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TÍTULO: Comer Bem e Falar Bem
LOCAL: Brasil - Rio de Janeiro
DATA: Década de 80
INFORMANTE
SEXO: M
IDADE: 41 anos
ESCOLARIDADE: 4 anos
PROFISSÃO: Mecânico
OBSERVAÇÕES: Em Portugal, a troca do "v" pelo "b" referida pelo informante não é um fenómeno generalizado; dá-se nas regiões de Trás-os-Montes, Minho, Alto Douro, Douro Litoral, Beira Litoral (a norte de Coimbra) e na franja ocidental da Beira Alta; este comentário deve-se, provavelmente, ao facto de a maioria dos emigrantes portugueses no Brasil serem oriundos do Norte do país.
- o senhor sabe fazer alguma coisa na cozinha?
-> na cozinha?
- hum.
-> sei, o que é que eu não sei fazer na cozinha? feijão, arroz, fritar um bife. um bom churrasco é comigo mesmo, um angu caprichado, uma sopa de siri...
- é.
- e como faz
-> comigo mesmo, um café...
- um bom churrasco?
-> ah! um bom churrasco, você pega a carne, lava a carne direitinho, joga um sal grosso na carne e leva ela ao fogo, simplesmente. é o bom churrasco. é o churrasco gaúcho, é. porque a carne com um certo tempero, ela fica enjoativa, então você assa a carne só no sal e prepara o molho à parte: cebola, tomate picadinho, alho, vinagre, azeite, certo, sal, mais um pouquinho, uma pimentazinha de leve; então depois a pessoa que gosta bota no prato
- hum, hum.
-> à parte, uma farofa! isso é que é o churrasco... ao molho...
- e você foi aprendendo...
-> certo, não, isso é, a vida vai ensinando, certo, é, um reservista de primeira categoria como eu fui tinha que fazer certas coisa e faço até hoje, quando a patroa às vezes vai para praia com as criança ao fim-de-semana, ela vai Segunda-feira e eu só vou fim-de-semana, certo, então, eu fico em casa, eu tenho que fritar um ovo, eu tenho que fazer um cachorro-quente. cachorro-quente também é fácil de fazer, você pega salsicha ou linguiça, se for linguiça você tem que escaldar a linguiça. escalda, tira, vai tirar um pouquinho do sal
- hum, hum.
-> faz aquele tempero, um molho de tomate, cebola, pimentão, aquilo que a pessoa gosta. depois, corta um pãozinho ao meio, bota a linguiça, bota um... queijinho parmesão dentro, uma maionese, certo, é isso aí.
- [...]
-> é um cachorro-quente. quer dizer que eu estou inteirado nesse assunto, não é,
- está legal.
-> se tiver que fazer um bolo, eu também sei fazer um bolo de aniversário.
- nossa! mas está [...]
-> ah! sei! porque é que eu não sei?
- e não tem preconceito não? de homem?
-> não, não tenho preconceito. eu sou mecânico mas também se, se tiver que ser padeiro, eu também vou ser padeiro. tudo bem. isso é questão de, de tocar para frente. tudo na vida se aprende, meu amigo, certo,
- e, assim, o senhor sabe que nortista fala carregado, não é,
-> fala.
- que é que o senhor acha disso? da fala deles?
-> ué! cada um fala da maneira de aonde nasceu, do seu estado, certo,
- mas quando o senhor ouve esse alguém falando que é que o senhor acha?
-> não, eu não sinto nada, é. simplesmente, coitado, ele está falando da maneira que ele aprendeu a falar, certo, como o português, por exemplo, o português, quando ele vai falar "vasco", ele não fala "vasco", ele fala "basco" e quando ele vai falar "botafogo" ele fala "vastafogo". então, quando ele não é "basco", ele é "vastafogo". é isso aí, meu amigo.
- e o que é que o senhor acha do jeito do carioca falar em relação ao resto do Brasil?
-> bom, o carioca é aquele que gosta sempre de estar brincando com os outro, certo, o carioca, sempre, está gozando os outro. [...] o, o carioca está sempre com aquela de brincar com os outro. então, o carioca gosta de gozar mesmo os outro, certo, quando ele pega uma falha qualquer, ele já nega, mas ele também não esquece que muita das vezes ele fala as coisa errada, não é isso? o carioca, muita das vezes, fala as coisa errada.
- hum, hum.
-> no momento eu não lembro de nada que o carioca fala errado.