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O Paciente Inglês ” , de 1996 . Graças à sua mensagem , pude corrigir o erro no texto . De novo , muito obrigado . Sérgio [ … ] opinião é de que é um filme em tudo superior ao tão endeusado e oscarizado Guerra ao Terror / The Hurt Locker , de Kathryn Bigelow , de 2008 . Ainda se farão , é claro , dezenas e dezenas de filmes sobre a [ … ] Uma Simples Formalidade / Una Pura Formalità / Une Pure Formalité De : Giuseppe Tornatore , Itália-França , 1994 Complemento de anotação em 2011 : “ Na Itália , um diálogo a portas fechadas entre um comissário de polícia doido por literatura e um escritor suspeito de assassinato . ” Esta é a sinopse do Cinéguide francês sobre o filme de Giuseppe Tornatore de 1994 . O guia é de uma capacidade de síntese incrível : dificilmente suas sinopses ultrapassam quatro linhas . Eis agora a sinopse de Leonard Maltin , no Movie Guide , o guia de filmes mais vendido no mundo : “ O inspetor de polícia Polanski , investigando um assassinato que acaba de acontecer , interroga o mundialmente famoso escritor Depardieu , que não consegue se lembrar o que estivera fazendo naquela tarde . Em wildscreen , mas com boa parte confinada em uma sala escura , deprimente . ” Eis ainda uma terceira sinopse , de autoria de Tad Dibbern , que está no IMDB : “ Onoff é um famoso escritor que não publica livro novo faz algum tempo , e se transformou numa pessoa reclusa . Quando ele é pego pela polícia numa noite de tempestade , sem qualquer identificação , sem fôlego , depois de correr como um louco , sem lembrança dos eventos recentes , o inspetor fica cheio de suspeitas . Através do interrogatório , o chefe dessa solitária , isolada , mal tratada delegacia de polícia tentar estabelecer o que aconteceu , penetrando na mente do escritor que admira , para resolver uma morte misteriosa . ” *** Estou apresentando essas três sinopses antes de transcrever minha própria anotação , feita em 1997 , assim que terminei de ver o filme pela primeira e única vez . Quando , em 2008 , resolvi criar este site , coloquei no ar minha anotação – e passei a receber comentários , alguns bastante agressivos , dizendo que eu não havia entendido coisa alguma do filme . Agressividade dos comentários à parte , de fato eu não tinha entendido o que o diretor Tornatore quis dizer em seu filme . Poderia ter simplesmente jogado fora o post ; porém , por uma questão de honestidade para comigo mesmo , mantive minha anotação , acrescentando que de fato precisava rever o filme . Novos comentários vieram , alguns bastante mais educados do que os primeiros , como os do professor Wilson Garcia , do Recife . Em respeito a quem enviou os comentários , e a mim mesmo , continuo mantendo o post no ar ,
mesmo não tendo ainda revisto o filme para refazer minha anotação . Eis aí o que escrevi em 1997 . Mais abaixo estão comentários esclarecedores . *** Anotação em 1997 : O filme parte de uma idéia bárbara , sensacional ( na apresentação , não se diz argumento e roteiro de Giuseppe Tornatore , mas sim “ idéia original e roteiro ” ) . E conta com dois atores monstros , embora o francês Gérard Depardieu e o polonês-cidadão-do-mundo Roman Polanski estejam dublados para o italiano . Conta ainda com a música de Ennio Morricone , uma câmara excelente , uma cenografia muito bem cuidada ( de Andrea Crisanti ) . E , no entanto , o final é um tanto decepcionante ; o filme perde o fôlego , fica confuso , não desata os nós – pelo menos foi a sensação que tive nesta primeira vez . Posso estar enganado . Mas a sensação que tive foi de que Tornatore ainda não tinha maturidade suficiente para tratar das muitas e complexas questões que aborda . ( Ver complemento abaixo . ) A idéia central : a confrontação de dois homens dentro de uma delegacia de polícia , o representante do Estado , a autoridade , e o suspeito de um crime , e as disputas pelo poder que nascem daí , as inversões do mando de jogo quando se descobre que o suspeito não é um homem comum , e sim uma figura ilustre , importante , respeitada na sociedade . E mais : a discussão sobre arte , sobre a arte que o artista produz e o ser humano às vezes abjeto que é o artista ; o endeusamento do artista ; as vacilações de caráter do artista , a crise do bloqueio , a incapacidade de continuar criando . Tudo dentro de um tour-de-force no embate , durante uma noite de tempestade , entre duas personalidades num recinto fechado , que é em boa parte a essência das artes cênicas todas . A abertura do filme é brilhantíssima . Um revólver dispara . A câmara vai correndo numa floresta em meio a uma chuva forte ; percebemos imediatamente que a câmara são os olhos de um personagem que corre , resfolega ; a câmara vira para a esquerda , para a direita , para correr entre as árvores . A seqüência dura toda a apresentação . Ao final da apresentação a pessoa que corre se depara com policiais . Só aí vemos que é Dépardieu . A polícia pede os documentos , ele não tem ; é levado para a delegacia , uma delegacia pobre , de interior da Itália , lugar nada turístico , onde há diversas goteiras . A primeira imagem que temos , assim , é do homem indefeso diante da máquina do Estado , um homem molhado até os ossos , a quem não dão o direito de tomar um banho , botar uma roupa seca , e que fica à espera da chegada , nunca se sabe quando , da autoridade ,
o comissário de Polícia , interpretado por Polanski , brilhantíssimo . E aqui talvez seja preciso lembrar que de fato Polanski é um grande ator – como já havia demonstrado à exaustão em A Dança dos Vampiros , Chinatown , O Inquilino . Começa o interrogatório ; o preso diz que se chama Onoff , e o comissário diz que então se chama Leonardo da Vinci . Porque , veremos em seguida , Onoff é um escritor famoso , de quem o próprio comissário é leitor ardoroso , a ponto de saber recitar frases inteiras . O comissário leva um tempo até se convencer de que o preso fala a verdade , é de fato Onoff . E então temos a segunda imagem – a autoridade se curvando diante da pessoa importante . O comissário muda completamente o tratamento do preso , faz com que ele troque de roupa , bote roupa seca ; passa a tratá-lo com a reverência do pequeno funcionário público diante de um homem famoso . E o preso então bota banca , se sente reconhecido , acha que passou a dominar a cena . Acontece que , embora com reverência , o comissário continua a fazer perguntas – e o preso entra em contradições , não sabe responder a questões básicas . Houve um crime no lugar , naquela noite , informa o comissário ao preso , e ele precisa saber a verdade . O espectador vê fragmentos de imagens que passam rapidamente pela cabeça do preso ; ou ele de fato teve uma amnésia parcial , e não sabe o que aconteceu durante três horas daquela noite , ou está escondendo fatos da autoridade . Tudo isso é muito bem contado ; Tornatore cria com brilhantismo um clima caustrofóbico , de demência , de insanidade . A partir daí é que Tornatore perde a mão , eu acho . A história começa a ficar confusa ; ficamos sabendo que o escritor famoso está em profunda crise existencial por não conseguir escrever novas obras , e que a última que publicou foi na verdade roubada de um mendigo que ele conheceu e admira ; não fica claro se ele matou alguém , ou se forjou um estranho suicídio montando um boneco em forma de gente com suas próprias roupas e colocando no interior velhas fotos e lembranças . Não fica claro o que aconteceu com a visita que recebeu , uma mulher misteriosa , que tanto pode ter sido sua ex-mulher quanto uma nova amante . Complemento em novembro de 2009 : Várias pessoas escreveram mensagens para o site ( estão aí logo abaixo ) dizendo que eu não entendi nada . Ou que o filme permite várias leituras – uma delas é a de que Onoff ( on x off ) já chegou à “ delegacia ” desligado da vida material , e a delegacia , naturalmente , é apenas uma metáfora . Estão certas essas pessoas , errei . Vou rever o filme e escrever de novo sobre ele . Mas deixo a
anotação original aqui , em que , aliás , eu até admitia que podia mesmo estar enganado . Estava . A gente erra mesmo ; errei . Tornatore não perdeu a mão . Quem não tiver espiritualidade suficiente para entender que Onoff já se encontrava em espírito quando chegou à “ delegacia ” , assista de novo e entenda a “ delegacia ” post mortem . COmo disse ocolega Carlos , On Off é uma puta sacada…e é muito bom saber que tem genet que não entende o filme de primeira…é sinal que é bom de mais e não segue os passos dos blockbusters…AO caro colega q não entendeu , digo,,,,veja novamente e leve em consideração dicas postadas aqui..verá q o filme é fantático … . ( não contamos o fim , apenas damos dicas para não estragar a surpresa ) Conforme já foi comentado por outros aqui , o crime que Onoff cometeu foi o seu próprio suicídio e ele já estava desligado da vida material quando chegou à delegacia . O filme é sensacional , roteiro inteligentíssimo do início ao fim e com um final surpreendente = ) Mas credo em cruz , Kathren , não precisava de tanta agressividade . Você não leu o complemento que escrevi e que está lá direitinho , dizendo que errei , que não entendi o filme ? Nossa , moça , pra que tantas pedras na mão em cima do pobre coitado que não entendeu o filme mas que se penitenciou por isso ? Está com algum problema na vida ? Boa sorte pra você , moça , nesta vida e na outra . Mas menos ódio , por favor … Sou Wilson Garcia e encontrei o seu site quando procurava pelo Google informações sobre o filme “ Uma simples formalidade ” . Estou copiando o que você escreveu para discutir com meus alunos de cinema digital numa faculdade aqui do Recife . Mas o que desejo mesmo é cumprimentá-lo e dizer que gostei muito do seu site e dos textos . Estou colocando-o entre os meus preferidos quando se trata do assunto cinema . Grande abraço . Olá , Wilson . Muito obrigado pela mensagem e pelo elogio extremamente gentil . Interessante é que você tenha conhecido o site exatamente através de um filme que não entendi – de fato , não percebi a coisa do On e Off , do já estar morto . Preciso rever o filme . Poderia até ter retirado o post , mas resolvi deixar assim mesmo … De qualquer forma , agradeço muito a sua mensagem . Um abraço . Sérgio Olá Sérgio . Percebi sua dúvida , bem como sua abertura para a outra visão , que os seus amigos colocaram . É muito curioso o que ocorre com os espectadores diante da proposta do filme . Ainda nesta semana , uma turma de cerca de 20 alunos o assistiu e como entre eles há as mais diversas ideologias religiosas/não-religiosas , logo na abertura do debate uma aluna , católica , em seu
comentário demonstrou imensas dificuldades de compreender aquele final e fez algumas conjecturas desconexas . Imediatamente , um aluno , espírita , rebateu dizendo que o filme tratava claramente da vida após a morte , especialmente do que ocorreria / ocorre com os suicidas e citou como fonte de consulta um livro , segundo ele , psicografado por Chico Xavier e escrito pelo Camilo Castelo Branco-espírito , onde narra os fatos por ele , Camilo , vividos no pós-mortem . Como se sabe , Camilo suicidou-se . Ao final do debate , o raciocínio do aluno espírita prevaleceu sobre as opiniões dos demais . Um certo consenso natural . Intriga-me este filme desde a primeira vez que o vi . Tenho notícias de que o diretor Giuseppe Tornatore estará aqui por Recife no próximo mês de maio , por ocasião da realização do Cine-PE 2011 . Penso em conversar com ele sobre a proposta do filme , se me for possível . Por outro lado , gostaria de sugerir a você , caso ainda não o tenha visto , assistir o filme “ À primeira vista ” e , quem sabe , escrever sobre ele . Trata-se da experiência de um cego que vive a experiência da visão por alguns meses e depois torna à cegueira . O filme é baseado em fatos reais e me é muito útil no estudo das imagens , especialmente do fenômeno da percepção visual . Caso lhe sirva , aí está . Grande abraço . pois é , parece que o “ trabalho ” do comissário era convencer o cara de que ele morreu / se suicidou . da pra perceber que o carro em que ele parte no final desce por um vale , o que me pareceu alusão ao vale dos suicidas . . Antes de tudo , está de parabéns o blogueiro pela humildade . De fato errou , como todos nós erramos . Estúpido é o ser humano que xinga alguém por isso . Quanto ao filme , uma belíssima obra de arte ( assisti ao original em francês , sem dublagem , Une Pure Formalité , com legendas , óbv , rs ) , fotografia bela , diálogos e texto riquíssimos , e atuações espetaculares do Polanski e Depardieu , especialmente deste último . De fato o final é espiritual , a “ delegacia ” é como que um “ hospital psiquiátrico ” onde o SUICIDA fica para recobrar a memória e tomar consciência do que fez , antes de “ seguir viagem ” . Isso fica bem claro nos diálogos finais ( “ ele sabe ? ” , “ não , ninguém sabe quando chega ” ) . Basta reassistir o filme com essa ótica que tudo fica MUITO claro , os diálogos , as expressões dos atores , etc . É um filme na linha Os Outros , Sexto Sentido , Ilha do Medo , etc , mas MUITO mais profundo e mais rico – embora menos tenso . Certamente foi uma das inspirações do Scorsese para fazer
Ilha do Medo . *** Apenas mais uma observação : você comentou que o Depardieu e o Polanski estavam dublados para o italiano . Assisti a versão original ( em francês ) . Se for assistir novamente , assista a original . Filme dublado não dá . Cara Vanda , Muito obrigado pelas suas duas mensagens . Quanto à coisa da dublagem , concordo em princípio com você : filme dublado não dá . Mas há algumas poucas exceções , quando as dublagens são feitas pelo próprio diretor , em geral porque o elenco tem atores de diferentes nacionalidades . Neste caso aqui , tenho quase certeza de que a versão dublada para o italiano foi feita pelo próprio Tornatore . Assim como , por exemplo , Visconti fez uma versão em italiano de “ Violência e Paixão ” , e uma em inglês , aproveitando a voz de Burt Lancaster . Um abraço , e obrigado . Sérgio assisto este filme repetidamente a vários anos , na época meu ex disse ser loucura de imaginar um filme sobrenatural , indagar acontecimentos pós morte , fiquei feliz , depois de tantos , ver pessoas q compartilham da minha análise . a folha lançou uma vez fita vejam se , já lançaram em dvd . concordo com o sérgio que o filme tem passagens confusas . eu jamais tinha entendido que o filme trata de um morto que nao sabe que morreu . Para mim tinha ficado a impressao de que o escritor vivia uma crise de identidade . na verdade ele era um mendigo que achava que era o escritor . ele confundia suas lembrancas com de alguma outra pessoa e o delegado procurava ilumina-lo disso . estou aqui porque fui pesquisar na net pra ver se alguem me fornecia explicação pelo filme pois o filme é excelente sob muitos aspectos Adorei ter lido a crítica e todos os comentários feitos , DEPOIS de ter visto o filme , porque , assim como o crítico , eu também não tinha entendido o filme . Foi um prazer ter dito a mim mesma aquele ” ahhh…então era isso ! ” . Exceto pela forma meio agressiva em 1 ou 2 textos , toda a discussão e os comentários feitos aqui foram uma delícia , mas eu pergunto : O que mais esperar de um quarteto como este ( Depardieu , Polanski , Tornatore e Morricone ) além de puro brilhantismo ? ? Maravilhoso . Na primeira vez que assisti , fiquei realmente preso ao jogo da retórica e nem questionei o final . Vendo novamente , seis anos após é que entendi da sua falta de convencimento que estava morto . Isso não quer dizer que seja um filme espírita , pelo contrário , o “ réu ” estava ali a ser condenado pelo suicídio , mas em momento algum assume outra vida . Quanto ao idioma , tanto no francês , quanto no italiano ( leciono este ) , são maravilhosos . Como bem disse um colega acima , filmes
de dupla nacionalidade ou com atores de países diferentes , se traduzidos pelo autor , continuam originais . O que não dá , é para assistir Germinal , por exemplo , em português . Parabéns pela humildade e inteligência , pois percebestes que a honestidade para consigo mesmo é a melhor forma de rever , reaprender e evoluir . entendo o filme como o purgatório pós suicídio , mas tem uma cena do Polanski tirando a arma do plastico e vendo a arma com seis balas no tambor , essa é uma dúvida q fica na minha cabeça qnto ao suicídio , onde estaria a bala , pq tornatore fez essa cena se qria justificar o suicídio no sentido da delegacia enquanto o purgatório , entendi o filme de prima como de fato o purgatório , mas a cena da arma com 6 balas no tambor me deixou encasquetado , mesmo com dialogo no final referente a nova alma q se encontra bebendo leite na delega . É um filme excelente , há muito tempo atrás ja havia assistido em VHS mais de uma vez , hj revi de novo pois consegui baixar , não se acha o filme em DVD . não havia tido essa interpretação espírita , talvez o filme tenha várias interpretações , essa do suícidio é uma outra visão e alguns fatos talvez levem a esse , analisando agora a partir desses comentários , mas não sei , tem esse comentário do Pablo Treuffar , o sonho que Onoff tem qdo acorda na delegacia ” Paola , tive um sonho sonhei que tinha matado meu editor … ” Acho que esse final intrigante e discutivel que nos faz pensar sobre o filme por tanto tempo . Carissimo realmente o filme para quem não conhece a doutrina espirita é intrigante e sem nexo . Mas o filme foi brilhante , não era somente o Pardie que era morto , todos eram mortos e estavam em outra dimensão . Foi um resgate daquela alma que ja estava preparada , até porque seu suicidio ja havia aconticido a muito tempo antes……o o inspetor começou um trabalho de psicologia para faze-lo lembra de tudo….foi espetacular….se quiser conversar mais o meu email é mcbucci@bucciadvogados.com.br Interpretações magistrais de Polanski e Depardieu . No final ficou claro pra mim que Onoff não estava mais nesta vida . Procurei aqui na internet comentários sobre o filme para conferir outras opiniões . Constato que o mundo é feito de espíritos humildes e pretensiosos . Linda a sua postura , a sua coragem e a sua integridade , Wilson . Pessoas como você fazem toda a diferença . Parabéns ! “ Relações de poder ” e “ espiritismo ” . Marxismo e relativismo . Fizeram com o filme o que os pastores fazem com a Bíblia : interpretam conforme lhes convém . A delegacia é o purgatório . Por isso muitos ainda permanecem lá . Onoff , ao contrário , conscientizou-se do suicídio . Os que não acreditam no conceito de céu e inferno é porque
estudaram apenas as pinturas renascentistas e não tendo fôlego para o aprofundamento teológico , caíram em falsas doutrinas por acharem a explicação de tudo “ mais fácil ” . 2 Trackbacks [ … ] com tudo mundo ; eu , que estou a muitos anos-luz de ser um Roger Ebert , não entendi , por exemplo , um filme de Giuseppe Tornatore – e já me malharam várias vezes por isso . Ebert poderia ter reescrito seu texto – mas não . [ … ] Mistério na Neve / Smilla’s Sense of Snow De : Bille August , Alemanha-Dinamarca-Suécia , 1997 Nota : Resenha para a Agência Estado , em 1997 : Mistério na Neve tem dois pontos excelentes . O primeiro é a abertura do filme , a seqüência inicial . ( Como diriam os jornalistas , o lead . O lead , o primeiro parágrafo de um texto , tem que ser atraente , fisgar o leitor , fazê-lo se interessar pelo assunto . ) O lead do diretor Bille August é absolutamente brilhante . Dinamarquês , ganhador de duas Palmas de Ouro em Cannes , a quem o mestre Ingmar Bergman confiou a tarefa de dirigir um filme sobre a vida de seus pais , baseado em roteiro dele mesmo ( As Melhores Intenções ) , Bille August desta vez se meteu no mundo dos policiais , dos thrillers . E fez um lead brilhante , um plano-seqüência na paisagem estranha , imponente , desolada , de outro mundo , quilômetros de gelo a perder de vista na Groenlândia , até chegar a um solitário pescador esquimó com seus cães , minutos antes de um cataclisma . A cena – nos avisa uma legenda logo de cara – se passa na última década do século XIX . E então acontece o cataclisma . Corte rápido , e estamos em Copenhagen , nos dias de hoje , acompanhando uma mulher estranha , linda mas sempre tensa , nervosa , desconfiada , uma outsider , uma desajustada , uma pessoa que não pertence à sociedade da Dinamarca de hoje , um bicho estranho no ninho da civilização . Até seu nome é estranho : Smilla . O nome dela está no título original do filme , Smilla’s Sense of Snow – o sentido da neve de Smilla . O segundo ponto excepcional desse filme é exatamente o personagem de Smilla , que o escritor ( também dinamarquês ) Peter Hoeg , o diretor Bille August e a atriz Julia Ormond criaram . Se você viu a nova versão de Sabrina , esqueça a carinha bonita e charmosa de Julia Ormond naquele filme ; neste aqui a atriz está bonita , sim , mas com uma beleza esquisita , longe de qualquer padrão , agressiva , nervosa , com o semblante sempre duro , marcado , de quem sofreu e sofre muito na vida . Smilla é um personagem absolutamente fascinante , que vai se revelando aos poucos , enquanto se desenrola a trama intrincada , complexa , que vai
unir aquele cataclisma acontecido no século passado na Groenlândia à morte de um garotinho que mora no mesmo prédio que Smilla . O legista , a polícia , todas as autoridades dizem que ele caiu do teto do prédio ; contra tudo e todos , Smilla garante que ele foi assassinado . Ela sabe disso porque examinou as pegadas dele na neve do teto do prédio , e de neve ela entende : ela tem o sentido da neve . A Escandinávia tem se mostrado pródiga em belos livros e filmes de suspense , mistério , histórias policiais , thrillers . O sueco Stieg Larsson ( 1954-2004 ) foi e é um fenômeno mundial , com um monte de milhões de livros vendidos . O norueguês Jo Nesbø , nascido em 1960 , seis anos , portanto , depois de Larsson , segue pelo mesmo caminho ( seu livro lançado mais recentemente no Brasil , Boneco de Neve , fala em 20 milhões de exemplares vendidos no mundo ) , com a vantagem de que não morreu tão jovem quanto o colega sueco , e continua produzindo abundantemente . Esse Pål Sletaune , do mesmo ano de Jo Nesbø , poderia perfeitamente ter escolhido a carreira de escritor – é autor de quatro roteiros originais . Preferiu escrever suas histórias diretamente para as telas . Pelo que mostra neste Babycall , tem imaginação , capacidade , talento para contar histórias . Assim como tem talento e segurança para contá-las no cinema . Babycall é o título original do filme – assim , com a expressão em inglês . No mercado de língua inglesa , Babycall foi exibido como The Monitor ; aparentemente não teve lançamento no circuito comercial brasileiro ; foi exibido pelo canal Max com o título de Babá Eletrônica . Uma tradução correta – literal . Essa engenhoca que parece um walkie-talkie , e que as mães usam para ouvir os ruídos do quarto do bebê , tem função importante na trama . Um terror que não vem de outro mundo , e sim de dentro da cabeça É uma história de suspense , quase terror , daquele tipo em que o terror é psicológico . Não está em seres de outro mundo ou outra dimensão ( embora haja um pequenino passo nesse território ) , e sim na cabeça das pessoas . Essa cabeça que , como dizia o jovem Walter Franco , pode explodir . Ou seja : está muito mais perto de O Inquilino e Repulsa ao Sexo de Polanski , O Iluminado de Kubrick , do que de Os Outros de Amenábar e O Sexto Sentido de M . Night Shyamalan . Começa com a tela negra , enquanto ouvimos uma voz masculina chamar por Anna e perguntar onde está Anders . A primeira imagem que se vê é um close-up de uma mulher aparentemente agonizante , caída no chão , sangue na boca , no nariz . E em seguida volta-se no tempo . Não há letreiros para indicar isso , mas fica
absolutamente claro que é um flashback . Aquela mulher que estava agonizante – Anna , o papel dessa extraordinária Noomi Rapace – está no banco de uma van . A van a deixa diante de um gigantesco prédio de apartamentos . Ela e o filho Anders ( Vetle Qvenild Werring , na foto ) , garoto de oito anos , vão se instalar num apartamento do prédio enorme . Para os padrões brasileiros , seria um prédio classe média média ; para os padrões escandinavos , deve ser um conjunto “ popular ” , simples , sem ostentação mas com conforto , limpo , bem cuidado . Ao entrar no apartamento , Anna fecha todas as cortinas . Anna tem no rosto uma permanente expressão de pavor , de um medo profundo . O espectador fica torcendo por aquela mulher apavorada A conta-gotas , bem pouco a pouco , através de diálogos não absolutamente explícitos , o espectador vai sabendo que o marido de Anna é violento , bateu nela e no filho . Anna e Anders estão agora em endereço desconhecido para que o marido não possa encontrá-los ; a Justiça proibiu o marido de chegar perto deles , mas Anna teme que ela desrespeite a sentença . Está sob a vigilância de agentes sociais do Estado . O pavor de Anna é tamanho que ela a princípio não quer permitir que Anders freqüente escola ; os agentes a convencem de que isso é impossível , o garoto tem que ir à escola . Anna então o leva , mas fica junto do pátio – recusa-se a sair de perto do filho ameaçado . O espectador se compadece daquela mulher apavorada , se simpatiza com ela , torce por ela . Uma tomada indica que há ali algo mais estranho do que se pensava Um funcionário da escola vai ao pátio para conversar com Anna . Ela foge dele , entra num ônibus – mas assim que entra aperta a campainha para poder descer na parada mais próxima , para então voltar para perto de Anders . Um homem sentado no ônibus percebe a aflição da mulher . Explica que mudaram o ponto , mas que ele está logo ali à frente . Descerão os dois na mesma parada . O homem se chama Helge ( Kristoffer Joner ) , e trabalha como vendedor numa grande loja de departamentos , no setor de eletro-domésticos e eletrônicos . Anna comprará dele uma babá eletrônica . Ele pergunta a idade do bebê , Anna responde que o filho tem oito anos . Helge simpatiza com aquela mulher visivelmente transtornada . No apartamento , Anna ouvirá choro de criança , súplica de criança , voz ameaçadora de adulto . Mas os sons não vêm do quarto de Anders – ali tudo parece estar em paz . Anna volta à loja , conversa com Helge . Ele explica que às vezes ruídos de casas próximas entram na babá eletrônica ; mas basta sintonizar nas duas caixinhas o mesmo canal para que isso não
aconteça . Quando a narrativa já está ali pela metade , há uma tomada que indica para o espectador que há algo ainda mais estranho do que tudo que havia sido mostrado antes . A câmara faz close-ups do rosto de Noomi Rapace-Anna , e o espectador vê o pavor A história é fascinante . Lançam-se muitas dúvidas ao longo da narrativa , o espectador tem todo o direito de ficar confuso , perplexo – mas todas as pontas serão competentemente ligadas . Não restará furo algum . Babycall é um belo filme por causa da trama perturbadora , da maneira com que o diretor Pål Sletaune a relata – madura , sem efeitos fáceis , fogos de artifício – , e , sobretudo , pela interpretação extraordinária dessa jovem atriz . Lisbeth Salander , a personagem criada pela imaginação desvairada de Stieg Larsson , é de fato extraordinária , completamente fora de série . É uma das personagens mais fascinantes da literatura e do cinema dos últimos muitos anos . Gruda na cabeça da gente , como se fosse alguém real , de carne e osso . Ao ser levada para o cinema , Lisbeth Salander foi encarnada por duas atrizes igualmente fora de série , primeiro essa sueca Noomi Rapace , depois pela americana Rooney Mara . Me recusei a ver a refilmagem americana de Os Homens Que Amavam as Mulheres ( para que , se a sueca era ótima ? ) , mas todo mundo elogiou o desempenho de Rooney Mara como Lisbeth Salander ; e depois ela nos impressionou demais , a mim e a Mary , por seu desempenho fantástico em Terapia de Risco / Side Effects , de Steven Soderbergh ( 2013 ) . Noomi Rapace está estrondosamente brilhante como essa Anna , essa mãe em permanente pavor , mãe abnegada que faz de tudo para proteger seu filho do monstro brutal que é o próprio pai dele . Ela não é uma mulher de beleza esplendorosa – e isso ajuda . Tem um rosto forte , de feições marcantes ; o corpo parece frágil , pequeno , indefeso , e a postura corporal dela , e todo o seu rosto , exalam pavor . A câmara faz close-ups do rosto de Noomi Rapace-Anna , e o espectador vê o pavor ali . O rapaz que se compadece de Anna pode não ser exatamente o que aparenta Também Helge , o vendedor da loja que se aproxima da pobre Anna , é um personagem muito interessante , bem construído e bem interpretado por Kristoffer Joner . Helge é educado , prestativo , percebe que Anna é uma mulher tremendamente angustiada – mas ele também tem problemas . Seu comportamento , seu jeito não muito à vontade , nervoso , às vezes faz o espectador suspeitar de que ele pode não ser o que aparenta . Em ações paralelas à história de Anna , vemos que a mãe de Helge está em estado vegetativo em um hospital . O médico conversa com ele – tenta
, de maneira educada , polida , fazer Helge compreender que não há volta para a mãe , e que depende apenas dele a decisão de continuar mantendo-a viva com auxílio das máquinas , ou terminar com aquela agonia . No final da narrativa , haverá uma surpreendente revelação sobre Helge . São muito loucos , esses escandinavos Há muito tempo venho vendo filmes no DVD ou gravados no HD do cabo , de tal forma que me habituei a dar rewind , voltar atrás para ver de novo uma sequência , um detalhe , uma frase , uma expressão , um movimento de câmara . Este Babycall vimos enquanto passava no Max ; estava gravando , e por isso tinha a consciência de que poderia rever um detalhe ou outro , se quisesse , quando quisesse – mas a experiência de ver um filme sem poder usar o controle para dar rewind ajudou a me deixar fascinado e perplexo com essa obra . Revimos o início do filme logo em seguida . Revimos com atenção a cena da van . É tudo certinho , bem feitíssimo , não há furo . Se o espectador for extremamente atento , naquela seqüência da van ele poderá intuir o que virá . Conforto material demais , sol de menos . São muitos loucos , esses escandinavos . E talentosos . 2 Comentários Sérgio , fiquei muito confusa , mas por agora não tenho paciência para revê-lo.(mea culpa ) . O seguinte , achei que Anders e Anna são Helge adulto e a mãe em estado terminal . Os quadro formam são na verdade dois . O filme pertence aquela categoria de mães castradoras e esquizofrênicas … Vou parar que já falei muita bobagem . Desculpe não tenho a sua inspiração para escrever . Abraços Caríssima Maria Teresa , você não falou nenhuma bobagem . Pode até ser que sua interpretação seja correta . Ou pode perfeitamente ser que o filme seja mais obra aberta do eu supus . Ou seja : que ele possa ser interpretado de mais de uma maneira . ATENÇÃO : SPOILER BRAVO ! Quem não viu o filme não deve ler isto . De qualquer forma , aí vai a forma com que eu entendi : No final , revela-se que Hegel havia sido abusado quando criança . E a mãe dele tinha conhecimento disso . Revela-se também que o garoto Anders estava morto fazia já dois anos , assassinado pelo pai . O filho que Anna tentava proteger estava só na imaginação dela . Dizem que é Pecado / People Will Talk De : Joseph L . Mankiewicz , EUA , 1951 Nota : Anotação em 2007 , com complemento em 2008 : Mais uma delícia da série ah , como era melhor o cinema nos anos 30 a 60 – e mais uma das quase incontáveis provas de que ainda há muitos clássicos da era dourada a serem vistos . É uma espécie assim – quase 50 anos à frente – de Patch Adams , de
1998 , aquele com o Robin Williams sobre médico que quer dar alegria aos doentes . Aqui , Cary Grant faz o papel um médico absolutamente especial , anticonvencional , talvez como todos devessem ser , em cuja clínica , por exemplo , as pessoas comem a hora que quiserem ( e não na hora que as enfermeiras determinam ) . Um colega da faculdade de Medicina onde ele dá aulas , pessoa de caráter e estatura moral pequenos , por ciúme e inveja , tenta investigar o passado dele , para descobrir algum podre que possa bani-lo do quadro de professores . Paralelamente , o médico se apaixona por uma jovem solteira que está grávida ( epa : outro tema muito adiante da época do filme ) de um caso eventual . A moça é interpretada porJeanne Crain , um dos mais perfeitos rostos femininos de Hollywood . Sofisticado , inteligente , irônico , mordaz , como tudo em que o diretor Joseph L . Mankiewicz põe a mão . Frank e o Robô / Robot & Frank De : Jake Schreier , EUA , 2012 Nota : A idéia básica é interessante , poderia talvez resultar em um bom filme : num futuro próximo , homem idoso , que vive sozinho numa casa isolada e enfrenta a perda da memória , passa a ter como cuidador um robô . A princípio , é claro , rejeita ferozmente a nova companhia . Depois , com o tempo , não só aceita a presença do robô como desenvolve uma amizade , uma cumplicidade com ele . Acrescente-se a essa boa idéia básica um certo toque do Ray Bradbury , de Fahrenheit 451 : no maravilhoso mundo novo , os livros estão sendo substituídos pela plataforma digital . O protagonista , o velhinho Frank do título , é um ávido leitor , enquanto a bela biblioteca da cidadezinha próxima de sua casa está passando por uma modernização , os livros , esses danados desses suportes físicos , indo para a reciclagem . Solidão , velhice , perda da memória , a difícil convivência entre o velho e seus filhos adultos , amizade e cumplicidade entre homem e máquina , o admirável mundo novo que prescinde de suportes físicos , onde tudo vai para a nuvem . Temas interessantes , fascinantes mesmo . E , para completar , um bom elenco . O excelente Frank Langella , que recentemente nos brindou com belíssimas interpretações em Frost / Nixon , de 2008 , e A Caixa , de 2009 , faz o velhinho Frank . A sempre maravilhosa Susan Sarandon faz Jennifer , a bibliotecária que ama profundamente os livros e é pega pela modernização , pela informatização de seu local de trabalho . O filho de Frank , Hunter , rapaz inteligente , talentoso , formado em Princeton , que venceu na vida muito jovem , é interpretado pelo galã James Marsden . A filha , Madison , uma believer , ativista social , que luta pela melhoria das condições de vida
em países miseráveis da Ásia , vem na pele e na beleza ofuscante de Liv Tyler . A voz do robô ( que não tem nome , tadinho , e durante todo o filme é tratado apenas como “ o robô ) tem a voz de Peter Sarsgaard . A trama mistura ficção científica , comédia , drama familiar e thriller Ficção científica , comédia , drama familiar . O autor do argumento e do roteiro , Christopher D . Ford – ele é um garotão jovem e , antes deste aqui , havia escrito apenas os roteiros de uma série de TV , Atom TV – já estava com elementos de vários gêneros . Mas , como se isso não bastasse , quis acrescentar à sua trama um pouco de thriller policial . Tramas policiais têm público garantido , e então lá vai : no passado , Frank , aquele senhor que está perdendo a memória , é apaixonado por livros e por Mozart , havia sido um ladrão de jóias . Tipo assim : já que tinha mesmo um tanto de Fahrenheit 451 , por que não acrescentar uma pitada de Poder Absoluto , de Clint Eastwood ? E Frank vai descobrir , para seu absoluto júbilo , que os programadores do robô não incutiram nele noções de certo ou errado perante as leis dos homens e dos deuses . O robô não tem em sua programação nada que diga que roubar é contra a lei . Muitos elogios de espectadores no IMDb , nota 3.5 em 5 no AllMovie Dessa combinação de diversos elementos resultou um filme que parece ter fascinado muitos espectadores . No IMDb , os leitores demonstram seu encanto . “ Gostei de Robot & Frank , embora não saiba muito bem por que se referem ao filme como uma comédia ou uma comédia sobre amigos ” , escreveu um leitor da Flórida . “ Na verdade , é um filme bastante sério e a rigor depressivo – mas altamente original . Frank Langella interpreta um velho que está indo embora mental e fisicamente . Exasperado , seu filho decide fazer alguma coisa para livrar-se da preocupação com o pai – e compra um robô que vai cuidar dele . No entanto , a memória de Langella é intermitente – e a parte criminosa de seu passado está viva e atuante . E ele espera que o robô possa ajudá-lo no próximo golpe . ” Um leitor do IMDb da Holanda se entusiasmou : “ O filme é interessante , surpreendente , de encher o coração , inteligente , provocante , engraçado , subestimado , bem escrito e bem dirigido . Traz interpretações de primeira por atores de primeira ” . Um leitor da Virginia escreveu : “ Um filme engraçado & tocante que consegue fazer a audiência se identificar e simpatizar com o personagem de Frank Langella , um ex-ladrão de jóias que está ficando senil . ( … ) O filme é inteligentemente e ambiguamente passado no ‘ futuro próximo ’ ,
e então as pessoas que hoje têm entre 30 e 40 anos poderiam facilmente ser os Franks de amanhã : ainda usando as gírias dos anos 2000 & 2010 , sem medo das mais recentes tecnologias , mas de alguma maneira aturdidas por elas , e capazes de ficar bem agastadas quando os jovens perguntam sobre sua ‘ relação com a mídia impressa ’ . O AllMovie , o elegante , respeitável site que traz bons textos sobre os filmes , não fez uma crítica sobre Frank e o Robô , apenas a sinopse , que dá uma visão geral . O texto é assinado por Jason Buchanan , de quem já li diversas boas críticas , e trata com carinho o filme que define como “ uma terna comédia dramática de ficção científica ” . A nota dos editores do AllMovie para o filme é 3.5 estrelas em 6 – a mesma média dos votos dos leitores . A direção é fraca , há sequências de um ridículo atroz , e a trama é cheia de furos Tudo isso posto , digo que eu , pessoalmente , achei o filme muito , muito ruim . E não vi o filme com má vontade , ou cansado , ou coisa parecida . Tinha interesse em vê-lo , e no início ele chegou a me deixar bastante curioso sobre o que poderia vir a seguir . No final , achei que Frank e o Robô desperdiça o que tem de bom – aqueles elementos citados na abertura desta anotação , e seu bom elenco . Os defeitos estão no roteiro e na direção – esta , de Jake Schreier , um iniciante , assim como o roteirista , Christopher D . Ford . Foi o primeiro longa dirigido pelo rapaz . Os leitores do IMDb que citei ( e há diversas outras avaliações tão positivas quanto as que reproduzi ) parece que se encantaram com os temas interessantes , e deixaram de ver a quantidade imensa de furos , de improbabilidades , de falhas óbvias na história . Tipo : o que poderia explicar que Frank , ex-presidiário ( 16 anos atrás das grades , em duas condenações diferentes ) , tivesse aquele padrão de vida , morando naquela casa gigantesca ? Como seria possível que a perda de memória de Frank fosse tão seletiva ? O camarada se esquece de quem foi sua mulher , a mãe de seus filhos , o fato de que o filho já saiu da universidade faz muitos anos , o fato de que o restaurante de que gosta já fechou , mas mantém a mente absolutamente lúcida para planejar os roubos . Ah , truco ! Se a visita da filha Madison ao pai ( por mais bela que seja Liv Tyler ) não é um amontoado de situações ridículas , então definitivamente não sei mais o significado do ridículo . Idem ibidem para toda a sequência da polícia cercando a casa de Frank , tudo de um ridículo atroz . E o que
dizer da descoberta que Frank faz ao ver uma foto na sala da bibliotecária Jennifer ? O Sexto Sentido / The Sixth Sense De : M . Night Shyamalan , EUA , 1999 Nota : Anotação em 2001 : Que prazer sensacional – e raro – rever um filme de suspense e gostar tanto quanto da primeira vez . Neste caso específico , é fascinante ver o filme sob outra ótica , depois de saber o segredo que o diretor indiano radicado na Filadélfia só revela no final . E o filme é fascinantemente bem construído também para ser revisto , e portanto visto sob a outra ótica . Não há falha alguma , tudo se encaixa , tudo funciona . É , de fato , um dos melhores thrillers dos últimos tempos . E como trabalha bem esse garotinho Haley Joel Osment . Ele foi indicado para o Oscar de coadjuvante – tinha 11 anos quando fez o filme - , assim como a australiana Toni Collette . Ao todo , o filme teve seis indicações – as outras foram filme , direção , roteiro original e montagem . Não levou nenhum Oscar , mas teve no total 31 prêmios mundo afora e 37 indicações . A questão é que o filme é extraordinário demais – o que levou todo mundo a ficar esperando mais obras-primas de M . Night Shyamalan . E ele não conseguiria fazer mais um filme à altura deste aqui . 3 Comentários Eu adorei este filme quando o vi pela primeira vez ! Achei-o inteligente , pois tudo revela o final , mas ninguém percebe as pistas . Revi-o há poucos dias , continua inteligente , mas perdeu a graça da surpresa . Em compensação , achei ainda mais pedacinhos de pão que o diretor deixou pelo caminho … enfim , tem uma graça diferente , investigativa . E , na minha opinião , o mais impressionante neste filme , mais até do que o desempenho do menino , é o trabalho do Bruce Willis … contido , centrado e bem diferente do brucutu dos filmes de ação que costuma protagonizar . Outro filme que considero perfeito . Montagem absurda , atuacoes primorosas e um roteiro magnifico . Obras desse naipe me fazem adorar a setima arte . Tambem gostei bastante de A Vila e Corpo Fechado . Ja Fim dos Tempos , Ultimo Mestre do Ar e o pavoroso Dama da Agua eu nao entendi direito o que o talentoso indiano tinha na cabeca quando resolveu realiza-los , talvez seja sonho de infancia fazer filmes infantis e catastrofe . Ultimamente produziu um bom terror chamado Demonio . Talvez seja muito complicado tentar fazer algo melhor que o perfeito ( isso e ppssivel ? rsrsrsrsr ) , pensei que Nollan nunca superaria Amnesia mas , com pelo menos dois ou tres subsequentes , atingiu a mesma posicao na minha opiniao . De quaquer forma MN Shyalaman e um dos grandes diretores de minha geracao . Nunca vou esquecer : i see dead people .
Também gosto imenso deste filme e ainda hoje o estive a rever mais uma vez . Embora o final já não cause surpresa continuo a gostar . E podemos verificar que tudo está certo , não há nada errado . Um prazer ver filmes deste gabarito . Postar um Comentário O seu email nunca é publicado ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * Jeffrey – De Caso com a Vida / Jeffrey De : Christopher Ashley , EUA , 1995 Nota : Anotação em 1998:Um filme extremamente corajoso . E , além disso , extremamente bom , inteligentíssimo , cheio de belas sacadas , grandes idéias , tudo muito bem executado . Não foram poucas as pessoas que já escreveram que Philadelphia , de Jonathan Demme , de 1993 , a primeira obra do cinemão de Hollywood a falar da aids , é politicamente correto , bem intencionado , mas pouco corajoso , pouco sério e profundo , tocando só muito de leve no fato de o personagem central ser homo . Até o Maltin , a coisa mais mainstream dos guias , diz : “ Não sabemos sobre ele ( o personagem de Tom Hanks ) , ou seu amante ( Banderas ) ” . Pois bem . Este Jeffrey veio definitivamente preencher a lacuna , me parece . Este é um filme extremamente corajoso . Verdade que a aids hoje é uma praga que atinge heteros , homens , mulheres e crianças . E também , vendo-se por outra perspectiva , é verdade que o cinema , há cem anos marchando sempre na direção de explicitar mais e mais todas as coisas , e mais e mais tem tocado em tudo que um dia já foi considerado tabu ; basta ver , por exemplo , as cenas de homossexualismo de O Padre , o belíssimo filme inglês . E mesmo Hollywood já fez pelo menos um filme absolutamente sensível sobre aids – Armadilha Selvagem / In The Gloaming , do ex-Super-homem Christopher Reeve . Mas , apesar de ser necessário reconhecer essas verdades , também é verdade que os homens homo são ainda boa parte das vítimas da doença . E a aids ainda se mantém com a pecha da peste gay . O filme parte daí . Mostra a história de Jeffrey ( Steven Weber ) , um rapaz homo em Nova York – e só levissimamente “ veado ” , ou seja , com trejeitos que parecem femininos – que decide parar de transar , pelo medo da aids e pelo desgosto com as relações que só conseguem se basear em atestados médicos indicando ausência do HIV . Na terceira ou quarta seqüência ele está se apaixonando . Mais tarde , veremos que o homem por quem Jeffrey se apaixona , Steve ( Michael T . Weiss ) , é soropositivo . Diante disso , Jeffrey foge da relação , apesar dos conselhos insistentes do maior amigo , Sterling ( Pat Stewart ) , que vive uma relação estável com Darius (
Bryan Batt , interpretando o que antigamente chamávamos de bicha louca ) , ele também soropositivo . Darius morrerá da aids ; e aparecerá como um bom fantasma para se despedir de Jeffrey ensinando a grande lição : “ Odeie a aids , não a vida ” . A coragem , assim como o brilho do filme , não vem apenas porque ele assume discutir francamente os relacionamentos homo diante da ameaça da praga . A coragem e o brilho vêem basicamente da forma como ele optou por abordar o tema . Não é uma estrutura de drama – embora haja momentos pesados , densos , sérios . Ao contrário : é uma abordagem divertida , alegre , bem humorada . O filme é contado em capítulos , quase numa estrutura de esquetes de TV , como os franceses da nouvelle vague gostavam de fazer ; os atores conversam com o espectador , da maneira como Woody Allen sempre gostou de fazer ; na primeira cena de beijo homo , mostra-se um grupo de pessoas vendo o filme , os garotos indignados e repugnados , as garotas nervosamente achando graça . A deusa Sigourney Weaver dá um show em um engraçadíssimo esquete ironizando os gurus de auto-ajuda . Madre Teresa de Calcutá comparece algumas vezes à cena , em um achado inteligentíssimo , até provocativo , mas de forma alguma desrespeitoso . Um padre ( ele também homo ) dá lições sobre a vida e a religião – em um diálogo sério , mas com um tom hilariante . Tem graça , tem estilo , é inteligente e divertido . Mas não é uma brincadeira besta com um assunto sério ( como é , por exemplo , o filme Ruth em Questão / Citizen Ruth , uma abordagem absolutamente infeliz sobre a luta pelo direito ao aborto ) . Não , não é uma brincadeira besta . Tem o que dizer a respeito do tema – e diz , e é sério e importante o que diz , embora faça questão de não ser sisudo ou chato . A peça na qual o filme se baseia estreou em Nova York em 1993 , o mesmo ano do filme Philadelphia . Em 2008 , vejo no IMDB que o diretor Christopher Ashley ficou sem realizar filme algum desde este Jeffrey . Só em 2008 foi dirigir um outro , Last Call . Uma pena , porque o cara tem talento e sensibilidade . Trem da Vida / Train de Vie De : Radu Mihaileanu , França-Bélgica-Holanda-Israel-Romênia , 1998 Nota : Fazer uma comédia sobre a perseguição dos nazistas aos judeus é um ato de coragem . Mas Trem da Vida , que o diretor romeno radicado na França Radu Mihaileanu realizou em 1998 é mais ousado ainda que uma simples comédia , porque é um filme não realista – é uma farsa , uma fantasia , uma obra de realismo fantástico , do surrealismo , quase um nonsense . Um ano antes de Trem da Vida , o italiano Roberto Benigni
havia feito uma comédia sobre o mesmo tema , A Vida é Bela , um filme de grande sucesso e , na minha opinião , um tanto superestimado , com seus três Oscars , outros 52 prêmios e 31 indicações . Não que Benigni tivesse , é claro , inventado a roda . Os judeus – assim como os ciganos , homossexuais , portadores de deficiência – ainda estavam sendo presos e enviados para os campos de concentração quando Charles Chaplin fez O Grande Ditador ( 1940 ) e Ernst Lubitsch realizou Ser ou Não Ser ( 1942 ) , duas comédias ácidas , duras , mas comédias , sobre o nazismo . O grande diferencial de Trem da Vida , me parece , é o fato de ser uma narrativa nada , nada realista . E , nisso , ele foi um precursor de uma série de filmes que seriam feitos nos países surgidos dos escombros do comunismo , como a Geórgia e , em especial , a própria Romênia natal de Radu Mihaileanu . Filmes que denunciam , com extrema violência , imensa virulência , o outro regime totalitarista que dominou diversos países europeus ao longo de várias décadas do século XX . Era como se aqueles diretores , que viveram sob as ditaduras comunistas , tivessem tanto ódio do totalitarismo imposto pelo império soviético que se insurgiam também contra o estilo narrativo que o Estado comunista exigia , o realismo socialista , optando pelo oposto dele – um estilo surrealista , quase nonsense . Como já escrevi aqui : Em Os 27 Beijos Perdidos , feito por Nana Djordjadze em 2000 na Geórgia , a terra natal de Stálin , há um navio que passeia pelas ruas da pequena cidade e pelos campos ao seu redor , um marinheiro que perdeu o mar , um oficial que manda a artilharia disparar seus canhões em direção ao local em que sua mulher o trai com outro homem , um sujeito que amarra rolamentos no pauzão de 27 centímetros e depois não consegue tirá-los de lá e a cidade inteira tem que acudi-lo ; e , numa seqüência antológica , um camarada que está comendo uma mulher de pé , encostando-a numa mesa , usa , para ficar mais alto e facilitar o trabalho , dois livrões de Karl Marx sob os pés – livros que em seguida vão pegar fogo . Em Casamento Silencioso / Nunta Muta , feito em 2008 na própria Romênia , a narrativa do diretor Horatiu Malaele passeia pelo paranormal , vê fantasmas , bota os atores para atuar como que em um teatro farsesco , faz um surrealismo que deixaria Fellini humilhado de inveja . O louco da aldeia é que dá aos sábios a idéia de fugir num trem Essa fuga do realismo , essa vingança não só contra a ditadura , mas também contra a sua estética , é o cerne de O Trem da Vida – mais ainda que a opção , corajosa e difícil , pelo riso . O
filme conta a história de um vilarejo judeu , um shtetl , no verão de 1941 , quando as tropas nazistas dominavam a maior parte da Europa , e , no seu avanço , iam prendendo milhares , milhões de judeus , que em seguida eram deportados , em trens , para os campos de concentração e extermínio . Não se especifica em que país fica aquela pequena aldeia – pode ser qualquer um da Europa Central ou do Leste , como a própria Romênia ( onde boa parte do filme foi rodado ) . Quem primeiro avista os nazistas chegando a uma aldeia próxima é Schlomo ( Lionel Abelanski , na foto acima ) , o louco daquela aldeia , daquele shtetl específico . É Schlomo que conta o que viu para o conselho de sábios do shtetl , chefiado pelo Rabino ( Clément Harari ) – e é ele também , o louco da aldeia , que dá a idéia : antes que chegue o trem nazista para deportá-los , a aldeia poderia criar o seu próprio trem , pintá-lo como um trem nazista , e fantasiar alguns de seus habitantes como soldados nazistas . E assim eles poderiam viajar e escapar das prisões – viajar rumo à Rússia , depois rumo à Palestina . Ao ver o movimento frenético da vila no dia seguinte à reunião do louco com os sábios , uma das mulheres sentencia : – “ Deus , por que são os homens que dirigem o mundo ? E um louco mostra o caminho ! ” Uma atmosfera onírica , surrealista , impregnada de um humor desavergonhado Dá-se uma grande discussão para definir quais deles representarão os nazistas . Naturalmente , ninguém quer o papel do opressor . Mas o conselho de sábios vota e decide : Mordechai ( Rufus ) , um dos bons comerciantes da aldeia , será o chefe do destacamento nazista incumbido de “ deportar ” os judeus . A aldeia entra numa atividade febril – e são maravilhosas , esplendorosas as sequências , com belos travellings , elaborados planos gerais da aldeia trabalhando freneticamente , preparando o grande golpe . Essas sequências são tornadas mais fantasticamente belas pela trilha sonora , de autoria de Goran Bregovic , o grande músico natural de Sarajevo . O filho do Rabino , Yossi ( Michel Muller ) , é enviado até uma cidade para providenciar passaportes falsos com um amigo da comunidade . O tal amigo era um comunista ferrenho , e Yossi volta à sua aldeia comunistinha da silva , falando que ninguém deveria fugir de coisa alguma , que em breve o comunismo dominaria o mundo e tudo seria uma única e feliz nação socialista , formado apenas pelos homens novos , conforme ensinava o camarada Stálin . Na hora de providenciar um profissional para pôr para andar a locomotiva , o máximo que conseguem é um jovem idealista , um burocrata do Ministério dos Transportes , que nunca dirigiu coisa alguma na vida . Mas ao menos ele tem
um livro com instruções sobre como manejar uma locomotiva . E por aí vai – tudo numa atmosfera onírica , surrealista , mas sempre impregnada de um humor desavergonhado , escrachado . A garota mostra os seios para o jovem comunista : “ Isto aqui não é melhor que Marx ? ” A garota mais bela da aldeia , Esther ( Agathe de La Fontaine , na foto ) , apaixona-se perdidamente por um garoto boa pinta , filho de Mordechai , e que havia sido convertido ao comunismo pela doutrinação de Yossi . Quando a bela conta ao pai o objeto de sua paixão , desperta a ira dele : ela não pode , de jeito nenhum , se apaixonar por um comunista que além de tudo é filho de um nazista . Sim , porque a maioria dos vilarejos passa a acreditar piamente que seus compatriotas , seus amigos até dias atrás , que agora vestem fardas nazistas , passaram a ser de fato nazistas . O próprio Mordechai , depois de algumas aulas de alemão , passa a achar que ele é , de fato , um oficial nazista que tem o direito de dar ordens aos prisioneiros judeus . E , lá pelas tantas , a bela Esther se cansa da perspectiva de continuar virgem para todo o sempre , abre a blusa e mostra os peitos de estátua renascentista para o neo-comunista filho do neo-nazista : – “ Isto aqui não é melhor que Marx e Engels e Lênin ? ” O rabino faz negócio com Deus Num determinado momento , o trem – que anda em círculos , sem sair muito do lugar de origem – é cercado de nazistas de verdade . O rabino negocia com Deus : – “ Meu Deus , nunca imaginei mesmo que todos nós escaparíamos . Mas faça com que as crianças e os jovens atravessem a fronteira e vivam em paz na Palestina . ” E , já que está mesmo negociando , prossegue : – “ Mulheres e homens também . Afinal , as crianças precisam dos pais . E , já que salvou tanta gente , por que abandonar os velhos ? O que foi que eles fizeram ? ” “ A Terra só é Santa em um lugar ? ” Usar o humor ao se falar de uma das maiores tragédias da história da humanidade é algo perigoso . Qualquer passo em falso e se pode cair da corda bamba no ridículo , no grotesco . Radu Mihaileanu é um equilibrista de mão cheia . Um talento absurdo nessa arte perigosa . Jamais pisa em falso . Jamais comete uma vulgaridade . Jamais erra o tom . E tempera as tiradas surreais , oníricas , de sonho ruim , de pesadelo terrível , com pitadas de imensa simpatia pelos homens , pelos pobres seres humanos . Como no diálogo de um garotinho com sua mãe , no trem : O garotinho : – “ Ainda estamos longe ? ” A mãe : – “
Sim , meu querido . ” O garotinho : – “ A Terra só é Santa em um lugar ? ” A mãe : – “ Tem razão . A Terra todas podia ser Santa . Bastaria querer . E nada mais seria distante . ” Trem da Vida foi o terceiro filme do diretor . Havia feito um curta-metragem em 1980 , o ano em que se radicou da França , fugindo da ditadura patética de Nicolau Ceausescu . Em 1993 realizou Trahir e , em 1997 , para a TV , seu segundo longa , Bonjour Antoine . Em 1998 , ano de Trem da Vida , estava com 40 anos de idade . É daquele tipo de artista que não produz demais ; ao contrário , sua filmografia não é longa . Em 2002 veio outro filme para a TV , Les Pigmées de Carlo ; em 2005 , Um Herói do Nosso Tempo . E , em 2009 , realizaria O Concerto , uma obra-prima maravilhosa , acachapantemente bela . O Concerto tem várias das características que Mihaileanu já burilava em Trem da Vida . É também uma comédia , que muitas vezes passa longe dos naturalismos , do realismo pão-pão , queijo-queijo ; também flerta com o nonsense , com a atmosfera onírica , surrealista . Também comete exageros – sem que isso , no entanto , desequilibre , desbalance a narrativa . E , como Trem da Vida , O Concerto é um panfletaço anti-totalitarismos , anti a entrega apaixonada e cega das pessoas às ideologias Logo depois de ver O Concerto , poucos dias atrás – o que me deu muita vontade de rever este Trem da Vida – , anotei que o filme demonstra , como outras obras-primas do cinema , que as pessoas estão acima dos Estados , das ideologias , dos nacionalismos ; que as pessoas são todas iguais ; raça , existe uma só , a humana , seja a pele de que cor for , a íris dos olhos de que cor for ; que são as ideologias , as fórmulas inventadas pelos que se pretendem dominadores das pessoas , que criam , nutrem e exacerbam os preconceitos entre os grupos de uma raça que afinal é a mesma ; que , se fossem deixadas a seus próprios destinos , se não fossem instigadas pelas máquinas governamentais , as pessoas poderiam conviver de forma melhor , talvez até quase fraterna . Quando passam a ser comunistas ou fantasiados de nazistas , os personagens deixam de ser fraternos Trem da Vida insiste muito nessa noção , que está presente também em O Concerto . Em Trem da Vida , isso é realçado o tempo todo : os amigos da aldeia , uma vez divididos entre judeus e ( falsos ) nazistas e recém convertidos ao comunismo , tornam-se quase inimigos mortais . E a fantasia , a farda falsa , quase transforma o bom Mordechai num nazista . Dá vontade de ver os outros filmes desse sujeito de imenso
talento – os anteriores , e o que ele fez depois de O Concerto , La Source des Femmes , o poço das mulheres , uma produção de 2011 ( o filme estreou no Brasil em janeiro de 2012 ) . Credo em cruz : nesse novo filme , ele reúne a fantástica Hiam Abbas , de Lemmon Tree , A Noiva Síria e O Visitante , com a revelação Hafsia Herzi , a garotinha da dança do ventre de O Segredo do Grão . Um romeno-francês , uma palestina de Nazaré , uma francesa descendente de tunisianos e argelinos . Promete , promete . Radu Mihaileanu é grande . Radu Mihaileanu é supra-nacional , como a música , o cinema , como toda arte que vale a pena . Minha Vida de Cachorro / Mitt Liv Som Hund De : Lasse Hallström , Suécia , 1985 Nota : Anotação em 2010 : Minha Vida de Cachorro é um belo filme , sensível , com um bem dosado equilíbrio entre tristeza e graça . Não tem contra-indicação : é agradável até para quem , como eu , não gosta especialmente de filmes sobre infância , o mundo visto através dos olhos de uma criança . A criança em questão é Ingemar , um moleque de uns 12 anos , raciocínio de adolescente bem mais velho em diversas situações , e comportamento e aparência de bem mais novo que isso . Ele é interpretado por Anton Glanzelius , que está absolutamente perfeito no papel . A ação se passa no final dos anos 50 – em 1959 , para ser preciso . Não há letreiro informando a data , mas , em uma seqüência no final , toda a pequena cidade em que está Ingemar acompanha a luta em que em Ingemar Johansson derrotou Floyd Patterson e tornou-se campeão mundial dos pesos pesados , o primeiro e creio que único sueco a conquistar o título . A luta aconteceu em 1959 , um ano depois que o Brasil foi campeão mundial de futebol em Estocolmo . Essa informação não está aí solta – está é fora de lugar . Volto ao assunto mais tarde . Nosso Ingemar , então , é assim : uma figurinha um tanto complexa . Volta e meia tem atitudes de moleque de sete anos de idade – briga aos tapas com o irmão mais velho , Erik ( Manfred Serner , à esquerda na foto ) , que deve ter uns 16 ; faz manha , derruba leite na mesa e no chão ; remexe o prato de comida e não come nada , irrita os mais velhos . Ao mesmo tempo , faz longas filosofadas sobre o peso das coisas da vida – compara tragédias . Para se consolar da sua dor , pensa em histórias mais tristes ainda , como a de uma freira que foi ajudar as pessoas na Etiópia e acabou morta a pauladas . Ou sobre a cadelinha Laika , que os russos tinham acabado de mandar para o espaço num
Sputnik e que morreria lá de fome . É um menino muito bem informado . Bem , também estamos falando de Suécia , primeiríssimo mundo , boa educação . Um garoto com sortes na vida – e enfrentando uma tragédia Ingemar tem algumas sortes na vida . Tem uma namoradinha linda na sua cidadezinha – e , na cidadezinha do seu tio , para onde será mandado duas vezes , será disputado por duas garotinhas ; uma delas , Saga ( Melinda Kinnaman ) é uma gracinha de menina , boa no futebol e no boxe e bastante oferecidinha a ele , Ingemar . O tio ( Tomas von Bromssen ) é uma grande figura , sujeito sempre alegre , brincalhão , bem humorado , assim como sua mulher . E ainda tem Berit ( Ing-Marie Carlsson , na foto abaixo ) , a mulher mais gostosa da cidadezinha , por quem aliás o tio tem uma forte atração ; Berit gosta de Ingemar , ficam amigos , e , quando o escultor da localidade a chama para posar nua , ela leva Ingemar junto para as sessões na casa do artista , que é para manter a coisa meramente profissional , sem sexo envolvido . A tragédia na vida de Ingemar é que sua mãe ( Anki Liden ) , uma bela mulher que foi fotógrafa , está muito doente , e cada vez pior . É para que ela possa descansar , longe daquele moleque travesso dentro de casa , que Ingemar é enviado para a casa do irmão dela , na outra cidadezinha . Ingemar ficará lá cercado por pessoas que gostam dele e o tratam bem – mas longe da mãe e da outra grande paixão de sua vida , a cadelinha Sickam . Um dos grandes méritos do diretor Lasse Hallström e de seus roteiristas é criar uma galeria de tipos interessantes , fascinantes , bem desenvolvidos . Nisso ele tem a ajuda do elenco , todo ele extraordinário . Temos o tio , figura de bem com a vida , tarado por mulheres , por futebol , por boxe ; trabalha numa fábrica de vidro – aparentemente , o lugar que dá emprego para boa parte dos habitantes da cidadezinha ; e , nas horas vagas , está sempre produzindo alguma coisa ; tem jeito para tudo ; construirá para Ingemar brincar uma casinha no terreno ao lado da casa onde mora . Temos um velhinho bem velhinho e doente que vive com o tio de Ingemar , tarado e safado , que vive a pedir ao garoto que leia para ele textos de uma revista que descrevem roupas íntimas de mulheres . Temos a já citada Berit , figura sensacional , que sabe que é a mulher mais cobiçada do lugar e leva isso numa boa , na maior . A mulher do tio , que tem , como ele , um bom humor a toda prova . Temos o doidão do lugar , que gosta de tomar banho pelado no riacho em
pleno inverno nórdico . E temos a garotinha Saga ( na foto mais abaixo ) , uma figura também muito interessante , a princípio preocupada em esconder os seios que começam a crescer , para poder continuar jogando futebol com os garotos , e depois interessada em mostrá-los e oferecê-los a Ingemar . Falei da coisa de o Brasil ter sido campeão do mundo na Suécia em 1958 – tem a ver com a história . O tio de Ingemar é apaixonado pelo Brasil , fala de samba , do futebol brasileiro , tem fotos de sua viagem ao Rio de Janeiro . Se o Lula visse o filme , diria que foi graças a ele que o Brasil se tornou conhecido mundialmente , e é por causa dele que na Suécia se fala tanto de Brasil . Claro , claro . Um diretor de belos filmes O filme se baseia numa novela autobiográfica de um escritor chamado Reidar Jonsson . Lasse Hallström , então com 39 anos ( nasceu em Estocolmo , em 1946 ) , foi um dos autores do roteiro . Tinha já uma carreira firme , na Suécia ; havia dirigido seis longa-metragens , inclusive ABBA : The Movie , de 1977 , sobre o conjunto musical que era o maior produto de exportação da Suécia . Com Minha Vida de Cachorro , tornou-se conhecido internacionalmente . O filme foi indicado para os Oscars de melhor filme estrangeiro e melhor roteiro adaptado , e também para o Bafta de filme estrangeiro ; não levou nenhum dos três prêmios , mas ganhou o Globo de Ouro de filme estrangeiro e mais 12 prêmios mundo afora . Hallström ainda faria mais dois filmes na Suécia depois de Minha Vida de Cachorro , mas , a partir do início dos anos 90 , estabeleceu-se em Hollywood . Fez diversos bons filmes , em geral falando do mesmo tema , a vida em família , as relações familiares – Meu Querido Intruso / Once Again , de 1991 , em que reuniu novamente Richard Dreyfuss e Holly Hunter , que haviam feito juntos Além da Eternidade / Always , de Steven Spielberg ; Gilbert Grape – Aprendiz de Sonhador/What’s Eating Gilbert Grape , de 1993 , com Johnny Depp e um à época desconhecido Leonardo DiCaprio ; Chocolate , de 2000 , uma gostosa fábula em homenagem à liberdade de comportamento , com Juliette Binoche no auge da beleza ; Chegadas e Partidas / The Shipping News , de 2001 , um drama poderoso com Kevin Spacey em grande forma ; e Um Lugar para Recomeçar / An Unfinished Life , de 2005 , que fala de violência de marido contra mulher e , de novo , relações familiares , perdas de entes queridos , com um elenco de primeiríssima , Robert Redford , Morgan Freeman , Jennifer Lopez . São , todos eles , bons , ótimos filmes – mas meu preferido , entre todos , é Regras da Vida / The Cider House Rules , de 1999 ,
um filme sobre crianças sem pais e uma vibrante , forte , corajosa defesa do aborto , outro filme com elenco extraordinário , reunindo Tobey Maguire , Charlize Theron , Delroy Lindo , Paul Rudd e Michael Caine , em um dos melhores papéis de sua longa e veneranda carreira ( ele levou o Oscar de coadjuvante ) . Em Minha Vida de Cachorro – na minha opinião o segundo melhor filme desse diretor de diversos filmes bons – , Hallström consegue criar um maravilhoso clima que mistura bem tristeza e bom humor , pancadas da vida com momentos de alegria . Muita gente tenta essa mistura e se dá mal ; Hallström fez a receita perfeita . Ah , sim , para registrar . Já vi muito crítico falar mal de Hallström , chamá-lo de coisas como sentimental , sentimentalóide , piegas . E que viva o sentimentalismo e a pieguice . “ Uma impressão ao mesmo tempo inquietante e engraçada ” Vou dar uma olhadinha em outras opiniões . É sempre bom . Leonard Maltin deu 3 estrelas em 4 : “ Ao mesmo tempo cômico e comovente , é uma descrição tremendamente honesta da natureza muitas vezes confusa da infância . Glanzelius está excelente no papel principal . ” No AllMovie , Karl Williams diz que o tom bem humorado , quase nostálgico do filme se mistura surpreendentemente bem com a história e as situações francas , pesadas , deixando uma impressão ao mesmo tempo inquietante e engraçada , um tributo à habilidade com que o filme é dirigido por Lasse Hallström . Ele informa também que o filme fez tremendo sucesso nos cinemas de arte das grandes cidades americanas . O guia de Jean Tulard diz que é um filme caloroso que explora com muita ternura e pertinência os segredos da alma de um garoto . Jamais cai no melodramático – ao contrário , é um filme cheio de humor . [ … ] em 2010 : Quase um quarto de século depois do filme que o revelou para o mundo , Minha Vida de Cachorro , de 1985 , o diretor sueco radicado desde o início dos anos 90 nos Estados Lasse Hallström volta [ … ] [ … ] legenda sequer para identificar qualquer um dos seis entrevistados – pela ordem , o diretor Lasse Hallström , o autor e roteirista John Irving e os atores Michael Caine , Tobey Maguire , Charlize Theron e [ … ] Ciladas / Pièges De : Robert Siodmak , França , 1939 Nota : Anotação em 2000 : Raridade muito interessante de se ver , e ainda um bom filme , 60 anos depois . Uma boa história de suspense . A polícia de Paris investiga desaparecimento de diversas mulheres , e taxi girl de dancing é contratada por investigador para servir de isca para o culpado ; acaba se envolvendo com um playboy milionário ( Maurice Chevalier , simpático , canastrão e bom chansonier ) , que eventualmente é preso acusado de ser o assassino .
Tem graça , humor ; meio que se perde em casos paralelos , às vezes . Mas é bom . Feito em 1939 , o ano em que começou a Segunda Guerra , este foi o último filme da primeira fase européia do diretor Robert Siodmak ( 1900-1973 ) . A história de Siodmak é interessantíssima ; americano de Memphis , estudou na Universidade de Marburg , e começou a carreira longa na Alemanha . Saiu do país com a ascensão do nazismo , radicou-se na França e fez alguns filmes lá ; em 1939 , ano deste filme , fugiu de novo do nazismo , voltando para os Estados Unidos , onde , entre 1941 e 1952 , fez diversos filmes , vários deles noirs . Diz Jean Tulard , no seu Dicionário de Cinema – Os Diretores : “ Com os alemães em Paris , Siodmak fugiu para os Estados Unidos . Essa terceira fase de sua carreira é a mais célebre . Irá se distinguir no filme noir , do qual já havia pressentido a importância . A Dama Fantasma , baseado em Irish , Silêncio nas Trevas , Assassinos , que toma por tema uma novela de Hemingway , Baixeza , Dúvida , Uma Vida Marcada valem a pena ser vistos por sua iluminação expressionista ( o enterro em Assassinos ) , pelos seus personagens loucos ou sádicos ( Franchot Tone em A Dama Fantasma , Laughton em Dùvida ) , pelo erotismo ( Yvonne de Carlo em Baixeza , a piteira de Barbara Stanwyck em Confissão de Telma , pelo suspense ( a vítima muda de Silêncio nas Trevas ) , pela evocação do submundo das cidades ( Uma Vida Marcada ) . ” Depois dessa fase americana , o diretor retornaria à Europa , onde a partir de 1953 filmou na Alemanha e na França do pós-guerra . Figuraça . A Casa dos Sonhos / Dream House De : Jim Sheridan , EUA , 2011 Nota : A Casa dos Sonhos pode ser definido com duas frases com adversativas . A primeira : foi feito no Canadá , o diretor é irlandês , dois dos principais atores são ingleses e a terceira é australiana – mas é uma produção americana . Bem : me decepcionou . E , pelo que se vê no IMDb , decepcionou também Jim Sheridan e Daniel Craig . Não é culpa deles . Diretor e ator se esforçam para fazer seu trabalho direito . Daniel Craig , esse ator que se firmou como um ótimo James Bond mas também consegue trabalhar em filmes sem o personagem mítico do agente que tudo pode , tem uma bela interpretação . O problema – ao menos é o que eu achei – é a história , a trama . Argumento e roteiro são assinados por David Loucka , e , embora seja piada ruim e pré-fabricada , é impossível evitar : lá pelas tantas , parece que deu a louca no autor . A sensação é de que ele quis criar uma
história de suspense , mistério , quase terror , que tivesse uma reviravolta profunda , como , por exemplo , os excelentes Os Outros , de Alejandro Amenábar ( 2001 ) , ou O Sexto Sentido , de M . Night Shyamalan ( 1999 ) . Deu com os burros n’água . Na casa de sonhos de que fala o título vive uma família de sonhos O que se mostra no começo , na primeira metade do filme , é o seguinte : Um editor de livros de uma grande editora de Nova York , chamado Will Atenton ( o papel de Daniel Craig ) , sujeito respeitado , querido pelos colegas , consegue tomar a decisão de pedir demissão . Está determinado a mudar de vida . Havia comprado uma casa – ampla , confortável – num daqueles subúrbios de classe média ao Norte de Nova York . Não se precisa o lugar – fala-se até o nome da cidadezinha , New Ashford , mas deve seguramente ser um nome fictício . Pode ser Connecticut , ou algum Estado da Nova Inglaterra . Ali , na calma do subúrbio , longe da agitação da metrópole , ele pretende escrever um livro . ( Penso agora que Jack Torrance , o personagem de Jack Nicholson em O Iluminado / The Shining , de Stanley Kubrick , também tinha planos de escrever um livro na solidão do hotel fechado para o período mais rigoroso de inverno nas Montanhas Rochosas . Aliás , o cartaz do filme , que está no alto deste post , também faz lembrar O Iluminado . ) Will sai então do trabalho pela última vez . Neva – é inverno bravo . Toma um trem para seu subúrbio . Na casa recém-comprada , esperam por Will uma mulher que o ama e duas filhinhas que o adoram . A mulher , Libby , vem encarnada por Rachel Weisz com aquela beleza esplêndida toda dela , e as filhinhas são duas gracinhas , a mais velha , Trish ( Taylor Geare ) , aí com uns nove anos , e a mais jovem , Dee Dee ( Claire Astin Geare ) , com uns seis . Durante alguns minutos , pinta-se o quadro da família perfeita , a família de sonhos na casa de sonhos de que fala o título . A casa não é daqueles monumentos de ostentação , não é um palacete , uma mansão . É uma casa sólida , ampla , confortável . Se as sociedades fossem justas , todas as famílias deveriam ter uma casa como aquela , uma casa não milionária , pois a existência de milionários pressupõe também a existência de miseráveis . A família dentro da casa dos sonhos é a família dos sonhos . Uma mulher belíssima , feliz , amorosa , empenhada em limpar , pintar o novo lar . Um marido que trabalhou bastante e agora se dá ao direito de ficar mais tempo com a família . Duas crianças adoráveis , bem cuidadas pelos pais atenciosos
. Marido e mulher se amam e o sexo é ótimo . Exatamente na metade dos 92 minutos do filme , há uma reviravolta completa A perfeição de sonho dura só alguns minutos . Começam a surgir fatos estranhos . A filhinha mais nova vê um homem parado do lado de fora da janela . Will a convence de que não havia ninguém , mas no dia seguinte vê na neve marcas de pés que passaram ao redor da casa . E aí vem a revelação : naquela casa que a família comprou ao sair de Nova York havia acontecido uma tragédia . Cinco anos antes , o dono da casa tinha tido um acesso de loucura e assassinado suas duas filhinhas e sua mulher . Ninguém havia dito isso para eles , quando compraram a casa . Quando a narrativa está exatamente na metade dos 92 minutos de duração , há uma reviravolta completa . As coisas se complicam , e muito . E haverá nova reviravolta completa mais para o final . Os produtores tiraram o filme das mãos do diretor e fizeram a montagem final No ótimo All Movie , o filme foi classificado com 3.5 estrelas em 5 . A crítica , assinada por Cammila Collar , trata o filme com grande simpatia – e respeito pelos leitores . Não revela o que não pode ser revelado . Diz ela : “ É difícil escrever sobre um thriller com uma reviravolta no final , já que presumivelmente você não quer entregar a reviravolta . Mas seria ainda mais difícil escrever sobre um filme como Dream House , em que há múltiplas reviravoltas que chegam bem antes de se chegar ao clímax final – e em que ainda há muitos mistérios a serem resolvidos . Dream House vira as mesas algumas vezes , muito tarde no jogo para ser parte da premissa , mas cedo depois para ser parte do final . ” Mais tarde , o texto diz : “ Mas se você gosta da idéia de bons atores em uma narrativa que é em parte suspense , em parte drama , você não ficará desapontado . ” Segundo o IMDb , o diretor Jim Sheridan teve brigas feias com o chefão da produtora Morgan Creek , Jim Robinson , sobre como desenvolver o roteiro e a produção do filme . Nas exibições-teste para platéias fechadas , viu-se que a resposta dos espectadores não era boa , e Sheridan refez algumas sequências . Aí então a produtora tirou os filmes das mãos do diretor e resolveu ela mesma fazer sua montagem . “ Sheridan , Daniel Craig e Rachel Weisz se recusaram a participar da promoção do filme para a imprensa ” , afirma o IMDB . Ainda segundo o site mais enciclopédico sobre filmes que existe , Jim Sheridan chegou a pedir ao Sindicato dos Diretores , o Director’s Guild of America , que seu nome fosse retirado dos créditos . Deve posteriormente ter desistido disso , e até aparece num filmete de divulgação que
acompanha o filme no DVD . Ali se vê claramente , no entanto , que o veterano realizador não está nada à vontade para falar do filme que acabou sendo montado sem a sua supervisão . Na entrevista , ele basicamente insiste em que poderia ter optado por usar imagens criadas por computação , mas preferiu usar o sistema antigo , de filmar cenários criados para o filme , para ser mais realista . É necessário lembrar : Jim Sheridan é um excelente diretor e roteirista de poucos filmes . Poucos mas bons . É autor ou co-autor dos roteiros de Meu Pé Esquerdo , Terra da Discórdia , Em Nome do Pai , Mães em Luta , O Lutador , Terra de Sonhos . Vários deles abordam os sangrentos conflitos na Irlanda dividida entre católicos e protestantes . Dirigiu quase todos as obras citadas acima , com exceção de Mães em Luta , maravilha de filme , que foi dirigido seu amigo Terry George . “ O filme não ficou muito bom . Mas eu encontrei minha mulher . Bom negócio ” O que , para mim , mais define como a própria equipe avalia A Casa de Sonhos é uma frase de Daniel Craig que está também no IMDb . Ele e Rachel Weisz se apaixonaram durante as filmagens . Casaram-se algum tempo depois . Às vezes a vida imita os filmes – até a vida de atores de cinema . Os ingleses Daniel Craig e Rachel Weisz tiveram que ir filmar no Canadá uma produção americana dirigida por um irlandês para se encontrarem . Diz o IMDb : “ Quando perguntado sobre o filme , Craig disse : ‘ O filme não ficou muito bom . Mas eu encontrei minha mulher . Bom negócio ’ ” . As Múmias do Faraó / Les Aventures Extraordinaires d’Adèle Blanc-Sec De : Luc Besson , França , 2010 Nota : Anotação em 2011 : Uma diversão deliciosa , espetacular , tão bem humorada quanto maravilhosamente bem realizada , com um visual acachapante , um ritmo ágil , frenético , uma reconstituição de época de babar , excelentes piadas , excelente texto . Nunca fui grande fã de Luc Besson , mas este é um divertissement perfeito , de se aplaudir de pé como na ópera . Não tem jeito , não tem como fugir : é a versão francesa , à la Besson , do Indiana Jones , a criação de Steven Spielberg , George Lucas e Lawrence Kasdan . Adèle Blanc-Sec , personagem inventada pelo desenhista Jacques Tardi – só os franceses para dar à heroína um sobrenome com o bouquet de vinho – é de fato um Indiana Jones de saias e corpete . Que , embora bem rapidamente , quase pudicamente , num determinado momento até se mostra sem as saias e o corpete – oulalá ! Claro : para saborear este petisco , é preciso que o respeitável espectador deixe de lado a lógica , a exigência de qualquer verossimilhança . Amantes apenas de filmes sérios
, “ de arte ” , e idiotas da objetividade não se dariam bem . Trata-se , aqui , de uma aventura-ficção-fantasia , uma lógica de desenho animado . Assim , temos que , na gloriosa Paris de 1911 , no pré-guerra , na época dourada do cancã ( eta grafia feia , mas é ela que está nos dicionários ) , um idoso cientista , Espérandieu ( Jacky Nercessian ) , usando dons telepáticos , faz viver um pterodáctilo que estava dentro de um gigantesco ovo pré-histórico , do período jurássico , em um museu de ciências naturais da capital francesa . O animalão quebra a casca do ovo , anda tropegamente pelo museu , ensaia umas batidas de asa , voa , rebenta o teto da edificação e sai viajando pelos céus de Paris . O pterodáctilo avista um carro , no qual um figurão da política canta uma famosa dançarina de cancã – minutos antes , o espectador já havia presenciado um sensacional número de dança em um teatro lotado . O animalão ataca o bólido , que cai no Sena . O caso vira manchete de todos os jornais , mexe com os brios do governo , o presidente dá ordens ao ministro do Interior para que o bicho assassino seja imediatamente capturado . O policial encarregado do caso será o sonolento e glutão – porém íntegro – inspetor Albert Caponi ( Gilles Lellouche , deliciosamente exagerado e careteiro ) . Um início de trama esplendorosamente inteligente Enquanto isso … Todo o filme é absolutamente delicioso , mas o início da trama , a forma com que Besson vai apresentando os personagens , as situações , é uma coisa esplendorosamente inteligente , bem sacada , divertida – e rápida . O primeiro personagem que vemos não é importante na história – e o narrador avisa isso , com todas as letras . Somos apresentados a diversos personagens , num ritmo frenético , envolvente . O primeiro deles , o pouco importante , é um passante , pedestre , transeunte , que , ao voltar para casa , à 1 da madrugada , após um jogo de cartas com amigos regado a uísque 12 anos , pára numa praça para fazer xixi – e , ao olhar para uma estátua , vê luzes no céu , crê estar ficando louco , sai correndo . As luzes que ele viu vinham do apartamento do cientista Espérandieu : no seu surto telepático para fazer despertar o ptedorodáctilo , o idoso sábio levita , e faz levitar os objetos da sua sala , que produzem luzes . Mas , enquanto tudo isso está ocorrendo em Paris , a intrépida Adèle Blanc-Sec , a heroína da história , está no Egito , à procura da tumba do faraó Ramsés II . A criatividade , a inventividade de Besson para montar as aventuras de Adèle Blanc-Sec dentro da tumba do faraó devem ter deixado Spielberg e Lucas com inveja . As sequências em que primeiro vemos Adèle são geniais , espetaculares .
Assim como Indiana Jones tem que enfrentar um rival que rouba dele suas preciosas descobertas , Adèle Blanc-Sec também tem seu inimigo , o terrível vilão Dieuleveult ( interpretado por um Mathieu Amalric tão maquiado que fica praticamente irreconhecível ) . Dieuleveult aparece na tumba , com um grande bando de capangas , no momento exato em que Adèle parecia ter conseguido seu objetivo , o de encontrar o caixão onde há cinco mil anos repousava a múmia de Patmosis , que seria o médico pessoal do faraó . Mas Dieuleveult ( o som do nome faz lembrar a expressão Deus o quer ; como nas histórias de Astérix , os nomes dos personagens são grandes piadas ) é o vilão , e Adèle Blanc-Sec é a heroína , e assim ela conseguirá escapar das garras do bandido e , eventualmente , chegar de volta sã e salva a seu apartamento parisiense com o ataúde com a múmia de Patmosis . Um médico de cinco mil anos atrás para fazer reviver a irmã da heroína Bem , mas quem é exatamente Adèle Blanc-Sec ? É assim : Indiana Jones é um dublê de professor de arqueologia e arqueólogo-aventureiro , certo ? Adèle é uma dublê de jornalista investigativa e arqueóloga-aventureira . Sabe tudo e mais um pouco – e , como aventureira , tem a mesma destreza de Indiana Jones , ou talvez um pouco mais . O objetivo de Adèle ao levar para Paris a múmia do médico pessoal do imperador Ramsés II não é tão fácil de explicar . O caso é um tanto complexo – embora com perfeita lógica , dentro da lógica de uma aventura-ficção-fantasia baseada em história em quadrinhos . O professor Espérandieu ( e o som do nome remete a esperando Deus , certo ? ) consegue , com seus poderes telepáticos , fazer voltar a viver um animal de milhões de anos atrás . Se consegue isso , poderá conseguir também fazer reviver um médico egípcio morto há uns cinco anos . Adèle espera que Espérandieu desperte a múmia de Patmosis , para que ele trate de sua irmã gêmea , Agathe Blanc-Sec ( Laure de Clermont , à esquerda na foto abaixo ) . Agathe repousa em uma cama no apartamento de Adèle . Tem um soro na veia , e Adèle a trata como uma doente . Na verdade , Agathe está mortinha da silva , mas Adèle , a heroína da história , conta como certo que poderá curá-la – com a ajuda de Espérandieu e de Patmosis . Besson é um descobridor de mulheres estonteantes Me alonguei na sinopse da história , o que talvez seja bobo e desnecessário – mas achei a trama tão absolutamente fascinante que não me contive . A trama é fascinante , e a realização do filme é melhor ainda . Deixei para mais adiante o nome da atriz que faz Adèle Blanc-Sec , essa heroína supimpa , que tem a agilidade física de um Indiana Jones e fala na velocidade e na inteligência
de uma Hildy Johnson , a personagem de Rosalind Russell em Jejum de Amor / His Girl Friday , do mestre Howard Hawks . Chama-se Louise Bourgoin , a atriz que faz Adèle Blanc-Sec . Está ótima no papel , Louise Bourgoin . É simpática , atrevida , rápida no gatilho verbal e físico . Faz as mais imprevistas , inusitadas coisas – e encara quem a vê e se assusta com seus atos com a maior cara de pau , de quem não está nem aí . Tem mil caras . Fantasia-se de uns seis ou sete personagens diferentes – homens e mulheres – para tentar conseguir um de seus objetivos , lá pela metade da narrativa : transmuta-se em freira , advogado , enfermeira , guarda carcerário , o escambau . É bonita , atraente . Mas … pensei eu , quando ela aparece pela primeira vez … Bem , é bonita , mas não é assim uma coisa acachapantemente linda como , por exemplo , Natalie Portman ou Milla Jovovich , ou agressivamente atraente como Rie Rasmussen . Por que será que Besson , um descobridor de mulheres estonteantes , foi escolher Louise Bourgoin ? , me perguntei . ( Um descobridor de mulheres estonteantes . Lembrando : Besson dirigiu Natalie Portman em 1994 , quando ela era uma garotinha inexperiente de 13 anos , em O Profissional . Foi o responsável por levar Milla Jovovich da bem sucedida carreira de topmodel para o estrelato no cinema , em O Quinto Elemento , de 1997 , e Joana d’Arc , de 1999 . Rie Rasmussen , menos conhecida mas tão bela quanto as outras duas , foi a estrela de Angel-A , a fantasia em glorioso preto-e-branco que Besson fez em 2005 . ) Depois deste filme , o céu é o limite para Louise Bourgoin Louise Bourgoin , vi na internet assim que o filme acabou , é uma grande estrela da TV francesa . Nascida em 1981 , filha de um professor de filosofia e uma psiquiatra , estudou Belas Artes durante cinco anos – os pais queriam que ela tivesse uma carreira estável , como professora de artes plásticas . Mas a moça era muito bonita , passou a trabalhar como modelo e daí foi para a televisão em 2004 . Em um dos quadros que protagoniza semanalmente , faz personificações de personalidades famosas – já se travestiu de Ségolène Royal , a candidata socialista à presidência derrotada por Sarkozy , e também de Carla Bruni , a atual primeira-dama , e também de Jean Sarkozy , o filho do presidente . Não é à toa , portanto , que Besson criou tantos tipos diferentes em que ela se fantasia no filme . Mas a moça não é apenas uma estrela de TV . Estreou no cinema em 2008 no principal papel feminino da comédia amarga A Garota de Mônaco , e teve um pequeno papel em O Pequeno Nicolau . Depois deste filme aqui , o céu é o limite : está com
três filmes em produção ou em fase de pós-produção . Não percebi , ao ver o filme , que já tinha visto a atriz , e me impressionado com sua beleza O que é a memória – ou a falta dela . Só agora , nesta altura da anotação , fui ver o que escrevi sobre A Garota de Mônaco . E estão lá frases assim : E lá pelas tantas “ surge Audrey ( Louise Bourgoin ) , a garota do título – uma mulher lindíssima , gostosíssima , e mais todos os íssimas e érrimas possíveis e imagináveis , uma força da natureza , um vulcão , um tesão , uma coisa absurda , imensa , interminável , sempre com as roupas mais ínfimas , menores que as de uma rainha da bateria em plena Sapucaí . ” “ De longe , a melhor coisa do filme se chama Louise Bourgoin , a mulher íssima e érrima que faz Audrey . Louise Bourgoin ( nascida em 1981 ! ) foi , de fato , como sua personagem Audrey , uma moça do tempo numa emissora de TV ; depois deste filme , vem sendo comparada a Brigitte Bardot . Tem tudo a ver – até porque , no meio da apresentação da previsão de tempo , a garota Audrey canta ‘ Sur la Plage Abandonée ’ , uma canção que BB gravou com sua voz sensualíssima nos anos 60 . A canção reaparece nos créditos finais , na gravação de BB . ” “ Louise Bourgoin é de fato belíssima , gostosérrima , uma real força da natureza , como era Brigitte , um dos maiores símbolos sexuais dos últimos séculos . Vejo no iMDB que Louise Bourgoin já fez cinco filmes depois deste aqui . ( … ) Que Louise Bourgoin – eta mulherão , siô – faça bons filmes . ” Ótimas piadas , tramas gostosa , visual soberbo É o tal negócio : vivendo , aprendendo – e esquecendo , e depois aprendendo de novo . Mas é fantástico : neste filme , ela não me pareceu tão linda nem tão gostosa quanto em A Garota de Mônaco . OK : naquele , ela aparece o tempo todo em roupas absolutamente sumárias , e neste está sempre muitíssimo vestida , com camadas e mais camadas de roupa – com exceção daquele rápido momento , já citado , em que ela tira a roupa diante da múmia do médico do faraó para tomar banho . E , além de tudo , ela está bem diferente , aqui . Em A Garota de Mônaco ela está loura ( na foto menor , ao lado ) ; aqui está com o cabelo castanho . Na verdade , o fato de Louise Bourgoin ter caras diferentes a cada filme , sua capacidade de se fantasiar de diferentes pessoas reais na TV , de diferentes personagens neste filme aqui , isso só indica que a moça , além de beleza , tem talento . E pelo menos um bom filme
Louise Bourgoin já fez . É , repito , uma deliciosa diversão , este As Múmias do Faraó . Só a piadinha quase no final , quando o faraó comtempla o prédio do Louvre , já valeria o filme . Mas é apenas uma das dezenas e dezenas de boas piadas – fora a trama deliciosa , o talento da realização , o visual soberbo . 4 Comentários Bom filme as cenas onde Adele voa em cima do pterodáctilo com a lua ao fundo e o final onde Ramses II sai pra “ explorar ” o local saindo do museu dado de cara com o Arco do Triunfo para mim são as melhores , sem contar os diálogos , muito bons , rsrsr . ‘ Oi eu sou o hebert como vai vcs ? vou falar um pouco sobre ah mumia . Uma múmia é um cadáver , cuja pele e órgãos foram preservados intencional ou acidentalmente pela exposição a produtos químicos , frio extremo ( múmias de gelo ) , umidade muito baixa e etc . Atualmente , o mais antigo cadáver humano mumificado ( naturalmente ) descoberto foi uma cabeça decapitada , com de 6000 anos , encontrado em 1936.1 As múmias mais famosas são as egípcias , destacando-se as dos faraós , Tutancâmon , Seti I e Ramsés II , embora a primeira múmia egípcia conhecida , apelidada de “ Ginger ” , remonta a cerca de 3300 a.C . 6 Trackbacks [ … ] Mathieu Amalric , grande ator , mais de 70 filmes no currículo , diretor bissexto , autor de 12 títulos , incluindo curtas e documentários , ganhou o prêmio de direção em Cannes por Turnê , seu terceiro longa como realizador . [ … ] [ … ] E não são só os americanos que adoram uma múmia . Só para dar um exemplo , o francês Luc Besson fez em 2010 um filme delicioso em que múmias de faraós e seus ajundantes passeiam pela Paris do início do século XX , As Múmias do Faraó / Les Aventures Extraordinaires d’Adèle Blanc-Sec . [ … ] [ … ] Elemento ( 1997 ) esbanja imaginação , criatividade ; Angel-A ( 2005 ) é uma brincadeira gostosa ; As Múmias do Faraó ( 2010 ) é o que de melhor pode haver como cinema diversão . Mas acho que , com Lucy , Besson garante [ … ] Postar um Comentário O seu email nunca é publicado ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * lunes , 7 de abril de 2014 Porque la primavera es alegría y hay que celebrarla dándonos el gusto con algo dulce , como estos pastelitos de limón . Que a parte de ser deliciosos , nos dan ese toque refrescante a cítricos . A que apetece ? Parece ser que la meteorología nos ha dado una tregua , a ver cuanto nos dura . Estão Todos Bem / Everybody’s Fine De : Kirk Jones , EUA-Itália , 2009 Nota : Anotação em 2010 :
Estão Todos Bem é um bom filme sobre temas importantes , fundamentais : família , pais , filhos , o relacionamento entre eles , o que os pais tentam passar para os filhos , e o que acabam na realidade passando , em geral um resultado muito diferente do que se pretendia ; e as mentiras – ou no mínimo omissões da verdade – que surgem . E então é interessante verificar que , bem nos créditos iniciais , há uma mentirinha – ou , no mínimo , a omissão da verdade . Lá está dito que o filme é “ escrito e dirigido por Kirk Jones ” . Há uma convenção sobre a forma de se assinar a autoria dos roteiros . De uma maneira geral , a expressão “ written by ” – que é usada neste filme – significa que a pessoa foi a autora do argumento original e do roteiro . E não é verdade que o argumento de Estão Todos Bem seja de autoria de Kirk Jones . Essa mentira , ou omissão , é corrigida nos créditos finais , aquelas letrinhas pequenas , depois do final do filme , que muita gente não vê – em geral , as pessoas se levantam das poltronas do cinema ou da sala nessa hora . Então , lá quase no final dos créditos finais , em letrinha pequena , está a verdade inteira : Baseado no filme Stanno Tutti Bene , de Giuseppe Tornatore , 1990 , roteiro de Giuseppe Tornatore , Massimo De Rita e Tonino Guerra . Mas ainda bem que a verdade é dita – ainda que tarde , exatamente como algumas verdades da família retratada no filme só serão ditas bem no final . Antes tarde do que nunca . Stanno Tutti Bene , no Brasil Estamos Todos Bem , nos Estados Unidos Everybody’s Fine ( exatamente o título desta refilmagem feita em 2010 ) , foi o terceiro filme de Tornatore , logo depois de Cinema Paradiso , o maravilhoso filme que deu a ele fama mundial . Só vi o filme uma vez – segundo vejo nas minhas anotações , em julho de 1991 , em Buenos Aires , durante uma semana que passamos lá , Mary , Fernanda e eu ; infelizmente , só anotei os dados básicos , não escrevi nada sobre ele na época . E me lembro pouco do filme , em que o personagem central , interpretado pelo grande Marcello Mastroianni , percorre diversas cidades da Itália , se não me engano da Sicília até Milão , tentando visitar os filhos . Estão Todos Bem deu muita vontade de rever Estamos Todos Bem . Um homem solitário que sente falta da mulher e do trabalho É um bom filme , esta refilmagem americana , repito . Robert De Niro faz o papel que no filme original era o de Mastroianni . Nos últimos tempos , De Niro , grande ator , andou fazendo filmes com uma certa preguiça , fazendo uma caricatura de Robert De Niro
. Neste aqui , não – ele me pareceu muito bem , como costuma ser quando de fato quer , quando se interessa pelo papel que está fazendo . Compôs um personagem cheio de matizes – Frank Goode é um homem solitário , que sente o tempo todo a falta da mulher com quem viveu quatro décadas e morreu faz oito meses apenas ; vive muito confortavalmente em uma bela casa , tenta se convencer de que não sente falta do trabalho , agora que não precisa mais trabalhar , mas o fato de não haver mais o trabalho , assim como o de não haver mais a companheira de quase a vida toda , deixam um grande vazio na sua vida . No entanto , não é um homem que se entrega à angústia , que sucumbe a ela . Esforça-se para tocar a vida ; diz , várias vezes ao longo do filme , para várias pessoas , que está bem . É um batalhador . Quando a ação começa , Frank está se preparando e preparando sua grande casa agora vazia para receber a visita dos quatro filhos , todos já adultos , espalhados por diversas cidades , todas longe da dele . De propósito , o filme hora nenhuma especifica a cidade em que Frank mora . Pode ser qualquer uma – só é importante saber que todos os filhos não estão ali , estão bem longe , espalhados pelo país gigantesco . Como tantos pais , ele nunca tinha sido muito próximo dos filhos . Trabalhava demais , dentro daquela perspectiva tão absolutamente comum de que o papel do pai é o de ser um bom provedor material – e de fato Frank pôde prover estudo para todos eles . Contato mesmo , afeto , conversa , entendimento , eles tinham era com a mãe . Frank estava cuidando dos preparativos para receber os filhos , nos primeiros minutos da narrativa , e Mary já antecipava : ninguém vai vir . Sim , nenhum dos quatro virá . Em seguidos telefonemas , três deles dão explicações , justificativas – todos estão com problemas específicos que os impedem de sair de suas cidades naquele momento . Frank tem problemas de saúde – nada gravíssimo , fatal , mas seus pulmões não estão bem , ele toma medicação , seu médico diz que ele não deve viajar , em especial de avião . Frank tenta argumentar com ele , diz que viajaria de trem ou de ônibus , mas o médico o desaconselha , diz que ele precisa é descansar , ficar em casa , cuidar do jardim . Frank parte em busca dos filhos – vai a Nova York , depois a Chicago , depois a Denver , depois a Las Vegas . Estão Todos Bem tem muitas coisas previsíveis . Nada contra uma história previsível – isso não é uma crítica , é só uma constatação . O roteirista e diretor Kirk Jones usa alguns elementos que realçam essa coisa da previsibilidade . Por exemplo
: os fios . Frank Goode passou a vida em uma empresa ( presume-se que de sua propriedade ) que encapava fios com PVC , para protegê-los da chuva , do sol . Ele conta isso para uma vizinha de poltrona no trem para Nova York , a primeira das escalas de sua viagem de Odisseu , de Ulisses , pelos quatro cantos do país . Da janela do trem , vêem-se os fios – de energia , de telefonia . A câmara focaliza fios quando ouvimos a voz em off das duas filhas de Frank conversando ao telefone . Exatamente essa mesma imagem vai se repetir diversas vezes , ao longo do filme , sempre que há uma conversa telefônica entre os irmãos : a câmara focaliza fios , as vozes em off dos filhos conversam ao telefone . Há uma bela sacada : numa determinada hora do encontro de Frank com Amy ( Kate Beckinsale ) , a filha publicitária bem sucedida em termos materiais , Frank a vê como a garotinha de uns dez anos que ela havia sido . É uma bela sacada , mas é absolutamente previsível que ela voltará a aparecer quando Frank encontrar os outros filhos – e de fato volta , exatamente da mesma maneira . Frank os revê como eles eram quando garotinhos . Estão Todos Bem se repete na previsibilidade – e , de novo , aqui não vai juízo de valor . Não estou dizendo que isso seja ruim – é só uma constatação . O filme tem também uma série de coisas boas , de pequenos bons detalhes . Como Frank deixa Amy embaraçada ao tirar fotos dela no prédio em que ela trabalha . Como o filho de Amy em um segundo percebe que o avô não sabia usar as rodinhas de sua mala . Como Frank deixa Robert embaraçado quando surge de sopetão no teatro em que sua orquestra ensaia , fazendo desagradável barulho com a mala com rodinhas . Como Frank é antiquado – usa máquina fotográfica com filme , na era das fotos digitais . Belos detalhes que compõem bem os personagens , a história , o clima . E , no final , uma canção composta para o filme por Paul McCartney Kirk Jones fez um filme bem intencionado . O que ele pretende passar para o espectador , as conclusões a que ele chega são todas corretas , moralmente corretas . São bons toques para todos os pais do mundo . Exatamente por ser bem intencionado , a muita gente ele parecerá ingênuo , sentimentalóide , babaca . A crítica do AllMovie , por exemplo , desce a lenha , usa adjetivos como falso , óbvio , barato . Não me lembrava de ter ouvido o nome do diretor . Vejo que Kirk Jones nasceu em 1964 , em Bristol , na Inglaterra . Começou no cinema publicitário , no início dos anos 90 – e de fato seu filme tem um bom visual , uma fotografia de primeira qualidade , característica
básica de quem passou pelos filmes comerciais . Opa ! Seu primeiro filme foi Waking Ned Devine , no Brasil A Fortuna de Ned , uma absoluta delícia , “ um filme irlandês abençoadamente bem-humorado , de bem com a vida ” , segundo anotei quando o vi , em 1999 – o filme é de 1998 . Depois disso ele ficou vários anos sem filmar ; voltou em Nanny McPhee , de 2005 , uma comédia para toda a família , com a maravilhosa Emma Thompson ( que assina o roteiro ) fazendo uma babá mágica . Este aqui foi o terceiro filme do diretor . A trilha sonora de Estão Todos Bem é do italiano radicado na Inglaterra Dario Marianelli , autor da excepcional trilha de Desejo e Reparação / Atonement , da ótima trilha de Orgulho e Preconceito , da ótima trilha de O Solista / The Soloist , entre muitas outras Além das composições de Marianelli , a trilha tem belas músicas incidentais , canções suaves , num estilo folk – sweet songs and soft guitars . No finalzinho do filme , na última tomada , e ao longo dos créditos especiais , uma nova canção de Paul McCartney ! Só aí me lembrei da informação : sim , eu tinha lido que Sir James Paul McCartney havia composto uma canção especialmente para um filme de safra recentíssima , que havia sido indicada para um prêmio importante – de fato , “ ( I Want to ) Come Home ” foi indicada para o Globo de Ouro . O DVD do filme inclui um filmete de uns dez minutos em que o próprio Paul conta a história da música – desde o momento em que seu agente recebeu um telefonema de alguém que gostaria de saber se ele aceitaria compor uma canção para encerrar um filme que estava sendo produzido . Paul conta a história daquele jeito dele , aquele jeito de garoto , fazendo um monte de piadas , algumas sem graça – mas que ficam engraçadas por causa do absoluto charme de artista genial . Conta que passaram o filme já praticamente pronto para ele , num cinema do SoHo – e , no final , no lugar em que deveria entrar sua nova canção composta especial e especificamente para aquele momento , tinham colocado Aretha Franklin cantando “ Let It Be ” . E aí Paul diz algo assim : “ Parecia fácil – era só eu compor outro ‘ Let It Be ’ e cantar como Aretha Franklin . Aí até pensei em desistir . ” Claro que não desistiu . Ah , se a música que ele compôs é boa ? Claro que é boa : é McCartney , pô ! Três minutos e 35 segundos do melhor pop que pode haver . Já gravei , já baixei , estou ouvindo feliz como pinto no lixo . O CD da trilha sonora , vejo agora , não traz as canções , nem mesmo a de Paul – tem apenas as composições
da Marianelli . É um filme bastante bom , Estão Todos Bem , a refilmagem de Stanno Tutti Bene de Tornatore . Mas só por esse filmete de uns dez minutos com Sir James Paul já valeria a pena . 3 Comentários Assisti a versão americana , agora . É boa . Mas , ai , a versão original é primorosa , da trilha sonora – que acho que é do Morricone , um google me ajudaria , mas relevo – passando pela fotografia e culminando com o grande , grande Marcello fazendo o que ele faz melhor : permitindo nos ver a réstia de fragilidade que nos é própria ´por sermos humanos . Lembro de não ter gostado desse filme . Assisti pulando algumas partes , achei pra baixo e também previsível , meio clichê . Sou do time que o considerou sentimentalóide . Mas como você disse , alguns detalhes são bons , só que sozinhos não salvam o filme . Lembro de um desses detalhes , quando ele falava ao telefone com uma das filhas : ela disse que a mãe deles sabia ouvir , já ele era mais do tipo que só sabia falar ( ou teria sido o contrário ? ) . Enfim , às vezes falta isso aos pais , saber ouvir os filhos , principalmente na adolescência , quando há um afastamento natural . Aliás , falta isso a muita gente , principalmente nos dias atuais . Ninguém quer ouvir ninguém . Triste . Não achei o filme sentimentalóide ( sic ) . O pai que tenta reestabelecer relações com os filhos numa momento de sua vida que as coisas triviais , cotidianas já não fazem mais sentido . E os filhos buscando desculpas para não terem um contato mais próximo com o pai , justamente porque estão naquela fase da vida em que estão buscando justamente o que o pai buscava quando eles eram crianças e de , uma certa forma , emulando o comportamento do pai , na função de provedor da família , evitando o contato com o passado e , por consequência , com seus sentimentos . O turn point dos filhos acontece exatamente quando eles percebem que tal contato é inevitável e evitar a aproximação com o pai seria negar as próprias origens e , paradoxalmente , ter um comportamento diferente em relação à prole e ao mundo , do que o pai deles teve nas infâncias . Previsível sim , assim como o comportamento humano também é previsível , ou seja , como diz Sérgio isso não é uma crítica mas uma constatação . [ … ] até já é uma tradição : Estamos Todos Bem / Stanno Tutti Bene , de Giuseppe Tornatore , de 1990 , Estão Todos Bem/Everybody’s Fine , de Kirk Jones , de 2009 , refilmagem do original italiano , Não se Preocupe , Estou Bem!/Je Vais Bien , [ … ] [ … ] vez em quando , porém , De Niro desliga o piloto automático . Fez isso , por
exemplo , em Estão Todos Bem , de 2009 , refilmagem americana da obra de Giuseppe Tornatore com Marcello Mastroianni . Na minha [ … ] Postar um Comentário O seu email nunca é publicado ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * Ela Queria Riquezas / Rings on Her Fingers De : Rouben Mamoulian , EUA , 1942 Nota : O diretor , Rouben Mamoulian , é respeitável . No elenco estão o impecável Henry Fonda , a fantástica , apaixonantemente bela Gene Tierney , aos 22 aninhos de idade , mais a simpatia de Spring Byington , num papel diferente do que era o seu padrão . Produção da Fox em 1942 , Hollywood da época dourada . Pois é . E , no entanto , este Rings on Her Fingers , no Brasil Ela Queria Riquezas , é uma imensa bobagem . A trama não se segura de pé , e tem mais furos que um queijo suíço ou que Bonnie e Clyde após serem fuzilados milhares de vezes no final do grande filme de Arthur Penn . A rigor , a rigor , não é um filme que defenda idéias , princípios ruins . Ao contrário . A moral da história é muito boa – é aquela grande verdade básica de que o dinheiro não é e não deve ser a meta na vida , e o bom mesmo é a felicidade , o amor . O problema é que , para chegar até essa moral , a fábula percorre caminhos perigosos . E tropeça , e falha , e cai umas trocentas vezes . Um homem e uma mulher que parecem ser milionários – mas são golpistas A narrativa começa numa loja extremamente chique de roupas para mulheres ricas , extremamente ricas , em Manhattan , o umbigo do mundo capitalista naquele ano de 1942 em que o filme foi feito assim como hoje , muito mais de meio século depois . Susan Miller ( o personagem de Gene Tierney ) é uma das vendedoras da loja – e ela , assim como a mulher que veio depois de Amélia na vida do narrador do velho samba , só pensa em luxo e riqueza . Conversando com a colega , entre o atendimento a uma cliente e outra , consegue sintetizar em uma frase a frustração que sente na vida : – “ Acho que nascemos do lado errado do balcão . ” Mas logo chegam à loja um homem e uma mulher de meia idade , com todo jeitão de milionários . Chamam-se Warren ( Laird Cregar ) e Maybelle Worthington ( a simpática Spring Byington , que em geral fazia o papel de mãe de família simpática , trabalhadora , esforçada , perfeita ) . Os dois ficam de imediato fascinados com a beleza de Susan . Estavam ali para comprar roupas para Lilian – que dizem ser sua sobrinha – usar na festa daquela noite . Mas Warren acabou de ser informado de que Lilian havia abandonado a dupla
, se casado e dado no pé . E então resolvem convidar a linda vendedora para ir à festa com as roupas finas compradas na loja , no lugar de Lilian . Há então um corte no tempo . Não se mostra a festa – pula-se para o dia seguinte . Um mensageiro entrega a Susan um envelope enviado por Warren e May , contendo uma nota de US$ 100 , algo que a garota jamais havia visto na vida . Susan vai até a casa dos dois , a princípio querendo devolver o presente . Dá-se então o seguinte diálogo : Susan : – “ Me digam , vocês são mesmo milionários ? ” Warren ( depois de ele e May caírem na gargalhada ) : – “ Por quê ? ” Susan : – “ Bem , parece que está faltando alguma coisa . ” May : – “ Só os milhões – uma questão de tecnicalidade . ” Warren : – “ Sabe , a natureza brincou conosco : nós deveríamos ter nascido com sangue azul , e então devotamos nossa vida a corrigir esse erro biológico . ” Susan : – “ O que vocês fazem ? Se não são milionários , o que vocês são ? ” May : – “ Bem , somos uma espécie de excesso de taxa de juros . Criticar-nos seria uma atitude anti-americana . ” Warren : – “ Somos meras abelhas que pegam um pouco de néctar das flores que têm tanto . E você também pode ter um pouco . ” O golpista consegue vender para o protagonista um iate que não era dele Em suma : Warren e May são bandidos , golpistas . Posam de milionários para andar entre milionários e dar neles golpes , usando como atrativo , como isca , uma jovem extremamente bela , como era Lilian , e como agora propõem que seja Susan . Exatamente de que forma aplicam os golpes , isso o filme não explicita . Mostra-se que procuram arranjar para a moça linda um casamento milionário – mas se , enquanto o casório não acontece , eles cafetinam a moça em troca de muita grana , isso a gente não fica sabendo . Nem ficaria mesmo sabendo , numa produção hollywoodiana de 1942 , com o Código Hays de autocensura dos estúdios ainda em pleno vigor . O fato é que , logo depois desse diálogo que o IMDb transcreveu , e eu peguei dele , vão surgindo aquelas imagens de etiquetas de hotéis e navios que eram coladas às malas : Warren , a sra . Maybelle Worthington e sua filha Linda Worthington – o novo nome de Susan – andaram viajando por Havana , Rio de Janeiro , Hamilton nas Bermudas , Cidade do México . E , com dez minutos de filme , estão na praia em Palm Beach , Califórnia . May está sentada em uma cadeira de praia , debaixo de um guarda-sol , e a ex-Susan-agora-Linda está deitada , de maiô ,
numa toalha estendida na areia . E tenho que confessar que só por essa sequência – de resto boba como todo o filme – em que vemos a jovem Gene Tierney de maiô já vale a pena ver este Rings on Her Fingers . May diz uma bela frase . Reclama que , dali , vendo os homens no mar , fica difícil reconhecer quem é milionário : – “ Sem roupa , todos os homens parecem bem financeiramente . ” Um funcionário do hotel , carregando um telefone , e parado exatamente ao lado de May , grita pelo sr . Wheeler . Um jovem senhor se identifica , sai do mar , vem atender ao telefone – Henry Fonda estava , na época , com 37 anos , mas parecia ter uns 30 . Danado de bonito , o pai de Jane e Peter , avô de Bridget . O sr . Wheeler atende ao telefonema de uma pessoa interessada em lhe vender um barco , um pequeno iate . O iate está ancorado no mar , bem na frente do hotel , a algumas dezenas de metros da praia . Wheeler vai fazendo perguntas sobre o barco , e olhando para ele . Só que , entre ele e o barco há um avião , perdão , há aquela Gene Tierney toda – e ela se vira para um lado , se vira para outro , deita de costas , de bruços , balança o pezinho no ar . O vigarista Warren então bola um plano para vender para Wheeler , por US$ 15 mil , pagos em dinheiro , um iate … que , evidentemente , não pertence a ele . Assim que percebe o golpe – e percebe o golpe de imediato – , Wheeler vai à polícia , tenta descrever o homem que o roubou . Prometem que vão tentar encontrá-lo . O trio de vigaristas sai às pressas de Palm Beach , Warren e May felizes com o golpe bem sucedido . Já Susan-Linda não está nada bem . Sente culpa , remorso – e o espectador percebe que ela tinha ficado bastante encantadinha com o homem que ajudou a roubar . O sujeito roubado não é o milionário que parecia ser . Era um trabalhador com um salário razoável , e os US$ 15 mil que entrega ao vigarista era tudo que ele havia conseguido juntar na vida . Gene Tierney interpreta muito bem a moça pobre que aprende bons modos O que vem a partir daí é cada vez mais bobo , mais sem sentido , e cada vez com mais furos . Acho que não seria spoiler dizer que a mocinha que odiava o mundo por estar do lado errado do balcão , que só pensava em luxo e riqueza , e virou comparsa de uma dupla de vigaristas , rapidamente resolve voltar à vida honesta e dura , pobre , quebrada , sem grana . É , de fato , uma trama danada de boba . Mas , ao
rever o inicinho do filme para checar uns detalhes para não cometer erros nesta anotação , notei com mais clareza uma coisa que já havia percebido quando vi o filme inteiro . É o seguinte : é sensacional a transformação por que passa a personagem de Gene Tierney entre a sua existência como Susan , a garotinha pobre criada no Brooklyn que era ruim na escola e , vendedora em loja chique , morria de inveja dos ricos , e a moça que se passa por filha de uma milionária , e que vemos pela primeira vez na tal sequência em Palm Beach . Susan fala gírias e expressões populares ( no segundo encontro dela com May mostrado no filme , ela fala “ Gee ” , interjeição próxima da caramba , putz , e May diz para ela não usar aquela palavra nunca ) . Masca chickete abrindo bem a boca . Faz gestos estabanados . Pensando bem , como conseguiu aquele emprego numa loja muito chique de Manhattan ? Pois é . Mais um furo de um roteiro cheio de furos . Que ela reapareça já bem diferente , no modo de falar , de andar , de gesticular não deve necessariamente ser definido como furo , porque a dupla de vigaristas pode ter , naquelas viagens deles pelas Américas e Caribe , aplicado um curso intensivo de Professor Henry Higgins em cima dessa Eliza Doolittle . Mas o que é fascinante é que , tão absolutamente jovem , aos ridículos 22 anos de idade , essa moça de beleza estonteante ( e que teria uma vida mais trágica do que a de todas as suas personagens ) consegue interpretar maravilhosamente a moça pobre que vira fina e chique . Claro , o fato de o diretor ser Reuben Mamoulian ajuda muito , mas a verdade é que a interpretação de Gene Tierney nesta comedinha bocó já demonstra seu talento . Três anos mais tarde , em 1945 , ela estrelaria Laura , um dos clássicos mais adorados do cinema americano . E , vinte anos depois deste Rings on Her Fingers , em 1962 , Gene Tierney e Henry Fonda voltariam a estar juntos no elenco de um filme , o ótimo drama político Tempestade Sobre Washington / Advise & Consent , realizado por Otto Preminger , o mesmo diretor de Laura . Foi um dos últimos filmes da carreira de Gene Tierney , e a sensação que sempre tive foi de que Preminger deu um papel a ela um tanto para ajudá-la . ( No meu texto sobre Laura , faço um resumo das muitas tragédias que se abateram sobre essa mulher de beleza incomparável . ) Maltin diz que o filme é uma tentativa de repetir do sucesso de The Lady Eve Leonard Maltin deu 2.5 estrelas em 4 ao filme , e escreveu sobre ele uma única frase : “ Vigarista Tierney se apaixona por Fonda em vez de depená-lo ; romance padrão com bom elenco na esperança de repetir o sucesso que Fonda
teve com The Lady Eve ” . The Lady Eve no Brasil teve o título de As Três Noites de Eva , e foi lançado em 1941 , um ano antes deste Rings on Her Fingers . O diretor é o grande Preston Sturges , e dele a sempre cricri Pauline Kael disse o seguinte : “ Barbara Stanwyck estica sua perna sensacional , e Henry Fonda tropeça nela . Ela é uma vigarista profissional do baralho , e ele um cientista milionário que entende mais de cobras do que de mulheres ; nenhum dos dois jamais esteve tão engraçado ” . Um dia preciso rever The Lady Eve . Quando vi pela primeira vez , em 2000 , não entrei em sintonia com o filme , achei bobo demais . Mas este Rings on Her Fingers não preciso rever . É , sem dúvida alguma , bobo demais . E além disso , pelo que mostram Maltin e Pauline Kael , cópia da idéia do outro filme . A Caixa / The Box De : Richard Kelly , EUA , 2009 Nota : Anotação em 2010 : A Caixa cita Sartre duas vezes . Mas a sensação que tive foi que a trama é assim uma mistura do Fausto , de Goethe , ou de O Retrato de Dorian Gray , de Oscar Wilde , com as histórias do muito menos reconhecido Fredric Brown . Mas vamos por partes . Parece que o filme foi um fracasso de público e crítica . No entanto , não é ruim , de forma alguma – ao contrário . É uma interessante mistura de ficção / fantasia com ficção científica com thriller de suspense , mas na verdade é uma parábola moral , uma grande metáfora que questiona os códigos de valores das pessoas , da sociedade . A Caixa abre com um texto que vai sendo escrito como se fosse no antigo , antiqüíssimo telex – à medida em que as palavras vão aparecendo na tela , ouvimos um barulhinho semelhante ao que o telex fazia . É um memorando interno – confidencial – para o vice-diretor da Agência de Segurança Nacional , NSA na sigla em inglês . Diz o seguinte : – “ Ressuscitação do paciente Arlington James Steward confirmada pelo hospital . Paciente recebeu alta da unidade de queimadura na manhã de 24 de julho , indo a local não revelado . Paciente construiu um dispositivo de finalidade não reconhecida . Especificações foram confirmadas pelo Projeto Marte . Paciente está entregando o dispositivo a residências privadas . Mais informações em breve . ” Um letreiro nos avisa que estamos na Virgínia , em 1976 , e as primeiras seqüências mostram um início de manhã na casa dos Lewis , um casal na faixa dos 35 anos , com um filho de uns dez . O relógio na cabeceira marca 5h45 , e Norma ( Cameron Diaz ) e Arthur ( James Marsden ) acordam com o som da campainha . Norma desce as escadas , vai até a
porta da frente , vê pelo olho mágico um grande carro preto se afastando ; abre a porta e no chão , diante dela , está um embrulho em forma de cubo . A família – os pais mais o filho Walter ( Sam Oz Stone ) se reúne em uma mesa em volta do embrulho . Lá dentro está uma caixa , um cubo , com uma luzinha em cima ; há uma chave , e um grande cartão com a seguinte frase : “ O sr . Steward vai visitá-los às 17h . ” O salário é apertado , e a família perde a bolsa de estudos do filho O diretor e roteirista Richard Kelly se dá , assim , um bom espaço de tempo – um dia inteiro – para apresentar os Lewis ao espectador . Arthur Lewis é um cientista , formado em engenharia ; trabalha na Nasa , a agência espacial americana ; está envolvido no Projeto Marte – o envio de uma sonda ao planeta , que passaria para a Terra fotos e informações – , mas espera obter um dos cobiçados lugares de astronauta . Naquele dia , ficará sabendo que não passou nos testes . Norma Lewis é professora de literatura de um bom colégio , onde seu filho Walter estuda com bolsa ; na aula que o espectador vê , naquele dia inicial , ela está falando de Sartre , Huis Clos , Entre Quatro Paredes ( que em inglês se chamou No Exit ) , aquela frase famosérrima , “ o inferno são os outros ” . Um aluno surpreende a todos perguntando por que a professora manca ; mais surpreendente ainda é que a professora Norma , em vez de ignorar a impertinência ou mandar o aluno para fora da classe , senta-se em cima da mesa , tira a bota , a meia , e expõe à classe o pé deformado , sem quatro dedos . Pouco depois , Norma é chamada pelo diretor do colégio , que a informa que , infelizmente , a escola não poderá mais dar bolsa de estudo aos filhos dos professores . Arthur e Norma vivem com conforto , mas o salário dos dois é apertado , dá apenas para pagar as contas – sem a bolsa de estudos para Walter , e sem o aumento que Arthur teria caso obtivesse a vaga como astronauta , a família vai passar um grande aperto . Steward não tem boa parte da face esquerda ; tem uma imensa queimadura que consumiu parte do rosto . Norma fica assustada com a aparência dele , assim como o espectador . Muito mais assustador é o que ele tem a oferecer : – “ Eu tenho uma oferta a fazer ” , informa ele a Norma . “ Se você puxar o botão ( da caixa entregue pela manhã ) , duas coisas vão acontecer . Primeiro , alguém , em algum lugar do mundo , que vocês não conhecem , vai morrer . Segundo , vocês
receberão um pagamento de US$ 1 milhão . Vocês têm 24 horas para decidir . ” O trato com o diabo – a alma de Fausto em troca da vida eterna . A alma de Dorian Gray em troca da eterna juventude . A questão que o filme coloca para o espectador é esta : você mataria um desconhecido para ganhar uma fortuna ? Um detalhinho mínimo que me chamou a atenção foi o nome do personagem misterioso interpretado por Frank Langella , o ator que fez o excelente Nixon em Frost / Nixon . Arlington James Steward . Faz lembar , claro , James Stewart , o grande ator . Arlington é o nome do cemitério militar na Virgínia , perto de Washington , onde são enterrados muitos dos militares americanos mortos em combate . E Steward é comissário de bordo , mordomo , administrador – algo que o personagem revelará ser . Um nome sugestivo , muito bem sacado . O autor da história é Richard Matheson , homem de obra vasta Fredric Brown ( 1906-1972 ) jamais obteve a respeitabilidade de Isaac Asimov , ou Arthur C . Clarke ( aliás , citado algumas vezes ao longo do filme ) , ou Clifford D . Simak , mas é um brilho de escritor . Escreveu algumas das parábolas morais mais enxutas , mais violentas , mais cortantes da ficção científica de que tenho notícia . Como tantos outros autores de ficção científica – a começar dos três citados no início do parágrafo – , usava suas histórias para fazer belas considerações sobre os grandes valores morais , os descaminhos da humanidade , o talento inesgotável do homem para destruir tudo à sua volta , desde o vizinho até as fontes de vida do planeta . Fredric Brown seguramente assinaria embaixo dessa história criada por um conterrâneo e praticamente contemporâneo seu , Richard Matheson , nascido em 1926 . Matheson é o autor do conto “ Button , Button ” , em que o filme se baseia . É um escritor prolixo , tem obra vastíssima ; foi também roteirista de diversos filmes , vários deles baseados em livros de sua própria autoria . Confesso ( e já confessei aqui coisas muito mais graves ) : nunca tinha ouvido falar , ou não me lembrava de ter ouvido falar em Richard Matheson . Ignorância minha . Não tenho idéia de se as pessoas ligam o nome às obras dele . Richard Matheson foi o autor , em 1951 , da novela The Shrinking Man ; concordou em vender os direitos de adaptação do texto para o cinema desde que ele mesmo escrevesse o roteiro , e foi o autor do roteiro de The Incredible Shrinking Man , de 1957 , hoje tido como um clássico . Foi o autor do conto “ Duel ” e também do roteiro do filme do mesmo nome – Encurralado , o filme que revelou o gênio Steven Spielberg . Foi também o autor da novela I Am Legend ; como até já
foi dito aqui neste site , esse livro de Matheson virou o filme The Last Man on Earth , em 1964 , dirigido por Ubaldo Ragona e estrelado por Vincent Price ; em 1967 virou um curta-metragem espanhol com o título de Soy Leyenda ; aí a Warner comprou os direitos de filmagem do livro , e , em 1971 , lançou The Omega Man , dirigido por Boris Segal , com Charlton Heston no papel que tinha sido de Vincent Price e , em 2007 , foi refilmado com Will Smith no papel central e Alice Braga com boa participação . E tem muito mais . Richard Matheson foi autor de diversas das tramas de Histórias Maravilhosas / Amazing Stories e No Limite da Realidade / Twilight Zone , duas séries que marcaram época na TV . O sujeito tem uma imaginação inesgotável . É sempre bem-vindo um filme que discute valores morais Matheson não participou desta adaptação de seu conto “ Button , Button ” para o cinema . Aos 83 anos , desfruta de merecidíssima aposentadoria . Sua história foi escrita para o cinema pelo jovem Richard Kelly , garotão nascido em 1975 , exatamente no Estado da Virginia , bem pertinho de Washington , D.C , o Estado onde ficam as sedes da CIA e da Agência de Segurança Nacional . Em 2001 , Richard Kelly escreveu e dirigiu Donnie Darko , um filme que eu não vi , mas , aparentemente , deixou meio mundo impressionado . Sabe fazer cinema , o garotão Richard Kelly . Cria clima , deixa o espectador curioso , temeroso , às vezes abertamente apavorado . Dirige bem os atores ( até a insossa Cameron Diaz está bem ) , não tenta criativóis , invenciones – nem seria preciso , com uma trama que envolve o sobrenatural , o além do que conhecemos . Tem o mérito de discutir valores , num mundo , numa sociedade , que anda precisando desesperadamente fazer isso – redescobrir valores , reencontrar valores . Não sei se Sartre , Goethe ou Wilde gostariam deste filme . Danem-se eles . Tenho quase absoluta certeza de que Fredric Brown gostaria . E , portanto , é um filme que vale a pena ver . Só hoje vi que o realizador é o mesmo de Donnie Darko que eu vi e que me deixou completamente KO , zarolho , de rastos . Não percebi nada , absolutamente nada . Falei com um amigo que deu uma explicação que ainda me deixou pior . O meu QI baixou para uns 20 ou 30 . Se eu sabia tinha evitado este . Uma crítica apurada e sincera sobre um filme controverso . É um filme mais complexo que Donnie Darko . Uma premissa visceral e estarrecedora que incorpora a filosofia de Jean-Paul Sartre , o gnosticismo maçônico , o esoterismo e os dilemas éticos e morais . O brilhante diretor explora com sutileza e maestria os limites da subjetividade . Abaixo uma interpretação do enredo . CURIOSIDADE Há uma
cena que exibe abertamente a carteira de cigarros Marlboro e reza a lenda que existem 5 símbolos maçônicos ocultos na mesma . O filme Agentes do Destino ( The Adjustment Bureau ) versa sobre partes do mesmo tema ( governo oculto ) . É baseado no conto Adjustment Team de Philip K . Dick cujo autor Richard Kelly demonstra ter influências e utilizado diversos conceitos para seus filmes . ENREDO A história se passa em 1976 , onde Arthur e sua esposa Norma acabam de adquirir uma casa nova . Eles são a típica família de classe média suburbana , retratada de forma medíocre . No início , há um informativo de que Arlington Steward foi ressuscitado e liberado da unidade de queimados . Numa manhã , Arlington chega num Lincoln preto , como um “ homem de preto ” e misteriosamente deixa uma caixa na porta da casa do casal . Arthur dirige-se para a NASA e dedica-se a construir um pé protético para Norma e seu pé mutilado . Norma descobre que a caixa contém um botão vermelho , enquanto isso , Arthur é rejeitado como astronauta , um objetivo pessoal de longa data e o financiamento para a casa nova e as prestações do carro . Norma ensina Inglês numa escola católica privada local e estuda o ensaio “ Sem Saída ” de Jean-Paul Sartre . Um aluno intrometido tenta constranger Norma , pedindo que mostre a classe o pé e revele porque manca . Norma aceita e mostra . Puxando o fio do novelo filosófico de Sartre , ou seja , à medida que amadurecemos , nos escondemos atrás de “ máscaras ” ao mesmo tempo que somos livres e os únicos responsáveis por nossos atos . O pé defeituoso de Norma é uma imperfeição a esconder , um lembrete de que a bela aparência mascara a fachada do pé mutilado . Se Norma aceitasse o defeito , ela realmente seria livre dos estigmas que as imperfeições produzem em nossa psique . Norma comenta em sala de aula a famosa citação , “ o inferno são os outros ” , pois , os outros “ conhecem nossos defeitos . ” Observa-se que o filho do casal não acredita em Papai Noel quando o assunto vem à tona na cozinha , pois Arthur sendo um cientista , transferiu inconscientemente isto ao menino ( na visão de Sartre ) . O cientificismo é outra máscara para Sartre ao afirmar que os cientistas se escondem atrás da máscara da racionalidade e quando surge um mistério inexplicável pela ciência , evitam uma conclusão temerária . Porém , Arthur e Norma estão prestes a descobrirem algo que nunca poderiam imaginar . Na manhã seguinte , há uma conferência de imprensa na NASA sobre o lançamento da próxima Sonda exploratória em Marte , curiosamente o porta-voz efetua declarações sobre a descoberta de “ vida ” e “ antigas civilizações alienígenas . ” No entanto , A Caixa vai dar-nos uma pista velada de como os “ alienígenas ” realmente são . Durante
a conferência , uma repórter pergunta por que a NASA está trabalhando com a NSA e fica sem resposta . Além disso , Norma perde o subsídio para os estudos do filho , percebendo que o nariz do diretor sangra quando a informa . Mais tarde , Arlington chega oferecendo um milhão de dólares se o casal apertar o dispositivo-botão que resultará na morte de alguém que não conhecem . Eles têm 24 horas para tomar uma decisão e , não aceitando a oferta , A Caixa será levada e reprogramada . Steward deixa uma nota de cem dólares com Norma ( despertando a dúvida e a tentação na consciência humana ) . O casal se encontra num dilema ético e moral . Na próxima seqüência , vemos a imagem de uma câmera de vigilância da NASA direcionada aos trabalhadores e um homem estranho de terno olhando pra câmera . Esta figura é uma pista que só aparece no filme um par de vezes ( olhando propositalmente do fundo ) . Ele é outro “ homem de preto ” que representa o “ governo oculto ” , o controle da NSA e da NASA . Não se sabe sua identidade , além de que é o “ patrão ” de Steward e um representante ou o próprio empregador . Norma decide apertar o botão , depois de tentar persuadir Arthur ainda duvidoso sobre a forma de obtenção deste dinheiro . O casal vai assistir a peça “ Sem Saída ” do mesmo ensaio que Norma abordou em sala de aula . No ensaio de Sartre , três pessoas descobrem que foram escoltados ao inferno por um condutor-demônio , assim como , no filme ocorre algo parecido com o casal e o filho , onde o tormento acaba sendo um ao outro . Começamos a perceber que Arthur , Norma e o filho estão sendo escoltados até o seu “ inferno pessoal ” . Aprisionados em suas vidas de desejos escondidos e segredos não revelados ( o filho do casal é sempre o último a “ não ” saber ) . No fim da peça novamente aparece o “ homem de preto ” passando ao fundo do palco e , a seguir , a câmera foca um homem idoso como se estivesse hipnotizado ( agindo de forma robótica como o Papai Noel que “ provoca ” uma colisão entre o carro em que se encontra Arthur e um caminhão . Assim como , os “ empregados ” de Steward ) . Nota-se que ao longo do filme a televisão está sempre ligada na casa do casal , mostrando brevemente o que é relevante num nível esotérico . O casal vai a uma festa de Natal com os colegas de trabalho onde as coisas começam a ficar estranhas . Certas pessoas observam o casal com olhares de reprovação , ao mesmo tempo em que fazem a brincadeira de escolha aleatória dos presentes sob a árvore . Um garçom ( que é o aluno intrometido de Norma ) faz um sinal de paz
( dois dedos formando um V ) e Arthur pega uma caixa com uma foto borrada de Arlington como presente . Enquanto isso , a babá que está cuidando do filho do casal , percebe que os dois estão sendo observados por um estranho através da janela . Os dois vão até o porão após uma discussão de histórias em quadrinhos , e numa das capas das revistas de Arthur há um alienígena , um caixão flutuando no espaço e um crânio ultrapassando um portal ( o pilar gnóstico-cabalístico e os símbolos ritualísticos de iniciação ? ) . A babá olha uma gravura fixa na parede e pergunta do que se trata . O filho do casal afirma que é a “ terceira lei ” de Arthur C . Clarke e que seu pai o conhece . A frase é uma pista de um conhecimento esotérico , ou seja , “ qualquer tecnologia suficientemente avançada é indistinguível de magia ” . E Arthur irá vivenciar eventos que a ciência não explica . De volta a festa de Natal , o garçom e aluno de Norma provoca Arthur , rindo do episódio em que a humilhou devido ao pé defeituoso . Outro garçom avisa Norma que há um telefonema para ela , então esquece o que estava fazendo e seu nariz começa a sangrar . Arlington sabe que Arthur tentou rastreá-lo e adverte Norma de que eles fizeram um acordo que não pode ser quebrado . Arthur esmurra o aluno de Norma que ri e faz o sinal de paz . Os dois abandonam a festa e o cara que estaciona os veículos faz o sinal de paz , enquanto o casal dá a partida no carro . No gelo do pára-brisa do carro está escrito “ Sem Saída ” ( o ensaio de Sartre novamente ) . Arthur descobre por intermédio do pai de Norma e policial que o carro de Arlington está registrado em nome da NSA . Arthur percebe que sua família está sendo constantemente vigiada . A seguir , uma cena bizarra aparece na televisão da família , ou seja , as Torres Gêmeas estão fora do lugar onde foram construídas . Não estão no terreno em Lower Manhattan e congelando a imagem se percebe pelos prédios vizinhos e pela bacia oceânica . ( O que faz um galeão espanhol dos séculos passados cruzando na frente das torres ? ) . Duas torres e dois pilares “ em queda ” são relevantes para a cabala e para a maçonaria ( as duas portas Jaquim e Boaz ) . Lembrando que em 9 / 11 três torres caíram , e não apenas duas . No ocultismo , o pilar do meio significa equilíbrio entre os dois pilares laterais de misericórdia e gravidade , bem como , o “ pilar de iniciação e integração . ” É o equilíbrio entre o yin e o yang , o macho e a fêmea e etc . . . O filho pode ser o pilar do meio , neste caso , o
equilíbrio entre Arthur e Norma . O pilar do meio se refere ao cubo de seis lados do espaço ( com todas direções ) , o cubo perfeito . E um cubo perfeito é uma caixa . A destruição das torres gêmeas , intrinsecamente , sugerem uma nova ordem das idades e , grande parte das teorias de iniciação incluem a morte da essência espiritual anterior ( velha ) e a ressurreição da próxima ( nova ) . Eis o que se aproxima de Arthur . Voltando ao enredo , Arthur leva a babá para casa e ela percebe que há sangue nas mãos do mesmo ( sangue em suas mãos como idéia de culpa ? ) . A babá diz para Arthur olhar para a “ luz ” como solução para os problemas que ele enfrenta e que a “ luz ” o cegará . Então o nariz da babá começa a sangrar e há uma constante alusão à sangue no filme , e sangue é vermelho . Por sua vez , Arthur está trabalhando numa missão a Marte , o “ Planeta Vermelho ” e , também considerado o “ deus da guerra ” e o capeta para quem aprecia sua companhia . Outra pista lançada no enredo . Arthur descobre que a babá usa um falso nome ao pegar sua carteira de identidade ( ela deixa cair ) . Na cena seguinte , é revelado que Arlington está construindo uma espécie de portal nas instalações da NASA e que esta é obrigada a colaborar com a NSA . Uma notícia televisiva informa que “ a águia pousou ” e a missão a Marte vai revelar definitivamente que há “ vida em outros planetas . ” ( seria um meio de desviar a atenção para o que se passa na Terra ? ) Então , a NSA está vinculada com a NASA e os “ empregados ” de Arlington sofrem uma lavagem cerebral para serem usados como “ cobaias ” em seu portal tecnológico “ de luz . ” Neste momento é revelado como Arlington morreu , ou seja , atingido por um raio 5 vezes superior a temperatura solar . Quando “ ressuscitou ” era uma “ entidade ” diferente com fins de servir a um “ empregador ” . Superficialmente , o enredo dá a entender que sua consciência foi dominada por uma inteligência alienígena ( os empregadores de Arlington ) . Porém , o raio é “ luz ” , a “ luz ” de iniciação do gnosticismo maçônico que afasta a premissa de dominação extraterrena . Na seqüência , Arthur ( por meio de uma fotografia de Arlington contendo o endereço da biblioteca ) e Norma ( por meio do aviso da jornalista que não teve sua pergunta respondida na conferência da NASA ) são levados até a biblioteca pública . A biblioteca é uma casa de conhecimento ( gnose significa conhecimento ) e é lá que Arthur tem seu ritual de iniciação maçônico particular . Arthur é levado numa procissão litúrgica pelos “
santos da biblioteca ” ( na verdade uma igreja ocultista ) até uma porta em que aparece a esposa de Steward e lhe é concedido uma “ bênção ” litúrgica ocultista ” ( os braços da Sra . Steward estão , claramente posicionados como o sinal-bênção maçônico ) Há uma grande pintura exposta acima da entrada da porta mostrando um santo cuja a forma é similar a posição de iniciação de um mago gnóstico . Arthur compreende agora que ciência e magia são indistinguíveis ( a terceira lei de Arthur C . Clarke na gravura fixada no porão da casa deles ) . Ao adentrar a sala , a esposa de Arlington revela-se como Clymene ( uma referência à deusa de Klymenos ou Hades ? ) , sendo mostrado a ele três pilares de água . Ele deve escolher apenas um para obter descanso em “ danação eterna ” . Arthur recorda que vários “ empregados ” fizeram o sinal de paz , levantando dois dedos . Então , ele escolhe o “ pilar do meio ” ( do equilíbrio e da harmonia ) . Ele é levado para a “ luz ” , descrevendo mais tarde como o “ céu ” e ausência de angústias interiores . No mesmo momento , Norma está sendo iniciada em outra parte da “ biblioteca ” , numa forma ritualística diferente e , por Arlington Steward . Ela afirma que sentiu “ amor ” quando viu o Sr . Steward pela primeira vez e Arlington diz para ela pegar sua mão . Percebe-se uma sutil referência ao casamento esotérico e uma conjugação holística . Norma desperta em sua cama . Há um imenso cubo flutuando sobre sua cabeça . Arthur desperta no interior do cubo que se desfaz em torrentes de água e despenca na cama ao lado de Norma . Arthur passou pelo seu batismo , dentro de uma “ caixa ” aquática e renasceu . Lembrando que caveiras , caixões e morte são , simbolicamente , utilizados em cerimônias de iniciação religiosa . O filme mostra através de Arthur como Steward faz a experiência e a experiência é realizada de forma maciça pelo “ governo oculto ” que são os empregadores do mesmo . Porém , não se trata de um “ governo oculto ” local . Há uma referência estarrecedora sobre o domínio do “ governo oculto ” , no momento em que a câmera foca uma tela enorme e vários quadrados azuis se alternam e formam um mapa do globo terrestre . Trata-se dos primeiros mapas criados pelo Google com a disposição real de domínio do “ governo oculto ” . Dando seguimento , um subalterno de Stewart na NSA questiona porque está sendo realizada a experiência e Arlington responde que a experiência é para decidir se a humanidade permanecerá viva ou será exterminada . A experiência envolve dinheiro com notas do Federal Reserve e o dilema ético e moral de satisfazer seus desejos pessoais , condenando outro ser humano à morte ou manter o bem maior , o
altruísmo humanitário . Arlington não faz o pagamento por meio de imóveis , ações ou barras de ouro . Utiliza-se do papel-moeda que é uma das formas de controle da população pelo “ governo oculto ” , ou seja , através do controle da emissão de moeda ( e , por isso , livre de impostos como afirma ) . Voltando ao filme , O subalterno pergunta o que ocorrerá quando o teste da caixa terminar , respondendo Steward que passará à próxima experiência . O próximo passo é alinhar grupos de pessoas da população mundial secretamente e enviá-los ao portal que servirá para os testes subsequentes e realiza uma espécie de lavagem cerebral coletiva ( uma segunda chance antes do extermínio ? ) . Dando a entender que a proposta com A Caixa e o disposito-botão falharam , pois Steward afirma que a maioria apertou o botão e optou por satisfazer o desejo de ganância . A iniciação de Arthur não está terminada e , tanto ele quanto seu filho são capturados pelos homens de preto . O filho é batizado numa piscina pela esposa de Arlington e seus “ empregados ” enquanto Arthur deixa um hangar da NASA sob intensa luminosidade . Pelas imagens anteriores , verifica-se que o hangar é o mesmo em que Steward construiu o imenso portal de pretensa lavagem cerebral ( a câmera mostra raios sob o hangar antes da saída de Arthur e seu encontro com agentes da NASA e NSA ) . Seus sentidos são alterados , pois ele estava fora do tempo e do espaço no éter da iniciação , e emergiu na Terra ( agora Arthur fora atingido por raios como Steward ) . Porém , sua purgação não terminou , pois deve sacrificar Norma ou seu filho para manter o planejamento dos empregadores de Steward . Há uma simulação de escolha e de livre arbítrio para Arthur , pois foi Norma que apertou o botão . Mesmo que seu desejo seja condenar o filho à cegueira e à surdez , a depuração mental e espiritual foram pré-determinadas . E a última referência a Sartre é feita por Arthur , quando afirma que a Terra é o purgatório e que Stewart está ali para levá-los ao inferno ( o enredo de “ Sem Saída ” ) . Acaba matando Norma para que o filho volte a enxergar e a ouvir . Arthur não é preso pelos policiais e os homens de preto intentam tomar conta do mesmo , pois se trata de um iniciado que sacrificou seus desejos pessoais em benefício da coletividade . Seu filho permanece sob os cuidados do “ governo oculto ” e , simbolicamente , o valor de um milhão de dólares será empregado nas despesas do garoto até que atinja a maioridade . Vamos abrir a discussão e demais pontos de vista . danielbrasilsm@hotmail.com OUTRA CURIOSIDADE Arlington Steward foi atingido por um raio 5 vezes mais quente que o solar , a estrela de 5 pontas ou pentagrama exotérico é muito importante no ocultismo ,
além de haver uma cena que exibe abertamente a carteira de cigarros Marlboro e rezar a lenda que existem 5 símbolos maçônicos ocultos na mesma . Um Trackback [ … ] ocasionais . Para evitar um gigantesco escândalo , dois de seus assessores diretos , Bob Alexander ( Frank Langella ) , o correspondente ao nosso ministro-chefe da Casa Civil , e o chefe da assessoria de imprensa , [ … ] Postar um Comentário O seu email nunca é publicado ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * A Separação / La Séparation De : Christian Vincent , França , 1994 Nota : Anotação em 1997 : Um filme cru , despojado , sem qualquer truquezinho de câmara ou efeito diferente de narrativa , com diálogos extremamente realistas – nada de frases brilhantes , apenas o que dizem pessoas comuns nessa situação tão absolutamente comum , a separação . Daniel Auteil e Isabelle Huppert , excelentes , realçam a dificuldade de comunicação no casamento que chega ao fim . Moram juntos há possivelmente uns dois anos , têm um filhinho de 15 meses . Anne se apaixona por outro homem ; Pierre tenta enfrentar com paciência a situação , mas rapidamente as coisas vão se deteriorando , ele passa a ter atitudes agressivas , ela também ( ele fisicamente , ela verbalmente ) . Primeiro discutem o que devem fazer , depois discutem se devem se separar , depois discutem quem fica na casa ( que era dele ) e quem sai . No fim , a relação dela com o namorado já terminou , mas não há como retomar o casamento . Parece um documentário sobre a separação , com atores vivendo a dor tão intensamente que poderiam mesmo estar atravessando esse inferno na realidade . A capinha do vídeo diz que Huppert ganhou melhor atriz em Veneza 95 , e Auteil , melhor ator em Cannes 95 ; é propaganda enganosa , porque eles não foram premiados por este filme . Auteil ganhou o prêmio em Cannes em 1996 por Le Huitième Jour ; em 1995 , o prêmio de Cannes ficou com Jonathan Pryce , por Carrington . E a Huppert ganhou três vezes em Veneza – um prêmio pelo conjunto da obra , em 2005 , um por La Cérimonie ( 1995 ) e um por Une Affaire de Femmes ( 1988 ) . Isztambul De : Ferenc Török , Hungria-Turquia-Holanda-Irlanda , 2011 Nota : Duas características chamam especialmente a atenção em Isztambul . A primeira delas é como o filme é multinacional – uma co-produção Hungria-Turquia-Holanda-Irlanda , cuja ação se passa na Hungria , na Romênia e na Turquia – na parte européia e na parte asiática deste último . O diretor e roteirista , Ferenc Török , é húngaro , assim como a maioria dos personagens e vários atores , mas a atriz principal , Johanna ter Steege , é holandesa . A segunda característica é a fantástica incapacidade de os personagens centrais se comunicarem . O marido , János
( Andor Lukáts ) , a mulher , Katalin ( o papel de Johanna ter Steege ) , a filha , Zsófi ( Réka Tenki ) , e o filho , Zoli ( Norbert Varga ) têm imensa dificuldade de falar um com o outro . Não se expõem , não se expressam uns para os outros ; têm imensa dificuldade de falar uns com os outros . Não sei se outras pessoas terão essa sensação , mas , para mim , o filme de Ferenc Török é sobre dificuldade de comunicação . Faz lembrar A Noite , A Aventura e O Eclipse , a trilogia de Michelangelo Antonioni sobre a incomunicabilidade . O marido diz que está apaixonado por outra , faz a mala e se manda O filme abre como duas sequências que nos mostram basicamente quem são János e Katalin . Ela é dona de casa : a vemos fazendo compras , no mercado , no açougue . Ele é professor universitário : o vemos dando uma aula . Na sequência seguinte , os dois estão na sala de seu apartamento confortável , de classe média . Ele está botando um punhado de roupas dentro de uma mala , e contando para ela , com bem poucas palavras , que está apaixonado , está decidido ; se ela precisar de alguma coisa , avise . E se manda . Aqui faço uma rápida divagação para dizer obviedades : nenhuma pessoa deveria viver apenas para cuidar da casa e dos filhos . É um crime isso que muitos homens levam suas mulheres a fazer , e é um crime as mulheres permitirem isso – serem apenas e tão somente donas de casa . Todas as pessoas deveriam ter um trabalho , uma atividade , ou no mínimo hobbies – nem que seja colecionar selos , ou coisa parecida . Porque se a pessoa se dedica apenas a cuidar da casa e dos filhos , é imenso o perigo de ela perder o sentido da vida quando os filhos crescem e nos dizem adeus . A mulher abandonada pelo marido está à beira da catatonia A holandesa Johanna ter Steege demonstra ser atriz de grande talento . O espectador vê na cara dela como de repente o mundo de Katalin caiu , despencou , desapareceu , como faltou chão sob seus pés . Zoli , o filho , mostra-se enfurecido com o pai – mas não procura estar próximo da mãe , oferecer o ombro , conversar , comunicar . Nada . É cercado por uma couraça , exatamente como o pai que critica . Zsófi , a filha , está grávida , já perto de dar à luz ; liga para a mãe , mas a mãe não atende , e ela não vai atrás , não vai visita-la , não procura estar próxima . Katalin está à beira da catatonia . A sequência é brilhante : Katalin limpa cuidadosamente as folhas de uma planta na sala do apartamento . Uma a uma , cuidadosamente . Depois pega
uma tesoura , e corta ao meio as folhas . Uma a uma . Lentamente . Depois se levanta , e sai de casa , vai para a rua , sem expressão alguma no rosto . Não está vendo nada – está à beira da catatonia . Está descalça , e segura a grande tesoura . Passa um bonde , ela entra , senta-se , tesoura na mão . O motorneiro avisa que é a estação final , todos devem descer . Katalin não está ali , não ouve . Ele chega perto dela , vê a faca . Leva-a para um pequeno escritório da estação final , dá um telefonema – uma ambulância vem recolher Katalin e a leva para um manicômio . Estamos aí com talvez uns dez minutos de filme . A partir daí , haverá muitos momentos de road movie , e , de Budapeste , a ação levará o espectador para Istambul , a cidade que se separa de outro continente por um estreito de águas tremendamente azuis . Um bando de pessoas que não se comunicam – e por isso se trumbicam , é claro Isztambul – o título do filme é assim , com s e z ; deve ser como os húngaros grafam o nome – tem um ritmo propositadamente lento , e nem poderia ser diferente em um drama familiar que mostra uma mulher que perdeu o centro de gravidade , o sentido da vida . O impressionante , na minha opinião , é como os personagens criados pelo diretor e roteirista Ferenc Török falam pouco . As pessoas daquela família destroçada não conversam , não abrem a alma , não comunicam . Falam frases curtas , apenas as indispensáveis . Não mostram uns aos outros suas emoções , suas sensações . O casal e seus dois filhos , em especial , são assim . Mas também a garota Juli ( Eszter Bánfalvy ) , estudante universitária , de uns 20 anos , por quem János , o professor , se apaixona , é de poucas palavras . Um bando de pessoas que não se comunicam , não se abrem . E , por isso , se trumbicam , é claro . Um belo , sensível filme vindo de um país de filmografia pouco conhecida entre nós O diretor Ferenc Török nasceu em 1971 , em Budapeste . Sua filmografia como diretor tem 18 títulos – a maioria séries e filmes para a TV . Numa pesquisa não muito atenta , não consegui maiores informações sobre ele . Johanna ter Steege nasceu em 1961 em uma cidade do interior da Holanda . Tem mais de 40 títulos na filmografia , iniciada com o thriller O Silêncio do Lago , de 1988 , que seria depois refilmado em Hollywood . Em 1991 , teve um papel em Encontro com Vênus / Meeting Venus , daquele que é o mais conhecido realizador húngaro , István Szabó . Trabalhou também em Minha Amada Imortal / Immortal Beloved , uma cinebiografia de Beethoven ; não
vi nenhum de seus filmes feitos na Holanda Isztambul é um belo , sensível filme – e aqui é preciso agradecer ao canal Max , o 79 na minha Net , por estar exibindo filmes de países cujas cinematografias não costumam normalmente ser conhecidas no circuito comercial brasileiro . É uma dádiva , isso . Cupido Não Tem Bandeira / One , Two , Three De : Billy Wilder , EUA , 1961 Nota : Anotação em 2009 : Neste seu filme de 1961 , feito logo depois dos maravilhosos Quanto Mais Quente Melhor ( 1959 ) e Se Meu Apartamento Falasse ( 1960 ) , e antes do ótimo Irma La Douce ( 1963 ) , o grande Billy Wilder errou a mão . Claro : como é Billy Wilder , tem coisas boas . Há diálogos excelentes , hilariantes , sarcásticos , cortantes . Há uma grande , deliciosa gozação sobre os slogans do comunismo – e também do capitalismo – , que fazem lembrar Ninotchka , de Ernst Lubitsch , o mestre do mestre Wilder . E não é por acaso : Wilder foi um dos roteiristas do filme de 1939 . Há gozações sobre tudo – dos ex-nazistas vivendo na Alemanha do início dos anos 70 à estrutura das grandes empresas americanas , passando pela eficiência alemã , pela rivalidade entre americanos sulistas e nortistas , um século depois da Guerra de Secessão , pela paixão dos americanos por títulos de nobreza européia , pela corrida espacial , pelos mísseis colocados por Kruschev em Cuba num dos pontos mais dramáticos da guerra fria . A trama parte de uma espécie de Romeu e Julieta adaptado à guerra fria : americana milionária se apaixona por jovem comunista . Aliás , exatamente no mesmo ano em que este filme foi feito , 1961 , o grande ator inglês Peter Ustinov escreveu e dirigiu uma comedinha que parte exatamente da mesma idéia – Romanoff e Julieta , interpretados pelo galã canastrão John Gavin e pela gracinha um tanto sem graça da Sandra Dee . Um comunista fanático e a herdeira da Coca-Cola A ação se passa na Berlim dividida em dois setores , o Ocidental capitalista e o Oriental comunista . O protagonista é um executivo americano , chefe das operações da Coca-Cola na então ex-capital alemã , MacNamara , interpretado pelo veterano James Cagney . MacNamara anda negociando com representantes comerciais soviéticos a instalação de fábricas da Coca-Cola – o símbolo do decadente imperialismo americano – na URSS . Espera , com isso , obter cacife suficiente para tornar-se o diretor-geral das operações da empresa em toda a Europa , sediado em Londres – até já comprou um guarda-chuva para quando for viver na capital britânica . Mas seu chefe , o patrãozão da Coca , um sulista absolutamente conservador de Atlanta , Geórgia , quer um outro favor dele : que cuide bem da sua filha de 17 anos , Scarlett ( Pamela Tiffin , na foto entre James Cagney e Horst Buchholz ) , que ele
mandou para a Europa para separá-la do seu mais recente namorado , um roqueiro . Repare-se o nome da garota : Scarlett , como Scarlett O’Hara , a heroína de … E o Vento Levou , o livro best-seller e o filme estouro de bilheteria que mostram a Guerra da Secessão do ponto de vista dos confederados sulistas . Acontece que Scarlett é uma namoradeira absoluta , incorrigível , contumaz – apareceu homem pela frente , ela se engraça toda , pula no colo dele . No vôo dos Estados Unidos para Berlim já se engraçou com os membros da tripulação A chegada de Scarlett , para ficar sob os cuidados de MacNamara e sua mulher Phyllis ( Arlene Francis ) atrapalha todos os planos da família . Phyllis estava de viagem de férias marcada para Veneza , com os dois filhos garotos do casal ; e MacNamara pretendia aproveitar a ausência da família para esbaldar-se com Fräulein Ingeborg ( Liselotte Pulver ) , sua secretária loura gostosa e germanicamente eficiente . Bem , Scarlett vai então se apaixonar perdidamente por Otto Ludwig Piffl ( Horst Buchholz ) , um jovem alemão de Berlim Oriental membro do Partido Comunista e mais ardoroso defensor da ideologia do que Lênin e Stálin juntos . E , claro , os pais da moça vão viajar para Berlim para ver se os MacNamara estão cuidando bem dela . Haverá 200 mil problemas , subtramas , rolos , um atrás do outro – tantos , e a uma velocidade tão rápida , que acabei ficando exausto . E não é só por isso que o filme acaba sendo cansativo . Mestre Wilder de fato errou a mão , errou a dose , errou o tom , errou na escolha dos atores . O veterano James Cagney , que havia feito dezenas de filmes como gângster , passa os 115 minutos do filme berrando – parece os romanos de Belíssima , de Visconti . Não há sutileza , não há meios-tons – ele berra o tempo todo . É uma interpretação grotesca , assim como a de Horst Buchholz , esse alemão boa pinta que fez parte da carreira em filmes americanos , como Sete Homens e um Destino / The Magnificent Seven . Para piorar ainda mais , tem Pamela Tiffin no papel da heroína de cabeça fresca e muita vontade de dar . Pamela Tiffin , tadinha , foi uma invenção que não deu certo . A moça é ruim , é fraquinha , como essas modelos e / ou ex-BBBetes que a TV brasileira tenta transformar em atrizes . E sequer é bonita . Wilder escolheu um tom exagerado demais , caricatural demais , que fica espantoso e cansativo . A forma como ele compôs o trio de funcionários soviéticos , e também a secretária alemã , é mais coisa de desenho animado . A seqüência do bar do hotel em Berlim Oriental ( na foto ) , em que a secretaria gostosona acaba dançando em cima da mesa enquanto MacNamara e os
três russos negociam , abusa do grotesco , da caricatura . Mesmo num filme fraco , diálogos sensacionais Então , o filme só não chega a ser uma porcaria porque há o humor feroz de Billy Wilder , os diálogos sensacionais , inteligentes . Pego alguns , só uns poucos , no iMDB : McNamara , a voz em off no início do filme : – “ Alguns policiais da Alemanha Oriental são rudes e desconfiados . Os outros são desconfiados e rudes . ” Outro : McNamara para seu braço direito , Schlemmer , um alemão que cada vez que se apresenta ao chefe bate os sapatos uns nos outros , como faziam os nazistas ao bater continência : – “ Cá entre nós , Schlemmer , o que você fazia durante a guerra ? ” Schlemmer : – “ Eu estava nos porões . ” McNamara : – “ Lutando na resistência ? ” Schlemmer : – “ Não , nos motores . No subsolo , sabe , o metrô . ” Mais tarde : McNamara : – “ E é claro que você era anti-nazista e nunca gostou de Adolf . ” Schlemmer : – “ Que Adolf ? ” Depois , quando , diante de McNamara , Schlemmer reconhece um repórter alemão e o cumprimenta em sinal de respeito : Schlemmer : – “ Herr Oberleutnant ! ” McNamara : – “ Vocês se conhecem ? ” Schlemmer : – “ Ele era meu oficial superior . ” McNamara : – “ No metrô ? ” Schlemmer : – “ Não , depois disso , quando eu fui convocado . ” McNamara : – “ Aha ! Na Gestapo ! ” Schlemmer : – “ Não , não , na SS . ” Austríaco de Viena , tendo deixado a Europa nos anos de ascensão do nazismo , Billy Wilder não perdoa , não esquece : mesmo em 1961 , no meio da guerra fria , em um filme sobre a guerra fria , 16 anos depois do fim da Segunda Guerra , ele bate na tecla da existência dos ex-nazistas no meio da sociedade alemã . Ele já havia dedicado um filme a este mesmo tema , em 1948 , quando a poeira das bombas sobre Berlim ainda nem tinha assentado direito – e que belo filme é A Mundana / A Foreign Affair , com uma Marlene Dietrich esplendorosa , lânguida , fatal , no papel da ex-amante de um chefão nazista agora cortejada por um oficial americano . Neste filme aqui , ele dá um jeito de criar uma situação para botar Schlemmer , o ex-SS , travestido de mulher ( foto acima ) . Uma das coisas de que Wilder gosta – além de ridicularizar nazistas – é de personagens que se fantasiam , que se travestem de algo que não são , como Ginger Rogers fantasiada de menininha em A Incrível Suzana ou Jack Lemmon e Tony Curtis travestidos de mulher em Quanto Mais Quente Melhor . Mas Wilder também volta
sua língua ferina para gozar os arquétipos do comunismo – e do capitalismo . Lá pelas tantas , MacNamara se surpreende ao ver um dos funcionários russos na sua sala : – “ Você desertou ? ” E o russo , numa troça com a frase que marcou o avanço dos colonizadores americanos rumo ao Pacífico : – ‘ É um velho provérbio russo : ‘ Vá para o Oeste , jovem ! ’ ” Numa outra cena , Otto , o jovem comunista de carteirinha , berra : – “ Não vou permitir que meu filho cresça para ser um capitalista . ” Scarlett , a filha do chefão da Coca-Cola : – “ Quando ele fizer 18 anos ele pode decidir se quer ser um capitalista ou um comunista rico ” . Ou esta frase de Otto para Scarlett : – “ Vou pegar você às 6h30 , porque o trem das 7h parte para Moscou exatamente às 8h15 . ” Ou este diálogo entre Scarlett e MacNamara : Scarlett : – “ Você vai gostar dele ( de Otto , o jovem comunista ) . Ele parece com Jack Kennedy , só que é mais jovem e tem mais coisas lá em cima . ” MacNamara : – “ Mais cérebro ? ” Scarlett : – “ Mais cabelo . E , claro , ideologicamente , ele é mais sólido . ” MacNamara : – “ Talvez tenhamos votado no homem errado . ” Scarlett : – “ Isso não aconteceria na Rússia . ” MacNamara : – “ Lá eles não cometem enganos ? ” Scarlett : – “ Eles não votam . ” Ou esta conversa entre MacNamara e os funcionários soviéticos : Russo , oferecendo um charuto a MacNamara : – “ Pegue um destes aqui . ” MacNamara : – “ Obrigado . Hum , feito em Havana . ” Russo : – “ Temos um acordo comercial com Cuba . Eles nos mandam charutos , nós mandamos foguetes . ” MacNamara , depois de experimentar o charuto : – “ Quer saber ? Vocês foram enganados . Esse charuto é danado de ruim . ” Russo : – “ Não se preocupe . Mandamos para eles foguetes danados de ruins . ” Há muitas piadas boas , mas o filme é uma decepção . Depois dessa experiência ruim , James Cagney passaria 20 anos sem fazer um filme ; só voltaria em 1981 , em No Tempo do Ragtime / Ragtime , do mestre tcheco Milos Forman , um impressionante , desolador painel da sociedade americana no início do século XX , assolada pela injustiça social e o racismo . No entanto , Cupido Não Tem Bandeira fez sucesso nos Estados Unidos , segundo Pauline Kael , que critica as piadas do filme como sendo de baixo nível . Leonard Maltin deu cotação máxima , 4 estrelas , e até gostou da interpretação exageradérrima do veterano ator : “ Cagney é uma maravilha de se ver nesta comédia com ritmo de metralhadora
, sua última aparição nas telas até Ragtime ( 1981 ) . A trilha sonora de Andre Previn usa com inspiração a ‘ Dança do Sabre ’ de Khachaturian . ” Verdade : a trilha de Andre Previn ( que iria musicar em seguida Irma La Douce ) é interessante . Não há composição original para o filme ; ele apenas faz arranjos para um uso cômico de músicas conhecidas , como essa Dança do Sabre , a Internacional comunista , a Cavalgada das Valquírias de Wagner e a musiquinha patriótica americana Yankee Doodle . E aparece também no filme nada mais , nada menos , que Itsy Bitsy Teenie Weenie Yellow Polka Dot Bikini , aquele roquinho inocente como uma santa que no Brasil virou “ Era um biquíni de bolinha amarelinho tão pequenininho que na palma da mão se escondeu ’ . A canção é tocada à exaustão , na sala de tortura da polícia da Alemanha comunista , para que o jovem Otto confesse que é um espião americano . A afirmação de Pauline Kael de que o filme foi um sucesso é negada no livro Billy Wilder – Filmographie Complete , de Glenn Hopp , publicado pela Taschen , em que se afirma que o filme não obteve popularidade . O autor usa também a imagem de velocidade de metralhadora sobre o ritmo das piadas do filme , que define como “ provavelmente a comédia mais ritmada que o cinema já havia conhecido ” . 4 Comentários O filme tem uma cena hilária , absolutamente inesquecível.É quando o americano prepara a cilada para o rapaz alemão ser preso logo depois de cruzar a linha da fronteira . A gente já sabe tudo que vai acontecer e isso torna a cena ainda mais divertida . Na verdade , adorei o humor , e até mesmo as caricaturas . Afinal , aquele mundo da guerra fria era fake mesmo . Bom , também gosto do filme , como a Mary . Sim , as interpretações são caricaturais , as situações também – mas o próprio filme é assumidamente caricatural . O problema , para que ele não seja considerado no nível de outras comédias clássicas de BW , talvez seja justamente o ritmo muito acelerado . Talvez aí BW tenha errado na mão … Acho que Horst Buchholz está muito bem , com uma interpretação adequada ao clima dado pelo diretor . Acho esse filme delicioso – e gostei muito de seu artigo sobre ele . Ora Sergio , mesmo não sendo um dos seus melhores filmes , WILDER profético . Previu o fim do comunismo , está o POLITIBURO corrupto como sempre o foi . A ambição criticada pelos país do comunismo , tem como origem não o sistema e SIM o ser HUMANO . Como WILDER , cínico de sempre mostra em seus filmes . TALVEZ VOCÊ NÃO GOSTE POR MUITOS MOTIVOS , SÓ ESPERO QUE VOCÊ NÃO SEJA UM VIÚVO DO COMUNISMO , que já morreu ! ! ! Mas como dizem os COMUNISTAS PRATICANTES
DO PCdoB ‘ COMUNISTA SIM , GRAÇAS A DEUS ! ’ [ … ] mesmo ano de 1961 , Billy Wilder fez seu Romeu e Julieta da Guerra Fria : em Cupido Não Tem Bandeira / One , Two , Three , passado na Berlim dividida em duas , a filha do presidente da Coca-Cola ( Pamela Tiffin ) se apaixona [ … ] Coco Antes de Chanel / Coco Avant Chanel De : Anne Fontaine , França , 2009 Nota : Anotação em 2002 : O filme da diretora Anne Fontaine reconstituindo uma parte da vida de Coco Chanel é sóbrio , elegante , rico e requintado como as roupas criadas pela grande dama da moda francesa . Rico , requintado : é uma senhora produção , bem cuidadíssima . O esmero da direção de arte , dos próprios figurinos , para a reconstituição de época é acachapante , é de babar . E não se fez economia : há belíssimas seqüências de exteriores , com centenas e centenas de figurantes , dezenas e dezenas de carros . A trilha sonora é de Alexandre Desplat , que vem se revelando grande a cada novo filme – e ele faz umas três trilhas por ano . Um deslumbre , um luxo . Sóbrio , elegante : Anne Fontaine optou por um estilo clássico , sem nenhuma invencionice , sem foguetório , sem criativol . A câmara é suave , não chama a atenção do espectador para movimentos bombásticos – simplesmente porque não era necessário . Há belas , admiráveis seqüências , como a câmara bem no alto de uma alta grua focalizando a jovem Coco Chanel deitada no chão coberto de folhas amarelas , recostada numa grande árvore , ou a seqüência final , em que vemos a ainda jovem Chanel na sua Maîson refletida em diversos espelhos , vestida , como mais gostava , de preto e branco – e nesse momento a diretora se permitiu passar do colorido para o preto-e-branco . Um pequeno , sutil toque a mais de classe , no encerramento . Nove entre dez diretores e / ou roteiristas muito provavelmente teriam optado pelo que eu chamo de narrativa-laço : começamos pelo final , para logo haver o flashback – voltamos atrás vários anos , e então vamos vindo para mais perto do presente . Nove entre dez teriam começado pelo início da seqüência final , a dos espelhos refletindo várias vezes o rosto de Coco Chanel , para então voltar atrás . Uma narrativa rigorosamente cronológica Nem isso Anne Fontaine fez . Sua narrativa é rigorosamente cronológica . Quando a ação começa , estamos em 1893 , conforme nos informa um letreiro . A garotinha Gabrielle Chanel , de uns sete , oito , nove anos de idade , e sua irmã Adrienne , quase da mesma idade , estão sendo levadas numa carroça para um orfanato em algum lugar do interiorzão da França . Ao serem deixadas à porta do grande prédio do orfanato , Gabrielle olha com ansiedade para o homem
que conduzia a carroça – seu pai . O homem não olha para trás , não diz uma palavra às filhas . Há duas ou três seqüências no orfanato , para realçar duas realidades básicas da vida de Gabrielle ( o apelido Coco viria um pouco mais tarde ) Chanel : sua origem era bem humilde , provinciana , interiorana ; e seu pai , homem pobre , da roça , abandonou as filhas num orfanato assim que a mãe morreu , e nunca mais as procurou . Esses dois pontos assentados , a narrativa dá um salto de 15 anos , conforme nos explica novo letreiro , e passamos a acompanhar a vida dela a partir daí , quando está com uns 22 , 23 anos , na cidade de Moulins . O ano não é especificado , mas não é necessário : estamos no início do século XX , aí por 1908 . O ano do final da narrativa também não é explicitado , mas é algo por volta de 1920 . É , como a feliz definição do título , a vida da jovem Coco antes de virar Chanel , o sinônimo mundial de classe , elegância . Uma mulher de vida rica Há dezenas de cinebiografias que acabam sendo filmes um tanto fracos , ou no mínimo pouco interessantes , pouco marcantes , simplesmente porque a vida do retratado não é rica , não é dramática , não é cômica , não é nada especial – é apenas uma historinha um tanto boba , um tanto chocha . Mesmo quando o biografado é uma pessoa importante , em alguma área . O fato de a obra da pessoa ter importância não significa que a vida dela tenha sido importante . Buddy Holly , por exemplo . O cara é importantíssimo para a música popular – mas a história de sua vida curtíssima , brevíssima , não tem absolutamente nada especial – a não ser o fato de que ele morreu jovem demais da conta , aos 23 anos de idade , num desastre aéreo . Deixou um legado incrível , fantástico – mas sua vida não tem elementos para virar filme ou peça , como virou . A vida de Coco Chanel , ao contrário , mesmo o trecho inicial , até ela começar a se impor como um dos nomes mais importantes da moda de todo o mundo , é bastante rica . Contada com sobriedade , elegância , riqueza , requinte , só poderia mesmo resultar em um belo filme . Depois do corte de 15 anos , pulando do orfanato para por volta de 1908 , em Moulins , encontramos as irmãs Gabrielle ( interpretada por Audrey Tautou ) e Adrienne ( a bela Marie Gillian ) apresentando-se como cantoras em um bar , um cabaré . Fazem um número levíssimamente safado ; cantam uma canção que diz : “ Perdi meu pobre Coco , Coco , meu cachorro que eu adoro , perto do Trocadéro . ( … ) Quanto mais meu
homem me traía , mais Coco me era fiel ” . Será por causa da canção que Gabrielle passará a ser chamada de Coco . De noite , cantavam no bar-cabaré ; durante o dia , as irmãs órfãs trabalhavam como ajudantes de costureiras numa loja . No trabalho noturno , eram apenas cantoras , embora alguns clientes confundissem as cantoras com as putas que também freqüentavam o local . Adrienne se envolve com um cliente barão , que em seguida vai exigir que ela pare de cantar e se dedique apenas a ele , mediante a promessa de um casamento que será sempre adiado . O barão de Adrienne leva para o bar-cabaré um amigo , um oficial do exército , Etienne Balsan ( Benoît Poelvoorde ) , que se interessa por Coco . Com talento , agilidade , o roteiro nos apresenta como se desenvolve a relação entre Coco e Balsan ; leva-se um pouquinho de tempo para que Balsan revele que é riquíssimo . Depois que Adrienne deixa a cidade de Moulins para viver teúda e manteúda pelo seu barão , à espera de um casamento que jamais virá , Coco resolve fazer a mala e aparecer sem ser convidada na casa de Balsan . A casa não é uma casa , é um gigantesco castelo . Estamos aqui com no máximo 20 minutos de filme . Um ser em permanente infelicidade O que virá a seguir não é exatamente um conto de fadas , tipo pobre órfã encontra o amor com homem muito , muito rico . A relação que se estabelece entre Coco e Balsan é um tanto difícil de se compreender ; chega a parecer um tanto esquisita , mal explicada ; é esquisita , sim ; é um tipo de folie à deux , esse tipo de loucura bem mais comum do que se pode imaginar . Mas é um tipo de relação que – pelo que nos mostram a literatura e o cinema – era permitida , aceitada , na França , talvez mais do que nos países vizinhos . A existência da amante e o fato de a existência dela ser pública eram fatos considerados normais , ali – ao contrário , por exemplo , do que ocorria na vizinha Inglaterra . O filme trata dessa questão , e da questão do imenso desnível social entre Coco e Balsan , de uma bela maneira – ao mesmo tempo ostensiva mas não como o mais importante . O mais importante era que Coco se submetia à situação obviamente constrangedora , embaraçosa , deprimente – mas se submetia , ao mesmo tempo não a aceitava plenamente . A jovem Coco Chanel que o filme retrata – e que Audrey Tautou expressa de maneira brilhante – é um ser em permanente infelicidade , em eterna revolta contra a condição de bem tratadíssimo animal de estimação , ou escravo , o que dá quase no mesmo . A diretora Anne Fontaine não faz um discurso feminista , ou pelo menos não o enfatiza – mostra
a situação absurda , apenas . Mostra uma mulher de vontades muito fortes , de grande determinação , que possui um talento imenso – a de criar roupas , adornos – embora ainda não saiba muito disso , muito menos como usá-lo , mas que suporta por muito tempo o papel de bichinho de pelúcia do milionário . A atriz é muito mais bela que a verdadeira Coco Chanel Há , na minha opinião , um pequeno problema de miscasting na escolha de Audrey Tautou para o papel da jovem Coco Chanel . Diabo , há algumas palavras em inglês que não têm um exato correspondente em português . Como definir em uma palavra o fato de um ator não corresponder exatamente ao papel que ele vai interpretar ? Bem , paciência , vamos em frente . A questão é que Coco Chanel ( na foto ao lado ) não era exatamente uma mulher bonita . Tinha traços fortes – assim como suas vontades e seu talento – , mas não era exatamente bela . Audrey Tautou , essa gracinha , teve que ser maquiada para parecer menos bela do que é – e está , em 99% das cenas , de cenho franzido , cara fechada , mal humorada , para tentar ficar mais parecida com seu personagem . É um pequeno problema , nada sério , nada grave . Audrey Tautou , que estourou , virou estrela jovem demais , com a delícia que é O Fabuloso Destino de Amélie Poulain , teve aqui , acho , seu papel mais importante desde Coisas Belas e Sujas , o filme barra pesadíssima de Stephen Frears em que ela interpreta uma imigrante ilegal turca vivendo em Londres que come o pão que o diabo amassou muito . Cheio de sutilezas , o filme levanta questões sobre moral Uma das maiores qualidades deste ótimo filme é que ele levanta diversas questões importantíssimas sobre moral , costumes , comportamento , sem parecer que está sendo sério demais . É um filme que não é óbvio – ao contrário , é cheio de sutilezas . Não é esquemático na denúncia da injustiça social , não é esquemático na denúncia do machismo da sociedade , não é esquemático na defesa da mulher . É forte , sem ser óbvio . Coco Chanel não é uma heroína , uma perfeição – ela se aproveita das situações que odeia profundamente . Um diálogo me impressionou muito . É já quando a narrativa se aproxima do final ; Coco tinha tido dias maravilhosos em Deauville , com o inglês que os franceses chamam de Boy ( Alessandro Nivola ) . Ela conta para Balsan , o homem que a mantém numa gaiola dourada , que Boy não teve vergonha de ser visto com ela em Deauville , que a levou para o baile no cassino . E Balsan retruca : “ Se eu estivesse com você na Inglaterra , eu a levaria ao Palácio de Buckingham ” . Diferenciar o certo do errado não é muito fácil
, demonstrou Bob Dylan numa canção em que dizia que , no passado , quando era mais jovem , tinha mais certezas , o preto era preto , o branco era branco . Este filme de Anne Fontaine que conta a primeira parte da vida da modista apaixonada pela combinação do preto com o branco mostra , magnificamente , que a vida tem uma quantidade muito maior de tons cinzas do que a juventude , a falta de conhecimento , são capazes de imaginar . Opino agora , mas vi este filme na sexta , 26 deste mes . Um filme muito bom . Coco Chanel , talento nato . Estava no sangue . Mulher corajosa , de garra , valente . Botou o capacete e foi à luta , fazer aquilo que gostava e sabia e , muito bem . E deu no que deu . Ela sabia o que queria,sim . Assim como sabia que nunca se casaria . Quando ela ainda era ninguém , já “ criticava ” a maneira de como se vestiam certas mulheres . Inclusive a sua amiga ” rica “ . Duas cenas : quando Balsan pergunta o que ela fez com o vestido que ele lhe dera e ela responde : ” pendurei na janela parecia uma das cortinas “ . E a outra quando ela comenta que uma mulher destilava joalheria de tanta jóia pendurada no corpo e a outra de tão apertada que estava no vestido ía se partir em duas . ” Coisas de Coco Chanel ” Sergio , houve um engano neste teu texto , com certeza um caso de toque na tecla errada . Logo no comêço , abaixo da nota que deste . O ano da anotação , repare . Um abraço ! ! Ops ! ! ! Esqueci de um detalhe . Talvez seja coisa minha mas não entendi bem a colocação que a Coco faz , quando está lendo um livro e comenta se não me engano com o Balsan : ” Aqui diz pobre feliz,isso é coisa de rico . ” Uai , pobre não pode ser feliz ? Pesquisando li que foi Capel que a ajudou a abrir sua primeira loja de chapéus e foi ela também que criou a primeira calça feminina . E , isto não foi preciso pesquisar : o famoso Chanel 5 . Conheci este perfume , Trabalhei com ele quando estoquista em uma loja de perfumes de linha . Um abraço , Sergio ! ! 2 Trackbacks [ … ] brilhar , ou tinham começado a brilhar fazia pouco tempo , e hoje estão absolutamente consolidados . Audrey Tautou , embora bem jovem ( é de 1976 , estava com 26 ) , já tinha tido o sucesso avassalador de Amélie [ … ] Diamante de Sangue / Blood Diamond De : Edward Zwick , EUA-Alemanha , 2006 Nota : Anotação em 2007 , com complemento em 2008 : Ótimo , competente thriller denunciando o comércio ilegal de diamantes que espalha ainda mais violência na África .
Junto com O Jardineiro Fiel , a bela produção internacional dirigida por Fernando Meirelles , este é um dos bons filmes recentes que expõem a trágica , absolutamente desumana situação no mais miserável dos continentes , e mostra como os países e corporações do Primeiro Mundo continuam , décadas depois do fim do colonialismo , a piorar ainda mais a vida daqueles povos . A ação se passa em Serra Leoa ; Salomon ( Djimon Hounsou ) , um nativo que é obrigado por um grupo armado a se separar da família e a trabalhar como escravo na procura por diamantes , descobre uma pedra extraordinária , de valor incalculável , e consegue fugir com ela . Sua vida vai se cruzar com a de um mercenário sul-africano , Danny ( Leonardo DiCaprio , bom ator apesar , ou além , da cara bonita ) e a de uma jornalista americana , Maddy ( a maravilhosa , extraordinária Jennifer Connelly ) , que investiga os “ diamantes de sangue ” , o comércio ilegal de pedras preciosas que alimenta grupos armados e guerras tribais . O filme teve cinco indicações ao Oscar , inclusive ator para Leonardo DiCaprio e coadjuvante para Djimon Hounsou ; ganhou ainda outros cinco prêmios e teve mais 14 indicações . Esse diretor Edward Zwick já tinha feito recentemente um outro bom filme , que tem ação mas tem também idéias e denúncias , O Último Samurai . A trilha sonora do incansável James Newton Howard ( o cara assina uma trilha por ano , sem parar , e já compôs para mais de cem filmes e / ou episódios , em uma carreira de 24 anos ) é muito impressionante ; parece que baixou um espírito africano nesse californiano da gema . Honra Secreta / Secret Honor De : Robert Altman , EUA , 1984 Nota : Anotação em 2010 : Honra Secreta é um filme ousado ; uma aula de cinema , literalmente falando ; um tour de force de um ator de grande talento em momento especial . Ao mesmo tempo , não é aconselhável para todo tipo de público – muito ao contrário . Só deverá gostar do filme quem tiver grande interesse em política e na história dos Estados Unidos . É uma peça de teatro filmada , uma peça de um ato e um único cenário , uma grande sala – um monólogo de um ator representando Richard Milhous Nixon , depois de renunciar à Presidência por causa do escândalo Watergate , em 1974 . Durante 90 minutos , Philip Baker Hall fala , fala , fala e fala . Cita diversas figuras e episódios da política americana – Eisenhower , de quem foi vice , entre 1953 e 1961 , os irmãos Kennedy , especialmente John , que o derrotou na eleição de 1960 ; Fidel Castro , Mao Tsé-Tung , a guerra do Vietnã , Henry Kissinger , seu secretário de Estado , Alger Hiss , Whittaker Chambers , e mais dezenas de personalidades e fatos históricos .
Logo na abertura , o filme do diretor Robert Altman faz este aviso-advertência : “ Este trabalho é uma meditação fictícia a respeito do caráter e dos eventos na história de Richard M . Nixon , que é representado neste filme . A imaginação dos dramaturgos criou alguns eventos fictícios num esforço para iluminar a personalidade do presidente Nixon . Este filme não é um trabalho de história ou uma recriação histórica . É um trabalho de ficção , usando um personagem real , o presidente Richard M . Nixon – numa tentativa de compreender . ” Uma especial predileção por fitas , gravadores e uísque Philip Baker Hall-Richard Nixon entra na sala carregando uma caixa , que deposita sobre uma das mesas . A sala – uma biblioteca , um escritório – é bastante ampla . Há várias estantes , centenas de livros , poltronas , garrafas , copos . Há quatro telas de TV , monitores de segurança , algumas mostrando o corredor que leva até aquela sala , outras mostrando o que se passa ali mesmo . Vemos uma câmara de filmar . O protagonista serve-se de uma generosa dose de uísque – veremos a garrafa de Chivas Regal sendo esvaziada durante muitas das seqüências . Da caixa com que entrou na sala , tira um revólver , que deposita sobre a mesa de trabalho . Na mesma mesa , há um gravador , um grande microfone . O Nixon verdadeiro tinha especial predileção por fitas , gravadores – e uísque . O Nixon fictício liga então o gravador , quando estamos bem no início do filme , e começa a falar . Falará por quase 90 minutos seguidos . Dirige-se a um juiz imaginário , como se estivesse num tribunal , sendo julgado ; dirige-se ao juiz imaginário como se fosse o advogado dele próprio , Nixon – mas em seguida passa a falar como se fosse Nixon mesmo . Ao longo de todo o monólogo , alterna essas personalidades : ora fala como Nixon , ora como seu advogado . O grande momento de um ator que sempre foi coadjuvante O ator Philip Baker Hall dá um show . É uma interpretação nunca menos que brilhante . Não me lembrava dele , nem de ter ouvido o nome dele , mas , pelo que mostra o iMDB , já o vi em vários filmes ; o eventual leitor também seguramente já o viu . Nascido em 1931 , com carreira no cinema iniciada em 1970 , tem 148 filmes e / ou episódios de TV em seu currículo , vários deles de sucesso ou respeitáveis , como A Rocha , Força Aérea Um , Boogie Nights – Prazer Sem Limites , The Truman Show , A Hora do Rush , O Informante , Magnólia , A Conspiração , Zodíaco . É um daqueles eternos coadjuvantes competentes – a quem Robert Altman deu o grande papel da vida , neste Honra Secreta . O retrato que os autores e roteiristas Donald Freed e Arnold M .
Stone pintam de Nixon é assombroso , estarrecedor . Em Frost / Nixon , outro excelente filme , este calcado em fatos reais , reproduzindo fatos reais , o diretor Ron Howard mostrou um homem vaidoso , egocêntrico , enérgico , que se tem na mais alta conta mas demonstra uma certa insegurança . O Nixon do filme de Altman é tudo isso , elevado à enésima potência ; e é também vingativo , paranóico , psicologicamente perturbado , com traumas de infância , problemas de relacionamento com os irmãos , uma relação complexa e doentia com a memória da mãe , e invejoso , profundamente invejo do sucesso alheio – tem uma inveja de Kennedy que chega às raias da loucura , um pouco como Lula demonstra em relação a Fernando Henrique Cardoso . E , além de tudo , o Nixon do filme se confessa atolado em diversos tipos de corrupção . Altman dava aulas de cinema e seus alunos participaram do filme Este Honra Secreta foi o segundo filme consecutivo que Altman fez baseado em peça de teatro – sem tentar , de forma alguma , “ cinematogratizar ” a peça . Muito ao contrário , faz questão de demonstrar que está filmando uma peça de teatro . O filme é de 1984 ; em 1983 , ele havia filmado uma outra peça radical , em termos formais e também políticos , O Exército Inútil / Streamers , um libelo antimilitarista . Estava , naquela época , dando aula de cinema na Universidade de Michigan . Muitas das pessoas envolvidas na produção de Honra Secreta eram seus alunos . Estava também no fundo do poço , em termos comerciais : não conseguia interessar os grandes estúdios por seus projetos , e fazia então filmes independentes . Uma figura absolutamente maior , Robert Altman . Nascido em 1925 , começou como roteirista , e depois foi diretor na TV – dirigiu diversos episódios das séries Alfred Hitchcock Presents e Bonanza , antes de finalmente passar a dirigir para o cinema , o que só aconteceu em 1957 , aos 32 anos . Fez grandes filmes , anticonvencionais , indo contra as regras do gênero , como o estranho e belo western Quando os Homens são Homens / McCabe and Mrs . Miller , o policial O Perigoso Adeus / The Long Goodbye , a arrasadora sátira M.A.S.H . Este foi um espantoso sucesso comercial . Popoye , de 1980 , ao contrário , foi um flagoroso fracasso de bilheteria – embora seja uma maravilha de filme , que merecee ser relançado e revisto . Veio a partir daí a fase em que os estúdios não queriam saber dele . Grande artista , continuou a fazer bons filmes – para depois cair de novo nas graças dos produtores e do público , a partir de O Jogador / The Player , de 1992 , em que , ironicamente , fazia um retrato cruel da própria indústria americana de cinema , e de Short Cuts , de 1993 , em
que mostrava a vida de uma dúzia de pessoas em Los Angeles , a cidade que é o coração dessa mesma indústria . “ Um esquisito triunfo ” , “ um psicodocudrama sensacionalista ” Vamos às opiniões dos críticos . Leonard Maltin dá 3.5 estrelas em 4 : “ Richard Nixon , com a ajuda de um Chivas Regal , anda em seu escritório numa fúria quase psicótica contra Hiss , Castro , Ike , Kissinger , e qualquer um que se chame Kennedy . O show de monólogo de Hall é filmado fluidamente e corajosamente concebido . ” E informa que o filme foi lançado em vídeo nos Estados Unidos com o título de Lords of Treson , senhores da traição . Sérgio Augusto não selecionou o filme para constar da edição brasileira do livro de Pauline Kael , o que me dá o trabalho de tentar traduzir o texto brilhante , rico e difícil dela . Vamos lá . “ Como Richad Milhous Nixon , Philip Baker Hall entre uma ruminação selvagem a respeito da sua vida – uma mistura de confissão e auto-isenção . Dirigido por Robert Altman , o filme tem uma qualidade intensificada , como se todo o tumulto do último ano de Nixon na Casa Branca , sua renúncia , e seu perdão – todas as notícias que devoramos nas revistas e nos jornais e na TV , e a torrente constante de revelações – fossem compactados nesse monólogo esfarrapado . É um ataque , um colapso , e o excesso de demonstrações quase pornográficas é paralisante . Há uma travessura virtuosa na confiança de Altman em seu próprio toque ; ele obtém um pequeno , esquisito triunfo com esse piscodocudrama sensacionalista . ” E agora Roger Ebert , o crítico que ama os filmes que vê e tem especial admiração por Altman . Claro , 4 estrelas , a cotação máxima . Não dá para traduzir tudo , porque Ebert é como eu , escreve demais , textos imensos ( com a diferença de que escreve bem ) . Mas ele abre contando que , no seu livro The Final Days , Bob Woodward e Carl Bernstein ( os repórteres que tiveram a sorte de ser enviados num plantão de fim de semana para cobrir o que parecia ser um assaltozinho rotineiro ao comitê democrata no Edifício Watergate e transformou-se num dos maiores escândalos políticos de toda a História ) descrevem um Nixon bêbado , caindo sobre seus joelhos . “ Mas , à medida em que Watergate desaparece e vira História , e enquanto historiadores revisionistas começam a sugerir que Nixon pode afinal de contas ter sido um grande presidente – escândalos à parte , é claro – , nossa curiosidade permanece . Quais eram os reais segredos desse presidente extremamente complexo ? Secret Honor , de Robert Altman , que é um dos mais cáusticos , dilacerantes e brilhantes filmes de 1984 , tenta responder a nossas perguntas . ” ( … ) “ Nixon começa a mexer no seu gravador
; há uma pequena piada sobre o fato de que ele não sabe direito manejá-lo . Aí ele começa a falar . Ele fala por 90 minutos . ( … ) Raramente vi 90 minutos mais fortes na tela . Nixon é interpretado por Philip Baker Hall , um ator que eu não conhecia , com tamanha intensidade selvagem , tamanha paixão , tamanho veneno , tamanho escândalo , que não conseguimos deixar o filme de lado . ” ( … ) “ Uma coisa estranha aconteceu comigo enquanto assistia a este filme . Sabia que era ficção . Não vi o filme com o espírito de aprender ‘ a verdade sobre Nixon ’ . Mas como um filme , ele criou uma verdade mais profunda , uma verdade artística , e depois que Secret Honor terminou , quer saber ? Eu tinha uma simpatia mais profunda por Richard Nixon do que antes . ” Bem , essa é a visão de um americano ; a gente conhece bem menos Nixon do que eles . Mas eu não tive simpatia alguma pela figura . Muito ao contrário . Nem acredito que tenha sido essa a intenção dos autores da peça , ou de Altman . Mas , tirando aquela constatação pessoal de Ebert , o que ele fala me parece perfeito . “ Não conseguimos deixar o filme de lado . ” Cheguei a pensar em pular uns trechos , já que muitas das coisas que o Nixon do filme diz são uma realidade americana demais , para quem conhece muito mais profundamente aquele contexto todo – mas não pulei coisa alguma . O filme é bem feito demais , e o ator está de fato num momento da maior inspiração – o filme pega e envolve o espectador com se fosse um bem feitíssimo thriller . 3 Trackbacks [ … ] o típico caso de quem não consegue voltar bem à planície , conforme mostram dois belos filmes , Honra Secreta e Frost / Nixon – por coincidência estrelado pelo mesmo Michael Sheen que interpretou Tony Blair [ … ] [ … ] no filme , aconteceram em 1972 ; em 1973 começaram as condenações dos funcionários do governo Richard Nixon que planejaram , autorizaram e financiaram o assalto . E a renúncia do presidente , para evitar um [ … ] [ … ] Que tristeza ver isso justamente num filme de Robert Redford , que , na maturidade jovem , em Todos os Homens do Presidente ( 1976 ) , interpretou o repórter Bob Woodward , que , ao lado do colega Carl Bernstein ( feito por Dustin Hoffman ) , e com o apoio da proprietária e do editor-chefe de um dos maiores jornais do mundo , o Washington Post , desvendou a cadeia de corrupção ligando o assalto ao comitê do Partido Democrata no edifício Watergate diretamente aos mais altos escalões da Casa Branca , chefiada pelo republicano Richard M . Nixon . [ … ] Postar um Comentário O seu email nunca é publicado
ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * O Estudante / El Estudiante De : Roberto Girault , México , 2009 Nota : Anotação em 2011 : O Estudante , produção mexicana de 2009 , é repleto de boas , ótimas , excelentes intenções . Demonstra que foi feito com garra , gana , paixão – e tem alguns bons momentos . Mas tropeça sob o peso de tanta vontade de se fazer uma obra que dê um bom recado , que transmita uma boa mensagem – e na opção de ser de fácil entendimento . Acaba tendo um gostinho de coisa naïf – ingênua , pura demais . E de panfleto – ainda que em prol de causas nobres . Quando um filme , ou qualquer obra , vira panfleto demais , deixa de ser filme , de ser arte . Como se dizia antigamente : se você quiser mandar uma mensagem , use o Correio . Ou então : boa política faz teatro ruim . Boas pessoas , pessoas de bom caráter , de boa índole , seguramente se comoverão com o filme . Aqueles que , depois de se comoverem com o filme , fizerem busca na internet para ver opiniões sobre ele e vierem eventualmente parar aqui ficarão com certeza magoados , ou furiosos , com o tom de crítica presente nesta anotação . Gostaria muito de estar aqui apenas tecendo elogios ao filme dos diretor Roberto Girault . Admirei suas boas intenções ; concordo com quase todos os valores que o filme defende . ( O quase aí é porque há a questão do aborto , em que discordo frontalmente do que mostra o filme . ) Não sou dono da verdade , de nenhum tipo de verdade – este lugar aqui é apenas onde registro minhas opiniões pessoais a respeito dos filmes que vejo . E minha opinião é esta : acho que O Estudante é um filme muitíssimo bem intencionado , porém fraco . Uma apaixonada defesa da aprendizagem e do diálogo entre as gerações É uma defesa apaixonada da aprendizagem , da educação . De que nunca é tarde para aprender . De que as pessoas ficam melhores quando estudam , aprendem . De que os grandes clássicos são eternos , e todos devemos e podemos aprender com eles . É uma defesa apaixonada do diálogo entre as gerações – de que todos podem sair ganhando , quando jovens e velhos conversam , dialogam , convivem . Tudo , tudo , tudo valores corretíssimos . Não gostaria de sujar esta anotação com recordações ruins que seria melhor deixar pra lá , mas é impossível deixar de registrar que tudo o que este filme defende é o exato oposto daquilo que o apedeuta que foi presidente do Brasil durante oito tristes anos defendeu . O exato oposto , o contrário das loas à falta de estudo , de preparo , de esforço . Um velhinho que logo se dá bem com os garotinhos e as garotinhas Chano , o protagonista
da história ( interpretado por Jorge Levat ) , é um homem na faixa dos 70 anos de idade , feliz , realizado ; tem uma mulher maravilhosa , Alicia ( Norma Lazareno ) , amam-se profundamente ; tem duas filhas , uma neta linda , e está aposentado , sem qualquer tipo de problema de falta de dinheiro – não se diz o que Chano fez na vida , não importa , mas dá para inferir que ele teve seu próprio negócio , um negócio próspero , firme , não gigantesco , mas bom . Poderia então simplesmente se dedicar ao dolce far niente , a curtir a boa vida ao lado da mulher , das filhas e das netas . Mas Chano quer mais . Quer voltar a estudar , quer aprender , quer ter um diploma universitário , que não teve , porque provavelmente quando jovem cuidou do trabalho em primeiro lugar . Matricula-se no curso de Letras da Universidade de Guajanuato . A princípio , haverá um certo estranhamento – os colegas de Chano , um punhado de garotos e garotas ali na faixa dos 20 anos de idade , vão numa primeiro momento demonstrar uma certa rejeição àquele estranho , aquele velhinho . Essa fase vai passar logo . Rapidamente estarão se dando bem , o velhinho e os garotinhas e as garotinhas . O filme como que fala devagarinho para ver se o público compreende Na minha opinião pessoal ( não sou dono da verdade , repito 200 vezes se for preciso : estou apenas expressando minha opinião pessoal de espectador , jamais de crítico de cinema , coisa que não sou ) , o grande problema deste filme cheio de boas intenções é o excesso de obviedade , o excesso de condescendência para com o que os realizadores devem considerar como sendo falta de informação , de educação , de cultura do público . O filme como que fala muito devagarinho , pausadamente , para ver se o público o compreende . Como se estivesse falando com imbecis . Ao ser óbvio demais , o filme acaba ofendendo a inteligência do público . Subestimar a inteligência do espectador é crime . Algumas belas tomadas , fotografia de primeira . Mas … Há belas tomadas , a fotografia é muitíssimo bem cuidada . Num determinado momento , ainda no começo , a câmara , colocada no nível do chão , anda da esquerda para a direita mostrando os calçados usados pelos alunos da fileira em que se senta Chano : tênis , tênis , tênis – e depois os sapatos pretos , caretas , velhos , do senhor de 70 anos de idade . É uma tomada especialmente feliz , engenhosa . Pena que é uma raridade , dentro do filme como um todo . Na imensa maior parte do tempo , a narrativa é naïf , os episódios da trama são naïves . Até a intepretação dos atores é forçadamente óbvia , para que todo o público compreenda a mensagem . É como
se o diretor estivesse se dirigindo a um público emburrecido pela linguagem da televisão , usando a própria linguagem da televisão para tentar passar sua mensagem . Na sua forma , o filme vai exatamente contra a mensagem que está tentando passar – a de que a aprendizagem é básica , fundamental , é com ela que se vai em frente , se avança . Na sua forma , o filme como que fala com imbecis . Por exemplo , a música . A coisa de a música vir muito alta , e feita para parecer sinfonicamente grande , e impressionante , no momento do clímax , para ajudar a fazer o espectador chorar , é profundamente babaca . Não dá para defender o avanço chamando o público de imbecil . Isso para não entrar na questão mais áspera , polêmica , do aborto . Ao fazer a defesa do já que engravidou tem que parir , mesmo que o engravidar tenha sido com a pessoa errada , na hora errada , o filme que pretende passar boas mensagens se torna lastimável , bocó , fundamentalista , a vanguarda do atraso . 8 Comentários Sergio , penso que o filme tem uma boa história , mas exagera no clichê . Gostei a interpretação do protagonista , mas seus colegas apenas quebram o galho . No fim das contas , vale o ingresso . Mas podia ser bem melhor . Sérgio , concordo integralmente com seus comentários . Sou louco por filmes mas não tenho a intenção nem competência para julgar . Por isto recorro a sites como o seu ; para reforçar – ou não – o que achei , o que senti . Sempre faço isto após assistir ao filme . Comecei a assistir o Estudante e me emocionei com o velhinho – até pq tenho 66 anos e encontro alguns paralelos . Mas realmente o filme descanba para a ingenuidade . De qualquer forma me diverti . Abraços P.S . Seu site é fantástico ! Caro Aloysio , muitíssimo obrigado pelo comentário – e muitíssimo obrigado pelo elogio ao site . É sempre uma surpresa maravilhosa quando vejo que pessoas da minha geração ( da nossa ) acabam descobrindo este site , e até gostando dele . Um abraço . Sérgio Sérgio , parabéns , conheci hoje o seu blog e estou me divertindo muito . Parabéns pela coragem em criticar , mas estou aqui para te dar mais coragem ainda . Por que pedir desculpas quando não gosta do que viu ? É um direito não gostar , e também ter uma opinião . O tal do politicamente fez tudo ficar chato , não se pode mais criticar . Ora , o blog é seu . Achei sua crítica a Jezebel interessantíssima , tanto é que vou ver o filme assim que puder . Sucesso para você ! Oi gente . Eu to estudando sobre esse filme . Bom eu achei que no filme eles querem dar uma grande lição de vida . Mostra que mesmo Chano
sendo um senhor de idade ele vai em busca de seus sonhos que era estudar e se forma em literatura . Isso mostra que não importa sua idade , vá em busca de seus sonhos , porque eles podem se tornar realidade . A criança que nasceu ( que não foi abortada ) não achou o filme fundamentalista . Ao contrário , adorou a mensagem ! Mesmo não apresentando as últimas tecnologias cinematográficas , o filme tem um fotografia muito bonita e bons atores . No geral , ótimo filme ! Recomendo . Bom pelo que percebo sua critica se da pelo fato de o autor defender o aporto , você não é obrigado a concorda , mas o autor pode e deve por seu ponto de vista . Não importa quanto o mundo se evoluiu . O que é Sagrado sempre será sagrado , e para mim a vida é sagrada , eu sinto muito se num momento de fraqueza a pessoa erra ou faz algo que não deveria fazer , mas aquela outra vida não tem motivos para parar de existir . Adorei , mesmo por que alguns temas abordados são em partes diferentes da cultura que temos no Brasil atualmente , é claro o filme é mexicano…E como toda arte cinematográfica mexicana , muito doce , sutil , bom filme pra relaxar … . Postar um Comentário O seu email nunca é publicado ou compartilhado . Os campos obrigatórios estão marcados com um * Meu Coronel / Mon Colonel De : Laurent Herbiet , França-Bélgica , 2006 Nota : Anotação em 2008 : Brilho de filme político , em plenos anos 2000 , com a marca do grego Costa-Gavras . Um coronel reformado do Exército francês , DuPlan , é assassinado em sua casa , uns 20 e tantos anos depois da guerra da Argélia . O assassinato acontece pouco depois que DuPlan ( Olivier Gourmet ) deu uma entrevista na TV criticando o governo francês . As investigações – da polícia e do próprio Exército – levarão ao exame de sua participação na repressão na Argélia , pouco antes da eclosão da guerra que levou à libertação da então colônia francesa na África . As investigações do Exército – a cargo de uma jovem tenente , Galois ( Cécile de France , essa gracinha , muito bem no papel ) , são facilitadas , ou talvez também complicadas , por uma série de cartas que chegam em pacotes aos investigadores , enviadas por alguém que fica no anonimato . As cartas foram escritas durante o conflito na Argélia por um tenente , Guy Rossi ( Robinson Stévenin ) , que serviu sob o comando do coronel DuPlan . À medida em que a tenente Galois vai lendo as cartas do tenente Rossi , o filme vai mostrando os relatos dele em flashbacks . As cartas , e os flashbacks , mostram o coronel como , mais do que um oficial dedicado e patriota , um fascista , um facínora , tamanha a brutalidade com que trata
os rebeldes argelinos ; para o coronel DuPlan , assim como para a administração George W . Bush , os fins justificam qualquer tipo de meio : tortura , assassinato , violação dos direitos básicos e de todos os códigos de decência . No final do filme , o veteraníssimo Charles Aznavour , em uma de suas muitas atuações no cinema , aparecerá num papel pequeno mas fortíssimo , marcante , como o pai do tenente que sofreu nas mãos do coronel na Argélia . O grego cineasta do mundo Costa-Gavras , este sinônimo de cinema político desde os anos 60 , fez o roteiro do filme juntamente com Jean-Claude Grumberg , assim como havia feito em seus dois últimos filmes , Amém / Amen , de 2002 , e O Corte / Le Couperet , de 2005 , mas a direção ficou a cargo desse Laurent Herbiet , em sua estréia na função – nascido em 1961 , Herbiet tinha longa carreira como assistente de direção e diretor de segunda unidade . Meus Tios Heróis / Unstrung Heroes De : Diane Keaton , EUA , 1995 Nota : Anotação em 1997 : É um filme estranho , weird como a própria palavra weird . Tem um certo humor amargo que deve ser bem característica dos judeus americanos – e é interessante que , em seu primeiro-longa metragem como diretora , Diane Keaton , depois de anos de convivência com Woody Allen , tenha feito um filme tão profundamente , arraigadamente judeu . Para começo de conversa : é uma história real . O roteiro se baseia num livro de Franz Lidz ( que aparece , nos letreiros finais , também como co-produtor executivo ) . Franz Lidz é o garoto que no filme tem 12 anos , o protagonista da história . A ação se passa no comecinho dos anos 60 ; o garoto , portanto , é do início dos anos 50 , estará hoje com 47 , por aí . É um homem da minha geração . A apresentação é interessante . Vemos cenas de filmes domésticos , em PB , é claro , feitos pelo pai do garoto , um inventor ( John Turturro , ótimo , excelente ) , testando inventos e usando o filho como cobaia . Logo depois que termina a apresentação há uma seqüência para mostrar que aquela é uma família feliz , de pais apaixonados e apaixonados pelos filhos . Com dez minutos de filme , já temos que o garoto se sente mal por ter um pai como aquele – judeu , e estranho , diferente demais do padrão classe média americana , que fala o tempo todo sobre a importância da ciência e sobre as frases e as descobertas dos cientistas . Ele diz pra mãe ( Andie MacDowell , no começo do filme linda como sempre , depois maquiada para mostrar sua lenta derrota para um câncer no ovário ) que os garotos na escola dizem que o pai dele não é deste planeta . A mãe ,
ao contrário , é idolatrada pelo garoto . É seu ponto de contato com o mundo . Por isso o horror do choque que ele sente ao saber que a mãe está doente , e depois – através de uma frase que a empregada solta sem pensar – que está morrendo . A notícia da doença faz mudar completamente , é claro , o comportamento do pai . Antes alegre , expansivo , transforma-se em sombrio , calado , fechado , tentando maniacamente lutar contra o diagnóstico , depois se entregando à evidência . O peso da tristeza que paira na casa , e o mau humor constante do pai , ajudam para que o garoto opte por se refugiar na casa dos dois tios , irmãos do pai . Os tios , Danny ( Michael Richards ) e Arthur ( Maury Chaykin ) , são doidos de pedra . Mas de pedra mesmo . Se os colegas de escola do menino Steven Lidz já consideram o pai dele maluco , imagine-se o que pensariam dos tios . Arthur , em especial , é uma figuraça . Judeu de esquerda , alimenta uma total teoria conspiratória da história ; diz que só existem oito pessoas na humanidade em que se pode confiar ; todos os demais são suspeitos , ou então são abertamente fascistas . Os dois tios vivem em um imenso apartamento para onde levam todos os jornais , bolas de brinquedo e todo o tipo de quinquilharia que encontram nas ruas . Vivem às turras com o síndico do prédio , que lá pelas tantas consegue fazer vir um fiscal da Prefeitura para constatar a loucura da quantidade de lixo que eles guardam no apartamento . Esse é o trecho mais estranho do filme . O garoto Steven passa a idolatrar os tios , a absorver os valores malucos deles , a loucura deles , para contrariedade total dos pais e surpresa do espectador . É aí que resolve , por sugestão dos tios , trocar o nome , de Steven para Franz . O distanciamento entre o garoto e o pai vai aumentando , até o ponto de ruptura . Circuito Fechado / Closed Circuit De : John Crowley , Inglaterra-EUA , 2013 Nota : O tema de Circuito Fechado – fascinante drama politico inglês lançado em 2013 – é um ataque terrorista ocorrido em Londres , obra , segundo todos os indícios , de radicais muçulmanos . Mas o filme é , todo ele , uma crítica virulenta não aos terroristas , aos radicais muçulmanos , mas às próprias autoridades britânicas . É preciso ser uma democracia consolidada , avançada , estável , tranquila , para que haja um filme como este Closed Circuit , escrito por Steven Knight e dirigido por John Crowley , com um elenco que inclui o australiano Eric Bana , os ingleses Rebecca Hall e Jim Broadbent , o irlandês do Ulster Ciarán Hinds e a americana Julia Stiles . Não é um filme fácil , que agrade a todas as
platéias , de forma alguma . Falcões de todos os matizes , defensores da Lei do Talião , do olho por olho dente por dente , do combate aos radicais e terroristas com todas as armas possíveis e imagináveis , à la George W . Bush , Dick Chenney , por exemplo , devem passer bem longe dele – ou vão se expor ao risco de um choque anafilático . O roteirista e o diretor não procuram facilitar muito a vida do espectador , em especial os não britânicos . O roteiro faz questão de não ficar explicitando fatos – muitas vezes , prefere deixar as coisas subentendidas , como , por exemplo , como e quando foi o relacionamento afetivo entre os dois protagonistas , Martin Rose e Claudia Simmons-Howe , os papéis de Eric Bana e dessa fascinante Rebecca Hall , a cada filme mais impressionante . Tampouco há qualquer cuidado em esclarecer coisas básicas do funcionamento do complexo sistema judicial britânico . Não vai aí , nessas afirmações , qualquer crítica – são apenas constatações . O ministro da Justiça é duramente questionado em entrevista na TV Na abertura do filme – nada menos que brilhante – , há uma absurda concentração de informações , capaz de deixar o espectador um tanto zonzo . Começa com a tela dividida em duas , duas imagens diferentes . O espectador percebe de imediato que são imagens de câmaras de segurança colocadas em diversos pontos de um mercado londrino , Borough Market . A data aparece em cada imagem : 30/11/2012 . Não são apenas as imagens – há também a reprodução das vozes das pessoas focalizadas em cada uma das câmaras . Rapidamente passam a ser quarto imagens diferentes . Seis . O espaço da tela vai sendo dividido em fatias cada vez menores . Oito câmaras . Um furgão estaciona em uma das várias imagens , uma voz alerta que ali é proibido estacionar . Enquanto isso , vão rolando os créditos iniciais . Logo são 12 imagens , captadas por 12 câmaras de segurança diferentes . Quinze . Uma explosão – todas as 15 câmaras agora mostram apenas poeira . Chegam carros de polícia , equipes de resgate . Vemos e ouvimos noticiários de TV informando que há muitos feridos , que já se fala em ataque terrorista , que o número de mortos é alto . Os créditos iniciais continuam rolando , enquanto vemos tropas especiais da polícia – tipo tropa de choque , tipo SWAT – invadindo uma casa simples , um depósito . Repórteres de TV informam que um suspeito foi levado preso pela polícia , assim como sua mulher e filho – ele se chama Farroukh Erdogan ( Denis Moschitto ) , de origem turca . Um advogado é nomeado para a defesa de Erdogan – Simon Fellowes ( James Lowe ) . Os créditos iniciais ainda estão rolando . O Attorney General ( interpretado pelo grande Jim Broadbent ) está sendo entrevistado na TV , e o entrevistador é incisivo , duro
, cortante . Quem faz o entrevistador é de fato um jornalista da TV britânica , John Humphreys , embora , naturalmente , nós não tenhamos como saber disso a não ser vendo depois a relação de atores . O Attorney General está na defensiva ao falar do julgamento de Farroukh Erdogan , o único suspeito vivo do atentado que matou mais de cem pessoas : – “ Em casos de terrorismo , há circunstâncias em que revelar provas em julgamento aberto prejudicaria ações presentes e futuras ( das investigações ) . ” John Humphreys , o entrevistador : – “ Mas provas cruciais da promotoria serão escondidas da defesa . Se isso acontecesse em qualquer outro país , diríamos que é um processo viciado . ” O Attorney General : – “ O acusado será completamente representado . ” O entrevistador : – “ Mas não pelo seu próprio advogado ! ” O Attorney General : – “ Na audiência aberta , diante do júri , ele terá seu próprio advogado . Na audiência fechada , será representado por um defensor especial . ” O entrevistador insiste : – “ Há margem para dúvidas . ” O Attorney General : – “ O processo judicial neste país é , e continuará sendo , justo e transparente . ” As legendas traduzem Attorney General por procurador-geral . Na verdade , na Grã-Bretanha , o Attorney General é o ministro da Justiça . E é apenas quando o ministro da Justiça interpretado por Jim Broadbent diz com a maior firmeza do mundo a frase “ O processo judicial neste país é , e continuará sendo , justo e transparente ” é que terminam os créditos iniciais do filme . Os dois protagonistas vão fazer a defesa do turco acusado pelo atentado Soterrado por tanta informação num período de tempo exíguo – não mais que os primeiros 5 dos 96 minutos de bom cinema – , o espectador poderá respirar rapidamente enquanto vê uma tomada aérea de Londres , o Tâmisa recortando aquela paisagem maravilhosa , a Tower Bridge na parte de baixo da tela , as pontes a montante , a Oeste , situadas mais para cima da tela . Um letreiro indica : “ Seis meses depois ” . Uma tomada em plongée radical , a câmara bem no alto , o Tâmisa visto como se fosse de um satélite – um pequeno barco de corrida de remo no meio do rio . Uma tomada em que vemos o remador – Eric Bana – e , acima dele , a Ponte de Westminster , e , atrás dele , o prédio monumental do Parlamento inglês . O personagem interpretado por Eric Bana pára para respirar exatamente ao lado das Houses of Parliament . O telefone celular toca , ele diz seu nome , Martin Rose . Corta , e Martin Rose está numa igreja em que se celebra a homenagem fúnebre a Simon Fellowes , o advogado de defesa do acusado do ataque terrorista , Farroukh Erdogan . Fellowes –
é o que se diz – se matou , provavelmente abalado psicologicamente pela pressão de estar no centro de um caso que está sendo tratado como o julgamento do século . À saída da cerimônia religiosa , o ministro da Justiça , que também estava presente , procura Martin Rose para uma conversa ; Martin será o substituto do falecido Fellowes na defesa do turco acusado de promover o atentado que matou mais de cem inocentes . Ele fará a defesa no julgamento aberto , com júri e público presentes . A advogada escolhida como defensora especial de Erdogan , nas sessões fechadas do tribunal , sem imprensa , sem júri , sem populares , é Claudia Simmons-Howe ( o papel de Rebecca Hall ) . O espectador é informado de cara de que Martin e Claudia tiveram um caso no passado . Martin separou-se da mulher algum tempo atrás , e as relações entre os dois não são nada cordiais – ela estabelece horários rígidos para que ele fique com o filho adolescente do casal . Isso não é ditto hora alguma , mas dá para inferir que Claudia pode ter sido o motivo do divórcio não amigável de Martin e da mãe de seu filho . O complexo sistema jurídico britânico exige , naquele caso específico , que o advogado de defesa de Erdogan – Martin – e sua defensora especial – Claudia – não troquem informações sobre o caso . A rigor , o fato de eles terem tido um caso deveria levar um dos dois a se declarer impedido da tarefa – mas não é o que acontece . Não é dito claramente , mas dá para inferir ( o espectador tem o direito de inferir muito , ao ver Circuito Fechado ) que os dois , profissionais sérios , dignos , honestos , acham que o fato de terem tido um caso não impedirá que exerçam seus deveres com toda a isenção e o profissionalismo necessários . A partir daqui , spoilers . Quem não viu o filme não deve ler o que vem abaixo Por essa descrição acima , o eventual leitor que não tiver visto ainda o filme poderá imaginar que Circuito Fechado de fato despeja muita informação sobre o espectador já nos primeiros 15 , 20 minutos . E é bem verdade . Porém , quando o filme está aí com 25 , 30 , 35 minutos , há uma grande reviravolta . Muito provavelmente todas as sinopses do filme abrem as informações que virão a seguir , mas eu tenho estado cada vez mais paranóico com essa coisa de spoiler . Acho que as informações que virão agora atrapalham a vida de quem não viu ainda o filme . É spoiler . As informações vão se somando , Martin Rose vai juntando os pontos da trama – e conclui que , na verdade , Farroukh Erdogan trabalhava para o MI6 , o serviço secreto britânico , a CIA do Reino Unido . Cometeu um erro , e fez explodir no Borough
Market um furgão com uma potência destruidora inimaginável . Condenar o uso de métodos sujos na guerra contra o terrorismo já é , em si , uma posição controvertida . Muita gente teria argumentos para justificar ações radicais contra radicais assassinos de inocentes . No próprio filme , quando a narrativa já se aproxima do fim , um agente da MI6 diz para Claudia , enquanto tenta sufocá-la : “ Você tem todas as vantagens da nossa sociedade , mas não as defende , não é ? Eu luto contra os homens que querem botar uma máscara em você apenas porque você é mulher ” . É extremamente difícil , mesmo numa sociedade avançada , civilizada , defender a postura – moralmente correta , juridicamente , humanamente , todos os mente possíveis correta – de que o crime , mesmo o terrorismo , tem que ser combatido dentro das normas do Direito , da Justiça , ou então o Estado que o combate passará , ele mesmo , a ser fora da lei . Tem ficado cada vez mais difícil , após cada golpe aplicado pelos radicais , pelos fundamentalistas muçulmanos . Circuito Fechado defende essa postura , contra a opinião de provavelmente a maioria das pessoas hoje em dia . Mas vai ainda além . Claro que se trata de uma história de ficção – mas investe contra o Estado britânico cujos agentes fizeram uma besteira imensa , e cuja máquina foi posta em ação para evitar que a verdade sobre o atentado fosse conhecida pelo público . É um belo , corajoso filme . Uma atriz excelente , um diretor novato , um roteirista veterano Uma palavrinha sobre Rebecca Hall . A cada filme que vejo com ela , cresce minha admiração . Que maravilhosa , que estupenda atriz . Rebecca Hall é a prova de que o talento não precisa necessariamente de vir acompanhado de imensa beleza . A rigor , a rigor , pelos padrões mais comuns , Rebecca Hall não é uma mulher bonita . Mas ela usa com maestria todos os traços de seu rosto – traços fortes , marcantes – para transmitir as emoções dos personagens que interpreta . Ela faz de Claudia Simmons-Howe um personagem fascinante . É uma mulher evidentemente bem nascida ( o próprio sobrenome duplo indica ) , bem criada , bem educada . Tem princípios firmes , é profissional dedicada , competente , e parece ter muita segurança – mas a segurança vai pelo ralo quando se vê defrontando a força das instituições do Estado . Roteirista e diretor souberam muito bem manter a tensão crescente entre os dois protagonistas , Claudia e Martin – a tensão diante de toda o caso jurídico e político complexo , difícil , apavorante , em que mergulham , e diante do reencontro após uma paixão que visivelmente ainda não se apagou . John Crowley , o diretor , é um garotão que deve estar beirando os 40 anos . Circuito Fechado é seu quinto longa-metragem ; não tenho referência alguma sobre
os anteriores . Steven Knight , o roteirista , é mais veterano , nasceu em 1959 , e tem 26 títulos como roteirista . É o autor do roteiro do excelente Coisas Belas e Sujas / Dirty Pretty Things ( 2002 ) , de Stephen Frears , sobre imigração , miséria material e moral na Inglaterra de hoje . É isso aí : um bom filme . Mais um bom filme do cinema inglês , o que hoje , na minha opinião , é o melhor do mundo . [ … ] Ilhas Britânicas , todos os três – o veterano Alan Rickman , um londrino , a jovem e maravilhosa Rebecca Hall , igualmente londrina , e mais o garotão Richard Madden , escocês de uma cidadezinha chamada [ … ] Polícia , Adjetivo / Politist , Adjectiv De : Corneliu Porumboiu , Romênia , 2009 Nota : Anotação em 2010 : Já lá se vão 20 anos que a ditadura comunista comandada por Nikolai Ceauscescu caiu de podre , mas a Romênia vai mal , bastante mal . Não conseguiu se livrar da atmosfera claustrofóbica , castradora , do estado policial ; a burocracia paquidérmica e anti-meritocracia herdada do Estado todo-poderoso emperra o funcionamento das instituições , e a vida dos cidadãos é vigiada constantemente . Isto é o que diz Polícia , Adjetivo , filme de Corneliu Porumboiu , o mesmo autor do fascinante A Leste de Bucareste . Ou , no mínimo , se não foi essa exatamente a intenção do diretor , é uma das formas pelas quais pode ser visto seu filme . É um filme em tudo por tudo extraordinário , nas acepções fundamentais da palavra – fora do comum , excepcional , raro , singular , notável . Não é , de forma alguma , um filme fácil . Bem ao contrário . Porumbopiu constrói sua narrativa de uma forma enervante , perturbadora , desagradável mesmo , de uma certa maneira . É como se ele quisesse reproduzir , na forma do filme , o seu conteúdo , o que ele quer mostrar : como é exasperante a vida do cidadão que tenta ser correto e cumprir direito os seus deveres dentro daquele tipo de Estado . São várias as características básicas com que ele conta sua história . Em primeiro lugar : em geral , a câmara fica absolutamente estática . Segundo : os planos são longos , extremamente longos . As gerações acostumadas aos planos curtinhos , à montagem rápida , à la linguagem da MTV de meados dos anos 80 , e de todos os filmes de ação feitos depois disso , seguramente ficarão bastante nervosas com os planos tão longos . Terceiro : como nos filmes do Dogma 95 dos dinamarqueses , não há música . Ouvimos os ruídos naturais , as vozes – quando há vozes , porque na maior parte das seqüências não se fala nada – e ouvimos o silêncio . Só . Quarto : não há close-ups de nada , de ninguém . Jamais
vemos de perto o rosto dos atores , ou qualquer objeto . São sempre tomadas amplas – planos gerais , ou no máximo de conjunto . Há , que eu tenha reparado , apenas um plano entre o de conjunto e o americano , uma longa tomada sem cortes do jantar do protagonista e sua mulher . Mas minto : em duas seqüências , bem no final do filme , no ápice do drama , haverá dois close-ups . Dois , apenas , para realçar a importância do que está sendo mostrado , depois de toda uma narrativa em que a câmara está mais longe das pessoas e dos objetos . Um , de um dicionário de romeno , na página em que se mostram os significados da palavra romena equivalente à nossa “ policial ” ; e outro , de um quadro-negro , onde se desenha o assalto final do estado policialesco à vida de um grupo de cidadãos . Um jovem policial honesto , sem provas contra o suspeito Esta é a trama básica deste filme estranho e fascinante , às vezes exasperante : Um jovem policial de uma pequena cidade romena , Cristi ( Dragos Bucur ) , é encarregado de fazer a vigilância de um estudante , Victor , que havia sido denunciado como usuário e traficante de droga . Ao longo de dias , Cristi segue os passos de Victor ; vê que ele , uma vez por dia , fuma um baseado , junto com uma colega e um amigo , Alex – exatamente o sujeito que fez a denúncia . Mas , fora isso , fora o fato de que Victor fuma o baseado ( e junto com o próprio denunciante ) , Cristi não observa mais nada . Não há qualquer elemento para provar que Victor é traficante . O traficante pode ser um irmão de Victor , ou até um irmão de Alex , o denunciante . Mas de uma coisa Cristi tem certeza : Victor não é traficante . Quando o filme está ali com dez minutos , Cristi faz uma manobra arriscada : passa por cima de seu chefe e vai falar com o procurador que cuida do caso . Acredita que será mais fácil convencê-lo de seu ponto de vista ; sabe muito bem que , se for falar com o chefe – o qual , aliás , anda exigindo uma conversa com ele – , o chefe exigirá que seja feito logo o flagrante , “ para resolver nos interrogatórios ” . A velha fórmula de toda polícia incompetente , de todo Estado policial , que todos nós , no mundo inteiro , conhecemos tão bem – certo ? Prende-se o suspeito , e resolve-se no interrogatório – num bom interrogatório ( segundo o ponto de vista do policial incompetente , do Estado policial ) , ah , o suspeito confessa , sim , senhor . Pois então o jovem policial Cristi vai ao procurador , quando o filme está aí com uns dez minutos . Chega
a contar para ele que , na sua recentíssima lua-de-mel , esteve em Praga , e lá viu o que acontece em todos os países da Europa , menos na Romênia : consumir droga não é crime , crime é traficar . O procurador não quer saber : sugere a Cristi que faça o flagrante . Cristi tenta argumentar : se fizer o flagrante , o garoto Victor passará sete anos na cadeia ; ele não quer ter esse peso em sua consciência . O procurador contra-argumenta que não serão sete anos : depois de três anos e meio , o garoto será libertado : – “ Foi você que pôs o baseado na boca dele ? É a lei , ponto final . ” E Cristi : – “ É uma lei bem ruim . ” – “ Cristi , você não tem competência para falar de lei . ” Um brilho de panfletaço contra o Estado forte , inchado , incompetente Então é isso : além de fazer um panfletaço firme , forte , violento , contra o Estado policial , contra a burocracia infernal , contra o serviço público que – na falta de promoções por mérito e de demissões por incompetência ou corpo mole – incentiva a letargia dos funcionários , o diretor Corneliu Porumboiu faz uma crítica virulenta à forma como muitos governos tentam combater a praga das drogas . Uma forma que vitimiza o usuário , não derrota o traficante e só serve para inflar a corrupção e a criminalidade . Não é pouca coisa . De forma alguma . É um brilho . Como vingança contra o realismo socialista , a farsa , o fantástico Dois outros filmes fascinantes feitos em países que emergiram das cinzas após o desmoronamento do império soviético me impressionaram por seu clima anti-naturalista , selvagemente surreal . Em Os 27 Beijos Perdidos , feito em 2000 na Geórgia , a terra natal de Stálin , há um navio que passeia pelas ruas da pequena cidade e pelos campos ao seu redor , um marinheiro que perdeu o mar , um oficial que manda a artilharia disparar seus canhões em direção ao local em que sua mulher o trai com outro homem , um sujeito que amarra rolamentos no pauzão de 27 centímetros e depois não consegue tirá-los de lá e a cidade inteira tem que acudi-lo ; e , numa seqüência antológica , um camarada que está comendo uma mulher de pé , encostando-a numa mesa , usa , para ficar mais alto e facilitar o trabalho , dois livrões de Karl Marx sob os pés – livros que em seguida vão pegar fogo . Em Casamento Silencioso / Nunta Muta , feito em 2008 na própria Romênia , a narrativa do diretor Horatiu Malaele passeia pelo paranormal , vê fantasmas , bota os atores para atuar como em um teatro farsesco , faz um surrealismo que deixaria Fellini humilhado de inveja . Esses dois filmes me deixaram com a sensação de que , depois de muitas décadas
de realismo socialista , aquela coisa horrorosa imposta pela ditadura comunista para enaltecer a pátria , o patriotismo , o valor do operariado , blábláblá , os diretores Nana Djordjadze e Horatiu Malaele resolveram se vingar , partindo para o realismo fantástico mais absurdo que se pudesse imaginar . Como numa repartição , esperando que o funcionário se digne a nos atender Já o romeno Corneliu Porumboiu não vai por aí . Com ele , não tem nada de realismo fantástico , de surrealismo . Ele também vai na contramão do didático realismo socialista , e vai também raivosamente – só que vai direção contrária : opta assim por uma espécie de hiper-realismo , de um quase naturalismo . Há momentos do filme em que não acontece absolutamente nada – exatamente como na vida real . É extraordinária , chocante , por exemplo , a seqüência em que um exaurido Cristi chega em casa , após um duro dia de trabalho , e sua jovem mulher , Anca ( Irina Saulescu ) , está na ínfima salinha do apartamento ouvindo música no YouTube . Tão jovens , tão recém-casados – e Cristi e Anca parecem distantes um do outro , milhas e milhas de distância , mais ou menos como Ben Braddock e Elaine Robinson – os personagens de Dustin Hoffman e Katharine Ross – na seqüência final de A Primeira Noite de um Homem / The Graduate . Cristi sequer vai até Anca para dar um beijo de boa noite . Vai para a ínfima cozinha do apartamento , jantar . Plano de conjunto , câmara paradona , estática – Cristi se serve , abre a geladeira , pega uma cerveja , vai comendo , vai bebendo , e vai ouvindo , junto com o espectador , uma canção pop romena tão brega quanto um Waldick Soriano ( brega é brega em qualquer lugar do mundo ) . Cristi pede para Anca baixar o som , mas Anca não ouve o que ele diz , e assim Cristi e o espectador continuam ouvindo a canção brega , enquanto a câmara continua paradona e Cristi continua comendo . Acaba a canção . Cristi e o espectador respiram aliviados – mas lá vem de novo a música , desde o início : Anca , como alguns doidos ( eu , por exemplo ) , tem a mania de ouvir dez vezes em seguida a mesma canção . Epa , mas então há um erro aqui : lá mais pra trás tinha sido dito que o filme não tem música . Não , não é um erro . O filme não tem trilha sonora , música de fundo . Tem uma ou duas canções que tocam lá dentro da história , que são ouvidas pelos personagens , e portanto o espectador ouve também . Um detalhezinho : a Waldick Soriano romena que inferniza o jantar do pobre Cristi chama-se Mirabela Dauer . Pelo menos isso é o que Anca contará mais tarde para Cristi . Mas haverá ainda uma outra tomada mais
longa e mais exasperante do que essa que descrevi . Será bem para o final da narrativa . Cristi e seu colega Nelu ( Ion Stoica ) estão na ante-sala do chefe , à espera de que ele os mande entrar . Plano de conjunto , câmara paradona , estática : a secretária do chefe trabalha num computador pré-antigo , com um monitor daqueles de um metro de profundidade , que se usava uns 20 anos atrás , e , ao lado dela , Cristi espera . A tomada dura uns cinco minutos . Nada acontece , ao longo de uns cinco minutos . Exatamente como se estivéssemos – como todos já estivemos , e ainda vamos estar – numa repartição pública , à espera de que um funcionário finalmente se digne a nos atender . Na Romênia assim como no triste Brasil de hoje Evidentemente , não dá para deixar de falar das proximidades óbvias entre o que filme mostra e o que nós , brasileiros , vivemos . Mal saídos de duas décadas de ditadura militar de direita , em que imperava essa mesma atmosfera claustrofóbica , castradora , do estado policial mostrada em Polícia , Adjetivo , vivemos agora , em 2010 , esse mesmo clima de Estado forte – quanto mais forte o Estado , mais frágil o cidadão – , essa mesma coisa da máquina goliática , leviatânica , paquidérmica , em que o servidor público deixa de servir ao público para servir a si próprio , aos seus companheiros mais próximos , ao seu clubinho , ao seu partido político . Nunca antes , em 510 anos de história , nem mesmo durante a ditadura militar , o Estado brasileiro tinha sido tão privatizado pelos interesses de um grupelho , uma casta , uma quadrilha , que se arvora em dona da verdade e do povo e não admite qualquer tipo de crítica ou contestação . Uma quadrilha que usa os instrumentos do Estado para espezinhar os cidadãos , violar seu sigilo , acabar com suas liberdades mais ínfimas . Imitação da Vida / Imitation of Life De : Douglas Sirk , EUA , 1959 Nota : Anotação em 2010 : Imitação da Vida , de 1959 , foi o último filme da carreira de Douglas Sirk , o diretor que passou para a história como o rei do melodrama . Ao rever o filme agora , meio século depois que ele foi feito , é impossível deixar de constatar : Imitação da Vida envelheceu . Tinha visto o filme quando bem garoto , aos 13 anos ( foi no dia 4 de setembro de 1963 , no Cine Candelária , na Praça Raul Soares , em Belo Horizonte , segundo conta meu primeiro caderninho de cinema ) , e ele me impressionou demais . Pelo que tenho anotado , depois daquela vez só vi um pedaço dele , na TV , zapeando , em 2000 – e , no entanto , me lembrava muito bem de quase tudo , da maioria dos pequenos
detalhes . É , ainda hoje , um filme poderoso . Mas inegavelmente envelhecido , datado . É tão absolutamente datado quanto os penteados e os vestidos de Lana Turner . O estilo , a narrativa , a forma de apresentar as seqüências , a estrutura de cada seqüência , a forma de ligar uma à outra , as atuações , os diálogos – tudo , absolutamente tudo me pareceu envelhecido , datado . Há diversos momentos do filme que fazem lembrar novela de TV , ou seriado ruim de TV . Dallas . Qualquer novela da Rede Globo . Soap opera – coisa menor . Nada , em princípio , contra a TV . A BBC faz séries e filmes impecáveis , assim como a HBO . Imitação da Vida me pareceu hoje o exemplo de uma fórmula velha de fazer novela de TV . Muitos anos na vida de pessoas não especialmente fascinantes Talvez a responsabilidade maior seja de Fannie Hurst , do romance de Fannie Hurst no qual o filme se baseia . Acho que seria importante falar de Fannie Hurst , mas , para que esta anotação fique um pouquinho mais compreensível , é preciso falar primeiro da trama , da história . Imitação da Vida ( o filme ; não li o livro ) conta a história de duas mulheres , duas mães sem marido que criam sozinhas suas filhas , na Nova York dos anos 40 e 50 . É daquelas narrativas que não se apegam a um momento específico – ao contrário , acompanham a vida dos protagonistas ao longo de uma década inteira . Não se concentra – espalha-se . Momentos específicos , momentos decisivos , momentos cruciais costumam dar boas narrativas , bons filmes . Douglas Sirk fez um filme magistral pegando um momento específico da vida de uma mulher viúva , bem de vida , que acontece de ter um caso de amor com uma pessoa de classe social inferior , um jardineiro – Tudo o Que o Céu Permite / All that Heaven Allows , de 1955 , é um belíssimo melodrama . Tão belo , tão triste , tão chocante , que inspirou o talentoso Todd Haynes a fazer uma homenagem a ele , em Longe do Paraíso / Far From Heaven , de 2002 . Narrativas sobre muitos anos ao longo da vida de personagens que não são especialmente fascinantes , especiais , em geral precisam de autores mais próximos do genial , do brilho . E Fanny Hurst não é propriamente um Tostói , um Dostoiéviski , um Machado , um García Márquez , um Fitzgerald . Então , Imitação da Vida acompanha as trajetórias de Lora ( Lana Turner ) e de Annie ( Juanita Moore ) , desde o momento em que elas se conhecem , numa praia de Conney Island , em 1947 , até 1958 , ou ainda além . As duas haviam chegado a Nova York pouco tempo antes do momento em que se conhecem , as duas são viúvas ,
cada uma das duas tem uma filha . Lora tinha trabalhado como atriz em sua cidadezinha do interior , e sonha em se firmar na cidade mais competitiva do mundo ; Annie não tem onde cair morta . Conhecem-se por acaso – suas filhas estão brincando na praia , Lora se desencontrou de Susie , e quando finalmente a acha ela está perto da garotinha Sarah Jane e de sua mãe , Annie . Annie se oferece para trabalhar para Lora em troca de um teto , o quartinho de empregada , e de comida , mais nada ; Lora a princípio não quer , não tem dinheiro para comprar comida direito nem para ela mesma e para Susie , mas acabam vivendo as quatro juntas no pequeno apartamento do Brooklyn . Os anos vão se passar ; eventualmente Lora vai se transformar numa famosa atriz de teatro e depois de cinema . Não há propriamente um grande drama , uma grande história – ou quase . São histórias de vidas não especialmente fascinantes , em que cada passo acontece de virar um pequeno drama . “ Tudo vira um drama ” , exclamou do meu lado a Mary , que , ao contrário de mim , não tinha visto Imitação da Vida quando era criança ou adolescente . Talvez esta seja a melhor definição do filme . É uma narrativa em que tudo , cada pequena coisa , vira um grande drama . Personagens que não são especiais em absolutamente nada – a não ser pela fantástica capacidade de transformar tudo , cada pequena ou grande adversidade , em drama . Quando tudo é drama , é difícil realçar do que é de fato terrível Na verdade , de fato , a rigor , existe , sim , um grande drama , em Imitação da Vida . Era a razão pela qual o filme havia me impressionado tanto , quando era garoto , o motivo pelo qual o guardei na memória por mais de quatro décadas . O grande drama , a grande questão é o racismo . O grande drama de Imitação da Vida é que Sarah Jane , a garotinha filha de Annie , tem a pele branca , mas Annie é negra , e , pela lógica perversa da sociedade americana do passado , quem tem uma gota de sangue negro é negro , mesmo que sua pele seja branca . É a mesma lógica perversa usada hoje no Brasil racialista do lulo-petismo para definir as pessoas : quem tem uma gota de sangue negro e se declarar negro merece uma ajudazinha , um descontinho na hora de fazer o vestibular , na hora de arranjar um emprego . Mas vamos em frente . De volta ao filme . A pele de Sarah Jane é branca , mas ela tem vergonha de ser negra , de sua mãe ser negra . Tem vergonha de dormir no quarto dos fundos . Susie , dois anos mais nova que ela , oferece para ela uma boneca novinha que
acabou de ganhar da mãe que não tem dinheiro para nada , mas Sarah Jane detesta aquela boneca , porque ela tem a pele negra . E isso quando ela é criança . Quando tiver 18 anos , e então intrepetada por Susan Kohner , a Susie de 16 aparecendo na pele de Sandra Dee , tudo será muito pior . Imitação da Vida me pareceu hoje um filme menor , envelhecido , datado , em grande parte porque ele não se define claramente . Não é um filme sobre racismo – é um filme sobre vidas normais de gente que transforma tudo em drama , inclusive o drama imenso que é o racismo . Quando tudo , absolutamente tudo , é drama , não se consegue realçar o que é realmente dramático . A denúncia do racismo , essa doença infernal , das piores que a humanidade teve o talento de inventar , se perde entre tanto drama dos personagens do filme – gente que não consegue viver sem transformar tudo em drama . Uma das cenas mais violentas , mais fortes , mais impressionantes de Imitação da Vida , da qual eu me lembrava perfeitamente , que tinha me marcado para sempre , agora me pareceu improvável . Uma manifestação tão absurda de racismo no Village , em 1958 ? Se fosse em qualquer Estado do Sul , até mesmo no final dos anos 60 , ou até dos 70 , seria crível . No Village , em 1958 ? Meu , o Village , em 1958 , era a coisa mais avançada , mais progressista , mais anti-racista que existia naquele país maluco . Uma curiosidade : nessa seqüência impressionante a que me refiro , o agressor , o brutamontes racista , idiota , é interpretado por Troy Donahue . É uma pequena ponta . Nos anos seguintes , esse ator de talento tão limitado quanto boa pinta seria o protagonista de vários filmes de sucesso na época , o mais conhecido dos quais é o açucaradíssimo Candelabro Italiano . É um filme pró-mulher , e por isso até avançado para a época Sim , Imitação da Vida é um filme pró-mulher , um filme feminista , um filme até avançado , se considerarmos a época em que foi feito e a época que ele retrata . Tanto Lora quanto Annie são mulheres que levam suas vidas com coragem , brio , força – sozinhas para criar suas filhas , num mundo machista . Cada uma escolhe seu caminho , mas nenhuma delas depende de um homem para viver , para sobreviver . E , quando Steve ( John Gavin , aquele ator bonitinho e fraquinho ) , o jovem fotógrafo boa pinta que as duas conhecem na seqüência inicial , na praia de Conney Island , tenta se arvorar em dono do destino de Lora , ela dá-lhe um chute na bunda , muitíssimo bem dado . Avançado , progressista , pra frente no desenho da vida independente dos machos de Lora , o filme no
entanto se mostra atônito e atonitamente perdido ao discutir o racismo , a questão mais importante que ele mesmo levanta . É aquilo que falei numa boa frase : quando tudo , absolutamente tudo , é drama , não se consegue realçar o que é realmente dramático . Dois romances de Fannie Hurst viraram dramalhões da Universal Fannie Hurst . Na distantérrima adolescência , vi dois filmes baseados em livros de Fannie Hurst que me impressionaram demais – este aqui e também Esquina do Pecado / Back Street . Os dois filmes têm várias coisas em comum , além de se basearem em livros de Fannie Hurst . São , os dois , refilmagens – Imitação da Vida havia sido feito em 1934 , por John M . Stahl , com Claudette Colbert no papel principal , e Back Street havia virado filme em 1932 , também dirigido por John M . Stahl , com Irene Dunne no papel principal , e de novo em 1941 , dirigido por um tal de Robert Stevenson , mas com grandes nomes no elenco – Margaret Sullavan e Charles Boyer . A versão que vi garoto em Belo Horizonte foi a de 1961 , dirigida por David Miller , com Susan Hayward no papel central e exatamente o mesmo John Gavin como o seu amante . Imitação da Vida 1959 e Esquina do Pecado 1961 tiveram , além do mesmo bonitinho e ruinzinho John Gavin no principal papel masculino , o mesmo produtor , Ross Hunter , no mesmo estúdio , a Universal . São , os dois , gigantescos melodramões . Imitação da Vida trata de mãe quase solteira criando filha sozinha , homens avançando em cima dela , ela tendo que agüentar a barra . Esquina do Pecado trata de uma coisa mais comum ainda – a outra , a mulher da vida do cara , mas que chegou depois que ele já havia pronunciado ao pé da altar as juras eternas . Nos dois , as mulheres trabalham , trabalham , e sobem , e ascendem , e ficam ricas – e era muito bom mostrar isso , naqueles tempos pré-históricos , pré-Betty Friedan , pré-explosão do feminismo . Era muito bom . Imitação da Vida tem Lana Turner , Esquina do Pecado tem Susan Hayward – duas grandes atrizes da época de ouro de Hollywood , do cinema dos estúdios . Coisas antigas . Gostaria de rever Esquina do Pecado – deve ser uma gigantesca droga , mas gostaria . O diretor David Miller , que fez Esquina do Pecado , é quase um joão-ninguém , um nada , acho . Douglas Sirk é um grande cineasta – tenho o maior respeito por ele , e , muito mais que isso , ele tem o respeito generalizado da crítica – , mas a verdade é que este Imitação da Vida , embora seja um dos mais conhecidos , não é um de seus melhores filmes . Um autor voltado para a família , que é onde acontecem as maiores
tragédias Douglas Sirk na verdade era Hans Detlef Sierck , filho de pais dinamarqueses nascido em Hamburgo em 1900 . Saiu da Alemanha nos anos 30 , durante a ascensão do nazismo ; filmou na França , na Holanda , e foi parar na Meca , no centro gravitacional do cinema , onde em 1941 fez O Capanga de Hitler . Mas sua praia não era a política – era a família , onde as tragédias maiores ocorrem . Fez belos , amargurados filmes sobre famílias infelizes , pessoas infelizes . Não sei por que parou de filmar em 1959 , depois de fazer este filme aqui , mas vejo que , em 1967 , em entrevista ao Cahiers du Cinéma , disse : “ Meu ideal é a tragédia grega , em que tudo se passa em família , num mesmo lugar . E essa família é idêntica ao mundo , é o símbolo deste mundo . ” Fico aqui achando com meus botões que , de alguma maneira , o dinamarquês-alemão-americano Douglas Sirk deve ter procurado o seu colega Luchino Visconti – italiano e homossexual , conde e marxista – para discutir sobre família e decadência moral . Era o grande tema dos dois cineastas Não quis ficar no país onde se refugiou . Voltou para a Europa , mas não fez mais filmes lá , a não ser uns três curta-metragens . Morreu em 1987 , quase 20 anos depois de ter feito Imitação da Vida . Espero que tenha curtido bem sua aposentadoria , esse período da vida em que a gente já chutou todos os baldes e pode fazer o que bem entender . “ Romances que não vão durar dez anos ” Sobre a escritora Fannie Hurst , 1889-1968 , vejo agora uma frase atribuída a F . Scott Fitzgerald , 1896-1940 – e as datas são chocantes . Nasceram na mesma época ; o cara viveu 44 anos , a moça viveu 79 . Não sei se o grande , maravilhoso , fraco , bêbado , auto-destrutivo , genial , brilhante , tão apaixonado pelos ricos e por todo o glamour besta da vida vã , tão grande e tão bobo Francis Scott de fato falou a frase , mas que ela é boa , é . Francis Scott , o brilho que foi tão imbecil que morreu de tanto beber aos 44 anos de idade , teria dito que Fannie Hurst era um dos vários autores americanos que “ não estavam produzindo um conto ou romance que vai durar dez anos . ” Pobre , grande Francis Scott . O cinema nunca soube traduzi-lo bem . Mas seus belíssimos textos dele vão durar para sempre . Alguém hoje procuraria um livro de Fannie Hurst para ler ? Fannie Hurst – quem é mesmo ? 10 Comentários Eu sou fã , fã de filmes com um leve odor de naftalina . Assim , confesso que gosto ( não tanto quanto de todos os noirs , nem de todos os faroestes , nem de
todos os musicais ) dos melodramas . Mesmo quando eles envelhecem . Eu os assisto com ternura . E eles tendem a me entreter e encantar mais que avatares e titanics . Sou de alma simples . Pra mim cinema é boa história , boa luz , bons atores . Este filme tem os últimos dois . Tá de bom tamamnho . O que é um filme datado ? Um filme está inserido num contexto e é neste contexto que deve ser entendido ! Como é bom ler um bom livro , assistir um bom filme … uma ficçao , que momentâneamente nos envolve em sua magia e depois … o mundo real ! Filmes são feitos para serem apreciados,não importa se feitos em 2012 ou em 1939 , 1959 … a máxima é “ aprecie ” Cara Marilza , “ Datado ” , segundo meu Dicionário Unesp de Português Contemporâneo , significa “ com data ” , “ com data específica ” , “ marcado com a data de fabricação ” . Na minha opinião , “ Imitação da Vida ” ficou um filme datado – ao contrário de muitas obras até bem mais antigas , mas que não ficaram tão marcadas pela época em que foram feitas . Ao longo do meu comentário sobre o filme , usei diversos outros adjetivos – “ poderoso ” , cenas “ violentas , fortes , impressionantes ” , um filme “ pró-mulher ” , “ feminista ” , até “ avançado ” , se considerarmos a época em que foi feito e a época que ele retrata . Meu texto tem bem mais de mil palavras . Acho estranho que você tenha se fixado em apenas uma delas . Um abraço . Sérgio O “ Imitação da Vida ” que vi nesta madrugada foi o original de 1934 de J.Stahl,com a Claudette Colbert.Pôxa!Como foi bom rever esta atriz,fazia anos e anos que não via um filme com ela.Gostei muito e,não sei se iría gostar o mesmo desse de 1959 porque não vou assisti-lo . Não sei se para ti,Sergio,este aqui com a Claudette,tbm classificarías como um filme datado.Para mim,não é.Ao contrário,achei um grande filme.A Claudette e a Louise Beavers estão ótimas.Tanto é que este foi indicado ao Oscar de melhor filme perdendo para o filme “ Aconteceu naquela noite ” que tbm foi protagonizado pela Claudette e,no qual ela ganhou o Oscar de melhor atriz . Uma curiosidade:li que Constance Bennet e Myrna Loy,recusaram o papel de Ellie Andrews e que a Claudette só o aceitou porque o diretor Frank Capra dobraría seu salário . E,que a Claudette disse não ter gostado do filme e não ía participar da cerimônia da entrega do Oscar pois ía viajar.No entanto quando soube que havia ganho o Oscar,foi à festa com a roupa que iría viajar . Finalizando,gostei muito deste Imitação da Vida,com a Claudette,para mim um grande filme . Abraço , Sergio ! ! revendo matérias ecritas sobre esse filme e revendo também o filme , me deparo com uma bobagem tão grande
escrita aqui . Datado , envelhecido é a mente de certas pessoas que não entendem nada de nada e acabam escrevendo uma bobagem como esse texto…afff . Acabo de assistir ao filme pelo primeira vez . É um bonito filme , com interpretações muito boas e outras nem tanto . Quanto a forma que o tema do racismo é tratado no filme , acho que é interessante de analisar e atual , pois demonstra como a sociedade naquela época tinha dificuldade em discutir o preconceito . Assunto que tantas décadas depois não parece perto de ser compreendido . [ … ] Ao lado do prédio onde moram os Prestons , há uma obra – um prédio novo está sendo construído . Numa tarde em que Kit está voltando para casa , carregada de compras , há um acidente , uma viga se desprende , cai no chão , bem perto dela – Kit é salva pelo empreiteiro que está tocando a obra , um tal Brian Younger ( interpretado pelo galã da Universal na época , John Gavin ) . [ … ] [ … ] fosse assinado por uma Fannie Hurst , que teve vários de seus livros transformados em filmes – Imitação da Vida , feito em 1934 com Claudette Colbert e refeito em 1959 com Lana Turner no papel central , Acordes do [ … ] Vidas Separadas / Separate Tables De : Delbert Mann , EUA , 1958 Nota : Anotação em 1996 : , com acréscimo em 2008 Uma boa surpresa . Típico teatro filmado , o grande teatrão dos ingleses e americanos . Personagens bem claros , bem delineados , talvez até um pouco esquemáticos . Há a solteirona problemática , nervosa , muito bonita mas que a vida deixou feia , nada atraente , totalmente dominada pela mãe castradora , puritana , cheia de preconceitos sociais ( é o papel de Deborah Kerr , mas tive dificuldade em reconhecê-la , de tanto que ela ficou feia para o papel ) . Há o major inglês que vive contando histórias da Segunda Guerra , e que , descobre-se no fim , é um impostor ( David Niven ) ; o escritor americano levemente alcoólatra , meio perdido ( Burt Lancaster ) , que corteja a severa dona do hotel inglês à beira mar ( Wendy Hiller ) , mas é alcançado lá pela ex-mulher , de beleza esplendorosa mas já começando a fenecer , rica e chantagista ( Rita Hayworth ) . Um grande elenco , e estão todos excepcionais . Vi depois que David Niven e Wendy Hiller ganharam o Oscar – e isso apenas três anos depois de Delbert Mann ter ganho vários por Marty . O filme é datado , sim . Muitos dos preconceitos sociais e morais que retrata deixaram de existir , ou passaram a ser profundamente antigos , ao longo destes quase 40 anos . Mas é um bom filme , um bom teatrão bem filmado , com atmosfera , talento . Vários guias deram cotação máxima ,
inclusive Maltin e Scheuer . Teve refilmagem com elenco inglês nos anos 80 , com o mesmo título original , informam Nick Martin e Marsha Porter . O CineBooks tem boa resenha , como sempre . E mostra as várias indicações para o Oscar : “ Este gratificante drama recebeu indicações da Academia como melhor filme ( perdeu para Gigi ) , melhor atriz ( Deborah Kerr , que perdeu para Susan Hayward em Quero Viver ! ) , melhor roteiro adaptado , melhor fotografia ( preto-e-branco ) e melhor trilha sonora . Venceu os Oscars para David Niven como melhor ator e Wendy Hiller como melhor atriz coadjuvante ” . Lembrando : Wendy Hiller ( 1912-2003 ) , respeitadíssima atriz do teatro inglês , fez o papel de Eliza Doolittle em Pigmaleão , de 1938 , e trabalhou em mais 50 outros filmes . Foi nomeada Dame pela rainha Elizabeth II . Um Comentário Um bom filme . Personagens esquemáticas e com problemas que hoje não seriam grandes problemas . mesmo assim , o filme é interessante de se assistir para se poder ver e pensar como as coisas funcionavam na altura em que o filme foi feito . Burt Lancaster é fantástico e o elenco de apoio de primeira . Os movimentos de câmara são muito envolventes . As portas , janelas , escadas , tudo tão vivo , tão envolvente . Rita Hayworth prova que é uma atriz competente , embora não esteja a altura de Lancaster ou Deborah Kerr ( formidável ) . A beleza de Rita não está esplendorosa , não apenas por os seus anos de juventude terem já passado as também porque o seu penteado não a favorece . A sua graça e elegância estão intactas ! Um ótimo filme com guião e fotografia bastante bons A Voz do Meu Coração / Grace of My Heart De : Allison Anders , EUA , 1996 Nota : Anotação em 1998 , com complemento em 2008 : Este é um excelente filme . Não tem qualquer truque ou brilho especial de narrativa ; ao contrário , a narrativa é convencional , quase acadêmica . Todos os atores estão ótimos , os personagens são claros , nítidos , bem desenhados . É profundamente anti-racista e anti-sexista , embora os temas racismo e sexismo sejam secundários . Mary achou o filme na 2001 pelos atores e pelo fato de que Martin Scorsese é o produtor executivo . Eu nunca tinha ouvido falar nem da diretora Allison Anders nem dessa atriz Illeana Douglas . ( Depois disso , veria vários filmes com ela . É uma boa atriz . ) É a história de uma compositora e cantora pop , uma singer-songwriter que mistura elementos de Carole King e de Joni Mittchell ; os personagens são fictícios , mas todas as situações são familiares para quem acompanha alguma coisa da música pop americana entre 1957 e 1970 . E o filme cita pessoas e grupos reais , como os Beatles , Byrds , Phil Spector , etc .
A trilha , excepcional , mistura canções que fizeram sucesso com outras compostas especialmente para o filme . Ou seja : é uma ficção toda apoiada em fatos históricos . O personagem de Illeana Douglas chama-se Edna Buxton . A ação começa em 1957 , quando ela , ao final do colégio , na Pensilvânia , participa de um concurso de novos talentos , contra a vontade da mãe , uma milionária – a família é dona de uma empresa siderúrgica . Embora uma negra de voz maravilhosa participe do concurso ( e as duas trocam de vestidos , Edna entregando para a concorrente o vestido branco caríssimo que a mãe dominadora havia comprado para ela ) , Edna sai vencedora , cantando uma canção de sua própria autoria . Ganha um contrato com uma pequena gravadora . Há um corte , e estamos em Nova York 18 meses mais tarde . Ela percorre diversas gravadoras , para ouvir sempre que cada uma já tem a sua cantora à la Peggy Lee , e na verdade estão todas querendo se livrar das Peggy Lees , pois acabou a época das cantoras de voz doce e o tempo é de conjuntos vocais . Eventualmente , o demo que ela grava com sua primeira composição chega às mãos de um empresário judeu ( bem interpretado por John Turturro , com uma barbicha ridícula e um sotaque que me pareceu perfeito ) . O empresário saca que ela é uma compositora de grande potencial para fazer hits atrás de hits ; ela quer gravar ela própria suas músicas , mas ele insiste em que ela deve apenas compor . Ele também inventa para ela uma nova persona : Edna passa a se chamar Denise Waverly , filha de operários da Pensilvânia . Ela de fato compõe diversos hits , alguns deles para a negra de bela voz do início do filme , que forma um trio vocal bem típico daquele final dos anos 50 . Também eventualmente , ela vai conhecer um outro compositor ( Eric Stoltz ) , um personagem interessante , comunista ferrenho , que se propõe a formar uma dupla com ela ; vivem juntos , até ela engravidar e eles se casarem ; sabemos todos , espectadores e personagens , que ela tem mais talento do que ele . Eles trabalham no Brill Building , o prédio da Tin Pal Alley , o lugar onde , no final dos anos 50 e começo dos anos 60 , diversos empresários alugavam salas onde compositores se dedicavam a criar sucessos . Era a usina de sucessos das pop songs da época . Há uma tomada da fachada do prédio , no número 1650 da Broadway . Também eventualmente , ela o descobrirá na cama com outra mulher , e eles se separarão . O filme vai mostrando toda a trajetória do personagem . Passam por todas as loucuras dos anos 60 ; ela se casa de novo , com o líder de conjunto de música de surfe da Califórnia ( bem
Beach Boys , em alguns pontos ) , interpretado por Matt Dillon . Ele tenta produzir um disco dela , chega a fazer um compacto , mas é um fracasso ; acabará se matando . A narrativa vai até 1970 , quando finalmente ela consegue gravar o seu primeiro LP , produzido pelo seu primeiro empresário ; na cena final , a mãe dela – de quem não se voltou a falar ao longo do filme inteiro – recebe o disco , e chora . Para mim , desde o início pareceu uma trajetória muito semelhante à de Carole King ; como essa Denise Waverly , Carole King trabalhou no Brill Building , casou-se com o parceiro Gerry Goffin ; escreveu muitos sucessos para conjuntos vocais com nomes parecidos com The Sheirelles ; e exatamente em 1970 conseguiu gravar seu primeiro LP como autora ( Writer ; Tapestry veio um ano depois , e é um dos álbuns mais vendidos da história ) . O filme é fascinante nessa coisa de criar personagem fictício a partir de dados da realidade da música pop . As composições feitas para o filme são boas , são exatamente como eram as músicas pop da Tin Pal Alley , gostosinhas mas sem profundidade , sem revelar a verdade de quem compunha – realidade que só seria mudada a partir de Dylan , dos Beatles e dos singer-songwriters como Joni Mitchell e James Taylor . Fiquei profundamente impressionado com isso : foram compostas , para o filme , pelo menos 12 canções , que seguramente teriam sido sucesso se tivessem sido lançadas naquela época . O autor de várias delas assina a trilha sonora – Larry Klein . ( Coincidência , ou não , Carole King nasceu Carole Klein . ) Veja só quem assina pelo menos duas outras : George Goffrey . Ele mesmo , ex-Mr . Carole King . Outra é uma parceria estranha de Burt Bacharach e Elvis Costello ; a versão tocada no final é cantada por Costello . Mas é também , mesmo para quem , ao contrário de mim , não tem tanta ligação com a música pop , um belo filme sobre a trajetória sofrida de uma mulher determinada , que enfrenta diversas barras pesadas até finalmente conseguir realizar o que pretendia . Tem também aquela densidade de filme que passa em revista décadas na vida de uma pessoa , e pode ao final fazer um balanço da trajetória do personagem ; a coleção de fotos dos vários momentos da vida da personagem que vai sendo apresentada na seqüência final é absolutamente emocionante . Ah , sim . Para registrar o que acabo de aprender no Cinemania . Allison Anders , nascida em 1955 no interiorzão bravo , acho que Kentucky , teve uma vida de cão ; foi estuprada aos 12 anos , abusada sexualmente na adolescência por um padrasto , teve colapso nervoso aos 17 e pouco depois tinha o primeiro filho . Fez cinema na UCLA e começou a trabalhar , de tanta insistência ,
como assistente de alguma coisa em Paris , Texas ( fã do Wenders , escreveu dezenas de cartas pra ele pedindo um emprego ) . Não conheço nenhum de seus filmes anteriores . Illeana Douglas ( nada a ver com Kirk e Michael ) , essa moça talentosa , de beleza estranha e olhos gigantescos , nasceu em 1964 ; é de alguma forma apadrinhada pelo Scorsese , produtor executivo deste filme ; fez ponta em Última Tentação de Cristo , tem uma pequena parte em Cabo do Medo ( é a funcionária que é seduzida , violentada e morta pelo personagem de Robert De Niro ) . Fez ponta também no filme com De Niro sobre a lista negra , Culpado por Suspeita / Guilty by Suspicion , de Irwin Winkler . A participação especial , não creditada na apresentação , de Bridget Fonda é fantástica.(Nem Mary nem eu percebemos que era ela ; só no final , na apresentação da lista do elenco , foi que vimos . ) Prova , mais uma vez , que essa moça tem tantas caras quantas ela quiser . Ela faz a cantorazinha ingênua , um tipo assim que faz lembrar Sandra Dee ou Debbie Reynolds , que surpreende a personagem central por ser gay quase abertamente assumida . E o pai de Bridget , Peter , participa dando a voz ao guru a quem Denise procura quando perde o marido . Ileanna Douglas , como disse lá em cima , eu veria depois deste filme em diversos outros ; a diretora Allison Anders aparentemente não teve uma carreira à altura do talento que demonstrava aqui ; ficou mais voltada para a TV ; dirigiu , por exemplo , entre 1999 e 2000 , quatro episódios da série Sex and the City . A Voz do Meu Coração / Grace of My Heart De Allison Anders , EUA , 1996 . Com Illeana Douglas , John Turturro , Matt Dillon , Eric Stoltz e , em participação especial só creditada no final , Bridget Fonda Enigma do Espaço / The Astronaut’s Wife De : Rand Ravich , EUA , 1999 Nota : Anotação em 2006 , com complemento em 2008 : Uma grande bobagem sem qualquer tipo de lógica , que nem a beleza estonteante da Charlize Theron consegue salvar . É assim uma mistura de O Bebê de Rosemary com Alien , sem qualquer das qualidades de nenhum dos dois . Há atrizes que deveriam trabalhar mais ; parecem tão exigentes que acabam trabalhando pouco e nos privando de vê-las mais . É o caso de Debra Winger , de Bridget Fonda , até mesmo de Jennifer Jason Leigh ( Jennifer até que trabalha bastante , mas tem diminuído o ritmo nos últimos anos . ) . Charlize Theron , ao contrário , trabalha demais – parece que ela não sabe dizer não . Então mistura na sua carreira filmes bons com outros sem qualquer valor ou sentido . Fez 24 filmes e episódios de TV no período de 13 anos
, desde a estréia em 1995 até 2008 . Bem . Eis uma resenha desta porcaria que achei no iMDB : O astronauta Spencer Armacoust estava em uma missão quando de repente perdeu contato . Quando volta para casa , parecia o mesmo de sempre para os amigos , mas para sua mulher ele estava diferente . Ela fica grávida , mas enquanto as semanas vão passando ela começa a achar que a vida dentro dela não é deste mundo . O iMDB traz ao menos uma boa notícia . Esse sujeito que dirigiu o filme em 1999 não voltou a cometer esse tipo de crime . O Maior Amor do Mundo De : Carlos Diegues , Brasil , 2006 Anotação em 2007 , com complemento em 2008 : Diabo , onde é que está o erro do ótimo , competente Cacá Diegues neste filme de boa fotografia , bom elenco , boa câmara , boa direção de arte , música excelente ? Acho que foi na história , frouxa , talvez por ser pretensiosa demais , querendo tratar de diversos temas fortes , pesados , ao mesmo tempo . José Wilker , voltando a trabalhar com Cacá 27 anos depois do excepcional Bye Bye Brasil , faz o papel de Antônio , um respeitado astrofísico que trabalha nos Estados Unidos e viaja ao Rio para receber uma homenagem . ( Mais uma citação de Morangos Silvestres , de Ingmar Bergman , como em A Força das Palavras / Emile , do canadenseCarl Bessai,e em Desconstruindo Harry , de Woody Allen . ) Antônio chega de volta a seu país logo após saber que tem um tumor no cérebro e pouco tempo de vida . Ficará sabendo da verdadeira identidade de seus pais , conhecerá a estranha história de amor entre eles , terá uma improvável amizade com uma jovem lindíssima num subúrbio ( Taís Araújo ) e empreenderá uma jornada para dentro de si mesmo e ao mesmo tempo para dentro da miséria da miséria da miséria da periferia do Rio de Janeiro . Numa entrevista à Folha de S . Paulo na época do lançamento do filme , Cacá Diegues disse : “ Este país tem uma coisa muito estranha . A cultura dos vencidos sempre representou o país dos vencedores . O Brasil era identificado sempre pelo carnaval , pelo samba , pelo futebol . Quer dizer , os vencidos socialmente é que fizeram uma cultura que representou o Brasil não só para nós mesmos , mas mundialmente . ” E também : “ Não faço filme para o meu próprio gosto . Um filme só se completa quando o outro vê . Não precisa ser 1 milhão de espectadores . Essa codificação , em moda no Brasil , é absurda . Não estou condenado a fazer público de 1 milhão . ” Cacá diz ainda que tentou demonstrar , com este filme – o 16º de uma carreira respeitável , sólida , uma das melhores do cinema brasileiro - , que , “ num estado social