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TÍTULO: Trem de Ferro
LOCAL: Brasil - S. Paulo 
DATA: 1995
INFORMANTE
	SEXO: M
	IDADE:
	ESCOLARIDADE:
	PROFISSÃO: Profissional de Rádio
OBSERVAÇÕES: O texto do poema "Trem de Ferro" está transcrito de acordo com a versão publicada e não de acordo com as normas do LINGUA; excepcionalmente, os pequenos cortes na gravação do poema não foram representados com o sinal [...].

Neste texto, o poema "Trem de Ferro" de Manuel Bandeira é dito por Pasquale Cipro Neto, no programa "Letra e Música", cuja gravação foi amavelmente cedida pela Rádio Cultura de S. Paulo. Copyright: António Manuel Bandeira R. Cardoso, José Cláudio Bandeira R. Cardoso, Maria Helena C. de Souza Bandeira e Marcos Cordeiro de Souza Bandeira.




-> eu vou começar o programa lendo um poema do Manuel Bandeira, poeta brasileiro falecido em 1968, grande, grande Manuel Bandeira, tido por muitos como o poeta da simplicidade, aquele que conseguia dizer as coisas mais... profundas da forma mais... simples, poeta que caiu realmente na, no gosto do povo, caiu na, na, na, na linguagem do povo, quem é que não conhece a frase "vou-me embora pra Pasárgada"? quem escreveu isso foi Manuel Bandeira:

	vou-me embora pra Pasárgada
	l(á sou) amigo do rei
	lá tenho a mulher que quero
	na cama que escolherei.

-> todo o mundo conhece isso. eu vou ler um poema do Bandeira então e você pelo poema vai desconfiar do tema, certamente você vai descobrir qual é o tema do programa.

	café com pão
	café com pão
	café com pão
	virge maria que foi isso maquinista?
	agora sim
	café com pão
	agora sim
	voa, fumaça
	corre, cerca
	ai seu foguista
	bota fogo
	na fornalha
	que eu preciso
	muita força
	muita força
	muita força
	trem de ferro
	trem de ferro

	oô...
	foge, bicho
	foge povo
	passa ponte
	passa poste
	passa pasto
	passa boi
	passa boiada
	passa galho
	de ingazeira
	debruçada
	no riacho
	que vontade
	de cantar!

	oô...
	café com pão
	é muito bom
	quando me prendero
	no canaviá
	cada pé de cana
	era um oficiá
	oô...
	menina bonita
	do vestido verde
	me dá tua boca
	pra matá minha sede
	oô...
	vou m'imbora
	vou m'imbora
	não gosto daqui
	nasci no sertão
	sou de ouricuri
	oô...

	vou depressa
	vou correndo
	vou na toda
	que só (levo)
	pouca gente
	pouca gente
	pouca gente...

	trem de ferro
	trem de ferro

-> trata-se do poema, do genial poema, do antológico poema, do memorável poema "Trem de Ferro", do Manuel Bandeira, poema que tem por si só toda a sonoridade de um trem, de um trem de ferro, trem directamente ligado à história do Brasil, à história do interior do Brasil, o Brasil que, por incrível que pareça, já andou de trem. do Brasil que depois genialmente, entre aspas esse genialmente, descobriu que o trem não presta, que o ideal é andar de ónibus, andar de caminhão; então num país continental como este, nós carregamos mercadoria em Porto Alegre e mandamos para Fortaleza num caminhão; lá vai o caminhão andando quatro mil quilómetros, um cidadão coitado sozinho, não é, nesse interiorzão do Brasil por estradas maravilhosas, nenhum buraco, nada, tudo maravilhoso, de primeira, lá vai o cidadão gastando energia, gastando pneu, gastando tudo, para carregar trinta toneladas, quando um trem sozinho, só, só um vagão, não é, leva oitenta, noventa, cem toneladas, imagine quanto não leva um trem desses de carga; o Brasil já andou de trem, não só na base da carga, os passageiros também. o trem está directamente ligado à história do Brasil, especialmente à história do interior do Brasil. os nossos avós andaram de trem, os nossos pais andaram de trem e o trem foi cantado em prosa e verso.