text
stringlengths
4
3.21k
. Os adultos , nessa refilmagem , eram Dennis Quaid e Natasha Richardson , nos papéis que , no fim original , foram de Brian Keith e Maureen O’Hara . Sim – Maureen O’Hara . Não bastasse o filme ser divertido , gostoso , bem feito , não bastasse ter interesse também como peça de museu , não bastasse ter Hayley Mills em papel duplo , The Parent Trap tem Maureen O’Hara . ( Por uma grande coincidência , acabei vendo The Parent Trap poucos dias após rever Como Era Verde Meu Vale , o grande clássico de 1941 , o ano em que Maureen O’Hara tinha 21 . Poucos dias após a morte da belíssima atriz , ocorrida em 24 de outubro de 2015 , quando ela estava com 95 anos . ) Nascida em 1920 , Maureen O’Hara estava portanto com 41 , no lançamento desta comédia aqui . Em 1961 , as mulheres quarentonas pareciam bem mais velhas do que parecem hoje em dia – bem , hoje em dia aos 40 anos as mulheres são jovens . Isso é um absoluto fenômeno , mas é bem a verdade dos fatos . No entanto , aos 41 anos em 1961 , na época em que as mulheres nessa faixa pareciam velhas , e fazendo papel de uma senhora , mãe de duas garotas de quase 14 , Maureen O’Hara estava ainda no auge da beleza . É um prazer imenso vê-la brilhando na tela . Duas garotas bem parecidas , igualinhas , se encontram em um acampamento de verão Os créditos iniciais do filme são inteligentes , gostosos , bem sacados , como se usava muito naquela época , os anos em que Saul Bass reinava nos créditos iniciais . Não , não são deles estes aqui , mas são deliciosos , com uma animação com bonequinhos em terceira dimensão – uma espécie de Cupido , uma Cupida , duas garotinhas e um casal que está separado dançam e se agitam enquanto rolam os nomes dos atores , dos técnicos , dos autores . A rigor , a forma com que o homem e a mulher são forçados a se reunir já antecipa tintim por tintim a trama do filme . The Parent Trap não faz suspense algum . Bem ao contrário . É inteiramente previsível , como em geral são previsíveis os filmes para todas as idades e as comédias românticas . Sim , porque este aqui é mezzo filme juvenil , mezzo comedinha romântica . Durante os créditos gostosos , o espectador ouve Tommy Sands e Annette Funicello cantando a canção título , composta pelos irmãos Richard M . Sherman e Robert B . Sherman , veteranos colaboradores de Walt Disney . Os dois assinam as canções de diversos , diversos filmes dos estúdios Disney , como , só para citar alguns , A Espada Era a Lei ( 1963 ) , Mary Poppins(1964 ) e Mogli – O Menino Lobo ( 1967 ) , e são personagens de Walt nos Bastidores de Mary Poppins
( 2013 ) . Quando a ação começa , a garotinha Sharon McKendrick está chegando , no Rolls-Royce da avó , a um acampamento de verão , no meio do mato . O motorista da família entrega para ela um remédio , um protetor solar , um repelente de insetos . Ela é instalada em uma das dezenas de cabanas espalhadas por um belo terreno , em que ficará com duas outras garotas . Ficam próximas , as três , vão andar sempre juntas . No refeitório , Sharon se surpreende ao ver uma garota bastante parecida com ela própria . Na verdade , idêntica à ela , com a única exceção dos cabelos – os de Sharon são longos , os da outra menina são curtinhos . Como Sharon , a outra menina – que depois veremos que se chama Susan Evans – anda sempre com duas amigas . Num dia lá , estão as três numa canoa , no lago do lugar , e Sharon e suas amigas fazem virar a canoa delas . A vingança vem furiosa . Susan e suas duas amigas invadem a cabana das adversárias , durante a noite , enquanto elas dormem , e fazem uma gigantesca fuzarca , sujando tudo com uma mistura pestilenta de mel e grama . As organizadores do acampamento , duras , rígidas , como têm que ser mesmo , ficam furiosíssimas com Sharon e amigas . Na noite de sábado tem baile – os garotos do acampamento para meninos vizinho são convidados . Numa hora em que Susan está conversando num deck com um menino , Sharon e amigas cortam a parte de trás do vestido dela . Segue-se uma briga de tapas entre as duas sósias , que resulta numa baderna geral e estraga todo o baile , numa sequência hilariante , absolutamente pastelônica , com direito a bolo caindo inteiro sobre o rosto da dona do acampamento , Miss Inch ( Ruth McDevitt ) . Miss Inch providencia para as duas sósias brigonas um castigo extremamente adequado : vão ter que , por todo o resto das férias de verão , dividir uma cabana , e , no refeitório , ficarem as duas isoladas numa mesa distante das demais . Depois da descoberta de que são gêmeas , as duas começam a fazer planos É tudo absolutamente previsível , e então é claro que , depois de alguns dias uma estranhando a outra , uma evitando olhar para a outra , as duas meninas começam a conversar , e vão ficando amigas . Aí Sharon conta que mora com a mãe , e que sequer se lembra do pai – os dois haviam se separado quando ela ainda era bebê . E Susan conta que mora com o pai , e que só lembra da mãe porque havia em casa uma foto dela – mas o pai sumiu com a foto ao perceber que a filha estava olhando muito para ela . Uma conta para a outra o dia de seu aniversário . É o
mesmo dia . Sharon é que primeiro percebe o óbvio : são irmãs gêmeas , uai ! Enquanto via o filme , pensei : só mesmo na cabeça de um escritor de imaginação fertilíssima poderia surgir a idéia de um casal que tem duas gêmeas e , ao se separar , quando elas ainda são bebês , cada um fica com uma delas , e a existência da outra fica guardada em segredo . Mas essa noção não resiste por muito tempo : os casais são capazes de fazer as coisas mais estúpidas , mais idiotas , mais sem sentido , quando se separam . O escritor alemão Erich Kastner , ao escrever sua história Das Doppelte Lottchen , não estava numa viagem doida de ácido . Não há loucura de que os seres humanos não sejam capazes . É até possível que algum casal já tenha tido a idéia maluca que Maggie McKendrick ( o papel de Maureen O’Hara ) e Mitch Evans ( Brian Keith ) tiveram de dividir entre eles suas duas gêmeas . Bem . Se é só coisa de ficção ou , ao contrário , poderia de fato acontecer na vida real , sei lá – mas que , numa comedinha para o público adolescente , é uma delícia de ponto de partida , disso não pode haver dúvida . Sharon e Susan passam então a planejar o futuro : vão trocar de identidade . Não é difícil : basta cortar o cabelo de Sharon , e cada uma aprender o nome das pessoas próximas da outra . Sharon vai se passar por Susan e viajar para a Califórnia ; Susan vai se passar por Sharon e vai para a mansão da mãe e da avó em Boston . Assim , uma conhecerá a mãe que ainda não havia conhecido , e a outra conhecerá o pai . Mais tarde , em algum momento , vão revelar a troca , e então os pais serão obrigados a se reencontrar para destrocar as filhas , e aí quem sabe eles não resolvem ficar juntos de novo ? O acampamento de verão termina quando o filme está aí com uns 20 , 25 minutos no máximo . Aí é que a trama toda vai começar a se desenrolar . E o espectador passará a ver a beleza estonteante de Maureen O’Hara . O plano das meninas de reunir de volta papai e mamãe vai encontrar um sólido obstáculo : o pai está noivo de uma mulher jovem e bela , Vicky ( Joanna Barnes ) . E o casamento já está marcado . O filme acaba , de certo modo , condenando a guarda compartilhada É absolutamente natural que as crianças , e mesmo os adolescentes , queiram ver seus pais juntos , como querem Sharon e Susan . E é um total absurdo o que os pais , Maggie e Mitch , fizeram com as duas – forçando a barra para que uma gêmea jamais soubesse da existência da outra e , pior ainda , sumindo
completamente da vida da outra criança , de tal forma que uma crescesse sem pai e a outra , sem mãe . Mas o que a rigor causa mais estranheza é ver que o filme acaba , de certa maneira , condenando a guarda compartilhada , ou , no mínimo , não fazendo a defesa dela – e a guarda compartilhada é , sem qualquer sombra de dúvida , a melhor opção para os filhos de pais separados . Pai presente , mãe presente – isso é o que de melhor se pode desejar para qualquer criança , qualquer adolescente . Não é necessário que pai e mãe vivam juntos – na verdade , viver juntos em clima de absoluto distanciamento , quando não de ódio aberto , só com a desculpa de que é melhor para os filmes , é de longe a pior opção . Se o amor acabou , se há mais briga que momento bom , se há mais ressentimento que afeto , que se separem logo , os pais – e continuem a amar e ver os filhos , cada um em sua casa , e que continuem a dividir a criação dos filhos . Em conversa com a mãe , quando os segredos já foram desvendados , Susan se refere à guarda compartilhada como “ filhos iô-iô ” , como toalhas marcas “ ele ” e “ ela ” . E Maggie-Maureen O’Hara , mulher madura , inteligente , vivida , sequer tenta esboçar a defesa da saída que é a menos agressiva , menos dolorosa , menos triste , para quando o casal se desfaz . Quando Robert Benton lançou o belo , triste , sério Kramer vs Kramer , em 1979 , fazia cerca de três anos que eu tinha saído de casa deixando minha única filha com a mãe . Àquela altura , no entanto , a parte absolutamente pior do processo de separação já tinha passado , tínhamos chegado juntos à conclusão óbvia de que o mais importante era cuidar da pequena , e eu era presença constante , diária , rotineira , na vida dela : ia pegá-la na escolinha todos os dias , e ficava com ela um bom tempinho . Todos os dias Rotina faz muito bem para crianças . Mesmo assim , me lembro perfeitamente de que vi Kramer vs Kramer com dois pés e duas mãos para trás : se o filme fizesse uma pequena defesa , que fosse , de se manter um casamento para privilegiar o desejo dos filhos de ver pai e mãe juntos , eu teria ódio mortal e eterno dele . Claro que Kramer vs Kramer é um belo filme , que não faz defesa reacionária , conformista , de se manter um casamento que na realidade já se desfez . Mas , na época , essa coisa da posição diante da separação , do divórcio , me incomodava profundamente . Não importa se pai e mãe moram juntos – importa é que eles cuidem bem dos filhos É fascinante
verificar que , nos últimos anos , vários filmes têm feito a louvação do reatamento do casal que se separou . Relove is in the air , eu escrevi , outro dia , comentando isso que parece de fato uma tendência … Me permito transcrever o que escrevi depois de ver Um Plano Brilhante / The Love Punch ( 2013 ) , uma comedinha danada de boba com a maravilhosa Emma Thompson e Pierce Brosnan : O cinema anda nos dizendo que é hora do reamor . Relove is in the air , ladies and gentlemen . Este aqui é pelo menos o quinto filme mais ou menos recente em que acontece essa coisa de o herói e a heroína voltarem a ficar juntos depois de um tempo separados . Se fosse um só , não seria nada . Quatro ou cinco chegam a configurar quase um fenômeno . Há um reatamento emO Casamento do Ano / The Big Wedding ( 2013 ) , ótima comédia com Robert De Niro , Diane Keaton , Susan Sarandon , Robin Williams e os jovens Katherine Heigl , Amanda Seyfried e Topher Grace . Há um reatamento em Ligados pelo Amor / Stuck in Love , interessante comédia com Greg Kinnear e a lindérrima Jennifer Connelly ( 2012 ) . Em Simplesmente Complicado/It’s Complicated ( 2009 ) , Meryl Streep e Alec Baldwin interpretam um casal que está divorciado faz tempo . Ele está casado com uma garota bem mais jovem , e ela está sendo cortejada por um sujeito interessante interpretado por Steve Martin ) . Mas aí os dois se reúnem para a formatura do filho no colégio e … trepam ! E tudo fica muito complicado . Em Chef ( 2014 ) , Carl e Inez , que haviam sido casados , e tiveram um filho , garoto legal , que está aí agora com uns 14 anos , ficam juntos de novo . Casam-se novamente , numa grande festa com música cubana – Inez é cubana . De onde se pode concluir que gêmeas que tentam fazer com que pai e mãe voltem a ficar juntos , num filme de 1961 , não é propriamente algo velho , antiquado , já superado pelas técnicas de hoje , com licença do Horácio Ferrer por roubar o verso dele . E desejar que pai e mãe estejam juntos nem é algo “ reacionário ” , como eu diria quando era jovem e estava ainda no início do segundo casamento e cheio de culpa por não morar com a filha – embora dedicasse a ela mais tempo do que muito pai casado dedica … A verdade é aquela que Pessoa , Caetano e Milton cantam : qualquer maneira de amor vale a pena , e tudo vale a pena quando a alma não é pequena – e , sobretudo , quando , sob o mesmo teto ou não , pai e mãe fazem todo o possível pelo bem dos filhos . Duas indicações ao Oscar , boa cotação nos guias de filmes
The Parent Trap teve duas indicações ao Oscar , em categorias técnicas : melhor edição de som e melhor som . Não levou nenhum dos dois , mas é um sinal a mais de que não foi um filme que passou propriamente despercebido em seu tempo . Leonard Maltin deu a ele 3 estrelas em 4 : “ Hayley interpreta gêmeas que nunca haviam se encontrado até que seus pais divorciados as mandam para o mesmo acampamento de verão ; depois de uma rivalidade inicial , elas unem forças para reunir sua mãe e pai . Tentativa de misturar pastelão e sofisticação não funciona , mas de uma maneira geral é engraçado . ” Maltin acrescenta a informação de que a história de Erich Kastner já havia sido filmada em 1953 na Inglaterra , e que ela inspiraria várias refilmagens . O guia de filmes de Mick Martin & Marsha Porter dá especial atenção à questão do que é ofensivo aos valores familiares . Tinha uma categoria específica para os “ filmes para a família ” . The Parent Trap está lá , com 4 estrelas em 5 , e uma rápida sinopse : “ Walt Disney dobrou a graça nesta comédia em que ele teve Hayley Mills interpretando gêmeas . ” Para mim , ver o filme agora , pela primeira vez , foi uma absoluta delícia por diversos motivos sobre os quais já falei aí acima . Só não havia dito ainda que a figura de Hayley Mills sempre me atraiu – porque ela estava em absoluta evidência quando comecei a ver filmes , porque ela era quase da minha idade , porque ela era inglesa , porque ela era filha de John Mills . E também porque ela era a atriz principal de The Family Way , de 1966 – o primeiro filme que teve trilha sonora composta por Paul McCartney . Prova de Redenção / Venuto al Mondo De : Sergio Castellitto , Itália-Espanha , 2012 Nota : Praticamente toda a ação deste Venuto al Mondo , que o italiano Sergio Castellitto lançou em 2012 , se passa em Sarajevo e seus arredores , antes , durante e depois da sangrenta guerra civil que destroçou a ex-Iugoslávia , numa das mais óbvias comprovações de que a humanidade é uma invenção que não deu certo . No entanto , tive um problema com o filme do diretor Castellitto . É um problema meu , pessoal – vou logo admitindo . Fiquei com a estranha , desagradável sensação de que o filme , ao mesmo tempo em que existe para denunciar a barbárie , usa a própria barbárie para atrair público . Porque , a rigor , a rigor , não é um filme sobre a guerra da Bósnia : é a história de uma mulher que quer ter um filho . Poderia acontecer em qualquer lugar do mundo , em qualquer época . Acontece num dos períodos mais infames da história da humanidade para ter maior peso dramático . A Bósnia é um acidente na história de
Gemma , a protagonista – o papel de Penélope Cruz , lindérrima como sempre . Insisto : foi essa a sensação que tive – íntima , particular , só minha , que nem dor de dente . Pode ter sido uma implicância besta . Não significa que o filme seja ruim , de forma alguma . Mary , ali a meu lado , não teve essa sensação , essa visão , essa impressão . Depois de 20 anos , Gemma viaja de volta a Sarajevo A ação começa nos dias de hoje , da época da produção , início da segunda década deste século . Gemma – uma Penélope Cruz muito bem maquiada para parecer mais velha , com fios brancos na bela cabeleira negra – recebe um telefone internacional . É Gojko ( Adnan Haskovic ) . “ Meu Gojko ? ” , pergunta ela , surpresa . É nítido que os dois não se falavam havia muitos , muitos anos . Gojko a convida para voltar a Sarajevo . Vai haver uma exposição de fotos de Diego – e então é a oportunidade ideal para ela rever os velhos amigos . Gemma conta do telefonema para o marido , Giuliano ( o papel do próprio diretor Sergio Castellitto ) , que , veremos em seguida , é alto official dos carabinieri , a polícia militar italiana . Fica absolutamente claro que o telefonema , o convite , a existência de Gojko incomodam Giuliano – mas ele engole em seco o incômodo . Respeita a mulher , não fará nada para impedi-la de fazer o que ela bem entender . E Gemma logo em seguida está desembarcando em Sarajevo com o filho , Pietro . ( Pietro , um rapaz aí de uns 17 anos , de fulgurantes olhos azuis , é interpretado por Pietro Castellitto , filho do diretor Sergio e de Margaret Mazzantini , que vem a ser a autora do romance Venuto al Mondo , publicado em 2008 . A adaptação do romance para o cinema foi feita a quatro mãos pelo diretor e pela escritora , marido e mulher . ) Gemma e Pietro são recebidos por um Gojko exultante , maravilhado por estar revendo a velha amiga que não via há quase 20 anos . E , a partir daí , a narrativa vai alternar fatos passados nos dias de hoje – os dias da visita de mãe e filho à Sarajevo de 2012 – com fatos ocorridos entre 1984 e 1992 . Em 1984 , a então jovem Gemma havia viajado pela primeira vez a Sarajevo , para estudar sobre a vida de Andric para sua tese na universidade . ( Não se diz o prenome da personalidade , mas é possível que seja Ivo Andrić , 1892–1975 , novelista e vencedor do Nobel . ) Foi naquele ano de 1984 – em que a Iugoslávia sediou os Jogos Olímpicos de Inverno – que Gemma e Gojko se conheceram . Ficaram amicíssimos , mas , ao contrário do que o espectador poderia pensar
( assim como Mary e eu chegamos a pensar ) , não tiveram um caso . Gojko ficou bastante apaixonado pela italiana linda – mas ela se apaixonou por um dos muitos amigos a quem foi apresentado por Gjojko , Diego , um fotógrafo americano jovem , aventureiro , alegre , cheio de vida . No livro de Margaret Mazzantini , Diego é um genovês . No filme , é americano – e vem na pele de Emile Hirsch . A escolha do garotão americano Emile Hirsch para o principal papel masculino é , no mínimo , no mínimo , uma esperteza de marketing , por abrir para o filme boas portas do mercado americano , o maior do mundo . E deixa mais natural o fato de a italiana Gemma e os bósnios de Sarajevo conversarem em inglês , a língua que é assim o mínimo múltiplo comum . Nessa questão de línguas , o filme se sai com perfeição . É absolutamente natural que Gemma e Gotko falem em inglês ; quando conversam entre si , os bósnios falam na língua deles , e Gemma conversa com o marido em italiano . Gemma quer desesperadamente ter um filho de Diego Além de Diego , Gemma fica conhecendo , já naquela sua primeira estada em Sarajevo , vários amigos de Gotko . Como ele é poeta , seus amigos são um bando de malucos beleza , em geral ligados à arte . Há um mímico , um casal mais idoso de intelectuais , ele judeu , ela muçulmana . Surgirá depois no grupo uma saxofonista de beleza absolutamente estranha e faiscantes olhos azuis ; chama-se Aska ( Saadet Aksoy , na foto abaixo ) , e terá importância imensa na trama . Gemma e Diego apaixonam-se perdidamente , de cara . Vão voltar a se encontrar mais tarde em Roma , onde ela vive . Terão uma história de amor intenso , fortissimo – e aí , finalmente , quando o filme já está se aproximando da metade de seus longos 127 minutos , a narrativa passa a se concentrar na questão de Gemma querer desesperadamente um filho de Diego . Esse desejo gigantesco estará no auge quando os dois voltarão para Sarajevo no início dos anos 90 , em meio à loucura da guerra civil . A trama a partir daí terá tons absolutamente trágicos – e surpresas , e uma imensa reviravolta . “ A expressão fácil de Penépole Cruz ao longo do filme é emocionante ” Venuto al Mondo teve no Brasil o título de Prova de Redenção . Foi exibido no canal Max , no entanto , com o título de Bem-Vindo ao Mundo . Nos países de língua inglesa , chamou-se Twice Born , nascido duas vezes . Na França foi Venir au Monde , na Espanha Volver a Nacer , em Portugal Voltar a Nascer . Sergio Castellitto ( na foto abaixo ) é um romano da minha geração – nasceu em 1953 . Tem mais de 70 títulos como ator em sua
filmografia , iniciada em 1981 . Este aqui foi o quinto filme que dirigiu – e , aparentemente , apenas o segundo a ser lançado no Brasil , depois de Não se Mova , de 2004 – também baseado em livro de sua mulher Margaret Mazzantini , também com roteiro do casal e também com Penélope Cruz no elenco . Uma leitora do IMDb que vive na Califórnia escreveu o seguinte : “ Fantástica atuação de Penélope Cruz . Ela mostra os reais sentimentos de ser uma mãe . O desejo de uma mulher de ser mãe foi muito bem ilustrado . Sua expressão facial ao longo do filme é emocionante e faz você ficar pensando sobre este filme durante um bom tempo . ” Eu não entrei em sintonia com o filme . Isso acontece , e não há o que possa ser feito . Pacto de Sangue / Double Indemnity e Assassinos / The Killers De : Billy Wilder , EUA , 1944 , e Robert Siodmak , EUA , 1946 Nota : Anotação em 1998 : Interessantíssima coincidência ter visto numa mesma semana estes dois belos filmes , grandes clássicos do film noir , que têm tantas semelhanças e aproximações . A primeira semelhança , claro , é o próprio estilo , dois filmes sobre crime com o maravilhoso estilo noir , as tramas complexas , cheias de sordidez e corrupção , o preto e branco , muitas sombras , a influência do expressionismo alemão trazida pelos imigrantes que fugiam do nazismo . A segunda é a época em que foram feitos – só dois anos separam um do outro , 1944 e 1946 . A terceira é que os dois se baseiam em histórias criadas por grandes escritores já na época consagrados , Hemingway e James M . Cain . A quarta é que a música dos dois é do mesmo compositor , o húngaro Miklos Rosza ( 1907-1996 , três Oscars de trilha sonora , fora nove outras indicações ) . A quinta é que foram , os dois filmes , indicados para grande número de categorias do Oscar – Pacto de Sangue em 1944 para sete ( filme , atriz , diretor , roteiro , fotografia , trilha sonora , som ) ; e Assassinos em 1946 para quatro ( diretor , roteiro , montagem e música ) . Com mais a coincidência de que nenhum deles levou estatueta alguma . A sexta é que os dois usam o mesmo estilo de narrativa , entremeada de flashbacks , começando no que seriam os dias atuais e já mostrando nos primeiros minutos uma revelação forte – em Assassinos , o assassinato do Sueco , e , em Pacto de Sangue , a confissão de que Walter Neff é o assassino . A sétima é que os dois foram refeitos mais tarde , em versões consideradas boas , porém inferiores aos originais – Assassinos em 1964 , com direção de Don Siegel , e Pacto de Sangue em 1973 , dirigida por Jack Smith . Assassinos
1964 foi o último filme daquele canastrãozinho que depois se daria melhor em outra ocupação , Ronald Reagan . Tinha Angie Dickinson , John Cassavetes e Lee Marvin . Pacto de Sangue 1973 tinha aquela gracinha da Samantha Eggar , oito anos depois de O Colecionador . E a oitava é aquela característica tão cara aos film noirs : ao fim e ao cabo , o espectador compreenderá que toda a trama macabra foi fruto da ganância de uma mulher , uma dame , ou baby , uma femme fatale , linda , astuciosa , fria , que joga os homens a seus pés para conseguir o que desejam . Os homens , pobres joguetes nas mãos delas , fazem o serviço sujo – mas são elas que saem ganhando . A única diferença , no caso das duas atrizes que fazem a femme fatale , é que Barbara Stanwyck era mais velha ( estava com 37 anos ) e já estava absolutamente consagrada quando fez o papel de Phyllis Dietrichson , e Ava Gardner era mais jovem ( 24 anos , só ) e , embora já tivesse feito vários filmes , só alcançou o estrelato com este filme , ao interpretar Kitty Collins . 5 Comentários tio , assisti pacto de sangue esse fim de semana … há havia assistido antes mas em tempos de imaturidade … agora , sem dúvida , foi muito mais interessante … ah , sim , mulheres sordidas que fazem os homens fazer o serviço sujo … isso de fato é noir ! forte e fraterno abraço , seu sobrinho betão Um filme espetacular . Maravilhoso . Uma trama inteligente e extremamente envolvente . A tensão que existe entre os personagens , todo aquele suspense . Tudo no filme é perfeito . Extremamente envolvente . Edward G . Robinson está impecável na pele do Barton Keyes “ . Barbara Stanwick , como era linda esta atriz . A Phyllis era uma mulher mentirosa , manipuladora , e sem escrúpulo algum . Fred MacMurray em uma grande atuação . ” Matei um homem por dinheiro . . e por uma mulher . Não consegui o dinheiro . Também não terminei com a mulher . ” ” Eu nao conseguia ouvir meus passos era a caminhada de um homem morto . ” Eu já disse uma vez que vi filmes muito bons como este no comêço dos anos 70 na Globo . Era só filme deste quilate . Com atores e atrizes maravilhosos . Jennifer Jones , Ava Gardner,LizTaylor,Ingrid Bergman , a própria Barbara Stanwick , Bete Davis , Joan Crawford , Robert Mitchun , Ray Milland , Joseph Cotten,James Stewart,Gregory Peck . . . que coisa bôa que era ! ! Um abraço ! ! Ontém , mesmo tendo voltado para me desculpar pelo “ envolvente ” , acabei me esquecendo de dizer que outro filmaço do Wilder que vi foi “ Crepúsculo dos Deuses ” . Willian Holden ( grande , muito bom ator ) e Gloria Swanson estiveram soberbos , ela ainda
mais . Com Holden vi outros filmes mas com a Gloria que me lembre , só vi este . Devo também ter visto outros filmes de Wilder que não lembro agora . Vou até , fazer uma pesquisa . Um abraço ! ! Dois filmes muito bons , mas eu gosto muito mais , mas muito mais de Double Indemnity . É um dos filmes que mais aprecio , e , sem dúvida , o melhor noir . Fred e Barbara estão muito bem , com muito boas interpretações . Edward G Robinson é fabuloso ao ser tão expressivo . O elenco de suporte também está bem . Eu não percebo porque razão Ava demorou tanto tempo a conseguir tornar-se uma grande estrela . Eu julgo que ela começou a carreira como atriz no inicio dos anos 40 na MGM mas só em 1946 é que virou uma sensação . Bem , ela está bem em The Killers , mas o papel dela não tem muito destaque . Eu sei que ela é o motor de tudo mas não aparece muito . É pena este post sobre Double Indemnity ser tão pequeno . Ainda assim , boas coincidências que oSérgio apontou . Uma coisa que eu não concordo : a mulher no filme noir não se sai safando . Ela é castigada , tem um final negativo ( a teoria feminista estuda isso mesmo , eu mesmo fiz um trabalho sobre isso ) . O homem também pode ser castigado mas também se pode sair bem como em The lady from shanghai . De qq forma , um bom post sobre o meu site preferido de cinema 18 Trackbacks [ … ] já havia dirigido também Fred MacMurray 16 anos antes num dos noirs mais noir de todos os tempos , Pacto de Sangue / Double Indemnity ; e Ray Walston , que faz um papel pequeno , como um dos chefes de seção que usa o apartamento de [ … ] [ … ] Anotação em 1999 : Um brilho de filme . Tem aquele ritmo , aquela sensualidade forte e aquela agonia dos grandes noir . Embora seu parente mais próximo seja o excepcional Corpos Ardentes , de Lawrence Kasdan , descende daquela linha majestática que inclui O Destino Bate à Sua Porta / The Postman Always Rings Twice ( o original , dos anos 40 , com Lana Turner , muito melhor do que o remake óbvio e explícito demais do Bob Rafelson nos anos 80 ) e Pacto de Sangue / Double Indemnity . [ … ] [ … ] violenta do jornalismo sensacionalista , A Montanha dos Sete Abutres , à essência do film noir , Pacto de Sangue , da comédia mais trágica que pode haver , Se Meu Apartamento Falasse , à comédia mais escrachada , [ … ] [ … ] provocariam a paixão fatal do vendedor de seguros Walter Neff , interpretado por Fred MacMurray em Pacto de Sangue / Double Indemnity , de Billy Wilder , um dos mais perfeitos
, maravilhosos filmes noir da [ … ] [ … ] de Barbara Stanwyck são a primeira parte do corpo dela que a câmara de Billy Wilder mostra em Pacto de Sangue / Double Indemnity , um dos melhores filmes noir da história . Pacto de Sangue é de 1944 , três anos depois , portanto , [ … ] [ … ] M . Cain , o autor dos livros que deram origem a dois dos mais clássicos filmes noir da história , Pacto de Sangue / Double Indemnity ( 1944 ) , de Billy Wilder e com Barbara Stanwyck , e O Destino Bate à Sua Porta ( 1946 ) , de Tay [ … ] [ … ] a James M . Cain , o autor das novelas policiais que deram origem a dois dos maiores clássicos noir , Pacto de Sangue / Double Indemnity e O Destino Bate à Sua Porta / The Postman Always Rings Twice . Ele elogia a performance fantástica [ … ] [ … ] Moffett é vil , é má que nem , ou talvez até pior , que a Phyllis Dietrichson-Barbara Stanwyck de Pacto de Sangue / Double Indemnity ( 1944 ) , do que a Cora Smith-Lana Turner de O Destino Bate à Porta / The Postman Always Rings Twice [ … ] [ … ] o portão para que o carro passe , exibe para o condômino sua imitação de Barbara Stanwyck em Pacto de Sangue / Double Indemnity ( 1944 ) : – “ Eu não entendo . Não entendo de jeito nenhum . Nunca entendi , Walter . Eu [ … ] [ … ] quando o protagonista e o espectador vêem pela primeira vez a personagem de Barbara Stanwyck em Pacto de Sangue / Double Indemnity , de 1944 . São as pernas de La Stanwyck que a câmara focaliza – ela usa uma tornozeleira , que [ … ] [ … ] Roberts interpretada por Olivia Wilde é parente da Phyllis Dietrichson de Barbara Stanwyck em Pacto de Sangue ( 1944 ) , da Cora Smith de Lana Turner em O Destino Bate à Porta ( 1946 ) , da Matty Walker de Corpos [ … ] Postar um Comentário O seu email nunca é publicado ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * Terra de Paixões / The Hi-Lo Country De : Stephen Frears , EUA-Inglaterra-Alemanha , 1998 Nota : Anotação em 2011 : O inglês Stephen Frears é um sujeito que passa por todos os gêneros possíveis e imagináveis , em filmes feitos na Inglaterra , nos Estados Unidos , na Irlanda – sempre com uma absurda competência . Em 1998 , fez um western , Terra de Paixões / The Hi-Lo Country . Não tinha como dar errado : fez uma beleza de filme . Não tinha mesmo como dar errado . Para fazer o filme , teve dinheiro de produtoras de três países – a sua Inglaterra natal , os Estados Unidos onde a ação se passa
e o filme foi feito , mais a Alemanha . O grande Martin Scorsese foi um dos produtores . Carter Burwell , o excelente autor das trilhas sonoras dos irmãos Coen , fez um trabalho magnífico . O diretor de fotografia Oliver Stapleton não é um nome muito conhecido , mas fez um trabalho de babar . O filme é repleto de fantásticos planos gerais da paisagem ao mesmo tempo seca , agressiva , e estupidamente bela , com vales , montanhas , casas pobres isoladas no meio de vastas áreas de terra crua . Visualmente , o filme é de uma beleza extasiante , uma homenagem ao mais americano de todos os gêneros do cinema e seus grandes mestres , John Ford , Howard Hawks , Raoul Walsh , Anthony Mann – os planos gerais da paisagem desolada e bela se misturando ao clima pesado dos saloons onde se bebe muito além do que o fígado e o cérebro humano podem agüentar , e onde as tensões estão sempre a ponto de explodir . Como se trata de Stephen Frears , com o apoio de Martin Scorsese , este não é um western tradicional . Embora todo o clima seja de um western tradicional , a ação se passa nos anos 40 – 1940 , e não 1840 . Os personagens centrais são caubóis – cowboys , é bom lembrar , criadores de gado . Andam a cavalo , mas os cavalos já convivem com carros , ônibus , telefones , e os grandes fazendeiros já não conduzem mais seu gado de um canto a outro do país , até o local da venda , no muque , como se fazia antigamente , e sim em caminhões . Tirando esses detalhes – carros , ônibus , telefones , caminhões – , no entanto , o mundo que Frears mostra em seu filme não é diferente do Velho Oeste dos westerns tradicionais , o do outro século , o anterior , o que a gente chamava de século passado , e hoje é um passado absolutamente distante . O saloon , por exemplo , mudou pouquíssimo , e nele se encontram tanto os caubóis mocinhos quanto o grande fazendeiro e seus capangas , os bandidos – o grande fazendeiro é igualzinho eram os grandes fazendeiros de cem anos antes . São todos bandidos , exploradores do trabalho dos outros , roubam tudo o que podem – exatamente como são mostradas , em 99% dos filmes americanos , westerns ou não , as grandes corporações . Já houve outros westerns passados em meio a carros e helicópteros Não que seja absoluta novidade um western passado em pleno século XX . Em Sua Última Façanha / Lonely Are the Brave , de David Miller , de 1962 , por exemplo , Kirk Douglas interpreta um cáuboi renitente que foge dos homens da lei em seu fiel cavalo – e a polícia , chefiada pelo xerife interpretado por Walter Matthau , além de carros , usa até um helicóptero na perseguição . Em
O Cavaleiro Elétrico / The Electric Horseman , de Sydney Pollack , de 1979 , o protagonista , interpretado por Robert Redford , um ex-campeão de rodeios tornado um autômato pela cachaça e pelo louco esquema de Las Vegas , foge pelos campos infinitos com um cavalo milionário , toda a polícia e a imprensa do país atrás . E , em O Indomado / Hud , de Martin Ritt , de 1963 , o filho do vaqueiro ( o papel de Paul Newman ) não quer saber de vacas nem de cavalos – gosta de cachaça , mas acompanhada por seu Cadillac e qualquer mulher que passar à sua frente . Um cruzamento de western com film noir – só que colorido Terra de Paixões / The Hi-Lo Country tem um pouco do clima desses três westerns passados em dias bem mais recentes . Tem , sobretudo , afinidades com O Indomado / Hud : o cenário é o Oeste , bem parecido com o Velho Oeste , mas a trama se centra nas relações afetivas , familiares e amorosas . O protagonista e narrador , Pete ( Billy Crudup , à direita na foto abaixo ) , comprou um pedaço de terra no Novo México , no final dos anos 30 , início dos anos 40 . Comprou também um cavalo de um sujeito do lugar , Big Boy Matson ( Woody Harrelson ) , mas o animal se mostrou mais arisco e violento do que Pete era capaz de aguentar , e ele então voltou até Big Boy para tentar desfazer o negócio . Para sua surpresa , Big Boy não só pagou de volta os mesmos US$ 75 como se mostrou disposto a ajudar o recém-chegado Pete no que ele precisasse . Foi o início de uma imensa , calorosa amizade . Big Boy e Pete tornam-se inseparáveis – no trabalho com o gado , e nas bebedeiras . Separam-se por alguns anos com a entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra , mas se reaproximam logo que retornam à região de Hi-Lo , a do título original do filme . Ao voltar da guerra , com uma boa soma de dinheiro do salário de combatente , Pete planeja comprar umas centenas de cabeça de gado . Num bar , reencontra Mona ( Patricia Arquette ) , a mulher mais bela do pedaço , e Josepha ( o papel de Penélope Cruz ) , a mocinha certa para qualquer sujeito que queira o amor em paz . E aqui se dá um bem feito cruzamento de um western passado nos 40 com um film noir que era o gênero quente daquela época . Mona , naquele lugar perdido nos confins do Novo México , é muito parecida com as femmes fatales que percorriam os bares de Nova York ou Los Angeles nos film noirs , enlouquecendo a cabeça dos homens . Para cada femme fatale está destinado um pato , e Pete é o pato , tadinho . Entre a mocinha certa e a mulher mais
bela do pedaço , casada com o capataz do grande fazendeiro mas obviamente doidinha para pular todas as cercas , Pete , o pato , escolhe a segunda . Só depois de tragado pela paixão por Mona é que Pete descobre que Mona já está pulando a cerca – e exatamente com o maior amigo dele , Big Boy . Um fracasso comercial , apesar de todos os talentos envolvidos Não me parece que o filme – embora muito bom , feito por diretor de renome , com produtor de renome maior ainda – tenha sido um sucesso nos Estados Unidos . De fato , segundo o Box Office Mojo , o filme rendeu apenas US$ 166 mil no mercado americano , uma merrequinha de nada . Fico imaginando se ao menos parte desse fracasso não se deve ao elenco escolhido por Stephen Frears . O elenco é ótimo , está absolutamente brilhante – mas não eram , na época , grandes astros Woody Harrelson , Billy Crudup e Patricia Arquette . A maior estrela do elenco hoje é Penélope Cruz , mas na época ela ainda era uma desconhecida nos Estados Unidos – tinha apenas 24 anos , a espanhola deslumbrante ; tinha já uma penca de filmes em seu país , mas estava apenas começando a carreira internacional . Woody Harrelson é um ator excepcional , mas não é astro . É o anti-John Malkovich , o anti-Jack Black , esses sujeitos que fazem eternamente o papel deles mesmos . Em cada filme ele tem uma cara , uma personalidade . Está brilhante como o cáuboi de boa alma e maneiras bruscas e violentas , aferrado às tradições – inclusive à de não se importar muito com o fato de que todo mundo acabará sabendo que ele come a mulher do capataz do grande fazendeiro . E Patricia Arquette … Patricia Arquette é uma figura . Como o diretor Stephen Frears , é versátil . Como Woody Harrelson , é absolutamente camaleônica . É preciso ser ótimo fisionomista para sacar que essa atriz que faz Mona , a femme fatale de The Hi-Lo Country , é a mesma de Vivendo no Limite / Bringing Out the Dead , de Martin Scorsese . E é preciso ter boa memória para não confundi-la com a irmã Rosanna , que também trabalhou com Scorsese – em Depois de Horas / After Hours . Talvez o excesso de camaleonismo tenha acabado prejudicando Patricia Arquette , impedindo que ela se tornasse uma grande estrela . Mas é uma bela atriz – é tão boa atriz que consegue parecer mais bonita que a lindérrima Penélope Cruz bem jovem . Se não para todos os espectadores , para todos os homens daquele lugar perdido no meio do Novo México . E o filme tem uma ponta de Katy Jurado . Aparece em apenas uma sequência , a veterana atriz – faz o papel de uma vidente , uma cartomante , que Big Boy , o bravo , Pete , o pato , Mona , a
femme fatale , e Josepha , a mocinha perfeita , vão consultar , quando o filme já está se aproximando do final . Deve ter sido provavelmente do produtor Martin Scorsese , um estudioso do cinema , um admirador das grandes obras do passado , a idéia de chamar Katy Jurado ( 1924-2002 ) para um papel , ainda que mínimo , nesse western moderno . Ou pode ter sido de Stephen Frears , quem sabe . O fato é que é uma bela homenagem a essa mexicana de Guadalara que fez tantos westerns , nos anos 50 e 60 – impossível não lembrar dela como a mulher do personagem safado interpretado por Karl Malden em A Face Oculta / One Eyed Jack , o único filme que Marlon Brando resolveu dirigir na vida ; e , principalmente , como a mulher da vida que esteve no passado do xerife Will Kane , e que agora , no momento da ação , os 90 minutos mais cronometrados da história do Oeste , dá guarida à jovem esposa dele , a ex-amante toda de preto , a jovem esposa toda de branco , em Matar ou Morrer / High Noon . “ As imagens são como a realização : simples , amplas e belas ” Sempre é bom ver a opinião dos outros , e checar alguns fatos Stephen Frears ganhou o Urso de Prata em Berlim pela direção do filme . Foi o único prêmio importante que o filme levou – teve quatro prêmios e quatro indicações . Leonard Maltin deu 2.5 em 4 . Segundo ele , o filme tem tantas coisas a seu favor – inclusive a extraordinária interpretação de Woody Harrelson e a fotografia de Oliver Stapleton – que é uma pena que não seja uma maravilha . E ele diz que Patricia Arquette está uma chata . O Guide des Films de Jean Tulard diz que é um western nostálgico , onde encontramos as seqüências obrigatórias do gênero – as conversas no saloon , o trabalho com o gado , “ a femme fatale e a jovem pura ” , etc . “ Mas o que parece interessar prioritariamente a Stephen Frears é a ligação com um mundo em via de desaparecimento , com os valores universais da amizade viril ou o gosto por uma vida rude , mas livre . As imagens são uníssonas com a realização : simples , amplas e belas . E o fim é de uma grande intensidade dramática . ” Essas duas últimas frases do guia francês definem perfeitamente o filme , muito melhor do que tudo o que eu havia dito antes . Mas também o nome do cara é Jean Tulard , e o meu é apenas Sérgio Vaz . Depois do que se diz no guia de Tulard , não é preciso dizer mais nada , mas acrescento : num filme povoado por imagens simples , amplas e belas , uma seqüência , em especial , chama a atenção , faz quem gosta de cinema babar ,
querer rever e rever de novo : a sequência do baile , em que Pete já entra sabendo que os homens do grande fazendeiro vão atacar Big Boy . É antológica . Dizer que é tão brilhante quanto a cena do baile de O Leopardo , de Visconti , seria um exagero . Mas olha – é quase tão . 2 Comentários se eu nunca tivesse vindo aqui , hoje eu teria chegado por uma via ou outra . Porque esse filme faz sal nos meus olhos e coceira na garganta e pede reprises ? Também . Mas ainda mais porque em sua resenha você conseguiu sair listando quase tudo que me apaixona no cinema . Se houvesse um motor de busca assim – cinemacoraçãoluciana – de imediato viria parar aqui : 2 Trackbacks [ … ] Cruz . Dois anos antes , em 1998 , ela havia feito , sob a direção do inglês Stephan Frears , Terra de Paixões / The Hi-Lo Country , em que ainda era coadjuvante . Este aqui foi de fato o primeiro filme falado em inglês em que ela [ … ] A Morte num Beijo / Kiss me Deadly De : Robert Aldrich , EUA , 1955 Nota : Anotação em 2000 , com complemento em 2008 : O lead é bom , é ótimo : uma mulher desesperada , vestindo apenas uma capa , pede carona numa estrada à noite , corre , foge , pede socorro . A câmara é como se fossem os olhos do motorista – vemos a estrada adiante , na escuridão da noite . Pouco depois , enquanto o espectador ouve a respiração ainda ofegante da mulher sentada ao lado do motorista , as palavras da apresentação , dos letreiros , vão aparecendo como se fossem avisos escritos no asfalto . O diálogo dela com o homem que deu a carona é ótimo – epa , o filme promete ! Depois a trama se perde numa confusão que nem Raymond Chandler e Dashiell Hammett juntos conseguiriam entender . Leonard Maltin diz que o filme é cheio de clima , rápido e violento , anos à frente de seu tempo , com muita influência da nouvelle vague francesa – e é um dos melhores do diretor Robert Aldrich . Isso não é pouco , já que Aldrich fez muitos bons filmes , desde suspense-terror como O Que Aconteceu com Baby Jane ? e Com a Maldade na Alma até westerns como O Último Pôr-do-Sol e Vera Cruz . Amizade Corrompida / Tough Love De : David Drury , Inglarterra , 2000 Nota : Anotação em 2004 : É mais uma prova de que a Inglaterra faz um dos grandes cinemas do mundo , se não o melhor . É um policial duro , pesado , que se fosse feito no esquemão padrão de Hollywood muito provavelmente se perderia nas tentativas de se fazer glamour da violência e mostrar muita violência desnecessária . Este não tem glamour algum , e a violência é do próprio tema , e
muito mais moral que visual . É sobre uma trama de corrupção em uma delegacia de polícia de lugar não claramente definido – pode ser na periferia de Londres ou de alguma grande cidade tipo Birmingham . Gira em torno da amizade de décadas de dois veteranos policiais – um deles chefe da delegacia , outro investigador . Alguém da corregedoria procura o investigador e pede a ele que fique de olho no seu amigo e superior , suspeito de corrupção com o traficante local . O investigador se nega a acreditar que o amigo esteja em esquema corrupto , justamente porque o conhece há muitos anos e testemunhou , lá atrás , no passado , como ele resistiu a diversas tentativas de ser corrompido . Eu , espectador , me peguei torcendo para que a informação da corregedoria fosse errada , que o chefe da delegacia fosse inocente e honesto . O filme vai fundo nas relações de amizade entre as famílias dos policiais . Fala dos preconceitos de classe – ou não seria um bom filme inglês – e do preconceito racial ( no bairro , é claro , existem imigrantes paquistaneses ) . Um belo , denso , pesado filme . Os Corruptos / The Big Heat De : Fritz Lang , EUA , 1953 Nota : The Big Heat , de 1953 , no Brasil Os Corruptos , é um grande filme , uma obra-prima . É um dos melhores filmes da fase americana do alemão Fritz Lang , um dos maiores realizadores do primeiro século do cinema . É tido como um dos grandes do filme noir , esse gênero endeusado por 11 de cada 10 cinéfilos . Da essência do noir , tem , na forma , o visual extremamente bem cuidado , com ênfase no jogo de luz e sombra , o chiaroscuro , herança do expressionismo alemão dos anos 1920 que Lang conheceu tão bem , porque foi um de seus expoentes . E , no conteúdo , a atmosfera de dissolução moral , da falta de valores morais , de corrupção que se alastra e parece atingir quase todo o tecido social – herança , por sua vez , da sua época , os anos seguintes ao final da Segunda Guerra Mundial , o conflito cuja barbárie destruiu os sonhos , as ilusões de gerações . Ao contrário , no entanto , de muitos dos mais tradicionais filmes noir , como os baseados nas histórias dos detetives particulares durões criadas por Dashiell Hammett e Raymond Chandler , em especial , não tem uma trama complexa , cheia de idas e vindas , pontos obscuros . Bem ao contrário : a história criada por William P . McGivern e publicada como série no Saturday Evening Post , e roteirizada por Sydney Boehm , é simples , direta : ao investigar o suicídio de um colega policial , o sargento da Divisão de Homicídios de uma cidade qualquer enfrenta um imenso esquema de corrupção . É um filme poderoso , impressionante , marcante
. Produção da Columbia Pictures , foi lançado no Brasil em DVD na caixa Filme Noir 2 , da ótima Versátil , que incluiu como atrações especiais um depoimento de Martin Scorsese e outro de Michael Mann sobre a obra . São fascinantes os depoimentos . Creio que existem duas seqüências que se destacam como as mais violentas de todas as dos filmes noir dos anos 40 e 50 . São sequências famosas , antológicas , inesquecíveis pela brutalidade , crueza . Uma delas está em O Beijo da Morte / Kiss of Death ( 1947 ) , de Henry Hathaway , em que um gângster , interpretado por Richard Widmark , empurra escadaria abaixo uma mulher paraplégica , em uma cadeira de rodas – e , ao cometer o ato insano , dá uma gargalhada . A outra sequência mais violenta da história do filme noir está neste The Big Heat , e envolve os personagens interpretados por Lee Marvin e Gloria Grahame . Mas é melhor falar dessa cena mais tarde . Um começo brilhante : um homem se mata ; a reação de sua mulher é gélida O filme começa de forma brilhante . Close-up de um revólver sobre uma mesa de trabalho . Mão pega o revólver , câmara se mantém onde estava – ouve-se um tiro . Corta , nova tomada : homem morto , cabeça sobre a mesa , mão ainda segurando o revólver . Nova tomada : close-up de envelope sobre a mesa endereçado ao procurador de Justiça . A mulher do suicida desce as escadas da casa , chega até a sala , vê o marido morto . Não demonstra emoção alguma – nenhum sinal de espanto , de tristeza . Aproxima-se da mesa , pega o envelope , abre , dá uma olhada rápida nas diversas folhas de papel com anotações feitas à mão pelo marido que ainda está quente , assim como o revólver sobre a mesa . Pega o telefone , disca , pede para falar com o sr . Lagana . A voz é dura , firme : – “ Eu sei que é tarde . Acorde-o . Diga que a viúva de Duncan ” . Bertha Duncan , a mulher que acaba de ficar viúva e , em vez de telefonar para polícia , liga para um milionário , é interpretada por Jeanette Nolan . Mulher feia , sem qualquer charme – ótima atriz . Saberemos que Lagana ( o papel de Alexander Scourby , na foto acima ) é um milionário logo na tomada seguinte , quando ele é acordado por um serviçal para atender ao telefone . O espectador não ouve tudo o que é dito entre Lagana e Bertha Duncan . Ao final do telefonema , Lagana sugere à viúva que agora ligue para a polícia , para avisar que seu marido se matou . O sargento que é enviado à casa dos Duncan chama-se Dave Bannion , e ele vem na pele de Glenn Ford , um dos atores de Hollywood mais admirados
e respeitáveis na época do filme . Dave Bannion será mostrado ao espectador como um bom homem , um policial firme , honestíssimo , incorruptível , um pai e marido amantíssimo – o exemplo perfeito , acabado , do bom caráter . Dá-se muitíssimo bem com a mulher , Katie ( Jocelyn Brando , na foto abaixo ) , e a filhinha , Joyce ( Linda Bennett ) , um anjinho aí de uns oito , nove anos . O legista já havia feito os primeiros exames do morto , os técnicos já haviam feito as fotos . Não há dúvida alguma de que Duncan se matou . Dave conhecia Duncan , mas só de vista . Não trabalhavam juntos . Duncan era chefe do serviço de registros . E então o policial perfeito vai conversar com a viúva , fazer as perguntas que são obrigatórias para que se façam todos os relatórios , sem falhas . E aí Jeanette Nolan demonstra a boa atriz que é . O espectador já podia até prever , e o previsível acontece : diante do policial que vem fazer as perguntas de rotina , Bertha Duncan , a mulher que não demonstrou qualquer emoção ao ver o marido morto , debulha-se em lágrimas . O roteiro é um exemplo de concisão e perfeição . Expõe tudo logo de cara Depois de receber o telefonema de Bertha Duncan , Mike Lagana liga para Vince Stone ( o papel do jovem Lee Marvin , ainda em começo de carreira , iniciada em 1950 , três anos antes do lançamento deste filme ) . Quem atende é a namorada de Vince , Debby ( o papel de Gloria Grahame , belíssima , talentosa atriz , na foto abaixo ) . Vince estava naquele momento jogando cartas e bebendo , numa sala ao lado , junto com um grupo de amigos . Debby o chama ao telefone e faz um gesto gozativo com as mãos e uma reverência de cabeça – tipo “ Sua Majestade , o patrão , está chamando ! ” O roteiro de Sydney Boehm , um exemplo de concisão e perfeição , demonstra todos os fatos para o espectador nos primeiros 10 , 15 minutos do filme . Duncan era um policial corrupto , estava na folha de pagamento de Mike Lagana . Por algum motivo , a consciência pesou , ele se arrependeu , e escreveu ao procurador de Justiça um roteiro dos crimes do milionário – empresário e gângster que domina com mão de ferro toda a cidade , inclusive altos postos na polícia . Sua mulher , Bertha , que sempre soube da corrupção do marido , ficou com a carta denúncia para si mesma , e passou a exigir para si um pagamento mensal , em troca do silêncio . Vince é o secretário especial de Mike Lagana para assuntos sujos . Debby , sua namorada , é muito bela , muito jovem , e debocha do servilismo dele mesmo diante dos amigos . É , portanto , uma
bomba-relógio . Não vai demorar nada para que Dave Bannion , o homem bom , o tira incorruptível , vá descobrindo o fio da meada e a meada inteira . A forma tão absolutamente perfeita , rósea , com que o filme mostra a vida familiar do sargento Dave Bannion , é um indicativo forte de que virá problema . Só não dá para prever o tamanho , a violência do problema que virá . É extremamente chocante , quando vem . E , bem mais tarde , há novo choque . É a tal sequência que é uma das duas mais violentas de todo o universo do filme noir . Ela envolve , como já disse lá acima , os personagens de Lee Marvin e Glora Grahame . Por mais conhecida que ela seja , por mais que seja antológica , vou evitar descrevê-la . Não é necessário – e seria um spoiler feio para quem ainda não viu o filme e não conhece a trama . Fritz Lang fez 23 filmes em seu período em Hollywood Fritz Lang realizou filmes importantíssimos na sua Alemanha natal , no período entre as duas guerras mundiais , a partir exatamente de 1919 , o primeiro ano após o fim da Primeira Guerra . Dr . Mabuse é de 1922 . Metrópolis , de 1927 , uma ficção científica , uma distopia , influenciaria diversas gerações de cineastas ; parte do visual de Blade Runner se deve a essa obra-prima . M . , O Vampiro de Dusseldorf , de 1931 , é outra obra-prima que influenciou meio mundo . O livro … ismos – Para entender o cinema , de Ronald Bergan , lembra que , para muitos críticos , filmes sombrios como Dr . Mabuse e M . , O Vampiro de Dusseldorf , exemplos perfeitos do expressionismo alemão , “ profetizaram o Terceiro Reich , através de seus personagens sádicos e suas paisagens de pesadelo ” . Fritz Lang deixou a Alemanha para fugir do nazismo que seus filmes de alguma forma já profetizavam . Como diversos outros realizadores alemães e austríacos – Ernst Lubitsch , Billy Wilder , Josef von Sternberg , Otto Preminger , Douglas Sirk , Robert Siodmak – , radicou-se nos Estados Unidos , em Hollywood . E , como diversos de seus conterrâneos , ajudou a criar o gênero noir . Lang fez 23 filmes nos Estados Unidos , entre Fúria / Fury , de 1936 , com Spencer Tracy e Sylvia Sidney , que trata de linchamento e vingança , e Suplício de uma Alma / Beyond a Reasonable Doubt , de 1936 , com Dana Andrews e Joan Fontaine , que discute a pena de morte . Gostaria de já ter visto todos ; dos que conheço , este aqui é o melhor , ao lado do primeiro – Fúria é também uma obra-prima . Alguns poucos dos 23 filmes americanos já estão neste site , além do citado Suplício de uma Alma : “ Fritz Lang voltou ao universo do film
noir em The Big Heat , um melodrama sobre ‘ dados , vício e corrupção ’ , como proclamavam os cartazes , cuja maior parte foi feita em interiores no estúdio e que mostrava um mundo de sórdida brutalidadc ” , diz o livro The Columbia Story , que define o roteiro de Sidney Boehm como “ firme e tenso ” . O texto realça , naturalmente , a sequência brutal que já citei duas vezes com Lee Marvin e Gloria Grahame , depois de afirmar que boa parte do sangue derramado acontece fora da tela . Isso é bem verdade : há vários episódios de violência que a câmara não mostra . “ Observar o herói e o vilão fazer o jogo de gato e rato sob a direção cheia de suspense de Lang manteve as audiências na ponta de suas cadeiras . A produção de primeira de Robert Arthur , que viria a ser uma das mais poderosas declarações sobre a criminalidade urbana do pós-guerra nos anos 50 , recrutou um excelente elenco de coadjuvantes ” – e o livro cita Jeanette Nolan , a atriz que faz a corrupta Bertha Duncan , diversos outros coadjuvantes e ainda Carolyn Jones . Ah , sim : ela faz Doris , uma das moças de programa do Retreat , o bar frequentado pelos capangas do bandidão Mike Laguna . Aparece numa única sequência , em que está jogando dados ao lado de Vince Stone e sua namorada Debby ; faz alguma coisa que desagrada Vince , e ele queima a mão dela com um cigarro . Revi a cena , e percebi por que não a havia reconhecido : ela está com os cabelos curtos , encaracolados e louros – e na maioria dos filmes seus cabelos são negros , lisos e compridos . Leonard Maltin dá ao filme 3 estrelas em 4 , fala da famosa cena de violência e elogia a atuação de Gloria Grahame – que , de fato , é impressionante . Impressionante , surpreendente , incrível é o fato de que Pauline Kael , a língua mais ferina da crítica americana , elogie do filme do jeito que ela elogia . Começa assim o texto dela , na tradução de Sérgio Augusto para a edição brasileira do livro 1001 Noites no Cinema : “ O roteiro sólido e intransigente de Sidney Boehm poderia ter sido transformado num rotineiro thriller de polícia e ladrão , mas o diretor , Fritz Lang , deu-lhe um estilo formal . O filme é inteiriço ; desenhado em luz e sombras , sua atmosfera de submundo brilha com as possibilidades de sadismo – um film noir definitivo , com algumas cenas perversas estonteantemente coreografadas . ” Quem fica obcecado por vingança se torna igual às pessoas que combate No depoimento que dá sobre o filme , com todo seu conhecimento de um cinéfilo inveterado , que já viu tudo , e mais de uma vez , Martin Scorsese chama a atenção para vários pontos importantes . Dois deles me impressionaram
. O primeiro é o fato de que Glenn Ford foi muito bem escolhido para o papel porque , na época , ele vinha de vários filmes em que interpreta um bom pai de família , e essa imagem é fundamental para que a audiência simpatizasse com o personagem . O segundo ponto é que , quando parte para a vingança , o sargento Dave Bannion , até então aquele exemplo de bom caráter , vai-se tornando tão frio , tão insensível , tão violento , quanto aqueles que pretende combater . Se não estou enganado , essa questão já havia sido levantada por Fritz Lang na sua estréia no cinema americano , em Fúria . A pessoa que fica obcecada pela vingança acaba se tornando igual àquelas que combate . Essa é uma verdade que pode parecer óbvia , mas na realidade não é . Muita gente parece se esquecer disso , ou , conscientemente ou não , procura não pensar sobre isso . É um tema sempre bem-vindo , para que a gente não caia no atrativo fácil , às vezes fascinante , do olho-por-olho , dente-por-dente , que parece tão charmoso em filmes como os da série Dirty Harry ou Desejo de Matar , ou ainda Um Dia de Fúria ( 1993 ) , de Joel Schumacher , ou ainda Olho por Olho ( 1996 ) , de John Schlesinger . Sobre “ The Big Heat ” ( Corrupção , em Portugal)Lang disse a Peter Bogdanovich:”A história é um caso pessoal entre Glenn Ford e o crime . Ford transforma-se no público . A técnica pretendia que o público se identificasse com o personagem que via na tela e pensava como ele . Quando a mulher é assassinada , ( embora a bomba no carro fosse para ele ) , começa a sua luta privada ” . Ódio , crime e vingança atravessam , ainda que inconscientemente todos os filmes de Lang . A luta contra o destino . E a vingança , diz Lang , é o pior e o mais amargo dos frutos . O “ Halliwell’s Film Guide ” diz que este filme atingiu um novo patamar de violência que tem o seu cume na cena do café a ferver que desfigura a face de Gloria Grahame e que a partir daí passa a ser “ a mulher sofrida ” . Afirma também que introduziu uma nova forma de realismo no “ film noir ” onde Glenn Ford desempenha uma das melhores performances da sua carreira . Contudo , para a crítica Penélope Houston , sempre exigente , a principal impressão que resulta do filme é a violência arbitrária , mecânica , que se vai revelando aos poucos ao longo da narrativa . o “ Halliwell’s dá a classificação de três estrelas num máximo de quatro . Postar um Comentário O seu email nunca é publicado ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * Clamor do Sexo / Splendor in the Grass De : Elia Kazan , EUA , 1961 Nota
: Um titulo original tão suave , um título em português tão bombástico , quase apelativo . Que gigantesca distância há entre Splendor in the Grass e Clamor do Sexo . Splendor in the Grass – que o grande Elia Kazan lançou em 1961 , um dos cinco últimos filmes de sua carreira – tem seu título tirado de um poema do inglês William Wordsworth ( 1770-1850 ) , “ Ode : Intimations of Immortality ” : Na tradução de Paulo Vizioli , no livro bilíngue Recordações da Primeira Infância ( editora Mandacaru , 1988 ) , é : “ Mesmo que nada nos devolva o instante / De esplendor para a relva e glória para a flor , / No que restou vamos achar , / Sem mágoa , um poder similar . ” Numa tradução muito menos bela , porém mais literal , seria : “ Embora nada possa trazer de volta a hora do esplendor na relva , da glória na flor , não lamentaremos , e encontraremos força com o que fica para trás . ” Tradução traição . De Splendor in the Grass para Clamor do Sexo … Como escreveu Joaquim Alves de Aguiar : “ Parece nome de fita pornô , daquelas produzidas na famosa Boca do Lixo paulistana dos anos 70 , ou dessas que hoje em dia abundam nas prateleiras destinadas à pornografia das videolocadoras ” . É exatamente isso : está absurdamente distante do suave , poético titulo original , e parece nome de filme pornô . Mas não está totalmente errado . O clamor do sexo , o tesão é uma parte importante da história criada pelo dramaturgo , novelista e roteirista William Inge ( 1913-1973 ) . Apenas uma parte , é verdade , e então o título escolhido pelos exibidores brasileiros é apelativo e reducionista – mas tem algum sentido . A ação de Splendor in the Grass se passa – o filme nos informa isso com um letreiro logo após a primeira sequência – no Sudeste de Kansas , em 1928 . Poderia se passar em qualquer lugar interiorano de qualquer país ocidental , até os anos 1960 , 1970 . Na verdade , não só em qualquer pequena cidade : poderia perfeitamente se passar em qualquer cidade brasileira , argentina , italiana , em que os pais criavam os filhos e as filhas ensinando que as moças decentes não poderiam , de forma alguma , ter relações sexuais antes do casamento . Em suma : aquela coisa asquerosa , nojenta , imbecil , do tabu da virgindade da mulher . Tanta preocupação , tanta energia dispendida , tanto drama por uma bobagem , uma tolice . “ Os rapazes querem uma boa garota como esposa ” Na primeira sequência do filme , um casal se beija dentro de um carro , parado junto de uma cachoeira . São dois jovens belos , extremamente belos . A mãe de Deanie , Mrs . Loomis ( Audrey Christie ) , está bem acordada quando Bud deixa Deanie em
frente de casa . Ela ouve o diálogo dos dois , observa os dois pela janela . No momento em que a filha está para entrar em casa , sobe correndo as escadas para não ser vista . Em seguida desce de novo , como se estivesse acordando naquele momento . Puxa conversa . Menciona as ações que o pai dela comprou , e que não param de se valorizar . Pergunta se Bud não comentou com ela sobre a alta das ações . E aí , tendo chegado ao assunto Bud como quem não quisesse nada , pergunta o que os dois tinham ficado fazendo até aquela hora . Deanie mente que estavam estudando . A mãe segue Deanie até o quarto da moça . E aí abre o verbo , diz o que vinha querendo dizer : – “ Os rapazes não aeitam uma garota que faz tudo o que eles querem . Os rapazes querem uma boa garota como esposa . Wilma Dean , você e Bud não foram longe demais ainda , foram ? ” Uma sociedade apegada aos bens materiais e a uma moral rígida , puritana Ao chegar à sua casa , Bud tem uma conversa algo parecida com o pai , Ace Stamper ( Pat Hingle ) . Ace fala muito , e então fala com Bud de diversos temas , inclusive sua firme determinação de que o filho vá para a Universidade de Yale , mas , no meio da conversa , pergunta se ele está saindo com a filha dos Loomis . Diz que ela é uma bela moça , lembra que cresceu junto com Del Loomis ( Fred Stewart ) , que não tem nada contra eles , contra o fato de eles serem pobres . – “ Mas você não está fazendo nada que possa te envergonhar , não é ? Se acontecer qualquer coisa , você teria de se casar com ela . ” Nestas duas sequências , a da casa dos Loomis e a da casa dos Stamper , o roteirista William Inge e o cineasta Elia Kazan já nos dão um claro retrato daquelas pessoas , daquele tipo de sociedade , de seus valores . Os pais da garota Deanie são classe média baixa ; Del tem um pequeno armazém , junto da casa em que moram – uma casa espaçosa , confortável , mas simples , mal cuidada , precisando de uma pintura . A sra . Loomis é falante , até demais ; Del , o marido , é extremamente mais calado , reservado . Os pais do garoto Bud são muito ricos , dos mais ricos dos habitantes da pequena cidade da qual nunca se fala o nome . Ace Stamper tinha tido a sorte de achar petróleo em suas terras ; sonhava com a possibilidade de fundir sua pequena empresa com uma das grandes companhias “ lá do Leste ” . Ace é daquele tipo de pai e marido ditatorial : só ele fala , os outros escutam ; ele mesmo não
escuta o que os outros dizem , conforme dirá um personagem secundário quando a narrativa vai se aproximando do fim . Mrs . Stamper ( Joanna Roos ) é aquele tipo de mulher absolutamente subjugada pelo marido dominador . Como tantos pais – da vida real e da ficção – que constroem fortuna , Ace Stamper exige que Bud se prepare para herdar sua emergente empresa de petróleo . O fato de que tudo o que o rapaz quer na vida é ser fazendeiro não importa a mínima . Quanto a Bud , além de bonito e bom no futebol americano , é também rico . O melhor partido da cidade , como as mães diziam naquela época – e até hoje , provavelmente . Todas as garotas da escola tinham uma ponta de inveja de Deanie – por ela ser a mais bela de todas , e por namorar Bud . Proibido para menores de 18 anos na época , o filme hoje pode ser visto por todos A menção feita à alta das ações bem no início da narrativa não é , evidentemente , gratuita . Assim como não é gratuita a escolha do ano em que a ação começa , 1928 . Os personagens , é claro , não sabiam , mas os espectadores estão cansados de saber : em 1929 haveria a quebra da Bolsa de Nova York e o início da Grande Depressão . A grande crise econômica terá efeitos fortes , naturalmente , sobre a vida dos personagens . Tirando esse detalhe que é local , específico dos Estados Unidos , a questão da virgindade das moças que o filme aborda é de fato universal . Era assim quando eu era adolescente , em Belo Horizonte , nos anos 60 . No quarto ano do ginásio , quando estávamos todos com 14 ou 15 anos , havia uma única menina na nossa turma que não era virgem . O fato era sabido por todos , ou quase todos , da turma . Não que houvesse menosprezo por ela por causa disso , no nosso caso específico ; ao contrário ; todos nós , homens e mulheres , a respeitávamos como uma menina corajosa , pra frente , que tinha tido a coragem de fazer o que era absolutamente proibido . Os namoros eram bastante parecidos com o de Bud e Deanie : muito beijo , amasso , no máximo bolinação – sexo , de jeito nenhum . Essa besteira de tabu de virgindade só começaria a cair no final dos anos 60 , início dos 70 , depois da grande revolução comportamental em todo o mundo ocidental . Não vi Splendor in the Grass quando era adolescente em Belo Horizonte ; li sobre o filme nas revistas da época , vi as fotos , vi os cartazes do lado de fora do cinema , sabia da história , mas a censura era 18 anos . Fora de questão . Hoje , o DVD – lançado no Brasil pela Lume Filmes – traz a censura
indicativa de proibido para menores de 10 anos . “ Estou tão fresca e virginal quanto no dia em que nasci , mãe ! ” Em 1961 , o Código Hays , o código de autocensura dos grandes estúdios de Hollywood , ainda estava em vigor , embora muitos filmes começassem a desobedecê-lo . Anatomia de um Crime , o belo clássico de Otto Preminger de 1959 , foi na época considerado ousadíssimo ; pela primeira vez pronunciou-se num filme americano a palavra panties , calcinha . E o austro-húngaro Preminger não se fez de rogado : a palavra panties é pronunciada diversas vezes , no julgamento do crime do título . Segundo o IMDb , o beijo apaixonado de Natalie Wood e Warren Beatty em Splendor in the Grass foi o primeiro French kiss mostrado em um filme de Hollywood . French kiss é beijo de língua – que hoje as novelas das 6 da tarde mostram diariamente . Transcrevo outra anotação do IMDb – vendo o peixe como ele é vendido no grande site enciclopédico : “ O filme incluía uma cena em que Wilma Dean Loomis toma um banho enquanto discute com a mãe . A briga fica tão intensa que Wilma pula fora da banheira e corre nua pelo corredor até seu quarto , quando a câmara corta para um close-up de suas pernas nuas batendo histericamente no cobertor . Os censores de Hollywood e a Legião Católica da Decência se opuseram à cena do corredor , achando que a nudez não era admissível . Consequentemente , o diretor Elia Kazan tirou o trecho , deixando um pulo abrupto da banheira para a cama . ” Essa sequência acontece quando o filme – de 124 minutos – já vai lá pela metade , ou pouco mais , mas creio que não é um spoiler transcrever uma das frases que Deanie grita para a mãe : – “ Não , mãe ! Eu não fui estragada . Não fui estragada , mãe ! Estou tão fresca e virginal quanto no dia em que nasci , mãe ! ” Aos 22 e 23 anos , Natalie e Beatty interpretam garotos de 17 , 18 Há uma questão da qual é impossível escapar quando se fala de Splendor in the Grass : Natalie Wood estava com 22 anos e Warren Beatty com 23 , na época das filmagens . E eles interpretam adolescentes , que estariam com uns 17 e 18 anos , respectivamente . Foi a estréia de Warren Beatty no cinema . O irmão mais novo de Shirley MacLaine já havia trabalhado na TV , mas este foi seu primeiro filme . Nos créditos iniciais aparece “ Introducing Warren Beatty ” . Aos 22 anos , Natalie Wood era uma absoluta veterana . Nascida em 1938 , em San Francisco , filha de imigrantes russos , Natalia Nikolaevna Zakharenko apareceu pela primeira vez na tela aos cinco anos , em 1943 , ainda sem ter seu nome nos créditos . Em 1945 , aos sete anos ,
portanto , já aparecia como Natalie Wood em O Amanhã é Eterno / Tomorrow is Forever , com Claudette Colbert e Orson Welles . Em 1956 , quando estava com 18 e interpretou a sobrinha do personagem de John Wayne em Rastros de Ódio / The Searchers , já tinha duas dezenas de títulos na filmografia – inclusive o icônico , emblemático Juventude Transviada / Rebel Without a Cause , de Nicholas Ray , em que interpreta a namoradinha de James Dean . É bem verdade que a ação de Splendor in the Grass abrange um período de uns três anos , talvez até um pouco mais . Portanto , lá pelo final da narrativa , Deanie e Bud estariam bem próximos da idade de seus intérpretes . Se Elia Kazan tivesse escolhido atores adolescentes , eles pareceriam estranhos no final do filme . Mas não dá para fugir : é estranho ver Natalie Wood e Warren Beatty interpretando garotos na escola – mesmo eles sendo bastante jovens . Para o público americano , acostumado a ver Natalie Wood desde sempre na tela , então , deve ter sido muito esquisito . Causa estranheza até hoje . É bem provável que Kazan tenha preferido correr o risco desse estranhamento em troca de ter atores experimentados , de talento comprovado . E a verdade é que estão excelentes os dois protagonistas , Natalie Wood e Warren Beatty . Suas atuações são maravilhosas – eles carregam o espectador para dentro de suas tragédias . Todo o elenco está muito bem . Não era de se esperar nada diferente , já que Elia Kazan , formado no teatro , um dos criadores do lendário Actors Studio , era exímio diretor de atores , um dos melhores do cinema . Para não ficar flagrante demais o fato de que seus atores principais eram mais velhos do que os personagens , Kazan decidiu – é o que diz o IMDb – que os demais atores que interpretariam os colegas de escola de Deanie e Bud teriam que estar na mesma faixa etária de Natalie e Beatty . Entre estes aparece Sandy Dennis , no papel de Kay , colega de classe de Deanie . Foi a estréia da jovem atriz que em 1966 contracenaria com o tempestuoso casal Liz Taylor-Richard Burton em Quem Tem Medo de Virginia Wolf . Além de Warren Beatty e Sandy Dennis , três outros atores estrearam no cinema em Splendor in the Grass : Phyllis Diller , Marla Adams e Eugene Roche . É uma tradição de Elia Kazan introduzir caras novas no cinema . James Dean fez seu primeiro filme – Vidas Amargas / East of Eden – com o diretor . O segundo filme em que Marlon Brando apareceu também é uma obra de Kazan – Uma Rua Chamada Pecado / A Streetcar Named Desire , a peça de Tennessee Williams que o ator havia estrelado na Broadway , sob a batuta do diretor . A filha rebelde do ricaço é interpretada por Barbara Loden , atriz de
vida atribulada Uma atriz que impressiona de maneira especial em Splendor in the Grass é Barbara Loden ( na foto abaixo ) . Ela interpreta Ginny Stamper , a irmã mais velha de Bud , uma jovem rebelde , anticonvencional , muito chegada à bebida e a namoros , inclusive com homens casados , com uma tendência forte à autodestruição . É motivo das fofocas de todas as mães da cidadezinha , e de profundo desgosto para o pai , que a detesta , tem vergonha de seu comportamento mas não consegue domá-la de maneira alguma . Filha de homem muito rico que tem comportamento errático , fora da linha , do padrão . Essa é uma figura muito comum na ficção americana . Luz Benedict II ( Carroll Baker ) , filha do casal interpretado por Rock Hudson e Elizabeth Taylor em Assim Caminha a Humanidade / Giant , é um pouco assim . Marylee Hadley ( Dorothy Malone ) , a filha do milionário interpretado por Robert Keith em Palavras ao Vento / Written on the Wind , é exatamente como Ginny . A atriz Barbara Loden parece ter tido uma vida atribulada e trágica como a de Ginny , seu personagem . Nasceu em 1932 , no interior da Carolina do Norte ; belíssima , virou modelo bem cedo e teve carreira de sucesso . Estudou teatro em Nova York nos anos 1950 e suas atuações na Broadway chamaram a atenção de Elia Kazan , que deu a ela um pequeno papel em Rio Violento / Wild River , o drama social que o diretor havia feito um ano antes de Splendor in the Grass . Depois deste filme aqui , Kazan a colocou como atriz em peças encenadas por sua companhia teatral , e Barbara Loden ganhou um Tony , o Oscar da Broadway . Em 1968 , casou-se no papel com o veterano diretor ; tinha 36 anos e ele , 58 . Em 1970 , ela lançou Wanda , um filme totalmente independente dos estúdios , escrito , dirigido e estrelado por ela , que ganhou o prêmio da crítica no festival de Veneza . Aparentemente , Kazan não a incentivou a prosseguir na carreira de diretora . Barbara Loden morreu prematuramente , aos 48 anos , em 1980 , de câncer de mama . Hoje pouco conhecido , William Inge fez peças e roteiros de grande sucesso É necessário fazer um registro , ainda que rápido , sobre William Inge . Embora pouco lembrado hoje , Inge , nascido no interior do Kansas , assim como os personagens de Splendor in the Grass , foi o autor de diversas peças de teatro que fizeram grande sucesso nos anos 1950 e 1960 , e foram transpostas para o cinema por diretores importantes e com grandes atores , muitas vezes com roteiro escrito pelo próprio autor . São dele as peças e / ou os roteiros de A Cruz da Minha Vida / Come Back Little Sheba , com Burt Lancaster ( 1952 ) ,
Férias de Amor / Picnic , com William Holden e Kim Novak ( 1955 ) , Nunca Fui Santa / Bus Stop , com Marilyn Monroe ( 1956 ) , Sombras no Fim da Escada / The Dark at the Top of the Stairs , com Angela Lansbury e Shirley Knight ( 1960 ) e O Anjo Violento / All Fall Down , com Warren Beatty , Eva-Marie Saint e Karl Malden ( 1962 ) . William Inge ganhou o Oscar de melhor roteiro original por Splendor in the Grass . Natalie Wood foi indicada ao Oscar , ao Globo e Ouro e ao Bafta de melhor atriz por sua belíssima interpretação de Deanie ; não levou os prêmios . Detalhezinho que vejo agora na crítica de Pauline Kael : o próprio William Inge faz uma pequena ponta no filme , como o pastor que pronuncia um sermão sobre bens materiais versus espiritualidade . O nome dele não aparece nos créditos como ator . Dame Pauline Kael diz que o filme é histérico . Histérico é o texto dela Pauline Kael diz que William Inge “ escreveu o roteiro barroco , tipo Freud para principiantes , sobre as frustrações da sexualidade adolescente ” , e “ Elia Kazan o apimentou ” . “ O filme faz uma defesa histérica do amor juvenil , e essa histeria parece parte integral de seus momentos de força emocional , humor e beleza . Natalie Wood e Warren Beatty são namorados de escola cujos pais julgam muito jovens para casar-se . ” E mais adiante : “ O filme não sugere que os adolescentes têm direito a experiências sexuais – simplesmente ataca os adultos corruptos por não colocarem o amor acima de tudo . É o velho peixe vendido em nova embalagem , com muita gritaria , uma sequência de curra , e apalpos nos rebolantes bumbunzinhos das colegiais ; Natalie Wood tem talvez o derrière mais ativo desde Clara Bow . O elenco extraordinário inclui Sandy Dennis , Barbara Loden , ( … ) . ” Todo mundo tem direito à sua opinião , é claro , e , já que é assim , minha opinião é de que Dame Kael escreveu uma crítica um tanto histérica . É óbvio que o filme sugere que os adolescentes têm direito a experiências sexuais . E o filme ataca , sim , com toda razão , os adultos daquela sociedade repressora , careta , puritana , rígida demais . “ Um país em crise , cujo sistema de valores começa a ser abalado ” É chocante a diferença entre o que diz a grande dama da crítica americana e o que diz o Guide des Films do mestre Jean Tulard . Aí vai a segunda parte ( a primeira , como sempre , é uma sinopse ) do longo verbete do Guide sobre La Fièvre dans le Sang . Vai sem aspas , para me desobrigar a ser literal : Como em cada um de seus filmes , Elia Kazan persegue a longa busca ,
apaixonada e angustiante , do país que o acolheu , os Estados Unidos . Splendor in the Grass ( magnífico título original , homenagem ao poeta Wordsworth ) , cujo roteiro se deve ao grande escritor William Inge , se situa com precisão no tempo ( 1929 , na maior parte da ação ) e no espaço ( uma pequena cidade do Kansas ) . Prolongando À l’Est d’Eden ( no Brasil Vidas Amargas , já citado acima ) na exposição dos malfeitos do puritanismo herdado dos Pais Fundadores , La Fièvre dans le Sang apresenta também um país em crise , cujo sistema de valores ( capitalismo , fé no trabalho recompensado pelos dólares , a todo-poderosa figura paterna ) começa a ser abalado . O estado de “ crise ” é a característica dos personagens deste filme exacerbado e febril , em que os seres , abalados por pressões antagônicas , submergem , para escapar ( Deanie , Bud ) ou para naufragar definitivamente ( Ace , Ginny ) . Kazan fica atento aos impulsos vitais ou destrutivos dos personagens que exibe , privilegiando as sensações , os sentimentos , as pulsões , os gritos os risos , os choros . Natalie Wood e Warren Beatty resplandecem de juventude , mas , através deles , Kazan nos mostra que não é sempre fácil ter 20 anos , sobretudo quando a sociedade pesa forte sobre nossos ombros . Uau ! Que abismo entre Pauline Kael e o guia de Jean Tulard ! É , são os tais seis mil anos de civilização a mais . Mas , apesar dos seis mil anos de civilização a mais , os franceses pisaram um pouco no tomate no título , A Febre no Sangue – sendo que fièvre , além de febre , significa também excitação , ardor , paixão . Melhor fizeram os exibidores espanhóis e portugueses , que chamaram o filme pelo que ele é : Esplendor en la hierba , Esplendor na Relva . A partir daqui , um registro absolutamente pessoal . E que contém spoiler ! Este texto já está absurdamente grande , mas ainda quero fazer mais um registro . Minhas anotações mostram que antes só havia visto Splendor in the Grass uma única vez , em 1974 , recém-casado com a mãe da minha filha ; por uma dessas coincidências da vida , Suely tinha uma beleza esplêndida que fazia lembrar muito a da jovem Natalie Wood . Ao rever o filme agora , ele me fez lembrar do final de Les Parapluies de Cherbourg , que vi pela primeira vez em fevereiro de 1966 , de passagem por São Paulo rumo a Curitiba , onde viveria por dois anos . Estava sendo retirado de Belo Horizonte por decisão da família , e , com 16 anos , não poderia lutar contra isso , mas saía da cidade em que passei a infância e o início da adolescência com o gosto de que estava deixando para trás o grande amor da vida . Ficou gravado
na minha memória que , depois de ver Parapluies , escrevi no diário de adolescente algo do tipo “ obrigado , Jacques Demy , seu filho da puta , por mostrar que o grande amor acaba ” . Algo assim ; não tenho coragem de ir ali pegar os caderninhos com letra adolescente para checar a frase exata , mas era algo assim . Algum tempo mais tarde reencontraria a menina que na época considerava o grande amor da vida . Foi um reencontro de alguma maneira um tanto parecido com o dos personagens de Catherine Deneuve e Nino Castelnuovo em Parapluies , e com o dos personagens de Natalie Wood e Warren Beatty em Splendor in the Grass . O grande amor acaba , e a consciência disso é terrível quando somos jovens demais . Três Enterros / The Three Burials of Melquiades Estrada De : Tommy Lee Jones , EUA-França , 2005 Anotação em 2006 , com complemento em 2008 : Uma estranha história , muito estranha , esta que o ator Tommy Lee Jones escolheu para seu primeiro filme como diretor . É um filme duro , cru , cruel – e muito bem dirigido . Mas a história é estranha . Numa pequena cidade do Texas , perto da fronteira com o México , um fazendeiro americano ( o próprio Tommy Lee Jones ) sai à procura do homem que matou seu empregado mexicano Melquiades Estrada ; e , quando descobre que o assassino foi um guarda da fronteira ( Barry Pepper ) , obriga-o a levar o corpo da vítima até seu vilarejo mexicano . Só que o vilarejo que Melquiades descrevia para o amigo patrão simplesmente não existe . A história e o roteiro são do escritor mexicano Guillermo Arriaga , que tem sido tremendamente incensado pela crítica . Foi o autor dos roteiros dos três primeiros longa-metragens de Alejandro González Iñarritu – Amores Brutos / Amores Perros , de 2000 , 21 Gramas , de 2003 , e Babel . Mas é também o autor do roteiro de O Búfalo da Noite , de 2007 , uma chatice atroz . O filme teve dois prêmios no Festival de Cannes : melhor ator para Tommy Lee Jones e roteiro para Guillermo Arriaga . O Embaixador / The Ambassador De : J . Lee Thompson , EUA , 1984 Nota : O Embaixador é um filme curioso e , de certa maneira , até mesmo fascinante . É uma grande porcaria – mas muito bem intencionado . Me parece um dos abacaxis mais bem intencionados do cinema , e , da mesma maneira , entre os filmes bem intencionados , um dos maiores abacaxis . Também me parece obscuro , bem pouco conhecido , embora tenha três atores importantes – Robert Mitchum , Ellen Burstyn e Rock Hudson – , e seja dirigido por J . Lee Thompson , realizador irregular mas autor de alguns filmes muito bons , como Os Canhões de Navarone ( 1961 ) e Círculo do Medo ( 1962 ) ,
para citar apenas dois . Produção de 1984 , foi lançado agora em DVD no Brasil pela FlashStar ; estava na locadora como lançamento , novidade , e então me aventurei . ( Vejo que , na verdade , ele já havia sido lançado aqui na época VHS , pela América . Mas nunca tinha ouvido falar dele . ) Confesso que tive vontade de desistir algumas vezes – mas é tudo tão bem intencionado que fui em frente . Confesso também que estou curiosíssimo para saber o que dizem dele os guias . Antes de ir aos alfarrábios , no entanto , transcrevo o texto que aparece em letreiros no início da narrativa . O texto dá o tom do que virá em seguida . “ O Oriente Médio é uma panela de pressão , pronta para explodir . Uma mistura de conflitos entre facções religiosas e políticas . Israel , com uma população de 4 milhões de habitantes , é cercado por oito países árabes com uma população de 80 milhões de habitantes . “ Um grupo conhecido como OLP prometeu nunca reconhecer o direito de existência de Israel e continuar lutando até que um território palestino seja reconhecido . Mais recentemente , houve sinais de que a OLP está desejando conversações de paz com os israelenses . “ Um grupo dissidente da OLP baseado na Síria , a Saika , o mais extremista de todos os grupos terroristas existentes na região , espalha o terror entre israelenses e árabes , a fim de impedir qualquer possibilidade de negociações de paz . “ Dentro de Israel há dois principais pontos de vista conflitantes . Os moderados , que estão prontos a sentar à mesa com a OLP , e os extremistas de direita , que se recusam a aceitar um Estado Palestino na região . “ O Mossad é a agência de inteligência do Estado de Israel e protege a posição oficial do governo israelense . No meio deste ardente conflito surge um americano – O EMBAIXADOR . ” ( Assim , em caixa alta . ) Os créditos iniciais mostram que é uma produção de The Cannon Group , a Golan-Globus Productions , de Menahem Golan e Yoram Globus . Uma introdução didática , uma clara tentativa de esclarecer os mal informados Um texto de abertura longo , com um tom claramente didático , certo ? E didático para principiantes . Dá a nítida impressão que se parte do pressuposto de que boa parte dos esperados espectadores , americanos médios , não têm sequer as informações básicas a respeito dos conflitos do Oriente Médio . Até aí , tudo bem – não deve haver dúvida sobre isso . Qualquer outra análise desse texto de abertura do filme a partir daí poderá ser motivo de polêmica , porque tudo , absolutamente tudo que diz respeito a Israel e árabes é problemático , é polêmico . Por exemplo , a frase “ Israel , com uma população de 4 milhões de habitantes , é cercado por oito países árabes
com uma população de 80 milhões de habitantes ” . A rigor , a rigor , ela é ( ou era , com os números de 1984 ) justa , exata , a mais pura expressão da verdade . Mas os pró-árabes poderão dizer que ela é tendenciosa ao mostrar Israel como um pequenino David diante de gigantesco Golias , e ao esconder o fato de que Israel é uma nação mais rica , mais poderosa e mais bem armada do que as oito nações árabes que o rodeiam . Digo isso apenas para acentuar que tudo , ali , é complexo . As paixões são acirradas demais . Mas o fato é que só alguém pró-árabe e radicalmente anti-Israel poderia reclamar da afirmação “ Dentro de Israel há dois principais pontos de vista conflitantes . Os moderados , que estão prontos a sentar à mesa com a OLP , e os extremistas de direita , que se recusam a aceitar um Estado Palestino na região ” . Um filme feito por judeus que não é , de forma alguma , anti-árabe E então vou um passo adiante . Produzido por uma empresa de dois judeus , a Golan-Globus Productions , com dinheiro americano , O Embaixador não é , de maneira alguma , um filme pró-Israel e anti-árabe . Muitíssimo antes ao contrário : é um filme bem intencionado , que pretende mostrar que dos dois lados há radicais que lutam para impedir qualquer tentativa de paz , de convivência com alguma harmonia . Mais ainda : O Embaixador é tão bem intencionado que acredita na possibilidade de que um dia haja paz . É tão esperançoso quanto “ Jerusalem ” , a extraordinária canção de Steve Earle que Joan Baez canta com aquela voz dela que é sinônimo de esperança , e que diz “ I believe that one fine day all the children of Abraham Will lay down their swords forever in Jerusalem ” Três guias elogiam o filme Em intenção , O Embaixador é tão bom quanto Ó Jerusalém , de Élie Chouraqui , co-produção de vários países europeus , EUA e Israel , ou Lemmon Tree e A Noiva Síria , os dois do israelense Eran Riklis . A questão é que de boas intenções o inferno dos filmes ruins está cheio . E O Embaixador é um filme bastante ruim , na minha opinião – apesar de bem intencionado . Mas já dei muita opinião . A ver outras opiniões , agora . O Videobook 2001 – publicação preciosa que deixou de ser editada – diz o seguinte : “ Embaixador americano em Israel é vítima de um esquema de chantagem que ameaça seu casamento , sua carreira e a paz no Oriente Médio . Baseado em romance de Elmore Leonard , também filmado em 1986 como Nenhum Passo em Falso ” . Hummm … Leonard Maltin gostou . Deu 3 estrelas em 4 : “ Inteligente , interessante thriller sobre embaixador americano Mitchum , sua mulher adúltera Burstyn , e suas tentativas para
mediar pacificamente a crise Israel-Palestina . Baseado no romance de Elmore Leonard 52 Pick-Up , e refeito apenas dois anos depois sob aquele mesmo título . Último filme de Hudson . ” Hummm … O guia de Steven H . Scheuer também dá 3 estrelas em 4 : “ Filme de suspense razoavelmente complexo sobre um embaixador americano que tem que enfrentar as chamas do conflito Israel-Palestina e ao mesmo tempo as atividades extra-curriculares da sua esposa . Atuações inteligentes e hábil mistura de temas políticos e emoções . ” Hummm … O guia de Mick Martin & Marsha Porter dá 3.5 estrelas em 5 : “ O Embaixador confronta o conflito árabes-israelenses com uma cabeça aberta e um ponto de vista otimista . Robert Mitchum interpreta o controvertido embaixador americano em Israel que tenta ajudar na questão palestina em meio a críticas de todas as facções . Rock Hudson ( em seu último papel para a tela grande ) faz o oficial de segurança que salva a vida do embaixador . Classificado como R ( de restricted ) por causa da violência , linguagem profana , sexo e nudez . ” ( Esse guia sempre , ou quase sempre , traz a classificação etária dos filmes com os temas que justificam tal categoria . ) Não há verbete sobre o filme no gigantesco Guide des Films de Jean Tulard , nem no competente Guia da Nova Cultural que infelizmente deixou de ser republicado . É . Fiquei sozinho na minha afirmação de que o filme é uma porcaria . Não me consola o fato de o guia da Time Out dizer que J . Lee Thompson dirige o filme com “ uma singular falta de estilo ” e que trata como bobagem todos os temas políticos importantes , porque esse guia da Time Out é absolutamente mal humorado , chato de galocha . Tudo indica que a trama é apenas ligeiramente inspirada no livro de Elmore Leonard Um registro sobre a questão de o roteiro ser baseado no livro 52 Pick-Up , de Elmore Leonard , citado em mais de um guia . Me parece que justamente o guia da Time Out é que é mais plausível . Diz que o roteiro se inspira na história de Leonard . De fato , como dizem o Videobook e o guia de Leonard Maltin , em 1986 foi lançado o filme 52 Pick-Up , no Brasil Nenhum Passo em Falso ; foi dirigido por John Frankenheimer , e tinha no elenco Roy Scheider e Ann-Margret . Mas a história desse filme tem pouquíssimo a ver com a deste O Embaixador . Em Nenhum Passo em Falso , um industrial de Los Angeles , cuja mulher está concorrendo a uma vaga na Câmara de Vereadores , tem sua vida virada ao avesso quando chantagistas ameaçam divulgar um vídeo em que ele aparece com sua jovem amante . O guia da Time Out é escrito por gente que parece detestar todos os filmes , mas me parece que ele está corretíssimo ao dizer
que a trama de O Embaixador foi apenas inspirada na história de Elmore Leonard . No filme de J . Lee Thompson , há um vídeo , há uma chantagem – mas as semelhanças param por aí . Atores mal dirigidos , uma trama cheia de subtramas , cenas de nudez um tanto apelativas Bem . Posso até tentar ser rápido , mas tenho que tentar justificar meus adjetivos abacaxi e porcaria . Os atores estão todos mal dirigidos . Os mais experientes – os três astros já citados , mais o inglês Donald Pleasence , que faz um ministro do gabinete israelense – têm um desempenho sem qualquer esforço , maquinalmente , como que apenas cumprindo tabela . Robert Mitchum sempre teve um jeitão non chalance , de quem não está nem aí , e então não assusta muito . Ellen Burstyn é tão boa que mesmo cumprindo tabela não chega a ser ruim . Mas Rock Hudson me pareceu ter um dos piores desempenhos de sua carreira de grandes papéis . OK , é possível que já fosse efeito da doença – ele morreria no ano seguinte ao do lançamento do filme . De qualquer maneira , um elenco mal dirigido é um indício forte de resultado final ruim . Também parece estranho que os produtores tenham preferido inventar um grupo extremista muçulmano – o tal Saika – , quando o que não falta é grupo extremista muçulmano . Mas a rigor isso é de menos ; eles devem ter tido razões políticas para não usar um nome real , como Hezbollah ou Hamas , muito provavelmente medo de retaliação , ataques . A trama começa complicada , com diversas subtramas . Há o embaixador Peter Hacker e seu amigo e chefe de segurança Frank Stevenson ( os papéis de Mitchum e Hudson ) , e seu encontro inicial com palestinos da OLP sob as vistas dos extremistas do tal grupo Saika e depois sob o fogo do Mossad ; há o romance tórrido entre a mulher do embaixador , Alex ( o papel de Ellen Burstyn ) , e o árabe comerciante de antiguidades Mustapha Hashimi ( Fabio Testi ) , que depois vai se revelar um figurão da OLP ; há os sempre presentes espiões do Mossad seguindo todos os personagens ; há um misterioso agente não se sabe bem de onde que chega a Israel e faz negócios com figuras mal encaradas ( só mais para o fim saberemos que o homem é da KGB ) . A sensação que se tem é de que todas as pessoas em Tel Aviv e Jerusalém espionam ou são espionadas . Me pareceu uma apelação gratuita as cenas de sexo entre a embaixatriz Alex e o árabe Hashimi . E me pareceu absolutamente fora de propósito e de lógica que a câmara escondida que filma as trepadas dos dois seja capaz de se deslocar de um lugar para outro , de fazer close-ups e depois planos americanos . ( Sim , é uma atitude corajosa de Ellen Burstyn
aparecer em cenas de sexo bem quente com o corpo à mostra . Mas Ellen Burstyn é extraordinária sempre ; não precisava disso . ) Aí então , depois de tanta complexidade , de tantas tramas e subtramas , tudo fica muito simples , basta chamar às falas um punhado de jovens árabes e jovens israelenses para que tudo dê certo ; só falta eles todos saírem cantando “ Give Peace a Chance ” e “ Imagine ” – as velas acesas estão lá . Give peace a chance – mas , na hora de torturar os bandidos para fazê-los confessar , o personagem de Rock Hudson sorri de sadismo puro . A trilha sonora amplifica a sensação de filme ruim , menor . Acordes fortes para dizer ao espectador : cuidado , aí vem coisa . Apesar do que dizem todos os guias , não retiro o porcaria e o abacaxi . Essa é minha opinião . Porcaria , abacaxi – mas muito bem intencionado . Muito bem intencionado – mas porcaria , abacaxi . Um Comentário 3 Trackbacks [ … ] filmes , com roteiro de outros autores , como , só para citar alguns , Hombre ( 1967 ) , de Martin Ritt , O Embaixador / The Ambassador ( 1984 ) , de J . Lee Thompson , O Nome do Jogo / Get Shorty ( 1995 ) , de Barry Sonnenfeld , e Jackie Brown [ … ] Três Mundos / Trois Mondes De : Catherine Corsini , França , 2012 Nota : Três Mundos , de Catherine Corsini , é uma beleza de filme , um filmaço . Como o longa anterior da realizadora francesa , Partir ( 2009 ) , é um drama denso , pesado , sério , baseado em história escrita por ela mesma . Como Partir , fala de temas como a imigração ilegal e as profundas diferenças sociais na França de hoje . Também como em Partir , os personagens tomam muitas vezes as decisões erradas , que resultarão em profunda dor , em tragédia . A história parte de um acidente – um atropelamento – para , em seguida , reunir os destinos de pessoas que vivem , como anuncia o título , em três mundos distantes , distintos , à parte . Os sete minutos iniciais são um tour-de-force de tirar o fôlego do espectador Os primeiros minutos do filme são um tour-de-force , um espetáculo , capaz de deixar o espectador atônito , sem fôlego . Seqüência 1 : Três homens se divertem em uma brincadeira besta : num terreno baldio , à noite , um deles dirige um carrão , finge que vai dar carona para os outros dois , mas quando chega perto deles acelera , depois volta , faz a mesma coisa de novo . Um dos dois , de paletó preto , pula sobre o capô do carro , e fica provocando o que está dirigindo . O motorista acelera muito , freia , o outro cai no chão . Os dois
se aproximam dele , que está imóvel – mas de repente o homem se levanta , ileso , rindo . Diversão idiota , coisa de adolescente besta à procura de adrenalina . Corta , seqüência 2 : um grupo de homens joga baralho . Falam numa língua estrangeira , algo próximo do russo . Um deles se chama Victor ( Dorin Andone ) . Veremos mais tarde que são imigrantes vindos da Moldávia , uma das várias ex-repúblicas soviéticas . O dono da casa , Adrian ( Rasha Bukvic ) , vai até a cama onde está sua mulher , avisa que vai sair para ajudar Victor em alguma coisa , voltará tarde . Corta , seqüência 3 : os tais três amigos estão no carro , a toda ; o rádio toca música alto . Quem dirige agora é o rapaz de paletó preto , Al ( Raphaël Personnaz , à direita na foto acima ) . Seus companheiros são Franck ( Reda Kateb ) e Martin ( Alban Aumard ) . Não se mostra que raio de droga tomaram , se muito álcool , se alguma anfetamina , mas eles estão bem doidões . Corta , seqüência 4 : num apartamento de classe média , cheio de livros , um casal discute a relação . Ela , Juliette ( Clotilde Hesme , na foto abaixo ) , está grávida , em início de gravidez ; ele , Frédéric ( Laurent Capelluto ) , quer que ela se defina quanto ao lugar em que vão morar . Juliette divide aquele bom apartamento com uma amiga e colega , Daphné ( Noémie Dujardin ) . Frédéric quer que Juliette mande Daphné embora , mas Juliette não quer fazer isso , ainda não se decidiu se permanece ali ou se muda para o apartamento do namorado . Corta , sequência 5 : o carro dirigido por Al segue em disparada – e pega um homem que atravessava a avenida naquele momento . O homem é lançado ao ar , depois cai . O atropelamento se dá bem diante da varanda do apartamento de Juliette , que vê o momento do acidente , e desce correndo as escadas , seguido por Frédéric . Al sai do carro , aproxima-se do homem que acabara de atropelar . Do carro , os dois amigos gritam por ele , o incentivam a sair dali correndo . Quando Juliette chega à rua , o carro está se distanciando a alta velocidade . A moça pede ao namorado que chame uma ambulância , aproxima-se do homem ferido – Adrian , o imigrante da Moldávia . Tudo isso acontece nos sete primeiros minutos do filme . Uma jovem boa , altruísta . E um rapaz que trabalhou muito , teve sorte , está para ficar rico Ao longo da belíssima narrativa que se seguirá a essa abertura estonteante , realmente de tirar o fôlego , o espectador verá que Juliette é uma pessoa boa , generosa , altruísta , que deixa de lado seus próprios problemas , inquietações
e até deveres para ajudar os outros . E que Al , o rapaz que , numa noitada de loucas brincadeiras em busca de adrenalina , atropelou um homem e , instigado pelos amigos , não o socorreu , não é um sacana , um safado , um filho da mãe . Al está para se casar . O casamento está marcado para dez dias depois da noite do atropelamento . A moça , Marion ( Adèle Haenel ) , é rica ; seu pai , Testard ( Jean-Pierre Malo ) , é dono de uma grande concessionária de automóveis , e ganha muito dinheiro , tanto legalmente quanto em negócios escusos , por baixo do pano , muito provavelmente para evitar o Fisco francês . Al é empregado de Testard – é o melhor vendedor da concessionária , com sua cara bonita ( o ator Raphaël Personnaz tem fina estampa , faz lembrar o jovem Alain Delon ) e seu poder de sedução . O patrão gosta do rapaz , que começou de baixo e foi galgando escalas dentro da concessionária . Veremos mais adiante que a mãe de Al ( Martine Vandeville ) havia sido no passado faxineira da loja , depois empregada da família . Atordoado com o acidente , remoendo-se em culpa , Al vai ter formalizada sua sociedade na concessionária : o futuro sogro mantém 50% do negócio , a filha Marion fica com 25% e Al , alçado ao posto de gerente , fica com 25% . Um belo de um golpe do baú – mas Al não procurou aquilo . A ascensão profissional se deu porque ele sempre foi esforçado , trabalhador . E ele e Marion se amam de fato . Três pessoas , em três mundos distintos , têm sua vida transformada em inferno Sim , mas se Al não é um patife , por que não se entrega à polícia ? Ou então , no mínimo , por que não se abre logo , conta para a noiva que o ama e o patrão futuro sogro que gosta dele que se meteu numa enrascada , e pede a ajuda deles para encontrar uma saída ? A dúvida pode ocorrer ao espectador . Ocorreu a mim – embora a resposta seja óbvia . Porque as pessoas erram , tomam as decisões erradas . E a cada novo erro a situação vai ficando mais dramática , torna-se mais e mais difícil encontrar uma saída . Na vida real , as pessoas muitas vezes erram , tomam as decisões erradas . Nos dois filmes que vi realizados por Catherine Corsini , as pessoas quase sempre tomam as decisões erradas . Juliette , altruísta , sempre disposta a ajudar os outros , não demora nada a chegar à mulher de Adrian , Vera ( o papel da atriz Arta Dobroshi , de O Silêncio de Lorna , à esquerda na foto ) . É através de Juliette que Vera fica sabendo do atropelamento do marido , de sua internação , do hospital em que
foi operado e permanece em estado muito grave . Vera – o filme vai nos mostrar – é uma mulher profundamente apaixonada pelo marido que agora está ali entubado , inconsciente . É também uma mulher amarga , depois de cinco anos vivendo sem documentos num país estrangeiro , cansada de pedir para regularizar a situação , sujeitando-se a trabalho duro por ninharia . A vida de Al se transforma num inferno , a de Vera se transforma num inferno pior ainda – e Juliette , a altruísta que só queria ajudar , ficará sob um fogo cruzado também infernal . Uma diretora madura , que domina com perfeição seu ofício Embora com uma filmografia curta , Catherine Corsini é uma autora e diretora absolutamente madura , que domina com perfeição o ofício . Nascida em 1956 , no interior da França , dirigiu seu primeiro curta-metragem em 1982 , e o primeiro longa , Poker , em 1987 . Seu filme de 2001 , La Répétition ( literalmente , o ensaio , sem título no mercado brasileiro ) , com Emmanuelle Béart , concorreu à Palma de Ouro em Cannes . Por sua maravilhosa interpretação em Partir , Kristin Scott Thomas foi indicada ao César de melhor atriz . Este Três Mundos participou da mostra Un Certain Regard de Cannes . O filme não foi um sucesso na França – teve 62 mil espectadores . É talvez um drama sério demais , pesado demais para o gosto médio dos espectadores . O AlloCine , o site que tem tudo sobre os filmes franceses , conta que , quando tinha apenas 12 anos , Catherine Corsini foi atropelada – e o motorista fugiu . Ela partiu desse incidente traumático do início da adolescência para escrever o argumento e o roteiro do filme , tarefa dividida com Benoît Graffin ; os dois tiveram a colaboração , conforme mostram os créditos finais , de Antoine Jaccoud e Lise Macheboeuf . No AlloCine há uma frase da realizadora sobre um dos temas em que o filme se debruça – a relação dos personagens com o dinheiro . “ No filme , muitas das coisas giram em torno do dinheiro . É possível uma pessoa se redimir através do dinheiro ? E se sim , quanto vale um erro ? Todo mundo parece gangrenado pela questão do dinheiro . ” Curioso : para mim , a personagem que é mais apegada a dinheiro é justamente Vera , a imigrante ilegal que não tem dinheiro algum . Al me pareceu bem menos apegado ao dinheiro do que Vera . E Juliette não está nem aí para grana . Um filme sem atores famosos no elenco , e com grandes interpretações O Monde deu ao filme 4 estrelas em 5 . A crítica de Noémie Luciani no grande jornal fala bastante dessa questão da relação dos personagens com o dinheiro . “ Ambicioso , muito rigoroso em sua execução , Trois Mondes mistura os gêneros da maneira mais pertinente que há . Do filme de ação
, ele toma emprestado o ritmo imperdoável . Do thriller psicológico , seu questionamento moral e a duração que ele impõe . Do filme noir , a ausência de toda verdadeira pureza de alma . ” E conclui : “ Tudo , do texto à encenação , recusa a facilidade . O filme , ele próprio , não é fácil . Mas suas ambiguidades , assim como suas dificuldades , são uma verdadeira riqueza ” . Catherine Corsini é uma grande diretora de atores . E já trabalhou com nomes importantes – Kristin Scott Thomas , Sergi López , Emmanuelle Béart , Karin Viard , Catherine Frot – , mas , para este Três Mundos , escolheu atores ainda não muito famosos . Raphäel Personnaz tem longa filmografia , mas boa parte dos títulos é de filmes e / ou séries para a TV . Está excelente como o atormentado , angustiado Al . Clotilde Hesme também não é estreante , mas ainda não é uma estrela . Está no elenco de Mistérios de Lisboa , de Raoul Ruiz ( 2010 ) , e teve um pequenino papel em A Bela Junie , de Christophe Honoré ( 2008 ) . Sua interpretação como Juliette é extraordinária . Com estes dois filmes , Catherine Corsini me conquistou totalmente . Gostaria de ver os outros que fez anterior , e tentarei não perder os próximos . 3 Comentários comecei aver o filme depois da sua metade e fiquei preso aos acontecimentos , e achei sensacional até seu final . No google achei sua pagina e ela me desfilou o filme inteiro , com detalhes criticos . Acabei tendo ideia do filme todo , como um espetaculo . Parabens pelo excelente texto e acabei tambem encontrando uma nova diretora que nao conhecia . Parabens . Caro Sibelius , Muito obrigado por enviar o comentário – e pelo comentário tão gentil . Vale muito a pena você ir atrás para ver o início do filme . É tudo muito bom , muito bem realizado . Um abraço . Sérgio O filme é bom , mas acho que a diretora / roteirista perdeu a mão em certos momentos . E pelo jeito ela é chegada num dramaço ! Não entendo como homens com mais de 30 anos podem fazer uma brincadeira estúpida e perigosa , que como você bem disse é uma “ diversão idiota , coisa de adolescente besta à procura de adrenalina . ” Mas pode ser apenas um reflexo da nossa atual sociedade , onde pessoas de 30 se vestem e agem como adolescentes . Ao fim e ao cabo me pareceu que o casalzinho à beira do casamento não se amava taanto assim : quando a noiva soube do ocorrido , só pediu que ele não “ estragasse ” a vida dela , não se importou em nenhum momento com o fato de ele ter atropelado um inocente , nem com as consequências que ele estava sofrendo . Só queria que houvesse casamento a todo custo , mesmo ele tendo acabado
de traí-la com uma quase total desconhecida . A desconhecida , por sua vez , grávida de um homem que ela também diz amar , igualmente topou transar com um cara que ela recém havia conhecido , e que ela sabe que atropelou gravemente um homem , cuja companheira ela está tentando ajudar . Toda uma tragédia e um clima fúnebre permeando a vida dos dois naquele momento , mas tudo o que eles queriam era transar no banco de trás do carro . Seriously ? E o pior é que o cara que estava prestes a se casar se apaixonou pela grávida , e queria largar a noiva que ele tanto amava pra ficar com ela . Mas depois que ela conta que está grávida , ele não acredita e a paixão meio que acaba . Então tá . Acho que eu esperava uma coisa , mas o roteiro foi por outro caminho , e ainda abarcou vários assuntos e misturou os gêneros de uma forma que deixou os personagens sem personalidade ( ou vai ver nenhum deles era o que aparentava ser ) . Os atores estavam todos bem , exceto a que faz a Vera , que ficou alguns tons acima ; e concordo com você que ela pareceu mais apegada ao dinheiro que os outros . 2 Trackbacks [ … ] belo filme , só que no diapasão oposto desta comédia escrachada aqui , o drama pesado , sério Três Mundos . Nascido em 1981 , estava portanto com 32 anos em 2013 , ano de lançamento do filme . O rapaz [ … ] John no céu com diamantes : : Dez anos sem John Lennon , esse artista singular cuja obra-prima é a própria vida . Publicado na revista Moda Brasil , outubro de 1990 . Texto de Sérgio Vaz As pessoas morrem logo , e em geral nem um pouco mais sábias do que quando nasceram , diz uma bela música dos anos 60 . Ah , meu amigo , estamos mais velhos , mas não mais sábios , constata outra . Muito em breve você estará morto , John Lennon avisava em “ Instant Karma ” , para em seguida perguntar e dar a pista para a resposta : por que , afinal , estamos aqui ? Com certeza não é pra viver em dor e medo . *** John Lennon é uma das pessoas mais fascinantes que passaram por este planeta , e não só por ter sido o gênio e o motor criativo dos Beatles , a mais completa tradução dos anos que mudaram tudo . Especialmente , por ter mostrado , com sua vida , a grande beleza ( rara , raríssima , como todas as grandes belezas ) que é crescer , aprender , amadurecer , tornar-se mais sábio . Por ter registrado tão nitidamente na História a sua história pessoal , a trajetória luminosa do temor do medo à convivência com os medos , o caminho da angústia à sabedoria , da dor à paz . “
Mamãe , não vá ; papai , venha pra casa . ” John canta , berra , urra , uiva esta dor dez vezes seguidas , em “ Mother ” , de 1970 , a rigor o seu primeiro disco solo , sem Beatles . ( Para lembrar : o pai fugiu de casa ; a mãe , Julia , casou de novo e entregou o filho à irmã , Mimi ; quando John tinha cinco anos , o pai reclamou sua custódia e ficou com ele por algumas semanas , devolvendo-o em seguida para Julia , que logo o entregou para Tia Mimi ; quando John tinha 12 anos , morreu o marido de Tia Mimi ; quanto John tinha 16 anos , a mãe morreu atropelada por um policial bêbado . O pai só voltou a procurá-lo quando John , aos 24 ou 25 anos , era Beatle e milionário . ) Do lúgubre sino de igreja até os sininhos da felicidade Pois então , aos 30 anos , John despe a sua dor da perda sob os holofotes , expõe o seu fracasso na parada de sucessos , como diria Caetano . A música “ Mother ” , a primeira faixa de seu primeiro disco de fato solo , abre com batidas de sino ; batidas pesadas , sinistras , de um “ sino de morte ” , como ele mesmo definiria três dias antes de ser assassinado , no dia 8 de dezembro de 1980 . Em 1980 , aos 40 anos , abriu também com sinos a primeira faixa de Double Fantasy , o disco em que despiu sua paz e sua felicidade por estar fora do carrossel da busca de fama e sucesso , e , sobretudo por estar sendo amado pela mulher e pelo filho que amava . Eram sininhos suaves , alegres , no começo de “ ( Just Like ) Starting Over ” , começando de novo depois de cinco anos fora dos estúdios , suaves e alegres como os versos “ Nossa vida juntos é tão preciosa , juntos nós crescemos , nós crescemos ” . “ Foi um longo tempo pra chegar de um lúgubre sino de igreja até esse doce sininho de felicidade ” , constatou , três dias antes que esgotasse o tempo que lhe foi dado para viver . Para não se perder a perspectiva do tempo , é bom lembrar que foi John Lennon ( paralelamente e em justaposição ao que fazia o outro grande gênio da música popular em língua inglesa de sua geração , Bob Dylan ) que , nos anos 60 , abriu caminho para colocar em disco algo mais do que versos bem ou mal construídos , com rimas às vezes interessantes , em geral repetitivas , para colocar em disco sentimentos , emoções , sensações , histórias , conclusões de verdades , pessoais , vividos , experimentados , vindos do coração , do umbigo , e não da vontade de ganhar a vida no ofício de colocar hits nas paradas
. Se não tivesse existido John ( e Dylan ) , não haveria a estrada que permitiu a existência das letras de Paul Simon , Leonard Cohen , Joni Mitchell , ou Lou Reed e Morrissey ( ou tampouco , aqui , de Chico ou Caetano , Cazuza ou Renato Russo ) . O vírus da verdade pessoal no vazio da música de consumo Ainda um Beatle , nos anos 60 , John infeccionou com o vírus da verdade pessoal a impersonalidade e o vazio da música de consumo ; começou o strip-tease de alma em letras como “ Nowhere Man ” , “ Help ” , “ Girl ” , “ In My Life ” , “ She Said She Said ” , “ Strawberry Fields Forever ” , “ Yer Blues ” – embora ainda assinando em parceria com Paul McCartney , por um contrato jamais escrito mas só formalmente rompido em 1970 , ano da separação oficial dos Beatles . Eles se separaram por todos os motivos do mundo ( por “ diferenças pessoais , diferenças musicais , diferenças empresariais e , sobretudo , porque eu gosto mais de ficar com a minha família ” , como definiu Paul ) , mas , para boa parte dos fãs dos Beatles ( e boa parte da humanidade era fã dos Beatles ) , a culpa foi de Yoko Ono . Pode até ser – embora nem interesse . “ Trabalhar com seu melhor amigo é uma felicidade ” , diria John a uma rede de rádio , no dia em que cruzou com seu assassino na calçada do edifício Dakota . “ Ao longo de toda a minha carreira ” , ele havia dito três dias antes , “ só escolhi duas pessoas para trabalhar : Paul McCartney e Yoko Ono ” . E completou , com a suavidade permitida pelo tempo passado desde o divórcio tumultuado , doloroso , cheio de mágoas e de lavagem de roupa suja em público e em vinil com seu primeiro parceiro : “ As escolhas não foram más ” . Culpada ou não pelo divórcio da mais extraordinária união musical do século , Yoko Ono – esta é a verdade dos fatos – alterou radicalmente a trajetória pessoal e artística de John . Assim como os compositores Lennon e McCartney potencializavam as qualidades e habilidades musicais um do outro , transformando em quatro bilhões a soma de um mais um , a soma das personalidades de John e Yoko resultou numa multiplicação pela potência máxima . O experimentalismo vanguardista , o total desapreço pelas convenções ( mais : a vontade onipresente de ir contra as convenções ) e a força pessoal de Yoko impulsionaram John para muito além do que ele certamente poderia supor . Despiu a alma nas canções e o corpo na capa do disco Ele não só despiu a alma em suas canções ; tirou também a roupa externa diante do respeitável público , na capa do primeiro dos três discos experimentais-vanguardistas que fez com Yoko , ainda
na segunda metade dos anos 60 . As fotos maravilhosas de John e Yoko nus , de frente e de costas , na capa e na contracapa de Unfinished Music nº 1 – Two Virgins , chocaram o mundo mais violentamente do que a frase de John dizendo-se mais famoso que Cristo . Quem sai na frente leva a porrada maior . Hoje , nesta época de nudez em horário nobre na TV , alguém pensaria em proibir , como fizeram na época dos milicos , a foto de Caetano , Dedé e Moreno nus , na capa do disco Jóia , de 1975 ? As fotos de John e Yoko nus em 1968 eram de fato agressivas – porque agressivamente belas , no agressivo despojamento da nudez de um casal de pessoas de corpos lindos por serem nada esculturais , apenas de pessoas , como 99% das pessoas , que não são misses nem modelos . John posou pelado com Yoko em capa de disco , ficou semanas deitado com ela em quartos de hotéis de luxo mundo afora pedindo paz e amor , desafiou a caretice , atraiu o ódio , desprezo e até comiseração . Ganhou o título de “ Palhaço do Ano de 1969 ” , dado pelo jornal London Daily Mirror . Deixou de ser rei – para ser real . “ Eu era o fazedor de sonhos , agora renasci , agora sou John ” , resumiu no seu anticredo do mesmo disco de “ Mother ” , “ God ” , em que parte do princípio de que Deus é um conceito através do qual medimos nossa dor , para desafiar um rosário de pérolas em que não crê – Mantra , magia , Buda , Jesus , Kennedy , Elvis , Dylan , Beatles – até chegar à conclusão de que acredita apenas em si próprio e em Yoko – “ e isto é realidade ” . Um radical num tempo radical , com slogans revolucionários John já havia começado a mostrar sua visão pessoal sobre a realidade do mundo em transformação quando ainda assinava-se Lennon-McCartney em músicas como “ Revolution ” , “ Give Peace a Chance ” . Depois de Yoko , soltou-se mais também no desnudamento de sua visão do mundo . Criou slogans libertários , solidários , fraternos – dêem uma chance para a paz ; poder para o povo , já ; liberdade para o povo , agora ; nós todos brilhamos como a lua , as estrelas e o sol ; vamos acabar com todas as lutas ; a guerra termina , ser você quiser ; a mulher é o negro do mundo . Envolveu-se diretamente com o que os americanos chamam de radicais – a ala esquerda da geração que nos anos 60 lutou pelos direitos civis , contra a guerra do Vietnã , contra o militarismo , contra a direita republicana . Como Bob Dylan , sempre politizou o pessoal , e personalizou a política , conforme notou um crítico inteligente . Mudando-se para
Nova York em 1971 , amigo de líderes radicais como Jerry Rubin e Abbie Hoffman , ajudou a organizar manifestações contra o envolvimento americano do Vietnã , pela libertação de presos políticos como Angela Davis , ou a favor dos presos da penitenciária de Attica . Eram os anos Nixon , e ele passou a enfrentar dificuldades com o Departamento de Imigração , que se negava a dar-lhe o greencard , o visto de permanência nos Estados Unidos . Queixava-se de estar sendo seguido por agentes do FBI e de ter seu telefone sob escuta . Foram também anos de diversas lutas na Justiça – contra as seguidas tentativas do governo de deportá-lo , com base em uma antiga prisão por posse de drogas , ainda na Inglaterra ; pela dissolução legal da sociedade com os Beatles ; pela custódia de Kioko , a filha de um casamento anterior de Yoko ; contra uma acusação de não haver honrado um acordo para a produção de um LP para um tal Morris Levy , dono de uma editora musical . “ A vida vem em ondas como o mar ” : foi nessa época turbulenta que veio a turbulência maior , a separação de Yoko , em 1973 . Com a separação John afundou-se em bebida e cocaína , no que ele mesmo chamou de “ fim de semana perdido de 18 meses ” ( Lost Weekend é o título original do filme Farrapo Humano , de Billy Wilder , em que Ray Milland interpreta um escritor alcoólatra no fundo do poço da degradação ) . Do fundo do poço , voltou a despir seu desespero na música : “ Estou apavorado ” , repete 15 vezes na tetricamente bela “ Scared ” , do disco Walls andBridges , gravado em 1974 . O disco tem uma música chamada “ Ninguém Te Ama Quando Você Está Por Baixo e Por Fora ” . Um artista singular cuja obra-prima é a própria vida Muros e pontes . De uma forma singular , como tantas coisas na história desse artista cuja obra-prima foi a própria vida , Walls and Bridges foi a ponte que o levou de volta a Yoko . Seu amigo Elton John , na época no auge do sucesso , tocou órgão e piano e dividiu o vocal com John em uma faixa do disco – ironicamente uma das mais descartáveis – “ Whatever Gets You Through the Night ” , e brincou com ele dizendo que , se a música chegasse ao primeiro lugar , John teria que dar uma canja em um show dele . A música chegou ao primeiro lugar – por outra ironia , foi a primeira música de John a chegar ao primeiro lugar desde a separação dos Beatles ( todos os outros três já haviam chegado lá antes ) . Ele deu a canja no show do Elton John , no Madison Square Garden , e , ao final , encontrou-se com Yoko atrás do palco . Cunhou uma bela frase para explicar a
volta para casa : “ A separação não deu certo ” . A volta ao casamento deu . Como “ a vida vem em ondas como o mar ” , o casal mergulhou , a partir do final de 1974 , em sucessivas ondas de boas novas . Yoko ficou grávida e com isso apressou-se o fim dos processos para a deportação de John , que em 1975 recebeu finalmente o visto de permanência nos Estados Unidos ; as questões que atavam os Beatles a complicados processos judiciais foram finalmente resolvidas ; o tal dono de uma editora musical perdeu a causa que movia contra ele na justiça . No dia 9 de outubro de 1975 , o dia dos 35 anos de um John Lennon pacificado , nasceu Sean . “ Estou mais alto que o Empire State ” , disse . E caiu de cabeça no papel de dono de casa e pai em tempo integral , deixando com a mulher a administração dos negócios e da fortuna . Fora do carrossel , em casa , realizando a utopia particular Os cinco anos que John passou em casa , cuidando de Sean , fora do carrossel , sem fazer música , sem lutar por nada , foram , como bem notou um crítico , a realização prática de utopia que pregou em boa parte de sua obra e que sintetizou esplendidamente em “ Imagine ” , seu hino “ anti-religioso , antinacionalista , anticonvencional , anticapitalista ” , como ele mesmo definiu . Foi feliz em seu paraíso pessoal , em seu direito à preguiça , em seu ócio , onde cultivou poucos vícios ( como o de fazer pão em casa , passar horas junto a uma janela do Dakota diante do Central Park ou , quando viajava com Sean e Yoko , comprar também as cadeiras da frente , de trás e do lado , para não ter que atender a algum curioso perguntando quando é que os Beatles iriam se unir de novo ) . O vício das drogas , abandonou , de um jeito manso e sem ansiedade . Desde o início dos Beatles , com pouco mais de 20 anos , culminando com os 18 meses de farrapo humano , havia se dedicado , em períodos alternados , a pílulas , maconha , ácido , álcool , heroína e cocaína . Aos 40 anos , dizia que , se alguém passasse um baseado , até fumava , mas nunca iria atrás , e só . Estava amadurecido . Não precisava mais . Amadurecido , mais sábio . A tal ponto que sabia até desconfiar das certezas . “ Quando eu era mais jovem , vivia em confusão e profundo desespero ; agora estou mais velho ; quanto mais vejo , menos sei com certeza . O futuro é brilhante , e o momento é agora ” , escreveu em Borrowed Time ” , uma das cerca de 15 músicas que compôs em 1980 , saindo dos cinco anos de reclusão para lançar em
discos de John e Yoko – primeiro Double Fantasy , depois Milk and Honey . Estava decidido a não fazer mais discos só de John Lennon ; ou o público aceitaria discos meio John , meio Yoko , ou então ele simplesmente não estaria mais interessado em gravar , dizia . “ Eu sou um roqueiro renascido , sinto-me restaurado ” , disse no dia 5 de dezembro de 1980 . Com esperança e vontade para outros 40 anos produtivos Não tinha fórmulas para oferecer para o mundo ; sabia que cada um tem que criar a sua . “ Eu não posso despertar você . Você pode se despertar . Eu não posso curar você . Você pode se curar ” . Convivia em paz com o medo e o desconhecido . “ Eu geralmente tenho medo , e não tenho medo de ter medo ” . E : “ Aceite o desconhecido e será uma viagem tranqüila . Tudo é desconhecido – aí você estará à frente do jogo ” . Na viagem dos sinos lúgubres de “ Mother ” aos sinos da felicidade de “ ( Just Like ) Starring Over ” , havia aprendido também que não é o pai , não é a mãe , nem mesmo a sociedade que é responsável pela escolha do caminho a se percorrer na vida . “ Quando a gente é adolescente ” , disse , “ reclama do que a mamãe , o papai ou a sociedade fizeram com a gente . Agora estou com 40 anos e não penso mais assim . Isso é uma coisa que precisa ser superada . Eu descobri isso pessoalmente . Eu digo que sou responsável . Eu sei que fazemos nossa própria realidade e que sempre temos uma escolha . ” Tinha esperança e vontade . “ Somos jovens . Se Deus quiser , ainda haverá 40 anos de produtividade pela frente ” . Os deuses não quiseram . Ficamos todos menos sábios . A historinha por trás do texto Regina Lemos teve a idéia de me encomendar um texto para ser publicado nos dez anos após a morte de John Lennon , no mês exato em que ele completaria 50 anos , outubro de 1990 . Ela estava dirigindo a redação da revista Moda Brasil , um título da Editora Globo , então em processo de renovação , remodelação – a editora e a revista . Até 1990 , era uma revista exclusiva para modistas , voltada apenas para confecções e lojas ; com Regina na direção de redação , virou uma revista feminina moderna , com amplo espaço para reportagens sobre comportamento , cultura . A experiência deu certo demais – tanto que a renovada Moda Brasil acabou sendo um ensaio geral para a edição brasileira da Marie Claire , um dos títulos mais respeitados do mundo ; a editora francesa fechou acordo com a Globo , e em 1991 surgiu a Marie Claire brasileira , dirigida por Regina e com o núcleo que ela havia montado ainda na
Moda Brasil . Foi uma belíssima revista , a Marie Claire , especialmente em seus primeiros anos – aliás reconhecidos e premiados – completamente diferenciada das demais da imprensa feminina , com pautas inteligentes , bem sacadas , ousadas , um texto cuidadoso , caprichado , bem feitíssimo , e uma redação democrática como nenhuma outra de que já ouvi falar . Quanto ao meu texto para a Moda Brasil … Bem , gostei bastante dele , ao relê-lo agora . Acho que é um bom texto . O que me assusta , hoje , é ver como eu era absolutamente lennonista . E eu fui , de fato , um lennonista ferrenho , até essa época aí , 1990 , quando fiz os 40 anos que John tinha ao morrer . A partir daí , fui ficando cada vez mais mccartista . Será sinal dos tempos , de maturidade ? Maturidade , provavelmente , seria ser sempre lennon-mccartista – seria compreender que a genialidade era exatamente a soma-multiplicação-exponencial daqueles talentos tão díspares e , ao menos durante um bom tempo , tão complementares . Essa é uma bobagem-brincadeira tão velha quanto ser chiquista ou caetanista , “ Sabiá ” ou “ Caminhando ” . Sempre fui fã de carteirinha de Caetano , desde antes do LP Domingo , seu primeiro , de 1966 , mas , se entrasse em alguma discussão sobre a bobagem-brincadeira chiquismo x caetanismo , era chiquista desde criancinha . Mas como manter o chiquismo quando Chico apóia a Cuba dos Castro e Caetano tem a coragem maravilhosa de mostrar que o rei está nu , cultiva o anafabetismo e o país hoje cultiva uma idolatria à lá Stálin ou Mao ? Bem , mas estes – tanto o lennonismo x mccartismo quanto o chiquismo x caetanismo – são temas que podem render bons e longos textos . 3 Comentários Com os meus cumprimentos , aproveito essa oportunidade em parabenizá-los pelas excelentes informações contidas nesse site . E venho ainda , solicitar de vossas senhorias , a gentileza em permitir-me , a utilização de uma parte desse texto , que incluirei em um artigo sobre John Lennon , onde usarei também como implemento o título , se me permite – “ John Lennon , assim na Terra e no Céu ” . Essa postagem será feita em um site que estarei lançando em breve , intitulado , “ Gyn Go ” , e evidentemente que acrescentarei todos os créditos devidos . Cara Dinalva , muitíssimo obrigado por suas referências simpáticas e gentis . Sinta-se inteiramente à vontade para transcrever parte do meu texto ; se você vai dar o crédito – e tenho certeza de que o fará - , isso só pode ser para mim motivo de alegria . Peço a gentileza de você me avisar quando publicar seu texto , e me passar o endereço . Um abraço . Sérgio 10 Trackbacks [ … ] os 40 anos de Paul McCartney para a revista Status , e outra sobre os dez anos após a
morte de John Lennon para a revista Moda Brasil . Gostei de fazer todos esses trabalhos – mas é completamente [ … ] [ … ] praça diante da Notre Dame , à direita dela , na Nuit Blanche , um rapaz cantou “ Revolution ” , de John Lennon , acompanhando-se à guitarra . A voz era boa , a pronúncia das palavras muito nítida , mas o [ … ] [ … ] comum , assim como gilete , por exemplo , virou substantivo comum , sinônimo de lâmina de barbear . John Lennon descrevia seu período de entrega total às drogas e à bebida , depois de uma separação de Yoko [ … ] [ … ] Beatles , lançou em 2010 um livro chamado Lennon – um misto de biografia e relato ficcional sobre John Lennon , em que o músico confessa , por exemplo , seu amor por Brian Epstein , o primeiro empresário do [ … ] Nosso Barco , Nossa Alma / In Which We Serve De : Noel Coward e David Lean , Inglaterra , 1942 Nota : Anotação em 2007 , com complemento em 2008 : Este é , talvez , o mais perfeito exemplar do filme esforço de guerra , absolutamente inigualável dentro do que ele se pretendia – engajar a população civil na luta contra o nazismo , fazer as pessoas ajudarem , da maneira que fosse possível , o governo e as forças armadas na luta . Eu já tinha , naturalmente , ouvido falar demais neste filme do então quase principiante David Lean e do homem de todas as artes Noel Coward – e mesmo assim me surpreendi com a qualidade dele . Os filhos da puta dos ingleses conseguiram transformar um instrumento de propaganda em belíssimo cinema . O filme é a história de um navio de guerra inglês , o destróier HMS Torrin , que é atingido por um torpedo mas não afunda ; é levado de volta para a Inglaterra , reparado e volta à ação para ajudar na retirada de Dunquerque ; mais tarde , é bombardeado perto de Creta , e finalmente submerge . A ação começa quando o navio está afundando , e vários de seus marinheiros estão em botes salva-vidas , à espera do resgate por outras naves aliadas . Enquanto aguardam o resgate – que talvez não chegue - , os sobreviventes do navio naufragado vão lembrando histórias das lutas do Torrin , juntamente com histórias de suas próprias vidas , e essas histórias todas vão sendo mostradas em flashbacks . Noel Coward – que escreveu o roteiro e co-dirigiu o filme – faz o papel do capitão do HMS Torrin , Kinross , um herói de guerra , embora não mais herói que o mais humilde dos marinheiros do navio . Aliás , uma das muitas maravilhas deste filme é isso : a insistência em que a participação de cada um é importante , que um marujo humilde e iniciante vale tanto quanto um oficial , que todos
são igualmente merecedores de todas as honras . Qualquer pessoa que não conheça a biografia de Noel Coward ( 1899-1973 ) e veja hoje o filme certamente achará sua atuação muito boa – ou , no mínimo , convincente , correta . É verdade que seu tom é um tanto monocórdico : seu Capitão Kinross é um homem duro , dedicado , competente , sério , extremamente sério – acho que ele não sorri uma única vez no filme . Está sempre com a cara fechada de um homem ocupado em cumprir seu dever bem cumprido . Assim , é fascinante imaginar como as platéias da época , especialmente as inglesas , reagiram à interpretação de Coward como o duro Capitão Kinross . Noel Coward – que figura absolutamente fascinante – era pintor , ator de teatro , dramaturgo , compositor , letrista , cantor ; fez todo tipo possível e imaginável de peças de teatro , mas era conhecido basicamente por comédias e canções sofisticadas , intelectualizadas , inteligentes , brilhantes . E era homossexual assumido desde os 14 anos de idade . Uma das muitas histórias que se contam sobre In Which We Serve ( e ele é absolutamente cheio de histórias ) é que o jornal Daily Express , em diversas ocasiões , enquanto o filme era rodado e montado , ridicularizou o projeto , contestando a escolha de Coward para interpretar um bravo , e muito macho , capitão da Real Marinha . Tadinho do povo do Daily Express : que coisa triste confundir opção sexual com caráter ou falta de caráter , bravura ou falta de bravura , competência ou falta de competência . Marta Suplicy que o diga . O fato é que Coward acabou se vingando ao reproduzir no filme uma ridícula manchete do jornaleco , publicada em 1939 , poucos meses antes do início da Segunda Guerra : “ No war this year ” . Mais histórias sobre o filme : Noel Coward – que muitos anos depois receberia da Coroa britânica o título de Sir – era amigo do primeiro-ministro Winston Churchill . Consta que os dois muitas vezes se reuniam para pintar . Teria sido pensando em ajudar o amigo que Coward teria imaginado a história deste filme : ele queria fazer alguma coisa mais útil ao esforço de guerra do que escrever mais comédias sobre gente rica e suas aventuras nos salões . Aliás , consta também que Coward trabalhou para o serviço secreto inglês durante a Segunda Guerra . Conta-se também que Coward estava um tanto inseguro em dirigir um filme de guerra , e perguntou ao amigo John Mills quem ele recomendaria para ajudá-lo . O pequeno em tamanho , gigante em talento John Mills ( 1908-2005 ) – aliás pai de Juliet Mills , que aparece no filme como a filhinha bebê de Shorty Blake , o personagem interpretado pelo ator , e também da gracinha Hayley Mills – sugeriu “ o melhor montador do país ” , um tal de David Lean . David Lean
( 1908-1991 ) àquela altura já havia assinado a montagem de uns 20 filmes , inclusive Pigmalião , de 1938 , e Major Barbara , os dois baseados em obras de George Bernard Shaw . Consta que Lean perguntou a Coward como ele imaginava que seu nome apareceria nos créditos , e Coward sugeriu “ com a ajuda de David Lean ” . O outro pediu que fosse “ dirigido por Noel Coward e David Lean ” . Assim foi feito . Quando Sir David Lean morreu , em 1991 , deixou uma das mais esplêndidas obras da história do cinema . Apenas 16 filmes , ao longo de 42 anos como diretor . Poucos , mas vários deles extraordinários , dos melhores que já foram feitos – Desencanto / Brief Encounter , Quando o Coração Floresce / Summertime , A Ponte do Rio Kwai / The Bridge on the River Kwai , Lawrence da Arábia , Doutor Jivago , Passagem para a Índia / A Passage to India . Sir John Mills trabalhou em vários deles . Estréia de Lean na direção , Nosso Barco , Nossa Vida foi também a estréia do jovem Richard Attenborough no cinema . Sir Richard Attenborough foi ator em mais de 70 produções e diretor de 12 , inclusive Gandhi , Um Grito de Liberdade / Cry Freedom , Terra de Sombras / Shadowlands e Chaplin ; em 2007 , aos 84 anos , dirigiu Um Amor para Toda a Vida / Closing the Ring , um filme competente mas com uma história bocózinha . Sir Noel , Sir John , Sir David , Sir Richard . Impressionante como o filme reuniu pessoas que seriam recompensadas mais tarde com o título de nobreza pela Coroa britânica . Como era um filme sobre marujos , falava-se muito palavrão – ou o que na época era considerado palavrão . O iMDB conta que o povo encarregado de fazer valer os “ é proibido ” do Código Hays , o código da autocensura de Hollywood , quis vetar os God , hell , damn e bastard que saem a toda hora das bocas sujas da marujada . Os ingleses protestaram violentamente , e vários palavrões foram então permitidos , embora outros tenham sido expurgados na versão exibida na puritana América dos anos 40 . ( O que diriam os zelosos censores dos anos 40 dos filmes de hoje , em que há mais fucks do que estrelas no céu ? ) O AllMovie diz que , durante muitos anos , as únicas cópias do filme disponíveis nos Estados Unidos eram da versão filtrada para não ofender os ouvidos puros da época do lançamento , mas que agora , felizmente , “ a versão completa , gloriosa , de 115 minutos ” é a que pode ser vista nos EUA . A versão em DVD disponível no Brasil tem 109 minutos . Deve , certamente , ser a higienizada pela censura americana dos anos 40 . 7 Trackbacks [ … ] felizmente longevo inglês , nascido em
1923 em Cambridge , que estreou no maravilhoso Nosso Barco , Nossa Alma / In Which We Serve , de 1942 , de Noël Coward e do jovem David Lean , é conhecido do grande público como o empresário [ … ] [ … ] Uma beleza , uma maravilha de filme . Baseado numa peça escrita em 1924 pelo homem de todas as artes Noël Coward sobre choque cultural e a profunda hipocrisia da alta sociedade inglesa , é uma produção [ … ] [ … ] o patriotismo , procurando manter elevado o moral de um povo , podem ser obras de arte , como Nosso Barco , Nossa Alma / In Which We Serve , que Noël Coward e David Lean co-dirigiram em 1942 , um ano antes de Os [ … ] [ … ] grande romance , mas sim seu melhor amigo ( gay , por sinal ) , o escritor , compositor , ator e diretor Noel Coward , que no filme afirma que Gertrude era casada com a carreira . Esse inusitado casal de uma certa [ … ] [ … ] esforço de guerra e esforço de guerra . Juntos , Noel Coward e David Lean fizeram , em 1942 , Nosso Barco , Nossa Alma , e , em 1944 – o mesmo ano deste Days of Glory - , David Lean fez This Happy Breed . Esses dois [ … ] Postar um Comentário O seu email nunca é publicado ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * Frost / Nixon De : Ron Howard , EUA-Inglaterra-França , 2008 Nota : Anotação em 2009 : Um grande filme , uma beleza , feito com absoluta maestria . Para nós , brasileiros , nestes tempos duríssimos em que vivemos , em que Brasília nos manda diariamente notícias tristes , desalentadoras , indecentes , e nos deixa questionando pilares básicos da democracia , como a própria existência do Parlamento , é cheio de belas lições . Aumenta ainda mais nossa estupefação diante da maioria dos políticos do País , mas deixa belas lições . Menos de 20 anos atrás , o Brasil expulsou da Presidência um político corrupto . Aquela figura renunciou , antes que fosse derrubada por um processo de impeachment no Congresso . Mas ele se elegeu de novo , e , senador , está de volta às primeiras páginas dos jornais , como um dos líderes da tropa de choque que defende outro político corrupto que preside o Senado Federal e , ao contrário do que fizeram dois de seus antecessores no cargo , que renunciaram para não perder o mandato ; insiste em se manter no poder , com o total apoio do presidente da República , aquele lá que – não ; melhor deixar pra lá . Pouco mais de 30 anos atrás , o então presidente americano Richard Milhous Nixon renunciou , antes que fosse derrubado por um processo de impeachment no Congresso . Ao contrário do que acontece aqui , no entanto
, jamais voltou a ter qualquer poder ; não foi candidato a nada ; passou para a História como o único presidente americano a renunciar , em mais de 200 anos consecutivos de democracia . Precisão de documentário , ritmo de thriller Este ótimo filme do veterano Ron Howard recria , com a precisão de um documentário e o ritmo acelerado de um thriller de primeira qualidade , a história da primeira entrevista que Nixon deu à televisão depois da renúncia . E que bela história . O filme se baseia na peça de teatro escrita pelo inglês Peter Morgan , que foi também o autor do roteiro . Toda a história tem como base acontecimentos reais ; os trechos da entrevista que aparecem são iguais ao que realmente aconteceu e foi ao ar em 1977 , três anos depois da renúncia de Nixon . As frases de Nixon e de seu entrevistador , David Frost , são literais . Ron Howard usa a estrutura de um documentário : ao longo da ação – que é apresentada em ordem cronológica , desde a renúncia , em 1974 , até a entrevista , em 1977 , e um pouco depois – , há depoimentos dos personagens da história . Só que não dos personagens reais , e sim dos atores que os interpretam . Ou seja : é a estrutura de um documentário , em um filme que recria inteiramente a realidade . As fotos que aparecem de Nixon – como uma dele ao lado de Mao Tsé-Tung – são com o ator que faz Nixon , e não com o próprio presidente . Nisso , especificamente , o filme faz lembrar Confidencial / Infamous , a ótima recriação de como Truman Capote escreveu A Sangue Frio . E , indo mais para trás , faz lembrar Reds , o filme de Warren Beatty sobre a participação do jornalista americano John Reed na revolução comunista russa de 1917 . Esses depoimentos dos personagens da história ajudam um pouco o espectador a compreender os fatos . Mas o roteiro dá de barato que toda a história é amplamente conhecida pelo público . Assim , é claro que o espectador que não se lembrar das circunstâncias que levaram Nixon à renúncia estará bastante prejudicado . Relembrando rapidinho : em 17 de junho de 1972 , cinco homens foram presos ao assaltarem os escritórios do Comitê Nacional do Partido Democrata , no complexo de prédios Watergate , em Washington . Nixon era presidente da República , eleito em 1968 , e disputava a reeleição com o democrata George McGovern ( as eleições seriam em novembro ) . Investigações da polícia , de comitês do Senado e da Câmara dos Deputados e sobretudo da imprensa foram revelando que a invasão do comitê havia sido ordenada por funcionários da Casa Branca ; o governo tentou o tempo todo negar que Nixon tivesse conhecimento dos planos para o assalto ao comitê adversário , mas foi ficando clara a participação de autoridades cada vez mais altas da Casa
Branca , até se chegar ao próprio Nixon . Após dois anos de sangria , e antes que a Câmara votasse um processo de impeachment , Nixon finalmente renunciou , em 9 de agosto de 1974 . Com a renúncia , assumiu outro republicano , Gerald Ford , que , numa decisão que chocou o país , concedeu um perdão total a Nixon por quaisquer crimes que pudesse ter cometido enquanto estava no poder – ter ordenado ou no mínimo consentido com o assalto ao escritório da campanha adversária , mentido , ocultado provas , obstruído a ação da Justiça . E o ex-presidente jamais admitiu qualquer crime , ou pediu perdão por eles . Um grande duelo – e todos apostam em Nixon É aqui que o filme começa David Frost , um apresentador de talk shows nascido na Inglaterra , que tinha tido e perdido um programa na TV americana e estava , na época da renúncia , comandando um programa na Austrália , teve a idéia de pedir uma entrevista a Nixon . A idéia acabou virando uma obsessão ; durante meses e meses e meses ele continuou tentando . O agente literário de Nixon , Swifty Lazar ( Toby Jones , o Truman Capote do filme Confidencial / Infamous ) , que era uma das pessoas do círculo do ex-presidente com quem David Frost entrava em contato , acabou sugerindo que ele aceitasse dar a entrevista . O secretário particular de Nixon , Jack Brennan ( Kevin Bacon ) , também o incentivou a aceitar . Nixon havia recusado todos os pedidos de entrevista anteriores ; não queria enfrentar , diante das câmaras de TV que já o haviam derrotado quando debateu com John Kennedy na campanha de 1960 , um entrevistador sério , um repórter político experiente . O staff de Nixon , e depois o próprio ex-presidente , entenderam que seria um bom negócio falar com aquele inglês meio showman , mais acostumado a entrevistar personalidades do show business do que a tratar dos negócios sérios da política . Acharam que o ex-presidente poderia se sair muito bem , dar um show , mostrar-se como um estadista , talvez até voltar à política . E mais ainda : o apresentador de talk shows oferecia dinheiro , um bom dinheiro , pela entrevista , na verdade uma série de quatro entrevistas de duas horas cada . Acabaram fechando negócio pela quantia absurda de US$ 600 mil , mais um acordo previamente assinado pelas partes estipulando que apenas 25% do tempo seria reservado a Watergate , e os demais 75% a outros temas . É preciso também lembrar que Nixon tinha do que se gabar , nos 75% do tempo em que não seria questionado sobre Watergate . Apesar de ter afundado mais e mais os Estados Unidos na guerra do Vietnã , iniciada por seus antecessores democratas , apesar de ter ordenado uma invasão sangrenta do Cambodja , durante seu primeiro mandato , Nixon tinha trunfos na política externa . A guerra do Vietnã terminara
; e o presidente tinha tido reuniões de cúpula antes inimagináveis com o líder soviético Leonid Brejnev e com o chinês Mao Tsé-Tung , reuniões que abrandaram bastante o clima quente da guerra fria . Para o entrevistador , só havia dois caminhos : ou ele conseguia encostar o entrevistado nas cordas , e esmurrá-lo até que confessasse seus crimes e pedisse perdão por eles , ou a entrevista não serviria para nada . Se fosse uma conversa morna , ninguém teria interesse em transmiti-la , e David Frost teria que arcar sozinho com o custo absurdo de toda a operação – seria o fim de sua carreira . Todo mundo sabia : a série de entrevistas seria uma luta de boxe , uma disputa de campeonato mundial . Só haveria um vitorioso ; o outro seria derrotado . Todas as apostas eram de que Tricky Dick , como Nixon era chamado , daria uma surra no apresentador de talk shows bonitinho e bobão . O espectador acompanha os preparativos dos dois contendores para o enfrentamento , cada um com sua equipe . Nixon se cerca de um grande staff ; de seu lado , David Frost e seu produtor , John Birt ( Matthew Macfadyen ) , contratam dois jornalistas e estudiosos para auxiliá-los no trabalho de pesquisa , levantamento e organização de informações – Bob Zelnick ( Oliver Platt ) e Jim Reston ( Sam Rockwell ) . Aqui há um detalhe interessante : esse Jim é James Reston Jr . , o filho de James Reston , sujeito liberal , progressista , que foi um dos colunistas mais importantes do New York Times e do jornalismo americano nos anos 70 e 80 ; me lembro que , começando em jornal , li , admirado , muitos textos de James Reston , republicados em O Estado de S . Paulo e no Jornal da Tarde . O filme mostra que os jornalistas Zelnick e Reston Jr . ficavam exasperados , arrancavam os cabelos , porque , nas semanas que precederam as entrevistas , David Frost parecia não se dedicar ao trabalho , não se aprofundar nos temas ; preferia ficar gozando a boa vida em festas e passeios em Los Angeles ao lado de Caroline Cushing , uma jovem beldade que ele conheceu na primeira classe de um vôo internacional ( foto ) . Caroline é interpretada pela bela inglesa Rebecca Hall , que fez a Vicky de Vicky Cristina Barcelona . Ela funciona meio como o “ female interest ” do filme , a bonita figura de mulher que dá algum encanto aos olhos da platéia num filme povoado por senhores engravatados . Mas serve também para mostrar que o velho Nixon , por mais bandido que fosse , tinha uma qualidade : era tarado por mulher . Frank Langella tem o melhor papel da vida Assim como aconteceu com Helen Mirren ao interpretar a Rainha Elizabeth II em A Rainha , de Stephen Frears , ou com a bela francesa Marion Cotillard , que ficou feia
para fazer Edith Piaf em Piaf – Um Hino ao Amor , Frank Langella teve o melhor papel de sua vida como Richard Nixon . Sua atuação é estupenda , extraordinária , maravilhosa . Ela é toda cheia de matizes ; seu Nixon demonstra arrogância , prepotência , inteligência , safadeza com relação a sexo , insegurança , medo , uns momentos de bom humor , e até mesmo arrependimento . No papel do apresentador de talk shows meio playboy , mundano , festeiro , mulherengo , menosprezado pela imprensa dita séria , mas na verdade inteligente , rápido de raciocínio , seguro , conhecedor das manhas da TV , Michael Sheen enfrenta o duelo com Frank Langella , o duelo Frost / Nixon , de igual para igual . Está muito bem esse ator nascido no País de Gales em 1969 que , no filme A Rainha , interpretou , também com brilho , o primeiro-ministro britânico Tony Blair . Os dois atores tinham já representado os mesmos papéis no teatro . Incorporaram seus personagens . Langella ganhou um Tony , o Oscar da Broadway , pelo papel . Não poderia dizer com toda certeza se pessoas menos interessadas em política , em História contemporânea , iriam desfrutar tanto deste filme bem realizadíssimo , mas imagino que , sim , iriam . É uma história fascinante , riquíssima , e o diretor Ron Howard de fato conseguiu contá-la com um ritmo de um bom filme de suspense . O filme vai num crescendo de tensão , como um bom thriller , até atingir , bem no finalzinho de seus 122 minutos que passam de maneira extremamente rápida , o clímax , um grande clímax . O filme teve cinco indicações ao Oscar no início deste ano de 2009 : filme , direção , ator ( para Frank Langella ) , roteiro adaptado e montagem . Não levou nenhuma estatueta da Academia , mas ganhou nove outros prêmios e teve outras 36 indicações . Segundo o iMDB , diversos diretores importantes demonstraram interesse em dirigir o filme baseado na peça Frost / Nixon : Martin Scorsese , Mike Nichols , George Clooney e Sam Mendes . Outra informação interessante que o iMDB apresenta é que o diretor Ron Howard admitiu ter votado em Richard Nixon em 1972 , em vez de em McGovern . É estranho , porque uns 95% da comunidade do cinemão americano votam nos democratas . Um lembrete para quem for ver o filme no DVD : não se pode deixar de ver , nas apresentações especiais , os trechos da entrevista do verdadeiro Nixon ao verdadeiro Frost . É fascinante comparar as imagens . A direção de arte recriou o local da entrevista nos mínimos detalhes . Imprensa , mesmo ruim , é o melhor que pode haver Voltando ao começo , como diz o Gonzaguinha , como se deve fazer sempre : o filme nos traz lições , boas lições – embora eles lá no Império sejam tão diferentes da gente , vivam num mundo
tão distante da gente . Nem é o caso de falar de Sarney , Collor , Renan , essa corja toda , hoje tão umbilicalmente ligada ao presidente que dizia que iria fazer tudo diferente , tudo ao contrário do que sempre foi feito . Nem é o caso . Até porque essas pessoas fedem . É o caso , no mínimo , de constatar de novo essa velha noção que não podemos nunca esquecer : a imprensa pode ser ruim , pode ser uma bosta , pode até mesmo ser vendida – mas é a melhor coisa que há . Sem imprensa que faça oposição ao poder , sem imprensa que denuncie , que investigue , o cidadão se fode , o Estado se agiganta , manda , prevalece . Não dá para compreender como ainda exista gente que já leu mais do que o Pato Donald e não entenda isto . Não dá para compreender como ainda existam jovens que defendam os Chávez , os Fidel , os Stálin , os Hitler , os Mussolini , os Gaddafi , os Khomeini , os Ahmadinejad da vida – porque eles são todos absolutamente iguais . Todos eles se colocaram na posição de deuses onipresentes , oniscientes , com o dom de promover a Grande Justiça Social ( mas normalmente só enchendo seus próprios bolsos , e os dos parentes e amigos ) , e esmagaram a imprensa , e todos aqueles que fossem contrários a seus desígnios . Quem defende Estado forte , Estado grande , Estado sempre presente , não defende as pessoas – está contra elas . Pareceu um economista liberalista falando no final . Se vc pensa em ser jornalista , meu filho , terá grande sucesso se escrever para A globo , folha de são paulo , ou veja . Se já não for o caso . Liberdade = bagunça . E é isso que nós vemos . Uma emissora como A globo ter mais influência que o próprio presidente . O quarto poder precisa ser calado , antes que se torne o primeiro poder . [ … ] de quem não consegue voltar bem à planície , conforme mostram dois belos filmes , Honra Secreta e Frost / Nixon – por coincidência estrelado pelo mesmo Michael Sheen que interpretou Tony Blair em A Rainha . E [ … ] [ … ] sua época , do seu momento histórico . Trata da perda dos valores morais da nação americana nos anos Nixon . De maneira profética , foi produzido e lançado pouco antes de estourar o escândalo Watergate , [ … ] [ … ] excelência . A sensação que tive é que a diretora procurou deixar as atrizes Catherine Keener e Rebecca Hall menos belas do que na verdade são ; a garotinha Sarah Steele é feiozinha , e Oliver Platt , [ … ] [ … ] Amin Gaga ) e A Rainha ( Helen Mirren interpretando Elizabeth II ) . São dele também os roteiros de Frost / Nixon , Maldito
Futebol Clube / The Damned United e A Outra / The Other Boleyn Girl . Peter Morgan já estava [ … ] Armadilhas do Amor / Serious Moonlight De : Cheryl Hines , EUA , 2009 Nota : Anotação em 2010 : Tadinha da Meg Ryan . Que danada de descida ao mais fundo do fundo do poço deu a carreira dela , para ela ir parar neste Armadilhas do Amor / Serious Moonlight – uma absoluta , total imbecilidade , um coisa pavorosa , horrenda , de deixar o espectador morrendo de vergonha . Em 2008 , Meg Ryan havia feito Mais do que Você Imagina / My Mom’s New Boyfriend , dirigido por um certo George Gallo , em que ela contracena com Antonio Banderas . Interpretava a mãe de um garoto que era gordíssima no início da ação , e , quando o rapaz volta para casa , algum tempo depois , ela havia emagracido um 380 quilos e estava namorando um gatão – o papel de Banderas . Um coisa grotesca ; com dez , 15 minutos de filme , tivemos o bom senso de apertar a tecla stop . Este Armadilhas do Amor é grotesco – se não apertei a tecla stop e fui até o fim , o problema é meu , de insanidade absoluta . Mais do que Você Imagina é um horror , mas não pode ser pior do que este aqui . Nada no mundo pode ser pior que este filme aqui . Nunca consigo fazer um rápido resuminho da trama . Conto o começo : Nego chega de táxi , carregado de flores , muitas flores , a uma casa de campo . Bota flores em vasos , diversos vasos ; espalha pétalas de rosa pela casa , no caminho entre a porta de entrada até o quarto , passando pela escada toda para o andar de cima . Em ação paralela , vemos mulher num posto de gasolina ligando para a secretária , dizendo que resolveu viajar naquela sexta-feira , que volta na segunda à tarde , que é para cancelar todas as reuniões marcadas para a segunda . Telefonema terminado , mulher recebe ligação do cara , dizendo que está entrando numa reunião , e só vai chegar no sábado à tarde . Mulher chega na casa de campo , vê as flores todas , liga para a secretária , diz que vai transar muito – e sai pela casa berrando o nome do marido , Ian ( Timothy Hutton ) . O qual , evidentemente , fica muito surpreso ao ver chegar a mulher , Louise ( o infeliz papel de Meg Ryan ) , muito antes da hora combinada . É o óbvio , o absolutamente óbvio : confiante em que Louise só chegaria no sábado de tarde , Ian tinha marcado encontro com a amante . Mas quem chegou foi a esposa . Pego com a boca na botija , Ian conta tudo para Louise . E aí Louise diz que não , que não
aceita aquilo de jeito nenhum , que ele jurou amá-la para sempre quando se casaram , e vai ter que continuar amando – e o amarra numa cadeira . Tudo bem – o botão de stop existe , está lá . Eu poderia ter usado o botão . ( Ou , se estivesse numa sala de cinema , poderia ter usado a faculdade de levantar e cascar fora . ) Ninguém é obrigado a ver um filme idiota . Os idiotas do esquerdoidismo vivem falando em “ controle social ” , expressão que na Novilíngua significa na prática proibir que sejam feitos ou exibidos filmes ou programas ou sejam divulgadas notícias de que não gostam – e o melhor argumento contra isso é sempre a liberdade , o livre arbítrio : meu , se você não gosta da Rede Globo , mude de canal ; se você não gosta da Veja , compre outra revista , as bancas têm 200 milhares de títulos diferentes , tem Carta Capital , tem Caros Amigos … Ih , acho que tergiversei . E o filme só vai piorando , piorando É óbvio que eu tinha a liberdade de apertar o botão de stop . Não fiz – porque sou louco mesmo , fazer o quê ? A culpa é inteiramente minha . E o fato é que , a partir desse começo idiota , o filme só piora , e piora muito , e piora demais . Na última seqüência , tentam – com uma incompetência abissal – nos convencer de que poderia ter havido uma reviravolta . É uma tentativa idiota , até porque o eventual espectador que tiver mais do que 35 de Q.I . já havia pensado nessa possibilidade , mas já a tinha descartado porque o que é mostrado no início do filme torna inverossímil e improvável e absurda a saída que se tenta na última tomada . Meg Ryan , gracinha , já foi adorável e adorada Então é assim : neguinho pode , evidentemente , fazer o filme mais idiota que quiser . É um direito dele – it’s his privilege , como se diz , com acuradíssima exatidão , em inglês . Nada contra . Eu , pessoalmente , fico espantado com o fato de algum produtor ter dado o sinal verde para esse roteiro idiota , obtuso , calhorda , de mau gosto , vomitativo . Mas , ao mesmo tempo , imagino que é assim mesmo – devem ter feito alguma pesquisa de mercado , devem ter achado que haveria público para isso . A economia precisa andar , a indústria tem que fazer filmes , os cinemas têm que ter novos títulos para exibir , as locadoras , etc e tal . Dá é uma peninha grande de Meg Ryan . Em Harry e Sally – Feitos um para o Outro / When Harry Met Sally … , de Rob Reiner , de 1989 , Meg Ryan protagonizou uma das seqüências mais antológicas de toda a história da comédia romântica , aquela extraordinária
série de tomadas em que finge um orgasmo , para o absoluto espanto de Harry , o personagem de Billy Cristal , de todos os presentes à lanchonete e da audiência . Cabelos louros cacheados , olhos do mais brilhante azul , um domínio de tempo cênico extraordinário , virou a namoradinha da América – e do mundo . Foi adorada , e adorável , em um bando de comedinhas românticas . Em duas que fez ao lado do então namoradinho da América , Tom Hanks , homenageou os antigos – e jovens que sabem reconhecer os antigos são bons , são louváveis : em Sintonia de Amor / Sleepless in Seattle , de Nora Ephron , ela e Tom Hanks nos lembraram o amor triste de Cary Grant e Deborah Kerr em Tarde Demais para Esquecer / An Affair to Remember . E , em Mens@gem para Você/You’ve Got Mail , de novo de Nora Ephron , elas atualizaram , com a então recém-chegada novidade dos e-mails , e falando também da coisa de empresa come empresa e demite gente , A Loja da Esquina / The Shop Around the Corner , o delicioso clássico do mestre Lubitsch de 1940 , com James Stewart e Margaret Sullavan . “ A pretty face may last a year or two ” , disse John Lennon , morrendo de ódio e de inveja do talento e da beleza de seu ex-parceiro . Meg Ryan não tem apenas uma carinha bonita . É uma boa atriz . Tentou se reinventar . Em 2003 , aos 42 anos , fez uma personagem que jogava no lixo todas as comedinhas românticas , no drama barra pesada de Jane Campion Em Carne Viva / In The Cut . Voltou à boa comédia romântica em 2008 , na refilmagem de um clássico de George Cukor , Mulheres – O Sexo Forte / The Women . No mesmo ano , no entanto , fez a besteira Mais do que Você Imagina / My Mom’s New Boyfriend , e em 2009 fez essa besteira maior ainda aqui . Não está bem no filme , a gracinha da Meg Ryan . Está careteira , ridícula , absurda ; não consegue criar um personagem . Mas a culpa não é dela – neste filme , não daria para fazer nada bom . Torço para ver Meg Ryan , agora mulher madura , sempre linda , maravilhosa , em bons filmes , em bons papéis , em boas interpretações . Gracinha . Não mereceria este horror . Que consiga sair desta fase , dê a volta por cima . Na minha opinião o filme fala sobre a necessidade das mulheres de se sentirem amadas e como abrem mão de si mesmas e não se valorizam . Há uma hora que Ian diz : - Vovê tem opiniões demais Loise . Ela responde : - Tudo bem Ian , não vou mais ter opiniões . Encarei como uma crítica e sendo assim , achei o filme razoável . 3 Trackbacks [ … ]
Michael e Alice são lindos ( eles aparecem na tela sob a pele e os rostos belos de Andy Garcia e Meg Ryan ) , são absolutamente apaixonados , bem humorados , alegres , vivem de forma bastante confortável , [ … ] [ … ] ( Eric Dane ) , um empresário muitíssimo bem sucedido , que namora a maior estrela da casa , Nikki ( Kristen Bell ) , e está interessadíssimo em comprar o cabaré . Faz sua oferta : US$ 1 milhão , US$ 500 mil para [ … ] [ … ] que eu não conhecia ou de que não me lembrava ( Kevin Connolly , Bradley Cooper , Ginnifer Goodwin , Justin Long ) . O elenco é tão bom , e tão bem escolhido , que o filme se dá ao luxo de ter Kris Kristofferson [ … ] Postar um Comentário O seu email nunca é publicado ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * Maverick De : Richard Donner , EUA , 1994 Nota : Maverick é uma daquelas arrematadas bobagens deliciosas , extremamente agradáveis de se ver . É totalmente contra-indicado para mal-humorados em geral e para a turma de nariz empinado e papo-cabeça em particular . Para o resto da humanidade , é uma ótima diversão . Tínhamos visto o filme em 1995 , Mary e eu , não muito depois de seu lançamento , em 1994 . Na época , tasquei nele duas estrelas e anotei duas linhas : “ Gostosinho , bem feitinho , embora descartavelzinho , é claro . Não fez sucesso , mas merecia . ” Gostamos muito mais agora , na revisão . E não sei exatamente de onde tirei , na época , que o filme não fez sucesso . Devo ter lido a informação em algum lugar . Aparentemente , não foi , de fato , um sucesso de crítica , mas teve boa bilheteria – US$ 183 milhões , segundo o site especializado Box Office Mojo . Uma comédia escrachada , que não se leva a sério e beira as loucuras de Mel Brooks A série de TV Maverick , criada por Roy Huggins , foi produzida entre 1957 e 1962 . James Garner fazia o papel do protagonista , Bret Maverick , um almofadinha , extraordinário jogador de pôquer no Velho Oeste . A série que teve milhares e milhares de fãs entusiasmados . O roteiro do filme , que usa o mesmo personagem da série de TV em uma trama inteiramente nova , é de autoria de William Goldman , o mesmo de Butch Cassidy and the Sundance Kid , o delicioso western com Paul Newman , Robert Redford e Katharine Ross de 1969 . Autor de 29 roteiros , vencedor de dois Oscars , por Butch Cassidy e Todos os Homens do Presidente , Goldman sabe muito bem , portanto , como unir western e humor . Só que aqui ele foi muito fundo na comédia do que no hoje clássico filme de 1969 .
Soltou a franga – Maverick é uma comédia escrachada , sem vergonha de fazer rir com piadas às vezes bobas , juvenis , mas também com belas tiradas , diálogos inteligentes , irônicos . Às vezes o clima do filme beira as loucuras de Mel Brooks . Definitivamente , é um filme que não se leva a sério . É pura diversão , farra . James Garner , que fazia o Maverick da TV , aqui é o xerife Zane Cooper O diretor Richard Donner e Mel Gibson – que interpreta Maverick – se entendiam à perfeição ; tinham feito juntos os três filmes da série Máquina Mortífera , entre 1987 e 1992 . Para homenagear a série de TV que inspirou o filme , Donner colocou diversos atores do Maverick original para fazer pequenos papéis . Atores que haviam trabalhado em outras séries de TV também tiveram participações especiais , assim como um bom número de cantores country : Carlene Carter , Waylon Jennings , Hal Ketchum , Vince Gill , Clint Black , Kathy Mattea . E , claro : na maior homenagem possível à série original , o filme tem James Garner , o Maverick da TV , no terceiro papel mais importante , o do xerife Zane Cooper . Entre Maverick-Mel Gibson e o xerife Cooper-James Garner está Jodie Foster . E ela é uma das melhores coisas deste filme cheio de coisas boas . Jodie Foster é um daqueles talentos que soltam faísca . Criança prodídio , atriz extraordinária , diretora de poucos mas ótimos filmes , está no auge da beleza como Annabelle Bransford , jogadora de pôquer , malandra em tempo integral , ladra sempre que pode . Artista séria , atriz e diretora de filmes pesados , parece inteiramente à vontade nesta comédia descompromissada . Exatamente como Mel Gibson , que vinha de uma série de dramas e filmes de ação . Estavam os dois no topo de suas carreiras , na época do filme . Ela havia estreado na direção três anos antes , com Mentes Que Brilham / Little Man Tate , um filme sério sobre uma criança superdotada . Ele também havia começado a dirigir um ano antes de fazer Maverick , com O Homem Sem Face / The Man Without a Face , drama pesado sobre o relacionamento entre um garoto de 12 anos e um ex-professor solitário e recluso . Jodie Foster continuaria brilhando em tudo em que encosta a mão . Exigente , cuidadosa , tem uma filmografia bem mais rala que muitos atores de sua geração – e em geral escolhe bem seus papéis . Mel Gibson se meteria em encrencas tanto por causa de seu comportamento quanto por seus filmes . Foi preso por dirigir bêbado , seu A Paixão de Cristo despertou imensa polêmica – e ele , que havia sido um imenso astro nos anos 80 e 90 , virou um Judas em quem a imprensa voltada para celebridades adora descer a lenha . Continuou sendo sempre um bom ator . Num
gesto de coragem e de amizade , Jodie Foster o escolheu para fazer o papel principal em seu terceiro filme como diretora , o drama Um Novo Despertar / The Beaver , de 2011 . Na abertura , super-hiper-big-close-ups de homens brutos e feios : uma citação de Sergio Leone A abertura de Maverick é ótima . Maverick-Mel Gibson está com a corda no pescoço – literalmente . Monta seu cavalo , e a corda está devidamente atada a um galho alto de árvore . Homens bastante mal-encarados o botaram lá . Um deles , o líder do grupo , Angel ( Alfred Molina ) , despede-se dele com frases irônicas – e joga no chão , bem próximo do cavalo de Maverick , um saco com uma grande cascavel . Claro : a cascavel espantará o cavalo . Sem o cavalo , o herói do filme que está começando será enforcado . Neste iniciozinho do filme , a câmara de Richard Donner e seu diretor de fotografia , o grande Vilmos Zsigmond , focaliza os rostos daqueles homens em super-hiper-big-close-ups . Homens suados , com cara de péssimos bofes . Deve ser proposital , é claro que é proposital : Richard Donner está citando , copiando , homenageando , ou gozando , ou todas as alternativas anteriores , o estilo de Sergio Leone ! Aquela série de grandes close-ups iniciais nos remete diretamente aos western spaghetti do grande Leone , em especial Era Uma Vez no Oeste , de 1968 . Uma grande sacada : um western cômico americaníssimo que cita o diretor que reinventou o western , Italian style , em filmes estilizados , às vezes gozativos . Maverick começa fazendo paródia da paródia do western clássico . Prestes a ser enforcado , nosso herói se dirige a Deus – e ao espectador O herói prestes a ser enforcado conversa diretamente com o Criador – e também com o espectador . Para o primeiro , ele diz : – “ Senhor … Seja o que for que eu tenha feito para deixá-lo puto da vida … Se você pudesse me livrar desta e de alguma forma me dizer o que foi , prometo que vou retificar a situação . ” Uma bela frase para se abrir um filme , essa do afiado William Goldman . E então o herói-anti-herói dirige-se ao espectador do filme , e diz que ele andava mesmo numa maré de azar . Aquela última semana tinha sido difícil … E aí , claro , flashback . Voltamos uma semana no tempo . Maverick está entrando numa cidadezinha do Oeste montado num burro – seu cavalo puro-sangue havia sido roubado . Um sujeito todo vestido como almofadinha montado num burro é algo de fato impagável . Diálogos afiadíssimos , aventuras de todos os tipos : uma pândega , uma farra Daí a pouquinho , no saloon do hotel onde se hospedou , Maverick senta-se à mesa redonda onde um grupo eclético joga pôquer . Está ao lado de uma jovem loura e linda em vestido
elegante – em termos de Velho Oeste , claro : um vestido de cor berrante . Ela se apresenta a ele com um sotaque sulista falso que nem nota de três guaranis : Annabelle Bransford . Uns dez minutos e uma briga contra quatro sujeitos mal-encarados depois , Annabelle Bransford beija Maverick e durante o ato surrupia-lhe a carteira . Maverick exige a carteira de volta , e , temendo ser denunciada , a moça a entrega . E logo Maverick leva até Annabelle sua camisa branca , que havia sujado um pouquinho durante a briga contra os quatro sujeitos . Maverick : – “ Tem uma coisa que eu gostaria que você fizesse para mim ” . Maverick : – “ Por que – por que não . Eu morreria de medo . Deus sabe quantas partes de mim você roubaria . Eu acordaria com todo tipo de coisa faltando . ” Estamos aí com uns 15 , talvez 20 minutos de filme , e a aventura está só começando – depois de muitos cortes no laboratório de montagem , que deixaram de fora diversas sequências , Maverick ficou com 129 minutos , o que Leonard Maltin , em seu guia de filmes , considerou longo demais . Ao longo desses 129 minutos – que passam bastante depressa - , surgirá o tal xerife Cooper , interpretado pelo ator que fez Maverick na TV ; haverá ataques de índios , chefiados por um de nome Joseph , interpretado por um índio de verdade , Graham Greene ( na foto acima ) , bom ator , homônimo do escritor inglês , num papel hilariante ; aparecerão um arquiduque russo à procura de emoções fortes , e um grupo de religiosos atacados por brancos que se fantasiam de índios ; e tudo vai terminar a bordo de um daqueles gigantescos navios que passeavam pelo Mississipi , dentro do qual se realizará um torneio mata-mata de pôquer . E todo mundo trai todo mundo . Uma pândega , uma farra . Um filme lackadaisical , sentencia o autor do guia de filmes mais vendido do mundo Leonard Maltin usa um adjetivo sonoro que eu jamais tinha visto antes para definir Maverick : lackadaisical . Caramba , o que será isso ? O primeiro dicionário que consulto ( e é um bom dicionário ) não contém o termo . No segundo está lá : lânguido , afetado . Bem , lânguido Maverick não é . Então suponho que Maltin tenha querido dizer afetado . “ Afetada atualização da série de TV que desperta boas recordações , o filme depende do charme pessoal para levar adiante uma trama que perambula de maneira lenta demais – e longa demais . Gibson está engraçado como um tubarão das cartas a caminho de um jogo de pôquer de apostas altíssimas , e o elenco é cheio de rostos familiares do universo de velhos westerns da TV e da música country contemporânea . Garner , que estrelou a velha série de TV , foi escalado aqui como um
xerife . Roteiro de William Goldman . ” Jean Tulard , no seu Guide des Films , sintetiza que a dupla de Máquina Mortífera ( na França , L’Arme Fatale ) , Donner-Gibson , se reencontra para um novo sucesso popular . “ Western para fazer rir , Maverick foi filmado com muito cuidado , atenção ” . Jodie Foster tem um elogio a fazer a um ator com quem contracenou : Anthony Hopkins ! No Blu-ray ( e acredito que no DVD também ) , o filme vem acompanhado de um making off bastante diferente dos making offs tradicionais , sui generis mesmo . É tão bem humorado quanto o próprio filme . Em vez de ter aquelas padronizadas loas dos atores ao diretor e aos colegas , e vice-versa , tem um monte de gozações de uns aos outros . O diretor Donner comenta que Mel Gibson e Jodie Foster , recém-tornados diretores eles mesmos , sempre tinham alguma sugestão de como fazer tal e tal cena . E mesmo James Garner , que não se meteu a dirigir filmes , mas é um veterano , tinha também as suas próprias sugestões . Mel Gibson não sabia mexer com revólver nem com cartas de baralho , e a produção teve que botar experts nas duas coisas para tentar ensinar os truques básicos ao rapaz . E Jodie Foster lá pelas tantas diz que tem um elogio a fazer a um colega que contracenou com ela : Anthony Hopkins . ( Claro , Anthony Hopkins , intérprete do assassino canibal que assustou a agente do FBI Clarice Starling em O Silêncio dos Inocentes , feito três anos antes de Maverick . Depois do elogio a Hopkins , tomadas rápidas de Mel Gibson , James Garner e Richard Donner , todos os três perguntando : – “ Anthony Hopkins ? ? ? ” Maverick é tão escrachado que não se leva a sério sequer no making off . Uma absoluta delícia . Como Você Sabe / How Do You Know De : James L . Brooks , EUA , 2010 James L . Brooks é um bom diretor . Consegue ser quase sempre o próprio autor das histórias que filma , algo nada comum no cinemão comercial de Hollywood . O livro 500 Movie Directors o define como “ prolífico escritor , produtor e diretor de comédias de costume e dramas para a tela pequena e a tela grande ” , que consegue “ boas caracterizações dentro de elencos de vários personagens ” , e lembra que ele já ganhou 19 prêmios Emmy , o Oscar da TV americana , e , no cinema , é um dos cinco únicos diretores que já ganharam os Oscars de melhor filme , melhor direção e melhor roteiro para o mesmo filme . Seu primeiro – e extraordinário sucesso – foi o dramalhão Laços de Ternura / Terms of Endearment , de 1983 , que levou as estatuetas da Academia de melhor filme , melhor direção , melhor atriz para Shirley MacLaine ,
melhor ator coadjuvante para Jack Nicholson , e melhor roteiro – de autoria do próprio diretor . Em 1987 , Nos Bastidores da Notícia / Broadcast News teve sete indicações ao Oscar . Melhor é Impossível / As Good as it Gets , de 1997 , deu a Jack Nicholson o Oscar de melhor ator e a Helen Hunt o de melhor atriz . Neste Como Você Sabe , de 2001 , Brooks volta a dirigir Jack Nicholson , mas o grande ator faz apenas , assim como em Laços de Ternura , um papel secundário . É um papel importante , o quarto mais importante da trama , mas é secundário . E Jack Nicholson exagera na persona de Jack Nicholson . Está quase tão grande , imenso , quanto Gérard Depardieu , e em algumas cenas , infelizmente , seu rosto faz lembrar o de Paulo Salim Maluf . Tadinho de Jack Nicholson . Perder lugar na seleção de softball , para Lisa , é perder a razão de viver A personagem central da história é Lisa ( o papel de Reese Witherspoon ) . O filme começa com um pequeno intróito : um garotinho tenta lançar , com um bastão , uma bolinha de beisebol colocada em cima de uma pequena torre . É ruim , o garoto , quase tão ruim quanto eu era nas peladas no meu tempo de menino na Serra , em Belo Horizonte , e seu bastão atinge não a bola , mas a torre . Tenta de novo – novo fracasso . Aí uma garotinha que o observava pega o bastão e – tcham ! – acerta de primeira . Se estivesse numa partida , faria um home run , embora eu não saiba bem o que seja um home run . A garotinha , claro , é Lisa , que reaparece já adulta como a grande jogadora da seleção americana de softball , ídolo da torcida , a que leva a seleção a vitórias na Olimpíada . Péra lá – mas é beisebol ou softball ? Pois é . Na minha santa ignorância , passei o filme todo achando que Lisa fosse uma jogadora de beisebol . No IMDb , vejo que é jogadora de softball – que , segundo a Wikipedia , é uma variação do beisebol , jogada com uma bola mais larga num campo menor . O técnico da seleção está para anunciar o nome das jogadoras convocadas para os jogos seguintes , e , numa reunião com suas auxiliares , dá a entender que Lisa , apesar de o número 1 da equipe , o Pelé , o Neimar , não estará entre as convocadas , por causa da idade – está com 31 anos , e o técnico parece ser daquele tipo que gosta de reinventar a roda . Será , evidentemente , um baque , uma tragédia : Lisa viveu a vida inteira para o softball . Tirá-la da seleção é tirar sua razão de viver . Os primeiros contatos entre Lisa e George
são fracassos abissais Para simplificar a apresentação da trama , digo curto e grosso que Lisa se verá de repente sem sua razão de viver mas envolvida em um triângulo amoroso . Será disputada por dois homens , dois sujeitos que não poderiam ser mais díspares , antíteses um do outro . De um lado , Matty ( Owen Wilson , com aquela cara de pateta dele que serve perfeitamente para compor o personagem ) , um dos maiores astros do beisebol profissional americano , e portanto um dos atletas mais bem pagos do país . Mora num edifício de milionários em Manhattan , e é um narcisista comedor inveterado . Traça todo rabo de saia que lhe aparece à frente . Nunca tinha , em sua gloriosa vida de cabeça de vento , se envolvido a sério com ninguém – mas não é que com Lisa ele descobre que existe um troço chamado paixão ? Do outro lado do triângulo há George ( Paul Rudd ) , presidente de uma grande empresa criada por seu pai , Charles ( o papel de Jack Nicholson ) . A grande empresa é gerida e controlada por Charles ; George é apenas um bem intencionado , trabalhador , honesto e inocente testa de ferro do pai . O pai aprontou uma manobra ilegal – e a procuradoria dos United States of America abre um processo contra o presidente nominal da empresa , o pobre George . Acusado de um crime financeiro que não cometeu , do qual não sabia nada , nosso herói é aconselhado pelo pai e pelos advogados da empresa a renunciar ao cargo . Como terá ele mesmo que pagar a sua própria defesa , de repente tem que vender o belo apartamento em que vive para pagar os honorários milionários dos advogados . Perde o emprego e a casa , e , por consequência , também a namorada . Os primeiros contatos entre George e Lisa são fracassos abissais , memoráveis . George fica fascinado por ela , mas Lisa o considera um completo idiota , um sujeito inteiramente desajeitado . Paralelamente , o que era para ser um encontro com trepadas ocasionais entre a desportista amadora agora sem time e o desportista profissional bilionário começa a ficar mais sério . Brooks sabe jogar muito bem com essas imagens arquetipais do atleta tosco , machista , que até se esforça para ser menos tosco e machista , e do homem desajeitado , à primeira vista desagradável , mas que tem coração enorme e sabe ouvir as mulheres . Como Você Sabe tem ótimas piadas , situações engraçadas , diálogos afiados , faz uma gostosa referência a Kramer x Kramer , e há boas interpretações , especialmente de Reese Witherspoon e Paul Rudd . É isso aí . Não é dos melhores filmes de James L . Brooks , mas tem mais qualidades que muita comedinha romântica que Hollywood produz . Um Comentário Realmente , não há muito para se falar deste filme . Voce já disse tudo e
, um pouco mais ainda . Caramba , também não consigo gostar desse Owen Wilson . Já da Reese … ela é que dá razão à este filme ( ao menos para mim ) . Gosto muito dessa Atriz , aliás , muito bôa atriz . Dois ótimos desempenhos dela que me vêm logo à mente são “ Johnny e June ” e “ Feira das Vaidades ” . Vale lembrar que o filme que colocaste hoje no “ 50 anos ” , tu fazes uma referência à ele , neste aqui . Bem no começo logo abaixo da primeira foto . Um abraço ! ! O Vôo / Flight De : Robert Zemeckis , EUA , 2012 Nota : É um grande filme , este O Vôo / Flight , que Robert Zemeckis lançou em 2012 , com Denzel Washington no papel central . E é uma cara , requintada produção do cinemão comercial que rompe algumas regras , algumas convenções . Ao contrário do que ditam as normas , segundo as quais o clímax , o auge , a grande explosão vêm ao final da narrativa , aqui vêm logo no início , nos primeiros 30 minutos , mais ou menos , dos fascinantes 138 de duração do filme . O Vôo abre como um filme de ação , como um filme catástrofe – dos mais maravilhosamente realizados , artesanalmente impressionantes . Esses cerca de 30 minutos iniciais são de prender o fôlego do espectador , de assustar , de eletrizar . É adrenalina pura , é droga forte na veia . ( Não tenho idéia do que seja isso , mas dizem que é um horror . ) Em seguida , nos 100 minutos restantes , o que era filme de ação , filme catástrofe , vira um sério , denso , pesado drama psicológico . Primeiro ele nos tira o fôlego . Depois ele nos faz pensar – e nos assusta , assombra . É preciso advertir : quem não viu ainda o filme não deveria continuar lendo Ando cada vez mais avesso a spoilers , a revelar o que acontece nas tramas dos filmes a partir aí dos primeiros 15 , 20 minutos . Outro dia mesmo , ao escrever sobre A Garota do Parque , um envolvente drama familiar , Mary me chamou à atenção , dizendo que revelar o que acontece após os oito minutos iniciais do filme seria spoiler . Dei razão a ela . No caso de O Vôo , é muito difícil falar qualquer coisa do filme sem revelar o que acontece nessa primeira meia hora de narrativa . Por isso , vai aqui o aviso : se o eventual leitor ainda não viu o filme , e não leu nenhuma sinopse , o melhor é parar por aqui . Se gostar de cinema , que procure ver Flight , belo filme , duas indicações ao Oscar ( ator para Denzel Washington , roteiro original para John Gatins ) , 11 prêmios e outras 31 indicações ( inclusive o Globo
de Ouro e o prêmio do SGA , o sindicato de atores , para Denzel ) . A partir daqui , revelam-se acontecimentos fundamentais da trama . De novo , a advertência : a partir daqui , spoilers É um vôo entre Orlando , na Flórida , e Atlanta , a capital da vizinha Georgia . Não é um vôo longo , de forma alguma ; coisa de 1h20 minutos , algo como uma viagem entre São Paulo e Florianópolis . Era o vôo das 9 horas da manhã , e era uma manhã de muita chuva na Flórida , região volta e meia açoitada por tempestades , tornados , furacões . O avião ainda estava no início da subida para a altitude normal de cruzeiro quando enfrentou uma turbulência brava , bravíssima , apavorante . O comandante Whip Whitaker ( o papel de Denzel Washington , esse Deus Apolo , esse ator mais ícone a cada filme que faz ) localiza num dos instrumentos do grande jato uma zona acima da região da turbulência , e leva a aeronave para lá . Os passageiros aplaudem a fim da turbulência . Whip é um profissional experiente , tarimbado – e extraordinariamente competente . Conhece muito bem pelo menos duas das comissárias de bordo , Katerine Marquez , a Trina ( Nadine Velazquez ) , e Margaret Thomason ( o papel de Tamara Tunie , a bela atriz que interpreta a legista Melinda Warner na série Law & Order : Special Victims Unit ) . Mas é a primeira vez que voa com o co-piloto Ken Evans ( Brian Geraghty ) , rapaz bem mais jovem que ele . Depois de deixar a zona de turbulência , o comandante Whip deixa o avião nas mãos do co-piloto Ken , e vai até o lado de fora da cabine , para dirigir algumas palavras aos passageiros , dizer a eles que dentro de tantos minutos estarão chegando a Atlanta . Aproveita para fazer uma piada sobre a rivalidade entre os times de futebol americano de Flórida e Georgia . Os comandantes da aviação comercial são dados a falar gracinhas para os passageiros . De repente , o avião começa a perder altura . Inclina-se para baixo violentamente , furiosamente . Fica bastante claro para o espectador que não houve barbeiragem alguma do co-piloto , que naquele momento tinha o controle do jato . Fica óbvio que houve uma falha mecânica . Whip assume seu assento . Passa a dar ordens – seguras , firmes – tanto para o co-piloto quanto para a comissária Margaret , que ele chama para ajudá-los . Fica claro , fica óbvio para o espectador que o comandante sabe o que está fazendo . Que está tentando domar a fera que teve alguma pane grave . O comandante Whip parece um experimentado cowboy tentando parar um estouro de boiada . Usando só os controles manuais , dando ordens ao co-piloto e à comissária , ele gira o grande jato para que ele fique de cabeça para baixo .
De ponta cabeça , como dizem os paulistas em sua sintaxe estranha . Sim , como o transatlântico Poseidon , do filme catástrofe O Destino do Poseidon de 1972 , refeito em 2006 como Poseidon . De cabeça para baixo , o comandante Whip consegue fazer com que o jato interrompa sua queda e se estabilize na horizontal , até que passa as áreas densamente habitadas de Atlanta e , na área rural , se possa ver um campo . Aí ele revira o jato para a posição normal – e o aparelho cai de uma altura não muito elevada . A câmara passa a ser os olhos de Whip , e por alguns instantes o espectador não vê nada muito distintamente . Algum tempo depois que o comandante Whip recobra a consciência , no hospital , ele recebe a notícia : das 106 pessoas a bordo , morreram seis – quatro passageiros e dois membros da tripulação ; 96 sobreviveram , uns 30 e tantos com ferimentos . A imprensa o trata como herói . Estamos então com cerca de 30 minutos de filme . O comandante fez o melhor possível , fez milagre – mas estava bêbado e chapado O autor da trama e do roteiro do filme poderia ter contado a história assim como fiz nos parágrafos acima . Poderia , se quisesse , ter guardado algumas informações para dar depois que o grande acidente já havia acontecido . Mas não : ele preferiu – ainda bem – revelar desde bem o início informações que ainda não dei . Ao sentar-se na cabine de comando , Whip Whitaker estava um tanto bêbado de álcool e um tanto doidão de maconha e cocaína . Como tantos filmes do cinemão comercial das últimas décadas ( e até mesmo de filmes independentes e autorais ) , O Vôo não tem créditos iniciais . Assim , Mary e eu vimos o filme sem saber quem era o diretor , cujo nome só aparece nos créditos finais . Abre num hotel , em que Whip e a comissária Trina passaram a noite se entupindo de drogas – a permitida , o álcool , e as proibidas , maconha e cocaína – e também de sexo , que ninguém é de ferro . Às 7 e pouquinho da manhã , Whip teve que atender , no celular , a uma ligação da ex-mulher , Deane ( Garcelle Beauvais ) . A ex-mulher , é claro , pedia dinheiro – verdade que para a educação do único filho do casal , Will Junior ( Justin Martin ) . O vôo seria ( e foi ) às 9h . Whip não comeu um bom café da manhã – tomou um trago de um resto de cerveja quente , deu um tapinha no baseado de Trina e mandou ver uma carreirinha de coca . Naquele momento em que foi falar com os passageiros , passada a zona de turbulência , aproveitou para surrupiar duas garrafinhas de vodca do estoque do avião e jogá-las num copo de
suco de laranja , e dali para o estômago vazio . Para tornar mais tensos ainda os minutos iniciais , há uma jovem enfiando droga na veia Ao longo dos apavorantes , eletrizantes 30 primeiros minutos de narrativa , portanto , o espectador está plenamente consciente de que o cara está chapado . Ao mesmo tempo , é óbvio que o comandante Whip fez tudo o possível e o impossível e conseguiu , no braço , no muque , no traquejo , na experiência , na competência , impedir a morte de 96 pessoas . Como se fosse pouco ver sequências bem realizadíssimas , de um realismo cru , em que um avião enfrenta duríssima turbulência , e depois , por um problema mecânico , vai perdendo altitude , perdendo altitude , até cair no chão – e tendo no comando um piloto chapado – , o autor da história e do roteiro John Gatins ainda botou , nessa primeira meia hora de filme , cenas apavorantes de uma viciada em drogas pesadas . Entre uma seqüência e outra do avião que está para cair , vemos uma jovem e bela mulher , Nicole ( o papel da inglesa Kelly Reilly ) , procurando desesperadamente uma dose de heroína com um amigo , envolvido na produção de filmes pornô em Atlanta . Nicole diz a ele com todas as letras que está profundamente necessitada de ficar doidona . O amigo fornece um pacotinho , mas insiste : aquela droga é forte demais . Nicole não poderá , de forma alguma , metê-la nos canos ; é para aspirar , o que já terá um efeito violentíssimo . Nicole vai para o pequeno apartamento do qual ela não paga aluguel faz um ou dois meses . Primeiro tem uma discussão com o zelador , que exige o pagamento dos aluguéis atrasados ou em dinheiro ou em serviços sexuais . Nicole consegue expulsar o cara do apartamento – e injeta a droga violenta na veia . É apavorante . Voltamos para as sequências do avião . Quando o avião , de cabeça para baixo , está passando sobre Atlanta , rumo a uma área desabitada em que o comandante Whip possa tentar fazer um pouso forçado , vemos uma rápida tomada em que paramédicos estão levando Nicole numa maca para uma ambulância . Nessa altura , o espectador ainda não sabe se a overdose de Nicole foi fatal ou não . Como acontece com milhões de drogados , Whip percebe que manter a sobriedade é duríssimo É muita droga , nesses primeiros 30 minutos de filme . É droga demais . Chega a ser nauseante , vomitativa , a quantidade de droga nesse início de filme . Cazuza , que gostava das drogas , as lícitas e as não , dizia que é bom “ algum veneno contra a monotonia ” . Mas , meu Deus do céu e também da terra – poderá pensar o espectador de O Vôo neste início de narrativa - , precisa ser tanta droga , e
droga tão pesada ? Não entendo coisa alguma das drogas ilícitas , assim , por conhecimento próprio , mas dá para saber , é claro , que sair da dependência é uma das coisas mais difíceis que há . Sei bastante sobre o álcool , e sei bem que sair da dependência do álcool é um desafio dificílimo . É preciso doses maciças , mastodônticas de força de vontade , determinação , culhão – e em geral nem mesmo elas são o suficiente . Quando sai do hospital – depois de , na escadaria , onde foi fumar um cigarro desses que ainda são vendidos legalmente , ter conhecido Nicole , a drogada que havia sobrevivido à overdose – , Whip foge do assédio dos repórteres que estão de tocaia diante de sua casa e se refugia na fazenda que havia sido de seu avô e seu pai . Joga fora toda a imensa quantidade de bebida que há lá . Já havia recusado a provisão de vodca que havia sido levada para o hospital por seu grande amigo e fornecedor de todos os tipos de drogas , Harling Mays , um tipo que seria terrivelmente engraçado se não fosse trágico ( uma interpretação notável do gordão John Goodman ) . Mas logo em seguida , ao ser apresentado por outro velho conhecido , membro do sindicato dos pilotos , Charlie ( Bruce Greenwood ) , a um advogado de renome trazido de Chicago para defendê-lo , chamado Hugh Lang ( o papel de Don Cheadle ) , cai a ficha : a imprensa toda o trata como herói , 96 pessoas sobreviveram por causa da sua competência , mas seis pessoas morreram , haverá processos por indenização na Justiça , haverá severa , cuidadosa investigação pela agência que regula a aviação comercial . Enquanto estava no hospital , haviam colhido amostra de seu sangue . Como acontece na vida de tantos milhões e milhões de drogados , também para Whip a determinação de permanecer sóbrio dura bem pouco . Nesse momento , estamos aí com uns 40 minutos de filme . Haverá muito mais drama a partir daí . É maravilhoso como o filme usa bem as músicas incidentais Além de ter tido aquele bom número de prêmios e indicações citados lá em cima , O Vôo parece ter tido razoável sucesso de público . Feito com um orçamento estimado em US$ 31 milhões , faturou três vezes isso , US$ 93 milhões , só nos Estados Unidos , e mais US$ 68 milhões fora . Eis aí algumas informações sobre o filme e sua produção , muitas delas tirada do IMDb : * O autor e roteirista John Gatins usou alguns elementos de um acidente real , acontecido com um avião da empresa Alaska Airlines em 2000 . Aquele avião teve um problema gravíssimo com o estabilizador horizontal , que o fez perder altitude com o nariz para baixo a uma velocidade de 13.300 pés por minuto . Na tentativa de estabilizar o aparelho , os pilotos chegaram
a colocá-lo na posição invertida , de cabeça para baixo . Apesar de todo o esforço dos pilotos , no entanto , ao contrário do que acontece no filme , não houve sobreviventes . * Foi a sexta indicação de Denzel Washington ao Oscar . Ele ganhou o prêmio de coadjuvante por Tempo de Glória ( 1989 ) e o de melhor ator por Dia de Treinamento ( 2001 ) . As outras indicações foram por Um Grito de Liberdade ( 1987 ) , Malcom X ( 1992 ) e The Hurricane ( 1999 ) . * Foi o segundo filme dirigido por Robert Zemeckis que mostra um acidente aéreo , depois de Náufrago ( 2000 ) , aquele em o personagem interpretado por Tom Hanks se salva quando o avião em que viajava cai no mar , e sobrevive durante longos meses em uma ilhota perdida no meio do Pacífico , como uma espécie de Robinson Crusoe moderno . * Foi também o segundo filme dirigido por Zemeckis que mereceu a classificação R , de “ restricted ” , algo semelhante ao nosso proibido para menores de 16 anos – por causa do uso de drogas e cenas de sexo . Anteriormente , apenas seu filme de 1980 , Carros Usados , tinha tido essa classificação rigorosa . Zemeckis fez vários filmes para toda a família , ou que agradam às plateias juvenis , como a trilogia De Volta para o Futuro , Uma Cilada para Roger Rabbit , O Expresso Polar , A Lenda de Beowulf . * Numa entrevista , os produtores Steve Starkey e Jack Rapke explicaram que o jato mostrado no filme não é idêntico a qualquer tipo de aeronave comercial existente – usa elementos de diversos tipos de avião . A companhia aérea a que pertence o avião é fictícia . Na entrevista , eles também fizeram questão de afirmar que não houve acordo comercial algum com qualquer um dos fabricantes das diversas marcas de bebidas mostradas no filme . * É forte e impressionante o uso da canção “ Sympathy for the Devil ” , de Mick Jagger-Keith Richards , na trilha sonora . A música toca alto quando vemos pela primeira vez o personagem interpretado por John Goodman , o doidão que fornece todo tipo de droga ao amigo Whip Whitaker . O traficante Harling Mays está chegando ao hospital para visitar Whip , logo após o acidente , levando com ele um monte de revistas de sacanagem , um pacote de cigarros ( esses da indústria ) e uma grande quantidade de vodca ( que Whip recusará ) – e está ouvindo Stones em altíssimo volume . Por coincidência , ou não , “ Sympathy for the Devil também apareceu em outro filme com John Goodman e Denzel Washington , Os Possuídos ( 1998 ) . * O uso de canções como música incidental no filme é excelente . Há um momento em que Nicole joga sua bolsa numa mesa , e vemos material usado por drogados . Nesse momento ,
toca a música “ Under the Bridge ” , do Red Hot Chili Peppers , que tem a ver com uma experiência do vocalista do grupo injetando heroína na veia sob uma ponte no centro de Los Angeles . * Na primeira seqüência em que aparece a personagem Nicole , num estúdio de filmes pornô , alguém diz a ela que deveria fazer o papel de Desdêmona numa versão sacana de Othelo . A atriz que faz Nicole , a inglesa Kelly Reilly , já interpretou Desdêmona no West End de Londres , ao lado de Chiwetel Ejiofor no papel de Othello e Ewan McGregor no de Iago . * Já tinha havido um filme em que o piloto bebe demais e comanda um avião numa ressaca infernal , e , além disso , ainda põe o avião de cabeça para baixo . Chama-se Na Rota do Oriente ( 1093 ) , e o piloto era interpretado por Tom Selleck . Quanto mais dramas sérios sobre dependência de drogas , melhor O respeitabilíssimo site AllMovie deu apenas 3 estrelas em 5 ao filme . Em sua crítica , Perry Seibert escreve que a sequência inicial , a que mostra o trágico vôo , é uma peça inigualável de cinema , uma evocação implacável e perturbadora de uma experiência de se chegar bem perto da morte . “ Infelizmente , o resto de Flight é um drama antiquado sobre o vício . ” Não acho absolutamente antiquado fazer dramas sérios sobre alcoolismo e dependência de drogas . Na verdade , não há tantos assim . E quantos mais houver , melhor . Cada um tem o direito de ter sua opinião , é claro . A minha é de que O Vôo é um grande filme . 3 Comentários Concordo que é um grande filme , e que quanto mais filmes sobre dependência de álcool / drogas melhor . Uma amiga falou dele para mim , e eu resolvi ver ( queria saber se daria pra indicá-lo a uma prima , cujo marido é alcoólatra ) achando que seria chato , pois geralmente é o que ocorre com filmes sobre esses temas , mas acabei gostando . Tem as partes mais arrastadas , outras pesadas ( quem é que gosta de ver os outros se drogando ? ) mas o filme é mesmo bom . Eu não tenho paciência com viciados de maneira geral , para colocar de forma leve , não sinto empatia . E o que vejo geralmente em filmes assim é uma certa condescendência dos familiares , o que não ocorre aqui , e eu achei ótimo . Em certos momentos dá uma certa pena do Whip , afinal , ele é um excelente profissional e não é má pessoa ; e como lá as leis funcionam , enquanto assiste a gente vê que o futuro pode não ser muito bom pra ele , mas ao mesmo tempo as consequências não deixam de ser por causa de suas ações . Sobre a parte do filme que é pura
adrenalina , pelo que andei lendo não é possível que um avião daquele tipo voe de dorso por mais que alguns segundos , por causa do combustível ( de todo modo , aquela sequência é tipo UAU ) . E algumas manobras que o Whip e o co-piloto fazem parece que também não são possíveis naquela situação , mas é tudo eletrizante mesmo assim . No mais , Denzel está maravilhoso , como sempre , esplêndido em seus 58 anos . Eu dava no máximo 50 pra ele , e quase caí da cadeira quando vi que ele está com quase 60 ( adorei o “ deus Apolo ” – ele é um deus Apolo e muito mais ) . É um filme que recomendo , e sobre o tema acho que foi um dos melhores que já vi , mesmo com as partes puxadas ( mas como fazer um filme sobre vício em alcoolismo / drogas sem mostrar um pouco como é que funciona ? Ao menos o diretor não foi apelativo ) . Expressei mal meu comentário anterior quando disse que o Whip era um excelente profissional . Eu quis dizer que ele era excelente naquilo que fazia : pilotar aviões . Mas encher a cara de bebida e drogas e ir trabalhar colocando as vidas dos outros em risco não faz de ninguém um bom profissional , pelo contrário . Eu não lembro se ele fazia isso sempre , já faz um tempo que assisti , mas provavelmente sim . Lembro que uma das comissárias amiga dele , na hora em que a coisa começou a ficar feia , disse algo como “ eu te avisei ” , no sentido de “ eu disse pra você parar ” , assim como a ex também deve ter falado até cansar , não aguentar mais e se separar . Gostei principalmente da primeira parte que está de facto electrizante ; a continuação embora com qualidade perde um tanto em comparação . Gostei de voltar a ver o Denzel Washington numa boa interpretação depois de ter andado perdido em filmes de baixa qualidade . 5 Trackbacks [ … ] americanos naqueles anos . Forrest visita a Casa Branca em três oportunidades , e aí o diretor Robert Zemeckis – que domina como poucos os milagres dos efeitos especiais , da tecnologia , e já havia feito [ … ] [ … ] nasceu e o dia em que você descobriu por quê ” . O protagonista , interpretado pelo monumento Denzel Washington , é um leitor voraz de boa literatura . Aí , aos 30 minutos , o diretor Antoine Fuqua grita Shazam e [ … ] Postar um Comentário O seu email nunca é publicado ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * A Banda / Bikur Ha-Tizmoret De : Eran Kolirin , Israel-França-EUA , 2007 Nota : Anotação em 2009 : Um pequeno grande filme , uma pequena obra-prima . Um filme que trata de um dos mais graves problemas do mundo – o conflito
entre israelenses e árabes – com graça , com um suave humor , e um grande , incontido humanismo , um imenso respeito e afeto pelas pessoas comuns . E que , não contente em falar desse conflito , aborda ainda alguns temas eternos e básicos – solidão , família , dificuldade de comunicação , a desesperada necessidade de comunicar – de uma forma emocionante , tocante , ao mesmo tempo profunda e simples . Simplicidade , essa coisa tão difícil , tão complexa . A trama é simples como a conta de 1 + 1 , que às vezes dá briga , às vezes dá guerra , às vezes dá o infinito ( como em Lennon-McCartney ou Tom-Vinicius ou George-Ira Gershwin ) , e às vezes até dá 2 . Um grupo de oito policiais músicos egípcios é convidado para fazer uma apresentação em um centro cultural árabe em uma pequena cidade perto do deserto de Neguev , no Sul de Israel . É a Orquestra Cerimonial de Alexandria , e o uniforme de seus membros é tão emproado e imaculado quanto o nome da banda . Ao chegar ao aeroporto israelense , eles descobrem que não há ninguém da embaixada egípcia , ou do centro cultural , esperando por eles para levá-los até o local da apresentação . Estão perdidos , sozinhos , em terra estranha – estranha e inimiga histórica . A única forma de comunicação haverá de ser numa terceira língua , o inglês . Procuram informações , então , sobre como chegar a Bet Hatikva . Pegam um ônibus , e são deixados numa estrada à beira de um vilarejo mínimo , minúsculo . Depois de alguma hesitação , caminham até um pequeno restaurante , na verdade uma pequena lanchonete , onde perguntam pelo centro cultural árabe . A essa altura – estamos aí com uns dez minutos de filme - , o diretor Eran Kolirin já nos mostrou um pouco sobre aquele grupo de policiais músicos . O líder , o regente , é o tenente-coronel Tawifiq Zacharia ( Sasson Gabai ) , um homem sério , sisudo , rígido ; a admitir que está em apuros e precisa pedir ajuda externa , prefere fingir que a situação está sob controle e que eles conseguirão vencer os obstáculos . Lida com seus subalternos à maneira da caserna : dá ordens a seu imediato , para que ele as retransmita à tropa – mesmo sendo a tropa pequena e composta de músicos , não propriamente de soldados na frente de batalha . Seu imediato é Simon ( Khalifa Natour ) , sujeito paciente , controlado , que até se sai bem no papel de amortecedor entre as tensões entre a chefia e os chefiados . O terceiro elemento mais importante daquele pelotão musical egípcio perdido no meio do deserto israelense é Khaled ( Saleh Bakri ) , rapaz jovem , pouco afeito aos axiomas da farda , questionador das decisões do comandante . Então , com dez , 15 minutos de filme , no máximo
, estamos com o pelotão de oito egípcios em fardas imaculadas diante do pequeno restaurante , na verdade uma pequena lanchonete de um pequeno vilarejo perdido no meio do deserto . O tenente-coronel Tawifiq atravessa a rua e aproxima-se de dois civis sentados diante da lanchonete . O diálogo que vem a seguir é extraordinário : Tawifiq ( voz solene ) : – Good afternoon . Civil 1 , de camisa vermelha ( em hebraico , para dentro da lanchonete ) : – Dina , venha aqui . Um general quer falar com você . Tentam se entender . Dina pergunta quem os convidou , Tawifiq diz que foi o departamento cultural de Bitah Tikva , Dina e o civil perguntam se é Pitah Tikva . A Orquestra Cerimonial de Alexandria está longe , muito longe de onde deveria estar – e não há ônibus saindo daquele lugar em que estão neste dia ; eles terão que passar a noite ali . O que vai se seguir é uma pequena grande lição de como fazer cinema sério , maduro , adulto , que diz coisas , que provoca emoção no espectador , que investiga um microcosmo como exemplo do macro , do painel gigantesco – sem ser nem por um momento chato , sisudo , professoral , pretensioso , e sem se meter a criativóis , invencionices , maneirismos agrada-críticos . O encontro-desencontro entre o egípcio Tawifiq e a israelense Dani é mostrado com uma elegância e uma competência raras ; não é muito o que é dito , o que não é dito é uma imensidão , e tudo passa com muita força para o espectador . Aliás , o filme é extraordinário no tanto que os personagens não dizem , apenas mostram . Mary reparou como o diretor soube usar com maestria o silêncio , os momentos de silêncio . E o pouco que é dito é igualmente poderoso . O pequeno discurso de Dani sobre os tempos em que ela era jovem e via com a mãe filmes egípcios – “ nós todas amávamos Omar Sharif ” – é de chorar . As pessoas – o filme mostra esta grande verdade de uma forma magnífica , emocionante , tocante - , as pessoas comuns são muito maiores , mais sábias , melhores do que seus Estados , seus governos , as ideologias de seus países . Além do cinema , o que servirá para promover um pouco de encontro , um pouco de comunicação entre aqueles grupos tão absolutamente díspares , os policiais egípcios e os civis israelenses , será outra forma de arte , a mais universal delas , a música . Tocarão My Funny Valentine , Summertime , Noite Feliz . Khaled , fã de Chet Baker ( e a israelense Dani nunca ouviu falar dele ) , o violinista da banda , e um violonista não mais que sofrível , se demonstrará bom no sax . E com isso , com seu amor por Chet Baker e seu até então desconhecido talento para tocar
o sax , ele vai diminuir as distâncias que o separam de seu comandante e band leader . Tanto o egípcio Sasson Gabai , que faz o tenente-coronel , quanto a israelense Ronit Elkabetz , nos papéis principais , são extraordinários atores , dão um show de interpretação – contida , suave , profunda , sem explosão . São experientes , têm carreiras consolidadas em seus países . Ronit Elkabetz , essa atriz de presença forte , é também autora de roteiros e já dirigiu filmes . Só mais uma palavrinha sobre Ronit Elkabetz . Eu disse lá em cima que ela é uma mulher bonita , grande , figura forte , cabelos negros longos . Vou tentar descrever melhor . Ela de fato é uma mulher bonita , uma figura forte , uma presença extraordinária na tela – uma força assim à la Anna Magnani . Não é uma beleza Barbie , hollywoodyana , bollywoodyana , cinematográfica , global , padrão clássico . Não , é muito mais que isso ; é uma daquelas belezas fortes de gente normal , gente como a gente , não manequim , modelo – gente de carne e osso , belíssima carne , belíssimos ossos . Bela mulher , maravilhosa atriz . O diretor Eran Kolorin fez aqui seu primeiro longa-metragem , depois de ter escrito e dirigido episódios para TV . Este seu filme de estréia passou na mostra Un Certain Regard do Festival de Cannes de 2007 ; ganhou 38 prêmios em festivais mundo afora e teve outras nove indicações . Festivais mundo afora costumam premiar filminhos-cabeça , filminhos feitos para impressionar os críticos – o contrário deste filme aqui . Este aqui merece tudo quanto é prêmio . Merece ser aplaudido de pé , como na ópera . 2 Comentários Grande filme , mesmo . Vc já disse tudo , não há muito mais o que dizer . Ele é sensível mas ao mesmo tempo é duro , cru . Tudo nele é contido : as palavras , o silêncio , a música . A atriz é mesmo muito bonita , uma beleza natural , sem ser anoréxica ou sem estar penteadinha , como a beleza fabricada por Hollywood ou pela “ Grobo ” , como vc já disse . O ator que faz o Khaled tb é bem interessante . Desde a primeira vez que vi o personagem do coronel Tawifiq Zacharia , me deu vontade de chorar . Sei lá , ele tinha uma cara tão sofrida ( ou eu estava muito sensível ) , e quase no final ficamos sabendo que ele carrega mesmo uma grande dor . Enfim , é um filme bonito mas ao mesmo tempo difícil , pq mostra os infortúnios ocultos , e acho que cada pessoa tem pelo menos um . Vc só esqueceu de dizer uma coisa : homem não gosta de perguntar endereço em nenhum lugar do mundo , rs . Uma curiosidade sobre o filme , pra quem não sabe : ele foi barrado na lista de filmes estrangeiros
indicados ao Oscar , por ter muitas falas em inglês . Vai entender a Academia … Ah , e por falar nisso , até o inglês meio sofrível deles ficou interessante . P.S . : gostei da sua frase do 4º parágrafo : ) . Fiquei absolutamente encantado com este filme . Nunca tinha visto uma fita Israelita e , para estreia , fiquei impressionado . Por acaso , no fim , estive quase a levantar-me para aplaudir . Não digo mais , o Sérgio já disse tudo . Um Trackback [ … ] comentou que O Concerto a tinha feito se lembrar de outro filme extraordinário , outra obra-prima : A Banda , em que egípcios e israelenses , pessoas simples , gente comum , ficam se conhecendo através da [ … ] Postar um Comentário O seu email nunca é publicado ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * Livre / Wild De : Jean-Marc Vallée , EUA , 2014 Nota : Já vi muito filme na vida , mas acho que poucos começam com uma sequência tão violenta – e uma série de sequências tão francamente incomodativas , perturbadoras desagradáveis , repulsivas mesmo – quanto este Wild , que o diretor canadense Jean-Marc Vallée lançou em 2014 . O espectador ouve os ruídos de uma respiração absolutamente descontrolada antes de ver qualquer pessoa na tela . É um resfolegar forte , alto , que até parece ser de uma mulher no auge do gozo . Não , não é : é de uma mulher que sente muita dor , uma dor física imensa . Estamos diante de uma paisagem belíssima , estrondosa , o alto de uma montanha magnífica , e então a câmara mostra a heroína , na figura de Reese Witherspoon . Não , ela não está gozando . Está gemendo de imensa dor , porque tirou as botas e as unhas estão ensaguentadas . E então ela faz uma força imensa , e arranca a unha de um dos dedões dos pés , e dá um grito de dor imenso , gigantesco , incomensurável . Mas a violência da primeira seqüência de Wild não terminou ainda , não , senhor . O movimento que Cheryl , a personagem interpretada por Reese Witherspoon , faz para arrancar a unha é tão violento que a bota que ela havia retirado para examinar o estado lastimável de seus pés acaba caindo ribanceira abaixo . Uma ribanceira imensa , incomensurável como a dor de quem arranca a unha do seu próprio pé . Diante da tragédia , Cheryl pega o outro pé de sua bota , tornado agora absolutamente inútil , e o joga montanha abaixo , enquanto dá um berro furioso de fuuuuuuuuck ! Claro : Cheryl está absolutamente sozinha numa montanha altíssima , longe de qualquer sinal de civilização , e terá a partir de agora que andar sem as botas . Pensei bastante em parar o filme naquele exato momento . Por que , raios , eu , que absolutamente morro de
medo de qualquer pequena dor , iria me expor a um filme que começa com uma pessoa arrancando a unha do dedão , e que vai ter que a partir daí caminhar sem botas para proteger os pés ? O desempenho de Reese Witherspoon teve loas e muitos prêmios Resolvi continuar vendo o filme – sem saber absolutamente nada sobre Jean-Marc Vallée , canadense do lado de fala francesa , o diretor – porque ele tem sido fartamente elogiado , e o desempenho de Reese Witherspoon tem recebido loas e mais loas . A atruz recebeu indicações para o Oscar , o Globo de Ouro , o Bafta e o prêmio do Screen Actors Guild , o sindicato dos atores , e mais diversas indicações em festivais ao redor do mundo – e de fato seu desempenho é extraordinário , magnífico . E o filme , de resto , é soberbamente bem realizado em todos os quesitos técnicos – fotografia , movimentos de câmara , trilha sonora , direção de arte , reconstituição de época – a ação se passa duas décadas atrás , em meados dos anos 1990 . O roteiro ( de Nick Hornby , o autor dos livros que deram origem a Alta Fidelidade , 2000 , e Um Grande Garoto , 2002 ) usa e abusa , como tem sido cada vez mais comum , de idas e vindas no tempo , misturando o hoje , os dias em que Cheryl está caminhando , com acontecimentos do passado da moça . Sim , tem diversas qualidades , sem dúvida alguma . Eu , pessoalmente , achei que enfrentar aqueles 115 minutos de duração de Wild é uma experiência torturante , excruciante , pavorosa . Wild mostra uma bela loura se chicoteando ao longo de 115 minutos O filme se baseia numa história real , que foi contada num livro de memórias publicado por Cheryl Strayed em 2002 , Wild : From Lost to Found on the Pacific Crest Trail – selvagem : de perdida a achada na Trilha Crista do Pacífico . O livro foi um fantástico sucesso ; ficou durante sete semanas consecutivas como número 1 da celebrada lista de best-sellers do New York Times ; três meses e pouco após ser lançado , foi escolhido para abrir a seleção do Clube do Livro de Oprah Winfrey 2.0 . Já teve tradução em mais de 30 línguas . É um relato em primeira pessoa de como Cheryl , em 1995 , aos 26 anos de idade , caminhou sozinha por 1.800 quilômetros na Pacific Crest Trail . Vamos lá : 1.800 quilômetros é pouco menos que a distância , por estradas , entre São Paulo e Salvador . É muito chão . A Pacific Crest é uma trilha para andarilhos que atravessa os Estados Unidos de Sul a Norte – começa junto da fronteira do México , não muito longe de Tijuana , no México , e San Diego , na Califórnia , e vai até a fronteira com o Canadá , não muito distante
de Vancouver . Passa pelos Estados da Califórnia , Oregon e Washington . A trilha fica de 160 a 240 km da costa do Pacífico – e boa parte dela é no cume de largos trechos da Sierra Nevada e Cascade , embora haja também um trecho dentro do deserto de Mojave , perto da fronteira de Califórnia e Nevada . Ela alterna altitudes desde praticamente 0 , ou seja , o nível do mar , até 4 mil metros , no topo da Sierra Nevada . Ou seja : não é bolinho . De jeito nenhum . Não é pra qualquer um . Não é para amadores . É para montanhistas e andarilhos experimentados , tarimbados , treinados . O filme mostra que Cheryl não era uma montanhista e / ou andarilha experimentada , tarimbada , treinada . De forma alguma . Era uma danada de uma amadora : pelo jeito , nunca tinha sequer armado uma barraca na vida . Não compra o gás correto , e então passa os primeiros dias sem poder usar o fogareiro – só para dar um pequeno exemplo . E até mesmo usava botas mais apertadas do que seria o recomendável ! Para os montanhistas e andarilhos experimentados , tarimbados , treinados e bem equipados , fazer essa trilha deve ser uma experiência gloriosa , extasiante , nirvânica , celestial : a paisagem é estrondosamente maravilhosa . A questão é que Cheryl não está fazendo a trilha para aproveitar a vista , a beleza : está se submetendo a uma provação para pagar pecados , para expiar culpas , para se livrar do peso dos erros que vinha acumulando nos últimos meses , depois que sua mãe , Bobi , uma mulher forte , alegre , cheia de vontade de viver ( bem interpretada por Laura Dern , na foto abaixo ) , havia morrido de câncer . Após a morte de Bobi , Cheryl abandonou o marido , Paul ( Thomas Sadoski ) , o estudo , o emprego , tudo , para se afundar na heroína e numa trepação sem fim , com o primeiro que aparecesse – e apareceram dezenas . Até que então um dia resolveu parar com aquela dissipação autodestrutiva e , para pagar os pecados , para expiar as culpas , para se livrar do peso dos erros , submete-se à tarefa dura , duríssima , de enfrentar a trilha por montanhas e desertos , do cume gelado ao calor sufocante . Mais ou menos como aqueles religiosos medievais que se chicoteavam . Wild é um filme que mostra uma bela loura se chicoteando ao longo de 115 minutos . Convenhamos : não é nada agradável . Nada , nada , nada , nada . Quem não está a fim pagar pelos pecados , o que é que tem a ver com todo aquele sofrimento ? Um diretor competente , seguro , que domina o ofício Mas é uma história real , e , afinal de contas , uma história de superação . Cheryl , que
, ao se divorciar de Paul , passou a adotar oficialmente como sobrenome o adjetivo strayed – perdido , desgarrado , extraviado – ao fim e ao cabo deu a volta por cima , tornou-se famosa e respeitada entre os trilheiros americanos e , ao contar sua experiência de se chicotear , vendeu muitos livros , deve ter juntado um monte de dinheiro . E então , é claro , o filme agrada às platéias . O Box Office Mojo não tem o valor do custo do filme , mas mostra que ele rendeu US$ 52 milhões ( US$ 37,8 no mercado interno , US$ 14,6 mundo afora ) . Não é um blockbuster , mas é um belo resultado para um drama sobre seres humanos . Sim : Jean-Marc Vallée , o diretor . Nascido em Montreal , em 1963 , tem 13 títulos na filmografia como diretor , entre eles o recente e muito badalado Clube de Compras Dallas ( 2013 ) , o bom A Jovem Rainha Victória ( 2009 ) e C.R.A.Z.Y . – Loucos de Amor ( 2005 ) . Pelo que vi dele , A Jovem Rainha Victória e este Wild aqui , é competente , seguro , domina o ofício . A Cheryl real aparece em uma tomada , e sua filha faz o papel dela criança A indicação de Reese Witherspoon ao Oscar foi sua segunda , e de novo por interpretar uma personagem real : ela havia sido indicada antes pelo papel de June Carter , a cantora da sagrada família do country que se casou com Johnny Cash , em Johnny & June / Walk the Line ( 2005 ) . Naquela ocasião , Reese levou a estatueta para casa . Wild teve outra indicação ao Oscar : Laura Dern , que faz , como já foi dito , a mãe da protagonista Cheryl , foi indicado ao prêmio de melhor atriz coadjuvante . Nenhuma das duas levou – mas suas interpretações são de fato extraordinárias . Na vida real , Laura Dern é apenas nove anos mais velha que Reese Witherspoon : a primeira nasceu em 1967 , e a segunda , em 1976 . O IMDb aponta , em sua página de Trivia – informações , histórias sobre a produção – , que a verdadeira Cheryl Strayed tinha 26 anos quando começou a fazer a trilha Pacific Crest ; Reese Witherspon estava bem mais velha , tinha 38 quando o filme foi feito . Não que isso seja um defeito , ou chegue a comprometer : a atriz parece ter uns 30 anos . E Reese Witherspoon tem tudo a ver com o filme , com o papel . A própria autora mandou os originais para a atriz , antes mesmo da publicação do livro , porque achava que ela seria perfeita para interpretar o papel . Reese e seu agente não são bobos nem nada , e imediatamente compraram os direitos de filmagem do livro – antes que ele virasse o estrondoso sucesso que virou . Cheryl
Strayed aparece rapidissimamente no filme , embora nem dê para ver seu rosto direito . Ela faz a motorista que dá uma carona a Cheryl–Reese bem no inicinho da narrativa , e a deixa no motel em que ela passa uma noite antes de ir para o início da trilha , no extremo Sul da Califórnia , junto da fronteira com o México . Nas sequências de flashback , em que a protatonista se lembra de acontecimentos da sua infância , quem faz papel dela criancinha é a filha de Cheryl na vida real , Bobbi Strayed Lindstrom . Sim : ao final de sua aventura pelos 1.800 quilômetros da Pacific Crest Trail , Cheryl Strayed deixou de ser strayed , perdida , desgarrada , extraviada . Em 1999 , casou-se com o diretor de cinema Brian Lindstrom ; vivem em Portland , Oregon , não muito longe do final da trilha , e têm dois filhos . Além de seu livro autobiográfico que deu origem ao filme , Cheryl Strayed publicou outros dois , Torch e Tiny Beautiful Things : Advice on Love and Life from Dear Sugar . Agora , por que raios os exibidores brasileiros mudaram o título do filme de Wild – selvagem – para Livre , ah , isso aí nem Freud seria capaz de explicar . Os filmes que não suportei ver até o fim ( 4 ) São bem poucos . Sempre tive uma paciência de Jó , um estômago forte para agüentar abacaxis . Com a existência , nos últimos anos , deste site , passei a abandonar pela metade ainda menos filmes do que antes . É uma coisa insana , eu sei . Mas é pragmático : se vejo até o fim , posso fazer mais um post , e manter o compromisso ( insano , eu sei ) que assumi comigo mesmo de botar um post novo a cada dia . É uma relação pequena , mas bem eclética , com filmes de diferentes estilos , vindos de diferentes países . E não são só abacaxis . Alguns têm qualidades , são admirados por muita gente – mas não me bateram , só isso . Tudo Isto é Fado , co-produção Portugal-Brasil , começa com samba , e com belas imagens do Rio de Janeiro . Os protagonistas são dois rapazes , amigos , um português trambiqueiro e um brasileiro dono de uma loja de aluguel de DVDs e venda de livros . Parece que eles vão depois de algum tempo parar em Portugal , onde conhecem uma garota e se apaixonam os dois por ela e partem os três para um grande golpe . Mas não chegamos à região do fado . Os atores são tão ruins , mas tão ruins , mas tão ruins , de dar vergonha na gente , de deixar o espectador embaraçado , sem jeito , que tiramos o filme com uns dez , 15 minutos . Uma pena danada , porque o diretor Luís Galvão Teles havia me deixado uma impressão muito
boa quando vi Mulheres – Amizades Simples , Vidas Complicadas / Elles , que ele dirigiu em 1997 . Elles tem um elenco ótimo – Miou-Miou , Carmen Maura , Marthe Keller , Marisa Berenson , Joaquim de Almeida . Já este aqui tem Deborah Secco ; ela aparece numa seqüência bem no começo do filme ; encontra-se com o rapaz dono da locadora , em uma confeitaria linda do Rio – será a Colombo ? É bonita , a moça ; bela presença . Mas quem disse que um rosto bonito e um corpão dispensam saber atuar ? Parece que a intenção deste filme é nobre : denunciar , criticar essa coisa da sociedade moderna de transformar a violência em show , a indústria do infotainment da televisão – os programas que misturam informação e entretenimento para mentes pobres e / ou doentias . Parece que é isso que o filme pretende . A questão é aquela antiga : ao tentar criticar uma realidade , ele acaba fazendo exatamente como aquilo que pretende criticar – o filme se diverte com a violência , brinca com ela . A ação começa com dois sujeitos chegando a Nova York , um russo e um tcheco . O tcheco é o líder , o russo é um gozador , tira fotos de tudo ; ao funcionário da alfândega que pergunta o propósito de sua viagem , faz um discurso gozativo sobre a América , terra dos bravos e da liberdade . Os dois vão à casa de um outro russo , ou tcheco , que evidentemente participou de um assalto com eles , acabou ficando com todo o dinheiro e fugiu para os Estados Unidos , enquanto os dois foram presos . Quando o tcheco ouve o antigo comparsa dizer que gastou o dinheiro , mata-o a golpes de faca , e mata também a mulher dele , enquanto o russo filma tudo com uma câmara que tinha acabado de roubar de uma loja . Entre uma seqüência e outra sobre essa dupla , vemos uma discussão em um canal de TV sobre violência e ibope . Uma executiva do canal quer suavizar um programa tipo Datena ; o Datena deles insiste em que o povo quer ver é violência . E rapidinho vemos que ele tem um contrato com um policial – interpretado por um Robert De Niro careteiro e preguiçoso – que se deixa filmar durante suas ações . Aí aparece Edward Burns , esse bom diretor e ator que precisava de dinheiro , como todo mundo , e se sujeitou a trabalhar nesta josta . Ele anda no Central Park , é interceptado por um rapaz que quer assaltá-lo ; avisa que é fria , o rapaz insiste , ele dá umas porradas no pivete e o algema em uma árvore e continua indo para onde está indo ; é um investigador dos bombeiros , e vai examinar o que sabemos que é o prédio onde moravam o russo e sua mulher , assassinados pelo tcheco invocado , que
em seguida ateou fogo no imóvel . Eram uns 15 minutos do filme que pretensamente quer denunciar a busca frenética , louca pelos 15 minutos de fama que une policiais e gente dos meios de comunicação . Deu pra mim – tive a sanidade de apertar a tecla stop . A Bela Junie / La Belle Personne De Christophe Honoré , França , 2008 Com Léa Seydoux , Louis Garrel , Grégoire Leprince-Ringuet Roteiro Christophe Honoré e Gilles Taurent “ Livremente inspirado ” no livro La Princesse de Clèves , de Madame de Lafayette Produção Arte France , Scarlett Productions Cor , 90 min A bela Junie ( Léa Seydoux ) , uma garota de uns 16 anos que perdeu a mãe , chega a um novo colégio . Passeia pelos corredores e salas com seu rosto belo e triste e vira a cabeça de professores e alunos . As seqüências dentro e fora das salas de aulas são longas , entediantes , chatas , chatas – e apertamos a santa tecla de Stop com uns 15 minutos de chatice . A capinha do DVD diz que Christophe Honoré é “ um dos mais talentosos e intrigantes autores da nova geração do cinema francês ” e que Anne Seydoux “ tem algo de uma jovem Anna Karina , que foi uma das musas de Godard ( e da nouvelle vague ) ” . Verdade , tem mesmo . Quando eu tinha 15 anos , adorava Godard e achava Anna Karina o máximo . Não tenho mais 15 anos . Sim , é uma raridade no cinema brasileiro dos últimos anos , e também uma ousadia : um filme de época , que reconstitui a vida no Rio de Janeiro de 1899 . São basicamente duas histórias paralelas : a de Oswaldo Cruz ( Bruno Giordano ) , voltando ao Brasil depois de três anos de estudos no Instituto Pasteur , em Paris , e chegando a um Rio abandonado , sem as mínimas condições de higiene , assolado por epidemias , e a de Esther ( Carolina Kasting ) , uma jovem judia polonesa atraída para uma terra distante pela promessa de um casamento , e que , ao chegar , descobre que está presa a um esquema de tráfico de escravas brancas e obrigada a trabalhar num bordel . Oswaldo Cruz e Esther chegam no mesmo navio , no início da ação – e a partir daí o filme vai mostrando , paralelamente , suas histórias . Me esforcei para ver , mas não consegui passar de uns 20 minutos . Apesar das boas intenções , da coragem de fazer um filme de época , de até conseguir bons resultados com o figurino e a direção de arte , infelizmente tudo me pareceu muito , mas muito ruim , com atuações horrorosas dos atores principais , situações de dar vergonha no espectador , em especial nas cenas no bordel . Foi o primeiro filme do diretor André Sturm , que fundou a produtora e distribuidora Pandora Filmes . Foi
também a estréia no cinema da atriz catarinense Carolina Kasting , que fez vários trabalhos na TV ( Hilda Furacão , Cabocla ) . Tenho o estômago forte – ou , no mínimo , não tão fraco quanto muita gente . Não sou apaixonado por filmes de terror , mas gosto . No entanto , não fui longe neste filme espanhol que , parece , tem sido muito bem falado . Vi uns 20 minutos de filme , e aí não agüentei mais . Desliguei o DVD bastante assustado . Não é que o filme seja ruim . De forma alguma . Muito ao contrário : é bom , bem feitíssimo . Mas a violência é forte demais . A idéia inicial é de fato excelente – o novo cinema espanhol é rico em idéias inteligentes , grandes sacadas . Uma jovem repórter de TV , Angela Vidal , interpretada por Manuela Velasco , bonita e ótima atriz , que trabalha para um programa chamado “ Enquanto Você Dorme ” , está fazendo uma reportagem sobre uma noite na vida de uma equipe de bombeiros . Vai a um quartel dos bombeiros , com seu cinegrafista , Pablo , e começa a fazer entrevistas lá . No meio da noite , surge um chamado : moradores de um prédio de apartamentos ouviram gritos pavorosos no apartamento de uma senhora ; a porta estava trancada . Uma unidade da polícia já estava lá , mas os bombeiros vão também . A grande sacada é que o filme que estamos vendo é o que o cinegrafista Pablo está filmando . É como se a câmara dos cineastas Jayme Balagueró e Paco Plaza fosse exatamente a câmara do cinegrafista Pablo . E os movimentos da câmara são ótimos , os atores são bons , é tudo rápido , nervoso . Mas a violência é assustadora . Agüentei a primeira onda de violência – quando policiais e bombeiros entram no apartamento , a mulher morde o pescoço de um dos policiais , que vai perdendo sangue rapidamente , ali , diante do espectador . Mas , quando veio a segunda onda – um policial caindo de um andar para outro , abrindo um buraco no teto do térreo – , foi demais para mim . Quem tiver coragem deveria ver . O filme é de fato bem feitíssimo , os caras têm talento . Que me lembre nunca consegui assistir a um filme Português , até ao fim . Aliás vi , ou tentei ver tão poucos … Talvez há muitos anos e não me lembre . Nem me lembro do nome do último que tentei ver , apenas me recordo que tinha um actor de que gostava muito e que já faleceu – Mário Viegas . Teve um programa na tv sobre poesia ( ele dizia muito bem poesia ) e no YouTube há algumas poesias retiradas desse programa . Recomendo uma mirada . Um Amor de Tesouro / Fool’s Gold De : Andy Tennant , EUA , 2008 Nota : Anotação em
2009 : Este aqui é um daqueles filmes de aventura que o cinemão americano faz sempre – é tão imbecil , tão babaca , tão desprovido de qualquer lógica ou seriedade , tão inverossímil , que às vezes fica até engraçado . Para quem gosta de passatempo com belas paisagens , muitos tiros , tapas , explosões , é um prato cheio . A trama é intrincada , como se usa atualmente no cinemão de Hollywood , com um bando grande de personagens , e subtramas , e encontros , e surpresas nunca muito surpreendentes . Mas , basicamente , trata-se de um casal de aventureiros-mergulhadores-pesquisadores , um tanto à la Indiana Jones , que passaram anos à procura de um fantástico tesouro – o dote para a nova rainha da Espanha , em seu casamento com o então rei Felipe número não importa qual – que seria levado das Américas para a Espanha em galeões que naufragaram no Caribe em 1715 . Quando a ação começa , o casal de mocinhos está separado ; está , especificamente , para se divorciar , a pedido dela . Ele está enrolado em dívidas para com um cantor de rap bandidaço dono de uma ilha no Caribe , e tentando pelo bilionésimo mergulho encontrar traços do tal tesouro submergido . Ela está trabalhando como iatemoça no barco gigantesquérrimo de um bilionário , que , por uma dessas coincidências fantásticas , está naquele momento ali por perto daquela ilha específica do Caribe . Mocinho e mocinha vão se encontrar , é claro . Ela parece odiar o marido , mas na verdade continua apaixonadíssima . Tudo como manda o figurino , tudo óbvio . O casal é interpretado pela dupla Matthew McConaughey-Kate Hudson , que havia tido um bom sucesso em 2003 com Como Perder um Homem em Dez Dias ; a indústria sempre gostou de usar casais na tentativa de repetir sucessos . O casal em questão não chega , é claro , a não ser nenhum Spencer Tracy-Katharine Hepburn , mas por que não ser , assim , nesta primeira década do século , algo como Rock Hudson-Doris Day dos anos 60 ? McConaughey – que começou bem , fez bons papéis em Amistad e Contato , ambos de 1997 , antes de virar arroz de festa em comedinhas românticas , é do tipo bonitão , e então os produtores tiveram o cuidado de botá-lo em cena a maior parte do tempo sem camisa , exibindo os brações malhados . Kate Hudson , a filha de Goldie Hawn , tem um daqueles rostos tão barbiemente perfeitos que parece criação de designer gráfico , e também tem feito comédias românticas às mancheias . Por que diabos será que os produtores não a mostram mais tempo sem tanta roupa ? Houve aí um caso claro de privilegiar o homem-objeto , para felicidade das mulheres e do público gay-homem . Mas e nós , os espectadores homens , e o público gay-mulher ? Bem , brincadeira à parte , é preciso dizer que tanto
o bonitão McConaughey quanto a barbiemente linda Kate fazem mais caretas estapafúrdias neste filme do que Jim Carrey e Burt Lancaster conseguiram ao longo de todas as carreira deles . E temos ainda Donald Sutherland no papel do biliardário dono do big iate . Sutherland , grande ator , é daqueles que trabalham demais ; deve fazer uns três filmes por ano , e não parece ser muito exigente – topa tudo por dinheiro , até uma bobagem como esta aqui . O biliardário Nigel que deram para ele interpretar tem uma filha que é assim uma espécie de Paris Hilton ; Gemma ( Alexis Dziena ) tem a inteligência e a sensibilidade de uma minhoca e a futilidade de uma starlet pós-sucesso no BBB nº 429 – mas a gente sabe que no fim tudo vai dar certo , ela e papai vai resolver as diferenças . E , ao contrário do que diz a letra de Leonard Cohen , e do que acontece tantas vezes na vida real , os bandidos vão se dar mal e os mocinhos vão vencer . Pelo que vejo na filmografia dele , os melhores momentos do diretor Andy Tennant foram Anna e o Rei , de 1999 , uma versão sem música da história de O Rei e Eu com Jodie Foster , e Hitch , Conselheiro Amoroso , a comedinha romântica simpática com Will Smith e Eva Mendes , de 2005 . Vejo no iMDB que o filme foi rodado na Austrália . Agora , por que na Austrália , se o próprio Caribe fica ali muito mais perto de Hollywood , é um mistério tão complicado quanto tentar entender por que eu agüentei ver este filme inteirinho , até o fim , apesar das sugestões da Mary para , no mínimo , darmos umas avançadinhas rápidas . Um Comentário Vai ver não privilegiaram cenas da barbie sem roupa pq a barbie é uma bruxa , como diria Rubem Alves . Tá , tá , nada a ver . Como o cinema já apresenta nudez feminina em 99,9% das vezes , de certo resolveram dar um refresco e decidiram presentear as mulheres : D . Pena que o filme é uma bomba e eu não vou ver os músculos do McConaughey . 3 Trackbacks [ … ] Famosos ; o filme teve muita badalação e sucesso , e a menina tinha apenas 21 anos . Se fizer menos comedinhas românticas babacas e aproveitar a sorte que teve por trabalhar com Altman ( Dr . T e as Mulheres ) e James Ivory ( Le [ … ] [ … ] tenha sido por isso que tenha me divertido com esse filmezinho menor . Bobo , mas gostosinho . Andy Tennant não é nenhum Hawks , o escocês Gerard Butler teria que crescer muito para chegar ao charme de [ … ] Adivinhe Quem Vem para Jantar / Guess Who’s Coming to Dinner De : Stanley Kramer , EUA , 1967 Nota : É fascinante , espantoso , chocante como Adivinhe Quem
Vem para Jantar é um grande filme . Mal me lembrava que tinha visto antes . Claro , sabia de muita coisa sobre ele , porque é um filme marcante , importantíssimo , mas tinha até dúvidas se já vira antes ou não . Tive que consultar minhas anotações . Elas dizem que vi , sim , o filme , em 1969 – mas eu de fato me lembrava muito pouco dele . Foi um choque revê-lo agora – é um filme extraordinariamente bom . Ele é tão bom quanto é importante – mas entre ser importante e ser bom há distância tão grande quanto intenção e gesto . Deus e o Diabo , por exemplo , é importantérrimo . Tudo que Gláuber fez é importantérrimo . Todo o Godard dos anos 60 é mais do que importantérrimo . Jamais vou rever Gláuber , Godard . É importante , importantérrimo , pode até ser genial – mas é chato , profundamente chato , horrorosamente chato , cruelmente chato . A vida é curta demais – não vou perder meu tempo com coisa profundamente , horrorosamente , cruelmente chata . Rever Adivinhe Quem Vem para Jantar foi uma experiência maravilhosa , gratificante , emocionante . Que belo filme ! Não é preciso ser chato para ser bom e ser importante . Essa é uma verdade que os cinéfilos de nariz empinado desconhecem . Os cinéfilos de nariz empinado acham que , para ser bom , um filme tem que ser profundamente , horrorosamente , cruelmente chato . Adivinhe é uma demonstração clara de que um filme pode ser bom , e importante , sem ser chato . Os Estados Unidos só acabaram legalmente com seu próprio apartheid em 1964 O mundo mudou demais , de 1967 , quando Stanley Kramer fez Adivinhe , até hoje . São 46 anos , quase meio século . Em muitas coisas , mudou para pior ; em muitas outras , para melhor . Especificamente sobre racismo , o tema do filme , houve imensos avanços . ( Não no Brasil dos últimos 11 anos , em que houve violento retrocesso , mas eu gostaria de não falar de cotas , do racialismo que o PT vem implantando no Brasil , nesta anotação . Vou fazer um imenso esforço para não falar sobre isso . ) Especificamente sobre racismo , houve avanços imensos . O nojento apartheid da África do Sul foi derrubado , sepultado . A África do Sul teve a sorte imensa de contar com um dos maiores estadistas de que a História tem notícia para conduzir o processo de saída do apartheid rumo a uma sociedade plural . Nos Estados Unidos , em especial , os avanços foram formidáveis . Até os anos 60 , em diversos Estados americanos – o país que se diz do sonho e da esperança – , o segregacionismo era legal , garantido por lei . Não tinha o nome ignominioso de apartheid , mas era idêntico a ele . As pessoas de pele negra tinham que se
sentar atrás nos ônibus , não tinham direito a voto ; havia banheiros separados para as pessoas de pele clara e as pessoas de pele escura . Havia bares , lojas que não admitiam a entrada de pessoas de pele escura . Tudo legal , garantido por leis . O casamento entre pessoas de cor de pele diferente era proibido por lei . Um diálogo extraordinário do filme nos lembra que isso era lei em 16 ou 17 dos 51 Estados americanos . Não canso nunca de lembrar que apenas em 1964 , durante o governo de Lyndon B . Johnson , foi aprovado o Civil Rights Act que proibiu a discriminação contra minorias raciais , étnicas , nacionais e religiosas . Os Estados Unidos só acabaram legalmente com seu próprio apartheid em 1964 – apenas 30 anos antes do fim do regime nojento , abjeto , da Áfríca do Sul . O filme é uma beleza de estudo sobre a distância entre intenção e gesto Nas últimas décadas , passou a ser politicamente incorreto ser racista , no país da economia mais poderosa do mundo . Em 2008 , um homem de pele escura foi eleito presidente do país . Lembrar essas verdades , essas obviedades todas , é fundamental para se compreender bem a grandeza do filme de Stanley Kramer . Não que ele seja um filme velho , datado . De forma alguma . Adivinhe Quem Vem para Jantar é hoje um filme tão poderoso , fascinante , como era quando feito , quase meio século atrás , quando o mundo , e os Estados Unidos em especial , era muito pior , em relação ao racismo . Hoje , quando o pior do racismo nos Estados Unidos já passou , já virou poeira da História , dá para admirar o filme como uma beleza de estudo sobre a distância entre intenção e gesto . Os pais da moça loura não são reacionários ; são liberais , progressistas Embora este seja um dos filmes mais emblemáticos , mais importantes dos anos 60 , não é obrigatório que todo mundo saiba do que se trata , e então vai aqui uma sinopse . No Havaí , um homem , John , e uma mulher , Joey , se apaixonam . A primeira tomada do filme mostra um avião se aproximando – John e Joey estão chegando do Havaí para San Francisco , a cidade dela . John , veremos mais tarde , tem 37 anos , já havia sido casado e perdera a mulher e o filho num desastre . Joey tem 23 anos . Chegam a San Francisco para que Joey apresente o futuro marido aos pais . John é um médico de currículo perfeito , respeitadíssimo no meio , com cargo na Organização Mundial de Saúde . Vem na pele negra e lindérrima de Sidney Poitier . Joey ( Katharine Houghton ) é branca , loura . Mas a questão principal é que os pais de Joye são liberais , no sentido político e americano do
termo , ou seja , avançados , progressistas , pra frente . O pai de Joey , Matt Drayton , veremos em seguida , é o dono de um jornal progressista ; passou a vida defendendo o que é correto . Combateu as injustiças durante toda a vida . Era um defensor dos direitos civis , da igualdade de direitos . Joey tem absoluta certeza de que os pais aceitarão como natural o fato de estar para se casar com um negro . Quando se trata da filha , porém , surge a distância entre intenção e gesto , entre a certeza política na teoria e a prática . Tanto a mãe de Joey , Christina ( interpretada pela maravilhosa Katharine Hepburn ) , quanto o pai ( o gigante Spencer Tracy , em seu último filme ) ficam perplexos quando a intenção liberal , honesta , correta , se choca com o gesto , a verdade dos fatos . O filme nos questiona , nos provoca Se a humanidade não se destruir , seja através de bombas atômicas coreanas do Norte , iranianas , israelenses , seja através da incapacidade de compreender que as mudanças climáticas são assunto sério demais , é bem possível que lá pelo ano de 3013 Adivinhe Quem Vem para Jantar seja mostrado nas aulas de História como uma beleza de exemplo não apenas da questão maior – aquela doença perversa , felizmente então já há muito desaparecida , do racismo – , mas também sobre essa coisa tão humana que é a distância entre intenção e gesto . A grande sacada do filme é exatamente o fato de que os pais de Joey são liberais , intelectuais , anti-racistas – mas de repente têm que enfrentar o fato de que o que pensam , ou acham que pensam , vire verdade com sua própria filha . As distâncias entre intenção e gesto podem ser enormes , amazônicas , jupiterianas . Tipo : você é uma pessoa boa , esclarecida , anti-homofobia . Tem bons amigos e amigas gays , e os admira . Mas de repente sua filha diz que é lésbica . Não é a mesma coisa . Pior ainda : você é uma pessoa boa , esclarecida , anti-homofobia . Tem bons amigos e amigas gays , e os admira . Mas de repente seu filho diz que é homo . Como assim : meu filho é veado ? Ahnn … Será que estarei me fazendo compreender ? Dou outro exemplo . Digamos que Joaquim da Silva é ( assim como eu mesmo sou ) absolutamente contra a pena de morte , e contra a Lei de Talião , aquela do olho por olho , dente por dente . Absolutamente , ferozmente , profunda , profundamente contra . Tudo bem . Suponhamos agora que , num sequestro-relâmpago que se deu mal , um bandidinho mate a filha do correto , íntegro Joaquim da Silva . E que as gravações dos circuitos internos , e mais um criterioso trabalho da Polícia , identifiquem
o assassino da sua filha . Continuaria ele sendo contra a pena de morte ? Contra a Lei do Talião ? Um dos muitos brilhos do filme é este : ele nos põe na situação de quem foi surpreendido por uma notícia que não esperava . O racismo nos olhos dos outros é refresco . O mesmo com a homofobia . É isso que o filme nos diz , nos joga na cara , nos questiona , nos provoca . Alguém poderia argumentar que a estrutura é teatral . Que é melodrama . E daí ? Ao rever esta maravilha agora , fiquei pensando em que tipo de argumento alguém poderia usar para dizer que é um filme ruim . Bem , boa parte dos cinéfilos de nariz empinado poderia simplesmente dizer que é um filme americano . Essas pessoas deveriam ganhar – como diria o Elio Gaspari – uma passagem de ida , sem volta , para Havana , Caracas ou Pyongyang . Hahá , mas sempre haveria também quem dissesse que é uma estrutura muito teatral . Que se desenrola como um melodrama . Que é tudo muito esquemático , simples , fácil . Uma parceria que nas telas durou um quarto de século . Quando fizeram o primeiro filme , em 1942 , ele estava com 42 anos ( é de 1900 , nove anos mais velho que minha mãe ) , e ela tinha 35 ( nasceu em 1907 ) . Já eram grandes astros , com filmografias respeitáveis . Spencer Tracy morreria no mesmo ano em que o filme foi produzido ; tinha apenas 67 anos , mas parecia muito mais , o que é natural – com o passar do tempo , as pessoas foram envelhecendo cada vez mais com aspecto jovem . Bruce Springsteen , só para dar um exemplo , comemorou 64 durante sua estadia no Brasil , em setembro de 2013 , exibindo um fôlego de garoto de 20 . Katharine viveria até 2003 . Creio que , até a consagração de Meryl Streep , Katharine foi a recordista de Oscars . Teve incríveis 12 indicações ao prêmio e venceu quatro , uma delas exatamente por seu papel como Christina Drayton neste filme aqui . Spencer Tracy teve um pouco menos : sete indicações ( uma delas , já póstuma , por sua interpretação como Matt Drayton ) , das quais venceu duas . Spencer Tracy é uma daquelas figuras que são muito mais importantes do que qualquer prêmio . Me permito transcrever aqui o que escrevi depois de ver um dos muitos belos filmes estrelados por ele , Conspiração do Silêncio / Bad Day at Black Rock : Spencer Tracy estava com 55 anos em 1955 , mas parecia mais velho . Homens e mulheres pareciam mais velhos , meio século atrás . Spencer Tracy tinha o cabelo todo branco , aos 55 anos , e os ares de um senhor de uns 70 . Talvez porque carregasse nos ombros uma carreira longa , esplêndida , extraordinária , e uma
imagem imaculada de o mais respeitado ator do cinema americano . Poderia não ser o mais famoso , ou o que desse maior bilheteria , mas era o mais respeitável , o mais respeitado . ( … ) Spencer Tracy era o retrato acabado da dignidade . ” Dignidade é um produto que há de sobre neste filme Dignidade – comentou Mary , quando li esse trecho que havia escrito sobre Spencer Tracy para ela – é um produto que há de sobra em Adivinhe Quem Vem para Jantar . Sem dúvida . O trailer de Adivinhe ressalta o fato de que seus três atores principais são vencedores do prêmio da Academia . É um bom argumento para vender o filme para as platéias . Mas poderia perfeitamente ter ressaltado também o fato de que os três atores principais são exemplos de dignidade . Eles – assim como seus personagens . O personagem interpretado por Sidney Poitier é digno – e belo – como o próprio ator . O médico gênio John Prentice é um poço de dignidade . É um homem de princípios firmes , rígidos . Aconteceu de , durante passagem pelo Havaí , conhecer a bela loura – e aconteceu de os dois se apaixonarem perdidamente . Aos 37 anos , muito mais maduro que a amada de apenas 23 , tinha seriíssimas dúvidas sobre qual seria a reação dos pais dela à vontade da garota de se casar com um homem de pele negra . Joey não tinha preocupação alguma quanto a isso : como havia aprendido com os pais que o racismo é algo abjeto , nojento , abominável , estava tranquila . Os muito jovens , é natural , não conhecem ainda a distância entre intenção e gesto , entre as opiniões e a realidade dos fatos . John diz para os atônitos pais da moça algo que não havia dito para a própria namorada , iminente esposa : só se casará com ela se tiver a absoluta e total aprovação deles . Um pouco mais tarde , Christina , a mãe , perguntará a Joey quão íntima havia sido a relação entre os dois nos dias que haviam passado juntos no Havaí . Como é uma mulher moderna , liberal , avançada , logo em seguida dirá que não tem direito de fazer aquela pergunta . Mas Joey , livre leve e solta como são as filhas de pais modernos , liberais , avançados , não perde a chance : “ Você quer saber se dormimos juntos ? ” , pergunta ela , num diálogo que só poderia existir num filme americano a partir de então , 1967 , toda a revolução comportamental acontecendo , os velhos preceitos do Código Hays virados letra mortas . “ Não . Porque ele não quis . ” Dignidade . John , 37 anos , poderia perfeitamente ter comido a moça – não comeu porque ela era jovem demais ; queria antes ter a aprovação dos pais da moça para o casamento . Matt e Christina ,
os pais da moça , também esbanjam dignidade . O monsenhor Ryan ( uma deliciosa interpretação de Cecil Kellaway ) , o maior amigo do casal , esbanja dignidade , sabedoria , amor à vida , às pessoas . Os pais de John também são pessoas extremamente dignas . Como os pais de Joey , assustam-se , apavoram-se ao ver que a namorada do filho tem cor de pele diferente da deles . Aos olhos do pai ( Roy E . Glenn Sr . ) , em especial , parece uma indignidade o filho se casar com uma moça de cor pele diferente . Para ele , aquilo não é natural , normal . O autor do argumento e do roteiro , William Rose , fez um monte de coisa boa Todos os diálogos do filme , os enfrentamentos entre esse bando de pessoas dignas , são absolutamente brilhantes . Ditos por aqueles atores soberbos , são lições de vida . De fato , a estrutura da narrativa – toda centrada em diálogos , em enfrentamento de posições , em discussões de idéias – faz lembrar teatro filmado . No entanto , Adivinhe não se baseia numa peça de teatro . É um roteiro original , escrito diretamente para o filme por William Rose . Hum … William Rose . Quem é mesmo ? Americano do Missouri , 1914-1987 . Autor de 21 roteiros e / ou argumentos . Trabalhou com o diretor Stanley Kramer ( e com Spencer Tracy ) na comédia Deu a Louca no Mundo/It’s a Mad , Mad , Mad , Mad World , de 1963 . Fez o roteiro de Os Russos Estão Chegando ! Os Russos Estão Chegando ! , a arrasadora sátira sobre a paranóia americana durante a guerra fria dirigida por Norman Jewison – que dirigiu Sidney Poitier em outro filme virulentamente anti-racismo , No Calor da Noite / In the Heat of the Night , do mesmo ano de 1967 . Meu Deus ! William Rose é o autor do argumento e do roteiro de Quinteto da Morte / The Ladykillers , a deliciosa comédia inglesa de Alexander Mackendrick de 1955 com Alec Guinness e um então jovem e desconhecido Peter Sellers , que os irmãos Coen refilmariam – também deliciosamente – em Matadores de Velhinhas / The Ladykillers , de 2004 , com uma das mais fantásticas interpretações cômicas de Tom Hanks . William Rose ganhou o Oscar de roteiro original . Com o prêmio de melhor atriz para Katharine , a Grande , foram dois os Oscars para o filme , que teve oito outras indicações – para filme , direção , ator para Tracy , ator coadjuvante para Cecil Kellaway , atriz coadjuvante para Beah Richards ( que faz a mãe de John ) , direção de arte , montagem e trilha sonora . Seria talvez necessário falar um pouco sobre Stanley Kramer , esse diretor não fugia de temas controversos , polêmicos – ao contrário , corria atrás deles . Mas esta anotação já está grande demais
, e então basta lembrar que esse cineasta desaforado , corajoso , foi o autor de Julgamento em Nuremberg ( 1961 ) , em que Spencer Tracy faz o papel central , à frente de um elenco de grandes astros de várias nacionalidades , e de Acorrentados / The Defiant Ones ( 1958 ) , em que Sidney Poitier divide com o branco de olhos azuis Tony Curtis os papéis centrais . Acorrentados , exatamente como este Adivinhe Quem Vem Para Jantar , é , além de um belo filme , uma beleza de panfleto mostrando que , entre todos os muitos tipos de crimes que a humanidade inventou , o racismo é um dos mais abjetos . 9 Comentários Acho que já vi algumas vezes esse filme e sempre ficava indignada com a reação dos pais da mocinha , ultraliberais , ao saber que a filha branca e loura pretende casar com um médico negro . Nunca tinha pensado na sua hipótese de que a explicação é que a prática difere muito dos conceitos teóricos em que se acredita . O fato de os pais do médico também serem contra o casamento me deixou um pouco perplexa pois , tanto quanto eu saiba , um negro casar com uma branca , pelo menos no Brasil , é há muito tempo símbolo de ascensão social . E o mais interessante nessa reação contrária dos pais é que ambas as mães acabam aceitando bem o casamento dos filhos . Não esqueço a atitude firme da mãe do médico quando fala a ambos os pais que eles se esqueceram o que é paixão , a transfiguração de sentimentos que seus filhos estão sentindo , por isso se opõem de forma tão ferrenha a uma união baseada no amor . Guenia Bunchafthttp://www.sospesquisaerorschach.com.br Um grande filme ! De fato , avançamos em relação ao racismo , o pior passou , mas não completamente e nem como deveria . Acho que você está sendo otimista ao dizer que em cem anos o filme será usado apenas como exemplo do que era o racismo , mas torço para que eu esteja errada . Os diálogos são mesmo brilhantes , e o roteiro é quase perfeito , a não ser por duas questões : o machismo da mãe da Joey ao dizer que ela foi muito feliz nos anos em que pôde ajudar o marido , e que a filha também seria feliz pelo mesmo motivo ( acho que naquela época a mulher só existia em função do marido e de um casamento ) . A outra é quando o personagem do Sidney Poitier diz ao pai da Joey que já havia pensado na questão dos filhos ( sofrerem racismo ) , pois um casamento sem filhos não é casamento . Realmente , há enorme distância entre intenção e gesto , e às vezes eu faço esse exercício de me imaginar em determinada situação ; não é fácil colocar em prática o que se prega . Eu acho o filme bastante teatral , sim , mas isso
eu acho de todos os filmes de antigamente ; as cenas eram muito mais marcadas , tomadas longas , as falas eram quase que declamadas , etc . É verdade que os personagens esbanjam dignidade , e isso nos faz gostar ainda mais do filme . A alegria e a felicidade ( sem falar na bondade ) da Joey são contagiantes , a retidão moral e a educação de John Prentice são admiráveis , e tudo o mais que você já falou dos outros . São pessoas das quais eu gostaria de ser amiga ou de ter na família . Fiquei espantada ao saber a idade do Spencer Tracy ; como você disse , as pessoas aparentavam mais idade , e com 40 anos já eram consideradas velhas . Aliás , o tempo todo fiquei pensando que o casal já era meio avançado na idade para ter uma filha tão nova , ainda mais para a época , onde se casava jovem e logo vinham os filhos . Me chamaram a atenção o carinho entre a família , a cumplicidade afetuosa entre mãe e filha ( a personagem da Katharine várias vezes se emociona ao longo do filme ) e a mente aberta , avançada , o espírito evoluído do monsenhor . And last but not least , não pude deixar de notar como a maquiagem da Beah Richards estava claramente alguns tons abaixo da cor da pele dela ; maquiagem para a pele negra só veio surgir há pouco tempo . Prezado Sérgio , Acompanho seu site há alguns anos , mas nunca havia me manifestado anteriormente . Entretanto , este filme merece algumas palavras . A sua profecia de que o filme será objeto de aulas de história é perfeita , contudo , penso que os direitos civis são mera alegoria na obra . O binômio “ intenção x gesto ” pode ser empregado nos mais variados temas / conflitos decorrentes da evolução constante do conceito de família e de hábitos da sociedade , razão pela qual a película não envelhece . Arrisco dizer que sua pertinência permanecerá por muitos anos . Logo , além de aulas de história , avalio que o seu mote / potencial deveria ser explorado também pelos ramos da sociologia e filosofia . Aproveito a ocasião para parabenizar pelo seu trabalho , sou fã do site ! Grande abraço , Rafael Caro Rafael , agradeço muito pelas suas mensagens . É muito interessante o que você diz sobre o “ Adivinhe quem vem para jantar ” . E , naturalmente , fiquei bem feliz com os elogios . Muito obrigado , e um abraço . Sérgio 3 Trackbacks [ … ] and Mike , no Brasil A Mulher Absoluta , foi o sétimo dos nove filmes com o casal mil de Hollywood , Spencer Tracy e Katharine Hepburn . Além de trabalhar juntos , se amavam . Não poderia haver parceria mais azeitada , mais perfeita – [ … ] [ … ] lembra um diálogo de um dos muitos filmes importantes sobre
o racismo nos Estados Unidos , Adivinhe Quem Vem Para Jantar , de 1967 , o casamento entre pessoas de cor de pele diferente era proibido por lei em 16 ou 17 dos [ … ] Sob o Domínio do Mal / The Manchurian Candidate De : John Frankenheimer , EUA , 1962 Nota : Anotação em 2005 : Na revisão , este filme feito em 1962 , no auge do auge da guerra fria , às vésperas da crise dos mísseis russos em Cuba , se mostra menor do que na lembrança , e muito menor do que a fama que acabou adquirindo . Me pareceu menor , inclusive , do que a refilmagem com Denzel Washington e Meryl Streep , feita em 2004 por Jonathan Demme . Uma sinopse básica : militar americano ( Laurence Harvey ) , que lutou na Guerra da Coréia , foi preso pelos comunistas e sofreu lavagem cerebral , vai tentar assassinar um político . Mas um colega dele ( Frank Sinatra ) pode saber como evitar o crime . Achei a trama confusa , mal explicada , mal resolvida . É incompreensível a atração da personagem de Janet Leigh pelo oficial à beira de um colapso mental ( interpretado por Sinatra ) que ela conhece no trem . A própria personagem da mãe dominadora , interpretada aqui pela Angela Lansbury e na refilmagem por Meryl Streep , fica mal explicada . Não dá para entender a coexistência do discurso anticomunista ferrenho dela com a sua associação com a União Soviética e China . E as atuações são todas exageradas demais . Num momento o oficial de Sinatra está enlouquecendo rapidamente , no momento seguinte ele é a tranqüilidade em pessoa . O amor desesperado do personagem de Laurence Harvey pela filha do senador progressista parece inviável , impossível , não tem verossimilhança alguma . Toda a interpretação dele é exagerada demais , chegando ao grotesco . O filme ganhou uma aura , uma fama , uma respeitabilidade como poucos . Vejo por exemplo que Pauline Kael , normalmente azeda , foi um dos que endeusaram o filme : “ Thriller ousado , divertido e exagerado sobre extremistas políticos . O filme faz algumas brincadeiras maravilhosas e loucas com a dieita e a esquerda ; apesar de ser um thriller , talvez seja a sátira política mais sofisticada já feita em Hollywood ” . Roger Ebert dá quatro estrelas , a cotação máxima : “ Eis aqui um filme que foi feito em 1962 e parece que foi feito ontem . Em nenhum momento falta tensão e uma reviravolta cínica em The Manchurian Candidate – e o que o é mais surpreendente é como o filme hoje pode ser visto como uma comédia política , assim como um thriller ” . Um Plano Simples / A Simple Plan De : Sam Raimi , EUA , 1998 Nota : Anotação em 1999 : Eu tinha muito medo do que seria feito do livro , que trata muito bem , e partindo de uma idéia
realmente simples , da atração fatal exercida pelo dinheiro fácil , da ligação profunda entre ganância e violência , tragédia : a tragédia cai , literalmente , sobre a cabeça de um grupo de pessoas simples , comuns , na forma de US$ 4,4 milhões encontrados em um aviãozinho acidentado num bosque próximo a uma cidade gelada do Meio Oeste americano . Fui perdendo o medo muito rapidamente . Até porque o próprio autor foi o responsável pelo roteiro . Ele e o diretor Raimi poderiam ter se perdido com as imposições de Hollywood . Não se perderam . Numa década de filmes cínicos , de banalização ou até mesmo endeusamento da violência – basta lembrar do último Roland Joffe , coitado , Misteriosa Paixão / Goodbye Lover , de 1997 - , este vai firme contra a corrente . Ele consegue criar o mesmo clima claustrofóbico , pesado , denso , do livro ; e mostra bem a inevitabilidade da tragédia . O livro vai num crescendo que termina em banhos de sangue ; perdi a conta dos assassinatos mostrados . No filme , eles foram reduzidos a seis . E , mesmo assim , remando contra a corrente , não é um filme violento – é um filme denúncia contra a violência que , segundo ele quer mostrar , é inerente a esse tipo de sociedade baseada na acumulação de dinheiro . Os crimes são mostrados com educação , até da forma a mais elíptica possível . E , como em Os Imperdoáveis , como na vida real , vêm seguidos por e embrulhados em uma profunda dor . Alguns diálogos sintetizam a loucura que o escritor quis mostrar . Quando , bem no início do filme , os três personagens se deparam com o saco de dinheiro , Hank ( Bill Paxton ) defende que entreguem tudo para a polícia , e Lou ( Brent Briscoe ) , o amigo bêbado e imprestável de Jacob ( Billy Bob Thorton ) , diz : “ É o maldito Sonho Americano em uma sacola ! ” . Muito mais tarde , quando Hank diz que vai queimar o dinheiro para que a vida deles volte a ser como era antes , a mulher dele , Sarah ( Bridget Fonda , a fantástica atriz das mil caras ) , faz um discurso de doer o coração , um manual sobre a impossibilidade de a sociedade capitalista trazer felicidade às pessoas . O que antes era para ela a vida normal do comum dos mortais agora é impensável , é uma miséria profunda , uma mediocridade inescapável – agora que ela passou a sonhar alto com a vida gastando a fortuna . Mais do que me lembro que acontecia no livro , aqui o peso sobre Sarah é fortíssimo . Hank é basicamente uma figura correta ; desde o início tudo em que ele pensa é entregar o dinheiro para a polícia – talvez até por ser um tanto medroso , medíocre , mesmo , acomodado , pé no chão –
anyone ambitionless as me , como diz a canção da Joan Baez ; falta de ambição , na sociedade capitalista , é crime de primeiro grau . A ganância que explode primeiro em Lou se sedimenta e fortifica em Sarah ; é ela que dá todos os conselhos a Hank , que os vão arrastando mais e mais para dentro do inferno . Nos velhos noirs dos anos 40 , a mulher era a fonte de todo o mal – de toda a ambição , o que é mais ou menos sinônimo . Aqui também é em boa parte assim . ( A orelha do livro traz uma boa comparação : “ Sarah já fez mais de um crítico lembrar-se da diabólica Lady Macbeth , que de longe aciona os cordames da espantosa trama em que seu marido se envolve ” . ) Bill Paxton está bem , com seu jeitão de pessoa normal . Billy Bob Thorton , com seu jeito de absolutamente anormal , está brilhantíssimo . As associações com Fargosão várias . O cenário gelado , desolado , do Meio Oeste . A tragédia que começa com a necessidade do dinheiro sujo , a ganância , e vai assumindo proporções cada vez mais terríveis , assustadoras . Não são à toa as semelhanças . Sam Raimi , um diretor jovem ( nasceu em 1959 ) , trabalhou com os irmãos Coen ; foi co-autor do roteiro de Na Roda da Fortuna / The Hudsucker Proxy , de 1994 . Se você não viu o filme , não leia a partir de agora E o final é um brilho , com a decisão de Hank de finalmente queimar o dinheiro , já que gastar uma nota que fosse significaria inevitavelmente a descoberta de todos os crimes , a prisão . Ficam lá ele e a mulher , vivendo a vida quase como se fosse antes de tudo , só que condenados à tristeza eterna do arrependimento – dela por ter tido uma fortuna à mão , e não a ter usado ; dele por ter participado de tantos crimes , e por ter perdido tudo , até mesmo a simpatia da mulher . Kolya – Uma Lição de Amor / Kolja De : Jan Sverak , República Tcheca , 1996 Nota : Anotação em 1997 : Uma beleza grande , imensa , uma puta sensibilidade . Conta-se uma bela história de uma criança despertando emoções e generosidade insuspeitadas em um homem maduro de 55 anos ; mas conta-se , com ela , junto com ela , atrás dela , ou sobretudo , a história política do subjugado diante do representante do imperialismo . Do imperialismo seja ele qualquer ; é especificamente o checo diante do russo , mas poderia ser qualquer um , o indiano contra o inglês , o brasileiro primeiro contra o inglês e nos últimos quase cem anos contra o americano ; para se chegar à conclusão de que os seres humanos são mais importantes do que a política , do que as divisões que