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"artigo1. ha muito o que comemorar nessas tres decadas de plano real. Foi um periodo de muitas mudancas na estrutura economica do brasil, com a implementacao do sistema de metas de inflacao, a independencia do banco central, a reforma trabalhista e tantas outras pequenas mudancas. nesse periodo uma das conquistas mais importantes, foi a incorporacao, por parte da sociedade, da necessidade de se combater a inflacao. e isso parece real ate nas geracoes mais novas, que não presenciaram o caos que o descontrole de precos provoca no nosso dia-a-dia. o leitor deve estar se perguntando: e a reforma previdenciaria? e a lei de responsabilidade fiscal (lrf)? e a lei das estatais? bem, esses sao temas do tipo: “vitoria com gosto de derrota”. ainda em 2001, por exemplo, mesmo que sob protestos, conseguimos aprovar a LRF, realmente um grande marco no entendimento da necessidade de se controlar o gasto publico. mas desde entao, ela sofreu constantes ataques, tentativas diversas de driblar as regras ate que percebemos que era necessario ser mais rude com os sabotadores. E veio entao: o teto dos gastos. nao era um conjunto de regras amplo, como a LRF, mas colocava limites mais apertados para o avanço do gasto. e o seu resultado foi fantastico, basta ver os numeros. mas, como estamos no brasil, nao tardou muito para que a disciplina fiscal fosse novamente colocada como vila da economia e, depois de varios remendos, no apagar das luzes de 2022 foi aprovada a “pec da transicao”. um nome bonito que foi dado para o ato de autorizar o proximo governo a gastar R$ 145 bilhoes acima do que estava previsto no teto dos gastos. e o que era pior, a definicao de onde sairiam esses recursos viria apenas posteriormente com apresentacao de projeto por parte do executivo. e ele veio. porem, adivinha qual foi a ideia? isso mesmo. quem sabe aumentar a arrecadacao? e o ministerio da fazenda conseguiu a magica de converter um deficit projetado para 2023 de R$ 231 bilhoes para um superavit de R$ 11 bilhoes. calma. isso e o que foi apresentado. como o papel aceita tudo, compara isso com o realizado: um deficit de R$ 271 bilhoes. tudo isso mesmo com uma enxurrada de receitas nao recorrentes, aquelas que aparecem de vez em quando."
"artigo2. muito alem dos numeros, o que e mais interessante aqui foi a capacidade do governo em enganar os analistas de mercado durante quase todo o ano de 2023 com a ideia do tal “arcabouco fiscal” e posteriormente “o novo regime fiscal”. foi somente quando nao dava mais para esconder a realidade que esses analistas “jogaram a toalha” e passaram a cobrar mais afinco por parte do Governo no controle dos gastos. e adentramos em 2024 com um orcamento que previa, advinha, um deficit zero. mas para nao ficar tao “na cara”, inventou-se um intervalo de 0,25% do PIB, o que equivaleria a um erro de apenas R$ 28,8 bilhoes. e como estao os números? No ano ja esta faltando R$ 29 bilhoes, um resultado bem pior que o mesmo período de 2023 com superavit de R$ 5,6 bilhoes (janeiro a maio). e em 12 meses ja batemos nos R$ 306 bilhoes de deficit. como esperar que esse numero seja zerado ate dezembro? o tema fiscal voltou ao centro dos debates, influenciando a trajetoria dos juros e aumentando o risco pais. nessa discussao ha basicamente dois grupos: i) os que entendem a necessidade de controlar gastos para estabilizar as expectativas, reduzindo divida e abrindo espaço para o setor privado; ii) e aqueles que acreditam que a solucao passa unica e exclusivamente pelo gasto publico. nesse grupo, tambem se acredita que um pouco de inflacao nao faz mal a ninguem, e se esquecem que fazer o controle de precos nao e a mesma coisa que controlar o fluxo de agua de uma torneira. existem muitos fatores de risco que podem, de uma hora para outra, fazer com que a trajetoria de preços se torne explosiva. Nesse grupo tambem estao os economistas que defendem o crescimento economico pelo lado da demanda, com a tese que se o Governo gasta mais, a economia se expande, mais recursos tributarios sao gerados e o ciclo continua indefinidamente. Uma ideia simples, que gera o questionamento: “porque ninguem pensou nisso antes”? Na minha visao ha muito o que comemorar com o plano real mas, precisamos superar esse debate fiscal que nos ameaça a decadas e parar de ficar bancando essa festa com gasto publico."
"Artigo3. os debates em torno do enorme deficit da previdencia social e seus impactos fiscais voltaram a tona em meio a um cenario de continua piora nas contas publicas. afinal de contas, a necessidade de financiamento apenas do governo federal chegou a quase R$ 1 trilhao no acumulado em doze meses e com tendencia de piora, em especial devido ao crescente deficit da previdencia. muitos devem estar se perguntando como isso seria possivel apenas poucos anos apos aprovarmos uma reforma? acontece que essa nao tinha como intuito eliminar esse deficit que, diga-se de passagem, existe desde o inicio do plano real. ela apenas acrescentou seis meses na idade minima, a cada ano, para se ter o beneficio. ate que se atinja os 62 anos, para mulheres, e 65, para os homens, em 2031, permanecendo o tempo minimo de contribuicao de 30 anos, para mulheres, e 35, para homens, alem de mudar algumas aliquotas de contribuicao. mas, ao que parece, nao adiantou muito. vamos olhar os numeros da previdencia social para entender o tamanho do desafio que temos pela frente. atualmente, sao 39,3 milhoes de beneficiarios, mas sabe quantos destes conquistaram esse direito exclusivamente por tempo de contribuicao ao longo da vida laboral? apenas 6,9 milhoes. quase o dobro disso recebe beneficio por idade (12,7 milhoes) e outros 8,4 milhoes por pensao por morte. e os novos pedidos nao param de crescer a cada mes. falando apenas de aposentadoria por tempo de contribuicao, foram 17,9 mil novas concessoes, em janeiro de 2024, contra 75 mil que ganharam a aposentadoria por idade e outros 10 mil por invalidez. mas ha outro numero que assusta. somente em janeiro foram 35 mil novos beneficios assistenciais para portadores de deficiencia que, atualmente, totalizam 3,1 milhoes de pessoas. e claro que muitos beneficios concedidos sao temporarios, como e o caso do auxílio maternidade, reclusao e doença, o que confere ao sistema um papel muito alem de simplesmente atender a populacao no que diz respeito a aposentadoria. e, se voce achou esses numeros elevados, saiba que ainda nem atingimos o pico de pedidos para aposentadoria. isso porque, se olharmos o corte populacional por idade (sem considerar aspectos de tempo de contribuicao), podemos ver que ha um total de 10,8 milhoes de homens com idade entre 55-65 anos e outros 13,3 milhoes de mulheres entre 52-62 anos, exatamente 10 anos antes de, em tese, requererem o benefício. ou seja, na proxima decada (ate 2034) ha o potencial de elevarmos o total de beneficiarios da previdencia dos atuais 39 milhoes de pessoas para, no maximo, 62 milhoes, quase dobrando o contingente de pessoas que recebem algum beneficio. alem desse contingente, que ira chegar a cerca de 25% da populacao, ha um outro fator que e muito importante para a economia: o rendimento. A media de pagamento, hoje, esta em R$ 1.694 por mes contra um salario-minimo de R$ 1.412. mas veja que essa e a media. tem muitas pessoas que recebem menos que isso. sao 869 mil que ganham menos de 1 salario-minimo e outros 26,3 milhoes que ficam com apenas um salario-minimo por mes. agora tem um aspecto interessante desses numeros. se compararmos os beneficiarios de cada estado com a populacao acima de 15 anos, podemos identificar onde que as transferencias previdenciarias tem mais importancia. nesse caso, o piaui lidera com 22% da sua populacao recebendo ate um salario-minimo da previdencia, seguido do maranhao (18,7%), paraiba e rio grande do sul (18,2%), ceara (16,9%), rio grande do norte (16,5%), bahia (16,3%) e minas gerais (16%). os estados com menor percentual sao o amapa (6,1%), roraima (6,6%) e amazonas (6,7%). eu sei que o leitor deve estar achando estranho a presença do rio grande do sul e de minas gerais nessa lista. mas o fato e que esses dois estados possuem um grande percentual de populacao acima de 65 anos. sao estados com maior presenca de pessoas com maior idade e que continuam a envelhecer. no rio grande do sul, por exemplo, 17% da populacao tem mais de 65 anos e em minas gerais esse percentual e de 15,1%. os menores percentuais da populacao acima de 65 anos estao no norte, como e o caso de roraima (7,2%), amapa (7,5%) e amazonas (8,1%). o sistema de previdencia no brasil se tornou um enorme programa social com um problema de solucao dificil que apresenta deficit anual de R$ 306 bilhoes. imagina daqui a 10 anos."
"artigo4. O ambiente externo mantem-se adverso e segue exigindo cautela por parte dos países emergentes. Permanecem elevadas as incertezas sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho."
"Artigo5. No cenário doméstico, a atividade econômica mostrou ritmo forte e o mercado de trabalho se aqueceu mais. O Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 0,8% no primeiro trimestre, ritmo robusto e superior ao esperado. Ao mesmo tempo, o desemprego recuou e os salários continuaram crescendo. Esses fatores justificaram revisão para cima da projeção de crescimento do PIB em 2024, de 1,9% para 2,3%. As enchentes no Rio Grande do Sul causaram expressiva queda na atividade econômica gaúcha, mas já há sinais de recuperação."
"Artigo6. A inflação recuou, mas aumentou a desancoragem das expectativas de inflação. A inflação acumulada em doze meses, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), recuou de 4,5% em fevereiro para 3,9% em maio. Também há queda na inflação quando se observam seus núcleos e quando se considera a métrica trimestral. Contudo, o recuo da inflação no último trimestre foi menor do que o projetado no cenário de referência apresentado no ultimo Relatório de Inflação do Banco Central do Brasil (surpresa de +0,14 p.p.), destacando-se alta mais intensa dos alimentos. Em meio a aumento de incertezas nos cenários doméstico e externo, as expectativas de inflação para 2025 e 2026, que já se encontravam acima da meta de inflação para o período, aumentaram de 3,5% para 3,8% e 3,6%, respectivamente, segundo a mediana apurada pela pesquisa Focus."
"Artigo7. Na projeção do cenário de referência, a inflação ao consumidor sobe no segundo trimestre de 2024 e depois retoma trajetória de declínio, mas ainda permanece acima da meta. Nesse cenário, a inflação acumulada em quatro trimestres, depois de ter terminado 2023 em 4,6%, cai para 4,0% em 2024, 3,4% em 2025 e 3,2% em 2026, diante de meta de 3,00%. As projeções de inflação representam a visão do Comitê de Política Monetária (Copom) e são condicionais em um conjunto de variáveis, como as trajetórias da taxa Selic oriunda da pesquisa Focus e da taxa de câmbio baseada na teoria da Paridade do Poder de Compra (PPC). Neste Relatório, utiliza-se o conjunto de informações disponíveis até a 263ª reunião do Copom, realizada em 18 e 19.6.2024."
"Artigo8. As expectativas de inflação para prazos mais longos permanecem ancoradas nas economias avançadas, embora o núcleo de inflação ainda se encontre em níveis elevados e acima da meta em muitas economias. Há ainda mais dispersão para economias emergentes, com elevação nas expectativas em vários países, tanto para 2024 quanto para 2025. Desde o último Relatório de Inflação, continua a revisão do otimismo sobre a velocidade do processo desinflacionário e a reavaliação sobre o momento e o tamanho da redução das taxas de juros nas principais economias. Com isso, houve elevação das expectativas para os juros de referência ao final de 2025, uma alta das taxas de juros de longo prazo e a postergação das expectativas de redução das taxas de juros de curto prazo de alguns países."
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