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meu irmão disse o chefe teu pé criou raiz na terra do amor fica poti voltará breve teu irmão te acompanha ele disse e sua palavra é como a seta de teu arco quando soa é chegada
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teu lábio secou para a esposa como a cana quando ardem os grandes sóis perde o grato mel e as folhas murchas não podem mais brincar quando passa a brisa agora só falas ao vento da praia para que ele leve tua voz à cabana de teus pais
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tua voz queima filha de araquém como o sopro que vem dos sertões do icó no tempo dos grandes calores queres tu abandonar teu esposo
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eles foram derrotados com os tabajaras nas margens do camucim agora vêm com seus amigos os tupinambás pelo caminho do mar
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a filha dos tabajaras retraiu os passos lentamente sem volver o corpo nem tirar os olhos da seta de seu esposo e tornou à cabana aí sentada à soleira com a fronte nos joelhos esperou até que o sono acalentou a dor em seu peito
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sentava junto à flecha até que descia a noite então se recolhia à cabana tão rápida partia de manhã como lenta voltava à tarde
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poti refletiu as lágrimas da mulher amolecem o coração do guerreiro como o orvalho da manhã amolece a terra meu irmão é um grande sabedor o esposo deve partir sem ver iracema
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poti manda um guerreiro ao grande jacaúna e se prepara para o combate martim que subiu ao morro de areia conhece que o maracatim vem recolher no seio da terra e avisa seu irmão
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os guerreiros entraram na cabana onde estava iracema a maviosa canção nesse dia tinha emudecido nos lábios da esposa ela tecia suspirando a franja da rede materna mais larga e espessa que a rede do
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agora só buscas as praias ardentes porque o mar que lá murmura vem dos campos em que nasceste e o morro das areias porque do alto se avista a igara que passa
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a alegria ainda morou na cabana todo o tempo que as espigas de milho levaram a amarelecer uma alvorada caminhava o cristão pela borda do mar sua alma estava cansada
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suspeitou irapuã que fosse um ardil da filha de araquém para salvar o estrangeiro e caminhou direito à cabana do pajé como trota o guará pela orla da mata quando vai seguindo o rastro da presa escápula assim estugava o passo o sanhudo guerreiro
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poti que a viu tão ocupada falou quando a sabiá canta é o tempo do amor quando emudece fabrica o ninho para sua prole é o tempo do trabalho
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caminhando caminhando chegaram os guerreiros à margem de um lago que havia nos tabuleiros o cristão parou de repente e voltou o rosto para as bandas do mar a tristeza saiu de seu coração e subiu à fronte
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a espuma não se apagara e já a piroga inimiga se afundou parecendo que a tragara uma baleia veio a noite que trouxe o repouso
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poti estava só no copiar ergueu-se e abaixou a fronte para escutar com respeito e gravidade as palavras que lhe mandava seu irmão pela boca do mensageiro
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o imbu filho da serra se nasceu na várzea porque o vento ou as aves trouxeram a semente vingou achando boa terra e fresca sombra talvez um dia copou a verde folhagem e
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iracema também foge dos olhos do esposo porque já percebeu que esses olhos tão amados se turbam com a vista dela e em vez de se encherem de sua beleza como outrora a despedem de si
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a voz do guerreiro branco chama seus irmãos para defender a cabana de iracema e a terra de seu filho quando o inimigo vier a esposa meneou a cabeça
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conheceu o cristão que era uma grande igara de muitas velas como construíam seus irmãos e a saudade da pátria apertou em seu seio
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o que espreme as lágrimas do coração de iracema chora o cajueiro quando fica tronco seco e triste iracema perdeu sua felicidade depois que te separaste dela
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em fio uma vez o cristão ouviu dentro em sua alma o soluço de iracema seus olhos buscaram em torno e não a viram a filha de araquém estava além entre as verdes moitas de ubaia sentada na relva
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encontro poti acordou a voz da inúbia e os dois guerreiros partiram ambos para o mocoribe pouco além viram os guerreiros de jaguaraçu e camoropim que corriam ao grito de guerra o irmão de jacaúna os avisou da vinda do inimigo
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mas basta um sopro do mar para tudo murchar as folhas lastram o chão as flores leva as a brisa
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partiu poti vestiu suas armas e caminhou para a várzea guiado pelo passo de coatiabo ele o encontrou muito além vagando entre os canaviais que bordam as margens de jacareí
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à distância curta da cabana se elevava à borda do oceano um alto morro de areia pela semelhança com a cabeça do crocodilo o chamavam os pescadores jacarecanga
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e agora ela vinha para a consolar no tempo da desventura nesta tarde não voltou só à cabana durante o dia seus dedos ágeis teceram o formoso uru de palha que forrou da felpa macia da monguba para agasalhar sua companheira e amiga
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meu irmão fala como a rã quando anuncia a chuva mas a sabiá que faz seu ninho não sabe se dormirá nele a voz de iracema gemia
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o guerreiro no chão a flecha com a presa atravessada e tornou para coatiabo tu podes partir agora iracema seguirá teu rastro chegando aqui verá tua seta e obedecerá à tua vontade
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o cristão avançou poti mandou-lhe que esperasse da aljava de setas que iracema emplumara de penas vermelhas e pretas e suspendera aos ombros do esposo tirou uma
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quando tu passas no tabuleiro teus olhos fogem do fruto do jenipapo e buscam a flor do espinheiro a fruta é saborosa mas tem a cor dos tabajaras
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a caça e as excursões pelas montanhas em companhia do amigo as carícias da terna esposa que o esperavam na volta o doce carbeto no copiar da cabana já não acordavam nele as emoções de outrora seu coração
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cada passo mais que afaste dos campos nativos a filha dos tabajaras agora que não tem o ninho de seu coração para abrigar-se é uma porção da vida que lhe rouba poti conhece que martim deseja estar só e afasta-se discreto
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ainda dessa vez os tabajaras apesar da aliança dos brancos tapuias do mearim foram levados de vencida pelos valentes pitiguaras nunca tão disputada vitória e tão renhida pugna se pelejou nos campos que regam o acaraú e o camucim
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desde então à hora do banho em vez de buscar a lagoa da beleza onde outrora tanto gostara de nadar caminhava para aquela que vira seu esposo abandoná la
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quanto tempo há que retiraste de iracema teu espírito antes teu passo te guiava para as frescas serras e os alegres tabuleiros teu pé gostava de pisar a terra da felicidade e seguir o rastro da esposa
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a lembrança da pátria apagada pelo amor ressurgiu em seu pensamento viu os formosos campos do ipu as encostas da serra onde nascera a cabana de araquém e teve saudades
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iracema brincava pela praia os olhos dele retiravam-se dela para se estenderem pela imensidade dos mares viram umas asas brancas que adejavam pelos campos azuis
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meu irmão é um grande chefe que pensa ele que deve fazer seu irmão poti chama os caçadores de soipé e os pescadores do trairi nós iremos ao seu encontro
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volta às margens do acaraú e teu pé não descanse enquanto não pisar o chão da cabana de jacaúna quando aí estiveres dize ao grande chefe teu irmão é chegado à taba de seus guerreiros e tu não mentirás o mensageiro partiu
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no centro estão os guerreiros do fogo que trazem o raio nas assas os guerreiros do mearim que brandem o tacape mas nação alguma jamais vibrou o arco certeiro como a grande nação
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a seta de poti foi a primeira que partiu e o chefe dos guaraciabas o primeiro herói que mordeu o pó da terra estrangeira rugem os trovões na destra dos guerreiros brancos mas os raios que desferem mergulham se na areia ou se perdem nos ares
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o pranto desfiava de seu belo semblante e as gotas que rolavam a uma e uma caíam sobre o regaço onde já palpitava e crescia o filho do amor assim caem as folhas da árvore viçosa antes que amadureça o fruto
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sua triste solidão uma tarde iracema viu de longe dois guerreiros que avançavam pelas praias do mar seu coração palpitou mais apressado
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durante a noite os pitiguaras fincam na praia a forte caiçara de espinho e levantam contra ela um muro de areia onde o raio esfria e se apaga aí esperam o inimigo
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o grande maracatim corre nas ondas ao longo da terra que se dilata até às margens do parnaíba a lua começava a crescer quando ele deixou as águas do mearim ventos contrários o tinham arrastado para os altos mares muito além de seu destino
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e seu irmão haviam chegado à taba de jacaúna quando soava a inúbia eles guiaram ao combate os mil arcos de poti
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ergueu ela os olhos e viu entre as folhas da palmeira sua linda jandaia que batia as asas e arrufava as penas com o prazer de vê-la
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se ela não morresse o jacarandá não teria sol para crescer àquela altura iracema é a folha escura que faz sombra em tua alma deve cair para que a alegria alumie teu seio
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não se moveu o guerreiro senão quando a vela sumiu-se no horizonte poti voltou da serra onde pela vez primeira fora só tinha deixado a serenidade na fronte de seu irmão e achava ali a tristeza
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como o imbu na várzea era o coração do guerreiro branco na terra selvagem a amizade e o amor o acompanharam e sustiveram algum tempo mas agora longe de sua casa e de seus irmãos sentiu-se em um ermo
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o chefe pitiguara vibrou o arco a seta atravessou um goiamum que discorria pelas margens do lago e só parou onde a pluma não a deixou mais entrar
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o cristão cingiu o talhe da formosa indiana e a estreitou ao peito seu lábio levou ao lábio da esposa um beijo mas áspero e amargo
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instante depois ela esquecia nos braços do esposo tantos dias de saudade e abandono que passara na solitária cabana outra vez sua graça encheu os olhos do cristão a alegria voltou a habitar em sua alma
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a verde rama quando teu filho deixar o seio de iracema ela morrerá como o abati depois que deu seu fruto então o guerreiro branco não terá mais quem o prenda na terra estrangeira
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o branco tapuia está na ibiapaba para ajudar os tabajaras a combater contra jacaúna teu irmão corre a defender a terra de seus filhos e a taba onde dorme os camucins de seus pais ele saberá vencer depressa para voltar à tua presença
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ao romper dalva o maracatim fugia no horizonte para as margens do mearim jacaúna chegou não mais para o combate e sim para o festim da vitória
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logo após a vitória o cristão tornara às praias do mar onde construíra sua cabana de novo sentiu em sua alma a sede do amor e tremia de pensar que iracema houvesse partido deixando ermo aquele sítio tão povoado outrora pela felicidade
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a flor tem a alvura das faces da virgem branca se cantam as aves teu ouvido não gosta já de escutar o canto mavioso da graúna mas tua alma se abre para o grito do japim porque ele tem as penas douradas como os cabelos daquela que tu amas
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chegou das margens do acarú um guerreiro pitiguara mandado por jacaúna a seu irmão poti ele veio seguindo o rastro dos viajantes até o trairi onde os pescadores o guiaram à cabana
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tu que iracema te acompanhe às margens do acaraú nós vamos combater seus irmãos a taba dos pitiguaras não terá para ela mais que tristeza e dor a filha dos tabajaras deve ficar que esperas tu então
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ele manda que iracema ande para trás como o goiamum e guarde sua lembrança como o maracujá guarda sua flor todo o tempo até morrer
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apenas alvorou o dia ela moveu o passo rápido a lagoa e chegou à margem a flecha lá estava como na véspera o esposo não tinha voltado
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os guerreiros pitiguaras para não espantar o inimigo se ocultam entre os cajueiros e vão seguindo pela praia a grande igara
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como a seca várzea com a vinda do nevoeiro reverdece e matiza se de flores a formosa filha do sertão com a volta do esposo reanimou se e sua beleza esmaltou se de meigos e ternos sorrisos
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durante o dia avultam as brancas velas de noite os fogos atravessam a negrura do mar como vagalumes perdidos na mata
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mas ainda naquele instante não se arrependeu de os ter abandonado seu lábio gazeou em canto a jandaia abrindo as asas esvoaçou lhe em torno e pousou no ombro
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quando voltam o chefe dos pescadores que corre nas águas do mar como o veloz camoropim de que tomou o nome se arroja nas ondas e mergulha
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os guerreiros tabajaras acorridos à taba esperavam o inimigo diante da caiçara não vindo eles saíram a buscá-lo
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teu irmão se aflige porque a filha dos tabajaras pode ficar triste e abandonar a cabana sem esperar pela sua volta antes de partir ele queria sossegar o espírito da esposa
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não estou eu junto a ti teu corpo está aqui mas tua alma voa à terra de teus pais e busca a virgem branca que te espera
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os dois amigos abraçaram-se e seguiram com o rosto para as bandas do nascente
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é a ânsia de combater o tupinambá que volve o passo do guerreiro para as bordas do mar respondeu o cristão iracema continuou
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os olhos engolfados na imensidade do horizonte buscavam mas embalde discenir do azul diáfano a alvura de uma vela perdida nos mares
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o amigo e a esposa não chegavam mais à sua existência cheia de grandes e nobres ambições passava os já tão breves agora longos sóis na praia ouvindo gemer o vento e soluçar as ondas
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amas a tristeza escurece a vista de iracema e amarga seu lábio mas a alegria há de voltar à alma da esposa como volta à árvore a verde rama
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vêem teus olhos lá o formoso jacarandá que vai subindo às nuvens a seus pés ainda está a seca raiz da murta frondosa que todos os invernos se cobria de rama e bagos vermelhos para abraçar o tronco irmão
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as sombras doces vestiam os campos quando ela chegou à beira do lago seus olhos viram a seta do esposo fincada no chão o goiamum trespassado o ramo partido e encheram-se de pranto
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o sol já nasceu os guerreiros guaraciabas e os tupinambás seus amigos correm sobre as ondas nas ligeiras pirogas e pojam na praia formam o grande arco e avançam como o cardume do peixe quando corta a correnteza do rio
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e amargo poti voltou do banho segue na areia o rastro de coatiabo e sobe ao alto da jacarecanga
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alongando fagueira o colo com o negro bico alisou lhe os cabelos e beliscou a boca vermelha como uma pitanga iracema lembrou-se que tinha sido ingrata para a jandaia esquecendo a no tempo da felicidade
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poti é o maior chefe de quantos chefes empunharam a inúbia guerreira ao seu lado caminha o irmão tão grande chefe como ele e sabedor das manhas da raça branca dos cabelos do sol
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do seio das brancas areias escaldadas pelo ardente sol manava uma água fresca e pura assim destila a dor lágrimas doces de alívio e consolo
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alto ia o sol e o guerreiro na praia seguia com os olhos as asas brancas que fugiam debalde a esposa o chamou à cabana debalde ofereceu a seus olhos as graças dela e os frutos melhores do campo
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os mesmos guerreiros que a tinham visto alegre nas águas da porangaba agora encontrando a triste e só como a garça viúva na margem do rio chamavam aquele sítio da mocejana a abandonada
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o colibri sacia se de mel e perfume depois adormece em seu branco ninho de cotão até que volta no outro ano a lua das flores como o colibri a alma do guerreiro também satura se de felicidade e carece de sono e repouso
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o sol brilhava sempre sobre as praias do mar e as areias refletiam os raios ardentes mas nem a luz que vinha do céu nem a luz que ia da terra espancaram a sombra nalma do cristão cada vez o crepúsculo era maior em sua fronte
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seu olhar buscou o esposo martim pensava as palavras de iracema passaram por ele como a brisa pela face lisa da rocha sem eco nem rumores
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uma vez que a formosa filha de araquém se lamentava à beira da lagoa da mocejana uma voz estridente gritou seu nome do alto da carnaúba iracema iracema
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as setas dos pitiguaras já caem do céu já voam da terra e se embebem todas no seio do inimigo cada guerreiro tomba crivado de muitas flechas como a presa que as piranhas disputam nas águas do lago
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aí encontra o guerreiro em pé no cabeço do monte com os olhos alongados e os braços estendidos para os largos mares volve o pitiguara as vistas e descobre uma grande igara que vem sulcando os verdes mares impelida pelo vento
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mas os olhos dela não se cansam de acompanhar à parte e de longe o guerreiro senhor que os fez cativos ai dela sentiu já o golpe no coração e como a copaíba ferida no âmago destila lágrimas em fio
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guerreiro araquém viu entrar em sua cabana o grande chefe da nação tabajara e não se moveu sentado na rede com as pernas cruzadas escutava
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eles vão descer da serra às margens do rio em que bebem as garças e onde tu levantaste a taba de teus guerreiros jacaúna te chama para defender os campos de nossos pais teu povo carece de seu maior guerreiro
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nessa hora em que o canto guerreiro dos pitiguaras celebrava a derrota dos guaraciabas o primeiro filho que o sangue da raça branca gerara nessa terra da liberdade via a luz nos campos da porangaba
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breve desapareceram os dois guerreiros entre as árvores o calor do sol já tinha secado seus passos na beira do lago iracema inquieta veio pela várzea seguindo o rastro do esposo até o tabuleiro
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muitos sóis caminharam assim passam além do camucim e afinal pisam as lindas ribeiras da enseada dos papagaios
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martim manda que outros guerreiros subam à copa dos mais altos coqueiros ali defendidos pelas largas palmas esperam o momento do combate
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martim doeu se os grandes olhos negros que a indiana pousara nele o tinham ferido no âmago o guerreiro branco é teu esposo ele te pertence a formosa tabajara sorriu em sua tristeza
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o cristão amou outra vez a filha do sertão como da primeira vez quando parece que o tempo não poderá exaurir o coração mas breves sóis bastaram para murchar aquelas flores de um coração exilado da pátria
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