemos . Tem o mérito de discutir valores , num mundo , numa sociedade , que anda precisando desesperadamente fazer isso – redescobrir valores , reencontrar valores . Não sei se Sartre , Goethe ou Wilde gostariam deste filme . Danem-se eles . Tenho quase absoluta certeza de que Fredric Brown gostaria . E , portanto , é um filme que vale a pena ver . Só hoje vi que o realizador é o mesmo de Donnie Darko que eu vi e que me deixou completamente KO , zarolho , de rastos . Não percebi nada , absolutamente nada . Falei com um amigo que deu uma explicação que ainda me deixou pior . O meu QI baixou para uns 20 ou 30 . Se eu sabia tinha evitado este . Uma crítica apurada e sincera sobre um filme controverso . É um filme mais complexo que Donnie Darko . Uma premissa visceral e estarrecedora que incorpora a filosofia de Jean-Paul Sartre , o gnosticismo maçônico , o esoterismo e os dilemas éticos e morais . O brilhante diretor explora com sutileza e maestria os limites da subjetividade . Abaixo uma interpretação do enredo . CURIOSIDADE Há uma
cena que exibe abertamente a carteira de cigarros Marlboro e reza a lenda que existem 5 símbolos maçônicos ocultos na mesma . O filme Agentes do Destino ( The Adjustment Bureau ) versa sobre partes do mesmo tema ( governo oculto ) . É baseado no conto Adjustment Team de Philip K . Dick cujo autor Richard Kelly demonstra ter influências e utilizado diversos conceitos para seus filmes . ENREDO A história se passa em 1976 , onde Arthur e sua esposa Norma acabam de adquirir uma casa nova . Eles são a típica família de classe média suburbana , retratada de forma medíocre . No início , há um informativo de que Arlington Steward foi ressuscitado e liberado da unidade de queimados . Numa manhã , Arlington chega num Lincoln preto , como um “ homem de preto ” e misteriosamente deixa uma caixa na porta da casa do casal . Arthur dirige-se para a NASA e dedica-se a construir um pé protético para Norma e seu pé mutilado . Norma descobre que a caixa contém um botão vermelho , enquanto isso , Arthur é rejeitado como astronauta , um objetivo pessoal de longa data e o financiamento para a casa nova e as prestações do carro . Norma ensina Inglês numa escola católica privada local e estuda o ensaio “ Sem Saída ” de Jean-Paul Sartre . Um aluno intrometido tenta constranger Norma , pedindo que mostre a classe o pé e revele porque manca . Norma aceita e mostra . Puxando o fio do novelo filosófico de Sartre , ou seja , à medida que amadurecemos , nos escondemos atrás de “ máscaras ” ao mesmo tempo que somos livres e os únicos responsáveis por nossos atos . O pé defeituoso de Norma é uma imperfeição a esconder , um lembrete de que a bela aparência mascara a fachada do pé mutilado . Se Norma aceitasse o defeito , ela realmente seria livre dos estigmas que as imperfeições produzem em nossa psique . Norma comenta em sala de aula a famosa citação , “ o inferno são os outros ” , pois , os outros “ conhecem nossos defeitos . ” Observa-se que o filho do casal não acredita em Papai Noel quando o assunto vem à tona na cozinha , pois Arthur sendo um cientista , transferiu inconscientemente isto ao menino ( na visão de Sartre ) . O cientificismo é outra máscara para Sartre ao afirmar que os cientistas se escondem atrás da máscara da racionalidade e quando surge um mistério inexplicável pela ciência , evitam uma conclusão temerária . Porém , Arthur e Norma estão prestes a descobrirem algo que nunca poderiam imaginar . Na manhã seguinte , há uma conferência de imprensa na NASA sobre o lançamento da próxima Sonda exploratória em Marte , curiosamente o porta-voz efetua declarações sobre a descoberta de “ vida ” e “ antigas civilizações alienígenas . ” No entanto , A Caixa vai dar-nos uma pista velada de como os “ alienígenas ” realmente são . Durante
a conferência , uma repórter pergunta por que a NASA está trabalhando com a NSA e fica sem resposta . Além disso , Norma perde o subsídio para os estudos do filho , percebendo que o nariz do diretor sangra quando a informa . Mais tarde , Arlington chega oferecendo um milhão de dólares se o casal apertar o dispositivo-botão que resultará na morte de alguém que não conhecem . Eles têm 24 horas para tomar uma decisão e , não aceitando a oferta , A Caixa será levada e reprogramada . Steward deixa uma nota de cem dólares com Norma ( despertando a dúvida e a tentação na consciência humana ) . O casal se encontra num dilema ético e moral . Na próxima seqüência , vemos a imagem de uma câmera de vigilância da NASA direcionada aos trabalhadores e um homem estranho de terno olhando pra câmera . Esta figura é uma pista que só aparece no filme um par de vezes ( olhando propositalmente do fundo ) . Ele é outro “ homem de preto ” que representa o “ governo oculto ” , o controle da NSA e da NASA . Não se sabe sua identidade , além de que é o “ patrão ” de Steward e um representante ou o próprio empregador . Norma decide apertar o botão , depois de tentar persuadir Arthur ainda duvidoso sobre a forma de obtenção deste dinheiro . O casal vai assistir a peça “ Sem Saída ” do mesmo ensaio que Norma abordou em sala de aula . No ensaio de Sartre , três pessoas descobrem que foram escoltados ao inferno por um condutor-demônio , assim como , no filme ocorre algo parecido com o casal e o filho , onde o tormento acaba sendo um ao outro . Começamos a perceber que Arthur , Norma e o filho estão sendo escoltados até o seu “ inferno pessoal ” . Aprisionados em suas vidas de desejos escondidos e segredos não revelados ( o filho do casal é sempre o último a “ não ” saber ) . No fim da peça novamente aparece o “ homem de preto ” passando ao fundo do palco e , a seguir , a câmera foca um homem idoso como se estivesse hipnotizado ( agindo de forma robótica como o Papai Noel que “ provoca ” uma colisão entre o carro em que se encontra Arthur e um caminhão . Assim como , os “ empregados ” de Steward ) . Nota-se que ao longo do filme a televisão está sempre ligada na casa do casal , mostrando brevemente o que é relevante num nível esotérico . O casal vai a uma festa de Natal com os colegas de trabalho onde as coisas começam a ficar estranhas . Certas pessoas observam o casal com olhares de reprovação , ao mesmo tempo em que fazem a brincadeira de escolha aleatória dos presentes sob a árvore . Um garçom ( que é o aluno intrometido de Norma ) faz um sinal de paz
( dois dedos formando um V ) e Arthur pega uma caixa com uma foto borrada de Arlington como presente . Enquanto isso , a babá que está cuidando do filho do casal , percebe que os dois estão sendo observados por um estranho através da janela . Os dois vão até o porão após uma discussão de histórias em quadrinhos , e numa das capas das revistas de Arthur há um alienígena , um caixão flutuando no espaço e um crânio ultrapassando um portal ( o pilar gnóstico-cabalístico e os símbolos ritualísticos de iniciação ? ) . A babá olha uma gravura fixa na parede e pergunta do que se trata . O filho do casal afirma que é a “ terceira lei ” de Arthur C . Clarke e que seu pai o conhece . A frase é uma pista de um conhecimento esotérico , ou seja , “ qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia ” . E Arthur irá vivenciar eventos que a ciência não explica . De volta a festa de Natal , o garçom e aluno de Norma provoca Arthur , rindo do episódio em que a humilhou devido ao pé defeituoso . Outro garçom avisa Norma que há um telefonema para ela , então esquece o que estava fazendo e seu nariz começa a sangrar . Arlington sabe que Arthur tentou rastreá-lo e adverte Norma de que eles fizeram um acordo que não pode ser quebrado . Arthur esmurra o aluno de Norma que ri e faz o sinal de paz . Os dois abandonam a festa e o cara que estaciona os veículos faz o sinal de paz , enquanto o casal dá a partida no carro . No gelo do pára-brisa do carro está escrito “ Sem Saída ” ( o ensaio de Sartre novamente ) . Arthur descobre por intermédio do pai de Norma e policial que o carro de Arlington está registrado em nome da NSA . Arthur percebe que sua família está sendo constantemente vigiada . A seguir , uma cena bizarra aparece na televisão da família , ou seja , as Torres Gêmeas estão fora do lugar onde foram construídas . Não estão no terreno em Lower Manhattan e congelando a imagem se percebe pelos prédios vizinhos e pela bacia oceânica . ( O que faz um galeão espanhol dos séculos passados cruzando na frente das torres ? ) . Duas torres e dois pilares “ em queda ” são relevantes para a cabala e para a maçonaria ( as duas portas Jaquim e Boaz ) . Lembrando que em 9 / 11 três torres caíram , e não apenas duas . No ocultismo , o pilar do meio significa equilíbrio entre os dois pilares laterais de misericórdia e gravidade , bem como , o “ pilar de iniciação e integração . ” É o equilíbrio entre o yin e o yang , o macho e a fêmea e etc . . . O filho pode ser o pilar do meio , neste caso , o
equilíbrio entre Arthur e Norma . O pilar do meio se refere ao cubo de seis lados do espaço ( com todas direções ) , o cubo perfeito . E um cubo perfeito é uma caixa . A destruição das torres gêmeas , intrinsecamente , sugerem uma nova ordem das idades e , grande parte das teorias de iniciação incluem a morte da essência espiritual anterior ( velha ) e a ressurreição da próxima ( nova ) . Eis o que se aproxima de Arthur . Voltando ao enredo , Arthur leva a babá para casa e ela percebe que há sangue nas mãos do mesmo ( sangue em suas mãos como idéia de culpa ? ) . A babá diz para Arthur olhar para a “ luz ” como solução para os problemas que ele enfrenta e que a “ luz ” o cegará . Então o nariz da babá começa a sangrar e há uma constante alusão à sangue no filme , e sangue é vermelho . Por sua vez , Arthur está trabalhando numa missão a Marte , o “ Planeta Vermelho ” e , também considerado o “ deus da guerra ” e o capeta para quem aprecia sua companhia . Outra pista lançada no enredo . Arthur descobre que a babá usa um falso nome ao pegar sua carteira de identidade ( ela deixa cair ) . Na cena seguinte , é revelado que Arlington está construindo uma espécie de portal nas instalações da NASA e que esta é obrigada a colaborar com a NSA . Uma notícia televisiva informa que “ a águia pousou ” e a missão a Marte vai revelar definitivamente que há “ vida em outros planetas . ” ( seria um meio de desviar a atenção para o que se passa na Terra ? ) Então , a NSA está vinculada com a NASA e os “ empregados ” de Arlington sofrem uma lavagem cerebral para serem usados como “ cobaias ” em seu portal tecnológico “ de luz . ” Neste momento é revelado como Arlington morreu , ou seja , atingido por um raio 5 vezes superior a temperatura solar . Quando “ ressuscitou ” era uma “ entidade ” diferente com fins de servir a um “ empregador ” . Superficialmente , o enredo dá a entender que sua consciência foi dominada por uma inteligência alienígena ( os empregadores de Arlington ) . Porém , o raio é “ luz ” , a “ luz ” de iniciação do gnosticismo maçônico que afasta a premissa de dominação extraterrena . Na seqüência , Arthur ( por meio de uma fotografia de Arlington contendo o endereço da biblioteca ) e Norma ( por meio do aviso da jornalista que não teve sua pergunta respondida na conferência da NASA ) são levados até a biblioteca pública . A biblioteca é uma casa de conhecimento ( gnose significa conhecimento ) e é lá que Arthur tem seu ritual de iniciação maçônico particular . Arthur é levado numa procissão litúrgica pelos “
santos da biblioteca ” ( na verdade uma igreja ocultista ) até uma porta em que aparece a esposa de Steward e lhe é concedido uma “ bênção ” litúrgica ocultista ” ( os braços da Sra . Steward estão , claramente posicionados como o sinal-bênção maçônico ) Há uma grande pintura exposta acima da entrada da porta mostrando um santo cuja a forma é similar a posição de iniciação de um mago gnóstico . Arthur compreende agora que ciência e magia são indistinguíveis ( a terceira lei de Arthur C . Clarke na gravura fixada no porão da casa deles ) . Ao adentrar a sala , a esposa de Arlington revela-se como Clymene ( uma referência à deusa de Klymenos ou Hades ? ) , sendo mostrado a ele três pilares de água . Ele deve escolher apenas um para obter descanso em “ danação eterna ” . Arthur recorda que vários “ empregados ” fizeram o sinal de paz , levantando dois dedos . Então , ele escolhe o “ pilar do meio ” ( do equilíbrio e da harmonia ) . Ele é levado para a “ luz ” , descrevendo mais tarde como o “ céu ” e ausência de angústias interiores . No mesmo momento , Norma está sendo iniciada em outra parte da “ biblioteca ” , numa forma ritualística diferente e , por Arlington Steward . Ela afirma que sentiu “ amor ” quando viu o Sr . Steward pela primeira vez e Arlington diz para ela pegar sua mão . Percebe-se uma sutil referência ao casamento esotérico e uma conjugação holística . Norma desperta em sua cama . Há um imenso cubo flutuando sobre sua cabeça . Arthur desperta no interior do cubo que se desfaz em torrentes de água e despenca na cama ao lado de Norma . Arthur passou pelo seu batismo , dentro de uma “ caixa ” aquática e renasceu . Lembrando que caveiras , caixões e morte são , simbolicamente , utilizados em cerimônias de iniciação religiosa . O filme mostra através de Arthur como Steward faz a experiência e a experiência é realizada de forma maciça pelo “ governo oculto ” que são os empregadores do mesmo . Porém , não se trata de um “ governo oculto ” local . Há uma referência estarrecedora sobre o domínio do “ governo oculto ” , no momento em que a câmera foca uma tela enorme e vários quadrados azuis se alternam e formam um mapa do globo terrestre . Trata-se dos primeiros mapas criados pelo Google com a disposição real de domínio do “ governo oculto ” . Dando seguimento , um subalterno de Stewart na NSA questiona porque está sendo realizada a experiência e Arlington responde que a experiência é para decidir se a humanidade permanecerá viva ou será exterminada . A experiência envolve dinheiro com notas do Federal Reserve e o dilema ético e moral de satisfazer seus desejos pessoais , condenando outro ser humano à morte ou manter o bem maior , o
altruísmo humanitário . Arlington não faz o pagamento por meio de imóveis , ações ou barras de ouro . Utiliza-se do papel-moeda que é uma das formas de controle da população pelo “ governo oculto ” , ou seja , através do controle da emissão de moeda ( e , por isso , livre de impostos como afirma ) . Voltando ao filme , O subalterno pergunta o que ocorrerá quando o teste da caixa terminar , respondendo Steward que passará à próxima experiência . O próximo passo é alinhar grupos de pessoas da população mundial secretamente e enviá-los ao portal que servirá para os testes subsequentes e realiza uma espécie de lavagem cerebral coletiva ( uma segunda chance antes do extermínio ? ) . Dando a entender que a proposta com A Caixa e o disposito-botão falharam , pois Steward afirma que a maioria apertou o botão e optou por satisfazer o desejo de ganância . A iniciação de Arthur não está terminada e , tanto ele quanto seu filho são capturados pelos homens de preto . O filho é batizado numa piscina pela esposa de Arlington e seus “ empregados ” enquanto Arthur deixa um hangar da NASA sob intensa luminosidade . Pelas imagens anteriores , verifica-se que o hangar é o mesmo em que Steward construiu o imenso portal de pretensa lavagem cerebral ( a câmera mostra raios sob o hangar antes da saída de Arthur e seu encontro com agentes da NASA e NSA ) . Seus sentidos são alterados , pois ele estava fora do tempo e do espaço no éter da iniciação , e emergiu na Terra ( agora Arthur fora atingido por raios como Steward ) . Porém , sua purgação não terminou , pois deve sacrificar Norma ou seu filho para manter o planejamento dos empregadores de Steward . Há uma simulação de escolha e de livre arbítrio para Arthur , pois foi Norma que apertou o botão . Mesmo que seu desejo seja condenar o filho à cegueira e à surdez , a depuração mental e espiritual foram pré-determinadas . E a última referência a Sartre é feita por Arthur , quando afirma que a Terra é o purgatório e que Stewart está ali para levá-los ao inferno ( o enredo de “ Sem Saída ” ) . Acaba matando Norma para que o filho volte a enxergar e a ouvir . Arthur não é preso pelos policiais e os homens de preto intentam tomar conta do mesmo , pois se trata de um iniciado que sacrificou seus desejos pessoais em benefício da coletividade . Seu filho permanece sob os cuidados do “ governo oculto ” e , simbolicamente , o valor de um milhão de dólares será empregado nas despesas do garoto até que atinja a maioridade . Vamos abrir a discussão e demais pontos de vista . danielbrasilsm@hotmail.com OUTRA CURIOSIDADE Arlington Steward foi atingido por um raio 5 vezes mais quente que o solar , a estrela de 5 pontas ou pentagrama exotérico é muito importante no ocultismo ,
além de haver uma cena que exibe abertamente a carteira de cigarros Marlboro e rezar a lenda que existem 5 símbolos maçônicos ocultos na mesma . Um Trackback [ … ] ocasionais . Para evitar um gigantesco escândalo , dois de seus assessores diretos , Bob Alexander ( Frank Langella ) , o correspondente ao nosso ministro-chefe da Casa Civil , e o chefe da assessoria de imprensa , [ … ] Postar um Comentário O seu email nunca é publicado ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * A Separação / La Séparation De : Christian Vincent , França , 1994 Nota : Anotação em 1997 : Um filme cru , despojado , sem qualquer truquezinho de câmara ou efeito diferente de narrativa , com diálogos extremamente realistas – nada de frases brilhantes , apenas o que dizem pessoas comuns nessa situação tão absolutamente comum , a separação . Daniel Auteil e Isabelle Huppert , excelentes , realçam a dificuldade de comunicação no casamento que chega ao fim . Moram juntos há possivelmente uns dois anos , têm um filhinho de 15 meses . Anne se apaixona por outro homem ; Pierre tenta enfrentar com paciência a situação , mas rapidamente as coisas vão se deteriorando , ele passa a ter atitudes agressivas , ela também ( ele fisicamente , ela verbalmente ) . Primeiro discutem o que devem fazer , depois discutem se devem se separar , depois discutem quem fica na casa ( que era dele ) e quem sai . No fim , a relação dela com o namorado já terminou , mas não há como retomar o casamento . Parece um documentário sobre a separação , com atores vivendo a dor tão intensamente que poderiam mesmo estar atravessando esse inferno na realidade . A capinha do vídeo diz que Huppert ganhou melhor atriz em Veneza 95 , e Auteil , melhor ator em Cannes 95 ; é propaganda enganosa , porque eles não foram premiados por este filme . Auteil ganhou o prêmio em Cannes em 1996 por Le Huitième Jour ; em 1995 , o prêmio de Cannes ficou com Jonathan Pryce , por Carrington . E a Huppert ganhou três vezes em Veneza – um prêmio pelo conjunto da obra , em 2005 , um por La Cérimonie ( 1995 ) e um por Une Affaire de Femmes ( 1988 ) . Isztambul De : Ferenc Török , Hungria-Turquia-Holanda-Irlanda , 2011 Nota : Duas características chamam especialmente a atenção em Isztambul . A primeira delas é como o filme é multinacional – uma co-produção Hungria-Turquia-Holanda-Irlanda , cuja ação se passa na Hungria , na Romênia e na Turquia – na parte européia e na parte asiática deste último . O diretor e roteirista , Ferenc Török , é húngaro , assim como a maioria dos personagens e vários atores , mas a atriz principal , Johanna ter Steege , é holandesa . A segunda característica é a fantástica incapacidade de os personagens centrais se comunicarem . O marido , János
( Andor Lukáts ) , a mulher , Katalin ( o papel de Johanna ter Steege ) , a filha , Zsófi ( Réka Tenki ) , e o filho , Zoli ( Norbert Varga ) têm imensa dificuldade de falar um com o outro . Não se expõem , não se expressam uns para os outros ; têm imensa dificuldade de falar uns com os outros . Não sei se outras pessoas terão essa sensação , mas , para mim , o filme de Ferenc Török é sobre dificuldade de comunicação . Faz lembrar A Noite , A Aventura e O Eclipse , a trilogia de Michelangelo Antonioni sobre a incomunicabilidade . O marido diz que está apaixonado por outra , faz a mala e se manda O filme abre como duas sequências que nos mostram basicamente quem são János e Katalin . Ela é dona de casa : a vemos fazendo compras , no mercado , no açougue . Ele é professor universitário : o vemos dando uma aula . Na sequência seguinte , os dois estão na sala de seu apartamento confortável , de classe média . Ele está botando um punhado de roupas dentro de uma mala , e contando para ela , com bem poucas palavras , que está apaixonado , está decidido ; se ela precisar de alguma coisa , avise . E se manda . Aqui faço uma rápida divagação para dizer obviedades : nenhuma pessoa deveria viver apenas para cuidar da casa e dos filhos . É um crime isso que muitos homens levam suas mulheres a fazer , e é um crime as mulheres permitirem isso – serem apenas e tão somente donas de casa . Todas as pessoas deveriam ter um trabalho , uma atividade , ou no mínimo hobbies – nem que seja colecionar selos , ou coisa parecida . Porque se a pessoa se dedica apenas a cuidar da casa e dos filhos , é imenso o perigo de ela perder o sentido da vida quando os filhos crescem e nos dizem adeus . A mulher abandonada pelo marido está à beira da catatonia A holandesa Johanna ter Steege demonstra ser atriz de grande talento . O espectador vê na cara dela como de repente o mundo de Katalin caiu , despencou , desapareceu , como faltou chão sob seus pés . Zoli , o filho , mostra-se enfurecido com o pai – mas não procura estar próximo da mãe , oferecer o ombro , conversar , comunicar . Nada . É cercado por uma couraça , exatamente como o pai que critica . Zsófi , a filha , está grávida , já perto de dar à luz ; liga para a mãe , mas a mãe não atende , e ela não vai atrás , não vai visita-la , não procura estar próxima . Katalin está à beira da catatonia . A sequência é brilhante : Katalin limpa cuidadosamente as folhas de uma planta na sala do apartamento . Uma a uma , cuidadosamente . Depois pega
uma tesoura , e corta ao meio as folhas . Uma a uma . Lentamente . Depois se levanta , e sai de casa , vai para a rua , sem expressão alguma no rosto . Não está vendo nada – está à beira da catatonia . Está descalça , e segura a grande tesoura . Passa um bonde , ela entra , senta-se , tesoura na mão . O motorneiro avisa que é a estação final , todos devem descer . Katalin não está ali , não ouve . Ele chega perto dela , vê a faca . Leva-a para um pequeno escritório da estação final , dá um telefonema – uma ambulância vem recolher Katalin e a leva para um manicômio . Estamos aí com talvez uns dez minutos de filme . A partir daí , haverá muitos momentos de road movie , e , de Budapeste , a ação levará o espectador para Istambul , a cidade que se separa de outro continente por um estreito de águas tremendamente azuis . Um bando de pessoas que não se comunicam – e por isso se trumbicam , é claro Isztambul – o título do filme é assim , com s e z ; deve ser como os húngaros grafam o nome – tem um ritmo propositadamente lento , e nem poderia ser diferente em um drama familiar que mostra uma mulher que perdeu o centro de gravidade , o sentido da vida . O impressionante , na minha opinião , é como os personagens criados pelo diretor e roteirista Ferenc Török falam pouco . As pessoas daquela família destroçada não conversam , não abrem a alma , não comunicam . Falam frases curtas , apenas as indispensáveis . Não mostram uns aos outros suas emoções , suas sensações . O casal e seus dois filhos , em especial , são assim . Mas também a garota Juli ( Eszter Bánfalvy ) , estudante universitária , de uns 20 anos , por quem János , o professor , se apaixona , é de poucas palavras . Um bando de pessoas que não se comunicam , não se abrem . E , por isso , se trumbicam , é claro . Um belo , sensível filme vindo de um país de filmografia pouco conhecida entre nós O diretor Ferenc Török nasceu em 1971 , em Budapeste . Sua filmografia como diretor tem 18 títulos – a maioria séries e filmes para a TV . Numa pesquisa não muito atenta , não consegui maiores informações sobre ele . Johanna ter Steege nasceu em 1961 em uma cidade do interior da Holanda . Tem mais de 40 títulos na filmografia , iniciada com o thriller O Silêncio do Lago , de 1988 , que seria depois refilmado em Hollywood . Em 1991 , teve um papel em Encontro com Vênus / Meeting Venus , daquele que é o mais conhecido realizador húngaro , István Szabó . Trabalhou também em Minha Amada Imortal / Immortal Beloved , uma cinebiografia de Beethoven ; não
vi nenhum de seus filmes feitos na Holanda Isztambul é um belo , sensível filme – e aqui é preciso agradecer ao canal Max , o 79 na minha Net , por estar exibindo filmes de países cujas cinematografias não costumam normalmente ser conhecidas no circuito comercial brasileiro . É uma dádiva , isso . Cupido Não Tem Bandeira / One , Two , Three De : Billy Wilder , EUA , 1961 Nota : Anotação em 2009 : Neste seu filme de 1961 , feito logo depois dos maravilhosos Quanto Mais Quente Melhor ( 1959 ) e Se Meu Apartamento Falasse ( 1960 ) , e antes do ótimo Irma La Douce ( 1963 ) , o grande Billy Wilder errou a mão . Claro : como é Billy Wilder , tem coisas boas . Há diálogos excelentes , hilariantes , sarcásticos , cortantes . Há uma grande , deliciosa gozação sobre os slogans do comunismo – e também do capitalismo – , que fazem lembrar Ninotchka , de Ernst Lubitsch , o mestre do mestre Wilder . E não é por acaso : Wilder foi um dos roteiristas do filme de 1939 . Há gozações sobre tudo – dos ex-nazistas vivendo na Alemanha do início dos anos 70 à estrutura das grandes empresas americanas , passando pela eficiência alemã , pela rivalidade entre americanos sulistas e nortistas , um século depois da Guerra de Secessão , pela paixão dos americanos por títulos de nobreza européia , pela corrida espacial , pelos mísseis colocados por Kruschev em Cuba num dos pontos mais dramáticos da guerra fria . A trama parte de uma espécie de Romeu e Julieta adaptado à guerra fria : americana milionária se apaixona por jovem comunista . Aliás , exatamente no mesmo ano em que este filme foi feito , 1961 , o grande ator inglês Peter Ustinov escreveu e dirigiu uma comedinha que parte exatamente da mesma idéia – Romanoff e Julieta , interpretados pelo galã canastrão John Gavin e pela gracinha um tanto sem graça da Sandra Dee . Um comunista fanático e a herdeira da Coca-Cola A ação se passa na Berlim dividida em dois setores , o Ocidental capitalista e o Oriental comunista . O protagonista é um executivo americano , chefe das operações da Coca-Cola na então ex-capital alemã , MacNamara , interpretado pelo veterano James Cagney . MacNamara anda negociando com representantes comerciais soviéticos a instalação de fábricas da Coca-Cola – o símbolo do decadente imperialismo americano – na URSS . Espera , com isso , obter cacife suficiente para tornar-se o diretor-geral das operações da empresa em toda a Europa , sediado em Londres – até já comprou um guarda-chuva para quando for viver na capital britânica . Mas seu chefe , o patrãozão da Coca , um sulista absolutamente conservador de Atlanta , Geórgia , quer um outro favor dele : que cuide bem da sua filha de 17 anos , Scarlett ( Pamela Tiffin , na foto entre James Cagney e Horst Buchholz ) , que ele
mandou para a Europa para separá-la do seu mais recente namorado , um roqueiro . Repare-se o nome da garota : Scarlett , como Scarlett O’Hara , a heroína de … E o Vento Levou , o livro best-seller e o filme estouro de bilheteria que mostram a Guerra da Secessão do ponto de vista dos confederados sulistas . Acontece que Scarlett é uma namoradeira absoluta , incorrigível , contumaz – apareceu homem pela frente , ela se engraça toda , pula no colo dele . No vôo dos Estados Unidos para Berlim já se engraçou com os membros da tripulação A chegada de Scarlett , para ficar sob os cuidados de MacNamara e sua mulher Phyllis ( Arlene Francis ) atrapalha todos os planos da família . Phyllis estava de viagem de férias marcada para Veneza , com os dois filhos garotos do casal ; e MacNamara pretendia aproveitar a ausência da família para esbaldar-se com Fräulein Ingeborg ( Liselotte Pulver ) , sua secretária loura gostosa e germanicamente eficiente . Bem , Scarlett vai então se apaixonar perdidamente por Otto Ludwig Piffl ( Horst Buchholz ) , um jovem alemão de Berlim Oriental membro do Partido Comunista e mais ardoroso defensor da ideologia do que Lênin e Stálin juntos . E , claro , os pais da moça vão viajar para Berlim para ver se os MacNamara estão cuidando bem dela . Haverá 200 mil problemas , subtramas , rolos , um atrás do outro – tantos , e a uma velocidade tão rápida , que acabei ficando exausto . E não é só por isso que o filme acaba sendo cansativo . Mestre Wilder de fato errou a mão , errou a dose , errou o tom , errou na escolha dos atores . O veterano James Cagney , que havia feito dezenas de filmes como gângster , passa os 115 minutos do filme berrando – parece os romanos de Belíssima , de Visconti . Não há sutileza , não há meios-tons – ele berra o tempo todo . É uma interpretação grotesca , assim como a de Horst Buchholz , esse alemão boa pinta que fez parte da carreira em filmes americanos , como Sete Homens e um Destino / The Magnificent Seven . Para piorar ainda mais , tem Pamela Tiffin no papel da heroína de cabeça fresca e muita vontade de dar . Pamela Tiffin , tadinha , foi uma invenção que não deu certo . A moça é ruim , é fraquinha , como essas modelos e / ou ex-BBBetes que a TV brasileira tenta transformar em atrizes . E sequer é bonita . Wilder escolheu um tom exagerado demais , caricatural demais , que fica espantoso e cansativo . A forma como ele compôs o trio de funcionários soviéticos , e também a secretária alemã , é mais coisa de desenho animado . A seqüência do bar do hotel em Berlim Oriental ( na foto ) , em que a secretaria gostosona acaba dançando em cima da mesa enquanto MacNamara e os
três russos negociam , abusa do grotesco , da caricatura . Mesmo num filme fraco , diálogos sensacionais Então , o filme só não chega a ser uma porcaria porque há o humor feroz de Billy Wilder , os diálogos sensacionais , inteligentes . Pego alguns , só uns poucos , no iMDB : McNamara , a voz em off no início do filme : – “ Alguns policiais da Alemanha Oriental são rudes e desconfiados . Os outros são desconfiados e rudes . ” Outro : McNamara para seu braço direito , Schlemmer , um alemão que cada vez que se apresenta ao chefe bate os sapatos uns nos outros , como faziam os nazistas ao bater continência : – “ Cá entre nós , Schlemmer , o que você fazia durante a guerra ? ” Schlemmer : – “ Eu estava nos porões . ” McNamara : – “ Lutando na resistência ? ” Schlemmer : – “ Não , nos motores . No subsolo , sabe , o metrô . ” Mais tarde : McNamara : – “ E é claro que você era anti-nazista e nunca gostou de Adolf . ” Schlemmer : – “ Que Adolf ? ” Depois , quando , diante de McNamara , Schlemmer reconhece um repórter alemão e o cumprimenta em sinal de respeito : Schlemmer : – “ Herr Oberleutnant ! ” McNamara : – “ Vocês se conhecem ? ” Schlemmer : – “ Ele era meu oficial superior . ” McNamara : – “ No metrô ? ” Schlemmer : – “ Não , depois disso , quando eu fui convocado . ” McNamara : – “ Aha ! Na Gestapo ! ” Schlemmer : – “ Não , não , na SS . ” Austríaco de Viena , tendo deixado a Europa nos anos de ascensão do nazismo , Billy Wilder não perdoa , não esquece : mesmo em 1961 , no meio da guerra fria , em um filme sobre a guerra fria , 16 anos depois do fim da Segunda Guerra , ele bate na tecla da existência dos ex-nazistas no meio da sociedade alemã . Ele já havia dedicado um filme a este mesmo tema , em 1948 , quando a poeira das bombas sobre Berlim ainda nem tinha assentado direito – e que belo filme é A Mundana / A Foreign Affair , com uma Marlene Dietrich esplendorosa , lânguida , fatal , no papel da ex-amante de um chefão nazista agora cortejada por um oficial americano . Neste filme aqui , ele dá um jeito de criar uma situação para botar Schlemmer , o ex-SS , travestido de mulher ( foto acima ) . Uma das coisas de que Wilder gosta – além de ridicularizar nazistas – é de personagens que se fantasiam , que se travestem de algo que não são , como Ginger Rogers fantasiada de menininha em A Incrível Suzana ou Jack Lemmon e Tony Curtis travestidos de mulher em Quanto Mais Quente Melhor . Mas Wilder também volta
sua língua ferina para gozar os arquétipos do comunismo – e do capitalismo . Lá pelas tantas , MacNamara se surpreende ao ver um dos funcionários russos na sua sala : – “ Você desertou ? ” E o russo , numa troça com a frase que marcou o avanço dos colonizadores americanos rumo ao Pacífico : – ‘ É um velho provérbio russo : ‘ Vá para o Oeste , jovem ! ’ ” Numa outra cena , Otto , o jovem comunista de carteirinha , berra : – “ Não vou permitir que meu filho cresça para ser um capitalista . ” Scarlett , a filha do chefão da Coca-Cola : – “ Quando ele fizer 18 anos ele pode decidir se quer ser um capitalista ou um comunista rico ” . Ou esta frase de Otto para Scarlett : – “ Vou pegar você às 6h30 , porque o trem das 7h parte para Moscou exatamente às 8h15 . ” Ou este diálogo entre Scarlett e MacNamara : Scarlett : – “ Você vai gostar dele ( de Otto , o jovem comunista ) . Ele parece com Jack Kennedy , só que é mais jovem e tem mais coisas lá em cima . ” MacNamara : – “ Mais cérebro ? ” Scarlett : – “ Mais cabelo . E , claro , ideologicamente , ele é mais sólido . ” MacNamara : – “ Talvez tenhamos votado no homem errado . ” Scarlett : – “ Isso não aconteceria na Rússia . ” MacNamara : – “ Lá eles não cometem enganos ? ” Scarlett : – “ Eles não votam . ” Ou esta conversa entre MacNamara e os funcionários soviéticos : Russo , oferecendo um charuto a MacNamara : – “ Pegue um destes aqui . ” MacNamara : – “ Obrigado . Hum , feito em Havana . ” Russo : – “ Temos um acordo comercial com Cuba . Eles nos mandam charutos , nós mandamos foguetes . ” MacNamara , depois de experimentar o charuto : – “ Quer saber ? Vocês foram enganados . Esse charuto é danado de ruim . ” Russo : – “ Não se preocupe . Mandamos para eles foguetes danados de ruins . ” Há muitas piadas boas , mas o filme é uma decepção . Depois dessa experiência ruim , James Cagney passaria 20 anos sem fazer um filme ; só voltaria em 1981 , em No Tempo do Ragtime / Ragtime , do mestre tcheco Milos Forman , um impressionante , desolador painel da sociedade americana no início do século XX , assolada pela injustiça social e o racismo . No entanto , Cupido Não Tem Bandeira fez sucesso nos Estados Unidos , segundo Pauline Kael , que critica as piadas do filme como sendo de baixo nível . Leonard Maltin deu cotação máxima , 4 estrelas , e até gostou da interpretação exageradérrima do veterano ator : “ Cagney é uma maravilha de se ver nesta comédia com ritmo de metralhadora
, sua última aparição nas telas até Ragtime ( 1981 ) . A trilha sonora de Andre Previn usa com inspiração a ‘ Dança do Sabre ’ de Khachaturian . ” Verdade : a trilha de Andre Previn ( que iria musicar em seguida Irma La Douce ) é interessante . Não há composição original para o filme ; ele apenas faz arranjos para um uso cômico de músicas conhecidas , como essa Dança do Sabre , a Internacional comunista , a Cavalgada das Valquírias de Wagner e a musiquinha patriótica americana Yankee Doodle . E aparece também no filme nada mais , nada menos , que Itsy Bitsy Teenie Weenie Yellow Polka Dot Bikini , aquele roquinho inocente como uma santa que no Brasil virou “ Era um biquíni de bolinha amarelinho tão pequenininho que na palma da mão se escondeu ’ . A canção é tocada à exaustão , na sala de tortura da polícia da Alemanha comunista , para que o jovem Otto confesse que é um espião americano . A afirmação de Pauline Kael de que o filme foi um sucesso é negada no livro Billy Wilder – Filmographie Complete , de Glenn Hopp , publicado pela Taschen , em que se afirma que o filme não obteve popularidade . O autor usa também a imagem de velocidade de metralhadora sobre o ritmo das piadas do filme , que define como “ provavelmente a comédia mais ritmada que o cinema já havia conhecido ” . 4 Comentários O filme tem uma cena hilária , absolutamente inesquecível.É quando o americano prepara a cilada para o rapaz alemão ser preso logo depois de cruzar a linha da fronteira . A gente já sabe tudo que vai acontecer e isso torna a cena ainda mais divertida . Na verdade , adorei o humor , e até mesmo as caricaturas . Afinal , aquele mundo da guerra fria era fake mesmo . Bom , também gosto do filme , como a Mary . Sim , as interpretações são caricaturais , as situações também – mas o próprio filme é assumidamente caricatural . O problema , para que ele não seja considerado no nível de outras comédias clássicas de BW , talvez seja justamente o ritmo muito acelerado . Talvez aí BW tenha errado na mão … Acho que Horst Buchholz está muito bem , com uma interpretação adequada ao clima dado pelo diretor . Acho esse filme delicioso – e gostei muito de seu artigo sobre ele . Ora Sergio , mesmo não sendo um dos seus melhores filmes , WILDER profético . Previu o fim do comunismo , está o POLITIBURO corrupto como sempre o foi . A ambição criticada pelos país do comunismo , tem como origem não o sistema e SIM o ser HUMANO . Como WILDER , cínico de sempre mostra em seus filmes . TALVEZ VOCÊ NÃO GOSTE POR MUITOS MOTIVOS , SÓ ESPERO QUE VOCÊ NÃO SEJA UM VIÚVO DO COMUNISMO , que já morreu ! ! ! Mas como dizem os COMUNISTAS PRATICANTES
DO PCdoB ‘ COMUNISTA SIM , GRAÇAS A DEUS ! ’ [ … ] mesmo ano de 1961 , Billy Wilder fez seu Romeu e Julieta da Guerra Fria : em Cupido Não Tem Bandeira / One , Two , Three , passado na Berlim dividida em duas , a filha do presidente da Coca-Cola ( Pamela Tiffin ) se apaixona [ … ] Coco Antes de Chanel / Coco Avant Chanel De : Anne Fontaine , França , 2009 Nota : Anotação em 2002 : O filme da diretora Anne Fontaine reconstituindo uma parte da vida de Coco Chanel é sóbrio , elegante , rico e requintado como as roupas criadas pela grande dama da moda francesa . Rico , requintado : é uma senhora produção , bem cuidadíssima . O esmero da direção de arte , dos próprios figurinos , para a reconstituição de época é acachapante , é de babar . E não se fez economia : há belíssimas seqüências de exteriores , com centenas e centenas de figurantes , dezenas e dezenas de carros . A trilha sonora é de Alexandre Desplat , que vem se revelando grande a cada novo filme – e ele faz umas três trilhas por ano . Um deslumbre , um luxo . Sóbrio , elegante : Anne Fontaine optou por um estilo clássico , sem nenhuma invencionice , sem foguetório , sem criativol . A câmara é suave , não chama a atenção do espectador para movimentos bombásticos – simplesmente porque não era necessário . Há belas , admiráveis seqüências , como a câmara bem no alto de uma alta grua focalizando a jovem Coco Chanel deitada no chão coberto de folhas amarelas , recostada numa grande árvore , ou a seqüência final , em que vemos a ainda jovem Chanel na sua Maîson refletida em diversos espelhos , vestida , como mais gostava , de preto e branco – e nesse momento a diretora se permitiu passar do colorido para o preto-e-branco . Um pequeno , sutil toque a mais de classe , no encerramento . Nove entre dez diretores e / ou roteiristas muito provavelmente teriam optado pelo que eu chamo de narrativa-laço : começamos pelo final , para logo haver o flashback – voltamos atrás vários anos , e então vamos vindo para mais perto do presente . Nove entre dez teriam começado pelo início da seqüência final , a dos espelhos refletindo várias vezes o rosto de Coco Chanel , para então voltar atrás . Uma narrativa rigorosamente cronológica Nem isso Anne Fontaine fez . Sua narrativa é rigorosamente cronológica . Quando a ação começa , estamos em 1893 , conforme nos informa um letreiro . A garotinha Gabrielle Chanel , de uns sete , oito , nove anos de idade , e sua irmã Adrienne , quase da mesma idade , estão sendo levadas numa carroça para um orfanato em algum lugar do interiorzão da França . Ao serem deixadas à porta do grande prédio do orfanato , Gabrielle olha com ansiedade para o homem
que conduzia a carroça – seu pai . O homem não olha para trás , não diz uma palavra às filhas . Há duas ou três seqüências no orfanato , para realçar duas realidades básicas da vida de Gabrielle ( o apelido Coco viria um pouco mais tarde ) Chanel : sua origem era bem humilde , provinciana , interiorana ; e seu pai , homem pobre , da roça , abandonou as filhas num orfanato assim que a mãe morreu , e nunca mais as procurou . Esses dois pontos assentados , a narrativa dá um salto de 15 anos , conforme nos explica novo letreiro , e passamos a acompanhar a vida dela a partir daí , quando está com uns 22 , 23 anos , na cidade de Moulins . O ano não é especificado , mas não é necessário : estamos no início do século XX , aí por 1908 . O ano do final da narrativa também não é explicitado , mas é algo por volta de 1920 . É , como a feliz definição do título , a vida da jovem Coco antes de virar Chanel , o sinônimo mundial de classe , elegância . Uma mulher de vida rica Há dezenas de cinebiografias que acabam sendo filmes um tanto fracos , ou no mínimo pouco interessantes , pouco marcantes , simplesmente porque a vida do retratado não é rica , não é dramática , não é cômica , não é nada especial – é apenas uma historinha um tanto boba , um tanto chocha . Mesmo quando o biografado é uma pessoa importante , em alguma área . O fato de a obra da pessoa ter importância não significa que a vida dela tenha sido importante . Buddy Holly , por exemplo . O cara é importantíssimo para a música popular – mas a história de sua vida curtíssima , brevíssima , não tem absolutamente nada especial – a não ser o fato de que ele morreu jovem demais da conta , aos 23 anos de idade , num desastre aéreo . Deixou um legado incrível , fantástico – mas sua vida não tem elementos para virar filme ou peça , como virou . A vida de Coco Chanel , ao contrário , mesmo o trecho inicial , até ela começar a se impor como um dos nomes mais importantes da moda de todo o mundo , é bastante rica . Contada com sobriedade , elegância , riqueza , requinte , só poderia mesmo resultar em um belo filme . Depois do corte de 15 anos , pulando do orfanato para por volta de 1908 , em Moulins , encontramos as irmãs Gabrielle ( interpretada por Audrey Tautou ) e Adrienne ( a bela Marie Gillian ) apresentando-se como cantoras em um bar , um cabaré . Fazem um número levíssimamente safado ; cantam uma canção que diz : “ Perdi meu pobre Coco , Coco , meu cachorro que eu adoro , perto do Trocadéro . ( … ) Quanto mais meu
homem me traía , mais Coco me era fiel ” . Será por causa da canção que Gabrielle passará a ser chamada de Coco . De noite , cantavam no bar-cabaré ; durante o dia , as irmãs órfãs trabalhavam como ajudantes de costureiras numa loja . No trabalho noturno , eram apenas cantoras , embora alguns clientes confundissem as cantoras com as putas que também freqüentavam o local . Adrienne se envolve com um cliente barão , que em seguida vai exigir que ela pare de cantar e se dedique apenas a ele , mediante a promessa de um casamento que será sempre adiado . O barão de Adrienne leva para o bar-cabaré um amigo , um oficial do exército , Etienne Balsan ( Benoît Poelvoorde ) , que se interessa por Coco . Com talento , agilidade , o roteiro nos apresenta como se desenvolve a relação entre Coco e Balsan ; leva-se um pouquinho de tempo para que Balsan revele que é riquíssimo . Depois que Adrienne deixa a cidade de Moulins para viver teúda e manteúda pelo seu barão , à espera de um casamento que jamais virá , Coco resolve fazer a mala e aparecer sem ser convidada na casa de Balsan . A casa não é uma casa , é um gigantesco castelo . Estamos aqui com no máximo 20 minutos de filme . Um ser em permanente infelicidade O que virá a seguir não é exatamente um conto de fadas , tipo pobre órfã encontra o amor com homem muito , muito rico . A relação que se estabelece entre Coco e Balsan é um tanto difícil de se compreender ; chega a parecer um tanto esquisita , mal explicada ; é esquisita , sim ; é um tipo de folie à deux , esse tipo de loucura bem mais comum do que se pode imaginar . Mas é um tipo de relação que – pelo que nos mostram a literatura e o cinema – era permitida , aceitada , na França , talvez mais do que nos países vizinhos . A existência da amante e o fato de a existência dela ser pública eram fatos considerados normais , ali – ao contrário , por exemplo , do que ocorria na vizinha Inglaterra . O filme trata dessa questão , e da questão do imenso desnível social entre Coco e Balsan , de uma bela maneira – ao mesmo tempo ostensiva mas não como o mais importante . O mais importante era que Coco se submetia à situação obviamente constrangedora , embaraçosa , deprimente – mas se submetia , ao mesmo tempo não a aceitava plenamente . A jovem Coco Chanel que o filme retrata – e que Audrey Tautou expressa de maneira brilhante – é um ser em permanente infelicidade , em eterna revolta contra a condição de bem tratadíssimo animal de estimação , ou escravo , o que dá quase no mesmo . A diretora Anne Fontaine não faz um discurso feminista , ou pelo menos não o enfatiza – mostra
a situação absurda , apenas . Mostra uma mulher de vontades muito fortes , de grande determinação , que possui um talento imenso – a de criar roupas , adornos – embora ainda não saiba muito disso , muito menos como usá-lo , mas que suporta por muito tempo o papel de bichinho de pelúcia do milionário . A atriz é muito mais bela que a verdadeira Coco Chanel Há , na minha opinião , um pequeno problema de miscasting na escolha de Audrey Tautou para o papel da jovem Coco Chanel . Diabo , há algumas palavras em inglês que não têm um exato correspondente em português . Como definir em uma palavra o fato de um ator não corresponder exatamente ao papel que ele vai interpretar ? Bem , paciência , vamos em frente . A questão é que Coco Chanel ( na foto ao lado ) não era exatamente uma mulher bonita . Tinha traços fortes – assim como suas vontades e seu talento – , mas não era exatamente bela . Audrey Tautou , essa gracinha , teve que ser maquiada para parecer menos bela do que é – e está , em 99% das cenas , de cenho franzido , cara fechada , mal humorada , para tentar ficar mais parecida com seu personagem . É um pequeno problema , nada sério , nada grave . Audrey Tautou , que estourou , virou estrela jovem demais , com a delícia que é O Fabuloso Destino de Amélie Poulain , teve aqui , acho , seu papel mais importante desde Coisas Belas e Sujas , o filme barra pesadíssima de Stephen Frears em que ela interpreta uma imigrante ilegal turca vivendo em Londres que come o pão que o diabo amassou muito . Cheio de sutilezas , o filme levanta questões sobre moral Uma das maiores qualidades deste ótimo filme é que ele levanta diversas questões importantíssimas sobre moral , costumes , comportamento , sem parecer que está sendo sério demais . É um filme que não é óbvio – ao contrário , é cheio de sutilezas . Não é esquemático na denúncia da injustiça social , não é esquemático na denúncia do machismo da sociedade , não é esquemático na defesa da mulher . É forte , sem ser óbvio . Coco Chanel não é uma heroína , uma perfeição – ela se aproveita das situações que odeia profundamente . Um diálogo me impressionou muito . É já quando a narrativa se aproxima do final ; Coco tinha tido dias maravilhosos em Deauville , com o inglês que os franceses chamam de Boy ( Alessandro Nivola ) . Ela conta para Balsan , o homem que a mantém numa gaiola dourada , que Boy não teve vergonha de ser visto com ela em Deauville , que a levou para o baile no cassino . E Balsan retruca : “ Se eu estivesse com você na Inglaterra , eu a levaria ao Palácio de Buckingham ” . Diferenciar o certo do errado não é muito fácil
, demonstrou Bob Dylan numa canção em que dizia que , no passado , quando era mais jovem , tinha mais certezas , o preto era preto , o branco era branco . Este filme de Anne Fontaine que conta a primeira parte da vida da modista apaixonada pela combinação do preto com o branco mostra , magnificamente , que a vida tem uma quantidade muito maior de tons cinzas do que a juventude , a falta de conhecimento , são capazes de imaginar . Opino agora , mas vi este filme na sexta , 26 deste mes . Um filme muito bom . Coco Chanel , talento nato . Estava no sangue . Mulher corajosa , de garra , valente . Botou o capacete e foi à luta , fazer aquilo que gostava e sabia e , muito bem . E deu no que deu . Ela sabia o que queria,sim . Assim como sabia que nunca se casaria . Quando ela ainda era ninguém , já “ criticava ” a maneira de como se vestiam certas mulheres . Inclusive a sua amiga ” rica “ . Duas cenas : quando Balsan pergunta o que ela fez com o vestido que ele lhe dera e ela responde : ” pendurei na janela parecia uma das cortinas “ . E a outra quando ela comenta que uma mulher destilava joalheria de tanta jóia pendurada no corpo e a outra de tão apertada que estava no vestido ía se partir em duas . ” Coisas de Coco Chanel ” Sergio , houve um engano neste teu texto , com certeza um caso de toque na tecla errada . Logo no comêço , abaixo da nota que deste . O ano da anotação , repare . Um abraço ! ! Ops ! ! ! Esqueci de um detalhe . Talvez seja coisa minha mas não entendi bem a colocação que a Coco faz , quando está lendo um livro e comenta se não me engano com o Balsan : ” Aqui diz pobre feliz,isso é coisa de rico . ” Uai , pobre não pode ser feliz ? Pesquisando li que foi Capel que a ajudou a abrir sua primeira loja de chapéus e foi ela também que criou a primeira calça feminina . E , isto não foi preciso pesquisar : o famoso Chanel 5 . Conheci este perfume , Trabalhei com ele quando estoquista em uma loja de perfumes de linha . Um abraço , Sergio ! ! 2 Trackbacks [ … ] brilhar , ou tinham começado a brilhar fazia pouco tempo , e hoje estão absolutamente consolidados . Audrey Tautou , embora bem jovem ( é de 1976 , estava com 26 ) , já tinha tido o sucesso avassalador de Amélie [ … ] Diamante de Sangue / Blood Diamond De : Edward Zwick , EUA-Alemanha , 2006 Nota : Anotação em 2007 , com complemento em 2008 : Ótimo , competente thriller denunciando o comércio ilegal de diamantes que espalha ainda mais violência na África .
Junto com O Jardineiro Fiel , a bela produção internacional dirigida por Fernando Meirelles , este é um dos bons filmes recentes que expõem a trágica , absolutamente desumana situação no mais miserável dos continentes , e mostra como os países e corporações do Primeiro Mundo continuam , décadas depois do fim do colonialismo , a piorar ainda mais a vida daqueles povos . A ação se passa em Serra Leoa ; Salomon ( Djimon Hounsou ) , um nativo que é obrigado por um grupo armado a se separar da família e a trabalhar como escravo na procura por diamantes , descobre uma pedra extraordinária , de valor incalculável , e consegue fugir com ela . Sua vida vai se cruzar com a de um mercenário sul-africano , Danny ( Leonardo DiCaprio , bom ator apesar , ou além , da cara bonita ) e a de uma jornalista americana , Maddy ( a maravilhosa , extraordinária Jennifer Connelly ) , que investiga os “ diamantes de sangue ” , o comércio ilegal de pedras preciosas que alimenta grupos armados e guerras tribais . O filme teve cinco indicações ao Oscar , inclusive ator para Leonardo DiCaprio e coadjuvante para Djimon Hounsou ; ganhou ainda outros cinco prêmios e teve mais 14 indicações . Esse diretor Edward Zwick já tinha feito recentemente um outro bom filme , que tem ação mas tem também idéias e denúncias , O Último Samurai . A trilha sonora do incansável James Newton Howard ( o cara assina uma trilha por ano , sem parar , e já compôs para mais de cem filmes e / ou episódios , em uma carreira de 24 anos ) é muito impressionante ; parece que baixou um espírito africano nesse californiano da gema . Honra Secreta / Secret Honor De : Robert Altman , EUA , 1984 Nota : Anotação em 2010 : Honra Secreta é um filme ousado ; uma aula de cinema , literalmente falando ; um tour de force de um ator de grande talento em momento especial . Ao mesmo tempo , não é aconselhável para todo tipo de público – muito ao contrário . Só deverá gostar do filme quem tiver grande interesse em política e na história dos Estados Unidos . É uma peça de teatro filmada , uma peça de um ato e um único cenário , uma grande sala – um monólogo de um ator representando Richard Milhous Nixon , depois de renunciar à Presidência por causa do escândalo Watergate , em 1974 . Durante 90 minutos , Philip Baker Hall fala , fala , fala e fala . Cita diversas figuras e episódios da política americana – Eisenhower , de quem foi vice , entre 1953 e 1961 , os irmãos Kennedy , especialmente John , que o derrotou na eleição de 1960 ; Fidel Castro , Mao Tsé-Tung , a guerra do Vietnã , Henry Kissinger , seu secretário de Estado , Alger Hiss , Whittaker Chambers , e mais dezenas de personalidades e fatos históricos .
Logo na abertura , o filme do diretor Robert Altman faz este aviso-advertência : “ Este trabalho é uma meditação fictícia a respeito do caráter e dos eventos na história de Richard M . Nixon , que é representado neste filme . A imaginação dos dramaturgos criou alguns eventos fictícios num esforço para iluminar a personalidade do presidente Nixon . Este filme não é um trabalho de história ou uma recriação histórica . É um trabalho de ficção , usando um personagem real , o presidente Richard M . Nixon – numa tentativa de compreender . ” Uma especial predileção por fitas , gravadores e uísque Philip Baker Hall-Richard Nixon entra na sala carregando uma caixa , que deposita sobre uma das mesas . A sala – uma biblioteca , um escritório – é bastante ampla . Há várias estantes , centenas de livros , poltronas , garrafas , copos . Há quatro telas de TV , monitores de segurança , algumas mostrando o corredor que leva até aquela sala , outras mostrando o que se passa ali mesmo . Vemos uma câmara de filmar . O protagonista serve-se de uma generosa dose de uísque – veremos a garrafa de Chivas Regal sendo esvaziada durante muitas das seqüências . Da caixa com que entrou na sala , tira um revólver , que deposita sobre a mesa de trabalho . Na mesma mesa , há um gravador , um grande microfone . O Nixon verdadeiro tinha especial predileção por fitas , gravadores – e uísque . O Nixon fictício liga então o gravador , quando estamos bem no início do filme , e começa a falar . Falará por quase 90 minutos seguidos . Dirige-se a um juiz imaginário , como se estivesse num tribunal , sendo julgado ; dirige-se ao juiz imaginário como se fosse o advogado dele próprio , Nixon – mas em seguida passa a falar como se fosse Nixon mesmo . Ao longo de todo o monólogo , alterna essas personalidades : ora fala como Nixon , ora como seu advogado . O grande momento de um ator que sempre foi coadjuvante O ator Philip Baker Hall dá um show . É uma interpretação nunca menos que brilhante . Não me lembrava dele , nem de ter ouvido o nome dele , mas , pelo que mostra o iMDB , já o vi em vários filmes ; o eventual leitor também seguramente já o viu . Nascido em 1931 , com carreira no cinema iniciada em 1970 , tem 148 filmes e / ou episódios de TV em seu currículo , vários deles de sucesso ou respeitáveis , como A Rocha , Força Aérea Um , Boogie Nights – Prazer Sem Limites , The Truman Show , A Hora do Rush , O Informante , Magnólia , A Conspiração , Zodíaco . É um daqueles eternos coadjuvantes competentes – a quem Robert Altman deu o grande papel da vida , neste Honra Secreta . O retrato que os autores e roteiristas Donald Freed e Arnold M .
Stone pintam de Nixon é assombroso , estarrecedor . Em Frost / Nixon , outro excelente filme , este calcado em fatos reais , reproduzindo fatos reais , o diretor Ron Howard mostrou um homem vaidoso , egocêntrico , enérgico , que se tem na mais alta conta mas demonstra uma certa insegurança . O Nixon do filme de Altman é tudo isso , elevado à enésima potência ; e é também vingativo , paranóico , psicologicamente perturbado , com traumas de infância , problemas de relacionamento com os irmãos , uma relação complexa e doentia com a memória da mãe , e invejoso , profundamente invejo do sucesso alheio – tem uma inveja de Kennedy que chega às raias da loucura , um pouco como Lula demonstra em relação a Fernando Henrique Cardoso . E , além de tudo , o Nixon do filme se confessa atolado em diversos tipos de corrupção . Altman dava aulas de cinema e seus alunos participaram do filme Este Honra Secreta foi o segundo filme consecutivo que Altman fez baseado em peça de teatro – sem tentar , de forma alguma , “ cinematogratizar ” a peça . Muito ao contrário , faz questão de demonstrar que está filmando uma peça de teatro . O filme é de 1984 ; em 1983 , ele havia filmado uma outra peça radical , em termos formais e também políticos , O Exército Inútil / Streamers , um libelo antimilitarista . Estava , naquela época , dando aula de cinema na Universidade de Michigan . Muitas das pessoas envolvidas na produção de Honra Secreta eram seus alunos . Estava também no fundo do poço , em termos comerciais : não conseguia interessar os grandes estúdios por seus projetos , e fazia então filmes independentes . Uma figura absolutamente maior , Robert Altman . Nascido em 1925 , começou como roteirista , e depois foi diretor na TV – dirigiu diversos episódios das séries Alfred Hitchcock Presents e Bonanza , antes de finalmente passar a dirigir para o cinema , o que só aconteceu em 1957 , aos 32 anos . Fez grandes filmes , anticonvencionais , indo contra as regras do gênero , como o estranho e belo western Quando os Homens são Homens / McCabe and Mrs . Miller , o policial O Perigoso Adeus / The Long Goodbye , a arrasadora sátira M.A.S.H . Este foi um espantoso sucesso comercial . Popoye , de 1980 , ao contrário , foi um flagoroso fracasso de bilheteria – embora seja uma maravilha de filme , que merecee ser relançado e revisto . Veio a partir daí a fase em que os estúdios não queriam saber dele . Grande artista , continuou a fazer bons filmes – para depois cair de novo nas graças dos produtores e do público , a partir de O Jogador / The Player , de 1992 , em que , ironicamente , fazia um retrato cruel da própria indústria americana de cinema , e de Short Cuts , de 1993 , em
que mostrava a vida de uma dúzia de pessoas em Los Angeles , a cidade que é o coração dessa mesma indústria . “ Um esquisito triunfo ” , “ um psicodocudrama sensacionalista ” Vamos às opiniões dos críticos . Leonard Maltin dá 3.5 estrelas em 4 : “ Richard Nixon , com a ajuda de um Chivas Regal , anda em seu escritório numa fúria quase psicótica contra Hiss , Castro , Ike , Kissinger , e qualquer um que se chame Kennedy . O show de monólogo de Hall é filmado fluidamente e corajosamente concebido . ” E informa que o filme foi lançado em vídeo nos Estados Unidos com o título de Lords of Treson , senhores da traição . Sérgio Augusto não selecionou o filme para constar da edição brasileira do livro de Pauline Kael , o que me dá o trabalho de tentar traduzir o texto brilhante , rico e difícil dela . Vamos lá . “ Como Richad Milhous Nixon , Philip Baker Hall entre uma ruminação selvagem a respeito da sua vida – uma mistura de confissão e auto-isenção . Dirigido por Robert Altman , o filme tem uma qualidade intensificada , como se todo o tumulto do último ano de Nixon na Casa Branca , sua renúncia , e seu perdão – todas as notícias que devoramos nas revistas e nos jornais e na TV , e a torrente constante de revelações – fossem compactados nesse monólogo esfarrapado . É um ataque , um colapso , e o excesso de demonstrações quase pornográficas é paralisante . Há uma travessura virtuosa na confiança de Altman em seu próprio toque ; ele obtém um pequeno , esquisito triunfo com esse piscodocudrama sensacionalista . ” E agora Roger Ebert , o crítico que ama os filmes que vê e tem especial admiração por Altman . Claro , 4 estrelas , a cotação máxima . Não dá para traduzir tudo , porque Ebert é como eu , escreve demais , textos imensos ( com a diferença de que escreve bem ) . Mas ele abre contando que , no seu livro The Final Days , Bob Woodward e Carl Bernstein ( os repórteres que tiveram a sorte de ser enviados num plantão de fim de semana para cobrir o que parecia ser um assaltozinho rotineiro ao comitê democrata no Edifício Watergate e transformou-se num dos maiores escândalos políticos de toda a História ) descrevem um Nixon bêbado , caindo sobre seus joelhos . “ Mas , à medida em que Watergate desaparece e vira História , e enquanto historiadores revisionistas começam a sugerir que Nixon pode afinal de contas ter sido um grande presidente – escândalos à parte , é claro – , nossa curiosidade permanece . Quais eram os reais segredos desse presidente extremamente complexo ? Secret Honor , de Robert Altman , que é um dos mais cáusticos , dilacerantes e brilhantes filmes de 1984 , tenta responder a nossas perguntas . ” ( … ) “ Nixon começa a mexer no seu gravador
; há uma pequena piada sobre o fato de que ele não sabe direito manejá-lo . Aí ele começa a falar . Ele fala por 90 minutos . ( … ) Raramente vi 90 minutos mais fortes na tela . Nixon é interpretado por Philip Baker Hall , um ator que eu não conhecia , com tamanha intensidade selvagem , tamanha paixão , tamanho veneno , tamanho escândalo , que não conseguimos deixar o filme de lado . ” ( … ) “ Uma coisa estranha aconteceu comigo enquanto assistia a este filme . Sabia que era ficção . Não vi o filme com o espírito de aprender ‘ a verdade sobre Nixon ’ . Mas como um filme , ele criou uma verdade mais profunda , uma verdade artística , e depois que Secret Honor terminou , quer saber ? Eu tinha uma simpatia mais profunda por Richard Nixon do que antes . ” Bem , essa é a visão de um americano ; a gente conhece bem menos Nixon do que eles . Mas eu não tive simpatia alguma pela figura . Muito ao contrário . Nem acredito que tenha sido essa a intenção dos autores da peça , ou de Altman . Mas , tirando aquela constatação pessoal de Ebert , o que ele fala me parece perfeito . “ Não conseguimos deixar o filme de lado . ” Cheguei a pensar em pular uns trechos , já que muitas das coisas que o Nixon do filme diz são uma realidade americana demais , para quem conhece muito mais profundamente aquele contexto todo – mas não pulei coisa alguma . O filme é bem feito demais , e o ator está de fato num momento da maior inspiração – o filme pega e envolve o espectador com se fosse um bem feitíssimo thriller . 3 Trackbacks [ … ] o típico caso de quem não consegue voltar bem à planície , conforme mostram dois belos filmes , Honra Secreta e Frost / Nixon – por coincidência estrelado pelo mesmo Michael Sheen que interpretou Tony Blair [ … ] [ … ] no filme , aconteceram em 1972 ; em 1973 começaram as condenações dos funcionários do governo Richard Nixon que planejaram , autorizaram e financiaram o assalto . E a renúncia do presidente , para evitar um [ … ] [ … ] Que tristeza ver isso justamente num filme de Robert Redford , que , na maturidade jovem , em Todos os Homens do Presidente ( 1976 ) , interpretou o repórter Bob Woodward , que , ao lado do colega Carl Bernstein ( feito por Dustin Hoffman ) , e com o apoio da proprietária e do editor-chefe de um dos maiores jornais do mundo , o Washington Post , desvendou a cadeia de corrupção ligando o assalto ao comitê do Partido Democrata no edifício Watergate diretamente aos mais altos escalões da Casa Branca , chefiada pelo republicano Richard M . Nixon . [ … ] Postar um Comentário O seu email nunca é publicado

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Dataset Summary

The BrWaC (Brazilian Portuguese Web as Corpus) is a large corpus constructed following the Wacky framework, which was made public for research purposes. The current corpus version, released in January 2017, is composed by 3.53 million documents, 2.68 billion tokens and 5.79 million types. Please note that this resource is available solely for academic research purposes, and you agreed not to use it for any commercial applications. Manually download at https://www.inf.ufrgs.br/pln/wiki/index.php?title=BrWaC

This is a Tiny version of the entire dataset for educational purposes. Please, refer to https://github.com/the-good-fellas/xlm-roberta-pt-br

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MIT

Citation Information

@inproceedings{wagner2018brwac,
  title={The brwac corpus: A new open resource for brazilian portuguese},
  author={Wagner Filho, Jorge A and Wilkens, Rodrigo and Idiart, Marco and Villavicencio, Aline},
  booktitle={Proceedings of the Eleventh International Conference on Language Resources and Evaluation 
  (LREC 2018)},
  year={2018}
}

Contributions

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