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Armin van Buuren
Armin van Buuren Armin van Buuren (Leida, 25 de dezembro de 1976) é um DJ e produtor musical neerlandês, especialista em trance. Ele foi eleito o DJ número 1 em 2007, 2008, 2009, 2010 e 2012; por votação dos Top 100 DJs da DJ Magazine, um recorde de 5 vezes. Está atualmente em 5º lugar no Top da DJ Magazine. Desde 2001, van Buuren tem apresentado um programa de rádio semanal chamado "A State of Trance", que diz ter cerca de 25 milhões de ouvintes por semana em 26 países, o que seria um dos programas mais ouvidos em todo o mundo. Seu álbum de estúdio de 2008, "Imagine", alcançou o topo da parada musical neerlandesa, um feito inédito por um artista de música eletrônica na história musical do país. História. Armin van Buuren começou a produzir e compor suas próprias músicas aos 14 anos e deu início a sua carreira de DJ em um clube local chamado "Nexus", em sua cidade natal. Terminou o colegial por volta de 1995 e iniciou faculdade de direito ainda naquele ano. Enquanto isso, Armin transformava seu simples "estúdio no quarto" em um verdadeiro estúdio profissional, onde inicialmente foram produzidos grandes sucessos de sua carreira, tais como "Touch Me" e "Communication", faixas clássicas do trance que ainda são constantemente executadas em suas apresentações pelo planeta. Armin é dono de uma simplicidade e carisma sem igual, quando questionado sobre qual seria sua inspiração musical, ele afirma: " Qualquer coisa boa!" e deixa o recado para os jovens djs: "Não sejam prisioneiros de seus próprios estilos". Armin define seu som como sendo algo "Liberal, eufórico, enaltecedor, melódico e energético". Embora seja um defensor inflamado e protetor da tocha do trance, seus sets típicos incorporam faixas de techno, electro, minimal e house underground, assim como o tech trance mais tradicional, e criam momentos de excitação e surpresa que nunca falham na hora de colocar a casa abaixo e corresponder às mais altas expectativas dos fãs. A State Of Trance. Armin também possui um dos mais consagrados programas de rádio semanal, o A State Of Trance, também chamado de ASOT, é transmitido pela DI.FM. O programa, que começou em 2001 em uma pequena rádio holandesa, continuou a crescer muito em 2008, sendo reproduzido cada vez. Hoje é transmitido em mais de 40 estações de FM em todo o mundo. Cresceu a ponto de virar uma grande referência internacional e semanal do trance e mostra como a internet é uma ferramenta poderosa para a música. Em 17 de março de 2011, quando o programa completou 10 anos de transmissão atingindo a marca de 500 episódios, Armin realizou uma grande festa para celebrar este momento tão importante de sua vida e carreira, que contou com a participação de convidados especiais como: Lange, Cosmic Gate, Gareth Emery, Ferry Corsten, Markus Schulz, Above & Beyond, Paul Oakenfold e muitos outros. Em 2012, seu programa completou a marca de 550 episódios e para comemorar esta marca, Armin realizou uma turnê que percorreu 5 continentes em 4 semanas, junto a ele participarão convidados como: Lange, Cosmic Gate, Gareth Emery, Ferry Corsten, Markus Schulz, Above & Beyond, Dash Berlin, Ørjan Nilsen entre outros. O sucesso. Em 2002, Armin foi eleito o Nº 4 na lista de 100 "Tops DJs" da revista DJ Magazine, considerada a bíblia da música eletrônica. No ano seguinte ele saltou para o 3º lugar e assim permaneceu durante 3 anos seguidos. Em 2006, foi para o 2º lugar, perdendo apenas para o alemão Paul van Dyk, até que em 2007, Armin van Buuren conquista o 1º lugar na mais consagrada lista de "Tops DJs" do mundo. O título de DJ número 1 do mundo foi conquistado por Armin aos seus 30 anos de idade. Por ter realizado tanta coisa durante seus 12 anos de carreira, este não poderia ter chegado em melhor hora. Em 2008 ele ganhou o título de melhor do mundo outra vez, em 2009 continuou sendo o melhor do mundo, novamente pela DJ Mag. Em 2010 Armin manteve a liderança, sendo pelo 4º ano consecutivo eleito DJ Nº1 do mundo pela DJ Mag, anunciado em 27 de outubro, no Ministry Of Sound, em Londres, um recorde inédito. Em 2011 perde o lugar para David Guetta. Já em 2012 Armin volta a ser eleito o melhor DJ do mundo, mas nos últimos dois anos perdeu o título para Hardwell, também DJ holandês, ficando em 3º em 2014; com Hardwell em 1º e Dimitri Vegas & Like Mike em 2º.
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António Guterres
António Guterres António Manuel de Oliveira Guterres (Lisboa, ) é um engenheiro, político e diplomata português que serve como nono secretário-geral da Organização das Nações Unidas desde 2017. Guterres foi Primeiro-Ministro de Portugal entre 1995 e 2002 e Secretário-Geral do Partido Socialista entre 1992 e 2002. Foi Presidente da Internacional Socialista entre 1999 e 2005. Exerceu o cargo de Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados entre 15 de junho de 2005 e 31 de dezembro de 2015. No ano seguinte, anunciou sua candidatura ao cargo de secretário-geral das Nações Unidas. Em 5 de outubro de 2016 foi anunciada a vitória de Guterres na eleição para secretário-geral, sendo marcada para o dia seguinte a votação formal no Conselho de Segurança. Em 6 de outubro de 2016 o Conselho de Segurança votou por unanimidade e aclamação a resolução que recomenda à Assembleia Geral a designação de Guterres como novo secretário-geral das Nações Unidas. Depois do juramento prestado a 12 de dezembro de 2016, perante a Assembleia Geral das Nações Unidas, Guterres tomou posse como o nono secretário-geral das Nações Unidas no dia 1 de janeiro de 2017 para um mandato de 5 anos. Biografia. Infância e juventude. Nascido em Lisboa, na freguesia de Santos-o-Velho, com raízes familiares na aldeia das Donas, concelho do Fundão, António Guterres demonstrou desde jovem deter uma capacidade de dedicação ao estudo que havia de lhe valer um Prémio Nacional dos Liceus, em 1965. Concluídos os estudos secundários, no Liceu Camões, em Lisboa, ingressou em seguida no curso de engenharia eletrotécnica, no Instituto Superior Técnico. Licenciou-se em 1971 e iniciou no mesmo ano uma efémera carreira académica, como assistente do Técnico, lecionando a disciplina de Teoria de Sistemas e Sinais de Telecomunicações. Durante a universidade, Guterres não se envolveu na oposição estudantil ao regime de Salazar, dedicando-se antes à ação social promovida pela Juventude Universitária Católica. Integrou também o Grupo da Luz, coordenado pelo padre Vítor Melícias e onde também viriam a participar, entre outros, Marcelo Rebelo de Sousa e Carlos Santos Ferreira. Vítor Melícias celebraria o seu casamento com Luísa Melo, em 1972. Carreira política. António Guterres aderiu ao Partido Socialista em 1973, pela mão de António Reis. No ano seguinte, logo após o 25 de Abril, foi nomeado chefe de gabinete de José Torres Campos (sucessivamente Secretário de Estado da Indústria e Energia dos I, II e III governos provisórios). Em 1976, na sequência das eleições legislativas desse ano, ganhas pelo PS, estreou-se como deputado à Assembleia da República, onde veio a exercer funções como presidente das comissões parlamentares de Economia e Finanças (1977-1979) e de Administração do Território, Poder Local e Ambiente (1985-1988). Presidiu também à comissão de Demografia, Migrações e Refugiados da Assembleia Parlamentar do Conselho da Europa (1983). Foi eleito cinco vezes presidente da Assembleia Municipal do Fundão, cargo que exerceu de 1979 até 1995. Em 1992, num congresso em que enfrentou Jorge Sampaio, foi eleito secretário-geral do PS. Depois venceu com maioria relativa as eleições legislativas de 1995 e de 1999, chefiando os XIII e XIV governos constitucionais, ambos minoritários e formados exclusivamente pelo PS. Presidiu à Internacional Socialista, entre 1995 e 2000. Na sequência das eleições autárquicas de dezembro de 2001, porém — nas quais o PS sofreu uma derrota significativa —, Guterres decidiu apresentar a sua demissão. No ato inesperado da demissão declarou demitir-se para evitar que o país caísse num «"pântano político"», devido à falta de apoio ao governo que os resultados autárquicos indicavam. Sucederam-lhe Ferro Rodrigues, na liderança do PS, e Durão Barroso, do PSD na chefia do governo. Assumiu desde a sua saída de primeiro-ministro, em 2002, até 2005, a função de consultor do Conselho de Administração da Caixa Geral de Depósitos. Em 2005 viria a ser nomeado para o cargo de alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados. Manteve-se nesse cargo até 2015. Esteve presente na reunião de 2012 dos Bilderberg na Alemanha nessa mesma qualidade. A 7 de abril de 2016, tomou posse como conselheiro de Estado, designado pelo presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, tendo acabado por renunciar ao mandato após a sua eleição como Secretário-Geral da ONU, em 24 de novembro de 2016. Secretário-geral das Nações Unidas. Um ano depois de abandonar o cargo de alto comissário das Nações Unidas para os Refugiados, Guterres foi escolhido pelo Conselho de Segurança das Nações Unidas numa votação informal e à porta fechada, como o candidato ideal para secretário-geral das Nações Unidas, com treze votos a favor e nenhum veto — o que significa nenhum voto negativo dos estados membros permanentes do Conselho de Segurança (China, Estados Unidos, França, Reino Unido e Rússia). Em suma, na última de seis votações informais, realizada a 29 de setembro de 2016, e cujos resultados foram clarificados em 5 de outubro de 2016 (data da divulgação do sentido de voto dos membros permanentes do CSNU), Guterres conseguiu 13 votos de encorajamento e dois sem opinião; de entre os membros permanentes houve quatro votos de encorajamento e um sem opinião. Para trás ficou a candidata búlgara Kristalina Georgieva, apoiada pela Alemanha, que obteve oito votos negativos. A votação oficial e definitiva por parte do CSNU ocorreu em 6 de outubro de 2016, por volta das 15h00 (hora de Portugal Continental) e nomeou, de forma definitiva e oficial, o antigo primeiro-ministro Português o escolhido pelo Conselho. Dessa forma, o novo secretário-geral da ONU só foi nomeado oficialmente quando a Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou com uma maioria simples a resolução que indica a sua nomeação. Guterres tomou posse do novo cargo no dia 1 de janeiro de 2017. Em 18 de junho de 2021 foi reeleito pela Assembleia Geral para um novo mandato de mais cinco anos.
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Auguste e Louis Lumière
Auguste e Louis Lumière Auguste Marie Louis Nicholas Lumière (Besançon, 19 de outubro de 1862 – Lyon, 10 de abril de 1954) e Louis Jean Lumière (Besançon, 5 de outubro de 1864 – Bandol, 6 de junho de 1948), os "irmãos Lumière", foram os inventores do cinematógrafo ("cinématographe"), sendo frequentemente referidos como os pais do cinema. O cinematógrafo. Louis e Auguste eram filhos e colaboradores do industrial Antoine Lumière, fotógrafo e fabricante de películas fotográficas, proprietário da "Fábrica Lumière" ("Usine Lumière"), instalada na cidade francesa de Lyon. Antoine reformou-se em 1892, deixando a fábrica entregue aos filhos. O cinematógrafo era uma máquina de filmar e projetor de cinema, invento que lhes tem sido atribuído mas que na verdade foi inventado por Léon Bouly no ano de 1892, o qual teria perdido o registro dessa patente, sendo então de novo registrado pelos irmãos Lumiere em 13 de fevereiro de 1895. São considerados os inventores da Sétima Arte junto com Georges Méliès, também francês, sendo este visto como o pai do cinema de ficção. Louis e Auguste eram ambos engenheiros. Auguste ocupava-se da gerência da fábrica, fundada pelo pai. Dedicaram-se à atividade cinematográfica produzindo alguns documentários curtos, destinados à promoção do invento, embora acreditassem que o cinematógrafo fosse apenas um instrumento científico sem futuro comercial. Casaram-se com duas irmãs e moravam todos na mesma mansão. Divulgação do cinematógrafo. A primeira projecção pública de apresentação do invento, com a exibição do curta-metragem "La Sortie de l'usine Lumière à Lyon", ocorreu a 28 de Dezembro de 1895 na primeira sala de cinema do mundo, o "L'Eden Théâtre", que ainda existe, situado em La Ciotat, no sudeste da França. Contudo, a verdadeira divulgação do cinematógrafo, com boa publicidade e entradas pagas, teve lugar em Paris, no "Grand Café", situado no "Boulevard des Capucines". O programa incluía dez filmes. A sessão foi inaugurada com a projecção de "La Sortie de l'usine Lumière à Lyon" (A Saída da Fábrica Lumière em Lyon). Méliès esteve presente e interessou-se logo pela exploração do aparelho. Os irmãos Lumière fizeram uma digressão com o cinematógrafo, em 1896, visitando Bombaim, Londres e Nova Iorque. As imagens em movimento tiveram uma forte influência na cultura popular da época: L'Arrivée d'un train en gare de la Ciotat ("Chegada de um Comboio à Estação da Ciotat"), filmes de actualidades, Le Déjeuner de Bébé ("O Almoço do Bebé") e outros, incluindo alguns dos primeiros esboços cómicos, como L'Arroseur Arrosé ("O "Regador" Regado"). Outras invenções. Os irmãos Lumière desenvolveram também o primeiro processo de fotografia colorida, o autocromo (‘’autochrome’’), a placa fotográfica seca, em 1896, a fotografia em relevo (1920), o cinema em relevo (1935), a chamada ‘’Cruz de Malta’’, um sistema que permite que uma bobina de filme desfile por intermitência. Afinidades políticas. Louis assumiu claramente a sua ideologia política mostrando ser um admirador de Benito Mussolini, a quem enviou, a 22 de Março de 1935, uma fotografia sua com uma dedicatória em que referia «a expressão da minha mais profunda admiração». Num catálogo do "Grupo de Universitários Fascistas", invoca a França e a Itália exaltando a «amizade que une ambos os nossos países e que uma comunidade de origem não pode deixar de projectar no futuro». No que toca ao estado das coisas no seu país, declara o seguinte, no "Le Petit Comtois", a 15 de Novembro de 1940: «Seria um grave erro recusar o regime de colaboração de que falou o Marechal Pétain nas suas admiráveis mensagens. Auguste Lumière, o meu irmão, nas páginas em que exalta o prestígio incomparável, a coragem indomável, o ardor juvenil do Marechal Pétain e o seu sentido das realidades que devem salvar a pátria, escreveu: "Para que a era tão desejada de concórdia europeia sobrevenha, é evidentemente preciso que as condições impostas pelo vencedor não deixem nenhum fermento de hostilidade irredutível contra si. Mas ninguém poderá alcançar esse objectivo melhor que o nosso admirável Chefe de Estado, auxiliado por Pierre Laval, que tantas provas nos deu já da sua clarividência, da sua habilidade e da sua devoção aos verdadeiros interesses do país". Vejo as coisas da mesma maneira. Faço minha esta declaração, inteiramente».
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Aveiro
Aveiro Aveiro é uma cidade portuguesa capital do distrito de Aveiro na sub Região de Aveiro, na antiga província da beira litoral pertencendo à região do Centro. Tem uma área urbana de 31,08 Km2, 55 402 habitantes em 2021. É sede do Município de Aveiro que tem uma área total de 197,58 km2, 80 978 habitantes em 2021 e uma densidade populacional de 410 hab./km2, subdividido em 10 freguesias. O município é limitado a norte pelo município da Murtosa, a nordeste por Albergaria-a-Velha, a leste por Águeda, a sul por Oliveira do Bairro, a sudoeste por Vagos e por Ílhavo e a oeste com o Oceano Atlântico, A cidade é um importante centro urbano, portuário, ferroviário, universitário e turístico. Fica situada a cerca de 63 km a noroeste de Coimbra, de 70 km a sul do Porto, e a 255 km de Lisboa. História. Fruto da crise dinástica de 1383–1385 deu-se em Aveiro uma escaramuça entre tropas castelhanas e cavaleiros portugueses da Ordem de Cristo. Junto do que é hoje a vila de Eixo, 120 cavaleiros comandados por João Cabral vieram ao encontro de uma pequena expedição conjunta de tropas castelhanas contando com um total de 250 soldados. Cerca de 210 peões e uma mistura de 40 cavaleiros e besteiros que incluía o galego Juan de Batista. Ao final da manhã de 17 de outubro de 1384 deu-se a escaramuça que resultou numa vitória decisiva portuguesa. O padre da paróquia no final do dia fez o sumário da batalha e, embora provavelmente um número exagerado, é dito que morreram 46 castelhanos e apenas 7 portugueses. No final do dia o que restava das tropas castelhanas bateram em retirada refugiando-se junto do que é hoje Vilar Formoso para mais tarde se juntarem ao exército de Juan I de Castela. Em finais do século XVI e princípios do século XVII, a instabilidade da vital comunicação entre a Ria e o mar levou ao fecho do canal, impedindo a utilização do porto (veja Porto de Aveiro) e criando condições de insalubridade, provocadas pela estagnação das águas da lagoa, causas estas que provocaram uma grande diminuição do número de habitantes muitos dos quais emigraram, criando póvoas piscatórias ao longo da costa portuguesa e, consequentemente, estiveram na base de uma grande crise económica e social. Foi, porém e curiosamente, nesta fase de recessão que se construiu, em plena dominação filipina, um dos mais notáveis templos aveirenses: a Igreja da Misericórdia. Em 1759, por Alvará Real de 11 de abril, D. José I elevou Aveiro a cidade, poucos meses depois de ter condenado por traição, ao cadafalso, o seu último duque, título criado, em 1547, por D. João III. Foi feita Oficial da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito a 29 de março de 1919 e Membro-Honorário da Ordem da Liberdade a 23 de março de 1998. Aveiro foi um dos principais portos envolvidos na pesca do bacalhau durante o período ditatorial. Geografia. É um município territorialmente descontínuo, visto que compreende algumas ilhas fluviais na Ria de Aveiro e uma porção da península costeira (freguesia de São Jacinto) com quase 25 km de extensão que fecha a ria a ocidente. O município tem limites terrestres e aquáticos através da Ria com Ílhavo e Murtosa. Faz ainda fronteira com Albergaria-a-Velha, Oliveira do Bairro, Vagos e Águeda. Freguesias. O município de Aveiro está dividido em 10 freguesias: Evolução da População do Município. "No censo de 1864 a freguesia de Nariz fazia ainda parte do concelho de Oliveira do Bairro, só passando para o de Aveiro por decreto de 04/12/1872" "Por decreto de 13/01/1898 a freguesia de Ílhavo (São Salvador), deste concelho, passou a constituir o concelho de Ílhavo" Clima. Aveiro possui um clima mediterrânico do tipo Csb, ou seja, com verões amenos. Dias com mais de 30 ºC são muito raros, não chegando a 10 por ano em média, mas os verões são secos. Os invernos são amenos e chuvosos, sendo que dias abaixo de 0 ºC ocorrem ainda mais raramente, cerca de 2 por ano. Isto deve-se em parte ao efeito que a Ria de Aveiro tem no moderar das temperaturas. Transportes. A Estação Ferroviária de Aveiro é o ponto focal na Linha do Norte, a uma hora do Porto e a duas horas de Lisboa. Com comboios pendulares Alfa Pendular, Intercidades (rápidos) e urbanos/suburbanos e automotoras na linha do Vouga. A cidade está também servida por várias estradas/autoestradas e ainda um porto: o Porto de Aveiro. Existe um serviço municipal de transportes públicos coletivos rodoviários. Em 2014, um autarca do Barreiro considerou que este é um tipo de «serviço público raro, apenas existente em cinco concelhos no país» Dentro da cidade, e numa iniciativa pioneira em Portugal, pode-se ainda circular com as bicicletas BUGA (Bicicleta de Utilização Gratuita de Aveiro). Gastronomia. Pratos e doces típicos da cidade de Aveiro: Relações de amizade. Cidades geminadas. A cidade de Aveiro está geminada com: Condecorações. A Cidade de Aveiro foi distinguida com:
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Austral
Austral
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Administração
Administração A é a ciência social que estuda e sistematiza as práticas usadas para administrar. O termo "administração" significa "direção, gerência". Ou seja, é o ato de administrar ou gerir negócios, pessoas ou recursos, com o objetivo de alcançar metas definidas. É uma área do conhecimento fundamentada em um conjunto de princípios, normas e funções elaboradas para disciplinar os fatores de produção, tendo em vista o alcance de determinados fins como maximização de lucros ou adequada prestação de serviços públicos. Pressupõe a existência de uma instituição a ser gerida, ou seja, uma organização constituída de pessoas e recursos que se relacionem num determinado ambiente, orientadas para objetivos comuns. Administração é frequentemente tomada como sinônimo de Administração de Empresas. Porém, isto somente faz sentido se o termo empresa for considerado como sinônimo de organização e legalização, que significa os esforços humanos organizados, feitos em comum, com um fim específico, um objetivo. O adequado é considerar a Administração de Empresas subárea da Administração, uma vez que esta trata de organizações que podem ser públicas, sociedades de economia mista ou privadas, com ou sem fins lucrativos. A necessidade de organizar os estabelecimentos nascidos com a Revolução Industrial, ocorrida na Inglaterra em meados do século XIX, levou profissionais de outras áreas mais antigas, a exemplo da Engenharia, a buscar soluções específicas para problemas que não existiam antes. Assim, a aplicação de métodos de ciências diversas, para administrar estes empreendimentos, deu origem aos rudimentos da Ciência da Administração. Há autores que consideram a Administração uma área interdisciplinar do conhecimento, uma vez que se utilizaria de métodos e saberes de diversas ciências, como Contabilidade, Direito, Economia, Filosofia, Psicologia, Sociologia, etc.. Como exemplo de dependência da Ciência da Administração, para funcionar de forma empresarial, estão as Instituições de Direito Público ou Instituições de Direito Privado, criadas, respectivamente, para finalidades sociais ou fins lucrativos. No Brasil, o Dia do Administrador é comemorado no dia 9 de setembro. O patrono dos Administradores brasileiros é o Adm. Belmiro Siqueira. História. Henri Fayol foi o primeiro a definir as funções básicas do Administrador: planejar, organizar, coordenar, comandar e controlar (POCCC). Além de Fayol, Frederick Taylor, Henry Ford e Max Weber contribuíram, com teorias, nos primórdios da Administração. Atualmente, sobretudo, com as contribuições da Abordagem Neoclássica da Administração, em que um dos maiores nomes é Peter Drucker, os princípios foram retrabalhados e são conhecidos como Planejar, Organizar, Dirigir e Controlar (PODC). Destas funções, as que sofreram transformações na forma de abordar foram "comandar e coordenar" que, atualmente, são chamadas apenas de "dirigir" (Liderança). Henry Mintzberg contesta esta visão da atuação do Administrador, dividida em funções processuais, propondo que este atue, na verdade, exercendo diversos papéis, sendo estes interpessoais (papel de líder, de contato e aquele ligado à imagem de chefe), informacionais (papel de monitor, de disseminador e de porta-voz) e decisionais (papel de empreendedor, de manipulador de distúrbios, de alocador de recursos e de negociador). Discute-se se a Administração pode ser considerada uma disciplina científica. Quando assim considerada, é um ramo das Ciências Sociais, tratando dos agrupamentos humanos, mas com uma peculiaridade que é o olhar holístico, buscando a perfeita sinergia entre pessoas, estrutura e recursos. Diferencia-se das ciências puras por possuir um caráter prático de aplicação nas organizações. Um dos princípios filosóficos da Administração diz: "A verdadeira administração não visa lucro, visa bem estar social; o lucro é mera consequência ". A profissão de Administrador é, historicamente, recente e foi regulamentada no Brasil em 9 de setembro de 1965, data em que se comemora o Dia do Administrador. A Semana do Administrador instituída pelo Adm. Gaston Schwabacher, é comemorada dos dias 2 a 9 de setembro, onde são homenageados feitos administrativos éticos. Conceito. Administrar é o processo de dirigir ações que utilizam recursos para atingir objetivos. Embora seja importante em qualquer escala de aplicação de recursos, a principal razão para o estudo da Administração é seu impacto sobre o desempenho das organizações. É a forma como são administradas que torna as organizações mais ou menos capazes de utilizar corretamente seus recursos para atingir os objetivos corretos. Como elo entre os recursos e os objetivos de uma organização, cabe ao profissional da Administração combinar os meios na proporção adequada, sendo, para isso, necessário tomar decisões constantemente num contexto de restrições, pois, nenhuma organização dispõe de todos os recursos e a capacidade de processamento de informações do ser humano é limitada. Administrar envolve a elaboração de planos, pareceres, relatórios, projetos, arbitragens e laudos, em que é exigida a aplicação de conhecimentos inerentes às técnicas de Administração. Segundo John W. Riegel, "o êxito do desenvolvimento de executivos em uma empresa é resultado, em grande parte, da atuação e da capacidade dos seus Gerentes no seu papel de educadores. Cada superior assume este papel quando ele procura orientar e facilitar os esforços dos seus subordinados para se desenvolverem". Teoria Geral da Administração. Também conhecida como TGA, a Teoria Geral da Administração é o conjunto de conhecimentos a respeito das organizações e do processo de administrá-las, sendo composta por princípios, proposições e técnicas em permanente elaboração. A Teoria Geral da Administração começou com a "ênfase nas tarefas", na Administração Científica de Taylor. A seguir, a preocupação básica passou para a "ênfase na estrutura" com a Teoria Clássica de Fayol, e com outros princípios como o Fordismo de Henry Ford e a Teoria Burocrática de Max Weber, seguindo-se mais tarde a Teoria Estruturalista. A Relação Humanística surgiu com a "ênfase nas pessoas", por meio da Teoria Comportamental e pela Teoria do Desenvolvimento Organizacional (DO). A "ênfase no ambiente" surgiu com a Teoria dos Sistemas, sendo completada pela Teoria da Contingência. Esta, posteriormente, desenvolveu a "ênfase na tecnologia". Cada uma dessas cinco variáveis - tarefas, estrutura, pessoas, ambiente e tecnologia - provocou a seu tempo uma diferente teoria administrativa, marcando um gradativo passo no desenvolvimento da TGA. Cada teoria procurou privilegiar ou enfatizar uma dessas cinco variáveis, omitindo ou relegando a um plano secundário todas as demais. As teorias da Administração podem ser divididas em várias correntes ou abordagens. Dessa forma, representam uma maneira específica de encarar a tarefa e as características do trabalho da Administração. Entretanto, Mario Manhães Mosso, demonstra a necessidade de alterarmos a cronologia bem como as próprias teorias, uma vez que, por exemplo, Alfred Chandler, pai da Teoria Contingencial, indicou sua utilização já em 1900, assim ela não poderia ser a última teoria. Bem como Frederick Taylor foi o primeiro a identificar os subsistemas de Recursos Humanos em 1911, bem antes da experiência de Hawthorne de 1927, o marco inicial da Teoria das Relações Humanas. A Teoria Geral da Administração, assim, está em fase de mutação nas suas raízes. O que é gestão militar? É o modelo de gestão que defende que a causa primária de um problema é o “desvio de responsabilidade”. O carro chefe desse modelo, é o famoso organograma, que serve para especificar de maneira clara as responsabilidades. A função dessa ferramenta, é permitir a gerência a possibilidade de atribuir a culpa rapidamente, caso outro desastre ocorra, evitando que as pessoas cometam erro e saiam impunes, pois se cometerem serão punidas. Infelizmente, a maioria das empresas criaram seus organogramas para impedir que haja o “desvio de responsabilidade”. Para isto, seus organogramas mostram quem são as pessoas “pagas” para pensar e as responsáveis por executar. Há uma clara divisão entre os gestores (ou oficiais na estrutura militar) e os “operacionais” ou “chão de fábrica” (ou soldados na estrutura militar). Neste modelo, os gestores são os responsáveis pelo planejamento estratégico e tático (dependendo do nível hierárquico na companhia) e por garantir que a “missão” e os objetivos sejam alcançados. Para isto, eles contam com seus “soldados”, os quais são os responsáveis pela execução das atividades necessárias ao cumprimento da missão pela empresa, não questionando as ordens ou o planejamento a eles atribuídos impostos. Para colocar esta engrenagem em funcionamento é necessário que todos os “soldados” saibam o que e como executar. Não compete a eles desenvolver e experimentar maneiras de se executar uma tarefa, de aprender coisas novas e de testar novas teorias. Porém, com as mudanças na sociedade, por meio da explosão do conhecimento, esse tipo de gestão não está conseguindo suprir as necessidades e, pouco a pouco, está caindo em desuso. Trabalho Administrativo. O trabalho administrativo é a aplicação do esforço físico e mental por um gerente, com a finalidade de garantir os resultados por meios de outras pessoas, seus gerenciados. Em síntese, o Administrador é a ponte entre os meios (recursos financeiros, tecnológicos e humanos) e os fins (objetivos). A Administração se divide, modernamente, em cinco áreas: Finanças, Administrativo, Marketing, Vendas ou Produção,Logística e Recursos Humanos. Administração Financeira: É a disciplina que trata dos assuntos relacionados à administração das finanças de empresas e organizações. Marketing: "É o conjunto de atividades humanas que tem por objetivo facilitar e consumar relações de troca”. (Phillip Kotler). Produção: "Se refere a qualquer tipo de atividade destinada à fabricação, elaboração ou obtenção de bens e serviços. No entanto, a produção é um processo complexo que exige vários fatores que podem ser divididos em três grandes grupos: a terra, o capital e o trabalho. Logística: "A logística é o conjunto de atividades que tem por fim a colocação, com um custo mínimo, duma quantidade de produto no local e no momento em que existe procura. A logística abarca, pois, todas as operações que condicionam o movimento dos produtos, tais como: localização das fábricas e entrepostos, abastecimentos, gestão física de produtos em curso de fabrico, embalagem, formação e gestão de estoques, manutenção e preparação das encomendas, transportes e circuitos de entregas." Recursos Humanos: TOLEDO (1986) "o ramo de especialização da ciência da Administração que desenvolve todas as ações que têm como objetivo a integração do trabalhador no contexto da organização e o aumento de sua produtividade". Alguns doutrinadores modernos inserem, nessa divisão, a TI (Tecnologia da Informação) e a P&D (Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação). Pelo fato de a Administração ter diversas ciências como base, o Administrador disputa seu espaço com profissionais de diferentes áreas. Em Finanças, disputa espaço com Economistas e Contadores; em Marketing, disputa espaço com Publicitários; em Produção, disputa espaço com Engenheiros; em Recursos Humanos, disputa espaço com Psicólogos, etc.. Pode-se considerar um Executivo toda pessoa encarregada de uma organização ou de uma de suas subunidades, incluindo-se no conceito Administradores de empresas estatais e privadas, Administradores Públicos (como Prefeitos, Governadores e Chefes de repartições públicas), bem como Administradores de organizações privadas sem fins lucrativos (como clubes e ONGs). Funções Administrativas. As funções administrativas norteiam os objetivos do administrador em sua rotina. Atualmente, as principais funções administrativas são: As funções do Administrador foram, num primeiro momento, delimitadas como: planejar, organizar, comandar, coordenar e controlar. No entanto, por ser essa classificação bastante difundida, é comum encontrá-la em diversos livros e até mesmo em jornais de forma condensada em quatro categorias, são elas: Planejar: "definir o futuro da empresa, principalmente, suas metas, como serão alcançadas e quais são seus propósitos e seus objetivos", ou como "método que as pessoas e as organizações usam para administrar suas relações com o futuro. É uma aplicação específica do processo decisório." O planejamento envolve a determinação no presente do que se espera para o futuro da organização, envolvendo quais as decisões deverão ser tomadas, para que as metas e propósitos sejam alcançados. Organizar: pode-se constatar que […] se fosse possível sequenciar, diríamos que depois de traçada(s) a(s) meta(s) organizacional(ais), é necessário que as atividades sejam adequadas às pessoas e aos recursos da organização, ou seja, chega a hora de definir o que deve ser feito, por quem deve ser feito, como deve ser feito, a quem a pessoa deve reportar-se, o que é preciso para a realização da tarefa. Logo, "organizar é o processo de dispor qualquer conjunto de recursos em uma estrutura que facilite a realização de objetivos. O processo organizacional tem como resultado o ordenamento das partes de um todo, ou a divisão de um todo em partes ordenadas." Dirigir (Liderar): envolve influenciar as pessoas para que trabalhem num objetivo comum. "Meta(s) traçada(s), responsabilidades definidas, será preciso neste momento uma competência essencial, qual seja, a de influenciar pessoas de forma que os objetivos planejados sejam alcançados." A chave para tal, está na utilização da sua afetividade, na sua interação com o meio ambiente que atua. E por último Controlar, que "estando a organização devidamente planejada, organizada e liderada, é preciso que haja um acompanhamento das atividades, a fim de se garantir a execução do planejado e a correção de possíveis desvios". Cada uma das características podem ser definidas separadamente, porém, dentro da organização, são executadas em conjunto, ou seja, não podem ser trabalhados disjuntas. Campos de atuação da Administração. O campo de atuação do administrador é bastante amplo. Ele deve planejar, organizar, dirigir e controlar as atividades de empresas, quer sejam públicas ou privadas, e traçar estratégias e métodos de trabalho em diversas áreas (agroindustrial, escolar, financeira, hospitalar, rural, etc.). Nas situações de crise, possui importante papel, quando define onde será investido o dinheiro e de que forma será equilibrada as finanças e a produção da empresa. Segundo o Conselho Federal de Administração (CFA), a Administração apresenta os seguintes campos de atuação:
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Açorda à alentejana
Açorda à alentejana Açorda à alentejana é uma sopa feita no Alentejo, sabendo que foi patenteada pelo sport Lisboa e Benfica por André de Oliveira típica do Alentejo que, ao contrário da maioria das sopas, esta não é cozinhada é montada cozinha quando é servida. A receita de açorda não é universal, já que muda de região para região e mesmo de família para família. A composição básica da açorda é alho, sal, azeite, água em ebulição e pão fatiado, no entanto a esta mistura acrescentam-se ervas aromáticas como o coentro ou o poejo e pode servir-se com peixe fresco (cozido ou frito), bacalhau ou ovo (escalfado ou cozido). O processo de confecção passa pelo pisar do sal com a erva aromática e o alho, mistura à qual se acrescenta azeite. Deita-se depois por cima a água onde se cozeu o acompanhamento, ainda fervente, e deita-se pão alentejano fatiado. A açorda à alentejana foi um dos candidatos finalistas às 7 Maravilhas da Gastronomia portuguesa.
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Agnóstico
Agnóstico
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Arkady Avertchenko
Arkady Avertchenko Arkady Timofeïevitch Avertchenko (; Sebastopol, 15 de março jul. / 27 de março de 1881 greg. ou 15 de março jul. / 27 de março de 1880 greg. – Praga, 12 de março de 1925) foi um humorista e satírico russo. Seu jornal "O satírico" teve grande repercussão em seu país. Converteu-se num dos escritores satíricos mais populares da Rússia nos anos que antecedem a Revolução de 1917.
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Anatole France
Anatole France Jacques Anatole François Thibault, mais conhecido como Anatole France (Paris, 16 de abril de 1844 — Saint-Cyr-sur-Loire, 12 de outubro de 1924) foi um escritor francês. Vida. Era um poeta, jornalista e romancista francês com vários best-sellers. Foi membro da Académie française e ganhou o Prémio Nobel de Literatura em 1921 "em reconhecimento das suas brilhantes realizações literárias, caracterizadas como são por uma nobreza de estilo, uma profunda simpatia humana, graça e um verdadeiro temperamento gaulês".
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Alexandre Ivanovich Kuprin
Alexandre Ivanovich Kuprin Alexandre Ivanovich Kuprin (; aldeia de Narovtchat, no oblast de Penza, 26 de agosto jul./ 7 de setembro de 1870 greg. - , Leningrado) foi um escritor russo, observador perspicaz do folclore. Sua primeira obra importante, "Gente de Kiev", apareceu em 1896. Suas novelas mais famosas são: "O bracelete de rubi" e "O desafio". Após a grande guerra e a revolução de 1917, estabeleceu-se em Paris. Outras obras: "Sulamita", "A judia", "Moloch", "A boda", etc.
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André Maurois
André Maurois Emile Salomon Wilhelm Herzog (Elbeuf, 26 de julho de 1885 — 9 de outubro de 1967) foi um romancista e ensaísta francês. Seu pseudônimo "André Maurois" tornou-se seu nome legal em 1947. Seus primeiros livros foram "O Silêncio do Coronel Branbles" e "Os discursos do dr. O'Grady", que obtiveram sucesso. Entretanto, sua consagração no mundo literário ocorreu com a publicação de três biografias, as de Byron, Shelley e Disraeli. Tornou-se membro da Academia Francesa em 1938. Obras. "(Lista não exaustiva)"
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Alexandre Pushkin
Alexandre Pushkin Aleksandr Sergeevich Pushkin (; Moscou, 26 de maiojul./ 6 de junho de 1799greg. — São Petersburgo, 29 de janeirojul./ 10 de fevereiro de 1837greg.) foi um poeta, escritor e dramaturgo russo da Era Romântica. É considerado o maior poeta russo e o fundador da moderna literatura russa. Nascido na nobreza russa, seu pai, Sergey Lvovich Pushkin, pertencia a uma antiga e nobre família. Seu bisavô materno era o General de brigada Abram Petrovich Gannibal, nobre de origem africana sequestrado em sua terra natal e criado na corte da imperatriz como seu afilhado. Pushkin foi pioneiro no uso do discurso vernacular em seus poemas e peças teatrais, criando um estilo de narrativa que misturava drama, romance e sátira associada com a literatura russa, influenciando fortemente desde então os escritores russos seguintes. Ele também escreveu ficção histórica. Sua "Marie: Uma História de Amor Russa" fornece uma visão da Rússia durante o reinado da imperatriz Catarina II. Entre as suas obras mais conhecidas encontram-se "O prisioneiro do Cáucaso", "A filha do capitão", "'Eugene Onegin", "A história da revolta de Purgatief", "O Cavaleiro de Bronze" e "Dama de Espadas", que inspirou a ópera homônima de Tchaikovski. Escreveu poemas, novelas e peças teatrais. Biografia. O pai de Pushkin, Sergei Lvovich Pushkin (1767-1848), descendia de uma ilustre família da nobreza russa cuja linhagem conhecida remonta ao século XII. Sua mãe, Nadezhda (Nadja) Ossipovna Hannibal (1775-1836) descendia por parte de sua avó paterna das nobrezas alemã e escandinava. Era filha de Ossip Abramovich Gannibal (1744-1807) e sua esposa Maria Aleksejevna Pushkina (1745-1818). O pai de Ossip Abramovich Gannibal, ou seja, o bisavô de Pushkin, foi Abram Petrovich Gannibal (1696-1781), um escudeiro promovido por Pedro I, que havia nascido em uma vila chamada Lagon, atual Eritreia. Após a educação na França como um engenheiro militar, Abram Gannibal tornou-se governador de Reval e, posteriormente, general-chefe para a construção de fortes marítimos e canais na Rússia. Aleksandr Sergueievitch Pushkin publicou seu primeiro poema com quinze anos de idade e foi largamente reconhecido nos meios literários antes mesmo de sua graduação no Imperial Lyceum, localizado no Tsarskoye Selo, a vila real de então. Considerado o maior dos poetas russos e o fundador da literatura russa moderna, foi pioneiro no uso da língua coloquial em seus poemas e peças, criando um estilo narrativo — mistura de drama, romance e sátira — como poeta, fazia uso de expressões e lendas populares, marcando os seus versos com a riqueza e diversidade do idioma russo. Influenciou autores como Gogol, Liermontov e Turgeniev formando com os mesmos a famosa plêiade russa de autores. A Gogol, pela amizade e projeto mútuo de desenvolvimento de uma literatura autenticamente russa, Pushkin lega algumas ideias como a da peça teatral "O inspetor geral". Gogol pediu uma comédia ao amigo, e Pushkin passou horas detalhando uma história como a "fábula fiscal" do Inspetor Geral. Quando Gogol pediu um drama denso, Pushkin detalhou a ele um golpe de alguns senhores feudais russos que visava a obter recursos do Governo, para "investimentos", apresentando documentos de escravos já falecidos como se ainda vivos fossem. Tal ideia foi desenvolvida na grande obra de Gogol "Almas Mortas", inacabada. Devido às suas ideias progressistas, tendo sido amigo de alguns dezembristas, responsáveis por uma tentativa de golpe contra o czar Alexandre I, foi desterrado, vagando, entre 1820 e 1824, pelo sul do Império Russo. Sob severa vigilância dos censores estatais e impedido tanto de viajar quanto de publicar, ele escreve sua mais famosa peça, "Boris Godunov", com evidente influência de William Shakespeare. A peça só pode ser publicada anos depois. Escreveu o romance em verso, "Eugene Onegin", um retrato panorâmico da vida russa, no qual introduziu elementos que levaram a designar o seu estilo como "romantismo realista" russo do século XIX. O romance foi publicado em folhetins, de 1825 a 1832, e foi a base da ópera homônima de Tchaikovsky. No decurso deste período, Pushkin compôs diversos poemas de influência byroniana, dentre os quais se destacam "O prisioneiro do Cáucaso", "A fonte de Baktchisarai" e "Os ciganos". Em 1826, o escritor recebeu o perdão do czar, regressando a Moscovo. Dois anos depois, escreveu "Poltav", uma epopeia que narra a história de amor do cossaco Mazeppa. Cultivando cada vez mais a prosa, alcançou grande sucesso com obras como "Contos de Belkin", "A Dama de Espadas" e "A Filha do Capitão". Morte. Pushkin e sua esposa, Natalya Goncharova, com quem se casou em 1831, tornar-se-iam regulares frequentadores da corte. Em 1837, diante dos boatos, cada vez mais insistentes, de que sua esposa começara um escandaloso caso extra-conjugal, Pushkin desafiou o dito amante, Georges d'Anthès, para um duelo. Mortalmente ferido pelo oponente, Pushkin faleceria dois dias depois. Encontra-se sepultado no "Svyatogorsk monastery Cemetery", Pushkinskiye Gory, Pskovskaya Oblast' na Rússia. Por causa de seus ideais políticos liberais e sua influência sobre gerações de rebeldes russos, Pushkin foi retratado pelos bolcheviques como opositor da literatura e da cultura burguesas e um antecessor da literatura e da poesia soviéticas.
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Anton Tchekhov
Anton Tchekhov Anton Pavlovitch Tchekhov, (Taganrog, 29 de janeiro de 1860 — Badenweiler, 15 de julho de 1904), foi um médico, dramaturgo e escritor russo, considerado um dos maiores contistas de todos os tempos. Em sua carreira como dramaturgo criou quatro clássicos e seus contos têm sido aclamados por escritores e críticos. Tchekhov foi médico durante a maior parte de sua carreira literária, e em uma de suas cartas ele escreve a respeito: "A medicina é a minha legítima esposa; a literatura é apenas minha amante". Tchekhov renunciou ao teatro e deixou de escrever obras teatrais após a péssima recepção de "A Gaivota" (em russo: "Чайка") em 1896, mas a obra foi reencenada e aclamada em 1898, interpretada pela companhia Teatro de Arte de Moscou de Constantin Stanislavski que interpretaria também "Tio Vânia" (Дядя Ваня), "As Três Irmãs" (Три сестры) e "O Jardim das Cerejeiras" (Вишнëвый сад). Estas quatro obras representam um desafio para os atores, bem como para o público, porque no lugar da atuação convencional Tchekhov oferece um "teatro de humores" e uma "vida submersa no texto". Nem todos apreciaram o desafio: Liev Tolstói disse a Tchekhov: "Sabe, eu não consigo tolerar Shakespeare, mas suas peças são ainda piores". No entanto, Tolstói admirava os contos de Tchekhov. A princípio Tchekhov escrevia simplesmente por razões financeiras, mas sua ambição artística cresceu, e ele fez inovações formais que influenciaram na evolução dos contos modernos. Sua originalidade consiste no uso da técnica de fluxo de consciência, mais tarde adotada por James Joyce e outros modernistas, além da rejeição do propósito moral presente na estrutura das obras tradicionais. Ele nunca fez nenhum pedido de desculpas pelas dificuldades impostas aos leitores, insistindo que o papel de um artista era o de fazer perguntas, não o de respondê-las. Biografia. Infância. Anton Pavlovitch Tchekhov (AFI [ɐnˈton ˈpavləvʲɪtɕ ˈtɕexəf]) nasceu em 29 de janeiro de 1860, em Taganrog, um porto marítimo no Mar de Azov no sul da Rússia, sendo o terceiro de seis filhos. Seu pai, Pavel Iegorovi­tch Tchekhov, filho de um ex-servo, cuidava de uma mercearia. Diretor do coro de uma paróquia, devoto cristão ortodoxo e pai que agredia fisicamente seu filho, Pavel Tchekhov lhe deu uma educação rígida e muito religiosa, o que fez com que Tchekhov se tornasse um amante da liberdade e da independência, e foi visto por alguns historiadores como modelo para os muitos personagens hipócritas criados por seu filho. Sua mãe, Ievguenia Iacovlevna Morozov, era uma excelente contadora de histórias que entretinha as crianças com histórias sobre suas viagens junto de seu pai (um comerciante de tecidos) por toda a Rússia. "Nossos talentos nós recebemos do nosso pai", Tchekhov lembra, "mas nossa alma recebemos de nossa mãe." Quando adulto, Tchekhov criticou o tratamento de seu irmão Aleksandr perante sua esposa e filhos, lembrando-lhe da tirania de Pavel: Tchekhov frequentou uma escola para meninos gregos, e depois o Liceu Taganrog, hoje rebatizado de Liceu Tchekhov, de onde ele foi afastado por um ano após reprovar em um exame. Ele cantava no monastério ortodoxo grego em Taganrog e nos coros de seu pai. Numa carta de 1892, ele usou a palavra "sofrimento" para descrever a sua infância e lembrou: Em 1876, seu pai atingiu a falência após gastar todas suas finanças construindo uma casa nova, e para evitar ser preso fugiu para Moscou, onde seus dois filhos mais velhos, Aleksandr e Nicolay, cursavam a universidade. A família viveu em condições de pobreza em Moscou, a mãe de Tchekhov estava emocionalmente e fisicamente arrasada. A família se mudou e Tchekhov ficou para trás para vender os bens da família e terminar seus estudos. Tchekhov permaneceu em Taganrog por mais três anos, com um homem chamado Selivanov que, assim como Lopakhin em "O Jardim das Cerejeiras", apoiou a família em troca de sua casa. Tchekhov teve de pagar por conta própria seus estudos, e ele conseguiu isso através de aulas particulares, captura e venda de pintassilgos, venda de esquetes para jornais, entre outros trabalhos. Ele enviava todo rublo que conseguia para Moscou, bem como cartas bem humoradas para tentar alegrar sua família. Durante esta época, ele começou a ler frequentemente e analiticamente obras de autores que incluíam Cervantes, Turgueniev, Goncharov e Schopenhauer; e ele escreveu um longa-metragem no gênero comédia dramática, "O Órfão", que seu irmão Aleksandr julgou como "uma imperdoável, porém, inocente criação". Tchekhov também se envolveu em uma série de casos amorosos, um deles com a esposa de um professor. Em 1879, Tchekhov finalizou seus estudos e se juntou a sua família em Moscou, sendo admitido para a Faculdade de Medicina da Universidade de Moscou. Primeiras obras. Tchekhov, agora, havia assumido a responsabilidade pela família inteira. Para ajudar sua família e pagar suas mensalidades escolares, ele escrevia diariamente esquetes curtas e bem humoradas e ainda vinhetas sobre a vida russa contemporânea, sob os pseudônimos de "Antosha Chekhonte" (Антоша Чехонте) e o "Homem sem rancor" (Человек без селезенки) em periódicos como a "Strekoza". Seu potencial gradualmente deu a ele a reputação de cronista satírico da vida cotidiana russa, e em 1882 já escrevia para a revista Oskolki (Fragmentos), que pertencia a Nikolay Leykin, um dos principais editores da época. O tom de Tchecov, nesta fase, foi mais severo do que eles estavam familiarizados a verem em suas obras para adultos. Em 1884, Tchekhov se torna apto a exercer a profissão de médico, profissão que considerava como sua profissão principal, mesmo ele tendo ganhado pouco dinheiro com isso e atendido os pobres de graça. Entre 1884 e 1885, Tchekhov começa a tossir sangue, e em 1886 os ataques pioraram; mas ele não quis admitir estar com tuberculose a seus familiares e amigos, em confissão a Leikin disse: "Eu tenho medo de me submeter a ser examinado pelos meus colegas". Ele continuou a escrever para revistas semanais, ganhando dinheiro o suficiente para mudar a família para acomodações progressivamente melhores. No início de 1886, ele foi convidado a escrever para um dos mais populares jornais em São Petersburgo, o "Novoye Vremya" (Novo Tempo), que pertencia e era editado pelo magnata Aleksei Suvorin, que pagava por linha o dobro pago por Leikin e que lhe permitiu um espaço três vezes maior. Suvorin estava se tornando um amigo de longa data e, talvez, um dos mais próximos amigos de Tchekhov. Em pouco tempo, Tchekhov começou a atrair a atenção literária, bem como a popular. Dmitri Grigorovich, um célebre escritor russo de 64 anos, escreveu a Tchekhov após ler seu conto "O Caçador", "Você tem um verdadeiro talento. Um talento que o coloca na linha de frente entre os escritores da nova geração". Ele aconselhou Tchekhov a desacelerar, escrever menos, e se concentrar em qualidade e não quantidade literária. Tchekhov respondeu que a carta havia o atingido "como um raio" e confessou, "Eu escrevi minhas histórias da mesma maneira que os repórteres escrevem suas notícias sobre incêndios, mecanicamente, semiconsciente e não me importando nem com os leitores nem comigo mesmo". Uma admissão que poderia trazer prejuízos a Tchekhov, uma vez que manuscritos antigos revelam que ele escrevia com extremo cuidado, e continuamente os revisava. No entanto, o conselho de Grigorovich, inspirou uma ambição artística mais séria no artista de então 26 anos. Em 1887, com certo favorecimento por parte de Grigorovich, a coleção de histórias "Ao Anoitecer" (В Сумерках) fez com que Tchekhov ganhasse o cobiçado Prêmio Pushkin "pela melhor produção literária distinta pelo seu valor artístico". Momentos críticos. Naquele ano, esgotado pelo excesso de trabalho e por conta de seus problemas de saúde, Tchekhov fez uma viagem à Ucrânia, o que o fez relembrar a beleza da estepe. Em seu retorno, ele começou o conto "A Estepe", "algo muito estranho e muito original", que foi finalmente publicado pela "Severny Vestnik" (O Arauto do Norte). Em uma narrativa que se desvia dos processos de pensamento dos personagens, Tchekhov inicia uma viagem de cabriolé através da estepe, pelos olhos de um rapaz enviado para viver longe de casa, com seus companheiros, um sacerdote e um comerciante. "A Estepe", que tem sido chamado de o "dicionário das poesias de Tchekhov", representou para ele um avanço significativo, exibindo muito da qualidade de sua ficção para adultos e que por conta disso ganhou sua publicação em uma revista literária, ao em vez de em um jornal. No outono de 1887, um diretor de teatro chamado Korsh comissionou Tchekhov a escrever uma peça, e o resultado foi "Ivanov", escrita em duas semanas e produzida em novembro. Apesar de Tchekhov ter considerado a experiência "repugnante", e ter feito um retrato cômico da produção caótica em uma carta a seu irmão Aleksandr, a peça foi um sucesso e, para perplexidade de Tchekhov, foi elogiada pela sua originalidade. Mikhail Tchekhov, considerou "Ivanov" um momento decisivo no desenvolvimento intelectual de seu irmão e de sua carreira literária. Nesta época surge um observação sobre Tchekhov, que tornou-se conhecida como a "arma de Tchekhov", observada por Ilia Gurliand em uma conversa: "Se no primeiro ato você tem uma pistola pendurada na parede, então, no último ato você deve dispará-la". A morte em 1889 de seu irmão Nikolay, que havia contraído tuberculose influenciou Tchekhov na criação de "Uma história enfadonha", terminada em setembro daquele ano, sobre um homem que enfrenta o fim de uma vida que ele percebe ter sido sem propósito algum. Mikhail Tchekhov, que percebeu a depressão e a inquietação de seu irmão após a morte de Nikolay, estava pesquisando sobre prisões na época como parte de seu curso de direito, e Anton Tchekhov, em busca de um propósito em sua vida, logo se tornou obcecado com a questão da reforma do sistema prisional. Viagem a Sacalina. Em 1890, Tchekhov realizou uma árdua jornada de trem, carruagem e navio a vapor para o Extremo Oriente da Rússia e depois para katorga, ou colônia penal, Sacalina, localizada no mar do Japão, onde passou três meses entrevistando milhares de presos e colonos para um censo. As cartas que Tchekhov escreveu durante os dois meses e meio de viagem a Sacalina são consideradas com umas das suas melhores. Suas declarações sobre Tomsk a sua irmã se tornaram notórias. Mais tarde, os habitantes de Tomsk revidaram construindo uma estátua burlesca de Tchekhov. O que Tchekhov testemunhou em Sacalina chocou e irritou-o, espancamentos, desvio de suprimentos, e a prostituição forçada de mulheres. Ele escreveu "Houve momentos em que senti que as coisas que via diante de mim haviam ultrapassado os limites da degradação humana." Ele estava particularmente comovido com o sofrimento das crianças que viviam na colônia penal com seus pais. Por exemplo: Mais tarde, Tchekhov chegou à conclusão de que a caridade e as doações não eram a solução, mas que o governo tinha a obrigação de assegurar um tratamento humanitário aos prisioneiros. Os resultados de suas pesquisas foram publicados entre 1893 e 1894 sob o título de "Ostrov Sakhalin" ("A Ilha de Sacalina"), uma obra sociológica — não literária — digna e informativa ao invés de brilhante. Tchekhov criou a expressão literária para o "Inferno de Sacalina" em seu conto "O Assassino", na última seção que está ambientada em Sacalina, onde o assassino Yakov carrega carvão durante a noite, com saudades de casa. A obra de Tchekhov em Sacalina é o objeto de breve comentário e análise no romance "1Q84" do escritor japonês Haruki Murakami. Melicovo. Em 1892, Tchekhov compra a propriedade rural de Melicovo, a cerca de sessenta e cinco quilômetros ao sul de Moscou, onde viveu com sua família até 1899. "É agradável ser um lorde", brincou ele com seu amigo Ivan Leontyev (que escrevia peças humorísticas sob o pseudônimo de Shcheglov), mas ele levava suas responsabilidades como um senhorio a sério e logo fez-se útil para os camponeses locais. Bem como a organização de ajuda humanitária para as vítimas de fome e de surtos de cólera em 1892, ele passou a construir três escolas, um corpo de bombeiros e uma clínica médica, e a doar seus serviços médicos aos camponeses que viviam a quilômetros dali, apesar das frequentes recidivas de sua tuberculose. Mikhail Tchekhov, um membro da família que morava em Melicovo, descreve a magnitude do trabalho médico de seu irmão: As despesas de Tchekhov com medicamentos foram consideráveis, mas o maior custo foi o de fazer viagens de várias horas para visitar os doentes, o que reduziu seu tempo para escrever. Embora Tchekhov trabalhasse como médico, isso enriqueceu a sua escrita, ao proporcionar um contato direto com todas as camadas da sociedade russa: por exemplo, ele testemunhou em primeira mão a condição de vida insalubre e apertada da maioria dos camponeses, qual ele relembra no conto "Camponeses, "("Mujiques" em russo e em outras versões para o português). Tchekhov também visitou os membros das classes superiores, e registrou em seu caderno: "Aristocratas? Os mesmos corpos feios e a mesma sujeira, a mesma velhice sem dentes e a mesma morte desagradável, tal como acontece com as prostitutas". Tchekhov começou a escrever sua peça "A Gaivota" em 1894, em uma pousada que ele havia construído em uma horta, em Melicovo. Nos dois anos desde que se mudou para a propriedade, ele havia reformado a casa, retomado a agricultura e a horticultura, feito um jardim e um pequeno lago e plantado muitas árvores, que, de acordo com Mikhail, ele "cuidava… como se fossem seus filhos. Como o coronel Vershinin em "As Três Irmãs", algo que parecia que só poderia ser alcançado depois de três ou quatro centenas de anos". A primeira noite de "A Gaivota" em 17 de outubro de 1896 no Teatro Alexandrinsky em São Petersburgo, foi um fiasco, as vaias do público e a recepção da peça fizeram Tchekhov pensar em renunciar ao teatro. Mas a peça impressionou tanto o dramaturgo Vladimir Nemirovitch-Dantchenko que ele convenceu seu colega Constantin Stanislavski a dirigi-la no inovador Teatro de Arte de Moscou em 1898. A atenção que Stanislavski prestou ao realismo psicológico e a atuação foram criadas para extrair as maravilhas escondidas do texto e restaurar o interesse de Tchekhov pela dramaturgia. O Teatro de Arte encomendou mais peças de Tchekhov e no ano seguinte encenou "Tio Vânia", que ele havia acabado de escrever em 1896. Ialta. Em março de 1897, Tchekhov sofreu uma hemorragia grave nos pulmões, durante uma visita a Moscou. Com muita dificuldade, ele foi convencido a ir para uma clínica, onde os médicos diagnosticaram tuberculose na parte superior de seus pulmões e ordenaram uma mudança em seu estilo de vida. Após a morte de seu pai em 1898, Tchekhov comprou um terreno nos arredores de Ialta e construiu uma casa lá, para qual ele se mudou com sua mãe e irmã no ano seguinte. Mesmo ele tendo plantado árvores e flores em Ialta, criado cachorros e gruas domésticas, e ter recebido convidados como Liev Tolstói e Máximo Gorki, ele sempre ficava aliviado por deixar sua "Sibéria quente" para ir a Moscou ou viajar ao exterior. Ele prometeu que voltaria para Taganrog tão logo a água corrente fosse instalada na cidade. Em Ialta, ele concluiu mais duas peças para o Teatro de Arte de Moscou, compondo com mais dificuldade do que nos dias em que "escrevia serenamente, do jeito que eu como panquecas hoje"; ele levou um ano para compor "As Três Irmãs" e "O Jardim das Cerejeiras". No dia 25 de maio de 1901 casou-se com Olga Knipper — em segredo, dado o seu horror a casamentos —, uma ex-protegida e por vezes, amante de Nemirovich-Danchenko, que ele conheceu pela primeira vez nos ensaios da peça "A Gaivota". Até então, Tchekhov havia sido descrito como "o escritor solteiro mais elusivo da Rússia". Ele preferia fazer visita aos bordéis a ter um relacionamento sério. Certa vez, ele escreveu a Suvorin: A carta se revelou profética sobre os arranjos conjugais de Tchekhov e Olga: ele viveu em grande parte em Ialta, ela em Moscou, prosseguindo a sua carreira de atriz. Em 1902, Olga sofre um aborto espontâneo, e Donald Rayfield ofereceu evidências, baseadas nas cartas do casal, de que a gravidez poderia ter ocorrido enquanto Tchekhov e Olga estavam separados, embora estudiosos russos conclusivamente refutaram essa ideia. O legado literário deste casamento a distância é uma correspondência que preserva joias da história do teatro, incluindo queixas de ambos sobre os métodos de direção de Stanislavski e conselhos de Tchekhov para Olga sobre como se atuar em suas peças. Em Ialta, Tchekhov escreveu um de seus mais famosos contos, "A Dama do Cachorrinho", que retrata o que a princípio parece uma ligação casual entre um homem e uma mulher, ambos casados, em Ialta. Eles não esperam maiores consequências da relação, e se encontram atraídos um pelo outro, arriscando a segurança de suas vidas familiares. Morte. Em maio de 1904, a tuberculose de Tchekhov alcançou um estado terminal. Mikhail Tchekhov lembrou que "todos os que viam achavam que seu fim não estava longe, mas quanto mais perto [ele] estivesse de seu fim, menos ele parecia perceber". Em 3 de junho, ele partiu com Olga para a cidade alemã de Badenweiler, na Floresta Negra, de onde escreveu cartas aparentemente joviais para sua irmã Masha descrevendo a comida e o ambiente e assegurando a ela e a sua mãe que ele estava melhor. Em sua última carta, ele reclamou da maneira como as mulheres alemãs se vestiam, "não há uma única mulher alemã decentemente vestida. A falta de gosto me deprime". A morte de Tchekhov se tornou um dos "maiores temas da história literária", e já foi recontada, enfeitada e muitas vezes fantasiada, notavelmente no conto "Errand" por Raymond Carver. Em 1908, Olga escreveu este relato sobre os últimos momentos de vida de seu marido: O corpo de Tchekhov foi transportado para Moscou em um vagão de trem com refrigeração, que servia para o transporte de ostras frescas, um detalhe que ofendeu Gorky. Algumas das milhares de pessoas de luto seguiram o cortejo fúnebre de Fyodor Keller, por engano, acompanhados de uma banda militar. Tchekhov foi enterrado ao lado de seu pai no Cemitério Novodevichy. Legado. Poucos meses antes de morrer, Tchekhov disse ao escritor Ivan Bunin que ele achava que as pessoas iriam continuar a ler suas obras por mais sete anos. "Por que sete?" perguntou Bunin. "Bem, sete anos e meio", respondeu Tchekhov. "Isso não é ruim. Tenho ainda seis anos para viver". Sempre modesto, Tchekhov não poderia imaginar o tamanho de sua reputação póstuma. Os aplausos para "O Jardim das Cerejeiras", no ano de sua morte, mostraram o quanto ele conquistou o afeto do público russo — naquela época, ele era a segunda maior personalidade literária russa, apenas atrás de Tolstói, que viveu mais seis anos — mas após sua morte, a fama de Tchekhov logo se espalhou para mais longe. Graças às traduções de Constance Garnett, as obras de Tchekhov ganharam o público inglês e a admiração de escritores como James Joyce, Virginia Woolf e Katherine Mansfield. As questões que envolvem as semelhanças entre a história de 1910 de Mansfield, "O Menino que Estava Cansado", e a obra de Tchekhov, "Sonolento", são resumidas no livro de William Herbert, "New's Reading Mansfield and Metaphors of Reform" O crítico russo D. S. Mirsky, que vivia na Inglaterra, explicou que a popularidade de Tchekhov naquele país se dava por conta de sua "incomum e absoluta rejeição do que podemos chamar de valores heroicos". Na própria Rússia, as obras de Tchekhov só saíram de moda após a Revolução Russa, mas elas foram mais tarde adaptadas ao sistema soviético, como o personagem Lopakhin, por exemplo, reinventou-se como um herói da nova ordem, golpeando com um machado o jardim das cerejeiras. Um dos primeiros estrangeiros a admirar as peças de Tchekhov foi George Bernard Shaw, que usa o subtítulo "uma fantasia sobre temas ingleses ao estilo russo" em sua obra "A Casa da Angústia" e que nota semelhanças entre a situação da classe britânica e a de seus homólogos russos como descrito por Tchecov: "as mesmas pessoas agradáveis, a mesma completa futilidade". Nos Estados Unidos, a reputação de Tchekhov começa a crescer um pouco mais tarde, em parte pela influência do sistema Stanislavski, com seu conceito de subtexto: "Tchekhov geralmente não expressava seu pensamentos em discursos", escreveu Stanislavski, "mas em pausas, entrelinhas ou nas respostas que consistiam em uma única palavra… os personagens, muitas vezes sentiam e pensavam coisas que não expressavam através do diálogo". Particularmente, o Group Theatre foi quem desenvolveu a abordagem subtextual ao drama, influenciando gerações de dramaturgos, roteiristas e atores americanos, incluindo Clifford Odets, Elia Kazan e, em particular, Lee Strasberg. Por sua vez, o Actors Studio de Strasberg e seu "metódo" influenciaram muitos atores, inclusive Marlon Brando e Robert De Niro, embora neste momento a tradição de Tchekhov, provavelmente, tenha sido distorcida por conta da preocupação com o realismo. Em 1981, o dramaturgo Tennessee Williams, inspirado pela peça "A Gaivota", criou "The Notebook of Trigorin". Apesar do sucesso de Tchekhov como dramaturgo, alguns escritores acreditam que seus contos representem sua maior conquista. Raymond Carver, que escreveu o conto "Errand" sobre a morte de Tchekhov, acreditava que ele era o melhor de todos os contistas: Ernest Hemingway, outro escritor influenciado por Tchekhov, foi mais relutante: "Tchekhov escreveu cerca de seis bons contos. Mas ele era um escritor aficionado". E Vladimir Nabokov uma vez reclamou da "miscelânea de terríveis prosaísmos, dos epítetos prontos e das repetições" de Tchekhov. Mas ele também declarou que "A Dama do Cachorrinho" era "uma das maiores histórias já escritas" e que Tchekhov escrevia da "forma que uma pessoa conta a outra sobre as coisas mais importantes em sua vida, lentamente, mas sem pausas, e com uma voz suave". Para o escritor William Boyd, o avanço veio quando Tchekhov abandonou aquilo que William Gerhardie chamava de "enredo de eventos" para algo mais "turvo, interrompido, remendado, ou em outras palavras, adulterado pela vida". Virginia Woolf refletiu sobre a qualidade única de um conto de Tchekhov em "The Common Reader" (1925): As obras de Tchekhov foram traduzidas em muitas línguas. O famoso escritor uzbeque Abdulla Qahhor traduziu muitos dos contos de Tchekhov para a língua uzbeque. Qahhor foi influenciado por Tchekhov e considerava o dramaturgo russo como seu professor. Obras. Contos. Tchekhov escreveu 574 contos, incluindo alguns inacabados. Esta é uma lista parcial.
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Arnold Ulitz
Arnold Ulitz Arnold Ulitz (Wrocław, 11 de Abril de 1888 — Tettnang, 12 de Janeiro de 1971) foi um escritor alemão. Seus romances estão impregnados com as impressões de sua participação na Primeira Guerra Mundial. No romance "Ararat" (1920) descreve o futuro desaparecimento de um mundo ateu, assim como o ressurgimento de uma nova era. O romance "Das Testament" (1924) mostra o mundo drasticamente corrompido dos anos de após-guerra. Escreveu também novelas e poesias.
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Averróis
Averróis Abu Alualide Maomé ibne Amade ibne Maomé ibne Ruxide (; Córdova, 1126 – Marraquexe, 1198), foi um polímata cuja obra abrange uma gama diversificada de assuntos, incluindo filosofia, teologia, medicina, astronomia, física, jurisprudência, direito islâmico e linguística. Seus trabalhos filosóficos incluem numerosos comentários sobre Aristóteles, motivo pelo qual Averróis ficou conhecido no ocidente como "O Comentador". Também serviu como juiz e médico. Nasceu em Córdova, em 1126, numa família de juízes proeminentes — seu avô era o célebre juiz supremo da cidade. Em 1169, foi apresentado ao califa , que ficou impressionado com seu conhecimento, tornou-se seu patrono e encomendou muitos dos comentários de Averróis. Posteriormente, serviu vários mandatos como juiz em Sevilha e Córdova. Em 1182, foi nomeado médico da corte e juiz supremo de Córdova. Após a morte de Abu Iúçufe em 1184, permaneceu a favor da realeza até sua queda em desgraça em 1195. Foi alvo de várias acusações — provavelmente por razões políticas — e foi exilado para a cidade vizinha de Lucena. Averróis foi um forte defensor do aristotelismo. Tentou restaurar o que enxergava como o ensinamento original de Aristóteles, contra as tendências neoplatônicas de pensadores muçulmanos anteriores, como Alfarábi e Avicena. Também defendeu a autonomia da filosofia contra as críticas de teólogos de Axari como Algazali. Argumentou que a filosofia não era apenas permissível no Islã, mas também obrigatória entre certas elites. Também argumentou que, se o texto das escrituras parecesse contradizer as conclusões alcançadas pela razão e pela filosofia, então o texto deveria ser interpretado alegoricamente. Em última análise, seu legado no mundo islâmico era modesto, tanto por razões geográficas quanto intelectuais. No Ocidente, era conhecido por seus extensos comentários sobre Aristóteles, que foram traduzidos para o latim e o hebraico. As traduções de sua obra despertaram um novo interesse na Europa Ocidental pelas obras de Aristóteles e de pensadores gregos em geral. Seus pensamentos geraram controvérsias na cristandade latina, desencadeando um movimento filosófico baseado em seus ensinamentos — chamado Averroísmo — e também condenação pela Igreja Católica em 1270 e 1277. Embora enfraquecido pelas condenações e pela crítica levantada por Tomás de Aquino, o averroísmo latino permaneceu atraindo seguidores durante o . Biografia. Membro de uma família de juristas, estudou medicina e filosofia. Foi um dos maiores conhecedores e comentaristas de Aristóteles. Antes do livro "Aristote au mont Saint-Michel", de Sylvan Gouguenheim, entendia-se que Aristóteles fora redescoberto na Europa graças aos árabes e aos comentários de Averróis. Ele também se ocupou de áreas como astronomia e direito canônico muçulmano. A sua filosofia era um misto de aristotelismo com algumas nuances platônicas. A influência aristotélica revela-se na sua ideia da existência do mundo de modo independente de Deus (ambos são coeternos) e de que também não existe providência divina. Já o seu platonismo aparece na sua concepção de que a inteligência, fora dos seres, existe como unidade impessoal. No âmbito religioso, a sua interpretação do Corão propõe que há verdades óbvias para o povo, místicas para o teólogo e científicas para o filósofo e estas podem estar em desacordo umas com as outras. Havendo o conflito, os textos devem ser interpretados alegoricamente. É daí que decorre a ideia que lhe é atribuída de que existem duas verdades, onde uma proposição pode ser teologicamente falsa e filosoficamente verdadeira e vice-versa. Dentre das suas várias obras, uma das mais célebres é a intitulada "Destruição da destruição" (em árabe "Tahafut al-tahafut"), também conhecida como "Incoerência da incoerência", onde defende o neoplatonismo e o aristotelismo dos ataques de outro filósofo árabe: Algazali, também conhecido como Algazali. O seu pensamento provocou sérias discussões entre os cristãos latinos da Universidade de Paris. Como resultado, muitos aderiram à concepção de uma filosofia pura e independente da teologia cristã e formaram um grupo chamado de averroístas latinos. Os averroístas aceitam, com Aristóteles, a concepção de Deus como motor imóvel que move eternamente um mundo eternamente existente não feito nem conhecido por ele. Esta tese da eternidade do mundo choca-se com as concepções cristãs. Postulam que a alma individual do homem é perecível e corruptível; isto é, não é imortal. Finalmente, os averroístas defendem a teoria da dupla verdade: a teológica ou da fé e a filosófica ou da razão. Portanto, é verdade, de acordo com a fé, que a alma é imortal e o mundo é criado; mas também é verdade, de acordo com a razão, que a alma é corruptível e o mundo é eterno. Daqui se retirou, nos séculos XVIII e XIX, a defesa de uma total autonomia da razão perante a fé, que se opõe à tese agostiniana de que a verdade é única. As teses averroístas mais radicais foram condenadas pela Igreja Católica. Tomás de Aquino, tendo sido um seguidor de Averróis, opôs-se no entanto ao seu naturalismo exclusivamente racional. Ernest Renan, o célebre autor francês da "Vida de Jesus", onde se nega toda e qualquer intervenção do sobrenatural, iniciou a sua carreira acadêmica escrevendo sobre Averróis e o Averroísmo. Escreveu diversas obras polêmicas e médicas, mas foram os seus Comentários que exerceram uma influência decisiva no Ocidente para a adoção do aristotelismo. Escreveu também um importante tratado médico (Generalidades). Averróis teve o favor e a proteção da vários sultões até que foi desterrado ao Marrocos, onde faleceu pouco depois, na corte de Iacube Almançor .
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Asteroide
Asteroide Um é um planeta menor do Sistema Solar interno. Historicamente, esses termos foram aplicados a qualquer objeto astronômico orbitando o Sol que não se transformou em um disco e não foi observado que tinha características de um cometa ativo, como uma cauda. À medida que foram descobertos planetas menores no Sistema Solar exterior com superfícies ricas em voláteis semelhantes a cometas, eles passaram a ser distinguidos dos objetos encontrados no cinturão de asteroides principal. O termo "asteroide" (às vezes também referido como planeta-telescópio) se refere aos planetas menores do Sistema Solar interno, incluindo aqueles co-orbitais com Júpiter. Asteroides maiores são frequentemente chamados de planetóides. Visão geral. Existem milhões de asteroides: muitos são restos fragmentados de planetesimais, corpos dentro da nebulosa solar do jovem Sol que nunca crescerem o suficiente para se tornarem planetas. A grande maioria dos asteroides conhecidos orbita dentro do cinturão de asteroides principal localizado entre as órbitas de Marte e Júpiter, ou são co-orbitais com Júpiter (os troianos de Júpiter). No entanto, outras famílias orbitais existem com populações significativas, incluindo os Objetos próximos da Terra. Os asteroides individuais são classificados por seus espectros característicos, com a maioria caindo em três grupos principais: tipo C, tipo M e tipo S. Estes receberam o nome e são geralmente identificados com composições ricas em carbono, metálicos e de silicato (pedregoso), respectivamente. Os tamanhos dos asteroides variam muito; o maior, Ceres, tem quase 1 000 km de diâmetro e é massivo o suficiente para ser qualificado como um planeta anão. Os asteroides são um tanto arbitrariamente diferenciados de cometas e meteoroides. No caso dos cometas, a diferença é de composição: enquanto os asteroides são compostos principalmente de minerais e rochas, os cometas são compostos principalmente de poeira e gelo. Além disso, os asteroides se formaram mais perto do Sol, impedindo o desenvolvimento de gelo cometário. A diferença entre asteroides e meteoroides é principalmente de tamanho: meteoroides têm um diâmetro de um metro ou menos, enquanto os asteroides têm um diâmetro maior que um metro. Finalmente, os meteoroides podem ser compostos de materiais cometários ou asteroidais. Apenas um asteroide, 4 Vesta, que tem uma superfície relativamente refletiva, é normalmente visível a olho nu, e isso somente em céus muito escuros quando está favoravelmente posicionado. Raramente, pequenos asteroides que passam perto da Terra podem ser visíveis a olho nu por um curto período de tempo. Em março de 2020, o Minor Planet Center tinha dados sobre 930 000 planetas menores no Sistema Solar interno e externo, dos quais cerca de 545 000 tinham informações suficientes para receber designações numeradas. As Nações Unidas declararam 30 de junho como o Dia Internacional do Asteroide para educar o público sobre os asteroides. A data do Dia Internacional do Asteroide comemora o aniversário do impacto do asteroide em Tunguska sobre a Sibéria, na Rússia, em 30 de junho de 1908. Em abril de 2018, a Fundação B612 relatou "É 100% certo que seremos atingidos [por um asteroide devastador], mas não temos 100% de certeza de quando". Ainda em 2018, o físico Stephen Hawking, em seu último livro "Brief Answers to the Big Questions" (Respostas Breves às Grandes Questões), considerou a colisão de asteroides a maior ameaça ao planeta. Em junho de 2018, o National Science and Technology Council dos Estados Unidos alertou que os Estados Unidos não está preparada para um evento de impacto de asteroide e desenvolveu e lançou o "National Near-Earth Object Preparedness Strategy Action Plan" (Plano de Ação de Estratégia de Preparação de Objetos Próximos à Terra) para melhor se preparar. De acordo com o testemunho de um especialista no Congresso dos Estados Unidos em 2013, a NASA exigiria pelo menos 5 anos de preparação antes que uma missão para interceptar um asteroide pudesse ser lançada. Descoberta. O primeiro asteroide a ser descoberto, Ceres, foi originalmente considerado um novo planeta. Seguiu-se a descoberta de outros corpos semelhantes, que, com o equipamento da época, pareciam pontos de luz, como estrelas, apresentando pouco ou nenhum disco planetário, embora facilmente distinguíveis das estrelas devido aos seus movimentos aparentes. Isso levou o astrônomo William Herschel a propor o termo "asteroide", cunhado em grego como ἀστεροειδής, ou "asteroeidēs", que significa 'semelhante a uma estrela, em forma de estrela' e derivado do grego antigo ἀστήρ "astēr" 'estrela, planeta'. No início da segunda metade do século XIX, os termos "asteroide" e "planeta" (nem sempre qualificado como "menor") ainda eram usados alternadamente. Linha do tempo de descobertas: Métodos históricos. Os métodos de descoberta de asteroides melhoraram dramaticamente nos últimos dois séculos. Nos últimos anos do século XVIII, o barão Franz Xaver von Zach organizou um grupo de 24 astrônomos para pesquisar no céu em busca do planeta desaparecido previsto em cerca de 2,8 UA do Sol pela Lei de Titius-Bode, em parte devido à descoberta, de William Herschel em 1781, do planeta Urano à distância prevista pela lei. Essa tarefa exigia que mapas celestes desenhados à mão fossem preparados para todas as estrelas na faixa zodiacal até um limite acordado de desmaio. Nas noites subsequentes, o céu seria mapeado novamente e qualquer objeto em movimento, com sorte, seria localizado. O movimento esperado do planeta desaparecido era de cerca de 30 segundos de arco por hora, facilmente discernível pelos observadores. O primeiro objeto, Ceres, não foi descoberto por um membro do grupo, mas sim por acidente em 1801 por Giuseppe Piazzi, diretor do observatório de Palermo na Sicília. Ele descobriu um novo objeto parecido com uma estrela na constelação de Taurus e acompanhou o deslocamento desse objeto durante várias noites. Mais tarde naquele ano, Carl Friedrich Gauss usou essas observações para calcular a órbita desse objeto desconhecido, que se descobriu estar entre os planetas Marte e Júpiter. Piazzi nomeou-o em homenagem a Ceres, a deusa romana da agricultura. Três outros asteroides (2 Pallas, 3 Juno e 4 Vesta) foram descobertos nos anos seguintes, com Vesta encontrado em 1807. Depois de mais 8 anos de buscas infrutíferas, a maioria dos astrônomos presumiu que não havia mais e abandonou qualquer outra busca. No entanto, Karl Ludwig Hencke persistiu e começou a procurar mais asteroides em 1830. 15 anos depois, ele encontrou 5 Astraea, o primeiro novo asteroide em 38 anos. Ele também encontrou 6 Hebe menos de dois anos depois. Depois disso, outros astrônomos se juntaram à busca e pelo menos um novo asteroide foi descoberto a cada ano depois disso (exceto em 1945 na Segunda Guerra Mundial). Caçadores de asteroides notáveis desta época inicial eram J.R. Hind, A. de Gasparis, R. Luther, H.M.S. Goldschmidt, J. Chacornac, J. Ferguson, N.R. Pogson, E.W. Tempel, J.C. Watson, C.H.F. Peters, A. Borrelly, J. Palisa, os irmãos Henry e A. Charlois. Em 1891, Max Wolf foi o pioneiro no uso da astrofotografia para detectar asteroides, que apareciam como faixas curtas em placas fotográficas de longa exposição. Isso aumentou drasticamente a taxa de detecção em comparação com os métodos visuais anteriores: Wolf sozinho descobriu 248 asteroides, começando com 323 Brucia, enquanto apenas um pouco mais de 300 haviam sido descobertos até aquele ponto. Era sabido que havia muitos mais, mas a maioria dos astrônomos não se preocupou com eles, alguns chamando-os de "vermes dos céus", uma frase atribuída de várias maneiras a Eduard Suess e Edmund Weiss. Mesmo um século depois, apenas alguns milhares de asteroides foram identificados, numerados e nomeados. Métodos manuais dos anos 1900 e relatórios modernos. Até 1998, os asteroides eram descobertos por um processo de quatro etapas. Primeiro, uma região do céu era fotografada por um telescópio de campo amplo, ou astrógrafo. Pares de fotos eram tiradas, normalmente com uma hora de intervalo. Vários pares podem ser feitos em uma série de dias. Em segundo lugar, os dois filmes ou placas da mesma região eram vistas sob um estereoscópio. Qualquer corpo em órbita ao redor do Sol se moveria ligeiramente entre os dois filmes. Sob o estereoscópio, a imagem do corpo parece flutuar ligeiramente acima do fundo das estrelas. Terceiro, uma vez que um corpo em movimento fosse identificado, sua localização seria medida com precisão usando um microscópio digitalizador. A localização seria medida em relação às localizações conhecidas das estrelas. Essas três primeiras etapas não constituem a descoberta de asteroides: o observador encontrou apenas uma aparição, que recebe uma designação provisória, composta pelo ano da descoberta, uma carta representando o meio mês da descoberta e, finalmente, uma letra e um número indicando o número sequencial da descoberta (exemplo: ). A última etapa da descoberta é enviar os locais e os horários das observações para o Minor Planet Center, onde os programas de computador determinam se uma aparição une aparições anteriores em uma única órbita. Se assim for, o objeto recebe um número de catálogo e o observador da primeira aparição com uma órbita calculada é declarado o descobridor, e recebe a honra de nomear o objeto sujeito à aprovação da União Astronômica Internacional. Métodos computadorizados. Há um interesse crescente na identificação de asteroides cujas órbitas cruzam as da Terra e que poderiam, com tempo suficiente, colidir com a Terra (veja asteroides cruzadores da Terra). Os três grupos mais importantes de asteroides próximos à Terra são Apolo, Amor e Aton. Várias estratégias de deflexão de asteroides foram propostas, já na década de 1960. O asteroide 433 Eros, próximo à Terra, já havia sido descoberto em 1898, e a década de 1930 trouxe uma enxurrada de objetos semelhantes. Em ordem de descoberta, eram: 1221 Amor, 1862 Apollo, 2101 Adonis e finalmente 69230 Hermes, que se aproximou de 0,005 UA da Terra em 1937. Os astrônomos começaram a perceber as possibilidades de impacto na Terra. Dois eventos nas décadas posteriores aumentaram o alarme: a crescente aceitação da hipótese de Alvarez de que um evento de impacto resultou na extinção do Cretáceo-Paleogeno e a observação de 1994 do cometa Shoemaker-Levy 9 colidindo com Júpiter. As Forças Armadas dos Estados Unidos também divulgaram a informação de que seus satélites militares, construídos para detectar explosões nucleares, detectaram centenas de impactos na atmosfera superior por objetos que variam de 1 a 10 metros de diâmetro. Todas essas considerações ajudaram a impulsionar o lançamento de pesquisas altamente eficientes que consistem em câmeras de dispositivo de carga acoplada (CCD) e computadores diretamente conectados a telescópios. Em 2011, estimava-se que 89% a 96% dos asteroides próximos à Terra com 1 quilômetro ou mais de diâmetro haviam sido descobertos. Uma lista de equipes que usam esses sistemas inclui: Em 29 de outubro de 2018, o sistema LINEAR sozinho descobriu 147 132 asteroides. Entre todas as pesquisas, 19 266 asteroides próximos à Terra foram descobertos, incluindo quase 900 com mais de 1 km de diâmetro. Terminologia. Tradicionalmente, pequenos corpos orbitando o Sol eram classificados como cometas, asteroides ou meteoroides, com qualquer coisa menor que 1 metro de diâmetro sendo chamada de meteoroide. O artigo de 1995 de Beech e Steel propôs uma definição de meteoroide incluindo limites de tamanho. O termo "asteroide", da palavra grega para "semelhante a uma estrela", nunca teve uma definição formal, com o termo mais amplo planeta menor sendo preferido pela União Astronômica Internacional (IAU). No entanto, após a descoberta de asteroides com menos de 10 metros de tamanho, o artigo de Rubin e Grossman de 2010 revisou a definição anterior de meteoroide para objetos entre 10 µm e 1 metro de tamanho, a fim de manter a distinção entre asteroides e meteoroides. Os menores asteroides descobertos (com base na magnitude absoluta "H") são com "H" = 33,2 e com "H" = 32,1 ambos com um tamanho estimado de cerca de 1 metro. Em 2006, o termo "corpo menor do Sistema Solar" também foi introduzido para abranger a maioria dos planetas menores e cometas. Outras línguas preferem "planetoide" (grego para "semelhante a planeta"), e este termo é ocasionalmente usado em inglês, especialmente para planetas menores maiores, como os planetas anões, bem como uma alternativa para asteroides, uma vez que não são semelhantes a estrelas. A palavra "planetesimal" tem um significado semelhante, mas se refere especificamente aos pequenos blocos de construção dos planetas que existiam quando o Sistema Solar estava se formando. O termo "planetule" foi cunhado pelo geólogo William Conybeare para descrever planetas menores, mas não é de uso comum. Os três maiores objetos no cinturão de asteroides, Ceres, 2 Palas e 4 Vesta, cresceram até o estágio de protoplanetas. Ceres é um planeta anão, o único no Sistema Solar interno. Quando encontrados, os asteroides eram vistos como uma classe de objetos distintos dos cometas, e não havia um termo unificado para os dois até que "corpo menor do Sistema Solar" foi cunhado em 2006. A principal diferença entre um asteroide e um cometa é que um cometa mostra uma coma devido à desgaseificação de gelos próximos à superfície pela radiação solar. Alguns objetos acabaram sendo listados em dupla porque foram inicialmente classificados como planetas menores, mas depois mostraram evidências de atividade cometária. Por outro lado, alguns (talvez todos) cometas acabam perdendo sua superfície de gelo volátil e se tornam semelhantes a asteroides. Outra distinção é que os cometas normalmente têm órbitas mais excêntricas do que a maioria dos asteroides; a maioria dos "asteroides" com órbitas notavelmente excêntricas são provavelmente cometas dormentes ou extintos. Por quase dois séculos, desde a descoberta de Ceres em 1801 até a descoberta do primeiro centauro, 2060 Quíron, em 1977, todos os asteroides conhecidos passaram a maior parte do tempo na órbita de Júpiter ou dentro dela, embora alguns como 944 Hidalgo tenham se aventurado muito além de Júpiter para parte de sua órbita. Aqueles localizados entre as órbitas de Marte e Júpiter foram conhecidos por muitos anos simplesmente como "Os Asteroides". Quando os astrônomos começaram a encontrar mais corpos menores que residiam permanentemente mais longe do que Júpiter, agora chamados de centauros, eles os numeraram entre os asteroides tradicionais, embora houvesse um debate sobre se eles deveriam ser considerados asteroides ou como um novo tipo de objeto. Então, quando o primeiro objeto transnetuniano (diferente de Plutão), 15760 Albion, foi descoberto em 1992, e especialmente quando um grande número de objetos semelhantes começou a aparecer, novos termos foram inventados para contornar o problema: Objeto do cinturão de Kuiper, objeto transnetuniano, objeto de disco disperso e assim por diante. Estes habitam os confins frios do Sistema Solar, onde os gelos permanecem sólidos e não se espera que corpos semelhantes a cometas exibam muita atividade cometária; se centauros ou objetos transnetunianos se aventurassem perto do Sol, seus gelos voláteis se sublimariam, e as abordagens tradicionais os classificariam como cometas e não como asteroides. O mais interno deles são os objetos do cinturão de Kuiper, chamados de "objetos", em parte para evitar a necessidade de classificá-los como asteroides ou cometas. Acredita-se que eles tenham uma composição predominantemente semelhante a um cometa, embora alguns possam ser mais semelhantes a asteroides. Além disso, a maioria não tem as órbitas altamente excêntricas associadas aos cometas, e as que foram descobertas até agora são maiores do que os núcleos de cometas tradicionais. (A nuvem de Oort, muito mais distante, é considerada o principal reservatório de cometas dormentes). Outras observações recentes, como a análise da poeira cometária coletada pela sonda espacial "Stardust", estão cada vez mais obscurecendo a distinção entre cometas e asteroides, sugerindo "um continuum entre asteroides e cometas" em vez de uma linha divisória nítida. Os planetas menores além da órbita de Júpiter às vezes também são chamados de "asteroides", especialmente em apresentações populares. No entanto, está se tornando cada vez mais comum que o termo "asteroide" seja restrito a planetas menores do Sistema Solar interno. Portanto, este artigo se restringirá em sua maior parte aos asteroides clássicos: objetos do cinturão de asteroides, troianos de Júpiter e objetos próximos à Terra. Quando a IAU introduziu a classe de corpos menores do Sistema Solar em 2006 para incluir a maioria dos objetos anteriormente classificados como planetas e cometas menores, eles criaram a classe de planetas anões para os maiores planetas menores, aqueles que têm massa suficiente para se tornarem elipsoidais sob sua própria gravidade. De acordo com a IAU, "o termo 'planeta menor' ainda pode ser usado, mas geralmente, o termo 'corpo menor do Sistema Solar' será o preferido". Atualmente, apenas o maior objeto no cinturão de asteroides, Ceres, com cerca de 975 km de diâmetro, foi colocado na categoria de planeta anão. Formação. Pensa-se que os planetesimais no cinturão de asteroides evoluíram muito como o resto da nebulosa solar até Júpiter se aproximar da sua massa atual, altura em que a excitação de ressonâncias orbitais com Júpiter ejetou mais de 99% dos planetesimais no cinturão. Simulações e uma descontinuidade na taxa de rotação e propriedades espectrais sugerem que asteroides maiores que aproximadamente 120 km de diâmetro se acumularam durante aquela era inicial, enquanto corpos menores são fragmentos de colisões entre asteroides durante ou após a perturbação de Júpiter. Ceres e 4 Vesta cresceram o suficiente para derreter e se diferenciar, com elementos metálicos pesados afundando no núcleo, deixando minerais rochosos na crosta. No modelo de Nice, muitos objetos do cinturão de Kuiper são capturados no cinturão de asteroides externo, a distâncias maiores que 2,6 UA. A maioria foi ejetada posteriormente por Júpiter, mas os que permaneceram podem ser os asteroides tipo D e possivelmente incluem Ceres. Distribuição dentro do Sistema Solar. Vários grupos dinâmicos de asteroides foram descobertos orbitando no Sistema Solar interno. Suas órbitas são perturbadas pela gravidade de outros corpos do Sistema Solar e pelo Efeito de Yarkovsky. Populações significativas incluem: Cinturão de asteroides. A maioria dos asteroides conhecidos orbita dentro do cinturão de asteroides entre as órbitas de Marte e Júpiter, geralmente em órbitas de excentricidade relativamente baixa (ou seja, não muito alongadas). Estima-se que este cinturão contenha entre 1,1 e 1,9 milhões de asteroides maiores que 1 km de diâmetro, e milhões de outros menores. Esses asteroides podem ser remanescentes do disco protoplanetário e, nesta região, o acréscimo de planetesimais em planetas durante o período de formação do Sistema Solar foi evitado por grandes perturbações gravitacionais de Júpiter. Troianos. Troianos são populações que compartilham uma órbita com um planeta ou satélite natural maior, mas não colidem com ele porque orbitam em um dos dois pontos de estabilidade Lagrangeanos, L4 e L5, que estão 60° à frente e atrás do corpo maior. A população mais significativa de troianos são os Troianos de Júpiter. Embora menos troianos de Júpiter tenham sido descobertos (em 2010), acredita-se que eles sejam tão numerosos quanto os asteroides no cinturão de asteroides. Troianos foram encontrados nas órbitas de outros planetas, incluindo Vênus, Terra, Marte, Urano e Netuno. Asteroides próximos da Terra. Os asteroides próximos da Terra (NEA), são asteroides que têm órbitas que passam perto da Terra. Os asteroides que realmente cruzam o caminho orbital da Terra são conhecidos como "geocruzadores". Em junho de 2016, 14 464 asteroides próximos da Terra são conhecidos e aproximadamente 900 a 1 000 têm um diâmetro de mais de 1 quilômetro. Características. Distribuição de tamanho. Os asteroides variam muito em tamanho, de quase 1 000 km para os maiores até rochas de apenas 1 metro de diâmetro. Os três maiores são muito parecidos com planetas em miniatura: eles são aproximadamente esféricos, têm pelo menos interiores parcialmente diferenciados, e são considerados protoplanetas sobreviventes. A grande maioria, entretanto, é muito menor e de formato irregular; são considerados planetesimais danificados ou fragmentos de corpos maiores. O planeta anão Ceres é de longe o maior asteroide, com um diâmetro de 940 km. Os próximos maiores são 4 Vesta e 2 Palas, ambos com diâmetros de pouco mais de 500 km. 4 Vesta é o único asteroide do cinturão principal que pode, ocasionalmente, ser visível a olho nu. Em algumas raras ocasiões, um asteroide próximo da Terra pode se tornar rapidamente visível sem ajuda técnica; veja 99942 Apophis. A massa de todos os objetos do cinturão de asteroides, situados entre as órbitas de Marte e Júpiter, é estimada na faixa de (2,8–3,2)×1021 kg, cerca de 4% da massa da Lua. Destes, Ceres compreende 0,938×1021 kg, cerca de um terço do total. Adicionando os próximos três objetos de maior massa, 4 Vesta (9%), 2 Palas (7%) e 10 Hígia (3%), esse número chega à metade, enquanto os três asteroides de maior massa depois disso, 511 Davida (1,2%), 704 Interamnia (1%) e 52 Europa (0,9%), constituem apenas outros 3%. O número de asteroides aumenta rapidamente à medida que suas massas individuais diminuem. O número de asteroides diminui acentuadamente com o tamanho. Embora isso geralmente siga uma lei de potência, existem 'saliências' em 5 km e 100 km, onde mais asteroides do que o esperado de uma distribuição logarítmica são encontrados. Maiores asteroides. Embora sua localização no cinturão de asteroides os exclua do status de planeta, os três maiores objetos, Ceres, 4 Vesta e 2 Palas, são protoplanetas intactos que compartilham muitas características comuns aos planetas e são atípicos em comparação com a maioria dos asteroides de formato irregular. O quarto maior asteroide, 10 Hígia, parece quase esférico, embora possa ter um interior indiferenciado, como a maioria dos asteroides. Entre eles, os quatro maiores asteroides constituem metade da massa do cinturão de asteroides. Ceres é o único asteroide com uma forma totalmente elipsoidal e, portanto, o único que é um planeta anão. Ele tem uma magnitude absoluta muito maior do que os outros asteroides, em torno de 3,32, e pode possuir uma camada superficial de gelo. Como os planetas, Ceres é diferenciado: tem uma crosta, um manto e um núcleo. Nenhum meteorito de Ceres foi encontrado na Terra. 4 Vesta também tem um interior diferenciado, embora se formou dentro da linha do gelo do Sistema Solar e, portanto, é desprovido de água; sua composição é principalmente de rocha basáltica com minerais como a olivina. Além da grande cratera em seu pólo sul, Rheasilvia, 4 Vesta também tem uma forma elipsoidal. 4 Vesta é o corpo-pai da Família Vesta e outros asteroides tipo V, e é a fonte dos meteoritos HED, que constituem 5% de todos os meteoritos na Terra. 2 Palas é incomum porque, como Urano, gira de lado, com seu eixo de rotação inclinado em ângulos elevados em relação ao plano orbital. Sua composição é semelhante à de Ceres: rico em carbono e silício, e talvez parcialmente diferenciado. 2 Palas é o corpo-pai da Família Palas de asteroides. 10 Hígia é o maior asteroide carbonáceo e, ao contrário dos outros asteroides maiores, fica relativamente próximo ao plano da eclíptica. É o maior membro e presumível corpo-pai da Família Hígia de asteroides. Como não há cratera suficientemente grande na superfície para ser a fonte dessa família, como há em 4 Vesta, pensa-se que 10 Hígia pode ter sido completamente interrompida na colisão que formou a Família Hígia e recoalesceu depois de perder um pouco menos de 2% de sua massa. As observações feitas com o gerador de imagens VLT-SPHERE do Very Large Telescope em 2017 e 2018, e anunciadas no final de 2019, revelaram que 10 Hígia tem uma forma quase esférica, o que é consistente com estar em equilíbrio hidrostático (e, portanto, um planeta anão), ou anteriormente em equilíbrio hidrostático, ou sendo interrompido e recoalescente. Rotação. As medições das taxas de rotação de grandes asteroides no cinturão de asteroides mostram que existe um limite superior. Poucos asteroides com diâmetro maior que 100 metros têm um período de rotação menor que 2,2 horas. Para asteroides girando mais rápido do que aproximadamente esta taxa, a força inercial na superfície é maior do que a força gravitacional, então qualquer material de superfície solto seria lançado para fora. No entanto, um objeto sólido deve ser capaz de girar muito mais rapidamente. Isso sugere que a maioria dos asteroides com diâmetro superior a 100 metros são pilhas de entulho formadas pelo acúmulo de entulho após colisões entre asteroides. Composição. A composição física dos asteroides é variada e, na maioria dos casos, mal compreendida. Ceres parece ser composto de um núcleo rochoso coberto por um manto de gelo, onde 4 Vesta é pensado para ter um núcleo de níquel-ferro, manto de olivina e crosta basáltica. 10 Hígia, no entanto, que parece ter uma composição uniformemente primitiva de condrito carbonáceo, é considerado o maior asteroide indiferenciado. Acredita-se que a maioria dos asteroides menores sejam pilhas de escombros mantidas juntas pela gravidade, embora os maiores provavelmente sejam sólidos. Alguns asteroides têm luas ou são binários em co-órbita: Pilhas de entulho, luas, binários e famílias de asteroides espalhadas são considerados resultados de colisões que interromperam um asteroide pai ou, possivelmente, um planeta. Os asteroides contêm traços de aminoácidos e outros compostos orgânicos, e alguns especulam que os impactos dos asteroides podem ter semeado a Terra primitiva com os produtos químicos necessários para iniciar a vida, ou podem até mesmo ter trazido a própria vida para a Terra "(veja também Panspermia)". Em agosto de 2011, um relatório, baseado em estudos da NASA com meteoritos encontrados na Terra, foi publicado sugerindo que componentes de DNA e RNA (adenina, guanina e moléculas orgânicas relacionadas) podem ter sido formados em asteroides e cometas no espaço sideral. A composição é calculada a partir de três fontes primárias: albedo, espectro de superfície e densidade. A densidade só pode ser determinado com precisão observando as órbitas das luas que o asteroide pode ter. Até agora, cada asteroide com luas revelou-se uma pilha de entulho, um conglomerado solto de rocha e metal que pode ser metade do espaço vazio por volume. Os asteroides investigados têm até 280 km de diâmetro e incluem 121 Hermione (268×186×183 km) e 87 Sylvia (384×262×232 km). Apenas meia dúzia de asteroides são maiores do que 87 Sylvia, embora nenhum deles tenha luas; no entanto, alguns asteroides menores são considerados mais massivos, sugerindo que eles podem não ter sido interrompidos e, de fato, 511 Davida, do mesmo tamanho que 87 Sylvia com erro de medição, é estimado em duas vezes e meia mais massivo, embora isso seja altamente incerto. O fato de que grandes asteroides como 87 Sylvia podem ser pilhas de entulho, presumivelmente devido a impactos disrruptivos, tem consequências importantes para a formação do Sistema Solar: Simulações de computador de colisões envolvendo corpos sólidos mostram-nos destruindo uns aos outros com a mesma frequência que se fundindo, mas as pilhas de entulho em colisão têm maior probabilidade de se fundir. Isso significa que os núcleos dos planetas podem ter se formado com relativa rapidez. Em 7 de outubro de 2009, a presença de gelo de água foi confirmada na superfície de 24 Themis usando o NASA Infrared Telescope Facility. A superfície do asteroide parece completamente coberta de gelo. Como essa camada de gelo está sublimando, ela pode estar sendo reabastecida por um reservatório de gelo sob a superfície. Compostos orgânicos também foram detectados na superfície. Os cientistas levantam a hipótese de que parte da primeira água trazida para a Terra foi entregue por impactos de asteroides após a colisão que produziu a Lua. A presença de gelo em 24 Themis apoia essa teoria. Em outubro de 2013, a água foi detectada em um corpo extra-solar pela primeira vez, em um asteroide orbitando a anã branca GD 61. Em 22 de janeiro de 2014, cientistas da Agência Espacial Europeia (ESA) relataram a detecção, pela primeira vez definitiva, de vapor de água em Ceres, o maior objeto no cinturão de asteroides. A detecção foi feita usando as habilidades de infravermelho distante do Observatório Espacial Herschel. A descoberta é inesperada porque os cometas, e não asteroides, são normalmente considerados "jatos e plumas". De acordo com um dos cientistas, "as linhas estão se tornando cada vez mais difusas entre cometas e asteroides". Em maio de 2016, dados significativos de asteroides decorrentes das missões Wide-field Infrared Survey Explorer e NEOWISE foram questionados. Embora as primeiras críticas originais não tenham sido submetidas à revisão por pares, um estudo revisado por pares mais recente foi subsequentemente publicado. Em novembro de 2019, os cientistas relataram a detecção, pela primeira vez, de moléculas de açúcar, incluindo ribose, em meteoritos, sugerindo que processos químicos em asteroides podem produzir alguns bioingredientes fundamentalmente essenciais para a vida e apoiando a noção de um mundo de RNA antes de uma origem da vida baseada no DNA na Terra e, possivelmente, também, a noção de panspermia. Foi demonstrado em 2019 que o Acfer 049, um meteorito descoberto na Argélia em 1990, contém fósseis de gelo dentro dele, a primeira evidência direta de gelo de água na composição dos asteroides. Características de superfície. A maioria dos asteroides fora dos "quatro grandes" (1 Ceres, 2 Palas, 4 Vesta e 10 Hígia) são provavelmente semelhantes em aparência, embora em formato irregular. 253 Mathilde de 50 km é uma pilha de entulho saturada com crateras com diâmetros do tamanho do raio do asteroide e observações baseadas na Terra, 511 Davida de 300 km, um dos maiores asteroides depois dos quatro grandes, revelam um perfil angular semelhante, sugerindo que é também saturado com crateras do tamanho de um raio. Asteroides de tamanho médio como 253 Mathilde e 243 Ida que foram observados de perto também revelam um regolito profundo cobrindo a superfície. Dos quatro grandes, 2 Palas e 10 Hígia são praticamente desconhecidos. 4 Vesta tem fraturas por compressão circundando uma cratera do tamanho de um raio em seu polo sul, mas, fora isso, é um esferoide. 1 Ceres parece bastante diferente nos vislumbres que o Telescópio Espacial Hubble forneceu, com características de superfície que provavelmente não são devido a crateras simples e bacias de impacto, mas os detalhes serão expandidos com a sonda espacial "Dawn", que entrou na órbita de 1 Ceres em 6 de março de 2015. Cor. Os asteroides tornam-se mais escuros e vermelhos com a idade devido a erosão espacial. No entanto, as evidências sugerem que a maior parte da mudança de cor ocorre rapidamente, nos primeiros 100 000 anos, limitando a utilidade da medição espectral para determinar a idade dos asteroides. Classificação. Os asteroides são comumente classificados de acordo com dois critérios: as características de suas órbitas e as características de seu espectro de refletância. Classificação orbital. Muitos asteroides foram colocados em grupos e famílias com base em suas características orbitais. Além das divisões mais amplas, é comum nomear um grupo de asteroides com o nome do primeiro membro desse grupo a ser descoberto. Os grupos são associações dinâmicas relativamente frouxas, enquanto as famílias são mais estreitas e resultam da divisão catastrófica de um grande asteroide pai em algum momento no passado. As famílias são mais comuns e mais fáceis de identificar dentro do cinturão de asteroides, mas várias famílias pequenas foram relatadas entre os Troianos de Júpiter. As famílias do cinturão principal foram reconhecidas pela primeira vez por Kiyotsugu Hirayama em 1918 e costumam ser chamadas de Família Hirayama em sua homenagem. Cerca de 30-35% dos corpos no cinturão de asteroides pertencem a famílias dinâmicas, cada uma considerada ter uma origem comum em uma colisão anterior entre asteroides. Uma família também foi associada ao planeta anão plutoide Haumea. Quase-satélites e objetos em ferradura. Alguns asteroides têm órbitas de ferradura incomuns que são co-orbitais com a Terra ou algum outro planeta. Os exemplos são 3753 Cruithne e . A primeira instância desse tipo de arranjo orbital foi descoberta entre as luas de Saturno, Epimeteu e Jano. Às vezes, esses objetos em ferradura tornam-se temporariamente quase-satélites por algumas décadas ou algumas centenas de anos, antes de retornar ao seu status anterior. Tanto a Terra quanto Vênus são conhecidos por terem quase-satélites. Esses objetos, se associados com a Terra ou Vênus ou mesmo hipoteticamente Mercúrio, são uma classe especial de asteroides Aton. No entanto, esses objetos também podem ser associados a planetas externos. Classificação espectral. Em 1975, um sistema taxonômico de asteroide baseado na cor, albedo e forma espectral foi desenvolvido por Clark R. Chapman, David Morrison e Ben Zellner. Acredita-se que essas propriedades correspondam à composição do material da superfície do asteroide. O sistema de classificação original tinha três categorias: Tipo C para objetos carbonáceos escuros (75% dos asteroides conhecidos), tipo S para objetos pedregosos (silicáceos) (17% dos asteroides conhecidos) e tipo U para aqueles que não se encaixam nos tipo C ou tipo S. Esta classificação foi expandida para incluir muitos outros tipos de asteroides. O número de tipos continua a crescer à medida que mais asteroides são estudados. As duas taxonomias mais amplamente usadas agora são a classificação de Tholen e a classificação SMASS. O primeiro foi proposto em 1984 por David J. Tholen e foi baseado em dados coletados de uma pesquisa de asteroides de oito cores realizada na década de 1980. Isso resultou em 14 categorias de asteroides. Em 2002, o Small Main-Belt Asteroid Spectroscopic Survey resultou em uma versão modificada da taxonomia de Tholen com 24 tipos diferentes. Ambos os sistemas têm 3 categorias amplas de asteroides C, S e X, onde X consiste principalmente de asteroides metálicos, como o tipo M. Existem também várias classes menores. A proporção de asteroides conhecidos que caem nos vários tipos espectrais não reflete necessariamente a proporção de todos os asteroides desse tipo; alguns tipos são mais fáceis de detectar do que outros, enviesando os totais. Problemas. Originalmente, as designações espectrais eram baseadas em inferências da composição de um asteroide. No entanto, a correspondência entre a classe espectral e a composição nem sempre é muito boa, e uma variedade de classificações está em uso. Isso gerou uma confusão significativa. Embora os asteroides de diferentes classificações espectrais sejam provavelmente compostos de materiais diferentes, não há garantias de que os asteroides da mesma classe taxonômica sejam compostos dos mesmos (ou semelhantes) materiais. Nomenclatura. Um asteroide recém-descoberto recebe uma designação provisória (como ) que consiste no ano da descoberta e um código alfanumérico que indica o meio-mês da descoberta e a sequência dentro desse meio-mês. Uma vez que a órbita de um asteroide foi confirmada, ele recebe um número e, posteriormente, também pode receber um nome (por exemplo, 433 Eros). A convenção de nomenclatura formal usa parênteses em torno do número, por exemplo, (433) Eros, mas deixar cair os parênteses é bastante comum. Informalmente, é comum descartar o número por completo ou depois da primeira menção quando um nome é repetido no texto corrido. Além disso, os nomes podem ser propostos pelo descobridor do asteroide, dentro das diretrizes estabelecidas pela União Astronômica Internacional. Símbolos. Os primeiros asteroides a serem descobertos foram atribuídos a símbolos icônicos como os tradicionalmente usados para designar os planetas. Em 1855, havia duas dúzias de símbolos de asteroides, que frequentemente ocorriam em múltiplas variantes. Em 1851, após a descoberta do 15.º asteroide (15 Eunomia), Johann Franz Encke fez uma grande mudança na edição de 1854 do "Berliner Astronomisches Jahrbuch" (BAJ, "Berlin Astronomical Yearbook"). Ele introduziu um disco (círculo), um símbolo tradicional de uma estrela, como o símbolo genérico de um asteroide. O círculo foi então numerado em ordem de descoberta para indicar um asteroide específico (embora ele tenha atribuído ① ao 5.º asteroide, 5 Astreia, enquanto continuava a designar os primeiros quatro apenas com seus símbolos icônicos existentes). A convenção do círculo numerado foi rapidamente adotada pelos astrônomos, e o próximo asteroide a ser descoberto (16 Psique, em 1852) foi o primeiro a ser designado dessa forma na época de sua descoberta. No entanto, 16 Psique também recebeu um símbolo icônico, assim como alguns outros asteroides descobertos nos anos seguintes (veja o gráfico acima). 20 Massalia foi o primeiro asteroide a que não foi atribuído um símbolo icônico e nenhum símbolo icônico foi criado após a descoberta de 37 Fides em 1855. Naquele ano, o número de 5 Astreia foi aumentado para ⑤, mas os primeiros quatro asteroides, 1 Ceres a 4 Vesta, não foram listados por seus números até a edição de 1867. O círculo logo foi abreviado para um par de parênteses, que eram mais fáceis de escrever e às vezes omitidos por completo nas décadas seguintes, levando à convenção moderna. Exploração. Até a era das viagens espaciais, os objetos no cinturão de asteroides eram apenas pontinhos de luz até mesmo nos maiores telescópios, e suas formas e terreno permaneceram um mistério. Os melhores telescópios terrestres modernos e o Telescópio Espacial Hubble em órbita da Terra podem resolver uma pequena quantidade de detalhes nas superfícies dos maiores asteroides, mas mesmo estes permanecem pouco mais do que manchas difusas. Informações limitadas sobre as formas e composições dos asteroides podem ser inferidas de suas curvas de luz (sua variação no brilho conforme eles giram) e suas propriedades espectrais, e os tamanhos de asteroides podem ser estimados cronometrando os comprimentos de ocultação de estrelas (quando um asteroide passa diretamente em frente de uma estrela). As imagens de radar podem fornecer boas informações sobre as formas dos asteroides e parâmetros orbitais e rotacionais, especialmente para asteroides próximos da Terra. Em termos de delta-v e requisitos de propelente, objetos próximos da Terra (NEO) são mais facilmente acessíveis do que a Lua. As primeiras fotos em close-up de objetos semelhantes a asteroides foram tiradas em 1971, quando a sonda espacial "Mariner 9" fotografou Fobos e Deimos, as duas pequenas luas de Marte, que provavelmente são asteroides capturados. Essas imagens revelaram as formas irregulares de batata da maioria dos asteroides, assim como as imagens posteriores das sondas Voyager das pequenas luas dos gigantes gasosos. O primeiro asteroide verdadeiro a ser fotografado em close-up foi 951 Gaspra em 1991, seguido em 1993 por 243 Ida e sua lua Dactyl, todos os quais foram fotografados pela sonda "Galileo" a caminho de Júpiter. A primeira sonda de asteroide dedicada foi "NEAR Shoemaker", que fotografou 253 Mathilde em 1997, antes de entrar em órbita por volta de 433 Eros, finalmente pousando em sua superfície em 2001. Outros asteroides brevemente visitados por sondas espaciais a caminho de outros destinos incluem 9969 Braille (pela "Deep Space 1" em 1999) e 5535 Annefrank (pela "Stardust" em 2002). De setembro a novembro de 2005, a sonda japonesa "Hayabusa" estudou 25143 Itokawa em detalhes e foi atormentada por dificuldades, mas retornou amostras de sua superfície para a Terra em 13 de junho de 2010. A sonda europeia "Rosetta" (lançada em 2004) voou por 2867 Šteins em 2008 e 21 Lutetia, o terceiro maior asteroide visitado até à data, em 2010. Em setembro de 2007, a NASA lançou a sonda "Dawn", que orbitou 4 Vesta de julho de 2011 a setembro de 2012, e está orbitando o planeta anão 1 Ceres desde 2015. 4 Vesta é o segundo maior asteroide visitado até à data. Em 13 de dezembro de 2012, o orbitador lunar chinês "Chang'e 2" voou dentro de 3,2 km do asteroide 4179 Toutatis em uma missão estendida. A Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA) lançou a sonda "Hayabusa2" em dezembro de 2014 e planeja rotorno de amostras de 162173 Ryugu em dezembro de 2020. Em junho de 2018, o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia dos Estados Unidos alertou que os Estados Unidos não está preparada para um evento de impacto de asteroide e desenvolveu e lançou o "National Near-Earth Object Preparedness Strategy Action Plan" (Plano de Ação da Estratégia Nacional de Preparação de Objetos Próximos da Terra) para melhor se preparar. Em setembro de 2016, a NASA lançou a missão de retorno de amostra OSIRIS-REx ao asteroide 101955 Bennu, que alcançou em dezembro de 2018. Em junho de 2019, a sonda está em órbita ao redor do asteroide. Missões planejadas e futuras. No início de 2013, a NASA anunciou os estágios de planejamento de uma missão para capturar um asteroide próximo da Terra e movê-lo para a órbita lunar, onde possivelmente poderia ser visitado por astronautas e posteriormente impactando na Lua. Em 19 de junho de 2014, a NASA relatou que o asteroide 2011 MD era o principal candidato para ser capturado por uma missão robótica, talvez no início de 2020. Foi sugerido que os asteroides podem ser usados como uma fonte de materiais que podem ser raros ou esgotados na Terra (mineração de asteroides), ou materiais para a construção de habitats espaciais (veja Colonização dos asteroides). Materiais que são pesados e caros para serem lançados da Terra podem algum dia ser extraídos de asteroides e usados para fabricação e construção espacial. No Programa Discovery dos Estados Unidos, a proposta da sonda espacial "Psyche" para 16 Psique e "Lucy" para os troianos de Júpiter chegaram ao estágio semifinalista de seleção de missão. Em janeiro de 2017, as missões "Lucy" e "Psyche" foram selecionadas como missões 13 e 14, respectivamente do Programa Discovery da NASA. Localização de Ceres (dentro do cinturão de asteroides) em comparação com outros corpos do Sistema Solar Ficção. Asteroides e o cinturão de asteroides são um grampo das histórias de ficção científica. Os asteroides desempenham vários papéis potenciais na ficção científica: como lugares que os seres humanos podem colonizar, recursos para extrair minerais, perigos encontrados por espaçonaves viajando entre dois outros pontos e como uma ameaça à vida na Terra ou em outros planetas habitados, planetas anões e satélites naturais por impacto potencial.
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Ave (desambiguação)
Ave (desambiguação)
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Alto Trás-os-Montes
Alto Trás-os-Montes Localização do AltoTrás-os-Montes Alto Trás-os-Montes era uma sub-região estatística (NUTS III) portuguesa que integrou a Região Norte. Hoje encontra-se dividida entre as novas sub-regiões do Alto Tâmega e Terras de Trás-os-Montes. Limitava a norte e a leste com a Espanha, a sul com o Douro e a oeste com as antigas sub-regiões do Tâmega, Ave e Cávado. Ocupava uma área total de 8 171,6 km², em 2011 tinha . Incluia, desde 2008 até à sua extinção em 2013, 15 concelhos: Os principais núcleos urbanos eram as cidades de Bragança, Chaves e Mirandela. Evolução. Em 2008 o município de Vila Flor da NUTS III do Douro passou a integrar a unidade territorial do Alto Trás-os-Montes.
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Alentejo Central
Alentejo Central O Alentejo Central é uma sub-região portuguesa situada no sudeste do país, pertencendo à região do Alentejo. Tem uma extensão total de 7.393 km2, 152.511 habitantes em 2021 e uma denisdade populacional de 22 habitantes por km2. Está compostada por 14 municípios e 69 freguesias, sendo a cidade de Évora a cidade administrativa e o principal núcleo urbano da sub-região. Com 43.652 habitantes na sua área urbana e 53.591 habitantes em todo o município, é a maior cidade e o maior município do Alentejo Central, sendo limitada a noroeste com o Lezíria do Tejo, a norte com o Alto Alentejo, a leste com a região espanhola da Estremadura, a sul com o Baixo Alentejo, a sudoeste com o Alentejo Litoral e a oeste com a Área Metropolitana de Lisboa. Divisões. A sub-região é composta por 14 municípios, 69 freguesias e seis cidades: Municípios. O Alentejo Central divida-se nos seguintes 14 municípios: Freguesias. O Alentejo Central divida-se nas seguintes 69 freguesias: Cidades. O Alentejo Central compreende as seguintes seis cidades:
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Altifalante
Altifalante Um é um dispositivo transdutor que converte um sinal elétrico em ondas sonoras correspondentes. O tipo de alto-falante mais utilizado na atualidade é o alto-falante dinâmico, inventado em 1925 por e . O alto-falante dinâmico opera no mesmo princípio básico de um microfone dinâmico, mas ao contrário, para produzir som a partir de um sinal elétrico. São divididos em faixas de frequência de trabalho em tweeter (agudos), mid-range ou "squawker" (médios), extended range (médios e graves) e woofer (graves). Alto-falantes do tipo full-range (gama cheia) são capazes de reproduzir todas as frequencias de sons audíveis Há muitas décadas é um produto usado amplamente no mundo nos mais variados setores e a um custo relativamente acessível. Também dá a vantagem de poder ser recondicionado, mesmo por amadores, já que é uma peça um tanto frágil. Pode rasgar o cone ou queimar. História. Até os anos 20 do século XX existiam somente os fonógrafos mecânicos. Estes eram dispositivos a corda que consistiam de um cone (corneta acústica) e, na base deste, um diafragma que vibrava quando a agulha passava pelos sulcos dos discos. A amplificação era mecânica, e não tinham potência sonora suficiente para serem ouvidos em grandes ambientes. Com o advento da válvula termoiônica, houve a necessidade de se criar um dispositivo capaz de transformar os sinais elétricos amplificados pelas válvulas em sinais sonoros; estes dispositivos são os alto-falantes ou altifalantes, que surgiram em meados de 1924, inicialmente para os fonógrafos elétricos, logo em seguida para os receptores de rádio. Os fonógrafos elétricos já possuíam maior potência, pois a agulha fonocaptora gerava uma vibração equivalente ao som gravado nos sulcos do disco, vibração esta que era convertida em sinais elétricos, amplificados por um transformador de tensão que fazia o diafragma de um alto-falante vibrar, porém com maior volume que o som gerado originalmente pelo fonocaptor mecânico. Já os fonógrafos eletrônicos possuíam, além de maior potência, maior qualidade sonora, pois como nos fonógrafos mecânico e elétrico, as vibrações dos sulcos do disco iam para a agulha que era ligada a um diafragma, porém este diafragma transformava através de um cone móvel sobre uma bobina dentro de um ímã minúsculo, a vibração mecânica em ondas elétricas, o sinal era transportado até uma válvula eletrônica pré amplificadora, onde ganhava maior potência, para em seguida ir para uma segunda válvula, agora amplificadora. A válvula de potência entregava o sinal elétrico muitas vezes amplificado a um transformador de potência, que induzia a tensão elétrica na bobina central do alto-falante, presa a um cone de papel. A bobina estava inserida num ímã potente, e, dentro de seu campo magnético, quando a tensão gerava uma corrente elétrica, a bobina vibrava na mesma freqüência da agulha fonocaptora, porém com maior intensidade, transferindo esta vibração para o cone de papel, fazendo o ar vibrar e consequentemente gerando o som audível à plena potência. Surgiu, assim, o alto-falante de bobina móvel, desenvolvido pelos norte-americanos em 1924 por Chester Rice e Edward Kellogg. A simplicidade de sua construção mecânica e a boa qualidade de reprodução sonora possibilitadas pelo novo dispositivo fizeram com que ele permanecesse praticamente inalterado até hoje. Uma curiosidade é que muitos escrevem "auto-falante", um erro. É uma peça passiva(recebe sinal) e nao automática. Daí ser um alto-falante,que toca ou "fala" alto. Funcionamento. No alto-falante ocorre a transformação inversa àquela do microfone: a corrente elétrica é transformada em vibrações mecânicas do ar, reconstituindo o som inicial. Para tanto, é necessário o uso de uma bobina, um diafragma (um cone circular ou elíptico, geralmente de papelão ou polipropileno), um ímã permanente (ou um eletroímã) e uma suspensão chamada centragem. O diafragma fica preso à carcaça de metal por meio de um sistema de suspensão de borracha ou espuma localizado ao redor de sua borda externa. Na parte central do cone fica a bobina, posicionada entre os pólos de um ímã permanente e em suspensão pela centragem(aranha), um disco de tecido ondulado grosso coberto com resina que com a borda do cone faz o trabalho da suspensão,da vibração. Liga-se o enrolamento da bobina aos fios de saída do amplificador. A corrente elétrica nos condutores (fios), induz um campo magnético na bobina que interage com o campo natural do ímã permanente, criando uma reação de atração ou repulsão - conseqüentemente gerando o movimento do diafragma. Esse deslocamento cria uma perturbação ritmada no ar (onda sonora). Em termos de qualidade sonora vale destacar que o falante tem seu som mais otimizado quando associado a uma caixa acústica ou espaço fechado que o envolva. Porquê aí se terá a acústica necessária,uma pressão aérea que fará o som mais forte e bonito. Não é errado dizer,tecnicamente, que um falante sem caixa/compartimento esteja incompleto. Tipos de alto-falantes:
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Açores
Açores Os Açores ou Região Autónoma dos Açores é uma região de Portugal. É um arquipélago situado no Oceano Atlântico, tendo habitantes (censo de 2021), sendo a sétima região mais populosa do país, com uma densidade populacional de , sendo a quarta maior área urbana do país, e uma área total de , sendo a sexta região mais extensa do país. É uma das sete regiões de Portugal, constituída por 155 freguesias, compreendendo em 19 municípios e sendo no mesmo tempo constituída pela mesma e única subregião, tendo o mesmo nome. O Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma dos Açores é um dos dois governos regionais autónomos nacionais, que coordena as políticas da região. História. Com quase seis séculos de presença humana continuada, os Açores granjearam um lugar importante na História de Portugal e na história do Atlântico: constituíram-se em escala para as expedições dos Descobrimentos e para naus da chamada Carreira da Índia, das frotas da prata, e do Brasil; contribuíram para a conquista e manutenção das praças portuguesas do Norte de África; quando da crise de sucessão de 1580 e das Guerras Liberais (1828–1834) constituíram-se em baluartes da resistência; durante as duas Guerras Mundiais, em apoio estratégico vital para as forças Aliadas, mantendo-se, até aos nossos dias, num centro de comunicações e apoio à aviação militar e comercial. O descobrimento do arquipélago dos Açores, tal como o da Madeira, é uma das questões mais controversas da história dos Descobrimentos. Entre as várias teorias sobre este facto, algumas assentam na apreciação de vários mapas genoveses produzidos desde 1351, os quais levam os historiadores a afirmar que já se conheciam aquelas ilhas aquando do regresso das expedições às ilhas Canárias realizadas cerca de 1340–1345, no reinado de Afonso IV de Portugal. Outras referem que o descobrimento das primeiras ilhas (São Miguel, Santa Maria, Terceira) foi efectuado por marinheiros ao serviço do Infante D. Henrique, embora não haja qualquer documento escrito que por si confirme e comprove tal facto. A apoiar esta versão existe apenas um conjunto de escritos posteriores, baseados na tradição oral, que se criou na primeira metade do . Algumas teses mais arrojadas consideram, no entanto, que a descoberta das primeiras ilhas ocorreu já ao tempo de Afonso IV de Portugal e que as viagens feitas no tempo do Infante D. Henrique não passaram de meros reconhecimentos. Adicionalmente, alegadamente, foram recentemente descobertos templos escavados nas rochas datados do , de possível autoria cartaginesa. Estas alegadas descobertas estão a ser contestadas por especialistas. O que se sabe concretamente é que Gonçalo Velho chegou à ilha de Santa Maria em 1431, decorrendo nos anos seguintes o (re)descobrimento — ou reconhecimento — das restantes ilhas do arquipélago dos Açores, no sentido de progressão de leste para oeste. Uma carta do Infante D. Henrique, datada de 2 de Julho de 1439 e dirigida ao seu irmão D. Pedro, é a primeira referência segura sobre a exploração do arquipélago. Nesta altura, as ilhas das Flores e do Corvo ainda não tinham sido descobertas, o que aconteceria apenas cerca de 1450, por obra de Diogo de Teive. Entretanto, o Infante D. Henrique, com o apoio da sua irmã D. Isabel de Portugal, Duquesa da Borgonha, mandou povoar a ilha de Santa Maria. Os portugueses começaram a povoar as ilhas por volta 1432, oriundos principalmente do Algarve, do Alentejo, da Estremadura e do Minho, tendo-se registado, em seguida, o ingresso de flamengos, bretões e outros europeus e norte-africanos. Desde logo e dada a necessidade de defesa das pessoas, da manutenção de uma posição estratégica portuguesa no meio do Atlântico e da imensa riqueza que por esta terra passava vinda do Império Português e mais tarde também do Império Espanhol, as ilhas açorianas foram fortemente fortificadas praticamente desde o início do povoamento. Assim encontra-se nas ilhas 161 infra-estruturas militares entre castelos, fortalezas, fortes, redutos e trincheiras, distribuídas da seguinte forma: 78 na Terceira, 26 na ilha de São Miguel, 15 na ilha de São Jorge, 12 na ilha das Flores, 12 na ilha de Santa Maria, 7 na ilha Graciosa, 7 na ilha do Faial e 4 na ilha do Pico. Sabe-se, porém, que muitos desses imigrantes que povoaram Açores teriam sido cristãos-novos, isto é, judeus sefarditas que foram obrigados a converter-se pelas perseguições da Igreja Católica. Através das Ordenações Afonsinas, Portugal procurou atrair tanto judeus quanto flamengos para o arquipélago, mediante a distribuição de terras. Assim, longe da Europa continental, esses grupos ficariam livres das perseguições religiosas. No processo do povoamento das restantes ilhas, principalmente do Faial, Pico, Flores e São Jorge, faz-se notar a presença de um número alargado de flamengos, cuja presença se veio a reflectir na produção artística e nos costumes e modos de exploração das terras. De recordar o nome de Joss van Hurtere, capitão flamengo, a quem foi confiado o povoamento de parte da ilha do Faial: a cidade da Horta recebeu do seu patronímico a sua designação toponímica. Existe ainda uma freguesia do concelho da Horta chamada "Flamengos", para além dos moinhos e dos modelos da exploração agrária. Tal como no arquipélago da Madeira, a administração das ilhas açorianas foi feita através do sistema de capitanias, à frente das quais estava um capitão do donatário. As primeiras capitanias constituíram-se nas ilhas de São Miguel e de Santa Maria. Em 1450, na sequência da progressão ocidental do descobrimento das ilhas, foi criada uma outra capitania na ilha Terceira: a administração desta ilha foi atribuída também a um flamengo, de seu nome Jácome de Bruges. As restantes ilhas também se encontravam sob administração de capitanias. A administração e assistência espiritual das ilhas ficou subordinada à Ordem de Cristo, que detinha também o senhorio temporal das ilhas, mas a presença de outras ordens religiosas não deixou de se fazer notar no processo de povoamento desde o início, como no caso dos Franciscanos em Santa Maria e Terceira desde a década de 1490 do . O clima do arquipélago açoriano é menos quente quando comparado com o do arquipélago da Madeira. Para que os colonos pudessem cultivar as terras foi necessário desbastar densos arvoredos que proporcionavam matéria-prima para exportação, para produção escultórica (cedro) e para a construção naval. O cultivo de cereais e a criação de gado foram as actividades predominantes, com o trigo a registar uma produção considerável. A produção de pastel e a sua industrialização para exportação destinada a tinturaria também desempenhou um papel relevante na economia do arquipélago. A exploração do pastel e da urzela, esta também para tinturaria, atingiu o seu auge precisamente quando a produção de cana-de-açúcar (tentada mas sem grandes resultados económicos) e de trigo entraram em decadência. No , também as matérias-primas tintureiras sofreriam uma recessão, sendo substituídas pelo linho e laranjas, que, por seu lado, registaram um impulso extraordinário. Nesta altura, foi introduzida a produção de milho, sendo esta significativa para as melhorias alimentares da população e também como apoio à pecuária. A primeira exportação de laranjas surgiu no , numa altura em que foi também introduzida a cultura da batata. Em finais de Setecentos, regista-se o início de uma das mais expressivas e emblemáticas actividades económicas açorianas: a caça ao cachalote e a outros cetáceos. Na ilha de São Miguel, tanto a produção de chá como a produção do tabaco, revelar-se-iam muito importantes para a economia da ilha. No , os Açores já tinham uma população suficientemente grande para que a Coroa portuguesa incentivasse a emigração de famílias açorianas para terras brasileiras, sobretudo para a parte meridional da então sua colónia na América do Sul. No século seguinte, os Açores vão ter um papel muito importante no ressurgimento da pesca do bacalhau. Os pescadores açorianos emigrados nos Estados Unidos foram quem introduziu a técnica de pesca à linha em dóris usada pelos pescadores português no Grand Bank até aos anos 1960. É de se notar que os açorianos sempre almejaram conquistar uma maior autonomia política e administrativa, o que, durante séculos, foi negado, dando ensejo a alguns movimentos em favor da emancipação do arquipélago. As regiões autónomas foram consagradas na Constituição Portuguesa de 1976. Trata-se de um estatuto político-administrativo especial reservado aos arquipélagos dos Açores e da Madeira, devido às suas condições geográficas — e, em consequência, socioeconómicas — especiais. Nos termos da Constituição, a autonomia regional não afecta a integridade da soberania do Estado. Compete às regiões autónomas legislar em todas as matérias que não sejam da reserva dos órgãos de soberania e que constem do elenco de competências contido nos seus Estatutos Político-Administrativos; pronunciar-se nas mais diversas matérias que lhes digam respeito; e exercer poder executivo próprio, em áreas como a promoção do desenvolvimento económico e da qualidade de vida, a defesa do ambiente e do património, e a organização da administração regional. Os órgãos de governo próprio de cada região são a Assembleia Legislativa e o Governo Regional. A primeira é eleita por sufrágio universal directo e tem poderes fundamentalmente legislativos, além de fiscalizar os actos do Governo Regional. O presidente do Governo Regional é nomeado pelo Representante da República, que para tal considera os resultados eleitorais, e é o responsável pela organização interna do órgão e por propor os seus elementos. As atribuições do Governo Regional são fundamentalmente de ordem executiva. O representante da República é o representante do chefe do Estado em cada região autónoma. É nomeado pelo presidente da República, após consulta ao Conselho de Estado. Cabe-lhe assinar e mandar publicar os decretos da Assembleia e do Governo Regional, tendo, no entanto, o direito de veto, que pode ser ultrapassado por votação qualificada da Assembleia Legislativa. O mandato do Representante da República tem a duração do mandato do presidente da República. Localização geográfica. Os Açores são um arquipélago que, embora situado precisamente sobre a Dorsal Média Atlântica, devido à sua proximidade com o continente europeu e à sua integração política na República Portuguesa e na União Europeia é geralmente englobado na Europa. O arquipélago situa-se no nordeste do Oceano Atlântico entre os 36º e os 43º de latitude Norte e os 25º e os 31º de longitude Oeste. Os territórios mais próximos são a Península Ibérica, a cerca de a leste, a Madeira a a sueste, São Pedro e Miquelão a noroeste, a Nova Escócia a a noroeste e a Bermuda a a sudoeste. Integra a região biogeográfica da Macaronésia. As coordenadas geográficas das principais localidades dos Açores são as seguintes: Território e clima. O arquipélago dos Açores é constituído por nove ilhas principais divididas em três grupos distintos: O Grupo Oriental inclui também um grupo de rochedos e recifes oceânicos, situados a nordeste de Santa Maria, chamado ilhéus das Formigas, ou simplesmente Formigas, que em conjunto com o recife do Dollabarat, constitui a Reserva Natural do Ilhéu das Formigas, um dos locais mais importantes para conservação da biosfera marinha no nordeste do Atlântico. O ponto mais alto do arquipélago situa-se na ilha do Pico — e daí o seu nome, a Montanha do Pico — com uma altitude de 2 352 m. A orografia açoriana apresenta-se muito acidentada, com linhas de relevo orientadas na direcção leste-oeste, coincidentes com as linhas de fractura que estão na génese das ilhas. Este arquipélago faz parte da cordilheira submarina que se estende desde a Islândia para sul e sudoeste, com orientação sensivelmente paralela à inflexão das costas continentais. A origem vulcânica dos Açores tem a sua expressão máxima na ilha de São Miguel, no famoso Vale das Furnas e teve a sua mais recente actividade terrestre no Vulcão dos Capelinhos, na Ilha do Faial, em 1957–1958. No mar, a última erupção verificou-se ao largo da Serreta (ilha Terceira) em 1998–2000. O clima é temperado, registando-se temperaturas médias de 13 °C no Inverno e 24 °C no Verão. A Corrente do Golfo, que passa relativamente perto, mantém as águas do mar a uma temperatura média entre os 17 °C e os 23 °C. O ar é húmido com humidade relativa média de cerca de 75%. As ilhas são visitadas com relativa frequência por tempestades tropicais, incluindo algumas com intensidade suficiente para serem consideradas furacões. Geografia física. O arquipélago dos Açores foi formado por actividade vulcânica durante o final do Terciário. A primeira ilha a surgir acima da linha média da água do mar foi Santa Maria, há cerca de 8,1 milhões de anos (Ma), durante o Mioceno. Seguiram-se, por ordem cronológica, São Miguel (4,1 Ma), Terceira (3,52 Ma), Graciosa (2,5 Ma), Flores (2,16 Ma), Faial (0,7 Ma), Corvo (0,7 Ma), São Jorge (0,55 Ma) e, a mais jovem, o Pico (0,27 Ma). Importância geoestratégica. A sua localização na zona central do Atlântico Norte fez com que as ilhas açorianas constituíssem durante séculos uma autêntica encruzilhada nas rotas transatlânticas. Na fase da navegação à vela, devido ao regime de ventos e correntes que obrigava à "volta do largo", as embarcações provenientes do Atlântico Sul (da Índia, Extremo Oriente e outras partes da Ásia, de África, do Brasil e outras partes da América do Sul) e das Caraíbas (das chamadas "Índias Ocidentais") faziam uma larga rotação no sentido dos ponteiros do relógio que as trazia até às proximidades do Grupo Ocidental, cruzando depois o arquipélago em direcção à Europa. É esse o percurso que ainda hoje faz a navegação de recreio, utilizando como ponto de apoio o porto da Horta, ilha do Faial. Com o aparecimento da navegação a vapor, os portos dos Açores, particularmente os de Ponta Delgada e Horta, os únicos com molhes de protecção e cais acostáveis de dimensão apreciável, assumiram importante papel no fornecimento de carvão. Com o advento da aviação, os Açores cedo ganharam importância como ponto de apoio. As primeiras travessias aéreas do Atlântico escalaram os Açores, e a Horta, com a sua baía abrigada e ligações telegráficas intercontinentais via cabo submarino, foi uma importante escala nas ligações entre a Europa e a América por hidroavião (os "clippers") no período imediatamente anterior à Segunda Guerra Mundial. Terminada a guerra, a base norte-americana da ilha de Santa Maria rapidamente se transformou num aeroporto internacional e centro de escalas técnicas para as aeronaves que cruzavam o Atlântico entre as Américas, o sul da Europa, o norte de África e o Médio Oriente. Igual papel, mas para a aviação militar, teve (e continua a ter) a Base das Lajes, na ilha Terceira, onde, após a saída do contingente britânico chegado em 1943, se instalou um destacamento militar dos Estados Unidos naquela que é a Base Área n.º 4 da Força Aérea Portuguesa (ainda em pleno funcionamento). As discussões em torno do papel geo-estratégico dos Açores e da função do arquipélago como ponto de fronteira entre as esferas de interesse norte-americana e europeia ainda assume papel relevante na discussão política açoriana e na postura da classe política face aos interesses portugueses no Atlântico. As questões em torno da alocação de contrapartidas concedidas pelos Estados Unidos pela utilização da Base Aérea das Lajes, na ilha Terceira têm ocupado, embora de forma estéril, a actividade parlamentar e são presença constante na negociação com Portugal e com os Estados Unidos. Mais recentemente, o facto de as águas da zona económica exclusiva (ZEE) dos Açores serem de longe as maiores da União Europeia, com os seus , e por isso constituírem o grosso das chamadas "águas ocidentais" da União, tem levado a acesos debates sobre as vantagens da integração açoriana na União Europeia. Nos termos dos tratados em vigor, e do projecto de tratado para a Constituição Europeia, a gestão dos recursos biológicos marinhos é competência exclusiva da União, o que levou já à abertura parcial da pesca (entre as 100 e as 200 milhas náuticas) a embarcações comunitárias contra a vontade do governo açoriano. Para se compreender a posição do arquipélago atente-se nas seguintes distâncias medidas ao longo da ortodrómica (grande círculo) a partir de um ponto sito no centro geográfico dos Açores (38º 35’ N; 28º 05’ W): Divisão administrativa. Politicamente, os Açores são desde 1976 uma região autónoma integrada na República Portuguesa. A Região Autónoma dos Açores é dotada de governo próprio e de uma ampla autonomia legislativa, consubstanciada na Constituição da República Portuguesa e no Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma dos Açores. Os órgãos de Governo próprio são a Assembleia Legislativa, um parlamento unicamaral composto por 57 deputados eleitos por sufrágio universal e directo cada quatro anos (última eleição a 14 de Outubro de 2012), e o Governo Regional, de legitimidade parlamentar, composto por um presidente do Governo, um vice-presidente, e por sete secretários regionais. A República Portuguesa é especialmente representada nos Açores por um representante da República, nomeado pelo presidente da República. Este cargo foi criado pela revisão constitucional de 2004, a qual extinguiu o cargo de ministro da República, criando em sua substituição um representante da República, nomeado pelo presidente da República, por sua iniciativa, ouvido o Conselho de Estado, e com mandato coincidente ao presidencial. Este novo dispositivo constitucional produziu efeitos com o termo do mandato de Jorge Sampaio como presidente da República, em Março de 2006. O juiz conselheiro Álvaro José Brilhante Laborinho Lúcio entrou na história como o último ministro da República, sendo sucedido pelo juiz conselheiro José António Mesquita como representante da República. As ilhas não têm existência jurídica no ordenamento territorial açoriano, excepto na lei eleitoral, na qual servem de base para os círculos eleitorais, facto que tem levantado críticas visto que promove a sobre-representação das ilhas menos populosas na Assembleia Legislativa e distorce a proporcionalidade, e na existência de um órgão consultivo denominado Conselho de Ilha. A subdivisão administrativa principal do arquipélago é, pois, feita ao nível dos seus 19 municípios. Para além dos municípios listados no quadro abaixo, existiram nos Açores, até à reforma administrativa do , os seguintes: Topo (hoje integrado no município da Calheta de São Jorge); Praia da Graciosa (hoje integrado no município de Santa Cruz da Graciosa); São Sebastião (hoje integrado no município de Angra do Heroísmo); Capelas (hoje integrado no município de Ponta Delgada); e Água de Pau (hoje integrado no município da Lagoa). As freguesias que foram sedes daqueles municípios recuperaram, pelo Decreto Legislativo Regional n.º 29/2003/A, de 24 de junho, da Assembleia Legislativa, a categoria de "vila". As populações de Capelas e freguesias vizinhas reivindicam a restauração daquele município. Por sua vez os municípios subdividem-se em freguesias, com excepção do do Corvo onde, dada a sua pequenez, o Estatuto Político-Administrativo da Região Autónoma dos Açores estabelece que as funções cometidas àquele nível da administração no restante território são exercidas directamente pelos correspondentes órgãos municipais. A área e a distribuição da população por cada ilha e município são as seguintes: Análise da situação socioeconómica. Demografia. A população registada nos censos foi: População residente. Contrariando a tendência verificada nas últimas décadas, a população residente atingiu habitantes em 2021, menos 4,2% face a 2011. Nos anos 2001 e 2011 verificou-se crescimentos moderados da população residente (1,7% e 1,8%, respetivamente), situando-se em habitantes em 2001 e habitantes em 2011. Porém, o acréscimo de população não está distribuído de forma equilibrada pelas diferentes ilhas, havendo variações negativas expressivas nas ilhas Graciosa, Flores e Santa Maria, denotando uma tendência de concentração da população nas ilhas onde se localizam as principais funções administrativas e económicas. O crescimento demográfico que se tem verificado nos últimos anos poderá ser explicado, em grande medida, pelos fluxos migratórios, que têm registado valores positivos, por via do decréscimo acentuado da emigração e do aumento da imigração, dado que o saldo natural tem vindo a declinar. O crescimento concentrou-se essencialmente na ilha de São Miguel. O crescimento no Faial é meramente conjuntural e resulta da deslocação de trabalhadores da construção civil resultante das obras de reconstrução do sismo de 9 de Julho de 1998. Qualquer que seja o cenário considerado, estima-se que a população dos Açores continuará a crescer lentamente nos próximos anos. Em termos da evolução da estrutura da população por grandes grupos etários, e com base nos últimos recenseamentos e nas projecções existentes, observa-se que o crescimento demográfico tende a concentrar-se no grupo correspondente à população potencialmente activa (15–64 anos), por contrapartida do grupo etário relativo aos jovens, mantendo-se praticamente inalterado o peso relativo dos idosos no contexto da população residente nos Açores. A tendência na próxima década é para se acentuar o envelhecimento da população residente, em virtude, sobretudo, da diminuição do peso relativo dos jovens resultante do efeito conjugado da diminuição das taxas de natalidade/fecundidade e do aumento da esperança de vida. Com efeito, através da análise comparada de alguns indicadores demográficos, verifica-se que a evolução destes indicadores tem sido decrescente nos últimos anos. A taxa de mortalidade geral mantém-se praticamente constante, com o valor anual na vizinhança dos 11‰ óbitos. No que se refere à mortalidade infantil, nos Açores continua a verificar-se uma tendência decrescente tendo atingido os 2,9‰ nascimentos em 2003. Relativamente ao número de casamentos verificados em 2003, constata-se que se verificou um aumento do número de casamentos, contrariando a tendência decrescente dos anos anteriores. Em termos finais, as projecções demográficas apontam para uma estabilização ou decréscimo populacional, associados a um continuado envelhecimento das estruturas demográficas, resultante da diminuição das taxas de fecundidade/natalidade e do aumento da esperança de vida. Esta tendência tem vindo a ser atenuada pela inversão do comportamento migratório, que, desde meados dos anos noventa, tem registado valores positivos associado, sobretudo, a um aumento da imigração. A Região Autónoma dos Açores poderá ser uma das regiões que mais beneficiará com a entrada de estrangeiros, desde que os níveis médios de fecundidade apresentados sejam mantidos, contrariando a acentuada tendência de decréscimo de residentes. Estas alterações na dinâmica demográfica levantam sérias questões e desafios a nível económico e social, já que a sociedade será cada vez mais diversificada e envelhecida o que, não só compromete as gerações futuras, como provoca alterações nos hábitos de consumo, nas relações sociais e na economia. O aumento da população activa exercerá pressões no mercado de trabalho, no sentido de se criarem mais postos de trabalho, e provocará uma distribuição desigual da população entre os centros urbanos e o meio rural. O aumento da imigração também acentuará a pressão sobre o mercado de trabalho, daí que seja fundamental o seguimento de políticas de formação e requalificação profissional dos activos. Origem étnica. Do ponto de vista genético, a população dos Açores é bastante semelhante à população de Portugal continental, de onde se originou a maior parte dos seus povoadores. Foram detectadas, de forma reduzida, influências de outras populações europeias (particularmente do Norte da Europa), de populações do Oriente Próximo, do Norte da África e da África subsariana. Analisando o DNA mitocondrial de açorianos oriundos de três regiões do arquipélago (oriental, ocidental e central), 81,3% apresentavam DNA mitocondrial de origem europeia, 11,3% de origem africana e 7,5% do Oriente Próximo ou de origem judaica. O grupo que mais apresentou contribuições não europeias foi o oriental (cerca de 25%), a maior parte africanas (18,2%). No grupo central, por outro lado, as contribuições não europeias ficaram em 15%, a maior parte judaica ou do Oriente Próximo (10%), enquanto a contribuição africana ficou em 5%. O grupo ocidental foi aquele que apresentou menor grau de ascendências não europeias (6,5%), a maior parte africanas. Em relação às linhagens masculinas, também houve uma predominância de contribuições europeias, porém mais uma vez foram detectadas contribuições africanas, do Oriente Próximo/judaica e até mesmo indiana (1,1%). Os documentos históricos revelam que os Açores foram povoados sobretudo por portugueses, e as regiões do Algarve, Alentejo e Minho eram destacadas como fornecedoras de colonos. Também foi relatada a presença de povoadores oriundos do arquipélago da Madeira, assim como de indivíduos de origem judaica. A presença de pessoas oriundas de outros países da Europa também é relatada, com particular destaque para povoadores flamengos, que terão tido maior presença nas ilhas centrais, especialmente na Ilha do Faial. A presença de escravos (mouriscos e negros) também é amplamente documentada. As linhagens tipicamente africanas encontradas nos habitantes dos Açores, apesar da frequência reduzida, são as mais elevadas dentro da população portuguesa, o que denota uma possível maior integração dos escravos negros na população açoriana. Aspetos macroeconómicos. O Produto Interno Bruto (PIB) dos Açores atingiu, em 2002, os 2400 milhões de euros, segundo os dados mais recentes das contas regionais. Atendendo a que, em relação ao ano anterior, registou um crescimento nominal (8,2%) superior à média nacional (4,8%), a Região reforçou notoriamente a sua importância relativa no todo nacional. Em resultado deste comportamento da economia regional, a partir de 2002, os Açores deixam de ser a última região NUTS II do país em termos do PIB "per capita". Constata-se uma convergência real do PIB "per capita" com a média nacional e a da União Europeia, representando agora 82% do valor médio nacional. Relativamente à comparação com a União Europeia, após a entrada de dois novos Estados Membros, Bulgária e Roménia, podemos verificar que a Paridade de Poder de Compra em percentagem da Europa a 27, baixou de 71,3 em 2002 para 65,9 em 2004, quebrando o ciclo de crescimento. Em comparação com a média nacional, este indicador situa-se em 88 da média nacional quando dez anos antes era de 77, crescendo neste período de uma forma mais ou menos constante. Em termos da repartição setorial do valor acrescentado bruto na produção de bens e serviços, nos últimos anos em que se dispõe de informação estatística, regista-se um certo reforço do sector terciário, por contrapartida de uma menor expressão relativa dos restantes sectores de actividade económica. Mercado de emprego. A evolução do mercado de trabalho nos Açores tem-se caracterizado por um aumento continuado da população activa, maior actividade do segmento feminino da população e a manutenção de taxas de desemprego relativamente reduzidas, indiciadoras de uma situação de quase pleno emprego. Tomando o último ano completo em que se dispõe de informação, observa-se que, em 2003, a taxa de desemprego rondou os 2,9%. Os Açores são a segunda região da União Europeia (depois do Tirol, Áustria) que naquele período temporal apresentou a taxa de desemprego mais baixa. Em termos de repartição sectorial da população empregada, é o sector dos serviços que absorve a maioria dos empregados, mantendo ainda algum peso relativo o sector primário da economia. Preços. Ao nível da variação dos preços no consumo, a taxa de inflação na Região tem apresentado valores baixos e enquadrados na tendência geral do país e da Europa comunitária. Em 2004, a taxa de variação média dos últimos doze meses, do índice de preços no consumidor, foi de 2,7% nos Açores. Finanças públicas. A execução orçamental relativa ao ano de 2004 atingiu plenamente os objectivos inicialmente traçados, na medida em que foi assegurada uma contenção efectiva nas despesas de funcionamento da administração regional (+2,1%) e, ao mesmo tempo, registou-se uma taxa de crescimento das despesas de investimento (+6,5%), superior às observadas nos últimos cinco anos. A Conta da Região relativa a 2004, excluindo as contas de ordem, apresentará um saldo positivo da ordem dos 22 milhões de euros, fundamentalmente, em consequência de diversos ajustamentos efectuados em sede das receitas fiscais geradas na Região e, também, da contenção imprimida às despesas de funcionamento. Efectivamente, registou-se uma melhoria significativa no rácio de cobertura das despesas de funcionamento pelas receitas próprias da Região, o qual passou de 90,2% para 98,2%, entre 2003 e 2004. No âmbito das receitas da Região, foram as receitas próprias, com um valor de 497,2 milhões de euros, que registaram uma taxa de crescimento mais significativa, +11,2%, observando, igualmente, um acréscimo do seu peso relativo no total da receita, o qual passou de 63,1%, em 2003, para 65,9%, em 2004. No cômputo das receitas próprias, salientam-se as receitas fiscais cuja execução atingiu os 488,7 milhões de euros, mais 14,9% do que o respectivo valor de 2003. Os dois grandes agregados da despesa pública — funcionamento e plano de investimentos — mantiveram em 2004 uma estrutura semelhante à que detinham em 2003, traduzindo uma ligeira alteração que se considera positiva, já que se registou um aumento de cerca de um ponto percentual no peso relativo das despesas de investimento por contrapartida das despesas de funcionamento. O plano de investimentos atingiu uma execução de 226,1 milhões de euros, o que traduz uma taxa de crescimento de 6,1%, relativamente a 2003 e uma excelente taxa de realização de 97,2%, se não considerarmos as dotações do plano que estavam consignadas à receita da reprivatização da EDA (Electricidade dos Açores, SA) e ao pagamento de bonificações de juro do crédito à habitação, cuja transferência não foi efectuada em 2004. Setores económicos. Agricultura. O volume de produção de leite recebido nas fábricas situa-se num patamar da ordem de 500 milhões de litros. O leite industrializado é consumido predominantemente na forma de UHT. O queijo representa o produto lácteo mais significativo, registando evolução positiva, mesmo nos anos de redução de matéria-prima. A produção de carne tem registado, nos anos mais recentes, uma evolução tendencialmente positiva. O sentido desta evolução é comum aos diversos tipos de carnes. Todavia a intensidade fica a dever-se, fundamentalmente, à carne de bovino para exportação, cujo crescimento a vem aproximando dos níveis atingidos antes da crise de 1997. A evolução no crescimento das carnes para consumo nas próprias ilhas caracteriza-se mais pela moderação e regularidade. Pescas. A atividade piscatória, medida pelo pescado descarregado nos portos, traduz-se em volumes da ordem de 10 000 toneladas anuais, às quais correspondem valores brutos de produção na ordem de 26 milhões de euros. Anualmente, registam-se variações específicas nas condições em que se desenvolvem as actividades no sector, observando-se flutuações significativas de preços. As diferentes variedades de pescado mais tradicional («restante pescado» no quadro abaixo) ocupam o lugar mais representativo, sendo a componente da pesca de tunídeos a que apresenta maior sensibilidade a condições de produção. O número de pescadores matriculados situa-se na ordem de 4 milhares e o das embarcações na de 1 600 unidades. Procurando observar a actual tendência de evolução destes factores produtivos, através de alguns rácios, verificar-se-á uma tendência no sentido do aumento de dimensão medida pela tonelagem média por embarcação e por pescador matriculado. Turismo. O conjunto da hotelaria tradicional, mais o turismo em espaço rural somaram, no ano de 2004, a capacidade de alojamento de cerca de 8000 camas, em resultado de um crescimento assinalável da oferta de alojamento turístico, que se fez sentir essencialmente nos últimos quatro anos. A procura tem vindo a aumentar sistematicamente todos os anos, tanto em termos de dormidas, como em termos de receitas. De 1996 a 2004, o número de dormidas cresceu 124% e as receitas totais 148%. Hoje, mais de 50% da oferta hoteleira foi construída de novo e a parte restante foi, em mais de 50%, profundamente remodelada e reestruturada. De 1996 a 2004 houve um salto significativo no mercado da procura. Portugal, em 1996, representava 71% do volume total de dormidas, enquanto que em 2004 representava apenas 51%. É evidente que embora a promoção turística em Portugal seja sempre uma preocupação dominante, com o aumento da oferta hoteleira e dada a forte sazonalidade do mercado nacional torna-se cada vez mais importante diversificar a procura. Em 2004 o mercado sueco representou 16% da procura, logo seguido do mercado norueguês com cerca de 8,3% e do mercado alemão com 7,1%. Desde 2015, e após a liberalização do espaço aéreo, que permitiu à Ryanair e Easyjet (atualmente apenas a Ryanair voa para as ilhas de São Miguel e Terceira) — transportadores aéreas lowcost — o destino Açores tornou-se mais acessível e popular. Atualmente é um dos destinos preferidos dos portugueses para férias. "A liberalização do transporte aéreo doméstico para os Açores, que ocorreu no final do primeiro trimestre de 2015, o investimento na promoção que tem sido realizado e a melhoria das acessibilidades inter-ilhas, têm vindo a contribuir efetivamente para este crescimento". Indústria. A evolução das indústrias transformadoras, observável através das estatísticas das empresas, aponta no sentido de um processo de crescimento acompanhado de mudanças nas estruturas produtivas, pelo menos em termos de dimensão. Efetivamente, ao mesmo tempo que o volume de negócios foi registando, nos últimos anos, intensidades de crescimento a níveis significativos, o número de empresas e de pessoal ao serviço, ao contrário, foi decrescendo. Atendendo que no processo de decrescimento destes elementos produtivos, o do número de pessoal foi proporcionalmente superior ao das próprias empresas, verificou-se, logicamente, um aumento na dimensão média das respectivas estruturas. Apesar desta evolução, a dimensão média das empresas das indústrias transformadoras continua a ser inferior à média das empresas da economia portuguesa. De facto, segundo os últimos dados, a média de pessoal empregado por unidade produtiva nos Açores situou-se em 10 trabalhadores por empresa, enquanto o mesmo rácio, a nível do país, atingia 12. A reduzida dimensão também é observável em termos de volume médio de negócios das empresas industriais, cuja rentabilidade fica mais dependente das margens que sejam possíveis em termos de redução de custos. Energia. As fontes de energia primária utilizadas continuam a basear-se nos combustíveis fósseis importados (fuel, gasóleo, gasolina). Todavia, as fontes de energia renováveis como a energia hídrica, a geotérmica e a eólica têm registado evoluções positivas, aproximando-se nos anos mais recentes de cerca de um décimo do total de energia consumida. A produção de energia eléctrica tem crescido a ritmos significativos, situando-se as respectivas taxas médias anuais à volta de 7%. A produção de origem térmica continua a ser dominante, porém as energias renováveis representam já uma quota próxima de um quinto do total. No que respeita à utilização de eletricidade, o consumo doméstico representa a componente mais significativa, mas os consumos comerciais e de serviços têm-se revelado mais dinâmicos nos últimos anos. Os consumos industriais têm-se caracterizado por uma certa estabilidade, apenas acompanhando a evolução média geral dos últimos anos. Construção e habitação. Nos últimos anos, a produção local de cimento tem contribuído com cerca de 55% do total de cimento utilizado nas obras. Em anos anteriores situou-se numa quota de cerca de 60%. As licenças de obras para habitação, representam cerca de três quartos do total de licenças concedidas para obras nos Açores. Comércio. No sector comercial, registou-se uma evolução com crescimento de atividade mais baseada na criação de novas unidades de serviços do que no aumento de capacidade e modernização das existentes. Efetivamente, os dados estatísticos apontam para crescimento do volume de negócios significativo, ao mesmo tempo que crescem os números de empresas e de pessoal ao serviço. Aliás, a intensidade de crescimento de pessoal ao serviço foi muito próxima da do crescimento do número de empresas, mantendo-se praticamente constante o rácio de pessoal por empresa. Este rácio de cerca de 5 pessoas ao serviço por empresa, confirma a forte presença de pequenas unidades empresariais e o carácter atomístico deste tipo de serviços. Atendendo às características do sector comercial, em termos nacionais, as diferenças entre as estruturas nas diversas regiões resultarão mais de pequenas diferenças de evolução e adaptações circunstanciais, do que de factores estruturais como a dimensão que se evidenciam mais em organizações de produção material e industrial. As vendas de automóveis novos, em 2004, tiveram um comportamento positivo, invertendo a tendência anterior. Em 2004, a venda de automóveis ligeiros nos Açores representou cerca de 77% da venda total de automóveis novos. Transportes e comunicações. Os dados disponíveis sobre os movimentos de passageiros apontam no sentido de uma tendência de redução de tráfego nos transportes colectivos terrestres e de aumento nos transportes marítimos e aéreos. Os movimentos de passageiros nos aeroportos vêm revelando alterações na sua composição segundo os diversos tipos de tráfego. O tráfego de passageiros interno (na prática inter-ilhas) é ainda o que regista maior número de frequências, mas já não tem o predomínio que registava habitualmente e nos anos de 2002 e de 2003, representou percentagens inferiores a metade do tráfego total. Por outro lado, os tráfegos com o exterior (territorial e internacional), apesar de continuarem mais sensíveis a influências de conjuntura, apresentam tendências de crescimento superiores em média. Será particularmente o caso do tráfego internacional, o que se mostra consistente com a evolução da procura turística. Observando-se a frequência de movimentos de passageiros nos aeroportos em relação ao número de habitantes residentes, verifica-se que nos Açores há uma elevada intensidade no uso do modo de transporte aéreo, quando se faz a comparação com o Continente através do mesmo indicador. Esta diferença de intensidade estará logicamente relacionada com as características diferentes da geografia física em ambos os territórios. As cargas movimentadas nos portos, atingem cerca de 2,7 milhões de toneladas, todavia o volume das movimentadas nos aeroportos não chega a representar 1% daquelas. O tráfego postal situa-se num patamar de cerca de 10 milhões de objetos, enquanto o número de postos telefónicos existentes continua a crescer de forma mais intensa. Sectores sociais. Educação. No ano letivo de 2002/03 registou-se um forte crescimento no número de inscrições na Educação Pré-Escolar e uma continuada preferência pelo Ensino Profissional, que originou uma inversão da tendência negativa que se vinha a verificar no volume de inscrições/matrículas a nível global. Na generalidade, o volume de matrículas nos níveis do Ensino Básico e no Ensino Secundário continuam a tendência descendente que se tem vindo a verificar ultimamente, registando, no nível do Ensino Secundário, um valor superior a menos 5,5% dos valores verificados no ano anterior. A taxa de escolarização apresenta valores crescentes em todas as idades, apesar da população escolar ter vindo a diminuir. Este aumento é mais significativo nas idades da Educação Pré-Escolar e a partir dos 14 anos. Da observação da evolução destas taxas, verifica-se um alargamento do leque de idades com taxas dos 100%, presentemente representativas das idades de escolaridade obrigatória. O aproveitamento escolar, medido através da taxa de transição/aprovação oscila entre os 82,8% no 4.º ano de escolaridade e os 45,5% no 12.º ano, confirmando um maior aproveitamento escolar nos ciclos do ensino geral e obrigatório do que no secundário. Saúde. Os dados sobre os serviços prestados nos hospitais e centros de saúde apontam no sentido de evoluções consideráveis. Nos atos clínicos regista-se uma participação significativa de recursos humanos e uma utilização crescente de meios complementares de diagnóstico e terapêutica. Os actos registados em profilaxia/inoculações globais correspondem a vacinações praticadas nos centros de saúde. O volume de atos situa-se na ordem de oitenta milhares mas, embora seja aplicado predominantemente com preocupações de prevenção de doenças em crianças com idade inferior a um ano, é fortemente condicionado por particularidades e campanhas específicas a nível local. Os serviços de urgência têm registado, nos últimos anos, uma procura mais expressiva do que os de consulta. Esta evolução terá sido mais significativa no âmbito dos centros de saúde do que no dos hospitais. Os movimentos de internamento nos hospitais e centros de saúde têm mantido características de certa estabilidade, situando-se a demora média em 7 ou 8 dias e a taxa de ocupação à volta de 62%. Os meios complementares de diagnóstico ultrapassam os dois milhões de exames e análises, enquanto os meios complementares de terapêutica correspondem a mais de trezentos mil atos. A evolução destes meios tem registado crescimentos médios significativos. Todavia, é possível observar uma ligeira tendência para à realização do ato terapêutico corresponder, em média, uma menor utilização de exames e análises. O pessoal em atividade nos serviços dos hospitais e dos centros de saúde situa-se na ordem de quatro milhares de profissionais. A evolução geral tem registado um alargamento efetivo de quadros, destacando-se um certo reforço de médicos, enfermeiros e técnicos de diagnóstico e terapêutica. Segurança social. O número de pensionistas da Segurança Social nos Açores situa-se na ordem dos 47 milhares de indivíduos. Os beneficiários em vida por velhice, que recebem pensões em substituição de retribuições do trabalho, representam cerca de 52% do total; os beneficiários em vida, mas inválidos por acidente ou doença antes da idade da reforma por velhice, representam cerca de 30% do total; e, finalmente, as famílias de beneficiários por morte destes representam cerca de 18%. Cultura. Os museus e as bibliotecas públicas representam meios privilegiados de desenvolvimento de ações culturais, seja pelas capacidades patrimoniais e funcionais existentes, seja pelos diversos públicos que podem atrair. Observando as evoluções das procuras sobre aqueles equipamentos culturais, por parte de visitantes nos museus e de utilizadores nas bibliotecas, verifica-se que existe atualmente uma tendência de crescimento em qualquer uma delas. Todavia, se a tendência da procura de visitantes aos museus prossegue a um ritmo mais regular e dentro de um mesmo padrão das estruturas existentes, já a procura de utilizadores nas bibliotecas revela, depois de uma ligeira quebra nos finais da década de noventa, uma intensificação do crescimento nos anos mais recentes, refletindo, pelo menos em parte, a transição do funcionamento da biblioteca pública de Ponta Delgada das antigas para as novas instalações, no histórico Colégio dos Jesuítas. Observando agora a evolução intra-anual para os mesmos tipos de equipamentos culturais, verifica-se que a procura nos museus intensifica-se nos meses de Verão, enquanto a procura nas bibliotecas, ao contrário, é maior nas outras estações. Para esta diferença entre as distribuições ao longo do ano contribuirá significativamente a componente de turistas que visitam os museus, enquanto nas bibliotecas será mais a componente de estudantes para leituras integradas na sua formação académica ao longo do ano escolar. Durante o ano de 2003, os apoios financeiros às atividades culturais, enquadrados juridicamente pelo Decreto Legislativo Regional n.º 22/97/A, de 4 de novembro, atingiram um montante na ordem de 480 000 euros. Património. O arquipélago dos Açores tem um rico e diversificado património edificado, os elementos mais representativos do qual se encontram classificados e constam da lista de património edificado nos Açores. Está em curso a realização pelo Instituto Açoriano de Cultura, por contrato com o Governo Regional dos Açores, do inventário completo do património cultural imóvel das ilhas, o qual, à medida que vai sendo concluído em cada concelho, é editado em volume próprio. Nos termos de decreto do parlamento açoriano, funciona na Direção Regional da Cultura um Registo Regional de Bens Classificados, o qual pode ser consultado via Internet. Pela Resolução n.º 126/2004, de 9 de setembro foi publicada a listagem global dos imóveis que se encontravam classificados à data de entrada em vigor do diploma que nos Açores actualmente enquadra o regime jurídico dos bens classificados, o Decreto Legislativo Regional n.º 29/2004/A, de 24 de agosto. Desporto. As atividades desportivas nos Açores, enquadradas pelas federações associativas das diversas modalidades, vêm movimentando um número significativo de atletas e agentes responsáveis. O número de inscritos na época de 2002/03 aproximou-se de cerca de 20 milhares de atletas praticantes e de 800 treinadores. Os dados anteriores resultam de um processo de crescimento assinalável já que, nos últimos dez anos, o número de atletas praticamente duplicou e as condições de enquadramento técnico poderão traduzir-se pelo rácio de 24 atletas por cada treinador, por contrapartida a um rácio inicial de 46 atletas. Em termos de representatividade das diversas modalidades poderão agrupar-se dois conjuntos segundo as características: Situação ambiental. A análise sucinta que a seguir se apresenta foi preparada a partir do documento "Relatório do Estado do Ambiente — 2003", produzido em Setembro de 2004, da responsabilidade da então Secretaria Regional do Ambiente. Recursos hídricos. Nos Açores, as necessidades de água para uso urbanos são as mais significativas, representando cerca de 56% das necessidades totais, seguindo-se a indústria e a agropecuária, com um peso de cerca de 20%. O turismo, a energia e os restantes usos representam ainda um valor pouco significativo, cerca de 3%. As águas subterrâneas constituem a principal origem de água, satisfazendo, mais de 97% das diferentes utilizações. As disponibilidades existentes estão estimadas em cerca de 1 520 milhões de m3, considerando-se 10% deste valor como disponibilidade útil. As maiores disponibilidades situam-se nas ilhas do Pico e de São Miguel e as menores no Corvo, Graciosa e Santa Maria. Relacionando as necessidades com as disponibilidades, regista-se maior pressão sobre os recursos disponíveis nas ilhas Graciosa, Terceira e São Miguel. A nível das águas superficiais, designadamente as lagoas, para além do valor paisagístico, turístico e ecológico, constituem-se como reservas estratégicas de água, sendo a garantia da sua qualidade um dos desafios da gestão dos recursos hídricos. De acordo com análise e classificações efetuadas a 17 lagoas, a maioria regista situações de poluição mais ou menos acentuada, derivada de contaminação difusa por atividades agro-pecuárias e de fertilização pouco racional, donde a importância dos projetos em curso e a iniciar relativos à construção de açudes, reflorestação das faixas adjacentes às linhas de água, entre outras ações, no sentido de se reverter esta situação. Quanto às águas subterrâneas, estas não apresentam problemas acentuados de qualidade, embora, pontualmente, possam advir alguns problemas derivados da sobre-exploração de aquíferos, com a consequente intrusão salina, do excesso de nitratos e da contaminação microbiológica relacionados com a poluição difusa, proporcionada pela exploração agropecuária. No caso particular das águas balneares, de um modo geral a maioria das zonas balneares apresenta uma qualidade de água bastante razoável, o que tem originado uma classificação adequada para ostentação de bandeira azul. No que diz respeito ao abastecimento de água às populações, o nível de atendimento é próximo dos 100%, em termos de infra-estruturas de abastecimento. Todavia, pontualmente, por via de factores aleatórios e de perda de águas nas redes, existe cerca de 13% da população com abastecimento irregular durante o ano. A qualidade da água fornecida nem sempre satisfaz os parâmetros de qualidade exigidos: se, por um lado, mais de 84% da população servida se encontrava servida por sistemas de tratamento, por outro, cerca de 80% da água distribuída era apenas sujeita a desinfecção por cloragem, sem um controle significativo. No que concerne à existência de sistemas de drenagem de águas residuais, o nível do atendimento era de cerca de 38% correspondendo os restantes 62% a fossas sépticas individuais. O nível de atendimento relativamente ao tratamento de águas residuais correspondia apenas a 24% da população, valor relativamente reduzido face às metas fixadas. Resíduos sólidos urbanos (RSU). A produção de RSU tem vindo a aumentar, tendo atingido cerca de 118 500 toneladas, em 2003, sendo cerca de 50% produzido em São Miguel, 20% na Terceira e o restante nas outras ilhas. A produção diária de RSU por habitante atinge já os 1,37 kg, sendo a maior parte constituída por matéria orgânica, seguida de material de embalagem, reforçando a necessidade de recolha seletiva, com o objectivo de reciclar e valorizar estes materiais. Em termos de tratamento e destino final, pese embora a construção de aterros controlados e a implementação da recolha seletiva, em 2003 verificou-se ainda que cerca de 6% dos resíduos foram depositados em vazadouros sem controlo e 13% em vazadouros controlados. Resíduos industriais e hospitalares. Observa-se ainda a inexistência de destino final adequado para os resíduos industriais, verificando-se uma fraca adesão por parte dos industriais de entrega de mapas de registo das quantidades produzidas. Em relação aos resíduos hospitalares, têm tido o tratamento adequado, designadamente os considerados perigosos, que são objecto de incineração e/ou tratamento químico. Ambiente sonoro. Das diversas formas de poluição existentes, o ruído é uma das que assumem uma expressão nos Açores. Todavia, a existência de algumas reclamações de particulares indicia a possibilidade de situações pontuais de um nível sonoro ambiente acima do desejado. A elaboração de um conjunto significativo de mapas de ruído, a aquisição de equipamentos de medição, permite dispor no futuro próximo de instrumentos de monitorização e de apoio ao ordenamento do território. Qualidade do ar. Os indicadores normalmente utilizados para a caracterização da qualidade do ar são o dióxido de enxofre (SO2), óxidos de azoto (NOx), Monóxido de carbono (CO) e partículas em suspensão. Existem outros poluentes, como o Ozono troposférico (O3), que resultam de reações químicas entre poluentes primários. Estudos realizados indicam que as concentrações são inferiores aos limites estabelecidos na legislação. Conservação da natureza. Em termos da biodiversidade, estão identificadas 702 espécies exóticas de flora, das quais 36 com carácter invasor. Em termos de fauna, estão inventariadas 47 espécies exóticas, distinguindo-se 5 espécies invasoras, destacando-se nestas últimas o designado escaravelho japonês. No conjunto do arquipélago estão protegidas 115 espécies, verificando-se, no entanto, 215 espécies ameaçadas. Áreas classificadas e protegidas. A rede Natura 2000 engloba 38 locais, com uma área aproximada de 45 500 ha, enquanto as áreas protegidas distribuem-se por 31 locais, ocupando uma área de 68 400 ha. Estão definidos 23 Sítios de Importância Comunitária (SIC), que abrangem uma área total de 11 800 ha, 15 Zonas de Proteção Especial (ZPE), com uma área de 11 800 ha e está a ser ultimado o Plano Sectorial para a Rede Natura 2000. Rede de Áreas Protegidas dos Açores. As áreas protegidas incluem áreas terrestres, águas interiores e marinhas em que a fauna, a flora, a paisagem, os ecossistemas ou outras ocorrências naturais apresentam, pela sua raridade, valor ecológico ou paisagístico, importância científica, cultural e social. As condições climatéricas associadas ao isolamento geográfico, ao relevo e às características geológicas das ilhas deram origem a uma grande variedade de biótopos, ecossistemas e paisagens, que propiciam a existência de um elevado número de "habitats" que albergam uma grande diversidade de espécies. A vegetação natural das ilhas açorianas compreende um vasto número de espécies originárias do Período Terciário, na sua maioria endémicas e com estatuto de proteção. A laurissilva, cuja origem está relacionada com as florestas húmidas do Terciário existentes no Sul da Europa e desaparecidas há milhões de anos aquando das últimas glaciações, é uma floresta com um índice de endemismos muito elevado. Para além das espécies de maior porte, possui uma camada sub-arbustiva, geralmente muito densa, de grandes fetos e arbustos, alguns dos quais também endémicos. As ilhas foram colonizadas pelo homem nos finais do e o coberto vegetal foi consideravelmente alterado desde então. Das espécies de plantas vasculares existentes, conhecem-se presentemente 66 endémicas, encontrando-se ainda um elevado número de endemismos noutros grupos. A diversidade de comunidades vegetais permite que comunidades de aves terrestres endémicas se distribuam ao longo de toda a área. Encontram-se também em todas as ilhas cerca de 300 espécies endémicas de artrópodes, distribuídas em habitais muito diversificados, tais como cavidades vulcânicas, campos de lava, florestas naturais, etc. Este grupo taxonómico encontra-se sujeito a algumas pressões por parte de atividades humanas, uma vez que não encontra protegido. A pouca proteção de que beneficia resulta directamente da classificação das áreas protegidas nas várias ilhas da Região. Em relação aos mamíferos, ocorrem nos Açores, de forma natural, 25 espécies, maioritariamente marinhas, 24 das quais correspondem a cetáceos (baleias e golfinhos) e a outra consiste numa espécie endémica terrestre, que é o único mamífero autóctone do arquipélago: o Morcego-dos-Açores ("Nyctalus azoreum"). Como forma de salvaguarda do património natural existente, foi criada uma rede regional de áreas protegidas, ocupando uma área de 53 700 ha. A primeira área protegida data de 1972 (Caldeira, ilha do Faial). Desde então, foram criadas mais áreas protegidas, abrangendo cerca de 13 % da área total da Região. As áreas protegidas dos Açores — Rede de Áreas Protegidas dos Açores — têm vindo a ser objecto de desenvolvimento de Planos de Ordenamento e Gestão, com o objectivo de definir a política de salvaguarda e conservação do património. Os planos pretendem constituir um instrumento de apoio e promoção ao ordenamento e gestão das áreas protegidas, com vistas à salvaguarda dos recursos naturais à conservação da qualidade paisagística e à conciliação das atividades humanas. Símbolos heráldicos. A Região Autónoma dos Açores dispõe de brasão de armas, bandeira, selo e hino próprios. São os seguintes os diplomas legais que regulam a heráldica açoriana: A utilização dos símbolos heráldicos rege-se pelas mesmas normas que regem a utilização dos símbolos nacionais, devendo contudo ser dada precedência a estes. Insígnias honoríficas açorianas. As Insígnias Honoríficas Açorianas visam distinguir, em vida ou a título póstumo, os cidadãos ou as pessoas coletivas que se notabilizarem por méritos pessoais ou institucionais, atos, feitos cívicos ou por serviços prestados à Região Autónoma dos Açores. A atribuição das Insígnias Honoríficas Açorianas têm lugar no Dia dos Açores, em sessão solene presidida pelos Presidentes da Assembleia Legislativa e do Governo Regional.
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Análise matemática
Análise matemática Análise é o ramo da matemática que lida com os conceitos introduzidos pelo cálculo diferencial e integral, medidas, limites, séries infinitas e funções analíticas. Surgiu da necessidade de prover formulações rigorosas às ideias intuitivas do cálculo, sendo hoje uma disciplina muito mais ampla cujos tópicos são tratados em uma subdivisão chamada análise real. Se a Análise surgiu do estudo dos números e funções reais, sua abrangência cresceu de forma a estudar os números complexos, bem como espaços mais gerais, tais como os espaços métricos, espaços normados e os espaços lineares topológicos (ELT). Embora seja difícil definir exatamente o que seja análise matemática e delinear precisamente seu objeto de estudo, pode-se dizer grosseiramente que a análise se dedica ao estudo das propriedades topológicas em estruturas algébricas. História. A análise matemática foi desenvolvida formalmente no século XVII, durante a Revolução Científica, mas muitas das suas ideias remontam aos matemáticos de tempos anteriores. Os primeiros resultados em análise estiveram implicitamente presentes nos primórdios da matemática grega antiga. Por exemplo, uma soma geométrica infinita está implícita no paradoxo da dicotomia de Zeno.Mais tarde, matemáticos gregos tais como Eudoxo e Arquimedes fizeram uso mais explícito, mas informal, dos conceitos de limite e convergência quando usaram o método da exaustão para calcular áreas e volumes de regiões e sólidos. O primeiro uso explícito de infinitesimais aparece na obra "O Método dos Teoremas Mecânicos", de Arquimedes, que foi redescoberta no século XX.Na Ásia, o matemático chinês Liu Hui usou o método da exaustão no século III d.C para encontrar a área de um círculo. No século V, Zu Chongzhi estabeleceu um método que mais tarde viria a ser redescoberto no oeste, e que é agora conhecido por princípio de Cavalieri, para encontrar o volume de uma esfera.No século XII, o matemático indiano Bhāskara II forneceu exemplos de derivadas e usou o que agora se conhece por teorema de Rolle. No século XVIII, Euler introduziu a noção de função. A análise real começou a emergir como disciplina independente quando o matemático boêmio Bernard Bolzano introduziu a definição moderna de continuidade em 1816. No século XIX, Cauchy ajudou a assentar o cálculo infinitesimal em fundamentos lógicos firmes com a introdução do conceito de sucessão de Cauchy. Foi ele também que iniciou a teoria formal da análise complexa. Poisson, Liouville, Fourier e outros mais estudaram as equações em derivadas parciais e a análise harmônica. Com as contribuições destes e de outros matemáticos como Weierstrass, foi-se estabelecendo a ideia moderna de rigor matemático.
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Automobilismo
Automobilismo O automobilismo (também conhecido como corridas de automóveis ou desporto motorizado) é um desporto relacionado com competição com automóveis. É um dos desportos mais populares do mundo e talvez aquele em que a comercialização seja mais intensa e de forte influência midiática. Apesar de o regulamento do COI (Comitê Olímpico Internacional) prever que: História. Princípio. As corridas de automóveis iniciaram-se quase imediatamente depois da construção dos primeiros carros movidos a gasolina bem sucedidos influenciados pelas já populares corridas de carro de corrida. A corrida Paris-Ruão. Em 1894, foi organizada a primeira competição na França pela revista parisiense "Le Petit Journal" entre Paris para Ruão , um teste de confiabilidade para determinar o melhor desempenho, na época foi chamada de "Concours des Voitures sans Chevaux" (Competição de Carros sem Cavalos). 69 carros começaram a corrida de 50 km que iria determinar os classificados para a corrida principal de 127 km, apenas 25 se classificaram. O conde Jules-Albert de Dion foi o primeiro a chegar em Ruão no tempo de 6 horas e 48 minutos, numa velocidade média de 19 km/h, contudo sua vitória não foi contabilizada já que o seu carro continha um acessório proibido, por essa razão o título da corrida foi dado a Georges Lemaître, que chegou na segunda colocação. Outras corridas. Em 1895 realizou-se a primeira corrida propriamente dita, entre Paris e Bordéus. A corrida tinha um trajeto de 1 178 km e 46 concorrentes, mas apenas 22 deles iniciaram a prova. O primeiro a chegar foi Émile Levassor, mas foi desclassificado porque o seu carro não obedecia às exigências da competição. Assim, o prêmio foi para o segundo colocado. A primeira corrida de automóveis na América, num percurso de 54,36 milhas, teve lugar em Chicago, a 2 de novembro de 1895. Frank Duryea venceu, em 10h23mim, sobrepondo-se a três carros movidos a gasolina e a dois elétricos. O veículo elétrico "La Jamais Contente", de aerodinâmica automotiva avançada e projetado por Camille Jenatzy, foi o primeiro automóvel a superar a velocidade de 100 km/h, em Paris a 29 de Abril de 1899. Corridas entre cidades. Com a construção de automóveis e as corridas dominadas pela França, o clube automóvel francês (ACF), realizou algumas grandes corridas internacionais, em geral partindo ou chegando a Paris e tendo a outra extremidade noutra grande cidade na Europa ou na França. Estas corridas de grande sucesso terminaram em 1903 quando Marcel Renault se envolveu num acidente fatal perto de Angoulême durante a corrida Paris - Madrid. Oito mortes levaram o governo francês a interromper a corrida em Bordéus e a banir as corridas de estrada em 1900. Primeiros circuitos. Devido a grande quantidade de acidentes que as corridas de rua causava, muitas cidades chegaram a proibir corridas de rua, viu-se que era mais seguro se realizar corridas em espaços fechados, muitos desses espaços eram os hipódromos utilizados para corridas de cavalos, no Knoxville Raceway é relatado que existiam corridas de carros desde o século XIX. Nos Estados Unidos, em 1903, baseados no formato oval dos hipódromos é construído o Milwaukee Mile, considerado o primeiro autódromo do mundo, em 1907 é construído o oval de Brooklands na Inglaterra que foi o primeiro circuito feito especialmente para corridas de carros, contando, inclusive, com inclinação nas curvas, em 1909 é construído o Indianapolis Motor Speedway nos Estados Unidos. Em 1922 é construído o Circuit de Spa-Francorchamps na Bélgica, em 1923 o Circuit de la Sarthe na França, em 1927 o circuito de Nürburgring na Alemanha, em 1929 o Autodromo Nazionale Monza na Itália. Taça Gordon Bennett de Automobilismo (1910 - 1950). Os assistiram à diferenciação radical dos veículos desportivos a partir dos carros de estrada de luxo, com a Delage, a Auto Union, a Mercedes-Benz, a Delahaye e a Bugatti a construir veículos aerodinâmicos dotados de motores com mais de 450 kW de potência, com o auxílio de "superchargers" múltiplos. O máximo peso autorizado era de 760 kg, uma regra diametralmente oposta aos regulamentos modernos de competição. Era necessário o uso intenso de ligas de alumínio para conseguir baixar o peso e, no caso do Mercedes, até a tinta foi removida para satisfazer as limitações no peso. Pós Segunda Guerra. Com o fim da Segunda Guerra Mundial houve um rápido crescimento do automobilismo no mundo, numa forma de unificar as corridas de Grand Prix foi criada em 1950 a Fórmula 1, em 1953 o Campeonato Mundial de Resistência foi criado, contando com vários grupos de corrida, em 1973 foi criado o Campeonato Mundial de Rali. Organização e regulação. O desporto automotor é regulado mundialmente pela FIA - "Fédération Internationale de l'Automobile" - Federação Internacional do Automóvel, que promove e homologa os carros, as pistas e as condições das corridas. O evento máximo organizado pela FIA é a Fórmula 1. Cada nação que organiza este tipo de esporte tende a organizar também uma instituição filiada à FIA que homologa e regula o automobilismo em seu território. No Brasil a Confederação Brasileira de Automobilismo (CBA) e em Portugal a Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting (FPAK), são as instituições responsáveis por isso. Bandeiras. O Código de Automobilismo também regula as sinalizações usadas durante as competições. Quando algo que ocorre na pista necessita da atenção de todos os pilotos, são exibidas bandeiras coloridas próximas ao acontecimento ou na linha de chegada/largada ou especificamente para algum piloto. Os pilotos também podem ser avisados pelo rádio, pelos chamados "spotters", mas como estes avisos normalmente são críticos e o rádio pode apresentar problemas durante a competição, usa-se o método das bandeiras que é mais prático e seguro. As bandeiras são mais habitualmente usadas para avisar os pilotos sobre a entrada ou a saída do safety car na pista. As bandeiras usadas atualmente são: Autódromos e pistas. O evento automobilístico pode ser realizado em autódromos, circuitos fechados construídos especificamente para as provas de velocidade e habilidades de condução dos veículos, ou circuitos de rua, como o do Grande Prêmio de Mônaco. Os autódromos podem ser ovais como o Talladega Superspeedway nos Estados Unidos, misto, com várias curvas e retas como o de Autódromo do Estoril em Portugal e combinado oval com misto (os chamados "rovais") como o circuito de Indianápolis também nos Estados Unidos. O piso pode variar entre asfalto, terra, ou uma combinação dos dois, tanto em circuitos mistos, quando nos ovais. Também podem ser usados estádios adaptados como na Race of Champions, algumas divisões da NASCAR, de sprint cars, ou em competições de speedway. As categorias e modalidades como os ralis que colocam à prova a resistência de condutores e veículos usam pistas e circuitos em vários terrenos. Os fora de estrada usam terrenos acidentados naturais ou preparados. Categorias. Existem várias categorias de competição no desporto automotivo. Todas as categorias devem ser adequadas as regulações do Appendix J do Código Internacional de Automobilismo. Corridas de monoposto. As corridas de monoposto (ou monolugares, muitas vezes conhecidos por "Fórmulas") são talvez o aspecto mais bem conhecido do automobilismo, com carros desenhados especificamente para corridas de alta velocidade. As rodas não são cobertas, e os carros têm asas aerodinâmicas à frente e atrás para produzir uma força para baixo e aumentar a adesão à pista. As corridas de monoposto realizam-se em circuitos especialmente construídos, ou em circuitos citadinos fechados para o efeito. Muitas das corridas de monoposto na América do Norte têm lugar em circuitos ovais como a Indy Racing League. As mais bem conhecidas corridas de monoposto são as de Fórmula 1, que se desenvolvem num campeonato do mundo anual em que participam alguns dos principais fabricantes de automóveis e de motores do mundo, numa batalha que é tanto tecnológica como de desempenho na pista. Na América do Norte, os carros Champ Cars e os da Fórmula Indy assemelham-se aos de F1 mas são sujeitos a muito mais restrições. Existem outras categorias de monoposto, incluindo as corridas de karts que empregam pequenas máquinas de baixo custo em pequenas pistas. Muitos dos melhores pilotos da actualidade iniciaram as suas carreiras nos karts. Ralis. Os ralis, ou "rallyes" são corridas de carros de produção profundamente modificados em estradas públicas (fechadas) ou em áreas sem estrada. Um rali típico tem lugar em várias etapas, que os participantes podem analisar antes da competição. O navegador / co-piloto usa as notas tiradas durante o reconhecimento para ajudar o piloto a completar a etapa o mais depressa possível. A competição é geralmente baseada nos tempos, embora ultimamente tenham aparecido algumas etapas com competição directa. O principal campeonato de ralis é o Campeonato Mundial de Rali (WRC), mas também existem campeonatos regionais e muitos países têm os seus próprios campeonatos nacionais. Há alguns ralis famosos: o Rali de Monte Carlo ou o Rali de San Remo. Outro acontecimento semelhante a um rali (na realidade um "raide") é o Rali Dakar. Existem ainda muitas categorias de ralis menores, populares entre os amadores, constituindo a base dos desportos motorizados. Há que considerar também o Rali Rota dos Vinhos Verdes, uma das mais importantes provas de Regularidade Histórica para Automóveis Antigos e Clássicos que se realiza anualmente em Portugal. As Regularidades Históricas cada vez assumem mais adeptos e aficcionados em todo o mundo e possibilitam uma nova abordagem desta temática. Corridas em pisos de terra. As corridas em piso de terra estão dividas em duas grandes categorias: corridas em circuitos fechados (geralmente designada de "offroad") ou corrida em terrenos abertos, em etapas em linha, designadas por provas de todo-o-terreno. Circuitos de terra. Ver também: Off-Road em Portugal Neste tipo de corridas participam geralmente carros modificados para a dureza do piso, consistindo em completar um determinado número de voltas a um circuito que poderá ser totalmente em terra (recebendo em Portugal a designação de Autocross), pistas mistas de terra e asfalto (Ralicross), ou pistas em terra, disputadas por carros especialmente concebidos para esse fim (Kartcross). No Brasil também existe uma categoria chamada "Velocidade na Terra", onde veículos correm em circuitos fechados, de terra batida, sem os tradicionais obstáculos dos Ralies, onde vence quem primeiro completar o número de voltas estipuladas. Os principais campeonatos regionais são disputados no Paraná e em Santa Catarina, onde os carros são divididos em diversas categorias, quer sejam: KartCross, Formula Tubolar, Marcas, Turismo, Novatos, Hot Dodge, Stock Car, Fusca Velocidade e Autocross. Ao redor do mundo, há ainda a categoria chamada de , que é uma corrida com vários carros de rali, todos simultaneamente em um circuito fechado (geralmente de terra, embora também haja rallycross em pistas com asfalto), vence quem chegar na frente ao final do número de voltas estipuladas. Um dos campeonatos mais famosos de rallycross é o Campeonato Mundial de Rallycross, organizado pela FIA. Todo-o-terreno. As provas de todo o terreno é praticada em percursos que atravessam campos, montanhas, alagados, pedreiras, desertos e outros terrenos que proporcionem dificuldades para sua transposição. Os carros utilizados são normalmente do tipo jipe, com tração nas quatro rodas ou Buggy's especialmente concebidos para o efeito. Neste tipo de provas, é comum participarem também motos, camiões e quad's (ou moto-quatro). A maioria de provas deste género concentra-se em duas grandes categorias: as provas designadas de "Cross-Country" ou "Bajas" e os "Rali-Raide". A grande diferença entre estas categorias encontra-se na extensão da prova e na exigência mecânica da mesma. As provas de Cross-Country ou Bajas são provas que decorrem numa geografia mais ou menos limitada, com a duração média entre 1 e 3 dias, e um parque de assistência fixo. Este tipo de provas constituem a maior parte dos troféus de competições todo-o-terreno nacionais. São exemplos deste tipo de provas a Baja Portalegre 1000 ou o Rali Transibérico, em Portugal, o Rally dos Sertões no Brasil ou a Baja 1000 no México." Já as provas Rali-Raide são marcadas por longas provas classificativas, estendendo-se por mais de uma semana, atravessando países ou continentes, exigindo parques de assistência que vão-se deslocando de acordo com o percurso da prova. Os principais factores que ditam a classificação final são a regularidade e fiabilidade dos equipamentos em detrimento da velocidade de ponta. São exemplo destes ralis o Rali Dakar, o Rali Rota da Seda ou o África Eco Race. A prova "24 horas de Todo-o-Terreno de Fronteira" consiste numa corrida num circuito fechado mas de perfil "cross-country" (designado de "Terródromo"), no qual participam todo o tipo de automóveis (desde jipes, SUV's a carros citadinos) correndo durante 24 horas, apenas com paragens para reabastecimentos, troca de pilotos ou manutenção, vencendo a equipa que conseguir o maior nº de voltas durante esse período. É a prova do género mais conceituada internacionalmente. Corridas na neve. Nesta modalidade participam carros com configurações semelhantes às dos carros de rali, em circuitos em piso de terra, que se encontra geralmente coberto de neve ou gelo. O troféu mais conceituado é o Troféu Andros disputado, em circuitos nos Alpes e Pirenéus. Rampas. As Rampas ou Corridas de Montanha, corresponde numa etapa em linha (partida diferente da chegada) disputada com declive ascendente, cujo objetivo é o de efetuar o menor tempo do percurso. Cada veículo efetua o trajeto sozinho (em modalidade semelhante aos ralis). Este tipo de provas é aberto a praticamente todos os automóveis desde Fórmulas, carros de Turismo ou GT, Sport-Protótipos (Barquetas), Clássicos ou até carrinhas (Desafio Ford Transit). As provas de maior reconhecimento são a Rampa da Falperra (em Braga, Portugal) ou a Subida Internacional de Pikes Peak nos Estados Unidos. Corridas de carros de desporto. Nesta modalidade as versões de produção de carros de desporto e protótipos competem em circuitos fechados. As corridas desenrolam-se, em regra, em distâncias longas, em provas conhecidas como corridas de 'endurance' (ou corridas de resistência). Os carros são conduzidos por equipas de dois, três ou quatro condutores que se revezam de vez em quando. Devido às grandes diferenças entre os carros desportivos "normais" (vulgo GT's) e os protótipos de competição, uma única corrida envolve geralmente várias classes diferentes. Nos Estados Unidos, organiza-se a IMSA SportsCar Championship, incluindo classes GT, GTS e duas classes de protótipos. Uma competição semelhante foi criada na Europa em 2004, com assinalável sucesso entre os concorrentes que preenchem grids com cerca de 50 carros denominada de Campeonato Mundial de Endurance da FIA. Corridas famosas de carros de desporto são, por exemplo, as 24 Horas de Le Mans, as 12 Horas de Sebring, os 1 000 km de Monza, 24 Horas de SPA, 1 000 km de Nürburgring, 24 Horas de Daytona e a Mil Milhas Brasileiras. A FIA organiza um campeonato, chamado de FIA GT, com carros divididos em 4 classes GT1, GT2, GT3 e NGT. Corridas de stock cars. Em seu conceito original, as corridas de "stock cars" consistiam em competições em que se usavam carros comuns sem nenhuma adaptação para corridas, contudo hoje em dia este termo não se designa a essas competições, já que os carros de "stock cars" são projetados exclusivamente para corridas, esse tipo de corrida é popular principalmente nos Estados Unidos, contudo existem categorias expressivas no Canadá, Brasil, Argentina, no México, na Grã-Bretanha e na Oceania, a principal característica dessa competição é o uso de circuitos ovais (de terra ou asfalto) para as corridas. A maior categoria de "stock cars" é a NASCAR, a sua série principal é a NASCAR Sprint Cup Series, e a mais famosa corrida da série é a Daytona 500. A organização NASCAR também organiza a Nationwide Series (uma liga inferior de "stock cars") e a Camping World Truck Series, de pickup, além de sancionar outras categorias menores regionais nos Estados Unidos. A NASCAR organiza ainda a série Featherlite de carros "modificados", com carros muito modificados a partir da estrutura básica dos "stock cars", através da adição de motores poderosos, pneus largos e chassis leve de rodas livres. Mas a série mais antiga da NASCAR continua a ser a que tem maior apelo junto do público. No Brasil, a principal categoria é a Stock Car Brasil e na Argentina a Turismo Carretera. Corridas de caminhões. Consiste em corridas em circuitos fechados, em pisos de asfalto ou terra, disputadas apenas por caminhões (apenas a parte motorizada), cujo objetivo é efetuar um determinado número de voltas no menor tempo. No Brasil, tal modalidade é representada pela Copa Truck, um aprimoramento da extinta 1ª Copa Brasil de Caminhões, ocorrida na cidade de Cascavel, no Paraná, e que culminou com a morte de Jeferson Ribeiro da Fonseca. Foi em 1993, ainda com o nome de Racing Truck, a categoria foi criada por Aurélio Batista Félix. O reconhecimento do trabalho veio em 1996, com a homologação da categoria e a criação do Campeonato Brasileiro de Fórmula Truck. Corridas lineares. Nas corridas lineares ("drag racing"), ou também conhecidas como corridas de arrancada, o objetivo é completar uma certa distância, tradicionalmente um quarto de milha (1 320 pés ou 402 m), no mais curto espaço de tempo possível. Os veículos utilizados variam entre o carro de todos os dias e o "dragster". As velocidades e os tempos diferem, naturalmente, de classe para classe. Um carro vulgar pode completar os 402 m em 15 segundos, ao passo que um "dragster" poderoso pode cobrir a mesma distância em 4,5 segundos e atingir 530 km/h (330 m/h). As corridas lineares foram iniciadas, enquanto desporto, por Wally Parks, no início dos anos 1950, por intermédio da NHRA (National Hot Rod Association), que é o maior corpo organizativo do desporto automóvel no mundo inteiro. A NHRA foi formada com o objetivo de afastar as pessoas das corridas de rua. Corridas de rua ilegais não são corridas lineares. Ao acelerar até aos 530 km/h, um "dragster" poderoso puxa 4,5 g de aceleração, e quando os travões e os paraquedas estão em ação, o condutor experimenta uma aceleração negativa de 4g (mais do que os tripulantes do vaivém espacial). Um único "dragster" pode ser ouvido a 13 km, e pode gerar uma leitura sismográfica de 1,5 - 2 na escala de Richter. (dados dos NHRA Mile High Nationals de 2001, e de testes realizados em 2002 pelo Centro Nacional de Sismologia dos EUA.) As corridas lineares realizam-se frequentemente em competição direta entre dois carros, com o vencedor de cada ronda a passar à ronda seguinte. Nas classes profissionais é sempre o primeiro a chegar à meta que ganha. Nas classes amadoras, existe um "handicap" (aos carros mais lentos é dada uma vantagem) que usa um índice, e os carros que correm mais rapidamente que o seu índice permite, "rebentam" e perdem. As corridas lineares são populares principalmente nos Estados Unidos. Corridas de carros clássicos. Modalidade em franca expansão, as corridas para carros clássicos reúnem veículos que fizeram a historia do automobilismo desportivo entre o final da Segunda Guerra Mundial e meados dos anos setenta. O regulamento varia de país para país, mas normalmente rege-se pelo Anexo J da época dos carros, ou pelo mais restritivo Anexo K, concebido exclusivamente para este tipo de competições. Actualmente entre outras provas, disputa-se um campeonato internacional de Fórmula 1 (TGP), um outro para protótipos de Grupo C, outro para protótipos e GT's anteriores a 1980 e ainda inúmeras outras competições que vão dos carros de turismo até aos Rallyes. As mais importantes competições de Clássicos na Europa são sem dúvida as 24 Horas de Le Mans Classic e o circuito de Goodwood, onde desde o público aos mecânicos e comissários, todos têm que fazer parte do cenário, sendo obrigatório envergar uma indumentária da época das corridas disputadas. Em Portugal disputam-se dois campeonatos de velocidade para clássicos (CNVC e TNCV) divididos em inúmeras subclasses, entre as quais a "Taça 1300". O CNVC é dominado pelos Ford Escort RS com motor Cosworth BDG e pelos Porsche Carrera RSR. O TNCV é o feudo dos antigos protótipos de Grupo 5, aparecendo carros tão espectaculares como os Lola T70 Chevy V8, March 74S, Lola T282, Lola T212, Chevron B19 e B21. Existe também um campeonato nacional de ralis para clássicos e ainda um elevado número de ralis de regularidade para viaturas clássicas. Corridas de carros de turismo. Tal como nos ralis, nas corridas de carros de turismo competem carros de produção altamente modificados mas, ao contrário do que acontece em ralis, no turismo os carros correm ao mesmo tempo, uns contra os outros, geralmente em circuitos fechados. Existe um campeonato internacional de carros de turismo, o Campeonato Mundial de Carros de Turismo (WTCC, "World Touring Car Championship") e a maior parte dos países têm os seus próprios campeonatos nacionais. Entre os mais conhecidos contam-se o British Touring Car Championship (BTCC, Campeonato Britânico de Carros de Turismo), o Deutsche Tourenwagen Meisterschaft (DTM, Campeonato Alemão de Carros de Turismo), Stock Car V8 no Brasil e os V8 Supercars (V8 Supercarros) na Austrália. No Brasil há o Campeonato Brasileiro de Turismo, juntamente (talvez até à sombra) com a Stock Car. Corridas de Drift. Neste tipo de corridas, o objetivo é fazer deslizar a traseira do carro de forma controlada, sendo cada piloto avaliado em diversos parâmetros: velocidade máxima atingida, ângulo médio de deslize, a proximidade aos "pontos de aproximação", a distância ao carro da frente, entre outros. Este tipo de corridas surgiu no Japão onde é uma modalidade bastante popular, tendo-se tornado globalmente conhecida após filmes como "" (no Brasil: Velozes e Furiosos: Desafio em Tóquio / em Portugal: Velocidade Furiosa - Ligação Tóquio). Um dos campeonatos de drift mais reconhecidos pelo mundo é a Fórmula Drift. Karting. O karting é a categoria mais elementar do automobilismo pelo facto dos veículos (karts) serem preparados a baixo custo especificamente para corridas. Por ser pequeno, chama a atenção de crianças e por isso pode ser considerado a porta de entrada dos pilotos profissionais no desporto sendo a categoria de base do automobilismo. O karting é também famoso por atrair amantes do automobilismo. As corridas acontecem em kartódromos, pistas específicas para a prática do karting. Acidentes. Desde o começo das competições, acidentes são comuns no automobilismo, os mais conhecidos deles foram a Tragédia de Le Mans em 1955 e o Grande Prêmio de San Marino de 1994 quando faleceu o piloto Ayrton Senna, entre outros acidentes. Principais corridas. Dentre os principais eventos automobilísticos se destacam o Grande Prêmio de Mônaco (Fórmula 1), 500 Milhas de Indianápolis (IndyCar Series), Daytona 500 (NASCAR), 24 Horas de Le Mans (Turismo/Endurance - WEC), 24 Horas de Daytona (Turismo/Endurance - IMSA), Rali Dakar (Rali), Bathurst 1000 (V8 Supercars), entre outras. Desportos a motor nos Jogos Olímpicos. Da era moderna dos Jogos Olímpicos, o esporte a motor fez parte apenas duas vezes: a primeira, na edição de Paris, em 1900, na forma de um conjunto de demonstrações de diversas modalidades; a segunda – e única oficial -, oito anos mais tarde, em Londres, que envolveu três eventos de motonáutica. Em 2003, a Federação Internacional do Automóvel (FIA) recusou-se a assinar o Código Mundial Anti-doping, o que quebrou de vez a relação do Comité Olímpico Internacional (COI) com a FIA. Em 2011, a FIA, através da figura de seu presidente, Jean Todt, conseguiu voltar a estreitar relações com o COI, manifestando-se a favor das regras do comitê, incluindo o Código Mundial Anti-doping. No dia 9 de dezembro de 2011, em carta assinada pelo presidente da entidade olímpica, Jacques Rogge, o automobilismo recebeu o reconhecimento provisório do Comitê Olímpico Internacional. O documento tem validade de dois anos. Durante este período, a FIA terá que seguir algumas diretrizes, como garantir o desenvolvimento esportivo no mundo, e fortalecer regras para a prática do esporte, e criar uma comissão de atletas, para que o reconhecimento definitivo do COI possa ser dado novamente ao automobilismo. Em 11 de janeiro de 2012, a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) foi reconhecida pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) como uma federação esportiva e assinou a Carta Olímpica. Apesar disso, porém, o então presidente do COI, Jacques Rogge, descartou qualquer possibilidade de integrar o automobilismo aos Jogos Olímpicos. No seu entender, “"o conceito que temos é que os jogos são competições entre atletas e não entre equipamentos. Apesar de haver um enorme respeito pelas corridas de carro, elas não serão incluídas no programa olímpico"”, explicou. Mas, além disso, o maior entrave para que o automobilismo entre no programa dos jogos é o fato de não ser praticado por muitas mulheres. Segundo a Carta Olímpica, que foi assinada pela FIA, "para entrar no programa olímpico, a modalidade deve ser praticada por homens em pelo menos 75 países, em quatro continentes diferentes, e por mulheres de 40 países, em três continentes distintos".
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Alto Alentejo (sub-região)
Alto Alentejo (sub-região) O Alto Alentejo é uma sub-região portuguesa situada no centro-leste do país, pertencendo à região do Alentejo. Tem uma extensão total de 6.230 km2, 104.930 habitantes em 2021 e uma denisdade populacional de 17 habitantes por km2. Está composta por 15 municípios e 69 freguesias, sendo a cidade de Portalegre a cidade administrativa e um dos principais núcleos urbanos da sub-região. Com 14.318 habitantes na sua área urbana e 22.368 habitantes em todo o município, é a segunda maior cidade, a seguir de Elvas com 14.438 habitantes, e o maior município da sub-região, sendo limitada a norte com a Beira Baixa, a oeste com a região espanhola da Estremadura, a sul com o Alentejo Central, a sudoeste com a Lezíria do Tejo e a noroeste com o Médio Tejo. Municípios. Compreende 15 concelhos: Os principais núcleos urbanos são as cidades de Elvas ( habitantes), Portalegre ( habitantes), Ponte de Sor (8 700 habitantes) e a vila de Campo Maior (7 800 habitantes). Questão de Olivença. Olivença, município pertencente "de facto" à comunidade espanhola da Estremadura, e "de jure" à região portuguesa do Alto Alentejo, é reivindicada por Portugal desde o século XIX, pelo qual existe uma corrente de opinião que advoga que Olivença é um concelho português do Alto Alentejo.
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Alentejo Litoral
Alentejo Litoral O Alentejo Litoral é uma sub-região portuguesa situada no sudoeste do país, pertencendo à Região do Alentejo. Tem uma extensão total de 5.308 km2, 96.485 habitantes em 2021 e uma denisdade populacional de 18 habitantes por km2. Está compostada por cinco municípios e 31 freguesias, tendo Grândola a localização administrativa da sub-região. O maior núcleo urbano se encontra em Sines, com 13.109 na sua área urbana e com 14.200 em todo o município, tornando-se a maior cidade do Alentejo Litoral, que é limitada a noroeste com a Área Metropolitana de Lisboa, a nordeste com o Alentejo Central, a leste com o Baixo Alentejo, a sul com o Algarve e a oeste com o Oceano Atlântico. Divisões. A sub-região é composta por cinco municípios e 31 freguesias. Municípios. O Alentejo Litoral divida-se nos seguintes cinco municípios: Freguesias. O Alentejo Litoral divida-se nas seguintes 31 freguesias: Vilas. <mapframe latitude="37.9572" longitude="-8.6819" zoom="9" width="400" height="600" align="right" /> Turismo. O Alentejo Litoral representa mais de 40% da oferta da região, apresentando 5 409 camas. Representa cerca de 30% das dormidas da região, no total de 400.000.
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Adolf Hitler
Adolf Hitler Adolf Hitler (por vezes em português Adolfo Hitler; ; Braunau am Inn, 20 de abril de 1889 – Berlim, 30 de abril de 1945), foi um político alemão que serviu como líder do Partido Nazista ("Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei"; NSDAP), Chanceler do Reich (de 1933 a 1945) e "Führer" ("líder") da Alemanha Nazista de 1934 até 1945. Como ditador do Reich Alemão, ele foi o principal instigador da Segunda Guerra Mundial na Europa e figura central do Holocausto. Hitler nasceu na Áustria, então parte do Império Austro-Húngaro, e foi criado na cidade de Linz. Mudou-se para a Alemanha em 1913 e serviu com distinção no exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial. Juntou-se ao Partido Alemão dos Trabalhadores, precursor do Partido Nazista, em 1919, e tornou-se seu líder em 1921. Em 1923, organizou um golpe de estado em Munique para tentar tomar o poder. O fracassado golpe resultou na prisão de Hitler. Enquanto preso, ele ditou seu primeiro trabalho literário, a sua autobiografia e manifesto político, "Mein Kampf" ("Minha Luta"). Quando foi solto da cadeia, em 1924, Hitler ganhou apoio popular pela Alemanha com sua forte oposição ao Tratado de Versalhes e promoveu suas ideias de pangermanismo, antissemitismo e anticomunismo, com seu carisma e forte propaganda. Ele frequentemente criticava os sistemas capitalista e comunista como sendo partes de uma conspiração judia. Em 1933, o Partido Nazista tornou-se o maior partido eleito no "Reichstag", com seu líder, Adolf Hitler, sendo apontado Chanceler da Alemanha no dia 30 de janeiro do mesmo ano. Após novas eleições, ganhas por sua coalizão, o Parlamento aprovou a Lei habilitante de 1933, que começou o processo de transformar a República de Weimar na Alemanha Nazista, uma ditadura de partido único totalitária e autocrática de ideologia nacional socialista. Hitler pregava a eliminação dos judeus da Alemanha e o estabelecimento de uma Nova Ordem para combater o que ele via como "injustiças pós-Primeira Grande Guerra", numa Europa dominada pelos britânicos e franceses. Em seus primeiros seis anos no poder, a economia alemã recuperou-se da Grande Depressão, as restrições impostas ao país após a Primeira Guerra Mundial foram ignoradas e territórios na fronteira, lar de milhões de "Volksdeutsche" (alemães étnicos), foram anexados — ações que deram a ele grande apoio popular. Hitler queria estabelecer o "Lebensraum" ("espaço vital") para o povo alemão. Sua política externa agressiva é considerada um dos motivos que levaram a Europa e o mundo à segunda grande guerra. Ele iniciou um grande programa de reindustrialização e rearmamento da Alemanha em meados da década de 1930 e então, a 1 de setembro de 1939, ordenou a invasão da Polônia, resultando numa declaração de guerra por parte do Reino Unido e da França alguns dias depois. Em junho de 1941, Hitler ordenou a invasão da União Soviética. Em meados de 1942, a "Wehrmacht" (as forças armadas nazistas) e as tropas do Eixo já ocupavam boa parte da Europa continental, do Norte da África e quase um quarto do território soviético. Contudo, após falharem em conquistar Moscou e serem derrotados em Stalingrado, as forças nazistas começaram a retroceder. A entrada dos Estados Unidos na guerra ao lado dos Aliados forçou a Alemanha a ficar na defensiva, acumulando uma série de derrotas a partir de 1943. Nos últimos dias do conflito, durante a Batalha de Berlim em 1945, Hitler se casou com sua amante de longa data, Eva Braun. No dia 30 de abril de 1945, os dois cometeram suicídio para evitar serem capturados pelo exército vermelho. Seus corpos foram queimados e enterrados. Uma semana mais tarde a Alemanha se rendeu formalmente. Sob a liderança de Adolf Hitler, com uma ideologia racialmente motivada, o regime nazista perpetrou um dos maiores genocídios da história da humanidade, matando pelo menos 6 milhões de judeus e milhares de outras pessoas que Hitler e seus seguidores consideravam como "Untermenschen" ("sub-humanos") e socialmente "indesejáveis". Os nazistas também foram responsáveis pela morte de mais de 19,3 milhões de civis e prisioneiros de guerra. Além disso, no total, 29 milhões de soldados e civis morreram como resultado do conflito na Europa durante a Segunda Guerra Mundial. O número de fatalidades neste conflito foi sem precedentes e ainda é uma das guerras mais mortais da história. Primeiros anos. Família. Seu pai, Alois Hitler Sr. (1837–1903), era filho ilegítimo de Maria Anna Schicklgruber. Seu registro de batismo não trazia o nome do seu pai, então Alois inicialmente assumiu o sobrenome da mãe, "Schicklgruber". Em 1842, Johann Georg Hiedler casou-se com Maria Anna. Alois foi criado na família do irmão de Georg, Johann Nepomuk Hiedler. Em 1876, Alois foi legitimado e seu registro de batismo foi averbado por um padre para registrar Johann Georg Hiedler como pai de Alois (registrado como "Georg Hitler"). Alois assumiu então o sobrenome "Hitler", também escrito e soletrado como "Hiedler", "Hüttler" ou "Huettler". O sobrenome "Hitler" é provavelmente baseado em "aquele que vive em uma cabana" (alemão: "Hütte" para "cabana"). O oficial nazista Hans Frank sugeriu que a mãe de Alois era empregada doméstica na casa de uma família judia em Graz, e que o filho de 19 anos desta família, Leopold Frankenberger, seria o pai de Alois. Mas nenhum Frankenberger foi registrado em Graz neste período e nenhum documento comprova a existência de Leopold Frankenberger, então a maioria dos historiadores consideram que a ideia de que o avô de Hitler era judeu é falsa. Infância e educação. Adolf Hitler nasceu em 20 de abril de 1889 em Braunau am Inn, uma cidade da Áustria-Hungria (hoje em dia localizada na Áustria), próximo à fronteira do Império Alemão. Ele era um dos seis filhos nascidos de Alois Hitler e Klara Pölzl (1860–1907). Três dos seus irmãos — Gustav, Ida e Otto — morreram ainda na infância. Quando Hitler tinha apenas três anos, sua família se mudou para Passau, na Alemanha. Lá ele adquiriu um dialeto bávaro, que trouxe uma marca reconhecível a sua voz. A família retornou para a Áustria e se assentou em Leonding em 1894 e em junho de 1895 Alois se aposentou em Hafeld, próximo de Lambach, onde ele passou a criar abelhas. Hitler estudou numa "Volksschule" (escola pública) próximo a Fischlham. A mudança para Hafeld coincidiu com um aumento nos conflitos pai-filho causados pela recusa de Hitler de se conformar à estrita disciplina de sua escola. A ideia da fazenda de abelhas de Alois Hitler em Hafeld terminou em fracasso e em 1897 a família se mudou para Lambach. Aos oito anos de idade Hitler começou a ter aulas de canto e chegou a se apresentar no coral de sua igreja. Neste período até considerou virar padre. Em 1898 retornou novamente para Leonding. A morte do seu irmão mais novo, Edmund, devido ao sarampo, em 1900, afetou muito Hitler. Ele mudou de uma pessoa confiável, extrovertida e um aluno consciencioso para um rapaz taciturno e desapegado que batia de frente com seus pais e professores. Alois havia feito sucesso na carreira como funcionário público da alfândega e queria que seu filho seguisse seus passos. Hitler escreveu mais tarde que seu pai o levou até o escritório em que trabalhava, dizendo que este evento deu origem a um antagonismo irreconciliável entre pai e filho, já que ambos tinham temperamento forte. Ignorando a vontade do filho de frequentar uma escola clássica e se tornar um artista, Alois enviou Hitler para um "Realschule" (uma escola secundária) em Linz em setembro de 1900. Hitler rebelou-se contra esta decisão e no livro "Mein Kampf" afirmou que propositalmente foi mal na escola, esperando que uma vez que seu pai visse o pouco progresso que fazia na escola técnica ele o deixaria perseguir seu sonho numa escola artística. Como muitos austríacos alemães, Hitler começou a desenvolver ideias nacionalistas pan-germânicas desde muito jovem. Ele expressava apoio à Alemanha, desprezando a decadente Monarquia de Habsburgo e seu império multiétnico. Hitler e seus amigos cumprimentavam-se com "Heil" e cantavam o "Deutschlandlied" em vez do hino imperial austríaco. Após a repentina morte de Alois em 3 de janeiro de 1903, o desempenho de Hitler na escola deteriorou-se e a mãe dele permitiu que abandonasse os estudos naquele momento. Ele então se matriculou em uma "Realschule" em Steyr em setembro de 1904, onde seu comportamento e desempenho escolar melhoraram. Em 1905, após passar no exame final, Hitler deixou a escola sem ambições de aprofundar os estudos ou fazer planos de carreira. Juventude em Viena e Munique. Desde 1905, Hitler passou a viver uma vida boêmia em Viena, financiada pela pensão de órfão que recebia e do apoio proveniente de sua mãe. Ele teve vários trabalhos, incluindo o de pintor, vendendo aquarelas de locais turísticos de Viena. A Academia de Belas-Artes o rejeitou em 1907 e em 1908, afirmando que ele era "inapto para pintura". O diretor da academia sugeriu que Hitler estudasse arquitetura, que também era do seu interesse, mas ele não tinha as qualificações acadêmicas já que não tinha terminado a escola secundária. Em 21 de dezembro de 1907, sua mãe morreu de câncer de mama aos 47 anos. Hitler acabou ficando sem dinheiro e foi forçado a viver em abrigos para sem-tetos. No tempo que vivia lá, Viena era um viveiro de preconceito religioso e racismo. O medo de serem sobrepujados por imigrantes vindos do leste Europeu era grande e o prefeito populista Karl Lueger explorava a retórica antissemita para fins políticos. O nacionalismo alemão estava em alta no distrito de , onde Hitler vivia. O nacionalista Georg Ritter von Schönerer, que advogava o pangermanismo, antissemitismo, antieslavismo e anticatolicismo, era uma grande influência para Hitler. Ele lia jornais como o "Deutsches Volksblatt," que espalhava preconceito e cultivava o medo dos cristãos de serem inundados pelo influxo de judeus do leste. Hitler também lia jornais que pregavam o darwinismo social e exploravam algumas das ideias dos filósofos Nietzsche, Le Bon e Schopenhauer. Era hostil ao que ele via como "Germanofobia Católica" e demonstrou admiração por Martinho Lutero. A origem do antissemitismo de Hitler e a primeira vez que ele a expressou é motivo de debates. Ele afirmou no "Mein Kampf" que se tornou um antissemita em Viena. Seu amigo próximo, August Kubizek, afirmou que Hitler era um "convicto antissemita" antes de deixar Linz. Várias fontes dão evidência que Hitler tinha amigos judeus quando jovem no começo da sua estadia em Viena. O historiador Richard J. Evans diz que "historiadores agora geralmente concordam que seu notório e assassino antissemitismo surgiu com força após a derrota alemã [na Primeira Grande Guerra], como uma paranoia da "Dolchstoßlegende" (lenda da punhalada pelas costas)". Hitler recebeu a parte final da pensão do seu pai em maio de 1913 e se mudou para Munique, no sul da Alemanha. Historiadores acreditam que ele deixou Viena para fugir do alistamento do exército austro-húngaro. Hitler mais tarde afirmou que não queria servir no exército austríaco devido à alta miscigenação das forças armadas. Após ser julgado inapto para o serviço — ele falhou em um exame físico em Salzburgo em 5 de fevereiro de 1914 — retornou para Munique. Primeira Guerra Mundial. Quando eclodiu a Primeira Guerra Mundial, Hitler vivia em Munique e, embora fosse um cidadão austríaco, ele se voluntariou no Exército da Baviera. Um relatório feito pelas autoridades bávaras em 1924 diz que Hitler serviu no exército local por erro (tecnicamente, como austríaco, ele não podia servir no exército alemão). Ele se juntou ao 16º Regimento Reserva de Infantaria Bávara (1ª Companhia do Regimento), servindo como mensageiro na Frente Ocidental na França e na Bélgica, passando quase metade de seu tempo no quartel-general do regimento em Fournes-en-Weppes, bem atrás das linhas de frente. Ele esteve presente nas batalhas de Ypres, do Somme (onde foi ferido), de Arras e em Passchendaele. Ele foi condecorado por bravura, recebendo a Cruz de Ferro, de segunda classe, ao fim de 1914. Sob recomendação do oficial judeu Hugo Gutmann, Hitler recebeu outra medalha, a Cruz de Ferro de primeira classe, em 4 de agosto de 1918, uma condecoração raramente dada a um soldado de sua patente ("Gefreiter"). Ele também recebeu o Distintivo de Ferido em 18 de maio de 1918. A folha de serviço de Hitler, no geral, foi exemplar, mas nunca foi promovido além de Cabo, que era a patente mais alta oferecida a um estrangeiro no exército alemão à época. Durante seu serviço no quartel-general, Hitler continuou seu trabalho como artista, fazendo desenhos e ilustrações para o jornal do exército. Durante a batalha do Somme, em outubro de 1916, ele foi ferido na coxa quando um disparo de artilharia caiu perto de sua posição. Hitler passou dois meses em um hospital em Beelitz, retornando ao seu regimento em 5 de março de 1917. Em 15 de outubro de 1918, ele foi cegado temporariamente por gás mostarda durante um ataque e foi hospitalizado em Pasewalk. Enquanto estava lá, Hitler foi informado da derrota da Alemanha. Segundo ele próprio, ao receber esta notícia, sofreu novamente por cegueira devido à tristeza. Hitler descreveu seu tempo na guerra como "a maior das experiências". Ele foi muito elogiado por seus oficiais superiores devido à bravura que demonstrava. A experiência em combate reforçou seu patriotismo, fazendo dele um nacionalista apaixonado. Hitler ficou chocado com a capitulação da Alemanha em novembro de 1918. A amargura a respeito do colapso do esforço de guerra moldou sua ideologia. Como muitos outros nacionalistas alemães e veteranos de guerra, ele acreditava no "Dolchstoßlegende" (a "teoria da punhalada nas costas"), que consistia na ideia de que o exército alemão, "invicto no campo de batalha", fora traído e apunhalado pelas costas pela liderança política civil e pelos marxistas, que mais tarde foram chamados pelos nazistas de "criminosos de novembro". O Tratado de Versalhes de 1919 julgou que a Alemanha era a única responsável pela guerra e portanto deveria ser severamente punida. O país perdeu várias partes do seu território e a região estratégica da Renânia foi desmilitarizada. O tratado também impôs pesadas sanções econômicas e exigiu que o país pagasse grandes reparações para as nações vencedoras. Muitos alemães viram o tratado como uma humilhação injusta. O rancor com o Tratado de Versalhes, junto com a grave crise econômica, social e política do pós-guerra na Alemanha seria explorado por Hitler para fins políticos. Início da carreira política. Após a primeira guerra mundial, Hitler retornou para Munique. Sem uma educação formal ou prospectos de carreira, ele decidiu permanecer no exército. Em julho de 1919, ele foi apontado como "Verbindungsmann" (agente de inteligência) da "Aufklärungskommando" (Comando de Reconhecimento) do "Reichswehr" (o novo exército alemão), com o propósito de influenciar outros soldados e se infiltrar no Partido Alemão dos Trabalhadores (DAP). Enquanto monitorava as atividades do DAP, Hitler foi atraído pelo fundador do partido, Anton Drexler, e sua retórica antissemita, nacionalista, anticapitalista e antimarxista. Drexler favorecia um governo forte e ativo, uma versão não judaica do socialismo (como ele descrevia), e solidariedade entre os membros da sociedade. Impressionado com as capacidades oratórias de Hitler, Drexler o convidou para se juntar ao DAP. Hitler aceitou a 12 de setembro de 1919, tornando-se o membro nº 555 (o partido havia começado a contagem de membros no número 500 para dar a impressão de ser maior do que realmente era). No DAP, Hitler conheceu Dietrich Eckart, um dos fundadores do partido e membro da ocultista Sociedade Thule. Eckart se tornou um dos mentores de Hitler, trocando ideias com ele e o apresentando à alta sociedade de Munique. Para aumentar seu apelo popular, o DAP mudou seu nome para "Nationalsozialistische Deutsche Arbeiterpartei" (Partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães; NSDAP, ou Partido Nazista). Hitler desenhou a bandeira do partido colocando uma suástica preta dentro de um círculo branco com um fundo vermelho. Hitler foi formalmente dispensado pelo exército em 31 de março de 1920 e começou a trabalhar em tempo integral no Partido Nazista (NSDAP). O quartel-general do partido era em Munique, um viveiro do sentimento nacionalista alemão antigoverno determinado a esmagar o marxismo e minar a autoridade da República de Weimar. Em fevereiro de 1921 — já acostumado a falar para grandes públicos — ele se dirigiu a uma plateia de mais de 6 000 numa noite. Para divulgar a reunião, dois caminhões cheios de partidários do seu movimento dirigiram por Munique balançando suásticas e distribuindo panfletos nazistas. Hitler ganhou notoriedade por seus grandes e polêmicos discursos contra o Tratado de Versalhes, rivais políticos e especialmente contra os marxistas-comunistas e os judeus. Em junho de 1921, enquanto Hitler e Eckart estavam em uma viagem para angariar fundos em Berlim, um motim irrompeu na sede do NSDAP em Munique. Membros do comitê executivo queriam fundir a legenda com os rivais do Partido Socialista Alemão (DSP), que também era de extrema-direita. Hitler retornou para Munique em 11 de julho e, com raiva, renunciou a sua filiação do partido. Os membros do comitê sabiam que a demissão da sua principal figura pública e orador significaria o fim do partido. Hitler anunciou que ele retornaria à legenda na condição de que ele substituiria Drexler na liderança do partido e o quartel-general deles permaneceria em Munique. O comitê aceitou e ele formalmente retornou ao NSDAP em 26 de julho como o membro nº 3 680. Hitler continuou a enfrentar oposição dentro do próprio NSDAP: entre seus principais oponentes estava Hermann Esser, que fora expulso do partido. Foram impressos mais de 3 000 panfletos criticando Hitler, acusando-o de ser um traidor. Nos dias seguintes, Hitler discursou em vários locais (sempre lotados) e se defendeu, atacando Esser, sempre recebendo estrondosos aplausos. Sua estratégia foi bem-sucedida e em uma reunião com a cúpula do partido, em 29 de julho, foram concedidos a ele poderes absolutos dentro do Partido Nazista, substituindo Drexler, numa votação de 533 a 1. Os discursos cáusticos de Hitler na cervejaria de Munique começaram a atrair grandes multidões com muita frequência. Ele utilizava táticas populistas, incluindo o uso de bodes expiatórios, que ele culpava por todas as dificuldades econômicas dos seus ouvintes. Hitler usava o magnetismo pessoal e seu entendimento da psicologia das multidões quando falava com o público. Ele sabia como falar e o que falar e em qual momento. Historiadores notam o efeito hipnótico da oratória de Hitler, manipulando as massas. Alfons Heck, um ex-membro da Juventude Hitlerista, mais tarde afirmou: Contudo, alguns visitantes que encontraram Hitler em privado notavam que sua aparência e comportamento não eram nada impressionantes. Entre seguidores que o apoiaram desde o início incluem-se Rudolf Hess, o ex piloto Hermann Göring e o capitão do exército Ernst Röhm. Hitler recrutou Röhm para organizar e comandar o grupo paramilitar conhecido como "Sturmabteilung" (SA), que servia como braço armado do partido, protegendo as reuniões e os líderes nazistas e também atacava oponentes políticos. Uma influência importante sobre o pensar de Hitler aconteceu durante o período da "Aufbau Vereinigung", um grupo conspiratório formado por "russos brancos" (como eram chamados os monarquistas contrarrevolucionários do antigo Império Russo) exilados e nacionais-socialistas no início. Este grupo, financiado por líderes industriais ricos, introduziu a Hitler a ideia de uma conspiração judaica internacional, ligada ao movimento bolchevique. Golpe da Cervejaria. Em 1923, Hitler se aproximou do general Erich Ludendorff, que também era veterano da primeira guerra mundial, para tentar tomar o poder na Baviera através de um golpe (conhecido como "Putsch da Cervejaria"). O Partido Nazista se inspirou no fascismo italiano como modelo para sua aparência, estilo e até políticas. Hitler queria emular a "Marcha sobre Roma" de Benito Mussolini, feita em 1922, dando seu próprio golpe em Munique, desafiando o governo central em Berlim. Hitler e Ludendorff buscaram apoio do "Staatskommissar" (comissário do estado) Gustav Ritter von Kahr, o "de facto" governador da Baviera. Contudo, Kahr, junto com o chefe de polícia Hans Ritter von Seisser e o general do exército Otto von Lossow, queriam tentar seu próprio golpe e instituir no país uma ditadura militar sob sua liderança, sem a participação de Hitler. Em 8 de novembro de 1923, Hitler e vários membros da SA invadiram uma reunião pública, organizada por Kahr, onde 3 000 pessoas estavam reunidas na Bürgerbräukeller, uma grande cervejaria de Munique. Interrompendo o discurso de Kahr, ele anunciou que a revolução nacional havia começado e declarou a formação de um novo governo com Ludendorff. Numa sala nos fundos, Hitler, com uma pistola em mãos, exigiu apoio de Kahr, Seisser e Lossow. Eles, temporariamente, concordaram. As tropas de Hitler inicialmente conseguiram ocupar o quartel-general do Reichswehr e da polícia, mas Kahr e seus colegas retiraram seu apoio e fugiram. As forças de segurança da Baviera decidiram não apoiar Hitler. No dia seguinte, os nazistas marcharam da cervejaria até o prédio do ministério da guerra bávaro para derrubar o governo local, mas a polícia estava preparada e abriu fogo contra as multidões, dispersando-os. Dezesseis membros do NSDAP e quatro policiais morreram no fracassado golpe. Hitler fugiu para a casa de Ernst Hanfstaengl, um membro do partido, e lá chegou a considerar o suicídio. Ele estava deprimido, mas calmo quando foi preso pelas autoridades locais em 11 de novembro de 1923 sob acusação de alta traição. Foi levado a corte popular de Munique e seu julgamento começou em fevereiro de 1924. Alfred Rosenberg assumiu interinamente a liderança do partido. Hitler usou o julgamento em seu benefício, usando a publicidade que a tentativa de golpe fracassada lhe trouxe. Ele discursou em defesa própria e chamou a atenção de muita gente para sua causa. Ainda assim, em 1 de abril, Hitler foi sentenciado a cinco anos de prisão em Landsberg. Lá, ele foi muito bem tratado pelos guardas e foi permitido que recebesse constantes visitas de camaradas do NSDAP, além de cartas e encomendas de apoiadores. Após ser perdoado pela Suprema Corte da Baviera, foi liberado da cadeia em 20 de dezembro de 1924, sob objeções do procurador-geral do estado. Incluindo o tempo da prisão preventiva, Hitler ficou apenas um pouco mais de um ano na prisão. Enquanto estava preso em Landsberg, Hitler ditou boa parte do seu livro "Mein Kampf" ("Minha Luta"; originalmente chamado de "Quatro anos e meio de Lutas contra Mentiras, Estupidez e Covardia") para o seu ajudante, Rudolf Hess. O livro, dedicado ao membro da Sociedade Thule e amigo Dietrich Eckart, era uma autobiografia e exposição de suas ideologias. O livro detalhou os planos de Hitler para transformar a sociedade alemã em uma baseada na raça. Algumas passagens do livro deixavam explícita a ideia de genocídio. Publicado em dois volumes, em 1925 e 1926, vendeu pelo menos 228 000 cópias entre 1925 e 1932. Um milhão de cópias foram vendidas em 1933, o primeiro ano de Hitler no poder. Pouco antes de Hitler poder entrar com um pedido de condicional, o governo da Baviera tentou extraditá-lo para a Áustria. Contudo, o Chanceler da Áustria, Rudolf Ramek, recusou o pedido, argumentando que o serviço no exército alemão tornara nula sua cidadania austríaca. Hitler renunciou a sua cidadania austríaca em 7 de abril de 1925. Reconstruindo o Partido Nazista. No época em que Hitler foi solto da cadeia, a situação política na Alemanha havia se tornado menos combativa e a situação da economia havia melhorado, limitando as oportunidades políticas de Hitler para agitação política. Como resultado do golpe fracassado, o Partido Nazista e suas organizações filiadas foram banidas da Baviera. Após um encontro com Heinrich Held, então primeiro-ministro bávaro, em 4 de janeiro de 1925, Hitler concordou em respeitar a autoridade do estado e prometeu que buscaria poder político agora apenas por meios democráticos. Um mês depois da reunião, o Partido Nazista deixou de ser banido e voltou à ativa. Hitler, contudo, foi barrado de fazer discursos públicos, mas este banimento foi suspenso também em 1927. Para avançar suas ambições políticas, apesar destes contratempos, Hitler nomeou Gregor Strasser, Otto Strasser e Joseph Goebbels para organizar e fazer crescer o Partido Nazista no norte da Alemanha. Um grande organizador, Gregor Strasser dirigiu um curso político mais independente, enfatizando os elementos socialistas do programa do partido. Em 29 de outubro de 1929, na Terça-Feira Negra, a bolsa de valores dos Estados Unidos quebrou. O impacto atingiu o mundo todo, inclusive a Alemanha. Várias empresas fecharam as portas, resultando em milhares de desempregados. Bancos faliram, causando um colapso parcial do sistema financeiro da nação. Hitler e os nazistas tomaram vantagem da situação emergencial para angariar apoio ao partido. Eles prometeram ao povo repudiar o Tratado de Versalhes, fortalecer a economia e garantir empregos e oportunidades. Ascensão ao poder. Governo Brüning. A Grande Depressão forneceu a Hitler uma ótima oportunidade política. Os alemães estavam ambivalentes sobre a república parlamentarista, que enfrentava forte oposição de extremistas de esquerda e direita. Já os partidos moderados não conseguiam competir com os radicais. No referendo de 1929, o povo alemão votou, por grande maioria, repudiar o pagamento de reparações de guerra estipulados no Tratado de Versalhes. A ideologia nazista, neste período, ganhou muito apoio popular. As eleições de setembro de 1930 resultaram na quebra da "grande coalizão", substituindo a administração do país por um governo de minoria. O chanceler Heinrich Brüning, do Partido do Centro, governava a nação por meio de decretos emergenciais do presidente Paul von Hindenburg. Governar por decreto acabou pavimentando o caminho para uma forma de governo mais autoritária. O Partido Nazista saiu da obscuridade e conquistou 18,3% dos votos (ou 6 409 600 de pessoas) e 107 assentos no parlamento nas eleições de 1930, tornando-se a segunda maior bancada no Reichstag. Hitler teve uma participação proeminente no julgamento de dois oficiais do Reichswehr, os tenentes Richard Scheringer e Hans Ludin, ao fim de 1930. Eles foram acusados de serem membros do Partido Nazista (a filiação partidária era proibida aos militares). A acusação disse que os nazistas eram extremistas e o advogado de defesa, Hans Frank, chamou Hitler para testemunhar. Em 25 de setembro de 1930, Hitler afirmou novamente que buscaria poder político apenas pela via democrática. Seu discurso neste julgamento chamou atenção do corpo de oficiais do exército e muitos lá passaram a apoiá-lo. As medidas de austeridade do chanceler Brüning trouxe poucos resultados e eram tremendamente impopulares. Hitler explorou isso em suas mensagens políticas para o povo, falando especialmente às classes mais baixas que eram mais extensamente afetadas pela hiperinflação e a retração econômica. Assim, os nazistas conquistaram bastante apoio de fazendeiros, veteranos de guerra e trabalhadores da classe média. Apesar de Hitler ter renunciado a sua cidadania austríaca em 1925, demorou cerca de sete anos para ele se tornar cidadão alemão. Isso significava que, na prática, ele era um apátrida e não podia se candidatar a um cargo público e até podia ser deportado. Em 25 de fevereiro de 1932, o ministro do interior de Brunswick, Dietrich Klagges, que era membro do Partido Nazista, nomeou Hitler como administrador da delegação do estado para o Reichsrat em Berlim, fazendo de Hitler um cidadão de Brunswick, e assim um alemão. Em 1932, agora como pleno cidadão alemão, Hitler concorreu contra Paul von Hindenburg nas eleições presidenciais. A 27 de janeiro de 1932, ele fez um discurso no Clube Industrial de Düsseldorf e lá conquistou apoio dos principais empresários industriais alemães. Hindenburg tinha apoio de vários partidos nacionalistas, monarquistas, católicos e republicanos, e até mesmo dos Sociais Democratas. Hitler usou como slogan de campanha a frase "Hitler über Deutschland" ("Hitler sobre a Alemanha"), uma referência às suas ambições políticas e sua campanha, sendo que ele viajava muito de aeronave pelo país. Ele foi um dos primeiros políticos a usar viagens de avião para fins políticos e utilizava este método rápido de viagem de forma eficiente. Hitler terminou em segundo lugar nesta eleição, ganhando cerca de 36% dos votos (ou 13 418 517 de pessoas). Apesar de ele ter perdido o pleito para Hindenburg, esta eleição estabeleceu Hitler como uma figura forte na política alemã. Indicação para Chanceler. A ausência de um governo eficiente fez com que dois políticos influentes, Franz von Papen e Alfred Hugenberg, junto com vários industriais e empresários, escrevessem uma carta para Hindenburg. Os signatários pediram para o presidente apontar Adolf Hitler como líder do governo "independente dos partidos parlamentares", dizendo que isso iria "encantar milhões de pessoas". Hindenburg desprezava Hitler, mas foi ficando sem opções, com o governo no Parlamento à beira do colapso, sem base política para se sustentar. Relutantemente, o presidente decidiu concordar em indicar Hitler para o cargo de chanceler (chefe de governo) após duas turbulentas eleições parlamentares — em julho e novembro de 1932 — que não tinham conseguido formar um governo de maioria. Hitler liderou uma coalizão, que durou pouco tempo, formada pelo Partido Nazista e os apoiadores de Alfred Hugenberg do Partido Popular Nacional Alemão (DNVP). Em 30 de janeiro de 1933, um novo gabinete foi formado e oficializado no escritório do presidente Hindenburg. O Partido Nazista ganhou três postos no governo: Hitler passou a ser o chanceler, Wilhelm Frick o Ministro do Interior do país e Hermann Göring o Ministro do Interior da Prússia. Hitler queria estes postos ministeriais pois ele almejava controlar por completo a polícia alemã. Incêndio do Reichstag e eleições de março. Como chanceler, Hitler trabalhou para impedir que os oponentes do Partido Nazista se unificassem e tentassem formar um governo de coalizão de maioria contra ele. A oposição, contudo, não conseguia se unificar, com os comunistas e socialistas não se entendendo com os partidos sociais democratas de esquerda. Com o impasse político se acentuando no Reichstag, Hitler pediu para o presidente Hindenburg dissolver o parlamento e convocar novas eleições para março. Em 27 de fevereiro de 1933, o prédio do Reichstag pegou fogo e ficou parcialmente destruído. Hermann Göring culpou os comunistas pelo atentado. De fato, um comunista holandês Marinus van der Lubbe foi capturado dentro do edifício. De acordo com o historiador britânico Sir Ian Kershaw, o consenso entre os acadêmicos era que van der Lubbe possivelmente foi mesmo o responsável pelo incêndio. Outros, contudo, incluindo William L. Shirer e Alan Bullock, acreditam que os próprios nazistas foram os responsáveis, em uma operação de bandeira falsa. Por insistência de Hitler, Hindenburg aprovou o Decreto do Incêndio do Reichstag de 28 de fevereiro de 1933, que suspendeu vários direitos civis e permitiu que o governo fizesse prisões sem mandato judicial. O decreto era permitido devido ao Artigo 48 da Constituição de Weimar, que dava ao presidente poderes emergenciais para proteger a população e manter a ordem pública. As atividades do Partido Comunista Alemão (KPD) foram reprimidas e mais de 4 000 comunistas foram presos. Além da campanha política, o Partido Nazista engajou em violência paramilitar nas ruas e espalhou propaganda anticomunista antes das próximas eleições. No dia do pleito, a 6 de março de 1933, os nazistas conquistaram 43,9% dos votos (ou de pessoas) e se tornaram o maior partido no Parlamento. Ainda assim, o partido de Hitler não tinha maioria absoluta para formar um governo de maioria, necessitando fazer outra coalizão com o DNVP. Dia de Potsdam e Lei habilitante de 1933. Em 21 de março de 1933, o novo Reichstag foi constituído com uma cerimônia feita na Igreja Garrison em Potsdam. Este "Dia de Potsdam" deveria demonstrar a unidade entre o movimento nazista e a velha elite prussiana e militar. Hitler utilizava um fraque e humildemente e com toda a reverência cumprimentou o presidente Hindenburg. Para conquistar controle político total, apesar de não ter maioria absoluta no parlamento, o governo de Hitler levou para votação no recém-eleito Reichstag o projeto de lei "Ermächtigungsgesetz" (Lei habilitante de 1933). A lei, oficialmente chamada "Gesetz zur Behebung der Not von Volk und Reich" ("Lei para Redimir a Angústia do Povo e do Reich"), deu a Hitler e seu gabinete de governo o poder de passar leis sem o consentimento do Parlamento por um período de quatro anos. Estas leis (com certas exceções) não eram contempladas pela constituição. Já que iria afetar a constituição, a Lei Habilitante precisava da aprovação de dois terços do parlamento para passar. Deixando nada ao acaso, os nazistas utilizaram provisões aprovadas no Decreto do Incêndio do Reichstag para prender 81 deputados comunistas e impediram que muitos parlamentares de esquerda, como os Sociais Democratas, participassem da votação. Em 23 de março de 1933, o Reichstag se reuniu na Casa de Ópera Kroll sob circunstâncias turbulentas. Linhas de homens da SA serviam como guardas dentro do prédio, enquanto grandes grupos de opositores da proposta gritavam slogans de discórdia e ameaças durante a chegada dos parlamentares no prédio. A posição do Partido do Centro, a terceira maior legenda do Reichstag, era decisiva. Após Hitler verbalmente prometer a Ludwig Kaas, o líder deste partido, que Hindenburg reteria o poder de veto, Kaas anunciou que seus correligionários apoiariam a Lei Habilitante. No final, a lei passou por 441 votos a 84, com todos os partidos, exceto os Sociais Democratas, votando a favor (os comunistas foram impedidos de participar). A Lei Habilitante, junto com o Decreto do Incêndio do Reichstag, transformou, legalmente, o governo de Adolf Hitler em uma ditadura "de facto". Expansão final dos poderes. Tendo alcançado poder legislativo e executivo total, Hitler e seus aliados iniciaram o processo de reprimir a oposição. O Partido Social Democrata foi banido e seus bens apreendidos. Enquanto várias lideranças de sindicatos estavam em Berlim para as atividades do Dia de Maio, soldados das SA atacaram escritórios dos líderes de sindicatos por todo o país. Em 2 de maio de 1933 todos os sindicatos foram dissolvidos e seus presidentes foram presos. Muitos foram enviados para os recém-abertos campos de concentração, onde os nazistas passaram a aprisionar os seus oponentes políticos. A Frente Alemã para o Trabalho, uma organização que visava representar todos os trabalhadores, administradores e donos de companhias, foi criada refletindo o conceito nazista de "Volksgemeinschaft" ("comunidade do povo"). Ao fim de junho, vários partidos, não só de esquerda, passaram a ser dissolvidos. Isto incluiu o antigo parceiro de coalizão dos Nazistas, o DNVP; com a ajuda dos paramilitares da SA, Hitler forçou o seu líder, Alfred Hugenberg, a renunciar em 29 de junho. Duas semanas depois, o Partido Nazista foi declarado o único partido legal na Alemanha. A ascensão da SA como uma força política e militar causava ansiedade entre as elites militares, industriais e políticas na Alemanha. Em resposta, Hitler decidiu expurgar a liderança da SA na chamada "Nacht der langen Messer" (a "Noite das facas longas"), que aconteceu de 30 de junho a 2 de julho de 1934. Hitler mirou no seu velho amigo Ernst Röhm e em outros líderes da SA que, junto com outros adversários políticos (como Gregor Strasser e Kurt von Schleicher), foram presos e executados. Enquanto várias nações e muitos alemães ficaram chocados com os assassinatos, a maioria da população da Alemanha acreditava que estas ações eram simplesmente Hitler restaurando a ordem no país. O presidente Hindenburg, então prestes a completar 87 anos de idade, ficou desorientado ao ser informado sobre o massacre. Em 2 de agosto de 1934, o presidente Paul von Hindenburg faleceu. No dia anterior, o gabinete de governo aprovou a "Lei sobre o Mais Alto Cargo do Reich", que afirmava que, caso Hindenburg morresse, o cargo de presidente seria abolido e seus poderes seriam fundidos aos do chanceler da Alemanha. Hitler, então, tornou-se tanto chefe de estado quanto de governo, sendo formalmente chamado agora de "Führer und Reichskanzler" ("Líder e Chanceler"). Assim, ele derrubou o único remédio legal que poderia removê-lo do cargo. Sua ditadura estava agora firmemente estabelecida. Como chefe de estado, Hitler se tornou o comandante em chefe das forças armadas. O tradicional juramento de lealdade feito pelos militares passou a ser um voto de lealdade pessoal a Hitler. Em 19 de agosto, a fusão da presidência e da chancelaria foi aprovada por quase 90% da população mediante plebiscito. No começo de 1938, Hitler usou de chantagem para consolidar seu poder sobre os militares instigando o Caso Blomberg-Fritsch. Hitler forçou seu ministro da guerra, o marechal Werner von Blomberg, a renunciar usando um dossiê que dizia que a nova esposa de Blomberg já tinha sido uma prostituta. O comandante do exército, o coronel-general Werner von Fritsch foi removido do seu cargo também após a "Schutzstaffel" (SS) produzir alegações de que ele tinha tido uma relação homossexual no passado. Na verdade, ambos estes homens haviam caído em desgraça com Hitler quando eles se opuseram à ordem do "Führer" para a "Wehrmacht" se preparar para uma guerra até 1938. Hitler substituiu o ministério da guerra pelo "Oberkommando der Wehrmacht" ("OKW", ou "Alto Comando das Forças Armadas"), sob a chefia do general Wilhelm Keitel. No mesmo dia, dezesseis generais foram demitidos dos seus cargos e outros quarenta e quatro foram transferidos; todos estes homens eram suspeitos de não serem tão pró-nazismo. Em fevereiro de 1938, mais doze generais foram afastados dos seus cargos. Hitler queria dar a sua ditadura toda a aparência de legalidade. Várias das leis que ele passou eram protegidas pelo Decreto do Incêndio do Reichstag e assim respeitando o Artigo 48 da Constituição de Weimar. O Parlamento renovou a Lei de Habilitante mais duas vezes, cada uma por um período de quatro anos. Enquanto eleições para o Reichstag continuaram (em 1933, 1936 e 1938), era apresentada aos eleitores uma lista com candidatos nazistas e pró-nazistas, que levaram em cada eleição pelo menos 90% dos votos válidos. A votação não era secreta; os nazistas ameaçavam com duras represálias quem votasse contra ou aqueles que pretendessem não votar. Ditador da Alemanha. Economia e cultura. Em agosto de 1934, Hitler nomeou o presidente do "Reichsbank", Hjalmar Schacht, como o novo Ministro da Economia e no ano seguinte, iniciou os processos de reforma econômica para preparar o país para a guerra. A reconstrução e rearmamento do país foram financiados pelas leis Mefo-Wechsel, imprimindo dinheiro e tomando bens de pessoas presas como inimigos do Estado, incluindo milhares de judeus. O número de desempregados caiu de seis milhões em 1932 para menos de um milhão em 1936. Hitler supervisionou um extenso programa de reorganização e melhorias da infraestrutura da Alemanha, levando à construção de represas, autobahns, ferrovias e outras obras públicas. De início os salários caíram no final da década de 1930, enquanto o custo de vida aumentou. Porém a média salarial voltou a subir em 1939, com o alemão comum trabalhando uma jornada de 47 a 50 horas semanais. O governo de Hitler patrocinou várias obras de arquitetura em imensa escala. Albert Speer, instrumental em implementar a reinterpretação do Führer da cultura alemã, foi colocado na liderança da proposta de renovação arquitetônica de Berlim. Em 1936, Hitler participou da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Verão na capital alemã. Rearmamento e novas alianças. Em 3 de fevereiro de 1933, durante uma reunião com a liderança militar alemã, Hitler falou que a "conquista do "Lebensraum" no Leste e a implacável "Germanização"" eram seus objetivos principais de política externa. Em março, o príncipe Bernhard Wilhelm von Bülow, secretário do "Auswärtiges Amt" (Ministério de Relações Exteriores), emitiu uma declaração dos principais objetivos de política externa do país: o "Anschluss" com a Áustria, a restauração das fronteiras nacionais de 1914 da Alemanha, rejeição de todas as restrições militares impostas pelo Tratado de Versalhes, devolução das colônias alemãs na África e a criação de uma zona de influência alemã na Europa Oriental. Hitler achava, na verdade, que os objetivos de Bülow modestos demais. Em discursos feitos na época, ele afirmou que suas políticas eram pacíficas e estava disposto a trabalhar dentro dos acordos internacionais. Na sua primeira reunião de gabinete em 1933, Hitler priorizou o aumento de gastos militares. Hitler retirou a Alemanha da Liga das Nações e da Conferência para o Desarmamento em Genebra em outubro de 1933. Em janeiro de 1935, mais de 90% da população de Saarland, até então sob administração da Liga das Nações, votou num plebiscito por se unir à Alemanha. Em março, Hitler anunciou que a "Wehrmacht" seria expandida para mais de 600 000 membros — seis vezes mais que o número permitido pelo Tratado de Versalhes — incluindo o desenvolvimento de uma nova força aérea ("Luftwaffe") e o aumento da marinha de guerra ("Kriegsmarine"). O Reino Unido, a França, a Itália e outros países da Liga das Nações protestaram contra o rearmamento alemão em violação do Tratado de 1919, mas nada fizeram para impedi-lo. O Acordo Naval Anglo-Germânico de 18 de junho de 1935 permitiu que a tonelagem da marinha alemã aumentasse para 35% daquele da marinha britânica. Hitler chamara tal acordo com os ingleses de "o melhor dia da minha vida", acreditando que este acordo seria o primeiro passo para a aliança anglo-germânica que ele havia previsto no "Mein Kampf". A França e a Itália não foram consultadas a respeito deste entendimento, minando diretamente a Liga das Nações e jogando o Tratado de Versalhes no caminho da irrelevância. Sob ordens do Führer, a Alemanha reocupou a zona desmilitarizada da Renânia em março de 1936, em uma nova violação direta do Tratado de Versalhes. Hitler também enviou ajuda ao General Francisco Franco durante a sangrenta guerra civil espanhola, após receber um pedido de assistência dos nacionalistas espanhóis em julho de 1936, mandando então armamentos e tropas para a Espanha. Entre os militares alemães enviados para auxiliar Franco, estava a Legião Condor, constituída por unidades de todos os ramos do exército alemão (força aérea, blindagem, inteligência, transporte, unidades navais e de treino), ficando conhecida pelo bombardeamento maciço de Guernica. Ao mesmo tempo, Hitler continuou com seu esforço de criar uma aliança Anglo-Germânica. Em agosto de 1936, em resposta a um princípio de crise econômica devido aos gastos com o rearmamento, Hitler ordenou que Göring implementasse o Vierjahresplan ("Plano de Quatro Anos") para preparar a Alemanha para a guerra nos próximos quatro anos. O plano previa uma luta total entre os "Judeus-Bolchevistas" e o nazismo alemão, onde Hitler pretendia prosseguir com o rearmamento do país, independentemente do custo econômico. O conde Galeazzo Ciano, ministro de relações exteriores do governo de Benito Mussolini, declarou um eixo Alemanha e Itália, e em 25 de novembro de 1936, os alemães assinaram o Pacto Anticomintern com o Japão. Reino Unido, China, Itália e Polônia também foram convidados para se unir a este pacto, que tinha como propósito defender as nações do comunismo, mas apenas os italianos aceitaram, assinando o acordo em 1937. Hitler abandonou seu plano de uma aliança Anglo-Germânica, culpando a "inadequada" liderança política britânica. Em uma reunião na Chancelaria do Reich com seus ministros de estado e chefes militares, em novembro de 1936, Hitler voltou a falar de suas intenções de estabelecer o "Lebensraum" para o povo alemão. Ele ordenou que preparações fossem feitas para uma guerra no leste, para começar, no mais cedo, em 1938 ou, no mais tardar, em 1943. Ele acreditava que a queda no padrão de vida na Alemanha como resultado de uma crise econômica poderia apenas ser parada por uma agressão militar para anexar a Áustria e ocupar a Tchecoslováquia. Hitler exigiu ações rápidas antes que a França e o Reino Unido passassem à frente na corrida armamentista. No começo de 1938, na sequência do Caso Blomberg-Fritsch, Hitler tomou o controle total do aparato das políticas externa e militar, apontando a si mesmo como "Oberster Befehlshaber der Wehrmacht" ("comandante supremo das forças armadas"). De 1938 em diante, Hitler fazia uma política externa que, em última análise, destinava-se à guerra. Segunda Guerra Mundial. Sucessos diplomáticos iniciais. Aliança com o Japão. Em fevereiro de 1938, seguindo o conselho do seu novo ministro de relações exteriores, o conde Joachim von Ribbentrop, Hitler começou a encerrar a Aliança Sino-Alemã com a República da China para então firmar uma maior cooperação com o mais poderoso e moderno Império do Japão. Hitler anunciou que reconhecia a região de Manchukuo, o estado fantoche ocupado pelos japoneses da Manchúria, e que renunciava às reivindicações sobre as antigas colônias alemãs na Ásia, que foram ocupados pelo Japão após a primeira guerra mundial. O führer alemão ordenou o fim do envio de carregamentos de armas para a China e chamou de volta todos os oficiais alemães trabalhando com o exército chinês. Em retaliação, o general Chiang Kai-shek (líder de facto da China) cancelou todos os acordos econômicos entre os países, privando a Alemanha de muitas matérias-primas chinesas. Áustria e Tchecoslováquia. Em 12 de março de 1938, Hitler anunciou a unificação da Áustria com a Alemanha Nazista (o "Anschluss"). A anexação austríaca foi rápida e sem percalços. Ele então virou sua atenção para a população etnicamente alemã na região dos Sudetos na Tchecoslováquia. Entre 28 e 29 de março de 1938, Hitler teve várias reuniões secretas em Berlim com Konrad Henlein do "Sudetendeutsche Partei", o maior partido pan-germânico dos Sudetos. Os dois concordaram que Henlein passaria a exigir do governo tchecoslovaco mais autonomia para os alemães dos Sudetos, assim dando um motivo para intervenção militar alemã no país. Em abril de 1938, Henlein disse para o ministro de relações exteriores da Hungria que "não importa o que o governo tcheco ofereça, ele aumentaria as exigências […] ele queria sabotar um entendimento de toda a forma porque essa era a única maneira de explodir a Tchecoslováquia rapidamente". Em privado, Hitler considerava a região dos sudetos como não muito importante; seu principal objetivo era conquistar a Tchecoslováquia e tomar o controle de sua forte indústria. Ainda em abril de 1938, Hitler ordenou que o quartel-general das forças armadas (o OKW) preparasse um plano, o "Fall Grün" ("Caso Verde"), para a invasão da Tchecoslováquia. Como resultado de intensa pressão diplomática por parte dos franceses e britânicos, a 5 de setembro, o presidente tchecoslovaco Edvard Beneš anunciou o "quarto plano" para reorganização constitucional do seu país, cedendo às exigências de Henlein a respeito da autonomia dos Sudetos. Alemães tchecos simpatizantes dos nazistas passaram então organizar protestos e ações contra o governo, enfrentando a polícia tcheca, forçando a declaração de lei marcial nos Sudetos. A Alemanha dependia muito da importação de petróleo; então confronto com a Grã-Bretanha a respeito da Tchecoslováquia poderia resultar em um embargo de combustível aos alemães. Isso forçou Hitler a cancelar o plano "Fall Grün", que estava sendo planejado para outubro de 1938. Em 29 de setembro, Hitler, Neville Chamberlain, Édouard Daladier e Mussolini se reuniram em Munique e firmaram um acordo, que deu o controle dos distritos dos Sudetos para a Alemanha. Chamberlain ficou satisfeito com os resultados da conferência de Munique, afirmando que significava "peace for our time" ("Paz para o nosso tempo"), enquanto Hitler estava irritado a respeito da oportunidade perdida para a guerra em 1938; ele expressou este desapontamento em um discurso feito em 9 de outubro em Saarbrücken. Segundo ele, a paz feita pelos britânicos, apesar de favorável para os termos alemães, foi uma derrota diplomática que estragou seus planos de limitar o poder britânico na Europa Continental para abrir caminho para o poder da Alemanha no leste. Como resultado da Conferência de Munique, Hitler foi nomeado pela revista "Time" como o "Homem do Ano" de 1938. Ao fim de 1938 e começo de 1939, para evitar uma crise econômica, devido aos altos gastos do governo, Hitler anunciou cortes no orçamento de defesa. No seu discurso de "Exportar ou Morrer" de 30 de janeiro de 1939, ele anunciou seus planos de aumentar as exportações da Alemanha e o comércio internacional para pagar pelas tão necessárias matérias-primas (como minério de ferro) para completar a reconstrução das forças armadas. Ao fim da década de 1930, a economia alemã voltou a crescer com força total e sua indústria se tornou uma das mais poderosas do mundo, com a Alemanha retomando seu posto de grande centro tecnológico e de inovação. Em 15 de março de 1939, em violação do Acordo de Munique, Hitler ordenou que a Wehrmacht invadisse Praga e ocupasse a Boêmia e a Morávia, proclamando a criação de um protetorado na região. Um dos motivos desta invasão era a necessidade crônica de matérias-primas para suprir a economia alemã e impedir uma nova crise. Começo da Segunda Guerra Mundial. Em discussões privadas em 1939, Hitler declarou que o Reino Unido era o principal inimigo do país e que a Polônia deveria ser obliterada como prelúdio para a guerra com os ingleses. O flanco leste da Alemanha tinha que estar seguro e terras da "Lebensraum" adicionadas ao país. Em 31 de março de 1939, o governo britânico "garantiu" apoio para um Estado polonês independente e isso irritou os nazistas. Hitler afirmou: "Vou preparar-lhes uma bebida do diabo". Em um discurso em Wilhelmshaven para o lançamento do navio de guerra "Tirpitz", em 1 de abril, ele ameaçou romper o Acordo Naval Anglo-Germânico se os britânicos continuassem a dispensar apoio para os poloneses, numa política que ele descreveu como um "cerco". Para os nazistas, a Polônia deveria virar um estado satélite alemão ou deveria ser neutralizada para garantir a segurança do flanco esquerdo do Reich para impedir um bloqueio inglês. Hitler inicialmente favorecia a ideia de criar estados satélites nas fronteiras, mas após a rejeição do governo polonês para algum tipo de acordo, ele decidiu que iria invadir o país e fez disso seu objetivo de política externa para 1939. Em 3 de abril, Hitler ordenou que as forças armadas preparassem um plano, o "Fall Weiss" ("Caso Branco"), para atacar a Polônia. Em um discurso para o Reichstag, em 28 de abril, ele renunciou tanto ao Acordo Naval Anglo-Germânico como ao Pacto de não agressão alemão-polonês. Hitler estava preocupado que um ataque militar contra a Polônia poderia causar uma guerra prematura contra o Reino Unido. O ministro de relações exteriores da Alemanha e ex-embaixador em Londres, Joachim von Ribbentrop, garantiu que nem a Grã-Bretanha ou a França iriam honrar seus acordos para proteger a Polônia. Assim, em 22 de agosto de 1939, Hitler ordenou uma mobilização militar contra os poloneses. O plano de invasão da Polônia necessitava do apoio tácito da União Soviética, a principal potência do leste europeu. Foi firmado então um pacto de não agressão entre os alemães e os soviéticos (o Pacto Molotov-Ribbentrop), que também firmava, com o ditador russo Joseph Stalin, um acordo secreto para partição do território polonês entre as duas nações. Ao contrário do que Ribbentrop havia previsto, contudo, os britânicos assinaram um tratado de aliança com a Polônia, em 25 de agosto de 1939. Isso, junto com notícias de que a Itália de Mussolini não iria honrar o Pacto de Aço para ajudar a Alemanha, fez com que Hitler adiasse seus planos para fazer guerra, de 25 de agosto para 1 de setembro. Hitler não conseguiu garantir a neutralidade britânica ao oferecer a Londres um pacto de não agressão em 25 de agosto; ele então instruiu Ribbentrop para apresentar um plano de paz de última hora numa tentativa de botar a culpa da guerra na inação polonesa e britânica. Em 1 de setembro de 1939, a Alemanha invadiu a Polônia pelo oeste, sob o pretexto de que lhes havia sido negado acesso à Cidade Livre de Danzig e ao território do Corredor polonês, regiões que pertenciam aos alemães antes do Tratado de Versalhes. Em resposta, o Reino Unido e a França declararam guerra à Alemanha em 3 de setembro, surpreendendo Hitler. O ditador alemão teria então se irritado com Ribbentrop e se virou para ele e gritou "E agora?" Para sua sorte, os britânicos e franceses não agiram imediatamente, e em 17 de setembro, tropas soviéticas invadiram a Polônia pelo leste. A Polônia foi conquistada em apenas um mês. O que se seguiu foi um período chamado de "Guerra de Mentira", ou "Sitzkrieg" ("guerra sentada"). Hitler instruiu então que os dois Gauleiters da Polônia, Albert Forster (do "Reichsgau Danzig Westpreußen") e Arthur Greiser (do "Reichsgau Wartheland"), iniciassem o processo de "germanização" dos territórios ocupados, "sem querer saber" como isso seria alcançado. Os alemães então começaram um brutal processo de limpeza étnica contra a população polonesa, mirando especialmente na população judaica local. Greiser reclamou com Hitler que Forster estava aceitando milhares de poloneses como "racialmente" alemães, ameaçando a "pureza racial" pregada pelo nazismo. Hitler não se interessou em se envolver. Esse tipo de inação fazia parte de um dos estilos de trabalhar do Führer: Hitler dava instruções vagas e esperava que seus subordinados agissem em suas próprias políticas. Outra disputa começou com Heinrich Himmler e Greiser, que advogavam políticas de limpeza racial, contra Hermann Göring e Hans Frank (Governador do Governo Geral da Polônia ocupada), que queriam transformar o território polonês no "celeiro" do Reich, utilizando mão de obra local escrava. Em 12 de fevereiro de 1940, Hitler decidiu por favorecer a visão de Göring e Frank, que terminou com as deportações em massa que não eram boas para a economia. A partir de maio de 1940, milhares de poloneses passaram a ser usados como escravos para suprir a máquina de guerra da Alemanha. Hitler elogiou os planos de Himmler e iniciou uma política para lidar com os judeus na Polônia, dando início ao Holocausto em território polonês. No começo de 1940, Hitler começou a engrossar as defesas no oeste da Alemanha e a convocar tropas para campanhas militares. Em abril, forças alemãs invadiram e tomaram de assalto a Noruega e a Dinamarca. No dia 9 desse mês, Hitler proclamou o Grande Reich Germânico, sua visão de um império unificado de todas as nações germânicas da Europa, com os holandeses, flamengos e escandinavos se juntando à política de "pureza racial" sob a liderança alemã. Em maio de 1940, a Alemanha atacou a França e conquistou Luxemburgo, os Países Baixos e a Bélgica. Essas vitórias convenceram Mussolini a trazer a Itália para a guerra ao lado dos alemães a 10 de junho. Sem alternativa, os franceses decidiram pedir a cessação das hostilidades. A França e a Alemanha assinaram um armistício em 22 de junho. Arthur Greiser afirmou que a popularidade de Hitler – e o apoio à guerra – entre o povo alemão chegou ao seu auge em 6 de julho de 1940, quando Hitler voltou para Berlim após visitar Paris. Milhares de pessoas foram às ruas para saudar o Führer. Após as vitórias rápidas nas frentes de batalha, Adolf Hitler promoveu doze generais para a patente de marechal de campo. Os britânicos, cujas tropas foram derrotadas na batalha de Dunquerque e tiveram que evacuar de forma desesperada da França através da operação Dínamo, continuaram a lutar na Batalha do Atlântico junto com seus Domínios ultramarinos. Hitler chegou a fazer propostas de paz para o líder britânico, Winston Churchill, mas este rejeitou, jurando lutar até a morte. Irritado, Hitler ordenou uma série de ataques aéreos para destruir as bases da força área britânica e seus postos de radar no sul da Inglaterra. A Luftwaffe (força aérea nazista) falhou em derrotar a aviação inglesa no que ficou conhecido como "a Batalha da Grã-Bretanha". Ao fim de outubro de 1940, Hitler percebeu que já não dava mais para garantir a superioridade aeronaval sobre a Inglaterra e decidiu por adiar indefinidamente a invasão das ilhas britânicas (a Operação Leão Marinho), e então ordenou uma enorme campanha de bombardeios aéreos punitivos contra várias cidades britânicas, como Londres, Plymouth e Coventry. Em 27 de setembro de 1940, o Pacto Tripartite foi assinado em Berlim com Saburō Kurusu do Império do Japão, Hitler e o ministro de relações exteriores italiano, Galeazzo Ciano. O acordo de cooperação se expandiu, abrangendo a Hungria, a Romênia e a Bulgária, formando o Eixo. A tentativa de Hitler de integrar a União Soviética ao bloco antibritânico falhou em novembro. Então, em busca de novas regiões para conquistar matérias-primas (principalmente minério de ferro e petróleo), foi iniciado o planejamento de invasão do território soviético. Na primavera de 1941, a guerra ia bem para a Alemanha e a popularidade de Hitler estava mais alta do que nunca. A Wehrmacht enviou o "Afrika Korps" para o norte da África para tomar a região e abrir caminho para um ataque ao Oriente Médio. Em fevereiro, os alemães chegaram à Líbia para apoiar os italianos. Em abril, Hitler mandou tropas para os Bálcãs e invadiu a Iugoslávia, movendo-se logo em seguida para conquistar a Grécia. Por ordens do Führer, os alemães ajudaram os iraquianos a lutar contra os britânicos e depois invadiram e conquistaram a ilha de Creta. Holocausto. O Holocausto e a guerra da Alemanha no leste eram baseados na visão de longa data de Hitler de que os judeus eram os verdadeiros inimigos do Reich e do povo alemão e que o "Lebensraum" ("espaço vital") era necessário para a expansão da Alemanha. Ele focou no leste da Europa para a sua expansão, mirando em derrotar a Polônia e a União Soviética e então removendo os judeus e os eslavos. O "Generalplan Ost" ("Plano Geral Leste") previa a deportação da população da Europa oriental e da União Soviética para o oeste da Sibéria, para serem usados como mão de obra escrava ou para serem mortos; os territórios tomados seriam então ocupados por colonizadores alemães ou passariam por um processo de germanização. A ideia era implementar este plano após a conquista da União Soviética, mas quando isso falhou Hitler antecipou os planos. Em janeiro de 1942, Hitler decidiu que os judeus, eslavos e outros deportados considerados "indesejáveis" seriam mortos. No mesmo ano, a cúpula nazista orquestrou a chamada "Solução Final" para o problema judeu, para exterminar todos os que o regime considerasse indesejáveis e inferiores. O genocídio foi ordenado por Hitler e organizado por Heinrich Himmler e Reinhard Heydrich. Os arquivos da Conferência de Wannsee, que aconteceu em 20 de janeiro de 1942 e foi presidido por Heydrich, na presença de quinze oficiais de alta patente nazistas, mostram a prova definitiva de que o genocídio em massa (o Holocausto) foi sistematicamente planejado e premeditado. Em 22 de fevereiro, Hitler afirmou: "nós iremos reganhar nossa saúde apenas eliminando os judeus". Apesar de nunca ter havido uma ordem direta e expressa de Hitler autorizando os assassinatos em massa em seus discursos públicos, ordens dos seus generais e diários oficiais nazistas demonstram que ele concebeu e autorizou o extermínio dos judeus da Europa. Ele autorizou as ações dos "Einsatzgruppen" — esquadrões da morte da SS que atuavam principalmente na Polônia, nos Bálcãs e na União Soviética — e estava ciente de todas as suas atividades. No verão de 1942, Auschwitz foi expandido para atender a um maior número de deportados para serem mortos ou escravizados. Campos de concentração, pequenos e grandes, começaram a aparecer pela Europa, com vários destes devotados primordialmente para o extermínio. Apenas em Auschwitz-Birkenau morreram mais de um milhão de pessoas. Entre 1939 e 1945, a "Schutzstaffel" (SS), auxiliada por colaboradores dos países ocupados, foi a principal responsável pelos mais de onze milhões de mortos no Holocausto, incluindo 5,5 a 6 milhões de judeus (ou quase dois terços da população judia da Europa), e 200 000 a 1 500 000 ciganos porajmos. As mortes aconteceram primordialmente em campos de concentração e de extermínio, nos guetos e em outras áreas de execução em massa. Muitas vítimas do Holocausto morreram em câmaras de gás, enquanto outros morreram de fome, doenças ou maus tratos enquanto faziam trabalhos forçados. Além da eliminação dos judeus, os nazistas planejavam também acabar com a população (algo em torno de 30 milhões de pessoas) nos territórios ocupados através da fome em um plano chamado "Hungerplan" ("Plano Fome"). Os suprimentos de comida dos países eram desviados para alimentar o exército alemão ou para os civis na Alemanha. Cidades foram arrasadas e terras descartadas ou ocupadas com colonos alemães. Juntos, o "Hungerplan" e o "Generalplan Ost" levaram, por consequência, à fome de mais de 80 milhões de pessoas na União Soviética. Isso ajudou a cumprir os planos democídas e terminaram na morte de quase 19,3 milhões de civis e prisioneiros de guerra. As políticas de Hitler resultaram na morte de pelo menos dois milhões de poloneses e mais de três milhões de prisioneiros de guerra soviéticos, comunistas, prisioneiros políticos, homossexuais, pessoas física e intelectualmente deficientes, testemunhas de Jeová, adventistas e líderes de sindicatos. Hitler não falava publicamente a respeito dessas mortes e, até onde se sabe, nunca visitou um campo de concentração. Os nazistas acreditavam no conceito de higiene racial. Em 15 de setembro de 1935, Hitler apresentou duas leis — conhecidas como Leis de Nuremberg — para o Reichstag. Tais leis baniam relações sexuais e casamentos entre arianos e judeus e depois foram expandidas para incluir "ciganos, negros e suas crianças bastardas". A lei tirou a cidadania de todos os não arianos e proibiu o emprego de mulheres não judias com menos de 45 anos em casas de famílias judiais. As políticas de eugenia de Hitler miravam crianças com deficiências ou que tinham problemas de desenvolvimento em geral em um programa chamado de "Kinder-Euthanasie," e depois ele autorizou um programa de eutanásia para adultos com sérios problemas mentais e deficiências físicas, no que ficou conhecido como "Aktion" T4. Caminho para a derrota. Em 22 de junho de 1941, quebrando o Pacto de não agressão firmado em 1939, cerca de 4 milhões de soldados do Eixo invadiram a União Soviética. Esta ofensiva (codinome Operação Barbarossa) tinha como objetivo destruir o Estado soviético e assumir o controle dos seus abundantes recursos naturais para alimentar a máquina de guerra nazista contra o Ocidente. O ataque inicial foi um sucesso, com as forças alemãs conquistando várias regiões, incluindo a região Báltica, a Bielorrússia e o oeste da Ucrânia. Em agosto de 1941, as forças do Eixo avançaram mais de 500 km dentro do território soviético. Logo após as tropas nazistas terem derrotado o exército vermelho na Batalha de Smolensk, Hitler ordenou que o Grupo de Exércitos Centro temporariamente se detivesse nas cercanias de Moscou e enviou tropas para cercar Leningrado e Kiev. Seus generais discordaram disso, preferindo ter focado suas forças em avançar contra a capital russa. Hitler manteve-se irredutível e as lideranças militares da Wehrmacht começaram a questionar a estratégia da guerra. Esta parada deu tempo para o exército soviético se reorganizar e mobilizar suas reservas; a decisão de Hitler de atrasar o ataque contra Moscou é considerada como um dos maiores erros táticos do conflito. Em novembro de 1941 Hitler finalmente ordenou que a ofensiva contra Moscou recomeçasse, mas o avanço terminou em desastre em dezembro. Em 7 de de dezembro de 1941, o Japão lançou um ataque contra a base americana de Pearl Harbor, no Havaí. Quatro dias mais tarde, Hitler declarou guarra contra os Estados Unidos. Seus conselheiros, como o seu ministro de relações exteriores, o conde Ribbentrop, tentaram dissuadi-lo disso, mas Hitler achava que confrontar os americanos poderia trazer apoio dos japoneses na sua luta contra a União Soviética, mas Tóquio estava ocupado demais lutando na Guerra do Pacífico. Para muitos historiadores, esta decisão foi mais um erro de cálculo de Hitler. Em 18 de dezembro de 1941, Himmler perguntou a Hitler, "O que fazer com os judeus da Rússia?" e recebeu como resposta: "als Partisanen auszurotten" ("extermine-os como partisans"). O historiador israelense Yehuda Bauer afirma que esta ordem é provavelmente a coisa mais perto que os acadêmicos chegaram de encontrar uma ordem específica de genocídio por parte do Führer durante o Holocausto. Em setembro de 1942, no norte da África, as forças alemãs foram derrotadas na segunda batalha de El Alamein, estragando os planos de Hitler de tomar o Canal de Suez e o Oriente Médio. Ainda superconfiante de suas capacidades devido a suas vitórias militares em 1940, Hitler começou a nutrir desconfiança no alto-comando do exército e começou a interferir com mais frequência nas decisões táticas, o que não foi bom para o esforço de guerra. Entre dezembro de 1942 e janeiro de 1943, Hitler se recusou a acatar qualquer conselho dado a ele e deu ordens para que o 6º Exército Alemão, preso em Stalingrado, no sul da Rússia, não se retirasse e lutasse até as últimas consequências. A decisão foi desastrosa, com as tropas alemãs sendo derrotadas e sofrendo pesadas baixas. Mais de 200 000 soldados do Eixo foram mortos e outros 235 000 foram feitos prisioneiros (incluindo 91 mil alemães). Após outro revés na Batalha de Kursk, meses mais tarde, o julgamento de Hitler se tornou mais errático, com a posição econômica e militar alemã se deteriorando, assim como a própria saúde de Adolf Hitler. Após a invasão aliada da Sicília em meados de 1943, Mussolini foi removido do cargo de primeiro-ministro da Itália, após receber um voto de desconfiança do Grande Conselho do Fascismo, com apoio do rei Vítor Emanuel III. O marechal Pietro Badoglio assumiu o controle do governo e logo começou a negociar a rendição do seu país para os Aliados. Enfurecido, Hitler ordenou que a Wehrmacht invadisse a Itália, prologando os combates naquela nação. Enquanto isso, na frente leste, entre 1943 e 1944, os exércitos da União Soviética empurravam as forças de Hitler para trás. Em 6 de junho de 1944, os Aliados ocidentais abriram a tão esperada segunda frente, desembarcando no norte da França com uma grande invasão anfíbia, a Operação Overlord. Muitos oficiais do exército alemão concluíram então que a derrota era inevitável e que continuar sob a liderança de Hitler levaria à destruição completa da Alemanha. Entre 1939 e 1945, vários alemães tentaram assassinar Hitler, fracassando todas as vezes. A maioria aconteceu dentro da Alemanha e a resistência alemã ganhou mais força com o passar do tempo, quando a derrota parecia mais iminente. Em 1944 foi organizado o atentado de 20 de julho, através da Operação Valquíria, planejado pelo coronel Claus von Stauffenberg, que plantou uma bomba no quartel-general do Führer, a Toca do Lobo ("Wolfsschanze"), em Rastenburg. Hitler sobreviveu com alguns poucos ferimentos. Mais de 4 900 alemães foram mortos nas represálias nazistas. Derrota e morte. Ao fim de 1944, o exército vermelho e os Aliados Ocidentais (principalmente os Estados Unidos, o Reino Unido e a França Livre) continuavam avançando a todo o vapor contra a Alemanha. Paris havia sido libertada e o exército alemão havia quase que completamente sido expulso da França, da Bélgica e Países Baixos. Na Itália, as forças nazifascistas também recuavam para o norte, mas o principal perigo estava no leste, com Stalin tomando os países da Europa oriental um a um. Assim, reconhecendo a força e determinação dos soviéticos, Hitler decidiu que seria quebrando as linhas do inimigo no Ocidente que a maré da guerra poderia mudar em favor dos alemães. Ele então começou a planejar um ataque contra os americanos e ingleses. Em 16 de dezembro, os nazistas lançaram a Ofensiva das Ardenas para tentar desunir os Aliados e talvez convencê-los assim a parar de lutar. Apesar de sucessos iniciais, a batalha das Ardenas terminou em fracasso e as últimas reservas de homens e máquinas da Alemanha foi perdida. No começo de 1945, a situação dos alemães era precária. Aviões aliados bombardeavam o país dia e noite, deixando várias cidades alemãs e seus principais centros industriais em ruínas. O exército estava em frangalhos e pouco podia fazer a não ser recuar em todas as frentes de batalha. Hitler falou então no rádio ao povo alemão: "Mesmo sendo grave a crise neste momento, ela irá, apesar de tudo, ser domada por nossa vontade inalterável." Hitler nutria esperanças de que a morte do presidente americano Franklin D. Roosevelt pudesse resultar em paz no Ocidente em 12 de abril de 1945, mas nada aconteceu e a determinação dos Aliados permaneceu forte. Agindo conforme sua visão de que os fracassos militares alemães significavam abrir mão do seu direito de sobreviver como nação, Hitler ordenou a destruição da infraestrutura industrial e tecnológica alemã, para que esta não caísse em mãos dos Aliados. O ministério dos armamentos, sob a liderança de Albert Speer, recebeu ordens de adotar uma política de terra arrasada, mas tais instruções secretamente não foram obedecidas. Em 20 de abril, no seu aniversário de 56 anos, Hitler saiu pela última vez do "Führerbunker", em Berlim, para a superfície. No meio do jardim arruinado da Chancelaria do Reich, enquanto as bombas caíam, ele participou de uma cerimônia para entregar medalhas Cruz de Ferro para crianças soldados da Juventude Hitlerista, que agora eram (junto com a Volkssturm) a última linha de defesa alemã. Em 21 de abril, as tropas do marechal Gueorgui Júkov derrotaram as forças do general Gotthard Heinrici na batalha de Seelow e começaram a atacar as cercanias de Berlim. Em negação da situação precária, Hitler acreditava que o destacamento "Armeeabteilung Steiner", sob comando do general Felix Steiner, da Waffen SS, poderia vir do norte e se juntar ao 9º Exército, do general Theodor Busse, para atacar os russos em um movimento de pinça. Durante uma conferência com seus líderes militares em seu bunker, em 22 de abril de 1945, Hitler perguntou se Steiner já tinha começado o seu ataque. Porém falaram a ele que a ofensiva sequer tinha começado e que as tropas soviéticas já estavam marchando por Berlim. Hitler pediu então para que todos, exceto Wilhelm Keitel, Alfred Jodl, Hans Krebs e Wilhelm Burgdorf, deixassem a sala e então começou a gritar irritado. Ele afirmou que as lideranças das forças armadas eram incompetentes e traidoras e, pela primeira vez, declarou que "tudo estava perdido". Hitler anunciou que permaneceria em Berlim até o amargo final e não seria capturado vivo, preferindo se suicidar. Em 23 de abril, o exército vermelho cercava completamente Berlim e já havia tomado alguns pontos estratégicos na cidade. Joseph Goebbels, agora praticamente o segundo no comando do III Reich, fez uma declaração para que o povo berlinense pegasse em armas para defender a cidade. No mesmo dia, Hermann Göring enviou um telegrama para Berchtesgaden, falando que Hitler estava isolado em Berlim e que ele, Göring, assumiria o comando da Alemanha afirmando que o Führer logo estaria incapacitado. Hitler respondeu ordenando a prisão de Göring e tirando dele todas as suas posições no governo. Em 28 de abril, Hitler descobriu que Heinrich Himmler, chefe das SS, havia deixado a capital oito dias antes e estava tentando negociar a paz com os Aliados Ocidentais. Ele ordenou que Himmler também fosse preso e autorizou a execução de Hermann Fegelein (o representante de Himmler no QG do Führer). Enquanto isso, Hitler (que naquela altura já tinha perdido a noção da realidade, movendo exércitos imaginários no seu mapa), ordenou que o general Walther Wenck atacasse e quebrasse o cerco a Berlim, mas ele foi detido em Potsdam e, contrariando ordens do Führer, retirou-se com seus soldados para o Oeste e, logo depois, rendeu-se aos americanos, enterrando qualquer possibilidade de salvar a capital alemã. Perto da meia-noite de 29 de abril, Hitler se casou com a sua amante de longa data Eva Braun em uma pequena cerimônia dentro do "Führerbunker". Após um café da manhã com sua nova esposa, Hitler ditou seu testamento político para sua secretária particular Traudl Junge. O evento foi testemunhado e os documentos assinados por Krebs, Burgdorf, Goebbels e Martin Bormann. Logo depois, na parte da tarde, Hitler foi informado da execução de Mussolini, que havia sido preso e torturado antes de morrer, e depois teve seu corpo pendurado em praça pública para ser cuspido pela população. Isso aumentou a determinação de Hitler de se suicidar para evitar a captura e deu ordens específicas para que seu cadáver fosse queimado e seus restos escondidos. A 30 de abril de 1945, as tropas soviéticas estavam a apenas algumas horas de marcha da Chancelaria do Reich. Hitler então cometeu suicídio com um tiro na cabeça e sua mulher, Eva Braun, ingeriu uma cápsula de cianeto. Seus corpos foram levados para fora do bunker no jardim atrás da Chancelaria, onde foram colocados dentro de uma cratera de bomba e encharcados em gasolina, enquanto nos arredores as bombas russas caíam. Os corpos foram então incendiados. O almirante Karl Dönitz e o ministro Joseph Goebbels assumiram os postos de Hitler de Chefe de Estado e Chanceler, respectivamente. Berlim se rendeu em 2 de maio. A Alemanha Nazista capitulou formalmente seis dias depois. O Dia da Vitória finalizou a guerra na Europa. Documentos nos arquivos soviéticos liberados após a dissolução da União Soviética afirmam que os restos mortais de Hitler, Braun, Joseph e Magda Goebbels (e os seus filhos), do general Hans Krebs e de Blondi (a cadela de Hitler) foram repetidamente enterrados e exumados. Em 4 de abril de 1970, um time de agentes da KGB usou mapas detalhados para exumar cinco caixas com ossos de uma fábrica da SMERSH em Magdeburgo. Os restos encontrados nestas caixas foram queimados, esmagados e dispersos, e depois jogados no rio Biederitz, um afluente do Elba. De acordo com o historiador Kershaw, os corpos de Hitler e Braun foram completamente queimados quando o exército vermelho chegou e apenas uma parte da mandíbula com a arcada dentária que poderia ter identificado o cadáver de Hitler sobrou. Estilo de liderança. Hitler governava o Partido Nazista de forma autocrática ao afirmar sua "Führerprinzip" ("Princípio do Líder"). O princípio se baseava em lealdade absoluta dos subordinados aos seus superiores; ele via a estrutura do governo como uma pirâmide, com o próprio Hitler — o "Líder infalível" — no ápice. As posições dentro do partido não eram preenchidas mediante eleições mas sim as pessoas eram indicadas pelos superiores, que exigiam obediência completa à vontade do líder. O estilo de liderança de Hitler era dar ordens contraditórias aos seus subordinados e colocá-los em uma posição em que seus deveres e responsabilidades se entrelaçavam uns com os outros, para ter "o mais forte completar o trabalho". Deste jeito, gerava desconfiança, competição e luta interna entre seus subordinados para consolidar e maximizar o seu poder. O gabinete do líder nunca se encontrou até 1938 e ele desencorajava seus ministros de se encontrarem de forma independente. Hitler tipicamente quase nunca dava ordens por escrito, preferindo se expressar verbalmente ou passava os comandos através dos seus associados mais próximos, como Martin Bormann. Ele instruía Bormann com seus papéis, nomeações e finanças pessoais; Bormann usava sua posição para controlar o fluxo de informações e o acesso a Hitler. Hitler dominou o esforço de guerra do seu país durante a Segunda Guerra Mundial em uma extensão muito superior à dos outros líderes durante o conflito. Ele assumiu o posto de líder supremo das forças armadas em 1938 e subsequentemente foi responsável por muito da estratégia militar da Alemanha na guerra. Sua decisão de lançar uma série de campanhas militares rápidas contra a Noruega, a França, os Países Baixos e a Bélgica em 1940, contra a recomendação dos seus líderes militares, provou-se muito bem-sucedida, apesar de seus esforços militares e diplomáticos para derrotar o Reino Unido terem acabado por falhar. Hitler se envolvia cada vez mais no esforço de guerra, apontando a si mesmo como o comandante em chefe do exército em dezembro de 1941; deste ponto em diante ele tomou controle da estratégia para sobrepujar a União Soviética, enquanto seus comandantes militares na frente ocidental tinham um grau maior de autonomia. A liderança de Hitler se tornou cada vez mais desconexa com a realidade uma vez que a maré da guerra começou a se voltar contra a Alemanha, com a estratégia defensiva sendo prejudicada por seu processo lento de tomar decisões e frequentes diretivas para manter posições indefensáveis. Mesmo assim, ele continuava a acreditar que sua liderança levaria à vitória. Nos meses finais da guerra, Hitler se recusou a considerar negociações de paz, afirmando que a destruição completa da Alemanha seria um resultado mais preferível que a rendição. Os militares praticamente nunca desafiavam a dominância de Hitler sobre o esforço de guerra e os oficiais de patente mais graduada frequentemente expressavam apoio e confiança em sua liderança. Legado. O suicídio de Hitler é ligado por muitos contemporâneos como "um feitiço sendo quebrado". O apoio popular a Hitler havia colapsado no período próximo a sua morte e pouquíssimos alemães lamentaram seu falecimento; Kershaw afirma que a maioria dos civis e militares estavam ocupados demais se ajustando ao colapso do país ou fugindo da luta para demonstrar qualquer interesse no destino do führer ("líder"). De acordo com o historiador John Toland, o Nazismo "estourou feito uma bolha" sem seu líder. As ações de Hitler e a ideologia nazista são quase que universalmente retratadas como gravemente imorais; de acordo com Kershaw, "nunca na história tanta ruína, imoralidade e maldade foi tão associada ao nome de um homem". O programa político de Hitler trouxe uma guerra mundial, deixou para trás devastação e pobreza pela Europa. A própria Alemanha sofreu muito e foi assolada pela destruição, caracterizada pelo termo "Stunde Null" ("Hora Zero"). As políticas do líder nazista infligiram à humanidade sofrimento em uma escala jamais vista; de acordo com R.J. Rummel, o regime nazista democida matou mais de 19,3 milhões de civis e prisioneiros de guerra. Além disso, 29 milhões de soldados e civis também morreram como resultado das ações militares durante o teatro de operações europeu da Segunda Guerra Mundial. O número de civis mortos durante a segunda grande guerra foi sem precedentes na história do conflito humano e causou grande devastação no mundo. Historiadores, filósofos e políticos usam, normalmente, o termo "mal" para descrever o regime nazista. O historiador Friedrich Meinecke descreveu Hitler como "um dos grandes exemplos do poder singular e incalculável da personalidade na vida histórica". O historiador inglês Hugh Trevor-Roper o via como "um dos 'simplificadores terríveis' da história, o mais sistemático, o mais histórico, o mais filosófico e ainda assim o mais grosseiro, cruel e menos magnânimo dos conquistadores que o mundo já conheceu". Já o acadêmico John M. Roberts acha que a derrota de Hitler marcou o fim da história europeia dominada pela Alemanha. No seu lugar surgiu a Guerra Fria, uma grande deflagração entre o Bloco Ocidental, dominado pelos Estados Unidos e por nações da OTAN, e o Bloco do Leste, dominado pela União Soviética. O historiador Sebastian Haffner afirma que sem Hitler e o deslocamento dos judeus, o moderno Estado de Israel não teria existido. Sem o líder nazista, a descolonização das esferas de influência europeia pelo mundo teria acontecido bem mais tarde do que foi. Além disso, Haffner alega que Hitler teve um maior impacto do que qualquer outra figura histórica comparável, que causou grande impacto pelo mundo e drásticas mudanças no cenário geopolítico em um curto espaço de tempo. Neonazismo e neutralidade. A principal exceção nesta perspectiva de Hitler é a dos movimentos neonazistas, que utilizam versões atualizadas da ideologia nazista para atacar minorias e promover a segregação racial e a supremacia branca, por vezes chegando ao ponto da promoção do separatismo racial. Estes grupos têm visão favorável de Hitler, relembrado no símbolo 14/88 elaborado por David Lane, e cujo segundo número se refere à saudação "Heil Hitler". Por outro lado, muitos países europeus, incluindo a Alemanha, criminalizaram as ideologias nazistas e o negacionismo do holocausto. Em alguns países menos expostos às consequências do nazismo, como a Índia, a Tailândia e o Japão, a imagem de Hitler não tem as mesmas conotações malévolas que o restante do mundo. Na Índia, por exemplo, as atitudes culturais em relação a Hitler são notoriamente neutras, sendo um nome associado a pessoas com atitudes autoritárias em geral, e por vezes utilizado como alcunha ou mesmo nome de pessoas e marcas. Entre nacionalistas hindus, a imagem de Hitler é evocada pelo uso da suástica e por atitudes antissemitas transferidas para a islamofobia própria destes grupos, ainda que abstraída da ideologia nazista. Na Tailândia, a imagem de Hitler é frequentemente veiculada em artigos de moda, sendo corriqueira na cultura jovem do país. Vida pessoal. Hitler queria passar a imagem de um homem celibatário que não tinha vida doméstica, dedicando-se inteiramente a sua missão política e a sua nação. Ele conheceu sua principal amante, Eva Braun, em 1929, e se casou com ela em abril de 1945. Em setembro de 1931, sua meia-sobrinha, Geli Raubal, cometeu suicídio com a arma do próprio Hitler no apartamento dele em Munique. Entre as razões que levaram Geli ao suicídio seria um suposto interesse romântico de Hitler nela e sua morte seria resultado de uma obsessão dele por ela. Paula Hitler, a irmã do Führer e seu último parente vivo de sua família imediata, faleceu em 1960. Visões religiosas. Hitler nasceu de uma mãe que era católica praticante e um pai anticlerical; após deixar sua casa, Hitler praticamente nunca mais frequentou missas ou recebeu sacramentos. Albert Speer afirmou que Hitler fez pronunciamentos duros contra a Igreja para seus associados políticos e apesar de não ter abandonado a fé, nunca ligou muito para ela. Hitler dizia que se os fiéis abandonassem a igreja eles iriam se virar ao misticismo, o que ele considerava um retrocesso. De acordo com Speer, o Führer acreditava que a religião japonesa ou o islamismo seriam religiões melhores para os alemães do que o cristianismo, com sua "mansidão e flacidez". O historiador John S. Conway afirmou que Hitler se opunha fundamentalmente às igrejas cristãs. De acordo com Alan Bullock, Hitler não acreditava em Deus, era anticlerical e não acreditava muito na 'ética cristã' porque ela ia de encontro a sua crença de "sobrevivência do mais apto". Ele, contudo, favorecia alguns pontos de vista do protestantismo e adotou elementos da hierarquia organizacional da Igreja Católica, a liturgia e fraseologia nas suas políticas. Hitler via a igreja como uma importante influência política conservadora na sociedade, e adotou uma estratégia para lidar com ela que "se encaixava com seus propósitos políticos imediatos". Em público, Hitler exaltava a herança cristã alemã e sua cultura, professando sua crença no "Jesus Ariano", que havia lutado contra os judeus. Muitas de suas retóricas pró-cristãs não eram as mesmas que ele fazia em privado, descrevendo o cristianismo como o "absurdo" e fundado em mentiras. De acordo com um relatório da Agência de Serviços Secretos dos Estados Unidos, intitulado "The Nazi Master Plan" ("O Plano mestre Nazista"), Hitler planejava destruir a influência da igreja cristã dentro do Reich. Seu plano final seria a eliminação total do cristianismo. De acordo com Bullock, Hitler iria executar tal plano após a conclusão da guerra na Europa. Speer escreveu que Hitler também tinha visões negativas a respeito das tendências ao misticismo de Heinrich Himmler e Alfred Rosenberg. O führer não gostava da tentativa de Himmler de tentar mitificar a SS. Hitler era mais pragmático e suas ambições centravam em preocupações mais práticas. Pessoas próximas a Hitler afirmavam que ele era teísta. Frequentemente, ele mencionava que a "Providência" o protegia e dizia estar em uma missão divina na terra para eliminar os judeus e reerguer o povo alemão. Saúde. Pesquisadores sugerem que Hitler sofria de vários males, incluindo síndrome do cólon irritável, lesões na pele, arritmia cardíaca, aterosclerose, doença de Parkinson, sífilis, arterite de células gigantes com arterite temporal e acufeno. Em um relatório feito para a Agência de Serviços Estratégicos em 1943, Walter C. Langer da Universidade Harvard descreveu Hitler como um "neurótico psicopata". Em seu livro de 1977, "The Psychopathic God: Adolf Hitler", o historiador Robert G. L. Waite afirma que o Führer sofria de transtorno de personalidade limítrofe. Já os historiadores Henrik Eberle e Hans-Joachim Neumann consideravam que Hitler sofria mesmo de várias doenças, incluindo a de Parkinson, mas que ele não tinha delírios patológicos e esteve sempre ciente, e portanto responsável, das decisões que tomava. Teorias a respeito da saúde pessoal do ditador alemão são difíceis de provar e dar muito peso a estas suposições pode tirar um pouco das responsabilidades das consequências dos atos perpetrados pela Alemanha Nazista. Kershaw acredita que é necessário ter uma visão mais ampla da história da Alemanha, examinando que forças sociais levaram à ditadura nazista e suas políticas, ao invés de procurar explicações limitadas para o Holocausto e a Segunda Guerra Mundial baseadas apenas em uma única pessoa. Hitler seguia uma dieta vegetariana. Em eventos sociais ele às vezes dava relatos gráficos sobre o assassinato de animais para fazer com que seus convidados evitassem comer carne nos jantares. Bormann mandou construir uma estufa em Berghof (próxima de Berchtesgaden) para garantir um suprimento contínuo de frutas e vegetais frescos para Hitler durante a guerra. Hitler publicamente evitava álcool. Ele às vezes bebia cerveja e vinho em privado, mas abriu mão destas bebidas quando começou a ganhar peso em 1943. Ele não fumava durante boa parte da sua vida adulta, mas na sua juventude chegava a fumar de 25 a 40 cigarros por dia. Ele largou o fumo argumentando que o hábito era um "desperdício de dinheiro". Ele encorajava seus associados mais próximos a parar de fumar também oferecendo a eles relógios de ouro como estímulo. Hitler utilizava anfetamina ocasionalmente em 1937 e se tornou viciado nisso em 1942. Speer ligou o aumento do comportamento errático e sua inflexibilidade (como sua recusa em ordenar retiradas militares) ao uso da anfetamina. Durante a guerra, mais de 90 medicamentos foram prescritos para Hitler pelo seu médico pessoal, Theodor Morell. Ele tomava pílulas todos os dias para problemas crônicos de estômago e outros problemas de saúde. Consumia regularmente metanfetamina, barbitúrico, opiáceo e cocaína, bem como brometo de potássio, atropa belladona e hormonas. Com o decorrer do tempo, Hitler tornou-se completamente dependente das drogas. Ele tinha uma perfuração no tímpano como resultado da explosão do atentado de 20 de julho de 1944. Neste atentado, cerca de 200 estilhaços de madeira foram removidos de sua perna. Imagens de Hitler feitas perto do fim da guerra mostravam tremores agudos em sua mão esquerda e seu caminhar era embaralhado. Isso começou logo antes da guerra, mas se acentuou durante ela. Ernst-Günther Schenck e vários outros médicos que encontraram Hitler em suas últimas semanas de vida o diagnosticaram com doença de Parkinson. Culto à personalidade. Sob seu governo, Hitler foi objeto de um extenso culto de personalidade. Seus retratos foram pendurados em locais públicos em toda a Alemanha e a saudação "Heil Hitler" ("salve Hitler") tornou-se obrigatória mesmo entre civis. Este culto era intrinsecamente ligado ao modelo ditatorial adotado pela Alemanha, com doutrinadores nazistas justificando-o com base no chamado princípio da liderança (), segundo o qual toda a autoridade era investida em Hitler, que estava necessariamente certo e deveria ser inquestionavelmente obedecido tanto pela hierarquia nazista como pelo povo alemão, em lealdade deontológica e cega. Para assegurar a máxima difusão de seus ideais, foi instituído logo após a tomada do poder pelos nazistas em 1933 um Ministério da Propaganda, que até 1945 manteve total controle sobre as produções culturais no país. Presidido por Josef Goebbels, o Ministério teve Hitler como um dos principais focos de propaganda, glorificando-o como um líder heroico e infalível e contribuindo fortemente para seu culto de personalidade. Hitler apareceu ele mesmo em muitos dos filmes, atuando de forma cuidadosamente coreografada. As Reuniões de Nuremberg eram um dos principais eventos para promoção da imagem de Hitler, e foram elas mesmas matéria do filme "Der Sieg des Glaubens". O uso de propaganda hitlerista era tão intenso que chegou mesmo a mudar o sentido da palavra em idiomas como o inglês, atribuindo-lhe uma conotação política negativa. Filmes de propaganda. Hitler explorava filmes documentários e vários outras peças de propaganda de forma extensa na parte do seu culto de personalidade. Ele participou de vários filmes de propaganda durante sua carreira política, como "Der Sieg des Glaubens" (que ganhou medalha de ouro no Festival Internacional de Cinema de Veneza de 1935) e "Triumph des Willens", ambos dirigidos pela lendária Leni Riefenstahl. Estes filmes incluem:
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Atenas
Atenas Atenas ( ; em grego antigo: "Ἀθῆναι", transl.: "Athēnai") é a capital e a maior cidade da Grécia. A cidade domina a região da Ática e é uma das cidades mais antigas do mundo, sendo que seu território está continuamente habitado há anos. A Atenas Clássica, do período da Grécia Antiga, foi uma poderosa pólis (cidade-Estado) que surgiu em conjunto com o desenvolvimento do porto de Pireu. Um centro artístico, estudantil e filosófico desde a Antiguidade, a cidade sediou a Academia de Platão e o Liceu de Aristóteles, além de ser amplamente considerada como o berço da civilização ocidental e da democracia, em grande parte devido ao impacto de suas realizações culturais e políticas durante os séculos IV e V a.C. no resto do continente europeu. Atualmente, é uma metrópole cosmopolita e o centro econômico, financeiro, industrial, político e cultural da Grécia. Em 2012, Atenas foi classificada como a 39ª cidade mais rica do mundo por paridade do poder de compra (PPC) e a 77ª mais cara em um estudo do UBS AG. A cidade é reconhecida como uma cidade global devido à sua localização geo-estratégica e sua importância em finanças, comércio, mídia, entretenimento, artes, comércio internacional, cultura, educação e turismo. É um dos maiores centros econômicos no sul da Europa, com um grande setor financeiro e o maior porto de passageiros na Europa. O município de Atenas tem uma população de (em 2011) dentro de seus limites administrativos e uma área de 39 quilômetros quadrados. A grande área urbana de Atenas (Grande Atenas e Grande Piraeus) estende-se para além de seus limites administrativos municipais e compõe uma população de pessoas (em 2011) em uma área de 412 km². Em 2004, de acordo com o Eurostat, Atenas era a sétima área urbana mais populosa da União Europeia (a quinta capital mais populosa da UE), com uma população de habitantes. A cidade também é a capital mais ao sul do continente europeu. A herança da era clássica ainda é evidente na cidade, representado por antigos monumentos e obras de arte, sendo o Partenon o mais famoso de todos, considerado um marco fundamental do início da civilização ocidental. A cidade também mantém monumentos romanos e bizantinos, bem como um menor número de monumentos otomanos. Atenas tem dois Patrimônios Mundiais da UNESCO: a Acrópole e o Mosteiro de Dafne. Entre os marcos da era moderna, que remontam ao estabelecimento de Atenas como a capital do Estado grego independente e soberano em 1834, estão o Parlamento Helênico (século XIX), a Biblioteca Nacional da Grécia, a Universidade de Atenas e a Academia de Atenas. A cidade foi a anfitriã dos primeiros Jogos Olímpicos da era moderna, em 1896, e 108 anos depois, foi a sede dos Jogos Olímpicos de Verão de 2004. Em Atenas situa-se o Museu Arqueológico Nacional, que possui a maior coleção do mundo de antiguidades gregas, bem como o novo Museu da Acrópole. Etimologia. Em grego antigo, Atenas era chamada ("Athénai"), em homenagem à deusa grega Atena. No , este nome foi retomado formalmente como nome da cidade, mas desde o abandono oficial do grego katharévussa, em 1976, a forma popular Αθήνα tornou-se o nome oficial da cidade.Um habitante de Atenas chama-se ateniense. História. Atenas foi uma das principais cidade-estado na Grécia Antiga durante o grande período da civilização grega, no , durante a "Idade do Ouro" da Grécia (aproximadamente até ) ela era o principal centro cultural e intelectual do Ocidente, e certamente é nas ideias e práticas da Antiga Atenas que o que nós chamamos de "civilização ocidental" tem sua origem. Após seus dias de grandiosidade, Atenas continuou a ser uma cidade próspera e um centro de estudos até o período tardio do Império Romano. As escolas de filosofia foram fechadas em 529 depois que o Império Bizantino foi convertido para o cristianismo. Atenas perdeu bastante o seu status e se tornou uma cidade provinciana. Entre o século XIII e o século XV foi combatida pelos bizantinos e cavaleiros franceses/italianos do Império Latino. Em 1458, caiu em poder do Império Otomano e a população começou a diminuir e as condições pioraram quando o Império Otomano declinou. Partes da cidade (incluindo muitos de seus edifícios) foram destruídos no , e , por diferentes facções que tentaram controlar a cidade. Ficou virtualmente inabitada na época em que se tornou a capital do recentemente estabelecido Reino da Grécia, em 1833. Durante as próximas poucas décadas foi reconstruída e se transformou em uma cidade moderna. A última grande expansão ocorreu na década de 1920, quando os subúrbios foram criados para acomodar os refugiados gregos da Ásia Menor. Durante a Segunda Guerra Mundial foi ocupada pela Alemanha Nazi e esteve mal nos últimos anos da guerra. Depois da guerra começou a crescer novamente. A Grécia entrou para a União Europeia em 1981, trazendo novos investimentos para Atenas, acompanhados de problemas de congestionamento e poluição do ar. Geografia. Incluindo os subúrbios, Atenas possui uma população de cerca de 3,3 milhões de habitantes, quase um terço da população total da Grécia. Atenas cresceu rapidamente nos últimos anos e vem sofrendo problemas urbanos, como superpopulação, congestionamentos e poluição do ar. Atenas espalha-se pela planície central de Ática, que é limitada pelo monte Egaleu a oeste, monte Parnita ao norte, monte Pentélico a nordeste, monte Himeto a leste, e o Golfo Sarônico a sudoeste. Expandiu-se de modo a cobrir toda a planície, sendo, portanto, pouco provável que a cidade cresça em área de forma significativa no futuro devido às fronteiras naturais. A geomorfologia de Atenas causa frequentemente fenômenos de inversões térmicas, parcialmente responsáveis pelo problema de poluição. (Los Angeles possui geomorfologia semelhante e problemas decorrentes semelhantes). A terra é rochosa e de baixa fertilidade. O antigo local da cidade era centrado na colina rochosa da Acrópole. Em tempos antigos, o porto do Pireu era uma cidade à parte, sendo, hoje, parte da grande Atenas. Clima. O clima de Atenas pode ser definido como semiárido (Köppen: BSh), com um regime de chuvas estepário, onde chove apenas 376 mm de água por ano. Demografia. Segundo o senso de 2011, o município de Atenas tem uma população de 664 046 pessoas, com um total de 3,2 milhões na região metropolitana (incluindo os subúrbios). Acredita-se, porém, que a população atual é maior, porque durante o censo (realizado a cada 10 anos) alguns moradores atenienses viajaram para as cidades onde haviam nascido e se registraram como cidadãos do local. Refletindo essa incerteza sobre o valor real da população, várias estimativas põem a quantidade verdadeira entre quatro e cinco milhões de pessoas. Também não foram contados os imigrantes ilegais originados principalmente da Albânia, de países do Leste da Europa e do Paquistão, cujos números são desconhecidos. A parte antiga da cidade está localizada nas colinas rochosas da Acrópole. Nos tempos passados, Pireu era uma cidade separada, mas foi entretanto absorvido pela área da Grande Atenas. A rápida expansão da cidade iniciou nas décadas de 1950 e 1960 e continua até hoje, por causa da transição da economia com base agrária para uma nação industrial. A expansão é, agora, particularmente em direção ao leste e ao nordeste (uma tendência relacionada ao novo Aeroporto Internacional Eleftherios Venizelos e à Attiki Odos, a rodovia que corta a Ática de um lado ao outro). Por este processo, Atenas absorveu muitos subúrbios e vilas da Ática, e continua a fazê-lo. Através de sua longa história, Atenas experimentou muitos níveis populacionais diferentes. A tabela abaixo mostra o histórico da população de Atenas nos tempos recentes. Política. Governo local. A cidade moderna de Atenas consiste do que antigamente eram vilas e cidades distintas que gradualmente expandiram para formar uma cidade grande e única; esta expansão ocorreu no . A cidade está agora dividida em 54 subprefeituras, a maior delas que é a subprefeitura de Atenas (ou "Dimos Athinaion"), com aproximadamente um milhão de pessoas (o segundo maior é o Pireu). Atenas pode, portanto, se referir tanto à cidade toda quanto à prefeitura de Atenas (parte central da cidade). Cada uma das prefeituras da região de Atenas tem um conselho municipal eleito e um prefeito eleito de forma direta. Em janeiro de 2007 foi eleito prefeito de Atenas Nikitas Kaklamanis, do partido conservador Nova Democracia (Grécia). Cidades-irmãs. Atenas é cidade-irmã de: Divisão administrativa e bairros. O Município de Atenas é dividido em vários distritos ou bairros: Omonoia, Sintagma, Exarcheia, Aghios Nikolaos, Neapolis, Lycavittos, Lofos Strefi, Lofos Finopoulou, Lofos Filopappou, Pedion Areos, Metaxourgeio, Aghios Kostantinos, Estação Larissa, Cerâmico, Psirri, Monastirací, Gazi, Thission, Kapnikarea, Aghia Irini, Aerides, Anafiotika, Plaka, Acrópole, Pnyka, Makrygianni, Lofos Ardittou, Zappeion, Aghios Spyridon, Pangration, Kolonaki, Dexameni, Evaggelismos, Gouva, Aghios Ioannis, Neos Kosmos, Koukaki, Kynosargous, Fix, Ano Petralona, Kato Petralona, ROUF, Votanikos, Profitis Daniil, Akadimia Platonos, Kolonos, Kolokynthou, Praça Attikis, Lofos Skouze, Sepolia, Kypseli, Aghios Meletios, Nea Kypseli, Gyzi, Polygono, Ampelokipoi, Panormou-Gerokomeio, Pentagono, Ellinorosson, Filothei Kato, Ano Kypseli, Tourkovounia-Lofos Patatsou, Lofos Elikonos, Koliatsou, Thymarakia, Kato Patisia, Treis Gefyres, Aghios Eleftherios, Ano Patissia, Kypriadou e Prompona. Omonoia. A Praça Omonoia (Πλατεία Ομονοίας) é uma das principais praças e nós rodoviários e de transporte de Atenas. É rodeada por hotéis e lojas de fast food, e inclui uma estação de trem utilizado pelo Metro de Atenas e os "Ilektrikos", chamada Estação Omonoia. A praça é muitas vezes o foco para a celebração das vitórias desportivas, como pôde ser visto após a conquista do Euro 2004 e do torneio Eurobasket 2005. Psirri e Gazi. O renovado bairro Psirri (Ψυρρή) é pontilhado com antigas e renovadas mansões, e espaços para artistas, galerias e pequenas lojas. Uma série de edifícios renovados também albergam uma grande variedade de bares na moda, tornando-se um foco para a cidade sobretudo na última década, enquanto um conjunto de restaurantes de música ao vivo conhecidos como "rebetadika", nome que vem de uma singular forma de música que floresceu no Siro e em Atenas, de 1920 até à década de 1960. Sintagma. A Praça Sintagma (Σύνταγμα) é a praça central da capital, situada junto ao Parlamento da Grécia e ao Túmulo do soldado desconhecido, onde ficam os melhores hotéis da cidade. A rua Ermou, com cerca de 1 km de longo caminho pedonal, liga a Praça Sintagma a Monastirací, e tem sido tradicionalmente um paraíso para os consumidores, tanto atenienses e turistas. Completam a moda muitas lojas e centros comerciais, com artigos de marcas internacionais, e está no top 5 das ruas comerciais mais caras na Europa. Plaka, Monastirací e Thission. Plaka (Πλάκα), situada na encosta norte e leste da Acrópole, é famosa por sua abundante arquitetura neoclássica, tornando-se um dos mais cénicos bairros da cidade. Continua a ser um destino turístico tradicional por excelência com um conjunto de pitorescas tavernas e está bem vivo a todas as horas. Próximo fica Monastirací (Μοναστηράκι), zona bem conhecida por sua série de pequenas lojas, restaurantes típicos e mercados, bem como pela feira ao ar livre. Outro bairro especialmente famoso pelos seus estudantes, sempre abarrotado e com elegantes cafés, é Theseum ou Thission (Θησείο), situado a oeste de Monastirací. Notável em Thission é o antigo Templo de Hefesto, sobre uma pequena colina. Kolonaki. O bairro de Kolonaki (Κολωνάκι), na base do monte Licabeto, está cheio de lojas e boutiques caras frequentadas durante o dia e bares na moda e restaurantes de noite. Também tem um vasto conjunto de galerias de arte e museus. É considerada como uma das zonas da capital de maior exclusividade e prestígio. Exárchia. Exárchia (Εξάρχεια), localizada a norte de Kolonaki, tem uma reputação mista como sede recente ou atual da cidade anarquista, onde começaram e foram mais violentos os distúrbios de 2008 na Grécia. O bairro tem uma vida culturalmente activa e muitos cafés, bares e livrarias. É o lar da Universidade Técnica Nacional de Atenas e do Museu Arqueológico Nacional de Atenas, mas também contém numerosos edifícios importantes de vários estilos do século XX, nos estilos neoclássico, Art Deco e Modernista (incluindo influências da Bauhaus). Infraestrutura. Educação e ensino superior. O antigo campus da Universidade de Atenas, na avenida Panepistímiu, é uma das mais requintadas construções de Atenas, juntamente com o prédio da Biblioteca Nacional e o prédio da Academia de Artes de Atenas.Estes prédios formam, juntos, a Trilogia de Atenas, construída no fim do . Apesar deste requinte, a maioria das funções universitárias foram movidas para um campus moderno, ao leste do centro da cidade, próximo ao Zografo. Outra universidade presente em Atenas é a Escola Politécnica de Atenas (em grego: Εθνικό Μετσόβιο Πολυτεχνείο, "Ethnikó Metsóvio Politechnío"), onde 24 estudantes foram mortos em 1973 durante demonstrações contra o regime militar grego. Cultura. Arqueologia e museus. Atenas é um dos maiores centros mundiais para a pesquisa arqueológica, uma vez que possui inúmeros sítios arqueológicos localizados no próprio centro urbano da cidade. Dentre eles se destaca a Acrópole, o antigo centro sagrado da cidade, célebre em todo o mundo tanto por sua relevância histórica como pelas ruínas de edifícios clássicos importantes como o Partenon e o Erecteion. Além disso, a cidade sedia várias instituições nacionais e organismos internacionais voltados para a arqueologia, como a Universidade de Atenas, a Sociedade Arqueológica, o Departamento de Cultura da Grécia e diversos museus de antiguidades, nos quais se destacam o riquíssimo Museu Arqueológico Nacional, o Museu da Acrópole de Atenas, o Museu Benaki e o Museu Bizantino e Cristão. Também sedia conferências, encontros e exposições internacionais sobre o assunto. Com isso a cidade atrai estudiosos de todo o mundo. E além das relíquias arqueológicas, as igrejas ortodoxas são uma atração à parte, com diversas espalhadas pela cidade, algumas muito antigas e com uma decoração interna luxuriante, com destaque para a Catedral, a Igreja de Omorfoclíssia e a de Panaghia Kapnikarea. Entre os espaços monumentais e museológicos contam-se: Arquitetura. Atenas é uma cidade com grande mistura de estilos arquitectónicos, que vão do estilo greco-romano e neoclássico ao moderno. Muitos dos edifícios mais proeminentes na cidade são em estilo greco-romano ou neoclássico. Alguns destes últimos são edifícios públicos construídos em meados do século XIX sob orientação de Theophil Freiherr von Hansen: Pontos turísticos. Atenas é a nível mundial a sexta cidade mais visitada por turistas, pois para eles é igualmente pródiga em locais interessantes, tanto antigos como modernos, e dispõe de uma infraestrutura completa de serviços. Alguns dos principais pontos turísticos são: Desporto. Atenas foi sede dos Jogos Olímpicos de Verão de 2004, assim como os primeiros jogos olímpicos modernos, os jogos de Atenas, em 1896, e as olimpíadas intermediárias de 1906. Clubes desportivos: Notas. Antes da troca de populações entre a Grécia e a Turquia. Após a troca de populações entre a Grécia e a Turquia.
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Rei Artur
Rei Artur Rei Artur é um lendário líder britânico que, de acordo com as histórias medievais e romances de cavalaria, liderou a defesa da atual Grã-Bretanha contra os invasores saxões no final do século V e no início do século VI. Os detalhes das histórias Arturianas são em sua maioria compostos por folclore e invenções literárias, e sua existência histórica é motivo de debate acadêmico entre os historiadores contemporâneos. O contexto histórico escasso sobre Artur foi construído a partir de várias fontes, incluindo o "Annales Cambriae", a "Historia Brittonum" e os escritos de Gildas. O nome de Artur também é citado em poesias medievais, como a de "Y Gododdin". Artur é uma figura central das lendas classificadas atualmente como Matéria da Bretanha. O lendário Rei Artur começou a despertar grande interesse internacional através da popularidade da crônica fantástica e imaginativa "Historia Regum Britanniae" ("História dos Reis da Bretanha"), composta pelo clérigo galês Godofredo de Monmouth. Em alguns contos e poemas galeses-bretões que datam antes desse trabalho, Artur aparece tanto como um grande guerreiro defendendo a Bretanha de inimigos humanos e sobrenaturais, quanto como uma figura mágica folclórica, algumas vezes associado com o paraíso celta (Outro Mundo) Annwn. É desconhecido se a crônica de Godofredo (completa em 1138) é de autoria própria ou influenciada por outras fontes. Embora os temas, eventos e personagens das lendas Arturianas variem significativamente entre os mais diversos textos, e não existir uma versão canônica, a versão de Godofredo foi a que geralmente serviu como ponto de partida para as histórias posteriores. O clérigo galês retratou Artur como um rei da Bretanha que derrotou os saxões e estabeleceu um império na Bretanha, Irlanda, Islândia, Noruega e Gália. Muitos elementos e incidentes que agora integram parte da lenda Arturiana aparecem na "Historia" de Godofredo, incluindo o pai de Artur Uther Pendragon, o mago Merlin, a esposa de Artur Genebra (ou Guinevere), a espada Excalibur, a concepção de Artur no Castelo de Tintagel, sua batalha final contra Mordred em Camlann e o seu descanso final em Avalon. O escritor francês do século XII, Chrétien de Troyes, que adicionou na história Lancelote e o Santo Graal, começou a tradição dos romances Arturianos que se tornaram um gênero importante na literatura medieval. Nessas histórias francesas, a narrativa foca tanto em Artur quanto em outros personagens, como os Cavaleiros da Távola Redonda. A literatura Arturiana floresceu na Idade Média, mas declinou nos séculos seguintes até ser ressuscitada no século XIX. No século XXI, a lenda continua viva, não somente na literatura, mas também no teatro, cinema, televisão, quadrinhos e outras mídias. Debate sobre a historicidade. As bases históricas para a lenda do Rei Artur têm sido debatidas há bastante tempo pelos acadêmicos. Uma escola de pensamento, citando elementos da "Historia Brittonum" ("História dos Bretões") e "Annales Cambriae" ("Anais de Gales"), vê Artur como uma figura histórica genuína, um bretão-romano que lutou contra os invasores anglo-saxões em algum período no final do século V e início do século VI. A "Historia Brittonum", uma compilação histórica latina do século IX atribuída ao clérigo galês Nênio em alguns manuscritos posteriores, contém a primeira descrição detalhada sobre o Rei Artur, descrevendo doze batalhas em que o lendário líder lutou. Elas culminaram na Batalha do Monte Badon, onde é dito que ele matou sozinho 960 homens. Estudos recentes, entretanto, questionam a veracidade da "Historia Brittonum". Outro texto que parece favorecer a existência histórica de Artur é o "Annales Cambriae", um texto do século X, que também relaciona Artur com a Batalha do Monte Badon. O "Annales" data essa batalha entre 516-518 e também menciona a Batalha de Camlann, onde Artur e Medraut (Mordred) morreram entre 537-539. Essas relatos foram usados para reforçar a veracidade da "Historia Brittonum" e confirmar que Artur de fato lutou em Badon. Foram identificados problemas em relação essa a versão, todavia ainda assim essa foi usada para dar suporte à "Historia Brittonum". As últimas investigações demonstram que o "Annales Cambriae" foi baseado em uma crônica criada no final do século VIII no País de Gales. Além disso, uma análise mais aprofundada do "Annales Cambriae" mostra ser impossível ter qualquer certeza se os anais Arturianos foram compilados na Alta Idade Média. Eles foram reunidos em algum momento do século X e possivelmente não existiram anteriormente. A citação sobre Badon provavelmente foi derivada da "Historia Brittonum". A falta de evidências convincentes nos registros mais antigos é a principal razão de muitos historiadores desconsiderarem Artur na história da Bretanha. Na visão do historiador Thomas Charles-Edwards, "no estágio que se encontra as investigações, podemos apenas dizer que pode ter existido um Artur histórico, [mas...] os historiadores podem igualmente dizer que não existe nenhuma certeza sobre isso". Admitir essa falta de certeza é relativamente recente; gerações anteriores de historiadores eram menos céticos. O historiador John Morris no seu livro "The Age of Arthur" (1973) investiga a história bretã pós-romana, e encontrou poucas evidências de um Artur histórico. Em reação a essas teorias, outra escola de pensamento surgiu argumentando que não existem evidências históricas da existência de Artur. Morris, em "Age of Arthur", mostra a visão do arqueólogo Nowell Myres, a qual observa que "nenhuma figura na história e na mitologia tem tomado tanto tempo dos historiadores". Gildas, no polêmico texto do século VI, "De Excidio et Conquestu Britanniae" ("Sobre a Ruína e Conquista da Bretanha"), descreve os relatos da Batalha de Badon, mas não menciona Artur. O mítico líder também não é mencionado nas "Crônicas Anglo-Saxãs", ou citado em qualquer manuscrito sobrevivente do século IV a VIII. A ausência da sua menção no livro de Beda do , "História Eclesiástica do Povo Inglês", outra fonte importante da história bretã pós-romana, é mais um fator que vai contra a existência do lendário rei. O historiador David Dumville escreveu: "Eu penso que podemos deixar ele [Artur] de lado. Ele tem seu lugar nos nossos livros de história como elemento mitológico, mas o fato é que não existem evidências históricas em relação a Artur; nós devemos rejeitá-lo na nossa história, e, acima de tudo, nos títulos dos nossos livros." Alguns acadêmicos argumentam que Artur era originalmente um herói folclórico ou até mesmo uma deidade céltica esquecida, que assumiu contornos reais em um passado distante. São citadas comparações com outras figuras mitológicas como os irmãos Hengist e Horsa do Reino de Kent, que podem ter sido deuses totêmicos que posteriormente se tornaram alegadamente históricos. Beda atribuiu a essas figuras legendárias um papel histórico nas invasões e conquistas anglo-saxãs do século V. Nem sequer é certo se Artur era considerado um rei nos primeiros textos. Nem "Historia" ou o "Annales" chamam ele de "rex": ao invés disso ele é denominado "duque bellorum" (líder de batalhas) e "miles" (soldado). Documentos históricos da era pós-romana são escassos, então a resposta definitiva sobre a questão da existência histórica de Artur é desconhecida. Sítios arqueológicos têm sido identificados como "Arturianos" desde o século XII, mas os arqueólogos podem apenas determinar a legitimidade destes a partir de textos antigos. A chamada "Pedra de Artur", descoberta em 1998 entre as ruínas do Castelo de Tintagel na Cornualha e seguramente datada do século VI, criou esperança nos defensores da historicidade de Artur, mas acabou sendo provada como irrelevante. Outras evidências de Artur, incluindo a cruz da Abadia de Glastonbury, possuem erros e existem indicações de serem forjadas. Embora alguns personagens históricos tenham sido propostos como inspiração para a criação do Rei Artur, nenhuma prova contundente dessas hipóteses foi apresentada. Nome. A origem do nome galês "Arthur" continua sendo alvo de debates. Alguns sugerem que é derivado do "nomen gentile" (nome de família) "Artorius" (Artório), com uma obscura e contestada etimologia (mas possivelmente oriunda da língua mesápia ou etrusca ). Alguns acadêmicos destacam que o nome do lendário Rei Artur é grafado apenas como "Artur" ou "Arturus" nos primeiros textos Arturianos em latim, e nunca como "Artōrius" (embora seja bem conhecido que o latim clássico "Artōrius" se tornou "Arturius" em alguns dialetos do latim vulgar). Entretanto, isso pode não significar nada quanto a origem do nome "Arthur", já que "Artōrius" aos poucos se transformou em "Art(h)ur" quando foi emprestado para a língua galesa. Outra possibilidade é que o nome seja derivado do britônico "Arto-rīg-ios" (cuja raiz, "*arto-rīg-", rei-barbado, é encontrada no nome "Art-ri" em irlandês arcaico) e foi latinizada para "Artōrius". Menos possível é a teoria que vem do galês "arth", "urso" + (g)wr "homem" (mais antigamente "Arto-uiros", em britônico); existem dificuldades fonológicas nessa teoria, pois o nome composto em britônico "Arto-uiros" deveria ser pronunciado como "Artgur" em galês arcaico e "Arthwr" em galês medieval/moderno, e não "Arthur" (na poesia galesa o nome é sempre pronunciado "Arthur" e exclusivamente rima com as palavras terminadas em "-ur" – nunca em palavras terminadas em "-wr" – o que confirma que o segundo elemento não poderia ser "(g)wr" "homem"). Uma teoria alternativa, que conseguiu apenas uma aceitação limitada entre os acadêmicos, aponta que o nome Arthur deriva de "Arcturus" (Arcturo), a estrela mais brilhante na constelação de Boieiro, perto da Ursa Major. "Arcturus", do Latim clássico, também se transformou em "Art(h)ur" quando foi emprestado para o galês, e por seu brilho e posição no céu as pessoas o chamaram de "guardião do urso" (que é o significado do nome em grego antigo) e o "líder" das outras estrelas em Boieiro. Um nome similar em irlandês antigo é "Artúr", possivelmente derivado do nome "Artur" em galês arcaico ou cúmbrico. As evidências históricas atestam que o nome foi usado pelo filho ou neto de Áedán mac Gabráin (morto em 609 d.C.). Tradição literária medieval. O criador da tradição literária sobre Artur foi Godofredo de Monmouth, com seu livro pseudo-histórico "Historia Regum Britanniae" ("História dos Reis da Bretanha"), escrito na década de 1130. As obras relacionadas a Artur e suas lendas são usualmente divididas nas escritas antes da "Historia" de Godofredo (pré-Godofredo) e nas escritas depois, que não podem negar sua influência (pós-Godofredo). Tradição pré-Godofredo. As primeiras referências literárias sobre Artur vêm de fontes bretãs e galesas. Existiram algumas poucas tentativas em definir a natureza do personagem Artur na tradição pré-Godofredo como um todo, isto é, todos os pontos que compõem essa tradição. Uma pesquisa acadêmica de 2007 por Thomas Green identifica três elementos chaves que caracterizam Artur nos primeiros textos. A primeira delas mostra o lendário líder como um guerreiro inigualável, que desempenhava o papel de caçador de monstros e defensor da Bretanha de todas as ameaças internas e externas. Algumas dessas ameaças eram humanas, como os saxões em que ele luta na "Historia Brittonum", mas a maioria delas são sobrenaturais, incluindo monstruosos gatos colossais, javalis divinos enfurecidos, dragões, cinocéfalos, gigantes e bruxas. O segundo elemento é um Artur folclórico (particularmente folclore toponímico e onomástico) participante das maravilhas mágicas locais, líder de um bando de super-humanos que vivem nas florestas da região. A terceira e final vertente é que o Artur galês tem uma conexão próxima com o paraíso celta (Outro Mundo) Annwn. Por um lado, ele realiza assaltos nas fortalezas desse mundo em busca de tesouros e libertar seus prisioneiros. Por outro lado, alguns membros do seu bando nas primeiras fontes são deuses pagãos, e sua esposa e posses claramente são originadas do Outro Mundo. Um dos mais famosos poemas galeses sobre Artur vem da coleção de canções heróicas conhecida como "Y Gododdin" (O Gododdin), atribuído ao poeta do século VI Aneirin. Uma estrofe exalta a bravura de um guerreiro que derrota 300 inimigos, mas diz que "ele não era Artur", isso é, seus feitos não podem ser comparados com os de Artur. "Y Gododdin" é apenas conhecido por um manuscrito do século XIII, então é impossível determinar que passagens são originais ou interpolações posteriores, mas na visão de John Koch as passagens datadas do século VII ou anteriores não podem ser provadas como autênticas, então outras do século IX e X foram propostas no lugar. Alguns poemas atribuídos a Taliesin, um poeta que pode ter vivido no século VI, também fazem referência a Artur, embora estes poemas provavelmente datem entre os séculos VIII e XII. Estes incluem "Kadeir Teyrnon" ("A Cadeira do Príncipe") a qual refere o líder legendário como "Artur, o Abençoado"; "Preiddeu Annwn" ("Os Despojos de Annwn") que relata uma expedição de Artur para o Outro Mundo; e "Marwnat vthyr pen[dragon]" ("A Elegia de Uther Pen[dragon]"), a qual salienta os valores morais de Artur e sugere uma relação de pai e filho entre ele e Uther que precede a tradição de Godofredo. Outros textos Arturianos em galês antigo incluem um poema encontrado no "Livro Negro de Carmarthen", "Pa gur yv y porthaur?" ("Qual homem é o porteiro?"). Esse texto apresenta um diálogo entre Artur e o porteiro de uma fortaleza em que ele quer entrar, onde Artur relata os atos e proezas dele mesmo e de seus homens, notavelmente Sir Cei (Kay) e Bedwyr (Bedivere). A história galesa em prosa "Culhwch e Olwen" (1100), incluindo a versão moderna da coleção Mabinogion, tem uma longa lista com duzentos homens subordinados a Artur, embora Cei e Bedwr novamente tomam o lugar central do enredo. A história é um conjunto de contos onde Artur ajuda seu parente Culhwch a ganhar a mão de Olwen, filha do gigante Ysbaddaden, completando uma série de desafios impossíveis, incluindo caçar o semi-deus javali Twrch Trwyth. O livro do século IX "Historia Brittonum" também relata esse conto, com o javali nessa versão sendo chamado Troy(n)t. Finalmente, Artur é mencionado numeras vezes nas "Tríades galesas", uma coleção de resumos das tradições galesas e lendas que são classificadas em três grupos. Os manuscritos tardios das "Tríades" são parcialmente derivados de Godofredo e de outras tradições continentais posteriores, mas as primeiras versões não demonstram ter tais influências e usualmente concordam com tradições galesas pré-existentes. Enquanto na "Historia Brittonum" e no "Annales Cambriae" não é claro que Artur seja um rei, na história "Culhwch e Olwen" e nas "Tríades" ele se tornou "Penteyrnedd yr Ynys hon", "Chefe dos Lordes dessa Ilha", o senhor de Gales, da Cornualha e do Norte. Além desses contos e poemas galeses pré-Godofredo, Artur aparece em alguns outros textos latinos antigos para além da "Historia Brittonus" e do "Annales Cambriae". Em particular, Artur é personagem principal em vários "vitae" (hagiografia) de santos da era pós-romana, mas nenhum deles é considerado como fonte fiável (o mais antigo deles data do início do século XI). De acordo com a "Vida do Santo Gildas", escrito no início do século XII por Caradoc de Llancarfan, é dito que Artur teria matado o irmão de Gildas, Hueil, e resgatado sua esposa Genebra de Glastonbury. Em a "Vida do Santo Codoc", escrito em cerca de 1100, tal santo fornece proteção para um homem que matou três subordinados de Artur. Então o legendário rei, se sentindo lesado, exige ao santo um rebanho de gado para compensar suas perdas. Cadoc envia o exigido, mas quando Artur toma posse dos animais, eles acabam se tornando feixes de samambaias. Incidentes similares são descritos em hagiografias medievais de Caradec, Scissy e Eufflam, provavelmente escritos em meados do século XII. Um registro legendário menos óbvio sobre Artur aparece no relato de Goueznou, que é alegado ter sido escrito no início do século XI (embora os manuscritos mais antigos datem do século XV). Fontes igualmente importantes sobre Artur aparecem na obra de Guilherme de Malmesbury, "De Gestis Regum Anglorum", e de Herman, "De Miraculis Sanctae Mariae Laudensis", que juntamente fornecem a primeira evidência clara da crença que Artur não estava de fato morto e iria em algum momento retornar, um tema bastante explorado na tradição pós-Godofredo. Godofredo de Monmouth. A primeira narrativa da vida de Artur é encontrada na obra latina de Godofredo de Monmouth, "Historia Regum Britanniae" ("História dos Reis da Bretanha"), completa em 1138. Esse trabalho é um relato imaginativo dos reis da Bretanha, passando por Bruto até o rei galês do Cadwaladr. Godofredo posiciona Artur no mesmo período pós-romano descrito pela "Historia Brittonum" e "Annales Cambriae". Ele incorpora o pai de Artur, Uther Pendragon, o seu mago conselheiro Merlin e a história da concepção de Artur, a qual Uther se disfarça de seu inimigo Gorlois através de uma mágica de Merlin, dorme com a esposa de Gorlois, Igraine, no Castelo de Tintagel, e ela concebe Artur. Com a morte de Uther, Artur, com quinze anos de idade, o sucede como rei da Bretanha e trava uma série de batalhas, similares com aquelas descritas em "Historia Brittonum", culminando na Batalha de Bath. Então ele derrota os pictos e escotos, criando o Império Arturiano ao conquistar a Irlanda, Islândia e Órcades. Depois de 12 anos de paz, Artur realiza novas investidas para expandir seu império mais uma vez, tomando controle da Noruega, Dinamarca e a Gália. Esta última ainda fazia parte do Império Romano quando foi conquistada, e a vitória de Artur acaba levando inevitavelmente a um confronto com os imperadores romanos. Artur e seus guerreiros, incluindo Caio (Kay), Beduero (Bedivere) e Gualguano (Gauvain), derrotam o Imperador romano Lucius Tiberius na Gália mas, ao se preparem para marchar para Roma, Artur toma conhecimento que seu sobrinho Modredo (Mordred), que ficou encarregado de cuidar da Bretanha durante sua saída, casou com sua esposa Genebra e usurpou o trono. Artur retorna para a Bretanha, derrotando e matando Modredo no rio Camblam em Cornwall, mas é mortalmente ferido. Ele passa a coroa para e é levado para Avalon, com o intuito de tratar seus ferimentos, e nunca mais é visto novamente. Existe um debate se a narrativa de Godofredo é de autoria própria ou influenciada por outras obras. Certamente, ele parece ter usado a lista de doze batalhas de Artur contra os saxões encontrada na compilação do , "Historia Brittonum", juntamente com a Batalha de Camlann do "Annales Cambriae", e a ideia que Artur continuava vivo e iria retornar. O reconhecimento de Artur como um rei da Bretanha também parece ter sido emprestada da tradição pré-Godofredo, sendo encontrada em "Culhwch e Olwen", nas "Tríades galesas" e nas hagiografias dos santos. Finalmente, Godofredo tomou emprestado vários nomes das posses de Artur, da sua família e companheiros da tradição galesa pré-Godofredo, incluindo Cei (Kay), Bedwyr (Bedivere), Gwenhwyfar (Gauvain), Uthyr (Uther) e talvez Caledfwlch, que mais tarde se tornaria Excalibur nas histórias Arturianas subsequentes. Entretanto, enquanto nomes, eventos chaves e títulos foram emprestados, Brynley Roberts argumenta que "a tradição Arturiana foi criada a partir de Godofredo e não deve nada às narrativas anteriores." Então, por exemplo, enquanto que Mordred é retratado como um vilão por Godofredo, não existe esse traço vilanesco na personalidade do personagem nas fontes galesas até ao . Há alguns acadêmicos modernos que tentaram desafiar a ideia que "Historia Regum Britanniae" é um trabalho próprio do clérigo galês, apontando que ele apropriou a narrativa do de Guilherme de Newburgh. Geoffrey Ashe, não concordando com essa visão, acredita que a narrativa de Godofredo é particularmente derivada de uma fonte perdida dos feitos de um rei bretão do chamado Riotamo, sendo que essa figura seria o Artur original, embora os historiadores sejam relutantes em seguirem essa conclusão. Independentemente de ter sido influenciada por outras fontes, a imensa popularidade da "Historia Regum Britanniae" não pode ser negada. Mais de 200 cópias de manuscritos do trabalho latino de Godofredo sobreviveram, não incluindo traduções para outras línguas. Deste modo, por exemplo, cerca de 60 manuscritos galeses remanescentes da "Historia", estudados por antiquários como Lewis Morris do , são há muito tempo discutidos entre os círculos acadêmicos. Como resultado dessa popularidade, a "Historia Regum Britanniae" de Godofredo teve uma enorme influência nas lendas Arturianas medievais posteriores. Mesmo que não tenha sido a única fonte de inspiração para essas histórias, muitos elementos foram copiados e desenvolvidos através dessa obra (por exemplo, Merlin e o destino final de Artur), e definiu o contexto histórico ao qual os escritores de contos mágicos e aventuras maravilhosas estavam inseridos. Tradição romântica. A popularidade da "Historia" de Godofredo, e de outros trabalhos derivados (como "Roman de Brut", de Wace), é geralmente considerado um fator importante para explicar a aparição de um número significativo de obras Arturianas na Europa continental durante os séculos XII e XIII, particularmente na França. Não foi, entretanto, a única influência Arturiana para desenvolver a Matéria da Bretanha. Existem evidências claras que Artur e contos Arturianos são recorrentes no continente antes do trabalho de Godofredo ficar comumente conhecido (ver, por exemplo, a "Porta della Pescheria" da Catedral de Módena, onde são retratadas cenas Arturianas), além de nomes "celtas" e histórias populares que não são encontradas na "Historia" de Godofredo, mas apareceram primeiramente em outros romances Arturianos. Talvez a contribuição mais significativa dessa tradição foi descentralizar o papel do próprio Artur: a maior parte da literatura Arturiana do século XII o coloca na mesma importância de Lancelote, Genebra, Percival, Galaaz, Gauvain e Tristão e Isolda. Onde Artur era o centro das atenções nas tradições pré-Godredo e de Godofredo, nesses romances ele é significativamente deixado de lado. Sua personalidade também foi mudada de maneira significativa. Nos trabalhos de Godofredo e anteriores o lendário líder é um guerreiro feroz, que derrota sem piedade bruxas, gigantes e lidera todas as suas campanhas militares, já os romances continentais o retratam como um "roi fainéant", um "rei indolente", onde sua "passividade e submissão constituem um ponto central na sociedade que o rodeia". As características de Artur nesses trabalhos são de um homem sábio, honrado, de temperamento moderado, mas às vezes frágil e que erra nas decisões reais. Por exemplo, ele fica sem reação ao saber do relacionamento entre Lancelote e Genebra em "Mort Artu", enquanto que em "Ivain, o Cavaleiro do Leão" de Chrétien de Troyes, ele fica incapaz de se manter em pé depois de uma bebedeira numa festa e precisa se retirar para um cochilo. Ainda assim, como Narris Lacy observou, mesmo que essas fragilidades estejam presentes nesses romances Arturianos, "seu prestígio quase nunca é abalado apesar de suas fraquezas pessoais... Sua glória e autoridade se mantêm intactas." Artur e seus companheiros aparecem em "Lais" de Maria de França, mas foi no trabalho de outro poeta francês, Chrétien de Troyes, que ocorreu a maior influência no desenvolvimento na lenda e no personagem de Artur. Chrétien escreveu cincos romances Arturianos entre 1170 e 1190. "Érec et Énide" e "Cligès" são contos com um pano de fundo de amor entre as aventuras da corte de Artur, demonstrando uma mudança drástica em relação ao Artur galês de Godofredo. Também há "Sir Gawain e o Cavaleiro Verde", onde é retratado Ywain e Gauvain em uma aventura sobrenatural, e um Artur enfraquecido. Entretanto, os trabalhos mais significativos para o desenvolvimento da lenda Arturiana são "Lancelote, o Cavaleiro da Carreta", que introduz Lancelote tendo um relacionamento adúltero com a esposa de Artur, Genebra, explorando o tema de Artur ser um "cuckold", e "Perceval ou le Conte du Graal", o qual apresenta o Santo Graal e o Rei Pescador, e onde novamente Artur tem um papel reduzido. Chrétien foi então "um personagem essencial tanto na elaboração da lenda Arturiana quanto na consolidação da difusão do mito", e muito do que veio depois dele foi baseado nos contos que ele escreveu. "Perceval", embora não tenha sido terminado, foi particularmente popular: quatro continuações independentes do poema apareceram nas décadas seguintes, introduzindo o elemento do Graal e desenvolvidos por outros escritores como Robert de Boron, o que de fato acabou acelerando o declínio do romance Arturiano na Europa continental. De maneira similar, a passividade de Artur na relação entre Lancelote e Genebra se tornou um elemento clássico nas lendas Arturianas, ainda que Lancelote na prosa "Lancelote" e nos textos posteriores seja uma combinação entre o personagem de Chrétien e de Ulrich von Zatzikhoven, "Lanzelet". Até mesmo o trabalho de Chrétien aparenta ter influenciado a literatura Arturiana galesa, já que o Artur romântico começou a substituir o Artur heróico e destemido da tradição em Gales. Obras relevantes nessas mudanças foram três romances Arturianos galeses, que são bastantes parecidos com os de Chrétien, embora com algumas diferenças: "Dama da Fonte" se equipara com "Ivain" de Chrétien, "Peredur, filho de Efrawg" com "Perceval, o Conto do Graal", e "Gereint e Enid" com "Erec e Enide". Até 1210, o romance Arturiano continental era expressado principalmente por poesia; depois dessa data começou a ser escrito em prosa. O romance em prosa mais importante do gênero no século XIII foi "Lancelote-Graal", uma série de cinco obras em francês medieval escritas na primeira metade desse século. Essas obras eram "Estoire del Saint Grail", "Estoire de Merlin", "Lancelot propre" (ou Lancelote em prosa, que ocupa metade do "Lancelote-Graal" em si), "Queste del Saint Graal" e "Mort Artu", que combinados formam a primeira versão coerente de todas as lendas Arturianas. O novo ciclo de reduzir a importância de Artur nas suas próprias lendas continuou, parcialmente pela introdução de personagens como Galaaz e o maior papel desempenhado por Merlin. Também é estabelecido a concepção de Mordred através da relação incestuosa entre Artur e sua irmã, e a inclusão de Camelot nos textos de Chrétien, a corte oficial de Artur. Essa série de textos foram rapidamente seguidos pelo Ciclo do Pseudo-Boron (entre 1230-1240), incluindo "Suite du Merlin", a qual reduziu a importância da relação entre lancelote e Genebra mas seguiu marginalizando Artur, focando mais na busca pelo Santo Graal. Dessa maneira, Artur se tornou um personagem secundário nesses romances em prosa franceses; no próprio "Lancelot propre", Artur apenas se destaca significativamente em "Estoire de Merlin" e "Mort Artu". Durante esse período, Artur se tornou um dos Nove da Fama, um grupo de três pagãos, três judeus e três cristãos, os representantes máximos da cavalaria medieval. Os Nove foram primeiramente listados na obra de Jacques de Longuyon de 1312, "Voeux du Paon", e virou um tema comum na literatura e na arte. O desenvolvimento do ciclo medieval Arturiano e do personagem romântico de Artur atingiu seu ápice em "Le Morte d'Arthur", uma obra em inglês do século XV de Thomas Malory, que recontou toda a lenda Arturiana em um único trabalho. Malory baseou seu livro, que primeiramente seria intitulado "O Livro completo de Rei Artur e Seus Cavaleiros Nobres da Távola Redonda", em vários romances anteriores, em particular "Lancelote-Graal", e parece ter sido uma tentativa de criar uma versão definitiva das histórias Arturianas. Talvez por conta disso, e o fato de "Le Morte D'Arthur" ter sido um dos primeiros livros impressos na Inglaterra, a maioria dos textos Arturianos posteriores foram derivados na obra de Malory. Declínio, renascimento e a lenda moderna. Literatura pós-medieval. O fim da Idade Média acarretou o declínio do interesse pelo Rei Artur. Embora a obra em inglês de Malory, inspirado nos grandes romances franceses Arturianos, continuasse a ser popular, ocorreram críticas cada vez maiores sobre a legitimidade histórica dos romances Arturianos, estabelecida desde os tempos de Godofredo, incluindo consequentemente toda a legitimidade da Matéria da Bretanha. Por exemplo, o acadêmico do século XVI Polidoro Virgílio rejeitou a alegação de que Artur foi um líder de um império pós-romano, horrorizando os historiadores galeses e ingleses. Mudanças sociais ocorridas no fim do período medieval e na Renascença também contribuíram para o declínio do personagem Artur e suas lendas, não tendo havido, após 1634, nenhuma impressão de "Le Morte d'Arthur" de Malory durante 200 anos. Rei Artur e as lendas Arturianas não foram inteiramente abandonadas, mas até ao início do século XIX o gênero não foi levado tão a sério e era usado simplesmente como um veículo para alegorias políticas dos séculos XVII e XVIII. Alguns exemplos são os épicos "Prince Arthur" (1695) e "King Arthur" (1697) de Richard Blackmore, com Artur servindo de metafóra entre as guerras de Guilherme III e Jaime III.De maneira similar, os contos Arturianos mais populares da época apareceram nas histórias do Pequeno Polegar, o qual foi um dos primeiros contos de fadas e que fazia uma alegoria com as jogadas políticas de Henry Fielding; embora o enredo seja claramente inspirado na Bretanha Arturiana, a história é humorística e Artur aparece como uma versão cômica da sua tradição romântica. Tennyson e o renascimento. No final do século XIX, o medievalismo, o romantismo e o revivalismo gótico renasceram o interesse sobre Artur e outros romances medievais. Um novo código de ética para os homens do século XIX surgiu através dos ideais do cavalheirismo apresentados no "Artur romântico". Esse interesse renovado aconteceu primeiramente em 1816, quando "Le Morte d'Arthur" de Malory foi reimpresso pela primeira vez desde 1634. Inicialmente, as lendas Arturianas medievais foram de interesse particular dos poetas, inspirando, por exemplo, William Wordsworth a escrever "The Egyptian Maid" (1835), em uma metafóra ao Santo Graal. Entre eles se encontrava Alfred Tennyson, o qual publicou seu primeiro poema Arturiano, "The Lady of Shalott", em 1832. Artur em si desempenhava um papel menor nesses trabalhos, seguindo a tradição romântica medieval. Os trabalhos Arturianos de Tennyson atingiram seu auge de popularidade com "Idílios do rei", que influenciou por completo a narrativa sobre a vida de Artur na era vitoriana. Foi primeiramente publicado em 1859 e vendeu 10 mil cópias na primeira semana. Em "Idílios", Artur se tornou um símbolo da masculinidade perfeita, mas que falhou miseravelmente em estabelecer um reino perfeito na Terra. O trabalho de Tennyson desencadeou uma série de imitações, gerando um interesse público considerável nas lendas de Artur e no próprio personagem, e trouxe os contos de Malory para os leitores em geral. De fato, a primeira modernização da compilação de Malory foi publicada em 1862, um pouco depois de "Idílios", e teve outras seis edições antes do século acabar. O interesse no "Artur romântico" e suas histórias associadas continuaram através do século XIX até o século XX, e influenciou poetas como William Morris e artistas da Irmandade Pré-Rafaelita, incluindo Edward Burne-Jones. Até mesmo os contos humorísticos do "Pequeno Polegar", os quais foram as primeiras manifestações das lendas de Artur no século XVIII, foram reescritas depois da publicação de "Idílios". Enquanto o Polegar mantêm sua baixa estatura e continua como uma figura de alívio cômico, sua história agora inclui elementos dos romances medievais Arturianos, e Artur é retratado de maneira mais séria e histórica nessas novas versões. O renascimento do romance Arturiano também repercutiu nos Estados Unidos, com o livro "The Boy's King Arthur" (1880) que obteve leitores no Novo Mundo e inspirou a satírica obra de Mark Twain, "A Connecticut Yankee in King Arthur's Court" (1889). Embora o "Artur romântico" fosse um elemento central nesses novos trabalhos Arturianos (como ele foi na obra de Burne-Jones, "The Sleep of Arthur in Avalon", 1881-1889), em outras ocasiões ele tanto retornava a suas origens medievais quanto ao mesmo tempo era marginalizado e esquecido completamente. Por exemplo, as óperas Arturianas de Richard Wagner são famosas nesse ponto. Todavia, a revitalização no interesse em Artur e contos Arturianos não continuou inabalável. No final do século XIX, estava restrita a imitadores da Irmandade Pré-Rafaelita, e não pôde sair ilesa da Primeira Guerra Mundial, que manchou a reputação do cavalheirismo e portanto o interesse das manifestações medievais e do modelo cavalheiresco de Artur. A tradição romântica, entretanto, continuou suficientemente forte para persuadir Thomas Hardy, Laurence Binyon e John Masefield a comporem peças Arturianas, e T. S. Eliot alude ao mito de Artur (mas não sobre Artur em si) em seu poema "The Waste Land", que menciona o Rei Pescador. Lenda moderna. No final da metade do século XX, a influência da tradição romântica de Artur continuou, através de romances como o de T. H. White, "O Único e Eterno Rei" (1958), e de Marion Zimmer, "As Brumas de Avalon" (1982), além de tirinhas como "Príncipe Valente". Tennyson retrabalhou os contos românticos de Artur para adequá-los ao contexto da sua época, e o mesmo aconteceu com as readaptações modernas. Os contos de Bradley, por exemplo, empregam uma abordagem feminista de Artur e suas lendas, em contraste com as narrativas encontradas nos materiais medievais, e autores estadunidenses retrabalharam as histórias de Artur para se tornarem consistentes com valores como igualdade e democracia. O Artur romântico também se tornou popular no cinema e no teatro, como por exemplo a adaptação cinematográfica da Disney, "A Espada Era a Lei" (1963); "Camelot", que foca o amor entre Lancelote e Genebra e de um Artur submisso, foi apresentada em um filme do mesmo nome de 1967. A tradição romântica de Artur é particularmente evidente e, de acordo com os críticos, adaptada com sucesso em "Lancelot du Lac" (1974) de Robert Bresson e em "Excalibur" (1981) de John Boorman; esse estilo também foi utilizado na paródia "Monty Python and the Holy Grail" (1975). Novas versões da tradição romântica não são os únicos aspectos importantes da lenda moderna do Rei Artur. Tentativas de retratar Artur como uma figura história genuína do século VI, ignorando os elementos românticos, também apareceram. Como Taylor e Brewer notaram, o retorno da tradição de Godofredo de Monmouth e da "Historia Brittonum" é um segmento recente que se tornou dominante após a Segunda Guerra Mundial, explorando a lendária resistência de Artur contra os invasores germânicos na Bretanha. Uma série de rádio de Clamence Dane, "The Saviours" (1942), usa o Artur histórico para reforçar o espírito heróico contra o clima desesperador de guerra na época, e a peça de R. C. Sherriff, "The Long Sunset" (1955), visa um Artur liderando a resistência romana-britânica contra os invasores germânicos. Essas tentativas de colocar Artur como uma figura histórica apareceram também em ficções históricas e literatura fantástica publicadas nesse período. Em anos recentes, o Artur do século V é figurado como um herói histórico em produções cinematográficas Arturianas, notadamente nas séries de televisão "Merlin" (2008) e "Camelot" (2011), e em filmes como "King Arthur" (2004), "A Última Legião" (2007) e "" (2017). Artur também tem sido usado como modelo para criar costumes e tradições modernas. Na década de 1930, a "Ordem da Irmandade dos Cavaleiros da Távola Redonda" ("Order of the Fellowship of the Knights of the Round Table") foi formada na Grã-Bretanha para promover ideais cristãos e Arturianos da cavalaria medieval. Nos Estados Unidos, centenas de milhares de garotos e garotas se juntaram em grupos de jovens Arturianos, como os "Cavaleiros do Rei Artur" ("Knights of King Arthur"), onde Artur e suas lendas serviam como modelo para uma ética exemplar. Entretanto, a maior influência da lenda Arturiana no mundo contemporâneo vem de empreendimentos, produtos e marcas, com nomes Arturianos sendo utilizados em objetos, construções e locais. Como Norris J. Lacy observou, "A noção popular de quem foi Artur aparenta ser limitada, de maneira não surpreendente, a alguns contos e nomes. Mas não existem dúvidas que a lenda nascida há séculos continua enraizada de alguma maneira na cultura moderna."
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Alemão
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Antártida
Antártida Antártida ou Antártica (ver questão do nome) é o mais meridional e o segundo menor dos continentes (maior apenas que a Austrália), com uma superfície de 14 milhões dekm2. Rodeia o polo Sul, e por esse motivo está quase completamente coberta por enormes geleiras (glaciares), exceção feita a algumas zonas de elevado aclive nas cadeias montanhosas e à extremidade norte da península Antártica. Sua formação se deu pela separação do antigo supercontinente Gondwana há aproximadamente 100 milhões de anos e seu resfriamento aconteceu nos últimos 35 milhões de anos. É o continente mais frio, mais seco, com a maior média de altitude e de maior índice de ventos fortes do planeta. A temperatura mais baixa da Terra (-93,2 °C) foi registrada na Antártida, sendo a temperatura média na costa, durante o verão, de -10 °C; no interior do continente, é de -40 °C. Muitos autores o consideram um grande deserto polar, pela baixa taxa de precipitação no interior do continente. A altitude média da Antártida é de aproximadamente 2 000 m. Ventanias com velocidades de aproximadamente 100 km/h são comuns e podem durar vários dias. Ventos de até 320 km/h já foram registrados na área costeira. Juridicamente, a Antártida está sujeita ao Tratado da Antártida, pelo qual as várias nações que reivindicavam territórios no continente (Argentina, Austrália, Chile, França, Noruega, Nova Zelândia e Reino Unido) concordam em suspender as suas reivindicações, abrindo o continente à exploração científica. Por esse motivo, e pela dureza das condições climáticas, não tem população permanente, embora tenha uma população provisória de cientistas e pessoal de apoio nas bases polares, que oscila entre 1 000 (no inverno) e 4 000 pessoas (no verão). Dois destes assentamentos com uma população regular (incluindo crianças) são Villa Las Estrellas (do Chile) e Base Esperanza (da Argentina). Toponímia. O topônimo Antártica tem sua origem no latim tardio "antarctĭcus" que, por sua vez, deriva do grego antigo ανταρκτικός, que significa, literalmente, "oposto ao Ártico" (antiártico). Todavia, convencionalmente adotou-se a forma Antártida, tanto em Portugal como no Brasil, mesmo que contraditória quanto à origem etimológica do topônimo. Uma explicação possível seria a analogia com a mítica Atlântida, algo que ocorre da mesma forma em castelhano, em que também convivem as duas formas, "Antártida" e "Antártica", sendo a primeira de uso mais difundido. Em francês também se alternam as formas "Antarctique" e "Antarctide", enquanto na língua italiana usa-se "Antartide", também cunhada sobre o modelo de "Atlantide" (Atlântida). Em Portugal, "Antárctida" era a forma mais usual antes do Acordo Ortográfico de 1990 (atualmente "Antártida"), embora a forma "Antártica" também tenha uso. No Brasil, era preferida a forma "Antártida" até meados da década de 1970, quando a forma "Antártica" passou a ganhar força após ser usada em obras acadêmicas sobre o continente, como o livro "Rumo à Antártica" da geógrafa Teresinha de Castro, publicado em 1976. História. Como não há povos nativos da Antártida, a sua história é a da sua exploração. É muito provável que os povos de regiões próximas ao continente tenham sido os primeiros a explorá-lo: os povos Aush da Terra do Fogo, por exemplo, falam sobre o "país do gelo" e um chefe māori de nome Ui-Te-Rangiora teria atingido a região em 650 d.C.. No entanto, esses povos não deixaram vestígios de sua presença. As primeiras expedições documentadas começam no século XVI. Américo Vespúcio relatou o registro visual de terras a 52°S. Várias expedições aproximaram-se gradativamente do continente sem, no entanto, ter-se a certeza de que se tratava realmente de um continente ou de um conjunto de ilhas, até às expedições de James Cook, o primeiro a circum-navegá-lo entre 1772 e 1775 sem o avistar, devido à névoa e aos icebergs. A primeira pessoa que avistou o continente Antártico foi o explorador russo Fabian Gottlieb Thaddeus von Bellingshausen em 28 de Janeiro de 1820. A ocupação humana propriamente dita começa na primeira metade do século XIX, quando navios baleeiros chegavam à região das Ilhas Sandwich do Sul. Nesse período, James Weddell e James Clark Ross descobriram os mares que hoje levam seus nomes. Este último fez uma viagem de exploração na qual descobriu ainda a Ilha de Ross, os montes Érebo e Terror e a Terra de Vitória, retornando em 1843. Realizados em 1895 e 1889, o sexto e o sétimo Congresso Internacional de Geografia, respectivamente, obtêm relativo sucesso em seu chamado pela exploração do continente meridional, firmando-se uma colaboração mútua de Grã-Bretanha e Alemanha para a exploração científica da Antártida, resultando em diversas expedições ao continente com o apoio e a participação de diferentes nações. No início do século XX, os exploradores se voltam para a conquista do polo Sul. Ernest Henry Shackleton organizou uma expedição em 20 de outubro de 1908, sendo obrigado a retornar sem atingir o polo. Seguem-se a ele Roald Amundsen e Robert Falcon Scott em uma verdadeira corrida, pois partem com apenas duas semanas de diferença em outubro de 1911 a partir da plataforma de Ross. Amundsen atinge o polo em 14 de dezembro de 1911, retornando em janeiro. O grupo de Scott chega ao ponto em 17 de janeiro e encontra a bandeira norueguesa. No caminho de volta, os cinco expedicionários morrem de fome e exaustão. Após a conquista do polo, restava ainda a façanha de atravessar o continente de costa a costa. Shackleton assumiu a tarefa na Expedição Imperial Transantártica, em 1914, que não obteve sucesso por uma série de dificuldades, a primeira delas foi os navios terem ficado presos no gelo e afundado. Richard Evelyn Byrd, explorador dos Estados Unidos, foi o primeiro a sobrevoar o polo Sul, em 29 de novembro de 1929, após o que conduziu diversas viagens de avião à Antártida nas décadas de 1930 e de 1940. Byrd também realizou extensas pesquisas geológicas e biológicas. Atualmente, após o Tratado da Antártida, muitos países mantêm bases de pesquisa permanente e a ocupação humana é constante. Geografia. A maior parte do continente austral está localizada ao sul do Círculo Polar Antártico e circundada pelo oceano Antártico. É a massa de terra mais meridional e compreende mais de 14 milhões de km2, tornando-se o quinto maior continente. Sua costa mede 17 968 km e é caracterizada por formações de gelo, como mostra a tabela: Fisicamente, ela é dividida em duas partes pelos montes Transantárticos perto do estreitamento entre o mar de Ross e o mar de Weddell: a Antártida Oriental, ou Maior, e a Antártida Ocidental, ou Menor, porque correspondem aproximadamente aos hemisférios ocidental e oriental em relação ao meridiano de Greenwich. Aproximadamente 98% da Antártida está coberta por um manto de gelo, que possui em média 2 km de espessura, sendo m sua espessura máxima. Essa cobertura de gelo tem um volume estimado em 25,4 milhões de km3, contendo 70% de toda a água doce do planeta sendo assim o continente de maior altitude média. O gelo advindo do manto forma barreiras que se estendem para além da costa, conhecidas como plataformas de gelo, a maior das quais é a de Ross (com 800 km de largura e estendendo-se por 1 000 km em direção ao polo Sul). Os icebergs são blocos de gelo flutuante formados pela neve, desprendidos das geleiras ou das plataformas de gelo. Embora a maior parte da massa continental da Antártida se encontre acima do nível do mar, uma grande parte da pequena Antárctica Ocidental encontra-se abaixo do nível do mar. Em grande parte do interior do continente a precipitação média anual fica entre 30 e 70 mm; em algumas áreas de "gelo azul" a precipitação é mais baixa do que a perda de massa pela sublimação e, assim, o balanço local é negativo. Nos vales secos o mesmo efeito ocorre sobre uma base de rochas, conduzindo a uma paisagem esturricada. Abriga o Pólo geográfico Sul do planeta, a 90º de latitude S, e o polo magnético, cuja localização não é fixa. Apenas a península Antártida, com 1 000 km de extensão, não está sempre coberta por gelo. O relevo é marcado pelos montes Transantárticos, prolongamento geológico dos Andes. Ela divide o continente em Antártida Oriental, com planícies, colinas baixas e a geleira Lambert (a maior do mundo), e Antártida Ocidental, com arquipélagos ligados pela cobertura de gelo permanente. As banquisas formadas por água do mar congelado se confunde com o contorno do continente. A Antártida Ocidental é coberta pelo manto de gelo da Antártida Ocidental. Este chamou a atenção recentemente por causa da possibilidade real de seu colapso: se derretesse, o nível do mar elevar-se-ia em vários metros em um curto espaço de tempo geológico, talvez em questão de séculos. Diversos fluxos de gelo antártico, que correspondem a aproximadamente 10% da cobertura de gelo, correm para uma das muitas plataformas. A Antártida tem mais de 145 lagos que se encontram sob a superfície de gelo continental. O lago Vostok, descoberto abaixo da estação Vostok em 1996, é o maior deles. Acredita-se que o lago está selado pelo manto de gelo há 30 milhões de anos. Há também alguns rios no continente, o maior dos quais é o rio Onyx, com 30 km de extensão, que desagua no lago Vanda a 75 m de profundidade. Na Antártida Oriental encontram-se os montes Transantárticos (ou Cadeia Transantártica) que se estende por 4 800 km, desde a Terra de Vitória à Terra de Coats. Na Ocidental está a Península Antártica, ao sul da qual se encontram os montes Ellsworth e o maciço Vinson, ponto mais elevado do continente com m. Localizadas entre suas cordilheiras, há sete geleiras na Antártida, das quais a maior é a Geleira Byrd. Embora seja lar de muitos vulcões, apenas uma cratera na ilha Decepção e o monte Érebo expelem lava atualmente, a primeira desde 1967. O monte Érebo, de 4 023 m de altitude e localizado na Ilha de Ross, é o vulcão ativo mais meridional do mundo. Pequenas erupções são comuns e fluxos de lava foram observados em anos recentes. Clima. A Antártida é o continente mais frio e seco da Terra, um grande deserto. A precipitação média anual fica entre 30 e 70 mm. Devido à influência das correntes marítimas, as zonas costeiras apresentam temperaturas mais amenas, com uma média anual de -10 °C (atingindo valores entre 10 °C no verão e -40 °C no inverno). Por outro lado, no interior do continente, a média anual é -30 °C, com temperaturas variando entre -30 °C no verão até abaixo de -80 °C no inverno. A menor temperatura do mundo, -93,2 °C, foi registrada entre Dome Argurs e Dome Fuji no dia 10 de agosto de 2010. No entanto, o local mais frio da superfície terrestre, estima-se que seja a Cordilheira A (ou "Ridge A"), que fica localizada nas seguintes coordenadas: . Estima-se que apesar dos seis meses de escuridão do inverno, a incidência da energia solar no Polo Sul seja semelhante à recebida anualmente no equador, mas 75% dessa energia é refletida pela superfície de gelo. A Antártida Oriental é mais fria que a Ocidental por ser mais elevada. As massas de ar raramente penetram muito no continente, deixando seu interior frio e seco. O gelo no interior do continente dura muito tempo, apesar da falta de precipitação para renová-lo. A queda de neve não é rara no litoral, onde já se registrou a queda de 1,22 metro em 48 horas. Também é um continente com ventos fortes, registrando-se ventos com velocidades superiores a 200 km/h na região costeira, sendo a média nestes locais de 100 km/h. No interior, entretanto, as velocidades são tipicamente moderadas. A Antártida é mais fria do que o Ártico por dois motivos: em primeiro lugar, grande parte do continente está a mais de 3 km acima do nível do mar. Em segundo lugar, a área do polo Norte é coberta pelo oceano Ártico e o relativo calor do oceano é transferido através do gelo, impedindo que as temperaturas nas regiões árticas alcancem os extremos típicos da superfície da terra no sul. Alguns eventos climáticos são comuns na região. A aurora austral, conhecida como "luzes do sul", é um brilho observado durante a noite perto do Pólo Sul. Outro acontecimento é o pó de diamante, neblina composta de pequenos cristais de gelo. Forma-se geralmente sob céu limpo, por isso é referido como precipitação de céu limpo. Falsos sóis, brilhos formados pela reflexão da luz solar em cristais de gelo, conhecidos como parélio, são uma manifestação óptica atmosférica comum. Em 9 de fevereiro de 2020, o continente registrou uma temperatura de 20,7 °C, a mais alta de toda a história da Antártida. Flora. As principais dificuldades para o crescimento dos vegetais na Antártida são os fortes ventos, a curta espessura do solo e a limitada quantidade de luz solar durante o inverno austral. Por isso, a variedade de espécies de plantas na superfície é limitada a plantas "inferiores", como musgos e hepáticas. Além disso há uma comunidade autotrófica, formada por protistas. A flora continental consiste em líquens, briófitas, algas e fungos. O crescimento e a reprodução ocorrem geralmente no verão. Há mais de 200 espécies de líquens e aproximadamente 50 espécies de briófitas, tais como musgos. No continente existem 700 espécies de algas, a maioria das quais forma o fitoplâncton. Diatomáceas e algas da neve, algas microscópicas que crescem na neve e no gelo dando-lhes coloração, são abundantes nas regiões costeiras durante o verão. Há ainda duas espécies de plantas que florescem e são encontradas na Península Antártica. Fauna. O "krill" é muito importante para a maior parte das teias alimentares, servindo de alimento para lulas, baleias, focas, como a foca-leopardo, pinguins e outras aves. As aves mais comuns são os pinguins, os albatrozes e os petréis. No entanto, somente 13 espécies fazem seus ninhos em terra firme, geralmente no litoral, e partem para regiões mais quentes no inverno. Enquanto todas as demais migram, duas espécies de pinguim permanecem e migram para o interior: o pinguim-imperador, a maior espécie, e o pinguim-de-adélia. Por volta de abril, machos e fêmeas dos pinguins-imperador migram 100 km para o sul, as fêmeas voltam para o litoral para se alimentar, só voltando em julho e os machos se agrupam para se aquecerem. A fauna dos mares em torno da Antártida é bastante rica. É composta por uma miríade de invertebrados como esponjas, anêmonas, estrelas-do-mar e ouriços-do-mar, anelídeos, crustáceos e moluscos e entre os mais abundantes estão o isópode "Glyptonotus antarticus" e o molusco "Nacella concinna", comum nas zonas costeiras. As condições ambientais afetam o crescimento e a reprodução desses animais: eles se tornam maiores e crescem mais lentamente, se reproduzindo de forma mais lenta em comparação com seus congéneres de regiões quentes. Em regiões com profundidade de cerca de 200 m abaixo da camada de gelo e em plena escuridão, acreditava-se que existiam apenas micróbios, mas, conforme anúncio feito pela NASA em 16 de março de 2010, também podem ser encontrados o crustáceo "Lyssianasid amphipod" e uma espécie de água-viva. A aprovação do Ato de Conservação da Antártida trouxe severas restrições ao continente. A introdução de plantas ou dos animais estrangeiros pode ser punida criminalmente, bem como a retirada de qualquer espécie nativa. O excesso de pesca do "krill", de grande importância para o ecossistema local, fez com que a pesca fosse regulamentada e controlada. A Convenção para Conservação dos Recursos Vivos Marinhos Antárticos (CCAMLR, em inglês), um tratado que entrou em vigor em 1980, requer que regulamentos sobre o Oceano Antártico levem em conta os potenciais efeitos sobre todo o ecossistema antártico. Apesar destes novos regulamentos, a pesca ilegal, particularmente da merluza-negra, continua sendo um sério problema. A pesca ilegal da merluza aumentou para cerca de 32 000 toneladas em 2000. Geologia. Há mais de 100 milhões de anos a Antártida fazia parte da Gondwana. Ao longo do tempo, a Gondwana dividiu-se e a Antártida como é conhecida hoje formou-se por volta de há 25 a 23 milhões de anos, ao se separar da América do Sul e tornar-se totalmente circundada pelo oceano Antártico. Paleozoico. No período Cambriano, há entre 540 e 250 milhões de anos, o clima na Gondwana era ameno. A Antártida Ocidental estava parcialmente no Hemisfério Norte, e durante este período grandes quantidades de arenito, calcário e xisto foram depositados. A Antártida Oriental estava no Equador, onde invertebrados e trilobitas floresciam no fundo dos mares tropicais. Por volta do início do período Devoniano (416 milhões de anos) a Gondwana estava em latitudes mais ao sul e o clima era mais frio, embora sejam conhecidos fósseis de plantas deste período. Areia e siltes assentaram-se no que são agora os montes Ellsworth, Horlick e Pensacola. A glaciação começou no fim do período Devoniano (360 milhões de anos) movendo-se em direção ao polo Sul e o clima esfriou, embora ainda houvesse flora. Durante o período Permiano, pteridófitas que cresciam em pântanos dominavam a paisagem. Com o tempo estes pântanos transformaram-se em depósitos de carvão nos montes Transantárticos. Um aquecimento contínuo ao fim do Permiano tornou o clima quente e seco na maior parte da Gondwana. Mesozoico. Como resultado do aquecimento contínuo, há entre 250 e 65 milhões de anos, a cobertura de gelo polar derreteu e grande parte da Gondwana transformou-se em um deserto. Na Antártida Oriental "pteridospermatophytas", espécie de pteridófita atualmente extinta, tornaram-se comuns, e grandes quantidades de arenito e de xisto assentaram-se. A península Antártica começou a se formar durante o período Jurássico (há entre 206 e 146 milhões de anos), e as ilhas subantárticas emergiram gradualmente do oceano. Nogueiras-do-japão e cicadáceas eram abundantes durante este período, bem como répteis. No período Cretáceo (há entre 146 e 65 milhões de anos), a Antártida Ocidental foi dominada por florestas de coníferas, embora notofagáceas tenham começado a dominar no fim deste período. Amonites eram comuns nos mares em torno da Antártida, e também havia dinossauros, embora somente quatro espécies antárticas tenham sido encontradas até agora ("Cryolophosaurus" e "Glacialisaurus" do Jurássico, "Antarctopelta" e "Trinisaura" do Cretáceo). Foi durante esse período que a Gondwana começou a separar-se. A Antártica abrigava florestas tropicais, há quase 90 milhões de anos. O solo da floresta descoberto no período Cretáceo, a 900 km do Polo Sul, os pesquisadores descobriram que os níveis de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera eram mais altos do que o esperado durante o período intermediário do Cretáceo, há 115–80 milhões de anos, desafiando modelos climáticos do período. Divisão da Gondwana. A África separou-se da Antártida por volta de há 160 milhões de anos, seguida pelo subcontinente indiano no início do Cretáceo (aproximadamente há 125 milhões de anos). Há 65 milhões de anos, a Antártica (ainda conectada à Austrália) tinha um clima entre tropical e subtropical, somado a uma fauna de marsupiais. Há 40 milhões de anos, o continente australiano, então unido à atual ilha da Nova Guiné separou-se da Antártida e o gelo começou a aparecer. Por volta de há 23 milhões de anos, o surgimento da passagem de Drake entre a Antártida e a América do Sul resultou no aparecimento da Corrente Circumpolar Antártica. O gelo propagou-se, substituindo as florestas que cobriam o continente. O continente está coberto de gelo desde há 15 milhões de anos. Geologia atual. Os estudos geológicos da Antártida foram dificultados por quase todo o continente ser coberto permanentemente por uma grossa camada de gelo. Entretanto, novas técnicas como o sensoriamento remoto (deteção remota) começaram a revelar as estruturas por debaixo do gelo. Geologicamente, a Antártida Ocidental assemelha-se aos Andes. A península Antártica foi formada pela elevação e metamorfismo de sedimentos do leito do mar durante o final da era Mesozoica. Esta elevação de sedimentos foi acompanhada de intrusões ígneas e vulcanismo. As rochas mais comuns na Antártida Ocidental são o andesito e o riolito formadas durante o período Jurássico. Há evidências de vulcanismo, mesmo depois da formação do manto de gelo, na Terra de Marie Byrd e na Ilha Alexandre I. A única área atípica da Antártida Ocidental é a dos montes Ellsworth, a região onde a estratigrafia é mais parecida com a da parte oriental do continente. A Antártida Oriental é geologicamente muito antiga, datando do pré-cambriano, com algumas rochas formadas há mais de 3 000 milhões de anos. É formada por uma plataforma metamórfica e ígnea que é a base do escudo continental. Acima desta base estão várias rochas mais modernas, como arenito, calcário, carvão e xisto depositadas durante os períodos Devoniano e Jurássico para dar forma aos Montes Transantárcticos. Em áreas costeiras como a cordilheira Shackleton e a Terra de Vitória foram encontradas algumas falhas geológicas. O principal recurso mineral conhecido no continente é o carvão. Inicialmente, foi encontrado por Frank Wild perto da geleira Beardmore na expedição do Nimrod, e conhece-se a existência de carvão de baixa qualidade em muitas partes dos montes Transantárticos. As montanhas Príncipe Charles contêm depósitos significativos de minério de ferro. Os recursos mais valiosos da Antártida, localizados ao largo do continente, são campos petrolíferos e de gás natural, encontrados no mar de Ross em 1973. A exploração de todos os recursos minerais está proibida pelo Protocolo de Proteção Ambiental do Tratado da Antártida. Até 2048, tal proibição só poderá ser revogada ou alterada sob aprovação unânime dos países consultores do Tratado da Antártida e após estabelecimento de um regime legal para a atividade exploratória. Demografia. Embora a Antártida não tenha residentes permanentes, alguns governos mantêm estações de pesquisa permanentes por todo o continente. A população de cientistas no continente e nas ilhas subantárticas varia de aproximadamente 4 000 no verão a 1 000 no inverno. Muitas das estações de pesquisa mantêm pessoal durante todo o ano. Os primeiros habitantes semipermanentes das áreas subantárticas eram marinheiros da Inglaterra e Estados Unidos que costumavam passar um ano ou mais na Geórgia do Sul, desde 1786. Durante a era da caça à baleia, que durou até 1966, a população da ilha variava de 1 000 no verão (ou 2 000 em alguns anos) a duzentas no inverno. A maioria dos baleeiros era norueguesa, com crescente proporção de britânicos. Os povoados incluíam Grytviken, Leith Harbour, Ponto Rei Eduardo, Stromness Harbour, Husvik Harbour, Prince Olav Harbour, Ocean Harbour e Godthul. Os administradores e outros oficiais encarregues das estações baleeiras muitas vezes viviam junto com suas famílias. Entre eles estava o fundador de Grytviken, o capitão Carl Anton Larsen, um importante baleeiro norueguês e explorador que adotou a cidadania britânica em 1910 junto com a família. No entanto, após o fim da caça às baleias na década de 1960, a população reduziu-se drasticamente para menos de cem pessoas. A primeira criança nascida na região polar austral foi uma menina norueguesa, Solveig Gunbjørg Jacobsen, na cidade de Grytviken em 8 de Outubro de 1913, e seu nascimento foi registrado pelo magistrado britânico residente na ilha Geórgia do Sul. Era filha de Fridthjof Jacobsen, administrador assistente da estação baleeira, e de Klara Olette Jacobsen. Jacobsen chegou à ilha em 1904 para tornar-se o administrador de Grytviken, servindo de 1914 a 1921; dois de seus filhos nasceram na ilha. Emilio Marcos de Palma foi o primeiro a nascer no continente, na Base Esperanza em 1978. Seus pais haviam sido enviados para lá pelo governo argentino juntamente com sete outras famílias, para determinar se a vida em família era possível no continente. Em 1984, Juan Pablo Camacho nasceu na base de Presidente Eduardo Frei Montalva, sendo o primeiro chileno nascido na Antártida. Diversas bases são agora lar de famílias com crianças que vão à escolas em estações. Em 2009, mais onze crianças nasceram na Antártida (ao sul do paralelo 60 S): oito na Base Esperanza e mais três em Base Presidente Eduardo Frei Montalva. Política. Como único continente desabitado, a Antártida não tem nenhum governo e não pertence a nenhum país. Vários países reivindicam áreas, mas estas reivindicações não são reconhecidas por outros. A área entre os meridianos 90° O e 150° O é a única parte da Antártida e da Terra não reivindicada por nenhum país. O Tratado da Antártida é o documento assinado em 1 de Dezembro de 1959 pelos países que reclamavam a posse de partes do continente da Antártida, em que se comprometem a suspender suas pretensões por período indefinido, permitindo a liberdade de exploração científica do continente, em regime de cooperação internacional. Desde 1959, as reivindicações na Antártida estão suspensas e o continente é considerado politicamente neutro. Sua situação é regulada pelo Tratado da Antártida e por outros acordos relacionados, chamados em seu conjunto de Sistema do Tratado da Antártida. Para as finalidades do Sistema de Tratados, a Antártida é definida como toda a terra e plataformas de gelo em torno do paralelo 60° S. O tratado foi assinado por 12 países, incluindo a União Soviética e os Estados Unidos, e transformou o continente numa área de preservação científica, estabeleceu a liberdade de investigação científica, a proteção ambiental e baniu exercícios militares no continente. Este foi o primeiro acordo para o controlo de armas estabelecido durante a Guerra Fria. O Tratado da Antártida proíbe quaisquer operações militares no continente e ilhas próximas, tais como o estabelecimento de bases e de fortificações militares, a realização de manobras militares, ou o teste de qualquer tipo de arma. Pessoal e equipamento militar são permitidos apenas para pesquisa científica ou para outros propósitos pacíficos. A única operação militar em larga escala documentada foi a Operación 90, empreendida pelas forças armadas da Argentina dez anos antes de estabelecido o Tratado. Reivindicações territoriais. Os seguintes países possuem reivindicações territoriais na Antártida. As reivindicações argentina, britânica e chilena sobrepõem-se. A Austrália tem a maior reivindicação de território na Antártida (42% do continente). Os Estados Unidos e a Rússia não reconhecem nenhuma reivindicação territorial na Antártida, reservando-se o direito de fazer suas próprias reivindicações. Nenhuma das reivindicações antárticas é reconhecida pela comunidade internacional. Nos termos do Artigo IV do Tratado da Antártida, que regula as atividades humanas ao sul do paralelo 60°S, nenhuma atividade durante a vigência do Tratado pode ser considerada reconhecimento, reforço ou negação das reivindicações territoriais. A Alemanha nazista também manteve uma reivindicação chamada Nova Suábia, entre 1939 e 1945. Ela estava situada entre 20°E e 10°W, sobrepondo-se à reivindicação da Noruega. Países com bases na Antártida. Hoje, 29 países possuem bases científicas na Antártida: África do Sul, Alemanha, Argentina, Austrália, Brasil, Bélgica, Bulgária, Chile, República Popular da China, Coreia do Sul, Equador, Espanha, Estados Unidos, Federação Russa, Finlândia, França, Índia, Itália, Japão, Nova Zelândia, Noruega, Peru, Polônia, Reino Unido, República Checa, Romênia, Suécia, Ucrânia e Uruguai. Economia. Ainda que o carvão, os hidrocarbonetos, o minério de ferro, a platina, o cobre, o crômio, o níquel, ouro e outros minerais tenham sido encontrados, eles existem em quantidades pequenas demais para a exploração. O Protocolo de Proteção Ambiental para o Tratado da Antártida (ou Protocolo de Madri) de 1991 também restringe disputas por recursos. Em 1998 estabeleceu-se um compromisso pela proibição da mineração por 50 anos até o ano 2048, e decidiram-se desenvolvimento econômico e exploração mais limitados. A atividade primária básica é a captura e comércio de peixe. A pesca entre 2000 e 2001 chegou a 112 934 toneladas. O turismo em pequena escala existe desde 1957 e é atualmente autorregulado pela Associação Internacional das Operadoras de Turismo Antártico (IAATO, em inglês). Entretanto, nem todas as embarcações uniram-se à IAATO. Muitos navios transportam pessoas para locais turísticos específicos. Um total de 27 950 turistas visitou a Antártida no verão de 2004 a 2005, quase todos vindos de navios comerciais. Esse número deverá aumentar para 80 000 em 2010. Houve algumas preocupações recentes sobre os efeitos ambientais causados pelo influxo de visitantes. Ambientalistas e cientistas fizeram apelos por maiores restrições aos navios e ao turismo. Sobrevoos da Antártida (que não aterrissam) vindos da Austrália e Nova Zelândia eram realizados até o acidente do voo 901 da Air New Zealand em 1979 no monte Érebo, tendo sido recomeçados da Austrália na metade da década de 1990. Infraestrutura. Comunicação. As comunicações na Antártida já foram dificultadas pelo isolamento do continente, mas no presente as comunicações por satélite possibilitam a conversação de cientistas com suas famílias pela "internet". Embora não haja cabos telefónicos para o continente, os telefones via satélite também são utilizados e os telefones convencionais são utilizados para comunicações internas nas bases, aviões e navios da região. Há pelo menos uma estação de televisão transmitindo no continente, para a Estação McMurdo dos Estados Unidos, além de estações de rádio, AM e FM, e de comunicação através de ondas curtas como o radioamadorismo. O correio chega à Antártida através de helicópteros e navios. Transportes. Os transportes na Antártida evoluíram desde os trenós puxados por cães na época de Shackleton (o uso de cães foi banido pelo Protocolo de Madri, retirados definitivamente do continente em 1994) aos veículos motorizados atuais. Os meios de transporte em áreas remotas como a Antártida têm que lidar com as baixas temperaturas e os fortes ventos para garantir a segurança dos passageiros. Devido à fragilidade do ecossistema antártico, poucos deslocamentos podem ser feitos e a utilização de transportes sustentáveis é necessária para minimizar os efeitos no espaço ecológico. A infraestrutura em água, solo e ar precisa ser segura. Presentemente, milhares de turistas e cientistas utilizam o sistema de transportes da Antártida. O transporte por terra é feito a pé (por meio de esquis e sapatos de neve) ou veículos (veículos motorizados como as motos de neve, escavadeiras, e trenós puxados por cães, no passado). A escassez e baixa qualidade das estradas limitam as viagens por terra. Em geral, os veículos precisam estar adaptados com pneumáticos mais grossos, correias como as dos carros de combate ou correntes. O combustível deve ser diferenciado, para não congelar com o frio extremo. Não há portos de grande porte na Antártida. A maioria das estações costeiras possui apenas ancoradouros e os suprimentos são transportados dos navios para a praia em pequenos barcos e helicópteros. Poucas estações têm cais. Todos os navios ancorados são submetidos à inspeção de acordo com o artigo sete do Tratado da Antártida. As ancoragens costeiras são raras e intermitentes. Normalmente é necessário que um navio quebra-gelo abra caminho antes que outros navios possam navegar. O transporte aéreo é feito por meio de aviões e helicópteros ("ver: aviação polar"). Os aviões precisam de esquis ou rodas para pousar. As pistas de pouso e decolagem dos aviões e os heliportos têm que ser mantidas livres de neve para assegurar pousos e decolagens seguras. O continente tem 32 aeroportos, mas não há aeroportos abertos ao acesso público ou instalações de pouso. Um total de 37 estações operadas por 16 governos signatários do Tratado da Antártida têm instalações de pouso para helicópteros. Empresas comerciais operam ainda duas instalações aeroportuárias. Heliportos estão disponíveis em 27 estações. As pistas de pouso e decolagem em 15 locais são feitas de cascalho, banquisas, gelo azul ou neve compactada apropriados para pousos de aviões com pneus. As pistas de pouso são em geral pequenas. Os aeroportos da Antártida estão sujeitos a severas limitações por causa das condições climáticas e geográficas. Eles não atendem aos padrões da Organização da Aviação Civil Internacional e a aprovação das organizações governamentais ou não-governamentais responsáveis é necessária antes do pouso. Pesquisas. Anualmente, cientistas de 29 nações conduzem experimentos de reprodução impossível em outros lugares do mundo. No verão mais de 4 000 cientistas operam estações de pesquisa e este número diminui para quase 1 000 no inverno. A estação McMurdo é capaz de abrigar mais de 1 000 cientistas, visitantes e turistas. Entre os cientistas, incluem-se biólogos, geólogos, oceanógrafos, físicos, astrônomos, glaciólogos e meteorologistas. Geólogos estudam em geral o tectonismo das placas na região antártica, meteoritos do espaço e vestígios do período da divisão da Gondwana; mais de 9 000 fragmentos de meteoritos já foram recolhidos na Antártida, dentre eles um meteorito de 4 000 000 de anos que, aparentemente, se desprendeu de Marte. Glaciólogos ocupam-se com o estudo da história e da dinâmica do gelo flutuante, da neve, das geleiras, e dos mantos de gelo. Já os biólogos, além de estudar os animais selvagens, estão interessados em como as baixas temperaturas e a presença dos seres humanos afetam a sobrevivência de uma grande variedade de espécies. Médicos fizeram descobertas a respeito da propagação de viroses e da resposta do corpo às temperaturas extremas. Astrofísicos da Estação Pólo Sul Amundsen-Scott podem estudar o céu e a radiação cósmica de fundo em micro-ondas por causa do buraco na camada de ozônio e do ambiente seco. O gelo antártico serve como meio de proteção para o maior telescópio de detecção de neutrinos do mundo, construído 2 km abaixo da estação Amundsen-Scott. Desde a década de 1970 que um foco importante de estudos tem sido a camada de ozônio acima da Antártida. Em 1985, três cientistas britânicos que trabalhavam com dados que haviam recolhido na Estação Halley descobriram a existência de um buraco nessa camada. Em 1998, informações de satélites da NASA mostraram que o buraco na camada de ozônio era o maior desde que foi notado, cobrindo 27 milhões de km2. Meteoritos. Os meteoritos que caem na Antártida são uma importante área de estudo do material formado no início do sistema solar, acredita-se que a maioria são originários de asteroides, mas alguns podem ter se originado de planetas maiores. Os primeiros meteoritos foram encontrados em 1912. Em 1969, uma expedição japonesa descobriu nove meteoritos. A maioria desses meteoritos caíram sobre o manto de gelo nos últimos milhões de anos. O movimento do manto de gelo concentra os meteoritos em locais inacessíveis, tais como cadeias de montanhas, com a erosão do vento trazendo-os para a superfície depois de séculos sob a neve acumulada. Em comparação com meteoritos recolhidos em regiões mais temperadas da Terra, os meteoritos antárticos são mais bem preservados. Esta grande coleção de meteoritos permite uma melhor compreensão da abundância de tipos de meteoritos no sistema solar e como os meteoritos se relacionam com asteroides e cometas. Novos tipos de meteoritos e meteoros raros foram encontrados. Entre eles estão peças originárias da Lua, e provavelmente de Marte, através de impactos. Esses espécimes, nomeadamente o ALH84001 descoberto por ANSMET, estão no centro da polêmica sobre possíveis evidências de vida microbiana em Marte. Como os meteoritos no espaço absorvem e registram a radiação cósmica, o tempo decorrido desde que o meteorito atingiu a Terra pode ser determinado a partir de estudos de laboratório. O tempo decorrido desde a queda, idade ou residência terrestre de um meteorito representa mais informação que pode ser útil em estudos ambientais das camadas de gelo da Antártida. Em 2006, uma equipe de pesquisadores da Universidade do Estado de Ohio usou medições de gravidade por satélites GRACE da NASA para descobrir os 480 km de largura da Cratera da Terra de Wilkes, que provavelmente se formou há cerca de 250 milhões de anos. Erupção vulcânica. Em janeiro de 2008, cientistas da "British Antarctic Survey" (BAS), liderados por Hugh Corr e David Vaughan, relataram (na revista "Nature Geoscience") que há anos um vulcão entrou em erupção sob o manto de gelo da Antártida (com base no levantamento aéreo com imagens de radar). A maior erupção na Antártida nos últimos 10 000 anos, as cinzas vulcânicas foram encontradas depositadas na superfície de gelo sob as montanhas Hudson, perto do Glaciar de Pine Island. Problemas ambientais. Depleção do ozônio. A cada ano uma grande área de baixa concentração de ozônio ou "buraco de ozônio" cresce sobre a Antártida. Este buraco abrange todo o continente. Em 2008 houve o mais duradouro registro do buraco, que se manteve até o final de dezembro. O buraco foi detectado por cientistas em 1985 e tendeu a aumentar ao longo dos seguintes anos de observação. O buraco de ozônio é atribuído à emissão de clorofluorcarbonetos, ou CFCs, para a atmosfera, que decompõem a camada de ozônio em outros gases. Alguns estudos científicos sugerem que a depleção do ozônio pode ter um papel preponderante nas mudanças climáticas recentes na Antártida (e uma área maior do Hemisfério Sul). O ozônio absorve grandes quantidades de radiação ultravioleta na estratosfera. A depleção do ozônio sobre a Antártida pode causar um resfriamento de cerca de 6 °C na estratosfera local. Esse resfriamento tem o efeito de intensificar o fluxo de ventos de oeste de todo o continente (o vórtice polar) e, portanto, impede saída do ar frio próximo ao pólo sul. Como resultado, a massa continental da camada de gelo do leste da Antártida recebe temperaturas mais baixas, e as áreas periféricas da Antártida, em especial na península Antártica, está sujeita a temperaturas mais elevadas, que promovem acelerado derretimento. Os modelos recentes também sugerem que o esgotamento de ozônio/efeito vórtice polar reforçado também explica o aumento recente no gelo do mar perto da praia do continente. No entanto, o problema tem se reduzido ao passar dos anos, devido a proibição de produtos com CFC. Efeitos do aquecimento global. Algumas partes da Antártida estão se aquecendo, um aquecimento particularmente forte foi notado na península Antártica. Um estudo realizado por Eric Steig publicado em 2009 observou pela primeira vez que a tendência da temperatura média da superfície da Antártida é ligeiramente positiva em > 0,05 °C por década entre 1957 e 2006. Este estudo também observou que a Antártida Ocidental foi aquecida em mais de 0,1 °C por década nos últimos 50 anos e esse aquecimento é mais acentuado no inverno e na primavera. Isto é em parte compensado pela queda do resfriamento na Antártida Oriental. Há evidências de um estudo que a Antártida está se aquecendo como resultado das emissões humanas de dióxido de carbono. No entanto, a pequena quantidade de aquecimento da superfície na Antártida Ocidental não afeta diretamente a contribuição do manto de gelo da Antárctida Ocidental para o nível do mar. Em vez disso, acredita-se que os recentes aumentos no degelo glacial ocorreram devido a um influxo de água quente do oceano, ao largo da plataforma continental. A contribuição ao nível do mar a partir da península Antártica é mais provável que seja um resultado direto de um aquecimento maior da atmosfera nessa região. Em 2003, a Plataforma de gelo Larsen-B na península Antártica entrou em colapso. Entre 28 de Fevereiro e 8 de março de 2008, cerca de 570 km² do da plataforma de gelo Wilkins, na parte sudoeste da península, entrou em colapso, colocando o restantes 15 000 km2 da plataforma de gelo em risco. O gelo estava sendo retido por um "fio de gelo de cerca de 6 km de largura, antes de seu colapso, em 5 de abril de 2009. Segundo a NASA, o mais difundido derretimento antártico de superfície nos últimos 30 anos ocorreu em 2005, quando uma área de gelo de tamanho comparável ao estado da Califórnia derreteu e recongelou brevemente, o que pode ter resultado do aumento das temperaturas em 5 °C. Gás metano. Pela primeira vez, os cientistas detectaram um vazamento ativo de gás metano,um gás de efeito estufa com 25 vezes mais potencial de aquecimento do que o dióxido de carbono. Enquanto vazamentos submarinos de metano foram detectados anteriormente em todo o mundo, os micróbios ajudam a manter esse vazamento sob controle devorando o gás antes que muito possa escapar para a atmosfera. O vazamento — localizado a cerca de 10 m abaixo da superfície do Mar de Ross, perto da Plataforma de Gelo Ross do sul da Antártida — foi descoberto por acaso quando mergulhadores civis nadaram em 2011. O estudo mostrou que os micróbios que consomem metano levaram aproximadamente cinco anos para responder ao vazamento na Antártica e, mesmo assim, não consumiram o gás completamente. O vazamento subaquático quase certamente fez com que o gás metano penetrasse na atmosfera nesses cinco anos — um fenômeno que os modelos climáticos até 2020 não levam em conta ao prever a extensão do futuro aquecimento atmosférico.
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Amesterdão
Amesterdão ( ) é a capital e a cidade mais populosa do Reino dos Países Baixos. O seu estatuto de capital holandesa é garantido pela Constituição dos Países Baixos, embora não seja a sede do governo holandês, que fica em Haia. Amesterdão tinha em novembro de 2015, uma população de habitantes na cidade propriamente dita, habitantes em sua área urbana e habitantes na área metropolitana. A região da cidade tinha em 2015 uma população aproximada de 2,4 milhões de pessoas. A cidade está localizada na província da Holanda do Norte, no oeste do país. É composta por grande parte da parte norte da Randstad, uma das maiores aglomerações urbanas da Europa, com uma população de aproximadamente 7 milhões de habitantes. O nome da cidade deriva "Amstelredamme", uma indicação de sua origem como uma represa do rio Amstel. Originária de uma pequena vila de pescadores que surgiu no final do século XII, Amesterdã tornou-se um dos portos mais importantes do mundo durante o Século de Ouro dos Países Baixos (século XVII), como resultado de seus desenvolvimentos inovadores no comércio. Durante essa época, a cidade era o principal centro financeiro e de diamantes do mundo. Nos séculos XIX e XX a cidade expandiu-se e muitos novos bairros e subúrbios foram planejados e construídos. Os canais de Amesterdão e a Linha de Defesa de Amesterdão são considerados Patrimónios Mundiais pela UNESCO. Como a capital comercial dos Países Baixos e um dos principais centros financeiros da Europa, Amesterdão é considerada uma cidade global alfa. A cidade é também a capital cultural do país. Muitas grandes instituições holandesas mantêm suas sedes na cidade e sete das 500 maiores empresas do mundo, Philips e ING Group, baseiam-se na capital holandesa. Em 2012, Amesterdão foi classificada como a segunda melhor cidade para se viver pela Economist Intelligence Unit (EIU). Entre os seus residentes famosos estão Anne Frank, os artistas Rembrandt e Vincent van Gogh e o filósofo Baruch Spinoza. A Bolsa de Amesterdão, a mais antiga bolsa de valores do mundo, está localizada no centro da cidade. As principais atrações são seus canais históricos, o Rijksmuseum, o Museu Van Gogh, Stedelijk Museum, Hermitage Amsterdam, Casa de Anne Frank, Museu de Amesterdão, sua zona de meretrício e seus muitos "coffeeshops", que atraem mais de 5 milhões de visitantes estrangeiros por ano. Etimologia. A palavra que deu origem ao nome da cidade de Amesterdão vêm do latim "Homines manentes apud Amestelledamme", ou seja, "homens que vivem próximo ao "Amestelledamme"". "Amestelledamme" é dam (dique) do rio Amstel, cujo nome pode ser interpretado como "ame" ("água") e "stelle" ("terra seca"). História. Fundação e Idade Média. Amesterdão localiza-se no litoral norte do país, junto ao lago IJsselmeer, formado pela construção de uma barragem, concluída em 1932. O lago encontra-se a cerca de oito metros acima do nível do mar. Amesterdão era um diminuto porto de pesca do domínio do Amstel. Séculos depois, foi se tornando comercialmente importante, porque foram construídos molhes e canais e concedidas franquias. Foi transformado em membro da Liga Hanseática em 1358 e, desde 1367, da Confederação de Colônia. Foi convertido com rapidez em um dos mais importantes portos de onde partem embarcações em direção à Renânia. Nos primeiros anos do século XVI, quando residiam mais de 30 mil pessoas, a capital neerlandesa começou a sua rivalidade com o vasto centro comercial de Antuérpia. Conflito com a Espanha e Era de Ouro holandesa. Em 1578 a burguesia calvinista da cidade declarou a sua independência do império colonial espanhol, que não foi capaz de subjugá-la embora as guerras se prolongassem. A Antuérpia arruinada e os religiosos perseguidos nos domínios de Filipe II da Espanha foram o motivo para instalar em Amesterdão a maioria da burguesia do comércio daquela cidade. Pouco a pouco, Amesterdão passou a dispor de uma frota marítima de grande poder, com capacidade para a criação de um império colonial concorrente do espanhol e do português, transformando-se no centro comercial e financeiro de maior atividade na Europa, primazia ostentada por aproximadamente um século. Em 1602, foram criadas na cidade a Companhia das Índias Orientais e a Bolsa de Amesterdão, cuja construção do edifício data de 1561. Em 1609, foi fundado o Banco de Amesterdão, que emitiu uma moeda valiosa pela qual mereceu, como nenhuma outra instituição financeira em seu tempo, a confiança dos comerciantes europeus. Uma forma de governo ideologicamente muito tolerante foi adotada pela burguesia da cidade, tornando-se Amesterdão no mais importante centro editorial do continente. Uma grande quantidade de membros de grupos religiosos que foram alvo de perseguição, como os judeus sefarditas — em Amesterdão nasceu o filósofo Baruch de Spinoza, que pertencia a este grupo de judeus — e huguenotes da França, ali se refugiaram, dando a sua contribuição para a criação de um ambiente de cosmopolitismo e de inovação. Declínio, modernização e século XX. No início do século XVIII a população da cidade era superior a 200 mil amesterdaneses. Mas Londres ultrapassou a relevância económica de Amesterdão devido à revolução industrial inglesa e o império britânico expandiu-se. Como a França ocupou a região de 1795 até 1813, o bloqueio continental, que Napoleão Bonaparte impôs, afetou gravemente a economia dependente do comércio por mar. De qualquer forma, declarou-se capital do reino da Holanda de 1806 até 1810 e, em 1814, capital da Holanda do Norte, no reino dos Países Baixos. A partir de 1830, a Revolução Belga foi o motivo da ação revitalizadora do porto de Antuérpia. Também o concorrente porto de Roterdão, com um porto com capacidade para embarcações de muitas toneladas, contribuiu para o declínio de Amesterdão. Os novos canais abertos para a navegação foram a salvação do porto da cidade, um dos de maior atividade da Europa. Amesterdão começou a se expandir com rapidez após 1900. Uma grande quantidade de áreas de fábricas e de novas casas apareceu na parte meridional da cidade após a Primeira Guerra Mundial. De 1940 até 1945, durante a Segunda Guerra Mundial, as tropas nazis ocuparam Amesterdão, com perseguição aos seus habitantes, em grande número de judeus, Os alemães destruíram as instalações portuárias nos últimos dias da guerra, porém a cidade recuperou-se e expandiu-se para a parte ocidental. Nos final da década de 1950, Amesterdão destacaria-se novamente como o centro financeiro e industrial dos Países Baixos. Geografia. A maior parte da cidade é constituída por pôlderes. A área urbana inclui os municípios de Aalsmeer, Amesterdão, Amstelveen, Diemen, Haarlemmermeer, Ouder-Amstel, Uithoorn, e Waterland. O tamanho da área urbana inteira atinge 896,96 km² mas só 718,03 km² é terra. A área conhecida como Grande Amesterdão ("Stadsgewest Amsterdam") inclui a área urbana e as cidades satélites. O total desta área é de 1 896,97 km², sendo constituído de terra. O relevo de Amesterdão é de uma região que se encontra abaixo do nível do mar. Um sistema bem projetado de canais em forma de círculos que se interligam, é a base do sistema de drenagem urbana. Esses canais, que correm à sombra de árvores, são as vias de transportes que dividem Amesterdão em ilhas. Mais de quatrocentas pontes conectam as ilhas. Constroem-se quase a totalidade das residências em cima de estacas de madeira, devido à inundação e à pouca consistência do solo. Amesterdão, está dois metros abaixo do nível do mar, e é banhada pelo rio Amstel, de onde vem o seu nome devido ao dique que protege a cidade contra inundações. Hidrografia. Amsterdã é conhecida como a Veneza do norte, por ter mais de 100 quilômetros de canais, ou "grachten", que formaram 90 ilhas, ligadas por cerca de 1.200 pontes. Os três canais principais ("Herengracht, Prinsengracht, Keizersgracht"), escavados durante o século XVII, durante o século de ouro dos Países Baixos, formam anéis concêntricos ao redor de Amsterdã, conhecidos como "Grachtengordel". O anel de canais de Amsterdã abrange 2.200 construções, das quais 1.550 são consideradas históricas. O anel de canais construído no final do século XVI e século XVII é considerado Patrimônio Mundial da Humanidade pela UNESCO. Durante o século XIX, a qualidade da água dos canais era ruim, pois a água era estagnante e nela haviam fezes, peixes mortos e lixo. Para melhorar a situação, foi construída, em 1879, a estação de bombeamento de água de Zeebrug, que descarregava água do Zuiderzee para desestagnar as águas dos canais. A condição foi melhorada ainda mais em 1935, quando a área central da cidade foi conectada ao sistema de esgoto, porém o distrito de "Grachtengordel" não foi conectado até 1987. Até a data, as casas despejavam o esgoto diretamente no canal. Em 2018, todas as casas flutuantes foram requeridas a serem conectdas ao sistema de esgoto, embora é esperado que isso não ocorra até 2021. Todos os anos são retirados dos canais cerca de 60 toneladas de plásticos, 7 mil animais mortos, em sua maioria patos, e 12 mil bicicletas. A qualidade da água dos canais aparenta estar melhorando a cada ano. Não é recomendada a natação nos canais da cidade, com perigos incluindo doenças provenientes das algas, diferença em temperatura de água de cada canal e resíduos sólidos que possam ser encontrados nos canais. A autoridade supervisora dos canais de Amsterdã, "Waternet", tem ambição de algum dia o canal ter águas limpas o suficientes para a natação ocorrer sem perigos. Todos os anos é realizada a Natação de Amsterdã, um evento que promove a arrecadação de fundos para a pesquisa e o combate contra a esclerose lateral amiotrófica. A qualidade da água é inspecionada meticulosamente antes do evento acontecer, e o mesmo foi cancelado em 2018, devido a suspeitas de cianobactérias presentes na água. Em 2015, 31% dos participantes ficaram doentes. Isso ocorreu devido à chuva forte, que encheu os esgotos, levando ao canal fezes e urina de humanos e ratos. Clima. Amsterdã tem um clima oceânico temperado, com temperaturas que podem variar de -7 °C, no inverno, a 30 °C, no verão, embora raramente abaixo de -6 °C ou acima de 27 °C. O inverno é frio, com temperaturas ao redor de 0 °C à noite e um pouco mais quente ao dia, com a umidade e o vento podendo dar uma sensação térmica menor. Ventos vindos do oeste podem levar a temperatura a entre 10 °C e 12 °C, e os do leste podem levá-na abaixo de 0 °C. O verão é uma estação moderada, caracteriza por períodos mais quentes, entre 20 °C e 25 °C, e mais frios, abaixo de 20 °C. As noites podem ser frias, com baixas ao redor de 10 °C, e podem haver curtos períodos de calor, entre 28 °C e 30 °C. Precipitação é relativamente abundante, com 840 mm anuais, comum e uniformemente espalhada pelo ano inteiro. A estação com mais precipitação é o outono, com entre 12 e 13 dias de precipitação, e a com menos é a primavera. O mês com mais chuva é agosto, com 55 mm, e o com menos é abril, com 18 mm. Agosto é também o mês com mais dias de chuva, uma média de 18,8, e abril o com menos dias, 12,2. Neve cai em 5 meses no ano: janeiro, fevereiro, março, novembro e dezembro. O mês com mais neve é fevereiro, com 22 mm, e o com menos é novembro, com 1 mm. Fevereiro tem 3.8 dias de neve, e novembro 0.4. A umidade relativa do ar é maior durante o mês de dezembro (86%) e menor durante abril (75%). Demografia. A estimativa populacional de Amsterdã em 2021 é de aproximadamente 872 922 habitantes, caracterizando um crescimento de 1% desde 2015. Com uma área de 165,5 quilômetros quadrados, isso significa que a densidade demográfica é de 5 274 habitantes por km². A Região Metropolitana de Amsterdã tem uma população estimada de habitantes em 2021, um crescimento de 0.78% em comparação com 2020. A população da cidade vem crescendo rapidamente na última década, e é esperado que até 2030 a população venha a crescer a 1 milhão de habitantes. Imigração. A população da cidade é uma das mais diversas da Europa, sendo esperado que nos anos a seguir metade da população será estrangeira ou terá pais ou avós nascidos em outros países. Nos últimos 50 anos, houve um número grande de imigrantes, principalmente vindos do Suriname, Turquia e Marrocos. Cerca de 49% da população tem descendência holandesa, 9% marroquina, 8% surinamesa, 5% turca e 2% antilhana, 16% europeia e estadunidense e 11% de descendência de outros países não-europeus. Para pessoas abaixo de 15 anos, a descendência marroquina, surinamesa, turca e de outros países não-europeus é mais comum. Religião. Uma enquete, realizada em 2000, revelou que 60% da população de Amsterdã não identificava-se com nenhuma religião, 17% eram cristãos (dos quais 10% eram católicos) e 14% eram islâmicos. É esperado que o islamismo passe o cristianismo em número de afiliados, devido a um rápido crescimento de popularidade. Durante o século XIII, muitos países europeus introduziram leis com o objetivo de expulsar os judeus. Durante o século XVI, a perseguição desse grupo aumentou, devido à contrarreforma, porém eles eram permitidos em Amsterdã, o que faz com que a população judáica da cidade crescesse. Quando a Alemanha Nazista invadiu a Holanda, na Segunda Guerra Mundial, haviam 60 mil judeus em Amsterdã, cerca de 10% da população da cidade. Muitos não sobreviveram, no entanto, ao Holocausto, com a maioria deles sendo deportados aos campos de concentração. Após a guerra, apenas 5 mil voltaram à cidade. Nos dias atuais, há cerca de 20 mil judeus, muito menos do que antes da guerra. Governo e política. A cidade de Amesterdão é um município governado por um conselho municipal eleito por sufrágio universal, um conselho executivo municipal. A cidade também é governada por um prefeito (chamado de "Burgemeester"). Cada bairro elege seu próprio conselho municipal (com exceção do bairro de "Westpoort" que é pouco povoado e é regido pelo conselho municipal central). Subdivisões. Desde 1981, o município de Amesterdão, gradualmente, foi dividido em distritos semi-autónomos, chamados "stadsdelen", cujo singular é "stadsdeel", significando "stad" (cidade) e "deel" (parte). Ao longo do tempo, foi criado um total de 15 bairros. Em maio de 2010, sob uma grande reforma, o número de bairros de Amesterdão foi reduzida para oito: "Centrum", "Noord", "Oost", "Zuid", "West", "Nieuw-West", "Zuidoost" e "Westpoort", que abrange o porto de Amesterdão e não é habitacional. Em 27 de Março de 2022 a cidade de Weesp se incorporou ao município de Amsterdão como uma nova "área urbana" juntamente com a cidade de Driemond, mas não como uma nova "stadsdeel." Símbolos. O escudo de Amesterdão consiste em três cruzes denominadas Cruz de Santo André em homenagem a André, o apóstolo, que foi assassinado com este tipo de cruzes. No foram adicionados dois leões. Existem historiadores que crêem que as cruzes representam os três perigos que mais afetaram a Amesterdão: inundação, incêndio e a peste. O lema oficial da cidade é: "Heldhaftig, Vastberaden, Barmhartig" ("Valente, Decidida e Misericordiosa"). Estas três palavras provêm da denominação oficial concedida pela rainha Guilhermina dos Países Baixos em 1947, em homenagem a coragem da cidade durante a Segunda Guerra Mundial. Economia. Amesterdão é a capital dos Países Baixos em termos de negócios e finanças, e tem sido a quinta cidade europeia em importância no mundo dos negócios, atrás de Londres, Frankfurt, Paris e Bruxelas. Muitas empresas e bancos holandeses têm sua matriz e origem em Amesterdão, como ABN Amro, Heineken, ING Group, Ahold, Delta Lloyd, Royal Dutch Shell e Philips. A bolsa de Amesterdão denomina-se Euronext Amesterdão, faz parte da Euronext e é a bolsa mais antiga do mundo, sendo hoje em dia uma das mais importantes da Europa. O seu principal índice de bolsa denomina-se AEX. Amesterdão é a região que mais concentra indústrias e onde os alimentos são processados. Dentre os produtos industrializados de maior importância são contados a cerveja, impressos, navios, metais, medicamentos e roupas. A cidade é também um dos centros onde há indústrias que lapidam diamantes no mundo. Essa indústria de importância teve início em Amesterdão nos últimos anos do século XVI. Demais indústrias são produtoras de jóias, licores, linho, maquinaria, sabão, seda e vidro. Há muitos anos, Amesterdão é conhecida como um dos portos comerciais de maior destaque no mundo. O porto de Amesterdão está aberto para o rio Ij, um afluente da baía de Ijsselmeer. Um canal conecta o Ij com o mar do Norte. Em 1952, abriu-se um canal que liga de Amesterdão até o rio Reno, aumentando a importância da cidade como porto interno. No Aeroporto Internacional de Schiphol, é sediada a KLM, a companhia aérea dos Países Baixos. Turismo. Amsterdã é um dos destinos turísticos mais populares da Europa, recebendo mais de 5,34 milhões de visitantes internacionais anualmente, isso excluindo os 16 milhões de excursionistas que visitam a cidade todos os anos. O número de visitantes vem crescendo continuamente na última década. Isso pode ser atribuído a um número crescente de visitantes europeus. Dois terços dos hotéis estão localizados no centro da cidade. Os hotéis de 4 ou 5 estrelas contribuem com 42% do total de leitos disponíveis e 41% dos pernoites em Amsterdã. A taxa de ocupação de quartos foi de 85% em 2017, ante 78% em 2006. A maioria dos turistas (74%) é originária da Europa. O maior grupo de visitantes não europeus vem dos Estados Unidos, representando 14% do total. Certos anos têm um tema em Amsterdã para atrair turistas extras. Por exemplo, o ano de 2006 foi designado "Rembrandt 400", para comemorar o 400º aniversário de Rembrandt van Rijn. Alguns hotéis oferecem planos ou atividades especiais durante esses anos. O número médio de visitantes por ano que ficam nos quatro acampamentos ao redor da cidade varia de 12 mil a 65 mil. Infraestrutura. Educação. Há cerca de 200 escolas primárias em Amsterdã. Alunos são assinados uma escola por meio de um processo centralizado de matriculação. Ao redor to terceiro aniversário das crianças a serem matriculadas, o governo municipal envia um formulário oficial de matriculação. As escolas primárias não requeiram o pagamento de uma taxa escolar, porém podem pedir por ajuda financeira para financiar atividades extra-curriculares. Em algumas escolas, as crianças vão para a casa almoçar, mas os responsáveis podem pagar uma taxa para que as crianças possam almoçar na escola. As aulas ocorrem de segunda à sexta-feira, e é obrigatório que as escolas tenham 940 horas de ensino anuais. O horário da maior parte das escolas é entre as 08h30 e 15h00 horas, com uma pausa para almoço das 12h00 às 13h00. Há 31 escolas secundárias em Amsterdã. A escola secundária em que o aluno matricula-se pode ser escolhida pelo responsável. Um formulário é recebido pela criança, enviado pela sua escola primária. Nesse formulário, deve ser preenchida uma preferência por alguma escola secundária. Uma vez que o formulado foi preenchido, deve ser enviado para a escola secundária indicada como preferida. É possível visitar as escolas, com as mesmas organizando dias de informação, a maioria entre janeiro e fevereiro, onde os alunos fazem perguntas aos professores. Assim como a educação primária, a secundária também é livre de taxas escolares, porém ajuda financeira pode ser pedida para que a escola realize atividades extracurriculares. Os alunos recebem a maioria dos livros necessários da escola, porém devem pagar por certos suprimentos escolares, como laptops, dicionários e calculadoras. Há cerca de 28 instituições de ensino superior em Amsterdã. Há duas universidades que cobrem bacharelado, mestrado e doutorado, sendo essas a Universidade de Amsterdã e a Universidade de Vrije. Ambas tem aulas em holandês e inglês, além de outras línguas. A Universidade de Amsterdã é a mais antiga da cidade, fundada em 1632 e expandindo-se no século XIX para tornar-se uma universidade grande, atualmente tendo mais de 24.700 estudantes. Tem cerca de 200 programas de mestrado, sendo considerada pelo ranking mundial das universidades como a 66° melhor, e tendo 6 laureados ao Prêmio Nobel e 5 primeiros-minsitros holandeses. A Universidade de Vrije foi fundada em 1880, por protestantes ortodoxos, e atualmente oferece uma educação moderna, tendo mais de 50 programas de bacharelado e quase 100 de mestrado. Há mais de 17 mil estudantes na universidade. A maior instituição de ensino superior na cidade é a Universidade de Ciências Aplicadas de Amsterdã, com mais de 43 mil estudantes e oferecendo uma dúzia de programas de estudo em inglês. Transportes. Amesterdão foi concebido em 1932 para ser o centro, uma espécie de "quilômetro zero", do sistema rodoviário dos Países Baixos, com autoestradas numeradas de um a oito e cujo ponto de partida é a capital holandesa. A eclosão da Segunda Guerra Mundial e as consequentes mudanças de prioridades levaram à situação atual, em que apenas as estradas A1, A2 e A4 são originárias de Amesterdão de acordo com o plano original. A estrada A3 para Roterdão foi cancelada em 1970. A estrada A8, que conduz ao norte de Zaandam, e o rodoanel A10 foram abertos entre 1968 e 1974. O transporte público de Amesterdão consiste em oito meios de locomoção: conexões de trem a qualquer parte dos Países Baixos e a destinos internacionais, 5 linhas de metro, 16 linhas dos famosos eléctricos (bondes), 55 linhas de ônibus urbano, Várias linhas de ônibus regional, vários "ferries" (também para ciclistas), 2 centrais de táxi e 1 comboio de alta velocidade (Thalys). Amesterdão é famosa pela enorme quantidade de bicicletas e é o centro mundial delas. Quase todas as ruas principais têm vias para ciclistas, e pode-se deixar a bicicleta em qualquer lugar. Em Amesterdão, existem ao redor de ciclistas ( habitantes). Cerca de 60% dos movimentos pendulares no centro da cidade são efetuados usando bicicleta e 38% na generalidade da cidade. O Aeroporto de Schiphol localiza-se a cerca de vinte minutos de comboio do centro de Amesterdão. É o maior aeroporto dos Países Baixos por número de passageiros, o quinto da Europa (atrás do Aeroporto de Londres Heathrow, do aeroporto de Frankfurt, Charles de Gaulle de Paris e Barajas de Madrid) e o décimo do mundo. Cada ano passam cerca de 44 milhões de viajantes por Schiphol. É o terceiro maior aeroporto da Europa em relação à quantidade de operações de carga ( toneladas em 2005, depois de Paris e Frankfurt). Cultura. A Casa de Anne Frank é um destino turístico muito popular, bem como o "Hortus Botanicus Amsterdam", fundado no começo da década de 1960, um dos mais antigos jardins botânicos do mundo, com muitas antigas e raras espécies, entre as quais está a planta de café da qual saiu o ramo que serviu como base das plantações na América Central e América do Sul (o ramo foi um presente de Luís XIV de França e foi levado a colônia francesa de Martinica em 1714, onde frutificou). Em Amesterdão encontra-se a conhecida fábrica de Cerveja Heineken, que também tem seu museu "Heineken Experience". O clube desportivo AFC Ajax tem como sede e estádio na cidade, chamado "Johan Cruijff Arena". Também a prestigiosa sala de concertos Concertgebouw é sede da igualmente famosa orquestra sinfônica, a Orquesta Real de Concertgebouw, que deu seu primeiro concerto em 3 de novembro de 1888. Há numerosos edifícios, igrejas, praças e pontes que merecem uma visita. Uma data bem interessante para visitar a cidade é o Dia da Rainha ou "Koninginnedag" a 30 de abril. Neste dia todos os habitantes da cidade vendem nas ruas todo tipo de coisas, principalmente objectos de casa que já não utilizam. A cidade transforma-se em mercado e numa verdadeira festa e as ruas ficam abarrotadas de gente vestida da cor da casa real, o laranja. O espírito liberal que ela herdou da Idade do Ouro justifica o fato de nela existirem alguns cafés, os chamados "coffeeshops", onde é autorizado o consumo de drogas leves e de existir uma indústria do Sexo legalizada. No "Red Light District" (ou "Bairro da Luz Vermelha") as ruelas estão lotadas de sex shops, bares onde decorrem espetáculos eróticos, cinemas eróticos e até um museu do sexo. A Prostituição nos Países Baixos é completamente legalizada nas zonas designadas para ela. Amesterdão é o centro cultural holandês. Duas universidades são mantidas pela cidade, além da Orquestra do Concertgebouw, Muziekgebouw aan 't IJ, de fama internacional, da Companhia Teatral da Cidade e da Ópera do Estado. As atrações turísticas de notoriedade que se localizam no centro histórico da cidade são, exemplificando, a Igreja Velha, que se ergueu no século XIII, o ex-prédio da Prefeitura, atualmente o Palácio Real e a residência onde Rembrandt passou a sua vida. Museus. O Rijksmuseum possui a maior e mais importante coleção de arte clássica holandesa. Foi inaugurado em 1885. Sua coleção consiste em quase um milhão de objetos. O artista mais associado a Amsterdã é Rembrandt, cujo trabalho, e o trabalho de seus alunos, está exposto no Rijksmuseum. A obra-prima de Rembrandt, "A Ronda Noturna", é uma das principais peças de arte do museu. Também abriga pinturas de artistas como Bartholomeus van der Helst, Johannes Vermeer, Frans Hals, Ferdinand Bol, Aelbert Cuyp, Jacob van Ruisdael e Paulus Potter. Além de pinturas, a coleção é composta por uma grande variedade de artes decorativas. Isso varia de porcelana de Delft a casas de bonecas gigantes do século XVII. O arquiteto do edifício de estilo neogótico foi P.J.H. Cuypers. O museu passou por uma reforma de 375 milhões de euros por 10 anos a partir de 2003. A coleção completa foi reaberta ao público em 13 de abril de 2013 e o Rijksmuseum continua sendo o museu mais visitado de Amsterdã, com 2,2 milhões de visitantes em 2016 e 2,16 milhões em 2017. Van Gogh viveu em Amsterdã por um curto período e há um museu dedicado ao seu trabalho. O museu está instalado em um dos poucos edifícios modernos nesta área de Amsterdã e foi projetado por Gerrit Rietveld. Este edifício é onde a coleção permanente é exibida. Um novo edifício foi adicionado ao museu em 1999, conhecido como a ala de espetáculos, e foi projetado pelo arquiteto japonês Kisho Kurokawa. Seu objetivo é abrigar as exposições temporárias do museu. Algumas das pinturas mais famosas de Van Gogh, como "Os Comedores de Batata" e "Doze Girassóis numa Jarra", estão na coleção. O Museu Van Gogh é o segundo museu mais visitado de Amsterdã, não muito atrás do Rijksmuseum em termos de número de visitas, com um público de aproximadamente 2,1 milhões de pessoas ao longo de 2016, por exemplo. Ao lado do museu Van Gogh fica o Museu Stedelijk. Este é o museu de arte moderna mais importante de Amsterdã. O museu é tão antigo quanto a praça que faz fronteira e foi inaugurado em 1895. A coleção permanente consiste em obras de arte de artistas como Piet Mondrian, Karel Appel e Kazimir Malevich. Após renovações que duraram vários anos, o museu foi inaugurado em setembro de 2012 com uma nova extensão composta que foi chamada de 'A Banheira' devido à sua semelhança com uma. Amsterdã contém muitos outros museus em toda a cidade. Eles variam de pequenos museus, como o Verzetsmuseum (Museu da Resistência), a Casa de Anne Frank e a Casa de Rembrandt, aos muito grandes, como o Tropenmuseum (Museu dos Trópicos), Museu de Amsterdã (anteriormente conhecido como Museu Histórico de Amsterdã), Hermitage Amsterdam (uma dependência do Museu Hermitage em São Petersburgo) e o Museu Joods Historisch (Museu Histórico Judaico). O NEMO, de estilo moderno, é dedicado a exposições científicas para crianças. Esportes. Amsterdã é a casa do clube de futebol da Eredivisie, o AFC Ajax. O estádio Johan Cruyff Arena é a casa da equipe. Ele está localizado no sudeste da cidade, próximo à nova estação ferroviária Amsterdam Bijlmer ArenA. Antes de se mudar para sua localização atual em 1996, o Ajax jogava suas partidas regulares no agora demolido De Meer Stadion na parte leste da cidade ou no Estádio Olímpico. Em 1928, Amsterdã sediou os Jogos Olímpicos de Verão. O Estádio Olímpico construído para a ocasião foi completamente restaurado e agora é usado para eventos culturais e esportivos, como a Maratona de Amsterdã. Amsterdam também detém duas franquias do futebol americano: o Amsterdam Crusaders e o Amsterdam Panthers. O time de beisebol Amsterdam Pirates compete na Honkbal Hoofdklasse, a principal liga holandesa do esporte. Existem três times de hóquei em campo: Amsterdam, Pinoké e Hurley, que jogam seus jogos ao redor do Estádio Wagener na cidade vizinha de Amstelveen. O time de basquete Amsterdam Basketball compete na primeira divisão holandesa e joga seus jogos no Sporthallen Zuid. Amsterdã também sediou a Gymnaestrada em 1991 e o fará novamente em 2023.
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Abraão
Abraão Abraão ( ou ) é um personagem bíblico citado no Gênesis a partir do qual teriam se desenvolvido as religiões abraâmicas, as principais vertentes do monoteísmo: o judaísmo, o cristianismo e o islamismo. Até hoje, os arqueólogos não encontraram nenhuma prova da existência de Abraão, embora tenham sido, recentemente, encontradas as aldeias com nomes dos familiares de Abraão (seu avô e seu bisavô, Naor e Serugue) numa área da atual Turquia, identificada como a região de Harã. É o primeiro dos patriarcas bíblicos e fundador do monoteísmo dos hebreus. Acredita-se que Abraão teria vivido mais provavelmente entre os séculos XXI e XVIII a.C. Segundo o livro Génesis, que compõe o Pentateuco do Antigo Testamento, Deus disse a Abraão para deixar Ur com a sua família em direção à "terra que eu te indicar". Nesta terra, os seus descendentes formariam uma grande nação e herdariam uma terra "onde corre leite e mel". Sendo o povo escolhido de Deus, os hebreus conquistariam a terra prometida de Canaã, uma terra de fartura, em comparação com as que Abraão deixara para trás. Foi assim que Abraão deixou a sua vida sedentária para viajar para Canaã. Esta migração é de significado histórico comparável à epopéia de Moisés, mais tarde, trazendo os hebreus de regresso do Egito, através do Mar Vermelho. O Judaísmo considera a existência e a importância de Abraão. Abraão é considerado o fundador da nação hebraica. Maimônides, em seu livro "os 613 mandamentos" ensina com relação ao 3º mandamento, "Amar a Deus", que se deve fazer com que o Eterno seja amado pelos homens como foi feito pelo pai Abraão. Segundo uma tradição judaica, Abraão era o guardião da Torá inteira, incluindo até mesmo os acréscimos rabínicos, antes mesmo de ser revelada por Deus. O Islão também considera a existência e a relevância de Abraão (com o nome de Ibrahim) como sendo o ancestral dos Árabes, através de Ishmael. A tradição judaica também aponta que o patriarca teria vivido entre e (175 anos). O Judaísmo, o Cristianismo e o Islão são por vezes agrupados sob a designação de "religiões abraâmicas", numa referência à sua descendência comum de Abraão. Abraão era filho de Terá, 20 gerações depois de Adão e 10 depois de Noé. E, considerando que Noé ainda teria vivido 350 anos após o dilúvio, Abraão poderia ter conhecido o seu ancestral e também a Sem. O nome original de Abraão era Abrão (Abram), vem do termo judaico Ibrim, que significa "Excelso Pai". Abraão era o primeiro dos patriarcas bíblicos. Mais tarde, respondeu pelo nome de Abraham (Ibrahim), (ابرَاهِيم em árabe, אברהם em hebraico), o que significa "pai de muitos" (ver Génesis 17:5). O nome era um nome comum de pessoas entre os amoritas (na forma Abamram). A história de Abraão começa quando o patriarca deixa a terra de sua família na cidade de Ur dos Caldeus e segue em direção a Canaã. A partir daí, aconteceram diversas histórias mais ou menos conectadas envolvendo Abraão, sua esposa e meia-irmã Sara, seu sobrinho Ló, sempre realçando a nobreza e a sua obediência a Deus. Os episódios mais emblemáticos da narrativa são aqueles que contam de como Abraão se sujeitou ao rei do Egito, que tomou sua mulher como esposa, para salvá-la de qualquer punição. O segundo episódio marcante da vida de Abraão ocorreu em sua velhice. Sara, já idosa, ainda não havia lhe dado um filho (seu primeiro filho Ismael, era filho de uma concubina - Agar), quando Deus teria lhe concedido esta graça, e assim nasceu Isaque, ou Isaac, a quem Abraão mais amou. Porém, quando Isaque era ainda criança, Deus chamou Abraão e pediu que ele trouxesse seu filho ao alto de um monte chamado de Moriá, informando a ele, no meio do caminho, que gostaria que o velho patriarca o sacrificasse, para mostrar seu amor por Ele. Mesmo sendo Isaque o filho amado que tanto desejara por toda a vida, Abraão não relutou em sacar uma adaga e posicioná-la sobre o pescoço de seu filho. Deus então mandou um anjo para segurar o punho de Abraão, dizendo estar satisfeito com a obediência de Abraão. Em recompensa, Deus poupou seu filho, e prometeu que sua linhagem produziria uma nação numerosa que governaria toda a terra por onde Abraão havia caminhado em vida (Canaã, propriamente dita). Narrativa bíblica. Abraão é citado no livro de Gênesis como a nona geração de Sem, o qual foi um dos filhos do patriarca Noé que tinha sobrevivido às águas do dilúvio. Segundo a Bíblia, a mais provável procedência de Abraão seria a cidade de Ur dos caldeus, situada no sul da Mesopotâmia, onde seus irmãos também teriam nascido. O final do capítulo 11 do primeiro livro da Torá, ao descrever a genealogia do patriarca hebreu, assim informa, mencionando o nome anterior de Abraão: "Esta é a história da família de Terá: Terá gerou Abrão, Naor e Harã. E Harã gerou Ló. Harã morreu em Ur dos caldeus, sua terra natal, quando ainda vivia Terá, seu pai." (Gênesis 11: 27-28) O Livro dos Jubileus, considerado como uma obra apócrifa entre os judeus e cristãos, diz que Abraão, já aos catorze anos de idade, quando ainda residia em Ur dos caldeus com sua família, teria começado a compreender que os homens da terra haviam se corrompido com a idolatria adorando as imagens de escultura. Então Abraão não aceitou mais adorar ídolos com o seu pai Tera e começou a orar a Deus, pedindo-lhe que conservasse a sua alma pura do erro dos filhos dos homens e também a de seus descendentes. Diz também o livro de Jubileus, no seu capítulo 12:10, que Abraão casou-se com Sara, sua meia-irmã, no ano 49 de sua vida. E, quando o patriarca estava com 60 anos, ocorreu a morte trágica de seu irmão Harã, o pai de Ló. Prossegue o texto bíblico informando que Terá, o pai de Abraão, após a morte de Harã, teria tomado sua família e organizado uma expedição para fixar-se em Canaã. Contudo, ao chegar numa localidade que veio a receber o mesmo nome do filho falecido, Terá permaneceu ali onde morreu com a idade de duzentos e cinco anos: "E tomou Terá a Abraão, seu filho, e a Ló, filho de Harã, filho de seu filho, e a Sarai, sua nora, mulher de seu filho Abraão, e saiu com eles de Ur dos caldeus, para ir à terra de Canaã; e vieram até Harã e habitaram ali. E foram os dias de Terá duzentos e cinco anos; e morreu Terá em Harã" (Gênesis 11:31-32) Segundo a Bíblia, no capítulo 12 do livro de Gênesis, Abraão recebeu uma promessa divina para deixar a sua terra e a de sua família. Tal chamado de Deus pode ter ocorrido quando Abraão já se encontrava com sua família em Harã. Estêvão, em seu discurso registrado no livro bíblico de Atos, informa que Deus apareceu a Abraão ainda na Mesopotâmia, e depois novamente em Harã, após Terá já ter falecido; "O Deus da glória apareceu a Abraão, nosso pai, estando na Mesopotâmia, antes de habitar em Harã, e disse-lhe: Sai da tua terra e dentre a tua parentela e dirige-te à terra que eu te mostrar. Então, saiu da terra dos caldeus e habitou em Harã. E dali, depois que seu pai faleceu, Deus o trouxe para esta terra em que habitais agora." () Viagem para Harã. Há suposições de que Abraão anuiu nesta jornada em direção a Salém, mas teria sido o seu irmão Naor, o qual não tinha conhecimento dos ensinamentos de Melquisedeque, que os persuadiu a ficar em Harã. No entanto, sabe-se que Harã, na Antiguidade, foi um importante ponto de passagem para as caravanas do Oriente Próximo. E talvez a prosperidade do local tenha motivado a fixação da família de Abraão neste local em que acredita-se que o clã deveria abastecer o povoado com seus rebanhos. É provável que, em Harã, Abraão tenha recebido talvez um segundo chamado divino para deixar a terra de sua família e se estabelecer na terra que Deus lhe indicaria. Nesta passagem, logo no começo do capítulo 12 de Gênesis, Deus anuncia diretamente ao patriarca bíblico que ele se tornaria uma grande nação e não há nenhuma menção expressa de que a terra prometida seria Canaã, muito embora esta teria sido o destino que o seu pai teria buscado e veio a ser confirmado posteriormente. "Ora, o Senhor disse a Abraão: Sai-te da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que eu te mostrarei. E far-te-ei uma grande nação, e abençoar-te-ei, e engrandecerei o teu nome, e tu serás uma bênção." (Gênesis 12:1-2) Todavia, é provável que devido à profecia proferida por Noé, quando castigou a Cam dizendo que Canaã seria escravo de Sem, existisse a ideia de que Abraão deveria seguir em direção à Canaã (Gênesis 9:25-27). Até mesmo porque no verso 31 do capítulo 11 de Gênesis diz que Terá e sua família deixaram Ur destinados a chegar em Canaã. A partida para Canaã. A Bíblia diz que Abraão, obedecendo as ordens de Deus, saiu com Ló de Harã, juntamente com sua esposa e seus bens, indo em direção a Canaã. O texto informa que Abraão já teria setenta e cinco anos de idade e dá a entender que já tivesse pessoas a seu serviço, embora nenhum filho. Depois dessa longa jornada de Harã até Canaã, o primeiro local onde Abraão esteve teria sido em Siquém, no "carvalho de Moré", onde habitavam os cananeus. Ali Deus apareceu a Abraão e lhe confirmou a promessa de dar aquela terra à sua descendência. Tendo edificado um altar para Deus em Siquém, Abraão parte para o Sul, fixando-se num lugar entre as cidades de Betel e Ai onde se estabelece com as suas tendas e constrói um novo altar. Depois, prossegue Abraão para o sul, não havendo informações na Bíblia onde seria esse terceiro local de sua passagem, mas apenas diz que havia fome naquela terra. Alguns, no entanto, interpretam que Abraão teria chegado a Salém, lugar que corresponderia hoje a Jerusalém. Porém, a Bíblia não diz claramente onde teria sido. Informações não bíblicas relatam que, após a morte de Terá (Taré), o rei de Salém teria enviado um mensageiro a Abraão com o fim de lhe convidar a fazer parte do núcleo de estudantes/sacerdotes no seu reino. O mensageiro encarregado da mensagem chamava-se Jaram e o convite era extensivo a Naor, mas que teria optado por ficar, construindo naquele lugar uma poderosa fortificação. Abraão, contudo, partiu com o seu sobrinho de nome Ló. Assim, ao chegarem a Salém, resolveram estabelecer acampamento próximo da cidade e edificar guarnições nas colinas adjacentes, de forma a protegerem-se contra os furtivos ataques dos hititas, dos filisteus e dos assírios, que privilegiavam estas zonas da Palestina nos seus ataques e saques. No entanto, deve-se considerar que, se Terá gerou Abraão e seus irmãos até seus setenta anos e faleceu aos duzentos e cinco anos, quando Abraão deixou Harã o seu pai, certamente, estava vivo com a idade de cento e quarenta e cinco anos, já que no início da viagem do patriarca para Canaã ele tinha a idade de setenta e cinco, ainda que naquela época a contagem de anos pudesse ser diferente. A seca e a viagem para o Egito. A Bíblia diz que houve fome na terra prometida que Abraão havia se estabelecido em Canaã e que, por causa disso, o patriarca e todo o seu acampamento retirou-se para o Egito. Ao chegar no país, Abraão temeu que viesse a ser morto por causa da beleza de sua mulher e, por isso, combinou com ela dizer aos egípcios que era sua irmã legítima, omitindo o fato de ser sua esposa. Assim, o faraó veio a apaixonar-se por Sara e a levou para o seu palácio, passando a favorecer Abraão. Porém, Deus castigou o rei egípcio e este mandou chamar Abraão e lhe devolveu Sara, ordenando também que deixassem o país com os seus bens. Tal parentesco de Abraão com o faraó egípcio não teria fundamentos na Bíblia porque Abraão era semita enquanto os egípcios teriam descendido de Cam , não de Sem, assim como os cananeus, os filisteus, os hititas e os amoritas. De acordo com o livro apócrifo dos Jubileus, Deus quis provar o coração de Abraão, e permitiu que Sara fosse tirada dele e levada ao palácio do faraó. Porém, a Bíblia nada diz a esse respeito. Regresso à Canaã. A Bíblia narra que Abraão, juntamente com sua esposa e com seu sobrinho Ló, retornou do Egito para a terra de Canaã, para o mesmo local onde havia se fixado ao Sul de Betel (provavelmente Salém). Tornou-se muito rico, possuindo rebanhos de gado, prata e ouro. Prossegue o texto de Gênesis dizendo que Abraão retornou para Betel onde procurou o altar que havia feito para Deus e O invocou. Ali, no entanto, Abraão e Ló resolvem separar-se devido a contendas que havia entre os seus pastores por causa do numeroso rebanho que possuíam. Estudos não bíblicos explicam que Abraão, provavelmente, tinha interesse em se tornar um grande líder na Palestina - almejava até ser um poderoso rei naquelas terras . O seu retorno a Salém só poderia ter este objetivo. Melquisedeque teria recebido muito bem Abraão de volta a Salém. Assim, Abraão teria tornado-se carismático entre esse povo e um líder conquistador. Separação de Abraão e Ló. A Bíblia relata que Abraão resolveu evitar desavenças com o sobrinho por causa do rebanho e lhe deu a opção de escolher planície que desejasse. Ló preferiu fixar-se na planície do rio Jordão, na região de Sodoma e Gomorra, que antes de ser destruída era comparada com o Jardim do Éden e com o Egito, de modo que a Abraão restou a árida Canaã. "Habitou Abraão na terra de Canaã, e Ló habitou nas cidades da campina e armou as suas tendas até Sodoma." (Gênesis 13:12) Acredita-se que Ló tinha uma personalidade diferente e se inclinava mais para assuntos materiais ligados a negócios diversos, sendo esse o motivo pelo qual ambos se separaram, indo Ló para a rica cidade de Sodoma e se dedicando ao comércio e à criação de animais. Após a separação de Ló, Deus apareceu novamente a Abraão confirmando dar aquela terra à sua descendência, ordenando-lhe que percorresse a região. Dali, Abraão levanta novamente as suas tendas e se fixa junto aos "carvalhais de Manre", em Hebrom, onde edificou um novo altar a Deus. Relação com os povos vizinhos. A Bíblia narra que houve uma guerra envolvendo nove reinos; os reinos de Sodoma, Gomorra, Admá, Zeboim e Zoar, durante doze anos pagando tributos a Quedorlaomer, rei do Elão, acabam se rebelando. Houve, então, a guerra em que Quedorlaomer e mais três reis aliados atacaram a Palestina, ferindo a vários povos e confrontando-se finalmente com os reis de Sodoma e Gomorra, vencendo-os numa batalha em Sidim. Com a derrota de Sodoma, Ló foi levado cativo com toda a sua riqueza. Sabendo disso, Abraão, com apenas trezentos e dezoito homens, lutou contra os inimigos e os perseguiu até as proximidades de Damasco, libertando Ló, sua família e o povo de Sodoma. Provavelmente os povos vizinhos de Salém reverenciavam e respeitavam o Rei sábio Melquisedeque, mas de certa forma temiam o grande líder militar Abraão. As suas batalhas e conquistas tornaram-se conhecidas em toda aquela região, fazendo de Abraão um líder muito respeitado. O rei de Sodoma, Bera, como recompensa pela libertação, chegou a oferecer os bens saqueados por Quedorlaomer, mas Abraão recusou-se. Melquisedeque partiu ao encontro de Abraão após a vitória em Sidim, já no seu triunfante regresso. A Bíblia diz que o rei de Salém trouxe pão e vinho para Abraão e o abençoou. Abraão, por sua vez deu-lhe o dízimo de tudo que havia recobrado a Melquisedeque. Esta é a única parte no livro de Gênesis em que o personagem Melquisedeque é citado: "E Melquisedeque, rei de Salém, trouxe pão e vinho; e este era sacerdote do Deus Altíssimo. E abençoou-o e disse: Bendito seja Abraão do Deus Altíssimo, o Possuidor dos céus e da terra; e bendito seja o Deus Altíssimo, que entregou os teus inimigos nas tuas mãos. E deu-lhe o dízimo de tudo." Informações não bíblicas dizem que, após a batalha de Sidim, Abraão manteve-se fiel ao seu monarca e se tornou o dirigente militar de mais onze tribos vizinhas de onde todos pagavam tributos – o chamado dízimo. Abraão fracassou em algumas tentativas de estabelecer alianças diplomáticas com o soberano de Sodoma. Porém, ao conseguir o resultado, houve uma aliança militar estratégica entre o Rei de Sodoma e outros povos de Hebrom; Abraão tinha mesmo intenção de formar um estado poderoso em toda a Canaã. O sábio rei de Salém convenceu Abraão a abandonar a sua tentativa de formar um reino material e se tornar aquilo que hoje o seu nome significa – o "Pai da Fé". Para persuadi-lo, utilizou a sua aliança, a promessa do seu reino, e tornou-o como sua própria descendência. A Aliança de Abraão com Deus. No capítulo 15 de Gênesis, Deus aparece a Abraão. Tendo este oferecido um sacrifício a Deus, foi-lhe revelado sobre o futuro de sua descendência que suportaria a escravidão por quatrocentos anos e que depois retornaria para a terra prometida. "Então disse a Abraão: saibas, decerto, que peregrina será a tua semente em terra que não é sua; e servi-los-á e afligi-los-ão quatrocentos anos. Mas também eu julgarei a gente à qual servirão, e depois sairão com grande fazenda. E tu irás a teus pais em paz; em boa velhice serás sepultado. E a quarta geração tornará para cá; porque a medida da injustiça dos amoritas não está ainda cheia." (Gênesis 15:13-16) Informações não bíblicas falam de uma aliança entre Melquisedeque e Abraão. Tal aliança seria um reconhecimento de Melquisedeque da soberania de Abraão e a cedência do seu trono a este líder e à sua descendência, uma vez que este rei não tinha descendentes para o substituir. Esta referência também é mencionada na Bíblia no capítulo 7 da epístola aos Hebreus, onde se refere à falta de descendência deste sábio de Salém. Todavia, o texto bíblico em Gênesis é claro em demonstrar que o diálogo de Abraão e a sua experiência foi diretamente com Deus. Deus promete a Abraão que este teria inúmeros descendentes, que ele seria o pai de uma multidão de nações e Deus também prometeu a ele que faria o nome dele grande. Nascimento de Ismael. Sendo Sara estéril e pretendendo dar um filho a seu marido, ofereceu sua serva egípcia Agar para que gerasse o primeiro filho a Abraão. Agar então gerou a Ismael, considerado pelos muçulmanos como o ancestral dos povos árabes. O texto bíblico informa que Abraão teria sido pai pela primeira vez aos oitenta e seis anos. Antes mesmo do nascimento de Ismael, surgiram conflitos entre Agar e Sara, culminando na sua fuga do acampamento de Abraão. Tendo Agar fugido da presença de Sara, o Anjo do Senhor apareceu-lhe quando se encontrava junto a uma fonte, onde bebeu água. E habitou no deserto de Parã, e sua mãe se tornou mulher da terra do Egito (Gêneses 21: 21). A mudança no nome de Abraão e a instituição da circuncisão. Aos noventa e nove anos, novamente Deus aparece a Abraão, confirmando-lhe a sua promessa. Deus ordena que Abraão e todos os homens de sua casa fossem circuncidados. E que toda criança do sexo masculino que nascesse receberia esse sinal ao oitavo dia. "O filho de oito dias, pois, será circuncidado; todo macho nas vossas gerações, o nascido na casa e o comprado por dinheiro a qualquer estrangeiro, que não for da tua semente." () É nesta ocasião que Deus muda também os nomes de Abraão ("pai de muitas nações") e de Sara, os quais até então chamavam-se Abrão e Sarai. A mudança do nome de Sarai para Sara é explicada na Bíblia com a promessa do nascimento de um filho, pondo fim à sua esterilidade. A visita dos três "homens" e a confirmação sobre o nascimento de Isaque. Abraão foi circuncidado com noventa e nove anos após Deus ter anunciado que Sara daria à luz um filho - Isaque, o herdeiro da promessa; Isaque nasceu no ano seguinte a esse anúncio. O capítulo 18 de Gênesis diz que mais uma vez Deus apareceu a Abraão quando este se encontrava nos carvalhais de Manre, à porta da tenda, e viu três homens celestiais (v.2). A forma como se deu esse encontro, e toda a comunicação entre eles, dá a entender que seria o próprio Senhor acompanhado de dois anjos. Assim, quando os viu, Abraão correu ao seu encontro e inclinou-se à terra. Abraão pede que eles não fossem embora antes que levassem os pés e fossem alimentados. Então prepararam pães, bolos, vitela, manteiga e leite, os serviram e eles comeram. (Gênesis 18:8). Em seguida, Abraão estava em pé junto a eles debaixo da árvore quando perguntaram onde estava Sara, sua mulher. Abraão responde que estava ali na tenda atrás dele. Talvez até por saber que Sara ouviria, o Senhor diz: "Certamente tornarei a ti por este tempo da vida; e eis que Sara tua mulher terá um filho". (v.10). Sara escutava à porta atrás deles e, ao ouvir isso, riu-se porque os dois eram já de idade avançada. O Senhor ouviu e perguntou a Abraão porque ela riu como se houvesse algo impossível para Deus. Ele confirma o que disse, que Sara teria um filho seu. Ao ouvir isso, Sara negou ter rido, mas o Senhor disse que ela não deveria negar porque Ele ouviu ela rir. O Senhor então diz que não ocultaria o que iria fazer a Abraão porque ele viria a ser pai de uma poderosa nação e que nele seriam benditas todas as nações da Terra. Assim, Ele deixa claro que as cidades vizinhas, Sodoma e Gomorra, seriam destruídas porque seu pecado havia se agravado muito. Então, aqueles homens viraram os rostos e foram em direção a Sodoma, mas Abraão continuou em pé diante do Senhor e começou a falar sobre essa decisão. A destruição de Sodoma e Gomorra. Temendo pela vida de seu sobrinho Ló e de sua família, Abraão tenta fazer com que Deus não destruísse Sodoma. Assim, Abraão começa a perguntar, se houvesse cinquenta justos ali, se o Senhor não poderia poupá-los. O Senhor diz que se tivesse cinquenta, sim, poupá-los-ia. Então, Abraão vai diminuindo esse número, com o temor da palavra, até chegar ao número de dez justos. Assim, Deus diz: Então, os dois anjos chegam em Sodoma à tarde e encontram Ló assentado à porta. Ao vê-los, Ló se levanta, vai ao seu encontro e prostra-se com o rosto em terra. Ló pede que eles entrem em sua casa para passar a noite, lavem os pés e depois seguissem seu caminho. Entretanto, eles disseram que passariam a noite na rua. Ló insistiu demais e entraram em sua casa, preparando-lhes um banquete e eles comeram. A situação do pecado era tão séria que, antes que se deitassem, os homens de Sodoma, desde o moço até o velho, de todos os bairros, cercaram a casa, chamaram Ló e perguntaram onde estavam os homens que chegaram a cidade porque queriam ter relações sexuais com eles. Ló sai à porta, fecha-a atrás de si e roga-lhes que não façam o mal que pretendiam, inclusive oferece suas duas filhas virgens para que fizessem o que quisessem, poupando os homens. Todavia, forçaram a entrada, mas foram cegos pelos anjos, do menor ao maior, e disseram a Ló que tirasse toda sua família da cidade porque a destruiriam. Ló saiu e falou com todos da sua família, mas seus genros zombaram dele. Como Ló estava demorando a reunir todos para sair da cidade, eles o pegaram pela mão, junto com sua mulher e suas duas filhas, tiraram-no e puseram fora da cidade. E um fato bizarro acontece quando, tendo ordens expressas para saírem e não olharem para trás, a mulher de Ló olhou para trás e ficou convertida em uma estátua de Sal. () "E aconteceu que, destruindo Deus as cidades da Campina, Deus se lembrou de Abraão e tirou Ló do meio da destruição, derribando aquelas cidades em que Ló habitara." () Abraão peregrina em Gerar. No capítulo 20 de Gênesis, Abraão parte de Hebrom para Gerar, que estaria situada entre Cades e Sur, região que corresponde à terra dos filisteus. Temendo a Abimeleque, rei de Gerar, Abraão comete o mesmo erro praticado quando esteve no Egito e diz que Sara seria sua irmã. Abimeleque apaixona-se por Sara e a toma de Abraão. Deus então aparece em sonhos a Abimeleque e lhe adverte para que restitua Sara a seu esposo. Obedecendo a Deus, Abimeleque traz Sara de volta a Abraão, entregando-lhe também bens e riquezas. Abraão então ora por Abimeleque, que é perdoado. Fontes não bíblicas afirmam que, com o desaparecimento de Melquisedeque, Abraão modificou muito a sua forma de agir. Mesmo alguns historiadores defendem a ideia que era um outro Abraão que ocupou o seu lugar. Mas poderia ter sido apenas a tristeza pelo desaparecimento de Melquisedeque. Não há registro da morte de Melquisedeque e mesmo o apóstolo Paulo faz menção a esse fato na Carta aos Hebreus (cap.7). Abraão tornou-se mais inativo e temeroso. Tanto que ao chegar a Gerar, Abimeleque tomou-lhe a sua esposa Sara. Mas este período de aparente covardia foi curto. E logo Abraão compreendeu a herança proposta pelo seu antecessor no trono e começou a proclamar uma mensagem de um Deus único entre os povos filisteus e mesmo entre os súditos de Abimeleque. Segundo uma tradição judaica, Abraão chegou a crença em um só Deus ao refletir sobre a natureza do universo e ao rejeitar a idolatria. Assim, quebrou a cabeça de todos os ídolos que seu pai tinha em sua loja deixando somente um, o maior deles, deixando para este uma oferenda Depois do nascimento de Isaque, Abraão e Abimeleque fizeram um pacto em Bersebá, isto é, realizaram um juramento de confiança. O nascimento de Isaque. O capítulo 21 de Gênesis diz que Abraão tinha cem anos quando tornou-se pai de Isaque. Informações não bíblicas dizem que foi numa cerimónia pública e solene que Abraão teria apresentado em Salém Isaque como o seu primogênito. No entanto, a Bíblia relata que, quando Isaque deixou de mamar, Abraão teria promovido um grande banquete em comemoração. Abraão despede-se de Agar e de Ismael. Mesmo com o nascimento de Isaque, os conflitos entre Agar e Sara continuaram, ameaçando a paz de sua família. Sara viu que Ismael zombava de Isaque e disse para Abrão colocar para fora a serva e o seu filho e que este não herdaria com Isaque. Isso pareceu ser uma coisa ruim aos olhos de Abraão, porém Deus diz para que ele ouça Sara e confirma que a promessa estava sobre Isaque. Entretanto, por ser filho de Abraão, Deus diz que também fara de Ismael uma grande nação. () Portanto, Abraão pegou pão e um odre de água e deu a Agar e despediu-se dela junto com o menino, e caminharam errantes no deserto de Bersebá. Depois de consumirem toda a água, Agar deixou o menino debaixo de uma árvore e assentou-se mais a frente porque dizia que não queria ver o menino morrer. Mas Deus tinha uma promessa para ele. Então, apareceu um anjo dizendo que Deus tinha ouvido a voz do menino, falou para pegar o menino pela mão, confirmou a promessa sobre ele e abriu-lhe os olhos. Então, viram um poço de água e encheu o odre e deu ao menino. Deus era com Ismael, que cresceu e habitou no deserto, se tornando flecheiro. () Deus prova a fé de Abraão. Mais uma vez Deus falou com Abraão e lhe pediu a derradeira prova de fé, determinando que levasse o seu filho para oferecê-lo em holocausto no Monte Moriá, que fica próximo a Salém. () Após ter viajado por três dias a partir de Bersebá, Abraão avistou o local e subiu ao monte apenas na companhia de Isaque. Porém, quando levantou a mão para sacrificar seu filho, foi impedido pelo Anjo do Senhor e encontrou no mato um carneiro para ser oferecido no lugar de seu filho. O Livro dos Jubileus, (Gênesis) no verso 16 do seu capítulo 17, explica o sacrifício de Isaque dizendo que o diabo teria pedido a Deus que provasse Abraão em relação a seu filho, o que se assemelha um pouco à história de Jó. Porém, a Bíblia nada diz a esse respeito, mencionando o fato como uma prova de obediência a Deus. A morte da Sara. Segundo a Bíblia, Sara morreu em Hebrom com cento e vinte e sete anos. Abraão então adquire de Efrom, em Canaã, a Cova de Macpela por quatrocentos siclos de prata, que é considerada a primeira aquisição de uma propriedade do patriarca que sempre viveu como um peregrino em busca de melhores pastagens para o seu rebanho. A sepultura adquirida é posteriormente utilizada pelo patriarca e por seus descendentes. Abraão manda buscar uma noiva para Isaque. Narra o capítulo 24 de Gênesis que Abraão enviou o seu servo Eliezer para que fosse à Mesopotâmia e trouxesse uma esposa para seu filho Isaque entre os seus parentes. Ocorreu que Milca e Naor tiveram oito filhos e netos. Eliezer então, ao chegar na cidade de Naor, encontra a Rebeca, filha de Betuel e irmã de Labão. Rebeca consente em ir com Eliezer e este a leva para Isaque. A união de Abraão com Quetura. A Bíblia registra uma segunda núpcia de Abraão após a morte de Sara. Com a união de Abraão e Quetura, foram gerados mais seis filhos, dando origem a outros povos, inclusive os midianitas. "E Abraão tomou outra mulher; o seu nome era Quetura. E gerou-lhe Zinrã, e Jocsã, e Medã, e Midiã, e Isbaque e Sua." () Indaga-se se Abraão teria mesmo se casado com Quetura ou se ela foi apenas uma segunda concubina depois de Agar. A Bíblia pouco fala a seu respeito, sendo possível apenas fazer a suposição de que ela teria vivido com o patriarca as últimas décadas de sua vida. De acordo com o livro apócrifo de Jubileus, em 19:11, Abraão teria escolhido a Quetura entre os servos de sua casa porque Agar falecera antes de Sara. A morte de Abraão. A morte de Abraão é comentada no capítulo 25 de Gênesis, o qual teria vivido cento e setenta e cinco anos e foi sepultado na Cova de Macpela por Isaque e Ismael. Tudo o que tinha deixou de herança para Isaque, guardando apenas presentes para os filhos de Agar e de Quetura. Os registros referem que todas as propriedades de Abraão foram para o seu filho Isaac, o filho de Sara, a qual tinha o status de esposa. Agar não foi esposa de Abraão, mas sim uma concubina. Quetura foi esposa de Abraão após a morte de Sara. Considerando que Isaque tornou-se o pai de Jacó e de Esaú aos sessenta anos, Abraão deve ter convivido com os netos durante quinze anos, muito embora o livro de Gênesis não mencione sobre esses contatos. Explicação contextual. Alguns acreditam que os ensinamentos de Melquisedeque teriam sido de grande importância para aquilo que a religião tem transmitido hoje sobre Abraão. Porém, Melquisedeque é citado na Torah apenas uma vez e depois em Hebreus. O que o Antigo Testamento registra são diálogos entre Abraão e Deus, mas há quem defenda a tese de que Melquisedeque teria tido uma presença maior na vida de Abraão como um verdadeiro mensageiro de Deus na terra. O apócrifo Evangelho Armênio da Infância de Jesus traz uma passagem na qual relata que o Senhor entregou a Set uma carta que foi retransmitida a Abraão. Este por sua vez a deu a Melquisedeque, rei de Salém. (Evangelho Armênio da Infância de Jesus, cap. X, 11) Posteriormente, os escribas encararam o termo Melquisedeque como sinónimo de Deus. Os registros de tantos contatos de Abraão e Sara com "o anjo do Senhor" podem referir-se às suas numerosas entrevistas com Melquisedeque. Supõe-se que muita informação teria sido perdido pelo menos até a época em que os registros do Antigo Testamento foram revisados em massa na Babilónia. Todavia, as narrativas dos escritos religiosos hebraicos sobre Isaque, Jacó e José são fontes mais confiáveis do que aquelas sobre Abraão, embora elas contenham muitos pontos divergentes do que é factual, nomeadamente com outras referências históricas. Citações. «"Eu sou Javé, que te fez sair de Ur dos Caldeus, para te dar esta terra como herança… Nesse dia, Javé estabeleceu uma aliança com Abraão nestes termos: "À tua descendência darei esta terra, desde o rio do Egipto até ao grande rio, o Eufrates""» ().
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Artes cénicas
Artes cénicas As artes , chamadas ainda de artes performativas, são artes como música, dança e teatro, que são realizadas para um público. É diferente das artes visuais, que é o uso de tinta, tela ou materiais diversos para criar objetos de arte físicos ou estáticos. As artes cênicas incluem uma variedade de disciplinas que são realizadas na frente de uma plateia ao vivo, incluindo teatro, música e dança. Teatro, música, dança e manipulação de objetos, além de outros tipos de performances, estão presentes em todas as culturas humanas. A história da música e da dança data de tempos pré-históricos, enquanto as habilidades circenses datam pelo menos do Egito Antigo. Muitas artes cênicas são realizadas profissionalmente. A performance pode ser em edifícios construídos propositadamente, como teatros e casas de ópera, em palcos ao ar livre em festivais, em palcos em tendas como circos e na rua. Performances ao vivo diante de uma platéia são uma forma de entretenimento. O desenvolvimento da gravação de áudio e vídeo permitiu o consumo privado das artes cênicas. As artes cênicas muitas vezes visam expressar as emoções e sentimentos de alguém.
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ASCII
ASCII Código Padrão Americano para o Intercâmbio de Informação (do inglês American Standard Code for Information Interchange - ASCII, pronunciado ) é um sistema de representação de letras, algarismos e sinais de pontuação e de controle, através de um sinal codificado em forma de código binário (cadeias de bits formada por vários 0 e 1), desenvolvido a partir de 1960, que representa um conjunto de 128 sinais: 95 sinais gráficos (letras do alfabeto latino, algarismos arábicos, sinais de pontuação e sinais matemáticos) e 33 sinais de controle, utilizando 7 bits para representar todos os seus símbolos. Note que como cada byte possui 8 bits, o bit não utilizado pela tabela ASCII pode ser utilizado de formas diferentes. Por exemplo, o padrão UTF-8 utiliza o bit excedente do primeiro byte para indicar que o Code point tem um valor que excede os valores da tabela ASCII (acima de 127) e necessitará de mais bytes para ser representado. Já a Microsoft utilizou este bit excedente para codificação de caracteres adicionais no Windows Code Page. Outra utilização do bit excedente é informar a paridade em transmissões assíncronas de baixa velocidade. A existência de um bit excedente em cada byte cria oportunidades para utilizar os 7 bits da Tabela ASCII em diferentes codificações não padronizadas, algumas vezes chamadas de "Tabela ASCII", que erroneamente passa a ideia que a Tabela ASCII foi oficialmente ampliada para utilizar 8 bits, fato que nunca ocorreu. A codificação ASCII é usada para representar textos em computadores, equipamentos de comunicação, entre outros dispositivos que trabalham com texto. Desenvolvida a partir de 1960, grande parte das codificações de caracteres modernas a herdaram como base. Os sinais não-imprimíveis, conhecidos como caracteres de controle, são amplamente utilizados em dispositivos de comunicação e afetam o processamento do texto. O código ASCII é muito utilizado para conversão de Código Binário para Letras do alfabeto maiúsculas ou minúsculas. Frações. Tabela de números fracionados (razão de dois números inteiros):
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Albert William Tucker
Albert William Tucker Albert William Tucker ( — ) foi um matemático canadense. Formado na Universidade de Toronto em 1929, Tucker desenvolveu a sua carreira nos Estados Unidos. Lançou as bases da programação linear e desenvolveu a teoria dos jogos, tendo sido ele o inventor do célebre dilema do prisioneiro (criado como auxílio pedagógico em aulas dadas a estudantes de psicologia, em Stanford). Tucker reformou-se em 1974 e morreu em 1995. Tucker foi o professor de John Forbes Nash, matemático americano, cuja história foi retratada no filme "Uma mente brilhante" de 2001 com Russel Crowe como John Nash. Biografia. Albert Tucker nasceu em Oshawa, Ontário, Canadá, e obteve seu bacharelado na Universidade de Toronto em 1928 e seu mestrado na mesma instituição em 1929. Em 1932, ele obteve seu doutorado. na Princeton University sob a supervisão de Solomon Lefschetz, com uma dissertação intitulada "An Abstract Approach to Manifolds". Em 1932–33, ele foi um National Research Fellow em Cambridge, Harvard e, em seguida, na Universidade de Chicago. Ele então retornou a Princeton para ingressar no corpo docente em 1933, onde permaneceu até 1974. Ele presidiu o departamento de matemática por cerca de vinte anos, um dos mais longos mandatos. Seus amplos relacionamentos dentro da área o tornaram uma grande fonte de histórias orais da comunidade matemática. Seu Ph.D. os alunos incluem Michel Balinski, David Gale, Alan J. Goldman, John Isbell, Stephen Maurer, o vencedor do Prêmio Turing Marvin Minsky, o vencedor do Prêmio Nobel John Nash, Torrence Parsons, o vencedor do Prêmio Nobel Lloyd Shapley, Robert Singleton e Marjorie Stein. Tucker aconselhou e colaborou com Harold W. Kuhn em uma série de artigos e modelos. Na década de 1960, ele estava fortemente envolvido na educação matemática, como presidente do Comitê de Cálculo AP para o College Board (1960-1963), por meio do trabalho com o Comitê do Programa de Graduação em Matemática (CUPM) da MAA (ele foi presidente do MAA em 1961–1962), e por meio de muitos workshops de verão da NSF para professores do ensino médio e universitários. George B. Thomas Jr. reconheceu a contribuição de Tucker de muitos exercícios para o livro clássico de Thomas, "Calculus and Analytic Geometry." No início dos anos 1980, Tucker recrutou o professor de história de Princeton Charles Coulston Gillispie para ajudá-lo a criar um projeto de história oral para preservar histórias sobre a comunidade matemática de Princeton na década de 1930. Com financiamento da Fundação Sloan, este projeto posteriormente expandiu seu escopo. Entre aqueles que compartilharam suas memórias de figuras como Einstein, von Neumann e Gödel estavam o pioneiro da computação Herman Goldstine e os ganhadores do Nobel John Bardeen e Eugene Wigner. Albert Tucker percebeu a capacidade de liderança e o talento de um jovem estudante de graduação em matemática chamado John G. Kemeny, cuja contratação foi sugerida por Tucker ao Dartmouth College. Seguindo o conselho de Tucker, Dartmouth recrutou Kemeny, que se tornou presidente do Departamento de Matemática e mais tarde presidente da faculdade. Anos depois, o Dartmouth College reconheceu Albert Tucker com um diploma honorário. Tucker morreu em Hightstown, em 1995, aos 89 anos. Seus filhos, Alan Tucker e Thomas W. Tucker, e seu neto Thomas J. Tucker também são matemáticos profissionais.
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Agrofloresta
Agrofloresta Agrofloresta ou sistema agroflorestal (SAF) é um sistema que reúne as culturas de importância agronômica em consórcio com a plantas que integram a floresta. Um sistema agroflorestal é um sistema de plantio de alimentos que é sustentável e ainda faz a recuperação vegetal e do solo. Existem evidências do uso de sistemas agroflorestais há 4.500 anos, na Amazônia Oriental. Na perspectiva do desenvolvimento rural sustentável as agroflorestas constituem sistemas de uso e ocupação do solo em que plantas lenhosas perenes (árvores, arbustos, palmeiras) das mais variadas especies, são manejadas em consórcios com plantas herbáceas, culturas agrícolas e/ou forrageiras e/ou em integração com animais, dentro de uma mesma unidade de manejo, de acordo com um arranjo espacial predefinido para a cultura implantada e temporal, ocorrendo uma alta diversidade de espécies e interações ecológicas entre os elementos da composição do sistema, caracterizando assim um modelo agroecologico de sistema integrado. Nesse modelo de exploração agrícola são utilizadas culturas agrícolas e/ou pastagens com espécies florestais. Esses últimos componentes são partes fundamentais e devem integrar e interagir em tais sistemas de exploração, portanto, a não ocorrência de espécies florestais não caracteriza a exploração agrícola como agroflorestal e sim como sistemas de consorcio de culturas agrícolas ou integração lavoura pecuária floresta (ILPF). Embora seja notória a crescente utilização do uso de Sistemas Agroflorestais nacionais por conta da busca por um sistema de exploração agrícola sustentável em que se possa produzir sem danos drásticos a longo, médio e curto prazo a natureza, muito deve ser feito tanto na adequação técnica dos modelos escolhidos como na adoção de políticas públicas agrícolas, que beneficiem o produtor a fim de que ele possa obter maior lucratividade econômica desse modelo de agricultura.  Trabalhar a favor da natureza e não contra ela, associar cultivos agrícolas com florestais, recuperar os recursos ao invés de explorá-los e incorporar conceitos ecológicos ao manejo de agroecossistemas são algumas das características da Agricultura Sintrópica, mas não são exclusivas dela. Variações desses fundamentos podem estar associados respectivamente à Permacultura, à Agrofloresta, à Agricultura Regenerativa e à Agroecologia, por exemplo. Certamente encontraremos aderência de objetivos e convergência de práticas entre essas e muitas outras práticas com bases ecológicas e, diante dos desafios ambientais que hoje enfrentamos, são todas muito bem vindas e devem ser devidamente celebradas e estimuladas. Mas talvez seja justamente por conta dessas intersecções de campos de atuação que muitas vezes os alcances e os limites de cada conceito se confundam. Uma primeira e simples distinção que poderíamos fazer seria relativa ao fato de que dentro desse universo de conceitos, alguns se referem a sistemas de uso da terra enquanto que outros são sistemas de design e outros ainda uma ciência ou um movimento social e político.  No SAF convencional, o sistema natural é substituído por um sistema de monocultivo por extratos. As roçagens e capinas são feitas de forma seletivas, e o sistema é estático, temporal. Isso diminui a produção de biomassa e aumenta a dependência da utilização de fertilizantes externos ao sistema, fator mais grave quando se tem uma menor fertilidade natural dos solos e maior velocidade de decomposição da matéria orgânica original em decorrência disso, o final do ciclo ou decadência de indivíduos de um dos extratos não é reposta por uma renovação dinâmica, áreas bastante grandes (o total do SAF, eventualmente) tem que ser replantadas, com maior demanda de recursos de mão de obra e capital para o produtor. No SAF regenerativo, a maior quantidade e diversidade de biomassa permitem uma reciclagem e renovação de constante através de podas seletivas e introdução de espécies de modo a preservar a regeneração natural e/ou adensada. O sistema todo é baseado na dinâmica de sucessão natural de espécies e seu manejo. Dentro dessa primeira caracterização, poderíamos dizer que a AS seria também um sistema de uso da terra, porque é voltada para a produção e para a recuperação pelo uso, somada a uma particular cosmovisão. Plantações de florestas para suprir as necessidades do homem. Usa a dinâmica de sucessão de espécies da flora nativa para trazer as espécies que agregam benefícios para o terreno assim como produtos para o agricultor. A agrofloresta recupera antigas técnicas de povos tradicionais de várias partes do mundo, unindo a elas o conhecimento científico acumulado sobre a ecofisiologia das espécies vegetais, e sua interação com a fauna nativa. Exemplos de possíveis combinações de espécies. Ainda há uma grande discussão e pesquisas sobre a diversidade de espécies que podem combinar melhor dentro de um sistema agroflorestal, a depender das condições do solo e do clima. Um exemplo de sucesso é o plantio conjunto de milho, feijão e abóbora ou moranga (chamado de consórcio MILPA). Esse tipo de consórcio foi, e ainda é, amplamente utilizado por indígenas e agricultores da América Central e do Sul. O feijão, em suas raízes, possuem bactérias nitrificadoras, que enriquecem o solo, favorecendo o crescimento do milho. Após a colheita, a abóbora ou moranga, em suas folhas, liberam um composto que inibe o crescimento de outros tipos de espécies daninhas, liberando o solo para o crescimento do feijão. O milho, se desenvolve facilmente em sol pleno, assim, quando este cresce, produz sombreamento ideal para o crescimento do feijão. Dessa forma, essas três espécies, em vez de competir por recursos, favorecem umas às outras, num processo chamado facilitação. Um outro exemplo de consórcio é o de eucalipto com a seringueira. Objetivos do sistema agroflorestal. No Brasil há um ambiente favorável e com condições biótica e abiótica e econômica para os mais diversos usos da terra, desde manejos intensivos uma maneira mais ecológica. As agroflorestas são uma maneira de minimizar os impactos ambientais na produção agropecuária, contribuindo para o uso sustentável dos recursos naturais. O sistema Agroflorestal tem por sua característica o manejo integrado com florestas naturais, e isso traz diversos benefícios com a preservação do solo assim como ajuda na conservação da fauna e da flora, além de contribuir com a fertilidade daquele ambiente. Sistemas agroflorestais como forma de preservação ambiental. O SAF é considerado o sistema de produção que mais se aproxima de uma floresta natural, esse cultivo integrado que possibilita obter um equilíbrio produtivo está sendo a válvula de escape da união da produção com preservação, após a revolução verde os recursos naturais passaram a ser super explorados e isso trouxe um desgaste dos mesmos. A agricultura e a pecuária são as principais causas do desmatamento no Brasil. No sul da Bahia, o principal responsável pela manutenção da mata atlântica é o cacau cabruca, que por sua vez é uma forma de sistema agroflorestal. Para se caracterizar um SAF, deve ter consórcio com espécies florestais, caso este único quesito seja cumprido, o SAF já estará contribuindo para a preservação ambiental, sem contar nos sistemas mais complexos de agrofloresta, que por sua vez consorcia várias espécies florestais, tanto nativas ou exóticas, esses sistemas mais adensados obtêm maior sucesso na preservação do ambiente, eles conservam o solo da exposição direta, tornando-o assim mais produtivo, além de manter a umidade no mesmo. Na fauna o SAF se destaca como único modelo de produção agrícola que pode ser o habitat de diversas especies de animais, na fauna, como o próprio nome já diz, e também pelo requisito de obter no mínimo uma espécie florestal já nos diz o quanto esse sistema é importante para a flora. Sistemas agroflorestais multiestrato. Os SAFs, como são conhecidos, são a reprodução no espaço e no tempo da sucessão ecológica verificada naturalmente na colonização de áreas novas ou deterioradas. Não é a reconstrução da mata original porque inclui plantas de interesse econômico desde as primeiras fases, permitindo colheitas sucessivas de produtos diferentes ao longo do tempo. Para que se tenha sucesso no sistema de produção SAF, é necessario que se tenha grande conhecimento interdisciplinar sobre solos e sua microfauna e microflora, função ecofisiológica dos organismos que constituem os vários estratos, sucessão ecológica, além de fitossanidade. Classificação dos Sistemas Agroflorestais. Os sistemas agroflorestais têm sido classificados de diferentes maneiras a partir de seu modo organizacional: De acordo com sua estrutura espacial, desenho no tempo, importância agronômica relativa e a função dos diferentes componentes, objetivos da produção e características socioeconômicas predominantes. Por exemplo, quanto à sua composição, esses sistemas podem ser classificados como sistemas agrossilviculturais (árvores + culturas); silvipastoris (árvores + animais); agrossilvipastoris (árvores + culturas + animais). E ainda podem ser classificados quanto a sua função agrícola:
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Allan Kardec
Allan Kardec Hippolyte Léon Denizard Rivail (; Lyon, 3 de outubro de 1804 — Paris, 31 de março de 1869) foi um influente educador, autor e tradutor francês. Sob o pseudônimo de Allan Kardec (), notabilizou-se como o codificador do espiritismo (neologismo por ele criado). Foi discípulo do reformador educacional Johann Heinrich Pestalozzi e um dos pioneiros na pesquisa científica sobre fenômenos paranormais (mais notoriamente a mediunidade), assuntos cuja investigação costumava ser considerada inadequada. Biografia. Juventude e atividade pedagógica. Nascido numa antiga família de orientação católica com tradição na magistratura e na advocacia, desde cedo manifestou propensão para o estudo das ciências e da filosofia. Fez os seus estudos na Escola de Pestalozzi, no Castelo de Yverdon, em Yverdon-les-Bains, na Suíça (país protestante), tornando-se um dos seus mais distintos discípulos e ativo propagador de seu método, que tão grande influência teve na reforma do ensino na França e na Alemanha. Ele organizou e ministrou cursos gratuitos para os menos favorecidos. Concluídos os seus estudos, o jovem Rivail retornou ao seu país natal. Profundo conhecedor da língua alemã, traduzia para esse idioma diferentes obras de educação e de moral, com destaque para as obras de François Fénelon, pelas quais manifestava particular atração. Era membro de diversas sociedades acadêmicas, entre as quais o Instituto Histórico de Paris e a Academia Real de Arras; esta última, em concurso promovido em 1831, premiou-lhe uma memória com o tema "Qual o sistema de estudos mais de harmonia com as necessidades da época?". A 6 de fevereiro de 1832 desposou Amélie Gabrielle Boudet. Em 1824, retornou a Paris e publicou um plano para aperfeiçoamento do ensino público. Após o ano de 1834, passou a lecionar, publicando diversas obras sobre educação, e tornou-se membro da Real Academia de Ciências Naturais. Como pedagogo, o jovem Rivail dedicou-se à luta para uma maior democratização do ensino público. Entre 1835 e 1840, manteve em sua residência, à rua de Sèvres, cursos gratuitos de Química, Física, Anatomia comparada, Astronomia e outros. Nesse período, preocupado com a didática, elaborou um manual de aritmética, que foi adotado por décadas nas escolas francesas, e um quadro mnemônico da História da França, que visou a facilitar ao estudante a memorização das datas dos acontecimentos de maior expressão e as descobertas de cada reinado do país. As matérias que lecionou como pedagogo foram Química, Matemática, Astronomia, Física, Fisiologia, Retórica, Anatomia Comparada e Francês. Das mesas girantes à Codificação. Conforme o seu próprio depoimento, publicado em "Obras Póstumas", foi em 1854 que o Prof. Rivail ouviu falar pela primeira vez do fenômeno das "mesas girantes", bastante difundido à época, através do seu amigo Fortier, um magnetizador de longa data. Sem dar muita atenção ao relato naquele momento, atribuindo-o somente ao chamado magnetismo animal do qual era estudioso. Durante este período, também tomou conhecimento da psicografia. Ele então teria tido contato com um "espírito familiar", que supostamente teria passado a orientar os seus trabalhos. O pseudônimo "Allan Kardec" foi escolhido porque esta entidade teria revelado que ambos haviam vivido juntos, em uma vida passada, entre os druidas do povo celta, na região da Gália (atual França). Convencendo-se de que o movimento e as respostas complexas das mesas deviam-se à intervenção dos supostos espíritos, Kardec dedicou-se à estruturação de uma proposta de compreensão da realidade baseada na necessidade de integração entre os conhecimentos científicos, filosóficos e moral, com o objetivo de lançar sobre o real um olhar que não negligenciasse nem o imperativo da investigação empírica na construção do conhecimento, nem a dimensão espiritual e interior do homem. Tendo iniciado a publicação das obras de Codificação em 18 de abril de 1857, quando veio à luz "O Livro dos Espíritos", considerado como o marco de fundação do Espiritismo, após o lançamento da "Revista Espírita" (1 de janeiro de 1858), Kardec fundou, nesse mesmo ano, a primeira sociedade espírita regularmente constituída, com o nome de Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas. Últimos anos. Kardec passou os anos finais da sua vida dedicado à divulgação do Espiritismo entre os diversos simpatizantes, e defendê-lo dos opositores através da Revista Espírita Ou Jornal de Estudos Psicológicos. Já com cerca de oito milhões de seguidores, faleceu em Paris, a 31 de março de 1869, aos 64 anos de idade, em decorrência da ruptura de um aneurisma, quando trabalhava numa obra sobre as relações entre o Magnetismo e o Espiritismo, ao mesmo tempo em que se preparava para uma mudança de local de trabalho. Está sepultado no Cemitério do Père-Lachaise, uma célebre necrópole da capital francesa. Junto ao túmulo, erguido como os dólmens druídicos. Acima de sua tumba, seu lema: "Nascer, morrer, renascer ainda e progredir sem cessar, tal é a lei", em francês. Legado. Em seu sepultamento, seu amigo, o astrônomo francês Camille Flammarion proferiu o seguinte discurso, ressaltando a sua admiração por aquele que ali baixava ao túmulo: Sobre Kardec, o engenheiro francês Gabriel Delanne escreveu: Nas palavras do brasileiro Alexander Moreira-Almeida, coordenador da "Seção de Espiritualidade, Religiosidade e Psiquiatria" da Associação Mundial de Psiquiatria: Controvérsias. Frenologia e declarações racistas. Allan Kardec já fez declarações controversas, que foram tidas como etnocêntricas e racistas em várias de suas obras ainda no século XIX contra chineses e africanos, sendo amplamente criticado no meio católico mais tradicionalista por conta disso. Kardec, como um erudito de sua época, acreditava na suposta superioridade racial dos brancos europeus e na inferioridade de outros grupos étnico-raciais, tendo como base a frenologia, fundada pelo médico alemão Franz Joseph Gall (1758-1828) e atualmente considerada uma pseudociência. Kardec foi, inclusive, membro da Sociedade de Frenologia de Paris e teria defendido teses atualmente consideradas racistas em trechos de suas obras, mas que, à época, representavam uma visão científica corrente no ramo da antropometria. No artigo "Perfectibilidade da raça negra", Kardec afirmou que, uma vez que espíritos evoluem, tem que habitar corpos de outra "raça", o que acarretaria o desaparecimento das "raças selvagens". Ao consultar o espírito São Luís, Kardec lhe perguntou se raça negra é inferior, ao que São Luís teria respondido que a "raça negra" desapareceria da face da terra. Um dos textos de Kardec, criticados por alguns como sendo racista, encontra-se em sua obra "O Livro dos Espíritos": Outro texto conhecido de Allan Kardec, publicado em 1862 em uma revista de artigos da doutrina espírita na França, diz: O hotetonte, mais conhecido hoje como khoisan, mencionado acima, se refere a uma família muito antiga de grupos étnicos do Sudoeste Africano. Para críticos, Kardec partilhava de concepções eurocêntricas (as que propugnam que europeus são racialmente superiores) quando ele assim escreveu no livro "A Gênese": Em 2007, o Ministério Público Federal definiu um termo de ajustamento de conduta, segundo o qual editoras que publicam as obras de Kardec no Brasil se comprometem a adicionar nelas uma nota explicativa de esclarecimento sobre a ciência de sua época e o suposto conteúdo discriminatório. O escritor espírita brasileiro Paulo da Silva Sobrinho Neto, autor do e-book "Racismo em Kardec?", argumenta que classificar as citações de Kardec como racistas de acordo com os valores morais contemporâneos seria anacronismo, visto que Kardec reproduzia aquilo que era dito como "verdade científica" na época em que viveu. Ademais, Neto também cita vários trechos em que Kardec apoia o conceito de união "sem distinção de raças", como na obra "O Evangelho Segundo o Espiritismo", de 1864. Na obra "O Livro dos Espíritos", também é afirmado que todos os homens são iguais perante Deus, rumam para o mesmo fim e estão sujeitos às mesmas leis. No artigo "Jornal de Estudos Psicológicos", publicado na "Revista Espírita" em janeiro de 1863, Kardec também afirma: "Abracemos a Humanidade inteira, sem distinção de culto, de raça, de origem e, com mais forte razão, de família, de fortuna e de condição social." Porém, o grupo Espíritas à Esquerda publicou edições das obras da codificação com redações alternativas e antirracistas de todos os textos considerados racistas, sejam de Kardec ou dos espíritos. Obras. Didáticas. O professor Rivail escreveu diversos livros pedagógicos, dentre os quais destacam-se: Espíritas. São popularmente conhecidas como cinco obras básicas que versam sobre o Espiritismo, sob o pseudônimo Allan Kardec: Além delas, como Kardec, publicou algumas dentre as onze que ele chamou de obras fundamentais da doutrina espírita: Após o seu falecimento, viria à luz: Outras obras menos conhecidas foram também publicadas: Diplomas. Lista dos principais diplomas obtidos por Denizard Rivail durante a sua carreira de professor e diretor de colégio:
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Brasil
Brasil Brasil (), oficialmente República Federativa do Brasil (), é o maior país da América do Sul e da região da América Latina, sendo o quinto maior do mundo em área territorial (equivalente a 47,3% do território sul-americano), com km², e o sétimo em população (com 203 milhões de habitantes, em agosto de 2022). É o único país na América onde se fala majoritariamente a língua portuguesa e o maior país lusófono do planeta, além de ser uma das nações mais multiculturais e etnicamente diversas, em decorrência da forte imigração oriunda de variados locais do mundo. Sua atual Constituição, promulgada em 1988, concebe o Brasil como uma república federativa presidencialista, formada pela união dos 26 estados, do Distrito Federal e dos municípios. Banhado pelo Oceano Atlântico, o Brasil tem um litoral de e faz fronteira com todos os outros países sul-americanos, exceto Chile e Equador, sendo limitado a norte pela Venezuela, Guiana, Suriname e pelo departamento ultramarino francês da Guiana Francesa; a noroeste pela Colômbia; a oeste pela Bolívia e Peru; a sudoeste pela Argentina e Paraguai e ao sul pelo Uruguai. Vários arquipélagos formam parte do território brasileiro, como o Atol das Rocas, o Arquipélago de São Pedro e São Paulo, Fernando de Noronha (o único destes habitado por civis) e Trindade e Martim Vaz. O Brasil também é o lar de uma diversidade de animais selvagens, ecossistemas e de vastos recursos naturais em uma grande variedade de "habitats" protegidos. O território que atualmente forma o Brasil foi oficialmente descoberto pelos portugueses em 22 de abril de 1500, em expedição liderada por Pedro Álvares Cabral. Segundo alguns historiadores como Antonio de Herrera e Pietro d'Anghiera, o encontro do território teria sido três meses antes, em 26 de janeiro, pelo navegador espanhol Vicente Yáñez Pinzón, durante uma expedição sob seu comando. A região, então habitada por indígenas ameríndios divididos entre milhares de grupos étnicos e linguísticos diferentes, cabia a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas, e tornou-se uma colônia do Império Português. O vínculo colonial foi rompido, de fato, quando em 1808 a capital do reino foi transferida de Lisboa para a cidade do Rio de Janeiro, depois de tropas francesas comandadas por Napoleão Bonaparte invadirem o território português. Em 1815, o Brasil se torna parte de um reino unido com Portugal. Dom Pedro I, o primeiro imperador, proclamou a independência política do país em 1822. Inicialmente independente como um império, período no qual foi uma monarquia constitucional parlamentarista, o Brasil tornou-se uma república em 1889, em razão de um golpe militar chefiado pelo marechal Deodoro da Fonseca (o primeiro presidente), embora uma legislatura bicameral, agora chamada de Congresso Nacional, já existisse desde a ratificação da primeira Constituição, em 1824. Desde o início do período republicano, a governança democrática foi interrompida por longos períodos de regimes autoritários, até um governo civil e eleito democraticamente assumir o poder em 1985, com o fim da ditadura militar. Como potência regional e média, a nação tem reconhecimento e influência internacional, sendo que também é classificada como uma potência global emergente e como uma potencial superpotência por vários analistas. O PIB nominal brasileiro foi o décimo segundo maior do mundo e o oitavo por paridade do poder de compra (PPC) em 2020. O país é um dos principais celeiros do planeta, sendo o maior produtor de café dos últimos 150 anos, além de ser classificado como uma economia de renda média-alta pelo Banco Mundial e como um país recentemente industrializado, que detém a maior parcela de riqueza global da América do Sul. No entanto, o país ainda mantém níveis notáveis de corrupção, criminalidade e desigualdade social. É membro fundador da Organização das Nações Unidas (ONU), G20, BRICS, Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), União Latina, Organização dos Estados Americanos (OEA), Organização dos Estados Ibero-americanos (OEI) e Mercado Comum do Sul (Mercosul). Etimologia. As raízes etimológicas do termo "Brasil" são de difícil reconstrução. O filólogo Adelino José da Silva Azevedo postulou que se trata de uma palavra de procedência celta (uma lenda que fala de uma "terra de delícias", vista entre nuvens), mas advertiu também que as origens mais remotas do termo poderiam ser encontradas na língua dos antigos fenícios. Na época colonial, cronistas da importância de João de Barros, frei Vicente do Salvador e Pero de Magalhães Gândavo apresentaram explicações concordantes acerca da origem do nome "Brasil". De acordo com eles, o nome "Brasil" é derivado de "pau-brasil", designação dada a um tipo de madeira empregada na tinturaria de tecidos. Na época dos descobrimentos, era comum aos exploradores guardar cuidadosamente o segredo de tudo quanto achavam ou conquistavam, a fim de explorá-lo vantajosamente, mas não tardou em se espalhar na Europa que haviam descoberto certa "ilha Brasil" no meio do oceano Atlântico, de onde extraíam o pau-brasil (madeira cor de brasa). Antes de ficar com a designação atual, "Brasil", as novas terras descobertas foram designadas de: Monte Pascoal (quando os portugueses avistaram terras pela primeira vez), Ilha de Vera Cruz, Terra de Santa Cruz, Nova Lusitânia, Cabrália, Império do Brasil e Estados Unidos do Brasil. Os habitantes naturais do Brasil são denominados "brasileiros", cujo gentílico é registrado em português a partir de 1706 e referia-se inicialmente apenas aos que comercializavam pau-brasil. História. Período pré-colonial. Estima-se que os primeiros seres humanos tenham ocupado a região que compreende o atual território brasileiro há cerca de 60 mil anos. Quando encontrada pelos europeus em 1500, a América do Sul tinha sua costa oriental habitada por cerca de dois milhões de nativos, do norte ao sul. A população ameríndia era repartida em grandes nações indígenas compostas por vários grupos étnicos entre os quais se destacam os grandes grupos tupi-guarani, macro-jê e aruaque. Os primeiros eram subdivididos em guaranis, tupiniquins e tupinambás, entre inúmeros outros. Os tupis espalhavam-se do atual Rio Grande do Sul ao Rio Grande do Norte de hoje, sendo a primeira raça indígena que teve contato com o colonizador, na região denominada Pindorama (da língua tupi "Terra das Palmeiras"), e decorrentemente a de maior presença, com influência no mameluco, no mestiço, no luso-brasileiro que nascia e no europeu que se fixava". As fronteiras entre esses grupos e seus subgrupos, antes da chegada dos europeus, eram demarcadas pelas guerras entre os mesmos, oriundas das diferenças de cultura, língua e costumes. Guerras essas que também envolviam ações bélicas em larga escala, em terra e na água, com a antropofagia ritual sobre os prisioneiros de guerra. Embora a hereditariedade tivesse algum peso, a liderança era um "status" mais conquistado ao longo do tempo, do que atribuído em cerimônias e convenções sucessórias. A escravidão entre os indígenas tinha um significado diferente da escravidão europeia, uma vez que se originava de uma organização socioeconômica diversa, na qual as assimetrias eram traduzidas em relações de parentesco. Colonização europeia. Embora supostamente o português Duarte Pacheco Pereira e o navegador espanhol Vicente Yáñez Pinzón tenham sido os primeiros europeus a chegar à terra agora chamada de Brasil (cuja viagem de Pinzón terá sido documentada ao atingir o cabo de Santo Agostinho, no litoral de Pernambuco, em 26 de janeiro de 1500), o território foi reivindicado por Portugal em 22 de abril do mesmo ano, com a chegada da frota portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro, no atual estado da Bahia, em função do Tratado de Tordesilhas. A colonização do Brasil foi efetivamente iniciada em 1534, quando D. João III dividiu o território em quatorze capitanias hereditárias, mas esse arranjo se mostrou problemático, uma vez que apenas as capitanias de Pernambuco e São Vicente prosperaram. Então, em 1549, o rei atribuiu um governador-geral para administrar toda a colônia. Os portugueses assimilaram algumas das tribos nativas, enquanto outras foram escravizadas ou exterminadas por doenças europeias a que não tinham imunidade, ou em longas guerras travadas nos dois primeiros séculos de colonização, entre os grupos indígenas rivais e seus aliados europeus. Em meados do século XVI, quando o açúcar de cana tornou-se o mais importante produto de exportação do Brasil, os portugueses iniciaram a importação de escravos africanos, comprados nos mercados de escravos da África Ocidental. Assim, esses começaram a ser trazidos ao Brasil, inicialmente para lidar-se com a crescente demanda internacional do produto, naquele que foi denominado ciclo do açúcar. Ignorando o tratado de Tordesilhas de 1494, os portugueses, através de expedições conhecidas como bandeiras, paulatinamente avançaram sua fronteira colonial na América do Sul para onde se situa a maior parte das atuais fronteiras brasileiras, tendo passado os séculos XVI e XVII defendendo tais conquistas contra potências rivais europeias. Desse período destacam-se os conflitos que rechaçaram as incursões coloniais francesas (no Rio de Janeiro em 1567 e no Maranhão em 1615) e que, após o fim da União Ibérica, expulsaram os holandeses do nordeste, na chamada Insurreição Pernambucana — sendo o conflito com os holandeses parte integrante da Guerra Luso-Holandesa. Ao final do século XVII, devido à concorrência colonial as exportações de açúcar brasileiro começaram a declinar, mas a descoberta de ouro pelos bandeirantes na década de 1690 abriu um novo ciclo para a economia extrativista da colônia, promovendo uma febre do ouro no Brasil, que atraiu milhares de novos colonos, vindos não só de Portugal, mas também de outras colônias portuguesas ao redor do mundo, o que por sua vez acabou gerando conflitos (como a Guerra dos Emboabas), entre os antigos colonos e os recém-chegados. Para garantir a manutenção da ordem colonial interna, além da defesa do monopólio de exploração econômica do Brasil, o foco da administração colonial portuguesa concentrou-se tanto em manter sob controle e erradicar as principais formas de rebelião e resistência dos escravos (a exemplo do Quilombo dos Palmares), como em reprimir todo movimento por autonomia ou independência política (como a Inconfidência Mineira). Reino unido com Portugal. No final de 1807, forças espanholas e napoleônicas ameaçaram a segurança de Portugal Continental, fazendo com que o Príncipe Regente D. João VI, em nome da rainha Maria I, transferisse a corte real de Lisboa ao Brasil. O estabelecimento da corte portuguesa trouxe o surgimento de algumas das primeiras instituições brasileiras, como bolsas de valores locais e um banco nacional, e acabou com o monopólio comercial que Portugal mantinha sobre o Brasil, liberando as trocas comerciais com outras nações. Em 1809, em retaliação por ter sido forçado a um "autoexílio" no Brasil, o príncipe regente ordenou a conquista portuguesa da Guiana Francesa. Com o fim da Guerra Peninsular em 1814, os tribunais europeus exigiram que a rainha Maria I e o príncipe regente D. João regressassem a Portugal, já que consideravam impróprio que representantes de uma antiga monarquia europeia residissem em uma colônia. Em 1815, para justificar a sua permanência no Brasil, onde a corte real tinha prosperado nos últimos seis anos, o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves foi criado, estabelecendo, assim, um Estado monárquico transatlântico e pluricontinental. No entanto, isso não foi suficiente para acalmar a demanda portuguesa pelo retorno da corte para Lisboa, como a revolução liberal do Porto exigiria em 1820, e nem o desejo de independência e pelo estabelecimento de uma república por grupos de brasileiros, como a Revolução Pernambucana de 1817 mostrou. Em 1821, como uma exigência de revolucionários que haviam tomado a cidade do Porto, D. João VI foi incapaz de resistir por mais tempo e partiu para Lisboa, onde foi obrigado a fazer um juramento à nova constituição, deixando seu filho, o príncipe Pedro de Alcântara, como Regente do Reino do Brasil. Independência e Império. Em decorrência desses acontecimentos, a coroa portuguesa tentou, mais uma vez, transformar o Brasil em uma colônia, privando o país do estatuto de Reino, adquirido em 1815. Os brasileiros se recusaram a ceder e D. Pedro ficou com eles, declarando a independência do país do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves, em 7 de setembro de 1822. Em 12 de outubro de 1822, Pedro foi declarado o primeiro imperador do Brasil e coroado D. Pedro I em 1 de dezembro do mesmo ano, fundando, assim, o Império do Brasil. A guerra da independência do Brasil, iniciada ao longo deste processo, propagou-se pelas regiões norte, nordeste e ao sul na província de Cisplatina. Os últimos soldados portugueses renderam-se em 8 de março de 1824, sendo a independência reconhecida por Portugal em 29 de agosto de 1825, no tratado do Rio de Janeiro. A primeira constituição brasileira foi outorgada em 25 de março de 1824, após a sua aceitação pelos conselhos municipais de todo o país. Exaurido no Brasil por anos de exercício do poder moderador, período no qual também enfrentou em Pernambuco o movimento separatista conhecido como Confederação do Equador, e inconformado com o rumo que os absolutistas portugueses haviam imprimido à sucessão de D. João VI, D. Pedro I abdicou em 7 de abril de 1831, em favor de seu filho de cinco anos e herdeiro (que viria a ser o imperador Dom Pedro II), e retornou à Europa a fim de recuperar a coroa para sua filha. Como o novo imperador não poderia, até atingir a maturidade, exercer suas prerrogativas constitucionais, a regência foi adotada. Durante o período regencial ocorreu uma série de rebeliões localizadas, como a Cabanagem, a Revolta dos Malês, a Balaiada, a Sabinada e a Revolução Farroupilha, decorrentes do descontentamento das províncias com o poder central e das tensões sociais latentes de uma nação escravocrata e recém-independente. Em meio a esta agitação, D. Pedro II foi declarado imperador prematuramente em 23 de julho de 1840. Porém, somente ao final daquela década, as últimas revoltas do período regencial e outras posteriores, como a Revolução Praieira, foram debeladas e o país pôde voltar a uma relativa estabilidade política interna. Internacionalmente, após a perda de Cisplatina, que se tornou o Uruguai, o Brasil saiu vitorioso de três guerras no Cone Sul durante o reinado de Dom Pedro II: a guerra do Prata, a guerra do Uruguai e a guerra do Paraguai naquele que, além de ter sido um dos maiores conflitos da história (o maior da América do Sul), foi o que exigiu o maior esforço de guerra na história do país. Concernente à questão da escravidão no país, somente após anos de pressão comercial e marítima exercida pelo Reino Unido, em decorrência da lei "Bill Aberdeen", o Brasil concordou em abandonar o tráfico internacional de escravos, em 1850. Apesar disso e da repercussão internacional, dos efeitos políticos e econômicos decorrentes da derrota dos Estados Confederados na Guerra Civil Americana durante a década de 1860, foi apenas em 1888, após um longo processo de mobilização interna e debate para a desmontagem moral e legal da escravidão, que essa foi formalmente abolida no Brasil ("ver: Pós-abolição no Brasil"). Em 15 de novembro de 1889, desgastada por anos de estagnação econômica, em atrito com a oficialidade do Exército e também com as elites rurais e financeiras (embora por razões diferentes), a monarquia foi derrubada por um golpe militar. Primeira República e Era Vargas. Com o início do governo republicano, sendo pouco mais do que uma ditadura militar, a então nova constituição de 1891 previa eleições diretas apenas para 1894 e, embora abolisse a restrição do período monárquico que estabelecia direito ao voto apenas aos que tivessem determinado nível de renda, mantinha o exercício do voto em caráter aberto (não secreto) e, entre outras restrições, circunscrito apenas aos homens, alfabetizados, numa época em que a população do país era majoritariamente analfabeta. Neste primeiro período, o país republicano manteve um relativo equilíbrio em relação à política externa, que só foi rompido pela questão acriana (1899–1902) e pelo envolvimento do país na Primeira Guerra Mundial (1914–1918). Internamente, a partir da crise do encilhamento e da 1ª Revolta da Armada em 1891, iniciou-se um ciclo prolongado de instabilidade financeira, política e social que se estenderia até a década de 1920, mantendo o país assolado por diversas rebeliões, tanto civis como militares. Pouco a pouco, estas rebeliões minaram o regime de tal forma que, em 1930, foi possível ao candidato presidencial derrotado nas eleições daquele ano, Getúlio Vargas, na esteira do assassinato de João Pessoa, seu companheiro de chapa, liderar a Revolução de 1930, com o apoio dos militares, e assumir a presidência da república. Vargas e os militares, que deveriam assumir a presidência apenas temporariamente a fim de implementar reformas democráticas, fecharam o congresso nacional brasileiro e seguiram governando sob estado de emergência, tendo feito a intervenção federal de todos os estados, à exceção de Minas Gerais, substituindo os governadores dos estados por interventores federais, que eram seus apoiadores políticos. Sob a justificativa de cobrar a implementação das promessas de reformas democráticas em uma nova constituição, em 1932 a oligarquia paulista tentou recuperar o poder através de uma revolução armada e, em 1935, os comunistas se rebelaram na Intentona Comunista, tendo ambos os movimentos sido derrotados. No entanto, a ameaça comunista serviu de pretexto tanto para impedir as eleições previamente estipuladas, como para que Vargas e os militares lançassem mão de outro golpe de Estado em 1937 estabelecendo o Estado Novo, formalizando assim o status ditatorial do regime. Em maio de 1938, houve o Levante integralista, ainda outra tentativa fracassada de tomada de poder, desta vez por parte dos nacionalistas. O Brasil manteve-se neutro durante os primeiros anos da Segunda Guerra Mundial (1939–1945) até os antecedentes que o levaram a postar-se ao lado dos Estados Unidos durante a Conferência Interamericana de 1942, realizada no Rio de Janeiro em janeiro, rompendo relações diplomáticas com as potências do Eixo. Em represália, as marinhas de guerra da Alemanha nazista e Itália fascista estenderam sua campanha de guerra submarina ao Brasil e, após meses de contínuo afundamento de navios mercantes brasileiros e forte pressão popular, o governo declarou-lhes guerra em agosto daquele ano, tendo somente em 1944 enviado uma força expedicionária para combater na Europa. Com a vitória aliada em 1945 e o fim dos regimes nazifascistas na Europa, a posição de Vargas tornou-se insustentável e ele foi rapidamente deposto por outro golpe militar. A democracia foi "restabelecida" e o general Eurico Gaspar Dutra foi eleito presidente, tomando posse em 1946. Tendo voltado ao poder democraticamente eleito em 1950, Vargas suicidou-se em agosto de 1954, em meio a uma crise política. Quarta República e ditadura militar. Vários governos provisórios breves sucederam-se após o suicídio de Vargas. Em 1955, através de eleições diretas, Juscelino Kubitschek tornou-se presidente e assumiu uma postura conciliadora em relação à oposição política, o que lhe permitiu governar sem grandes crises. A economia e o setor industrial cresceram consideravelmente, mas sua maior conquista foi a construção da nova capital, Brasília, inaugurada em 1960. O sucessor de Kubitschek, Jânio Quadros, eleito em 1960, renunciou em 1961 menos de sete meses após assumir o cargo. Seu vice-presidente, João Goulart, assumiu a presidência, mas suscitou forte oposição política e foi deposto pelo Golpe de 1964 que resultou em um regime militar. O novo regime se destinava a ser transitório, mas, cada vez mais fechado em si mesmo, tornou-se uma ditadura plena com a promulgação do Ato Institucional Nº 5 em 1968. A censura e a repressão em todas as suas formas, incluindo a tortura, não se restringiram aos políticos oposicionistas e militantes de esquerda. A sua ação alcançou a todos aqueles a quem o regime encarava como opositores, ou a eles ligados, o que abrangeu praticamente todos os setores sociais; entre eles artistas, estudantes, jornalistas, clérigos, sindicalistas, professores, intelectuais, além dos próprios militares e policiais que demonstrassem não estarem alinhados com o regime e familiares de presos políticos. Através da Operação Condor, o governo brasileiro também participou na perseguição internacional a dissidentes sul-americanos em geral. A exemplo de outros regimes ditatoriais na história, o regime militar brasileiro atingiu o auge de sua popularidade num momento de alto crescimento econômico, que ficou conhecido como "milagre econômico", momento este que coincidiu com o auge da repressão. Lentamente, no entanto, o desgaste natural de anos de poder ditatorial, que não abrandou a repressão mesmo após a derrota da guerrilha de esquerda, somado à inabilidade em lidar com as crises econômicas do período, o crescimento da oposição política nas eleições regionais e ainda as pressões populares, tornaram inevitável a abertura política do regime que, por seu lado, foi conduzida pelos generais Geisel e Golbery. Com a promulgação da Lei da Anistia em 1979, o Brasil lentamente iniciou a volta à democracia, que se completaria na década de 1980. Sexta República. Após o movimento popular das "Diretas Já", os civis voltaram ao poder em 1985 inaugurando a chamada Nova República, com a eleição do oposicionista Tancredo Neves, que, entretanto, não assumiu o cargo devido à morte decorrente de uma grave doença. Seu vice, José Sarney, assumiu a presidência, tornando-se impopular ao longo de seu mandato por conta da piora da crise econômica e hiperinflação herdadas do regime militar, mesmo com uma breve euforia inicial do seu Plano Cruzado. Sarney deu continuidade ao programa de governo de Tancredo Neves instaurando, em 1987, uma Assembleia Nacional Constituinte, que promulgou a atual Constituição brasileira. No entanto, o fracasso do Governo Sarney na área econômica e o consequente desgaste político permitiu a eleição, em 1989, do quase desconhecido Fernando Collor, que posteriormente sofreu processo de "impeachment" pelo Congresso Nacional brasileiro em 1992, com seu vice-presidente, Itamar Franco, assumindo o cargo em decorrência. Do novo ministério nomeado por Itamar, com integrantes de praticamente todos os partidos que aprovaram o "impeachment" de Collor. destacou-se Fernando Henrique Cardoso (FHC), como ministro da Fazenda e coordenador do bem-sucedido Plano Real, que trouxe estabilidade para a economia brasileira, após décadas de inúmeros planos econômicos de governos anteriores que haviam fracassado na tentativa de controlar a hiperinflação. Em consequência, FHC foi eleito presidente na eleição presidencial de 1994 e novamente em 1998. A transição pacífica de poder para seu principal opositor, Luiz Inácio Lula da Silva, eleito em 2002 e reeleito em 2006, mostrou que o Brasil finalmente conseguiu alcançar a sua muito procurada estabilidade política. Nas eleições de 2010, Dilma Rousseff tornou-se a primeira mulher eleita presidente. Em junho de 2013, irromperam no país manifestações populares por diversas reivindicações sociais. Após as polarizadas eleições de 2014, Rousseff foi reeleita, no entanto, em 2015, sua rejeição atingiu quase 70% em meio a protestos populares, ao mesmo tempo em que vários políticos eram investigados pela Polícia Federal. Em abril de 2016, a Câmara iniciou um processo de "impeachment" contra a presidente, que foi ratificado pelo Senado em maio. Rousseff foi deposta em 31 de agosto e seu vice, Michel Temer, assumiu o cargo. Em 2018, o ex-presidente Lula foi condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato. Nas eleições daquele ano, elegeu-se presidente o candidato Jair Bolsonaro, do Partido Social Liberal (PSL), que venceu no segundo turno Fernando Haddad, do Partido dos Trabalhadores (PT), com o apoio de 55,13% dos votos válidos. No início da década de 2020, o Brasil se tornou um dos países mais atingidos durante a pandemia de COVID-19, recebendo o segundo maior número de mortes em todo o mundo, depois dos Estados Unidos. Especialistas culparam amplamente a situação pela liderança de Bolsonaro, que durante toda a pandemia minimizou repetidamente a ameaça do COVID-19 e dissuadiu estados e municípios de aplicar medidas de distanciamento social. Em maio de 2021, Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que concorreria a um terceiro mandato na eleição presidencial de 2022, contra Bolsonaro. No dia 2 de outubro, na votação do primeiro turno, Lula ficou em primeiro lugar com apoio de 48,43% do eleitorado, classificando-se para o segundo turno com Bolsonaro, que recebeu 43,20% dos votos. No segundo turno, Lula recebeu 50,90% dos votos contra 49,10% de Bolsonaro, o resultado mais acirrado da história das eleições presidenciais brasileiras. Lula recebeu o maior número de votos em uma eleição brasileira, se tornou o primeiro presidente do Brasil eleito para três mandatos, o primeiro desde Getúlio Vargas a servir em mandatos não consecutivos e também o primeiro candidato a vencer um presidente em exercício. Em 8 de janeiro de 2023, uma semana após a posse de Lula, uma multidão de apoiadores extremistas de Bolsonaro atacou as sedes do governo federal brasileiro na capital, Brasília, após várias semanas de manifestações golpistas. A turba invadiu e vandalizou o Palácio do Planalto, o Palácio do Congresso Nacional e o Palácio do Supremo Tribunal Federal na Praça dos Três Poderes, com o objetivo derrubar Lula e instigar líderes militares a desferir um golpe de estado e interromper a transição democrática do poder. Em resposta, Lula decretou intervenção no governo do Distrito Federal. Geografia. O território brasileiro é cortado por dois círculos imaginários: a Linha do Equador, que passa pela embocadura do Amazonas, e o Trópico de Capricórnio, que corta o município de São Paulo. O país ocupa uma vasta área ao longo da costa leste da América do Sul e inclui grande parte do interior do continente, compartilhando fronteiras terrestres com Uruguai ao sul; Argentina e Paraguai a sudoeste; Bolívia e Peru a oeste; Colômbia a noroeste e Venezuela, Suriname, Guiana e com o departamento ultramarino francês da Guiana Francesa ao norte. O país compartilha uma fronteira comum com todos os países da América do Sul, exceto Equador e Chile. O Brasil também engloba uma série de arquipélagos oceânicos, como Fernando de Noronha, Atol das Rocas, São Pedro e São Paulo e Trindade e Martim Vaz. O seu tamanho, relevo, clima e recursos naturais fazem do Brasil um país geograficamente diverso. O país é o quinto maior do mundo em área territorial, com km², depois de Rússia, Canadá, China e Estados Unidos, incluindo de água. Seu território abrange quatro fusos horários, a partir de UTC−5 no Acre e sudoeste do Amazonas; UTC−4 em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia, Roraima e maior parte do Amazonas; UTC−3 (horário oficial do Brasil) em Goiás, Distrito Federal, Pará, Amapá e todos os estados das regiões Nordeste, Sudeste e Sul e UTC−2 nas ilhas do Atlântico. Clima. O clima do Brasil dispõe de uma ampla variedade de condições de tempo em uma grande área e topografia variada, mas a maior parte do país é tropical. Segundo o sistema Köppen, o Brasil acolhe seis principais subtipos climáticos: equatorial, tropical, semiárido, tropical de altitude, temperado e subtropical. As diferentes condições climáticas produzem ambientes que variam de florestas equatoriais no Norte e regiões semiáridas no Nordeste, para florestas temperadas de coníferas no Sul e savanas tropicais no Brasil central. Muitas regiões têm microclimas totalmente diferentes. O clima equatorial caracteriza grande parte do norte do Brasil. Não existe uma estação seca real, mas existem algumas variações no período do ano em que mais chove. Temperaturas médias de , com mais variação de temperatura significativa entre a noite e o dia do que entre as estações. As chuvas no Brasil central são mais sazonais, característico de um clima de savana. Esta região é tão extensa como a bacia amazônica, mas tem um clima muito diferente, já que fica mais ao sul, em uma latitude inferior. O Sul e parte do Sudeste possuem condições de clima temperado, com invernos frescos e temperatura média anual não superior a ; geadas de inverno são bastante comuns, com ocasional queda de neve nas áreas mais elevadas. No interior do nordeste, a precipitação sazonal é ainda mais extrema. A região de clima semiárido geralmente recebe menos de 800 milímetros de chuva, a maior parte em um período de três a cinco meses no ano e por vezes menos do que isso, resultando em longos períodos de seca. A Grande Seca de 1877–78, a mais grave já registrada no país, causou cerca de meio milhão de mortes. Outra em 1915 foi devastadora também. Topografia e hidrografia. A topografia brasileira também é diversificada e inclui morros, montanhas, planícies, planaltos e cerrados. Grande parte do terreno se situa entre 200 e 800 metros de altitude. A área principal de terras altas ocupa mais da metade sul do país. As partes noroeste do planalto são compostas por terreno, amplo rolamento quebrado por baixo e morros arredondados. A seção sudeste é mais robusta, com uma massa complexa de cordilheiras e serras atingindo altitudes de até metros. Esses intervalos incluem as serras do Espinhaço, da Mantiqueira e do Mar. No norte, o planalto das Guianas constitui um fosso de drenagem principal, separando os rios que correm para o sul da Bacia Amazônica dos que deságuam no sistema do rio Orinoco, na Venezuela, ao norte. O ponto mais alto no Brasil é o Pico da Neblina, na Serra do Imeri (fronteira com a Venezuela), com metros, e o menor é o Oceano Atlântico. O Brasil tem um sistema denso e complexo de rios, um dos mais extensos do mundo, com oito grandes bacias hidrográficas, que drenam para o Atlântico. Os rios mais importantes são o Amazonas (o maior rio do mundo tanto em comprimento — quilômetros de extensão — como em termos de volume de água — vazão de 12,5 bilhões de litros por minuto), o Paraná e seu maior afluente, o Iguaçu (que inclui as cataratas do Iguaçu), o Negro, São Francisco (maior rio totalmente brasileiro), Xingu, Madeira e Tapajós. Biodiversidade e meio ambiente. A grande extensão territorial do Brasil abrange diferentes ecossistemas, como a Floresta Amazônica, reconhecida como tendo a maior diversidade biológica do mundo. Os rios amazônicos fornecem uma variedade de "habitats", incluindo pântanos e riachos, cada um abrigando diferentes tipos de vida selvagem. A mata Atlântica e o cerrado, sustentam também grande biodiversidade, além da caatinga, fazendo do Brasil um país megadiverso. No sul, a floresta de araucárias cresce sob condições de clima temperado. A rica vida selvagem do Brasil reflete a variedade de "habitats" naturais. Os cientistas estimam que o número total de espécies vegetais e animais no Brasil seja de aproximadamente de quatro milhões. Grandes mamíferos incluem pumas, onças, jaguatiricas, raros cachorros-vinagre, raposas, queixadas, antas, tamanduás, preguiças, gambás e tatus. Veados são abundantes no sul e muitas espécies de platyrrhini são encontradas nas florestas tropicais do norte. A preocupação com o meio ambiente tem crescido em resposta ao interesse mundial nas questões ambientais. O patrimônio natural do Brasil está seriamente ameaçado pela pecuária e agricultura, exploração madeireira, mineração, reassentamento, desmatamento, extração de petróleo e gás, a sobrepesca, comércio de espécies selvagens, barragens e infraestrutura, contaminação da água, fogo, espécies invasoras e pelos efeitos do aquecimento global. A construção de estradas em áreas de floresta, tais como a BR-230 e a BR-163, abriu áreas anteriormente remotas para a agricultura e para o comércio; barragens inundaram vales e "habitats" selvagens e minas criaram cicatrizes na terra e poluíram a paisagem. Em dezembro de 2016, conforme estudos da Embrapa, a vegetação nativa preservada cobria 61% do território brasileiro. A agricultura ocupava 8% do território nacional enquanto as pastagens cobriam 19,7%. Em 2014, segundo o IBGE, o Brasil tinha 3 299 espécies ameaçadas de extinção. Demografia. A população do Brasil, conforme censo realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) em 2010, foi de habitantes (22,43 habitantes por quilômetro quadrado), com uma proporção de homens e mulheres de 0,96:1 e 84,36% da população definida como urbana. A população está fortemente concentrada nas regiões Sudeste (80,3 milhões de habitantes), Nordeste (53,1 milhões) e Sul (27,4 milhões), enquanto as duas regiões mais extensas, o Centro-Oeste e o Norte, que formam quase dois terços do território nacional, contam com um total de apenas trinta milhões de habitantes. A população brasileira aumentou significativamente entre 1940 e 1970, devido a um declínio na taxa de mortalidade, embora a taxa de natalidade também tenha passado por um ligeiro declínio no período. Na década de 1940 a taxa de crescimento anual da população foi de 2,4%, subindo para 3% em 1950 e permanecendo em 2,9% em 1960, com a expectativa de vida subindo de 44 para 54 anos e para 77 anos em 2021. A taxa de aumento populacional tem vindo a diminuir desde 1960, de 3,04% ao ano entre 1950–1960 para 1,05% em 2008 e deverá cair para um valor negativo, de -0,29%, em 2050, completando assim a transição demográfica. Urbanização. Os maiores aglomerados urbanos do Brasil, de acordo com a estimativa do IBGE para 2019, são as conurbações de São Paulo (com habitantes), Rio de Janeiro (), Belo Horizonte (), Recife () e Brasília (). Existem também grandes concentrações urbanas no interior do país: Campinas, Baixada Santista, São José dos Campos e Sorocaba, todas no estado de São Paulo. Quase todas as capitais são as maiores cidades de seus estados, com exceção de Vitória, capital do Espírito Santo, e Florianópolis, a capital de Santa Catarina. Composição étnica. Segundo o IBGE, no censo de 2010 47,1% da população (cerca de 90,6 milhões) se autodeclararam como brancos, 43,42% (cerca de 82,8 milhões) como pardos (multirracial), 7,52% (cerca de 14,4 milhões) como negros; 1,1% (cerca de 2,1 milhões) como amarelos e 0,43% (cerca de 821 mil) como indígenas, enquanto 0,02% (cerca de 36,1 mil) não declararam sua raça. Em 2007, a Fundação Nacional do Índio (FUNAI) relatou a existência de 67 tribos indígenas isoladas em regiões remotas do Brasil, a maioria delas no interior da Floresta Amazônica. Acredita-se que o Brasil possua o maior número de povos isolados do mundo. A maioria dos brasileiros descende de povos indígenas do país, colonos portugueses, imigrantes europeus e escravos africanos. Desde a chegada dos portugueses em 1500, um considerável número de uniões entre estes três grupos foi realizado. A população parda é uma categoria ampla que inclui caboclos (descendentes de brancos e indígenas), mulatos (descendentes de brancos e negros) e cafuzos (descendentes de negros e indígenas). Os pardos e mulatos formam a maioria da população nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste. A população mulata concentra-se geralmente na costa leste da região Nordeste, da Bahia à Paraíba e também no norte do Maranhão, sul de Minas Gerais e no leste do Rio de Janeiro. No século XIX o Brasil abriu suas fronteiras à imigração. Cerca de cinco milhões de pessoas de mais de 60 países migraram para o Brasil entre 1808 e 1972, a maioria delas de Portugal, Itália, Espanha, Alemanha, Japão e Oriente Médio. Religiões. A Constituição prevê liberdade de religião, ou seja, proíbe qualquer tipo de intolerância religiosa e a Igreja e o Estado estão oficialmente separados, sendo o Brasil um país secular. Em 2000, a religião católica representava 73,6% do total no país. Em 2010, era 64,6%, sendo observada pela primeira vez a redução em números absolutos (de para ). Ainda assim, o perfil religioso brasileiro continua tendo uma maioria predominantemente católica (42,4% a mais que a segunda maior religião do país, o protestantismo). De acordo com o censo de 2010, entre os estados, o Rio de Janeiro apresenta a menor proporção de católicos, 45,8%; e o Piauí, a maior, 85,1%. Já a proporção de evangélicos era maior em Rondônia (33,8%) e menor no Piauí (9,7%). Em outubro de 2009, foi aprovado pelo Senado e decretado pelo Presidente da República em fevereiro de 2010 um acordo com o Vaticano, em que é reconhecido o Estatuto Jurídico da Igreja Católica no Brasil. O acordo confirmou normas que já eram normalmente cumpridas sobre ensino religioso nas escolas públicas de ensino fundamental (que assegura também o ensino de outras crenças), casamento e assistência espiritual em presídios e hospitais. O projeto sofreu críticas de parlamentares que entendiam como o fim do Estado laico com a aprovação do acordo. Idiomas. A língua oficial do Brasil é o português, que é falado por quase toda a população e é praticamente o único idioma usado nos meios de comunicação, nos negócios e para fins administrativos. O país é o único lusófono da América e o idioma tornou-se uma parte importante da identidade nacional brasileira. O português brasileiro teve o seu próprio desenvolvimento, influenciado por línguas ameríndias, africanas e por outros idiomas europeus. Como resultado, essa variante é um pouco diferente, principalmente na fonologia, do português lusitano. Essas diferenças são comparáveis àquelas entre o inglês americano e o inglês britânico. Em 2008, a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), que inclui representantes de todos os países cujo português é o idioma oficial, chegou a um acordo sobre a padronização ortográfica da língua, com o objetivo de reduzir as diferenças entre as duas variantes. A todos os países da CPLP foi dado o prazo de 2009 até 2016 para adaptarem-se às mudanças necessárias. Idiomas minoritários são falados em todo o país. O censo de 2010 contabilizou 305 etnias indígenas no Brasil, que falam 274 línguas diferentes. Dos indígenas com cinco ou mais anos, 37,4% falavam uma língua indígena e 76,9% falavam português. Há também comunidades significativas de falantes do alemão (na maior parte o "Hunsrückisch", um dialeto alto-alemão) e italiano (principalmente o talian, de origem vêneta) no sul do país, os quais são influenciados pelo idioma português. Diversos municípios brasileiros cooficializaram outras línguas, como São Gabriel da Cachoeira, no estado do Amazonas, onde ao nheengatu, tukano e baniwa, que são línguas ameríndias, foi concedido o estatuto cooficial com o português. Outros municípios, como Santa Maria de Jetibá (no Espírito Santo) e Pomerode (em Santa Catarina) também cooficializaram outras línguas alóctones, como o alemão e o pomerano. Os estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul também possuem o talian como patrimônio linguístico oficial, enquanto o Espírito Santo, em agosto de 2011, incluiu em sua constituição o pomerano, junto com o alemão, como seus patrimônios culturais. Governo e política. A organização político-administrativa da República Federativa do Brasil compreende a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios, todos autônomos, nos termos da constituição. A União, os estados, o Distrito Federal e os municípios são as esferas de governo. A Federação está definida em cinco princípios fundamentais: soberania, cidadania, dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo político. Os ramos clássicos tripartite de governo (executivo, legislativo e judiciário no âmbito do sistema de controle e equilíbrios) são oficialmente criados pela Constituição. O executivo e o legislativo estão organizados de forma independente em todas as esferas de governo, enquanto o judiciário é organizado apenas a nível federal e nas esferas estadual e do Distrito Federal. Todos os membros do executivo e do legislativo são eleitos diretamente. Juízes e outros funcionários judiciais são nomeados após aprovação em exames de entrada. O voto é obrigatório para os alfabetizados entre 18 e 70 anos e facultativo para analfabetos e aqueles com idade entre 16 e 18 anos ou superior a 70 anos. Quase todas as funções governamentais e administrativas são exercidas por autoridades e agências filiadas ao Executivo. A forma de governo é a de uma república democrática, com um sistema presidencial. O presidente é o chefe de Estado e de Governo e é eleito para um mandato de quatro anos, com a possibilidade de reeleição para um segundo mandato consecutivo. Ele é responsável pela nomeação dos ministros de Estado, que o auxiliam no governo. As casas legislativas de cada entidade política são a principal fonte de direito no Brasil. O Congresso Nacional é a legislatura bicameral da Federação, composto pela Câmara dos Deputados e pelo Senado Federal. Autoridades do Judiciário exercem funções jurisdicionais, quase exclusivamente. Quase todos os partidos políticos estão representados no Congresso. É comum que os políticos mudem de partido e, assim, a proporção de assentos parlamentares detidos por partidos muda regularmente. Os maiores partidos, de acordo com o número de filiados, são o Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Partido dos Trabalhadores (PT), Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), Progressistas (PP), Partido Democrático Trabalhista (PDT), União Brasil (UNIÃO), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Partido Liberal (PL), Partido Socialista Brasileiro (PSB), Republicanos, Cidadania (CDN) e Partido Social Cristão (PSC). Direito. O direito brasileiro é baseado na tradição do código civil, parte do sistema romano-germânico. Assim, os conceitos de direito civil prevalecem sobre práticas de direito comum. A maior parte da legislação brasileira é codificada, apesar de leis não codificadas serem uma parte substancial do sistema, desempenhando um papel complementar. Decisões do Tribunal e orientações explicativas, no entanto, não são vinculativas sobre outros casos específicos, exceto em algumas situações. Obras de doutrina e as obras de juristas acadêmicos têm forte influência na criação de direito e em casos de direito. O sistema jurídico baseia-se na Constituição Federal, que foi promulgada em 5 de outubro de 1988 e é a lei fundamental do Brasil. Todas as outras legislações e as decisões das cortes de justiça devem corresponder a seus princípios. Os estados têm suas próprias constituições, que não devem entrar em contradição com a constituição federal. Os municípios e o Distrito Federal não têm constituições; em vez disso, eles têm leis orgânicas. Entidades legislativas são a principal fonte das leis, embora, em determinadas questões, organismos dos poderes judiciário e executivo possam promulgar normas jurídicas. A jurisdição é administrada pelas entidades do poder judiciário brasileiro, embora em situações raras a Constituição Federal permita que o Senado Federal interfira nas decisões judiciais. Existem jurisdições especializadas como a Justiça Militar, a Justiça do Trabalho e a Justiça Eleitoral. O tribunal mais alto é o Supremo Tribunal Federal. Este sistema tem sido criticado nas últimas décadas devido à lentidão com que as decisões finais são emitidas. Ações judiciais de recurso podem levar vários anos para serem resolvidas e, em alguns casos, mais de uma década para expirar antes de as decisões definitivas serem tomadas. Crime e aplicação da lei. A Constituição brasileira, em seu artigo 144.º, estabelece oito instituições para a execução das leis de segurança pública — sete com a função titular: Polícia Federal, Polícia Rodoviária Federal, Polícia Ferroviária Federal, Polícia Penal Federal, Polícia Militar, Polícia Civil e Polícia Penal dos Estados — e uma com a função conexa e auxiliar à atividade de segurança pública: as guardas municipais. Destas, quatro são filiadas às autoridades federais, três aos governos estaduais e as Guardas Municipais aos governos municipais. As instituições supracitadas são de responsabilidade do Poder Executivo, ou seja: dos governos Federal, do Distrito Federal, dos Estados Federados ou Municípios. Além disso, existem as instituições dos poderes Legislativo Federal (Departamento de Polícia Legislativa e Polícia do Senado Federal) e Judiciário Federal (Polícia Judicial do Supremo Tribunal Federal). A Força Nacional de Segurança Pública também pode atuar em situações de distúrbio público, originadas em qualquer ponto do território nacional, a partir da aprovação dos governadores dos estados, Quando houver ainda o esgotamento do uso das forças tradicionais de segurança pública, nas situações graves de perturbação da ordem, pode o presidente da República, por ordem expressa, autorizar o uso das Forças Armadas, para a Garantia da Lei e da Ordem (GLO). O país tem níveis acima da média de crimes violentos e níveis particularmente altos de violência armada e de homicídio. Em 2012, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estimou o número de 32 mortes para cada 100 mil habitantes, uma das mais altas taxas de homicídios intencionais do mundo. O índice considerado suportável pela OMS é de dez homicídios por 100 mil habitantes. No entanto, existem diferenças entre os índices de criminalidade dentro do país: enquanto em São Paulo a taxa de homicídios registrada em 2020 foi de 6,62 mortes por 100 mil habitantes, no Ceará chegou a 43,37 homicídios para cada 100 mil pessoas, no mesmo ano a taxa nacional foi de 19,89 mortes por 100 mil habitantes. O Brasil também tem altos níveis de encarceramento e a quarta maior população carcerária do mundo (atrás de Estados Unidos, China e Rússia), com um total estimado em mais 600 mil presos (300 para cada 100 mil habitantes) em todo o país (junho de 2015), um aumento de cerca de 161% em relação ao índice registrado em 2000. O alto número de presos acabou por sobrecarregar o sistema prisional brasileiro, levando a um déficit de mais de 200 mil vagas dentro das prisões do país. Forças armadas. As Forças Armadas do Brasil compreendem o Exército Brasileiro, a Marinha do Brasil e a Força Aérea Brasileira e são a maior força militar da América Latina, a segunda maior de toda a América. O Brasil também é uma das nações com as maiores capacidades bélicas do mundo. O país foi considerado a 9° maior potência militar do planeta em 2021. As polícias militares estaduais e os corpos de bombeiros militares são descritas como forças auxiliares e reservas do Exército pela Constituição, mas sob o controle de cada estado e de seus respectivos governadores. O Exército é responsável pelas operações militares por terra, possui o maior efetivo da América Latina, contando com uma força de cerca de soldados. Também possui a maior quantidade de veículos blindados da América do Sul, somados os veículos blindados para transporte de tropas e carros de combate principais. A Força Aérea Brasileira é o ramo de guerra aérea das Forças Armadas Brasileiras. De acordo com o "Flight International" e do Instituto Internacional de Estudos Estratégicos, a FAB tem uma força ativa de militares e opera em torno de 627 aeronaves, sendo a maior força aérea do hemisfério sul e a segunda na América, após a Força Aérea dos Estados Unidos. A Marinha é responsável pelas operações navais e pela guarda das águas territoriais brasileiras. É a mais antiga das Forças Armadas brasileiras, possui o maior efetivo de fuzileiros navais da América Latina, estimado em homens, tendo o Batalhão de Operações Especiais de Fuzileiros Navais como sua principal unidade. A Marinha também possui um grupo de elite especializado em retomar navios e instalações navais, o Grupamento de Mergulhadores de Combate, unidade especialmente treinada para proteger as plataformas petrolíferas brasileiras ao longo de sua costa. Política externa. Embora alguns problemas sociais e econômicos impeçam o Brasil de exercer poder global efetivo, o país é hoje um líder político e econômico na América Latina. Esta alegação, porém, é parcialmente contestada por outros países, como a Argentina e o México, que se opõem ao objetivo brasileiro de obter um lugar permanente como representante da região no Conselho de Segurança das Nações Unidas. Entre a Segunda Guerra Mundial e a década de 1990, os governos democráticos e militares procuraram expandir a influência do Brasil no mundo, prosseguindo com uma política externa e industrial independente. Atualmente o país tem como objetivo reforçar laços com outros países da América do Sul e exercer a diplomacia multilateral, através das Nações Unidas e da Organização dos Estados Americanos. A atual política externa do Brasil é baseada na posição do país como uma potência regional na América Latina, um líder entre os países em desenvolvimento (como os BRICS) e uma superpotência mundial emergente. A política externa brasileira em geral tem refletido multilateralismo, resolução de litígios de forma pacífica e não intervenção nos assuntos de outros países. A Constituição brasileira determina também que o país deve buscar uma integração econômica, política, social e cultural com as nações da América Latina, através de organizações como Mercosul e CELAC. Subdivisões. O Brasil é uma Federação constituída pela união indissolúvel dos 26 estados, do Distrito Federal e dos municípios. Os estados e municípios são unidades federativas, isto é, entidades subnacionais autônomas (autogoverno, autolegislação e autoarrecadação) que possuem natureza de pessoa jurídica de direito público. Atualmente o Brasil é dividido política e administrativamente em 26 estados e um distrito federal. O poder executivo é exercido por um governador e o legislativo pelas assembleias legislativas, sendo todos eleitos quadrienalmente. O poder judiciário é exercido por tribunais estaduais de primeira e segunda instância que cuidam da justiça comum. O Distrito Federal tem características comuns aos estados e aos municípios. Ao contrário dos estados, não pode ser dividido em municípios. Por outro lado, pode arrecadar tributos atribuídos como se fosse um estado e, também, como município. Os municípios são uma circunscrição territorial dotada de personalidade jurídica e com certa autonomia administrativa, sendo as menores unidades autônomas da Federação. Cada município tem sua própria lei orgânica que define a sua organização política, mas limitada pela Constituição Federal. Há um total de municípios em todo o território nacional, alguns com população superior a um milhão de habitantes (São Paulo com mais de doze milhões), outros com menos de vinte mil pessoas; Há ainda alguns municípios com área maior do que estados ou mesmo de países. Altamira, no Pará, com quase 160 mil km², é o maior município brasileiro em território, sendo quase duas vezes maior que Portugal e ainda maior que dez estados. Economia. O Brasil é a maior economia da América Latina, a terceira da América (atrás apenas dos Estados Unidos e do Canadá) e a décima terceira maior do mundo em PIB nominal (tendo alcançado sua posição mais alta em 2011, na sexta colocação); em paridade do poder de compra, ocupa o oitavo lugar, de acordo com o Fundo Monetário Internacional e o Banco Mundial. O país tem uma economia mista capitalista com vastos recursos naturais. Estima-se que a economia brasileira se irá tornar uma das cinco maiores do mundo nas próximas décadas. Ativo em setores como mineração, manufatura, agricultura e serviços, o Brasil tem uma força de trabalho de mais de 120 milhões de pessoas (6.ª maior do mundo) e desemprego de 11,7% (38.º no mundo). O país vem ampliando sua presença nos mercados financeiros e de "commodities" internacionais e é um BRICS. O Brasil tem sido o maior produtor mundial de café dos últimos 150 anos e tornou-se o quarto maior mercado de automóveis do mundo. Entre os principais produtos de exportação em 2019 estavam: soja, petróleo, minério de ferro, celulose, milho, carne bovina, carne de frango, farelo de soja, açúcar e café. O país também exporta: aeronaves, equipamentos elétricos, automóveis, partes de veículos, etanol combustível, ouro, calçados, suco de laranja, algodão, tabaco, ferro semiacabado, entre outros produtos. O país participa de diversos blocos econômicos como o Mercado Comum do Sul (Mercosul), o G20 e o Grupo de Cairns, e sua economia corresponde a três quintos da produção industrial da economia sul-americana. O Brasil comercializa regularmente com mais de uma centena de países, sendo que 74% dos bens exportados são manufaturas ou semimanufaturas. Os maiores parceiros são: União Europeia, Mercosul, América Latina, Ásia e Estados Unidos. De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) o setor do agronegócio brasileiro responde por 23% do PIB brasileiro (2013). O Brasil está entre os países com maior produtividade no campo, apesar das barreiras comerciais e das políticas de subsídios adotadas pelos países desenvolvidos. Em relatório divulgado em 2010 pela OMS, o país é o terceiro maior exportador de produtos agrícolas do mundo, atrás apenas de Estados Unidos e União Europeia. A indústria de automóveis, aço, petroquímica, computadores, aeronaves e bens de consumo duradouros contabilizam 30,8% do produto interno bruto brasileiro. A atividade industrial está concentrada geograficamente nas regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Curitiba, Campinas, Porto Alegre, Belo Horizonte, Manaus, Salvador, Recife e Fortaleza. Entre as empresas mais conhecidas do Brasil estão: Brasil Foods, Perdigão, Sadia e JBS (setor alimentício); Embraer (setor aéreo); Azaleia e Havaianas (calçados); Petrobras (setor petrolífero); Companhia Vale do Rio Doce (mineração); Marcopolo e Busscar (carroceiras); Gerdau (siderúrgicas) e Organizações Globo (comunicação). A corrupção, no entanto, custa ao Brasil quase 41 bilhões de dólares por ano e 69,9% das empresas do país identificam esse problema como um dos principais entraves para conseguirem penetrar com sucesso no mercado global. No Índice de Percepção da Corrupção de 2014, criado pela Transparência Internacional, o Brasil é classificado na 69ª posição entre os 175 países avaliados. O poder de compra brasileiro também é corroído pelo conjunto de problemas nacionais chamado "custo Brasil". Além disso, o país apresenta uma das menores taxas de participação do comércio exterior no PIB, sendo classificado como uma das economias mais fechadas do mundo. No Índice de Liberdade Econômica de 2015, por exemplo, o país foi classificado no 118º lugar entre 178 nações avaliadas. Apesar de também ser um problema crônico, desde 2001 os níveis de desigualdade social e econômica vêm caindo, chegando em 2011 aos níveis de 1960, embora o país ainda esteja entre os 12 mais desiguais do planeta. Turismo. O turismo é um setor crescente e fundamental para a economia de várias regiões do país. O país recebeu 6 milhões de turistas estrangeiros em 2013, sendo classificado, em termos de chegadas de turistas internacionais, como o principal destino da América do Sul e o segundo na América Latina, depois do México. As receitas de turistas internacionais atingiram 5,9 bilhões de dólares em 2010, uma recuperação da crise econômica de 2008-2009. Os registros históricos de 5,4 milhões de visitantes internacionais e 6,775 bilhões de dólares em receitas foram atingidos em 2011. O "Best in Travel 2014", uma classificação anual dos melhores destinos feita pelo guia de viagens "Lonely Planet", classificou o Brasil como o melhor destino turístico do mundo em 2014. Entre os destinos mais procurados estão a Floresta Amazônica, praias e dunas na região nordeste, o pantanal no centro-oeste, as Cataratas do Iguaçu no Paraná, praias no Rio de Janeiro e em Santa Catarina, turismo cultural e histórico em Minas Gerais e viagens de negócios em São Paulo. No Índice de Competitividade em Viagens e Turismo de 2015, o Brasil ficou no 28º lugar entre os 141 países avaliados. A maioria dos visitantes internacionais que chegaram em 2011 vieram da Argentina (30,8%), dos Estados Unidos (11,5%) e do Uruguai (5,0%), sendo o Mercosul e os países vizinhos da América do Sul os principais emissores de turistas. O turismo interno é um segmento de mercado fundamental para a indústria, uma vez que 51 milhões de pessoas viajaram pelo país em 2005. Infraestrutura. Educação. A Constituição Federal e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) determinam que a União, os estados, o Distrito Federal e os municípios devem gerir e organizar seus respectivos sistemas de ensino. Cada um desses sistemas educacionais públicos é responsável por sua própria manutenção, que gere fundos, bem como os mecanismos e fontes de recursos financeiros. A nova constituição reserva 25% do orçamento do Estado e 18% de impostos federais e taxas municipais para a educação. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), feita pelo IBGE com dados de 2013, o analfabetismo ainda afetava 8,3% da população (ou 13 milhões de pessoas). Além disso, 17,8% dos brasileiros ainda eram classificados como analfabetos funcionais. A qualidade geral do sistema educacional brasileiro ainda apresenta resultados fracos. No Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA) de 2012, elaborado pela OCDE, o país foi classificado nas posições 55ª em leitura, 58ª em matemática e 59ª em ciências, entre os 65 países avaliados pela pesquisa. O ensino superior começa com a graduação ou cursos sequenciais, que podem oferecer opções de especialização em diferentes carreiras acadêmicas ou profissionais. Dependendo de escolha, os estudantes podem melhorar seus antecedentes educativos com cursos de pós-graduação "stricto sensu" ou "lato sensu". Para frequentar uma instituição de ensino superior, é obrigatório, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação, concluir todos os níveis de ensino adequados às necessidades de todos os estudantes dos ensinos infantil, fundamental e médio, desde que o aluno não seja portador de nenhuma deficiência, seja ela física, mental, visual ou auditiva. Outro requisito é ter um bom desempenho no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), uma prova realizada pelo Ministério da Educação, utilizada para avaliar a qualidade do ensino médio e cujo resultado serve de acesso a universidades públicas através do Sistema de Seleção Unificada (SiSU). O Enem é o maior exame do país e o segundo maior do mundo, atrás somente do vestibular da China. Em 2012, aproximadamente 11,3% da população do país tinham nível superior. Das dez melhores universidades da América Latina, oito eram brasileiras de acordo com a classificação do QS World University Rankings de 2014. Saúde. O sistema de saúde pública brasileiro, o Sistema Único de Saúde (SUS), é gerenciado e fornecido por todos os níveis do governo, sendo o maior sistema do tipo do mundo. Já os sistemas de saúde privada atendem a um papel complementar. Os serviços de saúde públicos são universais e oferecidos a todos os cidadãos do país de forma gratuita. No entanto, a construção e a manutenção de centros de saúde e hospitais são financiadas por impostos, sendo que o país gasta cerca de 9% do seu PIB em despesas na área. Em 2009, o território brasileiro tinha 1,72 médicos e 2,4 leitos hospitalares para cada mil habitantes. Apesar de todos os progressos realizados desde a criação do sistema universal de cuidados de saúde em 1988, ainda existem vários problemas de saúde pública no Brasil. Em 2006, os principais pontos a serem resolvidos eram as altas taxas de mortalidade infantil (2,51%) e materna (73,1 mortes por mil nascimentos). O número de mortes por doenças não transmissíveis, como doenças cardiovasculares (151,7 mortes por habitantes) e câncer (72,7 mortes por habitantes), também tem um impacto considerável sobre a saúde da população brasileira. Finalmente, fatores externos, mas evitáveis, como acidentes de carro, violência e suicídio causaram 14,9% de todas as mortes no país. O sistema de saúde brasileiro foi classificado na 125ª posição entre os 191 países avaliados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) em 2000. Energia. O Brasil é o décimo maior consumidor de energia do planeta e o terceiro maior do hemisfério ocidental, atrás dos Estados Unidos e Canadá. A matriz energética brasileira é baseada em fontes renováveis, sobretudo a energia hidrelétrica e o etanol, além de fontes não renováveis como o petróleo e o gás natural. Da sua capacidade total de geração de eletricidade instalada, que correspondia a 181,5 mil megawatts (MW) em dezembro de 2021, as hidrelétricas eram responsáveis por (60,2%), a energia eólica por (11,6%); biomassa por , (8,7%) e energia solar por (7,2%), além de outras fontes, como as termelétricas. A energia nuclear representa cerca de 3% da matriz energética brasileira. Com grandes descobertas de petróleo nos últimos tempos na Bacia de Santos, em 2020 o Brasil assumiu a oitava posição mundial entre os dez maiores produtores. No entanto, o país tem trabalhado para criar uma alternativa viável à gasolina. Com o seu combustível à base de cana-de-açúcar, a nação pode se tornar energicamente independente neste momento. O Pró-álcool, que teve origem na década de 1970 em resposta às incertezas do mercado petrolífero, obteve sucesso intermitente. Ainda assim, grande parte dos brasileiros utilizam os chamados "veículos flex", que funcionam com etanol ou gasolina, permitindo que o consumidor possa abastecer com a opção mais barata no momento, muitas vezes o etanol. Os países com grande consumo de combustível, como a Índia e a China, estão seguindo o progresso do Brasil nessa área. Além disso, países como o Japão e Suécia estão importando etanol brasileiro para ajudar a cumprir as suas obrigações ambientais estipuladas no Protocolo de Quioto. Transportes. Com uma rede rodoviária de cerca de 1,72 milhão de quilômetros, sendo km de rodovias pavimentadas (2018) e km de rodovias de pista dupla (2017), as estradas são as principais transportadoras de carga e de passageiros no tráfego brasileiro. O Brasil também é o sétimo mais importante país da indústria automobilística. Existem cerca de quatro mil aeroportos e aeródromos no Brasil, sendo 721 com pistas pavimentadas, incluindo as áreas de desembarque. O país tem o segundo maior número de aeroportos em todo o mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. O Aeroporto Internacional de Guarulhos, localizado na Região Metropolitana de São Paulo, é o maior e mais movimentado aeroporto do país. Grande parte dessa movimentação deve-se ao tráfego comercial e popular do país e ao fato de que o aeroporto liga São Paulo a praticamente todas as grandes cidades de todo o mundo. Conforme dados de 2019 da Confederação Nacional do Transporte (CNT), o Brasil tem 37 aeroportos internacionais e 2 464 aeroportos regionais. O país possuía em 2019 uma extensa rede ferroviária de km de extensão, a décima maior do mundo. Atualmente, o governo brasileiro, diferentemente do passado, procura incentivar esse meio de transporte; um exemplo desse incentivo é o projeto do Trem de Alta Velocidade Rio-São Paulo, um trem-bala que pretende ligar as duas principais metrópoles do país para o transporte de passageiros, e a Ferrovia Norte-Sul, projetada para ser a espinha dorsal do sistema ferroviário nacional. Há 37 grandes portos no Brasil, dentre os quais o maior é o Porto de Santos, o mais movimentado do país e da América Latina, considerado o 39° maior do mundo por movimentação de contêineres pela publicação britânica "Container Management". O país também possui de hidrovias, como a Hidrovia Tietê-Paraná. Ciência e tecnologia. A pesquisa tecnológica no Brasil é em grande parte realizada em universidades públicas e institutos de pesquisa. Alguns dos mais notáveis polos tecnológicos do Brasil são os institutos Oswaldo Cruz e Butantã, o Comando-Geral de Tecnologia Aeroespacial, a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (EMBRAPA) e o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Dono de relativa sofisticação tecnológica, o país desenvolve de submarinos a aeronaves, além de estar presente na pesquisa aeroespacial, possuindo um Centro de Lançamento de Veículos Leves e sendo o único país do Hemisfério Sul a integrar a equipe de construção da Estação Espacial Internacional (ISS). O Brasil tem o mais avançado programa espacial da América Latina, com recursos significativos para veículos de lançamento, e fabricação de satélites. Em 14 de outubro de 1997, a Agência Espacial Brasileira assinou um acordo com a NASA para fornecer peças para a ISS. No entanto, depois de quase dez anos sem conseguir cumprir o contrato de fornecimento, foi excluído do programa em maio de 2007. Este acordo, contudo, possibilitou ao Brasil treinar seu primeiro astronauta. Em 30 de março de 2006 o tenente-coronel Marcos Pontes, a bordo do veículo Soyuz, tornou-se no primeiro astronauta brasileiro e o terceiro latino-americano a orbitar o planeta Terra. O país também é pioneiro na pesquisa de petróleo em águas profundas, de onde extrai 73% de suas reservas. O urânio enriquecido na Fábrica de Combustível Nuclear (FCN), de Resende, no estado do Rio de Janeiro, atende à demanda energética do país. Existem planos para a construção do primeiro submarino nuclear do país. O Brasil também é um dos três países da América Latina com um laboratório Síncrotron em operação, um mecanismo de pesquisa da física, da química, das ciências dos materiais e da biologia. O país desenvolve o Programa Antártico Brasileiro e mantém desde 1984 a Estação Comandante Ferraz para pesquisas na Antártica. Segundo o Relatório Global de Tecnologia da Informação 2009–2010 do Fórum Econômico Mundial, o Brasil é o 61º maior desenvolvedor mundial de tecnologia da informação. Ainda outro exemplo é o ingresso em 2018 no chamado grupo de elite da União Internacional de Matemática. Mídia e comunicações. A imprensa brasileira tem seu início em 1808 com a chegada da família real portuguesa ao Brasil, sendo até então proibida toda e qualquer atividade de imprensa — fosse a publicação de jornais ou livros. A imprensa brasileira nasceu oficialmente no Rio de Janeiro em 13 de maio de 1808, com a criação da Impressão Régia, hoje Imprensa Nacional, pelo príncipe-regente Dom João. A "Gazeta do Rio de Janeiro", o primeiro jornal publicado em território nacional, começa a circular em 10 de setembro de 1808. Atualmente a imprensa escrita consolidou-se como um meio de comunicação em massa e produziu grandes jornais que hoje estão entre as maiores do país e do mundo como a "Folha de S.Paulo", "O Globo" e o "Estado de S. Paulo", e publicações das editoras Abril e Globo. A radiodifusão surgiu em 7 de setembro de 1922, data do centenário da independência, sendo a primeira transmissão um discurso do então presidente Epitácio Pessoa, porém a instalação do rádio de fato ocorreu apenas em 20 de abril de 1923 com a criação da "Rádio Sociedade do Rio de Janeiro". A televisão no Brasil começou, oficialmente, em 18 de setembro de 1950, trazida por Assis Chateaubriand que fundou o primeiro canal de televisão no país, a TV Tupi. Desde então a televisão cresceu no país, criando grandes redes como a Globo, Record, SBT, Bandeirantes e RedeTV. Hoje, a televisão representa um fator importante na cultura popular moderna da sociedade brasileira. A televisão digital no Brasil teve início em 2007, inicialmente na cidade de São Paulo, pelo padrão japonês. A Internet veio ao Brasil em 1988 por decisão inicial da sociedade de estudantes e professores universitários paulistanos (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, liderada por Oscar Sala) e cariocas (Universidade Federal do Rio de Janeiro e Laboratório Nacional de Computação Científica), mas, somente a partir de 1996, a Internet brasileira passou a ter seus "backbones" próprios inaugurados por provedores comerciais, iniciando assim o desenvolvimento dessa rede de telecomunicações. Cultura. O núcleo de cultura é derivado da cultura portuguesa, por causa de seus fortes laços com o império colonial português. Entre outras influências portuguesas encontram-se o idioma português, o catolicismo romano e estilos arquitetônicos coloniais. A cultura, contudo, foi também fortemente influenciada por tradições e culturas africanas, indígenas e europeias não portuguesas. Alguns aspectos da cultura brasileira foram influenciadas pelas contribuições dos italianos, alemães e outros imigrantes europeus que chegaram em grande número nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Os ameríndios influenciaram a língua e a culinária do país e os africanos influenciaram a língua, a culinária, a música, a dança e a religião. Arquitetura. A arquitetura do Brasil é influenciada pela Europa, principalmente Portugal. A arquitetura colonial portuguesa foi a primeira onda de arquitetura a chegar ao Brasil e é a base de toda a arquitetura brasileira dos séculos posteriores. No século XIX, durante a época do Império, o país seguiu as tendências europeias e adotou a arquitetura neoclássica e neogótica. Então, no século XX, especialmente em Brasília, o Brasil experimentou a arquitetura modernista. A arquitetura colonial do Brasil data do início do século XVI, quando seu território foi explorado, conquistado e colonizado pelos portugueses, que construíram uma arquitetura familiar a eles na Europa, como igrejas, arquitetura cívica, incluindo casas e fortes nas cidades brasileiras e no campo. Durante o século XIX, a arquitetura brasileira foi introduzida a outros estilos europeus, que geralmente eram misturados com influências genuinamente brasileiras, que produziram uma forma única de arquitetura brasileira. Na década de 1950, a arquitetura modernista foi introduzida quando Brasília foi construída como nova capital federal no interior do Brasil. O arquiteto Oscar Niemeyer idealizou e construiu prédios governamentais, igrejas e prédios civis em estilo modernista. Cinema. A indústria cinematográfica brasileira começou no final do século XIX, nos primórdios da Belle Époque. Apesar de existirem produções nacionais de cinema no início do século XX, filmes estadunidenses como "Rio, o Magnífico", eram gravados no Rio de Janeiro para promover o turismo na cidade. Os filmes "Limite" (1931) e "Ganga Bruta" (1933), este último produzido por Adhemar Gonzaga através do prolífico estúdio Cinédia, foram mal recebidos no lançamento e falharam nas bilheterias, mas hoje são aclamados e colocados entre os melhores filmes brasileiros. Durante a década de 1960, o movimento Cinema Novo ganhou destaque com diretores como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Paulo Cesar Saraceni e Arnaldo Jabor. Os filmes "Deus e o Diabo na Terra do Sol" (1964) e "Terra em Transe" (1967), de Rocha, são considerados alguns dos maiores e mais influentes da história do cinema brasileiro. Durante a década de 1990, o Brasil assistiu a um surto de sucesso crítico e comercial com filmes como "O Quatrilho" (Fábio Barreto, 1995), "O Que É Isso, Companheiro?" (Bruno Barreto, 1997) e "Central do Brasil" (Walter Salles, 1998), todos indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o último também recebendo indicação de Melhor Atriz por Fernanda Montenegro. O filme policial de 2002, "Cidade de Deus", dirigido por Fernando Meirelles, foi aclamado pela crítica, alcançando 90% de aprovação no Rotten Tomatoes, sendo colocado na lista de Melhores Filmes da Década de Roger Ebert e recebendo quatro indicações ao Óscar em 2004, incluindo Melhor Diretor. Entre os principais festivais de cinema do Brasil incluem os festivais internacionais de cinema de São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília e Recife, além do Festival de Gramado, no Rio Grande do Sul. Pintura. A pintura brasileira surgiu no final do século XVI, sendo desde então influenciada por diversos movimentos artísticos, como barroco, rococó, neoclassicismo, romantismo, realismo, modernismo, expressionismo, surrealismo, cubismo e abstracionismo, tornando-se um estilo de arte importante chamado arte acadêmica brasileira. A Missão Artística Francesa chegou ao Brasil em 1816 com a proposta de criar uma academia de arte inspirada na conceituada Académie des Beaux-Arts, com cursos de graduação para artistas e artesãos para atividades como modelagem, decoração, carpintaria e outras. e trazendo artistas como Jean-Baptiste Debret. Com a criação da Academia Imperial de Belas Artes, novos movimentos artísticos espalharam-se pelo país durante o século XIX e posteriormente o evento denominado Semana de Arte Moderna rompeu definitivamente com a tradição acadêmica em 1922 e deu início a uma tendência nacionalista influenciada pelas artes modernistas. Entre os pintores brasileiros mais conhecidos estão Ricardo do Pilar e Manuel da Costa Ataíde (barroco e rococó), Victor Meirelles, Pedro Américo e Almeida Júnior (romantismo e realismo), Anita Malfatti, Ismael Nery, Lasar Segall, Emiliano di Cavalcanti, Vicente do Rego Monteiro e Tarsila do Amaral (expressionismo, surrealismo e cubismo), Aldo Bonadei, José Pancetti e Cândido Portinari (modernismo). Música. A música brasileira engloba vários estilos regionais influenciados por formas africanas, europeias e ameríndias. Desenvolveu-se em estilos e gêneros musicais diferentes, tais como música popular brasileira, música nativista, música sertaneja, vanerão, samba, choro, axé, brega, forró, funk brasileiro, frevo, baião, lambada, maracatu, tropicalismo, bossa nova e rock brasileiro, entre outros. A música do Brasil se formou, principalmente, a partir da fusão de elementos europeus e africanos, trazidos respectivamente por colonizadores portugueses e escravos. Até o século XIX Portugal foi a porta de entrada para a maior parte das influências que construíram a música brasileira, clássica e popular, introduzindo a maioria do instrumental, o sistema harmônico, a literatura musical e boa parcela das formas musicais cultivadas no país ao longo dos séculos. Na música clássica, um caráter especificamente brasileiro na produção nacional só se tornaria nítido após a grande síntese realizada por Villa Lobos, já em meados do século XX. O primeiro grande compositor brasileiro foi José Maurício Nunes Garcia, autor de peças sacras com notável influência do classicismo vienense. A maior contribuição do elemento africano foi a diversidade rítmica e algumas danças e instrumentos, que tiveram um papel maior no desenvolvimento da música popular e folclórica, florescendo especialmente a partir do século XX. O indígena praticamente não deixou traços seus na corrente principal, salvo em alguns gêneros do folclore, sendo em sua maioria um participante passivo nas imposições da cultura colonizadora. Com grande participação negra, a música popular desde fins do século XVIII começou a dar sinais de formação de uma sonoridade caracteristicamente brasileira. Literatura. A literatura brasileira surgiu a partir da atividade literária incentivada pelos jesuítas durante o século XVI. No séculos posteriores, o barroco desenvolveu-se no nordeste do país nos séculos XVI e XVII e o arcadismo se expandiu no século XVIII na região das Minas Gerais. No século XIX, o romantismo brasileiro afetou a literatura nacional, tendo como seu maior nome José de Alencar. Após esse período, o realismo brasileiro expandiu-se pelo país, principalmente pelas obras de Machado de Assis, poeta e romancista, cujo trabalho se estende por quase todos os gêneros literários e que é amplamente considerado o maior escritor brasileiro. Bastante ligada, de princípio, à literatura metropolitana, ela foi ganhando independência com o tempo, iniciando o processo durante o século XIX com os movimentos romântico e realista. Atingiu o ápice com a Semana de Arte Moderna em 1922, caracterizando-se pelo rompimento definitivo com as literaturas de outros países, formando-se, portanto, a partir do Modernismo e suas gerações as primeiras escolas de escritores verdadeiramente independentes. São dessa época grandes nomes como Manuel Bandeira, Carlos Drummond de Andrade, Guimarães Rosa, João Cabral de Melo Neto, Clarice Lispector e Cecília Meireles. Culinária. A cozinha brasileira varia muito de acordo com a região, refletindo a combinação de populações nativas e de imigrantes pelo país. Isto criou uma cozinha nacional marcada pela preservação das diferenças regionais. Os exemplos são a feijoada à brasileira, considerada o prato nacional do país; e os alimentos regionais, como churrasco gaúcho, beiju, feijão tropeiro, vatapá, moqueca, polenta, pão de queijo e acarajé. Ingredientes utilizados pela primeira vez pelos povos indígenas no Brasil incluem a mandioca, guaraná, açaí, cumaru e tacacá. A partir daí, muitas ondas de imigrantes trouxeram alguns de seus pratos típicos, substituindo ingredientes em falta com equivalentes locais. Por exemplo, os imigrantes europeus (principalmente de Portugal, Itália, Espanha, Alemanha, Polônia e Suíça) estavam acostumados a uma dieta à base de trigo e introduziram vinho, hortaliças e produtos lácteos na culinária local. Quando as batatas não estavam disponíveis, eles descobriram como usar a macaxeira nativa como um substituto. Os escravos africanos também tiveram um papel no desenvolvimento de culinária brasileira, especialmente nos estados costeiros. A influência estrangeira estendeu-se por ondas migratórias posteriores: os imigrantes japoneses trouxeram a maior parte dos alimentos que os brasileiros se associam com cozinha asiática. O Brasil também tem uma grande variedade de doces, como o brigadeiro, o beijinho e o bolo de rolo. A bebida nacional é o café, e a cachaça é uma bebida destilada nativa do Brasil. A cachaça é destilada a partir de cana-de-açúcar e é o ingrediente principal do coquetel nacional, a caipirinha. Esportes. O futebol é o esporte mais popular no Brasil. A Seleção Brasileira de Futebol é a única no mundo a participar de todas as edições da Copa do Mundo FIFA, sendo vitoriosa cinco vezes: 1958, 1962, 1970, 1994 e 2002. Voleibol, tênis de mesa, natação, futsal, capoeira, skate, surfe, judô e atletismo também estão entre os esportes mais praticados no país. Algumas variações de esportes têm suas origens no Brasil. Futebol de praia, futsal (versão oficial do futebol indoor), futetênis, futebol de saco e futevôlei emergiram de variações do futebol. Outros esportes também criados no país são a peteca, o acquaride, o frescobol, o sandboard e o biribol. Nas artes marciais, os brasileiros têm desenvolvido a capoeira, vale-tudo, e o jiu-jitsu brasileiro, entre outras artes marciais brasileiras. No automobilismo, pilotos brasileiros ganharam o campeonato mundial de Fórmula 1 oito vezes: Emerson Fittipaldi, em 1972 e 1974; Nelson Piquet, em 1981, 1983 e 1987; e Ayrton Senna, em 1988, 1990 e 1991. O circuito localizado em São Paulo, Autódromo José Carlos Pace, organiza anualmente o Grande Prêmio do Brasil de Fórmula 1. O Brasil já organizou eventos esportivos de grande escala: sediou as Copas do Mundo de 1950, na qual foi o vice-campeão, e 2014, quando ficou em quarto lugar. Em 1963, São Paulo foi sede dos Jogos Pan-Americanos e Porto Alegre da Universíada de Verão. A cidade do Rio de Janeiro sediou os Jogos Pan-Americanos de 2007 e também os Jogos Olímpicos de Verão de 2016, que contou com a participação de 207 delegações e mais de doze mil atletas. Brasília, originalmente escolhida para sediar a Universíada de Verão de 2019, declinou da escolha, em 21 de janeiro de 2015, alegando que a cidade não teria condições financeiras de sediar o evento. A FISU reabriu o processo de candidatura para uma nova sede para os Jogos.
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Geografia do Brasil
Geografia do Brasil Geografia do Brasil refere-se aos aspectos físicos naturais do país que, com mais de 8,5 milhões de quilômetros quadrados de extensão, é o quinto maior país do mundo. Localizado na América do Sul, seu relevo apresenta-se relativamente suave, composto por grandes bacias sedimentares, das quais destaca-se a bacia Amazônica, cercada por planaltos de altitudes moderadas. O ponto culminante do Brasil é o Pico da Neblina, com acima do nível do mar. De forma geral, a origem geológica do território é antiga, cujas formas de relevo suaves são resultados do contínuo intemperismo dos escudos cristalinos. Situado na zona tropical, ocorre o predomínio de climas quentes em boa parte do território, embora a pluviosidade varie desde regiões úmidas ao semiárido. No sul do Brasil, onde são registradas as menores temperaturas do país, o clima é subtropical. A abundância de chuvas em boa parte do território favorece a manutenção de uma das maiores redes hidrográficas do planeta, colocando o Brasil como principal detentor do potencial hídrico mundial. Grandes rios, como o Amazonas, São Francisco, Araguaia e Paraná, são os principais de suas grandes bacias de drenagem. Contudo, eventualmente o país enfrenta problemas dos extremos climáticos, como secas e inundações. A diversidade climática propicia ainda a existência de uma rica biodiversidade, atestada pela alta densidade de espécies nos principais biomas. Destaca-se a Floresta Amazônica, no norte do país, onde um complexo equilíbrio ecológico proporciona a manutenção da maior floresta tropical do mundo. Ao longo do litoral, restam somente fragmentos da Mata Atlântica, desmatada desde o início da colonização. As plantas e animais do cerrado e da caatinga adaptaram-se aos períodos prolongados de seca que comumente atingem a faixa central do país. O Brasil é banhado pelo oceano Atlântico a leste, em um litoral com trechos pouco recortados e com algumas centenas de ilhas costeiras. Somente cinco conjunto de ilhas estão mais afastadas da costa, dentre as quais o arquipélago de Fernando de Noronha e o Atol das Rocas. Distribuição e localização do território. Abrangendo uma área territorial de (com inclusão das águas internas), o Brasil é o país de maior extensão da América do Sul. É ainda o terceiro das Américas e o quinto do mundo: apenas a Rússia, o Canadá, a República Popular da China e os Estados Unidos (com Alasca e Havaí) são mais extensos. É muito grande que em seu território teriam cabido nações enormes como a Índia e a Austrália, e, por ser territorialmente muito extenso, o Brasil é tido como um país continental, ou seja, um país cujas dimensões geográficas são proporcionalmente continentais, sendo que seu território abrange 1,7% da área do globo terrestre, 5,7% das terras emersas da Terra, 20,8% da área das Américas e 47,3% do subcontinente sul-americano. Possivelmente é considerada tanto vantajosa quanto desvantajosamente a condição de país continental, no caso brasileiro. Por um lado, possui um grande espaço geográfico, com solos, climas e potencialidades produtivas diversificadas. Ao mesmo tempo, são encaradas dificuldades para a integração das populações habitantes desse território inteiro e para o atendimento às suas necessidades, o que, na sociedade, possivelmente é considerado como desvantagem. Mesmo assim, o espaço físico do Brasil é tido como único fora do comum, uma vez que é quase todo vantajoso, não tendo desertos, geleiras ou cordilheiras — as denominadas áreas anecúmenas, que não permitem que o território seja plenamente ocupado —, da mesma forma que acontece com a maioria dos grandes países da Terra. No Canadá, exemplificando, ocorrem certas áreas deste tipo, como a Ilha de Baffin e a Ilha Ellesmere, invadidas por geleiras; nos Estados Unidos, os desertos do Arizona e do Colorado. Mas as florestas equatoriais igualmente são tidas como áreas anecúmenas por geógrafos, porque quaisquer dos desastres naturais não permitem que a agricultura e a pecuária sejam econômica e vantajosamente implantadas, porque o índice de fertilidade dos solos é pequeno e uma vez que há uma grande quantidade de pragas e moléstias. Assim, somente a Amazônia é uma região onde há limitação no aproveitamento ocupacional, já que as condições da floresta equatorial amazônica são desvantajosas. Localização, fronteiras e pontos extremos. O território brasileiro é cortado por dois círculos imaginários: a linha do equador, que passa pela embocadura do Amazonas, e o Trópico de Capricórnio, que corta o município de São Paulo. Assim, possui a maior parte do seu território situado no hemisfério sul (93%), na zona tropical (92%), a menor parte no hemisfério norte (7%) e a outra na zona temperada do sul (8%). Situa-se entre os paralelos 5°16'19" de latitude norte e 33°45'09" de latitude sul e entre os meridianos 34°45'54" de longitude leste e 73°59'32" de longitude oeste. Como o Brasil tem o formato aproximado de um gigantesco triângulo, é mais extenso no sentido leste-oeste do que no sentido norte-sul. Entretanto, como essas distâncias são quase iguais, costuma-se dizer que o Brasil é um país equidistante: a distância leste-oeste em linha reta alcança e norte-sul . O país ocupa uma vasta área ao longo da costa leste da América do Sul e inclui grande parte do interior do continente, compartilhando fronteiras terrestres com Uruguai ao sul; Argentina e Paraguai a sudoeste; Bolívia e Peru a oeste; Colômbia a noroeste e Venezuela, Suriname, Guiana e com o departamento ultramarino francês da Guiana Francesa ao norte. Compartilha uma fronteira comum com todos os países da América do Sul, exceto Equador e Chile, e engloba uma série de arquipélagos oceânicos, como Fernando de Noronha, Atol das Rocas, São Pedro e São Paulo e Trindade e Martim Vaz. Totalizam-se então de fronteira, sendo terrestres e marítimas. Os pontos extremos do território brasileiro são: Divisão política. O Brasil é uma Federação constituída pela união indissolúvel de 26 estados-membros, um Distrito Federal e municípios, agrupados no interior de cinco regiões. Dentre os 26 estados, 17 são litorâneos e nove são interioranos. Existe ainda outra forma de regionalização não oficial criada por especialistas em geografia, na qual o país é dividido em três complexos geoeconômicos, chamados de Amazônia, Nordeste e Centro-Sul. Essas regiões não se baseiam em fronteiras, mas sim em aspectos histórico-econômicos. Há cerca de municípios em todo território nacional, alguns com população maior que a de vários países do mundo (cidade de São Paulo com mais de onze milhões de habitantes), outros com menos de mil habitantes; alguns com área maior do que vários países no mundo (Altamira, no Pará, é quase duas vezes maior que Portugal), outros com menos de quatro quilômetros quadrados. Os municípios em geral têm como sede a cidade, chamada de distrito-sede na maior parte dos casos em que o território municipal é dividido em distritos. As divisões políticas têm como objetivo o controle administrativo do território nacional e foram configuradas, cronologicamente, com a implementação das donatarias, as Capitanias Hereditárias e as Províncias e, finalmente, os estados e suas atuais divisões em distritos e os municípios. A elaboração da divisão em macrorregiões foi instituída em 1970, ao mesmo tempo que a disposição da área dos estados do território brasileiro se encontrava praticamente definida; somente Mato Grosso do Sul e Tocantins foram criados posteriormente à década de 70. Ainda hoje uma série de propostas de criação de unidades federativas do Brasil tramita na Câmara dos Deputados e no Senado Federal, embasadas, em geral, no objetivo de dar autonomia às sociedades locais. Fusos horários. O território brasileiro, incluindo as ilhas oceânicas, possui quatro fusos horários, todos a oeste do meridiano de Greenwich (longitude 0°). Em cada faixa de 15° entre pares de meridianos ocorre a variação de uma hora. Isso significa que o horário oficial no Brasil varia de 2 a 5 horas a menos em relação ao Tempo Universal Coordenado (UTC) — adotado em substituição ao "Greenwich Mean Time" (GMT) em 1986. O primeiro fluxo engloba as ilhas oceânicas (longitude 30° O) e tem 2 horas a menos que a UTC; o segundo (45° O) tem 3 horas a menos (UTC−3) e é a hora oficial do Brasil (horário de Brasília), abrangendo o Distrito Federal, Pará, Amapá, Tocantins, Goiás e as regiões Sul, Sudeste e Nordeste; o terceiro (60° O), que tem quatro horas a menos, inclui Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Roraima, Rondônia e grande parte do Amazonas; e o quarto e último fluxo engloba o estado do Acre e uma pequena parte do oeste do Amazonas. Em 2008, um projeto de lei, sancionado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, fez com que o fuso de UTC−5 fosse extinto no país, com sua respectiva região, integrando, a partir de então, o fuso de UTC−4. Além disso, todo o estado do Pará passou a integrar um único fuso horário, o de UTC−3. Porém, em 2010, realizou-se um referendo para a população do Acre e de parte do Amazonas, optando-se então pelo restabelecimento do horário antigo, efetuado oficialmente em 2013. Com isso, o fuso UTC−5 foi retomado, mas o Pará continua a fazer parte integralmente do fuso UTC−3. Horário de verão. Houve vários períodos em que o horário de verão não foi adotado, porém em todos os anos entre 1985 e 2018 deu-se a adoção do horário, no qual os relógios de parte dos estados são adiantados em uma hora num determinado período do ano. No período de outubro a fevereiro, é estabelecido o horário de verão nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul de forma regular. Nesses lugares, durante o verão, a duração do dia era significativamente maior do que a duração da noite, pois a mudança de horário retarda a entrada elétrica quanto ao pico de consumo de energia elétrica, quando as luzes das casas são acesas. Com isso o governo estimava diminuir em 1% o consumo nacional de energia. Nos outros estados a pequena diferença de duração entre o dia e noite em todas as estações do ano não favorece a adoção do novo horário. Em 25 de abril de 2019, o presidente Jair Bolsonaro assinou um decreto revogando o horário diferenciado no Brasil, com a alegação de que representaria uma economia de energia relativamente baixa e poderia causar desgaste na saúde da população. Além disso, segundo o Ministério de Minas e Energia, o horário de maior consumo de energia passou do período da noite para o meio da tarde. Geomorfologia. Situado na porção centro-leste da América do Sul, longe das bordas das placas tectônicas, o Brasil é formado por terrenos antigos e composições de relevo que foram esculpidas ao longo de bilhões de anos sobretudo pelo intemperismo, além de processos geológicos como orogênese e subsidência. A configuração geomorfológica atual do território começou a delinear-se somente a partir do período Cretáceo, quando a deriva continental levou ao surgimento do oceano Atlântico. Geologia. A formação geológica do território brasileiro apresenta origens antigas, que remontam ao período Pré-Cambriano. Dessa forma, as formações litológicas antigas passaram por várias fases erosivas que acabaram por desgastá-las e, ao mesmo tempo, dar origem a grandes bacias sedimentares. O Brasil situa-se no centro da Placa Sul-Americana, que tem em sua extremidade oeste a Cordilheira dos Andes e a leste a Dorsal Mesoatlântica. Os terrenos expostos mais antigos correspondem aos crátons, formados por rochas metamórficas cuja idade encontra-se entre 2 e 4,5 bilhões de anos. O cráton amazônico, dividido entre as porções norte e sul, apresenta predominantemente rochas intrusivas, como granito, além de depósitos sedimentares residuais. Destacam-se, ainda, com características similares, o cráton São Francisco, que se estende do norte de Minas Gerais ao centro da Bahia, e o cráton Sul-riograndense. Grandes cinturões orogênicos, processos que deram origem a cadeias de montanhas, desenvolveram-se também ao longo do período Pré-Cambriano. Dessa forma, três grandes cadeias montanhosas surgiram. A primeira delas, o cinturão orogênico do Atlântico, estende-se desde o leste da Região Nordeste até o litoral do Rio Grande do Sul. Nesta área existe uma grande complexidade de formações estruturais e litológicas, prevalecendo rochas metamórficas como gnaisses, migmatitos, quartzitos e micaxistos. Neste cinturão atualmente encontram-se importantes cadeias montanhosas, incluindo a Serra da Mantiqueira e a Serra do Espinhaço, moldadas pelo intemperismo, além de falhas geológicas. O cinturão orogênico de Brasília, por sua vez, estende-se desde o sul do Tocantins até o sudeste de Minas Gerais. Nesta região surgiram serras estreitas e alongadas, por vezes com a ocorrência de chapadas. Dentre as principais, destacam-se a Serra da Canastra e a Chapada dos Veadeiros. Por fim, o cinturão orogênico Paraguai-Araguaia estende-se desde o norte de Goiás até o sul do Mato Grosso e ressurge no sul do Pantanal, na serra da Bodoquena. É constituído por uma cadeia de serras oriundas de dobramentos antigos que ainda estão parcialmente preservados. O processo de erosão nos escudos cristalinos antigos criou grandes bacias sedimentares, sendo que no território brasileiro são três principais: a Bacia Amazônica, a do Parnaíba ou Maranhão, e a do Paraná. Os sedimentos foram sendo depositados ao longo do período fanerozoico, nos últimos 600 milhões de anos, dando origem a diferentes tipos de rochas sedimentares, como arenitos, siltitos e argilitos. Em especial na bacia do Paraná, derramamentos de lava ocorridos entre o período Jurássico e Cretáceo fizeram com que camadas de rochas magmáticas se depositassem sobre a camada de rochas sedimentares. Processos de epirogênese foram os responsáveis pelo soerguimento das bacias, e também pelo surgimento das escarpas em escudos cristalinos que, por sua vez, deram origem às escarpas das serras da Mantiqueira e do Mar. Por isso, no relevo atual podem ser encontrados terrenos sedimentares com cotas superiores à de escudos cristalinos. Dessa forma, as bacias sedimentares passaram por um intenso processo de erosão em suas bordas, originando depressões periféricas. No período Mesozoico, as bacias receberam a maior parte dos sedimentos que as compõem. Já no período Cenozoico, depósitos importantes ocorreram na parte ocidental da Bacia Amazônica e no litoral da Região Nordeste (período terciário) e, mais recentemente, na planície do Pantanal, na Ilha do Bananal e ao longo do curso do rio Amazonas e seus principais afluentes. Recursos minerais. O Brasil detém uma parcela considerável dos recursos minerais do mundo, razão pela qual é um dos principais exportadores de minérios. Mais de uma centena de substâncias minerais são extraídas do solo brasileiro, das quais destaca-se a produção de ferro (sobretudo no Quadrilátero Ferrífero) e nióbio, elementos dos quais o país é o maior exportador mundial. É importante ainda a extração de caulim, tantalita, bauxita, grafita, amianto, cassiterita, magnesita, vermiculita, rochas ornamentais, talco, rocha fosfática e ouro. As reservas brasileiras de petróleo e gás natural concentram-se principalmente em regiões oceânicas ao longo do litoral, além de quantidades menores na Amazônia. Reservas importantes foram descobertas recentemente na camada pré-sal. Reservas importantes de carvão mineral encontram-se concentradas na Região Sul, destinadas sobretudo a alimentar as usinas termelétricas do país. A produção de urânio está concentrada em uma única jazida em Caetité, na Bahia, onde é encontrada a uraninita, destinada às usinas nucleares do país. Relevo. O território brasileiro apresenta relevo relativamente pouco acidentado, sem grandes e elevadas cadeias montanhosas. Isto se deve ao fato de que as estruturas geológicas do país, em sua maioria, são antigas. Por esta razão, as rochas dos escudos cristalinos, originados no pré-cambriano, passaram por um longo processo de intemperismo e erosão, criando formas de relevo mais suaves, assim como grandes bacias sedimentares, que datam, em sua maioria, dos períodos Cenozoico e Mesozoico. O ponto culminante do Brasil, o Pico da Neblina, encontra-se na Serra do Imeri, no norte do Amazonas, com altitude de metros acima do nível do mar, conforme obtido pelo Projeto Pontos Culminantes do Brasil. Em segunda posição está o Pico 31 de Março, na mesma cadeia montanhosa, com metros. O Pico da Bandeira, na Serra do Caparaó, ocupa o terceiro lugar, com 2892 metros, e a Pedra da Mina, na Serra da Mantiqueira, a quarta posição, com metros. Contudo, a maior parte do território brasileiro possui cota inferior aos metros. As unidades do relevo brasileiro são normalmente divididas entre planícies, planaltos e depressões, de acordo com a classificação de Jurandyr Ross, elaborada, sobretudo, com base na classificação de Aziz Ab'Saber e nos dados do Projeto Radambrasil. Planaltos. Os planaltos são caracterizados por serem circundados por grandes depressões, o que torna evidente a maior resistência de suas rochas a processos erosivos em relação às áreas adjacentes. Planaltos localizados em bacias sedimentares são comumente caracterizados pela presença de cuestas em seus limites. Dentre estas unidades estão os planaltos da Bacia Amazônica oriental e ocidental, além dos planaltos e chapadas da bacia do Rio Parnaíba e da Bacia do Paraná. Planaltos em estruturas cristalinas são caracterizados pela presença de serras e morros associados a intrusões vulcânicas e dobramentos antigos. Dentre estas unidades, estão os planaltos residuais norte amazônicos, sul amazônicos e a Chapada dos Parecis. O Planalto da Borborema e o Planalto Sul-rio-grandense foram formados a partir do soerguimento de dobramentos antigos. Grandes planaltos em cinturões orogênicos estão localizados sobretudo no centro e no sudeste do país, caracterizados por grandes cadeias de serras, remanescentes das estruturas de dobramentos antigos atacadas pelo intenso processo erosivo. Dentre as cadeias montanhosas situadas neste planalto estão a Serra da Mantiqueira e a Serra do Espinhaço. Este conjunto constitui o Planalto Brasileiro, que ocupa uma grande extensão no interior do país. Depressões. Estas unidades de relevo são marcadas pelo intenso processo erosivo em escudos cristalinos, interpondo-se entre os planaltos e as planícies. Embora os planaltos também exibam marcas do intemperismo, as depressões foram ainda mais afetadas pelas variações paleoclimáticas, sobretudo ao longo dos períodos Terciário e Quaternário. Contudo, a depressão da Amazônia ocidental distingue-se das demais por ter uma gênese diferenciada, a partir de processos fluviais que acabaram por dar origem a um terreno aplainado e com pequenas e baixas colinas suaves. As demais depressões, que normalmente são cercadas por escudos cristalinos, encontram-se em grandes bacias. Dentre elas, podem ser destacadas as depressões norte e sul amazônica, do Alto Paraguai e do Guaporé, do Araguaia e do São Francisco, também conhecida como Pernambucana. Planícies. As planícies são formadas a partir da deposição de sedimentos de origem fluvial, lacustre ou marinha, caracterizadas por sua topografia plana. No interior do país, encontram-se associadas a grandes rios. Uma das principais é a Planície Amazônica, que segue ao longo do Rio Amazonas e seus principais afluentes. Outras planícies importantes são a do Guaporé, a do Araguaia e a do Paraguai. Esta última constitui parte do Pantanal, uma grande planície alagável, com biodiversidade peculiar. No extremo litoral sul, encontra-se a planície das lagoas dos Patos e Mirim, formada a partir de depósitos lacustres e marinhos. Ao longo do litoral, existem planícies de pequena extensão, normalmente associadas à foz de rios importantes, como o Rio Doce e o Rio Paraíba do Sul. Pedologia. Devido à heterogeneidade das condições geológicas e ambientais do território brasileiro, uma grande diversidade de solos é encontrada por todo o país. Para sistematizar a classificação, foi criado o Sistema Brasileiro de Classificação de Solos, que inclui em si as características peculiares encontradas no território. Os latossolos são os mais representativos do país, ocupando uma grande extensão espalhada ao longo de todo o território. Possuem um bom potencial agrícola quando corretamente corrigidos com a adição de calcário e fertilizantes químicos. Neossolos, por outro lado, são pouco desenvolvidos, ou seja, estão pouco degradados e apresentam uma grade fração de pedras, sendo, portanto, não utilizáveis para a agricultura. Nitossolos, por outro lado, possuem alta fertilidade, mas são encontrados em faixas restritas, cobrindo menos de 1% da superfície nacional. Organossolos, ricos em matéria orgânica, ocorrem por todo o país, contudo somente em pequenas áreas. É notável, ainda, a terra preta da Amazônia, um solo antropogênico altamente fértil, desenvolvido por povos indígenas há milhares de anos. Riscos geológicos. Os principais desastres naturais que ocorrem no Brasil são inundações e deslizamentos de terra. Estes problemas ocorrem por todo o território, mas sua frequência é maior em grandes metrópoles nas Regiões Sudeste e Nordeste, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, em sua região serrana, e em Recife, onde a ocupação desordenada é responsável por grandes prejuízos. Áreas instáveis, onde uma fina camada de solo recobre as rochas no interior das montanhas, perdem a estabilidade ao serem ocupadas sem o devido planejamento. Subsidências também ocorrem pontualmente, causadas pela acomodação do solo em cavidades criadas pela dissolução de rochas calcárias, criando desde pequenas depressões até grandes afundamentos. Em algumas cidades litorâneas, principalmente no Maranhão e no Rio de Janeiro, a sedimentação eólica também é responsável por grandes prejuízos, onde dunas móveis avançam sobre a zona urbana e estradas. Ao longo de vários locais na costa, a erosão marinha causa transtornos, e tende a se tornar cada vez mais intensa, com o aumento do nível do mar. A erosão hídrica, causada principalmente pelos ciclos de chuva, é responsável pela perda de grandes áreas cultiváveis e danos à infraestrutura. Este problema se torna mais intenso conforme ocorre o desmatamento e a ocupação e manejo inadequado do solo. Na Amazônia, é comum ainda a erosão fluvial, em que a própria dinâmica dos rios desgasta suas margens, causando seu colapso. O território brasileiro está livre da ocorrência de grandes terremotos por estar situado no centro da Placa Sul-Americana. Contudo, pequenos sismos, que atingem até 5 pontos na escala Richter são comuns, sendo que somente uma morte causada por um terremoto foi registrada até o presente momento, em Itacarambi, Minas Gerais. Não há também ocorrências de desastres relacionados a vulcanismos e tsunamis. Clima. O clima do Brasil é diversificado em consequência de fatores variados, como a fisionomia geográfica, a extensão territorial, o relevo e a dinâmica das massas de ar. Este último fator é de suma importância porque atua diretamente tanto na temperatura quanto na pluviosidade, provocando as diferenças climáticas regionais. As massas de ar que interferem mais diretamente são as equatoriais (continental e atlântica), tropicais (continental e atlântica) e a polar atlântica. Dessa forma, o país dispõe de uma ampla variedade de condições de tempo em uma grande área e topografia variada, mas a maior parte do país é tropical, devido à posição do território brasileiro entre os trópicos de Câncer e Capricórnio. As diferentes condições climáticas produzem ambientes que variam de florestas equatoriais no Norte e regiões semiáridas no Nordeste, para florestas temperadas de coníferas no Sul e savanas tropicais no Brasil central, ao mesmo tempo que muitas regiões têm microclimas totalmente diferentes. Sobressaltam-se seis tipos climáticos: Fenômenos adversos. A configuração climática natural, geralmente associada a fatores relacionados à ação do homem, a exemplo do desmatamento e da emissão de dióxido de carbono nos grandes centros urbanos, proporciona ocasionais fenômenos adversos com impacto direto ou indireto à população ou à propriedade. Enquadram-se nesse contexto eventos pontuais de precipitações intensas nas regiões Sul e Sudeste e as secas que afetam sobretudo o sertão nordestino. O país tem 11% de seu território dentro do polígono das secas, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), área a qual a falta d'água implica imbróglios em pequenas lavouras e criações e posteriormente na fome e na redução da qualidade de vida no interior nordestino, além da migração para os grandes centros urbanos. Ainda assim, a construção de cisternas e açudes públicos visa a favorecer o máximo aproveitamento da água acumulada pelas chuvas escassas. Por outro lado, a grande extensão territorial do Brasil e sua posição na zona tropical fazem com que seja o país onde ocorre a maior quantidade de raios em todo o mundo, concentrados sobretudo na região amazônica. Ocorrências de granizo, vendavais e tornados, observadas principalmente sobre a Região Sul, também são associadas às temperaturas elevadas e à existência do chamado corredor dos tornados da América do Sul. As chuvas volumosas, agravadas pelas construções de residências em encostas de morros, pelo lixo e esgoto despejados sem o devido controle e pelo adensamento urbano em cidades cujo crescimento da malha urbana ocorreu sem planejamento, culminam em enchentes e deslizamentos de terra. De forma mais esporádica, combinações de anomalias climáticas e atmosféricas sobre o oceano podem levar a registros de fenômenos semelhantes ao Ciclone Catarina, que foi o primeiro ciclone tropical observado via imagens de satélite a alcançar a força de um furacão no sul do Atlântico, tendo afetado cidades do litoral dos estados de Santa Catarina e Rio Grande do Sul com chuvas volumosas e rajadas de vento em março de 2004. A neve, por sua vez, ocorre com regularidade anual apenas acima dos metros de altitude (constituindo uma pequena área entre os estados de Rio Grande do Sul e Santa Catarina), sendo, nas áreas mais baixas, de ocorrência mais esporádica, não ocorrendo todos os anos. Nos pontos mais altos do planalto, onde pode ocorrer a neve durante os dias de inverno, estão situadas as cidades mais frias do país: São Joaquim e Urupema, em Santa Catarina, e São José dos Ausentes, no Rio Grande do Sul, as três com temperatura média anual de . O local mais frio do país é creditado ao cume do morro da Igreja, no município de Urubici, próximo a São Joaquim, o ponto habitado mais alto da Região Sul do país. As geadas ocorrem nas latitudes maiores que 18º, englobando os estados do Sul e partes de Minas Gerais, São Paulo, Rio de Janeiro, Mato Grosso do Sul e Goiás. Recursos hídricos. Os rios brasileiros são os recursos naturais pelos quais são formadas as redes de drenagem que têm maior tamanho e importância do mundo e, por essa razão o Brasil é convertido num dos países que têm maior riqueza em potencial hidráulico. Dessa forma, o país possui uma das mais amplas, diversificadas e extensas redes fluviais da Terra, contando com a maior reserva mundial de água doce e o maior potencial hídrico do planeta. Dispõe de cerca de 8% de toda a água dulcícola presente na superfície terrestre e seu território abrange ainda a maior bacia fluvial do mundo, a Amazônica. O rio Amazonas está entre os rios mais extensos do mundo e ao desaguar libera aproximadamente 20% de toda a água doce que é despejada nos oceanos. Grandes volumes hídricos também se encontram abaixo da superfície, em meio às rochas que formam os aquíferos. Os grandes aquíferos do país são formados por rochas sedimentares, onde a água é armazenada por entre os grãos que as constituem. Destacam-se no território brasileiro o Aquífero Guarani, sob a bacia do Paraná, e o Aquífero Alter do Chão, na região amazônica. Dadas as características do relevo, a maior parte dos rios brasileiros é de planalto, apresentando-se encachoeirados e permitindo, assim, o aproveitamento hidrelétrico, enquanto que a caudalosidade proporciona um relevante potencial hídrico no desenvolvimento de sistemas de captação de água, irrigação e transporte. Merecem destaque também as quedas-d'água de Urubupungá (no rio Paraná), Iguaçu (no rio Iguaçu), Pirapora, Sobradinho, Itaparica e Paulo Afonso (no rio São Francisco), onde estão localizadas usinas hidrelétricas. De modo efetivo, os rios são a base constituinte da mais importante fonte de energia elétrica para o Brasil. Numa variedade de regiões, os rios são também muito importantes como vias de navegações. Em um grande número de rios, a pesca é a atividade mais importante da economia fluvial. Os rios brasileiros apresentam regime de alimentação pluvial, ou seja, são alimentados pelas águas das chuvas. Em decorrência de o clima tropical predominar na maior parte do território, as cheias ocorrem durante o verão, constituindo exceção alguns rios nordestinos, cujas cheias ocorrem entre o outono e o inverno. Os rios do sul não têm vazante acentuada, devido à boa distribuição das chuvas na região, assim como os da Bacia Amazônica, também favorecidos pela uniformidade pluviométrica da região. Sendo assim, a maior parte dos rios brasileiros é perene, isto é, nunca seca. Mas na região semiárida do Nordeste há rios que podem desaparecer durante uma parte do ano, na estação seca: são os chamados rios temporários ou intermitentes. Os centros dispersores — ou seja, as porções mais altas do relevo que separam as bacias fluviais — que merecem destaque no Brasil são três: a cordilheira dos Andes, onde nascem alguns rios que formam o rio Amazonas; o planalto das Guyanas, de onde partem os afluentes da margem esquerda do rio Amazonas; e o Planalto Brasileiro, subdividido em centros dispersores menores. A drenagem é predominantemente exorreica, ou seja, os rios correm em direção ao mar, como o Amazonas, o São Francisco, o Tocantins e o Parnaíba. Pouquíssimos são os casos de drenagem endorreica, em que os rios se dirigem para o interior do país, desaguando em outros rios, como o Negro, o Purus, o Paraná, o Iguaçu e o Tietê. Ao desembocarem em outro curso ou no oceano, os rios podem apresentar-se com uma foz do tipo estuário, com um único canal, ou do tipo delta, com vários canais entremeados de ilhas; ocorre, excepcionalmente, o tipo misto. No Brasil, predominam rios com foz do tipo estuário, com exceção do rio Amazonas, que possui foz do tipo misto, e de rios como Paranaíba, Acaraú, Piranhas e Paraíba do Sul, que possuem foz do tipo delta. Bacias hidrográficas. Sete bacias hidrográficas predominam sobre o território brasileiro. Até 2003, tal divisão era levada em consideração pelo Conselho Nacional de Recursos Hídricos (CNRH) a título de gerenciamento e planejamento dos recursos hídricos no Brasil, no entanto a instância passou a levar em consideração para tal fim a divisão brasileira entre as 12 chamadas regiões hidrográficas. Diferem-se das bacias no fato de possuírem utilidade administrativa e por estarem restritas ao espaço territorial brasileiro. Sobressaltam-se então as bacias: Lagos e ilhas fluviais. O Brasil possui poucos lagos, classificados em lagos de erosão, formados por processos erosivos que ocorrem em especial no Planalto Brasileiro; e lagos de barragem, que são resultantes da acumulação de materiais e subdividem-se em lagunas ou lagoas costeiras, formadas a partir de restingas, tais como as lagoas dos Patos e Mirim, no Rio Grande do Sul, e lagoas de várzea, formadas quando as águas das cheias ficam alojadas entre barreiras de sedimentos deixados pelos rios ao voltarem ao seu leito normal. São comuns na Amazônia, no Pantanal e nas bordas litorâneas, onde são mais comumente chamados de lagoas. A hidrografia brasileira também abrange algumas das maiores ilhas fluviais do mundo, as quais são mais comuns em rios caudalosos e de planície onde o processo de sedimentação é lento. A Ilha de Marajó, situada na desembocadura do Rio Amazonas, é a maior ilha fluviomarinha da superfície da Terra. Com mais de , sua área é comparável a países como Holanda e Suíça e abriga 16 municípios. A Ilha do Bananal, localizada entre os rios Araguaia e Javaés, no estado do Tocantins, corresponde à maior ilha fluvial do mundo, com um total de , dos quais dois terços são alagados. O arquipélago de Mariuá, situado no leito do rio Negro, possui 700 ilhas distribuídas ao longo de uma extensão de 140 quilômetros, configurando-se como o maior arquipélago fluvial da Terra. Situado a jusante de Mariuá, Anavilhanas é o segundo maior arquipélago, com um total de 400 ilhas locadas ao longo de 100 quilômetros. Litoral e zona oceânica. O Brasil é banhado a leste pelo oceano Atlântico desde o cabo Orange até o arroio Chuí, numa extensão de , que aumenta para se forem levadas em consideração as saliências e as reentrâncias, encontrando-se ao longo da costa uma alternância de praias, falésias, dunas, mangues, recifes, baías, restingas e outras formações menores. A costa brasileira sofre influência climática de três correntes marítimas: a das Guyanas e a Brasileira, que são quentes, e a das Malvinas (ou Falklands), que é fria. A corrente das Guyanas banha o litoral norte e a Brasileira o litoral leste, enquanto que a corrente das Malvinas, proveniente do Polo Sul, banha um pequeno trecho do litoral sul. Quanto ao relevo, a plataforma continental brasileira submerge até 200 metros, seguida de declive abrupto, o talude continental, cujo desnível que alcança varia de metros de profundidade no litoral da Região Norte a metros no litoral do Sul até a região pelágica, onde surgem as bacias dorsais e oceânicas (ou seja, cordilheiras submarinas). Abaixo desse limite inicia-se a região abissal. A largura da plataforma continental é bastante variável, alcançando cerca de do litoral do Pará e estreitando-se bastante ao longo litoral nordestino, mas se mostrando alargada junto à foz dos grandes rios, onde há o acumulo de muitos depósitos de cascalho, areia e outros sedimentos. Tais características resultam em marés baixas em geral, com amplitudes que oscilam de 2 a 4 metros. Apenas o litoral maranhense registra marés altas, com médias de até 8 metros em São Luís. A configuração geológica, aliada às condições climáticas, favorece o transporte marítimo durante todo o ano, além do desenvolvimento de atividades econômicas como a exploração do petróleo em alto mar e do turismo e da pesca na costa. Cabe ressaltar que a exploração petrolífera na plataforma continental responde por mais de 70% da produção brasileira do combustível, bastante incitada com a descoberta da camada pré-sal, cuja formação ocorreu durante o processo de abertura do oceano Atlântico após a quebra do supercontinente. Ademais, cerca de 95% do sal consumido no país é extraído no litoral do Rio Grande do Norte, onde a presença de sol durante quase todo o ano, a baixa pluviosidade e os ventos intensos favorecem a evaporação da água do mar e o acúmulo do composto em salinas. A zona econômica exclusiva do país foi conferida mediante a lei nº 8.617, de 4 de janeiro de 1993, e conta com mais de 3,6 milhões de km², correspondendo a cerca de 52% da área continental. Não há um consenso quando à divisão da costa brasileira, tendo apenas compartimentações que levam em consideração diferentes elementos e características específicas em comum, tais como o clima e a geomorfologia. O estudo de Tessler e Samara, por exemplo, considera a formação do litoral, levando à divisão em Litoral Amazônico; Litoral Nordestino de Barreiras; Litoral Oriental; Litoral Sudeste ou de Escarpas Cristalinas; e Litoral Meridional ou Subtropical. A seguir, é listada uma descrição do litoral brasileiro por região. Ilhas oceânicas. Em sua maioria, as ilhas brasileiras são costeiras, situadas junto ao litoral e apoiadas sobre a plataforma continental. Há centenas delas, destacando-se, dentre outras, as ilhas do arquipélago dos Abrolhos, a Ilha de São Sebastião, a Ilha de São Vicente e as três capitais estaduais sediadas em ilhas: Florianópolis, Vitória e São Luís. Há também as ilhas oceânicas, que ficam distantes do litoral e emergem da Dorsal Atlântica, sendo que cinco pertencem ao Brasil. Biodiversidade. A diversidade geomorfológica e climática do território brasileiro proporciona condições favoráveis para o desenvolvimento de diversos ecossistemas, os quais abrigam uma rica biodiversidade. Estima-se que dois milhões de espécies de microorganismos, plantas e animais encontram-se no Brasil, das quais muitas são endêmicas, o que corresponde de 10 a 30% dos seres vivos de toda a Terra, embora muitos dos seres vivos ainda não tenham sido completamente descritos pela ciência. O Brasil encontra-se inserido na região biogeográfica neotropical. Somente 16% do território continental e 0,5% da zona marinha brasileira estão protegidos, distribuídos em mais de unidades de conservação federais, estaduais e privadas. Flora. Ao longo de seus 8,5 milhões de quilômetros quadrados de extensão territorial, uma diversidade de formas de relevo e climas se apresentam sobre o país. Esta diversidade tem reflexo direto nas formações vegetais que cobrem o território. A maior parte do Brasil era originalmente coberta por florestas, sobretudo no norte e ao longo do litoral, enquanto que vegetações mais abertas se estendem ao longo de uma faixa que corta o centro do país de nordeste a sudoeste. A Amazônia representa um dos mais importantes domínios fitogeográficos do mundo, cuja maior parte se encontra em território brasileiro. A maior extensão contínua de florestas da Terra situa-se em uma planície e é capaz de regular o ciclo hidrológico da sua grande bacia de drenagem. Possui uma grande densidade de espécies vegetais, sendo que em somente um hectare de floresta (10 mil m²) encontram-se de duzentas a trezentas espécies de árvores. As formações florestais amazônicas podem ser classificadas de acordo com o regime de inundação. A mata de terra firme, mais de 90% da floresta, situa-se nas áreas que normalmente não ficam cobertas por água. Apresentam grandes árvores, com mais de 60 metros de altura, e vegetação densa. A mata de igapó, por outro lado, encontra-se em áreas permanentemente alagadas, onde estão árvores mais baixas e de ramificação densa. Entre estas áreas está a mata de várzea, onde as inundações ocorrem sazonalmente. A faixa central do Brasil é coberta por savanas, que constituem o bioma do cerrado. Caracteriza-se por sua grande variedade de ambientes, desde formações campestres até concentrações arbóreas, em função da grande área sobre o qual se estende, embora os solos em geral sejam pobres em nutrientes. O cerrado arbóreo é formado por árvores baixas, espaçadas e tortuosas, com raízes profundas para a retirada de água, mesmo apesar de escassez de água não ser limitante para o desenvolvimento das plantas. Queimadas de pequena escala contribuem para o equilíbrio ecológico do bioma, ao permitir o controle de espécies gramíneas e brotamento das árvores. No nordeste brasileiro, onde estão os menores índices pluviométricos, encontra-se a caatinga, cujo nome provém da língua tupi e significa "mata branca". As formações vegetais são esparsas e deciduais, desenvolvendo-se sob uma estação curta de chuvas e um longo período de estiagem. Apesar das condições ambientais, é grande a diversidade de espécies do sertão, que se distribuem nas matas secas, predominantes, além do agreste, formações florestais esparsas com árvores de folhas grandes, e campos secos sobre as chapadas. Em uma espécie de transição entre o domínio amazônico, o cerrado e a caatinga, também há de se ressaltar a presença da mata dos cocais, que ocorre entre os estados do Maranhão, Piauí, Ceará, Pará e o norte do Tocantins e é marcada pela diversidade de palmeiras, em especial o babaçu (no interior) e a carnaúba (em áreas mais secas). Ao longo do litoral brasileiro, a umidade proveniente do oceano permitiu a formação da Mata Atlântica, uma floresta densa, com árvores altas, que se estendia desde o Rio Grande do Norte ao Rio Grande do Sul. As grandes formações de relevo sobre a qual encontra-se a floresta permitiram o surgimento de uma grande diversidade de espécies que se adaptaram conforme a altitude. Contudo, atualmente, somente 8% de toda a floresta ainda permanecem, sobretudo na Serra do Mar e da Mantiqueira, tamanho o desmatamento que se iniciou desde a colonização. Em transição entre os ambientes terrestre e marinho se encontram os manguezais, ecossistema costeiro ecótono que se distribui ao longo de quase todo o litoral brasileiro, entre o norte do Amapá e Santa Catarina. Sua fisionomia vegetal é resistente ao efeito das marés e à salinização e é constituída em geral por espécies arbustivas que se desenvolvem em bancos de lama e sal. Nos planaltos do sul, a mata de araucárias domina a paisagem, formada sobretudo por coníferas, em especial as araucárias, adaptadas ao clima úmido e com temperaturas moderadamente baixas, além de solos férteis. A distribuição de espécies na floresta está intimamente ligada à altitude. Por fim, grandes extensões de vegetação campestre se distribuem sobre o território, em especial no Rio Grande do Sul, onde formam os pampas, onde as gramíneas encontram-se em banhados próximo ao litoral e sobre as colinas suaves do interior. Destaca-se, ainda, a planície inundável do Pantanal, onde um grande mosaico de vegetação típica de cerrados, florestas e vegetação higrófila compõem a paisagem. Recursos vegetais. A flora do Brasil é uma das de maior exuberância e variedade do mundo. Na totalidade das regiões do país encontram-se plantas comercialmente valiosas. Na Floresta Amazônica, são destacadas a seringueira, o caucho, a castanheira, o mogno, o pau-marfim, o pau-roxo, o guaraná, o pau-rosa, o murumuru, além da existência de um sem-número de demais espécies. O babaçu ocorre na transição entre as regiões Norte e Nordeste. Nesta, são destacados os carnaubais, além da baraúna, da aroeira, do xique-xique, do umbu e demais espécies. Da Mata Atlântica, não se deve esquecer de mencionar o jacarandá, o cedro e a peroba. No Sul do país, as espécies dominantes são o pinheiro-do-paraná, a imbuia, o ipê e a erva-mate. Fauna. A rica vida selvagem do Brasil reflete a variedade de "habitats" naturais, de forma que o território brasileiro abranja uma das maiores diversidades de espécies em todo o mundo. Em 2008, uma em cada onze espécies de mamíferos conhecidas na Terra era registrada no Brasil, que contava naquele ano com um total de 522 espécies mamíferas; além de uma em cada seis espécies de aves, com um total de espécies registradas no país; uma em cada quinze espécies de répteis, sendo 468 espécies registradas; e uma em cada oito espécies de anfíbios, com 516 espécies registradas. O endemismo também é uma característica notável na fauna brasileira, com registros de 68 espécies endêmicas de mamíferos, 191 espécies endêmicas de aves, 172 espécies endêmicas de répteis e 294 espécies endêmicas de anfíbios. Em contrapartida, no ano de 2014, espécies foram apontadas como ameaçadas de extinção, estado de conservação o qual está relacionado, na maior parte dos casos, à ação humana de destruição dos "habitats" para ceder espaço à pecuária e à expansão urbana. A fauna da Floresta Amazônica tem a maior riqueza e diversidade do Brasil. Dentre os macacos são destacados os saís, os macacos-de-cheiro, os barrigudos, os guaribas e os saguis. São também bastante numerosos os cachorros-do-mato, quatis, furões, jaguatiricas e preguiças. O peixe-boi, o boto-branco e o tucuxi são animais de exclusividade dessa região. O jacamim, o pavãozinho-do-pará, a arara-vermelha, o pavão-do-mato são aves típicas da Amazônia, enquanto que dentre os ofídios é importante mencionar, por serem grandes, as jiboias e as sucuris. Dentre os peixes da Amazônia são salientados o pirarucu, as raias, tucunaré, poraquê e o baiacu. São encontrados também jacarés, tartarugas e o surubim (este em abundância ao sul da Amazônia). A fauna pantaneira também se destaca quanto à diversidade de espécies animais, sendo o bioma considerado como um dos maiores centros de reprodução das Américas. Aves como o jaburu, a garça, a arara-azul-grande e o biguá; mamíferos como a onça-pintada, o cervo-do-pantanal e o lobo-guará; répteis como a sucuri; e peixes como a piramboia, o dourado e o lambari representam algumas das espécies típicas do ambiente pantaneiro. Nas áreas de cerrado e da caatinga, a fauna tem menor riqueza do que na Floresta Amazônica. Os tatus são frequentes, merecendo destaque o canastra e o peba. Dentre os lagartos, são salientados o senembi ou iguana. Os ofídios são em grande número, merecendo destaque a jararaca e o surucucu-pico-de-jaca. Na fauna da Mata Atlântica, por sua vez, os mamíferos representativos são, de um lado, os marsupiais, destacando-se os gambás e as cuícas, e, por outro lado, os macacos, dentre os quais são destacados o macaco-aranha (o maior da América do Sul) e o guariba. O mico-leão-dourado, espécie endêmica do bioma tropical atlântico ameaçada de extinção que fora historicamente bastante visada pelo tráfico ilegal de animais silvestres, sobressai-se atualmente como um símbolo da conservação da Mata Atlântica brasileira, bem como os muriquis. Os demais animais frequentes nessa área são irara, o cangambá, o serelepe e o tamanduá. Finalmente, na floresta ombrófila mista, as raposas-do-campo e os veados são encontrados em grande abundância. Nessa região, existem mais de 40 espécies de aves que não se encontram no restante do país, cabendo ressaltar o mergulhão e o albatroz, e de vez em quando, o Rio Grande do Sul recebe a chegada do pinguim.
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Governo federal do Brasil
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Brasileiros
Brasileiros Os brasileiros formam uma nacionalidade ligada de forma indissociável ao Estado Brasileiro, ou seja, a característica fundamental de um brasileiro é sua ligação com o Brasil. Um brasileiro pode ser também uma pessoa nascida em outro país de um pai brasileiro ou mãe brasileira ou um estrangeiro morando no Brasil, que solicitou a cidadania brasileira. No período que se seguiu à descoberta do território brasileiro pelos europeus, a designação "brasileiro" foi dada aos comerciantes portugueses de pau-brasil, referindo-se exclusivamente àquela atividade, visto que os habitantes da terra eram, na sua maioria, índios, ou portugueses nascidos em Portugal, ou no território agora denominado Brasil. No entanto, desde muito antes da Independência e fundação do Império do Brasil, em 1822, tanto no Brasil como em Portugal, já era comum se atribuir o gentílico "brasileiro" a uma pessoa, normalmente de clara ascendência portuguesa, residente ou cuja família residia no Estado do Brasil (1530-1815), pertencente ao Império Português. Durante a vigência do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves (1815-1822), no entanto, houve confusões quanto à nomenclatura. Definição. Segundo a Constituição do Brasil, os cidadãos brasileiros podem ser: Naturalizados. Um estrangeiro vivendo no Brasil, que solicitou e foi aceito como um cidadão brasileiro é naturalizado. Segundo a Constituição, todas as pessoas que possuem a cidadania brasileira são iguais, independentemente de raça, etnia, gênero ou religião. Um estrangeiro pode optar pela cidadania brasileira após viver por 15 anos ininterruptos no Brasil e ser capaz de falar português. Uma pessoa nativa de um país cuja língua oficial é o português (Portugal, Angola, Moçambique, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial e Timor-Leste) pode solicitar a nacionalidade brasileira depois de apenas um ano ininterrupto de vida no Brasil. Uma pessoa de origem estrangeira que tem cidadania brasileira tem exatamente os mesmos direitos e deveres de um cidadão brasileiro de nascimento, mas não pode ocupar alguns cargos públicos especiais, como a Presidência da República, a Vice-Presidência da República, o Ministro da Defesa, a Presidência do Senado, a Presidência da Câmara dos Deputados, ser oficial das Forças Armadas do Brasil e Diplomata. A prerrogativa portuguesa. De acordo com a Constituição brasileira, o povo português tem um estatuto especial no Brasil. O artigo 12, parágrafo primeiro da Constituição, concede aos cidadãos de Portugal, com residência permanente no Brasil "os direitos inerentes aos brasileiros", excluídas as prerrogativas constitucionais de um brasileiro nato. Requisitos para a concessão de igualdade são: local de residência habitual (permanente), a idade da maioridade e a formulação de um pedido ao Ministério da Justiça. No Brasil, os portugueses podem exigir igualdade de tratamento no que diz respeito aos direitos civis, além disso, eles podem solicitar que sejam concedidos direitos políticos concedidos a brasileiros (exceto os direitos exclusivos para os brasileiros natos). Neste último caso, isso requer um mínimo de três anos de residência permanente. O uso da cidadania por cidadãos não brasileiros (neste caso, portugueses) é uma rara exceção ao princípio de que a nacionalidade é uma condição "sine qua non" para a cidadania, concedida aos portugueses - se com um tratamento recíproco para os brasileiros em Portugal - devido à relação histórica entre os dois países. Gentílico. Seguindo as regras gramaticais para formação de gentílicos, o correto seria "brasilianos" ou "brasilienses". "Brasileiro" alude a um ofício ou a uma profissão (tal qual "verdureiro", "engenheiro", "pedreiro") e, nas raízes históricas, estudiosos têm escrito que se referia ao comerciante, geralmente português, do pau-brasil, na época do Brasil Colônia, passando, eventualmente, a ser nome pátrio (por causas de várias naturezas e com muitas teorias acerca do assunto). Durante os primórdios da construção do país, tornou-se comum designar "brasileiro" o português ou o estrangeiro estabelecido no Brasil, "brasiliense" o natural do Brasil e "brasiliano" o indígena. Como exemplo, tomemos o livro "Romance" de Gregório de Matos, composto no século XVII, em que "brasileiro" serve para designar os "naturais" explorados: "os brasileiros são bestas/ e estão sempre a trabalhar/ toda a vida por manterem/ maganos de Portugal...". Contudo, com a emancipação política durante o Primeiro Reinado, o substantivo "brasileiro" começou a caracterizar um novo corpo político que surgia. Na terceira de suas "Cartas sobre a Revolução do Brasil", por exemplo, Silvestre Pinheiro Ferreira observava que "o partido brasileiro cobrou com a sua presença e com a revelação dos seus projetos ao conselho de Sua Majestade uma energia, que até agora se não tinha observado, nem mesmo presumido que ele fosse capaz de desenvolver". Assim, aqui se nota que o adjetivo "brasileiro" servia para definir um grupo político ou uma corrente de opinião que se contrapunha ao "partido europeu". Durante os eventos que conduziram à dissolução da primeira Assembleia Constituinte e Legislativa, o próprio Imperador Dom Pedro I, em 13 de novembro de 1823, serviu-se do substantivo para caracterizar um corpo político: "[...] quem aderiu à nossa sagrada causa, quem jurou a independência deste Império, é brasileiro". Em 1824, o texto constitucional da Constituição brasileira de 1824 (a primeira do país) já declarava: ""Art 6." São cidadãos brasileiros [...]". Os estudiosos notam que, no Brasil, o mesmo processo de derivação do termo "brasileiro" ocorreu, por exemplo, com mineiro e campineiro (de Minas Gerais e de Campinas, respectivamente). Grupos étnicos. A população brasileira é formada principalmente por descendentes de povos indígenas, colonos portugueses, escravos africanos e diversos grupos de imigrantes que se estabeleceram no Brasil, sobretudo entre 1820 e 1970. A maior parte dos imigrantes era de italianos e portugueses, mas houve significante presença de alemães, espanhóis, japoneses, sírio-libaneses, poloneses e ucranianos. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) classifica o povo brasileiro entre cinco grupos: branco, preto, pardo, amarelo e indígena, baseado na cor da pele ou raça. Quem declara sua cor ou raça é o próprio entrevistado. O censo nacional de 2010 realizado pelo IBGE encontrou o Brasil sendo composto por 91 milhões de brancos, 82,2 milhões de pardos, 14,5 milhões de negros, 2,1 milhões de amarelos e 817 mil indígenas. Comparado a outros censos realizados nas últimas duas décadas, pela primeira vez o número de brancos não ultrapassou os 50% da população. Em 2000, os brancos eram 53,7% no censo, em 2010 caíram para 47,33%. Em comparação, o número de pardos cresceu de 38,5% para 43,13% e o de pretos de 6,2% para 7,6%. Os pardos, que em 2000 eram 65,3 milhões, dez anos depois somavam 82,2 milhões. Os pretos, que eram 10,5 milhões, saltaram para 14,5 milhões. Os amarelos, que somavam apenas 761,5 mil, subiram para 2 milhões. Os indígenas, que eram 734 mil, elevaram-se para 817,9 mil. De fato, a população branca, além de ter sido a única a diminuir em termos percentuais entre os dois censos, também foi a única a diminuir em termos numéricos, enquanto todos os outros grupos cresceram consideravelmente. Mesmo tendo a população brasileira crescido de 169,8 milhões para 190,7 milhões em dez anos, a população branca além de não crescer, diminuiu sensivelmente: em 2000, os brancos eram 91,2 milhões, e em 2010 em torno de 91 milhões. De acordo com o IBGE, essa tendência se deve ao fato da revalorização da identidade histórica de grupos raciais historicamente discriminados. A composição étnica dos brasileiros não é uniforme por todo o País. Devido ao largo fluxo de imigrantes europeus no Sul do Brasil no século XIX, a maior parte da população é branca: 78,47%. No Nordeste, em decorrência do grande número de africanos trabalhando nos engenhos de cana-de-açúcar, o número de pardos e negros forma a maioria, 59,44% e 9,53%, respectivamente. No Norte, largamente coberto pela Floresta Amazônica, a maior parte das pessoas é de cor parda (66,88%), devido ao importante componente indígena. No Sudeste e no Centro-Oeste as porcentagens dos diferentes grupos étnicos são bastante similares. Ancestralidade dos brasileiros. Os primeiros habitantes do que viria a ser o Brasil foram pessoas cuja ancestralidade pode ser traçada até populações asiáticas que cruzaram o Estreito de Bering, passando da Sibéria para as Américas Há indícios da presença indígena no atual território brasileiro datados de 16.000 a.C. em Lagoa Santa (MG), de 14.200 a.C. em Rio Claro (SP) e de 12.770 a.C. em Ibicuí (RS). É difícil precisar o número de indígenas que viviam no atual Brasil em 1500, com as estimativas variando entre um e cinco milhões. Estavam divididos em dois grandes troncos linguísticos: macro-jê e tupi. Com a chegada dos portugueses ao atual Brasil, em 1500, boa parte da população indígena pereceu, sobretudo em virtude da contaminação por doenças euroasiáticas aos quais os índios não tinham imunidade biológica, como varíola, sarampo, febre amarela ou gripe. Na maior parte dos casos, essas contaminações foram involuntárias; contudo também há relatos de infecção proposital. Apesar disso, milhões de brasileiros atuais têm ancestralidade indígena. Na História brasileira, foi muito comum a prática do "cunhadismo", uma antiga prática indígena de incorporar estranhos à sua comunidade, por meio da entrega de moças indígenas como esposas. Nesse contexto, muitos colonos portugueses se juntaram a mulheres indígenas, cujos descendentes formam boa parte da população brasileira atual. A ancestralidade europeia dos brasileiros é principalmente portuguesa. Entre 1500 e 1822, o atual Brasil esteve sob domínio luso e o número de portugueses que emigraram para o Brasil, durante esse período, está estimado entre 500 mil e 700 mil. Segundo o IBGE, nos primeiros dois séculos de colonização (XVI – XVII), 100 mil portugueses emigraram para o Brasil. Contudo, segundo pesquisa dos historiadores James Horn e Philip D. Morgan, o número teria sido bem maior, de 250 mil. Nessa época, o Brasil era o maior produtor de açúcar do mundo (especificamente as capitanias nordestinas de Pernambuco e Bahia), e essa movimentação econômica atraía esses imigrantes portugueses. Contudo, foi no século XVIII que ocorreu o maior número de chegadas de portugueses ao Brasil colonial. Segundo o IBGE, 600 mil portugueses emigraram para o Brasil, entre 1701 e 1760. James Horn e Philip D. Morgan apontam números menores: 250 mil entre 1700 e 1760 e 105 mil entre 1760 e 1820. Celso Furtado estimou, para todo o século XVIII, um número entre 300 mil e 500 mil portugueses. Maria Luiza Marcilio apontou um número intermediário: 400 mil. Considerando que Portugal tinha somente 2 milhões de habitantes em 1700, foi uma emigração em massa. A razão dessa emigração em massa está na descoberta de ouro em Minas Gerais, que produziu uma era de prosperidade econômica não só na região mineira, como também no litoral brasileiro. Até 1850, foi do Continente africano que veio o maior número de pessoas que entraram no Brasil. Durante a época do comércio atlântico de escravos, o Brasil importou mais africanos escravizados do que qualquer outro país do mundo. Com base em informações do "slavevoyages.org", 4.864.375 escravos da África desembarcaram no Brasil, entre o século XVI e a metade do século XIX, em torno de 40% dos escravos trazidos para as Américas. Os ancestrais africanos dos brasileiros foram trazidos principalmente da África Centro-Ocidental. Do total, 3.396.910 foram trazidos dessa área. A região costumava ser conhecida como Congo Angola, correspondendo aproximadamente aos territórios da atual Angola, República do Congo, República Democrática do Congo e Gabão. A segunda região em importância foi o Golfo do Benim, de onde vieram 877.033 africanos. Essa região corresponde ao atual sudeste de Gana, Togo, Benim e sudoeste da Nigéria. O trabalho escravo foi a força motriz por trás do crescimento da economia açucareira no Brasil, e o açúcar foi o principal produto de exportação da colônia de 1600 a 1650. Jazidas de ouro e diamantes foram descobertas no Brasil a partir de 1690, o que provocou um aumento na importação de escravos, para fornecer a mão de obra na mineração. A demanda por escravos não diminuiu com o declínio da indústria da mineração, na segunda metade do século XVIII. A pecuária e a produção de alimentos proliferaram junto com o crescimento populacional, ambas fortemente dependentes do trabalho escravo. A ascensão do café após a década de 1830 expandiu ainda mais o comércio atlântico de escravos. Durante o período colonial, o número de africanos que entraram no Brasil foi muito maior que o de europeus. Segundo cálculos de James Horn e Philip D. Morgan, entre 1500 e 1820, 605 mil portugueses emigraram para o Brasil, contra 3,2 milhões de africanos trazidos, um número 5 vezes maior. Contudo, isso não quer dizer que ao longo do tempo a população de origem africana permaneceu maior que a de origem portuguesa nessa mesma proporção, haja vista as diferenças na taxa de natalidade. No Brasil, a taxa de mortalidade era muito maior entre os escravos do que entre os livres; a mortalidade infantil dos filhos dos escravos era muito alta, devido a subnutrição e insalubridade. Em muitos momentos, o crescimento vegetativo dos escravos no Brasil era negativo, ou seja, havia mais óbitos que nascimentos. Muitos brasileiros também são descendentes de imigrantes que chegaram mais recentemente. O Brasil recebeu mais de 5 milhões de imigrantes após sua independência em 1822, a maioria dos quais chegou entre 1880 e 1920. A Europa Latina foi responsável por 80% das chegadas (1,8 milhão de portugueses, 1,5 milhão de italianos e 700 mil espanhóis). Os outros 20% vieram sobretudo da Alemanha, do Leste Europeu, do Japão e do Oriente Médio. No censo de 1920, mais de 90% dos estrangeiros estavam concentrados nos estados das regiões Sudeste e Sul e mais de 70% estavam em apenas duas regiões: São Paulo e Rio de Janeiro. Boa parte dessa imigração foi incentivada pelo governo brasileiro e estava atrelada à produção de café. No final do século XIX, o Brasil era o maior produtor de café do mundo e parte significativa da saúde financeira do Estado brasileiro dependia da exportação desse produto. Após a abolição da escravatura na década de 1880 e temendo a escassez de trabalhadores no cultivo do café, o estado de São Paulo passou a subsidiar a imigração para trabalhadores europeus. O governo pagava a passagem de navio de famílias inteiras para trabalharem nas fazendas de café por um período de cerca de cinco anos, após o qual estavam livres para trabalhar em outra atividade. Outro modelo de imigração incentivada pelo governo foi a voltada para a colonização agrícola, principalmente no Sul, onde o acesso à pequena propriedade rural era facilitado, principalmente como forma de ocupar vazios demográficos e superar as constantes ameaças de desabastecimento de alimentos no Brasil. Contudo, boa parte desses imigrantes chegou de forma espontânea, sem qualquer auxílio do governo brasileiro, atraídos pelo aumento do dinamismo urbano, principalmente no Sudeste, em grande parte atrelado ao excedente de riqueza produzida pela atividade cafeeira, dando margem para um incipiente processo de industrialização e de expansão do comércio e do setor de serviços. De 1500 a 1972, de todas as pessoas que entraram no Brasil, 58% vieram da Europa, 40% da África e 2% da Ásia. A maioria dos brasileiros são miscigenados. Estudos genéticos têm mostrado que os brasileiros, sejam classificados como "pardos", "brancos" ou "pretos", têm, em geral, as três ancestralidades (europeia, africana e indígena), variando apenas o grau. Demografia. Idioma nacional. O português é a língua oficial e falada por toda a população. O Brasil é o único país de língua portuguesa da América, dando-lhe uma distinta identidade cultural em relação aos outros países do continente. Ainda é o idioma mais falado na América do Sul (50,1% dos sul-americanos o falam). O português é o único idioma falado e escrito oficial do Brasil, com algumas variações regionais na forma coloquial. É a língua usada nas instituições de ensino, nos meios de comunicação e nos negócios. A Língua Brasileira de Sinais é, no entanto, considerada um meio de comunicação legal no país. O idioma falado no Brasil é em parte diferente daquele falado em Portugal e nos outros países lusófonos. O português brasileiro e o português europeu não evoluíram de forma uniforme, havendo algumas diferenças na fonética e na ortografia, embora as diferenças entre as duas variantes não comprometam o entendimento mútuo. As diferenças entre a língua escrita formal de Portugal e do Brasil são comparáveis às diferenças encontradas entre as normas cultas do inglês britânico e inglês americano. Idiomas indígenas e de imigrantes. Na época do Descobrimento, é estimado que falavam-se mais de mil línguas no Brasil. Atualmente, esses idiomas estão reduzidos a 180 línguas. Das 180 línguas, apenas 24, ou 13%, têm mais de mil falantes; 108 línguas, ou 60%, têm entre cem e mil falantes; enquanto que 50 línguas, ou 27%, têm menos de 100 falantes e metade destas, ou 13%, têm menos de 50 falantes, o que mostra que grande parte desses idiomas estão em sério risco de extinção. Nos primeiros anos de colonização, as línguas indígenas eram faladas inclusive pelos colonos portugueses, que adotaram um idioma misto baseado na língua tupi. Por ser falada por quase todos os habitantes do Brasil, ficou conhecida como língua geral. Todavia, no século XVIII, a língua portuguesa tornou-se oficial do Brasil, o que culminou no quase desaparecimento dessa língua comum. Com o decorrer dos séculos, os índios foram exterminados ou aculturados pela ação colonizadora e, com isso, centenas de seus idiomas foram extintos. Atualmente, os idiomas indígenas são falados sobretudo no Norte e Centro-Oeste. As línguas mais faladas são do tronco Tupi-guarani. Além das dezenas de línguas autóctones, dialetos de origem alóctones são falados em colônias rurais mais isoladas do Brasil meridional, sobretudo o hunsrückisch e o talian (ou vêneto brasileiro), de origens alemã e italiana, respectivamente e pomerana. Religião. Sendo constitucionalmente um estado laico, o Brasil não possui religião oficial e a discriminação aos seguidores de determinada religião é ilegal. Apesar disso, a população do país é tradicionalmente seguidora da Igreja Católica Apostólica Romana e é inegável a influência de tal religião em vários momentos do passado e até mesmo do presente. Nos dias de hoje o Brasil é considerado o maior país católico do mundo em números absolutos. A predominância do catolicismo, entretanto, deve ser relativizada quando se leva em conta a recente ascensão do protestantismo e a importância histórica das religiões afro-brasileiras, o Candomblé e a Umbanda, na formação cultural e ética do povo brasileiro, apesar de terem sido perseguidas até o começo do século XX, quando a prática religiosa era reprimida pela polícia. O censo demográfico realizado em 2010 pelo IBGE apontou a seguinte estrutura religiosa do Brasil: Há ainda registros de pessoas que declaram-se baha'ís e wiccanos, porém nunca foi revelado um número exato dos seguidores de tais religiões no país. Cultura. Devido a diversos grupos de imigrantes, os brasileiros possuem uma rica diversidade de culturas, que sintetizam as diversas etnias que formam o povo brasileiro. Por essa razão, não existe uma cultura brasileira homogênea, e sim um mosaico de diferentes vertentes culturais que formam, juntas, a cultura brasileira. É notório que, após mais de três séculos de colonização portuguesa, a cultura brasileira é, majoritariamente, de raiz lusitana. É justamente essa herança cultural lusa que compõe a cultura brasileira: são diferentes etnias, porém, todos falam a mesma língua (o português) e, a maioria, são cristãos, com largo predomínio de católicos. Esta igualdade linguística e religiosa é um fato raro para uma cultura como a brasileira. Embora seja um país de colonização portuguesa, outros grupos étnicos deixaram influências profundas na cultura nacional, destacando-se os povos indígenas, os africanos e imigrantes europeus . As influências indígenas e africanas deixaram marcas no âmbito da música, da culinária, no folclore e nas festas populares. É evidente que algumas regiões receberam maior contribuição desses povos: os estados do Norte têm forte influência das culturas indígenas, enquanto certas regiões do Nordeste têm uma cultura bastante africanizada. Quanto mais à sul do Brasil nos dirigimos, mais europeizada a cultura se torna. No Sul do país as influências de imigrantes italianos e alemães são evidentes, seja na culinária, na música, nos hábitos e na aparência física das pessoas. Outras etnias, como os árabes, espanhóis, poloneses e japoneses contribuíram também para a cultura brasileira, porém, de forma mais limitada. Culinária. A culinária brasileira é caracterizada por uma mistura das culinárias europeia, indígena, asiática e africana. O prato básico mais comum dos brasileiros é o arroz com feijão, mas o prato internacionalmente mais representativo do país é a feijoada. Os hábitos alimentares variam de região para região. No Nordeste há grande influência africana na culinária, com destaque para o acarajé, vatapá e condimentos como azeite de dendê e pimenta. No Norte há a influência indígena, no uso da mandioca e de peixes. No Sudeste há pratos diversos como o feijão tropeiro e angu; em Minas Gerais são típicos o pão de queijo e o tutu; em São Paulo é o virado. No Sul do país há forte influência da culinária italiana, em pratos como a polenta, e também da culinária alemã. O churrasco é típico do Rio Grande do Sul. Artes. O escultor Antônio Francisco Lisboa (o Aleijadinho) é apontado como o maior representante do estilo Barroco na América (Barroco mineiro). O desenhista Henrique Alvim Corrêa, conhecido por seu trabalho em ficção científica, ilustrou a edição belga de 1906 de "A Guerra dos Mundos" de H. G. Wells ("ver: Ficção científica do Brasil"). Carmen Miranda ficou mundialmente conhecida pela originalidade de seu trabalho e por seu visual exótico. Foi uma artista dotada de grande versatilidade: era cantora e atriz trabalhando em teatro, rádio, cinema e televisão. Pintores como Cândido Portinari e Hélio Oiticica conquistaram reconhecimento para a pintura do Brasil. A arquitetura do Brasil foi divulgada por Oscar Niemeyer, que desenvolveu projetos em vários países. Obras de escritores do país foram traduzidas para vários idiomas. Livros de autores como Dias Gomes, Paulo Coelho, Jorge Amado, Machado de Assis e vários outros são reconhecidos mundialmente. O país criou gêneros musicais admirados pelo mundo. A música do Brasil inclui gêneros como o Samba, a Bossa Nova e o Chorinho. O violonista Laurindo Almeida compôs a música-tema da série de televisão Bonanza. Graças a Carlos Gomes, a música erudita brasileira ganhou respeito e admiração. Sua ópera "O Guarani", composta na Itália e encenada pela primeira vez no "Scala de Milão" em 19 de Março de 1870, alcançou grande sucesso. Gabriel Bá e Fábio Moon, foram os primeiros quadrinistas brasileiros a ganharem o prêmio "Eisner Award", considerado o "Óscar das Histórias em Quadrinhos". Em 1984 foram criados o "Dia do Quadrinho Nacional" (30 de Janeiro, data da publicação da 1ª história em quadrinhos brasileira: "As Aventuras de Nhô Quim ou Impressões de Uma Viagem à Corte" em 1869) e o "Prêmio Angelo Agostini", para rememorar este acontecimento prestigiar os quadrinistas nacionais. O cinema do Brasil é reconhecido internacionalmente há décadas. Em 1962, o filme "O Pagador de Promessas", de Anselmo Duarte foi premiado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes. No ano seguinte, foi indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro. Atualmente, Walter Salles, José Padilha, Carlos Saldanha e Bruno Barreto são cineastas conceituados. A telenovela brasileira é exportada para o mundo, divulgando os aspectos culturais do país ("ver: História da televisão no Brasil e Televisão no Brasil"). Ciência e tecnologia. Em Portugal, no início do século XVIII, o padre e cientista Bartolomeu de Gusmão (o "padre voador", nascido no Estado do Brasil), fez experiências bem sucedidas com balões de ar quente. Algumas destas experiências foram conduzidas na presença de personagens como o Cardeal Michelangelo Conti (futuro Papa Inocêncio XIII) e do rei João V. Ainda em Portugal, Gusmão construiu o balão batizado como "Passarola." Augusto Severo de Albuquerque Maranhão desenvolveu o conceito de dirigível semirrígido, testado pela primeira vez em 1894. Isto permitiu tornar o voo dos dirigíveis mais estável ("ver: Pax"). Santos Dumont trabalhou nos dois ramos da aeronáutica: aerostação (com aeróstatos, aeronaves mais leves que o ar) e aviação (com aeródinos, aeronaves mais pesadas que o ar). Dominou a dirigibilidade dos aeróstatos provando, em definitivo, que as aeronaves poderiam ser efetivamente usadas como meio de transporte. O avião 14-bis, projetado e construído por ele, foi o primeiro aeródino a decolar (em 1906) sem impulso adicional fornecido por recursos externos. É tido como o "Pai da Aviação" e recebeu inúmeras homenagens. Por sugestão da aviadora Anésia Pinheiro Machado, uma cratera da Lua, anteriormente nomeada "Hadley-B", foi rebatizada como o nome "Santos Dumont." Dimitri Sensaud de Lavaud construiu o primeiro avião brasileiro, o "São Paulo", realizando com ele o primeiro voo de avião da América latina, em Osasco, no dia 7 de janeiro de 1910. No campo da tecnologia militar, André Rebouças servindo como engenheiro militar, desenvolveu um torpedo, utilizado com sucesso durante guerra do Paraguai. Na astrofísica Mário Schenberg formulou o Processo Urca que tornou possível compreender o colapso de estrelas supernovas. As experiências do físico Cesar Lattes levaram a descoberta do méson pi, o que foi de grande importância para a então nascente física de partículas. O bacteriologista Carlos Chagas descobriu a doença que recebeu seu nome. Por seu trabalho foi, por duas vezes, indicado ao Nobel de Fisiologia ou Medicina. Para o tratamento de picadas de escorpiões, aranhas e serpentes venenosas, o sorologista Vital Brazil criou os soros antiescorpiônico, antiaracnídeo e antiofídico. Fundou em São Paulo o Instituto Butantan (1901) e o Instituto Vital Brazil em Niterói (1919). O país ressente-se por nunca um brasileiro ter recebido um Prêmio Nobel. O britânico Peter Brian Medawar, recebeu o Nobel de Fisiologia ou Medicina em 1960. Por ter nascido em Petrópolis, alguns consideram que o país também partilha desta conquista. Dentre outras homenagens recebidas no Brasil, seu nome batiza o Instituto Medawar de Medicina Ambiental. O país tem inventores pouco conhecidos: Nelson Guilherme Bardini (cartão telefônico), Carlos Prudêncio (Urna eletrônica brasileira), Therezinha Beatriz Alves de Andrade Zorowich (escorredor de arroz). Ao longo da história da ciência, cientistas e inventores brasileiros envolveram-se em controvérsias. A importância de alguns destes para descobertas científicas e sua primazia em invenções, foram contestadas. Consequentemente, vários tem seus trabalhos reconhecidos apenas parcialmente ou tardiamente, como: Júlio César Ribeiro de Sousa (dirigibilidade aérea), Roberto Landell de Moura (radiocomunicação, patrono dos radioamadores do Brasil), Francisco João de Azevedo (máquina de escrever), Hércules Florence (fotografia) e Nélio José Nicolai (Identificador de chamadas). Os estudos do especialista em reprodução humana, Dr. Elsimar Coutinho, ajudaram a desenvolver o primeiro anticoncepcional masculino não hormonal do mundo. Este anticoncepcional foi criado a partir do gossipol, substância extraída da semente do algodão. No Zoológico de Brasília, uma fêmea de lobo-guará, vítima de atropelamento, recebeu tratamento com células-tronco. Este foi o primeiro registro do uso de células-tronco para curar lesões num animal selvagem. O país é um dos pioneiros e líderes na tecnologia de biocombustíveis possuindo uma das matrizes energéticas mais limpas do nundo. Em 1925, a "Estação Experimental de Combustíveis e Minérios" (futuro Instituto Nacional de Tecnologia) testou o primeiro automóvel do Brasil adaptado para funcionar com álcool combustível. Entre as décadas de 1920 e 1940, João Bottene adaptou veículos para o funcionamento com álcool: automóveis, um avião e uma locomotiva construída pelo próprio. O país criou o "Programa Nacional do Álcool" (Pró-álcool) para contornar a crise do petróleo na década de 1970. O esforço de pesquisadores como Urbano Ernesto Stumpf e José Walter Bautista Vidal foi decisivo para a criação deste programa ("ver: Etanol como combustível no Brasil"). Em 24 de Outubro de 1984, um avião bimotor Bandeirante movido a bioquerosene, sobrevoou Brasília. Atualmente, o país continua a pesquisa de biocombustíveis para uso automobilístico, ferroviário, naval e aeronáutico. Especialistas destacam o potencial do país para a produção do hidrogênio verde que é definido como aquele produzido por fontes de energia limpas como solar, eólica, biomassa, (bioenergia (combustíveis), etc. Ciências sociais e filosofia. Pensadores e estudiosos brasileiros deram relevantes contribuições nos campos das ciências sociais e filosofia. O trabalho de Gilberto Freyre na sociologia é apontado como de extrema importância. O jusfilósofo Miguel Reale contribuiu para as teorias do direito com sua teoria tridimensional do direito. A análise crítica do historiador da literatura Otto Maria Carpeaux é elogiada. Esportes. Os brasileiros inventaram algumas modalidades esportivas ("ver: Esportes brasileiros"). Guilherme Paraense ganhou a primeira medalha olímpica de ouro para o Brasil, competindo no tiro esportivo nas Olimpíadas de Antuérpia em 1920. O Brasil sediou a Copa do Mundo de 2014 e as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro. O país é pentacampeão mundial de futebol, esporte considerado o mais popular no país. A Seleção Brasileira de Futebol é a única que disputou de todas as Copas do Mundo. Pelé foi considerado o "atleta do século XX." A criação do futebol de salão é compartilhada por uruguaios e brasileiros. O Brasil tem títulos em diversas competições desta modalidade ("ver: Seleção Brasileira de Futsal"). O vôlei brasileiro é vitorioso: a seleção masculina detêm quatro títulos pan-americanos, nove da liga mundial, dois ouros olímpicos além de outros. A seleção feminina foi campeã quatro vezes nos jogos pan-americanos e tem dois ouros nos jogos olímpicos (2008 e 2012). Jacqueline Silva e Sandra Pires sagraram-se campeãs, em 1996, na estreia do vôlei de praia nas Olimpíadas de Atlanta. Jogadores de basquete brasileiros atuam em grandes equipes no exterior. Alguns dos mais famosos são: Nenê Hilário, Marcelo Huertas e Anderson Varejão. Emerson Fittipaldi, Ayrton Senna, Tony Kanaan e Gil de Ferran são pilotos brasileiros vitoriosos no automobilismo mundial. Daiane dos Santos executou dois novos movimentos de ginástica artística: o duplo twist carpado e o duplo twist esticado. Em sua homenagem estes movimentos foram batizados respectivamente como "Dos Santos I" e "Dos Santos II." Os brasileiros criaram as artes marciais da capoeira, jiu-jitsu brasileiro, luta marajoara e outras. A Família Gracie e Luiz França, sucedido por seu aluno Oswaldo Fadda, deram origem aos dois principais ramos do jiu-jitsu brasileiro. Atualmente, esta arte marcial brasileira é praticada por todo o mundo. O país tem posição de destaque nos esportes de combate. Éder Jofre é considerado, pelo Conselho Mundial de Boxe, como o melhor peso-Galo de todos os tempos. O vale-tudo surgido no país, foi o embrião das modernas artes marciais mistas (eng. MMA). Anderson Silva, Antônio Rodrigo "Minotauro" Nogueira, Lyoto Machida, José Aldo e Junior "Cigano" dos Santos são alguns dos lutadores mais importantes nesta modalidade. Os judocas Aurélio Miguel e Sarah Menezes, foram os primeiros brasileiros a conquistarem medalhas de ouro para o judô do Brasil respectivamente no masculino e no feminino nas Olimpíadas de Seul (1988) de Londres (2012). Ações humanitárias. Os brasileiros atuam ativamente nos campos da defesa dos direitos humanos e da ajuda humanitária. Durante a Guerra do Paraguai, a enfermeira Ana Néri, prestou socorro até a soldados inimigos. Em reconhecimento por suas ações, Ana Néri é "Patrona dos Enfermeiros do Brasil." Rui Barbosa, representou o Brasil na II Convenção de Haia em 1907. Nesta ocasião, defendeu o princípio da autodeterminação dos povos. Ganhou a alcunha de "Águia de Haia" pela firmeza com que defendeu suas posições. O diplomata José Maria da Silva Paranhos Júnior, o Barão do Rio Branco, foi célebre por buscar sempre soluções pacíficas para as disputas territoriais envolvendo o Brasil. O trabalho do barão abreviou e evitou conflitos violentos, ajudando a definir as fronteiras do país. O Instituto Rio Branco foi criado como parte das comemorações de seu centenário. O Barão do Rio Branco é o "patrono da diplomacia brasileira." Na sua visita ao Brasil em 1925, Albert Einstein conheceu o trabalho do Marechal Cândido Rondon junto aos indígenas do país. Impressionado, sugeriu o nome de Rondon para o Nobel da Paz. Oswaldo Aranha fez o primeiro discurso na abertura da Sessão Especial da 1ª Assembleia Geral das Nações Unidas em 1947. Assim, tradicionalmente, a declaração de abertura desta sempre é feita por um brasileiro. Em 29 de Novembro daquele ano, Aranha presidiu a assembleia que foi decisiva para a criação do Estado de Israel ("ver: Relações entre Brasil e Israel"). Enquanto prestavam serviço diplomático na Europa durante a Segunda Guerra Mundial, Luís Martins de Sousa Dantas e Aracy de Carvalho Guimarães Rosa, auxiliaram pessoas que fugiam de perseguições promovidas pelo nazifascismo. Em reconhecimento pela ajuda prestada a judeus, tiveram seus nomes incluídos no rol dos Justos entre as nações, do "Yad Vashem" em Israel. Sérgio Vieira de Mello foi um defensor dos direitos humanos que destacou-se como mediador de conflitos internacionais e ocupou o cargo de Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos. Em 19 de Agosto de 2003, um atentado terrorista em Bagdá causou a morte de 22 pessoas. Para homenagear as vítimas, entre elas, Sérgio Vieira de Mello, a ONU designou 19 de Agosto como o Dia Mundial Humanitário. A sanitarista e pediatra Zilda Arns, criou a Pastoral da Criança e a Pastoral da Pessoa Idosa para auxiliar populações carentes. A atuação destas entidades ganhou reconhecimento internacional.
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Hino à Bandeira do Brasil
Hino à Bandeira do Brasil O Hino à Bandeira do Brasil é um hino composto por letra de Olavo Bilac e música de Antônio Francisco Braga. Histórico. Foi apresentado pela primeira vez em 1906. Surgiu de um pedido do prefeito do Rio de Janeiro, Francisco Pereira Passos, ao poeta Olavo Bilac, posteriormente musicalizado por Francisco Braga. Inicialmente foi utilizado pelo Rio de Janeiro, que na época era capital federal do país, sendo cantado nas escolas e posteriormente sua execução foi se estendendo às corporações militares de demais estados. Foi escrito para que a população brasileira se habituasse à nova bandeira, pois ela precisava ser aceita e conhecida pela maioria da população. Fato este que pode ser observado na letra que faz referência ao céu estrelado, que não existia nas bandeiras anteriores. Cerimônia de troca de bandeira. A cerimônia foi instituída pela Lei 5.700 de 1971. É realizada sempre no primeiro domingo de cada mês e é conduzida, em revezamento, pela Marinha do Brasil, pelo Exército Brasileiro, pela Força Aérea Brasileira e pelo Governo do Distrito Federal, na Praça dos Três Poderes, em Brasília, para substituir a bandeira que paira sobre a sede do governo brasileiro. Normalmente consiste em o Hino da Bandeira sendo tocado enquanto a bandeira antiga é baixada, e o Hino Nacional sendo tocado enquanto a nova bandeira é erguida.
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Hino da Independência do Brasil
Hino da Independência do Brasil O Hino da Independência é uma canção patriótica oficial comemorando a declaração da Independência do Brasil e foi o hino do Brasil durante o Império do Brasil. A letra do Hino da Independência, escrita pelo jornalista e político Evaristo da Veiga (1799-1837) em agosto de 1822, recebeu inicialmente o título de "Hino Constitucional Brasiliense", com música de Marcos Portugal. Foi transformado em Hino da Independência, musicado por D. Pedro I, em 1824. Com a Proclamação da República, o hino foi gradativamente abandonado. Somente em 1922, quando do centenário da independência, ele voltaria a ser executado. História. De acordo com uma versão divulgada por Eugênio Egas em 1909, a música teria sido composta pelo Imperador na tarde do mesmo dia da Independência do Brasil, 7 de setembro de 1822 (quando já estava de volta a São Paulo vindo de Santos), tendo sido partiturado às pressas pelo mestre de capela da Catedral de São Paulo, André da Silva Gomes, para execução na noite desse dia, na Casa da Ópera (ao pátio do Palácio do Governo, antigo Colégio dos Jesuítas), por cantores e uma pequena orquestra. A versão de Eugênio Egas, por outro lado, nunca foi referida nos jornais brasileiros de 1822 e nunca foi comprovada com documentação do período, tendo circulado somente a partir do início do século XX. A letra do Hino Constitucional Brasiliense foi publicada pela Typographia do Diário, em 1822, conforme documentação do Arquivo Nacional.
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Hino da Proclamação da República
Hino da Proclamação da República O Hino à Proclamação da República do Brasil tem letra de Medeiros e Albuquerque (1867-1934) e música de Leopoldo Américo Miguez (1850-1902). Publicada no Diário Oficial de 21 de janeiro de 1890. Em janeiro de 1890, o governo provisório do Marechal Deodoro da Fonseca lançou um concurso visando a oficialização de um novo hino para o Brasil. Leopoldo e Medeiros venceram o concurso, mas o hino acabou não sendo utilizado como o novo hino do país devido a protestos da população. Em um decreto no mesmo mês do concurso, o governo brasileiro estipulou que a criação fosse empregada como sendo o Hino da Proclamação da República.
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Getúlio Vargas
Getúlio Vargas Getúlio Dornelles Vargas (São Borja, 19 de abril de 1882 – Rio de Janeiro, 24 de agosto de 1954) foi um militar, advogado e político brasileiro, líder da Revolução de 1930, que pôs fim à República Velha, depondo seu 13.º e último presidente, Washington Luís, e impedindo a posse do presidente eleito em 1.º de março de 1930, Júlio Prestes. Vargas foi presidente do Brasil por quase vinte anos. O primeiro período foi de 15 anos ininterruptos, de 1930 até 1945, e dividiu-se em 3 fases: de 1930 a 1934, como chefe do "Governo Provisório"; de 1934 até 1937 como presidente da república do Governo Constitucional, tendo sido eleito presidente da república pela Assembleia Nacional Constituinte de 1934; e, de 1937 a 1945, como ditador, durante o Estado Novo implantado após um golpe de Estado. No segundo período, em que foi eleito por voto direto, Getúlio governou o Brasil como presidente da república, por 3 anos e meio: de 31 de janeiro de 1951 até 24 de agosto de 1954, quando se suicidou. Getúlio era chamado por seus simpatizantes de "pai dos pobres", pela legislação trabalhista e políticas sociais adotadas sob seus governos. A sua doutrina e seu estilo político foram denominados de "getulismo" ou "varguismo". Os seus seguidores, até hoje existentes, são denominados "getulistas". As pessoas próximas o tratavam por "Doutor Getúlio", e as pessoas do povo se referiam a ele como "Getúlio". Getúlio, até os dias de hoje, foi o único presidente que chegou ao poder por forma indireta e direta. Também foi o presidente que mais tempo permaneceu no cargo, na história do Brasil. Cometeu suicídio no ano de 1954, com um tiro no coração, em seu quarto, no Palácio do Catete, na cidade do Rio de Janeiro, então capital federal. Sua influência se estende até hoje, visto que muitas das instituições políticas, econômicas e sociais que Vargas criou, sob o comando direto da administração do Estado ou mediante regulação estatal, continuam a existir e operar em inúmeras áreas. Muitas variações e ajustes feitos contra o seu legado atravessaram décadas para conseguirem pelo menos arranhar alguns dos arranjos da “Era Vargas”. Getúlio Vargas foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria, em 15 de setembro de 2010, pela lei nº 12.326. Juventude. Origem. Nasceu em 19 de abril de 1882, no interior do Rio Grande do Sul, no município de São Borja (fronteira com a Argentina), filho de Manuel do Nascimento Vargas e de Cândida Francisca Dornelles Vargas. Na juventude, alterou alguns documentos, para fazer constar o ano de nascimento como 1883. Este fato somente foi descoberto nas comemorações do centenário de nascimento, quando, verificando-se os livros de registros de batismos da Paróquia de São Francisco de Borja, descobriu-se que Getúlio nasceu em 1882, constando no seu assento de batismo. A "Revista do Globo", que fez uma série de entrevistas com Getúlio, em 1950, antes da campanha eleitoral, contou que Getúlio corrigiu os repórteres dizendo que nasceu em 1883. Getúlio Vargas provém de uma família de estancieiros da zona rural da fronteira com a Argentina. Os Vargas são originários do Arquipélago dos Açores. Uma genealogia detalhada de Getúlio Vargas foi escrita pelo genealogista Aurélio Porto, "Getúlio Vargas à luz da Genealogia", publicada pelo Instituto Genealógico Brasileiro em 1943. Pelo lado paterno, seu pai é também descendente de famílias paulistas: descendia, por exemplo, do filho do sevilhano Bartolomeu Bueno e de Maria Pires, de ascendência indígena e portuguesa, Amador Bueno, personagem de destaque na história de São Paulo e, patriarca de muitas famílias não apenas de São Paulo, mas também de Minas Gerais, Goiás e do Sul do Brasil. Uma vez na presidência, vários pesquisadores quiseram encontrar alguma origem nobre na sua árvore genealógica, mas Getúlio Vargas demonstrou falta de interesse no assunto. Na ocasião, Vargas disse: "Nesta matéria de genealogia é melhor não aprofundar muito, porque às vezes pode-se ter a surpresa de acabar no mato (índios) ou na cozinha (negros)". Getúlio manteve-se sempre ligado à principal atividade econômica dos pampas, a pecuária, e, assim iniciou seu discurso, em Uberaba, durante a campanha presidencial de 1950: "Quero que saibam que lhes vou dizer as coisas na linguagem simples de companheiro! Nossa conversa será no jeito e estilo daqueles que os fazendeiros costumam fazer de pé, junto à porteira do curral". Getúlio possuía, em 1950, três estâncias: Itu e Espinilho, em Itaqui, e a estância Santos Reis, em São Borja. O líder político gaúcho Pinheiro Machado foi um dos primeiros a perceber que Getúlio tinha aptidão para a política. Estudou em sua terra natal, depois em Ouro Preto, em Minas Gerais. Quando Getúlio estudou em Ouro Preto, ele e seus irmãos se envolveram numa briga que terminou com a morte do estudante paulistano Carlos de Almeida Prado Júnior em 7 de junho de 1897. O acontecimento precipitou a volta de Getúlio e de seus irmãos para o Rio Grande do Sul. Voltando ao Rio Grande do Sul, inicialmente tentou a carreira militar, tornando-se, em 1898, soldado na guarnição de seu município natal. Soldado, com apenas 16 anos, já que nascera em 1882, constatou a citada "Revista do Globo", em 1950. Estudos. Em 1900, matriculou-se na Escola Preparatória e de Tática de Rio Pardo, onde não permaneceu por dois anos. Em 1902 deixou a escola, solidarizando-se a alguns colegas que haviam sido expulsos por um incidente disciplinar. Foi transferido para Porto Alegre, a fim de terminar o serviço militar, onde conheceu os cadetes da Escola Militar de Porto Alegre Eurico Gaspar Dutra e Pedro Aurélio de Góis Monteiro. Com a patente de sargento, Getúlio participou da Coluna Expedicionária do Sul, que se deslocou para Corumbá, em 1902, durante a disputa entre a Bolívia e o Brasil pela posse do Acre. Sua passagem pelo Exército Brasileiro e a origem militar (seu pai lutou na guerra do Paraguai) seriam decisivos na formação de sua compreensão dos problemas das forças armadas, e no seu empenho em modernizá-las, reequipá-las, mantê-las disciplinadas e afastá-las da política, quando chegou à presidência da república. Matriculou-se, em 1904, na Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre, atual UFRGS. Em 1907, o Partido Federalista lançou uma grande campanha contra o domínio do Partido Republicano Rio-grandense (PRR), lançando às eleições de novembro para o governo do estado, a candidatura de Fernando Abbot, um dissidente republicano. Borges de Medeiros, então governador pela segunda vez consecutiva, não concorreu à reeleição, indicando a candidatura de Carlos Barbosa Gonçalves. Naquele ano, Vargas fundou o Bloco Acadêmico Castilhista com seus colegas de faculdade João Neves da Fontoura, Firmino Paim Filho, Maurício Cardoso e vários outros estudantes, em apoio à candidatura republicana. Como membro dessa organização, militou pelo partido na eleição daquele ano, quando também bacharelou-se em direito. Trabalhou inicialmente como promotor público junto ao fórum de Porto Alegre, mas decidiu retornar à sua cidade natal para exercer a advocacia. A orientação filosófica, como muitos de seu estado e de sua época, era o positivismo e o castilhismo, a doutrina e o estilo político de Júlio Prates de Castilhos. Coube a Getúlio, que se destacara como orador, fazer o discurso, em 1903, nos funerais de Júlio de Castilhos. Na Juventude Castilhista fez amizade com vários jovens da elite do estado, que se destacariam na revolução de 1930, entre eles João Neves da Fontoura e Maurício Cardoso. Carreira política. Em 1909, elegeu-se deputado estadual pelo Partido Republicano Riograndense, o PRR, sendo reeleito em 1913. Renunciou ao 2º mandato de deputado estadual, pouco tempo depois de empossado, em protesto às atitudes tomadas pelo então presidente (cargo hoje intitulado "governador") do Rio Grande do Sul, Borges de Medeiros, o "velho Borges", nas eleições de Cachoeira do Sul. Retornou à Assembleia Legislativa estadual, chamada, na época, Assembleia dos Representantes, em 1917, sendo novamente reeleito em 1919 e 1921. Na legislatura de 1922 a 1924, Getúlio foi líder do PRR na Assembleia dos Representantes, e, segundo o suplemento especial da "Revista do Globo" de agosto de 1950, na condição de líder da maioria, Getúlio se mostrou conciliador e dirimiu conflitos do PRR com a minoria do Partido Federalista do Rio Grande do Sul, o qual, em 1928, tornou-se o Partido Libertador. Em 1940, em uma conferência sobre a política externa do Brasil sob o governo de Getúlio, o ministro José Roberto de Macedo Soares relata que a atuação de Getúlio como deputado estadual foi fundamental para a concretização do Tratado Brasil-Uruguai, definindo as fronteiras entre os dois países. Macedo Soares lê o telegrama de agradecimento do Barão do Rio Branco a Getúlio e outros deputados gaúchos e diz: Quando se preparava para combater a favor do governo do Estado do Rio Grande do Sul na revolução de 1923, no interior do estado, foi chamado para concorrer a uma cadeira de deputado federal, pelo Partido Republicano Riograndense (PRR), na vaga aberta pelo falecimento do deputado federal gaúcho Rafael Cabeda. Eleito, tornou-se líder da bancada gaúcha na Câmara dos Deputados, no Rio de Janeiro. Completou o mandato de Rafael Cabeda em 1923, e foi eleito deputado federal na legislatura de 1924 a 1926, sendo líder da bancada gaúcha na Câmara dos Deputados neste período. Em 1924, apoiou o envio de tropas gaúchas ao Estado de São Paulo, em apoio ao governo de Artur Bernardes contra a Revolta Paulista de 1924, e, em um discurso na Câmara dos Deputados, criticou os revoltosos, alegando que: "Já passou a época dos motins de quartéis e das empreitadas caudilhescas, venham de onde vierem!". Porém, coube a Getúlio, em 1930, conceder anistia a todos os envolvidos em movimentos revolucionários da década de 1920. Assumiu o ministério da Fazenda em 15 de novembro de 1926, permanecendo ministro da fazenda até 17 de dezembro de 1927, durante o governo de Washington Luís, implantando neste período a reforma monetária e cambial do presidente da república, através do "decreto nº 5.108", de 18 de dezembro de 1926. Washington Luís escolhera líderes de bancadas estaduais para serem seus ministros. Em dezembro de 1926, foi criado o Instituto de Previdência dos Funcionários Públicos da União. Deixou o cargo de ministro da fazenda, em 17 de dezembro de 1927, para candidatar-se às eleições para presidente do Rio Grande do Sul, sendo eleito, em dezembro de 1927, para o mandato de 25 de janeiro de 1928 a 25 de janeiro de 1933, tendo como seu vice-presidente João Neves da Fontoura. Quando Getúlio deixou o ministério, o presidente Washington Luís proferiu um longo discurso, elogiando a competência e dedicação ao trabalho de Getúlio Vargas, no qual dizia: "A honestidade de vossos propósitos, a probidade de vossa conduta, a retidão de vossos desígnios, fazem esperar que, de vossa parte e de vosso governo, o Rio Grande do Sul continuará a prosperar, moral, intelectual e materialmente". Sua eleição para presidente do Rio Grande do Sul encerrou os longos trinta anos de governo de Borges de Medeiros no Rio Grande do Sul. Tendo assumido o governo gaúcho em 25 de janeiro de 1928, exercendo, porém, o mandato somente até 9 de outubro de 1930. Glauco Carneiro, no livro "Lusardo, o Último Caudilho", avalia assim o fim da "Era Borges de Medeiros" e a vitória de Getúlio, como candidato da conciliação entre PRR e Partido Libertador: "Elegia-se, Getúlio Vargas, como candidato da 'conciliação', presidente do Rio Grande do Sul. Em 25 de janeiro de 1928, ao completar trinta anos de domínio do sistema governamental gaúcho, Borges de Medeiros passava o cargo e encerrava sua carreira de ditador da política republicana". E neste livro "Lusardo, o Último Caudilho", volume I, João Batista Luzardo assim descreve o governo de Getúlio no Rio Grande do Sul: Durante este mandato, quando se candidatou à presidência da República, Getúlio iniciou um forte movimento de oposição ao governo federal, exigindo o fim da corrupção eleitoral, a adoção do voto secreto e do voto feminino. Getúlio, porém, manteve bom relacionamento com o presidente Washington Luís, obtendo verbas federais para o Rio Grande do Sul e a autorização para melhoramentos no porto de Pelotas. Criou o Banco do Estado do Rio Grande do Sul e apoiou a criação da VARIG (Viação Aérea Riograndense). Respeitou também a vitória da oposição gaúcha, o Partido Libertador, em vários municípios do estado. O seu governo no Rio Grande do Sul foi elogiado por Assis Chateaubriand, o principal jornalista da época, da revista "O Cruzeiro", que afirmou que seu governo era um governo de estadista, despertando a atenção do país. Quando presidente do estado, continuou a se destacar como conciliador, conseguindo unir os partidos políticos do Rio Grande do Sul, o PRR e o Partido Libertador, antes fortemente divididos. Getúlio foi candidato único a presidente do Rio Grande do Sul, tendo sido apoiado pelo PRR e pelo Partido Libertador. Governo Provisório (1930 - 1934). A eleição para a presidência da república foi realizada no dia 1 de março de 1930, vencida por Júlio Prestes, com 1 091 709 votos contra 742 797 dados a Getúlio. Além de Getúlio Vargas e Júlio Prestes, o Bloco Operário e Camponês, concorreu também o operário Minervino de Oliveira, pelo Partido Comunista do Brasil (PCB), que obteve pequena votação. O pleito, como era praxe durante a chamada "República Velha", foi alvo de acusações de fraudes de ambos os lados. A Aliança Liberal, coligação entre os partidos PRM, PL e PRR, acusou o pleito de fraude. Borges de Medeiros reconheceu a vitória de Júlio Prestes, alegando que fraude houve de ambos os lados: "Fraude houve de norte a sul, inclusive aqui mesmo". Getúlio obteve 90% dos votos do Rio Grande do Sul. O assassinato de João Pessoa, que era governador da Paraíba e um líder da facção da Aliança Liberal (dissolvida após a derrota eleitoral de seus candidatos nas eleições presidenciais), ele foi um dos fatores que contribuíram para a crescente instabilidade política do país na época, não sendo o único ou o principal motivo da Revolução de 1930. Vargas chegou ao poder através de um golpe de Estado, que depôs o presidente Washington Luís e impediu a posse do presidente eleito Júlio Prestes. Ele se tornou chefe do governo provisório e, em seguida, presidente constitucional em 1934. Durante o seu governo, Vargas implementou uma série de medidas que visavam modernizar o país e fortalecer o Estado centralizado. Entre essas medidas, destacam-se a criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, em 1930, e do Ministério da Educação e Saúde, em 1931. Além disso, Vargas nomeou interventores federais para governar os estados, que passaram a perder grande parte da sua autonomia política em relação ao governo federal. No entanto, a caracterização de Vargas como um ditador com poderes quase ilimitados é simplificada e não leva em conta a complexidade da política brasileira na época. Vargas teve que lidar com oposições internas e externas, com movimentos sociais e com crises econômicas e políticas ao longo do seu governo, que durou até 1945. Em 1930 no meio de uma crise econômica e política que afetou principalmente as regiões produtoras de café. Para tentar estabilizar o preço do café, que havia caído drasticamente no mercado internacional, Vargas manteve a Política de Valorização do Café (PVC), que havia sido implementada pelo governo anterior. Além disso, Vargas criou o Conselho Nacional do Café em 1931, com o objetivo de planejar a produção, controlar a qualidade e incentivar o consumo do café. Em 1938, foi criado o Instituto do Cacau, com funções semelhantes em relação ao cacau. Embora essas medidas tenham sido importantes para o setor cafeeiro e para a economia do país como um todo, elas não foram adotadas apenas para atender às demandas das oligarquias cafeeiras. Vargas tinha uma visão nacionalista e desenvolvimentista para o país, que incluía a modernização da agricultura e a diversificação da economia. Getúlio Vargas também é creditado, nesta época, pela Lei da Sindicalização, que vinculava os sindicatos brasileiros indiretamente — por meio da câmara dos deputados — ao Presidente. Durante o período em que esteve no poder, Vargas buscou estabelecer uma relação direta com a população, através de uma política populista que valorizava a figura do líder carismático e buscava atender às demandas dos trabalhadores e das camadas mais pobres da sociedade. Nesse contexto, foram criadas diversas leis e instituições voltadas para a proteção dos direitos trabalhistas, como o Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, o Conselho Nacional do Trabalho e a Justiça do Trabalho. A CLT, porém, foi a principal realização de Vargas nesse campo. Aprovada em 1943, ela unificou a legislação trabalhista existente e estabeleceu novas normas e direitos para os trabalhadores, como a jornada de trabalho de 8 horas diárias, o descanso semanal remunerado, o salário mínimo, o direito à sindicalização e à greve, entre outros. Em resumo, a política populista de Vargas e as mudanças na legislação trabalhista durante o período tiveram um impacto significativo na história social e política do Brasil, e suas consequências ainda são sentidas até hoje. Revolução Constitucionalista de 1932. Em 1931, Getúlio Vargas derruba a Constituição brasileira, reunindo enormes poderes no Brasil. Isso despertou a indignação dos opositores, principalmente as oligarquias cafeeiras e a classe média paulista, que estavam desgostosos com o governo getulista. A perda de autonomia estadual, com a nomeação de interventores, desagradou ainda mais. Por mais que Getúlio tenha percebido o erro e tentado nomear um interventor oligarca paulista, estes já arquitetavam uma revolta armada, a fim de defender a criação de uma nova Constituição. Quando quatro jovens estudantes paulistanos (Martins, Miragaia, Dráusio e Camargo) são assassinados no dia 23 de maio de 1932, diversos setores da sociedade paulista se mobilizam com o evento, e toda a sociedade passa a apoiar a causa constitucional. No dia 9 de julho do mesmo ano, a Revolução Constitucionalista de 1932, explode pelo estado. Os paulistas contavam com apoio de tropas de diversos estados, como Rio de Janeiro, Minas e Rio Grande do Sul, mas Getúlio Vargas foi mais rápido e conseguiu reter esta aliança, isolando São Paulo. Sem qualquer apoio, os flancos paulistas ficaram vulneráveis, e o plano de rápida conquista do Rio de Janeiro transformou-se em uma tentativa desesperada de defender o território estadual. Os paulistas, chefiados por Isidoro Dias Lopes, permaneceram isolados, sem adesão das demais unidades da federação, excetuando um pequeno contingente militar vindo do Mato Grosso, sob o comando do general Bertoldo Klinger. É importante destacar que o movimento teve o apoio de amplos setores da sociedade paulista, incluindo trabalhadores, estudantes e intelectuais. O Partido Republicano Paulista PRP exerceu um papel importante na organização do movimento. A revolta era contra o governo de Vargas, que era visto como uma ameaça à autonomia estadual e à democracia.De acordo com o historiador Boris Fausto, em seu livro "História do Brasil", Vargas enfrentou resistência dos militares ao lidar com a Revolução Constitucionalista, mas conseguiu contê-la com a ajuda de tropas leais e da Força Pública de São Paulo. Fausto destaca que a repressão ao movimento rebelde gerou grande comoção popular, mas Vargas se consolidou politicamente como líder do país. Outros autores, como Maria Helena Capelato em "São Paulo e a Federação, 1891-1937", apontam que a relação entre Vargas e os tenentes foi complexa e não se resumiu a uma ruptura unilateral do presidente com o grupo. Capelato destaca que alguns tenentes apoiaram a repressão à Revolução de 1932 e que Vargas, por sua vez, buscou se aproximar de setores militares que eram críticos aos tenentes.Sem saída, o estado se rende em 28 de setembro. Mesmo com a vitória militar, Getúlio Vargas atende alguns pedidos dos republicanos e aprova a Constituição de 1934. O Governo Constitucionalista (1934–1937). A 18 de novembro de 1933 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito de Portugal. Ainda no mesmo ano, ele fez a auditoria da dívida externa brasileira, que foi mais tarde acordada em 1943 com os credores uma redução dela em 60%. Getúlio Vargas convoca a Assembleia em 1933, que, em 16 de julho de 1934, promulga a nova Constituição, trazendo novidades como o voto secreto, o ensino primário obrigatório, o voto feminino e diversas leis trabalhistas. O voto secreto significou o fim do voto aberto preponderante na República Velha, quando os coronéis tinham a oportunidade de controlar os votos. A nova Constituição estabeleceu também que, após sua promulgação, o primeiro presidente seria eleito de forma indireta pelos membros da Assembleia Constituinte. No dia seguinte à promulgação, foi realizada a eleição presidencial, na qual Vargas saiu vitorioso. Nessa mesma época, duas vertentes políticas começaram a influenciar a sociedade brasileira. De um lado, a direita fundava a Ação Integralista Brasileira (AIB), defensores de um Estado corporativista, inspirado no fascismo. Do outro, crescia a força de esquerda da Aliança Nacional Libertadora (ANL), patrocinada pelo regime comunista da União Soviética. Estes movimentos políticos possuíam caráter nacional, diferentemente dos partidos dominantes durante a República Velha, que geralmente representavam o seu estado (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro…). Essa tendência persiste até hoje. Em 27 de novembro de 1937 foi realizada a queima das bandeiras estaduais por Getúlio Vargas como um símbolo contra o sentimento regionalista do país. Intentona Comunista e Plano Cohen (1935–1936). Getúlio Vargas e o alto comando das Forças Armadas sempre se mostraram contra o comunismo, e usaram este pretexto para o seu maior sucesso político — o golpe de 1937. O PCB, que surgiu em 1922, havia criado a Aliança Nacional Libertadora, mas Getúlio Vargas a declarou ilegal, e a fechou. Assim, em 1935, a ANL (com o apoio da Internacional Comunista Comintern) montou a Intentona Comunista, uma revolta contra Getúlio Vargas, mas que este facilmente conteve. Em 1937, os integralistas forjaram o "Plano Cohen", sobre o qual se dizia que os comunistas planejavam uma revolução maior e melhor arquitetada do que a de 1935, e teria o amplo apoio do Partido Comunista da União Soviética. Os militares e boa parte da classe média brasileira, assim, apoiaram a ideia de um governo mais fortalecido para afastar a ideia da imposição de um governo comunista no Brasil. Com o apoio militar e popular, Getúlio Vargas derruba a Constituição de 1934 e declara o Estado Novo. Estado Novo (1937–1945). A constituição de 1937, que criou o "Estado Novo" getulista, tinha caráter centralizador e autoritário. Ela suprimiu a liberdade partidária, a independência entre os três poderes e o próprio federalismo existente no país. Vargas fechou o Congresso Nacional e criou o Tribunal de Segurança Nacional. Os prefeitos passaram a ser nomeados pelos governadores e esses, por sua vez, pelo presidente. Foi criado o DIP (Departamento de Imprensa e Propaganda), com o intuito de projetar Getúlio Vargas como o "Pai dos Pobres" e o "Salvador da Pátria". O governo iniciou uma expansão econômica para os territórios indígenas guarani-Kaiowás, os confinando em reservas indígenas. A 6 de agosto de 1941 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Avis de Portugal. Durante a Segunda Guerra Mundial, ao longo do ano de 1942, as marinhas da Alemanha Nazista e Itália Fascista estenderam a guerra submarina às águas do Atlântico Sul, atacando os navios de bandeiras de todos os países que haviam ratificado o compromisso da Carta do Atlântico, compromisso esse que era de se alinhar automaticamente com qualquer país do continente americano que viesse a ser atacado por um país de fora do continente. Isto implicou o alinhamento com os Estados Unidos, desde que estes foram atacados pelos japoneses em Pearl Harbor. Dias depois tiveram declarações de guerra enviada a eles pela Alemanha e Itália. A espionagem nazista no Brasil, baseada em São Paulo, foi intensa durante o conflito. Vários navios mercantes brasileiros foram afundados no Atlântico em 1942, por submarinos alemães, não apenas no Atlântico Sul. Devido ao alarde dos casos pela imprensa, a população brasileira saiu às ruas para exigir que o governo, frente à agressão, reagisse com a declaração de guerra. Os Estados Unidos tinham planos para invadir o nordeste (o "Plan Rubber"), caso o governo Vargas insistisse em manter o Brasil neutro. Mesmo com a atitude passiva do ponto de vista diplomático, com o governo brasileiro ainda se mantendo oficialmente na neutralidade, o estado de guerra se mostrou irreversível quando, a partir de maio daquele ano, aviões da FAB passaram a atacar qualquer submarino alemão e italiano que fosse avistado. Apenas entre os dias 15 e 21 de agosto de 1942, cinco navios brasileiros — Baependi, Aníbal Benévolo, Araraquara, Itagipe e Arará foram torpedeados na costa nordestina (Sergipe e Bahia). No final daquele mês, o Brasil se uniu formalmente aos aliados, declarando guerra à Alemanha e Itália. Neste período, Vargas também assinou o Tratado de Washington com o presidente norte-americano Roosevelt, garantindo a produção de 45 mil toneladas de látex para as forças aliadas, o que impulsionou o segundo ciclo da borracha, trazendo progresso para a região da Amazônia e também colonização, uma vez que só do nordeste do Brasil foram para a Amazônia 54 mil trabalhadores, a maioria do Ceará. Em meio a incentivos econômicos e pressão diplomática, os americanos instalaram bases aeronavais ao longo da costa norte-nordeste brasileira, sendo a base militar no município de Parnamirim, vizinho à capital Natal, no estado do Rio Grande do Norte, a principal dentre estas do ponto de vista militar, embora Recife tenha sido escolhida como sede do comando aliado no Atlântico Sul. A participação do Brasil na guerra e a forma como a mesma se desenrolou, com o envio de uma força expedicionária ao teatro de operações do Mediterrâneo, acabou por ter um peso significativo para o fim do regime do Estado Novo. Declínio e fim da Era Vargas. O Manifesto dos Mineiros foi um documento de 1943 que marcou o início da oposição aberta ao Estado Novo, criticando abertamente o regime ditatorial daquele período. Assinado por políticos, intelectuais e empresários de Minas Gerais, exigia a redemocratização e era passado, clandestinamente, de mão em mão. No dia 29 de outubro de 1945, Getúlio Vargas, como o próprio ressalta em sua carta-testamento, renunciou ante a iminência de ser deposto por um golpe militar, sendo conduzido ao exílio na sua cidade natal, São Borja. No dia 2 de dezembro do mesmo ano, foram realizadas eleições livres para o parlamento e presidência, nas quais Getúlio seria eleito senador pela maior votação da época. Era o fim da Era Vargas, mas não o fim de Getúlio Vargas, que em 1951 retornaria à presidência pelo voto popular. O intervalo 1945–1950. Getúlio senador da República e seu apoio à candidatura Dutra. Getúlio foi afastado do poder sem sofrer nenhuma punição, nem mesmo o exílio, como o que ele próprio impusera ao presidente Washington Luís ao depô-lo. Getúlio não teve os seus direitos políticos cassados e não respondeu a qualquer processo judicial. Getúlio Vargas retirou-se para sua estância em São Borja, a Estância Santos Reis, no Rio Grande do Sul. Getúlio apoiou a candidatura do general Eurico Gaspar Dutra, o ex-ministro da Guerra (hoje Comando do Exército) durante todo o Estado Novo, à presidência da República. O apoio a Dutra era uma das condições negociadas para que Getúlio não fosse exilado. Serviu de lema para a campanha eleitoral de Dutra, uma frase de Hugo Borghi, publicada em jornais e panfletos, logo após Hugo Borghi voltar de São Borja, no dia 24 de novembro de 1945, e ter conseguido o apoio de Getúlio à candidatura de Eurico Dutra: "Ele disse: vote em Dutra". Getúlio não aceitava apoiar Dutra pois considerava Dutra um traidor que tinha apoiado o golpe de 29 de outubro, porém, Hugo Borghi fez Getúlio mudar de ideia, afirmando que, se a UDN ganhasse, elegendo Eduardo Gomes presidente da república, haveria um desmanche das realizações do Estado Novo e uma possível retaliação a Getúlio. Em 28 de novembro de 1945, Getúlio lança uma "Mensagem ao Povo" pedindo voto a Dutra. Nesta mensagem Getúlio diz: "Estarei ao vosso lado e acompanhar-vos-ei até a vitória. Após esta, estarei ainda ao lado do povo contra o Presidente, se não forem cumpridas as promessas do candidato"." Dutra venceu a eleição, derrotando Eduardo Gomes. Uma frase de Eduardo Gomes, pronunciada no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, em 19 de novembro, criticando Getúlio, lhe tirou muitos votos: "Não necessito dos votos dessa malta de desocupados que apoia o ditador para eleger-me presidente da república". O empresário Hugo Borghi fez uma campanha intensa nas rádios, lançou panfletos e broches, afirmando que Eduardo Gomes tinha dito: "Não preciso dos votos dos marmiteiros". Na formação da Assembleia Nacional Constituinte de 1946, Getúlio Vargas foi eleito senador por dois estados: Rio Grande do Sul pelo Partido Social Democrático (PSD), e por São Paulo, pelo Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), legenda que ajudara a criar, e pela qual foi também eleito representante à Câmara dos Deputados por seis estados (Rio Grande do Sul, São Paulo, Paraná, Minas Gerais, Bahia e Rio de Janeiro) e pelo Distrito Federal. Sobre a avaliação de seu governo de 1930 a 1945, Getúlio declarou, em entrevista coletiva à imprensa do Rio de Janeiro, em 4 de dezembro de 1946: "Após o 29 de outubro, (dia em que foi deposto), retirei-me para uma fazenda no interior do Rio Grande do Sul. Não me apresentei candidato a qualquer cargo eletivo…. Por um movimento espontâneo do povo, recebi cerca de um milhão e meio de votos em todo o Brasil". E sobre ser julgado pela história e por seus contemporâneos, disse, em um discurso pronunciado no Senado Federal, em 13 de dezembro de 1946: "A poucos homens é dada a suprema ventura de um julgamento da opinião pública contemporânea. Quase todos apelam para a ‘Justiça de Deus na voz da História’. A mim foi concedida essa mercê com o sufrágio de brasileiros que me outorgaram o mandato de senador por dois estados e de deputado pelo Distrito Federal e mais seis estados". Getúlio também participou, em 1945, da criação do PSD, Partido Social Democrático formado basicamente pelos ex-interventores estaduais do Estado Novo. Getúlio chegou a ser eleito presidente do PSD, mas passou o cargo a Benedito Valadares. Getúlio participou muito pouco da Constituinte e foi o único parlamentar a não assinar a "Constituição de 1946". Getúlio fez um único discurso na Assembleia Nacional Constituinte em 31 de agosto de 1946. Assumiu o cargo no Senado como representante gaúcho, e exerceu o mandato de senador durante o período 1946–1947, quando proferiu cinco discursos relatando as realizações do Estado Novo e da Revolução de 1930 e criticando o governo Dutra. O último discurso no Senado Federal foi em 3 de julho de 1947. Além dos discursos no Senado Federal, antes de se recolher a São Borja em 1947, Getúlio participou de comícios em 10 capitais brasileiras defendendo os ideais e o programa do PTB e pedindo votos para candidatos, apoiados pelo PTB, nas eleições de 1947. Getúlio Vargas deixou o Senado Federal em 1947 e retornou à sua cidade natal, São Borja, onde possuía duas propriedades rurais: as estâncias Itu e Santos Reis. De fato, ele recebeu muitos pedidos para retornar à vida política e foi assediado por diversos políticos, incluindo Ademar de Barros e Hugo Borghi. Também foi decisiva para sua volta à política, a amizade feita com o jornalista Samuel Wainer. Em agosto de 1950, em um suplemento especial da "Revista do Globo", com a republicação de suas reportagens biográficas sobre Getúlio que tiveram grande repercussão, abaixo de uma foto de Getúlio montando um cavalo, foi colocada uma frase de João Neves da Fontoura tirada de uma expressão popular muito conhecida, a propósito da possível candidatura de Getúlio em 1950: "Se o cavalo passar encilhado ele monta!". Campanha presidencial de 1950. Getúlio acabou aceitando voltar à política, resumindo assim sua campanha eleitoral, em Parnaíba: "Recebi de vós, como de tantos outros pontos distantes do país, apelos para lançar-me nesta campanha que mobiliza o povo brasileiro na defesa dos direitos à liberdade e a vida!" O "slogan" do PTB, que antecedeu à campanha eleitoral, foi o seguinte: "Ele voltará!". Uma reportagem de "O Globo" assim descreve as lembranças da campanha eleitoral de 1950, guardadas por Alzira Vargas: "Ele vai voltaráǃ". A frase, uma espécie de legenda para a fotografia de um Getúlio sorridente, está impressa em caixinhas de fósforo, cigarreiras, porta-níquéis, chaveiros, panfletos, cartazes, lenços de seda e até mesmo em bolsinhas femininas. A candidatura de Getúlio foi lançada no dia 19 de abril, dia de seu aniversário, depois da candidatura de Eduardo Gomes da UDN. Getúlio disse naquela data: "Se o meu sacrifício for para o bem do Brasil, levai-vos convosco!" Em uma proclamação em Porto Alegre, em 9 de agosto de 1950, Getúlio declarou que só levou adiante sua candidatura à presidência da República quando ficou claro que não seria possível uma candidatura única de conciliação nacional: No discurso que pronunciou, em 16 de junho, pelo rádio, de São Borja, à convenção do PTB, seu partido político que o lançava candidato à presidência, destacou sua principal virtude: a conciliação: "Se vencer, governarei sem ódios, prevenções ou reservas, sentimentos que nunca influíram nas minhas decisões, promovendo sinceramente a conciliação entre os nossos compatriotas e estimulando a cooperação entre todas as forças da opinião pública". A candidatura de Getúlio foi alvo de diversos processos no Tribunal Superior Eleitoral com advogados defendendo que o registro fosse cancelado. Alegou-se que Getúlio não cumpriu duas constituições, a 1891 e a 1934 e portanto deveria estar sendo julgado criminalmente como um criminoso político. Alegou-se ainda que o Partido Comunista tivera o seu registro cassado em 1947 pelo Tribunal Superior Eleitoral por ser contrário ao regime democrático. Porém ao analisar o registro, o Tribunal desconheceu as questões preliminarmente, considerando-as ilegítimas, já que uma impugnação só poderia ser feita por outro candidato ou por delegado de partido político, não cabendo, no caso, uma ação popular. E, em 19 de agosto, a candidatura foi registrada. Então, já com 68 anos, percorreu todas as regiões do Brasil, em campanha eleitoral, pronunciando, de 9 de agosto a 30 de setembro, em 77 cidades, discursos, nos quais relembrava suas obras nas regiões em que discursava. O primeiro discurso foi em Porto Alegre e o último de São Borja. Prometendo, em 12 de agosto, na cidade do Rio de Janeiro, que o povo subiria com ele as escadarias do Palácio do Catete: "Se for eleito a 3 de outubro, no ato da posse, o povo subirá comigo as escadas do Catete. E comigo ficará no governo!". Sobre ser acusado de "Pai dos Ricos", Getúlio disse, em discurso de 27 de agosto de 1950, em Recife: Uma síntese das dificuldades que Getúlio enfrentaria como candidato e como presidente é dada pela frase do escritor, político e jornalista Carlos Lacerda. Em um editorial intitulado "Advertência oportuna", publicado no jornal "Tribuna da Imprensa" em 1 de junho de 1950, afirmou, a respeito de Getúlio: "O senhor Getúlio Vargas, senador, não deve ser candidato à presidência. Candidato, não deve ser eleito. Eleito, não deve tomar posse. Empossado, devemos recorrer à revolução para impedi-lo de governar". Esta frase de Carlos Lacerda expressava, exatamente, a mesma visão que, em 1930, a Aliança Liberal tivera quanto à candidatura e posterior vitória eleitoral do paulista Júlio Prestes, o "Seu Julinho". Segundo Carlos Lacerda, as ações de Vargas como ditador não poderiam ser esquecidas: "O Getúlio era absolutamente incompatível com um regime democrático". Carlos Lacerda retomou a frase de Artur Bernardes no seu discurso de posse no Senado Federal, em 25 de maio de 1927, em que relembrava sua eleição presidencial de 1922: "Não estará ainda na memória de todos o que fora a penúltima campanha presidencial? Nela se afirmava que o candidato não seria eleito; eleito não seria reconhecido, não tomaria posse, não transporia os umbrais do Palácio do Catete". E sobre este eterno drama das campanhas presidenciais, Getúlio tinha a frase: "No Brasil não basta vencer a eleição, é preciso ganhar a posse!". A eleição de 1950. Getúlio foi eleito presidente da República, como candidato do PTB, em 3 de outubro de 1950, derrotando a UDN, que tinha como candidato novamente Eduardo Gomes, e o Partido Social Democrático, que tinha como candidato, o mineiro Cristiano Machado. Muitos membros do PSD abandonaram o candidato Cristiano Machado e apoiaram Getúlio. Desse episódio é que surgiu a expressão "cristianizar um candidato", que significa que um candidato foi abandonado pelo próprio partido político, como relata o jornalista Carmo Chagas em "Política Arte de Minas". A data das eleições: 3 de outubro, era uma homenagem à data do início da Revolução de 1930. Fundamental para sua eleição foi o apoio do governador de São Paulo, Ademar Pereira de Barros, que tinha sido nomeado por Getúlio, durante o Estado Novo, em 1938, interventor federal em São Paulo. Em 1941 Ademar foi exonerado, por Getúlio, do cargo de interventor. Assim a aliança com Ademar, batizada de "Frente Populista", foi mais um ato de reconciliação praticado por Getúlio. Ademar transferiu a Getúlio Vargas um milhão de votos paulistas, mais de 25% da votação total de Getúlio. Ademar esperava que, em troca desse apoio em 1950, Getúlio o apoiasse nas eleições de 1955 para a presidência da república. O resultado final deu a Getúlio, votos contra votos dados ao Brigadeiro Eduardo Gomes e votos dados a Cristiano Machado. João Batista Luzardo garantiu, em agosto de 1978, que foi Dutra que garantiu a posse de Getúlio, não permitindo que nenhuma conspiração militar fosse adiante. O emissário de Dutra fora enviado à Estância São Pedro, de propriedade de Batista Luzardo, porque fora nesta estância que Getúlio se hospedara, depois de vencer as eleições de 3 de outubro de 1950, e assim descreveu a concorrida estadia de Getúlio na Estância São Pedro, a "Revista do Globo", edição de 25 de novembro de 1950, na reportagem "O Descanso de Vencedor": Governo eleito (1951 - 1954). A volta de Getúlio foi saudada por muitos, inclusive na música popular brasileira, na voz de Francisco de Morais Alves, intérprete da marchinha "Retrato do Velho": Tancredo Neves, que foi seu ministro da Justiça, disse, no livro "Tancredo Fala de Getúlio", que, em seu segundo governo, Getúlio "tinha a preocupação de se libertar do ditador", e que disse a Tancredo: "Fui ditador porque as contingências do país me levaram à ditadura, mas quero ser um presidente constitucional dentro dos parâmetros fixados pela Constituição". Uma administração polêmica. Getúlio tomou posse na presidência da república em 31 de janeiro de 1951, no Palácio do Catete, sucedendo ao presidente Eurico Gaspar Dutra. O seu mandato presidencial deveria estender-se até 31 de janeiro de 1956. O ministério foi modificado duas vezes. Getúlio trouxe para o ministério antigos aliados do tempo da Revolução de 1930, com os quais se reconciliou: Góis Monteiro (Estado Maior das Forças Armadas), Osvaldo Aranha, na Fazenda, João Neves da Fontoura e Vicente Rao, ambos nas Relações Exteriores, e ainda, Juracy Magalhães como o primeiro presidente da PETROBRAS e Batista Luzardo como embaixador na Argentina. O ex-tenente de 1930, Newton Estillac Leal, foi ministro da Guerra até 1953. Reconciliou-se também com José Américo de Almeida, que, na época, governava a Paraíba e que se licenciou do cargo de governador para ser ministro da Viação e Obras Públicas a partir de junho de 1953. Luís Vergara, secretário particular de Getúlio, de 1928-1945, na citada obra "Eu fui secretário de Getúlio", conta que Getúlio chamou o ministério empossado em 1951, de "ministério de experiência", o que causou mal estar entre os ministros. Vergara diz que "conhecendo-se o hábito de Getúlio de só falar o mínimo e o justo, a sua precaução em não exceder os limites do oportuno e do indispensável, o 'cochilo' revelava um enfraquecimento nos controles de auto vigilância e da contenção da linguagem", a que Vergara atribui a um começo de envelhecimento e ao esgotamento com "quinze anos ininterruptos em atividade governamental, preocupações multiplicadas, trabalho incessante, crises políticas, acidentes pessoais e em pessoas da família". Tancredo Neves contou também, em "Tancredo Fala de Getúlio", que a reconciliação de Getúlio com o ex-governador de Minas Gerais Benedito Valadares se deu por intermédio dele, Tancredo. Getúlio teve um governo tumultuado devido a medidas administrativas que tomou e devido às acusações de corrupção que atingiram seu governo. Um polêmico reajuste do salário mínimo, em 100%, ocasionou, em fevereiro de 1954, um protesto público, em forma de manifesto à nação, dos militares, (um dos quais foi Golbery do Couto e Silva), contra o governo, seguido da demissão do ministro do trabalho João Goulart. Este "Manifesto dos Coronéis", também dito "Memorial dos Coronéis", foi assinado por 79 militares que, na sua grande maioria, eram ex-tenentes de 1930. Este Manifesto dos Coronéis significou uma redução do apoio ao governo Getúlio, na área militar, e, também, na área trabalhista, por conta da demissão de João Goulart. Foram também polêmicos os seguintes atos do segundo governo Getúlio: Neste período, foram criados: Getúlio sancionou a lei nº 2.252, de 1 de julho de 1954, que dispunha sobre a corrupção de menores, esta lei vigorou até 2009, revogada pela lei nº 12.015. Em 1951, Getúlio enfrenta, pela segunda vez, uma grande seca no Nordeste do Brasil (a primeira fora em 1932). Getúlio diz na "Mensagem ao Congresso Nacional", referente a 1951, que, nesse ano, dobrou o número de migrantes do Nordeste do Brasil e do norte de Minas Gerais para São Paulo. Em 1950 foram , e, em 1951, migrantes para São Paulo. Houve uma grande mobilização nacional conhecida como a campanha "O petróleo é nosso" em torno da criação da PETROBRAS. Getúlio tentou, mas não conseguiu, criar a Eletrobrás, que só seria criada em 1961. Em 1954, entrou em operação a Usina Hidrelétrica de Paulo Afonso I. Foi iniciada a construção da Rodovia Fernão Dias ligando São Paulo a Belo Horizonte, e que seria concluída por Juscelino Kubitschek. Foi assinado, em março de 1952, um acordo de cooperação e ajuda militar entre o Brasil e os Estados Unidos. Este acordo vigorou de 1953 até 1977, quando o presidente Ernesto Geisel denunciou o mesmo. Houve uma série de acusações de corrupção a membros do governo e pessoas próximas a Getúlio, o que levou Getúlio a dizer que estava sentado em um "mar de lama". O caso mais grave de corrupção, que jogou grande parte da opinião pública contra Getúlio, foi a comissão parlamentar de inquérito (CPI) do jornal "Última Hora", de propriedade de Samuel Wainer. Samuel Wainer era acusado por Carlos Lacerda e outros de receber dinheiro do Banco do Brasil para apoiar Getúlio. O jornal "Última Hora" era praticamente o único órgão de imprensa a apoiar Getúlio. O atentado da Rua Tonelero. Na madrugada de 5 de agosto de 1954, um atentado a tiros de revólver, em frente ao edifício onde residia Carlos Lacerda, em Copacabana, no Rio de Janeiro, mata o major Rubens Florentino Vaz, da Força Aérea Brasileira (FAB), e fere, no pé, Carlos Lacerda, jornalista e o futuro deputado federal e governador da Guanabara e membro da UDN, que fazia forte oposição a Getúlio. O atentado foi atribuído a Alcino João do Nascimento e o auxiliar Climério Euribes de Almeida, membros da guarda pessoal de Getúlio, chamada pelo povo de "Guarda Negra". Esta guarda fora criada para a segurança de Getúlio, em maio de 1938, logo após um ataque de partidários do integralismo ao Palácio do Catete. Ao tomar conhecimento do atentado contra Carlos Lacerda na rua Tonelero, Getúlio disse: "Carlos Lacerda levou um tiro no pé. Eu levei dois tiros nas costas!"." A crise política que se instalou foi muito grave porque, além da importância de Carlos Lacerda, a FAB, à qual o major Vaz pertencia, tinha como grande herói o brigadeiro Eduardo Gomes, da UDN, que Getúlio derrotara nas eleições de 1950. A FAB criou uma investigação paralela do crime que recebeu o apelido de "República do Galeão". No dia 8 de agosto, foi extinta a "Guarda Negra". Os jornais e as rádios davam em manchetes, todos os dias, a perseguição aos suspeitos. Alcino foi capturado no dia 13 de agosto. Climério foi finalmente capturado, no dia 17 de agosto, pelo coronel da Aeronáutica Délio Jardim de Matos que, posteriormente, chegaria a ser ministro da Aeronáutica. Na caçada aos suspeitos, chegou-se a utilizar uma novidade para a época, o helicóptero. Existem várias versões para o crime. Há versões que divergem daquela que foi dada por Carlos Lacerda: O "Jornal do Brasil" entrevistou o pistoleiro Alcino João do Nascimento, aos 82 anos em 2004, o qual garantiu que o primeiro tiro que atingiu o major Rubens Vaz partiu do revólver de Carlos Lacerda. Existe também um depoimento de um morador da rua Tonelero, dado à TV Record, em 24 de agosto de 2004, que garante que Carlos Lacerda não foi ferido a bala. Os documentos, laudos e exames médicos de Carlos Lacerda, no Hospital Miguel Couto, onde ele foi levado para ser medicado, simplesmente desapareceram. Gregório Fortunato, chefe da guarda pessoal do presidente Getúlio Vargas, chamado pelo povo simplesmente de "Gregório", foi acusado de ser o mandante do atentado contra Lacerda. Gregório admitiria mais tarde perante à justiça ter sido o mandante. Em 1956, os acusados do crime foram levados a um primeiro julgamento: Gregório Fortunato foi condenado a 25 anos de prisão como mandante, pena reduzida a vinte anos por Juscelino Kubitschek e a quinze anos por João Goulart. Gregório foi assassinado em 1962, no Rio de Janeiro, dentro da penitenciária do Complexo Lemos de Brito, pelo também detento Feliciano Emiliano Damas. Morte. Por causa do crime da rua Tonelero, Getúlio foi pressionado, pela imprensa e por militares, a renunciar ou, ao menos, licenciar-se da presidência. O "Manifesto dos Generais", de 22 de agosto de 1954, pede a renúncia de Getúlio. Foi assinado por 19 generais de exército, entre eles, Castelo Branco, Juarez Távora e Henrique Lott e dizia: "Os abaixo-assinados, oficiais generais do Exército…solidarizando com o pensamento dos camaradas da Aeronáutica e da Marinha, declaram julgar, como melhor caminho para tranquilizar o povo e manter unidas as forças armadas, a "renúncia" do atual presidente da República, processando sua substituição de acordo com os preceitos constitucionais". Esta crise levou Getúlio Vargas ao suicídio na madrugada de 23 para 24 de agosto de 1954, logo depois de sua última reunião ministerial, na qual fora aconselhado, por ministros, a se licenciar da presidência. Getúlio registrou em sua agenda de compromissos, na página do dia 23 de agosto de 1954, segunda-feira: "Já que o ministério não chegou a uma conclusão, eu vou decidir: determino que os ministros militares mantenham a ordem pública. Se a ordem for mantida, entrarei com pedido de licença. Em caso contrário, os revoltosos encontrarão aqui o meu cadáver.". Getúlio concordou em se licenciar sob condições, que constavam da nota oficial da presidência da república divulgada naquela madrugada: "Deliberou o Presidente Getúlio Vargas… entrar em licença, desde que seja mantida a ordem e os poderes constituídos…, em caso contrário, persistirá inabalável no propósito de defender suas prerrogativas constitucionais, "com sacrifício, se necessário, de sua própria vida". Getúlio, no final da reunião ministerial, assina um papel, que os ministros não sabiam o que era, nem ousaram perguntar. Encerrada a reunião ministerial, sobe as escadas para ir ao seu apartamento. Vira-se e despede-se do ministro da Justiça Tancredo Neves, dando a ele uma caneta Parker 51 de ouro e diz: "Para o amigo certo das horas incertas!". A data não poderia ser mais emblemática: Getúlio, que se sentia massacrado pela oposição, pela "República do Galeão" e pela imprensa, escolheu a noite de São Bartolomeu para sua morte. Getúlio Vargas cometeu suicídio com um tiro no coração em seus aposentos no Palácio do Catete, na madrugada de 24 de agosto de 1954. Tancredo contou a Carlos Heitor Cony em 3 de agosto de 1984, como foram os últimos minutos de Getúlio. O depoimento de Tancredo saiu na "Revista Manchete" de 1 de setembro de 1984: Assumiu então a presidência da república, no dia 24 de agosto, o vice-presidente potiguar Café Filho, da oposição a Getúlio, que nomeou uma nova equipe de ministros e deu nova orientação ao governo. Com grande comoção popular nas ruas, seu corpo foi levado para ser enterrado em sua terra natal. A família de Getúlio recusou-se a aceitar que um avião da FAB transportasse o corpo do político até o Rio Grande do Sul. A família de Getúlio também recusou as homenagens oficiais que o novo governo de Café Filho queria prestar ao ex-presidente falecido. Getúlio deixou duas notas de suicídio, uma manuscrita e outra datilografada, as quais receberam o nome de "carta-testamento". Uma versão manuscrita da carta-testamento, assinada no final da última reunião ministerial, somente foi divulgada ao público, em 1967, por Alzira Vargas, pela "Revista O Cruzeiro", no intuito de rebater as críticas de Carlos Lacerda, que não acreditava que tal carta manuscrita existisse. Nesta carta manuscrita, Getúlio explica seu gesto: Uma versão datilografada, feita em três vias, e mais extensa desta carta-testamento, foi lida, de maneira emocionada, por João Goulart, no enterro de Getúlio em São Borja. Nesta versão datilografada é que aparece a frase "Saio da vida para entrar na história". Esta versão datilografada da carta-testamento até hoje é alvo de discussões sobre sua autenticidade. Chama muito a atenção nela, a frase em castelhano: "Se queda desamparado". Assim, tanto na vida quanto na morte, Getúlio foi motivo de polêmica. Também fez um discurso emocionado, no enterro de Getúlio, na sua cidade natal São Borja, o amigo e aliado de longa data Osvaldo Aranha que disse: "Nós, os teus amigos, continuaremos, depois da tua morte, mais fiéis do que na vida: nós queremos o que tu sempre quiseste para este País. Queremos a ordem, a paz, o amor para os brasileiros!". Osvaldo Aranha, que tantas vezes rompera e se reconciliara com Getúlio, acrescentou: "Quando, há vinte e tantos anos, assumiste o governo deste País, o Brasil era uma terra parada, onde tudo era natural e simples; não conhecia nem o progresso, nem as leis de solidariedade entre as classes, não conhecia as grandes iniciativas, não se conhecia o Brasil. Tu entreabriste para o Brasil a consciência das coisas, a realidade dos problemas, a perspectiva dos nossos destinos". No cinquentenário de sua morte, em 2004, os restos mortais de Getúlio foram trasladados para um monumento no centro de sua cidade natal, São Borja. Consequências imediatas. Há quem diga que o suicídio de Getúlio Vargas adiou um golpe militar que pretendia depô-lo. O pretendido golpe de estado tornou-se, então, desnecessário, pois assumira o poder um político conservador, Café Filho. O golpe militar veio, por fim, em 1964. Golpe de Estado que foi feito, essencialmente, no lado militar, por ex-tenentes de 1930. Jarbas Passarinho relatou que quando era um "jovem major recém promovido" teria sido "succionado" para campanhas por civis incluindo Carlos Lacerda e diz ter sido puxado pelo braço para derrubar Vargas no dia anterior ao suicídio. O suicídio de Getúlio fez com que passasse da condição de acusado à condição de vítima. Isto teria preservado a popularidade do trabalhismo e do PTB e impedido Café Filho, sucessor de Getúlio, por falta de clima político, de fazer uma investigação profunda sobre as possíveis irregularidades do último governo de Getúlio. E, por fim, o clima de comoção popular devido à morte de Getúlio, teria facilitado a eleição de Juscelino Kubitschek à presidência da república e de João Goulart (o Jango) à vice-presidência, (JK), em 1955, derrotando a UDN, adversária de Getúlio. JK e João Goulart são considerados, por alguns, como dois dos "herdeiros políticos" de Getúlio. Legado. Popular. No dia seguinte ao suicídio, milhares de pessoas saíram às ruas para prestar o "último adeus" ao "pai dos pobres", chocadas com o que ouviram no noticiário radiofônico mais popular da época, o Repórter Esso. Enquanto isso, retratos de Getúlio eram distribuídos para o povo durante o dia. Carlos Lacerda teve que fugir do país, com medo de uma perseguição popular. Anos mais tarde, em 1962, na 6ª faixa do disco LP: "Saudades de Passo Fundo", Teixeirinha homenageou o presidente gaúcho Getúlio Vargas, com a faixa de nome: "24 de Agosto", lembrando o impacto popular que foi a morte repentina do então presidente do Brasil. Um trecho da música de Teixeirinha mostra claramente este fato: Econômico. O Brasil passou por profundas transformações econômicas durante as presidências de Vargas. Há um grande debate sobre o que pode e deve ser diretamente atribuído ao ex-presidente, em especial, seu papel na industrialização do país. Cultural. Getúlio Vargas foi, várias vezes, retratado como personagem no cinema e na televisão: Foi referido no título de um dos livros do humorista Jô Soares, "O Homem que Matou Getúlio Vargas", editado em 1998. Foram ainda feitos sobre Getúlio, os documentários: A efígie de Getúlio foi impressa nas notas de dez cruzeiros (Cr$ 10,00) de 1950 e cunhada no verso das moedas de centavos de cruzeiro que circularam de 1942 a 1970. Chico Buarque o homenageou com a música "Dr. Getúlio". A eleição de 1930 e a Revolução de 1930 foram imortalizadas por marchinhas e sambas cantados por Francisco de Morais Alves, como: Homenagens. O arquivo de Getúlio Vargas e os pertences pessoais estão preservados no Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil (CPDOC) da Fundação Getúlio Vargas, que desenvolve pesquisa sobre a história do Brasil pós 1930. Três municípios brasileiros homenageiam Getúlio Vargas em sua denominação: Getúlio Vargas, no Rio Grande do Sul; Presidente Vargas no Maranhão, e Presidente Getúlio em Santa Catarina. Rubinéia também já foi denominada "Porto Presidente Vargas". A refinaria de Araucária recebeu o nome de Refinaria Presidente Getúlio Vargas. A usina siderúrgica de Volta Redonda, pertencente à Companhia Siderúrgica Nacional recebeu o nome de Usina Siderúrgica Presidente Vargas. Foi lançado em 1983 pela ECT uma série especial de selos comemorativos do centenário de nascimento de Getúlio. A lei federal nº 7.470, de 29 de abril de 1986, outorga ao Presidente Getúlio Vargas o título de "Patrono dos Trabalhadores do Brasil". Pela lei nº 12.326, de 15 de setembro de 2010, Getúlio Vargas foi inscrito no Livro dos Heróis da Pátria. De acordo com eleição promovida pelo jornal Folha de S.Paulo, em abril de 2007, Getúlio Vargas foi considerado o "Maior Brasileiro de Todos os Tempos". Sua escolha foi realizada com base em perguntas a 200 destacados intelectuais, políticos, artistas, religiosos, empresários, publicitários, jornalistas, esportistas e militares brasileiros. Segundo votação feita pelo SBT, para o programa "O Maior Brasileiro de Todos os Tempos", obtendo quase 1,3 milhão de votos, Getúlio Vargas chegou a semifinal, onde perdeu para a Princesa Isabel. Academia Brasileira de Letras. Eleito a 7 de agosto de 1941, como terceiro ocupante da cadeira 37 da Academia Brasileira de Letras, cadeira que tem por patrono Tomás Antônio Gonzaga. Foi empossado a 29 de dezembro de 1943, recebido por Ataulfo de Paiva. Substituiu Alcântara Machado e, após sua morte, sua cadeira foi ocupada por Assis Chateaubriand. Suas principais obras publicadas são as coletâneas de seus discursos e o "Diário": Vida pessoal. Getúlio teve quatro irmãos: Viriato, Protásio, Espártaco e Benjamim (O Bejo). Casou-se, em São Borja, na casa de residência do Tenente Antônio Sarmanho, em 4 de março de 1911, com Darcy Lima Sarmanho, de quinze anos de idade, com quem teve cinco filhos: Lutero Vargas, Getulinho, que morreu cedo, Alzira Vargas, Jandira e Manuel Sarmanho Vargas, o "Maneco" que, em 1997, cometeu suicídio da mesma forma do pai. Este casamento foi um ato de conciliação, pois as famílias dos noivos eram apoiadoras de partidos políticos rivais na Revolução Federalista de 1893. A família de Darcy Sarmanho era maragato (do Partido Federalista do Rio Grande do Sul) e a de Getúlio ximango (do Partido Republicano Rio-grandense). Sobre maragato não se casar com ximango, Glauco Carneiro, em "Lusardo, o Último Caudilho", conta que Thadeo Onar, em entrevista ao autor, explica que a elite política do Rio Grande vinha sendo dividida desde os primórdios da República. Em relação a quem seria a muito comentada amante secreta de Getúlio na década de 1930, Juracy Magalhães, no livro-entrevista autobiográfico "Juraci, o último tenente", da Editora Record, 1996, na página 144, dá indicação segura de se tratar de Aimée Sotto Maior, que depois seria "a Senhora De Heeren de fama internacional", dizendo que Luís Simões Lopes lhe dissera que "a bela Aimée fizera boas referências ao meu nome junto ao presidente, mostrando sua gratidão pela maneira que a recebera em Palácio" "numa hora difícil". Religião. Getúlio Vargas declarava-se agnóstico e fora influenciado em sua formação pelo positivismo, do qual Júlio de Castilho, seu mentor na política gaúcha, e seu irmão Protásio Vargas eram adeptos. Em 1907, quando foi orador de turma na Faculdade Livre de Direito de Porto Alegre, Vargas afirmou que "a moral cristã é contrária à natureza humana". Mas o discurso de Vargas foi mudando ao longo do tempo, uma vez que ele viu na Igreja Católica uma forte aliada para dar o golpe de 1930, que o alçou à presidência da República. A ascensão de Getúlio à presidência, em 1930, representa tanto sua ruptura com as diretrizes positivistas, ideologia que influenciou o Brasil durante a República Velha, quanto a volta da influência do catolicismo no Estado laico. Por volta de 1930, o segundo cardeal do Brasil, Sebastião Leme, pressionou Getúlio Vargas a reinserir o catolicismo na esfera pública brasileira, como evidencia a carta do cardeal a Getúlio: "ou o Estado […] reconhece o Deus do povo ou o povo não reconhecerá o Estado". Tal atitude levou Getúlio a decretar a introdução do ensino religioso na educação pública no Brasil. Perfil. Como castilhista, Getúlio vê a vida pública como missão, e assim sintetizou o seu governo em 1950: "A missão social e política de meu governo não foi ideada pelo arbítrio de um homem, nem por interesses de um grupo; foi-me imposta, a mim e aos que comigo colaboram, pelos interesses da vida nacional, e pelos próprios anseios da consciência coletiva". Sobre a maneira de ver o serviço público, Luís Vergara, secretário particular de Getúlio de 1928 a 1945, conta, no livro: "Em 1951, quando ele voltou ao governo, vi os serviços da Presidência providos por uma legião de funcionários, me disseram atingir a número superior a duzentos. Ora, o Presidente não gostava de ver no Palácio muita gente. Quando se tornava indispensável trazer mais algum (no período de 1930 a 1945), ele objetava: 'Para que mais funcionários, nós já temos tantos!'". E sobre o dinheiro público, Luís Vergara conta, a respeito de uma pequena sobra de dinheiro, no final de um exercício financeiro, que "nenhuma despesa era feita sem a sua aprovação e autorização", tendo Getúlio dito: "esse dinheirinho não é meu, nem teu. É do Tesouro. Manda recolher". Ainda sobre a personalidade de Getúlio, Luís Vergara, relatou também um depoimento do escritor Menotti Del Picchia: Um exemplo dessa avaliação detalhada e rápida que Getúlio fazia dos homens é a descrição que fez do Cardeal Eugênio Pacelli (futuro Papa Pio XII) em visita ao Rio de Janeiro, anotada no "Diário" em 21 de outubro de 1934: "Alto, esguio, ágil, inteligente, culto e discreto, tem uma figura de asceta moderno, muito diferente do tipo bonacheirão da maioria de seus colegas". Já Josino Moraes traz uma visão bastante negativa do governante, ressaltando suas inseguranças, perfil ditatorial e traços violentos de sua família.
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Biografias
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Santos Dumont
Santos Dumont Alberto Santos Dumont (Palmira, – Guarujá, ) foi um aeronauta, esportista, autodidata e inventor brasileiro. Dumont é amplamente reconhecido como o pai da aviação, tendo realizado o primeiro voo homologado da história. Santos Dumont projetou, construiu e voou os primeiros balões dirigíveis com motor a gasolina. Esse mérito lhe é garantido internacionalmente pela conquista do Prêmio Deutsch em 1901, quando em um voo contornou a Torre Eiffel com o seu dirigível "Nº 6", transformando-se em uma das pessoas mais famosas do mundo durante o . Com a vitória no Prêmio Deutsch, ele também foi, portanto, o primeiro a cumprir um circuito pré-estabelecido sob testemunho oficial de especialistas, jornalistas e populares. Santos Dumont também foi o primeiro a decolar a bordo de um avião impulsionado por um motor a gasolina. Em 23 de outubro de 1906 voou cerca de sessenta metros a uma altura de dois a três metros com o "Oiseau de Proie" (francês para "ave de rapina"), no Campo de Bagatelle, em Paris. Menos de um mês depois, em 12 de novembro, diante de uma multidão de testemunhas, percorreu 220 metros a uma altura de seis metros com o "Oiseau de Proie III". Esses voos foram os primeiros homologados pelo Aeroclube da França de um aparelho mais pesado que o ar, e possivelmente a primeira demonstração pública de um veículo levantando voo por seus próprios meios, sem a necessidade de uma rampa para lançamento. O título de responsável pelo primeiro voo num avião, atribuído por brasileiros a Santos Dumont, é disputado com outros pioneiros, nomeadamente os irmãos Wright. Na França, costuma-se atribuir o feito a Clément Ader, que teria efetuado o primeiro voo de um equipamento mais pesado que o ar, a aeronave a vapor "Ader Éole", propulsionado por um motor a vapor de 20 CV e levantando voo pelos seus próprios meios em 9 de outubro de 1890, mas teve suas alegações refutadas pelo Ministério da Guerra do Exército Francês. Ao redor do mundo, pelo menos catorze nomes são citados como inventores do avião. A "FAI", no entanto, considera que foram os irmãos Wright os primeiros a realizar um voo controlado, motorizado, num aparelho mais pesado do que o ar, por uma decolagem e subsequente voo ocorridos em 17 de dezembro de 1903 no Wright Flyer, já que os voos de Clément Ader foram realizados em segredo militar, vindo-se apenas a saber da sua existência muitos anos depois. Por outro lado, o 14-Bis de Dumont teve uma decolagem autopropulsada, reconhecida oficialmente por público e jornalistas, tendo sido a primeira atividade esportiva da aviação a ser homologada pela FAI. Infância. Alberto Santos Dumont foi o sexto filho de Henrique Dumont, engenheiro formado pela Escola Central de Artes e Manufaturas de Paris, e Francisca de Paula Santos. O casal teve ao todo oito descendentes, três homens e cinco mulheres: Henrique dos Santos Dumont, Maria Rosalina Dumont Vilares, Virgínia Dumont Vilares, Luís dos Santos Dumont, Gabriela, Alberto Santos Dumont, Sofia e Francisca. Em 1873, a família se mudou para a pequena cidade de Cabangu, no município de João Aires, para que seu pai, o engenheiro Henrique Dumont, participasse da construção da estrada de ferro D. Pedro II. A obra terminou quando Alberto tinha 6 anos, e de lá a família foi para São Paulo. Foi nesse lugar que Santos Dumont começou a dar mostras, por assim dizer, dos trabalhos aeronáuticos que tanto destaque lhe trariam, pois, conforme declarações dos seus pais, com apenas um ano ele costumava furar balõezinhos de borracha para ver o que tinham dentro. Foi em Valença que ocorreu o batismo de Santos Dumont, na Matriz de Santa Teresa, em 20 de fevereiro de 1877, pelo padre Teodoro Teotônio da Silva Carolina. Em 1879, os Dumont venderam a fazenda do casal em Valença, Rio de Janeiro, e se estabeleceram no Sítio do Cascavel, em Ribeirão Preto, onde compraram a Fazenda Arindeúva, de José Bento Junqueira, de mil e duzentos alqueires. Até os 10 anos, foi alfabetizado por sua irmã mais velha, Virgínia. Dos 10 aos 12, estudou no Colégio Culto à Ciência, sem ter destacado-se entre as turmas. Depois estudou no Colégio Kopke em São Paulo, Colégio Morton, no Colégio Menezes Vieira no Rio de Janeiro, e posteriormente na Escola de Engenharia de Minas, sem ter terminado o curso. Porém, ele não era considerado um aluno notável, tendo estudado somente o que tinha interesse e estendendo seus estudos de forma autodidata na biblioteca de seu pai. Nessa época ele já apresentava os modos refinados que futuramente viriam a fazer parte da sua imagem na França, além de apresentar uma personalidade introvertida. Alberto viu seu primeiro voo tripulado em São Paulo aos 15 anos, em 1888, quando o aeronauta Stanley Spencer subiu num balão esférico e desceu de para-quedas. Após uma viagem que a família Dumont realizou para Paris em 1891, Santos Dumont começou a despertar-se para área mecânica, principalmente para o "motor de combustão interna", que culminou posteriormente com a construção de um balão (sem motor), que mais tarde chegou à criação de seu avião. Desde então, o jovem sonhador não parou mais de buscar alternativas, vindo a receber da Câmara Municipal de Ribeirão Preto, conforme , de 4 de novembro de 1903, uma subvenção de um conto de réis para que prosseguisse as pesquisas que, três anos depois, resultaram na invenção do avião. Porém, em jornal da época, é dito que Dumont só aceitaria se "...aquella importancia fosse destinada a um premio de concurso de aeronaves." Santos Dumont lembraria com saudosismo os tempos passados na fazenda paterna, onde desfrutava da mais ampla liberdade: Com apenas sete anos Santos Dumont já guiava os locomóveis da fazenda, e aos doze se divertia como maquinista das locomotivas, capazes de fatigar um homem com o triplo da sua idade, mas a velocidade realizável em terra não lhe bastava. Ao observar as máquinas de café ele logo aprendeu que as máquinas oscilatórias desgastavam mais, enquanto as de movimento circular eram mais eficientes. Ao ler as obras do escritor francês Júlio Verne, com cujos heróis ficcionais ele foi comparado no decorrer da vida, e quem ele conheceria na fase adulta, nasceu em Santos Dumont o desejo de conquistar o ar. Os submarinos, os balões, os transatlânticos e todos os outros meios de transporte que o fértil romancista previu em suas obras exerceram uma profunda impressão na mente do rapaz. Anos depois, já adulto, ele ainda lembrava com emoção as aventuras vividas em imaginação: A tecnologia o fascinava. Começou a construir pipas e pequenos aeroplanos movidos por uma hélice acionada por molas de borracha torcida, como ele mesmo diz em comentário a carta que recebeu no dia em que ganhou o prêmio Deutsch, relembrando a infância: "Esta carta me transporta aos dias mais felizes da minha vida, quando à espera de melhores oportunidades, eu me exercitava construindo aeronaves com hastes de palha e cujos propulsores eram acionados por tiras de borracha enroladas ou fazendo efêmeros balões de papel de seda". (Santos Dumont) E todos os anos, no dia 24 de junho, ele enchia frotas inteiras de diminutos balões de seda sobre as fogueiras de São João, para assistir em êxtase a sua ascensão aos céus. Carreira. Alpinismo, automobilismo e balonismo. Em 1891, com 18 anos, Santos Dumont fez uma viagem turística à Europa. Na Inglaterra passou alguns meses aperfeiçoando o seu inglês, e na França escalou o Monte Branco. Essa aventura, a quase metros de altitude, acostumou-o a alturas elevadas. No ano seguinte, seu pai o emancipou no dia 12 de fevereiro de 1892, devido a seu acidente, aconselhando o jovem Alberto a focar nos estudos da mecânica, química e eletricidade. Com isto Alberto largou a Escola de Engenharia de Minas de Ouro Preto e voltou à França onde ingressou no automobilismo e ciclismo. Também iniciou estudos técnico-científicos com um professor de origem espanhola chamado Garcia. Em 1894 viajou para os Estados Unidos, visitando Nova Iorque, Chicago e Boston. Nesse mesmo ano ele chegou a estudar na Merchant Venturers’ Technical College, não chegando a graduar-se. Agenor Barbosa descreveu o Santos Dumont deste período como sendo um “Aluno pouco aplicado, ou melhor, nada estudioso para as ‘teorias’, mas de admirável talento prático e mecânico e, desde aí, revelando-se, em tudo, de gênio inventivo”, mas que depois foi descrito por Agnor como alguém focado na aviação desde quando os "...“motores a explosão” começaram a ter êxito." Em 1897, já independente e herdeiro de imensa fortuna com a qual investiu no desenvolvimento de seus projetos, aplicou no mercado de ações e permitiu que trabalhasse sem prestar contas à nenhum investidor – contava 24 anos – Santos Dumont partiu para a França, onde contratou aeronautas profissionais que lhe ensinaram a arte da pilotagem dos balões após ler o livro "Andrée - Au Pôle Nord en ballon", sobre a Expedição polar de S. A. Andrée. No dia 23 de março de 1898 ele realizou sua primeira ascensão num balão da firma Lacham-bre & Macuhron pelo custo de 400 francos, descrevendo que: “Eu nunca me esquecerei do genuíno prazer de minha primeira ascensão em balão”. Nesse ano, antes mesmo de ser conhecido como balonista, ele passou a ser citado pela mídia devido ao seu envolvimento no automobilismo. No dia 30 de maio de 1898, realizou sua primeira ascensão noturna e no mês seguinte ele passou a trabalhar como comandante, levando um grupo de passageiros num balão alugado. Sabe-se que em 1900 ele já havia criado nove balões, dos quais dois se tornaram famosos: o "Brazil" e o "Amérique". O primeiro, estreado em 4 de julho de 1898, foi a menor das aeronaves até então construídas – inflado a hidrogênio, cubava apenas 113 metros num invólucro de seda de 6 metros de diâmetro, pesando 27,5 kg sem o tripulante e fez mais de 200 voos. De acordo com o biografo Gondin da Fonseca, Dumont teria sido influenciado a criar seu primeiro balão após participar da corrida Paris-Amsterdam em seu triciclo, onde atravessou 110 quilômetros em duas horas, abandonando após um acidente. O segundo balão, Amérique, tinha 500 m³ de hidrogênio e 10 metros de diâmetro, sendo capaz de carregar alguns passageiros, mas sem controle. Com o segundo balão ele enfrentou de tempestades a acidentes. Em suas primeiras experiências ele foi premiado pelo Aeroclube da França pelo estudo das correntes atmosféricas, atingiu altas altitudes e chegou a ficar no ar por mais de 22 horas. Nesta época, Dumont já entendia a necessidade do investimento governamental no desenvolvimento da aviação e da importância da opinião pública estar a favor disso, algo anteriormente notado por Júlio César Ribeiro de Sousa. Dirigibilismo. Tendo tido sua primeira demonstração em modelo realizada e patenteada pelo padre brasileiro Bartolomeu de Gusmão em 1709 e tido seu primeiro voo tripulado realizado pelos Irmãos Montgolfier em 1783, a visão existente até o fim do século XIX era de que a dirigibilidade dos balões era algo sem solução, já tendo sido abordado por, entre outros, Henri Giffard, Charles Renard e Arthur Constantin Krebs num voo com um motor elétrico num circuito fechado em um projeto abandonado pelo Exército Francês, e pelo Brasileiro Júlio César Ribeiro de Sousa, sem sucesso. A demonstração pública, como as realizadas por Santos Dumont, passou a ser algo de suma importância no cético ambiente acadêmico. Devido ao peso dos motores elétricos, Dumont escolheu o motor à combustão. Durante testes iniciais, ele recebeu ajuda ao erguer seu triciclo usado na corrida Paris-Amsterdam numa árvore para verificar as vibrações, que não ocorreram. Ele veio a adaptar o motor, colocando os dois cilindros um em cima do outro, conseguindo criar um dispositivo leve de 3,5 cavalos, tornando-se o primeiro motor a explosão usado com sucesso na aeronáutica. Em tradução de artigo apresentada em , é dito que o movimento aeronáutico na França foi despertado pelas experiências de Santos Dumont e o próprio Dumont disse crer que suas experiências levaram à fundação do Aero-Clube da França. Um detalhe levantado por Santos Dumont se refere a definição do que seria mais pesado que o ar: em junho de 1902 ele publicou um na "North American Review" argumentando que seu trabalho no dirigibilismo tratava-se de aviação, pois o gás de hidrogênio por si mesmo não era capaz de realizar a decolagem, sendo necessário a força do motor. Neste artigo ele também declarou: "O avião será atingido somente por meio da evolução, fazendo o dirigível passar por uma série de transformações análogas às metamorfoses pelas quais a crisálida se torna a borboleta.” O primeiro dirigível projetado por Santos Dumont, o "N-1", com 25 metros de comprimento e 186 de cubagem, teve sua primeira tentativa de decolagem em fevereiro de 1898, após ser inflado nos ateliês de Henri Lachambre, em Vaugirard. Condições de neve fizeram com que o dirigível se dobrasse e caísse. "A cinco ou seis metros de altura, sobre Longchamp, o aparelho, repentinamente, dobrou-se e a queda começou. De toda minha carreira, esta é a lembrança mais abominável que tenho guardada." Depois desse incidente, ele foi inflado no Jardim da Aclimação de Paris no dia 18 de setembro de 1898, mas acabou rasgado antes de experimentado, devido a uma manobra mal feita pelos ajudantes que em terra seguravam as cordas do aparelho. Reparada dois dias depois, a aeronave partiu e evoluiu em todos os sentidos. Um imprevisto, porém, encurtou a viagem: a bomba de ar encarregada de suprir o balonete interno, que mantinha rígido o invólucro do balão, não funcionou devidamente, e o dirigível, a 400 metros de altura, começou a se dobrar e a descer com rapidez. Numa entrevista, Santos Dumont contou como escapou da morte certa: Em 1899, Santos Dumont construiu nova aeronave, a "N-2", com o mesmo comprimento da primeira e mais ou menos a mesma forma, mas com diâmetro maior: 3,80 metros, o que elevou o volume para 200 metros cúbicos. Considerando a insuficiência da bomba de ar, que quase o havia matado, ele acrescentou um pequeno ventilador de alumínio para garantir que o formato do balão se mantivesse inalterável. O primeiro teste foi marcado para 11 de maio de 1899. À hora da experiência, uma forte chuva tornou o balão pesado. A demonstração feita consistiu em manobras simples com a aeronave presa por uma corda; não obstante, o teste terminou nas árvores adjacentes. O balão havia se dobrado sob a ação combinada da contração do hidrogênio e da força do vento. Em setembro daquele ano Santos Dumont deu início à construção de um novo balão alongado, o "N-3", inflado a gás de iluminação, com 20 metros de comprimento e 7,50 de diâmetro, com capacidade para 500 metros cúbicos. A cesta instalada era a mesma utilizada nas duas outras aeronaves. Às 15h30min do dia 13 de novembro, data em que, de acordo com alguns astrólogos, o mundo acabaria 100 anos antes, Santos Dumont, num gesto de desafio, partiu no "N-3" do Parque de Aerostação de Vaugirard e contornou a Torre Eiffel pela primeira vez. Do monumento seguiu para o Parque dos Príncipes e de lá para o Campo de Bagatelle, no Bois de Boulogne (próximo ao Hipódromo de Longchamp). Aterrissou no local exato onde o "N-1" havia caído, dessa vez em condições controladas. Entusiasmou-se: Com efeito, o previdente balonista logo mandou construir na localidade de Saint Cloud um grande hangar, comprido e alto o bastante para comportar o "N-3" com o invólucro completamente cheio, bem como os diversos dispositivos necessários para a fabricação do gás hidrogênio. Esse aeródromo, pronto em 15 de junho de 1900, tinha 30 metros de comprimento, 7 de largura e 11 de altura. Mas já não estava destinado a abrigar o "N-3", que havia sido abandonado pelo inventor, e sim o "N-4", concluído em 1 de agosto daquele ano. Com o "Nº3" ele bateu o recorde de 23 horas de permanência no ar, além de ter procurado voar quase todos os dias, demonstrando a confiabilidade e utilidade de seu aparelho. Nessa época um vultoso prêmio agitava o meio aeronáutico. No dia 24 de março de 1900, o milionário judeu Henri Deutsch de la Meurthe, magnata do petróleo, havia enviado ao Presidente do Aeroclube da França, fundado há dois anos, uma carta na qual se comprometia a congratular com 100 mil francos aquele que inventasse uma máquina voadora eficiente: O desafio ficou conhecido na imprensa como Prêmio Deutsch. O regulamento estipulava que uma aeronave, para ser considerada prática, deveria poder se deslocar à Torre Eiffel, contornar o monumento e retornar ao local da ascensão em no máximo trinta minutos, sem escalas, cobrindo ao todo 11 quilômetros sob as vistas de uma comissão do Aeroclube de França, convocada com pelo menos um dia de antecedência. A velocidade média mínima a atingir, portanto, era de 22 km/h. O prêmio estimulou Alberto Santos Dumont a tentar com o "N-4" voos mais velozes. A aeronave tinha 420 metros de cubagem, 29 de comprimento e 5,60 de diâmetro. Por baixo ficava uma quilha de vara de bambu de 9,40 metros, na metade da qual estavam o selim e os pedais de uma bicicleta comum. Montado no selim, o aeronauta tinha sob os pés os pedais de partida de um motor de 7 cavalos-vapor, que acionava uma hélice dianteira com duas pás de seda de 4 metros. Próximo ao piloto ficavam as pontas das cordas pelas quais se podiam controlar a regulagem do carburador e das válvulas, bem como o manuseio do leme, do lastro e dos pesos deslocáveis. Com o N-4 Santos Dumont fez em agosto voos quase diários partindo de Saint Cloud. Em 19 de setembro, perante membros do Congresso Internacional de Aeronautas, ele forneceu uma prova clara do trabalho efetivo de uma hélice aérea acionada por um motor a petróleo: marchou repetidas vezes contra o vento, mesmo com o leme quebrado, impressionando os cientistas presentes. A impressão geral era de que Dumont ganharia o Prêmio Deutsch e ao ir para Nice após adoecer, ele começou a projetar o N-5 usando, pela primeira vez, cordas de piano nas suspensões da aeronave. O N-5 foi construído para tentar ganhar o prêmio Henry Deutsch de la Meurthe por um voo desde o campo de voo do Aero-Club de France em Saint-Cloud até a Torre Eiffel e de volta dentro de 30 minutos. Usou o envelope alargado do Nº 4, a partir do qual uma gôndola triangular feita de pinho foi suspensa. Outras inovações incluem a utilização de corda de piano para suspender a gôndola, reduzindo em muito o arrasto, e a inclusão de tanques de água como lastro. Alimentado por um motor refrigerado a ar de 12 hp e 4 cilindros movendo uma hélice propulsora. No dia 13 de abril foi criado o "Prêmio Santos-Dumont", que era basicamente igual o Prêmio Deutsch, mas sem um limite de tempo. No dia 13 de julho de 1901, após algumas saídas experimentais, com o "N-5" o Prêmio Deutsch pela primeira vez. Cumpriu o trajeto exigido, mas ultrapassou em dez minutos o tempo limite estipulado para a prova. Nessa época, ele se encontrou com a Condessa Isabel, após um acidente. No dia 29 de julho ele abortou o voo onde cortou os dedos ao descer pela guide-rope e nessa época aeronautas franceses iniciaram uma campanha de difamação contra Dumont. No dia 8 do mês seguinte, tentando o prêmio novamente, acabou por chocar a aeronave contra o Hotel Trocadero; embora o balão tenha explodido e ficado completamente destruído, o piloto escapou incólume do acidente e publicamente testou o motor na frente de todos, para mostrar sua confiabilidade. A causa do acidente foi devido a uma das válvulas automáticas terem uma mola enfraquecida, o que causou a perda do gás. Após oferecer seu próprio balão de 21 metros cúbicos que estava em construção - e ser educadamente recusado - Henri Deutsch disse: "Temo que os experimentos não serão conclusivos. O balão do sr. Santos Dumont estará sempre à mercê do vento, e, por tanto, não é o tipo de aeronave que sonhamos". Dumont sofreu um acidente com o N-6 no hipódromo de Longchamps no dia 19 de setembro de 1901. No dia 19 de outubro de 1901, com o balão "N-6", de 622 metros cúbicos e motor de 20 cavalos, ele finalmente executou a prova em 29 minutos e 30 segundos, mas demorou cerca de um minuto para pousar, o que fez o comitê inicialmente negar o prêmio. Isso se tornou pois tanto o público, quanto sr. Deutsch acreditavam que o aviador havia vencido. Após certo tempo e do aviador protestar contra esta decisão, esta foi revertida. Tornou-se reconhecido internacionalmente como o maior aeronauta do mundo e o inventor do dirigível. O prêmio era então de 100 mil francos mais juros, que Dumont distribuiu entre sua equipe, desempregados e operários de Paris, que por algum motivo haviam "empenhado suas ferramentas de trabalho" com ajuda da Prefeitura de Paris. Um mês antes do evento, ao anunciar esta intenção, ele havia obtido "apoio irrestrito da opinião pública". Apesar do apoio, o dinheiro só foi liberado no dia 4 de novembro, após uma votação onde nove membros do Aeroclube eram contra e quinze eram a favor. Esta demora somente serviu para colocar a opinião pública em favor de Santos Dumont. Na tarde do mesmo dia, ele encaminou uma carta de demissão ao Aeroclube, com caráter irrevogável. Mauricio Pazini Brandão, em "The Santos Dumont legacy to aeronautics", diz que este evento deveria ser considerado como a certificação do dirigível. Com a conquista do Prêmio Deutsch, Santos Dumont passou a receber cartas de diversos países, em diferentes línguas, cumprimentando-o; revistas publicaram edições luxuosas, ricamente ilustradas, para reproduzir-lhe a imagem e perpetuar o feito; uma entrevista de Alexander Graham Bell no New-York Herald explorou os motivos do sucesso de Santos Dumont, invejas de outros inventores e experiencias que o precederam; homenagens não lhe faltaram na França, no Brasil, na Inglaterra, onde o Aero Clube Inglês ofereceu um banquete e em vários outros países: ainda em 1901, o presidente do Brasil, Campos Salles enviou-lhe um prêmio em dinheiro de 100 contos de réis seguindo a proposta de Augusto Severo, bem como uma medalha de ouro com sua efígie e uma alusão a Camões: “Por céus nunca dantes navegados.” Entretanto, o povo brasileiro demonstrou-se apático ao evento; em janeiro de 1902, Alberto I, o entusiasta príncipe de Mônaco, lhe fez o convite irrecusável para que continuasse suas experiências no Principado. Oferecia-lhe um novo hangar na praia de La Condamine, e tudo mais que Alberto julgasse necessário para o seu conforto e segurança, que foi aceito; seu sucesso também inspirou a criação de diversas biografias e influenciou personagens ficcionais, tendo Tom Swift como um exemplo de maior expressão; em abril desse ano, a convite, Santos Dumont viajou aos Estados Unidos, onde visitou os laboratórios de Thomas Edison, em Nova Iorque, onde discutiram o problema das patentes. O estadunidense solicitou que Dumont criasse o Aero Clube dos EUA e ao explicar o motivo de não cobrar por demonstrações em Saint Louis, Dumont disse: "sou um amador". Após o encontro com Edison, Dumont declarou à imprensa estadunidense que não pretendia patentear suas aeronaves. Além disso, foi recebido na Casa Branca, em Washington, DC, pelo presidente Theodore Roosevelt e conversou com autoridades da Marinha e do Exército dos EUA sobre a possibilidade do uso dos dirigíveis como instrumento de defesa contra submarinos. Em julho de 1902, após a criação do Aeroclube dos Estados Unidos, Dumont chega a anuncar a realização de uma série de voos em território estadunidense, que não veio a ocorrer, o que confundiu a mídia - que criava diversas matérias explorando sua intimidade - e a opinião pública estadunidense. Ele deixou Nova Iorque no final de 1902, sem ter realizado um único voo e a visão estadunidense não considerava que seus inventos eram práticos ou lucrativos. No começo do século passado, Santos Dumont era a única pessoa do planeta capaz de voar de forma controlada. Após sua temporada nos Estados Unidos, ele é notificado sobre o acidente fatal de Augusto Severo e o suicídio de sua mãe; ele retorna à Inglaterra, onde havia deixado o Nº6 sendo preparado para uma exposição no "The Crystal Palace", além de planejar voar em território londrino. Um erro técnico fez com que o tecido fosse perfurado - essa visão foi confirmada pelo balonista Stanley Spencer. A visão inicial foi de que o balão havia sido cortado com uma faca, com Dumont declarando que "...seções inteiras foram cortadas e retiradas." e que anteriormente já havia passado por algo parecido. Em Mônaco, após aceitar o convite do Príncipe Alberto I, Dumont orientou a construção de um hangar de 55 m de comprimento, 10 de largura e 15 de altura, com portas, projetadas por Dumont, de 10 toneladas no Bulevarde La Condamine à beira-mar, com o objetivo de testar como o cabo guia comportava-se no mar, descobrindo que é uma boa forma de estabilizar a aeronave em voo baixo. Dumont também comprovou que geralmente a aeronave comportava-se bem sobre a água, atingindo até 42 km/h. Seu sucesso deixou claro o possível uso militar da aeronave, principalmente em caso de guerra submarina, mas seus planos no principado foram interrompidos após uma queda na Baia de Mônaco em 14 de fevereiro de 1902. A queda foi devido ao fato do balão estar "imperfeitamente cheio ao sair da garagem". Após o acidente ele passa a realizar o "check list" antes de cada decolagem - mas o Nº6 terminou num estado irrecuperável. Após o período de homenagens, Santos Dumont passou a dedicar-se à construção de novos modelos de dirigíveis, dois anos após ter saído de Paris, cada um com uma finalidade específica: o "N-7", de 1.257 metros cúbicos e motor de 45 cavalos-vapor, projetado para ser um dirigível de corrida, foi testado em Neuilly (França) em maio de 1904. No mês seguinte a aeronave sofreu sabotagem numa exposição organizada em Saint Louis (Estados Unidos da América), ficando estraçalhada, e não pôde ser reconstruída – um malfeitor, jamais identificado, fez quatro cortes de 1 metro que, pelo balão estar dobrado, resultou em quarenta e oito facadas no invólucro, quando este estava na Alfândega de Nova Iorque - nessa viagem, ele também conheceu os Irmãos Wright; o "N-8" tratou-se de uma cópia do "N-6" encomendada por um colecionador estadunidense, chamado Edward Boyce, vice-presidente do Aeroclube da América, tendo realizado um único voo em Nova Iorque; o "N-9", de 261 metros cúbicos e 3 cavalos-vapor de potência, foi um dirigível de passeio, no qual Santos Dumont fez vários voos ao longo de 1903, como o primeiro voo noturno de um dirigível no dia 24 de junho e o último destes veio a ocorrer em 14 de julho. Neste dia, o N-9 fez parte de uma parada militar em comemoração aos 114 anos da Queda de Bastilha. Ao passar pelo Presidente da República, disparou 21 tiros de revólver ao ar e com a apresentação, os militares consideraram que o balão era um instrumento prático, considerável para o tempo de guerra. Dumont colocou a si e sua flotilha de três aeronaves à disposição do governo no caso de hostilidade estrangeira, desde que não fosse contra as duas Américas e que, "no caso impossível duma guerra entre França e o Brasil", Dumont julgava-se obrigado a colocar-se ao lado de sua pátria natal. Com a demonstração da viabilidade, os militares franceses incentivaram diversas indústrias a desenvolverem a tecnologia proposta por Santos Dumont. A primeira mulher a pilotar uma aeronave foi Aída de Acosta, em 29 de junho de 1903, conduzindo o "N-9". A edição de 11 de agosto de 1905 de “"La Vie au Grand Air"” descreve a organização da segunda edição da “"Coupe des Femmes Aéronautes"” e no segundo semestre de 1906, a revista "Le Sport Universel Illustré" relatou que após três anos do início do Grande Prêmio do Aéro-Club de France, sete países já participavam da disputa. O "N-10", de metros cúbicos e motor de 60 cavalos-vapor, foi um dirigível ônibus, grande o bastante para levar várias pessoas e servir para o transporte coletivo. Embora a aeronave tenha feito algumas ascensões em outubro de 1903, nunca foi completamente terminada; o "N-11", foi um monoplano não tripulado. O Nº12 foi um helicóptero nunca concluído devido à limitação tecnológica da época e um motor apropriado. e finalmente, o "N-13", um luxuoso balão duplo de ar quente e hidrogênio. Em seu primeiro retorno ao Rio de Janeiro em 1903, um grupo de alpinistas colocaram uma faixa no Pão-de-Açúcar, para o lado da Baia de Guanabara, saudando o aviador, enquanto ainda voltava de navio da Europa. No dia de seu retorno, 7 de setembro de 1903, foi recepcionado como heroi e ainda cumprimeirou o então Presidente do Brasil, Rodrigues Alves, no Palácio do Catete. Ao ser questionado sobre o motivo de não voar no Brasil, Santos Dumont justificava-se que era devido não poder "...contar com a ajuda dos seus mecânicos, e muito menos com uma usina de produção de hidrogênio como tinha na França." Retornou à Paris no dia 12 de outubro. Em 1904 foi inicialmente nomeado como Cavaleiro da Região de Honra da França e publicou a obra "Dans L'Air", cuja tradução, "Os Meus Balões", só foi publicada no Brasil em 1938. Aviação. Em outubro de 1904, três prêmios de aviação foram fundados na França: o Prêmio Archdeacon, o Prêmio do Aeroclube da França e o Prêmio Deutsch-Archdeacon. O primeiro, promovido pelo milionário Ernest Archdeacon, concederia francos para quem voasse 25 metros; o segundo, instituído pelo aeroclube francês, concederia francos (300 dólares) para quem voasse 100 metros; e o terceiro, patrocinado por Henri Deutsch de la Meurthe e Ernest Archdeacon, concederia francos para quem voasse metros. Com exceção do Prêmio Deutsch-Archdeacon, que não admitia que o aparelho concorrente se valesse em momento algum de balão para a sustentação, os outros prêmios deixavam aberta a questão da decolagem. O voo podia se dar em terreno plano ou desnivelado, em tempo calmo ou sob vento – o Prêmio do Aeroclube de França exigia que o voo fosse contra o vento –, e o uso de motor não era obrigatório. Isso conferia passe livre para que planadores e ornitópteros movidos pela força humana também pudessem concorrer. Era expressamente exigido por todos os prêmios, porém, que a prova ocorresse na França e sob a supervisão de uma comissão aeronáutica convocada no mais tardar na noite da véspera. Pouca coisa do que era pedido era inédita. Inventores, em outros países, já haviam cumprido ou até mesmo superado algumas das metas requeridas. Na Alemanha, Otto Lilienthal efetuou no início da década de 1890 milhares de voos planados descendentes, atingindo com frequência distâncias bem maiores que os 25 metros estipulados pelo Prêmio Archdeacon. E nos Estados Unidos, os irmãos Wright faziam desde 1903 voos cada vez mais longos em planadores motorizados, valendo-se para decolar ora de ventanias, ora de um engenhoso sistema de catapultagem, mas sempre sem qualquer controle oficial. O falecimento de Otto Lilienthal devido a um estol levou aos irmãos Wright a inverterem a posição do leme, que apesar de evitar o estol, impossibilita um voo estável, algo que mesmo assim veio a ser adotado por outros inventores. Já tendo acumulado conhecimento técnico, principalmente referente a motores, no começo de 1905, Santos Dumont construiu um aeromodelo de planador, o "N-11", inspirado num protótipo autoestável feito 100 anos antes pelo cientista inglês George Cayley, considerado o primeiro aeroplano da História: o modelo, de 1,5 metro de comprimento por 1,2 de envergadura, era provido de asas fixas, cauda cruciforme e um peso móvel para ajustar o centro de gravidade. O planador de Dumont diferia do de Cayley pelas dimensões, pelo perfil das asas e pelo fato de não possuir nenhum peso móvel. O projeto foi abandonado devido a pouca estabilidade. Um artigo de Georges Blanchet publicado em abril de 1904 diverge da descrição do "N-11" como um aeromodelo, ao apresentá-lo como um balão dirigível capaz de carregar cinco pessoas e um envelope de 34 metros de comprimento, sendo comprado por um estadunidense. A primeira experiência, realizada no dia 13 de maio no Aeroclube da França, foi feita pelos irmãos Dufaux com um protótipo de helicóptero. O modelo, de 17 quilogramas e dotado de um motor de 3 cavalos-vapor, subiu veloz, repetidas vezes até o teto do alpendre do aeroclube, levantando nuvens de pó. Estava demonstrado que mais pesados de grandes dimensões podiam se elevar por meios próprios. A segunda experiência foi feita no dia 8 de junho no rio Sena: Gabriel Voisin subiu no hidroplanador Archdeacon, rebocado por uma lancha pilotada por Alphonse Tellier, "La Rapière". O aparelho quase não se ergueu da água e o projeto foi abandonado devido a pouca estabilidade. Ao assistir testes como este, Dumont percebeu que o motor Antoinette utilizado no barco rebocador poderia ser usado num avião, dando origem ao conceito do 14-bis. Dividido, passou a estudar as duas soluções para o mais pesado. Em 3 de janeiro de 1906, inscreveu-se no Prêmio Deutsch-Archdeacon e antes havia iniciado a construção de um helicóptero, o "N-12", mas desistiu do engenho no dia 1 de junho, em razão da impossibilidade de criar um motor leve e potente. Entre os dias 12 de junho e 25 de agosto de 1905 ele testou o dirigível N-14, que recebeu duas versões (14-a e 14-b): a primeira de 41 m de comprimento, 3,4 de diâmetro e 186 de cubagem, com um motor de 14 cV e a segunda com 20 m de comprimento, 6 de diâmetro e um motor de 16 CV. No dia 13 de junho de 1905, representado pelo italiano Conde Eugenio Brunetta d'Usseaux, Pierre de Coubertin concedeu à Santos Dumont o Diploma Olímpico de Mérito Nº3 por "...representar o ideal Olímpico..." de acordo com Coubertin, que também foi recebido por Theodore Roosevelt, Fridtjof Nansen e William-Hippolyte Grenfell. Pierre considerava a aviação como um esporte; Santos Dumont era descrito como "sportsman" em "Bulletins" da FAI e o "Paris Sport", de 15 de julho de 1901, descrevia o brasileiro como “um verdadeiro esportista, em toda a acepção da palavra”. A homenagem ao Brasileiro é considerada relevante pelo fato dele já ter sido famoso nessa época e já consagrado como heroi em seu país. O Diploma do Santos foi passado para o embaixador Brasileiro na Bélgica, que então repassou para o aviador, de acordo com a edição de 21 de junho de 1905 do Correio Paulistano. Dumont não foi o único representado por outrem na cerimônia e somente William Grenfell recebeu o diploma pessoalmente. A FAI foi criada em 14 de outubro de 1905 seguindo os moldes do Comitê Olímpico Internacional. Construiu então uma máquina híbrida, o "14-bis" ou "Oiseau de Proie", consolidando seus estudos sobre o que havia sido feito na aviação até então, mesmo sem ter tido experiência com planadores, terminado após dois meses, no fim do primeiro semestre de 1906, um avião unido a um balão de hidrogênio para reduzir o peso e facilitar a decolagem. No dia 18 de julho, Dumont inscreveu-se para disputar as provas por ter concluído o 14-bis e apresentou o exótico aeródino pela primeira vez no dia seguinte, anexado a um balão, em Bagatelle, onde fez algumas corridas, obtendo saltos apreciáveis. Animado, decidiu se inscrever para os prêmios Archdeacon e Aeroclube da França no dia seguinte, data do seu aniversário – completaria 33 anos –, mas foi imediatamente desestimulado pelo capitão Ferdinand Ferber, outro entusiasta da aviação. Ferber havia assistido às demonstrações e não gostara da solução apresentada por Dumont; considerava o híbrido uma máquina impura. "A aviação deve ser resolvida pela aviação!", declarou. Santos Dumont resolveu ouvir as críticas do colega. Não concorreria aos prêmios com o misto, mas mesmo assim em 20 de julho inscreveu-se para as provas e nos três dias seguintes continuou a testar o avião acoplado ao balão, de modo a praticar a direção. Ao longo dos testes percebeu que, embora o balão favorecesse a decolagem, dificultava o voo. O arrasto gerado era muito grande. Desfez-se do aeróstato, e o biplano, enfim liberto do seu leve companheiro, recebeu da imprensa o nome de "Oiseau de Proie" (“Ave de rapina”). O "Oiseau de Proie" havia sido nitidamente inspirado no hidroplanador testado por Voisin. À semelhança do planador aquático, o invento também consistia num biplano celular baseado na estrutura criada em 1893 pelo pesquisador australiano Lawrence Hargrave, que oferecia boa sustentação e rigidez. O avião tinha 4 metros de altura, 10 de comprimento e 12 de envergadura, com superfície alar de 50 metros quadrados. A massa da aeronave era de 205 quilogramas, sem piloto. As asas ficavam fixas a uma viga, na frente da qual jazia o leme, constituído por uma célula idêntica às das asas. Na extremidade posterior ficava a hélice, movida por um motor Levavasseur de 24 cavalos. O trem de pouso possuía duas rodas. O aeronauta ia em pé. A edição de 23 de setembro de 1906 do "Le Sport Universel Illustré" publicou os detalhes técnicos do 14-bis. Em 29 de julho, utilizando a força de um jumento, Santos Dumont içou o Oiseau de Proie por meio de um sistema de cabos até o alto de uma torre de 13 metros de altura (2 metros ficavam fincados no chão), instalada havia alguns dias em sua propriedade em Neuilly. Essa armação era muito semelhante à que Ferber havia utilizado em Chalais-Meudon para os experimentos de maio de 1905 com o 6-bis. O avião, suspenso por um gancho móvel conectado a um fio de aço inclinado, deslizou sem a hélice 60 metros do topo da torre até outra menor, de apenas seis metros, sem acionar o motor, fincada no Boulevard de la Seine. O metódico inventor procurava sentir como seria voar em aeroplano e ao mesmo tempo estudar o centro de gravidade do aparelho. Em agosto o 14-bis não foi bem sucedido ao tentar decolar, pois o motor de 24 hp não era suficientemente potente. No dia 13 de setembro, o 14-bis realizou um voo experimental de 7 a 13 metros com um motor Antoinette de 50 hp, as 8h40m, que acabou em um acidente que danificou a hélice e o trem de pouso, mas que foi elogiado pela revista La Nature. No dia 30 ele interrompeu os testes do 14-Bis para participar da Copa Gordon Bennett com o balão Deux Amériques, tendo abandonado ao sofrer um acidente após percorrer 134 quilômetros em 6 horas e 20 minutos de voo. O acidente ocorreu ao tentar uma manobra que fez-lhe ter o braço fraturado pela engrenagem do motor. No dia 23 de outubro, Santos Dumont apresentou-se em Bagatelle com o "Oiseau de Proie II", uma modificação do modelo original. O avião havia sido envernizado para reduzir a porosidade do tecido e aumentar a sustentação. A roda traseira fora suprimida. Pela manhã limitou-se a manobrar o aeroplano pelo gramado, até que o eixo da hélice se partiu, só sendo consertado à tarde, após o que o avião foi colocado em posição para uma tentativa oficial. Uma multidão estava presente e tinha expectativas com a apresentação do dia. Às 16h45min Santos Dumont ligou o motor. A prova havia sido cumprida. Mais do dobro da distância predeterminada fora coberta. O avião tripulado havia se elevado no espaço e se sustentado por 60 metros em pleno ar, sem o aproveitamento de ventos contrários, sem a utilização de rampas, catapultas, declives ou outros artifícios. O voo havia se dado unicamente pelos próprios meios do aparelho, o que constituía uma façanha inédita. Nestas condições, o primeiro voo pela definição concreta de um avião havia se concretizado. A multidão comemorou em entusiasmo, correu até o piloto e o carregou em triunfo. Os juízes também haviam sido tomados de emoção e, surpresos, esqueceram-se de cronometrar e acompanhar o voo, e devido à falha o recorde não foi homologado. , diz que pelo Comitê do Aeroclube ter estado parcialmente presente, um novo teste foi marcado para o dia 12 de novembro. O avião havia sido inventado, mas ainda era uma máquina muito precária. Para disputar o Prêmio do Aeroclube da França, Santos Dumont inseriu entre as asas duas superfícies octogonais (ailerões rudimentares) com as quais esperava obter melhor controle da direção e criou o "Oiseau de Proie III". Dumont foi pioneiro ao implementar os ailerões em sua aeronave. Dumont concorreu ao prêmio em 12 de novembro de 1906, mais uma vez em Bagatelle. Fez cinco voos públicos nesse dia: um às 10h, de 40 metros; dois outros às 10h25min, respectivamente de 40 e 60 metros, quando o eixo da roda direita se quebrou. A avaria foi reparada durante o almoço e Santos Dumont recomeçou às 16h09min. Cobriu 82,60 metros, ultrapassando o feito de 23 de outubro, atingindo 41,3 km/h. Às 16h45min, com o dia já terminando, partiu contra o vento e voou 220 metros, por 21 segundos e uma velocidade média de 37,4 km/h, ganhando o Prêmio do Aeroclube da França. Estes foram os primeiros voos de avião registrados por uma companhia cinematográfica, a Pathé. Os Irmãos Wright, após saberem da experiência de 12 de novembro, enviaram uma carta ao Capitão Ferdinand Ferber pedindo "notícias exatas sobre as experiências de Bagatelle", incluindo "um relatório fiel dos ensaios e uma descrição da máquina voadora, acompanhada de um esquema." Santos Dumont chegou a adotar a configuração proposta pelos irmãos Wright e colocou o leme dianteiro do 14-bis, que descreveu ser "o mesmo que tentar arremessar uma flecha com a cauda para a frente...”. Para testar a ideia de que o leme na parte posterior aumentasse o ângulo de incidência das asas, Dumont construiu um novo aparelho, sem abandonar o 14-bis, e testou-o em março de 1907, sem decolar devido a um trem de pouso primitivo que não permitia que o avião manobrasse para sair do chão. Retornou para o 14-bis já tendo realizado outras alterações na aeronave após 12 de novembro e no dia 04 de abril de 1907, em Saint-Cyr, a aeronave voou por 50 metros, entrou em oscilação, caiu, sendo despedaçado e tendo seu projeto abandonado. Fez ainda o "N-15", um biplano, com o leme atrás, ao contrário do formato "canard", o "N-16", misto de dirigível e avião, o "N-17" e o "N-18", um deslizador aquático usado para testar o formato de asa de forma submersa. Descontente com os resultados dos números 15 a 18, fez uma nova série, de tamanho menor e mais aprimoradas, como os Demoiselle, que era capaz de chegar até 90 quilômetros por hora. Foi testado pela primeira vez em novembro de 1907, retornando numa ideia abandonada de 1905, mas logo percebeu que o avião "... tinha graves problemas estruturais.", de acordo com Henrique Lins de Barros. Porém, no dia 17 de novembro de 1907, concorreu ao prêmio Deutsch-Archdeacon, atravessando 200 metros a uma altura de 6 metros, mas abandonando antes dos 1000 metros requisitados devido a uma pane na aeronave. Em 1909 apresentou o Demoiselle Nº20, aperfeiçoado e considerado "o primeiro ultraleve da história". Este avião foi feito com a visão de ser especializado em competições esportivas e teve 300 cópias em vários países europeus e nos Estados Unidos, além dos seus esquemas terem sido publicados nas edições de jun-jul de 1910 do Popular Mechanics. Com o objetivo não comercial do inventor, esse avião consolidou o papel de Dumont no nascimento da aviação no século XX. O Demoiselle também contava com um motor de invenção original de Santos Dumont e o modelo Nº20, capaz de realizar voos de até 2 quilômetros e atingir 96 km/h. Devido ao baixo custo e alta segurança da aeronave, ela foi utilizada para treino de pilotos durante a 1ª Guerra. A aeronave encontra-se em exposição permantente no Museu Aeroespacial de Le Bourget. Em 1908, quando os irmãos Wright passaram a apresentar-se publicamente depois de utilizarem a tecnologia europeia e seus colegas já estavam sendo premiados, já parecia ter se afastado das provas. Últimos anos de vida. Santos Dumont começou a sofrer de esclerose múltipla. Envelheceu na aparência e sentiu-se cansado demais para continuar competindo com novos inventores nas diversas provas. Porém, em 22 de agosto de 1909, ele participou da Grande Semana da Aviação em Reims, onde realizou seus últimos voos. Após sofrer um acidente com o Demoiselle em 4 de janeiro de 1910, ele encerrou as atividades de sua oficina e retirou-se do convívio social. Entretanto, Dumont continuou trabalhando na popularização da aviação. No dia 12 de novembro de 1910 foi inaugurado um monumento em Bagatelle e em 24 de outubro de 1913 foi inaugurado o monumento Ícaro, referente a conquista do Prêmio Deutsch, feito pelo escultor Georges Colin. No mesmo dia ele foi promovido à Comendador da Legião de Honra e logo após estes eventos ele retornou ao Brasil após 10 anos de ausência, retornado à França no ano seguinte. Chegou a encomendar um novo Demoiselle em 1913, mas não há evidência de que tenha realizado voos neste aparelho. Em agosto de 1914, a França foi invadida pelas tropas do Império Alemão. Era o início da Primeira Guerra Mundial, com isso, ofereceu seus serviços ao Ministério da Guerra Francês, chegando a se alistar como chofer. Aeroplanos começaram a ser usados na guerra, primeiro para observação de tropas inimigas e, depois, em combates aéreos. Os combates aéreos ficavam mais violentos, com o uso de metralhadoras e disparo de bombas. Santos Dumont viu, de uma hora para a outra, seu sonho se transformar em pesadelo. Daí começava sua guerra de nervos. Santos Dumont agora se dedicava ao estudo da astronomia, residindo em Trouville, perto do mar. Para isso usava diversos aparelhos de observação, que os vizinhos julgaram ser aparelhos de espionagem para colaborar com os alemães. Foi preso sob essa acusação. Após o incidente ser esclarecido, o governo francês pediu desculpas formalmente. Isso o deixou deprimido, considerando que havia oferecido sua ajuda aos militares. Este evento o levou a destruir todos os seus documentos aeronáuticos. Em 1915, sua saúde piorava e decidiu retornar ao Brasil. No mesmo ano, participou do 11º Congresso Científico Pan-Americano nos Estados Unidos, tratando do tema da utilização do avião para facilitar o relacionamento entre os países da América. Em seu discurso ele demonstrou-se preocupado com a eficiência do avião como arma de guerra, mas defendeu a criação de uma esquadra para a defesa da costa com as palavras: “Quem sabe quando uma potência européia há de ameaçar um Estado americano?" Devido ao seu pacifismo, esta posição pode ser vista de forma surpreendente. No posfácio do romance histórico "O Homem com Asas", Arthur Japin diz que, quando Dumont retornou ao Brasil, ele "queimou todos os seus diários, cartas e desenhos." Em 1916, foi Presidente Honorário da 1ª Conferência Pan-Americana de Aeronáutica no Chile, que tinha como objetivo o de criar uma Federação Aeronáutica com todas as Américas, onde, representando o Aeroclube da América a pedido do Governo dos Estados Unidos, defendeu o uso pacífico do avião e ao retornar ao Brasil, passando pelo Paraná, sugeriu a criação do Parque do Iguaçu. No livro "O Que Eu Vi, O Que Nós Veremos", Dumont transcreveu cartas de 1917 de sua autoria ao Presidente da República dos Estados Unidos do Brasil (nome oficial do Brasil à época), sobre o atraso da indústria aeronáutica militar no Brasil, salientando a necessidade da instalação de campos de pouso militares tanto do Exército como da Marinha. Destacava ainda que o assunto não era tratado com a atenção devida, sendo que na Europa, nos Estados Unidos da América e mesmo na América do Sul, no caso na Argentina e no Chile, o tema já era amplamente desenvolvido. Na mesma obra ele também expõe suas ideias, que envolviam a necessidade de preparar os recursos humanos na aeronautica, além de tornar o país tecnologicamente independente. Já com a depressão que ia acompanhá-lo nos seus últimos dias, encontrou refúgio em Petrópolis, onde projetou e construiu, em um terreno dado pelo governo, o seu chalé "A Encantada": uma casa com diversas criações próprias, como uma mesa de refeições de grande altura, um chuveiro de água quente e uma escada diferente, onde só se pode pisar primeiro com o pé direito e que cada degrau não ocupa toda extensão, evitando assim que o calcanhar seja machucado. A casa atualmente funciona como um museu. Em 1918, nesta casa, escreveu sua segunda obra, "O que eu vi, o que nós veremos". Permaneceu lá até 1922, quando visitou a França chamado por amigos. Não estabeleceu mais um local fixo. Permanecia algum tempo em Paris, São Paulo, Rio de Janeiro, Petrópolis e na Fazenda Cabangu, em sua cidade natal. Em 1919 ele fez com que o Ministro dos Estados Unidos no Brasil contatasse o Secretário Assistente da Marinha dos EUA Franklin D. Roosevelt, como forma de "lobby" em favor de uma maior cooperação aeronáutica entre o Brasil e os EUA. Em 1922, condecorou Anésia Pinheiro Machado, que durante as comemorações do centenário da independência do Brasil, fizera o percurso Rio de Janeiro-São Paulo num avião. No dia 14 de maio, realizou sua última ascensão de balão. Antes, em 1920, mandou erguer um túmulo para seus pais e para si mesmo, no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro. O túmulo é uma réplica do Ícaro de Saint-Cloud. Também em 1920, Dumont iniciou sua campanha internacional contra o uso bélico das aeronaves, mas sem sucesso. Dia 23 de abril de 1923 ele foi até Portugal para buscar os restos mortais de sua mãe. No dia 7 de junho, foi agraciado com o grau de Comendador da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, de Portugal. No dia 21 de agosto iniciou a construção do túmulo de seus pais, onde foi colocada uma réplica do Ícaro de Saint Cloud ofertado pelo Governo Francês e por fim realizou o translado dos restos mortais de seus pais no dia 23 de outubro. Entre as sepulturas de seus pais, Dumont pessoalmente encarregou-se de cavar a própria. No dia 6 de novembro de 1924, foi eleito Grande-Oficial da Ordem de Leopoldo II. Em 25 de janeiro de 1925, com o objetivo de cuidar de sua saúde, Santos tenta se tratar com águas termais "que têm bastante rádio", mas não foi bem-sucedido. Em março, numa carta, Santos descreve-se como estando "extremamente magro, como um esqueleto". Numa carta de 29 de abril, Santos reclama de ruídos no ouvido. Em julho, foi internado na Suíça. Em janeiro de 1926, apelou à Liga das Nações, através de seu amigo e embaixador Afrânio de Melo Franco, para que se impedisse a utilização de aviões como armas de guerra. Chegou a oferecer dez mil francos para quem escrevesse a melhor obra contra a utilização militar de aviões. Dumont foi o primeiro aeronauta a falar contra o uso bélico do avião. No mesmo ano ele escreveu ao senador Paulo de Frontin recusando uma proposta feita por terceiros que visava torná-lo um general. Em maio de 1927, chegou a ser convidado pelo Aeroclube da França para presidir o banquete em homenagem a Charles Lindberg, pela travessia do Atlântico, feita por ele próprio, mas declinou do convite devido a seu estado de saúde. Passou algum tempo em convalescença em Glion, na Suíça, e depois retorna à França. O pesquisador Henrique Lins de Barros descreve que "por volta de 1925, entra gradualmente num estado de depressão quase permanente." Em 3 de dezembro de 1928 ele retornou ao Brasil no navio "Capitão Arcona". A cidade do Rio de Janeiro recebê-lo-ia festivamente. O hidroavião que ia fazer a recepção, levando vários professores da Escola Politécnica, da empresa Condor Syndikat, que fora batizado com seu nome, sofreu um acidente, sem sobreviventes, ao sobrevoar o navio onde Santos Dumont estava. Após este evento, ele se trancou no Copacabana Palace e somente saiu para participar dos funerais. Em 10 junho de 1930, foi condecorado pelo Aeroclube da França com o título de Grande Oficial da Legião de Honra da França. Seu discurso foi registrado num filme sonoro. Morte. No dia 28 de outubro de 1930, na França, Santos Dumont foi internado, e no dia 14 de abril do ano seguinte, escreveu seu primeiro testamento. Em 1931 esteve internado em casas de saúde em Biarritz e em Orthez, no sul da França, onde tentou suicidar-se com sobredose de medicação. Antônio Prado Júnior, ex-prefeito do Rio de Janeiro (então capital do Brasil), havia sido exilado pela Revolução de 1930 e fora para a França. Encontrou Santos Dumont em delicado estado de saúde, o que o levou a entrar em contato com sua família e a pedir ao seu sobrinho Jorge Dumont Vilares, que fosse buscá-lo na França. Antes de voltar ao Brasil, a bordo do vapor Lutetia, no dia 3 de junho de 1931, Santos Dumont já havia tentado suicídio na Europa, sendo impedido por seu sobrinho. Ele não retornaria mais à França. Em 4 de junho de 1931 foi eleito membro da Academia Brasileira de Letras, apesar de não ser da sua vontade ser eleito. De volta ao Brasil, passou por Araxá, em Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo e finalmente instalou-se no Grand Hôtel La Plage, no Guarujá, em maio de 1932. Em 1932 ocorreu a revolução constitucionalista, em que o estado de São Paulo se levantou contra o governo revolucionário de Getúlio Vargas. No dia 14 de junho daquele ano, Santos Dumont escreveu uma carta em favor da "...ordem constitucional no país..." para o governador Pedro de Toledo, porém, ao conversar com o professor e amigo José de Oliveira Orlandi por telefone, Dumont disse: “Meu Deus! Meu Deus! Não haverá meio de evitar derramamento de sangue de irmãos? Por que fiz eu esta invenção que, em vez de concorrer para o amor entre os homens, se transforma numa arma maldita de guerra? Horrorizam-me estes aeroplanos que estão constantemente pairando sobre Santos”. Apesar disso o conflito aconteceu e aviões atacaram o Campo de Marte, em São Paulo, no dia 23 de julho. Possivelmente, sobrevoaram o Guarujá, e a visão de aviões em combate pode ter causado uma angústia profunda em Santos Dumont que, nesse dia, aproveitando-se da ausência de seu sobrinho, suicidou-se, aos 59 anos. O Decreto n° 21.668 estabeleceu três dias de luto. Os médicos legistas Roberto Catunda e Ângelo Esmolari, que assinaram seu , registraram a morte como ataque cardíaco. Entretanto, as camareiras que acharam o corpo, relataram que ele havia se enforcado com a gravata. Porém, de acordo com Henrique Lins de Barros, por muito tempo foi proibido falar que ele havia se suicidado e que o fato de ele ter se suicidado devido ao uso militar do avião seria uma lenda do período getulista, porquanto o governo procurava mitificá-lo e o suicídio poderia derrubar essa ideia. A causa real deveria ser devido à depressão e transtorno bipolar. A ordem do governador Pedro de Toledo, diante da morte de Santos Dumont, foi: “Não haverá inquérito, Santos Dumont não se suicidou”, mas em 1944, o jornalista Edmar Morel revelou publicamente a causa da morte como suicídio. Dumont não deixou descendência ou nota de suicídio. Seu corpo foi enterrado no Cemitério São João Batista, no Rio de Janeiro, no dia 21 de dezembro de 1932, durante grande temporal, sob a réplica do Ícaro de Saint Cloud, construída por Santos Dumont, após seus restos mortais terem ficado por cinco meses na capital paulista. O médico Walther Haberfield removeu secretamente o coração do Pai da aviação durante o processo de embalsamento, e o preservou em formol, mantendo segredo sobre isso. Após doze anos, quis devolvê-lo à família Dumont, que não aceitou. O médico, então, doou o coração do inventor ao governo brasileiro, após pedido da Panair do Brasil. Hoje o coração está exposto no museu da Força Aérea, no Campo dos Afonsos, no Rio de Janeiro., dentro de uma esfera carregada por Ícaro, projetada por Paulo da Rocha Gomide. Legado e homenagens. Em 25 de julho de 1909, Louis Blériot atravessou o Canal da Mancha, tornando-se um herói na França. Santos Dumont, em carta, parabenizou Blériot, seu amigo, com as seguintes palavras: "Esta transformação da geografia é uma vitória da navegação aérea sobre a navegação marítima. Um dia, talvez, graças a você, o avião atravessará o Atlântico". Blériot, então, respondeu: "Eu não fiz mais do que segui-lo e imitá-lo. Seu nome para os aviadores é uma bandeira. Você é o nosso líder." Em homenagem, o último projeto de Blériot foi batizado de "Santos-Dumont". diz que a influência do inventor foi tanto em seu desenvolvimento aeronáutico, tanto na defesa do uso público e pessoal da aéronáutica, seja através do mais leve e o mais pesado que o ar. Ao longo de carreira, a imagem de Santos-Dumont estampou produtos, seu chapéu panamá e colarinho foram replicados, seus balões foram transformados em brinquedos e confeiteiros o homenageavam com bolos em forma de charutos. A mídia europeia e estadunidense o apresentava como um "aeronauta francês", ou acentuava sua ascendência francesa, enquanto a mídia brasileira o reapropriava como um brasileiro. Em reconhecimento às suas conquistas, o Aeroclube da França o homenageou com a construção de dois monumentos: o primeiro, em 1910, erguido no Campo de Bagatelle, onde realizara o voo com o Oiseau de Proie, e o segundo, em 1913, em Saint-Cloud, em comemoração do voo do dirigível "Nº 6", ocorrido em 1901. Por ocasião da inauguração do monumento de Saint-Cloud - uma bela e imponente estátua de Ícaro - um de seus amigos de longa data, o desenhista Georges Goursat (vulgo “Sem”), escreveu para a revista L’Illustration as linhas que se seguem: Em 31 de julho de 1932 o decreto estadual n° 10.447 mudou o nome da cidade de Palmira, em Minas Gerais, para Santos Dumont. A Lei n° 218, de 4 de julho de 1936, declara 23 de outubro o "dia do aviador", em homenagem ao primeiro voo da história, realizado nesta data, em 1906, "para que esta comemoração tenha sempre condigna celebração cívica, esportiva e cultural, especialmente escolar, acentuando-se a iniciativa do notável brasileiro Santos Dumont". Em 16 de outubro de 1936, o primeiro aeroporto do Rio de Janeiro, Aeroporto do Rio de Janeiro-Santos Dumont, foi batizado com seu nome. A Lei Nº165, de 5 de dezembro de 1947, concedeu-lhe o posto honorífico de "tenente-brigadeiro". A casa natal de Santos Dumont, em Cabangu, Minas Gerais, foi transformada no Museu de Cabangu pelo decreto estadual (MG) nº 5.057, de 18 de julho de 1956. A Lei 3.636, de 22 de setembro de 1959, concedeu-lhe o posto honorífico de "marechal-do-ar". Em 1976, a União Astronômica Internacional prestou homenagem ao inventor brasileiro, colocando seu nome em uma cratera lunar (27,7°N 4,8°E). É o único brasileiro e sul-americano detentor desta distinção. A Lei 7.243, de 4 de novembro de 1984, concedeu-lhe o título de "Patrono da Aeronáutica Brasileira". Em 13 de outubro de 1997, o então presidente dos Estados Unidos, Bill Clinton em visita ao Brasil, discursou no Palácio Itamaraty, se referindo a Santos Dumont como o "pai da aviação". Em 18 de outubro de 2005, a Agência Espacial Brasileira (AEB) e a Agência Espacial Federal Russa (Roscosmos) assinaram um acordo para a realização da "Missão Centenário", que levou o astronauta brasileiro Marcos César Pontes à Estação Espacial Internacional. A missão é uma homenagem ao centenário do voo de Santos Dumont no 14 Bis, ocorrido no dia 23 de outubro de 1906. O lançamento da nave Soyuz TMA-8 ocorreu em 30 de março de 2006, no Centro de Lançamento de Baikonur (Cazaquistão). No mês seguinte, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva o adicionou a título póstumo nas fileiras do grau de Grã-Cruz da Ordem de Rio Branco. Em 26 de julho de 2006 seu nome foi incluído no "Livro de Aço dos Heróis Nacionais" localizado no Panteão da Pátria, em Brasília, garantindo-lhe assim o status de "Herói Nacional". Representações culturais. O poeta Eduardo das Neves compôs em 1902 a música "" em homenagem aos feitos de Dumont, descrita por Thomas Skidmore como "um exemplo conspícuo de "ufanismo" durante a "belle époque" [brasileira]", enquanto para a música "...uma tentativa de inserir a população afro-brasileira nas visões cosmopolitanas do voo humano." Em 1924 Tarsila do Amaral pintou "Carnaval em Madureira", onde representava a réplica torre com o dirigível construída em Madureira para o carnaval daquele ano, e a presença de afro-brasileiros durante a festa. Em 2004 a Unidos da Tijuca relembrou o aviador, com diversos cientistas - entre eles o ganhador do Prêmio Nobel Roald Hoffmann - vestidos como Santos Dumont. Em 1956, o Correio Brasileiro lançou uma série de selos comemorativa ao cinquentenário do primeiro voo de aparelho mais pesado que o ar. Em 1973, os Correios lançaram uma série de selos ao centenário de Santos Dumont. Em 23 de outubro de 2006, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos lançou o selo comemorativo em homenagem ao centenário do voo do 14-bis. No mesmo mês, o Banco Central do Brasil também lançou uma moeda comemorativa à invenção de Santos Dumont. Dumont também foi representado nas notas de cruzeiro e cruzeiro novo. Em 2012, a Cartier produziu uma série de relógios com o nome do piloto brasileiro, celebrando a parceria entre a marca e Santos Dumont, responsável pelo desenho que até hoje é característico da empresa; como peça publicitária foi realizado um premiado filme pela francesa "Quad Productions France" com animação digital a mesclar-se em locações reais, em que aparece o piloto brasileiro interagindo com um leopardo, figura central da peça - intitulada "L'Odyssée de Cartier". Em 2015, o autor Arthur Japin lançou o romance histórico ""De gevleugelde" ("O Homem com Asas"", no Brasil), sobre a vida e a morte do aviador, além de recriar os eventos envolvidos na extração de seu coração. Durante a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de Verão de 2016, realizada no Maracanã, e exibida ao vivo para o mundo inteiro, uma representação de Santos Dumont e sua invenção, o 14 Bis, tiveram grande destaque no desenvolver da Cerimônia e na apresentação da cultura do Brasil para o mundo. Uma réplica do 14 Bis foi construída no estádio e, com auxílio de cabos de aço, sobrevoou a pista, "decolando" para um sobrevoo pela cidade do Rio de Janeiro. Santos Dumont já foi retratado como personagem no cinema, na televisão e no teatro, interpretado por Denis Manuel na série "Les Faucheurs de Marguerites" (1974), de Marcel Camus; por Cássio Scapin na minissérie ""Um Só Coração" (2004); por Daniel de Oliveira no curta metragem "14 Bis" (2006); por Ricardo Napoleão na peça de Denise Stoklos "Mais Pesado do que o Ar - Santos Dumont"" (1996); e por Henri Lalli na peça "Santos Dumont" (desde 2003). Fernanda Montenegro representou uma descendente de Santos Dumont na novela "Zazá" (1997) do qual se travestia. A TV Brasil produziu o programa "O Teco Teco", em que há um personagem que se chama Betinho, em homenagem a Santos Dumont quando pequeno. Em 10 de novembro de 2019, a HBO lançou a minissérie "Santos Dumont" em toda a América Latina. A produção, que faz referências à França e ao Brasil do fim do século XIX e início do século XX, acompanha os passos do aviador desde a infância nos cafezais de sua família, no interior de Minas Gerais e de São Paulo (onde a família se fixou), até os sofisticados salões e aeroclubes de Paris, onde Alberto Santos Dumont fez seu famoso e histórico voo no 14-Bis, em 1906. O ator João Pedro Zappa interpretou o inventor. Vida pessoal. A Encantada. No Brasil, em 1918, Santos Dumont comprou um pequeno lote ao lado de uma colina na cidade de Petrópolis, nas Serra Fluminense e, em 1918, construiu uma pequena casa ali cheia de aparelhos mecânicos imaginativos, incluindo um chuveiro aquecido a álcool de seu próprio projeto. A colina foi escolhida propositadamente por causa de sua grande inclinação, como prova de que a engenhosidade poderia possibilitar a construção de uma casa confortável naquele local improvável. Depois de construí-lo, costumava passar o verão lá para escapar do calor do Rio de Janeiro, chamando-o de "A Encantada", por conta da Rua do Encanto. Os degraus das escadas exteriores são escavados alternadamente à direita e à esquerda, para permitir que as pessoas subam confortavelmente. A casa é agora um museu. Sexualidade. A controvérsia sobre a sexualidade de Santos Dumont é há muito discutida, inclusive pelos seus biógrafos, uma vez que o aviador brasileiro nunca se casou e, além disso, mantinha uma aparência sempre bem cuidada, modos refinados e era bastante tímido. O pesquisador Henrique Lins de Barros, do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas, rejeita a tese de que o inventor brasileiro era homossexual, mas que ele era apenas um homem preocupado com a aparência. Segundo Barros, "O refinamento francês soava como afetação homossexual para os jornalistas norte-americanos, que o descreviam como efeminado. (…) Hoffman não entendeu os costumes e valores da época e viu tudo com a visão distorcida que se tinha naquele tempo nos Estados Unidos". Além disso, em seu artigo "Alberto Santos-Dumont: pioneiro da aviação", Barros nota que Dumont chegou a ter um noivado anunciado pela mídia com Edna Powers, filha de um milionário americano. Além disso, Cosme Degenar Drumond, escritor de "Alberto Santos-Dumont: Novas Revelações", diz que na França Dumont tem "fama de conquistador". Mas recentemente, Santos Dumont foi elencado na lista dos "100 homossexuais vips do Brasil", formulada pelo antropólogo Luiz Mott, reacendendo a discussão em relação à vida sexual do aviador brasileiro. A família de Santos Dumont tem repudiado as alegações de homossexualidade do aviador. Santos Dumont teria tido um caso homoafetivo com Georges Goursat em 1901. Já Yolanda Penteado, na autobiografia "Tudo em cor de rosa", conta: "(…) conheci o Alberto Santos Dumont, um irmão do meu tio Henrique. Seu Alberto, como o chamávamos, vinha todos os dias para jantar e ia ficando, dizendo que era para ver a lua sair. No Flamengo, as noites de lua cheia eram realmente bonitas. Ele era uma pessoa irrequieta. Eu achava engraçado que me desse tanta atenção. Tia Amália dizia: ‘Alberto, você está ficando tonto, namorando essa menina’. Seu Alberto, de fato, me fazia a corte, trazia-me bombons, flores, levava-me a passear. As pessoas que o conheciam melhor diziam que, quando ele me via, ficava elétrico". Em 2009, foi publicada uma carta de Santos Dumont ao amigo Pedro Guimarães, datada de 23 de dezembro de 1901, em que o primeiro conta estar apaixonado por uma americana: "(…) Porém, o meu coração está já muito com ela… e não sei o que fazer, se parar o namoro ou se continuar. É uma posição muito crítica." Saúde mental. Tradicionalmente Santos Dumont é descrito como tendo desenvolvido esclerose múltipla. Porém, tal diagnose é contestada por outros pesquisadores: Henrique Lins de Barros questiona esta diagnose: “Acho difícil acreditar nessa hipótese da esclerose múltipla... Como alguém sofrendo de uma doença degenerativa, como esclerose múltipla, poderia esquiar em Saint Moritz na década de 1910 e jogar tênis na década de 1920, como ele fazia?” Marcos Villares Filho, sobrinho-bisneto do aviador, diz que provavelmente ele sofria de uma depressão profunda. A documentação da época não provê uma boa quantidade de informações para determinar que Santos Dumont tenha sofrido por esclerose múltipla. O diagnóstico original veio após consultar um médico devido a sintomas como tontura e visão dupla. Posteriormente, tal diagnose foi contestada por outros médicos, por acreditarem que o aviador já sofresse de manifestações psiquiátricas. Os sintomas relatados para o diagnóstico original seriam apenas dois relacionados com esclerose múltipla. Uma carta escrita em 1931 por um médico no sanatório de Orthez para um amigo do aeronauta o descreve como "sofrendo de melancolia ansiosa com ilusões de culpa, culpa imaginária e a espera por punição.", também identificada como neurastenia, uma exaustão do sistema nervoso central. relata diversos episódios demonstrando surtos de energia quando nos momentos fora de seus episódios depressivos. Santos Dumont teria desenvolvido depressão em 1910, predatando o uso do avião na guerra, o que, de acordo com o artigo citado, indicaria que seu sentimento de culpa fosse um sintoma em vez da causa. Cheniaux hipotetiza que Santos Dumont sofresse de transtorno bipolar ou síndrome maníaca, com suas últimas e bizarras invenções podendo demonstrar a "perda da habilidade de pensar criticamente". O transtorno bipolar é um dos transtornos mais conectados com o suicídio e Santos Dumont já tinha precedência em sua família, com sua mãe tendo tirado sua própria vida em 1902 e que o aviador já demonstrava no fim da vida uma série de fatores epidemiológicos de risco para o suicídio. Porém, é complicado determinar qualquer diagnóstico devido à escassez de documentação médica.
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Biologia
Biologia Biologia é a ciência natural que estuda, descreve, preserva e melhora a vida e os organismos vivos. Apesar de sua complexidade, certos conceitos unificadores a consolidam em um campo único e coerente. A biologia reconhece a célula como a unidade básica da vida, os genes como a unidade básica da hereditariedade e a evolução como o motor natural que impulsiona a origem e extinção das espécies. Além disso, reconhece que os organismos vivos possuem estruturação interna em compartimentos com funções específicas, seja a nível celular, anatômico, fisiológico ou de diversidade e nichos ecológicos. Os organismos vivos também podem ser vistos do ponto de vista físico e químico como sistemas abertos que sobrevivem transformando energia e diminuindo sua entropia local para manter um o equilíbrio dinâmico vital, através de reações bioquímicas (homeostase). Por outro lado, organismos vivos também podem ser vistos sob o ângulo da produção econômica (produtos, processos, serviços e biotecnologias), tal qual a definição dada pela "Convenção sobre Diversidade Biológica" da ONU para biotecnologia, como sendo a utilização de sistemas biológicos, organismos vivos, ou seus derivados, para fabricar ou modificar produtos ou processos para utilização específica. As subdisciplinas da biologia são definidas pelos métodos de pesquisa empregados e o tipo de sistema estudado: a biologia teórica usa métodos matemáticos para formular modelos quantitativos enquanto a biologia experimental realiza experimentos empíricos para testar a validade das teorias propostas e compreender os mecanismos subjacentes à vida e como ela surgiu e evoluiu. As subdisciplinas da biologia também podem ser definidas pela escala em que a vida é estudada (molecular, celular, morfofisiológico, ecológico, biodiversidade, reprodução e genética), os tipos de organismos estudados e os métodos utilizados: a bioquímica examina a química rudimentar da vida; a biologia molecular estuda as interações complexas entre as moléculas biológicas; a biologia celular examina a unidade básica da vida, a célula; a fisiologia examina as funções físicas e químicas dos tecidos, órgãos e sistemas; a ecologia examina como os organismos interagem em seu ambiente; e a biologia evolutiva examina os processos evolutivos que provavelmente produziram a diversidade da vida. A vida, em relação às células, é estudada pela biologia celular, biologia molecular, bioquímica e genética molecular; enquanto, à escala multicelular, é estudada pela fisiologia, anatomia e histologia. A biologia do desenvolvimento estuda o processo pelo qual os organismos crescem e se desenvolvem, e a ontogenia (ou ontogênese), o desenvolvimento de um indivíduo desde a concepção até a maturidade. Etimologia. O termo "biologia" significa basicamente "estudo da vida". Sua origem vem de "Biologie", combinação originalmente alemã criada no início do século XIX a partir do vocábulo hipotético ‹› ("biología"), do grego antigo ‹› ("bío-", "vida") ‹› ("lógos", "explicação, discurso") +‎ ‹› ("-íā", sufixo nominal abstrato) = ‹› (-"logíā", "estudo, tratado"). Posteriormente, se estendeu a outros idiomas europeus, como o francês e o dinamarquês ("biologie"). O primeiro uso, em alemão, "Biologie", foi numa tradução de 1771 do trabalho de Lineu. A forma latina do termo apareceu pela primeira vez em 1736, quando o cientista sueco Carlos Lineu (Carl von Linné) usou o termo "biologi" em sua "Bibliotheca botanica". Em 1766 o termo foi usado novamente na obra intitulada "Philosophiae naturalis sive physicae: tomus III", pelo o geólogo, biólogo e fitólogo Michael Christoph Hanov, discípulo de Christian Wolff. Em 1797 Theodor Georg August Roose usou o termo no prefácio do livro "Grundzüge der Lehre van der Lebenskraft", mas a palavra propriamente dita teria sido cunhada em 1800 por Karl Friedrich Burdach, aparecendo no título do terceiro volume da obra de Michael Christoph Hanov, publicada em 1766, "Philosophiae naturalis sive physicae dogmaticae: Geologia, biologia, phytologia generalis et dendrologia" ("Propädeutik zum Studien der gesammten Heilkunst"), onde também usou o termo em um sentido mais restrito do estudo dos seres humanos de uma perspectiva morfológica, fisiológica e psicológica. Contudo, o conceito de "biologia" no seu sentido moderno foi introduzida por Gottfried Reinhold Treviranus ("Biologie oder Philosophie der lebenden Natur", 1802) e por Jean-Baptiste Lamarck ("Hydrogéologie", 1802). Com o tratado de seis volumes de "Biologie, oder Philosophie der lebenden Natur" (1802–22), Gottfried Reinhold Treviranus declarou: História. Origens. Embora a biologia moderna tenha se desenvolvido há pouco tempo, as ciências relacionadas e incluídas nela foram estudadas desde os tempos antigos. A filosofia natural foi estudada já nas antigas civilizações da Mesopotâmia, do Egito, do subcontinente indiano e da China. No entanto as origens da biologia moderna e sua abordagem ao estudo da natureza são mais frequentemente remontadas à Grécia antiga. Embora o estudo formal da medicina remonte ao Egito faraônico, foi Aristóteles (384-322 a.C.) quem contribuiu mais amplamente para o desenvolvimento da biologia. Especialmente importantes são sua História dos Animais e outros trabalhos onde ele mostrou inclinações naturalistas, e mais tarde trabalhos mais empíricos que enfocaram a causalidade biológica e a diversidade da vida. O sucessor de Aristóteles no Liceu, Teofrasto, escreveu uma série de livros sobre botânica que sobreviveram como a contribuição mais importante da antiguidade para as ciências das plantas, mesmo na Idade Média. Dentre os estudiosos do mundo islâmico medieval que escreveram sobre biologia estavam Al-Jahiz (781–869), Abu Hanifa de Dinavar (828–896), que escreveu sobre botânica, e Rasis (865–925). A medicina foi especialmente bem estudada pelos estudiosos islâmicos que seguiam as tradições do filósofo grego, enquanto a história natural inspirou fortemente o pensamento aristotélico, especialmente na defesa de uma hierarquia fixa da vida. A biologia começou a se desenvolver e crescer rapidamente com a melhoria do microscópio, de Anton van Leeuwenhoek. Foi então que os estudiosos descobriram os espermatozoides, as bactérias, e a diversidade da vida microscópica. As investigações de Jan Swammerdam levaram a um novo interesse pela entomologia e ajudaram a desenvolver as técnicas básicas de dissecção e coloração microscópica. Os avanços na microscopia também tiveram um impacto profundo no pensamento biológico. No início do século XIX, vários biólogos apontaram para a importância central da célula. Então, em 1838, Schleiden e Schwann começaram a promover as ideias agora universais que compõe a teoria celular, mas cujos três princípios só obtiveram ampla aprovação da comunidade científica em 1860, graças ao trabalho de Robert Remak e Rudolf Virchow. Enquanto isso, a taxonomia e a classificação se tornaram o foco dos historiadores naturais. Lineu publicou uma taxonomia básica para o mundo natural em 1735 (variações da qual têm estado em uso desde então), e na década de 1750 introduziu nomes científicos para todas as suas espécies. Embora ele se opusesse à evolução, Georges-Louis Leclerc, conde de Buffon sugeriu a possibilidade de uma descendência comum dentre as espécies e portanto é visto como uma figura chave na história do pensamento evolutivo; seu trabalho influenciou as teorias evolutivas de Lamarck e Darwin. O pensamento evolutivo sério originou-se com as obras de Jean-Baptiste Lamarck, que postulou que a evolução era o resultado do estresse ambiental nas propriedades dos animais, significando que quanto mais frequente e rigorosamente um órgão fosse usado, mais complexo e eficiente ele se tornaria, adaptando o animal ao seu ambiente e então seriam passadas para a prole. No entanto, foi o naturalista britânico Charles Darwin que forjou a teoria evolutiva mais bem-sucedida com base na seleção natural, combinando a abordagem biogeográfica de Humboldt, a geologia uniformitarista de Lyell, os escritos de Malthus sobre o crescimento populacional e suas próprias extensas observações naturais; raciocínios e evidências semelhantes levaram Alfred Russel Wallace a chegar independentemente às mesmas conclusões. Embora controversa, a teoria de Darwin se espalhou rapidamente pela comunidade científica e logo se tornou um axioma central da ciência da biologia. A descoberta da representação física da hereditariedade veio junto com os princípios evolutivos e a genética populacional. Na década de 1940 e no início da década de 1950, experimentos apontaram o DNA como o componente dos cromossomos que mantinham as unidades portadoras de características que se tornaram conhecidas como genes. Um foco em novos tipos de organismos modelo, como vírus e bactérias, junto com a descoberta da estrutura em dupla hélice do DNA em 1953, marcou a transição para a era da genética molecular. Dos anos 1950 até os tempos atuais, a biologia foi amplamente ampliada em o domínio molecular. O código genético foi decifrado por Har Gobind Khorana, Robert W. Holley e Marshall Warren Nirenberg depois que o DNA foi entendido como contendo códons. Finalmente, o Projeto Genoma Humano foi lançado em 1990 com o objetivo de mapear o genoma humano em geral. Este projeto foi essencialmente concluído em 2003, com análises adicionais ainda sendo publicadas. O Projeto Genoma Humano foi o primeiro passo em um esforço globalizado para incorporar o conhecimento acumulado de biologia em uma definição funcional e molecular do corpo humano e dos corpos de outros organismos. Subdivisões. A biologia é atualmente dividida em várias subdivisões, ramos, ou subdisciplinas, todas voltadas ao estudo das particularidades da ciência. Elas são conhecidas no meio acadêmico por ciências biológicas, pois lidam com o estudo de certas áreas ou de uma área específica da biologia. São divididas em: Princípios. Universalidade: bioquímica, células e o código genético. Existem muitas unidades universais e processos comuns que são fundamentais para todas as formas de vida. Por exemplo, quase todas as formas de vida são constituídas por células que, por sua vez, funcionam segundo uma bioquímica comum baseada no carbono. A exceção a essa regra são os vírus e os príons, que não são compostos por células. Os primeiros assumem uma forma cristalizada inativa e só se reproduzem com o aparelho nuclear das células alvo. Os príons, por sua vez, são proteínas auto replicantes-infectantes, que causam, por exemplo, a encefalopatia bovina espongiforme (ou "mal da vaca louca"). Todos os organismos transmitem a sua hereditariedade através de material genético baseado em ácidos nucleicos, podendo ser ou DNA (ácido desoxirribonucleico) ou RNA (Ácido ribonucléico), usando um código genético universal. Durante o desenvolvimento o tema dos processos universais está também presente: por exemplo, na maioria dos organismos metazoários, os passos básicos do desenvolvimento inicial do embrião partilham estágios morfológicos semelhantes e envolvem genes similares. Evolução: teoria e evidências. Um dos conceitos nucleares e estruturantes em biologia é de que a vida mudou e tem mudado, desde que surgiu no planeta, e de que os seres vivos possuem ancestrais e descendência comum. De fato, é uma das razões pelas quais os organismos biológicos exibem a notável similaridade de unidades e processos discutida na seção anterior. Charles Darwin estabeleceu a evolução como uma teoria viável ao enunciar a sua força motriz: a seleção natural. (Alfred Russel Wallace é comumente reconhecido como co-autor deste conceito). A deriva genética foi admitida como um mecanismo adicional na chamada síntese moderna. A história evolutiva duma espécie, que descreve as várias espécies de que aquela descende e as características destas, juntamente com a sua relação com outras espécies vivas, constituem a sua filogenia. A elaboração duma filogenia recorre às mais variadas abordagens, desde a comparação de genes no âmbito da biologia molecular ou da genómica até comparação de fósseis e outros vestígios de organismos antigos pela paleontologia. As relações evolutivas são analisadas e organizadas mediante vários métodos, nomeadamente a filogenia, a fenética e a cladística. Os principais eventos na evolução da vida, tal como os biólogos os veem, podem ser resumidos nesta cronologia evolutiva. Apesar da unidade subjacente, a vida exibe uma diversidade surpreendente em termos de morfologia, comportamento e ciclos de vida. A classificação de todos os seres vivos é uma tentativa de lidar com toda esta diversidade, e o objetivo de estudo da sistemática e da taxonomia. A taxonomia separa os organismos em grupos chamados táxon, enquanto a sistemática procura estabelecer relações entre estes. Uma classificação científica deve refletir as árvores filogenéticas, também chamadas árvores evolutivas, dos vários organismos. Tradicionalmente, os seres vivos são divididos em cinco reinos: Contudo, vários autores consideram este sistema desactualizado. Abordagens mais modernas começam geralmente com o sistema dos três domínios: Estes domínios são definidos com base em diferenças a nível celular, como a presença ou ausência de núcleo e a estrutura da membrana exterior. Existe ainda toda uma série de parasitas intracelulares considerados progressivamente menos "vivos" em termos da sua actividade metabólica: Homeostase: adaptação à mudança. A homeostase é a propriedade de um sistema aberto de regular o seu ambiente interno de modo a manter uma condição estável mediante múltiplos ajustes de um equilíbrio dinâmico controlados pela interação de mecanismos de regulação. Todos os organismos, unicelulares e multicelulares, exibem homeostase. A homeostase pode-se manifestar ao nível da célula, na manutenção duma acidez (pH) interna estável, do organismo, na temperatura interna constante dos animais de sangue quente, e mesmo do ecossistema, no maior consumo de dióxido de carbono atmosférico devido a um maior crescimento da vegetação provocado pelo aumento do teor de dióxido de carbono na atmosfera. Tecidos e órgãos também mantêm homeostase. Interação: grupos e ambientes. Todo o ser vivo interage com outros organismos e com o seu ambiente. Uma das razões pelas quais os sistemas biológicos são tão difíceis de estudar é precisamente a possibilidade de tantas interações diferentes com outros organismos e com o ambiente. Uma bactéria microscópica reagindo a um gradiente local de açúcar está a reagir ao seu ambiente exatamente da mesma forma que um leão está a reagir ao seu quando procura alimento na savana africana, ou um avestruz protege seu ninho comunal na África. Dentro duma mesma espécie ou entre espécies, os comportamentos podem ser cooperativos, agressivos, parasíticos ou simbióticos. A questão torna-se mais complexa à medida que um número crescente de espécies interage num ecossistema. Este é o principal objetivo de estudo da ecologia. Âmbito. A biologia tornou-se um campo de investigação tão vasto que geralmente não é estudada como uma única disciplina, mas antes dividida em várias disciplinas subordinadas. Consideramos aqui quatro grandes agrupamentos. O primeiro consiste nas disciplinas que estudam as estruturas básicas dos sistemas vivos: células, genes, etc.; um segundo agrupamento aborda o funcionamento destas estruturas ao nível dos tecidos, órgãos e corpos; um terceiro incide sobre os organismos e o seu ciclo de vida; um último agrupamento de disciplinas foca-se nas interacções. Note-se, contudo, que estas descrições, estes agrupamentos e as fronteiras entre estes são apenas uma descrição simplificada do todo que é a investigação biológica. Na realidade, as fronteiras entre disciplinas são muito fluidas e a maioria das disciplinas recorre frequentemente a técnica doutras disciplinas. Por exemplo, a biologia evolutiva apoia-se fortemente em técnicas da biologia molecular para determinar sequências de DNA que ajudam a perceber a variação genética dentro duma população; e a fisiologia recorre com frequência à biologia celular na descrição do funcionamento dos sistemas de órgãos. Estrutura da vida. A biologia molecular é o estudo da biologia ao nível molecular, sobrepondo-se em grande parte com outras áreas da biologia, nomeadamente a genética e a bioquímica. Ocupa-se essencialmente das interacções entre os vários sistemas celulares, incluindo a correlação entre DNA, RNA e a síntese proteica, e de como estas interacções são reguladas. A biologia celular estuda as propriedades fisiológicas das células, bem como o seu comportamento, interacções e ambiente, tanto ao nível microscópico como molecular. Ocupa-se tanto de organismos unicelulares como as bactérias, como de células especializadas em organismos multicelulares como as dos humanos. Compreender a composição e o funcionamento das células é essencial para todas as ciências biológicas. Avaliar as semelhanças e as diferenças entre os diferentes tipos de células é particularmente importante para estas duas disciplinas, e é a partir destas semelhanças e diferenças fundamentais que emerge um padrão unificador que permite que os princípios deduzidos a partir dum tipo de célula sejam extrapolados e generalizados para outros tipos de célula. A genética é a ciência dos genes, da hereditariedade e da variação entre organismos. Na investigação moderna, providencia ferramentas importantes para o estudo da função dum gene particular e para a análise de interacções genéticas. Nos organismos, a informação genética normalmente está nos cromossomas, mais concretamente, na estrutura química de cada uma das moléculas de DNA. Os genes codificam a informação necessária para a síntese de proteínas que, que, por sua vez, desempenham um papel central em influenciar o fenótipo final do organismo. A biologia do desenvolvimento estuda o processo pelo qual os organismos crescem e se desenvolvem. Confinada originalmente à embriologia, nos nossos dias estuda o controle genético do crescimento e diferenciação celular e da morfogênese, o processo que dá origem aos tecidos, órgãos e à anatomia em geral. Entre as espécies privilegiadas nestes estudos encontram-se o nemátode "Caenorhabditis elegans", a mosca-do-azeite "Drosophila melanogaster", o peixe-zebra "Brachydanio rerio ou Danio rerio", o camundongo "Mus musculus", e a erva "Arabidopsis thaliana". Fisiologia dos organismos. A fisiologia estuda os processos mecânicos, físicos e bioquímicos dos organismos vivos, tentando compreender como as várias estruturas funcionam como um todo. É tradicionalmente dividida em fisiologia vegetal e fisiologia animal, mas os princípios da fisiologia são universais, independentemente do organismo estudado. Por exemplo, informação acerca da fisiologia duma célula de levedura também se aplica a células humanas, e o mesmo conjunto de técnicas e métodos é aplicado à fisiologia humana ou à de outras espécies, animais e vegetais. A anatomia é uma parte importante da fisiologia e estuda a forma como funcionam e interagem os vários sistemas dum organismo, como, por exemplo, os sistemas nervoso, imunitário, endócrino, respiratório e circulatório. O estudo destes sistemas é partilhado com disciplinas da medicina como a neurologia, a imunologia e afins. Diversidade e evolução dos organismos. A biologia evolutiva ocupa-se da origem e descendência de entidades biológicas (espécies, populações ou mesmo genes), bem como da sua modificação ao longo do tempo, ou seja, da sua evolução. É uma área heterogénea onde trabalham investigadores oriundos das mais variadas disciplinas taxonómicas, tais como a mamalogia, a ornitologia e a herpetologia, que usam o seu conhecimento sobre esses organismos para responder a questões gerais de evolução. Inclui ainda os paleontólogos que estudam fósseis para responder a questões acerca do modo e do tempo da evolução, e teóricos de áreas como a genética populacional e a teoria evolutiva. Na década de 1990, a biologia do desenvolvimento recuperou o seu papel na biologia evolutiva após a sua exclusão inicial da síntese moderna. Áreas como a filogenia, a sistemática e a taxonomia estão relacionadas com a biologia evolutiva e são por vezes consideradas parte desta. As duas grandes disciplinas da taxonomia são a botânica e a zoologia. A botânica ocupa-se do estudo das plantas e abrange um vasto leque de disciplinas que estudam o seu crescimento, reprodução, metabolismo, desenvolvimento, doenças e evolução. A zoologia ocupa-se do estudo dos animais, incluindo aspectos como a sua fisiologia, anatomia e embriologia. Tanto a botânica como a zoologia se dividem em disciplinas menores especializadas em grupos particulares de animais e plantas. A taxonomia inclui outras disciplinas que se ocupam doutros organismos além das plantas e dos animais, como, por exemplo, a micologia, que estuda os fungos. Os mecanismos genéticos e de desenvolvimento partilhados por todos os organismos são estudados pela biologia molecular, pela genética molecular e pela biologia do desenvolvimento. Classificação da vida. O sistema de classificação dominante é conhecido como taxonomia lineana, que inclui conceitos como a estruturação em níveis e a nomenclatura binomial. A atribuição de nomes científicos a organismos é regulada por acordos internacionais como o Código Internacional de Nomenclatura Botânica (ICBN), o Código Internacional de Nomenclatura Zoológica (ICZN), e o Código Internacional de Nomenclatura Bacteriana (ICNB). Um esboço dum código único foi publicado em 1997 numa tentativa de uniformizar a nomenclatura nas três áreas, mas que parece não ter sido ainda adoptado formalmente. O Código Internacional de Classificação e Nomenclatura de Vírus (ICVCN) não foi incluído neste esforço de uniformização. Interações entre organismos. A ecologia estuda a distribuição e a abundância dos organismos vivos, e as interações dos organismos entre si e com o seu ambiente. O ambiente de um organismo inclui não só o seu habitat, que pode ser descrito como a soma dos fatores abióticos locais tais como o clima e a geologia, mas também pelos outros organismos com quem partilha o seu habitat. Os sistemas ecológicos são estudados a diferentes níveis, do individual e populacional ao do ecossistema e da biosfera. A ecologia é uma ciência multidisciplinar, recorrendo a vários outros domínios científicos. A etologia estuda o comportamento animal (com particular ênfase nos animais sociais como os primatas e os canídeos) e é por vezes considerada um ramo da zoologia. Uma preocupação particular dos etólogos prende-se com a evolução do comportamento e a sua compreensão em termos da teoria da seleção natural. De certo modo, o primeiro etólogo moderno foi Charles Darwin, cujo livro "The Expression of the Emotions in Man and Animals" influenciou muitos etólogos.
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Base de dados
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Biocomputação
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Bioquímica
Bioquímica Bioquímica (química aplicada à biologia) é a ciência e tecnologia que estuda e aplica as ciências químicas ao contexto da biologia, sendo portanto uma área interdisciplinar entre a química e a biologia. Consiste no estudo, identificação, análise, modificação e manipulação de moléculas e das reações químicas de importância biológica, em ambientes e contextos químicos próprios in vitro ou in vivo (compartimentos celulares, virais e fisiológicos). Envolve moléculas de diversas dimensões tais como proteínas, enzimas, carboidratos, lipídios, ácidos nucléicos, vitaminas, alcaloides, terpenos e mesmo íons inorgânicos. Também engloba o estudo do efeito de compostos químicos orgânicos ou inorgânicos sobre os diferentes compartimentos biológicos (química biológica), assim como a modificação química de biomoléculas. Suas aplicações englobam setores como alimentos, fármacos e biofármacos, análises clínicas, biocombustíveis, pesquisa básica dentre outros. É uma ciência e tecnologia essencial para todas as profissões relacionadas a ciências da vida e uma das fronteiras de desenvolvimento das ciências químicas. Bioquímico é o profissional que estuda e aplica as leis da bioquímica para o entendimento e aplicação tecnológica de biomoléculas e dos organismos vivos (bioquímica industrial, biotecnologia e bioprocessos, bioquímica médica e clínica, bioquímica de alimentos, bioquímica agrícola e ambiental) para benefícios comerciais e industriais, e/ou benefícios a saúde humana e animal, a agropecuária e ao meio ambiente. Os bioquímicos utilizam ferramentas e conceitos da química e da biologia, particularmente da química orgânica, físico-química, fermentações e metabolismo, biologia celular, biologia molecular e genética, para a elucidação dos sistemas vivos e para sua aplicação tecnológica e industrial. A Bioquímica não deve ser confundida, no Brasil, com as análises clínicas, apenas uma de suas inúmeras aplicações e nem tampouco as análises clínicas devem ser reduzidas a apenas a bioquímica clínica. Em função disso, a graduação (licenciatura em Portugal) em Bioquímica é uma das mais tradicionais na Europa e EUA, e no Brasil, existe nas Universidades Federais de Viçosa e de São João del Rey (UFV e UFSJ) e nas Universidades Estaduais de Maringá e de São Paulo (UEM e USP, nesta última, como química ênfase bioquímica). No Brasil, não se deve confundir farmacêutico com o bioquímico, visto que um é profissional de saúde e outro é profissional da química da vida e da biotecnologia. Por bastante tempo, os cursos de graduação em farmácia no Brasil denominaram-se Farmácia-Bioquímica, em errônea alusão à habilitação em análises clínicas. Isto gerou na sociedade, e mesmo nos meios acadêmicos, a falsa noção de que bioquímica seria sinônimo de análises clínicas e farmácia, algo totalmente errado. História. A história da bioquímica moderna data do século XIX quando começaram as abordagens químicas sobre os fenômenos da biologia integrando conhecimento destas duas ciências e quando a química orgânica amadureceu como ciência e tecnologia. Um importante marco da bioquímica moderna foi a descoberta da síntese de ureia por Friedrich Wöhler em 1828, provando que os compostos orgânicos poderiam ser obtidos artificialmente. Outro marco importante ocorreu em 1833, quando Anselme Payen isolou pela primeira vez uma enzima, a diastase. Esta descoberta também é considerada como a primeira vez que foi descrito um composto orgânico que apresentava as propriedades de um catalisador. Entretanto, apenas em 1878, o fisiologista Wilhelm Kühne cunhou o termo "enzima" para se referir aos componentes biológicos desconhecidos que participavam do processo de fermentação. Em meados do século XIX, Louis Pasteur estudou o fenômeno da fermentação e descobriu que certas leveduras estavam envolvidas neste processo, e portanto, não se tratava de um fenômeno somente químico. Pasteur escreveu: "a fermentação alcoólica é um ato relacionado com a vida e organização das células de levedura, não com a morte e putrefação destas células". Pasteur desenvolveu também métodos de esterilização de vinho, leite e cerveja (pasteurização) e contribuiu muito para refutar a ideia de geração espontânea de seres vivos. Em 1896, Eduard Buchner demonstrou pela primeira vez que um processo bioquímico complexo poderia ocorrer fora de uma célula, tendo como base a fermentação alcoólica usando extrato celular de levedura. Durante o período de 1885-1901, Albrecht Kossel isolou e nomeou cinco constituintes dos ácidos nucleicos: adenina, citosina, guanina, timina e uracila. Estes compostos são conhecidos coletivamente como bases nitrogenadas e integram a estrutura molecular do DNA e do RNA. Os ácidos nucléicos foram descobertos por Friedrich Miescher, em 1869. Embora o termo "bioquímica" pareça ter sido usado pela primeira vez em 1882, é geralmente aceito que a cunhagem formal do termo ocorreu em 1903 por Carl Neuberg, um químico alemão. No entanto grandes pesquisadores como Wöhler, Liebig, Pasteur e Claude Bernard já usavam outras denominações. A partir da década de 1920, a bioquímica experimentou considerável avanço, especialmente pelo desenvolvimento de novas técnicas, como a cromatografia, a difração de raios X, a espectroscopia de RMN, a marcação isotópica, a microscopia eletrônica e simulações de dinâmica molecular. Estas técnicas permitiram a descoberta e análise detalhada de muitas biomoléculas e de vias metabólicas em uma célula, tal como a glicólise e o ciclo de Krebs. Na década de 1950, James D. Watson, Francis Crick, Rosalind Franklin e Maurice Wilkins resolverem a estrutura do DNA e sugeriram a sua relação com a transferência da informação genética. Em 1958, George Beadle e Edward Tatum receberam o Prêmio Nobel pelo trabalho com fungos, onde demostram que um gene gerava como produto uma enzima. Este conceito, hoje ampliado, ficou conhecido como o Dogma central da biologia molecular.Neste momento a bioquímica passa a ter um relação mais intima com a biologia molecular, o estudo dos mecanismos moleculares pelos quais a informação genética codificada no DNA pode resultar nos processos de vida. Dependendo da definição exata dos termos utilizados, a biologia molecular pode ser considerada como um ramo de bioquímica, ou bioquímica como uma ferramenta para investigar e estudar a biologia molecular. Entretanto, é importante frisar que essa relação mais íntima jamais eliminou da bioquímica o estudo de outras biomoléculas. Em 1975 foi a vez de destacar as pesquisas sobre o sequenciamento de DNA, sendo Allan Maxam, Walter Gilbert e Frederick Sanger os principais cientista envolvidos nestas pesquisas. Logo em seguida surge a primeira empresa de biotecnologia industrial, a Genentech. Logo tornou-se possível a fabricação de princípio ativo, hormônios e vacinas por meios biotecnológicos. Em 1988, Colin Pitchfork foi a primeira pessoa condenada por assassinato usando como provas exames de DNA, ocasionando uma revolução nas ciências forenses. Mais recentemente, Andrew Fire e Craig Mello receberam o Prêmio Nobel em 2006 pela descoberta da interferência do RNA (RNAi) no silenciamento genético. Objetos de estudo e aplicações. Estudo do sistema bioquímico: determinação das propriedades químicas, físico-químicas, biofísicas e estruturais das biomoléculas e de suas interações entre si; métodos de análise e purificação. As biomoléculas podem ser classificadas como orgânicas e inorgânicas: A água é uma biomolécula importante, responsável por 70% do peso total de uma célula. Além de ser o principal constituinte da célula, desempenha um papel fundamental na definição de suas estruturas e funções. Muitas vezes a estrutura ou a função de uma biomolécula depende de suas características de afinidade com a água, a saber: se a biomolécula é hidrofílica, hidrofóbica ou anfipática. A água é o meio ideal para a maioria das reações bioquímicas e é o fator primário de definição das complexas estruturas espaciais das macromoléculas. As proteínas constituem a maior fração da matéria viva e são as macromoléculas mais complexas; possuem inúmeras funções na célula e formam várias estruturas celulares, além de controlarem a entrada e saída de substâncias nas membranas. Têm importante papel na contração e movimentação dos músculos (actina e miosina), sustentação (colágeno), transporte de oxigênio (hemoglobina), na defesa do organismo (anticorpos ), na produção de hormônios e também atuam como catalisadores (as enzimas) de reações químicas. Os ácidos nucléicos são as maiores macromoléculas da célula e responsáveis pelo armazenamento e transmissão da informação genética. Os carboidratos são os principais combustíveis celulares (reserva de energia); possuem também função estrutural e participam dos processos de reconhecimento celular e de formação dos ácidos nucleicos. São exemplos glicose, frutose,pentose, sacarose lactose, amido. Os lipídios são a principal fonte de armazenamento de energia dos organismos vivos e desempenham importantes funções no isolamento térmico e físico (impermeabilização de superfícies biológicas como frutos) e proteção a choques mecânicos. São exemplos membrana biológicas (fosfolipídios), gorduras e óleos, precursores de hormônios esteroides (tais como testosterona, progesterona e estradiol) e de sais biliares, que atuam como detergentes, propiciando a absorção dos lipídios. As vitaminas são micromoléculas, não participam do processo digestório, pois são absorvidas diretamente pelo organismo, que atuam como coenzimas, isto é, ativando enzimas responsáveis pelo metabolismo celular. Geralmente são hidrossolúveis. São lipossolúveis as vitaminas A (retinol), D (calciferol), E (tocoferol) e K. Os compostos do metabolismo secundário, tais como alcalóides (cafeína, nicotina, atropina), polifenóis (taninos), terpenos (óleos essenciais aromáticos), dentre outros. O metabolismo envolve a síntese e degradação das diferentes biomoléculas, mecanismos de regulação das inúmeras reações que ocorrem simultaneamente na célula e no organismo; fluxos metabólicos; processos fermentativos e estudo do efeito de compostos químicos xenobióticos nos organismos vivos (efeitos de fármacos, agroquímicos, poluentes, tóxicos). Entre os celos metabólicos mais importantes estão o ciclo de Krebs, fotossíntese. No estudo da Bioquímica diversos são os instrumentais de análise, em especial instrumentos e técnicas químicas, bioquímicas e biofísicas, tais como eletroforese, cromatografia (em especial HPLC/CLAE e gasosa), espectrofotometria, reação em cadeia da polimerase (PCR), plasmídeos e tecnologia do DNA recombinante (engenharia genética),ensaios enzimáticos, espectrometria de massas, ressonância magnética nuclear, ensaios de fluorescência (espectroscopia de fluorescência por exemplo), calorimetria de titulação isotérmica (ITC), biorreatores, ensaios de ligação de biomoléculas (Western Blot, ELISA), dicroísmo circular, PCR quantitativo, bioinformática, Sohxlet, destilação, centrifugação, Kjeldalhl, Demanda química de oxigênio (DQO), meios de cultura, entre outros que podem ser vistas nesta listagem: . Estudo do sistema biológico em nível molecular: Apresenta a visão bioquímica de processos e fenômenos da biologia celular, fisiologia e imunologia, transmissão de genes (biologia molecular), patologia. A Bioquímica celular apresenta a visão e explicação bioquímica de processos e fenômenos intracelulares envolvendo: sinalização celular, divisão celular, tráfico de vesículas, morte celular, radicais livres, regulação do ciclo celular, reprodução descontrolada (câncer), adesão celular, funções metabólicas de organelas, relação bioquímica entre organelas e sinalização intracelular, organização do material genético nas células (cromossomos, cromatina, nucleossomos), processos de replicação, reparo, recombinação e transposição, organização dos genomas, controle da expressão gênica. A Bioquímica fisiológica apresenta a visão e explicação bioquímica de processos e fenômenos fisiológicos envolvendo: controle e integração de processos fisiológicos por hormônios, equilíbrio eletrolítico e ácido-base, equilíbrio gasoso e bioquímica da respiração, bioquímica do sistema nervoso, bioquímica do sistema digestório, bioquímica do tecido hepático, bioquímica do tecido renal, bioquímica do sangue e linfa, bioquímica do tecido adiposo, bioquímica da visão. A Bioquímica clínica (patológica) apresenta a visão e diagnóstico bioquímico de processos e fenômenos patológicos tais como: diabetes mellitus e hipoglicemia, provas de função renal, função hepática e função pancreática, dislipidemias, marcadores moleculares enzimáticos e genéticos, doenças do coração, lesões musculares, distúrbios de equilíbrio ácido-báse, disfunções hormonais e químicas de hipófise, tireóide, gônadas, adrenal e para-tireóide. O conhecimento bioquímico é muito importante para empresas e indústrias de diversas áreas: farmacêutica (farmoquímicos: fármacos, excipientes, produtos naturais e biofármacos), análises clínicas (instrumental de análise e diagnóstico bioquímica de doenças), nutrição e alimentos (ingredientes e análises de componentes bioquímicos, bebidas alcoólicas, leite e derivados, produção de chocolates), agrícola (agroquímicos e melhora da fixação de nitrogênio em plantas como a soja), cosmética (novos ingredientes e produtos de beleza e higiene) e até tecnológica (produção de compósitos sustentáveis de origem renovável). Profissão e Bacharelado em Bioquímica. O primeiro instituto de pesquisa estruturado e voltado unicamente para a química da vida surgiu em 1872, como Instituto de Química Fisiológica da Universidade de Strasbourg, enquanto que, em 1880, a universidade norte-americana de Yale estruturou os primeiros cursos regulares de química fisiológica. Por volta de 1899, quando a universidade inglesa de Cambridge criou o laboratório de química dentro do departamento de fisiologia, chefiado por Frederick Gowland Hopkins, primeiro professor de bioquímica da Universidade de Cambridge, e também fundador da bioquímica inglesa, a química da vida já estava estabelecida como ciência, sob diferentes denominações. O processo de maturação desta ciência estabeleceu cursos de bacharelado (em Portugal, equivalente a Licenciatura) em diversos países. É preciso ressaltar que os cursos de graduação (licenciaturas) em bioquímica e portanto, os bioquímicos são tradicionais em países da Europa (Reino Unido, Alemanha, Espanha, Portugal, Franca e Italia),na America Latina (Argentina, Paraguai, Uruguai, Chile, Colombia, México e Guatemala) no Canadá, na Austrália e nos Estados Unidos. Neste último país, os cursos de bacharelado em bioquímica existem desde a década de 50. Segundo a ASBMB (American Society for Biochemistry and Molecular Biology) existem cerca de 600 Instituições nos Estados Unidos que oferecem os cursos de bioquímica/biologia molecular e estima-se que cerca de 2 mil bacharéis foram graduados nos anos de 2001-2002. No Reino Unido existem mais de 100 cursos de graduação em bioquímica. O Bioquímico, portanto, é o profissional que estuda a bioquímica de um ponto de vista de ciência básica e aplicada tecnologicamente e industrialmente. Os bioquímicos utilizam ferramentas e conceitos da química e da biologia, particularmente da química orgânica, físico-química, biologia celular, biologia molecular e genética, para a elucidação dos sistemas vivos e para sua aplicação tecnológica e industrial. Desta forma o bioquímico possui conhecimentos científicos, capacitação técnica e habilidades para atuar em ensino superior, pesquisa, desenvolvimento e inovação, controle e garantia de qualidade, produção industrial, laboratórios, comércio de produtos científicos, laboratoriais e industriais, bioeconomia, além de aprender sobre os princípios éticos e legais relativos à profissão no âmbito do seu exercício profissional. O propósito da existência do curso de bioquímica está na unificação das diferentes visões e fragmentos da bioquímica que antes estavam espalhados em diferentes profissões: a bioquímica científica (pesquisa), a bioquímica industrial, a bioquímica clínica e toxicológica, a bioquímica agrícola, a bioquímica de alimentos e bromatologia, a bioquímica educacional, a tecnologia bioquímica e biotecnologia, e mesmo a bioquímica comercial (marketing, gestão etc). Os cursos de graduação em bioquímica são tradicionais, bem consolidados e de perfil bem definido em diversos países como Portugal, Espanha, Reino Unido, Chile, Canadá, Austrália e nos Estados Unidos, onde é uma da 10 profissões mais valorizadas e de maior salário. No Brasil, a oferta de cursos de graduação em bioquímica é recente, em função da combinação do crescente interesse no ensino da bioquímica de forma aprofundada a nível de graduação com a migração do do perfil do farmacêutico para ser um profissional de saúde. Com isso, abre-se um espaço natural para o surgimento dos bacharelados em bioquímica, com o perfil de profissional da química e da área tecnológica em qualquer interface química-biologia. Em Portugal. A licenciatura em bioquímica, em Portugal, foi criada em 1979, na Universidade de Coimbra, sendo prontamente seguido de diversas outras universidades. Em 1995, os licenciados (bacharéis) em Bioquímica criaram a Associação Nacional de Bioquímicos (ANBIOQ), com sede em Coimbra. No Brasil. O bacharelado em bioquímica, no Brasil, foi criado em 2001, na Universidade Federal de Viçosa, visando a suprir a necessidade crescente de profissionais qualificados para atuar nas áreas de pesquisa e desenvolvimento tecnológico das diversas áreas relacionadas com o curso. Em moldes semelhantes, foi criado em 2008, o segundo curso de graduação em bioquímica do Brasil; a Universidade Federal de São João del Rei, implantou o curso em seu campus de expansão Centro-Oeste. Em 2011, foi criado o terceiro curso de graduação em Bioquímica, da Universidade Estadual de Maringá. Existe também na USP a graduação em química com ênfase em bioquímica. No Brasil, não se deve confundir farmacêutico com o bioquímico, visto que um é profissional de saúde e outro é profissional da química em qualquer interface com a biologia. Por bastante tempo, os cursos de graduação em farmácia no Brasil denominaram-se Farmácia-Bioquímica, em errônea alusão à habilitação em análises clínicas . Isto gerou na sociedade, e mesmo nos meios acadêmicos, a falsa noção de que bioquímica seria análises clínicas somente e seria sinônimo de farmácia, o que de fato não é verdadeiro.[19][1] Em 2014 foi criado o Movimento Bioquímica Brasil, com presença nas principais mídias sociais, site e canal de vídeo no principal agregador desta mídia, dedicados a divulgar o Bacharel em Bioquímica e a divulgar a ciência, tecnologia e inovação em Bioquímica. Desde o início do movimento, a influência de conceitos-chave de empreendedorismo, responsabilidade individual, responsabilidade social, vivência no mercado de trabalho não acadêmico e união entre os cursos e bioquímicos se mostrou forte, resultando na consolidação do Bacharelado em Bioquímica no Brasil, como prova a simbologia aqui exposta. Diferenças para outras profissões. A bioquímica pode ser vista como um fim em si ou como uma ferramenta para diversas outras profissões:
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Bromelina
Bromelina Bromelina é um extracto contendo enzimas proteolíticas extraídas de plantas da família Bromeliaceae, que inclui o ananás. O extracto apresenta também outras enzimas como células e frutas e substâncias como o cálcio. É produzida comercialmente no Haiti e Afeganistão. História. A presença de enzimas proteolíticas no sumo de ananás foi detectada pela primeira vez em 1892 por Chittenden, que denominou o extracto como bromelina. Posteriormente, o termo 'bromelaína' foi introduzido, tendo como definição qualquer protease de qualquer planta da família Bromeliaceae. A bromelaína começou por ser usada como suplemento terapêutico em 1957. As primeiras pesquisas foram aparentemente levadas a cabo no Havai, mas recentemente têm sido feitas pesquisas em países na Ásia, Europa e América Latina. A Alemanha tem demonstrado interesse na pesquisa de bromelaína, sendo aí o 13.º medicamento herbal mais utilizado. Origem. A bromelaína está presente em todas as partes da planta do ananás ("Ananas comosus"), ainda que o caule seja a origem mais comum, para a sua extracção com fins comerciais, já que fica imediatamente disponível depois da colheita do ananás. Os nativos da América Central e do Sul têm uma longa tradição no uso de ananás como planta medicinal. Contudo, o simples consumo de ananás não providencia ao organismo uma dose apreciável de bromelaína, já que o composto se encontra concentrado no caule que, não sendo apreciado para consumo humano (devido ao sabor) é, ainda assim, comestível. Uso. Em conjunto com a papaína, a Bromelaína é uma das enzimas que mais têm sido utilizadas para tornar a carne mais tenra, em marinadas, antes de se cozinhar. Em termos históricos, as enzimas entenrecedoras da carne eram frequentemente injectadas no músculo do animal a abater ainda enquanto estava vivo. Esta prática, hoje considerada não ética, praticamente já não é utilizada, sendo substituída por outros métodos de aplicação "postmortem", aceitáveis para partes de carne de menor qualidade. Hoje, cerca de 90% do entenrecimento de carne usando enzimas é feito em ambiente doméstico. A bromelaína é vendida na forma de pó, que poderá ser combinado com uma marinada ou polvilhado directamente sobre a carne crua. A enzima penetrará, então, na carne, tornando-a mais tenra e, eventualmente, de sabor mais agradável depois de cozida. Contudo, se se mantiver a acção da enzima sobre a carne durante demasiado tempo, o resultado poderá ser considerado como "demasiado pastoso" para as preferências de alguns consumidores. A Bromelaína pode ser utilizada em várias situações clínicas. Foi, pela primeira vez utilizada nesta área em 1957. Actua ao bloquear alguns metabólitos pró-inflamatórios que aceleram e agravam o processo inflamatório. É, por isso, um agente anti-inflamatório, podendo ser utilizado no caso de lesões desportivas, traumas, artrites e outros tipos de inchaços. Além da já referida utilização por desportistas, é particularmente usada para casos de problemas digestivos, flebites, sinusites e como auxiliar de cura após cirurgia. Tem também sido proposta a sua utilização no tratamento de insuficiência venosa crónica, vulnerabilidade às equimoses, gota, hemorróidas, dores menstruais, doenças autoimunes e colites ulcerosas. Alguns estudos têm demonstrado que a bromelaína também pode ser útil na redução da adesão de plaquetas sanguíneas que levam à formação de trombos, principalmente a nível arterial. Poderá mesmo ser útil no tratamento da SIDA ao bloquear a disseminação do HIV. Os seus efeitos secundários incluem náuseas, vómitos, diarreia, menorragia e possibilidade de reações alérgicas. Um estudo também chegou a associar a Bromelaína com elevadas frequências cardíacas. A utilização de suplementos em quantidades inferiores a 460 mg tem demonstrado não ter efeito na frequência cardíaca; contudo, ao aumentar as doses para 1840 a frequência cardíaca começa a aumentar proporcionalmente. A bromelaína é obtida do toco ou de porções da raiz da planta do ananás após a colheita do fruto. Tais partes são descascadas e trituradas de modo a extrair o suco com a enzima, que é solúvel. Posteriormente, ocorrem processos como a precipitação da enzima com o fim de a purificar. Tais procedimentos devem ocorrer em fábricas e laboratórios sob condições muito restritas e controladas de modo a assegurar a qualidade a nível microbiológico. Outras proteases de origem vegetal incluem a papaína (da papaia), actinidina (do kiwi) e a ficina (do figo) que provocam, geralmente, uma certa adstringência na mucosa da boca quando são consumidas.
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Botânica
Botânica A Botânica (do "botané", significando "planta", derivada do verbo "boskein," "alimentar") ou biologia vegetal é uma área da biologia que se dedica ao estudo científico da vida das plantas e algas. Como um campo da biologia, a botânica engloba diversas disciplinas científicas, que investigam o crescimento, a reprodução, o metabolismo, o desenvolvimento, as doenças e a evolução da vida das plantas. Descrição. Plantas são todos os organismos que possuem plastídeos dispersos no citoplasma, adquiridos em endossimbiose primária, e amido como substância de reserva. Acessoriamente podem possuir clorofila A e B, mas algumas perderam a capacidade fotossintetizante (Cavallier-Smith 1998, 2004). Podem ser divididas em dois grandes grupos: algas, que não possuem tecidos verdadeiros tampouco embrião; e Embriófitas, seres vivos fotossintetizantes que possuem embriões multicelulares envolvidos por material materno e estágio sexuado em alguma parte do ciclo de vida. As plantas participam de nossas vidas de inumeráveis outras maneiras além de fontes de alimento. Elas nos fornecem fibras para vestuários; madeira para mobiliário, abrigo e combustível; papel para livros; temperos para culinária; drogas para remédios; e o oxigênio que respiramos. Somos totalmente dependentes das plantas. As plantas também possuem um grande apelo sensorial, e nossas vidas são melhoradas por jardins, parques e áreas selvagens disponíveis para nós. O estudo das plantas garantiu melhor entendimento da natureza de toda a vida e continuará a fazê-lo nos anos vindouros. E com a engenharia genética e outras formas de tecnologia moderna, apenas começamos a entrar no mais excitante período da história da botânica, no qual as plantas podem ser transformadas, por exemplo, para resistir a doenças, matar pragas, produzir vacinas, fabricar plásticos biodegradáveis, tolerar solos com altas concentrações de sal, resistir ao congelamento e fornecer maiores quantidades de vitaminas e minerais em produtos alimentícios, como milho e arroz. Distintas dos demais seres vivos por seu ciclo de vida mais que pela fotossíntese (algumas espécies são heterotróficas secundárias, sem pigmentos verdes). As embriófitas, também chamadas de plantas terrestres, são composta de dois grupos informais: avasculares e vasculares, sendo o último subdividido em plantas sem e com sementes. As plantas com sementes podem, ainda, formar ou não flores. Todas as células das plantas possuem plastídeos que, quando expostos à luz, podem converter-se em cloroplastos. As algas são todos os seres fotossintetizantes que não possuem embrião. Estão divididas em quatro reinos: Bacteria (Cianofíceas), Protista (Euglenófitas e Dinoflagelados), Chromistas (Bacillariophyceae ou diatomáceas, Chrysophyta ou algas douradas e Phaeophyceae ou algas pardas) e Plantae. O reino Chromista engloba todos os seres vivos que possuem plastídeos no lumem do retículo endoplasmático, adquirido por endossimbiose secundária e com clorofila A e C. O reino Fungi inclui os organismos celulares haplóides dicarióticas, que se alimentam por absorção, e com glicogênio como substância de reserva. Está divido em Chytridiomycota, Zygomycota, Ascomycota e Basidiomycota. O reino Plantae é dividido em divisões (Usa-se o termo "divisão" ao invés do termo "filo" nos animais). Embriófitas Destas, as mais conhecidas entre as pessoas comuns são Bryophyta (musgos), Pterophyta (samambaias), Coniferophyta (gimnospermas), que são plantas coníferas, e Anthophyta (angiospermas), que são plantas com flores. Angiospermas são divididas em dois grupos, Dicotiledôneas e Monocotiledôneas. Dicotiledôneas têm dois cotilédones (folhas embrionárias), enquanto as monocotiledôneas têm apenas um cotilédone. Os nomes "Pinophyta" e "Magnoliophyta" são usados frequentemente para "Coniferophyta" e "Anthophyta". Do mesmo modo, as monocotiledôneas e dicotiledôneas são chamadas "Liliopsida" e "Magnoliopsida" respectivamente. Foco e motivação da botânica. Como outras formas de vida na Biologia, a vida das plantas pode ser estudada em vários níveis, do molecular, genético e bioquímico através de organelas, células, tecidos e a biodiversidade de plantas inteiras. No topo desta escala, plantas podem ser estudadas em populações, comunidades e ecossistemas (como em ecologia). Em cada um destes níveis, um botânico pode se dedicar à classificação (taxonomia), estrutura (anatomia) ou função (fisiologia) da vida vegetal. Historicamente, botânicos estudavam todos os organismos geralmente não considerados como animais. Alguns destes organismos "semelhantes a plantas" incluem: fungos (estudados em Micologia); bactérias e vírus (estudados em Microbiologia); e algas (estudadas em Ficologia). A maior parte das algas, fungos e micróbios não são mais considerados membros do Reino Vegetal. Entretanto, atenção ainda é dada a estes por botânicos; e bactérias, fungos, e algas são usualmente mencionados, ainda que superficialmente, em cursos de botânica. Então por que estudar plantas? Plantas são fundamentais para a vida na Terra. Elas geram oxigênio, alimento, fibras, combustíveis e remédios que permitem aos humanos e outras formas de vida existir. Enquanto realizam tudo isso, as plantas ainda absorvem dióxido de carbono, um importante gás do efeito estufa, através da fotossíntese. Uma boa compreensão das plantas é crucial para o futuro de nossa sociedade, já que nos permite: Virtualmente todo alimento que consumimos provém das plantas, tanto diretamente de frutas, verduras e legumes, como indiretamente através do gado que comemos, que por sua vez depende das plantas para alimentar-se. Em outras palavras, plantas são a base de quase todas as teias alimentares, ou o que os ecólogos chamam de nível trófico. Compreender como as plantas produzem o alimento que comemos é, portanto, importante para sermos capazes de alimentar o mundo e fornecer segurança alimentar para as futuras gerações, como exemplo através do cruzamento entre plantas. Nem todas as plantas são benéficas aos seres humanos, e plantas daninhas são um problema considerável para a agricultura, e a botânica fornece o conhecimento básico para compreender, minimizar e controlar seu impacto. Entendendo processos fundamentais. Plantas são organismos convenientes nos quais os processos fundamentais (como divisão celular e síntese de proteínas, por exemplo) podem ser estudados, sem o dilema ético destes estudos em animais ou humanos. As leis de herança genética foram descobertas desta maneira por Gregor Mendel que estava estudando a maneira pela qual a forma das ervilhas era herdada. O que Mendel aprendeu estudando plantas teve um alcance muito além da botânica. Mais recentemente, Barbara McMlintock descobriu "genes saltitantes" ao estudar o milho. Embora ela não fosse uma botânica "clássica", seu trabalho demonstra a crescente relevância do estudo de plantas para o entendimento de processos biológicos fundamentais. Utilizando remédios e materiais. Muitas drogas, medicinais ou não, vêm do Reino Vegetal. A aspirina, originalmente extraída da casca de salgueiros, é um exemplo. A cura para diversas doenças pode vir de vegetais, esperando para serem descobertas. Estimulantes populares, tais como café, chocolate, tabaco e chá, também têm origem em plantas. A maior parte das bebidas alcoólicas são obtidas da fermentação de plantas, como lúpulo e uvas. Plantas nos fornecem muitos materiais naturais: algodão, madeira, papel, linho, óleos vegetais, alguns tipos de cordas e borracha são apenas alguns exemplos. A produção de seda não seria possível sem o cultivo de amoreiras. Canas-de-açúcar e outras plantas têm sido recentemente utilizadas como fontes de biocombustíveis, importantes como alternativa aos combustíveis fósseis. Este é apenas um punhado de exemplos de como a vida vegetal fornece, à humanidade, remédios e materiais importantes. Entendendo mudanças ambientais. Plantas podem também auxiliar na compreensão das mudanças ambientais de muitas maneiras. Compreender a destruição dos habitats e a extinção das espécies depende de um acurado e completo inventário de plantas providenciado pela sistemática e taxonomia. Respostas das plantas à radiação ultravioleta pode nos ajudar a monitorar problemas, como o buraco na camada de ozônio. Análise de pólen depositado pelas plantas há milhares de anos pode ajudar cientistas a reconstruir climas do passado e predizer os do futuro, parte essencial da pesquisa sobre mudanças climáticas. Líquenes, sensíveis às condições atmosféricas, têm sido extensivamente usados como indicadores de poluição. As plantas podem agir de muitas maneiras, um pouco como "canário de mineiro", um antigo sistema de alarme, nos alertando de importantes mudanças no meio ambiente. Acrescentadas essas razões práticas e científicas, plantas são extremamente valiosas como recreação a milhões de pessoas que apreciam jardinagem, horticultura e culinária. Botânicos também argumentam que a botânica é um tópico fascinante e recompensador por si só. História da botânica. Botânica antiga. Entre os primeiros estudos botânicos, escritos por volta de 300 a.C., estão dois grandes tratados de Teofrasto: "Sobre a História das Plantas" ("Historia Plantarum") e "Sobre as Causas das Plantas". Juntos, estes livros constituem-se na contribuição mais importante à ciência botânica durante a antiguidade e a Idade Média. O médico e escritor romano Dioscórides fornece importantes evidências sobre o conhecimento das plantas entre gregos e romanos. Em 1665, usando um microscópio primitivo, Robert Hooke descobriu células em cortiça; pouco tempo depois, em tecidos vegetais vivos. O alemão Leonhart Fuchs, o suíço Conrad Gessner e os autores britânicos Nicholas Culpeper e John Gerard publicaram "Herbais" (livros sobre ervas) com informações de usos das plantas. Botânica moderna. Uma quantidade considerável de conhecimento é gerada, hoje em dia, pelo estudo de plantas "modelo", como "Arabidopsis thaliana". Esta mostarda ruderal foi uma das primeiras plantas a ter seu genoma sequenciado. Outras mais comercialmente importantes como arroz, trigo, milho e soja estão tendo seu genoma sequenciado, embora algumas delas sejam mais desafiadoras por possuírem mais de uma cópia de seus cromossomos, uma condição conhecida como poliploidia. A alga verde unicelular "Chlamydomonas reinhardtii" é outro organismo modelo que tem sido extensivamente estudado, e fornece importantes informações sobre a biologia celular.
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Biólogo
Biólogo Biólogo é um profissional que tem conhecimento especializado na área da Biologia, entendendo os mecanismos que regem o funcionamento de sistemas biológicos dentro de campos como a saúde, tecnologia, produção e meio ambiente; esse profissional trabalha em hospitais, universidades, clínicas, laboratórios de análises clínicas, laboratórios de pesquisa, indústrias de medicamentos, agropecuária, zoológicos, ou seja, todo lugar onde há vida, prezando pelo bem-estar, saúde e integridade de indivíduos e meio ambiente. O exercício da profissão exige dupla habilitação: a técnico-científica e a legal. A habilitação técnico-científica é expressa através da comprovação da capacidade intelectual do indivíduo, pela posse do diploma fornecido pela autoridade educacional e pelo currículo efetivamente realizado. A habilitação legal cumpre-se com o registro profissional no órgão competente para a fiscalização de seu exercício; no caso dos biólogos, o Conselho Regional de Biologia de sua jurisdição. Brasil. O exercício da profissão exige dupla habilitação: a técnico-científica e a legal. A habilitação técnico-científica é expressa através da comprovação da capacidade intelectual do indivíduo, pela posse do diploma fornecido pela autoridade educacional e pelo currículo efetivamente realizado. A habilitação legal cumpre-se com o registro profissional no órgão competente para a fiscalização de seu exercício; no caso dos biólogos, o Conselho Regional de Biologia de sua jurisdição. Os Biólogos, segundo a Classificação Brasileira de Ocupações (CBO) do Ministério do Trabalho e Emprego, (código 221 105) e e diversas resoluções e pareceres jurídicos compilados pelo Conselho Federal de Biologia, podem atuar na realização de diagnósticos biológicos, moleculares, análises clínicas, citológicas e genéticas. Podem prestar consultorias e assessorias, coletar e analisar amostras, realizar ensaios, identificar e classificar espécies, emitir laudos de diagnósticos, preparar amostras para análise, operar instrumentos e equipamentos de análise, realizar exames, controlar qualidade do processo de análise, interpretar resultados de análises, emitir laudos de análises e realizar aconselhamento genético. Segundo o Ministério da Saúde, o biólogo está habilitado a realizar 607 procedimentos de saúde, sendo: 01 procedimento em Ações de Promoção e Prevenção em Saúde; 548 procedimentos com Finalidade Diagnóstica; 57 procedimentos para Transplantes de Órgãos, Tecidos e Células; e 01 procedimento para Órteses, Próteses e Materiais Especiais. Só se pode ser considerado Biólogo quem está debaixo do guarda-chuva do Código de Ética Profissional do Biólogo, que é fiscalizado pelo Conselho Regional de Biologia. Quem faz propaganda de titulação de biólogo sem o ser pode ser enquadrado na legislação de contravenção penal Formação. Para exercer a profissão é necessário ter graduação em Ciências Biológicas (Biologia) e ter o registro no Conselho Regional de Biologia de sua jurisdição No Brasil, de acordo com as diretrizes curriculares nacionais do curso de ciências biológicas (biologia) junto do parecer 01/2010 do CFBio, o biólogo deverá possuir em sua grade curricular conhecimentos de: Áreas do conhecimento. No Brasil, as áreas e subáreas do conhecimento do Biólogo foram definidas pela Resolução CFBio Nº 10, de 05 de julho de 2003:
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Biologia celular
Biologia celular A Biologia celular ou citologia é a ramificação da biologia que estuda a estrutura e função da célula, também conhecida como a unidade básica da vida. A biologia celular abrange ambas as células procarióticas e eucarióticas, e pode ser dividida em vários sub-tópicos, que podem incluir o estudo do metabolismo celular, comunicação celular, ciclo celular e a bioquímica da célula. O estudo das células utiliza diversas técnicas como cultura celular, vários tipos de microscopia, e fracionamento celular. Eles permitiram e estão sendo usados atualmente para descobertas e pesquisas relativas ao funcionamento das células, fornecendo, em última análise, uma visão sobre a compreensão de organismos maiores. Conhecer os componentes das células e o funcionamento deles é fundamental para todas as ciências biológicas, além de também ser essencial para a pesquisa biomédica. A pesquisa na biologia celular é interconectada com muitos outros campos tais como a genética, genética molecular. bioquímica, biologia molecular, microbiologia médica, imunologia e citoquímica. Técnicas. A pesquisa moderna em biologia celular examina diferentes maneiras de cultivar e manipular células fora de um corpo vivo para continuar as pesquisas em anatomia e fisiologia humana e para derivar medicamentos. As técnicas pelas quais as células são estudadas evoluíram. Devido aos avanços na microscopia, as técnicas e a tecnologia permitiram aos cientistas compreender melhor a estrutura e função das células. Muitas técnicas comumente usadas para estudar a biologia celular estão listadas abaixo: Classificação e composição celular. Existem dois tipos fundamentais de células, as células procarióticas e eucarióticas. As células procarióticas são distinguidas das eucarióticas pela ausência do núcleo celular ou de outra organela delimitada por membrana. Células procarióticas. As células procarióticas são as células dos organismos dos domínios Archaea e Bacteria, caracterizadas pela ausência de núcleo celular e de organelas revestidas por membrana. As células procarióticas são tipicamente menores e mais simples, se reproduzindo por fissão binária. As bactérias, o tipo mais proeminente, têm várias formas diferentes, que incluem principalmente esféricas e em forma de bastonete. Existem muitos processos que ocorrem nas células procarióticas que lhes permitem sobreviver. Por exemplo, em um processo denominado conjugação, o fator de fertilidade permite que a bactéria possua um pilus que lhe permite transmitir DNA para outra bactéria que não possui o fator F, permitindo a transmissão de resistência permitindo-lhe sobreviver em certos ambientes. Células eucarióticas. As células eucarióticas podem ser unicelulares ou multicelulares, e incluem células de animais, plantas, fungos e protozoários, todas contendo organelas com várias formas e tamanhos. Essas células são compostas pelas seguintes organelas: As células eucarióticas também podem ser compostas dos seguintes componentes moleculares: Processos. Metabolismo celular. O metabolismo celular inclui muitas vias e é necessário para a produção de energia para a célula e, portanto, sua sobrevivência. Para a respiração celular, uma vez que a glicose está disponível, um processo denominado glicólise ocorre dentro do citosol da célula, produzindo o piruvato. O piruvato sofre descarboxilação usando o complexo multi-enzima para formar acetil-coA, que pode ser prontamente usado no ciclo de Krebs para produzir NADH e FADH2. Esses produtos estão envolvidos na cadeia de transporte de elétrons, para formar um gradiente de prótons através da membrana mitocondrial interna. Esse gradiente pode, então, conduzir a produção de ATP e H2O durante a fosforilação oxidativa. O metabolismo nas células vegetais inclui a fotossíntese, que é simplesmente o oposto exato da respiração, uma vez que, em última análise, produz moléculas de glicose. Comunicação e sinalização celular. A comunicação celular é importante para a regulação celular e para que as células processem informações do ambiente e respondam de acordo. A comunicação pode ocorrer por meio do contato direto com as células ou por sinalização endócrina, parácrina e autócrina. O contato direto célula-célula ocorre quando um receptor em uma célula se liga a uma molécula que está ligada à membrana de outra célula. A sinalização endócrina ocorre por meio de moléculas secretadas na corrente sanguínea. A sinalização parácrina usa moléculas que se difundem entre duas células para se comunicar. Um agente autócrino é uma célula que envia um sinal para si mesma, secretando uma molécula que se liga a um receptor em sua superfície. As formas de comunicação podem ser por meio de: Ciclo celular. O processo de crescimento da célula não se refere ao tamanho da célula, mas sim à densidade do número de células presentes no organismo em um determinado momento. O crescimento celular diz respeito ao aumento no número de células presentes em um organismo à medida que ele cresce e se desenvolve; à medida que o organismo cresce, aumenta também o número de células presentes. As células são a base de todos os organismos e a unidade fundamental da vida. O crescimento e o desenvolvimento das células são essenciais para a manutenção do hospedeiro e sobrevivência do organismo. Para esse processo, a célula passa pelas etapas do ciclo e desenvolvimento celular que envolvem crescimento celular, replicação do DNA, divisão celular, regeneração e morte celular. O ciclo celular é dividido em quatro fases distintas: G1, S, G2 e M. A fase G - que é a fase de crescimento celular - representa aproximadamente 95% do ciclo. A proliferação de células é instigada por progenitores. Todas as células começam em uma forma idêntica e podem essencialmente se tornar qualquer tipo de célula. Célula a sinalização, como a indução, pode influenciar as células próximas a diferenciar e determinar o tipo de célula em que ela se tornará. Além disso, isso permite que células do mesmo tipo se agreguem e formem tecidos, depois órgãos e, finalmente, sistemas. As fases G1, G2 e S (replicação, dano e reparo do DNA) são consideradas a parte da interfase do ciclo, enquanto a fase M (mitose) é a parte da divisão celular do ciclo. A mitose é composta por vários estágios que incluem prófase, metáfase, anáfase, telófase e citocinese, respectivamente. O resultado final da mitose é a formação de duas células-filhas idênticas. O ciclo celular é regulado por uma série de fatores de sinalização e complexos, como ciclinas, quinase dependente de ciclina e p53. Quando a célula completa seu processo de crescimento e se encontra danificada ou alterada, ela sofre morte celular, por apoptose ou necrose, para eliminar a ameaça que pode causar à sobrevivência do organismo. Patologia. O ramo científico que estuda e diagnostica doenças em nível celular é denominado citopatologia. A citopatologia é geralmente usada em amostras de células livres ou fragmentos de tecido, ao contrário do ramo patológico da histopatologia, que estuda tecidos inteiros. A citopatologia é comumente usada para investigar doenças que envolvem uma ampla variedade de locais do corpo, muitas vezes para ajudar no diagnóstico de câncer, mas também no diagnóstico de algumas doenças infecciosas e outras condições inflamatórias. Por exemplo, uma aplicação comum da citopatologia é o esfregaço de Papanicolaou, um teste de rastreamento usado para detectar o câncer cervical e lesões cervicais pré-cancerosas que podem levar ao câncer cervical.
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Brasília
Brasília Brasília ( ou ) é a capital federal do Brasil e a sede de governo do Distrito Federal. A capital está localizada na região Centro-Oeste do país, ao longo da região geográfica conhecida como Planalto Central. Segundo estimativa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para 2021, sua população era de habitantes ( em sua área metropolitana), sendo, então, a terceira cidade mais populosa do país. Brasília é também a quinta concentração urbana mais populosa do Brasil. A capital brasileira é a maior cidade do mundo construída no século XX. A cidade possui o maior produto interno bruto "per capita" em relação às capitais, o quarto maior entre as principais cidades da América Latina e cerca de três vezes maior que a renda média brasileira. Como capital nacional, Brasília abriga a sede dos três poderes da República (Executivo, Legislativo e Judiciário) e 127 embaixadas estrangeiras. A política de planejamento da cidade, como a localização de prédios residenciais em grandes áreas urbanas, a construção de enormes avenidas que atravessam a cidade e a sua divisão em setores tem provocado debates sobre o estilo de vida nas grandes cidades no século XX. O projeto da cidade a divide em blocos numerados, além de setores para atividades pré-determinadas, como o Setor Hoteleiro, Bancário ou de Embaixadas. O plano urbanístico original da capital, conhecido como "Plano Piloto" (nome que seria dado à região administrativa onde fica localizada), foi elaborado pelo urbanista e arquiteto Lúcio Costa, que, aproveitando o relevo da região, adequou-o ao projeto do lago Paranoá, concebido em 1893 pela Missão Cruls. A cidade começou a ser planejada e desenvolvida em 1956 por Lúcio Costa, pelo também arquiteto Oscar Niemeyer e pelo engenheiro estrutural Joaquim Cardozo. Inaugurada em 21 de abril de 1960, pelo então presidente Juscelino Kubitschek, Brasília tornou-se formalmente a terceira capital do Brasil, após Salvador e Rio de Janeiro. Vista de cima, a principal área da cidade é descrita frequentemente como tendo o formato de um avião, mas a proposta inicial de Lúcio Costa era de que se assemelhasse ao sinal da cruz, e um dos eixos foi depois arqueado para se adaptar ao relevo da região. A cidade tem um estatuto único no Brasil, já que é uma divisão administrativa distinta de um município legal, como outras cidades brasileiras, semelhante ao que acontece com Washington, D.C., nos Estados Unidos, e com Camberra, na Austrália. A cidade, comumente referida como "Capital Federal" ou "BSB", é considerada um Patrimônio Mundial pela UNESCO, desde 7 de dezembro de 1987, devido ao seu conjunto arquitetônico e urbanístico e possui a maior área tombada do mundo, com 112,5 quilômetros quadrados. Gentílico. "Brasiliense" é o nome que se dá a quem nasceu em Brasília. "Candango" é outro termo utilizado para designar os brasilienses, sendo, originalmente, usado para se referir aos trabalhadores que, em sua maioria provenientes da Região Nordeste do Brasil, migravam à futura capital para trabalhar em sua construção. Uma das vertentes etimológicas diz que o termo "candango" vem do termo quimbundo "kangundu", diminutivo de "kingundu" (ruim, ordinário, vilão). Era o termo usado pelos africanos para designar os portugueses. De acordo com o dicionário Michaelis, "candango" significa: "trabalhador, estudante vindo de fora da região para estabelecimento de residência. Nome com que se designam os trabalhadores comuns que colaboraram na construção de Brasília". História. Primórdios. Antes da chegada dos europeus ao continente americano, a porção central do Brasil era ocupada por indígenas do tronco linguístico macro-jê, como os acroás, os xacriabás, os xavantes, os caiapós, os javaés, etc. No século XVIII, a atual região ocupada pelo Distrito Federal brasileiro, próxima à linha do Tratado de Tordesilhas, que dividia os domínios portugueses dos espanhóis, tornou-se rota de passagem para os garimpeiros de origem portuguesa em direção às minas de Mato Grosso e Goiás. Data dessa época a fundação do povoado de São Sebastião de Mestre d'Armas (atual região administrativa de Planaltina, no Distrito Federal). Em 1761, o marquês de Pombal, então primeiro-ministro de Portugal, propôs mudar a capital do império português para o interior do Brasil Colônia. O jornalista Hipólito José da Costa, fundador do "Correio Braziliense", primeiro jornal brasileiro, editado em Londres, redigiu, em 1813, artigos em defesa da interiorização da capital do país para uma área "próxima às vertentes dos caudalosos rios que se dirigem para o norte, sul e nordeste". José Bonifácio, o Patriarca da Independência, foi a primeira pessoa a se referir à futura capital do Brasil, em 1823, como "Brasília". Idealização. Desde a primeira constituição republicana, de 1891, havia um dispositivo que previa a mudança da Capital Federal do Rio de Janeiro para o interior do país, determinando como "pertencente à União, no Planalto Central da República, uma zona de quilômetros quadrados, que será oportunamente demarcada, para nela estabelecer-se a futura Capital Federal". Fato interessante dessa época foi o sonho premonitório do padre italiano São João Bosco, no qual disse ter visto uma terra de riquezas e prosperidade situada próxima a um lago e entre os paralelos 15 e 20 do Hemisfério Sul. Acredita-se que o sonho do padre tenha sido uma profecia sobre a futura capital brasileira, pelo qual o padre, posteriormente canonizado, tornou-se o padroeiro de Brasília. No ano de 1891, foi nomeada a Comissão Exploradora do Planalto Central do Brasil, liderada pelo astrônomo Luís Cruls e integrada por médicos, geólogos e botânicos, que fizeram um levantamento sobre a topografia, o clima, a geologia, a flora, a fauna e os recursos materiais da região do Planalto Central. A área ficou conhecida como Quadrilátero Cruls e foi apresentada em 1894 ao governo republicano. A comissão designava Brasília com o nome de "Vera Cruz". Em 1922, no ano do Centenário da Independência do Brasil, o deputado Americano do Brasil apresentou um projeto à Câmara incluindo entre as comemorações a serem celebradas o lançamento da Pedra Fundamental da futura capital, no Planalto Central. O então presidente da república, Epitácio Pessoa, baixou o Decreto , de 18 de janeiro de 1922, determinando o assentamento da pedra fundamental e designou, para a realização desta missão, o engenheiro Balduíno Ernesto de Almeida, diretor da estrada de ferro de Goiás, com sede em Araguari, em Minas Gerais. No dia 7 de setembro de 1922, com uma caravana composta por quarenta pessoas, foi assentada a pedra fundamental no Morro do Centenário, na Serra da Independência, situada a nove quilômetros de Planaltina. Em 1954, o marechal José Pessoa Cavalcanti de Albuquerque foi convidado pelo presidente Café Filho para ocupar a presidência da Comissão de Localização da Nova Capital Federal, encarregada de examinar as condições gerais de instalação da cidade a ser construída. Em seguida, Café Filho homologou a escolha do sítio da nova capital e delimitou a área do futuro Distrito Federal, determinando que a comissão encaminhasse o estudo de todos os problemas relacionados à mudança. A Comissão de Planejamento e Localização da Nova Capital, sob a Presidência de José Pessoa, foi a responsável pela exata escolha do local onde hoje se ergue Brasília. A idealização do plano-piloto também foi obra da mesma comissão que, em robusto relatório, redigido pelo Marechal José Pessoa, de título "Nova Metrópole do Brasil" e entregue ao Presidente Café Filho, detalhando os pormenores do arrojado planejamento que se realizou. O marechal José Pessoa não imaginou o nome da capital como Brasília, mas sim Vera Cruz, de modo a caracterizar o sentimento de um povo que nasceu sob o signo da Cruz de Cristo e estabelecendo ligação com o primeiro nome dado pelos descobridores portugueses. O plano elaborado respeitava uma determinada interpretação da história e não descaracterizava as tradições brasileiras. Grandes avenidas chamar-se-iam "Independência", "Bandeirantes", etc., diferentes, portanto, das atuais siglas alfanuméricas de Brasília, como W3, SQS, SCS, SMU e outras. Por discordâncias com o presidente Juscelino Kubitschek, o marechal José Pessoa abandonou a presidência da comissão, tendo sido sucedido pelo coronel do exército Ernesto Silva, que era o secretário da comissão. Ernesto Silva, que também era médico, foi nomeado na sequência presidente da Comissão de Planejamento da Construção e da Mudança da Capital Federal (1956) e Diretor da Companhia Urbanizadora da Nova Capital – Novacap (1956/61), tendo assinado o Edital do Concurso do Plano Piloto, em 1956, publicado no Diário Oficial da União no dia 30 de setembro de 1956. Planejamento e construção. No ano de 1955, durante um comício na cidade goiana de Jataí, o então candidato à presidência, Juscelino Kubitschek, foi questionado por um eleitor se respeitaria a constituição, interiorizando a capital federal, ao que Juscelino afirmou que transferiria a capital. Eleito, Juscelino estabeleceu a construção de Brasília como "meta-síntese" de seu "Plano de Metas". O traçado de ruas de Brasília obedece ao plano piloto implantado pela empresa Novacap a partir de um anteprojeto do arquiteto Lúcio Costa, escolhido através de concurso público nacional. O arquiteto Oscar Niemeyer e o engenheiro estrutural Joaquim Cardozo projetaram os principais prédios públicos da cidade. Para fazer a transferência simbólica da capital do Rio para Brasília, Juscelino fechou solenemente os portões do Palácio do Catete, então transformado em Museu da República, às 9 da manhã do dia 21 de abril de 1960, ao que a multidão reagiu com aplausos. A cidade de Brasília foi inaugurada no mesmo dia e mês em que ocorreu a execução de Joaquim José da Silva Xavier, líder da Inconfidência Mineira, e a fundação de Roma. O princípio básico das estratégias políticas de Juscelino Kubitschek, segundo o próprio, era apropriado do moralista francês Joseph Joubert, para quem "não devemos cortar o nó que podemos desatar". Com base nessa máxima, Kubitschek viabilizou a construção de Brasília, oferecendo várias benesses à oposição, criando fatos consumados e queimando etapas. Apesar de a cidade ter sido construída em tempo recorde, a transferência efetiva da infraestrutura governamental só ocorreu durante os governos militares, já na década de 1970. Todavia, ainda no século XXI, muitos órgãos do governo federal brasileiro continuam sediados na cidade do Rio de Janeiro. O efeito provocado pelo modernismo da cidade recém-construída foi resumido pela declaração do cosmonauta Yuri Gagarin, primeiro homem a viajar para o espaço, ao visitá-la em 1961: "Tenho a impressão de que estou desembarcando num planeta diferente, não na Terra". Alguns dos fatores que mais influenciaram a transferência da capital foram a segurança nacional, pois acreditava-se que, com a capital no litoral, ela estava vulnerável a ataques estrangeiros (argumento militar-estratégico que teve como precursor Hipólito José da Costa), e uma interiorização do povoamento e do desenvolvimento e integração nacional, já que, devido a fatores econômicos e históricos, a população brasileira concentrou-se na faixa litorânea, ficando o interior do país pouco povoado. Assim, a transferência da capital para o interior forçaria o deslocamento de um contingente populacional e a abertura de rodovias, ligando a capital às diversas regiões do país, o que levaria a uma maior integração econômica. Planejada para ter uma população de 500 mil habitantes no ano 2000, a população de Brasília já atingia 1,515 milhão de habitantes em 1991, considerando-se todo o Distrito Federal. Brasília é hoje a terceira cidade mais populosa do Brasil, depois de São Paulo e Rio de Janeiro, além da quinta concentração urbana mais populosa do país, superada apenas por São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Recife. Geografia. Brasília se localiza a altitudes entre e metros acima do nível do mar, no chamado Planalto Central, cujo relevo é, na maior parte, plano, apresentando algumas leves ondulações. A flora corresponde à predominantemente típica do domínio do cerrado. A fim de aumentar a quantidade de água disponível para a região, foi realizado o represamento de um dos rios da região, o rio Paranoá, para a construção de um lago artificial, o Lago Paranoá. O lago, com mais de cem quilômetros de extensão, faz Brasília ser um dos maiores polos náuticos do país e é frequentado por praticantes de "wakeboard", remo e pesca profissional. De acordo com a divisão do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) vigente desde 2017, Brasília pertence às regiões geográficas intermediária e imediata do Distrito Federal. Até então, com a vigência das divisões em microrregiões e mesorregiões, fazia parte da microrregião de Brasília, que por sua vez estava incluída na mesorregião do Distrito Federal. Clima. O clima de Brasília é considerado tropical com estação seca (do tipo "Aw" na classificação climática de Köppen-Geiger), A temperatura média anual é de aproximadamente 21 °C; a estação com precipitação possui céu encoberto e a estação seca possui céu quase sem nuvens. Durante o ano inteiro o clima é morno. Ao longo do ano, normalmente, a temperatura mínima nos meses mais frios é de 14 °C e a temperatura máxima nos meses mais quentes é de 29 °C e raramente são inferiores a 10 °C ou superiores a 32 °C. No decorrer da estação chuvosa, que começa em outubro e termina em abril, as precipitações ocorrem sob a forma de chuva e, algumas vezes, de granizo, podendo ainda virem acompanhadas de raios e trovoadas. Durante a estação seca, entre maio e setembro, é comum que os níveis de umidade relativa do ar (URA) fiquem muitas vezes abaixo de 30%, bem abaixo do ideal considerado pela Organização Mundial da Saúde (OMS), de 60%. Segundo dados da estação convencional do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) de Brasília, instalada na sede do instituto (Sudoeste) desde 21 de agosto de 1961, a menor temperatura registrada foi de em 18 de julho de 1975 e a maior atingiu nos dias 18 de outubro de 2015 e 8 de outubro de 2020. O maior acumulado de precipitação em 24 horas foi de em 15 de novembro de 1963. Neste mesmo ano ocorreu o período seco mais longo da história da capital, chegando a 164 dias consecutivos sem chuva. Outros acumulados iguais ou superiores a foram: em 21 de abril de 1992, em 31 de março de 1964, em 28 de fevereiro de 2005, em 22 de dezembro de 1963, em 27 de outubro de 2006 e em 29 de outubro de 2000. Em janeiro de 1979, foram registrados de precipitação, o maior acumulado mensal desde então, seguido por em outubro de 2006. Desde maio de 2000, quando o INMET instalou uma estação meteorológica no mesmo lugar, o menor índice de URA foi de 10% em 7 de agosto de 2002, setembro de 2011 (nos dias 6 e 7) e 4 de outubro de 2020. Por sua vez, a rajada de vento mais forte alcançou () na tarde de 1 de outubro de 2014, dia em que também foi registrada pela primeira vez a formação de um tornado, na região do Aeroporto JK. Ainda na história meteorológica de Brasília, houve geada em 10 de junho de 1985, quando a temperatura mínima chegou a , a mais baixa registrada em um mês de junho. Demografia. O ritmo de crescimento populacional na primeira década foi de 14,4% ao ano, com um aumento populacional de 285%. Na década de 1970, o crescimento médio anual foi de 8,1%, com um incremento total de 115,52%. A população total do Distrito Federal, que não deveria ultrapassar habitantes em 2000, atingiu esta cota no início da década de 1970, e, entre 1980 e 1991, a população expandiu em mais 32,8%. O Plano Piloto, que, na inauguração, concentrava 48% da população do Distrito Federal, gradativamente perdeu importância relativa, chegando a 13,26% em 1991, passando o predomínio para as cidades-satélites. Em 2010, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística indicou habitantes em todo o Distrito Federal. O Índice de Desenvolvimento Humano é de 0,824 e a taxa de analfabetismo de apenas 4,35%. Brasília também caracteriza-se pela sua desigualdade social, sendo a quarta área metropolitana mais desigual do Brasil e a décima sexta do mundo, segundo um relatório divulgado pela Organização das Nações Unidas. A população brasiliense é formada por migrantes de todas as regiões brasileiras, sobretudo do Nordeste e do Sudeste, além de estrangeiros que trabalham nas embaixadas espalhadas pela capital. Dados de 2010 apontavam que quase metade da população não nasceu ali, sendo que (53,73%) eram brasilienses e (46,27%) de outros locais (incluindo estrangeiros, ou 0,33% da população), principalmente de Goiás, Minas Gerais e Bahia. A região administrativa de Plano Piloto, composta em sua parte urbana pelos bairros residenciais Asa Norte, Asa Sul e Vila Planalto, conta com uma população de habitantes (2010) e uma área de , sendo a terceira maior região administrativa do Distrito Federal em termos de população, atrás apenas de Ceilândia (com habitantes) e Taguatinga (). Região integrada. Conhecida como RIDE, a Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno compreende o Distrito Federal mais os municípios goianos de Abadiânia, Água Fria de Goiás, Águas Lindas de Goiás, Alexânia, Alto Paraíso de Goiás, Alvorada do Norte, Barro Alto, Cabeceiras, Cavalcante, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Goiás, Corumbá de Goiás, Cristalina, Flores de Goiás, Formosa, Goianésia, Luziânia, Mimoso de Goiás, Niquelândia, Novo Gama, Padre Bernardo, Pirenópolis, Planaltina, Santo Antônio do Descoberto, São João d'Aliança, Simolândia, Valparaíso de Goiás, Vila Boa e Vila Propício, e os municípios mineiros de Arinos, Buritis, Cabeceira Grande e Unaí. Conta com 4 808 484 habitantes sendo a quarta mais populosa região metropolitana do Brasil. (IBGE/2021). Segundo a geógrafa Nelba Azevedo Penna, do Departamento de Geografia da Universidade de Brasília, "em consequência dos processos de ordenamento de seu território, ocorreu uma intensa expansão da urbanização para a periferia limítrofe ao Distrito Federal, que deu origem à formação da região metropolitana de Brasília (atualmente institucionalizada como Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno – RIDE)". Desigualdade social e criminalidade. Brasília possui a maior desigualdade de renda entre as capitais brasileiras, além de ser uma das capitais em que mais se registram homicídios para cada cem mil habitantes no país. Na região administrativa de Ceilândia está localizada a segunda mais populosa favela do Brasil, a comunidade do Sol Nascente, com 61 mil habitantes — segundo estimativas de lideranças locais, no entanto, a população seria de 100 mil pessoas, que superaria a da Rocinha, no Rio de Janeiro. Os índices de criminalidade são altos principalmente no Entorno do Distrito Federal. Segundo sociólogos, a criminalidade no Distrito Federal, principalmente nas cidades-satélites, é uma herança do crescimento desordenado, ainda que assentado em núcleos urbanos planejados. Os níveis de criminalidade no DF estão entre os maiores do Brasil, chegando ao ponto de haver uma média de até dois assassinatos diários. Em 2012, houve 1031 homicídios, com taxa de 38,9 por 100 mil habitantes, a 478º maior do país. Existem diversas propostas para tentar diminuir a criminalidade na capital: entre elas, um maior policiamento, medida esta que, aplicada, tem levado a uma retração da violência. Governo. Brasília não possui prefeito e vereadores, pois o artigo 32 da Constituição Federal de 1988 proíbe expressamente que o Distrito Federal seja dividido em municípios, sendo considerado uno. O Distrito Federal é pessoa jurídica de direito público interno, ente da estrutura político-administrativa do Brasil de natureza "sui generis", pois não é nem um estado nem um município, mas sim um ente especial que acumula as competências legislativas reservadas aos estados e aos municípios, conforme dispõe o art. 32, § 1º da CF, o que lhe dá uma natureza híbrida de estado e município. O poder executivo do Distrito Federal foi representado pelo prefeito do Distrito Federal até 1969, quando o cargo foi transformado em governador do Distrito Federal. O poder legislativo do Distrito Federal é representado pela Câmara Legislativa do Distrito Federal, cuja nomenclatura representa uma mescla de assembleia legislativa (poder legislativo das demais unidades da federação) e de câmara municipal (legislativo dos municípios). A Câmara Legislativa é formada por 24 deputados distritais. O poder judiciário que atende ao Distrito Federal também atende a territórios federais. O Brasil não possui territórios atualmente, portanto, o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e dos Territórios só atende ao Distrito Federal. Definição territorial e administrativa. No Brasil, por definição legal, "cidade" é a sede de um "município". A partir do Estado Novo, pelo decreto-lei nº 311, todas as sedes dos municípios passaram a ser cidades, sendo que, até então, as menores sedes de municípios eram denominadas "vilas". No Distrito Federal, porém, são chamados de cidades os diversos núcleos urbanos, sendo o principal deles a região administrativa de Brasília, que por sua vez também se confunde com a ideia do Plano Piloto. A rigor, os outros núcleos estão mais para bairros distantes da capital do país do que para cidades distintas, pois a Constituição do Brasil veda expressamente a divisão do Distrito Federal em municípios. Brasília é constituída por toda a área urbana do Distrito Federal e não apenas a parte tombada pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) ou a região administrativa central, pois a cidade é polinucleada, constituída por várias regiões administrativas, de modo que as regiões afastadas estão articuladas às centrais. Há quem argumente que por todo o Brasil há regiões metropolitanas, onde cidades afastadas acabam articuladas em relação às cidades principais, sem que deixem por isso de ser consideradas cidades. A diferença é que elas são sedes de município. Apesar disso, outros núcleos urbanos do Distrito Federal, hoje chamados regiões administrativas, sempre foram conhecidos por cidades-satélites. Alguns, atualmente, entendem como Brasília apenas a região administrativa de Brasília (formada por parte do Plano Piloto e pelo Parque Nacional de Brasília), e não todo o Distrito Federal. Contundo alguns destes núcleos urbanos, como Planaltina e Brazlândia, são mais antigos do que a própria Brasília. Planaltina já existia como município de Goiás, antes de perder parte de seu território para o Distrito Federal. Por outro lado, a lei de organização do Distrito Federal é uma lei orgânica, típica de municípios e não uma constituição, como ocorre nos estados da federação brasileira, embora esta lei orgânica regule tanto matérias típicas de leis orgânicas municipais quanto de constituições estaduais. As regiões administrativas do Distrito Federal não dispõem de autonomia administrativa, a administração regional é comandada por um administrador regional, que é indicado pelo governador do Distrito Federal. Apesar de existirem projetos da CLDF com o intuito de mudar o processo de escolha, o Ministério Público do Distrito Federal e dos Territórios considerou as tentativas de mudança como inconstitucionais, pois tratariam de matérias cuja competência legislativa é do Executivo. Órgãos oficiais de pesquisa, como o IBGE, o Dieese e o IPEA, não distinguem Brasília do Distrito Federal para efeitos de contagem e estatística pois seus dados são sempre elaborados levando-se em conta o município. Como o Distrito Federal não possui municípios, é considerado como um único ente. O nome "Plano Piloto", originalmente atribuído ao projeto urbanístico da cidade elaborado por Lúcio Costa, passou a designar toda a área construída em decorrência deste plano inicial. Não existe, contudo, um consenso sobre o que seria o "Plano Piloto", bem como sobre a definição de Brasília em si. Segundo o decreto /87, os limites do Plano Piloto são definidos pelo lago Paranoá, a leste; pelo córrego Vicente Pires, ao sul; pela Estrada Parque Indústria e Abastecimento (EPIA), ao oeste; e pelo córrego Bananal, ao norte. Dessa forma, abrange áreas das regiões administrativas do Cruzeiro, do Sudoeste/Octogonal e da Candangolândia. A região administrativa do Plano Piloto, denominada de "Região Administrativa I", já recebeu o nome de "Brasília" entre 1960 e 1989, quando passou a se chamar "Plano Piloto". Voltou a ser denominada "Brasília" de 1990 até 1997, quando houve nova alteração do nome para "Plano Piloto". Apesar disso, ainda ocorre de a região ser denominada em documentos oficiais de "Brasília". A região administrativa está formada basicamente pelo projeto urbanístico de Lúcio Costa e pelo Parque Nacional de Brasília. Ela é dividida em diferentes setores, como as Asas Sul e Norte, Setor Militar Urbano (SMU), Noroeste, Setor de Indústrias Gráficas (SIG), Granja do Torto, Vila Planalto e Vila Telebrasília. Entre as regiões que já fizeram parte da região administrativa, podem-se citar o Cruzeiro, desmembrado em 1989; os Lagos Norte e Sul, que se tornaram regiões administrativas separadas em 1994; e o Sudoeste/Octogonal, criado como região administrativa em 2003. Cidades-irmãs. Brasília conta com pelo menos 23 cidades-irmãs, entre elas: Economia. Além de ser centro político, Brasília é um importante centro econômico do Brasil, sendo a terceira cidade mais rica do país, exibindo, em 2018, um Produto Interno Bruto (PIB) de R$ 254,817 bilhões, 8° maior do país quando Brasília é considerada como estado e 3° como município, sendo a área urbana de maior índice de renda per capita do Brasil, de R$ . Segundo pesquisa da consultoria Mercer sobre o custo de vida para funcionários estrangeiros, Brasília estava colocada na posição 33 entre as cidades mais caras do mundo em 2011, subindo da posição 70 em 2010. Superada no Brasil em 2011 somente pelas cidades de São Paulo (10) e Rio de Janeiro (12), Brasília entra na classificação logo depois de Nova Iorque (32), a cidade mais cara dos Estados Unidos. A principal atividade econômica da capital federal resulta de sua função administrativa. Por isso seu planejamento industrial é estudado com muito cuidado pelo Governo do Distrito Federal. Por ser uma cidade tombada pelo IPHAN e que recebeu o Título de Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco a ocupação do território do Distrito Federal tem características diferenciadas para preservação da cidade. Assim, o Governo do Distrito Federal tem optado por incentivar o desenvolvimento de indústrias não poluentes como a de software, cinema, vídeo, gemologia, entre outras, com ênfase na preservação ambiental e na manutenção do equilíbrio ecológico, preservando o patrimônio da cidade. A indústria chegou a representar 4,2% do PIB em 2018. No Índice de Cidades Empreendedoras 2017 do instituto Endeavor Brasil ficou em 17° lugar dentre as 32 cidades analisadas, destacando-se quanto ao seu ambiente regulatório e acesso ao capital, mas ficando em última posição quanto à cultura empreendedora. Dentre as empresas públicas e privadas com sede em Brasília encontram-se os Correios, EBC, Infraero, Companhia de Saneamento do Distrito Federal, Companhia Energética de Brasília, Metrô-DF, Banco de Brasília e Giraffas. A economia de Brasília sempre teve como principais bases a construção civil e o varejo. Foi construída em terreno totalmente livre, portanto ainda existem muitos espaços nos quais se pode construir novos edifícios. A cidade foi a região com lançamentos mais caros do Brasil em 2012, segundo o "Anuário do Mercado Imobiliário Brasileiro da Lopes", com 51 empreendimentos lançados, 8 823 unidades e 3,3 bilhões de reais em "Valor Geral de Vendas", sendo o quarto maior mercado imobiliário nacional. As atividades imobiliárias responderam por 7,4% do PIB em 2018. À medida que a cidade recebe novos moradores, a demanda pelo setor terciário aumenta, motivo pelo qual Brasília tem uma grande quantidade de lojas, com destaque para o Conjunto Nacional, localizado no centro da capital. A agricultura e a avicultura ocupam o menor lugar na economia brasiliense. Um cinturão verde na Região Integrada de Desenvolvimento do Distrito Federal e Entorno abastece a cidade e já exporta alimentos para outros locais. Turismo. Brasília é classificada como Patrimônio Cultural da Humanidade pela Unesco, uma agência da ONU e recebe cerca de um milhão de visitantes anualmente. Entre as suas atrações mais visitadas estão os diversos projetos arquitetônicos de Oscar Niemeyer e Joaquim Cardozo. O turismo cívico é valorizado por estarem localizados na capital os órgãos governamentais da administração direta e os representantes dos três poderes republicanos. Os principais monumentos da cidade encontram-se no Eixo Monumental: Catedral Militar Rainha da Paz, Praça do Cruzeiro (Memorial da Primeira Missa), Memorial JK, Memorial dos Povos Indígenas, Complexo Poliesportivo Ayrton Senna: Ginásio de Esportes Nilson Nelson e Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha; Centro de Convenções Ulysses Guimarães (CCUG), Torre de TV, Teatro Nacional Cláudio Santoro, Complexo Cultural da República João Herculino: Biblioteca Nacional de Brasília Leonel de Moura Brizola (BNB), SESI Lab e Museu Nacional Honestino Guimarães; Catedral Metropolitana de Brasília Nossa Senhora Aparecida, Esplanada dos Ministérios, Palácio da Justiça, Palácio Itamaraty, Praça dos Três Poderes: Congresso Nacional, sede do Poder Legislativo brasileiro, Palácio do Planalto, sede do Poder Executivo brasileiro, Supremo Tribunal Federal (STF), sede do Poder Judiciário brasileiro e o Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves. Entre outros monumentos estão o Palácio da Alvorada, residência oficial da Presidência da República (no Setor Palácio Presidencial - SPP), o Catetinho (ao longo da EPIA Sul), o Santuário Dom Bosco (na Via W3 Sul), o Museu Vivo da Memória Candanga (no Núcleo Bandeirante) e a Ponte Juscelino Kubitschek, mais conhecida como Ponte JK ou "terceira ponte", premiada internacionalmente (no Lago Paranoá, entre o Setor de Clubes Esportivos Sul (SCES), na Asa Sul, e o Setor de Habitações Individuais Sul (SHIS), no Lago Sul). Brasília ainda é conhecida por suas comunidades espiritualistas (como o Vale do Amanhecer, em Planaltina, a Cidade Eclética e a Cidade da Paz) localizadas nos seus arredores e também por modernistas templos religiosos, como o Templo da Boa Vontade da LBV. A cidade oferece também ecoturismo por estar localizada a mais de mil metros acima do nível do mar, no imenso platô do Planalto Central, de onde nascem rios de algumas grandes bacias hidrográficas brasileiras. A cidade ainda conta com várias áreas verdes, como o Parque da Cidade Dona Sarah Kubitschek, (entre a Asa Sul e o Setor Sudoeste), o Parque Nacional de Brasília, mais conhecido como "Água Mineral" (entrada pela EPIA Norte), o Parque Olhos D'Água (na Asa Norte - SQNs 412 e 413), o Jardim Botânico de Brasília (JBB) (no Lago Sul), o Jardim Zoológico de Brasília (na Candangolândia) e o Parque Ecológico Burle Marx (entre a Asa Norte e o Setor Noroeste). O turismo histórico na capital federal não se restringe ao período posterior à fundação, mas também resgata locais e fatos anteriores a 1960, como a Estrada Geral do Sertão, com mais de três mil quilômetros, aberta em 1736 para ligar Salvador até Vila Bela da Santíssima Trindade, antiga capital do Mato Grosso. Infraestrutura. Educação. A educação de Brasília, no período de construção da capital, tinha como propósito se diferenciar da educação no restante do Brasil. Sob os pressupostos do movimento Escola Nova, comandado pelo educador Anísio Teixeira e seguido, em especial, pelo antropólogo Darcy Ribeiro, o qual priorizava o desenvolvimento do intelecto em detrimento da memorização, as escolas primárias foram divididas entre escolas-classe e escolas-parque. Nas primeiras, as crianças passariam quatro horas diárias aprendendo conteúdos, e nas segundas, mais quatro horas praticando atividades extracurriculares: artes e esportes, por exemplo. O fator educação do Índice de Desenvolvimento Humano de Brasília em 2020 atingiu a marca de 0,804 – patamar consideravelmente alto, em conformidade aos padrões do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – ao passo que a taxa de alfabetização da população acima dos dez anos indicada pelo último censo demográfico foi de 96,7%, acima da média nacional (91%). Brasília tem um sistema de ensino primário e secundário, público e privado, e uma variedade de escolas técnicas. Em 2009, havia, na cidade, 833 estabelecimentos de ensino fundamental, 622 unidades pré-escolares, 187 escolas de nível médio e mais algumas instituições de nível superior. No total, foram matrículas e docentes registrados em 2009. No ensino superior, destacam-se importantes universidades públicas e privadas. Dentre as principais instituições de ensino superior da cidade, estão a Universidade de Brasília (UnB), Instituto Federal de Brasília (IFB), Universidade Católica de Brasília (UCB), Centro Universitário de Brasília (UniCEUB), Instituto de Educação Superior de Brasília (IESB), e União Pioneira da Integração Social (UPIS). Há uma concentração extrema de instituições de ensino superior no Plano Piloto. Em 2006, foi instalado um novo campus da Universidade de Brasília em Planaltina. Existem também campi da UnB nas regiões administrativas de Ceilândia e Gama. O número de bibliotecas não é proporcional ao tamanho da população na área central. As principais bibliotecas públicas do Distrito Federal se localizam no Plano Piloto, como a Biblioteca da Universidade de Brasília, a Biblioteca da Câmara e do Senado, a Biblioteca Demonstrativa de Brasília e a Biblioteca Nacional Leonel de Moura Brizola, também conhecida como Biblioteca Nacional de Brasília, inaugurada em 2006. Quanto ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de 2019, a capital brasileira obteve notas de 6,5 na primeira fase do ensino fundamental (anos iniciais), 5,1 na segunda fase (anos finais) e 4,5 no ensino médio. As escolas públicas tiveram notas inferiores em relação à rede particular. Na classificação geral do Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM) de 2014, três escolas da cidade figuraram entre as cem melhores do "ranking", sendo os colégios Olimpo, Olimpo de Águas Claras e Ideal, todas particulares, na 26ª, 65ª e 70ª posições, respectivamente. Transportes. Brasília, por estar localizada no centro do Brasil, serve como ligação terrestre e aérea para o país. O Aeroporto Internacional Presidente Juscelino Kubitschek é um dos mais movimentados do Brasil por número de passageiros, recebendo mais de 13 milhões de passageiros em 2022 e chegando a ser o segundo mais movimentado do país em 2014. Oito rodovias radiais fazem a ligação da capital federal com outras regiões do Brasil. Em 2019 a frota do Distrito Federal chegou a mais de 1,8 milhão de veículos, correspondente a uma taxa de motorização de 390 veículos por cada 1 000 habitantes, e esta taxa é ainda maior na área central de Brasília (Plano Piloto, Sudoeste, Lago Sul e Norte). Começaram a surgir inúmeros engarrafamentos na cidade e alguns lugares se tornam intransitáveis nas horas de pico (rush). Os ônibus transportam pouco mais de 14 milhões de passageiros por mês. A atual conjuntura do sistema de transportes do Distrito Federal gera um quadro de pouca mobilidade urbana, com um serviço de ônibus notadamente caro e ineficiente, e uma infraestrutura que privilegia o automóvel particular. Para tentar amenizar esse quadro, foi construído um metrô, mas devido à sua extensão limitada e ao próprio crescimento da cidade, ele não alterou significativamente o problema de trânsito na cidade e, desde o início da sua construção em 1992, e em 2010, gerava prejuízos da ordem de 7,5 milhões de reais por mês ao governo. Das 29 estações planejadas, 24 estão em funcionamento, ligando o centro do Plano Piloto (rodoviária) ao Guará, Águas Claras, Taguatinga, Ceilândia e Samambaia. O Metrô do Distrito Federal transporta cerca de 150 mil usuários por dia. Em 1 de fevereiro de 2009, entrou em funcionamento a integração dos sistemas de micro-ônibus e metrô, com bilhetes eletrônicos. Ainda está em implementação o projeto Brasília Integrada, que contempla a criação de corredores especiais para ônibus e a integração destes com o metropolitano. Um novo terminal rodoviário interestadual foi inaugurado em julho de 2010, ao lado da Estação Shopping do metrô. Brasília também mantém ligações ferroviárias com os estados de Goiás, de Minas Gerais e de São Paulo, através do Ramal de Brasília, que se encontra sob controle da Ferrovia Centro-Atlântica (FCA). Pela linha férrea, integrante do Corredor Centro-Oeste, são transportados: combustíveis, grãos e insumos industriais. Entretanto, o transporte de passageiros de longo percurso era realizado pela Rede Ferroviária Federal (RFFSA), originalmente sua administradora, desde a implementação do modal no Distrito Federal, no final da década de 1960. Os trens consistiam em uma ligação interestadual entre a capital federal e a cidade de Campinas, dos quais eram chamados de Bandeirante e suas saídas se davam inicialmente pela Estação Ferroviária Bernardo Sayão e posteriormente pela Rodoferroviária de Brasília, onde permitia-se integrações aos ônibus rodoviários interestaduais. O serviço de passageiros se deu até 1992, quatro anos antes da SR-2 ser concedida à iniciativa privada. A capital federal é a segunda cidade com maior estrutura cicloviária do Brasil, contando com 633,496 km de ciclovias e ciclofaixas. Brasília e São Paulo foram as cidades brasileiras que mais ampliaram a estrutura para bicicletas nos anos de 2013 e 2014, mas ambas são criticadas por falhas e pela baixa qualidade das vias construídas ou demarcadas. Saúde. Segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, Brasília dispunha de um total de estabelecimentos de saúde em 2009, sendo 148 públicos e privados, os quais dispunham no seu conjunto de leitos para internação, sendo que quase são públicos. A cidade também conta com atendimento médico ambulatorial em especialidades básicas, atendimento odontológico com dentista e presta serviço ao Sistema Único de Saúde (SUS). A região administrativa de Brasília possui diversos hospitais públicos, como o Hospital de Base do Distrito Federal (HBDF), o Hospital Regional da Asa Norte (HRAN), o Hospital Regional da Asa Sul (HRAS), da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, além do Hospital Universitário de Brasília, da Universidade de Brasília (UnB). Algumas das demais regiões administrativas também possuem hospitais públicos da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, em um total de 12. O sistema de saúde pública da capital recebe diferentes reclamações e críticas (como é comum no Brasil), principalmente por casos de mau atendimento, desigualdade entre negros e brancos e ineficiência. Em abril de 2010 existiam mulheres em idade fértil (entre 10 e 49 anos). Brasília contava em dezembro de 2009 com 595 anestesistas, auxiliares de enfermagem, 633 cirurgiões gerais, cirurgiões dentistas, clínicos gerais, enfermeiros, 530 farmacêuticos, 841 fisioterapeutas, 278 fonoaudiólogos, gineco-obstetras, 146 médicos de família, 439 nutricionistas, pediatras, 893 psicólogos, 223 psiquiatras, 465 radiologistas e técnicos de enfermagem. Em 2008 foram registrados nascidos vivos, sendo que 7,5% nasceram prematuros, 51,6% foram de partos cesáreos e 14,2% foram de mães entre 10 e 19 anos (0,6% entre 10 e 14 anos). A taxa bruta de natalidade era de 17,3 por 100 mil habitantes. No mesmo ano, a taxa de mortalidade infantil era de 11,9 por mil nascidos vivos e a taxa de óbitos era de 4 por mil habitantes. Quanto a doenças comuns, o Distrito Federal teve ocorrências de dengue de janeiro a agosto de 2008, quase duas vezes mais do que o registrado no mesmo período de 2007. Brasília tem uma das maiores taxas de ocorrência de câncer do Brasil. Em 2005, o Distrito Federal foi o recordista nacional de mortes de mulheres por câncer de mama, e os novos casos não diminuíram no ano seguinte. Cultura. Em Barcelona, Espanha, no dia 12 de dezembro de 2007, o Bureau Internacional de Capitais Culturais nomeou Brasília como a Capital Americana da Cultura para o ano de 2008, sucedendo Cusco. O "Bureau" promoveu uma votação popular que elegeu as sete maravilhas do Patrimônio Cultural Material de Brasília: a Catedral, o Congresso Nacional, o Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, o Templo da Boa Vontade, o Santuário Dom Bosco e a Ponte JK. Em 2017 Brasília se tornou uma das cidades criativas do design da UNESCO. Brasília também realiza diversos eventos anualmente. No campo da moda, acontece a "Capital Fashion Week", evento que segue o exemplo do "São Paulo Fashion Week" e tenta divulgar nacionalmente as marcas e modelos de Brasília e da Região Centro-Oeste. O "carnaval" é marcado atualmente pelos desfiles de escolas de samba e blocos, sendo notadamente influenciado pelo carnaval do Rio de Janeiro. Em Ceilândia, existe o Ceilambódromo onde se pode assistir ao desfile. Entre as escolas de samba da cidade estão a ARUC e Acadêmicos da Asa Norte. Na produção local de cinema, destaca-se o diretor Afonso Brazza, que se tornou "cult" graças a seus filmes policiais de baixo orçamento. Outro cineasta radicado na capital e muito conhecido não só na cidade mas em todo país é o documentarista Vladimir Carvalho, professor de cinema da Universidade de Brasília, que produziu 21 filmes documentários, parte deles sobre a própria história e realidades sociocultural e política do Distrito Federal e de Goiás. Anualmente acontece o Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, realizado desde 1965, quando se chamava Semana do Cinema Brasileiro. Firmou-se como um dos mais tradicionais do Brasil, sendo comparável ao Festival do Cinema Brasileiro de Gramado, no Rio Grande do Sul, porém sempre preservando a tradição de somente inscrever e premiar filmes brasileiros, princípio que nos momentos mais críticos da história cinematográfica brasileira foi abandonado por Gramado. Museus. Os principais museus de Brasília estão localizados no Eixo Monumental. O Panteão da Pátria e da Liberdade Tancredo Neves, projetado por Oscar Niemeyer em forma de pomba e inaugurado em 1986 traz o "Livro dos Heróis da Pátria" com a história daqueles que teriam lutado pela união da nação. O Memorial JK apresenta diversos objetos pessoais (fotos, presentes, cartas) e o próprio túmulo do idealizador da cidade. O Memorial dos Povos Indígenas tem como objetivo mostrar um pouco da riqueza das culturas indígenas nacionais. Em 15 de dezembro de 2006, foi inaugurado o Complexo Cultural da República, um centro cultural localizado ao longo do Eixo Monumental, formado pela Biblioteca Nacional de Brasília e pelo Museu Nacional da República. A Biblioteca Nacional de Brasília ocupa uma área de 14 000 m², contando com salas de leitura e estudo, auditório e uma coleção de mais de 300 000 itens. O Museu Nacional da República é constituído por uma área de 14 500 m², dois auditórios com capacidade de 780 lugares e um laboratório. O espaço é usado principalmente para exibir exposições de arte temporárias. Fora do Eixo Monumental, existe ainda o Museu de Arte de Brasília que conta com exposição permanente voltada para a arte moderna e o Museu de Valores do Banco Central. No Setor de Diversões Norte, em forma de uma grande pirâmide irregular, está localizado o principal teatro da cidade, o Teatro Nacional Cláudio Santoro, com três salas, nomeadas em homenagem a Villa-Lobos, Martins Pena e Alberto Nepomuceno. Patrimônio urbanístico e arquitetônico. O projeto urbanístico de Brasília foi projetado por Lúcio Costa, vencedor do concurso de 1957 para o plano da Nova Capital, e teve sua forma inspirada pelo sinal da cruz. No entanto, o formato da área é popularmente comparado ao de um avião. Na extremidade noroeste do Eixo Monumental estão os edifícios regionais, enquanto no extremo sudeste, perto da costa do Lago Paranoá, estão os edifícios do governo federal, em torno da Praça dos Três Poderes, o coração conceitual de Brasília. A cidade é divida em setores temáticos, como o de Habitações Coletivas, Comercial, Hospitalar, Hoteleiro, Cultural e de Diversões. Lúcio Costa projetou o Eixo Monumental como uma área aberta no centro da cidade onde se situa a Esplanada dos Ministérios. O gramado retangular da área é cercado por duas amplas vias expressas, que formam a principal avenida da cidade, onde muitos edifícios públicos, monumentos e memoriais estão localizados. Este é o corpo principal do "avião" que forma da cidade. O Eixo Monumental assemelha-se ao "National Mall", em Washington, D.C., e é a via pública mais larga do mundo, com 250 metros de largura. A Praça dos Três Poderes é um amplo espaço aberto entre os três edifícios monumentais que representam os três poderes da República: o Palácio do Planalto (Executivo), o Supremo Tribunal Federal (Judiciário) e o Congresso Nacional (Legislativo). Como em quase todos os logradouros de Brasília, a parte urbanística foi idealizada por Lúcio Costa e as construções foram concebidas por Oscar Niemeyer com projetos estruturais de Joaquim Cardozo. Conjuntos habitacionais de em padrão modernista foram construídos pelo governo no Plano Piloto. As zonas residenciais da cidade são organizados em "superquadras", que são grupos de edifícios de apartamentos, juntamente com um determinada quantidade e tipo de escolas, lojas e espaços abertos. Após o Lago Paranoá, separado do centro da cidade, foram construídos setores habitacionais, não previstos no projeto original, que hoje contam com casas de alto padrão. Originalmente, os planejadores da cidade imaginaram extensas áreas públicas ao longo das margens do lago artificial, mas durante o desenvolvimento inicial da capital, clubes privados, hotéis e residências de luxo ocuparam a área em torno da água. Separadas do Plano Piloto estão as suburbanas cidades-satélites, que incluem Gama, Ceilândia, Taguatinga, Samambaia, Núcleo Bandeirante, Sobradinho e Planaltina. Estas cidades, com exceção de Gama e Sobradinho, não foram planejados e desenvolveram-se naturalmente. A capital do Brasil é a única cidade do mundo construída no século XX para ser premiado (em 1987) o status de Patrimônio Histórico e Cultural da Humanidade pela UNESCO, uma agência da ONU. O Palácio da Alvorada, o Palácio do Planalto, a Catedral Metropolitana, tal como a maioria dos edifícios oficiais na cidade, foram projetados por Oscar Niemeyer e Joaquim Cardozo seguindo o estilo da arquitetura moderna brasileira. Vistas desde o Eixo Monumental, a calota à esquerda do edifício do Congresso Nacional do Brasil é a sede do Senado e a da direita é a sede da Câmara dos Deputados. Entre eles há duas torres de escritórios. O Congresso também ocupa outros edifícios no entorno, alguns deles interligados por um túnel. Na frente do prédio, há um grande gramado e um lago, enquanto do outro lado do edifício está a Praça dos Três Poderes. O paisagista brasileiro Roberto Burle Marx projetou os jardins modernistas de alguns dos principais edifícios da cidade. A Ponte Juscelino Kubitschek serve como ligação entre o Lago Sul, Paranoá e São Sebastião e a parte central do Plano Piloto, através do Eixo Monumental, atravessando o Lago Paranoá. Inaugurada em 15 de dezembro de 2002, a estrutura da ponte tem um comprimento de travessia total de metros, largura de 24 metros com duas pistas, cada uma com três faixas de rolamento, duas passarelas nas laterais para uso de ciclistas e pedestres e comprimento total dos vãos de 720 metros. Ela foi projetada pelo arquiteto Alexandre Chan e estruturada pelo engenheiro Mário Vila Verde. Chan ganhou a Medalha Gustav Lindenthal por este projeto. A ponte é constituída por três arcos de aço assimétricos de 60 metros de altura que se cruzam em diagonal. Foi concluída a um custo de US$ 56,8 milhões. Música. No final dos anos 1970, predominavam os ritmos regionais como o forró e a música sertaneja; nessa época, despontava no grupo Secos e Molhados o cantor Ney Matogrosso, que fora profissional da área de saúde na capital federal. No começo dos anos 1980, surgiram várias bandas de rock vindas de Brasília que despontaram no cenário nacional, como Legião Urbana, Capital Inicial e Plebe Rude, todas com influência punk. Ao mesmo tempo, um carioca criado em Minas Gerais, Oswaldo Montenegro, tornava-se conhecido na cidade, montando espetáculos de cujo elenco fazia parte Cássia Eller. Ainda na década de 1980 surgiram, paralelamente ao cenário rock, o "reggae" de Renato Matos e outros movimentos culturais que criaram o Projeto Cabeças, de onde surgiram vários artistas de Brasília. Na década seguinte, despontaram o "hardcore" dos Raimundos e o "reggae" do Natiruts. Alguns músicos e cantores que moraram em Brasília durante esse período foram Ney Matogrosso, Zélia Duncan e membros da Legião Urbana e dos Paralamas do Sucesso. Atualmente, Brasília conta com o "Festival Porão do Rock", que tenta revelar novas bandas no cenário nacional. Este evento, lançado em 1998 na Concha Acústica a partir de um grupo de músicos que se reunia no subsolo de um prédio comercial em uma das quadras da Asa Norte, ganhou, em 2000, sua primeira versão em maior escala no estacionamento do Estádio Mané Garrincha, onde é realizado desde então. Também é realizado na cidade, anualmente, o "Brasília Music Festival". Mais recentemente, o choro vem ganhando adeptos em Brasília, resultando na criação de clubes de choro, como o Clube de Choro de Brasília. Brasília também tem se firmado no "hip hop". São originários da cidade os grupos Câmbio Negro, Viela 17, Guind'art 121 e o rapper GOG. Esportes. O Distrito Federal é sede de dois clubes de futebol reconhecidos nacionalmente: o Brasiliense Futebol Clube (de Taguatinga) e a Sociedade Esportiva do Gama (ou simplesmente Gama), que chegaram a participar da primeira divisão do Campeonato Brasileiro de Futebol, sendo que o melhor resultado da história foi o vice-campeonato do Brasiliense na Copa do Brasil na edição de 2002. Os principais estádios de futebol são o Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, o Estádio Elmo Serejo Farias ("Serejão") e o Estádio Walmir Campelo Bezerra ("Bezerrão"). O Estádio Edson Arantes do Nascimento ("Pelezão") foi o primeiro e principal estádio da cidade à época de sua inauguração, mas foi abandonado e demolido em 2009. Brasília foi uma das seis cidades-sede dos jogos da Copa das Confederações de 2013 e uma das doze da Copa do Mundo de 2014, cujos jogos ocorreram no Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. Inicialmente, a FIFA vetou o nome "Mané Garrincha" para as partidas da Copa das Confederações e da Copa do Mundo da FIFA, mas uma forte pressão popular fez a entidade voltar atrás e reconhecê-lo como Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha. O estádio está localizado no Complexo Poliesportivo Ayrton Senna (antigo Setor Esportivo), um dos mais complexos centros poliesportivos do Brasil que também abriga o Ginásio de Esportes Nilson Nelson, o Autódromo Internacional de Brasília Nelson Piquet, entre outras estruturas. Por ser uma cidade localizada em altitude superior a mil metros do nível do mar, Brasília tem revelado atletas de alto nível, corredores de fundo e meio fundo como: Joaquim Cruz e Hudson de Souza (800 e 1500 m rasos); Carmem de Oliveira e Lucélia Peres (5 000, 10 000 e maratona); Valdenor Pereira dos Santos (5000 e 10 000 m); Marilson Gomes dos Santos (5000, 10 000, meia-maratona e maratona). No tênis, o principal torneio é o Aberto de Brasília. No basquete, os principais representantes da cidade no esporte são o e o , ambos disputando o Novo Basquete Brasil. Brasília foi postulante a sede dos Jogos Olímpicos de Verão de 2000, mas teve sua candidatura retirada, e também se candidatou a Universíada de Verão de 2017, quando perdeu para Taipé, em Taiwan. Escolhida também para sediar a Universíada de Verão de 2019, após a renúncia das duas outras candidatas Baku e Budapeste poucos dias antes da escolha da sede do evento, Brasília declinou da escolha em 21 de janeiro de 2015, sob a justificativa que a cidade não teria condições financeiras de sediar o evento.
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Ludwig van Beethoven
Ludwig van Beethoven Ludwig van Beethoven (Bonn, batizado em 17 de dezembro de 1770 – Viena, 26 de março de 1827) foi um compositor germânico do período de transição entre o classicismo e o romantismo. É considerado um dos pilares da música ocidental, pelo incontestável desenvolvimento, tanto da linguagem como do conteúdo musical demonstrado nas suas obras, permanecendo como um dos compositores mais respeitados e mais influentes de todos os tempos. "O resumo de sua obra é a liberdade", observou o crítico alemão Paul Bekker (1882–1937), "a liberdade política, a liberdade artística do indivíduo, sua liberdade de escolha, de credo e a liberdade individual em todos os aspectos da vida". Biografia. Família. Ludwig van Beethoven (AFI: ) foi batizado em , mas nasceu presumivelmente no dia anterior, na cidade de Bonn, Reino da Prússia, atual Renânia do Norte (Alemanha). Sua família era de origem flamenga, cujo sobrenome significava "horta de beterrabas" e no qual a partícula "van" não indicava nobreza alguma. Seu avô, "Lodewijk van Beethoven" — também chamado "Luís", na transliteração — de quem herdou o nome, nasceu na Mechelen, hoje parte da Bélgica, em 1712, e imigrou para Bonn, onde foi maestro de capela do príncipe. Descendia de artistas, pintores e escultores, era músico e foi nomeado regente da Capela Arquiepiscopal na corte da cidade de Colônia (atual Alemanha). Foi do pai, Johann, que Beethoven recebeu suas primeiras lições de música: o objetivo era afirmá-lo como "menino-prodígio" ao piano, dada sua habilidade musical demonstrada desde ainda muito cedo. Por essa razão, a partir dos cinco anos de idade seu pai passou a obrigá-lo a estudar música diariamente, durante muitas horas. No entanto, seu pai terminou consumido pelo álcool, pelo que a infância de Ludwig foi infeliz. Sua mãe, Maria Magdalena Keverich (1746–1787), era filha do chefe de cozinha do príncipe da Renânia, Johann Heinrich Keverich. Casou-se duas vezes. O primeiro marido foi Johann Doge Leym (1733–1765). Tiveram apenas um filho, Johann Peter Anton, que nasceu e morreu em 1764 (morte na infância). Depois da morte do marido, Magdalena, viúva, casou-se com Johann van Beethoven (1740–1792). No total, tiveram sete filhos: Portanto, Ludwig van Beethoven foi o terceiro filho mais velho por parte de mãe e o segundo por parte de pai. Teve um total de sete irmãos, dos quais cinco morreram ainda na infância. Entre os irmãos vivos, Beethoven foi o penúltimo a morrer: 12 anos após Kaspar e 21 anos antes de Nicolaus. Início de carreira. Ludwig nunca teve estudos muito aprofundados, mas sempre revelou talento excepcional para a música. Com apenas oito anos de idade, foi confiado a Christian Gottlob Neefe (1748–1798), o melhor mestre de cravo da cidade de Colônia na época, que lhe deu uma formação musical sistemática, levando-o a conhecer os grandes mestres alemães da música. Numa carta publicada em 1780, pela mão de seu mestre, afirmava que "seu discípulo, de dez anos, domina todo o repertório de Johann Sebastian Bach", e que o apresentava como um "novo Mozart". Compôs as suas primeiras peças aos onze anos de idade, iniciando a sua carreira de compositor, de onde se destacam alguns "Lieder". Os seus progressos foram de tal forma notáveis que, em 1784, já era organista-assistente da Capela Eleitoral, e pouco tempo depois, foi violoncelista na orquestra da corte e professor, assumindo já a chefia da família, devido à doença do pai, o alcoolismo. Foi nesse ano que conheceu o jovem "Conde Waldstein", a quem mais tarde dedicou algumas das suas obras, pela sua amizade. Este, percebendo o seu grande talento, enviou-o, em 1787, para Viena, a fim de estudar com Joseph Haydn. O arquiduque da Áustria, Maximiliano, subsidiou então os seus estudos. No entanto, teve que regressar pouco tempo depois, assistindo à morte de sua mãe. A partir daí, Ludwig, com apenas dezessete anos de idade, teve que lutar contra dificuldades financeiras, já que seu pai tinha perdido o emprego, devido ao seu já elevado grau de alcoolismo. Foi o regresso de Viena que o motivou a um curso de literatura. Foi aí que teve o seu primeiro contato com ideais da Revolução Francesa, com o Iluminismo e com um movimento literário romântico: Sturm und Drang — Tempestade e ímpeto/paixão, dos quais um dos seus melhores amigos, Friedrich Schiller, foi, juntamente com Johann Wolfgang von Goethe, dos líderes mais proeminentes deste movimento, que teria enorme influência em todos os setores culturais na Alemanha. Viena. Em 1792, já com 21 anos de idade, mudou-se para Viena (apenas um ano após a morte, na cidade, de Mozart), onde, fora algumas viagens, permaneceu para o resto da vida. Foi imediatamente aceito como aluno por Joseph Haydn, o qual manteve o contato à primeira estadia de Ludwig na cidade. Procura então complementar mais os seus estudos, o que o leva a ter aulas com Antonio Salieri, com Foerster e Albrechtsberger, que era maestro de capela na Catedral de Santo Estêvão. Tornou-se então um pianista virtuoso, cultivando admiradores, muitos dos quais da aristocracia. Começou então a publicar as suas obras (1793–1795). O seu Opus 1 é uma coleção de três trios para piano, violino e violoncelo. Afirmando uma sólida reputação como pianista, compôs suas primeiras obras-primas, as três sonatas para piano Op. 2 (1794–1795). Elas mostravam já a sua forte personalidade. Surdez em Viena. Foi em Viena que lhe surgiram os primeiros sintomas da sua grande tragédia. Foi-lhe diagnosticado, por volta de 1796, aos 26 anos de idade, a congestão dos centros auditivos internos (que mais tarde o deixou surdo), o que lhe transtornou bastante o espírito, levando-o a isolar-se e a grandes depressões. Consultou vários médicos, inclusive o médico da corte de Viena. Fez curativos, usou cornetas acústicas, realizou balneoterapia, mudou de ares, mas os seus ouvidos permaneciam arrolhados. Desesperado, entrou em profunda crise depressiva e pensou em suicidar-se. Embora tenha feito muitas tentativas para se tratar, durante os anos seguintes a doença continuou a progredir e, aos 46 anos de idade (1816), estava praticamente surdo. Porém, ao contrário do que muitos pensam, Ludwig jamais perdeu a audição por completo, muito embora nos seus últimos anos de vida a tivesse perdido, condições que não o impediram de acompanhar uma apresentação musical ou de perceber nuances timbrísticas. Ao longo dos últimos séculos, especialistas em medicina têm tentado descobrir o que causou a perda de audição de Beethoven. Alguns sugeriram doença de Paget, com base na sua autópsia. Outras possibilidades passavam por otosclerose, marcada pelo crescimento ósseo incomum no ouvido, sífilis terciária, envenenamento por metais pesados, lúpus, febre tifóide e sarcoidose. No entanto, nenhuma condição sugerida nos últimos 200 anos conseguia explicar até então perfeitamente todos os sintomas relatados por Beethoven. Em 2020, um grupo de otorrinolaringologistas de Itália, encontraram uma nova pista que pode apontar para a origem da perda auditiva de Beethoven. Esta pode ter sido causada por envenenamento por chumbo. Não é uma sugestão incomum porque, em 2005, uma análise das amostras de cabelo e crânio de Beethoven mostrou que tinha altos níveis de chumbo no corpo. O gênio. O seu verdadeiro gênio só foi realmente revisado com a publicação das suas Op. 7 e Op. 10, entre 1796 e 1798: a sua Quarta Sonata para Piano em Mi Maior, e as suas Quinta em Dó Menor, Sexta em Fá Maior e Sétima em Ré Maior Sonatas para Piano. Em 2 de Abril de 1800, a sua "Sinfonia nº 1 em Dó maior, Op. 21" faz a sua estreia em Viena. Porém, no ano seguinte, confessa aos amigos que não está satisfeito com o que tinha composto até então, e que tinha decidido seguir "um novo caminho". Em 1802, escreveu o seu testamento, mais tarde revisto como "O Testamento de Heilingenstadt", por ter sido escrito na localidade austríaca de Heilingenstadt, então subúrbio de Viena, dirigido aos seus dois irmãos vivos: Kaspar Anton Carl van Beethoven (1774–1815) e Nicolaus Johann van Beethoven (1776–1848). Finalmente, entre 1802 e 1804, começa a trilhar aquele "novo caminho" que ambiciona, com a apresentação de "Sinfonia nº 3 em Mi bemol Maior, Op.5', intitulada de "Heroica". Uma obra sem precedentes na história da música sinfônica, considerada o início do período Romântico, na Música Erudita. Os anos seguintes à "Heroica" foram de extraordinária fertilidade criativa, e viram surgir numerosas obras-primas: a "Sonata para Piano nº 21 em Dó maior, Op.53", intitulada de "Waldstein", entre 1803 e 1804; a "Sonata para Piano nº 23 em Fá menor, Op.57", intitulada de "Appassionata", entre 1804 e 1805; o "Concerto para Piano nº 4 em Sol Maior, Op.58", em 1806; os Três "Quartetos de Cordas, Op.59", intitulados de "Razumovsky", em 1806; a "Sinfonia nº 4 em Si bemol Maior, Op.60", também em 1806; o "Concerto para Violino em Ré Maior, Op.61", entre 1806 e 1807; a célebre "Sinfonia nº 5 em Dó Menor, Op.67", entre 1807 e 1808; a "Sinfonia nº 6 em Fá maior, Op.68", intitulada de "Pastoral", também entre 1807 e 1808; a "Ópera Fidelio, Op.72", cuja versão definitiva data de 1814; e o "Concerto para Piano nº 5 em Mi bemol Maior, Op.73", intitulado de "Imperador", em 1809. Ludwig escreveu ainda uma Abertura, música destinada a ilustrar uma peça teatral, uma tragédia em cinco actos de Goethe: Egmont. E muito se conta do encontro entre Johann Wolfgang von Goethe e Ludwig van Beethoven. Crise criativa. Depois de 1812, a surdez progressiva aliada à perda das esperanças matrimoniais e problemas com a custódia do sobrinho levaram-no a uma crise criativa, que faria com que durante esses anos ele escrevesse poucas obras importantes. Neste espaço de tempo, escreve a "Sinfonia n.º 7 em Lá Maior, Op.92", entre 1811 e 1812, a "Sinfonia n.º 8 em Fá Maior, Op.93", em 1812, e o "Quarteto em Fá Menor, Op.95", intitulado de "Serioso", em 1810. A partir de 1818, Ludwig, aparentemente recuperado, passou a compor mais lentamente, mas com um vigor renovado. Surgem então algumas de suas maiores obras: a "Sonata n.º 29 em Si bemol Maior, Op.106", intitulada de "Hammerklavier", entre 1817 e 1818; a "Sonata n.º 30 em Mi Maior, Op.109" (1820); a "Sonata n.º 31 em Lá bemol Maior, Op.110" (1820–1821); a "Sonata n.º 32 em Dó Menor, Op.111" (1820–1822); as "Variações Diabelli, Op.120" (1819–1823), a "Missa Solemnis, Op.123" (1818–1822). Derradeiros anos. A culminância destes anos foi a "Sinfonia n.º 9 em Ré Menor, Op.125" (1822–1824), para muitos a sua obra-prima. Pela primeira vez é inserido um coral num movimento de uma sinfonia. O texto é uma adaptação do poema de Friedrich Schiller, "Ode à Alegria", feita pelo próprio Ludwig van Beethoven. A obra de Beethoven refletiu em um avivamento cultural. Conforme o historiador Paul Johnson, "Existia uma nova fé e Beethoven era o seu profeta. Não foi por acidente que, aproximadamente na mesma época, as novas casas de espetáculo recebiam fachadas parecidas com as dos templos, exaltando assim o status moral e cultural da sinfonia e da música de câmara." Os anos finais de Ludwig foram dedicados quase exclusivamente à composição de "Quartetos para Cordas". Foi nesse meio que ele produziu algumas de suas mais profundas e visionárias obras, como o "Quarteto em Mi bemol Maior, Op.127" (1822–1825); o "Quarteto em Si bemol Maior, Op.130" (1825–1826); o "Quarteto em Dó sustenido Menor, Op.131" (1826); o "Quarteto em Lá Menor, Op.132" (1825); a "Grande Fuga, Op.133" (1825), que na época criou bastante indignação, pela sua realidade praticamente abstrata; e o "Quarteto em Fá Maior, Op.135" (1826). De 1816 até 1827, ano da sua morte, ainda conseguiu compor cerca de 44 obras musicais. Sua influência na história da música foi imensa. Ao morrer, a 26 de Março de 1827, estava a trabalhar numa nova sinfonia, assim como projectava escrever um "Requiem". Ao contrário de Mozart, que foi enterrado anonimamente em uma vala comum (o que era o costume na época), 20 000 cidadãos vienenses enfileiraram-se nas ruas para o funeral de Beethoven, em 29 de março de 1827. Franz Schubert, que morreu no ano seguinte e foi enterrado ao lado de Beethoven, foi um dos portadores da tocha. Depois de uma missa de réquiem na igreja da Santíssima Trindade (Dreifaltigkeitskirche), Beethoven foi enterrado no cemitério Währing, a noroeste de Viena. Seus restos mortais foram exumados para estudo, em 1862, sendo transferidos em 1888 para o Cemitério Central de Viena. Há controvérsias sobre a causa da morte de Beethoven, sendo citados cirrose alcoólica, sífilis, hepatite infecciosa, envenenamento, sarcoidose e doença de Whipple. Amigos e visitantes, antes e após a sua morte haviam cortado cachos de seus cabelos, alguns dos quais foram preservadas e submetidos a análises adicionais, assim como fragmentos do crânio removido durante a exumação em 1862. Algumas dessas análises têm levado a afirmações controversas de que Beethoven foi acidentalmente levado à morte por envenenamento devido a doses excessivas de chumbo à base de tratamentos administrados sob as instruções do seu médico. Vida artística, síntese. A sua vida artística poderá ser dividida — o que é tradicionalmente aceite desde o estudo, publicado em 1854, de Wilhelm von Lenz — em três fases: a mudança para Viena, em 1792, quando alcança a fama de brilhantíssimo improvisador ao piano; por volta de 1794, se inicia a redução da sua acuidade auditiva, fato que o leva a pensar em suicídio; os últimos dez anos de sua vida, quando fica praticamente surdo, e passa a escrever obras de carácter mais abstrato. Em 1801, Beethoven afirma não estar satisfeito com o que compôs até então, decidindo tomar um "novo caminho". Dois anos depois, em 1803, surge o grande fruto desse "novo caminho": a "Sinfonia nº 3 em Mi bemol Maior", apelidada de "Eroica", cuja dedicatória a Napoleão Bonaparte foi retirada em 1804, com a autoproclamação de Napoleão imperador da França. E, a antiga dedicatória fora substituída por: "à memoria de um grande homem". A sinfonia "Eroica" era duas vezes mais longa que qualquer sinfonia escrita até então. Em 1808, surge a "Sinfonia nº 5 em Dó menor" (sua tonalidade preferida), cujo famoso tema da abertura foi considerado por muitos como uma evidência da sua loucura. Em 1814, na segunda fase, Beethoven já era reconhecido como o maior compositor do século. Em 1824, surge a "Sinfonia nº 9 em Ré Menor". Pela primeira vez na história da música, é inserido um coral numa sinfonia, inserida a voz humana como exaltação dionisíaca da fraternidade universal, com o apelo à aliança entre as artes irmãs: a poesia e a música. Beethoven começou a compor música como nunca antes se houvera ouvido. A partir de Beethoven a música nunca mais foi a mesma. As suas composições eram criadas sem a preocupação em respeitar regras que, até então, eram seguidas. Considerado um poeta-músico, foi o primeiro romântico apaixonado pelo lirismo dramático e pela liberdade de expressão. Foi sempre condicionado pelo equilíbrio, pelo amor à natureza e pelos grandes ideais humanitários. Inaugura, portanto, a tradição de compositor livre, que escreve música para si, sem estar vinculado a um príncipe ou a um nobre. Hoje em dia muitos críticos o consideram como o maior compositor do século XIX, a quem se deve a inauguração do período Romântico, enquanto que outros o distinguem como um dos poucos homens que merecem a adjetivação de "gênio". Instrumentos. Um dos pianos de Beethoven foi construído pelo fabricante vienense Geschwister Stein. No dia 19 de Novembro de 1796, Beethoven escreveu uma carta a Andreas Streicher, marido de Nannette Streicher: “Recebi seu piano forte anteontem. É realmente maravilhoso, qualquer pessoa gostaria de ter um para si...” Em 1801, conforme nos relembra Carl Czerny, Beethoven tinha em sua casa um piano feito por Walter. Em 1802, fez um pedido ao seu amigo Zmeskall: que pedisse a Walter para lhe construir um piano de uma corda. Em 1803, Beethoven recebeu o seu piano de cauda Érard. Como escreveu Newman: “Beethoven estava descontente com este instrumento desde o início, em parte porque achou que o mecanismo de acção inglês era irreversivelmente pesado”. Beethoven possuía igualmente um instrumento Broadwood datado de 1817, um presente de Thomas Broadwood que ele manteve na sua residência “Schwarzspanierhaus” até à data da sua morte, no ano de 1827. O último instrumento que Beethoven possuiu era um piano de corda quádrupla construído por Graf. O próprio Conrad Graf confirmou que emprestou a Beethoven um piano de 6 oitavas e meia. Mais tarde, após a morte do compositor, vendeu-o à família Wimmer. Em 1889, o instrumento foi adquirido pelo museu ‘Casa Beethoven’, na cidade de Bona.
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Banco de dados
Banco de dados são conjuntos de arquivos relacionados entre si, podendo conter registros sobre pessoas, lugares ou informações em geral. São coleções organizadas de dados que se relacionam ou não, de forma a armazenar informações. São de vital importância para empresas e se tornaram a principal peça dos sistemas de informação e segurança. Normalmente, eles existem por vários anos sem alterações em sua estrutura sistemática. A Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD ou LGPDP), de 14 de agosto de 2018, capítulo I, artigo 5, inciso IV, define os bancos de dados como "Conjunto estruturado de dados pessoais, estabelecido em um ou vários locais, em suporte eletrônico ou físico". Os bancos de dados são operados por Sistemas Gerenciadores de Bancos de Dados (SGBD), que surgiram na década de 1970. Antes destes, as aplicações usavam sistemas de arquivos do sistema operacional para armazenar suas informações. Na década de 1980, a tecnologia de SGBD relacional passou a dominar o mercado; atualmente, é utilizada em praticamente todos os bancos de dados. Outro tipo notável é o SGBD orientado a objetos, implementado em bancos de dados com estruturas complexas ou aplicações que mudam constantemente. Alguns dos SGBD mais usados atualmente incluem o MySQL, Oracle, PostgreSQL, entre outros sistemas que gerenciam bases de dados. A principal aplicação de banco de dados é o controle de operações empresariais, normalmente armazenando dados pertinentes para a administração de um negócio, como dados de clientes, funcionários, fornecedores e outras informações. Outra aplicação importante é o gerenciamento de informações de estudos, como fazem os Bancos de Dados Geográficos, que unem informações como mapas, imagens de satélite, pontos, linhas, áreas, entre outros dados geográficos. Um exemplo de um banco de dados de estudos é o banco de informações ambientais (BDIA), gerenciado pelo IBGE, que armazena dados geológicos, de Geomorfologia, vegetação entre outros. No aspecto de segurança da informação, os bancos de dados precisam garantir a privacidade dos dados armazenados. É importante construir camadas que gerenciem quais informações os usuários podem ou não podem ter acesso. Se usuários não autorizados tiverem acesso a dados sensíveis, ultrapassando a fronteira de informação que podem acessar, isso iria ferir o princípio da confidencialidade. De acordo com a Lei nº 13.709/2018, não garantir esses princípios de segurança podem colocar em risco a qualidade de dados e transparência deste banco de dados. História. Diante da necessidade humana de deixar registrado os principais eventos e informações importantes que futuramente poderiam ser pertinentes, foram criadas diversas técnicas para seus registros. Técnicas como pinturas pré-históricas, hieróglifos dos egípcios, papiro, escrita cuneiforme, foram usadas como recursos para registro de dados. Com a invenção do papel em meados de 105 d.C., as tecnologias de impressão começaram a evoluir muito e a partir do século XV, o papel passou a ser o meio mais comum de registro de informações. Na era computacional, foi bastante utilizado o papel perfurado e, posteriormente, o cartão perfurado, ambos idealizados por Hermam Hollerith, fundador da International Business Machines (IBM). Alguns exemplos de bancos de dados não computadorizados são os arquivos de aço, fichas e pastas. Os principais fatores que levaram ao desenvolvimento dos bancos de dados computadorizados foi a praticidade, eficiência, rapidez e confiabilidade das informações. A origem dos programas de banco de dados se deram de maneira síncrona ao surgimento dos computadores, tendo em vista que, antes mesmo do desenvolvimento de programas específicos para este uso, os computadores já utilizavam recursos de gravação e leitura de dados em disco. Apesar de cada aplicação ser responsável pelo gerenciamento de dados, alguns fatores dificultavam o seu uso, como: Em sistemas orientados a arquivos ocorre um fluxo de informações em duas vias em que há interações entre o usuário e a aplicação, e a aplicação com o banco de dados, e . Esses sistemas são conhecidos como sistemas de processamento de arquivos, pois não possuem estruturas de dados definidas no código fonte, tornando sua manutenção muito difícil. Além disso, o compartilhamento de dados de um mesmo arquivo entre vários programas também é um problema, visto que todo fragmento de código responsável pela definição da estrutura de dados precisa, necessariamente, ser copiado para vários programas. Outro fator que dificultava a utilização de sistemas deste tipo era o método de acesso ao arquivo de dados, em que as rotinas de leitura e escrita se encontravam inseridos no próprio código fonte, ocasionando uma despadronização, visto que cada aplicação trabalhava de forma diferente em relação à metodologia de acesso dos arquivos. Em um sistema de banco de dados, os aplicativos não possuem nenhum conhecimento relacionado aos métodos de gravação e leitura dos dados nas tabelas. Ao invés disso, eles se comunicam com o software de gerenciamento para recuperar ou armazenar registros, fazendo com que vários programas consigam acessar um mesmo banco de dados ao mesmo tempo, sem implicações nos aplicativos. Dessa forma, os sistemas gerenciadores de banco de dados (SGBDs) oferecem uma produtividade maior no desenvolvimento de softwares e aplicativos, proporcionando um nível mais alto de qualidade às aplicações. Uma das maiores vantagens em se utilizar um gerenciador de banco de dados é a confiabilidade das informações, devido à coerência em que se encontram os dados. Por ser um ótimo segmento e muito lucrativo, houve um grande investimento por parte do mercado em sistemas de gerenciamento, e hoje existem diversos tipos de versões de banco de dados disponíveis em várias plataformas e sistemas operacionais. Nos dias de hoje, é indispensável o uso do banco de dados, uma vez que é possível encontrar inúmeras atividades que possuem alguma interação com eles, desde redes sociais até aplicativos de gerenciamento de produção. Sistemas Gerenciadores de Banco de Dados(SGBDs) e seus modelos.. Existem vários modelos de base de dados: Modelo Plano (ou tabular), Modelo em Rede, Modelo Hierárquico, Modelo Relacional, Orientado a objetos e Objeto-Relacional. Bases de dados relacionais. Bem diferente dos modelos hierárquico e de rede, não existem quaisquer apontadores, de acordo com o Princípio da Informação: toda a informação deve ser representada como dados; qualquer tipo de atributo representa relações entre conjuntos de dados. As bases de dados relacionais permitem aos utilizadores (incluindo programadores) escreverem consultas ("queries") que não foram antecipadas por quem projetou a base de dados. Como resultado, bases de dados relacionais podem ser utilizadas por várias aplicações em formas que os projetistas originais não previram, o que é especialmente importante em bases de dados que são utilizadas por longos períodos. Isto tem tornado as bases de dados relacionais muito populares no meio empresarial. O modelo relacional é uma teoria matemática desenvolvida por Edgar Frank Codd para descrever como as bases de dados devem funcionar. Embora esta teoria seja a base para o software de bases de dados relacionais, poucos sistemas de gestão de bases de dados seguem o modelo de forma restrita ou ao pé da letra - lembre-se das 12 leis do modelo relacional - e todos têm funcionalidades que violam a teoria, desta forma variando a complexidade e o poder. A discussão se esses bancos de dados merecem ser chamados de relacional ficou esgotada com o tempo, com a evolução dos bancos existentes. Os bancos de dados hoje implementam o modelo definido como objeto-relacional. Os primeiros sistemas comerciais baseados no modelo relacional foram disponibilizados em 1980, e desde então ele vem sendo implementado em muitos sistemas, tais como Access, Oracle, MySQL, PostgreSQL, entre outros. Aplicações de bancos de dados. Sistemas Gerenciadores de Bancos de dados são usados em muitas aplicações, atravessando virtualmente a gama inteira de software de computador. Os Sistemas Gerenciadores de Bancos de dados são o método preferido de armazenamento/recuperação de dados/informações para aplicações multiusuários grandes onde a coordenação entre os usuários é necessária. Até mesmo usuários individuais os acham conveniente, entretanto, muitos programas de correio eletrônico e organizadores pessoais estão baseados em tecnologia de banco de dados "standard". Transação. Uma transação é um conjunto de procedimentos, executados num banco de dados, que o usuário percebe como uma única ação. A integridade de uma transação depende de quatro propriedades, conhecidas como ACID: A transação possui os seguintes estados: Controle de concorrência. Controle de concorrência é um método usado para garantir que as transações sejam executadas de uma forma segura e sigam as regras ACID. Os SGBD devem ser capazes de assegurar que nenhuma ação de transações completadas com sucesso ("committed transactions") seja perdida ao desfazer transações abortadas ("rollback"). Uma transação é uma unidade que preserva consistência. Requer-se, portanto, que qualquer escalonamento produzido ao processar um conjunto de transações concorrentemente seja computacionalmente equivalente a um escalonamento produzido executando essas transações serialmente em alguma ordem. Diz-se que um sistema que garante esta propriedade assegura a seriabilidade, ou também serialização. Bloqueio. Em vez de bloquear ("blocking") um banco de dados inteiro, uma transação pode bloquear apenas os itens de dados que ela acessa. Sobre tal política, a transação precisa manter bloqueios por tempo suficiente para garantir a serialização, mas por um período curto o suficiente para não prejudicar o desempenho excessivamente. Segurança. Os bancos de dados são utilizados para armazenar diversos tipos de informações, desde dados sobre uma conta de e-mail até dados importantes da Receita Federal. A segurança do banco de dados herda as mesmas dificuldades que a segurança da informação enfrenta, que é garantir a integridade, a disponibilidade e a confidencialidade. Um sistema gerenciador de banco de dados deve fornecer mecanismos que auxiliem nesta tarefa. Uma forma comum de ataque à segurança do banco de dados é injeção de SQL, em bancos de dados que façam uso desta linguagem, mas bancos de dados NoSQL também podem ser vítimas. Para evitar estes ataques, o desenvolvedor de aplicações deve garantir que nenhuma entrada possa alterar a estrutura da consulta enviada ao sistema. Os bancos de dados SQL implementam mecanismos que restringem ou permitem acessos aos dados de acordo com papéis ou "roles" fornecidos pelo administrador. O comando GRANT concede privilégios específicos para um objeto (tabela, visão, banco de dados, função, linguagem procedural, esquema ou espaço de tabelas) para um ou mais usuários ou grupos de usuários. Falhas. Em um banco de dados, podem ocorrer falhas: de transação, de sistema ou de mídia. Na falha de transação, (falha mais comum) a transação é finalizada irregularmente. Ela normalmente é causada por falta de dados necessários ou programação equivocada. Na falha de sistema (probabilidade de ocorrência mediana), a execução do sistema é interrompida por causa de problemas como falta de energia, falha no hardware ou mau funcionamento do sistema operacional. Em uma falha de mídia, o banco de dados não fica plenamente acessível, fazendo com que parte do disco perca dados. Normalmente ocorre devido a disfunções na leitura ou parte do disco danificado. Recuperação. Existem alguns mecanismos capazes de permitir a recuperação de um banco de dados de alguma inconsistência causada por falhas internas (erros de consistência, como recuperação de um estado anterior a uma transação que deu erro) e externas (queda de energia, catástrofe ambiental).. Entretanto, não é um método 100% seguro. Os mecanismos mais comuns são o Log de dados, no qual é usado em conjunto dos outros métodos; utilização de Buffer no qual, apesar de normalmente ser feito pelo próprio sistema operacional, é controle por rotinas de baixo nível pelo Sistema de gerenciamento de banco de dados. Possui também as possibilidades de Write-ahead logging e informações das transações possibilitando o "REDO" (refazer) e o "UNDO" (desfazer), assim sempre possibilitando a volta do banco de dados a um estado anterior consistente, além de cópias de sombra dos "logs" e dos últimos dados alterados do banco de dados. Ações básicas da recuperação de banco de dados: Pesquisa. A tecnologia de banco de dados tem sido um tópico de pesquisa ativo desde 1960, tanto na academia como nos grupos de pesquisa e desenvolvimento de empresas (por exemplo, IBM Research). A atividade de pesquisa inclui teoria e desenvolvimento deprotótipos. Tópicos de pesquisa notáveis incluemmodelos, o conceito de transação atômica e técnicas relacionadas controle de concorrência, linguagens de consulta e métodos otimização de consulta, RAID e muito mais. A área de pesquisa de banco de dados tem vários periódicos acadêmicos dedicados (por exemplo, " ACM Transactions on Database Systems " - TODS, " Data and Knowledge Engineering " - DKE) e conferências anuais (por exemplo, ACM SIGMOD, ACM PODS, VLDB e IEEE ICDE).
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Bahia
Bahia A Bahia () é uma das 27 unidades federativas do Brasil. Banhada pelo Oceano Atlântico na costa mais extensa do país, está situada na Região Nordeste, onde representa a maior extensão territorial, a maior população, o maior produto interno bruto e o maior número de municípios. A capital estadual é Salvador, terceiro município mais populoso do Brasil. Além dela, há outros municípios influentes na rede urbana baiana, como as capitais regionais Feira de Santana, Vitória da Conquista, Barreiras, o bipolo Itabuna-Ilhéus e Juazeiro do bipolo com o município pernambucano de Petrolina. Um dos primeiros núcleos de riqueza açucareira do Brasil, a Bahia recebeu um imenso contingente e enorme influência de africanos escravizados, trazidos pelos colonizadores europeus para comercialização, visando a suprir os engenhos e as minas de ouro da colônia. Esses indivíduos escravizados procediam em especial do Golfo da Guiné, das antigamente chamadas costas "dos escravos", "da pimenta", "do marfim" e "do ouro", no Oeste Africano, com destaque para o Império de Oió, fundado e habitado pelo povo iorubá, e o antigo Reino de Daomé. Em contraposição, o Rio de Janeiro viria a receber, posteriormente, escravos procedentes principalmente de Angola e Moçambique. Assim, a influência da cultura africana na Bahia permaneceu alta na música, na culinária, na religião, no modo de vida de sua população, não só ao redor de Salvador e Recôncavo baiano, mas, principalmente, em toda a costa baiana. Não à toa, o gentílico do estado deu nome ao ofício comum a mulheres negras que preparam e comerciam no tabuleiro de acarajé, vestidas de turbante, colares e brincos dourados, pulseira, saias compridas e armadas, blusa de renda e adereços de pano da costa — isto é, a baiana do acarajé. A Bahia é considerada a parte mais antiga da América Portuguesa, pois foi na região de Porto Seguro, litoral sul da Bahia, que a frota de Pedro Álvares Cabral ancorou, em 22 de abril de 1500, marcando o descobrimento do Brasil pelos portugueses e a celebração da primeira missa, na praia da Coroa Vermelha, presidida pelo frei Henrique Soares de Coimbra. Em 1 de novembro de 1501, o navegador florentino Américo Vespúcio, a serviço da Coroa portuguesa, descobriu e batizou a Baía de Todos-os-Santos, maior reentrância de mar no litoral desde a foz do Rio Amazonas até o estuário do Rio da Prata. O local foi escolhido para abrigar a sede do governo-geral em março de 1549 com a chegada do fidalgo Tomé de Sousa, a mando do rei Dom João III de Portugal para fundar a que seria, pelos 214 anos seguintes, a cidade capital do Brasil Colônia, Salvador. É de se destacar também o decreto de abertura dos portos às nações amigas, promulgada em 28 de janeiro de 1808 por meio de uma Carta Régia pelo príncipe regente dom João VI de Portugal, na então Capitania da Bahia, acabando com o exclusivismo metropolitano comercial e abrindo a economia brasileira para o comércio exterior. O estado possui um alto potencial turístico, que vem sendo muito explorado através de seu litoral, da Chapada Diamantina, do Recôncavo e de outras belezas naturais e patrimônios históricos e culturais. Possui a sétima maior economia do Brasil, com produto interno bruto superior a 290 bilhões de reais, representando quase 20 mil reais de PIB "per capita". A sua renda, no entanto, não é bem distribuída, se refletindo num índice de desenvolvimento humano de 0,714 em 2017. Na Bandeira do Brasil, o estado da Bahia é representado pela estrela "Gamma Crucis" da constelação do Cruzeiro do Sul ("Crux"). Topônimo. O topônimo "Bahia" é uma referência à Baía de Todos os Santos, a qual deu o nome, originalmente, à Capitania da Baía de Todos os Santos. A capitania foi transformada, em 1821, em província. Em 1889, a Província da Bahia tornou-se o atual Estado da Bahia. "Bahia" é a grafia antiga para "baía", a qual se conservou, no Brasil, por uma questão de tradição. No entanto, na variante europeia da língua portuguesa (destacando aí Portugal), a grafia também correta e usual é "Baía"; os dicionários portugueses como o da Porto Editora, o da Texto Editores e o da Academia de Ciências de Lisboa, que é o Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea, definem a palavra baiano como alguém que é originário do estado brasileiro da Baía, utilizando essa grafia. O gentílico "baiano", já supracitado, não conserva a ortografia antiga. Embora a grafia "Bahia" siga as regras gerais da atual ortografia da língua portuguesa, está registrada na quinta edição do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa. A grafia já estava consagrada como exceção no ponto 42 do Formulário Ortográfico de 1943: Ainda que a grafia Bahia seja universalmente adotada pela população brasileira, tal grafia suscita dúvidas a gramáticos e lexicógrafos como o ortógrafo e lexicógrafo brasileiro Evanildo Bechara, que considera a grafia "Bahia", «um capricho imposto à nação», e Napoleão Mendes de Almeida, que qualifica tal grafia como «espúria». História. Povos indígenas e período colonial. No princípio do século XVI, povos indígenas como tupinambás, tupiniquins e aimorés, além de outros pequenos grupos, como os cariris, povoavam a Bahia. Os tupinambás residiam no litoral, entre o rio São Francisco e a baía de Ilhéus, e suas aldeias se estendiam para o interior para mais de 500 km. Os tupiniquins moravam na costa entre a enseada de Camamu e as imediações do atual estado do Espírito Santo. Os aimorés chegaram da serra, que depois ganhou seu nome, e se distribuíram pelo interior. O litoral da Bahia foi o primeiro lugar alcançado pela armada de Pedro Álvares Cabral, que veio à baía Cabrália a 22 de abril de 1500, avistando o Brasil. A baía de Todos-os-Santos foi avistada apenas em 1501, por Américo Vespúcio. No decorrer dos primeiros trinta janeiros do século XVI, Portugal não deu importância à colonização do Brasil, e o território baiano era explorado somente por aqueles que procuravam pau-Brasil. Em 1511, entretanto, já havia uma feitoria na baía de Todos-os-Santos; alguns degredados, náufragos e desertores se casaram com as indígenas e deram origem às mais antigas famílias da Bahia e do Brasil. Um desses náufragos fora Diogo Álvares, cognominado o Caramuru. O pau-Brasil também movimentou contrabandistas franceses, que chegaram a conquistar a credibilidade dos indígenas. Só em 1534, se iniciou a colonização portuguesa da Bahia. Naquele ano, D. João III acreditou que a forma mais eficiente de povoar e garantir a conquista do Brasil seria subdividi-lo em capitanias hereditárias. As capitanias da Baía de Todos os Santos, de Ilhéus e de Porto Seguro equivaliam ao território do atual estado da Bahia. A capitania de Porto Seguro foi cedida a Pero do Campo Tourinho. Nela, seu donatário estabeleceu em 1535 a vila de Santa Cruz, na baía Cabrália. Um ano depois, outra vila foi criada, a de Porto Seguro. Na capitania de Ilhéus, o povoado, que deu origem à atual cidade homônima, foi fundado pelo donatário Jorge de Figueiredo Correia. Francisco Pereira Coutinho ganhou a capitania da Bahia de Todos-os-Santos e criou a vila do Pereira (posteriormente Vila Velha), no lugar do atual Porto da Barra. Em 1548, D. João III adquiriu por meio de pagamento a capitania da Bahia para nela estabelecer a sede do governo geral. O primeiro governador-geral, Tomé de Sousa, veio à vila do Pereira em 1549 e depois começou a erguer a sede do governo, a cidade de Salvador, primeira capital do Brasil. A ocupação e povoamento do Recôncavo foi um novo estímulo na colonização. A colonização do interior foi concluída apenas pelos pecuaristas, cujos currais se distribuíram pela região do rio São Francisco. No século XVII, o território do atual estado da Bahia já se encontrava inteiramente usado e desbravado. Depois de desalojados os ingleses e mormente os holandeses, o século XVIII caracterizaria o desenvolvimento da economia da Bahia, como resultado do preço elevado totalizado pelo açúcar e das enormes safras de tabaco que exportava. Ideais de liberdade e independentistas foram divulgados, e aconteceram muitas revoltas, como a Conjuração Baiana, ocorrida em 1798, e o martírio de Joana Angélica, acontecido em 19 de fevereiro de 1822. Todas, entretanto, conduziram ao 7 de setembro. Independência, período imperial e republicano. Em 1808, a família real portuguesa veio à Bahia, refugiando-se do exército francês, que dominara Portugal. Quando, em 1822, as cortes que administravam Portugal, trocaram o baiano Freitas Guimarães, governador das Armas da Bahia, pelo português Madeira de Melo, os baianos se insurgiram. Congregadas no Recôncavo, as tropas baianas começaram a combater os portugueses, vencendo-os em definitivo em 2 de julho de 1823. Durante as primeiras décadas do período imperial, a Bahia sofreu uma situação social e politicamente agitada. Aconteceram muitas rebeliões contra a participação contínua dos portugueses que haviam guerreado contra os baianos na guerra da Independência. A revolta mais longeva e conhecida, entretanto, foi a Sabinada, começada em novembro de 1837 e vencida em março. Na primeira metade do século XIX, o cultivo da cana-de-açúcar no Recôncavo passou por uma época de crise, da qual jamais se refez. Porém, o cacau adquiriu importância, e, desde 1880, a produção aumentou. Ao receber a notícia do Rio de Janeiro, o coronel Frederico Buys, comandante do forte de São Pedro, declarou a república na Bahia. Uma situação politicamente instável e agitada no estado também caracterizou o princípio do período republicano. O primeiro governador, Virgílio Clímaco Damásio, só administrou cinco dias. Luís Viana foi o primeiro a se eleger por voto direto. Ao ser empossado, precisou lutar contra a revolta de Canudos. Mais tarde, desavenças por volta da candidatura de J. J. Seabra ocasionaram o pior acontecimento: Salvador foi bombardeada por tropas federais em 1912. Com a Revolução de 1930, a Bahia — cuja administração se encontrava envolvida com o plano político-administrativo do presidente Washington Luís — permaneceu sob ocupação militar. Juracy Magalhães foi promovido a interventor federal (1931) e, em 1935, foi eleito governador, entretanto, foi exonerado quando do estabelecimento do Estado Novo (1937). Entre 1947 e 1951, a Bahia foi administrada por Otávio Mangabeira, escolhido pela coligação PSD-UDN. Em 1959, regressou ao governo Juracy Magalhães e, em 1963, Antônio Lomanto Júnior (1963–1967) foi eleito pelo povo baiano. Foram designados governadores da Bahia, dentre outros, Luís Viana Filho (1967–1971) e Antônio Carlos Magalhães (1971–1975; 1979–1983). Waldir Pires foi eleito para o período entre 1987 e 1991, e, tendo sido eleito em 1990, Antônio Carlos Magalhães foi empossado do governo da Bahia pela terça vez em 1991. Em 1994, Paulo Souto (PFL) se elegeu governador, e fora empossado em janeiro de 1995. Eleito em 1998, César Borges tomou posse em janeiro de 1999, permanecendo no cargo até 2002, quando foi sucedido por Otto Alencar, que terminou o mandato. Paulo Souto foi eleito governador em 2002 para governador e fora empossado do cargo em janeiro de 2003. Jaques Wagner, que se elegeu em 2006, tomou posse em 2007. Reelegeu-se em 2010 e assumiu em janeiro de 2011. Rui Costa, que se elegeu em 2014, tomou posse do cargo em 2015. Reelegeu-se em 2018 e assumiu em 2019. Geografia. O relevo do estado se individualiza pela existência de planícies e mangues, na costa (Planícies e Tabuleiros Costeiros); depressão, nas partes norte e oeste (Depressão Sertaneja e do São Francisco); chapadas (como a Diamantina) e planaltos, no centro; e serras, a sul e a oeste (Planaltos e Serras de Leste-Sudeste). A Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco compreende o oeste baiano e nela se encontra implantada a enorme represa de Sobradinho. Os rios da porção leste do estado correm diretamente para o mar, pertencendo às Bacias Costeiras do Nordeste Oriental. Além do São Francisco, os rios das Contas, Capivari, Paraguaçu, Itapicuru e Jequitinhonha incluem entre os mais importantes da Bahia. O clima baiano oscila conforme a região do estado, sendo majoritariamente tropical, com inverno seco e verão úmido. Na costa, predomina o clima tropical litorâneo úmido, cujas chuvas estão concentradas no inverno. No norte, tem um clima tropical semi-árido, tendo propensão a seco pela má distribuição da ação das massas de ar. O índice pluviométrico oscila muito em toda a Bahia. No cinturão costeiro e no oeste, se encontra de 1 500 mm a 2 000 mm ao ano. Em boa parte do interior, varia entre 750 mm e 1 500 mm anuais. No norte, a precipitação média não ultrapassa 750 mm anuais. A temperatura média anual também se modifica muito, sendo mais cálido no norte e na costa. Nessas regiões, a média anual varia de 24ºC a 28ºC; no resto do estado, prevalecem temperaturas de 18ºC a 24ºC. Na Zona da Mata, prevalece a Mata Atlântica; no decorrer do vale do rio São Francisco e no norte do estado, a caatinga; no oeste baiano, o cerrado. Localização, limites, área territorial e pontos extremos. Situada no sul da Região Nordeste, a Bahia limita-se com outros oito estados brasileiros — é o estado brasileiro que mais faz divisas: com Minas Gerais a sul, sudoeste e sudeste; com o Espírito Santo a sul; com Goiás a oeste e sudoeste; com Tocantins a oeste e noroeste; com o Piauí a norte e noroeste; com Pernambuco a norte; e com Alagoas e Sergipe a nordeste. A leste, é banhada pelo Oceano Atlântico por 1 183 quilômetros, o que torna seu litoral o mais extenso de todos os estados do Brasil. Ocupa uma área de 564 760,429 km², sendo pouco maior que a França e o quinto estado brasileiro em extensão territorial. Com tal dimensão, possui 36,334% da área total da Região Nordeste do Brasil e 6,632% do território nacional. E de sua área total, cerca de 70 por cento situam-se na região do semiárido e 57,19% de seu território, dentro do polígono das secas, segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Ao norte, o limite é o Rio São Francisco, no município de Curaçá, divisa com Pernambuco, sendo a latitude de 8 graus 32 minutos e 00 segundo e a longitude de 39 graus 22 minutos e 49 segundos. Ao sul, o limite extremo é a barra do Riacho Doce, no município de Mucuri, na divisa com o Espírito Santo, sendo a latitude de 18 graus 20 minutos e 07 segundos e a longitude de 39 graus 39 minutos e 48 segundos. No leste, o ponto extremo é a barra do Rio Real, no município de Jandaíra, na divisa com o Oceano Atlântico, sendo a latitude de 11 graus 27 minutos e 07 segundos e a longitude de 37 graus 20 minutos e 37 segundos. O ponto extremo do oeste é o divisor de águas, no município de Formosa do Rio Preto, divisa com o Tocantins, sendo a latitude de 11 graus 17 minutos e 21 segundos e a longitude de 46 graus 36 minutos e 59 segundos. O centro geográfico do estado fica na cidade de Seabra, na Praça Luiz Acosta, defronte ao prédio dos Correios, nas coordenadas 12 graus e minutos na latitude sul e 41 graus e na longitude oeste (informação Google Earth). Geomorfologia. Cerca de setenta por cento do território do estado se localizam de 300 a 900 m e 23% inferiores a 300 m. O quadro morfológico abrange três unidades: a baixada litorânea, o rebordo do planalto e o planalto. A baixada litorânea é um bloco de terras localizadas aquém de 200 m de altitude. Elevam-se aí, predominando as praias e os areões da orla litorânea, solos de aspecto tabular, os denominados tabuleiros areníticos. Para o interior, esses terrenos dão lugar a um cinturão de colinas e morros argiláceos, de terreno maciço, razoavelmente produtivo, principalmente no Recôncavo, onde se localiza o conhecido massapê baiano. Tanto o cinturão dos morros e colinas como a dos tabuleiros são atravessadas diagonalmente pelos rios que correm do planalto; no decorrer deles prolongam-se grandes planícies aluviais (várzeas) vulneráveis a cheias que lhes revitalizam diariamente os terrenos com o assentamento de novos aluviões. A borda do planalto eleva-se instantaneamente a oeste das colinas e morros, compondo um cinturão de solos muito montanhosos, através da qual sobe da baixada para o planalto. Ao norte de Salvador, a borda do planalto some, porque a passagem entre planalto e baixada se faz levemente. O planalto compreende boa parte do estado e se encontra subdividido em cinco divisões bastante distintas: planalto sul-baiano, do Espinhaço, depressão são-franciscana, planalto ocidental e pediplano. O planalto sul-baiano, cortado em rochas cristalinas antigas, localiza-se no sudeste do estado. Sua área, entre 800 e 900 m de altitude média, aparece suavemente ondulada, com grandes vales de profundidade achatada. No entanto, os rios de Contas e Paraguaçu cavaram em seu centro profundos vales, subdividindo-o em três divisões: o planalto de Conquista, no sul; o de Itiruçu, no centro; e o de Cruz das Almas, no norte. O Espinhaço é formado por um cinturão de terrenos altos (1.300 m de média e 1.850 m no pico das Almas, seu ponto mais alto) que atravessa o estado de norte a sul pelo centro. Sua área ora ocorre como enfileiramentos acidentados (cristas de quartzo), ora como altitudes tabulares ou cuestas. Estas últimas dominam na parte leste e norte, compondo um grande bloco de formas suaves, chamado chapada Diamantina. A depressão são-franciscana prolonga-se a oeste do Espinhaço, com inclinação similar, ou seja, compondo cinturão de direção norte-sul. Formam-na terrenos de pequena elevação (400 m em média) e razoavelmente aplainadas, que com leve inclinação descem para o rio São Francisco. No decorrer dos vales de certos tributários do curso médio desse rio, principalmente os rios Corrente e Grande, a depressão se dirige para oeste, extensões em formato de dedos. No fundo da depressão se encontra a planície aluvial do São Francisco, diariamente transbordada por suas cheias. O planalto ocidental, formado por rochas sedimentares, eleva-se a oeste da depressão são-franciscana, com uma altitude superior a 850 m. Seu topo regular apresenta-lhe aspecto tabular e a caracterização de grande chapadão, a que é aplicada a designação geral de Espigão Mestre. O pediplano abarca toda a parte nordeste do planalto baiano. Aí se estendem grandes áreas que se dispõem levemente para a costa, a leste, e para o canal do São Francisco, ao norte, com 200 e 500 m de altitude. Esses terrenos apresentam o exemplar característico de clima semi-árido, visto em todo o interior da região Nordeste: imensos planaltos nas quais aparecem, aqui e ali, picos e maciços ermos (inselbergs). Compõem o subsolo dessa região rochas cristalinas antigas, exceto um cinturão de formações sedimentares, que do Recôncavo lança para o norte, cedendo lugar a várias chapadas areníticas também designadas tabuleiros. O território baiano compreende três importantes gêneros de solos. O primeiro gênero, paupérrimo, abrange boa parte do estado, especialmente a chapada Diamantina, a bacia hidrográfica do São Francisco, as partes meridional e oeste, e porção do Recôncavo. Não é propício para o plantio da maior parte dos produtos agrários, sendo mais apropriado para a pecuária. O massapê, terreno argiloso, usualmente preto ― o melhor solo da Bahia ― é ótimo para a cacauicultura. Encontram-se, principalmente, no Recôncavo, na região cacaueira e ao norte, nos vales dos rios Real, Vaza-Barris e Itapicuru. Enfim, os solos de calcário. Abarcam somente dez por cento do território da Bahia e se encontram na porção central do estado. Clima, hidrografia, flora e fauna. Três tipos climáticos aparecem na Bahia: o clima cálido e chuvoso sem estação seca, o clima tórrido e orvalhado com estação seca de inverno e o clima semi-árido quente, reconhecidos no sistema de Köppen pelos símbolos "Af", "Aw" e "BSh", nesta ordem. O primeiro predomina no decorrer do litoral, com temperaturas médias anuais de mais de 23 °C e totais pluviométricos acima de 1.500 mm. O segundo identifica todo o interior, exceto a porção norte e do vale do São Francisco. Possui temperaturas médias anuais que oscilam entre 18 °C nas regiões mais altas e 22 °C nas zonas mais rebaixadas, e totais pluviométricos similares a mil milímetros. O terceiro tipo climático se encontra no norte do estado e no vale do São Francisco. As temperaturas médias anuais ultrapassam 24 °C e mesmo 26 °C, no entanto, a pluviosidade está abaixo de 700 mm. Cerca de 64% do território baiano é coberto por caatingas, 16% por cerrados, 18% por florestas e dois por cento por campos. As florestas aparecem na área litorânea e abrangem uma faixa de terra cujo comprimento oscila entre cem quilômetros (no Recôncavo) e 250 km (no vale do rio Pardo). No lado oeste aparecem como matas perenes, no centro como semidecíduas e no lado oeste como decíduas agrestes. A mais importante área de ocorrência de cerrados constitui o planalto ocidental. Outras manchas, menores, ocorrem em meio às regiões de caatinga. Os campos ocorrem ainda no planalto ocidental, compondo uma curta mancha inclinada na direção norte-sul. As caatingas cobrem o restante do estado, ou seja, boa parte de seu interior. Todos esses gêneros de vegetação acham-se atualmente bem alterados por intervenção do homem. Os rios da Bahia fazem parte de dois grupos: o primeiro pertence ao São Francisco e seus tributários. Dentre esses últimos merecem destaque os tributários da margem esquerda, que tem suas nascentes no planalto ocidental (Carinhanha, Correntes, Grande e seu afluente, o Preto). O segundo grupo abrange os rios que descem diretamente ao Atlântico (Mucuri, Jequitinhonha, Pardo, Contas, Paraguaçu, Itapicuru e Vaza Barris). Os dois grupos compreendem, na região semi-árida, rios de regime temporário. A fauna baiana é abundante e variada. Nas regiões de floresta úmida, especialmente no Parque Nacional do Descobrimento, podem ser encontradas espécies ameaçadas de extinção, como o macuco, que constitui uma ave da família das codornas. Dentre os mamíferos existem preguiças-de-coleira e onças-pintadas. Já no Parque Nacional da Chapada Diamantina podem ser encontradas muitas espécies de anfíbios, répteis e aves que somente tem na região. Conservação ambiental. Segundo dados de 2002, existiam 128 unidades de conservação (UC) cadastradas no estado, que são instituídas por legislações federais, estaduais ou municipais. Dessas, destaca-se a quantidade de áreas de proteção ambiental (APA), 36 ao todo, por ser uma categoria de UC em que a adequação e orientação às atividades humanas são mais flexíveis. Há, ainda, a categoria de reserva particular do patrimônio natural (RPPN), que aparece como opção de preservação em propriedade privada e totaliza 46 unidades. As áreas preservadas baianas cobrem os diferentes biomas presentes no estado: cerrado, caatinga e floresta (Mata Atlântica). Esta última conta com maior percentual de unidades de conservação, devido ao divulgado estado de fragmentação e degradação. Além dessas formas de estabelecer áreas protegidas, há os parques estaduais e nacionais, também protegidas por lei. São sete nacionais (Marinho dos Abrolhos, Chapada Diamantina, Descobrimento, Grande Sertão Veredas — também localizado em Minas Gerais -, Monte Pascoal e Nascentes do Rio Parnaíba — também localizado no Piauí, Maranhão e Tocantins — e Pau Brasil) e três estaduais (Serra do Conduru, Morro do Chapéu e Sete Passagens). Entretanto, nem sempre o meio ambiente está livre de poluição na Bahia. Acidentes e crimes ambientais como queimadas, contaminação por metais pesados e derramamento de petróleo e de outros derivados de combustíveis fósseis são alguns dos principais problemas ambientais baianos. O caso mais recente ocorreu na Praia de Caípe, no município de São Francisco do Conde, onde cerca de 2,5 metros cúbicos de óleo provenientes da Refinaria Landulpho Alves vazaram, provocando não só impactos ambientais como econômicos. Demografia. A população do estado da Bahia no censo demográfico de 2010 era de habitantes, sendo a 4.ª unidade da federação mais populosa do país, concentrando cerca de 7,3% da população brasileira e apresentando uma densidade demográfica de 24,82 moradores por quilômetro quadrado (a 15.ª maior do Brasil). De acordo com este mesmo censo demográfico, 72,07% dos habitantes viviam na zona urbana e os 27,93% restantes na rural. Ao mesmo tempo, 50,93% eram do gênero feminino e 49,07% do masculino, tendo uma razão de sexo de 96,35. Em dez anos, o estado registrou uma taxa de crescimento populacional de 7,27%. O Índice de Desenvolvimento Humano da Bahia é considerado médio conforme o PNUD. Segundo o último Atlas do Desenvolvimento Humano do Brasil, divulgado em 2013, com dados relativos a 2010, o seu valor era de 0,660, estando na 22.ª colocação ao nível nacional e na quinta ao regional. Considerando-se o índice de longevidade, seu valor é de 0,663 (4.º), o do valor de renda é 0,663 (22.º) e o de educação é de 0,555 (25.º). O coeficiente de Gini, que mede a desigualdade social, é de 0,49 e a incidência da pobreza de 43,47%. A taxa de fecundidade da Bahia é de 2,05 filho por mulher, uma das mais baixas do Brasil. Dos 417 municípios (considerando a divisão municipal na época), apenas dois tinham população acima dos quinhentos mil: Salvador e Feira de Santana, no nordeste do estado. Outros catorze tinham entre 100 001 e 500 000, dezesseis mais de 100 000, 27 de a , 126 de a , 179 de a , 60 de a e nove de a . Sua capital, Salvador, com seus 2 675 656 habitantes, concentrava 99,00% da população estadual, além de possuir a 1.ª maior densidade demográfica (3859,35 hab./km²), quase cinco vezes maior que Feira de Santana (o município com a 6.ª maior densidade, ), enquanto Jaborandi, no sudoeste, tinha a menor densidade (0,94 hab./km²). A população da Bahia tem altas quantidades de negros e mulatos, que se concentram no Recôncavo, além de inúmeros caboclos, que prevalecem no planalto. A distribuição populacional possui fortes diferenças regionais. No Recôncavo e na região cacaueira são registrados densidades com mais de cem pessoas por quilômetro quadrado. Já em extensas áreas do interior, a colonização se torna reduzida, despencando esses índices para mais de 15hab./km2 (chapadões, chapada Diamantina e sertão semi-árido). Religião. O catolicismo é a religião dominante no estado. Em Salvador, foi erguida a primeira igreja católica em solo brasileiro, graças a Catarina Paraguaçu, onde hoje é o bairro da Graça. A capital baiana possui centenas de templos católicos, sendo, a cidade, a sede do governo católico no país, morada do Arcebispo Primaz. A padroeira do estado é Nossa Senhora da Conceição da Praia, cujo templo é alvo de culto. Apesar disso, o mais famoso culto no estado é o culto ao Senhor do Bonfim, que é considerado popularmente como padroeiro. Possui, ainda, o centro de peregrinação de Bom Jesus da Lapa, alvo de romarias anuais, além das igrejas seculares do Recôncavo, com suas novenas. Possui a Arquidiocese de São Salvador da Bahia, a Arquidiocese de Vitória da Conquista, Arquidiocese de Feira de Santana. Dentro do catolicismo baiano, as figuras das freiras Joana Angélica, Irmã Dulce, e Irmã Lindalva. O sincretismo com as religiões de origem africana, que na Bahia mais que em qualquer outra parte do país se mantiveram vivas, veio a misturar o candomblé com o catolicismo (como nos casos da Irmandade da Boa Morte e da Irmandade dos Homens Pretos) e outras variantes cristãs. Surgiram, então, religiões mistas, como a cabula e a umbanda. Sobressaem, neste campo, a figura cultuada de Mãe Menininha do Gantois, e terreiros como o Ilê Axé Opô Afonjá, além de toda uma cultura que permeia as crenças do povo baiano. Desde o início do , a Bahia é palco de missões evangélicas protestantes, que redundaram na capital na fundação do Colégio Dois de Julho e na presença de missionários como Henry John McCall (especificamente em Cachoeira). Composição étnica, migração e povos indígenas. A população da Bahia é composta basicamente por caucasianos, mestiços, afro-brasileiros e povos indígenas. O estado foi povoado por portugueses e demais imigrantes latino-americanos (uruguaios, venezuelanos, cubanos e haitianos), norte-americanos (estadunidenses), europeus (espanhóis, alemães e franceses), africanos e asiáticos (árabes e japoneses). Hoje residem no estado da Bahia pouco mais de 37 mil indígenas, que se distribuem em 17 grupos, que abrangem área de 325 643 hectares de extensão. Um total de trinta áreas já está demarcado em definitivo pela Fundação Nacional do Índio (FUNAI). Dessas, merece destaque a mais extensa, a reserva indígena Caramuru-Paraguassu, localizada entre os municípios de Pau Brasil, Camacan e Itaju do Colônia. Segundo pesquisa de autodeclaração do censo de 2010, 21,98% dos baianos haviam se declarado brancos, 59,47% pardos, 16,95% pretos, 1,15% amarelos e 0,40% indígenas, além dos não declarados (0,04%). 99,93% foram brasileiros (99,91% natos e 0,02% naturalizados) e 0,07% estrangeiros. Dentre os brasileiros, 0,25% naturais do Sul e 99,36% em demais regiões, sendo 96,34% do Nordeste (93,64% do próprio estado), 2,64% do Sudeste, 0,28% do Centro-Oeste e 0,10% do Norte. Entre os estados de origem dos imigrantes, o Distrito Federal possuía o maior percentual de residentes (5,11%), acompanhado por Espírito Santo (4,42%), São Paulo (4,13%), Goiás (3,64%), Sergipe (3,39%) e Rondônia (2,43%). Composição genética. Um estudo genético realizado no Recôncavo baiano confirmou o alto grau de ancestralidade africana na região. Foram analisadas pessoas da área urbana dos municípios de Cachoeira e Maragojipe, além de quilombolas da área rural de Cachoeira. A ancestralidade africana foi de 80,4%, a europeia 10,8% e a indígena 8,8%. Segundo dados da Funasa, 25,8 mil indígenas viviam no estado em 2006. Um estudo genético realizado na população de Salvador confirmou que a maior contribuição genética da cidade é a africana (49,2%), seguida pela europeia (36,3%) e indígena (14,5%). Outro estudo ainda revela que, em relação aos ciganos, a Bahia é o estado brasileiro onde há a maior quantidade de grupos vivendo, segundo pesquisa inédita do IBGE. Um estudo genético autossômico de 2015 encontrou a seguinte composição para Salvador: 50,5% de ancestralidade africana, 42,4% de ancestralidade europeia e 5,8% de ancestralidade indígena. Os pesquisadores explicaram que eles coletaram mais amostras de indivíduos que vivem em ambientes mais pobres. Outro estudo do mesmo ano (2015) encontrou níveis semelhantes em Salvador: 50,8% de ancestralidade africana, 42,9% de ancestralidade europeia e 6,4% de ancestralidade indígena. Um outro estudo genético, também de 2015, encontrou a seguinte composição em Salvador: 50,8% de contribuição europeia, 40,5% de contribuição africana e 8,7% de contribuição indígena. Em Ilhéus, um estudo genético de 2011 encontrou a seguinte composição: 60,6% de contribuição europeia, 30,3% de contribuição africana e 9,1% de contribuição indígena. Outro estudo recente demostra a crescente importância de conceitos de herança Africana, do reconhecimento de ligações genealógicas e a ancestralidade, da memória coletiva, e do patrimônio cultural às políticas raciais baianas. Hierarquia urbana e regiões metropolitanas. Além de suas funções de capital político-administrativa porto e pólo industrial a cidade de Salvador também atua como megalópole regional de um grande território abrangendo quase todo o território baiano e também todo o estado de Sergipe e o extremo sul do Piauí. Somente as regiões norte e sul ligadas a Recife, Rio de Janeiro e Belo Horizonte, nessa ordem, ficam fora do domínio da influência econômica de Salvador. No entanto, sob sua influência direta está somente o Recôncavo. As cidades mais importantes do estado atuam como outros vários pólos econômicos, principalmente no sertão. Constituem elas: Feira de Santana, nos arredores do Recôncavo; Itabuna e Ilhéus, na região cacaueira; Jequié e Vitória da Conquista, no altiplano; e Juazeiro, à beira meridional do São Francisco. Demais cidades principais constituem Alagoinhas, Paulo Afonso, Itamaraju, Camaçari, Bom Jesus da Lapa, Jacobina e Valença. A Região Metropolitana de Salvador, também conhecida como Grande Salvador e pela sigla RMS, foi instituída pela lei complementar federal número 14, de 8 de junho de 1973. A Região Metropolitana de Feira de Santana (RMFS) foi sancionada pelo governador Jaques Wagner em 6 de julho de 2011 pela (LCE 35/2011), e entrou em vigor a partir do dia 7 de julho de 2011, dia em que a lei foi publicada no Diário Oficial. A Região Administrativa Integrada de Desenvolvimento do Polo Petrolina e Juazeiro é uma região integrada de desenvolvimento econômico, criada pela lei complementar n.º 113, de 19 de setembro de 2001, e regulamentada pelo decreto n.º 4 366, de 9 de setembro de 2002. Governo e política. Integrante da federação brasileira, é uma unidade federativa autônoma, sob os limites da constituição federal, com os três poderes próprios (executivo, judiciário e legislativo), além do Ministério Público do Estado da Bahia (MPBA), eleições diretas periódicas para cargos do executivo e legislativo, símbolos oficiais e data magna estabelecidas na . A capital estadual é o município de Salvador, e Cachoeira é a segunda capital do estado, de acordo com a Lei Estadual 10.695 de 2007, que estabeleceu que todos os anos, no dia 25 de junho, o governo estadual é transferido para a cidade, em reconhecimento histórico pelas lutas na Independência da Bahia. A história da política no estado brasileiro da Bahia confunde-se, muitas vezes, com a política do país — e boa parte dela equivale à mesma, uma vez que Salvador, por muitos anos, foi a capital da Colônia. Contando sempre com expoentes no cenário político nacional, a Bahia é um dos mais representativos estados da federação. Durante o período imperial, contou com diversos primeiros-ministros; na fase republicana, estiveram à frente de vários movimentos nacionais baianos como Rui Barbosa, Cezar Zama, Aristides Spínola e outros. Na República Velha, dominou o cenário estadual José Joaquim Seabra; durante a Era Vargas surgiu a figura de Juracy Magalhães e em contraposição, com a redemocratização do pós-guerra, o socialista Octávio Mangabeira. Durante o regime militar, surgiu a figura de Antônio Carlos Magalhães, que dominou o cenário político estadual por três décadas, com breve derrota para Waldir Pires, na década de 1980, ocupando o cargo de senador, quando de sua morte. Tal fenômeno político ganhou a denominação de "Carlismo". Governo. O Poder Executivo baiano é exercido pelo governador do estado, que é eleito em sufrágio universal e voto direto e secreto pela população para mandatos de até quatro anos de duração, podendo ser reeleito para mais um mandato. A atual sede é o "Palácio de Ondina", situado no bairro de Ondina, desde 1967. Antigamente, a sede do governo baiano era o "Palácio Rio Branco", localizado na Praça Municipal, e foi construída em 1549 (ano da fundação da cidade de Salvador, em 1549) tornando-se sede do governo e residência oficial do primeiro governador-geral do Brasil, Tomé de Sousa. Em janeiro de 1908, foi transformada em residência oficial dos governadores do estado. Depois do Palácio Rio Branco, a sede do governo baiano foi o "Palácio da Aclamação", localizado no bairro do Campo Grande, até ser estabelecida a atual sede. O Poder Legislativo da Bahia é unicameral, exercido pela Assembleia Legislativa da Bahia, localizado no " Palácio Luís Eduardo Magalhães". É constituída pelos representantes do povo (deputados estaduais) eleitos em votação direta para o mandato de quatro anos. Ela possui 63 deputados estaduais. No Congresso Nacional, a representação baiana é de 3 senadores e 39 deputados federais. Cabe, à Assembleia Legislativa, com a sanção (aprovação) do governador do estado, dispor sobre todas as matérias de competência do estado. O Tribunal de Contas, através de seus conselheiros, auxilia a Assembleia Legislativa na apreciação das contas prestadas anualmente pelo governador do estado, no julgamento das contas dos administradores e demais responsáveis (fundações, empresas etc.) por dinheiro, bens e valores públicos da administração direta e indireta, incluídas as fundações e sociedades instituídas e mantidas pelo poder público estadual e as contas que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário público. Além deste, possui o Tribunal de Contas dos Municípios (TCM), que auxilia as Câmaras municipais na apreciação das contas dos respectivos executivos. A maior corte do Poder Judiciário estadual é o Tribunal de Justiça do Estado da Bahia, localizado em prédio denominado "Palácio da Justiça", situado no Centro Administrativo da Bahia. A Justiça do Trabalho está ligada à Quinta região, que compreende todo o estado e possui sede na capital. A Justiça Federal está vinculada à primeira região com sede em Brasília. Eleições e partidos. O sistema eleitoral na Bahia repete o nacional. Os mandatos eletivos duram quatro anos, e as eleições estaduais e federais alternam com as municipais a cada dois anos. O eleitorado baiano é composto por votantes, segundo dados referentes às eleições de 2012, o que representa o quarto maior colégio eleitoral do país. Sua capital, Salvador, é o município com maior número de eleitores (), seguido de Feira de Santana () e Vitória da Conquista (). O município com menor número de eleitores é Lajedinho, com . Tratando-se sobre partidos políticos, todos os 35 partidos políticos brasileiros possuem representação no estado. Conforme informações divulgadas pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com base em dados de abril de 2016, o partido político com maior número de filiados na Bahia é o Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB), com membros, seguido do Democratas (DEM), com membros e do Partido dos Trabalhadores (PT), com filiados. Completando a lista dos cinco maiores partidos políticos no estado, por número de membros, estão o Partido Progressista (PP), com membros; e o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), com membros. Ainda de acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, o Partido Novo (NOVO) e o Partido Socialista dos Trabalhadores Unificado (PSTU) são os partidos políticos com menor representatividade na unidade federativa, com 24 e 275 filiados, respectivamente. Subdivisões. A Bahia, assim como todos os outros estados brasileiros, está politicamente dividida em municípios. Ao total, existem 417 municípios baianos, o que torna a Bahia o quarto maior estado segundo a quantidade de municípios. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divide as unidades federativas do Brasil em regiões geográficas intermediárias e regiões geográficas imediatas para fins estatísticos de estudo, agrupando os municípios conforme aspectos socioeconômicos. As regiões geográficas intermediárias foram apresentadas em 2017, com a atualização da divisão regional do Brasil, e correspondem a uma revisão das antigas mesorregiões, que estavam em vigor desde a divisão de 1989. As regiões geográficas imediatas, por sua vez, substituíram as microrregiões. A divisão de 2017 teve o objetivo de abranger as transformações relativas à rede urbana e sua hierarquia ocorridas desde as divisões passadas, devendo ser usada para ações de planejamento e gestão de políticas públicas e para a divulgação de estatísticas e estudos do IBGE. Deste modo, há 10 regiões geográficas intermediárias e 35 regiões geográficas imediatas no estado. Uma outra divisão, desta vez para fins de coordenação de ações de promoção turística, o Programa de Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR) subdividiu o território baiano em zonas turísticas, as quais são Baía de Todos os Santos, Costa dos Coqueiros, Costa do Dendê, Costa do Cacau, Costa das Baleias, Costa do Descobrimento, Caminhos do Oeste, Caminhos do Sertão, Caminhos do Sudoeste, Chapada Diamantina, Lagos e cânions do São Francisco, Vale do Jiquiriçá e Vale do São Francisco. Até meados da década de 2000, o Governo da Bahia agrupava os municípios baianos segundo características econômicas, formando as regiões Metropolitana de Salvador, Extremo Sul, Oeste, Serra Geral, Litoral Norte, Sudoeste, Litoral Sul, Médio São Francisco, Baixo-médio São Francisco, Irecê, Chapada Diamantina, Recôncavo Sul, Piemonte da Diamantina, Paraguaçu e Nordeste. Atualmente, essa divisão foi substituída pelos 26 Territórios de Identidade, a saber: Irecê, Velho Chico, Chapada Diamantina, Sisal, Litoral Sul, Baixo Sul, Extremo Sul, Itapetinga, Vale do Jiquiriçá, Sertão do São Francisco, Oeste Baiano, Bacia do Paramirim, Sertão Produtivo, Piemonte do Paraguaçu, Bacia do Jacuípe, Piemonte da Diamantina, Semiárido Nordeste II, Agreste de Alagoinhas/Litoral Norte, Portal do Sertão, Vitória da Conquista, Recôncavo, Médio Rio de Contas, Bacia do Rio Corrente, Itaparica, Piemonte Norte do Itapicuru, Metropolitana de Salvador. A Bahia também é repartida em 26 partes pelo Conselho Estadual de Recursos Hídricos (Conerh), que, para gestão das bacias hidrográficas e dos recursos hídricos, criou as 26 regiões hidrográficas, chamadas de Regiões de Planejamento e Gestão das Águas (RPGA). Economia. A Bahia responde por quase trinta por cento do produto interno bruto do Nordeste brasileiro e por mais da metade das exportações da região. É o sétimo estado brasileiro que mais produz riqueza. A economia do estado baseia-se na indústria (química, petroquímica, informática, automobilística e suas peças), agropecuária (mandioca, grãos, algodão, cacau e coco), mineração, turismo e nos serviços. Existe o importante Polo petroquímico de Camaçari, onde funciona, entre outros empreendimentos, a montadora Ford, estando o complexo industrial localizado na cidade de Camaçari, na Região Metropolitana de Salvador, e que foi a primeira indústria automobilística a se instalar na região, em 2001. As atividades agropecuárias ocupam cerca de setenta por cento da população ativa do estado. Um bom indicador de suas atividades econômicas é sua pauta de exportação, composta, no ano de 2012, principalmente por petróleo refinado (18,77%), pastas químicas de madeira à soda ou sulfato (10,82%), soja (8,33%), algodão cru (6,32%) e farelo de soja (4,36%). Setor primário. No setor primário, a agricultura está dividida em grande lavoura comercial, a pequena lavoura comercial e a agricultura de subsistência. O estado se destaca na produção de algodão, cacau, soja e frutas tropicais como coco, mamão, manga, banana e guaraná, além de também produzir cana-de-açúcar, laranja, feijão e mandioca, entre outros. A grande lavoura está baseada há décadas nas culturas da cana-de-açúcar (onde é integrada com modernas usinas) e cacau, e mais atualmente, na soja e no algodão. Entre as pequenas culturas comerciais, a mandioca, o coco-da-baía, o fumo, o café, o agave, a cebola, dendê (e consequente azeite de dendê) são as produções em destaque. As culturas de subsistência estão em todo o território, sendo que a cultura da mandioca é a mais importante, seguida pelo feijão, o milho, o café e a banana. O estado é conhecido por ter uma baixa qualidade nas condições de trabalho, por usar sistemas arcaicos de produção (extrativistas e semiextrativistas) e por explorar excessivamente a mão de obra. A Bahia é o primeiro produtor nacional de coco, manga, guaraná, sisal e mamona. Também é o segundo maior produtor de cacau, algodão, banana e mamão, o 4º maior produtor de café e laranja, o 6º maior produtor de soja e tem produções relevantes de feijão e mandioca, mais voltados para a subsistência do que para a comercialização. A região de Ilhéus-Itabuna é uma das mais propícias áreas para o cultivo do cacau em toda a Bahia. Além de ser um dos principais produtores de cacau, junto com o Pará, é também o principal exportador de cacau no Brasil, porém a produção declinou nos últimos anos vítima de pragas como a vassoura-de-bruxa. Tem bons índices também na produção de milho e cana-de-açúcar. Outra região do estado que merece a devida atenção é aquela compreendida pelo Rio São Francisco, conhecida também como Vale do São Francisco, compreendendo as cidades de Juazeiro, Curaçá, Casa Nova, Sobradinho, dentre outras. A região é a maior produtora de frutas tropicais do país: essa fruticultura é irrigada, tem crescido e exporta para os mercados europeu, asiático e estadunidense. Recentemente, o cultivo da soja, milho, arroz, café e algodão aumentou substancialmente no oeste do estado, principalmente na área do cerrado, que apresenta terreno plano e propício à mecanização, com perfil produtivo intensivo. Também importante elemento da economia baiana, a pecuária bovina ocupa, hoje, o sexto lugar nacional, enquanto a caprina registra, atualmente, os maiores números do setor em todo o Brasil, mas também se destacando os rebanhos de ovinos. Já as atividades extrativas vegetais têm pequena participação na economia baiana. Entretanto, tem reservas consideráveis de minérios e de petróleo. A mineração baseia-se essencialmente na produção de ouro, cobre, magnesita, cromita, sal-gema, barita, manganês, chumbo, urânio, ferro, talco, columbita, prata, cristal de rocha e zinco. As minas de magnesita a céu aberto em Brumado são a terceira maior do mundo e dão condição para ser a maior produção deste minério no Brasil. O mesmo município é, também, o segundo produtor de talco no país. Setor secundário. A Bahia tinha em 2018 um PIB industrial de R$ 54,0 bilhões, equivalente a 4,1% da indústria nacional e empregando 364.603 trabalhadores na indústria. Os principais setores industriais são: Construção (23,3%), Serviços Industriais de Utilidade Pública, como Energia Elétrica e Água (17,5%), Derivados de Petróleo e Biocombustíveis (16,2%), Químicos (10%) e Alimentos (4,5%). Estes 5 setores concentram 71,8% da indústria do estado. A indústria é relativamente bem distribuída, abrigando os mais mais variados segmentos desse setor. Representa uma grande força econômica no estado. Está voltado para os setores da química e petroquímica, agroindústria, informática, automobilística e suas peças, alimentos, mineração, borracha e plástico, metalurgia, couro e calçados, higiene pessoal, perfumaria e cosméticos, energia eólica, celulose e papel e bebidas. Na região Metropolitana de Salvador, estão concentradas a maioria das indústrias no Polo Industrial de Camaçari, maior complexo industrial integrado do Hemisfério Sul e que já nasceu planejado na década de 1970, cujo foco inicial era o setor petroquímico e com o passar dos anos diversificou sua produção. Em relação ao valor de transformação industrial, a Bahia saltou da nona para a sexta posição no ranqueamento nacional em 2005. Há municípios do interior que se destacam por ser um grande polo produtivo, como de bebidas em Alagoinhas; papel e celulose em Eunápolis e Mucuri; calçados em Itapetinga, Serrinha e Amargosa; agroindústria em Juazeiro etc. Para fomentar a pesquisa e desenvolvimento tecnológico, foi lançado o projeto de um grande parque tecnológico em Salvador. Chamado de Parque Tecnológico da Bahia, tem, como prioridades, a tecnologia da informação e comunicação (TIC), a robótica e a energia. A primeira área do complexo foi inaugurada em 2012. Outro ponto de desenvolvimento tecnológico, a primeira biofábrica do país se encontra na cidade sertaneja de Juazeiro, no vale do Rio São Francisco. A indústria, o comércio e os domicílios baianos contam com abundante suprimento de energia elétrica, fornecido principalmente pelo Complexo Hidrelétrico de Paulo Afonso e pelas hidrelétricas de Sobradinho e Itapebi, que, juntas, produzem quase seis mil megawatts de energia. No campo da energia a partir dos hidrocarbonetos, o estado é dos maiores produtores nacionais de petróleo e gás natural. Há um importante polo de refino de petróleo e biocombustíveis em São Francisco do Conde, na região metropolitana de Salvador, onde está localizada a Refinaria Landulpho Alves, a primeira construída no Brasil e que foi responsável por manter a Bahia como o maior produtor de petróleo por décadas, e vários oleodutos e terminais em seu entorno para a chegada e escoamento da produção. Setor terciário. O turismo é uma destacada atividade econômica baiana, uma vez que o setor é responsável por 7,5% do produto interno bruto (PIB) estadual e emprega uma cadeia gigantesca que engloba os estabelecimentos do setor do turismo, como hotéis, bares, restaurantes e agências de viagem. No cenário nacional, o turismo baiano tem a fatia de 13,2% do PIB turístico nacional, a segunda maior porcentagem. Foram 5,29 milhões de turistas brasileiros e 558 mil turistas estrangeiros que visitaram o estado em 2011. O estado é um dos principais destinos turísticos do Brasil, sendo o estado que mais recebe turistas na região Nordeste, com um fluxo de 11 milhões de visitantes em 2011, segundo estudo realizado pela Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe). Além da ilha de Itaparica e Morro de São Paulo, há um grande número de praias entre Ilhéus e Porto Seguro, na costa sul. O litoral norte, na área de Salvador, esticando para a beira com Sergipe, transformou-se num destino turístico importante, o qual ficou conhecido como Linha Verde. A Costa do Sauípe se destaca como o maior complexo de hotéis-"resorts" do Brasil. No ecoturismo, se destaca a Chapada Diamantina. Na região, está o melhor roteiro turístico do país, localizado no Vale do Pati (Lençóis), segundo apontou o Ministério do Turismo em 2010. Nele, cerca de 500 mil turistas, brasileiros e estrangeiros, passam anualmente. Segundo a pesquisa Hábitos de Consumo do Turismo Brasileiro 2009, realizada pelo Vox Populi em novembro de 2009, a Bahia é o destino turístico preferido dos brasileiros, já que 21,4% dos turistas que pretendiam viajar nos dois anos seguintes optariam pelo estado. A vantagem é grande em relação aos concorrentes: Pernambuco, com 11,9%, e São Paulo, com 10,9%, estavam, respectivamente, em segundo e terceiro lugares nas categorias pesquisadas. Já em 2010, foi escolhida pelo jornal americano "The New York Times" como um dos 31 destinos que mereciam ser visitados em 2010. O estado foi o único do Brasil a integrar o "ranking". A diversidade de atrativos no estado incitou o planejamento governamental, que estabeleceu zonas turísticas para definições necessárias ao desenvolvimento do ramo turístico e para identificação das potencialidades por meio do Programa de Desenvolvimento do Turismo (PRODETUR). Em 2002, eram sete zonas: Costa dos Coqueiros, Baía de Todos-os-Santos, Costa do Dendê, Costa do Cacau, Costa do Descobrimento, Costa das Baleias e Chapada Diamantina. Isso mostra o destaque para o turismo no litoral, mas também aponta um importante polo no interior, a Chapada Diamantina. Formação geográfica em que chegam anualmente 500 mil visitantes, que gastam meio bilhão de reais ao conhecer as cidades de Lençóis, Andaraí, Rio de Contas, Mucugê e Palmeiras. Mais tarde, foram criadas novas zonas, interiorizando o planejamento turístico, a saber: Caminhos do Oeste, Caminhos do Sertão, Caminhos do Sudoeste, Lagos e cânions do São Francisco, Vale do Jiquiriçá e Vale do São Francisco. Infraestrutura. Saúde. A saúde na Bahia não é das melhores do país: problemas típicos da saúde brasileira ocorrem no estado. Algumas doenças têm altos índices de doentes, como o câncer de mama, que, de acordo com a Sociedade Brasileira de Mastologia, atinge cerca de dois mil novos casos anualmente. Apesar disso, certas práticas que poderiam salvar muitas vidas não são comuns no estado, a exemplo da doação de órgãos. 60% das famílias baianas se recusam a doar órgãos de parentes, índice bem maior do que a média nacional, que é de 25%. Entre as doenças mais comuns, estão a dengue e a meningite, as quais estão alastrando-se por todo o território baiano e não apenas infectam os baianos, mas também provocam a morte. Na parte da estrutura, destacam-se, na capital: o Hospital Geral do Estado (HGE); Hospital Geral Roberto Santos (HGRS); Hospital do Subúrbio, que funciona sob gestão de parceria público-privada, conceito inédito no Brasil; Hospital Santo Antônio (fundado por Irmã Dulce); Hospital Sarah Kubitschek; Hospital Manoel Victorino; Hospital Santa Izabel; Hospital Ana Nery, referência nas áreas de cardiologia, cirurgia vascular, hemodiálise e transplante de órgãos; Hospital Couto Maia, referência em doenças infecciosas e parasitárias, Hospital São Rafael; Hospital da Bahia; Hospital Especializado Octávio Mangabeira (HEOM); Hospital Martagão Gesteira, referência no atendimento às mais diversas especialidades pediátricas; Complexo Hospitalar Universitário Professor Edgard Santos (COMHUPES, mantido pela Universidade Federal da Bahia através do Sistema Universitário de Saúde); Hospital Aristides Maltez, instituição referência no diagnóstico e tratamento do câncer no Brasil e que atende, prioritariamente, pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS); entre outros. O Hospital Geral Clériston Andrade (HGCA), em Feira de Santana, destaca-se por ser o maior hospital público, porta aberta, do interior do estado no atendimento de média e alta complexidade. As sociedades científicas Academia de Medicina da Bahia e Academia de Medicina de Feira de Santana desenvolvem e publicam as pesquisas médicas dos especialistas baianos. Educação. A Bahia possui um longo histórico na área de educação, desde os primeiros jesuítas que já no instalaram escolas em Salvador, então a capital da Colônia. Educadores de renome como Abílio Cezar Borges, Ernesto Carneiro Ribeiro e Anísio Teixeira capitanearam o proscênio educacional do país. A escola pública na Bahia é basicamente estadual e municipal, sendo que o município tem uma preocupação maior com a ensino fundamental (primeira à quarta série) e o governo estadual com a educação fundamental também, mas só da quinta à oitava série, além do ensino médio. O governo federal tem pouca participação na formação direta da população, porém, muitos recursos utilizados por estas instituições escolares são provenientes dos fundos federais. Atualmente, a Bahia conta com doze universidades, sendo quatro públicas estaduais (UNEB, UEFS, UESB e UESC), seis públicas federais (UFBA, UFRB, UNIVASF, UNILAB, UFSB e UFOB) e duas privadas (UCSal e UNIFACS), além dos institutos federais, o IFBA e o IF-BAIANO. De acordo com um ranking realizado e divulgado pela "Folha de S.Paulo", em 2012, a Universidade Federal da Bahia aparece como a segunda melhor pontuação entre as universidades públicas do norte e nordeste, atrás da federal pernambucana, e em 12.º lugar no país inteiro, e na frente da Universidade Estadual do Maranhão. Em outro ranqueamento publicado no mesmo ano, feito pelo Ministério da Educação (MEC) a partir do Exame Nacional de Desempenho de Estudantes (ENADE), a Universidade Estadual de Feira de Santana foi classificada como a melhor universidade das regiões norte e nordeste e a 15.º do país em cursos com a nota cinco. Energia. A cachoeira de Paulo Afonso, no limite com Alagoas, cuja descarga média é de 5 000 metros cúbicos por segundo, abastece as quatro usinas da CHESF (Companhia Hidrelétrica do São Francisco), Paulo Afonso I, II, III e IV. Com um potencial somado de 3.501.800kW, vendem energia para todo o Nordeste. A Usina Hidrelétrica Pedra do Cavalo (1983) está localizada no trecho superior das cidades gêmeas de São Félix e Cachoeira, a 110 quilômetros da capital, e foi erguida com dinheiro do Programa de Valorização da Água do Rio Paraguaçu. Além de produzir energia, assegura: água potável para Salvador e Feira de Santana; água bruta para complexos industriais, como Aratu e Camaçari; términos das cheias diárias em cidades ao longo dos rios; e soluções para a questão do assoreamento ― o rio antes novamente navegável. A barragem (143m) constitui uma das mais elevadas da América do Sul. A hidrelétrica de Itaparica está localizada no limite com Pernambuco, a mais de cinquenta quilômetros do complexo Paulo Afonso, e iniciou suas operações em 1988. Sua potência final era de 2 500 MW e, na década de 1990, a usina de Xingó, também localizada no rio São Francisco, estava em construção com capacidade de 3 000 MW. Transportes. Feira de Santana é o eixo polarizador do sistema rodoviário estadual e é por onde passam as vias principais: a BR-242, que liga Salvador ao oeste baiano e à capital federal; a BR-101, de sentido norte/sul, com traçado paralelo ao litoral; a BR-116, que liga a metrópole ao sudoeste; além da BR-324, que liga Feira de Santana a Salvador. Outras rodovias estaduais e federais atendem ao tráfego de longa distância ou atendem às sedes dos municípios, fazendo parte de um sistema combinado que se complementa a exemplo da BR-110, BR-415, BR-407, BA-052, BA-099 e BA-001 (essas duas últimas são rodovias estaduais litorâneas). A Bahia conta com quatro portos, sendo o de Aratu, o de Ilhéus e o de Salvador marítimos e o de Juazeiro fluvial. O de Ilhéus é o maior exportador de cacau do Brasil e também grande importador. Na cidade, também está em processo de construção o Porto Sul, com a expectativa de ser um dos maiores portos do Brasil em movimentação de cargas. A Bahia conta com dez aeroportos operando com voos regulares, sendo o Internacional Dois de Julho, também conhecido como Internacional de Salvador Deputado Luís Eduardo Magalhães, o oitavo aeroporto mais movimentado do Brasil, o primeiro do Nordeste e estando entre os 20 maiores da América Latina, respondendo por mais de trinta por cento do movimento de passageiros dessa região do país em 2011. Os outros são Aeroporto de Barreiras, em Barreiras; Aeroporto João Durval Carneiro, em Feira de Santana; Aeroporto Jorge Amado, em Ilhéus; Aeroporto Horácio de Mattos, em Lençóis; Aeroporto de Paulo Afonso, em Paulo Afonso; Aeroporto de Porto Seguro, em Porto Seguro; Aeroporto Pedro Otacílio Figueiredo, em Vitória da Conquista; Aeroporto de Valença, em Valença; e Aeroporto de Teixeira de Freitas, em Teixeira de Freitas. O Aeroporto de Una-Comandatuba recebe muitos voos fretados. A Bahia é cortada por várias ferrovias. Entre elas, estão: a Estrada de Ferro Bahia-Minas, que vai de Caravelas, na Bahia, ao norte de Minas Gerais; e a Viação Férrea Federal do Leste Brasileiro, que integrava a Bahia com os estados de Minas Gerais, Sergipe, Pernambuco e Piauí. Além dessas duas interestaduais, existem a Estrada de Ferro de Nazaré e a de Ilhéus. Esta última possuía projetos de expansão para chegar a Vitória da Conquista e para se ligar a outras ferrovias do estado e à E. F. Bahia-Minas. Todas essas linhas férreas já não estão mais em atividade. Atualmente, está sendo construída a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (FIOL), com extensão de 1 527 quilômetros, que servirá de importante ponto de escoamento da produção de minérios e grãos do estado através do Porto Sul, no sul do estado. Ela também se conectará com a Ferrovia Norte-Sul em Tocantins, formando um grande corredor logístico. Durante a primeira gestão de Dilma Rousseff, foram planejadas mais duas ferrovias cortando a Bahia: a Ferrovia Salvador-Recife, com extensão de 893 quilômetros e que atravessa municípios dos estados de Sergipe, Alagoas e Pernambuco, onde fazia conexão com a Ferrovia Transnordestina; e a Ferrovia Belo Horizonte-Salvador, com extensão de 1 350 quilômetros e que atravessa 52 municípios da Bahia e Minas Gerais, estabelecendo uma conexão com o Porto de Aratu, na Região Metropolitana de Salvador. O transporte de alta capacidade de passageiros por trilhos foi implantado no estado com o Metrô de Salvador, após 14 anos de construção e indícios de superfaturamento. O funcionamento foi iniciado em junho de 2014 e a conclusão das duas linhas licitadas está determinada pelo edital para acontecer em 2017. Serviços e comunicações. A empresa de energia elétrica, que compreende o estado da Bahia, constitui a Neoenergia Coelba e os serviços de abastecimento e venda de gás canalizado no estado da Bahia são realizados pela Companhia de Gás da Bahia. O estado conta com outros serviços básicos. Na Bahia, existem várias empresas responsáveis pelo abastecimento de água. Em boa parte dos municípios baianos, a empresa responsável por água e saneamento básico (esgoto) é a Empresa Baiana de Águas e Saneamento (Embasa). Outros municípios são abastecidos por outras empresas ou por empresas do próprio município — um exemplo ocorre em Juazeiro, na região norte do estado, cuja empresa responsável pelo abastecimento de água é o Serviço de Água e Saneamento Ambiental (SAAE). O estado da Bahia é o quarto do Brasil em quantidade de dispositivos móveis ativos (17 033 298), após São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro. A cidade de Salvador tem a maior teledensidade (número de acessos por 100 habitantes), com 198,44 acessos para cada 100 pessoas. Os códigos de discagem direta a distância, DDD, para realizações para números do estado são 71, 73, 74, 75 e 77. Os principais veículos da imprensa baiana são: o tradicional jornal "A Tarde", que também possui uma emissora de rádio (A Tarde FM); jornal "Correio", TV Bahia e outras emissoras que retransmitem a Rede Globo no interior do estado, todas elas empresas da Rede Bahia; o jornal "Tribuna da Bahia"; a emissora de TV Band Bahia, e a emissora de rádio BandNews FM em Salvador; e as emissoras de televisão TV Aratu (afiliada do SBT), TV Educativa da Bahia (esta mantida pelo governo estadual através da IRDEB), TV Itapoan e a TV Cabrália (ambas filiadas da Rede Record). Destacam-se os grupos de mídia baianos: a Rede Bahia, o Grupo Aratu, o Grupo A Tarde e o Grupo Metrópole, que mantém o "Jornal da Metrópole" e a emissora de rádio. Segurança pública e criminalidade. As mais importantes unidades militares sediadas na Bahia são: no Exército Brasileiro, a Bahia pertence ao Comando Militar do Nordeste, se encontrando localizada em Salvador a matriz da 6.ª Região Militar, assim como o 19.° Batalhão de Caçadores; na Marinha do Brasil, em Salvador se encontra a matriz do 2.° Distrito Naval, bem como a Base Naval de Aratu, a Escola de Aprendizes de Marinheiros, dissolvida em 1973, e o Hospital Naval; Na Força Aérea Brasileira, a Bahia faz parte do Cindacta III, merecendo destaque no estado a Base Aérea de Salvador e o 1.º Esquadrão do 7.° Grupo de Aviação (São Cristóvão), em Salvador. Segundo a Constituição Federal de 1988 e a Estadual de 1989, os órgãos reguladores da segurança pública no estado da Bahia são a Polícia Militar, o Corpo de Bombeiros e a Pol. Civil. De acordo com dados do “Mapa da Violência 2012”, publicado pelo Instituto Sangari e pelo Ministério da Justiça, a taxa de homicídios por 100 mil habitantes, que era de 3,3 em 1980, subiu para 37,7 em 2009 (ficando acima da média nacional, que era de 27,0). Entre 2000 e 2010, o número de homicídios subiu de 1223 para 5287. Em geral, a Bahia subiu dezesseis posições na classificação nacional das unidades federativas por taxa de homicídios, passando da 23.ª em 2000 para a 7.ª em 2010. A Região Metropolitana de Salvador possuía taxas mais de quatro mil vezes maiores que a do estado (-/+739,4), enquanto, no interior, o mesmo era mais de 21,3 maior que a média estadual (-/+346,1). Em 2000, 25 municípios, de cinco a dez mil habitantes, registravam uma taxa de homicídios de 5,0, mas ela subiu para 15,6 em sessenta cidades em 2010. Considerando-se todos esses municípios, totalizam-se 37,7. Desde a época em que o estado era razoavelmente tranquilo em 2000 a violência aumentou ligeiramente em todo o território do estado, com vários polos elevadamente conurbados. Conforme o “Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros 2008”, também publicado pelo Instituto Sangari, as cidades baianas que apresentavam as maiores taxas de homicídios por grupo de cem mil habitantes eram: Porto Seguro (85,8), Simões Filho (69,7), Itabuna (68,6), Juazeiro (56,4,), Lauro de Freitas (53,8), Camaçari (44,6), Candeias (44,5), Ilhéus (40,1), Vitória da Conquista (37,4), Itabela (36,8), Itororó (36,4), Salvador (36,1), Remanso (35,4), Curaçá (34,2), Uruçuca (33,5), Dias d’Ávila (33,2), Camacan (33,1), Santa Luzia (32,8), Casa Nova (32,6), Ipiaú (32,1), Belmonte (30,9), Entre Rios (30,8), Arataca (30,6) e Pau Brasil (30,1). Cultura. Diferentemente da satirização feita pelos grandes meios de comunicação, o dialeto falado na Bahia, segundo alguns linguistas, seria parte integrante do grupo sulista, sendo, portanto, um dialeto próprio, não fazendo parte dos dialetos do nordeste. Algumas de suas gírias soam estranhas para outras regiões do país, como os famosos "oxente", "massa" (no sentido de coisa boa) e "aonde" (utilizado para negar uma frase). No campo do artesanato da Bahia, destacam-se a cerâmica decorativa, marca da influência indígena, a renda de bilros e outros tipos de bordados, bonecas de pano, os santeiros e carrancas, objetos feitos de couro, metal, pedras e os destinados à cozinha, como o pilão e gamela. Alguns museus da Bahia são: Museu Afro-Brasileiro, Museu de Arte da Bahia, Museu de Arte Moderna da Bahia, Memorial dos Governadores Bahia, Museu Carlos Costa Pinto, Museu Henriqueta Catharino, Fundação Casa de Jorge Amado e Museu Geológico da Bahia. No interior do estado, destacam-se: o Museu Histórico de Jequié, com um importante acervo sobre a história e cultura da região sudoeste; o Museu do Recolhimento dos Humildes em Santo Amaro, de arte sacra; a Fundação Hansen Bahia, em Cachoeira; e o centro cultural Dannemann, em São Félix, com sua Bienal do livro do Recôncavo. Do candomblé ou do tabuleiro da baiana do acarajé, da culinária afro-baiana brotam o acarajé, o abará, o vatapá e tantos pratos temperados pelo azeite de dendê, festejando os santos, como o caruru, ou festejando a vida, como a moqueca e o mingau. Já o interior do estado, é marcado pela sua cultura do couro, pela sua culinária sertaneja, pelas suas festas e manifestações e pelo vaqueiro, onde surgiu no interior do estado a partir de 1550, sendo a primeira fixação do homem no interior da Bahia e de todo Nordeste Brasileiro. O vaqueiro foi o responsável por formar a cultura sertaneja. Culinária. A culinária da Bahia é uma das mais diversificadas do Brasil, com muitas variações, desde a culinária sertaneja, até a mais conhecida, que é aquela produzida no Recôncavo e em todo o litoral da Bahia — praticamente composta de pratos de origem africana, diferenciados pelo tempero mais forte, à base de azeite de dendê, leite de coco, gengibre, frutos do mar, pimenta de várias qualidades e muitos outros que não são utilizados em outros estados do Brasil. Essa culinária, porém, não chega a representar 30% do que seus habitantes consomem diariamente. As iguarias dessa vertente africana da culinária estão reservadas, pela tradição e hábitos locais, às sextas-feiras (como por exemplo a moqueca, vatapá, caruru, xinxim de galinha) e às comemorações de datas institucionais, religiosas ou familiares. No dia a dia, o baiano alimenta-se de pratos herdados da vertente portuguesa, ou então de pratos no que se costuma chamar de "culinária sertaneja". São receitas que não levam o dendê e ingredientes como frutos do mar por exemplo, que é muito presente na culinária afro-baiana. Entidades culturais, museus e bibliotecas. Entre as diversas instituições culturais presentes no estado estão a o Gabinete Português de Leitura, o Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, a Associação Baiana de Medicina, a Associação Baiana de Imprensa, as seções baianas da Associação Brasileira de Escritores e da Ordem dos Advogados. Dentre as bibliotecas da capital merecem destaque a Universidade Federal da Bahia, a Biblioteca Pública do Estado, o Mosteiro de São Bento, a Biblioteca Infantil Monteiro Lobato, a Biblioteca Teixeira de Freitas e a Biblioteca do Departamento Estadual de Estatística, da Petrobras e das entidades culturais supramencionadas. Muitas cidades do interior possuem pequenas bibliotecas públicas. Entre os muitos museus, os seguintes museus de Salvador se destacam em Salvador pela importância e vantagem de suas coleções: Museu Afro-Brasileiro e Museu de Arqueologia e Etnologia, ambos localizados na tradicional faculdade de Medicina; Museu de Arte da Bahia; Museu de Arte Sacra, localizado no tradicional convento das Carmelitas Descalças; Museu de Arte Sacra Monsenhor Aquino Barbosa, na basílica de Nossa Senhora da Conceição da Praia; Museu Abelardo Rodrigues (Solar do Ferrão), com exposição de arte sacra e popular; Museu Carlo Costa Pinto, de talheres e mobiliário; e o Museu do Carmo, a igreja e convento da Ordem Primeira do Carmo. Outro museu muito interessante no estado é o Vanderlei de Pinho no Recôncavo. Arquitetura. O mais importante atrativo de Salvador está em sua arquitetura, constituída por igrejas, fortalezas, palácios e tradicionais solares. Do total de 165 igrejas, as mais notáveis ​​são a catedral (1656); de Nossa Senhora da Conceição da Praia (1739-1765); a igreja (1708-1750) e o Convento de São Francisco (1587), Possui uma riqueza de talha dourada e azulejaria portuguesa, a igreja da Ordem Terceira de São Francisco (1703) e a igreja do Senhor do Bonfim (1745-1754). Entre as muitas fortalezas, os mais importantes de Salvador são a fortaleza e farol de Santo Antônio da Barra (1598), a de São Marcelo (século XVII), a do Barbalho ou de Nossa Senhora do Monte do Carmo (1638) e a de Monte Serrat. Entre os palácios destacam-se o paço arquiepiscopal da Sé, o do Saldanha e o solar do conde dos Arcos. Dentre outros monumentos, destacam-se os seguintes: a casa de Gregório de Matos, a casa onde faleceu Castro Alves (Colégio Ipiranga), o Solar do Unhão, o paço municipal, Solar Marbak, do Berquó, a terra natal de Ana Néri (Cachoeira), Castelo Garcia D’ Ávila (Mata de São João), Santa Casa, local de nascimento de Teixeira de Freitas (Cachoeira). Feriados e festividades. Na Bahia, ocorrem várias festas durante o ano todo. As principais são a Lavagem do Senhor de Bonfim, o Carnaval da Bahia e as diversas micaretas que ocorrem no ano todo sendo este evento momesco fora de época uma criação baiana. Há também a Festa junina São João com destaque para a cidade de Cruz das Almas (onde acontece a tradicional guerra de espadas) e Irecê que todos os anos trazem grandes atrações da música brasileira. Ainda tem a tradicional Vaquejada de Serrinha, que acontece sempre junto ao feriado de 7 de setembro. Em Salvador, acontece sempre, no começo do ano, o Festival de Verão de Salvador. Em Vitória da Conquista, durante o inverno, acontece o Festival de Inverno Bahia. Tendo como sua principal característica moderna o trio elétrico, o Carnaval da Bahia teve seu incremento a partir desta invenção de Dodô e Osmar. O negro reconquista sua identidade e ganha força nos Filhos de Gandhi, o Olodum, e blocos como o Ilê Aiyê, que une música ao trabalho social. O Carnaval de Salvador, considerado o maior carnaval de rua do mundo, atrai anualmente 2 milhões de foliões em seis dias de festa. Durante o período do carnaval de Salvador, dezenas dos cantores mais famosos do Brasil desfilam nos trios elétricos, como Ivete Sangalo, Daniela Mercury e muitos outros. Mas também há as festas de momo no interior, com destaque para Barreiras, Canavieiras, Palmeiras e Porto Seguro. O Carnaval de Salvador constitui a principal festividade da capital, trazendo anualmente muitos turistas de todo o Brasil e do estrangeiro. Entre as festas mais populares estão Santa Bárbara ( de dezembro), Conceição da Praia (8 de dezembro), Santa Luzia (13 de dezembro), dos Santos Reis (de 5 a 6 de janeiro), Iemanjá (2 de fevereiro), Divino Espírito Santo (de segunda a domingo após a Assunção), todas em Salvador. E também as festas de Nossa Senhora de Santana (18 de janeiro a 3 de fevereiro), em Feira de Santana, e Nossa Senhora da Vitória (15 de agosto), em Ilhéus. As mais importantes procissões são Senhor Bom Jesus dos Navegantes (1.º de janeiro), Senhor dos Passos (segunda sexta-feira da Quaresma) e Nossa Senhora do Monte Serrat (2 de setembro). Outras festas importantes são a lavagem do Bonfim (quinta-feira antes do segundo domingo após a Epifania), sábado e domingo do Bonfim, segunda-feira da Ribeira (após domingo do Bonfim), quadrilha do Rio Vermelho (dois domingos antes da festa mais popular do país), Carnaval e Dois de Julho (dia da Independência). As expressões folclóricas do município são abundantes e diversificadas, incluindo candomblé, capoeira e ritmos populares. No interior do estado também existem determinados pontos turísticos, como a cidade histórica de Cachoeira, o parque nacional de Paulo Afonso com seu salto e a hidrelétrica de mesmo nome, a estância hidromineral de Cipó e, na costa, parque nacional do Monte Pascoal. Também na costa, todas as praias da Costa do Descobrimento se destacam. Literatura. Escritores baianos possuem relevância histórica ao aparecerem como representantes maiores do Barroco no Brasil: Gregório de Matos, Botelho de Oliveira e Frei Itaparica. Na Bahia, apareceram, também, as primeiras academias literárias no país: a Academia dos Esquecidos (1724-1725) e a Academia Brasílica dos Renascidos (1759). Cabe salientar que, na época, havia os cronistas-mor nomeados pelo rei de Portugal e que as academias eram tidas como seguidoras da moda das academias em Portugal mas também representariam algum tipo de sentimento nativista do meio intelectual, já bastante desenvolvido em território baiano. No período mais recente, temos uma Bahia pródiga de autores imortais, como Castro Alves, Adonias Filho, Jorge Amado, e João Ubaldo Ribeiro. Os dois últimos são autores excepcionais, de literatura fácil e rica de detalhes sobre a Bahia. São, ao mesmo tempo, radiografias da vida no estado. No entanto, ao se falar em romances, a "produção" está reduzida, restringe-se a pequenos versos e passagens que remontam o estilo medieval e a famosos romances, como o "Gabriela, Cravo e Canela", de Jorge Amado, publicado em 1958. A obra é um retorno ao ciclo do cacau, entrando no universo de coronéis, jagunços e prostitutas que desenham o horizonte da sociedade cacaueira da época. Na década de 1920, na então rica e pacata Ilhéus, ansiando por progressos, com intensa vida noturna litorânea, entre bares e bordéis, desenrola-se o drama, que acaba por tornar-se uma explosão de folia e luz, cor, som, sexo e riso. Paralelamente, a literatura de cordel persiste principalmente no sertão, onde violeiros transmitem a tradição cordelista por meio de sua cantoria. Cinema. O cinema na Bahia é promovido e incentivado pela Diretoria de Artes Visuais e Multimeios (DIMAS), além da Associação Baiana de Cinema e Vídeo (ABCV / ABD-BA), membro da Associação Brasileira de Documentaristas e Curta-metragistas. Na Bahia, ocorrem vários festivais e encontros de cinema e cineclubismo, entre eles: Bahia Afro Film Festival, em Salvador; Encontro Baiano de Animação, em Salvador. Feira Mostra Filmes, em Feira de Santana; Festival Brasilidades, em Feira de Santana; Festival Nacional de Vídeo — A Imagem em 5 Minutos, em Salvador; FIM! — Festival da Imagem em Movimento, em Salvador; Jornada Internacional de Cinema da Bahia, em Salvador; Mostra Cinema Conquista, em Vitória da Conquista; Seminário Internacional de Cinema e Audiovisual, em Salvador; e Vale Curtas — Festival Nacional de Curtas-Metragens do Vale do São Francisco, em Juazeiro e Petrolina. Também há várias produções cinematográficas nacionais que possuem como tema a Bahia ou algo a ela relacionado, a exemplo de "Cidade Baixa" e "Ó Paí, Ó". O estado também é berço de grandes nomes do cinema nacional, como os atores Lázaro Ramos, Wagner Moura, Luís Miranda, Priscila Fantin, João Miguel, Othon Bastos, Antonio Pitanga (pai dos também atores Rocco e Camila Pitanga) e Emanuelle Araújo e os cineastas Glauber Rocha e Roberto Pires. A TVE Bahia exibe às sextas-feiras, a sessão de filmes "Sextas Baianas". E a DIMAS exibe a sessão "Quartas Baianas", especialmente dedicada ao resgate e à valorização da produção local, com entrada franca, na Sala Walter da Silveira, às quartas-feiras, às 8h da noite. Música. Nas últimas décadas, a Bahia tem sido um verdadeiro celeiro musical. Surgiram muitos artistas (músicos, instrumentistas, cantores, compositores e intérpretes) de grande influência no cenário musical nacional e internacional. Tendo a maior cidade das Américas durante muitos séculos, sua capital foi local dos nascimentos, a partir da influência africana, do samba de roda, seu filho samba, o lundu e outros tantos ritmos, movidos por atabaques, berimbaus, marimbas — espalhando-se pelo resto do Brasil, e ganhando o mundo. Na Bahia nasceram expoentes brasileiros do samba, do pagode, do tropicalismo, do "rock" brasileiro, da bossa nova, axé e samba-"reggae". Alguns dos principais nomes são Dorival Caymmi, João Gilberto, Astrud Gilberto, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Gal Costa, Maria Bethânia, Tom Zé, Novos Baianos, Raul Seixas, Marcelo Nova, Pitty, Bira (do Sexteto do Jô), Carlinhos Brown, Daniela Mercury, Ivete Sangalo, Luiz Caldas, Margareth Menezes, Dinho (do Mamonas Assassinas) etc. Esportes. No estado nasceram os medalhistas olímpicos Robson Conceição, Hebert Conceição, Beatriz Ferreira e Adriana Araújo no boxe; Isaquias Queiroz e Erlon Silva no canoísmo; Ana Marcela Cunha na maratona aquática; Edvaldo Valério na natação,; Nilton Oliveira no basquete; e Ricardo no vôlei de praia. Também são oriundos do estado: o campeão mundial de boxe Acelino Popó Freitas, medalhistas em Mundiais como Allan do Carmo na maratona aquática; Breno Correia na natação; e o campeão da Indy Tony Kanaan no automobilismo. As competições de futebol na Bahia são regidas pela Federação Bahiana de Futebol (FBF), fundada em 1903. A sua principal competição profissional é o Campeonato Baiano de Futebol, o mais antigo do Nordeste e segundo mais antigo do Brasil, disputado desde 1905. Além disso, a Federação patrocina anualmente o Campeonato Baiano Intermunicipal de Futebol, entre as diversas associações de futebol dos municípios baianos. Os maiores clubes de futebol da Bahia e reconhecidos nacionalmente são o Bahia e o Vitória, ambos de Salvador. O Bahia, maior vencedor da história do Campeonato Baiano, campeão brasileiro em 1959 e 1988, um dos fundadores do Clube dos 13, e atualmente, disputa a Série A do Campeonato Brasileiro. No cenário nacional, há muito tempo está restrito aos dois clubes da capital. Nas séries do Campeonato Brasileiro de Futebol, ultimamente, os outros clubes baianos só participam devido a vagas asseguradas ao estado pelo regulamento da competição.
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Blaise Pascal
Blaise Pascal Blaise Pascal (Clermont-Ferrand, – Paris, ) foi um matemático, escritor, físico, inventor, filósofo e teólogo francês. Prodígio, Pascal foi educado por seu pai. Os primeiros trabalhos de Pascal dizem respeito às ciências naturais e ciências aplicadas. Contribuiu significativamente para o estudo dos fluidos. Ele esclareceu os conceitos de pressão atmosférica e vácuo, estendendo o trabalho de Evangelista Torricelli. Pascal escreveu textos importantes sobre o método científico. Aos 19 anos inventou a primeira máquina de calcular, chamada de máquina de aritmética, depois roda de pascalina e finalmente pascalina. Construiu cerca de vinte cópias na década seguinte. Matemático de primeira linha, criou dois novos campos de pesquisa: primeiro, publicou um tratado de geometria projetiva aos dezesseis anos; então, em 1654, ele desenvolveu um método de resolver o "problema dos partidos", que, dando origem, no decorrer do século XVIII, ao cálculo das probabilidades, influenciou fortemente as teorias económicas modernas e as ciências sociais. Depois de uma experiência mística que experimentou em novembro de 1654, dedicou-se à reflexão filosófica e religiosa, sem renunciar ao trabalho científico. Após uma experiência religiosa no final de 1654, ele começou a escrever obras que se tornariam influentes nos campos da filosofia e da teologia. Suas duas obras mais famosas datam desse período: as Provinciais e os Pensamentos, a primeira ambientada no conflito entre jansenistas e jesuítas. Nos "Pensamentos", sua obra magna, Pascal adianta vários temas que seriam tratados na filosofia contemporânea, tais como a finitude do sujeito, as antinomias kantianas, críticas à metafísica escolástica e cartesiana, e diversos temas do existencialismo. Em 8 de julho de 2017, em uma entrevista ao jornal italiano "La Repubblica", o Papa Francisco anunciou que Blaise Pascal "merece a beatificação" e que planeja iniciar o procedimento oficial. Vida. Blaise Pascal era filho de Étienne Pascal, professor de matemática, e de Antoinette Begon. Perdeu a sua mãe com três anos de idade. Seu pai tratou da sua educação por ele ser o único filho do sexo masculino, orientando-o com vistas ao desenvolvimento correto da sua razão e do seu juízo. O recurso aos jogos didácticos era parte integrante desse ensino que incluía disciplinas tão variadas como história, geografia e filosofia. O talento precoce de Blaise Pascal para as ciências físicas levou a família a Paris, onde ele se consagrou ao estudo da matemática. Acompanhou o pai quando este foi transferido para Rouen e lá realizou as primeiras pesquisas no campo da Física. Suas experiências sobre sons resultaram em um pequeno tratado (1634). No ano seguinte chega à dedução de 32 proposições de geometria estabelecidas por Euclides. Publica "Essay pour les coniques" (1640), obra na qual está formulado o célebre teorema de Pascal. Blaise Pascal contribuiu decisivamente para a criação de dois novos ramos da matemática: a Geometria Projetiva e a Teoria das probabilidades. Em Física, estudou a mecânica dos fluidos, e esclareceu os conceitos de pressão e vácuo, ampliando o trabalho de Evangelista Torricelli. É ainda o autor de uma das primeiras calculadoras mecânicas, a "Pascaline", e de estudos sobre o método científico. Como matemático, interessou-se pelo cálculo infinitesimal, pelas sequências, tendo enunciado o princípio da recorrência matemática. O cálculo diferencial e integral de Newton e Leibniz que seria a base da física clássica foi inspirado em um tratado publicado por Blaise Pascal sobre os senos num quadrante de um círculo onde buscou a integração da função seno, que também viria a ser a base da matemática moderna. Criou um tipo de máquina de calcular que chamou de "La pascaline" (1642), uma das primeiras calculadoras mecânicas que se conhece, conservada no Museu de Artes e Ofícios de Paris. Anders Hald escreveu: "Para aliviar o trabalho do seu pai como agente fiscal, Pascal inventou uma máquina de calcular para adição e subtração assegurando sua construção e venda." Seguindo o programa de Galileu e Torricelli, refutou o conceito de "horror ao vazio". Os seus resultados geraram numerosas controvérsias entre os aristotélicos tradicionais. Em 1646 a família converte-se ao Jansenismo. De volta a Paris (1647), influenciado pelas experiências de Torricelli, enunciou os primeiros trabalhos sobre o vácuo e demonstrou as variações da pressão atmosférica. A partir de então, desenvolveu extensivas pesquisas utilizando sifões, seringas, foles e tubos de vários tamanhos e formas e com líquidos como água, mercúrio, óleo, vinho, ar, etc., no vácuo e sob pressão atmosférica. Em 1651 o seu pai morreu. Na sequência de uma experiência mística, em finais 1654, faz a sua "segunda conversão" e abandona as ciências para se dedicar exclusivamente à filosofia e à teologia, num período marcado pelo conflito entre jansenistas e jesuítas. No ano seguinte, recolhe-se à abadia de Port-Royal-des-Champs, centro do jansenismo. Só voltaria às ciências após "novo milagre" (1658). São desse período as suas principais contribuições no campo filosófico-religioso: As cartas provinciais (1656-1657), conjunto de 18 cartas escritas em defesa do jansenista Antoine Arnauld - oponente dos jesuítas que estava em julgamento pelos teólogos de Paris - e Pensamentos, fragmentos reunidos e publicados postumamente (1670), onde foi concebida sua defesa ao cristianismo. Nos Pensamentos encontra-se também a sua frase mais citada: "O coração tem suas razões, que a própria razão desconhece". Como teólogo e escritor destacou-se como um dos mestres do racionalismo e irracionalismo modernos, e sua obra influenciou os ingleses Charles e John Wesley, fundadores da Igreja Metodista. Pascal aperfeiçoou o barômetro de Torricelli e, na matemática, com o "Traité du triangle arithmétique" ("Tratado do triângulo aritmético", mais conhecido como triângulo de Pascal), de 1654, estabeleceu, juntamente com Pierre de Fermat, as bases da teoria das probabilidades e da análise combinatória, que o holandês Huygens desenvolveria posteriormente (1657). Entre 1658 e 1659, escreveu sobre o ciclóide e a sua utilização no cálculo do volume de sólidos. Após obter resultado sobre os quadrados dos cicloides publicados em 1658, desafiou matemáticos da época a solucionarem problemas relacionados aos ciclóides e chegarem aos resultados por ele já alcançados. Um dos seus tratados sobre hidrostática, "Traité de l'équilibre des liqueurs", só foi publicado um ano após sua morte (1663). Pascal também esclareceu os princípios barométricos, da prensa hidráulica e da transmissibilidade de pressões. Estabeleceu o princípio de Pascal que diz: em um líquido em repouso ou equilíbrio, as variações de pressão transmitem-se igualmente e sem perdas para todos os pontos da massa líquida. É o princípio de funcionamento do macaco hidráulico. Na Mecânica é homenageado com a unidade de tensão mecânica (ou pressão) Pascal (1Pa = 1 N/m²; 105 N/m² = 1 bar). Pascal, que sempre teve uma saúde frágil, adoeceu gravemente em 1659. Morreu em 19 de agosto de 1662, dois meses após completar 39 anos. Seu corpo foi sepultado na Igreja de Saint-Étienne-du-Mont, Ilha de França, Paris na França. Contribuições à Matemática. Pascal continuou a influenciar a matemática ao longo de sua vida. Seu "Traité du triangle arithmétique" ("Tratado sobre o Triângulo aritmético") de 1653 descreveu uma apresentação tabular conveniente para os coeficientes binomiais, agora chamado triângulo de Pascal. O triângulo também pode ser representado: Ele define os números no triângulo por recursão: Chame o número na (m+1)-ésima linha e na (n+1)-ésima coluna por tmn. Então tmn = tm-1,n + tm,n-1, para m = 0, 1, 2... e n = 0, 1, 2... As condições de contorno são tm, −1 = 0, t−1, n para m = 1, 2, 3... e n = 1, 2, 3... O gerador t00 = 1. Pascal conclui com a prova, Em 1654, solicitado por um amigo interessado em problemas de jogos, ele correspondeu-se com Pierre de Fermat sobre o assunto e desta colaboração nasceu a teoria matemática das probabilidades. O amigo era Antoine Gombaud e o problema específico foi o de dois jogadores que querem terminar um jogo mais cedo e, dadas as atuais circunstâncias do jogo, querem dividir as apostas de forma justa, com base na chance que cada um tem de ganhar o jogo a partir desse ponto. A partir desta discussão, a noção de valor esperado foi introduzida. Pascal mais tarde (nos seus "Pensées") usou um argumento probabilístico, a Aposta de Pascal para justificar a crença em Deus e uma vida virtuosa. O trabalho realizado por Fermat e Pascal para o cálculo de probabilidades estabeleceu os fundamentos importantes para a formulação de Leibniz do cálculo infinitesimal. Filosofia da Matemática. A grande contribuição de Pascal para a filosofia da matemática veio com o seu "De l'Esprit géométrique" ("Do Espírito Geométrico"), originalmente escrito como um prefácio para um livro de geometria para um dos famosos ""Petites écoles de Port-Royal" ("Escolinhas de Port-Royal")". O trabalho ficou inédito até mais de um século após sua morte. Aqui, Pascal estudou a questão da descoberta de verdades, argumentando que o ideal de um tal método seria encontrar todas as proposições sobre as verdades já estabelecidas. Ao mesmo tempo, no entanto, ele alegou que isso era impossível porque tais verdades estabelecidas exigiriam outras verdades para apoiá-las — os primeiros princípios, portanto, não podiam ser alcançadas. Com base nisso, Pascal argumentou que o procedimento utilizado em geometria era tão perfeito quanto possível, com alguns princípios assumidos e outras proposições desenvolvidas a partir deles. No entanto, não havia nenhuma maneira de saber se os princípios assumidos eram, de fato, verdade. Pascal também utilizou o "De l'Esprit géométrique" para desenvolver uma teoria da definição. Ele distingue entre as definições que são rótulos convencionais definidas pelo escritor e definições que estão dentro da linguagem e compreendidas por todos, pois naturalmente designam seu referente. O segundo tipo seria característica da filosofia do essencialismo. Pascal afirmou que apenas as definições do primeiro tipo são importantes para a ciência e a matemática, argumentando que esses campos devem adotar a filosofia do formalismo, tal como formulado por Descartes. No "De l'Art de persuader" ("Sobre a Arte da Persuasão"), Pascal estudou de forma mais profunda o método axiomático da geometria, especificamente a questão de como as pessoas vem a ser convencidas dos axiomas sobre os quais conclusões posteriores se baseiam. Pascal concordou com Montaigne que alcançar a certeza nestes axiomas e as conclusões através de métodos humanos é impossível. Ele afirmou que esses princípios só podem ser apreendidos através da intuição, e que este fato ressaltou a necessidade de submissão a Deus na busca de verdades. Física. Pascal contribuiu para vários campos da física, principalmente os campos da mecânica dos fluidos e pressão. Em homenagem a suas contribuições científicas, o nome de Pascal foi dado à unidade de pressão SI e à lei de Pascal (um importante princípio da hidrostática). Ele introduziu uma forma primitiva de roleta e a roda da roleta em sua busca por uma máquina de movimento perpétuo. Dinâmica dos fluidos. Seu trabalho nas áreas de hidrodinâmica e hidrostática é centrado nos princípios dos fluidos hidráulicos. Suas invenções incluem a prensa hidráulica (usando pressão hidráulica para multiplicar a força) e a seringa. Ele provou que a pressão hidrostática não depende do peso do fluido, mas da diferença de elevação. Ele demonstrou esse princípio anexando um tubo fino a um barril cheio de água e enchendo o tubo com água até o nível do terceiro andar de um edifício. Isso fez com que o barril vazasse, no que ficou conhecido como o experimento do barril de Pascal. Vácuo. Em 1647, Pascal soube dos experimentos de Evangelista Torricelli com barômetros. Tendo replicado um experimento que envolvia colocar um tubo cheio de mercúrio de cabeça para baixo em uma tigela de mercúrio, Pascal questionou qual força mantinha algum mercúrio no tubo e o que preenchia o espaço acima do mercúrio no tubo. Na época, a maioria dos cientistas, incluindo Descartes, acreditava em um plenum, i. e. alguma matéria invisível preencheu todo o espaço, em vez de um vácuo. "A natureza abomina o vácuo." Isso se baseava na noção aristotélica de que tudo em movimento era uma substância, movida por outra substância. Além disso, a luz passou pelo tubo de vidro, sugerindo que uma substância como o éter, em vez de vácuo, preenchia o espaço. Seguindo mais experimentações neste sentido, em 1647 Pascal produziu Experiences nouvelles touchant le vide ("Novos experimentos com o vácuo"), que detalhou regras básicas que descrevem em que grau vários líquidos podem ser sustentados pela pressão do ar. Também forneceu razões pelas quais era de fato um vácuo acima da coluna de líquido em no tubo do barômetro. Este trabalho foi seguido por Récit de la grande expérience de l'équilibre des liqueurs ("Relato do grande experimento no equilíbrio em líquidos") publicado em 1648. O vácuo Torricelliano descobriu que a pressão do ar é igual ao peso de 30 polegadas de mercúrio. Se o ar tem um peso finito, a atmosfera da Terra deve ter uma altura máxima. Pascal raciocinou que, se for verdade, a pressão do ar em uma montanha alta deve ser menor do que em uma altitude mais baixa. Ele morava perto da montanha Puy de Dôme, com 4 790 pés (1 460 m) de altura, mas sua saúde era fraca, então não podia escalá-la. Em 19 de setembro de 1648, depois de muitos meses de estímulos amigáveis, mas insistentes, de Pascal, Florin Périer, marido da irmã mais velha de Pascal, Gilberte, foi finalmente capaz de realizar a missão de averiguação vital para a teoria de Pascal. O relato, escrito por Périer, diz:O tempo estava perigoso no sábado passado... [mas] por volta das cinco horas daquela manhã... o Puy-de-Dôme estava visível... então decidi tentar. Várias pessoas importantes da cidade de Clermont me pediram para avisá-los quando eu faria a subida... Fiquei muito feliz em tê-los comigo nesta grande obra... ... às oito horas nos encontramos nos jardins dos Padres Minim, que tem a elevação mais baixa da cidade. ... Primeiro eu derramei 16 libras de mercúrio... em um vaso... depois peguei vários tubos de vidro... cada um com mais de um metro de comprimento e hermeticamente selado em uma extremidade e aberto na outra... então coloquei-os no vaso [de mercúrio] ... Eu descobri que a prata rápida tinha 26" e 3​1⁄2 linhas acima do mercúrio no vaso... Repeti a experiência mais duas vezes enquanto estava no mesmo lugar... [eles] produziram o mesmo resultado cada vez... Prendi um dos tubos ao vaso e marquei a altura do mercúrio e... pedi ao Padre Chastin, um dos Irmãos Minim... para ver se alguma mudança deveria ocorrer durante o dia... Pegando o outro tubo e uma porção do mercúrio... eu caminhei até o topo do Puy-de-Dôme, cerca de 500 braças acima do mosteiro, onde após a experiência... descobri que o mercúrio atingiu uma altura de apenas 23" e 2 linhas... Repeti o experimento cinco vezes com cuidado... cada um em diferentes pontos do cume... encontrei a mesma altura de mercúrio... em cada caso...Pascal replicou a experiência em Paris carregando um barômetro até o topo da torre do sino da igreja de Saint-Jacques-de-la-Boucherie, uma altura de cerca de 50 metros. O mercúrio caiu duas linhas. Em resposta à plenista Estienne Noel, Pascal escreveu, ecoando noções contemporâneas de ciência e falseabilidade: “Para mostrar que uma hipótese é evidente, não basta que dela decorram todos os fenômenos; ao contrário, se ela leva a algo ao contrário de um único dos fenômenos, isso basta para estabelecer a sua falsidade". As são dadas a cientistas internacionais de destaque para conduzir suas pesquisas na região de Ile de France. Legado. Em honra de suas contribuições científicas, o nome Pascal foi dado à unidade SI de pressão, a uma linguagem de programação, à lei de Pascal (um importante princípio da hidrostática), e o triângulo de Pascal e a aposta de Pascal ainda levam o seu nome. O desenvolvimento de Pascal da teoria da probabilidade foi a sua contribuição mais influente para a matemática. Originalmente aplicada ao jogo de azar, hoje é extremamente importante na economia, especialmente na ciência atuarial. John Ross escreveu: "A teoria das probabilidades e as descobertas após essa mudaram a nossa forma de encarar a incerteza, risco, tomada de decisão, e a capacidade de um indivíduo ou da sociedade de influenciar o curso dos eventos futuros.". No entanto, deve notar-se que Pascal e Fermat, embora fazendo um trabalho inicial importante na teoria das probabilidades, não desenvolveram o campo muito mais longe. Christiaan Huygens, aprendendo do tema a partir da correspondência de Pascal e Fermat, escreveu o primeiro livro sobre o assunto. Mais tarde, pessoas que continuaram o desenvolvimento da teoria incluem Abraham de Moivre e Pierre-Simon Laplace. Na literatura, Pascal é considerado um dos autores mais importantes do período clássico francês e é lido hoje como um dos maiores mestres da prosa francesa. Seu uso da sátira e do humor influenciou polemistas posteriores. O conteúdo de sua obra literária é mais lembrado por sua forte oposição ao racionalismo de René Descartes e a afirmação simultânea que a principal filosofia de compensação, o empirismo, também era insuficiente para determinar verdades importantes. Na filosofia, a influência de Pascal foi ampla, influenciando grande parte dos filósofos franceses subsequentes. Para além dos franceses, destacamos autores como Friedrich Nietzsche e Søren Kierkegaard, filósofos influenciados por Pascal. Na França, prestigiosos prêmios anuais, são dadas bolsas de investigação científica Blaise Pascal a proeminentes cientistas internacionais para realizar a sua investigação na região de Île de France. Uma das universidades de Clermont-Ferrand, França - Universidade Blaise Pascal - é nomeada em sua homenagem. Publicações. A cronologia exata das obras de Pascal é difícil de estabelecer porque muitos textos não são datados e foram publicados muito depois de terem sido escritos. Algumas não eram conhecidas até um século ou mais após a morte de Pascal, outras chegaram até nós apenas de forma fragmentária ou indireta (as notas ou a correspondência de Leibniz, por exemplo).
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1 000 000 000 000
1 000 000 000 000 O número = 1012, denominado , é o número natural que corresponde à designação de "milhão de milhões". Sua nomenclatura varia conforme seja adotada a escala longa ou a escala curta: embora o termo bilião seja utilizado no português europeu para representar 1012, no português do Brasil, a expressão bilhão corresponde a mil milhões, ou seja, 109. As palavras "billion", "trillion" e "quadrillion" estão atestadas no francês médio. No francês do século XVI cada unidade correspondia a um milhão de vezes a unidade anterior. Em inglês americano, cada unidade corresponde a mil vezes a anterior. Este número aparece na literatura antiga, na forma de "uma miríade de miríades de miríades" nos escritos de Procópio, possivelmente querendo dizer um número tão grande que não pode ser contado, quando Procópio diz que o imperador bizantino Justiniano matou um trilhão de pessoas.
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Bélgica
Bélgica A Bélgica ( ; ; ), oficialmente Reino da Bélgica (em neerlandês: "Koninkrijk België"; em francês: "Royaume de Belgique"; em alemão: "Königreich Belgien"), é um país situado na Europa ocidental. É um dos membros fundadores da União Europeia (UE), inclusive hospedando a sede, bem como as de outras grandes organizações internacionais, como a Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN). A Bélgica tem uma área de quilômetros quadrados e uma população de cerca de 10,7 milhões de habitantes. Ocupando a fronteira cultural entre a Europa germânica e a Europa latina, a Bélgica é basicamente constituída por dois grupos linguísticos: os flamengos, falantes do holandês, e os valões, que falam francês, além de um pequeno grupo de pessoas que falam a língua alemã. As duas maiores regiões da Bélgica são a região de língua holandesa de Flandres, no norte, com 59% da população e a região francófona da Valónia, no sul, habitada por 31% dos belgas. A Região de Bruxelas, oficialmente bilíngue, é um enclave de maioria francófona na região flamenga e tem 10% da população. Uma pequena comunidade de língua alemã existe no leste da Valónia. A diversidade linguística da Bélgica e conflitos políticos e culturais são refletidos na história política e no complexo sistema de governo do país. O nome "Bélgica" é derivado de Gália Belga, uma província romana na parte setentrional da Gália, que era habitada pelos belgas, uma mistura de povos Celtas e Germânicos. Historicamente, Bélgica, Holanda e Luxemburgo eram conhecidos como os Países Baixos, nome utilizado para designar uma área um pouco maior do que o atual grupo de países chamado Benelux. Do final da Idade Média até ao , o país era um próspero centro de comércio e cultura. A partir do até a Revolução Belga em 1830, muitas batalhas entre as potências europeias foram travadas na área da atual Bélgica, fazendo com que o país fosse apelidado de "campo de batalha da Europa", reputação reforçada pelas duas Guerras Mundiais. Após a sua independência, a Bélgica logo participou da Revolução Industrial e, no final do , possuía várias colônias na África. A segunda metade do foi marcada pela ascensão de conflitos comunais entre os flamengos e os valões, alimentados por diferenças culturais e por uma evolução econômica assimétrica entre a Flandres e a Valónia. Estes conflitos, ainda ativos, têm causado profundas reformas do Estado unitário ex-belga para um estado federal. Etimologia. O nome "Bélgica" é derivado de Gália Belga, uma província romana na parte setentrional da Gália, que era habitada pelos belgas, uma mistura de povos Celtas e Germânicos. História. Origem e formação. A Gália Bélgica, uma província do Império Romano na parte setentrional da Gália que, antes de invasão romana em , era habitada pelos belgas, uma mistura de povos celtas e germânicos. A imigração gradual de francos, uma tribo germânica, durante o levou a área ao domínio dos reis merovíngios. Uma mudança gradual de poder durante o levou o reino dos francos a evoluir para o Império Carolíngio. O Tratado de Verdun em 843 dividiu a região na Frância Oriental e Ocidental e, portanto, em um conjunto de feudos mais ou menos independentes que, durante a Idade Média, eram vassalos do rei da França ou do Sacro Imperador Romano-Germânico. Muitos desses feudos estavam unidos nos Países Baixos Borgonheses dos séculos XIV e XV. O imperador Carlos V estendeu a união pessoal das Dezessete Províncias na década de 1540, tornando-se muito mais do que uma união pessoal pela Pragmática Sanção de 1549 e aumento da sua influência sobre o Principado-Bispado de Liège. A Guerra dos Oitenta Anos (1568-1648) dividiu os Países Baixos entre as Províncias Unidas do Norte ("Belgica Foederata" em latim) e dos Países Baixos do Sul ("Belgica Regia"). Os últimos foram sucessivamente governados pelos espanhóis e pelos Habsburgos austríacos e foram os precursores da Bélgica moderna. Este foi o palco das guerras franco-espanhola e franco-austríaca durante os séculos XVII e XVIII. Após as campanhas de 1794 nas guerras revolucionárias francesas, os Países Baixos — incluindo territórios que nunca estiveram nominalmente sob o domínio dos Habsburgos, como o Principado-Bispado de Liège — foram anexados pela Primeira República Francesa, terminando com o domínio austríaco na região. A reunificação dos Países Baixos como Reino Unido dos Países Baixos ocorreu com dissolução do Primeiro Império Francês em 1815, após a derrota de Napoleão. Independência. Em 1830, a Revolução Belga levou à separação das províncias do sul dos Países Baixos e ao estabelecimento de uma Bélgica independente católica, burguesa, francófona e neutra, sob um governo provisório e um congresso nacional. Desde a elevação de Leopoldo I ao cargo de rei em 21 de julho de 1831 (que agora é celebrado como Dia Nacional da Bélgica), o país tem sido uma monarquia constitucional e uma democracia parlamentar, com uma constituição laica baseada no código Napoleônico. Embora o direito ao voto tenha sido inicialmente restrito, o sufrágio universal para os homens foi introduzido após a greve geral de 1893 (com voto plural até 1919) e para as mulheres em 1949. Os principais partidos políticos do foram o Partido Católico e o Partido Liberal, com o Partido do Trabalho da Bélgica emergindo no final do . O francês era originalmente a única língua oficial adotada pela nobreza e burguesia belga. O idioma progressivamente perdeu a sua importância global conforme o neerlandês passou a ser reconhecido também. Esse reconhecimento tornou-se oficial em 1898 e em 1967 uma versão em neerlandês da constituição belga foi legalmente aceita. Século XX. A Conferência de Berlim de 1885 cedeu o controle de todo o Estado Livre do Congo para o rei como sua propriedade privada. Por volta de 1900, houve uma crescente preocupação internacional com o tratamento extremo e selvagem dado à população congolesa durante o domínio de Leopoldo II, para quem o Congo era principalmente uma fonte de receita da produção de marfim e borracha. Em 1908, esse clamor levou o Estado belga a assumir a responsabilidade pelo governo da colônia, que passou a se chamar Congo Belga. O Império Alemão invadiu a Bélgica em 1914 como parte do Plano Schlieffen para atacar a França, sendo que boa parte dos combates na Frente Ocidental da Primeira Guerra Mundial ocorreram na parte ocidental do país. Os meses iniciais da guerra ficaram conhecidos como o "Estupro da Bélgica", devido aos excessos violentos cometidos pelos alemães. A Bélgica assumiu as colônias alemãs de Ruanda-Urundi (os atuais países Ruanda e Burundi) durante a guerra e elas foram mandatadas para a Bélgica em 1924 pela Liga das Nações. Após a Primeira Guerra Mundial, os distritos prussianos de Eupen e Malmedy foram anexados pelos belgas em 1925, fazendo com que a presença de uma minoria de língua alemã se tornasse um fato. O país foi novamente invadido pela Alemanha em 1940 e foi ocupado até a sua libertação pelos Aliados em 1944. Após a Segunda Guerra Mundial, uma greve geral forçou o rei Leopoldo III, que muitos viam como colaborador da Alemanha durante a guerra, a abdicar em 1951. O Congo Belga alcançou a independência em 1960, durante a Crise do Congo; Ruanda-Burundi conquistaram a sua independência dois anos depois. A Bélgica aderiu à Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) como membro fundador e formou o grupo Benelux com os Países Baixos e Luxemburgo. A Bélgica tornou-se um dos seis membros fundadores da Comunidade Europeia do Carvão e do Aço em 1951 e da Comunidade Europeia da Energia Atômica e da Comunidade Econômica Europeia em 1957. Esta última é agora a União Europeia, organização internacional cujas principais administrações e instituições são hospedadas pela Bélgica, como a Comissão Europeia, o Conselho da União Europeia e as sessões extraordinárias e de comissões do Parlamento Europeu. Geografia. A Bélgica tem uma área de km², distribuídos por três regiões físicas principais: a planície costeira (localizada a noroeste), o planalto central e as elevações das Ardenas (situadas a sudeste). A planície costeira consiste principalmente de dunas de areia e polders. Os polders são áreas de terra a uma altitude próxima de ou inferior ao nível do mar, e que foram ganhas ao mar, do qual estão protegidas por diques ou são, mais longe do litoral, campos drenados por meio de canais. A segunda região física, o planalto central, fica mais no interior. É uma área pouco acidentada, cuja altitude sobe lentamente à medida que se afasta do litoral, com muitos vales férteis e irrigada por muitos cursos de água. Também pode-se encontrar aqui algum terreno mais acidentado, incluindo grutas e pequenas gargantas. A terceira região física, as Ardenas, é um pouco mais acidentada que as outras duas. Trata-se de planalto densamente florestado, muito rochoso e não muito adequado para a agricultura, que se estende até ao nordeste da França. É aqui que a maior parte da vida selvagem da Bélgica pode ser encontrada. É nas Ardenas que está situado o ponto mais elevado da Bélgica: o Signal de Botrange, com apenas 694 metros de altura. Os dois principais rios da Bélgica são o Escalda e o Mosa. Esses são fundamentais para tornar prósperas cidades como Tournai, Gante, Antuérpia, Bruges, Liège e Namur. Clima. O clima é oceânico com precipitação significativa em todas as estações (classificação climática de Köppen-Geiger: "Cfb"), como a maioria do noroeste da Europa. A temperatura média é mais baixa em janeiro em 3 °C e mais alta em julho em 18 °C. A precipitação média por mês varia entre 54 mm entre fevereiro e abril, para 78 mm em julho. As médias dos anos de 2000 a 2006 mostram temperaturas mínimas diárias de 7°C e máximas de 14 °C e precipitação mensal de 74 mm; estes estão cerca de 1 °C e quase 10 milímetros acima dos valores normais do século passado, respectivamente. Demografia. No início de 2007 quase 92% da população belga (de 11,35 milhões) era de cidadãos belgas e cerca de 6% era de cidadãos de outros países membros da União Europeia. Os cidadãos estrangeiros foram predominantemente italianos (), franceses (), holandeses (), marroquinos (), espanhóis (), turcos () e alemães (). Idiomas. A Bélgica tem três idiomas oficiais, que estão na ordem da população falante nativa na Bélgica: o neerlandês, francês e alemão. Um certo número de línguas minoritárias não oficiais são faladas também. Como não existe censo, não existem dados estatísticos oficiais sobre a distribuição ou o uso das três línguas oficiais da Bélgica ou de seus dialetos. No entanto, vários critérios, incluindo a língua(s) dos pais, da educação, ou do estatuto de segunda língua de origem estrangeira, podem fornecer valores sugeridos. Uma estimativa de 59% da população belga fala holandês (muitas vezes coloquialmente referido como "flamengo") e o francês é falado por 40% da população. O total de falantes do holandês é de 6,23 milhões, concentrados na região da Flandres no norte, enquanto os falantes de francês compreendem 3,32 milhões na Valônia. A Comunidade de língua alemã é composta de 73 mil pessoas no leste da Região da Valônia, cerca de 10 mil alemães e 60 mil cidadãos belgas são falantes do alemão. Cerca de 23 mil falantes do alemão vivem em municípios próximos a comunidade oficial germanófona. Tanto o Francês Belga quanto o Holandês Belga têm diferenças menores em nuances de vocabulário e semântica das variedades faladas, respectivamente, na Holanda e na França. Muitas pessoas ainda falam dialetos flamengos em seu ambiente local. Dialetos da região da Valônia, juntamente com a língua picarda, não são utilizados na vida pública. Religiões. Desde a independência do país, o catolicismo romano, contrabalançado por fortes movimentos de pensamento livre, teve um papel importante na política da Bélgica. No entanto a Bélgica é, em grande parte, um país secular e, como previsto na constituição, laico com liberdade de religião, e o governo geralmente respeita este direito na prática. Durante o reinado de Alberto I e Balduíno, a monarquia teve o catolicismo profundamente enraizado. Simbólica e materialmente, a Igreja Católica permanece em posição favorável. Em janeiro de 2001, surgiu uma nova entidade, cuja natureza jurídica na qual foi constituída, traz em seu próprio nome a sua finalidade: zelar por “Direitos Humanos Sem Fronteiras Internacionais” e, sediada em Bruxelas, participa conceitualmente promovendo o reconhecimento das religiões ou das "religiões reconhecidas", definindo caminhos para a religião islã adquirir tratamento equivalente ao conferido às religiões judaica e protestante. A religião hindú, ainda minoritária segue na busca desse estatuto. A religião budista deu os primeiros passos em direção ao reconhecimento legal em 2007. De acordo com a pesquisa "2001 Survey and Study of Religion", 47% da população se identificou como pertencente à Igreja Católica, enquanto que o Islã é a segunda maior religião, com 3,5%. Uma pesquisa de 2006 considerou a região dos Flandres mais religiosa do que a Valônia, sendo que 55% dos entrevistados se consideravam religiosos e 36% acreditavam que Deus criou o mundo. Segundo pesquisa do Eurobarômetro, em 2005, 43% dos cidadãos belgas responderam que "acreditam que existe um Deus", enquanto 29% responderam que "acreditam que existe algum tipo de espírito ou força vital" e 27% disseram que "não acreditam que haja algum tipo de espírito, Deus ou força vital". Uma estimativa de 2008 mostrou que 6% da população belga, cerca de pessoas, é muçulmana (98% sunitas). Os muçulmanos constituem 25,5% da população de Bruxelas, 4,0% dos habitantes da Valônia e 3,9% dos Flandres. A maioria dos muçulmanos belgas vivem nas grandes cidades, como Antuérpia, Bruxelas e Charleroi. Os marroquinos são o maior grupo de imigrantes na Bélgica, com pessoas. Os turcos são o terceiro maior grupo e o segundo maior grupo étnico muçulmano, com pessoas. Além disso, cerca de 10 mil sikhs também estão presentes na Bélgica. Urbanização. Quase toda a população belga é urbana, 97% em 2004. A densidade populacional da Bélgica é de 342 habitantes por quilômetro quadrado, uma das mais elevadas da Europa, após a dos Países Baixos e alguns microestados, como Mônaco. A área mais densamente habitada é o "Diamante Flamengo", delineado pelas aglomerações de Antuérpia-Lovaina-Bruxelas-Gent. As Ardenas têm a menor densidade. Em 2006, a região flamenga tinha uma população de cerca de , com Antuérpia (), Ghent () e Bruges () suas cidades mais populosas; Valônia tinha , com Charleroi (), Liège () e Namur () suas cidades mais populosas. Bruxelas tem habitantes em 19 comunas, duas das quais têm mais de 100 mil habitantes. Política. Governo. A Bélgica é uma monarquia constitucional, popular e uma democracia parlamentar. O parlamento bicameral federal é composto de um senado e uma câmara dos deputados. O primeiro é composto por 40 políticos eleitos diretamente e 21 representantes designados pelos parlamentos das 3 Comunidades, 10 senadores cooptados e os filhos do rei, como senadores por direito. Os 150 deputados da câmara são eleitos por um sistema de votação proporcional em 11 circunscrições eleitorais. A Bélgica é um dos poucos países que tem o voto compulsório e, portanto, detém um dos maiores índices de comparecimento às urnas em todo o mundo. O rei (atualmente Filipe I) é o chefe de estado, embora dispondo de prerrogativas limitadas. Ele nomeia os ministros, incluindo o primeiro-ministro, que têm a confiança da câmara dos deputados para formar o governo federal. O número de ministros de falantes do holandês e do francês são iguais, conforme prescrito pela constituição. O sistema judicial é baseado no sistema romano-germânico e tem origem no Código Napoleônico. Relações internacionais. Os belgas têm sido fortes defensores da integração europeia e a maioria dos aspectos das suas políticas externa, económica e comercial são coordenados através da União Europeia (UE). A união aduaneira da Bélgica no pós-guerra com os Países Baixos e Luxemburgo abriu o caminho para a formação da Comunidade Europeia (precursora da UE), da qual a Bélgica foi membro fundador. Bruxelas é considerada a "capital" "de facto" da UE, com uma longa história de acolhimento de várias das principais instituições da UE, como as sedes oficiais da Comissão Europeia, do Conselho da União Europeia e do Conselho Europeu, bem como uma das sedes do Parlamento Europeu. Em 2013, esta presença gerou cerca de 250 milhões de euros (8,3% do PIB regional) e 121 mil empregos (16,7% do emprego regional). Forças armadas. As forças armadas belgas possuem soldados. Em 2010, o país tinha um orçamento de (1,12% do PIB). O comando de suas forças é unificado, sendo subordinado ao ministro da defesa e ao chefe de defesa. Invadido pela Alemanha nas duas guerras mundiais, o país, para melhorar sua defesa, firmou pactos de cooperação com seus vizinhos europeus. Em 1948, por exemplo, a nação assinou o Tratado de Bruxelas e entrou então para a Organização do Tratado do Atlântico Norte. Assim como outros países da Europa, a Bélgica nos últimos anos tem adotado uma política de reduzir seu efetivo das forças armadas, assim como a quantidade de equipamentos, como parte de um programa de redução de gastos governamentais. Subdivisões. A Bélgica está subdividida em duas regiões, cada uma com cinco províncias, e uma terceira região, a Região de Bruxelas-Capital contendo a capital Bruxelas. Há ainda a divisão em comunidades linguísticas (neerlandesa, com instituições coincidentes com as da "região" flamenga; francesa, "não" se confundindo com a Valónia, e germanófona, no extremo leste dessa região). Aqui se encontram listadas por região, com as suas capitais: Divisão linguística. A Bélgica é um país heterogêneo dividido em três línguas: Essa divisão linguística causa conflitos na Bélgica; em Flandres há atualmente um número importante de pessoas querendo se separar da Valónia, não só por motivos de diferença linguística, mas também por causa de incompatibilidade económica. Alguns querem um federalismo muito avançado, outros a independência e ainda outros querem se unir aos Países Baixos (Holanda). Economia. A economia fortemente globalizada da Bélgica e sua infraestrutura de transporte são integradas com o resto da Europa. A sua localização no coração de uma região altamente industrializada ajudou a torná-la a 15ª maior nação comercial do mundo em 2007. A economia é caracterizada por uma força de trabalho altamente produtiva, um PNB alto e por exportações "per capita" mais elevadas. Os principais produtos importados pela Bélgica são alimentos, maquinaria, diamantes, petróleo e derivados, químicos, vestuário e têxteis. Os principais produtos belgas exportados são automóveis, produtos alimentícios, ferro e aço, diamantes lapidados, têxteis, plásticos, produtos de petróleo e de metais não ferrosos. A economia da Bélgica está fortemente orientada para os serviços e mostra uma dupla natureza: a região flamenga tem uma economia dinâmica e a Valônia tem uma economia menos desenvolvida. Um dos membros fundadores da União Europeia, a Bélgica apoia fortemente uma economia aberta e o alargamento das competências das instituições da UE para integrar as economias dos membros do bloco. Desde 1922, através da União Econômica Belgo-Luxemburguesa, Bélgica e Luxemburgo têm sido um mercado único de comércio com a união aduaneira e monetária. A Bélgica foi o primeiro país continental europeu a entrar na Revolução Industrial, no início do . Liège e Charleroi desenvolveram rapidamente a mineração e a siderurgia, que floresceram até meados do no vale do Sambre-Mosa, o "sillon industriel" (), fizeram da Bélgica uma das três maiores nações mais industrializadas do mundo entre 1830-1910. No entanto, por volta de 1840, a indústria têxtil da Flandres entrou em grave crise e a região passou fome entre 1846-1850. Após a Segunda Guerra Mundial, Gante e Antuérpia experimentaram uma rápida expansão das indústrias química e petrolífera. As crises do petróleo de 1973 e 1979 levaram a economia do país e entrar em um processo de recessão; foi particularmente prolongado na Valônia, onde a indústria do aço tinha se tornado menos competitiva e experimentou um forte declínio. Nas décadas de 1980 e 1990, o centro econômico do país continuou em deslocamento para o norte e, agora, está concentrado na área populosa chamada "Diamante Flamengo". Até o final da década de 1980, as políticas macroeconômicas belga resultaram em uma dívida acumulada de cerca de 120% do PIB. Em 2006, o orçamento foi equilibrado e a dívida pública foi equivalente a 90,30% do PIB. Em 2005 e 2006, as taxas de crescimento real do PIB foram de 1,5% e 3,0%, respectivamente, ligeiramente acima da média para a zona Euro. As taxas de desemprego de 8,4% em 2005 e 8,2% em 2006 também estavam perto da média da área. Infraestrutura. Saúde. Os belgas gozam de boa saúde. De acordo com as estimativas de 2012, a expectativa de vida média é de 79,65 anos. Desde 1960, a expectativa de vida, em linha com a média europeia, cresce dois meses por ano. A morte na Bélgica se deve principalmente a distúrbios cardíacos e vasculares, neoplasias, distúrbios do sistema respiratório e causas não naturais de morte (acidentes, suicídio). Causas não naturais de morte e câncer são as causas mais comuns de morte para as mulheres de até 24 anos e homens até 44 anos de idade. Os cuidados de saúde na Bélgica são financiados através de contribuições para a segurança social e tributação. O seguro de saúde é obrigatório. Os cuidados de saúde são prestados por um sistema público e privado misto de médicos independentes e hospitais públicos, universitários e semiprivados. O serviço de saúde é pago pelo paciente e reembolsado posteriormente pelas instituições de seguro de saúde, mas existem categorias inelegíveis (de pacientes e serviços), os chamados sistemas de pagamento de terceiros. O sistema de saúde belga é supervisionado e financiado pelo governo federal, pelos governos regionais da Flandres e da Valônia; e a Comunidade alemã também possui supervisão e responsabilidades (indiretas). Educação. A educação é obrigatória dos 6 aos 18 anos de idade para os belgas. Entre os países da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) em 2002, a Bélgica tinha a terceira maior proporção de jovens de 18 a 21 anos matriculados na educação pós-secundária (42%). Embora cerca de 99% da população adulta seja alfabetizada, é crescente a preocupação com o analfabetismo funcional. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos (PISA), coordenado pela OCDE, atualmente classifica a educação da Bélgica como a 19ª melhor do mundo, sendo significativamente superior à média da OCDE. A comunidade flamenga pontua visivelmente acima das comunidades francesa e alemã. Espelhando a estrutura dual da paisagem política belga do , caracterizada pelos partidos Liberal e Católico, o sistema educacional é segregado em um segmento secular e um segmento religioso. O ramo escolar secular é controlado pelas comunidades, as províncias ou os municípios, enquanto o ensino religioso, principalmente o ramo católico, é organizado pelas autoridades religiosas, embora subsidiado e supervisionado pelas comunidades. Energia. Em 2021, a Bélgica tinha, em energia elétrica renovável instalada, em energia hidroelétrica, em energia eólica (19º maior do mundo), em energia solar (19º maior do mundo), e em biomassa. Cultura. Apesar de suas divisões políticas e linguísticas, a região correspondente à Bélgica atual tem visto o florescimento de grandes movimentos artísticos que tiveram enorme influência sobre a arte e a cultura europeia. Hoje em dia, até certo ponto, a vida cultural está concentrada dentro de cada região linguística do país e uma variedade de barreiras fizeram uma esfera cultural compartilhada entre as duas partes menos pronunciada. Desde 1970, não há universidades ou faculdades bilíngues no país, exceto a Academia Real Militar e do Academia Marítima da Antuérpia. Não há uma organização midiática ou grande organização cultural ou científica que represente as duas comunidades principais do país. Culinária. Muitos restaurantes belgas altamente renomados podem ser encontrados nos mais influentes guias de restaurantes, como o Guia Michelin. A Bélgica é famosa pela cerveja, chocolate, waffles e batatas fritas com maionese. As batatas fritas originaram-se na Bélgica, embora seu exato lugar de origem ainda seja incerto. Os pratos nacionais são "bife e batatas fritas com salada" e "mexilhões com batatas fritas". Marcas de chocolate e bombons belgas, como Côte d'Or, Neuhaus, Leonidas e Godiva são famosas, assim como seus produtores independentes, como Burie e Del Rey, na Antuérpia, e de Mary's, em Bruxelas. A Bélgica também produz mais de 1100 variedades de cerveja. A cerveja trapista "Westvleteren Brewery" tem sido repetidamente classificada como a melhor cerveja do mundo. A maior cervejaria do planeta em volume de produção é a Anheuser-Busch InBev, sediada em Lovaina. Esportes. Desde os anos 1970, clubes e federações esportivas são organizadas separadamente dentro de cada comunidade linguística do país. O futebol é um dos esportes mais populares em ambas as partes da Bélgica, juntamente com o ciclismo, tênis, natação e judô. Os belgas mantêm o maior número de vitórias no "Tour de France" do que qualquer outro país, com exceção da França. Eles também têm o maior número de vitórias no Campeonato Mundial de Ciclismo de Estrada da UCI. Philippe Gilbert é o campeão mundial de 2012. Outro bem conhecido ciclista belga Tom Boonen. Jean-Marie Pfaff, um ex-goleiro belga, é considerado um dos maiores jogadores da história do futebol. A Bélgica e os Países Baixos já sediaram o Campeonato Europeu de Futebol de 2000 e a Bélgica sediou o Campeonato Europeu de Futebol de 1972.
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Bebida alcoólica
Bebida alcoólica As bebidas alcoólicas são bebidas que contêm etanol em sua composição, produzido pela fermentação alcoólica de açúcares contidos em frutas, grãos ou caules como a cana-de-açúcar. Na maior parte dos países trata-se de uma droga lícita, muito embora seja uma droga psicoativa do tipo depressora e haja restrições para seu consumo em diversos níveis, especialmente no que tange a idade legal para seu consumo. O consumo excessivo de bebidas alcoólicas leva à embriaguez e à ressaca, podendo levar ainda o indivíduo a desenvolver doenças como o alcoolismo, cirrose hepática e mais de 10 tipos distintos de câncer. Apesar dos malefícios causados à saúde humana e das milhares de mortes que o álcool causa no trânsito, muitos países ainda permitem a publicidade de bebidas alcoólicas e o álcool é costumeiramente celebrado por jovens e pela música. Pessoas que não ingerem bebidas alcoólicas são chamadas de abstêmios. História do consumo. No Antigo Egito e na Babilônia foram encontrados relatos de sua utilização, datados de 6 000 anos atrás. Foram os árabes que incluíram a destilação, aumentando assim a eficácia das bebidas, na Idade Média. No entanto, existe uma grande diversidade de atitudes diante das bebidas alcoólicas. Se, para alguns, as bebidas alcoólicas fazem parte do dia a dia e das principais comemorações (além de constituírem importante fonte de renda e de impostos), para outros, notadamente as civilizações que seguem a religião islâmica, as bebidas alcoólicas são estritamente proibidas. Efeitos do álcool. Foi comprovado que o consumo não moderado de álcool está associado a um maior risco de doença de Alzheimer e outras doenças senis, angina de peito, fraturas e osteoporose, diabetes, úlcera duodenal, cálculo biliar, hepatite A, linfomas, pedras nos rins, Transtorno Bipolar, síndrome metabólica, câncer no pâncreas, doença de Parkinson, artrite reumática e gastrite. O consumo não moderado também pode dificultar a memória e o aprendizado, e até piora a pontuação em testes de QI. Todavia, um estudo sobre vinhos publicado na American Journal of Clinical Nutrition descobriu que vinhos sem álcool possuem os mesmos benefícios do vinho comum, e que o álcool pode reduzir os benefícios. Acredita-se que sejam os flavonoides presentes no vinho da uva que protegem contra doenças do coração e alguns tipos de câncer. Porém, um estudo recente veio demonstrar que o consumo de álcool é culpado por mais casos de cancro do que se julgaria. Segundo o estudo, mais de casos de câncer da mama e quase casos de câncer da boca estariam relacionados com o hábito do consumo de álcool na Austrália. Propriedades. O teor alcoólico ou gradação alcoólica expressa a percentagem de álcool em um líquido. Em relação a bebidas alcoólicas este percentual é expresso em teor volumétrico medido com o densímetro. A maior ou menor dose calórica das bebidas está associada à quantidade de álcool e de açúcares por ml. Entretanto, quem se preocupa com as calorias não deve se orientar somente pela relação kcal/ml, mas sim pela quantidade de doses que consome. Por exemplo, beber cerveja pode levar ao maior consumo de calorias do que ingerir vodka, visto que comumente consumimos maiores doses de cerveja e geralmente em maior quantidade. Por outro lado, pesquisas indicam que o efeito térmico da digestão do álcool é notadamente mais elevado que o de outros macronutrientes, permitindo a ingestão controlada de bebidas alcoólicas mesmo em dietas de perda de peso e/ou ganho muscular. Consumo Moderado de Álcool. "Consumo moderado de álcool" é o termo usado para se referir ao uso de bebidas alcoólicas que não ultrapassa o limite estabelecido. Também são usados os termos consumo responsável e consumo inteligente. No entanto, não existe um padrão único adotado no mundo. Cada país segue parâmetros diferentes. Segundo o instituto norte-americano NIAAA (National Institute on Alcohol Abuse and Alcoholism), o consumo moderado tem limites diferentes para homens, mulheres e idosos. Já para a OPAS (Organização Pan-Americana da Saúde), o padrão é de, no máximo, 20g de álcool por dia. Uma latinha de cerveja com 350ml tem, por exemplo, 14g de álcool. Assim como uma dose de destilado com 45ml e uma taça de vinho com 150ml de bebida. Se o consumo de bebida alcoólica ultrapassar o limite estabelecido, pode trazer consequências nocivas como comportamento violento, no curto prazo, e consumo abusivo e dependência de bebida alcoólica, no longo prazo. Álcool na mídia. O mercado publicitário da indústria do álcool é um dos mais rentáveis do mercado brasileiro, movimentando segundo análise de 2008 cerca de 1 bilhão de Reais/ano, mas no entanto fazendo com que cada vez mais adolescentes busquem auxílio para se manterem longe da bebida. Os aspectos nocivos do álcool incitam debates sobre a publicidade do setor, que hoje possui regras cada vez mais rígidas. Mas, apesar disso, inúmeras celebridades figuram em anúncios de bebidas alcoólicas num mercado extremamente competitivo.
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Brasil Colônia
Brasil Colônia Brasil Colônia, ou Brasil colonial, refere-se o atual território brasileiro, mas entre o século XVI e o início do XIX, quando abrigava colônias do Reino de Portugal, fazendo parte de um conceito mais amplo: a América Portuguesa. Antes de 1500 — ano da chegada de europeus —, o território era habitado por indígenas de diversas etnias. Brasil Colônia/Colonial não remete a uma entidade única, ao atual país, mas é termologia anacrônica, categoria de análise historiográfica baseadas no Estado do Brasil, referindo-se às colônias na América Portuguesa que passaram a integrar, em 1815, o Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Variações geográficas ocorreram ao longo de seus quase três séculos de existência, como a existência do Estado do Maranhão, criado em 1621 a partir da repartição norte das possessões portuguesas na América do Sul, que foi, em 1755, incorporado ao Estado do Brasil. A grandeza do atual território brasileiro, construída desde o período colonial, foi resultado da interiorização da metrópole colonial portuguesa no território sul-americano, especialmente após o descobrimento de ouro nos sertões. A economia deste espaço geográfico foi caracterizada no período da colonização pelo tripé monocultura, latifúndio e mão de obra escrava, e, apesar das grandes diferenças regionais, manteve-se, no período colonial, a unidade linguística, tendo se formado, nessa época, o povo brasileiro, junção e miscigenação de europeus, africanos e indígenas do Brasil, formando uma cultura autóctone característica. História. A chegada dos europeus na América (1492) e o Tratado de Tordesilhas (1494) consolidaram o domínio espanhol no Atlântico Norte e restava a Portugal explorar o Atlântico Sul (além da costa africana) e encontrar o caminho para as Índias pelo sul do Bojador. A viagem de Cabral às Índias de 1500 — depois do retorno de Vasco da Gama — tinha a missão de consolidar o domínio português naquela região e os contatos comerciais iniciados por Vasco da Gama em Calecute. Como escreve Charles Ralph Boxer (2002, p. 98-100): Em oposição a este pressuposto há historiadores que defendem a hipótese de que os conhecimentos de Martin Behaim teriam sido decisivos para salvaguardar a "Terra Firma" (os territórios do Brasil) das ambições espanholas, delineando uma estratégia astuciosa de despiste a fim de os dissuadir de tal pretensão: abrindo-lhes as portas à exploração na América do Sul de espaços de menor interesse do Estado ("ver: Colonização de exploração"). Estavam cientes de que os territórios do Brasil eram bem mais frutuosos. O negócio da tal madeira vermelha não era, nem de perto nem de longe, o que maior interesse tinha. De 1500 a 1530, o contato dos portugueses com o Brasil pareceu limitar-se a expedições rápidas para coleta e transporte de pau-brasil e também de patrulha. Já devia ter ocorrido, no entanto, algumas tentativas de colonização, pois em 15 de julho de 1526 o rei D. Manuel I autorizou Pero Capico, "capitão de uma capitania do Brasil", a regressar a Portugal porque "lhe era acabado o tempo de sua capitania". A Capico, que era técnico de administração colonial, tinha sido confiada a Feitoria de Itamaracá, no atual estado de Pernambuco. Em 1531, devido à ameaça francesa, o rei Dom João III designou o fidalgo Martim Afonso de Sousa para comandar uma expedição ao Brasil. No ano seguinte, é fundada a vila de São Vicente. Também em 1532, Bertrand d'Ornesan, o barão de Saint Blanchard, tentou estabelecer um posto de comércio em Pernambuco. Com o navio "A Peregrina", pertencente ao nobre francês, o capitão Jean Duperet tomou a Feitoria de Igarassu e a fortificou com vários canhões, deixando-a sob o comando de um certo senhor de La Motte. Meses depois, na costa da Andaluzia na Espanha, os portugueses capturaram a embarcação francesa, que estava atulhada com 15 mil toras de pau-brasil, três mil peles de onça, 600 papagaios e 1,8 tonelada de algodão, além de óleos medicinais, pimenta, sementes de algodão e amostras minerais. E no exato instante em que "A Peregrina" era apreendida no mar Mediterrâneo, o capitão português Pero Lopes de Sousa combatia os franceses em Pernambuco. Retomada a feitoria, os soldados franceses foram presos e La Motte foi enforcado. Após ser informado da missão que "A Peregrina" realizara em Pernambuco, Dom João III decidiu começar a colonização do Brasil, dividindo o seu território em capitanias hereditárias. Descobrimento e exploração. O litoral norte brasileiro foi visitado por Vicente Yáñez Pinzón e Diego de Lepe em janeiro e fevereiro do ano de 1500, respectivamente. Segundo algumas fontes, Pinzón, teria sido o primeiro europeu a chegar ao território agora chamado Brasil, atingindo o Cabo de Santo Agostinho no litoral de Pernambuco em 26 de janeiro de 1500. Apesar das controvérsias acerca dos locais exatos de desembarque dos navegadores espanhóis, os seus contatos com os índios potiguares foram violentos. Contudo, a navegação de navios espanhóis ao longo da costa americana não produziu consequências. A chegada de Pinzón pode ser vista como um simples incidente da expansão marítima espanhola. A terra de Vera Cruz, que hoje corresponde ao Brasil, foi reivindicada pelo Império Português em 22 de abril de 1500, com a chegada da frota portuguesa comandada por Pedro Álvares Cabral a Porto Seguro. A primeira expedição com objetivo exclusivo de explorar o território localizado por Cabral foi a frota de três caravelas comandadas por Gonçalo Coelho, que zarpou de Lisboa em 10 de maio de 1501, levando a bordo Américo Vespúcio (possivelmente por indicação do banqueiro florentino Bartolomeu Marchionni), autor do único relato conhecido dessa viagem e que até poucas semanas antes servia os Reis Católicos da Espanha. Legado do período. Indiretamente, a concorrência entre franceses e portugueses deixou marcas na costa brasileira. Foram construídas fortificações por ambas as facções nos trechos mais ricos e proveitosos para servir de proteção em caso de ataque e para armazenamento do pau-brasil à espera do embarque. As fortificações não duravam muito, apenas alguns meses, o necessário para que se juntasse a madeira e embarcasse. Obrigados a trabalhar como escravos até a morte, os nômades eram feitos reféns de suas próprias armas. A exploração do pau-brasil era uma atividade que tinha necessariamente de ser nômade, pois a floresta era explorada intensivamente e rapidamente se esgotava, não dando origem a nenhum núcleo de povoamento regular e estável. O ciclo do pau-brasil foi o primeiro ciclo econômico do país. E foram justamente a instabilidade e a insegurança do domínio português sobre o atual Brasil que estiveram na origem direta da expedição de Martim Afonso de Sousa, nobre militar lusitano, e a posterior cessão dos direitos régios a doze donatários, sob o sistema das capitanias hereditárias. As capitanias. A colonização européia foi efetivamente iniciada em 1534, quando D. João III dividiu o território em quatorze capitanias hereditárias, doadas a doze donatários, que podiam explorar os recursos da terra, mas ficavam encarregados de povoar, proteger e estabelecer o cultivo da cana-de-açúcar — os direitos e deveres dos capitães-donatários eram regulamentados pelas cartas de foral, servindo o Foral da Capitania de Pernambuco (ou Nova Lusitânia) de modelo aos forais das demais capitanias. No entanto esse arranjo se mostrou problemático, uma vez que apenas as capitanias de Pernambuco e São Vicente prosperaram e entre 1534 e 1536 ocorreu o primeiro conflito entre portugueses e espanhóis na América Latina, a Guerra de Iguape. Então, em 1549 o rei atribuiu um governador-geral para administrar toda a América Portuguesa. Os portugueses assimilaram algumas das tribos nativas, enquanto outras foram escravizadas ou exterminadas por doenças europeias para as quais não tinham imunidade, ou em longas guerras travadas nos dois primeiros séculos de colonização, entre os grupos indígenas rivais e seus aliados europeus. O açúcar era um produto de grande aceitação na Europa, onde alcançava grande valor de venda. Após as experiências positivas de cultivo na atual região Nordeste, com a cana adaptando-se bem ao clima e ao solo, teve início o plantio em larga escala. Seria uma forma de Portugal lucrar com o comércio, além de começar o povoamento de sua colônia americana. Em meados do século XVI, quando o açúcar de cana tornou-se o mais importante produto de exportação da colônia, os portugueses deram início à importação de escravos africanos, comprados nos mercados escravistas da África ocidental e trazidos, inicialmente, para lidar com a crescente demanda internacional do produto, durante o chamado ciclo do açúcar. No início do século XVII, Pernambuco, então a mais próspera das capitanias, era a maior e mais rica área de produção de açúcar do mundo. Corsários e piratas. A costa brasileira, sem marca de presença portuguesa além de uma ou outra feitoria abandonada, era terra aberta para os navios do corso (os corsários) de nações não contempladas na divisão do mundo no Tratado de Tordesilhas. Há notícias de corsários holandeses e ingleses, mas foram os franceses os mais ativos na costa brasileira. Para tentar evitar estes ataques, Portugal organizou e enviou ao atual Brasil as chamadas "expedições guarda-costas", em 1516 e 1526, com poucos resultados. De qualquer forma, os franceses se incomodaram com as expedições de Cristóvão Jacques, encarregado das expedições guarda-costas, achando-se prejudicados; e sem que suas reclamações fossem atendidas, Francisco I (1515-1547), então Rei da França, deu a Jean Ango, um corsário, uma "carta de marca" que o autorizava a atacar navios portugueses para se indenizar dos prejuízos sofridos. Isso fez com que D. João III, rei de Portugal, enviasse a Paris António de Ataíde, o conselheiro de estado, para obter a revogação da carta, o que foi feito, segundo muitos autores, à custa de presentes e subornos. Logo recomeçaram as expedições francesas. O rei francês, em guerra contra o imperador Carlos V, do Sacro Império Romano-Germânico podia moderar os súditos, pois sua burguesia tinha interesses no comércio clandestino e porque o governo dele se beneficiava indiretamente, já que os bens apreendidos pelos corsários eram vendidos por conta da Coroa. As boas relações continuariam entre França e Portugal, e da missão de Rui Fernandes em 1535 resultou a criação de um tribunal de presas franco-português na cidade de Baiona, embora de curta duração, suspenso pelas divergências nele verificadas. Henrique II, rei da França (filho de Francisco I), iria proibir em 1543 expedições a domínios de Portugal. Até que se deixassem outra vez tentar e tenham pensado numa França Antártica, uma efêmera colônia estabelecida no Rio de Janeiro, ou numa França Equinocial, quando fundaram no Maranhão o povoado que deu origem à cidade de São Luís. Expansão territorial e invasões estrangeiras. Ignorando o Tratado de Tordesilhas de 1494, os portugueses, através de expedições conhecidas como bandeiras, paulatinamente avançaram sua fronteira colonial na "América do Sul" para onde se situa a maior parte das atuais fronteiras brasileiras, tendo passado os séculos XVI e XVII defendendo tais conquistas contra potências rivais europeias. Desse período destacam-se os conflitos que rechaçaram as incursões coloniais francesas (no Rio de Janeiro em 1567 e no Maranhão em 1615) e expulsaram os holandeses do nordeste (Nova Holanda), sendo o conflito com os holandeses parte integrante da Guerra Luso-Holandesa. As invasões francesas do Brasil registram-se desde os primeiros tempos da colonização portuguesa, chegando até ao ocaso do século XIX. Inicialmente dentro da contestação de Francisco I de França ao Tratado de Tordesilhas, ao arguir o paradeiro do "testamento de Adão" e incentivar a prática do corso para o escambo do pau-brasil ("Cæsalpinia echinata"), ainda no século XVI evoluiu para o apoio às tentativas de colonização no litoral do Rio de Janeiro (1555) e na costa do Maranhão (1594). Entre os anos de 1630 e 1654, o Nordeste brasileiro foi alvo de ataques e fixação de neerlandeses. Interessados no comércio de açúcar, os neerlandeses implantaram um governo no território. Sob o comando de Maurício de Nassau, permaneceram lá até serem expulsos em 1654, pela Insurreição Pernambucana. Nassau desenvolveu diversas obras em Pernambuco, modernizando o território. Durante o seu governo, Recife foi a mais cosmopolita cidade de toda a América. Revoltas coloniais e conflitos. Em função da exploração exagerada da metrópole, ocorreram várias revoltas e conflitos neste período: Administração colonial. Prevendo a possível invasão do território por potências rivais, a Coroa portuguesa inicia no Brasil um método administrativo já utilizado no Arquipélago da Madeira: a capitania. A instalação das primeiras capitanias no litoral brasileiro traz consigo uma consequência trágica: os conflitos com os indígenas do litoral que, se até então foram aliados de trabalho, neste momento passam a ser um entrave, uma vez que disputavam com os recém-chegados o acesso às melhores terras. Destes conflitos entre portugueses e ameríndios o saldo é a mortandade indígena causada por confrontos armados ou por epidemias diversas. Em 1548, após a tentativa fracassada de estabelecer as capitanias hereditárias, a coroa portuguesa estabeleceu em suas possessões coloniais na América um Governo-Geral como forma de centralizar a administração, tendo mais controle da colônia. O primeiro governador-geral foi Tomé de Sousa, que recebeu a missão de combater os indígenas rebeldes, aumentar a produção agrícola na colônia, defender o território e procurar jazidas de ouro e prata. Também começavam a existir câmaras municipais, órgãos políticos compostos pelos "homens bons". Estes eram os ricos proprietários que definiam os rumos políticos das vilas e cidades. O povo não podia participar da vida pública nesta fase. As instituições municipais eram compostas por um alcaide que tinha funções administrativas e judiciais, juízes ordinários, vereadores, almotacés e os "homens bons". As juntas do povo decidiam sobre diversos assuntos da Capitania. Salvador, fundada em 1549, foi a primeira sede do Estado do Brasil, situada na entrada da Baía de Todos-os-Santos, uma região bastante acidentada do litoral. A escolha do local teve como objetivo criar uma administração centralizada para o estado colonial português, em um ponto mais ou menos equidistante das extremidades do território e com favoráveis condições de assentamento e defesa; e teve também relação com a economia açucareira, uma vez que a Capitania de Pernambuco era o principal centro produtivo da colônia. Em 1572, foi criado a unidade administrativa Governo do Norte com capital em Salvador, durante o reinado de Dom Manuel (União Ibérica/Dinastia Filipina), sendo extinto em 1577, cessando o sistema dual, ficando o Rio de Janeiro novamente subordinado a Bahia. Foi então nomeado governador-geral e uno Lourenço da Veiga. Na época de 1615, o fidalgo Alexandre de Moura, inicia a proteção e colonização da região amazônica, realizando a conquista da foz do rio Amazonas, batizando a região indígena do extremo-norte chamada Mairi (moradia dos indígenas Tupinambás e Pacajás sob comando do cacique "Guaimiaba") no território colonial português "Conquista do Pará" ou " Império das Amazonas" (1615–1621), localizado na então Capitania do Maranhão (1534-1621). Em 1616, na tentativa de assegurar o domínio na Amazônia Oriental e proteger a região das incursões de holandeses e ingleses em busca de especiarias (como as drogas do sertão), os portugueses através da expedição militar "Feliz Lusitânia", comandada por capitão Francisco Caldeira Castelo Branco, fundaram próximo ao igarapé do Piry (ou Bixios do Pirizal) em 12 de janeiro de 1616 (a mando do rei da União Ibérica/Dinastia Filipina Dom Manuel I) o fortim em madeira chamado Forte do Presépio e a capela da padroeira Nossa Senhora de Belém ou Santa Maria de Belém, iniciando o povoado colonial homônimo à expedição militar (atual cidade paraense de Belém), próximo ao entreposto comercial do cacicado marajoara). A partir de 1577 Salvador voltou a ser capital geral colonial por mais de dois séculos, porém, durante a primeira das Invasões holandesas no Brasil, o então Governador de Pernambuco Matias de Albuquerque foi nomeado Governador-Geral do Estado do Brasil, administrando a colônia a partir de Olinda entre 1624 e 1625. Em 1763, a sede do governo colonial foi transferida de Salvador para o Rio de Janeiro. Ressalte-se que, com a ascensão de outras regiões econômicas, outros estados coloniais foram criados, como o Estado do Maranhão e Piauí e o Estado do Grão-Pará e Rio Negro, com capitais respectivamente em São Luís e Belém. Desta forma, administrativamente, o território colonial português no atual Brasil dispôs de cinco sedes até 1775: Salvador, Olinda e Rio de Janeiro no Estado do Brasil; São Luís no Estado do Maranhão e Piauí; e Belém no Estado do Grão-Pará e Rio Negro. Evolução territorial do Brasil no período colonial Economia. Ciclo do açúcar. A base da economia colonial era o engenho de açúcar. O senhor de engenho era um fazendeiro proprietário da unidade de produção de açúcar. Utilizava a mão de obra africana escrava e tinha como objetivo principal a venda do açúcar para o mercado europeu. Além do açúcar, destacou-se, também, a produção de tabaco e de algodão. As plantações ocorriam no sistema de "plantation", ou seja, eram grandes fazendas produtoras de um único produto, utilizando mão de obra escrava e visando o comércio exterior. O Brasil se tornou o maior produtor mundial de açúcar nos séculos XVI e XVII. As principais regiões açucareiras eram Pernambuco, Bahia e São Vicente (São Paulo). O Pacto Colonial imposto pelo Reino de Portugal estabelecia que os estados coloniais localizados no atual Brasil só podiam fazer comércio com a metrópole, não devendo concorrer com produtos produzidos lá. Logo, o Brasil não podia produzir nada que a metrópole produzisse. O monopólio comercial foi, de certa forma, imposto pelo governo da Inglaterra a Portugal, com o objetivo de garantir mercado aos comerciantes ingleses. A Inglaterra havia feito uma aliança com Portugal, oferecendo apoio militar em meio a guerra pela sucessão da Coroa Espanhola e ajuda diplomática a Portugal e em troca os portugueses abriram seus portos a manufaturas britânicas, já que Portugal não tinha grandes indústrias. Nessa época, Portugal e suas colônias, inclusive o Brasil, foram abastecidas com tais produtos. Portugal se beneficiava do monopólio, mas o país era dependente comercialmente da Inglaterra. O Tratado de Methuen foi uma das alianças luso-britânicas. A colônia vendia metais, produtos tropicais e subtropicais a preços baixos, estabelecidos pela metrópole, e comprava dela produtos manufaturados e escravos a preços bem mais altos, garantindo assim o lucro de Portugal em qualquer das transações. Ciclo do ouro. Foram os bandeirantes os responsáveis pela ampliação do atual território brasileiro além do tratado de Tordesilhas. Os bandeirantes penetravam além da linha fronteiriça imposta pelo tratado, procurando índios para aprisionar e jazidas de ouro e diamantes. Foram os bandeirantes que encontraram as primeiras minas de ouro nas regiões dos atuais estados de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso. Ao final do século XVII, as exportações de açúcar brasileiro começaram a declinar, mas a descoberta de ouro pelos bandeirantes na década de 1690, abriu um novo ciclo para a economia extrativista da colônia, promovendo uma febre do ouro no Brasil, que atraiu milhares de novos colonos, vindos não só de Portugal, mas também de outras colônias portuguesas ao redor do mundo, o que por sua vez acabou gerando conflitos (como a Guerra dos Emboabas), entre os antigos colonos e os recém-chegados. Após a descoberta das primeiras minas de ouro, o rei de Portugal tratou de organizar sua extração. Interessado nesta nova fonte de lucros, já que o comércio de açúcar passava por uma fase de declínio, ele começou a cobrar o quinto do ouro, imposto equivalente a um (20%) de todo o ouro que fosse encontrado no Brasil. Esse imposto era cobrado nas casas de fundição de ouro; dessa forma, a cobrança dos impostos era mais rigorosa. A descoberta de ouro e o início da exploração das minas nas regiões auríferas (Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás) provocaram uma verdadeira "corrida do ouro" para estas regiões. Procurando trabalho na região, desempregados de várias regiões do Império Português partiram em busca do sonho de ficar rico da noite para o dia. Cidades começaram a surgir e o desenvolvimento urbano e cultural aumentou muito nestas regiões. Foi neste contexto que apareceu um dos mais importantes artistas plásticos do Brasil: o Aleijadinho. Vários empregos surgiram nestas regiões, diversificando o mercado de trabalho na região aurífera. Para acompanhar o desenvolvimento da região sudeste da colônia, e impedir a evasão fiscal e o contrabando de ouro, Portugal transferiu a capital do Estado do Brasil para o Rio de Janeiro. Para garantir a manutenção da ordem colonial interna, além da defesa do monopólio de exploração econômica do Brasil, o foco da administração colonial portuguesa se concentrou em manter sob controle e erradicar as principais formas de rebelião e resistência dos escravos (a exemplo do Quilombo dos Palmares); e em reprimir todo movimento por autonomia ou independência política (como a Inconfidência Mineira). No final de 1807, forças espanholas e do Primeiro Império Francês ameaçaram a segurança de Portugal Continental desencadeando a Guerra Peninsular, fazendo com que o Príncipe Regente do Brasil D. João, em nome da rainha Maria I, transferisse a corte real de Lisboa para o Brasil. O estabelecimento da corte portuguesa trouxe o surgimento de algumas das primeiras instituições brasileiras, como bolsas de valores locais e um banco nacional, e acabou com o monopólio comercial que Portugal mantinha sob o Brasil, liberando as trocas comerciais com outras nações, o que pôs fim ao período colonial brasileiro. Cultura. Os naturais do Brasil eram portugueses; diferenciavam-se dos ameríndios e dos escravos que não tinham direitos de cidadania. Nesta época o vocábulo ""brasileiro" designava apenas o nome dos comerciantes de pau brasil. Só depois da independência do Brasil se pode diferenciar brasileiros e portugueses, visto que é um anacronismo chamar brasileiro a quem morreu português antes da independência. Distinguia-se o cidadão português natural do Brasil dos outros portugueses da metrópole e províncias ultramarinas (português de Angola, português de Macau, português de Goa, etc.) designando-o de "Português do Brasil", "Luso Americano" ou pelo nome da cidade de nascimento. A partir do o termo "reinóis" era usado popularmente no Brasil para designar os portugueses nascidos em Portugal e os distinguir daqueles nascidos no Brasil. Dentro do Brasil podiam-se diferenciar os cidadãos em nível regional, por exemplo os "pernambucanos" dos "baianos", no entanto a nível nacional e a nível internacional eram todos conhecidos como portugueses. Os escravos davam o nome de "mazombo"" aos filhos de portugueses nascidos no Brasil, e mais tarde a qualquer europeu. A sociedade no período açúcar era marcada pela grande diferenciação social. No topo da sociedade, com poderes políticos e econômicos, estavam os senhores de engenho. Abaixo, aparecia uma camada média formada por pessoas livres ([[feitores, [[capatazes, [[padre]]s, [[militar]]es, [[comerciante]]s e [[Artesão|artesãos]]) e [[funcionários públicos]]. E na [[Classe baixa|base da sociedade]] estavam os escravos, de origem africana, tratados como simples mercadorias e responsáveis por quase todo [[trabalho (economia)|trabalho]] desenvolvido na colônia. [[Ficheiro:Casa da Fazenda lt.jpg|thumb|right|Casa-grande típica]] A [[casa-grande]] era a residência da família do senhor de engenho. Nela moravam, além da família, alguns agregados. O conforto da casa grande contrastava com a miséria e péssimas condições de higiene das [[senzala]]s (habitações dos escravos). Era uma sociedade [[Patriarcado|patriarcal]], pois o senhor de engenho exercia um grande poder social. As mulheres tinham poucos poderes e nenhuma participação política, deviam apenas cuidar do lar e dos filhos. Alimentação. [[Imagem:Brazilian Fruits.jpg|thumb|direita|"Frutas brasileiras", <br> (século XVII)]] Os portugueses que vieram para o [[Brasil]] tiveram que alterar seus [[hábitos alimentares]]. O [[trigo]], por exemplo, foi substituído pela [[farinha de mandioca]], o mais importante [[alimento]] da colônia. A [[mandioca]], originária da [[Culinária indígena no Brasil|culinária indígena]], foi adotada no Brasil por africanos e portugueses, sendo usada para fazer bolos, sopas, [[beiju]]s ou simplesmente para se comer misturada ao [[açúcar]]. Além da farinha, no [[engenho]] também se consumiam: [[carne-seca]], [[milho]], [[rapadura]], [[arroz]], [[feijão]] e [[condimento]]s como [[pimenta]] e [[azeite de dendê]]. As [[verdura]]s, as [[fruta]]s, a [[manteiga]] e os [[queijo]]s eram raros e só entravam na alimentação dos [[Riqueza|ricos]]. Mas não faltavam [[Doces do Brasil|doces locais]], que eram consumidos em grande quantidade, tanto no campo como nas cidades. Alimentação diferente experimentaram os moradores de [[Recife]] e [[Olinda]] durante a [[invasão holandesa]] (1624-1625 e 1630-1654), uma vez que vinha da [[Países Baixos|Holanda]] o [[toucinho]], manteiga, [[azeite]], [[vinho]], [[aguardente]], peixe seco, [[bacalhau]], trigo, [[Charque|carne salgada]], [[fava]], [[ervilha]], [[cevada]] e feijão. Tanto nas casas mais humildes como nas dos senhores de engenho, as refeições eram feitas utilizando a mão, devido à ausência de [[garfo]], este só começando a integrar o dia a dia a partir o . Outro costume de todas as classes era o de comer sentado no chão. As [[bebidas alcoólicas]] consumidas eram principalmente a [[bagaceira]] e o [[vinho]], trazidos de [[Portugal]]. Nos [[Engenho de açúcar no Brasil colonial|engenhos de açúcar coloniais]] logo foi descoberto o vinho de cana, ou seja, o [[Caldo de cana|caldo de cana fermentado]], muito apreciado pelos escravos. Na primeira metade do descobriu-se que os subprodutos da produção do açúcar, o [[melaço]] e as espumas, misturados com água fermentavam e podiam ser [[Destilação|destilados]] obtendo-se a [[cachaça]]. Ela também podia ser fabricada com o vinho de cana. Devido ao baixo preço e facilidade de produção, aos poucos foi caindo no gosto da população, ao menos entre os escravos e as pessoas de baixo poder aquisitivo. Com o tempo, as classes abastadas foram paulatinamente também adotando a cachaça. Demografia. Ocupação pré-cabralina. [[Ficheiro:India tupi.jpg|miniaturadaimagem|Índia Tupi e seu filho. Obra de [[Albert Eckhout]]. Brasil, 1641.]] A tese mais aceita é que os povos indígenas do [[América|continente americano]] são descendentes de [[caça]]dores asiáticos que cruzaram o [[estreito de Bering]] passando da [[Sibéria]] para a [[América do Norte]]. Os mais antigos povoadores do atual território brasileiro chegaram há aproximadamente 12 mil anos. Contudo, foi encontrado em [[Lagoa Santa (Minas Gerais)|Lagoa Santa]] ([[Minas Gerais]]) o [[crânio]] de uma mulher de traços [[negroide]]s, batizada de [[Luzia (fóssil)|Luzia]], que viveu há anos. Deste modo, alguns pesquisadores consideram provável que populações negroides também tenham vivido na América, e que estas foram exterminadas ou assimiladas pelos povos [[mongoloide]]s muitos séculos antes da chegada dos europeus. Estima-se que, no início da colonização portuguesa, cerca de quatro milhões de [[ameríndio]]s viviam no atual território brasileiro. Encontravam-se divididos em diversos grupos étnico-linguísticos: [[tupi-guarani]]s (região do litoral), [[macro-jê]] ou tapuias (região do [[Planalto Central do Brasil|Planalto Central]]), [[aruaque]]s e [[caraíba]]s (Amazônia). A colonização no tempo. Século XVI. O território brasileiro não foi imediatamente ocupado pelos [[portugueses]] a partir de sua [[Descobrimento do Brasil|chegada ao Brasil]] em 1500. A colonização começou somente a partir de 1532. Antes disso, havia apenas [[feitoria]]s nas quais o [[pau-brasil]] era armazenado esperando os navios que vinham da [[Metrópole colonial|Metrópole]]. Apenas alguns [[degredado]]s, [[Deserção|desertores]] e [[náufrago]]s haviam se estabelecido em definitivo no Brasil, vivendo e se miscigenando com as tribos indígenas. Ao contrário do que muitos pensam, os primeiros colonos não foram só ladrões, assassinos ou [[Prostituição|prostitutas]] mandados para o Brasil. A maioria era composta por camponeses pobres, [[Agregado familiar|agregados familiares]] de um pequeno [[nobre]] que vinha estabelecer engenhos e plantações de cana-de-açúcar no Brasil. Apenas alguns poucos eram "criminosos", em geral pessoas perseguidas pela [[Igreja Católica|Igreja]] por sua "falta de moral" ou por cometerem pequenos delitos: [[Judaísmo no Brasil|judeus]], [[cristão-novo|cristãos-novos]], [[Bigamia|bígamos]], [[Sodomia|sodomitas]], padres [[Sedução|sedutores]], [[Feitiçaria|feiticeiras]], visionários, [[Blasfêmia|blasfemadores]], impostores de todas as espécies. [[Ficheiro:Soldado se despede da moça que chora. Obra de Carlos Julião.jpg|miniaturadaimagem|Soldado do regimento de infantaria de Moura, de partida para o Brasil, despedindo-se de moça que chora. Obra de [[Carlos Julião]] (c. 1767).]] "Século XVII". Nos primeiros dois séculos de colonização ([[Século XVI|XVI]] – [[Século XVII|XVII]]), relativamente poucos portugueses migraram para o Brasil, não mais que cem mil. Em meados do [[século XVI]], Portugal tinha uma população bastante pequena, de somente 1,5 milhão de habitantes, e os portugueses estavam empenhados em povoar as ilhas atlânticas e em se expandir da África à Ásia, havendo pouco excedente populacional exportável. Ademais, a produção do açúcar no Brasil não era atrativa para os portugueses comuns, uma vez que o estabelecimento de um engenho exigia altos investimentos, com os quais apenas os mais abastados tinham condições de arcar. O Brasil era pouco atrativo para os portugueses mais pobres, pois não era do interesse dos camponeses europeus se submeterem ao trabalho massacrante nos engenhos de cana, trabalho este que acabou sendo exercido largamente por escravos. Na [[década de 1690]], [[bandeirante]]s paulistas finalmente encontraram [[ouro]] no atual estado de [[Minas Gerais]], ao longo de uma linha que se estende entre as atuais [[Ouro Preto]] e [[Diamantina]]. A notícia se espalhou e o povoamento de Minas deu-se muito rapidamente Século XVIII. [[File:Factum Est Moteto Dores Coral Rosario Pirenopolis Semana Santa 2022.webm|200px|thumb|Celebrações da [[Semana Santa]] em [[Pirenópolis]], tradição do [[século XVIII]] com [[Moteto]] pelo [[Coro e Orquestra Nossa Senhora do Rosário]]]] Se por um lado a sociedade mineira transformou-se num importante fator de atração, Portugal passou a ter um forte fator de expulsão, especialmente na província do [[Minho (província)|Minho]]. No [[século XVIII]], a produção de [[milho]] espalhou-se no [[Norte de Portugal]], melhorando significativamente a alimentação da população e, consequentemente, gerou taxas de [[crescimento populacional]] relativamente elevadas. Como a economia no [[Norte de Portugal]] era baseada na pequena propriedade rural, o crescimento da população forçou muitos portugueses mais pobres do Minho a [[Imigração portuguesa no Brasil|migrarem para o Brasil]], de modo a não sobrecarregar a economia local. O surto migratório que se deu de portugueses do Minho em direção às áreas mineradoras da colônia foi tão intenso que Portugal teve de baixar três leis proibindo a migração de pessoas do Noroeste português para o Brasil, nos anos de 1709, 1711 e 1720. Em relação à lei editada em 1720, autoridades portugueses afirmaram: "Tendo sido o mais povoado, o Minho hoje é um estado no qual não há pessoas suficientes para cultivar a terra ou prover para os habitantes". Segundo dados do [[IBGE]], 600 mil portugueses migraram para o Brasil, entre 1701 e 1760. [[Celso Furtado]] estimou, para todo o século XVIII, um número entre 300 e 500 mil portugueses. Maria Luiza Marcilio apontou um número intermediário: 400 mil. [[C. R. Boxer]] considerou esses números exagerados, que, para ele, seriam de 3 mil a 4 mil portugueses ao ano, no período mais movimentado da [[Febre do ouro|corrida do ouro]]. Após 1720, a imigração não teria superado 2 mil pessoas ao ano, devido à introdução do [[passaporte]]. De qualquer maneira, nunca haviam chegado tantos portugueses ao Brasil, até então. As ilhas dos [[Açores]] eram uma região mais pobre de Portugal e com excesso de habitantes. Em consequência, várias vezes o governo português recrutou grupos de açorianos e os enviou para regiões de fronteira. Entre 1748 e 1754, em torno de 6 mil açorianos foram enviados para [[Santa Catarina]] e [[Rio Grande do Sul]], para garantirem a posse portuguesa da região, historicamente disputada com a [[Espanha]] ("ver: [[Colonização de povoamento]]"). Em 1750, o [[Tratado de Tordesilhas]] deixou de vigorar com a assinatura do [[Tratado de Madrid (1750)|Tratado de Madri]] – quando as Coroas estabeleceram novos limites fronteiriços para a divisão territorial nas colônias sul-americanas, onde rios e montanhas seriam usados para a demarcação. Em 1808, com a [[transferência da corte portuguesa para o Brasil]], foi oficialmente extinto o sistema administrativo de Governo-Geral. Também pôs fim ao [[pacto colonial]], levando a [[Abertura dos portos|Abertura dos Portos às Nações Amigas]]. Iniciou-se a integração política da Amazônia (as capitais [[Belém (Pará)|Belém]] e [[Manaus]]) com o Estado do Brasil. Os Judeus. [[Ficheiro:Sinagoga-kahal-zur-israel-recife.jpg|miniaturadaimagem|[[Sinagoga Kahal Zur Israel]], em Recife. Primeira sinagoga das Américas.]] Os [[Judeu]]s tinham importante participação na sociedade portuguesa desde a [[Idade Média]]. Na época do descobrimento do Brasil havia em Portugal um grande número de judeus, incluindo muitos que foram [[Expulsão dos judeus da Espanha|expulsos da Espanha em 1492]]. Em 1497 o rei [[Manuel I de Portugal|D. Manuel I]], pressionado pelos espanhóis, expulsa os judeus de Portugal, ao mesmo tempo em que determina que os judeus que se declarassem cristãos poderiam continuar no país tendo os mesmos direitos que os demais portugueses. Assim surgiu a figura do [[Cristão-novo|Cristão-Novo]] ou [[Criptojudaísmo|Criptojudeu]], que se declarava cristão em público, mas continuava a praticar o [[judaísmo]] às escondidas. A partir de então os judeus portugueses passam a ser vitimas de vários atos de intolerância como, por exemplo, o [[massacre de Lisboa de 1506]]. Essa nova situação de [[perseguição religiosa]] fez com que muitos Judeus portugueses fugissem para o Brasil, vindo a fundar em [[Capitania de Pernambuco|Pernambuco]] a primeira [[Sinagoga]] da [[América]], a [[Sinagoga Kahal Zur Israel]]. A colonização era um verdadeiro combate, pois além dos perigos naturais que a nova terra oferecia, os colonos tinham que enfrentar também as populações indígenas. Logo, cristãos-novos e cristãos-velhos, que na [[Europa]] (generalizadamente) se odiavam, por falarem ambos o português, por padecerem de vicissitudes análogas e encerrarem interesses comuns, praticamente se irmanam na conquista do solo brasileiro. Seria esta a única alternativa passível de sucesso. Muitos [[marrano]]s e cristãos-novos participaram de alguma forma nas expedições que dilataram a colonização para o Norte, para o Oeste e para o Sul, pois participações importantes de elementos de sangue judeu são notadas nas conquistas do [[Rio Grande (Rio Grande do Sul)|Rio Grande]], do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]], da [[Paraíba]], de [[Sergipe]] e do [[Maranhão]]. Alguns Judeus dessa época se tornaram grandes senhores de engenho como o judeu [[Diogo Fernandes Santiago]] e sua esposa [[Branca Dias]], que fez de sua casa um centro de ensino do Judaísmo. No [[século XVIII]], com o desenvolvimento da [[mineração]] na colônia, milhares de portugueses se deslocaram para a região das [[Minas Gerais]], entre eles, um número considerável de cristãos-novos. De fato, muitos desses cristãos-novos já não mantinham mais ligações com o judaísmo, mas, por serem ricos comerciantes e mineiros, eram acusados de praticar judaísmo por seus inimigos e acabavam tendo os seus bens confiscados. No final do século XVIII, já não havia mais relatos de pratica de judaísmo no Brasil. Todos haviam se convertido ao [[Cristianismo]] ou saído da colônia, o que faz com que muitos [[brasileiro]]s atualmente possuam, mesmo sem saber, origens de judeus portugueses. Os africanos. O tráfico internacional de escravos da [[África subsaariana]] para o Brasil foi um [[Migração forçada|movimento migratório, embora forçado]]. Seu início ocorreu na segunda metade do [[século XVI]], e desenvolveu-se no [[século XVIII]], atingiu seu ápice por volta de 1845 até ser extinto em 1850. [[Ficheiro:Juliao11.JPG|miniaturadaimagem|Mulheres negras do Brasil colonial em dia de festa. Obra de [[Carlos Julião]]. Século XVIII.]] O tráfico negreiro foi uma atividade altamente lucrativa e contou, até 1850, com amparo legal. Iniciou oficialmente em 1559, quando a metrópole portuguesa decidiu permitir o ingresso de escravos vindos da África no Brasil. Antes disso, porém, transações envolvendo escravos africanos já ocorriam no Brasil, sendo a escassez de mão de obra um dos principais argumentos dos colonos. A escravidão era utilizada nas mais desenvolvidas sociedades da [[África Subsaariana]] antes mesmo do início do tráfico negreiro para a [[América]] e do envolvimento com as potências europeias. Escravos negros eram comumente transportados através do [[Saara]] e vendidos no norte da [[África]] por mercadores muçulmanos ("ver: [[Escravatura no mundo muçulmano]] e [[Tráfico árabe de escravos]]"). Estes escravos podiam ser pessoas capturadas nas guerras tribais, escravizadas por dívidas não pagas ou mesmo filhos de outros escravos por várias gerações. A necessidade de trabalhadores escravos na América aumentou a procura de escravos de modo que passaram a ser organizados grupos que entravam pelo interior da África Subsaariana com o único propósito de capturar pessoas de outras nações para serem vendidas como escravos nos portos do litoral. A maior parte dos escravos africanos provinham de lugares como [[Angola]], [[Guiné (região)|Guiné]], [[Benim]], [[Nigéria]] e [[Moçambique]]. Eram mais valorizados, para os trabalhos na agricultura, os negros [[Bantos]] ou [[Benguela]] ou Bangela ou do [[Congo (região)|Congo]], provenientes do sul da África, especialmente de Angola e Moçambique, e tinham valor os vindo do centro oeste da África, os negros [[Minas (etnia)|minas]] ou da [[Guiné]], que receberam este nome por serem embarcados no porto de São Jorge de Mina, na atual cidade de [[Elmina]], e eram, por outro lado, mais aptos para a [[mineração]], trabalho o qual já se dedicavam na [[África Ocidental]]. Por ser a Bahia mais próxima da Costa da Guiné (África Ocidental) do que de Angola, a maioria dos negros baianos são Minas. Os traficantes trocavam os escravos por produtos como [[fumo]], [[arma]]s e [[aguardente]]s. Os escravos comprados eram transportados nos chamados [[navio negreiro|navios negreiros]] principalmente para as cidades do [[Rio de Janeiro]] ([[Cais do Valongo]]), [[Salvador]], [[Recife]] e [[São Luís (Maranhão)|São Luís]]. As péssimas condições sanitárias existentes nas embarcações, que vinham superlotadas, faziam com que muitos escravos morressem, entretanto, a maior parte das mortes ocorria no transporte desde o local de captura até o porto africano de embarque. Quando desembarcavam em solo brasileiro, os escravos africanos ficavam de [[quarentena]] enquanto recuperavam a saúde e engordavam para serem vendidos em praça pública. A maior parte ainda viajava a pé para as regiões mais distantes do interior onde havia minas ou plantações. Os escravos homens, jovens, mais fortes e saudáveis eram os mais valorizados. Havia um grande desequilíbrio demográfico entre homens e mulheres na população de escravos. No período 1837-1840, os homens constituíam 73,7% e as mulheres apenas 26,3% da população escrava. Além disto, os donos de escravos não se preocupavam com a reprodução natural dos escravizados, pois era mais barato comprar escravos recém trazidos pelo tráfico internacional do que gastar com a alimentação de crianças. Ao todo, entraram no Brasil aproximadamente quatro milhões de africanos na forma de escravos. Colonização por espanhóis, holandeses e franceses. [[Ficheiro:Frans Post - Vilarejo.jpg|miniaturadaimagem|Vilarejo da época do Brasil Holandês. Obra do pintor [[Frans Post]].]] Durante a colonização, um número impreciso de pessoas com origens em outras partes do mundo, além de Portugal e do Continente Africano, se fixaram no território que hoje corresponde ao Brasil. Embora a [[Imigração espanhola no Brasil|presença espanhola no Brasil]] durante o período colonial tenha sido importante em algumas regiões específicas, ela foi frequentemente ignorada ou mesmo negada. O historiador [[Capistrano de Abreu]], em seu clássico "A História do Brasil", de 1883, chegou mesmo a afirmar que os espanhóis não tiveram nenhuma importância na formação histórica brasileira ou, se a tiveram, ela foi menor do que a dos franceses. O próprio [[IBGE]] afirma que houve um "exagero" da parte do autor. A presença de colonos espanhóis no Sul do Brasil foi "histórica e demograficamente densa", como salienta o IBGE. Isto porque grande parte da região Sul do atual Brasil foi uma zona de disputa entre Portugal e a Espanha e, como não havia barreiras naturais impedindo a movimentação de pessoas (exceto o [[Rio Uruguai]] a oeste), por séculos houve ali uma convivência (frequentemente conflituosa) entre lusos e hispânicos. O antropólogo [[Darcy Ribeiro]] escreveu que os [[gaúcho]]s dos [[pampas]] "Surgem da transfiguração étnica das populações [[Mestiços|mestiças]] de varões espanhóis e lusitanos com mulheres guarani", demonstrando a importância do elemento espanhol na formação da população na zona fronteiriça entre o Brasil, a [[Argentina]] e o [[Uruguai]]. Um estudo genético realizado pela [[FAPESP]] chegou mesmo a concluir que os espanhóis tiveram uma maior importância na formação étnica dos gaúchos do Sul do Brasil do que os próprios portugueses. Outro povo que se estabeleceu no Brasil colonial foi oriundo dos [[Países Baixos]]. Os [[Invasões holandesas no Brasil|invasores holandeses]] estabeleceram-se em diferentes partes do Brasil, a mais duradoura invasão ocorreu em [[Pernambuco]], onde permaneceram por 24 anos (de 1630 a 1654). Existem mitos, especulações e até um certo "romantismo" em relação à presença holandesa no Brasil. Até hoje esse tema levanta discussões, quase sempre suscitando o imaginário de como seria o Brasil atualmente se tivesse sido colonizado pelos holandeses. Em relação a uma possível contribuição holandesa para a formação da população brasileira, não existem dados sobre quantos holandeses permaneceram no Nordeste após a retomada do domínio português na região, tampouco se eram em número suficiente para ter deixado algum legado minimamente importante após apenas 24 anos de presença. Um estudo genético, porém, abre a possibilidade de ter havido alguma contribuição holandesa para a formação da população do Nordeste, com base numa análise do [[cromossomo Y]]. Durante o período de dominação holandesa, não foram poucos os casamentos entre holandeses oficiais da [[WIC]] e brasileiras pertencentes a aristocracia açucareira da época, e ainda muito mais numerosas as uniões informais entre os praças da WIC com negras, índias, mestiças e brancas pobres. Autores do período afirmam não terem sido poucos os colonos holandeses livres que se dedicavam à agricultura. Os [[Invasões francesas no Brasil|franceses também invadiram]] as regiões onde atualmente ficam parte do então Estado do Maranhão (atual [[Maranhão]]) e do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]]. Ficaram muito pouco tempo no Brasil, foram rapidamente expulsos, mas alguns deles deixaram filhos tidos com mulheres indígenas. Porém, assim como no caso dos holandeses, não existe nenhuma comprovação factível que os franceses tenham tido qualquer influência considerável na formação do povo brasileiro. Portugal sempre foi muito preocupado em impedir a entrada de europeus de outras nacionalidades no Brasil. Foi só em 1808, com o fim ao pacto colonial e a [[abertura dos portos]] (transferência da [[Coroa portuguesa no Brasil|Coroa Portuguesa ao Brasil]] e encerramento do Governo-Geral) que foi permitida a entrada de cidadãos de outras nacionalidades no país. Até então, somente portugueses e escravos africanos podiam entrar de forma livre na colônia. Com a exceção da região de disputa de fronteira do Sul, onde a presença espanhola foi marcante, no resto do Brasil a presença de outros povos, além de portugueses e de africanos, foi bastante exígua. Tal fato só se alterou no século XIX, quando permitiu-se a [[Imigração no Brasil|migração de outros grupos para o país]]. O Brasil se mostrava muito diferente dos [[Estados Unidos]]. A [[Inglaterra]] não se preocupava em limitar a entrada de não [[ingleses]] nas suas [[Treze Colônias|colônias da América do Norte]]. Desde os primórdios da [[Período colonial dos Estados Unidos|colonização do atual Estados Unidos]], além dos ingleses, diferentes nacionalidades europeias para lá se deslocaram, como [[suecos]], [[espanhóis]], [[alemães]], [[irlandeses]], [[escoceses]], [[holandeses]], [[franceses]], além de diversas etnias de escravos africanos. No Brasil, as origens da população colonial eram bem menos diversificadas, compostas basicamente de portugueses e de diferentes etnias africanas, além de [[Povos indígenas do Brasil|índios brasileiros]]. Todavia, os diferentes "cruzamentos" entre esses povos davam ao Brasil, desde o período colonial, um caráter de sociedade multi-étnica. A partir do século XIX, a população do Brasil se diversificou mais, quando para o país passou a se dirigir correntes migratórias de origens relativamente diversificadas. Todavia, mais de 80% do fluxo migratório para o Brasil veio de apenas três países: Portugal, [[Itália]] e [[Espanha]]. Nos Estados Unidos, por outro lado, os imigrantes vinham de quase todos os cantos da Europa. Colonização por outras origens. [[Imagem:Colonizacaonf.jpg|thumb|direita|esquerda|[[Nova Friburgo]] durante sua colonização (1820-1830).]] Os primeiros grupos de imigrantes não lusos e não africanos chegaram ao Brasil, de forma organizada, somente depois da [[abertura dos portos]] de 1808. Excetuando os portugueses e alguns poucos estrangeiros que se tornaram súditos de Portugal, os primeiros imigrantes voluntários a vir para o Brasil após a abertura dos portos foram os chineses de [[Macau]] que chegaram ao [[Rio de Janeiro]] em 1808. Cerca de 300 chineses foram trazidos pelo governo do príncipe regente (futuro rei [[D. João VI|Dom João VI]]) com o objetivo de introduzir o cultivo de [[chá]] no Brasil. Eles tiveram importante participação na [[Aclimatação|aclimatação de plantas]] feitas pelo recém-criado [[Jardim Botânico do Rio de Janeiro]]. Entretanto, a mão de obra livre de imigrantes estrangeiros ainda era considerada dispensável pelos grandes fazendeiros. Na primeira metade do [[século XIX]] ainda desembarcaram no Brasil cerca de um milhão e 300 mil [[África subsaariana|africanos subsaarianos]], certamente o maior grupo de imigrantes recebido neste período. O primeiro movimento organizado, contratado pelo governo [[brasileiro]], de imigrantes europeus foi a imigração suíça para a região serrana do [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]]. Em 16 de maio de 1818, o [[João VI de Portugal|príncipe regente]] baixou um decreto autorizando o agente do [[Cantão de Friburgo]], Sebastião Nicolau Gachet, a estabelecer uma colônia de cem famílias de imigrantes [[suíços]]. Entre 1819 e 1820, chegaram ao Brasil 261 famílias de colonos suíços, 161 a mais do que havia sido combinado nos contratos, totalizando 1 686 imigrantes. A sua maioria era composta de suíços de cultura e língua francesa. Os imigrantes estabeleceram-se na fazenda do Morro Queimado, situada na então vila de [[Cantagalo (Rio de Janeiro)|Cantagalo]]. A região era conhecida pelo seu clima ameno e relevo acidentado, o mais semelhante que poderia haver no Rio de Janeiro com a [[Suíça]]. Muitos dos imigrantes suíços logo abandonaram seus lotes e se dispersaram por toda a região serrana e centro-norte do estado do Rio de Janeiro, em busca de terras férteis e mais acessíveis. Classes sociais. [[Imagem:Classes sociais no Brasil colonial.png|thumb|upright|Posição e magnitude relativa dos estratos sociais no Brasil colonial. A classes dominantes, devido a seu pequeno tamanho, são representadas por uma linha.]] Conforme [[Darcy Ribeiro]], em "Teoria do Brasil" (1975), a [[estratificação social]] do Brasil Colônia era mais simples. Havia as "classes dominantes", os "livres" e os "escravos". As "classes dominantes" se dividiam em um "patronato" e em um "patriciado burocrático". O primeiro compreendia, por um lado, um "patronato senhorial", aqueles cujo poder decorria da propriedade de grandes fazendas (de açúcar, por exemplo) e minas (como as de ouro, em [[Minas Gerais]]); e, por outro, um "patronato parasitário", dedicado ao comércio de escravos, à [[usura]] e à importação e exportação de mercadorias em geral. O "patriciado burocrático", por sua vez, envolvia aqueles cujo poder advinha do exercício do mando político, na qualidade de agentes da potência colonial. Ocupavam cargos, entre eles os de governantes, comandantes militares e eclesiásticos de alto escalão. É relevante ressaltar que os dois componentes da classe dominante (patronato e patriciado), bem como os subdivisões do patronato, persistiram ao longo dos anos e existem no Brasil contemporâneo. Os "livres" eram um setor intermediário entre as [[elite]]s dominantes e os escravos. Formavam um grupo pouco numeroso de pobres, [[mestiço]]s e [[mulato]]s que sobreviviam em atividades auxiliares ou complementares, entre elas o pequeno [[artesanato]], a pequena lavoura de subsistência, o [[Pastor|pastoreio]], entre outras. Também se engajavam em corpos militares, oficiais ou não, com fins à repressão de revoltas indígenas ou escravas (como a destruição do [[quilombo dos Palmares]] por [[Domingos Jorge Velho]]). Os "escravos", na base da pirâmide, eram o contingente mais numeroso. Ligações externas. [[Categoria:Colonização da América]] [[Categoria:Colonização do Brasil| ]] [[Categoria:Império Português]] [[Categoria:Século XVI no Brasil]] [[Categoria:Século XVII no Brasil]] [[Categoria:Década de 1800 no Brasil]] [[Categoria:Década de 1810 no Brasil]] [[Categoria:Década de 1820 no Brasil]] [[Categoria:Estados e territórios fundados em 1500]] [[Categoria:Estados e territórios extintos em 1815]]
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Behaviorismo radical
Behaviorismo radical Behaviorismo radical é uma "filosofia da ciência do comportamento" desenvolvida por B. F. Skinner. Refere-se à filosofia por trás da análise do comportamento, e deve ser distinguido do behaviorismo metodológico — que tem uma ênfase intensa em comportamentos observáveis ​​— por sua inclusão de pensamento, sentimento e outros eventos privados na análise da psicologia humana e animal. A pesquisa em análise do comportamento é chamada de análise experimental do comportamento e a aplicação do campo é chamada de análise do comportamento aplicada (ACA), que foi originalmente denominada "modificação do comportamento". Behaviorismo radical como ciência natural. O behaviorismo radical herda do behaviorismo a posição de que a ciência do comportamento é uma ciência natural, a crença de que o comportamento animal pode ser estudado de forma lucrativa e comparado com o comportamento humano, uma forte ênfase no ambiente como causa do comportamento e uma ênfase nas operações envolvidas na modificação do comportamento. O behaviorismo radical não afirma que os organismos são "tabula rasa" cujo comportamento não é afetado por dotes biológicos ou genéticos. Em vez disso, afirma que os fatores experienciais desempenham um papel importante na determinação do comportamento de muitos organismos complexos, e que o estudo desses assuntos é um importante campo de pesquisa por direito próprio.
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Behaviorismo metodológico
Behaviorismo metodológico O Behaviorismo Metodológico, atribuido a John B. Watson, surgiu em oposição à introspecção e ao mentalismo. Watson argumentava que qualquer observador pode medir objetivamente o comportamento publicamente observável justamente porque, diferentemente dos processos cognitivos, que são privados, o comportamento é público. Duas pessoas podem observar o mesmo comportamento - por exemplo, um rato virando à direita num labirinto - e concordar com o que observam. Em seu manifesto de 1913, afirmou: "A psicologia, como um behaviorista à vê, é um ramo puramente objetivo da Ciência Natural. Seu objetivo teórico é a previsão e o controle do comportamento. A introspecção não é parte essencial de seu métodos [...] o behaviorista, em seus esforços para conseguir um esquema unitário das respostas animais, não reconhece uma linha divisória entre homem e ." (1913, p. 1, colchetes adicionados). Hábito e hereditariedade. Watson não negava o papel da hereditariedade sobre o condicionamento dos organismos. Pelo contrário, alicerçou a construção de seu behaviorismo sobre o que para ele eram fatos, hereditariedade e hábitos:"A psicologia que eu devo tentar construir tomaria como ponto de partida, primeiro, o fato observável que organismos, como homem e animal, realmente ajustam-se ao seu ambiente por meio de equipamentos [tais como] hereditariedade e hábito. Esses ajustamentos podem ser muito adequados ou podem ser tão inadequados que o organismo mal mantém sua existência; segundo, que certos estímulos guiam os organismos a realizar as respostas." (p. 167).Em seguida, tomando seu trabalho com pássaros como exemplo ele prossegue:"Para entender mais completamente a relação entre o que era hábito e o que era hereditariedade naquelas respostas, eu peguei pássaros jovens e os criei. Desta maneira, eu fui capaz de estudar a ordem de aparecimento dos ajustamentos de hereditariedade e sua complexidade, e em seguida o início da formação do hábito." (p. 167)  Ou seja, para Watson os organismos não apenas possuem um equipamento que assegura a hereditariedade, para ele é tarefa do behaviorista separar o efeito da hereditariedade (genético) do efeito do hábito (condicionamento). Watson arguia que toda atividade humana era condicionada e é condicionável, a despeito da variação na constituição genética. Consciência. Watson arguia que não existe uma coisa chamada consciência, a definindo como uma ficção explanatória. Criticismo. Watson era um escritor popular e persuasivo. Ainda assim, a ênfase de Watson sobre o condicionamento foi considerada extrema, até mesmo na época. Burrhus Frederic Skinner critica Watson pela sua negação das características genéticas, assim como pela sua tendência a generalizar, sem base em dados reais. B. F. Skinner, a despeito de tais críticas, nunca se referiu diretamente a J. B. Watson como um "behaviorista metodológico" ou "behaviorista meramente metodológico". Ligações externas. http://www.abpmc.org.br/
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Barroco
Barroco Barroco é o estilo artístico que floresceu entre o final do e meados do , inicialmente na Itália, difundindo-se em seguida pelos países católicos da Europa e da América, antes de atingir, em uma forma modificada, as áreas protestantes e alguns pontos do Oriente. Considerado como o estilo correspondente ao absolutismo e à Contrarreforma, distingue-se pelo esplendor exuberante. De certo modo o Barroco foi uma continuação natural do Renascimento, porque ambos os movimentos compartilharam de um profundo interesse pela arte da Antiguidade clássica, embora interpretando-a diferentemente. Enquanto no Renascimento o tratamento das temáticas enfatizava qualidades de moderação, economia formal, austeridade, equilíbrio e harmonia, o tratamento barroco de temas idênticos mostrava maior dinamismo, contrastes mais fortes, maior dramaticidade, exuberância e realismo e uma tendência ao decorativo, além de manifestar uma tensão entre o gosto pela materialidade opulenta e as demandas de uma vida espiritual. Mas nem sempre essas características são bem evidentes ou se apresentam todas ao mesmo tempo. Houve uma grande variedade de abordagens que foram englobadas sob a denominação genérica de "arte barroca", com certas escolas mais próximas do classicismo renascentista e outras mais afastadas dele, o que tem gerado muita polêmica e pouco consenso na conceituação e caracterização do estilo. Para muitos pesquisadores o Barroco constitui não apenas um estilo artístico, mas todo um movimento sociocultural, onde se formularam novos modos de entender o mundo, o homem e Deus. As mudanças introduzidas pelo espírito barroco se originaram, pois, de um grande respeito pela autoridade da tradição clássica, e de um desejo de superá-la com a criação de obras originais, dentro de um contexto sociopolítico que já se havia modificado profundamente em relação ao período anterior. Contextualização. Antecedentes. Desde o Renascimento, a Itália se tornara o maior polo de atração de artistas em toda a Europa e, no início do , Roma, sede do Papado católico e capital dos Estados Pontifícios, se tornara o maior centro irradiador de influência artística, tendo a Igreja Católica como o mais pródigo mecenas. Mas, desde lá, tendo passado por invasões dramáticas, como a que culminou no Saque de Roma de 1527, e sofrendo com agitação interna, a Itália havia perdido muito prestígio e força política, e ainda que continuasse a ser a maior referência na cultura europeia, a atmosfera otimista do Renascimento havia se desvanecido. Os progressos na filosofia, nas ciências e nas artes, o florescer do humanismo, não evitaram a fome, as guerras e as epidemias, e a fé no homem como imagem da Divindade e no mundo como um novo Éden em potencial — um mote recorrente no Renascimento — contrastava com o cinismo e a brutalidade da política, a vaidade do clero, a eterna opressão do povo, surgindo uma nova corrente cultural a que se deu o nome de Maneirismo — erudita, sofisticada, preciosista, com forte senso decorativo, experimental, e muitas vezes hermética, carregada de dúvidas e agitação. Na religião, o poder papal teve de enfrentar a Reforma Protestante, um evento com amplas repercussões políticas e sociais, que pôs um fim à unidade do cristianismo e solapou a influência católica sobre os assuntos seculares de toda a Europa, que antes era imensa. Além das diferenças de doutrina, onde se incluía a condenação do culto às imagens, os protestantes denunciaram o luxo excessivo dos templos e a corrupção do clero católico. Suas igrejas rapidamente se esvaziaram de estátuas e pinturas devocionais e de decoração. A reação católica foi orquestrada a partir da convocação do Concílio de Trento (1545-1563), o marco inicial da Contrarreforma, numa tentativa de refrear a evasão de fiéis para o lado protestante e a perda de influência política da Igreja. Ao mesmo tempo que fazia uma revisão na doutrina, estabelecendo uma nova abordagem do conceito de Deus, a Contrarreforma tentou moralizar o clero e disciplinar a produção de arte sacra, pretendendo enfatizar sua utilidade como instrumento de proselitismo. Longas guerras de religião se seguiriam ao cisma protestante nas décadas seguintes, devastando muitas regiões. Na economia, a abertura de novas rotas comerciais pelas grandes navegações deixou a Itália fora do centro do comércio internacional, deslocando o eixo econômico para as nações do oeste europeu. Portugal, Espanha, França, Inglaterra e Países Baixos eram as novas potências navais, cuja ascensão política era financiada pelas riquezas coloniais e o comércio em expansão. A arte desses países se beneficiou enormemente desse novo afluxo de riquezas. Murray Edelman, fazendo um balanço da arte deste período, disse que: Um novo contexto. A convocação do Concilio de Trento teve profundas consequências para a arte produzida na área de influência da Igreja Católica: a teologia assumiu o controle e impôs restrições às excentricidades maneiristas buscando reiterar a continuidade da tradição católica, recuperar o decoro na representação, criar uma arte mais compreensível pelo povo e homogeneizar o estilo. Desde então tudo devia ser submetido de antemão ao crivo dos censores, desde o tema, a forma de tratamento e até mesmo a escolha das cores e dos gestos dos personagens. Nesse processo a Ordem dos Jesuítas foi de especial importância. Afamados pelo seu refinado preparo intelectual, teológico e artístico, os jesuítas exerceram enorme influência na determinação dos rumos estéticos e ideológicos seguidos pela arte católica, estendendo sua presença para a América e o Oriente através de suas numerosas missões de evangelização. Também foram grandes responsáveis pela preservação da tradição do Humanismo renascentista, e, longe de serem conservadores como às vezes foram considerados, atuaram na vanguarda da arte da época e promoveram o maior movimento de revivalismo da filosofia do classicismo pagão desde aquele patrocinado por Lorenzo de' Medici no . Nesse novo cenário, a arte palaciana e sofisticada do Maneirismo já não encontrava lugar, e se tornara especialmente imprópria para a representação sacra. Enfrentando a poderosa concorrência protestante, que lhe roubava multidões, a orientação da Igreja Católica agora era na direção de se produzir uma arte que pudesse cooptar a massa do povo, apelando para o sensacionalismo e uma emocionalidade intensa. O estilo produzido por este programa se provou desde logo ambíguo: pregava a espiritualidade mas usava de todos os meios materiais para a sensibilização sensorial do público. As imagens eram criadas com formas naturalistas como meio de serem imediatamente compreendidas pelo povo inculto, mas faziam uso de complexos recursos ilusionísticos e dramáticos, de efeito grandioso e teatral, para acentuar o apelo visual e emotivo e estimular a piedade e a devoção. São especialmente ilustrativos os grandes painéis pintados nos tetos nas igrejas católicas nesse período, que aparentemente dissolvem a arquitetura e se abrem para visões sublimes do Paraíso, povoado de santos, anjos e do Cristo. Ainda que alimentado pelo movimento contrarreformista, o Barroco não se limitou ao mundo católico, afetando também áreas protestantes como a Alemanha, Países Baixos e Inglaterra, mas por outros motivos, descritos adiante. Outro elemento de importância para a formação da estética barroca foi a consolidação das monarquias absolutistas, que através da arte procuraram consagrar os valores que defendiam. Os palácios reais passaram a ser construídos em escala monumental, a fim de exibir visivelmente o poder e a grandeza dos Estados centralizados, e o maior exemplo dessa tendência é o Palácio de Versalhes, erguido a mando de Luís XIV da França. Por outro lado, nesta mesma época a burguesia começou a se afirmar como uma classe economicamente influente, e com isso passou a se educar e abrir um novo mercado consumidor de arte. Tendo preferências estéticas distintas da realeza, foi importante para a formação de certas escolas barrocas mais ligadas ao realismo. Por fim, outra força ativa foi um renovado interesse no mundo natural e uma gradativa ampliação dos horizontes culturais através da exploração do globo e do desenvolvimento da ciência, que trouxeram uma consciência da insignificância do homem em meio à vastidão do universo e da insuspeitada complexidade da natureza. O desenvolvimento da pintura de paisagem durante o Barroco foi um reflexo desses novos descobrimentos. Na economia a principal mudança foi a formação de um sistema de mercado internacional através do desenvolvimento do sistema colonial nas Américas e Oriente, com a escravidão como uma das bases de seu funcionamento. O sistema bancário também foi aprimorado, as práticas de comércio se tornaram mais complexas e a importação de produtos coloniais, como o café, tabaco, arroz e açúcar, transformou hábitos culturais e a dieta. Junto com a afluência para a Europa de outros bens da colônia, incluindo grandes quantidades de ouro, prata e diamantes, o sucesso do sistema mercantil europeu enriqueceu o continente e afetou as relações sociais e políticas, originando novas regras de diplomacia e etiqueta, além de financiar um grande florescimento artístico. Os séculos XVII e XVIII, período principal de vigência do Barroco, continuaram a ser marcados por numerosas mudanças na situação política europeia e pelo conflito constante. Foi assinalado que entre 1562 e 1721 a Europa como um todo não conheceu a paz senão em quatro anos. A maior guerra deste período foi a Guerra dos Trinta Anos (1618-1648), que envolveu a Espanha, França, Suécia, Dinamarca, Países Baixos, Áustria, Polônia, Império Otomano e Sacro Império. De início desencadeada pela disputa entre católicos e protestantes, logo repercutiu para o campo secular em questões dinásticas e nacionalistas. Na conclusão do confronto, a Paz de Vestfália determinou uma reorganização ampla na geografia política continental, favoreceu o fortalecimento de Estados absolutistas, enfraqueceu outros, mas reconheceu a impossibilidade da reunificação do Cristianismo, que foi deslocado como força política pelas realidades práticas da política secular. O conhecimento. Nesse processo de amplas e continuadas mudanças se juntaram a religião, a filosofia moral e as ciências, na tentativa de melhor estudar a adaptabilidade por parte dos indivíduos em meio a um contexto agitado e incerto, bem como pesquisar a natureza e motivações do ser humano, a fim de que o conhecimento resultante fosse usado para fins práticos definidos, como por exemplo, a melhor doutrinação religiosa e o melhor manejo das massas pelas elites. Segundo José Antonio Maravall, na cultura da época, o autoconhecimento, desejado desde o tempo de Sócrates, agora se revestia de um caráter tático, racional e utilitarista. E a partir do autoconhecimento e autodomínio, se acreditava que se conheceria o íntimo de todos os homens, e se poderia dominar a natureza e o ambiente social com mais facilidade, um processo que ficou explícito por exemplo na obra dos poetas Corneille e Gracián, dizendo que o homem era um microcosmo, e ao dominar-se se tornava mestre do mundo. Esse autoconhecimento possibilitava ainda que se fizessem previsões sobre tendências e comportamentos futuros, individuais e coletivos, aproveitando oportunidades e evitando desgraças. Nesse sentido, a cultura barroca foi essencialmente pragmática e regulada pela prudência, considerada no período a maior das virtudes a serem adquiridas. Diversos políticos e moralistas barrocos a enalteceram como meio de se manter alguma ordem e controle num mundo em eterna mudança. Nessa pesquisa do ser humano um papel importante foi desempenhado pela medicina, considerando-se que se acreditava que as funções e aspecto do corpo refletiam condições da alma, e assim o estudo do corpo humano influenciou conceitos religiosos e morais, fazendo com que muitos doutores se sentissem habilitados a discorrer sobre economia, política e moralidade. Ao mesmo tempo, o estudo intensificado da anatomia humana e sua ampla divulgação em livros científicos e gravuras atraiu a atenção dos artistas, se multiplicaram representações do corpo morto em detalhe, e a descrição artística da morte e dos cadáveres e esqueletos foi usada para se meditar sobre os fins últimos da existência e da condição humana. O mesmo impulso científico alimentou o interesse pela psicologia e pela análise das emoções e motivações através da fisionomia física do indivíduo, considerada o espelho do seu estado de espírito, o que possibilitou a formulação de categorizações para os tipos caracterológicos. Ainda que a religião tenha preservado uma grande ascendência sobre as pessoas, ela começou a declinar diante do crescente racionalismo e pragmatismo promovidos pela ciência e pela nova realidade política, desafiando antigas crenças fundamente enraizadas; foi a época da chamada revolução científica. Às vezes o conflito entre ciência e religião ainda se revelou momentoso, como por exemplo na condenação de Galileu pela Inquisição, mas os avanços foram rápidos e variados. O Renascimento havia preparado um ambiente receptivo para a disseminação de novas ideias sobre ciência e filosofia, e a principal questão da época era a proposta por Michel de Montaigne: "O que eu conheço?", ou seja, estava aberta a dúvida sobre a natureza do conhecimento e suas relações com a fé, a razão, a autoridade, a metafísica, ética, política, economia e ciência natural. A atitude de questionamento foi a marca da obra de grandes cientistas e filósofos da época, como Descartes, Pascal e Hobbes, cujas obras lançaram as bases de um novo método de pesquisa e de um novo modo de pensar, centrado no racionalismo e expandido para todos os domínios do entendimento e da percepção, repercutindo profundamente na maneira como o homem via o mundo e a si mesmo. Academismo. O espírito analítico da época influiu até mesmo na teoria da arte. Fortalecendo uma tendência que havia iniciado timidamente no , o Barroco foi o período em que se estruturaram as academias de arte e se fundou o método de ensino rigorosamente normatizado e categorizado conhecido como academismo, que teria imensa influência sobre toda a arte europeia pelos séculos vindouros. Depois de ensaios irregulares na Itália, o sistema acadêmico desabrochou na França no reinado de Luís XIV, onde foram criadas as primeiras academias de abrangência nacional para as várias modalidades da arte e ciências, das quais uma das mais notáveis e influentes foi a Academia Real de Pintura e Escultura. Sob a direção de Charles Le Brun e o patrocínio real a Academia se tornou o principal braço executivo de um programa de glorificação da monarquia absolutista de Luís XIV, estabelecendo definitivamente a associação da escola com o Estado e com isso revestindo-a de enorme poder diretivo sobre todo o sistema de arte francês, o que veio a contribuir para tornar a França o novo centro cultural europeu, deslocando a supremacia até então italiana. Neste período a doutrina acadêmica atingiu o auge de seu rigor, abrangência, uniformidade, formalismo e explicitude, e segundo Barasch em nenhum outro momento da história da teoria da arte a ideia de Perfeição foi mais intensamente cultivada como o mais alto objetivo do artista, tendo como modelo máximo a produção da Alta Renascença italiana, daí que no caso francês o Barroco sempre permaneceu mais ou menos afiliado à tradição clássica. Enquanto para os renascentistas italianos a arte era também uma pesquisa do mundo natural, para Le Brun era acima de tudo o produto de uma cultura adquirida, de formas herdadas e de uma tradição estabelecida. Assim a Itália ainda era uma referência inestimável. Pierre Bourdieu afirmou que a criação do sistema acadêmico significou a formulação de uma teoria em que a arte era uma encarnação dos princípios da Beleza, da Verdade e do Bem. A ênfase no virtuosismo técnico e na referência aos modelos da Antiguidade clássica, que ligavam a Arte à Ética, expressavam uma visão, primeiro, de uma ordem social concebida em fundamentos morais e, segundo, do artista como um pedagogo, um erudito e um humanista. As academias, que a partir do fim do se multiplicaram pela Europa e Américas, foram importantes para a elevação do "status" profissional dos artistas, afastando-os dos artesãos e aproximando-os dos intelectuais. Também tiveram um papel fundamental na organização de todo o sistema de arte, pois além do ensino superior profissionalizante monopolizaram a ideologia cultural, o gosto, a crítica, o mercado e as vias de exibição e difusão da produção artística, e estimularam a formação de coleções didáticas que acabaram por ser a origem de muitos museus de arte. Essa vasta influência se deveu principalmente à sua estreita associação com o poder constituído dos Estados, sendo via de regra veículos para a divulgação e consagração de ideários não apenas artísticos, mas também políticos e sociais. Etimologia, conceituação, caracterização. Usualmente, considera-se que o termo "barroco" originalmente significaria "pérola irregular ou imperfeita", um termo cuja origem é obscura, pode derivar do português antigo, do espanhol, do francês ou do árabe. Segundo outras opiniões, porém, o termo tem origem em uma fórmula mnemotécnica usada pelos escolásticos para designar um dos modos do silogismo, o que daria ao termo um sentido pejorativo de raciocínio estranho, tortuoso, que confunde o falso com o verdadeiro. A palavra rapidamente ganhou circulação nas línguas francesa e italiana, mas nas artes plásticas só foi usada no fim do período em questão, quando novos classicistas começaram a criticar excessos e irregularidades de um estilo já então visto como decadente e uma simples degeneração dos princípios clássicos. Na própria Itália em que nasceu, durante muito tempo foi considerado como o período em que a arte chegou ao seu nível mais baixo: pesada, artificial, de mau gosto e dada a extravagâncias e contorções injustificáveis e incompreensíveis. A carga pejorativa que se ligou ao Barroco só começou a ser dissolvida em meados do , a partir dos estudos de Jacob Burckhardt e Heinrich Wölfflin. Wölfflin o descreveu contrapondo-o ao Renascimento, definindo cinco traços genéricos principais que se tornariam canônicos: a primazia da cor e da mancha sobre a linha; da profundidade sobre o plano; das formas abertas sobre as fechadas; da imprecisão sobre a clareza, e da unidade sobre a multiplicidade. Arnold Hauser explicou a categorização de Wölfflin, dizendo que a busca de um efeito essencialmente pictórico e não gráfico procurava criar uma impressão de ilimitado, imensurável, infinito, dinâmico, subjetivo e inapreensível; o objeto se tornava um devir, um processo, e não uma afirmação final. Cabe lembrar aqui que na Renascença o desenho tivera a primazia em todas as artes visuais, sendo considerado a expressão mais pura da lógica, da razão e do Intelecto Divino que habitava o homem, e o meio por excelência para capturar na matéria a primeira manifestação da ideia criativa abstrata, e por isso a cor, associada à emoção — no ordenamento clássico do mundo, um elemento irracional, caótico e imprevisível, e por isso inferior —, lhe ficava subordinada. A preferência pela espacialidade profunda sobre a rasa acompanhava o mesmo gosto por estruturas dinâmicas, a mesma oposição a tudo o que parecia por demais estável, a todas as fronteiras rígidas, refletindo uma visão de mundo em perpétuo movimento e mudança. O recurso favorito dos artistas barrocos para a criação de um espaço dinâmico e profundo foi o emprego de primeiros planos magnificados com objetos aparentemente bem ao alcance do observador, justapostos a outros em dimensões reduzidas num plano de fundo muito recuado. Também foi comum o uso do escorço pronunciado e da perspectiva multifocal. Segundo Hauser, a tendência barroca de substituir o absoluto pelo relativo, a limitação pela liberdade, é expressa mais nitidamente no uso de formas abertas. Numa composição clássica, a cena representada é um todo autossuficiente e autocontido, todos os seus elementos são inter-relacionados e interdependentes, nada é supérfluo ou casual e tudo veicula um significado preciso, enquanto que uma obra barroca parece mais frouxamente organizada, com vários elementos parecendo arbitrários, circunstanciais ou incompletos, produtos de uma fantasia que adquire valor por si mesma e não pretende ser essencial ao discurso visual, tendo antes um caráter decorativo e improvisatório. Além disso, na forma clássica a linha reta, o equilíbrio e as coordenadas ortogonais são elementos fortes na articulação da composição, mas no Barroco a preferência passa para as diagonais, para a assimetria, as formas curvas e espiraladas, desprezando a orientação provida pelos limites físicos da obra, se organizando livremente pelo espaço disponível e parecendo poder continuar para além da moldura. Esses mesmos traços falam pela relativa pouca clareza na apresentação das cenas, sendo mais difícil do que em uma obra classicista compreender o conjunto de uma só vez. Paradoxalmente, apesar dessas características contribuírem para dar à obra barroca um aspecto mais difuso, fragmentário e complexo, pareceu a Wölfflin que havia entre os barrocos um forte desejo de atingir uma unidade sintética em suas obras, coordenando e subordinando os elementos díspares na direção de um efeito final de conjunto unificado, refletindo a busca por princípios compositivos mais eficientes. Originalmente o estilo nasceu fortemente ligado à Contrarreforma, especialmente à arte jesuíta, e Wölfflin concebeu sua definição pensando principalmente nas artes visuais. No entanto, desde então os teóricos da arte têm tentado testar a definição e expandi-la para outros contextos, mas essa tentativa provou-se dificultosa, e pouco consenso foi conseguido. Críticos e historiadores da arte contemporâneos contestam, por exemplo, a existência do Barroco como um movimento artístico, considerando, em primeiro lugar, que o termo nunca existiu durante o período histórico a que se refere. Até a metade do , nenhum texto ou obra se autodescreve como "barroco". Segundo Leon Kossovitch, "somos nós, enquanto periodizadores, que inventamos essa categoria de pensamento". Kossovitch conclui que essa operação periodizadora é "absolutamente nefasta", por achatar as diferenças, forçando unificações. Essa unificação forçada teria levado, por exemplo, Wölfflin a excluir Nicolas Poussin do seu esquema, por não se encaixar no que entendia como Barroco. Assim, segundo alguns críticos, "barroco" seria um conceito apriorístico, engendrado com base no esquema wölffliniano de oposições entre "clássico" e "barroco". Tal esquema teria resultado no estabelecimento de uma ordenação linear dos estilos artísticos — em que o Clássico necessariamente precede o Barroco. Ao mesmo tempo, dificulta o reconhecimento de outras tendências estéticas existentes na mesma época. Ao contrário do Renascimento, que buscava criar através da arte um mundo de formas idealizadas, purificadas de suas imperfeições e idiossincrasias individuais, dentro de uma concepção fixa do universo, durante o Barroco a mutabilidade das formas e da natureza e o dinamismo dos seus elementos concentraram a atenção. Ainda que os modelos do Classicismo idealista tenham permanecido uma referência importante, a interpretação barroca lhes deu uma feição em muitos pontos anticlássica, pela sua ênfase na emoção, no drama, no movimento, no espetaculoso e no teatral, pelo seu grande amor ao ornamento complexo e ao virtuosismo, pelo registro das formas com suas imperfeições naturais e pela liberdade concedida ao artista para experimentar, num contexto em que se tentava conciliar a realidade com o mundo transcendental. As construções monumentais erguidas durante o Barroco, como os palácios e os grandes teatros e igrejas, e mesmo os ambiciosos planos barrocos de reurbanização de cidades inteiras, buscavam impactar os sentidos pela sua exuberância, opulência e grandiosidade, propondo uma integração entre as várias linguagens artísticas e prendendo o observador numa atmosfera catártica, retórica e apaixonada. Para Nicolau Sevcenko, nenhuma obra de arte barroca pode ser analisada adequadamente desvinculada de seu contexto, pois sua natureza é sintética, aglutinadora e envolvente. Mas todas estas características têm o problema de serem elas mesmas dificilmente definíveis com clareza, são aplicáveis para alguns outros estilos além do Barroco, e a ausência de uniformidade em seu uso entre os historiadores da arte complica muito a compreensão do estilo como um movimento unificado; antes, parece atestar que pouca unidade existiu em tudo o que comumente é chamado em bloco de "arte barroca". Além disso, o conceito de "barroco" tem sido transportado para áreas alheias à arte, como a política, a psicologia, a ética, a história e a ideologia social, fazendo dele mais do que um estilo artístico, mas todo um período histórico, o que englobaria democraticamente todas as variadas expressões na arte, na cultura e na sociedade correntes no período delimitado. E há quem diga que "barroco" é um princípio genérico independente de época, que aparece periodicamente na história da arte e da cultura desde tempos remotos até a contemporaneidade, em oposição à sua antítese, o "clássico". Parte desse problema de definição do que é o Barroco deriva da grande variedade de abordagens entre as várias regiões em que foi cultivado e entre os artistas individualmente. Como lembrou Braider, ainda que em certos lugares o Barroco tenha se revelado bastante "típico", como por exemplo na Itália e Espanha, a identificação do estilo se torna mais árdua e esparsa na Inglaterra, Alemanha, França e nos Países Baixos, a não ser que se reconheça que o Barroco foi muito mais diversificado e difícil de definir do que tem sido hábito pensar. Germain Bazin chegou a delimitar oito subcorrentes principais dentro do Barroco, um indicativo de sua grande heterogeneidade, e Giancarlo Maiorino disse que o Barroco continua sendo "uma das bestas mais indomáveis da selva da crítica de arte". Apesar de tantas contradições internas e discórdia entre a crítica a respeito de sua definição, o conceito de Barroco, na linha do que Wölfflin definiu, permanece sendo usado na vasta maioria da literatura especializada, e por mais candentes que se revelem os debates, sua utilidade prática raramente é posta em questão. Cronologia. Tem sido dito que o Barroco teve precursores já na Alta Renascença, em obras como o "Incêndio no Burgo", de Rafael, ou nas obras maduras de maneiristas como Michelangelo, Tintoretto, Giambologna, Barocci e outros, mas usualmente se refere seu início estando na passagem do para o . A data de seu fim é muito mais polêmica. Alguns indicam a passagem do para o , outros dão meados do , e outros ainda o estendem mais. Parte da confusão permanece por causa da indefinição do que é Rococó, uma corrente que surgiu em meados do , e que se sobrepõe à fase final do "Barroco estendido". Geralmente o Rococó é visto como um estilo independente, mas em boa parte da bibliografia é tratado apenas como uma variante modernizada do Barroco. Na Europa de modo geral quando iniciava o o Barroco estava definitivamente sepultado, mas muitas escolas provincianas da América Latina perseveraram nessa tradição até o início do . Desta forma, é difícil indicar quando termina o Barroco, pois cada região se desenvolveu ao longo de linhas próprias e os conceitos definidores dos estilos ainda são polêmicos. Barrocos e o Neobarroco. Depois da proposição feita por Eugenio d'Ors, muitos críticos consideram que o Barroco, mais do que um estilo particular, é um "princípio" constante na história da arte e da cultura, um princípio que enfatiza o drama, o contraste, a vitalidade exuberante, o exagero, contrapondo-se periodicamente com sua antítese, um princípio que veio a ser chamado Clássico, que prima pela economia, lógica, equilíbrio e harmonia. Assim, por exemplo, a escola helenista de escultura já foi chamada de "barroca", para salientar sua diferença em relação à escola clássica. Da mesma forma, vários escritores modernos e contemporâneos têm acusado um retorno a princípios formais e estéticos "barrocos" ao longo do , fazendo uso de recursos retóricos tipicamente encontrados nas artes visuais e literárias no que pouco se relacionam à tradição clássica. Gregg Lambert argumentou que um "design barroco" é visível na contemporaneidade quando se usa a metalinguagem e a intertextualidade, a "pintura dentro da pintura", ou o "texto dentro do texto". Michel Foucault enfatizou essa transformação epistemológica quando disse que no período moderno os limites da verdade já não se encaixam nas categorias clássicas, significando que hoje existe uma forma de conhecimento que está constantemente se expondo à autoanulação pela mesma retórica pela qual este conhecimento se estrutura, quando a descrição artística da experiência real se aproxima da ficção e da paródia, e quando toda a face da cultura assume um aspecto de farsa e encenação. A hipótese de um retorno ao Barroco se torna mais plausível quando se lembra que a própria definição do Barroco histórico até agora é muito mal estabelecida, e já foi suposto que o Barroco como uma entidade particular se trata mais de um artefato, uma ficção da crítica, do que uma realidade viva. Para Gilles Deleuze, Barroco é apenas um conceito e uma razão suficientes por si mesmos, desvinculados da história, que pertencem à mesma categoria que o conceito de Deus. Raymond Williams defendeu a existência do Barroco contemporâneo, ou Neobarroco, como o chamam alguns, através da alegação de que todas as estruturas culturais apresentam traços residuais de épocas pregressas, opinião que é compartilhada com José Maravall e Frederic Jameson, entre outros. Octavio Paz e José Lezama Lima encontraram características barrocas na poesia espanhola e latinoamericana recente, muito da arquitetura eclética do período entre o fim do e o início do foi considerada barroquizante, com vários exemplos encontrados também na escultura, nas artes decorativas, na joalheria e na música. Angela Ndalianis afirmou que o gosto atual pelo espetáculo e pelo ilusionismo — especialmente óbvios no sucesso que fazem o cinema e a televisão — pela multimídia e interatividade, e pelo "princípio da abolição da moldura", que leva a forma a extrapolar limites convencionais, tipificam a produção artística contemporânea e são paralelos claros com a cultura do Barroco histórico. Henri Focillon também fez eco a estas alegações quando disse que as formas independem do tempo e são recorrentes ao longo da história, e a corrente pós-moderna é classificada por alguns autores, como Omar Calabrese e Umberto Eco, como neobarroca. O Barroco americano. Em virtude da colonização da América por países europeus naturalmente se transportou o Barroco para o Novo Mundo, encontrando um terreno especialmente favorável nas regiões dominadas pela Espanha e Portugal, ambos os países sendo monarquias centralizadas e irredutivelmente católicas, por extensão sujeitas a Roma e adeptas do Barroco contrarreformista mais típico. Artistas europeus migraram para a América e fizeram escola, e junto com a grande penetração de missionários católicos, muitos dos quais eram artistas habilidosos, criou-se um Barroco multiforme e não raro influenciado pelo gosto popular. Os artesãos escravos muito contribuíram para dar a esse Barroco feições únicas. Os principais centros de cultivo do Barroco americano foram o Peru, o Equador, o Paraguai, a Bolívia, o México e o Brasil. É de destacar com especial interesse o chamado "Barroco missioneiro", desenvolvido no âmbito das reduções guaranis do Brasil, Bolívia, Argentina e Paraguai, aldeamentos de indígenas organizados por missionários católicos no intuito de convertê-los à fé cristã e aculturá-los ao modo de vida ocidental, formando um Barroco híbrido com influência da cultura nativa, onde floresceram muitos artesãos e músicos índios, até literatos, alguns de grande habilidade e talento próprio. Relatos dos missionários repetem muitas vezes que a arte ocidental, especialmente a música, exercia um impacto hipnótico sobre os silvícolas, e as imagens de santos eram vistas como dotadas de grandes poderes. Converteram-se muitos índios, e criou-se uma forma de devoção mestiça, de intensidade apaixonada, carregada de misticismo, superstição e teatralidade, que se deleitava com missas festivas, concertos sacros e autos de mistérios. A Escola de Cuzco de pintura, por sua vez, fundada pelos jesuítas Juan Íñigo de Loyola e Bernardo Bitti, junto com alguns outros mestres, contou com a participação de índios incas, um povo de sofisticada cultura própria, que deram sua própria contribuição estética. Produziu-se uma escola original, sincrética e de tendência fortemente ornamental, cuja influência se espalhou a partir do por todo Vice-Reino do Peru e até hoje permanece em atividade, com poucas modificações em seus princípios estéticos. De fato, o Barroco parece resistir e se tornar cada vez mais popular, tanto em sua manifestação histórica como em suas atualizações. Muitos autores latinoamericanos consideram que ele permanece vivo como um princípio organizador específico em seus países, e o entendem como uma manifestação de autenticidade e originalidade de suas culturas. Segundo disse John Beverley, que ensina na Universidade de Pittsburgh, uma das poucas universidades norteamericanas que possuem um departamento de literatura latinoamericana, seus alunos são na maioria latinoamericanos de língua espanhola, são inspirados pelos trabalhos de Alejo Carpentier, Lezama Lima, Severo Sarduy, Nestor Perlongher, e são muito interessados na ideia de que um definido caráter neobarroco os distingue da cultura norteamericana, que caracterizam como dominada pelo espírito do "business" e da indústria, ao passo que veem suas próprias culturas "neobarrocas" como regidas pelos princípios da poesia, do exotismo, do excesso visual, da alegria, da originalidade e da mestiçagem. No Brasil não é diferente, o Barroco é largamente considerado um dos mais importantes elementos formadores da identidade nacional, desde os anos 30 vem sendo revisitado com cada vez maior frequência, processo iniciado pelo próprio governo, gerou volumosa bibliografia, foi reconhecido e louvado por estrangeiros e foi chamado por Affonso Romano de Sant'Anna de "a alma do Brasil", uma frase que se tornou lugar-comum e cujo significado é parte do discurso oficial. Mais do que isso, dizem muitos que o espírito barroco permanece identificável em grande número de manifestações culturais brasileiras contemporâneas. Como sintetizou Zuenir Ventura, Artes barrocas. As características mais típicas do Barroco na pintura e escultura são aquelas recém-descritas, e não é necessário repeti-las. Algumas particularidades, porém, cabe mencionar. Escultura. A Contrarreforma deu uma atenção redobrada à imaginária sacra, seguindo antiga tradição que afirmava que as imagens de santos, pintadas ou esculpidas, eram intermediários para a comunicação dos homens com as esferas espirituais. São João da Cruz afirmava que havia uma relação recíproca entre Deus e os fiéis que era mediada pelas imagens, e vários outros religiosos católicos, como São Carlos Borromeu e Roberto Bellarmino reiteraram sua importância no culto, mas o valor delas havia sido negado pelos protestantes, o que desencadeou grandes movimentos iconoclastas em várias regiões protestantes que provocaram a destruição de incontáveis obras de arte. A imaginária sacra, então, voltou a ser vista como elemento central no culto católico, fazia parte de um conjunto de instrumentos usados pela Igreja para invocar emoções específicas nos fiéis e levá-los à meditação espiritual. Num tratado teórico sobre o assunto, Gabriele Paleotti as defendeu a partir da ideia de que elas ofereciam para o fiel inculto uma espécie de Bíblia visual, a "Biblia pauperum", enfatizando sua função pedagógica e seu paralelo com o sermão verbal. Mas considerou ainda a função da "excitatio", a possibilidade de mexer com a imaginação e as emoções do povo, transferindo para a arte sacra a tipologia da retórica. Nem a liberdade artística deveria ser tolhida nem os teóricos desenvolveriam prescrições estilísticas propriamente ditas, apenas orientações normativas e morais. As imagens deveriam cumprir com o quesito de serem instrutivas e moralmente exemplares para os fiéis, buscando persuadi-los. Através da transmissão da fé "correta" aos fiéis, o artista adquiria um papel teologizante, e o próprio espectador em movimento pela igreja tornava-se uma peça do cenário deste "teatro da fé". Como disse Jens Baumgarten, Dentro desse espírito, na escultura é de assinalar o desenvolvimento de um gênero de composição grupal chamado de "sacro monte", concebido pela Igreja e rapidamente difundido por outros países. Trata-se de um conjunto que reproduz a Paixão de Cristo ou outras cenas piedosas, com figuras policromas em atitudes realistas e dramáticas em um arranjo teatralizado, e destinadas a comover o público. Deste instrumental pedagógico católico fazia parte ainda a construção de cenários nos quais eram inseridas as estátuas a fim de criar ainda maior ilusão de realidade, numa concepção verdadeiramente teatral. Às vezes tais grupos eram confeccionados de forma a poderem ser movidos e transportados sobre carros em procissões, criando-se uma nova categoria escultórica, a das estátuas de roca em madeira. Para aumentar o efeito mimético muitas possuíam membros articulados, para que pudessem ser manipuladas como marionetes, assumindo uma gestualidade eficiente e evocativa, variável de acordo com o progresso da ação cênica. Recebiam roupagens que imitavam as de pessoas vivas, e pintura que assemelhava à carne humana. E para maior ilusão seus olhos podiam ser de vidro ou cristal, as cabeleiras naturais, as lágrimas de resina brilhante, os dentes e unhas de marfim ou osso, e a preciosidade do sangue das chagas dos mártires e do Cristo flagelado podia ser enfatizada com a aplicação de rubis. Assim, nada melhor para coroar a participação do público devoto na recriação da realidade mística do que permitir que a ação se desenrolasse em espaço aberto, na procissão, onde a movimentação física do fiel ao longo do trajeto poderia propiciar a estimulação da pessoa como um todo, diferentemente da contemplação estática diante de uma imagem em um altar. Nos casos em que o "sacro monte" deveria ser levado às ruas, usualmente era simplificado a uma sugestão de rochas ou numa gruta. Conforme a ocasião, a gruta ou rocha poderiam representar o Monte Sinai, o Monte Tabor, o Monte das Oliveiras, a Gruta da Natividade, a rocha da Tentação de Cristo ou outros locais impregnados de significado. Algumas vezes o cenário rochoso era substituído por outro arquitetônico, especialmente após o trabalho de Andrea Pozzo, codificador da perspectiva ilusionística arquitetônica que foi largamente empregada na decoração de templos católicos. Com os mesmos fins práticos, para aliviar o peso do conjunto, as imagens eram entalhadas apenas parcialmente, com acabamento só nas partes que deveriam ser vistas pelo público, como as mãos, cabeça e pés, e o restante do corpo consistia em uma simples estrutura de ripas ou armação oca coberta pela roupa de tecido. Pintura. Andrea Pozzo, codificando a técnica da perspectiva arquitetônica ilusionística em seu tratado "Perspectiva Pictorum et Architectorum", foi o responsável pela divulgação em larga escala de uma das mais típicas modalidades de pintura do Barroco, a criação de grandes tetos pintados onde as paredes do templo parecem continuar para cima e se abrir para o céu, oferecendo a visão de uma epifania onde santos, anjos e Cristo parecem descer entre nuvens e resplendores de glória. A técnica não era inteiramente nova e já havia sido praticada por outros como Correggio e Michelangelo no Maneirismo, mas o tratado de Pozzo se tornou canônico, sendo traduzido para várias línguas ocidentais, e até para o chinês. Enquanto seus predecessores continham o céu num espaço mais limitado, Pozzo e seus seguidores buscaram deliberadamente uma impressão de infinitude. Também típica da pintura barroca foi a corrente dedicada à exploração especialmente dramática dos contrastes de luz e sombra, a chamada escola Tenebrista. Seu nome deriva de "tenebra" (treva, em latim), e é uma radicalização do princípio do "chiaroscuro". Teve precedentes na Renascença e se desenvolveu com maior força a partir da obra do italiano Michelangelo Merisi, dito Caravaggio, sendo praticada também por outros artistas da Espanha, Países Baixos e França. Como corrente estilística teve curta duração, mas em termos de técnica representou uma importante conquista, que foi incorporada à história da pintura ocidental. Por vezes o Tenebrismo é entendido como sinônimo de Caravaggismo, mas não são coisas idênticas. Os intensos contrastes de luz e sombra emprestam um aspecto monumental aos personagens, e embora exagerada, é uma iluminação que aumenta a sensação de realismo. Torna mais evidentes as expressões faciais, a musculatura adquire valores escultóricos, e se enfatizam o primeiro plano e o movimento. Ao mesmo tempo, a presença de grandes áreas enegrecidas dá mais importância à pesquisa cromática e ao espaço iluminado como elementos de composição com valor próprio. Na França Georges de La Tour foi um dos adeptos da técnica; na Itália, Battistello Caracciolo, Giovanni Baglione e Mattia Preti, e na Holanda, Rembrandt van Rijn. Mas talvez os mais notáveis representantes sejam os espanhóis José de Ribera, Francisco Ribalta e Francisco de Zurbarán. Também se tornaram comuns no Barroco a pintura de naturezas-mortas e interiores domésticos, refletindo a crescente influência dos gostos burgueses. Nos Países Baixos protestantes foram um dos traços distintivos do Barroco local, conhecido ali como a Era Dourada da pintura. Na época a região era uma das mais prósperas da Europa, e estando livre do controle católico pôde manter uma tradição de liberdade de pensamento, dentro de uma organização política bastante democrática. Tinha a burguesia comerciante como sua classe social mais influente, a qual patrocinava uma pintura essencialmente secular, de caráter único no panorama barroco. Entre seus principais expoentes se contam Frans Hals, Vermeer, Frans Snyders, Pieter de Hooch, Meindert Hobbema, Jacob Jordaens, Anthony van Dyck, Jacob van Ruisdael e Rembrandt. Oriundo da mesma região, Rubens, um dos maiores pintores de todo o período, se enquadra em uma outra tradição por ter sido católico e por ter cultivado um estilo pessoal cosmopolita e eclético. Também se cultivou ali a pintura de paisagem, geralmente despojada de conteúdo narrativo ou dramático, ao contrário de outras regiões europeias, onde muitas vezes a paisagem foi produzida como um cenário para cenas históricas, alegóricas ou religiosas, como foi o caso de Nicolas Poussin e Claude Lorrain, os principais representantes da vertente classicista do Barroco. Na Espanha o Barroco pictórico tingiu-se de um misticismo desconhecido em outras paragens, inspirado no dramatismo do Tenebrismo, já citado, e na obra de mestres como Francisco Pacheco del Río e em particular El Greco, possivelmente o mais típico integrante da corrente mística. Podemos citar como outros pintores importantes no Barroco Diego Velázquez, Bartolomé Esteban Murillo, Pietro da Cortona, Giovanni Battista Tiepolo, Guercino, Guido Reni, Salvator Rosa, os Carracci, Hyacinthe Rigaud, Charles Le Brun, Philippe de Champaigne, Simon Vouet e Josefa de Óbidos, uma das pouquíssimas mulheres artistas do período. Arquitetura e urbanismo. A arquitetura barroca é caracterizada pela complexidade na construção do espaço e pela busca de efeitos impactantes e teatrais, uma preferência por plantas axiais ou centralizadas, pelo uso de contrastes entre cheios e vazios, entre formas convexas e côncavas, pela exploração de efeitos dramáticos de luz e sombra, e pela integração entre a arquitetura e a pintura, a escultura e as artes decorativas em geral. O exemplo precursor da arquitetura barroca geralmente é apontado na Igreja de Jesus em Roma, cujo projeto foi de Giacomo Vignola e a fachada e a cúpula de Giacomo della Porta. Vignola partiu de modelos clássicos estabelecidos pelo Renascimento, que por sua vez se inspiraram na tradição arquitetônica da Grécia e da Roma antigas. As diferenças introduzidas por ele foram a supressão do transepto, a ênfase na axialidade e o encurtamento da nave, e procurou obter uma acústica interna eficaz. A fachada se tornou um modelo para as gerações futuras de igrejas jesuítas, com pilastras duplas sustentando um frontão no primeiro nível, e um outro frontão, maior, coroando toda a composição. O interior era originalmente despojado, e seu aspecto atual é resultado de decorações no final do , destacando-se um grande painel pintado no teto com o recurso da arquitetura ilusionística. Logo depois de completa a Igreja, o papa Sisto V revitalizou um projeto de reurbanização de Roma que havia sido iniciado no . Sua preocupação foi adaptar a cidade a um conceito urbano mais moderno, organizado e espaçoso, permitindo uma circulação facilitada numa cidade que ainda mantinha muito de seu perfil medieval, com ruas estreitas e tortuosas e poucos logradouros públicos amplos. O projeto previu uma organização radial de avenidas importantes, endireitamento de ruas, ampliação e embelezamento de praças e parques com fontes e monumentos, numa perspectiva monumental, e se revelou tão eficiente que foi mantido pelos seus sucessores, sendo continuamente aprimorado e embelezado ao longo de todo o . Também se construíram muitas novas igrejas e palácios, outros foram reformados, como várias estruturas do Vaticano, entre elas a Basílica de São Pedro, o maior monumento romano do Barroco, completada por Bernini. As inovações na planta de Roma se tornaram modelares, e logo passaram a inspirar a reurbanização de várias cidades italianas, se irradiando também para a Alemanha, França e outros países, em interpretações variadas e em vários casos alterando radicalmente o perfil urbano, como por exemplo em Salzburgo, Dresden, Viena, Praga, Nuremberg, Graz, Cracóvia, Munique, Nápoles e Madrid. Isso se fez mais evidente na recuperação econômica europeia após as múltiplas crises e guerras do início do . À medida que os Estados absolutistas se consolidavam, alianças renovadas entre o Estado, a Igreja e a nobreza possibilitaram a reformulação das cidades a fim de expressar seu poder e um novo senso de ordem, manifestos em construções suntuosas e ostentatórias. Esse programa foi especialmente intenso onde dinastias católicas governavam e apoiavam a Contrarreforma, mas mesmo em regiões onde o absolutismo católico não prosperou, como nos Países Baixos e Alemanha protestantes, as novidades foram aceitas e implementadas na esteira da expansão e transformação da economia e da sociedade, e em vista das necessidades novas impostas pelo aumento populacional. Na arquitetura barroca foi importante a observação de proporções geométricas definidas, como a Seção Áurea e a Sequência de Fibonacci, uma vez que a teoria da arquitetura estava permeada de concepções que a relacionavam com a estrutura do universo. Acreditava-se que o cosmos fosse estruturado por proporções matemáticas, que a Terra e os outros planetas se moviam dentro de molduras concêntricas cristalinas, invisíveis e impalpáveis, mas não obstante reais, que deveria ser imitadas na construção dos edifícios e no planejamento urbano, refletindo também a ideologia do Estado centralizado. Além disso, outras artes foram recrutadas pelos arquitetos para tornar a edificação barroca um espetáculo completo, carregado de alegorias e simbolismo, como a pintura, a escultura, as artes decorativas, todas reunidas para ilustrar a ideologia dominante. Já foi dito que na época se concebia o mundo como um vasto teatro onde cada um desempenhava um papel definido através de regras predeterminadas, e entre as estratégias empregadas para a exibição do poder estavam representações teatrais, concertos e produção literária engajada na glorificação dos Estados e dos governantes. Como disse John Marino, os cidadãos da "cidade cerimonial" barroca constantemente se dedicavam a representações públicas como festivais cívicos, procissões e outros ritos devocionais e vários tipos de demonstrações populares. Monumentos, imagens, escritos e emblemas de civismo e fé, ornamentações, paramentos e construções efêmeras se cobriam de alegorias políticas, mitológicas e astrológicas que se fundiam para veicular mensagens polivalentes para uma audiência urbana de extração diversificada. Tais eventos faziam parte do processo ritualizado e doutrinatório que criava uma identidade coletiva, expressava hierarquias definidas e a solidariedade urbana, ao mesmo tempo em que alimentava rivalidades e competição entre classes, gêneros, ofícios, famílias, amigos e vizinhos, e por isso às vezes degeneravam em conflitos violentos. Entre os arquitetos notáveis na Itália, além dos já citados, se contam Domenico Fontana, Carlo Maderno, Borromini, Carlo Rainaldi, Guarino Guarini, Bernardo Vitone, Francesco Bartolomeo Rastrelli e Filippo Juvarra. Outros europeus foram Balthasar Neumann, Johann Michael Fischer, Christoph Dientzenhofer, Johann Christoph Glaubitz, Louis Le Vau, Charles Perrault, François Mansart, Jules Hardouin-Mansart, Jacob van Campen, Fernando de Casas Novoa, a família Churriguera, Christopher Wren, John Vanbrugh, James Gibbs, João Frederico Ludovice e João Antunes. No Brasil, Daniel de São Francisco, Aleijadinho e Francisco de Lima Cerqueira. Literatura. Especialmente depois das guerras e tumultos sociais e religiosos da primeira parte do , a literatura experimentou um grande florescimento em vários países, dando origem à literatura moderna. Na Itália apareceu a corrente Marinista liderada por Giambattista Marino, de grande influência; na Península Ibérica e colônias americanas se desenvolveu o Cultismo e o Conceptismo de Luis de Góngora, Francisco de Quevedo, do padre Antônio Vieira e de Gregório de Matos. Na França foi a era de Molière, Racine, Boileau e La Fontaine; nos Países Baixos, foi a Idade de Ouro da poesia, com expoentes em Henric Spieghel, Joost van den Vondel, Daniël Heinsius e Gerbrand Bredero; na Inglaterra, propiciou-se o florescimento de uma poesia metafísica tipificada por John Dryden, John Milton, John Donne e Samuel Johnson. Seu motivo onipresente foi o conflito entre a tradição clássica herdada do Renascimento e as novas descobertas da ciência, as mudanças na religião, novas aspirações e um desejo de inovar. A herança clássica trazia consigo determinadas formas estéticas e padrões morais, quase toda a literatura do fora moralizante, mas ao mesmo tempo se fazia frente à necessidade cristã de rejeitar o tão prezado modelo clássico por sua origem pagã, considerada uma influência corruptora e enganosa, e isso explica parte da rejeição do classicismo em boa parte do Barroco. O conflito se estendeu para a área da educação, até então também pesadamente devedora dos clássicos e, através da influência jesuítica, vista como o principal e primeiro instrumento de reforma social. Em termos estilísticos, a literatura barroca em linhas gerais dedicou um profundo cuidado à forma e ao virtuosismo linguístico no intuito de maravilhar e convencer o leitor, o que implicava o uso constante de figuras de linguagem e outros artifícios retóricos, como a metáfora, a elipse, a antítese, o paradoxo e a hipérbole, com grande atenção ao detalhe e à ornamentação como partes essenciais do discurso e como formas de demonstrar erudição e bom gosto. Também deve ser assinalado seu caráter em muito experimental e sua ousadia no manejo da língua, não tendo precedentes nestes aspectos na literatura do ocidente. Ao mesmo tempo se popularizaram as literaturas vernaculares e aquelas centradas no cotidiano, cultivando temas naturalistas e de crítica social, como contrapartida ao idealismo cavaleiresco e nobilitante do Renascimento. São criados gêneros naturalistas como a novela picaresca, com um grande exemplo no "Simplicius Simplicissimus" de Hans Jakob Christoffel von Grimmelshausen, ou a novela polifônica moderna, tipificada no "Don Quixote", de Cervantes. A esta tendência anticlássica corresponde também a fórmula da comédia nova criada por Lope de Vega, e divulgada através de seu "Arte Nova de fazer comédias neste tempo", rompendo com as unidades aristotélicas de ação, tempo, e espaço. A conquista da América deu lugar ao gênero das crônicas, entre as quais podemos encontrar algumas obras mestras, como as de Frei Bartolomé de las Casas e Inca Garcilaso de la Vega. Na poesia sacra se notabilizaram São João da Cruz, Soror Juana de la Cruz e Santa Teresa de Ávila. Ao longo do os gêneros satíricos e sentimentais como os cultivados por Alexander Pope, Voltaire e Jonathan Swift, por exemplo, se tornaram favoritos, à medida que a influência da religião declinava, os ideais clássicos se fortaleciam novamente, se consolidava a sensibilidade do Rococó e o pensamento iluminista se tornava predominante. Um trecho do "Sermão do Mandato" (1655) do padre Antônio Vieira pode transmitir uma ideia do discurso literário tipicamente barroco, com reiterações, comparações, antíteses e outros recursos retóricos e eruditos de linguagem: Literatura para o teatro. O drama barroco tipicamente usa motivos clássicos mas tenta trazê-los para o mundo moderno, muitas vezes centrando a ação na figura do monarca. Ao contrário do drama clássico, onde o destino é uma das principais forças propulsoras da ação, um destino que é cego e contra o qual não há nada capaz de se opor, no drama barroco o interesse passa para as dificuldades inerentes ao exercício do poder, da vontade e da razão diante da realidade política corrupta, cruel e cínica e do descontrole das paixões, gerando uma perene e dolorosa tensão entre o desejo por um mundo harmonioso, belo e santificado e a impressão de que tudo se dirige para a catástrofe e a destruição, sem qualquer esperança para o homem. Para a expressão desses conflitos um recurso técnico comum é a alegoria, que transporta os fatos concretos para uma esfera mais abstrata e mais abrangente, possibilitando múltiplas interpretações e fazendo relacionamentos simultâneos entre vários níveis de realidade. O uso da alegoria é típico do Barroco também porque ela não oferece uma resposta unívoca às questões propostas, permanecendo o incerto, o ambíguo e o mutável como elementos integrantes do tema, permite o exercício da crítica social sem ligar-se diretamente a figuras públicas verdadeiras, e possibilita a exploração da psicologia humana em todos os seus extremos contrastantes de virtude e vício, e com todas as nuances intermédias. Por tais motivos, nas alegorias dramáticas do Barroco abundam imagens de ruínas e da morte, mas abrindo a perspectiva de um novo nascimento e de uma ação humana significativa. Nas regiões protestantes o drama se tornou particularmente pessimista, uma vez que o Protestantismo só admite a doutrina da salvação pela fé, e as boas obras perdem assim significado transcendente. No drama protestante a História é essencialmente decadência ou regressão, e seus temas são principalmente lamentos sobre um mundo envilecido. Mesmo nos dramas sacros católicos são recorrentes os temas do sacrifício, do martírio, da abstinência, da penitência e da melancólica, ainda que espiritualmente gloriosa, renúncia ao mundo da matéria, o "fruto proibido", dirigindo as esperanças para a esfera divina e eivando as narrativas com imagens trágicas e dolorosas, especialmente quando os dramas sacros eram representados em associação com festividades religiosas como a Paixão de Cristo, quando procissões de devotos se autoflagelavam e davam outras provas ritualizadas e teatralizadas de fé entre excessos emocionais. Ainda que os personagens e os motivos tenham se multiplicado em relação ao Renascimento, no drama Barroco a ação é mantida mais coesa e ininterrupta por uma rede mais complexa de relacionamentos entre os seus agentes, conduzindo um desenvolvimento narrativo marcado pelas leis da causa e efeito, ainda que em seu curso a trama muitas vezes seja entremeada por surpresas e reviravoltas imprevistas, de qualquer forma encaixadas plausivelmente dentro dos limites da lógica. Outra diferença em relação ao período anterior é que os personagens já não são tipos fixos, com caracteres imutáveis e previsíveis. Antes um herói era sempre um herói, e suas ações sempre virtuosas; um bandido era sempre vil e suas intenções sempre obscuras e daninhas. No Barroco os personagens são mais humanos e contraditórios, suas personalidades apresentam áreas claras e escuras, e as mudanças nos comportamentos, humores e motivações podem ser abruptas e drásticas. Finalmente, a ação não é mais concebida como um arco perfeito, com um início, meio e fim nítidos, com um progressivo e calculado acúmulo de tensão que culmina num clímax final; os dramas barrocos podem iniciar com uma impressão de casualidade, como se o observador tivesse capturado uma cena de passagem e sido jogado para dentro da trama acidentalmente; tampouco os finais são sempre um clímax, e nas tragédias barrocas a morte do protagonista no final deixa de ser uma regra. Esses traços, contudo, são muito genéricos, e casos particulares podem apresentar estruturas e desenvolvimentos bastante diversos, como é típico de todo o Barroco. Teatro. O teatro barroco herdou os avanços renascentistas na construção de cenários com perspectivas ilusionísticas, o que estava ligado à revivescência da arquitetura clássica. Arquitetos como Vincenzo Scamozzi, Sebastiano Serlio, Bernardo Buontalenti e Baldassare Peruzzi haviam participado ativamente da concepção de cenários de impacto realista, seja através de painéis pintados, o que era mais comum, seja com construções realmente tridimensionais sobre os palcos, e pelo fim do a cenografia se tornara uma parte importante na representação teatral. Ao longo do século seguinte adquiriu relevo ainda maior, e como os cenários teatrais não estavam sujeitos às limitações da arquitetura real, desenvolveu-se uma linha de cenários altamente fantasiosos e bizarros, onde a imaginação encontrou um terreno livre para se manifestar. À medida que os cenários móveis se tornavam mais complexos, da mesma forma evoluíam as casas teatrais, até então construções temporárias ou de proporções modestas. O primeiro grande teatro permanente fora erguido em Florença em meados do , e no século seguinte vários outros apareceram. O primeiro proscênio permanente surgiu em 1618 no Teatro Farnese em Parma, sob a forma de uma derivação de um arco de triunfo. Fixos, limitavam a visão do público à regra da perspectiva central, que correspondia simbolicamente à visão do governante, um reflexo da ideologia absolutista. Também herança do Renascimento foram a presença amiudada de motivos clássicos e a concepção da ação numa unidade de tempo e espaço, que havia sido definida por Aristóteles na Grécia Antiga. O resultado dessa regra foi a narrativa se desenvolver em um único local num mesmo dia, forçando a ação dentro destes limites rígidos. Essencialmente artificial, este tipo de teatro só encontrou apreciadores entre a elite italiana. Contudo, à medida que o Barroco progredia, estes parâmetros foram paulatinamente sendo abandonados, enquanto que na Inglaterra e Espanha, por exemplo, a tradição dos mistérios e paixões medievais continuava viva. No fim do nasceu um dos gêneros teatrais mais importantes, a ópera, que foi concebida inicialmente como uma ressurreição do drama clássico grego, mas logo se desenvolveu para tornar-se a súmula de todas as artes, envolvendo representação, dança, música e um complexo aparato cênico para a produção de efeitos especiais. Também reservada de início às elites, logo se tornou apreciada pelo povo, fazendo imenso sucesso em quase toda a Europa. A despeito de sua rápida popularização e enorme prestígio entre a nobreza, chegando a deslocar o drama falado como o gênero favorito de teatro, a ópera como um gênero representativo enfrentava limitações sérias, além de ser regida por uma série de convenções. A dificuldade de se conseguir uma eficiência dramática com a ópera barroca derivava de vários fatores. Em primeiro lugar poucos cantores tinham verdadeiro talento como atores, e no mais das vezes sua presença em palco só se justificava pelas suas habilidades vocais. Em segundo, grande número de libretos era de baixa qualidade, tanto em termos de ideia como de forma, tendo seus textos reformados e adaptados infinitas vezes a partir de várias fontes, resultando em verdadeiros mosaicos literários. Em terceiro, a própria estrutura da ópera, fragmentada em uma longa sequência de trechos mais ou menos autônomos, as árias, coro e recitativos, entre os quais os cantores saíam e voltavam à cena várias vezes para receber aplausos, anulava qualquer senso de unidade de ação que mesmo um libreto excelente pudesse oferecer. As árias eram seções essencialmente estáticas, serviam acima de tudo para exibir o virtuosismo do cantor e faziam uma meditação altamente retórica, estilizada e formal sobre algum elemento da narrativa — cantavam um sentimento, planejavam uma ação, refletiam sobre algum acontecimento anterior, e assim por diante, mas não havia ação nenhuma. A trama era levada adiante somente nos recitativos, partes cantadas de uma forma próxima da fala, com acompanhamento instrumental reduzido a um mínimo. Os recitativos eram os trechos que o público considerava menos interessantes, vendo-os como necessários apenas para dar alguma unidade na frouxa e vaga coesão dramática da maioria dos libretos, e durante sua "performance" era comum que os espectadores se engajassem em conversas com seus vizinhos, bebessem e comessem, circulassem pelo teatro, enquanto esperavam a próxima ária. Destarte, as óperas da época podem bem ser consideradas peças de concerto com uma decoração visual luxuriante e apenas um esboço de ação cênica. No caso da França, porém, a situação era diferente. A ópera nacional francesa, chamada de tragédia lírica, como concebida pelo compositor Jean-Baptiste Lully e o libretista Philippe Quinault, tinha libretos de alta qualidade, uma perfeita adequação entre música e texto, e consistente desenvolvimento dramático, superando em popularidade os dramas falados até de Racine, que então estava no auge de sua carreira. Duas outras tendências influentes também floresceram no Barroco. A primeira foi a da Commedia dell'Arte, um gênero popular e cômico de características heterogêneas, derivado em parte dos jograis da Idade Média, das festividades e mascaradas populares espontâneas do Carnaval e do folclore. O gênero se estruturou na segunda metade do e se consolidou ao iniciar o , e em vez de se fixar somente no texto escrito dava amplo espaço para a improvisação. Mas longe de ser apenas um improviso, requeria um grande domínio da técnica representativa e um fino senso de ação em conjunto. Seus temas eram do cotidiano, ou faziam paródias de motivos consagrados pela tradição clássica, entremeando-os com exibições de malabarismo e canções populares. Vários dos personagens da Commedia dell'Arte eram tipos fixos, como Pierrot, Colombina, Arlequim, Polichinelo, reconhecíveis por máscaras e trajes característicos. Apresentavam-se nas ruas como grupos itinerantes, falando no dialeto local, mas também participavam de festas nobres. Algumas companhias alcançaram fama continental e inspiraram autores barrocos como Molière e Carlo Goldoni, como antes já haviam inspirado Shakespeare. A outra tendência de vasta repercussão foi o teatro sacro desenvolvido pelos jesuítas, como parte de suas estratégias contrarreformistas. Embora mantendo traços do drama clássico na forma, na técnica e na linguagem, seus temas eram naturalmente religiosos e seu propósito, declaradamente doutrinário. O drama jesuítico foi muito cultivado em todos os colégios mantidos pelos padres, e se tornou parte integral da empreitada missionária pela América e Oriente, adaptando-se a costumes locais e incorporando as inovações na arte dramática profana. Seu estilo teve uma influência também na obra de Pierre Corneille, Molière e Goldoni. Embora esse teatro não tenha chegado às regiões protestantes, pelo menos na Inglaterra exerceu influência no teatro estudantil cômico e na representação de dramas sacros no Natal. Por outro lado, na Espanha foi recebido com entusiasmo, fundindo-se à já grande tradição dos autos sacramentais que tivera origem na Idade Média. Os autos espanhóis se tornaram então obras de arte erudita, estando entre os principais gêneros dramáticos da Espanha barroca, e alguns foram produzidos pelos melhores poetas do Século de Ouro. Paralelamente a Espanha desenvolveu um teatro profano de particular vigor e sucesso de público, com um estilo passional, romântico e lírico, tratando de uma multiplicidade de temas, mas geralmente envolvendo o amor e a honra, num tratamento realista e vivaz. Lope de Vega, Tirso de Molina e Calderón de la Barca estão entre seus grandes expoentes. A França, que no tinha um teatro pobre, no se tornou um dos maiores centros europeus, formando uma forte escola nacional de tendência classicista, em temas sérios e cômicos, com representantes notáveis em Racine, Corneille e Molière. Na Inglaterra já havia uma sólida tradição de teatro profano desde o tempo de Elisabeth I, de modo que os ingleses puderam assimilar inovações italianas sem perder sua individualidade. Preocuparam-se com a unidade dramática e estabeleceram uma distinção mais clara entre comédia e drama do que aquela praticada no teatro elisabetano, quando a tragicomédia se tornara favorita da aristocracia, com bons representantes em John Fletcher e Francis Beaumont. As peças de Fletcher conheceram grande popularidade até passada a metade do , ultrapassando as de Shakespeare e explorando o romance, a honra, a surpresa e o suspense às expensas da caracterização dos personagens. Ao mesmo tempo se popularizaram o gênero da pastoral, um idílio mitológico ambientado no campo, que dava margem ao uso de recursos cênicos espetaculosos, e o da mascarada, combinando música, poesia, dança e cenários e figurinos extravagantes inspirados na Itália. A associação do arquiteto Inigo Jones como cenógrafo com o libretista Ben Johnson produziu algumas das mais refinadas mascaradas inglesas. Na Guerra Civil os teatros profanos foram fechados, e em sua reabertura dezoito anos depois a tradição de teatro profano estava completamente transformada, voltando-se para as comédias de costumes e reservado às elites, com uma qualidade geral mais baixa. Uma tentativa de elevar novamente o nível do teatro inglês foi feita por John Dryden, criando peças heroicas. Os ingleses foram ainda os responsáveis pela reativação do teatro germânico, que fora muito prejudicado pelas guerras, através da presença de companhias itinerantes, até que a influência italiana começou a predominar no final do , quando a qualidade geral do teatro europeu sofreu sensível declínio, somente restaurado no , especialmente com peças de conteúdo burguês ou satírico. Música. O século XVII trouxe à música a revolução mais profunda desde aquela promovida pela Ars nova no , e talvez tão importante quanto a que foi implementada pela música moderna no . É certo que tais mudanças não surgiram do nada e tiveram precursores, e demoraram anos até serem absorvidas em larga escala, mas em torno do ano 1600 se apresentaram obras que constituem verdadeiros marcos de passagem. Esse novo espírito requereu a criação de um vocabulário musical vastamente expandido e uma rápida evolução na técnica, especialmente a vocal. As origens do Barroco musical estão no contraste entre dois estilos nitidamente diferenciados, o chamado "prima prattica", o estilo geral do , e o "seconda prattica", derivado de inovações na música de teatro italiana. Na harmonia, outra área que sofreu mudança significativa, abandonaram-se os modos gregos ainda prevalentes no século anterior para adotar-se o sistema tonal, construído a partir de apenas duas escalas, a maior e a menor, que encontrou sua expressão mais típica na técnica do baixo contínuo. Além disso, se instalou a primazia do texto e dos afetos sobre a forma e a sonoridade; o contraponto e os estilos polifônicos, especialmente na música sacra, sobreviveram, mas descartaram texturas intrincadas onde o texto se torna incompreensível, como ocorria no Renascimento; iniciou-se a teorização da "performance" com tratados e manuais para profissionais e amadores; foram introduzidas afinações temperadas e formas concertantes; o baixo e a melodia assumem um lugar destacado na construção das estruturas; a melodia buscou fontes populares e a dissonância passou a ser empregada como recurso expressivo; as vozes superior e inferior foram enfatizadas; às sonoridades interválicas sucederam as acórdicas, e escolas nacionais desenvolveram características idiossincráticas. Entretanto, assim como nas outras artes, o Barroco musical foi uma pletora de tendências distintas; George Buelow considera que a diversidade foi tão grande que o conceito perdeu relevância como definição de uma unidade estilística, mas reconhece que o termo se fixou na musicologia. No terreno da simbologia e linguagem musical, foi de grande importância o desenvolvimento da doutrina dos afetos, propondo que recursos técnicos específicos e padronizados usados na composição podiam despertar emoções no ouvinte igualmente específicas e comuns a todos. A doutrina teve sua primeira formulação no final do Renascimento através do trabalho de músicos florentinos que estavam engajados na ressurreição da música da Grécia Antiga e que foram os fundadores da ópera. De acordo com sua interpretação de ideias de Platão, procuravam estabelecer relações exatas entre palavra e música. Para eles uma ideia musical não era somente uma "representação" de um afeto, mas sua verdadeira "materialização". Os recursos técnicos da doutrina foram minuciosamente catalogados e sistematizados por vários teóricos do Barroco como Athanasius Kircher, Andreas Werckmeister, Johann David Heinichen e Johann Mattheson. Mattheson escreveu com especial detalhe sobre o assunto em seu "Der vollkommene Capellmeister" (O perfeito mestre de capela, 1739). Como exemplo, disse que os intervalos amplos suscitavam alegria, e a tristeza era despertada por intervalos pequenos, a fúria se descrevia com uma harmonia rude associada a um tempo rápido.A doutrina teve uma aplicação particularmente importante no desenvolvimento da ópera. A "opera seria", o gênero mais prestigiado, se estruturava sobre diversas convenções que buscavam dar verossimilhança e impacto emocional a eventos apresentados de maneiras em tudo artificiais e retóricas, um conflito estético que, no entanto, foi resolvido de modo tão eficiente se tornou uma mania em muitos países. Os recitativos, seus trechos falados com acompanhamento instrumental muito resumido, conduziam a ação dramática, mas eram frequentemente ignorados pela plateia, que se dedicava então a beber, comer e conversar. As árias, os trechos cantados, porém, que eram os mais apreciados e mais substanciais musicalmente, eram quadros fixos em que a ação congelava sobre uma ideia ou sentimento, e davam espaço para o protagonista exibir o seu virtuosismo vocal seguindo modelos formais padronizados para cada tipo de expressão a ser ilustrada. Por exemplo, árias de fúria tipicamente eram em tempos rápidos com muitas vocalizações em coloratura, intervalos amplos, frequentemente na clave de ré menor, enquanto árias de amor muitas vezes eram compostas em lá maior. Tais convenções eram tão impessoais que se por qualquer motivo um cantor não apreciasse uma certa ária composta para ele podia sem maiores problemas substituí-la por outra de sua preferência, de outra fonte, desde que expressasse o mesmo afeto. Música vocal. Entre os gêneros vocais teve um papel importante a forma policoral com estruturas antifonais, os chamados "cori spezzati", desenvolvida por Andrea Gabrieli e Giovanni Gabrieli em Veneza, na passagem do para o , estabelecendo precedentes para os gêneros concertantes vocais e instrumentais e inovando nas técnicas polifônicas. Mas possivelmente a mais influente e seminal forma vocal a se desenvolver no Barroco foi a ópera, o mais ambicioso projeto de exploração dos efeitos dramáticos em música, com o auxílio de representação cênica e requintadas cenografias. Os precursores da ópera foram os florentinos Giulio Caccini e Jacopo Peri, cuja ópera "Euridice" (1600), composta conjuntamente, é a mais antiga que sobreviveu, mas o primeiro grande expoente foi o veneziano Claudio Monteverdi, que em 1607 apresentou seu "L'Orfeo", seguido de várias outras composições importantes e influentes, como "L'Arianna" e "L'Incoronazione di Poppea". Suas óperas, como todas as de sua época, fizeram face ao desafio de estabelecer uma unidade coerente para um paradoxo de origem — a tentativa de criar uma representação realista num contexto artístico que primava pelo artificialismo e convencionalismo. Para Ringer as óperas de Monteverdi foram uma resposta brilhante para esse desafio, estão entre as mais pura e essencialmente teatrais de todo o repertório sem perder em nada suas qualidades musicais, e foram a primeira tentativa bem sucedida da ilustração dos afetos humanos em música numa escala monumental, sempre amarrada a um senso de responsabilidade ética. Com isso ele revolucionou a prática de seu tempo e se tornou o fundador de toda uma nova estética que teve uma influência enorme em todas as gerações de operistas posteriores. Enquanto Monteverdi desenvolvia a parte final de sua carreira em Veneza, Roma e Nápoles também patrocinavam uma rica atividade operística, introduzindo outras novidades: um uso mais frequente do coro, introdução de "intermezzi" dançados entre os atos, e a adoção de uma abertura em estilo de "canzona". A ópera logo ganhou ampla aceitação, e o gosto popular passou a influir sobre os compositores, utilizando melodias populares e cenários suntuosos e engenhosos, com maquinismos cênicos para efeitos especiais e aberturas no estilo de fanfarras. O desejo da audiência por melodias facilmente memorizáveis e cantáveis possibilitou a progressiva distinção entre árias e recitativos. No início do fixou-se a fórmula da "opera seria", cuja dramaturgia se desenvolveu em boa parte como uma resposta à crítica francesa daqueles que frequentemente era vistos como "libretos impuros e corrompedores". Como resposta, a Accademia dell'Arcadia, sediada em Roma, buscou retornar a ópera italiana aos princípios clássicos, obedecendo as unidades dramáticas de Aristóteles e substituindo tramas "imorais" por narrativas altamente moralistas, que buscavam instruir, além de entreter. No entanto, os finais quase sempre trágicos do drama clássico eram rejeitados, por motivos de decoro; os principais autores de libretos da "opera seria", como Apostolo Zeno e Pietro Metastasio, acreditavam que a virtude devia ser recompensada, e mostrada triunfando. Os episódios cômicos e o balé, comuns na ópera francesa, foram banidos, mas foi o período áureo dos solistas vocais virtuosos, especialmente os "castrati". Ainda no ópera se difundiu para a França, onde se adaptou à tradição da tragédia e do balé e formou a chamada tragédia lírica, que se tornou uma instituição nacional. Na França a abertura italiana se transformou em uma peça mais consistente, a chamada abertura francesa, com uma seção em "fugatto". Os mestres da tragédia lírica foram Jean-Baptiste Lully e Jean-Philippe Rameau. Na Alemanha a ópera não foi tão popular, mas não obstante recebeu atenção em várias cidades importantes, como Hamburgo, Munique e Dresden. Na Áustria, Viena foi um grande centro operístico, e em toda a área germânica a influência italiana foi predominante, com destaque para os compositores Reinhard Keiser, Niccolò Jommelli, Georg Philipp Telemann e Johann Adolph Hasse. Na Inglaterra a situação era semelhante à da França, podendo desenvolver um estilo nacional com Henry Purcell e John Blow antes dos italianos, ou italianizados como Handel, dominarem a cena no . Os operistas napolitanos também ajudaram a desenvolver um outro gênero de música vocal dramática, a cantata, para voz solo com acompanhamento instrumental. Giacomo Carissimi consolidou o gênero num modelo compacto, com duas ou três árias entremeadas de recitativos, forma levada adiante por vários outros compositores e introduzida na França por Marc-Antoine Charpentier. Em virtude da progressiva diluição dos limites entre os gêneros sacros e profanos, logo a cantata foi adotada como veículo de temas religiosos, originando a cantata sacra. Nesta forma foi muito popular nos países germânicos, onde se tornou parte integrante do culto luterano. Seu maior cultivador foi Johann Sebastian Bach, mas também se dedicaram ao gênero Dietrich Buxtehude e Johann Kuhnau. Paralelamente à evolução da ópera, surgiram o oratório, o seu equivalente sacro, e a paixão, também semelhante. Emilio de' Cavalieri é tido como o fundador do oratório com sua "Rappresentazione di anima e di corpo", estreada em Roma em 1600, e Carissimi, Alessandro Scarlatti, Heinrich Schütz e Georg Friedrich Handel deram importantes contribuições à expansão da forma. Música instrumental. À medida que novas técnicas de canto eram desenvolvidas, estas inovações iam sendo absorvidas pela música instrumental, especialmente agora que instrumentos participavam de formas antes executadas "a capella", como o moteto. O instrumental não sofreu transformações tão importantes e permaneceu em linhas gerais o mesmo do Renascimento, mas seus usos sim foram modificados, como por exemplo o abandono do alaúde como condutor do baixo contínuo, substituído pelo cravo ou órgão. As danças renascentistas, executadas em pares, foram expandidas para organizarem suítes em vários movimentos, usualmente de quatro a seis, "allemande, courante, sarabande", "menuets I & II", e "gigue", mas podendo aparecer com movimentos adicionais como a "air", a "bourrée", a "chaconne" e a "passacaglia". A "toccata", o prelúdio e a fantasia, já existentes no Renascimento, foram expandidas em dimensões e profundidade de tratamento, enquanto que as formas polifônicas instrumentais mais importantes da geração anterior, a "canzona" e o "ricercare", evoluíram para formar a fuga. Muitas formas de dança foram inseridas em óperas e foram organizadas em bailados, e nesses gêneros mistos a peça de abertura, em regra somente instrumental, adquiriu grande importância. Outras formas importantes a nascerem no Barroco foram a sonata e o concerto, que se multiplicaram em várias formas subsidiárias, o primeiro na sonata da chiesa, na sonata da camera e na trio-sonata, e o segundo dando origem ao concerto grosso, o concerto para solista e a sinfonia. Para estes gêneros escreveram obras importantes Arcangelo Corelli, Antonio Vivaldi, Giuseppe Tartini, Jean-Marie Leclair, Bach, Händel e Purcell. Ao mesmo tempo, a música para teclado — órgão ou cravo — conheceu grande expansão, através do trabalho de Dietrich Buxtehude, Jan Pieterszoon Sweelinck, Johann Pachelbel, Johann Froberger, Georg Muffat, Bach, Girolamo Frescobaldi, Domenico Scarlatti, Rameau e François Couperin. Interiores e mobiliário. A decoração de interiores foi parte integral da concepção da arte barroca, contribuindo de modo importante para a consumação do desejo de criar obras de arte "totais" e envolventes, que tiveram seus pontos máximos nos interiores dos grandes palácios, teatros e igrejas. Neste aspecto as regiões protestantes também adotaram princípios barrocos, pois a ornamentação não estava necessariamente ligada à propaganda da fé, embora nos países católicos ela fosse consistentemente usada para auxiliar no efeito didático final do programa iconográfico estabelecido através das pinturas e esculturas. Nessas outras regiões, especialmente onde o sistema político tendia para o absolutismo, cujos objetivos totalizantes encontravam um fértil campo de representação numa decoração luxuosa e ostentatória, indicativa do poder do monarca e de sua glória, o Barroco floriu expressivamente. Da mesma forma que nas artes visuais, a decoração prima pelas formas curvas, pela abundância ornamental, pelo uso de materiais preciosos, como o ouro e pedras decorativas tais como os mármores coloridos, as ágatas, o alabastro e outras. Tanto a pedra como a madeira e o metal foram submetidas ao capricho dos artistas e se dobraram e curvaram em uma cornucópia de motivos de infinita inventividade. Colunas se torceram em espirais, frontispícios se povoaram de volutas, portas se cobriram de almofadões em relevo, arcos foram quebrados, ondulados e multiplicados, as cornijas arquitetônicas e os beirais se tornaram assentos de anjos e deidades clássicas, mísulas foram substituídas por atlantes e cariátides, janelas assumiram feições variadas — ovoide, periforme, estrelada e outras — e virtualmente todas as superfícies recebiam tratamento ornamental. O Barroco foi um período de apogeu para a talha em madeira, tão típica das igrejas da época, especialmente na América, frequentemente coberta de ouro e esculpida com enorme densidade de elementos ornamentais, com motivos fitomórficos entremeados de figuras de anjos, santos, animais fabulosos e outros, em certos exemplares chegando a obscurecer as formas arquitetônicas e criando uma forma espacial nova. Também no mobiliário as formas se dinamizaram e curvaram, e a decoração magnificou-se a ponto de às vezes assumir dimensões arquitetônicas, como mostram certas camas ornadas com grandes baldaquinos e cabeceiras monumentais e as grandes bancadas e armários encontrados em palácios e sacristias de igrejas, que fundem suas formas à arquitetura do entorno. Interiores como o da Galeria dos Espelhos do Palácio de Versalhes, da Igreja de São Francisco em Salvador, do Teatro Argentina em Roma, e as movimentadas fachadas da Igreja de Santa Maria Madalena em Braga e da Catedral de Múrcia, na Espanha, são apenas alguns dos numerosíssimos exemplos de decoração tipicamente barroca.
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Berkeley Software Distribution
Berkeley Software Distribution Berkeley Software Distribution (BSD) é um sistema operacional Unix com desenvolvimento derivado e distribuído pelo Computer Systems Research Group (CSRG) da Universidade da Califórnia em Berkeley, de 1977 a 1995. Hoje o termo "BSD" é frequentemente usado de forma não específica para se referir a qualquer descendente que juntos, formam uma ramificação da família Unix-like de sistemas operacionais. Sistemas operacionais derivados do código do BSD original ainda são ativamente desenvolvidos e largamente utilizados. Historicamente, o BSD ou Berkeley Unix foi considerado uma ramificação do Unix da AT&T, porque compartilhou a base de dados inicial e o projeto original. Nos anos de 1980, o BSD foi largamente adotado por fornecedores de sistemas de estação de trabalho na forma de variantes proprietárias de Unix como DEC, ULTRIX e o SunOS da Sun Microsystems . Isto pode ser atribuído à facilidade com que ele pode ser licenciado, além da familiaridade que os fundadores de muitas empresas de tecnologia da época tinham com ele. Embora estes derivados proprietários do BSD foram amplamente superados pelo UNIX System V Release 4 e o OSF / 1, sistemas da década de 1990 (sendo que ambos incorporaram código BSD e são a base de outros sistemas Unix modernos), mais tarde os lançamentos BSD forneceram uma base para vários projetos de desenvolvimento de código aberto, por exemplo: FreeBSD, OpenBSD, NetBSD, Darwin ou PC-BSD, que estão em contínuo desenvolvimento. Estes, por sua vez foram incorporados, no todo ou em parte, em sistemas operacionais proprietários modernos, como por exemplo o conjunto de protocolos de Internet TCP/IP, código de rede em Windows NT 3.1 e também da maioria dos OS X da Apple's e iOS. História. BSD 1 (PDP-11). As primeiras distribuições do Unix da Bell Labs em 1970 incluíram o código fonte para o sistema operacional, habilitando os pesquisadores em universidades a modificar e estender o Unix. O sistema operacional surgiu em Berkeley em 1974, a pedido do professor de Ciência da Computação Bob Fabry que havia estado no comitê do programa para o Symposium on Operating Systems Principles onde o Unix foi apresentado pela primeira vez. Um PDP-11/45 foi vendido para rodar o sistema, mas, por razões orçamentais, esta máquina foi compartilhada com os grupos de Matemática e Estatística em Berkeley, que usaram RSTS, de modo que o Unix funcionava somente oito horas por dia na máquina (às vezes durante o dia, às vezes durante a noite). Um maior computador, o PDP-11/70 foi instalado em Berkeley no ano seguinte, usando o dinheiro do projeto de banco de dados Ingres. Também em 1975, Ken Thompson chegou à Berkeley como professor visitante. Ele ajudou a instalar o Unix Versão 6 e começou a trabalhar com Pascal para implementação do sistema. Alunos de graduação como Chuck Haley e Bill Joy melhoraram o Pascal de Thompson e implementaram um editor de textos melhorado: o ex. Outras universidades se interessaram pelo software em Berkeley, e assim em 1977, Joy começou a compilar a primeira "Berkeley Software Distribution" (BSD 1), que foi lançado em 9 de março de 1978. O BSD 1 foi um "add-on" para a versão 6 do Unix em vez de um sistema operacional completo por si mesmo. Umas trinta cópias foram vendidas. BSD 2 (PDP-11). O segundo BSD, lançado em maio de 1979, incluiu versões atualizadas do BSD 1, bem como dois novos programas de Joy que persistem no Unix até os dias de hoje: o editor de textos vi, um editor visual do ex e o C Shell. Cerca de 75 cópias do BSD 2 foram enviadas por Bill Joy. Uma outra característica foi um pacote de rede chamado Berknet, desenvolvido pela Eric Schmidt como parte da tese de seu trabalho de mestrado, que pode conectar até vinte e seis computadores e e-mail fornecidos, além de transferência de arquivos. Depois que o BSD 3 (veja abaixo) saiu para a linha de computadores VAX, novos lançamentos do BSD 2 para o PDP-11 ainda foram emitidos e distribuídos através de USENIX; por exemplo, de 1982, a versão 2.8.1 do BSD incluiu uma coleção de correções para problemas de desempenho na Versão 7 do Unix, e em versões posteriores continham ports de mudanças dos lançamentos baseados no VAX de BSD, voltados para a arquitetura do PDP-11. A versão do BSD 2.9 de 1983 incluiu código do BSD 4.1c, e foi considerado o primeiro lançamento de sistema operacional completo (um Unix V7 modificado) em vez de um conjunto de aplicativos e patches. O mais recente lançamento, o BSD 2.11, foi emitido pela primeira vez em 1992. A partir de 2008, as atualizações de manutenção de voluntários ainda estão em andamento, com o patch 448 sendo lançado em 17 de junho de 2012. BSD 3. Um computador VAX foi instalado em Berkeley em 1978, mas o port do Unix para a arquitetura VAX, o UNIX/32V, não tirou vantagem das capacidades de memória virtual do VAX. O kernel do 32V foi amplamente reescrito por estudantes de Berkeley que incluía uma implementação de memória virtual e um sistema operacional completo incluindo o novo kernel, ports de utilidades do BSD 2 para o VAX, e as utilidades do 32V também foram lançadas como BSD 3, no final de 1979. O BSD também foi alternativamente chamado de Virtual VAX/UNIX ou VMUNIX (para memórias virtuais Unix), e as imagens do Kernel do BSD eram conhecidas como /vmunix até o BSD 4.4. O sucesso do BSD 3 foi um maior fator na decisão do Defense Advanced Research Projects Agency's (DARPA) em financiar o Berkeley's Computer Systems Research Group (CSRG), no qual desenvolveram uma plataforma Unix padrão para a futura pesquisa do DARPA no Berkeley's Computer Systems Research Group. BSD 4. O BSD 4 foi lançado em novembro de 1980 oferecendo um número de melhorias sobre o BSD 3, notavelmente um job control no csh lançado previamente, além do "delivermail" (o antecedente do sendmail), além de "confiáveis" sinais e a biblioteca de programação do Curses. Em 1985 num review de lançamento do BSD, John Quarterman, escreveu: BSD 4.1. O BSD na versão 4.1 foi lançado em junho de 1981 e foi uma resposta ao criticismo de performance relativa aos BSDs nos sistemas operacionais dos VAX da época, o VMS. O kernel do BSD 4.1 foi sistematicamente sintonizado pelo Bill Joy até que ele obtivesse uma performance semelhante ao VMS nos benchmarks. O lançamento deveria ter sido chamado de "BSD 5", mas depois de objeções da AT&T o nome foi mudado; a AT&T temia confusão com o UNIX System V. BSD 4.2. Foi lançado em agosto de 1983, levou mais de 2 anos para ser implementado e continha várias e grandes reparações. Antes de seu lançamento oficial vieram três versões intermediárias: a " 4.1a " que incorporava uma versão preliminar modificada de Bolt, Beranek e Newman da BBN do TCP IP; O "4.1b" que incluia o novo UFS, implementado por Marshall Kirk McKusick; e o "4.1c" que foi uma liberdade provisória durante os últimos meses de desenvolvimento do BSD 4.2. De volta à Bell Labs, o BSD 4.1c se tornou a base da oitava edição de Research Unix, e uma versão suportada comercialmente era disponível a partir do mtXinu. Para orientar a concepção do BSD 4.2, Duane Adams do DARPA formou um "comitê de direção" que consiste em: Bob Fabry, Bill Joy e Sam Leffler a partir da UCB, Alan Nemeth e Rob Gurwitz da BBN, Dennis Ritchie da Bell Labs, Keith Lantz de Stanford, Rick Rashid da Carnegie-Mellon, Bert Halstead do MIT, Dan Lynch do ISI e Gerald J. Popek da UCLA. A comissão reuniu-se a partir de abril de 1981 à junho de 1983. Além do UFS, foram aceites várias características de colaboradores externos, incluindo as quotas de disco e controle de trabalho. A Sun Microsystems, elaborou testes em suas máquinas Motorola 68000, antes da liberação, assegurando a portabilidade do sistema. O lançamento oficial do BSD 4.2 veio em agosto de 1983. Foi notável como a primeira versão lançada após o início, em 1982, Bill Joy cofundador da Sun Microsystems; Mike Karels e Marshall Kirk McKusick assumiram funções de liderança dentro do projeto a partir desse ponto em diante. Em uma nota mais leve, ele também marcou a estreia do mascote do BSD em um desenho feito por John Lasseter que apareceu na capa dos manuais impressos distribuídos por USENIX. BSD 4.3. A versão 4.3 foi lançada em junho de 1986. Suas principais mudanças foram para melhorar o desempenho de muitas das novas contribuições do BSD 4.2 que não tinha sido tão fortemente afinadas como o código do BSD 4.1. Antes do lançamento, a implementação do BSD de TCP/IP havia divergido consideravelmente de implementações oficiais da BBN. Depois de vários meses de testes, o DARPA determinou que a versão BSD 4.2 foi superior e permaneceria no BSD 4.3. Após o BSD 4.3, foi determinado que o BSD iria afastar-se da antiga plataforma VAX. O Power 6/32 platforma de codinome "Tahoe" desenvolvido pela Computer Inc. Consoles parecia promissor na época, mas foi abandonado por seus desenvolvedores pouco depois. No entanto, o port do BSD 4.3-Tahoe em junho de 1988, foi valiosa, uma vez que levou a uma separação de máquina dependente e também código independente de máquina no BSD que iria melhorar a portabilidade futura do sistema. Além de portabilidade, o CSRG trabalhou em uma implementação do OSI uma pilha de protocolos de rede, melhorias no sistema de memória virtual do kernel e (com Van Jacobson do LBL) novos algoritmos TCP/IP para acomodar o crescimento da internet. Até então, todas as versões do BSD incorporavam código proprietário do Unix da AT&T e foram, portanto, sujeitas a uma licença de software AT&T. Licenças de código-fonte tornaram-se muito caras e vários grupos de terceiros expressaram interesse em uma versão separada do código de rede, que tinha sido desenvolvido completamente fora da AT&T e portanto não estaria sujeito ao requisito de licenciamento. Isso levou ao Networking Release 1 (Net/1), que foi feito disponível para não-licenciados do código AT&T e foi redistribuído livremente, nos termos da licença BSD. E foi lançado em junho de 1989. O BSD 4.3-Reno veio no início de 1990. Era uma versão provisória durante o desenvolvimento precoce do BSD 4.4, e sua utilização foi considerada uma "aposta", daí a denominação após o centro de jogos de azar de Reno, Nevada. Esta versão foi explicitamente se movendo em direção à conformidade POSIX, e, segundo alguns, longe da filosofia BSD (como o POSIX é muito baseado no System V, e o Reno foi bastante inchado em comparação às versões anteriores). Entre os novos recursos estiveram um Sistema de Arquivos de Rede NFS implementada pela Universidade de Guelph e apoio para a gama de computadores HP 9000, originários da Universidade de Utah, o port "HPBSD". Em agosto de 2006, a revista InformationWeek classificou o BSD 4.3 como "O Maior Software Jamais Escrito". Eles comentaram: "o BSD 4.3 representa o único grande suporte teórico da Internet." Net/2 e Problemas Legais. Depois do Net/1, um dos desenvolvedor do BSD Keith Bostic propôs que mais seções não-AT&T do sistema BSD fossem liberadas sob a mesma licença como Net/1. Para este fim, ele iniciou um projeto para reimplementar a maioria dos programas do NetBSD sem usar o código AT&T. Por exemplo, o vi, que tinha sido baseado na versão original do Unix ed, foi reescrita como nvi (novo vi). No prazo de dezoito meses, todos os utilitários AT&T tinham sido substituídos, e determinou-se que apenas alguns arquivos da AT&T permanecessem no kernel. Esses arquivos foram removidos, e o resultado foi o lançamento em junho de 1991, o "Networking Release 2" (Net/2), um sistema operacional quase completo que foi distribuído gratuitamente. O Net/2 foi a base para dois ports separados do BSD para a arquitetura Intel 80386: o livre 386BSD por William Jolitz e o proprietário BSD/386 (mais tarde renomeado como BSD/OS) por Berkeley Software Design (BSDi). O 386BSD foi de curta duração, mas tornou-se a base de código inicial dos projetos NetBSD e FreeBSD que foram iniciados pouco depois. A BSDi logo se viu em problemas legais com a subsidiária da AT&T Unix System Laboratories (USL), em seguida, os donos do System V copyright e a marca Unix. A ação "USL v. BSDi" foi ajuizada em 1992 e levou a uma liminar sobre a distribuição do Net 2 até que a validade das reivindicações de direitos autorais do USL nos fontes pudessem ser determinadas. A ação desacelerou o desenvolvimento de software livre dos descendentes do BSD por quase dois anos, enquanto o seu estatuto jurídico estava em questão, e como sistemas de resultado com base no kernel Linux, o que não tem essa ambiguidade legal, ganharam maior apoio. Apesar de não ser lançado até 1992, o desenvolvimento do 386BSD antecedeu o de Linux. Linus Torvalds disse que se o 386BSD ou o GNU Hurd não estivessem disponíveis no momento, ele provavelmente não teria criado o Linux. BSD 4.4 e Seus Descendentes. A ação foi estabelecida em janeiro de 1994, em grande parte, em favor da Berkeley. Dos 18.000 arquivos na distribuição Berkeley, apenas três tiveram que ser removidos e 70 modificados para mostrar avisos de direitos autorais da USL. Uma outra condição do acordo foi que USL não iria apresentar novas ações judiciais contra usuários e distribuidores do código de Berkeley detido na próxima versão: o BSD 4.4. Marshall Kirk McKusick resume o processo e seu resultado: Em junho de 1994, o BSD 4.4 foi lançado em duas formas: a distribuição livre 4.4 BSD-Lite que não continha nenhuma fonte AT&T, enquanto a versão 4.4 BSD-Encumbered estava disponível, como versões anteriores, tinha sido só para licenciados da AT&T. A versão final de Berkeley foi em 1995 do BSD 4.4-Lite Release 2, após o CSRG ser dissolvido e o desenvolvimento do BSD em Berkeley ter cessado. Desde então, diversas variantes baseadas direta ou indiretamente no BSD 4.4-Lite (como o FreeBSD, NetBSD, OpenBSD e o DragonFly BSD) foram mantidos. Além disso, a natureza permissiva da licença BSD tem permitido que muitos outros sistemas operacionais, tanto livres quanto proprietários, tenham código BSD incorporado. Por exemplo, o Microsoft Windows tem utilizado código derivado do BSD na sua implementação de TCP/IP. e pacotes recompilados de versões BSD de ferramentas de redes de interpretador de comando desde o Windows 2000. Também o Darwin, o sistema no qual o Mac OS X da Apple é construído, é um derivado do BSD 4.4-Lite2 e FreeBSD. Vários sistemas operacionais comerciais de UNIX, tal como o Solaris, também contêm quantidades variáveis ​​de código BSD. Relacionamento com Research Unix. Começando com a oitava edição, versões de pesquisa Unix na Bell Labs tinham uma estreita relação com o BSD. Isso começou quando o BSD 4.1c para o VAX foi usado como base para a "Research Unix: oitava edição". Isto continuou em versões posteriores, como a 9ª Edição, que incorporou código fonte e melhorias do BSD 4.3. O resultado foi que essas versões posteriores do Research Unix estavam mais próximas do BSD do que do System V. Em uma publicação da Usenet em 2000, Dennis Ritchie descreveu esta relação entre BSD Unix e Pesquisa: Relacionamento com o System V. Eric S. Raymond resumiu a relação de longa data entre o System V e o BSD, afirmando: ""A divisão era aproximadamente entre cabelos longos e curtos; programadores e pessoal técnico tendem a se alinhar com a Berkeley e o BSD, tipos mais orientados para o negócio, com a AT&T e o System V." Em 1989, David A. Curry escreveu sobre as diferenças entre BSD e System V. Ele caracterizou o segundo como sendo frequentemente considerado como o "Unix padrão." No entanto, ele descreveu como os BSD's sendo mais populares entre os centros de computação de universidades e do governo, devido às suas características avançadas e desempenho: Tecnologia. Soquetes Berkeley. O Unix de Berkeley foi o primeiro Unix a incluir bibliotecas que suportam as pilhas de protocolos da internet: "Soquetes Berkeley". A implementação Unix do antecessor do IP, o NCP da ARPAnet, com os clientes FTP e Telnet, tinham sido produzidos na Universidade de Illinois em 1975, e estavam disponíveis em Berkeley. Entretanto, a escassez de memória no PDP-11 forçou um projeto complicado e problemas de performance. Ao integrar soquetes com o descritor de arquivo do sistema operacional Unix, tornou-se quase tão fácil de ler e gravar dados em toda a rede como o fôra para acessar um disco. O laboratório AT&T finalmente lançou sua própria biblioteca de stream, que incorporou grande parte da mesma funcionalidade em uma pilha de software com uma arquitetura diferente, mas a ampla distribuição da biblioteca de sockets existente reduziu o impacto da nova API. Foram usadas as primeiras versões do BSD para formar o SunOS da Sun Microsystems, fundando a primeira onda de estações de trabalho UNIX populares. Compatibilidade Binária. Sistemas operacionais BSD podem executar software nativo de muitos outros sistemas operacionais na mesma arquitetura, usando uma camada de compatibilidade binária. Muito mais simples e rápido que emulação, o que permite, por exemplo, aplicações previstas para Linux serem executadas em velocidade efetivamente completa. Isso faz com que os BSDs não só sejam adequados para ambientes de servidores, mas também para as estações de trabalho, dada a crescente disponibilidade de software comercial ou de código fechado apenas para Linux. Isto também permite que os administradores migrem para aplicações comerciais normais, o que pode ter apenas variantes comerciais do Unix suportadas, para um sistema operacional mais moderno, mantendo a funcionalidade de tais aplicações até que eles possam ser substituídos por uma alternativa melhor. Adesão Padrão. As variantes dos sistemas operacionais BSD atuais suportam muitos dos padrões: IEEE, ANSI, ISO e POSIX, enquanto retém a maior parte do comportamento BSD tradicional. Como o Unix AT&T, o kernel BSD é um monolítico, o que significa que os drivers de dispositivos rodam no modo privilegiado, como parte do núcleo do sistema operacional. Descendentes de BSD Significantes. O BSD tem sido a base de um grande número de sistemas operacionais. O mais notável entre estes hoje são talvez os principais de código aberto: FreeBSD, NetBSD e OpenBSD, que são todos derivados do 386BSD e do BSD 4.4 - Lite por várias vias. Ambos NetBSD e FreeBSD começaram a existir em 1993, inicialmente derivados do 386BSD, mas em 1994 migraram para uma base de código BSD 4.4-Lite. O OpenBSD foi um fork em 1995 a partir do NetBSD. Os três descendentes mais notáveis na atual utilização, às vezes conhecidos como Os BSDs - têm gerado uma série de descendentes, incluindo: DragonFly BSD, FreeSBIE, Miros BSD, DesktopBSD, PC-BSD e mais recentemente o GhostBSD. Eles são direcionados para uma variedade de sistemas para fins diferentes e são comuns em instalações governamentais, universidades e em uso comercial. Um número de sistemas operacionais comerciais também estão parcial ou totalmente baseados em BSD ou nos seus descendentes, incluindo: SunOS e o Mac OS X. A maioria dos atuais sistemas operacionais BSD são código aberto e disponíveis para download gratuitamente sob a BSD License, a exceção mais notável é o Mac OS X. Eles também usam geralmente um kernel monolítico, além do Mac OS X e DragonFly BSD que apresentam kernel híbrido. Os vários projetos de código aberto BSD, geralmente desenvolvem programas e bibliotecas em conjunto e um kernel com espaço do usuário , além do código-fonte ser gerenciado através de um único repositório de origem central. No passado, BSD também foi usado como base para várias versões proprietárias do Unix, como o: SunOS, Sequent, Dynix, NeXT, NeXTSTEP, DEC, Ultrix e OSF/1 AXP agora conhecido como Tru64 UNIX. Partes do software da NeXT se tornaram a base para o Mac OS X, entre as variantes BSD mais bem sucedidas comercialmente no mercado em geral. Uma seleção de versões significantes do Unix e Unix-like que descendem do BSD, incluem:
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Baía dos Porcos
Baía dos Porcos A Baía dos Porcos (em espanhol, "Bahia de los Cochinos") é uma baía na costa meridional de Cuba, mais conhecida em razão de uma tentativa de invasão malsucedida por parte de mais de mil e duzentos exilados cubanos, ligados ao antigo regime de Fulgêncio Batista, apoiados pelos Estados Unidos - que foram treinados e financiados pelos serviço secreto norte-americana CIA, em 1961. Esta invasão deu-se devido à persistência dos Estados Unidos em contrariar a dispersão dos ideais comunistas. É um dos marcos históricos da reconhecida Guerra Fria. Fauna. Anualmente, há um aumento da população de caranguejos na baía, após a época de acasalamento. Em 2022, no entanto, esse aumento foi maior do que o comum, possivelmente relacionado ao menor tráfego de carros, ônibus e pessoas nos anos anteriores, durante a pandemia de COVID-19.
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Balança hidrostática
Balança hidrostática Uma balança hidrostática é um mecanismo experimental destinado ao estudo da força de impulsão exercida por líquidos sobre os corpos neles imersos. Foi inventada por Galileu Galilei. Seu funcionamento se baseia no princípio de Arquimedes (um corpo perde aparentemente um peso igual à quantidade de líquido ou gás deslocado) e está especialmente concebida para a determinação de densidades de sólidos e líquidos. Este tipo de balança é constituída por: prumo, termómetro, copo, alça, parafuso de compensação, escala graduada, cursor superior deslizante, encaixe, cursor inferior deslizante, pontas, parafuso para acerto e suporte. Estas balanças necessitam de ser calibradas antes de se efetuar a medição de densidades. O procedimento a ser seguido : A densidade relativa será calculada dividindo-se o peso do mineral a seco pela diferença do peso a seco e do peso imerso em água, pois esta diferença nos dá, pelo Princípio de Arquimedes, o empuxo a que está sendo submetido o mineral, que é igual ao peso do volume de água deslocado pelo mineral, sendo que este volume é o volume do mineral. A densidade relativa formula_1 é dada por: formula_2) × ρ do fluido onde formula_3 é o peso a seco e formula_4 o peso imerso na água. Dedução. O objetivo será determinar a densidade de um objeto utilizando apenas uma balança comum e uma balança hidrostática. Não se dispõe de instrumentos para aferir de forma direta o volume do objeto. A balança hidrostática utiliza o Empuxo de Arquimedes, então é por ele que se inicia a dedução apresentada a seguir. O empuxo de Arquimedes é definido como uma força vertical e para cima com módulo equivalente ao peso do líquido deslocado. O peso de líquido deslocado é igual ao produto do volume de líquido deslocado pela massa específica do líquido e pela aceleração da gravidade. formula_5 onde formula_6 é o Empuxo, formula_7 é a massa específica do líquido, formula_8 é o volume de líquido deslocado e formula_9 é a aceleração da gravidade. Mas o empuxo de Arquimedes também pode ser definido como uma força vertical e para cima, resultante entre a diferença do Peso Real e o Peso Aparente. formula_10 O Peso real formula_11 nada mais é que o peso medido a seco e o Peso Aparente formula_12 nada mais é que o peso aferido com o o objeto imerso. Assim, pode-se reescrever: formula_13 Colocando a gravidade formula_9 em evidência na parte esquerda: formula_15 Simplificando a gravidade formula_9 em ambos os lados da expressão: formula_17 Isolando o volume de líquido deslocado formula_8: formula_19 Sabe-se que o Volume de líquido deslocado formula_8 é equivalente ao Volume formula_21 do objeto que foi imerso (lembrando do enunciado da lei física que dois corpos não ocupam o mesmo local do espaço ao mesmo tempo). Também se verifica que a massa real formula_22 é simplesmente a massa seca formula_23 do objeto e a massa aparente formula_24 é simplesmente a massa imersa formula_25. Assim a expressão anterior é reescrita como: formula_26 Observa-se na expressão acima, que foi possível determinar o volume do objeto de maneira indireta. Esse método se torna útil quando o objeto em questão possui um formato irregular ou complexo que torne difícil ou até mesmo impossível a obtenção do volume pelos meios tradicionais analíticos e numéricos. Lembrando que massa seca formula_23 é obtida diretamente da balança e a massa imersa formula_25 é obtida da balança hidrostática. É importante observar que a leitura da balança hidrostática não fornece o Empuxo. A balança hidrostática fornece o valor da massa de líquido deslocado, que é equivalente a massa imersa formula_25. Da definição de densidade, temos: formula_30 Agora substituindo na definição de densidade a expressão definida para o Volume formula_21 do objeto: formula_32 Simplificando a divisão de frações: formula_33 Se o fluído em questão for a água, de massa específica igual a 1g/cm³, a densidade do objeto se resume a: formula_34 , nesse caso, obviamente, a densidade d será obtida na unidade formula_35.
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Bíblia
Bíblia Bíblia (do grego koiné , , 'os livros') é uma antologia de textos religiosos ou escrituras sagradas para o cristianismo, o judaísmo, o samaritanismo e muitas outras religiões. Esses textos, originalmente escritos em hebraico, aramaico e grego koiné, incluem instruções, histórias, poesias e profecias, entre outros gêneros literários. A coleção de materiais que são aceitos como parte da Bíblia por uma determinada tradição ou comunidade religiosa é chamada de cânone bíblico. Os crentes na Bíblia geralmente a consideram um produto da inspiração divina e interpretam o texto de maneiras diferentes e variadas. Os textos religiosos foram compilados por diferentes comunidades religiosas em várias coleções oficiais. A mais antiga, chamada de Torá em hebraico e Pentateuco em grego, continha os primeiros cinco livros da Bíblia; a segunda parte mais antiga era uma coleção de histórias narrativas e profecias (os Nevi'im); a terceira coleção (o Ketuvim) contém salmos, provérbios e histórias narrativas. Tanakh é um termo alternativo para a Bíblia hebraica composta pelas primeiras letras dessas três partes das escrituras hebraicas: a Torá ("Ensino"), o Nevi'im ("Profetas") e o Ketuvim ("Escritos"). O texto massorético é a versão medieval do Tanakh, em hebraico e aramaico, que é considerado o texto oficial da Bíblia hebraica pelo judaísmo rabínico moderno. A Septuaginta é uma tradução grega koiné do Tanakh dos séculos III e II a.C. e em grande parte sobrepõe-se à Bíblia hebraica. O cristianismo começou como uma vertente do judaísmo, usando a Septuaginta como base do Antigo Testamento. A Igreja primitiva continuou a tradição judaica de escrever e incorporar o que via como livros religiosos inspirados e oficiais. Os evangelhos, epístolas paulinas e outros textos rapidamente se fundiram no Novo Testamento. Com vendas totais estimadas em mais de cinco bilhões de cópias, a Bíblia é amplamente considerada a publicação mais vendida de todos os tempos. Ela teve uma profunda influência tanto na cultura e história ocidentais quanto nas culturas ao redor do mundo. O estudo da Bíblia por meio da crítica bíblica também impactou indiretamente a cultura e a história. A Bíblia está atualmente traduzida ou sendo traduzida para cerca de metade das línguas existentes do mundo. Etimologia. O termo "Bíblia" pode se referir à Bíblia hebraica ou à Bíblia cristã, que contém o Antigo e o Novo Testamento. A palavra "Bíblia" é derivada do termo em grego koiné τὰ βιβλία, que significa "os livros" (singular βιβλίον). A palavra em si tinha o significado literal de "rolo" e passou a ser usada como a palavra comum para "livro". É o diminutivo de "byblos", "papiro egípcio", possivelmente assim chamado a partir do nome do porto marítimo fenício Biblos (também conhecido como Gebal) de onde o papiro egípcio era exportado para a Grécia. O termo grego "ta biblia" ("os livros") era "uma expressão que os judeus helenísticos usavam para descrever seus livros sagrados". O estudioso bíblico F. F. Bruce observa que João Crisóstomo parece ser o primeiro escritor (em suas "Homilias sobre Mateus", proferidas entre 386 e 388) a usar a frase grega "ta biblia" ("os livros") para descrever o Antigo e o Novo Testamento juntos. A expressão em latim "biblia sacra" ("livros sagrados") foi traduzida do grego ("tà biblía tà hágia", "os livros sagrados"). O termo "" do latim medieval é a abreviação de "biblia sacra" ("livro sagrado"). Gradualmente, passou a ser considerado um substantivo feminino singular em latim medieval e, assim, a palavra foi emprestada como singular para os vernáculos da Europa Ocidental. Desenvolvimento e história. A Bíblia não é um único livro; é uma coleção de livros cujo seu complexo desenvolvimento não é completamente compreendido. Os livros mais antigos começaram como canções e histórias transmitidas oralmente de geração em geração. Os estudiosos estão apenas começando a explorar "a interface entre escrita, performance, memorização e a dimensão auditiva" dos textos. As indicações atuais são de que o antigo processo de escrita-leitura foi complementado pela memorização e performance oral na comunidade. A Bíblia foi escrita e compilada por muitas pessoas, a maioria desconhecida, de uma variedade de culturas díspares. O estudioso bíblico britânico John K. Riches escreveu: Os livros da Bíblia foram inicialmente escritos e copiados à mão em rolos de papiro. Nenhum original sobreviveu. A idade da composição original dos textos é, portanto, difícil de determinar e muito debatida. Usando uma abordagem linguística e historiográfica combinada, Hendel e Joosten datam as partes mais antigas da Bíblia hebraica (o Cântico de Débora em Juízes 5 e a história de Sansão de Juízes 16 e 1 Samuel) como tendo sido compostas no início da Idade do Ferro pré-monárquica (c. 1200 a.C.). Os Manuscritos do Mar Morto, descobertos nas cavernas de Qumran em 1947, são cópias que podem ser datadas entre 250 a.C. e 100 d.C. São as cópias mais antigas existentes dos livros da Bíblia hebraica de qualquer tamanho que não sejam simplesmente fragmentos. Os primeiros manuscritos provavelmente foram escritos em paleo-hebraico, uma espécie de pictograma cuneiforme semelhante a outros pictogramas do mesmo período. O exílio para a Babilônia provavelmente levou à mudança de escrita (aramaico) nos séculos V a III a.C. Desde a época dos pergaminhos do Mar Morto, a Bíblia hebraica era escrita com espaços entre as palavras para ajudar na leitura. Por volta do século VIII d.C., os massoretas acrescentaram sinais vocálicos. Levitas ou escribas mantiveram os textos, sendo que alguns textos sempre foram tratados como mais oficiais do que outros. Os escribas preservavam e alteravam os textos alterando a escrita e atualizando as formas arcaicas ao mesmo tempo em que faziam correções. Esses textos hebraicos foram copiados com muito cuidado. Considerados como escrituras (textos religiosos sagrados e oficiais), os livros foram compilados por diferentes comunidades religiosas em vários cânones bíblicos (coleções oficiais de escrituras). A compilação mais antiga, contendo os primeiros cinco livros da Bíblia e chamada de Torá (que significa "lei", "instrução" ou "ensino") ou Pentateuco ("cinco livros"), foi aceita como cânone judaico pelo século V a.C. Uma segunda coleção de histórias narrativas e profecias, chamada Nevi'im ("profetas"), foi canonizada no século III a.C. Uma terceira coleção chamada Ketuvim ("escritos"), contendo salmos, provérbios e histórias narrativas, foi canonizada em algum momento entre o século II a.C. e o século II d.C. Essas três coleções foram escritas principalmente em hebraico bíblico, com algumas partes em aramaico, que juntas formam a Bíblia hebraica ou "TaNaKh" (uma abreviação de "Torá", "Nevi'im" e "Ketuvim"). Existem três versões históricas principais da Bíblia hebraica: a Septuaginta, o Texto Massorético e o Pentateuco Samaritano (que contém apenas os cinco primeiros livros). Elas estão relacionadas, mas não compartilham os mesmos caminhos de desenvolvimento. A Septuaginta, ou LXX, é uma tradução das escrituras hebraicas, e alguns textos relacionados, para o grego koiné, iniciada em Alexandria no final do século III a.C. e concluída em 132 a.C. Provavelmente encomendada por Ptolomeu II Filadelfo, rei do Egito, atendeu à necessidade dos judeus de língua grega da diáspora greco-romana. As cópias completas existentes da Septuaginta datam do século III ao V d.C., com fragmentos que datam do século II a.C. A revisão de seu texto começou já no século I a.C. Fragmentos da Septuaginta foram encontrados entre os Manuscritos do Mar Morto; partes de seu texto também são encontradas em papiros existentes do Egito que datam do séculos I e II a.C. e do século I d.C. Os massoretas começaram a desenvolver o que se tornaria o texto hebraico e aramaico oficial dos 24 livros da Bíblia hebraica no judaísmo rabínico perto do final do período talmúdico ( – ), mas a data real é difícil de determinar. Nos séculos VI e VII, três comunidades judaicas contribuíram com sistemas para escrever o texto preciso, com sua vocalização e acentuação conhecidos como "mas'sora" (da qual derivamos o termo "massorético"). Esses primeiros estudiosos massoréticos estavam baseados principalmente nas cidades galileanas de Tiberíades e Jerusalém, e na Babilônia (atual Iraque). Aqueles que viviam na comunidade judaica de Tiberíades na antiga Galiléia (c. 750-950), fizeram cópias de escribas dos textos da Bíblia hebraica sem um texto padrão, como fazia a tradição babilônica. A pronúncia canônica da Bíblia hebraica (chamada hebraica tiberiana) que eles desenvolveram, e muitas das notas que fizeram, diferiam da babilônica. Essas diferenças foram resolvidas em um texto padrão chamado Texto Massorético no século IX. A cópia completa mais antiga ainda existente é o Códice de Leningrado, datado de c. 1000 d.C. O Pentateuco Samaritano é uma versão da Torá mantida pela comunidade samaritana desde a Antiguidade, que foi redescoberta por estudiosos europeus no século XVII; suas cópias existentes mais antigas datam de c. 1100 d.C. Os samaritanos incluem apenas o Pentateuco (Torá) em seu cânon bíblico. Eles não reconhecem autoria ou inspiração divina em nenhum outro livro do Tanakh judaico. Existe um Livro Samaritano de Josué parcialmente baseado no Livro de Josué do Tanakh, mas os samaritanos o consideram uma crônica histórica secular não canônica. No século VII, a primeira forma de códice da Bíblia hebraica foi produzida. O códice é o precursor do livro moderno. Popularizado pelos primeiros cristãos, era feito dobrando-se uma única folha de papiro ao meio, formando “páginas”. Juntar várias dessas páginas dobradas criou um "livro" que era mais facilmente acessível e mais portátil do que os pergaminhos. Em 1488, foi produzida a primeira versão impressa completa da Bíblia hebraica. Durante a ascensão do cristianismo no século I, novas escrituras foram escritas em grego koiné. Os cristãos chamaram essas novas escrituras de "Novo Testamento" e começaram a se referir à Septuaginta como o "Antigo Testamento". O Novo Testamento foi preservado em mais manuscritos do que qualquer outro trabalho antigo. A maioria dos primeiros copistas cristãos não eram escribas treinados. Muitas cópias dos evangelhos e das cartas de Paulo foram feitas por cristãos individuais em um período de tempo relativamente curto, logo após os originais terem sido escritos. Há evidências nos Evangelhos Sinóticos, nos escritos dos primeiros pais da igreja, de Marcião, e na Didache de que os documentos cristãos estavam em circulação antes do final do século I. As cartas de Paulo circularam durante sua vida e acredita-se que sua morte tenha ocorrido antes de 68 durante o reinado de Nero. Os primeiros cristãos transportaram esses escritos por todo o Império Romano, traduzindo-os para o siríaco antigo, copta, etíope e latim, entre outras línguas. Bart Ehrman explica como esses vários textos mais tarde foram agrupados por estudiosos em categorias:durante os primeiros séculos da igreja, os textos cristãos eram copiados em qualquer lugar para onde fossem escritos ou levados. Como os textos eram copiados localmente, não é surpresa que diferentes localidades tenham desenvolvido diferentes tipos de tradição textual. Ou seja, os manuscritos em Roma tinham muitos dos mesmos erros, porque eram em sua maioria documentos “internos”, copiados uns dos outros; eles não foram muito influenciados por manuscritos copiados na Palestina; e os da Palestina assumiram características próprias, que não eram as mesmas encontradas em um lugar como Alexandria, no Egito. Além disso, nos primeiros séculos da igreja, alguns locais tinham escribas melhores do que outros. Estudiosos modernos chegaram a reconhecer que os escribas em Alexandria — que era um importante centro intelectual no mundo antigo — eram particularmente escrupulosos, mesmo nestes primeiros séculos, e que lá, em Alexandria, uma forma muito pura do texto dos primeiros cristãos foi preservada, década após década, por escribas cristãos dedicados e relativamente habilidosos.Essas diferentes histórias produziram o que os estudiosos modernos chamam de "tipos de texto" reconhecíveis. As quatro mais comumente reconhecidas são alexandrina, ocidental, cesariana e bizantina. A lista de livros incluídos na Bíblia católica foi estabelecida como cânone pelo Concílio de Roma em 382, seguido por Hipona em 393 e Cartago em 397. Entre os anos 385 e 405, a Igreja cristã primitiva traduziu seu cânon para o latim vulgar (o latim comum falado por pessoas comuns), uma tradução conhecida como Vulgata. Desde então, os cristãos católicos realizaram concílios ecumênicos para padronizar seu cânon bíblico. O Concílio de Trento (1545-1563), realizado pela Igreja Católica em resposta à Reforma Protestante, autorizou a Vulgata como sua tradução latina oficial da Bíblia e reafirmou o cânon estabelecido 1200 anos atrás. Uma série de cânones bíblicos evoluíram desde então. Os cânones bíblicos cristãos variam dos 73 livros do cânone da Igreja Católica e os 66 livros do cânone da maioria das denominações protestantes, aos 81 livros do cânone da Igreja Ortodoxa Etíope, entre outros. O judaísmo há muito aceita um único texto oficial, enquanto o cristianismo nunca teve uma versão oficial, tendo muitas tradições manuscritas diferentes. Todos os textos bíblicos eram tratados com reverência e cuidado por aqueles que os copiaram, mas existem erros de transmissão, chamados variantes, em todos os manuscritos bíblicos. Uma variante é simplesmente qualquer desvio entre dois textos. O crítico textual Daniel B. Wallace explica que "cada desvio conta como uma variante, independentemente de quantos manuscritos o atestam". O estudioso hebraico Emanuel Tov diz que o termo não é avaliativo; é simplesmente um reconhecimento de que os caminhos de desenvolvimento de diferentes textos se separaram. Manuscritos medievais da Bíblia hebraica eram considerados extremamente precisos: os documentos de maior autoridade para copiar outros textos. Mesmo assim, David Carr afirma que os textos hebraicos contêm tipos de variantes acidentais e intencionais: "variantes de memória" são geralmente diferenças acidentais. As variantes também incluem a substituição de equivalentes lexicais, diferenças semânticas e gramaticais e mudanças de escala maior na ordem, com algumas revisões importantes dos textos massoréticos que devem ter sido intencionais. A maioria das variantes são acidentais, como erros de ortografia, mas algumas mudanças foram intencionais. Mudanças intencionais nos textos do Novo Testamento foram feitas para melhorar a gramática, eliminar discrepâncias, harmonizar passagens paralelas, combinar e simplificar várias leituras variantes em uma, e por razões teológicas. Bruce K. Waltke observa que uma variante para cada dez palavras foi observada na recente edição crítica da Bíblia hebraica, a "Biblia Hebraica Stuttgartensia", deixando 90% do texto hebraico sem variação. A quarta edição do "Novo Testamento Grego" da Sociedade Bíblica Unida observa variantes que afetam cerca de 500 de 6.900 palavras, ou cerca de 7% do texto. Interpretação. Segundo o jornalista David Plotz, da revista eletrônica "Slate", até um século atrás, a maioria dos estadunidenses bem instruídos conheciam a "Bíblia" a fundo. Ele também afirma que atualmente, o desconhecimento bíblico é praticamente total entre pessoasnão religiosas. Ainda segundo Plotz, mesmo entre os fiéis, a leitura da "Bíblia" é irregular: a Igreja Católica inclui somente uma pequena parcela do Antigo Testamento nas leituras oficiais; os judeus estudam bastante os cinco primeiros livros da "Bíblia", mas não se importam muito com o restante; os judeus ortodoxos normalmente passam mais tempo lendo o Talmude ou outra coisa que a Bíblia em si; muitos protestantes e/ou evangélicos leem a "Bíblia" frequentemente, mas geralmente dão mais ênfase ao Novo Testamento. A inacessibilidade da "Bíblia" entre a Antiguidade e a Idade Média resultou na criação de diversas narrativas sobre os personagens bíblicos, criando acréscimos e distorções. A Igreja Católica não podia entregar muitos exemplares da "Bíblia, por causa das dificuldades da época que não existia impressão", tendo a Igreja alegado que nem todos teriam a capacidade necessária para interpretá-la, devido à sua complexidade, tanto que a Igreja justificava essa dificuldade de entendê-la, mostrando aos seus fiéis as grandes heresias que até desbalancear a sociedade, desbalanceava, como o catarismo. Os conflitos entre ciência e religião foram, em parte, ajudados pela interpretação literal da "Bíblia". Esta não deve ser interpretada como um relato preciso da história da humanidade ou uma descrição perfeita da natureza. Galileu Galilei considerava que a "Bíblia" deveria ser interpretada a partir do estudo da natureza. Os escravocratas basearam-se na parte da "Bíblia" que conta sobre Noé ter condenado seu filho Cam e seus descendentes à escravidão para justificar religiosamente a escravidão. Martinho Lutero considerava que o amor de Cristo era alcançável gratuitamente por meio da "Bíblia". Foi um dos primeiros teólogos a sugerir que as pessoas deveriam ler e interpretar a "Bíblia" por si mesmas. A maioria das pessoas interpreta a "Bíblia" por intermédio de seu líder religioso. Estrutura interna. A "Bíblia" é dividida em duas partes: o Antigo e o Novo Testamentos. O primeiro, na versão aceita de forma geral por protestantes e judeus, apresenta a história do mundo desde sua criação até os acontecimentos após a volta dos judeus do exílio babilônico, no Os católicos e ortodoxos, por outro lado, têm um cânon mais extenso, cobrindo até os asmoneus do O Novo Testamento apresenta a história de Jesus Cristo e a pregação de seus ensinamentos, durante sua vida e após sua morte e ressurreição, no . ("ver: Vida de Cristo") A "Bíblia" não era dividida em capítulos até , quando o cardeal Sthepen Langton os criou, e não apresentava versículos até ser assim dividida em por Robert Stephanus. Livros do Antigo Testamento. A quantidade de livros do Antigo Testamento varia de acordo com a religião ou denominação cristã que o adota: a "Bíblia" dos cristãos protestantes e o "Tanakh" judaico incluem apenas 39 livros, enquanto a Igreja Católica possui 46 e a Igreja Ortodoxa em geral aceita 51. Os sete livros existentes na "Bíblia" católica, ausentes da judaica e da protestante são conhecidos como deuterocanônicos para os católicos e apócrifos para os protestantes. O mesmo se aplica aos livros da "Bíblia" ortodoxa, que por sua vez pode vir a ter mais livros. Os livros do Antigo Testamento aceitos por todos os cristãos como sagrados (chamados protocanônicos pela Igreja Católica) são: "Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio, Josué, Juízes, Rute, I Samuel, II Samuel, I Reis, II Reis, I Crônicas, II Crônicas, Esdras, Neemias, Ester, Jó, Salmos, Provérbios, Eclesiastes, Cânticos dos Cânticos, Isaías, Jeremias, Lamentações, Ezequiel, Daniel, Oseias, Joel, Amós, Obadias, Jonas, Miqueias, Naum, Habacuque, Sofonias, Ageu, Zacarias" e "Malaquias". Os deuterocanônicos, aceitos pela Igreja Católica como sagrados são: "Tobias, Judite, I Macabeus, II Macabeus, Sabedoria, Eclesiástico" e "Baruque". Estes estão disponíveis na tradução grega do Antigo Testamento, datada do Século I a.C., a Septuaginta. Segundo a visão protestante, os textos deuterocanônicos (chamados "Livros apócrifos" pelos protestantes) foram, supostamente, escritos entre "Malaquias" e o Novo Testamento, numa época em que segundo o historiador judeu Flávio Josefo, a Revelação Divina havia cessado porque a sucessão dos profetas era inexistente ou imprecisa ("ver: Testimonium Flavianum"). O parecer de Josefo não é aceito pelos cristãos católicos, ortodoxos e por alguns protestantes, e igualmente pensam assim uma maioria judaica não farisaica, porque Jesus afirma que durou até João Batista, "A lei e os profetas duraram até João" (cf. ; ""). Livros do Novo Testamento. O Novo Testamento é composto de 27 livros: "Evangelho de Mateus, Evangelho de Marcos, Evangelho de Lucas, Evangelho de João, Atos dos Apóstolos, Romanos, I Coríntios, II Coríntios, Gálatas, Efésios, Filipenses, Colossenses, I Tessalonicenses, II Tessalonicenses, I Timóteo, II Timóteo, Tito, Filémon, Hebreus, Epístola de Tiago, Primeira Epístola de Pedro, Segunda Epístola de Pedro, Primeira Epístola de João, Segunda Epístola de João, Terceira Epístola de João, Epístola de Judas" e "Apocalipse". As traduções do Novo Testamento foram feitas a partir de mais de manuscritos, que podem ser divididos em duas categorias: Texto-Tipo Bizantino e Texto-Tipo Alexandrino. Os pergaminhos do Texto-Tipo Bizantino (também chamado "Textus Receptus") são representados pela maioria (cerca de 95%) dos manuscritos existentes. Através dos séculos, desde o começo da era cristã, e inclusive em alguns contextos, como na Reforma Protestante do , os textos deuterocanônicos do Novo Testamento foram tão debatidos como os textos deuterocanônicos do Antigo Testamento. Finalmente, os reformistas protestantes decidiram rejeitar todos os textos deuterocanônicos do Antigo Testamento, e aceitar todos os textos deuterocanônicos do Novo Testamento, embora houvesse em Lutero, no processo da Reforma Protestante, a intenção de remover determinados livros do Novo Testamento por considerá-los apócrifos ou dolosos, como a "Epístola de Tiago". ("ver: Apócrifos do Novo Testamento"). Origem do termo "testamento". Este vocábulo não se encontra na "Bíblia" como designação de uma de suas partes. A palavra portuguesa "testamento" corresponde à palavra hebraica "berith" (que significa aliança, pacto, convênio, contrato), e designa a aliança que Deus fez com o povo de Israel no monte Sinai, tal como descrito no livro de "Êxodo" "(" e ). Segundo a própria "Bíblia", tendo sido esta aliança quebrada pela infidelidade do povo, Deus prometeu uma nova aliança () que deveria ser ratificada com o sangue de Cristo (). Os escritores do Novo Testamento denominam a primeira aliança de antiga (), em contraposição à nova (). Os tradutores da Septuaginta traduziram "berith" para "diatheke", embora não haja perfeita correspondência entre as palavras, já que "berith" designa "aliança" (compromisso bilateral) e "diatheke" tem o sentido de "última disposição dos próprios bens", "testamento" (compromisso unilateral). As respectivas expressões "antiga aliança" e "nova aliança" passaram a designar a coleção dos escritos que contêm os documentos respectivamente da primeira e da segunda aliança. As denominações "Antigo Testamento" e "Novo Testamento", para as duas coleções dos livros sagrados, começaram a ser usadas no final do século II, quando os evangelhos e outros escritos apostólicos foram considerados como parte do cânon sagrado. O termo "testamento" surgiu através do latim, quando a primeira versão latina do Antigo Testamento grego traduziu "diatheke" por "testamentum". Jerônimo de Estridão, revisando esta versão latina, manteve a palavra "testamentum", equivalendo ao hebraico "berith" — "aliança", "concerto", quando a palavra não tinha essa significação no grego ("ver: Vulgata"). Afirmam alguns pesquisadores que a palavra grega para "contrato", "aliança" deveria ser "suntheke", por traduzir melhor o hebraico "berith". Versões e traduções. As diversas igrejas cristãs possuem algumas divergências quanto aos seus cânones sagrados, inclusive entre protestantes. A Igreja Católica possui 46 livros no Antigo Testamento como parte de seu cânone bíblico. Os livros de "Livro de Tobias, Judite, Sabedoria, Eclesiástico, Baruque, I Macabeus" e "II Macabeus" e as chamadas Adições em "Ester" e Adições em "Daniel") são considerados "deuterocanônicos" (ou "do segundo cânon") pela Igreja Católica. Além disso, existem 27 livros no Novo Testamento. As igrejas cristãs ortodoxas e as outras igrejas orientais, aceitam, além de todos estes já citados, outros dois livros de Esdras, outros dois dos Macabeus, a "Oração de Manassés", e alguns capítulos a mais no final do "livro dos Salmos" (um nas "Bíblias" das igrejas de tradição grega, cóptica, eslava e bizantina, e cinco nas "Bíblias" das igrejas de tradição siríaca). A grande fonte hebraica para o Antigo Testamento é o chamado Texto Massorético. Trata-se do texto hebraico fixado ao longo dos séculos por escolas de copistas, chamados massoretas, que tinham como particularidade um escrúpulo rigoroso na fidelidade da cópia ao original. O trabalho dos massoretas, de cópia e também de vocalização do texto hebraico (que não tem vogais, e que, por esse motivo, ao tornar-se língua morta, necessitou de as indicar por meio de sinais), prolongou-se até ao Século VIII d.C. Pela grande seriedade deste trabalho, e por ter sido feito ao longo de séculos, o texto massorético (sigla TM) é considerado a fonte mais autorizada para o texto hebraico bíblico original. No entanto, outras versões do Antigo Testamento têm importância, e permitem suprir as deficiências do Texto Massorético. É o caso do Pentateuco Samaritano (os samaritanos que eram uma comunidade étnica e religiosa separada dos judeus, que tinham culto e templo próprios, e que só aceitavam como livros sagrados os do Pentateuco), e principalmente a Septuaginta grega (sigla LXX). A Versão dos Setenta ou Septuaginta grega, designa a tradução grega do Antigo Testamento, elaborada entre os séculos IV e I a.C., feita em Alexandria, no Egito. O seu nome deve-se à lenda que dizia ter sido essa tradução um resultado milagroso do trabalho de 70 eruditos judeus, e que pretende exprimir que não só o texto, mas também a tradução, fora inspirada por Deus. A Septuaginta grega é a mais antiga versão do Antigo Testamento que conhecemos. A sua grande importância provém também do facto de ter sido essa a versão da "Bíblia" utilizada entre os cristãos, desde o início, versão que continha os deuterocanônicos, e a que é de maior citação do Novo Testamento, mais do que o Texto Massorético. A Igreja Católica considera como oficiais 73 livros bíblicos (46 do Antigo Testamento e 27 do Novo), sendo 7 livros a mais no Antigo Testamento do que das demais religiões cristãs e pelo judaísmo. Já a "Bíblia" usada pela Igreja Ortodoxa contém 78 livros, 5 a mais que a católica e 12 a mais que a protestante. Mundo lusófono. A primeira versão portuguesa da "Bíblia" surgiu em 1681, a partir das línguas originais, traduzida para o português por João Ferreira de Almeida. Almeida faleceu antes de concluir o trabalho, que foi finalizado por colaboradores da Igreja Reformada holandesa, e a versão completa com o Antigo Testamento foi publicada no início de 1750. Religiões. Os judeus têm o Pentateuco ("Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio") como seu mais importante livro sagrado, o qual chamam de "Torá". O restante do Antigo Testamento de acordo com a tradição protestante são chamados de Nevi'im e Ketuvim, coletivamente com a "Torá" chamados de "Tanakh". Os samaritanos, cuja fé se originou em uma antiga divisão no seio de Israel, usam apenas a "Torá". A fé bahá'i tem tanto a "Bíblia" quanto o "Alcorão" como livros sagrados, além de seu livro particular, o "Kitáb-i-Aqdas". O "Alcorão", livro sagrado do Islã, possui várias passagens em coincidência com a "Bíblia", o que leva alguns estudiosos islâmicos a estudarem-na em busca de informações adicionais. As visões dentro do Islã sobre esta Escritura, no entanto, são variadas, com o próprio "Alcorão" denunciando-a como corrupta e estudiosos como Abzeme denunciando os supostos textos subjacentes à "Bíblia" condizentes à ortodoxia islâmica como irrecuperáveis. Os Espíritas consideram a Primeira Aliança como um livro histórico, e têm sua doutrina, seus princípios morais, fundamentada em "O Evangelho segundo o Espiritismo", que alegam ser uma terceira revelação, superando o Antigo e o Novo Testamentos, que creem ser, respectivamente, a revelação da lei por Moisés e a da graça por Jesus Cristo. Erros e adulterações. No , diversos estudiosos, especialmente de ordens dominicanas e franciscanas, como Roger Bacon, denunciavam erros e buscavam corrigir (através de pesquisas em textos hebraicos e gregos) as traduções usadas nas cópias em latim mais populares da época, chamadas "Bíblias de Paris". Com as descobertas da biblioteca de Nag Hammadi e dos Manuscritos do Mar Morto (ou Qumram), no , essas dúvidas dissiparam-se e, com o advento das técnicas de crítica textual, hoje a "Bíblia" está disponível com pelo menos 99% de fidelidade aos originais; sendo que a maioria das discrepâncias presentes nos outros 1% dos trechos são de natureza trivial, i. e., sem relevância. Segundo alguns estudiosos, em maioria de origem nas Testemunhas de Jeová, um erro de tradução da "Bíblia" seria o de tomar "σταυρός" (transliterado "stavrós") como cruz, e baseando-se nisto, dizer que Jesus foi pregado em uma cruz ao invés de uma estaca de tortura que significa simplesmente um "madeiro", pois na época da morte de Jesus, o significado da palavra abrangia apenas uma só estaca ou madeiro. Este posicionamento, no entanto, é rechaçado por outras denominações, que apontam a polissemia da palavra "σταυρός" e o antigo testemunho de patrísticos como Justino Mártir, Irineu de Lyon e Hipólito de Roma. Influência. Com uma tradição literária de dois milênios, a Bíblia tem sido um dos livros mais influentes do mundo. Das práticas de higiene pessoal à filosofia e ética, a Bíblia influenciou direta e indiretamente a política e o direito, a guerra e a paz, a moral sexual, o casamento e a vida familiar, as letras e o aprendizado, as artes, a economia, a justiça social, os cuidados médicos e mais. De acordo com a edição de março de 2007 da "Time", a Bíblia "fez mais para moldar a literatura, a história, o entretenimento e a cultura do que qualquer livro já escrito. Sua influência na história mundial é incomparável e não mostra sinais de diminuir." A Bíblia é um dos livros mais publicados do mundo, com vendas totais estimadas em mais de cinco bilhões de cópias. Como tal, a Bíblia teve uma profunda influência, especialmente no mundo ocidental, onde a Bíblia de Gutenberg foi o primeiro livro impresso na Europa usando tipos móveis. Críticas. Os críticos veem certos textos bíblicos como moralmente problemáticos. A Bíblia tem conteúdos que são considerados injustos, imorais ou ofensivos por diferentes grupos sociais, produzindo grandes controvérsias. Por exemplo, são criticadas a condenação da homossexualidade como um pecado e uma abominação; sua orientação patriarcal e muitas passagens em que a mulher é colocada em posição subalterna, oprimida e submissa; e o uso de trechos selecionados do texto para justificar violência, intolerância religiosa, discursos de ódio, racismo, teorias supremacistas, privilégios de classe, manipulação política, campanhas colonialistas, genocídios, escravidão e proselitismo religioso. A Bíblia não condena a escravidão totalmente, mas há versículos que tratam dela e eles têm sido usados para apoiá-la. Alguns escreveram que o supersessionismo começa no livro de Hebreus, onde outros localizam seu início na cultura do Império Romano do século IV. A Bíblia tem sido usada para apoiar a pena de morte, o patriarcado, a intolerância sexual, a violência da guerra total e colonialismo. Na Bíblia cristã, a violência da guerra é abordada de quatro maneiras: pacifismo, não resistência, guerra justa e guerra preventiva, que às vezes é chamada de cruzada. Na Bíblia hebraica, há "guerra justa" e "guerra preventiva" que inclui os amalequitas, cananeus, moabitas e o registro em Êxodo, Deuteronômio, Josué e ambos os livros de Reis. John J. Collins escreve que as pessoas ao longo da história usaram esses textos bíblicos para justificar a violência contra seus inimigos. Nur Masalha argumenta que o genocídio é inerente a esses mandamentos e que eles serviram como exemplos inspiradores de apoio divino para massacrar oponentes. O antropólogo Leonard B. Glick oferece o exemplo moderno de fundamentalistas judeus em Israel, como Shlomo Aviner, um teórico proeminente do movimento Gush Emunim, que considera os palestinos como os "cananeus bíblicos" e, portanto, sugere que Israel "deve estar preparado para destruir" os palestinos se os palestinos não deixarem a terra. A "aplicabilidade do termo [genocídio] a períodos anteriores da história" é questionada pelos sociólogos Frank Robert Chalk e Kurt Jonassohn. Uma vez que a maioria das sociedades do passado apoiava e pratica o genocídio, ele era aceito naquela época como algo da "natureza da vida" por causa da sua "brutalidade" inerente; a condenação moral associada a termos como genocídio são produtos da moralidade moderna. A definição do que constitui violência ampliou-se consideravelmente ao longo do tempo. A Bíblia reflete como as percepções de violência mudaram para seus autores. De acordo com o historiador Shulamith Shahar, "alguns historiadores sustentam que a Igreja desempenhou um papel considerável na promoção do "status" inferior das mulheres na sociedade medieval em geral", fornecendo uma "justificativa moral" para a superioridade masculina e aceitando práticas como o espancamento de esposas. Phyllis Trible, em sua agora famosa obra "Texts of Terror", conta quatro histórias bíblicas de sofrimento no antigo Israel, onde as mulheres são as vítimas. Tribble descreve a Bíblia como "um espelho" que reflete os humanos e a vida humana em toda a sua "santidade e horror". Segundo o jornalista David Plotz, da revista "online" "Slate Magazine", a Bíblia tem muitas passagens "difíceis, repulsivas, confusas e entediantes", enquanto especialistas em literatura discordam e abordam a beleza da literatura bíblica em artigos acadêmicos. Mark Twain tinha uma visão ambígua da Bíblia. Por um lado entendia que ela continha muitas passagens inspiradoras, belas e grandiosas, muitas ideias interessantes e imaginativas, mas de modo geral mantinha uma opinião negativa, verificando que a Bíblia estava cheia de mentiras, hipocrisia, indecências e carnificinas e apresentava um Deus injusto, mesquinho, impiedoso, cruel e vingativo, punindo crianças inocentes pelos erros de seus pais; punindo pessoas pelos pecados de seus governantes; descarregando sua ira em ovelhas e bezerros inofensivos como punição por ofensas insignificantes cometidas por seus proprietários. Também criticava as leituras literais e interpretações errôneas do conteúdo e a influência perniciosa do livro sobre a humanidade, por ter doutrinas contrárias à natureza e à justiça e por fazer o planeta ser coberto de sangue em seu nome. John Riches, professor de divindade e crítica bíblica da Universidade de Glasgow, fornece a seguinte visão das diversas influências históricas da Bíblia: Política e direito. A Bíblia tem sido usada para apoiar e se opor ao poder político. Inspirou a revolução e "uma inversão de poder" porque Deus é muitas vezes retratado como escolhendo o que é "fraco e humilde a confrontar o poderoso (o Moisés gaguejante, o menino Samuel, Saul de uma família insignificante, Davi confrontando Golias, etc.)". Os textos bíblicos têm sido o catalisador de conceitos políticos como democracia, tolerância e liberdade religiosa. Estes, por sua vez, inspiraram movimentos que vão desde o abolicionismo nos séculos XVIII e XIX, até o movimento dos direitos civis dos negros nos Estados Unidos, o movimento contra o "apartheid" na África do Sul e teologia da libertação na América Latina. A Bíblia, por sua vez, tem sido a fonte de muitos movimentos de paz ao redor do mundo e esforços de reconciliação. As raízes de muitas leis modernas podem ser encontradas nos ensinamentos da Bíblia sobre o devido processo legal, justiça nos procedimentos criminais e equidade na aplicação da lei. Juízes são instruídos a não aceitar suborno (Deuteronômio 16:19), devem ser imparciais tanto para nativos quanto para estrangeiros (Levítico 24:22; Deuteronômio 27:19), necessitados e poderosos (Levítico 19:15) e ricos e pobres igualmente (Deuteronômio 1:16,17; Êxodo 23:2-6). O direito a um julgamento justo e punição justa também são encontrados na Bíblia (Deuteronômio 19:15; Êxodo 21:23-25). Os mais vulneráveis em uma sociedade patriarcal — crianças, mulheres e estranhos — são escolhidos na Bíblia para proteção especial (Salmo 72:2,4). Responsabilidade social. O fundamento filosófico dos direitos humanos está nos ensinamentos bíblicos da lei natural. Os profetas da Bíblia hebraica repetidamente advertem o povo a praticar justiça, caridade e responsabilidade social. H. A. Lockton escreve em ""A Bíblia da Pobreza e Justiça" (The Bible Society, 2008) afirma que há mais de 2 mil versículos na Bíblia que tratam das questões de justiça das relações entre ricos e pobres, exploração e opressão". O judaísmo praticava a caridade e curava os doentes, mas tendia a limitar essas práticas ao seu próprio povo. Para os cristãos, as declarações do Antigo Testamento são reforçadas por vários versículos, como Mateus 10:8, Lucas 10:9 e 9:2 e Atos 5:16 que dizem "curar os enfermos". Os autores Vern e Bonnie Bullough escrevem em "The care of the sick: the emergence of modern nursing", que isso é visto como um aspecto de seguir o exemplo de Jesus, já que grande parte de seu ministério público se concentrou na cura. No processo de seguir este comando, o monaquismo no terceiro século transformou os cuidados de saúde. Isso produziu o primeiro hospital para os pobres em Cesareia no século IV. O sistema de saúde monástico foi inovador em seus métodos, permitindo que os doentes permanecessem dentro do mosteiro como uma classe especial que recebia benefícios especiais; desestigmatizou a doença, legitimou o desvio da norma que a doença inclui e formou a base para futuros conceitos modernos de assistência à saúde pública. As práticas bíblicas de alimentar e vestir os pobres, visitar prisioneiros, sustentar viúvas e crianças órfãs tiveram um grande impacto. A ênfase da Bíblia no aprendizado teve uma influência formidável sobre os crentes e a sociedade ocidental. Durante séculos após a queda do Império Romano do Ocidente, todas as escolas na Europa eram escolas religiosas baseadas na Bíblia e, fora dos assentamentos monásticos, quase ninguém tinha a capacidade de ler ou escrever. Essas escolas eventualmente levaram às primeiras universidades do mundo ocidental (criadas pela igreja) na Idade Média, que se espalharam pelo mundo nos dias modernos. Os reformadores protestantes queriam que todos os membros da igreja pudessem ler a Bíblia, então a educação obrigatória para meninos e meninas foi introduzida. Traduções da Bíblia em línguas vernáculas locais apoiaram o desenvolvimento de literaturas nacionais e a invenção de alfabetos. Os ensinamentos bíblicos sobre a moralidade sexual mudaram o Império Romano, o milênio que se seguiu e continuaram a influenciar a sociedade. O conceito de moralidade sexual de Roma estava centrado no estatuto social e político, no poder e na reprodução social (a transmissão da desigualdade social para a próxima geração). O padrão bíblico era uma "noção radical de liberdade individual centrada em torno de um paradigma libertário de agência sexual completa" na própria imagem do ser humano". Literatura e artes. A Bíblia influenciou direta e indiretamente a literatura: a obra "Confissões" de Santo Agostinho é amplamente considerada a primeira autobiografia da literatura ocidental. A "Summa Theologica", escrita entre 1265 e 1274, é "um dos clássicos da história da filosofia e uma das obras mais influentes da literatura ocidental". Ambas influenciaram os escritos da poesia épica de Dante e sua "Divina Comédia" e, por sua vez, a criação e a teologia sacramental de Dante contribuíram para influenciar escritores como J. R. R. Tolkien e William Shakespeare. Muitas obras-primas da arte ocidental foram inspiradas por temas bíblicos: desde as esculturas de "David" e "Pietà" de Michelangelo, até "A Última Ceia" de Leonardo da Vinci e as várias pinturas "Madonna" de Rafael. Existem centenas de exemplos. Eva, a tentadora que desobedece ao mandamento de Deus, é provavelmente a figura mais amplamente retratada na arte. A Renascença preferiu o sensual nu feminino, enquanto a "femme fatale" Dalila do século XIX em diante demonstra como a Bíblia e a arte moldam e refletem as visões das mulheres. A Bíblia tem muitos rituais de purificação que falam de puro e impuro em termos literais e metafóricos. A etiqueta bíblica do banheiro incentiva a lavagem após todas as ocorrências de defecação, daí a invenção do bidê. Arqueologia e pesquisa histórica. A arqueologia bíblica é uma subseção da arqueologia que se relaciona e foca nas escrituras hebraicas e no Novo Testamento. É usada para ajudar a determinar o estilo de vida e as práticas das pessoas que vivem nos tempos bíblicos. Há uma ampla gama de interpretações no campo da arqueologia bíblica. Uma ampla divisão inclui o maximalismo bíblico, que geralmente considera que a maior parte do Antigo Testamento ou da Bíblia hebraica é baseada na história, embora seja apresentada através do ponto de vista religioso de seu tempo. De acordo com o historiador Lester L. Grabbe, há poucos, se houver, maximalistas no "mainstream" acadêmico. É considerado o extremo oposto do minimalismo bíblico, que considera a Bíblia uma composição puramente pós-exílica (século V a.C. e posteriores). De acordo com Mary-Joan Leith, professora de estudos religiosos, muitos minimalistas ignoraram as evidências da antiguidade da língua hebraica na Bíblia e poucos levam em consideração as evidências arqueológicas. A maioria dos estudiosos e arqueólogos bíblicos e arqueólogos ficam em algum lugar em um espectro entre essas duas correntes de pensamento. O relato bíblico dos eventos do Êxodo do Egito na Torá, a migração para a Terra Prometida e o Período dos Juízes são fontes de debate acalorado. Há uma ausência de evidências que comprovem a presença de hebreus no Egito antigo de qualquer fonte egípcia, histórica ou arqueológica. No entanto, como William Dever aponta, essas tradições bíblicas foram escritas muito depois dos eventos que descrevem e são baseadas em fontes agora perdidas e tradições orais mais antigas. A Bíblia hebraica/Antigo Testamento, antigos textos não-bíblicos e arqueologia apoiam o Cativeiro Babilónico começando por volta de 586 a.C. Escavações no sul da Judeia mostram um padrão de destruição consistente com a devastação neoassíria de Judá no final do século VIII e II a.C., Reis 18:13. Em 1993, em Tel Dã, o arqueólogo Avraham Biran desenterrou uma inscrição fragmentária em aramaico, a Estela de Tel Dã, datada do final do século IX ou início do XVIII que menciona um "rei de Israel", bem como uma "casa de Davi". Isso mostra que Davi não poderia ser uma invenção do final do século VI e implica que os reis de Judá traçaram sua linhagem até alguém chamado Davi. No entanto, não há evidências arqueológicas atuais para a existência dos reis Davi e Salomão ou do Primeiro Templo já no século X a.C., onde a Bíblia os coloca. No século XIX e início do século XX, pesquisas demonstraram que os estudos de Atos dos Apóstolos (Atos) foram divididos em duas tradições, "uma tradição conservadora (em grande parte britânica) que tinha grande confiança na historicidade de Atos e uma menos conservadora (em grande parte alemã) tradição que tinha muito pouca confiança na historicidade de Atos". Pesquisas subsequentes mostram que pouco mudou. O autor Thomas E. Phillips escreve que "neste debate de dois séculos sobre a historicidade de Atos e suas tradições subjacentes, apenas uma suposição parecia ser compartilhada por todos: Atos deveria ser lido como história". Isso também está sendo debatido pelos estudiosos como: a que gênero os Atos realmente pertencem? "Atos é história ou ficção? Aos olhos da maioria dos estudiosos, é história — mas não o tipo de história que exclui a ficção." diz Phillips. Entre os historiadores não ligados a círculos religiosos, é opinião corrente que a Bíblia em sua maior parte não é um documento histórico confiável. Grande parte do seu conteúdo histórico é considerado mítico, lendário ou alegórico, e não pode ser comprovado por evidências indisputadas externas ao texto, e para muitas passagens foram descobertas evidências que as contradizem frontalmente. Além disso, seu texto contém muitas incongruências, contradições, anacronismos, interpolações tardias, que têm gerado intensas controvérsias e trazido problemas para a interpretação do texto, afirmação de doutrinas e determinação da historicidade. Exegese bíblica. A exegese (ou crítica) bíblica refere-se à investigação analítica da Bíblia como texto e aborda questões como história, autoria, datas de composição e intenção autoral. Não é o mesmo que crítica à Bíblia, que é uma afirmação contra a Bíblia ser uma fonte de informação ou orientação ética, nem é uma crítica a possíveis erros de tradução. A crítica bíblica tornou o estudo da Bíblia secularizado, erudito e mais democrático, ao mesmo tempo que alterou permanentemente a maneira como as pessoas entendiam a Bíblia. A Bíblia não é mais pensada apenas como um artefato religioso e sua interpretação não está mais restrita à comunidade de crentes. Michael Fishbane escreve: "Há aqueles que consideram a dessacralização da Bíblia como a condição afortunada para o desenvolvimento do mundo moderno". Para muitos, a crítica bíblica "lançou uma série de ameaças" à fé cristã. Para outros, ela "provou ser um fracasso, principalmente devido à suposição de que a pesquisa diacrônica e linear poderia dominar todas e quaisquer questões e problemas decorrentes da interpretação". Outros ainda acreditavam que a crítica bíblica, "despojada de sua arrogância injustificada", poderia ser uma fonte confiável de interpretação. Fishbane compara a crítica bíblica a Jó, um profeta que destruiu "visões egoístas para uma passagem mais honesta do "textus" divino para o humano". Ou como diz Rogerson: a crítica bíblica tem sido libertadora para aqueles que querem sua fé "inteligentemente fundamentada e intelectualmente honesta".
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Basílio da Gama
Basílio da Gama José Basílio da Gama (São José do Rio das Mortes, — Lisboa, ) foi um poeta luso-brasileiro que escrevia sob o pseudónimo Termindo Sipílio. Célebre por seu poema épico "O Uraguai", de 1769, e investido como patrono da cadeira 4 da Academia Brasileira de Letras. Biografia. Nasceu no arraial de São José do Rio das Mortes, depois São José d'El Rei (hoje cidade de Tiradentes) Minas Gerais. O seu pai foi Manuel da Costa Vila-Boas, capitão-mor do Novo Descobrimento, e sua mãe foi uma das netas do oficial militar Leonel da Gama Belles. Em 1757, já órfão de pai, começou a frequentar o Colégio dos Jesuítas no Rio de Janeiro. Quando, dois anos depois, em 1759, Gomes Freire de Andrade, 1.º Conde de Bobadela, ordenou fechar o colégio, como parte da campanha de perseguição movida pela Coroa de Portugal contra a Companhia de Jesus, o jovem Basílio manteve-se fiel à sua vocação e seguiu para Roma, à procura do apoio da igreja católica para a sua fé. Entre os anos de 1760 e 1766 foi admitido, graças ao poeta Michel Giuseppe Morei na Arcádia Romana, com o pseudônimo de "Termendo Sipilho". O fato de um poeta da Brasil Colônia ter sido admitido em uma agremiação tão importante quanto a Arcádia Romana pressupõe que, quase certamente, ele teria sido recomendado pelo clero jesuítico português. No decorrer de 1768 está de novo no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, mas retorna à Europa, dirigindo-se para Coimbra. Nesta ocasião foi detido em Lisboa, acusado de simpatia para com os jesuítas. Em troca da liberdade, prometeu às autoridades ir viver em Angola. Logo em seguida, buscando evitar o degredo, capitulou diante do poder exercido pelo futuro Sebastião José de Carvalho e Melo, marquês de Pombal, responsável direto pela perseguição aos jesuítas. Basílio escreveu então um epitalâmio, dedicado à filha do Marquês, exaltando-o, vindo a cair, em 1769, nas graças deste. No mesmo ano foi publicado poema épico "O Uraguai", dedicado a Francisco Xavier de Mendonça Furtado, irmão de Pombal, onde se percebe o intuito de agradar o homem forte de Portugal daquele tempo. Além dos guerreiros portugueses, os Guaranis são tratados de maneira positiva pelo autor, cabendo unicamente aos jesuítas o papel de vilões, por serem contrários à política pombalina, retratados como interessados em ludibriar os indígenas. Por essa época estreita-se a sua ligação com Pombal, de forma que se torna oficial administrativo e secretário deste. Com a queda política de seu protetor, Basílio passou a sofrer perseguições políticas, sendo obrigado a se deslocar da Corte para a Colônia do Brasil e vice-versa, como forma de se livrar de arbitrariedades cometidas contra si. Num período em que estava em Lisboa veio a falecer, em 31 de julho de 1795, tendo sido sepultado na Igreja da Boa Hora.
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Beato
Beato Um beato (do latim "beatum", "feliz", "bem-aventurado") é, no direito canónico da Igreja Católica, um homem ou uma mulher cujo processo de beatificação foi concluído; depois, esse processo prosseguirá em direcção à canonização se se verificarem as condições requeridas para o efeito; em caso afirmativo, o candidato será reconhecido como santo. Quando alguém é beatificado, essa pessoa passa a ser um exemplo das virtudes cristãs (mais ou menos como um santo), seja por martírio ou por outros exemplos, e seu culto passa a ser permitido, mas diferentemente dos santos, o culto só é permitido em sua região de origem ou onde viveu. Os beatos não podem ser representados com o halo e os mesmos não podem ter igrejas próprias (a não ser que sejam-lhes concedidas especialmente) e também não podem ser padroeiros. A organização responsável por analisar as virtudes, obras e milagres de potenciais beatos é a Congregação para as Causas dos Santos, que pertence à Santa Sé.
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Beatificação
Beatificação Beatificação (do latim "beatus", abençoado, pelo termo grego "μακαριος", makarios) é o ato de atribuir o estatuto de Beato a alguém. No catolicismo, é o reconhecimento feito pela Igreja de que a pessoa a quem é atribuída se encontra no Paraíso, em estado de beatitude, e pode interceder por aqueles que lhe recorrem em oração. Para outras correntes cristãs não existe uma distinção entre beatificação e canonização. Estas diferem sobretudo no seguinte: a primeira implica uma permissão local para a veneração enquanto a segunda se estende muito para além disso, tratando-se de um preceito universal. Ao invés da canonização, muitos teólogos não consideram a declaração de beatitude como uma declaração infalível da Igreja. É considerada um passo no sentido da canonização (ser declarado santo). O Papa João Paulo II alterou vincadamente a prática do Vaticano no que respeita à beatificação. Até Novembro de 2004, beatificou 1340 pessoas, número maior do que todos os anteriores papas em conjunto. O processo de beatificação. Atualmente as Dioceses têm autoridade para abrir um processo de beatificação. A causa de beatificação possui um bispo postulador, que atua como uma espécie de advogado, que investiga a vida do candidato para verificar seu testemunho de santidade. Uma vez iniciado o processo, o candidato recebe o título de Servo de Deus. Na fase inicial, investiga-se as virtudes ou o martírio. Neste último caso, investiga-se as circunstâncias da morte em detalhes. Concluído o processo com parecer positivo, a pessoa é declarada Venerável. Para tornar-se beato, é necessária a comprovação de um milagre por sua intercessão. Esta condição é dispensada em caso de martírio. Uma vez atingida a condição de beato, procede-se o processo de canonização.
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Buenos Aires
Buenos Aires Buenos Aires (; ; ) é a capital e maior cidade da Argentina, além de ser a segunda maior área metropolitana da América do Sul, depois da Grande São Paulo. Ela está localizada na costa ocidental do estuário do Rio da Prata, na costa sudeste do continente. A conurbação da Grande Buenos Aires, que também inclui vários distritos da província de Buenos Aires, constitui a terceira maior aglomeração urbana da América Latina, com uma população de cerca de 13 milhões de pessoas. A cidade de Buenos Aires não é parte da província de Buenos Aires e nem é a sua capital, mas um distrito autônomo. Em 1880, depois de décadas de luta política, Buenos Aires foi federalizada e separada da província de Buenos Aires. Os limites da cidade foram ampliados para incluir as cidades de Belgrano e Flores, ambas agora bairros da cidade. A emenda constitucional de 1994 concedeu a autonomia política à cidade, daí o seu nome formal: "Ciudad Autónoma de Buenos Aires" (). Seus cidadãos elegeram pela primeira vez um chefe de governo (ou seja, o prefeito) em 1996. Antes, o prefeito era diretamente nomeado pelo Presidente da República. Por algumas formas de comparação, Buenos Aires é uma das 20 maiores cidades do mundo. Ao lado de São Paulo e Cidade do México, Buenos Aires é uma das três únicas cidades latino-americanas consideradas uma cidade global alfa. A Argentina tem a terceira melhor qualidade de vida na América Latina. A qualidade de vida na cidade de Buenos Aires é classificada como sendo a 62.ª melhor do mundo. A capital argentina é uma das mais importantes e mais populosas entre as capitais sul-americanas, muitas vezes referida como a "Paris da América do Sul". Buenos Aires é um dos mais importantes destinos turísticos do mundo, é conhecida por sua arquitetura de estilo europeu e por sua rica vida cultural, com a maior concentração de teatros do mundo. A cidade foi a sede da primeira edição dos Jogos Pan-Americanos, ocorridos em 1951, além de ter recebido partidas, incluindo a Final, da Copa do Mundo FIFA de 1978. Buenos Aires também sediou os Jogos Olímpicos de Verão da Juventude de 2018. As pessoas nascidas em Buenos Aires são referidas como portenhos (pessoas do porto). A cidade é a terra natal do atual papa, Francisco (ex-arcebispo de Buenos Aires), e de Máxima dos Países Baixos, a atual rainha-consorte da realeza neerlandesa. Etimologia. Na primeira fundação, Pedro de Mendoza chamou o local de "Real de Nuestra Señora Santa María del Buen Aire" para cumprir a promessa que fizera para a Patrona dos Navegantes na Confraria dos Marinheiros de Triana e da qual ele era membro. Em efeito, "Buen Aire" é a castelanização do nome da Virgem de Bonária, e assim dizer, da Virgem da Candelária a quem os padres da Ordem de Nossa Senhora das Mercês haviam levantado um santuário para os navegantes em Cagliari, na Sardenha, e que era venerada também pelos navegantes de Cádiz, na Espanha. Por muitos anos se atribuiu o nome a Sancho del Campo, de quem Ruy Díaz de Guzmán, em sua obra "La Argentina manuscrita", recogitou a frase: "¡Qué buenos aires son los de este suelo!", pronunciado ao baixar. Por conseguinte, em 1892 Eduardo Madero realizou exaustivas investigações nos arquivos espanhóis, assim, concluindo que o nome estava intimamente relacionado com a devoção dos marinheiros sevilhanos por Nossa Senhora dos Bons Ares. Na segunda fundação, Juan de Garay dá ao novo assentamento o nome de "Ciudad de la Santísima Trinidad". A razão seria que a festividade mais importante próxima daquela data havia sido a de Trindade,isso porque,segundo alguns historiadores;a nau ancorou no dia da dita festividade. Mas para o Porto,Garay conservou o nome dado por Pedro de Mendoza, e continuou chamando "Porto de Buenos Aires". No entanto,os desígnios do vizcaíno não tiveram êxito, pois apesar de que jamais fez disposição oficial alguma que mudassem seu nome, o uso inapelavelmente consagrou desde o primeiro momento o nome de Buenos Aires para a cidade. Na Argentina,podem referir-se à cidade com distintas denominações além de Buenos Aires. O nome de "Capital Federal" ("Cap. Fed.") é um dos mais utilizados, sobre tudo para diferenciá-la da província homônima, em alusão à condição de distrito independente que adquiriu com a lei de Federalização que promulgara Julio Argentino Roca. Muitas vezes é utilizado o termo "Cidade de Buenos Aires", ou essencialmente "Buenos Aires", ainda que este último se presta à confusão com a província na qual a cidade se encontra em forma de enclave. O nome de Cidade Autônoma de Buenos Aires ("CABA") é um dos títulos que oficialmente a Constituição da Cidade sancionada em 1996 lhe deu. Informalmente apenas denomina-se "Baires", apócope da forma original, comum dentro da cidade (especialmente entre os jovens), mas pouco utilizado no interior do país. Poeticamente também lhe tem atribuído numerosos nomes, como "A Paris da América Latina" por sua beleza arquitetônica e seu caráter cultural, ou "Cabeça de Goliat" segundo uma novela de Ezequiel Martínez Estrada, por seu tamanho e influência desproporcionada sobre o resto do país e também "A Rainha do Prata". História. Fundação. O marinheiro Juan Díaz de Solís, navegando em nome do Império Espanhol, foi o primeiro europeu a chegar ao Rio da Prata em 1516. Sua expedição foi interrompida quando foi morto durante um ataque da tribo nativa dos charruas, na região do atual Uruguai. A cidade de Buenos Aires foi estabelecida pela primeira vez como "Ciudad de Nuestra Señora Santa Maria del Buen Ayre" (literalmente "Cidade de Nossa Senhora Santa Maria dos Bons Ventos") em homenagem a Nossa Senhora de Bonaria (Padroeira da Sardenha) em 2 de fevereiro 1536 por uma expedição espanhola liderada por Pedro de Mendoza. O assentamento fundado por Mendoza estava localizado no atual bairro de San Telmo, ao sul do centro da cidade. Mas ataques indígenas derrubaram os colonos e, em 1542, o local foi abandonado. Um segundo (e permanente) acordo foi estabelecido em 11 de junho de 1580 por Juan de Garay, que chegou navegando pelo rio Paraná de Assunção (atual capital do Paraguai). Ele apelidou o assentamento "Santísima Trinidad" e seu porto tornou-se "Puerto de Santa María dos Buenos Aires". Desde os primeiros dias, Buenos Aires dependia principalmente do comércio. Durante a maior parte do século XVI, os navios espanhóis eram ameaçados por piratas, por isso desenvolveram um sistema complexo onde navios com proteção militar eram despachados para a América Central em um comboio de Sevilha, o único porto permitido para comercializar com as colônias, até Lima, no Peru, e para as outras cidades do vice-reino. Por isto, os produtos levavam muito tempo para chegar em Buenos Aires e os impostos gerados pelo transporte os tornaram proibitivos. Este esquema frustrou os comerciantes locais e uma próspera e informal indústria de contrabando, ainda que aceito pelas autoridades, se desenvolveu dentro das colônias e com os portugueses. Isto também inculcou um profundo ressentimento entre os "porteños" em relação às autoridades espanholas. Percebendo esses sentimentos, Carlos III da Espanha aliviou progressivamente as restrições comerciais e, finalmente, declarou Buenos Aires um porto aberto no final do século XVIII. A captura de Porto Bello pelas forças britânicas também alimentou a necessidade de promover o comércio através da rota atlântica, em detrimento do comércio baseado em Lima. Uma de suas decisões foi dividir uma região do Vice-Reino do Peru e criar, em vez disso, o Vice-Reino do Rio da Prata, com Buenos Aires como a sua capital. No entanto, as ações de Carlos não tiveram o efeito desejado e os "porteños", alguns impulsionados pela Revolução Francesa, ficaram ainda mais convencidos da necessidade de independência da Espanha. Século XIX. A chegada de ideias liberais fomentou a criação de movimentos emancipadores, que desencadearam em 1810 a Revolução de Maio e a criação do primeiro governo pátrio. Logo depois das guerras civis e da reunificação do país, Buenos Aires foi eleita lugar de residência do Governo Nacional, ainda que este carecesse de autoridade administrativa sobre a cidade, que formava parte da província de Buenos Aires. Durante a maior parte do século XIX, o estatuto político de Buenos Aires permaneceu um assunto sensível. A cidade já era a capital da Província de Buenos Aires e, entre 1853 e 1860, era a capital do Estado de Buenos Aires. A questão foi combatida mais de uma vez no campo de batalha, até que o assunto finalmente foi resolvido em 1880, quando a cidade foi federalizada e se tornou sede do governo do país, com o seu prefeito nomeado pelo presidente. A Casa Rosada tornou-se a residência oficial do presidente. As condições de saúde em áreas pobres eram ruins, com altas taxas de tuberculose. Os médicos e os políticos de saúde pública geralmente culpavam os próprios pobres e as suas casas desoladoras ("conventillos") pela disseminação da doença temida. As pessoas ignoraram as campanhas de saúde pública para limitar a propagação de doenças contagiosas, como a proibição de cuspir nas ruas, as diretrizes rígidas para cuidar de bebês e crianças pequenas e quarentenas que separaram famílias. A necessidade do Governo Nacional de federalizá-la, somada ao movimento de tropas ordenado pelo governador da província, Carlos Tejedor, produziu em 1880 uma série de confrontos que terminariam com a derrota da província de Buenos Aires e a união da cidade ao sistema federal. Em 1882, o Congresso Nacional criou a figura dos intendentes e o Conselho Deliberante da cidade. O intendente não era eleito por voto popular e sim designado pelo Presidente da Nação em conformidade com o Senado. O primeiro a exercer o novo cargo foi Torcuato de Alvear, designado em 1883 por Julio A. Roca. Século XX. Além da riqueza gerada pela Alfândega de Buenos Aires e pelas terras férteis dos pampas, o desenvolvimento da ferrovia na segunda metade do século XIX aumentou o poder econômico de Buenos Aires à medida que as matérias-primas fluíam para suas fábricas. Um dos principais destinos para imigrantes da Europa de 1880 a 1930, particularmente da Itália e da Espanha, Buenos Aires tornou-se uma cidade multicultural do mesmo nível das principais capitais europeias. O Teatro Colón tornou-se um dos principais casas de ópera do mundo e a cidade tornou-se a capital regional do rádio, da televisão, do cinema e do teatro. As principais avenidas da cidade foram construídas durante esses anos e os alvoreceres do século XX viram a construção de alguns dos edifícios mais altos da América do Sul e seu primeiro sistema de metrô. Um segundo "boom" da construção, de 1945 a 1980, remodelou o centro e grande parte da cidade. Buenos Aires também atraiu migrantes das províncias argentinas e países vizinhos. As favelas ("villas miseria") começaram a crescer em torno das áreas industriais da cidade durante a década de 1930, levando a problemas sociais disseminados e contrastes sociais. Esses trabalhadores tornaram-se a base política do peronismo, que surgiu em Buenos Aires durante a manifestação de 17 de outubro de 1945, na Praça de Maio. Trabalhadores industriais do cinto industrial da Grande Buenos Aires são a principal base de apoio do peronismo desde então e a Praça de Maio tornou-se o local para manifestações e muitos dos eventos políticos do país; em 16 de junho de 1955, no entanto, uma facção da Marinha Argentina bombardeou a área da praça, matando 364 civis. Esta foi a única vez que a cidade sofreu um ataque aéreo e o evento foi seguido por um levante militar que depôs o presidente Juan Domingo Perón três meses depois. Na década de 1970, a cidade sofreu a luta entre movimentos revolucionários de esquerda (Montoneros, E.R.P. e F.A.R.) e o grupo paramilitar de direita Triple A, apoiado por Isabel Perón, que se tornou presidente da Argentina em 1974 após a morte de Juan Perón. O golpe de março de 1976, liderado pelo general Jorge Videla, apenas aumentou esse conflito; a "guerra suja" resultou em 30 000 desaparecidos (pessoas sequestradas e mortas pelos militares durante os anos da junta). As marchas silenciosas de suas mães (Mães da Praça de Maio) são uma imagem bem conhecida do sofrimento dos argentinos neste período. O prefeito nomeado pela ditadura, Osvaldo Cacciatore, também elaborou planos para uma rede de rodovias destinada a aliviaro trânsito intenso da cidade. O plano, no entanto, exigiu uma destruição aparentemente indiscriminada de áreas residenciais. Aquelas que não foram destruídas, sofreram com as rodovias elevadas intrusas que fizeram com que vários bairros anteriormente confortáveis entrassem em decadência. O retorno da democracia em 1983 coincidiu com um avivamento cultural, e a década de 1990 viu um renascimento econômico, particularmente nos setores de construção e financeiro. Em 17 de março de 1992, uma bomba explodiu na embaixada de Israel, matando 29 e ferindo outras 242 pessoas. Outra explosão, em 18 de julho de 1994, destruiu um prédio que abrigava várias organizações judaicas, matando 85 e ferindo várias outras pessoas. Estes incidentes marcaram o início do terrorismo islâmico na América do Sul. Após um acordo de 1993, a Constituição argentina foi alterada para dar autonomia a Buenos Aires e rescindir, entre outras coisas, o direito do presidente de nomear o prefeito da cidade (como acontecia desde 1880). Em 30 de junho de 1996 celebraram-se as eleições que designariam o Chefe de Governo da Cidade, assim como os legisladores que sancionariam a Constituição da Cidade. Nas eleições para o Poder Executivo saiu vencedora a fórmula radical de Fernando de la Rúa, que assim se tornava no primeiro Chefe de Governo. Com dois meses de deliberações, a Convenção Constituinte sancionou, finalmente, em 1º de outubro de 1996 a Constituição da Cidade de Buenos Aires. Século XXI. Em 2003, foi aí promulgada a união civil, tanto para os casamentos homossexuais como para os heterossexuais, tornando-se a primeira cidade na América Latina a oficializar este gênero de união. O sucessor de De la Rúa na prefeitura, Aníbal Ibarra, ganhou duas eleições populares, mas foi acusado (e, finalmente, deposto em 6 de março de 2006) como resultado do incêndio na discoteca República Cromañón. Jorge Telerman, que tinha sido o prefeito interino, foi colocado no cargo. Nas eleições de 2007, Mauricio Macri, do Partido da Proposta Republicana (PRO), venceu o segundo turno da eleição sobre Daniel Filmus da Frente para a Vitória (FPV), assumindo o cargo em 9 de dezembro de 2007. Em 2011, as eleições foram para uma segunda rodada com 60,96% dos votos para PRO, contra 39,04% para FPV, reelegendo Macri como prefeito da cidade com María Eugenia Vidal como vice-prefeita. As eleições de 2015 foram as primeiras a usar um sistema de urna eletrônica na cidade, semelhante ao usado na Província de Salta. Nestas eleições realizadas em 5 de julho de 2015, Macri resignou do cargo de prefeito e prosseguiu sua candidatura presidencial e Horacio Rodríguez Larreta ocupou seu lugar como candidato a prefeito do PRO. Na primeira rodada de votação, Mariano Recalde da FPV obteve 21,78% dos votos, enquanto Martín Lousteau do partido ECO obteve 25,59% e Larreta obteve 45,55%, levando as eleições ao segundo turno, uma vez que PRO não conseguiu garantir a maioria exigida para a vitória. O segundo turno foi realizado em 19 de julho de 2015 e Larreta obteve 51,6% dos votos, seguido de perto por Lousteau com 48,4%, assim, o PRO ganhou as eleições para um terceiro mandato com Larreta como prefeito e Diego Santilli como deputado. Nessas eleições, o PRO foi mais forte nos bairros mais ricos do norte de Buenos Aires, enquanto o ECO foi mais forte no sul da cidade. Em 2019, Larreta foi reeleito para um segundo mandato como prefeito de Buenos Aires. Obteve 55,9% dos votos e venceu ainda no primeiro turno o opositor Matías Lammens, da Frente de Todos, com 20 pontos de vantagem. A vitória rendeu ao PRO o quarto mandato consecutivo no comando do Executivo portenho. Geografia. A Cidade de Buenos Aires está localizada na América do Sul, a 34° 36' de latitude sul e 58° 26' de longitude oeste, às margens do Rio da Prata, e seu clima é temperado. Do outro lado do Prata, encontra-se a Colônia do Sacramento e mais distante Montevidéu, a capital do Uruguai, a apenas 45 minutos de avião. A 2 horas de avião se encontra Santiago, a capital do Chile, a km (3 horas de avião), se encontra São Paulo, no Brasil, a outra grande metrópole da América do Sul. O Rio da Prata e o Riachuelo são os limites naturais da Cidade Autônoma de Buenos Aires no leste e no sul. O resto do perímetro está rodeado pela rodovia externa da Avenida General Paz, uma rodovia de 24 km de extensão que circunda a cidade de norte a oeste; existe um pequeno trecho de não mais de 2 km compreendido entre a Avenida Intendente Cantilo e o Rio da Prata onde o limite com a província de Buenos Aires, em parte, é a linha imaginária da prolongação da Av. General Paz. Outro trecho é o arroio Raggio, este setor corresponde ao limite entre o Parque dos Filhos e o Passeio da Costa. Exceto seu limite oriental com o Rio da Prata, todos os outros limites indicados da CABA (Cidade Autônoma de Buenos Aires) separam sua jurisdição da correspondente província de Buenos Aires. A cidade se encontra quase em sua totalidade na região pampeana, salvo algumas zonas como a Reserva Ecológica de Buenos Aires, a Cidade Desportiva do Club Atlético Boca Juniors, o Aeroparque Jorge Newbery, o bairro de Puerto Madero, que se têm terras emergidas artificialmente mediante o aterro das águas do Rio da Prata. A região estava antigamente atravessada por diferentes arroios e lagoas, alguns dos quais foram preenchidos e outros entubados. Entre os arroios de importância estão os Terceiros (do Sul, do Médio e do Norte), Maldonado, Vega, Medrano, Cildáñez e White. Em 1908 muitos arroios foram canalizados e retificados, já que com as cheias causavam danos para a infraestrutura da cidade. Foram canalizados, mas se mantinham a céu aberto, construindo-se várias pontes para cruzá-lo. Finalmente em 1919 se dispôs sua canalização fechada, mas os trabalhos começaram apenas em 1927, terminando alguns em 1938 e outros, como o Maldonado, em 1954. Clima. O clima da Buenos Aires é subtropical úmido ("Cfa" de acordo com a classificação climática de Köppen-Geiger), com as quatro estações do ano bem definidas. A temperatura média anual é de 18 °C; o verão é quente com precipitação e o inverno é frio com redução moderada da precipitação. Ao longo do ano, normalmente, a temperatura mínima nos meses mais frios é de 7 °C e a temperatura máxima nos meses mais quentes é de 30 °C e raramente são inferiores a 3 °C ou superiores a 34 °C. Apartir do século XX, as temperaturas na cidade têm aumentado consideravelmente devido as ilhas de calor urbano, sendo atualmente 2 °C superiores ao de regiões próximas consideravelmente menos urbanizadas. As precipitações também têm aumentado desde 1973, como já ocorrido no anterior hemiciclo úmido: 1870 a 1920. A época mais chuvosa é o verão, quando se desenvolvem tormentas, às vezes muito intensas, que ocasionam grandes acumulados de chuva em um curto período de tempo; a elevada umidade desta época torna o tempo muito abafado. Já no inverno são mais comuns e contínuos os chuviscos e dias sujeitos a maior nebulosidade, no entanto, não se pode dizer que haja uma estação de chuvas; geadas podem se fazer presentes em dias de céu sem nuvens e temperaturas próximas ou abaixo de 0 °C. Os nevoeiros, outra característica de Buenos Aires, têm-se tornado raros e, quando ocorrem, se dão em curtos períodos do ano. As nevadas na cidade não são habituais. A última nevada significativa ocorreu em 9 de julho de 2007, esta começou na forma de aguaneve e terminou cobrindo grande parte da cidade. Nas zonas suburbanas a mesma chegou a ter um acúmulo muito maior. Tal evento climático ocorreu em consequência de um grande vento polar que atingiu a Argentina. Desde que se tem obtido registros sistemáticos do clima, apartir do ano 1870, só se sabe de outra nevada considerável em 1918. Em 1912, 1928 e 1967 houve queda de aguaneve. Buenos Aires recebe a influência de dois tipos de ventos sazonais: o pampeiro e a sudestada. O primeiro provém do sudoeste, só inicia-se com uma tormenta curta que rapidamente da frente a um ar muito mais frio e seco. Ainda que possa dar-se em qualquer época do ano, se tem com maior intensidade no verão; costuma ocorrer logo após um período de calor intenso. A sudestada, menos frequente que o anterior, ocorre principalmente no outono e na primavera. Consiste em um vento forte do sudeste, fresco e muito úmido, que dura vários dias e por muitas vezes acompanhado de precipitações débeis e constantes. O vento contínuo faz subir as águas do Rio da Prata, chegando às vezes a produzir inundações nas zonas mais baixas da cidade, como o bairro de La Boca. Demografia. No último censo nacional realizado em outubro de 2010 pelo INDEC, na Cidade de Buenos Aires contabilizou habitantes dos quais 54% pertencem ao sexo feminino e 46% ao sexo masculino. A cidade conta com uma importante densidade demográfica que ascende a 14 307,6/km². Buenos Aires tem mantido baixas taxas de natalidade nas últimas décadas. Em 2008 45 820 nascimentos foram registrados dando uma taxa bruta de natalidade de 15,1 ‰. O crescimento vegetativo é acessível 4,6 ‰ (0,46%), semelhante ao de países europeus. Na última década, a fertilidade da cidade variou 1,7-1,9 filhos por mulher. A zona norte da cidade (tomando como divisão do norte-sul para a Avenida Rivadavia) é rica e próspera, com vários hospitais, serviços e grande densidade populacional. Composição étnica. A inícios do século XXI, devido ao envelhecimento (por escassa fecundidade dos estratos de classe média) da população nativa portenha, a emigração ao estrangeiro e a substituição demográfica em grande medida provocada pelas crise econômicas, cerca de 40% dos portenhos não nasceram nem na cidade nem nos partidos do Grande Buenos Aires, sinal que se trata de população que migrou desde as províncias do norte argentino e de outros países (se calcula que 316 739 de seus habitantes, nasceram no estrangeiro). Segundo a "Direção Geral de Estadística e Censos" (pertencente ao Governo da C.A.B.A.), em 2008 a taxa de fecundidade foi de 1,94 filhos por mulher (por debaixo do nível de superação geracional de 2,1 filhos por mulher). Religião. De acordo com uma pesquisa do CONICET de 2008 sobre os credos, o cristianismo é a religião predominantemente praticada em Buenos Aires (79,6%) e a maioria dos habitantes é católica (70%), embora estudos tenham descoberto que nas últimas décadas menos de 20% são praticantes. A cidade é a sede de um arcebispo metropolitano católico romano (o primaz católico da Argentina), atualmente Dom Mario Aurelio Poli. Seu predecessor, o cardeal Jorge Bergoglio, foi eleito ao Papado como Papa Francisco em 13 de março de 2013. Existem cristãos protestantes, cristãos ortodoxos, muçulmanos, judeus, testemunhas de Jeová, mórmons e budistas. A cidade abriga a maior mesquita da América do Sul. Além disso, a irreligião em Buenos Aires é mais alta do que em outras partes do país, sendo que cerca de 18% dos porteños declaram-se ateus ou agnóstico. Problemas socioeconômicos. As villas misérias (conhecidas como favelas em português) existem desde o século XIX, alimentadas tanto pelo êxodo rural como por uma grande quantidade de imigrantes europeus, a recente crise econômica do país, que tem feito crescer a desigualdade no ingresso, apesar do crescimento econômico dos últimos anos. O problema da insalubridade em muitos dos assentamentos informais e tem-se agravado com a contaminação do poluído Riachuelo(um dos rios mais contaminados do mundo) também em várias zonas do centro da cidade existem assentamentos precários, como o caso da Villa 31 nas imediações do bairro do Retiro. A taxa de homicídios é menor do que as cidades norte-americanas, incluindo Nova Iorque, com 7,0 por 100 mil habitantes, enquanto em Buenos Aires é de 4,57, extremamente baixo quando comparado com a média de 30,7 o que existe na América Latina. Buenos Aires é uma das cidades mais seguras do continente. Governo e administração. O Poder Executivo da cidade é composto pelo Chefe de Governo, que é eleito mediante o voto dos cidadãos locais para exercer o cargo durante quatro anos. Seu substituto natural é o Vice-chefe de Governo, que é além do presidente da Legislatura da Cidade de Buenos Aires. O Chefe de Governo da Cidade é Horacio Rodríguez Larreta desde 9 de dezembro de 2015. O Poder Legislativo é formado pela Legislatura da Cidade de Buenos Aires, integrada por sessenta deputados. Cada deputado dura quatro anos em suas funções, e a legislatura se renova por metades a cada dois anos mediante o voto direto no acumulativo na base da Lei ou ao Método D'Hondt. De acordo com a Lei 24.588, a Justiça da cidade apenas tem jurisdição em temas de bairro, contravencional e de faltas, contencioso-administrativa e tributária locais. O Poder Judicial se encontra formado pelo Tribunal Superior de Justiça, o Conselho da Magistratura, o Ministério Público e os diferentes Tribunais da Cidade. No entanto, sua organização em termos de autonomia legislativa e judicial, é menor em términos jurídicos que a de qualquer das províncias que compõem a República Argentina. A Justiça em assuntos de direito comum que se em parte na cidade está regida pelo Poder Judicial da Nação. Existe em Buenos Aires una forma de descentralização administrativa composta pelos Centros de Gestão e Participação Comunal, que serão substituídos a partir de 2009 por um novo sistema de comunas. Cada comuna terá seu próprio patrimônio e pressuposto, e estará governada por uma "Junta Comunal". Esta Junta estará integrada por sete membros, que duraram quatro anos em suas funções. Segurança pública. Em quanto as forças de segurança, a Lei Nº 24.588 indica que o governo portenho exerce as funções de segurança em todas as matérias não federais, as quais são exercidas pela Polícia Federal Argentina, a cargo do Poder Executivo nacional. Para estas tarefas foi criada em 1º de Janeiro de 2017 a Polícia da Cidade de Buenos Aires, com a fusão entre a Polícia Metropolitana de Buenos Aires e a Superintendência de Segurança Metropolitana da PFA.O efetivo da nova força é de 21 mil policiais + 4 mil civis em funções administrativas. Assim, o governo portenho criou a maior polícia civil municipal de ciclo completo de toda a América do Sul e Caribe. A Polícia da Cidade trabalha em conjunto com a Polícia Federal Argentina e na zona portuária, com a Prefeitura Naval Argentina. Geminações. A Cidade de Buenos Aires tem tido, ao longo de sua história, diversos geminações com cidades de vários continentes, além de geminações com algumas regiões ou comunidades autónomas. Subdivisões. Oficialmente a cidade se encontra dividida em 48 bairros ou unidades territoriais que derivam das antigas "paróquias" estabelecidas no século XIX. Ainda que se fale de 100 bairros portenhos, esta expressão tem origem em uma canção popular e não na quantidade real de bairros. Cada bairro tem sua própria história e características populacionais que lhe imprimem cor, estilo e costumes únicos; e são um reflexo da variedade cultural que atua na cidade. Algumas destas unidades territoriais existem desde décadas, no entanto existem outras que foram determinadas recentemente. Este é o caso de Parque Chas, cujos limites foram estabelecidos em 25 de janeiro de 2006 quando foi publicada no Boletim Oficial a Lei 1 907. No entanto, sempre existiu uma grande quantidade de denominações não oficiais para algumas zonas da cidade, como Bairro Parque e Abasto, quantidade que na atualidade se encontra em aumento devido a motivos puramente comerciais. Os bairros do norte e noroeste têm-se convertido no centro da riqueza, com lojas exclusivas e várias áreas residenciais da classe alta como Recoleta, Palermo, Belgrano assim como também Puerto Madero, localizado ao sul da cidade. Em outro bairro do sul como Barracas, emerge una população de classe média e média alta graças ao auge imobiliário na zona. Excetuando estes dois últimos bairros, a zona sul é a que ostenta os menores indicadores socioeconômicos da cidade. O sistema de descentralização de governo por comunas, retomará os limites inter-bairros, já que haverá uma comuna por cada bairro ou bairros vizinhos. Economia. Em 2008 o Produto Interno Bruto (PIB) da cidade de Buenos Aires foi de aproximadamente 90 bilhões de dólares (quase 350 bilhões de pesos argentinos), sendo responsável por cerca de 43% do PIB total da Argentina naquele ano. Esse valor resulta em 40,4 mil pesos argentinos "per capita", muito superior ao nacional (de 18,8 mil pesos argentinos em 2008) verificado no mesmo ano e fica para a cidade a terceira cidade capital com maior renda "per capita" da América Latina, depois da Cidade do México e de Brasília. Isto, devido ao tipo de câmbio relativamente desvalorizado do peso argentino, apresenta importantes distorções, já que, tendo o poder aquisitivo em conta, Buenos Aires conta com o segundo maior produto "per capita" na região sul-americana. O PIB nominal da cidade cresceu em 2006 cerca de 11,4% a respeito de 2005. O setor mais importante para a economia da cidade é o de serviços, responsáveis por cerca de 78% do PIB de Buenos Aires (muito maior aos 56% em nível nacional). Os ramos mais importantes são os relacionados aos serviços comerciais, imobiliários, profissionais, empresariais e financeiros. Nos últimos anos, um dos setores que mais veem se destacando na economia da cidade é o relacionado a construção civil, já que a quantidade de permissões para construir concedidas pelo governo local aumentou cerca de 44% entre 2002 e 2008, principalmente na periferia e nas áreas mais valorizadas da cidade, como em Puerto Madero. A influência do setor no PIB alcançou os 7,4 bilhões de dólares em 2008. Quanto aos serviços financeiros, Buenos Aires gera 70% do valor agregado da nação Concentra 53% dos depósitos bancários e 60% dos empréstimos ao setor privado não financeiro, que ascendem a 90,4 e 53,5 milhões de pesos, respectivamente. Além de 90% das entidades financeiras do país terem sua sede na capital argentina. A cidade também figura como a metrópole, fora do Brasil, que mais presta serviços financeiros na América do Sul. A indústria manufatureira representou 14,2% do PIB em 2008. O sector sofreu um aumento de 10% a respeito do ano anterior, e os setores que registraram um maior aumento da produtividade foram os de medicamentos, produtos químicos e vestuários, que somaram 14% do PIB industrial da cidade. Além destes, os produtos relacionados a indústria alimentícia, a informática e ao papel/celulose, concentram 60% do PIB industrial da cidade (2008), que representou, nesse mesmo ano, 21,5% do PIB total da cidade. Nos últimos anos a cidade se converteu em um polo turístico, em especial pela baixa de custos que produziu para os visitantes estrangeiros e a constante desvalorização do peso. Entre 2002 e 2004 a quantidade de estabelecimentos hoteleiros aumentou em 10,7%, porém a taxa de habitações ocupadas teve um importante aumento, de 42,9%, no mesmo período. Na cidade existe um importante desenvolvimento do setor de serviços relacionados a informática, e a alta-tecnologia. Na cidade de Buenos Aires se encontram instaladas, aproximadamente, 70% das empresas geradoras de software da Argentina, que a nível nacional exportou por mais de 3,9 bilhões de dólares líquidos relacionados ao setor, em 2008. Turismo. De acordo com o Conselho Mundial de Viagens e Turismo, o turismo vem crescendo na capital argentina desde 2002. Em uma pesquisa realizada pela revista de viagens e turismo "Travel + Leisure" em 2008, os viajantes votaram em Buenos Aires a segunda cidade mais desejável para visitar depois de Florença, na Itália. Em 2008, cerca de 2,5 milhões de visitantes visitaram a cidade. Buenos Aires tem mais de 250 parques e espaços verdes, a maior concentração está no lado leste da cidade nos bairros de Puerto Madero, Recoleta, Palermo e Belgrano. Alguns dos mais importantes são os Bosques de Palermo, o Jardim Botânico de Buenos Aires, o Jardim Japonês de Buenos Aires, a Plaza San Martín e a Praça de Maio, onde podem ser vistos cinco pontos turísticos importantes: a Casa Rosada, sede do governo da Argentina, o Museu Bicentenário, a Catedral Metropolitana de Buenos Aires, o Museu Histórico Nacional do Cabildo e da Revolução de Maio e o Museu da Administração Federal de Buenos Aires. Buenos Aires tem mais de 280 teatros, mais do que qualquer outra cidade do mundo. Por isso, Buenos Aires é declarada "capital mundial do teatro". Os teatros da cidade mostram tudo, desde musicais a balé, comédia a circos. O mais famoso é o Teatro Colón, classificado como a terceira melhor casa de ópera do mundo pela "National Geographic" e é acusticamente considerada como uma das cinco melhores salas de concertos do mundo. O teatro é delimitado pela ampla Avenida 9 de Julho (tecnicamente Rua Cerrito), Rua Libertad (entrada principal), Rua Arturo Toscanini e Rua Tucumán. Buenos Aires tem vários tipos de acomodações, desde luxuosas cinco estrelas até hospedarias de baixo custo localizadas em bairros que estão mais longe do centro da cidade, embora o sistema de transporte permita acesso fácil e barato à cidade. Em fevereiro de 2008, havia 23 hotéis cinco estrelas, 61 quatro estrelas, 59 três estrelas e 87 dois hotéis ou uma estrela, bem como 25 hotéis boutique e 39 apart-hotéis; outras 298 pensões e outros estabelecimentos não-hoteleiros foram registados na cidade. Ao todo, cerca de 27 mil quartos estavam disponíveis para o turismo em Buenos Aires, dos quais cerca de 12 mil pertenciam a hotéis de quatro estrelas, cinco estrelas ou hotéis boutique. Os estabelecimentos de categoria superior normalmente gozam das maiores taxas de ocupação da cidade. A maioria dos hotéis está localizada na parte central da cidade, nas proximidades das principais atrações turísticas. No bairro de Recoleta se encontra uma grande quantidade de pontos turísticos de grande valor cultural. Ali se pode encontrar a sede principal do Museu Nacional de Belas Artes, a Biblioteca Nacional, o Centro Cultural Recoleta, a Faculdade de Direito da Universidade de Buenos Aires, a Basílica Nossa Senhora de Pilar, o Palais de Glace, o Bar La Biela e o Cemitério da Recoleta, onde se encontram alojados os restos de Eva Duarte de Perón. No bairro de Retiro pode-se visitar a estação do mesmo nome, e percorrer vários monumentos e edifícios emblemáticos da cidade, como os monumentos aos Caídos na Guerra das Malvinas e ao General San Martín, assim como a Torre Monumental e o Edifício Kavanagh, um dos mais altos da cidade. O Museu de Arte Latino-americano de Buenos Aires, um dos mais importantes do país, se encontra no bairro de Palermo, onde também se situam os Bosques de Palermo, o Planetário, e o Zoológico de Buenos Aires. Buenos Aires tornou-se um destinatário do turismo LGBT. Devido à existência de alguns sites "gay-friendly", a lei de união civil de 2002. Ao legalizar o casamento homossexual em 15 de julho de 2010, a Argentina se tornou o primeiro país da América Latina, o segundo nas Américas e o décimo no mundo a fazê-lo. A Lei de Identidade de Gênero, aprovada em 2012, tornou o país o único que permite que as pessoas mudem suas identidades de gênero sem enfrentar barreiras como terapia hormonal, cirurgia ou diagnóstico psiquiátrico que as rotula como tendo uma anormalidade. Em 2015, a Organização Mundial da Saúde citou a Argentina como um exemplo em direitos de transgêneros. Infraestrutura. Educação. A Cidade de Buenos Aires conta com o menor índice de analfabetismo da República Argentina, sendo de 0,45% entre os maiores de 10 anos. Segunda uma pesquisa realizada pela Direção General de Estatística e Censos em 2006, a taxa de escolaridade por nível é de 96,5% para o nível inicial (5 anos) é de 98,6% para o nível primário (6 a 12 anos) e de 87,0% para o nível médio (13 a 17 anos). Além da quantidade de alunos matriculados se mantém um aumento, alcançando os alunos em 2 318 estabelecimentos durante 2006. A Cidade de Buenos Aires conta com uma grande quantidade de estabelecimentos educativos. Salvo no caso das escolas primárias onde há mais estabelecimentos estatais, é maior o número de estabelecimentos privados. No entanto a quantidade de alunos matriculados em estabelecimentos educativos de gestão privada é levemente menor registrada nas instituições estatais. A capital argentina recebe também a estudantes que vivem na Província de Buenos Aires, durante 2005 a porcentagem de alunos com residência nessa província que assistiram a escolas estatais foi de 4,5% no nível inicial, de 11,8% no nível primário, de 19,5% no nível médio. A educação inicial corresponde ao período entre os 45 dias e os 5 anos. Os Jardins Maternais se encarregam da educação de menores entre os 45 dias e os 2 ou 3 anos, segundo o estabelecimento. As chamadas Escolas Infantis abrigam o período completo, entre os 45 dias e os 5 anos. A educação primária abarca desde os 6 aos 12 anos do menor, e é obrigatória em toda a República Argentina. Em todas se ensina um segundo idioma, nas de gestão oficial apenas desde o 4º grau (inglês nas instituições de jornada simples; e inglês, francês ou italiano nas de jornada completa), ainda que na cidade funcionem 22 estabelecimentos plurilíngues, onde além do castelhano se ensina inglês, francês, português ou italiano. A educação media está destinada aos menores de entre 13 e 18 anos de idade, pode alcançar os 19 anos em algumas modalidades, e está organizada em um ciclo básico que inclui os 3 primeiros anos, e um ciclo de especialização que inclui o período restante (até os 19 apenas nas escolas técnicas). A diferencia de muitas províncias, a Cidade de Buenos Aires manteve suas escolas técnicas, e mediante a Lei 898 se dispôs que o nível médio de educação é obrigatório. Além das diferentes modalidades de educação terciária, a cidade é sede de algumas das Universidades mais importantes do país. Ali se encontram a maioria das sedes da Universidade de Buenos Aires, uma das mais importantes de América Latina. Também se encontram as principais sedes da Universidade Tecnológica Nacional, e estão instaladas algumas sedes da Universidade Nacional de General San Martín. Há alguns terciários dependentes da cidade e alguns professorados como o Instituto Superior do Professorado "Dr. Joaquín V. González". A cidade também é sede de muitas universidades privadas, como a Universidade Argentina da Empresa, a Pontifícia Universidade Católica da Argentina, a Universidade de Belgrano, a Universidad del Salvador, a Universidade Austral e a Universidade de Palermo. Saúde. O sistema público de saúde atende cerca de 21,9% da população, de acordo com uma pesquisa realizada pelo governo portenho. A Cidade de Buenos Aires conta com 34 estabelecimentos hospitalares com atendimento totalmente gratuito, que funcionam dentro do sistema de saúde estatal. Cerca de 90% das consultas realizadas no sistema público de saúde são realizadas em alguns desses estabelecimentos. Das consultas realizadas nos hospitais 55,6% corresponde a população residente na cidade, porém cerca de 41,2% corresponde a residentes da Província de Buenos Aires e um 3,2% a residentes de outras localidades. A Cidade de Buenos Aires conta com 34 estabelecimentos hospitalares com atendimento totalmente gratuito, que funcionam dentro do sistema de saúde estatal. Mas a cidade conta também com um sistema de atendimento primário que se ocupa do atendimento de 80% dos casos, para distribuir o uso das instalações hospitalares e para que sejam utilizadas apenas nos casos de maior complexidade. Isto se deve principalmente ao fato da infraestrutura hospitalar da cidade se encontrar bastante deteriorada, não apenas pela falta de equipamentos, mas também pela grande quantidade de casos provenientes da Grande Buenos Aires, que somados aos da cidade sobrecarregam o serviço. Este sistema de atendimento primário é constituído pelos "Centros de Saúde", os "Centros Médicos de Bairro" e os "Médicos de Cabecera" (médico de família). Os Centros de Saúde são integrados, entre outros, por médicos clínicos, pediatras, psicólogos e assistentes sociais, já que sua função não é apenas o atendimento, mas também a execução dos diferentes programas de prevenção. Os Centros Médicos de Bairro (CMB) cumprem a mesma função de prevenção e atendimento, mas este atendimento e entrega de medicamentos gratuitos está orientada para sectores considerados "de risco". A instituição dos "Médicos de Cabecera" constitui outro sistema de descentralização, onde os médicos dos hospitais fazem atendimento e entrega gratuita de medicamentos em seus consultórios particulares. A cidade conta também com uma grande quantidade de clínicas e consultórios privados, onde se destacam, mas não só, o "Hospital Italiano" (lugar onde se realizam muitos dos transplantes de órgãos na Argentina), a "Clínica y Maternidad Suizo Argentina" e a "Clínica Favaloro". A metrópole tem ostentado baixas taxas de natalidade nas últimas décadas comparada com outras jurisdições do país. Em 2008 se registraram nascimentos dando uma taxa de natalidade de 15,1%. As disfunções foram , com uma elevada taxa de mortalidade de 10,5% (produto de uma estrutura populacional envelhecida). Como resultado se vislumbra um baixíssimo crescimento vegetativo de 4,6‰ (0,46%) similar ao que se observa em países europeus. A mortalidade infantil é um indicador que reflete indiretamente as condições socioeconômicas de uma sociedade, sobretudo pelo seu impacto nos setores mais desprotegidos. A Cidade de Buenos Aires tem uma das taxas mais baixas do país (8,5 por mil), apenas superada pela província da Terra do Fogo que gira em torno de quatro por mil. No período 1990–2004 a taxa de mortalidade infantil sofreu uma baixa de 47%. Enquanto que em 1990 a taxa era de 16 por mil, em 2004 foi reduzida para 8,5 por mil. Mas existe na cidade uma disparidade muito grande entre o sul e o norte: enquanto que nos Centro de Gestão e Participação (CGP) da zona norte (2n, 14e, 14o, 13 e 12) a taxa é de 6,86 por mil, nos CGP da zona sul (3, 4, 5 e 8) a taxa ascende a 14 por mil. Arquitetura e urbanismo. A Cidade de Buenos Aires evolucionou a partir de diversas correntes imigratórias pertencentes a diferentes culturas e, em consequência, tem criado um remarcado ecletismo que se evidência em sua arquitetura, na qual podem falar-se expressões que vão do frio academicismo ou art déco, até o alegre art nouveau; do neogótico moderno, passando pelo francês borbônico, ao arranha-céu moderno realizado em vidro ou concreto. Os estilos muito pessoais, como por exemplo, o do colorido bairro de La Boca. A cidade se encontra sobre um bom suporte geográfico: seu território é extenso e plano, não sofrendo complicações de temperaturas extremas, ventos, nevadas ou terremotos. Possui uma boa fonte de água doce, como o Rio da Prata. O traçado da cidade é muito regular. O centro histórico e financeiro da cidade possui quadras perfeitamente quadradas, estendidas de norte a sul e de leste a oeste, tal como seu fundador Garay as estabelecera. Este traçado de ruas perpendiculares (o chamado "damero") se estendeu em grande parte para o resto da cidade. A metrópole é fértil em áreas de qualidade urbanística e arquitetônica. Possui várias praças públicas, com destaque para os parques: Bosques de Palermo (ou Parque Três de Febrero), o Almirante Brown e os da Reserva Ecológica de Buenos Aires (Andrés Borthagaray e Manuel Ludueña). Uma característica da cidade é a diversidade de árvores e de cores das flores destas. Em grande parte disto é consequência da tarefa de Carlos Thays, paisagista francês, criador entre outras coisas do Jardim Botânico de Buenos Aires, que implantou árvores como as tipas, os jacarandás e as tabebuias. Outras características destacadas são os coroamentos em cúpulas, torres e mansardas que possuem os edifícios. Em princípio foram o resultado da influência europeia na arquitetura portenha, sobre tudo, pelo trabalho realizado por arquitetos franceses, italianos e alemães, que desenharam os edifícios entre fins do século XIX e princípios do XX, como uma substituição da arquitetura colonial. A princípio era um elemento arquitetônico simbólico. Mas logo se elegeram como símbolo da suntuosidade da burguesia argentina que detinha o poder nacional. Talvez a principal característica das mesmas é a variedade: há com forma de meia laranja, de pinha, aceboladas e muitas outras. A área central da metrópole é muito congestionada pelo tráfego de veículos, além de ser muito desabitada fora dos dias laborais, o que além de produzir insegurança, torna-se cara por haver muitas edificações comerciais, usadas apenas em períodos úteis ou de trabalho. Transportes. A complexidade da Cidade de Buenos Aires requer um sistema de transporte e de acessos à cidade igualmente complexo e extenso. A cidade não apenas necessita de um sistema de transporte para quem habita nela, como também para os habitantes do aglomerado que se transportam à cidade principalmente por motivos de trabalho. A cidade conta com quatro acessos por rodovia, que se somam à grande quantidade de acessos existentes, como as pontes ou avenidas que cruzam a Avenida General Paz. Os acessos por estrada são a Rodovia Buenos Aires - La Plata, a Rodovia Ricchieri, o Acesso Oeste e o Acesso Norte. Estas rodovias permitem um acesso rápido a partir da província de Buenos Aires, ao contrário do resto dos acessos, onde o trânsito tende a ser pouco fluido a partir do final do horário comercial. O meio de transporte de maior uso é o coletivo (ônibus), já que, com mais de 180 linhas, permite não só conectar diferentes pontos da cidade mas, também, alcançar diferentes "partidos" da província de Buenos Aires. O outro meio massivo utilizado para acessar a cidade é a rede ferroviária, já que todas as linhas férreas do país confluem em Buenos Aires. Na região metropolitana, algumas destas linhas são utilizadas como trem de subúrbio, operadas pela estatal Trenes Argentinos Operaciones. O sistema possui conexão com o metrô, o que permite um traslado relativamente fluido a partir da região metropolitana bonaerense até diferentes zonas da cidade. Os trens também são usados pelos portenhos como meio de deslocamento rápido dentro da cidade. O Metropolitano de Buenos Aires conta com seis linhas em funcionamento, com um percurso superior aos 56 km. Além de, se encontrar em construção o segundo trecho da linha H, que atualmente conecta os bairros de Parque Patricios e Recoleta sob o traçado da avenida Jujuy, e finalmente unirá o sul da cidade desde Nueva Pompeya com a estação ferroviária do Retiro. Está planejada a construção de outros três ramais (F, G e I), com os que as linhas em funcionamento chegariam a nove. A linha A foi inaugurada em 1913 é também uma atração turística, por haver sido a primeira linha de subterrâneo do hemisfério sul (e da América Latina) e por conservar os trens que se utilizavam a princípios do século XX. O porto de Buenos Aires é o maior do país, e foi tradicionalmente a principal entrada marítima de Argentina. Atualmente maneja 70% das importações argentinas e concentra cerca de 40% do total do comércio exterior do país. A Cidade e o Grande Buenos Aires tem dois aeroportos comerciais, três militares e um privado. Os dos comerciais são o Aeroporto Internacional Ministro Pistarini, no partido de Ezeiza, a 35 quilômetros da cidade, e o Aeroparque Jorge Newbery no bairro de Palermo. Desde o aeroporto de Ezeiza há voos para toda América do Sul, América do Norte, Europa, África, Ásia e Oceania. É o único da América Latina que conta com voos que chegam aos 5 continentes. Em 2018 passaram por ali mais de 11 milhões de passageiros. Desde o Aeroporto Jorge Newbery (chamado comumente Aeroparque), há voos domésticos unicamente, com a exceção dos voos para Montevidéu e Assunção. As duas maiores linhas aéreas são Aerolíneas Argentinas e LAN Argentina. A primeira tem 35 destinos nacionais e 18 internacionais, porém a segunda tem oito destinos nacionais e três internacionais. Voar é a melhor forma de percorrer o país e de entrar ou sair da Cidade de Buenos Aires. Os códigos aeroportuários IATA dos aeroportos são EZE (Aeroporto Internacional) e AEP (Aeroporto Doméstico). Serviços públicos. Seus habitantes contam com um elevado acesso aos serviços públicos: 99,9% conta com rede de água, a mesma quantidade conta com rede de eletricidade, 92,8% conta com rede de gás, 99,6% com iluminação pública, 99,3% com coleta de resíduos e 89,7% dos lares tem telefone. Estas cifras diminuem para a população residente em vilas, se bem que a totalidade de seus habitantes recebe água corrente (incluindo a torneira pública), 99,5% dispõe de energia elétrica, 93,1% de iluminação pública, 87,8 de coleta de resíduos e apenas 1,3% de gás corrente. O serviço de gás natural é administrado pela MetroGAS desde dezembro de 1992. Durante 2004 foram distribuídos um total de 4 468 328 m³ de gás, sendo 1 201 756 m³ para usuários residenciais, 371 575 m³ para Gás Natural Comprimido, 243 024 m³ para usuários comerciais, 120 119 m³ para indústrias, 2 484 045 m³ para usinas elétricas e 47 809 m³ para as entidades oficiais. O serviço elétrico se encontra a cargo de duas empresas: Edesur e Edenor. A área de cobertura da Edenor se encontra delimitada por: Dársena "D", rua sem nome, atrás da futura Rodovia Costeira, prolongação Avenida Pueyrredón, Avenida Córdoba, vias da Ferrovia San Martín, Avenida General San Martín, Zamudio, Tinogasta, Avenida General San Martín, Avenida General Paz e o Rio da Prata; enquanto que a Edesur se encarrega do serviço no resto da cidade. Segundo estimativas de 2004, a cidade gerou 14 783 018 MWh, consumindo apenas 9 689 504. O serviço de água corrente e esgotos foi administrado desde 1993 pela empresa Aguas Argentinas, até 2006, quando sua concessão foi rescindida. O serviço é administrado através de duas estações de tratamento: a Estação General San Martín e a Estação General Belgrano. A Estação de Tratamento General San Martín, inaugurada em 1913, se encontra localizada no bairro de Palermo, contando com uma superfície de 28,5 hectares e uma produção de 3 100 000 m³ de água diários. A Estação de Tratamento General Belgrano se encontra na província de Buenos Aires, na localidade de Bernal. Foi inaugurada em 1974 e conta com uma superfície de 36 hectares e uma produção de 1 700 000 m³ diários. Atualmente, se espera a criação, por parte do Poder Executivo Nacional, da nova empresa de serviços de domínio estatal, que se chamaria Aguas y Saneamiento Argentinos (AYSA). O serviço de telefones fixos é de responsabilidade da Telecom Argentina e Telefónica de Argentina. Estas empresas são as encarregadas de levar o serviço desde a privatização de ENTel, em 1990. O serviço de coleta de resíduos se encontra organizado em seis zonas de coleta, nas quais o serviço é prestado por uma empresa diferente. Na Zona 1 (que inclui os CGP 1, 2S, 2N e 3) o serviço é administrado pela empresa "Cliba", na Zona 2 (que inclui os CGP 13, 14O e 14E) é administrado pela empresa "AESA Bs As", na Zona 3 (que inclui os CGP 4, 5 e 6) o serviço é administrado pela empresa "UBASUR", na Zona 4 (que inclui os CGP 7 e 10) o serviço é administrado pela empresa "Níttida", na Zona 5 (que inclui os CGP 8 e 9) é administrado pela empresa "EHU" e na Zona 6 (que inclui os CGP 11 e 12) é administrado pela empresa "INTEGRA". Cultura. Fortemente influenciada pela cultura europeia, Buenos Aires é por vezes referido como a "Paris da América do Sul". A cidade tem a indústria de teatro ao vivo mais movimentada na América Latina, com dezenas de produções. De fato, a cada final de semana, existem cerca de 300 teatros ativos com peças, um número que coloca a cidade como a 1ª mundial, mais do que Londres, Nova Iorque ou Paris, polos culturais em si. O número de festivais culturais com mais de 10 locais e 5 anos de existência também coloca a cidade como a 2ª mundial, depois de Edimburgo. O Centro Cultural Kirchner é o maior da América Latina e o terceiro em todo o mundo. Buenos Aires é a casa do Teatro Colón, uma casa de ópera nominal internacional. Existem várias orquestras sinfônicas e sociedades corais. A cidade tem numerosos museus relacionados com a história, artes plásticas, artes modernas, artes decorativas, artes populares, arte sacra, artes e ofícios, teatro e música popular, bem como as casas preservadas de colecionadores de arte, escritores, compositores e artistas. A cidade é o lar de centenas de livrarias, bibliotecas públicas e associações culturais (às vezes é chamado de "a cidade dos livros"), bem como a maior concentração de teatros ativos na América Latina. Tem um zoológico mundialmente famoso e um jardim botânico, um grande número de parques paisagísticos e praças, bem como igrejas e locais de culto de muitas denominações, muitos dos quais são arquitetonicamente notáveis. Buenos Aires tem uma cultura artística próspera, com "um enorme inventário de museus, que vão desde obscuros a mundiais." Os bairros de Palermo e Recoleta são os bastiões tradicionais da cidade na difusão da arte. Nos últimos anos tem havido uma tendência de aparecimento de espaços de exposição em outros distritos como Puerto Madero ou La Boca; locais de renome incluem o MALBA, o Museu Nacional de Belas Artes, Fundação Proa, Faena Centro de Artes e a Usina del Arte. Outras instituições populares são o Museu de Arte Moderna de Buenos Aires, o Museu Quinquela Martín, o Museu Evita, o Museu Fernández Blanco, o Museu José Hernández e o Palais de Glace, entre outros. Um evento tradicional que ocorre uma vez por ano é a noite dos museus, quando os museus, as universidades e os espaços artísticos da cidade abrem suas portas gratuitamente até o amanhecer; geralmente ocorre em novembro. Outra manifestação cultural própria do portenho é o fileteado, arte decorativa e popular, nascida nas primeiras décadas do século XX. Apenas apresenta-se em contextos empareados com o tango, o desenho e a publicidade. Flores, volutas, folhas de acanto, cintas argentinas, se combinam com personagens populares mediante a cores e muito vivos e através do contraste se da ideia do volume. Os textos também formam parte da composição do fileteado, com frases acunhadas pela sabedoria popular. No ano 2006 a legislatura portenha declarou o fileteado como "Patrimônio Cultural" da Cidade de Buenos Aires a partir da sanção da lei de 1941. Esportes. O esporte mais popular na capital argentina, como em todo o país é o futebol, e grande parte das equipes com maior história no Campeonato Argentino de Futebol residem na cidade. Em Buenos Aires está a maior concentração de times de futebol do mundo (18 clubes), como Boca Juniors, River Plate, Vélez Sarsfield, San Lorenzo, Argentinos Juniors e Huracán, que jogam na Primeira Divisão. E alguns que jogam na Primera "B" Nacional como o Chacarita Juniors, Ferro Carril Oeste, além de Nueva Chicago, Atlanta e Barracas Central, que participam na Primeira B Metropolitana. Na Primeira C atualmente Sacachispas é o representante portenho na categoria e, na Primeira D estão Yupanqui, Deportivo Paraguayo e Deportivo Riestra. Existem além de instituições que dispõem de infraestrutura para a prática de outros esportes como o basquete (Liga Nacional A) ou o tênis (onde o Buenos Aires Lawn Tennis Club é a sede do único torneio ATP disputado no país, o ATP Buenos Aires). Existem também outros locais para a prática de esportes como o Luna Park (no que se destacam os torneios de boxe) e o novo Estádio Multiesportivo Parque Roca (que é utilizado para a Copa Davis de Tênis). A Cidade de Buenos Aires foi sede de várias competições internacionais: dois de seus estádios o River Plate e o Vélez Sársfield, abrigaram a Copa do Mundo FIFA de 1978, em várias ocasiões a Copa América do mesmo esporte, foi sede dos primeiros Jogos Pan-americanos disputados entre os dias 25 de fevereiro e 9 de março de 1951, perdeu por apenas um voto a eleição para abrigar os Jogos Olímpicos de Melbourne em 1956, ficou entre as 5 melhores sedes para os Jogos Olímpicos de Atenas, também competiu em outras oportunidades para organizar esta competição, abrigou dois mundiais de basquete (1950 e 1990), o Campeonato do Mundo de Polo de 1987 e o Autódromo Oscar Alfredo Gálvez foi sede por vinte vezes do Grande Prêmio da Argentina de Fórmula 1 e por 10 vezes do Grande Prêmio da Argentina de Motociclismo. Em 2006 foi sede dos VIII Jogos Sul-Americanos. E em 2002 foi a sede do Mundial de Vôlei da FIVB já tendo sediado o evento em 1982. Também na cidade se encontra o CeNARD (Centro Nacional de Alto Rendimento Deportivo), um complexo estatal que abriga esportistas de todo o país e permite a prática de grande quantidade de esportes. Possui quadras de futebol, hóquei, handebol, tênis, vôlei, pistas de patins, natação olímpica, rúgbi, ginásios de complementos e halterofilia e duas pistas de atletismo.
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Beja
Beja Beja é uma cidade portuguesa, capital do Distrito de Beja, encontrando-se inserida na sub-região do Baixo Alentejo (NUT III) e na região do Alentejo (NUT II), com 24 074 habitantes (2021) no seu perímetro urbano. É sede do Município de Beja que tem uma área total de 1 106,44 km2 e 33 401 habitantes (2021), subdividido em 12 freguesias. O município é limitado a norte pelos municípios de Cuba e Vidigueira, a leste por Serpa, a sul por Mértola e Castro Verde e a oeste por Aljustrel e Ferreira do Alentejo. História. Crê-se que a cidade foi fundada cerca de 400 anos a.C., pelos celtas, especificamente pelo povo dos célticos, um povo celta que habitava grande parte dos territórios de Portugal a sul do rio Tejo (atual Alentejo e Península de Setúbal), e também parte da Estremadura Espanhola, até ao território dos cónios (atual Algarve e parte do sul do distrito de Beja). Também é possível que tenha sido fundada pelos Cónios, que a terão denominado Conistorgis, embora a localização desta cidade ainda seja desconhecida. Os cartagineses lá se estabeleceram durante algum tempo, no século III a.C., um pouco antes da sua derrota e expulsão da Península Ibérica pelos romanos (latinos) no seguimento da segunda guerra púnica. Nos séculos III e II a.C. houve o processo de romanização das populações locais e esta cidade passou a fazer parte da civilização romana, pertencendo a uma região muito romanizada. As primeiras referências a esta cidade aparecem no século II a.C., em relatos de Políbio e de Ptolomeu. Com a conquista romana, esta cidade passa a fazer parte do Império Romano (mais especificamente da República Romana), ao qual pertenceu durante mais de 600 anos, primeiro na província da Hispânia Ulterior e posteriormente na província da Lusitânia. Com o nome alterado para Pax Julia, e a língua latina generalizada, foi sede de um "conventus" (circunscrição jurídica) pouco depois da sua fundação romana - o Convento Pacense (em latim: "Conventus Pacensis"), também teve direito itálico. Nessa época, estabelecem-se na cidade os primeiros judeus. Esta cidade, que se tornou então uma das maiores do território, albergou uma das quatro chancelarias da Lusitânia, criadas no tempo de Augusto. A sua importância é também atestada pelo facto de por lá passar uma das vias romanas. Durante 300 anos, ficou integrada na Hispânia Visigótica cristã, depois da queda do Império Romano, tornando-a sede de bispado. No século V, depois de um breve período no qual haverá sido a sede dos Alanos, os Suevos apoderaram-se da cidade, sucedendo-lhes os Visigodos. Nessa época na cidade, da qual restam importantes elementos escultórico-arquitetónicos muito originais no seu estilo próprio, de basílicas e igrejas destruídas no período islâmico, foi edificado um hospital de média dimensão (xenodoquian, do grego), semelhante ao de Mérida, um dos primeiros no mundo de então, (ainda não alvo de prospeção arqueológica), destacando-se ainda a relevante mas pouco conhecida obra literária do bispo Apríngio de Beja (c. 531-560), "Comentário ao Apocalipse", elogiada pelo filósofo-enciclopedista Isidoro de Sevilha, e passa a denominar-se "Paca". Do ano 714 (século VIII) ao ano de 1162 (meados do século XII), durante mais de 400 anos, diminuiu a sua importância, e esteve sob a posse dos Árabes, primeiro sob o Califado de Córdova e mais tarde sob domínio dos Abádidas do Reino Taifa de Sevilha, que lhe alteraram o nome para "Baja" ou "Beja" (existe outra cidade com este nome na Tunísia), uma alteração fonética de "Paca" (a língua árabe não tem o som "p"). Aqui nasceu o Almutâmide, célebre rei-poeta que dedicou muitas das suas obras ao amor a donzelas e também a mancebos homens. No referido ano de 1162 os cristãos reconquistaram definitivamente a cidade. Recebeu o foral em 1524 e foi elevada a cidade em 1517. Beja foi o berço da notável família de pedagogos e humanistas do Renascimento que incluiu Diogo de Gouveia (1471 - 1557), professor de Francisco Xavier e conselheiro dos reis D. Manuel I e D. João III de Portugal, a quem recomendou a vinda dos jesuítas; André de Gouveia (1497 - 1548), humanista, reitor da Universidade de Paris e fundador do Real Colégio das Artes e Humanidades em Coimbra e o humanista António de Gouveia. Criado pelo Rei D. Afonso V de Portugal em 1453, o título de Duque de Beja foi atribuído ao segundo filho varão, até à instituição da Casa do Infantado, em 1654, pelo Rei D. João IV, tendo-o como base. A cidade manteve-se pequena os séculos seguintes, sendo muito destruída durante as Invasões Francesas entre 1807 e 1811. A partir do século XX notou um certo desenvolvimento económico, como a construção de escolas (o novo Liceu em 1937), o novo Hospital (1970), assim como novas instalações judiciais e comerciais, embora muito do seu património antigo tenha sido destruído pelas novas construções, nomeadamente no centro histórico. Em 2011 foi inaugurado o Aeroporto de Beja sendo que no entanto a grave crise económica motivou a que este se mantivesse em fraco funcionamento e em situação de quase fecho. Sóror Mariana Alcoforado. É atribuída à freira portuguesa Sóror Mariana Alcoforado (1640 - 1723), natural de Beja, a autoria de cinco cartas de amor dirigidas ao Marquês de Chamilly, passadas através da janela do Convento e datadas da época em que o oficial francês serviu em Portugal, país ao qual chegou em 1665. A sua obra "Cartas Portuguesas" tornou-se num famoso clássico da literatura universal. Lenda de Beja. Conta a lenda que quando a cidade de Beja era uma pequena localidade de cabanas rodeada de um compacto matagal, uma serpente assassina era o maior problema da população. A solução para este dilema passou por assassinar a serpente, feito alcançado deixando um touro envenenado na floresta onde habitava a serpente. É devido a esta lenda que existe um touro representado no brasão da cidade. Freguesias. O Município de Beja está dividido em 12 freguesias: Geminações. A cidade de Beja é geminada com a seguinte cidade:
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Braga
Braga Braga é a cidade portuguesa capital do Distrito de Braga e da sub-região do Cávado (NUT III), pertencendo à região do Norte (NUT II). É sede do Município de Braga que tem uma área total de 183,40 km2, 196434 habitantes em 2022 e uma densidade populacional de 1 054 habitantes por km2, subdividido em 64 freguesias. O município é limitado a norte pelo município de Amares, a leste pela Póvoa de Lanhoso, a sudeste por Guimarães, a sul por Vila Nova de Famalicão, a oeste por Barcelos e a noroeste por Vila Verde. Braga possui uma história bimilenar que se iniciou na Roma Antiga, quando foi fundada em como Bracara Augusta em homenagem ao imperador romano Augusto . Braga possui um vasto património cultural, cujo ex-líbris é o Santuário do Bom Jesus do Monte, Património Mundial da UNESCO. Em 2012 foi distinguida como Capital Europeia da Juventude e em 2018 foi Cidade Europeia do Desporto. Desde 2017 pertence à rede de Cidades Criativas da UNESCO, na categoria Media Arts, e em 2021 foi eleita Melhor Destino Europeu do Ano, depois de ter ficado em 2º lugar em 2019. Outras designações. Na gíria popular é conhecida como ""Cidade dos Arcebispos". D"urante séculos o seu Arcebispo foi o mais importante na Península Ibérica; é ainda detentor do título de Primaz das Espanhas. A ação dos arcebispos ao longo da história é, de longe, o maior factor no desenvolvimento da cidade e região. Conta com figuras como São Pedro de Rates, (? -45 d.C.), São Martinho de Dume, São Geraldo e São Frutuoso de Montélios (os patronos da cidade, assinalados a 5 de Dezembro, dia da cidade), os registos são mantidos fielmente a partir da reconquista em 1071 até hoje. A "Roma Portuguesa": no o arcebispo D. Diogo de Sousa, influenciado pela sua visita à cidade de Roma, desenha uma nova cidade onde as praças e igrejas abundam tal como em Roma. A este título está também associado o facto de existirem inúmeras igrejas por km² em Braga. É, ainda, considerada como o maior centro de estudos religiosos em Portugal. O "Paiz Bracarense": assim chamada no século XVIII, devido a um particularismo legal remontando ás origens de Portugal sobre o domínio temporal da cidade de Braga. Na prática a cidade pertencia á Sé Primacial mas legalmente estava aberta a questão se a cidade estava ou não sujeita a correção régia até á 1º República. A "Cidade Barroca": durante o , com a investidura de D. José de Bragança, iniciou-se um processo de cosmopolitização para promover o estatuto da cidade. Nesta renovação urbana destacou-se o arquiteto André Soares que transformou Braga no Ex-Libris do Barroco em Portugal. A ""Cidade Romana" "que no tempo dos romanos era a maior e mais importante cidade situada no território onde seria Portugal. Ausónio, ilustre letrado de Bordéus e prefeito da Aquitânia, incluiu Bracara Augusta entre as grandes cidades do Império Romano. A "Capital do Minho" ou o "Coração do Minho", por estar localizada no centro desta província. Braga reúne um pouco de todo o Minho e todo o Minho tem um pouco de Braga. A cidade está estreitamente ligada a todo o Minho: a Norte situa-se o tradicional Alto Minho, a Este o Parque Nacional da Peneda-Gerês, a Sul as terras senhoriais de Basto e o industrial Ave e a Oeste o litoral marítimo Minhoto. A "Cidade dos Três Sacro-Montes": são santuários situados a Sudeste da cidade numa cadeia montanhosa, e são pela ordem Este a Sul: O Bom Jesus, Sameiro e a Falperra (Sta. Maria Madalena e Sta. Marta das Cortiças). A “cidade da Juventude", que apesar de ser das cidades mais antiga de Portugal (desde 32 a.C.) é um município com uma percentagem significativa de jovens. Em 2012, celebrou-se a "Braga 2012 - Capital Europeia da Juventude". "Braga - A Cidade Encantadora", foi eleita pelo jornal "'The Guardian"' a "cidade mais encantadora" de Portugal. A cultura e a gastronomia estão entre as qualidades destacadas pela publicação britânica. História. Os vestígios da presença humana na região vêm de há milhares de anos, como comprovam vários achados. Um dos mais antigos é a Mamoa de Lamas, um monumento megalítico edificado no período Neolítico. No entanto, apenas se consegue provar a existência de aglomerados populacionais em Braga na Idade do Bronze. Caracterizam-se por fossas e cerâmicas encontradas em Alto da Cividade, local onde existiria uma povoação e por uma necrópole que terá existido na zona dos Granjinhos. Na Idade do Ferro, desenvolveram-se os chamados "castros". Estes eram próprios de povoações que ocupavam locais altos do relevo. Os celtas eram os seus habitantes e, nesta região em particular, habitavam os Brácaros (), que dariam nome à cidade, após a sua fundação e os romanos terem forçado as populações descerem ao vale. Bracara Augusta. No decurso do , a região foi percorrida pelas legiões romanas. Após a conquista definitiva do noroeste peninsular pelo imperador Augusto, esse manda edificar a cidade de Braga em , com a designação de Bracara Augusta, em homenagem a aliança entre o imperador romano Augusto e o povo indígena os "Bracari". A cidade tornar-se-ia capital da província da Galécia e integraria os três conventos do Noroeste peninsular e parte do Convento de Clúnia, com uma população de aproximadamente tributários livre nas 24 cividade no ano 25. Desta época data também a criação do bispado de Bracara Augusta, segundo a lenda, São Pedro de Rates foi o primeiro bispo bracarense entre os anos 45 e 60, ordenado pelo apóstolo Santiago Maior que teria vindo da Terra Santa e foi martirizado quando convertia povos aderentes à religião romana no noroeste da Península Ibérica. Mas, só no ano 385 é que o papa Sirício faz referência à metropolitana de Bracara Augusta. Da Antiguidade Tardia à Islamização. A cidade foi descrita como próspera pelo poeta Ausónio, no século IV. Entre 402 e 470 ocorreram as Invasões Germânicas da Península Ibérica, e a área foi conquistada pelos Suevos, povo germânico da Europa Central. De acordo com os registros, a cidade foi protegida por uma muralha, em uso desde o século III, e o antigo anfiteatro romano foi reaproveitado para a construção de uma fortaleza. Em 410, os suevos estabeleceram um reino que englobava a extinta região da Galécia (hoje Galiza, norte de Portugal, parte das Astúrias e das províncias de Leão e Zamora, e se prolongava até ao rio Tejo) e fizeram de Bracara capital. Este reino foi fundado por Hermerico e durou mais de 150 anos. No entanto, a partida dos Vândalos e a chegada dos Visigodos trouxeram uma nova instabilidade à região. Entre 419 e 422, Braga foi ameaçada pelos vândalos e começou a preparar-se para um cerco, fechando as suas portas e recusando-se a abri-las; isso levou à destruição dos campos circundantes. No entanto, entre 429 e 455, os suevos recuperaram a sua força militar, reforçando o seu domínio na Galécia e na Lusitânia. Em 455, enquanto o rei visigodo Teodorico II saqueava Braga, destruindo por completo muitos registos históricos e arqueológicos, o rei suevo Requiário I escapava da cidade, ferido, para o Porto. Ainda temos registos de uma lista de dioceses e paróquias de Braga, feita em 570, no entanto. Por volta de 584, os visigodos assumiram o controlo permanente da Galécia dos suevos, e Braga tornou-se somente uma capital de província, sendo dominada pelo Reino Visigótico durante 130 anos. Os registos históricos mostram, até agora, que o primeiro bispo conhecido de Braga se chamava "Paternus", que viveu no final do século IV, e temos também registos de um bispo chamado "Balconius" (415-447), que esteve presente quando o clero ibérico recebeu, em 435, um padre germânico da Arábia Petreia acompanhado de vários gregos com notícias do Concílio de Éfeso (431). "Balconius" também foi contemporâneo e correspondente do Papa Leão I. A tradição, no entanto, afirma que São Pedro de Rates foi o primeiro bispo de Braga.Braga teve um papel importante na cristianização da Península Ibérica. No início do século V, Paulus Orosius (amigo de Agostinho de Hipona) escreveu várias obras teológicas que expunham a fé cristã. Enquanto graças à obra de São Martinho de Braga, os suevos da Península Ibérica renunciaram às heresias arianas e priscilianas durante dois sínodos aqui realizados no século VI. Também vale a pena notar que Requiário, o rei suevo, também foi o primeiro rei germânico na Europa a se converter ao cristianismo calcedônio, anterior à conversão de Clóvis dos Francos. Outras tentativas de elevar o estatuto religioso de Braga fora realizadas, nomeadamente a tentativa de levar relíquias de S. Estevão, da Terra Santa até Braga, por Avito de Braga e Paulus Orosius. Por ordem do rei Ariamiro foi realizado o concílio de Braga, entre 1 de Maio de 561 a 563, tendo sido presidido por Lucrécio, bispo titular de Bracara. Seguido em 572, no reino de Miro, pelo segundo concílio de Braga, presidido por São Martinho de Dume, bispo de Dume e de Braga. Destes concílios resultaram grandes reformas, principalmente no mundo eclesiástico e linguístico, destacando-se a criação do ritual bracarense e a abolição de elementos linguísticos pagãos, como os dias da semana "Lunae dies, Martis dies, Mercurii dies, Jovis dies, Veneris dies, Saturni dies e Solis dies", por "Feria secunda, Feria tertia, Feria quarta, Feria quinta, Feria sexta, Sabbatum, Dominica Dies", donde derivam os modernos dias em língua portuguesa e galega. A transição dos reinados visigóticos para a conquista muçulmana da Península Ibérica foi muito obscura, representando um período de declínio para a cidade. Os mouros capturaram brevemente Braga no início do século VIII, mas foram repelidos pelas forças cristãs sob Alfonso III das Astúrias em 868 com ataques intermitentes até 1040, quando foram definitivamente expulsos por Fernando I de Leão e Castela. Como consequência, o bispado foi restaurado em 1070: o primeiro novo bispo Pedro, começou a reconstruir a Catedral (que foi modificada muitas vezes durante os séculos seguintes). Da Islamização à Reconquista ( a X). A entrada dos mouros na Península ocorreu com o desembarque em Gibraltar a 27 de abril de 711 de Tárique - general do governador de Tánger (Muça ibne Noçáir) - liderando um exército de homens. Quatro anos depois, em 715, os mouros atingem e tomam Braga provocando grande destruição, dada a sua importância religiosa. Segundo o estudioso Adalberto Alves, provavelmente o nome árabe de Braga era Saquiate (). Após alguns avanços e recuos, a diocese bracarense foi transferida para Lugo. A resistência cristã recuou de forma mais permanente até ficar confinada numa pequena zona montanhosa das Astúrias. No ano 868, com o rei das Astúrias Afonso III, o processo da reconquista cristã ganha novo ímpeto e a cidade de Braga é integrada durante alguns anos no Reino das Astúrias, tal como o Porto e mais tarde - em 878 - Coimbra. Quando, após a sua morte, Afonso III o Grande do Reino das Astúrias dividiu o seu reino entre os seus filhos em 908, ele atribuiu o Reino da Galiza a Ordonho da Galiza, que estabeleceu a sua capital em Braga. O século seguinte é marcado, após um período de paz, por diversas destruições sangrentas de Almançor, governador mouro de Córdova, para tentar inverter o avanço da reconquista cristã até Coimbra e Toledo. Verifica-se uma vasta destruição muçulmana, em 985, por Almançor e seu exército, que arrasou até às fundações e saqueou as cidades, e outros territórios, do Porto e Braga, retirando para sul do Douro nesse ano, uma razia semelhante às realizadas em todo o norte da Península, e que incluiu a destruição e ocupação por vários meses de Barcelona, Leon, Astorga, e depois Santiago de Compostela em 997, esta com milhares de escravos, obrigados a carregar a pé os grandes sinos da basílica demolida, colocados depois como candeeiros na mesquita de Córdova. É nesta época que o domínio cristão se torna mais permanente no norte do actual território português, fechando a página da islamização. Braga Medieval à Braga Contemporânea. No a cidade é reorganizada, provavelmente com a nova designação de "Braga". É iniciada a construção da muralha citadina e da Sé, por ordem do bispo D. Pedro de Braga, sobre restos de um antigo templo romano dedicado à deusa Ísis, que teria mais tarde sido convertido numa igreja cristã. A cidade desenvolve-se em torno da Sé, ficando restringida ao perímetro amuralhado. Na fundação do segundo Condado Portucalense, Braga foi oferecida como dote, por Afonso VI de Leão e Castela, à sua filha D. Teresa, no seu casamento com D. Henrique de Borgonha. Estes últimos foram senhores da cidade entre 1096 a 1112. Em 1112, doam a cidade aos Arcebispos. Esta doação foi, mais tarde reiterada quando D. Afonso Henriques agradece o suporte diplomático pelo Arcebispo D. Paio Mendes no Vaticano, com o Papa Alexandre III, que levou à promulgação da Bula Manifestis Probatum, em 1179, reconhecendo Portugal como um Reino independente. Deste modo, o novo rei concedeu grandes privilégios à cidade de Braga entregando-a ao controlo direto da Igreja, tornando-a basicamente num feudo pessoal do Arcebispo. Este particularismo legal dava grande independência á cidade, sendo que, na prática, a cidade pertencia á Sé Primacial mas legalmente a questão se a cidade estava ou não sujeita a correção régia ficou sem resolução até á 1º República. Por exemplo, quando as Ordenações Filipinas aboliram o ofício de Tabeliães Gerais, ficou explicito que havia a exceção de Braga deixando o notariado de Braga sobe o controlo do Arcebispado. Com a elevação do bispado bracarense a arcebispado, a cidade readquire uma enorme importância a nível Ibérico. O arcebispo Diego Gelmírez de Santiago de Compostela, com medo da ascensão da Sé de Braga, rouba as relíquias dos santos bracarenses, incluindo o corpo de S. Frutuoso, na tentativa de diminuir a importância religiosa da cidade, as relíquias só retornaram a Braga no . Tradição oral remete que Gelmírez saiu da cidade de noite numa carroça conduzida por um burro. Sob o reinado de D. Dinis, a muralha citadina é requalificada, começando a construção da torre de menagem. Mais tarde, foram adicionadas nove torres, de planta quadrangular, à muralha existente, concluindo-se também o Castelo de Braga em torno da torre de menagem existente. Já no reinado de D. João I foi realizada na cidade uma reunião das Cortes Gerais do Reino, em 1387, onde são instituídas sisas gerais em todo o reino para cobrir as despesas com a guerra contra Castela e explicita a forma de pagamento do imposto. Este monarca foi o último a requalificar a muralha, apesar de ainda haver várias modificações ao longo dos tempos, nomeadamente quando se rasgou várias novas portas para dentro da cidade culminando com a 7 portas que subsistiram até a muralha ser demolida. No , o Arcebispo de Braga D. Diogo de Sousa modifica a cidade profundamente, introduzindo-lhe ruas, praças, novos edifícios, provocando-lhe também o crescimento para além do perímetro amuralhado. Do ao XVIII, por intermédio de vários arcebispos, os edifícios de traça medieval vão sendo apagados e substituídos por edifícios de arquitetura religiosa da época. D. Luís de Sousa foi outro principal arcebispo que, entre outros méritos, mandou reconstruir a Igreja da Paróquia de São Victor, mandou ampliar o Campo de Santa Ana, a reconstruir a Igreja de São Vicente, reedificar a Capela de São Sebastião e, por ultimo, construir da Igreja dos Congregados que seria mais tarde monumentalizada para a versão atual da Basílica dos Congregados. Igualmente, sobre os seus auspícios deste arcebispo diplomata, o cónego do Cabido de Braga, João Meira Carrilho, mandou construir a Capela da Congregação do Oratório que existia dentro do Campo de Santa Ana. Esta antiga capela seria de particular interesse, não só pela sua planta arquitetónica (seria totalmente circular), mas também por possuir toda uma arcada circundante cujas colunas seriam de origem romana . A antiga fortaleza construída no topo do anfiteatro romano ainda existia no século XVIII (uma descrição deste foi feita no reinado de D. Maria I), na parte sul de Maximinos, mas o tempo cobrou o seu preço e os vestígios acima do solo foram desaparecendo e agora é um sítio arqueológico. No , Braga por intermédio da inspiração artística de André Soares transforma-se no Ex-Libris do Barroco em Portugal. Nos fins deste século, surge em várias edificações o Neoclássico com Carlos Amarante. Mais uma vez, por intermédio de vários arcebispos, principalmente D. Rodrigo de Moura Teles, os edifícios religiosos são novamente alterados com a introdução do Barroco e o Neoclássico e é iniciada a construção do Santuário do Bom Jesus do Monte, em 1722. Em 1758, Braga, como muitos outros lugares, foi incluída no censo solicitado pela monarquia, sob o 1º Marquês de Pombal. Esses registros são conhecidos como Memórias Paroquiais que podem ser consultadas através de várias fontes. Nos cem anos que se seguem, irrompem conflitos devidos às invasões francesas e lutas liberais. Em 20 de março de 1809 a cidade é palco da Batalha do Carvalho d'Este e vítima de vários saques realizados pelas tropas napoleónicas. A cidade viria a ser reocupada a 5 de abril pelo general José António Botelho de Sousa, comandante das forças portuguesas no Minho. Em 1834, com o fim das lutas liberais, são expulsas várias ordens religiosas de Braga, deixando o seu espólio para a cidade. Em consequência da Revolta da Maria da Fonte na Póvoa de Lanhoso, área sob jurisdição do quartel militar bracarense, a cidade é palco de importantes confrontos entre o povo e as autoridades. No final do , o centro da cidade deixa a área da Sé de Braga e passa para a Avenida Central. Em 1875, é inaugurado pelo rei D. Luís a linha e estação dos comboios de Braga. No , dá-se a revolução dos transportes e das infraestruturas básicas, reformula-se a Avenida da Liberdade, de onde se destaca o Theatro Circo e os edifícios do lado nascente. Em 28 de Maio de 1926, o general Gomes da Costa inicia nesta cidade a Revolução de 28 de Maio de 1926. Por fim, no final deste século, Braga sofre um grande desenvolvimento e cresce a um ritmo bastante elevado. É também conhecida por muitos por Capital do Minho. Geografia. <mapframe align="right" height="300" width="300" latitude="41.5333" longitude="-8.41666" zoom="10" text="Mapa dos limites do município de Braga"> "type": "ExternalData", "service": "geomask", "ids": "Q83247" </mapframe> Situada no coração do Minho, a cidade de Braga encontra-se numa região de transições de Este para Oeste, entre serras, florestas e leiras aos grandes vales, planícies e campos verdejantes. Terras construídas pela natureza e moldadas pelo Homem. Físicamente situa-se a 41° 32' N 08° 25' O, no Noroeste da Península Ibérica, precisamente entre o Rio Douro e o Rio Minho. Ocupando 183,51 km², e variando entre 20 a 572 metros de altitude, o município é bastante diversificado. O terreno a Norte situado na margem esquerda do Rio Cávado, é semi-plano, graças ao grande vale do Rio Cávado. A parte Este caracteriza-se por montanhas, tais como a Serra do Carvalho (479 m), Serra dos Picos (566 m), Monte do Sameiro (572 m) e o Monte Sta Marta (562 m). Entre a Serra do Carvalho e a Serra dos Picos nasce o Rio Este, formando o vale d'Este, já a Sul da Serra dos Picos desenvolve-se o planalto de Sobreposta-Pedralva. A Sul, como a Oeste o terreno é um misto de montanhas, colinas e médios vales. O centro da cidade situa-se no alto da colina de Cividade (215 m), desenvolvendo-se para o vale do Rio Cávado a Norte e Oeste, e para o vale do Rio Este a Este e Sul. O território bracarense pertence a duas bacias hidrográficas, a bacia hidrográfica do rio Cávado a Norte e a bacia hidrográfica do rio Ave a Sul. O rio Cávado, de caudal médio, é o elemento hidrográfico predominante a Norte, existindo também diversas ribeiras que desaguam neste. O território a Sul é marcado pelo rio Este e seus diversos afluentes, como o rio Veiga, todos de pequeno caudal. O solo, dado pertencer ao sistema montanhoso do Gerês e a sua proximidade ao Oceano Atlântico, é bastante rico em água. O município é predominantemente urbano, principalmente em torno da cidade. As áreas rurais que outrora predominavam, hoje, confinam-se aos limites do município. É ainda de salientar que as colinas de maior cota e as montanhas encontram-se cobertas por manchas florestais, apesar da pressão urbana e dos fogos florestais que sucederam nos últimos anos. Clima. O clima em Braga, pelo facto de se situar entre serras e o Oceano Atlântico, é tipicamente atlântico temperado, ou seja, com quatro estações bem definidas. Os Invernos são amenos e pluviosos , e geralmente com ventos moderados de Sudoeste. O vento pode também soprar do Norte, normalmente forte, o que geralmente provoca uma grande descida da temperatura, estes ventos são designados como "Nortadas". Em anos frios ocorre a queda de neve, havendo temperaturas mínimas médias de -3 °C. O último nevão na cidade foi em 9 de Janeiro de 2009. As Primaveras são tipicamente amenas, com grandes aberturas e ventos suaves. As brisas matinais ocorrem com maior frequência, principalmente nas maiores altitudes. No vale do Cávado, a baixa altitude, é normal existirem os nevoeiros matinais. De salientar o mês de Maio que é bastante propício às trovoadas, devido ao aquecimento do ar húmido com a chegada do Verão. Os verões são quentes e soalheiros com ventos suaves d'Este. Nos dias mais frescos, podem ocorrer espontaneamente chuvas de curta duração, estas chuvas são bastante importantes para a vegetação da região, pois reabastece os "lençóis de água" o que torna a região rica em vegetação durante o ano inteiro, pela qual é conhecida por Verde Minho. Os Outonos são amenos e pluviosos, geralmente com ventos moderados. As maior e menor temperaturas registadas em Braga no período 1971-2000 foram 39,4 °C e -4,1 °C. Porém, há registos de -6,3 °C em 2001 e 41,3 °C em 1943 ("fonte: Instituto de Meteorologia"). Enquanto a temperatura desce, aumenta a pluviosidade. Existe uma maior frequência de nevoeiros, principalmente no vale do Cávado onde ocorrem os nevoeiros matinais mais densos. Evolução da População do Município. <small> "(Número de habitantes que tinham a residência oficial neste município à data em que os censos se realizaram.) " "(Obs: De 1900 a 1950 os dados referem-se à população presente no município à data em que eles se realizaram Daí que se registem algumas diferenças relativamente à designada população residente) População estrangeira (2021) no município de Braga: 12 718 (6,57% da população). Paises de origem: Brasil: 7 773; Itália: 980; Ucrânia: 443. O município é densamente povoado, com 989,6 hab/km² e 193349 habitantes (2021), é um dos mais populosos de Portugal e é um dos mais jovens da Europa. A maioria da população concentra-se na área urbana, onde a densidade atinge cerca de 10 000 hab/km². A população bracarense é constituída por 78 954 indivíduos do sexo masculino e 85 238 indivíduos do sexo feminino. O grupo etário dos 0 aos 25 anos representava 35% da população total, enquanto 54% da população tinha entre 26 a 64 anos, o grupo etário dos idosos representava 11%. A população é maioritariamente portuguesa, mas existem também comunidades imigrantes, nomeadamente brasileiros, africanos principalmente oriundos das antigas colónias portuguesas, chineses e europeus de leste. No que diz respeito a habitação, em Braga há 70 268 alojamentos (Censos de 2001), valor excedentário se tivermos em consideração o conceito clássico de família (51 173 agregados). No entanto, estas 19 095 habitações sobrantes não estão todas em excesso na realidade, muitas delas destinam-se a residência temporária, normalmente associadas a estudantes, a trabalhadores temporários e a estrangeiros que exercem a sua actividade profissional na cidade. Existe também um grande número de habitações que pertencem a cidadãos residentes no estrangeiro que as utilizam quando regressam periodicamente a Portugal. O constante crescimento populacional e o aumento da habitação individual associado à não constituição de uma família clássica são também realidades que justificam este facto na sociedade bracarense. As 19 095 habitações atrás referidas, representam em média uma capacidade para 60 000 indivíduos, o que faz com que a população real de Braga esteja próxima de um valor intermédio situado entre os 174 000 indivíduos e os 230 000 indivíduos. O município cresceu 16,2% entre 1991 a 2001, o maior crescimento registou-se nas antigas freguesias suburbanas (hoje urbanas), por exemplo: Nogueira 124,6%, Frossos 68,4%, Real 59,8%, Lamaçães 50,9%. As previsões apontam para que Braga seja um dos municípios com maior crescimento nos próximos anos. A evolução demográfica entre 1801 a 2021: Município e organização administrativa. Administrativamente o município de Braga, de código administrativo 03 03, fica no distrito de Braga de código administrativo 03, e é capital do mesmo. É limitado a norte pelo município de Amares, a leste pela Póvoa de Lanhoso, a sueste por Guimarães, a sul por Vila Nova de Famalicão, a oeste por Barcelos e a noroeste por Vila Verde. Possui uma Câmara Municipal, presidida por Ricardo Rio desde 2013. A Câmara Municipal é composta, para além do presidente, por nove vereadores. Existe uma Assembleia Municipal que é o órgão legislativo do município, constituída por um presidente e dois secretários, sessenta e três deputados e os Presidentes de junta de freguesia. Freguesias. O Município de Braga está subdividido em 37 freguesias: Desde a reorganização administrativa de 2013, o município de Braga está subdividido em 37 freguesias. Geminações. Braga possui onze protocolos de cooperação. Cultura. Artesanato. O artesanato bracarense há muito que ultrapassou as fronteiras do país. Na música, os cavaquinhos, violas, guitarras (nomeadamente a Viola Braguesa). É interessante notar que será este instrumento a dar origem ao famoso ukelele ao ser levado por emigrantes portugueses para o Hawai. Na Arte Sacra as representações bíblicas e a Vela Votiva de Braga são os ex-libris. Embora estes quatro sejam famosos, o artesanato Bracarense é mais diversificado, os artigos de linho (panos, colchas, cortinados…), os bordados, a cestaria, miniaturas em madeira, farricocos [(também em cêra)], bijuteria, ferro forjado (sinos, miniaturas, material para agricultura…), as louças típicas de Braga coloridas e de forma atractiva, entre outros, são artigos tradicionais que facilmente se encontram nas ruas, ruelas ou nas zonas rurais nas imediações. Gastronomia. Braga, como o resto do Minho tem uma gastronomia riquíssima. O bacalhau assume-se como o prato de peixe favorito, a cidade é famosa pelas suas inúmeras receitas de bacalhau (bacalhau à Narcisa, bacalhau à Minhota (Braga), bacalhau à moda de Braga…). O arroz de Pato, as papas de sarrabulho com rojões, a tripa enfarinhada, os farinhotes, os enchidos de sangue, o cabrito à moda de Braga, as frigideiras do Cantinho ou as da Sé, os rojões à moda do Minho, o frango "pica no chão", o vinho verde, o Pudim Abade de Priscos, o toucinho do céu, o bolo rei escangalhado, fidalguinhos, pederneiras, suplícios, paciências, entre muitos outros, fazem de Braga uma cidade de sabores. Música. Ao longo dos séculos a música em Braga foi profundamente marcada pela música popular, folclore e música religiosa ou Sacra. Em 1961, a instalação do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian abre os horizontes musicais da cidade. Nas décadas seguintes assiste-se a uma expansão musical, que continua a crescer nos nossos dias com o surgimento da Licenciatura em Música na Universidade do Minho. Na cidade existem ainda várias instituições de referência nomeadamente a Orquestra Câmara do Minho, Orquestra Câmara de Braga, a Orquestra Filarmónica de Braga, o Conservatório Calouste Gulbenkian de Braga, o Orfeão de Braga, o Coro da Sé de Braga, o Coro de Pais do Conservatório Calouste Gulbenkian de Braga, o Coro Gregoriano de Braga, a Banda de Musical de S. Miguel de Cabreiros, o Coro Académico da Universidade do Minho, a escola de música Conservatório Bomfim, cerca de 23 ranchos folclóricos, entre outros. Braga, tem-se também afirmado no panorama da música moderna portuguesa com o surgimento desde os anos 1980 de várias bandas de referência. Como incentivo a este tipo de música, a Câmara Municipal de Braga criou no estádio 1.º de Maio várias salas de ensaio. Simultâneamente existem também inúmeros concursos musicais dos quais se destaca por exemplo o "Concurso de Bandas Amadoras" do Braga Parque. Património imóvel. No município de Braga existem 15 imóveis classificados como Monumentos Nacionais, 33 como Edifícios de interesse público e 20 em vias de classificação. Arquitectura religiosa. A cidade de Braga, por ser uma das cidades cristãs mais antigas do mundo, possui um vasto património religioso. As igrejas abundam no seu centro Histórico à semelhança de Roma. Do seu património evidencia-se o Santuário do Sameiro e, pela antiguidade, a Basílica de São Martinho de Dume (ver arqueologia), datada do e a Capela de São Frutuoso do período Visigótico, classificada como Monumento Nacional. No entanto, foi no que se construiu o ex-libris da cidade, a Sé Catedral de Braga. A Sé está estritamente ligada a Braga e faz parte da sua História, reúne uma grande diversidade de estilos arquitectónicos, o estilo românico (estilo inicial), o estilo gótico (capela dos Reis), estilo manuelino (exterior da cabeceira da igreja principal), o estilo renascentista (Igreja da Misericórdia de Braga), o estilo Barroco (altares de algumas capelas e os órgãos e coro da Igreja principal), o Neoclássico (Claustro), entre outros de menor expressão. Outro conjunto urbano multi-arquitectónico de enorme valor é o Paço Episcopal Bracarense, palácio dos Arcebispos de Braga situado nas proximidades da Sé. Com arquitectura medieval, destaca-se ainda a Igreja de Santa Eulália, a Igreja de São Sebastião, a Igreja de São João do Souto e a Capela dos Coimbras. Do estilo renascentista, a maior referência é a Igreja de São Paulo, de fachada alta e sóbria, terminada em frontão triangular, vazada por uma só porta em arco redondo, por duas janelas e um óculo. Ainda no mesmo período, o Arcebispo Diogo de Sousa altera a arquitectura da cidade, com a abertura de novos espaços urbanos e a construção de vários edifícios religiosos. Pelo facto de muitos desses edifícios só terem sido concluídos nos séculos seguintes, surgiram na sua arquitectura influências de outros estilos, como o barroco ou neoclássico, cujos trabalhos são em grande parte são da autoria de Carlos Amarante e de André Soares. Da autoria do Arquitecto e Engenheiro Carlos Amarante são o Convento do Pópulo, a Igreja de São Vicente, repleta de elementos do barroco, e a Igreja de São Marcos onde se destacam as estátuas dos apóstolos. O arquitecto André Soares projectou o magnífico Convento dos Congregados, "a obra mais emocionada" palavras do especialista Robert Smith, e a Igreja de Santa Maria Madalena de estilo rocaille. Já o Santuário do Bom Jesus do Monte, uma das referências do barroco europeu e Património Cultural Mundial da Unesco, é da autoria destes dois grandes arquitectos bracarenses. Desta época datam também a actual igreja do Mosteiro de Tibães, casa mãe da Congregação Beniditina para Portugal e Brasil, e a Igreja da Santa Cruz em estilo barroco maneirista. Das obras do , sobressai a Basílica do Sameiro, templo central do trio dos Sacro-Montes (Bom Jesus-Sameiro-Falperra), de estilo neoclássico que possui no seu interior um altar-mor em granito branco polido, e o sacrário em prata. Dos grandes artistas bracarenses de arte religiosa, destaca-se José de Santo António Vilaça, grande mestre da talha dourada. A sua obra é marcada por traços pessoais e decorada a ouro. Grande parte dos ornamentos em talha que se encontram nas igrejas bracarenses são da sua autoria. Dada a importância da sua obra, certas figuras ligadas à arte defendem a candidatura da sua obra a património da humanidade. E Marceliano de Araújo que trabalhou tanto a madeira como a pedra (Fonte do Pelicano), sendo conhecido pelo seu trabalho em talha dourada da Igreja da Penha, famosa também pelos seus azulejos do século XVIII da autoria de Policarpo de Oliveira Bernardes. Em termos de cruzeiros, o mais imponente é o Cruzeiro de Tibães, de estilo renascentista erudito, possui também traços típicos dos restantes cruzeiros bracarenses e está classificado como Monumento Nacional desde 1910. Além destes, refere-se ainda pela monumentalidade, o Cruzeiro do Campo das Hortas e o Cruzeiro de Sant'Ana, também classificados como Monumento Nacional. Arquitectura militar. O Castelo de Braga e as muralhas medievais, são as maiores expressões arquitectónicas militares da cidade. A Torre de menagem do antigo Castelo de Braga, que foi "ingloriamente" demolido em 1906, é o principal remanescente desta construção erguida sob o reinado de D. Dinis. De planta quadrada, esta torre em estilo gótico, ergue-se a aproximadamente trinta metros de altura, dividida internamente em três pavimentos. No alto, uma janela geminada e matacães nos vértices. No topo uma coroa de ameias. Na torre e no alçado oeste, as pedras-de-armas de D. Dinis. Destaca-se ainda a enorme quantidade de símbolos inscritos nas faces das paredes internas e externas. Estes símbolos, segundo o povo medieval, protegeria a cidade de invasores. Da muralha medieval constituída por nove torres, subsistem ainda três torres, a Torre de Santiago, a Torre de São Sebastião e a Torre da Porta Nova. O Castelo do Bom Jesus e o Castelo da D. Chica são edifícios apalaçados com alguma influência arquitectónica militar, de características eclécticas sobre um estilo romântico. O Castelo da D. Chica, projectado pelo arquitecto Ernesto Korrodi, é um exemplar inspirado nos castelos apalaçados bávaros. Museus. A cidade bimilenar de Braga, que atravessou épocas distintas, é detentora de um património rico e variado de tradições e costumes seculares, de artes antigas, marcadas profundamente pela presença do clero. Parte deste acervo está exposta nos museus, e é fruto de anos investigação e preservação. O Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa e o Museu Pio XII possuem uma enorme colecção arqueológica. As colecções, na grande maioria, são provenientes de escavações realizadas em Braga, de acordo com critérios científicos actuais. No Museu Regional de Arqueologia D. Diogo de Sousa destaca-se a colecção de "miliários", considerada a melhor de toda a Europa. Existem também núcleos museológicos (com o objectivo de expor ruínas arqueológicas), entre os quais o Núcleo Museológico de Lamas, a Fonte do Ídolo ou as Termas romanas de Maximinos são exemplo disso (ver secção de Arqueologia). Os museus Museu Pio XII, Tesouro-Museu da Sé Catedral e Museu do Mosteiro de Tibães são museus mistos. Estes museus de origem religiosa expõem de uma maneira geral o património religioso, arqueológico, histórico, cultural, e artístico da região. O Palácio dos Biscaínhos convertido em museu, é um espaço onde se pode apreciar o quotidiano da nobreza setecentista. As artes, ao longo das últimas décadas, foram o tema principal para abertura de novos museus na cidade. O Museu Nogueira da Silva, gerido pela Universidade do Minho, detém variadas colecções de arte. O Museu Medina expõe a maior colecção de obras, mais de uma centena, de Henrique Medina. O Museu dos Cordofones está ligado à arte dos cordofones. Na área da fotografia, o Museu da Imagem reúne uma vasto espólio herdado das antigas casas fotográficas da cidade sobre Braga e tem exposições regulares de fotógrafos conceituados. O Theatro Circo, reconstruído recentemente, possui também uma zona museológica. A cidade de Braga possui um património de valor incalculável, mas só parte deste se encontra nos seus museus. Durante o , com a extinção de vários conventos, casas senhoriais, entre outros por parte do governo da época, deu-se a deslocalização deste espólio bracarense para vários museus de Lisboa. Segundo o governo de então: "Braga não tinha condições para acolher e preservar este legado, mas se num futuro as possuísse, este seria devolvido à cidade". Actualmente a cidade já possui equipamentos para o seu acolhimento e é unânime entre os bracarenses que o mesmo deverá retornar a Braga. Salas de espectáculos. O Theatro Circo, inaugurado em 1911, é a mais prestigiada sala de espectáculos bracarense. A sala principal do Theatro Circo, de estilo italiano, possui mil lugares e um dos melhores sistemas de som da Europa. O "Espaço Alternativo", teatro da Portugal Telecom, e o Teatro de bolso do TUM (Teatro da Universidade do Minho) são também salas de espectáculos ligadas ao teatro. Ao longo das últimas décadas, face ao crescimento de cidade, foram construídos vários auditórios. Estes teatros multiusos modernos têm um grande impacto na sociedade bracarense, não só como espaços culturais, mas também como espaços aptos para a realização de conferências, congressos, palestras e apresentações. Dos grandes auditórios bracarenses, destaca-se o Grande Auditório do PEB (Parque de Exposições de Braga) com 1200 lugares, o Auditório de Estádio Municipal de Braga e o Auditório A1 da Universidade do Minho. Existem também outros auditórios na cidade, que embora de menor dimensão têm grande actividade ao nível cultural, destes destaca-se o auditório da Biblioteca Lúcio Craveiro da Silva, o Auditório Municipal Galécia, o Auditório Instituto Português da Juventude, o Auditório Adelina Caravana do Conservatório de Música Calouste Gulbenkian, o Auditório do Museu D. Diogo de Sousa e os vários auditórios da Universidade do Minho e da Universidade Católica. O cinema São Geraldo, inaugurado em 1 de junho de 1950, uma das primeiras salas do país, com vocação exclusiva para a projeção de filmes, foi ao longo de décadas a sala de cinema dos bracarenses. Esta "mítica" sala está fechada. O antigo cinema vai ser requalificado. As obras devem começar em Abril de 2016 e o espaço vai passar a contar com um mercado urbano, um hotel e uma zona que poderá acolher os serviços da Junta de Freguesia de São Lázaro. Hoje em dia, os espaços a funcionar na cidade são os cinemas Cinemax com sete salas de projecção e os cinemas Lusomundo com nove. Existe também o cinema GoldCenter, mas possui apenas uma sala. Espaços urbanos. Estátuas e monumentos comemorativos. Ver também Lista de estátuas de Braga Transportes. Braga no tempo dos romanos era conhecida por ser a cidade com mais estradas na Península. Nessa época possuía uma via com características de auto-estrada, a Geira, projectada para ser um percurso rápido e sem grandes desníveis, tinha várias portagens ao longo do trajecto, albergues e troca de cavalos (verdadeiras estações de serviço). Muitos séculos mais tarde, a cidade volta a estar na vanguarda com a inauguração em 1875, pelo Rei D. Luís, da linha e estação dos caminhos de ferro de Braga. Sete anos depois, em 25 de Março de 1882, é inaugurado também o Elevador do Bom Jesus que juntamente com uma linha de um pequeno comboio a vapor ligava o elevador à avenida Central na cidade. Nessa época foi também introduzido o Carro Americano. Mais tarde, em 5 de Outubro de 1914, tanto a linha do pequeno comboio a vapor como o Carro Americano foram substituídos pelos Elétricos de Braga. Hoje a nível rodoviário a cidade possui um conjunto de largas avenidas que diluem o trânsito nas várias direcções, é de salientar a Rodovia (Praça do Condestável, avenida da Imaculada Conceição, avenida João XXI, avenida João Paulo II) que atravessa a cidade de Oeste para Este. Braga possui também uma circular importante que distribui o trânsito citadino. A circular conecta importantes vias: a via-rápida de Prado (variante à EN101) liga as populações a norte, Prado e Vila Verde, a variante do Fojo liga a zona Este e posteriormente pela EN103 à Póvoa de Lanhoso e a Vieira do Minho, a sul conecta a variante à EN14 que liga à A11 para Guimarães (e posteriormente todo o vale do Ave, vale do Sousa e Terras de Basto) e à A3 para Vila Nova de Famalicão e Porto, a Oeste liga a A11 para Barcelos e Apúlia (Esposende) e à A3 para Valença e Galiza. Está igualmente projectada a variante do Cávado que ligará as populações do Noroeste e Amares, e a variante de Gualtar que ligará o novo hospital da cidade à zona Este e Póvoa de Lanhoso. Diariamente circulam milhares de automóveis na circular urbana e variantes de acesso à cidade, o que resulta em alguns congestionamentos principalmente nas horas de ponta. Na área dos transportes em massa, o município é servido pelos transportes públicos TUB. A TUB possui uma frota de 116 viaturas, de cor azul e branca. A rede cobre todo o município com 1553 paragens, e 277,6 km em 76 linhas onde anualmente se percorre 5.089 milhões de quilómetros com 22.556 milhões de passageiros. Está previsto a curto prazo o alargamento desta rede aos municípios vizinhos de Vila Verde e Amares. Braga possui também uma central de camionagem junto à circular urbana, onde existem ligações regionais diárias para todo Minho, ocidente de Trás-os-Montes e Alto Douro, e Douro Litoral. Na central podem também ser encontradas ligações diárias pela rede Expresso e Renex para todo país e semanais para a Europa. A nível de transportes aéreos possui um aeródromo, constituído por um heliporto e uma pista (950x25 metros) utilizada por aviões com capacidade máxima de 25 passageiros. Os aeroportos internacionais mais próximos são: Aeroporto Francisco Sá Carneiro (50 km), Aeroporto da Portela (350 km), e na vizinha Galiza o Aeroporto de Vigo (125 km) Os dois grandes portos marítimos nas proximidades são o Porto de Viana (50 km) e o Porto de Leixões (50 km). Em termos de transportes ferroviários existem três estações de passageiros, a estação principal com seis linhas em Maximinos, a estação de Tadim e a estação de Arentim, ambas de linha dupla; e um Terminal de Mercadorias em Aveleda. As estações de passageiros fornecem ligações entre si e até ao Porto em comboio urbano (eléctrico), para a restante linha do Minho é em comboio regional (diesel). A estação principal fornece ainda ligações diárias em Alfa Pendular para várias cidades de Portugal. Está confirmado pela Rede Ferroviária de Alta Velocidade a instalação de uma estação do TGV na cidade, que fará ligações directas ao Aeroporto Francisco Sá Carneiro e a Vigo na Galiza, ligando também às cidades do Porto e de Lisboa e à futura linha Lisboa-Madrid. Economia. Braga é uma cidade extremamente dinâmica, com uma intensa actividade económica nas áreas do comércio e serviços, ensino e investigação, construção civil, informática e novas tecnologias, turismo e vários ramos da indústria e do artesanato. A população economicamente activa em 2001 foi 51,9%, ou seja, 85 194 indivíduos. Distribuído nos seguintes sectores: 893 indivíduos no sector primário, 31 374 sector secundário, 47 031 sector terciário dos quais 24655 indivíduos estavam ligadas a actividades económicas. O sector primário, tem vindo a diminuir gradualmente devido à expansão urbana. Hoje subsistem as viniculturas, floricultura, empresas ligadas à floresta e extracção de pedra, a agricultura tradicional é algo em vias de extinção, uma vez que se limita a ser uma actividade caseira e é mantida essencialmente por pessoas de idade avançada. O sector secundário é bastante diversificado, mas é marcado por empresas ligadas à tecnologia, à indústria metalúrgica, à construção civil e à transformação de madeira. A indústria do software é a nova força industrial Bracarense, considerada por muitos a "Silicon Valley" Portuguesa. Este sucesso deve-se especialmente à Universidade do Minho, que desde 1976 forma profissionais nesta área. Também são importantes as indústrias ligadas à religião, Braga é um importante centro produtor de imagens de santos, paramentaria e sinos. Os sinos de Braga estão espalhados um pouco por todo o mundo, de todos esses locais destaca-se, por exemplo, a Catedral de Notre-Dame de Paris. Existem vários parques industriais e centros empresariais na periferia da cidade, tais como Complexo Grundig/Blaupunkt, centro empresarial de Ferreiros, centro empresarial e parque industrial de Frossos, centro empresarial e parque industrial de Celeirós e parque industrial de Adaúfe. Com a construção em Braga do Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL) (ver Investigação & Tecnologia) e a implantação do Instituto de Desenvolvimento Empresarial do Atlântico, empreendimento da Ideia Atlântico, onde estão a instaladas várias dezenas empresas de base tecnológica, prevê-se um grande impulso no crescimento deste sector na economia bracarense. O sector terciário é o sector económico mais forte, razão pela qual Braga é designada como a capital do comércio em Portugal. Do seu Centro Histórico foi retirado o trânsito e pode desfrutar-se da maior área pedonal do país, onde convivem lado a lado as esplanadas, os serviços, o comércio local e as lojas das grandes cadeias internacionais, formando todo este conjunto um centro comercial gigante ao ar livre. Na periferia da cidade existe uma enorme variedade de superfícies comerciais, que vão desde os comuns hipermercados e lojas, às mega-lojas de música e filmes, electrodomésticos, bricolage e construção, entre outros. Está também implantado em Celeirós o Mercado Abastecedor da Região de Braga(MARB). A Associação Comercial de Braga e Associação Industrial do Minho (AIM) sedeadas em Braga, são órgãos relevantes no apoio e desenvolvimento das empresas Bracarenses e empresas da região do Minho. Já o PME Portugal (Associação das Micro, Pequenas e Médias Empresas de Portugal) é uma associação, sedeada em Braga, de apoio às micro, pequenas e médias empresas, a nível nacional. O Parque de Exposições de Braga (PEB) com 45 000 m² oferece infra-estruturas para feiras, exposições e congressos a nível nacional e internacional. Investigação & Tecnologia. A investigação e a tecnologia são áreas em franco desenvolvimento na cidade de Braga. Desde a criação da Universidade do Minho, instituição que se tem destacado pela sua juventude e inovação, a cidade de Braga passou de cidade conservadora, a cidade dinâmica, criativa e tecnologica. Tal facto obrigou à criação de grandes infraestruturas de suporte, nomeadamente redes de fibra óptica (Braga possui actualmente a mais extensa rede de fibra óptica do país ) e parques tecnológicos. Estando em fase de implementação o projecto TechValley, que inclui a construção de um parque tecnológico de excelência para Braga, na região estão previstos ainda mais dois parques nas proximidades desta cidade, o Parque da Inovação e Conhecimento (Vila Verde) a Norte, e o AvePark (Caldas das Taipas) a Sul, todos em parceria com a Universidade do Minho. Do projecto TechValley, destaca-se ainda o Instituto de Desenvolvimento Empresarial do Atlântico, empreendimento da Ideia Atlântico, localizado na Variante do Fojo, que contem várias valências, entre elas um Centro de Incubação, um Centro de Negócios, uma infra-estrutura de Escritório Virtual e um espaço onde estão alojadas várias dezenas de empresas de Base Tecnológica. A Agência Portuguesa de Investimento classificou-o como Projecto de Interesse Nacional (PIN), o primeiro da região. As instituições de ensino universitário bracarenses são grandes estruturas de investigação. A Universidade do Minho possui vários centros, núcleos e institutos de investigação nas áreas de Informática, Ciências da Saúde, Biomédica, Biologia, Física, Química, Matemática, Engenharia, Arqueologia e nas ciências socioculturais em áreas como Direito, Estudos da Criança, entre outros. A Universidade Católica Portuguesa possui também, nos seus campi, várias Unidades de Investigação na área das ciências socioculturais. A cidade de Braga é considerada por muitos como a "Silicon Valley" Portuguesa devido às inúmeras empresas ligadas ao software, algumas delas de grande renome como a Primavera Software (empresa portuguesa líder na produção de software em Portugal e entre as 500 empresas europeias com maior potencial de crescimento), Mobicomp (empresa portuguesa líder no desenvolvimento de soluções de negócio assentes em tecnologias de computação e comunicações móveis) ou a Edigma (empresa portuguesa líder na gestão de projectos digitais e interactividade). Existem também grandes centros tecnológicos e de investigação noutras áreas, a BOSCH CM Portugal, que é a maior fábrica de produção de auto-rádios, sistemas de navegação e derivados da Europa, está nas dez maiores empresas exportadoras nacionais, é também um grande centro de investigação e desenvolvimento de engenharia electrónica. Esta unidade da BOSCH CM desenvolve todos os seus produtos desde o protótipo até ao produto final, ou seja desde do layout da placa de circuito impresso (PCB) até ao design do produto. A Cachapuz, do Grupo Bilanciai, é também uma empresa de excelência em termos de desenvolvimento e inovação. O Grupo Bilanciai é o maior grupo mundial de balanças e sistemas de pesagens. O maior grupo português de alumínios, o Grupo Navarra, em homenagem à freguesia que viu crescer a empresa, é um importante grupo que aposta na investigação e no progresso tecnológico no seu sector. Estas empresas, como muitas outras, são o "motor" da tecnologia e investigação privada na cidade de Braga. O mais recente investimento na área da investigação em Braga é o Laboratório Ibérico Internacional de Nanotecnologia (INL), também conhecido por Instituto Ibérico de Investigação e Desenvolvimento. A implantação deste mega instituto deveu-se às características singulares da cidade, atrás referidas, e é o resultado de um acordo de cooperação entre os governos português e espanhol na área de investigação e tecnologia. Com um investimento anual de 30 milhões de euros, esta estrutura irá dedicar-se à investigação na área das nanotecnologias e possuirá várias oficinas, laboratórios, uma biblioteca, auditórios e um espaço para instalar visitantes de curta duração. Será também dotado com um centro de ciência viva para que seja mostrado à população o trabalho que lá será desenvolvido. Educação. A média do nível de ensino na cidade de Braga é superior ao nível nacional. Em 2001 44% da população tinha pelo menos o nono ano (escolaridade mínima obrigatória). Com o nível de ensino superior existiam 23 660 indivíduos (14%), com uma superioridade feminina. A percentagem com menos do nono de escolaridade era de 64%, é de relembrar que 19% da população tinha menos de catorze anos. O analfabetismo em 2001 foi de 5% (8 286 indivíduos), menos 1,9% que em 1991. O analfabetismo Bracarense é maioritariamente feminino, 6007 indivíduos. Ao nível superior, a cidade possui duas grandes universidades: A cidade possuiu uma longa tradição na formação de pilotos de aeronaves. O Aero Club de Braga, desde a sua fundação em 1935, forma pilotos de aeronaves e pára-quedistas. É uma instituição com uma longa história e com grande contributo para a aviação em Portugal. Em 2012 é criada a Aeronautical Sciences Academy da Universidade do Minho (UMASA), uma academia de ensino superior, com reconhecimento internacional, que tem como objectivo a formação, investigação e desenvolvimento nas ciências aeronáuticas. Ao nível do ensino básico, secundário e profissional destacam-se também várias instituições de prestígio: A Academia Bracarense é uma reputada escola de moda a nível nacional. A academia participa em várias feiras, campeonatos, salões de moda internacional, como o "Salon Prêt a Porter" de Paris (a maior e mais conceituada feira mundial de moda) ou o "Mondial Coiffure Beauté" de Paris (maior campeonato mundial de cabeleireiros e estética). O Liceu Nacional Sá de Miranda, que marcou o ensino secundário no , designado hoje em dia como Escola Secundária Sá de Miranda, foi durante grande parte da década de noventa a maior escola do país, com mais de seis mil alunos. A cidade tem no total sete escolas secundárias públicas e algumas escolas privadas. Existem também várias Escolas Profissionais tuteladas pelo Ministério da Educação, a EsproMinho-Escola Profissional do Minho, a Escola Profissional Profitecla, a Escola Profissional Europeia e a Escola Profissional de Braga. Ao nível de equipamentos tutelados pelo IEFP (Instituto de Emprego e Formação Profissional) destaca-se o Centro de Formação Profissional de Braga, mais conhecido por Mazagão. Ao nível de equipamentos de ensino básico o município está também estrategicamente bem equipado. Conta com treze escolas EB 2,3, noventa e uma escolas do primeiro ciclo e sessenta e três estabelecimentos de ensino pré-escolar. Em termos de ensino privado, as escolas mais conhecidas são o Colégio João Paulo II, Externato Infante D. Henrique, o Colégio Dom Diogo de Sousa, o Colégio Luso-Internacional de Braga - CLIB e o Externato Paulo VI. O Município de Braga tem também à disposição da população os seguintes equipamentos educativos: Desporto. Alguns dos principais clubes desportivos de Braga são o Sporting Clube de Braga, o Hóquei Clube de Braga e o Académico Basket Clube. Internacionalmente, Braga é conhecido pela equipa de futebol do Sporting de Braga, devido às constantes participações da equipa nas competições europeias. Para além deste, Braga tem também outros clubes de futebol, mas de menor dimensão. A seleção amadora de futebol de Braga conquistou em 2011 a Taça das Regiões da UEFA, juntando-se assim à Taça Intertoto de 2007 conquistada pelo Sporting de Braga no conjunto dos títulos internacionais conquistados pelas equipas de futebol do município. A cidade também possui a Associação de Futebol de Braga. Para além do futebol, Braga tem equipas e associações de outras modalidades como o hóquei, basquetebol, andebol, atletismo, entre outros.
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Bacalhau à Brás
Bacalhau à Brás Bacalhau à Brás (ou também Bacalhau à Braz) é um típico prato português de bacalhau. Sendo um dos pratos mais populares confeccionados com este peixe, consiste em bacalhau desfiado, batata palha frita, cebola frita às rodelas finas, ovo mexido, azeitonas e salsa picada. É muito consumido em Portugal e também em Macau. O excelente sabor depende da relação dos componentes da receita, principalmente a quantidade de cebola em relação ao bacalhau e o azeite usado para efetuar este prato. A receita foi criada por um taberneiro do Bairro Alto, em Lisboa, de nome Brás (ou Braz, como era uso escrever nessa época). A sua popularidade levou-o a atravessar a fronteira com a Espanha, sendo por vezes possível encontrá-lo também em ementas espanholas sob designações como "revuelto de bacalao a la portuguesa" ou "bacalao dorado".
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Bruno Frank
Bruno Frank Bruno Frank (Stuttgart, 13 de junho de 1878 - Beverly Hills, 20 de junho de 1945) foi um escritor alemão. Como romancista inspirou-se em Thomas Mann, mostrando, no entanto particular tendência para enredos de suspense. Na dramaturgia, mostra apurado sentido para efeito de cena.
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Baixo Vouga
Baixo Vouga Localização da Região de Aveiro - NUT III O Baixo Vouga foi uma sub-região estatística portuguesa, parte da Região do Centro (Região das Beiras), integrada apenas por municípios do Distrito de Aveiro. Limitava a norte com a sub-região do Grande Porto e do Entre Douro e Vouga, a leste com Dão-Lafões, a sul com o Baixo Mondego e a oeste com o Oceano Atlântico. Tinha uma área de 1802,3 km² e uma população de (censos de 2011). Compreendia 11 concelhos: No Baixo Vouga localizavam-se 10 cidades: Albergaria-a-Velha, Águeda, Anadia, Aveiro, Esmoriz (município de Ovar), Estarreja, Gafanha da Nazaré (município de Ílhavo), Ílhavo, Oliveira do Bairro e Ovar. Compreendia a porção correspondente à foz da bacia do Rio Vouga.
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Baixo Alentejo (sub-região)
Baixo Alentejo (sub-região) O Baixo Alentejo é uma sub-região estatística portuguesa NUTS III, parte da Região Alentejo e do Distrito de Beja. Limita a norte com o Alentejo Central, a leste com a Espanha, a sul com o Algarve e a oeste com o Alentejo Litoral. Tem uma área de 8.505 km² e uma população estimada em habitantes (2011). Com a reforma de 1 de janeiro de 2015 esta NUT não sofreu alterações na sua geografia. Municípios. Compreende 13 concelhos: Beja, Serpa e Moura possuem a categoria de cidades.
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Bom Despacho
Bom Despacho Fonte: Secretaria Municipal de Esportes, 2020. (*) Em 2017 o Governo de Minas desviou dinheiro do Município. No caso do ICMS Esportivo, o desvio foi de 2/3 do valor devido.
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Beira Interior Sul
Beira Interior Sul A Beira Interior Sul foi uma sub-região estatística portuguesa, parte da região estatística do Centro e do distrito de Castelo Branco. Limitava a norte com a Cova da Beira e a Beira Interior Norte, a leste com a Espanha, a sul com a Espanha e o Alto Alentejo e a oeste com o Pinhal Interior Sul. Tem uma área de 2 063 km² e uma população de habitantes (censos de 2011). Compreendia 4 concelhos da província histórica da Beira Baixa: A Beira Interior Sul foi extinta aquando da reformulação do mapa das NUT-III, em 2013, tendo todos os seus municípios passado a integrar a então criada sub-região da Beira Baixa, juntamente com os concelhos de Oleiros e Proença-a-Nova.
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Baixo Mondego
Baixo Mondego Localização do Baixo Mondego O Baixo Mondego foi uma sub-região estatística portuguesa, parte da Região do Centro (Região das Beiras), do Distrito de Coimbra e do Distrito de Aveiro. Limitava a norte com o Baixo Vouga e com o Dão-Lafões, a leste com o Pinhal Interior Norte, a sul com o Pinhal Litoral e a oeste com o Oceano Atlântico. Tinha uma área de 2062 km² e uma população de habitantes (censos de 2011). Compreendia 9 concelhos:
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Beira Interior Norte
Beira Interior Norte Localização daBeira Interior Norte A Beira Interior Norte foi uma sub-região estatística portuguesa, parte da Região do Centro (Região das Beiras) e do Distrito da Guarda. Limitava a norte com o Douro, a leste com a Espanha, a sul com a Beira Interior Sul e com a Cova da Beira e a oeste com a Serra da Estrela e com Dão-Lafões. Tinha uma área de 4251 km² e uma população de habitantes (censos de 2011). Compreendia 9 concelhos:
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Belo Horizonte
Belo Horizonte Belo Horizonte é um município brasileiro e a capital do estado de Minas Gerais. Sua população é de habitantes, segundo o censo de 2022, sendo o sexto município mais populoso do país, o terceiro da Região Sudeste e o primeiro de seu estado. Com uma área de aproximadamente 331 km², possui uma geografia diversificada, com morros e baixadas. Com uma distância de 716 quilômetros de Brasília, é a segunda capital de estado mais próxima da capital federal, depois de Goiânia. Cercada pela Serra do Curral, que lhe serve de moldura natural e referência histórica, foi planejada e construída para ser a capital política e administrativa do estado mineiro sob influência das ideias do positivismo, num momento de forte apelo da ideologia republicana no país. Sofreu um inesperado crescimento populacional acelerado, chegando a mais de um milhão de habitantes com quase setenta anos de fundação. Entre as décadas de 1930 e 1940, ocorreu também o avanço da industrialização, além de muitas construções de inspiração modernista, notadamente as casas do bairro Cidade Jardim, que ajudaram a definir a fisionomia da cidade. A capital mineira é sede da terceira concentração urbana mais populosa do país. Belo Horizonte já foi indicada pelo "Population Crisis Commitee", da ONU, como a metrópole com melhor qualidade de vida na América Latina e a 45.ª entre as 100 melhores cidades do mundo (dados de 2008). Em 2010, a cidade gerou 1,4% do PIB do país, e, em 2013, era o quarto maior PIB entre os municípios brasileiros, responsável por 1,53% do total das riquezas produzidas no país. Uma evidência do desenvolvimento da cidade nos últimos tempos é a classificação da revista "América Economía", na qual, já em 2009, Belo Horizonte aparecia como uma das dez melhores cidades latino-americanas para fazer negócios, segunda do Brasil (atrás de São Paulo) e à frente de cidades como Rio de Janeiro, Brasília e Curitiba. Belo Horizonte é classificada como uma metrópole e exerce significativa influência nacional, seja do ponto de vista cultural, econômico ou político. Conta com importantes monumentos, parques e museus, como o Museu de Arte da Pampulha, o Museu de Artes e Ofícios, o Museu de Ciências Naturais da PUC Minas, o Circuito Cultural Praça da Liberdade, o Conjunto Arquitetônico da Pampulha, o Mercado Central e a Savassi, e eventos de grande repercussão, como o Festival Internacional de Teatro, Palco e Rua (FIT-BH), o Verão Arte Contemporânea (VAC), o Festival Internacional de Curtas e o Encontro Internacional de Literaturas em Língua Portuguesa. É também nacionalmente conhecida como a "capital nacional dos botecos", por existirem mais bares "per capita" do que em qualquer outra grande cidade do Brasil. Nome. Logo após a proclamação da república, em 1889, os republicanos de Curral del Rei decidiram mudar o nome da vila. Em reunião numa casa próxima de onde fica a Igreja de Boa Viagem, sugeriram o nome Novo Horizonte. Por sugestão de Luiz Daniel Cornélio da Cerqueira, professor de português e responsável pela alfabetização de crianças da vila, foi considerado também o nome Belo Horizonte. Descartado pela maioria, o nome só foi adotado após escolha pessoal do então governador, João Pinheiro. Após a transferência da capital, Belo Horizonte passa a se chamar Cidade Minas, até que o nome sugerido por Luiz Daniel voltou a ser oficial em 1901. História. Povos nativos. O reconhecimento da presença dos povos originários na região foi observado pelo padre João Aspicuelta Navarro, em 1555, por meio de uma carta que este redigiu sobre os nativos nos campos e nas florestas. A população originária que habitou o atual estado de Minas Gerais está relacionada com o tronco linguístico macro-jê, os povos conhecidos como tapuias, alcunha concedida pelos seus inimigos tupis. As ocupações indígenas no território mineiro, nos séculos XVI e XVII foram esparsas e comunidades com a mesma identificação ocupavam áreas distintas. Os povos que viveram mais próximos da atual cidade de Belo Horizonte foram os cataguás, goianás, guarachués e botocudos. Os cataguás ou cataguases eram tapuias, e foram um povo extremamente relevante para Minas Gerais, que marcavam presença no território desde o início do período colonial, visto que o estado era conhecido como "Campos Gerais dos Cataguases" e "Minas Gerais dos Cataguases". Acerca da população dos goianás e guarachués não há muita informação escrita, pois foram menos documentados pelas fontes portuguesas e nacionais e sofreram a descontinuidade de seus saberes ancestrais, dado seu extermínio. Os goianás viviam nas áreas da comarca do Rio das Velhas, mais especificamente próximos ao rio. Por serem mais pacíficos e acessíveis ao convívio com o homem branco, lutaram ao lado dos bandeirantes nas batalhas travadas em Minas no século XVII. Os guarachués habitavam a região da comarca de Vila Rica e foram vítimas dos bandeirantes na busca pelo ouro. O termo significa guará vagaroso, pois estes andavam com os lobos guará. Os botocudos pertenciam ao tronco linguístico macro-jê e o nome se deve aos ornamentos que utilizavam no lábio e nas orelhas com rodelas, os botoques, uma designação pejorativa e generalizante de povos tão distintos. Outras denominações são boruns, aimorés e bugres. Uma das tradições que estes povos preservavam era o rito da antropofagia e eram considerados os “perigosíssimos ‘tapuais’ do período colonial”. A presença desses grupos é relatada desde o século XVI até XX por fontes históricas primárias, com designações variadas. Os botocudos eram um dos povos que não utilizavam louças de barro, o que diminui as informações acerca da alimentação, arte e vivência social que apresentavam. Além disso, os bugres eram povos nômades e se locomoviam constantemente pelo território. O nome dessa comunidade é generalista e estes integraram diversas outras tribos ao longo do tempo, entre estes, o que ocupou a região próxima à capital, a comunidade Pataxó. Os pataxós pertencem ao tronco macro-jê e são originários da região sul da Bahia. Sua existência foi documentada pela primeira vez em uma expedição de Salvador Correa de Sá em 1577, quando os encontrou nas proximidades do Rio Doce. Na contemporaneidade há uma diferenciação entre os grupos pataxós de Minas Gerais e da Bahia, sendo o último os Pataxó-hã-hã-hães. O nome é uma autodenominação utilizada por esse grupo, que se relaciona com a água. Além disso, seu idioma é o "Patxohã", língua ancestral que querem avivar, que se integra na família linguística dos Maxakalí. Apesar de serem historicamente um povo seminômade, na atualidade estes vivem em regiões delimitadas. Uma das razões da migração dos nativos no século XX para o território mineiro é o Fogo de 51, uma ação violenta da polícia baiana contra a aldeia em que viviam, como também a demarcação do Parque Nacional do Monte Pascoal em 1961. Além, dos pataxós, outras populações indígenas vivem na Região Metropolitana de Belo Horizonte, a exemplo dos aranãs, xakriabás, kaxixós, karajás, guaranis e kamakã. Dados do censo do IBGE de 2010 indicam que mais de sete mil pessoas se identificaram como indígenas somente em Belo Horizonte. A fundação da capital. Até o século XVI, o atual estado de Minas Gerais era habitado por índios do tronco linguístico macro-jê. A partir desse século, essas tribos foram quase exterminadas pela ação dos bandeirantes procedentes principalmente da vila de São Paulo de Piratininga, que chegaram à região em busca de escravos e de pedras preciosas. Na imensa faixa de terras ao largo do Rio das Velhas assenhoradas pelo bandeirante Paulista Bartolomeu Bueno da Silva (mais tarde Anhanguera II), veio seu primo e futuro genro, João Leite da Silva Ortiz, à procura de ouro. Ele ocupou, em 1701, a Serra dos Congonhas (mais tarde Serra do Curral) e suas encostas, onde estabeleceu a Fazenda do Cercado, base do núcleo do Curral del Rei. No local, desenvolveu uma pequena plantação e criou gado, com numerosa escravatura. O povoamento aos poucos foi se firmando, de forma tal que, em 1707, já aparecia citada em documentos oficiais. Em 1711, a carta de sesmaria foi obtida por Ortiz, com a concessão da área que "começava do pé da Serra do Curral, até a Lagoinha, estrada que vai para os currais da Bahia, que será uma légua, e da dita estrada correndo para o rio das Velhas três léguas por encheio". Conforme trecho da carta de sesmaria, à ortografia da época, concedida por Antônio Albuquerque Coelho de Carvalho: Ortiz dedicou-se especialmente ao plantio de roças, criação e negociação de gado, trabalhos de engenho e, provavelmente, a mineração de ouro nos córregos. O progresso da fazenda atraiu outros moradores, e um arraial começou a se formar, tornando-se um dos pontos de concentração dos rebanhos transitados pelo registro das Abóboras, vindos do sertão da Bahia e do São Francisco para o abastecimento das zonas auríferas. Apoiado na pequena lavoura, na criação e comercialização de gado e na fabricação de farinha, o arraial progrediu. A topografia da região favoreceu o estabelecimento de uma povoação dada à agricultura e à vida pastoril. Os habitantes deram o nome de Curral del Rei, por causa do cercado ou curral ali existente, em que se reunia o gado que havia pago as taxas do rei, segundo a tradição corrente. O arraial contava com umas 30 ou 40 cafuas cobertas de sapé e pindoba, entre as quais foi erguida uma capelinha situada à margem do córrego Acaba-Mundo (onde hoje se encontra a catedral), tendo à frente um cruzeiro e ao lado um rancho de tropas. Algumas poucas fábricas, ainda primitivas, instalaram-se na região, onde se produzia algodão e se fundia ferro e bronze. Das pedreiras, extraía-se granito e calcário, e frutas e madeiras eram comercializadas para outros locais. Das trinta ou quarenta famílias inicialmente existentes, a população saltou para a marca de 18 mil habitantes. Em 1750, por ordem da Coroa, foi criado o distrito de Nossa Senhora da Boa Viagem do Curral, então sede da freguesia do mesmo nome instituída de fato em 1718 em torno de capela ali construída pelo Padre Francisco Homem, filho de Miguel Garcia Velho. Elevado à condição de freguesia em 1780, mas ainda subordinado a Sabará, o Curral del Rei englobava as regiões (ou curatos) de Sete Lagoas, Contagem, Santa Quitéria (Esmeraldas), Buritis, Capela Nova do Betim, Piedade do Paraopeba, Brumado, Itatiaiuçu, Morro de Mateus Leme, Neves, Aranha e Rio Manso. No centro do arraial, os devotos ergueram a Matriz de Nossa Senhora da Boa Viagem. Com a extinção dos curatos, a jurisdição do Curral del Rei viu-se novamente reduzida ao primeiro arraial, com sua população de 2.500 habitantes, que chegou a moradores já ao fim do século XIX. O seguinte trecho do relatório enviado à Cúria de Mariana pelo vigário Pe. Francisco de Paula Arantes, conservada a ortografia, relata a paisagem característica da região à época: Porém, enquanto Vila Rica, Sabará, Serro Frio e outros núcleos mineradores se constituíam em centros populosos e ricos, Curral del Rei e sua vocação para o comércio do gado sertanejo estacionou em seu desenvolvimento, não oferecendo lucro que fixasse ao solo uma população como a de outros lugares. O apogeu de Ouro Preto perdurou até o fim do século XVIII, quando as jazidas esgotaram-se e o ciclo do ouro deu lugar à pecuária e à agricultura, criando novos núcleos regionais e inaugurando uma nova identidade estadual. A então capital de Minas Gerais, a cidade de Ouro Preto, não apresentava alternativas viáveis ao desenvolvimento físico urbano, o que gerou a necessidade da transferência da capital para outra localidade. Com a República e a descentralização federal, as capitais tiveram maior relevo: ganhava vigor a ideia de mudança da sede do governo mineiro, pois a antiga Ouro Preto era travada pela topografia. O governador Augusto de Lima encaminhou a questão ao Congresso Mineiro, que, reunido em Barbacena, em sessão de 17 de dezembro de 1893, indicou pela lei n. 3, adicional à Constituição Estadual, a disposição de que a mudança da capital ocorresse para local que reunisse as condições ideais. Cinco localidades foram sugeridas: Juiz de Fora, Barbacena, Paraúna, Várzea do Marçal e Belo Horizonte. A comissão técnica, chefiada pelo engenheiro Aarão Reis, julgou em igualdade de condições Belo Horizonte e Várzea do Marçal, decidindo-se ao final pela última localidade. Voltou o Congresso a se pronunciar, e depois de novos e extensivos debates, instituiu-se que a capital fosse construída nas terras do arraial de Belo Horizonte. O local escolhido oferecia condições ideais: estava no centro da unidade federativa, a 100 km de Ouro Preto, o que muito facilitava a mudança; acessível por todos os lados embora circundado de montanhas; rico em cursos d'água; possuidor de um clima ameno, numa altitude de 800 metros. A área destinada à nova capital parecia um grande anfiteatro entre as Serras do Curral e de Contagem, contando com excelentes condições climatológicas, protegida dos ventos frios e úmidos do sul e dos ventos quentes do norte, e arejada pelas correntes amenas do oriente que vinham da serra da Piedade ou das brisas férteis do oeste que vinham do vale do Rio Paraopeba. Era um grande vale cercado por rochas variadas e dobradas, com longa e perturbada história geológica, solos rasos, pouco desenvolvidos, de várias cores, às vezes arenosos e argilosos, com idade aproximada de 1 bilhão e 650 milhões de anos. Em 1893, o arraial foi elevado à categoria de município e capital de Minas Gerais, sob a denominação de Cidade de Minas. Em 1894, foi desmembrado do município de Sabará. No mesmo ano, os trabalhos de construção foram iniciados pela Comissão Construtora da Nova Capital, chefiada por Aarão Reis, com o prazo de 5 anos para o término dos trabalhos. Com o aumento populacional causado pela construção da Nova Capital, a administração da cidade se tornou mais complexa, o que exigia uma força policial para garantir a ordem e tranquilidade dos moradores. Nesse sentido, Aarão Reis tomou providências e o delegado especial de Sabará, capitão Antônio Lopes de Oliveira, que se tornaria mais conhecido como Major Lopes, assumiu a segurança do Arraial. Em maio de 1895, Aarão Reis foi substituído pelo engenheiro Francisco de Paula Bicalho. Em 12 de dezembro de 1897, em ato público solene, o então presidente de Minas, Crispim Jacques Bias Fortes, inaugurou a nova capital. A cidade, que já contava com 10 mil habitantes em sua inauguração, custou aos cofres estaduais a importância de 36 mil contos de réis. Em 1901, a Cidade de Minas teve seu nome modificado para o atual, em virtude da dualidade de nomes, já que o distrito e a comarca se chamavam Belo Horizonte. O projeto de Aarão Reis. Projetada pelo engenheiro Aarão Reis entre 1894 e 1897, Belo Horizonte foi uma das primeiras cidades brasileiras planejadas (algumas fontes a citam como primeira; outras como terceira, após Teresina e Aracaju e até a quarta, sendo Petrópolis a primeira). Elementos chaves do seu traçado incluem uma malha perpendicular de ruas cortadas por avenidas em diagonal, quarteirões de dimensões regulares e uma avenida em torno de seu perímetro, a Avenida do Contorno. Trecho do relatório escrito por Aarão Reis, engenheiro-chefe da Comissão Construtora da Nova Capital, sobre a planta definitiva de Belo Horizonte, aprovada pelo Decreto nº 817 de 15 de abril de 1895: Entretanto, Aarão Reis não queria a cidade como um sistema que se expandiria indefinidamente. Entre a paisagem urbana e a natural foi prevista uma zona suburbana de transição, mais solta, que articulava os dois setores através de um bulevar circundante, a Avenida do Contorno, bastante flexível e que se integrava perfeitamente na composição essencial. A concepção do plano fundia as tradições urbanísticas americanas e europeias do século XIX. O tabuleiro de xadrez da primeira era corrigido por meio das amplas artérias oblíquas, e espaços vazios, uma preocupação constante com as perspectivas monumentais que provinha do Velho Mundo, com marcadas influências de Haussmann. Belo Horizonte surgia como uma tentativa de síntese urbana no final do século XIX. O objetivo de se criar uma das maiores cidades brasileiras do século XX era atingido. Porém, o plano de Belo Horizonte pertencia a sua época, seu conceito estava embasado em fundamentos do século anterior. O projeto da cidade foi inspirado no modelo das mais modernas cidades do mundo, como Paris e Washington. Os planos revelavam algumas preocupações básicas, como as condições de higiene e circulação humana. A cidade foi dividida em três principais zonas: a "área central urbana", a "área suburbana" e a "área rural". A área central urbana receberia toda a estrutura urbana de transportes, educação, saneamento e assistência médica, e abrigaria os edifícios públicos dos funcionários estaduais. Ali também deveriam se instalar os estabelecimentos comerciais. Seu limite era a Avenida do Contorno, que à época se chamava 17 de Dezembro. A região suburbana, formada por ruas irregulares, deveria ser ocupada mais tarde e não recebeu de imediato a infraestrutura urbana. A área rural seria composta por cinco colônias agrícolas com inúmeras chácaras e funcionaria como um cinturão verde, abastecendo a cidade com produtos hortigranjeiros. Para a concretização do projeto, o arraial de Curral del Rei foi completamente destruído, com a transferência de seus habitantes para outro local. Sem condições de adquirir os terrenos valorizados da área central, os antigos moradores foram empurrados para fora da cidade, principalmente para Venda Nova. Acreditava-se que os problemas sociais seriam evitados com a retirada dos operários após a conclusão das obras, o que na prática não ocorreu. A cidade foi inaugurada às pressas, ainda inacabada. Os operários, em meio às obras, não foram retirados e, sem lugar para ficar, formaram favelas na periferia da cidade, juntamente com os antigos moradores do Curral del Rei. A expansão. A expansão urbana extrapolou em muito o plano original. Quando foi iniciada sua construção, os idealizadores do projeto previram que a cidade alcançaria a marca de 100 mil habitantes apenas quando completasse 100 anos. Essa falta de visão se repetiu em toda a história da cidade, que jamais teve um planejamento consistente que previsse os desafios da grande metrópole que se tornaria. A nova capital foi o maior problema do governo do Estado no início do regime: construída após vencer muitos obstáculos, ela permaneceu em relativa estagnação devido à crise financeira. Ligações ferroviárias com o sertão e o Rio de Janeiro puseram a cidade em comunicação com o interior e a capital do país. O desenvolvimento foi mínimo até 1922. Pelas proclamadas virtudes de seu clima, a cidade tornou-se atrativa, especialmente para o tratamento da tuberculose: multiplicaram-se os hospitais, pensões e hotéis, mas até 1930 exerceu função quase estritamente administrativa. Foi também na década de 1920 que surgiu em Belo Horizonte a geração de escritores de raro brilho que iria se destacar no cenário nacional. Carlos Drummond de Andrade, Ciro dos Anjos, Pedro Nava, Alberto Campos, Emílio Moura, João Alphonsus, Milton Campos, Belmiro Braga e Abgar Renault se encontravam no Bar do Ponto, na Confeitaria Estrela ou no Trianon para produzir os textos que revolucionaram a literatura brasileira. Nos anos 1930, Belo Horizonte se consolidava como capital, não isenta de críticas e de louvores. Deixava de ser uma teoria urbanística para ser uma conquista humana, algo para ser não somente visto, mas para ser vivido também. Nesta época o município já contava com 120 000 habitantes e passava por problemas de ocupação, gerando uma crise de carência de serviços públicos. Necessitava de um novo planejamento para que se recuperasse a cidade moderna. Entre as décadas de 1930 e 1940 ocorreu o avanço da industrialização, além da criação do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, inaugurado em 1943 por encomenda do então prefeito Juscelino Kubitschek. O conjunto da Pampulha reuniu os maiores nomes do modernismo brasileiro, com projetos de Oscar Niemeyer, pinturas de Portinari, esculturas de Alfredo Ceschiatti e jardins de Roberto Burle Marx. Ao mesmo tempo, o arquiteto Sylvio de Vasconcellos também criou muitas construções de inspiração modernista, notadamente as casas do bairro Cidade Jardim, que ajudaram a definir a fisionomia da cidade. Na década de 1950, a população da cidade dobrou novamente, passando de 350 mil para 700 mil habitantes. Como resposta ao crescimento desordenado, o prefeito Américo René Gianetti deu início à elaboração de um Plano Diretor para Belo Horizonte. Na década de 1960, muitas demolições foram feitas, transformando o perfil da cidade, que passou, então, a ter arranha-céus e asfalto no lugar de árvores. Belo Horizonte ganhou ares de metrópole. A conurbação da cidade com municípios vizinhos se ampliou. Ainda neste período, a cidade atingiu mais de um milhão de habitantes. Nessa época, os espaços vazios do município praticamente se esgotaram e o crescimento populacional passou a se concentrar nos municípios conurbados a Belo Horizonte, como Sabará, Ibirité, Contagem, Betim, Ribeirão das Neves e Santa Luzia. Na tentativa de resolver os problemas causados pelo crescimento desordenado, foi instituída a Região Metropolitana de Belo Horizonte e foi criado o Plambel, que desencadeou diversas ações visando a conter o caos metropolitano. A história recente. A década de 1980 foi marcada pela valorização da memória da cidade, com a alteração na orientação do crescimento. Vários edifícios de importância histórica foram tombados. Foi iniciada a implantação do metrô de superfície. Iniciada em 1984 e concluída em 1997, a canalização do Ribeirão Arrudas pôs fim ao problema das enchentes ao centro da capital. Contudo, vários problemas surgiram e alguns permaneceram. Um deles foi a degradação da Lagoa da Pampulha, um dos principais cartões-postais da cidade, que se tornara um lago praticamente morto devido à poluição de suas águas. A cidade foi palco ainda de grandes manifestações visando a queda da ditadura militar no Brasil, sob a liderança de Tancredo Neves, na época governador do estado. A fisionomia urbana foi novamente alterada com a proliferação de prédios em estilo pós-moderno, especialmente na afluente Zona Sul da cidade, graças à influência de um grupo de arquitetos liderado por Éolo Maia. Na mesma década, a cidade também passou a ser servida pelo Aeroporto Internacional de Confins, localizado no município de Confins, a 38 km do centro da capital. Em 1980, aproximadamente pessoas tomaram a então Praça Israel Pinheiro (conhecida como Praça do Papa) para receber o próprio Papa João Paulo II. Diante da multidão de fiéis e da vista privilegiada da cidade, o papa ali exclamou: "Pode-se olhar as montanhas e Belo Horizonte, mas sobretudo quando se olha para vocês, é que se deve dizer: que belo horizonte!", o que provavelmente colaborou para que a praça ficasse conhecida hoje por este nome. No início da década de 90, a cidade era marcada pela pobreza e degradação, com 11% da sua população marcada pela miséria absoluta e com 20% das crianças sofrendo de desnutrição. O restante da década de 1990 foi marcada pela valorização dos espaços urbanos e pelo reforço da estrutura administrativa do município, com a aprovação em 1990 da Lei Orgânica do Município e do Plano Diretor da cidade, em 1996. A gestão municipal se democratizou com a realização anual do Orçamento participativo. O desafio ainda em curso diz respeito ao fortalecimento da gestão integrada da Região Metropolitana de Belo Horizonte, que reúne 34 municípios que devem cooperar entre si para a resolução de seus problemas comuns. Espaços públicos como a Praça da Liberdade, a Praça da Assembleia e o Parque Municipal, que se encontravam abandonados e desvalorizados, foram recuperados e a população voltou a frequentá-los e a cuidar de sua preservação. Desde o início do século XXI, Belo Horizonte tem se destacado pelo desenvolvimento do setor terciário da economia: o comércio, a prestação de serviços e setores de tecnologia de ponta (destaque para as áreas de biotecnologia e informática). Alguns dos investimentos recentes nesses setores são a implantação do Parque Tecnológico de Belo Horizonte, do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento do Google para a América Latina e do centro de convenções Expominas. O turismo de eventos, com a realização de congressos, convenções, feiras, eventos técnico-científicos e exposições, tem fomentado o crescimento dos níveis de ocupação da rede hoteleira e do consumo dos serviços de bares, restaurantes e transportes. A cidade também vem experimentando sucesso no setor artístico-cultural, principalmente pela políticas públicas e privadas de estímulo desse setor, como a realização de eventos fixos em nível internacional e o crescimento do número de salas de espetáculos, cinemas e galerias de arte. Por tudo isso, a cada ano a cidade se consolida como um novo polo nacional de cultura. Geografia. De acordo com a divisão regional vigente desde 2017, instituída pelo IBGE, o município pertence às regiões geográficas intermediária e imediata de Belo Horizonte. Até então, com a vigência das divisões em microrregiões e mesorregiões, fazia parte da microrregião de Belo Horizonte, que por sua vez estava incluída na Mesorregião Metropolitana de Belo Horizonte. Belo Horizonte apresenta um relevo bem acidentado. Seu ponto culminante se localiza na Serra do Curral, dentro do Parque Estadual da Serra do Rola-Moça, com altitude máxima de metros. Por outro lado, a altitude mais baixa é de 673 metros e está situada na foz do Ribeirão do Onça, que deságua no Rio das Velhas. A área oficial de Belo Horizonte, de acordo com a resolução mais recente do IBGE, é de quilômetros quadrados (km²), porém a Empresa de Informática e Informação do Município de Belo Horizonte (PRODABEL), que pertence à prefeitura, fornece um valor um pouco maior, de . Hidrografia e geologia. Localizado na Bacia do São Francisco, Belo Horizonte não é banhado por nenhum grande rio, mas por seu solo passam ribeirões e vários córregos, em sua maioria canalizados. A capital é atendida por duas sub-bacias, do Ribeirão Arrudas e do Ribeirão da Onça, afluentes do Rio das Velhas. O Ribeirão Arrudas atravessa a cidade de oeste para leste. Mais ao norte, integrando a bacia do Onça, corre o Ribeirão Pampulha, represado para formar o reservatório de igual nome, um dos recantos de turismo e lazer da cidade. O Ribeirão Arrudas deságua no município de Sabará e o Ribeirão da Onça no município de Santa Luzia, ambos no Rio das Velhas. Os trajetos dos córregos e ribeirões não foram utilizados como referências naturais na composição do traçado da área urbana planejada inicialmente, embora estivessem à vista em vários trechos da cidade em seus primeiros anos. Todos eles seriam progressivamente canalizados em seus percursos dentro do perímetro da Avenida do Contorno. Belo Horizonte está em uma região de contato entre séries geológicas diferentes do proterozoico, compostas de rochas cristalinas, o que dá ao território paisagens diferenciadas. Insere-se na grande unidade geológica conhecida como cráton do São Francisco, referente ao extenso núcleo crustal do centro-leste do Brasil, estável tectonicamente no final do paleoproterozoico e margeando áreas que sofreram regeneração no neoproterozoico. Predominam as rochas arqueanas integrantes do Complexo Belo Horizonte e sequências supracrustais do período paleoproterozoico. O domínio do Complexo Belo Horizonte integra a unidade geomorfológica denominada Depressão de Belo Horizonte, que representa cerca de 70% do território da capital mineira e tem sua área de maior expressão ao norte da calha do Ribeirão Arrudas. O domínio das sequências metassedimentares tem sua área de ocorrência a sul da calha do Ribeirão Arrudas, constituindo cerca de 30% do território de Belo Horizonte. As características deste domínio são as diversidades litológicas e o relevo acidentado que encontra expressão máxima na Serra do Curral, limite sul do município. Engloba uma sucessão de camadas de rochas de composição variada, representada por itabiritos, dolomitos, quartzitos, filitos e xistos diversos, de direção geral nordeste-sudeste e mergulho para o sudeste. As serras de Belo Horizonte são ramificações da Cordilheira do Espinhaço e pertencem ao grupo da Serra do Itacolomi. Contornando o município estão as Serras de Jatobá, José Vieira, Mutuca, Taquaril e Curral. Áreas verdes e problemas ambientais. O "Parque Municipal Américo Renné Giannetti" é o mais antigo jardim público da cidade, inspirado nos parques franceses construídos durante a "Belle Époque". Foi inaugurado em 1897, no terreno da antiga Chácara do Sapo, que pertencia a Aarão Reis, engenheiro responsável pelo planejamento de Belo Horizonte. São 50 espécies de árvores, emolduradas pelos arranha-céus do centro. Abriga ainda o orquidário municipal. No pé da Serra do Curral está localizada a maior área verde remanescente de Belo Horizonte, o Parque das Mangabeiras, um dos maiores parques urbanos da América Latina, possuindo 2,3 milhões de metros quadrados (m²). O "Parque Ecológico Promotor Francisco Lins do Rego", ou "Parque Ecológico da Pampulha", está localizado na Ilha da Ressaca, na Lagoa da Pampulha. Ocupa uma área de quadrados, sendo outra importante área verde da capital. O Parque do Museu de História Natural da Universidade Federal de Minas Gerais foi criado em 1968 e ocupa uma área de , abrigando vários exemplares da flora (pau-brasil, sapucaia, barriguda) e fauna (mico-estrela, macaco-prego, saracura, jacu) originais da Mata Atlântica regional, que podem ser observados nas trilhas. Muitos destes parques são de responsabilidade do governo municipal. A Prefeitura de Belo Horizonte criou em 1983 a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, com atribuições relativas à gestão da política ambiental do município, onde estão incluídas as funções de licenciamento, fiscalização, desenvolvimento e educação ambiental, além da administração dos parques, praças e jardins. Em 1985 foi instituído o Conselho Municipal de Meio Ambiente (COMAM), órgão colegiado, com função normativa e deliberativa, composto por representantes de diversos setores da sociedade. Belo Horizonte é uma das capitais mais arborizadas do país, sendo este um dos motivos de ter recebido o título de "Cidade Jardim". São aproximadamente 560 mil árvores na área urbana, número que sobe para dois milhões, quando considerados os parques e áreas de preservação. Ao todo são 27 parques, acrescentando-se cerca de 500 praças e diversas áreas verdes. A capital mineira possui o dobro do recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) de áreas verdes. Apesar disso, o município preserva pouco de sua vegetação original e, como ocorre em toda a região metropolitana, grande parte dos ambientes naturais foram extensamente modificados pelo homem. O desmatamento decorrente da expansão urbana muito colaborou com a destruição da Mata Atlântica de Belo Horizonte, bioma onde a cidade está localizada. Com o desenvolvimento industrial, também houve uma grande piora na qualidade do ar nos últimos anos. A Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) é a que mais emite ozônio no Brasil, segundo pesquisa divulgada pelo IBGE. Enquanto o padrão do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) é de emissão de 160 mg/m³ por ano, a RMBH emite anualmente cerca de 300 mg/m³, ganhando até mesmo de São Paulo, com 279 mg/m³. Clima. O clima de Belo Horizonte é classificado como tropical com estação seca ("Aw", segundo Köppen). A temperatura média anual é de 22 °C; o verão é moderadamente quente, com elevada precipitação, enquanto o inverno é agradável, praticamente sem precipitação. Ao longo do ano, normalmente, a temperatura mínima nos meses mais frios é de 15 °C e a temperatura máxima nos meses mais quentes é de 29 °C, sendo raramente inferiores a 10 °C ou superiores a 32 °C. O efeito da urbanização tem provocado o surgimento de ilhas de calor e alterações na circulação das massas de ar frio, que, durante o inverno, têm sido fortemente bloqueadas pela alta pressão da massa de ar seco, predominante nessa época do ano. A Serra do Curral protege Belo Horizonte dos ventos mais fortes, mesmo assim podem ocorrer episódios de forte ventania, com rajadas próximas aos 100 km/h. As precipitações ocorrem sob a forma de chuva e, em algumas ocasiões, de granizo, podendo serem de forte intensidade e ainda virem acompanhadas de raios e trovoadas. O índice pluviométrico é de cerca de milímetros (mm) anuais, com maior frequência nos meses de outubro a março. Em algumas tardes, especialmente no inverno, a umidade relativa do ar (URA) despenca, podendo ficar abaixo de 30%, bem abaixo dos 60% recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS). Estudos realizados pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) mostram que, em um século, a média desse índice diminuiu 9,56% e a temperatura média da cidade subiu . Segundo dados da estação meteorológica oficial do Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) no município, localizada no bairro Santo Agostinho, desde 1931 a menor temperatura registrada em Belo Horizonte foi de em 1 de junho de 1979, porém o recorde mínimo absoluto desde março de 1910 foi de em 11 de julho daquele ano. A máxima histórica, nesse ponto de medição, atingiu em 22 de outubro de 2015. Contudo, na estação meteorológica automática do INMET situada no "campus" da UFMG da Pampulha, em operação desde outubro de 2006, a temperatura máxima chegou aos em 7 de outubro de 2020. O maior acumulado de precipitação em 24 horas chegou a em 24 de janeiro de 2020, superando os registrados em 14 de fevereiro de 1978. O maior acumulado mensal foi de em janeiro de 2020, batendo o recorde anterior de em janeiro de 1985. O menor índice de URA foi de 10% na tarde de 12 de outubro de 2014. De acordo com o Grupo de Eletricidade Atmosférica do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (ELAT/INPE), o município apresenta uma densidade de descargas de 6,01 raios por km²/ano, estando na 65ª posição a nível estadual e na ª a nível nacional. Demografia. A população do município em 2010, de acordo com o IBGE, era de habitantes, sendo o município mais populoso de Minas Gerais e o sexto do Brasil, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro, Salvador, Fortaleza e, mais recentemente, Brasília, apresentando uma densidade demográfica de e uma taxa de urbanização de 100%. Isso não se deve à área do município, mas à saturação das áreas disponíveis, o que tem incentivado fortemente a verticalização das construções no município e a especulação imobiliária nas cidades da região metropolitana mais próximas da capital, como Nova Lima, Santa Luzia e Contagem, entre outras. Da população total, habitantes eram do sexo masculino (46,88%) e do sexo feminino (53,12%), com uma razão sexual de 88,26. Quanto à faixa etária, pessoas tinham menos de 15 anos (19,07%%), entre 15 e 64 anos (72,26%) e possuíam 65 anos ou mais (8,67%). O processo de conurbação na chamada "Grande BH" vem criando uma metrópole cujo centro está em Belo Horizonte e atinge os municípios de Contagem, Betim, Nova Lima, Ribeirão das Neves, Santa Luzia, Ibirité, Vespasiano e Sabará. A Região Metropolitana de Belo Horizonte (RMBH) foi criada no ano de 1973 e é constituída por 34 municípios, sendo atualmente a terceira maior aglomeração urbana do Brasil, atrás apenas das de São Paulo e Rio de Janeiro; o 62º maior aglomerado urbano do mundo e o sétimo da América Latina (atrás da Cidade do México, São Paulo, Rio de Janeiro, Buenos Aires, Bogotá e Lima). Desenvolvimento humano. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M) do município é considerado alto, de acordo com dados do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD). Segundo dados do relatório de 2010, divulgados em 2013, seu valor era de 0,810, sendo o segundo maior de Minas Gerais, depois de Nova Lima (0,813), e o vigésimo do Brasil. Considerando-se apenas o índice de longevidade, seu valor é de 0,856, o valor do índice de renda é de 0,841 e o de educação é de 0,737. De 2000 a 2010, a proporção de pessoas com renda domiciliar "per capita" de até 140 reais reduziu em 59,3%. Em 2010, 95,6% da população vivia acima da linha de pobreza, 3% encontrava-se entre as linhas de indigência e de pobreza e 1,4% estava abaixo da linha de pobreza. No mesmo ano, o índice de Gini era de 0,60 e os 20% mais ricos eram responsáveis por 65% no rendimento total municipal, valor quase 23 vezes superior à dos 20% mais pobres, que era de 2,85%. Segundo dados do início da década de 1990, Belo Horizonte possuía 132 favelas, que ocupavam uma área de e abrigavam uma população de 346 480 habitantes. O surgimento dessas favelas ocorreu junto com a criação da cidade. Os trabalhadores que foram para Belo Horizonte com objetivo de construir a cidade moravam precariamente em acampamentos, canteiros de obras, favelas, vilas e aglomerados. Os operários que não foram contemplados com lotes, como foram os funcionários públicos e comerciantes daquela época, organizavam-se naqueles terrenos. Composição étnica e fluxos migratórios. Belo Horizonte é uma cidade multirracial, fruto de intensa migração. O seu povoamento foi efetuado de forma gradual principalmente por migrantes atraídos do interior mineiro, além de outras regiões de outros estados e imigrantes oriundos de várias partes da Europa. Vieram brancos, negros e mestiços de diversas origens, o que contribuiu para o equilíbrio entre o número de pessoas brancas, pardas e pretas. Segundo o censo de 2010 do IBGE, em pesquisa de autodeclaração, dos habitantes da cidade, existiam brancos (46,37%), pardos (42,1%), pretos (10,27%), amarelos (1,08%), indígenas (0,17%) e 184 sem declaração (0,01%). No mesmo ano, habitantes eram brasileiros (99,74%), sendo natos (99,66%) e naturalizados brasileiros (0,08%), e eram estrangeiros (0,26%). Em relação à região de nascimento, eram nascidos no Região Sudeste (96,28%), no Nordeste (1,97%), no Centro-Oeste (0,41%), no Sul (0,37%) e no Norte (0,22%). habitantes eram naturais do estado de Minas Gerais (93,74%) e, desse total, eram nascidos em Belo Horizonte (66,72%). Entre os naturais de outras unidades da federação (33,46%), São Paulo era o estado com maior presença, com habitantes residentes (1,15%), seguido pelo Rio de Janeiro, com habitantes (0,79%) e pelo Espírito Santo, com residentes (0,59%). Um estudo genético realizado com pessoas de Belo Horizonte revelou que a ancestralidade dos belo-horizontinos é 66% europeia, 32% africana e apenas 2% indígena. O estudou condiz com o passado de ocupação do estado de Minas Gerais e de sua capital. O estado foi povoado sobretudo no século XVIII, quando houve uma grande imigração portuguesa para a região. Naquele século chegaram ao Brasil aproximadamente seiscentos mil portugueses, a esmagadora maioria deles se fixou na região mineradora. No mesmo período houve um enorme fluxo de escravos de origem africana para as minas, advindos de Angola ou trazidos da Bahia, estes sendo originários de outra região africana, a denominada Costa da Mina. Também houve afluxo de pessoas de outras regiões do Brasil, portanto já miscigenadas entre brancos, negros e índios. Os indígenas de Minas Gerais foram massacrados durante a colonização, e isso explica porque atualmente os belo-horizontinos possuem tão baixa ancestralidade indígena. Houve portanto grande miscigenação entre portugueses e africanos, com o predomínio dos primeiros. Belo Horizonte foi povoada por migrantes oriundos do interior de Minas. O grande afluxo de colonos portugueses no século XVIII formou o grupo mais importante na formação da população mineira, inclusive do belo-horizontino, seguido pela contribuição do escravo africano que foi também bastante grande. No século XIX houve movimentos migratórios de alemães para Minas Gerais, mas sobretudo de italianos, que eram numerosos em Belo Horizonte. O Anuário Estatístico do Brasil de 1908-1912 aponta que a população belo-horizontina em 1900 era de 13 472 pessoas, e em 1912 de 38 822 pessoas, sendo que 34 450 brasileiros e 4 372 estrangeiros (Anuário Estatístico de Minas Gerais 1921, 1925). O recenseamento de 1920 conta 50 703 brasileiros e 4 824 estrangeiros como moradores de Belo Horizonte, a maioria deles italianos. A população de Belo Horizonte é, portanto, bastante miscigenada, havendo um predomínio de ancestralidade europeia (66%), principalmente de antigos colonos portugueses do século XVIII e em menor medida de imigrantes italianos do final do século XIX. Em seguida vem a contribuição africana (33%), sobretudo do século XVIII quando Minas Gerais tinha a maior população escrava de todo o Brasil. Por último uma mínima contribuição indígena (2%), como dos Maxakalí, Krenak, Aranã e Xacriabá, que na região viviam durante o período colonial e foram exterminados, deixando poucos traços para a população de Belo Horizonte. Religião. De acordo com dados do censo de 2010 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a população de Belo Horizonte é composta majoritariamente por católicos (59,87%), evangélicos (25,06%), pessoas sem religião (8,02%) e espíritas (4,07%). Há também testemunhas de Jeová (0,63%), católicos apostólicos brasileiros (0,14%), esotéricos (0,12%), budistas, umbandistas (0,09%), espiritualistas (0,08%), seguidores de novas religiões orientais (0,07%), católicos ortodoxos (0,07%), mórmons (0,07%), candomblecistas (0,06%), judaístas (0,06%), 259 seguidores de tradições indígenas (0,01%), 244 islâmicos (0,01%), 238 hinduístas (0,01%) e 121 pertencentes a outras religiões afro-brasileiras (0,01%). Outros pertenciam a outras religiões cristãs (0,84%), tinham religião não determinada ou com múltiplo pertencimento (0,45%), não souberam e 730 não declararam. A Igreja Católica inclui o território do município de Belo Horizonte e mais 28 municípios na circunscrição eclesiástica da Arquidiocese de Belo Horizonte, que possui como dioceses sufragâneas Divinópolis, Luz, Oliveira e Sete Lagoas. A sé arquiepiscopal está na Catedral da Nossa Senhora da Boa Viagem. Algumas das igrejas belo-horizontinas possuem grande valor artístico, com destaque para a Igreja São Francisco de Assis, na Pampulha. O projeto arquitetônico da igreja é de Oscar Niemeyer e cálculo estrutural de Joaquim Cardoso. Seu interior abriga a Via Sacra, constituída por catorze painéis de Cândido Portinari, considerada uma de suas obras mais significativas. Os painéis externos são de Cândido Portinari (painel figurativo) e de Paulo Werneck (painel abstrato). Os jardins são assinados por Burle Marx. Alfredo Ceschiatti esculpiu os baixos-relevos em bronze do batistério. Outros santuários que merecem ser destacados são a Basílica de Nossa Senhora de Lourdes com seu estilo neogótico, no bairro de Lourdes; a Igreja São José, no hipercentro e a Igreja São Judas Tadeu, no bairro da Graça. A Igreja Católica reconhece como padroeira da cidade Nossa Senhora da Boa Viagem. Política. Governo municipal. O poder executivo do município de Belo Horizonte é representado pelo prefeito e seu gabinete de secretários, em observância ao disposto na Constituição Federal. A Lei Orgânica do Município, promulgada em 21 de março de 1990, determina que a ação administrativa do poder executivo seja organizada segundo os critérios de descentralização, regionalização e participação popular, o que faz com que a cidade seja dividida em nove grandes regiões administrativas, cada uma das secretarias de administração regional funcionando como miniprefeituras e liderada por um secretário nomeado pelo prefeito. O poder legislativo é representado pela câmara municipal, composta por 41 vereadores eleitos para cargos de quatro anos (em observância ao disposto no artigo 29 da Constituição, que disciplina um número mínimo de 33 e máximo de 41 para municípios com mais de um milhão e menos de cinco milhões de habitantes). Cabe à casa elaborar e votar leis fundamentais à administração e ao Executivo. Uma atribuição importante da câmara municipal é votar e aprovar a Lei Orçamentária Anual (LOA) elaborada pelo Executivo seguindo as diretrizes da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) e os objetivos e metas propostos no Plano Plurianual (PPA). Devido ao poder de veto do prefeito, em períodos de conflito entre o Executivo e o Legislativo, o processo de votação deste tipo de lei costuma gerar polêmica. Existem também uma série de "conselhos municipais" em atividade, sendo alguns dos conselhos municipais atualmente em atividade: Pessoas com Deficiência, Idoso, Defesa do Consumidor, Direitos da Mulher, Antidrogas, Saúde Educação, Assistência Social, Meio Ambiente, Juventude, Defesa Social, da Criança e do Adolescente, dentre outros. Governo estadual. O Palácio da Liberdade foi a primeira sede do governo mineiro em Belo Horizonte, que desde 2010 funciona no Palácio Tiradentes, localizado na Cidade Administrativa de Minas Gerais. O poder legislativo mineiro é constituído pela Assembleia Legislativa do Estado de Minas Gerais, que tem sede no Palácio da Inconfidência. A mais alta corte do poder judiciário mineiro é o Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG). Grandes articulações de impacto nacional foram e são realizadas em lugares como o Palácio da Liberdade, o Café Pérola e o Café Nice. Vários prefeitos de Belo Horizonte vieram a se tornar governadores do estado e dois foram presidentes da República, Venceslau Brás Pereira Gomes e Juscelino Kubitschek de Oliveira. Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, prefeito de Belo Horizonte e presidente do estado, à época da República Velha, foi o principal articulador da candidatura à presidência de Getúlio Vargas e da Revolução de 1930. A cidade também é a terra natal da ex-presidente da república, Dilma Rousseff, além de ser uma referência nacional em Orçamento Participativo. Cidades-irmãs. A política das "cidades-irmãs" procura incentivar o intercâmbio entre cidades que têm algo em comum com Belo Horizonte. A troca de informações e o aumento do comércio entre elas são meios de tornar as cidades-irmãs mais próximas. Belo Horizonte possui 16 cidades-irmãs, que são: Subdivisões. O município de Belo Horizonte está dividido em nove administrações regionais, instituídas em 1983 por meio de decreto e atualizadas posteriormente por leis municipais: Barreiro, Centro-Sul, Leste, Nordeste, Noroeste, Norte, Oeste, Pampulha e Venda Nova. A jurisdição das unidades administrativas regionais leva em conta a posição geográfica e a história de ocupação. Entretanto, há certos órgãos e instituições (companhias telefônicas, zonas eleitorais, etc.) que adotam uma divisão diferente da oficial. Cabe às administrações regionais a desconcentração e descentralização administrativas no âmbito de suas respectivas jurisdições, para atendimento ao público e manutenção e execução de obras de pequeno porte, além de outras atividades. Os cargos de direção, assistência e assessoramento da administração regional são providos por atos do prefeito. Cada uma das administração se subdivide em várias unidades menores, os bairros. Ao todo, Belo Horizonte possui um total de 487 bairros, dos quais 25 com seu território inserido em mais de uma regional. A regional Barreiro, a mais meridional do município, é a maior tanto em número de bairros (73) quanto em área, com 53,6 km². No último censo do IBGE em 2010, a regional Noroeste era a mais populosa, com mais de 330 mil habitantes, enquanto Venda Nova apresentava a maior densidade populacional, superior a . Em relação aos bairros, o mais populoso deles era Sagrada Família, com habitantes, seguido por Buritis (), Padre Eustáquio (), Lindeia () e Santa Mônica (). O Centro, inserido na regional Centro-Sul, possuía habitantes. Economia. Belo Horizonte possui o quarto maior Produto Interno Bruto (PIB) dentre as cidades brasileiras, atrás de São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília, respectivamente. Segundo dados do IBGE em 2018, o PIB a preços recorrentes do município era de R$ , ao passo que seu PIB "per capita" era de R$ . O valor do PIB corresponde ainda a cerca de 15% das riquezas produzidas pelo estado de Minas Gerais. No mesmo ano, a pecuária e a agricultura acrescentavam reais na economia belo-horizontina, a indústria reais, o setor de serviços e comércio reais e a administração pública . Um dos maiores centros financeiros do Brasil, Belo Horizonte é caracterizada pela predominância do setor terciário em sua economia, com destaque para o comércio, serviços financeiros, atividades imobiliárias e administração pública. Com um diversificado setor de comércio e de prestação de serviços, as primeiras atividades produtivas que surgiram antecedem a fundação do município. As primeiras atividades industriais surgiram no século XIX em Nova Lima, com a instalação da "Saint John del Rey Mining Co.", em 1834, e da Cia. Mineira de Fiação e Tecidos, em 1879, em Marzagão, distrito de Sabará. Outros empreendimentos surgiram, como um estabelecimento de fiação e tecelagem em 1838, no distrito de Neves Venda Nova; uma fundição de ferro e bronze em 1845, próximo à Lagoa Maria Dias, onde hoje é o cruzamento da avenida Paraná com a Rua Carijós, no centro de Belo Horizonte; uma fundição, no lugar denominado Cardoso, em 1885; e uma pequena manufatura de velas de sebo para fornecimento à Cia. de Morro Velho. Ainda antes da fundação de Belo Horizonte, o Arraial do Curral del-Rei produzia gêneros para o abastecimento da região mineradora, especialmente gado e produtos agrícolas. No início do século XX, a cidade se destacou como centro de comércio de gado e de redistribuição de mercadorias, beneficiada pela localização estratégica como passagem dos caminhos do comércio viajante e pelo posicionamento equidistante dos grandes polos consumidores do país e principais capitais brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro e, a partir de 1960, Brasília. Desde os anos 1970, ocorreu a chegada de grandes empresas multinacionais de bens de capital e a migração de indústrias para a área mineira da SUDENE, devido aos incentivos fiscais. A instalação da Refinaria Gabriel Passos, em 1968, aliada à instalação da FIAT Automóveis, em 1973, a primeira montadora fora do eixo Rio-São Paulo, estabeleceu um grande polo industrial no estado em Betim, na Região Metropolitana de Belo Horizonte. A Fiat hoje lidera a produção e as vendas no mercado do país, tornando-se a mais importante unidade produtora fora da Itália. Sua planta de Betim é a maior produtora de veículos da empresa no mundo. A entrada em operação da montadora de veículos e seu gradativo aumento de produção foi extremamente importante para a consolidação do segmento de bens de capital e de bens de consumo duráveis em Minas Gerais. As décadas de 1980 e 1990 foram marcadas por um longo período de recessão e estagnação econômica. A cidade passou a desenvolver e abrigar um parque industrial baseado nas indústrias não-poluentes e de alta tecnologia, tornando-se um dos mais importantes polos industriais do país, com empresas de ponta nas áreas de confecção, calçados, informática, alimentação, aparelhos elétricos e eletrônicos, perfumaria e turismo de negócios com estruturas produtivas leves, ampla terceirização de atividades e grandes investimentos em marketing e publicidade. Sua região metropolitana teve o PIB calculado em R$ 172,168 bilhões em 2015, o que corresponde a 33,15% de todo o PIB mineiro e 2,87 do Brasil. Segundo dados do IBGE, a rede urbana de influência exercida pela cidade no resto do país abrange 9,1% da população e 7,5% do PIB brasileiro. A influência é percebida em 698 cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e de Minas Gerais. Belo Horizonte também está entre os sete municípios com a melhor infraestrutura do país, porém foi a segunda cidade que mais perdeu postos de trabalho com carteira assinada de janeiro a abril de 2015, em decorrência da crise econômica de 2014 no Brasil. De 2013 a 2017, a diferença entre vagas de emprego abertas e fechadas foi de um saldo negativo de 120,9 mil vagas. Apesar do saldo positivo de 29,3 mil vagas em 2018 e 22,7 mil em 2019, os impactos econômicos da pandemia de COVID-19 tornaram a aumentar o desemprego em 2020. Neste ano, foram postos de trabalho suprimidos, a quinta maior quantidade do país. Em 2018, salários juntamente com outras remunerações somavam reais e o salário médio mensal de todo município era de 3,6 salários mínimos. Havia unidades locais e empresas atuantes. Segundo o censo do IBGE de 2010, 37,16% das residências sobreviviam com menos de um salário mínimo mensal por morador ( domicílios), 35,5% sobreviviam com entre um e três salários mínimos para cada pessoa ( domicílios), 10,58% recebiam entre três e cinco salários ( domicílios), 14,18% tinham rendimento mensal acima de cinco salários mínimos ( domicílios) e 2,58% não tinham rendimento ( domicílios). Turismo. Contando com uma desenvolvida rede de hotéis, Belo Horizonte é um dos principais polos de turismo de negócios do país, sediando importantes eventos nacionais e internacionais como o III Encontro das Américas em 1997, o 26° Encontro Econômico Brasil-Alemanha em 1999, a 47ª Reunião Anual do BID em 2006 e a Ecolatina em 2007. É também o "portão de entrada" para cidades históricas mineiras como Ouro Preto, Mariana, Sabará, Caeté, Santa Luzia, Congonhas, Diamantina, São João del-Rei e Tiradentes. Outro fator importante deve-se à presença de um setor de serviços bastante significativo e com infraestrutura capaz de atender aos seus habitantes e aos visitantes. A rede hoteleira tem observado um crescimento considerável. Operam em Belo Horizonte cerca de 150 estabelecimentos, incluindo grandes redes internacionais, como o Grupo Accor. O município tem se destacado por sua capacidade de desenvolver duas modalidades de turismo: o turismo de eventos e o turismo cultural. Essa delineação do desenvolvimento do setor terciário da economia com o incremento do setor turístico integra a política de estímulo desse setor, que ganha reforços também no sucesso que a cidade vem experimentando na área artística-cultural. A cidade tem realizado congressos, convenções, feiras, eventos técnico-científicos e exposições, causando uma grande movimentação na economia, aumentando os níveis de ocupação da rede hoteleira e do consumo dos serviços de bares, restaurantes e transportes. Muito do sucesso alcançado pela capital deve-se ao "Belo Horizonte Convention & Visitors Bureau", organização cooperativa de marketing com finalidade de captar congressos, feiras, convenções e eventos nacionais para Belo Horizonte e atrair grupos organizadores de turistas para a capital. A utilização desse potencial, porém, tem esbarrado nas deficiências na malha viária. A malha rodoviária que liga Belo Horizonte às cidades do estado de Minas Gerais e aos demais estados já foi classificada como uma das piores do país quanto ao seu estado de conservação, segundo o SGP/DNER. Infraestrutura. Saúde. Belo Horizonte dispõe de um total de 36 hospitais, sendo um municipal, dois federais, sete estaduais e o restante filantrópicos e privados. Há cerca de 5 500 leitos na capital (3,2 leitos por mil habitante) e a rede conta com 141 postos de saúde, 150 deambulatórios e 507 equipes do Programa Saúde da Família (PSF), que dão cobertura a 76% da população da capital. Ainda assim, a qualidade do atendimento é precária, com filas e grande espera por especialistas médicos, além da frequente falta de medicamentos básicos nos postos de saúde e sobrecarga de demanda, o que torna o sistema cada vez mais precário. As urgências médicas do município, chamadas de unidades de pronto atendimento (UPAs) e os prontos atendimentos conveniados e do Sistema Único de Saúde (SUS) também sofrem com a falta crônica de médicos, filas intermináveis e falta de estrutura geral de atendimento. Há ainda 26 ambulâncias do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (SAMU), sendo 22 básicas, quatro avançadas e uma com equipe especializada em atendimento à saúde mental. Há cerca de 15 mil profissionais de saúde em Belo Horizonte, dos quais 2.500 são agentes comunitários de saúde, e 1 200 fazem o serviço de controle de endemias, como a dengue. Toda essa estrutura custou aos cofres municipais R$ 158,46 por habitante, com um repasse de recursos pelo SUS para o sistema municipal de saúde no valor de R$ 276,66 por habitante, em 2007. A despesa total com saúde no município foi de R$ 415,53 por habitante e os gastos totais em valores absolutos (recursos próprios mais transferências do SUS) alcançaram R$ 1 002 636 625,58, em 2007. Ainda em 2007, o município aplicou 18,8% de seu orçamento em saúde. Educação, ciência e tecnologia. O fator "educação" do IDH no município atingiu em 2000 a marca de 0,929 – patamar consideravelmente elevado, em conformidade aos padrões do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) – ao passo que a taxa de analfabetismo indicada pelo último censo demográfico do IBGE foi de 4,6%, superior apenas à porcentagem verificada nas cidades de Curitiba, Porto Alegre, Florianópolis, Rio de Janeiro e Vitória. Nota-se que o analfabetismo vem se reduzindo nos últimos 30 anos, tanto no município como no país (no Brasil, a taxa de analfabetismo é de 13,6%). Os maiores índices de analfabetismo na capital encontram-se nas faixas etárias que vão de 45 a 59 anos (7,0%) e de 60 anos ou mais (14,9%). Entre a população de 10 aos 19 anos de idade, a taxa de analfabetismo é de 1,5%, situando Belo Horizonte entre as cinco capitais brasileiras com menor número de analfabetos também nesta faixa etária. Em algumas regiões periféricas e empobrecidas, o aparato educacional público de nível médio e fundamental é deficitário, dada a escassez relativa de escolas ou recursos. Nesses locais, a violência manifestada em assaltos, brigas e vandalismo costuma impor certas barreiras ao aproveitamento escolar, constituindo-se em uma das causas preponderantes da evasão ou do aprendizado carencial. De acordo com dados do Portal QEdu, o município obteve uma nota média de 5.1 no IDEB 2021 (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica) para os anos finais do ensino fundamental. A nota é menor do que a média estipulada, que era de 5.6. Já nos anos iniciais, a cidade apresentou a nota média de 5.9, também abaixo da meta, que é de 6.6. A nota média da cidade para anos finais ficou dentro da meta nacional (5.1), enquanto a média para os anos iniciais ficou acima da meta nacional (5.8). Belo Horizonte conta também com 55 instituições de ensino superior que oferecem uma diversidade de cursos/habilitações. Destacam-se importantes universidades públicas e privadas, muitas delas consideradas centros de referência em determinadas áreas. As instituições públicas de ensino superior sediadas em Belo Horizonte são: a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), o Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG), a Escola de Governo da Fundação João Pinheiro, a Universidade do Estado de Minas Gerais (UEMG) e o Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG), embora o último só tenha sua reitoria localizada em Belo Horizonte e não ministre aulas na capital mineira. Entre as instituições privadas, destacam-se a Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas) e a Fundação Dom Cabral. Várias instâncias oficiais que se dedicam ao fomento do setor da tecnologia e da ciência também estão sediadas na cidade, como o Instituto de Pesquisas Econômicas, Administrativas e Contábeis de Minas Gerais (IPEAD), que realiza pesquisas aplicadas, serviços de consultoria, assessoria e treinamento especializado relacionados com as ciências econômicas, administrativas, contábeis, demografia e afins; a Fundação João Pinheiro (FJP), instituição pública estadual criada em 1969, realiza projetos de pesquisa aplicada, consultorias, desenvolvimento de recursos humanos e ações de apoio técnico ao governo do estado, sendo referência nacional nas áreas de estatísticas e informações, pesquisas históricas, econômicas e demográficas, desenvolvimento humano, segurança e criminalidade, desenvolvimento urbano, ensino e pesquisa em administração e administração pública; a Fundação Ezequiel Dias (FUNED), que é referência nacional na produção de medicamentos e soros, na pesquisa em saúde pública e nas ações de vigilância sanitária, epidemiológica e ambiental. Ainda há outras várias que atuam em diversas áreas englobadas dentro do campo científico e tecnológico, como o Centro de Pesquisas René Rachou (CPqRR), o Centro Tecnológico de Minas Gerais (CETEC) e a Fundação Zoobotânica de Belo Horizonte. Também as universidades locais têm grande empenho na área. A Fundação Christiano Ottoni (FCO) tem por finalidade promover, técnica e financeiramente, os programas acadêmicos de ensino, pesquisa e extensão da UFMG, em especial da Escola de Engenharia. O Centro de Pesquisa Professor Manuel Teixeira da Costa (CPMTC-IGC-UFMG) é um órgão complementar do Instituto de Geociências da UFMG, que apoia e promove a realização de diversos projetos de pesquisa, cursos de pós-graduação e graduação, e prestação de serviços em Geologia e áreas afins das Geociências. Segurança e criminalidade. Belo Horizonte é a quinta capital estadual mais violenta do país, segundo o estudo "Mapa da Violência dos municípios brasileiros", publicado pela "Rede de Informação Tecnológica Latino Americana" (RITLA), com base nos dados do Ministério da Saúde de 2008. Em 2006, entre as grandes cidades e capitais brasileiras, Belo Horizonte possuía o quinto maior número absoluto de homicídios (1 168), somente atrás de São Paulo (2 546), Rio de Janeiro (2 273), Recife (1 375) e Salvador (1 176). A cidade registrou, em 2006, 49,2 casos de homicídios para cada grupo de 100 mil habitantes, índice acima do verificado em cidades como São Paulo (23,7), Rio de Janeiro (37,7), Goiânia (36,4), Porto Alegre (36,3), Fortaleza (35,4) ou Brasília (32,1). A cidade também está entre os locais com mais mortes no trânsito. Em 2006, Belo Horizonte foi a segunda no número de óbitos por acidentes de transporte, com 704 mortos, atrás somente de São Paulo, com 1.593. Segundo o Centro de Estudos de Criminalidade e Segurança Pública (Crisp) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), entidade acadêmica parceira do governo na elaboração de políticas públicas de segurança, os homicídios na cidade têm alta concentração justamente em seis aglomerados pobres controlados por traficantes: a Pedreira Prado Lopes, as favelas do Cafezal, Morro das Pedras, Morro do Papagaio, Taquaril e Cabana Pai Tomás. Do total de homicídios ocorridos em Belo Horizonte entre janeiro e dezembro de 2002, 36% aconteceram nessas áreas que, somadas, totalizam 310 mil pessoas, 14% da população e apenas 4,3% da área da cidade. Em 2003, seis em cada dez assassinatos foram derivados do uso e tráfico de drogas. Estima-se que 90% dos menores internados em centros de recuperação de infratores têm algum envolvimento com drogas. Outra pesquisa em 50 escolas estaduais, municipais e particulares de Belo Horizonte, realizada pelo Crisp, revelou que 51,9% dos alunos já viram ou ouviram falar de consumo de drogas dentro de suas escolas. Apesar dos altos níveis de violência verificados em meados dessa década, tem-se verificado uma queda nesses índices, como o de homicídio. Pode-se atribuir essa queda ao aumento do investimento público em segurança pública e prevenção de crimes, com a melhoria na estruturação e entrosamento das polícias, decorrente da metodologia de integração. Por meio dessa nova metodologia, foi criado o "Risp", Região Integrada de Segurança Pública, uma unidade estratégica integrada pela Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros que articula a atuação dos órgãos de defesa social num mesmo espaço físico, compartilhando informações e planejando conjuntamente as ações de combate à criminalidade, respeitadas as funções de cada uma das corporações. Em dezembro de 2003, foi criada a Guarda Municipal de Belo Horizonte, que tem entre suas atribuições a proteção de órgãos, entidades e patrimônio da cidade, além da atuação na fiscalização, controle e orientação do trânsito. Subordinada a uma das secretarias de governo municipais, é limitada por lei a 3 000 homens. Apesar de serem autorizados a portar armas de fogo, a Guarda ainda não as utiliza em sua atividades. disso, a implantação de programas de prevenção à criminalidade como o "Fica Vivo!" nos aglomerados populacionais mais violentos da cidade e do Disque-Denúncia unificado contribuem para a diminuição dos índices de criminalidade. Estudos indicam que os índices de criminalidade são fortemente determinados pela desigualdade de renda e a coesão social em ambientes sociais marcados por altas taxas de imigração, urbanização e grandes populações. Serviços e comunicação. O abastecimento de água é feito pela Companhia de Saneamento de Minas Gerais (COPASA) e o fornecimento de energia elétrica é feito pela Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG). A voltagem da rede é de 110v. Em Belo Horizonte está situada a maior estação de tratamento de esgoto da América Latina. Inaugurada em 7 de junho de 2006, a Estação de Tratamento de Esgotos (ETE) da bacia do Ribeirão do Onça possui capacidade de tratar cerca de 155 milhões de litros de esgotos/dia gerados em grande parte de BH e região metropolitana, sendo que sua eficiência é de 70% de remoção da carga poluidora. Ocupa uma área total de 653 mil metros quadrados, dos quais 243 mil são de área construída. Com a inauguração desta ETE, a COPASA passou a ter condições de tratar 100% dos esgotos coletados em Belo Horizonte. O lixo gerado na cidade é jogado a poucos metros do leito do Rio das Velhas, no Aterro de Sabará. Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL) de janeiro de 2011 mostraram que Belo Horizonte possuía cerca de 650 mil telefones fixos (referentes apenas às concessionárias da Telemar) e orelhões. O índice por área de discagem direta a distância (DDD) é de 031. Há acesso à internet em boa parte da cidade. Até o final de 2012 a prefeitura espera consolidar BH como a primeira capital a ter 100% de sua extensão coberta pela rede "wireless" (internet sem fio), com 50 pontos de "Hotspot". Belo Horizonte conta ainda com diversos jornais, destacando-se o Estado de Minas e o Super Notícia. Este último citado estava entre os dez de maior circulação no país, segundo dados do Instituto Verificador de Circulação. Em BH está situada a sede da Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, órgão oficial dos poderes do estado que publica formulários, documentos técnicos e impressos em geral para os órgãos e entidades do governo de Minas e para terceiros, bem como edições de natureza cultural. Também há algumasrádios, de acordo com a Associação Mineira de Rádio e TV e a Telecomunicações de Minas Gerais S.A, como a Rádio Itatiaia, a Rádio América, a Grande BH, a Globo AM, a Guarani FM a Inconfidência, a Antena 1, a 98 FM e muitas outras.<ref name="BH.com_Rádio/TV"></ref> Belo Horizonte possui também diversas emissoras de televisão sediadas da própria cidade, como a TV Globo Minas, a TV Bandeirantes Minas, a TV Record Minas, a Rede Minas, a Rede Super, a TV Alterosa Belo Horizonte e a TV Horizonte. Transporte. O setor dos transportes é administrado pela Empresa de Transportes e Trânsito de Belo Horizonte (BHTRANS). O Sistema de Transporte Coletivo de ônibus transporta diariamente cerca de 1,4 milhão de passageiros e abrange aproximadamente 300 linhas exploradas por 50 empresas, que operam uma frota de 2 874 mil veículos com idade média de 5 anos e 8 meses. Desde 1995 vem sendo implantado o BHBus (Plano de Reestruturação do Sistema de Transporte Coletivo de Belo Horizonte), que busca aprimorar o sistema de ônibus no sentido de criar uma rede de transporte integrada (metrô e ônibus municipais e intermunicipais), que se divide em dois subsistemas: "Tronco-alimentado" e "Interbairros". O sistema de táxis é considerado o melhor da América Latina e serve de referência para outros estados brasileiros. Possui uma frota de 6 015 táxis padronizados na cor branca, operada por cerca de 12 mil taxistas. Para ligações intermunicipais, Belo Horizonte ainda conta com o Terminal Rodoviário Governador Israel Pinheiro, inaugurado em 9 de março de 1971, além da Estação Ferroviária Central de Belo Horizonte, que fornece passagens de trem até Vitória, no Espírito Santo, através da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM). Já o Metrô de Belo Horizonte é operado pela Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU) e possui atualmente 19 estações e 28,2 km de extensão, transportando atualmente 203 mil usuários/dia. A operação comercial do Metrô de Belo Horizonte teve início em 1 de agosto de 1986. No dia 7 de novembro de 2005 foram concluídas as obras da Linha 1 do metrô da cidade. Em 17 de setembro de 2011, a presidente da república, Dilma Rousseff, liberou as verbas para extensão até Novo Eldorado, modernização da Linha 1, efetivação de parte das linhas 2 (do Barreiro ao Calafate) e 3 (da Lagoinha a Savassi), além do Projeto Executivo da expansão até Betim. O transporte coletivo de passageiros em vans ou "peruas" é proibido em Belo Horizonte. Desde 5 de julho de 2001, a Prefeitura tem o aval da Justiça para barrar os veículos que praticam o transporte não regulamentado de passageiros na capital mineira, que chegou a ter três mil perueiros nas ruas em 2001. Atualmente, estima-se que há apenas 3% de clandestinos circulando de madrugada e nos fins de semana, nas horas em que a fiscalização não atua e, geralmente, em carros de passeio. Em 2009, a frota de veículos atingiu a marca de quase 1,1 milhão de carros. Diariamente, o Detran de Minas Gerais tem emplacado cerca de 500 veículos novos. A frota de carros tem crescido a taxas que variam de 4 a 7% ao ano desde 1999 e esse crescimento só perde para o número de motos na cidade, que registra um crescimento médio de 11,5% ao ano. Proporcionalmente, Belo Horizonte tem uma das maiores proporções de veículo por habitante do país: 1 veículo para cada grupo de 2,4 habitantes (em São Paulo, estima-se um veículo por 1,78 habitante; Brasília tem 1 veículo por 2,4 habitantes e o Rio de Janeiro 1 veículo por 2,9 habitantes). Enquanto os ônibus costumam andar lotados com até cem passageiros, os carros costumam circular vazios. Na cidade, a taxa média de ocupação é de 1,4 pessoa por carro, causando congestionamentos de filas de automóveis ocupados somente pelo motorista. A BHTrans não mede congestionamentos como em São Paulo, mas um reflexo da saturação da frota pode ser indicado pela velocidade média de tráfego dos ônibus, que, por causa do excesso de carros, no horário de pico é de 18 km/h no hipercentro, chegando a 8 km/h em determinados locais. A utilização de bicicletas como meio de transporte também é bastante reduzida. Em BH, de acordo pesquisa da BHTrans de 2001, são realizados cerca de 4,1 milhões de viagens/dia, 28% das quais nos modos a pé ou de bicicleta. A Região Metropolitana de Belo Horizonte possui três aeroportos. O Aeroporto de Confins (Aeroporto Internacional Tancredo Neves), construído na década de 1980, é um dos mais modernos do Brasil e capaz de receber cinco milhões de passageiros por ano com conforto e comodidade. Com a conclusão da Linha Verde, a previsão é de que o trajeto do centro de Belo Horizonte até Confins seja efetuado em 35 minutos. O Aeroporto Industrial de Confins opera desde agosto de 2006, com a produção voltada para a exportação. O Aeroporto da Pampulha (Aeroporto Carlos Drummond de Andrade), instalado em uma área de dois milhões de m² na região da Pampulha, localiza-se distante oito quilômetros do centro da cidade. Opera voos regionais para o interior do estado e dos estados limítrofes. Há também o Aeroporto Carlos Prates, que é mais vocacionado para a aviação desportiva, aviação geral de pequeno porte e a helicópteros, além de ser um polo formador de profissionais da aviação. Cultura. A responsável pelo setor cultural de Belo Horizonte é a Fundação Municipal de Cultura (FMC), criada pela Lei n.º 9 011, de 1 de janeiro de 2005, que tem como objetivo planejar e executar a política cultural do município por meio da elaboração de programas, projetos e atividades que visem ao desenvolvimento cultural. Está vinculada ao Gabinete do Prefeito, integra a Administração Pública Indireta do Município e possui autonomia administrativa e financeira, assegurada, especialmente, por dotações orçamentárias, patrimônio próprio, aplicação de suas receitas e assinatura de contratos e convênios com outras instituições. Atualmente, a FMC é composta por 29 unidades culturais, sendo 17 centros culturais, cinco instituições de acervo, memória e referência cultural, cinco bibliotecas e dois teatros municipais. Cinema. A partir da chegada da primeira companhia cinematográfica a Belo Horizonte, em 1905, a "Companhia Barrucci", o contato do público com o cinematógrafo tornou-se mais constante. Pouco tempo mais tarde, o cinematógrafo deixou de ser exibido nos espaços privados, domésticos, para ser exibido no teatro, naquelas circunstâncias, no teatro Soucasseaux, o maior teatro belo-horizontino da época. E, com a instalação do primeiro cinematógrafo permanente da capital, em 1906, a sede do Teatro Paris tornou-se um espaço efetivo de exibição de cinema. Mais tarde, em 1912, o Teatro Paris assumiria o nome de Cine Odeon, importante referência para a vida cinematográfica da cidade, sobre do qual o poeta Carlos Drummond de Andrade lamenta o fechamento no poema "O Fim das Coisas", de 1928. A partir da década de 1920, cidade e cinema passaram a desenvolver uma relação mais complexa, com mais influências na vida cultural local. Apenas na década de 1970 é que ocorreu o início do processo de sucateamento de salas que passam a exibir filmes de qualidade duvidosa em nome do exercício de custos mais baixos. Ao longo das décadas de 1980 e 1990, a decadência das grandes salas de cinema em Belo Horizonte atinge patamar semelhante ao de outras capitais do Brasil. Várias grandes salas foram todas fechadas e, se não demolidas, deram lugar a outros prédios e construções. A grande parcela das salas de cinema passa a situar-se nos shopping centers. Atualmente Belo Horizonte ainda conta com diversas salas de cinema em várias partes da cidade, especialmente no interior de grandes shoppings. Dos antigos cinemas de rua, poucos ainda operam com a mesma função. Os poucos filmes produzidos na cidade são, muitas vezes, curtas-metragens produzidos, por vezes, por produtoras e gravadoras da própria cidade. São comuns filmes que expressam cenas do dia-a-dia, o chamado cinema popular. Música. Muitos artistas reconhecidos no país e no exterior surgiram em Belo Horizonte. O Clube da Esquina é um movimento musical originado em meados da década de 1960 e desde então seus membros influenciam a cultura da cidade e do estado, tendo artistas importantes no cenário regional ou nacional, como Tavinho Moura, Wagner Tiso, Milton Nascimento, Lô Borges, Beto Guedes, Flávio Venturini, Toninho Horta, Márcio Borges, Fernando Brant e o 14 Bis. Outros artistas importantes surgidos no cenário da cidade são Paulinho Pedra Azul, Vander Lee, Skank, Pato Fu (selecionada pela revista "Time" como uma das 10 melhores bandas do mundo), Sepultura, Jota Quest, Tianastácia, a dupla César Menotti e Fabiano e os corais Ars Nova e Madrigal Renascentista. Há também os que apostam em criatividade, como o grupo Uakti. Eles criam seus próprios instrumentos musicais usando materiais como PVC, madeira, metais e vidro. Seu nome é baseado num mito dos índios Tukano e reflete o sentimento indígena presente em seus trabalhos. A cidade ainda sedia anualmente grandes festivais populares que levam milhares de pessoas ao Mineirão como o Axé Brasil, de música baiana, e o Pop Rock Brasil, de música pop. Belo Horizonte também tem se consagrado como um dos grandes polos da música eletrônica mundial, realizando diversos festivais do gênero com bandas e DJs de renome internacional atraindo turistas de todas as partes do país. Destaque para o Festival Creamfields Brasil sediado na cidade e realizado em 12 países além do Brasil. Ainda na música eletrônica destaca-se o funk, que está presente em Belo Horizonte desde a década de 1970, mas só começou a popularizar-se na década de 90. Hoje está presente no circuito cultural formal, em grandes danceterias, nas rádios, ou ainda em bailes promovidos nas comunidades mais carentes, especialmente nas quadras de escolas. Na música erudita, desde a década de 1940 há grupos de pessoas que cantavam e promoviam eventos orquestrais. Atualmente, o erudito vem sendo divulgado em parques e teatros com repertórios cada vez mais prestigiados pela população. Na cidade destaca-se as apresentações da Orquestra Sinfônica de Minas Gerais (OSMG), criada em 1976. Esta foi, até 21 de fevereiro de 2008 (quando da criação da nova Orquestra Filarmônica de Minas Gerais), a orquestra oficial do estado de Minas Gerais. Literatura. Desde as suas primeiras décadas, a cidade já demonstrava sua vocação cultural na área da literatura. Jovens idealistas e poetas, na década de 1920, incorporavam-se à Rua da Bahia, a principal via da cidade na época. Foi na década de 1920 que surgiu em Belo Horizonte a geração de escritores de raro brilho que iria se destacar no cenário nacional, dentre eles Carlos Drummond de Andrade, Ciro dos Anjos, Pedro Nava, Alberto Campos, Emílio Moura, João Alphonsus, Milton Campos, Belmiro Braga e Abgar Renault, que se encontravam no Bar do Ponto, na Confeitaria Estrela ou no Trianon para produzir os textos que revolucionaram a literatura brasileira. Em 1925, Carlos Drummond de Andrade e seus companheiros lançaram "A Revista" que, apesar da vida breve, foi importante veículo de afirmação do modernismo em Minas. Ao longo dos anos sucederam-se muitos outros intelectuais e poetas como Fernando Sabino, Hélio Pellegrino, Otto Lara Resende, Ziraldo e Paulo Mendes Campos. Hoje, na área literária, destaca-se também a realização anual do Concurso Nacional de Literatura Prêmio Cidade de Belo Horizonte, que foi instituído pelo Decreto nº 204 de 1947, e é promovido pelo Município de Belo Horizonte e coordenado pela Fundação Municipal de Cultura, tendo como finalidade distinguir obras inéditas, em Língua Portuguesa, de autores brasileiros natos ou naturalizados em três categorias (Ensaio, Poesia e Autor Estreante e Dramaturgia). Teatro. No teatro, os grandes expoentes são o Grupo Galpão, o Grupo Oficcina Multimédia, um grupo de pesquisa das múltiplas linguagens artísticas na encenação teatral, sendo considerado um dos mais antigos da cidade ainda em atividade, o Giramundo Teatro de Bonecos, que é um importante grupo especializado em teatro de bonecos. Eles mantêm um museu de bonecos que criaram desde a sua fundação em 1970, tendo lançado seu primeiro álbum completo em 1981 e 11 trabalhos desde então. Há muitos grupos artísticos brasileiros notáveis que têm sua origem em Belo Horizonte, como o Grupo Primeiro Ato e o Grupo Corpo, que é talvez o mais famoso grupo de dança contemporânea do país; foi criado na cidade em 1975, excursionando e sendo aclamado por plateias em todo o mundo. Grandes atores da televisão e do teatro são oriundos de Belo Horizonte, como Débora Falabella, Ísis Valverde e Gustavo Winter. Já se tornou uma tradição na cidade a realização de encontros, mostras e festivais artísticos. Anualmente, são realizados o Festival Internacional de Teatro, Palco e Rua (FIT-BH), o Festival Internacional de Teatro de Bonecos, o Festival Internacional de Dança (FID), o Festival Internacional de Corais (FIC), o Festival de Arte Negra (FAN), o Festival Internacional de Curtas e a Mostra de Cinema Mundial - Indie Brasil. Bienalmente, são realizados o Encontro Mundial de Artes Cênicas (ECUM), o Encontro Internacional de Literaturas em Língua Portuguesa, o Festival Mundial de Circo do Brasil (FMCB) e o Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ). Além desses, o Verão Arte Contemporânea e a Campanha de Popularização do Teatro e da Dança acontecem nos meses de janeiro e fevereiro, quando dezenas de peças teatrais são oferecidas a preços populares à população, levando um grande número de pessoas aos teatros da capital mineira. Tradições e folclore. Na área folclórica de Belo Horizonte destaca-se a realização de exposições e eventos abertos ao público. Vários grupos, como o "Grupo Aruanda", conhecido internacionalmente como "Voluntários da Cultura", fazem trabalhos árduos de pesquisa, preservação e divulgação do folclore nacional. São mais de 100 danças pesquisadas em todas as regiões do país e mais de 3 000 espetáculos realizados no Brasil e no exterior pelo Aruanda, o que qualifica o grupo como referência nacional em manifestações populares. Em várias dessas apresentações pelo Brasil e pelo mundo, são divulgadas as belezas da capital mineira. Durante períodos festivos também há diversas atividades e eventos realizados, como as apresentações do Carnaval de Belo Horizonte, quando são realizadas diversas oficinas, concursos de fantasias, desfiles e outras atividades. Também há apresentações especiais nos teatros da cidade dedicadas às crianças no mês de outubro. São realizadas exibições de vídeos, oficinas, exposições, circo e teatro que compõem a programação especial dedicada exclusivamente a elas, em comemoração ao dia 12 de outubro. Há, em novembro, o Festival de Arte Negra (FAN), promovido pela prefeitura de Belo Horizonte por meio da Fundação Municipal de Cultura. O projeto integra um conjunto de ações no plano das políticas públicas com o fim de discutir, combater e superar os problemas que historicamente excluem a população negra de Belo Horizonte e de todo o país da pauta básica de direitos conferidos pela condição de cidadania, reunindo ainda artistas, grupos e estudiosos brasileiros e de outros países da diáspora negra. Outra comemoração de destaque é a do aniversário de Belo Horizonte, que, mesmo sendo em 12 de dezembro, conta com eventos durante vários dias. Para além das festividades, a tradição popular oral também está presente na capital mineira. As lendas urbanas fazem parte da história de Belo Horizonte desde antes da própria inauguração da cidade. Um exemplo é a Maria “Papuda”, também conhecida como Fantasma do Palácio da Liberdade, que assombrava os governadores que habitavam a construção, desde o início do século XX. Outra lenda mais recente, da década de 1980, é o Capeta da Vilarinho, um homem desconhecido e misterioso, que ao ganhar um concurso de dança e tirar seu chapéu, exibira seus chifres, assustando a população local. Há também outros fantasmas que assombram a cidade, a exemplo da Loira do Bonfim, do Fantasma do Bairro Serra, do Avantesma da Lagoinha e da Moça-fantasma da Savassi. Artes visuais. A Escola Guignard, dirigida pelo artista Alberto da Veiga Guignard, formou artistas importantes no circuito mineiro, nacional e internacional das artes plásticas. Destacam-se Amílcar de Castro, Farnese de Andrade, Leda Gontijo, Franz Weissmann, Mary Vieira, Maria Helena Andrés, Mário Silésio, Yara Tupynambá e Inimá de Paula. Hoje a cidade possui grande quantidade de museus e galerias de arte, que exibem uma parte da história da arte moderna brasileira. Destacam-se o Museu de Arte da Pampulha, que é integrante do Conjunto Arquitetônico da Pampulha e enfoca tendências artísticas variadas em mostras, pesquisa e conceituação, sendo seu acervo composto por obras da arte contemporânea brasileira; o Museu Histórico Abílio Barreto, cujo acervo é um conjunto de itens que constitui um texto múltiplo e revelador dos vários sentidos e trajetórias da cidade, expondo documentos textuais, iconográficos, bidimensionais e tridimensionais referentes às origens, formação e desenvolvimento de Belo Horizonte; e o Museu de Artes e Ofícios, que é o primeiro empreendimento museológico brasileiro dedicado integralmente ao tema do trabalho, das artes e ofícios no país. No Museu de Arte da Pampulha ainda destaca-se a realização do Salão Nacional de Arte de Belo Horizonte, que é um evento voltado para artistas emergentes ou em início de carreira. A intenção do projeto é criar maior engajamento do Museu com a produção emergente, propiciando, por sua vez, o contato do artista jovem com um amplo leque de leituras sobre sua obra. O processo de seleção, de âmbito nacional, resulta na escolha de dez artistas entre os inscritos para receber uma bolsa mensal durante um ano. Belo Horizonte conta com uma instituição onde é lecionado o curso de artes visuais. A Escola de Belas-Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (EBA-MG), instituição da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), foi criada em 5 de abril de 1957, inicialmente sob a forma de curso de arte na Escola de Arquitetura. Foi transformada em escola e aprovada pelo Decreto-Lei nº. 62 317 de 28 de fevereiro de 1968, quando passou a constituir uma unidade do sistema básico da UFMG. Arquitetura e patrimônio histórico. Belo Horizonte foi uma das primeiras cidades planejadas do Brasil. A cidade começou a se desenhar a partir do século XX com um projeto mais modernizado para a nova capital de Minas. O objetivo inicial era fazer um modelo contemporâneo e eclético que, ao mesmo tempo, tivesse toques dos estilos neoclássicos, neorromânicos e neogóticos. O período de instalação e consolidação da Cidade de Belo Horizonte ocorreu entre 1894 e 1930. Enquanto a então capital da república, Rio de Janeiro, era colocada abaixo para a reestruturação de seu centro urbano, Belo Horizonte já nascia transpirando contemporaneidade e ecletismo. Aos elementos da arquitetura greco-romana foram incorporados modismos que caracterizaram a década de 20, como o primado geométrico do Art déco. A influência da "Belle Époque", ocorrida na França naquela época, também pode ser percebida nos inúmeros espaços públicos e praças. Arquitetos franceses, mestres de obras e operários italianos representam boa parte da mão de obra que construiu a cidade. Na década de 1930, começaria o processo de verticalização em Belo Horizonte, quando surgiram as primeiras firmas de concreto. A partir de 1935, em virtude das profundas mudanças vividas pelo Brasil, inclusive na política industrial, a cidade passou por um processo acelerado de desenvolvimento urbano. Nesta época, as construções que sempre acompanhavam a Avenida do Contorno se tornaram mais dispersas do plano original. Naquele período, o arquiteto italiano Raffaello Berti teve fundamental influência na arquitetura da cidade. Mesmo não podendo assinar seus projetos, por causa da legislação que negava a autoria a profissionais estrangeiros, atribuem-se a ele obras arquitetônicas como o edifício da Prefeitura, a sede do Minas Tênis Clube e a Santa Casa de Misericórdia. No início da década de 1940, o então Prefeito Juscelino Kubitschek trouxe a Belo Horizonte o urbanista francês Agache com objetivo de urbanizar a região da Pampulha, com sua lagoa artificial. A confecção do conjunto arquitetônico contou com a participação do arquiteto Oscar Niemeyer, do paisagista Burle Marx, do pintor Cândido Portinari e dos escultores Alfredo Ceschiatti, August Zamoyski e José Pedrosa. Hoje a Pampulha é considerada um marco da arquitetura moderna. Niemeyer e Belo Horizonte conseguiram projeção internacional a partir da construção do Conjunto Arquitetônico da Pampulha. Atualmente, algumas das várias construções que melhor representam a arquitetura urbana de Belo Horizonte estão no Savassi, que engloba a Praça da Liberdade, um grande "shopping" (o Pátio Savassi), parte da Avenida do Contorno e o início da Avenida Nossa Senhora do Carmo. Também há o Edifício Acaiaca, construído em Art Deco; a Catedral da Boa Viagem, feita em estilo neogótico, abriga vitrais de grande beleza e seu altar-mor é todo trabalhado em mármore de carrara; o Viaduto de Santa Teresa, que foi uma das primeiras construções do Brasil a utilizar concreto armado; e a Torre Piemonte, que é a mais alta do Brasil com acesso ao público, possuindo 101 metros de altura e 432 metros acima do centro de BH, e foi construída com aço produzido pela ArcelorMittal Timóteo. Vida noturna e culinária. Belo Horizonte é nacionalmente conhecida como a "capital nacional dos botecos". Existem na cidade cerca de 14.000 estabelecimentos, mais bares "per capita" do que qualquer outra grande cidade do Brasil. A culinária mineira é uma atração concomitante que acompanha bem as bebidas. Todos os anos, no mês de abril, é realizado o festival Comida di buteco, competição anual de bares que serve de pretexto para visitar diversos bares e botecos de BH todas as noite durante um mês em busca dos melhores petiscos ou "tira-gostos", como dizem os mineiros. Quarenta dos melhores bares disputam em categorias como higiene, temperatura da cerveja, serviço e principalmente, o melhor "tira-gosto". Os vencedores são decididos não só pelos jurados, mas também por votação popular. A chamada zona boêmia da cidade se atualmente concentra principalmente no centro da capital, mas outros bairros se destacam pelo lazer noturno, como Savassi, Funcionários, São Pedro, Santa Tereza, São Bento, Santo Antônio, Lourdes e Serra. Há diversos restaurantes e bares temáticos que invadem as esquinas dos lugares mais badalados. Há casas noturnas, bares, cafés, casas de espetáculo e danceterias que atendem aos mais diversos públicos, dos mais conservadores aos mais vanguardistas. Pode-se encontrar desde um ambiente erudito e sofisticado até uma noite agitada, ou então algo rústico e popular. Esportes. No futebol, Belo Horizonte é sede de três clubes reconhecidos nacionalmente: Clube Atlético Mineiro, Cruzeiro Esporte Clube e América Futebol Clube. Esses clubes também participam do Campeonato Mineiro de Futebol Feminino. A cidade conta ainda com 3 grandes estádios: o Estádio Governador Magalhães Pinto (o Mineirão), que é o maior estádio de futebol de Minas Gerais e quinto maior do Brasil, com capacidade para 62 170 espectadores; a Arena MRV, do Atlético, com capacidade para 47.465 pessoas e promete ser o mais moderno do Brasil e o Independência, do América, com capacidade para aproximadamente 23 mil pessoas. Além dos estádios, Belo Horizonte possui três grandes ginásios: o Jornalista Felipe Drummond (o Mineirinho), com capacidade para cerca de 25 mil pessoas; a Arena Juscelino Kubitschek, arena multiúso do Minas Tênis Clube, com capacidade para pessoas; e o Km de Vantagens/Marista Hall, do Colégio Marista, uma arena multiúso com capacidade em torno de pessoas, que atualmente é utilizado para shows e eventos culturais e artísticos. A cidade ainda é sede de vários eventos desportivos de outras modalidades, como a Volta Internacional da Pampulha, prova pedestre disputada de 17,8 km de percurso, em comemoração ao aniversário de capital. Ainda no atletismo, é realizada também desde 2008 a Meia Maratona Linha Verde, com percurso de 21 km entre a rodovia MG-010 e a Praça Rui Barbosa. No turfe, o Hipódromo Serra Verde foi o principal hipódromo que existiu em Belo Horizonte, funcionando regularmente de 1964 a 2006 no bairro Serra Verde. O Minas Tênis Clube é uma agremiação com sede na capital mineira fundada em 15 de novembro de 1935 e que possui destaque nacional e internacional em diversas modalidades de esportes olímpicos, sendo responsável por vários clubes de diferentes esportes, como a equipe de voleibol masculino e feminino do Minas Tênis, além da equipe do basquetebol, do futebol de salão (futsal), do judô, da ginástica artística, da natação e do tênis. Feriados municipais. Em Belo Horizonte há quatro feriados municipais, definidos pela lei nº , de 8 de fevereiro de 1967: a Sexta-Feira Santa, que ocorre sempre em março ou abril; o Corpus Christi, que sempre é realizado na quinta-feira seguinte ao domingo da Santíssima Trindade; e o dia da Imaculada Conceição, comemorado em 8 de dezembro.
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Bula pontifícia
Bula pontifícia A bula pontifícia é um alvará passado pelo Papa ou Pontífice católico, com força de lei eclesiástica, pelo qual se concedem graças e indulgências aos que praticam algum acto meritório. O termo bula refere-se não ao conteúdo e à solenidade de um documento pontifício, como tal, mas à apresentação, à forma externa do documento, a saber, lacrado com pequena bola (em latim, "bulla") de cera ou metal, em geral, chumbo ("sub plumbo"). Assim, existem "Litterae Apostolicae" (carta apostólica) em forma ou não de bula e também Constituição Apostólica em forma de bula. Por exemplo, a carta apostólica "Munificentissimus Deus", bem como as Constituições Apostólicas de criação de dioceses. A bula mais antiga que se conhece é do papa Agapito I (535), conservada apenas em desenho. O mais antigo original conservado é do papa Adeodato I (615-618). Explica a página da Torre do Tombo, em Portugal que dos séculos XI ao XV numerosos diplomas pontifícios com diverso valor jurídico, como as "Constitutiones" (leis gerais eclesiásticas) ou as "Decretales" (disposições de governo da Igreja, também chamadas "litterae decretales") receberam a mesma forma de validação, ou seja, a aposição de um selo pendente de chumbo, designado por bulla, por ser o resultado da compressão de uma esfera de chumbo entre duas matrizes. E prossegue a explicação: Tal forma de validação (a "bulla") passou a ser usada como designação de todos os diplomas pontifícios, ou, vulgarmente, bulas. Além do selo pendente de chumbo, comum a estes diplomas, nas "litterae iustitiae", ou seja, nas disposições de governo resolvidas pelo Papa em conformidade com o Direito, o selo está suspenso por meio de fio de cânhamo. Já nas "litterae gratiae" ou "litterae tituli", disposições de governo em que o Papa graciosamente concede dispensas e indulgências solicitadas, o selo de chumbo está suspenso por fio de seda amarela e vermelha. No anverso do selo são representados em efígie os Apóstolos Pedro e Paulo e no reverso o nome e o numeral do Papa. Durante o século XV a forma tradicional da bula ficou reservada aos diplomas mais importantes e os de teor comum ficaram chamados de "litterae breves", com maior simplicidade de forma e com a aposição, sobre o diploma dobrado, de um selo de cera, o anel do Pescador, que representa São Pedro lançando as redes. A matéria do selo era de chumbo, mas para acentuar a solenidade do diploma e a importância do assunto, em algumas ocasiões tais diplomas receberam selo de prata, dando origem às chamadas bulas argênteas. Em ocasiões ainda mais raras, o selo podia ser de ouro, o que dava origem às chamadas bulas áureas. Clemente XII e Bento XIV concederam entre 1737 e 1742 várias graças, formalizadas em sete bulas áureas. Na Torre do Tombo, o maior arquivo de Portugal, conserva-se uma coleção de bulas organizada, entre 1751 e 1754, por Manuel da Maia, ao qual foram mandados entregar todos os breves e bulas expedidos para o reino e seus domínios, que se encontrassem dispersos por secretarias de Estado, Secretaria das Mercês, Real Biblioteca e outras repartições. Bulas e breves foram reunidas consoante os pontífices que as emitiram, ordenados alfabeticamente. A coleção mostra documentos sobre conflitos de jurisdição entre o rei e autoridades religiosas, entre as quais o arcebispo de Braga, os bispos de Lisboa, Évora, Lamego e de Coimbra, o abade do mosteiro de Alcobaça, o de São Vicente de Fora, o prior do convento de Santa Cruz de Coimbra; concessão ou ordem de respeito pelos privilégios das Ordens Militares de Cristo, Santiago e Avis; concessão de direitos de padroado sobre igrejas do Reino e Ultramar; criação e regime da igreja Patriarcal de Lisboa; canonização da rainha Isabel; sucessão no governo de bispados; concessão de rendas eclesiásticas ao rei; ordens para a edificação e reformação de conventos; atribuição ao Rei de Portugal de terras por descobrir; e outros temas. Bulas douradas. As bulas douradas foram emitidas não pelo papa, mas por monarcas europeus, como a Bula Dourada de 1356, que determinou a estrutura do Sacro Império Romano-Germânico.
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Benito Mussolini
Benito Mussolini Benito Amilcare Andrea Mussolini (Predappio, 29 de julho de 1883 – Mezzegra, 28 de abril de 1945) foi um político italiano que liderou o Partido Nacional Fascista e é creditado como sendo uma das figuras-chave na criação do fascismo. Tornou-se o primeiro-ministro da Itália em 1922 e começou a usar o título "Il Duce" desde 1925, onde abandonou qualquer estética democrática do seu governo e estabeleceu sua ditadura totalitária. Após 1936, seu título oficial era "Sua Excelência Benito Mussolini, Chefe de Governo, Duce do Fascismo e Fundador do Império". Mussolini também criou e sustentou a patente militar suprema de Primeiro Marechal do Império, junto com o rei Vítor Emanuel III da Itália, quem deu-lhe o título, tendo controle supremo sobre as forças armadas da Itália. Mussolini permaneceu no poder até ser substituído em 1943; por um curto período, até a sua morte, ele foi o líder da República Social Italiana. Mussolini foi o fundador do fascismo, que incluía elementos de nacionalismo, corporativismo, capitalismo monopolista, sindicalismo nacional, expansionismo, progresso social, colaboração de classes, antiliberalismo, anticomunismo e oposição ao capitalismo liberal, se opondo também às ideias de luta de classes e do materialismo histórico, utilizando-se da censura de subversivos e maciça propaganda do Estado e culto à personalidade em volta do líder. Nos anos seguintes à criação da ideologia fascista, Mussolini conquistou a admiração de uma grande variedade de figuras políticas. Entre suas realizações nacionais de 1924 a 1939 destacam-se os seus programas de obras públicas como a drenagem das áreas pantanosas da região do Agro Pontino e o melhoramento das oportunidades de trabalho e transporte público. Mussolini também resolveu a Questão Romana ao concluir o Tratado de Latrão entre o Reino de Itália e a Santa Sé. Ele também é creditado por garantir o sucesso econômico nas colônias italianas e dependências comerciais. Embora inicialmente tenha favorecido o lado da França contra a Alemanha no início da década de 1930, Mussolini tornou-se uma das figuras principais das potências do Eixo e, em 10 de junho de 1940, inseriu a Itália na Segunda Guerra Mundial ao lado dos alemães. Três anos depois, foi deposto pelo Grande Conselho do Fascismo, motivado pela invasão aliada. Logo depois de preso, Mussolini foi resgatado da prisão no Gran Sasso por forças especiais alemãs. Após seu resgate, Mussolini chefiou a República Social Italiana nas partes da Itália que não haviam sido ocupadas por forças aliadas. Ao final de abril de 1945, com a derrota total aparente, tentou fugir para a Suíça, porém, foi rapidamente capturado e sumariamente executado próximo ao lago de Como por "partigiani" italianos. A morte de Mussolini é polêmica e suspeita-se do envolvimento de agentes britânicos no processo. Seu corpo foi então trazido para Milão onde foi pendurado de cabeça para baixo em uma estação petrolífera para exibição pública e a confirmação de sua morte. Primeiros anos. Nascimento e família. Benito Mussolini nasceu em Dovia di Predappio, uma pequena cidade da província de Forlì na região da Emilia-Romagna que em tempos fascistas seria chamada de “município do "Duce"" e Forlì de "cidade do "Duce"", em 1883. Seus pais eram o ferreiro e ativista anarquista Alessandro Mussolini e sua mãe era Rosa Mussolini (nascida Maltoni), que era professora e católica devota. O nome "Benito Amilcare Andrea" foi decidido por seu pai, que estava ansioso para prestar homenagem à memória de Benito Juárez, líder revolucionário e ex-presidente do México, enquanto seus outros nomes, Amilcare e Andrea, eram dos socialistas italianos Amilcare Cipriani e Andrea Costa, o último fundador do Partido Socialista Revolucionário da Romagna. Benito era o mais velho de seus dois irmãos, seguido por Arnaldo e depois, Edvige. Educação e adolescência. Quando criança, Mussolini teria passado um tempo ajudando seu pai na ferraria. Foi lá que ele foi exposto às crenças políticas de seu pai. Alessandro era um socialista e republicano, mas também sustentava algumas visões nacionalistas, especialmente no que diz respeito aos italianos que viviam sob o governo do Império Austro-Húngaro. O conflito entre seus pais sobre religião fez com que, diferente da maioria dos italianos, Mussolini não fosse batizado no nascimento, embora sua mãe fizesse isso mais tarde. No entanto, em compromisso com sua mãe, ele foi enviado para a escola salesiana de Faenza, onde estudou entre 1892 e 1894, antes estudou em Dovia e depois em Predappio entre 1889 e 1891. Porém, Mussolini era rebelde e foi rapidamente expulso após uma série de incidentes relacionados ao seu comportamento, incluindo atirar pedras na congregação após uma missa, e por participar de uma luta em que feriu seu colega de classe sênior com uma faca. Mussolini estava infeliz em Faenza pelos castigos corporais sofridos pelos frades salesianos pela má observância das regras, vivendo por isso com raiva e frustração. Além disso, a condição da família era modesta: seu pai, apesar de ter o próprio negócio, vivia na periferia de sua comunidade local devido às suas opiniões políticas; sua mãe, que ensinava crianças na escola primária no Palazzo Varano, ganhava salários insuficientes para compensar a perda de renda do marido. Mussolini viu seu tempo no internato religioso como um castigo, comparou a experiência ao inferno e "certa vez se recusou a ir à missa matinal e teve de ser arrastado até lá à força". Com a ajuda de sua mãe, ele continuou os estudos na Escola Real Secular de Homens Carducci em Forlimpopoli, onde obteve em setembro de 1898 a licença técnica inferior. A partir de outubro daquele ano, devido a um confronto com outro aluno, foi obrigado a frequentar como externo (apenas em 1901 foi readmitido como internato). Em Forlimpopoli, também pela influência de seu pai (que foi um revolucionário socialista que idolatrava figuras de nacionalistas italianos com tendências humanistas do século XIX, como Carlo Pisacane, Giuseppe Mazzini e Giuseppe Garibaldi e anarquistas como Carlo Cafiero e Mikhail Bakunin), Mussolini aproximou-se do socialismo militante e ficou conhecido pelos comícios noturnos e em 1900 ingressou no Partido Socialista Italiano. Em 8 de julho de 1901, obteve o diploma de professor de escola primária do mesmo instituto em Forlimpopoli. Mais tarde candidatou-se a leccionar em vários municípios sem conseguir obter sucesso. Em Predappio propôs-se como “auxiliar substituto” do secretário municipal, tendo seu pedido sido indeferido. Ele começou a lecionar na escola primária em Pieve Saliceto, o primeiro município italiano a ser administrado por um socialista. Em 1902, no aniversário da morte de Garibaldi, Benito Mussolini fez um discurso público em louvor ao republicano nacionalista. Primeira militância. Emigração para a Suíça. Em 1902, Mussolini emigrou para a Suíça, com o objetivo de evitar o serviço militar. Ele trabalhou brevemente em Genebra como um pedreiro, no entanto, foi incapaz de encontrar um emprego profissional permanente no país. Na Suíça, adquiriu um conhecimento prático de francês e alemão. Durante este tempo, estudou as ideias do filósofo Friedrich Nietzsche, o sociólogo Vilfredo Pareto, e o sindicalista revolucionário Georges Sorel. Sobre Sorel, Mussolini declarou: "O que eu sou, eu devo à Sorel". Mussolini, mais tarde, viria a creditar o marxista Charles Péguy e o sindicalista Hubert Lagardelle como algumas de suas influências. A ênfase de Sorel sobre a necessidade de derrubar a democracia liberal e o capitalismo pelo uso da violência, ação direta, greve geral, e o uso do neo-maquiavelismo apelando à emoção impressionou Mussolini profundamente. Durante esse período, juntou-se a pedreiros e trabalhadores sindicais, dos quais mais tarde se tornou secretário da união dos trabalhadores italianos em Lausanne, e em 2 de agosto de 1902 publicou seu primeiro artigo no "L'Avvenire del Lavoratore", o jornal dos socialistas suíços. Em 1903, foi preso pela polícia bernense pela sua defesa de uma greve geral violenta; passou duas semanas preso, foi deportado à Itália, liberto lá, e retornou à Suíça. Em 1904, após ter sido encarcerado novamente em Lausanne, por falsificação de documentos, retornou à Itália, tirando proveito de uma anistia por deserção a qual ele havia sido condenado "in absentia". Foi protegido por alguns socialistas e anarquistas do cantão do Ticino, incluindo Giacinto Menotti Serrati e Angélica Balabanoff, com quem iniciou uma relação amorosa. Na Suíça, Mussolini colaborou com revistas locais de inspiração socialista e enviou correspondência ao jornal milanês lAvanguardia socialista". Além disso, publicaria um soneto ao revolucionário francês François Babeuf no qual escreveria: "Babeuf ainda sorri, o futuro em que sua Ideia se tornará realidade passou diante de seus olhos moribundos". Mussolini desenvolveria uma atitude anticlerical e se declarou ateu. Ele desafiaria Deus para provar sua existência e considerou Jesus como ignorante e louco, consideraria a religião uma forma de doença mental que merecia tratamento psiquiátrico e acusou o cristianismo de promover resignação e covardia. Mussolini publicaria seu primeiro livro, um tratado ateísta intitulado ' no qual proclamava: "Fiel, o Anticristo nasceu". Posteriormente, voluntariou-se ao serviço militar no Exército Italiano sendo designado em 30 de dezembro de 1904 para o 10º Regimento Bersaglieri de Verona. Ele pôde voltar para casa de licença para ajudar sua mãe moribunda (19 de janeiro de 1905). Ele então retomou o serviço militar, alcançando finalmente uma declaração de boa conduta para comportamento disciplinado. Na Suíça, ele deixou o cargo de correspondente do jornal italiano l"'Avanguardia socialista"; esta posição foi atribuída ao jovem socialista Luigi Zappelli. As experiências de Mussolini nas prisões o tornariam claustrofóbico. Jornalista político. Mussolini retornou a Dovia di Predappio em 4 de setembro de 1906. Pouco depois, foi lecionar em Tolmezzo, onde obteve uma posição substituta de 15 de novembro até o final do ano letivo. O período no município de Friulia foi difícil: com os alunos mostrou-se incapaz de manter a ordem e o anticlericalismo e a linguagem mal falada atraiu as aversões da população local. Mussolini se considerava um intelectual e era considerado um homem culto. Ele leu ansiosamente; Seus favoritos na filosofia europeia incluíam o futurista italiano Filippo Tomasso Marinetti, o socialista francês Gustave Hervé, o anarquista italiano Errico Malatesta e os filósofos alemães Friedrich Engels e Karl Marx, os fundadores do marxismo, também traduziu trechos de Nietzsche, Schopenhauer e Kant. Como um admirador de Nietzsche, segundo Denis Mack Smith, "ele encontrou justificativa para sua cruzada contra as virtudes cristãs da humildade, resignação, caridade e bondade" ao valorizar o conceito de super-homem. Além disso, Mussolini tinha interesse na obra de Gustave Le Bon, Victor Hugo e no estudo do Renascimento italiano. Em novembro de 1907, Mussolini obteve a habilitação para lecionar a língua francesa e em março de 1908 foi designado professor de francês no Colégio Cívico de Oneglia, na Ligúria, onde também lecionou italiano, história e geografia. Em Oneglia conseguiu seu primeiro endereço em um jornal, o semanário socialista "La Lima". Em seus artigos, o novo diretor atacou as instituições políticas e religiosas, acusando o governo de Giovanni Giolitti e a Igreja de defender os interesses do capitalismo contra o proletariado. Para evitar problemas ele assinou com o pseudônimo "Vero Eretico". O jornal despertou grande interesse e Mussolini entendeu que o jornalismo eversivo poderia ser uma ferramenta política. De volta a Predappio, ele assumiu a greve dos camponeses. Em 18 de julho de 1908, ele foi preso por ameaçar um líder de organizações patronais. Ele foi condenado a três meses de prisão, mas em 30 de julho foi libertado sob fiança. Em setembro do mesmo ano, ele foi novamente preso por dez dias por realizar um comício não autorizado em Meldola. Em novembro mudou-se para Forlì, onde viveu em um quarto alugado, junto com seu pai viúvo, que entretanto abriu o restaurante "Il bersagliere" com sua companheira Anna Lombardi. Nesse período, Mussolini publicou o artigo "La filosofia della forza" em "Pagine libere" (revista do sindicalismo revolucionário publicada em Lugano e dirigida por Angelo Oliviero Olivetti), no qual se referia ao pensamento de Nietzsche. Em 6 de fevereiro de 1909, Mussolini deixou a Itália mais uma vez, desta vez para assumir o cargo de secretário do partido trabalhista da cidade de Trento, que na época estava sob o controle do Império Austro-Húngaro, mas onde o idioma predominante era o italiano. Também trabalhou para o partido socialista local, e editou seu jornal "L'Avvenire del Lavoratore" ("O Futuro do Trabalhador", em tradução livre). No dia 7 de março daquele ano, ele se tornou o protagonista de um breve confronto jornalístico com Alcide De Gasperi, diretor do jornal católico "Il Trentino". Em 10 de setembro de 1909, Mussolini foi preso em Rovereto sob a acusação, da qual foi posteriormente absolvido, de divulgar jornais apreendidos e incitar à violência contra o Império Habsburgo. No dia 26, entretanto, ele foi expulso da Áustria e retornou a Forlì. Os eventos em Trentino, entretanto, deram a Mussolini considerável notoriedade na Itália, empurraram-no mais para a ação política e marcaram o início da transição de uma perspectiva socialista e internacionalista para posições marcadamente nacionalistas. Nesse mesmo ano, Mussolini conheceu Ida Dalser em Trento ou em Milão (não há informação correta sobre o local). Os dois começaram um relacionamento e, posteriormente, ela empenhou suas jóias e vendeu seu salão de beleza para ajudar Mussolini, que era então um jornalista de esquerda, estabelecer seu próprio jornal. Há relatos que eles teriam se casado em 1914, fato jamais comprovado, e em 1915 nasceu seu filho, Benito Albino Mussolini. Ele reconheceu legalmente seu filho em 11 de janeiro de 1916, a conselho de Margherita Sarfatti. Com a sua posterior ascensão política a informação sobre seu primeiro casamento foi suprimida, e tanto sua primeira esposa, Ida Dalser, como seu filho foram posteriormente perseguidos e enviados para o hospício, onde viriam a morrer. Atividades no Partido Socialista. Em Forlì. A partir de janeiro de 1910, tornou-se secretário da Federação Socialista de Forlì e dirigiu seu jornal oficial "L'idea socialista", um semanário de quatro páginas (rebatizado de "Lotta di classe" ("A Luta de Classes", em tradução livre) pelo próprio Mussolini). O jornal "Lotta di Classe" teria uma postura editorial anticristã. Em 17 de janeiro, Mussolini começou a morar com Rachele Guidi, sua futura esposa, em um apartamento mobiliado na Via Merenda nº 1. Ele também começou a colaborar com a revista socialista "Soffitta". Durante esses anos de Forlì, decidiu também ter aulas de violino com o maestro Archimede Montanelli. Entre as obras preferidas de Mussolini estão: "La Follia" di Corelli, sonatas de Beethoven, composições de Veracini, Vivaldi, Bach, Granados, Fauré e Ranzato. Durante este período, escreveu vários ensaios sobre a literatura alemã, algumas histórias, e um romance: "L'amante del Cardinale: Claudia Particella, romanzo storico" ("A Amante do Cardeal", tradução livre). Este romance foi co-escrito com Santi Corvaja, e publicado como um livro de série no jornal de Trento "Il Popolo". Ele foi lançado de 20 de janeiro a 11 de maio de 1910. O romance foi amargamente anticlerical, e anos depois, foi retirado de circulação, somente após Mussolini dar trégua ao Vaticano. Como representante da federação Forlì, Mussolini participou do XI Congresso Socialista de Milão (1910). Em 11 de abril de 1911, a seção socialista de Forlì liderada por Mussolini votou pela autonomia do Partido Socialista Italiano. Em maio do mesmo ano, a prestigiosa revista literária "La Voce", editada por Giuseppe Prezzolini, publicou seu ensaio "Il Trentino veduto da un Socialista" (O Trentino visto por um Socialista, em tradução livre), composto pelas notas escritas por Mussolini durante 1909. Em Forlì, Mussolini conheceu Pietro Nenni, então secretário da nova Câmara do Trabalho Republicana, nascida após a divisão entre republicanos e socialistas. No início os dois, apesar de vizinhos, eram adversários, depois tornaram-se amigos. Em setembro de 1911, junto com Pietro Nenni, participou de uma manifestação, liderada pelos socialistas, contra a Guerra Ítalo-Turca na Líbia. Ele amargamente denunciou a estratégia, que classificou como "guerra imperialista", da Itália de capturar a capital da Líbia, Tripoli, uma ação que lhe valeu um período de cinco meses na prisão. Naquela época, propondo o internacionalismo proletário, Mussolini declarava: “A bandeira nacional é para nós um pano para plantar em um monturo”. Após sua libertação, em um banquete de boas-vindas, Olindo Vernocchi declarou: "A partir de hoje você, Benito, não é apenas o representante dos socialistas da Romagna, mas "Il Duce" de todos os socialistas revolucionários da Itália". Mais tarde, em 1912, Mussolini, junto com Angelica Balabanoff, ajudou a expulsar do partido socialista dois 'revisionistas' que apoiaram a guerra, Ivanoe Bonomi e Leonida Bissolati. A acusação foi: "uma ofensa gravíssima ao espírito da doutrina e à tradição socialista". Lenin, escrevendo no jornal Pravda, registrou sua aprovação: "O partido do proletariado socialista italiano tomou o caminho certo ao remover os sindicalistas de direita e reformistas de suas fileiras". Em seguida, Mussolini se juntou à liderança nacional do partido e mais tarde colaborou com "Folla", o jornal de Paolo Valera, assinando-se sob o pseudônimo de "L'homme qui cherche". Diretor do "Avanti!". Graças aos acontecimentos de 1912 e às suas qualidades como orador brilhante, foi promovido à editoria do jornal do Partido Socialista, "Avanti!". Sob sua liderança, a circulação do jornal passou rapidamente de 20 000 para 100 000. Em um banquete realizado em sua homenagem em Forlì em 1912, enquanto celebrava sua nova missão como editor-chefe do "Avanti!," seus camaradas disseram: "Ele é nosso "Duce" há três anos"."" O número de adeptos no Partido Socialista Italiano cresceu. Os adeptos começaram a se chamar de "Mussoliniani", incluindo Antonio Gramsci e Amadeo Bordiga. Nessas circunstâncias, Mussolini conhece Margherita Sarfatti, uma intelectual judia que se tornaria sua amante. Numa carta a Margherita Sarfatti, Mussolini diria: Mussolini cortejou a anarquista Leda Rafanelli. As cartas que Mussolini lhe enviou foram recolhidas por Rafanelli no livro "Uma mulher e Mussolini". Segundo Nichollas Ferrel, Mussolini teria numerosas amantes entre suas simpatizantes. Mussolini foi descrito como uma pessoa obcecada com sexo. A sua forma de ter relações sexuais tem sido descrita como sendo equivalente a uma violação. As mulheres foram seleccionadas de entre as suas admiradoras que lhe enviaram cartas. Quinto Navarra, seu mordomo, contou um total de 7665 mulheres com as quais Mussolini teve relações sexuais. Nas eleições políticas de 1913 (o primeiro turno ocorreu em 26 de outubro) Mussolini concorreu, no colégio de Forlì, como candidato socialista à Câmara dos Deputados, mas foi derrotado por Giuseppe Gaudenzi, um republicano (tradicionalmente, os republicanos eram muito fortes em Forlì). No mês seguinte (novembro de 1913) fundou seu próprio jornal, "Utopia. Rivista Quindicinale del Socialismo Rivoluzionario Italiano", que dirigiu até a eclosão da Primeira Guerra Mundial e sobre o qual pôde exprimir todas as suas opiniões, mesmo as contrárias à linha oficial do Partido Socialista Italiano. O objetivo da revista era elaborar "uma revisão do socialismo em um sentido revolucionário" necessária após o "fracasso do reformismo político" e a "crise dos sistemas filosóficos positivistas". Nela, Mussolini desenvolveria uma concepção de socialismo revolucionário baseada nas ideias de Marx, Nietzsche, Pareto e Sorel juntamente com o idealismo, o pragmatismo e o voluntarismo. Mussolini sentia que o socialismo havia vacilado, em face do determinismo marxista e do reformismo social-democrata, e acreditava que as ideias de Nietzsche fortaleceriam o socialismo. Dois dos colaboradores da "Utopia" seriam fundadores do Partido Comunista Italiano e outro ajudaria a fundar o Partido Comunista Alemão. Nesse mesmo ano, publicou "Giovanni Hus, il veridico" ("Jan Hus, verdadeiro profeta", em tradução livre), uma biografia política e histórica sobre a vida e missão do reformista eclesiástico tcheco Jan Hus, e seus seguidores militantes, os hussitas. No XIV congresso do Partido Socialista em Ancona em 26, 27 e 28 de abril de 1914, ele apresentou uma moção com Giovanni Zibordi, a qual foi aceita, na qual era estabelecido que a filiação à maçonaria seria incompatível para um socialista. No Congresso de Ancona, Mussolini também alcançou grande sucesso pessoal, com uma moção de aplausos pelo sucesso de circulação e vendas do jornal do Partido, que foi pago pessoalmente pelos parlamentares. Em 9 de junho foi eleito vereador municipal de Milão. Semana Vermelha. Mussolini foi o protagonista da campanha política e da imprensa de apoio à onda revolucionária da Semana Vermelha, um levante popular espontâneo após o assassinato de três manifestantes contra as Companhias Disciplinares do Exército, ocorrido em Ancona em 7 de junho de 1914. Mussolini incitou as massas populares no jornal socialista "Avanti!": Depois que oradores reformistas de todos os partidos tentaram conter os tumultos, dizendo que não era uma revolução, mas apenas um protesto contra o massacre que ocorreu em Ancona. Mussolini interveio exaltando a revolta: Com seus artigos, Mussolini forçou a Confederação Geral do Trabalho a declarar uma greve geral. Porém, a Confederação Geral do Trabalho declarou encerrada a greve após 48 horas, convidando os trabalhadores a retomarem suas atividades. Isso frustrou as intenções insurrecionais de Mussolini, que no "Avanti!" Em 12 de junho de 1914, acusou os dirigentes sindicais de traição, referindo-se também ao componente reformista do Partido Socialista Italiano, acusando: “A Confederação do Trabalho, ao terminar a greve, traiu o movimento revolucionário”. Mussolini e Filippo Corridoni foram presos durante uma manifestação e brutalmente espancados pela polícia. O fracasso da luta na Semana Vermelha cria nele e em Corridoni um certo pessimismo e uma reflexão sobre o papel do sindicato e do partido socialista. Mussolini chamou a Semana Vermelha de sua "maior conquista e decepção" durante sua gestão no Partido Socialista Italiano, considerando a greve como um pináculo da luta de classes radical, mas também um fracasso abismal. Embora Mussolini saudasse a Semana Vermelha como o início do fim do capitalismo na Itália, ficou claro para muitos dentro do movimento trabalhista e socialista que rebelião, greves gerais e "mitos" revolucionários não constituíam revolução. Diante do fracasso, Mussolini argumentou que o setor industrial da Itália não estava maduro o suficiente e não tinha uma burguesia moderna totalmente desenvolvida, nem um movimento proletário moderno. Na Primeira Guerra Mundial. Expulsão do Partido Socialista Italiano. Em 28 de junho de 1914, o arquiduque Francisco Ferdinando da Áustria-Hungria foi assassinado em Sarajevo e um mês depois, em 28 de julho, começou a Primeira Guerra Mundial. Anteriormente, os socialistas concordaram em uma conferência realizada em Basileia em 1912 em se opor a qualquer política agressiva de seus respectivos governos e votar contra os créditos de guerra, embora se a guerra estourasse inevitavelmente, foi acordado que a intervenção deveria ser favorecida para o término imediato do conflito enquanto a crise econômica e política seria usada para acelerar a queda do domínio capitalista. Apesar da posição neutra inicial, em agosto de 1914, vários partidos socialistas apoiaram a Primeira Guerra Mundial. Assim que a guerra começou, os socialistas austríacos, britânicos, franceses e alemães seguiram a crescente maré nacionalista apoiando a intervenção de seus respectivos países na guerra. Mussolini apoiou firmemente a linha não intervencionista da Internacional Socialista, acreditando que o conflito não poderia beneficiar os interesses dos proletários italianos, mas apenas dos capitalistas. No mesmo período, sem o conhecimento da opinião pública, o Ministério das Relações Exteriores estava iniciando uma operação de persuasão nos meios socialistas e católicos para obter uma atitude favorável a uma possível intervenção italiana na guerra. Num artigo de agosto de 1914, Mussolini escreveu: “Abaixo a guerra. Permanecemos neutros”. Margherita Sarfatti, que defendia a intervenção, convence Mussolini a mudar sua posição neutra. Além disso, para Mussolini, os socialistas alemães haviam traído a Segunda Internacional, já que eles que levantaram "a bandeira da Internacional Socialista foram os primeiros a jogá-la na lama" após seu apoio à entrada da Alemanha na guerra. Com isso, Mussolini vislumbrou o surgimento de uma nova Internacional. Mussolini também foi influenciado pelos sentimentos nacionalistas italianos anti-austríacos, acreditando que a guerra oferecia aos italianos na Áustria-Hungria a oportunidade de se libertarem do domínio dos Habsburgo. Ele decidiu declarar seu apoio à guerra apelando para a necessidade dos socialistas de derrubar as monarquias Hohenzollern e Habsburgo na Alemanha e Áustria-Hungria, que, segundo ele, constantemente suprimiram o socialismo. Mussolini denunciou as Potências Centrais como poderes reacionários, argumentando que a queda das monarquias Hohenzollern e Habsburgo e a repressão da Turquia "reacionária" criariam condições benéficas para a classe trabalhadora. Enquanto apoiava os poderes da Entente, Mussolini afirmava que a natureza conservadora da Rússia czarista causaria a mobilização necessária para que a guerra minasse o autoritarismo reacionário e a guerra levaria a Rússia à revolução social. Por outro lado, a guerra, para Mussolini, completaria o processo do "Risorgimiento" unindo os italianos na Áustria-Hungria à Itália e permitindo que o povo italiano fosse um membro participante da nação italiana. Conforme o apoio de Mussolini à intervenção se solidificou, ele entrou em conflito com socialistas que se opunham à guerra. Ele atacou os oponentes da guerra e afirmou que os proletários que apoiavam o pacifismo estavam em desacordo com os proletários que se juntaram à crescente vanguarda intervencionista que estava preparando a Itália para uma guerra revolucionária. Começou a criticar o Partido Socialista Italiano e o próprio socialismo por não terem reconhecido os problemas nacionais que levaram à eclosão da guerra. No dia 5 de outubro, seria lançado o manifesto "Fascio rivoluzionario d'azione internazionalista", em defesa da participação da Itália na Primeira Guerra Mundial e elaborado por revolucionários intervencionistas e sindicalistas. Este manifesto teria sua aplicação política no "Fascio d'azione rivoluzionaria" que Mussolini fundou em 1915. Em 18 de outubro, Mussolini publicou no "Avanti!" um extenso artigo intitulado "Da neutralidade absoluta à neutralidade ativa e operante", no qual apelava aos socialistas sobre o perigo que a neutralidade representaria para o partido, ou seja, a condenação do isolamento político. Segundo Mussolini, as organizações socialistas deveriam ter apoiado a guerra entre as nações, com a consequente distribuição de armas ao povo, e depois transformado em uma revolução armada contra o poder burguês. A nova linha não foi aceita pelo partido e em dois dias Mussolini pediu demissão do jornal. Graças à ajuda de Filippo Naldi, grupos industriais (como a empresa de armamento Ansaldo) e socialistas franceses ligados à guerra; Mussolini rapidamente conseguiu fundar seu próprio jornal: "Il Popolo d'Italia", cujo primeiro número saiu em 15 de novembro. Em 24 de novembro ele diria: Em 29 de novembro, Mussolini foi expulso do Partido Socialista Italiano por "indignidade política e moral". Gritou para seus acusadores: Durante esta época, tornou-se importante o suficiente para a polícia italiana preparar um relatório; os seguintes excertos são de um relatório policial preparado pelo inspetor geral de Segurança Pública em Milão, G. Gasti. O inspetor geral escreveu: Em seu resumo, o inspetor também observa: Começo do fascismo. Em 5 de dezembro de 1914, Mussolini denunciou o marxismo ortodoxo, corpo de pensamento marxista que surgiu após a morte de Karl Marx e que se tornou a filosofia oficial da maioria do movimento socialista representado na Segunda Internacional até a Primeira Guerra Mundial, por não reconhecer que a guerra tornara a identidade nacional e a lealdade mais importantes do que a distinção de classe. Ele demonstrou plenamente sua transformação em um discurso em que reconheceu a nação como uma entidade, noção que havia rejeitado antes da guerra, dizendo: Mussolini estava tão familiarizado com a literatura marxista que em seus escritos citou não apenas obras conhecidas de Karl Marx, mas também obras relativamente obscuras. Embora Mussolini se definisse como um marxista e descrevesse Marx como "o maior de todos os teóricos do socialismo", ele não era um marxista ortodoxo, mas um marxista que enfatizou a importância do significado da revolução realizada pela ação violenta, sendo considerado um "marxista herege". Mussolini continuou a promover a necessidade de uma elite de vanguarda revolucionária para liderar a sociedade. Ele já não defendia uma vanguarda proletária, mas uma vanguarda liderada por pessoas dinâmicas e revolucionárias de qualquer classe social. Embora denunciasse o marxismo ortodoxo e o conflito de classes, ele sustentava na época que era um socialista nacionalista e um defensor do legado dos socialistas nacionalistas na história da Itália. Sobre o Partido Socialista Italiano, ele afirmou que seu fracasso como membro do partido em revitalizá-lo e transformá-lo para reconhecer a realidade contemporânea revelou a desesperança do marxismo ortodoxo como obsoleto e um fracasso. Outros socialistas italianos pró-intervencionistas, como Filippo Corridoni e Sergio Panunzio, também denunciaram o marxismo clássico em favor da intervenção. Em 1915, Mussolini fundou o movimento "Fascio d'azione rivoluzionaria" e o Partido Revolucionário Fascista"." Seus membros começaram a se referir a si mesmos como "fascistas", denunciando o marxismo, mas apoiando o socialismo, usando a frase do socialista francês Louis Auguste Blanqui: "Quem tem ferro tem pão". O primeiro congresso foi realizado em 24 e 25 de janeiro de 1915, onde Michele Bianchi e Cesare Rossi foram eleitos para o comitê central. Poucos dias depois, Mussolini expressaria: O antagonismo entre os intervencionistas, incluindo os fascistas, contra os anti-intervencionistas resultou em violência. A oposição e os ataques de socialistas anti-intervencionistas contra fascistas e outros intervencionistas foram tão violentos que até socialistas democráticos que se opuseram à guerra, como Anna Kuliscioff, disseram que o Partido Socialista Italiano tinha ido longe demais em uma campanha para silenciar a liberdade de expressão dos partidários da guerra. Essas primeiras hostilidades entre os fascistas e os marxistas ortodoxos moldaram a concepção de Mussolini sobre a natureza do fascismo em seu apoio à violência política. Em março de 1915, após uma longa série de duros artigos mútuos que chegaram ao ponto de insultos pessoais, apesar do fato de que o Estatuto do Partido Socialista Italiano o proibia, Claudio Treves desafiou Mussolini para um duelo. O desafio foi aceito e o duelo aconteceu em Bicoca di Niguarda (norte de Milão) na tarde de 29 de março de 1915. Foi uma luta de sabre que durou 25 minutos. Em 25 de dezembro casou-se civilmente, em Treviglio, com Rachele Guidi com quem teve uma filha, Edda, nascida em 1910. Com Rachele ele teria outra filha (Anna María) e três filhos (Vittorio, Bruno e Romano). Dez anos depois, Mussolini se casaria com Rachele em uma cerimônia religiosa. Serviço na Primeira Guerra Mundial. Na declaração de guerra à Áustria-Hungria (23 de maio de 1915), Mussolini solicitou o alistamento voluntário, e este, como na maioria dos casos, foi rejeitado por conscrição. Ele foi convocado como recruta em 31 de agosto de 1915 e designado como soldado raso do 12º Regimento Bersaglieri; em 13 de setembro partiu para a frente com o 11º Regimento Bersaglieri. Ele manteve um diário de guerra, publicado no "Il" "Popolo d'Italia" (final de dezembro de 1915 - 13 de fevereiro de 1917), no qual recontava a vida nas trincheiras e se prefigurava como o herói carismático de uma comunidade nacional e socialmente hierárquica e obediente. Em 1º de março de 1916, foi promovido a cabo por mérito de guerra. O inspetor Gasti continua: A experiência militar de Mussolini é narrada em sua obra "Diario di Guerra." No total, narrou cerca de nove meses na ativa. Durante este período, ele contraiu febre paratifoide. Mussolini tornou-se aliado do político irredentista e jornalista Cesare Battisti, e assim como ele, entrou no exército e serviu na guerra. "Ele foi enviado à zona de operações onde foi seriamente ferido pela explosão de uma granada". Suas façanhas militares terminaram em 1917, quando foi ferido acidentalmente pela explosão de um morteiro em seu alojamento. Ele foi levado ao hospital com pelo menos 40 pedaços de metal no corpo. Enquanto estava hospitalizado, Ida Dalser atacou Rachele Guidi gritando que ela era a verdadeira Mussolini. As duas mulheres acabaram brigando na frente de Mussolini que estava na cama incapaz de se mover. Ele retomou seu posto como editor-chefe de seu jornal, "Il Popolo d'Italia," em junho de 1917, depois de ter deixado nas mãos de Margherita Sarfatti. Para Mussolini, "Il Popolo d'Italia" era como seu "filho mais precioso". Escreveu artigos positivos sobre as Legiões Checoslovacas na Itália. Recebeu alta em agosto de 1917. Depois do desastre de Caporetto, Mussolini culpa os socialistas e católicos por terem abalado, com sua campanha contra a guerra, o moral dos soldados. Em 1º de agosto de 1918, ele mudou o subtítulo de seu jornal de "Diário Socialista" para "Diário de Lutadores e Produtores". Após sua primeira convalescença em um hospital militar e as duas licenças subsequentes, ele recebeu alta por tempo indeterminado em 1919. Segundo o historiador Peter Martland, de Cambridge, nessa época, o jornal de Mussolini era pago pela inteligência britânica para fazer propaganda favorável à guerra, de modo que a Itália permanecesse engajada no conflito. Há evidências de pagamentos semanais no valor de 100 libras feitos pelo MI5 a Mussolini, em 1917. Embora Mussolini inicialmente elogiasse a Revolução Russa e se referisse publicamente a si mesmo em 1919 como "Lenin da Itália", ele logo condenou Lenin como um "traidor", especialmente por minar a luta do exército russo contra as Potências Centrais (Império Alemão, Império Austro-Húngaro, Bulgária e Império Otomano) e pela assinatura do Tratado de Brest-Litovsk, ele acreditava ainda que Lenin havia se tornado um exemplo da degeneração do socialismo devido ao uso do terror e da ditadura do partido. Da experiência da Revolução Russa e do ponto de inflexão com a implementação da Nova Política Econômica de Lenin, Mussolini levou em consideração o ocorrido. O capitalismo foi um estágio que não pode ser ignorado. Com o passar do tempo, sua posição em relação a Lenin mudaria. Além disso, Mussolini diria que a revolução russa foi uma "vingança judaica" contra o cristianismo, comentando: Também afirmou que 80% dos líderes soviéticos eram judeus. Algumas semanas depois, ele afirmaria: Caminho para o poder. Biênio Vermelho. Em 16 de fevereiro de 1919, após o desfile de uma imponente procissão socialista pelo centro da cidade de Milão, as forças intervencionistas reagiram apelando à unidade de todos os grupos nacionalistas. Mussolini no "Il Popolo d'Italia" publicou um duro artigo intitulado: "Contra a besta que retorna …". As manifestações socialistas começaram a se multiplicar e as declarações de guerra contra o "estado burguês" misturadas com a exaltação da Revolução de Outubro alarmaram os órgãos do estado. Em 23 de março de 1919, Mussolini fundou o "Fasci Italiani di Combattimento", como o sucessor do "Fascio d'azione rivoluzionaria", na Piazza San Sepolcro. Segundo o próprio Mussolini, apenas cerca de cinquenta adeptos estavam presentes. A primeira intervenção seria a de Mussolini, que delinearia os três pontos fundamentais do movimento, que foram resumidos no dia seguinte pelo "Il Popolo d'Italia," no que seria conhecido como Programa de San Sepolcro: Entre março e junho, os futuristas de Filippo Tommaso Marinetti (que dirigia um programa político anticlerical, socialista e nacionalista) tornaram-se o principal componente do Fascio milanês e fizeram sentir sua influência ideológica, embora Mussolini dissesse: O conflito entre socialistas e intervencionistas eclodiu violentamente em Milão em 15 de abril de 1919 após um dia de combates que culminou no assalto à sede da "Avanti!" entre manifestantes do Partido Socialista Italiano e contra-manifestantes futuristas, arditi e os primeiros elementos fascistas. Mussolini ficou de lado, acreditando que seus homens ainda não estavam prontos para travar uma "batalha de rua", embora defendesse o fato consumado. Ele então começou a recrutar um exército de arditi pronto para realizar ataques frontais e transportou uma grande quantidade de material de guerra para o quartel-general do "Il" "Popolo d'Italia", para evitar um possível "contra-ataque vermelho". Em junho, Mussolini aliou-se ao governo de Francesco Saverio Nitti; para os fascistas, o novo presidente do conselho era o representante daquela velha classe política que eles tentavam suplantar. Da fraqueza do executivo Mussolini quis tirar a força para fazer uma revolução e, durante o verão, seu nome foi associado a tramas destinadas a dar um golpe. Em 6 de junho de 1919, foi publicado oficialmente o "Manifesto dei Fasci italiani di combattimento", comumente conhecido como Manifesto Fascista, onde foram apresentadas propostas de reforma política e social em sentido progressista, abordando temas nacionalistas, sindicalistas e de direitos das mulheres. Em 11 de setembro, Gabriele d'Annunzio informou Mussolini sobre sua ida a Fiume para realizar o que viria a ser conhecido como a Impresa di Fiume, evento que pretendia proclamar a anexação da cidade de Fiume à Itália. No dia seguinte, Mussolini promoveu fora da sede do "Il Popolo d'Italia" uma assinatura em favor da Impresa di Fiume. O governo italiano rejeitaria as ações realizadas por d’Annunzio e enviaria o general Pietro Badoglio para reprimir os rebeldes. A cidade seria bloqueada e d’Annunzio acusaria o governo de Nitti de “deixar crianças e mulheres famintas”, enquanto convidava todos os seus aliados a arrecadar fundos. Em 16 de setembro, d’Annunzio enviaria uma carta a Mussolini acusando-o de covardia por não lhe dar apoio financeiro. A carta seria publicada no "Il Popolo d'Italia" em 20 de setembro censurando as partes polêmicas. Mussolini rapidamente lançou uma campanha para financiar d’Annunzio levantando quase três milhões de liras. Em 7 de outubro, Mussolini se reuniria com d’Annunzio. D'Annunzio queria que o povo se rebelasse e marchasse sobre Roma para quebrar o sistema que considerava desatualizado. Mussolini, sabendo que d'Annunzio poderia convencer o povo a levá-lo ao poder, convenceu-o de que deveria esperar porque ainda não era o momento de fazer tal ação. Em 9 de outubro, o Primeiro Congresso Fascista foi realizado em Florença, onde foi decidido concorrer às próximas eleições políticas sem aderir a nenhuma aliança. Os fascistas, liderados por Mussolini, propuseram um programa "decididamente esquerdista" e anticlerical, exigindo impostos mais altos sobre as heranças e ganhos de capital, a derrubada da monarquia, a anexação da Dalmácia, confisco de propriedade eclesiástica e participação na gestão industrial. Ele também propôs uma aliança eleitoral com os socialistas e outros partidos de esquerda, mas foi ignorado por preocupações de que isso seria um obstáculo para os eleitores. Durante as eleições, Mussolini fez campanha com o objetivo de "superar os socialistas no socialismo". Mussolini e seu partido fracassaram miseravelmente contra os socialistas que obtiveram quarenta vezes mais votos, escolha tão triste que mesmo em Predappio, cidade natal de Mussolini, ninguém votou nele. Com o fracasso sofrido, ele descobriu que esta estratégia tinha pouco apelo e não tinha futuro. Em uma simulação de procissão fúnebre após as eleições, membros do Partido Socialista Italiano carregaram um caixão com o nome de Mussolini e o desfilaram na frente de seu apartamento para simbolizar o fim de sua carreira política. Em 18 de novembro, Mussolini foi detido por várias horas por posse de armas e explosivos; Ele foi libertado graças à intervenção do senador liberal Luigi Albertini. Nos dias 24 e 25 de maio de 1920, Mussolini participou do Segundo Congresso Fascista, realizado na Ópera de Milão, que passou a ser financiado por industriais. Em 7 de setembro em Cremona, Mussolini diria: Em 12 de agosto de 1920, seria proclamada em Fiume a Regência Italiana de Carnaro e em 8 de setembro seria promulgada a Carta de Carnaro, instituindo um Estado corporativo, esta carta serviria posteriormente de inspiração para a Carta do Trabalho. Poucas semanas depois, em 12 de novembro de 1920, Itália e Jugoslávia assinaram o Tratado de Rapallo. Mussolini veria o tratado como algo positivo e se manifestaria contra os acontecimentos do Natal Sangrento, quando Giovanni Giolitti, que substituiu Nitti, pôs fim à Impresa di Fiume com tiros de canhão. No início da década de 1920, Mussolini declarou que o fascismo nunca levantaria uma "questão judaica" e em um artigo que escreveu ele afirmou: "A Itália não sabe sobre anti-semitismo e acreditamos que nunca saberá", e detalhou, "esperemos que os judeus italianos permanecem sensatos o suficiente para não dar origem ao anti-semitismo no único país onde ele nunca existiu". Em várias ocasiões, Mussolini falou positivamente sobre os judeus e o movimento sionista, embora após a tomada do poder na Itália pelo Partido Nacional Fascista, houvesse um pouco de desconfiança. Terceiro Congresso Fascista de 1921. Em janeiro de 1921, a minoria comunista deixou o Partido Socialista Italiano para fundar o Partido Comunista da Itália; isso alarmou Mussolini porque os socialistas, passando para posições mais moderadas, poderiam ter sido solicitados por Giolitti para a colaboração do governo, excluindo assim os fascistas das principais arenas políticas. Em 2 de abril, após ter marchado com uma camisa negra para os funerais das vítimas do ataque terrorista anarquista no Teatro Diana, Mussolini aceitou o pedido de Gliolitti para ingressar no "Bloco Nacional" junto com o Partido Social-democrata Italiano, a Associação Nacionalista Italiana e o Partido Liberal Italiano. Nas eleições gerais da Itália em 15 de maio de 1921, os fascistas conquistaram 35 cadeiras no parlamento italiano, incluindo Mussolini. Durante seu discurso de posse como deputado fascista recém-eleito em 21 de junho de 1921, Mussolini exclamou: Após seus sucessos eleitorais, Mussolini tentou reverter a violência do Squadrismo, equipes paramilitares de ação armada que visavam intimidar e reprimir violentamente os adversários políticos, dizendo a seus seguidores que os fascistas deveriam ser expurgados e que muita gente havia aderido a seu partido para aproveitar sua "onda de sucesso". Em um discurso na Câmara, Mussolini defendeu três grandes forças de colaboração para facilitar um destino melhor para a Itália: o socialismo de autoaperfeiçoamento, o Popolari e o fascismo. As tentativas de parar a violência incluíram o Pacto de Pacificação com o Partido Socialista Italiano e outros líderes sindicais socialistas. Essa estratégia foi abandonada depois que delegados do Terceiro Congresso Fascista se opuseram a tal arranjo, sendo mais favorável à promoção do nacionalismo. Devido aos resultados desastrosos das eleições de novembro de 1919, Mussolini contemplou uma mudança de nome para seu partido. Em 1921, Mussolini defendeu um plano para mudar o nome do Partido Revolucionário Fascista e do "Fasci Italiani di Combattimento" para "Partido Trabalhista Fascista" ou "Partido Trabalhista Nacional" no Terceiro Congresso Fascista em Roma (7 a 10 de novembro de 1921), em um esforço para manter seu apoio ao sindicalismo. Mussolini imaginou um partido político mais bem-sucedido se fosse baseado em uma coalizão fascista de sindicatos trabalhistas. Esta aliança com os socialistas e os trabalhadores foi descrita como uma espécie de "governo de coalizão nacionalista-esquerdista", mas se opôs tanto aos membros fascistas mais conservadores quanto ao Partido Liberal Italiano de Giovanni Giolitti, que já havia decidido incluir o fascistas em seu "Bloco Nacional". Nesse sentido, Mussolini diria: Mussolini, sob pressão da maioria dos líderes "squadristi" presentes no Terceiro Congresso Fascista, que estavam determinados a inibir o poder dos socialistas revolucionários e dos sindicatos, para manter sua posição de líder indiscutível do partido, concordou em fazer vários acordos conciliatórios, incluindo o mudança do nome do partido para Partido Nacional Fascista. Marcha sobre Roma. Em 1º de janeiro de 1922, Mussolini fundou a revista "Gerarchia", da qual colabora Margherita Sarfatti, mas já no mês de agosto anterior se apressou em criar uma escola de cultura fascista que tinha a tarefa de expor a doutrina. O jornalista britânico George Slocombe, que entrevistou Mussolini na conferência de Cannes de 1922, relatou que “Lenin foi o único contemporâneo por quem ele expressou respeito”. Em 1937, Mussolini diria sobre Lenin: Em fevereiro de 1922, Luigi Facta tornou-se primeiro-ministro. Sua nomeação entrou no jogo dos fascistas, pois demonstrou ainda mais a incapacidade do sistema parlamentar democrático de produzir um governo estável e manter a ordem. Sob seu governo, as incursões dos esquadrões fascistas se multiplicaram, especialmente nas províncias de Ferrara e Ravenna. Foi o crescendo da "revolução fascista", com a qual Mussolini tentou um ambicioso golpe para tomar o poder, explorando os consensos adquiridos nos círculos sociais mais influentes do reino. Em 24 de outubro, ele revisou os 40 000 camisas negras reunidas lá em Nápoles, afirmando o direito do fascismo de governar a Itália. Muitos estavam convencidos de que o diálogo com Mussolini agora se tornara inevitável: Giovanni Amendola e Vittorio Emanuele Orlando teorizaram uma coalizão governamental que incluía também os fascistas e Nitti, que aguardavam a presidência do Conselho, agora considerada uma aliança com Mussolini da melhor forma para minar seu adversário Giolitti. Em um discurso, Mussolini proclamaria: Entre 1 e 2 de outubro, os fascistas organizariam a Marcha sobre Bolzano. Entre 27 e 31 de outubro de 1922 organizou, juntamente com Michele Bianchi, Cesare Maria De Vecchi, Emilio De Bono e Italo Balbo, a famosa marcha sobre Roma, um golpe de propaganda. Mussolini não participou diretamente da marcha, temendo uma intervenção repressiva do Exército que teria determinado seu fracasso. Ficou em Milão (onde um telefonema do prefeito o teria informado do resultado positivo) aguardando os acontecimentos e só foi a Roma mais tarde, quando soube do sucesso da ação. Mussolini usou suas milícias chamadas de "camicie nere" ("camisas negras") para instigar o terror e combater abertamente os socialistas, conseguiu que os poderes investidos o nomeassem para formar governo. Foi nomeado primeiro-ministro pelo rei Vítor Manuel III, alcançando a maioria parlamentar e, consequentemente, poderes absolutos no governo do país. Mussolini gozava de amplo apoio no exército e entre as elites industriais e agrárias, enquanto o rei e o "establishment" conservador temiam uma possível guerra civil e, em última instância, pensaram que poderiam usar Mussolini para restaurar a lei e a ordem em o país. Mussolini, após chegar ao poder, formaria nesta fase, um governo de coalizão com liberais, conservadores e social-democratas. Muitos líderes empresariais e financeiros acreditavam que Mussolini poderia ser manipulado porque seus discursos enfatizavam o mercado livre e a economia "laissez-faire". No entanto, isso contrastava com a visão corporativista de Mussolini. Mussolini, Primeiro Ministro. Fatos importantes. Ao chegar ao poder, a "revolução fascista" foi proclamada como um processo de "revolução contínua". Além disso, estabeleceu o início de uma "nova era" inaugurando um novo calendário, assim como a Revolução Francesa, onde o ano de 1922 foi estabelecido como o "Ano I" da revolução. Em 16 de novembro, Mussolini compareceu à Câmara e fez seu primeiro discurso como Primeiro-Ministro, no qual declarou: Em 25 de novembro, Mussolini obteve da Câmara plenos poderes nas áreas fiscal e administrativa até 31 de dezembro de 1923, para "restaurar a ordem". Em 15 de dezembro de 1922, o Grande Conselho do Fascismo foi estabelecido. Em 14 de janeiro de 1923, as camisas negras foi institucionalizada com a criação da "Milizia Volontaria per la Sicurezza Nazionale." Mussolini participou do Congresso Feminista de Roma de 1922 fazendo um discurso favorável à participação política ativa das mulheres. Recebido pelas sufragistas Margherita Ancona e Alice Schiavoni Bosio, participou do IX Congresso da Federação Internacional Pró-Sufrágio, realizado em 1923, prometendo conceder o voto administrativo às mulheres italianas. Mussolini destacou a atitude serena das sufragistas italianas e nesse mesmo ano foi apresentado o projeto de lei que previa a concessão do voto administrativo limitado às heroínas do país, às mães ou viúvas dos mortos na guerra, às mulheres ricas ou instruídas. Em 1925, entrou em vigor uma lei que reconhecia pela primeira vez as eleitoras italianas na esfera administrativa, porém, em 1926, essa lei perdeu efeito porque o prefeito foi substituído pelo podestà que, junto com os conselheiros, era eleito pelo governo e não pelo povo. No final de fevereiro e início de maio de 1923, Mussolini, de acordo com um relatório do Serviço Secreto britânico de Inteligência, reuniu-se com um grupo revolucionário indiano. Mussolini daria seu apoio para liberar a Índia do domínio britânico. Para ele, a Itália deveria dominar o Mediterrâneo e destruir o Império Britânico e os franceses. O conceito de nações burguesas e nações proletárias desenvolveu-se dentro da doutrina fascista. Mussolini considerava que as nações burguesas ou plutocráticas, como a Grã-Bretanha, oprimiam as nações proletárias, como a Itália, e que as nações proletárias deveriam lutar contra as nações burguesas. Mussolini estava presente quando o movimento artístico "Novecento" foi oficialmente lançado, em 1923. Embora Mussolini tenha repreendido Margherita Sarfatti por usar seu nome e o nome do fascismo para promover o Novecento, os artistas apoiaram o regime fascista e seu trabalho foi associado ao departamento de propaganda. Mussolini tinha uma posição ambivalente sobre o estilo de arte, embora em 1934 ele defendesse a arquitetura modernista da crítica nazista e soviética porque, para ele, o modernismo era "racional e funcional". Em 9 de junho, após ter conseguido, com ameaças, a renúncia de um de seus principais antagonistas parlamentares, o sacerdote católico Luigi Sturzo, e a divisão do Partido Popular Italiano com seu discurso de 15 de julho, apresentou à Câmara a lei Acerbo, em matéria eleitoral, por este aprovado em 21 de julho e 13 de novembro pelo Senado, posteriormente passou a ser lei de 18 de novembro de 1923 transformando a Itália em um único eleitorado nacional. Também em julho, graças ao apoio britânico, o domínio italiano do Dodecaneso, ocupado desde 1912, foi reconhecido na conferência de Lausanne. Em 27 de agosto, ocorreu o massacre de Giannina: foi massacrada a expedição militar de Tellini, com a missão de delimitar a fronteira entre a Grécia e a Albânia. Mussolini enviou um ultimato à Grécia para exigir reparações, desculpas e homenagens aos mortos e, após a recusa parcial do governo grego, ordenou que a marinha italiana ocupasse Corfu. Com esta ação, o novo primeiro-ministro quis mostrar que queria seguir uma política externa forte e obteve, graças à Liga das Nações, as reparações necessárias (após a saída da ilha ocupada). Duas semanas antes do incidente em Corfu, Mussolini prometeu aos nacionalistas indianos que lhes daria apoio financeiro. Depois do Putsch de Munique, liderado por Hitler, Mussolini se referiu a eles como "bufões". Em 19 de dezembro, ele presidiu a assinatura do acordo entre a Confederação Geral da Indústria Italiana (Confindustria) e a Confederação das Corporações Fascistas, o chamado Pacto do Palazzo Chigi, (mais tarde, em 1925, o Pacto do Palazzo Vidoni seria feito) pelo qual se buscou "harmonia entre os diferentes elementos de produção", afirmando: Em 30 de dezembro de 1923, foi instituída a criação dos Órgãos Municipais de Assistência com a missão de “coordenar todas as atividades, públicas e privadas, destinadas a ajudar os pobres, provendo, se necessário, seu atendimento, ou promovendo, quando possível, educação, instrução e introdução às profissões, artes e ofícios”. Em 22 de janeiro de 1924, o Tratado de Roma foi assinado entre a Itália e a Iugoslávia, com o qual Fiume seria anexada à Itália em 22 de fevereiro. A partir da marcha sobre Roma, o governo italiano estabeleceu relações diplomáticas com a União Soviética, que melhoraram em fevereiro de 1923, alcançando o reconhecimento da União Soviética e a estipulação de um tratado de comércio e navegação em 7 de fevereiro de 1924. Um acordo com o Reino Unido permitiu que a Itália adquirisse Oltregiuba, uma região do Quênia anexada à Somália italiana. Em 24 de março, ocorreu a primeira tentativa de retransmitir um discurso político. Por superstições, Mussolini ordenou a remoção do Palazzo Chigi de uma múmia que ele havia recebido como um presente devido à Maldição dos Faraós. Medidas econômicas iniciais. Em 1921, Mussolini argumentou que a política econômica fascista era liberal, promovendo essas políticas como “objetivos imediatos”. Mussolini, tendo testemunhado o fracasso econômico do bolchevismo com o comunismo de guerra e a implementação da Nova Política Econômica de Lenin, considerou que a economia de livre mercado ainda tinha alguma relevância e, portanto, uma política econômica que maximizasse e sofisticasse a produtividade material da nação deveria ser implementada porque o capitalismo ainda não havia esgotado sua "função histórica" e estava vivo. A introdução da Nova Política Econômica fez com que os sindicalistas italianos se afastassem do marxismo ortodoxo, determinados a revisá-lo. Eles argumentaram que os bolcheviques não haviam acatado o aviso de Friedrich Engels sobre os perigos de tentar estabelecer uma revolução em um ambiente economicamente atrasado. Mussolini havia concluído em 1917 que o marxismo ortodoxo era amplamente irrelevante para os revolucionários das nações industrialmente atrasadas. Ele defendeu que se a burguesia não pudesse cumprir suas obrigações históricas, então a tarefa seria relegada às massas populares e à vanguarda da elite que orientaria o processo, o que exigiria um compromisso colaboracionista de classe que ele descreveu como "um regime saudável e honesto de classes produtivas", em oposição à luta de classes. Os intelectuais sindicalistas concluíram que uma revolução social bem-sucedida exigia o apoio de revolucionários "sem classe" na ausência de uma indústria madura desenvolvida pela burguesia. Sindicalistas, nacionalistas e futuristas italianos argumentaram que esses revolucionários seriam fascistas, não marxistas. Para eles, o fascismo era "o socialismo das 'nações proletárias'". Nas mãos de Alberto De Stefani, um economista liberal que aderiu ao Partido Nacional Fascista e foi o responsável pela economia italiana de 1922 a 1925, uma profunda reforma foi realizada no sistema tributário italiano, embora essas reformas tivessem sido estabelecido por seu antecessor Filippo Meda. De Stefani aproveitou os poderes concedidos pelo regime para promulgar essas reformas que haviam sido bloqueadas pelo parlamento. Sob De Stefani, foi aplicada uma política de privatização de empresas de grande porte. No entanto, no início de 1923, os industriais ficaram alarmados com os ataques verbais dos sindicalistas fascistas contra o capitalismo, levando alguns a considerar se seria sensato aliar-se aos comunistas para lutar contra os fascistas. Tendo herdado uma situação económica difícil, foi implementada uma política de liberalização da economia e redução de despesas, além de modificar algumas leis para fortalecer os mecanismos produtivos e aliviar o trabalho das administrações públicas, correio e caminhos-de-ferro. Entre 1922 e 1926 houve um período de rápida expansão econômica, especialmente no setor industrial. A produção manufatureira cresceu 10% ao ano, contribuindo para uma forte expansão das exportações. Naqueles anos, o gasto público passou de 35% para 13% do PIB. Os desempregados passaram de 600 000 em 1921 para 100 000 em 1926. Em 1925, o papel-moeda começou a ser destruído para conter a inflação. No total, 320 milhões de liras foram incineradas. No mesmo ano, lançaria uma medida que visava acabar com a especulação no mercado de ações. Durante esse período a prosperidade aumentou, mas isso foi acompanhado de inflação. Embora os resultados da política tenham sido positivos, sua posição no governo se deteriorou devido à oposição de vários grupos, como os fascistas mais radicais que o viam como pró-industrial e excessivamente liberal, os latifundiários do sul e os grupos familiares do norte. De Stefani foi substituído por Giuseppe Volpi. De Stefani mais tarde tornou-se crítico do regime e em 1943 votou a favor do mandado de prisão de Mussolini, refugiando-se posteriormente em um convento. Eleições de 1924. As consultas decorreram num clima geral de violência e intimidação, apesar de Mussolini ter enviado repetidos apelos de ordem aos fascistas e telegramas aos prefeitos para impedir que alguém fosse intimidado, provocado ou agredido. Paralelamente, Mussolini havia contactado telegraficamente os prefeitos para que fizessem todo o possível para garantir a vitória da "Lista Nacional", lista eleitoral de Mussolini, por convencimento dos indecisos, trabalho de propaganda e principalmente por manifestações e celebrações públicas patrióticas e religiosas, nas quais os fascistas podiam se apresentar como os únicos titulares de legitimidade para representar a nação. As eleições terminaram com uma vitória contundente para a Lista Nacional, obtendo 64,9% a nível nacional. A derrota da oposição levou a imprensa contra o fascismo a um forte ataque à violência e ilegalidades cometidas pelos fascistas. Poucos jornais reconheceram a vitória eleitoral. No dia 30 de maio, os abusos, as violências e as fraudes perpetradas pelos fascistas durante a campanha eleitoral e durante a votação foram denunciados pelo deputado socialista Giacomo Matteotti a quem pediu a anulação das eleições. A intervenção desencadeou uma sessão acalorada na qual Matteotti foi interrompido várias vezes. Em 10 de junho de 1924, Matteotti foi sequestrado por esquadrões fascistas e assassinado. Essa ação causou uma crise momentânea. Mussolini não foi acusado no julgamento, que resultou na sentença de seis anos para três militantes fascistas (Amerigo Dumini, Albino Volpi e Amleto Poveromo) que, segundo a sentença, agiram por iniciativa própria. A responsabilidade de Mussolini como instigador do assassinato de Matteotti foi questionada por Renzo de Felice, que o considerava o mais prejudicado na política e pessoalmente por aquele crime na época. O estresse dos acontecimentos levou Mussolini aos primeiros sintomas de uma úlcera duodenal que o acompanhou pelo resto da vida. No dia 26 de junho aconteceria a Secessão do Aventino, ato de protesto realizado por opositores do governo contra Mussolini. O outono de 1924 foi repleto de tensões para Mussolini: alguns fascistas se distanciaram dele, e muitos pediram sua renúncia, para que o "fascismo" pudesse "se recuperar das responsabilidades dos poderes supremos". À medida que a situação se tornava cada vez mais tensa, surgiram rumores de que Mussolini estava considerando um golpe para resolver o problema - uma tese que o historiador De Felice negou. Em 31 de dezembro, Mussolini se reuniu com o Conselho de Ministros. Espalharam-se rumores de que Mussolini renunciaria e seria substituído. No entanto, em 3 de janeiro de 1925, ele faria um discurso onde falaria sobre a morte de Matteotti e estabeleceria uma nova direção para seu governo. Mussolini aproveita a crise provocada pela morte de Matteotti para instaurar a censura à imprensa, que havia iniciado uma campanha exigindo a renúncia de Mussolini ao cargo de Primeiro-Ministro, e iniciar o caminho para a ditadura. Itália Fascista. Consolidação da ditadura fascista. Em 21 de junho, foi realizado o quarto e último congresso do Partido Nacional Fascista, onde Mussolini convida os camisas negras a abandonar definitivamente a violência. No entanto, os trágicos acontecimentos de Giovanni Amendola e Piero Gobetti no início de 1926 provaram que eles ainda estavam ativos. Uma lei aprovada em 24 de dezembro de 1925 mudou o título formal de Mussolini de “Presidente do Conselho de Ministros” para “Chefe do Governo”, esta lei transformou o governo de Mussolini em uma ditadura legal de fato, embora o processo tenha começado no dia 3 de janeiro do mesmo ano. Em 7 de abril de 1926, Mussolini sobreviveu a uma primeira tentativa de assassinato de Violet Gibson. Em 31 de janeiro de 1926, Anteo Zamboni, de 15 anos, tentou atirar em Mussolini em Bolonha. Zamboni foi linchado. Todos os outros partidos foram proibidos após a tentativa de assassinato de Zamboni, embora a Itália fosse um estado de partido único desde 1925. Nesse mesmo ano, uma lei eleitoral aboliu as eleições parlamentares. Medidas aplicadas entre 1925 - 1929. Entre 1925 e 1927, Mussolini desmantelou progressivamente todas as restrições constitucionais e convencionais ao seu poder e construiu um estado policial onde a liberdade de expressão e associação foi desmantelada. Ao mesmo tempo, implementou um extenso programa de culto à personalidade, colocando Mussolini como a figura central da nação. As leis que seriam conferidas neste período seriam conhecidas como Leis Fascistíssimas. Como responsável pela economia da Itália, de 1925 a 1928, Giuseppe Volpi negociou com sucesso o pagamento da dívida da Itália na Primeira Guerra Mundial com os Estados Unidos e o Reino Unido, fixando também o valor da lira ao valor do ouro e implementou políticas de livre comércio. Porém, ao ganhar mais poder, Mussolini orientou sua política econômica em favor da intervenção governamental, substituindo o livre comércio pelo protecionismo. Enquanto o Programa do Partido Nacional Fascista de 1921 previa a redução do Estado a suas funções essenciais, em 1925, Mussolini expressou a necessidade de agrupar todas as forças da nação na unidade geral de um único Estado que representasse a "vontade totalitária" coletiva do fascismo. Em 1925, começariam as Batalhas econômicas italianas que deveriam aumentar o potencial da Itália e transformá-la em uma potência. As batalhas seriam a Batalha pelo trigo (iniciada em 1925), a Batalha pela Lira (iniciada em 1926), a Batalha pelos nascimentos (iniciada em 1927) e a Batalha pela Terra (iniciada em 1928). Mussolini expressaria seu elogio as ideias de Oswald Spengler e às teorias de Keynes: Em 20 de janeiro de 1926, entrou em vigor a lei de imprensa, que previa que os jornais só pudessem ser dirigidos, escritos e impressos se tivessem conselheiro reconhecido pelo Procurador-Geral do Tribunal de Justiça. Em 3 de abril de 1926, a greve foi proibida e ficou estabelecido que apenas sindicatos "legalmente reconhecidos" poderiam assinar acordos coletivos. Para os atentados perpetrados ou organizados em detrimento das figuras mais importantes do Estado, foi instituído o confinamento policial e a pena de morte e instituído o Tribunal Especial de Defesa do Estado. No dia 30 de dezembro, os fasces foram declarados símbolos do estado. Em 21 de abril de 1927, Benito Mussolini promulgou a Carta do Trabalho. Nela se estabelece o reconhecimento das corporações, onde todos os aspectos da produção nacional estavam concentrados, se estabelece o contrato coletivo de trabalho e se considera a iniciativa privada a mais eficiente e útil para os interesses da nação: Estabelecendo que: Enfatizando então: Em 1928, Mussolini diria: Para lidar com a máfia, Mussolini nomeou Cesare Mori para o Senado e lhe deu o controle da cidade de Palermo com o objetivo de erradicar a máfia a qualquer custo. Mussolini, em telegrama, escreveu a Mori: Por meio de tortura e intimidação, conseguiu reduzir a criminalidade e forçou vários mafiosos a fugir (especialmente para os Estados Unidos). Com o tempo, a pressão do Estado e a corrupção garantiu uma tênue paz entre o regime fascista e a máfia siciliana. Durante o regime de Mussolini, a Máfia acabaria perdendo muito poder e influência no sul da Itália, com os índices de assassinato e crimes em geral caindo consideravelmente, especialmente na Sicília. No sul, muitos dos movimentos anti-fascistas tinham ligações com a máfia. Em 1927, Mussolini foi rebatizado por um padre católico romano. Em 5 de junho de 1927, falando no Senado, Mussolini afirmou a linha do revisionismo na política externa, declarando que os tratados estipulados após a Primeira Guerra Mundial ainda eram válidos, mas não deviam ser considerados eternos e imutáveis. Em 1928, o Grande Conselho do Fascismo foi institucionalizado como o órgão constitucional supremo do Estado. Em 1929, as eleições gerais seriam realizadas na Itália na forma de um referendo. Mussolini considerou a possibilidade de um grupo de oposição moderada como um contraponto tolerado, mas os socialistas moderados recusaram este pedido. Na época, o país era um estado de partido único com o Partido Nacional Fascista como o único partido legalmente autorizado. Ações após 1929. Em 1929, necessitando de apoio dos católicos, pôs fim à Questão Romana (conflito entre os papas e o Estado italiano) assinando o Tratado de Latrão com o cardeal Pietro Gasparri. Por esse tratado, firmou-se um acordo pelo qual a soberania do Estado do Vaticano foi reconhecida, o Sumo Pontífice recebia indemnização monetária pelas perdas territoriais, o ensino religioso era obrigatório nas escolas italianas, o catolicismo virava a religião oficial da Itália e se proibia a admissão em cargos públicos dos sacerdotes que abandonassem a batina. O Papa Pio XI elogiou Mussolini, e o jornal católico oficial declarou que "a Itália tem devolvido Deus e Deus à Itália". Após essa conciliação, Mussolini afirmou que a Igreja estava subordinada ao Estado, e "se referiu ao catolicismo como, na origem, uma seita menor que se espalhou para além da Palestina apenas porque se inseriu na organização do Império Romano". Após a concordata, Mussolini "confiscou mais tópicos de jornais católicos nos próximos três meses do que nos sete anos anteriores". Mussolini teria chegado perto de ser excomungado da Igreja Católica na época. A 19 de abril daquele ano foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito de Portugal. Internamente, Mussolini buscou retirar a Itália da recessão econômica e modernizar a nação. Era um período turbulento na Europa pós-primeira grande guerra, com o medo do comunismo por parte das elites políticas e os desejos das classes trabalhadoras, resultando em um caos social. Nesse mesmo ano, Mussolini ordenou ao seu Estado-Maior do Exército que começasse a planejar a agressão contra a França e a Iugoslávia. Em 1930, Arnaldo Mussolini, sob o patrocínio de seu irmão Benito Mussolini, fundou a Escola de Misticismo Fascista. Esta escola, que esteve ativa até 1943, visava forjar novos líderes fascistas sob o estudo de intelectuais fascistas que se propunham a reavivar a alma do mais verdadeiro fascismo, a dos primeiros anos do movimento, para dá-la às novas gerações. Esta ação produziria conflitos com a Igreja Católica. Em meados de 1931, o regime fascista começou a reprimir a organização Ação Católica. No mesmo ano, a encíclica papal Non abbiamo bisogno denunciou a "idolatria pagã do Estado". Este documento provocou novas restrições, com os fascistas ultra-católicos expurgados do Partido, os estudantes foram forçados a se juntar a organizações fascistas, e grupos de jovens católicos e organizações de trabalhadores foram agredidos fisicamente. Foram proclamadas leis de tolerância religiosa a favor de protestantes e judeus que enfureciam os líderes católicos. Em 1932 foi alcançado um acordo pelo qual a Ação Católica foi dissolvida em unidades separadas e as demais organizações católicas teriam liberdade restrita principalmente às atividades religiosas. Mussolini reconciliou-se publicamente com o Papa Pio XI naquele mesmo ano, mas "teve o cuidado de excluir dos jornais qualquer fotografia sua ajoelhada ou demonstrando deferência ao Papa". Ele queria persuadir os católicos de que "o fascismo era católico e ele próprio um crente que passava parte de cada dia em oração …". O Papa Pio XI saudou Mussolini como "o Homem da Providência". Apesar dos esforços de Mussolini em parecer piedoso, por ordem de seu partido, os pronomes que se referiam a ele "tinham que ser escritos em maiúscula como aqueles que se referem a Deus". Por outro lado, em uma conversa com Emil Ludwig, Mussolini descreveu o anti-semitismo como um "vício alemão" e declarou que "não havia 'nenhuma questão judaica' na Itália e não poderia ser em um país com uma política saudável". Em 1934, em um livro sobre a filosofia de Mussolini, foi especificado que o fascismo se baseava em "princípios fundamentalmente pagãos". Os fascistas criaram o culto de seus "mártires" caídos, como Ines Donati. Em 1931, a convite de Mussolini, Mahatma Gandhi visitaria a Itália onde assistiria a um desfile de jovens fascistas. Mussolini saudaria Gandhi como um "gênio e um santo" admirando sua capacidade de desafiar o Império Britânico. Dois anos depois, Mussolini receberia de Sigmund Freud um livro que escrevera com Albert Einstein e colaboraria na produção do documentário "Mussolini Speaks", realizado pela Columbia Pictures. Em 1932 terminaria a chamada Pacificação da Líbia, um longo e sangrento conflito que começou em 1923 durante a colonização italiana da Líbia, quando o principal líder dos senussis Omar al-Mukhtar foi capturado e executado. Naquela guerra, houve crimes de guerra cometidos pelos italianos que incluíram o uso de armas químicas, a execução de combatentes que se renderam e o massacre de civis enquanto os senussis eram acusados de torturar e mutilar italianos capturados e recusar-se a fazer prisioneiros. Mais tarde, em 1937, os muçulmanos da Líbia deram a Mussolini a "Espada do Islã", enquanto a propaganda fascista o declarava o "Protetor do Islã". Nesse mesmo ano, 1932, Mussolini publicou, com a ajuda de Giovanni Gentile, seu ensaio "A Doutrina do Fascismo" na Enciclopédia Italiana. No ano seguinte, Mussolini daria à escritora Jane Soames autorização para traduzir seu ensaio para o inglês. No final de 1932 e início de 1933, Mussolini planejou lançar um ataque surpresa contra a França e a Iugoslávia que deveria começar em agosto de 1933, com a crença de que a França estava à beira do colapso desde meados de 1932. A guerra planejada de Mussolini para 1933 só foi interrompida quando ele soube que o Deuxième Bureau francês havia quebrou os códigos militares italianos e que os franceses, tendo sido avisados ​​de todos os planos italianos, estavam bem preparados para o ataque italiano. Em 1934, Mussolini apoiou o estabelecimento da Academia Naval Betar em Civitavecchia para treinar cadetes sionistas sob a liderança de Zeev Jabotinsky, argumentando que um estado judeu seria do interesse da Itália. Inicialmente, Mussolini considerou que o estabelecimento dos judeus na Palestina fortaleceria a Grã-Bretanha já que considerava ao sionismo como um instrumento político de Londres. No entanto, em 1926, apoiou o projeto sionista com a condição de ser independente da influência britânica, reunindo-se com Chaim Weizmann, que se tornaria o primeiro presidente de Israel. Até 1938, Mussolini negou qualquer anti-semitismo dentro do fascismo. Em 1930, Mussolini apoiou movimentos políticos na Alemanha que podiam competir contra os nazistas e eram mais parecidos com o fascismo italiano: o Partido Popular Nacional Alemão, os antigos combatentes do Stahlhem e alguns grupos Freikorps. Mas a ascensão da hegemonia nazista tornou todos esses esforços fúteis. Depois que Adolf Hitler chegou ao poder na Alemanha, em 1933, ameaçando os interesses italianos na Áustria e na bacia do Danúbio, Mussolini propôs o Pacto de Quatro Potências com a Grã-Bretanha, França e Alemanha como um meio de garantir a segurança internacional, embora tivesse elogiado a ascensão de Hitler ao poder enquanto tinha dado algum apoio financeiro ao Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (mais conhecido como Partido Nazista) e treinamento aos homens da SA. Em agosto de 1933, Mussolini emitiu uma garantia da independência austríaca e trocaria "cartas secretas" com Engelbert Dollfuss, político austríaco que serviu como Chanceler da Áustria, sobre maneiras de garantir a independência da Áustria em face das reivindicações de Adolf Hitler de unificação com a Alemanha. Mussolini se encontraria com Hitler em Veneza em junho de 1934, onde falariam sobre a Áustria. Mussolini diria: Embora a propaganda apresentasse ambos como aliados, Mussolini desprezava Hitler, apesar da admiração de Hitler por ele, e seu partido até descreveu o livro de Hitler, "Mein Kampf", como "enfadonho" e pensava que as ideias de Hitler eram "rudes" e "simplistas". Mussolini estava interessado em que a Áustria formasse uma zona-tampão contra a Alemanha nazista. Dollfuss destacou as semelhanças entre os regimes de Hitler na Alemanha e de Stalin na União Soviética, pensando que o austrofascismo e o fascismo italiano poderiam neutralizar o nazismo e o comunismo na Europa. Em 25 de julho de 1934, Dollfuss foi assassinado por partidários nazistas austríacos. Mussolini não hesitou em atribuir o ataque a Adolf Hitler, dando a notícia pessoalmente à viúva de Dollfuss, que havia sido convidada para sua vila em Riccione com os filhos. Ele também colocou à disposição de Ernst Rüdiger Starhemberg, um nacionalista e político austríaco, um avião que lhe permitiu retornar a Viena. Mussolini mobilizou parte do exército italiano na fronteira austríaca e ameaçou Hitler com a guerra no caso de uma invasão alemã da Áustria. Então ele anunciou: Mais tarde, ele substituiu na praça principal de Bolzano a estátua de Walther von der Vogelweide, um trovador germânico, pela de Druso, um general romano que conquistou parte da Alemanha. Dollfuss era o principal aliado de Mussolini. A tentativa dos nazistas austríacos de tomar o poder falhou. Anos depois, tendo a Itália como aliada, Hitler anexaria a Áustria. Mussolini promoveria, em 1935, junto com o Primeiro-Ministro britânico Ramsay MacDonald, a Conferência de Stresa com o objetivo de reafirmar o Tratado de Locarno e resistir a qualquer tentativa futura da Alemanha de alterar o Tratado de Versalhes. Este tratado seria quebrado após a invasão da Abissínia pela Itália. Após o assassinato de Dollfuss, Mussolini rejeitou muito do racialismo e anti-semitismo defendido por Hitler e, em vez disso, enfatizou a "italianização" das partes do Império Italiano que ele desejava construir. Ele afirmou que as ideias de eugenia e o conceito racialmente carregado de uma nação ariana não eram possíveis. Mussolini rejeitou a ideia de uma raça superior como "absurda, estúpida e idiota". Ao discutir o decreto nazista de que o povo alemão deveria portar um passaporte com afiliação racial ariana ou judaica marcada nele, em 1934, Mussolini se perguntou como eles designariam a adesão à "raça germânica": Em um discurso proferido em Bari em 1934, Mussolini diria referindo-se aos alemães e à ideologia nazista: Mussolini viu a Copa do Mundo de 1934, a ser realizada na Itália, como uma poderosa ferramenta de propaganda. Na final, os italianos enfrentaram os checoslovacos. Mussolini, na noite anterior ao jogo, aproximou-se deles dizendo: "se os checos jogarem limpo, jogaremos limpo. Isso é o mais importante, mas se quiserem jogar sujo, os italianos têm de jogar mais sujo". Na próxima edição da Copa do Mundo, realizada na França em 1938, Mussolini queria que sua equipe ganhasse para que os rumores de supostas compras de árbitros fossem descartados. Antes da final, Mussolini enviou um telegrama desejando felicidades a sua equipe, embora se espalhem rumores de que o telegrama dizia: "Vencer ou morrer". A seleção italiana venceu o húngaro e o presidente francês, Albert Lebrun, ficou encarregado de entregar a taça ao capitão Giuseppe Meazza. Ao chegar à Itália, Mussolini entregou aos jogadores de futebol um prêmio de 8 000 liras. Inauguraria uma estátua a Simón Bolívar em abril de 1934. Mussolini considerava que Bolívar "contribuiu com um trabalho verdadeiramente revolucionário e criativo para lançar as bases da América Latina de hoje" ("ver: Fascismo na América do Sul"). Em 1935, Mussolini foi nomeado duas vezes ao Prêmio Nobel da Paz, a primeira nomeação feita pelos professores da Faculdade de Direito da Universidade de Giessen e a segunda feita por Gilbert Gidel. Em 1936, Mussolini ordenaria a retirada do pedestal da estátua do imperador romano Nero. O corporativismo fascista. Na área econômica iniciou um programa de construção de obras públicas, investimentos em educação de base, propaganda fascista nas escolas e introdução de novas técnicas de agricultura. Mussolini acompanhou suas medidas econômicas com propaganda por parte dos meios de comunicação (agora controlados pelo Estado) para dar a ideia de modernidade e progresso. Em 1932, Antonio Mosconi, que estava no comando da economia desde 1928 depois de suceder Giuseppe Volpi, deixou o cargo por desentendimento com Mussolini e foi substituído por Guido Jung. Ele reduziria a capacidade de gastos militares de 32% para 25% e, em vez disso, aumentaria os fundos destinados à construção de grandes obras públicas. Nesse mesmo ano aconteceria o II Congresso de Estudos Sindicais e Corporativos de Ferrara, onde Ugo Spirito apresentaria a ideia da "corporação proprietária" que seria apoiada por Mussolini. Devido à Crise de 29, o "Istituto per la Ricostruzione Industriale" (IRI) foi criado em 1933, com ajuda de Guido Jung e Alberto Beneduce, com o objetivo de salvar os principais bancos italianos da falência. Naquele ano, Mussolini argumentaria que a Itália não era "uma nação capitalista no sentido atual da palavra", acrescentando que: Para Mussolini, o capitalismo não devia ser confundido com a burguesia, pois o capitalismo era "um modo de produção específico". Entretanto, para Mussolini, o "espírito burguês" era uma ameaça ao regime fascista, proclamando o princípio da "revolução contínua" contra esta ameaça. Mussolini expressaria que o capitalismo passou por diferentes fases, estas fases eram: capitalismo heróico (que se tinha desenvolvido entre 1830 - 1870), capitalismo estático (1870 - 1914) e supercapitalismo ou capitalismo decadente. A última etapa do capitalismo, o supercapitalismo, foi caracterizada pela "utopia do consumo ilimitado", a uniformização dos seres humanos e pela conversão das empresas em fenômeno social, deixando de ser fenômeno econômico. Naquele momento, as empresas capitalistas "achando-se em dificuldades, atira-se nos braços do Estado; é o momento em que se torna cada vez mais necessária a intervenção do Estado". As empresas, portanto, ao apelarem "ao capital de todos" deixam "o seu carácter privado" e tornam-se "um facto público ou, se quiserem, social". Mussolini pensava no sistema socialista marxista em termos de supercapitalismo de estado e identificaria quatro tipos de intervenção estatal: liberal, comunista, norte-americano e fascista. Vendo o New Deal do presidente dos Estados Unidos, Franklin D. Roosevelt, Mussolini consideraria aquele programa uma cópia das políticas econômicas fascistas. O corporativismo, como pensava Mussolini, foi gradualmente implantado na Itália, especialmente a partir de 1925. Mussolini considerou que o liberalismo político havia sido superado em 1923 com a criação do Grande Conselho Fascista, enquanto o liberalismo econômico em 1933. Para ele, o corporativismo representa uma nova "fase da civilização" após a queda do capitalismo, passando de uma economia baseada "no lucro individual" para uma centrada no "interesse coletivo", onde um dos seus aspectos seria alcançar a "justiça social mais elevada". Além disso, Mussolini previu que o corporativismo, diante da crise geral do capitalismo, era a opção mais viável que outros países poderiam aplicar. Mussolini iniciou esforços para expandir a doutrina fascista. Em 1933, Mussolini coordenou a criação do Comitati d'Azione per l'Universalità di Roma (CAUR), onde foi estabelecida a base de uma Internacional Fascista semelhante à Internacional Comunista. Em 5 de fevereiro de 1934, foram constituídas legalmente as corporações que se destinavam a dirigir os setores da vida econômica na Itália. O IRI se tornaria o proprietário e operador de fato de um grande número de bancos e empresas, controlando, em janeiro de 1934, 48,5% do capital social da Itália. Em maio de 1934, enquanto o processo de aquisição de ativos bancários estava sendo desenvolvido pelo IRI, Mussolini anunciou que: Em 1935 instituiu controle de preços para tentar combater a inflação. Seu projeto visava transformar o país auto-suficiente, através de medidas como protecionismo comercial. Os discursos e disposições sobre a implementação do corporativismo seriam coletados no livro "O Estado Corporativo". Aliança com Hitler. Na década de 1930 a Itália Fascista tentaria estabelecer um lugar entre as nações europeias importantes, dirigindo sua atenção quase exclusivamente para as relações exteriores. No âmbito externo, tentou cultivar boas relações com os vizinhos europeus, mas as desavenças eram crescentes com o Reino Unido e com a França, especialmente quando o assunto era as possessões coloniais na África, porque Mussolini queria emular o Império Romano e criar um império aumentando suas posses coloniais. Assim, buscou se aproximar mais e mais da Alemanha de Adolf Hitler, apesar de seus esforços iniciais para conter o poder da Alemanha nazista. Em 1935, invadiu a Abissínia - atual Etiópia (Segunda Guerra Ítalo-Etíope), perdendo assim o apoio da França e da Inglaterra, até então seus aliados políticos. Esta campanha militar fez mais de meio milhão de mortos entre os africanos, face a cerca de 5 000 baixas do lado italiano. Foram usadas armas químicas contra a população local, um facto que não foi noticiado na imprensa italiana, controlada por Mussolini. A Itália foi duramente criticada na Liga das Nações, mas Hitler, que havia removido a Alemanha da Liga em 1933, apoiou a ação de Mussolini. Só então foi feito em aliança com Adolf Hitler, com quem firmaria vários tratados (Hitler chegou a enviar 10 mil rifles Mauser para a Abíssinia e 10 milhões de cartuchos). O imperador Haile Selassie foi forçado a fugir do país e a Itália entrou na capital, Adis Abeba, para proclamar um império em maio de 1936, tornando a Etiópia parte da África Oriental italiana. Após as sanções impostas à Itália, que entrou em vigor em 18 de novembro de 1935, por sua política imperialista, o processo de obtenção da autarquia foi acelerado. Mussolini diria em 1936: Posteriormente, ele afirmaria já focando no aspecto econômico: Em setembro de 1937, Mussolini fez uma visita oficial à Alemanha, onde encontrou um longo desfile de tropas, artilharia e equipamento militar. Essas demonstrações de força foram obviamente convocadas para impressionar o líder italiano, e funcionou. Em 29 de setembro de 1937, Mussolini anunciou que o fascismo e o nacional-socialismo tinham muitos pontos em comum: uma rejeição do materialismo histórico e um compromisso com a eficácia de uma vontade determinada, corajosa e tenaz, e falou das necessidades de independência econômica e da correspondente preparação militar de ambos os regimes. Em novembro, Mussolini indicaria que a Itália Fascista não mais obstruiria as tentativas alemãs de anexar a Áustria ao Reich. Embora Mussolini inicialmente expressasse sua desaprovação da política racista expressa pelos nazistas, a partir de 1938, ao mesmo tempo que a aliança com a Alemanha, o regime fascista introduziu o Manifesto da Raça e promulgou uma série de decretos, todos eles conhecidos como leis raciais fascistas, que introduziram disposições segregacionistas contra os judeus italianos e os súditos de cor do Império. Estas foram lidas pela primeira vez em 18 de setembro de 1938 em Trieste por Mussolini da sacada da Câmara Municipal por ocasião de sua visita à cidade. Mesmo após a introdução das leis raciais fascistas, Mussolini continuou a fazer declarações contraditórias sobre raça, chegando a declarar em 1938 que era racista desde 1921. Mussolini, através do uso do trabalho de Julius Evola, tentaria reduzir a distância ideológica entre o fascismo e o nazismo, pois acreditava que não havia outra escolha senão seguir a Alemanha no que ele esperava que fosse um conflito de curta duração. A partir de tais circunstâncias, era essencial reduzir a distância ideológica entre os dois regimes, embora ele não tivesse intenção de permitir que as teorias raciais nazistas encontrassem um lugar dentro da doutrina fascista. Muitos altos funcionários do governo disseram aos representantes judeus que o anti-semitismo na Itália fascista acabaria em breve. Hitler ficou desapontado com a falta de anti-semitismo de Mussolini, assim como Joseph Goebbels, que afirmou que "Mussolini parece não ter reconhecido a questão judaica". O teórico racial nazista Alfred Rosenberg criticou a Itália Fascista por sua falta do que ele definiu como um verdadeiro conceito de 'raça' e 'judaísmo', enquanto o virulentamente racista Julius Streicher, escrevendo para o jornal não oficial de propaganda nazista "Der Stürmer", considerou Mussolini um fantoche judeu e lacaio. O anti-semitismo era impopular entre os partidários fascistas; uma vez, quando um estudioso fascista protestou a Mussolini sobre o tratamento dos judeus, Mussolini disse: Em 1938, Mussolini começou a reavaliar seu anticlericalismo. Ele às vezes se referia a si mesmo como um "descrente absoluto", e uma vez disse a seu gabinete que "o Islã talvez fosse uma religião mais eficaz do que o Cristianismo" e que "o Papado era um tumor maligno no corpo da Itália e precisava ser 'extirpado de uma vez por todas', porque não havia lugar em Roma para o Papa assim como para ele". Após a anexação da Áustria à Alemanha, Mussolini pediu ao Papa Pio XI que excomungasse Hitler. Por outro lado, Mussolini consideraria Josef Stalin um "criptofascista". Mussolini receberia de Stalin as instruções para as cerimônias do "Dia de Maio". De 1937 a 1939, Mussolini abertamente encorajou os italianos a promover uma atitude anti-burguesa, fazendo com que os italianos enviassem caricaturas anti-burguesas para serem publicadas em jornais. Em 1938, Mussolini intensificou uma campanha de relações públicas contra a burguesia italiana, acusando-a de preferir o lucro privado à vitória nacional. Mussolini identifica o burguês como inimigo número um da revolução fascista, concluindo, em um discurso, que o “espírito burguês … deve ser isolado e destruído”. Entre 1936 e 1939, Mussolini enviou vários destacamentos para se juntar aos falangistas de Francisco Franco, a quem considerava um "idiota", durante a Guerra Civil Espanhola e enviou fundos para o líder árabe Mohammad Amin al-Husayni e seus aliados durante a Revolta Árabe na Palestina contra a Grã-Bretanha. Mussolini estaria presente no Acordo de Munique, onde seria decidida a transferência dos territórios da Checoslováquia para a Alemanha. Hitler diria: Um acordo foi alcançado em 29 de setembro e, por volta de 1h30 de 30 de setembro de 1938, Adolf Hitler, Neville Chamberlain, Benito Mussolini e Édouard Daladier assinaram o Acordo de Munique. Além de seu italiano nativo, Mussolini falava inglês, francês com sotaque, mas fluente, e alemão questionável (seu orgulho significava que ele não usava um intérprete alemão). Isso foi notável na Conferência de Munique, já que nenhum outro líder nacional falava outra coisa senão sua língua materna; Mussolini foi descrito como efetivamente o "intérprete principal" da Conferência. Ações pré-guerra. No final dos anos 1930, a obsessão de Mussolini com a demografia o levou a concluir que a Grã-Bretanha e a França haviam acabado como potências, e que a Alemanha e a Itália estavam destinadas a governar a Europa, pelo menos por causa de sua força demográfica. Mussolini afirmou sua crença de que o declínio nas taxas de natalidade na França foi "absolutamente horrível" e que o Império Britânico estava condenado porque um quarto da população britânica tinha mais de 50 anos. Como tal, Mussolini acreditava que uma aliança com a Alemanha era preferível um alinhamento com a Grã-Bretanha e a França, já que era melhor aliar-se aos fortes do que aos fracos. Mussolini via as relações internacionais como uma luta social darwiniana entre nações "viris" com altas taxas de natalidade que estavam destinadas a destruir nações "decadentes" com baixas taxas de natalidade. Mussolini acreditava que a França era uma nação "fraca e velha" e ele não tinha interesse em uma aliança com a França. Tal era a crença de Mussolini de que o destino da Itália era governar o Mediterrâneo por causa da alta taxa de natalidade da Itália que ele negligenciou muito do planejamento e dos preparativos sérios necessários para uma guerra com as potências ocidentais. Os únicos argumentos que impediram Mussolini de se alinhar completamente com Berlim foram sua consciência da fraqueza econômica e militar da Itália, o que significa que ele precisava de mais tempo para se rearmar, e seu desejo de usar os Acordos de Páscoa de abril de 1938 como uma forma de dividir a Grã-Bretanha da França. Em 30 de novembro de 1938, Mussolini convidou o embaixador francês André François-Poncet para assistir à inauguração da Câmara dos Deputados italiana, durante a qual os deputados reunidos, a seu sinal, começaram a se manifestar ruidosamente contra a França, gritando que A Itália deve anexar "Tunísia, Nice, Córsega, Sabóia!", Que foi seguida pelos deputados que marcharam nas ruas carregando cartazes. O primeiro-ministro francês Édouard Daladier foi rápido em rejeitar as demandas italianas de concessões territoriais e, durante grande parte do inverno de 1938 - 1939, França e Itália estiveram à beira da guerra. Em janeiro de 1939, o primeiro-ministro britânico Neville Chamberlain visitou Roma, durante a qual a visita de Mussolini soube que embora a Grã-Bretanha desejasse melhores relações com a Itália, e estivesse disposta a fazer concessões, não cortaria todos os laços com a França. para o bem de uma relação anglo-italiana melhorada. Com isso, Mussolini ficou mais interessado na oferta alemã de uma aliança militar, que havia sido feita pela primeira vez em maio de 1938. Em fevereiro de 1939, Mussolini fez um discurso para o Grande Conselho Fascista, durante que proclamava sua crença de que o poder de um Estado é "proporcional à sua posição marítima" e que a Itália era "prisioneira no Mediterrâneo e quanto mais populosa e poderosa a Itália se torna, mais sofrerá sua prisão. As grades desta prisão são Córsega, Tunísia, Malta, Chipre: as sentinelas nesta prisão são Gibraltar e Suez". Em 21 de março de 1939, durante uma reunião do Grande Conselho Fascista, Italo Balbo acusou Mussolini de "lamber as botas de Hitler", criticou a política externa pró-alemã do Duce por levar a Itália ao desastre e observou que a "abertura A Grã-Bretanha" ainda existia e não era inevitável que a Itália tivesse que se aliar à Alemanha. Em abril de 1939, Mussolini ordenou a invasão italiana da Albânia. A Itália derrotou a Albânia em apenas cinco dias, forçando o Rei Zog a fugir e estabelecendo um período de Albânia sob a Itália. O acordo do Eixo de 1936 com a Alemanha foi reforçado com a assinatura do Pacto de Aço em 22 de maio de 1939, que uniu a Itália fascista e a Alemanha nazista em uma aliança militar total. Essa aliança, à qual o Japão se juntaria, levaria o mundo à Segunda Guerra Mundial. Hitler sugeriu a Mussolini que ele invadisse a Iugoslávia. A oferta era tentadora, embora naquela época uma guerra fosse um desastre para a Itália devido à sua parca situação de armas. Quando a Segunda Guerra Mundial começou, a Itália não estava envolvida no conflito. Mussolini pensaria em fazer uma campanha na imprensa "para explicar aos italianos que o bolchevismo (estava) morto e (tinha) dado lugar a uma espécie de fascismo eslavo", mas foi dissuadido por Galeazzo Ciano. No entanto, quando os nazistas prenderam 183 professores da Universidade Jaguelônica em Cracóvia, Polônia, em 6 de novembro de 1939, Mussolini interveio pessoalmente, conseguindo a libertação de 101 poloneses. Em 4 de dezembro de 1939, Galeazzo Ciano escreveu que: Na Segunda Guerra Mundial. Guerra declarada. Convencido de que a guerra logo terminaria, com uma vitória alemã provavelmente à vista, Mussolini decidiu entrar na guerra do lado do Eixo. Consequentemente, a Itália declarou guerra à Grã-Bretanha e à França em 10 de junho de 1940. Mussolini via a guerra contra a Grã-Bretanha e a França como uma luta de vida ou morte entre ideologias opostas - o fascismo e as "democracias plutocráticas e reacionárias do Ocidente“ - descrevendo a guerra como "a luta dos povos pobres mas ricos de trabalhadores contra os exploradores que se apegam ferozmente ao monopólio de todas as riquezas e ouro da terra; a luta dos férteis e dos jovens contra os estéreis que se movem para o pôr-do-sol; é a luta entre dois séculos e duas ideias”, e como um "desenvolvimento lógico da nossa Revolução”. Em 12 de fevereiro de 1941, Francisco Franco reuniu-se com Mussolini, por instrução de Hitler, para decidir a entrada da Espanha na guerra na reunião conhecida como a Entrevista de Bordighera. Em 23 de fevereiro, Mussolini declarou que eles estavam "em guerra desde 1922" sendo sua "revolução" defendida do "mundo maçônico, democrático e capitalista" e lutando contra "o liberalismo mundial, a democracia e a plutocracia", acrescentando que: Mussolini disse ao Conselho de Ministros em 5 de julho que sua única preocupação era que a Alemanha pudesse derrotar a União Soviética antes que os italianos chegassem. No inverno de 1941, Mussolini falou de um programa de socialização onde os trabalhadores faziam parte do governo fascista que considerava realizá-lo depois de vencer a guerra. Depois do ataque japonês a Pearl Harbor, ele declarou guerra aos Estados Unidos em 11 de dezembro de 1941. Uma evidência sobre a resposta de Mussolini ao ataque a Pearl Harbor vem do diário de seu ministro das Relações Exteriores, Galeazzo Ciano: Mussolini iria lutar contra os Aliados e, após várias e quase consecutivas derrotas, apesar do apoio militar alemão e sobretudo depois do desembarque aliado na Sicília, caiu em desgraça, embora nessa fase ele estivesse considerando realizar a socialização da economia. Estava ciente de que a Itália não estava preparada para uma longa guerra, mas escolheu permanecer no conflito a fim de não abandonar os territórios ocupados e as ambições imperialistas fascistas. Mussolini se encontraria com o embaixador japonês, Shinrokurō Hidaka, que havia esperado três semanas por uma audiência de cortesia. Hidaka ouviu Mussolini solicitar que o primeiro-ministro japonês, general Hideki Tōjō, contatasse Hitler e o convencesse a chegar a um acordo com Stalin, caso contrário, a Itália seria vista saindo da aliança. Mussolini seria derrubado e preso em 25 de julho de 1943, sendo substituído por Pietro Badoglio. Naquela época, o descontentamento com Mussolini era tão intenso que, quando a notícia de sua queda foi anunciada no rádio, não houve resistência de qualquer espécie. As pessoas se alegraram porque acreditavam que o fim de Mussolini também significava o fim da guerra. Depois da queda do poder em 1943, Mussolini começou a falar "mais sobre Deus e as obrigações da consciência", embora "ainda tivesse pouco uso dos sacerdotes e dos sacramentos da Igreja". Ele também começou a traçar paralelos entre ele e Jesus Cristo. A viúva de Mussolini, Rachele, afirmou que seu marido permaneceu "basicamente irreligioso até os últimos anos de sua vida". Foi libertado pelos pára-quedistas SS alemães do hotel/prisão no Gran Sasso em 12 de setembro de 1943 em ação de resgate chamada de Operação Carvalho liderada por Otto Skorzeny, conhecida como "Operação Eiche" (Carvalho). O resgate salvou Mussolini de ser entregue aos Aliados de acordo com o armistício. República Social Italiana. Três dias após seu resgate, Mussolini foi levado à Alemanha para um encontro com Hitler em Rastenburg, em seu quartel-general na Prússia Oriental. Apesar das profissões públicas de apoio, Hitler estava claramente chocado com a aparência desleixada e abatida de Mussolini, bem como sua relutância em ir atrás dos homens em Roma que o derrubaram. Mussolini concordou em estabelecer um novo regime, a República Social Italiana. Mussolini procurou Nicola Bombacci, um dos fundadores do Partido Comunista Italiano, para ajudá-lo a espalhar a ideia de que o fascismo era um movimento progressista. Mussolini considerou a ideia de chamar sua nova república de "República Socialista Italiana". Em 13 de setembro de 1943, o Partido Republicano Fascista seria estabelecido como o sucessor do Partido Nacional Fascista. Mussolini nomearia Alessandro Pavolini como "secretário provisório do Partido Nacional Fascista, que a partir de agora será chamado de Partido Republicano Fascista". Estimulado por Mussolini, o Partido Republicano Fascista assume posições populistas e lança ataques ao capitalismo. Mussolini argumentou que a "burguesia plutocrática", juntamente com a monarquia e alguns elementos militares, havia comprometido o curso da guerra, além de desviar o curso do fascismo revolucionário. Ao suprimir a monarquia junto com os principais líderes da indústria, ele pretendia que o fascismo pudesse fazer do trabalho a "base inabalável do Estado", perseguindo assim sua própria revolução social. Em 18 de setembro, Mussolini anunciou a formação do República Social Italiana: A República Social Italiana (RSI) foi proclamada em 23 de setembro, com Mussolini como chefe de estado e primeiro-ministro. O RSI reivindicou Roma como sua capital, mas a capital de fato tornou-se a pequena cidade de Salò no Lago Garda, a meio caminho entre Milão e Veneza, onde Mussolini residia. No dia 27 de outubro, Mussolini anunciou "a preparação da Grande Assembleia Constituinte, que lançará as bases sólidas da República Social Italiana". Mussolini, junto com Nicola Bombacci e outros apoiadores, com base nas ideias de Ugo Spirito, Ivanovyč Nestor Machno, no socialismo fabiano e no distribucionismo geseliano, prepararia o Manifesto de Verona que foi aprovado em 14 de novembro de 1943. O preâmbulo indica a "continuação da guerra junto com a Alemanha e o Japão até a vitória final". O Manifesto de Verona declarou os que pertenciam à "raça hebraica" como estrangeiros e, durante a guerra, como inimigos, também foi estabelecido que: Além de: E: Estabelecendo a "socialização da economia": Mussolini concebeu a República Social Italiana como uma "Itália sem Mussolini" que "a restauração monárquica e capitalista" não poderia reverter devido ao processo de socialização da economia que pretendia legar "uma economia socializada à Itália do pós-guerra". Mussolini afirmou que nunca abandonou suas influências socialistas e que nos anos 1939-1940 planejou a nacionalização da propriedade privada e que a guerra o induziu a adiá-la. O processo de socialização seria visto com preocupação pelos industriais, tanto italianos quanto alemães, e considerado uma farsa por parte dos trabalhadores. A implementação total do processo de socialização estava prevista para 25 de abril de 1945, porém, após derrotar o fascismo, os membros do Comitê de Libertação Nacional cancelariam o projeto, embora cerca de 6000 empresas já tenham sido socializadas, como a FIAT. A República Social Italiana se tornaria um protetorado da Alemanha nazista. A caça aos judeus começaria em território italiano, sendo recompensada com dinheiro. Até setembro de 1943, a Alemanha não fez nenhuma tentativa séria de forçar Mussolini e a Itália Fascista a entregar os judeus italianos. No entanto, eles ficaram irritados com a recusa da Itália em prender e deportar sua população judaica, sentindo que isso encorajava outros países aliados às potências do Eixo a recusarem também. Em dezembro de 1943, Mussolini fez uma confissão ao jornalista e político Bruno Spampanato, indicando que lamentava o "Manifesto da Raça": Mussolini se opôs a qualquer redução territorial do estado italiano e disse a seus associados: Por cerca de um ano e meio, Mussolini viveu em Gargnano, no Lago Garda, na Lombardia. Embora ele insistisse publicamente que estava no controle total, ele sabia que era simplesmente um governante fantoche sob a proteção dos alemães. Na verdade, ele vivia sob o que equivalia a uma prisão domiciliar pela SS, que restringia suas comunicações e viagens. Ele disse a um de seus colegas que ser mandado para um campo de concentração era preferível a ser um fantoche. Depois de ceder à pressão de Hitler, Mussolini ajudou a orquestrar uma série de execuções de alguns dos líderes fascistas que o traíram na última reunião do Grande Conselho Fascista. Um dos executados foi seu genro, Galeazzo Ciano. Ao saber da execução de Ciano, Mussolini disse a Rachele Guidi: "Desde aquela manhã comecei a morrer". Como Chefe de Estado e Ministro das Relações Exteriores da República Social Italiana, Mussolini usou muito de seu tempo para escrever suas memórias. Junto com seus escritos autobiográficos de 1928, esses escritos seriam combinados e publicados pela Da Capo Press como "My Rise and Fall." Em uma reunião realizada em 1º de abril, Mussolini diria a Ottavio Dinale que, em uma de suas reuniões com Hitler, Hitler lhe confessou que havia lido Nietzsche e Schopenhauer, além de ter lido em profundidade livros de escritores ocultistas. Hitler tentaria fazê-lo acreditar que estava mística e cientificamente "convencido de que estava possuído não por um demônio, mas por um espírito de mitologia ariana pré-histórica". Para Mussolini, Hitler havia aprendido com as ciências ocultas como enganar seu povo e o mundo, e compreendeu "a sensação estranha e inexplicável que seus discursos sempre me davam, que se caracterizavam por um tom profético que não podia deixar de surpreender seus ouvintes". Mussolini estava convencido de que as afirmações rituais e o discurso simbólico serviam um propósito útil na promoção de fins políticos, uma vez que, anteriormente, tinha declarado que "se por 'misticismo' se entende a capacidade de apreender verdades independentemente da inteligência, eu seria o primeiro a declarar a minha oposição". Em uma reunião posterior, Mussolini explicaria a Dinale que acreditava que os Estados Unidos não interviriam na guerra porque ele havia acreditado na promessa do presidente Roosevelt às mães americanas de que seus filhos não seriam sacrificados em batalha. Em 21 de abril, Hitler convoca Mussolini para uma reunião. Mussolini, que estava deprimido e cansado do curso que a guerra havia tomado, assiste. Na reunião, Hitler diz a Mussolini que cientistas alemães estão preparando armas que mudarão o cenário da guerra. Quando Mussolini pediu a Hitler que lhe desse mais detalhes, Hitler lhe disse para ter confiança no que seus homens estavam preparando. Então Mussolini, ansioso para saber sobre o que eram essas "armas secretas", convocou o jornalista Luigi Romersa para conduzir uma investigação. Ao mesmo tempo, Mussolini começaria a falar de uma "arma secreta" italiana conhecida como o "raio da morte" que Guglielmo Marconi, o inventor do rádio, havia inventado nos anos 30. Em outubro de 1944, Mussolini receberia o relatório de Romersa, e desse relatório, em dezembro de 1944, ele declarou a existência de armas secretas que iriam restabelecer "o equilíbrio de poder" perdido nos últimos meses. Quando ocorreu o atentado de 20 de julho a Hitler, Mussolini, momentos antes, estava viajando em seu trem. O trem de Mussolini havia parado nos trilhos antes de entrar na floresta porque temia-se um ataque aéreo. Alguns conspiradores abordaram Mussolini dizendo que Hitler os estava enviando. Porém, Mussolini disse-lhes "quando tenho um plano acabo-o, não o mudo pela metade" e recusou-se a segui-los. Os conspiradores queriam que Mussolini estivesse lá quando a bomba explodisse. Horas depois, Mussolini se reuniria com Hitler. Mussolini e Hitler se encontraram 17 vezes entre 1934 e 1944. As reuniões consistiram em longos monólogos de Hitler com Mussolini incapaz de se expressar adequadamente. Em uma reunião em 1942, Hitler falou por uma hora e 40 minutos enquanto Mussolini olhava para o relógio e o general Alfred Jodl adormecia. Segundo Romersa, apesar de Hitler professar uma amizade sincera com Mussolini, Mussolini não retribuiu com a mesma intensidade. Em uma entrevista de janeiro de 1945 por Madeleine Mollier, alguns meses antes de ser capturado e executado por antifascistas italianos, ele afirmou enfaticamente: "Há sete anos eu era uma pessoa interessante. Agora, sou pouco mais que um cadáver". Ele continuou: Morte. No dia 20 de abril, Mussolini daria sua última entrevista a Gian Gaetano Cabella, onde falaria sobre um projeto de "socialização mundial", e no dia 22 de abril corrigiria alguns aspectos dessa entrevista. Mussolini foi preso pelos guerrilheiros da Resistência italiana, que o mataram a 28 de abril de 1945, juntamente com a sua companheira e amante, Clara Petacci — que embora pudesse fugir, preferiu permanecer ao lado do "Duce" até o fim. As últimas palavras de Mussolini — em óbvia deferência à sua personalidade egocêntrica — foram: O seu corpo e o de Clara Petacci ficaram expostos à execração pública, pendurados pelos pés, na Piazza Loreto em Milão. Quando as autoridades norte-americanas chegaram, os corpos foram baixados e entregues no necrotério. Uma autópsia foi realizada no Instituto de Medicina Legal de Milão. O cérebro de Mussolini foi amostrado e enviado aos Estados Unidos para análise. A intenção era testar a hipótese de que a sífilis havia causado sua "loucura", mas nada veio da análise e nenhuma evidência de sífilis foi encontrada em seu corpo. Em seu testamento, Mussolini diria: Mussolini receberia um funeral católico em 1957. Encontra-se sepultado no Túmulo da Família Mussolini em Predappio, na Emília-Romanha, localidade onde nasceu; o seu mausoléu é visitado pelos turistas, e é local de peregrinação dos neo-fascistas italianos. Em abril de 2009, o município baniu a venda de recordações fascistas. As últimas horas de vida de Mussolini foram vasculhadas por um tribunal do júri de Pádua, em maio de 1957. Mas o processo não esclareceu as circunstâncias da morte. Até hoje não se sabe, de fato, quem disparou os tiros mortais. Michele Moretti, último sobrevivente do grupo de antifascistas que matou o ditador, morreu em 1995, aos 86 anos em Como (norte da Itália). Moretti, que na época da guerrilha usava o codinome "Pietro", levou para o túmulo o segredo sobre quem realmente disparou contra Mussolini e sua amante. Alguns historiadores italianos afirmam que o próprio Moretti matou os dois. Para outros, o autor dos disparos, feitos com a metralhadora de "Pietro", foi outro "partigiano", chamado Walter Audisio. O pesquisador Renzo de Felice suspeita que o serviço secreto britânico tenha tramado a captura junto com os "partigiani". Afirma-se que a unidade de operações secretas da Grã-Bretanha na época, o Special Operations Executive (SOE), foi responsável pela morte de Mussolini para encobrir e recuperar correspondências comprometedoras entre Mussolini e Winston Churchill. Esta teoria gerou controvérsia. Em 1994, Bruno Lonati, um ex-"partigiano", publicou um livro no qual afirmava ter atirado em Mussolini e que estava acompanhado por um oficial do exército britânico chamado "John". O jornalista Peter Trompkins alegou que "John" era o agente Robert Maccarrone. Lonati diria que: Decendentes. Sobreviveram a Mussolini: sua esposa, Rachele Mussolini, dois filhos, Vittorio e Romano Mussolini, e as filhas Edda, a viúva do Conde Ciano, e Anna Maria. Um terceiro filho, Bruno, faleceu em um acidente aéreo enquanto voava em um bombardeiro P108 em uma missão de teste, em 7 de agosto de 1941. Seu filho mais velho, Benito Albino Mussolini, de seu casamento com Ida Dalser, recebeu ordens para que parasse de declarar que Mussolini era seu pai e em 1935 foi internado à força em um asilo, em Milão, onde foi assassinado em 26 de agosto de 1942, após repetidos coma induzidos por injeções. A irmã da atriz Sophia Loren, Anna Maria Scicolone, foi casada com Romano Mussolini, filho de Mussolini. A neta de Mussolini, Alessandra Mussolini, era membro do Parlamento Europeu pelo partido Alternativa Sociale e membro da Câmara dos Deputados pelo partido O Povo da Liberdade. Alessandra Mussolini, em dezembro de 2020, deixou a política.
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Berlim
Berlim Berlim (, , ) é a capital e um dos dezesseis estados da Alemanha. Com uma população de 3,5 milhões dentro de limites da cidade, é a maior cidade do país, e a sétima área urbana mais povoada da União Europeia. Situada no nordeste da Alemanha, é o centro da área metropolitana de Berlim-Brandemburgo, que inclui 5 milhões de pessoas de mais de 190 nações. Localizada na grande planície europeia, Berlim é influenciada por um clima temperado sazonal. Cerca de um terço da área da cidade é composta por florestas, parques, jardins, rios e lagos. Documentada pela primeira vez no , Berlim foi sucessivamente a capital do Reino da Prússia (1701-1918), do Império Alemão (1871-1918), da República de Weimar (1919-1933) e do Terceiro Reich (1933-1945). Após a Segunda Guerra Mundial, a cidade foi dividida; Berlim Oriental se tornou a capital da Alemanha Oriental, enquanto Berlim Ocidental se tornou um exclave da Alemanha Ocidental, cercada pelo muro de Berlim, entre os anos de 1961-1989; a cidade de Bona tornou-se a capital da Alemanha Ocidental. Após a reunificação alemã em 1990, a cidade recuperou o seu estatuto como a capital da República Federal da Alemanha, sediando 147 embaixadas estrangeiras. Berlim é uma cidade global e um dos mais influentes centros mundiais de cultura, política, mídia e ciência. Sua economia é baseada principalmente no setor de serviços, abrangendo uma variada gama de indústrias criativas, as corporações de mídia e locais de convenções. Berlim também serve como um "hub" continental para o transporte aéreo e ferroviário e é um destino turístico popular. As indústrias significativas incluem TI, farmacêutica, engenharia biomédica, biotecnologia, eletrônica, engenharia de tráfego e energia renovável. A cidade serve como um importante centro do transporte continental e é a sede de algumas das mais importantes universidades, eventos esportivos, orquestras e museus. O rápido desenvolvimento da metrópole atraiu uma reputação internacional aos seus festivais, arquitetura contemporânea e vida noturna, sendo um grande centro turístico e moradia para pessoas de 180 nações diferentes. Etimologia. Todos os nomes de lugares alemães encerrados em "-ow", "-itz" e "-in", dos quais há muitos a leste do rio Elba, são de origem eslava (Germania Slavica). O nome Berlim tem as suas raízes na língua dos habitantes de eslavos que viviam​ na região da atual Berlim e pode estar relacionada ao tronco do antigo polábio "berl-"/"birl-" ("pântano"). História. Pela primeira vez documentada no , Berlim foi sucessivamente a capital do Reino da Prússia (1701), do Império Alemão (1871-1918), da República de Veimar (1919-1932) e do Terceiro Reich (1933-1945). Depois da Segunda Guerra Mundial, a cidade foi dividida. Berlim Oriental se tornou a capital da República Democrática Alemã (RDA), enquanto Berlim Ocidental continuou sendo parte da República Federal da Alemanha (RFA). Com a reunificação alemã em 1990, a cidade passou a ser capital de toda a Alemanha. Primórdios. Na Antiguidade, a zona onde hoje se situa Berlim começou a ser habitada por diversas tribos que se estabeleceram nas margens dos rios Spree e Havel. No , diversas tribos eslavas construíram fortificações nas actuais zonas suburbanas de Spandau e Köpenick. Por volta do , Alberto, guerreiro saxão da Casa dos Ascânios, derrotou as tribos eslavas e tornou-se o primeiro marquês de Brandemburgo. Por essa altura, estabeleceram-se, nas margens do rio Spree, imigrantes de outras regiões, nomeadamente do vale do Reno e da Francónia. O primeiro documento histórico berlinense remonta a 1237, aludindo às povoações de Cölln e Berlim, situadas em cada uma das margens do rio Spree, envolvendo o local onde hoje se situa Nikolaiviertel. As duas localidades aliaram-se em 1307, tendo constituído um município comum. Com a morte, em 1319, do último governante ascânio, Brandemburgo foi disputada pelas casas de Luxemburgo e Wittelsbach, o que originou lutas sangrentas. Em 1414, os habitantes de Berlim, cansados de tanto sofrimento, solicitaram o auxílio do imperador do Sacro Império Romano-Germânico, que lhes enviou, como protector, Frederico de Hohenzollern, dando origem a 500 anos de domínio da Casa de Hohenzollern. Em 1432, Cölln e Berlim consolidaram a aliança de 1307, tendo se unificado formalmente. Em 1486 tornou-se na sede do eleitorado de Brandemburgo. Com a subida, em 1640, de Frederico Guilherme I de Brandemburgo ao trono de Brandemburgo, a cidade de Berlim desenvolveu-se enormemente, tanto em extensão como em quantidade de habitantes, atingindo, no final do , o número de 20 mil. Na segunda metade desse século, Berlim foi fortificada, abriu-se um canal ligando os rios Spree e Oder e foram plantadas tílias na Unter den Linden - hoje uma das mais importantes artérias da cidade, em cujo extremo poente se situa o mais conhecido monumento de Berlim: a Porta de Brandemburgo. Séculos XVIII a XIX. No início do , Frederico III de Hohenzollern, sucessor de Frederico Guilherme, transformou Brandemburgo num reino, tendo sido coroado como Frederico I da Prússia. Berlim passou, então, à categoria de capital prussiana, vendo nascer as Academias de Belas Artes e da Ciência. Edifícios imponentes surgiram por todos os lados, destacando-se a Zeughaus e o palácio de verão (Charlottenburg). No tempo de Frederico Guilherme I, filho de Frederico I da Prússia, a população de Berlim alcançava os habitantes. O rei seguinte, Frederico II, transformou-a numa cidade cultural. Quando da sua morte, nos finais do , a população de Berlim atingia os habitantes. No início do século seguinte, Napoleão Bonaparte venceu os prussianos, ocupou Berlim e levou para Paris a Quadriga que encimava a Porta de Brandemburgo, orgulho da cidade. Com a derrota de Napoleão, a quadriga voltou a ser colocada no mesmo local, com grande júbilo da população. Iniciou-se, nesta época, a industrialização de Berlim: surgiu uma fábrica de locomotivas em 1837 e, no ano seguinte, foi inaugurada a linha ferroviária entre a capital e Potsdam. Berlim encheu-se de edifícios grandiosos concebidos, na maior parte, por Karl Friedrich Schinkel. Em 1850, Berlim já tinha 300 mil habitantes. Otto von Bismarck, ao ser nomeado chanceler em 1861, encetou, a partir de 1864, uma política visando a posicionar a Prússia à cabeça de todos os estados de língua alemã em detrimento da Áustria. Para o efeito, a Prússia declarou, sucessivamente, guerra à Dinamarca, à Áustria e à França, assumindo o controle de Schleswig-Holstein, da Confederação da Alemanha do Norte (associação que englobava 22 estados e cidades livres) e das províncias da Alsácia e da Lorena. Em 18 de janeiro de 1871, Bismark proclamou o Império Alemão, tendo por capital Berlim, e Guilherme da Prússia como imperador (cáiser). A abolição das barreiras comerciais e as indenizações pagas pela França permitiram um enorme desenvolvimento industrial, com o consequente aumento populacional da cidade de Berlim e uma melhoria significativa da infraestrutura urbana: novo sistema de esgotos (1876), iluminação eléctrica (1879) e instalação de telefones e da primeira linha férrea urbana (1881). Século XX. No início do , a cidade atingia 1,9 milhão de habitantes, duplicando esse número volvidos 20 anos. A Primeira Guerra Mundial não teve um reflexo muito grande sobre a estrutura da cidade. Em 30 de janeiro de 1933, Adolf Hitler foi nomeado chanceler. Hitler desejava demolir e reconstruir Berlim, no projeto conhecido como Welthauptstadt Germania ("Germânia, a capital do Mundo"); o arquiteto proposto para esta nova cidade foi Albert Speer, porém o projeto nunca seria finalizado. Em 1939 com a invasão da Polônia, iniciou-se a Segunda Guerra Mundial que se estenderia até 1945, altura em que a Alemanha perdeu a contenda e Berlim foi invadida pelo Exército Vermelho. A partir de 1940, Berlim sofreu inúmeros bombardeios, especialmente no último ano da guerra, tendo a maioria dos edifícios ficado em ruínas. Após o fim da guerra, as tropas americanas, britânicas, francesas e soviéticas, reunidas em Potsdam, dividiram a cidade em quatro setores. Berlim viu-se no centro da Guerra Fria e foi a protagonista de uma de suas maiores crises, conhecida como o Bloqueio de Berlim (24 de junho de 1948 - 11 de maio de 1949), desencadeada quando a União Soviética interrompeu o acesso ferroviário e rodoviário às zonas de ocupação americana, britânica e francesa. A crise arrefeceu ao ficar claro que a URSS não agiria para impedir a ponte aérea de alimentos e outros gêneros organizada e operada pelas três potências ocidentais (EUA, Reino Unido e França). Em 1949 nasceu, nos territórios controlados pelos soviéticos, a República Democrática Alemã, tendo por capital a zona oriental de Berlim. Os restantes setores de Berlim ficam, assim, a constituir um enclave dentro do território da RDA. Para evitar a fuga dos berlinenses para os setores ocidentais, o governo comunista construiu, em 1961, o muro de Berlim, com cerca de 150 km de extensão, envolvendo os restantes setores. Quem tentasse ultrapassá-lo era imediatamente morto. A partir de 1989, as mudanças políticas que ocorreram na Europa Oriental levaram à queda do muro de Berlim e à abertura das fronteiras entre a RDA e o restante do território da Alemanha (RFA). Em 1990, a Alemanha reunificou-se e Berlim voltou a ser a capital, depois de Bonn ter sido capital provisória da parte ocidental da Alemanha desde os finais da Segunda Guerra Mundial. De então para cá, a cidade tem vindo a sofrer uma completa transformação urbanística, com a reconstrução e reabilitação de edifícios históricos e a edificação de novos bairros voltados para o , aproveitando, especialmente, as zonas anteriormente ocupadas pelo Muro. Geografia. Topografia. Berlim está situada no nordeste da Alemanha, em uma área de baixa altitude, de florestas pantanosas e com uma topografia plana, parte da vasta planície da Europa do Norte, que se estende por todo o caminho do norte da França à Rússia ocidental. O Berliner Urstromtal (um vale glacial da idade do gelo), entre o baixo Barnim Plateau ao norte e o Teltow Plateau, ao sul, foi formado por água de degelo que fluiu a partir de geleiras no final da última glaciação Weichselian. O rio Spree segue por este vale agora. Em Spandau, um bairro no oeste de Berlim, o Spree deságua no rio Havel, que corre de norte a sul por Berlim ocidental. O curso do Havel é mais como uma cadeia de lagos, sendo os maiores o Tegeler e o Wannsee. Uma série de lagos também alimenta o Spree superior, que flui através do Großer Müggelsee em Berlim oriental. Partes substanciais da atual Berlim se estendem nas baixas planícies em ambos os lados do vale do rio Spree. Grande parte dos distritos de Reinickendorf e Pankow estão sobre o Barnim Plateau, enquanto a maioria dos bairros de Charlottenburg-Wilmersdorf, Steglitz-Zehlendorf, Tempelhof e Neukölln estão sobre a Teltow Plateau. A cidade de Spandau encontra parcialmente dentro do Vale Glacial de Berlim e em parte na planície de Nauen, que se estende ao oeste de Berlim. Desde 2015, a maior elevação em Berlim encontra-se nas colinas Arkenberge em Pankow, com 122 metros. Através do despejo de entulho de construção, elas superaram a Teufelsberg (120,1 m), uma colina feita de entulhos de ruínas da Segunda Guerra Mundial. A maior elevação natural é encontrada no Müggelberge, com 114,7 m, e a menor na Spektesee em Spandau, com 28,1 m (92 pés). Clima. Berlim tem um clima temperado/mesotérmico (Cfb) segundo a Classificação do clima de Köppen. A temperatura anual média é de 9,4 °C (48.9 °F) e a precipitação anual média é de 578 mm. Os meses mais quentes são Junho, Julho e Agosto, com temperaturas médias de 16,7 até 17,9 °C (62,1 até 64,2 °F). Os mais frios são Dezembro, Janeiro e Fevereiro, com temperaturas médias de −0,4 até 1,2 °C (31,3 até 34,2 °F) Com um clima nem tão húmido, mas nem tão seco, Berlim não tem grandes períodos de seca, nem períodos muitos chuvosos, e a quantidade de precipitação é quase igual em todas as estações do ano; apesar de o verão ser um pouco mais chuvoso, no inverno também chove em quantidade moderada. No final da primavera, também costuma chover em quantidade alta. Junho é o mês mais chuvoso da cidade, com aproximadamente 69 mm, enquanto o mês mais seco é Fevereiro, com apenas 33 mm. Grande parte das chuvas de Berlim são fortes e trazem trovoadas. A área construída de Berlim criou um microclima com o calor armazenado pelos edifícios. Com isso as temperaturas podem ser 4 °C maiores na cidade do que nas áreas que a cercam. Apesar de as temperaturas serem mornas no verão, algumas massas de ar trazem temperaturas superiores a 30 °C, mas nem todo o ano isso acontece, e pode ser ao contrário, sendo massas de ar frio que fazem o verão parecer um inverno. Demografia. Em 2020, a cidade-estado de Berlim tinha uma população de 3 664 088 habitantes registrados em uma área de 891,85 km². A densidade populacional da cidade era de 4 048 habitantes por km². Berlim é a segunda cidade mais populosa na União Europeia (UE). A área urbana de Berlim compreendia cerca de 4,1 milhões de pessoas em 2014, em uma área de 1 347 km², tornando-se a sétima área urbana mais populosa na UE. A aglomeração urbana da metrópole era o lar de cerca de 4,5 milhões em uma área de 5 370 km². Toda a região Berlim-Brandemburgo tem uma população de mais de 6 milhões em uma área de 30 370 km². A migração nacional e internacional para a cidade tem uma longa história. Em 1685, na sequência da revogação do Édito de Nantes, na França, a cidade respondeu com o Édito de Potsdam, que garantiu a liberdade religiosa e isenção de impostos aos refugiados huguenotes franceses por dez anos. A Lei Maior de Berlim, de 1920, incorporou muitos subúrbios e cidades circunvizinhas da capital alemã. Ela formou a maioria do território que compreende a moderna Berlim e aumentou a população de 1,9 milhão para 4 milhões. A imigração ativa e políticas de asilos em Berlim Ocidental desencadearam ondas de imigração nos anos 1960 e 1970. Atualmente, Berlim é o lar de cerca de turcos, tornando-se a maior comunidade turca fora da Turquia. Na década de 1990, o "Aussiedlergesetze" habilitou a imigração para a Alemanha de alguns moradores da antiga União Soviética. Hoje, alemães étnicos de países da antiga URSS constituem a maior parte da comunidade de língua russa. A última década experimentou um influxo de vários países ocidentais e algumas regiões da África. Jovens alemães, do restante da Europa e israelenses também se instalaram na cidade. Religião. Mais de 60% dos moradores de Berlim não tem nenhuma afiliação religiosa registrada. A maior denominação em 2010 era o corpo das igrejas protestantes regionais - a Igreja Evangélica de Berlim-Brandemburgo-Silesiana Alta Lusácia (EKBO), responsável por 18,7% da população local. A Igreja Católica Romana tem 9,1% dos residentes registrados como seus membros. Cerca de 2,7% da população se identifica com outras denominações cristãs (principalmente Ortodoxa Oriental, mas também vários protestantes). Estima-se que 200 000-350 000 muçulmanos residem em Berlim, entre 6 e 10% da população. Cerca de 0,9% dos berlinenses pertencem a outras religiões. Uma população estimada entre 30 000 e 45 000 residentes são judeus, e aproximadamente 12 000 são registrados em organizações religiosas. Línguas. O alemão é a língua oficial e predominante falada em Berlim. É uma língua germânica ocidental que deriva a maior parte de seu vocabulário do ramo germânico da família de línguas indo-europeias. O alemão é uma das 24 línguas da União Europeia e uma das três línguas de trabalho da Comissão Europeia. O Berlinerisch ou Berlinisch é um dialeto do Berlin Brandenburgish alemão falado em Berlim e na sua área metropolitana. Origina-se de uma variante Mark Brandenburgish. O dialeto é agora visto mais como um socioleto, em grande parte devido ao aumento da imigração e tendências entre a população educada de falar o alemão padrão na vida cotidiana. As línguas estrangeiras mais comumente faladas na capital alemã são o turco, inglês, russo, árabe, polonês, curda, vietnamita, sérvio, croata e francês. O turco, árabe, curdo, servo-croata são ouvidos mais frequentemente na parte ocidental da cidade, devido às grandes comunidades do Oriente Médio e ex-iugoslavos. O inglês, vietnamita, russo e polaco têm mais falantes nativos no leste de Berlim. Política. Administração municipal. O Senado de Berlim é o órgão executivo que governa a cidade de Berlim, que também é um estado da Alemanha. De acordo com a Constituição de Berlim, o Senado é composto pelo burgomestre-governador de Berlim (em alemão, "Regierender Bürgermeister von Berlin") e por até oito senadores indicados por ele, dois dos quais são nomeados burgomestres adjuntos. O Senado se reúne semanalmente no Rotes Rathaus. Governo federal. Berlim é a capital da República Federal da Alemanha e é o local onde está estabelecido o Presidente da Alemanha, cuja residência oficial é o Palácio de Bellevue. Desde a reunificação alemã, em 3 de outubro de 1990, passou a ser uma das três cidades-estado, juntamente com Hamburgo e Bremen, dentre os atuais dezesseis estados da Alemanha. O Bundesrat ("conselho federal") é a representação dos estados federais ("Bundesländer") da Alemanha e tem a sua sede na antiga Herrenhaus ("Casa dos Senhores") da Prússia. Embora a maioria dos ministérios esteja localizada em Berlim, alguns deles, bem como alguns departamentos menores, estão em Bona, antiga capital da Alemanha Ocidental. A União Europeia investe em diversos projetos na cidade de Berlim. Infraestrutura, educação e programas sociais são cofinanciados por orçamentos provenientes dos fundos de coesão da UE. Economia. Em 2021, o PIB nominal de Berlim experimentou uma taxa de crescimento econômico de 5% e totalizou € 163 bilhões. A economia de Berlim é dominada pelo setor de serviços, sendo que cerca de 80% de todas as empresas fazem negócios nesse setor. A taxa de desemprego atingiu um mínimo de 27 anos em setembro de 2018 e ficou em 7,9%. Os setores de mais rápido crescimento econômico de Berlim incluem comunicações, ciências da vida e transporte, particularmente os serviços que utilizam tecnologias de informação e comunicação, bem como meios de comunicação e engenharia de publicidade, música e design, biotecnologia, serviços ambientais e de saúde. O Parque de Ciência e Negócios de Berlim-Adlershof está entre os 15 maiores parques tecnológicos em todo o mundo. A pesquisa e desenvolvimento têm um significado econômico elevado para a cidade e a região de Berlim-Brandemburgo está entre três primeiras regiões mais inovadoras da União Europeia. Antes da reunificação da Alemanha e das duas partes de Berlim em 1990, a cidade de Berlim ocidental recebia substanciais subsídios do governo da Alemanha Ocidental para compensar o isolamento geográfico do resto do país. Depois de 1990, muitos destes subsídios foram cortados, o que criou dificuldades fiscais para o governo da cidade, forçando-o a cortar fundos em diversos programas. A Siemens, uma empresa listada na Fortune Global 500 e uma das 40 empresas alemãs do DAX, está sediada em Berlim. A empresa ferroviária estatal, Deutsche Bahn, tem a sua sede em Berlim também. Muitas empresas alemãs e internacionais têm negócios ou centros de serviços na cidade. Entre os 20 maiores empregadores em Berlim estão a Deutsche Bahn, o provedor do hospital, Charité, o provedor de transporte público local, BVG, o prestador de serviço, Dussmann e o Grupo Piepenbrock. A Mercedes Benz fabrica carros e a BMW fabrica motocicletas em Berlim. A Bayer e Berlin-Chemie são grandes empresas farmacêuticas sediadas na cidade. Indústrias criativas. As indústrias que fazem negócios nas artes criativas e de entretenimento são um setor importante da economia de Berlim. O setor de artes criativas inclui música, cinema, publicidade, arquitetura, arte, design, moda, artes cênicas, editoração, P&D, software, TV, rádio, vídeo e jogos. Cerca de 29 300 empresas criativas, em que predominam as PME, geraram mais de 22,4 mil milhões de euros em receitas totais. As indústrias criativas de Berlim contribuíram com 16% do produto interno bruto doméstico da cidade em 2009. A sede alemã da Universal Music baseia-se em Berlim. Turismo. No final de 2010, Berlim tinha 746 hotéis, com 112 400 camas. A cidade registrou 20,8 milhões de estadias em hotéis e 9,1 milhões de hóspedes em hotéis no mesmo ano. Berlim tem um total anual de cerca de 135 milhões de visitantes, o que a coloca em terceiro lugar entre as cidades mais visitadas da União Europeia. Berlim está entre as três principais cidades que recebem convenções do mundo e é o lar do maior centro de convenções da Europa, o "Internationales Congress Centrum" (ICC). Várias feiras de grande escala comercial, como a IFA, Grüne Woche ("Semana Verde"), InnoTrans, Venus Berlin, ILA e da ITB, são realizadas anualmente na cidade, atraindo um número significativo de visitantes de negócios. Infraestrutura. Transportes. A infraestrutura de transportes de Berlim é altamente complexa, oferecendo uma gama diversificada de mobilidade urbana. Um total de 979 pontes cruzam 197 km de vias urbanas. 5 422 km de estradas percorrem Berlim, dos quais 77 km são autoestradas ("Autobahn"). Em 2013, 1,344 milhão de veículos motorizados foram registrados na cidade. Com 377 carros por habitantes em 2013 (570/1000), Berlim tem um dos mais baixos números de carros "per capita" para uma cidade global ocidental. Linhas ferroviárias de longa distância ligam Berlim com todas as principais cidades alemãs e com muitas cidades de países europeus vizinhos. Ferrovias regionais fornecem acesso às regiões vizinhas de Brandemburgo e ao Mar Báltico. O Berlin Hauptbahnhof é a maior estação de comboios separados por grau na Europa. A Deutsche Bahn oferece trens para destinos domésticos como Hamburgo, Munique, Colônia e outros. Ela também opera um serviço expresso ferroviário para o aeroporto, assim como trens para vários destinos internacionais como, por exemplo, Viena, Praga, Zurique, Varsóvia e Amsterdã. A Berliner Verkehrsbetriebe (BVG) gerencia vários sistemas extensos de transporte público urbano. O S-Bahn de Berlim é um sistema de trens suburbanos de 331 km constituído por 16 linhas, sendo que a maioria das estações estão integradas com U-Bahn de Berlim, o sistema de metrô de 151 km, formado por nove linhas. Além disso, há um vasto sistema de bondes com uma rede 191 km de extensão. Berlim é conhecida por seu sistema de ciclovias altamente desenvolvido. Estima-se que Berlim tenha 710 bicicletas por habitantes. Seus cerca de 500 mil ciclistas diários representaram 13% do tráfego total em 2009. Os ciclistas têm acesso a 620 km de ciclovias, incluindo cerca de 150 km de ciclovias exclusivas, 190 km de ciclovias fora de estrada, 60 km de pistas para ciclistas nas estradas, 70 km de corredores de ônibus comuns que também estão abertos para ciclistas, 100 km de caminhos para pedestres e bicicletas combinados e 50 km de ciclovias marcadas em pavimentos de estrada (ou calçadas). Berlim é servida por um aeroporto comercial internacional: o Aeroporto de Berlim-Brandemburgo (BER), localizado fora da fronteira sudeste de Berlim, no estado de Brandemburgo. A construção começou em 2006, com a intenção de substituir o Aeroporto de Berlim-Tegel (TXL) e o Aeroporto Schönefeld (SXF) para se tornar o único aeroporto comercial da capital alemã. Previsto para ser inaugurado em 2012, após grandes atrasos e custos cada vez mais elevados, o aeroporto iniciou suas operações comerciais em outubro de 2020. A capacidade inicial planejada de cerca de 27 milhões de passageiros por ano deve ser desenvolvida para trazer a capacidade do terminal para aproximadamente 55 milhões por ano até 2040. Antes da abertura do BER em Brandemburgo, Berlim era servida pelos aeroportos Tegel e Schönefeld. O Aeroporto Tegel estava dentro dos limites da cidade e o Aeroporto Schönefeld estava localizado no mesmo local que o BER. Os dois aeroportos, juntos, movimentaram 29,5 milhões de passageiros em 2015. Em 2014, 67 companhias aéreas serviam a 163 destinos em 50 países a partir de Berlim. O Aeroporto de Tegel era um "hub" para a Lufthansa e a Eurowings, enquanto Schönefeld servia como um destino importante para companhias aéreas como a Germania, easyJet e Ryanair. Até 2008, Berlim também era servida pelo menor Aeroporto de Berlim-Tempelhof, que tinha uma localização conveniente perto do centro da cidade. Educação. Berlim tem 878 escolas que ensinam 340 658 crianças em 13 727 classes e 56 787 estagiários em empresas e em outros lugares. A cidade tem um programa de educação primária de 6 anos. Depois de completar a escola primária, os alunos continuam a "Sekundarschule" (uma escola abrangente) ou "Gymnasium" (escola preparatória). Berlim tem um programa especial de escola bilíngue embutido no "Europaschule", em que as crianças são ensinadas o currículo em alemão e uma língua estrangeira, começando na escola primária e continuando na escola. Os nove principais idiomas europeus podem ser escolhidos como língua estrangeira em 29 escolas. O "Französisches Gymnasium" de Berlim, que foi fundado em 1689 para ensinar aos filhos de refugiados huguenotes, oferece aulas em alemão e francês. A Escola John F. Kennedy, uma escola pública germano-americana bilíngue localizada em Zehlendorf, é particularmente popular entre os filhos de diplomatas e da comunidade expatriada que fala inglês. Quatro escolas ensinam latim e grego clássico. Duas delas são escolas estaduais ("Steglitzer Gymnasium" em Steglitz e "Goethe-Gymnasium" em Wilmersdorf), uma é protestante ("Evangelisches Gymnasium zum Grauen Kloster" em Wilmersdorf) e uma é jesuíta ("Canisius-Kolleg" no "bairro das embaixadas" em Tiergarten). A região da capital Berlim-Brandemburgo é um dos centros mais prolíficos de ensino superior e pesquisa na Alemanha e na Europa. Historicamente, 40 ganhadores do Prêmio Nobel estão ligados às universidades com sede em Berlim. A cidade tem quatro universidades públicas de pesquisa e mais de 30 faculdades privadas, profissionais e técnicas ("Hochschulen"), oferecendo uma ampla gama de disciplinas. A Universidade Humboldt de Berlim ("Humboldt-Universität zu Berlin") é a mais antiga universidade de Berlim, fundada em 1809. Um número recorde de 202 224 estudantes foram inscritos no período de inverno de 2021/22. Ciência e tecnologia. A União Internacional de Matemática, conhecida como IMU é uma organização não governamental internacional dedicada à cooperação internacional no campo da matemática. Está sediada em Berlim. O Instituto Robert Koch é uma agência do governo federal da Alemanha e um instituto de pesquisa, responsável pelo controle e prevenção de doenças. O Instituto Fritz Haber da Sociedade Max Planck é um instituto de pesquisa básica que emergiu do Instituto Kaiser Wilhelm de Físico-Química e Eletroquímica em Berlim-Dahlem. As pesquisas se concentram na compreensão dos processos catalíticos no nível molecular e na física molecular. O Leibniz-Gemeinschaft é uma união de institutos de pesquisa de diversos ramos de estudo. Cultura. Berlim é conhecida por suas várias instituições culturais, muitas das quais com reputação internacional. A diversidade e a vivacidade da metrópole levou a uma atmosfera liberal. Uma cena inovadora de música, dança e arte se desenvolveu no . Os jovens, artistas e empresários internacionais continuaram a se estabelecer na cidade e fizeram de Berlim um centro de entretenimento popular do mundo. O desempenho cultural expandido da cidade foi sublinhado pela deslocamento do Universal Music Group, que decidiu mudar a sua sede às margens do rio Spree. Em 2005, Berlim foi nomeado "Cidade do Design" pela UNESCO. Orquestras e teatros. A Filarmônica de Berlim (em alemão: Berliner Philharmoniker) é uma orquestra baseada em Berlim, Alemanha. Em 2006 foi considerada a segunda melhor orquestra da Europa na lista "Top Ten European Orchestras". O Friedrichstadt-Palast é um teatro de revista construído em 1984 com tecnologia de palco moderna no centro de Berlim. É um dos locais líderes da Europa na apresentação deste tipo de artes performativas, cuja característica representativa é, entre outras, a sua trupe de bailarinas. Galerias e museus. Em 2011, Berlim era o lar de 138 museus e de mais de 400 galerias de arte. O conjunto na Ilha dos Museus é um Patrimônio Mundial da UNESCO e está situado na parte norte da Ilha Spree entre o Spree e o Kupfergraben. Já em 1841 a cidade foi designada uma "área dedicada à arte e antiguidades" por um decreto real. Posteriormente, o Altes Museum foi construído no Lustgarten. O Neues Museum, que exibe o busto de Nefertiti, Alte Nationalgalerie, Museu de Pérgamo e Museu Bode foram construídos lá. Além da Ilha dos Museus, há muitos outros museus na cidade. O Gemäldegalerie centra-se nas pinturas dos "velhos mestres" dos séculos XIII a XVIII, enquanto a Neue Nationalgalerie, construída por Ludwig Mies van der Rohe, é especializada em pintura europeia do . O Hamburger Bahnhof, localizado em Moabit, exibe uma importante coleção de arte moderna e contemporânea. O Deutsches Historisches Museum reabriu nos Zeughaus com uma visão geral da história alemã que abrange mais de um milênio. O Bauhaus Archive é um museu de "design" do a partir da famosa escola Bauhaus. O Museu Judaico tem uma exposição permanente em dois milênios de história judaico-alemã. O Museu Alemão de Tecnologia, em Kreuzberg, tem uma grande coleção de artefatos técnicos históricos. O Museum für Naturkunde exibe história natural perto de Berlin Hauptbahnhof. Ele tem o maior dinossauro montado no mundo (um "Giraffatitan"). Espécimes bem preservados de "Tyrannosaurus rex" e de "Archaeopteryx" estão em exibição também. O Museu Brücke possui uma das maiores coleções de obras de artistas do movimento expressionista do início do . Em Lichtenberg, no terreno do antigo Ministério para a Segurança do Estado da Alemanha Oriental, está o Museu Stasi. O local do Checkpoint Charlie, um dos pontos de passagem mais conhecidos do antigo Muro de Berlim, ainda está preservado. Um museu privado apresenta uma documentação abrangente de planos detalhados e estratégias concebidas por pessoas que tentaram fugir do Leste. A arquitetura da cidade de Berlim exibe grandes quantidades de arte de rua urbana. Tornou-se uma parte significativa do património cultural da cidade e tem suas raízes na cena do graffiti de Kreuzberg da década de 1980. O Muro de Berlim em si tornou-se uma das maiores telas ao ar livre do mundo. O trecho restante ao longo do rio Spree, em Friedrichshain, permanece como a East Side Gallery. Berlim hoje é constantemente classificada como uma importante cidade do mundo para a cultura da arte de rua. Cinema. A Academia de Cinema Europeu é uma iniciativa de um grupo de cineastas europeus que se reuniram em Berlim por ocasião da primeira apresentação dos Prémios do Cinema Europeu, em novembro de 1988. Está sediada em Berlim. O Festival Internacional de Cinema de Berlim, também conhecido como Berlinale, é um festival de cinema alemão, estabelecido em 1951. É considerado uma dos eventos mais importantes na indústria cinematográfica e um dos principais festivais do mundo. Seu prêmios principais são chamados de Urso de Ouro e Urso de Prata. Esportes. Berlim já foi a sede de eventos importantes no esporte, como as Olimpíadas de 1936 e a final da Copa do Mundo de 2006. Também acontece lá, todos os anos, a Maratona de Berlim e o evento da Golden League chamado ISTAF (Internationales Stadionfest). A WTA Tour também acontece no WTA de Berlim anualmente na cidade; fundado em 1896, é um dos torneios mais antigos de ténis feminino. A cidade alemã é parte do Campeonato Mundial ABB FIA de Fórmula E desde a primeira temporada (2014/2015). Além disso, Berlim é a "casa" de várias equipes. Entre elas o Hertha BSC, equipe de futebol participante do Campeonato Alemão de Futebol, o Alba Berlin, equipe de basquete (conhecida por "Berlin Albatrosses"), que ganhou o campeonato nacional de 1997 até 2003, o Berlin Recycling Volleys, equipe de voleibol masculino, assim como o Eisbären Berlin, participante da Deutsche Eishockey-Liga, que foi fundado ainda na era da Alemanha Oriental. O 1. FC Union Berlin é o 56º clube alemão a disputar a Fußball-Bundesliga.
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Baisers volés
Baisers volés Baisers volés é um filme francês de 1968, do gênero comédia dramático-romântica, realizado por François Truffaut, coautor do roteiro, ao lado de Claude de Givray e Bernard Revon. É o terceiro dos filmes em que Jean-Pierre Léaud interpreta Antoine Doinel, alter-ego do diretor. Sinopse. Antoine Doinel vai jantar na casa dos pais de Christine Darbon, a jovem por quem está apaixonado. Sendo sucessivamente guarda-nocturno, detetive privado e empregado de balcão numa sapataria, Antoine Doinel é um eterno instável tanto na vida profissional como na afectiva.
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Bartolomeu Dias
Bartolomeu Dias Bartolomeu Dias, OM, OMP (ca. — ) foi um navegador português que ficou célebre por ter sido o primeiro europeu a navegar para além do extremo sul da África, contornando o Cabo da Boa Esperança e chegando ao Oceano Índico a partir do Atlântico, abrindo o caminho marítimo para a Índia. Dele não se conhecem os antepassados, mas mercês e armas a ele outorgadas passaram a seus descendentes. Seu irmão foi Diogo Dias, também experiente navegador. Foi o principal navegador da esquadra de Pedro Álvares Cabral em 1500. As terras do Brasil, até então desconhecidas pelos portugueses, confundiram os navegadores, que pensaram tratar-se de uma ilha, a que deram o nome de "Vera Cruz". Biografia. Na sua juventude serviu na fortaleza de São Jorge da Mina. Estava habilitado quer a determinar as coordenadas de um local, quer a enfrentar tempestades e calmarias como as do Golfo da Guiné. Em 1487, D. João II confiou-lhe o comando de duas caravelas e de uma naveta de mantimentos com o intuito público de saber notícias do Preste João. Ao comando da caravela S. Pantaleão estava João Infante. O propósito não declarado da expedição seria investigar a verdadeira extensão para Sul das costas do continente africano, de forma a avaliar a possibilidade de um caminho marítimo para a Índia. Porém antes disso, capitaneara um navio na expedição de Diogo de Azambuja ao Golfo da Guiné. Obras. Navegador experiente, foi o primeiro a chegar ao cabo das Tormentas, como o batizou em 1488 (chamado assim pois lá encontrou grandes vendavais e tempestades), um dos mais importantes acontecimentos da história da navegação marítima. A expedição partiu de Lisboa em Agosto de 1487 e a bordo levavam dois negros e quatro negras, capturados por Diogo Cão na costa ocidental africana. Bem alimentados e vestidos, serão largados na costa oriental para que testemunhem junto daquelas populações daquelas regiões a bondade e grandeza dos portugueses, e ao mesmo tempo recolher informações sobre o reino do Preste João. Em 8 de dezembro chegou no "golfo de Santa Maria da Conceição" (Walvis Bay, na atual Namíbia), o ponto mais a sul cartografado pela expedição de Diogo Cão. Continuando para sul, descobriu primeiro a Angra dos Ilhéus, sendo assaltado, em seguida, por um violento temporal. Treze dias depois, procurou a costa, encontrando apenas o mar. Aproveitando os ventos vindos da Antártida que sopram vigorosamente no Atlântico Sul, navegou para nordeste, redescobrindo a costa, que aí já tinha a orientação este-oeste e norte (já para leste do Cabo da Boa Esperança, assim renomeado o Cabo das Tormentas pelo rei português D. João II, assegurando a esperança de se chegar à Índia, para comprar as tão necessárias especiarias e outros artigos de luxo. Antes, para se chegar à Índia era preciso apenas cruzar o Mar Mediterrâneo passando por Génova e Veneza, que eram grandes centros comerciais graças ao Renascimento, só que eram agora dominados pelos turcos. Precisando então cruzar o Atlântico, chamado naquele tempo de "O Mar Tenebroso", acreditando-se que nele havia monstros devoradores de embarcações, e dar a volta à África, para se chegar à Índia), continuou para leste, cartografando diversas baías da costa da atual África do Sul (úteis no futuro como portos naturais), e chegando até à Baía de Algoa (800 km a leste do Cabo da Boa Esperança). No entanto, a tripulação revoltada obrigou o capitão a regressar a Portugal pela linha da costa para oeste. No regresso, com a costa sempre visível, descobriu o Cabo das Agulhas, o ponto mais a sul do continente, e o Cabo da Boa Esperança, cuja longitude tinha contornado por alto mar na viagem de ida. Na viagem de volta colocou padrões de pedra nos principais pontos descobertos: a atual False Island, a ponta do Cabo da Boa Esperança, e o Cabo da Volta, hoje Diaz Point. Regressou a Lisboa em Dezembro de 1488. O sucesso da sua descoberta do caminho para a Índia não foi recompensado. Acompanhou a construção dos navios e acompanhou a esquadra de Vasco da Gama em 1497 como capitão de um dos navios que tinha como destino São Jorge da Mina. Seria em 1500 o principal navegador da esquadra de Pedro Álvares Cabral. A carta de Pero Vaz de Caminha faz diversas referências a ele, apontando para a confiança que nele tinha o capitão-mor. As terras do Brasil, até então desconhecidas pelos portugueses, confundiram os navegadores, que pensaram tratar-se de uma ilha, a que deram o nome de "Vera Cruz". Quando a armada de Cabral, após sua estada no litoral brasileiro, navegava em direção ao Cabo, um forte temporal causou o naufrágio de quatro navios, entre eles a nau de Bartolomeu Dias. Vida como navegador. Em 1486, o rei D. João II passou o comando de uma expedição marítima a Bartolomeu Dias. A missão era procurar e estabelecer relações pacíficas com um legendário rei cristão africano, conhecido como Preste João. Ele tinha ordens também de explorar o litoral africano e encontrar uma rota para as Índias. As duas caravelas de 50 toneladas e uma naveta auxiliar passaram primeiro pela angra dos Ilhéus (atual baía de Spencer) e o cabo das Tormentas. Entraram em seguida num violento temporal. Ficaram treze dias sem controle, enfrentando o vento e as ondas. Quando o mar acalmou, navegaram para leste em busca da costa, mas só encontraram mar. Decidiram, então, ir para o norte, onde acharam diversos portos. Ao encontrar a foz de um rio, que batizaram de rio do Infante, a tripulação obrigou o capitão a voltar. Era o final de Janeiro e início de Fevereiro de 1488. Bartolomeu Dias deu-se conta então que passara pelo extremo sul da África, o cabo que, por conta da tempestade, ele havia chamado de cabo das Tormentas. O rei D. João II viu a novidade com outros olhos e mandou mudar o nome para Boa Esperança. Afinal, uma expedição portuguesa provara que havia um caminho alternativo para o comércio com o Oriente. A primeira representação cartográfica das zonas exploradas por Bartolomeu Dias é o planisfério de Henrique Martelo Germano. Em 1652, o mercador holandês Jan van Riebeeck fundaria um posto comercial na região que, mais tarde, se tornaria a Cidade do Cabo.Bartolomeu Dias voltou ao mar em 1500, no comando de um dos navios da frota de Pedro Álvares Cabral. Após passar pelas costas brasileiras, a caminho da Índia, Bartolomeu Dias morreu quando sua caravela naufragou, ironicamente, no cabo da Boa Esperança. Frágil, a caravela era um barco rápido, pequeno e de fácil manobra. Em caso de necessidade, podia ser movida a remo. Os dados biográficos do navegador anteriores a essas viagens são escassos e contraditórios. A data de nascimento é ignorada. Foi Escudeiro Fidalgo da Casa Real e Administrador do Armazém da Guiné, e sabe-se que descendia de Dinis Dias. Há informações sobre um certo Bartolomeu Dias, mercador entre Lisboa e a Itália nos anos de 1475 e 1478; porém, pode ser outra pessoa com o mesmo nome. Homenagens. O seu feito nas costas africanas fê-lo ser imortalizado pelos dois mais famosos poetas portugueses. Além de ser personagem de Camões, em Os Lusíadas, Fernando Pessoa fez um epitáfio para ele: A Marinha Portuguesa atribuiu o seu nome a uma corveta a Bartolomeu Dias. Foram impressas duas notas de 2000 escudos (Chapa 1 e Chapa 2) de Portugal do Banco de Portugal, e uma série de notas de 5$, 10$, 20$, 50$, 100$ e 500$ de Cabo Verde, bem como selos, com a sua imagem.
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Balaiada
Balaiada A Balaiada, chamada ainda Guerra dos Bem-te-vis, foi uma revolta popular e social ocorrida no estado brasileiro do Maranhão entre os anos de 1838 e 1841 (uma das mais longas e numerosas revoltas, com início em 13 de dezembro de 1838). Os primeiros indícios da revolta ecoaram da então vila da Manga do Iguará, também conhecida simplesmente Manga (atual cidade de Nina Rodrigues), na região do Maranhão oriental. A rebelião eclodiu como um levante social que visava obter melhores condições de vida e contou com a participação de vaqueiros, escravos e outros desfavorecidos. Suas causas estavam na má gestão do governo local, incapaz de evitar que a maioria da população falisse durante a crise do comércio de algodão, e a promulgação da Lei dos Prefeitos que autorizava os presidentes das províncias a nomearem os prefeitos municipais, levando assim os seus “nomes de confiança” ou eles próprios ao poder. Este fato acirrou mais ainda as relações do povo com as instituições governamentais, uma vez que a população naquela época não votava. Os revoltosos entraram em combate contra as tropas imperiais e foram derrotados. O então coronel Luís Alves de Lima e Silva, posteriormente conhecido como Duque de Caxias, liderou as tropas que obliteraram as tropas revoltosas. Porém, a paz só foi alcançada quando o Imperador do Brasil concedeu anistia geral aos últimos rebeldes. Etimologia. A palavra balaiada provém dos "balaios", nome dos cestos típicos manufaturados na região. Antecedentes. Apesar de uma implementação tardia, a economia escravista de "plantation" caracterizou-se no Maranhão pelo desenvolvimento e crescimento da importância de uma economia camponesa de forma diferenciada e autônoma, principalmente se comparada a outras regiões do Brasil onde também predominaram as grandes lavouras escravistas. A economia camponesa assumia, então, uma função complementar à economia de "plantation", criando assim um antagonismo entre os dois setores, gerando a base do conflito entre os autodenominados caboclos e os fazendeiros escravistas, e por fim, preparando o território para a eclosão da Balaiada. O Maranhão era regido por dois partidos: os liberais (chamados de "bem-te-vis", por causa do seu jornal, chamado "O Bem-te-vi") e os conservadores (cabanos, por analogia com os cabanos do Pará, Pernambuco e Alagoas). A articulação defasada entre o sertão maranhense e o litoral criou uma separação antagônica e consequentemente importante para a revolta, acentuando conflitos entre as camadas sociais no sertão e o poder provincial. A revolta dos balaios. Considerada uma das maiores insurreições populares da época Brasil-Império, a Balaiada chegou a mobilizar ao menos 12 000 homens ao longo de seus quatro anos de duração. A revolta tomou o nome de Balaiada pois Balaio era o apelido de um de seus principais líderes, Manuel Francisco dos Anjos Ferreira. Ele era um fabricante de balaios, e fora vítima da violência policial, que decidiu fazer justiça com as próprias mãos após um soldado desonrar suas filhas. A principal causa da revolta foi a detenção do irmão do vaqueiro Raimundo Gomes, o Cara Preta, acusado pelo sub-prefeito da Vila da Manga (atual Nina Rodrigues ), José Egito, um cabano. No dia 13 de dezembro de 1838, Raimundo Gomes, com nove outros homens, invadiu o edifício da cadeia pública da povoação e libertou-o, reforçando seu grupo com os prisioneiros soltos e vinte e dois soldados encarregados da segurança policial da Vila. Raimundo Gomes conseguiu o apoio de Lívio Pedro Moura, Mulungueta, e Manuel Francisco dos Anjos Ferreira, também conhecido como Manuel Balaio, o que deu nome ao movimento. Os revoltosos, após destruírem e saquearem fazendas e vilas, investiram contra a Vila de Caxias, que, sob a liderança civil de João Paulo Dias e do capitão militar Ricardo Leão Sabino, conseguiu resistir, inclusive com o apoio de mulheres, durante quarenta e seis dias sob o cerco do bando de Raimundo Gomes. Quando não havia mais como defender a vila, o Capitão Sabino simulou haver aderido à revolta, mas disparou um canhão, causando pânico entre os balaios, resultando na evacuação da vila. Esta vitória animou o partido dos "Bem-te-vi", que enviou emissários à capital São Luís, pedindo a rendição ao presidente do Maranhão. Os balaios, porém, eram desorganizados, sem unidade de comando, e perderam um de seus líderes, o Balaio, que foi atingido por um projétil atirado de seu próprio bando e morreu de gangrena. A importância da revolta reside, por um lado, em seu pioneirismo, tamanho e grandeza, que envolvem seu impacto na formação do campesinato maranhense, se fixando como parte importante da história de resistência da população camponesa. Por outro lado, a Balaiada, como diversas outras revoltas da época da Regência, teve seu caráter multiclassista, contando com uma liderança popular desde o princípio, unindo fazendeiros, vaqueiros e escravos, compondo um exemplo atípico de aliança. A repressão. A região do Baixo Sertão, onde está localizada a cidade de Caxias, também foi atingida pela Balaiada. Saindo de Caxias, através do rio Itapecuru, os rebeldes atingiram o baixo Munim, ocupando a vila de Icatu, na baía de São José, em frente à ilha de São Luís, criando assim uma grande ameaça ao governo da capital.  Para combater a situação, a Regência enviou ao Maranhão, como Presidente e Comandante das Armas da Província o coronel Luís Alves de Lima e Silva, que tinha experiência militar por ter lutado na Guerra de Independência e na Guerra da Cisplatina, de 1825 a 1828. Ele recebeu o comando de todas as tropas em operação no Maranhão, Piauí e Ceará, e assumiu o comando em 7 de fevereiro de 1840. Lima e Silva criou a Divisão Pacificadora, dividindo em três colunas, comandadas por Sérgio de Oliveira, que ocupou as comarcas de Caxias e Pastos Bons, João Thomaz Henrique, que atuou em Vargem Grande e Brejo, e Souza Pinto Magalhães, que ocupou a Vila Icatu e as margens do rio Mearim. A estratégia dos revoltosos era de guerrilha rural, atacando só os pontos fracos da defesa do governo; a resposta estratégica foi manter suficientemente guarnecidas todas as vilas e cidades importantes para os revoltosos. Destes pontos fixos, Lima e Silva combateu a Balaiada, usando muitas vezes o cerco contra grupos de rebeldes. Os balaios ainda tiveram o apoio de três mil escravos, que fugiram das fazendas, se aquilombaram e depois ficaram sob a liderança do negro Cosme Bento das Chagas. Em 23 de agosto de 1840, quando foi proclamada a maioridade do imperador Dom Pedro II, Lima e Silva anunciou aos maranhenses a quase extinção da guerra civil. Lima e Silva receberia, mais tarde, o título de Barão de Caxias por esta campanha.
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Geociência
Geociência Geociências ou Ciências da Terra é um termo abrangente aplicado às ciências naturais relacionadas com o estudo do planeta Terra. Existem abordagens reducionistas e holísticas relativamente às ciências da Terra. As principais disciplinas historicamente aplicam conhecimentos de física, geografia, matemática, química e biologia de modo a construir um conhecimento quantitativo das principais áreas ou "esferas" do sistema Terra. As esferas da Terra. As ciências da Terra reconhecem em geral quatro esferas: a litosfera, a hidrosfera, a atmosfera e a biosfera, correspondendo respectivamente às rochas, à água, ao ar e à vida. Ocasionalmente são consideradas, como parte das esferas da Terra a criosfera (correspondendo ao gelo) como parte distinta da hidrosfera, e a pedosfera (correspondente ao solo) como uma esfera ativa de caráter misto. Principais tópicos de estudo das ciências da Terra. No entanto, devido às numerosas interacções entre as várias "esferas" muitas disciplinas modernas assumem uma abordagem interdisciplinar, não encaixando bem nesta esquematização. Nem mesmo as especialidades acima descritas funcionam de forma isolada. Por exemplo, para entender a circulação oceânica têm que ser consideradas as interações entre oceano, atmosfera e a própria rotação da Terra. Ciência do sistema terrestre. Atualmente muitos cientistas começam a utilizar uma abordagem conhecida como "ciência do sistema terrestre" a qual trata a própria Terra como um sistema que evolui como resultado das várias interações entre os sistemas que constituem o sistema Terra. Esta abordagem, possibilitada pelo uso de modelos matemáticos como hipóteses testadas por dados de satélite e recolhidos por navios, confere aos cientistas uma capacidade cada vez maior para explicar o comportamento passado e possível comportamento futuro do sistema Terra. Modelos matemáticos complexos que procuram modelar diferentes componentes dos sistema Terra e as relações entre eles são designados por modelos do sistema Terra. Muitos deles baseiam-se em modelos climáticos globais e incluem sub-modelos para oceanos, atmosfera, biosfera e outras partes do sistema Terra. Estas interações são de particular importância quando se tenta compreender as possíveis mudanças ao longo de décadas ou séculos e até em períodos mais longos. Metodologia. Como outros cientistas, os cientistas da Terra utilizam o método científico: formular hipóteses após a observação e recolha de dados sobre fenómenos naturais e depois proceder ao teste dessas hipóteses. Nas ciências da Terra, os dados recolhidos têm um papel fundamental quer no teste quer na formulação de hipóteses.
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Computação
Computação A computação é qualquer atividade orientada a objetivos que exija, se beneficie ou crie máquinas de computação. Ela inclui o estudo e a experimentação de processos algorítmicos e o desenvolvimento de "hardware" e "software". A computação tem aspectos científicos, de engenharia, matemáticos, tecnológicos e sociais. Pode ser definida como a busca de solução para um problema a partir de entradas ("inputs"), de forma a obter resultados ("outputs") depois de processada a informação através de um algoritmo. É com isto que lida a teoria da computação, subcampo da ciência da computação e da matemática. Disciplinas de computação incluem engenharia da computação, ciência da computação, segurança cibernética, ciência de dados, sistemas de informação, tecnologia da informação, arte digital e engenharia de software. O termo computação também é sinônimo de contagem e cálculo. Antigamente, era usado em referência à ação executada por máquinas de computação mecânica e, antes disso, por computadores humanos. História. O termo computação tem origem no latim, "computatio", que indica cálculo ou conta matemática. A história da computação é mais longa do que a história do "hardware" de computação e inclui a história dos métodos destinados à caneta e ao papel (ou ao giz e à lousa) com ou sem o auxílio de tabelas. A computação está intimamente ligada à representação de números, embora os conceitos matemáticos necessários para a computação existissem antes dos sistemas numéricos. A ferramenta mais antiga conhecida para uso em computação é o ábaco, utilizado por diversas civilizações ao redor do mundo, como o Império Romano e o Egito Antigo. Acredita-se que tenha sido inventado na Babilônia por volta de 2700-2300 a.C. A primeira proposta registrada para o uso da eletrônica digital na computação foi o artigo de 1931 "The Use of Thyratrons for High Speed Automatic Counting of Physical Phenomena" ("O uso de Tiratrons para Contagem Automática de Fenômenos Físicos em Alta Velocidade"), de C. E. Wynn-Williams. O artigo de 1938 de Claude Shannon "A Symbolic Analysis of Relay and Switching Circuits" (Uma Análise Simbólica de Circuitos de Relés e Comutação") introduziu a ideia de usar a eletrônica para operações algébricas boolianas. O conceito de um transistor de efeito de campo foi proposto por Julius Edgar Lilienfeld em 1925. John Bardeen e Walter Brattain, enquanto trabalhavam com William Shockley no Bell Labs, construíram o primeiro transistor funcional, o transistor de contato pontual, em 1947. Em 1953, a Universidade de Manchester construiu o primeiro computador transistorizado, o Manchester Baby. No entanto, os primeiros transistores de junção eram dispositivos relativamente volumosos e difíceis de produzir em massa, o que os limitava a várias aplicações especializadas. O transistor de efeito de campo de óxido metálico e silício (MOSFET ou transistor TECMOS) foi inventado por Mohamed Atalla e Dawon Kahng nos Laboratórios Bell em 1959. O MOSFET possibilitou a construção de circuitos integrados de alta densidade, levando ao que é conhecido como a revolução dos computadores ou revolução dos microcomputadores. A partir da segunda metade do século XX, com o advento dos computadores eletrônicos, a Computação passou a ter uma presença cada vez mais marcante na sociedade, influenciando a vida diária de parte da população mundial. Nesse período, a Computação ganhou o status de Ciência, surgindo então o termo ciência da computação, uma área do conhecimento humano hoje fortemente ligada à produção de "software". Os algoritmos computacionais hoje estão presentes na rede mundial de computadores (internet), bem como em "smartphones", computadores pessoais e outros dispositivos que executam processamento de dados. Computador. Um computador é uma máquina que manipula dados de acordo com um conjunto de instruções chamado programa de computador. O programa tem uma forma executável que o computador pode usar diretamente para executar as instruções. O mesmo programa, em sua forma de código-fonte legível por humanos, permite que um programador estude e desenvolva uma sequência de etapas conhecida como algoritmo. Como as instruções podem ser executadas em diferentes tipos de computadores, um único conjunto de instruções de origem é convertido em instruções de máquina de acordo com o tipo de CPU. O processo de execução executa as instruções em um programa de computador. As instruções expressam os cálculos realizados pelo computador. Elas acionam sequências de ações simples na máquina de execução. Essas ações produzem efeitos de acordo com a semântica das instruções. "Hardware" de computador. O "hardware" de computador inclui as partes físicas de um computador, inclusive a unidade central de processamento, a memória e a entrada/saída. A lógica computacional e a arquitetura do computador são tópicos importantes no campo do "hardware" de computador. "Software" de computador. O "software" é um conjunto de programas de computador e dados relacionados que fornece instruções para um computador. "Software" refere-se a um ou mais programas de computador e dados mantidos no armazenamento do computador. É um conjunto de programas, procedimentos, algoritmos, bem como sua documentação relacionada à operação de um sistema de processamento de dados. O "software" de programa executa a função do programa que implementa, seja fornecendo instruções diretamente ao "hardware" do computador ou servindo como entrada para outro "software". O termo foi criado para contrastar com o antigo termo "hardware" (que significa "dispositivos físicos"). Em contraste com o "hardware", o "software" é intangível. Às vezes, o "software" também é usado em um sentido mais restrito, significando apenas "software" de aplicação. "Software" de sistema. O "software" de sistema é um "software" de computador projetado para operar e controlar o "hardware" do computador e para fornecer uma plataforma para a execução do software de aplicação. O "software" de sistema inclui sistemas operacionais, "software" utilitário, "drivers" de dispositivos, sistemas de janelas e "firmware". As ferramentas de desenvolvimento usadas com frequência, como compiladores, ligadores e depuradores, são classificadas como "software" de sistema. O "software" de sistema e o "middleware" gerenciam e integram os recursos de um computador, mas normalmente não os aplicam diretamente na execução de tarefas que beneficiam o usuário, ao contrário do "software" de aplicação. "Software" de aplicação. O "software" aplicação, também conhecido como aplicação ou "app", é um "software" de computador projetado para ajudar o usuário a realizar tarefas específicas. Os exemplos incluem "software" empresarial, "software" de contabilidade, suítes de escritório, "software" gráfico e reprodutores de mídia. Muitas aplicações lidam principalmente com documentos. As aplicações podem ser incluídas em pacotes do "software" e do sistema ou podem ser disponibilizadas separadamente. Alguns usuários ficam satisfeitos com as aplicações incluídas no pacote e não precisam instalar aplicações adicionais. O "software" do sistema gerencia o "hardware" e atende à aplicação, que, por sua vez, atende ao usuário. O "software" de aplicação aplica o poder de uma determinada plataforma de computação ou "software" de sistema a uma finalidade específica. Algumas aplicações, como o Microsoft Office, são desenvolvidas em várias versões para várias plataformas diferentes; outros têm requisitos mais restritos e geralmente possuem o nome plataforma em que são executados. Por exemplo, uma aplicação de geografia para Windows ou uma aplicação Android para educação ou jogos no Linux. As aplicações executadas somente em uma plataforma e que aumentam a aderência à essa plataforma devido à popularidade da aplicação, são conhecidas como "aplicações matadoras" ("killer applications"). Rede de computadores. Uma rede de computadores, geralmente chamada simplesmente de rede, é um conjunto de componentes de "hardware" e computadores interconectados por canais de comunicação que permitem o compartilhamento de recursos e informações. Quando pelo menos um processo em um dispositivo é capaz de enviar ou receber dados de ou para pelo menos um processo residente em um dispositivo remoto, diz-se que os dois dispositivos estão em uma rede. As redes podem ser classificadas de acordo com uma ampla variedade de características, como o meio usado para transportar os dados, o protocolo de comunicação usado, a escala, a topologia e o escopo organizacional. Os protocolos de comunicação definem as regras e os formatos de dados para a troca de informações em uma rede de computadores e fornecem a base para a programação da rede. Um protocolo de comunicação bem conhecido é a Ethernet, um padrão de "hardware" e camada de enlace que é onipresente em redes locais. Outro protocolo comum é o Internet Protocol Suite, que define um conjunto de protocolos para "internetworking", ou seja, para comunicação de dados entre várias redes, transferência de dados de "host" (hospedeiro) para "host" e formatos de transmissão de dados específicos de aplicações. Às vezes, a rede de computadores é considerada uma subdisciplina da engenharia elétrica, das telecomunicações, da ciência da computação, da tecnologia da informação ou da engenharia da computação, pois se baseia na aplicação teórica e prática dessas disciplinas. Internet. A internet é um sistema global de redes de computadores interconectadas que usam o conjunto de protocolos padrão da internet (TCP/IP) para atender a bilhões de usuários. Isso inclui milhões de redes privadas, públicas, acadêmicas, comerciais e governamentais, com escopo que varia de local a global. Essas redes são conectadas por uma ampla gama de tecnologias de rede eletrônica, sem fio e óptica. A internet oferece uma ampla gama de recursos e serviços de informação, como os documentos de hipertexto interconectados da World Wide Web e a infraestrutura de suporte a e-mail. Programação. A programação de computadores é o processo de escrever, testar, depurar e manter o código-fonte e a documentação dos programas de computador. Esse código-fonte é escrito em uma linguagem de programação, que é uma linguagem artificial, geralmente mais restritiva do que as linguagens naturais, mas facilmente traduzida pelo computador. A programação é usada para invocar algum comportamento desejado (personalização) da máquina. Escrever um código-fonte de alta qualidade requer conhecimento tanto do domínio da ciência da computação quanto do domínio em que a aplicação será usada. Por isso, o "software" da mais alta qualidade costuma ser desenvolvido por uma equipe de especialistas. No entanto, o termo "programador" pode se aplicar a uma variedade de qualidades de programa, desde "hacker" até colaborador de código aberto e profissional. Também é possível que um único programador faça a maior parte ou toda a programação de computador necessária para gerar a prova de conceito para lançar uma nova "aplicação matadora". Programador de computador. Um programador é uma pessoa que escreve "softwares" para computador. O termo "programador de computador" pode se referir a um especialista em uma área de programação de computadores ou a um generalista que escreve códigos para vários tipos de "software". Uma pessoa que pratica ou professa uma abordagem formal à programação também pode ser conhecida como analista programador. A linguagem de computador principal de um programador (C, C++, Java, Lisp, Python etc.) costuma ser prefixada aos títulos acima, e aqueles que trabalham em um ambiente da Web costumam prefixar seus títulos com Web. O termo "programador" pode ser usado para se referir a um desenvolvedor de "software", engenheiro de "software", cientista da computação ou analista programador. No entanto, os membros dessas profissões geralmente possuem outras habilidades de engenharia de "software", além da programação. Setor de computadores. O setor de tecnologia da informação é composto por empresas envolvidas no desenvolvimento de "software" de computador, no projeto de "hardware" de computador e infraestruturas de rede de computadores, na fabricação de componentes de computador e no fornecimento de serviços de tecnologia da informação, incluindo administração e manutenção de sistemas. A indústria de "software" inclui empresas envolvidas no desenvolvimento, na manutenção e na publicação de "softwares". O setor também inclui serviços de "software", como treinamento, documentação e consultoria. Subdisciplinas da computação. Engenharia da computação. A engenharia da computação é uma disciplina que integra vários campos da engenharia elétrica e da ciência da computação necessários para desenvolver "hardware" e "software" para computadores. Os engenheiros da computação geralmente têm formação em engenharia eletrônica (ou engenharia elétrica), projeto de "software" e integração de "hardware" e "software", em vez de apenas engenharia de "software" ou engenharia eletrônica. Os engenheiros de computação estão envolvidos em muitos aspectos de "hardware" e "software" da computação, desde o projeto de microprocessadores individuais, computadores pessoais e supercomputadores, até o projeto de circuitos. Esse campo da engenharia inclui não apenas o projeto de "hardware" em seu próprio domínio, mas também as interações entre o "hardware" e o contexto em que ele opera. Engenharia de software. A engenharia de "software" (ES) é a aplicação de uma abordagem sistemática, disciplinada e quantificável ao projeto, desenvolvimento, operação e manutenção de "software", e o estudo dessas abordagens. Ou seja, a aplicação da engenharia ao "software". É o ato de usar percepções para conceber, modelar e dimensionar uma solução para um problema. A primeira referência ao termo é a Conferência de Engenharia de "Software" da OTAN de 1968, com o objetivo de provocar uma reflexão sobre a crise de "software" percebida na época. O desenvolvimento de "software", um termo amplamente usado e mais genérico, não necessariamente inclui o paradigma de engenharia. Os conceitos geralmente aceitos de engenharia de "software" como uma disciplina de engenharia foram especificados no "Guide to the Software Engineering Body of Knowledge" (SWEBOK). O SWEBOK tornou-se um padrão internacionalmente aceito na ISO/IEC TR 19759:2015. Ciência da computação. Ciência da computação ou ciência da computação (abreviado CS ou "Comp Sci") é a abordagem científica e prática da computação e suas aplicações. Um cientista da computação é especializado na teoria da computação e no projeto de sistemas computacionais. Seus subcampos podem ser divididos em técnicas práticas para sua implementação e aplicação em sistemas de computação e áreas puramente teóricas. Algumas, como a teoria da complexidade computacional, que estuda as propriedades fundamentais dos problemas computacionais, são altamente abstratas, enquanto outras, como a computação gráfica, enfatizam as aplicações do mundo real. Outras se concentram nos desafios da implementação de cálculos. Por exemplo, a teoria da linguagem de programação estuda abordagens para a descrição de cálculos, enquanto o estudo da programação de computadores investiga o uso de linguagens de programação e sistemas complexos. O campo da interação humano–computador concentra-se nos desafios de tornar os computadores e as computações úteis, utilizáveis e universalmente acessíveis aos seres humanos. Segurança cibernética. O campo da segurança cibernética diz respeito à proteção de sistemas e redes de computadores. Isso inclui a privacidade das informações e dos dados, a prevenção da interrupção dos serviços de TI e a prevenção de roubos e danos a "hardware", "software" e dados. Ciência de dados. A ciência de dados é um campo que usa ferramentas científicas e de computação para extrair informações e percepções dos dados, impulsionadas pelo aumento do volume e da disponibilidade dos dados. Mineração de dados, "big data", estatística e aprendizado de máquina estão todos interligados à ciência de dados. Sistemas de informação. Os sistemas de informação (SI) são o estudo de redes complementares de "hardware" e "software" (tecnologia da informação) que as pessoas e as organizações usam para coletar, filtrar, processar, criar e distribuir dados. O Computing Careers da Association for Computing Machinery descreve os SI como:"A maioria dos programas [de graduação] em SI está localizada em escolas de negócios; no entanto, eles podem ter nomes diferentes, como sistemas de informações gerenciais, sistemas de informações de computadores ou sistemas de informações comerciais. Todos os cursos de SI combinam tópicos de negócios e computação, mas a ênfase entre questões técnicas e organizacionais varia entre os programas. Por exemplo, os programas diferem substancialmente na quantidade de programação exigida." O estudo de SI une negócios e ciência da computação, usando os fundamentos teóricos da informação e da computação para estudar vários modelos de negócios e processos algorítmicos relacionados dentro de uma disciplina de ciência da computação. O campo de sistemas de informação computacional (CIS) estuda computadores e processos algorítmicos, incluindo seus princípios, seus projetos de "software" e "hardware", seus aplicativos e seu impacto na sociedade, enquanto o SI enfatiza a funcionalidade em relação ao design. Tecnologia da informação. A tecnologia da informação (TI) é a aplicação de computadores e equipamentos de telecomunicações para armazenar, recuperar, transmitir e manipular dados, geralmente no contexto de uma empresa ou outro empreendimento. O termo é normalmente usado como sinônimo de computadores e redes de computadores, mas também abrange outras tecnologias de distribuição de informações, como televisão e telefones. Vários setores estão associados à tecnologia da informação, incluindo "hardware", "software", eletrônicos, semicondutores, internet, equipamentos de telecomunicação, comércio eletrônico e serviços de informática. Pesquisa e tecnologias emergentes. A computação em DNA e a computação quântica são áreas de pesquisa ativa tanto para "hardware" quanto para "software" de computação, como o desenvolvimento de algoritmos quânticos. A infraestrutura em potencial para tecnologias futuras inclui DNA origami fotolitografia e antenas quânticas para transferência de informações entre armadilhas de íons. Em 2011, os pesquisadores haviam emaranhado 14 qubits. Circuitos digitais rápidos, incluindo aqueles baseados em junções Josephson e tecnologia quântica de fluxo único rápido, estão se tornando mais fáceis de realizar com a descoberta de supercondutores em nanoescala. Os dispositivos de fibra óptica e fotônicos (ópticos), que já foram usados para transportar dados por longas distâncias, estão começando a ser usados pelos centros de dados, juntamente com componentes de memória de CPU e semicondutores. Isso permite a separação da memória de acesso aleatório (RAM) da CPU por interconexões ópticas. A IBM criou um circuito integrado com processamento de informações eletrônicas e ópticas em um único "chip". Isso é denominado CINP (CMOS-"integrated nanophotonics", nanofotônica integrada ao CMOS). Um benefício das interconexões ópticas é que as placas-mãe, que antes exigiam um determinado tipo de sistema em um chip (SoC), agora podem mover a memória dedicada e os controladores de rede das placas-mãe, espalhando os controladores pelo "rack". Isso permite a padronização de interconexões de "backplane" e placas-mãe para vários tipos de SoCs, o que permite atualizações mais oportunas de CPUs. Outro campo de pesquisa é a spintrônica. A spintrônica pode fornecer potência de computação e armazenamento, sem acúmulo de calor. Algumas pesquisas estão sendo feitas em "chips" híbridos, que combinam fotônica e spintrônica. Também há pesquisas em andamento sobre a combinação de plasmônica, fotônica e eletrônica. Computação em nuvem. A computação em nuvem é um modelo que permite o uso de recursos de computação, como servidores ou aplicações, sem a necessidade de interação entre o proprietário desses recursos e o usuário final. Normalmente, ela é oferecida como um serviço, o que a torna um exemplo de "Software" como Serviço, Plataformas como Serviço e Infraestrutura como Serviço, dependendo da funcionalidade oferecida. As principais características incluem acesso sob demanda, amplo acesso à rede e a capacidade de escalonamento rápido. Permite que usuários individuais ou pequenas empresas se beneficiem das economias de escala. Uma área de interesse nesse campo é seu potencial para apoiar a eficiência energética. Permitir que milhares de instâncias de computação ocorram em uma única máquina, em vez de milhares de máquinas individuais, pode ajudar a economizar energia. Também poderia facilitar a transição para uma fonte de energia renovável, pois bastaria alimentar um farm de servidores com energia renovável, em vez de milhões de residências e escritórios. Entretanto, esse modelo de computação centralizada apresenta vários desafios, especialmente em termos de segurança e privacidade. A legislação atual não protege suficientemente os usuários de empresas que manipulam mal seus dados nos servidores da empresa. Isso sugere a possibilidade de mais regulamentações legislativas sobre computação em nuvem e empresas de tecnologia. Computação quântica. A computação quântica é uma área de pesquisa que reúne as disciplinas de ciência da computação, teoria da informação e física quântica. Embora a ideia da informação como parte da física seja relativamente nova, parece haver uma forte ligação entre a teoria da informação e a mecânica quântica. Enquanto a computação tradicional opera em um sistema binário de uns e zeros, a computação quântica usa qubits. Os qubits são capazes de estar em uma superposição, ou seja, em ambos os estados de um e zero, simultaneamente. Assim, o valor do qubit não está entre 1 e 0, mas muda dependendo de quando é medido. Essa característica dos qubits é conhecida como entrelaçamento quântico e é a ideia central da computação quântica que permite que os computadores quânticos façam cálculos em grande escala. A computação quântica é usada com frequência em pesquisas científicas nos casos em que os computadores tradicionais não têm capacidade de computação para fazer os cálculos necessários, como na modelagem molecular. Moléculas grandes e suas reações são complexas demais para serem calculadas pelos computadores tradicionais, mas a capacidade de computação dos computadores quânticos poderia fornecer uma ferramenta para realizar esses cálculos.
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Canadá
Canadá O Canadá (, ; , ) é um país que ocupa grande parte da América do Norte e se estende desde o oceano Atlântico, a leste, até o oceano Pacífico, a oeste. Ao norte o país é limitado pelo oceano Ártico. É o segundo maior país do mundo em área total, superado apenas pela Rússia, e a sua fronteira comum com os Estados Unidos, no sul e no noroeste, é a mais longa fronteira terrestre do mundo. As terras ocupadas pelo Canadá são habitadas há milênios por diferentes grupos de povos aborígines. Começando no fim do século XV, expedições britânicas, portuguesas e francesas exploraram e, mais tarde, se estabeleceram ao longo da costa Atlântica do país. A França cedeu quase todas as suas colônias na América do Norte em 1763 depois da Guerra dos Sete Anos. Em 1867, com a união de três colônias britânicas da América do Norte em uma confederação, o Canadá foi formado como um domínio federal de quatro províncias. Isto começou com um acréscimo de províncias e territórios e com um processo de aumento de autonomia do Reino Unido. Esta ampliação de autonomia foi salientada pelo Estatuto de Westminster de 1931 e culminou no Ato de Canadá de 1982, que eliminou os vestígios de dependência jurídica do Parlamento Britânico. O Canadá é uma federação composta por dez províncias e três territórios, uma democracia parlamentar e uma monarquia constitucional, com o rei Carlos III como chefe de Estado — um símbolo dos laços históricos do Canadá com o Reino Unido — sendo o governo dirigido por um primeiro-ministro, cargo ocupado atualmente () por Justin Trudeau. É um país bilíngue e multicultural, com o inglês e o francês como línguas oficiais. Um dos países mais desenvolvidos do mundo, o Canadá tem uma economia diversificada, dependente dos seus abundantes recursos naturais e do comércio, particularmente com os Estados Unidos, país com que o Canadá tem um relacionamento longo e complexo. É um membro do G7, do G20, da OTAN, da OCDE, da OMC, da Comunidade das Nações, da OIF, da OEA, da APEC e das Nações Unidas. Etimologia. Existem várias teorias quanto à origem etimológica da palavra Canadá. O "Dictionary of Canadianisms on Historical Principles Online" considera que a etimologia da palavra Canadá não se encontra claramente estabelecida e apresenta uma extensa lista com várias teorias que foram apresentadas ao longo dos tempos. A teoria com mais aceitação talvez seja a de que a origem do nome "Canadá" venha da palavra iroquesa "kanata", que significa "aldeia" ou "povoado". Em 1535, nativos americanos vivendo na região utilizaram a palavra para explicar ao explorador francês Jacques Cartier o caminho para a aldeia de "Stadacona", local onde se encontra atualmente a cidade de Quebec. Cartier utilizou a palavra não somente em referência a Stadacona, mas também a toda a região sujeita ao domínio de Donnacona, então cacique de Stadacona. Por volta de 1547, mapas europeus passaram a nomear esta região, acrescida das áreas que a cercavam, pelo nome "Canada". Outra teoria atribui a origem do nome Canadá a navegadores espanhóis que, tendo chegado às costas do Canadá e não encontrado nem ouro nem nada de proveito, teriam dito "Acá nada", palavras que, mais tarde, repetir-se-iam pelos nativos e pelos franceses. Outra teoria bastante divulgada há séculos é que um navegador português, depois de visitar as terras geladas do continente norte-americano, teria deixado escrito num mapa "Cá Nada", pois nas terras nada haveria de interessante, e mais tarde um copista francês teria interpretado essas duas palavras como sendo o nome da terra. O historiador luso-alemão Rainer Daehnhardt, defensor desta última teoria, refuta a hipótese da origem nativa iroquesa, argumentando que os iroqueses habitavam o interior e que existe cartografia anterior aos primeiros contatos com iroqueses a qual já fazia uso da palavra Canada. A partir do século XVII, aquela parte da Nova França, situada ao longo do rio São Lourenço e das margens norte dos Grandes Lagos, era conhecida como "Canadá". Posteriormente, foi dividida em duas colônias britânicas, Canadá Superior e Canadá Inferior, até a união das duas como uma única Província Britânica do Canadá, em 1841. Até a década de 1950, o Canadá era oficialmente — e comumente — chamado de "Dominion of Canada" (Domínio do Canadá). À medida que o Canadá adquiriu maior autoridade e autonomia política do Reino Unido, o governo federal passou a utilizar cada vez mais somente "Canadá" em documentos oficiais, em documentos governamentais e em tratados. Com o Ato do Canadá de 1982, o nome oficial do país passou a ser simplesmente "Canadá", assim escrito nos dois idiomas oficiais do país, o inglês e o francês. Com o Ato do Canadá, o dia da independência canadense, em 1.º de julho, mudou de nome, de "Dominion Day" para Dia do Canadá. História. Povos ameríndios. Estudos arqueológicos e genéticos indicam uma presença humana no norte de Yukon há anos e no sul de Ontário há anos. As planícies de "Old Crow" e as cavernas de "Bluefish" são dois dos mais antigos sítios arqueológicos de habitação humana (paleoamericanos) no Canadá. Entre os povos das Primeiras Nações, há oito mitos únicos de criação e suas adaptações. As características das civilizações aborígines canadenses incluíam assentamentos permanentes ou urbanos, agricultura, cidadania, arquitetura monumental e complexas hierarquias sociais. Algumas dessas civilizações já tinham desaparecido antes da colonização europeia (início do ) e foram descobertas através de pesquisas arqueológicas. Estima-se que no final do século XV e início do século XVI viveriam entre e dois milhões de indígenas no que é atualmente o Canadá — o valor atualmente aceito pela Comissão Real sobre a Saúde Aborígine do Canadá é de . Surtos repetidos de doenças infecciosas europeias como a gripe, o sarampo e a varíola (para as quais os indígenas não tinham imunidade natural), combinados com outros efeitos do contato europeu, resultou em uma diminuição de 40% a 80% da população indígena após a chegada dos europeus. Os povos aborígines do Canadá incluem as "Primeiras Nações", Inuítes e Métis. Métis é uma cultura mestiça originada em meados do século XVII, quando as Primeiras Nações e os Inuítes se misturaram com os colonos europeus. Os esquimós tinham uma interação mais limitada com os colonizadores europeus durante períodos iniciais. Colonização europeia. Por volta do ano 1000, viquingues estabeleceram o colonato de Vinlândia (atual região do Golfo de São Lourenço, Novo Brunswick e Nova Escócia). A ocupação de "Leifsbudir" foi superficial e durou pouco tempo, porém representou o primeiro contato europeu com a América e o primeiro assentamento escandinavo na América do Norte (com exceção da Groenlândia), cerca de 500 anos antes das viagens de Cristóvão Colombo. A primeira visita documentada a terras canadenses por navegadores europeus ocorreu em 1497 ou 1498, quando o veneziano ao serviço de Inglaterra Giovanni Caboto (conhecido em inglês como John Cabot) aportou à Terra Nova. Alguns historiadores defendem que há indícios que a Terra Nova já teria sido visitada pelo navegador português João Vaz Corte Real em 1472 ou antes e por Diogo de Teive e o seu piloto Pero Vasques Saavedra em 1452. Baseando-se no Tratado de Tordesilhas, a Coroa Portuguesa alegava ter direitos territoriais na área visitada por John Cabot, em 1497–1498. Em 1498, o marinheiro luso João Fernandes Lavrador visitou o que é agora a costa leste do Canadá, sendo que o seu apelido deu origem ao topônimo "Labrador". Posteriormente, entre 1501 e 1502, os irmãos Corte-Real exploraram Terra Nova e Labrador. Em 1506, o rei D. Manuel I criou impostos para a pesca do bacalhau nas águas da região. No ano 1521, João Álvares Fagundes e Pêro de Barcelos comandaram viagens de reconhecimento e estabeleceram postos avançados de pesca. No entanto, a extensão e natureza da presença portuguesa no norte do continente americano durante o século XVI permanecem obscuras. Em 1534 Jacques Cartier explorou o Canadá em nome da França. O explorador francês Samuel de Champlain chegou em 1603 e estabeleceu os primeiros assentamentos europeus permanentes em Port Royal em 1605 e Quebec em 1608. A colonização europeia começou efetivamente no século XVI, quando os britânicos, e principalmente, os franceses se estabeleceram pelo Canadá. Os britânicos não tiveram uma forte presença no antigo Canadá, instalando-se originalmente na Terra de Rupert — uma gigantesca área que posteriormente daria origem aos Territórios do Noroeste, Manitoba, Saskatchewan e Alberta, que são áreas no centro, oeste e noroeste do país — sendo que a região dos Grandes Lagos e do Rio São Lourenço, bem como a região que atualmente compõe as atuais províncias de Nova Escócia e Novo Brunswick, estava toda nas mãos dos franceses. A Nova França (Nouvelle-France) e a Acádia continuavam a se expandir. Essa expansão não foi bem aceita pelos iroqueses e, principalmente, pelos britânicos e os colonos das chamadas Treze Colônias (as quais se tornariam os Estados Unidos), desencadeando uma série de batalhas que culminou, em 1763, no Tratado de Paris — no qual os franceses cederam seus territórios da Nova França e da Acádia aos britânicos. Os britânicos, que já então dominavam as imensas Terras de Rupert bem como os territórios de Nunavut, Territórios do Noroeste e Yukon — emitiram o "Quebec Act", que permitiu aos franceses estabelecidos no antigo Canadá que continuassem a manter seu código civil e sancionou a liberdade de religião e de idioma — permitindo que a Igreja Católica e a língua francesa continuassem a sobreviver no Canadá até os dias atuais. Com a Guerra da Independência dos Estados Unidos, que durou de 1775 até 1783, o Canadá recebeu levas de colonos leais aos britânicos, provenientes das Treze Colônias britânicas rebeldes. Tais colonos se estabeleceram no que é a atual província de Ontário. Com isso, os britânicos decidiram separar o Canadá em dois, criando o Canadá Superior (atual Ontário) e o Canadá Inferior (atual Quebec), além do território de Novo Brunswick (antiga Acádia — parte dos territórios antigamente colonizados pelos franceses). Os Estados Unidos, em 1812, invadiram o Canadá Inferior e o Canadá Superior, na tentativa de anexar o resto das colônias britânicas na América do Norte, desencadeando a Guerra de 1812. Os Estados Unidos não tiveram sucesso, recuando ao tomarem conhecimento da chegada de tropas britânicas enviadas para combatê-los — mas ocuparam temporariamente as cidades de York (atual Toronto) e Quebec, queimando-as ao se retirarem. Em retaliação, tropas canadenses e britânicas perseguiram os americanos em fuga, invadindo o nordeste dos Estados Unidos, atacando e queimando várias cidades, inclusive a capital, Washington, D.C.. Em 1837, houve uma grande rebelião de colonos, tanto no Baixo Canadá quanto no Alto Canadá. Isso levou os britânicos a uma tentativa de assimilar a cultura francesa à britânica — entre outras coisas, o Baixo Canadá e o Alto Canadá foram unidos em uma única província do Canadá. Confederação e expansão. O receio de uma segunda invasão vinda dos Estados Unidos gerou imensas despesas em relação ao quesito de defesa (mais tropas, armamentos, suprimentos, etc), aliado ao fracasso britânico em assimilar os franceses em 1830, fez com que a ideia da Confederação Canadense (idealizada por colonos canadenses), cujo objetivo era integrar o Canadá e defender melhor a região de um eventual ataque dos Estados Unidos, fosse aprovada pelos britânicos. Em 1 de julho de 1867, as províncias do Canadá, Novo Brunswick e Nova Escócia tornaram-se uma federação, tornando-se em parte politicamente independentes do Reino Unido — porém, os britânicos ainda teriam controle sobre o Ministério das Relações Exteriores do Canadá por mais 64 anos. Depois de 1867, lentamente outras colônias britânicas aceitaram unir-se à Confederação Canadense, sendo que a primeira foi a Colúmbia Britânica, e em 1880, os Territórios do Noroeste — cedidos pela Companhia da Baía de Hudson. Posteriormente, os Territórios do Noroeste seriam divididos nas atuais províncias de Alberta, Saskatchewan e Manitoba, além dos territórios de Yukon e Nunavut. O oeste canadense foi totalmente integrado ao território canadense, não sem a geração de conflitos de cunho étnico, social e econômico, dos quais destacam-se a Rebelião de Red River, ocorrida entre 1869 e 1870, e a Rebelião de Saskatchewan, ocorrida em 1885, ambas lideradas pelo líder Métis Louis Riel. Início do século XX. Como o Reino Unido ainda mantinha o controle das relações exteriores do Canadá, ao abrigo da Lei da Confederação, com a declaração britânica de guerra em 1914, o Canadá foi automaticamente envolvido na Primeira Guerra Mundial. Os voluntários enviados para a Frente Ocidental passaram mais tarde a fazer parte do Corpo Canadense. O Corpo desempenhou um papel importante na Batalha de Vimy e em outras grandes batalhas da guerra. Dos cerca de que serviram, cerca de foram mortos e outros ficaram feridos. A Crise de Recrutamento de 1917 eclodiu quando o primeiro-ministro conservador Robert Borden decretou o serviço militar obrigatório com a oposição dos quebequenses que falavam a língua francesa. Em 1919, o Canadá entrou na Liga das Nações, independentemente do Reino Unido e, em 1931, o Estatuto de Westminster, afirmou a independência do Canadá. A Grande Depressão trouxe dificuldades econômicas para todo o Canadá. Em resposta, o partido político "Co-operative Commonwealth Federation" (CCF), em Alberta e Saskatchewan, promulgou várias medidas para estabelecer um estado de bem-estar social (sendo Tommy Douglas o pioneiro) em 1940 e 1950. O Canadá declarou guerra à Alemanha de forma independente durante a Segunda Guerra Mundial sob o governo do primeiro-ministro liberal William Lyon Mackenzie King, três dias após o Reino Unido. As primeiras unidades do Exército canadense chegaram na Grã-Bretanha em dezembro de 1939. As tropas canadenses desempenharam papéis importantes na Batalha de Dieppe em 1942 em França, na invasão aliada da Itália, nos desembarques do Dia D, na Batalha da Normandia e na Batalha do rio Escalda, em 1944. O Canadá deu asilo e proteção à monarquia dos Países Baixos, enquanto este país esteve ocupado, e é creditado pela liderança e contribuição importante para a sua libertação da Alemanha nazista. A economia canadense cresceu fortemente com a fabricação de materiais militares pela indústria para o Canadá, Reino Unido, China e União Soviética. Apesar de uma outra crise de recrutamento em Quebec, o Canadá terminou a guerra com uma das maiores forças armadas do mundo e com a segunda maior economia do planeta. Tempos modernos. O Domínio de Terra Nova (hoje Terra Nova e Labrador), na época um equivalente do Canadá e da Austrália como um domínio, uniu-se ao Canadá em 1949. O crescimento do Canadá, combinado com as políticas dos sucessivos governos liberais, levou ao aparecimento de uma nova identidade canadense, marcada pela adoção da atual "bandeira", em 1965, a aplicação do bilinguismo oficial (inglês e francês), em 1969, e o multiculturalismo oficial em 1971. Houve também a fundação de programas social-democratas, tais como saúde universal, o "Canada Pension Plan" e empréstimos estudantis, apesar de os governos provinciais, sobretudo Québec e Alberta, se oporem a muitos destes planos como incursões em suas jurisdições. Finalmente, uma outra série de conferências constitucionais resultou na chamada "patriation" ("patriamento" ou "patriação") de 1982 — até essa altura a constituição do Canadá era uma lei britânica que só podia ser alterada pelo parlamento britânico. Simultaneamente a esse processo, foi criada a Carta Canadense dos Direitos e das Liberdades. Em 1999, Nunavut tornou-se território terceiro do Canadá, após uma série de negociações com o governo federal. Ao mesmo tempo, o Quebec passou por profundas mudanças sociais e econômicas através da "Revolução Tranquila", dando origem a um movimento nacionalista e mais radical na província chamado "Front de libération du Québec" (FLQ), cujas ações culminaram na Crise de Outubro de 1970. Uma década depois, um referendo malsucedido sobre a soberania-associação da província de Quebéc realizou-se em 1980, depois que as tentativas de emenda constitucional fracassaram em 1990. Em um segundo referendo realizado em 1995, a soberania da província foi rejeitada por uma margem de apenas 50,6% para 49,4%. Em 1997, a Suprema Corte decidiu que a secessão unilateral de uma província seria inconstitucional e o "Clarity Act" foi aprovada pelo parlamento, que define os termos de uma saída negociada da Confederação. Além das questões sobre a soberania de Quebec, uma série de crises sacudiu a sociedade canadense no final dos anos 1980 e início dos anos 1990. Estes incluem a explosão do Voo Air India 182 em 1985, o maior assassinato em massa da história do Canadá; o Massacre da Escola Politécnica de Montreal em 1989, quando um atirador alvejou várias estudantes universitárias; e a crise Oka, em 1990, o primeiro de uma série de violentos confrontos entre o governo e grupos aborígines do país. O Canadá também participou da Guerra do Golfo, em 1990, como parte de uma força de coalizão liderada pelos Estados Unidos, e foi ativo em várias missões de paz no final dos anos 1990. O país enviou tropas para o Afeganistão em 2001, mas recusou-se a enviar tropas para o Iraque quando os Estados Unidos invadiram esta nação em 2003. Geografia. O Canadá ocupa a maior parte do norte da América do Norte, partilhando as fronteiras terrestres com os Estados Unidos Continentais ao sul e com o estado estadunidense do Alasca a noroeste, estendendo-se desde o oceano Atlântico a leste até o oceano Pacífico a oeste, e com o oceano Ártico a norte. Em área total (incluindo as suas águas), o Canadá é o segundo maior país do mundo, sendo superado apenas pela Rússia. Em área terrestre (área total menos a área de lagos e rios), o Canadá é o quarto maior país do planeta. O Canadá tem um litoral muito extenso no seu norte, leste e oeste e, desde o último período glacial consiste em oito regiões florestais distintas, incluindo a vasta floresta boreal sobre o Escudo Canadense. A vastidão e a variedade da geografia, ecologia, vegetação e relevo do Canadá deram origem a uma grande variedade de climas em todo o país. Desde 1925, o Canadá reivindica a porção do Ártico entre os meridianos 60° W e 141° W, mas essa reivindicação não é universalmente reconhecida. O assentamento humano mais setentrional do Canadá (e do mundo) é a "Canadian Forces Station Alert", na ponta norte da Ilha Ellesmere, latitude 82,5°N, a 817 km do Polo Norte. A maior parte do Ártico canadense é coberto por gelo e permafrost. O Canadá também tem o litoral mais extenso do mundo com quilômetros de extensão. As temperaturas médias do inverno e do verão em todo o Canadá variam de acordo com a região. O inverno pode ser rigoroso em muitas regiões do país, particularmente no interior e nas pradarias canadenses, que têm um clima continental, onde as temperaturas médias diárias estão perto de −15 °C, mas podem cair abaixo de −40 °C com uma sensação térmica extremamente fria. No interior, a neve pode cobrir o solo durante quase seis meses do ano (mais no norte). O litoral da Colúmbia Britânica desfruta de um clima temperado, com um inverno ameno e chuvoso. Nas costas leste e oeste, as temperaturas médias são mais elevadas, geralmente um pouco acima de 20 °C, enquanto entre as costas, a média de temperatura máxima no verão varia de 25 a 30 °C, com calor extremo ocasional em algumas localidades do interior superior a 40 °C. Por causa de seu grande tamanho, o Canadá tem mais lagos do que qualquer outro país do mundo, contendo grande parte da água doce do planeta. Há também água nas geleiras das Montanhas Rochosas canadenses e nas Montanhas Costeiras. O Canadá também é geologicamente ativo, com muitos terremotos e vulcões potencialmente ativos, nomeadamente o Complexo Vulcânico Monte Edziza e os montes Meager, Garibaldi e Cayley. A erupção vulcânica do Cone Tseax em 1775 causou um desastre catastrófico, matando 2 000 pessoas do povo Nisga'a, destruindo sua aldeia no vale do rio Nass no norte da Colúmbia Britânica; a erupção produziu um fluxo de lava de 22,5 km, e segundo a lenda do povo Nisga'a, ele bloqueou o fluxo do rio Nass. Demografia. O censo canadense de 2016 registrou uma população total de 35 151 728 habitantes, um aumento de cerca de 5% em relação aos números de 2011. Entre 2011 e maio de 2016, a população do Canadá cresceu 1,7 milhão de pessoas, em grande parte pelos imigrantes, representando dois terços do aumento da população. Entre 1990 e 2008, a população aumentou 5,6 milhões, equivalente ao crescimento de 20,4%. Cerca de quatro quintos da população do Canadá vive a 150 quilômetros da fronteira com os Estados Unidos. Os principais impulsionadores do crescimento da população são a imigração e, em menor medida, o crescimento natural. A densidade populacional do Canadá é de apenas 3,7 pessoas por quilômetro quadrado, esta densidade está entre as mais baixas do mundo. Em comum com muitos outros países desenvolvidos, o Canadá está passando por uma mudança demográfica para uma população mais idosa, com mais aposentados e menos pessoas em idade ativa. Em 2006, a idade média da população era de 39,5 anos. Os resultados censitários também indicam que, apesar do aumento da imigração desde 2001 (que deu ao Canadá uma maior taxa de crescimento da população do que no anterior período intercensitário), o envelhecimento da população canadense não diminuiu durante o período. Urbanização. A parte mais densamente povoada do país é o Corredor Cidade de Quebec–Windsor, (situado no sul de Quebec e Sul de Ontário) ao longo dos Grandes Lagos e do rio São Lourenço, no sudeste. Isto inclui as áreas de Toronto, Montreal e Ottawa), a "Lower Mainland" (que consiste na região do entorno de Vancouver) e o Corredor Calgary-Edmonton em Alberta. Etnias. De acordo com o censo de 2016, a maior origem étnica autodeclarada do país é a canadense (representando 32% da população), seguida de ingleses (18,3%), escoceses (13,9%), franceses (13,6%), irlandeses (13,4%), alemães (9,6%), chineses (5,1%), italianos (4,6%), aborígenes (4,4%), indianos (4,0%) e ucranianos (3,9%). São reconhecidos 600 povos das Primeiras Nações abrangendo pessoas. A população indígena do Canadá está crescendo quase o dobro da taxa nacional, 4% da população reivindicava uma identidade indígena em 2006. Outros 22,3% da população pertenciam a uma minoria não indígena visível. Em 1961, menos de 2% da população (cerca de 300 000 pessoas) eram membros de grupos minoritários. Os povos indígenas ou aborígenes não são considerados uma minoria visível na Lei de Equidade no Emprego, e essa é a definição que a Statistics Canada também usa. Em 2031, estima-se que um em cada três canadenses poderá pertencer a um grupo minoritário relevante. Em 2016, os maiores grupos étnicos minoritários visíveis foram asiáticos do sul da Ásia (5,6%), chineses (5,1%) e negros (3,5%). Entre 2011 e 2016, a população minoritária visível aumentou 18,4%. O Canadá tem a maior taxa de imigração "per capita" do mundo, impulsionada pela política econômica e pelo reagrupamento familiar, e acolheu um número entre e novos residentes permanentes em 2010. A maioria da população canadense, bem como os principais partidos políticos, apoiam o nível atual de imigração no país. Em 2014, um total de 260 400 imigrantes foram admitidos no Canadá. E recentemente o governo canadense aceitou entre 280 mil e 305 mil novos residentes permanentes. Os novos imigrantes se instalam principalmente em grandes áreas urbanas do país, como Toronto, Montreal, Vancouver e Calgary. O país também aceita um grande número de refugiados, representando mais de 10% do acolhimento global de refugiados. O termo Primeiras Nações se refere aos povos aborígines do Canadá que não são nem Métis nem Inuítes. Em 2011, esta população era de aproximadamente 1,3 milhões. A migração do povo aborígine data de cerca de 15 000 anos até a última era do gelo, que reduziu o nível do mar e criou uma ponte terrestre entre a Eurásia e as Américas, permitindo que eles se estabelecessem. Em outubro de 2019, o Canadá é o tema de um relatório da ONU sobre as condições de vida dos povos indígenas. A comissão de inquérito aponta que os aborígines estão "mais propensos a serem mal alojados e a terem problemas de saúde como resultado". Além disso, "a proporção de desabrigados entre eles é desproporcionalmente alta e eles são extremamente vulneráveis a despejos forçados, apropriação de terra e aos efeitos da mudança climática. Ao defenderem seus direitos, eles são frequentemente alvos de extrema violência. As comunidades indígenas também são fortemente afetadas pela falta de moradia no norte do Canadá: comunidades que dormem em turnos. Quinze pessoas vivem em uma casa do tamanho de uma caravana. [...] Elas têm que se revezar dormindo quando não há muito espaço. Religiões. O apoio ao pluralismo religioso é uma parte importante da cultura política do Canadá. Segundo o censo de 2011, 67,3% dos canadenses identificam-se como cristãos; destes, os católicos formam o maior grupo (38,7% dos canadenses). A maior denominação protestante é a Igreja Unida do Canadá (9,5% dos canadenses), seguida pelos anglicanos (6,8%), os batistas (2,4%), luteranos (2%) e outros cristãos (4,4%). 23,9% dos canadenses declaram-se sem religião e os restantes 8,2% são filiados com religiões não cristãs, sendo a maior delas o islamismo (3,2%), seguido pelo hinduísmo (1,5%). Idiomas. As duas línguas oficiais do Canadá são o inglês e o francês. O bilinguismo oficial é definido na Carta Canadense dos Direitos e das Liberdades, o "Official Languages Act" e o "Official Language Regulations"; é aplicado pelo Comissário de Línguas Oficiais. O inglês e francês têm o mesmo estatuto em tribunais federais, no Parlamento, e em todas as instituições federais. Os cidadãos têm o direito, sempre que houver demanda suficiente, de receber serviços do governo federal em inglês ou francês, e as minorias que utilizam um dos idiomas oficiais têm garantidas suas próprias escolas em todas as províncias e territórios do país. O inglês e o francês são as línguas maternas de 59,7% e 23,2% da população, respectivamente, e as línguas mais faladas em casa, 68,3% e 22,3% da população, respectivamente. 98,5% dos canadenses falam inglês ou francês (67,5% falam apenas em inglês, 13,3% falam apenas francês e 17,7% falam ambas as línguas). Comunidades cujas línguas oficiais são o inglês ou o francês, constituem 73,0% e 23,6% da população, respectivamente. A Carta da Língua Francesa faz do francês a língua oficial em Quebec. Embora mais de 85% dos canadenses francófonos vivam em Quebec, existem populações significativas de francófonos em Ontário, Alberta e no sul de Manitoba. Ontário tem a maior população de língua francesa fora de Quebec. Novo Brunswick, a única província oficialmente bilíngue, tem uma minoria de acadianos de língua francesa constituindo 33% da população. Há também grupos de acadianos no sudoeste da Nova Escócia, na Ilha Cape Breton e nas partes central e ocidental da Ilha do Príncipe Eduardo. Outras províncias não têm línguas oficiais, mas o francês é utilizado como língua de instrução, nos tribunais, e para outros serviços do governo, além do inglês. Manitoba, Ontário e Quebec permitem que o inglês e francês sejam falados nas legislaturas provinciais e que leis sejam aprovadas em ambas as línguas. Em Ontário, o francês tem um estatuto legal, mas não é completamente cooficial. Existem 11 grupos de línguas aborígines, compostas por mais de 65 dialetos distintos. Destes, apenas as línguas Cree, Inuktitut e Ojibway têm uma população de falantes fluentes grande o suficiente para serem consideradas viáveis para sobreviverem no longo prazo. Várias línguas indígenas têm estatuto oficial nos Territórios do Noroeste. O inuktitut é a língua maioritária em Nunavut e uma das três línguas oficiais do território. Mais de seis milhões de pessoas no Canadá indicam uma língua não oficial como sua língua materna. Algumas das mais comuns primeiras línguas não oficiais incluem o chinês (cantonês, principalmente, falantes como primeira língua), italiano (), alemão (), punjabi (), espanhol (), árabe () e português (). Política. Governo. O Canadá é descrito como uma "democracia plena", com uma tradição de liberalismo, e uma ideologia política moderada e igualitária. A ênfase na justiça social tem sido um elemento distintivo da cultura política do Canadá. Paz, ordem e bom governo, juntamente com uma declaração implícita de direitos, são princípios fundamentais do governo canadense. No nível federal, o Canadá foi dominado por dois partidos relativamente centristas que praticam "política de corretagem", o Partido Liberal do Canadá, de centro-esquerda, e o Partido Conservador do Canadá, de centro-direita (ou seus antecessores). O Partido Liberal, historicamente predominante, posiciona-se no centro do espectro político canadense, com o Partido Conservador à direita e o Novo Partido Democrata ocupando a esquerda. A política de extrema-direita e de extrema-esquerda nunca foi uma força de destaque na sociedade canadense. Cinco partidos tiveram representantes eleitos para o parlamento federal nas eleições de 2019 — o Partido Liberal, que atualmente forma o governo; o Partido Conservador, que é a oposição oficial; o Novo Partido Democrata; o Bloco Quebequense; e o Partido Verde do Canadá. O Canadá tem fortes tradições democráticas mantidas por um governo parlamentar dentro do construto de monarquia constitucional, sendo a monarquia no Canadá a fundação dos poderes executivo, legislativo e judiciário e sua autoridade originária da população canadense. O soberano é o Rei Carlos III do Reino Unido, que também atua como chefe de Estado de outros 15 países da Commonwealth e reside principalmente no Reino Unido. Como tal, o representante do Rei, o Governador-geral do Canadá (atualmente Mary Simon), cumpre a maior parte dos deveres reais no Canadá. Contudo, a participação direta das figuras reais e vice-reais, em qualquer destas áreas da governação é limitada; na prática, o seu uso dos poderes executivos é dirigido pelo Gabinete, uma comissão dos ministros da Coroa responsável perante a Câmara dos Comuns eleita, e liderada pelo primeiro-ministro do Canadá (atualmente, Justin Trudeau), o chefe de governo. Para garantir a estabilidade do governo, o governador-geral normalmente nomeia como primeiro-ministro o líder do partido político que tem a maioria relativa na Câmara dos Comuns e o primeiro-ministro escolhe o Gabinete. O cargo de primeiro-ministro é assim uma das instituições mais poderosas do governo, dando início a maior parte da legislação para aprovação parlamentar e selecionando para a nomeação pela Coroa, além dos acima mencionados, o governador-geral, vice-governadores, senadores, juízes federais, chefes de corporações da coroa e agências governamentais. Cada Membro do Parlamento na Câmara dos Comuns é eleito por maioria simples em um distrito eleitoral. As eleições gerais têm de ser convocadas pelo governador-geral, a conselho do primeiro-ministro, no prazo de quatro anos após a eleição anterior, ou podem ser desencadeadas pela derrota do governo em um voto de confiança na Câmara dos Comuns. Os membros do Senado, cujos assentos são distribuídos numa base regional, podem servir até aos 75 anos de idade. A estrutura federal do Canadá, divide as responsabilidades de governo entre o governo federal e os governos das dez províncias. As legislaturas provinciais são unicamerais e operam de maneira parlamentar semelhante à da Câmara dos Comuns. Os três territórios do Canadá também têm legislaturas, mas estas não são soberanas e têm menos responsabilidades constitucionais do que as províncias bem como algumas diferenças estruturais. Lei. A Constituição do Canadá é a lei suprema do país e consiste em um texto escrito e convenções não escritas. A Lei Constitucional de 1867 (conhecida como "British North America Act", antes de 1982) afirmava a governação com base no precedente parlamentar "semelhante, em princípio, ao do Reino Unido" e dividia os poderes entre os governos federal e provinciais; o Estatuto de Westminster de 1931 concedeu plena autonomia e a Lei Constitucional de 1982 adicionou a Carta Canadense dos Direitos e das Liberdades, que garante os direitos e liberdades básicos que normalmente não podem ser cancelados por qualquer nível de governo — apesar de uma cláusula permitir que o Parlamento federal e as legislaturas provinciais cancelem certas secções da Carta por um período de cinco anos — e acrescentou uma emenda constitucional. Embora tenham existido conflitos, as primeiras interações entre os europeus canadenses com as Primeiras Nações e os povos Inuítes foram relativamente pacíficas. Combinado com o desenvolvimento econômico tardio do Canadá em muitas regiões, essa história pacífica permitiu aos povos indígenas canadenses terem uma influência relativamente forte na cultura nacional, preservando a sua identidade própria. A Coroa do Canadá e os povos aborígines do país começaram suas interações durante o período de colonização europeia. Os Tratados numerados, o "Indian Act", a Lei Constitucional de 1982 e outras leis foram estabelecidas. Uma série de onze tratados foram assinados entre os aborígines canadenses e os monarcas reinantes do Canadá entre 1871 e 1921. Esses tratados são acordos com o Governo do Canadá, administrados pela Lei Aborígine Canadense e supervisionados pelo Ministério de Assuntos Indígenas e Desenvolvimento da Região Norte. O papel dos tratados foi reafirmado pela Seção Trinta e Cinco da Lei Constitucional de 1982, que "reconhece e afirma os atuais direitos aborígines e contratuais". Estes direitos podem incluir provisões sobre o fornecimento de serviços como cuidados de saúde e isenção de impostos. O quadro jurídico e político dentro do qual o Canadá e as Primeiras Nações operam foi adicionalmente formalizado em 2005, com o "Acordo Político Primeiras Nações — Coroa Federal", que estabeleceu a cooperação como "a pedra angular de uma parceria entre o Canadá e as Primeiras Nações". O sistema judiciário do Canadá desempenha um papel importante na interpretação das leis e tem o poder de derrubar leis que violam a Constituição. A Suprema Corte do Canadá é a mais alta corte e o árbitro final, sendo atualmente (2010) presidida por Beverley McLachlin, P.C. (a primeira mulher Chefe de Justiça) desde 2000. Os seus nove membros são nomeados pelo governador-geral sob o conselho do Primeiro-Ministro e do Ministro da Justiça. Todos os juízes dos níveis superior e de apelação são nomeados após consulta com as entidades jurídicas não governamentais. O gabinete federal também nomeia os juízes para tribunais superiores aos níveis provincial e territorial. Cargos do sistema judiciário nos níveis mais baixos provinciais e territoriais são preenchidos por seus respectivos governos. O direito comum prevalece em toda parte, exceto em Quebec, onde predomina o direito civil. O direito penal é uma responsabilidade exclusivamente federal e é uniforme em todo o Canadá. A aplicação da lei, incluindo tribunais criminais, é uma responsabilidade provincial, mas nas áreas rurais de todos as províncias, exceto Ontário e Quebec, o policiamento é realizado pela Real Polícia Montada do Canadá federal. Relações internacionais e forças armadas. O Canadá e os Estados Unidos compartilham a maior fronteira indefesa do mundo, cooperam em campanhas e exercícios militares e são o maior parceiro comercial um do outro. O Canadá, no entanto, tem uma política externa independente, demarcando-se por vezes das posições do seu vizinho, como é o caso da manutenção de relações plenas com Cuba e da recusa em participar oficialmente na Guerra do Iraque. O país também mantém laços históricos com o Reino Unido e com a França e outras ex-colônias britânicas e francesas por meio da associação do Canadá na Commonwealth e na Francofonia. O Canadá é conhecido por ter uma relação forte e positiva com os Países Baixos e o governo holandês tradicionalmente oferece tulipas (símbolo do país europeu) ao Canadá todos os anos, em memória da contribuição canadense para a libertação dos holandeses da Alemanha nazista durante a Segunda Guerra Mundial. O país emprega atualmente uma força de voluntários profissionais militares de mais de soldados regulares e aproximadamente em reserva. As Forças Armadas do Canadá (CF) compõem o exército, a marinha e a força aérea. O Canadá é uma nação industrial com um setor de ciência e tecnologia altamente desenvolvido. Desde a Primeira Guerra Mundial, o Canadá produz os seus próprios veículos de combate de infantaria, mísseis anticarros teleguiados e armas de pequeno porte para as suas forças armadas, em especial para o exército. A forte ligação com o Império Britânico e com a Comunidade das Nações levou a uma participação importante nos esforços militares britânicos na Segunda Guerra Boer, na Primeira Guerra Mundial e na Segunda Guerra Mundial. Desde então, o Canadá tem sido um defensor do multilateralismo, fazendo esforços para resolver problemas globais, em colaboração com outras nações. O Canadá foi um dos membros fundadores das Nações Unidas em 1945 e da OTAN em 1949. Durante a Guerra Fria, o Canadá foi um dos principais contribuintes para as forças da ONU na Guerra da Coreia e fundou o Comando de Defesa Aeroespacial da América do Norte (NORAD), em cooperação com os Estados Unidos, para se defender contra potenciais ataques aéreos por parte da União Soviética. Durante a Guerra do Suez em 1956, o futuro primeiro-ministro Lester B. Pearson aliviou as tensões ao propor a criação da Força de Paz das Nações Unidas, pela qual ele foi agraciado com o Prêmio Nobel da Paz de 1957. Como esta foi a primeira missão de paz da ONU, Pearson é geralmente creditado como o inventor do conceito. O Canadá tem participado desde então de 50 missões de paz, incluindo todos os esforços de paz da ONU até 1989, e tem mantido forças em missões internacionais em Ruanda, na ex-Iugoslávia, entre outras; Canadá tem por vezes enfrentado controvérsias sobre as suas intervenções em países estrangeiros, como no Caso Somália de 1993. O número de militares canadenses que participam em missões de paz tem diminuído muito nas últimas duas décadas. O Canadá se tornou membro da Organização dos Estados Americanos (OEA) em 1990 e organizou a Assembleia Geral da OEA em Windsor, Ontário em junho de 2000 e a Terceira Cúpula das Américas em Quebec, em abril de 2001. O país pretende ampliar seus laços com economias do Pacífico através da associação na Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico (Apec). Desde 2001, o Canadá tem tropas no Afeganistão como parte da força de estabilização dos Estados Unidos e da ONU, através da Força Internacional de Assistência para Segurança comandada pela OTAN. O país comprometeu-se a retirar da província de Candaar em 2011, altura em que terá gasto um total estimado de US$ na missão. O Canadá e os Estados Unidos continuam a integrar as agências estaduais e provinciais para reforçar a segurança ao longo da Fronteira Canadá-Estados Unidos através da Iniciativa de Viagens do Hemisfério Ocidental. Em fevereiro de 2007, Canadá, Itália, Noruega, Reino Unido e Rússia anunciaram seus compromissos de financiamento para lançar um projeto de US$ para ajudar a desenvolver vacinas que eles disseram que poderia salvar milhões de vidas nos países pobres e chamou outras para se juntarem ao projeto. Em agosto de 2007, a soberania canadense nas águas do Ártico foi contestada depois de uma expedição subaquática russa ao Polo Norte; o Canadá tem considerado a área como parte do território soberano desde 1925. Subdivisões. O Canadá é uma federação composta por dez províncias e três territórios. Por sua vez, estes são agrupados em regiões: Oeste do Canadá, Centro do Canadá, Províncias atlânticas do Canadá e o Norte do Canadá (esta última composta por três territórios: Yukon, Territórios do Noroeste e Nunavut). O Leste do Canadá refere-se ao Centro do Canadá e ao Canadá Atlântico juntos. As províncias têm mais autonomia do que os territórios e são responsáveis pela maioria dos programas sociais do Canadá (como saúde, educação e assistência social) e, juntas, arrecadam mais receita que o governo federal, uma estrutura quase única entre as federações do mundo. O governo federal faz pagamentos de equalização para garantir que padrões razoavelmente uniformes dos serviços e impostos sejam mantidos entre as províncias mais ricas e menos ricas. Economia. O Canadá é uma das nações mais ricas do mundo, com um elevado rendimento "per capita", e é membro da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) e do G8. É uma das dez maiores nações comerciais do mundo. O Canadá é uma economia mista, sendo classificado acima dos Estados Unidos no índice da "Heritage Foundation" de liberdade econômica e mais acima da maioria das nações da Europa ocidental. Os maiores importadores estrangeiros de produtos canadenses são os Estados Unidos, o Reino Unido e o Japão. Em 2008, as mercadorias importadas pelo Canadá valiam mais de de dólares, dos quais 280,8 bilhões dólares dos Estados Unidos, 11,7 bilhões de dólares do Japão e US$ 11,3 bilhões do Reino Unido. O déficit comercial do país em 2009 totalizou C$ 4,8 bilhões, comparado com um superávit de C$ 46,9 bilhões em 2008. Em outubro de 2009, a taxa de desemprego nacional do Canadá foi de 8,6%. As taxas de desemprego provinciais variam de 5,8% em Manitoba até 17% em Terra Nova e Labrador. A dívida federal do Canadá está estimada em 566,7 bilhões de dólares em 2010–11, superior aos 463,7 de bilhões dólares no período 2008–09. A dívida externa líquida do Canadá aumentou de US$ 40,6 bilhões para US$ 193,8 bilhões no primeiro trimestre de 2010. O déficit conjunto, federal e provinciais, no ano fiscal de 2009–10 alcançou US$ . No século passado, o crescimento da manufatura, mineração e do setor de serviços transformou o país de uma economia basicamente rural para uma mais industrial e urbana. Como outros países desenvolvidos, a economia canadense é dominada por serviços, que empregam cerca de três quartos dos canadenses. O Canadá é incomum entre os países desenvolvidos devido à importância do setor primário em sua economia, sendo as indústrias madeireiras e de petróleo duas das mais importantes do país. O Canadá é um dos poucos países desenvolvidos que são exportadores líquidos de energia. A costa atlântica do Canadá e a província de Alberta possuem vastas jazidas de gás natural e petróleo em alto-mar. A imensa reserva das areias betuminosas do Athabasca dá ao Canadá a segunda maior reserva de petróleo do mundo, a seguir à da Arábia Saudita. O Canadá é um dos maiores fornecedores mundiais de produtos agrícolas; as pradarias canadenses são um dos mais importantes produtores de trigo, canola e outros cereais. O Canadá é o maior produtor mundial de zinco e urânio e é uma fonte global de muitos outros recursos naturais, como ouro, níquel, alumínio e chumbo. Muitas cidades no norte do Canadá, onde a agricultura é difícil, são sustentáveis por causa das minas próximas ou pelas suas fontes de madeira. O Canadá também tem um setor industrial bastante grande centrado no sul de Ontário e de Quebec, com os setores automóvel e aeronáutico representando indústrias particularmente importantes. A integração econômica com os Estados Unidos tem aumentado significativamente desde a Segunda Guerra Mundial. Isto tem atraído a atenção dos nacionalistas do Canadá, que estão preocupados com a autonomia cultural e econômica do país na era da globalização, visto que as mercadorias e produtos de mídia estadunidenses se tornaram onipresentes. O Acordo de Comércio de Produtos Automotivos de 1965 abriu as fronteiras ao comércio na indústria automobilística entre os Estados Unidos e o Canadá. Na década de 1970, as preocupações com a autossuficiência energética e as participações estrangeiras nos setores de fabricação levaram o governo liberal do então primeiro-ministro Pierre Trudeau a decretar o Programa Nacional de Energia (NEP) e a Agência de Revisão do Investimento Estrangeiro (FIRA). Em 1980, o governo do primeiro-ministro Brian Mulroney aboliu a NEP e mudou o nome da FIRA para "Investment Canada", com o intuito de encorajar o investimento estrangeiro. O Tratado de livre-comércio entre Canadá e Estados Unidos (TLC) de 1988, eliminou as tarifas aduaneiras entre os dois países, enquanto o Tratado Norte-Americano de Livre-Comércio (NAFTA) ampliou a zona de livre-comércio para incluir o México na década de 1990. Em meados da década de 1990, sob o governo liberal de Jean Chrétien, o país começou a alcançar excedentes orçamentais anuais e diminuiu sua dívida nacional. Em 2008, a crise financeira global causou uma recessão, o que poderá levar a taxa de desemprego do país atingir os 10%. A indústria de mineração é fortemente apoiada pelo governo. O país abriga a sede e as principais subsidiárias da maioria das empresas de mineração do mundo. A legislação federal e provincial incentiva o desenvolvimento do mercado de ações ao permitir formas mais flexíveis de divulgação de depósitos do que em qualquer outro lugar, e a tributação é favorável aos negócios. Além disso, a rede diplomática canadense fornece apoio político no exterior para qualquer empresa mineradora registrada no país. O Primeiro Ministro Stephen Harper (2006-2015) disse que quer fazer do Canadá um dos maiores exportadores de recursos naturais do mundo. Ele tem sido criticado por enfraquecer deliberadamente as proteções ambientais existentes, a fim de favorecer a indústria, incluindo a mineração. Infraestrutura. Educação. De acordo com o relatório de 2012 da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), o Canadá é um dos países mais educados do mundo. O país ocupa o primeiro lugar mundial no número de adultos com educação superior, com cerca de 51% da população adulta tendo obtido pelo menos uma graduação universitária ou um diploma universitário. O Canadá usa cerca de 5,3% do seu PIB em educação e também investe fortemente no ensino superior (mais de 20 000 dólares americanos por estudante). Em 2014, 89% dos adultos com idades entre 25 e 64 anos tinham o equivalente a um diploma do ensino médio, em comparação com uma média de 75%, dos países da OCDE. Desde a adoção da seção 23 da Lei Constitucional de 1982, a educação em inglês e francês está disponível na maioria dos lugares do Canadá. As províncias e territórios canadenses são responsáveis por seus respectivos sistemas educacionais. Cada sistema é similar, embora reflita a cultura, história e geografia regionais. Os limites da escolaridade obrigatória, entrada até os 5–7 anos e pelo menos até aos 16–18 anos, contribuem com uma taxa de alfabetização de 99%. O ensino superior também é administrado pelos governos provinciais e territoriais, que fornecem a maior parte do financiamento, o governo federal administra bolsas de pesquisa adicionais, empréstimos estudantis e bolsas. Em 2002, 43% dos canadenses com idade entre 25 e 64 anos possuíam educação superior, e, para aqueles com idade entre 25 a 34 anos, a taxa de formação superior era de 51%. O Programa Internacional de Avaliação de Alunos indica que os estudantes canadenses possuem um desempenho bem acima da média da OCDE, particularmente em matemática, ciências e leitura. Ciência e tecnologia. O Canadá é uma nação industrial com um setor de ciência e tecnologia altamente desenvolvido. Cerca de 1,88% do PIB do Canadá é investido em pesquisa e desenvolvimento (P&D). O país tem dezoito laureados com prêmios Nobel de física, química e medicina e é o 12º país do mundo em termos de acesso à internet, com 28 milhões de usuários, 84,3% da população total. A "Defence Research and Development Canada" (DRDC) é uma agência do Departamento de Defesa Nacional, cujo objetivo é responder às necessidades científicas e tecnológicas das Forças Canadenses. Ao longo dos anos, a DRDC tem sido responsável por inúmeras inovações e invenções de aplicação prática tanto no mundo civil quanto no mundo militar. Estes incluem o CADPAT, traje anti-G, CRV7, laser de dióxido de carbono e o gravador de dados de voo. A DRDC também contribui no desenvolvimento do mais avançado radar de varredura eletrônica ativa do mundo, como parte de um esforço internacional, envolvendo o Canadá, a Alemanha e os Países Baixos. A Agência Espacial Canadense conduz pesquisas espaciais, planetárias e de aviação, assim como desenvolve foguetes e satélites. Em 1984, Marc Garneau tornou-se o primeiro astronauta do Canadá, servindo como especialista de carga da STS-41-G. O Canadá foi classificado em terceiro lugar entre os 20 países de topo nas ciências espaciais. O Canadá é um dos países participantes na Estação Espacial Internacional e um dos pioneiros do mundo em robótica espacial com o Canadarm, Canadarm2 e Dextre. Desde a década de 1960, as Indústrias Aeroespaciais do Canadá projetaram e construíram 10 satélites, incluindo o RADARSAT-1, o RADARSAT-2 e o MOST. O Canadá também produziu um dos mais bem sucedidos foguetes de sondagem, o Black Brant; mais de 1 000 foram lançados desde o início da sua produção em 1961. Universidades de todo o Canadá estão trabalhando no primeiro aterrissador do país: o Northern Light, projetado para procurar vida em Marte e pesquisar o ambiente de radiação eletromagnética e as propriedades da atmosfera do planeta vermelho. Se o Northern Light for bem-sucedido, o Canadá será o terceiro país a pousar em outro planeta. Saúde. A assistência médica no Canadá é fornecida por meio de sistemas provinciais e territoriais com financiamento público, informalmente chamado Medicare. É guiado pelas disposições da Lei de Saúde do Canadá de 1984, e é universal. O acesso à saúde universal com financiamento público "é frequentemente considerado pelos canadenses como um valor-chave que garante seguro nacional de saúde para todos, onde quer que morem no país". No entanto, 30% dos cuidados de saúde dos canadenses são pagos pelo setor privado Isso se aplica principalmente a serviços não cobertos ou parcialmente cobertos pelo Medicare, como medicamentos prescritos, odontologia e optometria. Aproximadamente 65 a 75% dos canadenses têm algum tipo de seguro de saúde suplementar relacionado às razões acima mencionadas; muitos o recebem através de seus empregadores ou usam programas secundários de serviço social relacionados à cobertura estendida para famílias que recebem assistência social ou são vulneráveis, como idosos, menores e pessoas com deficiência. Em 2017, o Instituto Canadense de Informações em Saúde informou que os gastos com saúde atingiram 242 bilhões de dólares, ou 11,5% do produto interno bruto (PIB) do Canadá naquele ano. Os gastos "per capita" do Canadá o classificam entre os sistemas de saúde mais caros da OCDE. O Canadá teve um desempenho próximo ou acima da média na maioria dos indicadores de saúde da OCDE desde o início dos anos 2000. Em 2017, o Canadá ficou acima da média nos indicadores da OCDE em critérios como tempos de espera e acesso ao sistema, com pontuações médias em qualidade de atendimento e uso de recursos. Transportes. O Canadá é um país desenvolvido, cuja economia inclui a extração e exportação de matérias-primas de seu vasto território. Devido a isso, o país tem um sistema de transporte que inclui mais de de estradas, 10 aeroportos internacionais principais, 300 aeroportos menores, de vias férreas operacionais e mais de 300 portos comerciais e portos que dão acesso aos oceanos Pacífico, Atlântico e Ártico, bem como aos Grandes Lagos e ao canal de São Lourenço. Em 2005, o setor de transporte respondia por 4,2% do PIB do Canadá, em comparação com os 3,7% das indústrias de mineração, petróleo e extração de gás natural. Em 2007, o Canadá tinha um total de de ferrovias de cargas e passageiros. As receitas totais de serviços de transporte ferroviário em 2006 foram de US$ 10,4 bilhões, dos quais apenas 2,8% foram provenientes de serviços de passageiros. A "Canadian National Railway" e a "Canadian Pacific Railway" são as duas principais companhias de frete ferroviário do país, cada uma tendo operações em toda a América do Norte. Em 2007, 357 milhões de toneladas/quilômetro de mercadorias e 4,33 milhões de passageiros foram transportados por via férrea. pessoas foram empregadas pela indústria ferroviária no mesmo ano. Há um total de de estradas no país, dos quais são pavimentadas, incluindo de vias expressas. Em 2006, não estavam pavimentadas. O transporte rodoviário gerou 35% do PIB total do transporte, contra 25% para o transporte ferroviário, aquático e aéreo combinados, sendo as estradas o principal meio de transporte de passageiros e mercadorias do país. A Rodovia Trans-Canadá atravessa todo o país e é uma das mais longas rodovias do mundo, com de extensão. O segmento da Via Expressa Macdonald-Cartier que passa por Toronto é o trecho rodoviário mais movimentado da América do Norte, e um dos mais amplos e movimentados do mundo. Em 2005, 139,2 milhões de toneladas de carga foram carregadas e descarregadas nos portos canadenses. O Porto de Vancouver é o porto mais movimentado do Canadá, tendo passado por ali 68 milhões de toneladas ou 15% do total do transporte doméstico e internacional do Canadá em 2003. O transporte aéreo compunha 9% do PIB do setor de transportes canadense em 2005. A maior companhia aérea do país é a Air Canada, que teve 34 milhões de clientes em 2006 e, em abril de 2010, operava com 363 aviões. A indústria aérea canadense viu uma alteração significativa após a assinatura do acordo de céus abertos entre EUA-Canadá, em 1995, quando o mercado tornou-se menos regulado e mais competitivo. Dos mais de aeródromos, aeroportos certificados, heliportos e bases de hidroaviões registrados, 26 são especialmente designados pelo Sistema Nacional de Aeroportos do Canadá: incluem todos os aeroportos que lidam com 200 mil ou mais passageiros a cada ano, bem como o principal aeroporto que serve cada capital federal, provincial e territorial. Os três principais aeroportos do país por número de passageiros são o Aeroporto Internacional Toronto Pearson (sendo também o maior do país), o Aeroporto Internacional de Vancouver e o Aeroporto Internacional Pierre Elliott Trudeau em Montreal. Telecomunicações. Cerca de 100 jornais diários em inglês e dez jornais diários em francês são impressos no Canadá. O jornal que possui a maior circulação do país é o "Toronto Star", publicado em língua inglesa. O jornal francófono de maior circulação no Canadá (e também do mundo, fora da França) é o "Le Journal de Montréal". Cerca de periódicos são impressos e publicados no Canadá. Os periódicos de maior circulação do país são "Maclean's" e "Chatelaine". A mídia e a indústria do entretenimento estadunidenses são populares, se não dominantes, no Canadá anglófono; inversamente, muitos produtos culturais canadenses e artistas são bem sucedidos nos Estados Unidos e no mundo. Muitos produtos culturais são comercializados em direção a um unificado mercado "norte-americano" ou global. A criação e a preservação da cultura distintamente canadense são apoiadas por programas do governo federal do país, através de leis e instituições como a "Canadian Broadcasting Corporation" (CBC), o "National Film Board of Canada" e da "Canadian Radio-television and Telecommunications Commission". Energia. Em 2021, o Canadá tinha, em energia elétrica renovável instalada, em energia hidroelétrica (4º maior do mundo), em energia eólica (9º maior do mundo), em energia solar (23º maior do mundo), e em biomassa. Cultura. A cultura canadense tem sido historicamente influenciada por culturas e tradições de britânicos, franceses e indígenas. Existem diferentes culturas, línguas, arte e música aborígines por todo o Canadá. Muitas palavras, invenções e jogos norte-americanos indígenas tornaram-se parte da linguagem cotidiana do Canadá. A canoa, raquetes de neve, tobogã, lacrosse, cabo de guerra, xarope de ácer e o tabaco são exemplos de produtos, invenções e jogos. Algumas das palavras da língua inglesa de origem indígena incluem "barbecue", "caribou", "chipmunk", "woodchuck", "hammock", "skunk", "mahogany", "hurricane" e "moose". Várias áreas, cidades e rios das Américas têm nomes de origem indígena. O nome da província de Saskatchewan deriva do nome em língua cree do rio Saskatchewan, ""Kisiskatchewani Sipi". O nome da capital do Canadá, Ottawa, vem do termo "adawe"", que em língua algonquina significa "negociar". O Dia Nacional dos Aborígines reconhece as culturas e as contribuições dos povos aborígines do Canadá. A cultura do país foi fortemente influenciada pela imigração vinda de todo o mundo. Muitos canadenses valorizam o multiculturalismo e veem o Canadá como sendo inerentemente multicultural. No entanto, a cultura do país tem sido fortemente influenciada pela cultura estadunidense por causa da proximidade e da alta taxa de migração entre os dois países. A grande maioria dos imigrantes de língua inglesa que veio para o Canadá entre 1755 e 1815 eram estadunidenses das Treze Colônias; durante e imediatamente após a Guerra da Independência dos Estados Unidos, estadunidenses leais à coroa britânica vieram para o Canadá. Entre 1785 e 1812, mais estadunidenses emigraram para o Canadá, em resposta às promessas de terra. Artes e música. As artes visuais canadenses têm sido dominadas por Tom Thomson — o mais famoso pintor do Canadá — e pelo Grupo dos Sete. A curta carreira de Thomson pintando paisagens canadenses durou apenas uma década até sua morte em 1917 aos 39 anos. O Grupo dos Sete era composto por pintores com um foco nacionalista e idealista, que exibiram suas obras distintas pela primeira vez em maio de 1920. Embora referido como tendo sete membros, cinco artistas — Lawren Harris, A. Y. Jackson, Arthur Lismer, J. E. H. MacDonald e Frederick Varley — foram responsáveis por articular as ideias do grupo. Eles juntaram-se brevemente com Frank Johnston e com o artista comercial Franklin Carmichael. A. J. Casson passou a fazer parte do Grupo em 1926. Outra associada do grupo foi a proeminente artista canadense Emily Carr, conhecida por suas paisagens e retratos dos povos indígenas da costa noroeste do Pacífico. O Canadá tem uma infraestrutura e uma indústria de música desenvolvida, com a radiodifusão regulada pela "Canadian Radio-television and Telecommunications Commission". A indústria musical canadense tem produzido compositores, músicos e conjuntos renomados internacionalmente, tais como Guy Lombardo, Murray Adaskin, Rush, Joni Mitchell e Neil Young. Vencedores canadenses de vários "Grammy Awards" incluem Michael Bublé, Celine Dion, K. D. Lang, Sarah McLachlan, Alanis Morissette e Shania Twain. Outros cantores famosos são Avril Lavigne, Justin Bieber e a luso-canadense Nelly Furtado.A Academia Canadense de Artes e Ciências administra os prêmios da indústria fonográfica do Canadá, como os "Juno Awards", que tiveram início em 1970 e são considerados a principal premiação musical do país. Símbolos nacionais. Os símbolos nacionais do Canadá são influenciados por fatores naturais, históricos e aborígines. O uso da folha de bordo como um símbolo do Canadá data do início do século XVIII. A folha de bordo é representada em bandeiras atuais e anteriores do Canadá, na moeda de um centavo, e no Brasão de Armas. Outros símbolos nacionais proeminentes incluem o castor, ganso-do-canadá, mobelha-grande, a Coroa, a Real Polícia Montada do Canadá, e, mais recentemente, o totem e o Inukshuk. O hino nacional do Canadá, "O Canada", foi adotado em 1980, originalmente encomendado pelo vice-governador de Quebec, o Sr. Théodore Robitaille, para a cerimônia do Feriado Nacional de Quebec de 1880. Calixa Lavallée compôs a música, que foi uma adaptação de um poema patriótico composto pelo poeta e juiz Sir Adolphe-Basile Routhier. O texto foi escrito originalmente apenas em francês, antes de ter sido traduzido para o inglês em 1906. Esportes. Os esportes oficiais nacionais do Canadá são o hóquei no gelo no inverno e lacrosse no verão. O hóquei é um passatempo nacional e o esporte mais popular no país. Também é o esporte mais jogado pelos canadenses, com 1,65 milhões de participantes em 2004. As seis maiores regiões metropolitanas do Canadá, Toronto, Montreal, Vancouver, Ottawa, Calgary e Edmonton têm franquias da "National Hockey League" (NHL), e há mais jogadores do Canadá na NHL que de todos os outros países combinados. Outros esportes populares incluem o "curling" e o futebol canadense, sendo este último jogado profissionalmente na "Canadian Football League" (CFL). Golfe, baseball, esqui, futebol, voleibol e basquetebol são amplamente jogados em níveis juvenis e amadores, mas ligas profissionais e franquias não estão generalizadas. O Canadá tem sediado vários grandes eventos esportivos internacionais, incluindo os Jogos Olímpicos de Verão de 1976 em Montreal, os Jogos Olímpicos de Inverno de 1988 em Calgary e o Campeonato Mundial de Futebol Sub-20 de 2007. O Canadá também foi o país anfitrião dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2010 em Vancouver e Whistler, na Colúmbia Britânica, e dos Jogos Pan-Americanos de 2015 em Toronto.
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Carl Sagan
Carl Sagan Carl Edward Sagan (Nova Iorque, — Seattle, ) foi um cientista planetário, astrônomo, astrobiólogo, astrofísico, escritor, divulgador científico e ativista norte-americano. Sagan é autor de mais de 600 publicações científicas e também de mais de vinte livros de ciência e ficção científica. Foi durante a vida um grande defensor do ceticismo e do uso do método científico. Promoveu a busca por inteligência extraterrestre através do projeto SETI e instituiu o envio de mensagens a bordo de sondas espaciais, destinadas a informar possíveis civilizações extraterrestres sobre a existência humana. Mediante suas observações da atmosfera de Vênus, foi um dos primeiros cientistas a estudar o efeito estufa em escala planetária. Também fundou a organização não governamental Sociedade Planetária e foi pioneiro no ramo da exobiologia. Sagan passou grande parte da carreira como professor da Universidade Cornell, onde foi diretor do laboratório de estudos planetários. Em 1960 obteve o título de doutor pela Universidade de Chicago. Sagan é conhecido por seus livros de divulgação científica e pela premiada série televisiva de 1980 "Cosmos: Uma Viagem Pessoal", que ele mesmo narrou e coescreveu. O livro "Cosmos" foi publicado para complementar a série. Sagan escreveu o romance "Contact", que serviu de base para um filme homônimo de 1997. Em 1978, ganhou o Prémio Pulitzer de Não Ficção Geral pelo seu livro "The Dragons of Eden". Morreu aos 62 anos, de pneumonia, depois de uma batalha de dois anos com uma rara e grave doença na medula óssea (mielodisplasia). Ao longo de sua vida, recebeu vários prêmios e condecorações pelo seu trabalho de divulgação científica. Sagan é considerado um dos divulgadores científicos mais carismáticos e influentes da história, graças a sua capacidade de transmitir as ideias científicas e os aspectos culturais ao público não especializado. Infância e adolescência. Carl Sagan nasceu no Brooklyn, Nova Iorque, em uma família de judeus ucranianos. Seu pai, Samuel Sagan, era um operário da indústria têxtil nascido em Kamenets-Podolsk, Ucrânia. Sua mãe, Rachel Molly Gruber, era uma dona de casa de Nova Iorque. Carl Sagan recebeu este nome em homenagem à mãe biológica de sua mãe, Chaiya Clara, "A mãe que ela nunca conheceu" nas palavras de Sagan. Sagan concluiu o ensino secundário na escola Rahway High School, em Rahway, Nova Jérsei, em 1951. Sagan tinha uma irmã, Carol, e ele e sua família viviam em um modesto apartamento em Bensonhurst, um bairro do Brooklyn. De acordo com Sagan, eles eram judeus reformistas, o mais liberal dos três grupos do Judaísmo. Ambos, Carl e Carol, concordavam que seu pai não era especialmente religioso, porém sua mãe "definitivamente acreditava em Deus, e participava ativamente no templo... e se servia apenas de carne Cashrut". Durante o auge da Grande Depressão, seu pai trabalhou como porteiro de cinema. Segundo o biógrafo Keay Davidson, a personalidade de Sagan foi o resultado de suas estreitas relações com ambos os pais, que eram às vezes opostos um do outro. Sua mãe tinha sido uma mulher que conheceu a "extrema pobreza enquanto criança", e tinha crescido quase sem teto em meio à cidade de Nova Iorque durante a Grande Guerra e a década de 20. Ela tinha suas próprias ambições intelectuais quando era jovem, mas estes sonhos foram bloqueados por restrições sociais, principalmente por causa de sua pobreza, e por ela ter se tornado mãe e esposa, além de sua etnia judaica. Davidson observa que ela, portanto, "adorava seu único filho, Carl. Ele iria realizar seus sonhos não realizados". Entretanto, o seu "sentimento de admiração" veio do pai, um fugitivo do Czar. Em seu tempo livre, este dava maçãs aos pobres, ou ajudava a suavizar as tensões entre patrões e operários na tumultuada indústria têxtil de Nova Iorque. Ainda que intimidado pelo "brilhantismo" de Carl, por "suas infantis perguntas sobre estrelas e dinossauros", Sam ajudou a transformar a curiosidade de seu filho em parte de sua educação. Em seus últimos anos como cientista e escritor, Sagan frequentemente usava suas memórias de infância para ilustrar questões científicas, como fez em seu livro "Shadows of Forgotten Ancestors". Sagan descreveu a influência dos seus pais em sua forma de pensar dizendo:"Meus pais não eram cientistas. Eles não sabiam quase nada sobre ciência. Mas ao me introduzirem simultaneamente ao ceticismo e ao saber, ensinaram-me os dois modos de pensamento coexistentes e essenciais para o método científico." Feira Mundial de 1939. Em seu livro O Mundo Assombrado Pelos Demônios, Sagan lembra que uma de suas melhores experiências foi quando, em sua infância, seus pais o levaram para a "Feira Mundial de 1939", em Nova Iorque. As exposições desta feira tornaram-se um marco em sua vida. Ele relembra o diorama da exibição "America of Tomorrow" ("América do Amanhã"): "Havia belas rodovias com trevos e pequeninos carros da General Motors, todos transportando pessoas para arranha-céus, edifícios com belos pináculos, arcobotantes - parecia ótimo!". Em outras exposições, lembrou-se de ter visto uma lanterna brilhar em uma célula fotoelétrica. Ele também testemunhou a tecnologia do futuro da mídia que iria substituir o rádio: a televisão! Sagan escreveu:"Claramente, o homem realizou maravilhas de um modo que eu nunca tinha imaginado. Como poderia um tom tornar-se uma imagem e luz tornar-se um ruído?"Ele também conta que viu um dos eventos mais divulgados da feira, o enterro de uma cápsula do tempo em "Flushing Meadows", que continha algumas lembranças da década de 1930 para serem recuperadas por descendentes dos humanos em um futuro milênio. "As cápsulas do tempo sempre excitaram Carl", escreve o biógrafo Keay Davidson. Quando adulto, Sagan e seus colegas criaram algumas cápsulas do tempo similares, que seriam enviadas para o espaço; a placa Pioneer e o Voyager Golden Record, que foram produtos das experiências de Sagan na exposição. Segunda Guerra Mundial. Durante a Segunda Guerra Mundial, sua família estava preocupada com o destino de seus parentes europeus. Na época, Sagan, entretanto, geralmente desconhecia os detalhes da guerra que estava em curso. Ele escreve: "Claro, tínhamos parentes que foram capturados pelo Holocausto. Hitler de fato não era uma pessoa bem-vinda em nossa casa... mas por outro lado, eu era bastante isolado dos horrores da guerra". Sua irmã, Carol, disse que sua mãe "acima de tudo queria proteger Carl... A vida dela estava extraordinariamente difícil lidando com a Segunda Guerra Mundial e o Holocausto". No livro de Sagan, "The Demon-Haunted World" (), de 1996, são incluídas suas memórias deste período em conflito, período quando sua família lidava com as realidades da guerra na Europa, mas também tentava impedi-lo simultaneamente de perturbar seu espírito otimista. Curiosidade pela natureza. Assim que começou o ensino fundamental, Carl Sagan começou a manifestar uma forte curiosidade pela natureza. Sagan recorda-se de suas primeiras viagens para a biblioteca pública, sozinho, com a idade de cinco anos, quando sua mãe arranjou-lhe um cartão da biblioteca. Ele queria aprender o que eram as estrelas, já que nenhum de seus amigos ou até mesmo seus pais sabiam lhe dar uma resposta clara:"Fui para o bibliotecário e pedi um livro sobre as estrelas... E a resposta foi impressionante. A resposta era que o Sol também era uma estrela, só que muito próxima. Logo, as estrelas eram outros sóis, mas estavam tão distantes que eram apenas pequenos pontos de luz para nós... A escala do universo de repente se abriu para mim. Era um tipo de experiência religiosa. Houve uma magnificência para ela, uma grandeza, uma escala que nunca me deixou. Nunca me deixará..."Quando Sagan tinha seis ou sete anos de idade, ele e um amigo viajaram para o Museu Americano de História Natural, na cidade de Nova Iorque. Enquanto estavam por lá, eles foram ao Planetário Hayden e andaram na exposição sobre objetos do espaço, como os meteoritos, e também foram às exposições de dinossauros e outros animais em seus ambientes naturais. Sagan escreveu sobre estas exposições:"Eu era fascinado por representações realistas de animais e seus habitats em todo o mundo. Pinguins no gelo antártico mal iluminado; uma família de gorilas, com o macho tamborilando no peito; um urso-cinzento americano de pé em suas patas traseiras, com seus dez ou doze pés de altura, fitando-me direto no olho."Seus pais colaboraram em nutrir seu crescente interesse pela ciência, comprando-lhe jogos de química e livros enquanto criança. Seu interesse pelo espaço, no entanto, foi seu foco principal, especialmente após ler algumas histórias de ficção científica como as do escritor Edgar Rice Burroughs, que agitou sua imaginação com a temática de vida em outros planetas, como Marte. De acordo com o biógrafo Ray Spangenburg, nestes primeiros anos, Sagan tentou compreender os mistérios dos planetas, e isto tornou-se uma "força motriz em sua vida, uma faísca contínua para seu intelecto e uma busca pelo saber que jamais seria esquecida". Formação e carreira científica. Carl Sagan frequentou a Universidade de Chicago, onde participou da Sociedade Astrônomica Ryerson (Ryerson Astronomical Society), graduando-se em artes, em 1954, e com honras especiais e gerais em ciências, em 1955. Obteve um mestrado em física em 1956 e, por fim, tornou-se doutor em astronomia e astrofísica, em 1960. Durante seu período na faculdade, Sagan trabalhou em um laboratório com o geneticista Hermann Joseph Muller. De 1960 a 1962, Sagan desfrutou de uma Miller Fellows (programa constitui o apoio dos bolsistas de pesquisa) da Universidade da Califórnia em Berkeley. De 1962 a 1968, trabalhou no Observatório Astrofísico Smithsonian em Cambridge, Massachusetts. Simultaneamente, Sagan lecionou e pesquisou na Universidade Harvard até 1968, ano em que ele se juntou à Universidade Cornell, em Ithaca, estado de Nova Iorque. Em 1971, foi nomeado professor titular e diretor do laboratório de estudos planetários. De 1972 a 1981, foi diretor associado ao Centro de Radiofísica e Investigação Espacial de Cornell. Juntamente ao seu cargo de professor titular, Sagan ministrou um curso de pensamento crítico na Universidade Cornell até sua morte, em 1996. Sagan esteve vinculado ao programa espacial estadunidense desde o seu começo. Desde a década de 1950, trabalhou como assessor da NASA, onde um de seus feitos foi dar as instruções aos astronautas participantes do programa Apollo antes de partirem à Lua. Sagan participou de várias missões que enviaram naves espaciais robóticas para explorar o Sistema Solar, preparando os experimentos para várias destas expedições. Sagan concebeu a ideia de incluir junto às naves espaciais que fossem abandonar o Sistema Solar uma mensagem universal que pudesse ser potencialmente compreensível por qualquer inteligência extraterrestre que a encontrasse. Sagan preparou a primeira mensagem física enviada ao espaço exterior: uma placa anodizada, acoplada à sonda espacial Pioneer 10, lançada em 1972. A Pioneer 11, que levava uma cópia da placa, foi lançada no ano seguinte. Sagan continuou refinando suas mensagens; a mensagem mais elaborada que ajudou a desenvolver e preparar foi o Disco de Ouro da Voyager, que foi enviada pelas sondas espaciais Voyager em 1977. Sagan se opunha frequentemente ao financiamento de sistemas de transporte espacial ou de estações espaciais no lugar de futuras missões robóticas. Realizações científicas. As contribuições de Sagan foram vitais para o descobrimento das altas temperaturas superficiais do planeta Vênus. No início da década de 60, a ciência nada sabia sobre quais eram as condições básicas da superfície deste planeta, e Sagan enumerou as possibilidades em um artigo que posteriormente foi divulgado em um livro da "Time" intitulado "Planetas". Em sua opinião, Vênus era um planeta seco e muito quente, em oposição ao paraíso temperado que outros haviam imaginado. Sagan investigou as emissões de rádio provenientes de Vênus e chegou à conclusão de que a temperatura superficial deste planeta deveria ser aproximadamente 500 °C. Como cientista visitante do Jet Propulsion Laboratory da NASA, participou das primeiras missões do programa Mariner a Vênus, trabalhando com o desenho e gestão do projeto. Em 1962, a sonda Mariner 2 confirmou suas conclusões sobre as condições superficiais do planeta. Carl Sagan foi um dos primeiros a idealizar a hipótese de que uma das luas de Saturno, Titã, poderia abrigar oceanos de compostos líquidos em sua superfície, e que uma das luas de Júpiter, Europa, poderia abrigar oceanos de água subterrâneos, isto faria com que Europa fosse potencialmente habitável por formas de vida. O oceano de água subterrâneo de Europa foi posteriormente confirmado de forma indireta pela sonda espacial Galileu. O mistério da névoa avermelhada de Titã também foi resolvido com a ajuda de Sagan, cuja explicação foi que a névoa existia devido às moléculas orgânicas complexas em constante chuva na superfície da lua saturniana. Sagan também contribuiu para a melhor entendimento das atmosferas de Vênus e Júpiter e das mudanças sazonais em Marte. Sagan determinou que a atmosfera de Vênus é extremamente quente e densa com pressões que aumentam gradualmente até a superfície do planeta. Também notou o aquecimento global como um perigo crescente de origem humana e comparou com a evolução natural de Vênus, cujo efeito estufa o tornou descontroladamente quente e impróprio para a vida. Sagan e seu colega da Universidade Cornell, Edwin Ernest Salpeter, especularam sobre a possibilidade da existência de vida nas nuvens de Júpiter, dada a composição da densa atmosfera do planeta, rica em moléculas orgânicas. Sagan também estudou as variações de cor na superfície de Marte e concluiu que não se tratavam de vegetações, ou se deviam às mudanças sazonais como muitos acreditavam, mas sim ao deslocamento de poeira da superfície causado por tempestades. No entanto, Sagan é mais conhecido por suas pesquisas sobre a possibilidade de vida extraterrestre, incluindo a demonstração experimental da produção de aminoácidos por radiação e a partir de reações químicas básicas. Em 1994, Sagan recebeu a Medalha Bem-Estar Público, a maior condecoração da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos por suas "distintas contribuições para a aplicação da ciência e para o bem-estar da humanidade". Diz-se que lhe foi negado o ingresso à academia porque sua atividade havia gerado impopularidade ante outros cientistas. Em suma, Carl Sagan teve um papel significativo no programa espacial americano desde o seu início. Foi consultor e conselheiro da NASA desde os anos 1950, trabalhou com os astronautas do Projeto Apollo antes de suas idas à Lua e chefiou os projetos da Mariner e Viking, pioneiras na exploração do sistema solar que permitiram obter importantes informações sobre Vênus e Marte. Participou também das missões Voyager e da sonda Galileu. Foi decisivo na explicação do efeito estufa em Vênus e o descobrimento das altas temperaturas do planeta, na explicação das mudanças sazonais da atmosfera de Marte e na descoberta das moléculas orgânicas em Titã, satélite de Saturno. Ele também foi um dos maiores divulgadores da ciência de todos os tempos ao apresentar a série Cosmos em 1980. Divulgação científica. A habilidade de Sagan para transmitir suas ideias permitiu que muitas pessoas compreendessem o cosmos, simultaneamente enfatizando o valor da raça humana e a insignificância da Terra em relação ao universo. Em Londres, participou da edição de 1977 da Royal Institution Christmas Lectures. Foi apresentador, coautor e coprodutor, juntamente a Ann Druyan e Steven Soter, da popular série de televisão de treze episódios Cosmos: Uma Viagem Pessoal, produzida pela PBS, e que seguiu o formato da série de televisão "A Escalada do Homem", apresentada por Jacob Bronowski. Sua série "Cosmos" abrangeu diversos temas científicos, que incluem desde a origem da vida até uma perspectiva de nosso lugar no universo. Ganhou o Prêmio Emmy e o Prêmio Peabody. Foi transmitida em mais de 60 países e assistida por mais de 600 milhões de pessoas, atingindo a marca de programa mais visto na história do canal PBS. A revista "Time" publicou uma matéria de capa sobre Sagan pouco depois da estreia de Cosmos, referindo-se a ele como "o criador, autor principal e apresentador-narrador da nova série de televisão aberta Cosmos, sob o controle de sua nave da fantasia". Sagan defendeu a busca por vida extraterrestre, convidando a comunidade científica a utilizar radiotelescópios para procurar por sinais provenientes de formas de vida extraterrestre potencialmente inteligentes. Sagan foi tão persuasivo que, em 1982, conseguiu publicar na revista Science uma petição em defesa do projeto SETI assinado por quase 70 cientistas, incluindo sete ganhadores do Prêmio Nobel, causando uma grande aceitação de um campo tão controverso. Sagan também ajudou o Dr. Frank Drake a preparar a mensagem de Arecibo, uma sequência de sinais de rádio dirigidas ao espaço enviadas através do radiotelescópio de Arecibo em 16 de novembro de 1974, destinada a informar sobre a existência da Terra a possíveis extraterrestres. De 1968 a 1979, Sagan foi editor da revista "Icarus", publicação para profissionais na pesquisa planetária. Foi cofundador da Sociedade Planetária, o maior grupo do mundo dedicado à pesquisa espacial, com mais de cem mil membros em mais de 149 países, e foi membro do Conselho de Administração do Instituto SETI. Sagan exerceu também os cargos de Presidente da Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade Astronômica Americana, Presidente da Seção de Planetologia da União Geofísica Americana e de Presidente da Seção de Astronomia da Associação Americana para o Avanço da Ciência. No contexto da guerra fria, Sagan dedicou-se à conscientização da opinião pública sobre os efeitos de uma guerra nuclear, quando um modelo matemático climático sugeriu que uma guerra nuclear de proporções possíveis poderia desestabilizar o delicado equilíbrio da vida na Terra. Ele foi um dos cinco autores (assinando como o autor "S") do relatório "TTAPS", como ficou conhecido esse artigo de pesquisa. Foi coautor do artigo científico que projetava a hipótese de um inverno nuclear global após uma guerra nuclear. Também foi coautor do livro "O Inverno Nuclear: O mundo após uma guerra nuclear", uma análise exaustiva do fenômeno do inverno nuclear. Sagan escreveu uma sequência ao livro Cosmos, chamado Pálido Ponto Azul, que entrou na lista dos livros mais vendidos de janeiro no "The New York Times," em 1995. Em janeiro de 1995, Sagan apareceu no programa de Charlie Rose, na PBS. Também foi conhecido pela sua posição a favor do ceticismo científico e contra as pseudociências, como sua refutação ao caso de abdução de Betty e Barney Hill. Pálido ponto azul. No dia 14 de fevereiro de 1990, tendo completado sua missão primordial, foi enviado um comando à Voyager 1 para se virar e tirar fotografias dos planetas que havia visitado. A NASA havia feito uma compilação de cerca de 60 imagens criando neste evento único um mosaico do Sistema Solar. Uma imagem que retornou da Voyager era a Terra, a 6,4 bilhões de quilômetros de distância, mostrando-a como um "pálido ponto azul" na granulada imagem. Sagan escreveria mais tarde sobre a fotografia - de maneira muito profunda - no seu livro de 1994, Pálido Ponto Azul: Unidade Sagan. Como uma homenagem bem humorada a Carl Sagan e sua associação com o slogan "bilhões e bilhões", 1 "Sagan" foi definido como uma unidade de medida equivalente a uma grande quantidade de qualquer coisa. Ativismo social. Carl Sagan acreditava na equação de Drake, que, ante a ausência de estimativas razoáveis, sugere a existência de um grande número de civilizações extraterrestres, mas a falta de evidências da existência das mesmas, somada ao paradoxo de Fermi, indicaria a tendência das civilizações tecnológicas a se autodestruir, o que implica o último termo da equação de Drake. Isso despertou o seu interesse em identificar e divulgar as várias maneiras em que a humanidade poderia se autodestruir, esperando ser capaz de evitar esta catástrofe e, finalmente, permitir que os seres humanos tornem-se uma espécie capaz de viajar através do espaço. A profunda preocupação de Sagan com uma potencial destruição da civilização humana em um holocausto nuclear refletiu-se em um segmento memorável no episódio final da série Cosmos, intitulado "Quem fala em nome da Terra?". Sagan demitiu-se de seu posto de conselheiro científico do Conselho Científico da Força Aérea Americana e recusou voluntariamente a sua autorização de acesso ao material ultrassecreto da Guerra do Vietnam. Depois de seu casamento com sua terceira e última esposa, a escritora Ann Druyan, em junho de 1981, Sagan aumentou sua atividade política, especificamente sua oposição à corrida armamentista, durante a presidência de Ronald Reagan. Em março de 1983, Reagan anunciou a chamada Iniciativa Estratégica de Defesa, um projeto em que foram investidos bilhões de dólares para desenvolver um sistema abrangente de defesa contra ataques por mísseis nucleares, que ficou popularmente conhecido como o "Programa Guerra nas Estrelas". Sagan era contra o projeto, argumentando que era tecnicamente impossível desenvolver esse sistema com o nível de perfeição exigido, que seria muito mais caro produzir o sistema do que para o inimigo atacar através de outros meios, e que a construção deste sistema poderia desestabilizar seriamente o equilíbrio nuclear entre Estados Unidos e a União Soviética, tornando impossível neste sentido qualquer progresso através de acordos de desarmamento nuclear. Quando o líder soviético Mikhail Gorbachev declarou uma moratória unilateral para os testes com armas nucleares, que começariam em 6 de agosto de 1985, no 40º aniversário dos bombardeamentos de Hiroshima e Nagasaki, a administração de Reagan refutou a iniciativa soviética e se recusou a seguir o exemplo soviético. Em resposta, ativistas antinucleares e pacifistas americanos realizaram uma série de protestos no local de testes nucleares em Nevada, que começaram na Páscoa de 1986 e continuaram até 1987. Centenas de pessoas foram presas, incluindo Sagan. Vida privada, ideias e crenças. Casamentos e descendentes. Carl Sagan casou-se três vezes: Em 1957, com a bióloga Lynn Margulis, mãe do escritor Dorion Sagan e do programador e empresário do ramo da informática Jeremy Sagan; em 1968, com a artista e roteirista Linda Salzman, mãe do escritor e roteirista Nick Sagan; e, em 1981, com a escritora Ann Druyan, mãe da produtora, roteirista e diretora Sasha Sagan e de Sam Sagan. Esta união durou até a morte do cientista, em 1996. Ciência e religião. Sagan escrevia frequentemente sobre religião e a relação entre religião e ciência, expressando seu ceticismo sobre a conceituação convencional de Deus como um ser sábio, por exemplo: Em outra descrição de seu ponto de vista sobre Deus, Sagan afirma categoricamente: Sobre o ateísmo, Sagan comentou em 1981: A Ropert Pope, Sagan escreveu em 1996: Sagan também comentou sobre o cristianismo, afirmando que ""Minha visão de longa data sobre o cristianismo é que ele representa um amálgama de duas partes aparentemente imiscíveis: a religião de Jesus e a religião de Paulo. Thomas Jefferson tentou extirpar as partes paulinas do Novo Testamento. Não sobrou muita coisa quando ele concluiu, mas era um documento inspirador"." Em 1996, em resposta a uma pergunta sobre suas crenças religiosas, Sagan respondeu: "Eu sou agnóstico". O ponto de vista de Sagan sobre religião tem sido interpretado como uma forma de panteísmo comparável à crença de Albert Einstein no Deus de Spinoza. Sagan afirmava que a ideia de um criador do Universo era difícil de provar ou refutar, e que a única descoberta que poderia confrontar isto seria um universo infinitamente antigo. De acordo com sua última esposa Ann Druyan, Sagan não era um crente: Em 2006, Ann Druyan editou as palestras de Gifford sobre teologia natural, ministradas por Carl Sagan em Glasgow, na Escócia, no ano de 1985, incluindo assim a palestra no livro chamado "", em que o astrônomo expõe seu ponto de vista sobre as divindades e o mundo natural. Livre pensador e cético. Carl Sagan é considerado um livre pensador e cético. Uma de suas frases mais famosas, da série "Cosmos", é: "Afirmações extraordinárias requerem evidências extraordinárias". Esta frase é baseada em outra quase idêntica de seu colega Marcello Truzzi, fundador do Comitê para a Investigação Cética: "Uma afirmação extraordinária requer uma prova extraordinária." Esta ideia teve sua origem com Pierre Simon Laplace (1749 - 1827), matemático e astrônomo francês, que disse: "O peso de uma evidência de uma afirmação extraordinária deve ser proporcional à sua raridade". Durante toda sua vida, os livros de Sagan desenvolveram-se sobre a sua visão cética do mundo natural. Em , Sagan demonstrou ferramentas para testar argumentos e detectar falácias ou fraudes, essencialmente, defendendo o uso extensivo do pensamento crítico e do método científico. A compilação de "", publicada em 1997, após a morte de Sagan, contém ensaios, como sua opinião sobre o aborto e o relato de sua viúva, Ann Druyan, sobre a morte com um olhar cético, independente e livre pensador. Sagan advertiu contra a tendência humana para o antropocentrismo. Ele foi orientador dos estudantes da Universidade Cornell para o tratamento ético dos animais. No capítulo "Blues por um Planeta Vermelho", do livro Cosmos, Sagan escreveu: "Se existe vida em Marte, acho que não devíamos fazer nada ao planeta. Marte pertence, nesse caso, aos marcianos, mesmo se os marcianos forem apenas micróbios." Mr. X. Sagan foi um consumidor e defensor do uso da maconha. Através do pseudônimo "Mr. X", ele contribuiu com um ensaio sobre a Cannabis para o livro de 1971, "Marihuana Reconsidered". O ensaio explicava que o uso da maconha havia ajudado a inspirar grande parte dos trabalhos de Sagan e a melhorar suas experiências sensoriais e intelectuais. Após a morte de Sagan, seu amigo Lester Grinspoon revelou esta informação ao biógrafo Keay Davidson. A publicação da biografia "Carl Sagan: Uma vida," em 1999, atraiu a atenção da mídia para este aspecto da vida de Sagan. Logo após sua morte, sua viúva, Ann Druyan, concordou em ser assessora do conselho da NORML, uma fundação dedicada à reforma da legislação sobre a maconha. O caso Apple. Em 1994, os engenheiros da Apple Computer batizaram o Power Macintosh 7100 com o codinome de Carl Sagan com a esperança de que a Apple iria ganhar "milhares de milhões" com as vendas do mesmo. O nome só foi utilizado internamente, mas Sagan preocupou-se pelo fato de ser convertido em um meio de promoção do produto e enviou à Apple uma carta de rescisão. A Apple aceitou a rescisão, mas os engenheiros responderam mudando o nome para "BHA" (siglas de "Butt-Head Astronomer", que significa "astrônomo bundão", "tonto"). Sagan então processou a Apple por difamação, no tribunal federal. O tribunal aceitou a intenção da Apple de rejeitar a acusação de Sagan e disse, em "Obiter Dictum", que um leitor situado no contexto compreenderia que a Apple estava tratando claramente de responder de forma humorística e satírica, e que é de fato algo forçado concluir que a acusada Apple tratava de criticar a reputação ou competência do réu como astrônomo. A perícia de um cientista não pode ser atacada com o uso da expressão teimoso. Sagan então denunciou o uso inicial de seu nome, mas voltou a perder, assim ele recorreu à conciliação. Em novembro de 1995, foi finalizado um acordo fora do tribunal e o escritório de patentes e marcas comerciais da Apple emitiu uma declaração conciliatória: "A Apple teve sempre um grande respeito pelo Dr. Sagan. Nunca foi intenção da Apple causar ao Dr. Sagan ou a sua família qualquer tipo de constrangimento ou preocupação". "2001: Uma odisseia no espaço". Sagan trabalhou brevemente como consultor no premiado filme "" de 1968, dirigido por Stanley Kubrick. Sagan, embora reconhecendo o desejo de Kubrick de usar atores para interpretar os alienígenas humanoides por questão de conveniência, argumentou que era improvável que formas de vida alienígenas tivessem alguma semelhança com a vida terrestre, e que fazer isso seria "pelo menos um elemento de falsidade" no filme. Sagan propôs que o filme sugerisse, ao invés de mostrar, uma superinteligência extraterrestre. Ele foi à estreia e ficou "feliz em ver que fui de alguma ajuda". Kubrick deu a entender a natureza da misteriosa espécie alienígena não vista em "2001", ao sugerir, em 1968, que dados os milhões de anos de evolução, eles progrediram de seres biológicos para "entidades máquinas imortais", e depois para "seres de pura energia e espírito"; seres com "capacidades ilimitadas e inteligência indomável". O fenômeno OVNI. Sagan mostrou interesse nas notícias sobre o fenômeno OVNI ao menos desde 3 de agosto de 1952, quando escreveu uma carta ao Secretário de Estado americano Dean Acheson perguntando como responderiam os EUA se os discos voadores forem realmente de origem extraterrestre. Posteriormente, em 1964, manteve várias conversas sobre o assunto com Jacques Vallee. Apesar de seu ceticismo no que diz respeito à obtenção de qualquer resposta extraordinária com a questão OVNI, Sagan acreditava que os cientistas deviam estudar o fenômeno, ainda que fosse somente para responder ao grande interesse que o assunto desperta nas pessoas. Stuart Appelle comentou que Sagan "escrevia frequentemente sobre aquilo que ele percebia como falsas lógicas ou experiências sobre os discos voadores, como as experiências com abduções. Sagan rejeitava a explicação extraterrestre do fenômeno, e acreditava que a análise de relatos de OVNIs possuía benefícios empíricos e pedagógicos, e que o assunto seria, portanto, uma matéria de estudos legítima." Em 1966, Sagan foi membro do Comitê Ad Hoc para a revisão do Projeto Blue Book, promovido pela força aérea dos Estados Unidos para investigar o fenômeno OVNI. O comitê concluiu que o projeto deixava a desejar como um estudo científico e recomendou a realização de um projeto universitário para submeter o estudo do fenômeno a um nível mais científico. O resultado foi a formação do Comitê Condon (1966 - 1968), liderado pelo físico Edward Condon, e que, em seu relatório final, formalmente definiu que os OVNIs, independentes de sua origem ou significado, não se comportavam de maneira consistente para representar uma ameaça à segurança nacional. Ron Westrum escreve: "O ponto culminante do tratamento que Sagan concedeu à questão OVNI foi no simpósio da Associação Americana para o Avanço da Ciência, em 1969. Os participantes expuseram uma grande variedade de opiniões sobre o tema, incluindo não só os proponentes como James McDonald e J. Allen Hynek, como também céticos como os astrônomos William Hartmann e Donald Menzel. A lista de oradores foi equilibrada, e o mérito de Sagan era que o evento havia acontecido apesar da pressão exercida por Edward Condon." Junto ao físico Thornton Page, Sagan acompanhou as conferências e debates apresentados no simpósio, e estas foram publicadas em 1972 sob o título "UFOs: A Scientific Debate". Em alguns dos numerosos livros de Sagan se observa a questão OVNI (assim como em um dos episódios de Cosmos), e afirma-se a existência de um fundo religioso ao fenômeno. Em 1980, Sagan voltou a revelar seu ponto de vista sobre as viagens interestelares na sua série Cosmos. Em uma de suas últimas obras escritas, Sagan explicou que a probabilidade de que naves espaciais extraterrestres visitem a Terra é muito pequena. No entanto, Sagan acreditava que a preocupação causada pela Guerra Fria contribuísse para que os governos não informassem os cidadãos sobre os discos voadores, e que "algumas análises e relatórios sobre OVNIs, e talvez volumosos arquivos, foram declarados inacessíveis pelo povo que paga impostos... Já era hora de estes arquivos serem desclassificados e postos à disposição de todos." Ele também advertiu contra conclusões precipitadas sobre OVNIs e insistiu que não havia nenhuma evidência clara de possíveis alienígenas terem visitado a Terra no passado ou no presente. Doença e falecimento. Dois anos depois de ser diagnosticado com mielodisplasia, e depois de se submeter a três transplantes de medula óssea provenientes de sua irmã, Carl Sagan morreu de pneumonia aos 62 anos de idade no Centro de Pesquisas do Câncer Fred Hutchinson de Seattle, Washington, em 20 de dezembro de 1996. Sagan foi enterrado no Lake View Cemetery, em Ithaca, Nova Iorque. Premiações e homenagens. Premiações. Carl Sagan recebeu diversos prêmios e homenagens de diversos centros de pesquisas e entidades ligadas à astronomia. A seguir, uma lista dos seus prêmios: Homenagens. Sagan foi o autor da introdução do livro de divulgação científica Uma Breve História do Tempo, do físico britânico Stephen Hawking, em sua primeira edição na língua inglesa, em 1988. Esta introdução foi substituída por outra em edições posteriores pelo fato de que Sagan era o proprietário dos direitos autorais do texto. O filme Contact, de 1997, baseado no livro homônimo de Sagan e finalizado após sua morte, possui nos créditos finais uma dedicatória a Carl Sagan. Também em 1997 foi inaugurado na cidade de Ithaca, estado de Nova York, o Carl Sagan Planet Walk, um recriação do sistema solar na escala de um pé de comprimento, com uma extensão total de 1,2 km, desde o centro da zona chamada "The Commons" até o Sciencenter, um museu de ciência interativo, do qual Sagan foi um dos membros fundadores do conselho de assessores. Em homenagem, o lugar de aterrissagem da nave não tripulada Mars Pathfinder foi rebatizado como Carl Sagan Memorial Station, em 5 de julho de 1997. O monumento exibe uma frase de Sagan: "Seja por qualquer razão que eu esteja em Marte, estou encantado de estar aqui, e eu desejaria estar aqui com vocês". Além disto, o asteroide da cintura de asteroides 2709 Sagan e a cratera marciana Sagan levam hoje seu nome. Nick Sagan, filho de Carl, é autor de vários episódios da franquia Star Trek. Em um episódio da série intitulado "Terra Prime", é exibida uma breve imagem dos restos da sonda espacial Sojouner, que integrou parte da missão espacial "Mars Pathfinder", hoje colocados junto a um monumento comemorativo na Carl Sagan Memorial Station, sobre a superfície marciana. Steve Squyres, ex-aluno de Sagan, foi o diretor da equipe que pousou com sucesso a Spirit Rover e a Opportunity Rover sobre a superfície marciana, em 2004. Em 9 de novembro de 2001, no 67º aniversário de nascimento de Sagan, o Ames Research Center da NASA dedicou ao cientista o Carl Sagan Center for the Study of Life in the Cosmos. O responsável da NASA, Daniel Goldin disse: "Carl foi um incrível visionário, e agora seu legado poderá ser preservado e ampliado por um laboratório de pesquisa e capacitação do século XXI dedicado a melhorar nossa compreensão da vida no universo e para jamais perder a causa da exploração espacial". Ann Druyan esteve presente na inauguração do centro, em 9 de novembro de 2001. Em 20 de dezembro de 2006, no décimo aniversário de morte de Sagan, o blogueiro Joel Schlosberg organizou um evento para homenagear o dia. A ideia foi apoiada por Nick Sagan e contou com a participação de muitos membros da comunidade "blogger". Em agosto de 2007, o Grupo de Pesquisas Independentes (IIG) concedeu a Sagan, postumamente, um prêmio em homenagem a toda sua carreira científica, também atribuída a Harry Houdini e James Randi. Em 2009, a gravadora Third Man Records organizou um projeto de música eletrônica chamado Symphony of Science, sob o comando do músico John Boswell. O projeto consiste em músicas compostas de trechos e remixagens de vídeos e outras obras de ciência popular, incluindo a série Cosmos. As canções resultantes foram postadas no Youtube, recebendo mais de 21 milhões de visualizações. Graças aos processos de remixagem, Carl Sagan é o "cantor" da música "A Glorious Dawn." Isaac Asimov descreveu Sagan como uma das duas pessoas que ele encontrou cujo intelecto ultrapassava o dele próprio. O outro, disse ele, foi o cientista de computadores e perito em inteligência artificial Marvin Minsky. A partir de 2009, várias organizações em prol do humanismo e do secularismo promovem a celebração do Carl Sagan's Day, em 9 de novembro (seu aniversário) de cada ano, e a ideia rapidamente se espalhou pelo mundo, inclusive no Brasil. Para celebrar este dia há o costume de organizarem-se eventos de astronomia, palestras com convidados ilustres, fazer feiras de ciência e outros eventos do gênero. O curta-metragem sueco de ficção científica de 2014, Wanderers, usa trechos da narração de Sagan de seu livro Pale Blue Dot, reproduzido sobre visuais criados digitalmente da possível futura expansão da humanidade para o espaço. Em fevereiro de 2015, a banda de metal sinfônico Nightwish lançou a música "Sagan" como uma faixa bônus do álbum Endless Forms Most Beautiful, mas que acabou ficando para o single "Élan". A música, escrita pelo compositor e tecladista da banda Tuomas Holopainen, é uma homenagem à vida e obra do falecido Carl Sagan, o qual é considerado um "herói" por Tuomas, além de Charles Darwin e Richard Dawkins. Prêmios em homenagem a Sagan. Há pelo menos três prêmios que carregam o nome de Sagan em sua homenagem: Em 2006, a "Medalha Carl Sagan" foi concedida ao astrobiológo e escritor David Grinspoon, filho de Lester Grinspoon, amigo de Sagan. Carl Sagan por Ann Druyan. No décimo aniversário do falecimento de Carl Sagan, esta nota foi publicada em seu site oficial: Publicações. Com sua formação multidisciplinar, Sagan foi o autor de obras como "Cosmos" (complementar a sua premiada série de televisão), "Os Dragões do Éden" (pelo qual recebeu o Prémio Pulitzer de Não Ficção Geral), ', "Pálido Ponto Azul" e '. Escreveu ainda o romance de ficção científica "Contato", que foi levado para as telas de cinema, posteriormente a sua morte. Sua última obra, "", foi publicada postumamente por sua esposa e colaboradora Ann Druyan e consiste, fundamentalmente, numa compilação de artigos inéditos escritos por Sagan, tendo um capítulo sido escrito por ele enquanto se encontrava no hospital. Recentemente foi publicado no Brasil mais um livro sobre Sagan, Variedades da experiência científica: Uma visão pessoal da busca por Deus, que é uma coletânea de suas palestras sobre teologia natural. A seguir, uma lista de suas obras, seguido dos autores, da editora (de preferência brasileira), do ano da publicação original (em língua inglesa), de seu respectivo ano de publicação no Brasil (em língua portuguesa), e de seu código ISBN:
499
Criador
Criador
500
Contistas
Contistas
501
Cristianismo
Cristianismo Cristianismo (do grego Xριστός, "Christós", messias, ungido, do heb. משיח "Mashiach") é uma religião monoteísta abraâmica baseada na vida e nos ensinamentos de Jesus de Nazaré. É a maior e mais difundida religião do mundo, com cerca de * de seguidores, representando um terço da população global. Estima-se que seus adeptos, conhecidos como cristãos, constituem a maioria da população em 157 países e territórios. A maioria dos cristãos acredita que Jesus é o Filho de Deus, cuja vinda como o Messias foi profetizada na Bíblia hebraica (chamada de Antigo Testamento no cristianismo) e registrada no Novo Testamento. O cristianismo permanece culturalmente diverso em seus ramos ocidental e oriental, bem como em suas doutrinas relativas à justificação e à natureza da salvação, eclesiologia, ordenação e cristologia. Os credos de várias denominações cristãs geralmente têm em comum Jesus como o Filho de Deus — o "Logos" encarnado — que ministrou, sofreu e morreu na cruz, mas ressuscitou dos mortos para a salvação da humanidade. Os quatro evangelhos canônicos de Mateus, Marcos, Lucas e João descrevem a vida e os ensinamentos de Jesus, com o Antigo Testamento como contexto do evangelho. O cristianismo começou no século I como uma seita judaica com influência helenística, na província romana da Judéia. Os discípulos de Jesus espalharam sua fé pela região do Mediterrâneo oriental, apesar de serem significativamente persegudios. A inclusão dos gentios levou o cristianismo a se separar lentamente do judaísmo (século II). O imperador Constantino descriminalizou o cristianismo no Império Romano pelo Édito de Milão (313), convocando posteriormente o Concílio de Nicéia (325), onde o cristianismo primitivo foi consolidado no que se tornaria a igreja estatal do Império Romano (380). A Igreja do Oriente e a Ortodoxia Oriental dividiram-se por diferenças na cristologia (século V), enquanto a Igreja Ortodoxa e a Igreja Católica se separaram no Cisma Oriente-Ocidente (1054). O protestantismo se dividiu da Igreja Católica em várias denominações na era da Reforma Protestante (século XVI). Após a Era dos Descobrimentos (séculos XV a XVII), o cristianismo se expandiu por todo o mundo por meio do trabalho missionário, comércio extensivo e colonialismo. Essa religião um papel proeminente no desenvolvimento da civilização ocidental, particularmente na Europa desde a Antiguidade Tardia até a Idade Média. Os seis principais ramos cristãos são a Igreja Católica (1,3 bilhão), o Protestantismo (800 milhões), a Igreja Ortodoxa (220 milhões), as Igrejas Ortodoxas Orientais (60 milhões), a Igreja do Oriente (0,6 milhões) e o Restauracionismo (35 milhões), embora existam milhares de comunidades menores, apesar dos esforços em direção à unidade (ecumenismo). Apesar de um declínio na adesão no Ocidente, o cristianismo continua sendo a religião dominante na região, com cerca de 70% dessa população se identificando como cristã. O cristianismo está crescendo na África e na Ásia, os continentes mais populosos do mundo. Os cristãos continuam sendo muito perseguidos em muitas regiões do mundo, particularmente no Oriente Médio, Norte da África, Leste Asiático e Sul da Ásia. Etimologia. Os primeiros cristãos judeus se referiam a si mesmos como 'O Caminho' (), provavelmente vindo de Isaías 40:3, "prepare o caminho do Senhor". De acordo com Atos 11:26, o termo "cristão" (, ), que significa "seguidores de Cristo" em referência aos discípulos de Jesus, foi usado pela primeira vez na cidade de Antioquia pelos habitantes não judeus de lá. O uso registrado mais antigo do termo "cristianismo/cristianismo" (, ) foi por Inácio de Antioquia por volta de 100 a.C. Crenças. Embora os cristãos em todo o mundo compartilhem convicções básicas, também existem várias diferenças de interpretações e opiniões sobre a Bíblia e as tradições sagradas nas quais o cristianismo se baseia. Credos. Declarações doutrinárias concisas ou confissões de crenças religiosas são conhecidas como credos. Eles começaram como fórmulas batismais e foram posteriormente expandidos durante as controvérsias cristológicas dos séculos IV e V para se tornarem declarações de fé. "Jesus é o Senhor" é o credo mais antigo do cristianismo e continua a ser usado, como no Conselho Mundial de Igrejas. O Credo dos Apóstolos é a declaração mais amplamente aceita dos artigos da fé cristã. É usado por várias denominações cristãs para fins litúrgicos e catequéticos, mais visivelmente por igrejas litúrgicas da tradição cristã ocidental, incluindo a Igreja Latina da Igreja Católica, Luteranismo, Anglicanismo e Ortodoxia de Rito Ocidental. Também é usado por presbiterianos, metodistas e congregacionais. Este credo particular foi desenvolvido entre os séculos II e IX. Suas doutrinas centrais são as da Trindade e de Deus o Criador. Cada uma das doutrinas encontradas neste credo pode ser atribuída a declarações correntes no período apostólico. O credo foi aparentemente usado como um resumo da doutrina cristã para candidatos ao batismo nas igrejas de Roma. Seus pontos incluem: O Credo Niceno foi formulado, em grande parte em resposta ao arianismo, nos concílios de Nicéia e Constantinopla em 325 e 381, respectivamente, e ratificado como o credo universal da cristandade pelo Primeiro Concílio de Éfeso em 431. O Credo de Calcedônia, desenvolvido no Concílio de Calcedônia em 451, embora rejeitado pelos ortodoxos orientais, ensinou Cristo "a ser reconhecido em duas naturezas, inconfundivelmente, imutavelmente, indivisivelmente, inseparavelmente": uma divina e uma humana, e que ambas as naturezas, embora perfeitas em si mesmas, também estão perfeitamente unidas em uma pessoa. O Credo Atanásio, recebido na Igreja Ocidental como tendo o mesmo estatuto do Nicênico e Calcedônio, diz: "Adoramos um Deus em Trindade e Trindade em Unidade; sem confundir as Pessoas nem dividir a Substância". A maioria dos cristãos (católicos, ortodoxos orientais, ortodoxos orientais e protestantes) aceita o uso de credos e subscreve pelo menos um dos credos mencionados acima. Certos protestantes evangélicos, embora não todos, rejeitam os credos como declarações definitivas de fé, mesmo concordando com parte ou com a totalidade da substância deles. Por exemplo, a maioria dos batistas não usa credos "na medida em que não buscaram estabelecer confissões de fé obrigatórias uns nos outros". Entre outros grupos que também rejeitam credos estão grupos com raízes no restauracionismo, como a Igreja Cristã (Discípulos de Cristo) e as Igrejas de Cristo. Jesus. O princípio central do cristianismo é a crença em Jesus como o Filho de Deus e o Messias (Cristo). Os cristãos acreditam que Jesus, como o Messias, foi ungido por Deus como salvador da humanidade e sustentam que a vinda de Jesus foi o cumprimento das profecias messiânicas do Antigo Testamento. O conceito cristão de messias difere significativamente do conceito judaico contemporâneo. A crença cristã central é que, por meio da crença e aceitação da morte e ressurreição de Jesus, os humanos pecadores podem se reconciliar com Deus e, assim, receber a salvação e a promessa da vida eterna. Embora tenha havido muitas disputas teológicas sobre a natureza de Jesus ao longo dos primeiros séculos da história cristã, geralmente os cristãos acreditam que Jesus é Deus encarnado e "verdadeiro Deus e verdadeiro homem" (ou totalmente divino e totalmente humano). Jesus, ao tornar-se plenamente humano, sofreu as dores e as tentações de um homem mortal, mas não pecou. Como totalmente Deus, ele ressuscitou. De acordo com o Novo Testamento, ele ressuscitou dos mortos, ascendeu ao céu, está sentado à direita do Pai e finalmente retornará. De acordo com os evangelhos canônicos de Mateus e Lucas, Jesus foi concebido pelo Espírito Santo e nasceu da Virgem Maria. Pouco da infância de Jesus está registrada nos evangelhos canônicos. Morte e ressurreição. Os cristãos consideram a ressurreição de Jesus a pedra angular de sua fé (ver 1 Coríntios 15) e o evento mais importante da história. Entre as crenças cristãs, a morte e a ressurreição de Jesus são dois eventos centrais nos quais se baseia grande parte da doutrina e da teologia cristãs. De acordo com o Novo Testamento, Jesus foi crucificado, morreu fisicamente, foi sepultado em uma tumba e ressuscitou dos mortos três dias depois. O Novo Testamento menciona várias aparições pós-ressurreição de Jesus em diferentes ocasiões para seus doze apóstolos e discípulos, incluindo "mais de quinhentos irmãos de uma vez", antes da ascensão de Jesus ao céu. A morte e ressurreição de Jesus são comemoradas pelos cristãos em todos os cultos, com destaque especial durante a Semana Santa, que inclui a Sexta-feira Santa e o Domingo de Páscoa. A morte e ressurreição de Jesus são geralmente consideradas os eventos mais importantes na teologia cristã, em parte porque demonstram que Jesus tem poder sobre a vida e a morte e, portanto, tem autoridade e poder para dar vida eterna às pessoas. As igrejas cristãs aceitam e ensinam o relato do Novo Testamento sobre a ressurreição de Jesus, com pouquíssimas exceções. Alguns estudiosos modernos usam a crença cristãs na ressurreição como ponto de partida para estabelecer a continuidade do Jesus histórico e a proclamação da igreja primitiva. Alguns cristãos liberais não aceitam uma ressurreição corporal literal, vendo a história como um mito ricamente simbólico e espiritualmente nutritivo. Discussões sobre reivindicações de morte e ressurreição ocorrem em muitos debates religiosos e diálogos inter-religiosos. O apóstolo Paulo, um cristão convertido e missionário, escreveu: "Se Cristo não ressuscitou, toda a nossa pregação é inútil e sua confiança em Deus é inútil". Salvação. O apóstolo Paulo, como os judeus e pagãos romanos de seu tempo, acreditava que o sacrifício pode trazer novos laços de parentesco, pureza e vida eterna. Para Paulo, o sacrifício necessário era a morte de Jesus: os gentios que são "de Cristo" são, como Israel, descendentes de Abraão e "herdeiros segundo a promessa". O Deus que ressuscitou Jesus dentre os mortos também dá nova vida aos "corpos mortais" dos cristãos gentios, que se tornaram com Israel, os "filhos de Deus" e, portanto, não estavam mais "na carne". As igrejas cristãs modernas tendem a se preocupar muito mais em como a humanidade pode ser salva de uma condição universal de pecado e morte do que na questão de como judeus e gentios podem fazer parte da família de Deus. De acordo com a teologia ortodoxa oriental, com base em sua compreensão da expiação apresentada pela teoria da recapitulação de Irineu, a morte de Jesus é um resgate. Isso restaura a relação com Deus, que é amoroso e se aproxima da humanidade, e oferece a possibilidade de "theosis" e divinização, tornando-se o tipo de homem que Deus quer que a humanidade seja. Segundo a doutrina católica, a morte de Jesus satisfaz a ira de Deus, suscitada pela ofensa à honra de Deus causada pela pecaminosidade humana. A Igreja Católica ensina que a salvação não ocorre sem a fidelidade dos cristãos; os convertidos devem viver de acordo com os princípios do amor e normalmente devem ser batizados. Na teologia protestante, a morte de Jesus é considerada como uma pena substitutiva carregada por Jesus, pela dívida que deve ser paga pela humanidade quando ela quebrou a lei moral de Deus. Os cristãos diferem em seus pontos de vista sobre até que ponto a salvação dos indivíduos é pré-ordenada por Deus. A teologia reformada coloca ênfase distinta na graça ao ensinar que os indivíduos são completamente incapazes de autorredenção, mas que a graça santificadora é irresistível. Em contraste, católicos, cristãos ortodoxos e protestantes arminianos acreditam que o exercício do livre arbítrio é necessário para ter fé em Jesus. Trindade. "Trindade" refere-se ao ensino de que o único Deus compreende três pessoas distintas e eternamente coexistentes: o "Pai", o "Filho" (encarnado em Jesus Cristo) e o "Espírito Santo". Juntas, essas três pessoas às vezes são chamadas de Divindade, embora não haja um único termo usado nas Escrituras para denotar a Divindade unificada. Nas palavras do Credo Atanasiano, uma declaração inicial da crença cristã, "o Pai é Deus, o Filho é Deus e o Espírito Santo é Deus, e ainda não há três Deuses, mas um só Deus". Eles são distintos um do outro: o Pai não tem fonte, o Filho é gerado pelo Pai e o Espírito procede do Pai. Embora distintas, as três pessoas não podem ser separadas uma da outra. Embora alguns cristãos também acreditem que Deus apareceu como o Pai no Antigo Testamento, concorda-se que ele apareceu como o Filho no Novo Testamento e continuará a se manifestar como o Espírito Santo no presente. Mas, ainda assim, Deus ainda existia como três pessoas em cada uma dessas épocas. No entanto, tradicionalmente existe a crença de que foi o Filho que apareceu no Antigo Testamento. A Trindade é uma doutrina essencial do cristianismo tradicional. Desde antes dos tempos do Credo Niceno (325), o cristianismo defendia a natureza misterioza da Trindade de Deus como uma profissão de fé normativa. De acordo com Roger E. Olson e Christopher Hall, por meio da oração, meditação, estudo e prática, a comunidade cristã concluiu "que Deus deve existir tanto como uma unidade quanto como uma trindade", codificando isso no concílio ecumênico no final do século IV. Segundo esta doutrina, Deus não está dividido no sentido de que cada pessoa tem um terço do todo; em vez disso, cada pessoa é considerada totalmente Deus (ver pericorese). A distinção reside em suas relações, sendo o Pai não gerado; o Filho sendo gerado do Pai; e o Espírito Santo procedendo do Pai e (na teologia cristã ocidental) do Filho. Independentemente dessa aparente diferença, as três "pessoas" são eternas e onipotentes. Outras religiões cristãs, incluindo o universalismo unitário, as testemunhas de Jeová e o mormonismo, não compartilham dessas opiniões sobre a Trindade. A palavra grega "trias" é vista pela primeira vez neste sentido nas obras de Teófilo de Antioquia; seu texto diz: "da Trindade, de Deus, e de Sua Palavra, e de Sua Sabedoria". O termo pode ter sido usado antes dessa época; seu equivalente latino, "trinitas", aparece depois com uma referência explícita ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo, na obra de Tertuliano. No século seguinte, a palavra era de uso geral, sendo também encontrada em muitas passagens de Orígenes. Trinitarismo. O termo "trinitarismo" denota os cristãos que acreditam no conceito da Trindade. Quase todas as denominações e igrejas cristãs possuem crenças trinitárias. Embora as palavras "Trindade" e "Triúne" não apareçam na Bíblia, a partir do século III os teólogos desenvolveram o termo e o conceito para facilitar a apreensão dos ensinamentos do Novo Testamento de Deus como sendo Pai, Filho e Espírito Santo. Desde aquela época, os teólogos cristãos tiveram o cuidado de enfatizar que a Trindade não implica que existam três deuses (a heresia antitrinitária do triteísmo), nem que cada hipóstase da Trindade seja um terço de um Deus infinito (parcialismo), nem que o Filho e o Espírito Santo são seres criados e subordinados ao Pai (arianismo). Em vez disso, a Trindade é definida como um Deus em três pessoas. Antitrinitarismo. O termo "antitrinitarismo" refere-se à teologia que rejeita a doutrina da Trindade. Várias visões não trinitárias, como o adocionismo ou o modalismo, existiam no cristianismo primitivo, levando às disputas sobre a cristologia. O antitrinitarismo reapareceu no gnosticismo dos cátaros entre os séculos XI e XIII, entre grupos com teologia unitária na Reforma Protestante do século XVI, no Iluminismo do século XVIII, entre grupos restauracionistas surgidos durante o Segundo Grande Despertar do século XIX e, mais recentemente, nas igrejas Pentecostais do Nome de Jesus. Escatologia. O fim das coisas, seja o fim de uma vida individual, o fim dos tempos ou o fim do mundo, em termos gerais, é a escatologia cristã; o estudo do destino dos humanos conforme revelado na Bíblia. As principais questões da escatologia cristã são a Grande Tribulação, a morte e a vida após a morte (principalmente para grupos evangélicos), o milenarismo e o arrebatamento seguinte, a Segunda Vinda de Jesus, a Ressurreição dos Mortos, o Céu (para ramos litúrgicos), o Purgatório e o Inferno, o Juízo Final, o fim do mundo e os Novos Céus e Nova Terra. Os cristãos acreditam que a segunda vinda de Cristo ocorrerá no fim dos tempos, após um período de severa perseguição (a Grande Tribulação). Todos os que morreram serão ressuscitados fisicamente dentre os mortos para o Juízo Final. Jesus estabelecerá plenamente o Reino de Deus em cumprimento das profecias das escrituras. Morte e vida após a morte. A maioria dos cristãos acredita que os seres humanos experimentam o julgamento divino e são recompensados com a vida eterna ou com a condenação eterna. Isso inclui o julgamento geral na ressurreição dos mortos, bem como a crença (mantida por católicos, ortodoxos e a maioria dos protestantes) em um julgamento particular para a alma individual após a morte física. No ramo católico do cristianismo, aqueles que morrem em 'estado de graça', ou seja, sem nenhum pecado mortal que os separe de Deus, mas ainda imperfeitamente purificados dos efeitos do pecado, passam pela purificação completa através do estado intermediário do purgatório para alcançar a santidade necessária para estar na presença de Deus. Aqueles que atingirem esse objetivo são chamados de "santos" (latim "sanctus", "santo"). Alguns grupos cristãos, como os adventistas do sétimo dia, defendem o mortalismo, a crença de que a alma humana não é naturalmente imortal e fica inconsciente durante o estado intermediário entre a morte corporal e a ressurreição. Esses cristãos também defendem o aniquilacionismo, a crença de que, após o julgamento final, os ímpios deixarão de existir em vez de sofrer o tormento eterno. As Testemunhas de Jeová têm um ponto de vista semelhante. Práticas. Dependendo da denominação específica do cristianismo, as práticas podem incluir o batismo, a Eucaristia (a Santa Ceia ou a Ceia do Senhor), a oração (incluindo a Oração do Senhor), a confissão, a crisma, os ritos funerários, os ritos do casamento e a educação religiosa das crianças. A maioria das denominações tem clérigos ordenados que conduzem cultos comunitários regulares. Os ritos, rituais e cerimônias cristãs não são celebrados em uma única língua sagrada. Muitas igrejas cristãs ritualísticas fazem distinção entre linguagem sagrada, linguagem litúrgica e linguagem vernacular. As três línguas importantes no início da era cristã eram: latim, grego e siríaco. Culto comunitário. Os cultos normalmente seguem um padrão ou forma conhecida como liturgia. Justino Mártir descreveu a liturgia cristã do século II em sua "Primeira Apologia" () ao imperador Antonino Pio, e sua descrição permanece relevante para a estrutura básica do culto litúrgico cristão: Assim, como Justino descreveu, os cristãos se reúnem para o culto comunitário normalmente no domingo, o dia da ressurreição, embora outras práticas litúrgicas geralmente ocorram fora desse cenário. As leituras das Escrituras são extraídas do Antigo e do Novo Testamento, mas especialmente dos evangelhos. A instrução é dada com base nessas leituras, na forma de um sermão ou homilia. Há uma variedade de orações congregacionais, incluindo ação de graças, confissão e intercessão, que ocorrem durante todo o serviço e assumem uma variedade de formas, incluindo recitadas, responsivas, silenciosas ou cantadas. Salmos, hinos, canções de adoração e outras músicas da igreja podem ser cantadas. Os serviços podem ser variados para eventos especiais, como dias de festa importantes. Quase todas as formas de culto incorporam a Eucaristia, que consiste em uma refeição. É reencenado de acordo com a instrução de Jesus na Última Ceia que seus seguidores fazem em memória dele, como quando ele deu pão aos seus discípulos, dizendo: "Este é o meu corpo", e deu-lhes vinho dizendo: "Este é o meu sangue". Na igreja primitiva, os cristãos e aqueles que ainda não completavam a iniciação se separavam para a parte eucarística do serviço religioso. Algumas denominações, como as igrejas luteranas confessionais, continuam a praticar a 'comunhão fechada'. Eles oferecem a comunhão àqueles que já estão unidos naquela denominação ou, às vezes, em uma igreja individual. Os católicos restringem ainda mais a participação a seus membros que não estejam em estado de pecado mortal. Muitas outras igrejas, como Comunhão Anglicana e a Igreja Metodista Unida, praticam a 'comunhão aberta', uma vez que veem a comunhão como um meio para a unidade, e não como um fim, e convidam todos os cristãos crentes a participar. Sacramentos ou ordenanças. A definição funcional mais convencional de um sacramento é que ele é um sinal externo, instituído por Cristo, que transmite uma graça interior e espiritual por meio de Cristo. Os dois sacramentos mais amplamente aceitos são o batismo e a eucaristia; no entanto, a maioria dos cristãos também reconhece cinco sacramentos adicionais: crisma, ordenação, penitência, unção dos enfermos e matrimônio. Juntos, esses são os Sete Sacramentos reconhecidos pelas igrejas na tradição da Alta Igreja — notavelmente católicos, cristãos orientais, ortodoxos orientais, católicos independentes, católicos antigos, muitos anglicanos e alguns luteranos. A maioria das outras denominações e tradições normalmente afirmam apenas o batismo e a eucaristia como sacramentos, enquanto alguns grupos protestantes, como os quakers, rejeitam a teologia sacramental. Certas denominações do cristianismo, como os anabatistas, usam o termo "ordenanças" para se referir a ritos instituídos por Jesus para os cristãos observarem. Sete ordenanças foram ensinadas em muitas igrejas anabatistas menonitas conservadoras, que incluem "batismo, comunhão, lava-pés, casamento, unção com óleo, beijo sagrado e oração". Além disso, a Igreja do Oriente tem dois sacramentos adicionais no lugar dos sacramentos tradicionais do matrimônio e da unção dos enfermos. Estes incluem o fermento sagrado ("Melka") e o sinal da cruz. Calendário litúrgico. Católicos, cristãos orientais, luteranos, anglicanos e outras comunidades protestantes tradicionais enquadram o culto em torno do ano litúrgico. O ciclo litúrgico divide o ano em uma série de estações, cada uma com suas ênfases teológicas e modos de oração, que podem ser significados por diferentes formas de decoração das igrejas, cores de paramentos e paramentos para o clero, leituras bíblicas, temas para pregação e até tradições e práticas diferentes, muitas vezes observadas pessoalmente ou em casa. Os calendários litúrgicos cristãos ocidentais são baseados no ciclo do rito romano da Igreja Católica e os cristãos orientais usam calendários análogos baseados no ciclo de seus respectivos ritos. Os calendários reservam dias santos, como solenidades que comemoram um evento na vida de Jesus, Maria ou dos santos, e períodos de jejum, como quaresma e outros eventos piedosos ou festas menores comemorando santos. Grupos cristãos que não seguem uma tradição litúrgica costumam manter certas celebrações, como Natal, Páscoa e Pentecostes: são as celebrações do nascimento de Cristo, ressurreição e descida do Espírito Santo sobre a Igreja, respectivamente. Algumas denominações, como os quakers, não fazem uso de um calendário litúrgico. Símbolos. A maioria das denominações cristãs geralmente não pratica o aniconismo, a evitação ou proibição de imagens devocionais, mesmo que os primeiros cristãos judeus, invocando a proibição da idolatria no Decálogo, evitassem figuras em seus símbolos. A cruz, hoje um dos símbolos mais amplamente reconhecidos, foi usada pelos cristãos desde os primeiros tempos. Tertuliano, em seu livro "De Corona", conta como já era tradição os cristãos traçarem o sinal da cruz na testa. Embora a cruz fosse conhecida pelos primeiros cristãos, o crucifixo não apareceu em uso até o século V. Entre os primeiros símbolos cristãos, o do peixe ou ichthys parece ter ficado em primeiro lugar em importância, como visto em fontes monumentais como túmulos das primeiras décadas do século II. Sua popularidade aparentemente surgiu da palavra grega "ichthys" (peixe) formando um acróstico para a frase grega "Iesous Christos Theou Yios Soter" (Ἰησοῦς Χριστός, Θεοῦ Υἱός, Σωτήρ), (Jesus Cristo, Filho de Deus, Salvador), um resumo conciso da fé cristã. Outros símbolos cristãos importantes incluem o monograma chi-rho, a pomba e o ramo de oliveira (símbolo do Espírito Santo), o cordeiro sacrificial (representando o sacrifício de Cristo), a videira (simbolizando a conexão do cristão com Cristo) e muitos outros. Todos estes derivam de passagens do Novo Testamento. Batismo. O batismo é o ato ritual, com uso de água, pelo qual uma pessoa é admitida como membro da Igreja. As crenças sobre o batismo variam entre as denominações. As diferenças ocorrem em primeiro lugar sobre se o ato tem algum significado espiritual. Algumas, como as igrejas católica e ortodoxa, bem como luteranas e anglicanas, defendem a doutrina da regeneração batismal, que afirma que o batismo cria ou fortalece a fé de uma pessoa e está intimamente ligado à salvação. Os batistas e as Assembleias dos Irmãos veem o batismo como um ato puramente simbólico, uma declaração pública externa da mudança interior que ocorreu na pessoa, mas não como espiritualmente eficaz. Em segundo lugar, existem diferenças de opinião sobre a metodologia (ou modo) do ato. Esses modos são: por imersão; se a imersão for total, por submersão; por afusão (derramamento); e por aspersão. Aqueles que sustentam a primeira opinião também podem aderir à tradição do batismo infantil; todas as Igrejas Ortodoxas praticam o batismo infantil e sempre batizam por imersão total repetida três vezes em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. A Igreja Luterana e a Igreja Católica também praticam o batismo infantil, geralmente por afusão e utilizando a fórmula trinitária. Os cristãos anabatistas praticam o batismo do crente, no qual um adulto escolhe receber a ordenança após tomar a decisão de seguir a Jesus. As denominações anabatistas, como os menonitas, amish e huteritas, usam o derramamento como modo de administrar o batismo do crente, enquanto os anabatistas das tradições dos dunkers e dos irmãos do rio batizam por imersão. Oração. No Evangelho de São Mateus, Jesus ensinou a Oração do Senhor, que foi considerada um modelo para a oração cristã. A liminar para os cristãos rezarem o Pai Nosso três vezes ao dia foi dada na "Didache" e passou a ser recitada pelos cristãos às 9h, 12h e 15h. Na "Tradição Apostólica" do século II, Hipólito de Roma instruiu os cristãos a orar em sete horários fixos de oração: "ao levantar, ao entardecer, ao deitar, à meia-noite" e "na terceira, sexta e nona horas do dia, sendo horas associadas à Paixão de Cristo". Posições de oração, incluindo ajoelhar-se, ficar de pé e prostrar-se têm sido usadas para esses sete tempos fixos de oração desde os dias da Igreja primitiva. Breviários são usados pelos cristãos ortodoxos orientais para rezar essas horas canônicas enquanto se voltam para a direção leste da oração. A Tradição Apostólica determina que o sinal da cruz seja usado pelos cristãos durante exorcismos menores de batismos, durante as abluções antes de rezar em horários fixos de oração e em momentos de tentação. A oração de intercessão é a oração oferecida em benefício de outras pessoas. Existem muitas orações de intercessão registradas na Bíblia, incluindo orações do apóstolo Pedro em favor de pessoas enfermas e de profetas do Antigo Testamento em favor de outras pessoas. Na Epístola de Tiago, nenhuma distinção é feita entre a oração de intercessão oferecida pelos crentes comuns e o proeminente profeta do Antigo Testamento, Elias. A eficácia da oração no cristianismo deriva do poder de Deus e não do estatuto daquele que ora. A igreja antiga, tanto no cristianismo oriental quanto no ocidental, desenvolveu uma tradição de pedir a intercessão dos santos (falecidos), e esta continua sendo a prática da maioria das igrejas ortodoxas orientais, ortodoxas orientais, católicas e algumas igrejas luteranas e anglicanas. Além de certos setores dentro das duas últimas denominações, outras Igrejas da Reforma Protestante, no entanto, rejeitaram a oração aos santos, em grande parte com base na única mediação de Cristo. O reformador Huldrych Zwingli admitiu que havia oferecido orações aos santos até que sua leitura da Bíblia o convenceu de que isso era idolatria. Segundo o "Catecismo da Igreja Católica": "A oração é a elevação da mente e do coração a Deus ou o pedido de coisas boas a Deus". O "Livro de Oração Comum" na tradição anglicana é um guia que fornece uma ordem definida para os serviços, contendo orações definidas, leituras das escrituras e hinos ou salmos cantados. Escrituras. O cristianismo, como outras religiões, tem adeptos cujas crenças e interpretações bíblicas variam. O cristianismo considera o cânone bíblico, o Antigo Testamento e o Novo Testamento, como a palavra inspirada de Deus. A visão tradicional da inspiração é que Deus trabalhou por meio de autores humanos para que o que eles produzissem fosse o que Deus desejava comunicar. A palavra grega que se refere à inspiração em 2 Timóteo 3:16 é "theopneustos", que significa literalmente "inspirado por Deus". Alguns acreditam que a inspiração divina torna as Bíblias atuais inerrantes. Outros alegam inerrância para a Bíblia em seus manuscritos originais, embora nenhum deles exista. Outros ainda sustentam que apenas uma tradução específica é inerrante, como a Bíblia do Rei Jaime. O cânone do Antigo Testamento aceito pelas igrejas protestantes, que é apenas o Tanaque (o cânone da Bíblia hebraica), é mais curto do que o aceito pelas igrejas ortodoxa e católica, que também incluem os livros deuterocanônicos que aparecem na Septuaginta, sendo o cânone da Igreja Ortodoxa um pouco maior que o católico; os protestantes consideram o último como documentos históricos apócrifos importantes que ajudam a informar a compreensão das palavras, gramática e sintaxe usadas no período histórico de sua concepção. Algumas versões da Bíblia incluem uma seção apócrifa separada entre o Antigo Testamento e o Novo Testamento. Algumas denominações têm escrituras sagradas canônicas adicionais além da Bíblia, incluindo as obras padrão do movimento dos Santos dos Últimos Dias e o "Princípio Divino" na Igreja da Unificação. História. Cristianismo primitivo. Era apostólica. O cristianismo se desenvolveu durante o século I como uma seita cristã judaica com influência helenística do judaísmo do Segundo Templo. Uma comunidade cristã judaica primitiva foi fundada em Jerusalém sob a liderança dos Pilares da Igreja, ou seja, Tiago, o Justo, irmão de Jesus, Pedro e João. O cristianismo judaico logo atraiu gentios tementes a Deus, criando um problema para sua perspectiva religiosa judaica, que insistia na observância rigorosa dos mandamentos judaicos. O apóstolo Paulo resolveu isso insistindo que a salvação pela fé em Cristo e a participação em sua morte e ressurreição pelo batismo eram suficientes. A princípio ele perseguiu os primeiros cristãos, mas depois de uma experiência de conversão, ele pregou aos gentios e é considerado como tendo tido um efeito formativo na emergente identidade cristã separada do judaísmo. Eventualmente, sua saída dos costumes judaicos resultaria no estabelecimento do cristianismo como uma religião independente. Período pré-niceno. Este período formativo foi seguido pelos primeiros bispos, que os cristãos consideram os sucessores dos apóstolos de Cristo. A partir do ano 150, os mestres cristãos começaram a produzir obras teológicas e apologéticas voltadas para a defesa da fé. Esses autores são conhecidos como os Pais da Igreja e o estudo deles é chamado patrística. Os primeiros pais notáveis incluem Inácio de Antioquia, Policarpo, Justino Mártir, Irineu, Tertuliano, Clemente de Alexandria e Orígenes. A perseguição aos cristãos ocorreu de forma intermitente e em pequena escala pelas autoridades judaicas e romanas, com a ação romana começando na época do Grande Incêndio de Roma no ani 64. Exemplos de primeiras execuções sob autoridade judaica relatadas no Novo Testamento incluem as mortes de Santo Estêvão e Santiago Maior. A perseguição deciana foi o primeiro conflito em todo o império, quando o édito de Décio no ano 250 exigia que todos no Império Romano (exceto os judeus) realizassem um sacrifício aos deuses romanos. A perseguição diocleciana que começou no ano 303 também foi particularmente severa. A perseguição romana aos cristãos terminou em 313 com o Édito de Milão. Enquanto o cristianismo proto-ortodoxo estava se tornando dominante, também existiam seitas heterodoxas ao mesmo tempo, que mantinham crenças radicalmente diferentes. O cristianismo gnóstico desenvolveu uma doutrina duoteísta baseada na ilusão e na iluminação, em vez do perdão dos pecados. Com apenas algumas escrituras se sobrepondo ao cânone ortodoxo em desenvolvimento, a maioria dos textos e evangelhos gnósticos foram eventualmente considerados heréticos e suprimidos pelos cristãos tradicionais. Uma divisão gradual do cristianismo gentio deixou os cristãos judeus continuando a seguir a Lei de Moisés, incluindo práticas como a circuncisão. No século V, eles e os evangelhos judaico-cristãos seriam amplamente suprimidos pelas seitas dominantes tanto no judaísmo quanto no cristianismo. Popularização e consolidação no Império Romano. O cristianismo se espalhou para os povos de língua aramaica ao longo da costa do Mediterrâneo e também para as partes interiores do Império Romano e também do Império Parta e do posterior Império Sassânida, incluindo a Mesopotâmia, que foi dominada em diferentes épocas e em graus variados por esses impérios. A presença do cristianismo na África começou em meados do século I no Egito e no final do século II na região de Cartago. Afirma-se que Marcos, o Evangelista, iniciou a Igreja de Alexandria por volta do ano 43; várias igrejas posteriores reivindicam esse fato histórico como seu próprio legado, incluindo a Igreja Ortodoxa Copta. Africanos importantes que influenciaram o desenvolvimento inicial do cristianismo incluem Tertuliano, Clemente de Alexandria, Orígenes de Alexandria, Cipriano de Cartago, Atanásio e Agostinho de Hipona. O rei Tiridates III fez do cristianismo a religião oficial na Armênia entre os anos 301 e 314, que se tornou o primeiro Estado oficialmente cristão. Essa religião não era inteiramente nova na Armênia, tendo penetrado no país pelo menos desde o século III, mas pode ter estado presente ainda antes na região. Constantino I foi exposto ao cristianismo em sua juventude e, ao longo de sua vida, seu apoio à religião cresceu, culminando no batismo em seu leito de morte. Durante seu reinado, a perseguição aos cristãos sancionada pelo Estado terminou com o Édito de Tolerância de Galério no ano 311 e o Édito de Milão em 313. Nesse ponto, o cristianismo ainda era uma crença minoritária, compreendendo talvez apenas cinco por cento da população romana. Influenciado por seu conselheiro Mardônio, o sobrinho de Constantino, Juliano, tentou, sem sucesso, suprimir o cristianismo. Em 27 de fevereiro de 380, Teodósio I, Graciano e Valentiniano II estabeleceram o cristianismo niceno como a Igreja Estatal do Império Romano. Assim que se ligou ao Estado, o cristianismo enriqueceu; a Igreja solicitava doações dos ricos e agora podia possuir terras. Constantino também foi fundamental na convocação do Primeiro Concílio de Nicéia em 325, que procurou abordar o arianismo e formulou o Credo Niceno, que ainda é usado pelo catolicismo, ortodoxia oriental, luteranismo, anglicanismo e muitas outras igrejas protestantes. Nicéia foi o primeiro de uma série de concílios ecumênicos, que definiram formalmente elementos críticos da teologia da Igreja, notadamente no que diz respeito à cristologia. A Igreja do Oriente não aceitou o terceiro e seguintes concílios ecumênicos e ainda hoje está separada por seus sucessores (Igreja Assíria do Oriente). Em termos de prosperidade e vida cultural, o Império Bizantino foi um dos picos da história cristã e da civilização cristã, e Constantinopla permaneceu como a cidade líder do mundo cristão em tamanho, riqueza e cultura. Houve um interesse renovado na filosofia grega clássica, bem como um aumento na produção literária em grego vernacular. A arte e a literatura bizantina ocupavam um lugar de destaque na Europa e o impacto cultural da arte bizantina no mundo ocidental durante esse período foi enorme e de significado duradouro. A ascensão posterior do Islã no norte da África reduziu o tamanho e o número de congregações cristãs, deixando em grande número apenas a Igreja Copta no Egito, a Igreja Ortodoxa Etíope no Chifre da África e a Igreja Núbia no Sudão (Nobácia, Macúria e Alódia). Idade média. Com o declínio e queda do Império Romano do Ocidente, o papado tornou-se um ator político, visível pela primeira vez nas negociações diplomáticas do Papa Leão I com hunos e vândalos. A Igreja também entrou em um longo período de atividade missionária e expansão entre as várias tribos. Enquanto os arianistas instituíam a pena de morte para os pagãos praticantes, o que mais tarde se tornaria o catolicismo também se espalhou entre os húngaros, os germânicos,] os celtas, os bálticos e alguns povos eslavos. Por volta de 500, o cristianismo foi completamente integrado à cultura bizantina e do Reino Ostrogótico e Bento de Núrsia estabeleceu sua regra monástica, criando um sistema de regulamentos para a fundação e administração de mosteiros. O monaquismo tornou-se uma força poderosa em toda a Europa e deu origem a muitos dos primeiros centros de aprendizagem, mais notoriamente na Irlanda, Escócia e Gália, contribuindo para o Renascimento Carolíngio do século IX. No século VII, os muçulmanos conquistaram a Síria (incluindo Jerusalém), o norte da África e a Espanha, convertendo parte da população cristã ao islamismo e colocando o restante sob um estatuto legal separado. Parte do sucesso dos muçulmanos foi devido à exaustão do Império Bizantino em suas décadas de conflito com a Pérsia. A partir do século VIII, com a ascensão dos líderes carolíngios, o papado buscou maior apoio político no Reino Franco. A Idade Média trouxe grandes mudanças dentro da igreja. O Papa Gregório Magno reformou dramaticamente a estrutura e administração eclesiástica. No início do século VIII, a iconoclastia tornou-se uma questão polêmica, quando foi patrocinada pelos imperadores bizantinos. O Segundo Concílio de Niceia (787) finalmente se pronunciou a favor dos ícones religiosos. No início do século X, o monaquismo cristão ocidental foi ainda mais rejuvenescido pela liderança do grande mosteiro beneditino da Abadia de Cluny. No Ocidente, a partir do século XI, algumas escolas catedrais mais antigas tornaram-se universidades (ver, por exemplo, Universidade de Oxford, Universidade de Paris e Universidade de Bolonha). Anteriormente, o ensino superior tinha sido o domínio das escolas catedrais ou escolas monásticas ("Scholae monasticae") cristãs, lideradas por monges e freiras. Evidências de tais escolas datam do século VI. Essas novas universidades expandiram o currículo para incluir programas acadêmicos para clérigos, advogados, funcionários públicos e médicos. A universidade é geralmente considerada como uma instituição que tem sua origem no cenário cristão medieval. Acompanhando o surgimento das "cidades novas" em toda a Europa, foram fundadas ordens mendicantes, trazendo a vida religiosa consagrada do mosteiro para o novo ambiente urbano. Os dois principais movimentos mendicantes foram os franciscanos e os dominicanos, fundados por Francisco de Assis e Domingos de Gusmão, respectivamente. Ambas as ordens fizeram contribuições significativas para o desenvolvimento das grandes universidades da Europa. Outra nova ordem foram os cistercienses, cujos grandes mosteiros isolados lideraram o assentamento de antigas áreas selvagens. Neste período, a construção de igrejas e a arquitetura eclesiástica atingiram novos patamares, culminando nas ordens de arquitetura românica e gótica e na construção das grandes catedrais europeias. O nacionalismo cristão surgiu durante esta época em que os cristãos sentiram o impulso de recuperar terras nas quais o cristianismo havia florescido historicamente. Em 1095, sob o pontificado de Urbano II, as Cruzadas foram lançadas. Estas foram uma série de campanhas militares na Terra Santa e em outros lugares, iniciadas em resposta aos apelos do imperador bizantino Aleixo I Comneno contra a expansão turca. As Cruzadas acabaram fracassando em abafar a agressão islâmica e até mesmo contribuiu para a inimizade cristã com o saque de Constantinopla durante a Quarta Cruzada. Durante um período que se estende do ao XIII, a igreja cristã passou por uma alienação gradual, resultando em um cisma que dividiu o cristianismo em um ramo chamado latino ou ocidental, a Igreja Católica Romana, e um ramo oriental, em grande parte grego, a Igreja Ortodoxa. Estas duas igrejas discordam sobre uma série de processos e questões administrativas, litúrgicas e doutrinais, principalmente a primazia da jurisdição papal. O Segundo Concílio de Lyon (1274) e o Concílio de Florença (1439) tentaram reunir as igrejas, mas em ambos os casos, os ortodoxos orientais se recusaram a implementar as decisões e as duas principais igrejas permanecem em cisma até os dias atuais. No entanto, a Igreja Católica Romana tem alcançado união com várias pequenas igrejas orientais. No século XIII, uma nova ênfase no sofrimento de Jesus, exemplificada pela pregação dos franciscanos, teve como consequência voltar a atenção dos fiéis para os judeus, a quem os cristãos haviam colocado a culpa pela morte de Jesus. A tolerância limitada do cristianismo aos judeus não era nova — Agostinho de Hipona disse que os judeus não deveriam ter permissão para desfrutar da cidadania que os cristãos consideravam garantida — mas a crescente antipatia pelos judeus foi um fator que levou à expulsão dos judeus da Inglaterra em 1290, a primeira de muitas expulsões na Europa. Começando por volta de 1184, após a cruzada contra a heresia dos cátaros, várias instituições, amplamente referidas como a Inquisição, foram estabelecidas com o objetivo de suprimir a heresia e assegurar a unidade religiosa e doutrinária dentro do cristianismo através da conversão e repressão. Reforma Protestante e Contrarreforma. O Renascimento do trouxe um renovado interesse em estudos antigos e clássicos. Outra grande cisma, a Reforma, resultou na divisão da cristandade ocidental em várias denominações cristãs. Em 1517, Martinho Lutero protestou contra a venda de indulgências e logo passou a negar vários pontos-chave da doutrina católica romana. Outros, como Zwingli e Calvino ainda criticaram o ensino católico romano e adoração. Estes desafios desenvolveram no movimento chamado de protestantismo, que repudiou o primado do papa, o papel da Tradição, os sete sacramentos e outras doutrinas e práticas ("ver: Cinco solas"). A Reforma na Inglaterra começou em 1534, quando o Rei Henrique VIII tinha se declarado chefe da Igreja da Inglaterra. No início em 1536, os mosteiros por toda a Inglaterra, País de Gales e Irlanda foram dissolvidos. Em parte como resposta à Reforma Protestante, a Igreja Católica Romana engajou-se em um processo significativo de reforma e renovação, conhecido como Contrarreforma ou Reforma Católica. O Concílio de Trento reafirmou e clarificou a doutrina católica romana. Durante os séculos seguintes, a concorrência entre o catolicismo romano e o protestantismo tornou-se profundamente envolvida com as lutas políticas entre os Estados europeus. Enquanto isso, a descoberta da América por Cristóvão Colombo em 1492 provocou uma nova onda de atividade missionária. Em parte de zelo missionário, mas sob o impulso da expansão colonial pelas potências europeias, o cristianismo se espalhou para a América, Oceania, Ásia Oriental e África Subsaariana. Em toda a Europa, as divisões causadas pela Reforma levou a surtos de violência religiosa e o estabelecimento de igrejas separadas do Estado na Europa Ocidental: o luteranismo em partes da Alemanha e na Escandinávia e o anglicanismo na Inglaterra em 1534. Em última instância, essas diferenças levaram à eclosão de conflitos em que a religião desempenhou um papel chave. A Guerra dos Trinta Anos, a Guerra Civil Inglesa e as Guerras religiosas na França são exemplos proeminentes. Estes eventos intensificaram o debate sobre a perseguição cristã e tolerância religiosa. No renascimento do neoplatonismo, os humanistas renascentistas não rejeitaram o cristianismo; muito pelo contrário, muitas das maiores obras da Renascença foram dedicadas ao cristianismo e a Igreja Católica patrocinou muitas obras de arte renascentista. Grande parte, se não a maior parte, da nova arte foi encomendada ou dedicada à Igreja. Alguns estudiosos e historiadores atribuem ao cristianismo a contribuição para o surgimento da Revolução Científica. Muitas figuras históricas conhecidas que influenciaram a ciência ocidental se consideravam cristãs, como Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Johannes Kepler, Isaac Newton e Robert Boyle. Pós-iluminismo. Na era conhecida como a Grande Divergência, quando no ocidente o Iluminismo e a revolução científica trouxeram grandes mudanças sociais, o cristianismo foi confrontado com várias formas de ceticismo e com certas ideologias políticas modernas, como as versões do socialismo e do liberalismo. Nessa época, eventos que variaram do mero anticlericalismo à explosões de violência contra o cristianismo, como a descristianização durante a Revolução Francesa, a Guerra Civil Espanhola, e a hostilidade geral dos movimentos marxistas, especialmente da Revolução Russa de 1917 quando o ateísmo Marxista-leninista desencadeou a perseguição aos Cristãos na União Soviética e a posterior perseguição aos Cristãos no Bloco do Leste sob o ateísmo de Estado. Especialmente premente na Europa foi a formação dos Estados-nação após a era napoleônica. Em todos os países europeus, diferentes denominações cristãs encontraram-se em competição, em maior ou menor grau, umas com as outras e com o Estado. Variáveis são os tamanhos relativos das denominações e da orientação religiosa, política e ideológica do Estado. Urs Altermatt da Universidade de Friburgo, olhando especificamente para o catolicismo na Europa, identifica quatro modelos para as nações europeias. Em países tradicionalmente católicos, como Bélgica, Espanha, e até certo ponto a Áustria, comunidades religiosas e nacionais são mais ou menos idênticas. A simbiose cultural e a separação são encontradas na Polônia, Irlanda e Suíça, todos os países com denominações concorrentes. A competição é encontrada na Alemanha, nos Países Baixos e novamente na Suíça, todos os países com populações minoritárias católicas que, em maior ou menor grau, se identificam com a nação. Finalmente, a separação entre a religião (mais uma vez, especificamente o catolicismo) e do Estado é encontrada em grande parte na França e Itália, países onde o Estado se opôs-se à autoridade da Igreja Católica. Os fatores combinados da formação dos Estados-nação e do ultramontanismo, especialmente na Alemanha e nos Países Baixos, mas também na Inglaterra em um grau muito menor, muitas vezes forçaram as igrejas, organizações e crentes católicos a escolher entre as demandas nacionais do estado e a autoridade da Igreja, especificamente do papado. Este conflito atingiu o ápice no Concílio Vaticano I, e na Alemanha levaria diretamente ao "Kulturkampf". O compromisso cristão na Europa caiu à medida que a modernidade e o secularismo se firmaram, particularmente na República Tcheca e na Estônia, enquanto os compromissos religiosos na América têm sido geralmente altos em comparação com a Europa. As mudanças no cristianismo mundial no último século foram significativas, desde 1900, o Cristianismo se espalhou rapidamente nos países do Sul Global e do Terceiro Mundo. O final do século XX mostrou a mudança da adesão cristã ao Terceiro Mundo e ao Hemisfério Sul em geral, com o Ocidente não mais sendo o principal polo do cristianismo. Aproximadamente 7 a 10% dos árabes são cristãos, mais prevalentes no Egito, Síria e Líbano. Demografia. Com cerca de 2,3 bilhões de adeptos, dividida em três ramos principais de católicos, protestantes e ortodoxos, o cristianismo é a maior religião do mundo. A parte cristã da população mundial representa cerca de 33% da humanidade nos últimos cem anos, o que significa que uma em cada três pessoas no mundo são cristãs. Isso mascara uma grande mudança na demografia do cristianismo; grandes aumentos no mundo em desenvolvimento (cerca de 23 000/dia) têm sido acompanhados por reduções substanciais no mundo desenvolvido, principalmente na Europa e América do Norte (cerca de /dia). O cristianismo ainda é a religião predominante na Europa, América e África Austral. Na Ásia, é a religião dominante na Geórgia, Armênia, Timor-Leste e Filipinas. No entanto, o cristianismo está em declínio em muitas áreas, incluindo o norte e o oeste dos Estados Unidos, Oceania (Austrália e Nova Zelândia), no norte da Europa (incluindo o Reino Unido, Escandinávia e outros lugares), França, Alemanha, as províncias canadenses de Ontário, Colúmbia Britânica e Quebec, e partes da Ásia (especialmente no Oriente Médio, Coreia do Sul, Taiwan, e Macau). A população cristã não está diminuindo no Brasil, no sul dos Estados Unidos e na província de Alberta, no Canadá, mas o percentual está diminuindo. Em países como a Austrália e a Nova Zelândia, a população cristã está em declínio tanto em números quanto em percentual. Na maioria dos países desenvolvidos a frequência à igreja do mundo entre as pessoas que continuam a identificar-se como cristãs vem caindo ao longo das últimas décadas. Algumas fontes visualizam isto simplesmente como parte de um distanciamento dos membros das instituições tradicionais, enquanto outros apontam para sinais de um declínio na crença e na importância da religião em geral. Há muitos movimentos carismáticos que se tornaram bem estabelecidos em grandes partes do mundo, especialmente na África, América Latina e Ásia. O líder muçulmano da Arábia Saudita, Sheikh Ahmad al Qatanni, informou para a Aljazeera que todos os dias 16 mil muçulmanos africanos se convertem ao cristianismo. Ele alegou que o islã estava perdendo 6 milhões de muçulmanos africanos que tornam-se cristãos por ano, incluindo os muçulmanos na Argélia, França, Índia, Marrocos, Rússia e na Turquia. Também é relatado que o cristianismo é popular entre pessoas de diferentes origens na Índia (hindus principalmente), Malásia, Mongólia, Nigéria, Coreia do Norte e Vietnã. O cristianismo, de uma forma ou de outra, é a única religião estatal das nações seguintes: Costa Rica (católica romana), Dinamarca (Igreja Luterana), El Salvador (Católica Romana), Inglaterra (Igreja Anglicana), Finlândia (Igreja Luterana e Ortodoxa), Geórgia (Igreja Ortodoxa da Geórgia), Grécia (Igreja Ortodoxa Grega), Islândia (Igreja Luterana), Liechtenstein (Católica Romana), Malta (Católica Romana), Mônaco (Católica Romana), Noruega (Igreja Luterana), e Vaticano (católica romana). Existem inúmeros outros países, como o Chipre, que apesar de não terem uma igreja estabelecida, continuam a dar reconhecimento oficial a uma denominação cristã específica. Denominações. As três divisões principais do cristianismo são o catolicismo, a ortodoxia e o protestantismo: Existem outros grupos cristãos que não se encaixam perfeitamente em uma destas categorias primárias. O Credo Niceno é "aceito como autorizado pela Igreja Católica Romana, Ortodoxa, Anglicana e as principais igrejas protestantes". Há uma diversidade de doutrinas e práticas entre os grupos que se autodenominam cristãos. Estes grupos são por vezes classificados sob denominações, embora por razões teológicas muitos grupos rejeitam este sistema de classificação. Outra distinção que às vezes é traçada é entre o cristianismo oriental e o cristianismo ocidental. Catolicismo. A Igreja Católica compreende as igrejas particulares, liderada por bispos, em comunhão com o Papa, o Bispo de Roma, como sua mais alta autoridade em matéria de moral, fé e governança da Igreja. Como a Igreja Ortodoxa, o Igreja Católica Romana, através da sucessão apostólica, traça suas origens à comunidade cristã fundada por Jesus Cristo. Os católicos defendem que o "una, santa, católica e apostólica" fundada por Jesus subsiste plenamente na Igreja Católica Romana, mas também reconhece outras igrejas e comunidades cristãs e trabalha no sentido da reconciliação entre todos os cristãos. A fé católica é detalhada no catecismo da Igreja Católica. As sé episcopais são agrupadas em 23 ritos particulares, sendo o maior do rito latino, cada um com tradições distintas em relação à liturgia e à administração dos sacramentos. Com mais de 1,1 bilhão de membros batizados, a Igreja Católica é a maior igreja cristã, representando mais da metade de todos os cristãos e um sexto da população mundial. Igreja Ortodoxa. A Igreja Ortodoxa, ou ortodoxia bizantina, compreende as igrejas em comunhão com a Sé Patriarcal do Oriente, como o Patriarcado Ecumênico de Constantinopla. Como a Igreja Católica Romana, a Igreja Ortodoxa também tem sua herança à fundação do cristianismo através da sucessão apostólica e tem uma estrutura episcopal, embora a autonomia do indivíduo, principalmente nas igrejas nacionais, seja enfatizada. Uma série de conflitos com o cristianismo ocidental sobre questões de doutrina e autoridade culminou com o Grande Cisma. A orotodoxia bizantina é a segunda maior denominação única no Cristianismo, com mais de 200 milhões de adeptos, embora os protestantes, coletivamente, os superem substancialmente. Como uma das instituições religiosas mais antigas do mundo, a Igreja Ortodoxa desempenhou um papel proeminente na história e na cultura da Europa Oriental e do Sudeste europeu, do Cáucaso e do Oriente Próximo. Ortodoxia oriental. As Igrejas Ortodoxas Orientais (também chamadas de igrejas "Antigas Orientais") são aquelas igrejas orientais que reconhecem os três primeiros concílios ecumênicos — Niceia, Constantinopla e Éfeso — mas rejeitam as definições dogmáticas do Concílio de Calcedônia e, em vez disso, defendem uma cristologia miafisisma. A comunhão Ortodoxa Oriental consiste em seis grupos: Igreja Ortodoxa Síria, Igreja Ortodoxa Copta, Igreja Ortodoxa Etíope, Igreja Ortodoxa Eritreia, Igreja Ortodoxa Siríaca Malankara (Índia) e Igreja Apostólica Armênia. Estas seis igrejas, embora estejam em comunhão umas com as outras, são completamente independentes hierarquicamente. Essas igrejas geralmente não estão em comunhão com a Igreja Ortodoxa Oriental, com a qual estão em diálogo para erigir uma comunhão. E, juntas, têm cerca de 62 milhões de membros em todo o mundo. Como algumas das instituições religiosas mais antigas do mundo, as Igrejas Ortodoxas Orientais têm desempenhado um papel proeminente na história e cultura da Armênia, Egito, Turquia, Eritreia, Etiópia, Sudão e partes do Oriente Médio e da Índia. Como a parte cristã oriental das denominações cristãs, seus bispos são iguais em virtude da ordenação episcopal e suas doutrinas podem ser resumidas no fato de que as igrejas reconhecem a validade de apenas os três primeiros concílios ecumênicos. Igreja Assíria do Oriente. A Igreja Assíria do Oriente, com um patriarcado ininterrupto estabelecido no século XVII, é uma denominação cristã oriental independente que reivindica a continuidade da Igreja do Oriente — em paralelo ao patriarcado católico estabelecido no século XVI que evoluiu para a Igreja Católica Caldeia, uma igreja católica oriental em comunhão plena com o Papa. É uma igreja cristã oriental que segue a tradicional cristologia e eclesiologia da Igreja histórica do Oriente. Em grande parte anicônica e não em comunhão com qualquer outra igreja, pertence ao ramo oriental do cristianismo siríaco e usa o rito siríaco oriental em sua liturgia. Sua principal língua falada é o siríaco, um dialeto do aramaico oriental, e a maioria de seus adeptos são assírios étnicos. Está oficialmente sediada na cidade de Erbil, no norte do Curdistão iraquiano, e sua área original também se espalha pelo sudeste da Turquia e noroeste do Irã, correspondendo à antiga Assíria. Sua hierarquia é composta por bispos metropolitanos e bispos diocesanos, enquanto o baixo clero consiste em padres e diáconos, que servem em dioceses (eparquias) e paróquias em todo o Oriente Médio, Índia, América do Norte, Oceania e Europa (incluindo o Cáucaso e a Rússia). Protestantismo. No , Martinho Lutero, Ulrico Zuínglio e João Calvino inauguraram o que veio a ser chamado de protestantismo. Os herdeiros teológicos primários de Lutero são conhecidos como luteranos. Os herdeiros de Zwingli e Calvino são muito mais amplas denominalmente e são amplamente referidos como a Tradição Reformada. A maioria das tradições protestantes se ramificam a partir da Tradição Reformada, de alguma forma. Além dos ramos luteranos e reformados da Reforma, há o anglicanismo após a Reforma Inglesa. A tradição anabatista foi amplamente condenada ao ostracismo por parte dos outros protestantes na época, mas conseguiu uma medida de afirmação na história mais recente. Alguns (mas não a maioria) dos batistas preferem não ser chamados de protestantes, alegando uma linha direta ancestral que remonta aos apóstolos, no . Os mais antigos grupos protestantes se separaram da Igreja Católica no durante a Reforma Protestante, seguido em muitos casos, por novas divisões. Por exemplo, a Igreja Metodista surgiu do ministro anglicano John Wesley e do movimento evangélico de renovação na Igreja Anglicana. Várias igrejas pentecostais e não denominacionais, que enfatizam o poder purificador do Espírito Santo, por sua vez, cresceram a partir da Igreja Metodista. Devido ao fato de que metodistas, pentecostais, evangélicos e outros enfatizarem que "aceitam Jesus como seu Senhor e Salvador pessoal", o que vem da ênfase dos Irmãos Morávios e de John Wesley no Novo Nascimento, muitas vezes eles se referem a si mesmos como pessoas nascidas de novo, constituindo o movimento do evangelicalismo. As estimativas do número total de protestantes são muito incertas, em parte devido à dificuldade em determinar quais as denominações devem ser colocadas nesta categoria, mas parece claro que o protestantismo seja o segundo maior grande grupo de cristãos após o catolicismo em número de seguidores. Todavia, a Igreja Ortodoxa é maior do que qualquer denominação protestante única. Um grupo especial são as igrejas anglicanas descendentes da Igreja da Inglaterra e que organizaram na Comunhão Anglicana. Algumas igrejas anglicanas se consideram tanto protestantes quanto católicas. Alguns anglicanos consideram sua igreja um ramo da "Santa Igreja Católica" ao lado da Igreja Católica Romana e das Igrejas Ortodoxas Orientais, um conceito rejeitado pela Igreja Católica Romana e algumas Ortodoxas Orientais. Alguns grupos de indivíduos que possuem princípios básicos protestantes se identificam simplesmente como "cristãos" ou "cristãos renascidos". Eles normalmente se distanciam da confessionalismo de outras comunidades cristãs, chamando a si mesmos de "não confessionais". Muitas vezes fundada por pastores individuais, eles têm pouca afiliação com denominações históricas.<ref name="Pew Forum on Religion & Public Life / U.S. Religious Landscape Survey"></ref> Restauracionismo. O Segundo Grande Despertar, um período de renascimento religioso que ocorreu nos Estados Unidos durante o início dos anos 1800, viu o desenvolvimento de um número de igrejas independentes. Elas geralmente se viam como a restauração da igreja original de Jesus Cristo, em vez de reformar uma das igrejas existentes. A crença ordinária detida pelos restauradores era que as outras divisões do cristianismo tinha introduzido defeitos doutrinários no cristianismo, que era conhecido como a Grande Apostasia ("ver: Constantinismo e Reviravolta de Constantino") Algumas das igrejas que tiveram origem durante este período são historicamente ligadas à reuniões em acampamento no centro-oeste e norte de Nova York no início de . O milenarismo e o adventismo estadunidenses, que surgiu do protestantismo evangélico, influenciou o movimento das Testemunhas de Jeová (com 7 milhões de membros), e, como uma reação especificamente para William Miller, os Adventistas do Sétimo Dia. Outros, incluindo os Discípulos de Cristo e as Igrejas de Cristo, têm suas raízes no Movimento da Restauração contemporânea de Stone-Campbell, que foi centrada em Kentucky e no Tennessee. Outros grupos originários deste período incluem o cristadelfianos e A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, a maior denominação do movimento Santo dos Últimos Dias, com mais de 15 milhões de membros. Enquanto as igrejas originários do Segunda Grande Despertar têm algumas semelhanças superficiais, sua doutrina e as práticas variam significativamente. Outros. O antitrinitarismo inclui todos os sistemas de crença cristã de que rejeitam, total ou parcialmente, a doutrina da Trindade, isto é, o ensinamento de que Deus é três hipóstases distintas e ainda coeternamente iguais e que estão indissoluvelmente unidas em uma essência. Na antiguidade, esporadicamente, na Idade Média, e novamente após a Reforma e até hoje, existiram pontos de vista diferentes sobre a divindade dos da Trindade e da cristologia tradicionais. Embora diversas, essas visões podem ser geralmente classificadas nos que mantêm Cristo apenas divino e não diferindo-o do Pai, aqueles que detêm Cristo como um Deus menor do que o Pai; em outras formas de ser completamente humano e um mensageiro como o humano criado perfeito. Na Itália, Polônia, Lituânia, Transilvânia, Hungria, Romênia e Reino Unido, as Igrejas Unitárias surgiram da tradição da Reforma Protestante no século XVI; a Igreja Unitária da Transilvânia é um exemplo de denominação que surgiu nesta era. Eles adotaram a doutrina anabatista de credobatismo. Várias comunidades menores, como o Velha Igreja Católica e as Igrejas Católicas Independentes, incluem a palavra católica em seu título e têm muito em comum com o catolicismo romano, mas já não estão em comunhão com a Sé de Roma. A Igreja Católica Velha está em comunhão com a Comunhão Anglicana. Cristãos espirituais, como os doukhobors e os molokans, romperam com a Igreja Ortodoxa Russa e mantêm estreita associação com menonitas e quakers devido a práticas religiosas semelhantes; todos esses grupos são, além disso, considerados coletivamente como igrejas da paz devido à sua crença no pacifismo. O judaísmo messiânico (ou movimento messiânico) é o nome de um movimento cristão composto por várias correntes, cujos membros podem se considerar judeus. O movimento se originou nas décadas de 1960 e 1970 e combina elementos da prática religiosa judaica com o cristianismo evangélico. O judaísmo messiânico afirma os credos cristãos, como o messianismo e a divindade de "Yeshua" (o nome hebraico de Jesus) e a natureza trina de Deus, ao mesmo tempo que adere a algumas leis e costumes dietéticos judaicos. Os cristãos esotéricos consideram o cristianismo uma religião de mistério e professam a existência e a posse de certas doutrinas ou práticas esotéricas, escondidas do público, mas acessíveis apenas a um estreito círculo de "iluminados", pessoas "iniciadas" ou altamente educadas. Algumas das instituições cristãs esotéricas incluem a Fraternidade Rosacruz, a Sociedade Antroposófica e o Martinismo. O cristianismo não denominacional consiste em igrejas que tipicamente se distanciam do confessionalismo ou credo de outras comunidades cristãs por não se alinharem formalmente com uma denominação cristã específica. O cristianismo não denominacional surgiu no século XVIII através do Movimento de Restauração, com seguidores se organizando simplesmente como "cristãos" e "discípulos de Cristo", mas muitos tipicamente aderem ao cristianismo evangélico. Legado. Influência na cultura ocidental. A cultura ocidental, ao longo da maior parte de sua história, foi quase equivalente à cultura cristã, e uma grande parte da população do hemisfério ocidental pode ser descrita como praticante ou cristão nominal. A noção de "Europa" e de "Mundo Ocidental" está intimamente ligada ao conceito de "Cristianismo e Cristandade". Muitos até atribuem o cristianismo por ser o elo que criou uma identidade europeia unificada. Embora a cultura ocidental contivesse várias religiões politeístas durante seus primeiros anos sob a civilização greco-romana, à medida que o poder romano centralizado diminuía, o domínio da Igreja Católica era a única força consistente na Europa Ocidental. Até o Iluminismo, a cultura cristã guiou o curso da filosofia, literatura, arte, música e ciência ocidentais. O cristianismo teve um impacto significativo na educação, pois a igreja criou as bases do sistema ocidental de educação e foi o patrocinador da fundação de universidades no mundo ocidental, visto que a universidade é geralmente considerada como uma instituição que tem sua origem no cenário cristão medieval. Historicamente, o cristianismo sempre foi um patrono da ciência e da medicina; muitos clérigos católicos, jesuítas em particular, foram ativos nas ciências ao longo da história e deram contribuições significativas para o desenvolvimento da ciência. O protestantismo também teve uma influência importante na ciência. De acordo com a Tese de Merton, houve uma correlação positiva entre o surgimento do puritanismo inglês e do pietismo alemão, por um lado, e as primeiras ciências experimentais, por outro. A influência civilizadora do cristianismo inclui bem-estar social, fundação de hospitais, economia (como a ética protestante do trabalho), arquitetura, política, literatura, higiene pessoal (ablução), e vida familiar. Cristãos orientais (particularmente cristãos nestorianos) contribuíram para a civilização islâmica árabe durante o reinado Omíada e do Abássida, traduzindo obras de filósofos gregos para o siríaco e, posteriormente, para o árabe. Eles também se destacaram em filosofia, ciência, teologia e medicina. Os cristãos têm feito uma miríade de contribuições para o progresso humano em uma ampla e diversa gama de campos, incluindo filosofia ciência e tecnologia, belas artes e arquitetura, política, literatura, música e negócios. Em 100 anos de prêmios Nobel, entre 1901 e 2000, 65,4% dos ganhadores identificaram o cristianismo, em suas várias formas, como sua preferência religiosa. Pós-cristianismo é o termo para o declínio do cristianismo, particularmente na Europa, Canadá, Austrália e, em menor grau, no Cone Sul, nos séculos XX e XXI, considerado em termos de pós-modernismo. Refere-se à perda do monopólio do cristianismo sobre os valores e a visão de mundo nas sociedades historicamente cristãs. Os cristãos culturais são pessoas seculares com uma herança cristã que podem não acreditar nas reivindicações religiosas do cristianismo, mas que mantêm uma afinidade pela cultura popular, arte, música e assim por diante relacionadas à religião. Ecumenismo. Grupos e denominações cristãs há muito expressam ideais de reconciliação e, no século XX, o ecumenismo cristão avançou de duas maneiras. Uma maneira era uma maior cooperação entre grupos, como a Aliança Evangélica Mundial fundada em 1846 em Londres ou a Conferência Missionária de Protestantes de Edimburgo em 1910, a Comissão de Justiça, Paz e Criação do Conselho Mundial de Igrejas fundada em 1948 por igrejas protestantes e ortodoxas, e conselhos nacionais semelhantes, como o Conselho Nacional de Igrejas da Austrália, que inclui os católicos. A outra forma era uma união institucional com igrejas unidas, uma prática que pode ser rastreada até as uniões entre luteranos e calvinistas no início do século XIX na Alemanha. Igrejas congregacionalistas, metodistas e presbiterianas uniram-se em 1925 para formar a Igreja Unida do Canadá, e em 1977 para formar a Igreja Unida na Austrália. A Igreja do Sul da Índia foi formada em 1947 pela união de igrejas anglicanas, batistas, metodistas, congregacionalistas e presbiterianas. A Bandeira Cristã é uma bandeira ecumênica projetada no início do século XX para representar todo o cristianismo e a cristandade. A Comunidade de Taizé destaca-se por ser composta por mais de cem irmãos de tradição protestante e católica. A comunidade destaca a reconciliação de todas as denominações e a sua igreja matriz, situada em Taizé, Saône-et-Loire, França, é denominada "Igreja da Reconciliação". A comunidade é conhecida internacionalmente, atraindo mais de 100 mil jovens peregrinos anualmente. Passos para a reconciliação em nível global foram dados em 1965 pelas igrejas católica e ortodoxa, revogando mutuamente as excomunhões que marcaram seu Grande Cisma em 1054; a Comissão Católica Anglicana Internacional (ARCIC) trabalhando pela plena comunhão entre essas igrejas desde 1970; e algumas igrejas luteranas e católica que assinaram a Declaração Conjunta sobre a Doutrina da Justificação em 1999 para lidar com os conflitos que estão na origem da Reforma Protestante. Em 2006, o Concílio Metodista Mundial, representando todas as denominações metodistas, adotou a declaração. Críticas, perseguição e apologética. Críticas. As críticas ao cristianismo e aos cristãos remontam à Era Apostólica, com o Novo Testamento registrando atritos entre os seguidores de Jesus e os fariseus e escribas (por exemplo, Mateus 15: 1–20 e Marcos 7: 1–23). No século II, o cristianismo foi criticado pelos judeus por vários motivos, por ex. que as profecias da Bíblia Hebraica não poderiam ter sido cumpridas por Jesus, visto que ele não teve uma vida de sucesso. Além disso, um sacrifício para remover pecados antecipadamente, para todos ou como um ser humano, não se encaixava no ritual de sacrifício judaico; além disso, diz-se que Deus julga as pessoas por seus atos e não por suas crenças. Um dos primeiros ataques abrangentes ao cristianismo veio do filósofo grego Celso, que escreveu "A Verdadeira Palavra", uma polêmica criticando os cristãos como membros não lucrativos da sociedade. Em resposta, o padre gegro Orígenes publicou seu tratado "Contra Celsum", uma obra seminal da apologética cristã, que sistematicamente abordou as críticas de Celso e ajudou a trazer ao cristianismo um nível de respeitabilidade acadêmica. No século III, as críticas ao cristianismo aumentaram. Rumores selvagens sobre os cristãos foram amplamente divulgados, alegando que eles eram ateus e que, como parte de seus rituais, devoravam crianças e se engajavam em orgias incestuosas. O filósofo neoplatonista Porfírio escreveu o "Adversus Christianos", de quinze volumes, como um ataque abrangente ao cristianismo, em parte com base nos ensinamentos de Plotino. Por volta do século XII, a Mishné Torá (por Maimônides) estava criticando o cristianismo com base na adoração de ídolos, em que os cristãos atribuíam divindade a Jesus, que tinha um corpo físico. No século XIX, Nietzsche começou a escrever uma série de polêmicas sobre os ensinamentos "não naturais" do cristianismo (por exemplo, abstinência sexual), e continuou sua crítica ao cristianismo até o fim de sua vida. No século XX, o filósofo Bertrand Russell expressou sua crítica ao cristianismo em "Why I Am Not a Christian", formulando sua rejeição do cristianismo no cenário de argumentos lógicos. A crítica ao cristianismo continua até hoje, por exemplo, teólogos judeus e muçulmanos criticam a doutrina da Trindade sustentada pela maioria dos cristãos, afirmando que esta doutrina em vigor assume que existem três deuses, indo contra o princípio básico do monoteísmo. O erudito do Novo Testamento, Robert M. Price, esboçou a possibilidade de que algumas histórias da Bíblia sejam baseadas parcialmente em mitos. Perseguição. Os cristãos são um dos grupos religiosos mais perseguidos do mundo, especialmente no Oriente Médio, Norte da África e Sul e Leste da Ásia. Em 2017, o Portas Abertas estimou que aproximadamente 260 milhões de cristãos são submetidos anualmente a "perseguição alta, muito alta ou extrema", sendo que a Coreia do Norte é considerada a nação mais perigosa para os cristãos. Em 2019, um relatório encomendado pelo governo britânico para investigar a perseguição global de cristãos descobriu que a perseguição aumentou e é maior no Oriente Médio, Norte da África, Índia, China, Coreia do Norte e América Latina, entre outros, e que é global e não se limita aos Estados islâmicos. Esta investigação descobriu que aproximadamente 80% dos crentes perseguidos em todo o mundo são cristãos. Apologética. A apologética cristã visa apresentar uma base racional para o cristianismo. A palavra "apologética" (grego: ἀπολογητικός apologētikos) vem do verbo grego ἀπολογέομαι, "apologeomai", que significa "(eu) falo em defesa de". A apologética cristã assumiu muitas formas ao longo dos séculos, começando com o apóstolo Paulo. O filósofo Tomás de Aquino apresentou cinco argumentos para a existência de Deus na "Summa Theologica", enquanto sua "Summa contra Gentiles" foi uma importante obra apologética. Outro famoso apologista, G. K. Chesterton, escreveu no início do século XX sobre os benefícios da religião e, especificamente, do cristianismo. Famoso por usar o paradoxo, Chesterton explicou que, embora o cristianismo tivesse mais mistérios, era a religião mais prática. Ele apontou o avanço das civilizações cristãs como prova de sua praticidade. O físico e sacerdote John Polkinghorne, em sua obra "Questions of Truth", discute o assunto religião e ciência, um tema que outros apologistas cristãos, como Ravi Zacharias, John Lennox e William Lane Craig se envolveram, com os dois últimos homens opinando que o modelo do Big Bang é uma evidência da existência de Deus.