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Gabriel de Tarde
Gabriel de Tarde Jean-Gabriel de Tarde (Sarlat, 12 de março de 1843 — Paris, 12 de maio de 1904) foi um filósofo, sociólogo, psicólogo e criminologista francês. Vida. A família de Tarde era de origem nobre e vivia na região de Sarlat, desde a Idade Média. Entre os seus antepassados conta-se Jean Tarde (1561-1636), capelão particular do rei de França Henrique IV, astrónomo e amigo de Galileu. Gabriel Tarde tinha apenas sete anos quando o seu pai morreu. A sua mãe confia a educação de Tarde aos jesuítas de Sarlat, onde faz os estudos secundários. Porém, Tarde revolta-se diversas vezes contra o rigor excessivo dos jesuítas tentando a fuga. Em 1860, obtém o bacharelato em Letras com a classificação de Muito Bom, seguido do bacharelato em Ciências. Após os estudos secundários, começa a sofrer crises oftalmológicas, que o obrigam a viver longos meses em locais escuros. Entretanto, inscreve-se na Faculdade de Direito de Toulouse, mas depois transfere-se para Paris. Numa tentativa de superar a sua doença, inicia uma devoção mística a Santa Teresa de Ávila, mas o rigor da meditação fá-lo regressar à vida laical. Nesses momentos, escreve poemas, faz longos percursos pedestres e tem as primeiras intuições filosóficas ao ler os filósofos alemães: Hegel, Leibniz e Cournot. Em finais de 1866, termina o curso de Direito. Em 1867, inicia a sua carreira na magistratura: secretário do juiz de Sarlat, juiz suplente e finalmente juiz de instrução. Nessa época, os problemas oftalmológicos tinham desaparecido quase totalmente. Tarde começa a sua carreira de investigação primeiro na Criminologia publicando vários artigos, nos quais entra em polémica com o criminologista italiano César Lombroso. Para além da Criminologia, publica também artigos nas áreas da Sociologia, Filosofia, Psicologia Social e Economia. Em 1894, é nomeado director da secção de estatística criminal do Ministério da Justiça em Paris, cargo que conserva até à morte. Nesta cidade, continua uma vida intensa ligada à investigação nas Ciências Sociais e Humanas: colóquios, congressos, artigos e polémicas (desta vez com Émile Durkheim, ao qual se opõe na definição e metodologia da Sociologia). A partir de 1896, foi regente de disciplinas na École Libre de Sciences Politiques e deu lições no "Collège Libre des Sciences Sociales". Em 1900, aceita a regência da cátedra de Filosofia Moderna no Collège de France. A vida intensa de Gabriel Tarde chega ao fim na noite de 12 de Maio de 1904. Momentos antes de morrer, reordena as suas notas para o seu próximo trabalho - "La conversation et son rôle social" - e lê-as a um dos seus filhos. Depois, parte para o reino da morte com a idade de 61 anos.
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Jaguatirica
Jaguatirica A jaguatirica (nome científico: "Leopardus pardalis"), também conhecida como ocelote, é uma espécie de mamífero carnívoro pertencente à família dos felídeos, sendo um dos dez representantes do gênero "Leopardus". São reconhecidas dez subespécies, com o gato-maracajá ("L. wiedii") sendo a espécie mais próxima da jaguatirica. Ocorre desde o sul dos Estados Unidos até o norte da Argentina, mas já foi extinta em algumas regiões de sua distribuição geográfica. Habita todos os tipos de ambiente ao longo de sua distribuição geográfica, até cerca de 1200 m de altitude. É um felídeo de porte médio, com 72,6 a 100 centímetros de comprimento e peso entre 7 e 15,5 quilos. O padrão de coloração da pelagem é muito semelhante ao do gato-maracajá ("L. wiedii"), mas a jaguatirica é maior e possui a cauda mais curta. É um animal solitário, noturno, territorial e os machos possuem territórios que se sobrepõem sobre os de várias fêmeas. Alimenta-se principalmente de roedores, mas também de animais de porte maior como ungulados, répteis, aves e peixes. Caça à noite, formando emboscadas. Alcança a maturidade sexual entre 26 e 28 meses de idade, e as fêmeas dão à luz geralmente um filhote por vez, com cerca de 250 gramas. Geralmente, filhotes nascem a cada 2 anos. Em cativeiro, a jaguatirica pode viver até 20 anos, o dobro da sua longevidade no estado selvagem. A União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais lista a jaguatirica como estado de conservação "pouco preocupante" e ela está incluída no "apêndice 1" da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção. É o mais abundante dentre os felídeos sul-americanos, apesar de as populações estarem decaindo. A situação de conservação varia, e é listada como "vulnerável" na Colômbia e Argentina. No Brasil, apenas a subespécie "L. p. mitis" foi considerada em alguma categoria de ameaça, mas atualmente ela não figura na lista nacional. Já foi muito caçada por conta do comércio ilegal de peles e vendida como animal de estimação, mas a maior ameaça é a destruição e degradação do habitat. A sua beleza e relativa docilidade já fizeram com que a jaguatirica fosse desejada como um animal de estimação exótico. Por ser de porte relativamente menor, a espécie não traz problemas com ataques a seres humanos, mas pode causar problemas com ataques a galinheiros. Nomes populares e etimologia. Este animal também é conhecido como jacatirica, maracajá e maracajá-açu, ocelote ou simplesmente gato-do-mato. Em espanhol ela pode ser chamada por "ocelote", "manigordo", "gato onza", "gato tigre", "tigrillo" e "tigre chico". "Ocelot" é o termo em inglês para a jaguatirica. Conforme explica Eduardo Navarro em seu "Dicionário de Tupi Antigo" (2013), o termo "jaguatirica" tem origem na língua tupi-guarani, através da junção dos termos "îagûara" ("onça") e "tyryka" ("recuo, afastamento, fuga"), significando, portanto, "onça que se afasta". Já o termo "ocelote" provém do náuatle "ocelotl", que significa "onça". "Macarajá-açu", que foi historicamente registrado (1555) como "maracajaguaçu", advém do tupi-guarani "Marakaîagûasu". O nome científico, "Leopardus pardalis", é uma combinação das palavras de origem grega (mas latinizadas) "leopardus" e "pardus". "Leopardus" pode ser traduzido como "leopardo", que, literalmente, é uma composição das palavras "leão" e "pantera". Já "pardus" significa "pantera", descrita como um felino de grande porte e malhado. O sufixo "-alis" significa "relacionado a": logo, "pardalis" significa "relacionado a pantera". Taxonomia e evolução. A jaguatirica foi inicialmente colocada dentro do gênero "Felis", que compreende o gato-doméstico, e foi descrita por Carlos Lineu, em 1758, como "Felis pardalis". Atualmente está incluída no gênero "Leopardus", grupo monofilético da família dos felídeos ("Felidae") e subfamília dos felíneos ("Felinae"). Várias revisões sistemáticas justificaram uma classificação separada dos felídeos sul-americanos daquelas espécies do gênero "Felis" "stricto sensu" e desde então ela vem sendo corroborada por diversos estudos de filogenia. Estudos genéticos demonstraram que os felídeos do Novo Mundo divergiram há mais de 5 milhões de anos dos felídeos do Velho Mundo em duas linhagens separadas: uma compreendendo os felídeos do gênero "Leopardus" (felídeos de porte pequeno a médio, com manchas), que inclui a jaguatirica ("L. pardalis"), o gato-maracajá ("L. wiedii") e o gato-palheiro ("L. colocolo"); e outra compreendendo as duas espécies do gênero "Puma" (felídeos de porte médio a grande, sem manchas), que são o gato-mourisco ou jaguarundi ("P. yagouaroundi") e a onça-parda ou suçuarana ("P. concolor"). Dentro do gênero "Leopardus", o gato-maracajá ("L. wiedii") é a espécie mais próxima da jaguatirica, e as duas divergiram há cerca de 1,58 milhão de anos. A linhagem da jaguatirica e do maracajá divergiu da dos outros felídeos do gênero "Leopardus" há cerca de 2,91 milhões de anos. Variação geográfica e subespécies. Estudos com DNA mitocondrial mostraram que as populações da América Central e do sul da América do Sul formam dois grupos monofiléticos separados, mas as populações do norte da América do Sul estão separadas em dois grupos: populações que ocorrem na Guiana Francesa e norte do Brasil e as populações que ocorrem no Panamá, Venezuela, Trindade e norte do Brasil. Nascimento (2010), baseando-se em medidas morfométricas de crânio e padrão de coloração na pelagem, sugeriu que se classifiquem as populações ao norte da Nicarágua como "L. pardalis", e as que estão ao sul como "L. mitis". Wozencraft (2005) reconhece cerca de 10 subespécies: Distribuição geográfica e habitat. A jaguatirica possui uma distribuição geográfica histórica ampla, ocorrendo desde Louisiana e Texas, nos Estados Unidos, até o Peru e norte da Argentina. Atualmente, ainda ocorre no Texas, desde o México e América Central até ao norte da Argentina, apesar de não mais ocorrer na província de Entre Ríos. A espécie pode também ser encontrada na ilha de Trindade e na Ilha de Margarita, na Venezuela. Entretanto, não habita as terras altas do Peru e no Chile. Fósseis de jaguatirica encontrados nos Estados Unidos demonstram que ocorria em latitudes mais ao norte das atuais, estendendo-se ao estado de Ohio e na Flórida. A confirmação de sua existência no Uruguai estendeu para cerca de 350 quilômetros sua ocorrência para latitudes ao sul. Está praticamente extinta ao norte do rio Grande, com apenas uma pequena população relictual no Texas e desapareceu em grande parte da costa oeste do México. Ocorre em ampla variedade de habitats ao longo de sua distribuição geográfica, desde florestas tropicais e subtropicais do Peru e Brasil até ao chaparral semi-árido do sul do Texas e áreas periodicamente alagadas do Pantanal. Também ocorre em áreas de mangues no litoral. Apesar de aparentar ser um animal generalista, a jaguatirica ocupa um pequena porção destes habitats, sendo muito dependente da existência de vegetação densa ou cobertura florestal e sua ocorrência é muito mais descontínua e restrita do que sugere sua ampla distribuição geográfica. Apesar disso, é tolerante a perturbações no ambiente geradas pelo homem e pode sobreviver em fragmentos de floresta próximos a habitações humanas. É possível encontrá-la em cultivos agrícolas, como plantações de cana-de-açúcar e "Eucalyptus". Há registros da espécie desde o nível do mar até 1 200 m de altitude. Descrição. A jaguatirica é um felídeo de porte médio, tendo entre 72,6 e 100 centímetros de comprimento, com a cauda tendo cerca de 25,5 a 41 centímetros de comprimento (trata-se de uma cauda relativamente curta). Os machos pesam entre 7 e 15,5 quilos, sendo pouco maiores que as fêmeas, que pesam entre 6,6 e 11,3 quilos. É o terceiro maior felídeo neotropical, sendo menor apenas que a onça-pintada ("Panthera onca") e a onça-parda ou suçuarana ("Puma concolor"). Ao contrário do que é observado com a onça-pintada, as jaguatiricas que habitam ambientes florestais tendem a ter maior massa corporal do que as que vivem em ambiente savânicos: possuem, em média, 11,1 quilos na floresta tropical, enquanto que, em ambientes semiáridos, possuem em média 8,7 quilos. A pelagem é curta e brilhante, com o fundo variando do amarelo claro ao avermelhado e cinza, com manchas sólidas ou rosetas que podem se unir formando listras horizontais no corpo. As manchas pretas se unem para formar listras horizontais no pescoço. O ventre é mais claro, com manchas escuras, e a cauda possui barras escuras na ponta. Possui a parte posterior das orelhas de cor preta, com uma mancha branca. Esse padrão de coloração é muito semelhante ao do gato-maracajá ("Leopardus wiedii"), o que pode confundir a identificação das duas espécies: entretanto, a jaguatirica é maior e possui a cauda mais curta. Não existe registro de exemplares melânicos, mas existe com listras vermelhas. As patas anteriores são muito maiores que as posteriores, o que conferiu o nome de "manigordo" ("mãos gordas") em algumas localidades de língua espanhola. Possui cinco dedos com garras nas patas anteriores e quatro dedos com garras nas posteriores. Os músculos peitorais e dos membros anteriores são fortes e permitem que a jaguatirica seja uma excelente escaladora. O crânio é muito semelhante ao do gato-maracajá, mas indivíduos adultos de jaguatirica têm uma proeminente crista sagital. Possui entre 28 e 30 dentes, com fórmula dentária de , com caninos elongados e carniceiros bem desenvolvidos. A dentição decídua é substituída pela permanente entre 7 e 8 meses de idade. O báculo no pênis é um dos maiores e mais complexos entre os felídeos. A temperatura corporal média está entre 37,7 e 38,7 °C. A jaguatirica possui 36 cromossomos, assim como as outras espécies do gênero "Leopardus". Visto a semelhança genética, em cativeiro a jaguatirica pode produzir híbridos com o gato-maracajá ("L. wiedii"), com o gato-do-mato-pequeno ("L. tigrinus"), "L. guigna", e o gato-do-mato-grande ("L. geoffroyi"), mas isso não ocorre na natureza. Também foi reportada a hibridização com a suçuarana ("P. concolor"), que possui 38 cromossomos. Ecologia e comportamento. É um animal ativo de 12 a 14 horas do dia, e geralmente descansa durante o dia. Inicia suas atividades um pouco antes do pôr do sol, alcançando o pico durante a noite. Entretanto, não é incomum estar ativa ao longo do dia, o que acontece principalmente durante a estação chuvosa e dias nublados, fator que está relacionado à caçada de aves e pequenos primatas, que são tipicamente diurnos. O deslocamento, majoritariamente durante a noite, é lento e realiza-se por meio de caminhadas entre 0,3 a 1,4 quilômetro por hora. Os machos tendem a se deslocar mais do que as fêmeas, percorrendo cerca de 7,6 quilômetros diariamente, enquanto que as fêmeas andam 3,8 quilômetros, como demonstrou um estudo nos llanos da Venezuela. Os deslocamentos tendem a ser mais curtos durante a estação chuvosa. É uma espécie generalista, altamente adaptável, e considerada um mesopredador: quando os superpredadores são eliminados do ambiente, ocorre um aumento em suas populações. A presença da jaguatirica, dessa forma, influencia na comunidade de pequenos felídeos, diminuindo a densidade destes, provavelmente por conta da predação intraguilda - eventualmente a jaguatirica pode predar os felinos de porte menor. Apesar de compartilhar um modo de vida semelhante com os outros pequenos felinos americanos, não há competição por alimento, visto que a jaguatirica se alimenta de presas significativamente maiores. Apesar de ser de porte menor, a jaguatirica também pode competir por alimentos com a onça-parda ("Puma concolor"), em regiões em que a onça-pintada ("Panthera onca") foi extinta. Entretanto, ela não parece competir com esse felinos na maior parte das vezes e a presença destes também não influencia a densidade de jaguatiricas em um dado ecossistema. Apesar de ser incomum, a onça-pintada pode predar a espécie, como sugerido por um estudo na América Central. Território e comportamento social. Como todos os felinos americanos, a jaguatirica é um animal solitário. Os adultos tendem a evitar os coespecíficos do mesmo sexo, o que é observado em outros felídeos. Aparentemente, as fêmeas são mais tolerantes entre si, e em algumas localidades elas tendem a ser mais abundantes que os machos. O encontro entre dois machos pode resultar em agressão. Apesar da maior tolerância entre as fêmeas e de os territórios destas serem menores, eles não se cruzam. Entretanto, os territórios das fêmeas se sobrepõem com o território de um macho, que pode se estender sobre o de mais de uma fêmea. Com esse padrão de distribuição dos indivíduos, o sistema de acasalamento das jaguatiricas é poligínico, apesar de ser uma organização social solitária. A marcação de cheiro é uma importante via de comunicação e sinaliza não apenas os territórios, como a atividade reprodutiva. A área de vida das jaguatiricas varia de 0,8 a 15,6 quilômetros quadrados para as fêmeas e de 3,5 a 17,7 quilômetros quadrados para os machos, em média. No Pantanal, o tamanho da área de vida é o menor dentre os vários locais em que foram estudados. Isto acaba conferindo uma grande densidade desses animais neste bioma brasileiro. Em contrapartida, no Parque Nacional das Emas foram reportadas áreas de vida de até 90 quilômetros quadrados para um macho. Essa diferença pode estar relacionada com a disponibilidade de recursos, visto que, embora tanto o Pantanal quanto o Cerrado do Parque Nacional das Emas sejam áreas abertas, a primeira se caracterizando por ser periodicamente inundada - de fato, parece que os tamanhos de áreas de vida não têm relação com a estrutura do ecossistema em si. Ela parece relacionada à densidade de presas, e aumenta com a quantidade de chuvas na região em que habita. Observa-se, também, uma tendência de massa corporal e tamanho de área de vida serem correlacionadas positivamente. Dieta, forrageamento e caça. Em termos numéricos, a dieta da jaguatirica é majoritariamente composta por roedores com menos de 600 gramas, mas estes contribuem pouco em termos de biomassa: os itens alimentares mais importantes neste quesito são roedores maiores, como a paca ("Cuniculus paca") e a cutia ("Dasyprocta" sp). Em algumas localidades, foi observado que a jaguatirica também pode se alimentar de primatas de porte relativamente grande, como bugios e também preguiças. Ungulados, embora mais raramente, podem contribuir significativamente na dieta da jaguatirica, especialmente aqueles do gênero "Mazama". De fato, a dieta varia ao longo da área de ocorrência desse felino. O peso das presas pode variar desde 300 gramas em média nos llanos da Venezuela (alimentando-se, principalmente, de roedores, como "Zygodontomys brevicauda", "Sigmodon alstoni" e "Holochilus brasiliensis") até 3,3 quilos em média na Reserva Natural Vale, em Linhares, na Mata Atlântica brasileira, onde preda principalmente roedores de porte maior como a cutia e a paca, e até mesmo ungulados, como o caititu ("Pecari tajacu"). Essa variação na dieta contrasta com a dos outros felídeos do gênero "Leopardus", que praticamente só se alimentam de pequenos roedores. Eventualmente, também se alimenta de répteis, como "Tupinambis merianae", aves, peixes e até crustáceos. Costuma caçar à noite e, como os outros felinos, caça formando emboscadas, caminhando lentamente em meio à vegetação, sentando-se e esperando a presa. É capaz de ficar muito tempo esperando alguma presa aparecer. A presa é perseguida, provavelmente, pelo cheiro. A jaguatirica come entre 0,56 e 0,84 quilo de carne por dia, e quando a carcaça não pode ser ingerida totalmente de uma vez, ela é enterrada e ingerida no outro dia. Ciclo de vida e reprodução. A maturidade sexual é alcançada entre 16 e 18 meses de idade, e os machos podem não produzir esperma viável até os 30 meses de idade. As fêmeas têm a primeira ninhada entre 18 e 45 meses de idade. Geralmente, as fêmeas possuem vários estros por ano, mas exemplares em cativeiro em clima temperado podem ficar sem ovular cerca de 4 meses durante o inverno. O estro dura entre 7 e 10 dias, e quando há fecundação, ele é reduzido para 5 dias. Este período fértil ocorre a cada 4 ou 6 meses, entretanto, em fêmeas nulíparas, ele pode ocorrer a cada 6 semanas. A gestação é longa (entre 79 e 82 dias), e geralmente as fêmeas dão à luz um filhote por vez (raramente dois, e bem menos frequentemente, três ou quatro). Isso torna a taxa reprodutiva da jaguatirica lenta, quando comparada com outro felino americano de mesmo porte, o "Lynx rufus"; provavelmente, uma adaptação à baixa aquisição de energia pelas fêmeas. Tal taxa reprodutiva lenta caracteriza o ciclo de vida dos felídeos do gênero "Leopardus". O recém-nascido pesa cerca de 250 gramas e cresce lentamente, alcançando o tamanho de um adulto apenas com trinta meses de idade. Quando alcança essa idade, o filhote se dispersa do território natal, podendo ir até a 30 quilômetros longe de onde nasceu. Os nascimentos ocorrem a cada 2 anos em estado selvagem, apesar de terem sido registrado nascimentos todos os anos, no sul do Texas. Embora a reprodução em cativeiro seja difícil, nascimentos podem ocorrer todo ano. A lactação dura entre 3 e 9 meses. Os filhotes abrem os olhos depois de 14 dias, começam a andar depois de 3 semanas e acompanham a mãe nas caçadas entre 4 e 6 semanas de idade. Uma fêmea com oito anos de idade pode ter tido entre 4 e 6 filhotes nesse tempo. Em cativeiro, a jaguatirica pode viver até 20 anos, mas certamente, na natureza, ela vive metade disso. Conservação. A jaguatirica é listada como "pouco preocupante" pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais, apesar de, por muito tempo, ter sido considerada como "espécie vulnerável". Sua distribuição geográfica é ampla e habita inúmeras áreas inacessíveis, como na Amazônia, onde se calcula possuir a maior população da espécie, o que é usado como justificativa para o atual grau de ameaça. Estudos ecológicos de densidade de carnívoros ainda colocam a jaguatirica como o mais abundante dos felídeos em muitas regiões. Na década de 1990, estimava-se uma população total entre 800 000 e 3 milhões de indivíduos. Esta também ocorre em uma série de unidades de conservação bem consolidadas, muitas delas com área suficiente para manter populações viáveis da espécie a longo prazo. Apesar disso, as populações estão declinando, principalmente por conta da perda do habitat. A situação da jaguatirica na América do Norte é crítica, com apenas uma pequena população estimada entre 80 e 120 indivíduos no sul do Texas. É provável que tenha havido uma diminuição para menos de 50 indivíduos atualmente. Neste estado americano, são conhecidas apenas duas subpopulações isoladas entre si: uma no Condado de Cameron e outra no Condado de Willacy. As maiores ameaças às populações desses felídeos nos Estados Unidos são a perda do habitat e atropelamentos. Nesta região, é preponderante que sejam implantados corredores, restaurando o habitat de forma a manter essas duas populações conectadas. A criação de reservas particulares é a principal estratégia a ser tomada para proteção do habitat restante. Os exemplares observados no estado do Arizona provavelmente fossem indivíduos de passagem, vindos do noroeste do México. Nesta região, a jaguatirica também se encontra ameaçada, sendo encontrada apenas em terras altas e isoladas de Sonora. No Brasil, a subespécie "L. p. mitis", que ocorre fora da Amazônia, foi listada na categoria "vulnerável" na lista de 2003, principalmente pelo fato de ocorrer nas regiões mais alteradas e degradadas pelo homem. Essa mesma subespécie, em Minas Gerais, é listada como "criticamente em perigo", enquanto que em Santa Catarina consta como "em perigo", em São Paulo, Rio Grande do Sul, Espírito Santo, Paraná, Bahia e Rio de Janeiro, a espécie é listada como "vulnerável". Entretanto, a última lista, de 2014, elaborado pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), não a considera uma espécie ameaçada (na Portaria MMA N.º 444 de 17 de dezembro de 2014;). Porém, deve-se salientar que a fragmentação e degradação do habitat tem efeito significativo nas populações: na Mata Atlântica do Espírito Santo, a presença da espécie foi confirmada apenas nos dois maiores fragmentos (ambos com mais de 200 quilômetros quadrados), enquanto que em fragmentos menores a presença não foi confirmada ou constatou-se sua ausência. Isso acaba por inferir a ocorrência de extinções locais da jaguatirica em regiões do Sul, Sudeste e Nordeste do Brasil. As maiores densidades dessa subespécie foram reportadas na região de Missões, que é contínua com o Parque Nacional do Iguaçu e o Parque Estadual do Turvo, no Brasil, o que resulta em uma estimativa populacional de 1 280 indivíduos. Entretanto, a agricultura itinerante na região ameaça essa população e se novas unidades de conservação não forem criadas, ela pode diminuir para 500 a 700 indivíduos em breve. De fato, muitas das unidades de conservação na área de ocorrência de "L. p. mitis" são insuficientes para viabilizar populações a longo prazo. Porém, apesar desses problemas na conservação da jaguatirica no Brasil, as estimativas populacionais para o país são maiores que 10 000 indivíduos, variando entre 42 298 e 528 732. Durante a década de 1960, a espécie sofreu com o comércio ilegal de peles, e a importação de peles de jaguatirica pelos Estados Unidos chegou a cerca de 140 000 em 1970, sendo o pequeno felídeo sul-americano mais visado pelos caçadores. A maior parte das peles era exportada pelo Paraguai e Brasil. Dado o declínio das populações por conta desta atividade, o comércio internacional de peles foi proibido e a jaguatirica figura no "apêndice I" da Convenção sobre o Comércio Internacional das Espécies da Fauna e da Flora Silvestres Ameaçadas de Extinção desde 1989. Essas medidas foram importantes para a diminuição da caça, diminuindo a quantidade de peles comercializadas de 30 563 em 1980, para 513, em 1986. Entretanto, o comércio ilegal ainda ocorre em menor proporção e a jaguatirica é caçada em algumas localidades por conta de prejuízos à avicultura. Por fim, a caça é proibida na maioria dos países em que ocorre, sendo regulada apenas em Honduras. Somente no Equador, Guiana e El Salvador, a jaguatirica não possui proteção contra a caça. Uma ameaça adicional à espécie é a diminuição das presas, que pode ocorrer em decorrência da degradação do habitat ou por conta de serem espécies caçadas pelo homem. A densidade de presas influencia diretamente a densidade populacional dessa espécie. Isto é um problema mesmo em áreas protegidas, como observado no norte do Espírito Santo. Estratégias para salvar a espécie da ameaça de extinção incluem, principalmente, a proteção do habitat e em áreas mais degradadas, como no Sudeste do Brasil, a recuperação e a conectividade dos fragmentos de vegetação nativa. Aspectos culturais. A relação com os seres humanos é antiga e a jaguatirica figura na mitologia Asteca e Inca sendo retratada em sua arte. Também foi representada na arte do povo Moche, do Peru, em sua cerâmica. Entretanto, ela é muitas vezes ignorada, já que a onça-pintada é a espécie geralmente representada na mitologia dos povos americanos. Ela acaba tendo papel como substituto em locais que a onça-pintada, de maior porte, estava ausente. Em Ohio, em povos da Cultura Hopewell, foi encontrada uma escultura de jaguatirica junto a ossos humanos. Deve-se salientar que muitas vezes não é possível distinguir a espécie representada na arte desses povos antigos, apenas reconhece-se ser de um felídeo malhado. O próprio termo "ocelotl" significa "onça" ou "jaguar". Chama a atenção a semelhança com a onça-pintada, como se ela fosse uma versão menor deste grande felídeo, sendo eventualmente confundida com ele. Em guarani, ela é chamada de "yaguarete-í", que significa "onça pequena"; no Peru, de "tigrillo" (que pode se referir a todos os pequenos felídeos malhados) ou "tigre" (que pode se referir à onça-pintada). Foi retratada em pinturas do , como na pintura de Benedito Calixto, "Evangelho nas Selvas", em que é retratado o padre jesuíta José de Anchieta pregando o evangelho a uma jaguatirica. A obra foi inspirada no poema de Castro Alves "Os Jesuítas". A escultura de Antoine-Louis Barye ilustra uma jaguatirica predando uma garça, uma obra intitulada "Ocelot emportant un héron" ("Jaguatirica carregando uma garça"), de cerca de 1850. A beleza de sua pelagem a tornou muito visada no comércio de peles, mas somente após a diminuição da oferta de peles de onça-pintada. No , ela foi usada como animal de estimação por Salvador Dalí, o qual inclusive viajava com a jaguatirica apelidada de "Babou". Gram Parsons também mantinha uma jaguatirica em sua mansão, nos anos 1960, em Winter Haven, na Flórida. Por ser de porte menor, a jaguatirica não traz grandes problemas a fazendeiros com ataques ao gado bovino, apesar de eventualmente causar problemas a avicultores, sendo responsável por grande parte dos ataques a galinheiros. Ela também não traz problemas com ataques a seres humanos e, muitas vezes, é considerada um animal dócil.
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Jane Goodall
Jane Goodall Dame Jane Morris Goodall (; nascida Valerie Jane Morris-Goodall em 3 de abril de 1934) anteriormente chamada Baronesa Jane van Lawick-Goodall, é uma primatologista, etóloga e antropóloga britânica. Considerada mundialmente a maior estudiosa em chimpanzés, Goodall tem seu trabalho mais reconhecido com o estudo das interações sociais e familiares de chimpanzés selvagens, desde em que ela trabalhou em campo no Parque Nacional de Gombe Stream na Tanzânia na década de 60, onde ela foi a primeira a testemunhar comportamentos de primatas semelhantes ao de humanos, incluindo o conflito armado. Ela é a fundadora do Instituto Jane Goodall e do programa "Roots & Shoots", e ela tem trabalhado exaustivamente na conservação e bem-estar dos animais. Goodall tem servido no comitê do Projeto de Direitos dos não Humanos desde sua fundação em 1996. Em abril de 2002, ela foi escolhida como mensageira da paz das Nações Unidas. Goodall é membra honorária do Conselho para o Futuro do Mundo. Primeiros anos. Valerie Jane Morris-Goodall nasceu em 1934, em Hampstead (Londres), filha do negociante Mortimer Herbert Morris-Goodall (1907–2001) e Margaret Myfanwe Joseph (1906–2000), uma romancista de Milford Haven, Pembrokeshire, a qual assinava com o nome de Vanne Morris-Goodall. A família mais tarde se mudou para Bournemouth, e Goodall ingressou em uma escola independente perto de Poole. Quando criança, ganhou um chimpanzé de pelúcia em alternativa a um ursinho, chamado Jubilee. Goodall disse que o carinho por animais começou precocemente graças a esta figura, comentando que: "Minha mãe ficava horrorizada com esse brinquedo, pensando que me assustaria e me daria pesadelos." Atualmente, Goodall continua com a posse de Jubilee em Londres. África. Goodall sempre nutriu uma paixão por animais africanos, o que levou ela a ir para uma fazenda de um amigo nos planaltos do Quênia em 1957. A partir dai, ela conseguiu o emprego de secretária, e atuando como conselheira de seu amigo, ela telefonou para Louis Leakey, paleontólogo e arqueólogo queniano, sem qualquer outra coisa em mente do que discutir sobre animais. Leakey, acreditando que o estudo dos grandes primatas contemporâneos poderiam indicar como os primeiros hominídeos se comportavam, estava em busca de um pesquisador de chimpanzés mas não tinha se manifestado publicamente por um. Ao invés disso, ele propôs que Goodall trabalhasse para ele como secretária. Após obter a aprovação de sua esposa e também pesquisadora, a paleoantropologista Mary Leakey, Louis mandou Goodall para a Garganta de Olduvai em Tanganica (atual Tanzânia), onde ele planejava seus estudos. Em 1958, Leakey mandou Goodall para estudar o comportamento dos primatas com Osman Hill e a anatomia desses animais com o especialista John Napier. Leakey arrecadou fundos e, em 14 de julho de 1960, Goodall foi enviada para o Parque Nacional de Gombe Stream, se tornando a primeira do que seria chamada de Os Anjos de Leakey. Ela foi acompanhada de sua mãe, cuja presença era necessária para sua segurança de acordo com os requerimentos. Goodall dá créditos a sua carreira de primatologia graças aos trabalhos de sua mãe, pois a primatologia era dominada por homens na época. Goodall afirma que as mulheres não eram aceitas nesse campo de atuação quando ela começou a trabalhar no final da década de 50. Hoje, a primatologia é composta tanto por homens e mulheres, em parte por causa dos Anjos de Leakey e os encorajamentos de Goodall para que mulheres entrassem no campo de estudo. Leakey arrecadou fundos, e em 1962 ele mandou Godall, que não tinha graduação, para a Universidade de Cambridge, em específico para Newnham College, e obteve seu PhD em etnologia. Ela se tornou a oitava pessoa a ser permitida a obter um PhD sem antes ter um BA ou BsC. A tese de Goodall ficou completa em 1965 sob a supervisão de Robert Hinde, a qual foi denominada "Behaviour of free-living chimpanzees", detalhando seus cinco anos de trabalho de estudo na reserva de Gombe. Em 19 de junho de 2006, a Universidade Aberta da Tanzânia galardoou Goodall com um BsC. Trabalhos. Pesquisas no Parque Nacional de Gombe Stream. Goodall é melhor conhecida por seus estudos da vida familiar e social dos chimpanzés. Ela começou pesquisando os chimpanzés da comunidade Kasakela no Parque Nacional de Gombe Stream, Tanzânia, em 1960. Ao invés de numerar os chimpanzés que observava, ela deu nome para cada um deles como Fifi e David Greybeard, e observou que cada um tinha personalidades individuais e únicas, uma ideia não convencional para o período. Ela se deparou que "não são somente seres humanos que tinham personalidade, eram capazes de ter pensamento racional [e] emoções como alegria e tristeza." Ela também percebeu comportamentos como beijos, abraços, tapinha nas costas, laços emocionais e até mesmo fazer cócegas, coisas que consideramos como "atividades humanas". Goodall insistiu que este gestos são evidência de "conexões próximas e de ajuda mútua que se desenvolvem entre membros familiares e outros indivíduos dentro da comunidade, que podem persistir por um ciclo de vida de mais de 50 anos". Estes achados sugerem similaridade entre humanos e chimpanzés além dos genes e podem ser vistos nas emoções, inteligência, família e relações. A pesquisa de Goodall em Gombe Stream é famosa na comunidade científica por ter desafiado o paradigma das ciências na época: que apenas humanos poderiam construir e usar ferramentas, e que chimpanzés são vegetarianos. Enquanto observava um chimpanzé se alimentando de um cupinzeiro, ela observou ele colocar várias hastes de grama em buracos de cupins e, em seguida, removê-los do buraco coberto por cupins que estavam grudados nas hastes, como se estivesse "pescando" os cupins. Os chimpanzés também pegavam galhos de árvores e arrancavam as folhas para torná-los mais eficazes, uma forma de modificação de objeto que não passa do início rudimentar da fabricação de ferramentas. Os seres humanos por muito tempo tinham se distinguido dos restantes dos animais como o "ser que produzia ferramentas". Em resposta aos achados revolucionários de Goodall, Loius Leakey escreveu: "Devemos agora redefinir o ser humano, ou redefinir ferramenta, ou aceitar os chimpanzés como seres humanos!". Em contraste com o comportamento pacífico e carinhoso observado, Goodall também encontrou uma natureza agressiva dos chimpanzés em Gombe Stream. Ela descobriu que os chimpanzés sistematicamente caçavam e se alimentavam de primatas menores como os macacos "Colubus". Goodall assistiu um chimpanzé subindo em uma árvore em que um "Colobus" tinha todas as saídas bloqueadas, para então o Chimpanzé matá-lo. Os outros membros do grupo pegaram parte da carcaça, compartilhando entre si enquanto alguns de hierarquia menores pediam por pedaços. Os chimpanzés de Gombe mataram e se alimentaram de aproximadamente de um terço da população de "Colobus" no parque em cada ano. Esta observação por si só era um grande desafio para a concepção da dieta dos chimpanzés e seu comportamento. Goodall também observou a tendência para a agressão e violência entre os próprios membros do grupo chimpanzé. Goodall observou fêmeas dominantes matando deliberadamente os filhotes de outras fêmeas no bando para manter sua dominância, algumas vezes indo tão longe que o canibalismo também foi observado. Ela diz que essa revelação, "Durante os dez primeiros anos que pesquisei […] que os chimpanzés de Gombe eram, na maior parte do tempo, melhores do que seres humanos. […] Então subitamente nos vimos que os chimpanzés poderiam ser brutais consigo próprios—, que eles, como a gente, tem um lado obscuro de sua natureza.". Ela escreveu sobre a Guerra dos Chimpanzés de Gombe em suas memórias, "Through a Window: My Thirty Years with the Chimpanzees of Gombe". Seus estudos revolucionaram o nosso conhecimento sobre o comportamento dos chimpanzés, que existiam maiores evidências entre as similaridades entre humanos e chimpanzés, embora de uma maneira algumas vezes obscura. Goodall também se distanciou da convenção tradicional do período ao nomear os animais ao invés de numera-los. A numeração era uma prática universal daquele tempo e embora importante para distanciar as emoções do pesquisador com o animal estudado, distanciar-se de outros pesquisadores levou Goodall a desenvolver um laço próximo com os chimpanzés e se tornar, naquela época, o único humano a ser aceita na sociedade chimpanzé. Ela foi colocada na parte mais inferior da hierarquia do bando por um período de 22 meses. Críticas. Nomes ao invés de números. Goodall utilizou práticas não convencionais em seus estudos; por exemplo, nomear indivíduos (os chimpanzés) em vez de numerá-los. Na época, a numeração era usada para evitar o apego emocional e perda de objetividade. Goodall escreveu em 1993: "Quando, no início dos anos 60, usei abertamente palavras como 'infância', 'adolescência', 'motivação', 'excitação' e 'humor', fui muito criticada. Pior ainda foi meu "crime" de sugerir que os chimpanzés tinham 'personalidades'. Eu estava atribuindo características humanas a animais não humanos e, portanto, era culpada daquele pior dos pecados etológicos - o antropomorfismo". Estações de alimentação. Muitos métodos científicos padrões visam evitar a interferência dos observadores e, em particular, alguns acreditam que o uso de estações de alimentação para atrair chimpanzés em Gombe alterou os padrões normais de forragem e alimentação e as relações sociais deles. Este argumento é o foco de um livro publicado por Margaret Power em 1991. Foi sugerido que níveis mais altos de agressão e conflito com outros grupos de chimpanzés na área foram devidos à alimentação, o que poderia ter criado as "guerras" entre grupos sociais de chimpanzés descritas por Goodall, aspectos dos quais ela não testemunhou nos anos anteriores ao início das estações de alimentação em Gombe. Assim, alguns consideram as observações de Goodall como sendo anomalias do comportamento normal dos chimpanzés. A própria Goodall reconheceu que as estações contribuíram para a agressão dentro e entre grupos, mas manteve que as consequências se limitaram a alterar a intensidade e não a natureza do conflito entre chimpanzés, e sugeriu ainda que a alimentação por estações era necessária para que o estudo fosse eficaz. Craig Stanford, do "Jane Goodall Research Institute" e da Universidade do Sul da Califórnia, afirma que os pesquisadores que realizam estudos sem provisões artificiais têm dificuldade em ver qualquer comportamento social dos chimpanzés, especialmente aqueles relacionados a conflitos entre grupos. Alguns estudos recentes, como os de Crickette Sanz no Triângulo de Goualougo (Congo) e Christophe Boesch no Parque nacional de Taï (Costa do Marfim), não mostraram a mesma agressão observada nos estudos de Gombe. No entanto, outros primatologistas discordam que os estudos têm falhas; por exemplo, Jim Moore faz uma crítica às afirmações de Margaret Powers e alguns estudos de outros grupos de chimpanzés mostraram agressões semelhantes às de Gombe, mesmo na ausência de estações de alimentação. Plágio em "Seeds of Hope". Em 22 de março de 2013, o Hachette Book Group USA anunciou que o novo livro de Goodall e da co-autora Gail Hudson, "Seeds of Hope", não seria lançado em 2 de abril, como planejado, devido à descoberta de partes plagiadas. Um revisor do The Washington Post encontrou seções não atribuídas devidamente que foram copiadas de websites sobre chá orgânico, tabaco e um "site amador de astrologia", bem como da Wikipedia (em inglês). Goodall pediu desculpas e declarou: "É importante para mim que as fontes apropriadas sejam creditadas, e eu estarei trabalhando zelosamente com minha equipe para abordar todos os pontos preocupantes sobre esse episódio. Meu objetivo é assegurar que quando este livro for lançado não só esteja de acordo com os mais altos padrões editoriais, mas também que o foco esteja nas mensagens cruciais que deseja transmitir". O livro foi lançado em 1 de abril de 2014, após a revisão e a adição de 57 páginas em notas finais. Vida pessoal. Goodall já se casou duas vezes. Em 28 de março de 1964, ela casou-se com um nobre holandês, o fotógrafo de vida selvagem e Barão Hugo van Lawick, e ficou conhecido durante seu casamento como Baronesa Jane van Lawick-Goodall. O casal teve um filho, Hugo Eric Louis (nascido em 1967); eles se divorciaram em 1974. No ano seguinte, ela casou-se com Derek Bryceson, membro do Parlamento da Tanzânia e diretor dos parques nacionais daquele país. Ele morreu de câncer em outubro de 1980. Devido à sua posição no governo tanzaniano como chefe dos parques nacionais do país, Bryceson pôde proteger o projeto de pesquisa de Goodall e implementar um embargo ao turismo em Gombe. Goodall declarou que o cão é o seu animal preferido. Goodall sofre de prosopagnosia, o que dificulta o reconhecimento de rostos que está familiarizada. Religião e espiritualidade. Goodall foi criado em uma família cristã congregacionalista. Quando jovem, ela teve aulas de Teosofia. Sua família era frequentadora ocasional da igreja, mas Goodall começou a frequentar mais regularmente a religião na adolescência quando a sua igreja nomeou um novo ministro, Trevor Davies. "Ele era bastante inteligente e seus sermões eram poderosos e provocadores. Eu poderia escutar sua voz por horas... Eu me apaixonei loucamente por ele... De repente, ninguém tinha que me encorajar a ir à igreja. De fato, nunca houve um número de cultos suficientes para o meu gosto". De sua posterior descoberta do ateísmo e do agnosticismo de muitos de seus colegas científicos, Goodall escreveu que "por sorte, quando cheguei a Cambridge eu tinha vinte e sete anos e minhas crenças já tinham se fixado para que eu não fosse influenciado por essas opiniões". Em seu livro "Reason for Hope: A Spiritual Journey", de 1999, Goodall descreve as implicações de uma experiência mística que ela teve na Catedral de Notre Dame em 1977: "Como não posso acreditar que isso tenha sido resultado do acaso, tenho que admitir sou "anti-acaso". E por isso tenho que acreditar em um poder maior no universo - em outras palavras, tenho que acreditar em Deus". Quando perguntado se ela acredita em Deus, Goodall disse em setembro de 2010: "Eu não tenho nenhuma ideia de quem ou o que Deus é. Mas eu acredito em algum grande poder espiritual. Eu sinto particularmente quando estou na natureza; é apenas algo que é maior e mais forte do que eu. Eu o sinto. E isso é suficiente para mim". Quando perguntado no mesmo ano se ela ainda se considera cristã, Goodall disse ao "The Guardian.": "Suponho que sim; eu fui criada como cristã". Em seu prefácio ao livro de 2017 "The Intelligence of the Cosmos" de Ervin László, um filósofo da ciência que defende a teoria da mente quântica, Goodall escreveu: "devemos aceitar que há uma Inteligência impulsionando o processo [da evolução], que o Universo e a vida na Terra são formados por um Criador desconhecido e incognoscível, um Ser Supremo, um Grande Poder Espiritual". Prêmios e reconhecimentos. Goodall muitas honrarias por seu trabalho ambiental e humanitário, assim como em outros campos. Ela foi premiada com a Ordem do Império Britânico em uma premiação realizada no Palácio de Buckingham em 2004. Em abril de 2002, o Secretário-Geral Kofi Annan nomeou Goodall como Mensageira da Paz das Nações Unidas. Suas outras honrarias incluem o Prêmio Tyler de Conquista Ambiental, a Ordem Nacional da Legião de Honra da França, a Medalha da Tanzânia, o prestigiado Prêmio Kyoto do Japão, a Medalha Benjamin Franklin em biologia, o Prêmio Gandhi-King para o reconhecimento da não-violência e o Prémios Princesa das Astúrias. Ela também é membro do conselho da revista "BBC Wildlife" e patrocinadora da Population Matters (anteriormente chamado "Optimum Population Trust"). Ela recebeu muitas homenagens, distinções e prêmios de governos locais, escolas, instituições e instituições de caridade ao redor do mundo. Goodall foi homenageada pela The Walt Disney Company com uma placa em uma escultura chamada "Tree of Life" no parque temático Animal Kingdom do Walt Disney World Resort, ao lado de uma escultura de seu querido David Greybeard, o primeiro chimpanzé que se aproximou de Goodall durante seu primeiro ano em Gombe. Ela é membro da Academia de Artes e Ciências dos Estados Unidos e da Sociedade Filosófica Americana. Em 2010, Dave Matthews e Tim Reynolds realizaram um concerto beneficente no "DAR Constitution Hall" em Washington DC para comemorar "Gombe 50: uma celebração global da pesquisa pioneira de chimpanzés de Jane Goodall e visão inspiradora para nosso futuro". A revista "Time" nomeou Goodall como uma das 100 pessoas mais influentes do mundo em 2019. Em 2021, ela recebeu o Prêmio Templeton. Trabalhos sobre e por Jane Goodall. Filmes. Goodall foi foco de mais de 40 filmes:
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Jornalismo
Jornalismo Jornalismo é a coleta, investigação e análise de informações para a produção e distribuição de relatórios sobre a interação de eventos, fatos, ideias e pessoas que são notícia e que afetam a sociedade em algum grau. A palavra se aplica à ocupação (profissional ou não), aos métodos de coleta de dados e à organização de estilos literários. A mídia jornalística inclui: impressão, televisão, rádio, Internet e, no passado, noticiários. Os conceitos do papel apropriado do jornalismo variam de país para país. Em algumas nações, os meios de comunicação de notícias são controlados pelo governo e não são um corpo completamente independente. Em outros, os meios de comunicação são independentes do governo, mas a motivação pelo lucro entra em tensão com as proteções constitucionais da liberdade de imprensa. O acesso à informação livre recolhida por empresas jornalísticas independentes e concorrentes, com normas editoriais transparentes, pode permitir aos cidadãos participarem efetivamente do processo político. Nos Estados Unidos, o jornalismo é protegido pela cláusula de liberdade de imprensa na Primeira Emenda. O papel e o estatuto do jornalismo, juntamente com o dos meios de comunicação de massa, tem sofrido mudanças ao longo das duas últimas décadas com o advento da tecnologia digital e a publicação de notícias na Internet. Isto criou uma mudança no consumo de canais de mídia impressa, à medida que as pessoas consomem cada vez mais notícias através de jornalismo eletrônico, "smartphones, computadores, tablets" e outros dispositivos, desafiando as organizações de notícias a rentabilizarem totalmente suas versões digitais, bem como a improvisar o contexto no qual elas publicarão notícias na imprensa. Notavelmente, no cenário da mídia estadunidense as redações têm reduzido sua equipe e cobertura em canais de mídia tradicionais, como a televisão, para lidar com a diminuição do público nesses formatos. Esta compacidade na cobertura tem sido associada ao atrito geral do público, uma vez que grande maioria dos entrevistados em estudos recentes mostram mudanças nas preferências no consumo de notícias. A era digital também deu início a um novo tipo de jornalismo no qual os cidadãos comuns desempenham um papel maior no processo de produção de notícias, sendo possível o surgimento do jornalismo cidadão através da Internet. Através do uso de "smartphones" equipados com câmeras de vídeo, os cidadãos podem gravar imagens de eventos de notícias e enviá-los para canais como o YouTube, que é frequentemente usado por meios de comunicação. Ademais, o acesso fácil às notícias de uma variedade de fontes, como blogs e outras mídias sociais, resultou em leitores que podem escolher entre fontes oficiais e não oficiais, em vez de apenas depender das organizações tradicionais. História. O mais antigo jornal de que se tem notícia foi o Acta Diurna, que surgiu por volta de 69 a.C., a partir do desejo de Júlio Cesar de informar a população sobre fatos sociais e políticos ocorridos no império, como campanhas militares, julgamentos e execuções. As notícias eram colocadas em grandes placas brancas expostas em local de grande acesso ao público. Na China, jornais escritos a mão surgiram no século VIII. A partir da invenção de Johannes Gutenberg, em 1447, surgiram os jornais modernos, que tiveram grande circulação entre comerciantes, para a divulgação de notícias mercantis. Havia ainda jornais sensacionalistas escritos a mão, como o que noticiou as atrocidades ocorridas na Transilvânia, feitas por Vlad Tsepes Drakul, mais conhecido como Conde Drácula. Em Veneza, o governo lançou o "Notizie scritte", em 1556, ao custo de uma pequena moeda que ficou conhecida como "gazetta". A publicação periódica iniciou-se na Europa Ocidental a partir do século XVII, como o "Avisa Relation oder Zeitung", surgido na Alemanha em 1609. O "London Gazette", lançado em 1665, ainda mantém-se até a atualidade, agora como publicação oficial do Judiciário. Esses jornais davam pouca atenção a assuntos nacionais, preferindo focar-se em fatos negativos ocorridos em outros países, como derrotas militares e escândalos envolvendo governantes. Os assuntos locais passaram a ser mais abordados na primeira metade do século XVII, mas a censura era uma prática comum, não sendo possível noticiar algo que pudesse provocar insatisfação popular contra o governo. A primeira lei protegendo a liberdade de imprensa foi aprovada na Suécia em 1766. Com a invenção do telégrafo, em 1844, as notícias passaram a circular muito mais rapidamente, gerando uma grande mudança no jornalismo. Em meados do século XIX, os jornais já eram o principal veículo de transmissão das informações, passando a surgir grandes grupos editoriais, que tinham grande capacidade de influência. Nos anos 1920, o surgimento do rádio novamente transformou o jornalismo, o que voltou a acontecer a partir dos anos 1940 com o surgimento da televisão. Na década de 1950 surge no Rio de Janeiro uma nova forma de Jornalismo impresso, no jornal Diário Carioca, Danton Jobim, que foi o fundador da primeira faculdade publica de jornalismo no Brasil, introduziu o Lead, a Pirâmide invertida e elaborou de um Manual de redação, modernizando o jornalismo brasileiro. A partir do fim dos anos 1990, a internet trouxe volume e atualização de informações sem precedentes. Gêneros. Existem várias formas diferentes de jornalismo, todas com audiências diversas. O jornalismo é dito para servir o papel de um "quarto poder", agindo como um cão de guarda do funcionamento do governo. Uma única publicação (como um jornal) contém muitas formas de jornalismo, cada uma das quais pode ser apresentada em diferentes formatos. Cada seção de um jornal, revista ou site pode atender a diferentes públicos. Alguns gêneros jornalísticos incluem: A recente ascensão das mídias sociais resultou em argumentos para reconsiderar o jornalismo como um processo, em vez de atribuí-lo a determinados produtos de notícias. Nesta perspectiva, o jornalismo é participativo, um processo distribuído entre múltiplos autores e envolvendo jornalistas e o público socialmente mediador. Campo acadêmico. Os estudos do jornalismo vêm se desenvolvendo desde antes da criação dos cursos de Mestrado e de Doutorado nos Estados Unidos do século XX. Os Estados Unidos contam com uma forte tradição na pesquisa acadêmica no campo do Jornalismo, sendo as primeiras investigações sobre o assunto em solo americano foram iniciadas ainda na década de 60. A configuração do campo de estudos tem relação com questões como o papel do jornalismo na sociedade, a constituição das notícias e a figura do jornalista. Assim, as pesquisas do campo estão, em sua maioria, relacionadas com a prática da profissão, o que envolve também descrições das rotinas de produção do Jornalismo. Apesar do desenvolvimento de diversos estudos relativos à área, que permitiram a elaboração de explicações e teorias, o estabelecimento do campo epistemológico do jornalismo enfrenta dificuldades devido à forma como as pesquisas são feitas. Não há distinção entre campo jornalístico e campo profissional, o que impede que se alcance efetivamente uma análise e crítica dos fenômenos em estudo. Para isso, faz-se necessária também uma separação entre o jornalista profissional e o pesquisador jornalista, o que inclui as práticas textuais da profissão (como imparcialidade). Além disso, o objeto de estudo do Jornalismo é fragmentado, visto que não há distinção de categorias de temas ou estabelecimento de metodologias próprias, o que dificulta a compreensão dos problemas de pesquisa típicos do campo. No Brasil destaca-se a atuação de Danton Jobim que em 1948, participa como docente fundador do Curso de Jornalismo da Universidade do Brasil, hoje UFRJ. a primeira faculdade publica de Jornalismo no Brasil. Caráter ativo. O "caráter ativo" do jornalismo refere-se à tendência da mídia de intervir na vida política, de se envolver partidariamente, ou de tentar influenciar os acontecimentos políticos. Ele age forma flexível e instável e não necessariamente ligada a uma corrente de valores políticos ideológicos. A relação entre mídia e política tem sido alvo de longa discussão no meio acadêmico. Uma das variáveis mais utilizadas para comparar a intervenção política do jornalismo é o chamado paralelismo político. O termo surgiu em 1974, no livro "The Political Impact of Mass Media", de Colin Seymour-Ure, mas ganhou popularidade em 2004, quando Hallin e Mancini, produziram uma pesquisa empírica comparativa em 18 países da América do Norte e da Europa Ocidental. Na definição clássica, paralelismo político envolve a percepção do grau de “convergência de objetivos, meios e enfoques entre veículos da mídia e partidos políticos”. Contudo, o pesquisador brasileiro Afonso de Albuquerque, em contribuição para o livro "Comparing Media Systems Beyond the Western World", avalia que essa variável apresenta severas limitações para comparações fidedignas à complexidade e à diversidade dos sistemas mediáticos. Na sua visão, o termo se aplica a contextos onde existem relações estáveis entre veículos de comunicação e elites políticas. Essa variável seria, portanto, débil para identificar e analisar o caráter ativo que a imprensa pode assumir de modo flexível e instável. A noção de “caráter ativo” das práticas jornalísticas tem sido conceituada de diversas formas, não havendo consenso sobre sua descrição. Ela não necessariamente liga a imprensa a uma ideologia política de esquerda ou direita, mas a flexibiliza e a torna participante do debate, ou seja, ela não toma partidos, mas discute as ações realizadas pelos agentes políticos. A prática jornalística brasileira foi utilizada como exemplo para a análise de Albuquerque, pois ela interviria na política em relação ao jogo político, em nome do próprio interesse público. Desta forma, o sistema midiático assumiria o papel de árbitro nas disputas políticas setoriais vinculadas a ideologias partidárias ou instituições do poder político, encontrando na concepção de “poder moderador” ou “quarto poder” uma linha de continuidade histórica para intervenção nesse meio. Ele define o caráter ativo nos seguintes termos: Alguns autores, porém, oferecem uma definição alternativa à de Albuquerque. Donsbach e Patterson afirmam que existem múltiplas dimensões de intervenção do jornalismo, que são sobrepostas na proposição de Albuquerque. Nesse sentido, eles sustentam que a noção de um "jornalismo ativo" deve ser mantida separada da compreensão de um "jornalismo advocatício", por serem dimensões diferenciadas e independentes da intervenção política realizada pelas práticas jornalísticas. Jornalismo Ativo e Jornalismo Advocatício. O jornalismo ativo, na definição de Donsbach e Patterson, seria “aquele que atuaria mais plenamente como um participante do debate, enquadrando, interpretando ou investigando os assuntos políticos”. É ele que revela informações, que de outro modo, não viriam à esfera pública. Trazendo publicidade para questões políticas por meio de informações de bastidores ou denúncia de escândalos. Esse caráter investigativo não pode, entretanto, ser diretamente vinculado à tomada de posicionamento político. Já o jornalismo advocatício (ou militante) é “aquele que atua com base em posicionamentos políticos na forma correspondente a de um ator político”, emitindo opinião ou juízo de valor, de forma “consistente, substancial e agressiva”. Fundamentos. O jornalismo possui alguns conceitos fundamentais que devem ser seguidos para resultar num pleno desempenho da atividade. O jornalista atua como mediador entre a sociedade e os acontecimentos interessantes e relevantes para o conhecimento do público. Desde a sua fundação, alguns conceitos foram se institucionalizando com o decorrer dos anos. Traquina cita a "existência de uma constelação de valores e um conjunto de normas profissionais" e exemplifica que ser jornalista é acreditar nesses valores. Liberdade. Deste modo, a liberdade mantém uma ligação com o jornalismo e a democracia, onde a liberdade está no centro do desenvolvimento do jornalismo. Traquina cita Tocqueville ao considerar a soberania do povo e a liberdade de imprensa como coisas inseparáveis. Para Thomas Jefferson, democracia não existe sem liberdade de imprensa e John Stuart Mill complementa alertando que qualquer tentativa de censurar a mídia teria consequências desastrosas. Essa censura resultaria na perda de outro fundamento do jornalismo, como a credibilidade. Os jornalistas estão a frente dessa luta pela liberdade que se mistura a questões políticas, econômicas e sociais. A independência e autonomia dos profissionais em relação a outros agentes sociais são importantes fatores que garantem a credibilidade. Objetividade. A objetividade no jornalismo é até hoje um objeto de discussão, crítica e má compreensão. Esse conceito surgiu baseado na ideia de subjetividade e sua inevitabilidade. Nasceu no século XX em que os fatos eram mais importantes que as opiniões, contrariando o que se entendia do jornalismo no século XIX, mais opinativo do que factual. Com isso, ficou estabelecido que era necessário seguir a regras e procedimentos para que o fundamento da objetividade permanecesse. Isso asseguraria a credibilidade do veículo de comunicação, como parte não interessada e ajudaria na proteção contra as críticas. Gaye Tuchman elenca a objetividade como um ritual, uma série de procedimentos estratégicos que devem ser seguidos para reduzir as críticas. Os jornalistas podem alegar que há objetividade levando em conta que esses procedimentos foram seguidos. Ela identifica 4 pontos: Credibilidade. Segundo Philip Meyer, credibilidade não é o único componente da influência mas é um bom começo. A influência é apontada como um dos possíveis fatores que determinam o sucesso econômico de um jornal. Adequar-se ou não é uma opção de cada jornal, as decisões resultarão no ganho ou na perda da credibilidade. Um jornal que tenta agradar demais põe em risco a sua integridade jornalística e sua capacidade de dizer verdades duras que a comunidade precisa ouvir para seu próprio bem. Dessa maneira, as pesquisas realizadas por Philip Meyer mostravam que o jornal considerado como apoiador da comunidade era visto de maneira tendenciosa em vez de objetiva. A influência e os seus dois componentes: a credibilidade e ligação com a comunidade podem mudar de acordo com as notícias e depois se recuperar. Dar notícias que a comunidade não quer ouvir mas precisa ouvir para seu bem a longo prazo, pode ser a melhor maneira de aumentar a influência do jornal com o decorrer do tempo. Mesmo que a curto prazo a credibilidade caia, a longo prazo os benefícios são visíveis. Sendo assim, os jornais confiáveis atraem mais leitores, e o efeito é mais forte onde a competição obriga os jornais a lutar por seus leitores. A credibilidade de um jornal é essencial quando há competição com outros jornais. As pesquisas de Meyer também apontam que a circulação do jornal e a sua credibilidade são afetados diretamente pela sua exatidão, ou seja, um menor número de erros. O pesquisador constatou que quando um jornal possui a confiança da fonte das matérias, ele também apresenta credibilidade junto à população. Contudo, para Vieira e Christofoletti, o erro jornalístico não intencional, quando ocorre, pode ser um caminho para fortalecer a credibilidade do veículo de comunicação a depender de seu posicionamento perante o erro. Neste contexto, conforme estes dois autores, explicitar a correção mostra uma preocupação do meio informativo com o acerto e amplia seu contato com o público. Para Philip Meyer, as fontes são ótimos juízes da qualidade de um jornal e formadores de opinião sobre a credibilidade do periódico. Em seu estudo, o autor descobriu que, quando as fontes percebem que as informações prestadas por elas são fielmente publicadas, passam a ter uma visão positiva sobre o jornal e disseminam tal percepção entre os leitores. Assim, a opinião das fontes é fundamental para a credibilidade do jornal, exercendo forte poder de influência. Segundo Traquina, a importância de manter a credibilidade leva a um trabalho constante de verificação dos fatos e a avaliação das fontes de informação. Um exemplo da perda dessa credibilidade foi o caso "Janet Cooke", onde uma jovem jornalista do Washington Post teve que devolver o Prêmio Pulitzer quando descobriram que a personagem central de sua premiada reportagem foi inventada. Christofoletti e Laux afirmam que com a emergência dos blogs como fontes de informação, há mudanças nos critérios que atestam confiabilidade aos veículos informativos. Estes novos critérios seriam influenciados pelos já existentes, mas também seriam caracterizados pelo que chamaram de novos sistemas de reputação, dentre os quais destaca-se a opinião do público em relação aos conteúdos. Uma pesquisa de 2017 reforça esse argumento: em meio a um boom de notícias falsas, os leitores buscam informações nos veículos da imprensa tradicional, que tem uma reputação mais consolidada frente ao público, como é o caso de revistas e jornais impressos e canais de TV. Texto jornalístico. O produto da atividade jornalística é geralmente materializado em textos, que recebem diferentes nomenclaturas de acordo com sua natureza e objetivos. Uma matéria é o nome genérico de textos informativos resultantes de apuração, incluindo notícias, reportagens e entrevistas. Um artigo é um texto dissertativo ou opinativo, não necessariamente sobre notícias, e nem necessariamente escrito por um jornalista. Redatores geralmente seguem uma técnica para hierarquizar as informações, apresentando-as no texto em ordem decrescente de importância. Esta técnica tem o nome de pirâmide invertida, pois a "base" (lado mais largo, mais importante) fica para cima (início do texto) e o "vértice" (lado mais fino, menos relevante) fica para baixo (fim do texto). O primeiro parágrafo, que deve conter as principais informações da matéria, chama-se "lead" (do inglês, principal). O texto é geralmente subdividido em "capítulos" agrupados por tema, chamados retrancas e sub-retrancas, ou matérias coordenadas. O conjunto de técnicas e procedimentos específicos para a atividade de redação jornalística é chamado de técnica de redação. As matérias apresentam, quase sempre, relatos de pessoas envolvidas no fato, que servem para tanto validar (por terceiros) as afirmativas do jornal (técnica chamada de documentação) quanto para provocar no leitor a identificação com um personagem (empatia). No jargão jornalístico, os depoimentos destes personagens chamam-se aspas. Apesar de as matérias serem geralmente escritas em estilo sucinto e objetivo, devem ser revisadas antes de serem publicadas. O profissional que exerce a função de revisão, hoje figura rara nas redações, é chamado de revisor ou copy-desk. Sendo Introduzidas no Brasil por Danton Jobim a frente do Diario Carioca, sendo Danton um dos fundadores e o primeiro professor a ocupar a cadeira de Técnicas de Redação Jornalística no Curso de Jornalismo da então Universidade do Brasil. Notícia. A notícia é um formato de divulgação de um acontecimento por meios jornalísticos. É a matéria-prima do Jornalismo, normalmente reconhecida como algum dado ou evento socialmente relevante que merece publicação numa mídia. Fatos políticos, sociais, econômicos, culturais, naturais e outros podem ser notícia se afectarem indivíduos ou grupos significativos para um determinado veículo de imprensa. Geralmente, a notícia tem conotação negativa, justamente por ser excepcional, anormal ou de grande impacto social, como acidentes, tragédias, guerras e golpes de estado. Notícias têm valor jornalístico apenas quando acabaram de acontecer, ou quando não foram noticiadas previamente por nenhum veículo. A "arte" do Jornalismo é escolher os assuntos que mais interessam ao público e apresentá-los de modo atraente. Nem todo texto jornalístico é noticioso, mas toda notícia é potencialmente objeto de apuração jornalística. Jornalismo no mundo. Em diversos países de regime democrático, o trabalho jornalístico é protegido por lei ou pela constituição. Isto inclui, muitas vezes, o direito de o jornalista preservar em segredo a identidade de suas fontes, mesmo quando interpelado judicialmente. O artigo 19 da Declaração Universal dos Direitos do Homem estabelece normas para a liberdade de expressão e de imprensa. No entanto, segundo a organização Repórteres sem Fronteiras ("Reporters Sans Frontières"), 42 jornalistas foram mortos no ano de 2003, principalmente na Ásia, enquanto outros 766 estavam presos. O futuro do jornalismo passa pela adequação dos profissionais da área às novas mídias emergentes. Todo bom profissional não poderá deixar de observar esses novos meios. O profissional tem de se adaptar aos novos mecanismos das tecnologias, além disso ele precisa ser polivalente para continuar no mercado. A independência dos profissionais da área tem sido um grande debate, o que pode ser observado no livro "O que é Jornalismo" (Brasiliense, 1980), de Clóvis Rossi. Em 2011 a Turquia se tornou o país com maior número de jornalistas presos. Brasil. O primeiro sindicato de jornalistas no Brasil foi fundado em 1934, na cidade de Juiz de Fora. Quatro anos depois, houve a primeira regulamentação da profissão. Conforme disposto na Lei de Imprensa de 9 de fevereiro de 1967, o diploma de curso superior de Jornalismo foi obrigatório para o exercício da profissão, por força de lei, até o Supremo Tribunal Federal torná-lo facultativo em 2009. Porém, uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC), aprovada pelo Senado Federal em 2012, restabelece a obrigatoriedade do diploma de jornalista para o exercício da profissão. Atualmente, há cerca de 120 cursos de graduação na área, formando quase 5 mil jornalistas a cada ano em todo o país. No Brasil, o curso de Jornalismo tem a maior carga horária entre os cursos da área da comunicação. O curso tem carga horária mínima de 3 mil horas e tempo mínimo de 4 anos para a conclusão do Curso de Bacharel em Jornalismo, segundo as novas diretrizes curriculares do Ministério da Educação (MEC). Após concluir o curso, a pessoa é reconhecida pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e pelos sindicatos de jornalistas como jornalista profissional, podendo se filiar aos sindicatos e solicitar a Carteira Nacional de Jornalista, emitida pela FENAJ. Para a organização Repórteres sem Fronteiras, o Brasil ainda é um dos países mais violentos da América Latina para a prática do jornalismo. O país ocupa a 102ª posição entre as 180 nações analisadas pelo Ranking Mundial da Liberdade de Imprensa 2018, estando ao lado dos países com as piores posições do continente, que são Cuba, Venezuela, México e Colômbia. A “situação sensível” na qual o Brasil se encontra em relação à liberdade de informação é explicada por fatores como a aplicação de processos judiciais a determinadas matérias sobre interesses do poder político. Além disso, os jornalistas também são alvos de ameaças no território nacional. De janeiro a outubro de 2018, a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) registrou 137 casos de agressões a profissionais da comunicação em contexto político-eleitoral. No caso de Leniza Krauss, que investigava o Caso Pedra da Macumba, nunca foi descoberto o motivo das agressões direcionadas a ela e sua equipe. O Observatório da Imprensa listou seu caso no artigo "A mudança na vida de jornalistas que sofreram violentas represálias".
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Jogo de tabuleiro
Jogo de tabuleiro Os jogos de tabuleiro utilizam as superfícies planas e pré-marcadas como o xadrez, com desenhos ou marcações de acordo com as regras envolvidas em cada jogo específico. Os jogos podem ter por base estratégia pura, sorte (por exemplo, rolagem de dados), ou uma mistura dos dois, e geralmente têm um objetivo que cada jogador pretende alcançar. Os primeiros jogos de tabuleiro representavam uma batalha entre dois exércitos, e a maioria dos jogos de tabuleiro modernos ainda são baseados em derrotar os jogadores adversários em termos. Existem muitos tipos de jogos de tabuleiro. Sua representação pode variar de situações da vida real a jogos abstratos sem nenhum tema (por exemplo, damas ou xadrez). As regras podem variar desde o simples (por exemplo, jogo-da-velha), para aquelas que descrevem um universo de jogos em grande detalhe (por exemplo, Dungeons & Dragons). O tempo necessário para aprender a jogar ou dominar um jogo varia muito de jogo para jogo. Tempo não está necessariamente relacionado com o número ou a complexidade das regras de aprendizagem; alguns jogos com estratégias profundas (por exemplo, xadrez ou Go) possuem conjuntos de regras relativamente simples. Jogos de tabuleiro não são apenas uma alternativa de lazer. Sua prática incentiva a capacidade de memória, ajudam a desenvolver o raciocínio lógico e abstrato. História. Existem registros de jogos de tabuleiro há cerca de 5000 anos em civilizações como Egito e Mesopotâmia. Apesar de ser difícil datar qual foi ou quais foram os primeiros jogos da humanidade, o jogo Mancala se apresenta como um dos mais antigos, com mais de 7 mil anos de existência. Foram muito populares na Grécia e na Roma de onde se espalharam por toda Europa e depois para a América. Os mais famosos desta geração são: Banco Imobiliário, Detetive, Jogo da Vida, War, Batalha Naval, e mais alguns. A partir da década de 1980 os jogos de tabuleiro perderam muito a sua popularidade devido aos jogos eletrônicos, mas, nos últimos anos voltaram a conquistar muitos adeptos. Um dos motivos é a interação entre os jogadores. Categorias dos jogos de tabuleiro de primeira geração. Os jogos de tabuleiro de primeira geração são divididos em: Jogos de Tabuleiro de Segunda Geração. Na década de 2010, os jogo de tabuleiro voltaram a popularidade devido à internet. Por isso, passaram a ser chamados de Jogos de 2a Geração. Eles possuem as seguintes características: As partidas são geralmente rápidas (no máximo uma hora), a interação entre os jogadores é maior, os jogos são fáceis de aprender mas ao mesmo tempo dão espaço para muitas possibilidades de decisão do jogador, e os componentes são de excelente qualidade. Eles se dividem nas seguintes categorias: Portugal. Em Portugal os jogos de tabuleiro estão catalogados desde a época romana. No Brasil. Os índios conhecem um jogo chamado o Jogo da Onça que tem sua origem provável entre os incas. Esse jogo foi encontrado entre os Bororos, no Mato Grosso, onde é conhecido como Adugo, bem como entre os Manchineri, no Acre, e os Guaranis, em São Paulo. Trata-se de um jogo de estratégia. O tabuleiro é riscado no chão. Uma pedra representa a onça e 14 outras representam os cachorros. O objetivo dos cachorros é imobilizar a onça e o objetivo da onça é comer 5 cachorros. Jogos parecidos a este são encontrados entre outras civilizações, como os Incas (Puma e Carneiros), Índia (Tigre e Cabras) e China (Senhor Feudal e Camponeses).Os jogos de tabuleiro mais populares no Brasil incluem: Rankings de jogos. Diversos sites e instituições elaboram listas classificatórias para o BoardGameGeek. O site americano, criado em 2000, tem listados mais de 50 mil jogos, entre jogos de tabuleiro, card games e expansões. Os jogos são rankeados através de votação direta dos participantes. O ranking atual tem mais de 7000 jogos listados. Entram na lista apenas jogos que receberam mais de 30 votos. O atual primeiro lugar da lista do BoardGameGeek é o dungeon crawler Gloomhaven. No Brasil, o site Ludopedia elabora listas dos jogos mais jogados e possuídos no Brasil. Gloomhaven também é o jogo mais bem avaliado segundo o ranking do site brasileiro. O jogo-da-velha (Tic-tac-toe) estava na parte inferior do ranking.
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John Dewey
John Dewey John Dewey (Burlington, Vermont, 20 de outubro de 1859 — 1 de junho de 1952) foi um filósofo e pedagogo norte-americano, um dos principais representantes da corrente pragmatista, inicialmente desenvolvida por Charles Sanders Peirce, Josiah Royce e William James. Dewey também escreveu extensivamente sobre pedagogia e é uma referência no campo da educação. Tinha fortes compromissos políticos e sociais, expressados muitas vezes em suas publicações no jornal "The New Republic". John Dewey foi um dos autores que influenciou e ainda influencia o debate sobre a educação para a democracia. Diante do exposto, neste artigo, busca-se explicitar como ele compreende a temática. Tomamos como fonte principal de análise o livro Democracia e educação, publicado pelo autor em 1916. Sua filosofia é primeiramente marcada pelo instrumentalismo, isto é, pelo desejo de romper com uma filosofia clássica, que ele via como mais ou menos ligada à classe dominante, para torná-la um instrumento que permitisse às pessoas se adaptarem melhor ao mundo moderno. O método que Dewey escolheu para fazer isso foi chamado de "teoria da investigação", uma ideia baseada na concepção de que a mudança do ambiente ocasiona problemas de adaptação, os quais devem ser resolvidos por meio de uma investigação onde várias hipóteses são examinadas. As teorias filosóficas tradicionais são então vistas como meios de fornecer hipóteses a serem testadas. Dewey também participou, paralelamente ao novo liberalismo britânico, na constituição do que é atualmente chamado de Liberalismo social, vista atualmente como centro ou centro-esquerda. Para ele, o indivíduo não é um ser isolado, mas participa de uma sociedade. Esta tese marca sua filosofia política como evidenciada pela importância dada ao público. A sua filosofia política também visa o desenvolvimento da individualidade, isto é, a auto realização por meio da democracia, concebida não como uma forma de governo, mas como uma participação de indivíduos na ação coletiva. Finalmente, sua pedagogia, intimamente ligada ao seu ideal democrático, visa dar aos estudantes os meios e o caráter necessário para participar ativamente da vida pública e social. Biografia. "Dewey nasceu na cidade de Burlington, estado de Vermont, em 20 de outubro de 1859, em uma família de comerciantes de religião protestante congregacionalista, mais preocupada em educá-lo para a realização de tarefas práticas do dia a dia, para o trabalho e para os valores comunitários e religiosos, do que propriamente em proporcionar-lhe uma formação escolar considerada de excelência na época. Mesmo assim, o jovem John ingressou na Universidade do Estado de Vermont com 15 anos. Aos 20 já estava formado e iniciava sua carreira no magistério em sua terra natal, ao mesmo tempo que era um praticante ativo de sua religiosidade cristã, o que o levava a escrever artigos e dar palestras sobre a Bíblia e inúmeros temas religiosos. Entre os anos de 1882 e 1884, Dewey realizou o seu doutorado em Filosofia, na Universidade Johns Hopkins, defendendo uma tese sobre a psicologia do filósofo alemão Immanuel Kant, mas desenvolvendo um interesse intelectual que combinava ainda o estudo da Biologia e da teoria da evolução de Darwin com a filosofia de Hegel, estudos que contribuíram para que elaborasse o seu primeiro livro em 1887, intitulado Psicologia. Ainda em 1884, Dewey passa a trabalhar como professor de Filosofia na Universidade de Michigan. Em 1887, casa-se com Alice Chipman, com quem teve 5 filhos e viveu por quarenta anos, até a morte de Alice em 1927. Em 1946 Dewey se casa com Roberta Grant e o casal adota duas crianças. Em 1952, no dia primeiro de junho, John Dewey falece em Nova York". No final da década de 1890, Dewey começou a afastar-se da sua anterior visão idealista neo-hegeliana e a adotar uma nova posição, que viria a ser conhecida mais tarde como pragmatismo. Depois de problemas graves na política interna do Departamento de Educação da Universidade de Chicago, Dewey abandonou a instituição para se ligar à Universidade de Columbia, em Nova Iorque, onde permaneceu até ao fim da sua carreira no ensino, em 1930. Continuou, no entanto, a ensinar como professor emérito até 1939, e continuou a escrever e a intervir socialmente até às vésperas da morte. Entre suas obras se destacam "The School and Society" ( "A Escola e a Sociedade", 1899), "Democracy and Education" ( "Democracia e Educação", 1938) e "Art as Experience" ("Arte como experiência", 1958). Outros dados. John Dewey foi reconhecido como um dos fundadores da escola filosófica de Pragmatismo (juntamente com Charles Sanders Peirce e William James), um pioneiro em psicologia funcional, e representante principal do movimento da educação progressiva norte-americana durante a primeira metade do século XX. Foi também editor, tendo contribuído para a "Enciclopédia Unificada de Ciência", um projeto dos positivistas, organizado por Otto Neurath. Em 1907, participou da Comunidade Helicon Hall, em Englewood (Nova Jérsei). Filosofia da Educação. Como se pode ler em "Democracy and Education" ("Democracia e Educação"), Dewey tenta sintetizar, criticar e ampliar a filosofia da educação democrática ou proto-democrática contidas em Rousseau e Platão. Via em Rousseau a valorização do indivíduo, enquanto Platão acentuava a influência da sociedade na qual o indivíduo se inseria. Dewey contestou esta distinção. Tal como Vygotsky, Dewey concebia o conhecimento e o seu desenvolvimento como um processo social, integrando os conceitos de "sociedade" e "indivíduo". Para ele, o indivíduo somente passa a ser um conceito significante quando considerado como parte inerente de sua sociedade. Esta, por sua vez, nenhum significado teria, sem a participação dos seus membros individuais. Depois, como reconhece na obra posterior "Experience and Nature" ("Experiência e Natureza"), o empirismo subjetivo da pessoa é quem realmente introduz as novas ideias revolucionárias no conhecimento. Para Dewey era de vital importância que a educação não se restringisse à transmissão do conhecimento como algo acabado – mas que o saber e habilidade adquiridos pelo estudante pudessem ser integrados à sua vida como cidadão, como pessoa. No laboratório-escola que dirigiu junto com sua esposa Alice, na Universidade de Chicago, as crianças bem novas aprendiam conceitos de física e biologia, presenciando os processos de preparo do lanche e das refeições, que eram feitos na própria classe. Essa ligação entre ensino e prática cotidiana foi sua grande contribuição para a escola filosófica do Pragmatismo. A Escola Laboratório, também conhecida como Escola Dewey, durou cerca de dez anos, sendo que Dewey pediu demissão da mesa por decisões que ele considerou antidemocráticas e contrárias a suas ideias. Após seu rompimento com a Universidade de Chicago é convidado para trabalhar na Universidade Columbia, localizada em Manhattan, na cidade de Nova Iorque. Nessa instituição criou, então, a ainda famosa Lincoln School. Ambas as experiências com escolas experimentais lhe forneceram subsídios para a escrita de obras clássicas do autor e da pedagogia nova, bem como da filosofia pragmática educacional, entre outros, A escola e a sociedade (1899), A criança e o Currículo (1900), Como Pensamos (1910), Democracia e Educação (1916). Sua ideias, embora bastante populares, nunca foram ampla e profundamente integradas nas escolas públicas norte-americanas, embora alguns dos valores e premissas tenham se difundido. Suas ideias de "Educação Progressiva" foram duramente perseguidas no período da Guerra Fria, quando a preocupação dominante era criar e manter uma elite intelectual científica e tecnológica, para fins militares. No período pós-Guerra Fria, entretanto, os preceitos da Educação Progressiva ressurgiram na reforma de muitas escolas, e o sistema teórico de educação formulado a partir das pesquisas de Dewey tem evoluído. John Dewey e a Educação Progressiva. A ideia básica do pensamento de John Dewey sobre a educação está centrada no desenvolvimento da capacidade de raciocínio e espírito crítico do aluno. Para ele, o pensamento não existe isolado da ação. A educação deve servir para resolver situações da vida e a açãoeducativa tem como elemento fundamental o aperfeiçoamento das relações sociais. Apesar disso, dessa compreensão ser fácil de entender e as suas ideias tenham sido muito populares durante sua vida e postumamente, sua adequação à prática sempre foi problemática. Seus escritos são de difícil leitura: ele tem uma tendência para utilizar termos novos, e frases complexas fazem com que seu pensamento seja extremamente mal entendido, forçando reinterpretações dos textos. Apesar de permanecer como um dos intelectuais norte-americanos mais conhecidos, o público não conhece o seu pensamento. Muitos que pensavam seguir uma linha deweyana, estavam, na verdade, muito longe disto. O próprio Dewey tentou frear alguns entusiastas, sem muito sucesso. Ao mesmo tempo, outras ideias e propostas de Educação Progressiva foram surgindo, boa parte delas influenciada por Dewey, embora não necessariamente derivadas das suas teorias. Entre essas ideias, algumas tornaram-se igualmente populares, umas mais ou menos aplicáveis na prática e outras contraditórias, como registram historiadores, a exemplo de Herbert Kliebard. Frequentemente diz-se que a Educação Progressiva fracassou, mas isto depende do que as pessoas entendem por "evolução" e "fracasso". Muitas formas de educação progressiva tiveram sucesso e transformaram a paisagem educacional. A quase onipresença dos serviços de orientação ou aconselhamento, para citar-se um exemplo, é fruto das ideias progressivas. Derivações radicais do progressivismo educacional quase nunca foram testadas, e quando o foram não tiveram vida longa. Interessante destacar que, John Dewey entendia que a sociedade moderna cada vez mais se constituía de forma complexa, estando em constante processo de transformação. Assim, para que a sociedade fosse democrática de fato e não apenas nominalmente, defendeu ser imperioso desenvolver nos jovens atitudes intelectuais pautadas em atributos, como: "iniciativa, capacidade de ampliar e focar reflexões, interesse na matéria de estudo, espírito de liberdade e de responsabilidade para com os outros e a sociedade".Para ele uma sociedade democrática deveria ser composta por cidadãos participantes e ativos em todos os elementos da vida social. A Escola de Pragmatismo da Universidade de Chicago. John Dewey fundou a Escola de Pragmatismo de Chicago durante os dez anos que esteve nesta universidade, de 1894 a 1904. O grupo original era composto por George H. Mead, James H. Tufts, James R. Angell, Edward Scribner Ames (Ph.D. Chicago 1895) e Addison W. Moore (Ph.D. Chicago 1898). Jane Addams, fundadora da Hull House de Chicago, escritora e ativista social também esteve associada com o grupo. Estiveram também associados ao grupo os seguintes estudantes da Universidade de Chicago: Simon F. MacLennan (Ph.D. Chicago 1896, professor do Oberlin College), Ernest Carroll Moore (Ph.D. Chicago 1898, professor da University of California, Berkeley), Arthur K. Rogers (Ph.D. Chicago 1899, professor em Yale University), Ella Flagg Young (Ph.D. Chicago 1900, professor de pedagogy, University of Chicago), H. Heath Bawden (Ph.D Chicago 1900, professor no Vassar College e na University of Cincinnati), Henry W. Stuart (Ph.D. Chicago 1900, professor em Stanford University), Irving E. Miller (Ph.D. Chicago 1904, Professor de Psychology e Pedagogia, State Normal School de Wisconsin), Irving King (Ph.D. Chicago 1905, professor de religião, State University of Iowa) e William K. Wright (Ph.D. Chicago 1906, professor no Dartmouth University). (in Pragmatism Cybrary) Pragmatismo em Dewey. Dewey é uma das três figuras centrais do pragmatismo nos Estados Unidos, ao lado de Charles Sanders Peirce (que re-significou o termo após a leitura da antropologia prática de Immanuel Kant), e William James (que o popularizou). Mas Dewey não chamava sua filosofia de pragmática, preferindo o termo "instrumentalismo". Sua linha filosófica era de influência fortemente hegeliana e neo-hegeliana. Ao contrário de William James, que seguia uma linha positivista inglesa, Dewey era particularmente empirista e utilitarista. Ele também não era tão pluralista ou relativista como James. Segundo Dewey, "a própria natureza é melancólica e patética, turbulenta e passional" (in: "Experiência e Natureza"). James afirmava que a experiência (social, cultural, tecnológica, filosófica) poderia ser usada como juízo de valor da verdade. Segundo ele, a vida de muitas pessoas sem crença religiosa era superficial e desinteressante, e, embora nenhuma crença religiosa pudesse ser demonstrada como correta, somos todos responsáveis por nossas apostas em algum tipo de teísmo, ateísmo, monismo, etc. Para James, a religião seria boa sempre que ela fizesse com que o indivíduo tivesse "calma", ao ter acesso cognoscitivo ao dogma religioso, afirmando "que seria mais vantajoso ter a crença religiosa e os bons valores defendidos por ela, do que "[…]sofrer o risco da danação eterna […]"). Dewey, em contraste, embora reconhecesse a importante função das instituições e práticas religiosas na vida humana, rejeitava a crença em um ideal estático, tal como um deus pessoal. Dewey acreditava que o método científico seria o único recurso confiável no sentido de promover o bem da humanidade. Sobre a ideia de Deus, Dewey dizia: "Denota a unidade de todos os fins ideais, levando-nos a desejar e a agir." Assim como houve um ressurgimento da filosofia progressiva da educação, as contribuições de Dewey para a filosofia (afinal ele era muito mais filósofo do que pedagogo) também voltaram à baila, a partir dos anos 1970, com pensadores como Richard Rorty, Richard Bernstein e Hans Joas. Por causa de seu processo de orientação e visão sociologicamente consciente do mundo e do conhecimento, muitas vezes Dewey é tido como alternativa válida aos dois modos de pensar - o moderno e o pós-moderno -, mesmo sendo-lhes contemporâneo. Principais obras. Além de publicar prolificamente, Dewey também fez parte do corpo editorial de revistas, tais como "Sociometry" (1942) e "Journal of Social Psychology" (1942), além de ter publicado em outras revistas, tais como "New Leader", da qual foi editor contribuinte (1949). As seguintes referências, longe de englobarem todas as publicações de Dewey, são apenas algumas de suas principais e mais conhecidas obras. Cópia em Project Gutenberg
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Juscelino Kubitschek
Juscelino Kubitschek Juscelino Kubitschek de Oliveira , também conhecido pelas suas iniciais JK (Diamantina, 12 de setembro de 1902 – Resende, 22 de agosto de 1976), foi um médico, oficial da Polícia Militar mineira e político brasileiro. Foi o 21.º Presidente do Brasil, entre 1956 e 1961. JK concluiu o curso de humanidades do Seminário de Diamantina e em 1920 mudou-se para Belo Horizonte. Em 1927, formou-se em medicina pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e em 1930 especializou-se em urologia em Paris. Em dezembro de 1931, casou-se com Sarah Lemos, com quem teve a filha Márcia, em 1943. O casal também adotou Maria Estela em 1947. Em 1931, ingressou na Polícia Militar como médico. Neste período, trabalhou na Revolução Constitucionalista e tornou-se amigo do político Benedito Valadares que, ao ser nomeado interventor federal em 1933, nomeou Juscelino como seu chefe de gabinete. Em 1934, foi eleito deputado federal, mas teve seu mandato cassado quando do golpe do Estado Novo. Com a perda do mandato, retornou à medicina. Em 1940, foi nomeado prefeito de Belo Horizonte por Valadares, permanecendo neste cargo até outubro de 1945. No final do mesmo ano foi eleito deputado constituinte pelo Partido Social Democrático. Em 1950, venceu Bias Fortes nas prévias do PSD para a escolha do candidato do partido ao Governo de Minas nas eleições daquele ano. Na eleição geral, derrotou seu concunhado Gabriel Passos e foi empossado governador em 31 de janeiro de 1951. Nesse cargo, criou a Companhia Energética de Minas Gerais, e também priorizou as estradas e a industrialização. Em outubro de 1954, lançou sua candidatura à Presidência da República para a eleição de 1955, que foi oficializada em fevereiro de 1955. JK apresentou um discurso desenvolvimentista e utilizou como "slogan" de campanha "50 anos em 5". Em uma aliança formada por seis partidos, seu companheiro de chapa foi João Goulart. Em 3 de outubro, elegeu-se presidente com 35,6% dos votos, contra 30,2% de Juarez Távora, da UDN. A oposição tentou anular a eleição com a alegação de que JK não havia obtido a maioria absoluta dos votos. No entanto, o general Henrique Lott desencadeou um movimento militar que garantiu a posse de JK e Jango em 31 de janeiro de 1956. Na presidência, foi o responsável pela construção de uma nova capital federal, Brasília, executando assim um antigo projeto para promover o desenvolvimento do interior e a integração do país. Durante todo o seu mandato, o país viveu um período de notável desenvolvimento econômico e relativa estabilidade política. Por seu plano de governo ter sido centrado no desenvolvimento econômico e social, Juscelino tornou-se reconhecido como o "pai do Brasil moderno". No entanto, houve também um significativo aumento da dívida pública interna, da dívida externa, e, segundo alguns críticos, seu mandato terminou com crescimento da inflação, aumento da concentração de renda e arrocho salarial. Na época, não havia reeleição e, em 31 de janeiro de 1961, foi sucedido por Jânio Quadros, seu opositor, apoiado pela UDN. Em 1961, elegeu-se senador por Goiás e tentou viabilizar sua candidatura à presidência em 1965. No entanto, com o golpe militar de 1964, foi acusado pelos militares de corrupção e de ser apoiado pelos comunistas. Como consequência, teve seu mandato cassado e seus direitos políticos suspensos. A partir de então, passou a percorrer cidades dos Estados Unidos e da Europa, em um exílio voluntário. Em março de 1967, voltou definitivamente ao Brasil e uniu-se a Carlos Lacerda e a Goulart na articulação da Frente Ampla, em oposição à ditadura militar, que foi extinta pelos militares um ano depois, levando JK à prisão por um curto período. O ex-presidente pretendia voltar à vida política depois de passados os dez anos da cassação de seus direitos políticos. Em outubro de 1975, concorreu, sem sucesso, a uma cadeira na Academia Brasileira de Letras. Ocupou a cadeira n.º 34 da Academia Mineira de Letras. Juscelino morreu em um acidente automobilístico em 22 de agosto de 1976. Segundo a perícia e laudo oficial na época, o acidente ocorreu por uma fatalidade normal no trânsito. A versão foi contestada pela família, que chegou a pedir a exumação do corpo vinte anos depois, suspeitando que JK havia sido vítima de um assassinato. O resultado da perícia confirmou os laudos anteriores. Início de vida. Juscelino Kubitschek de Oliveira nasceu em 12 de setembro de 1902 em Diamantina, num casarão colonial na rua Direita. Seu pai, João César de Oliveira (1872-1905), foi caixeiro-viajante e também exerceu várias outras profissões, de garimpeiro a delegado de polícia. Durante uma viagem de serviço, João contraiu um resfriado que se transformou em pneumonia e deu origem a uma tuberculose. Com medo de contaminar a família com a doença, o pai de JK decidiu ir morar em uma casa isolada, recebendo visitas de amigos e familiares. João Oliveira faleceu em 10 de janeiro de 1905. A única renda da família passou a ser a da mãe, Júlia Kubitschek (1873-1971), que era professora primária e possuía ascendência checa (seu sobrenome é uma germanização do original tcheco Kubíček). Viúva aos 32 anos de idade e poucos anos após ter se casado, em 1898, Júlia não quis se casar novamente, dedicando-se ao seu trabalho e aos dois filhos, Maria da Conceição, apelidada de Naná, nascida em 1901, e JK, o Nonô. Júlia havia perdido um bebê nos primeiros meses de vida, cujo nome era Eufrosina, nascida em 1900. O bisavô materno de Juscelino, Jan Nepomuk Kubíček, chegou ao Brasil por volta do ano de 1835, recebendo o apelido de João Alemão, provavelmente por ter chegado de uma região não independente na época, a Boémia, que integrava o Império Austríaco (atualmente parte da República Checa), ou por ter cabelo ruivo e olhos azuis de acordo com as citações da época. Em 1840, o nome do João Nepomuk Kubitschek constou pela primeira vez em um censo populacional feito em Serro, Minas Gerais. Jan Nepomuk Kubíček teve três filhos, um deles Augusto Elias Kubitschek, comerciante de armarinho e pai de Júlia; outro filho de Jan, João Nepomuceno Kubitschek, fez carreira política, tendo chegado a ocupar os cargos de senador estadual constituinte e vice-governador de Minas Gerais entre 1894 e 1898. Quando menino, em uma brincadeira de esconde-esconde com um primo, Juscelino teria machucado o dedo mínimo do pé direito. Segundo o jornalista e biógrafo Roniwalter Jatobá, isto teria duas consequências para a vida de JK. A primeira seria uma característica física, pois não poderia mais fazer longas caminhadas e a pressão do sapato iria lhe trazer incômodo. A segunda seria de característica profissional, devido à dedicação do médico que lhe atendeu, que o influenciou a seguir carreira na medicina. Educação e início de carreira. Em 1914, Juscelino terminou o curso primário. Pagando uma mensalidade, foi estudar no seminário diocesano de Diamantina, dirigido por padres lazaristas. No seminário, teve de usar batina como os demais, seguindo os estudos num regime severo, levantando às cinco horas da manhã e indo dormir às oito horas da noite. Nos estudos, ia razoavelmente bem, com exceção da disciplina de Aritmética na qual tinha dificuldades. Segundo o historiador Francisco de Assis Barbosa, Juscelino era um menino "como outro qualquer, incapaz de despertar inveja ou inimizades devido à sua condição econômica humilde e por seu temperamento brincalhão e avesso a discussões e intrigas." Como não conseguiria sair da cidade para ir estudar em Belo Horizonte por ser menor de idade, dedicou-se a estudar sozinho, conseguindo a ajuda de alguns professores. Teve cursos de língua inglesa com um professor chamado José e língua francesa com a professora Madame Louise. Em meio a dificuldades financeiras, conseguiu obter os exames preparatórios exigidos para o curso de medicina. Em 1919, prestou em BH um concurso para telegrafista na agência central da cidade. Para realizar o concurso exigia-se a idade mínima de dezoito anos, mas ele tinha apenas dezesseis anos incompletos. Para resolver este problema, conseguiu com o oficial de registro de Diamantina uma certidão forjada que marcava como se tivesse nascido em 1900. Ficou em décimo nono lugar, sendo classificado. No final de 1920, mudou-se para a capital mineira. De início, sua mãe pagava os custos do filho na nova cidade, mas ele não morava em boas condições de conforto. Dois anos após o concurso, em maio de 1921, foi divulgada a sua nomeação para telegrafista auxiliar. Em janeiro de 1922, prestou o vestibular e matriculou-se na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais. Em 1926, recebeu o diagnóstico de que estava com estertores no pulmão, tendo que ficar seis meses de cama. No quinto ano de medicina, começou a trabalhar com o seu cunhado e amigo Júlio Soares como interno na enfermaria da clínica cirúrgica da Santa Casa. Juscelino gostava de dançar e, por isso, criou-se a fama de ser um "pé-de-valsa". Numa festa em 1926, conheceu Sarah Gomes de Sousa Lemos, filha do deputado federal Jaime Gomes de Sousa Lemos. A partir de então começaram a namorar. Em 17 de dezembro de 1927, formou-se em medicina, na mesma turma de Pedro Nava; foi na cerimônia de colação de grau que a mãe dele conheceu Sarah. Após a formatura, deixou os Correios, passando a trabalhar em uma clínica cirúrgica particular, com o cunhado na Santa Casa e como assistente do professor universitário Baeta Viana em duas cadeiras, a da Clínica Cirúrgica e Física Médica. Além disso, foi nomeado como médico da Caixa Beneficente da Imprensa Oficial do Estado. No final de abril de 1930, viajou de trem para o Rio de Janeiro, onde partiu para a França no navio "Formose". Viagens e especializações profissionais. O navio onde encontrava-se Juscelino fez várias escalas. O primeiro país em solo estrangeiro que o rapaz conheceu foi Senegal, mais especificamente a cidade de Dakar, seguindo para a cidade de Casablanca, no Marrocos. Juscelino chegou à cidade do Porto, Portugal, e a Vigo, Espanha, descendo próximo a Bordéus, já em território francês, onde pegou um trem para a capital Paris. Lá, inscreveu-se num curso de cultura francesa da Aliança Francesa, atualizando-se no idioma e visitando museus e lugares históricos, mas o objetivo principal da viagem era se especializar em urologia com o doutor Maurice Chevassu, atividade que durou três semanas. Em agosto de 1930, com as férias de verão dos professores, JK embarcou no navio "Lotus" para uma viagem pelo Mar Mediterrâneo. O navio partiu de Marselha e faria uma volta completa pelo Mediterrâneo oriental. Em sua estadia na Europa, conheceu outros lugares, como: Viena, onde frequentou hospitais e enfermarias a fim de assistir operações; a Tchecoslováquia, terra de seu avô materno; e Berlim, cidade em que cumpriu um amplo programa de conhecimentos médicos em sua especialidade. De volta a Paris, confirmou com a embaixada brasileira os boatos de que haveria acontecido a chamada Revolução de 1930, ocasião em que o gaúcho Getúlio Vargas chegou ao poder. Após saber das novidades, JK e seus amigos Cândido Portinari e Leopoldo Fróes saíram pelas ruas a comemorar. No início de novembro de 1930, embarcou no navio "Almirante Alexandrino", donde partiria para o Brasil e chegaria em 21 de novembro de 1930 no Rio de Janeiro. Ao chegar, pediu Sarah em casamento. Casamento e carreira na medicina. Ao retornar para Minas Gerais, Juscelino montou um consultório próprio na rua São Paulo, trabalhou na Santa Casa de Misericórdia e lecionou. Em março de 1931, com a ajuda de Gustavo Capanema, o secretário de Justiça, JK foi nomeado para a Força Pública, indo servir como capitão-médico no Hospital Militar, e ficando encarregado do Laboratório de Análises Clínicas. Em 30 de dezembro de 1931, casou-se com Sarah na Igreja da Paz, em Ipanema, Rio de Janeiro. O vestido de Sarah era longo, sem véu e sem grinalda. A festa foi simples e íntima e o casal passou a lua de mel em um hotel da avenida Atlântica. Juscelino, que então morava com a irmã em Belo Horizonte, alugou uma casa na Avenida Paraúna, próximo a irmã. Após quase doze anos de casamento com Sarah, nasceu em 22 de outubro de 1943 sua primeira filha, Márcia. Na época, JK queria um menino. Em 1947, Juscelino e sua esposa adotaram Maria Estela, que tinha quatro anos de idade e fora dada para a adoção pelos pais biológicos. Revolução Constitucionalista. Em julho de 1932, irrompeu a Revolução Constitucionalista, um conflito entre São Paulo e o Governo Vargas. Enquanto os paulistas rebelavam-se contra Vargas, os mineiros organizavam-se para defender o presidente. Neste contexto, Juscelino foi convocado pelo comando geral para atuar como médico das tropas mineiras que lutavam contra os paulistas na Serra da Mantiqueira. Instalado em Passa Quatro, JK começou a atender, de forma improvisada, feridos nas batalhas. Mais tarde, relembrou: "Nunca pude me esquecer daquele espetáculo. Começaram a descer feridos. Uns tinham a farda ensanguentada, mas ainda caminhavam. Outros, sustentados pelos padioleiros, gemiam, com a roupa estraçalhada, deixando ver ferimentos de estilhaços de granada nas partes expostas. Muitos deixavam-se levar, inertes, os braços caídos e a fisionomia contraída pela dor. Alguns já se encontravam em agonia. Intermitentemente, faziam-se ouvir as peças de grosso calibre, canhões e morteiros. As granadas, explodindo a intervalos, davam-me impressão tão estranha quanto sinistra. Faziam-me pensar, estourando de um extremo a outro, que o Anjo da Morte distendia um imenso sudário para amortalhar a Mantiqueira." JK recebeu um paciente em estado grave. Tendo que operá-lo, pediu a um coronel-médico que o ajudasse, mas este se recusou. Com a ajuda de um veterinário e de uma freira, conseguiu operar o soldado e salvá-lo. Logo depois, recebeu a visita de um capitão do quartel-general, que viera para abrir um inquérito contra o coronel que recusou ajuda a um paciente agonizante, mas Juscelino pediu que o inquérito não fosse aberto. A atitude de não querer prejudicar a carreira de um superior hierárquico do Exército aumentou a simpatia de Juscelino com os militares. Durante a revolução, conheceu o padre esloveno Alfredo Kobal, que serviu no Exército austríaco na Primeira Guerra Mundial, e Benedito Valadares, prefeito de Pará de Minas. Quando os combates acabaram, JK ficou responsável por transferir os feridos para as cidades de Varginha e Guaxupé. Com o fim do conflito na região, em 13 de setembro e resultando na vitória militar de forças pró-Vargas, JK voltou para casa, recebendo pessoalmente de Olegário Maciel, presidente do Estado, agradecimento pelo serviço prestado. Início da carreira política. Em 1933, com a morte de Olegário Maciel, o presidente Vargas nomeou Benedito Valadares para o cargo. Valadares e Juscelino tornaram-se amigos após a campanha eleitoral de 1932, e o novo interventor federal nomeou Juscelino para ocupar o cargo de chefe de gabinete. Ele inicialmente não aceitou o convite, dizendo pessoalmente a Valadares que não iria deixar sua profissão e que não tinha objetivos políticos. Valadares, no entanto, insistiu, indo até o hospital militar onde JK estava trabalhando e anunciando, durante homenagem a Maciel, que havia escolhido-o para compor seu gabinete. JK contou que foi nomeado por "". No cargo, cuidava da agenda de Valadares e resolvia vários problemas conversando com as autoridades. Em Diamantina, por exemplo, conseguiu abrir estradas e preservar edifícios históricos. Nessa época, construiu a sua primeira obra pública: uma ponte sobre o Ribeirão do Inferno, ligando Diamantina à cidade de Rio Vermelho. Durante o período em que desempenhou a função, JK não desativou seu consultório, mas desistiu de desenvolver a tese que pretendia utilizar para candidatar-se a uma cátedra na Faculdade de Medicina. Em outubro de 1934, JK foi eleito deputado federal, filiado ao recém-criado Partido Progressista de Minas Gerais. Ele licenciou-se de suas funções em Belo Horizonte e passou a morar no Rio de Janeiro, a capital federal, onde iniciou seu mandato em 3 de maio de 1935. JK passou mais tempo em seu estado natal do que no Rio de Janeiro e não esqueceu de suas bases eleitorais. Por ser o diretor da secretaria do PP desde setembro de 1934, gastava boa parte de seu tempo organizando o partido no interior mineiro. Em 1937, engajou-se na campanha de José Américo de Almeida, candidato à presidência da República para a eleição programada de 1938. Como deputado, Juscelino atuava nos bastidores, articulando e defendendo os interesses do governo de Valadares. JK raramente discursava na tribuna, preferindo atuações menos expostas, como nas comissões. Também fez várias viagens, inclusive acompanhando Vargas em uma visita à Argentina e ao Uruguai. JK exerceu o mandato de deputado até o fechamento do Congresso Nacional, em 10 de novembro de 1937, com o golpe do Estado Novo, promovido por Vargas. Após o impedimento de seu mandato, confidenciou à esposa que sairia definitivamente da política naquele instante, voltando a exercer medicina em seu consultório particular e no Hospital Militar. Prefeito de Belo Horizonte. No início de 1940, Valadares nomeou Juscelino como prefeito de Belo Horizonte. A princípio, JK não quis aceitar o cargo, argumentando que não apoiava o regime ditatorial, mas sua nomeação foi divulgada em 16 de abril no "Minas Gerais", e foi empossado dois dias depois. Como prefeito, não abandonou a medicina, chegando ao posto de tenente-coronel-médico da Polícia Militar de Minas Gerais, intercalando assim medicina com a Prefeitura. Quando assumiu o cargo, Belo Horizonte tinha duzentos mil habitantes e a cidade estava com problemas financeiros, com arrecadação baixa, dívida aumentando e poucos recursos financeiros disponíveis. JK escolheu dar prioridade às obras públicas que melhorassem e embelezassem a cidade. Durante seu mandato, ficou conhecido como "prefeito furacão" pelas grandes mudanças feitas em BH. Ele restaurou, pavimentou e construiu muitas avenidas, canalizou vários córregos que banhavam a cidade visando o saneamento básico, construiu pontes e realizou terraplenagens a fim de integrar o centro da cidade a vários núcleos populacionais da zona suburbana, e desenvolveu a rede subterrânea de luz e telefone. Uma das mais importantes obras foi a construção do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, um centro de lazer projetado por Oscar Niemeyer que tornou-se um marco cultural nacional. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, iniciou-se no país a redemocratização com a queda do Estado Novo e a posse de José Linhares. Os governantes que haviam sido indicados pela ditadura deixaram os cargos, incluindo Juscelino, em outubro de 1945. Deputado federal pela segunda vez. Após a saída da Prefeitura de Belo Horizonte, decidiu entrar definitivamente na política. Engajou-se na criação do Partido Social Democrático de Minas Gerais, fundado por políticos ligados a Valadares, como o companheiro político João Elias Neto. Nas eleições gerais de dezembro de 1945 foi eleito deputado federal para a Assembleia Nacional Constituinte pelo Partido Social Democrático (PSD), ficando em terceiro lugar. Pelo estado de Minas Gerais, elegeram-se também entre outros vinte deputados, entre eles Tancredo Neves, José Maria Alkmim, Gustavo Capanema e Valadares. Juscelino, juntamente com a esposa e a filha Márcia, foi morar na capital federal, mais especificamente em Copacabana. Em 5 de fevereiro de 1946, foi empossado deputado federal no Palácio Tiradentes. Em seu segundo mandato como deputado federal, JK integrou a Comissão de Transportes e Comunicações, defendeu a transferência da capital federal para o Triângulo Mineiro, e discursou sobre a necessidade de se construir casas populares e de se realizar uma política de conteúdo social, tendo em vista elevar o padrão de vida das pessoas. Ele destacou-se por sua oratória e seus discursos mais importantes, com as frases que ficaram famosas, como "Deus me poupou o sentimento do medo", foram escritos pelo poeta carioca Augusto Frederico Schmidt; destacou-se, também, por sua atuação na chamada "política de bastidores", nome dado para as articulações políticas bem trabalhadas, típica de seu segundo partido político. Em julho de 1946, um grupo de deputados federais, incluindo JK, embarcaram em um avião da Força Aérea com destino a Belém, Pará, com o propósito de conhecer o extremo norte do país. Posteriormente, lembrou que esta foi a primeira vez a entrar em contato com um Brasil diferente daquele que estava acostumado, afirmando: "Se a beleza dos cenários me seduziu e deslumbrou, tive a oportunidade de viver, por outro lado, o drama daquelas populações deserdadas, perdidas nos desvãos de um território imenso e quase sem um vínculo afetivo com a capital da República." Em maio de 1948, viajou com sua esposa para os Estados Unidos, permanecendo neste país durante algumas semanas e conhecendo várias cidades, como Nova Iorque, Chicago, Detroit e Filadélfia. De acordo com suas memórias, essa viagem o convenceu de que o Brasil apenas alcançaria pleno desenvolvimento por meio de uma industrialização intensa e diversificada; desta forma, a passagem pelos EUA desempenhou grande influência em suas visões político-administrativas. Governador de Minas Gerais. No início da década de 1950, o PSD mineiro encontrava-se dividido entre as alas lideradas por Bias Fortes e JK; ambos mantinham o desejo de ser candidato ao governo estadual na eleição de 1950. Em 22 de julho de 1950, o PSD realizou sua convenção, com a comissão executiva, composta por 23 membros, sendo a encarregada pela escolha do candidato. JK acabou sendo o candidato do partido, vencendo a disputa por três votos; posteriormente, Tancredo recordou: "até hoje é um sigilo. Não se sabe quem votou em Juscelino, nem quem votou em Bias Fortes". JK contou, ainda, com o apoio do PR, PTN, PSP e PST. No decorrer da campanha, percorreu 168 municípios. Ironicamente, o outro candidato era o seu Gabriel Passos (PDC-UDN), casado com a irmã de sua esposa. Minas Gerais não tinha produção de energia elétrica suficiente e nem estradas, por isso sua estratégia se baseou no binômio "Energia e Transporte", sugerido pelo reitor da Universidade do Brasil, Pedro Calmon. Apurados os resultados, JK foi eleito governador com 714 mil votos (56,7%), contra 544 mil votos (43,2%) de Gabriel. Pela mesma coalizão de JK, foi eleito para vice Clóvis Salgado da Gama com 676 mil votos (56,5%), derrotando Pedro Aleixo. A disputa pelo Senado foi vencida por Artur Bernardes Filho, também filiado ao PSD. JK assumiu o cargo em 31 de janeiro de 1951, tornando-se o 24.º governador do estado. Como governador, criou a Companhia Energética de Minas Gerais (CEMIG) em 1952 e construiu cinco usinas hidrelétricas, triplicando o poder energético estadual. Com a eletrificação foi possível estimular a industrialização, e assim pôde ser instalado em agosto de 1954 um conjunto de produção metalúrgica na região metropolitana de Belo Horizonte, a Mannesmann, uma siderúrgica alemã que possibilitou a concretização de seus planos: tirar o estado da situação "agropastoril". Foram construídos mais de três mil quilômetros de estradas, 251 pontes e mais de 160 centros de saúde. Quando tomou posse, havia 680 mil alunos matriculados na escola primária, índice que saltou para 1,1 milhão de alunos no final do governo. Uma grande dificuldade que enfrentou como governador foi uma revolta ocorrida em Uberaba, em 1952, contra os elevados impostos estaduais, que causou prejuízos milionários. JK buscou manter sua aliança política com Vargas, eleito presidente em 1950, conquistando a "bênção" do presidente para a realização de seus projetos como governador. Em meio a crise política iniciada com o atentado da rua Tonelero, JK convidou Vargas para participar da inauguração da siderúrgica Mannesmann—sendo esta a última viagem de Vargas antes de se suicidar, no final daquele mês. Juscelino foi o único governador a comparecer ao velório do presidente, ocorrido no Palácio do Catete. Com a posse do vice-presidente Café Filho, JK tentou evitar o agravamento da situação política e colaborou com o novo governo. Ainda como governador, JK iniciou as articulações para candidatar-se à presidência em 1955, visitando diversos estados do país. Após receber o apoio do PSD para sua candidatura, em convenção nacional realizada em fevereiro de 1955, renunciou ao cargo de governador para se candidatar a presidente. Ao vice-governador Clóvis Salgado, afirmou: "vou ter que renunciar, e vão fazer tudo para impedir as eleições. Você vai ter que ficar com essa defesa aqui nas mãos. Porque, sem o apoio de Minas, meu velho, minha candidatura desmorona, não tenha dúvida." Salgado então o tranquilizou. Eleição presidencial de 1955. Através de uma aliança política formada por seis partidos, Juscelino foi eleito Presidente da República em 3 de outubro de 1955, com 35,68% dos votos válidos, a menor votação de todos os presidentes eleitos de 1945 a 1960. Naquela época as eleições realizavam-se em turno único. Nesta eleição, pela primeira vez no Brasil, utilizou-se a cédula eleitoral oficial confeccionada pela Justiça Eleitoral. Antes de 1955 os próprios partidos políticos confeccionavam e distribuíam as cédulas eleitorais. Foi difícil o lançamento da candidatura de Juscelino, pois se acreditava em um veto militar a ele: JK era acusado de ser apoiado pelos comunistas. Somente quando o presidente da república Café Filho divulgou a carta dos militares na Voz do Brasil foi que Juscelino se lançou candidato, alegando que a carta dos militares não citava o seu nome. Em campanha presidencial na Bahia, o então governador daquele estado, Antônio Balbino perguntou a Juscelino qual era a verdadeira posição do "Café". O candidato prontamente respondeu, em clara ironia, referindo-se ao ex-presidente Café Filho: Para dar legitimidade e prestígio à sua candidatura a presidente, JK visitou o já idoso e venerado ex-presidente da república Venceslau Brás em sua residência no sul de Minas. Pediu e conseguiu o apoio do antigo presidente à sua candidatura. A apuração dos votos foi demorada. Em 3 de outubro de 1955, JK elegeu-se com votos (35,68%), o general Juarez Távora recebeu votos (30,27%), Ademar de Barros conseguiu votos (25,77%) e Plínio Salgado conquistou votos (8,28%). Juscelino obteve votos a mais que o candidato da União Democrática Nacional Juarez Távora, e votos a mais que o terceiro colocado, o ex-governador de São Paulo Ademar de Barros. Juscelino foi favorecido pelo lançamento da candidatura de Plínio Salgado, que tirou votos do candidato Juarez Távora. A UDN tentou impugnar o resultado da eleição, sob a alegação de que Juscelino não obteve vitória por maioria absoluta dos votos. A posse de Juscelino e do vice-presidente eleito João Goulart só foi garantida com um levante militar liderado pelo ministro da Guerra, general Henrique Teixeira Lott que, em 11 de novembro de 1955, depôs o então presidente interino da República Carlos Luz. Suspeitava-se que Carlos Luz, da UDN, não daria posse ao presidente eleito Juscelino. Assumiu a presidência, após o golpe de 11 de novembro, o presidente do Senado Federal, Nereu Ramos do partido de JK, o PSD. Nereu Ramos concluiu o mandato de Getúlio Vargas, que fora eleito para governar de 1951 a 1956. O Brasil permaneceu em estado de sítio até a posse de JK em 31 de janeiro de 1956. Viagem internacional. Antes de tomar posse como presidente eleito, JK fez uma série de visitas a outros países, com o objetivo de apresentar aos seus mandatários a política de desenvolvimento que estava planejando para o Brasil: JK foi aos Estados Unidos, cujo governo estava preocupado com as acusações da oposição de que Juscelino tivesse sido eleito com o voto dos comunistas. Nesta viagem não haveria obtido sucesso, pois os empresários de lá não lhe deram atenção. Também viajou para a Europa (Inglaterra, França, Alemanha, Holanda, Bélgica, Espanha, Portugal, Itália e Vaticano). Presidente do Brasil. Juscelino foi o último presidente da República a assumir o cargo no Palácio do Catete. Foi empossado em 31 de janeiro de 1956, e governou por cinco anos, até 31 de janeiro de 1961. Seu vice-presidente, eleito também em 3 de outubro de 1955, foi João Goulart. Não havia reeleição naquela época. Foi o primeiro presidente civil desde Artur Bernardes a cumprir integralmente seu mandato. Juscelino Kubitschek empolgou o país com seu "slogan" "Cinquenta anos em cinco", conseguiu um processo de rápida industrialização, tendo como carro-chefe a indústria automobilística. Houve, no seu governo, um forte crescimento econômico, porém, houve também um significativo aumento das dívidas públicas interna e externa, bem como da inflação nos governos seguintes de Jânio Quadros e João Goulart. Os anos de seu governo são lembrados como ""Os Anos Dourados", coincidindo com a fase de prosperidade norte-americana conhecida como "The Great American Celebration", que se caracterizou pela baixa inflação, elevadas taxas de crescimento da economia e do padrão de vida dos norte-americanos. O Plano de Metas. Em seu mandato presidencial, Juscelino Kubitscheck lançou o Plano Nacional de Desenvolvimento, também chamado de Plano de Metas, que tinha o célebre lema "Cinquenta anos em cinco"". O plano tinha 31 metas distribuídas em cinco grandes grupos: energia, transportes, alimentação, indústria de base, educação e a meta principal ou meta-síntese: a construção de Brasília. O Plano de Metas visava estimular a diversificação e o crescimento da economia brasileira, baseado na expansão industrial e na integração de todas as regiões do Brasil, através da nova capital localizada no centro do território brasileiro, na região do Brasil Central. A estratégia do Plano de Metas era corrigir os ""pontos de estrangulamento" da economia brasileira, em termos atuais reduzir o Custo Brasil, que poderiam estancar o crescimento econômico brasileiro (por falta de estradas e energia elétrica) e reduzir a dependência das importações, no processo chamado de "substituição de importações"", já que o Brasil padecia de uma crônica falta de divisas externas (dólares). A convivência democrática. Outro fato importante do governo de JK foi a manutenção do regime democrático e da estabilidade política, que gerou um clima de confiança e de esperança no futuro entre os brasileiros. Teve grande habilidade política para conciliar os diversos setores da sociedade brasileira, mostrando-lhes as vantagens de cada setor dentro da estratégia de desenvolvimento de seu governo. JK evitou qualquer confronto direto com seus adversários políticos e apelou a eles para que fizessem oposição sempre dentro das leis democráticas. Anistiou os militares revoltosos de Jacareacanga e Aragarças. Muitos políticos da UDN (adversária do PSD de Juscelino) o apoiavam, ficando estes políticos conhecidos como a "UDN chapa-branca". Outro momento de tensão política do seu governo foi em 23 de novembro de 1956, quando JK ordenou a prisão domiciliar do general Juarez Távora, que havia sido derrotado nas eleições de 1955. O motivo seria o fato de Juarez Távora ter desafiado a ordem de JK, dada em 21 de novembro de 1956, que proibia os militares de fazerem manifestação ou comentário político. O ministro da Guerra Henrique Teixeira Lott cumpriu a ordem de prisão, mas pediu exoneração do cargo, porém voltou atrás. Com sua atitude enérgica e apoio de Lott, JK se fortaleceu entre os militares, setor em que tinha antes pouca aceitação e prestígio. JK fechou também, em novembro de 1956, a ""Frente de Novembro" e o "Clube da Lanterna"", que faziam oposição a JK. Seu maior adversário político foi Carlos Lacerda, com o qual se reconciliou posteriormente. Juscelino não permitiu que Carlos Lacerda desse declarações a emissoras de televisão durante todo o seu governo. Juscelino confessou a Lacerda, depois, que se tivesse deixado Lacerda dar tais declarações, este o derrubaria. Economia e obras. O governo de Juscelino Kubitschek usou uma plataforma nacional desenvolvimentista, o Plano de Metas, lançado em 1956, e permitiu a abertura da economia brasileira ao capital estrangeiro. Entre 1955 e 1961, entraram mais de dois bilhões de dólares destinados às metas. Isentou de impostos de importação as máquinas e equipamentos industriais, assim como liberou a entrada de capitais externos em investimentos de risco, desde que associados ao capital nacional ("capital associado"). Para ampliar o mercado interno, o plano ofereceu uma generosa política de crédito ao consumidor. O país crescia 7,9% ao ano. JK promoveu a implantação da indústria automobilística com a vinda de fábricas de automóveis para o Brasil. Como na época os Estados Unidos estavam mais interessados no mercado europeu, vieram marcas europeias, inicialmente com o capital alemão (Volkswagen), francês (Simca) e nacional com tecnologia estrangeira (Vemag). Promoveu a indústria naval com capital japonês, holandês e nacional, e a siderurgia com recursos estatais do BNDES e capital japonês agregado à Usiminas. Construiu grandes usinas hidrelétricas, como Furnas, localizada em São João da Barra, e Três Marias. A construção de Furnas foi iniciada em 1957 e concluída em 1963. Furnas formou um dos maiores lagos artificiais do mundo que banha 34 municípios mineiros e que ficou conhecido como o "Mar de Minas Gerais". O processo de industrialização da região Sudeste com a criação de empregos, aumenta a vinda dos nordestinos para essa região, principalmente São Paulo e Rio de Janeiro, assim como imigrantes das áreas rurais de todo o país. Muitos empresários, principalmente os paulistas, acreditavam que o pouco desenvolvimento da região Nordeste era um dos maiores obstáculos para a ampliação do mercado interno, pois excluía um terço da população. Em 15 de dezembro de 1959, JK criou a Superintendência de Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) para integrar a região ao mercado nacional. Abriu as rodovias transregionais que uniram todas as regiões do Brasil, antes sem ligação rodoviária entre elas. Aumentou a produção de petróleo da Petrobras. Com exceção das empresas de energia hidrelétrica, Juscelino praticamente não criou nenhuma empresa estatal. Comprou, em 1956, para a Marinha do Brasil, o seu primeiro porta-aviões, o NAeL Minas Gerais (A-11). Entre 1959 e 1960, houve uma crise na obra de construção de Brasília. As verbas haviam acabado e JK entendia que não poderia terminar o governo sem construir Brasília. Ao pedir um empréstimo de 300 milhões de dólares para o Fundo Monetário Internacional (FMI), o órgão exigiu que o país "colocasse a casa em ordem antes de pedir ajuda financeira". JK substituiu o ministro da Fazenda José Maria Alkmim por Lucas Lopes, mas rompe "todos os entendimentos com o FMI". Lucas Lopes ficou por um ano no ministério e saiu após sofrer um infarto. O historiador estadunidense Thomas Skidmore diz que o contentamento era maior do que se o Brasil tivesse recebido os 300 milhões, pois "os brasileiros tinham a sensação de estar desafiando com êxito as autoridades estrangeiras para as quais seus vizinhos da Argentina e Chile abaixavam a cabeça". JK emitiu títulos da dívida pública e cartas precatórias, que são papéis negociados na bolsa de valores para se conseguir capital de curto prazo. JK vendeu esses papéis com deságio, ou seja, com um preço abaixo do valor de mercado que poderia ser recuperado posteriormente em um prazo de cinco anos. Com isso, conseguiu dinheiro para terminar a construção de Brasília, no entanto, fez com que JK fosse acusado de inviabilizar os próximos governos do país, por aumentar a dívida pública federal. Junto com Brasília, uma grande obra rodoviária ajudou muito o povoamento e desenvolvimento do Brasil Central e da Amazônia: a rodovia BR-153 (antiga BR-14), também conhecida como Rodovia Belém-Brasília. Outras obras rodoviárias importantes ligando regiões brasileiras, feitas por Juscelino, foram: O governador de Rondônia na época, Paulo Nunes Leal, em seu livro ""O outro braço da Cruz", conta como conseguiu de JK a construção da BR-364 em 2 de fevereiro de 1960: Os críticos de Juscelino Kubitschek frisam o fato de ele ter priorizado o transporte rodoviário em detrimento do transporte ferroviário com a implantação da indústria automobilística no Brasil, o que teria causado prejuízos econômicos como o crescimento das importações de derivados de petróleo (gasolina e óleo diesel) e petróleo, e também provocado isolamento e decadência de certas cidades. JK conseguiu entretanto, com a inauguração da Refinaria de Duque de Caxias, em 1961, a autossuficiência do Brasil na produção de derivados de petróleo, passando o Brasil, a partir de então, a importar apenas a matéria-prima, produzindo os derivados de petróleo nas refinarias brasileiras. A opção pelas rodovias é considerada, por muitos, danosa aos interesses do país, que estaria mais bem servido por uma grande rede ferroviária. Na década de 1920, o presidente Washington Luís também havia sido contestado por construir rodovias, sendo apelidado de "General Estrada de Bobagem"", um trocadilho com "estrada de rodagem". Mesmo após o governo Juscelino, continuou forte, no Brasil a oposição política à construção de rodovias: na década de 1960, em São Paulo, Ademar de Barros foi muito criticado por construir a Rodovia Castelo Branco, tida na época, como obra cara e desnecessária. A dívida externa brasileira aumentou de 87 milhões de dólares, em 1955, para 297 milhões de dólares em 1959. Esta dívida foi ainda agravada pelas altas remessas de lucros das empresas estrangeiras de "capital associado" e pelo consequente aumento do déficit na balança de pagamentos. Houve também uma elevação da dívida interna brasileira em aproximadamente 500 milhões de dólares. Apesar do crescimento econômico, a construção de Brasília fez com que o mandato de Juscelino Kubitschek terminasse com crescimento da inflação, aumento da concentração de renda e arrocho salarial. Em 1956, a taxa de inflação era de 19,2%, e em 1960, de 30,9%. Ocorreram várias manifestações populares, com greves na zona rural e nos centros industriais que se alastram nos governos seguintes. De fato, a expansão do crédito, a grande quantidade de importações para a indústria automobilística e as constantes emissões de moeda - para manter os investimentos estatais e pagar os empréstimos externos - provocaram crescimento da inflação e queda no valor dos salários. Em 1960, a inflação estava a 30,9% ao ano, subiu para 43% em 1961, para 55% em 1962 e chegou a 81% em 1963. O economista Roberto de Oliveira Campos, um dos coordenadores do Plano de Metas, foi um dos primeiros economistas a alertar Juscelino para o caráter inflacionário da construção de Brasília. Durante o governo JK, a produção industrial cresceu 80%, os lucros da indústria cresceram 76%, mas os salários cresceram apenas 15%. Porém, o salário-mínimo do trabalhador brasileiro, em 1959, foi, considerado o mais alto, em valores reais, de todos os tempos. Esportes. Na Suécia, em junho de 1958, acontecia a Copa do Mundo. A Seleção Brasileira havia conquistado o seu primeiro título. Em 1959, a tenista Maria Esther Bueno venceu os torneios de US Open e Wimbledon; e, a seleção brasileira de basquete masculina foi campeã mundial no Chile. Cultura. Fundou a Orquestra Sinfônica Nacional da Universidade Federal Fluminense. Construção de Brasília. A construção de Brasília foi um dos fatos mais marcantes da história brasileira, e da política de JK no seu mandato de cinco anos como presidente, sendo uma das maiores obras do século XX. A ideia de construir uma nova capital no centro geográfico do País estava prevista na Constituição de 1891, na Constituição de 1934 e na Constituição de 1946, mas foi adiada sua construção por todos os governos brasileiros desde 1891. A promessa de construir Brasília foi feita por JK, no dia 4 de abril de 1955, em um comício em Jataí, no estado de Goiás quando, no final do comício, JK resolveu ouvir perguntas de populares e o estudante para tabelião Antônio Soares Neto, o "Toniquinho", perguntou a JK se este iria cumprir toda a constituição do Brasil de 1946, inclusive o artigo referente a nova capital. "Toniquinho" se referia ao artigo 4.º do "Ato das disposições constitucionais transitórias da Constituição de 1946" que dizia: O Congresso Nacional, mesmo com descrença, aprovou a lei n.º , sancionada por JK, em 19 de setembro de 1956, determinando a mudança da Capital Federal e criando a Companhia Urbanizadora da Nova Capital — Novacap. As obras, lideradas pelos arquitetos Lúcio Costa e Oscar Niemeyer começaram com entusiasmo em fevereiro de 1957. Mais de duzentas máquinas e trinta mil operários - os candangos - vindos de todas as regiões do Brasil (principalmente do Nordeste do Brasil), exerceram um regime de trabalho ininterrupto, dia e noite, para construir e concluir Brasília até a data prefixada de 21 de abril de 1960, em homenagem à Inconfidência Mineira. As obras terminaram em tempo recorde de 41 meses — antes do prazo previsto. Já no dia da inauguração, em pomposa cerimônia, Brasília era considerada como uma das obras mais importantes da arquitetura e do urbanismo contemporâneos. Além da obediência à Constituição, a construção da Nova Capital visava a integração de todas as regiões do Brasil, a geração de empregos, absorvendo o excedente de mão de obra da região Nordeste do Brasil e o estímulo ao desenvolvimento do interior, desafogando a economia saturada do Centro-Sul do país. Acusações de corrupção. JK também foi acusado diversas vezes de corrupção. As acusações vinham desde os tempos em que ele era governador, e se intensificaram no período em que ele foi presidente. As denúncias se multiplicaram por conta da construção de Brasília: havia sérios indícios de superfaturamento das obras e favorecimento a empreiteiros ligados ao grupo político de Juscelino. Outro caso rumoroso foi o da empresa aérea Panair do Brasil, pertencente a amigos de JK, que foi acusada de possuir um monopólio do transporte de pessoas e materiais enviados para a construção de Brasília. Durante a construção de Brasília, como a BR-050 ainda não estava pronta, grande parte dos materiais e equipamentos utilizados na obra eram transportados por aviões. A imprensa chegou a dizer que JK teria a sétima maior fortuna do mundo, o que nunca foi provado. Durante a campanha eleitoral de 1960, para a escolha de seu sucessor, as denúncias de corrupção contra JK foram amplamente exploradas pelo candidato Jânio Quadros, que prometia "varrer a corrupção" do governo de JK. Este respondeu a Inquérito Policial Militar durante o regime militar, acusado de corrupção e de ter apoio dos comunistas. Quando de sua morte, porém, o seu inventário de bens mostrou um patrimônio modesto, tendo sua filha Márcia precisado vender um apartamento para financiar sua campanha eleitoral à Câmara dos Deputados. O edifício Ciamar. O consórcio de empreiteiras (Sotege-Rabello) seria responsável pela construção do edifício Ciamar, onde JK teria ganho um apartamento e também por benfeitorias feitas num terreno que o governo paraguaio doara a Juscelino na região de Foz do Iguaçu. O dono do apartamento, Sebastião Paes de Almeida, amigo de JK e ex-ministro da Fazenda, foi considerado um "laranja" de Juscelino. O então chefe do Gabinete de Segurança Institucional e futuro presidente da república, Ernesto Geisel, acompanhou o processo pessoalmente. A denúncia foi arquivada em 1968 por falta de provas. Atualmente, o edifício Ciamar chama-se "JK" e está localizado no Leblon. Avalia-se que tal escândalo influenciou diretamente a eleição de Jânio Quadros e até mesmo na tomada de poder pelos militares. Escândalo sexual. Manteve, durante 18 anos (1958 a 1976), um romance secreto com Maria Lúcia Pedroso, esposa do deputado e assessor de JK José Pedroso. Ele a conheceu aos 23 anos durante a comemoração do seu aniversário de 56 anos. José Pedroso descobriu o caso em 1968, chegando a ameaçar matá-los com um revólver. Preferiu posteriormente contar tudo à esposa de Kubitschek. Mesmo com a traição descoberta, Pedroso manteve-se casado e vivendo na mesma casa com Maria Lúcia, porém dormindo em quartos separados. Sarah proibia JK de ir ao Rio de Janeiro, onde vivia Maria Lúcia, para que não a encontrasse. Juscelino acabou morrendo num acidente de carro na Via Dutra, justamente quando estava indo encontrar-se com Maria Lúcia. A vedete e ex-amante de Getúlio Vargas, Virgínia Lane, também disse ter passado uma noite com Juscelino. Política externa. No plano internacional, Juscelino procurou estreitar as relações entre o Brasil e os Estados Unidos, ciente de que isso ajudaria na implementação de sua política econômica industrial e na preservação da democracia brasileira. Formulou a Operação Pan-americana, iniciativa diplomática em que solicitava apoio dos Estados Unidos ao desenvolvimento da América do Sul, como forma de evitar que o continente americano fosse assolado pelo fantasma do comunismo. Arquivos do Instituto para o Estudo dos Regimes Totalitários, indicam que seu ministro interino da educação, Celso Brant, foi um colaborador da StB (serviço de inteligência da Tchecoslováquia). De acordo com fontes russas, o casal de espiões soviéticos Mikhail e Anna Filonenko, infiltrados no Brasil de 1954 a 1960 com as identidades falsas de "Joseph Ivanovich Kulda" e "Mariya Navotnaya", conseguiram aproximar-se do círculo do presidente. Manifestações contra JK. Duas semanas após a posse de JK, a 11 de fevereiro de 1956, ocorre a Revolta de Jacareacanga, liderada pelo major-aviador Haroldo Veloso e pelo capitão-aviador José Chaves Lameirão. Acusavam o presidente de supostas associações com grupos financeiros internacionais para a entrega de petróleo e minerais estratégicos, e de infiltração comunista nos postos militares de alto-comando. No mesmo mês, a rebelião militar foi debelada. Enviou ao Congresso um projeto de lei que concedeu anistia ampla e irrestrita a todos os civis e militares que tivessem participado de movimentos políticos ou militares no período de 10 de novembro de 1955 até 19 de março de 1956. No início do governo, acontecem duas greves de transportes públicos em São Paulo. No Rio de Janeiro, a empresa canadense Light S.A. aumenta o preço das passagens de bonde, atitude que levou à primeira manifestação pública de estudantes e populares. Em uma semana, com as lideranças sindicais no Palácio do Catete, JK negociou o fim do movimento com a redução das tarifas. JK conseguiu conciliar o país nos inúmeros conflitos. Em 3 de dezembro de 1959, em Aragarças eclode uma nova rebelião, com a participação de dez oficiais da Aeronáutica, três do Exército e alguns civis mais radicais ligados às ideias de Carlos Lacerda. Os rebeldes denunciavam "a conspiração comunista em marcha", que seria inspirada pelo governador do Rio Grande do Sul Leonel Brizola. Iniciou-se com o sequestro do primeiro avião brasileiro, do modelo Constellation da empresa Panair. Em 36 horas, o movimento foi debelado através da conciliação e anistia aos rebeldes. Espiritismo e Maçonaria. Há relatos dando conta de que o presidente Juscelino enviava perguntas ao médium Chico Xavier pedindo conselhos sobre problemas enfrentados durante a construção de Brasília. Concedeu indulto ao médium José Pedro de Freitas, o "José Arigó", ou "Zé Arigó", que fora preso acusado de exercício ilegal da medicina. Existem relatos de que JK fazia parte da Maçonaria, informação esta nunca confirmada pela maçonaria brasileira. A eleição do sucessor de JK. As eleições de 3 de outubro de 1960 foram vencidas pelo candidato oposicionista Jânio Quadros, ex-governador de São Paulo apoiado pela UDN. Jânio obteve 48% dos votos válidos, em um total de quase seis milhões de votos, a maior votação nominal obtida por um político brasileiro até então. Juscelino apoiou o militar Marechal Henrique Lott, seu ministro da guerra, morto em 19 de maio de 1984, e que havia garantido a posse de JK em 1955. Lott era o candidato a presidente pela aliança PSD-PTB que tinha João Goulart candidato a reeleição como vice-presidente da república. A disputa entre Jânio e Lott foi chamada de "a campanha da vassoura contra a espada". Ademar de Barros, novamente candidato, definiu-se como ""a candidatura de protesto", e obteve o terceiro lugar. João Goulart foi reeleito vice-presidente da república. Ao passar a faixa presidencial para Jânio Quadros, em 31 de janeiro de 1961, Juscelino tornou-se o primeiro presidente civil desde Artur Bernardes, eleito pelo voto direto, que iniciou e concluiu seu mandato dentro do prazo determinado pela Constituição Federal. Após JK, o primeiro presidente civil eleito pelo voto direto a cumprir integralmente seu mandato foi Fernando Henrique Cardoso. Os Anos Dourados. Após a retomada da democracia no Brasil em 1945, Juscelino Kubitschek e sua atuação como governador de Minas Gerais e na Presidência da República, foram referências para o Brasil entre os anos de 1951 e 1961. A era JK ficou conhecida como os "anos dourados". Ao longo da década de 1950, a economia brasileira foi industrializada rapidamente, passando de rural a urbana. Nessa época foram se popularizando os eletrodomésticos, que prometiam facilitar a vida do lar. Eram de todos os tipos, desde enceradeiras até aspiradores de pó, carros, televisores, o rádio e os toca-discos portáteis e o disco de vinil. Foram criados os objetos de plástico e fibra sintética, além de casas com mobílias com menos adornos. Este estilo de vida foi criado nos Estados Unidos e recebeu o nome de "American way of life", (estilo de vida americano) e, por conta da influência norte-americana durante e após a Segunda Guerra Mundial, espalhou-se pelo mundo. Enquanto tudo isso se consolidava, os meios de comunicações e de diversões se ampliavam. Eram emissoras de rádios que através das ondas curtas chegavam a grande parte do interior do Brasil, revistas como Seleções e O Cruzeiro, jornais, radionovelas, o teatro de revista, programas radiofônicos de musicais e os humorísticos, o radiojornal Repórter Esso e as comédias e as chanchadas da Atlântida Cinematográfica do Rio de Janeiro. O cinema brasileiro teve sua fase dourada, nos anos 1950, com a Companhia Cinematográfica Vera Cruz, de São Paulo, e a premiação do filme "O Cangaceiro", no exterior, em 1953. Os teatros, rádios, especialmente a Rádio Nacional, radionovelas, radiojornais, teleteatros e telejornais na televisão que já atingia a maioria das capitais brasileiras, tinham mais audiência que nunca. Em 1958, a música popular brasileira é sucesso no exterior, especialmente a Bossa Nova, criada naquela época, e com sucessos como "Chega de Saudade" de Vinicius de Moraes e Tom Jobim. O salário-mínimo, em 1959, descontando a inflação, ou seja, em valores reais, é considerado o mais alto da história do Brasil. Após a presidência. Em janeiro de 1960, pouco antes de deixar a presidência, JK deixou uma mensagem de agradecimento ao professor José Antero de Carvalho, na qual resume sua visão sobre seu governo e seu futuro político. A carta tinha o seguinte teor: Juscelino foi eleito senador pelo estado de Goiás em 1962. Desejava concorrer novamente à Presidência da República, nas eleições marcadas para 3 de outubro de 1965. Sua pré-campanha eleitoral foi chamada de "JK-65: A vez da agricultura"". A candidatura de JK foi lançada pelo PSD, em 20 de março de 1964. Os outros pré-candidatos eram Carlos Lacerda, Leonel Brizola e Jânio Quadros. Estas candidaturas foram abortadas pelo golpe militar de 1964, iniciado em 31 de março de 1964. Em 11 de abril de 1964, o Congresso Nacional elegeu o general Castelo Branco presidente da república e o antigo amigo de Juscelino, do tempo do seminário em Diamantina, José Maria Alkmin, como vice-presidente da república. Juscelino, na condição de senador por Goiás, votou em Castelo Branco e em Alkimin. Seu voto foi um dos mais ovacionados e aplaudidos da sessão. Acusado de corrupção e de ser apoiado pelos comunistas, teve os direitos políticos cassados, em 8 de junho de 1964, perdendo o mandato de senador por Goiás. A partir de então passou a percorrer cidades dos Estados Unidos e da Europa, em um exílio voluntário. Voltou ao Brasil, logo depois das eleições de 3 de outubro de 1965, nas quais dois aliados de JK e adversários do governo Castelo Branco, Francisco Negrão de Lima e Israel Pinheiro da Silva, venceram as eleições para governador na Guanabara e em Minas Gerais, respectivamente, porém JK permaneceu pouco no Brasil, logo voltando para o exílio. Após esse segundo exílio voluntário, regressou definitivamente ao Brasil em 1967. Posteriormente, tentou articular em 1967 a Frente Ampla de oposição ao regime militar, juntamente com o ex-presidente João Goulart e o ex-governador da Guanabara, Carlos Lacerda, este último seu antigo adversário político. JK pretendia voltar à vida política depois de passados os dez anos da cassação de seus direitos políticos. Para dissuadi-lo, os militares usaram os fantasmas das denúncias de corrupção, buscando desmoralizá-lo politicamente. Eles ameaçavam levar as investigações adiante, caso Juscelino tentasse voltar à cena política. Apesar dos fortes indícios de corrupção e da pressão de alguns segmentos políticos e da opinião pública da época, JK nunca chegou a responder formalmente à Justiça pelas acusações de corrupção, porém respondeu aos Inquéritos Policiais Militares a que foi submetido. Um ano antes de sua morte, seu nome ainda era proibido na televisão brasileira. Assim, a telenovela Escalada, exibida em 1975, pela Rede Globo, em que era tratado o tema da construção de Brasília, não pode mencionar o seu nome. O recurso usado pelo autor Lauro César Muniz foi mostrar os personagens assoviando a música "Peixe-Vivo" que identificava JK. Morte. Morreu em 22 de agosto de 1976, durante uma viagem de carro na Rodovia Presidente Dutra, faltando exatamente 3 semanas para completar 74 anos . Segundo as autoridades de então, teria sido um mero acidente automobilístico, no antigo quilômetro 165 (atual 328) da Rodovia Presidente Dutra, na altura da cidade fluminense de Resende. O automóvel em que viajava, um Chevrolet Opala, colidiu violentamente com uma carreta carregada de gesso, tendo também seu motorista e amigo Geraldo Ribeiro, morrido no acidente. O local do acidente ficou conhecido como "Curva do JK", antes conhecido como "Curva do Açougue". Mais de trezentas mil pessoas assistiram ao seu funeral em Brasília, onde a multidão cantou a música que o identificava: "Peixe Vivo". Seus restos mortais repousam no Memorial JK, construído em 1981, na capital federal do Brasil, Brasília, por ele fundada. Em 1996 seu corpo foi exumado, para se esclarecer a causa de sua morte, levantando-se novamente a polêmica sobre o caso. O laudo oficial da exumação novamente concluiu que foi apenas um acidente de trânsito, sendo tal laudo contestado pelo secretário particular de JK, Serafim Jardim, no livro "JK, onde está a verdade". Em 2001, a Câmara dos Deputados instituiu uma Comissão Externa - requerida pelo marido da neta de JK, ex-deputado Paulo Octávio - para averiguar as suspeitas de assassinato do ex-presidente. A apuração final da Comissão foi taxativa: Em 2012, a Comissão Nacional da Verdade, que analisa os crimes políticos ocorridos entre 1946 e 1988, decidiu analisar o inquérito sobre a morte de Juscelino. Em 9 de dezembro de 2013, a Comissão Municipal da Verdade Vladimir Herzog, da cidade de São Paulo, afirmou que o ex-presidente na realidade foi assassinado. Em 22 de abril de 2014, a Comissão Nacional da Verdade concluiu que a morte de JK foi acidental. Representações na cultura e homenagens. JK é geralmente admirado pela população brasileira como um visionário empreendedor, que concretizou seus planos em grandes obras, dando sequência ao processo de modernização do país iniciado por Vargas - conquanto JK não mantivesse o mesmo apelo nacionalista que caracterizara o governo de seu antecessor. Sua opção por um projeto de desenvolvimento econômico associado ao capital externo (fortemente financiado por bancos internacionais e impulsionado por empresas estrangeiras), pela infraestrutura com base no transporte rodoviário e no petróleo, pelo incentivo à grande indústria automobilística, assim como o seu anticomunismo, aproximaram Juscelino e os Estados Unidos. Sua habilidade política no âmbito doméstico, evidenciada sobretudo na condução das várias tentativas de desestabilização sofridas por seu governo, é igualmente lembrada de maneira favorável. A vida e carreira política de Juscelino Kubitschek foi tema de muitos livros e, de 3 de janeiro até 24 de março de 2006, foi contada através de uma minissérie da Rede Globo intitulada "JK". Juscelino Kubitschek foi retratado como personagem no cinema, teatro e na televisão, interpretado por José de Abreu no filme "Bela Noite para Voar" (2005), e José Wilker e Wagner Moura na minissérie de televisão "JK" em 2006. No teatro foi interpretado pelo ator John Vaz no espetáculo "JK 1902 - 2002" no Museu da República RJ em comemoração aos cem anos de JK. Em 1980, foi lançado o documentário: "Os Anos JK - Uma Trajetória Política", dirigido por Sílvio Tendler. Em 2002, Sílvio Tendler lançou o documentário "JK – O Menino que Sonhou um País". Teve sua efígie impressa nas notas de Cz$ 100,00 (cem cruzados) de 1986, e teve sua efígie cunhada no verso das moedas de um real, lançadas em 2002, no Brasil, comemorativas do centenário de seu nascimento. Foi criada a "Comenda JK", também conhecida como a "Jóia de JK" (cravejada com 22 rubis e cinco esmeraldas) durante as comemorações de seus cem anos. No Palácio da Alvorada, o presidente Fernando Henrique Cardoso recebeu a primeira peça das mãos de uma das filhas de JK, e do Comendador Regino Barros, Grão Mestre da Soberana Ordem do Mérito do Empreendedor JK, e presidente do CICESP, Centro de Integração Cultural e Empresarial de São Paulo, considerada a mais alta condecoração da Sociedade Brasileira. Em 1986, no décimo aniversário de morte de Juscelino Kubitschek, o compositor Cláudio Santoro escreveu, por encomenda do então Governador do Distrito Federal José Aparecido de Oliveira, a obra "Réquiem para JK", baseada no texto rito fúnebre católico. A obra foi estreada no Teatro Nacional de Brasília em 4 de outubro de 1986, com o Coro e a Orquestra Sinfônica do Teatro Nacional de Brasília sob a regência do compositor. A Rodovia Juscelino Kubitschek que liga Brasília à cidade Rio de Janeiro, o Aeroporto Internacional de Brasília, a Rodovia Presidente Juscelino Kubitschek que compreende o trecho da BR-020 entre Formosa e Fortaleza, e as cidades de Presidente Juscelino (Minas Gerais), Presidente Kubitschek (Minas Gerais) e Presidente Juscelino (Maranhão) foram nomeadas em sua homenagem. Filé a JK é considerado um prato típico da cidade de Franca e foi batizado em homenagem a Kubitschek. O prato consiste de filé mignon recheado com queijo muçarela e presunto (e fritos à milanesa), acompanhado de batata frita, banana à milanesa e arroz (com gemas pasteurizadas, ervilhas, cebolinha e manteiga). Em 2013 o prato foi tombado como patrimônio histórico e cultural do município de Franca. Existe uma escola em sua homenagem localizada no bairro de Jardim América, na Zona Norte do Rio de Janeiro, a Escola Técnica Estadual Juscelino Kubitschek, inaugurada no final dos anos 70 pelo Governador Chagas Freitas e com a presença de Sarah Gomes de Lemos. Além dessa, no Distrito Federal por volta da década de 1970 foi inaugurada uma escola chamada JK, em homenagem ao presidente, a qual hoje é um grupo de unidades presente em pontos estratégicos da UF oferecendo ensino desde a educação infantil até faculdade, sendo reconhecido como um dos melhores centros educacionais de Brasília. Quando estava em Portugal durante a viagem internacional a 22 de janeiro de 1956, recebeu a 3 de fevereiro desse ano a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, tendo recebido também a Grã-Cruz da Banda das Três Ordens a 30 de julho de 1957 e o Grande-Colar da Ordem do Infante D. Henrique a 20 de outubro de 1960. Na cidade de Guanhães, o ex-prefeito, companheiro de partido e grande amigo de JK, João Elias Neto, através da Lei 483 de Setembro de 1959, aprovou a nomeação de Praça Juscelino Kubitschek à praça localizada próxima à Igreja Matriz de São Miguel e Almas.
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Jânio Quadros
Jânio Quadros Jânio da Silva Quadros (Campo Grande, – São Paulo, ), assinava Janio Quadros (sem acento e aceito), foi um advogado, professor, letrólogo e político brasileiro. Foi prefeito e governador de São Paulo nos anos 1950. Em seguida, foi o 22.º presidente do Brasil, entre 31 de janeiro de 1961 e 25 de agosto de 1961, data em que renunciou ao seu mandato. Em 1985, elegeu-se novamente prefeito de São Paulo dessa vez pelo PTB, tomando posse em 1 de janeiro de 1986, tendo sido este o seu último cargo eletivo. Jânio Quadros utilizou-se da imagem de combate à corrupção durante toda a sua carreira política, tendo a vassoura como símbolo. Porém, no final da sua vida, enfrentou acusações de corrupção. Biografia. Primeiros anos e estudos. Filho do médico e engenheiro agrônomo Gabriel Quadros, nasceu no estado de Mato Grosso (na porção que hoje corresponde ao Mato Grosso do Sul), mas foi criado em Curitiba, tendo feito os dois primeiros anos do ensino fundamental no Grupo Escolar Conselheiro Ezequiel da Silva Romero Bastos (hoje Colégio Estadual Conselheiro Zacarias), e estudado três anos, de 1927 a 1930, no Colégio Estadual do Paraná. Na capital paranaense foi colega de escola do futuro governador e ministro Ney Braga, tanto quanto do treinador da Seleção Brasileira, João Saldanha. Mudou-se para São Paulo, morando em bairros da Zona Norte, como Santana e, depois, Vila Maria, que se converteria em seu mais fiel e cativo reduto eleitoral. Estudou no Colégio Marista Arquidiocesano de São Paulo para, depois, formar-se em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, abrindo banca na capital paulista em 1943, logo após a sua graduação. Foi professor de Geografia no tradicional Colégio Dante Alighieri e no Colégio Vera Cruz, tendo sido considerado um excelente docente em ambas as instituições. Tempos depois, lecionou Direito Processual Penal na Faculdade de Direito da Universidade Presbiteriana Mackenzie. Vida política. Em 1947, foi eleito vereador com 1707 votos na cidade de São Paulo pelo Partido Democrata Cristão (o mesmo partido do jovem André Franco Montoro, a quem enfrentaria em uma eleição estadual 35 anos depois). Por ocasião da cassação (por determinação geral do então presidente Eurico Gaspar Dutra) dos mandatos dos vereadores ex-membros do Partido Comunista Brasileiro (o qual havia tido, em 7 de maio de 1947, seu registro cassado), então integrantes do (e eleitos pelo) Partido Social Trabalhista e chamados "Candidatos de Prestes", alguns suplentes de vereadores foram elevados ao cargo de vereador. É altamente difundida a versão de que Jânio teria recebido assim a posição de vereador. No entanto, constata-se que ele havia sido um dos três vereadores já originalmente eleitos pelo PDC, sendo que um quarto (Yukishigue Tamura) elegera-se suplente e tornou-se vereador por conta das cassações do PST. Na ocasião ficou conhecido como o maior autor de proposições, projetos de lei e discursos de todas as casas legislativas do país no período, assinando ainda a maior parte das propostas e projetos considerados favoráveis à classe trabalhadora. Na sequência foi consagrado como o deputado estadual mais votado do Estado de São Paulo, com mandato entre 1951 e 1953. A 27 de janeiro de 1952 foi feito Grande-Oficial da Ordem Militar de Cristo de Portugal. Prefeito e governador. A seguir elegeu-se prefeito do município de São Paulo, o que caracterizou uma grande façanha, pois enfrentou um enorme arco de partidos políticos, assim composto: PSP-PSD-UDN-PTB-PRP-PR-PL. Essa coligação registrou a candidatura do professor Francisco Antonio Cardoso, que tinha uma campanha milionária, com uma enxurrada de material de propaganda e com apoio ostensivo das máquinas municipal e estadual. De outro lado, o PDC e o PSB lançam Jânio Quadros, com poucos recursos financeiros — sua campanha foi chamada de "o tostão contra o milhão". Exerceu a função de 1953 a 1955, licenciando-se do cargo em 1954, durante a sua campanha para governador. Seu vice, que exerceu interinamente o cargo, foi José Porfírio da Paz, que também foi autor do hino do São Paulo Futebol Clube. Ainda no futebol, foi homenageado em 1953 pelo Torneio Jânio Quadros, disputado pelos times paulistas Juventus (campeão), Ypiranga e Portuguesa Santista e pelo carioca Bonsucesso. Após deixar o PDC e filiar-se ao Partido Trabalhista Nacional (PTN), foi candidato da aliança PTN-PSB a Governador de São Paulo, tendo ganhado o pleito sobre o favorito Ademar de Barros (um de seus maiores rivais políticos) por uma pequena margem de votos, de cerca de 1%. Sua gestão foi entre 1955 e 1959. Durante o mandato, procurou executar ações que passassem uma imagem de moralização da administração pública e de combate à corrupção (uma prática comum era a das visitas surpresa às repartições públicas, a fim de verificar a qualidade do serviço oferecido à população) aliadas a um empreendedorismo que buscava destaque e projeção, seja na criação de novos serviços e órgãos ou na construção de grandes obras, como pode se verificar, por exemplo, na criação do Complexo Penitenciário do Carandiru. Assim, angariou grande popularidade e se consagrou como um líder entre os paulistas. Elegeu-se deputado federal pelo estado do Paraná em 1958, mas viajou para o exterior e não participou de nenhuma das sessões do Congresso. Ao retornar, preparou sua candidatura à presidência, com apoio da União Democrática Nacional (UDN). Utilizou como mote da campanha o "varre, varre vassourinha, varre a corrupção", cujo "jingle" tinha como versos iniciais: A 17 de maio de 1958 foi elevado a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo de Portugal. Rápida ascensão política. Jânio chegou à presidência da República de forma muito veloz. Em São Paulo, exerceu sucessivamente os cargos de vereador, deputado, prefeito da capital e governador do estado. Tinha um estilo político exibicionista, dramático e demagógico. Conquistou grande parte do eleitorado prometendo combater a corrupção e usando uma expressão por ele criada: "varrer" toda a sujeira da administração pública. Por isso o seu símbolo de campanha era uma vassoura. Presidente da República. Foi eleito presidente em 3 de outubro de 1960, pela coligação PTN-PDC-UDN-PR-PL, para o mandato de 1961 a 1965, com 5,6 milhões de votos — a maior votação até então obtida no Brasil — vencendo o Henrique Lott de forma arrasadora, por mais de dois milhões de votos. Porém não conseguiu eleger o candidato a vice-presidente de sua chapa, Milton Campos (naquela época votava-se separadamente para presidente e vice). Quem se elegeu para vice-presidente foi João Goulart, do Partido Trabalhista Brasileiro. Os eleitos formaram a chapa conhecida como "chapa Jan-Jan". Qual a razão do sucesso de Jânio Quadros? Castilho Cabral, presidente do antigo Movimento Popular Jânio Quadros, sempre se perguntava como que esse moço desajeitado conseguiu realizar, em menos de quinze anos, uma carreira política inteira — de vereador a Presidente da República — que não tem paralelo na história do Brasil. Jânio não alcançou o poder na crista de uma revolução armada, como Getúlio Vargas. Não era rico, não fazia parte de algum clã, não tinha padrinhos, não era dono de jornal, não tinha dinheiro, não era ligado a grupo econômico, não servia aos Estados Unidos nem à Rússia, não era bonito, nem simpático. O que era, então, Jânio Quadros? Hélio Silva, em seu livro "A Renúncia", tenta explicar: Assumiu a presidência (pela primeira vez a posse se realizava em Brasília) em 31 de janeiro de 1961. Embora tenha feito um governo curtíssimo — que só durou sete meses — pôde, nesse período, traçar novos rumos à política externa e orientar, de maneira singular, os negócios internos. A posição de Cuba nas Américas após a vitória de Fidel Castro mereceu sua atenção. Comenta Hélio Silva em "A Renúncia": Para combater a burocracia, tomou emprestado a Winston Churchill — que usara o método durante a Guerra — o hábito de comunicar-se com ministros e assessores diretamente por meio de memorandos — apelidados pela imprensa oposicionista de os "bilhetinhos de Jânio" — os quais funcionário ou ministro algum ousava ignorar. Adquirira esse hábito, que causou estranheza a alguns conservadores — e era até objeto de chacotas da oposição — no governo de São Paulo. Um mestre inato da arte da comunicação, Jânio, no intuito de se manter diariamente na "ribalta", utilizava factoides como a proibição do maiô e biquíni nos concursos de "miss," a proibição das rinhas de galo, a proibição de lança-perfume em bailes de carnaval, e a tentativa de regulamentar o carteado, todas estas em vigor até hoje. Polêmicas. Jânio condecorou, no dia 19 de agosto de 1961, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul Ernesto Che Guevara, o guerrilheiro argentino que fora um dos líderes da revolução cubana, e era ministro daquele país, em agradecimento por Guevara ter atendido a seu apelo e libertado mais de vinte sacerdotes presos em Cuba, que estavam condenados ao fuzilamento, exilando-os na Espanha. Jânio fez esse pedido de clemência a Guevara por solicitação de dom Armando Lombardi, Núncio apostólico no Brasil, que o solicitou em nome do Vaticano. A outorga da condecoração foi aprovada no Conselho da Ordem por unanimidade, inclusive pelos três ministros militares. As possíveis consequências desse ato foram mal calculadas por Jânio. Sua repercussão foi a pior possível e os problemas já começaram na véspera, com a insubordinação da oficialidade do Batalhão de Guarda que, amotinada, se recusava a acatar as ordens de formar as tropas defronte ao Palácio do Planalto, para a execução dos hinos nacionais dos dois países e a revista. Só a poucas horas da cerimônia, já na manhã do dia 19, conseguiram os oficiais superiores convencer os comandantes da guarda a se enquadrar. Na imprensa e no Congresso começaram a surgir violentos protestos contra a condecoração de Guevara. Alguns militares ameaçaram devolver suas condecorações em sinal de protesto. Em represália ao que foi descrito como um apoio de Jânio ao regime ditatorial de Fidel, nesse mesmo dia, Carlos Lacerda entregou a chave do Estado da Guanabara ao líder anticastrista Manuel Verona, diretor da Frente Revolucionária Democrática Cubana, que se encontrava viajando pelo Brasil em busca de apoio à sua causa. A Política Externa Independente (PEI), criada por San Tiago Dantas (juntamente com Afonso Arinos e Araújo Castro) e adotada por Jânio, introduziu grandes mudanças na política internacional do Brasil. O país transformou as bases da sua ação diplomática e esta mudança representou um ponto de inflexão na história contemporânea da política internacional brasileira, que passou a procurar estabelecer relações comerciais e diplomáticas com todas as nações do mundo que manifestassem interesse num intercâmbio pacífico. Inaugurada em seu governo, foi firmemente conduzida pelo chanceler Afonso Arinos de Melo Franco. A inovação não era bem vista pelos Estados Unidos nem por vários grupos econômicos que se beneficiavam da política anterior e nem pela direita nacional, em especial por alguns políticos da UDN, que apoiara Jânio Quadros na eleição. Enquanto o chanceler Afonso Arinos discursava no Congresso Nacional e divulgava, pela imprensa, palavras que conseguiam tranquilizar alguns setores mais esclarecidos da opinião pública, a corrente que comandava a campanha de oposição à nova política externa, liderada por Carlos Lacerda, Roberto Marinho (Organizações Globo), Júlio de Mesquita Filho (O Estado de S. Paulo) e Dom Jaime de Barros Câmara (arcebispo do Rio de Janeiro), ganhava terreno entre a massa propriamente dita, a tal ponto que alguns de seus eleitores começaram a acusar Jânio de estar levando o Brasil para o comunismo. Os serviços de espionagem da URSS (KGB) e da Tchecoslováquia (StB) conseguiram aproximar-se da presidência. Numa reunião em Brasília, em 5 de maio de 1961, com o agente da KGB Alexander Alexeyev, Jânio comprometeu-se a restabelecer as relações Brasil-URSS. Essa inovadora política externa de Jânio também provocou algumas resistências nos meios militares. O almirante Penna Botto, que havia protagonizado a deposição de Carlos Luz no episódio do Cruzador Tamandaré, chegou a lançar, em 1961, um livro intitulado "A Desastrada Política Exterior do Presidente Jânio Quadros". Por outro lado as duras medidas internas, que visavam a combater a inflação, que foi crescente durante o governo JK, e já grassava solta após a inauguração de Brasília, bem como algumas medidas que visavam reorganizar a economia, desagradavam à esquerda. Jânio reprimia os movimentos esquerdistas, pelos quais não tinha simpatia alguma, muitos deles liderados por João Goulart. Sua "política de austeridade", baseada principalmente no congelamento de salários, restrição ao crédito e combate à especulação, desagradava inúmeros setores influentes. Jânio nunca teve um bom esquema de sustentação no Congresso Nacional. Sua eleição se deu ao arrepio das forças políticas que compunham esse Congresso, que fora eleito em 1958, e já não mais correspondia às necessidades e às aspirações do eleitorado, que mudara de posição. Diz Hélio Silva, em "A Renúncia": "O resultado do pleito em que Jânio recebeu quase 6 milhões de votos rompeu o controle das cúpulas partidárias". Planejou anexar a Guiana Francesa, departamento ultramarino da França, ao território brasileiro. A operação militar foi denominada "Cabralzinho" e visava uma ocupação se possível de forma pacífica. A justificativa era que ele não aguentava mais "ver o minério de manganês do Amapá ser vendido para o exterior" e que "parte sai do Porto de Santana e outra parte de Caiena, uma coisa absurda". Apesar de uma picada inicial ao Oiapoque ter sido ordenada pelo governador do Amapá (Moura Cavalcanti), a quem o presidente designou a missão, em audiência no dia 3 de agosto de 1961, não houve prosseguimento devido à renúncia de Quadros vinte e dois dias depois. O governo. No seu curto período de governo, Jânio Quadros: A renúncia. Carlos Lacerda, governador do estado da Guanabara, percebendo que Jânio fugia ao controle das lideranças da UDN, mais uma vez se colocou como porta-voz da campanha contra o presidente (como havia feito com relação a Getúlio Vargas e tentado, sem sucesso, com relação a Juscelino Kubitschek). Sem acusar Jânio de "corrupto", tática que usou contra seus dois antecessores, decidiu impingir-lhe a pecha de "golpista". Em debate na Band no ano de 1982, Quadros afirmou que Lacerda foi "quem provocou 25 de agosto", chamando-o também de inimigo figadal seu e do povo brasileiro. Em um discurso em 24 de agosto de 1961, transmitido em cadeia nacional de rádio e televisão, Lacerda denunciou uma suposta trama palaciana de Jânio e acusou seu ministro da Justiça, Oscar Pedroso Horta, de tê-lo convidado a participar de um golpe de estado. Na tarde de 25 de agosto, Jânio Quadros, para espanto de toda a nação, anunciou sua renúncia, que foi prontamente aceita pelo Congresso Nacional. Especula-se que talvez Jânio não esperasse que sua carta-renúncia fosse efetivamente entregue ao Congresso. Pelo menos não a carta original, assinada, com valor de documento: O popular rádio jornal daquela época, o Repórter Esso, em edição extraordinária, no dia 25 de agosto, atribuiu a renúncia a "forças ocultas", frase que Jânio não usou, mas que entrou para a história do Brasil e que muito irritava Jânio, quando perguntado sobre ela. Cláudio Lembo, que foi Secretário de Negócios Jurídicos da Prefeitura durante o segundo mandato de Jânio, recorda dois pedidos de renúncia que Jânio lhe entregou — e preferiu guardar no bolso. Em entrevista ao jornal "O Estado de S. Paulo" disse Lembo: Era voz corrente, na ocasião, que os congressistas não dariam posse ao vice-presidente, João Goulart, cuja fama de "esquerdista" agravou-se após Jânio tê-lo enviado habilmente em missão comercial e diplomática à China. Essa fama de "esquerdista" fora atribuída a Jango quando ele ainda exercia o cargo de ministro do Trabalho no governo democrático de Getúlio Vargas (1951-1954), durante o qual aumentou-se o salário mínimo a 100% e promoveu-se reforma agrária. Por outro lado, especula-se que Jânio estaria certo de que surgiriam fortes manifestações populares contra sua renúncia, com o povo clamando nas ruas por sua volta ao poder, como ocorreu com Charles de Gaulle. Por isso, Jânio permaneceu por horas aguardando, na Base Aérea de Cumbica, dentro do avião que o levara de Brasília a São Paulo. Jânio Quadros alegou a pressão de "forças terríveis" que o obrigavam a renunciar, forças que nunca chegou a identificar. Com sua renúncia abriu-se uma crise, pois os ministros militares vetavam o nome de Goulart. Assumiu provisoriamente Ranieri Mazzili, que possuía um cargo meramente formal, já que os três ministros militares de Jânio formaram uma Junta Provisória que governou de fato durante esses treze dias, enquanto acontecia a Campanha da Legalidade; nesta campanha destacou-se Leonel Brizola, governador do Rio Grande do Sul e cunhado de Jango. Com a adoção do regime parlamentarista, e consequente redução dos poderes presidenciais, finalmente os militares aceitaram que Goulart assumisse. O primeiro Primeiro-Ministro do Brasil foi Tancredo Neves. A experiência parlamentarista, contudo, foi revogada por um plebiscito em 6 de janeiro de 1963, depois de também terem sido primeiros-ministros Brochado da Rocha e Hermes Lima. Cassação dos direitos políticos e regresso. No ano seguinte à renúncia, Jânio foi candidato a governador de São Paulo, sendo derrotado por seu velho desafeto Ademar de Barros. Com a eclosão da Ditadura militar de 1964 foi um dos três ex-presidentes a ter seus direitos políticos cassados ao lado de João Goulart e Juscelino Kubitschek. Após fazer declarações à imprensa em Recife, Rio de Janeiro e São Paulo, em julho de 1968, o ex-presidente foi detido pelo Exército Brasileiro, por ordem do então Ministro da Justiça, Luís Antônio da Gama e Silva, ficando confinado em Corumbá, cidade que fica no Pantanal sul-mato-grossense, na fronteira com a Bolívia. O ex-presidente ficou hospedado no Hotel Santa Mônica, que ainda funciona em Corumbá. Recuperou os direitos políticos em 1974, mas manteve-se afastado das urnas inclusive nas eleições legislativas de 1978, ano em que seus simpatizantes (agrupados sob o denominado "Movimento Popular Jânio Quadros") o levaram a visitar o bairro paulistano de Vila Maria, tradicional reduto "janista". Em novembro do ano seguinte manifestou a intenção de concorrer à sucessão de Paulo Maluf ao governo do estado de São Paulo filiando-se ao Partido Trabalhista Brasileiro tão logo foi efetivada a reforma partidária. Ciclotímico, Jânio Quadros deixou o PTB sete meses depois de sua filiação e tentou ingressar no PMDB, tendo sua entrada indeferida pela executiva nacional do partido, voltando assim ao PTB, legenda pela qual foi candidato a governador de São Paulo em 1982, num pleito onde o vitorioso foi Franco Montoro, seu antigo correligionário no PDC. Jânio terminou a eleição na terceira posição, atrás ainda do malufista Reynaldo de Barros. Por ocasião do processo sucessório do presidente João Figueiredo, declarou apoio ao candidato da oposição, Tancredo de Almeida Neves. Em 1985, contando com o proeminente apoio do empresariado (Olavo Setúbal, Herbert Levy) e dos setores e figuras mais conservadoras da sociedade paulistana, como a TFP, a Opus Dei, o ex-governador Paulo Maluf e o ex-ministro Antônio Delfim Netto, retornou aos cargos públicos elegendo-se prefeito de São Paulo também pelo PTB, derrotando o candidato situacionista, senador Fernando Henrique Cardoso (PMDB), e o representante das esquerdas, deputado federal Eduardo Suplicy (PT). A vitória de Jânio Quadros contrariou os prognósticos dos institutos de pesquisa e contradisse as avaliações segundo as quais o ex-presidente era tido como um nome "ultrapassado" no novo contexto da política brasileira emergente do processo de redemocratização e da campanha das Diretas Já. Fernando Henrique Cardoso, o então primeiro colocado nas pesquisas, chegou a tirar uma foto, publicada pela Revista Veja, sentado na cadeira de prefeito de São Paulo. Tal fato levou Jânio a tomar posse com um tubo de inseticida nas mãos, declarando: "Estou desinfetando a poltrona porque nádegas indevidas a usaram". Prefeito de São Paulo pela segunda vez (1986-1988) Recebeu o cargo de Mário Covas, um ex-janista que havia se tornado uma das principais lideranças do PMDB. "Com minha eleição a Prefeitura de São Paulo, encerro minha biografia política", afirmou em junho de 1985. Em tese, seu mandato foi exercido até o primeiro dia de 1989, quando seu Secretário dos Negócios Jurídicos, Cláudio Lembo, passou o cargo para Luiza Erundina (Jânio havia deixado o gabinete dez dias antes, indo passar o "reveillón" em Londres). Em sua última empreitada político-administrativa repetiu seus lances populistas habituais: pendurou uma chuteira em seu gabinete (para ilustrar o suposto desinteresse em prosseguir na política), proibiu jogos de sunga e o uso de biquínis fio dental no Parque do Ibirapuera (onde era localizada a então sede da prefeitura), com frequência mandava publicar no Diário Oficial do município os célebres bilhetinhos enviados aos seus assessores, obrigou a direção da Escola de Balé do Teatro Municipal a expulsar alguns alunos tidos como homossexuais, aplicou multas de trânsito pessoalmente, posou para a imprensa com a camisa do Corinthians e fechou os oito cinemas que iriam exibir o filme "A Última Tentação de Cristo", de Martin Scorsese, por considerá-lo desrespeitoso à fé cristã. A obra só estrearia na cidade no início de 1989, após o final de seu mandato. Ao mesmo tempo em que criava factoides midiáticos, investia na instalação de serviços de luz em cerca de 91% da área habitada da cidade, na pavimentação de aproximadamente 700 quilômetros de vias públicas, na abertura dos túneis da Avenida Juscelino Kubitschek, na inauguração do Corredor Santo Amaro e na reforma do Vale do Anhangabaú. Restaurou doze bibliotecas públicas, o Teatro Municipal e mais três teatros, além de ter inaugurado o Teatro Cacilda Becker. Seu programa também incluiu ações nos setores da limpeza pública, do saneamento básico (através da canalização de dois córregos), da habitação e da saúde (com a inauguração de dois hospitais e a recuperação de outros seis, fora cinquenta e oito unidades médicas). Concebeu pessoalmente o sistema viário de múltiplos túneis, conectores de diversas avenidas vitais de São Paulo, a cujas caríssimas, complexas e demoradas obras deu início ainda em seu mandato. Após terem sido interrompidas por Luiza Erundina, tais obras foram retomadas e concluídas na gestão de Paulo Maluf. O nome Túnel Presidente Jânio Quadros, por exemplo, foi dado em homenagem ao ex-presidente que havia feito a concorrência da obra. Mais recentemente, Gilberto Kassab, quando prefeito, cogitou em dar-lhes continuidade, mas esbarrou na incapacidade orçamentária da prefeitura para a execução de tais projetos. Na área do transporte público inseriu, em caráter experimental, ônibus de dois andares (a exemplo dos encontrados em Londres) no trânsito da cidade, mas tal experiência não obteve o resultado esperado e foi definitivamente descartada por Luiza Erundina. Em sua relação com a Câmara Municipal, Jânio Quadros utilizou as Administrações Regionais como elementos de barganha para obter o apoio político dos vereadores através de um sistema que consistia no loteamento das mesmas entre os parlamentares. Cada político exercia poder sobre uma administração regional e, não por acaso, ao final de seu mandato o número de ARs e o de legisladores municipais era o mesmo: trinta e três. Segundo alguns analistas políticos e representantes da sociedade civil, Jânio adotou posturas autoritárias em diversas situações. Seu governo foi marcado por insatisfações de vários setores do funcionalismo público, materializadas através de greves e protestos nas proximidades de seu gabinete, aos quais quase sempre respondia com demissões em massa. Jânio também demonstrou posturas inflexíveis ante a manifestações de movimentos sociais, como o MST. Criou a Guarda Civil Metropolitana para, segundo ele, reforçar o policiamento na cidade, mas seus adversários o criticaram duramente por, na visão deles, utilizá-la como mais um de seus instrumentos de repressão. Ao longo de seu mandato afastou-se diversas vezes do cargo para cuidar tanto de sua saúde, já abalada, quanto da de sua mulher, Eloá Quadros (falecida em 1990). Ao fim da gestão encontrava-se desgastado perante a opinião pública: apenas 30% dos paulistanos aprovaram sua administração, além do vexame de ter sido acusado, pelo à época vereador Walter Feldman (PMDB), de manter uma conta bancária na Suíça. Nas eleições de 1988, embora João Mellão Neto (PL) e Marco Antônio Mastrobuono (PTB), que foram integrantes de seu secretariado, concorressem à sucessão, apoiou o candidato João Oswaldo Leiva, do PMDB (lançado pelo então governador Orestes Quércia). Contudo, a vitória de Erundina (PT) em tal pleito configurou-se em uma dura derrota para Jânio Quadros, pois a mesma foi eleita amparada quase que exclusivamente por uma plataforma de esquerda antijanista. A 26 de fevereiro de 1987 foi feito Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique de Portugal. Após a prefeitura. Sua saúde frágil o impediu de concorrer à Presidência da República em 1989 (teria recebido inclusive um convite do PSD, que depois lançaria o nome de Ronaldo Caiado) e por conta desse fato hipotecou, no segundo turno do pleito, apoio ao ascendente Fernando Collor, cujo discurso e práticas políticas eram similares às suas. No mesmo ano reuniu a imprensa para anunciar a aposentadoria definitiva da política. Morte. A morte de Eloá, vítima de câncer, em novembro de 1990, agravou seu estado de saúde. Passou os últimos meses de sua vida entre casas de repouso e quartos de hospitais. Morreu em São Paulo, internado no Hospital Israelita Albert Einstein, em 16 de fevereiro de 1992, em estado vegetativo, vítima de três derrames cerebrais. Está sepultado no Cemitério da Paz em São Paulo. Herdeiros políticos. Sua única filha, Dirce Tutu Quadros, foi eleita deputada federal em 1986 e em 1988 inscreveu seu nome entre os fundadores do PSDB tendo, nesse meio tempo, participado da Assembleia Nacional Constituinte que elaborou a Constituição vigente desde 1988. Uma polêmica jurídica acerca da perda de nacionalidade de Tutu, por conta de ter efetivada a naturalização para a cidadania norte-americana, fez com que ela logo em seguida se afastasse da política. Acusações de corrupção. Quando faleceu em 1992 deixou mais de 66 imóveis para seus herdeiros sendo denunciado como corrupto pela filha, que o internou numa clínica psiquiátrica à força. Durante a Operação Castelo de Areia, a Polícia Federal revelou que Jânio tinha 20 milhões depositados na Suíça em uma conta secreta. Obras publicadas. Jânio Quadros publicou as obras "Curso prático da língua portuguesa e sua literatura" (1966), "História do povo brasileiro" (1967, em coautoria com Afonso Arinos), "Os Dois Mundos das Três Américas" (1972), "Novo Dicionário Prático da Língua Portuguesa" (1976) e "Quinze contos" (1983). Homenagens. Duas cidades possuem o nome em sua homenagem: Janiópolis (Paraná) e Presidente Jânio Quadros (Bahia). O Túnel Presidente Jânio Quadros faz ligação da Avenida Presidente Juscelino Kubitschek, no Itaim Bibi, à Avenida Lineu de Paula Machado e a Rua Engenheiro Oscar Americano, no Morumbi.
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Jaó
Jaó Crypturellus undulatus, popularmente jaó jaó-vermiculado, macucau, macucauá ou sururina, é uma espécie de ave tinamiforme típica do cerrado do Brasil Central. O jaó e suas subespécies habitam matas abertas e cerrados no Brasil. É uma ave classificada segundo o Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção (Edição de 2018) como Preocupação Menor. Os Tinamidae estão entre as mais importantes aves cinegéticas (aves comumente procuradas para fins de caça) brasileiras. Por conta do emprego indiscriminado de inseticidas, os Tinamidae campestres são afetadas (os inseticidas matam os insetos por envenenamento e as aves ingerindo esses insetos acabam morrendo pela ingestão). Morfologia. Com seus 31 centímetros, o jaó é caracterizado por uma coroa escura em tons de marrom acinzentado com desenho vermiculado enegrecido (plumas com manchas que se assemelham a formato vermiforme), pernas de coloração esverdeada. O ovo da espécie se aproxima da forma esférica nas cores rosa-claro ou cinza-claro (SICK, 1997; GWYNNE et al., 2010). Embora seja ave que pode voar, não possui a quilha óssea do osso do peito que possibilita voo contínuo. O esqueleto é pneumatizado, uma característica indicativa da descendência de indivíduos que eram exímios voadores. Dessa forma, os tinamídeos apenas utilizam as asas como último recurso para o escape (SICK, 1997). Vocalização. Baixo e melodioso, composto de três a quatro sílabas com flexão interrogativa crescente no fim (“dó dó doó?”) (SICK, 1997), o pio do jaó serve para demarcar a sua área de vida e, na época reprodutiva, para aproximar outros indivíduos. Neste período, a vocalização tem duração de cerca de 30 minutos ininterruptos em intervalos de cinco a 18 segundos. Subespécies. Possui seis subespécies: Hábitat e distribuição. Habita a mata de várzea e galeria, capoeirão, matas secas e ralas, cerrado. No Brasil ocorre da região Norte ao Centro-Oeste e partes adjacentes do Nordeste, em Minas Gerais, São Paulo e Paraná. Ocorre também na Venezuela, Guiana, Colômbia, Peru, Paraguai e Argentina (SICK, 1997; GWYNNE et al., 2010). Dieta. Alimenta-se de bagas, frutas caídas, folhas e sementes, de insetos e moluscos que se escondem no tapete de folhagem apodrecida (SICK, 1997). Hábitos e predadores. Desconfiados, alçam voos geralmente curtos apenas como último recurso. Na região amazônica, voos longos são efetuados em casos de enchentes, as quais forçam exemplares da espécie a voarem 500 metros sobre o rio para pousarem em alguma ilha (REMSEN & PARKER, 1983; AYRES & MARIGO, 1995, citado por SICK, 1997). Em conflito, o jaó utiliza as asas para lesionar o adversário. Ao macho cabe o cuidado de construir o ninho, realizar o choco (que ocorre em aproximadamente 17 dias) e a criação dos filhotes. A caça desses indivíduos ocorre, principalmente, ao longo do período reprodutivo, em que são atraídos pela tática de imitação do chamado da espécie, visto o caráter arredio desses animais. Concomitantemente, tem como outros predadores gatos-do-mato, raposas, gambás, cobras, macacos, gaviões e até mesmo tamanduás-bandeira (SICK, 1997). Ameaças e preservação. Devido à expansão agrícola, o uso e a ocupação do solo, muitos exemplares da família Tinamidae com distribuição em áreas campestres se intoxicam ao ingerirem presas, como formigas, que são combatidas com inseticidas por serem consideradas pragas agrícolas. Além disso, os ninhos são queimados pela passagem do fogo utilizado nas práticas agropastoris. Por conseguinte, devem ser realizadas medidas preservacionistas para os exemplares dessa família tão singular da fauna silvestre (SICK, 1997).
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Jacques Veilliard
Jacques Veilliard Jacques Marie Edme Vielliard (Paris, 22 de agosto de 1944 – Belém, Pará, 9 de agosto de 2010) foi um ornitólogo francês que pesquisou o canto de aves brasileiras desde 1974. O ornitólogo era graduado em Ciências pela Universidade de Paris (1967), com mestrado em Ecologia - Ecole Normale Supérieure (Paris, 1968) e doutorado em Ecologia - na École Normale Supérieure - ENS (Paris, 1971). Vielliard foi convidado pelo presidente da Academia Brasileira de Ciências para ir ao Brasil em 1973 para criar a "ecologia de campo", um sistema que permitisse identificar o estado de conservação de um ecossistema através da identificação das aves, que é mais simples do que usar a identificação de mamíferos ou répteis, que precisam ser capturados ou abatidos. Segundo ele, "O objetivo do projeto foi imediatamente desviado, porque não existia nada sobre identificação pela vocalização das aves no país e tive efetivamente de começar do zero, fazendo as gravações." Depois de voltar ao Brasil por 4 vezes, casou-se lá com Maria Luisa da Silva, do Instituto de Psicologia da USP, e mergulhou no trabalho de registrar o canto das 1.700 espécies de aves do país. À medida que o trabalho evoluía, Vielliard passou a colaborar com ornitólogos americanos, como J. W. Hardy, cujas fitas contêm gravações feitas no Brasil. E o trabalho é importante, insiste. "Mais de 90% dos sinais que captamos num ecossistema são auditivos, mas isso não quer dizer que sejam de aves, pois há barulho de grilos, de rãs, mesmo ruídos causados pelas aves e que não são vocalizações." Uma vez identificado na fita o canto de um pássaro, ainda é preciso estudá-lo, pois o repertório de uma ave pode ser amplo. E ainda é preciso repetir a gravação em outras estações do ano, em outras regiões, até ter absoluta certeza. Vielliard tem 15 mil fitas de cantos de pássaro arquivadas, gravadas na mata lembrando que uma gravação só tem valor científico se a fita for cortada e etiquetada com dados sobre espécie e subespécie, local, data e horário do registro, se é canto territorial, de corte, alerta ou contato e se a ave é macho, fêmea, jovem ou adulto. De seu trabalho, foram editados até fevereiro de 2003, 5 CDs: "Vozes das Aves do Brasil" (com o canto de 80 aves brasileiras), "Canto de Aves do Brasil", "Aves do Parque Nacional da Serra da Capivara", "Guia Sonoro das Aves do Brasil, 1.º volume" e "Aves do Pantanal".
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Joseph John Thomson
Joseph John Thomson Joseph John Thomson, mais conhecido como J. J. Thomson, OM, PRS (Manchester, 18 de dezembro de 1856 — Cambridge, 30 de agosto de 1940) foi um físico britânico vencedor do Nobel de Física, creditado com a descoberta e identificação do elétron, a primeira partícula subatômica a ser descrita. Vida e carreira. Estudou engenharia no Owens College e se mudou para o Trinity College em Cambridge. De 1884 a 1919 foi Professor Cavendish de Física. Em 1890 casou com Rose Elisabeth Paget, filha de Sir George Edward Paget. Ele teve um filho, George Paget Thomson e uma filha, Joan Paget Thomson. Seu filho se tornou um notável físico, recebendo o Prêmio Nobel por descobrir propriedades ondulatórias nos elétrons. Pela descoberta dos elétrons, J.J. Thomson recebeu o Nobel de Física de 1906. Foi nomeado cavaleiro em 1908. Em 1918 se tornou mestre do Trinity College em Cambridge, onde permaneceu até sua morte em 1940, e foi enterrado na Abadia de Westminster, perto de Isaac Newton. Thomson foi o vice-presidente da Associação Internacional de Ciências Esperanto ("International Esperanto Science Association"). Foi eleito membro da Royal Society em 12 de junho de 1884 e, depois, presidente de 1915 a 1920. As experiências de Thomson podem ser consideradas o início do entendimento da estrutura atômica. Suas experiências com o tubo de raios catódicos permitiu concluir irrefutavelmente a existência dos elétrons. Os corpos são eletricamente neutros, com a descoberta dos elétrons de cargas negativa, concluiu-se também a existência dos prótons. Isso dava um modelo de átomo constituído por uma esfera maciça, de carga elétrica positiva, que continha elétrons nela dispersos, esse modelo ficou conhecido tendo a sobremesa britânica "plum-pudding" como análogo. As traduções mais divulgadas da analogia em português ficaram sendo pudim de ameixas ou pudim de passas. Segundo Thomson, o número de elétrons que contém o átomo deve ser suficiente para anular a carga positiva da massa. Se um átomo perdesse um elétron, carregaria positivamente, pois teria uma carga positiva a mais em sua estrutura com relação ao número de elétrons, transformando-se em íons. A massa dos elétrons é muito menor que a dos prótons, desse jeito, a massa do átomo seria praticamente igual à massa da esfera central (não se conhecia o núcleo do átomo), ou seja, igual à soma das massas dos prótons. Thomson era cristão anglicano devoto, frequentava a igreja constantemente e rezava diariamente. Medalha Thomson. O "Institute of Physics" outorga a Medalha Thomson a cientistas que deram contribuições de destaque na área de física atômica ou molecular.
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Aquebar
Aquebar Jalaludim Maomé Aquebar ( "Jalāl ud-Dīn Muhammad Akbar"), também conhecido como Aquebar, o Grande, Aquebar ou escrito Akbar (23 de Novembro de 1542 — 27 de Outubro de 1605), foi o terceiro imperador mogol da Índia /Industão. Era descendente direto da Dinastia Timúrida, filho de Humaium e neto de Babur, fundador da dinastia. No final do seu reinado, em 1605, o império mogol cobria a maior parte do norte da Índia. Aquebar, amplamente considerado o maior dos imperadores mogóis, tinha treze anos quando ascendeu ao trono em Déli, após a morte de seu pai, Humaium. Durante seu reinado, eliminou as ameaças militares dos pastós descendentes de e na Segunda Batalha de Panipate derrotou os rei hindu Hemu. Demorou quase duas décadas ainda para consolidar seu poder e trazer as partes do norte e do centro da Índia para seu reino. O imperador solidificou seu governo pela diplomacia com a poderosa casta rajput e também por admitir princesas rajapute no seu harém. O reinado de Aquebar influenciou significativamente a arte e a cultura na região. Aquebar tinha grande interesse na pintura e as paredes de seus palácios foram adornados com murais. Além de incentivar o desenvolvimento da escola mogol, também patrocinava o estilo europeu de pintura. Ele gostava de literatura e tinha várias obras em sânscrito traduzidas para o persa, além de obter muitas obras persas ilustradas por pintores de sua corte. Também encomendou muitas grandes obras de arquitetura e inventou a primeira casa pré-fabricada. Aquebar iniciou uma série de debates religiosos, onde eruditos muçulmanos podiam debater questões religiosas com siques, hindus, ateus cārvāka e jesuítas portugueses. Fundou um culto religioso, o "Din-i-Ilahi" (Divina Fé), que implicou apenas em uma forma de culto da personalidade para Aquebar, e rapidamente se dissolveu após a sua morte. Primeiros anos. Aquebar nasceu no dia 23 de novembro de 1542 (o quarto dia de Rajab, 949 após a Hégira), na Fortaleza de Rajapute de em Sinde (no atual Paquistão), onde Humaium e sua mulher, Hamida Banu Begum, recém casados, tinham se refugiado. Humaium deu ao filho o nome que ele tinha ouvido em seu sonho em Laore, Jalalu-d-din Muhammad Akbar Humaium havia sido forçado a exilar-se na Pérsia pelo líder pastó Xer Xá Suri. Aquebar não foi para a Pérsia com seus pais, mas cresceu na aldeia de Mucundepur em Rewa (no atual Madia Pradexe). Aquebar e o príncipe , que mais tarde se tornou o marajá de Rewa, cresceram juntos e ficaram amigos íntimos por toda a vida. Mais tarde, Aquebar mudou-se para a parte oriental do Império Safávida (que agora faz parte do Afeganistão), onde foi criado por seu tio Ascari. Passou sua juventude aprendendo a caçar, conduzir e lutar, mas nunca aprendeu a ler ou escrever. No entanto, na maturidade Aquebar foi um governante bem-informado, com gostos refinados nas artes, arquitetura, música e um apaixonado por literatura. Na sequência do caos sobre a sucessão do filho de Xer Xá Suri, , Humaium reconquistou Déli em 1555, levando um exército em parte fornecido por seu aliado persa . Poucos meses depois, Humaium morreu. O tutor de Aquebar, Bairã Cã, ocultou a morte a fim de preparar a sucessão de Aquebar. Aquebar sucedeu Humaium em 14 de fevereiro de 1556, quando no meio de uma guerra contra para recuperar o trono mogol. Em , no Punjabe, Aquebar, um menino de 13 anos de idade, vestindo uma túnica dourada e uma tiara preta, foi entronizado por Bairã Cã em uma tribuna recém-construída, que continua de pé. Foi proclamado rei de reis (xainxá). Bairã Cã governou em seu nome até que atingiu a maioridade. O nome Aquebar. Aquebar foi originalmente chamado Badrudim Aquebar, porque ele nasceu na noite de um "badr" (lua cheia). Após a captura de Cabul por Humaium sua data de nascimento e o nome foi alterado para se livrar de feiticeiros do mal. Ao contrário do que dizem algumas tradições populares, Aquebar - nome que significa "grande" - não foi um título honorífico dado a Aquebar, mas foi assim chamado por seu avô materno, Xeique Ali Aquebar Jami. Carreira política. O seu pai, Humaium, imperador da dinastia Mogol foi afastado do trono em consequência de uma série de batalhas com o pastó Xer Xá Suri, depois de mais de doze anos no exílio, recuperou a sua soberania ainda que apenas por alguns meses antes de morrer. Aquebar sucedeu ao seu pai em 1556, sob a regência de Bairã Cã, um nobre turcomano, cuja política enérgica de afastamento de pretendentes ao trono e de uma rigorosa disciplina militar assegurou a consolidação do império recentemente restaurado. Bairã, contudo, era despótico e cruel por natureza. Assim que a ordem foi estabelecida, finalmente, no império, Aquebar toma o poder na sua mão através da proclamação de março de 1560. Morte e legado. Em 3 de outubro de 1605, Aquebar adoeceu, vítima de disenteria, da qual nunca se recuperou. Acredita-se que morreu 27 de outubro de 1605, e seu corpo foi enterrado em um mausoléu em Sikandra, Agra. Aquebar deixou um rico legado, tanto para o Império Mogol, bem como para todo o subcontinente indiano em geral. Ele estabeleceu a autoridade do Império Mogol na Índia e fora dela, depois de ter sido ameaçado pelos afegãos durante o reinado de seu pai, que estabeleceu sua superioridade militar e diplomática. Durante o seu reinado, a natureza de um estado alterado para um estado essencialmente secular e liberal, com ênfase na integração cultural. Ele também introduziu várias reformas de longo alcance social, incluindo lei que proibiam o "sati", a legalização de novos casamentos para viúvas e a elevação da idade de casamento. Citando as fusões de feudos por Aquebar deixando um legado de "pluralismo e tolerância" que "fundamenta os valores da república moderna da Índia", a revista Time incluiu seu nome em na lista dos 25 maiores líderes mundiais.
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Janeiro
Janeiro Janeiro é o primeiro mês do ano nos calendário juliano e gregoriano. É composto por 31 dias. O nome provém do latim "Ianuarius", décimo-primeiro mês do calendário de Numa Pompílio, o qual era uma homenagem a Jano, deus do começo na mitologia romana, que tinha duas faces, uma olhando para trás, o passado e outra olhando para a frente, o futuro. Júlio César estabeleceu que o ano deveria começar na primeira lua nova após o solstício de inverno, que no hemisfério norte era a 21 de dezembro, a partir do ano 709 romano (). Nessa ocasião o início do ano ocorreu oito dias após o solstício. Posteriormente o início do ano foi alterado para onze dias após o solstício. A Igreja dedica o mês de Janeiro ao Santíssimo nome de Jesus e à paz mundial. É em média o mês mais quente na maior parte do hemisfério sul, onde é o segundo mês de verão, e o mês mais frio em grande parte do hemisfério norte, onde é o segundo mês de inverno. A primeira metade do ano começa em janeiro. No hemisfério sul, janeiro é o equivalente sazonal de julho no hemisfério norte e vice-versa. História. Janeiro (em latim, "Ianuarius") é nomeado após Janus, o deus dos inícios e transições na mitologia romana. Tradicionalmente, o calendário romano original consistia em 10 meses, totalizando 304 dias, sendo o inverno considerado um período sem mês. Por volta de 713 aC, o sucessor semi-mítico de Romulus, rei Numa Pompilius, deveria ter adicionado os meses de janeiro e fevereiro, de modo que o calendário cobria um ano lunar padrão (354 dias). Embora março tenha sido originalmente o primeiro mês do antigo calendário romano, janeiro se tornou o primeiro mês do ano civil, sob Numa ou sob os Decemvirs, por volta de 450 aC (os escritores romanos diferem). Por outro lado, cada ano civil específico foi identificado pelos nomes dos dois cônsules , que entraram no cargo em 1º de maio ou 15 de março até 153 aC, a partir de quando entraram no cargo em 1º de janeiro. Várias datas de festas cristãs foram usadas para o Ano Novo na Europa durante a Idade Média, incluindo 25 de março (Festa da Anunciação) e 25 de dezembro. No entanto, os calendários medievais ainda eram exibidos na moda romana com doze colunas de janeiro a dezembro. A partir do século XVI, os países europeus voltaram oficialmente a tornar o dia 1 de janeiro como início do ano novo. Os nomes históricos de janeiro incluem sua designação romana original, Ianuarius, o termo saxão "Wulf-monath" (que significa "mês do lobo") e a designação de Carlos Magno Wintarmanoth ("inverno/mês frio"). Em esloveno, é tradicionalmente chamado "prosinec". O nome, associado ao pão com milho e ao ato de pedir algo, foi escrito pela primeira vez em 1466 no manuscrito Škofja Loka.
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Johann Heinrich Alsted
Johann Heinrich Alsted Johann Heinrich Alstedius (Ballersbach, 1588 – Alba Iulia, 9 de novembro de 1638) foi um Filósofo, teólogo protestante e escritor alemão, autor de uma enciclopédia.
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Jogos Olímpicos
Jogos Olímpicos Jogos Olímpicos são um evento multiesportivo global com modalidades de verão e de inverno, em que milhares de atletas participam de várias competições. Atualmente os Jogos são realizados a cada dois anos, em anos pares, com os Jogos Olímpicos de Verão e de Inverno se alternando, embora ocorram a cada quatro anos no âmbito dos respectivos Jogos sazonais. Originalmente, os Jogos Olímpicos da Antiguidade foram realizados em Olímpia, na Grécia, do século VIII a.C. ao século V d.C.. No século XIX, o Barão Pierre de Coubertin fundou o Comitê Olímpico Internacional (COI) em 1894. O COI se tornou o órgão dirigente do Movimento Olímpico, cuja estrutura e as ações são definidas pela Carta Olímpica. A evolução do Movimento Olímpico durante o século XX obrigou o COI a adaptar os Jogos para o mundo da mudança das circunstâncias sociais. Alguns destes ajustes incluíram a criação dos Jogos de Inverno para esportes do gelo e da neve, os Jogos Paralímpicos de atletas com deficiência física e visual (atualmente atletas com deficiência intelectual e auditiva não participam) e os Jogos Olímpicos da Juventude para atletas adolescentes. O COI também teve de acomodar os Jogos para as diferentes variáveis econômicas, políticas e realidades tecnológicas do século XX. Como resultado, os Jogos Olímpicos se afastaram do amadorismo puro, como imaginado por Coubertin, para permitir a participação de atletas profissionais. A crescente importância dos meios de comunicação gerou a questão do patrocínio corporativo e a comercialização dos Jogos. O Movimento Olímpico é atualmente composto por federações esportivas internacionais, comitês olímpicos nacionais (CONs) e comissões organizadoras de cada especificidade dos Jogos Olímpicos. Como o órgão de decisão, o COI é responsável por escolher a cidade anfitriã para cada edição. A cidade anfitriã é responsável pela organização e financiamento à celebração dos Jogos coerentes com a Carta Olímpica. O programa olímpico, que consiste no esporte que será disputado a cada Jogos Olímpicos, também é determinado pelo COI. A celebração dos Jogos abrange muitos rituais e símbolos, como a tocha e a bandeira olímpica, bem como as cerimônias de abertura e encerramento. Existem mais de 13 000 atletas que competem nos Jogos Olímpicos de Verão e Inverno, em 33 diferentes modalidades esportivas com cerca de 400 eventos. Os finalistas do primeiro, segundo e terceiro lugar de cada evento recebem medalhas olímpicas de ouro, prata e bronze, respectivamente. Os Jogos têm crescido em escala, a ponto de quase todas as nações serem representadas. Tal crescimento tem criado inúmeros desafios, incluindo boicotes, doping, corrupção de agentes públicos e terrorismo. A cada dois anos, os Jogos Olímpicos e sua exposição à mídia proporcionam a atletas desconhecidos a chance de alcançar fama nacional e, em casos especiais, a fama internacional. Os Jogos também constituem uma oportunidade importante para a cidade e o país se promover e mostrar-se para o mundo. Origem e ritualística. Os Jogos Olímpicos antigos foram uma série de competições realizadas entre representantes de várias cidades-estado da Grécia antiga, que caracterizou principalmente eventos atléticos, mas também de combate e corridas de bigas. A origem destes Jogos Olímpicos é envolta em mistério e lendas. Um dos mitos mais populares identifica Hércules e Zeus, seu pai, como os progenitores dos Jogos. Segundo a lenda, foi Hércules que primeiro chamou os Jogos "Olímpicos" e estabeleceu o costume de explorá-los a cada quatro anos. A lenda persiste que, após Hércules ter completado seus doze trabalhos, ele construiu o estádio Olímpico como uma honra a Zeus. Após sua conclusão, ele andou em linha reta 200 passos e chamou essa distância de "estádio" (em grego: στάδιον, latim: "stadium", "palco"), que mais tarde tornou-se uma unidade de distância. Outro mito associa os primeiros Jogos com o antigo conceito grego de "trégua olímpica" (ἐκεχειρία, "ekecheiria"). A data mais aceita para o início dos Jogos Olímpicos antigos é 776 a.C., que é baseada em inscrições, encontradas em Olímpia, dos vencedores de uma corrida a pé realizada a cada quatro anos a partir de 776 a.C.. Os Jogos Antigos destacaram provas de corrida, pentatlo (que consiste em um evento de saltos, disco e lança-dardo, uma corrida a pé e luta), boxe, luta livre e eventos equestres. Diz a tradição que Coroebus, um cozinheiro da cidade de Elis, foi o primeiro campeão olímpico. As Olimpíadas foram de fundamental importância religiosa, com eventos esportivos ao lado de rituais de sacrifício em honra tanto a Zeus (cuja famosa estátua por Fídias estava em seu templo em Olímpia), quanto a Pélope, o herói divino e rei mítico de Olímpia. Pélope era famoso por sua corrida de bigas com o Rei Enomau de Pisatis. Os vencedores das provas foram admirados e imortalizados em poemas e estátuas. Os Jogos eram realizados a cada quatro anos, e este período, conhecido como uma Olimpíada, foi usado pelos gregos como uma das suas unidades de medição do tempo. Os Jogos foram parte de um ciclo conhecido como os Jogos Pan-Helénicos, que incluem os Jogos Píticos, os Jogos de Nemeia, e os Jogos Ístmicos. Os Jogos Olímpicos chegaram ao seu apogeu entre os séculos VI e V a.C., mas, depois, perderam gradualmente em importância enquanto os romanos ganharam poder e influência na Grécia. Segundo alguns autores, o declínio do espírito olímpico não se inicia no período romano e sim no período helenístico. Uma das causas mais importantes para se compreender esse declínio é a mudança do status de cidadão/soldado para súdito (soldado/profissional ou atleta/profissional). Dessa forma o profissionalismo se realizou como efeito da mudança política e não como a própria causa das mudanças ocorridas do período clássico para o helenístico. Não há consenso sobre quando os Jogos terminaram oficialmente; a data mais comum, é 393 d.C., quando o imperador Teodósio I declarou que todas as práticas e cultos pagãos seriam eliminados. Outra data é 426 d.C., quando seu sucessor Teodósio II ordenou a destruição de todos os templos gregos. Os Jogos Olímpicos não voltaram a ser realizados novamente até o final do século XIX. No entanto, embora não houvesse Jogos Olímpicos na Idade Média, havia esportes competitivos. Até o século XI, as corridas de bigas continuaram a ser praticadas no Império Bizantino, embora o esporte tenha declinado rapidamente na Europa Ocidental. Da segunda metade do século XI ao XVI, os torneios de cavaleiros desenvolveram-se na Europa Medieval. Os participantes do torneio viajaram em circuitos de competição por toda a Europa. Além dos torneios, havia competições de remo, ginástica, lançamento de dardo, tiro com arco e luta livre. Perto de Chipping Campden, Inglaterra, começou a desenvolver os "Jogos de Cotswold". O primeiro evento ocorreu em 1612 por iniciativa do advogado Robert Dover. O início da Guerra Civil Inglesa pôs um fim aos jogos em 1642. Os Jogos da Era Moderna. Precursores. A primeira tentativa significativa de trazer de volta os antigos Jogos Olímpicos foi a "L'Olympiade de la République", um festival olímpico nacional realizado anualmente de 1796 a 1798 na França revolucionária. A iniciativa foi dada pelo deputado Charles-Gilbert Romme que foi guilhotinado um ano antes de sua realização. A competição incluiu várias modalidades dos antigos Jogos Olímpicos Gregos. Os Jogos de 1796 também marcaram a introdução do sistema métrico no esporte. Em 1850 uma "Olympian Class" foi iniciada pelo Dr. William Penny Brookes em Much Wenlock, Shropshire, Inglaterra, para melhorar a aptidão dos locais. Em 1859, o Dr. Brookes renomeou "Olympian Class" para Jogos Anuais da Sociedade Olímpica de Wenlock e estes jogos anuais continuam até hoje. A Sociedade Olímpica de Wenlock foi fundada pelo Dr. Brookes em 15 de novembro de 1860. Entre 1862 e 1867, Liverpool realizou todos os anos um "Grand Olympic Festival". Idealizado por John Hulley e Melly Charles, esses jogos foram os primeiros a serem totalmente amadores em sua natureza e de perspectiva internacional. O programa da primeira Olimpíada moderna, em Atenas, em 1896 foi quase idêntico ao dos Jogos Olímpicos de Liverpool. Em 1865, Hulley, o Dr. Brookes e E.G. Ravenstein fundaram a Associação Nacional Olímpica em Liverpool, precursora da Associação Olímpica Britânica. Seus artigos de fundação forneceram a estrutura para a Carta do Comitê Olímpico Internacional. Renascimento. O interesse grego em reviver os Jogos Olímpicos começou com a guerra de independência da Grécia do Império Otomano em 1821. Foi proposto pela primeira vez pelo poeta e editor de jornal Panagiotis Soutsos em seu poema "Diálogo dos Mortos", publicado em 1833. Evangelis Zappas, um rico filantropo grego, escreveu pela primeira vez ao Rei Oto da Grécia, em 1856, ofertando fundos para financiar o renascimento permanente dos Jogos Olímpicos. Zappas patrocinou os primeiros Jogos Olímpicos em 1859, que foram realizados na cidade de Atenas. Participaram atletas da Grécia e do Império Otomano. Zappas financiou a restauração do antigo Estádio Panathinaiko para que pudesse acolher todos os futuros Jogos Olímpicos. Dr. William Penny Brookes adotou os eventos do programa dos Jogos Olímpicos realizados em Atenas em 1859, no futuro Jogos Olímpicos de Wenlock. Em 1866, foi realizada uma olimpíada nacional na Grã-Bretanha organizada pelo Dr. Brookes no The Crystal Palace de Londres. O Estádio Panathinaiko sediou Jogos Olímpicos em 1870 e em 1875. Trinta mil espectadores lotaram o estádio e seu entorno em 1870 — maior do que quase todo o público nos Jogos Olímpicos da era moderna de 1900 a 1920. Em 1890, depois de assistir os Jogos Anuais da Sociedade Olímpica de Wenlock, o Barão Pierre de Coubertin se inspirou em fundar o Comitê Olímpico Internacional. Coubertin se baseou nas ideias e no trabalho de Brookes e Zappas com o objetivo de estabelecer rotação internacional aos Jogos Olímpicos e que ocorreriam a cada quatro anos. Ele apresentou essas ideias durante o primeiro Congresso Olímpico do recém-criado Comitê Olímpico Internacional. Esta reunião foi realizada de 16 a 23 junho de 1894, na Sorbonne, em Paris. No último dia do congresso, foi decidido que os primeiros Jogos Olímpicos, a entrar sob os auspícios do COI, teria lugar dois anos mais tarde, em Atenas. O COI elegeu o escritor grego Dimítrios Vikélas como seu primeiro presidente. Atenas 1896. Os primeiros jogos sob os auspícios do COI foram sediados no Estádio Panathinaiko em Atenas, em 1896. Estes jogos trouxeram 14 nações e 241 atletas que competiram em 43 eventos. Zappas e seu primo Konstantinos Zappas tinham deixado ao governo grego uma relação de confiança para financiar os futuros Jogos Olímpicos. Esta confiança foi fundamental para o financiamento dos Jogos de 1896. George Averoff contribuiu generosamente para a renovação do estádio Panathinaiko para os Jogos. O governo grego também financiou a reforma por meio da venda futura de ingressos e com a venda do primeiro conjunto de selos comemorativos. Os funcionários e o povo grego estavam entusiasmados com a experiência de sediar os Jogos. Este sentimento era partilhado por muitos dos atletas, que ainda pediram que Atenas fosse a anfitriã dos Jogos Olímpicos permanentemente. O COI não aprovou este pedido. O comitê previa que os Jogos Olímpicos modernos girassem internacionalmente. Como tal, decidiu realizar os segundos Jogos em Paris. Mudanças e adaptações. Após o sucesso dos Jogos de 1896, os Jogos Olímpicos entraram num período de estagnação que ameaçava a sua sobrevivência. Os Jogos Olímpicos, realizados na exposição mundial de Paris em 1900, e de St. Louis em 1904 ficaram em segundo plano. Os Jogos de Paris não tiveram um estádio olímpico. Os Jogos de St. Louis receberam 650 atletas, porém 580 eram dos Estados Unidos. A pouca participação estrangeira, o pouco interesse do público (apenas duas mil pessoas acompanharam as provas em St. Louis), revelavam desinteresse pela competição. Os Jogos se recuperaram quando os Jogos Olímpicos Intercalados de 1906 (assim chamados porque foram os segundos Jogos realizados sem a terceira Olimpíada) foram realizados em Atenas. Estes Jogos não são reconhecidos oficialmente pelo COI e não foram mais realizados desde então. Estes Jogos foram sediados no estádio Panathinaiko em Atenas e atraíram uma vasta gama de participantes internacionais, o que gerou grande interesse público. Isto marcou o início de uma ascensão em popularidade e tamanho das Olimpíadas. Jogos de Inverno. Os Jogos Olímpicos de Inverno foram criados como um recurso aos esportes de neve e gelo que foram logisticamente impossibilitados de serem realizados durante os Jogos Olímpicos. Patinação artística (em 1908 e 1920) e hóquei no gelo (em 1920) foram apresentados como eventos olímpicos nos Jogos de Inverno. O COI então quis ampliar essa lista de esportes para abranger outras atividades do inverno. Em 1921, no Congresso Olímpico do COI, em Lausana, foi decidido realizar uma versão de inverno dos Jogos Olímpicos. Uma semana de esportes de inverno (na verdade foram 11 dias) foi realizada em 1924, em Chamonix, França, este evento tornou-se a primeira edição dos Jogos Olímpicos de Inverno. O COI determinou que os Jogos de Inverno fossem comemorados a cada quatro anos no mesmo ano de sua edição de verão. Esta tradição foi mantida até os Jogos de 1992 em Albertville, França, mas por questões logísticas e de organização houve a necessidade de se alterar o ciclo dos Jogos de Inverno, levando-os para anos pares alternados com os Jogos Olímpicos de Verão: o novo sistema começou com os Jogos de 1994, e desde então os Jogos Olímpicos de Inverno sempre são realizados no terceiro ano de cada Olimpíada. Jogos Paralímpicos. Em 1948, Sir Ludwig Guttmann, determinado a promover a reabilitação dos soldados após a Segunda Guerra Mundial, organizou um evento multiesportivo entre os vários hospitais, para coincidir com os Jogos Olímpicos de Verão de 1948. O evento de Guttman, conhecido depois como "Stoke Mandeville Games", tornou-se um festival esportivo anual. Ao longo dos doze anos seguintes, Guttman e outros continuaram seus esforços em utilizar o esporte como um caminho para a cura. Para os Jogos Olímpicos de Verão de 1960, em Roma, Guttman trouxe 400 atletas para competir nas Olimpíadas "paralelas", que ficaram conhecidas como a primeira Paralimpíada. Desde então, os Jogos Paralímpicos foram realizados em cada ano olímpico. A partir do verão de 1988 nos Jogos Olímpicos de Seul, Coreia do Sul, a cidade anfitriã para os Jogos Olímpicos também seria palco dos Jogos Paralímpicos. Este acordo de cooperação foi ratificado em 2001. Jogos da Juventude. Iniciados em 2010, os Jogos Olímpicos da Juventude são complementares aos Jogos Olímpicos e disputados por atletas com idades entre catorze e dezoito anos. Os Jogos Olímpicos da Juventude foram idealizados e concebidos pelo presidente do COI, Jacques Rogge, em 2001, e aprovados durante o 119º Congresso do COI. Os primeiros Jogos Olímpicos da Juventude de Verão foram realizados em Singapura, em 2010, enquanto os jogos inaugurais de inverno foram realizados em Innsbruck, na Áustria, dois anos mais tarde. Estes jogos são mais curtos do que os jogos tradicionais; a versão de verão dura doze dias, enquanto a versão de inverno dura apenas nove. O COI permitiu que 3 500 atletas e 875 funcionários participassem dos Jogos da Juventude de Verão, e 970 atletas e 580 funcionários dos Jogos da Juventude de Inverno. Os esportes em sua maioria coincidem com os programados para os jogos tradicionais, porém, há um número reduzido de disciplinas e eventos, com a adição de novos formatos e testes de novos eventos. Nos Jogos da Juventude também são permitidas competições por equipes de Comitês Olímpicos Nacionais diferentes e e desde Buenos Aires 2018 podem ser inclusos esportes que não integram os Jogos Olímpicos tradicionais. Na edição de 2018, em Buenos Aires, pela primeira vez houve o mesmo número de provas para homens e mulheres, fato inédito até mesmo nos Jogos convencionais. A edição de verão de 2026, em Dakar, no Senegal, será o primeiro evento olímpico de qualquer tipo a ser realizado na África. Jogos recentes. De 241 participantes, representando 14 nações em 1896, os Jogos têm crescido com cerca de 11 238 atletas de 207 Comitês Olímpicos Nacionais nos Jogos Olímpicos de Verão de 2016. O escopo e a escala dos Jogos Olímpicos de Inverno é menor. Por exemplo, PyeongChang recebeu 2 922 atletas de 92 países competindo em 102 eventos, durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2018. Durante os Jogos, a maioria dos atletas e funcionários ficam hospedados na Vila Olímpica. Esta vila é destinada a ser uma casa auto-suficiente para todos os participantes olímpicos. Ela está equipada com lanchonetes, postos de saúde e locais de expressão religiosa. O COI permite que as nações a competir que não cumprem os requisitos rigorosos para a soberania política, que procurem outras organizações internacionais. Como resultado, as colônias e dependências estão autorizadas a criarem seus próprios Comitês Olímpicos Nacionais. Exemplos disto incluem territórios como Porto Rico, Bermudas, e Hong Kong, que competem como nações separadas, apesar de serem legalmente uma parte de outro país. Países de reconhecimento limitado como Kosovo, Palestina e Taiwan (que compete como Taipé Chinesa) também podem competir. Comitê Olímpico Internacional. O Movimento Olímpico abrange um grande número de organizações desportivas nacionais e internacionais e federações, reconhecido parceiros de mídia, bem como atletas, dirigentes, juízes e qualquer outra pessoa e instituição que concorda em obedecer às regras da Carta Olímpica. Como a organização de cúpula do Movimento Olímpico, o Comitê Olímpico Internacional (COI) é responsável por selecionar a cidade sede, supervisionando o planejamento dos Jogos Olímpicos, a atualização e aprovação do programa de esportes, e negociação de patrocínios e direitos de transmissão. O Movimento Olímpico é constituído por três elementos principais: O idioma francês e o inglês são as línguas oficiais do movimento olímpico. A língua utilizada em cada edição dos Jogos Olímpicos é a língua do país de acolhimento. Cada anúncio (como a entrada de cada país durante o desfile das nações na cerimônia de abertura, por exemplo) é falado nestas três línguas, ou as duas principais consoante o país de acolhimento seja um país de língua inglesa ou francesa. Crítica. O COI tem sido muitas vezes criticado por ser uma organização intratável, com vários membros integrando o comitê durante longos períodos. A liderança dos presidentes do COI, Avery Brundage e Juan Antonio Samaranch, foi especialmente controversa. Brundage foi presidente por mais de vinte anos, e durante seu mandato, protegeu os Jogos Olímpicos de envolvimento político adverso. Ele foi acusado de racismo por sua manipulação da questão do apartheid, com a delegação sul-africana, e de antissemitismo. Sob a presidência Samaranch, a entidade foi acusada tanto de nepotismo como corrupção. A ligação de Samaranch com o regime de Francisco Franco na Espanha também foi uma fonte de crítica. Em 1998, foi descoberto que vários membros do COI haviam subornado membros do comitê de candidatura de Salt Lake City para a eleição da sede dos Jogos Olímpicos de Inverno de 2002, para garantir que seus votos fossem lançados em favor da proposta norte-americana. O COI seguiu uma investigação que levou à demissão de quatro membros e expulsão de outros seis. O escândalo desencadeou novas reformas que mudariam a forma de como seriam selecionadas as cidades anfitriãs, a fim de evitar casos semelhantes no futuro. Um documentário da BBC intitulado "Panorama: Buying the Games" (em português: "Comprando os Jogos"), exibido em agosto de 2004, investigou a obtenção de propinas no processo de licitação para os Jogos Olímpicos de Verão de 2012. O documentário alegou que era possível subornar membros do COI a votar numa cidade candidata específica. Depois de ser derrotado em sua candidatura para Jogos Olímpicos de 2012, o prefeito de Paris, Bertrand Delanoë acusou especificamente o primeiro-ministro britânico Tony Blair e o Comitê de candidatura de Londres (liderada pelo ex-campeão olímpico Sebastian Coe) de quebrar as regras propostas. Ele citou o presidente francês, Jacques Chirac como testemunha; Chirac deu entrevistas sobre sua participação. A acusação nunca foi totalmente explorada. A candidatura de Turim para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2006 também foi envolta em controvérsia. Um proeminente membro do COI, Marc Hodler, fortemente ligado com a candidatura rival de Sion, da Suíça, alegou suborno de funcionários do COI por membros do Comitê Organizador de Turim. Essas acusações levaram a uma ampla investigação. As acusações também serviram para azedar a relação de muitos membros do COI com a candidatura de Sion e possivelmente ajudou Turim a conquistar o direito de cidade anfitriã. Comercialização. O COI inicialmente resistiu ao financiamento de patrocinadores. Não foi até a aposentadoria do presidente do COI, Avery Brundage, em 1972, que o COI começou a explorar o potencial da mídia televisiva e os mercados de publicidade lucrativa à sua disposição. Sob a liderança de Juan Antonio Samaranch os jogos começaram a mudar em direção aos patrocinadores internacionais, que procuraram vincular seus produtos com a marca olímpica; o então dirigente maior do esporte olímpico declarou que "os esportes que não se adaptarem à televisão estarão fadados ao desaparecimento; da mesma forma, as televisões que não souberem buscar o acesso aos programas esportivos jamais conseguirão sucesso financeiro e de público". Orçamento. Durante a primeira metade do século XX, o COI foi conduzido com um orçamento pequeno. Como presidente do COI de 1952 a 1972, Avery Brundage, rejeitou todas as tentativas de vincular os Jogos Olímpicos com interesses comerciais. Brundage acreditava que o lobby dos interesses corporativos indevidamente impactaria as decisões do COI. A resistência de Brundage a este fluxo de receita significava que o COI deixava os próprios comitês organizarem e negociarem seus contratos de patrocínio e utilizarem os símbolos olímpicos. Quando Brundage aposentou-se do COI havia 2 milhões de dólares em ativos; oito anos mais tarde o valor nos cofres do COI havia aumentado para 45 milhões. Isto se deveu principalmente a uma mudança de ideologia para a expansão dos jogos através do patrocínio de empresas e a venda dos direitos televisivos. Quando Juan Antonio Samaranch foi eleito presidente do COI, em 1980, seu desejo era fazer com que o COI fosse financeiramente independente. Após o Massacre de Munique, durante os Jogos Olímpicos de Verão de 1972 e as severas perdas financeiras de Montreal quando sediou os Jogos de Verão de 1976, poucas cidades se manifestaram sobre o interesse de sediar a edição de 1984. A partir de então esses Jogos tornaram-se um divisor de águas na história olímpica. A comissão organizadora sediada em Los Angeles, conduzida por Peter Ueberroth, foi capaz de gerar um excedente de 225 milhões de dólares, uma quantidade sem precedentes na época. A comissão organizadora tinha sido capaz de criar esse excedente, em parte pela venda de direitos de patrocínio exclusivos para selecionar as empresas. O COI tentou obter o controle desses direitos de patrocínio. Samaranch ajudou a estabelecer o "The Olympic Program" (TOP), em 1985, a fim de criar uma marca olímpica. A participação no TOP era, e é, muito exclusiva e cara. Taxas ao custo de 50 milhões de dólares para uma adesão de quatro anos. Membros do TOP receberam direitos exclusivos de publicidade global para a sua categoria de produtos, e a utilização do símbolo olímpico, os anéis entrelaçados, nas suas publicações e anúncios. Efeitos da televisão. Os Jogos Olímpicos de 1936 em Berlim foram os primeiros jogos a serem transmitidos na televisão, mas apenas para o público local. Os Jogos Olímpicos de Inverno de 1956 foram os primeiros televisionados a nível internacional dos Jogos Olímpicos, e os seguintes Jogos de Inverno tinham vendidos os direitos de transmissão pela primeira vez para as redes de transmissão especializadas — CBS pagou 394 mil dólares pelos direitos norte-americanos, e da "European Broadcasting Union" (EBU) foram atribuídos 660 mil dólares. Nas décadas seguintes, os Jogos Olímpicos se tornaram uma das frentes ideológicas da Guerra Fria. Superpotências disputavam a supremacia política, e o COI queria aproveitar este aumento no interesse através de um meio de transmissão. A venda dos direitos de transmissão permitiu ao COI aumentar a exposição dos Jogos Olímpicos, gerando assim mais interesse, que por sua vez criou mais atrativos para os anunciantes que compraram espaço publicitário na televisão. Este ciclo permitiu ao COI cobrar uma taxa cada vez maior por esses direitos. Por exemplo, a CBS pagou 375 milhões dólares pelos direitos dos Jogos de Nagano, enquanto a NBC gastou 3,5 bilhões de dólares pelos direitos de transmissão de todos os Jogos Olímpicos entre 2000 e 2008. A audiência cresceu exponencialmente desde a década de 1960 até o final do século. Isto foi devido ao uso de satélites para transmissão de televisão ao vivo em todo o mundo em 1964, e a introdução da televisão a cores em 1968. Estimativas de audiência global para os Jogos da Cidade do México em 1968 foi de 600 milhões de pessoas, enquanto nos Jogos de Los Angeles de 1984, o número de espectadores aumentou para 900 milhões; esse número aumentou para 3,5 bilhões, em 1992, nos Jogos Olímpicos de Barcelona. No entanto, nos Jogos de Sydney, a NBC registrou a menor audiência das Olimpíadas de Verão ou de Inverno desde 1968. Isto foi atribuído a dois fatores: um é o aumento da concorrência dos canais a cabo, a segunda era a internet, que foi capaz de mostrar resultados e vídeo em tempo real. Empresas de televisão ainda estavam contando com o conteúdo da fita pré-gravada, que foi se tornando obsoleta na era da informação. A queda nos índices significava que os estúdios de televisão teriam de dar tempo de publicidade gratuita. Com custos tão elevados cobrados para transmitir o Jogos, a pressão adicional da internet, e o aumento da concorrência a cabo, o lobby de televisão exigiu concessões do COI para aumentar sua audiência. O COI respondeu fazendo uma série de mudanças no programa olímpico. Nos Jogos de Verão, a competição de ginástica foi ampliada de sete a nove noites, e uma exibição de gala foi adicionada para atrair maior interesse. O COI também expandiu os programas de natação e saltos ornamentais, dois esportes populares com uma ampla base de telespectadores. Por fim, o lobby de televisão norte-americana foi capaz de ditar quando determinados eventos fossem realizados para que pudessem ser transmitidos ao vivo em horário nobre nos Estados Unidos. O resultado desses esforços foram mistos: os índices para os Jogos de Inverno de 2006, realizados em Turim, Itália, foram significativamente menores do que aqueles para os Jogos de 2002, enquanto houve um aumento acentuado na audiência para as Olimpíadas de 2008, realizada em Pequim. Filmografia. Os Jogos Olímpicos tem sido ostensivamente relatado na Industria Cinematográfica, é o caso do Filme-Documentário Icarus (2017), que é um filme-documentário estadunidense de 2017 dirigido e escrito por Bryan Fogel e Mark Monroe, que segue a história de Fogel, um ciclista amador envolvido em um escândalo de "doping" com a ajuda do chefe do laboratório antidoping Grigory Rodchenkov. Lançado no Festival Sundance de Cinema em 20 de janeiro e, em seguida, distribuído mundialmente pela Netflix em 4 de agosto. Outro exemplo é o caso do Ganhador do Oscar de 1982, Chariots of Fire onde venceu na categoria de Melhor filme, Melhor roteiro original (Colin Welland), Melhor figurino (Milena Canonero) e Melhor trilha sonora (Vangelis). É um filme britânico de 1981, do gênero drama, dirigido por Hugh Hudson. A música-tema do filme, composta pelo grego Vangelis, tornou-se o hino oficial de todas as maratonas e maratonistas ao redor do mundo. O filme mostra a preparação da equipe olímpica de atletismo da Grã-Bretanha para os Jogos Olímpicos de 1924, em Paris. Controvérsia. A venda da marca olímpica tem sido um tanto controversa. O argumento é que os Jogos se tornaram indistinguíveis de qualquer outro espectáculo desportivo comercializado. Críticas específicas foram dirigidas ao COI para a saturação do mercado durante os Jogos de Atlanta 1996 e Sydney 2000. As cidades foram inundadas de empresas e comerciantes tentando vender mercadorias relacionados com a Olimpíada. O COI mencionou que iria visar isso para evitar espetáculos de marketing em jogos futuros. Outra crítica é que os Jogos são financiados por cidades anfitriãs e os governos nacionais, o COI incorre em nenhum custo, mas controla todos os direitos e os lucros dos símbolos olímpicos. O COI também tem uma percentagem de todas as receitas de patrocínio e de transmissão. Cidades-sede continuam ardentemente a competir pelo direito de sediar os Jogos, embora não haja certeza de que vão ganhar de volta seus investimentos. Símbolos. O Movimento Olímpico utiliza símbolos para representar os ideais consagrados na Carta Olímpica. O símbolo olímpico mais conhecido, os anéis olímpicos, é composto por cinco anéis entrelaçados representando a união dos cinco continentes habitados (considerando as Américas do Norte e do Sul como um continente único). A versão colorida dos anéis, azul, amarelo, preto, verde e vermelho sobre um fundo branco, forma a bandeira olímpica. As cores foram escolhidas porque cada nação tinha pelo menos uma delas em sua bandeira nacional. A bandeira foi adotada em 1914, mas foi hasteada pela primeira vez apenas em 1920 nos Jogos Olímpicos de Antuérpia, na Bélgica. Desde então, é hasteada em cada celebração dos Jogos e em ações relacionadas ao COI. O lema olímpico é "Citius, Altius, Fortius", uma expressão latina que significa "mais rápido, mais alto, mais forte". Os ideais de Coubertin são melhores expressos no juramento olímpico: Meses antes de cada edição dos Jogos, a chama olímpica é acesa em Olímpia, em uma cerimônia que reflete antigos rituais gregos. A performista, atuando como uma sacerdotisa, acende uma lanterna colocando-a dentro de um espelho parabólico que concentra os raios do sol; ela, em seguida, acende as luzes da tocha do primeiro portador, iniciando assim o revezamento da tocha olímpica que vai levar a chama ao estádio olímpico da cidade anfitriã dos Jogos, onde desempenha um papel importante na cerimônia de abertura. Embora o fogo seja um símbolo olímpico desde 1928, o revezamento da tocha foi introduzido nos Jogos Olímpicos de Verão de 1936 como parte da tentativa do governo alemão para promover a sua ideologia nazista. O mascote olímpico, um animal ou uma figura humana que representa o patrimônio cultural do país anfitrião, foi introduzido em 1968. Ele desempenhou um papel importante na promoção da identidade dos Jogos desde, especialmente nos Jogos Olímpicos de Verão de 1980, quando o filhote de urso russo Misha atingiu o estrelato internacional. O mascote dos últimos Jogos Olímpicos de Verão, no Rio de Janeiro, foi o híbrido Vínicius, uma criatura que representa a diversidade da fauna brasileira. Cerimônias. Abertura. Conforme estipulado pela Carta Olímpica, vários elementos enquadram a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos. A maioria destes rituais foram criados em 1920 nos Jogos Olímpicos de Antuérpia. A cerimônia tipicamente começa com o hastear da bandeira do país anfitrião e uma performance de seu hino nacional. O país anfitrião, em seguida, apresenta manifestações artísticas de música, canto, dança e representação teatral de sua cultura. As apresentações artísticas têm crescido em dimensão e complexidade na tentativa das cidades-sedes de fornecer uma cerimônia que supere sua antecessora em termos de memorização. A cerimônia de abertura dos Jogos de Pequim custou 100 milhões de dólares, com parte dos custos suportados no segmento artístico. Após a parte artística da cerimônia, é realizado o desfile de atletas para o estádio agrupados por país. A Grécia é tradicionalmente a primeira nação a entrar com o intuito de honrar as origens dos Jogos Olímpicos. Das nações, em seguida, entram no estádio em ordem alfabética de acordo com o idioma do país-sede, com os atletas deste sendo os últimos a entrarem. Durante as Olimpíadas de 2004, que foram realizados em Atenas, na Grécia, a bandeira grega abriu o desfile das nações e a delegação do país encerrou o mesmo. Discursos são dados, formalmente abrindo os Jogos. Finalmente, a tocha olímpica é levada para o estádio e é passada de mão em mão até chegar ao portador final da tocha, muitas vezes um bem conhecido e bem sucedido atleta olímpico da nação anfitriã, que acende a chama olímpica na pira do estádio. Encerramento. A cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos ocorre após todos os eventos desportivos terem sido concluídos. Porta-bandeiras de cada país participante entram no estádio, seguidos pelos atletas que entram juntos, sem qualquer distinção nacional. Três bandeiras nacionais são hasteadas enquanto os hinos nacionais correspondentes são tocados: a bandeira da Grécia, para homenagear o berço dos Jogos Olímpicos, a bandeira do país anfitrião, e a bandeira do país dos próximos Jogos Olímpicos. O presidente do comitê organizador e presidente do COI fazem seus discursos de encerramento, os Jogos são oficialmente encerrados, e a chama olímpica é apagada. Na Cerimônia de Antuérpia, o prefeito da cidade que organizou os Jogos Olímpicos transfere uma bandeira olímpica especial ao presidente do COI, que depois a passa para o prefeito da cidade anfitriã dos próximos Jogos Olímpicos. Após estes elementos obrigatórios, o país anfitrião seguinte apresenta-se brevemente com exposições artísticas de dança e teatro representante de sua cultura. Entrega de medalhas. A cerimônia de entrega de medalha é realizada após a realização de cada evento olímpico. O vencedor, segundo e terceiro lugar, sendo competidores individuais ou equipes, sobem no alto de uma tribuna em três níveis e são atribuídas suas respectivas medalhas. Após as medalhas serem distribuídas por um membro do COI, as bandeiras nacionais dos três medalhistas são levantadas enquanto o hino nacional do país do medalhista de ouro é executado. Cidadãos voluntários do país-sede também atuam como anfitriões durante a cerimônia de medalhas, já que ajudam os funcionários a entregarem as medalhas e atuam como porta-bandeiras. Para cada modalidade olímpica, a respectiva cerimônia de medalhas é realizada, no máximo, um dia depois do final do evento. Para a maratona masculina, a competição é normalmente realizada no início da manhã do último dia de competição olímpica e a sua cerimônia de medalhas, em seguida, é realizada à noite durante a cerimônia de encerramento. Nas Olimpíadas de 2020, as medalhistas da maratona feminina também foram premiadas na cerimônia de encerramento, como parte da política de igualdade de gêneros. Esportes. O programa dos Jogos Olímpicos consiste de 26 esportes, 30 disciplinas e cerca de 300 provas. Por exemplo, a luta é um esporte dos Jogos Olímpicos de Verão que inclui duas disciplinas: greco-romana e livre. É dividido em provas para homens e mulheres, cada um representando uma classe de peso. Os Jogos Olímpicos de Verão inclui 26 programas esportivos, enquanto os Jogos Olímpicos de Inverno apresentam quinze programas esportivos. Atletismo, natação, esgrima e ginástica artística são os únicos esportes de verão que nunca estiveram ausentes do programa olímpico. Esqui cross-country, patinação artística, hóquei no gelo, combinado nórdico, salto de esqui e patinação de velocidade estiveram em todas as Olimpíadas de Inverno desde a criação em 1924. Outros esportes olímpicos, como badminton, basquetebol e voleibol, apareceram primeiro no programa como esportes de demonstração e depois foram selecionados ao programa oficial dos esportes olímpicos. Alguns esportes que foram destaques em jogos anteriores foram retirados do programa. Os esportes olímpicos são governados pelas Federações Internacionais (FIs), reconhecido pelo COI como os supervisores dos esportes globais. Há 35 federações representadas no COI. Não são reconhecidos pelo COI esportes que não estão incluídos no programa olímpico. Estes não são considerados esportes olímpicos, mas podem ser promovidos a este status durante uma revisão do programa que ocorre após a primeira sessão do COI, em comemoração dos Jogos Olímpicos. Durante tais revisões, esportes podem ser excluídos ou incluídos no programa, com base em uma maioria de dois terços dos membros do COI. Há esportes reconhecidos que nunca estiveram em um programa olímpico, incluindo xadrez e surfe. Em outubro e em novembro de 2004 o COI estabeleceu uma comissão do Programa Olímpico, que foi encarregada de analisar o esporte no programa olímpico e todos os esportes não-olímpicos reconhecidos. Era o objetivo para aplicar a abordagem sistemática à criação do programa olímpico para cada celebração dos Jogos. A Comissão formulou sete critérios para julgar se um esporte deve ser incluído no programa olímpico. Estes critérios são a história e a tradição do esporte, a universalidade, a popularidade do esporte, a imagem, a saúde dos atletas, o desenvolvimento da Federação Internacional que rege o esporte e os custos de exploração do esporte. A partir deste estudo de cinco esportes reconhecidos surgiram como candidatos para inclusão nas Olimpíadas de 2012 o golfe, caratê, rugby, squash e patinação sobre rodas. Esses esportes foram revistos pelo Conselho Executivo do COI e, então, encaminhada para a sessão geral em Singapura, em julho de 2005. Dos cinco esportes recomendados para a inclusão apenas dois foram selecionados como finalistas: caratê e squash. Nenhum esporte alcançou dois terços de votos necessários e, consequentemente, não foram selecionados para o programa olímpico. Em outubro de 2009, o COI elegeu o golfe e o rugby como esportes olímpicos para os Jogos Olímpicos de 2016 e 2020. Na114ª Sessão do COI, em 2002, o programa dos Jogos Olímpicos foi limitado a um máximo de 28 esportes, 301 eventos e atletas. Três anos mais tarde, na 117ª Sessão do COI, a primeira grande revisão do programa foi realizada, o que resultou na exclusão do beisebol e softbol do programa oficial dos Jogos de Londres 2012. Como não houve acordo para a promoção de dois outros esportes, o programa de 2012 contou com apenas 26 esportes. Os Jogos de 2016 e 2020 voltarão a ter o máximo de 28 esportes, com a adição do rugby sevens e golfe. Nos jogos de 2020 foram inclusos o basquete 3x3, caratê, ciclismo BMX freestyle, escalada esportiva (testada nas Olimpíadas da Juventude de 2018), skate e surfe, além do retorno do beisebol/softbol. Para 2024, foi incluso o Breaking (também testado nas Olimpíadas da Juventude de 2018) e retirado o Beisebol/Softbol e o Caratê. Amadorismo e profissionalismo. O "ethos" da aristocracia como exemplificado na "Independent School" muito influenciou Pierre de Coubertin. As escolas independentes baseavam-se na crença de que o esporte forma uma parte importante da educação, a partir do lema "mens sana in corpore sano", uma mente sã num corpo sadio. Neste espírito, uma pessoa tornava-se melhor em vários aspectos, não o melhor em uma coisa específica. Houve também um conceito dominante de justiça, em que praticar ou treinar era considerado uma trapaça. Aqueles que praticavam o esporte profissionalmente eram considerados como tendo uma vantagem injusta sobre aqueles que meramente praticavam como um "hobby". A exclusão dos profissionais causou diversas polêmicas ao longo da história das Olimpíadas modernas. O campeão olímpico de 1912 no pentatlo e decatlo Jim Thorpe perdeu as medalhas quando foi descoberto que tinha jogado beisebol semiprofissional antes dos Jogos Olímpicos. Suas medalhas foram restauradas pelo COI em 1983 por motivos de compaixão. Esquiadores suíços e austríacos boicotaram os Jogos Olímpicos de Inverno de 1936 em apoio a seus professores de esqui, que não estavam autorizados a competir porque eles haviam ganhado dinheiro com o seu esporte e foram considerados profissionais. Como a estrutura de classe evoluiu ao longo do século XX, a definição do atleta amador como um "cavalheiro aristocrático" tornou-se ultrapassada. O advento do Estado-patrocinador pelo "atleta amador em tempo integral" dos países do Bloco Oriental corroeu a ideologia do amadorismo puro, colocando os amadores autofinanciados dos países ocidentais em desvantagem. No entanto, o COI seguiu com as regras tradicionais sobre amadorismo. A partir de 1970, os requisitos de amadorismo foram gradualmente eliminados da Carta Olímpica. Depois dos Jogos de 1988, o COI decidiu autorizar que atletas profissionais participassem dos Jogos Olímpicos, sujeito à aprovação das FIs. Desde 2004 os únicos esportes em que não há profissionais competindo são boxe e luta, exigindo uma definição de amadorismo com base nas regras da luta, em vez de pagamento. Alguns boxeadores e lutadores recebem prêmios em dinheiro de seus Comitês Olímpicos Nacionais. No futebol masculino, apenas três jogadores com idade superior a 23 são elegíveis para a participação por equipe no torneio olímpico. Isto é feito para manter um nível de amadorismo, e para assegurar a primazia da Copa do Mundo. Controvérsias. Boicotes. O Conselho Olímpico da Irlanda boicotou os Jogos de Berlim em 1936, devido o COI ter insistido que sua equipe se restringia ao Estado Livre Irlandês, em vez de representar toda a ilha da Irlanda. Houve dois boicotes nos Jogos Olímpicos de Melbourne em 1956: Países Baixos, Espanha e Suíça recusaram-se a comparecer devido à repressão da revolta húngara pela União Soviética; Camboja, Egito, Iraque e Líbano boicotaram os Jogos devido à crise de Suez. Em 1972 e 1976, um grande número de países africanos ameaçaram o COI com um boicote ao forçá-lo a proibição da África do Sul e da Rodésia, por causa de seu regime segregacionista. Também a Nova Zelândia foi um dos motivos ao boicote africano, porque a Seleção Neozelandesa de râguebi excursionou na África do Sul de regime declaradamente "apartheid". O COI concedeu nos dois primeiros casos, mas se recusou a proibição de Nova Zelândia, alegando que o râguebi não era um esporte olímpico. Cumprindo a ameaça, vinte países africanos juntaram-se ao Iraque e a Guiana liderada pela Tanzânia na retirada a partir dos Jogos de Montreal, depois que alguns de seus atletas já haviam competido. Taiwan, também decidiu boicotar estes jogos porque a República Popular da China (RPC), exerceu pressão sobre o Comitê organizador de Montreal para manter a delegação da República da China (RC) competir sob esse nome. A RC refutou o compromisso proposto que ainda lhes permitia usar o hino e a bandeira da República da China, desde que o nome fosse mudado. Taiwan novamente não participou até 1984, quando retornou com o nome de Taipé Chinês e com um bandeira e o hino especial. Em 1980 e 1984, os adversários da Guerra Fria boicotaram cada um dos Jogos do outro. Sessenta e cinco nações recusaram-se a competir nos Jogos Olímpicos de Moscou em 1980 devido à invasão soviética do Afeganistão. Este boicote reduziu o número de participantes para 81 nações, o número mais baixo desde 1956. A União Soviética e catorze dos seus parceiros do Bloco do Leste (com exceção da Romênia) contrariaram boicotando os Jogos Olímpicos de Los Angeles de 1984, alegando que eles não poderiam garantir a segurança dos seus atletas. Funcionários soviéticos defenderam a decisão de se retirar dos Jogos dizendo que os sentimentos "chauvinistas e uma histeria anti-soviética estão sendo instigados até nos Estados Unidos." As nações do bloco oriental organizaram seu próprio evento alternativo, os Jogos da Amizade, em julho e agosto. Havia crescido o pedido de boicote aos produtos chineses e as Olimpíada de 2008 em Pequim, em protesto contra a situação dos direitos humanos, e em resposta às perturbações no Tibete e em conflito no Darfur. Em última análise, nenhuma nação apoiou o boicote. Em agosto de 2008, o governo da Geórgia clamou por um boicote aos Jogos Olímpicos de Inverno de 2014, realizados em Sóchi, na Rússia, em resposta à participação da Rússia na Guerra na Ossétia do Sul em 2008. O Comitê Olímpico Internacional respondeu as preocupações sobre o estado dos jogos de 2014, afirmando que "é prematuro fazer juízos sobre a forma de como os eventos acontecem hoje para com um evento a ser realizado daqui a seis anos". Durante os Jogos Olímpicos de Verão de 2020, houve temores quanto ao crescimento de casos e óbitos pela Pandemia de COVID-19, fazendo com que países como Espanha, Itália, Brasil, Grã-Bretanha e Canadá ameaçassem boicotar o evento caso não houvesse o adiamento dos jogos para o verão de 2021. Atendendo a pressão de diversos comités olímpicos, os jogos foram adiados em um ano, se tornando a primeira edição a ocorrer em um ano ímpar (fora do ciclo olímpico). Mesmo com o adiamento, a edição não ficou livre de boicotes, já que a Coreia do Norte anunciou que não irá participar dos jogos devido a preocupação com a saúde dos atletas. Essa é a terceira vez que o lado norte coreano não participa dos jogos olímpicos, já que também ficou ausente em 1984 e 1988. Na véspera da cerimônia de abertura, em 22 de julho, foi a vez do Guiné também anunciar desistência aos jogos por conta de casos positivos entre membros da delegação, além de incertezas com os protocolos. Tal boicote norte-coreano ocasionou em punição para os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022, com o país impossibilitado de usar a bandeira e o hino nacional durante as competições. Punição essa semelhante com a da Rússia durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2018 e Verão de 2020. Por não concordar com a punição, a Coreia do Norte decidiu não participar dessa edição dos jogos. Essa edição também ficou marcada por um boicote diplomático de países como a Austrália, Bélgica, Canadá, Dinamarca, Estados Unidos, Japão, Kosovo, Lituânia e Reino Unido, tendo como um dos motivos a crise da China com o ocidente, relacionada aos povos uigures, na província chinesa de Xinjiang, os quais são enviados a campos de internato, sendo tais atitudes consideradas uma violação aos direitos humanos e até mesmo de genocídio por parte de alguns países. Tal boicote não afetou a participação dos atletas, que competiram normalmente. Política. Os Jogos Olímpicos têm sido usados como uma plataforma para promover ideologias políticas quase desde o início. A Alemanha nazista desejava retratar o Partido Nacional Socialista como benevolente e amante da paz quando organizou os Jogos de 1936. Os jogos também foram destinados a demonstrar a superioridade da raça ariana, uma meta que não foi realizada em parte devido às conquistas de atletas como Jesse Owens, que ganhou quatro medalhas de ouro nesta Olimpíada. A União Soviética não participou até os Jogos Olímpicos de Helsinque em 1952. Em vez disso, a partir de 1928, os soviéticos organizaram um evento esportivo internacional chamado Spartakiada. Outros países comunistas organizaram Olimpíadas dos Trabalhadores durante o período entre as guerras dos anos 1920 e 1930. Esses eventos foram realizados como uma alternativa para os Jogos Olímpicos, os quais eram percebidos como um evento capitalista e da nobreza. Não era, até os Jogos de 1956 que os soviéticos emergiram como uma superpotência esportiva e, ao fazê-lo, tomou proveito da publicidade que veio com vitória nos Jogos Olímpicos. Atletas individuais também utilizaram os jogos para promover sua agenda política própria. Nos Jogos Olímpicos de 1968, na Cidade do México, dois corredores americanos, Tommie Smith e John Carlos, que terminaram em primeiro e terceiro nos 200 metros rasos, realizaram a saudação do "Black Power" no pódio. O segundo colocado Peter Norman usou o crachá do projeto olímpico para os Direitos Humanos em apoio a Smith e Carlos. Em resposta ao protesto, o presidente do COI, Avery Brundage disse ao Comitê Olímpico dos Estados Unidos (USOC) que enviasse os dois atletas para casa ou retiraria a equipe de atletismo de campo. O USOC optou pela primeira. Atualmente, o Governo do Irã tomou medidas para evitar qualquer concorrência entre os seus atletas e os de Israel. Um judoca iraniano não quis competir em uma partida contra um israelense durante as Olimpíadas de 2004. Embora ele tenha sido oficialmente desclassificado por excesso de peso, Arash Miresmaeli recebeu 125 mil dólares em prêmios monetários por parte do governo iraniano, um montante pago a todos os ganhadores de medalha de ouro no país. Ele foi oficialmente inocentado de deliberadamente evitar o confronto, mas a sua recepção do prêmio em dinheiro levantou suspeita. Uso de drogas de aumento do desempenho. No início do século XX, muitos atletas olímpicos começaram a usar drogas para melhorar suas habilidades atléticas. Por exemplo, o vencedor da maratona nos Jogos de 1904, Thomas J. Hicks, recebeu estricnina e conhaque do seu técnico. A morte olímpica apenas ligada ao doping ocorreu nos Jogos de Roma de 1960. Durante a corrida de ciclismo de estrada, o ciclista dinamarquês Knud Enemark Jensen caiu de bicicleta e morreu mais tarde. Um legista do inquérito concluiu que ele estava sob o efeito de anfetaminas. Em meados da década de 1960, federações desportivas estavam começando a proibição do uso de drogas de elevação do desempenho, em 1967 o COI seguiu o exemplo. O primeiro atleta olímpico a testar positivo para o uso de drogas de aumento do desempenho foi Hans-Gunnar Liljenwall, um pentatleta sueco nos Jogos Olímpicos de 1968, que perdeu sua medalha de bronze por uso do álcool. A desqualificação mais divulgada relacionada ao doping é a do velocista canadense Ben Johnson que ganhou os 100 metros rasos em 1988 na Olimpíada de Seul, mas seu teste acusou positivo para estanozolol. Sua medalha de ouro foi cassada e posteriormente atribuída ao vice-campeão Carl Lewis, que teve seu teste acusado positivo para substâncias proibidas antes das Olimpíadas. No final de 1990, o COI tomou a iniciativa de forma mais organizada na batalha contra o doping, formando a Agência Mundial Antidoping (WADA) em 1999. Houve um aumento acentuado nos testes positivos de drogas nas Olimpíadas de 2000 e nos Jogos Olímpicos de Inverno de 2002. Vários medalhistas no levantamento de peso e esqui cross-country foram desqualificados por doping. Durante os Jogos Olímpicos de Inverno de 2006, apenas um atleta foi pego em um teste de drogas e teve sua medalha revogada. O regime de testes de drogas do COI (agora conhecido como o padrão olímpico) tem se firmado como referência mundial que outras federações em torno do mundo tentam imitar. Durante os jogos de Pequim, 3 667 atletas foram testados pelo COI sob os auspícios da Agência Mundial Antidoping. Ambos os testes de urina e de sangue foram usadas para detectar substâncias proibidas. Muitos atletas foram impedidos de concorrer pelos Comitês Olímpicos Nacionais antes dos Jogos, apenas três atletas foram flagrados nos testes de drogas enquanto competiam em Pequim. Além disso, é comum no COI guardar as amostras coletadas durante os Jogos Olímpicos por oito anos, para sempre que métodos mais modernos de análise sejam criados elas possam ser submetidas a novos testes. Um exemplo disso foi que quatro atletas que haviam ganhado medalhas nos Jogos Olímpicos de Verão de 2004 tiveram seus resultados caçados em 2012. Violência. Os Jogos Olímpicos não trouxeram paz duradoura para o mundo, mesmo durante as celebrações dos Jogos. Na verdade, três olimpíadas tiveram que passar sem uma celebração dos Jogos por causa da guerra: os Jogos de 1916 foram cancelados devido a Primeira Guerra Mundial, e os jogos de verão e inverno de 1940 e 1944 foram cancelados devido à Segunda Guerra Mundial. A guerra na Ossétia do Sul entre a Geórgia e Rússia irrompeu no dia da abertura dos Jogos Olímpicos de 2008 em Pequim. Tanto o Presidente dos Estados Unidos George W. Bush como o Primeiro-ministro russo Vladimir Putin estavam nas Olimpíadas nesse momento e falaram juntos sobre o conflito em um almoço oferecido pelo presidente chinês, Hu Jintao. Quando Nino Salukvadze da Geórgia, ganhou a medalha de bronze na competição de pistola de ar 10 metros, ela ficou no pódio com a russa Natalia Paderina, atiradora que ganhou a prata. No que se tornou um acontecimento muito divulgado a partir dos Jogos de Pequim, Salukvadze abraçou Paderina no pódio após o fim da cerimônia. Em 1972, quando os Jogos Olímpicos foram realizados em Munique, o terrorismo assombrou a comunidade internacional quando onze membros da equipe olímpica de Israel foram feitos reféns pelo grupo Setembro Negro, em evento conhecido como o massacre de Munique. Os terroristas mataram dois dos atletas, logo após os tomarem como reféns e outros nove membros do grupo de Israel morreram durante uma falhada tentativa de libertação. Um policial alemão e cinco terroristas também morreram. Durante os Jogos Olímpicos de Atlanta em 1996, uma bomba explodiu no "Centennial Olympic Park", matando dois espectadores e ferindo outros 111. A bomba foi detonada pelo americano Eric Robert Rudolph, um terrorista doméstico, que atualmente está servindo uma sentença de prisão perpétua pelo atentado. Campeões e medalhistas. Os atletas ou equipes que ficam em primeiro lugar, segundo e terceiro recebem medalhas em cada evento. Os vencedores recebem medalhas de ouro, que eram de ouro maciço até 1912, seguida de prata dourada e prata banhada a ouro agora. Cada medalha de ouro deve conter, no mínimo, seis gramas de ouro puro. Os vice-campeões recebem medalhas de prata e os atletas terceiros lugares são premiados com medalhas de bronze. Em eventos contestados por um torneio de eliminatória simples (principalmente de boxe), o terceiro lugar não pode ser determinado e ambos perdedores semifinalistas recebem medalhas de bronze. Na Olimpíada de 1896 apenas os dois primeiros receberam uma medalha, de prata e bronze para o primeiro e para o segundo. O formato atual de três medalhas foi introduzido nos Jogos Olímpicos de 1904. De 1948 em diante atletas da quarta, quinta e sexta colocação recebiam certificados, que ficou oficialmente conhecido como diplomas da vitória; em 1984 diplomas da vitória para os finalistas do sétimo e oitavo lugar foram acrescentados. Nos Jogos Olímpicos de Atenas de 2004, os medalhistas de ouro, prata e bronze também receberam coroas de oliva. O COI não mantém estatísticas de medalhas conquistadas, mas os Comitês Olímpicos Nacionais e a mídia registram como uma medida de sucesso. O país anfitrião e a cidade-sede. A cidade anfitriã dos Jogos Olímpicos é escolhida normalmente sete anos antes da sua celebração. O processo de seleção é realizado em duas fases que abrangem um período de dois anos. O potencial da cidade anfitriã é aferido pelo Comitê Olímpico do país e, se mais de uma cidade do mesmo país apresenta uma proposta, normalmente, o Comitê Olímpico Nacional realiza uma seleção interna, já que apenas uma cidade por CON pode ser apresentada ao Comitê Olímpico Internacional (COI) para apreciação. Uma vez que o prazo para apresentação de propostas pelos CONs é esgotado, a primeira fase (postulação, "application") começa com as cidades pré-candidatas respondendo um questionário sobre diversos critérios-chave relacionados com a organização dos Jogos Olímpicos. Dessa forma, os candidatos devem dar garantias de que irão respeitar a Carta Olímpica e outros regulamentos estabelecidos pelo Comitê Executivo do COI. A avaliação dos questionários preenchidos por um grupo especializado fornece ao COI uma visão geral do projeto de cada candidato e seu potencial de sediar os Jogos. Com base nesta avaliação técnica, a Câmara Executiva do COI escolhe as cidades que vão para a fase de candidatura. Uma vez que as cidades candidatas são selecionadas, devem apresentar ao COI a maior e mais detalhada apresentação do projeto como parte de um arquivo de candidatura. Cada cidade é cuidadosamente analisada por uma comissão de avaliação. Esta comissão irá visitar as cidades candidatas entrevistando funcionários e inspecionando potenciais locais de competição, e apresenta um relatório sobre a apreciação um mês antes da decisão final do COI. Durante o processo a cidade candidata deve garantir também que será capaz de financiar os Jogos. Após os trabalhos da comissão de avaliação, a lista das candidatas é apresentada na Sessão Geral do COI, que é montada em um país que não deve ter uma cidade candidata na disputa. Os membros do COI reunidos em sessão fazem a votação final para a escolha da cidade anfitriã. Uma vez eleito, o comitê de candidatura da cidade eleita (em conjunto com o CON do respectivo país), assina um contrato de cidade anfitriã com o COI, oficialmente tornando-se uma cidade-sede das Olimpíadas e um país-sede. Até 2028, os Jogos Olímpicos terão sido disputados em 44 cidades em 23 países, mas por cidades fora da Europa e América do Norte em apenas oito ocasiões. Os primeiros Jogos Olímpicos sediados fora dessas regiões foram em Melbourne 1956 e os primeiros em solo latino-americano foram as Olimpíadas da Cidade do México. Desde os Jogos Olímpicos de Seul, Coreia do Sul, os jogos foram realizados na Ásia ou na Oceania quatro vezes, um forte aumento em relação aos anteriores 92 anos de história olímpica moderna. Os Jogos de 2016 no Rio de Janeiro foram os primeiros em um país sul-americano. Até o momento nenhuma candidatura da África foi eleita, no entanto uma edição dos Jogos Olímpicos de Verão da Juventude está prevista para acontecer em Dakar, no Senegal, em 2026. Os Estados Unidos já sediaram quatro olimpíadas de verão e quatro de inverno, mais que qualquer outra nação. Entre as nações sede dos Jogos Olímpicos de Verão, o Reino Unido, foi o anfitrião de três jogos, tornando Londres a primeira cidade a sediar por três vezes. Alemanha, Austrália, França e Grécia sediaram os Jogos Olímpicos de Verão por duas vezes até o momento. Tóquio foi eleita sede dos Jogos de 2020, quando o Japão também sediará as Olimpíadas de Verão pela segunda vez. Paris será a segunda cidade na história a sediar os Jogos por três vezes, após ser escolhido sede dos Jogos de 2024, sendo a sexta edição olímpica a ser sediada na França. Após ser escolhida como sede dos Jogos de 2028, a cidade de Los Angeles será mais uma a sediar os Jogos por três vezes. Quanto às Olimpíadas de Inverno, a França já sediou três jogos, enquanto Suíça, Áustria, Noruega, Japão, Itália e Canadá sediaram duas vezes cada um. Os jogos mais recentes foram realizados em PyeongChang, na Coreia do Sul em 2018, sendo a primeira vez que este país sediou as Olimpíadas de Inverno. Com a eleição de Pequim como sede dos Jogos de 2022, ela se tornará a primeira cidade a receber as olimpíadas de verão e de inverno. Segundo um levantamento feito pelo jornal "Folha de S.Paulo", dos Jogos de 1976 aos de 2012, os países-sedes dos Jogos conquistaram, em média, 13 medalhas a mais do que na edição anterior à que organizaram.
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Japão
Japão Japão (; oficialmente , ou "koku", tradução literal: "Estado do Japão") é um país insular da Ásia Oriental. Localizado no Oceano Pacífico, a leste do Mar do Japão, da República Popular da China, da Coreia do Norte, da Coreia do Sul e da Rússia, estendendo-se do Mar de Okhotsk, no norte, ao Mar da China Oriental e Taiwan, ao sul. Os caracteres que compõem seu nome significam "Origem do Sol", razão pela qual o Japão é às vezes identificado como a "Terra do Sol Nascente". O país é um arquipélago de ilhas, cujas quatro maiores são Honshu, Hokkaido, Kyushu e Shikoku, representando em conjunto 97% da área terrestre nacional. A maior parte das ilhas é montanhosa, com muitos vulcões, como, por exemplo, os Alpes japoneses e o Monte Fuji. O Japão possui a décima primeira maior população do mundo, com cerca de 125,4 milhões de habitantes. A Região Metropolitana de Tóquio, que inclui a capital "de facto" de Tóquio e várias prefeituras adjacentes, é a maior área metropolitana do mundo, com mais de 37,4 milhões de habitantes. Pesquisas arqueológicas indicam que humanos já viviam nas ilhas japonesas no período Paleolítico Superior. A primeira menção escrita do Japão começa com uma breve aparição em textos históricos chineses do . A influência do resto do mundo seguida por longos períodos de isolamento tem caracterizado a história do país. Desde a sua constituição em 1947, o Japão se manteve como uma monarquia constitucional unitária com um imperador e um parlamento eleito, a Dieta. Como grande potência econômica, possui a terceira maior economia do mundo em PIB nominal e a quarta maior em poder de compra. É também o quarto maior exportador e o quarto maior importador do mundo, além de ser o único país asiático membro do G7. O país mantém uma força de segurança moderna e ampla, utilizada para autodefesa e para funções de manutenção da paz. O Japão possui um padrão de vida muito alto (17º maior IDH), com a maior expectativa de vida do mundo (de acordo com estimativas da ONU e da OMS) e a terceira menor taxa de mortalidade infantil. O país também faz parte do G20, grupo formado pelas 19 maiores economias do mundo mais a União Europeia. Etimologia. Os nomes japoneses para "Japão" são , , e , . Ambos são escritos em japonês usando o kanji 日本. O nome japonês "Nippon" é usado de forma oficial, inclusive no dinheiro japonês, selos postais e para muitos eventos esportivos internacionais. "Nihon" é um termo mais casual e mais frequentemente utilizados no discurso contemporâneo. Os japoneses se referem a si mesmos como e chamam sua língua . Tanto "Nippon" quanto "Nihon", literalmente significam "origem do sol" e muitas vezes são traduzidos como a "Terra do Sol Nascente". Esta nomenclatura vem das missões do Império com a dinastia chinesa Sui e refere-se a posição a leste do Japão em relação à China. Antes do "Nihon" entrar em uso oficial, o Japão era conhecido como ou . A palavra em mandarim ou em chinês Wu (呉語) para Japão foi registrada por Marco Polo como "Cipangu". Em xangainês moderno, um dialeto Wu, a pronúncia dos caracteres 日本 «Japão» é "Zeppen" (pronuncia-se ); em Wu, o caractere 日 tem duas pronúncias, (pronuncia-se ) e (pronuncia-se ). (Em alguns dialetos Wu do sul, 日本 é pronunciado semelhante à sua pronúncia em japonês). A velha palavra malaia para o Japão, "Jepang" (agora escrita "Jepun" na Malásia, apesar de ainda ser soletrada Jepang na Indonésia), foi emprestada da língua chinesa e foi encontrada por comerciantes portugueses em Malaca no . Acredita-se que os comerciantes portugueses foram os primeiros a levar a palavra para a Europa. História. Pré-história e antiguidade. A ocupação humana do Japão remonta ao Paleolítico Superior e a data mais consensual para a primeira presença humana neste arquipélago é de , quando povos nômades caçadores-coletores chegaram às ilhas vindos do continente através de istmos. As primeiras ferramentas japonesas de pedra lascada datam dessa época, e as de pedra polida datam de , as mais antigas do mundo. Ainda não se sabe por que essas ferramentas surgiram tão cedo no Japão. A primeira cultura cerâmica e civilização a se desenvolver no Japão foi a Jomon, que não desenvolveu a agricultura nem a criação de animais. Os Jomon ocuparam as ilhas do Japão desde o final da quarta glaciação por volta de 14 mil a.C., deixando vestígios de sua ocupação através de peças de cerâmica, consideradas as mais antigas do mundo. Através da cerâmica assume-se que os Jomom eram semissedentários e tenham seguido uma religião politeísta, baseada no culto de elementos da natureza. Entre 250 a.C. e 250 d.C. a cultura Yayoi substituiu a anterior e trouxe consigo a agricultura, metalurgia, bronze e espelho. O Japão foi unificado pela primeira vez no pelo povo Yamato e logo empreendeu a conquista da península da Coreia no final do século. Nos séculos seguintes a competição por cargos no governo enfraqueceu gradativamente o domínio japonês sobre a Coreia até ao . Em 552 d.C., o budismo foi introduzido no país trazido da Coreia e servindo como arma política contra o crescente poder dos sacerdotes, a religião tradicional, o xintoísmo debilitou-se, porém não desapareceu. As duas religiões se uniram, sob a égide do budismo. Após a morte do imperador Shotoku em 622 d.C. e um período de guerras civis, o Imperador Kōtoku deu início à reforma Taika que criaria um estado com poderes concentrados nas mãos de um imperador rodeado por uma burocracia, à semelhança da Dinastia Tang na China. Em 710 d.C. a capital japonesa foi transferida de Asuka para Nara, dando início a um novo período da história japonesa no qual a cultura e a tecnologia chinesa tiveram maior influência e o budismo se difundiu com a criação de templos por parte do imperador nas principais regiões. Era feudal. Mais tarde a capital seria novamente transferida para "Heian-kio", a moderna Quioto, e dar-se-ia o rompimento entre o imperador Kammu e os monges budistas. A partir daí foi estabelecida a escrita japonesa e uma nova literatura. Foi nesse período de paz que surgiram a classe dos samurais como guardas da corte. Contudo as disputas surgidas entre os clãs guerreiros Taira e Minamoto levaram a uma nova guerra civil que só teve fim em 1185, com a ascensão dos Minamoto ao poder. Este clã estabeleceria o governo do xogunato em Kamakura. Enquanto seguia as leis do governo imperial de Heian, o governo Kamakura foi exercido por uma rede de samurais em todo o país que se comprometiam a manter a paz. Desde que o poder imperial era exercido localmente pelo xogum, os samurais foram capazes de assumir a terra dos ricos proprietários de terra aristocráticos (daimiôs) e, portanto, levaram o governo imperial de Heian em Quioto a tornar-se ainda mais fraco. Um novo período de paz e enriquecimento econômico e cultural foi estabelecido até uma nova tentativa mal sucedida de restauração da autoridade imperial feita pelo Imperador Go-Daigo. O surgimento dos daimiôs de base local, enfraqueceu o xogunato e esse enfraquecimento levou a Guerra de Ōnin entre 1467 e 1477 entre os Kosokawa e os Yamana que deu fim ao xogunato. Sem uma autoridade central, os daimiôs, agora com autoridade absoluta em seus domínios, deram início a um período de guerras que só terminaria entre 1550 e 1560 com a conquista dos demais domínios por Oda Nobunaga. Foi durante o que comerciantes e missionários portugueses chegaram ao Japão pela primeira vez, dando início a um intenso período de trocas culturais e comerciais. No Japão, os portugueses praticaram o comércio e a evangelização. Os missionários, principalmente os sacerdotes da Companhia de Jesus, levaram a cabo um intenso trabalho de missão e em cerca de 100 anos de presença portuguesa no Japão. Em 1582 a comunidade cristã no país chegou a ascender a cerca de 150 mil cristãos no Japão e 200 igrejas. Neste período o Japão era uma sociedade feudal relativamente bem desenvolvida com tecnologia pré-industrial. O país era mais povoado do que qualquer país ocidental e tinha, no , cerca de 26 milhões de habitantes. Toyotomi Hideyoshi deu continuidade ao governo de Nobunaga e unificou o país em 1590. Depois da morte de Hideyoshi, o regente Tokugawa Ieyasu aproveitou-se de sua posição para ganhar apoio político e militar. Quando a oposição deu início a uma guerra, ele a venceu em 1603 na Batalha de Sekigahara. Tokugawa fundou um novo xogunato com capital em Edo e expulsou os portugueses e restantes estrangeiros, dando início à perseguição dos católicos no país, tidos como subversivos, com uma política conhecida como "sakoku". A perseguição aos cristãos japoneses fez parte desta política, levando esta comunidade à conversão forçada ou mesmo à morte, como é o caso dos 26 Mártires do Japão. Era moderna. Esta política deixou a nação isolada por 250 anos até à chegada de navios da Marinha dos Estados Unidos com Matthew Calbraith Perry em 31 de março de 1854 exigindo a abertura do país ao comércio estrangeiro com assinatura de Tratado de Kanagawa revelando o atraso do xogunato. A Guerra Boshin, travadas entre forças leais ao governo do clã Tokugawa e aqueles que eram favoráveis à restauração do poder imperial da dinastia Yamato, restabeleceu o poder centralizado do imperador com Meiji do Japão em 1868, quando teve início um período de desenvolvimento econômico e de expansionismo ao qual se seguiram as vitórias nas guerras sino-japonesa (1894–1895) e russo-japonesa (1904–1905) e a conquista da Coreia e das ilhas de Taiwan e de Sacalina, mantendo o interesse do país sobre a Manchúria. Estes seguidos episódios deram ao Japão a sua primeira experiência bélica moderna, assistida pelos europeus, a primeira vitória sobre um país do velho continente e a solidificação como país mais influente da Ásia. No houve um breve período chamado "democracia Taishō" ofuscada pela ascensão do expansionismo e da militarização do país. A Primeira Guerra Mundial permitiu ao Japão, que se juntou ao lado dos aliados vitoriosos, expandir sua influência e exploração territorial. O Japão continuou a sua política expansionista de ocupação da Manchúria, em 1931. Como resultado da condenação internacional a essa ocupação, o Japão renunciou a Liga das Nações, dois anos depois. Em 1935, as assembleias locais foram estabelecidas em Taiwan. Em 1936, o Japão assinou o Pacto Anticomintern com a Alemanha nazista, juntando-se as potências do Eixo em 1941. Em 1941, o Japão assinou o Pacto nipônico-soviético com a União Soviética, respeitando tanto os territórios de Manchukuo quanto da República Popular da Mongólia. Em 1937, o Império do Japão invadiu outras partes da China, precipitando a Segunda Guerra Sino-Japonesa (1937–1945). No ano de 1940, invade a Indochina francesa, após o qual os Estados Unidos colocaram um embargo de petróleo ao Japão. Em 7 de dezembro de 1941, o Japão atacou a base naval de Pearl Harbor e declarou guerra aos Estados Unidos, Reino Unido e Países Baixos. Este ato fez com que os Estados Unidos entrassem na Segunda Guerra Mundial e, em 8 de dezembro, estes três países declararam guerra ao Japão. Após os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki, em 1945, após a União Soviética também se opor ao país, o Japão concordou com a rendição incondicional de suas forças em 15 de agosto (Dia da Vitória sobre o Japão). Os custos de guerra para o Japão e para os países da Esfera de Coprosperidade da Ásia Oriental foram a perda de milhões de vidas e destruição de grande parte da indústria, cidade e infraestrutura do país. As potências aliadas repatriaram milhões de japoneses étnicos de colônias e campos militares na Ásia. O Tribunal Militar Internacional para o Extremo Oriente, foi convocado pelos aliados (em 3 de maio de 1946) para processar alguns líderes japoneses por crimes de guerra. No entanto, todos os membros das unidades de investigação bacteriológica e membros da família imperial envolvidos na condução da guerra foram exonerados a partir de processos criminais pelo Comandante Supremo das Forças Aliadas. Em 1947, o Japão aprovou uma nova constituição pacifista enfatizando as práticas democráticas liberais. A ocupação dos Aliados terminou pelo Tratado de São Francisco em 1952 e o Japão foi assimilado como membro das Nações Unidas em 1956. Internamente, após o fim da Segunda Guerra, o país passou por décadas de recuperação e afirmação: teve um crescimento econômico espetacular até se tornar a segunda maior economia do mundo, devido a investimentos do setor privado na construção de novas fábricas e equipamentos e ao senso coletivo de trabalho, que deram ao país uma taxa de crescimento média anual de 10% por quatro décadas. Estes acordos deveram-se a fatores geopolíticos, como o medo de que o socialismo avançasse sobre este país completamente arrasado pela guerra, e culturais, devido ao investimento em educação que formou e preencheu vagas no campo tecnológico. Esse rápido avanço terminou em meados dos anos 1990 quando o Japão sofreu uma grande recessão. O crescimento positivo no início do tem sinalizado uma recuperação gradual. Em 11 de março de 2011 o país sofreu o pior sismo e tsunâmi já registrado em sua história. O terremoto teve uma magnitude de 9,0 na escala de magnitude de momento e foi agravado por um tsunâmi, afetando a região nordeste de Honshu, incluindo Tóquio. A área mais afetada pelo tsunâmi foi a cidade de Sendai, região de Tohoku, devido à proximidade do local onde ocorreu o sismo. Por conta do sismo, a Central Nuclear de Fukushima I sofreu sérios danos em seus reatores e agora ameaça a população dos arredores com risco de contaminação por radioatividade. Geografia. O Japão é um país insular que se estende ao longo da costa leste da Ásia. O litoral marítimo do Japão é aproximadamente quatro vezes maior que o brasileiro. As ilhas principais, de norte para sul, são: Hokkaido, Honshu, Shikoku e Kyushu. Além destas maiores, o Japão inclui mais de seis mil outras menores, parte das quais constituem as ilhas Riukyu, inclusive Okinawa, que se estendem a sudoeste de Kyushu até perto de Taiwan. Entre 70% e 80% do país é coberto por florestas e de relevo montanhoso com uma cordilheira no centro das ilhas principais, de forma que as pequenas planícies costeiras se tornam as áreas mais povoadas do país. A montanha mais alta e o vulcão mais conhecido do Japão é o monte Fuji com 3 776 m de altitude e seu ponto mais baixo fica no lago Hachirōgata, 4 m abaixo do nível do mar. Localizado no Círculo de fogo do Pacífico há oitenta vulcões ativos no país e os sismos são muito comuns, ocorrendo mil deles sensíveis por ano. A enorme quantidade de vulcões mostra que nas profundezas do arquipélago o solo é instável e cheio de energia. Isso faz com que o país esteja entre os que mais registram terremotos no mundo. Em 2006, foram registrados 108 vulcões ativos do país. Ainda que uma ameaça, estes vulcões representam uma importante fonte de turismo. Regiões como Nikko, são famosas por suas primaveras quentes e pelo cenário de montanhas vulcânicas. Os rios japoneses são curtos e de águas ligeiras. Atingem o mar pouco depois de sua nascente nas montanhas acima e formam geralmente deltas em forma de leque. Clima. O clima japonês apresenta uma clara diferenciação entre as estações e sofre a influência de massas de ar frias vindas da Sibéria no inverno, bem como de massas de ar quentes do Pacífico no verão. Os tufões são comuns entre o fim do verão e o início do outono. O país pode ser dividido em quatro regiões climáticas: a de Hokkaido, de clima subártico, a da costa do Pacífico, temperado, a da costa do Mar do Japão, mais chuvoso, e o da região sudoeste, subtropical. As diferenças entre as estações do ano mostram-se da seguinte maneira: o inverno, que vai de Dezembro a Fevereiro, é seco e tem regularmente Sol. Enquanto o Centro e principalmente o Norte do Japão são frios, o Sul tem o tempo mais agradável, e a temperatura vai raramente abaixo dos 0 °C. A primavera, que vai de março a maio, é quando deixa de nevar, sendo que todas as paisagens ficam floridas. O verão começa com três a quatro semanas de chuva, sendo este período importante para os agricultores. Depois deste período, o tempo torna-se extremamente quente. O outono é muito fresco, com uma ligeira brisa e uma temperatura mais fresca depois do Verão. Biodiversidade. O Japão tem nove ecorregiões florestais que refletem o clima e a geografia das ilhas. Elas vão de florestas subtropicais nas ilhas Ryūkyū e Ogasawara, a florestas decíduas temperadas em regiões de clima ameno das principais ilhas, florestas temperadas de coníferas nas porções frias das ilhas do norte. Em sua flora, o país possui cerca de 6 000 espécies nativas de plantas, cuja variedade é devida ao calor, à abundância das precipitações, à humidade dos verões e ao relevo. Ao longo do território vê-se "figuier banian", "suji" e "hinoki", bem como plantas comuns em outras partes do mundo, como as magnólias. Algumas ainda possuem significados simbólicos, como as flores de cerejeira, chamadas sakuras, que representam a beleza efêmera. De suas plantas ainda saem os trabalhos com arranjos, pinturas, tecelagem e cerâmicas, além de remédios. Já em sua fauna é possível ver espécies não encontradas em nenhuma outra parte do globo, como certas variedades de faisões, tubarões e salamandras. Ainda assim, o território japonês possui apenas 118 espécies de mamíferos terrestres selvagens. As regiões montanhosas do Japão, com florestas densas, albergam populações relativamente numerosas de mamíferos, dentre eles javalis, tanukis, raposas, veados, antílopes, lebres e doninhas. Répteis presentes incluem tartarugas marinhas, cágados, serpentes aquáticas e lagartos. Há uma grande variedade de sapos, rãs e tritões, onde se destaca a Salamandra-gigante-do-japão que atinge os 4 m de comprimento, e é endêmica do arquipélago. Cerca de 600 espécies de aves são residentes ou migratórias e diversidade de insetos é típica de regiões com clima temperado úmido. Entre as espécies ameaçadas que habitam o território japonês estão o urso-negro-asiático, classificado como de fato ameaçado de extinção e o macaco-japonês, em estado ainda pouco preocupante. O lobo-cinzento, apesar de pouco preocupante ao redor do mundo, está quase extinto do território japonês. Também consideradas espécies sob ameaça, as variedades de baleia são caçadas pelos japoneses sob cotas estipuladas na moratória de 1986. Ao lado de Noruega e Islândia, o Japão é o país que mais caça estes animais devido a alta lucratividade. No país oriental, a carne da baleia é ainda uma especialidade culinária comum e sua cartilagem serve à indústria de cosméticos. Sob a alegação de pesquisa científica, o Japão caça, anualmente, uma média de 1 000 baleias, variando em espécies. Em 2008, por exemplo, caçaram baleias-comuns e baleias-minke-antárticas. Neste mesmo ano, dois ativistas do Greenpeace foram presos por denunciarem contrabando ilegal de carne de baleia e ocorreu um atrito entre os governos japonês e australiano, que culminaram em acusações de pesca ilegal e fraude de evidências. Dois anos antes, em pesquisa realizada nacionalmente, foi constatado que 69% da população é contra este tipo de caça. Em 2010, ocorreu o encontro da Comissão Internacional da Baleia, no qual se tentou derrubar a moratória e acusando o Japão de subornar países menores que votassem a seu favor. Meio ambiente. A história ambiental do Japão e as políticas atuais refletem um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a proteção ambiental. No rápido crescimento econômico após a Segunda Guerra Mundial, as políticas ambientais foram minimizadas pelas empresas do governo e industriais. Como consequência inevitável, certa poluição ambiental crucial ocorreu nos anos 1950 e anos 1960. Na preocupação crescente sobre o problema, o governo introduziu muitas leis de proteção ambiental em 1970 e estabeleceu o Ministério do Meio Ambiente em 1971. A crise do petróleo de 1973 também incentivou o uso eficiente da energia, devido à falta no Japão de recursos naturais. Questões prioritárias ambientais atuais incluem a poluição do ar urbano (NOx, partículas em suspensão, substâncias tóxicas), gestão integrada de resíduos sólidos, eutrofização da água, conservação da natureza, mudanças climáticas, gestão de produtos químicos e a cooperação internacional para a conservação do meio ambiente. Atualmente, o Japão é um dos líderes mundiais no desenvolvimento de novas tecnologias amigas do ambiente. Os veículos híbridos da Honda e da Toyota foram nomeados para ter a maior economia de combustível e as menores emissões. Isto é devido à avançada tecnologia em sistemas híbridos, os biocombustíveis, o uso de material mais leve e melhor engenharia. Como signatário do Protocolo de Quioto e anfitrião da conferência de 1997 que o criou, o Japão é tratado no âmbito de obrigações de reduzir suas emissões de dióxido de carbono e tomar outras medidas relacionadas como combater as alterações climáticas. A campanha "Cool Biz" introduzida pelo antigo primeiro-ministro Junichiro Koizumi foi orientada a reduzir o consumo de energia através da redução da utilização do ar condicionado nos escritórios do governo. O Japão se prepara para forçar a indústria a fazer grandes cortes nos gases do efeito estufa, tomando a liderança de um país que luta para cumprir suas obrigações do Protocolo de Quioto. O país é classificado na 20º posição no mundo no Índice de Desempenho Ambiental de 2010. Em 2010, o país que contribui para o desmatamento fora de seu território, em nações de florestas tropicais, por exemplo, comprometeu-se a reduzir o desmatamento e a degradação ambiental, doando, ao lado de outros países, cerca de 3,5 bilhões de dólares. Em contrapartida, sua área florestal intacta ou replantada cobre 70% do território nacional, preservação esta comparada apenas aos países escandinavos. A caça à baleia no Japão em uma escala industrial começou por volta da década de 1890 quando o país começou a participar da indústria moderna da pesca da baleia, na época uma indústria da qual muitos países participavam. Estas atividades historicamente se estenderam para fora das águas territoriais japonesas. Durante o século XX, o Japão esteve intensamente envolvido na pesca comercial da baleia. Isto continuou até que a moratória da Comissão Internacional da Pesca da Baleia (IWC) entrasse em efeito em 1986. O Japão, no entanto, continuou a caçar baleias usando a previsão de pesquisa científica no acordo. A carne dessas baleias caçadas com propósitos científicos é vendida em lojas e restaurantes. A prática é uma fonte de conflito entre os países e organizações anticaça à baleia. Países, cientistas e organizações ambientais contrárias à caça à baleia consideram o programa de pesquisa japonesa como desnecessário e que é uma operação comercial de caça à baleia disfarçada. As autoridades japonesas têm sido criticadas por grupos ambientalistas pelas suas ambições muito baixas de reduzir as emissões de gases com efeito de estufa no interior do país. Além disso, o Japão tornou-se o maior financiador de projectos de energia alimentada a carvão do mundo. Os bancos japoneses foram responsáveis por 32% de todos os empréstimos directos aos promotores de centrais eléctricas a carvão em todo o mundo entre 2017 e 2019. Os três mega-bancos do país — Mizuho, Mitsubishi e Sumitomo Mitsui Financial Group — ocupam os três primeiros lugares na lista de tais financiamentos, à frente do Citigroup (4º) e do BNP Paribas (5º). A sensibilização do público para as questões ambientais continua a ser muito baixa. As autoridades políticas e as elites económicas do país recusam-se a desistir de financiar novas centrais eléctricas alimentadas a carvão, apresentando argumentos geopolíticos ou financeiros. O Japão é um dos países do mundo, juntamente com a Colômbia, Costa Rica e México, que utiliza as mais altas concentrações de pesticidas. Um terço das espécies de insectos registadas no Japão está em risco de extinção. O Japão é o segundo maior consumidor de plástico do mundo depois dos EUA. Desde 2019, o país não consegue exportar os seus resíduos plásticos para a China, que anunciou que deixará de aceitar ser o "caixote do lixo do mundo". 60% dos resíduos plásticos são agora queimados. Demografia. Mais de 95% da população japonesa tem origem no arquipélago. Os japoneses são descendentes de povos jomon, yayoi e ainus que se estabeleceram no arquipélago nipônico durante milhares de anos. Os Jomons foram os primeiros a desenvolver civilização no arquipélago, o povo nômade Yayoi se estabeleceu na região Central do Japão, e os Ainus ao Norte do país. O restante da população do Japão é composta por imigrantes de origem coreana, chinesa e brasileira, entre outros. O Japão tem uma população de quase 125 milhões, dos quais quase 122 milhões são japoneses nativos (estimativas de 2022). Uma pequena população de residentes estrangeiros compõe o restante. Em geral, ela é bastante homogênea, sendo quase toda composta por japoneses, as minorias são os ainus, um povo indígena nativo do país, e os estrangeiros que vão ao país por turismo ou em busca de emprego. A expectativa média de vida no país é uma das mais elevadas do mundo, 81,25 anos, mas essa população está rapidamente envelhecendo como resultado do grande número de nascimentos posterior à Segunda Guerra Mundial seguido por uma queda na taxa de natalidade no final do . Assim, em 2004, cerca de 19,5% da população tinha mais de 65 anos. As mudanças na demografia trouxeram uma série de questões sociais, em particular um provável declínio da força de trabalho e o aumento dos custos com a seguridade social. Nota-se também que uma parcela dos jovens prefere não formar famílias quando adultos. Prevê-se um declínio da população japonesa para 100 milhões até 2050 e 64 milhões em 2100. Demógrafos e planejadores governamentais, no momento, debatem como lidar com este problema. A imigração e o incentivo à natalidade são por vezes sugeridos como uma solução para proporcionar trabalhadores jovens que possam sustentar o envelhecimento da população. A imigração, contudo, não é uma medida popular. Segundo o ACNUR, em 2007, o Japão aceitou apenas 41 refugiados para reassentamento, enquanto os Estados Unidos aceitaram . O país sofre com uma das mais altas taxas de suicídios do mundo. Em 2011, o número de suicídios ultrapassou 30 mil pessoas pelo décimo quarto ano seguido, representando uma queda de suicídios em relação a 2010. Tóquio teve a maior taxa do país e os homens compõem 70% de todas as mortes desse tipo, sendo a principal causa de morte entre as pessoas com menos de 30 anos de idade. Idiomas. Mais de 99% da população fala o japonês como primeira língua. É uma língua aglutinante distinguida por um sistema de honoríficos refletindo a natureza hierárquica da sociedade japonesa, com formas verbais e vocabulários particulares que indicam o estatuto relativo do falante e do ouvinte. Segundo um dicionário japonês "Shinsen-kokugojiten", palavras baseadas no chinês compõem 49,1% do vocabulário total, as palavras indígenas são 33,8% e empréstimos outros 8,8%. Os sistema de escrita utilizados são o "kanji" (caracteres chineses) e dois conjuntos de "kana" (silabários com base em caracteres chineses simplificados), bem como o alfabeto latino e os numerais arábicos. As línguas ryukyuanas, também fazem parte da família das línguas japônicas a que pertence japonês, são faladas em Okinawa, mas poucas crianças aprendem estas línguas. A língua ainu está em extinção, com apenas alguns idosos falantes nativos remanescentes em Hokkaido. A maioria das escolas públicas e privadas exigem a participação dos estudantes em cursos de japonês e inglês. Imigração e emigração. Em 2004 o Ministério da Justiça do Japão estimou o número de estrangeiros legais em quase dois milhões sendo estes principalmente coreanos, chineses, taiwaneses, brasileiros e filipinos. As outras minorias são, peruanos, norte-americanos, ingleses, tailandeses, australianos, canadenses, indianos, iranianos, russos, entre outros. Entretanto o número real de estrangeiros é incerto devido a existência de muitos imigrantes ilegais. A maioria dos brasileiros residentes no Japão são "nikkei" (descendentes de japoneses ou cônjuges de nipo-brasileiros) que vivem e trabalham legalmente e são conhecidos pelos japoneses como "dekasseguis". O Brasil passou a receber imigrantes japoneses em 1908. A maior parte dos imigrantes chegou na década de 1930 e se fixou sobretudo em São Paulo. Hoje, a população nipo-brasileira é de quase 1,5 milhão de pessoas, formando a maior colônia de descendentes de japoneses do mundo. Muitos desses brasileiros de origem japonesa ou cônjuges têm imigrado ao Japão em busca de melhores condições de vida, formando uma comunidade de cerca de 300 mil pessoas no Japão. Religião. As maiores estimativas para o número de budistas e xintoístas no Japão são de 84–96% da população, representando um grande número de crentes em um sincretismo dessas duas religiões. No entanto, essas estimativas baseiam-se em pessoas com uma associação com um templo, ao invés do número de pessoas que realmente seguem a religião. O professor Robert Kisala da Universidade de Nanzan sugere que apenas 30% da população do país se identifique como pertencente a alguma religião. O xintoísmo é a maior religião do Japão mas o termo "xintoísmo" pode ter significados diferentes no Japão: a maioria dos japoneses freqüentam santuários xintoístas e imploram por kami sem pertencer a organizações xintoístas, e uma vez que não há rituais formais para se tornar um membro do "xintoísmo", a filiação xintoísta é frequentemente estimada incluindo aqueles que se juntam a seitas xintoístas organizadas. O xintoísmo tem 100 000 santuários e 78 890 sacerdotes no país. O taoísmo, o confucionismo e o budismo da China também têm influenciado as crenças e os costumes japoneses. A religião no Japão tende a ser sincrética por natureza e isso resulta em uma variedade de práticas, tais como pais e filhos celebrando rituais xintoístas, os estudantes rezando antes dos exames, alguns casais celebrando um casamento em uma igreja cristã e funerais sendo realizados em templos budistas. Uma minoria ( de pessoas ou 2,04% da população) professam o cristianismo. Além disso, desde meados do , numerosas seitas religiosas ("Shinshūkyō") surgiram no Japão, como a "Tenrikyo", "Aum Shinrikyo" (ou Aleph) e "Soka Gakkai". Política. O Japão é uma monarquia constitucional onde o poder do imperador é muito limitado. A Constituição o define como "símbolo do Estado e da unidade do povo" e ele não possui poderes relacionados ao governo. O poder, concedido por soberania popular, está concentrado principalmente na figura do primeiro-ministro do Japão e de outros membros eleitos da Dieta. O imperador age como chefe de Estado em ocasiões diplomáticas, sendo Naruhito o presente imperador do Japão. O primeiro-ministro do Japão é o chefe de governo. O candidato é escolhido pela Dieta de entre um de seus membros e endossado pelo imperador. O primeiro-ministro é o chefe do Gabinete, órgão executivo que nomeia e demite ministros de Estado do qual a maioria deve ser membro da Dieta. O primeiro-ministro do Japão é, no momento, Yoshihide Suga. O órgão legislativo do Japão é a Dieta Nacional, um parlamento bicameral. A Dieta é formado pela Câmara dos Representantes, com 480 representantes eleitos por voto popular a cada quatro anos ou quando dissolvida, e pela Câmara dos Conselheiros de 242 membros com mandatos de seis anos. Todos os cidadãos com mais de 20 anos têm direito ao voto e a concorrer nas eleições nacionais e locais realizadas com voto secreto. O Japão tem um sistema político democrático e pluripartidário com seis grandes partidos políticos. O liberal conservador Partido Liberal Democrata (PLD) está no poder desde 1955, a não ser por um curto período de coalizão da oposição em 1993. O maior partido de oposição é o liberal social Partido Democrático do Japão. Historicamente influenciado pelo sistema chinês, o sistema legal do Japão desenvolveu-se independentemente durante o período Edo. Entretanto, desde o final do , o sistema legal japonês tem se baseado em grande parte nos direitos civis da Europa, principalmente da França e Alemanha. Em 1896, por exemplo, o governo japonês estabeleceu um código civil baseado no modelo alemão. Com modificações do pós-Guerra, o código permanece vigente no Japão. A lei estatutária origina-se na Dieta com a aprovação do imperador. A Constituição requer que o imperador promulgue as leis aprovadas pela Dieta, sem, no entanto, conferir-lhe o poder de opor-se a aprovação de uma lei. O sistema de tribunais do Japão é dividido em quatro esferas básicas: a Suprema Corte e três níveis de cortes inferiores. O corpo principal da lei estatutária japonesa é chamado de Seis Códigos. Relações internacionais. O Japão se destaca na política internacional por ser membro do G8, da APEC, da ASEAN+3 e participante da Cúpula do Leste da Ásia. O país é também o segundo maior doador para Assistência Oficial para o Desenvolvimento, com 0,19% do seu PNB em 2004. Desde a sua rendição e o Tratado de São Francisco, após a Segunda Guerra Mundial, a política diplomática japonesa tem sido baseada na estreita parceria com os Estados Unidos e na ênfase na cooperação internacional como as Nações Unidas, organização internacional da qual o país é membro desde 1956. Durante a Guerra Fria, o Japão tomou parte no confronto entre o mundo ocidental e a União Soviética na Ásia Oriental. Com o rápido desenvolvimento econômico japonês nas décadas de 1960 e 1970, o país recuperou sua influência internacional e passou a ser considerado uma das grandes potências do mundo. No entanto, o Japão ainda mantém relações tensas com três países em particular: a China (apesar de ser o maior parceiro comercial do país), a Coreia do Sul e a Coreia do Norte. Durante a Guerra Fria, a política externa japonesa não era autoafirmativa, sendo relativamente focada em seu crescimento econômico. No entanto, o fim da Guerra Fria e as amargas lições da Guerra do Golfo mudaram lentamente a política do país. O governo japonês decidiu participar de operações de manutenção da paz das Nações Unidas e enviou tropas para Camboja, Moçambique, Colinas de Golã e Timor-Leste nas décadas de 1990 e 2000. Além de seus vizinhos imediatos, o Japão tem prosseguido com uma política externa mais ativa nos últimos anos, reconhecendo a responsabilidade que acompanha a sua força econômica. O ex-primeiro-ministro Yasuo Fukuda destacou a mudança de direção da política externa japonesa em um discurso para a Dieta Nacional: "O Japão aspira tornar-se um centro de desenvolvimento de recursos humanos, bem como de pesquisa e contribuição intelectual para promover a cooperação no campo da construção da paz." Forças armadas. O maior parceiro militar do Japão são os Estados Unidos, tendo como fundamento de sua política externa a aliança defensiva Japão–Estados Unidos. Como membro das Nações Unidas desde 1956, o Japão serviu como membro temporário do Conselho de Segurança por um total de 18 anos, mais recentemente entre 2005 e 2006. Ele é também membro das nações G4 buscando um assento permanente no Conselho de Segurança. O Japão também contribuiu com contingentes não-combatentes para a Invasão do Iraque, mas posteriormente retirou suas tropas deste país. As despesas militares do Japão são a sexta maior do mundo, com 59,3 bilhões de dólares orçados em 2012, o que representa apenas 1% do PIB nacional por ano. O Japão tem disputas territoriais com Rússia, China, Taiwan e Coreia do Sul. A maior parte dessas disputas envolve a presença de recursos naturais como o petróleo e fatores históricos. O Japão reivindica a soberania sobre as ilhas Etorofu, Kunashiri e Shikotan, conhecidas no país como "Territórios do Norte" e na Rússia como "Ilhas Curilas do Sul" ocupadas pela União Soviética em 1945 e administradas atualmente pela Rússia. Disputa os Rochedos de Liancourt (chamados Takeshima ou Dokdo) com a Coreia do Sul — ocupadas por esta desde 1954 — e as ilhas inabitadas de Senkaku-shoto (Diaoyu Tai) com China e Taiwan. O Japão também enfrenta graves problemas com a Coreia do Norte acerca de seu programa de armamento nuclear, sequestro de cidadãos japoneses e de testes de mísseis. O fortalecimento militar da China é também um motivo de preocupação. Contudo, as Forças de Autodefesa do Japão se concentra em tecnologia de ponta, robótica e armas modernas ("ver: Programa japonês de armas nucleares"). A militarização do Japão era restringida pelo Artigo 9 de sua Constituição pós-Guerra até julho de 2014, o qual renuncia ao direito de declarar guerra ou ao uso de força militar como meios para a resolução de disputas internacionais, ainda que o governo esteja tentando fazer uma emenda à Constituição através de um referendo. As forças armadas do Japão são controladas pelo Ministério da Defesa e consistem basicamente das Forças de Autodefesa Terrestre, Marítima e Aérea. As forças armadas foram usadas recentemente em missões de paz e o envio de tropas não-combatentes para o Iraque marcou o primeiro uso delas desde a Segunda Guerra Mundial. Divisões administrativas. Ainda que tradicionalmente o Japão seja dividido em oito regiões, administrativamente o país é formado por 47 prefeituras, cada uma com um governador, um legislativo e uma burocracia administrativa. A antiga cidade de Tóquio foi dividida em 23 bairros especiais, cada um com os mesmos poderes de uma cidade. No momento o país passa por uma reestruturação administrativa que unirá entre si a maioria das cidades e povoados. Este processo reduzirá o número de regiões administrativas e de subprefeituras e espera-se que corte gastos. O Japão tem mais de dez grandes cidades que cumprem um papel importante em sua cultura, patrimônio e economia. As dez mais populosas são também capitais de prefeituras e foram transformadas em cidades por mandato governamental devido à sua importância. Abaixo, as oito regiões japonesas: Economia. Levando-se em conta seu produto interno bruto (PIB) nominal de de dólares, em 2008 o Japão era a terceira economia mundial e a quarta em relação à paridade do poder de compra, estando em de dólares, o que ocorre basicamente em decorrência da cooperação entre o governo e a indústria, de uma profunda ética do trabalho, investimentos em alta tecnologia, redução de desperdício e reciclagem de materiais e de um orçamento relativamente baixo para a defesa. Dentre as principais atividades industriais estão a engenharia automóvel, a eletrônica, a informática, a siderurgia, a metalurgia, a construção naval, a biologia e a química, com destaque para as indústrias com tecnologia de ponta nestes setores. As exportações japonesas incluem equipamento de transporte, veículos motorizados, produtos eletroeletrônicos, maquinário industrial e produtos químicos entre outros. Os principais compradores do Japão são a China, os Estados Unidos, a Coreia do Sul, Taiwan e Hong Kong (em 2005). Contudo, o Japão possui reduzidos recursos naturais para sustentar o crescimento econômico e por isso depende de outros países em relação a matérias-primas. Os países que mais vendem para o Japão são a China, os Estados Unidos, o Brasil, a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos, a Austrália, a Coreia do Sul e a Indonésia. As principais importações do país são máquinas e equipamentos, combustíveis fósseis, produtos alimentícios (carne em particular), químicos, têxteis e matéria-prima para suas indústrias. O principal parceiro comercial do Japão é a China. O maior banco do mundo está no Japão, o Mitsubishi UFJ Financial Group, com aproximadamente 1,7 trilhões de dólares em fundos assim como o maior sistema de caderneta de poupança postal do mundo e o maior titular de poupança mundial, o Serviço Postal Japonês, detentor de títulos privados da ordem de 3,3 trilhões de dólares. Também fica no país a segunda maior bolsa de valores do mundo, a Bolsa de Valores de Tóquio, com uma capitalização de mercado de mais de 549,7 trilhões de "yens" em Dezembro de 2006. Também é lar de algumas das maiores empresas de serviços financeiros, grupos empresariais e bancos. Por exemplo, vários "keiretsus" (grupos empresariais) e multinacionais como a Sony, a Sumitomo, a Mitsubishi e a Toyota têm bancos, grupos de investimento e de serviços financeiros. As principais atividades econômicas do Japão circulam entre as ilhas de Hokkaido, Honshu, Shikoku e Kyushu. O Japão é cortado por uma eficiente malha rodoviária e ferroviária que liga o país de norte a sul. Em 2004, havia  km de rodovias pavimentadas, 173 aeroportos e  km de ferrovias. O transporte aéreo é em grande parte operado pela All Nippon Airways (ANA) e pela Japan Airlines (JAL). Já as ferrovias são operadas pela Japan Railways entre outras. Os aeroportos mais movimentados ficam nas regiões mais populosas do país, Kanto e Kinki. O Aeroporto Internacional de Narita, por exemplo, é o mais movimentado do país e o oitavo mais movimentado do mundo. Há muitos voos internacionais de várias cidades e países do Japão e para o país. Já o transporte portuário, apesar de fundamental para um país insular, encontra-se em baixa, desde um pico na década de 1980. Uma vez que apenas 15% das terras japonesas são apropriadas para o cultivo, o sistema de terraceamento é usado em pequenas áreas. Isto resulta em um dos mais elevados níveis de produtividade por unidade no mundo. O pequeno setor agrário do Japão, contudo, é muito subsidiado e protegido. O Japão precisa importar cerca de 50% dos grãos consumidos excetuando o arroz, e depende de importações para seu suprimento de carne. O Japão é o segundo maior produtor de pescado do mundo por tonelada depois da China e tem uma das maiores frotas de pesqueiros do mundo que responde por quase 15% da pesca mundial. O país depende de países estrangeiros em 80% para o seu suprimento de petróleo e alimentos como a carne bovina. É líder nos campos da pesquisa científica, tecnológica, maquinaria e médica. Algumas das mais importantes contribuições tecnológicas do Japão são encontrados nos campos da eletrônica, maquinaria, robótica industrial, óptica, química, semicondutores e metalurgia. O Japão é líder no mundo dos robôs industriais, sendo que mais da metade dos robôs existentes no mundo, são usados nas suas indústrias. As grandes empresas japonesas são organizadas de dois modos principais: Turismo. Em 2008, o Japão atraiu 8,3 milhões de visitantes estrangeiros, pouco mais que Singapura e República da Irlanda. O Japão tem catorze patrimônios mundiais da UNESCO, incluindo o Castelo de Himeji e os Monumentos Históricos da Antiga Quioto (cidades de Quioto, Uji e Otsu). Quioto recebe mais de 30 milhões de turistas anualmente. A extensa rede ferroviária, juntamente com os voos domésticos, permitem viagens eficientes e rápidas. Os estrangeiros que visitam as cidades de Tóquio e Nara, o Monte Fuji, utilizam o "shinkansen" e tiram proveito da rede de hotéis do país. O turismo doméstico continua a ser uma parte vital da economia e da sociedade japonesa. Crianças em idade escolar em muitas escolas secundárias realizam visitas à "Tokyo Disneyland" ou à Torre de Tóquio. No turismo receptivo, o Japão ficou em 28ª posição no mundo em 2007. Infraestrutura. Ciência e tecnologia. O Japão é uma das nações líderes nos campos da pesquisa científica, especialmente de tecnologia, maquinário e pesquisa biomédica. Cerca de pesquisadores dividem um orçamento de 130 bilhões de dólares para pesquisa e desenvolvimento, o terceiro maior do mundo. O Japão é líder mundial no domínio da pesquisa científica fundamental, tendo produzido treze prêmios Nobel, quer em física, química ou medicina, três Medalha Fields e um Prêmio Gauss. Algumas das mais importantes contribuições tecnológicas do Japão são encontrados nas áreas de eletrônicos, automóveis, máquinas, engenharia sísmica, robótica industrial, óptica, química, semicondutores e metais. Japão é líder do mundo em produção e utilização de robótica, possuindo mais de metade (402 200 de 742 500) de robôs industriais do mundo, usado para a fabricação. Produziu também o QRIO, ASIMO e o AIBO. O Japão é o maior produtor mundial de automóveis e abriga quatro dos quinze maiores fabricantes de automóveis do mundo e sete dos vinte maiores líderes de vendas de semicondutores atualmente. A Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA) é a agência espacial do Japão, que realiza pesquisas espaciais, planetárias, de aviação e no desenvolvimento de foguetes e satélites. É um participante da Estação Espacial Internacional e do Módulo de Experiências Japonês (Kibo) foi adicionado à Estação Espacial Internacional durante voos do ônibus espacial em 2008. A empresa tem planos de exploração espacial, como o lançamento da "Venus Climate Orbiter" ("PLANET-C") em 2010, no desenvolvimento da "Mercury Magnetospheric Orbiter" para ser lançada em 2013 e a construção de uma base lunar em 2030. Em 14 de setembro de 2007, lançou o explorador da órbita lunar "SELENE" ("Selenological and Engineering Explorer") em um portador de foguetes H-IIA (Modelo H2A2022) no Centro Espacial de Tanegashima. "SELENE" também é conhecido como Kaguya, a princesa lunar do antigo conto "The Tale of the Bamboo Cutter". Kaguya é a maior missão de sonda lunar desde o programa Apollo. Sua missão é coletar dados sobre a origem da Lua e sua evolução. Ela entrou em uma órbita lunar em 4 de outubro, voando em uma órbita lunar a uma altitude de cerca de 100 km. Transportes e energia. Em 2005, metade da energia no Japão era produzida a partir de petróleo, um quinto a partir do carvão mineral e 14% do gás natural. A energia nuclear produzia um quarto da eletricidade do país. Em 2021, o Japão tinha, em energia elétrica renovável instalada, em energia hidroelétrica (7º maior do mundo), em energia eólica (21º maior do mundo), em energia solar (3º maior do mundo), e em biomassa. Os gastos do Japão com estradas têm sido grande. Os 1,2 milhões de km de estradas pavimentadas são as principais vias de transporte, cuja circulação se faz à esquerda. A única rede de autoestradas de alta velocidade é dividida e limitada por estradas com portagem de acesso que as conectam às principais cidades e são operadas por empresas de coleta de pedágio. Carros novos e usados são baratos. As taxas de propriedade do automóvel e taxas de combustível são utilizados para promover a eficiência energética. No entanto, em apenas 50% de todas as distâncias percorridas, o uso do automóveis é o mais baixo de todos os países do G8. Dezenas de empresas de transporte ferroviário japonesas competem nos mercados de transporte local e regional de passageiros, como por exemplo, a 7 JR, a Kintetsu Corporation, a Seibu Railway e a Keio Corporation. Muitas vezes, como estratégia dessas empresas, ao lado das estações existem empreendimentos imobiliários ou lojas de departamento. Cerca de 250 trens de alta velocidade Shinkansen ligam as principais cidades japonesas e são conhecidos por sua pontualidade. Existem 173 aeroportos e voar é uma maneira popular de se viajar entre cidades do país. O maior aeroporto doméstico, o Haneda, é o mais movimentado da Ásia. Os maiores aeroportos internacionais são o Aeroporto Internacional de Narita (região de Tóquio), Aeroporto Internacional de Kansai (área de Osaka/Kobe/Quioto) e o Aeroporto Internacional de Chubu (área de Nagoya). Os maiores portos incluem o Porto de Nagoya. Educação. A alfabetização no Japão remonta anterior à introdução da escrita kanji no . Inicialmente restrita às classes aristocráticas, a educação atingiu a população em geral no Período Edo, em que havia escolas específicas para a classe dos samurais, mas também escolas mistas que ensinavam escrita, leitura e aritmética. Graças a esse sistema, calcula-se que em 1868, época da Restauração Meiji, 40% da população japonesa fosse alfabetizada. A divisão em escolas primárias, secundárias e universidades foi introduzida no Japão em 1871 como parte da Restauração Meiji. Desde 1947, a educação obrigatória no Japão inclui a educação infantil (shõgakkõ), o qual dura 6 anos (dos seis aos onze ou doze anos) e o ensino fundamental, "chugakkō", o qual dura três anos. Quase todas as crianças continuam seus estudos indo para o colegial, "koukō", de três anos e, de acordo com o Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia, cerca de 75,9% dos formandos do ensino secundário cursaram a universidade, a educação profissional, ou outros cursos pós-secundários em 2005. O ano letivo no Japão tem início em abril e pode ser dividido em dois ou três períodos. O currículo de cada série é determinado pelo Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciência e Tecnologia, bem como há avaliações periódicas do material escolar utilizado. A educação no Japão é muito competitiva, em especial, o ingresso em instituições de ensino superior. De acordo com o Suplemento de Educação Superior do "The Times", as universidades mais importantes do Japão são a Universidade de Tóquio, a Universidade de Quioto e a Universidade de Osaka. No momento, a educação japonesa passa por uma reestruturação que tenta adaptá-la ao , mudando sua ênfase da disciplina e do respeito a tradição para a liberdade e a criatividade. Saúde. No Japão, os serviços de saúde são fornecidos pelos governos nacional e locais. O pagamento de serviços médicos pessoais é oferecido através de um sistema de seguro universal de saúde que oferece uma relativa igualdade de acesso, com taxas fixadas por uma comissão do governo. As pessoas sem seguro através dos empregadores podem participar de um programa nacional de seguro de saúde administrado pelos governos locais. Desde 1973, todas as pessoas idosas têm sido cobertas pelo seguro patrocinado pelo governo. Os doentes são livres para escolher médicos ou instalações de sua preferência. O país possui a maior expectativa de vida do mundo (de acordo com estimativas da ONU e da OMS) e a terceira menor taxa de mortalidade infantil. Mídia e telecomunicações. Antes de 1985, o Japão vivia em um sistema de bimonopólio, no qual a "Nippon Telegraph and Telephone Public Corporation" dominava a telefonia doméstica, e a "Kokusai Denshin Denwa" a telefonia internacional. Na primeira reforma, a NTT sofreu uma privatização parcial, através da qual surgiu uma espécie de competição controlada do mercado, no qual o Ministério dos Correios e Telecomunicações japonês intervinha para que não houvesse perdedores. Na segunda etapa desta reforma, ocorrida a partir de 1997, viu-se o claro objetivo de aumentar a competição no mercado e uma diminuição da regulamentação implementada até então, graças ao acordo junto à Organização Mundial do Comércio. Todavia, o que se seguiu foi o nascimento da NTT como competidora internacional de telecomunicações. Desde 1985 que o Japão possui um sistema tronco nacional de telefonia com fibras óticas, interconectando diversas cidades ao longo de 3 400 km e com previsão de ampliação devido a flexibilidade do material empregado. Entre as ilhas, utiliza de cabos submarinos. Na telefonia móvel, possuía 90 milhões de usuários em 2005. Em relação a televisão, a nação possui o sistema a cabo (CATV) e para a internet, a rede local de assinantes e a rede integrada digital. Na mídia, há grande circulação de jornais e revistas, além de canais de rádio e televisão, que atingem toda a população urbana do país e boa parte da rural. Entre os principais estão o jornal Yomiuri Shimbun, a rádio NHK e os canais de tv NHK e TXN. Quase todas as corporações que os veiculam, politicamente, estão divididas em liberal, média e conservadora. Habitação e saneamento. O Japão passou por profundas transformações em pouco mais de cem anos em suas estruturas socioeconômicas e culturais, saindo de um sistema feudal para um mundo moderno e industrial. Suas políticas habitacionais não fugiram às mudanças e foram desenvolvidas e solidificadas nos últimos quarenta anos, até 2006, gerando moradias e qualidade de vida. No entanto, foi reconhecido que sua alta densidade populacional, o alto preço das terras e a queda no volume de negócio no mercado imobiliário geraram um novo desafio para o governo: reabilitar áreas degradadas para alocar o crescimento demográfico. Para esses locais, estudam-se projetos que aloque a população em cidades subterrâneas e nas chamadas supertorres, estruturas verticais gigantescas capazes de suportarem uma pequena cidade como Sky City 1000, Shimizu Mega City Pyramid e X-Seed 4000. Nestes projetos, está ainda inserida a urbanização, voltada para o meio-ambiente e à integração do homem com a natureza, visando o resgate histórico de sua cultura, esquecida nas construções de massa moderna para abrigar o largo crescimento populacional que acompanhou as modificações no cenário econômico nacional. Sua tecnologia aliada aos recursos naturais deram ao Japão acesso à água potável e tratamento de esgoto em quase todo o território nacional. Devido à rápida urbanização de suas grandes cidades, ocorreu a degradação ambiental que causou enchentes, aridez e piora da qualidade da água. Para atenuar os danos causados por esses problemas, foram implantadas medidas para melhorar os mecanismos de coordenação sobre o uso da água e prevenir a sua contaminação. Como resultado, o Japão obteve drásticas melhorias em seus recursos hídricos e de higiene e abastecimento de água potável em seu território. Cidades como Tóquio e Quioto foram as grandes beneficiadas dos projetos. Criminalidade e segurança. O Japão tem a segunda menor taxa de homicídios do mundo. Em 2001, era considerado um dos países mais seguros do mundo para se viver, o Japão teve seu índice de criminalidade, somado em todo o território, no maior nível desde a Segunda Guerra Mundial. Com um aumento de 12%, registraram-se mais de três milhões de infrações, das quais 1% foram de crimes violentos, enquanto mais de 90% eram de infrações de trânsito, contravenções, fraudes, furtos, principalmente de motocicletas e bicicletas, delinquência, desacato e homicídio ou ferimento por negligência. O agravo desta condição foi também devido ao fato da diminuição da eficácia da polícia japonesa, que, em análise de mesmo período, efetuou 8% menos prisões. Segundo especialistas, as causas para este cenário foram a estagnação da economia japonesa desde o começo dos anos de 1990 e o aumento do desemprego. Cinco anos mais tarde, robôs de segurança foram apresentados à população, para ajudarem na patrulha de locais pré-determinados. A utilização de tecnologias de vigilância deve-se à baixa taxa de natalidade, o que poderá gerar problemas futuros para as guardas. Em pesquisas mais recentes, ficou constatado que a criminalidade estava diminuindo e que a grande preocupação da segurança nacional eram as tragédias naturais, como os terremotos e tsunâmi, as falsificações dos selos de segurança dos prédios, os acidentes aéreos e ferroviários, os confrontos políticos, guerras e ataques terroristas. No balanço geral, mais de 42% da população considerou o Japão um lugar perigoso para morar devido a estes fatores. Como solução apontada está o esforço em conjunto entre a sociedade, governos locais e empresas. Apesar da segurança e da aparente preocupação da população girar em torno apenas dos desastres naturais, a presença da máfia é algo não ignorado no país. A Yakuza, organização mafiosa mais conhecida do Oriente, tem suas origens no fim da era dos samurais, quando estes passaram a vagar pelo território. No entanto, a precisão de seu surgimento é variado, indo desde os filhos de "kabuki-mono" até a descendência honrosa direta dos ronins. No Japão, esta organização é composta por vários clãs de criminosos violentos, que deixam marcas no aspecto de vida japonês, principalmente no que toca as torturas e chantagens daqueles que ousassem desafiar seus poderes. Desde a jogatina e esquemas de prostituição até os bastidores do poder político e financeiro de alto escalão a Yakuza é presença forte no cenário nacional e internacional. Cultura. A história japonesa produziu uma cultura que mescla influências da tradição chinesa e as formas indianas e ocidentais desde sua arquitetura à sua gastronomia. Primordialmente, o Japão sofreu influência direta da China, em um processo iniciado há cerca de 1 500 anos. O Japão e outros reinos asiáticos eram estados tributários da China desde tempos antigos. No entanto, o Japão parou de enviar tributos à China em 894 d.C.. A partir daí, a cultura japonesa desenvolveu-se de forma independente e floresceu numa variedade de campos livremente. O processo de nacionalização cultural acelerou-se durante os últimos 250 anos anteriores ao que o Japão se manteve isolado, até 1868, quando se abriu para o mundo ocidental com a assinatura do Tratado de Kanagawa. Nos últimos séculos foi influenciada pela Europa e pelos Estados Unidos. Através dessas influências, gerou um complexo próprio de artes, técnicas artesanais como bonecas e objectos lascados e cerâmica (bonsai, "origamis") e outras artes com papel, ("ikebana"), espetáculos e danças ("bunraku", "kabuki", "noh", "rakugo", "shibu", "Yosakoi Soran") e tradições e jogos ("onsen", "sento", cerimónia do chá), além de uma culinária única. A cultura popular japonesa tornou-se conhecida a partir dos mangás e dos animes. Os mangás surgiram com a união entre a pintura tradicional japonesa sobre madeira e a arte Ocidental. A animação e os filmes influenciados pelo mangá são chamados anime. Os consoles de videogames feitos no Japão prosperaram desde os anos 1980. Entre os exemplos mais conhecidos da cultura japonesa estão o sushi na culinária, os bonsais como manifestações culturais, o anime (desenhos animados japoneses), o "tokusatsu" (filmes e séries de super-heróis japoneses, que utilizam efeitos especiais), o karate, judo e kendō nas artes marciais e os "videogames" Nintendo, SEGA e PlayStation. Música e dança. A música do Japão também é eclética, emprestando instrumentos, escalas e estilos de culturas vizinhas. Muitos instrumentos como o "koto", foram introduzidos nos séculos IX e X. O acompanhamento do "noh" data do e a popular tradicional música com o "shamisen" do XVI. A música ocidental, introduzida em fins do , agora é parte da cultura. O Japão do pós-Guerra foi muito influenciado pela música contemporânea dos Estados Unidos e da Europa, o que levou ao desenvolvimento do estilo japonês chamado J-pop (música popular japonesa) e música Enka (música tradicional japonesa). O karaokê é a prática cultural mais comum. Na dança os japoneses são mais tradicionais, inclusive com uma lenda divina que explica o surgimento da mesma. Suas danças tradicionais originaram-se na Antiguidade, como meios de manifestações, caracterizadas por movimentos leves e de formas peculiares. A primeira de que se tem relato foi a chamada "kagura", referente aos deuses da cultura japonesa. Foi a partir destas manifestações religiosas que originaram-se vários outros estilos de dança nacionais. Hoje, a dança tradicional do Japão é chamada de "Nihon Buyou". Literatura e cinema. Os primeiros trabalhos da literatura japonesa incluem dois livros, o "Kojiki" e o "Nihonshoki" e o livro de poesia do , "Man'yōshū", todos escritos com ideogramas chineses. No início do Período Heian, a escrita japonesa conhecida como "kana" (Hiragana e Katakana) foi criada como fonograma. Durante o Período Edo a literatura tornou-se arte não só da aristocracia, mas dos "chonin", a população comum. A Era Meiji viu o declínio das formas tradicionais de literatura e a crescente adoção de influências ocidentais. Natsume Soseki e Mori Ōgai foram os primeiros romancistas modernos do Japão, seguidos por Ryunosuke Akutagawa, Junichiro Tanizaki, Yasunari Kawabata, Yukio Mishima e, mais recentemente, Haruki Murakami. O Japão tem dois ganhadores do Nobel de Literatura, Yasunari Kawabata (em 1968) e Kenzaburo Oe (em 1994). No cinema, de desenvolvimento simultâneo ao ocidental, a nação produziu obras de reconhecimento qualitativo. Durante as primeiras décadas do , os filmes representavam dois gêneros de produção, o "jidai geki", chamado histórico, e o "gendai-geki", conhecido como da vida real. Internacionalmente, destaca-se o cineasta Akira Kurosawa. Culinária. A culinária do Japão é tratada como arte, seja pela forma de misturar os ingredientes, seja pela apresentação dos pratos. Desde 2013, a culinária tradicional japonesa passou a ser considerada Patrimônio Cultural Intangível da Humanidade pela UNESCO. Na base da gastronomia está o arroz, alimento consumido desde o café da manhã até ao jantar. Para comerem, utilizam os chamados "hashis" e têm como pratos principais as sopas ou pastas de soja, hortaliças, picles, peixes e carne. Apesar do número limitado, a variedade de pratos é grande. De influência externa, entraram o pão, o "fast-food", o hambúrguer, o frango frito e o curry ao estilo japonês, populares entre os jovens. Como hábito, antes de cada refeição é costume dizer "itadakimassu", que significa pedir licença para comer e um agradecimento a quem preparou. Entre os doces destacam-se os "designs", feitos também de arroz e feijão. Os doces típicos são chamados "wa-gashi" e os ocidentais "yo-gashi". Nos "wa-gashi", é muito comum ver ingredientes como farinha de arroz, feijão-azuqui e açúcar. A manteiga e o leite são raramente usados. Já em relação as bebidas japonesas a mais conhecida internacionalmente é o saquê, feito do arroz, que tem 17% de teor alcoólico, e o Yakult, leite fermentado, muito consumido em todo mundo. Em geral, os japoneses bebem chá verde após as refeições, bebem café preparado ao estilo norte-americano, e consomem cerveja nacional como a "Suntory" e a "Sapporo". Recentemente surgiu o "shochu", preparado de álcool e água. No verão, a bebida mais popular é a "mugicha", feita de água fria e cevada. Vinho e uísque são importados. Artes. O pincel é o meio de expressão artística predileto dos japoneses, praticantes da pintura e da caligrafia tanto profissionalmente quanto como passatempo. O significado do objeto era tamanho, que até a modernidade lá não se usava a pluma para escrever. A escultura, considerada pelos artistas um meio ineficaz de expressão, era relacionada a religião e com a decadência do budismo tradicional, tornou-se ainda menos importante. A cerâmica, por sua vez é dita uma das mais belas do mundo e está entre os objetos mais antigos desta cultura milenar. Já sua arquitetura demonstra o apreço dos japoneses pelos materiais naturais, tanto na composição exterior, quanto na interior dos espaços. Como arte de polaridade, a japonesa valoriza-se não apenas por sua simplicidade, mas também por sua exuberância de cores, cuja influências têm atingido o ocidente desde o . Separadas por períodos, as manifestações artísticas japonesas viveram um início com a tribo jomon, foram influenciados externamente e viveram um período voltadas para dentro, passando pelas artes Jomon e Yayoi, dos Grandes Túmulos, Asuka e Naka entre outras, até chegarem a Edo, e posteriormente às grandes influências ocidentais externas. Esportes. Para o povo japonês, a prática do esporte é tão importante, que instituiu-se o Dia do Esporte. Acima da prática do exercício físico, para eles o esporte desenvolve a disciplina, a formação do caráter e incentiva o espírito esportivo. Torcedores entusiasmados, incentivam seus atletas sempre que estes estejam dispostos a darem o melhor de si. Os esportes praticados no Japão variam desde os tradicionais, chamados budô, em especial o judô, o karatê, o "kendo" e o sumô, considerado o esporte nacional, até os esportes Ocidentais tais como o basebol e o futebol, introduzidos no país após a restauração Meiji e popularizados através do sistema educacional. Outros esportes populares são os de inverno, como "snowboard", esqui e patinação no gelo, além do golfe, e do automobilismo com o Super GT e a Formula Nippon. Diversos atletas japoneses, em especial do basebol e esportes olímpicos têm notoriedade internacional. O basebol é um dos esportes populares com mais espectadores no Japão. A liga profissional japonesa de basebol surgiu em 1936 e foi reformulada para o formato atual em 1950. Ela é formada hoje por doze grupos de todo o país. As competições anuais são vistas por milhões de pessoas. O futebol começou a crescer com a criação da J-League em 1991 e a contribuição de "Zico" no Kashima Antlers entre outros técnicos. Sendo já o segundo esporte mais praticado nas escolas procura-se gerar uma cultura do futebol que garanta sua prática pela população. Desde então, os clubes da liga contam com muitos atletas estrangeiros. O Japão já foi sede de várias competições internacionais, como os Jogos Olímpicos de Inverno de 1972, os de 1998 e as Olimpíadas de 1964 em que o judô foi incluído como modalidade olímpica. O histórico de participações do Japão nos Jogos Olímpicos remonta a 1912 em Estocolmo e desde 1964 o país participou de todos os eventos olímpicos, a não ser por um breve momento em 1980. Em 2002, o país sediou a Copa do Mundo de Futebol em conjunto com a Coreia do Sul, chegando à fase de oitavas de final. Na edição seguinte, a equipe nacional que era comandada por Zico não repetiu o sucesso e foi eliminada na primeira fase da competição enquanto na Copa do Mundo de 2010 a seleção japonesa chegou novamente às oitavas de final. O país sediará na sua capital, em 2020, os Jogos Olímpicos (pela segunda vez) e Paralímpicos de Verão (pela primeira vez). Cinco novas modalidades esportivas serão disputadas nos Jogos de 2020 em Tóquio, sendo elas: surfe, skate, beisebol/softbol, escalada e caratê.
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Judaísmo
Judaísmo Judaísmo (, ) é uma das três principais religiões abraâmicas, definida como "religião, filosofia e modo de vida" do povo judeu. Originário da Torá Escrita e da Bíblia Hebraica (também conhecida como "Tanakh") e explorado em textos posteriores, como o "Talmud", é considerado pelos judeus religiosos como a expressão do relacionamento e da aliança desenvolvida entre Deus com os Filhos de Israel. De acordo com o judaísmo rabínico tradicional, Deus revelou as suas leis e mandamentos a Moisés no Monte Sinai, na forma de uma Torá escrita e oral. Esta foi historicamente desafiada pelo caraítas, um movimento que floresceu no período medieval que mantém milhares de seguidores atualmente e, que afirma que apenas a Torá escrita foi revelada. Nos tempos modernos alguns movimentos liberais, tais como o judaísmo humanista, podem ser considerados não teístas. O judaísmo afirma uma continuidade histórica que abrange mais de três mil anos. É uma das mais antigas religiões monoteístas, que sobrevive até os dias atuais, e a mais antiga das três grandes religiões abraâmicas. Os hebreus/israelitas já foram referidos como judeus nos livros posteriores ao Tanakh, como o Livro de Ester, com o termo "judeus" substituindo a expressão "Filhos de Israel." Os textos, tradições e valores do judaísmo influenciaram mais tarde outras religiões monoteístas, tais como o cristianismo, o islamismo e a Fé Bahá'í. Muitos aspectos do judaísmo também influenciaram, pela ética secular ocidental e pelo direito civil. Os judeus são um grupo etno-religioso e incluem aqueles que nasceram judeus ou foram convertidos ao judaísmo. Em 2010, a população judaica mundial foi estimada em 13,4 milhões, ou aproximadamente 0,2% da população mundial total. Cerca de 42% de todos os judeus residem em Israel e cerca de 42% residem nos Estados Unidos e Canadá, com a maioria restante na Europa. Os judeus podem ser divididos em 3 grupos. O judaísmo ortodoxo (judaísmo haredi e o judaísmo ortodoxo moderno), o judaísmo conservador e o judaísmo reformista. A principal diferença entre esses grupos é a sua abordagem em relação à lei judaica. O ortodoxo sustenta que a Torá e a lei judaica são de origem divina, eterna e imutável, e que devem ser rigorosamente seguidas. Os conservadores e reformistas são mais liberais, com o judaísmo conservador, geralmente promovendo uma interpretação mais "tradicional" de requisitos do judaísmo do que o judaísmo reformista. A posição reformista típica é de que a lei judaica deve ser vista como um conjunto de diretrizes gerais e não como um conjunto de restrições e obrigações cujo respeito é exigido dos judeus. Historicamente, tribunais especiais aplicaram a lei judaica; hoje, estes tribunais ainda existem, mas a prática do judaísmo é voluntária. A autoridade sobre assuntos teológicos e jurídicos não é investida em qualquer pessoa ou organização, mas nos textos sagrados e nos rabinos e estudiosos que interpretam esses textos. Etimologia. O termo "judaísmo" veio ao português pelo termo (transl. "Iudaïsmós"), que designa algo ou alguém relacionado ao topônimo Judá — , . História. Origem. Na sua essência, o Tanaque é um relato da relação dos israelitas com Deus desde sua história mais antiga até a construção do Segundo Templo (c. ). Abraão é saudado como o primeiro hebreu e o pai do povo judeu. Como recompensa por seu ato de fé em um Deus, foi prometido que Isaac, seu segundo filho, herdaria a Terra de Israel (então chamada Canaã). Mais tarde, os descendentes de Jacó (filho de Isaac) foram escravizados no Egito, que após séculos de escravidão Deus ordenou a Moisés que liderasse a libertação da escravidão do Egito, movimento conhecido por o Êxodo. No Monte Sinai, eles receberam a Torá — os cinco livros de Moisés. Estes livros, juntos com Nevi'im e Ketuvim formam o "Torah Shebikhtav" em oposição à Torá Oral, que se refere a Mishná e ao Talmude. Deus em seguida levou-os para a terra de Israel, onde o tabernáculo foi implantado na cidade de Siló por mais de 300 anos para reunir a nação contra os ataques de inimigos. Conforme o tempo passava, o nível espiritual da nação recuou até o ponto em que Deus permitiu que os filisteus capturassem o tabernáculo. O povo de Israel exigiu ao profeta Samuel um governo liderado por um rei permanente. Samuel então nomeou Saul para tal cargo. Quando o povo pressionou Saul em ir contra uma ordem transmitida a ele por Samuel, Deus disse a Samuel nomear Davi em seu lugar. Depois que o reinado de Davi foi estabelecido, ele informa ao profeta Natã seu desejo de construir um templo permanente. Como recompensa por seus atos, Deus prometeu a Davi que ele permitiria que seu filho, Salomão, construísse o Primeiro Templo e que o trono nunca seria afastado de seus filhos. A tradição rabínica afirma que os detalhes e a interpretação da lei, que são chamados de "Torá Oral" ou "lei oral", eram originalmente uma tradição não escrita com base no que Deus disse a Moisés no Monte Sinai. No entanto, conforme a perseguição contra os judeus aumentava e os detalhes da tradição oral estavam em perigo de serem esquecidos, o rabino Judah Hanasi (Judah o Príncipe) registrou as leis orais na Mishná, redigido por volta do ano 200. O Talmude é uma compilação da Mishná e Guemará, que são comentários rabínicos editados ao longo dos três séculos seguintes. A Guemará tem origem em dois grandes centros de estudos judaicos, Palestina e Babilônia. Do mesmo modo, dois corpos de análise desenvolveram-se e duas obras de Talmude foram criadas. A compilação mais velha é chamado o Talmude de Jerusalém. Foi compilado em algum momento durante o século IV, em Israel. O Talmude Babilônico foi compilado a partir de discussões nas casas de estudo por parte dos estudiosos Ravina I, Ravina II e Rav Ashi no ano 500, embora tenha continuado a ser editado posteriormente. Alguns estudiosos críticos opõem-se à ideia de que os textos sagrados, incluindo a Bíblia Hebraica, foram divinamente inspirados. Muitos desses estudiosos aceitam os princípios gerais da hipótese documental e sugerem que a Torá é composta de textos incoerentes editados em conjunto de uma forma que chama a atenção para contos divergentes. Muitos sugerem que, durante o período do Primeiro Templo, o povo de Israel acreditava que cada nação tinha seu próprio deus, mas que seu deus era superior aos outros deuses. Alguns sugerem que o monoteísmo estrito desenvolveu-se durante o Exílio babilônico, talvez em reação ao dualismo do zoroastrismo. De acordo com esse ponto de vista, foi apenas no período Helênico que a maioria dos judeus passou a acreditar que seu Deus era o único deus e que a noção de uma nação judaica floresceu com base na religião judaica. John Day argumenta que as origens do Yahweh, El, Aserá e Baal, pode estar enraizada no início da religião cananeia, que era centrada em um panteão de deuses muito parecido com o panteão grego. Características definidoras e princípios de fé. Características definidoras. Ao contrário de outros deuses antigos do Oriente Próximo, o Deus hebraico é retratado como unitário e solitário; consequentemente, os principais relacionamentos do Deus hebraico não são com outros deuses, mas com o mundo e, mais especificamente, com as pessoas que ele criou. O judaísmo começa assim com o monoteísmo ético: a crença de que Deus é um e se preocupa com as ações da humanidade. Segundo o Tanakh (Bíblia Hebraica), Deus prometeu a Abraão que faria de seus filhos uma grande nação. Muitas gerações depois, ele ordenou à nação de Israel que amasse e adorasse apenas um Deus; isto é, a nação judaica deve retribuir a preocupação de Deus pelo mundo. Ele também ordenou o povo judeu a se amarem uns aos outros; isto é, os judeus devem imitar o amor de Deus pelas pessoas. Esses mandamentos são apenas dois de um grande conjunto de mandamentos e leis que constituem essa aliança, que é a substância do judaísmo. Assim, embora exista uma tradição mística no judaísmo (vertentes de misticismo judaico), o estudioso rabínico Max Kadushin caracterizou o judaísmo normativo como "misticismo normal", porque envolve experiências de Deus pessoais cotidianas através de maneiras ou modos comuns a todos os judeus. Tal ocorre através da observância da Halacá (lei judaica) e é dada expressão verbal no Birkat Ha-Mizvot, as breves bênçãos que são ditas toda vez que um mandamento positivo deve ser cumprido. As coisas e ocorrências comuns, familiares e cotidianas que temos, constituem ocasiões para a experiência de Deus. Coisas como o sustento diário de cada um, o próprio dia, são sentidas como manifestações da bondade de Deus, exigindo as "Berakhot" (louvores de ação de graças). "Kedushá", santidade, que nada mais é do que a imitação de Deus, preocupa-se com a conduta diária, em ser gracioso e misericordioso, em evitar contaminar-se pela idolatria, adultério e derramamento de sangue. O "Birkat Ha-Mitzwot" evoca a consciência da santidade em um rito rabínico, mas os objetos empregados na maioria desses rituais são não sagrados e de caráter geral, enquanto os vários objetos sagrados são não-teúrgicos. E não apenas as coisas e ocorrências comuns trazem consigo a experiência de Deus. Tudo o que acontece com um homem evoca essa experiência, tanto mau quanto bom, pois uma "Berakah" é dita também em más notícias. Portanto, embora a experiência de Deus seja como nenhuma outra, as "ocasiões" para experimentá-Lo, para se ter uma consciência Dele, são múltiplas, mesmo se considerarmos apenas aquelas que pedem Berakot.Embora os filósofos judeus frequentemente debatam se Deus é imanente ou transcendente e se as pessoas têm livre-arbítrio ou se suas vidas são determinadas, a Halacá é um sistema através do qual qualquer judeu age para trazer Deus ao mundo. O monoteísmo ético é central em todos os textos sagrados ou normativos do judaísmo. No entanto, o monoteísmo nem sempre foi seguido na prática. A Bíblia judaica (Tanakh) registra e condena repetidamente a adoração generalizada de outros deuses no Israel antigo. Na era greco-romana, muitas interpretações diferentes do monoteísmo existiam no judaísmo, incluindo as interpretações que deram origem ao cristianismo. Além disso, alguns têm argumentado que o judaísmo é uma religião que não se baseia em credo e não exige que alguém acredite em Deus. Para alguns, a observância da lei judaica é mais importante que a crença em Deus em si. Nos tempos modernos, alguns movimentos judeus liberais não aceitam a existência de uma divindade personificada ativa na história. O debate sobre se alguém pode falar sobre o judaísmo autêntico ou normativo não é apenas um debate entre judeus religiosos, mas também entre historiadores. Princípios básicos. Estudiosos ao longo da história judaica propuseram numerosas formulações dos princípios centrais do judaísmo, todas as quais receberam críticas. A formulação mais popular são os treze princípios de fé de Maimônides, desenvolvidos no século XII. Segundo Maimônides, qualquer judeu que rejeite mesmo um desses princípios seria considerado apóstata e herege. Estudiosos judeus mantiveram pontos de vista divergentes de várias maneiras dos princípios de Maimônides.<ref name="learning">Daniel Septimus. [[Categoria:Judaísmo| ]
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Java (linguagem de programação)
Java (linguagem de programação) Java é uma linguagem de programação orientada a objetos desenvolvida na década de 90 por uma equipe de programadores chefiada por James Gosling, na empresa Sun Microsystems, que em 2008 foi adquirido pela empresa Oracle Corporation. Diferente das linguagens de programação modernas, que são compiladas para código nativo, Java é compilada para um "bytecode" que é interpretado por uma máquina virtual (Java Virtual Machine, abreviada JVM). A linguagem de programação Java é a linguagem convencional da Plataforma Java, mas não é a sua única linguagem. A J2ME é utilizada em jogos de computador, celular, calculadoras, ou até mesmo o rádio do carro. História. Em 1991, na Sun Microsystems, foi iniciado o "Green Project", o berço do Java, uma linguagem de programação orientada a objetos. Os mentores do projeto eram Patrick Naughton, Mike Sheridan, e James Gosling. Eles acreditavam que, eventualmente, haveria uma convergência dos computadores com os equipamentos e eletrodomésticos frequentemente usados pelas pessoas no seu dia-a-dia. Para provar a viabilidade desta ideia, treze pessoas trabalharam durante dezoito meses. No verão de 1992 eles emergiram de um escritório de Sand Hill Road (no Menlo Park), com uma demonstração funcional da ideia inicial. O protótipo se chamava *7 (lê-se “Star Seven”), um controle remoto com uma interface gráfica "touchscreen," acompanhado de um mascote, hoje amplamente conhecido no mundo Java, o Duke, que tinha a função de ser um guia virtual ajudando usuários a utilizar o equipamento. O star-seven tinha a habilidade de controlar diversos dispositivos e aplicações. James Gosling especificou uma nova linguagem de programação para o *7. chamada de “Oak”, que quer dizer "carvalho", uma árvore que ele podia observar quando olhava através da sua janela. O próximo passo era encontrar um mercado para o star-seven. A equipe achava que uma boa ideia seria controlar televisões e vídeo por demanda com o equipamento. Eles construíram uma demonstração chamada de "MovieWood", mas infelizmente era muito cedo para que o vídeo por demanda bem como as empresas de TV a cabo pudessem viabilizar o negócio. A ideia que o *7 tentava vender, hoje já é realidade em programas interativos e também na televisão digital. Permitir ao telespectador interagir com a emissora e com a programação em uma grande rede de cabos, era algo muito visionário e estava muito longe do que as empresas de TV a cabo tinham capacidade de entender e comprar. A ideia certa, na época errada. Entretanto, o estouro da internet aconteceu e rapidamente uma grande rede interativa estava se estabelecendo. Era este tipo de rede interativa que a equipe do *7 estava tentando vender para as empresas de TV a cabo. E, da noite para o dia, não era mais necessário construir a infraestrutura para a rede, ela simplesmente estava lá. Gosling foi incumbido de adaptar o Oak para a internet e em janeiro 1995 foi lançada uma nova versão do Oak que foi rebatizada para "Java" — diz-se que inspirado no café que o time de desenvolvimento consumia, oriundo da ilha de Java, e que também está presente na logomarca "Java". A tecnologia Java tinha sido projetada para se mover por meio das redes de dispositivos heterogêneos, redes como a internet. Agora aplicações poderiam ser executadas dentro dos navegadores nos Applets Java e tudo seria disponibilizado pela internet instantaneamente. Foi o estático HTML dos navegadores que promoveu a rápida disseminação da dinâmica tecnologia Java. A velocidade dos acontecimentos seguintes foi assustadora, o número de usuários cresceu rapidamente, grandes fornecedores de tecnologia, como a IBM anunciaram suporte para a tecnologia Java. Desde seu lançamento, em maio de 1995, a plataforma Java foi adotada mais rapidamente do que qualquer outra linguagem de programação na história da computação. Em 2004 Java atingiu a marca de 3 milhões de desenvolvedores em todo mundo. Java continuou crescendo e hoje é uma referência no mercado de desenvolvimento de "software". Java tornou-se popular pelo seu uso na internet e hoje possui seu ambiente de execução presente em navegadores, mainframes, sistemas operacionais, celulares, palmtops, cartões inteligentes etc. Padronização. Em 1997 a Sun Microsystems tentou submeter a linguagem a padronização pelos órgãos ISO/IEC e ECMA, mas acabou desistindo. Java ainda é um padrão de fato, que é controlada através da JCP (Java Community Process). Em novembro de 2006, a Sun liberou a maior parte do Java como um software livre sob os termos da GNU GPL (General Public License), finalizando o processo em maio de 2007, tornando praticamente todo o código Java como software de código aberto, menos uma pequena porção da qual a Sun não possui os direitos legais. Aquisição pela Oracle. Em 2008 a Oracle Corporation adquire a empresa responsável pela linguagem Java, a Sun Microsystems, por US$ 7,4 bilhões, com o objetivo de levar o Java e outros produtos da Sun ao dispor dos consumidores. Características. A linguagem Java foi projetada tendo em vista os seguintes objetivos: Além disso, podem-se destacar outras vantagens apresentadas pela linguagem: Licença. A Sun disponibiliza a maioria das distribuições Java gratuitamente e obtém receita com programas mais especializados como o Java Enterprise System. Em 13 de novembro de 2006, a Sun liberou partes do Java como software livre, sob a licença GNU General Public License. A liberação completa do código fonte sob a GPL ocorreu em maio de 2007. Exemplos de código. Método main. O método main é onde o programa inicia. Pode estar presente em qualquer classe. Os parâmetros de linha de comando são enviados para o array de Strings chamado "args". public class OláMundo { public static void main(String[] args) { System.out.println("Olá, Mundo!"); //Imprime na tela a frase Classes. Exemplo: public abstract class Animal { public abstract void fazerBarulho(); public class Cachorro extends Animal { public void fazerBarulho() { System.out.println("AuAu!"); public class Gato extends Animal { public void fazerBarulho() { System.out.println("Miau!"); O exemplo acima cria a classe Animal e duas classes derivadas de Animal. É importante observar que nas classes derivadas temos a redefinição do método fazerBarulho(). Esta redefinição é classificada como uma sobreposição (override) de métodos. O conceito de sobreposição somente pode ser identificado e utilizado quando temos classes dispostas em um relacionamento de herança. Java não suporta herança múltipla, devido a possibilidade de uma classe pai ter um método com o mesmo nome de outra classe pai, e gerar possíveis falhas ao chamar o método, e todas as classes em Java derivam da classe Object. A única possibilidade de se ver herança múltipla em Java é no uso de interfaces, pois uma classe pode implementar várias interfaces. Interfaces. Uma interface modela um comportamento esperado. Pode-se entendê-la como uma classe que contenha apenas métodos abstratos. Embora uma classe não possa conter mais de uma super classe, a classe pode implementar mais de uma interface. Exemplo: public interface Pesado { double obterPeso(); public interface Colorido { Color obterCor(); public class Porco extends Animal implements Pesado, Colorido { public void fazerBarulho() { System.out.println(" Óinc!"); // Implementação da interface Pesado public double obterPeso() { return 50.00; // Implementação da interface Colorido public Color obterCor() { return Color.BLACK; // Uma propriedade só do porco public boolean enlameado() { return true; Objetos anônimos. Podemos ter também objetos anônimos, onde não é necessário instanciar o objeto em uma variável para utilizá-lo. Exemplo: public class MostraBarulho { public static void main(String args[]) { new Cavalo().fazerBarulho(); // Objeto anônimo. // Abaixo um objeto e classe anônimos! new Animal() { public void fazerBarulho() { System.out.println("QUAC!"); }.fazerBarulho(); Programação funcional. A partir da versão 8, o Java adiciona aspectos de linguagem funcional, permitindo utilizar técnicas funcionais, como mapeamento, redução, bem como tratar funções como variáveis. Para tanto, a linguagem utiliza interfaces para esse tipo de manipulação, quase que eliminando a necessidade do uso das chamadas classes anônimas. Exemplo: import java.util.ArrayList; import java.util.List; public class Main { public static void main(String[] args) { // Lista de paradigmas List<String> paradigmas = new ArrayList<>(); // Adiciona paradigmas paradigmas.add("Genérico (1.5)"); paradigmas.add("Funcional (8)"); // Abre uma stream paradigmas.stream() // Faz todos os textos na lista ficarem em maiúsculo .map(String::toUpperCase) // Faz loop em todos paradigmas em maiúsculo. .forEach(paradigma -> System.out.println(paradigma)); // ou .forEach(System.out::println); Ferramentas. Frameworks. É possível utilizar frameworks para facilitar o desenvolvimento de aplicações, dos quais os mais utilizados podem-se destacar: Ambientes de desenvolvimento. É possível desenvolver aplicações em Java através de vários ambientes de desenvolvimento integrado (IDEs). Dentre as opções mais utilizadas pode-se destacar: Extensões. Extensões em Java: Certificações. Existem 8 tipos de certificações da Oracle para Java: Cada certificação testa algum tipo de habilidade dentro da plataforma e linguagem Java. Todos os testes são realizados pela empresa Pearson VUE e são reconhecidos internacionalmente. Comunidade. A comunidade de desenvolvedores Java reúne-se em grupo denominados JUGs (Java User Groups). No Brasil o movimento de grupos de usuários expandiu-se bastante e tem formado alguns dos maiores grupos de usuários Java do mundo, como por exemplo, o PortalJava, GUJ e o JavaFree.
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Jesus
Jesus Jesus (; ), também chamado Jesus de Nazaré – foi um pregador e líder religioso judeu do primeiro século. É a figura central do cristianismo e aquele que os ensinamentos de maior parte das denominações cristãs, além dos judeus messiânicos, consideram ser o Filho de Deus. O cristianismo e o judaísmo messiânico consideram Jesus como o Messias aguardado no Antigo Testamento e referem-se a ele como Jesus Cristo, um nome também usado fora do contexto cristão. Praticamente todos os académicos contemporâneos concordam que Jesus existiu realmente, embora não haja consenso sobre a confiabilidade histórica dos evangelhos e de quão perto o Jesus bíblico está do Jesus histórico. A maior parte dos académicos concorda que Jesus foi um pregador judeu da Galileia, foi batizado por João Batista e crucificado por ordem do governador romano Pôncio Pilatos. Os académicos construíram vários perfis do Jesus histórico, que geralmente o retratam em um ou mais dos seguintes papéis: o líder de um movimento apocalíptico, o Messias, um curandeiro carismático, um sábio e filósofo, ou um reformista igualitário. A investigação tem vindo a comparar os testemunhos do Novo Testamento com os registos históricos fora do contexto cristão de modo a determinar a cronologia da vida de Jesus. Quase todas as linhas cristãs acreditam que Jesus foi concebido pelo Espírito Santo, nasceu de uma virgem, praticou milagres, fundou a Igreja, morreu crucificado como forma de expiação, ressuscitou dos mortos e ascendeu ao Céu, do qual regressará. A grande maioria dos cristãos adoram Jesus como a encarnação de Deus, o Filho, a segunda das três pessoas na Santíssima Trindade. Alguns grupos cristãos rejeitam a Trindade, no todo ou em parte. No contexto islâmico, Jesus (transliterado como Issa) é considerado um dos mais importantes profetas de Deus e o Messias. Para os muçulmanos, Jesus foi aquele que trouxe as escrituras e é filho de uma virgem, mas não é divino, nem foi vítima de crucificação. O judaísmo rejeita a crença de que Jesus seja o Messias aguardado, argumentando que não corresponde às profecias messiânicas do Tanaque. Etimologia. Um judeu contemporâneo de Jesus possuía um único nome, por vezes complementado com o nome do pai ou cidade de origem. Ao longo do Novo Testamento, Jesus é denominado "Jesus de Nazaré" (), "Filho de José" () ou "Jesus, filho de José de Nazaré" (). No entanto, em , em vez de ser chamado "filho de José", é referido como "o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão". O nome "Jesus", comum em várias línguas modernas, deriva do latim "Iesus", uma transliteração do grego (""). A forma grega é uma tradução do aramaico ("Yeshua"), o qual deriva do hebraico ("Yehoshua"). Aparentemente, o nome "Yeshua" foi usado na Judeia na época do nascimento de Jesus. Os textos do historiador Flávio Josefo, escritos durante o em grego helenístico, a mesma língua do Novo Testamento, referem pelo menos vinte pessoas diferentes com o nome Jesus (i.e. ). A etimologia do nome de Jesus no contexto do Novo Testamento é geralmente indicada como "Javé é a salvação". Desde os primórdios do cristianismo os cristãos se referem a Jesus como "Jesus Cristo". A palavra "Cristo" tem origem no grego ("Christos"), o qual é uma tradução do hebraico ("Masiah"), e que significa "o ungido" e é geralmente traduzido como "Messias". Jesus é denominado pelos cristãos de "Cristo", uma vez que acreditam que ele é o Messias esperado, profetizado na Bíblia Hebraica. Embora originalmente se tratasse de um título, ao longo dos séculos o termo "Cristo" foi sendo associado a um apelido — parte de "Jesus Cristo". O termo "cristão", que significa "aquele que professa a religião de Cristo", tem sido usado desde o . Cronologia. A maior parte dos académicos concorda que Jesus foi um judeu da Galileia, nascido por volta do início do primeiro século, e que morreu entre os anos 30 e na Judeia. O consenso académico é que Jesus foi contemporâneo de João Batista e foi crucificado por ordem do governador romano Pôncio Pilatos, que governou entre 26 e . Grande parte dos académicos sustentam que Jesus viveu na Galileia e na Judeia e que não pregou ou estudou em qualquer outro local. Os evangelhos oferecem diversas pistas no que diz respeito ao ano de nascimento de Jesus. associa o nascimento de Jesus ao reinado de Herodes, o Grande, que morreu cerca de , enquanto que menciona que Herodes reinava pouco antes do nascimento de Jesus, embora este evangelho também associe o nascimento com o censo de Quirino, que decorreu dez anos mais tarde. declara que Jesus tinha cerca de trinta anos de idade no início do seu ministério; ministério esse que, de acordo com , foi precedido pelo ministério de João, que afirma ter começado no 15º ano do reinado de Tibério (28 ou ). Ao comparar os relatos do evangelho com dados históricos e usando vários outros métodos, a maior parte dos académicos determina a data de nascimento de Jesus entre 6 e . Os anos do ministério de Jesus foram estimados usando diversas abordagens diferentes. Uma delas aplica as referências em , e as datas do reinado de Tibério, que são conhecidas com precisão, para determinar a data de início em . Outra abordagem usa a declaração em , que afirma que no início do ministério de Jesus o Templo de Jerusalém se encontrava no seu 46º ano de construção; sabendo que a reconstrução do templo foi iniciada por Herodes no 18º ano do seu reino, estima-se que a data seja . Outro método usa a data da morte de João Batista e o casamento de Herodes Antipas com Herodíade, com base no testemunho de Josefo, relacionando-os com e . Dado que a maior parte dos investigadores data o casamento em , isto determina a data do ministério entre 28 e . Têm sido usadas várias abordagens diferentes para estimar o ano da crucificação de Jesus. A maior parte dos académicos concorda que ele morreu entre os anos 30 e . Os evangelhos declaram que o evento ocorreu durante o governo de Pilatos, que governou a Judeia entre 26 e A data para a conversão de Paulo (estimada entre 33 e ) é o limite superior para a data de crucificação. As datas da conversão de Paulo e do ministério podem ser determinadas através da análise das epístolas de Paulo e do Livro dos Atos. Desde Isaac Newton que os astrónomos tentam estimar a data precisa da crucificação através da análise do movimento lunar e do cálculo das datas históricas do "Pessach", um festival com base no calendário hebraico lunissolar. As datas mais aceites a partir deste método são 7 de abril de e 3 de abril de (ambas julianas). Vida e ensinamentos no Novo Testamento. Os quatro evangelhos canónicos (Mateus, Marcos, Lucas e João) são as principais fontes para a biografia de Jesus. No entanto, outras partes do Novo Testamento, como as epístolas paulinas, escritas provavelmente décadas antes dos evangelhos, incluem também referências a episódios chave da sua vida, como a Última Ceia em . Os Atos dos Apóstolos ( e ) referem-se ao início do ministério de Jesus e ao do seu antecessor João Batista. Os revelam mais acerca da Ascensão de Jesus do que os evangelhos canónicos. Alguns dos primeiros grupos cristãos e gnósticos tinham descrições distintas da vida e ensinamentos de Jesus que não estão incluídas no Novo Testamento. Entre elas estão o Evangelho de Tomé, o Evangelho de Pedro e o Apócrifo de Tiago, entre várias outras narrativas apócrifas. A maior parte dos académicos considera-as fontes muito posteriores e muito menos confiáveis do que os evangelhos canónicos. Descrição nos evangelhos canónicos. Os evangelhos canónicos são constituídos por quatro narrativas, cada uma escrita por um autor diferente. O primeiro a ser escrito foi o Evangelho segundo Marcos (entre 60 e ), seguido pelo de Mateus (), o de Lucas () e o de João (). Eles muitas vezes diferem em termos de conteúdo e cronologia dos eventos. Três deles, Mateus, Marcos e Lucas, são conhecidos como evangelhos sinópticos, a partir do grego ("syn" "junto") e ("opsis" "óptica"). São semelhantes em conteúdo, composição da narrativa, linguagem e estrutura dos parágrafos. Os académicos geralmente concordam que é impossível encontrar qualquer relação direta entre os evangelhos sinópticos e o Evangelho segundo João. Enquanto que a sequência de alguns eventos da vida de Jesus, como o batismo, transfiguração, crucificação e interação com os apóstolos, são partilhados por todos os evangelhos sinópticos, alguns eventos, como a transfiguração, não aparecem no Evangelho de João, que também difere noutros temas, como a Limpeza do Templo. A maior parte dos académicos concorda que os autores de Mateus e Lucas usaram Marcos como fonte ao escrever os seus evangelhos. Mateus e Lucas partilham também outro conteúdo que não se encontra em Marcos. Para explicar esta situação, muitos académicos acreditam que para além de Marcos, os dois autores recorreram a outra fonte — denominada Fonte Q. De acordo com o ponto de vista da maioria, os evangelhos sinópticos são as fontes primárias de informação histórica sobre Jesus. No entanto, nem tudo o que está nos evangelhos é considerado verídico em termos históricos. Entre os elementos cuja autenticidade histórica é posta em causa estão a natividade, a ressurreição, a ascensão, alguns dos milagres e o Julgamento no Sinédrio. Os pontos de vista nos evangelhos variam entre descrições inerrantes da vida de Jesus a descrições que não dão qualquer informação histórica da sua vida. No geral, os autores do Novo Testamento mostraram pouco interesse numa cronologia absoluta da vida de Jesus ou em sincronizar os episódios da sua vida com a história secular do seu tempo. Tal como evidenciado em , os evangelhos não pretendem fornecer uma lista exaustiva dos eventos na vida de Jesus. As narrativas foram escritas fundamentalmente como documentos teológicos no contexto do cristianismo primitivo, sendo as cronologias considerações secundárias. Uma das principais manifestações de que os evangelhos são documentos teológicos e não crónicas históricas é o facto de dedicarem mais de um terço do texto a apenas sete dias, nomeadamente à última semana de Jesus em Jerusalém, conhecida como Paixão. Embora os evangelhos não forneçam detalhes suficientes para satisfazer a exigência de historiadores contemporâneos no que diz respeito a datas precisas, é possível obter deles uma visão genérica da história de vida de Jesus. Os evangelhos incluem diversos discursos de Jesus em ocasiões específicas, como o Sermão da Montanha e o Discurso de adeus. Também incluem mais de trinta parábolas ao longo da narrativa, muitas vezes sobre temas relacionados com os sermões. Os milagres realizados por Jesus ocupam grande parte dos evangelhos. Em Marcos, 31% do texto é dedicado aos seus milagres. As descrições dos milagres são muitas vezes acompanhadas por registos dos seus ensinamentos. Genealogia e Natividade. As narrativas da genealogia e da natividade de Jesus no Novo Testamento só aparecem nos evangelhos de Lucas e Mateus, sendo estas as principais fontes de informação sobre o tema. Fora do Novo Testamento, existem documentos mais ou menos contemporâneos de Jesus e dos evangelhos, mas poucos são os que esclarecem detalhes biográficos da sua vida. Mateus começa o seu evangelho com a genealogia de Jesus (), antes de narrar o seu nascimento. Identifica a ascendência de Jesus até Abraão através de David. discute a genealogia depois de descrever o batismo de Jesus, no qual uma voz celestial se dirige a Jesus e o identifica como o Filho de Deus. determina a ascendência de Jesus desde "José, filho de Eli", até "Adão, filho de Deus". A natividade é um elemento proeminente no Evangelho de Lucas, correspondente a 10% do texto e três vezes mais longo do que o texto da Natividade de Mateus. A narração de Lucas dá ênfase a acontecimentos anteriores ao nascimento de Jesus e foca-se em Maria, enquanto que Mateus narra acontecimentos posteriores ao nascimento e se foca em José. Ambos os textos afirmam que Jesus é filho de José e da sua noiva Maria e que nasceu em Belém, e ambos apoiam a doutrina do nascimento virginal de Jesus, segundo a qual Jesus foi concebido de forma milagrosa pelo Espírito Santo no ventre de Maria enquanto ainda era virgem. Em , o arcanjo Gabriel diz a Maria que ela irá conceber e carregar uma criança chamada Jesus por obra do Espírito Santo. Estando noivo de Maria, José fica preocupado com a sua gravidez (), mas no primeiro dos seus três sonhos, um anjo assegura-lhe que não tenha medo de casar com Maria, uma vez que a criança foi concebida pelo Espírito Santo. Quando se aproxima o momento do parto, Maria e José viajam de Nazaré até à casa de José em Belém para se registarem no censo ordenado pelo imperador romano. É aí que Maria dá à luz Jesus. Uma vez que não encontraram vaga na estalagem, o recém-nascido é colocado numa manjedoura (). Um anjo anuncia o nascimento a alguns pastores, que se deslocam a Belém para ver Jesus e posteriormente divulgar a notícia (). Depois de apresentarem Jesus no Templo, a família regressa a Nazaré. Em , três reis magos do Oriente levam ofertas ao recém-nascido como o Rei dos Judeus. Herodes toma conhecimento do nascimento de Jesus e, pretendendo vê-lo morto, ordena a execução de todas as crianças do sexo masculino de Belém. No entanto, um anjo avisa José no seu segundo sonho, o que leva a família a fugir para o Egito, de onde mais tarde regressaria para se fixar em Nazaré. Infância. Os evangelhos de Lucas e Mateus situam a casa de infância de Jesus na cidade de Nazaré na Galileia. José, o marido de Maria, está presente na descrição dos episódios da infância de Jesus, embora posteriormente não lhe seja feita qualquer referência. Os livros do Novo Testamento de Mateus e Marcos e a epístola aos Gálatas mencionam os irmãos e irmãs de Jesus. No entanto, a palavra grega "adelfos" nestes versos pode também ser traduzida por "parente", em vez do mais comum "irmão". A contradição manifesta entre a existência de irmãos e a doutrina da virgindade perpétua de Maria levou a que alguns dos primeiros teólogos tivessem argumentado que se tratavam de filhos de José, fruto de um casamento anterior, ou que o texto se referia a primos, e não a irmãos. Estas interpretações encontram-se hoje em dia refutadas entre o meio académico contemporâneo. Originalmente escrito em grego helenístico, o Evangelho de Marcos refere em que Jesus era um ("tekton"), enquanto que refere que ele próprio era filho de um "tekton". Embora tradicionalmente "tekton" seja traduzido por "carpinteiro", "tekton" é um termo bastante genérico, da mesma raiz que está na origem de "técnico" e "tecnologia", e que pode ser aplicado a construtores de objetos nos mais diversos materiais e até mesmo a construtores. Para além das narrações do Novo Testamento, a associação de Jesus à carpintaria é constante em tradições dos séculos I e II. Justino (m. c. ) escreveu que Jesus fabricava arados e gadanhos. Batismo e Tentação. Todas as narrativas do batismo de Jesus nos evangelhos são antecedidas por informações sobre o ministério de João Batista. Em todas, João é retratado a pregar a penitência e arrependimento para remissão dos pecados e a encorajar a oferta de esmolas aos pobres () enquanto batiza os crentes no rio Jordão, nas proximidades de Pereia, por volta da época em que Jesus inicia o seu ministério. O Evangelho de João () refere inicialmente "Betânia" e posteriormente () na margem oposta. Nos evangelhos, refere-se que João tinha vindo a anunciar () a chegada de alguém mais poderoso que ele, o que também é referido por Paulo de Tarso (). Em , durante o encontro com Jesus, João afirma "Eu preciso de ser batizado por ti", embora seja persuadido por Jesus a ser ele a batizá-lo. Depois de o fazer e de Jesus emergir das águas, o céu abre-se e ouve-se uma voz celestial: "Este é o meu Filho amado, de quem me agrado" (). O Espírito Santo desce então até Jesus na forma de uma pomba. Este é um de dois eventos descritos nos evangelhos nos quais uma voz celestial chama a Jesus "Filho", sendo a outra a Transfiguração. Após o batismo, os evangelhos sinópticos descrevem a Tentação de Cristo, na qual Jesus resiste a tentações do Diabo enquanto jejua por quarenta dias e noites no deserto da Judeia. O batismo e tentação de Jesus servem de preparação para o seu ministério público. O Evangelho de João não menciona nenhum dos eventos, embora inclua um testemunho de João no qual ele vê o Espírito a descer sobre Jesus (). Ministério público. Os evangelhos apresentam o ministério de João Batista enquanto precursor do ministério de Jesus. Iniciado com o seu batismo, Jesus dá início ao seu ministério nas áreas rurais da Judeia, perto do rio Jordão, com cerca de trinta anos de idade (). Jesus viaja, prega e realiza milagres, completando o ministério durante a Última Ceia com os seus discípulos em Jerusalém. No início do ministério, Jesus designa doze apóstolos. Em Mateus e Marcos, apesar de Jesus ser breve no pedido, descreve-se que os primeiros quatro apóstolos, que eram pescadores, imediatamente consentiram e abandonaram as suas redes e embarcações (, ). Em João, os primeiros dois apóstolos de Jesus são descritos como tendo sido discípulos de João Batista. Ao ver Jesus, João denomina-o Cordeiro de Deus. Ao ouvir isto, os dois apóstolos seguem Jesus. Para além dos Doze Apóstolos, o início da passagem do Sermão da Planície identifica como discípulos um grupo muito maior de pessoas (). Ainda em , Jesus envia setenta ou setenta e dois discípulos em pares para preparar cidades para a sua visita. São-lhes dadas instruções para aceitar hospitalidade, curar os doentes e espalhar a palavra de que se aproxima o Reino de Deus. Os académicos dividem o ministério de Jesus em diferentes períodos. O ministério da Galileia começa quando Jesus regressa à Galileia vindo do deserto da Judeia, depois de rejeitar a tentação de Satanás. Jesus prega na Galileia, e em encontra-se com os seus primeiros discípulos, que o passam a acompanhar. Este período inclui o Sermão da Montanha, um dos principais discursos de Jesus, a calma da tempestade, a multiplicação dos pães e peixes, a caminhada sobre as águas e diversos milagres e parábolas. Termina com a Confissão de Pedro e a Transfiguração. À medida que Jesus viaja em direção e Jerusalém, durante o ministério de Pereia, regressa ao local onde foi batizado, a cerca de um terço do caminho do mar da Galileia, ao longo do Jordão (). O último ministério em Jerusalém tem início com a sua entrada triunfal na cidade durante o Domingo de Ramos. Nos evangelhos sinópticos, durante essa semana afasta os cambistas do Templo e Judas negocia a sua traição. Este período culmina na Última Ceia e no Discurso de despedida. Ensinamentos, sermões e milagres. Os ensinamentos de Jesus são muitas vezes analisados em termos de "palavras" e "obras". As "palavras" incluem uma série de sermões, assim como parábolas que aparecem ao longo de toda a narrativa dos evangelhos sinópticos (o Evangelho de João não inclui parábolas). As "obras" contemplam os milagres e outras ações realizadas durante o ministério de Jesus. Embora os evangelhos canónicos sejam a principal fonte dos ensinamentos de Jesus, as epístolas paulinas oferecem alguns dos primeiros registos escritos. O Evangelho de João apresenta os ensinamentos de Jesus não apenas enquanto sermões, mas também como revelação divina. João Batista, por exemplo, afirma em : "Porque aquele que Deus enviou fala as palavras de Deus; pois não lhe dá Deus o Espírito por medida." Em Jesus afirma: "A minha doutrina não é minha, mas daquele que me enviou", o que confirma em : "Não crês tu que eu estou no Pai, e que o Pai está em mim? As palavras que eu vos digo, não as digo de mim mesmo, mas o Pai, que está em mim, é quem faz as obras". O Reino de Deus é um dos elementos chave dos ensinamentos de Jesus no Novo Testamento. Jesus promete a inclusão no reino de todos aqueles que aceitarem a sua mensagem. Chama as pessoas a renegar os seus pecados e a dedicarem-se completamente a Deus. Jesus pede aos seus seguidores que não descartem a Lei, embora haja quem considere que ele próprio a tenha infringido, por exemplo na questão do "sabath" (veja Críticas aos fariseus). Por isso, quando questionado sobre qual seria o principal mandamento, Jesus responde: ; continuando: . Entre os diversos ensinamentos de Jesus sobre ética estão amar os inimigos, reprimir o ódio e a luxúria, e oferecer a outra face (). As cerca de trinta parábolas dos evangelhos correspondem a cerca de um terço dos ensinamentos escritos de Jesus. As parábolas na narrativa aparecem com sermões mais longos e em locais diferentes. Muitas vezes apresentam elementos simbólicos e fazem a ponte entre os universos físico e espiritual. Entre os temas mais comuns das parábolas estão a bondade e generosidade de Deus e os riscos da transgressão. Algumas das parábolas, como a do Filho Pródigo (), são relativamente simples, enquanto outras, como a Parábola da Semente (), são de difícil compreensão. Nos textos dos evangelhos, Jesus dedica grande parte do seu ministério à realização de milagres, especialmente curas. O conjunto dos quatro textos regista cerca de 35 ou 36 milagres. Os milagres podem ser classificados em duas categorias principais: milagres de cura e milagres de natureza. Os milagres de cura englobam curas para doenças físicas, exorcismos e ressurreições dos mortos. Os milagres de natureza demonstram o domínio de Jesus sobre a natureza, entre os quais a transformação de água em vinho, o caminhar sobre as águas e a acalmia de uma tempestade. Jesus afirma que os seus milagres têm origem divina. Quando os seus oponentes o acusam de praticar exorcismos com o poder de Satanás, príncipe dos demónios, Jesus responde que os pratica pelo "Espírito de Deus" () ou "Dedo de Deus" (). Em João, os milagres de Jesus são descritos como sinais, realizados com o intuito de demonstrar a sua missão e divindade. No entanto, nos sinópticos, quando lhe é pedido que dê alguns sinais miraculosos para demonstrar a sua autoridade, Jesus recusa. Ainda nos evangelhos sinópticos, é frequente a multidão reagir com deslumbramento e pressioná-lo para curar os doentes. Pelo contrário, o Evangelho de João indica que Jesus nunca foi pressionado pela multidão, e que esta muitas vezes respondia aos milagres com confiança e fé. Uma característica comum em todos os milagres de Jesus no texto dos evangelhos é que eram feitos de livre vontade e nunca por pedido ou a troco de qualquer forma de pagamento. Os episódios que contemplam descrições dos milagres de Jesus muitas vezes também incluem ensinamentos, enquanto os próprios milagres envolvem determinado elemento de ensino. Muitos dos milagres ensinam a importância da fé. Na cura dos leprosos e na ressurreição da filha de Jairo, por exemplo, é dito aos beneficiários que a sua cura se deveu à sua fé. Proclamação de Cristo e Transfiguração. A cerca de metade do texto de cada um dos três Evangelhos, dois episódios relacionados entre si marcam um ponto de charneira na narrativa: a confissão de São Pedro e a Transfiguração de Jesus. Ambos têm lugar perto de Cesareia de Filipe, ligeiramente a norte do mar da Galileia, durante o início da viagem final para Jerusalém que termina na Paixão e Ressurreição de Jesus. Estes eventos marcam o início da revelação progressiva da identidade de Jesus aos seus discípulos e a sua previsão do seu próprio sofrimento e morte. A Confissão de Pedro começa com um diálogo entre Jesus e os seus discípulos em , e . Em Mateus, Jesus pergunta aos discípulos: "E vós, quem dizeis que eu sou?". São Pedro responde "Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo". Jesus responde: "Bem-aventurado és tu, Simão Barjonas, porque to não revelou a carne e o sangue, mas meu Pai, que está nos céus." Com esta bênção, Jesus afirma que os títulos que Pedro lhe atribui são revelados de forma divina, desta forma declarando inequivocamente ser tanto Cristo como o Filho de Deus. O texto da Transfiguração aparece em , e . Jesus leva Pedro e dois apóstolos para uma montanha sem nome, onde se "transfigurou diante deles; e o seu rosto resplandeceu como o Sol, e os seus vestidos se tornaram brancos como a luz". Uma nuvem brilhante aparece à sua volta, ouvindo-se uma voz celestial: "Este é o meu amado Filho, em quem me comprazo; escutai-o." (). A Transfiguração confirma que Jesus é o Filho de Deus (tal como no seu batismo), e o pedido "escutai-o" identifica-o como mensageiro e porta-voz de Deus. Última semana: traição, prisão, julgamento e morte. A descrição da última semana de vida de Jesus, frequentemente chamada semana de Páscoa, ocupa cerca de um terço da narrativa nos evangelhos canónicos, tendo início com a descrição da entrada triunfal em Jerusalém e terminando com a Crucificação. A última semana em Jerusalém é a conclusão da jornada que Jesus iniciou na Galileia e que atravessou Pereia e a Judeia. Pouco antes da entrada em Jerusalém, o Evangelho de João inclui a Ressurreição de Lázaro, a qual aumenta a tensão entre Jesus e as autoridades. Entrada final em Jerusalém. Nos quatro evangelhos canónicos, a entrada final de Jesus em Jerusalém tem lugar durante o início da última semana da sua vida, poucos dias antes da Última Ceia, marcando o início da narrativa da Paixão. Marcos e João identificam o dia da entrada em Jerusalém como sendo domingo, enquanto que Mateus indica que foi uma segunda; Lucas não indica o dia. Depois de deixar Betânia, Jesus monta num burro em direção a Jerusalém. Pelo caminho, a população estende à sua frente capas e pequenos ramos, ao mesmo tempo que canta parte dos . A multidão em ânimo que saudava Jesus ao entrar em Jerusalém ajudou a aumentar a animosidade contra ele por parte das instituições locais. Nos três evangelhos sinópticos, à entrada em Jerusalém segue-se a Purificação do Templo, durante a qual Jesus expulsa os cambistas do templo, acusando-os de o terem tornado um covil de ladrões através das suas atividades comerciais. Este é o único relato de todos os evangelhos em que Jesus recorre a força física. inclui uma narração semelhante decorrida muito mais cedo, pelo que existe debate entre académicos sobre se a passagem se refere ao mesmo episódio. Os sinópticos descrevem uma série de parábolas e sermões bastante conhecidos, como o Tostão da Viúva ou a Profecia da Segunda Vinda, que decorreram ao longo dessa semana. Os sinópticos registam episódios de conflitos entre Jesus e os anciãos judeus durante a Semana Santa, como o da autoridade de Jesus questionada e as críticas aos fariseus, nos quais Jesus os critica e acusa de hipocrisia. Judas Iscariotes, um dos doze apóstolos, aborda os anciãos e negocia o pagamento de uma recompensa de trinta moedas de prata, pela qual se compromete a trair Jesus e a entregá-lo às autoridades. Última Ceia. A Última Ceia é a última refeição que Jesus partilha com os seus doze apóstolos em Jerusalém antes da sua crucificação. A Última Ceia é mencionada nos quatro evangelhos canónicos, sendo também referida na Primeira Epístola aos Coríntios de Paulo (). Durante a refeição, Jesus prevê que um de seus apóstolos o trairá. Apesar de cada apóstolo ter afirmado que não o iria trair, Jesus reitera que o traidor seria um dos presentes. e identificam especificamente Judas como traidor. Nos sinópticos, Jesus reparte o pão pelos discípulos ao mesmo tempo que diz: "Isto é o meu corpo, que por vós é dado; fazei isto em memória de mim." Depois fá-los beber vinho por um cálice, dizendo: "Este cálix é o Novo Testamento no meu sangue, que é derramado por vós." (). O sacramento cristão da Eucaristia baseia-se neste evento. Embora o Evangelho de João não inclua uma descrição do ritual do pão e do vinho durante a Última Ceia, a maior parte dos académicos concorda que o Discurso do Pão da Vida () possui um carácter eucarístico e se relaciona com as narrativas dos evangelhos sinópticos e com os textos de Paulo sobre a Última Ceia. Em todos os evangelhos, Jesus prevê que Pedro negará que o conhece por três vezes antes de o galo cantar na manhã seguinte. Em Lucas e João, a profecia é feita durante a Ceia (, ). Em Mateus e Marcos, a profecia é feita após a Ceia, sendo também profetizado que Jesus será abandonado por todos os seus discípulos (, ). O Evangelho de João oferece o único relato de Jesus a lavar os pés dos discípulos antes da refeição. João também inclui um longo sermão de Jesus, preparando os discípulos (agora sem Judas) para a sua partida. Os capítulos 14 a 17 do Evangelho de João são conhecidos por Discurso de despedida e são uma fonte significativa de conteúdos cristológicos. Agonia no jardim, traição e prisão. Após a Última Ceia, Jesus dá um passeio para rezar, acompanhado pelos discípulos. Mateus e Marcos identificam o local como sendo o jardim do Getsémani, enquanto Lucas o identifica como sendo o Monte das Oliveiras. Judas aparece no jardim acompanhado por uma multidão, entre a qual se encontram clérigos judaicos, anciãos e pessoas armadas. Judas beija Jesus para o identificar à multidão, que então o prende. Tentando impedi-los, um dos discípulos de Jesus empunha uma espada para cortar a orelha de um homem. Lucas afirma que Jesus cura a ferida por milagre, enquanto João e Mateus afirmam que Jesus critica o ato violento, ao mesmo tempo que incentiva os discípulos a não resistir à prisão. Em Jesus afirma: "Todos os que lançarem mão da espada à espada morrerão". Após a prisão de Jesus, os seus discípulos escondem-se e Pedro, quando interrogado, por três vezes nega conhecer Jesus. Após a terceira negação ouve-se o galo cantar e Pedro, ao se lembrar da profecia, chora em amargura. Julgamentos pelo Sinédrio, Herodes e Pilatos. Depois de ser preso, Jesus é levado para o Sinédrio, um corpo jurídico judaico. O texto dos evangelhos difere nos detalhes dos julgamentos. Em , e , Jesus é levado para a casa do sacerdote Caifás, onde é espancado durante a noite. De manhã cedo, os clérigos e escribas levam Jesus ao tribunal. afirma que Jesus é levado primeiro a Anás, sogro de Caifás, e depois ao sumo sacerdote, sem menção ao Sinédrio. Durante os julgamentos, Jesus pouco fala, não articula nenhuma defesa e responde de forma vaga às questões dos clérigos, o que leva um oficial a esbofeteá-lo. Em , a falta de resposta de Jesus leva a que Caifás lhe pergunte: "Não respondes coisa alguma ao que estes depõem contra ti?". Em o sumo sacerdote pergunta a Jesus: "És Tu o Cristo, Filho do Deus Bendito?" Jesus responde "Eu o sou", e em seguida profetiza a vinda do Filho do Homem. Esta provocação faz com que Caifás se irrite e rasgue a própria túnica, acusando Jesus de blasfémia. Em Mateus e Lucas, a resposta de Jesus é mais ambígua. Em responde: "Tu o disseste", e em diz: "Vós dizeis que eu sou". Ao levar Jesus para o tribunal de Pilatos, os anciãos pedem ao governador que julgue e condene Jesus, acusando-o de se proclamar o Rei dos Judeus. O uso do termo "rei" é essencial na discussão entre Jesus e Pilatos. Em Jesus declara: "O meu reino não é deste mundo", mas não nega inequivocamente ser o Rei dos Judeus. Em Pilatos apercebe-se de que Jesus é um galileu, estando portanto na jurisdição de Herodes. Pilatos envia Jesus a Herodes para ser julgado, mas este mantém o silêncio face às perguntas de Herodes. Herodes e os seus soldados escarnecem Jesus, vestem-lhe um manto luxuoso para o fazer parecer um rei, e o levam de volta a Pilatos, que reúne os anciãos e anuncia que não considera este homem culpado. De acordo com um costume da época, Pilatos permite que a multidão escolha um prisioneiro para ser libertado. Dá a escolher entre Jesus e um assassino chamado Barrabás. Persuadida pelos anciãos (), a multidão escolhe libertar Barrabás e crucificar Jesus. Pilatos escreve um sinal onde se lê: "Jesus Nazareno Rei dos Judeus", abreviado para INRI nas representações do tema, para ser afixado na cruz de Jesus (), e em seguida flagela e envia Jesus para ser crucificado. Os soldados colocam-lhe na cabeça uma coroa de espinhos, ridicularizando-o como Rei dos Judeus, e espancando-o antes de o levarem para o Calvário para ser crucificado. Crucificação e deposição. A crucificação de Jesus é descrita nos quatro evangelhos canónicos. Depois dos julgamentos, Jesus é levado para o Calvário carregando a cruz. O caminho que se pensa ter sido usado é conhecido por Via Dolorosa. Os três evangelhos sinópticos indicam que Simão de Cirene foi obrigado pelos romanos a ajudar Jesus. Em Jesus diz às mulheres no meio da multidão que o segue para não chorarem por ele, mas por si próprias e pelas suas crianças. No Calvário, oferecem a Jesus um preparado analgésico. De acordo com Mateus e Marcos, Jesus recusa. Os soldados crucificam Jesus e removem a sua roupa. Acima da sua cabeça na cruz estava a inscrição de Pilatos, "Jesus Nazareno Rei dos Judeus", ridicularizado por soldados e pessoas que passavam a pé. Jesus é crucificado entre dois ladrões condenados, um dos quais ataca Jesus, enquanto outro o defende. Os soldados romanos partem as pernas a ambos os ladrões, uma técnica usada para acelerar a morte na cruz, mas não chegam a partir as de Jesus, uma vez que este já se encontra morto. Em , um soldado perfura Jesus com uma lança, de cuja ferida brota água. Em , quando Jesus morre, a cortina pesada do Templo volve-se e um terramoto abre os túmulos. Aterrorizado pelo evento, um centurião romano afirma que Jesus era de facto o Filho de Deus. No mesmo dia, José de Arimateia, com a permissão de Pilatos e a ajuda de Nicodemus, remove o corpo de Jesus da cruz, envolve-o em roupas lavadas e enterra-o num túmulo de pedra talhada. Em , no dia seguinte os judeus pedem a Pilatos para o túmulo ser selado com uma pedra e vigiado, de modo a assegurar que o corpo aí permaneça. Ressurreição e ascensão. O texto do Novo Testamento sobre a ressurreição de Jesus afirma que no primeiro dia da semana após a crucificação (geralmente interpretado como sendo o domingo), o seu túmulo é descoberto vazio e que os seus discípulos o encontram ressuscitado dentre os mortos. Os discípulos chegam ao túmulo de manhã cedo e encontram um ou dois seres (homens ou anjos) vestidos com túnicas brancas. e indicam que Jesus aparece primeiro a Maria Madalena, e afirma que ela é uma dos mirróforos (na tradição oriental) ou das Três Marias (na ocidental). Depois de descobrirem o túmulo vazio, Jesus realiza uma série de aparições aos discípulos. Entre elas está a Dúvida de Tomé e a aparição na estrada aos Emaús, em que Jesus encontra dois discípulos. A segunda pesca milagrosa é um milagre no mar da Galileia, após o qual Jesus encoraja Pedro a servir os seus seguidores. Antes de ascender ao Céu, Jesus instrui os discípulos a espalhar a palavra sobre os seus ensinamentos em todas as nações do mundo. afirma que Jesus é então levado ao Céu. O relato da ascensão é elaborado em e mencionado em . Nos Atos, quarenta dias depois da Ressurreição, quando os discípulos olham para cima, encontram Jesus elevado, tendo sido levado por uma nuvem. afirma que Jesus foi levado para o Céu e é agora a mão direita de Deus. Os Atos dos Apóstolos descrevem várias aparições de Jesus em visões após a sua Ascensão. descreve uma visão vivenciada por Santo Estêvão pouco antes de morrer. Na estrada para Damasco, o apóstolo Paulo é convertido ao cristianismo depois da visão de uma luz ofuscante e de ter ouvido uma voz dizer: "Eu sou Jesus, a quem tu persegues" (). Em , Jesus instrui Ananias de Damasco a curar Paulo. É o último diálogo com Jesus citado na Bíblia até ao Livro da Revelação, no qual um homem chamado João vivencia uma revelação de Jesus sobre os últimos dias. Perspetiva histórica. Até ao Iluminismo os evangelhos eram geralmente vistos como relatos históricos precisos, tendo a partir de então surgido interrogações sobre a sua fiabilidade por parte de académicos e a distinção clara entre o Jesus descrito nos evangelhos e o Jesus na História. A partir do começam a ter lugar três vertentes de pesquisa académica sobre o Jesus histórico, cada uma com diferentes características e com base em diferentes critérios de investigação, os quais são muitas vezes elaborados durante a investigação que os aplica. Os académicos têm vindo a estudar e debater uma série de questões no que diz respeito ao Jesus histórico, como a sua existência, origem, fiabilidade histórica dos evangelhos e de outras fontes e um retrato preciso da figura histórica. Existência. A teoria do mito de Cristo, que questiona a existência de Jesus e a veracidade dos relatos sobre ele, apareceu no . Alguns dos apoiantes argumentam que Jesus é um mito inventado pelos primeiros cristãos, salientando a inexistência de quaisquer referências escritas a Jesus durante a sua vida e a relativa escassez de referências fora do contexto cristão durante o . Ao longo do , académicos como George Albert Wells, Robert M. Price e Thomas Brodie têm apresentando vários argumentos que apoiam a teoria do mito de Cristo. No entanto, na atualidade praticamente todos os académicos que estudam a Antiguidade concordam que Jesus existiu e encaram determinados eventos, como o seu batismo e crucificação, como factos históricos. Robert E. Van Voorst e Michael Grant afirmam que os investigadores bíblicos e historiadores clássicos veem as teorias da inexistência de Jesus como efetivamente refutadas. Em resposta ao argumento de que a inexistência de fontes contemporâneas significa que Jesus não existiu, Van Voorst afirmou que "tal como é do conhecimento de qualquer estudante de História", tais argumentos pelo silêncio são "particularmente perigosos" e geralmente fracassam, a não ser que um facto seja conhecido pelo autor e relevante o suficiente para ser mencionado no contexto de um documento. Bart D. Ehrman argumenta que embora Jesus tenha tido um enorme impacto em gerações futuras, o seu impacto na sociedade do seu tempo foi praticamente nulo. Seria portanto insensato esperar que existissem textos contemporâneos das suas ações. Ehrman refere que argumentos baseados na inexistência de evidências físicas ou arqueológicas de Jesus ou de quaisquer textos sobre ele são fracos, uma vez que também não existem tais evidências de "praticamente ninguém que tenha vivido durante o ". Teresa Okure escreveu que a existência de figuras históricas é estabelecida pela análise de referências que lhes sejam posteriores, e não por relíquias ou restos contemporâneos. Diversos académicos referem o perigo de usar tais argumentos pela ignorância e geralmente consideram-nos inconclusivos ou falaciosos. Douglas Walton afirma que argumentos pela ignorância são capazes de levar a conclusões apenas em casos onde se assume que toda a nossa base de conhecimento está completa. Entre as fontes fora do contexto cristão para determinar a existência histórica de Jesus está a obra dos historiadores do Josefo e Tácito. Louis H. Feldman, investigador de Josefo, afirmou que "poucos duvidaram da autenticidade" da referência de Josefo a Jesus no livro 20 de "Antiguidades Judaicas", e tal facto é disputado apenas por um número muito reduzido de académicos. Tácito refere-se a Cristo e à sua execução por Pilatos no livro 15 da sua obra "Anais". Os académicos geralmente consideram que a referência de Tácito à execução de Jesus seja simultaneamente autêntica e de valor histórico enquanto fonte independente romana. Historicidade dos eventos. A abordagem à reconstituição histórica da vida de Jesus varia entre as abordagens maximalistas do , nas quais os relatos dos evangelhos eram aceites como evidências fiáveis sempre que possível, e as abordagens minimalistas do início do , nas quais era muito difícil qualquer coisa sobre Jesus ser aceite como histórica. Na década de 1950, à medida que toma lugar a segunda procura pelo Jesus histórico, a abordagem minimalista vai desaparecendo até que, no , minimalistas como Price são uma pequena minoria. Embora a crença na infalibilidade dos evangelhos não possa ser sustentada em termos históricos, muitos académicos desde a década de 1980 sustentam que, para além dos poucos factos que se considera serem historicamente válidos, há outros elementos da vida que Jesus que são "historicamente prováveis". A pesquisa académica sobre o Jesus histórico moderna foca-se então na identificação dos elementos mais prováveis. A maior parte dos académicos contemporâneos considera que o batismo e a crucificação de Jesus são inequivocamente factos históricos. James Dunn afirma que são factos quase universalmente aceites e que "se classificam tão alto na escalada dos factos históricos dos quais é impossível duvidar ou renegar" que são quase sempre o ponto de partida para o estudo do Jesus histórico. Os académicos citam o critério do embaraço, afirmando que os primeiros cristãos não teriam inventado a morte dolorosa do seu líder, ou um batismo que pudesse implicar que Jesus teria cometido pecados dos quais se quisesse arrepender. Os académicos usam uma série de critérios para julgar a autenticidade histórica dos eventos, como o critério de coerência, a confirmação por múltiplas fontes e o critério de descontinuidade. A historicidade de um evento depende também da fiabilidade da fonte. Marcos, o primeiro evangelho a ser escrito, é geralmente considerado o mais fiável em termos históricos. João, o último evangelho escrito, difere consideravelmente dos evangelhos sinópticos, sendo por isso considerado o menos fiável. Por exemplo, muitos académicos não consideram que a Ressurreição de Lázaro seja histórica devido, em parte, a ser apenas mencionada em João. Amy-Jill Levine refere que existe algum consenso nos traços gerais da biografia de Jesus, e que a maior parte dos académicos concorda que Jesus foi batizado por João Batista, debateu com as autoridades judaicas o tema de Deus, curou algumas pessoas, ensinou através de parábolas, angariou seguidores e foi crucificado por ordem de Pilatos. Retratos de Jesus. A investigação moderna sobre o Jesus histórico não produziu ainda um perfil unificado da figura histórica, devido em parte à diversidade de abordagens entre os académicos. Ben Witherington afirma que "existem agora tantos retratos do Jesus histórico como existem pintores académicos". Bart Ehrman e Andreas Köstenberger argumentam que, dada a escassez de fontes históricas, é difícil para qualquer académico construir um perfil de Jesus para além dos elementos básicos da sua biografia que possa ser considerado válido em termos históricos. Os perfis de Jesus construídos muitas vezes diferem entre si e da imagem retratada nos evangelhos. Os perfis mais divulgados na investigação contemporânea podem ser agrupados segundo a forma principal como Jesus é retratado: se um profeta apocalíptico, um curandeiro carismático, um filósofo cínico, o verdadeiro Messias ou um profeta de mudanças sociais igualitárias. Cada um destes tipos tem uma série de variantes, e alguns académicos rejeitam os elementos básicos de alguns perfis. No entanto, os atributos descritos em cada um dos perfis por vezes sobrepõem-se, e os investigadores que discordam de alguns atributos por vezes concordam com outros. Língua, alfabetização, etnia e aparência. Jesus cresceu na Galileia, sendo nessa região que grande parte do seu ministério teve lugar. Entre as línguas faladas na Galileia e Judeia durante o estão o aramaico, hebraico e grego, sendo o aramaico predominante. A maior parte dos académicos concorda que, no início do século, o aramaico era a língua-mãe de praticamente todas as mulheres na Galileia e Judeia. A maior parte dos académicos apoia a teoria de que Jesus falava aramaico, podendo também ter falado hebraico e grego. Dunn afirma que há um consenso substancial de que Jesus tenha pregado em aramaico. Os académicos estão divididos quanto a questão da alfabetização de Jesus porque é uma questão ambígua. Alguns acham que ele provavelmente conhecesse o alfabeto e pudesse discernir algumas palavras, talvez até assinasse seu nome, mas não conseguiria ler e escrever. Outros académicos acham que Jesus pudesse ler e, talvez, escrever, mas não com um nível de proficiência esperado de um escriba profissional. Uma linha de evidência é contextual, se baseando em generalizações dos índices de alfabetização no Império Romano. Novamente a opinião dos académicos é muito variada. Desde a conclusão de que os índices eram baixos (5% ou menos), até a conclusão de que os índices de alfabetização eram altos, principalmente entre homens judeus. Craig A. Evans acredita que os mandamentos e tradições em textos judeus como a Torá ; o "Testamento de Levi" ; Josefo em "Contra Apion" que incentivam e atestam o estimulo ao estudo; e também o fato de Jesus ser chamado de "mestre" ("rabi" em hebraico ou "raboni" em aramaico), pois provavelmente alguém "iletrado" não receberia esse título; além de outros fatores: "inclina a balança definitivamente em favor da conclusão de que Jesus era letrado". Os académicos modernos concordam que Jesus foi um judeu que viveu na Palestina durante o . No entanto, no contexto contemporâneo o termo "judeu" ("Ioudaios" no grego do Novo Testamento) pode referir-se tanto à religião judaica, como à etnia judaica, como a ambas. Numa revisão do estado da arte do conhecimento contemporâneo, Levine escreve que toda a questão da etnia está "carregada de questões difíceis" e que "para além de reconhecer que «Jesus era judeu», raramente a investigação esclarece o que significa «ser judeu»". O Novo Testamento não fornece nenhuma descrição da aparência física de Jesus antes da sua morte, sendo na generalidade indiferente à questão da raça e nunca se referindo aos traços das pessoas que menciona. O Livro do Apocalipse descreve numa visão as feições de Jesus glorificado (), mas a visão refere-se a Jesus numa forma divina, já depois da sua morte e ressurreição. Provavelmente, Jesus assemelhar-se-ia a qualquer judeu seu contemporâneo e, de acordo com alguns investigadores, seria provável que fosse magro e de aparência musculada devido ao seu estilo de vida itinerante e ascético, com pele escura, cabelo curto, olhos castanhos e uma pequena barba. James H. Charlesworth afirma que o rosto de Jesus era "provavelmente de tez escura e bronzeada" e que a sua estatura "pode ter sido de 1,65 a 1,70 m". Arqueologia. Apesar da inexistência de vestígios arqueológicos que sejam indubitavelmente associados a Jesus, a investigação no tem-se interessado cada vez mais por recorrer à arqueologia de modo a obter maior compreensão do contexto socioeconômico e político da vida de Jesus. Charlesworth afirma que hoje em dia poucos investigadores seriam capazes de ignorar algumas descobertas arqueológicas que fornecem dados sobre o quotidiano da Galileia e Judeia durante a época de Jesus. Jonathan Reed afirma que a principal contribuição da arqueologia para o estudo do Jesus histórico é a reconstrução do seu mundo social. David Gowler afirma que o estudo interdisciplinar com recurso a arqueologia, análise textual e contexto histórico pode esclarecer determinados aspetos sobre Jesus na História. Um exemplo são as investigações arqueológicas em Cafarnaum, uma cidade bastante referida no Novo Testamento, mas da qual se fornecem poucos detalhes. No entanto, as evidências arqueológicas recentes mostram que, ao contrário do que se acreditava, Cafarnaum era pequena e relativamente pobre, e nem sequer tinha um fórum ou ágora. Esta descoberta arqueológica apoia a perspectiva académica de que Jesus advogava a partilha de riqueza entre os mais desfavorecidos naquela região da Galileia. Perspetivas religiosas. À exceção dos seus próprios discípulos e seguidores, os judeus contemporâneos de Jesus rejeitavam a crença de que ele pudesse ser o Messias, tal como é ainda rejeitada hoje em dia pela grande maioria dos judeus. Ao longo dos séculos, Jesus tem sido tema de amplo debate e inúmeras publicações por parte de teólogos, concílios ecuménicos e reformistas. As denominações cristãs e cismas são muitas vezes definidas ou caracterizadas em função da descrição que apresentam de Jesus. Ao mesmo tempo, Jesus tem um papel proeminente entre crentes de outras religiões, como os maniqueístas, gnósticos e muçulmanos. Perspetivas cristãs. Jesus é a figura central do cristianismo. Embora entre os cristãos haja diferentes pontos de vista sobre Jesus, é possível resumir as crenças partilhadas entre as principais denominações de acordo com os seus textos. Os pontos de vista cristãos sobre Jesus têm origem em várias fontes, entre as quais os evangelhos canónicos e cartas do Novo Testamento, como as epístolas paulinas e os documentos joaninos. Estes documentos resumem as crenças fundamentais sobre Jesus por parte dos cristãos, incluindo a sua divindade, humanidade e vida terrena, e que é Cristo e o Filho de Deus. Apesar de partilharem grande parte das crenças, nem todas as denominações cristãs concordam com todas as doutrinas, e existem várias diferenças entre si em termos de crença e ensinamentos que persistiram ao longo dos séculos. O Novo Testamento afirma que a ressurreição de Jesus é o fundamento da fé cristã (). Os cristãos acreditam que pela sua morte e ressurreição, os seres humanos se podem reconciliar com Deus, sendo-lhes oferecida salvação e a promessa de vida eterna. Recordando as palavras de João Batista a seguir ao batismo de Jesus, estas doutrinas por vezes denominam-no Cordeiro de Deus, por ter sido sacrificado para cumprir o seu papel enquanto servo de Deus. Jesus é assim visto como o novo e último Adão, cuja obediência contrasta com a desobediência de Adão. Os cristãos veem Jesus como um modelo de vida, sendo encorajados a imitar a sua vida focada em Deus. Muitos cristãos acreditam que Jesus foi ao mesmo tempo humano e o Filho de Deus. Embora a sua natureza seja alvo de debate teológico, Os cristãos trinitários acreditam que Jesus é o Logos, a encarnação de Deus e Deus, o Filho, simultaneamente divino e humano. No entanto, a doutrina da Trindade não é universalmente aceite entre os cristãos, sendo rejeitada por denominações como A Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, as Testemunhas de Jeová ou a Ciência Cristã. Os cristãos veneram não apenas Jesus, mas também o seu nome. A devoção ao Santo Nome de Jesus remonta aos primeiros dias do cristianismo. Estas devoções e comemorações existem tanto no cristianismo ocidental como no oriental. Perspetivas judaicas. A corrente dominante do judaísmo rejeita a proposta de Jesus ser Deus, um mediador de Deus, ou parte de uma Trindade. Argumenta que Jesus não é o Messias por não ter nem realizado as profecias messiânicas do "Tanach", nem apresentar as qualificações pessoais do Messias. Jesus não teria cumprido as profecias por não ter construído o Terceiro Templo (), não ter feito regressar os judeus a Israel (), não ter trazido a paz mundial () nem ter unido a humanidade sob o Deus de Israel (). De acordo com a tradição judaica, não houve qualquer profeta após Malaquias, que enunciou as profecias no . Um grupo denominado judaísmo messiânico considera Jesus o Messias, embora seja disputado se este grupo corresponde ou não a uma seita do judaísmo. A crítica do judaísmo a Jesus é de longa data. O Novo Testamento afirma que Jesus foi criticado pelas autoridades judaicas do seu tempo. Os fariseus e escribas criticavam Jesus e os seus discípulos por não respeitarem a Lei de Moisés, por não lavarem as mãos antes das refeições (, ) e por apanharem cereais durante o sabat (, ). O Talmude, escrito e compilado entre os séculos III e , inclui narrativas que alguns consideram ser relatos de Jesus. Numa dessas narrativas, "Yeshu ha-nozri" ("Jesus, o Cristão") é executado por um tribunal judaico por promover idolatria e praticar magia. Há um amplo espectro de opiniões entre académicos no que respeita a estas narrações. A maioria dos historiadores contemporâneos consideram que este material não oferece qualquer informação do Jesus histórico. A "Mishné Torá", uma obra de lei judaica escrita por Maimónides em finais do , afirma que Jesus é uma "força de bloqueio" que "faz com que a maioria do mundo peque e sirva outro deus que não o verdadeiro". Perspetiva islâmica. O islão considera Jesus ("Issa") um mensageiro de Deus (Alá) e o Messias ("al-Masih") enviado para guiar as tribos de Israel ("bani isra'il") através de novas escrituras, o Evangelho ("Injil"). Os muçulmanos não reconhecem a autenticidade do Novo Testamento e acreditam que a mensagem original de Jesus foi perdida, sendo mais tarde reposta por Maomé. A crença em Jesus, e em todos os outros mensageiros de Deus, faz parte dos requisitos para ser um muçulmano. O Alcorão menciona o nome de Jesus vinte e cinco vezes, mais do que o próprio Maomé, e enfatiza que Jesus foi também um ser humano mortal que, tal como todos os outros profetas, foi escolhido de forma divina para divulgar a mensagem de Deus. No entanto, o islão considera que Jesus nem é a encarnação nem o Filho de Deus. Os textos islâmicos sublinham a noção estrita de monoteísmo ("tawhid") e proíbem a associação de elementos a Deus, o que seria considerado idolatria. O Alcorão afirma que o próprio Jesus nunca alegou ser divino, e profetiza que durante o julgamento final, Jesus negará ter alguma vez alegado tal (Alcorão 5:116). Tal como todos os profetas do islão, Jesus é considerado um muçulmano, acreditando-se que tenha pregado que os seus seguidores deveriam prosseguir um modo de vida correto, conforme ordenado por Deus. O Alcorão não menciona José, mas descreve a Anunciação a Maria ("Mariam"), na qual um anjo a informa de que daria à luz Jesus ao mesmo tempo que permaneceria virgem. O nascimento virginal é descrito como milagre realizado pela vontade de Deus. O Alcorão (21:91 e 66:12) afirma que Deus soprou o Seu Espírito a Maria enquanto era ainda casta. No islão, Jesus é denominado "Espírito de Deus" por ter nascido através da ação do Espírito, embora essa crença não inclua a doutrina da Sua preexistência, como acontece no cristianismo. Os muçulmanos acreditam que Jesus foi o último profeta enviado por Deus para guiar os Israelitas. Para o auxiliar no seu ministério entre os judeus, Deus teria dado permissão a Jesus para realizar milagres. Jesus é visto como precursor de Maomé e os muçulmanos acreditam que previu a sua chegada. Os muçulmanos negam que Jesus tenha sido crucificado, que tenha ressuscitado dos mortos ou que se tenha sacrificado pelos pecados da Humanidade. De acordo com a tradição muçulmana, Jesus não foi crucificado, mas foi erguido fisicamente por Deus para o Paraíso. A Comunidade Ahmadi acredita que Jesus foi um mortal que sobreviveu à sua própria crucificação e morreu de causas naturais aos 120 anos em Caxemira. A maior parte dos muçulmanos acredita que Jesus regressará à Terra pouco depois do Juízo Final para derrotar o Anticristo ("dajjal"). Outras perspetivas. No sincretismo das religiões africanas com o catolicismo, no Brasil, a imagem de Jesus foi associada no Candomblé ao orixá Oxalá, o maior de todos no panteão desta religião; o sincretismo também vale para a imagem de "Jesus Menino", equivalente à personificação de Oxalá quando jovem, em Oxaguiã. A fé bahá'í considera Jesus uma manifestação de Deus, um conceito para profetas, e aceita Jesus enquanto Filho de Deus. Seus textos confirmam muitos, mas não todos, os aspetos do Jesus retratado nos evangelhos. Os crentes acreditam no nascimento virginal e na crucificação, mas interpretam a ressurreição e os milagres de Jesus como meramente simbólicos. Alguns hinduístas consideram que Jesus seja um avatar ou um "sadhu" e enumeram várias semelhanças entre os ensinamentos de Jesus e os do hinduísmo. Paramahansa Yogananda, um guru hinduísta, afirmou que Jesus foi a reencarnação de Eliseu e aluno de João Batista, reencarnação de Elias. Alguns budistas, entre os quais Tenzin Gyatso, XIV Dalai Lama, veem Jesus como um bodisatva que dedicou a vida ao bem-estar do próximo. Na perspetiva espírita, Jesus é o modelo humano de perfeição, segundo diz Allan Kardec em "O Livro dos Espíritos". Para a doutrina espírita, Jesus veio com a missão divina de cumprir a lei, que fora anteriormente revelada por Moisés (primeira e segunda revelações); ele, contudo, não disse tudo, e foi completado pela "terceira revelação": o Espiritismo. Kardec examina a natureza do Cristo nas Obras Póstumas, onde é taxativo: afirma que as discussões sobre a natureza corpórea do Cristo teriam sido as causas dos principais cismas da Igreja, e que isso refutaria todos os fundamentos para o dogma da divindade de Jesus, razão pela qual a crença na "Trindade" não tem qualquer embasamento no Espiritismo. A Teosofia, a partir da qual derivam muitos textos "new age", refere-se a Jesus como Mestre Jesus e acredita que Cristo, depois de várias reencarnações, ocupou o corpo de Jesus. A cientologia reconhece Jesus (a par de outras figuras religiosas como Zaratustra, Maomé e Buda) como parte da sua herança religiosa. No gnosticismo, hoje em dia uma religião praticamente extinta, Jesus foi enviado do reino divino para oferecer o conhecimento secreto essencial para a salvação (gnose). A maior parte dos gnósticos acreditavam que Jesus era um humano que foi possuído pelo espírito de Cristo no momento do batismo. O espírito abandonou o corpo de Jesus durante a crucificação, porém mais tarde ressuscitou o corpo do mundo dos mortos. No entanto, alguns gnósticos eram docéticos, acreditando que Jesus não teve qualquer corpo físico, apenas aparentando ter um. O maniqueísmo, uma seita gnóstica, aceitava Jesus enquanto profeta, a par de Siddhartha Gautama e Zaratustra. O ateísmo rejeita a divindade de Jesus, embora muitos ateus tenham sobre ele uma perspetiva positiva; Richard Dawkins, por exemplo, refere-se a Jesus como um excelente mestre de moral, afirmando em seu livro "The God Delusion" que Jesus é uma figura louvável pois sua ética não é derivada da escritura bíblica. Entre os críticos de Jesus estão Celso no e Porfírio, o qual escreveu uma obra em quinze volumes na qual criticava o cristianismo no seu todo. No , Nietzsche foi um dos mais críticos em relação a Jesus, cujos ensinamentos considerava serem antinaturais no que diz respeito a tópicos como a sexualidade. Já no , Bertrand Russell escreveu em "Why I Am Not a Christian" que Jesus "claramente não era assim tão sábio como outras pessoas foram, e com certeza não era superlativamente sábio". Relíquias associadas a Jesus. A destruição total que se seguiu ao cerco de Jerusalém pelos romanos em fez com que os artigos sobreviventes da Judeia do primeiro século se tornassem extremamente raros e com que praticamente não existam registos da história do judaísmo na última parte do e ao longo de todo o . Margaret M. Mitchell afirma que embora Eusébio de Cesareia relate que os primeiros cristãos tenham deixado Jerusalém para se instalar em Pela pouco antes da sua destruição, deve-se aceitar que não tenham chegado até nós artigos cristãos em primeira mão sobreviventes do período inicial da Igreja de Jerusalém. No entanto, ao longo da história do cristianismo são várias as alegações de relíquias atribuídas a Jesus, às quais estão sempre associadas dúvidas e controvérsias. No , o teólogo Erasmo de Roterdão escreveu de forma satírica acerca da proliferação de relíquias e dos edifícios que poderiam ser construídos com a quantidade de madeira que se alegava ter pertencido à cruz usada durante a Crucificação. De igual modo, enquanto os teólogos debatem se Jesus foi crucificado com três ou quatro pregos, por toda a Europa continuam a ser veneradas as relíquias de pelo menos trinta pregos da cruz. Algumas relíquias, como os alegados vestígios da coroa de espinhos, são visitados apenas por um reduzido número de peregrinos, enquanto outras, como o Sudário de Turim (o qual está associado com a devoção católica aprovada da Santa Face de Jesus) são veneradas por milhões de pessoas, entre as quais os papas João Paulo II e Bento XVI. Não existe consenso académico sobre a autenticidade de qualquer relíquia atribuída a Jesus. Representação na arte. Apesar da falta de referências na Bíblia ou de registos históricos, a representação de Jesus ao longo dos séculos tem assumido diversas formas e características, muitas vezes influenciada pelo contexto cultural, político e teológico. Ao longo do , não existiu praticamente qualquer arte figurativa na Judeia romana, dada a adesão rigorosa àquilo que é indicado por um dos Dez Mandamentos: "Não farás para ti imagem de escultura, nem figura alguma" (). No entanto, a partir do a interpretação deste mandamento passa a ser mais tolerante, o que proporciona o aparecimento das primeiras representações figurativas na sinagoga de Dura Europo e uma das primeiras representações de Jesus na igreja de Dura Europo, ambas datadas de um período anterior a 256. No entanto, é nas catacumbas romanas que se encontra o mais significativo espólio sobrevivente até aos nossos dias. A Oriente, a iconoclastia bizantina, que nos séculos VIII e IX proibiu o uso da figura humana em temas religiosos, foi um fator de resistência ao progresso artístico. A Transfiguração foi um dos principais temas na arte cristã oriental, e qualquer monge que se iniciasse na pintura de ícones deveria fazer prova da sua mestria com um ícone sobre esse tema. O Renascimento colocou em destaque uma série de artistas que se focaram em representações de Jesus, entre os quais Giotto e Fra Angelico. A Reforma Protestante trouxe consigo movimentos que defendiam a abolição da representação gráfica de figuras religiosas, embora a proibição total tenha sido rara e as objeções tenham diminuído após o . Embora evitem imagens de grande dimensão, hoje em dia poucos protestantes se opõem a representações de Jesus em livros. Por outro lado, o uso de representações de Jesus é defendido pelos líderes religiosos católicos e anglicanos e é um elemento-chave na tradição Ortodoxa oriental.
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Jakob Wassermann
Jakob Wassermann Jakob Wassermann (Fürth, 10 de março de 1873 — Altaussee, 1 de janeiro de 1934) foi um escritor e novelista alemão. Vida. Nascido em Fürth, Wassermann era filho de um lojista e perdeu a mãe muito cedo. Ele mostrou interesse literário cedo e publicou várias peças em pequenos jornais. Como seu pai estava relutante em apoiar suas ambições literárias, ele começou um aprendizado de curta duração com um empresário em Viena após a formatura. Ele completou seu serviço militar em Würzburg. Depois, ele ficou no sul da Alemanha e em Zurique. Em 1894 mudou-se para Munique. Aqui ele trabalhou como secretário e mais tarde como editor de texto no jornal "Simplicissimus". Nessa época ele também se familiarizou com outros escritores como Rainer Maria Rilke, Hugo von Hofmannsthal e Thomas Mann. Em 1896 ele lançou seu primeiro romance, "Melusine" (seu sobrenome significa "homem da água" em alemão, enquanto um "Melusine" (ou "Melusina") é uma figura de lendas e folclore europeus, um espírito feminino de águas frescas em fontes sagradas e rios). A partir de 1898 foi crítico de teatro em Viena. Em 1901 casou-se com Julie Speyer, de quem se divorciou em 1915. Três anos depois, casou-se novamente com Marta Karlweis. Depois de 1906, alternou entre Viena e Altaussee na Estíria. Em 1926, foi eleito para a Academia Prussiana de Artes. Ele renunciou em 1933, evitando por pouco a expulsão pelos nazistas. No mesmo ano, seus livros foram proibidos na Alemanha devido à sua ascendência judaica. Ele morreu em 1 de janeiro de 1934 em sua casa em Altaussee de um ataque cardíaco. O trabalho de Wassermann inclui poesia, ensaios, romances e contos. Suas obras mais importantes são consideradas o romance "The Maurizius Case" ("Der Fall Maurizius", 1928) e a autobiografia, "My Life as German and Jew" ("Mein Weg als Deutscher und Jude", 1921), nas quais discutiu a tensa relação entre seu identidades judaicas.
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James Clerk Maxwell
James Clerk Maxwell James Clerk Maxwell (Edimburgo, — Cambridge, ) foi um físico e matemático escocês. É mais conhecido por ter dado forma final à teoria moderna do eletromagnetismo, que une a eletricidade, o magnetismo e a óptica, algo que ficou conhecido como a "segunda grande unificação na física". Esta é a teoria que surge das equações de Maxwell, assim chamadas em sua honra e porque foi o primeiro a escrevê-las juntando a lei de Ampère, modificada por Maxwell, a lei de Gauss, e a lei da indução de Faraday. Maxwell demonstrou que os campos elétricos e magnéticos se propagam com a velocidade da luz. Apresentou uma teoria detalhada da luz como um efeito eletromagnético, isto é, que a luz corresponde à propagação de ondas elétricas e magnéticas, hipótese que tinha sido posta por Michael Faraday. Foi demonstrado em 1864 que as forças elétricas e magnéticas têm a mesma natureza: uma força elétrica em determinado referencial pode tornar-se magnética se analisada noutro, e vice-versa. Ele também desenvolveu um trabalho importante em mecânica estatística, estudou a teoria cinética dos gases e descobriu a distribuição de Maxwell-Boltzmann. Seu trabalho em eletromagnetismo foi a base da relatividade restrita de Einstein e o seu trabalho em teoria cinética de gases fundamental ao desenvolvimento posterior da mecânica quântica. Biografia. Primeiros anos. James Clerk Maxwell nasceu em 13 de junho de 1831 na Rua India, 14, em Edimburgo, filho de John Clerk Maxwell, um advogado, e Frances Maxwell O pai de Maxwell era um homem com confortáveis meios financeiros, aparentado com a família Clerk de Penicuik, Midlothian, os titulares do baronato de Clerk de Penicuik, sendo seu irmão o sexto barão. Nascera John Clerk, adicionando o sobrenome Maxwell ao seu próprio depois de ter herdado uma propriedade rural em Middlebie, Kirkcudbrightshire, a partir das conexões com a família de Maxwell, eles próprios membros do pariato. Os pais de Maxwell não se conheceram e se casaram até que tivessem passado dos trinta anos, o que era incomum para a época. Sua mãe, Frances Maxwell, tinha quase 40 quando James nasceu. Eles tinham tido anteriormente uma criança, uma filha, Elizabeth, que morrera na infância. Chamaram seu único filho sobrevivente de James, um nome que tinha sido usado não só pelo seu avô, mas também por muitos outros de seus ancestrais. Seus pais John Clerk Maxwell e Frances Maxwell possuíam extensas terras no campo escocês, onde Maxwell cresceu. Sua mãe adoeceu, provavelmente com cancro, e morreu em 1839. Aos 10 anos de idade, Maxwell foi para escola em Edimburgo. Publicou seu primeiro artigo aos quatorze anos, num trabalho incentivado pela necessidade do artista e decorador D. R. Hay de construir uma figura oval "perfeita" (artisticamente e matematicamente). Nessa época, Maxwell redescobriu as ovais de Descartes. Elas já tinham sido estudadas anteriormente por Descartes, mas Maxwell também as generalizou para mais de dois focos. Desconhecendo o trabalho de Descartes, a originalidade do trabalho de Maxwell foi a forma simples apresentada por ele para resolver o problema de desenhá-las, e a definição de uma classe mais geral de curvas (que agora são por vezes chamadas de "curvas de Maxwell"). Três do quatro artigos seguintes foram sobre geometria. "On the Theory of Rolling Curves" (Sobre a teoria das curvas rolantes), de 1848, estuda a geometria diferencial de curvas geradas como a cicloide, com uma figura rolando sobre outra. O artigo de 1853 foi uma curta investigação sobre óptica geométrica, e este trabalho levou à descoberta da lente "olho-de-peixe". O terceiro trabalho dessa época, "Transformation of Surfaces by Bending" (Transformação de superfícies por dobramento), ampliação de um trabalho iniciado por Gauss. O único artigo desse período a abordar apenas física foi "On the Equilibrium of Elastic Solids" (Sobre o equilíbrio de sólidos elásticos), escrito em 1850, pouco antes da ida para Cambridge. Em 1847 matriculou-se na universidade de Edimburgo, pensando que aí teria mais possibilidade de vir a ser cientista do que em uma universidade mais prestigiosa, como por exemplo, Cambridge, onde também fora aceito. Na universidade de Edimburgo, graduou-se em Filosofia Natural (como era nessa época denominada a Física), Filosofia Moral e Filosofia Mental. Em 1850 foi estudar matemática na Universidade de Cambridge, mais precisamente no Trinity College. É nesta época que Maxwell inicia o seu estudo das equações do eletromagnetismo, que continuaria praticamente toda a sua vida. Em 1854 graduou-se, entre os melhores estudantes do seu ano, e imediatamente depois apresenta um brilhante artigo à "Sociedade Filosófica de Cambridge" com o título "On the Transformation of Surfaces by Bending", um dos poucos artigos puramente matemáticos que escreveu. Vida adulta. Em 1856 Maxwell se tornou professor em Aberdeen, e casa-se aos 27 anos com Katherine Clerk Maxwell, com quem nunca teve filhos. De 1855 a 1872 publicou com intervalos uma série de investigações sobre a percepção da cor e o daltonismo pela qual receberia a medalha Rumford da Royal Society no ano de 1860. Em 1859 recebeu o prémio Adams por um artigo sobre a estabilidade dos anéis de Saturno, em que demonstra que estes não podem ser completamente sólidos nem fluidos. A estabilidade destes anéis implica que eles têm de ser constituídos por numerosas pequenas partículas sólidas. Do mesmo modo provou que o sistema solar não podia ser formado pela condensação de uma nébula puramente gasosa, mas que esta nébula tinha que conter também pequenas partículas sólidas. Foi também nesta época que Maxwell fez os seus trabalhos mais importantes em física estatística, tendo generalizado o trabalho iniciado por Clausius em que este punha a hipótese de que um gás era formado por moléculas que se movem a uma certa velocidade e que vão mudando de velocidade ao chocar entre si. Maxwell considerou que as partículas se tinham que mover a diferentes velocidades e estudou a distribuição da velocidade destas. Em 1868 a continuação deste trabalho feita por Boltzmann daria origem à chamada distribuição de Maxwell-Boltzmann e ao campo da mecânica estatística. Em 1860 foi nomeado professor no "King's College" de Londres e em 1861 foi eleito membro da "Royal Society". Durante este período investigou temas em elasticidade e em geometria pura, mas também prosseguiu os seus estudos em visão e óptica, tendo por exemplo demonstrado que se pode produzir uma fotografia a cores utilizando filtros vermelho, verde e azul e sobrepondo as três imagens assim obtidas (ver ao lado imagem da primeira fotografia a cores na história, obtida por este método). Após a morte de seu pai, em 1865, Maxwell se aposentou para cuidar das terras da família. Nesta época faz importantes contribuições à física experimental, realizando com a sua esposa uma série de experiências sobre a viscosidade dos gases, em que demonstraram por exemplo que a viscosidade de um gás é independente da sua densidade. Maxwell tinha como hábito trabalhar ao mesmo tempo em vários assuntos, com intervalos longos entre artigos sucessivos no mesmo campo. Por exemplo, seis anos se passaram entre o primeiro e o segundo de seus artigos sobre eletricidade (1855, 1861), doze anos entre o segundo e o terceiro artigos mais notáveis sobre teoria cinética (1867, 1879). Importância. Maxwell é geralmente lembrado como o cientista do século XIX a ter mais influência sobre a física do século XX e o responsável por contribuições básicas nos modelos naturais, sendo considerado uma ponte entre a matemática e a física. Poucos anos após a morte de James Clerk Maxwell, seus trabalhos científicos foram aceitos mundialmente a partir de suas explorações sobre eletromagnetismo. Em 1931, comemorando o centenário do nascimento de Maxwell, descrevendo seu trabalho Albert Einstein disse "o mais profundo e frutífero que a física descobriu desde Newton". Medicina. Sua pesquisa sobre a natureza do espectro eletromagnético foi de fundamental importância, posteriormente, para o emprego dos raios X e da ressonância magnética na Medicina. Maxwell mostrou, a partir de suas equações, que era possível encontrar uma equação da onda para descrever a propagação do campo elétrico e outra para o campo magnético. Contribuindo assim para a medicina atual, que utiliza desse conhecimento para cada vez mais se revolucionar. Contribuições no ramo da biofísica. Ótica. Por sempre possuir interesses na percepção de cores pelo olho humano, Maxwell, usando sua invenção do filtro de cores triplo (que mais tarde resultaria no sistema RGB), desvendou informações sobre o daltonismo, mostrando que esse problema provém da ausência de um dos três receptores de cores no nervo ótico (vermelho, verde ou azul). Reologia. Apesar de não haver registros sobre pesquisas de Maxwell diretamente ligadas a fluidos corporais, seus estudos diretamente causaram impacto na reologia, majoritariamente em estudos referentes à biofísica voltada ao corpo humano, pois seu pioneirismo em tópicos relativos à viscosidade e à elasticidade de materiais proveu grande ajuda nos estudos de fluidos corporais, como o sangue. Últimos anos. Em 1870 publicou o livro "A teoria do calor", que dá forma final à termodinâmica moderna e será enormemente influente na física do século XX, e em 1871 inventou o conceito de Demônio de Maxwell, para demonstrar que a segunda lei da termodinâmica, que diz que a entropia nunca decresce, tem um carácter estatístico. Neste ano ainda aceita dirigir o novo Laboratório Cavendish, em Cambridge. Ele mesmo supervisionou a construção do edifício e a compra de todos os aparelhos científicos. Professor Cavendish de Física, de 1871 a 1879, tinha acabado de estabelecer o laboratório como centro de excelência científica quando morreu. Durante este período, Maxwell preparou zelosamente a publicação das investigações completas de Henry Cavendish, incluindo os seus estudos de eletricidade, o que viria a ser a sua última importante contribuição para a ciência. Em 1873 Maxwell publicou o "Tratado sobre Eletricidade e Magnetismo", livro que continha todas as suas ideias sobre este tema e que condensa todo o trabalho que foi fazendo ao longo dos anos. Ele estava preparando uma revisão abrangente deste tratado com as suas novas descobertas neste tema quando morreu em Cambridge prematuramente de cancro do abdômen. Foi enterrado em Parton Kirk, na Escócia.
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James Maxwell
James Maxwell
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Companhia de Jesus
Companhia de Jesus A Companhia de Jesus (, "S. J."), cujos membros são conhecidos como jesuítas, é uma ordem religiosa fundada em 1534 por um grupo de estudantes da Universidade de Paris, liderados pelo basco Íñigo López de Loyola, conhecido posteriormente como Santo Inácio de Loyola. A Congregação foi reconhecida por bula papal em 1540. É hoje conhecida principalmente por seu trabalho missionário e educacional. Em 2023, conta com aproximadamente 16 mil integrantes. História. Inácio de Loyola, de origem nobre, foi ferido em combate na defesa da fortaleza de Pamplona contra os franceses em 1521. Durante o período de convalescença dedicou-se à leitura do "Flos Sanctorum", após o que decidiu-se a desprezar os bens terrenos em busca dos sobrenaturais. No santuário de Monserrat fez a sua 'vigília d'armas' e submeteu-se a uma confissão geral. Abandonou a indumentária fidalga substituindo-a pela dos mendicantes. Retirando-se para a gruta de Manresa ali entregou-se a rigorosas penitências e escreveu a sua principal obra o "Livro de Exercícios Espirituais", admirável sobretudo por não ter ainda o autor conhecimentos teológicos acadêmicos. Em 15 de agosto de 1534, Inácio e seis outros estudantes (o francês Pedro Fabro, os espanhóis Francisco Xavier, Alfonso Salmerón, Diego Laynez, e Nicolau de Bobadilla e o português Simão Rodrigues) encontraram-se na Capela dos Mártires, na colina de Montmartre, e fundaram a Companhia de Jesus — para "desenvolver trabalho de acompanhamento hospitalar e missionário em Jerusalém, ou para ir aonde o papa nos enviar, sem questionar". Nesta ocasião fizeram os votos de pobreza e castidade. Inácio de Loyola escreveu as constituições jesuítas, adotadas em 1554, que deram origem a uma organização rigidamente disciplinada e guerreira, como se de uma primitiva ordem de cavalaria se tratasse, enfatizando a absoluta abnegação e a obediência ao Papa e aos superiores hierárquicos ("perinde ac cadaver", "disciplinado como um cadáver", nas palavras de Inácio). O seu grande princípio tornou-se o lema dos jesuítas: "Ad maiorem Dei gloriam" ("Para a maior glória de Deus"). Acompanhado por Fabro e Laynez, Inácio viajou até Roma, em outubro de 1538, para pedir ao papa a aprovação da ordem. O plano das Constituições da Companhia de Jesus foi examinado por Tomás Badia, mestre do Sacro Palácio, e mereceu sua aprovação. A congregação de cardeais, depois de algumas resistências, deu parecer positivo à constituição apresentada. Em 27 de setembro de 1540 Paulo III confirmou a nova ordem através da bula "Regimini militantis Ecclesiae," que integra a "Fórmula do Instituto", onde está contida a legislação substancial da ordem, cujo número de membros foi limitado a 60. A limitação foi porém posteriormente abolida pela bula "Injunctum nobis" de 14 de março de 1543. O papa Paulo III autorizou que fossem ordenados padres, o que sucedeu em Veneza, pelo bispo de Rab, em 24 de junho. Devotaram-se inicialmente a pregar e em obras de caridade em Itália. A guerra reatada entre o imperador, Veneza, o papa e os turcos seljúcidas tornava qualquer viagem até Jerusalém pouco aconselhável. Inácio de Loyola foi escolhido para servir como primeiro superior geral. Enviou os seus companheiros e missionários para vários países europeus, com o fim de criar escolas, liceus e seminários. Obra inicial. A Companhia de Jesus foi fundada no contexto da Reforma Católica (também chamada de Contrarreforma). Os jesuítas fazem votos de obediência total à doutrina da Igreja Católica, tendo Inácio de Loyola declarado: A companhia logo se espalhou muito. Em Portugal, D. João III pediu missionários e lhe foram enviados Simão Rodrigues, que fundou a província, e S. Francisco Xavier, que foi enviado ao Oriente. Na França tiveram a proteção do Cardeal de Guise. Na Alemanha, os primeiros foram Pedro Faber e Pedro Canísio e outros, que foram apoiados pela casa da Baviera, logo dirigiram colégios, ensinaram em universidades e fundaram congregações. A causa das perseguições contra a companhia costuma ser sua íntima união com a Santa Sé, a universalidade do apostolado e a firmeza de princípios. Os jesuítas alcançaram grande influência na sociedade nos períodos iniciais da Idade Moderna (séculos XVI e XVII), frequentemente eram educadores e confessores dos reis dessa altura — D. Sebastião de Portugal, por exemplo. A Companhia de Jesus teve atuação de destaque na Reforma Católica, em parte devido à sua estrutura relativamente livre (sem os requerimentos da vida na comunidade nem do ofício sagrado), o que lhes permitiu uma certa flexibilidade de ação. Em algumas cidades alemãs os jesuítas tiveram relevante papel. Algumas cidades, como Munique e Bona, por exemplo, que inicialmente tiveram simpatia por Martinho Lutero, ao final permaneceram como bastiões católicos — em grande parte, graças ao empenho e vigor apostólico de padres jesuítas. Organização. São membros da ordem os professos, os escolásticos e os coadjutores. Os professos devem ser doutores e, além dos três votos comuns têm o de obediência ao papa. O geral, os provinciais, assistentes e os professores de teologia devem ser professos. O geral, além dos assistentes, tem ainda o admoestador. O órgão superior de administração é a Congregação Geral na qual tomam parte todos os professos eleitos por suas províncias. Os assistentes são eleitos pelas províncias e o geral é vitalício. A companhia possui casas de professos, colégios, residências e missões. O vestuário depende do lugar onde moram, não têm hábito próprio. Não há a obrigação do ofício de côro. Após quinze anos de vida religiosa proferem os últimos votos; devem passar dois anos de noviciado, três de filosofia, alguns de magistério, quatro de teologia, e um segundo noviciado que é chamado de terceiro ano de aprovação. Como em todas as ordens religiosas da Igreja Católica, os jesuítas também têm a prática do retiro espiritual, mas de modo especial praticam os Exercícios Espirituais de Santo Inácio. Expansão. Em Portugal, o caráter de milícia era evidente, acabando a Companhia por se tornar a arma mais poderosa da Contrarreforma. D. João III, aconselhado por Diogo de Gouveia, solicitou a Loyola o envio de irmãos para a evangelização do Oriente. Ainda em 1540, chegam a Portugal o basco Francisco Xavier (depois São Francisco Xavier) e o português Simão Rodrigues. Este permaneceu no reino e aquele partiu para o Oriente em missão evangélica, chegando ao Ceilão e às "Molucas" em 1548, e à China em 1552. As missões iniciais no Japão tiveram como resultado a concessão aos jesuítas de um enclave feudal em Nagasaki, em 1580. No entanto, o receio em relação a crescente influência da ordem fez com que esse privilégio fosse abolido no ano de 1587. Os jesuítas penetraram no Reino do Congo (1547), em Marrocos (1548) e na Etiópia (1555). Simão Rodrigues, enquanto isso, criara a primeira casa em Portugal, em 1542, concretamente o Colégio de Santo Antão o Velho, em Lisboa, logo se seguindo outros — em Coimbra (1542), Évora (1551) e de novo Lisboa (1553). Em 1555, foi-lhes entregue o Colégio das Artes em Coimbra e, em 1559, a Universidade de Évora. Em 1560 recebem em doação o Colégio de São Paulo, em Braga, por D. Frei Bartolomeu dos Mártires. Logo muitos poderosos passaram a querer jesuítas como confessores. O jesuíta António de Andrade, padre e explorador português, é o primeiro europeu a visitar o Tibeteː em 1624 chega a Tsaparang a capital do reino tibetano de Guge. Outros missionários jesuítas Gruber e D'Orville chegaram a Lassa em 1661. Na América do Sul. Desde 1549, chegara ao Brasil (Bahia) o primeiro grupo de seis missionários liderados por Manuel da Nóbrega, trazidos pelo governador-geral Tomé de Sousa. Certamente a maior obra jesuítica em terras brasileira consistiu na fundação de São Paulo de Piratininga em torno do seu famoso colégio, ponto de origem da expansão territorial e da colonização do interior do país, que hoje é a cidade mais populosa do continente americano, do Hemisfério Sul e a quinta mais populosa do mundo. As missões jesuítas na América Latina foram controversas na Europa, especialmente na Espanha e em Portugal, onde eram vistas como interferência na ação dos reinos governantes. Os jesuítas opuseram-se várias vezes à escravidão indígena. Eles fundaram uma série de aldeamentos missionários — chamados missões ou "misiones" no sul do Brasil, ou ainda "reducciones", no Paraguai — organizados de acordo com o ideal católico, que, mais tarde, acabaram sendo destruídos por espanhóis, e principalmente por portugueses, à cata de escravos. Segundo o historiador Manuel Maurício de Almeida, desde o fim do século XVI houve expansão hispano-jesuítica a partir de "Asunción" (Assunção) no atual Paraguai, em três frentes pioneiras: As missões na América do Sul eram unidades de produção autossuficientes, com relação de produção do tipo feudal. Cada família cultivava em regime de posse individual e coletiva porções de terra. A retribuição era sempre representada por produtos, realizados coletivamente ("tupambaé", "parte de Deus") ou nas terras de posse familiar ("abambaé","parte das pessoas"). O que era reservado à reprodução do sistema econômico, ou comércio, constituía "tabambaé" ou "parte da aldeia". Havia um cabido rudimentar, presidido por um corregedor indígena eleito pela comunidade. A ideologia religiosa era católica. Com a ocupação dos portos negreiros na África, São Jorge da Mina, São Tomé e São Paulo de Luanda, pelos holandeses, o apresamento de índios se expandiu na segunda metade do século XVII para muito além das vizinhanças do planalto de Piratininga, força de trabalho escrava mais lucrativa — principalmente Guairá. Autoridades espanholas favoreceram mesmo, na vigência da União Ibérica, a destruição das missões. Em 30 de julho de 1609, uma lei de Filipe III declarou livres todos os índios. Sob influência da Companhia de Jesus, a escravidão era proibida mas se mantinha sobre eles a jurisdição dos jesuítas. Houve reclamações tamanhas, por se ter desordenado a economia da colônia, principalmente do Rio de Janeiro e de São Paulo, que a Coroa retrocedeu, por lei de 10 de janeiro de 1611 ao regime anterior, os escravos sendo prisioneiros de guerra justa. Foi sempre a principal causa dos conflitos entre o povo e os jesuítas. Atuação no Brasil. Os jesuítas chegaram ao Brasil em 1549 liderados por Manoel de Nóbrega e começaram sua catequese erguendo um colégio em Salvador da Bahia, fundando a Província Brasileira da Companhia de Jesus. Cinquenta anos mais tarde já tinham colégios pelo litoral, de Santa Catarina ao Ceará. Quando o marquês de Pombal os expulsou, em 1760, eram 670 por todo o país, distribuídos em aldeias, missões, colégios e conventos. Os primeiros jesuítas que Ignacio enviou para a América foram o espanhol José de Anchieta e o português Manuel da Nóbrega. A supressão da ordem. As tendências anticristãs do século XVIII dirigiram contra a Congregação dos Jesuítas grandes combates, por julgá-la o mais forte baluarte da Santa Sé. A par de algumas queixas políticas mais ou menos fundadas, a Companhia suscitava ódios em razão da bem-sucedida luta contra os jansenistas; oposição ao galicanismo e a consequente adesão do Papa. Além disto, tinha posição destacada nas cortes com professores, pregadores e confessores e um certo predomínio científico manifestado tanto nos colégios como nas publicações. Em Portugal, o rei D. José I tinha por ministro Sebastião José de Carvalho e Melo, marquês de Pombal, que na convicção que os jesuítas eram obstáculo aos seus planos, resolveu dar-lhes combate culpando-os da crise nos Sete Povos das Missões com os indígenas, mandou prender a todos no Brasil e os meteu em cárcere em Portugal sem que tivessem defesa e de onde só puderam sair em 1777, com a ascensão de D. Maria I ao trono: dos 9.460 encarcerados só restavam uns 800. Em Portugal e nas Cortes Borbónicas, muitos Jesuítas foram presos ou mesmo condenados a suplícios, como é o caso do padre Gabriel Malagrida, acusado no processo dos Távoras. Outros ingressaram no clero secular ou em outras ordens. Na França, os jansenistas, galicanos e voltaireanos já havia muito queriam exterminar a Companhia, para isto valeram-se do caso do Pe. La Valette. Este era procurador de uma casa de jesuítas na Martinica e deu-se a especulações comerciais contra todas as regras da ordem, pelo que dela foi expulso. No entanto, como devia pessoalmente grande soma, atribuíram a dívida à Companhia que se negou a pagar. O assunto foi ao parlamento que deu a alternativa: ou a Ordem se reconhecia culpada das acusações ou os jesuítas seriam exilados. Apesar dos protestos do episcopado francês e do próprio Papa, Luís XV também expulsou a Companhia da França em 1764. Foram promotores da expulsão o ministro absolutista Choiseul e madame Pompadour, cuja escandalosa presença na corte francesa era repudiada pelo Pe. Perisseau, confessor do rei. Em Espanha, o ministro de Carlos III, Aranda, intrigou os jesuítas com o rei acusando-os de defenderem a independência das colônias e de levantarem dúvida sobre a legitimidade do nascimento do rei. Carlos III mandou prender a todos os jesuítas em 1767 com a Pragmática Sanção. Por mais que o papa pedisse, o rei nunca lhe apresentou as razões do decreto. Em Nápoles, o ministro Tanucci era mais forte que Fernando IV. Depois de dois anos de perseguição os desterrou para os Estados Pontifícios. Em Parma o marquês Tillot imperava tiranicamente: aos pedidos do papa respondeu com a expulsão dos jesuítas em 1768. No mesmo ano o grão-mestre dos cavalheiros de Malta os desterrou da ilha. Essas cortes juntaram-se na pressão sobre o Papado para suprimir a Companhia, ao que resistiu Clemente XIII. O papa Clemente XIV, seu sucessor, embora bem intencionado, era indeciso e fraco, cedendo às pressões dos reis e principalmente da Espanha — através da bula Dominus ac Redemptor — "obtida quase à força pelo embaixador espanhol Moniño, órgão central de quase todas as maquinações antijesuíticas, no período da supressão —" suprimiu oficialmente a Companhia em 21 de julho de 1773. O Superior Geral da Companhia, Lorenzo Ricci, juntamente com os seus assistentes, foi feito prisioneiro no Castelo de Sant'Angelo, em Roma, sem julgamento prévio. Os demais foram obrigados a deixar a Ordem ao que obedeceram. Como papa Clemente XIV deixou a critério dos soberanos a publicação da bula, a czarina Catarina a Grande os conservou na Rússia e usou a ocasião para atrair para o seu país os membros da Companhia, gente de grande erudição, o mesmo se deu com Frederico da Prússia, na Silésia. Na altura da supressão havia cinco assistências, 39 províncias, 669 colégios, 237 casas de formação, 335 residências missionárias, 273 missões e membros. Restauração. Depois de suprimida pelo papa Clemente XIV em julho de 1773, a Companhia de Jesus manteve-se na Rússia. Nessa altura milhões de católicos, incluindo numerosos jesuítas, viviam nas províncias polacas da Rússia. Aí a companhia manteve intensa actividade religiosa, de ensino e de missionação. Deste modo, o papa Pio VI autorizou formalmente a existência da Companhia de Jesus na Polónia e Rússia, o que levou os jesuítas a elegerem Stanislaus Czerniewicz como seu superior em 1782. Em 1814, mudadas as cortes europeias pelas Guerras Napoleônicas, o papa Pio VII viu-se em condições de restaurar a companhia, o que fez no dia 7 de agosto daquele ano em Roma, entregando a bula da restauração encíclica "Sollicitudo omnium ecclesiarum" aos velhos padres ainda existentes e ali reunidos. O superior geral Thaddeus Brzozowski, que havia sido eleito em 1805, adquiriu então jurisdição universal. A Companhia de Jesus foi derrubada e levantou-se. Durante os séculos XIX e XX, a Companhia de Jesus voltou a crescer enormemente até os anos 50 do século XX, quando atingiu o pico. Desde aí, seguindo a quebra de vocações na Igreja Católica, o número de jesuítas também tem vindo a decrescer. Os jesuítas hoje. Em 2009, a Companhia de Jesus era o instituto religioso masculino mais numeroso na Igreja Católica. Contava com membros com uma média de idades de 57 anos, sendo que eram sacerdotes, irmãos, jesuítas em formação e eram noviços. A sua distribuição fazia-se por 127 países dos cinco continentes, sendo os Estados Unidos e a Índia os países com maior número de jesuítas. A companhia caracteriza-se pela sua forte ligação com a educação, com numerosos estabelecimentos de ensino, inclusive de nível superior. No Brasil, as universidades Católica do Rio de Janeiro, Católica de Pernambuco, do Vale do Rio dos Sinos, no Rio Grande do Sul, Centro Universitario FEI, em São Paulo, a Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia (FAJE), a EMGE - Escola de Engenharia e a Escola de Direito Dom Helder, em Belo Horizonte, pertencem à Ordem. No Brasil, os Jesuítas também dispõem de uma revista eletrônica: o domtotal.com Em 2023 a Companhia de Jesus tem em Portugal dois colégios, estão em nove cidades com os seus 147 membros espalhados por 12 comunidades. Após o Concílio Vaticano II, sob a direção do superior geral Pedro Arrupe, a Companhia de Jesus privilegiou a defesa dos direitos humanos o que levou alguns dos seus membros a serem rotulados como subversivos e perseguidos. Tal foi o caso de seis jesuítas mortos pelo exército salvadorenho a 16 de novembro de 1989 no campus universitário da Universidade da América Central, em San Salvador. A 31 de outubro de 1991, a Província Portuguesa da Companhia de Jesus foi feita membro-honorário da Ordem da Instrução Pública. Em 13 de março de 2013, Jorge Mario Bergoglio tornou-se o primeiro papa jesuíta da Igreja Católica. A 14 de outubro de 2016, Arturo Sosa Abascal foi eleito para suceder a Adolfo Nicolás como 31º Superior Geral da Companhia de Jesus, o que foi logo reconhecido pelo Papa Francisco. Os jesuítas vítimas do Holocausto. Nove padres jesuítas foram formalmente reconhecidos como heróis do Holocausto pelo Yad Vashem, a autoridade israelita em favor da memória dos mártires e heróis do Holocausto, por levarem a cabo todos os esforços possíveis para salvar e dar asilo a judeus durante a Segunda Grande Guerra Mundial. Jesuítas célebres. Os jesuítas estão presentes, desde a primeira hora, nos novos mundos que se abrem à atividade missionária da época. São Francisco Xavier percorre a Índia, Indonésia, Japão e chega às portas da China; João Nunes Barreto e Andrés de Oviedo empreendem a fracassada missão da Etiópia; Padre Manuel da Nóbrega, São José de Anchieta e muitos outros ajudaram a fundar as primeiras cidades do Brasil: Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro, com exceção de São Vicente, Cananeia e Itanhaém, que lhes são anteriores. Os chamados Quarenta Mártires do Brasil (liderados pelo Beato Inácio de Azevedo) foram outros religiosos jesuítas de grande relevância na evangelização do Brasil. De enorme importância na evangelização da China, tem-se o caso do bem-aventurado Matteo Ricci. A cidade de Anchieta tem sua origem ligada à aldeia de Iriritiba, também chamada Reritiba, termo tupi antigo que significa "ajuntamento de ostras, sambaqui". A aldeia foi fundada pelo padre José de Anchieta em 1561. Por cerca de 500 anos, a Ordem Jesuíta não ocupou lugares no alto clero do Vaticano devido à sua distância em relação a altos cargos na Igreja. O primeiro jesuíta eleito papa foi o argentino Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, eleito em 2013 após a renúncia de Bento XVI. Além de ser o primeiro jesuíta, foi também o primeiro sul-americano no papado. Outras considerações. Acima das inevitáveis ambiguidades, as missões dos jesuítas impressionam pelo espírito de inculturação (adaptação à cultura do povo a quem se dirigem). As Reduções do Paraguai e a adoção dos ritos malabares e chineses são os exemplos mais significativos. A atividade educativa tornou-se logo a principal tarefa dos jesuítas. A gratuidade do ensino da antiga Companhia favoreceu a expansão dos seus colégios. Em 1556, à morte de Santo Inácio, eram já 46. No final do século XVI, o número de colégios elevou-se a 372. A experiência pedagógica dos jesuítas sintetizou-se num conjunto de normas e estratégias, chamado a "Ratio Studiorum" (Ordem dos Estudos), que visa à formação integral do homem cristão, de acordo com a fé e a cultura daquele tempo. Os primeiros jesuítas participaram ativamente da Reforma Católica e do esforço de renovação teológica da Igreja Católica. No Concílio de Trento, destacaram-se dois companheiros de Santo Inácio (Laínez e Salmerón). Desejando levar a fé a todos os campos do saber, os jesuítas dedicaram-se às mais diversas ciências e artes: Matemática, Física, Astronomia. Entre os nomes de crateras da Lua há mais de 30 nomes de jesuítas. No campo do Direito, Suarez e seus discípulos desenvolveram a doutrina da origem popular do poder. Na Arquitetura, destacaram-se muitos irmãos jesuítas, combinando o estilo barroco da época com um estilo mais funcional. Publicações no Japão. Lista dos documentos cristãos (KIRISHITAN-MONO)
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Jean-Pierre Léaud
Jean-Pierre Léaud Jean-Pierre Léaud (Paris, 28 de maio de 1944) é um ator francês. Estreou-se como ator de cinema aos 15 anos, no papel de Antoine Doinel, um alter-ego do realizador francês François Truffaut, em "Os Incompreendidos". Protagonizou mais quatro filmes de Truffaut que mostravam a vida de Doinel, ao longo de um período de 20 anos - ao lado da atriz Claude Jade, como a sua namorada e, depois, esposa. Estes filmes são: "O Amor aos Vinte Anos" (1962), "Beijos Roubados" (1968), "Domicílio Conjugal" (1970) e "Amor em Fuga" (1979). Também participou em filmes de outros realizadores influentes, como Jean-Luc Godard, Bernardo Bertolucci e Olivier Assayas, além de alguns brasileiros, como Cacá Diegues e Glauber Rocha. A 12 de janeiro de 2017, foi feito Comendador da Ordem do Mérito de Portugal.
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João Gonçalves Zarco
João Gonçalves Zarco João Gonçalves Zarco (Portugal Continental, c. 1390 — Funchal, 21 de Novembro de 1471]) foi um navegador português e cavaleiro fidalgo da Casa do Infante D. Henrique. Comandante de barcas, foi escolhido pelo Infante para organizar o povoamento e administrar por si a Ilha da Madeira, na parte do Funchal, a partir de cerca de 1425. Antecedentes e origem do nome. Pouco ou nada se sabe de concreto sobre os antecedentes de Zarco, sendo provável que tenha estado na conquista de Ceuta em 1415, e que os bons serviços prestados então tenham sido decisivos para a sua escolha pelo Infante D. Henrique para liderar o seu projecto de colonização do Arquipélago da Madeira, já conhecido desde meados do século XIV, mas até então despovoado e apenas usado esporadicamente para aguada e descanso das tripulações de navios que ali eventualmente chegavam. Zarco até 1460 aparece documentado como João Gonçalves Zargo, assinando Zargo. Zarco usou o nome e sempre assinou por ele, pelo que é possível que fosse realmente o seu apelido de família. Em 1460 o Rei D. Afonso V atribui armas e o apelido de família Câmara de Lobos a João Gonçalves Zarco, que passa a partir de então a designar-se por João Gonçalves de Câmara, nunca usando, no entanto, o apelido na sua forma composta original. A troca, a partir de 1460, do nome "Zargo" pelo "de Câmara", é uma forte evidência de que Zargo seria, de facto, o seu nome de família. José Freire Monterroio Mascarenhas elaborou uma hipótese genealógica segundo a qual João Gonçalves Zarco poderia ser filho de Gonçalo Esteves Zarco, cavaleiro da casa d'el-rei D. João I, com moradia de 1950 libras, e de D. Beatriz, filha de João Afonso, de Santarém, vedor do mesmo rei e filho de Afonso Guilherme, também de Santarém. Gonçalo Esteves poderia ser filho de Estêvão Pires Zarco, ministro e procurador da Fazenda de D. Dinis, que se dizia "Vogado da casa d'El-Rei", título com o qual assina uma escritura de doação feita em Santarém no último dia de Janeiro de 1323, assinando também a renovação das pazes com Castela em 1327. Estêvão Pires poderia ser filho de Afonso Zarco, Cavaleiro da Ordem de Santiago, Comendador de Ourique e um dos treze eleitores da mesma ordem no ano de 1311. Ainda segundo a mesma hipótese, Afonso Zarco poderia ser filho de Pedro Gonçalves Zarco, morador em Lisboa, neto de Estêvão Gonçalves Zarco, segundo parece morador na mesma cidade, o qual por sua vez poderia ser filho, dado o patronímico, apelido e cronologia, de Gonçalo Zarco, documentado em Tomar no reinado de D. Afonso Henriques. Biografia. Terá participado na tomada de Ceuta em 1415, já ao serviço do Infante D. Henrique, após o que este o terá nomeado comandante de uma embarcação cuja missão era patrulhar a Costa Sul de Portugal, uma vez que eram frequentes, naquele litoral, as razias de piratas da Barbária. Assim, cedo se tornou mestre na arte de marear, reconhecendo, em 1418, a ilha de Porto Santo e, no ano seguinte (1419), a ilha principal do que é hoje o arquipélago da Madeira. João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira reconheceram o arquipélago da Madeira em 1418, presumindo-se que terão sido arrastados para a ilha de Porto Santo quando se preparavam para explorar a costa da África e atingir a Guiné, numa viagem a mando do Infante. Regressados a Portugal, os navegadores persuadiram D. Henrique das vantagens de estabelecer na ilha recém-descoberta uma colónia permanente, e a ela regressaram, desta vez acompanhados de Bartolomeu Perestrelo, levando cereais e coelhos. Estes últimos proliferaram ao ponto de se tornarem uma praga. De Porto Santo, o navegador passou à Ilha da Madeira, a cuja colonização o Infante D. Henrique deu início em 1425. Confirmando uma situação de facto, o Infante concedeu a João Gonçalves, em 1450, a Capitania do Funchal. Na qualidade de homem da casa do Infante, Zarco participou no cerco de Tânger, onde foi armado cavaleiro, em 1437. A 4 de Julho de 1460, por concessão de D. Afonso V (1438-1481) em Santarém, Zarco passou a usar o apelido Câmara, derivado de Câmara de Lobos, designação atribuída pelo navegador a um local da Ilha da Madeira onde descobriu grande quantidade daqueles animais. Casou-se com Constança Rodrigues, com quem teve sete descendentes (três varões e quatro damas). Os seus descendentes mantiveram o sobrenome Câmara e aboliram o de Lobo. Diz o cronista que: Faleceu em idade avançada, sendo sepultado no Funchal, na Capela de Nossa Senhora da Conceição, que ele próprio mandara edificar em 1430, muito embora o mausoléu tenha sido demolido, por razões de espaço, em 1768, a pedido da abadessa do "Convento de Santa Clara", no qual fora, entretanto, integrada a pequena capela quatrocentista. Casamento e descendência. Foi casado com Constança Rodrigues, de quem teve:
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John Steinbeck
John Steinbeck John Ernst Steinbeck, Jr. (/ˈstaɪnˌbək/; Salinas, 27 de fevereiro de 1902 — Nova Iorque, 20 de dezembro de 1968) foi um escritor estadunidense. As suas obras principais são " A Leste do Paraíso" (PT) ou " A Leste do Éden" (BR) (East of Eden, 1952) e "As Vinhas da Ira" (The Grapes of Wrath, 1939). Foi membro da Ordem DeMolay. Recebeu o Nobel de Literatura de 1962. Biografia. Ainda muito jovem, por influência dos pais, leu Dostoiévski, Milton, Flaubert e George Eliot. Terminou o curso secundário no Salinas High School, em 1919. No ano seguinte, ingressou na Universidade de Stanford, exercendo várias profissões para custear os estudos. Em 1925, empregou-se no jornal American de Nova Iorque, e vasculhou a cidade em busca de um editor para seus livros ainda não escritos. Estreou na literatura com A Taça de Ouro (1929), biografia romanceada do bucaneiro Henry Morgan, já marcada por seu característico estilo alegórico. Publicou em seguida "Pastagens do céu" (1932) e "A Um Deus Desconhecido" (1933). Esses primeiros livros não lhe asseguraram a profissionalização como escritor. Em 1935 firmou-se como autor de prestígio com Boêmios Errantes, que recebeu a medalha de ouro do Commonwealth Club de São Francisco como melhor livro californiano do ano. Os três mais importantes romances de Steinbeck foram escritos entre 1936 e 1938: "Luta Incerta" (1936), descreve uma greve de trabalhadores agrícolas na Califórnia; "Ratos e Homens" (1937), que seria transportado para o cinema e para o teatro, analisa as complexas relações entre dois trabalhadores migrantes; "As Vinhas da Ira" (1939), considerado sua obra-prima, conta a exploração a que são submetidos os trabalhadores itinerantes e sazonais, através da história da família Joad, que migra para a Califórnia, atraída pela ilusória fartura da região. Essa trágica odisseia recebeu o Prémio Pulitzer de Ficção e foi levada à tela por John Ford em 1940. A obra de Steinbeck inclui ainda "Caravana de Destinos" (1944), "A Pérola" (1945/47), "O Destino Viaja de Ônibus" (1947), "Doce Quinta-feira" (1954), "O Inverno de Nossa Desesperança" (1961), "Viagens com Charley" (1962). Steinbeck teve 17 de suas obras adaptadas para filme por Hollywood. Alcançou também grande sucesso como escritor para filmes, tendo sido indicado em 1944 ao Óscar de melhor história* pelo filme "Um Barco e Nove Destinos" (Lifeboat) de Alfred Hitchcock.
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Kurt Gödel
Kurt Gödel Kurt Friedrich Gödel (Brünn, 28 de abril de 1906 — Princeton, 14 de janeiro de 1978) foi um filósofo, matemático e lógico austríaco, naturalizado norte-americano. Considerado, ao lado de Aristóteles, Alfred Tarski e Gottlob Frege, um dos mais importantes lógicos da história, Gödel causou um imenso impacto no pensamento científico e filosófico no século XX, época em que nomes como Bertrand Russell, Alfred North Whitehead, e David Hilbert analisavam o uso da lógica e da teoria dos conjuntos como instrumento para compreender os fundamentos da matemática de Georg Cantor. Gödel publicou seus dois teoremas da incompletude em 1931, aos 25 anos, um ano depois de terminar seu doutorado na Universidade de Viena. O primeiro teorema da incompletude afirma que, para qualquer sistema axiomático recursivo autoconsistente capaz de descrever a aritmética dos números naturais (como, por exemplo, o axioma de Peano), há proposições naturais verdadeiras que não podem ser provadas a partir dos axiomas. Para provar esse teorema, Gödel desenvolveu uma técnica agora conhecida como numeração de Gödel, que codifica expressões formais como números naturais. Gödel também mostrou que tanto o axioma da escolha quanto a hipótese do continuum não podem ser refutados a partir de axiomas aceitos na teoria dos conjuntos, assumindo que esses axiomas são consistentes. O primeiro resultado possibilitou que os matemáticos assumissem o axioma na escolha de suas provas. Ele também fez contribuições importantes para a teoria da prova, esclarecendo as conexões entre a lógica clássica, a lógica intuicionista e a lógica modal. Vida. Kurt Friedrich Gödel (em alemão, pronuncia-se ) nasceu em Brünn, província austro-húngara da Morávia (hoje Brno, na República Tcheca), em uma família de ascendência alemã, filho de Rudolf Gödel, um gerente de fábrica têxtil e Marianne Gödel (nascida Handschuh). Na época de seu nascimento, a população da cidade falava em sua maioria a língua alemã, e esta era a língua de seus pais. Os ancestrais de Kurt Gödel foram muitas vezes ativos na vida cultural em Brno. Por exemplo, seu avô Joseph Gödel foi um cantor famoso da época e durante alguns anos um membro da "Brünner Männergesangverein". Kurt era conhecido na família como "Der Herr Warum" ("Sr. Por quê?"), por conta do grande número de perguntas que fazia. Segundo o seu irmão, Kurt teve uma infância feliz, mesmo sendo tímido e se aborrecendo facilmente. Foi batizado duas semanas após seu nascimento como protestante luterano, segundo a religião da mãe, tendo Friedrich Redlich como padrinho e inspiração para seu segundo nome. A primeira guerra mundial não o atingiu diretamente, Brünn estava bem distante das zonas de batalha. Mas, em 1918, com o estabelecimento da Tchecoslováquia como nação, houve um isolamento da minoria que falava alemão na cidade. Kurt renunciaria em 1929 à cidadania tcheca, tornando-se austríaco oficialmente. Em 1923 concluiu, com louvor, o curso fundamental na escola alemã de Brünn e embora tivesse excelente talento para linguagens, ele se aprofundou em História e Matemática. Seu interesse pela Matemática aumentou em 1920, quando acompanhou Rudolf, seu irmão mais velho, que fora para Viena cursar a Escola de Medicina da Universidade de Viena. Em sua adolescência, estudou Goethe, o manual de Gabelsberger, a teoria das cores de Isaac Newton e as "Críticas" de Kant. Estudo em Viena. Embora inicialmente pretendesse estudar Física Teórica, aos 18 anos, ele frequentou cursos de Matemática e Filosofia, conseguindo logo o mestrado em Matemática. Nessa época ele adotou as ideias do realismo matemático. Leu os "Princípios Metafísicos da Ciência da Natureza" ("Metaphysische Anfangsgrunde Der Naturwissenschaft"), de Kant, e participou do Círculo de Viena juntamente com Moritz Schlick, Hans Hahn, e Rudolf Carnap. Kurt estudava a teoria dos números quando participou de um seminário com Moritz Schlick sobre a "Introduction to Mathematical Philosophy", de Bertrand Russell, e interessou-se imediatamente pela lógica matemática. Nessa época de grande atividade, conhece sua futura esposa, Adele Nimbursky (nascida Porkert, 1899–1981), que, na época, trabalhava como cantora e dançarina em um cabaré vienense, "Der Nachtfalter". Adele era divorciada e seis anos mais velha do que ele. Os pais de Gödel se opuseram ao relacionamento, razão pela qual eles só viriam a se casar dez anos depois. Começa a publicar escritos sobre lógica e frequenta aulas de David Hilbert, em Bolonha, sobre a completude e consistência de sistemas matemáticos. Em 1929, Gödel tornou-se cidadão austríaco e completou sua dissertação para doutoramento sob a supervisão de Hans Hahn, onde estabeleceu a completude do cálculo de predicados de primeira ordem, também conhecido como Teorema da completude de Gödel. Trabalho em Viena. Em 1930 obteve um doutorado e produziu uma versão combinada de seus escritos sobre a completude, a qual foi publicada pela Academia de Ciências de Viena. Em 1931 publicou seu famoso teorema da incompletude, "Über formal unentscheidbare Sätze der Principia Mathematica und verwandter Systeme". Neste escrito ele demonstrou que qualquer sistema matemático axiomático, suficiente para incluir a aritmética dos números naturais, necessariamente: Estes dois teoremas encerraram centenas de anos de tentativas de estabelecer um conjunto completo de axiomas que possibilitassem deduzir toda a Matemática como os "Principia Mathematica" ou no formalismo de Hilbert. Isso também implica que um computador jamais possa ser programado para responder todas as questões matemáticas. Em 1932 foi diplomado pela Universidade de Viena e, em 1933, tornou-se "Privatdozent" (docente não remunerado). A ascensão de Adolf Hitler ao poder não afetou diretamente a vida de Gödel em Viena, pois ele não tinha interesse em política. Entretanto, após o assassinato de Schlick por um estudante nazista, Gödel ficou muito chocado e teve sua primeira crise depressiva. Visita à América do Norte. Nesse mesmo ano de 1933, viajou para os Estados Unidos. Lá, encontrou Albert Einstein e inscreveu-se na conferência anual da American Mathematical Society. Durante este ano ele desenvolveu as ideias de computabilidade e das funções recursivas com o propósito de lecionar sobre as funções recursivas gerais e o conceito de verdade matemática. Este trabalho foi desenvolvido na área da teoria dos números usando a construção dos números de Gödel. Em 1934 Gödel apresentou uma série de aulas no Instituto de Estudos Avançados de Princeton ("Institute for Advanced Study", IAS) intituladas 'Sobre as proposições indecidíveis dos sistemas matemáticos formais'. Stephen Kleene, que justamente completava seu doutorado em Princeton, anotou essas aulas, as quais foram subsequentemente publicadas. Gödel visitou o IAS novamente no outono de 1935. A viagem foi difícil e exaustiva, resultando em uma recaída depressiva. Voltou a lecionar em 1937 e durante esse ano trabalhou arduamente na prova da consistência da hipótese do continuum. Em 20 de setembro de 1938 casou com Adele, contra a vontade dos pais. Logo após visitou novamente o IAS e, na primavera de 1939, a University of Notre Dame. Em 1938 anunciou a demonstração da consistência relativa do Axioma da Escolha, a Hipótese Generalizada do Contínuo e outros enunciados, sob o suposto de que os axiomas da Teoria de Conjuntos (sem o Axioma da Escolha) são consistentes, mas a prova completa só será publicada em 1940. Esse trabalho contribui para o esclarecimento do primeiro Problema de Hilbert. Trabalho em Princeton. Depois da "Anschluss" (anexação da Áustria pela Alemanha, em 1938), o título de "Privatdozent" foi abolido. Na nova ordem, Gödel teria que se submeter a um concurso para obter um outro cargo universitário. No entanto, seus vínculos anteriores com judeus do Círculo de Viena, especialmente com Hahn, pesariam contra ele. Sua situação se complicou quando ele foi considerado apto para o serviço militar. Diante do risco de ser convocado para as fileiras do exército alemão, decidiu emigrar para os Estados Unidos. Em janeiro de 1940, ele e sua mulher saíram da Europa através da ferrovia Transiberiana e viajaram pela Rússia e Japão, até chegarem à América do Norte em 4 de março de 1940. Estabeleceram-se em Princeton, onde Gödel recebeu grande apoio de Norbert Wiener e passou a integrar o IAS. Nessa época, voltou-se para a Filosofia e a Física, estudando detalhadamente os trabalhos de Gottfried Leibniz, Kant e Edmund Husserl. No final de 1940 demonstrou a existência da solução paradoxal das equações de campo da teoria geral da relatividade de Albert Einstein, solução que implicava a ausência de um tempo universal, produzindo uma geometria do universo na qual seria possível que "caminhos" temporais conduzissem um observador ao passado. A possibilidade de tal solução paradoxal foi vista por alguns físicos como um desagradável "defeito" na proposta de Einstein. Continuando seus trabalhos em lógica, no mesmo ano Gödel publicou o estudo sobre a 'consistência do axioma da escolha e da hipótese do "continuum" generalizada com os axiomas da teoria dos conjuntos', que se tornou um clássico da Matemática Moderna. Em 1946, Gödel tornou-se membro permanente do IAS e, em 1948, naturalizou-se cidadão estadunidense. Passou a ser professor pleno do instituto, em 1953, e professor emérito, em 1976. No início da década de 1970, Gödel distribuiu aos amigos um estudo desenvolvido a partir da prova ontológica da existência de Deus, de Leibniz, o qual acabou sendo conhecido como "prova ontológica de Gödel". Kurt Gödel recebeu muitos prêmios e honrarias durante sua vida e também o primeiro Prêmio Albert Einstein, em 1951. Em 1974 recebeu a Medalha Nacional de Ciência. Últimos anos e morte. Com o passar dos anos, porém, Gödel tornou-se cada vez mais esquivo ao contato com outras pessoas, à exceção de um pequeno círculo de amigos. Tal comportamento está provavelmente relacionado ao quadro paranoico que desenvolveu: acreditava haver uma conspiração para matá-lo por envenenamento. Só comia o que lhe fosse preparado por Adele, sua esposa, a qual o ajudava a controlar seus delírios persecutórios e a se manter vivo. Durante os últimos anos de sua vida, o cientista esteve por diversas vezes internado em hospitais psiquiátricos. Quando Adele adoeceu e foi internada por seis meses, Gödel praticamente parou de se alimentar. Acabou morrendo, por complicações decorrentes da inanição, em Princeton, no dia 14 de janeiro de 1978. Gödel pesava apenas 29 kg na época de sua morte. Ele foi sepultado no Cemitério de Princeton.
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Núcleo (sistema operacional)
Núcleo (sistema operacional) Em computação, o núcleo ou kernel é o componente central do sistema operativo da maioria dos computadores; ele serve de ponte entre aplicativos e o processamento real de dados feito a nível de hardware. As responsabilidades do núcleo incluem gerenciar os recursos do sistema (a comunicação entre componentes de hardware e software). Geralmente como um componente básico do sistema operativo, um núcleo pode oferecer a camada de abstração de nível mais baixo para os recursos (especialmente processadores e dispositivos de entrada/saída) que softwares aplicativos devem controlar para realizar sua função. Ele tipicamente torna estas facilidades disponíveis para os processos de aplicativos através de mecanismos de comunicação entre processos e chamadas de sistema. Tarefas de sistemas operativos são feitas de maneiras diferentes por núcleos diferentes, dependendo do seu desenho e abordagem. Enquanto núcleos monolíticos tentam alcançar seus objetivos executando todos os códigos de sistema no mesmo espaço de endereçamento para aumentar a performance do sistema, micronúcleos executam a maioria dos serviços do sistema no espaço de usuário como servidores, buscando melhorar a manutenção e a modularidade do sistema operativo. Visão geral. Na definição de núcleo, Jochen Liedtke disse que a palavra é "tradicionalmente usada para definir a parte do sistema operativo que é obrigatória e comum a todo software no sistema." A maioria dos sistemas operativos depende do conceito de núcleo. A existência de um núcleo é uma consequência natural de projetar um sistema de computador como séries de camadas de abstração, cada uma das funções dependendo das funções das camadas abaixo de si. O núcleo deste ponto de vista, é simplesmente o nome dado ao nível mais inferior de abstração que é implementado em software. Para evitar ter um núcleo, ter-se-ia que projetar todo o software no sistema de modo a não utilizar abstração alguma; isto iria aumentar a complexidade e o projeto a tal ponto que apenas os sistemas mais simples seriam capazes de ser implementados. Enquanto isto hoje é chamado "núcleo", originalmente a mesma parte do sistema também foi chamado o nucleus ou caroço (Nota, no entanto, este termo "caroço" também foi usado para se referir a memória primordial de um sistema de computador, por que alguns dos primeiros computadores usaram uma forma de memória chamada memória de caroços magnéticos), e foi concebido originalmente como contendo apenas os recursos de suporte essenciais do sistema operativo. Na grande maioria dos casos, o processo de iniciação começa executando o núcleo no modo supervisor. O núcleo depois inicializa a si e depois o primeiro processo. Depois disto, tipicamente, o núcleo não executa diretamente, apenas em resposta para eventos externos ("ex.", através de chamadas de sistema usados pelos aplicativos para requisitar serviços do núcleo, ou via interrupções usadas pelo hardware para notificar o núcleo sobre eventos). Além disso, tipicamente o núcleo fornece um laço que é executado sempre que nenhum processo esta disponível para execução; geralmente chamado de "processo desocupado". O desenvolvimento do núcleo é considerado uma das mais complexas e difíceis tarefas em programação. Sua posição central em um sistema operativo implica a necessidade de bom desempenho, que define o núcleo como peça de software crítica e torna seu desenvolvimento correto e implementação correta difícil. Devido a diversas razões, o núcleo pode até não ser capaz de utilizar mecanismos de abstração, que ele fornece a outro software. Tais razões incluem preocupações com o gerenciamento de memória e a falta de reentrância, logo o seu desenvolvimento torna-se ainda mais difícil para engenheiros de software. A otimização do uso de memória faz-se necessária, pois o núcleo não pode utilizar recursos de paginação por demanda, já que ele próprio fornece esta facilidade, tendo, então, que permanecer na memória para tal. Geralmente um núcleo vai fornecer recursos para escalonamento de processos de baixo nível, comunicação entre processos, sincronização de processos, troca de contexto, manipulação de blocos de controle de processo, gerenciamento de interrupções, criação e destruição de processos, e suspensão e continuação de processos (veja estados de processos). Finalidades básicas do núcleo. O principal propósito do núcleo é gerenciar os recursos do computador e permitir que outros programas rodem e usem destes recursos. Tipicamente estes recursos consistem de: Aspectos importantes no gerenciamento de recursos são a definição de um domínio de execução (espaço de endereçamento) e o mecanismo de proteção utilizado para mediar o acesso a recursos dentro de um domínio. Núcleos geralmente não oferecem métodos para sincronização e comunicação entre processos (IPC ). Um núcleo pode implementar estes recursos ele mesmo, ou depender de alguns processos que ele executa para fornecer estas facilidades a outros processos, no entanto neste caso ele deve oferecer algum modo do IPC permitir que processos acessem as facilidades fornecidas um pelo outro. Finalmente, um núcleo deve oferecer um método de acesso a estas facilidades para os programas em execução. Gerenciamento de Processos. A principal tarefa de um núcleo é permitir a execução de aplicativos e ajudá-los com recursos como abstrações de hardware. Um processo define-se por um fluxo de atividades que se utiliza de recursos. Nesse caso, a execução de uma aplicação gera um processo. Processo este que delimita as porções da memória o aplicativo pode acessar. O gerenciamento de processos do núcleo deve levar em conta o equipamento de hardware embarcado para proteção de memória. Para executar um aplicativo, um núcleo geralmente cria um espaço de endereçamento, carrega o arquivo contendo as instruções do programa na memória (talvez via paginação por demanda), cria uma pilha para o programa e ramos para uma dada localização dentro do programa, iniciando, portanto, a sua execução. Núcleos multitarefa são capazes de dar ao usuário a ilusão de que um número de processos que está sendo executado simultaneamente no sistema é maior do que o número de processos que aquele sistema é fisicamente capaz de executar. Usualmente, o número de processos que um sistema pode executar simultaneamente é igual ao número de CPUs que ele possui instaladas (no entanto, isto pode não ser o caso de processadores que suportam múltiplas linhas de execução simultâneas). Em um sistema multitarefas preemptivo, o núcleo dá a todos programas uma parcela do tempo e alterna entre os processos tão rapidamente que dá ao usuário a impressão de que eles estão sendo executados simultaneamente. O núcleo utiliza algoritmos de escalonamento para determinar qual processo será executado a seguir e quanto tempo lhe será dado. O algoritmo escolhido pode permitir que alguns processos tenham uma prioridade mais alta que muitos outros. O núcleo geralmente também provê a esses processos uma maneira de comunicarem-se; isto é chamado comunicação entre processos (IPC ) e as principais implementações são memória compartilhada, troca de mensagens e chamadas de procedimento remoto (veja computação concorrente). Outros sistemas (particularmente em computadores menos potentes) podem fornecer multitarefa de cooperação, em que para cada processo é permitida execução ininterrupta até que ele faça uma requisição especial ao núcleo para que ele alterne para outro processo. Tais requisições são conhecidos como "indulgências" (yield ), e tipicamente ocorrem ou em resposta a um pedido para comunicação entre processos, ou para esperar até o acontecimento de um evento. Versões mais antigas do Microsoft Windows e do Mac OS utilizaram o conceito de multitarefa cooperativa, mas alternaram para esquemas preemptivos conforme a potência dos computadores alvo de seu mercado aumentava. O sistema operativo pode também suportar o multiprocessamento (multiprocessamento simétrico (SMP ), ou, acesso não-uniforme a memória); neste caso, diferentes programas e linhas de execução podem rodar em diferentes processadores. Um núcleo para tal sistema deve ser projetado para ser reentrante, o que significa que ele pode rodar seguramente duas partes de seu código simultaneamente. Isto tipicamente significa oferecer mecanismos de sincronização (como trava-giros) para assegurar que dois processadores não tentarão modificar os mesmos dados ao mesmo tempo. Gerenciamento de Memória. O núcleo possui acesso completo à memória do sistema e deve permitir que processos acessem a memória com segurança conforme suas necessidades. Frequentemente, o primeiro passo para isso é o endereçamento virtual, geralmente alcançado através da paginação e/ou segmentação. O endereçamento virtual permite ao núcleo fazer com que um endereço físico pareça ser outro, o endereço virtual. Espaços de endereço virtual podem ser diferentes para diferentes processos; a memória acessada por um processo através de um endereço virtual particular pode ser diferente da acessada por um outro processo através do mesmo endereço virtual. Isto possibilita que todos os programas funcionem como se estivessem sendo executados sozinhos, além do núcleo, e por isso evita que aplicativos travem uns aos outros. Em vários sistemas, o endereço virtual de um programa pode se referir a dados que não estão na memória atualmente. A cama de indireção oferecida pelo endereçamento virtual permite que o sistema utilize meios de armazenagem de dados, como um disco rígido, para armazenar o que de outro modo teria que permanecer na memória RAM. Como resultado. sistemas operativos podem permitir que programas usem mais memória do que está fisicamente disponível. Quando um programa precisa de dados que não estão na RAM, a CPU avisa o núcleo que isto ocorre, e este responde escrevendo o conteúdo de um bloco de memória inativo para o disco (se necessário) e substituindo-o na memória com os dados requisitados pelo programa. O programa pode então continuar sua execução do ponto em que foi suspenso. Este esquema é geralmente conhecido como paginação por demanda. Endereçamento virtual também permite a criação de partições virtuais de memória em duas áreas separadas, uma sendo reservada para o núcleo (espaço de núcleo) e o outra para os aplicativos (espaço de usuário). Os aplicativos não têm permissão do processador para acessar a memória do núcleo, prevenindo, portanto, que um aplicativo possa danificar o núcleo em execução. Esta partição fundamental de espaço de memória contribuiu muito para os projetos de núcleos realmente de propósito geral e é quase universal em tais sistemas, embora alguns núcleos de pesquisa (como o Singularity) usem outros métodos. Gerenciamento de dispositivos. Para realizar funções úteis, processos precisam acessar periféricos conectados ao computador, que são controlados pelo núcleo através do driver do dispositivo. Por exemplo, para mostrar ao usuário algo utilizando a tela, um aplicativo teria que fazer uma requisição ao núcleo que encaminharia a requisição para o seu driver de tela, que é o responsável por gerar a imagem através dos pixels. Um núcleo deve manter uma lista de dispositivos disponíveis. Esta lista pode ser conhecida de antemão (como em um sistema embarcado em que o núcleo será reescrito se o hardware disponível mudar), configurada pelo usuário (típico em computadores pessoais antigos e em sistemas projetados para uso pessoal) ou detectada pelo sistema durante a execução (normalmente chamado Plug and Play). Num sistema "Plug and Play", um dispositivo realiza primeiro uma sondagem nos diferentes barramentos de hardware, como Interconector de Componentes Periféricos (PCI ) ou Barramento Serial Universal (USB ), para detectar os dispositivos instalados e depois procura os drivers apropriados. Como a gestão de dispositivos é uma tarefa muito especifica do SO, os drivers são manipulados de forma diferente pelo tipo de arquitetura do núcleo. Em todos os casos, porém, o núcleo deve fornecer a entrada/saída para permitir que os drivers acessem fisicamente seus dispositivos através de alguma porta ou localização da memória. Decisões muito importantes precisam ser feitas ao projetar o sistema de gestão de dispositivos, já que alguns projetos de acesso podem envolver trocas de contexto, tornando a operação custosa para o processador e causando um gasto excessivo de recursos. Chamadas do Sistema. Para realmente realizar algo útil, um processo deve acessar os serviços oferecidos pelo núcleo. Isto é implementado por cada núcleo, mas a maioria oferece uma Biblioteca padrão do C ou uma Interface de programação de aplicativos, que envolve as funções relativas ao núcleo. O método de invocar as funções do núcleo varia entre diferentes núcleos. Se o isolamento de memória está sendo usado, é impossível para um processo de usuário chamar o núcleo diretamente, visto que isso seria uma violação das regras de controle de acesso do processador. Algumas possibilidades são: Decisões de desenho do Núcleo. Problemas com o suporte do núcleo para proteção. Uma consideração importante no desenho do núcleo é o suporte que ele oferece para proteção contra faltas (tolerância a falhas) e comportamentos mal-intencionados (segurança). Estes dois aspectos geralmente não são claramente distinguidos, e a separação no desenho do núcleo leva a rejeição de uma estrutura hierárquica de proteção. Os mecanismos ou políticas oferecidas pelo núcleo podem ser classificados de acordo com vários critérios, como: estático (forçado durante o tempo de compilação) ou dinâmico (forçado durante o tempo de execução); preemptivo ou pós-detecção; de acordo com os princípios de proteção a que eles correspondem (ex. Denning); quer eles sejam suportados pelo hardware ou baseados em linguagem; quer eles sejam mais um mecanismo aberto ou má política compulsiva; e muito mais. Tolerância a falhas. Uma medida útil para o nível de tolerância a falhas de um sistema é quão estrito ele é com relação ao princípio do menor privilégio. Em casos onde múltiplos programas estão rodando em um único computador, é importante prevenir falhas em um dos programas de afetar negativamente outro. Estendendo-se ao desenho com más-intenções mais do que a falha em si, isto também implica a segurança, quando é necessário impedir processos de acessar informações sem que lhes seja dada a devida permissão. As duas principais implementações via hardware para proteção (de informações sensíveis) são domínios hierárquicos de proteção (também chamadas arquiteturas anel, arquiteturas de segmento ou modo supervisor), e endereçamento baseado em capacidades. Domínios hierárquicos de proteção são muito menos flexíveis, como no caso de qualquer núcleo com uma estrutura hierárquica presumida como um critério de desenvolvimento global. No caso de proteção não é possível designar diferentes privilégios a processos que não estão no mesmo nível de privilégio, e por isso não é possível corresponder aos quatro princípios de Denning para a tolerância a falhas, particularmente o princípio do menor privilégio. Domínios hierárquicos de proteção também carregam uma enorme desvantagem na performance, já que a interação entre diferentes níveis de proteção, quando um processo tem que manipular uma estrutura de dados em ambos 'modo usuário' e 'modo supervisor', sempre exige cópia de mensagens (transmissão por valor). Um núcleo baseado em capacidades, no entanto, é mais flexível em designar privilégios, pode corresponder aos princípios de Denning para a tolerância a falhas, e geralmente não sofrem de problemas de performance da cópia por valor. Ambas implementações tipicamente exigem algum suporte de hardware ou firmware para serem operáveis e eficientes. O suporte de hardware para domínios hierárquicos de proteção geralmente é de "modos de CPU." Um modo simples e eficiente de fornecer suporte a hardware é delegar à unidade de gerenciamento de memória a responsabilidade por checar as permissões de acesso para todos acessos a memória, um mecanismo chamado endereçamento baseado em capacidades. Falta na maioria das arquiteturas comerciais, o suporte a MMU para capacidades. Uma abordagem alternativa é simular capacidades usando domínios hierárquicos comumente suportados; nesta abordagem, cada objeto protegido deve residir num espaço de endereçamento ao qual o aplicativo não possui acesso; o núcleo também mantém uma lista de capacidades em tal memória. Quando um aplicativo precisa acessar um objeto protegido por uma capacidade, ele realiza uma chamada de sistema e o núcleo realiza o acesso a ele. O custo de performance de trocar de espaço de endereçamento limita a praticabilidade desta abordagem em sistemas com interações complexas entre objetos, mas é utilizado nos sistemas operativos atuais para objetos que não são acessados frequentemente ou que não devem ser feitos rapidamente. Implementações onde os mecanismos de proteção não suportados pelo firmware, mas são, ao invés disso, simulados em níveos mais altos (ex. simulando capacidades ao manipular tabelas de páginas em hardware que não possui suporte direto), são possíveis, mas há implicações de performance. No entanto, falta de suporte no hardware pode não ser problema, para sistemas que escolhem usar uma proteção baseada em linguagem. Uma decisão importante no projeto do núcleo é a escolha dos níveis de abstração em que os mecanismos e políticas de segurança devem ser implementados. Os mecanismos de segurança do núcleo têm um papel crítico no suporte a segurança nos níveis superiores. Uma abordagem é utilizar suporte no núcleo e firmware para tolerância a falhas (ver acima), e montar as políticas de segurança para comportamento malicioso em cima disso (adicionando recursos como mecanismos de criptografia quando necessário), delegar mais responsabilidade para o compilador. Implementações que delegam a aplicação de políticas de segurança para o compilador e/ou nível do aplicativo são geralmente chamados "segurança baseada em linguagem". A falta de muitos mecanismos críticos de segurança nos principais sistemas operativos impede a implementação adequada de políticas de segurança no nível de abstração do aplicativo. Na verdade, um engano muito comum na segurança de computadores é que qualquer política de segurança pode ser implementada no aplicativo, independentemente do suporte no núcleo. Proteção baseada em hardware ou linguagem. Hoje, típicos sistemas de computação usam regras aplicadas pelo hardware sobre quais programas têm permissão para acessar quais dados. O processador monitora a execução e desliga um programa que viole uma regra (ex., um processo de usuário que tenta ler ou escrever na memória do núcleo, e assim por diante). Em sistemas que não possuem suporte para capacidades, processos são isolados um do outro, utilizando-se espaços de endereçamento separados. Chamadas de um processo de usuário no núcleo são regidas pela exigência de que eles usem um dos métodos de chamada do sistema descritos acima. Uma abordagem alternativa é usar proteção baseada em linguagem. Em um sistema de proteção baseado em linguagem, o núcleo vai permitir a execução apenas de código produzido por um compilador em que ele confie. A linguagem pode então, ser projetada de modo tal que será impossível para o programador instruir algo que violaria os requisitos de segurança. Desvantagens incluem: Vantagens desta abordagem incluem: Exemplos de sistemas com proteção baseada em linguagem incluem o JX e Singularity. Cooperação de processos. Edsger Dijkstra provou que partindo de um ponto de vista lógico, operações atômicas de travamento e destravamento operando em semáforos binários são suficientemente primitivos para expressar a qualquer funcionalidade de cooperação entre processos. No entanto esta abordagem é geralmente tomada como deficiente em termos de segurança e eficiência, enquanto que uma abordagem via troca de mensagens é mais flexível. Gerenciamento de dispositivos de entrada/saída. A ideia de um núcleo onde dispositivos de entrada/saída são gerenciados uniformemente com outros processos, como processos paralelos em cooperação, foi proposta e implementada primeiramente por Brinch Hansen (embora ideias similares tenham sido sugeridas em 1967). Na descrição de Hansen disto, os processos "comuns" são chamados "processos internos", enquanto que os dispositivos de entrada/saída são chamados "processos externos". Abordagens de desenvolvimento de todo o núcleo. Naturalmente, as tarefas e recursos listados acima podem ser fornecidas de vários modos que diferem entre si em projeto e implementação. O princípio da "separação entre o mecanismo e a política" é a diferença substancial entre a filosofia de micronúcleo e núcleo monolítico. Aqui um "mecanismo" é o apoio que permite a implementação de várias políticas diferentes, enquanto uma política é um "modo de operação" particular. Por exemplo, um mecanismo pode oferecer às tentativas de entrada de um usuário um método de chamar um servidor de autorização para determinar se um acesso deve ser dado; uma política pode ser para o servidor de autorização exigir uma senha e checá-la contra uma senha embaralhada armazenada numa base de dados. Devido ao fato de o mecanismo ser genérico, a política pode ser alterada com mais facilidade (ex. ao exigir o uso de um passe) do que se um mecanismo e política fossem integrados no mesmo módulo. Em um micronúcleo mínimo algumas políticas básicas são incluídas, e seus mecanismos permite que o que está rodando sobre o núcleo (a parte remanescente do sistema operativo e outras aplicações) decida quais políticas adotar (como gerenciamento de memória, escalonamento de processo de alto nível, gerenciamento de sistema de arquivos, etc.). Um núcleo monolítico ao invés disso, tende a incluir várias políticas, então restringindo o resto do sistema dependente delas. Per Brinch Hansen apresentou um argumento convincente a favor da separação do mecanismo e da política. A falha em preencher completamente esta separação, é uma das maiores causas para a falta de inovação nos sistemas operativos existentes atualmente, um problema comum nas arquiteturas de computador. O projeto monolítico é induzido pela abordagem de arquitetura "modo núcleo"/"modo usuário" para proteção (tecnicamente chamada de domínios hierárquicos de proteção), que é comum em sistemas comercias convencionais; na verdade, todo módulo que necessite de proteção é, portanto, preferivelmente incluído no núcleo. Esta ligação entre projeto e "modo privilegiado" pode ser reconduzida até o problema chave da separação do mecanismo e da política; de fato, a abordagem de arquitetura de "modo privilegiado" se funde ao mecanismo de proteção com as políticas de segurança, enquanto a principal abordagem de arquitetura alternativa, endereçamento baseado em capacidades, claramente distingue ambos, levando naturalmente ao desenvolvimento de um micronúcleo design (veja Separação entre proteção e segurança). Enquanto núcleos monolíticos executam todo seu código no mesmo espaço de endereçamento (espaço de núcleo) micronúcleos tentam executar a maior parte dos seus serviços no espaço de usuário, buscando aprimorar a manutenção e modulabilidade do código base. A maioria dos núcleos não se encaixa exatamente em uma destas categorias, sendo mais encontrados entre estes dois projetos. Os chamados núcleos híbridos. Projetos mais exóticos como nanonúcleos e exonúcleos estão disponíveis, mas são usados raramente em sistemas produtivos. O virtualizador Xen, por exemplo, é um exonúcleo. Núcleos monolíticos. Em um núcleo monolítico, todos os serviços do sistema operativo rodam junto com a linha de execução principal do núcleo, portanto, também se encontram na mesma área de memória. Esta abordagem permite o acesso vasto e poderoso de hardwares. Alguns desenvolvedores, como desenvolvedor do UNIX Ken Thompson, defendem que é "mais fácil de implementar um núcleo monolítico" que micronúcleos. As principais desvantagens de núcleos monolíticos são as dependências entre os componentes do sistema - um defeito em um driver de dispositivo pode paralisar todo o sistema - e o fato de núcleos grandes podem se tornar muito difíceis de manter. Micronúcleos. A abordagem de micronúcleo consiste em definir abstrações simples sobre o hardware, com um conjunto de primitivos ou chamadas de sistema para implementar serviços mínimos do sistema operativo como gerenciamento de memória, multitarefas, e comunicação entre processos. Outros serviços, incluindo aqueles normalmente fornecidos por um núcleo monolítico como rede, são implementados em programas de espaço de usuário, conhecidos como "servidores". Micronúcleos são mais fáceis de manter do que núcleos monolíticos, mas um grande número de chamadas de sistemas de trocas de contexto podem desacelerar o sistema por que eles geralmente geram mais degradação na performance do que simples chamadas de função. Um micronúcleo permite a implementação das partes restantes do sistema operativo como aplicativos normais escritos em linguagem de alto nível, e o uso de diferentes sistemas operativos sobre o mesmo núcleo não-modificado. Ele também torna possível alternar dinamicamente entre sistemas operativos e manter mais de um deles ativos simultaneamente. Núcleos monolíticos x micronúcleos. Conforme o núcleo do computador crescem, um número de problemas se torna evidente. Um dos mais óbvios é que o espaço de memória aumenta. Isto é mitigado de certo modo ao aperfeiçoar o sistema de memória virtual, mas nem todas arquitetura de computador suportam memórias virtuais. Para reduzir o espaço utilizado pelo núcleo, modificações extensivas precisam ser realizadas para remover cuidadosamente código inútil, que pode ser muito difícil devido a dependências pouco aparentes entre partes de um núcleo com milhões de linhas de código. Pelo começo dos anos 1990, devido a vários problemas de núcleos monolíticos em comparação a micronúcleos, núcleos monolíticos foram considerados obsoletos por virtualmente todos pesquisadores de sistemas operativos. Como resultado, o projeto do Linux, um núcleo monolítico mais do que um micronúcleo foi o tópico da famosa discussão inflamada entre Linus Torvalds e Andrew Tanenbaum. Há méritos em ambos argumentos presentes no debate Tanenbaum–Torvalds. Performance. Núcleos monolíticos são projetados para que todo o seu código fique no mesmo espaço de endereçamento (espaço de núcleo), que alguns desenvolvedores argumentam ser necessário para aumentar a performance do sistema. Alguns desenvolvedores também sustentam a hipótese de que núcleos monolíticos são extremamente eficientes se forem bem escritos. A performance de micronúcleos construídos nos anos 1980 e começos dos 1990 era terrível. Estudos empíricos que mediram a performance destes micronúcleos não analisaram os motivos para tal ineficiência. As explicações para estes dados foram deixadas para o "folclore", com a suposição de que eles eram devido ao aumento da frequência da troca de modo núcleo para modo usuário, devido a maior frequência de comunicação entre processos e a maioria frequência de trocas de contexto. De fato, como foi conjeturado em 1995, os motivos para a terrível performance dos micronúcleos podem também ter sido: (1) uma real ineficiência na implementação de toda a "abordagem" de micronúcleo, (2) "conceitos" particulares implementados nesses micronúcleos, e (3) a "implementação" individual destes conceitos. Portanto ainda falta estudar se a solução para construir um micronúcleo eficiente foi, ao contrário de tentativas anteriores, a de aplicar as técnicas corretas de construção. No outro extremo, a arquitetura de domínios hierárquicos de proteção que leva a um projeto de núcleo monolítico gera impactos significativos na performance cada vez que há uma interação entre diferentes níveis de proteção (ex. quando um processo tem que manipular uma estrutura de dados em ambos 'modo usuário' e 'modo supervisor'), desde que isto exija cópia de mensagem por valor. Em meados de 1990, a maioria dos pesquisadores abandonou a crença de que ajustes cuidadosos poderiam reduzir estes impactos dramaticamente, mas recentemente, novos micronúcleos, otimizados para performance, tais como os L4 e K42 vêm trabalhando nestes problemas. Núcleos híbridos. Núcleos híbridos são um acordo entre o desenvolvimento de micronúcleos e núcleos monolíticos. Isto implica executar alguns serviços (como a pilha de rede ou o sistema de arquivos) no espaço do núcleo para reduzir o impacto na performance de um micronúcleo tradicional, mas ainda executar o código no núcleo (como drivers de dispositivos) como servidores no espaço de usuário. Nanonúcleos. Um nanonúcleo delega virtualmente todos os serviços — incluindo até os mais básicos como controlador de interrupções ou o temporizador — para drivers de dispositivo para tornar o requerimento de memória do núcleo ainda menor do que o dos tradicionais micronúcleos. Exonúcleos. Um exonúcleo é um tipo de núcleo que não abstrai hardware em modelos teóricos. Ao invés disso, ele aloca recursos físicos de hardware (como o tempo de um processador), páginas de memória e blocos de disco, para diferentes programas. Um programa rodando em um exonúcleo pode ligar para uma "biblioteca do sistema operacional" que usa o exonúcleo para simular as abstrações de um sistema operativo conhecido, ou ele pode desenvolver abstrações específicas para aquele aplicativo para uma performance superior. História do desenvolvimento do núcleo. Núcleos dos primeiros sistemas operativos. Falando estritamente, um sistema operativo (e, isto inclui um núcleo) não é "obrigado" a rodar um computador. Programas podem ser carregados diretamente e executados na máquina de "bare metal", desde que os autores destes programas estiverem dispostos a trabalhar sem nenhuma abstração de hardware ou suporte a sistema operativo. Os primeiros computadores operaram desta maneira durante os anos de 1950, começo dos 1960, eram reiniciados e recarregados entre cada execução de diferentes programas. Eventualmente, pequenos programas auxiliares como carregadores de programas e depuradores foram mantidos na memória entre as execuções, ou carregados de memória somente de leitura. Conforme estas eram desenvolvidas, elas formaram a base do que depois se tornaria o núcleo dos sistemas operativos. A abordagem de "bare metal" ainda é usada hoje em alguns consoles de videogame e sistemas embarcados, mas no geral, computadores novos usam sistemas operativos e núcleos modernos. Em 1969 o RC 4000 Multiprogramming System introduziu a filosofia de desenvolvimento de sistemas de pequeno núcleo "na qual sistemas operativos para diferentes propósitos poderiam ser criados de maneira metódica", algo que poderia ser chamado de abordagem de micronúcleo. Sistemas operativos de tempo compartilhado. Na década precedendo o fenômeno Unix, computadores aumentaram muito em poder de processamento — ao ponto de os operadores de computador estarem buscando novos modos de conseguir com que as pessoas usassem o tempo livre em suas máquinas. Uma das maiores evoluções durante esta era foi o tempo compartilhado, em que um número de usuários conseguiria pequenas parcelas do tempo do computador, em uma taxa que fazia parecer que cada um estava conectado à sua própria máquina, embora mais lenta. O desenvolvimento dos sistemas de tempo compartilhado levou a inúmeros problemas. Um deles foi que usuários, particularmente em universidades, em que os sistemas estavam sendo desenvolvidos, pareciam tentar hackear o sistema para conseguir mais tempo de processamento. Por esta razão, segurança e controles de acesso se tornaram um foco principal do projeto Multics em 1965. Outro problema corrente era gerenciar apropriadamente os recursos do sistema: usuários gastavam a maior parte do tempo iniciando na tela e pensando ao invés de realmente utilizar os recursos do computador, e o sistema de tempo compartilhado deveria dar tempo de processamento para um usuário ativo durante estes períodos. Por fim, tipicamente os sistemas ofereciam uma hierarquia de memória de várias camadas de profundidade, e particionar este recurso caro levou a um grande desenvolvimento nos sistemas de memória virtual. Unix. Durante a fase de projeto do Unix, os programadores decidiram modelar todo dispositivo de alto nível como um arquivo, por que eles acreditavam que o propósito da computação era a transformação de dados. Por exemplo, impressoras eram representadas como um "ficheiro" em uma localização conhecida — quando dados eram copiados para o arquivo, ela realizava a impressão destes. Outros sistemas, para fornecer uma funcionalidade similar, possuem a tendência de virtualizar dispositivos em um nível mais baixo — ou seja, ambos dispositivos e ficheiros seriam instâncias de algum conceito de nível inferior. Virtualizar o sistema a nível de ficheiros permitiu aos usuários manipular todo o sistema usando seus conceitos e ferramentas de gerenciamento de ficheiros, simplificando a operação dramaticamente. Como uma extensão do mesmo paradigma, o Unix permite que programadores manipulem arquivos usando uma série de pequenos programas, usando o conceito de encadeamento, que permite aos usuários completar operações em etapas, alimentando um ficheiro através de uma cadeia de ferramentas de propósito único. Embora o resultado final fosse o mesmo, usar programas menores aumentou drasticamente a flexibilidade, assim como o uso e desenvolvimento, permitindo que o usuário modificasse seu fluxo de trabalho ao adicionar ou remover um programa da cadeia. No modelo Unix, o "sistema operativo" consiste de duas partes: a primeira é uma enorme coleção de programas de utilidades que guiam a maioria das operações; a segunda, o núcleo que executa os programas. No Unix, do ponto de vista da programação, a distinção entre os dois é extremamente tênue: o núcleo é um programa rodando no modo supervisor, que age como um carregador de programas e supervisor para os pequenos programas de utilidade que integram o resto do sistema e fornecem travas e serviços de entrada/saída para estes programas; além disso, o núcleo não intervém de modo algum no espaço de usuário. Ao longo dos anos o modelo de computação mudou, e o tratamento do Unix de tudo como um ficheiro ou fluxo de bytes não era mais universalmente aplicável como antes. Embora um terminal pudesse ser tratado como um ficheiro ou fluxo de bytes, de que se exibia ou lia, o mesmo não parecia ser verdade para a interface gráfica. As redes se tornaram outro problema. Mesmo se a comunicação de rede pudesse ser comparada ao acesso de ficheiros, a arquitetura de baixo nível orientada a pacotes lidava com pedaços discretos de dados e não com ficheiros completos. Conforme a capacidade dos computadores crescia, o Unix se tornava cada vez mais desorganizado com relação a código. Enquanto núcleos podiam ter 100.000 linhas de código nos anos 1970 e 1980, núcleos sucessores modernos do núcleo do Unix como o Linux possuem mais de 4,5 milhões de linhas. Derivados modernos do Unix são geralmente baseados em núcleos monolíticos que carregam módulos. Exemplos disto são o Linux, um núcleo monolítico com suporte a núcleos, e diversas distribuições que o incluem, assim como os núcleos das variantes do BSD como FreeBSD, DragonflyBSD, OpenBSD, NetBSD etc. Além destas alternativas, desenvolvedores amadores mantém uma comunidade ativa de desenvolvimento de sistemas operativos, cheia de núcleos que são criados como passatempo que acabam compartilhando vários dos recursos com o Linux e/ou os núcleos do FreeBSD, DragonflyBSD, OpenBSD e NetBSD e/ou sendo compatíveis com eles. macOS. A Apple lançou Mac OS pela primeira vez em , empacotado com o seu computador pessoal Apple Macintosh. Nos primeiros lançamentos, o Mac OS (ou Sistema de Software, como ele foi chamado) careceu de muitos recursos básicos, como multitarefas e um sistema hierárquico. Com o passar tempo, o sistema operacional evoluiu e se tornou o Mac OS 9 com alguns recursos adicionados, mas o núcleo se manteve basicamente o mesmo. Em oposição a isto, o macOS é baseado no Darwin, que utiliza um conceito de núcleo híbrido chamado XNU, criado combinando o núcleo do 4.3BSD e o Mach. Amiga. O Amiga da Commodore foi lançado em , e estava dentre os primeiros (e certamente mais bem sucedidos) computadores domésticos a apresentar um sistema operativo com um micronúcleo. O núcleo do Amiga, a "exec.library", era pequena mas capaz, oferecendo multitarefas rápidas e preemptivas em hardware similar ao do Apple Macintosh, e um sistema avançado de ligações dinâmicas que permitia uma expansão fácil. Microsoft Windows. O Microsoft Windows foi lançado em 1985 como uma extensão para o MS-DOS. Devido à sua dependência de outro sistema operativo, todas as versões até a 95 são consideradas um ambiente operacional (e não um sistema operativo propriamente dito). Tal linha de produtos continuou por 1980 e 1990, resultando nos lançamentos das séries Windows 9x, atualizando as capacidades do sistema para endereçamento de 32 bits e multitarefas preemptivo, ao longo dos anos 1990, terminando com o lançamento do Windows Me em 2000. O lançamento do Windows XP em outubro de 2001 uniu as duas linhas de produto, com a intenção de combinar a estabilidade do núcleo NT com os recursos ao consumidor das séries 9x. A arquitetura do núcleo do Windows NT é considerada híbrida pois o próprio núcleo contém tarefas como o gerenciador de janelas e o gerenciador de comunicação entre processos, mas vários subsistemas são executados no modo de usuário. O ponto de quebra exato entre espaço de usuário e espaço de núcleo têm deslocado conforme a versão, mas a introdução do UMDF (User-Mode Driver Framework) no Windows Vista e do escalonamento de linha de execução no espaço de usuário no Windows 7, deslocou mais recursos do núcleo para processos no espaço de usuário. Desenvolvimento de micronúcleos. Embora o Mach, desenvolvido na Universidade Carnegie Mellon de a , é o micronúcleo de propósito geral mais conhecido, outros micronúcleos foram desenvolvidos com objetivos mais específicos. Uma família de micronúcleos L4 (principalmente o micronúcleo L3 e o L4) foi criada para demonstrar que micronúcleos não são necessariamente lentos. Implementações mais novas como Fiasco e Pistachio são capazes de executar o Linux junto com outros processos L4 em espaços de endereçamento separados. QNX é um Sistema operativo de tempo-real com um projeto de micronúcleo minimalista que vem sendo desenvolvido desde , sendo mais bem-sucedido do que o Mach em alcançar os objetivos do paradigma do micronúcleo. Ele é usado principalmente em sistemas embarcados e em situações em que o software não pode falhar, como nos braços robóticos do ônibus espacial e máquinas que controlam a moeção de vidro a tolerâncias extremamente finas, onde um minúsculo erro poderia custar centenas de milhares de reais.
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Núcleo híbrido
Núcleo híbrido Núcleo híbrido é uma arquitetura kernel do sistema operacional, que tenta combinar aspectos e benefícios de microkernel e da arquiteturas do kernel monolítico, que são arquiteturas usados em sistemas operacionais de computadores. As categorias do kernel tradicionais são kernels monolíticos e micronúcleos (com nanokernels e exokernels vistos como versões mais extremas de micronúcleos). A categoria de "híbrido" é controversa, devido à similaridade dos híbridos e kernels monolíticos; o termo teria sido criado pelo Linus Torvalds como uma forma "marketing" simples.
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Konrad Adenauer
Konrad Adenauer Konrad Hermann Joseph Adenauer (Colônia, — Bad Honnef, ) foi um político alemão cristão-democrata, advogado, prefeito de Colônia e também um dos arquitetos da economia social de mercado. Foi ainda chanceler da República Federal da Alemanha (1949–1963) e presidente da União Democrata-Cristã (CDU). Como Chanceler da Alemanha Ocidental, Adenauer focou em reconstruir a Alemanha como uma potência europeia pós-Segunda Guerra Mundial. Ele presidiu sobre um período de forte crescimento econômico (o "Milagre do Reno"), liderado pelo ministro Ludwig Erhard, misturando uma política de estado de bem-estar social com uma economia de livre mercado, com uma democracia liberal e anticomunismo como base política interna. Ele também restabeleceu o exército alemão (a "Bundeswehr") e o Serviço Federal de Inteligência. Sua política externa foi voltada com os Estados Unidos no contexto da Guerra Fria, não reconhecendo a Alemanha Oriental ou a Linha Oder-Neisse. Konrad Adenauer lutou para transformar a Alemanha Ocidental novamente numa potência na Europa, pregando a unidade no continente, embora adotasse uma política conhecida como "Atlantismo". No período que esteve no poder e nos anos posteriores, foi uma figura dominante na política alemã e ainda é lembrado como um dos mais influentes políticos na história moderna do país. Biografia. Nascido em 5 de Janeiro de 1876 em Colônia, Adenauer estudou em várias universidades até se graduar em Direito, foi prefeito de Colônia entre 1917 e 1933 e membro do poder legislativo. Como católico da época, fez oposição ao nazismo e, com o advento de Adolf Hitler ao poder, foi expulso de seu cargo político e obrigado a se aposentar. Foi preso duas vezes pela Gestapo, a primeira em 1934 e novamente em 1944, sendo Adenauer enviado para a prisão de "Brauweiler", de onde foi libertado quando as tropas aliadas invadiram a Alemanha. Em 1945 participou na fundação da União Democrata-Cristã (CDU) e assumiu a presidência da liga na zona de ocupação britânica. Com o estabelecimento da Alemanha ocidental (República Federal da Alemanha), em 1949, Adenauer, então com 73 anos, assumiu o cargo de primeiro chanceler, renunciando ao cargo em 1963, aos 87 anos de idade. Por 14 anos (foi reeleito em 1953, 1957 e 1961), liderou a coligação entre a União Democrata-Cristã (CDU), o seu partido-irmão da Baviera, União Social Cristã (CSU), e o Democratas Livres (FDP). Entre 1951 e 1955 também serviu como ministro para assuntos exteriores da Alemanha Ocidental. No exercício de sua função de chanceler da Alemanha, Konrad Adenauer visou a três objetivos essenciais: conduzir o povo alemão para uma situação autêntica de liberdade, inserir o país numa comunidade pacifista de Estados livres, e incentivar junto com os líderes da França e da Itália a integração europeia. Durante o seu governo, a Alemanha adotou o regime democrático e teve início um desenvolvimento econômico com bem-estar e equilíbrio social. Adenauer tinha um grande objetivo: estabelecer a Alemanha Ocidental como uma proteção para conter a expansão dos soviéticos na Europa. Assim, ele promoveu um estreitamento nas relações com os Estados Unidos e se reconciliou com a França. Foi durante o mandato de Adenauer que a Alemanha Ocidental passou a integrar o Organização do Tratado do Atlântico Norte e passou a ser reconhecida como uma nação independente. Ao lado de outros políticos, Konrad Adenauer criou na Alemanha uma tradição democrata-cristã. Foi co-fundador do partido da União Democrática Cristã da Alemanha (CDU) e marcou profundamente o recomeço na história dos partidos políticos alemães, influenciando fortemente a orientação política deste novo partido popular, que agrupou homens e mulheres de todas as camadas da sociedade, provindos de todas as tradições democráticas — conservadores, liberais e social-cristãos, católicos e protestantes. A visão política de Konrad Adenauer era a de uma Alemanha livre e unificada, dentro de uma Europa livre e integrada. A sua meta consistia em chegar a um novo ordenamento europeu, com liberdade e democracia e, para além disso, em aproximar o mundo de uma cooperação de alcance global. Em 1953 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Cruzeiro do Sul. A 24 de Janeiro de 1956 foi agraciado com a Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito e a 15 de Outubro de 1963 com a Grã-Cruz da Ordem Militar de Cristo de Portugal. Adenauer aposentou-se em 1963, após concluir um tratado — que havia perseguido durante anos — de cooperação com a França e continuou no parlamento. Quando ele deixou esse cargo, em 1963, havia realizado uma obra histórica: a reconstrução da Alemanha após a Segunda Guerra Mundial, a consolidação da democracia e a inserção de seu país na comunidade dos países livres. Morreu em 19 de abril de 1967 em Bad Honnef.
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KDE
KDE KDE é uma comunidade internacional de software livre produzindo um conjunto de aplicativos multiplataforma projetados para funcionar em conjunto com sistemas Linux, FreeBSD, Solaris Microsoft Windows, e Apple Mac OS X. Ela é mais conhecida pela sua área de trabalho Plasma, um ambiente de trabalho fornecido como o ambiente padrão em muitas distribuições, como Bluestar Linux, Chakra Linux, KaOS, KDE neon, Kubuntu, Netrunner e OpenSUSE. O KDE e seus aplicativos são escritos com o framework Qt, atualmente está sendo desenvolvida pela The Qt Company. Antigamente o Qt apenas possuía licença GPL para a plataforma Linux, mas a partir da versão Qt4 foi liberado com a licença LGPL para todas as plataformas, permitindo que o KDE fosse portado para o Windows e o Mac OS X. O objetivo da comunidade KDE é tanto providenciar um ambiente que ofereça os aplicativos e funcionalidades básicas para as necessidades diária quanto permitir que os desenvolvedores tenham todas as ferramentas e documentação necessárias para simplificar o desenvolvimento de aplicativos para a plataforma. A política adotada tem se mostrado eficaz, posto que muitos projetos de sucesso, como o reprodutor de música Amarok, a suíte de escritório Calligra, o editor de imagens Krita, o editor de vídeos Kdenlive e o gravador K3B são desenvolvidos idealizando uma perfeita integração com o KDE. Filosofia e visão geral do projeto. O KDE se baseia no princípio da facilidade de uso e da personalização. Todos os elementos da interface gráfica podem ser personalizados de acordo com o gosto do usuário, tanto na posição quanto na aparência: painéis, botões das janelas, menus e elementos diversos como relógios, calculadoras e miniaplicativos. A extrema flexibilidade para personalização da aparência levou a que muitos desenvolvedores disponibilizassem seus próprios temas para serem compartilhados por outros usuários. Etimologia. KDE costumava ser sigla inglesa para K Desktop Environment. A letra K não tinha um significado especial; era simplesmente a letra imediatamente antes de "L", de "Linux". Também já foi chamado de "Kool Desktop Environment". A partir de 2009, "KDE" passou a significar simplesmente "KDE", ou seja, o projeto abandonou o nome por extenso. História. O projeto foi iniciado em outubro de 1996 pelo programador alemão Matthias Ettrich, então aluno da Universidade de Tubinga, que buscava criar uma interface gráfica unificada e livre para sistemas tipo Unix. No início, buscou sua inspiração no CDE, um ambiente gráfico já bastante difundido na plataforma Unix. Ele também queria tornar esse desktop fácil de usar, uma de suas reclamações sobre os aplicativos de desktop da época era que eles eram muito complicados para o usuário final. Sua postagem inicial na Usenet gerou muito interesse e o projeto do KDE nasceu. KDE 1.0. Em 12 de julho de 1998 foi publicada a primeira versão do KDE. Esta versão tinha um painel composto por barra de tarefas e lançador de aplicações, uma área de trabalho sobre a qual era possível deixar ícones, um gerenciador de arquivos (Kfm) e um grande número de utilidades. Em novembro de 1998, ao conjunto de ferramentas Qt foi licenciado sob a licença QPL (Q Public License). No mesmo ano, a fundação KDE Free Qt foi criada a fim de garantir que o Qt entraria em uma variante da licença BSD no caso de a Trolltech, à época desenvolvedora do Qt (antes de ser adquirido pela Nokia), deixasse de existir ou não libere alguma versão livre do Qt durante 12 meses. O debate continuou sobre a compatibilidade com a licença GNU/GPL. Por isso, em setembro de 2000, a Trolltech liberou a versão Unix das bibliotecas Qt sob a licença GPL, além da QPL, que eliminou as preocupações da Free Software Foundation. A Trolltech, entretanto, continuou exigindo pagamento de licenças para o desenvolvimento de software proprietário usando o Qt. KDE 2.0. A segunda versão do KDE foi lançada em 23 de outubro de 2000, e incluiu, além de algumas melhorias tecnológicas, o Konqueror, aplicação que servia ao mesmo tempo como navegador de Internet e gerenciador de arquivos. Foi criada também a engine de renderização KHTML, que posteriormente serviu de base para o desenvolvimento de navegadores como o Google Chrome e o Safari. KDE 3.0. A terceira versão do KDE, publicada em 2002, foi na verdade um aprimoramento da segunda versão, tendo seis lançamentos menores. A mudança da API entre o KDE 2.x e o KDE 3.x foi consideravelmente menor. Foi incluído um novo tema de ícone por padrão (Crystal SVG) e novos estilos gráficos. KDE Plasma 4.0. Em 2008, cinco anos após o lançamento da versão 3.0, foi lançado o KDE 4.0, totalmente reescrito em comparação com a versão anterior e incluindo muitas novidades. O gerenciador de arquivos Dolphin substituiu o Konqueror, e o ambiente passou a ter suporte a "widgets" na área de trabalho. Também foi introduzido o menu "Kick-off", dando fácil acesso a programas e configurações, incluindo também lista de programas favoritos, escolhidos pelo próprio usuário, e a lista de aplicações a arquivos abertos recentemente. Além disso, foi introduzido também um botão de acesso rápido a arquivos e pastas. Existem também novos "frameworks", como o Phonon, uma nova interface multimídia independente de qualquer "backend" específico; o Solid, uma API para redes e dispositivos portáteis, e o Decibel, um novo "framework" de comunicação para integrar todos os protocolos de comunicação com o "desktop". Também foi apresentado um "framework" de busca e metadados, como a incorporação do Strigi, um serviço de indexação de arquivos. KDE Plasma 5. Em 2014, seis anos após o lançamento da versão plasma 4, foi lançada o KDE Plasma 5. O mesmo inclui um novo conjunto de tema sucessor ao Oxygen, chamado de "Breeze", como também o aumento da convergência através de diferentes dispositivos. A interface gráfica foi completamente migrada para o QML, o qual usa OpenGL para aceleração de hardware, resultando em um melhor performance e consumo de energia reduzido. Arquitetura. O "gerenciador de janelas" disponibilizado (KWin) é responsável por fornecer uma interface gráfica organizada e consistente para que aplicativos sejam executados e para que o usuário interaja com o computador, tanto utilizando aplicativos específicos quanto funções básicas como manipulação de arquivos e dispositivos. Com uma barra de tarefas intuitiva, este ambiente de trabalho é um dos mais importantes projetos do GNU/Linux no que diz respeito a interfaces gráficas: segundo os autores, o KDE visa a oferecer a versatilidade do Linux, minimizando o contraste da interface relativamente a outros sistemas operativos, pelo que não será de estranhar reconhecer aspectos de organização e apresentação já vistos noutros ambientes gráficos de sistemas operativos. O KDE foi inteiramente escrito na linguagem C++, e baseado no toolkit Qt, de propriedade da empresa Nokia, enquanto que o GNOME, outro ambiente gráfico para Unix, é baseado na biblioteca GTK, do Projeto GNU. A biblioteca Qt é gratuita para aplicações GPL ou LGPL, e as bibliotecas do KDE são licenciadas como LGPL ou BSD-compatível. Qt pode ainda ser usado de acordo com uma licença comercial; para mais detalhes, Qt Licensing (em inglês). Desde a versão 4.2, o KDE tem suporte nativo ao GTK, podendo rodar tanto aplicações baseadas em GTK como em Qt com a mesma aparência, suportando tanto temas GTK quanto temas Qt. Em compensação à questão do licenciamento para projetos de código fechado, o KDE possui um "framework" de desenvolvimento muito potente, com uma IDE multilinguagem — KDevelop —, e diversas tecnologias como KParts, KIO, DCOP, KHTML, e um conjunto poderoso de bibliotecas. Aplicativos. Juntamente com o ambiente de "desktop", o projeto KDE inclui vários aplicativos, a saber: Integração com smartphones e outros dispositivos. O aplicativo KDE Connect é multiplataforma e permite a conexão entre dispositivos, por exemplo um computador e um smartphone, e oferece várias funções como: área de transferência compartilhada, sincronização de notificações, compartilhamento de arquivos e URLs, envio de SMS, controle multimídia remoto, touchpad virtual e plugins. A integração com dispositivos Android é feita através de um aplicativo disponível para esta plataforma. Outros. Além desses aplicativos, também existem jogos, programas educativos e programas para desenvolvimento de software. Estrutura da comunidade. Mascote. O mascote da comunidade do KDE é um dragão verde chamado Konqi. Konqi tem uma namorada chamada Katie. Konqi e Katie fizeram sua aparição no Evento de Lançamento do KDE 4.0 e no Acampamento KDE 2010. O Konqi também aparece na caixa de diálogo sobre o software do KDE. Kandalf, o mago, foi o antigo mascote da comunidade KDE durante suas versões 1.xe 2.x, mas foi abandonado devido a questões de direitos autorais (sua semelhança com Gandalf). A aparência de Konqi foi oficialmente redesenhada com a chegada do Plasma 5, com a entrada de Tyson Tan, vencendo a competição de redesenho nos fóruns do KDE. Identidade. O KDE tem diretrizes de identidade da comunidade (CIG) para definições e recomendações que ajudam a comunidade a estabelecer um design único, característico e atraente. O logotipo oficial do KDE exibe a forma de marca registrada branca da "K-Gear" em um quadrado azul com cantos arredondados. A cópia do logotipo do KDE está sujeita à LGPL. Alguns logotipos da comunidade local são derivações do logotipo oficial. As etiquetas de software do KDE são usadas pelos produtores de software para mostrar que são parte da comunidade do KDE ou que usam a Plataforma do KDE. Existem três rótulos disponíveis. O rótulo "Powered by KDE" é usado para mostrar que um aplicativo obtém sua força na comunidade do KDE e na plataforma de desenvolvimento do KDE. O rótulo "Built on the KDE Platform" indica que o aplicativo usa a plataforma KDE. A parte do rótulo da família KDE é usada por autores de aplicativos para identificar-se como parte da comunidade do KDE. Muitas aplicações do KDE possuem um K no nome, principalmente como uma letra inicial. O K em muitas aplicações do KDE é obtido pela ortografia de uma palavra que originalmente começa com C ou Q de forma diferente, por exemplo, Konsole e Kaffeine. Além disso, alguns apenas prefixam uma palavra comumente usada com um K, por exemplo, KGet. Entre as aplicações e tecnologias do "KDE SC 4", no entanto, a tendência é não ter um K no nome, como "Stage" e "Dolphin". Organização e patrocinadores. As questões financeiras e legais do KDE são tratadas pela KDE e.V., uma organização alemã sem fins lucrativos com sede em Berlim. A organização também auxilia os membros da comunidade na organização de suas conferências e reuniões. A KDE e.V. ajuda a manter os servidores necessários pela comunidade do KDE. Possui a marca KDE e o logotipo correspondente. Ela paga os custos de viagem para reuniões e subsidia eventos. Grupos de trabalho formados são projetados para formalizar algumas funções dentro do KDE e para melhorar a coordenação dentro do KDE, bem como a comunicação entre as várias partes do KDE. A KDE e.V. não influencia o desenvolvimento de software. O logotipo da KDE e.V. foi contribuído por David Vignoni. As três bandeiras no topo do logotipo representam as três principais tarefas da KDE e.V.: apoiar a comunidade, representar a comunidade e governar a comunidade. Um indivíduo ou empresa podem se tornar patrocinadores do KDE pagando um valor anual e se tornando um membro associado. As reuniões, servidores e eventos relacionados da comunidade KDE são frequentemente patrocinados por indivíduos, universidades e empresas. Os membros de suporte da KDE e.V. são membros extraordinários que apóiam o KDE por meio de contribuições financeiras ou materiais. Os membros que contribuem têm o direito de exibir o logotipo "Membro do KDE" em seu site ou em materiais impressos. O Patrono do KDE é o mais alto nível de membro de suporte. Os patronos do KDE também têm o direito de exibir o logotipo exclusivo "Patrono do KDE" em seu site ou em materiais impressos. Em 15 de outubro de 2006, foi anunciado que Mark Shuttleworth havia se tornado o primeiro Patrono do KDE. Em 7 de julho de 2007, foi anunciado que a Intel Corporation e a Novell também se tornaram patronos do KDE. Em janeiro de 2010, a Google tornou-se uma contribuidora membro. Em 9 de junho de 2010, a KDE e.V. lançou a campanha "Join the Game"("Participe do jogo" em tradução livre). Esta campanha promove a ideia de se tornar um membro contribuidor para indivíduos. Está disponível para aqueles que gostariam de apoiar o KDE, mas não têm tempo suficiente para fazê-lo. Georg Greve, fundador da Free Software Foundation Europe (FSFE) foi o primeiro a "entrar no jogo". Comunicação. A comunicação dentro da comunidade ocorre por meio de listas de discussão, IRC, blogs, fóruns, anúncios de notícias, wikis e conferências. A comunidade tem um Código de Conduta para comportamento aceitável dentro da comunidade. As listas de discussão por e-mail são um dos principais canais de comunicação. A lista "Kde" é para discussões dos usuários e "Kde-announce" para atualizações de versão, patches de segurança e outras alterações. As listas gerais de desenvolvimento são o "Kde-devel", para comunicação entre desenvolvedores, e o "Kde-core-devel", usado para discutir o desenvolvimento da plataforma do KDE. Muitos aplicativos têm listas de discussão individuais. Os Fóruns da Comunidade do KDE são usados ativamente. "KDE Brainstorm", permite aos usuários enviar ideias aos desenvolvedores. A solicitação pode então ser considerada por outros usuários. A cada poucos meses, os recursos mais votados são enviados aos desenvolvedores. Robôs de IRC que anunciam novos tópicos e "posts" nos canais de IRC, entrançando posts de fóruns em mensagens de lista de discussão e oferecendo RSS feeds. O KDE possui três wikis: "UserBase", "TechBase" e "Community Wiki". Eles são traduzidos com a extensão do MediaWiki "Translate". O "UserBase" fornece documentação para usuários finais: tutoriais, links para ajuda e um catálogo de aplicativos. Seu logotipo foi projetado por Eugene Trounev. O "TechBase" fornece documentação técnica para desenvolvedores e administradores de sistema. O "Community Wiki" coordena as equipes da comunidade. É usado para publicar e compartilhar informações internas da comunidade. Canais de IRC fornecem discussões em tempo real. O Planet KDE é feito a partir dos blogs dos colaboradores do KDE. O KDE.News é o site dos anúncios de notícias relacionadas a aplicativos de escritório. O "KDE Buzz" rastreia identi.ca, Twitter, Picasa, Flickr e YouTube para mostrar as atividades de mídias sociais relacionadas ao KDE. O "KDE Pastebin" permite postar trechos de código-fonte e fornece realce de sintaxe para facilitar a revisão do código. As seções podem ser protegidas por senha. RSS notifica novos posts. O "KDE Bug Tracking System" usa o Bugzilla para gerenciar relatórios e correções. "Behind KDE" oferece entrevistas com os contribuidores do KDE. Desenvolvimento. Como muitos projetos gratuitos e de código aberto, o desenvolvimento do software KDE é principalmente um esforço voluntário, embora várias empresas, como Novell, Nokia ou Blue Systems, empreguem ou empregaram desenvolvedores para trabalhar em várias partes do projeto. Como um grande número de indivíduos contribui para o KDE de várias maneiras (por exemplo, código, tradução, arte), a organização de tal projeto é complexa. A direção geral da plataforma KDE é feita pelo "KDE Core Team". Estes são desenvolvedores que fizeram contribuições significativas dentro do KDE durante um longo período de tempo. Essa equipe se comunica usando a lista de discussão "kde-core-devel", que é arquivada pode ser lida publicamente, mas a participação requer aprovação. O KDE não possui um único líder central que possa vetar decisões importantes. Em vez disso, a equipe principal do KDE consiste de várias dezenas de colaboradores tomando decisões. As decisões não são feitas por voto formal, mas através de discussões. Os desenvolvedores também se organizam por equipes de tópicos. Por exemplo, a equipe do KDE Edu desenvolve softwares educacionais gratuitos. Embora essas equipes trabalhem em sua maioria independentes e nem todas sigam um cronograma de lançamento comum. Cada equipe tem seus próprios canais de mensagens, tanto no IRC quanto nas listas de discussão. E eles têm um programa de mentores que ajuda os iniciantes a começar. Atualmente, a comunidade do KDE usa o sistema de controle de revisão do Git. O site "KDE Projects" e o QuickGit fornecem uma visão geral de todos os projetos hospedados pelo sistema de repositório Git do KDE. O Review Board é usado para revisão de "patch"es. O Commitfilter enviará um email com cada commit para os projetos que você quer seguir, sem receber muitos emails ou obter informações não frequentes e redundantes. O English Breakfast Network (EBN) é uma coleção de máquinas que fazem a verificação de qualidade automatizada. O EBN fornece validação da documentação da API do KDE, validação da documentação do usuário, verificação do código-fonte. É operado por Adriaan de Groot e Allen Winter. O site Commit-Digest fornece uma visão geral semanal da atividade de desenvolvimento. "LXR" indexa classes e métodos usados no KDE. O "Season of KDE" (SoK) é um programa para pessoas que não puderam ser aceitas no Google Summer of Code. Eles terão um mentor da comunidade do KDE para ajudá-los caso surja alguma dúvida ou se não souberem como continuar. Em 20 de julho de 2009, o KDE anunciou que o milionésimo "commit" foi feito para o seu repositório "Subversion". Em 11 de outubro de 2009, Cornelius Schumacher, um dos principais desenvolvedores dentro do KDE escreveu sobre o custo estimado (usando o modelo COCOMO com o SLOCCount) para desenvolver o pacote de software do KDE com 4.273.291 LoC, que seria em torno de US$ 175.364.716, estimativa que não incluiria o Qt, o Calligra Suite, o Amarok, o Digikam e outros aplicativos que não fazem parte do núcleo do KDE. Usos notáveis. Educação. O sistema de educação escolar do Brasil operava computadores com o software KDE, com mais de 42.000 escolas em 4.000 cidades, atendendo, assim, a quase 52 milhões de crianças. A distribuição base é chamada de Linux Educacional, e era baseada no Kubuntu. Além disso, milhares de estudantes no Brasil usam os produtos do KDE em suas universidades. O software KDE também está sendo executado em computadores de escolas portuguesas e venezuelanas, com respectivamente 700.000 e um milhão de sistemas atendidos. Empresas. A maior rede de lojas de artigos para o lar dos Estados Unidos, Lowe's, usa uma versão do openSUSE com KDE nos computadores usados pelos sócios da loja. Governo. A Alemanha usa o software KDE em suas embaixadas em todo o mundo, representando cerca de 11.000 sistemas. Através do uso do Pardus, uma distribuição Linux local, muitas seções do governo turco fazem uso do software KDE, incluindo as Forças Armadas Turcas, Ministério das Relações Exteriores, Ministério da Defesa Nacional, Polícia Turca e o SGK (Instituto de Segurança Social da Turquia), embora esses departamentos não usem exclusivamente o Pardus como sistema operacional. O CERN (Organização Européia para Pesquisa Nuclear) está usando o software KDE. Distribuições que utilizam o KDE. O KDE é disponibilizado em cerca de 80 distribuições Linux como ambiente de área de trabalho a ser escolhida no processo de instalação, na ISO ou como ambiente padrão:
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Kent
Kent Kent ou, raramente, Câncio é um condado situado no sudeste da Inglaterra, próximo de Londres, com capital em Maidstone. Kent é denominada "The Garden of England", pela sua beleza exuberante. Segundo estimativa de 2008, conta 1 660 100 habitantes numa área de 3736 km², limitada a leste pelo Mar do Norte, a sul pelo Estreito de Dover e por East Sussex, a oeste por Surrey e pela Grande Londres e a norte por Essex.
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Klabund
Klabund Klabund (Krosno Odrzańskie, 4 de novembro de 1890 - Davos, Suíça, 14 de agosto de 1928), pseudônimo do escritor alemão Alfred Henschke. O nome é a composicao de "Klabautermann" com "Vagabund". Obras. Além de livros de poesias, Klabund escreveu varias novelas. Entre as suas últimas obras, encontra-se o drama "Cromwell" (1926). Klabund escreveu 25 dramas e 14 romances, muitos deles ligados à temas históricos. Ele deixou uma coleção de 21 volumes de poesias. Marianne Kesting editou em 1930 a colecao completa, a "Gesammelte Werke" de Klabund.
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Linguagens de programação
Linguagens de programação
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Larry Wall
Larry Wall Larry Wall (Los Angeles, ) é um programador, linguista e autor americano, conhecido principalmente por ser o criador da linguagem de programação Perl. Atualmente trabalha na editora de livros O'Reilly Media. Wall obteve o grau de bacharel da "Seattle Pacific University" em 1976. Wall é autor do cliente Usenet rn e do quase universalmente usado patch program. Ganhou o concurso de programação "International Obfuscated C Code Contest" duas vezes e foi o primeiro vencedor do prêmio da Free Software Foundation pelo avanço do software livre em 1998. Além de suas habilidades técnicas, Wall é conhecido por sua sagacidade e senso de humor frequentemente irônico, os quais demonstra nos comentários de código fonte ou no Usenet. Por exemplo: “Todos concordamos com a necessidade do compromisso. Nós apenas não concordamos com quando é necessário se comprometer.” Larry Wall tem as qualificações da linguística, que foram úteis no projeto do Perl. É o co-autor do livro "Programando em Perl" (frequentemente citado como o livro do camelo), que é o principal recurso para programadores da linguagem. Também foi editor de "Perl Cookbook". Seus livros são publicados pela O'Reilly. A fé Cristã de Wall influenciou partes da terminologia do Perl, como o próprio nome, uma referência bíblica à “pérola de grande valor” (). Outros exemplos similares são o nome da função bless, e a organização de suas falas em categorias tais como apocalipse e exegese. Wall também lembrou a sua fé quando falou em conferências, incluindo uma fala direta sobre sua crença na conferência sobre Perl em agosto de 1997 e uma discussão sobre o "Progresso do Peregrino" no YAPC (Yet Another Perl Conference - "mais uma conferência do Perl") em junho de 2000. Quando estavam na faculdade, Wall e sua esposa estudavam linguística com a intenção de mais tarde encontrarem uma linguagem que não possuísse escrita, talvez na África, e criarem um sistema de escrita para ela. Com este novo sistema de escrita eles queriam traduzir vários textos para a linguagem, entre eles a Bíblia. Por motivos de saúde esses planos foram cancelados, e eles continuaram nos Estados Unidos, onde Larry entrou para o Laboratório de Propulsão de Jatos da NASA, ao terminar a faculdade. Wall continua a supervisionar o desenvolvimento adicional do Perl e atua como Benevolent Dictator for Life (BDFL) (Ditador Benevolente Vitalício), do projeto do Perl. Existem duas "regras", assim chamadas, tiradas da documentação oficial do Perl:
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Lua
Lua A Lua é o único satélite natural da Terra e o quinto maior do Sistema Solar. É o maior satélite natural de um planeta no sistema solar em relação ao tamanho do seu corpo primário, tendo 27% do diâmetro e 60% da densidade da Terra, o que representa da sua massa. Entre os satélites cuja densidade é conhecida, a Lua é o segundo mais denso, atrás de Io. Estima-se que a formação da Lua tenha ocorrido há cerca de * de anos, relativamente pouco tempo após a formação da Terra. Embora no passado tenham sido propostas várias hipóteses para a sua origem, a explicação mais consensual atualmente é a de que a Lua tenha sido formada a partir dos detritos de um impacto de proporções gigantescas entre a Terra e um outro corpo do tamanho de Marte. A Lua encontra-se em rotação sincronizada com a Terra, mostrando sempre a mesma face visível, marcada por mares vulcânicos escuros entre montanhas cristalinas e proeminentes crateras de impacto. É o mais brilhante objeto no céu a seguir ao Sol, embora a sua superfície seja na realidade escura, com uma refletância pouco acima da do asfalto. A sua proeminência no céu e o seu ciclo regular de fases tornaram a Lua, desde a antiguidade, uma importante referência cultural na língua, em calendários, na arte e na mitologia. A influência da gravidade da Lua está na origem das marés oceânicas e ao aumento do dia sideral da Terra. A sua atual distância orbital, cerca de trinta vezes o diâmetro da Terra, faz com que no céu o satélite pareça ter o mesmo tamanho do Sol, permitindo-lhe cobri-lo por completo durante um eclipse solar total. A Lua é o único corpo celeste para além da Terra no qual os seres humanos já pisaram. O Programa Luna, da União Soviética, foi o primeiro a atingir a Lua com sondas não tripuladas em 1959. O Programa Apollo, do governo dos Estados Unidos, permitiu a realização das únicas missões tripuladas até hoje ao satélite, desde a primeira viagem tripulada em 1968 pela Apollo 8, até seis alunagens tripuladas entre 1969 e 1972, a primeira das quais a Apollo 11. Estas missões recolheram mais de 380 quilogramas de rochas lunares que têm sido usadas no estudo sobre a origem, história geológica e estrutura interna da Lua. Após a missão Apollo 17, em 1972, a Lua foi visitada apenas por naves espaciais não tripuladas, como pela última sonda do programa soviético "Lunokhod". Desde 2004, Japão, China, Índia, Estados Unidos e a Agência Espacial Europeia enviaram sondas espaciais ao satélite natural. Estas naves espaciais têm contribuído para confirmar a descoberta de água gelada em crateras lunares permanentemente escuras nos pólos e vinculada ao regolito lunar. Missões tripuladas futuras para a Lua foram planejadas, através de esforços de governos e do financiamento privado. A Lua permanece, conforme acordado no Tratado do Espaço Exterior, livre para todas as nações que queiram explorar o satélite para fins pacíficos. Nome e etimologia. O termo em português "Lua" tem origem no latim "Luna". Outro termo menos comum é "selene", derivado do grego antigo "selene" (), de onde o prefixo "seleno-" (como em "selenografia") derivou-se. Formação. Têm sido propostos vários mecanismos para explicar a formação da Lua, a qual ocorreu há 4,527 ± 0,010 mil milhões de anos e entre 30 e 50 milhões de anos após a origem do Sistema Solar. Uma pesquisa recente propõe uma idade ligeiramente mais jovem, entre 4,4 e * de anos. Entre os mecanismos propostos estão a fissão da Lua a partir da crosta terrestre através de força centrífuga (o que exigiria uma imensa força de rotação da Terra), a captura gravitacional de uma lua pré-formada (o que exigiria uma improvável atmosfera alargada da Terra capaz de dissipar a energia da passagem da Lua) e a formação simultânea da Terra e da Lua no disco de acreção primordial (que não explica o esgotamento de ferro metálico na Lua). Estas hipóteses também não conseguem explicar o elevado momento angular do sistema Terra-Lua. A hipótese que hoje em dia prevalece é a de que o sistema Terra- Lua se formou em resultado de um gigantesco impacto, durante qual um corpo do tamanho de Marte, denominado Theia, colidiu com a recém-formada proto-Terra, projetando material para a sua órbita que se aglutinou até formar a Lua. Modelos de computador do gigantesco cenário de impacto frequentemente afirmam que mais de 60% da lua deveria ser feita de material de Theia, mas a Lua e a Terra são um espelho de uma para o outra em sua composição, lançando dúvidas sobre uma origem principalmente de material lunar extraterrestre e, portanto, a única explicação de impacto. Essa objeção intrigante pode ser resolvida se a lua se formar quando Theia atingir a Terra enquanto ela ainda era jovem e coberta de rocha derretida. Uma teoria de 2017 propõe que a lua é feita de mini-luas. Uma amálgama de mini-luas explica por que a lua tem uma composição química terrestre. Dezoito meses antes de uma conferência sobre a possível origem da Lua em outubro de 1984, Bill Hartmann, Roger Phillips e Jeff Taylor desafiaram os colegas cientistas ao dizer: "Vocês têm 18 meses. Voltem para os dados da Apollo, voltem para os computadores, façam o que tiverem que fazer, mas decidam-se. Não venham para a conferência a menos que tenham algo a dizer sobre o nascimento da Lua." Na conferência de 1984 em Kona, no Havaí, a hipótese do grande impacto emergiu como a mais popular. "Antes da conferência havia partidários das três teorias "tradicionais", além de algumas pessoas que estavam começando a considerar o impacto gigante como uma possibilidade séria e havia um enorme grupo apático que achava que o debate jamais seria resolvido. Posteriormente, havia essencialmente apenas dois grupos: os defensores do grande impacto e os agnósticos". Pensa-se que os impactos gigantes tenham sido comuns nos primórdios do Sistema Solar. As simulações em computador do modelo do grande impacto são consistentes com as medições do momento angular do sistema Terra-Lua e com o pequeno tamanho do núcleo lunar. Estas simulações mostram também que a maior parte da Lua tem origem no corpo que embateu, e não na proto-Terra. No entanto, há testes mais recentes que sugerem que a maior parte da Lua se formou a partir da Terra, e não do impacto. Os meteoritos mostram que os outros corpos do Sistema Solar interior, como Marte e Vesta, têm composições isotópicas de oxigénio e tungsténio muito diferentes das encontradas na Terra, enquanto a Terra e a Lua têm composições isotópicas praticamente idênticas. A mistura de material vaporizado entre a Terra e a Lua em formação após o impacto poderia ter equilibrado as suas composições isotópicas, embora isto ainda seja debatido. A grande quantidade de energia libertada no evento de grande impacto e a posterior aglutinação de material na órbita da Terra teriam fundido a camada externa terrestre, formando um oceano de magma. A recém-formada Lua teria tido também o seu próprio oceano de magma lunar; cuja profundidade se estima ter sido entre 500 km e o raio total da Lua. Apesar da hipótese do grande impacto ser precisa na explicação de muitas linhas de evidência, existem ainda algumas questões em aberto, a maioria delas sobre a composição da Lua. Em 2001, uma equipa do Instituto Carnegie de Washington divulgou a medição mais precisa das assinaturas isotópicas de rochas lunares até à atualidade. Para sua surpresa, descobriram que as rochas do programa Apollo apresentavam uma assinatura isotópica idêntica à de pedras da Terra e diferente de quase todos os outros corpos do Sistema Solar. Tratou-se de uma observação inesperada, uma vez que se acreditava que a maior parte do material que entrou em órbita para formar a Lua fosse proveniente de Theia. Em 2007, um grupo de investigadores do Instituto de Tecnologia da Califórnia anunciou que a probabilidade da Terra e de Theia terem assinaturas isotópicas idênticas era inferior a 1%. Uma análise de isótopos de titânio nas amostras lunares trazidas pela Apollo, publicada em 2012, demostrou que a Lua tem a mesma composição que a Terra. Características físicas. Estrutura interna. A Lua é um corpo diferenciado: a sua crosta, manto e núcleo são distintos em termos geoquímicos. A Lua possui um núcleo interno sólido e rico em ferro com 240 km de raio e um núcleo externo fluido composto essencialmente por ferro em fusão e com um raio de aproximadamente 300 km. O núcleo é envolto por uma camada parcialmente em fusão com um raio de cerca de 500 km. Pensa-se que esta estrutura se tenha desenvolvido a partir da cristalização fracionada de um oceano de magma global, pouco tempo depois da formação da lua, há cerca de 4,5 mil milhões de anos. A cristalização deste oceano de magma teria criado um manto máfico através de precipitação e afundamento dos minerais olivina, piroxena e ortopiroxena. Após a cristalização de cerca de três quartos do oceano de magma, tornou-se possível a formação de plagioclases que permaneceram à superfície, formando a crosta. Os últimos líquidos a cristalizar teriam inicialmente permanecido entre a crosta e o manto, com elevada abundância de elementos incompatíveis e produtores de calor. De forma consistente com esta hipótese, o mapeamento geoquímico a partir de órbita revela que a crosta é composta principalmente por anortosito, enquanto que as amostras de rocha lunar dos rios de lava que emergiram à superfície a partir da fusão parcial do manto confirmam a composição máfica do manto, o qual é mais rico em ferro do que o da Terra. As análises geofísicas sugerem que a crosta tenha em média 50 km de espessura. A lua é o segundo satélite mais denso do Sistema Solar, atrás apenas de Io. No entanto, o seu núcleo interno é pequeno, com um raio de apenas 350 km ou menos, o que corresponde apenas a cerca de 20% da sua dimensão, em contraste com os cerca de 50% da maior parte dos outros corpos terrestres. A sua composição não está ainda confirmada, mas é provavelmente de ferro metálico ligado com uma pequena quantidade de enxofre e níquel. A análise da rotação da Lua indica que o núcleo se encontra num estado de fusão, pelo menos parcialmente. Geologia de superfície. A topografia da Lua tem sido medida através de altimetria laser e análise estereoscópica. A característica topográfica mais proeminente é a Bacia do Polo Sul-Aitken, com cerca de km de diâmetro, o que faz dela a maior cratera lunar e a maior cratera conhecida do Sistema Solar. Com 13 km de profundidade, a sua base é o ponto de menor altitude na Lua. Os pontos de maior altitude encontram-se imediatamente a nordeste, tendo sido sugerido que esta área possa ter sido formada através do próprio impacto oblíquo na superfície que deu origem à bacia. As outras bacias de impacto de grande dimensão, como os mares Imbrium, Serenatis, Crisium, Smythii e Orientale, possuem igualmente pouca altitude e orlas elevadas. A face oculta da lua tem uma altitude média cerca de 1,9 km superior à face visível. Características vulcânicas. As planícies lunares escuras e relativamente desertas que podem ser facilmente observadas a olho nu são denominadas mares (ou "maria" em latim, singular "mare"), uma vez que os astrónomos da Antiguidade acreditavam que continham água. Sabe-se hoje que são vastos depósitos de antiga lava basáltica. Embora semelhantes aos basaltos terrestres, os basaltos dos mares têm uma abundância muito maior de ferro, ao mesmo tempo que não possuem quaisquer minerais alterados pela água. A maioria destas lavas afluiu ou foi projetada para as depressões formadas por crateras de impacto, uma vez que eram as regiões de menor altitude da topografia lunar. Na orla dos mares, encontram-se várias províncias geológicas com vulcões-escudo e domos lunares. Os mares encontram-se quase exclusivamente na face visível da Lua, cobrindo 31% da sua superfície, enquanto que na face oculta são raros e apenas cobrem 2% da superfície. Pensa-se que isto seja devido à concentração de elementos produtores de calor na face visível, observada em mapas geoquímicos obtidos através de espectómetros de raios gama, a qual poderia ter provocado o aquecimento, fusão parcial, subida à superfície e erupção do manto inferior. A maior parte dos basaltos presentes nos mares surgiu durante erupções no período ímbrico, há cerca de 3-3,5 mil milhões de anos, embora algumas amostras datadas através de radiometria sejam de há 4,2 mil milhões de anos, enquanto que as erupções mais recentes datam de há apenas 1,2 mil milhões de anos. As regiões mais claras da superfície lunar são denominadas "terrae" ou montanhas, uma vez que são mais elevadas do que a maior parte dos mares. Têm sido datadas, através de radiometria, de há 4,4 mil milhões de anos, e podem representar cumulatos de plagioclase do oceano de magma lunar. Em contraste com a Terra, pensa-se que nenhuma das principais cadeias montanhosas da Lua tenha sido formada em consequência de eventos tectónicos. A concentração de mares na face visível é provavelmente o reflexo de uma crosta substancialmente mais espessa nas montanhas da face oculta, as quais podem ter sido formadas durante o impacto a pouca velocidade de uma segunda lua terrestre poucas dezenas de milhões de anos após a formação das próprias luas. Crateras de impacto. O outro principal processo geológico que afetou a superfície lunar foi a formação de crateras de impacto, em consequência da colisão de asteroides e cometas com a superfície lunar. Estima-se que só na face visível existam trezentas mil crateras com diâmetro superior a 1 km. Algumas são batizadas em homenagem a investigadores, cientistas e exploradores. A escala de tempo geológico lunar baseia-se nos principais eventos de impacto, como o nectárico, ímbrico ou o Mare Orientale, estruturas caracterizadas por vários anéis de material revolto, geralmente com centenas ou dezenas de quilómetros de diâmetro e associadas a uma gama diversa de depósitos de material projetado que formam um horizonte estratigráfico regional. A ausência de atmosfera, meteorologia e processos geológicos recentes significa que muitas destas crateras se encontram perfeitamente preservadas. Embora só algumas das bacias com múltiplos anéis tenham sido datadas em definitivo, são, no entanto, usadas como referência para atribuir datas relativas. Uma vez que as crateras de impacto se acumulam a um ritmo relativamente constante, a contagem do número de crateras em determinada área pode ser usada para estimar a idade da superfície. As idades radiométricas das rochas de impacto recolhidas durante as missões Apollo datam de há 3,8-4,1 mil milhões de anos. Isto tem sido usado para propor a existência de um Intenso bombardeio tardio de impactos. A crosta lunar é revestida por uma superfície de rocha pulverizada denominada regolito, formada por processos de impacto. O regolito mais fino, o solo lunar de dióxido de silício, tem uma textura semelhante à neve e odor semelhante a pólvora usada. O regolito das superfícies mais antigas é geralmente mais espesso que o das superfície mais jovens, variando entre 10 a 20 metros nas terras altas e 3 a 5 metros nos mares. Por baixo da camada de regolito encontra-se o megaregolito, uma camada de rocha matriz bastante fraturada com vários quilómetros de espessura. Presença de água. Não é possível suster água em estado líquido na superfície lunar. Quando exposta à radiação solar, a água decompõe-se rapidamente através de um processo denominado fotólise, perdendo-se para o espaço. No entanto, desde a década de 1960 que os cientistas têm levantado a hipótese de existirem na Lua depósitos de água sob a forma de gelo. O gelo teria origem em impactos de cometas ou possivelmente produzido através da reação entre rochas lunares ricas em oxigénio e o hidrogénio do vento solar, deixando vestígios de água que poderiam ter sobrevivido nas crateras frias e sem luz dos polos lunares. As simulações em computador sugerem que até  km² da superfície podem estar em sombra permanente. A presença de quantidades utilizáveis de água na Lua é importante para se considerar a viabilidade económica de uma eventual colonização da Lua, uma vez que o transporte a partir da Terra seria economicamente inviável. Em décadas posteriores, têm vindo a ser encontrados vestígios de presença de água na superfície lunar. Em 1994, uma experiência com radar biestático pela sonda "Clementine" indicou a existência de pequenas bolsas de água congelada perto da superfície. No entanto, observações posteriores no radiotelescópio de Arecibo sugerem que estas bolsas se podem tratar, na realidade, de rochas projetadas a partir de crateras de impacto recentes. Em 1998, o espectómetro de neutrões a bordo da sonda "Lunar Prospector" indicou que há hidrogénio presente em elevada concentração no primeiro metro de profundidade do solo nas imediações das regiões polares. Em 2008, uma amostra de rocha vulcânica trazida para a Terra pela Apollo 15 revelou que existiam pequenas quantidades de água no seu interior. Ainda em 2008, a sonda "Chandrayaan-1" confirmou a existência de água à superfície através do mapeador de mineralogia a bordo. O espectómetro observou linhas de absorção em comum com o hidroxilo na luz solar refletida, fornecendo evidências de grandes quantidades de água na forma de gelo na superfície lunar. A sonda mostrou que estas concentrações podem ser tão elevadas como ppm. Em 2009, o LCROSS enviou um módulo de impacto para uma cratera polar em sombra permanente, detetando pelo menos 100 kg de água numa pluma de material projetado. Uma outra análise dos dados do LCROSS mostrou que a quantidade de água detetada estava próxima dos 155 kg (±12 kg). Em 2018, a moganita, um dióxido de silício semelhante ao quartzo, foi detectado em rochas lunares. Isso é significativo porque a moganita é um mineral que requer água para se formar, reforçando a crença de que a água existe na Lua. Em agosto do mesmo ano, confirmando as previsões anteriores, uma recente pesquisa pela revista "Proceedings of National Academy of Sciences" (PNAS), confirmou a presença de gelo nos polos lunares. A pesquisa utilizou dados do Mapeador de Mineralogia da Lua (M3) a bordo da espaçonave Indiana Chandrayaan-1 e analisou as propriedades reflexivas da superfície lunar. O equipamento ainda forneceu medições diretas de como as moléculas absorvem a luz infravermelha, proporcionando a capacidade de diferenciar entre água líquida, vapor e gelo sólido. Em outubro de 2020, a NASA confirmou a existência de água na superfície lunar. Após mais de dois anos de análises, as observações feitas foram publicadas e confirmam, de forma inequívoca, que existe água na Lua. Outro estudo mostra que a água pode se acumular em cerca de 40 000 quilômetros quadrados do satélite, uma superfície similar à de Extremadura (Espanha). A descoberta foi feita após o telescópio SOFIA ser apontado para a cratera Clavius, que possui mais de 200 quilomêtros de diâmetro perto do Polo Sul da Lua, quando captou ondas infravermelhas que apenas a água pode emitir, "Não há nenhum outro material na Lua que possa dar esse mesmo sinal" diz pesquisadores em entrevista à revista Nature Astronomy. Casey Honniball, planetologista da Universidade do Havaí (Estados Unidos) e pesquisadora da NASA, juntamente com sua equipe, afirma que a quantidade de água na cratera é de cerca de 200 microgramas para cada grama de terra lunar. Embora já tenha havido sinais de água na superfície lunar, essas novas descobertas sugerem que ela é mais abundante do que se pensava anteriormente. Campo gravitacional. O campo gravitacional da Lua tem sido medido através do rastreio do efeito Doppler de sinais de rádio emitidos a partir de veículos em órbita. As principais características da gravidade lunar são concentrações de massa, anomalias gravitacionais positivas de grande dimensão, associadas a algumas das maiores bacias de impacto, causadas em parte pelos densos depósitos basálticos que preenchem estas crateras. Estas anomalias influenciam significativamente a órbita de veículos em torno da Lua. No entanto, há ainda eventos sem explicação; as correntes de magma não explicam por si só todo o mapa gravitacional, e existem algumas concentrações de massa que não têm relação com o vulcanismo dos mares. No entanto, devido à rotação sincronizada da Lua, não é possível efetuar o rastreio de veículos espaciais muito para além das extremidades do lado visível, pelo que o campo gravitacional do lado oculto se encontra ainda pouco caracterizado. A aceleração provocada pela gravidade na superfície da Lua é de 1,6249 m/s², cerca de 16,6% daquela da superfície terrestre. Quando considerada a totalidade da superfície, a variação na aceleração gravitacional é de cerca de 0,0253 m/s² (1,6% da aceleração provocada pela gravidade). Uma vez que o peso está diretamente relacionado com a aceleração gravitacional, os corpos na Lua pesam apenas 16,6% daquilo que pesariam na Terra. Campo magnético. A Lua tem um campo magnético exterior de cerca de 1-100 nanoteslas, menos de um centésimo do campo magnético terrestre. A Lua não tem um campo magnético global dipolar, como aqueles que são gerados pelo geodínamo característico de um núcleo de metal líquido, apresentando apenas magnetização da crosta, provavelmente adquirida muito cedo na sua História quando o geodínamo estava ainda em funcionamento. De acordo com uma hipótese alternativa, alguma da magnetização restante pode ter origem em campos magnéticos transitórios gerados durante grandes eventos de impacto, através da expansão de uma nuvem de plasma gerada por esse impacto na presença de um campo magnético ambiente. Isto é apoiado pela localização aparente das maiores magnetizações da crosta perto dos antípodas das maiores bacias de impacto. Cauda lunar. A lua é seguida por uma cauda de matéria irradiada. A cauda lunar é feita de átomos de sódio lançados do solo lunar para o espaço por quedas de meteoros e, em seguida, empurrados por centenas de milhares de quilômetros pela radiação solar. A cauda lunar é invisível a olho nu. Durante alguns dias de lua nova a cada mês, no entanto, o feixe se torna visível para telescópios de alta potência que podem detectar o fraco brilho laranja do sódio no céu. O feixe então aparece como um ponto brilhante e difuso no céu oposto ao sol, cerca de cinco vezes o diâmetro da lua cheia e 50 vezes mais escuro do que os olhos humanos podem perceber. Pesquisadores detectaram uma "mancha de sódio" pela primeira vez na década de 1990. Mas, embora o ponto sempre apareça ao mesmo tempo no ciclo lunar, seu brilho varia muito. A câmera do céu inteiro (que pode analisar os comprimentos de onda de luz emitidos por elementos específicos, como o sódio) fez cerca de 21 000 imagens da lua, de 2006 a 2019. Atmosfera. A atmosfera da Lua é tão rarefeita que pode praticamente ser considerada vácuo, sendo a sua massa total inferior a 10 toneladas. A pressão à superfície desta pequena massa é de cerca de 3 x 10−15 atm (0,3 nPa) e varia ao longo do dia lunar. A atmosfera tem origem na desgaseificação e pulverização catódica – a libertação de átomos do solo lunar provocada pelo bombardeio de iões do vento solar. Entre os elementos detetados estão o sódio e o potássio, produzidos pela pulverização catódica (também encontrados nas atmosferas de Mercúrio e de Io); o hélio-4, produzido pelo vento solar; e árgon-40, rádon-222 e polónio-210, desgaseificados após serem criados por decaimento radioativo no interior da crosta e do manto. A ausência de elementos neutros (átomos ou moléculas) como oxigénio, nitrogénio, carbono, hidrogénio e magnésio, que estão presentes no regolito, ainda não é compreendida. A sonda "Chandrayaan-1" assinalou a presença de vapor de água em diferentes concentrações de acordo com a latitude, com a concentração maior a ocorrer entre os 60-70º. É provavelmente gerado pela sublimação de gelo no rególito. Estes gases podem regressar ao monolito devido à gravidade ou então perderem-se no espaço, tanto através da radiação solar como, se tiverem sido ionizados, serem levados pelo campo magnético do vento solar. Estações. A inclinação axial da Lua em relação à eclíptica é de apenas 1,5424º, muito inferior aos 23,44º da Terra. Devido a isto, a iluminação solar varia muito pouco em função das estações do ano e os elementos topográficos desempenham o principal papel nos efeitos das estações. A partir de imagens obtidas pela sonda "Clementine" em 1994, é provável que quatro regiões montanhosas na orla da cratera Peary, no polo norte, estejam permanentemente iluminadas, não existindo regiões semelhantes no polo sul. De igual modo, há locais que se encontram em sombra permanente na base de várias crateras polares, sendo estes locais extremamente frios. A sonda "Lunar Reconnaissance Orbiter" mediu a temperatura de verão mais baixa nas crateras do polo sul, registando 35 K (-238 °C), e na cratera Hermite, no polo norte, registando 26 K. Trata-se da temperatura mais fria alguma vez registada por uma sonda espacial no Sistema Solar, inferior até à da superfície de Plutão. Relação com a Terra. A Lua é pequena em relação à Terra, com cerca de um quarto do diâmetro do planeta e 1/81 da sua massa. É a maior lua do Sistema Solar proporcionalmente ao tamanho do seu planeta, embora Caronte seja maior em relação ao planeta anão Plutão, com cerca de 1/9 da sua massa. Ainda assim, a Terra e a Lua são consideradas um sistema satélite-planeta, em vez de um sistema de planeta duplo, uma vez que o seu baricentro (o centro de massa comum) se situa km no interior da superfície da Terra. Órbita. A Lua descreve uma órbita completa em torno da Terra e em relação às estrelas fixas cerca de uma vez a cada 27,3 dias (o seu período sideral). No entanto, uma vez que a Terra descreve ao mesmo tempo a sua órbita em redor do Sol, a Lua demora ligeiramente mais tempo a apresentar a mesma fase lunar, cujo ciclo demora cerca de 29,5 dias (o seu período sinódico). Ao contrário da maior parte dos satélites ou de outros planetas, a Lua orbita mais perto do plano eclíptico do que do plano equatorial. A órbita lunar é ligeiramente perturbada pelo Sol e pela Terra de várias maneiras e com mecanismos de interação complexos. Por exemplo, o plano de movimento orbital da Lua roda gradualmente, o que afeta por sua vez outros aspetos do movimento lunar. Estes efeitos são descritos em termos matemáticos pelas leis de Cassini. Aparência a partir da Terra. A Lua encontra-se em rotação sincronizada, ou seja, o tempo que demora a descrever uma rotação em torno do seu eixo é o mesmo que leva para completar uma órbita à volta da Terra. Isto faz com que tenha praticamente sempre a mesma superfície voltada para a Terra. A Lua já rodou a uma velocidade maior durante a sua formação, mas ao longo do período inicial da sua história a sua velocidade foi diminuindo e sincronizou-se nesta orientação em resultado de efeitos de fricção associados a deformações da força de maré provocadas pela Terra. O lado da Lua voltado para a Terra é denominado "face visível" ou "lado visível", e o oposto é denominado "face oculta ou "lado oculto". A face oculta é por vezes denominada "lado negro", embora na realidade seja tão iluminada quanto a face visível: uma vez a cada dia lunar. A Lua possui um albedo excepcionalmente baixo, o que lhe confere uma refletância um pouco mais brilhante do que asfalto gasto. Apesar disso, é o segundo corpo mais brilhante no céu a seguir ao Sol. Isto deve-se em parte ao brilho proporcionado pelo efeito da oposição. Durante as fases de quarto, a Lua aparenta ter um décimo do brilho da lua cheia, em vez de metade, como seria expectável. Para além disso, a constância de cor da visão recalibra as relações entre as cores de um objeto e a sua envolvente; e, uma vez que o céu à volta da Lua é bastante mais escuro, os olhos veem a lua como um objeto brilhante. As orlas da lua cheia aparentam ser tão brilhantes como o centro, sem escurecimento de bordo, uma vez que o solo lunar reflete mais luz em direção ao Sol do que em todas as outras direções. A Lua aparenta ser maior ao estar mais próxima da linha de horizonte, embora na realidade isto se deva apenas a um efeito psicológico conhecido por ilusão lunar, descrito pela primeira vez no séc. VII a.C.. O ponto de maior altitude da Lua no céu varia. Embora tenha quase o mesmo limite do Sol, este valor difere em função da fase lunar e da estação do ano, sendo o mais alto durante a lua cheia de inverno. O ciclo de nodos lunares, com a duração de 18,6 anos, também tem influência: quando o nodo ascendente da órbita lunar se encontra no equinócio de verão, a declinação lunar pode atingir os 28º em cada mês. A orientação do crescente lunar também depende da latitude do observador: em latitudes próximas do equador, a forma do quarto assemelha-se a um sorriso. Tem havido diversas controvérsias ao longo da história sobre se as características da superfície lunar se alteram com o decorrer do tempo. Hoje, muitas destas alegações são consideradas ilusórias e resultantes da observação sob diferentes condições de luz, fenómenos de "seeing" ou esquemas incorretos. No entanto, ocasionalmente ocorrem fenómenos de desgaseificação, que podem ser responsáveis por uma pequena percentagem dos fenômenos lunares transitórios. Recentemente, foi sugerido que uma região com cerca de 3 km de diâmetro na superfície lunar foi modificada por uma libertação de gás há cerca de um milhão de anos. A aparência da Lua, tal como a do Sol, pode ser afetada pela atmosfera da Terra. Entre os efeitos mais comuns estão um halo de 22º que se forma quando a luz da Lua é refratada pelos cristais de cirroestratos a elevada altitude, e coroas quando a Lua é observada através de nuvens pouco espessas. Efeitos nas marés. As marés na Terra são essencialmente provocadas pela variação de intensidade da força gravitacional da Lua de um lado para o outro do planeta, a qual é denominada força de maré. Isto forma duas dilatações de maré na Terra, mais facilmente observáveis em alto mar na forma de marés oceânicas. Uma vez que a Terra gira em torno de si própria cerca de 27 vezes mais rapidamente do que a Lua roda à sua volta, as dilatações são arrastadas pela superfície terrestre mais rapidamente do que o movimento da Lua, completando uma rotação em volta da Terra por dia, à medida que roda no seu eixo. As marés oceânicas são ainda amplificadas por outros efeitos: a fricção no manto oceânico, a inércia do movimento da água, o estreitamento das bacias oceânicas perto de terra e oscilações entre diferentes bacias oceânicas. A atração gravitacional do Sol nos oceanos da Terra é de cerca de metade da Lua, sendo a interação entre ambas a responsável pela mudança das marés. O acoplamento gravitacional entre a Lua e a protuberância de maré mais próxima de si atua como torque na rotação da Terra, roubando momento angular e energia cinética à rotação da Terra. Por conseguinte, é acrescentado momento angular à órbita da Lua, o que a acelera e a leva para uma órbita mais distante e longa. Como resultado, a distância entre a Terra e a Lua está aumentando, enquanto a rotação da Terra se encontra em desaceleração. As medições realizadas a partir de experiências com refletores de "laser" durante as missões Apollo revelaram que a distância da Lua à Terra aumenta anualmente 38 milímetros (embora isto seja apenas 0,10 ppm/ano do raio da órbita da Lua). Os relógios atómicos revelam que o dia terrestre aumenta cerca de 15 microssegundos em cada ano, aumentando lentamente o ritmo de ajuste dos segundos bissextos do Tempo Universal Coordenado (UTC). Se não houvesse interferências, o movimento de maré continuaria até que a rotação da Terra e o período orbital da Lua se sincronizassem. No entanto, muito antes desse processo se completar, o Sol irá transformar-se numa gigante vermelha que irá engolir a Terra. A superfície lunar também experiência movimentos de maré, os quais têm uma amplitude de cerca de 10 centímetros ao longo de 27 dias, e dois componentes: um fixo, devido à Terra, porque o satélite está em rotação sincronizada, e um variável, devido ao Sol. O componente induzido pela Terra surge a partir da libração, uma consequência da excentricidade orbital da Lua; se a órbita do satélite fosse perfeitamente circular, só haveria marés solares. A libração também muda o ângulo a partir do qual a Lua é vista, permitindo que cerca de 59% da superfície possa ser observada a partir da Terra (embora apenas metade, em dado momento). Os efeitos cumulativos do estresse provocado pelos movimentos de maré produzem sismos lunares, os quais são muito menos comuns e menos intensos do que os sismos terrestres embora, por outro lado, possam durar até uma hora devido à ausência de água para amortecer as vibrações sísmicas. Eclipses. Os eclipses ocorrem apenas quando o Sol, a Terra e a Lua se encontram alinhados. Os eclipses solares ocorrem durante a lua nova, quando a Lua se encontra entre o Sol e a Terra. Por outro lado, os eclipses lunares ocorrem durante a lua cheia, quando a Terra se encontra entre o Sol e a Lua. O tamanho aparente da Lua é aproximadamente o mesmo do Sol, quando ambos são observados a aproximadamente meio ângulo de largura. O Sol é muito maior do que a Lua, mas é precisamente esse maior afastamento que por coincidência faz com que tenha o mesmo tamanho aparente da Lua, muito mais próxima e mais pequena. As variações entre o tamanho aparente, devido às órbitas não circulares, são também muito coincidentes, embora ocorram em diferentes ciclos. Isto faz com que seja possível ocorrerem eclipses totais (em que a Lua aparenta ser maior do que o Sol) e eclipses solares anulares (em que a Lua aparenta ser menor do que o Sol). Durante um eclipse total, a Lua cobre por completo o disco solar e a coroa solar torna-se visível a olho nu. Uma vez que a distância entre a Lua e a Terra aumenta muito devagar ao longo do tempo, o diâmetro angular da Lua também está a diminuir. Isto significa que há centenas de milhões de anos a Lua cobriu por completo o Sol em eclipses solares, e que não era possível ocorrerem eclipses anulares. Da mesma forma, daqui a 600 milhões de anos, a Lua deixará de cobrir o Sol por completo, e só ocorrerão eclipses anulares. Uma vez que a órbita da Lua em volta da Terra tem uma inclinação de cerca de 5º em relação à órbita da Terra em volta do Sol, os eclipses não ocorrem em todas as luas novas e cheias. Para ocorrer um eclipse, a Lua deve estar perto da intersecção dos dois planos orbitais. O intervalo de tempo e recorrência dos eclipses é descrito no ciclo de Saros, que tem uma duração de aproximadamente dezoito anos. Uma vez que a Lua bloqueia permanentemente a nossa visão de uma área circular do céu com meio grau de diâmetro, o fenómeno relacionado de ocultação ocorre quando uma estrela ou planeta brilhante passam perto da Lua e são ocultados. Desta forma, um eclipse solar é uma ocultação do Sol. Como a Lua se encontra relativamente perto da Terra, a ocultação de estrelas individuais não é visível de todos os pontos do planeta, nem ao mesmo tempo. Devido à precessão da órbita lunar, em cada ano são ocultadas estrelas diferentes. Estudo. Antiguidade e Idade Média. O desenvolvimento da astronomia teve início com a necessidade de se compreender os ciclos lunares. Por volta do século V a.C., os astrónomos babilónicos tinham já registado o ciclo de Saros dos eclipses lunares, que decorria ao longo de dezoito anos, enquanto que astrónomos indianos tinham já descrito o alongamento mensal da Lua. O astrónomo chinês Shi Shen forneceu instruções sobre como prever eclipses solares e lunares. Posteriormente veio-se a compreender a forma física da lua e a razão do luar. O filósofo grego Anaxágoras argumentou que tanto o Sol como a Lua eram rochedos esféricos gigantes, e que a Lua refletia a luz solar. Embora os chineses durante a Dinastia Han acreditassem que a Lua fosse energia semelhante ao "qi", reconheciam também que a luz da Lua se tratava apenas do reflexo da luz do Sol. O teórico chinês Jing Fang (78–37 a.C.) descreveu a forma esférica da Lua. No século II d.C., Luciano de Samósata escreveu uma novela na qual os protagonistas viajam até à Lua, que encontram desabitada. Em 499 d.C., o astrónomo indiano Aryabhata menciona na sua obra "Āryabhaṭīya" que a luz do Sol refletida é o que provoca o brilho da Lua. O astrónomo e físico Alhazen (965–1039) concluiu que a luz solar não era refletida pela Lua de forma semelhante a um espelho, mas que a luz era emitida por todas as partes da superfície iluminadas em todas as direções. Na descrição do universo de Aristóteles (384-322 a.C.), a Lua marca a fronteira entre as esferas dos elementos mutáveis (terra, água, ar e fogo) e as estrelas perecíveis do éter, uma filosofia influente que dominaria o pensamento durante séculos. No entanto, no século II a.C., Seleuco de Seleucia propôs a teoria de que as marés se deviam à atração da Lua, e que a sua altura dependia da posição da Lua relativamente ao Sol. No mesmo século, Aristarco de Samos calculou a distância da Lua à Terra, obtendo um valor de cerca de vinte vezes o raio terrestre. Estes valores seriam mais tarde melhorados por Ptolomeu (90-168 d.C.), o qual concluiu que a distância média seria de 59 vezes o raio da terra e que a Lua teria um diâmetro 0,292 vezes o diâmetro terrestre. Estas valores estão muito próximos da medida correta de 60 e 0,273, respetivamente. Arquimedes (287–212 a.C.) inventou um planetário através do cálculo de deslocações da Lua e dos planetas conhecidos. Durante a Idade Média, antes da invenção do telescópio, tinha-se vindo progressivamente a aceitar que a Lua era uma esfera, embora muitos acreditassem que era plana. Em 1609, Galileu foi um dos primeiros a cartografar a Lua através de telescópio na sua obra "Sidereus Nuncius", fazendo notar que não era plana e que possuía montanhas e crateras. Seguem-se várias cartografias feitas através de telescópio; em finais do século XVII, a obra de Giovanni Battista Riccioli e Francesco Maria Grimaldi proporcionou o sistema de nomenclatura de características lunares ainda hoje em uso. O primeiro estudo trigonometricamente preciso das características lunares surge em 1834-36 na obra "Mappa Selenographica" de Wilhelm Beer e Johann Heinrich Mädler, na qual se incluíam as altitudes de mais de um milhar de montanhas. Pensava-se que as crateras lunares, observadas pela primeira vez por Galileu, seriam de origem vulcânica até a uma proposta de Richard A. Proctor em 1870, que sustentava que teriam sido formadas a partir de colisões. Este ponto de vista foi apoiado em 1892 através das experiências do geólogo Grove Karl Gilbert e de estudos comparativos realizados entre as décadas de 1920 e 1940, os quais estiveram na origem da estratigrafia lunar, que por volta da década de 1950 era já um ramo da astrogeologia. Exploração direta. União Soviética. A corrida espacial entre a União Soviética e os Estados Unidos, impulsionada pela Guerra Fria, levou a uma precipitação no interesse pela exploração lunar. A partir do momento em que se construíram lançadores com a capacidade necessária, ambas as nações iniciaram o envio de diversas sondas não tripuladas, tanto para missões de sobrevoo como de impacto ou alunagem. As naves do programa soviético Luna foram as primeiras a cumprir uma série de objetivos: posteriormente a uma série de missões mal sucedidas em 1958, o primeiro objeto construído pelo Homem a escapar à gravidade terrestre e a se aproximar da Lua foi a sonda "Luna 1"; o primeiro objeto a se despenhar contra a superfície lunar foi a "Luna 2"; e as primeiras fotografias do até então desconhecido lado oculto foram obtidas pela "Luna 3", todos os eventos ao longo de 1959. O primeiro objeto a alunar com sucesso foi a "Luna 9" e o primeiro veículo não tripulado a orbitar a Lua foi a "Luna 10", ambos em 1966. Três missões de retorno trouxeram de regresso à Terra amostras de rocha lunar ("Luna 16" em 1970, "Luna 20" em 1972 e "Luna 24" em 1976), num total de 0,3 kg. O programa Lunokhod foi o responsável pela alunagem de dois "rovers" pioneiros, em 1970 e 1973. Estados Unidos. Os Estados Unidos lançaram várias sondas não tripuladas de modo a obter dados tendo em vista uma eventual alunagem tripulada. O Programa Surveyor, coordenado pelo Jet Propulsion Laboratory, fez alunar a sua primeira sonda quatro meses após a "Luna 9". Em paralelo, a NASA criou o programa tripulado Apollo, depois de uma série de testes tripulados e não tripulados em órbita terrestre. A posterior alunagem dos primeiros seres humanos na Lua em 1969 é vista por muitos como o culminar da corrida espacial. Neil Armstrong tornou-se a primeira pessoa a caminhar na lua, enquanto comandante da missão Apollo 11, às 02:56 UTC do dia 21 de julho de 1969. As missões Apollo 11 a 17 (exceto a Apollo 13 que teve que abortar a alunagem), trouxeram 382 kg de rocha e solo lunar, em amostras individuais. A alunagem e respetivo regresso foi possibilitado por consideráveis progressos tecnológicos desde o início da década de 1960, em campos como a química de ablação, engenharia de software e tecnologia de reentrada atmosférica. Ao longo das missões Apollo, foram instalados na superfície lunar vários conjuntos de instrumentos científicos, como sismógrafos, magnetómetros e sondas de calor. A transmissão direta dos dados para a Terra foi interrompida em 1977 embora, como alguns instrumentos são passivos, são ainda hoje usados. Pós-corrida espacial (1990-atualidade). Após os programas Apollo e Luna, muitos outros países têm estado envolvidos na exploração direta da Lua. Em 1990, o Japão tornou-se o terceiro país a colocar uma nave espacial em órbita lunar com o lançamento da sonda "Hiten", a qual lançou uma sonda menor ("Hagoromo") na órbita lunar, embora o seu transmissor tenha avariado, impedindo o aproveitamento científico da missão. Em 1994, os Estados Unidos lançaram a sonda "Clementine", um projeto conjunto entre a NASA e o Departamento de Defesa. Esta missão cartografou o primeiro mapa topográfico de praticamente toda a superfície lunar e as primeiras imagens multiespectrais globais. Em 1998 foi colocada em órbita uma nova sonda americana, a "Lunar Prospector", cujos instrumentos indicaram a presença de excesso de hidrogénio nos polos lunares, provavelmente com origem em depósitos de gelo a poucos metros de profundidade do regolito e dentro de crateras permanentemente escuras. A "Lunar Prospector" detectou o elemento tório na superfície lunar. Segundo Kirk Sorensen, ex-engenheiro da NASA, reatores de tório seriam de vital importância para a colonização da Lua. A sonda europeia "SMART-1", segunda sonda movida a propulsão de iões, a qual permaneceu em órbita lunar entre 2004 e 2006, realizou o primeiro levantamento detalhado de elementos químicos na superfície da Lua. Entre 4 de outubro de 2007 e 10 de junho de 2009, a sonda "SELENE" da Agência Japonesa de Exploração Aeroespacial (JAXA), equipada com uma câmara de vídeo de alta definição e dois pequenos satélites de radiotransmissão, obtive dados de geofísica lunar e as primeiras imagens em alta definição da Lua feitas para além da órbita da Terra. A primeira missão lunar indiana, a sonda "Chandrayaan-1", orbitou o satélite em 8 de novembro de 2008 até a perda de contato em 27 de agosto de 2009, obtendo imagens de alta resolução da composição química, mineralógica e geológica da superfície lunar e confirmando a presença de moléculas de água no solo lunar. A Organização Indiana de Pesquisa Espacial tencionou lançar a "Chandrayaan-2" em 2013 prevendo incluir um robô lunar russo. No entanto, a missão foi reavaliada e o lançamento está agora previsto para o primeiro trimestre de 2018, mas sem a participação russa. A China, através do seu ambicioso programa de exploração lunar, lançou com sucesso a primeira sonda espacial "Chang'e 1" em 5 de novembro de 2007, a qual se manteve em órbita até ao impacto controlado contra a superfície do satélite em 1 de março de 2008. Após a bem sucedida missão que colocou em órbita a "Chang'e 2" em 2010 para mapear a superfície lunar, em 14 de dezembro de 2013, a sonda chinesa "Chang'e 3" tornou-se o primeiro objeto fabricado pelo ser humano a pousar na Lua em 37 anos. Em 2019, a sonda chinesa "Chang'e 4" foi a primeira a pousar no lado oculto da Lua. Além da China, apenas os governos da União Soviética e dos Estados Unidos enviaram "rovers" para a superfície lunar. Os Estados Unidos co-lançaram a "Lunar Reconnaissance Orbiter" (LRO) e o Satélite de Detecção e Observação de Crateras Lunares (LCROSS) em 18 de junho de 2009; o "LCROSS" completou a sua missão em 9 de outubro de 2009 com um impacto programado na cratera Cabeus, enquanto a "LRO" está atualmente em operação para obter imagens precisas e em alta definição da altimetria lunar. O "Gravity Recovery and Interior Laboratory" (GRAIL) começou a orbitar a Lua em 1 de janeiro de 2012, com o objetivo principal de mapear a litosfera e a estrutura interna lunar através de medições gravimétricas. Entre as próximas missões lunares previstas estão a russa "Luna-Glob": uma sonda não tripulada, um conjunto de sismógrafos, e uma sonda com base na sua missão marciana "Fobos-Grunt", lançada em 2012. A exploração lunar financiada pela iniciativa privada tem sido promovida pelo Google Lunar X Prize, anunciado em 13 de setembro de 2007 e que oferece 20 milhões de dólares para quem conseguir desenvolver um robô lunar e cumprir outros critérios especificados. A "Shackleton Energy Company" está construindo um programa para estabelecer operações no polo sul da Lua para colher água e fornecer seus depósitos propulsores. A NASA tem planos para retomar as missões tripuladas, na sequência do anúncio, em 2004, de uma missão tripulada à Lua até 2019 e da construção de uma base lunar até 2024 por parte do presidente George W. Bush O Programa "Constellation" chegou a iniciar a construção e testes de uma nave espacial tripulada e de um novo veículo de lançamento, além do projeto de uma base lunar. No entanto, o programa foi cancelado de modo a dar prioridade a um pouso tripulado em um asteroide até 2025 e a uma missão tripulada até a órbita de Marte até 2035. A Índia também manifestou a sua intenção de enviar uma missão tripulada à Lua até 2020. A maioria das potências espaciais (Estados Unidos, China, Rússia, Índia) intentam explorar o solo lunar em busca de recursos raros na Terra, como o Hélio-3. A viabilidade econômica de tal exploração ainda não foi demonstrada. O uso do Hélio-3 na geração de energia, possibilita a fusão nuclear aneutrônica que não emite radiações nocivas. Astronomia. Há vários anos que a Lua é vista como um excelente local para a instalação de telescópios, apresentando vantagens em relação a observações efetuadas a partir da superfície terrestre ou de telescópios colocados em órbita. Além do fato de estar relativamente próximo à Terra, um observatório na superfície lunar não sofreria a influência da atmosfera, já que a camada de gases que envolve a Lua é extremamente rarefeita. A gravidade lunar, substancialmente menor que a terrestre, permitira a colocação de estruturas de maior porte. Outra vantagem seria a ocorrência natural, nas crateras polares, das baixas temperatura necessárias para a operação de telescópios infravermelhos. Além disso, os radiotelescópios no lado oculto estariam protegidos das ondas de rádio provenientes da Terra. O solo lunar, embora constitua um problema para as partes móveis de telescópios, pode ser misturado com nanotubos de carbono e resina epóxi na construção de espelhos de até 50 metros de diâmetro. Um telescópio lunar zenital pode ser feito de forma barata com líquido iónico. Contudo, a maior dificuldade a ser superada refere-se aos custos e às dificuldades técnicas de se transportar e colocar grande quantidade de equipamento na superfície lunar, o que faz com que estes projetos sejam ainda inviáveis. Em abril de 1972, a missão Apollo 16 obteve diversas imagens e espectros ultravioleta através do "Far Ultraviolet Camera/Spectrograph", inclusive da Terra. Estatuto jurídico. Embora os veículos do Programa Luna tenham espalhado pela Lua bandeirolas da União Soviética e os astronautas norte-americanos tenham hasteado simbolicamente bandeiras nos locais de pouso das missões Apollo, nenhuma nação reivindica atualmente a posse de qualquer área da superfície lunar. Tanto a Rússia como os Estados Unidos assinaram em 1967 o Tratado do Espaço Exterior, o qual define a Lua e todo o espaço enquanto "província de toda a humanidade". Este tratado também restringe o uso da Lua para fins pacíficos, proibindo explicitamente instalações militares e armas de destruição em massa. O Tratado da Lua de 1979 foi criado no sentido de proibir a exploração dos recursos da Lua por parte de um único país, mas não foi assinado por nenhuma das nações com tecnologia espacial. Apesar de várias pessoas terem feito reivindicações territoriais sobre a Lua, no todo ou em parte, nenhuma é considerada credível. Impacto cultural. As fases regulares da Lua fazem dela um relógio bastante conveniente e o intervalo entre os quartos crescente e minguante constitui a base de muitos dos calendários da antiguidade. Alguns dos ossos entalhados pré-históricos, datados de entre 20 a 30 mil anos atrás, são considerados por alguns historiadores uma forma de marcação das fases da lua. O mês de 30 dias é uma aproximação ao ciclo lunar. Antes da introdução do calendário solar, os povos germânicos usavam o calendário germânico, um tipo de calendário lunar. O substantivo inglês "month" e os seus cognatos em outras línguas germânicas têm origem no proto-germânico "*mǣnṓth-", o qual é relativo a "*mǣnōn". A mesma raiz indo-européia de "moon" está na origem dos termos em latim "measure" e "menstrual", palavras que ecoam a importância da Lua para muitas culturas antigas na medição do tempo (como as palavras , em latim, e ("mēnas"), em grego antigo, que significam "mês"). A Lua tem sido o tema e inspiração para as mais diversas obras de arte e literatura. É um motivo recorrente nas artes visuais e cénicas, poesia, literatura e música. É provável que o relevo no túmulo de Knowth, na Irlanda, represente a Lua, o que constituiria a mais antiga representação conhecida do satélite. O contraste entre as terras altas, mais brilhantes, e os mares lunares, mais escuros, cria padrões que foram interpretados das mais diversas formas pelas diferentes culturas ao longo da História, como a face lunar, o coelho lunar ou o búfalo. Em muitas culturas pré-históricas e da antiguidade, a Lua era considerada a personificação de uma divindade ou de outro fenómeno sobrenatural. Ainda hoje continuam a existir interpretações astrológicas da Lua, geralmente associadas a ciclos de mudança e transformação. A Lua tem uma longa associação com a loucura e a irracionalidade; as palavras "loucura" e "louco" têm origem no termo latino "Luna". Os filósofos Aristóteles e Plínio, o Velho argumentavam que a lua cheia induzia a insanidade em indivíduos susceptíveis e acreditavam que o cérebro, que é formado principalmente por água, fosse afetado pela Lua e a sua influência sobre as marés, embora a gravidade da Lua seja muito pequena para exercer qualquer tipo de influência individualmente. Ainda hoje as pessoas insistem em associar a lua cheia com o maior número de internamentos em hospitais psiquiátricos, acidentes de trânsito, homicídios ou suicídios, embora não haja qualquer evidência científica que apoie essas superstições.
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Literatura
Literatura A Literatura é a arte que usa a linguagem escrita como meio de expressão, seja em prosa ou em verso, de acordo com princípios teóricos e práticos; sendo o conjunto de obras escritas ou orais às quais reconhecemos um valor estético. A Literatura abrange qualquer coleção de obras escritas, incluindo escrita impressa e digital. Etimologia. A palavra Literatura vem do latim "litteris" que significa "Letras", e possivelmente uma tradução do grego "grammatikee". Em latim, literatura significa uma instrução ou um conjunto de saberes ou habilidades de escrever e ler bem, e se relaciona com as técnicas da gramática, da retórica e da poética. Por extensão, se refere especificamente ao ofício de escrever. O termo Literatura também é usado como referência a um conjunto escolhido de textos, por exemplo a literatura portuguesa, a literatura espanhola, a literatura inglesa, a literatura brasileira, a literatura japonesa, etc. Definição. Mais produtivo do que tentar definir Literatura talvez seja encontrar um caminho para decidir o que torna um "texto", em sentido lato, literário. A definição de literatura está comumente associada à ideia de escrita de letras. Entretanto, nem todo texto é literário. A própria natureza do caráter estético, contudo, reconduz à dificuldade de elaborar alguma definição verdadeiramente estável para o texto literário. Para simplificar, pode-se exemplificar através de uma comparação por oposição. Vamos opor o texto científico ao texto literário: o texto científico emprega as palavras sem "preocupação com a beleza", o efeito emocional. No texto literário, ao contrário, essa será a preocupação maior do escritor (autor). É óbvio que também o escritor busca instruir, e perpassar ao leitor uma determinada ideia; mas, diferentemente do texto científico, o texto literário une essa instrução à necessidade à recepção. O texto científico emprega as palavras no seu sentido dicionarizado, denotativamente, enquanto o texto literário busca empregar as palavras com liberdade, preferindo o seu sentido conotativo, figurado. O texto literário é, portanto, aquele que pretende emocionar e que, para isso, emprega a língua com liberdade e beleza, utilizando-se, muitas vezes, do sentido metafórico das palavras. A compreensão do fenômeno literário tende a ser marcada por alguns sentidos, alguns marcados de forma mais enfática na história da cultura ocidental, outros diluídos entre os diversos usos que o termo assume nos circuitos de cada sistema literário particular. Assim encontramos uma concepção "clássica", surgida durante o Iluminismo (que podemos chamar de "definição moderna clássica", que organiza e estabelece as bases de periodização usadas na estruturação do cânone ocidental); uma definição "romântica" (na qual a presença de uma intenção estética do próprio autor torna-se decisiva para essa caracterização); e, finalmente, uma concepção "crítica" (na qual as definições estáveis tornam-se passíveis de confronto, e a partir da qual se buscam modelos teóricos capazes de localizar o fenômeno literário e, apenas nesse movimento, "defini-lo"). Deixar a cargo do leitor individual a definição implica uma boa dose de subjetivismo (postura identificada com a matriz romântica do conceito de "Literatura"); a menos que se queira ir às raias do solipsismo, encontrar-se-á alguma necessidade para um diálogo quanto a esta questão. Isto pode, entretanto, levar ao extremo oposto de considerar como literatura apenas aquilo que é entendido como tal por toda a sociedade ou por parte dela, tida como autorizada à definição. Esta posição não só sufocaria a renovação na técnica literária, como também limitaria excessivamente o "corpus" já reconhecido. De qualquer forma, destas três fontes (a "clássica", a "romântica" e a "crítica") surgem conceitos de literatura, cuja pluralidade não impede de prosseguir a classificações de gênero e exposição de autores e obras. Formas literárias. Poesia. Provavelmente a mais antiga das formas literárias, a poesia consiste no arranjo harmônico das palavras. Geralmente, um poema organiza-se em versos, caracterizados pela escolha precisa das palavras em função de seus valores semânticos (denotativos e, especialmente, conotativos) e sonoros. É possível a ocorrência da rima, bem como a construção em formas determinadas como o soneto e o haikai. Segundo características formais e temáticas, classificam-se diversos gêneros poéticos adotados pelos poetas. Texto Dramático. O texto dramático é a forma literária clássica, composta basicamente de falas de um ou mais personagens, individuais (atores) ou coletivos (coros), destina-se primariamente a ser encenada e não apenas lida. Até um passado recente, não se escrevia a não ser em verso. Na tradição ocidental, as origens do teatro datam dos gregos, que desenvolveram os primeiros gêneros: a tragédia e a comédia. O escritor e autor de textos dramáticos é chamado dramaturgo. Os textos de teatro, letras de uma música; inovações textuais, e os textos dos roteiros para o cinema, também podem ser consideradas obras literárias. Ficção em Prosa. A literatura de ficção em prosa, cuja definição mais crua é o texto "corrido", sem versificação, bem como suas formas, são de aparição relativamente recente. Pode-se considerar que o romance, por exemplo, surge no início do século XVII com "Dom Quixote de La Mancha", de Miguel de Cervantes Saavedra. Subdivisões, aqui, dão-se em geral pelo tamanho e, de certa forma, pela complexidade do texto. Entre o conto, "curto", e o romance, "longo", situa-se por vezes a novela. Gêneros Literários. A linguagem é o veículo utilizado para se escrever uma obra literária. Escrever obras literárias é trabalhar com a linguagem. Os Gêneros Literários são as várias formas de trabalhar a linguagem, de registrar a história, e fazer com que a essa linguagem seja um instrumento de conexão entre os diversos contextos literários que estão dispersos ao redor do mundo. Uma boa forma de se familiarizar com os diversos gêneros literários — e assim criar hábitos sólidos de leitura — é ter contato com o formato mais apropriado para cada idade, passando desde a literatura infantil à infanto-juvenil até chegar à adulta.
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Língua japonesa
Língua japonesa A língua japonesa (にほんご ou 日本語; "nihongo") é um idioma do leste asiático falado por cerca de 128 milhões de pessoas, principalmente no Japão, onde é a língua nacional. É membro da família das línguas japônicas e sua relação com outras línguas, como o coreano, é debatida. O japonês foi agrupado com famílias linguísticas como a Ainu, as Austro-asiáticas e a agora desacreditada Altaica, mas nenhuma dessas propostas ganhou ampla aceitação. Pouco se sabe sobre a pré-história da língua japonesa. Documentos chineses do século III d.C. registraram algumas palavras japonesas, mas textos substanciais não apareceram até o século VIII. Durante o período Heian (794–1185), os chineses tiveram considerável influência no vocabulário e na fonologia do japonês antigo. Os japoneses do final do período médio (1185-1600) incluíam mudanças nas características que o aproximavam da linguagem moderna e a primeira aparição de empréstimos europeus. O dialeto padrão mudou-se da região de Kansai para a região de Edo (onde hoje fica Tóquio) no início do período japonês moderno (início do século XVII a meados do século XIX). Após o fim, em 1853, do isolamento auto-imposto do Japão, o fluxo de empréstimos das línguas europeias aumentou significativamente. Várias palavras emprestadas do inglês, em particular, tornaram-se frequentes e palavras japonesas de raízes inglesas proliferaram. O japonês é uma língua aglutinante, com uma fonotaxia simples, um sistema de vogais puras, vogais fonêmicas e comprimento de consoante e um sotaque lexicalmente significativo. A ordem das palavras é normalmente sujeito-objeto-verbo com partículas marcando a função gramatical das palavras, e a estrutura da frase é tópico-comentário. Partículas de sentenças finais são usadas para adicionar impacto emocional ou enfático, ou fazer perguntas. Os substantivos não têm número gramatical ou gênero, e não há artigos. Os verbos são conjugados, principalmente para tempo e voz, mas não para pessoa. Equivalentes japoneses de adjetivos também são conjugados. O japonês tem um complexo sistema de construções honoríficas com formas verbais e vocabulário para indicar o status relativo do falante, do ouvinte e das pessoas mencionadas. O japonês não tem relação genética com o chinês, mas faz uso extensivo dos caracteres chineses, chamados de kanji (漢字), em seu sistema de escrita, e uma grande parte do seu vocabulário é emprestada da língua chinesa. Junto com o kanji, o sistema de escrita japonês usa principalmente dois silabários, o hiragana (ひらがな; 平仮名) e o katakana (カタカナ; 片仮名). O alfabeto latino (ou romaji) é usada de maneira limitada, como para acrônimos importados, e o sistema numeral usa principalmente números indo-arábicos ao lado de numerais chineses tradicionais. História. Antes da chegada do sistema de escrita chinesa ao Japão, entre o século V e VII, a literatura japonesa baseava-se principalmente na sua tradição oral. Em várias sociedades sem sistemas de escrita, esta situação proporciona o surgimento de histórias e canções a partir de mitos, sagas, lendas, épicos e poemas. O Japão possuía três tipos de sociedades diferentes: Ainu, Ryūku e Yamato. Os Ainus habitavam as ilhas do norte do arquipélago, no caso, Hokkaido, Sacalina e Curilas, enquanto os Ryūku e Yamato ocupavam as restantes ilhas. Os Ainu eram uma sociedade recoletora e a sua língua era bastante diferente dos outros dois grupos. Os Ryūku apresentavam algumas semelhanças com os Yamato, podendo afirmar-se ser a mesma língua, apenas um dialeto diferente. "“O sistema de som da língua japonesa do período Nara (na região Yamato) tinha oitos sons distintos de vogais e consonantes, que, nalguns aspetos, diferem dos sons de hoje”". A língua dos Yamato veio a tornar-se ao que se chama hoje de japonês, mas não sem a influência chinesa. O japonês e o chinês têm diferentes origens: "“os seus sistemas de som, vocabulário e gramática são diferentes.”" Desta forma, quando o sistema de escrita chinês chegou ao Japão era necessário modificá-lo. Sendo que um caracter chinês representava uma palavra monossilábica, só eram possíveis duas adaptações: a) o significado ser eliminado e o som mantido; b) o significado ser mantido e o som eliminado. Ambas as alternativas foram adotadas, como refere Shuichi Kato: "“Os sons chineses foram largamente retidos, por exemplo, na história Kojiki (Record of Ancient Matters) e em Man’yōshū e para algumas palavras na história do século VIII Nihon Shoki (Chronicles of Japan)."” A esta adaptação deu-se o nome de Man’yōgana. A escrita chinesa (kanbun) não foi só adotada nestas obras, mas também em documentos oficiais, assim como em gazetas locais (fudoki). Da escrita chinesa (kanbun) à escrita japonesa (kana). A escrita chinesa chegou ao Japão entre o século V e VII. No entanto, a escrita foi adaptada à já existente língua japonesa, através da adaptação do som ou significado. Mas para lerem os textos escritos em chinês, os japoneses desenvolveram um método que se aproximava gramaticalmente da sua língua, e desta forma tornava os textos mais compreensivos: Esta adaptação do chinês teve grande influência no desenvolvimento da língua japonesa. Não só em termos gramaticais mas também de enriquecimento vocabular, e até de desenvolvimento de estilos literários. A utilização de kanbun a dada altura (quando o sistema de escrita japonês tomou outra direção) tornou-se mais uma escolha do que uma necessidade, pois começou a ser visto como um estilo literário, ou seja, mais uma ferramenta de criação literária:Meigetsuki, com o seu estilo mais coloquial - pelo facto de ser um diário - trouxe uma nova perspectiva à forma de escrita, onde o chinês clássico imperava, e continuou a dominar ao longo dos anos, mesmo até ao período Edo (1603-1867):No entanto, apesar deste domínio do chinês clássico na escrita, já a partir do século XII há uma evolução da língua japonesa, quando começam a aparecer os textos sōgana (sistema arcaico de escrita silábica, entre o man’yōgana e o hiragana). Um dos primeiros textos sōgana encontra-se num pergaminho do século XII (Genji monogatari emaki) contendo cenas ilustradas do romance Genji monogatari. A exploração do sistema de escrita e dos estilos literários desenvolveu-se ao longo dos anos, sendo que o debate sempre foi muito intenso, não havendo consenso de que “tipo” de japonês se queria adotar, e por essa razão existiram vários movimentos. Um deles defendia a inclusão do inglês como uma das línguas oficiais:Outros defendiam a romanização da escrita japonesa, enquanto outros queriam eliminar completamente o uso de kanji, adotando apenas o kana.A partir do final dos anos 1880, o governo cria uma reforma onde a utilização de kanji, hiragana e katakana é padronizada, com o nome de Kanji-Kana Majiri Bun (漢字仮名交じり文): Isto permitiu o desenvolvimento de novos estilos literários, devido ao facto de a eliminação do chinês clássico, em abundância, permitir um novo desenvolvimento do estilo coloquial, que ainda não era respeitado como estilo literário “sério”. É então que em 1887 surge um dos grandes clássicos japoneses, escrito em genbun-itchi (junção entre o estilo literário e o estilo coloquial), Ukigumo. Não se pode afirmar que existe uma grande mudança a nível de alteração do estilo de carateres, mas a maior diferença é no facto de o número de caracteres em kanji ser reduzido, introduzindo mais caracteres japoneses. Algo bastante importante como refere Scott Miller, pois o japonês clássico continuava a ser inacessível para vários grupos:Com esta simplificação da escrita, vários autores seguiram esta corrente, no entanto continuaram a existir vários grupos contra este estilo literário mais “leve”:É de ressaltar a importância dos contadores profissionais de histórias que inspiraram, em grande parte, esta massificação da literatura japonesa: Kokugo (língua nacional do Japão). Através de uma modernização da língua japonesa criou-se o que se chama de kokugo – língua nacional do Japão. Esta criação foi feita por educadores e linguistas ocidentais. B.H. Chamberlain, um filologista britânico, foi um dos responsáveis por esta evolução, ao defender uma aproximação ao estilo coloquial da linguagem, em 1883. Kokugo já era utilizado desde a época Edo, mas pretendia apenas referir-se à língua japonesa como forma de se diferenciar das línguas estrangeiras, e não detinha ainda um sentido nacionalista, como veio a ter a partir desta época. Classificação linguística. O idioma japonês forma, em conjunto com outros dialetos minoritários do Japão, a família linguística das línguas japônicas ou grupo de línguas japônicas-ryukyuanas As línguas japônicas e o coreano ("hangul") são classificadas dentro do grupo das línguas altaicas devido a um grande número de analogias. Não se sabe, contudo, se as semelhanças são ocasionadas por origem comum desses idiomas ou por convergência. A gramática da língua japonesa assemelha-se muito à da língua coreana com partículas idênticas como "ga" e "ka". A semelhança de pronúncia também é um indício de possível parentesco longínquo. Entretanto, deve-se considerar que houve influências da língua coreana no passado devido à grande imigração coreana no período Yayoi e à fuga da família real de Baekje ao Japão quando da invasão do reino por Koguryo. Descobertas recentes apontam que a língua de Koguryo guarda muitos cognatos com a língua japonesa como a partícula "no", os adjetivos terminados em "i", os numerais e partícula locativa; por exemplo "mil" koguryo, "midu" no antigo japonês. Como parte das influências culturais que recebeu ao longo de sua história, o japonês assimilou inúmeros vocábulos do chinês, do português e, recentemente, do inglês. Distribuição geográfica. Embora o japonês seja falado quase exclusivamente no Japão, a língua japonesa tem sido e ainda é falada em outros países. Antes e durante a Segunda Guerra Mundial, através da anexação japonesa de Taiwan e da península da Coreia, bem como da ocupação parcial de algumas regiões da China (como a Manchúria), das Filipinas e de várias ilhas do Pacífico, seus habitantes foram forçados a aprender a língua japonesa sob a imposição de uma política de niponização desses países. Como resultado, muitos idosos nesses países ainda falam japonês, além dos idiomas desses locais. As comunidades de imigrantes japonesas (a maior delas no Brasil, com 1,4 milhão a 1,5 milhão de imigrantes e descendentes japoneses, segundo dados do IBGE, e mais de 1,2 milhão nos Estados Unidos) às vezes empregam o japonês como idioma principal. Aproximadamente 12% dos residentes do Havaí falam japonês, com uma estimativa de 12,6% da população de ascendência japonesa em 2008. Os emigrantes japoneses também podem ser encontrados no Peru, Argentina, Austrália (especialmente nos estados do leste e em cidades como Sydney, Gold Coast, Brisbane e Melbourne), Canadá (especialmente em Vancouver, onde 1,4% da população tem ascendência japonesa), os Estados Unidos (notavelmente o Havaí - onde 16,7% da população tem ascendência japonesa - e a Califórnia), e as Filipinas (particularmente em Davao e Laguna). Os descendentes dos emigrantes (conhecidos como "nikkei", 日系, lit. "descendentes de japoneses"), porém, raramente falam a língua japonesa fluentemente. Estima-se que cerca de 3,84 milhões de não japoneses estejam estudando a língua. "Status" oficial. O japonês não tem status oficial, mas é a língua nacional "de facto" do Japão. Existe uma forma da linguagem considerada padrão: "hyōjungo" (標準語), que significa "japonês padrão", ou "kyōtsūgo" (共通語), "linguagem comum". Os significados dos dois termos são quase os mesmos. "Hyōjungo" ou "kyōtsūgo" é uma concepção que forma a contraparte do dialeto. Esta linguagem normativa nasceu após a Restauração Meiji (明治維新 meiji ishin, 1868) da língua falada nas áreas de classe mais alta de Tóquio (ver Yamanote). Hyōjungo é ensinado nas escolas e usado na televisão e até mesmo nas comunicações oficiais. Anteriormente, o japonês padrão escrito (文語 "bungo", "língua literária") era diferente da língua oral (口語 "kōgo"). Os dois sistemas têm regras diferentes de gramática e algumas variações no vocabulário. O "bungo" foi o principal método de escrever japonês até cerca de 1900; Desde então, o "kōgo" gradualmente estendeu sua influência e os dois métodos foram usados por escrito até a década de 1940. O "bungo" ainda tem alguma relevância para historiadores, estudiosos literários e advogados (muitas leis japonesas que sobreviveram à Segunda Guerra Mundial ainda estão escritas no bungo, embora haja esforços contínuos para modernizar sua linguagem). O "kōgo" é o método dominante de falar e escrever em japonês hoje, embora a gramática "bungo" e o vocabulário sejam ocasionalmente usados no japonês moderno para efeito poético. Dialetos. Vários dialetos são falados no Japão. A profusão é devida ao terreno montanhoso do arquipélago e à longa história de isolamento interno e externo do país. Os dialetos, em geral, diferem em termos de acento tonal, morfologia inflexional, vocabulário, uso das partículas e pronúncia. Alguns dialetos, mais raramente, variam até no repertório de vogais. Dialetos de regiões menos centrais, como os dialetos de Tōhoku ou Tsushima, podem ser ininteligíveis para pessoas de outras partes do país. O dialeto usado em Kagoshima, na ilha Kyūshū, ao sul, é famoso por ser ininteligível não só para falantes do japonês padrão mas também a pessoas que vivem em regiões de Kyūshū vizinhas à Kagoshima. Kansai-ben, um grupo de dialetos da região centro-oeste do Japão, é falado por muitos japoneses; o dialeto de Osaka, em particular, é associado ao humor e, por isso, usado com frequência por muitos comediantes para efeito humorístico. As línguas ryukyuanas são faladas nas Ilhas Ryukyu. Não são somente ininteligíveis a japoneses, mas também bastante incompreensíveis entre falantes de diferentes dialetos ryukyuanos. Devido à proximidade entre o ryukyuano e o japonês, são às vezes ditos serem apenas dialetos de uma única língua, embora acadêmicos modernos digam ser línguas separadas. Recentemente, o japonês padrão se tornou prevalente em todo o Japão, graças não somente à televisão e ao rádio, mas também à mobilidade crescente dentro do país devida ao sistemas rodoviário, ferroviário e aeroviário. Jovens japoneses geralmente falam seu dialeto local e a língua padrão, mas, na maioria das vezes, o dialeto local é influenciado pelo dialeto padrão, criando-se versões regionais do japonês padrão. No Brasil. Como resultado da imigração japonesa no Brasil, o idioma japonês é ainda bastante difundido entre a comunidade de origem nipônica. Atualmente, a maioria dos nipo-brasileiros falam principalmente o português. A primeira geração fala com frequência dialetos japoneses, muitos deles somente o japonês. A segunda geração é geralmente bilíngue em japonês e português. Numa pesquisa, 53% da segunda geração declarou somente ter falado japonês na infância. Hoje, 13,3% fala apenas japonês, 18,1% apenas português e 68,8% ambas as línguas. A terceira geração é mais lusofalante, com 39,3% apenas falando português, 58,9% ambas as línguas e 1,8% apenas japonês. Os nipo-brasileiros geralmente falam mais frequentemente o japonês quando moram com um parente nascido no Japão. Aqueles que não moram com um parente de primeira geração falam mais frequentemente o português. O japonês falado no Brasil é uma mistura de diversos dialetos influenciados pela língua portuguesa. Com o retorno dos imigrantes brasileiros no Japão, é provável que o número de falantes da língua japonesa no país cresça. Sistemas de pronúncia e escrita japonesas. O japonês faz uso de cinco sistemas de escrita diferentes: "rōmaji", "hiragana", "katakana", "kanji" e os algarismos indo-arábicos. Confira: Veja um exemplo de uma manchete veiculada no jornal "Asahi Shimbun" de 19 de abril de 2004 que compreende todas as modalidades da escrita japonesa ("katakana", "hiragana", "kanji", rōmaji (caracteres latinos) e números indo-arábicos em negrito): A mesma manchete, transliterada totalmente para o alfabeto latino (rōmaji): A mesma sentença, traduzida para o português: Ao contrário de muitas línguas orientais, a língua japonesa "não é" uma língua tonal. Existem vários métodos de "romanização" da língua japonesa. Destes, podemos citar a romanização Hepburn, que é baseada na fonologia inglesa, dentre outras. As palavras do japonês são compostas por sílabas curtas (moras) formadas por consoantes seguidas de vogais, como por exemplo as palavras Hiroshima ("hi-ro-shi-ma") e Nagasaki ("na-ga-sa-ki"). Esta regra geral acontece frequentemente, exceto: Sonoridade da língua japonesa. Vogais: existem cinco, muito semelhantes às das línguas italiana e espanhola, com sons "puros", exceto pelo som u, que assemelha-se um pouco com o primeiro e de "pequeno" do português europeu. A ordem das vogais no japonês é a, i, u, e, o. O u e o i podem aparecer após outras moras para indicar o alongamento da vogal da mora anterior (ex: がっこう "ga-k-ko-o", "escola"; すいえい "su-i-e-e" ou, às vezes, "su-i-ei", "natação") Consoantes: são muito próximas às da língua portuguesa; dentre elas, temos k, g, s, z, t, d, n, h, b, p, m, r. Algumas observações, porém, devem ser levadas em conta: Silabário japonês. A tabela a seguir mostra as formas "hiragana" e "katakana" de escrita junto com o sistema Hepburn, também conhecido como o principal sistema de Roomaji. Entonação. A entonação no japonês manifesta-se pela mudança na altura do som de uma ou outra mora. Ela tem um papel secundário, existindo em alguns poucos casos em que a mudança na melodia da palavra produz mudança de sentido (ex:雨.あめ.àme, "chuva"; 飴.あめ.amé, "bala, doce"). Os dialetos japoneses apresentam várias diferenças quanto ao tipo, posição e amplitude da entonação. Gramática. A gramática da língua japonesa, embora bastante diferente da gramática da língua portuguesa, é relativamente simples e regular (fora algumas exceções), que permite seu aprendizado de forma até bastante rápida. Por este mesmo motivo, falantes nativos do japonês precisam de um esforço suplementar para o aprendizado de línguas estrangeiras. Eis abaixo algumas das características da gramática da língua japonesa. A ordem básica das palavras em uma proposição é "sujeito"-"objeto"-"verbo" (SOV). Além disso, em geral, o objeto se põe na ordem "tempo"-"modo"-"lugar". A estrutura básica de uma frase é "tema"-"rema". O "tema" é um termo com significado amplo; pode coincidir ou não com o sujeito da frase e compreende outras informações já conhecidas, ou que já não necessitam ser explicadas. O "rema" é a parte da frase que traz informações novas ao diálogo. Tome-se por exemplo a frase こちらは田中さんです。"Kochira wa Tanaka-san desu", "Este é o(a) Sr(a). Tanaka". A palavra "kochira", lit. "este lado", é seguida da partícula wa, um marcador de tópico que indica o sujeito da frase; de forma que o significado de "kochira wa" é "Quanto a (esta pessoa d) este lado". "Tanaka-san", "Sr(a). Tanaka", é a informação nova. No final aparece "desu", que é equivalente ao português "é", um verbo de ligação, no caso. O japonês, assim como o chinês e o coreano, é uma língua na qual o tema e o sujeito não se confundem, aparecendo de forma separada. Um exemplo que explicita tema e sujeito separadamente é a frase 象は鼻が長い。"Zō wa hana ga nagai", "Os elefantes têm tromba comprida", entretanto, literalmente, quer dizer "Quanto aos elefantes, a tromba é comprida". O tópico é 象 "zō", "elefante(s)"; o sujeito, 鼻 "hana", "nariz, tromba", é marcado pela partícula ga. Veja que 長い "nagai", "comprido(a)", embora seja apenas um adjetivo, forma uma predicação completa, isto é, equivale a "é comprido(a)", no caso. Os substantivos não têm gênero, nem número e não se flexionam. A palavra 本 "hon" pode significar "um livro", "o livro", "alguns livros" e "os livros". Se o número é de contexto importante, ele pode ser construído de tal forma que possa ser compreendido, geralmente com o emprego de advérbios de quantidade. Excepcionalmente, substantivos que representam pessoas podem ser seguidos de sufixos indicadores de plural ("-tachi", "-ra" ou "-domo"). Por exemplo, 僕 "boku", "eu" usado por meninos ou homens adultos, pode ter a forma plural "bokura" ou "bokutachi", "nós". Observe que os pronomes em japonês se comportam como substantivos. Nem sempre a simples adição do sufixo "-tachi" dará o respectivo plural do substantivo ao qual é aplicado; às vezes, pode indicar um grupo de pessoas dentre as quais o indivíduo-sujeito faz parte. Por exemplo, お母さん "okāsan" significa "mamãe", mas お母さん達 "okāsan-tachi" pode significar tanto "mamães" como "mamãe e as outras pessoas que a acompanham".Existe também uma forma vinda do japonês antigo de representar o plural, que é através da duplicação do substantivo: 人 "hito", "homem", e 人々 "hitobito", "homens". O caractere 々 serve para repetir e substituir o caractere chinês anterior. Um outro aspecto da língua japonesa está relacionado com a maneira com que se dá conta da origem das informações. Enquanto em português diz-se "Crê-se que …", "É provável que …", "Parece que …", em japonês isto é muito mais sistemático e mais sutil. Existem vários exemplos da frase "É provável que …" em japonês, cada uma com um nível de probabilidade diferente. Declinação. O idioma japonês conta com um sistema de casos representados por posposições. Os sintagmas têm a função sintática indicada pela partícula que os sucedem imediatamente. A maioria dos gramáticos japoneses considera tais partículas como palavras independentes - o que seria contraditório com o conceito de declinação; entretanto, de acordo com o gramático Arkadiusz Jabłoński (2012) estas partículas devem ser entendidas como desinências, sendo portanto parte integrante do substantivo que as precede. Não há uma lista fixa de casos. Jabłoński considera a existência de 15 casos, enquanto Kiyose (1995) enumera 12 casos. As principais partículas existentes são: Verbos. Os verbos são conjugados em dois tempos, chamados tecnicamente de "passado" e "não passado", este último incluindo tanto o presente como o futuro. Não existem flexões de número e pessoa. Por exemplo, 行く "iku", "ir", também pode significar "vou", "vais", "vai", "vamos" etc. Além do modo infinitivo, temos o modo indicativo, modo imperativo ríspido, modo imperativo coletivo, modo volitivo, modo causativo, "forma -te" e dois modos condicionais. Cada modo tem ambas as formas afirmativa e negativa. A chamada "forma -te" é aproximadamente o gerúndio da língua portuguesa, embora seja usada ainda para exprimir outros tempos. Há três categorias principais de adjetivos na língua japonesa que sintaticamente diferem entre si: "adjetivos -i", "adjetivos -na" e "adjetivos propriamente ditos" (muito raros). Os "adjetivos -i" são aqueles que terminam com い "i", como no exemplo anterior 長い "nagai", "comprido(a)", "longo(a)". Esta categoria de adjetivos se comporta de forma similar a verbos, por exemplo, formando negativos de forma semelhante, formando o modo condicional e conjugando-se nos dois tempos: o passado de 長い é 長かった "nagakatta" ("era longo"). Por sua vez, os "adjetivos -na" comportam-se como se fossem substantivos, desconhecendo qualquer tipo de flexão. A diferença entre adjetivos -na e substantivos propriamente ditos está no fato de o adjetivo poder determinar um substantivo: por exemplo, em 静かな子 "shizuka na ko", "um menino(a) comportado", onde 子 "ko", "menino", é determinado por 静かな.Os adjetivos propriamente ditos formam uma categoria restrita; não podem vir no lugar de predicações e nem podem ser independentes de substantivos. Por exemplo, 色んな人 "iron'na hito", "diversas pessoas". O verbo する "suru", "fazer", pode acompanhar uma série de substantivos para formar inúmeros verbos, de forma similar à construção "fazer a barba", "fazer bobagem", do português.Como exemplo, de 勉強 "benkyō", "lição de casa", "estudo", forma-se 勉強する "benkyō suru", "estudar". Existe um número grande de verbos compostos, formados pelo acoplamento de verbos de significados diferentes que, juntos, dão um conceito totalmente novo. Por exemplo, 入り込む "hairikomu", "introduzir", "inserir", que se compõe de "hairu", "entrar", e "komu", "lotar". Existem muitos pares de verbos com o mesmo significado, diferindo apenas por um deles ser a forma transitiva e o outro, a intransitiva. O que em português são os verbos "cair" e "derrubar", em japonês é um só verbo, com a forma intransitiva 落ちる "ochiru", "cair", e a forma transitiva 落とす "otosu", "derrubar". Pronomes. Embora a língua japonesa tenha uma coleção grande de pronomes pessoais (existem cerca de dez variações do pronome "eu"), frequentemente eles são omitidos. Muitas vezes são substituídos pelo nome da pessoa respectiva ou simplesmente omitidos quando pode ser subentendido. A frase 忙しい。"isogashii" contém apenas uma palavra, mas dependendo do contexto pode ser interpretada como "(Eu) estou ocupado". Especialmente na língua japonesa falada, usam-se "partículas finais", que são palavras curtas (geralmente de uma mora) e que mudam o propósito da frase.Como exemplo, face à frase "Chove", obtém-se diversas variações na tradução devidas simplesmente à tal partícula (os parênteses clarificam a situação respectiva pela extensão da frase): Onomatopeias e expressões. A língua japonesa é rica em palavras e expressões onomatopeicas e expressões que representam estados físicos ou psicológicos. Tais expressões são divididas em "giongo", lit. "onomatopeias", e "gitaigo", lit. "expressões que imitam o estado físico ou psicológico". Onomatopeias existem em qualquer língua (o japonês "wan-wan" seria o "au-au" português), mas o "gitaigo" japonês é muito mais numeroso comparativamente a outras línguas. Exemplos de "gitaigo": "nuru-nuru" (ser escorregadio), "pika-pika" (ser piscante ou cintilante), "pera-pera" (ser falante ou fluente em uma língua), "shiin" (silêncio absoluto), "sukkiri" (o sentimento de estar livre de problemas), "hakkiri" (direto, sem ambiguidades) etc.Embora geralmente as palavras de qualquer língua possam ser consideradas símbolos que representam algo a nível auditivo, nenhuma ideia normalmente possui ligação evidente entre som e conceito; as onomatopeias, porém, apresentam uma ligação clara entre pronúncia e conceito. Gatos, por exemplo, parecem fazer "miau", de forma que o miado de gatos pode ser aproximado à pronúncia da onomatopeia "miau". Neste ponto de vista, o "gitaigo" é uma construção intermediária, na medida em que o conceito exprimido não é nem evidente, nem ausente. Depois do aprendizado de um número apreciável desses termos, tanto uma criança japonesa como um estudante da língua japonesa poderá ser capaz de adivinhar, eventualmente auxiliado pelo contexto, o significado de um novo "gitaigo". Deve-se frisar que ambos, "giongo" e "gitaigo", são usados indiscriminadamente e com muita frequência por japoneses de todas as faixas etárias, seja na forma escrita, seja na conversação. Polidez. De uma forma muito diferente de outras línguas, a língua japonesa tem um sistema gramatical e léxico de exprimir diferentes graus de cortesia. Pode-se dizer que existem basicamente três níveis de polidez, embora seja impossível teorizá-lo, já que a delimitação dos níveis de cortesia é difícil por causa da interdependência entre cada um dos níveis. As crianças aprendem nos primeiros anos de vida uma forma simples de se exprimir, familiar. Este modo de se exprimir é usado por todo falante nativo quando pensa consigo mesmo, quando fala consigo mesmo, quando fala com pessoas de nível social e profissional igual ou inferior ao seu, ou em ambiente familiar, independente da idade. A gramática está na sua forma mais simples e abreviada, embora esteticamente seja a forma mais direta. Mesmo falando perante o imperador, se um mosquito picar um japonês, ele dirá 痛い! "itai!" (equivalente a "Ai!"), o que não contém nenhum elemento de cortesia. Se desejássemos ver a forma polida de 痛い, como é um adjetivo "-i", poderiamos nesse caso adicionar です resultando em 痛いです! だ é a forma impolida de です, contudo é impossível que haja uma frase : 「痛いだ!」 pois nunca adiciona-se だ a um adjetivo "-i". A forma informal então seria como visto acima: 「痛い!」. Fonologia. Consoantes. Para informações sobre mudança na pronúncia de algumas palavras quando utilizadas para formar palavras compostas, veja artigo sobre rendaku. Números. O número quatro (四) é pronunciado preferencialmente como "yon", devido ao outro significado também concedido a sua outra pronúncia "shi", que significa "morte". Este número é bastante evitado na língua japonesa, levando a sua omissão em números de casas, hospitais, carros, códigos postais etc. Para mais detalhes, veja artigo sobre Numerais Japoneses. Influência na língua portuguesa. A língua japonesa levou várias palavras para a língua portuguesa, como: judô, jiu-jítsu, quimono, gueixa, samisém, samurai, xogum, cabúqui, nô, catana, caratê, sumô etc. Demonstração de fala. Declaração Universal dos Direitos Humanos, Artigo 1º:
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Lenda urbana
Lenda urbana Lendas urbanas, mitos urbanos ou lendas contemporâneas são pequenas histórias de caráter fabuloso ou sensacionalista muitas vezes com elementos de mistérios ou também com temas horripilantes, amplamente divulgadas de forma oral, por e-mails ou pela imprensa e que constituem um tipo de folclore moderno. São frequentemente narradas como sendo fatos acontecidos a um "amigo de um amigo" ou de conhecimento público. Muitas delas já são bastante antigas, tendo sofrido apenas pequenas alterações ao longo dos anos. Muitas foram mesmo traduzidas e incorporadas a outras culturas. É o caso, por exemplo, da história da "loira do banheiro," lenda urbana brasileira que fala sobre o fantasma de uma garota jovem de pele muito branca e cabelos loiros que costuma ser avistada em banheiros, local onde teria se suicidado ou, em outras versões, sido assassinada. Outras dessas histórias têm origem mais recente, como as que dão conta de homens seduzidos e drogados em espaços de diversão noturna que, ao acordarem no dia seguinte, descobrem que tiveram um de seus rins cirurgicamente extraído por uma quadrilha especializada na venda de órgãos humanos para transplante. Muitas das lendas urbanas são, em sua origem, baseadas em fatos reais (ou preocupações legítimas), mas geralmente acabam distorcidas ao longo do tempo. Com o advento da Internet, muitas lendas passaram a ecoar de maneira tão intensa que se tornaram praticamente universais. Origens. O termo "lenda urbana" aparece em impressos pelo menos desde 1968. Jan Harold Brunvand, professor de inglês da Universidade de Utah, introduziu o termo ao público em geral através de uma série de livros publicados a partir de 1981. Brunvand usou sua coletânea de lendas, "The Vanishing Hitchhiker: American Urban Legends & Their Meanings", para enfatizar dois pontos: primeiro, que lendas e folclores não acontecem exclusivamente nas chamadas sociedades primitivas ou tradicionais e, segundo, que pode-se aprender bastante sobre as culturas moderna e urbana ao estudar tais lendas. Desde então Brunvard publicou uma série de livros similares, sendo creditado como o primeiro a usar o termo "vetor" (inspirado no conceito de vetores biológicos) para descrever o indivíduo que ajuda a propapagar uma lenda urbana. Características. Suas principais características são: Exemplos de lendas urbanas. Algumas das mais conhecidas Lendas Urbanas:
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Leis de Murphy
Leis de Murphy
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Jean-Baptiste de Lamarck
Jean-Baptiste de Lamarck Jean-Baptiste-Pierre-Antoine de Monet, chevalier de Lamarck (Bazentin, 1 de agosto de 1744 — Paris, 28 de dezembro de 1829) foi um naturalista francês que desenvolveu o lamarckismo, uma teoria da evolução agora desacreditada. Foi ele que, de fato, introduziu o termo "biologia". Embora a ideia de que a vida não fosse fixa, mas mudasse ao longo do tempo já existia antes de Lamarck, esta é considerada a primeira teoria coesa de evolução biológica. Lamarck personificou as ideias pré-darwinistas sobre a evolução. As principais diferenças em relação ao Darwnismo e que foram responsáveis pela refutação do Lamarckismo dizem respeito aos mecanismos que causam a evolução. A teoria lamarckiana é dita finalista, pois pressupõe uma força desconhecida que dá direção à evolução. Originário da baixa nobreza (daí o título de 'chevalier'), Lamarck pertenceu ao exército, interessou-se por história natural e escreveu uma obra de vários volumes sobre a flora da França. Isto chamou a atenção do Conde de Buffon que o indicou para o Museu de História Natural, em Paris. Após ter trabalhado durante vários anos com plantas, Lamarck foi nomeado curador dos invertebrados (mais um termo introduzido por ele), e começou uma série de conferências públicas. Antes de 1808, ele era um essencialista que acreditava que as espécies eram imutáveis. Mas graças ao seu trabalho sobre os moluscos da Bacia de Paris, ficou convencido da transmutação das espécies ao longo do tempo, e desenvolveu a sua teoria da evolução (apresentada ao público em 1809 na sua "Philosophie Zoologique"). A teoria evolutiva de Lamarck. A teoria de Lamarck não obteve grande aceitação na França, mesmo entre os seus colegas do Museu de História Natural, como, por exemplo, o eminente naturalista Georges Cuvier. Entretanto, houve uma boa aceitação na Inglaterra. Apesar disto, Lamarck não foi capaz de convencer aos homens do seu tempo que a evolução fosse um fato. Até mesmo as ideias de Charles Darwin, que hoje são tidas como corretas, só foram plenamente aceites e convenceram a sociedade do fato da evolução quase 100 anos após a publicação de A Origem das Espécies (1859). A teoria da evolução de Lamarck se baseia em três princípios: Segundo a lei do uso e desuso (que era uma ideia plenamente aceita na Europa mesmo antes de Lamarck e que também foi defendida por Charles Darwin, ver pangênese) os indivíduos perdem as características de que não precisam e desenvolvem as que utilizam. O uso contínuo de um órgão ou parte do corpo faz com que este se desenvolva e seja apto para o correto funcionamento, e o desuso de um órgão ou parte do corpo faz com que este se atrofie e com o tempo perca totalmente a sua função no corpo do indivíduo. Estas mudanças são transmitidas aos descendentes através da: transmissão das características adquiridas - O uso e desuso de partes do corpo provocam alterações no organismo do indivíduo, essas alterações podem ser transmitidas às gerações seguintes. Por exemplo, as crias das girafas herdam o pescoço comprido dos pais que supostamente o desenvolvem quando comem folhas das árvores mais altas. Desta forma surgiriam as novas espécies, que, na verdade nada tem de novo, são apenas alterações das já existentes, desvios na linha evolutiva. Lamarck acreditava que, como o ambiente terrestre sofre modificações constantes, as suas alterações estruturais forçam os seres que nele vivem a se transformarem para se adaptarem ao novo meio. Ao longo de muitas gerações (milhões de anos), o acúmulo de alterações pode levar ao surgimento de novos grupos de seres vivos. Assim, modificações no ambiente causam alterações nas "necessidades", no comportamento, na utilização e desenvolvimento dos órgãos, na forma das espécies ao longo do tempo - por isso causam a transmutação das espécies (evolução). Lamarck defendia a geração espontânea contínua das espécies, com os organismos mais simples a serem depois transmutados com o tempo (pelo seu mecanismo) tornando-se mais complexos e próximos da perfeição ideal. Acreditava, portanto, num processo teleológico, com um fim determinado em que os organismos se tornam mais perfeitos à medida que evoluem. A comparação das ideias de Lamarck (1809) e Darwin (1859) permite que se monte um quadro sobre as mudanças na forma de pensar dos Homens e no desenvolvimento da ciência. Lamarck defendia a evolução, Darwin a descendência com modificação; Lamarck era teleológico, Darwin considerava que a evolução ocorria ao acaso via seleção natural; ambos eram gradualistas, ou seja, as mudanças evolutivas eram vagarosas; Lamarck incluiu o Homem na escala evolutiva, Darwin hesitou em fazê-lo em 1859. As teorias e os pensamentos de Lamarck podem ser considerados Transformistas, pois propõem a transformação e a evolução dos organismos. As suas ideias também evoluíram ao longo dos seus estudos, e formaram um panorama que muito contribuiu para a biologia moderna. Os seus estudos serviram de base a formulação da "Teoria Sintética da Evolução" no século XX. É provável que a visão que os teóricos contemporâneos têm de Lamarck seja injusta. As contribuições dele para a biologia são muito importantes. Ele acreditava na evolução numa época em que não existiam muitos conhecimentos para sustentar essa teoria. Defendeu ainda que a função precede a forma, uma ideia controversa na sua época. No entanto, a herança dos caracteres adquiridos foi quase completamente refutada. August Weismann provou que a teoria era falsa em experiências em que a cauda de ratos era cortada para verificar se as crias nasciam com a cauda cortada. Algumas culturas humanas, como os judeus, têm por hábito circuncidar os homens, mas após várias gerações os homens continuam a precisar de ser circuncidados. Mas Lamarck não considerava as mutilações como uma forma de adquirir novas características. Ele julgava que só eram adquiridas novas características quando o animal se esforçava para satisfazer as suas próprias necessidades. Charles Darwin elogiou Lamarck na terceira edição da "A Origem das Espécies" por ele apoiar o conceito da evolução e por o contribuir para a sua divulgação. Darwin aceitava a ideia do uso e do desuso, e desenvolveu a sua teoria da pangênese em parte para explicar esse fenômeno. Não foi Darwin que refutou a teoria dos caracteres adquiridos, mas sim a descoberta dos mecanismos celulares da hereditariedade e da genética (ideias que Darwin reconheceu que precisava para completar a sua teoria). Opiniões sobre a religião. No seu livro Philosophie Zoologique, Lamarck referiu-se a Deus como o "sublime autor da natureza". As opiniões religiosas de Lamarck são examinadas no livro Lamarck, o Fundador da Evolução (1901), de Alpheus Packard. De acordo com Packard dos escritos de Lamarck, ele pode ser considerado como um deísta. O filósofo da biologia Michael Ruse descreveu Lamarck, "como acreditando em Deus como um impulsionador imóvel, criador do mundo e das suas leis, que se recusa a intervir milagrosamente na sua criação". O biógrafo James Moore descreveu Lamarck como um "deísta meticuloso". O historiador Jacques Roger escreveu: "Lamarck era um materialista ao ponto de não considerar necessário recorrer a qualquer princípio espiritual... o seu deísmo permaneceu vago, e a sua ideia de criação não o impediu de acreditar em tudo na natureza, incluindo as formas mais elevadas de vida, foi apenas o resultado de processos naturais". Principais trabalhos. Na classificação dos invertebrados:
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Linux
Linux Linux é um termo popularmente empregado para se referir a que utilizam o núcleo Linux. O núcleo (ou "kernel", em inglês) foi desenvolvido pelo programador finlandês Linus Torvalds, inspirado no sistema Minix. O seu código-fonte está disponível sob a licença GPL (versão 2) para que qualquer pessoa o possa utilizar, estudar, modificar e distribuir livremente de acordo com os termos da licença. A Free Software Foundation e seus colaboradores recomenda o nome "GNU/Linux" para descrever o sistema operacional GNU, como resultado de uma disputa controversa entre membros da comunidade de software livre e código aberto. Inicialmente desenvolvido e utilizado por grupos de entusiastas em computadores pessoais, os com núcleo Linux passaram a ter a colaboração de grandes empresas como IBM, Sun Microsystems, Hewlett-Packard (HP), Red Hat, Novell, Oracle, Google, Mandriva, Microsoft e Canonical. O desenvolvimento do Linux é um dos exemplos mais proeminentes de colaboração de software livre e de código aberto. O código-fonte pode ser usado, modificado e distribuído — com fins comerciais ou não — por qualquer um, respeitando as licenças, como a GNU General Public License versão 2, devolvendo o código desenvolvido de volta para o desenvolvimento do núcleo. Normalmente, o Linux é encontrado em uma distribuição Linux, seja para um computador ou para um servidor. Algumas distribuições Linux populares incluem Arch Linux, CentOS, Debian, Fedora Linux, Linux Mint, openSUSE, Ubuntu, além de distribuições focadas para usuários corporativos, como o Red Hat Enterprise Linux ou o SUSE Linux Enterprise Server. Uma distribuição Linux inclui o núcleo Linux, bibliotecas e utilidades, além de aplicações, como a suíte de escritório LibreOffice, um navegador web (normalmente Mozilla Firefox), entre outras aplicações. História. Antecedentes. O sistema operacional Unix foi concebido e implementado em 1969 pela AT&T Bell Laboratories nos Estados Unidos por Ken Thompson, Dennis Ritchie, Douglas McIlroy, e Joe Ossanna. Lançado pela primeira vez em 1971, o Unix foi escrito inteiramente em linguagem "assembly" uma prática comum para a época. Mais tarde, em 1973, o sistema foi reescrito na linguagem de programação C por Dennis Ritchie. A disponibilidade de uma implementação do Unix feita em linguagem de alto nível fez a sua portabilidade para diferentes plataformas de computador se tornarem mais fácil. Na época, a maioria dos programas era escrita em cartões perfurados que tinham de ser inseridos em lotes em computadores "mainframe". Devido a uma lei antitruste que a proibia de entrar no negócio de computadores, a AT&T foi obrigada a licenciar o código fonte do sistema operacional para quem quisesse. Com o resultado, o Unix cresceu rapidamente e se tornou amplamente adotado por instituições acadêmicas e diversas empresas. Em 1984, a AT&T se desfez da Bell Labs; livres da obrigação legal exigindo o licenciamento do "royalty", a Bell Labs começou a vender o Unix como um Software proprietário. O sistema foi continuado dentro da Bell Labs, chegando a poucas dezenas de instalações, porém só obteve grande crescimento após ter sido totalmente reescrito na linguagem C, o que permitiu uma portabilidade melhor para outras plataformas. A linguagem C foi derivada da linguagem B e criada por Dennis Ritchie e Brian Kernighan. Nesta época, o sistema já contava com mais de 60 comandos, muitos deles ainda utilizados até hoje, tais como: - trocar de diretórios, - trocar permissões, - contar palavras em arquivos, - processar texto, etc. O seu crescimento e reconhecimento culminou com a publicação na renomada revista “ "Communications of the ACM"” , em julho de 1974. Com sua filosofia de simplicidade, padrões abertos e seu licenciamento facilitado pela AT&T, o Unix se espalhou e se desenvolveu rapidamente pelas universidades. Várias versões de Unix foram surgindo, sendo que a principal delas foi desenvolvida na Universidade de Berkeley, denominada BSD (Berkeley Software Distribution), um software liberado publicamente em 1977, predecessor dos atuais e bem-sucedidos BSD's (FreeBSD, OpenBSD e NetBSD). Outras versões comerciais também foram surgindo, tais como: Irix pela SGI em 1982, XENIX pela SCO em 1983, HP-UX pela HP em 1986, SunOS pela Sun em 1987 e AIX pela IBM em 1990 . A maioria dos sistemas inclui ferramentas e utilitários baseados no BSD e tipicamente usam XFree86 ou X.Org para oferecer a funcionalidade do sistemas de janelas X — interface gráfica. Assim como também oferecem ferramentas desenvolvidas pelo projeto GNU. O Projeto GNU, iniciado em 1983 por Richard Stallman, teve o objetivo de criar um "sistema de software completamente compatível com o Unix", composto inteiramente de software livre. O trabalho começou em 1984. Mais tarde, em 1985, Stallman começou a Free Software Foundation e escreveu a Licença Pública Geral GNU (GNU GPL) em 1989. No início da década de 1990, muitos dos programas necessários em um sistema operacional (como bibliotecas, compiladores, editores de texto, uma Unix shell, e um sistema de janelas) foram concluídos, embora os elementos de baixo nível, como drivers de dispositivo, "daemons" e as do "kernel" foram paralisadas e não completadas. Apesar de não ter sido lançado até 1992 devido a complicações legais, o desenvolvimento do 386BSD, que veio a partir do NetBSD, OpenBSD e FreeBSD, antecedeu ao do Linux. Linus Torvalds disse que se o 386BSD estivesse disponível naquele momento, ele provavelmente não teria criado o Linux. Criação. O núcleo Linux foi, originalmente, escrito por Linus Torvalds do Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Helsinki, Finlândia, com a ajuda de vários programadores voluntários através da Usenet (uma espécie de sistema de listas de discussão existente desde os primórdios da Internet) Linus Torvalds começou o desenvolvimento do núcleo como um projeto particular, inspirado pelo seu interesse no Minix, um pequeno sistema UNIX desenvolvido por Andrew S. Tanenbaum. Ele limitou-se a criar, nas suas próprias palavras, "um Minix melhor que o Minix" ("a better Minix than Minix"). E depois de algum tempo de trabalho no projecto, sozinho, enviou a seguinte mensagem para "comp.os.minix": Curiosamente, o nome Linux foi criado por Ari Lemmke, administrador do site ftp.funet.fi que deu esse nome ao diretório FTP onde o núcleo Linux estava inicialmente disponível. Linus inicialmente tinha-o batizado como "Freax". No dia 5 de outubro de 1991 Linus Torvalds anunciou a primeira versão "oficial" do núcleo Linux, versão 0.02. No ano de 1992, Linus Torvalds mudou a licença do núcleo Linux, de uma licença própria para uma licença livre compatível com a GPL do projeto GNU. Desde então, muitos programadores têm contribuído com o desenvolvimento, ajudando a fazer do Linux o núcleo de enorme sucesso colaborativo que é hoje. No início era utilizado por programadores ou só por quem tinha conhecimentos e usava linhas de comando. Hoje isso mudou e existem diversos grupos que criam ambientes gráficos para as diversas distribuições GNU/Linux, que são cada vez mais amigáveis, de forma que, uma pessoa com poucos conhecimentos consegue usar o Linux, através de uma distribuição GNU/Linux, por exemplo. O Linux é um núcleo estável e consegue reconhecer muitos periféricos sem a necessidade de que o usuário precise instalar "drivers" de som, vídeo, modem, rede, entre outros. Principais carregadores de inicialização do Linux. SYSLINUX. O Projeto Syslinux é um conjunto de cinco carregadores de boot diferentes para inicializar distros Linux em computadores. Foi desenvolvido principalmente por H. Peter Anvin. O Projeto Syslinux consiste em uma junçao de cinco carregadores de inicialização diferentes: O projeto também inclui dois sistemas de menu separados e um ambiente de desenvolvimento para módulos adicionais. SYSLINUX e ISOLINUX. SYSLINUX foi originalmente destinado aos disquetes, live USBs e outros. ISOLINUX é destinado a live CDs e CDs de instalação do Linux. O SYSLINUX pode ser usado para iniciar várias distros a partir de um único lugar, como um pendrive. GRUB. GNU GRUB (ou apenas GRUB) é um multicarregador de um sistema operacional (multi boot ou boot-loader) criado pelo projeto GNU. É utilizado, normalmente, quando se deseja que um computador tenha dual booting, ou seja, que o usuário possa escolher ao iniciar a máquina, um sistema operacional (SO) dentre dois ou mais sistemas instalados. Systemd-boot. systemd-boot, anteriormente conhecido como gummiboot, é um gerenciador de boot gratuito e de código aberto. Ele foi criado quando o gummiboot foi fundido com o systemd e renomeado para "systemd-boot" em maio de 2015. Núcleo. O termo "Linux" refere-se ao núcleo () do sistema operativo que inicia e gerencia outros programas que fornecem o acesso aos recursos do sistema como os vários software livres de shells, compiladores, bibliotecas-padrão e os comandos que fazem parte do Projeto GNU. O Projeto GNU, por sua vez, foi criado pela Free Software Foudation com o intuito de criar um sistema operacional completo, totalmente livre e compatível com o Unix. O principal compilador do Linux C, gcc, é um pedaço do projeto GNU. Arquitetura. O Linux é um núcleo monolítico: as funções do núcleo (escalonamento de processos, gerenciamento de memória, operações de entrada/saída, acesso ao sistema de arquivos) são executadas no espaço de núcleo. Uma característica do núcleo Linux é que algumas das funções (drivers de dispositivos, suporte à rede, sistema de arquivos, por exemplo) podem ser compiladas e executadas como módulos (), que são bibliotecas compiladas separadamente da parte principal do núcleo e podem ser carregadas e descarregadas após o núcleo estar em execução. Portabilidade. Embora Linus Torvalds não tivesse como objetivo inicial tornar o Linux um sistema portátil, ele evoluiu nessa direção. Linux é hoje um dos núcleos de sistemas operativos mais portáteis, correndo em sistemas desde o iPaq (um computador portátil) até o IBM S/390 (um denso e altamente custoso "mainframe"). Os esforços de Linus foram também dirigidos a um diferente tipo de portabilidade. Portabilidade, de acordo com Linus, era a habilidade de facilmente compilar aplicações de uma variedade de código fonte no seu sistema; consequentemente, o Linux originalmente tornou-se popular em parte devido ao esforço para que os códigos-fonte GPL ou outros favoritos de todos corressem em Linux. O Linux hoje funciona em dezenas de plataformas, desde mainframes até um relógio de pulso, passando por várias arquitecturas: x86 (Intel, AMD), x86-64 (Intel EM64T, AMD64), ARM, PowerPC, Alpha, SPARC e etc, com grande penetração também em sistemas embarcados, como handhelds, PVR, console de videogames, celulares, TVs e centros multimídia, entre outros. Termos de licenciamento. Inicialmente, Torvalds lançou o Linux sob uma licença de software própria que proibia qualquer uso comercial. Isso foi mudado, um ano depois, para a "GNU General Public License". Essa licença permite a distribuição e até a venda de versões até mesmo modificadas do Linux, mas requer que todas as cópias sejam lançadas dentro da mesma licença e acompanhadas de acesso ao código fonte. Apesar de alguns dos programadores que contribuem para o núcleo permitirem que o seu código seja licenciado com GPL versão 2 ou posterior, grande parte do código (incluído as contribuições de Torvalds) menciona apenas a GPL versão 2. Isto faz com que o núcleo como um todo esteja sob a versão 2 exclusivamente. Sistemas de arquivos suportados. O Linux possui suporte de leitura e escrita a vários sistema de arquivos, de diversos sistemas operacionais, além de alguns sistemas nativos. Por isso, quando o Linux é instalado em "dual boot" com outros sistemas (Windows, por exemplo) ou mesmo funcionando como "Live CD", ele poderá ler e escrever nas partições formatadas em FAT e NTFS. É por isso que os "Live CDs" Linux são muito utilizados na manutenção e recuperação de outros sistemas operacionais. Entre os sistemas de ficheiros suportados pelo Linux, podemos citar UFS, FAT, exFAT, NTFS, JFS, XFS, HPFS, Minix, ZFS, UDF (sistema de ficheiros usado em DVD-ROMs e BD-ROMs) e ISO 9660 (sistema de ficheiros usado em CD-ROMs), este último também com as extensões RRIP (IEEE P1282) e ZISOFS. Alguns sistemas de ficheiros nativos são, entre outros, Btrfs, Ext2, Ext3, Ext4, F2FS, ReiserFS e Reiser4. Alguns sistemas de ficheiros com características especiais são SWAP, UnionFS, SquashFS, Tmpfs, Aufs e NFS, dentre outros. Sistema operacional. Logo que Linus Torvalds passou a disponibilizar o Linux, ou seja na sua versão 0.01, já havia suporte ao disco rígido, tela, teclado e portas seriais, o sistema de arquivos adotava o mesmo layout do Minix (embora não houvesse código do Minix no Linux), havia extensos trechos em assembly, e ela já era capaz de rodar o bash e o gcc. O próprio usuário deveria procurar os programas que dessem funcionalidade ao seu sistema, compilá-los e configurá-los. Talvez por isso, o Linux tenha carregado consigo a etiqueta de "sistema operativo apenas para técnicos". Foi neste ambiente que surgiu a "MCC Interim Linux", do "Manchester Computer Centre", a primeira distribuição Linux, desenvolvida por Owen Le Blanc da Universidade de Manchester, capaz de ser instalada independentemente em um computador. Foi uma primeira tentativa de facilitar a instalação do Linux. Desde o começo, o núcleo Linux incluía um sistema básico para chamadas do sistema e acesso aos dispositivos do computador. O núcleo de um sistema operativo define entre várias operações, o gerenciamento da memória, de processos, dos dispositivos físicos no computador e é uma parte essencial de qualquer sistema operacional utilizável, contudo para um sistema operacional adquirir funcionalidade são necessários também vários outros aplicativos que determinam funções específicas que aquele sistema será capaz de desenvolver, os aplicativos existentes num sistema operacional com a única exceção do núcleo são determinados pelo usuário do computador, como por exemplo: interpretadores de comandos, gerenciadores de janelas, que oferecem respectivamente uma interface para o usuário do computador, CLI ou GUI, e outros aplicativos como editores de texto, editores de imagem, tocadores de som, e, mas não necessariamente, compiladores. No momento do desenvolvimento do Linux, vários aplicativos já vinham sendo reunidos pelo Projeto GNU da Free Software Foundation (‘Fundação do Software Livre’), que embarcara num subprojeto que ainda continua para obter um núcleo, o GNU Hurd. Porém devido a várias complicações o projeto GNU e demora em desenvolver o Hurd, Stallman acabou adotando o núcleo Linux como base para distribuir os programas do projeto GNU ; no entanto diversas pessoas e instituições tiveram a mesma ideia e assim começaram a surgir várias distribuições baseadas no núcleo desenvolvido inicialmente por Linus. Diretórios. Os scripts de shell, que são:os arquivos de textos, os comandos executáveis, entre outros arquivos comuns, são nomeados como arquivos regulares. Estes tipos de arquivos possuem dados que podem ser lidos ou executados por instruções. No entanto há também arquivos que não são regulares, como diretórios ou redirecionamentos com nomes. Eles contêm dados singulares ou possuem comportamentos especiais quando acessados. Os arquivos são organizados em diretórios ou listagens de arquivos.Cada diretório poderá conter um subdiretório, originando assim uma lista hierárquica. Os diretórios são organizados somente em uma árvore monolítica. O mais alto dos diretórios é chamado de diretório-raiz. Ele se difere em relação aos outros sistemas operacionais, que tem discos marcados separadamente. O Linux lida qualquer parte do disco como um subdiretório dentro dessa estrutura do principal diretório. Partindo do ponto de vista do usuário, é praticamente impossível afirmar em qual parte do disco é pertencido um respectivo diretório, pois aparentemente tudo pertence ao único disco. O nome de caminho é uma "string" que mostra uma localização de um arquivo, de acordo com sua ordem de diretórios que for encontrado ao passar. O diretório-raiz, é determinado com o símbolo da barra (codice_1). O uso de mais nomes de barras e diretórios especifica os diretórios adicionais. Quando os usuários se conectam, são trazidos no diretório pessoal chamado de seu diretório de entrada. Esse diretório é tipificado com um til (codice_2) em Bash. O diretório de trabalho, ou chamado também diretório corrente é representado por um ponto final (codice_3). Quando ele não começa com uma barra, o Bash julga que é um caminho relativo ao diretório de trabalho. O diretório-pai, é simbolizado por dois pontos (codice_4). Esses dois pontos podem ser usados em qualquer diretório a fim de mover em direção ao diretório-raiz da árvore de diretórios, anulando assim o diretório dito anteriormente em um caminho. Os nomes de caminhos sem uma barra inicial são nomeados de caminhos relativos, pois eles especificam a localização de um arquivo em comparação ao diretório corrente. Esses caminhos relativos são de utilidade para representar arquivos em seu diretório corrente ou em subdiretórios deste. Os caminhos com uma barra no início são nomeados de caminhos absolutos. Esses tipos de caminhos denotam a localização do arquivo em comparação ao diretório-raiz. Não importando onde que esse diretório-raiz estiver. Os caminhos absolutos sempre identificam o arquivo com precisão. Esses caminhos absolutos servem de localização de arquivos comuns que são guardados sempre no mesmo lugar. A maioria das distribuições Linux incluem os respectivos diretórios: Distribuições. Atualmente, um Sistema Operacional (em Portugal Sistema Operativo) Linux ou GNU/Linux completo (uma "Lista de distribuições de Linux ou GNU/Linux") é uma coleção de software livre (e por vezes não-livre) criado por indivíduos, grupos e organizações de todo o mundo, incluindo o núcleo Linux. Companhias como a Red Hat, a SuSE, a Mandriva (união da Mandrake com a Conectiva) e a Canonical (desenvolvedora do Ubuntu Linux), bem como projetos de comunidades como o Debian ou o Gentoo, compilam o software e fornecem um sistema completo, pronto para instalação e uso. Patrick Volkerding também fornece uma distribuição Linux, o Slackware. As distribuições do Linux ou GNU/Linux começaram a receber uma popularidade limitada desde a segunda metade dos anos 90, como uma alternativa livre para os sistemas operacionais Microsoft Windows e Mac OS, principalmente por parte de pessoas acostumadas ao Unix na escola e no trabalho. O sistema tornou-se popular no mercado de Desktops e servidores, principalmente para a Web e servidores de bancos de dados. Todas elas tem o seu público e sua finalidade, as pequenas (que ocupam poucas disquetes) são usadas para recuperação de sistemas danificados ou em monitoramento de redes de computadores. Dentre as maiores, distribuídas em CDs, podem-se citar: Slackware, Debian, Suse, e Conectiva. Cada distribuição é, em síntese, um sistema operacional independente, de modo que os programas compilados para uma distribuição podem não rodar em outra, embora usem o mesmo núcleo (o Linux propriamente dito). A distribuição Conectiva Linux, por exemplo, tinha as suas aplicações traduzidas em português, o que fez com que os usuários que falam a Língua Portuguesa tenham aderido melhor a esta distribuição. Hoje esta distribuição foi incorporada à Mandrake, o que resultou na Mandriva. Para o português, existe também as distribuições brasileiras, como as mais recentes DuZeru, Metamorphose, GoboLinux, LinuxFX, Big Linux, Dizinha Linux, DreamLinux, Dual OS, Ekaaty, Famelix, FeniX, GoblinX, Kalango e Kurumin (essa distribuição foi descontinuada pelo seu mantenedor), construída sobre Knoppix e Debian, e a Caixa Mágica, existente nas versões 32 bits, 64 bits, Live CD 32 bits e Live CD 64 bits, e com vários programas "open source": "LibreOffice", "Mozilla Firefox", entre outros. Existem distribuições com ferramentas para configuração que facilitam a administração do sistema. As principais diferenças entre as distribuições estão nos seus sistemas de pacotes, nas estruturas dos diretórios e na sua biblioteca básica. Por mais que a estrutura dos diretórios siga o mesmo padrão, o FSSTND é um padrão muito relaxado, principalmente em arquivos onde as configurações são diferentes entre as distribuições. Então normalmente todos seguem o padrão FHS (File Hierarchy System), que é o padrão mais novo. Vale lembrar, entretanto, que qualquer aplicativo ou driver desenvolvido para Linux pode ser compilado em qualquer distribuição que vai funcionar da mesma maneira. Quanto à biblioteca, é usada a biblioteca libc, contendo funções básicas para o sistema Operacional Linux. O problema é que, quando do lançamento de uma nova versão da Biblioteca libc, algumas distribuições colocam logo a nova versão, enquanto outras aguardam um pouco. Por isso, alguns programas funcionam numa distribuição e noutras não. Existe um movimento LSB (Linux Standard Base) que proporciona uma maior padronização. Auxilia principalmente vendedores de software que não liberam para distribuição do código fonte, sem tirar características das distribuições. O sistemas de pacotes não é padronizado. Arch Linux, Debian, Fedora, Manjaro Linux, SolusOS, Sabayon, Mandriva, Mint, openSuse, PCLinuxOS, Puppy, Slackware e Ubuntu são algumas das distribuições mais utilizadas atualmente (2017), listadas aqui por ordem alfabética. Existem também distribuições Linux para sistemas móveis, como tablets e smartphones, sendo o Android, desenvolvido pelo Google, a mais difundida de todas. Outras distribuições Linux para sistemas móveis são o Maemo e o MeeGo. Vários fatores ajudaram a rápida expansão do Linux depois de seu lançamento: Interface com o Usuário. Uma característica que acaba resultando na diferenciação de uma Distribuição Linux é a Interface Gráfica. Algumas distribuições utilizam a interface KDE, outras utilizam interface GNOME, outras utilizam a interface Xfce, e ainda existem várias outras interfaces que podem ser utilizadas. Código aberto e programas livres. Um programa, assim como toda obra produzida atualmente, seja ela literária, artística ou tecnológica, possui um autor. Os Direitos sobre a ideia ou originalidade da obra do autor, que incluem essencialmente distribuição, reprodução e uso é feito no caso de um programa através de sua licença. Existem dois movimentos que regem o licenciamento de programas no mundo livre, os programas de código aberto e os programas livres. Os dois representados respectivamente pela OSI e pela FSF oferecem licenças para produção de software, sendo seus maiores representantes a licença BSD e a GPL. O Linux oferece muitos aplicativos de open source, contudo nem todos podem ser considerados programas livres, dependendo exclusivamente sob qual licença estes programas são distribuídos. Os programas distribuídos sob tais licenças possuem as mais diversas funcionalidades, como desktops, escritório, edição de imagem e inclusive de outros sistemas operacionais. Também existem organizações inclusive no mundo livre como a organização Linux Simples para o Usuário Final (SEUL) que tem como objetivo adotar a maior gama possível de aplicativos de alta qualidade produzidos sobre a GPL. É um projeto voluntário que atualmente se foca no aprendizado de Linux, seu uso na ciência e em documentos de advocacia, bem como gerenciar e coordenar projetos de desenvolvimento de aplicativos. Controvérsias quanto ao nome. Linux foi o nome dado ao núcleo de sistema operacional criado por Linus Torvalds. Por extensão, sistemas operacionais que usam o núcleo Linux são chamados genericamente de Linux. Entretanto, a "Free Software Foundation" afirma que tais sistemas operacionais são, na verdade, sistemas GNU, e o nome mais adequado para tais sistemas é "GNU/Linux", uma vez que grande parte do código-fonte dos sistemas operacionais baseados em Linux são ferramentas do projeto GNU. Há muita controvérsia quanto ao nome. Eric Raymond afirma, no "Jargon File", que a proposta da FSF só conseguiu a "aceitação de uma minoria" e é resultado de uma "disputa territorial". Linus Torvalds afirma que consideraria "justo" que tal nome fosse atribuído a uma distribuição do projeto GNU, mas que chamar os sistemas operacionais Linux como um todo de GNU/Linux seria "ridículo". Linus disse não se importar sobre qual o nome usado; considera a proposta da GNU como "válida" ("ok"), mas prefere usar o termo "Linux". Sobre o símbolo. O símbolo do software foi escolhido pelo seu criador (Linus Torvalds), que um dia estava em um zoológico na Austrália e foi surpreendido pela mordida de um pinguim. Fato curioso e discutido até hoje. Em 1996, muitos integrantes da lista de discussão "Linux-Kernel" estavam discutindo sobre a criação de um logotipo ou de um mascote que representasse o Linux. Muitas das sugestões eram paródias ao logotipo de um sistema operacional concorrente e muito conhecido (Windows). Outros eram monstros ou animais agressivos. Linus Torvalds acabou entrando nesse debate ao afirmar em uma mensagem que gostava muito de pinguins. Isso foi o suficiente para dar fim à discussão. Depois disso, várias tentativas foram feitas numa espécie de concurso para que a imagem de um pinguim servisse aos propósitos do Linux, até que alguém sugeriu a figura de um "pinguim sustentando o mundo". Em resposta, Linus Torvalds declarou que achava interessante que esse pinguim tivesse uma imagem simples: um pinguim "gordinho" e com expressão de satisfeito, como se tivesse acabado de comer uma porção de peixes. Torvalds também não achava atraente a ideia de algo agressivo, mas sim a ideia de um pinguim simpático, do tipo em que as crianças perguntam "mamãe, posso ter um desses também?". Ainda, Torvalds também frisou que trabalhando dessa forma, as pessoas poderiam criar várias modificações desse pinguim. Isso realmente acontece. Quando questionado sobre o porquê de pinguins, Linus Torvalds respondeu que não havia uma razão em especial, mas os achava engraçados e até citou que foi bicado por um "pinguim assassino" na Austrália e ficou impressionado como a bicada de um animal aparentemente tão inofensivo podia ser tão dolorosa. Escândalo dos programas de vigilância da NSA. As revelações da vigilância global exercida pela Agência de Segurança Nacional trouxeram à tona alegações de que Google, Yahoo!, Facebook e Microsoft estão entre as várias empresas intencionalmente cooperando com a NSA, oferecendo acesso aos seus sistemas via uma "backdoor" criada especialmente para atender aos interesses da agência. No caso de sistemas operacionais Linux, a NSA pediu ao criador do Linux, Linus Torvalds, para criar "backdoors" no GNU/Linux, através do qual eles poderiam acessar o sistema. A inclusão dos "backdoors" acabou não ocorrendo, devido ao modelo de desenvolvimento aberto do núcleo Linux. O fato dos sistemas GNU/Linux serem software livre permite que qualquer um realize auditoria sobre os códigos, dessa forma dificultando a inserção de "backdoors". Ligações externas. Principais distribuições LINUX/GNU Principais remasterizações LINUX/GNU
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Lide (jornalismo)
Lide (jornalismo) Em jornalismo, o lide (do inglês "lead"; em latim "incipit") é a primeira parte de uma notícia. Geralmente o primeiro parágrafo com duas linhas posto em destaque que fornece ao leitor informação básica sobre o conteúdo. A expressão inglesa "lead" tem, entre outras, a tradução de “primeiro”, “guia” ou “(o que vem) à frente”. O lide é um elemento fundamental para a funcionalidade do texto jornalístico, que expressa a função das linhas iniciais de uma matéria, no intuito de atrair e conduzir  o leitor aos demais parágrafos.  De uma maneira geral, o lide deve responder a seis perguntas: o quê (a ação), quem (o agente), quando (o tempo), onde (o lugar), como (o modo) e por que (o motivo) se deu o acontecimento central da história. No caso de não conseguir colocar todas as informações no início, o jornalista tem a opção de colocar o restante no sub-lead que representa o segundo parágrafo do assunto noticiado.  O lide, portanto, deve informar qual é o fato jornalístico noticiado e as principais circunstâncias em que ele ocorre. Segundo Adelmo Genro Filho, em "“O Segredo da Pirâmide”", o lide deve descrever a maior singularidade da notícia. Já o lide do texto de reportagem, ou de revista, não tem necessidade de responder imediatamente às seis perguntas. A sua principal função é oferecer uma prévia, como a descrição de uma imagem, do assunto a ser abordado. O lide deve ser objetivo e direto, evitando a subjetividade, e pautar mais pela exatidão, linguagem clara e simples. O leitor ganha interesse pela notícia quando o lide é bem elaborado e coerente. História. Fruto de obstáculos de comunicação o lide surgiu no século XIX nos Estados Unidos. Jornalistas que cobriam a Guerra Civil Americana entre os anos de 1861 e 1865, enfrentavam sérios problemas para noticiar. Nessa época o problema girava em torno de muitos jornalistas e poucas linhas de telégrafo para fazer a transmissão das notícias, então era necessário criar uma tática para que as informações mais importantes fossem passadas primeiro. Um parágrafo de cada matéria era transmitido, depois passavam para o segundo e assim por diante, até o fim da notícia. E assim surgiu o lide. No Brasil, o lide chegou no ano de 1950, trazido pelas agências de notícia norte-americanas. Antes as matérias eram escritas a partir de comentários e uma combinação entre interpretação e informação em que a principal notícia ficava no final.  Esse período foi responsável pelo declínio do jornalismo literário, que era desenvolvido desde o princípio da imprensa. Após a chegada do lide se desencadeava mais uma estruturação para o texto jornalístico, a pirâmide invertida que é uma técnica de hierarquização dos fatos, da ordem decrescente de relevância dos fatos. Segundo Ricardo Carde, em Manual do Jornalismo “a verdade é que o sistema do lide e da pirâmide invertida possui potencialidades que seria um erro menosprezar”, por isso é importante que o jornalista tenha domínio da técnica na construção da notícia. O lide permite que a resposta se estruture no esquema da pirâmide invertida: Devido ao surgimento do lide o nariz de cera foi eliminado dos textos jornalísticos. O nariz de cera nada mais é que criar um suspense, ou até mesmo como alguns chamam: “enrolação”. Esse esquema fazia com que o cerne da notícia fosse compreendido apenas no fim da matéria.  A padronização para os textos com o uso do lide e da pirâmide invertida tornou a escrita mais objetiva. Radiojornalismo. O lide no texto para o rádio é algo mais simplificado, menos complicado que no jornal. Atende basicamente “o quê”, o “onde”, e o “quando” tem menos relevância, porém não sendo descartado podendo aparecer em uma outra parte da notícia. Advérbios de modo e adjetivos devem ser evitados, pois fazem a leitura ser demorada. Verbos no presente indicativo são bem-vindos por dá a ideia de atualidade, evidenciando a linguagem oral, pois imediatismo e instantaneidade são características do rádio. No lide para o rádio também deve ser rejeitado frases negativas ou interrogativas. Outro ponto importante é o tratamento dado a última frase, por ser a que fixa na mente do ouvinte.  Telejornalismo. Assim como para o impresso e para o rádio, o lide para TV deve ser claro, com breves parágrafos e gerar impacto. Já que um elemento a mais é incluído, a imagem, tal deve está em perfeita sincronização com o texto, fazendo ambos caminharem juntos. O lide na TV pode ser dito pelo repórter, ou antecipadamente na introdução do assunto anunciado pelo apresentador. Tradicionalmente na TV a abertura da matéria não vai atender absolutamente ao fato principal da notícia, porém com um detalhe atraente que prenda a atenção do telespectador. A combinação entre a imagem e o texto, o título que corresponde ao lide do jornal impresso, são os principais atributos do lide no texto para o telejornalismo. Crítica. Alguns críticos do jornalismo são contra ao uso do lide nos textos jornalísticos, alegam ser algo que cortou a criatividade dos jornalistas, que passaram a escrever de forma automática, sempre respondendo as seis perguntas. Outros são a favor, afirmam que há como ser criativo e dinâmico mesmo fazendo o tradicional uso do lide. Para Dimas Kunsch, jornalista e filósofo, o jornalismo sem o lide seria melhor, argumenta que o mundo nem as pessoas cabem em um simples lide. Ricardo Noblat também se contrapõe a questão, e diz que o texto sem lide, que esteja  mais próximo do literário, visualmente atrativo, tem mais significado.
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Lépton
Lépton Em física de partículas, um é uma partícula elementar de spin semi-inteiro (spin 1/2) que não sofre interações fortes. Existem duas classes principais de léptons: léptons carregados, também conhecidos como léptons do tipo elétron, e léptons neutros (também conhecidos como neutrinos). Léptons carregados podem combinar-se com outras partículas para formar partículas compostas como os átomos, enquanto que os neutrinos interagem fracamente com outras partículas. O lépton mais conhecido é o elétron. Há seis tipos, ou sabores, de léptons, agrupados em três gerações. A primeira geração de léptons, também chamada de léptons eletrônicos, compreende o elétron (e−) e o neutrino do elétron (νe); a segunda são os léptons muônicos, que compreendem o múon (μ-) e o neutrino do múon (νμ); e a terceira são os léptons tauônicos, que envolvem os taus (τ−) e o neutrino do tau (ντ). O elétron tem a menor massa de todos os léptons carregados. Os múons e taus rapidamente decaem em elétrons. Portanto, o elétron é estável e é o lépton carregado mais comum no Universo, enquanto que múons e taus são produzidos apenas em colisões de altas energias (como as que envolvem raios cósmicos ou nas colisões em aceleradores de partículas). Os léptons têm várias propriedades intrínsecas como carga elétrica, spin e massa. Diferentemente dos quarks, léptons não são sujeitos à força nuclear forte, mas interagem por meio da gravidade e da força fraca. Os léptons carregados interagem também por meio da força eletromagnética. Para cada sabor de lépton, há sua correspondente antipartícula, conhecida como "antilépton", que difere do lépton apenas em algumas de suas propriedades que têm a mesma magnitude mas sinais opostos. De acordo com certas teorias, neutrinos podem ser sua própria antipartícula. O primeiro lépton carregado, o elétron, foi teorizado em meados do século XIX por muitos cientistas e foi descoberto em 1897 por J. J. Thomson. O próximo lépton a ser observado foi o múon, descoberto por Carl D. Anderson em 1936, que foi classificado como um méson na época. Após investigações descobriu-se que o múon não tinha as propriedades de um méson e, além disso, se comportava como um elétron mas com massa maior. Foi só em 1947 que o conceito de “lépton” como família de partículas foi proposto. O primeiro neutrino, o neutrino do elétron, foi proposto por Wolfgang Pauli em 1930 para explicar certas características do decaimento beta. Foi observado no experimento Cowan-Reines neutrino (), conduzido por e Frederick Reines em 1956. O neutrino do múon foi descoberto em 1962 por Leon M. Lederman, Melvin Schwartz, e Jack Steinberge, e a descoberta do tau entre 1974 e 1977 por Martin Lewis Perl e seus colegas do Stanford Linear Accelerator Center (Acelerador Linear de Stanford) e Lawrence Berkeley National Laboratory (Laboratório Nacional de Lawrence Berkeley). O neutrino do tau não foi descoberto até julho de 2000, quando a colaboração DONUT do Fermilab anunciou sua descoberta. Léptons são uma parte importante no modelo padrão. Elétrons são componentes dos átomos, junto com prótons e nêutrons. Átomos exóticos com múons e taus em vez de elétrons também podem ser sintetizados, bem como partículas lépton-antilépton como o positrônio. Etimologia. O nome lépton deriva do grego "leptós", "fino, pequeno, delgado" (forma neutra nominativa/acusativa singular: λεπτόν "leptón"); a forma certificada mais antiga da palavra é a grega micênica 𐀩𐀡𐀵, "re-po-to", na escrita silábica Linear B. "Lépton" teve o seu primeiro uso pelo físico Léon Rosenfeld em 1948:Seguindo a sugestão do Prof. C. Møller, eu adoto—como um análogo a “nucleon”—a denominação “lépton” (do λεπτός, pequeno, fino, delicado) para denotar a partícula de pequena massa.Rosenfeld escolheu o nome porque os únicos léptons conhecidos à época eram os elétrons e os múons, cujas massas são pequenas comparadas a dos nucleons—a massa de um elétron () e a massa de um múon (com um valor de ) são frações da massa do “pesado” próton (). Entretanto, a massa do tau (descoberto em meados da década de 1970) () é quase o dobro da massa do próton e cerca de 3500 vezes a massa do elétron. História. O primeiro lépton identificado foi o elétron, descoberto por J. J.  Thomson e sua equipe de físicos britânicos em 1897. Então, em 1930, Wolfgang Pauli postulou o neutrino do elétron por conservação da energia, conservação do momento e conservação do momento angular no decaimento beta. Pauli teorizou que partículas não detectadas carregassem a diferença de energia, momento e momento angular entre os estados iniciais e o observado nos estados finais. O neutrino do elétron foi simplesmente chamado de neutrino, como ainda não se sabia que existiriam diferentes sabores de neutrinos (ou gerações diferentes). Quase 40 anos depois da descoberta do elétron, o múon foi descoberto por Carl D. Anderson em 1936. Devido à sua massa, foi inicialmente categorizado como um méson em vez de um lépton. Depois ficou claro que o múon é mais similar a um léptons do que a um mésons e como múons não sofrem interação forte, foi reclassificado: elétrons, múons e o neutrino do elétron foram agrupados num novo grupo de partículas - os léptons. Em 1962, Leon M. Lederman, Melvin Schwartz e Jack Steinberger mostraram que mais de um tipo de neutrino existe detectando a interação do neutrino do múon, pelo qual ganhou o prêmio Nobel de 1988, embora os diferentes sabores de neutrinos já tinham sido teorizados. O tau foi detectado primeiro numa série de experimentos entre 1974 e 1977 por Martin Lewis Perl com seus colegas e o grupo SLAC LBL. Como o elétron e o múon, também esperou-se ter um neutrino associado. A primeira evidência para o neutrino do tau veio da observação da energia e momentos desaparecidos num decaimento de tau, de modo análogo ao observado no decaimento beta que levou a observação do neutrino do elétron. A primeira detecção de interações do neutrino do Tau foi anunciada em 2000 pela colaboração DONUT no Fermilab, tornando-se a segunda partícula mais recente do Modelo Padrão a ser observada diretamente, com o bóson de Higgs sendo descoberto em 2012. Embora todos os dados presentes estejam consistentes com as três gerações de léptons, alguns físicos de partículas estão procurando uma quarta geração. O atual limite inferior de massa de um quarto lépton carregado é , enquanto seu neutrino associado teria uma massa de pelo menos . Propriedades. Spin e quiralidade. Léptons são partículas de spin ½. O teorema da estatística do spin implica então que são férmions, e, portanto, que estão sujeitos ao princípio de exclusão de Pauli: Não podem existir dois léptons da mesma espécie no mesmo estado, ao mesmo tempo. Além disso, significa que para um lépton só é possível ter dois estados de spin, a saber up ou down. Uma propriedade intimamente relacionada é a quiralidade, que por sua vez é intimamente relacionada à propriedade chamada , essa sendo mais visualizável. A helicidade de uma partícula é a direção de seu spin relativa a seu momento linear; partículas com spin na mesma direção de seu momento linear são chamadas de dextrógira e caso contrário, são chamadas de levógira. Quando uma partícula não tem massa, a direção de seu momento linear relativa ao seu spin é a mesma em todos os referenciais, enquanto que partículas com massa podem ser ‘ultrapassadas’ ao escolher um referencial mais veloz; no referencial mais veloz, a helicidade é invertida. Quiralidade é uma propriedade técnica, definida pelo comportamento de transformações sob o grupo de Poincaré, que não se altera com o referencial. Ela é construída de modo a concordar com a helicidade para partículas sem massa, e ainda ser bem definida para partículas com massa. Em muitas teorias quânticas de campo, tal como a eletrodinâmica quântica e a cromodinâmica quântica, férmions dextrógiros e levógiros são idênticos. Entretanto, a interação Fraca do Modelo Padrão trata os férmions dextrógiros e levógiros de forma diferente: Somente férmions levógiros (e anti-férmions dextrógiros) participam da interação fraca. Este é um exemplo explícito da violação de paridade no modelo. Na literatura, campos levógiros são frequentemente denotados por um subscrito maiúsculo L (por exemplo, o elétron comum: eL−) e campos dextrógiros são denotados por um subscrito maiúsculo R (por exemplo, o pósitron eR+). Neutrinos dextrógiros e anti-neutrinos levógiros não possuem interações possíveis com outras partículas (ver neutrinos inertes), e, portanto, não são parte funcional do Modelo Padrão apesar de sua exclusão não ser um requisito obrigatório; às vezes eles são listados em tabelas de partículas para enfatizar que eles não teriam uma função ativa se incluídos no modelo. Apesar de partículas dextrógiras eletricamente carregadas (elétron, múon ou tau) não participarem especificamente da interação fraca, elas ainda podem interagir eletricamente, e portanto ainda participam da força combinada eletrofraca, embora com diferentes intensidades (). Interação eletromagnética. Uma das propriedades mais proeminentes dos léptons é a sua carga elétrica, . A carga elétrica determina a intensidade de suas interações eletromagnéticas. Ela determina a intensidade do campo elétrico gerado pela partícula (veja lei de Coulomb) e quão intensamente a partícula reage a um campo elétrico ou magnético externo (veja força de Lorentz). Cada geração contém um lépton com formula_1 e um lépton com carga elétrica zero. Geralmente o lépton com carga elétrica  é referido simplesmente por lépton carregado enquanto que um lépton neutro é chamado de neutrino. Por exemplo, a primeira geração do elétron com uma carga elétrica negativa e o neutrino do elétron, que é eletricamente neutro . Na linguagem da teoria quântica de campos, a interação eletromagnética dos léptons carregados é expressa pelo fato de que partículas interagem com o quantum do campo eletromagnético, o fóton. O diagrama de Feynman da interação elétron-fóton é mostrado ao lado. Porque os léptons possuem uma rotação intrínseca na forma de spin, léptons carregados geram um campo magnético. O tamanho de seu momento de dipolo magnético é dado por onde m é a massa do lépton e g é o assim chamado “fator g“ para o lépton. Aproximações em primeira ordem da mecânica quântica preveem que o fator g é 2 para todos os léptons. Entretanto, efeitos quânticos de ordem superior casados por loops nos diagramas de Feynman introduzem correções a este valor. Essas correções, referidas como o , são muito sensíveis aos detalhes de um modelo de teoria quântica de campos, e assim fornecem a possibilidade de testes precisos do modelo padrão. Os valores teóricos e medidos para o momento de dipolo magnético anômalo do elétron estão de acordo dentro de 8 algarismos significativos. Os resultados experimentais para o múon, entretanto, apresentam uma com o Modelo Padrão. Interação fraca. No Modelo Padrão, o lépton canhoto carregado e o neutrino canhoto são arranjados um dubleto que se transformam na representação de spinor ( = ) do calibre de simetria do SU(2) Isso significa que essas partículas são autoestados da projeção de isospin 3 com autovalores e respectivamente. Ao mesmo tempo, o lépton carregado destro se transforma como um escalar de isospin fraco ( = 0) e assim não participa da interação fraca, enquanto que não há nenhuma evidência de que exista um neutrino destro. O mecanismo de Higgs recombina as simetrias dos calibres de campo do isospin fraco SU(2) e da hipercarga fraca U(1) em três bósons vetoriais com massa (, , ) mediando a interação fraca, e um bóson vetorial sem massa, o fóton, responsável pela interação eletromagnética. A carga elétrica pode ser calculada da projeção de isospin 3 e da hipercarga fraca através da fórmula de Gell-Mann–Nishijima, Para recuperar as cargas elétricas observadas para todas as partículas, o dubleto de isospin fraco canhoto devem ter assim W = −1, enquanto que o escalar de isospin destro W = −2. A interação dos léptons com os bósons vetoriais com massa da interação fraca é mostrada na figura à direita. Massa. No Modelo Padrão, cada lépton começa sem massa intrínseca. Os léptons carregados (ou seja, elétron, múon, e tau) obtêm uma massa efetiva pela interação com o campo de Higgs, mas os neutrinos permanecem sem massa. Por razões técnicas, a ausência de massa dos neutrinos implica em não haver mistura das diferentes gerações de léptons carregados assim como há para os quarks. A massa nula do neutrino está de acordo com as atuais observações experimentais diretas de massa. Entretanto, é sabido pelos experimentos indiretos—mais proeminentemente das oscilações de neutrinos observadas—que os neutrinos devem ter uma massa não-nula, provavelmente menor do que . Isso implica na existência de física além do Modelo Padrão. A extensão atualmente mais favorecida é o assim chamado , que poderia explicar simultaneamente por que os neutrinos canhotos são tão leves em comparação aos léptons carregados, e por que ainda não observamos nenhum neutrino destro. Razão das massas. As três gerações de léptons tem massas que são teoricamente relacionadas entre si por um função simples de α, a constante de estrutura fina: formula_3 formula_4 formula_5 formula_6 onde formula_7 é a massa do elétron, formula_8 é a massa do múon, e formula_9 é a massa do tau. Os números entre parênteses à direita das fórmulas são as razões das massas calculadas a partir dos valores recomendados do CODATA 2018. Números quânticos de sabor. Aos membros do dubleto de de cada geração são atribuídos números leptônicos que são conservados de acordo com o Modelo Padrão. Elétrons e neutrinos do elétron possuem um "número eletrônico" de , enquanto que múons e neutrinos do múon possuem um "número muônico" de , e partículas tau e neutrinos do tau possuem um "número tauônico" de . Os anti-léptons possuem −1 como números leptônicos de suas respectivas gerações. A conservação dos números leptônicos significa que o número de léptons do mesmo tipo se mantém constante, quando partículas interagem. Isso implica que léptons e anti-léptons devem ser criados em pares em uma única geração: mas não essas: Entretanto, oscilações de neutrinos são conhecidas por violar a conservação dos números leptônicos individuais. Tal violação é considerada evidência incontestável de física além do Modelo Padrão. Uma lei de conservação muito mais forte é a conservação do número total de léptons (L sem subscrito), conservado mesmo no caso de oscilações de neutrinos, mas mesmo isso ainda viola um pouco devido a . Universalidade. Os acoplamentos de léptons a todos os tipos de bósons de calibre são independentes do sabor: A interação entre léptons e um bóson de calibre possui a mesma medida para todos os léptons. Essa propriedade é chamada de universalidade leptônica e já foi testada em medidas da meia vida dos múons e taus e na parcial do bóson Z, particularmente nos experimentos no Stanford Linear Collider (SLC) e no Large Electron–Positron Collider (LEP). A taxa de decaimento () de múons através do processo é aproximadamente dada por uma expressão da forma (veja decaimento de múons para mais detalhes) onde é uma constante, e é a . A taxa de decaimento de partículas tau através do processo é dada por uma expressão da forma onde é uma outra constante . A universalidade de múons-tau implica que Por outro lado, a universalidade de elétrons-muon implica que Isso explica por que a razão de ramificação para o modo eletrônico (17.82%) e muônico (17.39%) do decaimento dos taus é igual (dentro da incerteza). A universalidade também explica a razão das meias vidas do múon e do tau. A meia vida formula_13 de um lépton formula_14 (com formula_14 = " ou ") é relacionada com a taxa de decaimento por ondeformula_17denota as razões de ramificação, e formula_18 denota a do processo formula_19 com x e y substituídos por duas partículas diferentes de " ou " ou "". A razão dos tempos de vida do tau e do múon, então, é dado por Usando valores de 2008 da "Review of Particle Physics" para as razões de ramificação para o múon e o tau resultam numa razão de tempo de vida de ~, comparável ao valor medido de ~. A diferença é devido a e não serem constantes na realidade: Eles dependem levemente da massa dos léptons envolvidos. Testes recentes da universalidade dos léptons em decaimentos do méson B, realizados nos experimentos LHCb, BaBar e mostraram consistentes desvios das predições do modelo padrão. Contudo, as significâncias estatística e sistemática não são suficientes ainda para afirmar uma observação de uma física nova. Em julho de 2021, resultados sobre universalidade dos léptons foram publicados testando decaimentos do bóson W, medidas anteriores pelo LEP tinham fornecido um leve desequilíbrio, mas novas medidas pela colaboração ATLAS com duas vezes a precisão fornecem uma razão de formula_21 , o que concorda com a previsão do modelo padrão de unidade.
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Ligação Perigosa
Ligação Perigosa
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Leonid Andreiev
Leonid Andreiev Leonid Nicolaevitch Andreiev (; Oriol, Império Russo, de 1871 – Finlândia, 12 de setembro de 1919) foi um escritor e dramaturgo, considerado um dos pioneiros do Expressionismo russo. Biografia. Andreiev nasceu em Oriol, vindo de uma família de classe média. Sua mãe pertencia a uma antiga família Polonesa, anteriormente pertencente à aristocracia, porém empobrecida. Estudou Direito, entrando na Universidade de São Petersburgo aos 20 anos de idade. Pouco tempo após uma tentativa de suicídio aos 23, Andreiev perdeu sua matrícula por não pagar mensalidades, ingressando alguns meses depois na Universidade de Moscou. Em outono de 1894, dois anos após Andreiev ingressar na Universidade de Moscou, sua mãe e irmãos se mudaram para Moscou. Esse período na vida de Andreiev foi marcado pela pobreza extrema, em que a família se via constantemente ameaçada pela fome e pelo frio. Essas experiências inspiraram suas primeiras composições literárias, como a história "Sobre um Estudante Faminto", escrita entre 1891 e 1892, ainda em São Petersburgo, e as peças "Rei Fome" (1907) e "Anatema" (1909). Abandonando a carreira legal, Andreiev se tornou repórter, escrevendo para uma coluna policial. Durante esse período, escreveu algumas histórias curtas, publicando algumas em jornais e periódicos locais. Uma de suas histórias atraiu a atenção do escritor Maxim Gorky, que o encorajou a se dedicar à literatura. Os dois se tornaram amigos, e Andreiev eventualmente abandonou a carreira anterior, rápidamente se tornando uma celebridade literária. No início de sua carreira, foi descrito como o sucessor do Realismo de Gorky. Durante e após a Revolução Russa de 1905, Andreiev participou ativamente da vida politica, escrevendo ensaios em defesa de ideais democráticos e se tornando o editor do jornal "" em 1916. Andreiev recebeu a Revolução Russa de 1917 positivamente, mas viu a tomada do poder pelos Bolcheviques como um desastre para a Rússia. Andreiev se mudou para a Finlândia em 1917. No mesmo ano, o país declarou independência da Rússia; Andreiev logo publicou manifestos para distribuição internacional denunciando os Bolcheviques e apelando por uma intervenção militar multinacional na Rússia. Seu último livro, "O Diário de Satanás", foi terminado poucos dias antes de sua morte. Andreiev morreu em 1919, na Finlândia. Em 1956, seu corpo foi exumado e sepultado no Cemitério de Volkovo, em Leningrado (atual São Petersburgo). Obra. A obra inicial de Andreiev é centrada ao redor de questões filosóficas individualistas e personagens psicologicamente complexos inseridos em situações de precariedade e desespero. Inicialmente considerado um membro do realismo, sua obra cada vez mais incorporou elementos do Romantismo, bem como surreais e do fantástico: suas peças mais famosas foram dramas alegóricos. Numerosas análises literárias desde os anos contemporâneos de Andreiev interpretaram sua obra principalmente como um expoente do pessimismo. Porém, alguns acadêmicos como James B. Woodward e Fred Newton Scott apontaram diferenças significativas entre a filosofia pessoal de Andreiev e o pessimismo clássico, citando o próprio autor em frases afirmando uma filosofia de vida aparentemente otimista.
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Lei de Moore
Lei de Moore Lei de Moore é uma expressão referente a observação feita por Gordon Moore (químico estadunidense cofundador da Intel) em 1965 no artigo “"Cramming More Components onto Integrated Circuits"” sobre a tendência histórica da indústria de microchips e processadores. Ou seja, observação sobre o ritmo da evolução na computação eletrônica, informa que o número de transistores dos chips teria um aumento de 100%, pelo mesmo custo, a cada dois anos. Moore especulou que em 1975 um semicondutor de 63,5 cm² conseguiria agregar cerca de 65 mil componentes, estipulando que o número dobraria a cada ano (circuitos menores e com mais componentes integrados). Esta carta serve de parâmetro para uma elevada gama de dispositivos digitais, além das CPUs. Na verdade, qualquer chip está ligado a lei de Gordon E. Moore, até mesmo o CCD de câmeras fotográficas digitais (sensor que capta a imagem nas câmeras nuclear; ou CNCL, sensores que captam imagens nas câmeras fotográficas profissionais). Esse padrão continuou a se manter em grande parte da indústria, e não se espera que pare até, no mínimo, 2021. História. O primeiro a arriscar uma teoria evolucionista a respeito de hardware foi Alan Turing em 1950, prevendo que na virada do século teríamos computadores com memória na casa de 1 GB. Quinze anos depois dessa afirmação, em um artigo de cunho científico na revista Eletronic Magazine de 19 de abril de 1965, Gordon Moore fez a seguinte citação: O primeiro a tratar da profecia de Moore por sua 'Lei' foi Caver Mead, então professor da Caltech e pioneiro da VLSI Technology, no ano de 1970. Em 1975, Moore revisou a sua previsão para, a cada dois anos, um aumento de 100% na quantidade de transistores dos chips mantendo seu custo. Porém um colega de Moore previu que esse período seria a cada 18 meses. Lei de Moore x produção. Inicialmente a lei de Moore não passava de uma observação, mas acabou tornando-se um objetivo para as indústrias de semicondutores, fazendo-as despenderem muitos recursos para poder alcançar as previsões de Moore no nível de desempenho e é isso que torna a Lei de Moore realmente importante, pois sem ela, talvez não tivéssemos um desenvolvimento tão acelerado em nível de hardware e com custos cada vez mais acessíveis. Custo. A indústria de semicondutores teve de investir em Pesquisa & Desenvolvimento, além de testes dos novos chips fazendo com que houvesse a formulação de uma “segunda Lei de Moore” onde era previsto um aumento no custo dos chips seguindo o aumento do desempenho, haja vista que a indústria de chips depende diretamente do custo de commodities como petróleo. Atualmente o custo final do desenvolvimento dos chips de 65 nm excede o valor de US$ 3 000 000. Fim da lei. Segundo Carl Anderson, pesquisador da área de concepção de computadores da IBM, a Lei de Moore pode estar chegando ao fim. Entre os motivos para que Anderson faça tal previsão está o fato de que os engenheiros estão desenvolvendo sistemas que exigem menos recursos do processador e os custos para pesquisas de novos processadores estão cada vez mais altos. Além do fato de que, com o aumento da velocidade, aumenta também o consumo de energia e a dissipação de calor. No início de 2014, o departamento de pesquisa da IBM anunciou um teste de novos chips de silício com tecnologia de 7 nm empurrando para novos limites o previsto fim da Lei de Moore. Em outubro de 2015, foi anunciada uma nova pesquisa da IBM iniciando a caminhada para novos limites na produção de processadores utilizando nano tubos de carbono, o que permitiria atingir escalas de 1,8 nm. Contudo, na tecnologia atual, fisicamente o tamanho dos microchips é em torno de 5 nm. Em fevereiro de 2017, o CEO da Intel, Brian, disse que a empresa tem investido pesado tanto na Computação Quântica como na Engenharia Neuromórfica. Em outubro de 2019, a Google declarou ter alcançado a supremacia quântica, o que pode multiplicar consideravelmente o poder de processamento.
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Linda Lovelace
Linda Lovelace Linda Susan Boreman (Nova Iorque, 10 de janeiro de 1949 — Denver, 22 de abril de 2002), mais conhecida pelo nome artístico Linda Lovelace, foi uma atriz estadunidense de filmes pornográficos. ficou mundialmente famoso por sua atuação no filme hardcore de 1972, Deep Throat , um sucesso de bilheteria e o filme de maior bilheteria do gênero da história. Biografia. Linda era uma jovem de classe média de Nova Iorque, que engravidou aos 16 anos, tendo sido abandonada pelo primeiro namorado, e obrigada pela família a dar seu bebê para adoção, o que a fez entrar em depressão e tentar o suicídio, passando a tomar calmantes. Aos 20 anos, sua vida mudou ao conhecer um homem chamado Chuck Traynor. Em pouco tempo, começaram a namorar, e poucos meses depois, casaram. Ele a humilhava e agredia e passou a mantê-la em cárcere privado e a obrigou a se prostituir, ameaçando-a de morte se não o fizesse. Um novo rumo sua vida tomou, quando Chuck passou a coagi-la para atuar em filmes pornográficos. Nesta época, Linda foi obrigada a manter relações sexuais com um cachorro. A jovem tornou-se conhecida em 1972 ao protagonizar o filme "Deep Throat"; porém, anos depois, passou a ser ativista contra a indústria pornográfica. Seu casamento teve fim em 1973, quando ela conseguiu fugir e o denunciou a polícia. Desesperada, sem conseguir emprego, continuou como atriz pornô, mas sua carreira entrou em decadência quando decidiu migrar de filmes pornôs pesados para produções mais leves, incluindo "Garganta Profunda 2" e "Linda Lovelace para Presidente", ambos fracassos de bilheteria. Em 1980, Linda lançou uma autobiografia, "Ordeal", em que revelava ter sido vítima de estupro, violência doméstica, prostituição, e pornografia. A obra, e um depoimento a comissões do Congresso, ajudaram a investigar irregularidades na indústria pornográfica. No livro, Linda alega que nunca recebeu nenhum salário por "Garganta Profunda""," que gravava seus filmes pornôs com uma arma apontada para a cabeça, e que seu ex-marido teria sido pago com apenas 1 250 dólares, embora o filme tivesse rendido aos produtores 600 milhões de dólares. Ao fim dos anos 80, casou com Larry Marchiano, antigo cliente, que a tirou da prostituição e dos filmes pornográficos. Juntos, tiveram dois filhos. Em 1990 a família mudou para Denver. Após diversos desentendimentos, divorciaram em 1996. Na época, desenvolveu um novo quadro de depressão, e devido a complicações do uso de silicone, desenvolveu um câncer de mama, necessitando realizar uma mastectomia. Ao início de abril de 2002, sofreu um violento acidente automobilístico, quando seu carro chocou contra um poste, tendo sido internada no Denver Health Medical Center, ficando em coma, falecendo semanas depois em consequência de ferimentos múltiplos por todo o corpo que atingiram seus órgãos vitais.
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Louveira
Louveira A louveira ("Cyclolobium vecchi" A. Samp. ex Hoehne) é uma árvore brasileira da família Fabaceae. É encontrada originarialmente no vale do Rio Mogi, estado de São Paulo. E também é uma espécie ameaçada de extinção. Contudo, existem alguns exemplares protegidos no Parque Nacional Itatiaia. Ela deu seu nome a cidade de Louveira, no estado de São Paulo - Brasil.
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Lista de línguas
Lista de línguas Abaixo está a lista de línguas. Estão incluídas línguas naturais e artificiais. No caso das naturais, são divididas em suas famílias, grupos e subgrupos. Famílias por origem comum. Os idiomas nesta lista pertencem a grandes famílias cuja relação genética foi conclusivamente demonstrada. Cada família agrupa idiomas com um mesmo ancestral comum. Família indo-europeia. Grupo itálico. Falado em: Sul da Europa, América Latina e África Subsaariana. Minorias na Ásia. Grupo celta. Falado em: Ilhas Britânicas e França Grupo germânico. Falado em: centro-norte da Europa, América do Norte, Oceania e África Subsaariana. Minorias na América do Sul. Grupo balto-eslávico. Falado em: Europa oriental Grupo iraniano. Falado em: Ásia Central Grupo indo-ariano. Falado em: Subcontinente Indiano Grupo anatólio. Falado em: Península da Anatólia (atual Turquia) Família camito-semítica ou afro-asiática. Grupo semita. Falado em: Oriente Médio e norte da África Grupo egípcio. Falado em: Egito Grupo cuchítico. Falado em: Região do Sahel Família dravídica. Falado em: sul da Índia e Sri Lanka Família urálica. Línguas urálicas constituem uma família de línguas com aproximadamente 30 diferentes idiomas falados por cerca de 20 milhões de pessoas Grupo fino-permiano. Falado em: Norte da Europa e Rússia Grupo úgrico. Falado em: Hungria; minorias na Rússia Grupo samoiedo. Falado em: Sibéria Família nígero–congolesa. As línguas nigero-congolesas são uma família de línguas, sendo a maior das línguas africanas, tanto quanto ao número de falantes, quanto à área geográfica Grupo adamawa–ubangui. Falado em: África Central Grupo atlântico ocidental. Falado em: África Ocidental Grupo benue–congo. Falado em: metade sul da África; minorias no Brasil e Caribe Família sino-tibetana. Falado em: China e região do Himalaia Família esquimó-aleutiana. Falado em: Ilhas Aleutas, Groenlândia e norte do Canadá Família austronésia. As línguas austronésias são uma família de línguas com uma vasta área de distribuição pelas ilhas do sudeste asiático e do Pacífico Grupo formosiano. Falado em: Taiwan Grupo malaio-polinésio. Falado em: Oceania e Sudeste da Ásia Grupo bornéu-filipino. Falado em: Filipinas e Madagascar Grupo micronésio. Falado em: países da Micronésia Família maia. Falado em: México, Belize e Guatemala. Famílias por afinidade regional. As famílias linguísticas aqui mencionadas não formam clados genéticos comprovados; porém são idiomas com grande léxico comum, gramática semelhante e faladas na mesma região. Alguns idiomas formam pequenas famílias linguísticas com outros por relação genética. Família Caucasiana. Falado em: região do Cáucaso Grupo nakh. Línguas faladas nas repúblicas autônomas da Chechênia, e Inguchétia, na Rússia, e na Geórgia. Grupo avar. Línguas faladas na República Autônoma do Daguestão, na Rússia, e no Azerbaijão. Grupo tzez. Línguas faladas no sul do Daguestão. Grupo lesguiano. Línguas faladas no sul do Daguestão e norte do Azerbaijão. Grupo cartveliano ou meridional. Línguas faladas na Geórgia e norte da Turquia: Línguas faladas na Geórgia e norte da Turquia: Família altaica. Falado em: faixa entre a Turquia e o Japão Grupo turcomano. Falado em: Anatólia e Ásia central Grupo mongólico. Falado em: Mongólia e Sibéria Grupo tungúsico. Falado em: Sibéria e nordeste da China Grupo japônico. Falado em: Japão Línguas indígenas brasileiras. Nota: muitos destes idiomas são falados por comunidades muito pequenas e sem registro histórico escrito, sem meios para estabelecer relações genéticas mais detalhadas. Idiomas isolados. Os idiomas listados nesta categoria não têm parentesco conhecido com nenhum outro idioma. Línguas artificiais. As línguas artificiais estão dividida em línguas auxiliares, lógicas e artísticas, e seus respectivos subgêneros.
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Leda
Leda Leda (), na mitologia grega, era rainha de Esparta, esposa de Tíndaro. Certa vez, Zeus transformou-se em um cisne e seduziu-a. Dessa união, Leda chocou dois ovos, e deles nasceram Clitemnestra, Helena, Castor e Pólux. Helena e Pólux eram filhos de Zeus, mas Tíndaro os adotou, tratando-os como filhos de sangue. Família. Seu pai era Téstio, filho de Ares e Demonice, filha de Agenor, filho de "Pleuron"; sua mãe era "Eurythemis", filha de "Cleoboea". Seus pais tiveram vários filhos, dentre os quais destaca-se "Althaea", casada com Eneu, rei de Calidão, que foram os pais de Dejanira, esposa de Héracles. Árvore genealógica. Baseada em Pseudo-Apolodoro.
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Links
Links Links é um navegador web livre e de código aberto gráfico e de linha de comando com um sistema de menu. Ele renderiza páginas complexas, tem suporte parcial ao HTML 4.0 (incluindo tabelas e frames e suporte a configuração de caracteres multiplos tais como UTF-8), suporte a terminais coloridos e monocromáticos e permite rolagem horizontal. Ele é voltado para usuários que querem manter elementos típicos de interfaces gráficas de usuário (janelas pop-up, menus etc.) em um ambiente somente de texto. Apesar do nome semelhante, não há uma relação de proximidade de qualquer espécie com o também navegador em modo texto Lynx. A versão original do Links foi desenvolvida por Mikuláš Patočka na República Tcheca. Seu grupo, Twibright Labs, desenvolveu posteriormente a 2.ª versão do navegador Links, que mostra imagens, renderiza fontes em diferentes tamanhos (com suavização espacial) e suporta JavaScript (versões posteriores à 2.1pre28). O navegador resultante é muito rápido, mas muitas páginas não renderizam como elas foram intencionadas. O modo gráfico funciona até em sistemas Unix sem o X ou qualquer outro ambiente gerenciador de janelas instalado, usando ou a SVGAlib ou o framebuffer do sistema da placa de vídeo. Características gráficas. A pilha de gráficos tem peculiaridades incomuns para um navegador web. As fontes exibidas pelo Links não são derivadas do sistema, mas compiladas no binário como bitmaps em tons de cinza em formato PNG. Isto permite que o navegador seja um único arquivo executável independente das bibliotecas do sistema, no entanto, aumenta o tamanho do executável. As fontes são suavizadas sem "hinting". A amostragem de subpixel aumenta ainda mais a legibilidade em monitores LCD. Isto permitiu o Links ter fontes com suavização em uma época em que isso era incomum. Links usa uma técnica similar ao "dithering" Floyd-Steinberg para maximizar a velocidade do motor de composição sem usar otimização por assembler, que não é portável. Links possui drivers de vídeo para o X Server, framebuffer Linux, SVGAlib, OS/2 PMShell e AtheOS GUI. Isso permite que ele funcione em modo gráfico até em plataformas que não possuem o X Server. Versões derivadas. ELinks. ELinks ("Experimental/Enhanced Links") é uma bifurcação do Links liderada por Petr Baudis. É baseado no Links 0.9. Ele possui um modelo de desenvolvimento mais aberto e incorpora "patches" de outras versões do Links (tais como "scripting" de extensão adicional escrito na linguagem Lua) e de usuários da Internet. Hacked Links. "Hacked Links" é outra versão do navegador Links que fundiu algumas capacidades do ELinks no Links2. Andrey Mirtchovski converteu ele para o Plan 9. Desde julho de 2012, a última versão do Hacked Links é de 9 de julho de 2003, com algumas outras modificações inéditas. Outras plataformas. Links também foi convertido para rodar na plataforma da Sony, o PSP, por Rafael Cabezas, com a última versão (2.1pre23_PSP_r1261) lançada em 6 de fevereiro de 2007. A versão convertida para o BeOS foi atualizada por François Revol, que adicionou suporte a GUI. Ele também roda no Haiku.
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Latim
Latim A língua latina ou latim é uma antiga língua indo-europeia do ramo itálico, originalmente falada no Lácio, a região em volta da cidade de Roma. Foi amplamente difundida, especialmente na Europa Ocidental, como a língua oficial da República Romana, do Império Romano e, após a conversão deste último ao cristianismo, da Igreja Católica Romana. Através da Igreja Católica, tornou-se a língua dos acadêmicos e filósofos europeus medievais. Por ser uma língua altamente flexiva e sintética, a sua sintaxe (ordem das palavras) é, em alguma medida, variável, se comparada com a de idiomas analíticos como o mandarim, embora em prosa os romanos tendessem a preferir a ordem SOV. A sintaxe é indicada por uma estrutura de afixos ligados a temas. O alfabeto latino, derivado dos alfabetos etrusco e grego (por sua vez, derivados do alfabeto fenício), continua a ser o mais amplamente usado no mundo. Embora o latim seja hoje uma língua morta, ou seja, uma língua que não mais possui falantes nativos, ele ainda é empregado pela Igreja Católica para fins rituais e burocráticos. Exerceu enorme influência sobre diversas línguas vivas, ao servir de fonte vocabular para a ciência, o mundo acadêmico e o direito. O latim vulgar, nome dado ao latim no seu uso popular inculto, é o ancestral das línguas neolatinas (italiano, francês, espanhol, português, romeno, catalão, romanche, galego, occitano, mirandês, sardo e outros idiomas e dialetos regionais da área); muitas palavras adaptadas do latim foram adotadas por outras línguas modernas, como o inglês. O fato de haver sido a "lingua franca" do mundo ocidental por mais de mil anos é prova de sua influência. O latim ainda é a língua oficial da Cidade do Vaticano e do Rito Romano da Igreja Católica. Foi a principal língua litúrgica até o Concílio Vaticano Segundo nos anos 1960. O latim clássico, a língua literária do final da República e do início do Império Romano, ainda hoje é ensinado em muitas escolas primárias e secundárias, embora seu papel se tenha reduzido desde o início do . Diacronia. O latim inclui-se entre as línguas itálicas, e seu alfabeto baseia-se no alfabeto itálico antigo, derivado do alfabeto grego. No século IX ou , o latim foi trazido para a península Itálica pelos migrantes latinos, que se fixaram numa região que recebeu o nome de Lácio, situada ao longo do rio Tibre, onde a civilização romana viria a desenvolver-se. Naqueles primeiros anos, o latim sofreu a influência da língua etrusca, proveniente do norte da península e que não era uma língua indo-europeia. A importância do latim na península Itálica firmou-se gradativamente. A princípio, era apenas a língua de Roma, uma pequena cidade circundada por vários centros menores (Lanúvio, Preneste, Tívoli), nos quais se falavam dialetos latinos ou afins ao latim (o falisco, língua da antiga cidade de Falérios). Já a poucos quilômetros de Roma, eram faladas línguas muito diversas: o etrusco e sobretudo línguas do grupo indo-europeu — o umbro, no norte, e o osco, na porção mais ao sul, até a atual Calábria. Na Itália setentrional falavam-se outras línguas indo-europeias como o lígure, o gálico e o venético. O grego era difundido nas numerosas colônias gregas da Sicília e da Magna Grécia. Ao longo de toda a era republicana, a situação linguística da Itália permaneceu muito variada: o plurilinguismo era uma condição comum, e os primeiros autores da literatura, como Ênio e Plauto dominavam o latim, o grego e o osco. Além das variações regionais, mesmo o latim de Roma não foi uma língua sempre igual a si mesma, apresentando fortes diferenças diacrônicas e sociolinguísticas. Do ponto de vista diacrônico, deve-se distinguir: Embora a literatura romana sobrevivente seja composta quase inteiramente de obras em latim clássico, a língua "falada" no Império Romano do Ocidente na Antiguidade tardia (200 a ) era o latim vulgar, que diferia do primeiro em sua gramática, vocabulário e pronúncia. O latim manteve-se por muito tempo como a língua jurídica e governamental do Império Romano, mas, com o tempo, o grego passou a predominar entre os membros da elite culta romana, já que grande parte da literatura e da filosofia estudada pela classe alta havia sido produzida por autores gregos, em geral atenienses. Na metade oriental do Império, que viria a tornar-se o Império Bizantino, o grego terminou por suplantar o latim como idioma governamental e era a "lingua franca" da maioria dos cidadãos orientais, de todas as classes. A difusão do latim por um território cada vez mais vasto teve duas consequências: Geralmente, as populações submetidas desejavam elevar-se culturalmente adotando o latim, coisa que ocorre sempre que dois povos entram em contato: prevalece linguisticamente aquele que possui maior prestígio cultural. Dessa forma Roma conseguiu fazer prevalecer o latim sobre o etrusco, o osco e o umbro, mas não sobre o grego, cujo prestígio cultural era maior. As populações submetidas e as federadas, antes de perder sua língua em favor do latim, atravessaram um período mais ou menos longo de bilinguismo; de fato, algumas das línguas pré-romanas tiveram, no território romanizado, considerável vitalidade durante muito tempo. E essas línguas originárias deram uma cor específica a cada língua neolatina (ou românica) surgente, permanecendo presentes em topônimos dessas regiões até hoje. Após a sua transformação nas línguas românicas, o latim continuou a fornecer um repertório de termos para muitos campos semânticos, especialmente culturais e técnicos, em uma ampla variedade de línguas. Características. O latim é uma língua flexiva. No caso dos substantivos e adjetivos, a flexão é denominada declinação; no caso dos verbos, conjugação. No latim clássico cada substantivo ou adjetivo pode tomar seis formas ou "casos": Também existem resquícios de um sétimo caso de origem indo-europeia, o locativo, que indica localização (por exemplo: "domī", "em casa"), no entanto, este é limitado a palavras específicas. Outra característica distintiva do latim é o uso de formas simples para expressar a voz passiva dos verbos, além de uma forma verbo-nominal muito frequente chamada de supino. Ambas formas se perderam nas línguas românicas. Ortografia. Os romanos usavam o alfabeto latino, derivado do alfabeto itálico antigo, o qual por sua vez advinha do alfabeto grego. O alfabeto latino sobrevive atualmente como sistema de escrita das línguas românicas (como o português), célticas, germânicas (inclusive o inglês) e muitas outras. Os antigos romanos não usavam pontuação, macros (mas empregavam ápices para distinguir entre vogais longas e breves), nem as letras j e u, letras minúsculas (embora usassem uma forma de escrita cursiva) ou sem espaço entre palavras (mas por vezes empregavam-se pontos entre palavras para evitar confusões). Assim, um romano escreveria a frase "Lamentai, ó Vênus e cupidos" da seguinte maneira: Esta frase seria escrita numa edição moderna como: Ou, com macros: A escrita cursiva romana é encontrada nos diversos tabletes de cera escavados em sítios como fortes, como por exemplo os descobertos em Vindolanda, na Muralha de Adriano, na Grã-Bretanha. Pronúncia. A chamada pronúncia reconstituída ou restaurada baseia-se em pesquisas recentes sobre os mais prováveis sons que os romanos antigos atribuíam a cada letra e, embora não haja uniformidade de opiniões em alguns pontos, vem sendo adotada em escolas de todo o mundo. Há dois outros tipos de pronúncia: a pronúncia tradicional lusófona, também a mais usada em fórmulas jurídicas, e a pronúncia adotada pela Igreja Católica (latim eclesiástico). Quanto à ortografia, não há diferenças. A seguir, as principais características da pronúncia restaurada (entre parênteses a pronúncia e a marcação do acento tônico): Acentuação tônica. Os romanos antigos faziam distinção entre vogais breves e vogais longas, estas últimas com o dobro de duração das primeiras e, para efeitos de acentuação tônica, usavam a regra da penúltima, segundo a qual o critério de acentuação tônica é a duração (longa ou breve) da penúltima vogal: se a penúltima vogal é longa, ela recebe o acento; se é curta, o acento recua para a antepenúltima vogal. Existem ainda alguns aspectos a notar, como, por exemplo: Todas as vogais de uma palavra têm sua duração bem definida e dessa duração depende a compreensão dos ritmos da poesia latina. Gramática. O latim não possui artigos. Os substantivos têm dois números (singular e plural) e seis casos (nominativo, genitivo, dativo, acusativo, vocativo e ablativo). Organizam-se em cinco declinações, que se distinguem pela terminação da forma do genitivo singular: 1ª: "-ae", 2ª: "-i", 3ª: "-is", 4ª: "-us" e 5ª: "-ei". Nem sempre a forma de nominativo correspondente é determinável a partir da forma de genitivo. Por exemplo, nominativo "uerbum", genitivo "uerbi" ("palavra"); mas nominativo "puer", genitivo "pueri" (menino). Assim, para se saber declinar um nome em todas as suas formas, é preciso saber a forma de nominativo e a de genitivo; tipicamente os dicionários fornecem ambas: "uerbum, uerbi;" "puer, pueri". Há três géneros gramaticais: masculino, feminino e neutro. O género de um nome depende em certa medida da declinação que o nome segue, mas a associação não é completamente rígida. Os nomes da primeira declinação são quase todos femininos (p. ex., "rosa, rosae" "rosa"), mas os que têm referentes humanos geralmente respeitam o género natural e por isso alguns são masculinos (p. ex., "nauta, nautae" "marinheiro"). Os nomes da segunda declinação cujo nominativo singular termina em "-um" são todos neutros. Os restantes nomes desta declinação (com nominativo em "-us" or "-r", como "dominus, domini" "senhor", "ager, agri" "campo", "uir, uiri" homem) são quase todos masculinos, mas há muitos nomes de árvores em "-us, -i" e estes são todos femininos: "ficus, fici" "figueira". Nas restantes declinações o género é mais arbitrário. O adjetivo concorda com o nome que modifica ou de que é predicado em número, género e caso. A numeração é: "unus/una/unum (1)", "duo/duae/duo (2)", "tres/tria (3)", "quattuor (4)", "quinque (5)", "sex (6)", "septem (7)", "octo (8)", "novem (9)", "decem (10)"; "undecim ("11), "duodecim" (12), "tredecim (13)...," "viginti (20)", "triginta (30)," "centum (100)..." Os verbos flexionam em pessoa, número, tempo, modo, aspeto e voz. Alguns verbos pertencem a uma de quatro conjugações, que se distinguem por exemplo pela forma de infinitivo presente ativo: 1ª: "-are", 2ª: "-ēre", 3ª: "-ěre", 4ª: "-ire". O lema de um verbo latino (isto é a forma de dicionário) não é contudo uma forma de infinitivo mas sim a forma de primeira pessoa singular do presente do indicativo ativo: p.ex., o verbo "sum" ("sou"), não "esse" ("ser"). O latim possui muito poucos nomes e verbos com flexão verdadeiramente irregular, mas contém muitíssimos verbos cujas formas se baseiam em radicais diferentes e que não são previsíveis entre si. Por exemplo, o verbo "cano" ("cantar"), tem formas como "cano" ("canto", radical "can-"), "cecini" ("cantei", radical "cecin-") e "cantum" ("para cantar", radical "cant-"). O pronome interrogativo é "quis" (masculino e feminino) "quem?", "quid" "quê?". "Quis" possui formas plurais "qui/quae/qua". Os demonstrativos são "is/ea/id", "hic/haec/hoc", "este/esta/isto", "iste, ista, istud" "esse, essa, isso", "ille/illa/illud" "aquele/aquela/aquilo". Os pronomes pessoais são: singular "ego" "eu", "tu" "tu"; plural "nos" "nós", "uos" "vós". Para a terceira pessoa podem usar-se demonstrativos ou sobretudo sujeitos nulos. A ordem canónica do latim clássico é SOV, mas é uma língua não configuracional: a ordem das palavras não está diretamente ligada a funções gramaticais, pois a flexão em caso é muitas vezes suficiente para determinar estas funções. Por exemplo, as seguintes frases latinas significam todas "Marco ama Cornélia", uma vez que a forma "Marcus" é nominativa e a forma "Corneliam" é acusativa: A frase "Cornélia ama Marco" seria "Cornelia Marcum amat" (ou outra ordem, como acima). Casos e complementos. Em português, diferenciamos os complementos verbais por posição e por preposições. Em orações afirmativas, por exemplo, o sujeito vem tipicamente antes do verbo e os outros complementos vêm tipicamente depois do verbo. Abaixo temos os sujeitos em negrito e os outros complementos com a primeira letra em negrito. Em latim, contudo, além da posição relativa dos complementos e das preposições, também se diferenciavam os complementos verbais pela escolha das terminações dos nomes. Sujeitos. Os sujeitos, no latim, ocorrem tipicamente no caso nominativo e "denotativo". Podem também ocorrer no caso acusativo quando uma oração complementar representa o que alguém imagina, deseja, percebe ou diz. Outros Complementos. Aquilo que se faz, imagina, deseja, percebe ou se diz ocorre tipicamente no caso acusativo. Aquilo com que se atinge ou que se dá a alguém ocorre tipicamente no caso acusativo. Alguém a quem se dá ou se diz algo ocorre tipicamente no caso dativo. Alguém a quem algo pertence também ocorre tipicamente no caso dativo. Aquilo que se usa ocorre no caso ablativo. Conjugação verbal. Pessoa. (Em latim, não existem pronomes do caso reto para a 3ª pessoa do singular: faz-se o uso de pronomes "demonstrativos" para indicar essa ausência). Numerais. Os numerais latinos podem ser cardinais, ordinais, multiplicativos e distributivos. Os três primeiros cardinais declinam nos 3 gêneros (M, F, N), no singular / plural e nos 5 casos (Nom., Acu., Gen., Dat., Abl.). O cardinal 3 utiliza a mesma forma para os gêneros M e F. Os demais cardinais até 100 não declinam. Os cardinais são: Os ordinais indicam em latim, além da sequência, as frações. São declináveis como adjetivos da primeira classe. Apresentam as formas como segue: Os adjetivos declinam conforme adjetivos de segunda classe e são: simplex, duplex, triplex, etc. Os advérbios (uma vez, duas vezes, etc.) não tem declinação e são: semer, bis, ter, quater, etc. São também declináveis, indicam "de um em um", "de dois em dois" e assim por diante. Apresentam a forma: singuli, bini, terni, quaterni, etc. até nuoeni, deni; dezenas: viceni, triceni, etc. Legado. A expansão do Império Romano espalhou o latim por toda a Europa e o latim vulgar terminou por dialetar-se, com base no lugar em que se encontrava o falante. O latim vulgar evoluiu gradualmente de modo a tornar-se cada uma das distintas línguas românicas, um processo que continuou pelo menos até o . Tais idiomas mantiveram-se por muitos séculos como línguas orais, apenas, pois o latim ainda era usado para escrever. Por exemplo, o latim foi a língua oficial de Portugal até 1296, quando foi substituído pelo português. Estas línguas derivadas, como o italiano, o francês, o espanhol, o português, o catalão e o romeno, floresceram e afastaram-se umas das outras com o tempo. Dentre as línguas românicas, o italiano é a que mais conserva o latim em seu léxico, enquanto que o sardo é o que mais preserva a fonologia latina. Algumas das diferenças entre o latim clássico e as línguas românicas têm sido estudadas na tentativa de se reconstruir o latim vulgar. Por exemplo, as línguas românicas apresentam um acento tônico distinto em certas sílabas, ao qual o latim acrescentava uma quantidade vocálica distinta. O italiano e o sardo logudorês possuem, além do acento tônico, uma ênfase consonantal distinta; o espanhol e o português, apenas o acento tônico; e no francês, a quantidade vocálica e o acento tônico já não são distintos. Outra grande diferença entre as línguas românicas e o latim é que as primeiras, com exceção do romeno, perderam os seus casos gramaticais para a maioria das palavras, afora alguns pronomes. A língua romena possui um caso direto (nominativo/acusativo), um indireto (dativo/genitivo), um vocativo e é o único idioma que preservou do latim o gênero neutro e parte da declinação. Embora não seja uma língua românica, o inglês sofreu forte influência do latim. Sessenta por cento do seu vocabulário são de origem latina, em geral por intermédio do francês. O mesmo ocorreu com o maltês, uma língua semítica falada na República de Malta, na costa sul da Itália, que fora influenciado por 50% de palavras italianas e sicilianas e, em menor grau, pelo francês em seu léxico, e que mais recentemente fora influenciado pelo inglês em 20% de seu léxico. Também herdou o alfabeto latino, sendo a única língua semítica a ser escrita neste alfabeto. Ademais do português, outras línguas românicas surgidas a partir do latim incluem o espanhol, o francês, o sardo, o italiano, o romeno, o galego, o occitano, o rético, o catalão e o dalmático — este, já extinto. As áreas onde as línguas românicas extintas eram faladas, são denominadas "Romania submersa." Como o contato com o latim escrito se manteve ao longo dos tempos, mesmo muito depois de o latim deixar de ter falantes nativos, muitas palavras latinas foram sendo introduzidas em muitas línguas. Este fenómeno acentuou-se desde o Renascimento, altura em que a cultura clássica foi revalorizada. Sobretudo o inglês e as línguas românicas receberam (e continuam a receber) muitas palavras de origem latina, mas bastantes outras línguas também o fizeram. Em especial, muitos novos termos dos domínios técnicos e científicos têm na sua base palavras latinas. Uso atual. O latim vive sob a forma do latim eclesiástico usado para éditos e bulas emitidos pela Igreja Católica, e sob a forma de uma pequena quantidade esparsa de artigos científicos ou sociais escritos utilizando a língua, bem como em inúmeros clubes latinos. O vocabulário latino é usado na ciência, na universidade e no direito. O latim clássico é ensinado em muitas escolas, muitas vezes combinado com o grego, no estudo de clássicos, embora o seu papel tenha diminuído desde o início do . O alfabeto latino, juntamente com suas variantes modernas, como os alfabetos inglês, espanhol, francês, português e alemão, é o alfabeto mais utilizado no mundo. Terminologia decorrente de palavras e conceitos em latim é amplamente utilizada, entre outros domínios, na filosofia, medicina, biologia e direito, em termos e abreviações como "subpoena duces tecum", "lato sensu", "etc.", "i.e.", "q.i.d." ("quater in die": "quatro vezes por dia") e "inter alia" (entre outras coisas). Estes termos em latim são utilizados isoladamente, como termos técnicos. Em nomes científicos para organismos, o latim é geralmente o idioma preferido, seguido pelo grego. A maior organização que ainda usa o latim em contextos oficiais e semioficiais é a Igreja Católica (principalmente na Igreja Católica de Rito Latino). O rito romano costumava celebrar a Missa e os outros sacramentos unicamente em latim até o . O latim ainda é a língua padrão do rito romano da Igreja Católica e os textos usados nas línguas vernáculas são traduções do latim. O latim é a língua oficial da Santa Sé, enquanto o italiano é usado em decretos oficiais da Cidade do Vaticano. A Cidade do Vaticano é também onde está instalado o único caixa eletrônico do mundo no qual as instruções são dadas em latim. Nos casos em que é importante empregar uma língua neutra, como em nomes científicos de organismos, costuma-se usar o latim. Muitas instituições ainda hoje ostentam lemas em latim. Alguns filmes, como "A Paixão de Cristo", apresentam diálogos em latim.
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Linus Torvalds
Linus Torvalds Linus Benedict Torvalds (Helsínquia, ) é um engenheiro de software, nascido na Finlândia e naturalizado estado-unidense em 2010, criador, e por muito tempo o desenvolvedor mais importante do núcleo Linux, sendo utilizado em importantes sistemas Linux, Android e Chrome OS. É também o criador do Git, sistema de controle de versão amplamente utilizado, e o aplicativo para planejamento e registro de mergulho, Subsurface. Junto ao médico Shinya Yamanaka, foi honrado pela Academia de Tecnologia da Finlândia, em 2012, com o Prêmio de Tecnologia do Milênio “em reconhecimento à sua criação de um novo núcleo de sistema operacional para computadores, que levou ao extensivamente utilizado, núcleo Linux”. Torvalds também notoriamente recebeu os prêmios: Pioneiro da Computação da IEEE Computer Society, e o IEEE Masaru Ibuka Consumer Electronics Award, patrocinado pela Sony. Biografia. Torvalds nasceu em Helsínquia, na Finlândia. É filho dos jornalistas Anna e Nils Torvalds, e neto do estatístico Leo Törnqvist e do poeta Ole Torvalds. Seus pais eram radicais do "campus" da Universidade de Helsínquia, na década de 1960. Sua família pertence à minoria de língua sueca (5,5 % da população da Finlândia). Seu interesse por computadores começou com um Commodore VIC-20. Nessa época, ele fica conhecido por ter escrito um clone do Pac-Man chamado Cool Man. Linus Torvalds é casado com Tove Torvalds (Monni, de nascimento) — hexacampeã nacional de karatê na Finlândia — a qual ele conheceu no outono de 1993. Linus passava exercícios introdutórios no laboratório de informática para os alunos, e solicitou aos participantes do curso que lhe enviassem um e-mail como teste, no qual ela o convidou para saírem em um primeiro encontro. Mais tarde, Linus e Tove se casaram e tiveram três filhas: Patricia Miranda (nascida em 1996), Daniela Yolanda (nascida em 1998), e Celeste Amanda (nascida em 2000), das quais duas nasceram nos Estados Unidos da América. Linus usa suas datas de nascimento (em hexadecimal) como aceitáveis números mágicos na chamada de reinicialização do núcleo ("reboot"). Linus define-se como sendo “completamente ateísta religioso”, adicionando: “acredito que as pessoas parecem pensar que a religião traz moral e apreciação a natureza. Penso que esta afasta de ambos. Dando as pessoas a desculpa para dizer: ‘Oh, a natureza foi apenas criada’. E assim, o ato da criação é visto como algo miraculoso. Eu aprecio o fato que: ‘Uau, é incrível que algo assim primeiramente tenha acontecido’”. Mais tarde comentou que, enquanto na Europa, religião é basicamente uma questão pessoal, nos Estados Unidos, ela se torna algo bastante politizado. Discutindo a questão da separação entre Estado e Igreja, Torvalds disse: “É um tanto irônico que em tantos países europeus, exista, na verdade um tipo de ligação legal entre o Estado e a religião do Estado”. Em 2010, Torvalds tornou-se cidadão estado-unidense, e se registrou para votar no país. Ele não é afiliado a nenhum partido político do país, acrescentando: “Em parte tenho demasiado orgulho pessoal para querer me associar a qualquer um deles, francamente”. Carreira. Torvalds frequentou a Universidade de Helsínquia, entre 1988 e 1996, obtendo um Mestrado em Ciência da Computação a partir do grupo de pesquisa NODES. Sua carreira acadêmica foi interrompida após seu primeiro ano de estudo universitário, quando ele se juntou ao Exército da Finlândia. Lá, ocupa o posto de Segundo Tenente, com o papel de um oficial de cálculo balístico. Em 1990, retoma seus estudos universitários e é exposto ao sistema operacional Unix pela primeira vez, através de um computador DEC MicroVAX com o SO ULTRIX. Sua Dissertação de Mestrado intitula-se "Linux: um sistema operacional portátil." Entrementes, em 1983, Richard Stallman cria a ideia do Sistema Operacional GNU, juntamente com a criação do Projeto GNU (que começou o seu desenvolvimento em janeiro de 1984). O Projeto GNU cresceu bastante a ponto de se fazer necessária a criação de uma fundação que desse apoio ao Projeto GNU, que se chamou "Free Software Foundation (FSF)", criada em 1985. Em 1986, Marice J. Bach publica "Design of the Unix Operating System". Em 1988, Linus foi admitido na Universidade de Helsinki. No mesmo ano, Andy Tanenbaum traz a público o SO MINIX, um derivativo do Unix para fins didáticos que rodava em computadores pessoais (PCs). No fim dos anos 1980, Linus toma contato com os PCs. Em 1990, Torvalds começa a aprender a linguagem de programação C em seus estudos. Em 1991, Linus compra um PC com um processador Intel 80386. Em 5 de janeiro de 1991, ele compra um Intel 80386-IBM PC antes de receber sua cópia MINIX, que, por sua vez, lhe permitiu começar a trabalhar no que se tornaria o Linux. Com 21 anos, sendo cinco já de experiência em programação (em C), ele toma contato com o SO Unix da Universidade (SunOS, atualmente Solaris) e desejava usar a versão de Tannenbaum, o Minix, no seu recém adquirido 80386. Entretanto, descontente com os recursos do Minix, especialmente em relação ao seu emulador de terminal que ele utilizaria para conectar remotamente ao Unix da universidade, começa a desenvolver seu próprio emulador de terminal que não rodaria sobre o Minix, mas sim diretamente no "hardware" do PC com 80386. Esse projeto pessoal foi sendo modificado gradualmente e adquirindo características de um sistema operacional independente do Minix. Esse é o início do desenvolvimento do núcleo Linux, relatado pelo próprio Linus Torvalds em seu livro "Just for fun". O projeto do Linux foi lançado em 1991 em uma famosa mensagem para a Usenet, em que ele divulga que estava disposto a disponibilizar o código-fonte e contar com a colaboração de outros programadores. Desde os primeiros dias de liberação do Linux à comunidade, ele recebe ajuda de "hackers" do Minix, e hoje recebe contribuições de milhares de programadores dos mais diversos locais do mundo. Em 1997, Linus Torvalds recebe os prêmios "1997 Nokia Foundation Award'y" e "Lifetime Achievement Award at Uniforum Pictures". No mesmo ano, finaliza os estudos superiores (1988-1997), tendo passado 10 anos como estudante e pesquisador na Universidade de Helsínquia, coordenando o desenvolvimento do núcleo do sistema operacional desde 1992. Torvalds trabalhou na Transmeta (fabricante de processadores para portáteis) entre 1997 e 2003, e neste ano juntou-se à "Open Source Development Labs" (OSDL), fundação criada para ajudar no desenvolvimento do núcleo Linux, como OSDL "fellow". Contribuem para essa fundação várias grandes empresas do ramo da informática, como IBM, Oracle e HP. Torvalds possui a marca registrada "Linux" e supervisiona esse uso por meio da organização sem fins lucrativos "Linux International", dirigida por Jon Hall. Em entrevista a "Embedded Linux Conference", Torvalds afirmou: "O Desktop realmente não abraçou completamente o mundo Linux ainda para usuários finais, mas hoje vemos muito mais empresas aderindo ao Linux para esta finalidade. Hoje vejo o desktop Linux tão desenvolvido quanto nunca. Em 25 anos, eu e meus colegas e todos os colaboradores conseguimos colocar o Linux em quase que literalmente todos os lugares, tenho pelo menos mais 25 anos para conquistar o Desktop e eu vou fazê-lo!". Linux. Os primeiros protótipos do Linux foram publicados ainda em 1991, e a versão 1.0, em 14 de março de 1994. A convite de seu colega que também fala sueco, estudante de ciências da computação, Lars Wirzenius, Linus participa de uma palestra gratuita em 1991, do renomado ativista de software livre, Richard Stallman, conhecendo assim, o Projeto GNU, e publicando mais tarde o núcleo Linux sob licença GNU General Public License, versão 2 (GPLv2). Conexão entre os nomes Linus e Linux. Inicialmente Linus Torvalds nomeou seu sistema "freax", combinação da palavra "free" (livre, em inglês) ou "freak" (diferente/estranho, em inglês) e o "x" do UNIX, mas Ari Lemmke, administrador do servidor FTP onde o código estava disponível, renomeou o diretório para "linux" para dar mais clareza. Reconhecimento público. A revista Time o reconheceu diversas vezes: Em 2000, ele foi ranqueado como 17.º na . Em 2004, nomeado como uma das mais influentes pessoas do mundo. Em 2006, a versão europeia o nomeou como um dos heróis revolucionários dos últimos sessenta anos. InfoWorld lhe concedeu o Prêmio pelas Realizações Industriais de 2000. No verão de 2004, os telespectadores da YLE (a companhia de transmissão pública da Finlândia), colocaram Torvalds em 16º, entre os 100 maiores finlandeses. Em uma pesquisa da BusinessWeek de 2005, Torvalds aparece como um dos “melhores gerentes”. Em 2006, a Business 2.0 o nomeou uma das “10 pessoas que não importam”, pelo crescimento do Linux, Torvalds possui um impacto individual não muito significante. Em 2010, como parte da série, “o guia Britannica das pessoas mais influentes do mundo”, Torvalds foi listado entre um dos “100 inventores mais influentes de todos os tempos”. Em 11 de outubro de 2017, a companhia SUSE fez uma música chamada: "Linus Said" ("Linus disse", em inglês). No Brasil. Embora tenha sido convidado inúmeras vezes, Linus Torvalds nunca compareceu ao maior evento de Software Livre do Brasil e um dos maiores do mundo, o FISL, realizado anualmente em Porto Alegre desde 1999. Mas isso não significa que Linus nunca tenha vindo ao Brasil. Ele participou, nos dias 17 e 18 de novembro de 2011, no LinuxCon Brasil, em São Paulo, que aconteceu no São Paulo Expo Norte. Inclusive foi durante essa visita que, em entrevista para o G1, que Linus admitiu que programar era apenas um hobby “Era apenas um hobby. Ainda é um hobby, na verdade”, também afirmou “O fato de que também é meu trabalho é, para mim, secundário. Eu ainda desenvolvo o Linux não porque me pagam, mas porque é a coisa mais interessante que eu me imagino fazendo.”
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Lista de lutas e rebeliões no Brasil
Lista de lutas e rebeliões no Brasil Lista de lutas e revoluções no Brasil em solo brasileiro ou que envolvem a soberania do país. República. Século XXI. Ver: lista de conflitos envolvendo o Brasil
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Lars Onsager
Lars Onsager Lars Onsager (Oslo, — Coral Gables, ) foi um físico-químico norueguês, naturalizado estadunidense. Biografia. Filho de Erling Onsager, advogado da Suprema Corte da Noruega, e de Ingrid Kirkeby. Casou-se em 1933 com Margarethe Arledter, filha de um fabricante de papel de Colônia, Alemanha. Cursou a escola Frogner, em Oslo, graduando-se em 1920. Foi admitido na escola Técnica Superior da Noruega como estudante de engenharia química. Alguns professores, particularmente O. O. Collenberg e B. Holtsmark, ajudaram-no na formação do conhecimento básico e incentivaram seu aprofundamento teórico. Depois de sua graduação em 1925, acompanhou Holtsmark em uma viagem para a Dinamarca, Alemanha e Suíça, permanecendo 2 meses em Zurique com Debye e Huckel, retornando depois para ficar durante quase 2 anos. Nesse período preparou a publicação dos resultados da sua teoria dos eletrólitos, ampliou seus conhecimentos de física e teve contato com vários físicos proeminentes. Durante a primavera de 1928 foi para Baltimore, nos Estados Unidos, na função de professor associado de química da Universidade Johns Hopkins. A seguir foi contratado por C. A. Kraus para ser instrutor na Universidade Brown, lá permanecendo por 5 anos. Durante esse tempo lecionou mecânica estatística, publicou as relações de reciprocidade e desenvolveu várias questões teóricas. Alguns dos seus resultados foram publicados na época com assistência de R.M. Fuoss, outros serviram de base para publicações posteriores. Em 1933 recebeu a Sterling Fellowship na Universidade de Yale, onde permaneceu como Professor Assistente de 1934 a 1940; tornou-se Professor Associado entre 1940 e 1945 e Professor de Química Teórica entre 1945 e 1972, sendo que, em 1935, graduou-se em Química, em Yale, dissertando sobre as bases matemáticas para a interpretação dos desvios das leis de Ohm em eletrólitos fracos. Entre 1951 e 1952 passou um ano de licença como bolsista da Fulbright, junto com David Schoenberg no laboratório de Mondde, em Cambridge, Inglaterra, um importante centro de pesquisa na física de baixas temperaturas. Na primavera de 1961 serviu como professor visitante de física na Universidade da Califórnia em San Diego. Durante sua licença sabática de 1967-1968, foi professor visitante na Universidade Rockefeller e do Instituto Gauss, de Göttingen. Ao longo dos anos, os assuntos de seu interesse incluíram colóides, dielétricos, transições de estados de ordem e desordem, metais e teoria dos super-fluidos, de hidrodinâmica e fracionamento. Em 1962, por sugestão de Manfred Eigen, juntou-se ao grupo interdisciplinar Neuroscience Associates, organizado por F. O. Schmitte em Cambridge, Massachusetts. Distinções. Onsager recebeu numerosos prêmios e homenagens: Foi membro de várias entidades científicas: Recebeu o Nobel de Química de 1968, por contribuições fundamentais à termodinâmica de processos irreversíveis.
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Limnology
Limnology
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Lei de Say
Lei de Say A Lei de Say também conhecida como Lei de mercados de Say ou Lei da preservação do poder de compra decorre do modelo que mantém oferta e demanda em identidade. Foi popularizada pelo economista francês Jean-Baptiste Say com sua explicação sobre o funcionamento dos mercados. A expressão didática para se referir ao princípio e que sintetiza o significado da lei, "a oferta cria sua própria demanda", teria sido difundida em Cambridge antes de 1936. Ela foi usada por Keynes na Teoria Geral em sua crítica ao modelo econômico que a adotava. Karl Marx contestou o uso de nome de Say para a lei, afirmando que a concepção original teria sido de James Mill quando aquele afirmara haver um "equilíbrio metafísico entre vendedores e compradores". Adam Smith também usara a ideia básica antes. Schumpeter discordou alegando que o escrito de Mill fora publicado em 1808 enquanto a primeira edição do livro de Say, "Traité d'Economique Politique", saiu em 1803. Mas ressalve-se que o autor francês aprofundou o conceito apenas na segunda edição (de 1814). Pela teoria de Say, não existem as chamadas crises de "superprodução geral", uma vez que tudo o que é produzido pode ser consumido já que a demanda de um bem é determinada pela oferta de outros bens, de forma que a oferta agregada é sempre igual a demanda agregada. Say aceitava ser possível que certos setores da economia tivessem relativa superprodução em relação aos outros setores, que sofressem de relativa subprodução. Também segundo a lei não existiria o entesouramento pois o dinheiro não gasto por um produtor (poupança) será repassado a outro através de empréstimo. Formulação. Say afirmou que "produtos se pagam com produtos" (1803: p. 153) ou "um excedente pode ocorrer apenas quando muitos meios de produção forem aplicados a um determinado produto em detrimento de outro" (1803: p. 178-9). A "lei" está expressa pelo autor nessa passagem de sua obra, em tradução livre do inglês: "É de se ressaltar que um produto tão logo seja criado, nesse mesmo instante, forma um mercado para outros produtos adequado ao próprio valor. Quando o produtor finaliza a produção, fica ansioso para vendê-la imediatamente pois quer evitar que a mesma se deprecie em suas mãos. E não ficará menos ansioso para aplicar o dinheiro que ganhará com a venda, pois o valor do dinheiro também poderá se depreciar. Mas o único modo de aplicar o dinheiro é trocá-lo por outros produtos. Assim, a mera circunstância da criação de um produto imediatamente abre um mercado para outro produto" "(J. B. Say, 1803: pp.138–9)". Ele também escreveu que não é o dinheiro em abundância mas os produtos em abundância que em geral facilitarão as vendas: Reformulação. O economista escocês James Mill reformulou a lei de Say em 1808, escrevendo que "produção de mercadorias cria, e é a única e universal causa que cria um mercado para as mercadorias produzidas." Outros economistas com destaque para David Ricardo e John Stuart Mill ajudaram a desenvolver a "Lei de Say" até uma "Lei dos Mercados" que foi a base da Macroeconomia de meados do século XVIII até a década de 1930. Contestação. A Lei de Say foi um dos pilares da economia ortodoxa até a Grande Depressão de 1929, quando passou a ser contestada, pois o princípio de "a oferta cria sua própria demanda" estava abalado e tornava a situação vista naquele momento inexplicável. O economista inglês John M. Keynes foi um dos maiores críticos da Lei de Say e de outros fundamentos teóricos da teoria marginalista, levando a uma reformulação da Lei de Say, que deu origem à Lei de Walras. Sua teoria se baseava na hipótese de que "o aumento da poupança poderia reduzir a taxa de lucro, ocasionando entesouramento", que segundo Keynes, reduziria a "demanda efetiva". Keynes partiu de um princípio diferente dos até então vistos, ao considerar a moeda como tendo vários papéis na economia, além de simples unidade de referência para troca. A moeda teria também outras funções, em particular a de ser reserva de valor e isso para ele significava que os agentes econômicos, em posse da moeda, poderiam escolher entre o gasto, seja este gasto entendido como consumo ou investimento, ou a poupança, entendida como a negação do gasto corrente. Para Keynes, não apenas a moeda seria a única reserva de valor possível, mas ela teria a qualidade de ser dentre todas, a de maior liquidez. Ou seja, a que pode tomar qualquer outra forma de maneira mais rápida e a custo mínimo. Assim, um agente econômico só aceitaria manter sua reserva de valor em outra forma que não a de maior liquidez, caso esta outra forma lhe desse algum rendimento que compensasse a perda de liquidez decorrente. Daí, nasceu um conceito diferente do que seria a taxa de juros, uma remuneração paga aos detentores de reserva de valor para abrirem mão de sua liquidez. Ainda sobre o tema moeda, Keynes diz que é impossível de se prever o futuro, pois há sobre este um grau de incerteza inerente e que não pode ser mensurado. Para ele, a incerteza é uma variável que afeta a economia, e que pode ser maior ou menor conforme diversos fatores afetam os agentes, muitos desses não necessariamente relacionados à economia ou mesmo explicáveis de maneira cartesianamente racional. Assim sendo, em momentos de grande incerteza, os agentes aumentariam sua preferência por manter seus ativos em forma o mais líquida possível, até mesmo caso os outros ativos de reserva de valor continuem possuindo rentabilidade razoável. Esse movimento dos agentes de fuga dos ativos para a moeda, Keynes chamou de entesouramento. Seu entendimento é crucial para a crítica feita a Lei de Say, pois o entesouramento é visto como uma parte da poupança que fica à margem do ciclo econômico que se inicia. Esse seria danoso para a economia pois esta poupança (não-gasto) não seria compensada pelo gasto de outros a tempo suficiente, fazendo assim com que a oferta não necessariamente criasse sua própria demanda, o que invalidaria a Lei de Say. Não apenas isso, jogaria toda a economia em uma espiral de diminuição da demanda e da riqueza muito difícil de ser quebrada por si só, exceção feita apenas a aumentos de demanda externos a ela (ex: aumento dos gastos do governo, das exportações, etc). O propósito de tal raciocínio era explicar como seria possível o nível de gasto diminuir recorrentemente, causando um circulo vicioso de queda de produção conforme se verificava na década de 30. Keynes claramente em suas análises tem por base uma economia grande (aquela em que o seu setor externo é dependente de seu nível de atividade e não o contrário) ou autarquia. Isso não necessariamente invalida sua análise, apenas mostra sua preocupação em focar nas grandes potências mundiais de sua época. Outros autores, posteriormente, se preocuparam em adaptar suas análises para economias pequenas, notadamente os estudiosos da CEPAL como Raúl Prebisch e Celso Furtado, mantendo porém toda sua linha de raciocínio sobre demanda, incerteza e moeda, e seus papéis na economia. Karl Marx também apontou para os problemas da Lei de Say, argumentando que a forma mercadoria impede a validade da lei. Embora sua contestação não seja a mesma de Keynes, ambos constituem um avanço em teoria econômica devido à rejeição do modelo de Say e à condizente construção da teoria da crise capitalista. O raciocínio de Marx para refutar a Lei de Say parte do princípio de que nem todos os bens produzidos são para consumo, uma parte da produção é de bens de capital como maquinário. Este raciocínio está exposto no volume II de sua obra "O Capital". Marx divide a economia em dois setores, um sendo produtor de bens de consumo e o outro produtor de bens de capital. O produto de cada um destes setores estaria também associada ao poder de compra das duas classes: burguesia (bens de produção) e proletariado (bens de consumo). Para que a Lei de Say se mantenha válida, é necessário que todo o produto de ambos os setores sejam sempre totalmente consumidos a cada ciclo econômico. Mas Marx chama a atenção que o consumo do setor de bens de capital aumenta a capacidade produtora da economia no novo ciclo que se inicia. O novo maquinário produzido deve ser colocado em produção, gerando um excedente de novas mercadorias que deve ser consumida no ciclo seguinte com demanda nova. E mesmo que esta possa em parte ser encontrada no salário dos novos trabalhadores contratados para este novo maquinário, tomando-se apenas o setor produtor de bens de consumo, o mesmo deve acontecer com o setor de bens de capital. Em outras palavras, a burguesia tem que sempre reinvestir todo seu lucro na acumulação de capital, ou seja, em novo maquinário para que a Lei de Say se mantenha válida. Para Marx, esse equilíbrio de consumo durante os ciclos econômicos é instável por conta das contradições existentes no capitalismo e sua forma de acumulação: a luta de classes na sociedade e sua consequente distribuição de riqueza evidenciando este conflito. Marx também acreditava que as contradições do capitalismo e luta de classes explicaria o movimento cíclico das economias capitalistas e a simples existência dos ciclos já seria uma evidência de que a Lei de Say não poderia ser tomada como válida. Crítica à contestação. Alguns economistas neoricardianos como Steven Kates, afirmam que Keynes interpretou mal o argumento de Say. Segundo estes, a teoria de Say, quando este afirma que "Quando um produto é criado, ele, desde aquele instante, por meio de seu próprio valor, proporciona acesso a outros mercados e a outros produtos", se baseia simplesmente no princípio de que "Quando um vendedor produz e vende um produto, ele instantaneamente se torna um potencial comprador, pois agora possui renda para gastar. Para poder comprar alguma coisa, um indivíduo precisa antes vender. Em outras palavras, a produção é o que gera o consumo, e um aumento na produção é o que permite que haja um maior gasto com consumo". Para Keynes, o que geraria o consumo seria disponibilidade de moeda em posse dos agentes junto com sua propensão de utilizá-la para gasto e não ao entesouramento. Portanto, é neste sentido que a produção tem efeitos sobre a demanda, no sentido de que a produção ocasiona uma maior capacidade de compra por parte do produtor e também de que "quanto maior a produção, maior o poder de compra do produtor". Na ocorrência de ciclos econômicos, a produção (após um período de aumento artificial na mesma ("boom econômico"), causado por uma expansão do crédito e da moeda que tem como origem a intervenção do governo na economia, estimulando artificial e insustentavelmente o consumo através de taxas de juros baixas e expansão creditícia) "é a primeira variável a entrar em declínio, bem antes do consumo. E quando a economia começa a se recuperar, isso ocorre porque a produção foi retomada, sendo somente depois seguida pelo consumo. O crescimento econômico começa com um aumento na produtividade, na produção de novos produtos e na criação de novos mercados. Portanto, os gastos em produção sempre vêm antes dos gastos em consumo." Para Keynes, as decisões de gasto dos agentes, seja em consumo ou investimento, são o fator primordial para a determinação do nível de atividade da economia e estas decisões sempre seriam acompanhadas posteriormente pela produção, exceção feita às ocasiões em que a atividade econômica encontrasse um gargalo para o seu crescimento (ex: escassez de mão-de-obra, de algum recurso vital como energia, de reservas internacionais, etc). As recessões econômicas, resultantes de tal "boom" insustentável (e que só "se iniciam quando os produtores percebem que erraram em suas estimativas sobre o que os consumidores querem consumir, o que faz com que os bens não vendidos se acumulem nos estoques. Ato contínuo, a produção é reduzida, a renda cai e, só então, o consumo diminui"), portanto, são causados por um "descompasso na estrutura de oferta e demanda" (e não por uma "insuficiência na demanda", como afirmava Keynes), até que as relações de oferta e demanda voltem a estar em relativo equilíbrio com a realidade do mercado e dos consumidores, sendo a recessão, portanto, uma forma do próprio mercado "corrigir" e "limpar" os efeitos provenientes dos recursos mal-empregados durante a fase de "boom" dos ciclos econômicos. Lei de Say na atualidade. Por vários outros motivos, alguns economistas e analistas acreditam que a economia tende a um equilíbrio de pleno-emprego dos recursos e que a ocorrência de recessões e depressões são o resultado da interferência do governo na economia. Alguns proponentes da teoria do ciclo real de negócios sustentam que as altas taxas de desemprego são devido mais à oferta reduzida de mão-de-obra do que à redução de demanda. Dito de outra maneira, as pessoas escolhem trabalhar menos quando as condições econômicas são ruins, de tal maneira que o desemprego involuntário não existiria de fato.
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Legião Urbana
Legião Urbana Legião Urbana foi uma banda brasileira de "rock" formada em 1982, em Brasília, por Renato Russo e Marcelo Bonfá, que contou com Dado Villa-Lobos e Renato Rocha em sua formação mais conhecida. O grupo encerrou suas atividades onze dias após o falecimento de Renato Russo, ocorrido em 11 de outubro de 1996. Conta com uma discografia composta de oito álbuns de estúdio, três álbuns ao vivo, duas coletâneas, um álbum de vídeo, 2 álbuns de tributo, 1 "box set", e 23 "singles". Em 2010, a banda havia vendido 14 milhões de cópias (incluindo discos solo de Renato Russo), segundo informações da gravadora EMI cedidas ao jornal "O Estado de S. Paulo". No mesmo ano, a revista "Veja" falava em quinze milhões de cópias (levando em conta a discografia da banda e os dois primeiros discos solo de Renato Russo, "The Stonewall Celebration Concert" e "Equilíbrio Distante"); a revista afirmou também na mesma ocasião que eles comercializavam uma média de 250 mil discos por ano. Em 2015, "O Estado de S. Paulo" afirmou que a banda vendeu 25 milhões de cópias em seus catorze anos de atividade. É o segundo grupo musical brasileiro que mais vendeu discos de catálogo no mundo, além de fazer parte do "Quarteto Sagrado" do "rock" brasileiro, ao lado das bandas Barão Vermelho, Os Paralamas do Sucesso e Titãs. Entre outubro de 2015 e dezembro de 2016, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá, os dois integrantes remanescentes do grupo, apresentaram junto a André Frateschi nos vocais principais e diversos músicos convidados, a turnê "Legião Urbana XXX Anos", que consistiu na comemoração dos trinta anos de seu primeiro álbum de estúdio. Devido à boa aceitação do público, o grupo resolveu retomar o projeto em 2018, desta vez executando o repertório do segundo e do terceiro álbuns do grupo, que continua até os dias atuais. História. Fundação, início e antecedentes. A banda foi formada em agosto de 1982, pouco menos de um ano após o fim da banda Aborto Elétrico, desencadeado por atritos existentes entre os integrantes Renato Russo e Felipe Lemos. O primeiro desentendimento ocorreu durante uma execução ao vivo da canção "Veraneio Vascaína" (na ocasião, Renato errou a letra e levou uma baquetada em pleno show). O segundo atrito se deu quando Renato Russo apresentou "Química" em um ensaio do Aborto e Felipe Lemos criticou a canção com veemência. O fim da banda foi oficializado no final de 1981, quando Renato Russo cortou pacificamente o seu vínculo com os colegas do grupo, com direito a uma última reunião poucos meses depois, motivada pela ausência de Ico Ouro Preto em uma apresentação. Em seguida, Felipe e seu irmão Flávio Lemos (baixo), fundaram o Capital Inicial, contando também com Dinho Ouro Preto (voz) e Loro Jones (guitarra). Para compor, Renato Russo teve inspiração em muitas bandas estrangeiras, como Joy Division, The Smiths, The Beatles, The Clash, The Cure, Ramones, Joni Mitchell, Gang of Four, Talking Heads, Sex Pistols, The Jesus and Mary Chain, Public Image Ltd, U2, Bob Dylan e nos trabalhos dos filósofos Bertrand Russell e Jean-Jacques Rousseau (dos quais, juntamente com o pintor Henri Rousseau, veio a inspiração para o seu sobrenome artístico). O nome "Legião Urbana" deriva da frase “Urbana Legio Omnia Vincit” (Em Latim, "Legião Urbana a tudo vence"). A sentença é uma referência à frase do imperador romano Júlio César, “"Romana Legio Omnia Vincit"”, traduzida como “Legionários Romanos a tudo vencem”. O nome também veio pela ideia original de Renato Russo e Marcelo Bonfá na fundação do grupo de revezar guitarristas e tecladistas para completar o grupo. Ou seja, uma "legião" de músicos. A primeira apresentação da Legião Urbana aconteceu em 5 de setembro de 1982, na cidade mineira de Patos de Minas, durante o festival "Rock no Parque", que contou com outras oito atrações, entre elas o grupo musical Plebe Rude (banda afiliada e amiga da Legião). Este foi o único concerto em que a banda apareceu com a sua primeira formação: Renato Russo (Voz, Baixo), Marcelo Bonfá (Bateria), Paulo Paulista (Teclado) e Eduardo Paraná (Guitarra). Na verdade, a "Cadoro Promoções" — empresa responsável pela produção do festival — havia contratado o Aborto Elétrico e impresso centenas de cartazes com o nome da banda formada por Renato Russo, Felipe Lemos, Flávio Lemos, Ico Ouro-Preto e, anteriormente, André Pretorius. Mas como o grupo havia encerrado suas atividades, Renato convenceu o dono da produtora, Carlos Alberto Xaulim, a se apresentar com a banda que tinha acabado de formar com Marcelo Bonfá. Após a apresentação, Paulo Paulista e Eduardo Paraná deixaram a Legião. O próximo guitarrista a participar do grupo seria Ico Ouro Preto (irmão de Dinho Ouro Preto e ex-integrante do Aborto Elétrico), mas, por negligência com o grupo, foi substituído por Dado Villa-Lobos, que assumiu o trabalho de guitarrista da Legião em março de 1983. Brasília era ainda uma ilha cultural em relação ao resto do país. Até 1978, a história curta da nova capital não lhe atribuíra ainda nenhum momento particularmente brilhante nas artes, até porque não havia sido formada a primeira geração de artistas brasilienses. Estes estavam surgindo, justamente ali, com a cara que aquelas duas primeiras décadas tinha tido na cidade. "Química" era um dos hinos do Aborto Elétrico e foi a primeira canção da chamada Turma da Colina a ser gravada em fonograma e lançada em LP e K7 por todo o país. Herbert Vianna (que já havia gravado seu primeiro LP com Os Paralamas do Sucesso pela gravadora britânica EMI) apresentou a Jorge Davidson, agente da gravadora, uma fita cassete com gravações de Renato Russo (correspondentes ao álbum solo O Trovador Solitário), o que interessou ao diretor artístico. A Legião Urbana foi chamada no final do ano de 1983 para gravar três demos, incluindo "Geração Coca-Cola" e "Ainda É Cedo". Logo de início, o som feito pela banda não agradou aos executivos da EMI, que esperavam canções mais próximas ao folk, pois a fita apresentada ao Jorge por Herbert Vianna foi do período em que Renato Russo estava tocando e cantando sozinho (fase esta chamada de O Trovador Solitário). Foi então que o produtor Mayrton Bahia surgiu para intermediar a relação entre a banda e a EMI e favorecer a chegada do grupo à gravadora. Jorge Davidson viria a assinar um contrato com a banda em fevereiro de 1984. O sucesso. No ano de 1984, alguns meses após o Legião assinar um contrato com a EMI, entra, por indicação de Marcelo Bonfá e, neste mesmo ano, o baixista Renato Rocha. Em outubro de 1984, começou a gravação de seu primeiro álbum de estúdio. "Legião Urbana". "Legião Urbana", lançado em 2 de janeiro de 1985, possui um forte engajamento político-social, com letras que fazem críticas contundentes a diversos aspectos da sociedade brasileira. Paralelo a isso, possui algumas canções de amor que foram marcantes na história da música brasileira, como "Será", "Ainda É Cedo" e "Por Enquanto" - esta última que é considerada como "a melhor faixa de encerramento de um disco", segundo Arthur Dapieve, crítico e amigo de Renato Russo. "Geração Coca-Cola" é outra canção famosa deste álbum, pois assumia a voz daqueles que tinham crescido sob o regime militar, chamando-os de “Geração Coca-Cola”. Todas as quatro canções já citadas foram, juntamente a "Soldados", promovidas como "singles". A Legião Urbana começou a ganhar notoriedade seis meses após o lançamento do álbum, acelerando o andamento da música jovem brasileira. De toda a geração emergida no "boom" do rock nacional naquela década, a Legião Urbana foi particularmente a mais aclamada por público e crítica. Apesar das letras consideradas sérias, por outro lado, o discurso não caía para a facilidade do tom panfletário. "Dois". Em 1986 foi lançado o segundo álbum do grupo, "Dois". Um estilo mais próximo do folk com letras mais líricas. Se o primeiro trabalho tinha toda uma urgência pós-punk, "Dois" era um contraponto; a visão complementar de um trovador que já não era mais solitário. A intenção era que o disco fosse duplo sob o nome de "Mitologia E Intuição", mas o projeto foi negado pela gravadora, obrigando que o disco fosse simples. "Daniel Na Cova Dos Leões" abre o disco e no início da gravação, ouve-se uma introdução de um rádio mal-sintonizado tocando um trecho de "Será" e alguns trechos do hino da Internacional Socialista. Este álbum é o segundo mais vendido da banda, com mais de 1,8 milhão de cópias (Ver Discografia). "Tempo Perdido", seu primeiro "single", fez um grande sucesso e se tornou um dos clássicos da Legião. "Eduardo e Mônica", "Índios" e "Quase Sem Querer" também foram promovidos como "singles". "Que País É Este". Em 1987 foi lançado o terceiro álbum do grupo, "Que País É Este". O sucesso de Dois fez com que a gravadora pressionasse muito a banda para o lançamento de um novo álbum, sem que houvesse repertório novo para isso. Das nove faixas de "Que País É Este", apenas duas foram compostas depois do álbum "Dois" - estas, justamente as duas últimas: "Angra dos Reis" (em menção à construção de uma usina nuclear na cidade fluminense de mesmo nome) e "Mais do Mesmo". A canção "Que País É Este" foi escrita em 1978, na época em que Renato tinha apenas 18 anos e estava começando seu projeto com o Aborto Elétrico. "Faroeste Caboclo", por sua vez, foi composta em 1979, mas nunca foi apresentada para o Aborto Elétrico. Esta, com mais de nove minutos de duração, possui 168 versos sem refrão e conta a história do nordestino João de Santo Cristo. Renato a considerava sua "Hurricane" (canção de Bob Dylan sobre boxeador que passou anos injustamente atrás das grades), além de se basear inicialmente como um repente com similaridades com as canções de Raul Seixas e com "Domingo No Parque", canção composta por Gilberto Gil. Show no Estádio Mané Garrincha e afastamento dos palcos. Por conta de incidentes nos shows, causados muitas vezes pelos fãs, além das complicações internas, em especial com Renato Russo, as turnês do grupo nunca foram longas. Os integrantes da banda se sentiam desgastados física e emocionalmente, principalmente Renato, por ser o líder em quem os fãs depositavam suas expectativas. Mesmo com toda a expectativa e preparação especialmente de Renato, que acreditava que este seria o show de sua vida, a apresentação que marcava o retorno da banda a Brasília, em 18 de junho de 1988, no Estádio Mané Garrincha, acabou em tragédia. Antes do início, falhas na organização e na atuação da polícia causaram tumulto no lado de fora, atrasando a entrada do público, de mais de 50 mil pessoas, e o início do show em mais de uma hora, enquanto pessoas ainda aguardavam na fila para entrar. Com a tensão no ar, uma série de confusões se sucederam. Violência policial, discursos inflamados, bombas caseiras, e a invasão do palco por um fã alucinado que se agarrou violentamente a Renato. O cenário de caos terminou com a suspensão da apresentação e mais confusão. Cerca de 63 pessoas foram presas, mais de 230 ficaram feridas, e uma onda de ódio à banda como resultado. Paredes em torno do estádio e próximas a casa da mãe de Renato Russo amanheceram pichadas com palavras de ordem contra a banda. A turnê foi suspensa e, a partir dali, a Legião nunca mais tocou em sua cidade natal, e se voltou ainda mais aos estúdios. "As Quatro Estações". O álbum "As Quatro Estações", do ano de 1989, levou um ano para ser lançado (o preparo começou em agosto de 1988 e o resultado foi publicado em 30 de outubro de 1989). Por conta de toda a meticulosidade dos arranjos e letras construídos ao decorrer deste tempo, o álbum é considerado por fãs o melhor e mais inspirado trabalho do grupo, e inclusive pelos próprios Dado Villa-Lobos e Renato Russo (que, segundo sua entrevista para a MTV em maio de 1994, passou a considerar o álbum seguinte, "V", o melhor do Legião até então). De todas as 11 canções do disco, apenas "1965 (Duas Tribos)" e "Maurício" não foram promovidas como "singles". É o álbum mais vendido da Legião, com mais de 2,6 milhões de cópias. O baixista Renato Rocha tocou com os demais integrantes nos três primeiros álbuns de estúdio do grupo e chegou a gravar algumas linhas de baixo deste álbum. Porém, foi expulso do grupo em fevereiro de 1989 por falta de compromisso durante as gravações do álbum. As linhas de baixo originalmente gravadas por Rocha foram descartadas, e novas linhas foram criadas e gravadas tanto por Renato quanto por Dado. A canção "Feedback Song For A Dying Friend" foi composta em homenagem a Cazuza, que, antes de Renato descobrir ser portador da doença, já tinha anunciado ser soropositivo. Uma das canções mais tocadas, "Pais E Filhos", fala sobre o suicídio de uma menina jovem. "V". Lançado em novembro de 1991, "V" é considerado o disco mais melancólico da banda. Renato estava em um momento complicado de sua vida, por conta da descoberta de que era soropositivo um ano e meio antes; problemas no relacionamento com seu namorado, Robert Scott Hickman; e o seu problema com o alcoolismo. Também houve muita influência do então Governo Collor, que teve muito destaque com o bloqueio da poupança de todos os brasileiros. O álbum apresenta um estilo bem atípico do grupo. "Metal Contra As Nuvens" - a canção mais longa, com total de exatamente 11 minutos e 24 segundos de duração. "A Montanha Mágica" também se destacou por se tratar da dependência química de Renato. Somente "O Teatro Dos Vampiros", "Vento No Litoral" e "O Mundo Anda Tão Complicado" foram promovidas como "singles". O disco teve vendagens muito fracas se comparado principalmente ao disco anterior, não chegando nem a 500 mil cópias vendidas. "O Descobrimento do Brasil" e projetos solo. O álbum "O Descobrimento do Brasil" (1993) foi lançado na época em que Renato Russo tinha iniciado o tratamento para livrar-se da dependência química e mostrava-se otimista quanto ao seu sucesso. O álbum é dedicado ao músico Tavinho Fialho, baixista que acompanhara a banda na turnê do álbum anterior, e morrera em um acidente. Desta forma, "Descobrimento" é um álbum com fortes notas de esperança, mas permeado por tristeza e saudosismo. Ainda assim, é considerado por muitos o álbum mais "alegre" e delicado da Legião Urbana. O "art rock" passa a ser muito experimentado no disco, em comunhão com o "rock" alternativo. "Perfeição", única canção de crítica político-social do disco, com fortes traços de pessimismo; "Giz", canção a qual os integrantes do grupo mais se sentem felizes de terem feito, que contém diversas referências à infância; e "Vinte e Nove", que faz referência ao ciclo de 29 anos de Saturno, como um recomeço para Renato, foram as canções de maior sucesso. 1993 também marcou o início do envolvimento dos membros em projetos solo. Dado se juntou ao baixista da Plebe Rude, André X, para fundar a RockIt!, uma gravadora independente que revelava artistas novos. Marcelo passou a realizar trabalhos de computação gráfica e Renato planejou seu primeiro disco solo, "The Stonewall Celebration Concert", que sairia no ano seguinte. "A Tempestade", morte de Renato Russo e fim da banda. A última apresentação da Legião Urbana aconteceu em 14 de janeiro de 1995, na casa de apresentações "Reggae Night" em Santos, litoral do estado de São Paulo. No mesmo ano, todos os discos de estúdio da banda até 1993 foram remasterizados no "Abbey Road Studios", em Londres, conhecido mundialmente pelas suas gravações para o grupo musical The Beatles; e lançados em uma lata, intitulada "Por Enquanto (1984 - 1995)". A lata também incluía um pequeno livro, com um texto escrito pelo antropólogo Hermano Vianna, irmão do músico Herbert Vianna. "A Tempestade ou O Livro dos Dias", lançado em 20 de setembro de 1996, foi o último álbum da banda publicado com Renato Russo em vida. O mesmo foi marcado por canções muito introspectivas e depressivas, alternando entre as sonoridades pesadas de "Natália" e "Dezesseis", o lirismo de "L'Avventura" e "O Livro Dos Dias", o experimentalismo de "Música Ambiente", ao sofrimento de "Aloha" e "Esperando Por Mim" e à leveza de "Soul Parsifal" e "1º De Julho" (canção composta especialmente para a intérprete Cássia Eller, que a lançou em primeira mão em 1994). As letras, em geral, abordam temas como solidão, passado, amor, depressão, soropositividade, intolerância e injustiça, dito como um disco "melodramático" e de alma triste. "A Via Láctea" e "Dezesseis" foram seus principais "singles". Algumas canções do disco sugerem uma despedida antecipada, como diz o trecho "e quando eu for embora, não, não chore por mim", da canção "Música Ambiente". As fotos do encarte foram tiradas próximas à época do lançamento, exceto a de Renato, que foi aproveitada da sessão de fotos do seu álbum solo "Equilíbrio Distante" (1995), já que o cantor, bastante debilitado, se recusou a ser fotografado para o disco. O álbum "A Tempestade" foi lançado inicialmente na época com capa de papel e anos depois relançado com capa de plástico. A foto de Dado Villa-Lobos é diferente entre estas duas versões. Com exceção de "A Via Láctea", as demais faixas do álbum possuem apenas a voz-guia de Renato, que não conseguiu gravar as vozes definitivas. As vozes-guia foram gravadas no início das gravações do álbum, visto que Renato estava perdendo sua capacidade vocal. Também não foram incluídas as frases "Urbana Legio Omnia Vincit" e "Ouça no Volume Máximo", presentes nos discos do grupo. Em seu lugar, uma frase do escritor modernista brasileiro Oswald de Andrade: "O Brasil é uma República Federativa cheia de árvores e gente dizendo adeus". O fim oficial da banda foi anunciado em 22 de outubro de 1996, onze dias após a morte de Renato Russo. Ele morreu 21 dias após o lançamento de "A Tempestade", no dia 11 de outubro de 1996. Em 11 dias depois, em 22 de outubro, Dado, Marcelo e o diretor artístico da EMI Music, João Augusto, anunciaram o fim das atividades do grupo que, por contrato, ainda devia três títulos à gravadora. Dado e Marcelo seguiram suas carreiras e lançaram discos solo nos anos seguintes. Por conta de um processo de recuperação judicial do grupo iniciado em 1985 (pelo qual um oportunista registrou a marca do grupo antes de seus integrantes), quando o processo foi concluído, em 1991, o poder da marca Legião Urbana teria que ser centralizado em apenas um integrante, cujo escolhido foi Renato Russo. Um mês depois da morte dele, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá receberam uma ligação movida pelos pais de Renato, através da qual foi anunciado que os dois perderam o direito de dizerem publicamente que participaram da Legião Urbana. Este direito foi recuperado permanentemente em 27 de março de 2015, dia em que Renato completaria a idade de 55 anos. Posteriormente. "Uma Outra Estação". Em 1997 foi lançado "Uma Outra Estação", último álbum de estúdio do grupo e o primeiro póstumo. A ideia original era de que "A Tempestade" fosse um álbum duplo. Porém, visto que o custo de venda e produção seria muito alto, a ideia foi descartada pelos integrantes do grupo e o material não lançado foi retrabalhado e lançado neste álbum. Canções como "Clarisse" ficaram de fora do álbum anterior por desejo do próprio Renato, que a considerava muito pesada. A letra de "Sagrado Coração" consta no encarte, porém, Renato não conseguiu gravá-la porque já estava muito debilitado. O álbum conta com participações como Renato Rocha, ex-baixista da Legião e Bi Ribeiro, baixista dos Paralamas do Sucesso. "Antes das Seis" e "As Flores do Mal" foram seus principais "singles". O produtor musical vencedor do Grammy Latino, Tom Capone, trabalhou como coprodutor do álbum e gravou guitarras e efeitos. "Acústico MTV: Legião Urbana". Em 1992, a banda participou da segunda gravação da série "Acústico MTV", da MTV Brasil. O show, gravado no dia 28 de janeiro de 1992, foi lançado em outubro de 1999 e impulsionado por canções como "Hoje a Noite Não Tem Luar", versão brasileira de "Hoy Me Voy Para México", do Menudo, além de releituras de Neil Young, The Jesus And Mary Chain e Joni Mitchell. Tributos. Em 5 de setembro de 2009, após rumores sobre um possível retorno às atividades, a família Manfredini, Dado Villa-Lobos, Marcelo Bonfá e a gravadora EMI, alegam que eram infundadas as informações sobre o retorno da banda, esclarecendo que ""uma possível volta da banda Legião Urbana é falsa. Não existe possibilidade alguma de uma volta da banda Legião Urbana"."<ref name="EMI-2009/FOLHA"></ref> Quinze dias após o desmentido, Dado Villa-Lobos e Marcelo Bonfá fizeram uma participação especial em um concerto do festival "Porão do Rock", em Brasília. Em 2011, Dado e Bonfá conduziram, juntamente com a Orquestra Sinfônica Brasileira, um tributo à Legião Urbana durante o Rock in Rio 4. O concerto contou com convidados que cantaram alguns sucessos da banda (entre eles, Rogério Flausino, Pitty e Herbert Vianna), além de um medley especial feito pela Orquestra Sinfônica Brasileira com trechos de canções do grupo.<ref name="ROCKRIO-2011/G1"></ref><ref name="ROCKRIO-2011/SRZD"></ref> No ano seguinte, a MTV Brasil organizou um novo tributo para a série MTV Ao Vivo, em São Paulo, pelos trinta anos de início das atividades do grupo.<ref name="TRIBUTO-2012/G1"></ref> A homenagem teve a participação do ator e diretor Wagner Moura como vocalista principal, além de participações dos músicos Fernando Catatau e Clayton Martin (Cidadão Instigado), Bi Ribeiro (Os Paralamas do Sucesso) e Andy Gill (Gang of Four), este último guitarrista de uma das maiores influências da Legião.<ref name="TRIBUTO-2012/OGLOBO"></ref> "Legião Urbana XXX Anos". Ao recuperarem permanentemente seus direitos de dizer publicamente que participaram do Legião Urbana em 27 de março de 2015, o guitarrista Dado Villa-Lobos e o baterista Marcelo Bonfá usaram o nome Legião Urbana algumas vezes. A primeira vez foi na gravação do especial "Rock In Rio 30 Anos", uma compilação de vários artistas do rock brasileiro interpretando clássicos de colegas de cena e de influências brasileiras. Dado e Bonfá gravaram, acompanhados de Lucas Vasconcellos (guitarra solo) e Mauro Berman (contrabaixo elétrico), versões para "Toda Forma de Poder", dos Engenheiros do Hawaii e "Por Você", do Barão Vermelho. Posteriormente, os mesmos músicos citados se uniram a Roberto Pollo (teclados) e André Frateschi (vocal) com o projeto "Legião Urbana XXX Anos", que consistiu em uma série de shows para comemorar os pouco mais de 30 anos do lançamento do primeiro disco, reunindo o repertório integral do mesmo e sucessos dos demais álbuns do grupo. Devido a mal-entendidos, Dado e Bonfá esclareceram que o projeto não era uma volta permanente da banda Legião Urbana. A primeira apresentação foi em 23 de outubro na cidade de Santos, SP. Dado e Bonfá também lançaram um "box" especial do primeiro álbum do grupo, incluindo a remasterização do "Legião Urbana," um disco de gravações extras e um encarte de curiosidades e documentos do grupo. O "box" contém as faixas "Será", "Geração Coca-Cola" e "Soldados", além de sobras de estúdio e versões que o Legião tocou para mostrar à gravadora no início da carreira. Dado e Bonfá tiveram um grande problema com a faixa "1977", gravada e nunca lançada devido à insatisfação de Renato Russo com o resultado. A canção serviu de base para duas composições de Renato Russo, "Fábrica" e "Tempo Perdido". Quando o "box" estava pronto para lançamento, Dado e Bonfá foram comunicados de que a canção pertencia à Renato Russo com 75% dos direitos e à Legião Urbana Produções Artísticas (em posse do seu filho, Giuliano Manfredini) com 25%, não podendo estar no "box" sob os seus créditos verídicos (Renato Russo / Dado Villa-Lobos / Marcelo Bonfá). Eles apresentaram um documento oficializado pelo Departamento de Censura de Diversões Públicas (DCDP) do Governo Federal, provando a veracidade dos créditos informados. Ainda assim, descobriram que "1977" foi registrada por Giuliano em 2004 no ECAD. Devido a esse novo impasse, o "box" foi lançado sem a faixa "1977" em março de 2016. A turnê Legião Urbana XXX Anos, segundo o Facebook oficial da mesma, contou com um total de pouco menos de 100 shows feitos nas 5 regiões do Brasil. O último show da turnê foi em 30 de dezembro de 2016, na cidade de Caraguatatuba. Houve outros dois shows do projeto em 2018: o primeiro no dia 19 de maio, no Campus Festival em João Pessoa, e o segundo no dia 20 de maio, na Virada Cultural de São Paulo. Devido ao grande sucesso de crítica e pedidos dos fãs, a Legião Urbana XXX Anos retornou em setembro de 2018 com uma nova turnê, desta vez para apresentar o segundo e terceiro álbuns de estúdio da banda. A turnê iniciou em 6 de setembro na cidade de Miami e depois voltou ao Brasil para uma série de shows pelo país inteiro. Acusações de plágio. Controvérsias apareceram de que a canção "Que País É Este" seria plágio de uma canção da banda de punk rock estadunidense Ramones chamada "I Don't Care", notada por muitos fãs e especialistas pela semelhança dos arranjos e melodia (ou "riff"). Ao ser questionado sobre, o vocalista da banda e compositor da canção, Renato Russo ironizou respondendo e citando a tradução do nome da canção da banda estadunidense: "Eu não ligo!". Logo depois, o mesmo confirmou que se inspirou na canção dos Ramones. O fato, segundo os mesmos fãs e especialistas, não teria chegado ao conhecimento dos Ramones. Outro caso de plágio, dessa vez assumido, do Legião Urbana foi da letra do duo inglês Soft Cell. "Take your hands off me / I don't belong to you", trecho da canção "Say Hello Wave Goodbye", é uma tradução do primeiro verso de "Será", principal "single" do primeiro álbum da banda de Brasília. Renato Russo disse que realmente se "inspirou" nas palavras do Soft Cell para o trecho "Tire suas mãos de mim / Eu não pertenço a você". Outra canção que supostamente a Legião teria plagiado, foi a versão do grupo escocês The Cartoons para “Love Is The Drug”, do Roxy Music, para criar a sua célebre canção “Ainda É Cedo”. Outros alegam que a canção seria plágio de "A Means To An End", da banda Joy Division. Filmografia. Dois filmes relacionados à banda foram lançados nos cinemas brasileiros, em circuito nacional. "Somos Tão Jovens", de Antônio Carlos da Fontoura, com roteiro de Marcos Bernstein e trilha sonora original de Carlos Trilha, retrata a adolescência de Renato Russo (interpretado pelo ator Thiago Mendonça) e o início de seu interesse pela música, abordando a criação e extinção do Aborto Elétrico e também sua fase como "O Trovador Solitário" e os dois primeiros anos da "Legião Urbana". Distribuído pelas empresas Imagem Filmes e Fox Film Brasil, estreou nos cinemas no dia 3 de maio de 2013. Pouco depois, em 30 de maio, foi lançado "Faroeste Caboclo", adaptação da canção homônima de Renato, dirigida por René Sampaio e com roteiro de Victor Atherino e Marcos Bernstein a partir da letra original, e com distribuição da Europa Filmes. No elenco, atuaram Fabrício Boliveira (João de Santo Cristo), Ísis Valverde (Maria Lúcia), Felipe Abib (Jeremias) e César Troncoso (Pablo). Em julho de 2018, começaram as gravações para a adaptação cinematográfica de "Eduardo e Mônica". O filme trará Gabriel Leone como Eduardo e Alice Braga como Mônica. A previsão era de que o longa estreasse nos cinemas brasileiros em abril de 2020. Porém, foi adiado por conta da pandemia de COVID-19 ocorrida naquele momento.
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Luís de Camões
Luís de Camões Luís Vaz de Camões (Lisboa, — Lisboa, ou 1580) foi um poeta nacional de Portugal, considerado uma das maiores figuras da literatura lusófona e um dos grandes poetas da tradição ocidental. Pouco se sabe com certeza sobre a sua vida. Aparentemente nasceu em Lisboa, de uma família da pequena nobreza. Sobre a sua infância tudo é conjetura mas, ainda jovem, terá recebido uma sólida educação nos moldes clássicos, dominando o latim e conhecendo a literatura e a história antigas e modernas. Pode ter estudado na Universidade de Coimbra, mas a sua passagem pela escola não é documentada. Frequentou a corte de , iniciou a sua carreira como poeta lírico e envolveu-se, como narra a tradição, em amores com damas da nobreza e possivelmente plebeias, além de levar uma vida boémia e turbulenta. Diz-se que, por conta de um amor frustrado, autoexilou-se em África, alistado como militar, onde perdeu um olho em batalha. Voltando a Portugal, feriu um servo do Paço e foi preso. Perdoado, partiu para o Oriente. Passando lá vários anos, enfrentou uma série de adversidades, foi preso várias vezes, combateu ao lado das forças portuguesas e escreveu a sua obra mais conhecida, a epopeia nacionalista "Os Lusíadas". De volta à pátria, publicou "Os Lusíadas" e recebeu uma pequena pensão do rei D. Sebastião pelos serviços prestados à Coroa, mas nos seus anos finais parece ter enfrentado dificuldades para se manter. Logo após a sua morte a sua obra lírica foi reunida na coletânea "Rimas", tendo deixado também três obras de teatro cómico. Enquanto viveu queixou-se várias vezes de alegadas injustiças que sofrera, e da escassa atenção que a sua obra recebia, mas pouco depois de falecer a sua poesia começou a ser reconhecida como valiosa e de alto padrão estético por vários nomes importantes da literatura europeia, ganhando prestígio sempre crescente entre o público e os conhecedores e influenciando gerações de poetas em vários países. Camões foi um renovador da língua portuguesa e fixou-lhe um duradouro cânone; tornou-se um dos mais fortes símbolos de identidade da sua pátria e é uma referência para toda a comunidade lusófona internacional. Hoje a sua fama está solidamente estabelecida e é considerado um dos grandes vultos literários da tradição ocidental, sendo traduzido para várias línguas e tornando-se objeto de uma vasta quantidade de estudos críticos. Vida. Origens e juventude. Boa parte das informações sobre a biografia de Camões suscita dúvidas e, provavelmente, muito do que sobre ele circula não é mais do que o típico folclore que se forma em torno de uma figura célebre. São documentadas apenas umas poucas datas que balizam a sua trajetória. A partir das informações transmitidas por seus primeiros biógrafos, geralmente é aceite que a Casa ancestral dos Camões tinha as suas origens na Galiza. Por via paterna, Luís de Camões seria descendente de Vasco Pires (ou Perez) de Camões, trovador e fidalgo, que se mudou para Portugal no tempo de D. Fernando I, e por seus serviços militares recebeu do rei benefícios, cargos e terras, e cujas poesias, de índole nacionalista, contribuíram para afastar a influência bretã e italiana e conformar um estilo trovadoresco nacional. Antão Vaz de Camões, filho de Vasco Pires, serviu no mar Vermelho, vindo a casar-se com D. Guiomar da Gama, aparentada com Vasco da Gama. Deste casamento nasceram Simão Vaz de Camões, que serviu na Marinha Real e fez comércio na Guiné e na Índia, e outro irmão, Bento, que seguiu a carreira das Letras e do sacerdócio, ingressando no Mosteiro de Santa Cruz dos Agostinhos, prestigiada escola para muitos jovens fidalgos portugueses. Simão casou com Ana de Sá e Macedo, também de família fidalga, oriunda de Santarém. Seu filho único, Luís Vaz de Camões, segundo Jayne, Fernandes e alguns outros autores, terá nascido em Lisboa, em 1524. Três anos depois, estando a cidade ameaçada pela peste, a família mudou-se, acompanhando a corte, para Coimbra. Entretanto, outras cidades reivindicam a honra de ser o seu berço: Coimbra, Santarém e Alenquer. Apesar de os primeiros biógrafos de Camões, Severim de Faria e Manoel Correa, terem inicialmente dado o seu ano de nascimento como 1517, registos das Listas da Casa da Índia, mais tarde consultados por Manuel de Faria e Sousa, parecem estabelecer que Camões nasceu efectivamente em Lisboa, em 1524. Os argumentos para tirar a sua naturalidade de Lisboa são fracos; mas esta tampouco está completamente fora de dúvida, e por isso seu local e data de nascimento são considerados incertos. Sobre a sua infância permanece a incógnita. Aos doze ou treze anos teria sido protegido e educado pelo seu tio Bento que o encaminhou para Coimbra para estudar. Diz a tradição que foi um estudante indisciplinado, mas ávido pelo conhecimento, interessando-se pela história, cosmografia e literatura clássica e moderna. Contundo, o seu nome não consta dos registos da Universidade de Coimbra, mas é certo, a partir do seu elaborado estilo e da profusão de citações eruditas que aparecem nas suas obras que, de alguma forma, recebeu uma sólida educação. É possível que o próprio tio o tenha instruído, sendo a esta altura chanceler da Universidade e prior do Mosteiro de Santa Cruz, ou tenha estudado no colégio do mosteiro. Com cerca de vinte anos ter-se-ia transferido para Lisboa, antes de concluir os estudos. A sua família era pobre, mas sendo fidalga, pôde ser admitido e estabelecer contactos intelectuais frutíferos na corte de D. João III, iniciando-se na poesia. Foi aventado que ganhava a vida como precetor de Francisco, filho do Conde de Linhares, D. António de Noronha, mas hoje em dia isso parece pouco plausível. Conta-se também que levava uma vida boémia, frequentando tavernas e envolvendo-se em arruaças e relações amorosas tumultuosas. Várias damas aparecem citadas pelo nome em biografias tardias do poeta como tendo sido objeto de seus amores, mas embora não se negue que deva ter amado, e até mais de uma mulher, aquelas identificações nominais são atualmente consideradas adições apócrifas à sua lenda. Entre elas, por exemplo, falou-se de uma paixão pela Infanta D. Maria, irmã do rei, audácia que lhe teria valido um tempo na prisão, e Catarina de Ataíde, que, sendo outro amor frustrado, segundo versões teria causado o seu autoexílio, primeiro no Ribatejo, e depois alistando-se como soldado em Ceuta. Os motivos para a viagem são duvidosos, mas a sua estada ali é aceite como facto, permanecendo dois anos e perdendo o olho direito em batalha naval no Estreito de Gibraltar. De regresso a Lisboa, não tardou em retomar a vida boémia. Data de 1550 um documento que o dá como alistado para viajar à Índia: "Luís de Camões, filho de Simão Vaz e Ana de Sá, moradores em Lisboa, na Mouraria; escudeiro, de 25 anos, barbirruivo, trouxe por fiador a seu pai; vai na nau de S. Pedro dos Burgaleses... entre os homens de armas". Afinal não embarcou de imediato. Numa procissão de Corpus Christi altercou com um certo Gonçalo Borges, empregado do Paço, e feriu-o com a espada. Condenado à prisão, foi perdoado pelo agravado em carta de perdão. Foi libertado por ordem régia em 7 de março de 1553, que diz: "é um mancebo e pobre e me vai este ano servir à Índia". Manuel de Faria e Sousa encontrou nos registos da Armada da Índia, para esse ano de 1553, sob o título "Gente de guerra", o seguinte assento: "Fernando Casado, filho de Manuel Casado e de Branca Queimada, moradores em Lisboa, escudeiro; foi em seu lugar Luís de Camões, filho de Simão Vaz e Ana de Sá, escudeiro; e recebeu 2 400 como os demais". Oriente. Viajou na nau "São Bento", da frota de Fernão Álvares Cabral, filho de Pedro Álvares Cabral, que largou do Tejo em 24 de março de 1553. Durante a viagem passou pelas regiões onde Vasco da Gama navegara, enfrentou uma tempestade no Cabo da Boa Esperança onde se perderam as três outras naus da frota, e aportou em Goa em 1554. Logo se alistou no serviço do vice-rei D. Afonso de Noronha e combateu na expedição contra o rei de Chembé (ou "da Pimenta"). Em 1555, sucedendo a Noronha D. Pedro Mascarenhas, este ordenou a Manuel de Vasconcelos que fosse combater os mouros no Mar Vermelho. Camões acompanhou-o, mas a esquadra não encontrou o inimigo e foi invernar a Ormuz, no Golfo Pérsico. Provavelmente nesta época já iniciara a escrita de "Os Lusíadas". Ao retornar a Goa em 1556, encontrou no governo D. Francisco Barreto, para quem compôs o "Auto de Filodemo", o que sugere que Barreto lhe fosse favorável. Os primeiros biógrafos, contudo, divergem sobre as relações de Camões com o governante. Na mesma época teria surgido a público uma sátira anónima criticando a imoralidade e a corrupção reinantes, que foi atribuída a Camões. Sendo as sátiras condenadas pelas "Ordenações Manuelinas", terá sido preso por isso. Mas colocou-se a hipótese de a prisão ter ocorrido graças a dívidas contraídas. É possível que permanecesse na prisão até 1561, ou antes disso tenha sido novamente condenado, pois, assumindo o governo D. Francisco Coutinho, foi por ele liberto, empregado e protegido. Deve ter sido nomeado para a função de Provedor-mor dos Defuntos e Ausentes para Macau em 1562, desempenhando-a "de facto" de 1563 até 1564 ou 1565. Nesta época, Macau era um entreposto comercial ainda em formação, sendo um lugar quase deserto. Diz a tradição que ali teria escrito parte d"Os Lusíadas" numa gruta, que mais tarde recebeu o seu nome. Na viagem de volta a Goa, naufragou, conforme diz a tradição, junto à foz do rio Mecom, salvando-se apenas ele e o manuscrito d"Os Lusíadas", evento que lhe inspirou as célebres redondilhas "Sobre os rios que vão", consideradas por António Sérgio a coluna vertebral da lírica camoniana, sendo reiteradamente citadas na literatura crítica. O trauma do naufrágio, conforme disse Leal de Matos, repercutiu mais profundamente numa redefinição do projeto d"Os Lusíadas", sendo perceptível a partir do Canto VII, sendo acusada já por Diogo do Couto, seu amigo, que em parte acompanhou a escrita. Provavelmente o seu resgate demorou meses a ocorrer, e não há registo de como isso ocorreu, mas foi levado a Malaca, onde recebeu nova ordem de prisão por apropriação indébita dos bens dos defuntos a ele confiados. Não se sabe a data exata de seu retorno a Goa, onde pode ter continuado preso ainda algum tempo. Couto refere que no naufrágio morreu Dinamene, uma donzela chinesa pela qual Camões se terá apaixonado, mas Ribeiro e outros afirmam que a história deve ser rejeitada. O vice-rei seguinte, D. Antão de Noronha, era um amigo de longa data de Camões, tendo-o encontrado em Marrocos. Certos biógrafos afirmam que lhe foi prometido um posto oficial na feitoria de Chaul, mas não chegou a tomar posse. Severim de Faria disse que os anos finais passados em Goa foram entretidos com a poesia e com as atividades militares, onde sempre demonstrou bravura, prontidão e lealdade à Coroa. É difícil determinar como terá sido o seu quotidiano no Oriente, além do que se pode extrapolar a partir de sua condição de militar. Parece certo que viveu sempre modestamente e pode ter compartilhado casa com amigos, "numa dessas repúblicas em que era costume associarem-se os reinóis", como citou Ramalho. Alguns desses amigos devem ter possuído cultura e assim a companhia ilustrada não devia estar ausente naquelas paragens. Ribeiro, Saraiva e Moura admitem que ele pode ter encontrado, entre outras figuras, com Fernão Mendes Pinto, Fernão Vaz Dourado, Fernão Álvares do Oriente, Garcia de Orta e o já citado Diogo do Couto, criando-se oportunidades de debates literários e assuntos afins. Pode ter frequentado também preleções em algum dos colégios ou estabelecimentos religiosos de Goa. Ribeiro acrescenta que É possível ainda que em tais reuniões, onde compareciam homens ao mesmo tempo de armas e de letras, e que buscavam, além do sucesso militar e a fortuna material, também a fama e a glória nascidas da cultura, como era uma das grandes aspirações do Humanismo do seu tempo, estivesse presente a ideia de uma academia, reproduzindo no Oriente, dentro das limitações do contexto local, o modelo das academias renascentistas como a fundada em Florença por Marsilio Ficino e seu círculo, onde eram cultivados os ideais neoplatónicos. Regresso a Portugal. A convite, ou aproveitando a oportunidade de vencer parte da distância que o separava da pátria, não se sabe ao certo, em dezembro de 1567 Camões embarcou na nau de Pedro Barreto para Sofala, na ilha de Moçambique, onde este havia sido designado governador, e lá esperaria por um transporte para Lisboa em data futura. Os primeiros biógrafos dizem que Pedro Barreto era traiçoeiro, fazendo promessas vãs a Camões, de tal modo que, passados dois anos, Diogo do Couto o encontrou em precária condição, conforme se lê no registo que deixou: Ao tentar seguir viagem com Couto foi embargado em duzentos cruzados por Barreto, por conta dos gastos que tivera com o poeta. Os seus amigos, porém, reuniram a quantia e Camões foi libertado, chegando a Cascais a bordo da nau "Santa Clara" em 7 de abril de 1570. Depois de tantas peripécias, finalizou "Os Lusíadas", tendo-os apresentado em récita para o rei D. Sebastião. O rei, ainda um adolescente, determinou que o trabalho fosse publicado em 1572, concedendo também uma pequena pensão a "Luís de Camões, cavaleiro fidalgo de minha Casa", em paga pelos serviços prestados na Índia. O valor desta pensão não excedeu os quinze mil réis anuais, o que se não era grande coisa, também não era tão pouca como se tem sugerido, considerando que as damas de honra do Paço recebiam cerca de dez mil réis. Para um soldado veterano, a soma deve ter sido considerada suficiente e honrosa na época. Mas a pensão só deveria se manter por três anos, e embora a outorga fosse renovável, parece que foi paga de forma irregular, fazendo com que o poeta passasse por dificuldades materiais. Viveu seus anos finais num quarto de uma casa próxima da Igreja de Santa Ana, num estado, segundo narra a tradição, da mais indigna pobreza, "sem um trapo para se cobrir". Le Gentil considerou essa visão um exagero romântico, pois ainda podia manter o escravo Jau, que trouxera do oriente, e documentos oficiais atestam que dispunha de alguns meios de vida. Depois de ver-se amargurado pela derrota portuguesa na Batalha de Alcácer-Quibir, onde desapareceu D. Sebastião, levando Portugal a perder sua independência para Espanha, adoeceu, segundo Le Gentil, de peste. Foi transportado para o hospital, e morreu em 10 de junho de 1580, sendo enterrado, segundo Faria e Sousa, numa campa rasa na Igreja de Santa Ana, ou no cemitério dos pobres do mesmo hospital, segundo Teófilo Braga. A sua mãe, tendo-lhe sobrevivido, passou a receber a sua pensão em herança. Os recibos, encontrados na Torre do Tombo, documentam a data da morte do poeta, embora tenha sido preservado um epitáfio escrito por D. Gonçalo Coutinho, onde consta, erroneamente, como tendo falecido em 1579. Depois do terramoto de 1755, que destruiu a maior parte de Lisboa, foram feitas tentativas para se reencontrar os despojos de Camões, todas frustradas. A ossada que foi depositada em 1880 numa tumba no Mosteiro dos Jerónimos é, com toda a probabilidade, de outra pessoa. Aparência, carácter, amores e iconografia. Os testemunhos dos seus contemporâneos descrevem-no como um homem de porte mediano, com um cabelo loiro arruivado, cego do olho direito, hábil em todos os exercícios físicos e com uma disposição temperamental, custando-lhe pouco envolver-se em brigas. Diz-se que tinha grande valor como soldado, exibindo coragem, combatividade, senso de honra e vontade de servir, bom companheiro nas horas de folga, liberal, alegre e espirituoso quando os golpes da fortuna não lhe abatiam o espírito e o entristeciam. Tinha consciência do seu mérito como homem, como soldado e como poeta. Todos os esforços feitos no sentido de se descobrir a identidade definitiva da sua musa foram vãos e várias propostas contraditórias foram apresentadas sobre supostas mulheres presentes na sua vida. O próprio Camões sugeriu, num dos seus poemas, que houve várias musas a inspirá-lo, ao dizer "em várias flamas variamente ardia". Nomes de damas supostas como suas amadas só constam primitivamente nos seus poemas, e podem pois ser figuras ideais; nenhuma menção a quaisquer damas identificáveis pelo nome é dada nas primeiras biografias do poeta, as de Pedro de Mariz e a de Severim de Faria, que apenas recolheram boatos sobre "uns amores no Paço da Rainha". A citação de Catarina de Ataíde só surgiu na edição das "Rimas" de Faria e Sousa, em meados do século XVII, e a da Infanta, na de José Maria Rodrigues, que só foi publicada no início do século XX. A decantada Dinamene também parece ser uma imagem poética antes do que uma pessoa real. Ribeiro propôs várias alternativas para explicá-la: o nome talvez fosse um criptónimo de Dona Joana Meneses (D.I.na = D.Ioana + Mene), um de seus possíveis amores, que morrera a caminho das Índias e fora sepultada no mar, filha de Violante, condessa de Linhares, a quem também teria amado ainda em Portugal, e apontou a ocorrência do nome Dinamene em poemas escritos provavelmente em torno da chegada à Índia, antes de ter passado à China, onde se diz que teria encontrado a moça. Também referiu a opinião de pesquisadores que alegam a menção de Couto, a única referência primitiva à chinesa fora da própria obra camoniana, ter sido falsificada, sendo introduzida "a posteriori", com a possibilidade de que se trate ainda de um erro de ortografia, uma corruptela de "dignamente". Na versão final do manuscrito de Couto, o nome nem teria sido citado, ainda que a comprovação seja difícil com o desaparecimento do manuscrito. Provavelmente executado entre 1573 e 1575, o chamado "retrato pintado a vermelho", ilustrado na abertura do artigo, é considerado por Vasco Graça Moura como "o único e precioso documento fidedigno de que dispomos para conhecer as feições do épico, retratado em vida por um pintor profissional". O que se conhece desse retrato é uma cópia, feita a pedido do 3º duque de Lafões, executada por Luís José Pereira de Resende entre 1819 e 1844, a partir do original que foi encontrado num saco de seda verde nos escombros do incêndio do palácio dos Condes da Ericeira, e que entretanto desapareceu. É uma "fidelíssima cópia" que, Sobreviveu também uma miniatura pintada na Índia em 1581, por encomenda de Fernão Teles de Meneses e oferecida ao vice-rei D. Luís de Ataíde, que, segundo testemunhos de época, era muito semelhante à sua aparência. Outro retrato foi encontrado nos anos 1970 por Maria Antonieta de Azevedo, datado de 1556 e mostrando o poeta na prisão. A primeira medalha com sua efígie apareceu em 1782, mandada cunhar pelo Barão de Dillon na Inglaterra, onde Camões figura coroado de louros e vestido em cota de armas, com a inscrição "Apollo Portuguez / Honra de Hespanha / Nasceo 1524 / Morreo 1579". Em 1793, uma reprodução desta medalha foi cunhada em Portugal, por ordem de Tomás José de Aquino, Bibliotecário da Real Mesa Censória. Ao longo dos séculos a imagem de Camões foi representada inúmeras vezes em gravura, pintura e escultura, por artistas portugueses e estrangeiros, e vários monumentos foram erguidos em sua honra, destacando-se o grande Monumento a Camões instalado em 1867 na Praça Luís de Camões, em Lisboa, de autoria de Victor Bastos, e que é o centro de cerimónias públicas oficiais e manifestações populares. Também foi homenageado em composições musicais, apareceu com sua efígie em medalhas, cédulas monetárias, selos e moedas, e como personagem em romances, poesias e peças teatrais. O filme "Camões", realizado por José Leitão de Barros, foi a primeira película portuguesa a participar do Festival de Cannes, em 1946. Entre os artistas célebres que o tomaram como modelo para suas obras se contam Bordalo Pinheiro, José Simões de Almeida, Francisco Augusto Metrass, António Soares dos Reis, Horace Vernet, José Malhoa, Vieira Portuense, Domingos Sequeira e Lagoa Henriques. Uma cratera no planeta Mercúrio e um asteroide da cintura principal receberam o seu nome. Obra. Contexto. Camões viveu na fase final do Renascimento europeu, um período marcado por muitas mudanças na cultura e sociedade, que assinalam o final da Idade Média e o início da Idade Moderna e a transição do feudalismo para o capitalismo. Chamou-se "renascimento" em virtude da redescoberta e revalorização das referências culturais da Antiguidade Clássica, que nortearam as mudanças deste período em direção a um ideal humanista e naturalista que afirmava a dignidade do homem, colocando-o no centro do universo, tornando-o o investigador por excelência da natureza, e privilegiando a razão e a ciência como árbitros da vida manifesta. Nesse período foram inventados diversos instrumentos científicos e foram descobertas diversas leis naturais e entidades físicas antes desconhecidas; o próprio conhecimento da face do planeta modificou-se depois dos descobrimentos das grandes navegações. O espírito de especulação intelectual e pesquisa científica estava em alta, fazendo com que a Física, a Matemática, a Medicina, a Astronomia, a Filosofia, a Engenharia, a Filologia e vários outros ramos do saber atingissem um nível de complexidade, eficiência e exatidão sem precedentes, o que levou a uma conceção otimista da história da humanidade como uma expansão contínua e sempre para melhor. De certa forma, a Renascença foi uma tentativa original e eclética de harmonização do Neoplatonismo pagão com a religião cristã, do "eros" com a "charitas", junto com influências orientais, judaicas e árabes, e onde o estudo da magia, da astrologia e do ocultismo não estavam ausentes. Foi também a época em que se começaram a criar fortes Estados nacionais, o comércio e as cidades se expandiram e a burguesia se tornou uma força de grande importância social e económica, contrastando com o relativo declínio da influência da religião nos assuntos do mundo. No século XVI, época em que Camões viveu, a influência do Renascimento italiano expandiu-se por toda a Europa. Porém, várias das suas características mais típicas estavam a entrar em declínio, em particular por causa de uma série de disputas políticas e guerras que alteraram o mapa político europeu, perdendo a Itália o seu lugar como potência, e da cisão do Catolicismo, com o surgimento da Reforma Protestante. Na reação católica, lançou-se a Contra-Reforma, reativou-se a Inquisição e reacendeu-se a censura eclesiástica. Ao mesmo tempo, as doutrinas de Maquiavel se tornavam largamente difundidas, dissociando a ética da prática do poder. O resultado foi a reafirmação do poder da religião sobre o mundo profano e a formação de uma atmosfera espiritual, política, social e intelectual agitada, com fortes doses de pessimismo, repercutindo desfavoravelmente sobre a antiga liberdade de que gozavam os artistas. Apesar disso, as aquisições intelectuais e artísticas da Alta Renascença que ainda estavam frescas e resplandeciam diante dos olhos não poderiam ser esquecidas de pronto, mesmo que o seu substrato filosófico já não pudesse permanecer válido diante dos novos factos políticos, religiosos e sociais. A nova arte que se fez, ainda que inspirada na fonte do classicismo, traduziu-o em formas inquietas, ansiosas, distorcidas, ambivalentes, apegadas a preciosismos intelectualistas, características que refletiam os dilemas do século e definem o estilo geral dessa fase como maneirista. Desde meados do século XV que Portugal se afirmara como uma grande potência naval e comercial, desenvolviam-se as suas artes e fervia o entusiasmo pelas conquistas marítimas. O reinado de D. João II foi marcado pela formação de um sentimento de orgulho nacional, e no tempo de D. Manuel I, como dizem Spina & Bechara, o orgulho havia cedido ao delírio, à pura euforia da dominação do mundo. No início do século XVI Garcia de Resende lamentava-se de que não houvesse quem pudesse celebrar dignamente tantas façanhas, afirmando que havia material épico superior ao dos romanos e troianos. Preenchendo esta lacuna, João de Barros escreveu a sua novela de cavalaria, "A Crónica do Imperador Clarimundo" (1520), em formato de épico. Pouco depois apareceu António Ferreira, instalando-se como mentor da geração classicista e desafiando os seus contemporâneos a cantarem as glórias de Portugal em alto estilo. Quando Camões surgiu, o terreno estava preparado para a apoteose da pátria, uma pátria que havia lutado encarniçadamente para conquistar a sua soberania, primeiro dos mouros e depois de Castela, havia desenvolvido um espírito aventureiro que a levara pelos oceanos afora, expandindo as fronteiras conhecidas do mundo e abrindo novas rotas de comércio e exploração, vencendo exércitos inimigos e as forças hostis da natureza. Mas nesta altura, porém, a crise política e cultural já se anunciava, materializando-se logo após a sua morte, quando o país perdeu a sua soberania para Espanha. Visão geral. A produção literária de Camões abrange quatro modos literários: o lírico (em "Rimas", 1595), o épico (com "Os Lusíadas", 1572), o dramático (com os seus "autos" ou "comédias": "Anfitriões,"1587, "Filodemo," 1587, e "El-Rei Seleuco," 1645) e o didático (as suas cartas, publicadas inicialmente na obra "Rimas"). A sua obra lírica foi desde logo apreciada como uma alta conquista. O talento de Camões manifesta-se no recurso a formas poéticas variadas — das quais se destaca o soneto, pela capacidade em "utilizar diversos metros e esquemas rimáticos, imagens e figuras que dão a conhecer múltiplos aspetos das emoções do poeta". Demonstrou o seu virtuosismo especialmente nas canções e elegias, mas as suas redondilhas não lhes ficam atrás. De facto, foi um mestre nesta forma, dando uma nova vida à arte do mote e da glosa, instilando nela espontaneidade e simplicidade, uma delicada ironia e um fraseado vivaz, levando a poesia cortesã ao seu nível mais elevado, e mostrando que também sabia expressar com perfeição a alegria e a descontração. A sua produção épica está sintetizada n"Os Lusíadas", uma alentada glorificação dos feitos portugueses, não apenas das suas vitórias militares, mas também a conquista sobre os elementos e o espaço físico, com recorrente uso de alegorias clássicas. A ideia de um épico nacional existia no seio português desde o século XV, quando se iniciaram as navegações, mas coube a Camões, no século seguinte, materializá-la. Nas suas obras dramáticas, cada uma com a sua especificidade temática e formal, o autor procurou fundir elementos nacionalistas e clássicos. O seu teatro merece ser lido e estudado, entre outros aspetos, pelo jogo de vozes, pelos diálogos e confrontos entre as personagens que expressam temáticas que estão presentes em toda a obra camoniana, como o Amor, o Destino e a própria Condição Humana. Para se conhecer todas as "faces" da obra de Camões, o leitor encontra ainda algumas cartas em prosa e em verso, ou mesclando as duas formas (há cartas em prosa que incluem passos de poesia). As cartas de Camões revelam um indivíduo singular, mais próximo da lírica do que da épica ou do teatro, por vezes triste ou à margem do esperado, experimentando sentimentos contraditórios. Nesses textos, o poeta tece o seu autorretrato e analisa os outros e o mundo, muitas vezes ironicamente. Se, por um lado, se pronuncia sobre um mundo mais oculto e dionisíaco, por outro, ao enviar e dar notícias de si aos amigos, também faz considerações sobre a escrita "galante e melancólica" das cartas. Provavelmente se tivesse permanecido em Portugal, como um poeta cortesão, jamais teria atingido a mestria da sua arte. As experiências que acumulou como soldado e navegador enriqueceram sobremaneira a sua visão de mundo e excitaram o seu talento. Através delas conseguiu livrar-se das limitações formais da poesia cortesã e as dificuldades por que passou, a profunda angústia do exílio, a saudade da pátria, impregnaram indelevelmente o seu espírito e comunicaram-se à sua obra, e dali influenciaram de maneira marcante as gerações seguintes de escritores portugueses. Os seus melhores poemas brilham exatamente pelo que há de genuíno no sofrimento expresso e na honestidade dessa expressão, e este é um dos motivos principais que colocam a sua poesia em um patamar tão alto. As suas fontes foram inúmeras. Dominava o latim e o espanhol, e demonstrou possuir um sólido conhecimento da mitologia greco-romana, da história antiga e moderna da Europa, dos cronistas portugueses e da literatura clássica, destacando-se autores como Ovídio, Xenofonte, Lucano, Valério Flaco, Horácio, mas especialmente Homero e Virgílio, de quem tomou vários elementos estruturais e estilísticos de empréstimo e às vezes até trechos em transcrição quase literal. De acordo com as citações que fez, também parece ter tido um bom conhecimento de obras de Ptolomeu, Diógenes Laércio, Plínio, o Velho, Estrabão e Pompónio, entre outros historiadores e cientistas antigos. Entre os modernos, estava a par da produção italiana de Francesco Petrarca, Ludovico Ariosto, Torquato Tasso, Giovanni Boccaccio e Jacopo Sannazaro, e da literatura castelhana. Para aqueles que consideram o Renascimento um período histórico homogéneo, informado pelos ideais clássicos e que se estende até o fim do século XVI, Camões é pura e simplesmente um renascentista, mas de modo geral reconhece-se que o século XVI foi amplamente dominado por uma derivação estilística chamada Maneirismo, que em vários pontos é uma escola anticlássica e de várias formas prefigura o Barroco. Assim, para vários autores, é mais adequado descrever o estilo camoniano como maneirista, distinguindo-o do classicismo renascentista típico. Isso se justifica pela presença de vários recursos de linguagem e de uma abordagem dos seus temas que não estão concordes às doutrinas de equilíbrio, economia, tranquilidade, harmonia, unidade e invariável idealismo que são os eixos fundamentais do classicismo renascentista. Camões, depois de uma fase inicial tipicamente clássica, transitou por outros caminhos e a inquietude e o drama se tornaram seus companheiros. Por todo "Os Lusíadas" são visíveis os sinais de uma crise política e espiritual, permanece no ar a perspectiva do declínio do império e do carácter dos portugueses, censurados por maus costumes e pela falta de apreço pelas artes, alternando-se a trechos em que faz a sua apologia entusiasmada. Também são típicos do Maneirismo, e se tornariam ainda mais do Barroco, o gosto pelo contraste, pelo arroubo emocional, pelo conflito, pelo paradoxo, pela propaganda religiosa, pelo uso de figuras de linguagem complexas e preciosismos, até pelo grotesco e pelo monstruoso, muitos deles traços comuns na obra camoniana. O carácter maneirista da sua obra é assinalado também pelas ambiguidades geradas pela ruptura com o passado e pela concomitante adesão a ele, manifesta a primeira na visualização de uma nova era e no emprego de novas fórmulas poéticas oriundas de Itália, e a segunda, no uso de arcaísmos típicos da Idade Média. Ao lado do uso de modelos formais renascentistas e classicistas, cultivou os géneros medievais do vilancete, da cantiga e da trova. Para Joaquim dos Santos, o carácter contraditório da sua poesia encontra-se no contraste entre duas premissas opostas: o idealismo e a experiência prática. Conjugou valores típicos do racionalismo humanista com outros derivados da cavalaria, das cruzadas e do feudalismo, alinhou a constante propaganda da fé católica com a mitologia antiga, responsável no plano estético por toda a ação que materializa a realização final, descartando a "aurea mediocritas" cara aos clássicos para advogar a primazia do exercício das armas e da conquista gloriosa. "Os Lusíadas". "Os Lusíadas" é considerado a epopeia portuguesa por excelência. O próprio título já sugere as suas intenções nacionalistas, sendo derivado da antiga denominação romana de Portugal, Lusitânia. É um dos mais importantes épicos da época moderna devido à sua grandeza e universalidade. A epopeia narra a história de Vasco da Gama e dos heróis portugueses que navegaram em torno do Cabo da Boa Esperança e abriram uma nova rota para a Índia. É uma epopeia humanista, mesmo nas suas contradições, na associação da mitologia pagã à visão cristã, nos sentimentos opostos sobre a guerra e o império, no gosto do repouso e no desejo de aventura, na apreciação do prazer sensual e nas exigências de uma vida ética, na percepção da grandeza e no pressentimento do declínio, no heroísmo pago com o sofrimento e luta. O poema abre com os célebres versos: Os dez cantos do poema somam estrofes num total de versos decassílabos, empregando a oitava rima (abababcc). Depois de uma introdução, uma invocação e uma dedicatória ao rei D. Sebastião, inicia a ação, que funde mitos e factos históricos. Vasco da Gama, navegando pela costa da África, é observado pela assembleia dos deuses clássicos, que discutem o destino da expedição, a qual é protegida por Vénus e atacada por Baco. Descansando por alguns dias em Melinde, a pedido do rei local Vasco da Gama narra toda a história portuguesa, desde as suas origens até à viagem que empreendem. Os cantos III, IV e V contêm algumas das melhores passagens de todo o épico: o episódio de Inês de Castro, que se torna um símbolo de amor e morte, a Batalha de Aljubarrota, a visão de D. Manuel I, a descrição do fogo-de-santelmo, a história do gigante Adamastor. De volta ao navio, o poeta aproveita as horas de folga para narrar a história dos Doze de Inglaterra, enquanto Baco convoca os deuses marítimos para que destruam a frota portuguesa. Vénus intervém e os navios conseguem alcançar Calecute, na Índia. Lá, Paulo da Gama recebe os representantes do rei e explica o significado dos estandartes que adornam a nau capitânia. Na viagem de volta os marinheiros desfrutam da ilha para eles criada por Vénus, recompensando-os as ninfas com seus favores. Uma delas canta o futuro glorioso de Portugal e a cena encerra com uma descrição do universo feita por Tétis e Vasco da Gama. Em seguida, a viagem prossegue para casa. N"Os Lusíadas" Camões atinge uma notável harmonia entre erudição clássica e experiência prática, desenvolvida com habilidade técnica consumada, descrevendo as peripécias portuguesas com momentos de grave ponderação mesclados com outros de delicada sensibilidade e humanismo. As grandes descrições das batalhas, da manifestação das forças naturais, dos encontros sensuais, transcendem a alegoria e a alusão classicista que permeiam todo o trabalho e se apresentam como um discurso fluente e sempre de alto nível estético, não apenas pelo seu carácter narrativo especialmente bem conseguido, mas também pelo superior domínio de todos os recursos da língua e da arte da versificação, com um conhecimento de uma ampla gama de estilos, usados em eficiente combinação. A obra é também uma séria advertência para os reis cristãos abandonarem as pequenas rivalidades e se unirem contra a expansão muçulmana. A estrutura da obra é por si digna de interesse, pois, segundo Jorge de Sena, nada é arbitrário n"Os Lusíadas". Entre os argumentos que apresentou foi o emprego da secção áurea, uma relação definida entre as partes e o todo, organizando o conjunto através de proporções ideais que enfatizam passagens especialmente significativas. Sena demonstrou que ao aplicar-se a secção áurea a toda a obra recai-se, precisamente, no verso que descreve a chegada dos portugueses à Índia. Aplicando-se a secção em separado às duas partes resultantes, na primeira parte surge o episódio que relata a morte de Inês de Castro e, na segunda, a estrofe que narra o empenho de Cupido para unir os portugueses e as ninfas, o que para Sena reforça a importância do amor em toda a composição. Dois outros elementos dão a' "Os Lusíadas" a sua modernidade e distanciam-no do classicismo: a introdução da dúvida, da contradição e do questionamento, em desacordo com a certeza afirmativa que caracteriza o épico clássico, e a primazia da retórica sobre a ação, substituindo o mundo dos factos pelo das palavras, as quais não resgatam totalmente a realidade e evoluem para a metalinguagem, com o mesmo efeito disruptivo sobre a epopeia tradicional. Segundo Costa Pimpão, não há qualquer evidência de que Camões pretendesse escrever o seu épico antes de ter viajado à Índia, embora temas heróicos já estivessem presentes na sua produção anterior. É possível que tenha retirado alguma inspiração de fragmentos das "Décadas da Ásia", de João de Barros, e da "História do Descobrimento e Conquista da Índia pelos Portugueses", de Fernão Lopes de Castanheda. Sobre a mitologia clássica estava com certeza bem informado antes disso, igualmente quanto à literatura épica antiga. Aparentemente, o poema começou a tomar forma já em 1554. Storck considera que a determinação de escrevê-lo nasceu durante a própria viagem marítima. Entre 1568 e 1569 foi visto em Moçambique pelo historiador Diogo do Couto, seu amigo, ainda a trabalhar na obra, que só veio à luz em Lisboa, em 1572. O sucesso da publicação d"Os Lusíadas" supostamente obrigara a uma segunda edição no mesmo ano da edição "princeps". As duas diferem em inúmeros detalhes e foi longamente debatido qual delas seria de facto a original. Tampouco é claro a quem se devem as emendas do segundo texto. Atualmente reconhece-se como original a edição que mostra a marca do editor, um pelicano, com o pescoço voltado para a esquerda, e que é chamada edição A, realizada sob a supervisão do autor. Entretanto, a edição B foi por muito tempo tomada como a "princeps", com consequências desastrosas para a análise crítica posterior da obra. Aparentemente a edição B foi produzida mais tarde, em torno de 1584 ou 1585, de maneira clandestina, levando a data fictícia de 1572 para contornar as delongas da censura da época, se fosse publicada como uma nova edição, e corrigir os graves defeitos de uma outra edição de 1584, a chamada edição Piscos. Contudo, Maria Helena Paiva levantou a hipótese de que as edições A e B sejam apenas variantes de uma mesma edição, que foi sendo corrigida após a composição tipográfica, mas enquanto a impressão já estava em andamento. De acordo com a pesquisadora, "a necessidade de tirar o máximo partido da prensa levava a que, concluída a impressão de uma forma, que constava de vários fólios, fosse tirada uma primeira prova, que era corrigida enquanto a prensa continuava, agora com o texto corrigido. Havia, por isso, fólios impressos não corrigidos e fólios impressos corrigidos, que eram agrupados indistintamente no mesmo exemplar", fazendo com que não existissem dois exemplares rigorosamente iguais no sistema de imprensa daquela época. "Rimas". A obra lírica de Camões, dispersa em manuscritos, foi reunida e publicada postumamente em 1595 com o título de "Rimas". Ao longo do século XVII, o crescente prestígio do seu épico contribuiu para elevar ainda mais o apreço por estas outras poesias. A coletânea compreende redondilhas, odes, glosas, cantigas, voltas ou variações, sextilhas, sonetos, elegias, éclogas e outras estâncias pequenas. A sua poesia lírica procede de várias fontes distintas: os sonetos seguem em geral o estilo italiano derivado de Petrarca, as canções tomaram o modelo de Petrarca e de Pietro Bembo. Nas odes verifica-se a influência da poesia trovadoresca de cavalaria e da poesia clássica, mas com um estilo mais refinado; nas sextilhas aparece clara a influência provençal; nas redondilhas expandiu a forma, aprofundou o lirismo e introduziu uma temática, trabalhada em antíteses e paradoxos, desconhecida na antiga tradição das cantigas de amigo, e as elegias são bastante classicistas. As suas estâncias seguem um estilo epistolar, com temas moralizantes. A écoglas são peças perfeitas do género pastoral, derivado de Virgílio e dos italianos. Em muitos pontos de sua lírica também foi detectada a influência da poesia espanhola de Garcilaso de la Vega, Jorge de Montemor, Juan Boscán, Gregorio Silvestre e vários outros nomes, conforme apontou seu comentador Faria e Sousa. A despeito dos cuidados do primeiro editor das "Rimas", Fernão Rodrigues Lobo Soropita, na edição de 1595 foram incluídos alguns poemas apócrifos. Muitos poemas foram sendo descobertos ao longo dos séculos seguintes e a ele atribuídos, mas nem sempre com uma análise crítica cuidadosa. O resultado foi que, por exemplo, enquanto nas "Rimas" originais havia 65 sonetos, na edição de 1861 de Juromenha havia 352; na edição de 1953 de Álvaro Júlio da Costa Pimpão, que expurgou muitos dos poemas camonianos, ainda eram listadas 166 peças. Além disso, muitas edições modernizaram ou "embelezaram" o texto original, prática acentuada em particular depois da edição de 1685–1689 de Manuel de Faria e Sousa, fazendo nascer e enraizar uma tradição própria sobre esta lição alterada que causou enormes dificuldades para o estudo crítico. Estudos mais científicos só começaram a ser empreendidos no final do século XIX, com a contribuição de Wilhelm Storck e Carolina Michaelis de Vasconcelos, que descartaram diversas composições apócrifas. No início do século XX os trabalhos continuaram com José Maria Rodrigues e Afonso Lopes Vieira, que publicaram em 1932 as "Rimas" numa edição que chamaram de "crítica", embora não merecesse o nome: adotou largas partes da lição de Faria e Sousa, mas os editores alegaram ter usado as edições originais, de 1595 e 1598. Por outro lado, levantaram definitivamente a questão da fraude textual que vinha se perpetuando há muito tempo e havia adulterado os poemas a ponto de se tornarem irreconhecíveis. Um exemplo basta: Parece ser impossível chegar-se, neste expurgo, a um resultado definitivo. Entretanto, sobrevive material autêntico em quantidade suficiente para garantir a sua posição como o melhor lírico português e o maior poeta da Renascença em Portugal. Comédias. O conteúdo geral de suas obras para o palco combina, da mesma forma que n"Os Lusíadas", o nacionalismo e a inspiração clássica. A sua produção neste campo resume-se a três obras, todas no género da comédia e no formato de auto: "El-Rei Seleuco", "Filodemo" e "Anfitriões". A atribuição do "El-Rei Seleuco" a Camões, porém, é controversa. A sua existência não era conhecida até 1654, quando apareceu publicada na primeira parte das "Rimas" na edição de Craesbeeck, que não deu detalhes sobre a sua origem e teve poucos cuidados na edição do texto. A peça também diverge em vários aspetos das outras duas que sobreviveram, tais como em sua extensão, bem mais curta (um ato), na existência de um prólogo em prosa, e no tratamento menos profundo e menos erudito do tema amoroso. O tema, da complicada paixão de Antíoco, filho do rei Seleuco I Nicátor, por sua madrasta, a rainha Estratonice, foi tirado de um facto histórico da Antiguidade transmitido por Plutarco e repetido por Petrarca e pelo cancioneiro popular espanhol, trabalhando-o ao estilo de Gil Vicente. "Anfitriões", publicado em 1587, é uma adaptação do "Amphitryon" de Plauto, onde acentua o carácter cómico do mito de Anfitrião, destacando a omnipotência do amor, que subjuga até os imortais, também seguindo a tradição vicentina. A peça foi escrita em redondilhas menores e faz uso do bilinguismo, empregando o castelhano nas falas do personagem Sósia, um escravo, para assinalar seu baixo nível social em passagens que chegam ao grotesco, um recurso que aparece nas outras peças também. O "Filodemo", composto na Índia e dedicado ao vice-rei D. Francisco Barreto, é uma comédia de moralidade em cinco atos, de acordo com a divisão clássica, sendo das três a que se manteve mais viva no interesse da crítica pela multiplicidade de experiências humanas que descreve e pela agudeza da observação psicológica. O tema versa sobre os amores de um criado, Filodemo, por Dionisa, filha do fidalgo em cuja casa serve, com traços autobiográficos. Camões via a comédia como um género secundário, de interesse apenas como um divertimento de circunstância, mas conseguiu resultados significativos transferindo a comicidade dos personagens para a ação e refinando a trama, pelo que apontou um caminho para a renovação da comédia portuguesa. Entretanto, sua sugestão não foi seguida pelos cultivadores do género que o sucederam. Núcleos temáticos da obra camoniana. A conquista, o herói português e o papel da arte. Para Ivan Teixeira, embora "Os Lusíadas" não tenha sido escrito por encomenda do Estado, ajustou-se perfeitamente a uma necessidade cultural da empreitada expansionista. Camões acreditava no discurso dominante em Portugal na sua época, de que os portugueses tinham uma missão civilizadora a cumprir no mundo. No texto essa missão é explicitada, mas a ideologia não tolda a sua arte. Ao contrário, é a Poesia que dá amplitude à História, uma amplitude que Camões imaginava ser o dever do poeta revelar aos seus contemporâneos, apoiando-se na glória do passado e do presente para subir num voo alto e perscrutar com o olho do espírito as perspetivas ainda mais grandiosas no distante horizonte do futuro, trazendo através da Arte de volta para o mundo a visão recebida, a fim de que a Arte infundisse na História um sentido novo, garantisse o significado superior dessa História na imortalidade de uma Arte que lhe faz jus, reacendendo com isso o ardor do português por conquistas ainda maiores. Como sugeriu Alcyr Pécora, é como se sem a epopeia o Bem da proeza não se pudesse cumprir integralmente. As armas apenas não bastam para a grandeza, é necessário que as artes a cantem, e se o herói não estima a arte, limita-se a sua virtude, e perde a capacidade de atingir o sublime. Camões, sem modéstia, colocou-se como a voz desse canto necessário à grandeza de Portugal, mas consternado acusava a ingratidão e as injustiças que sofria: Porém, mesmo à sua própria custa, fica evidente que seu intento não foi apenas "glorificar" os portugueses, mas sim "divinizá-los", seja celebrando os seus feitos positivos, seja corrigindo o seu mau comportamento. "Os Lusíadas" é, assim, não só história e apologia, não só "engenho e arte", mas uma crítica de costumes, um ditado ético, um complexo e por vezes contraditório programa político, e uma promessa de futuro melhor, um futuro que jamais foi sonhado para qualquer povo. No poema, grandes figuras da Antiguidade aparecem ofuscadas diante do que realizaram e realizariam os varões de Portugal. Os portugueses tornar-se-ão divinos não só pela fortaleza de ânimo, pela coragem física diante do inimigo, mas pelo exercício das mais altas virtudes. Para Camões os lusos estavam destinados a substituir a fama dos Antigos porque as suas proezas os excediam. Nem a veneração à Antiguidade que o poeta nutria foi capaz de sobrepujar a sua conceção dos portugueses como heróis sublimes: Mas aqui transparece um dos paradoxos da ideologia política de Camões, ou talvez a sua prudência e sabedoria, pois enquanto que "Os Lusíadas" são por um lado um louvor ao espírito de conquista, a profética condenação, pela voz do Velho do Restelo, da "vã cobiça" dos portugueses, do seu desejo pela "glória de mandar", e "desta vaidade a quem chamamos fama", provavelmente ecoa uma corrente de pensamento de sua época que era contrária às premissas da navegação, deixando "às portas o inimigo, por ires buscar outro de tão longe, por que se despovoe o Reino antigo, se enfraqueça e se vá deitando a longe". Sua aparição encerra advertindo os portugueses contra a húbris, os "altos desejos", lembrando como Faetonte, "o moço miserando", causou a sua própria ruína tentando conduzir o carro solar de seu pai, Hélio, sem possuir a capacidade de fazê-lo, sendo por isso fulminado por Zeus, e como Ícaro sucumbiu à tentação de voar até ao sol com as suas asas de cera, vendo-as derreter e precipitando-se mortalmente para a terra. O amor e a mulher. Dos temas mais presentes na lírica camoniana o do amor é central e ocorre de modo conspícuo também n"Os Lusíadas". Na sua conceção incorporou elementos da doutrina clássica, do amor cortês e da religião cristã, concorrendo todos para incentivar o amor espiritual e não o carnal. Para os clássicos, especialmente na escola platónica, o amor espiritual é o mais elevado, o único digno dos sábios, e esta espécie de afeto incorpóreo acabou por ser conhecida como amor platónico. Na religião cristã da sua época o corpo era visto como fonte de um dos pecados capitais, a luxúria, e por isso sempre foi encarado com desconfiança quando não desprezo; conquanto fosse aprovado o amor nas suas versões espirituais, o amor sexual era permitido primariamente para a procriação, ficando o prazer em plano secundário. Da poesia trovadoresca herdou a tradição do amor cortês, que é ele mesmo uma derivação platónica que coloca a dama num patamar ideal, jamais atingível, e exige do cavaleiro uma ética imaculada e uma total subserviência em relação à amada. Nesse contexto, o amor camoniano, como expresso nas suas obras, é, por regra, um amor idealizado que não chega a vias de facto e se expressa no plano da abstração e da arte. Contudo, é um amor preso no dualismo, é um amor que, se por um lado ilumina a mente, gera a poesia e enobrece o espírito, se o aproxima do divino, do belo, do eterno, do puro e do maravilhoso, é também um amor que tortura e escraviza pela impossibilidade de ignorar o desejo de posse da amada e as urgências da carne. Queixou-se o poeta inúmeras vezes, amargamente, da tirania desses amores impossíveis, chorou as distâncias, as despedidas, a saudade, a falta de reciprocidade, e a impalpabilidade dos nobres frutos que produz. Tome-se como exemplo um soneto muito conhecido: Todos os paradoxos criados pela idealização amorosa são enfatizados pela própria estrutura poética, cheia de antíteses, metáforas, silogismos, oposições e inversões, que na análise de Cavalcante Se a consumação terrena é impossível, pode ser necessária a própria morte dos amantes, para que se possam unir no Paraíso. Desta forma, o tema da morte acompanha o do amor em muito da poesia de Camões, seja de forma explícita ou implícita. Nem sempre, porém, o amor lhe foi um drama, e o poeta foi capaz de expressar o seu lado puramente jubiloso e tranquilo, tocando, como observou Joaquim Nabuco, o cerne de simplicidade do sentimento. Como exemplo, deu o seguinte soneto: De qualquer forma, apesar das frustrações e do sofrimento recorrente, para Camões o amor valia a pena de ser vivido: "As lágrimas inflamam o meu amor e sinto-me contente de mim porque vos amei", e em suas descrições da amada abundam imagens pictóricas de grande delicadeza, colocando a mulher como elemento central numa paisagem natural harmoniosa, especialmente na sua lírica derivada mais diretamente de Petrarca e da tradição pastoral portuguesa do "Cancioneiro Geral" de Garcia de Resende, que evocam o bucolismo clássico. A pintura com palavras traz à frente tanto as belezas naturais e feminis, como é capaz de delinear um perfil psicológico através da descrição dos gestos, das posturas e dos movimentos corpóreos da mulher, como transparece no trecho: "O rosto sobre sua mão / Os olhos no chão pregados / Que do chorar já cansados / Algum descanso lhe dão". A dualidade amorosa expressa na lírica camoniana corresponde a duas conceções de mulher: a primeira é de uma criatura angelical, objeto de culto, um ser quase divino, intocável e distante. A sua descrição enfatiza as correspondências entre a sua beleza física e a sua perfeição moral e espiritual. Os seus cabelos são ouro, a sua boca é uma rosa, os seus dentes, pérolas e a sua simples proximidade e contemplação são dádivas celestes. Mas o amor vivido em espírito dá lugar a sentimentos totalizantes que acabam por envolver também a manifestação erótica e hedonista, fazendo um apelo ao desfrute imediato, antes que o tempo consuma os corpos na decrepitude, invocando então a outra mulher, a carnal. Se a união física não acontece, nasce o sofrimento e com ele a alienação do mundo, o desconcerto e a "poesia do desafogo", como a chamou Soares. Na lírica de Camões o fulcro polarizador do prazer e da dor é a mulher e em torno da figura feminina gira todo o "pathos" amoroso, ela é o ponto de partida e o ponto de chegada de todo o discurso poético. Mesmo sem jamais ter casado e mesmo adorando à distância suas musas, Camões com toda probabilidade experimentou o amor carnal. N"Os Lusíadas", transcendendo a tradição da lírica amorosa petrarquista, encontram-se as passagens relativas ao amor mais carregadas de erotismo da obra camoniana, em várias descrições vívidas, livres, apaixonadas e honestas do encontro sensual e da mulher, não raro banhadas de intenso lirismo. As passagens mais marcantes nesse sentido são o retrato de Vénus e sua subida ao Olimpo, onde seduz Júpiter para que favoreça os portugueses, no Canto II, e as cenas na Ilha dos Amores, nos Cantos IX e X. Segue um trecho do retrato da deusa: Para Cidália dos Santos a eficiência da evocação erótica reside na habilidosa criação de um percurso "voyeurístico" que alterna a exibição e o ocultamento do corpo da deusa, numa escala de intensidade progressiva e com descrições bastante ousadas, ainda que faça uso de uma metáfora para assinalar o foco do desejo sexual, os lábios de sua vulva: "os roxos lírios". Na descrição da Ilha dos Amores a atmosfera erótica é consistentemente mantida através de uma longa passagem, também numa sequência crescente de intensidade, descrevendo desde a criação da ilha, a chegada das ninfas e os preparativos para o desfrute dos portugueses, até ao momento em que os marinheiros iniciam a "caça" às ninfas por entre a floresta e finalmente se unem a elas num momento de prazer libertador e generalizado que compensava todos os trabalhos antes sofridos: É de notar que a consumação sexual coletiva que ocorre nas Ilha dos Amores, embora com todos os atributos da carnalidade e descrita com detalhes nitidamente eróticos, está distante do carácter de uma orgia desenfreada. As ninfas são deusas, e o amor que oferecem não é vulgar. Na tradição clássica eram entidades que iluminavam o intelecto e presidiam à geração e à regeneração e na epopeia elas aparecem como potenciais matrizes de uma raça sublimada, a "progénie forte e bela" que Camões ansiava ver nascer em Portugal. A própria Ilha dos Amores incorpora vários atributos de um paraíso terreno, onde o vínculo entre homem e mulher é pleno e harmonioso, ao mesmo tempo carnal e espiritual. Na visão de Borges, "a qualidade paradisíaca da Ilha reside exatamente em nela se abolir a divisão e oposição entre corpo e espírito, masculino e feminino, humano e divino, mortal e imortal, atividade e fim, ser e consciência". À parte as figuras femininas mitológicas, que pertencem ao plano mítico e estão além da História e livres do pecado original, a visão da mulher n"Os Lusíadas" revela a opinião geral de seu tempo: as mulheres são tanto mais exaltadas quanto mais se aproximam do comportamento de Maria, mãe de Jesus, modelo máximo de perfeição feminina cristã. Dentro desse padrão, cabiam-lhes as funções de filha, mãe, esposa, dona de casa e devota, fiéis, pacatas, submissas e prontas a renunciar à sua própria vida para servir ao marido, à família e à pátria. Nessa linha, as mulheres do Restelo, Leonor Sepúlveda e Dona Filipa são as mais louvadas, seguindo-se Inês de Castro, que, mesmo sendo uma amante, acaba defendida por conta da sua fidelidade ao príncipe, do seu "puro amor", da sua delicadeza, da sua preocupação maternal com os filhos, do seu sofrimento, expiação e "morte crua". Entretanto, Teresa e, ainda mais, Leonor Teles, são severamente condenadas por causa dos seus comportamentos discrepantes do padrão cristão, pondo em perigo a nação. O desengano. Outro tema significativo que ocorre na sua poesia é o da transitoriedade das coisas do mundo, também trabalhada através dos contrastes dialéticos e outros jogos de linguagem. Faz Camões na sua obra uma elaborada meditação sobre a condição humana, a partir da sua trabalhosa experiência pessoal, que vê refletida e multiplicada no mundo. Daí que desenvolveu um senso de fatalismo: o mundo é efémero, constata o poeta, o homem é fraco e a sua vontade é precária e impotente contra as forças superiores do destino. É o mar que traga de inopino a donzela amada, é a guerra e a doença que destroem as vidas ainda em botão, é a distância que separa os amantes, é o tempo que corrói as esperanças, é a experiência que contradiz o sonho belo, tudo passa e o imprevisto surpreende o homem a cada passo, anulando qualquer possibilidade de se manter a perspetiva renascentista de harmonia entre o homem e o cosmos — disso vem o "desengano", a desilusão, um conceito comum neste domínio de sua obra, que o faz experimentar a amargura da morte ainda em vida. A sua mente vê-se perdida num mar de pensamentos desencontrados, chega a dizer que a vida não tem razão de ser e que tentar descobrir o seu sentido é tão inútil como perigoso, pois o pensar sobre as dificuldades da vida somente aprofunda a dor de viver e não tem o poder de salvá-lo da realidade miserável do homem. Composta após o naufrágio no Oriente, a célebre redondilha "Sobre os rios que vão" (também conhecida como "Sôbolos rios que vão"), ilustra este aspeto da obra camoniana, da qual seguem três estrofes: A religião. Quanto à religião, "Os Lusíadas" é uma defesa intransigente do Catolicismo e um pesado ataque àqueles que não o abraçam, criticando os protestantes e principalmente os "infiéis" muçulmanos, descritos quase invariavelmente como ardilosos, enganadores e desprezíveis. Critica até países católicos como a França, por não defender com vigor a religião contra o avanço protestante, e a própria Itália, sede do papado, por considerá-la caída em vícios. Mesmo a constante presença dos deuses pagãos no poema não contradiz a sua ortodoxia, pois na época isso era considerado uma natural licença poética e assim foi entendida pelos censores eclesiásticos. O tema da religião aparece também na sua produção lírica, como ilustra o seguinte soneto: Aflito por insucessos amorosos, pela miséria da condição humana, chegou a amaldiçoar o dia em que nasceu em um poema carregado de pessimismo e desalento. Diante disso, para Camões a fé foi a resposta final para os "desconcertos do mundo": o derradeiro consolo está em Deus. Mesmo que a injustiça prevaleça em vida, no Céu o homem terá recompensa. Pôde ainda expressar a sua resignação e esperança dizendo que o que parece "injusto aos homens e profundo, para Deus é justo e evidente", e os que aceitam o sofrimento com paciência não incorrerão em outros castigos. Camões e a linguagem. Em que pese Camões ser o grande modelo da língua portuguesa moderna, e da sua obra já ter sido extensamente estudada sob os pontos de vista estético, histórico, cultural e simbólico, de acordo com Verdelho relativamente pouco estudo tem sido feito sobre os seus aspetos filológicos, nos domínios da sintaxe, semântica, morfologia, fonética e ortografia, ainda mais que o poeta teve um papel importante para fixar e dar autoridade a uma tradição literária em português, quando na sua época o latim era uma língua altamente prestigiada para a criação literária e para a transmissão de conhecimento e cultura, e o espanhol, que sempre exerceu uma pressão, logo após a morte do poeta se tornou uma ameaça séria à sobrevivência do idioma lusitano, por conta da União Ibérica. Como pensa Hernâni Cidade, isso indica que Camões estava ciente da sua conjuntura linguística e fez uma opção deliberada pelo português, e na sua produção transparece um forte interesse linguístico, sentindo-se "uma permanente reflexão sobre a língua, uma aguda sensibilidade aos nomes das coisas, às palavras e à maneira de as usar... Em Os Lusíadas, por exemplo, várias vezes se dá notícia da estranheza perante o encontro de novas línguas". Na escassa correspondência autógrafa que sobreviveu esse interesse está declarado explicitamente. Na "Carta III" ele narrou a um amigo o hábito das alcoviteiras de Lisboa, que traziam "sempre aparadas as palavras para falar com quem se preze disso, cousa que eu tenho por grande trabalho". Notou o desprezo de que o falar rústico dos camponeses era objeto e deu uma pitoresca descrição do poliglotismo que encontrou vigorando em um prostíbulo: "Deste dilúvio houveram algumas damas medo e edificaram uma torre de Babilónia, onde se acolheram; e vos certifico que são já as línguas tantas que cedo cairá, porque ali vereis mouros, judeus, castelhanos, leoneses, frades, clérigos, solteiros, moços e velhos (sic)". Na "Carta II" o poeta descreveu a linguagem das moças da Índia, que de tão rude lhe esfriava o ânimo romântico: "Respondem-vos uma linguagem meada de ervilhaca, que trava na garganta do entendimento, a qual vos lança água na fervura da mor quentura do mundo". O seu linguajar literário foi sempre reconhecido como erudito; Faria e Sousa já dissera que Camões não escrevera para ignorantes. A influência do seu modelo repercutiu profundamente sobre a evolução da língua portuguesa pelos séculos seguintes, e durante muito tempo foi um padrão ensinado nas escolas e academias, mas Verdelho considera-o mais próximo da fala de comunicação quotidiana moderna em Portugal do que o português usado, por exemplo, pelos escritores lusos do Barroco ou mesmo por alguns autores contemporâneos. Para o pesquisador a linguagem de Camões mantém uma notável proximidade entre os códigos linguísticos e os códigos poéticos, dando-lhe uma transparência e legibilidade únicas, sem que isso implique um ofuscamento das suas fontes clássicas, italianas e espanholas, ou uma redução na sua complexidade e refinamento, prestando-se a elaboradas análises. Cabe notar que se deve a Camões a introdução de uma quantidade de latinismos na linguagem corrente, tais como "aéreo, áureo, celeuma, diligente, diáfano, excelente, aquático, fabuloso, pálido, radiante, recíproco, hemisfério" e muitos outros, prática que ampliou significativamente o léxico do seu tempo. Baião o chamou de um revolucionário em relação à língua portuguesa culta de sua geração, e Paiva analisou algumas das inovações linguísticas trazidas por Camões dizendo: Difusão e influência. De acordo com Monteiro, dos grandes poetas épicos da tradição ocidental Camões permanece o menos conhecido fora de sua terra natal e a sua obra-prima, "Os Lusíadas", é o menos conhecido dos grandes poemas dessa tradição. Entretanto, desde o tempo em que viveu e ao longo dos séculos Camões foi louvado por diversos luminares não-lusófonos da cultura ocidental. Torquato Tasso, que dizia ser Camões o único rival que temia, dedicou-lhe um soneto, Baltasar Gracián elogiou a sua agudeza e engenho, no que foi seguido por Lope de Vega, Cervantes — que via Camões como o "cantor da civilização ocidental" — e Góngora. Foi uma influência sobre o trabalho de John Milton e vários outros poetas ingleses, Goethe reconheceu a sua eminência, Sir Richard Burton o considerava um mestre, Friedrich Schlegel o dizia expoente máximo da criação na poesia épica, opinando que a "perfeição" ["Vollendung"] da poesia Portuguesa era evidente nos seus "belos poemas", e Humboldt o tinha como um admirável pintor da natureza. August-Wilhelm Schlegel escreveu que Camões, por si só, vale uma literatura inteira. A fama de Camões iniciou a expandir-se através de Espanha, onde teve vários admiradores desde o século XVI, aparecendo duas traduções d"Os Lusíadas" em 1580, ano da morte do poeta, impressas a mando de Filipe II de Espanha, então rei também de Portugal. No título da edição de Luis Gómez de Tápia, Camões já é citado como "famoso", e na de Benito Caldera ele foi comparado a Virgílio, e quase digno de igualar Homero. Além disso, o rei concedeu-lhe o título honorífico de "Príncipe dos poetas de Espanha", que foi impresso numa das edições. Na leitura de Bergel, Filipe estava perfeitamente a par das vantagens de usar, para os seus próprios propósitos, uma cultura já estabelecida, em vez de suprimi-la. Sendo filho de uma princesa portuguesa, não tinha interesse em anular a identidade lusa nem as suas conquistas culturais, e foi-lhe vantajoso assimilar o poeta para dentro da órbita espanhola, tanto para assegurar a sua legitimidade como soberano das coroas unidas como para engrandecer o brilho da cultura espanhola. Logo a sua fama alcançou a Itália; Tasso chamou-o "culto e bom" e "Os Lusíadas" foi traduzido duas vezes em 1658, por Oliveira e Paggi. Mais tarde, associado a Tasso, tornou-se um paradigma importante no Romantismo italiano. A esta altura em Portugal já se formara um corpo de exegetas e comentadores, dando ao estudo de Camões grande profundidade. Em 1655 "Os Lusíadas" chega à Inglaterra na tradução de Fanshawe, mas só viria a ganhar notoriedade aí cerca de um século depois, com a publicação da versão poética de William Julius Mickle em 1776 que, embora bem sucedida, não impediu o surgimento de mais uma dezena de traduções inglesas até fins do século XIX. Chegou a França no início do século XVIII, quando Castera publicou uma tradução do épico e no prefácio não poupou elogios à sua arte. Voltaire criticou certos aspetos da obra, nomeadamente a sua falta de unidade na ação e mistura de mitologia cristã e pagã, mas também admirou as novidades que ela introduziu em relação às outras epopeias, contribuindo poderosamente para a sua difusão. Montesquieu afirmou que o poema de Camões tinha algo do charme da "Odisseia" e da magnificência da "Eneida". Entre 1735 e 1874 surgiram nada menos do que vinte traduções francesas do livro, sem contar inúmeras segundas edições e paráfrases de alguns dos episódios mais marcantes. Em 1777 Pieterszoon traduziu "Os Lusíadas" para o holandês e no século XIX surgiram mais cinco outras, parciais. Na Polónia "Os Lusíadas" foi traduzido em 1790 por Przybylski e, desde então, tornou-se intimamente integrado na tradição literária polonesa, tanto que, pela sua erudição, no século XIX foi um elemento indispensável na educação literária local e foi intensivamente analisado pelos críticos polacos que o viam como o melhor épico da Europa moderna. Ao mesmo tempo, a pessoa de Camões, com a sua vida atribulada e seu "génio incompreendido", tornou-se um ícone exemplar para a geração romântica e nacionalista polaca que se apropriou da sua figura, como disse Kalewska, quase como se fosse um polaco disfarçado, exercendo grande impacto na formação do nacionalismo polaco e sobre sucessivas gerações de escritores do país. Em 1782 apareceu a primeira tradução alemã, ainda que parcial. A primeira versão integral veio à luz entre 1806 e 1807, trabalho de Herse, e no final da centúria Storck traduziu as suas obras completas e ofereceu um estudo monumental: "Vida e Obra de Camões", traduzido para o português por Michaëlis. Camões foi uma das mais fortes influências sobre a formação e evolução da literatura brasileira, uma influência que começou a ser efetiva a partir do período barroco, no século XVII, como se constata pelas semelhanças entre "Os Lusíadas" e o primeiro épico brasileiro, a "Prosopopeia", de Bento Teixeira, de 1601. As poesias de Gregório de Matos também foram muitas vezes decalcadas do modelo formal camoniano, embora o seu conteúdo e tom fossem bem outros. Mas Gregório usou paródias, colagens, citações diretas e até cópias literais de trechos de vários poemas de Camões para construir os seus. Com Gregório iniciou-se um processo de diferenciação da literatura brasileira em relação à portuguesa, mas não pôde evadir-se de, ao mesmo tempo, preservar muito da tradição camoniana. Durante o Arcadismo continuou a prática da rutura paralela à recriação e a influência d"Os Lusíadas" aparece nas obras "O Uraguai", de Basílio da Gama, e em "Caramuru", de frei Santa Rita Durão, dos dois o mais próximo da fonte original, tanto em forma como em visão de mundo. A lírica de Cláudio Manuel da Costa e Tomás António Gonzaga também é grandemente devedora de Camões. Maria Martins Dias encontrou influência camoniana também sobre a literatura brasileira contemporânea, citando os casos de Carlos Drummond de Andrade e Haroldo de Campos. Durante o Romantismo, não só na Polónia, como foi dito, mas em vários países da Europa, Camões foi uma figura simbólica de grande destaque, popularizando-se versões da sua biografia que o retratavam como uma espécie de génio-mártir, com uma vida dificultosa e penalizado ainda mais pela ingratidão de uma pátria que não soubera reconhecer a fama que ele lhe trouxera, sublinhando-se o facto de a sua morte ocorrer no ano em que o país perdia a independência, unindo-se assim o triste destino de ambos. Na interpretação de Chaves, a recuperação romântica de Camões constituiu um mito com base tanto na sua biografia como na sua lenda, e cuja obra fundia elementos do belo imaginoso da tradição italiana com o sublime patriótico da tradição clássica, veiculando a partir do início do século XIX "uma mensagem liberal de grande dimensão humana... um recriador e um instrumento de uma importante tradição literária antiga, um herói nacional de imutável destino em que no seu mítico percurso existencial tal como na sua obra se projetaram sonhos, esperanças, sentimentos e paixões humanas". Durante longo tempo, a maior parte da sua fama repousou apenas sobre "Os Lusíadas" mas, nas últimas décadas, a sua obra lírica vem recuperando a alta estima que lhe foi dedicada até ao século XVII. Curiosamente, foi na Inglaterra e nos Estados Unidos que permaneceu mais viva uma tradição, que remonta ao século XVII, de equilibrar o seu prestígio entre a épica e a lírica, incluindo entre os seus apreciadores, além dos citados Milton e Burton, também William Wordsworth, Lord Byron, Edgar Allan Poe, Henry Longfellow, Herman Melville, Emily Dickinson e especialmente Elizabeth Browning, que foi uma grande divulgadora da sua vida e obra. Foi produzida ainda muita literatura crítica sobre Camões nesses países, bem como várias traduções. O grande interesse pela vida e obra de Camões já abriu espaço para o estabelecimento da Camonologia como uma disciplina autónoma nas universidades, oferecida desde 1924 na Faculdade de Letras de Lisboa e desde 1963 na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo. Pelo "Protocolo Adicional ao Acordo Cultural entre o Governo da República Portuguesa e o Governo da República Federativa do Brasil", em 1986 foi instituído o Prémio Camões, o maior galardão literário dedicado à literatura em língua portuguesa, concedido àqueles autores que tenham contribuído para o enriquecimento do património literário e cultural da língua. Já receberam o prémio, entre outros, Miguel Torga, João Cabral de Melo Neto, Rachel de Queiroz, Jorge Amado, José Saramago, Sophia de Mello Breyner, Lygia Fagundes Telles, António Lobo Antunes e João Ubaldo Ribeiro. Nos dias de hoje, estudado e traduzido para todas as principais línguas do ocidente e algumas orientais, é praticamente um consenso chamá-lo de um dos maiores literatos do ocidente, ombreando com Virgílio, Shakespeare, Dante, Cervantes e outros do mesmo quilate e há quem o tome como um dos maiores da história da humanidade. Reunida em Macau em 1999, a Organização Mundial de Poetas homenageou o espírito universalista de Luís de Camões, celebrando-o como um autor que ultrapassou barreiras temporais e nacionais. Críticas. Apesar de o mérito artístico de Camões ser largamente reconhecido, a sua obra não ficou imune a críticas. O bispo de Viseu, D. Francisco Lobo, acusou-o de jamais haver amado verdadeiramente e, por isso, ter falseado o amor através do embelezamento poético. Para o crítico, o amor "não se declara com requebros tão ponderados, e por tão afetado estilo, como ele faz tantas vezes, ou para melhor dizer, como faz em todos esses lugares em que mais pretende engrandecer-se". José Agostinho de Macedo, na sua obra em dois volumes "Censura das Lusiadas", examinou o poema e expôs o que considerava serem os seus vários defeitos, nomeadamente a nível de plano e acção, mas também erros de métrica e gramática, chegando a afirmar que "Tiradas do poema as oitavas inúteis, ficava reduzido a cousa nenhuma." A seguinte passagem exemplifica bem o estilo da sua crítica: referindo-se à Oitava 14.ª («Nem deixarão meus versos esquecidos / Aqueles que nos Reinos "lá" da Aurora / Se fizeram por armas tão subidos...»), José Agostinho escreve: ""Nesta Oit. 14.ª começa o vergonhoso bordão do—"lá"—que se repete com enjoo a cada página até ao fim do Poema, coisa para que os da seita Camoniana não tem sabido olhar [...] pressupondo sem exame a impecabilidade em um homem"." Robert Southey comparou a Ilha dos Amores de Camões a um "bordel flutuante", acrescentando que "não há beleza que possa desculpar a licenciosidade." Hegel, embora elogiando várias qualidades d"Os Lusíadas", criticou a incongruência entre o tema nacionalista e o uso de modelos formais clássicos e italianos, além de apontar uma presença excessiva da voz pessoal do poeta, em várias passagens em que usa a primeira pessoa do singular para tecer uma variedade de comentários, interrompendo o fluxo da ação épica. Cesário Verde considerou o "desconcerto" camoniano, um modo errático de ser sujeito no mundo e de estar sujeito no mundo, carregando as penas do mundo sobre os ombros, como um desejo absurdo de sofrer. Sérgio Buarque de Holanda disse que as cores épicas com que Camões pintou os feitos lusitanos não correspondem tanto a "uma aspiração generosa e ascendente", mas espelham antes uma retrospeção melancólica da glória extinta que mais desfigurou do que fixou a verdadeira fisionomia moral dos agentes da expansão marítima. António José Saraiva, alinhado às teses do marxismo, lamentou a falta de substância dos seus personagens, que para ele são mais estereótipos do que pessoas reais, não são heróis de carne e osso, e carecem de robustez e vigor. Também criticou que a ação fosse levada adiante sempre por esses heróis, sem que o povo português tivesse qualquer participação. Como disse, "o peito ilustre lusitano não passa de uma abstração incapaz de conjuntivar carnalmente as proezas sucessivas dos guerreiros", pois falta-lhes caracterização externa e, ao autor, uma visão histórica ampla, reduzindo a História aos feitos de armas. Completou dizendo que Camões não se distanciou suficientemente do ideal cavaleiresco para poder criticá-lo, "o que o coloca na situação de aparecer um pouco como um Quixote que faz literatura como o outro investia (contra) os gigantes", atestando o seu desajuste em relação à sua época e caindo em contradições ideológicas. Na mesma linha de ideias, Helgerson viu "Os Lusíadas" como uma reafirmação dos valores da aristocracia, atribuindo os méritos da nação a uma só classe social, e considerou o tratamento épico inconsistente com os objetivos gerais da exploração marítima portuguesa, que eram em grande parte puramente comerciais, gerando contradições internas no terreno ideológico e distorcendo os factos históricos. Vários outros autores têm considerado "Os Lusíadas" como uma peça de propaganda e uma ilustração do desenvolvimento do colonialismo português, mostrando como os encontros interculturais eram resolvidos excessivas vezes de forma agressiva e predatória, e produzindo um discurso que glorificava os portugueses como divinamente escolhidos e fomentava a violência do imperialismo religioso da Contra-Reforma de que eles eram instrumento ativo, como fica patente na reiterada condenação dos mouros pela voz de Camões. Dizem esses autores que a mitologia de supremacia consagrada por Camões, ao ser usada pelo Estado português, teve consequências funestas para todas as colónias lusas, não somente naquela época, mas de longo prazo, que são visíveis ainda em tempos recentes, em particular na opressiva política oficial para as colónias africanas que vigorou durante a ditadura de Salazar no século XX. Sintetizando essas visões, Anthony Soares disse que em "Os Lusíadas" a violência do discurso "pavimentou o caminho para a violência física sobre a qual se criou a identidade do império colonial português", problematizando também o futuro da identidade nacional portuguesa moderna. Naturalmente, a literatura autóctone das colónias do Império Português não pôde em seu início deixar de alinhar-se a esse ideário, mas, como assinalou Eduardo Romo, a produção pós-colonial tem sido marcada pelo esforço de se diferenciar nitidamente em relação ao modelo cultural da metrópole e narrar as lutas pela independência, em busca de uma identidade própria para estas novas nações. Ainda dentro da esfera dos discursos hegemónicos, a obra de Camões foi vista por críticos feministas como um elemento de perpetuação de ideologias falocráticas. O autor sul-africano Stephen Gray alega que a figura de Adamastor, o titã que n"Os Lusíadas" é a personificação do Cabo das Tormentas, está na raiz de uma mitologia racista sobre a qual assenta a supremacia branca na África do Sul. Por outro lado, Camões foi defendido desses ataques por vários escritores, que dizem que o significado do seu épico pode variar muito de acordo com a interpretação pessoal, que o autor na mesma obra expressou as suas dúvidas sobre a conquista e que Camões não pode ser culpado por ter sido erigido em símbolo da sua pátria e usado como instrumento político. Símbolo nacional português. A identificação de Camões e da sua obra como símbolos da nação portuguesa parece datar, como acredita Vanda Anastácio, do início da monarquia dual de Filipe II de Espanha, pois aparentemente o monarca entendeu que seria de interesse prestigiá-los como parte de sua política para assegurar a legitimidade do seu reinado sobre os portugueses, o que justifica a sua ordem de imprimir duas traduções em castelhano de "Os Lusíadas" em 1580, pelas universidades de Salamanca e Alcalá de Henares, e sem as submeter à censura eclesiástica. Mas Camões tornou-se especialmente importante em Portugal no século XIX, quando, conforme afirmaram Lourenço, Freeland, Souza e outros autores, "Os Lusíadas" sofreu um processo de releitura e mitificação por alguns dos expoentes do Romantismo local, como Almeida Garrett, Antero de Quental e Oliveira Martins, que o colocaram como um símbolo da história e do destino que estaria reservado ao país. Até mesmo a biografia do poeta foi readaptada e romantizada para servir aos seus interesses, introduzindo-se uma nota messiânica a seu respeito no imaginário popular da época. Os objetivos principais desse movimento eram compensar o saudosismo dos tempos de glória e a perceção então prevalente de Portugal como uma periferia pouco significativa da Europa, e dar à sua história um sentido mais positivo, abrindo-lhe novas perspetivas de futuro. Essa tendência atingiu um ponto alto por ocasião das comemorações do tricentenário da morte do poeta, realizadas entre 8 e 10 de junho de 1880. Num momento de crise por que Portugal passava, quando se questionava a legitimidade da monarquia e se ouviam fortes reivindicações pela democracia, a figura do poeta tornou-se um foco para a causa política e um motivo para reafirmações do valor português contra um pano de fundo ideológico positivista, agregando diferentes segmentos da sociedade, como foi sintetizado nas notícias dos jornais: "O Centenário de Camões neste momento histórico, e nesta crise dos espíritos tem a significação de uma revivescência nacional"... "É sublime o acordo entre as conclusões científicas das mais elevadas inteligências da Europa e a intuição da alma popular que encontram em Camões o representante duma literatura inteira e a síntese da nacionalidade"... "Todas as forças vivas da nação se aliavam nesse grande preito à memória do homem cuja alma foi a síntese grandiosa da alma portuguesa". Sugestivamente, o comité organizador das festividades intitulou-se "Comité de Salvação Pública". Diversos estudos críticos vieram a luz no momento, incluindo estrangeiros, e a festa nas ruas atraiu enorme público. O tricentenário foi comemorado no Brasil com entusiasmo semelhante, com publicação de estudos e cerimónias em muitas cidades, transbordando os círculos intelectuais, e tornou-se um pretexto para um estreitamento das relações entre os dois países. Em vários outros países a data foi noticiada e comemorada. Durante o Estado Novo essa ideologia não foi muito modificada na essência, mas sim na forma de interpretação. O vate e a sua obra-prima tornaram-se instrumentos propagandísticos de consolidação do Estado e passou-se a divulgar então uma ideia de que Camões era não apenas um símbolo nacional, mas um símbolo cujo significado era tão particular à sensibilidade portuguesa que só poderia ser compreendido pelos próprios portugueses. A ironia é que esta abordagem gerou efeitos contrários imprevistos, e aquele mesmo estado, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, queixava-se de que a comunidade internacional não entendia Portugal. Três anos depois da Revolução de abril de 1974 Camões foi associado publicamente às comunidades portuguesas de além-mar, tornando-se a data de sua morte o "Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades Portuguesas", no intuito de dissolver a imagem de Portugal como um país colonizador e se criar um novo senso de identidade nacional que englobasse os muitos emigrantes portugueses espalhados pelo mundo. Essa nova ideologia foi reafirmada nos anos 80 com a publicação de "Camões e a Identidade Nacional", um volume elaborado pela Imprensa Nacional contendo declarações de importantes figuras públicas da nação. A sua condição de símbolo nacional permanece nos dias de hoje, e outra evidência do seu poder como tal foi a transformação, em 1992, do Instituto de Língua e Cultura Portuguesa em Instituto Camões, que passou da administração do Ministério da Educação para a do Ministério dos Negócios Estrangeiros. Tendo influenciado a evolução da literatura portuguesa desde o século XVII, Camões continua a ser uma referência para muitos escritores contemporâneos, tanto em termos de forma e conteúdo como se tornando ele mesmo um personagem em outras produções literárias e dramatúrgicas. Vasco Graça Moura considera-o o maior vulto de toda a história portuguesa, por ter sido o fundador da língua portuguesa moderna, por ter como ninguém compreendido as grandes tendências do seu tempo, e por ter conseguido dar forma, através da palavra, a um senso de identidade nacional e erguer-se à condição de símbolo dessa identidade, transmitindo uma mensagem que se mantém viva e atual. E como afirmou Iolanda Ramos, Ligações externas. [[Categoria:Poetas de Portugal do século XVI]] [[Categoria:Sonetistas]] [[Categoria:Camoniana]] [[Categoria:Poetas renascentistas]] [[Categoria:Dramaturgos de Portugal]] [[Categoria:Poetas do Maneirismo]] [[Categoria:Escritores em português]] [[Categoria:Sepultados no Mosteiro dos Jerónimos]] [[Categoria:Militares de Portugal]] [[Categoria:Heróis de Portugal]] [[Categoria:Poetas épicos]] [[Categoria:Fidalgos de Portugal]] [[Categoria:Personagens no Padrão dos Descobrimentos]]
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Limnologia
Limnologia A limnologia (do grego, "limne" - lago, e "logos" - estudo) é a especialidade da biologia que estuda as águas interiores, independentemente de suas origens (estudadas pela hidrografia), mas verificando as dimensões e concentração de sais, em relação aos fluxos de matéria e energia e as suas comunidades bióticas. A origem da limnologia normalmente reporta-se ao final do século XIX, quando François Alphonse Forel iniciou os seus estudos no lago Léman (lago de Genebra, Suíça). Muito embora a limnologia tenha sido originalmente desenvolvida com o objetivo de estudar os ambientes lacustres (lagos), na realidade, os ambientes estudados abrangem todos os tipos de águas interiores: lagos, lagoas, reservatórios, rios, açudes, represas, riachos, brejos, áreas inundáveis, águas subterrâneas, coleções de água temporárias, nascentes e fitotelmos. A compartimentação das áreas do conhecimento limnológico levou à criação das linhas de pesquisa relacionadas ao estudos das formas (isto é, a extensão e profundidade) do ambiente lacustre, aos aspectos abióticos da coluna de água, como as propriedades dinâmicas da disponibilidade de luz, estratificação térmica e química, além das características do sedimento. Quanto aos aspectos bióticos, as diversas linhas de pesquisa podem ser resumidas em estudos do bacterioplâncton, fitoplâncton, zooplâncton, bentos, nécton, macrófitas aquáticas e perifíton. Os métodos utilizados nos estudos limnológicos são semelhantes aos métodos utilizados nos estudos oceanográficos, o que faz com que a limnologia seja considerada uma ciência irmã da oceanografia. Em casos em que a massa de água doce suporte uma pescaria, estes estudos fornecem informações importantes para as ciências pesqueiras. Classificação das águas doces. De acordo com Cesar & Sezar, é a seguinte a classificação dos ecossistemas de água doce: Limnociclo é o biociclo dulcícola, ou seja, o conjunto dos ecossistemas de água doce e apresenta dois biócoros distintos:
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Luís II
Luís II
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Lisboa
Lisboa Lisboa é uma cidade e município, capital de Portugal e da Área Metropolitana de Lisboa. Tem uma área urbana de 100,05 km² e em 2021 tinha habitantes (), sendo a maior cidade do país. É o centro político de Portugal, sede do governo e da residência do chefe de Estado. A Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) tem a sua sede na cidade e é a capital mais a ocidente do continente europeu, na costa atlântica. Os limites administrativos de Lisboa coincidem com os do município, cujo território se subdivide em 24 freguesias. O estatuto administrativo da cidade foi originalmente concedido pelo ditador Júlio César enquanto município romano. O imperador acrescentou orgulhosamente à palavra “Olissipo”, que deu origem ao nome de Lisboa, a designação "Felicidade Júlia" ("Felicitas Julia"), em sua memória. Em 2021 residiam na Área Metropolitana de Lisboa, pessoas, sendo por isso a maior e mais populosa área metropolitana do país. Lisboa é considerada como cidade global devido à sua importância em termos financeiros, comerciais, mediáticos, artísticos, educacionais e turísticos. É um importante centro económico do continente europeu, graças a um progresso financeiro crescente favorecido pelo maior porto de contentores da costa atlântica da Europa e mais recentemente pelo Aeroporto Humberto Delgado, que recebe mais de 20 milhões de passageiros anualmente (2015). Lisboa conta com uma rede de autoestradas e um sistema de ferrovias de alta velocidade (Alfa Pendular), que liga as principais cidades portuguesas à capital. A cidade é a sétima mais visitada do sul da Europa, depois de Istambul, Roma, Barcelona, Madrid, Atenas e Milão, com de turistas em 2009, tendo em 2014 ultrapassado a marca dos 3,35 milhões. A nível global, Lisboa foi a 35.ª cidade com maior destino turístico em 2015, cerca de 4 milhões de visitantes. Em 2015, foi considerada a 11.ª cidade turística mais popular, à frente de Madrid, Rio de Janeiro, Berlim e Barcelona. Em 2018 conquistou nos World Travel Awards os galardões de “Melhor Cidade Destino” e “Melhor Destino City Break” a nível mundial. A região de Lisboa é a mais rica do país, com um PIB PPC "per capita" de euros (4,7% maior do que o PIB per capita médio da União Europeia). A sua área metropolitana é a vigésima mais rica do continente, com um PIB-PPC no valor de de euros, o que equivale a cerca de 35% do PIB-PPC total do país. A maioria das sedes das multinacionais instaladas em Portugal encontram-se na região de Lisboa, a nona cidade do mundo com maior número de conferências internacionais. Etimologia e gentílico. Para Samuel Bochart, um francês do que se dedicou ao estudo da Bíblia, o nome Olissipo é uma designação pré-romana de "Lisboa" que remontaria aos fenícios. Segundo ele, a palavra “Olissipo” deriva de "Allis Ubbo" ou "Porto Seguro" em fenício, porto esse situado no estuário do Tejo. Não existe nenhum registo que possa comprovar tal teoria, a qual é descartada pelos académicos recentes. Segundo Francisco Villar, “Olissipo” seria uma palavra de origem tartessa sendo o sufixo "ipo" usado em territórios de influência Turdetano-Tartessica. O prefixo "Oli(s)" não seria único visto estar associado a outra cidade lusitana de localização desconhecida, que Pomponius Mela dizia chamar-se "Olitingi". Os autores da Antiguidade conheciam uma lenda que atribuía a fundação de Olissipo ao herói grego Ulisses, provavelmente baseando-se em Estrabão: Ulisses teria fundado em local incerto da Península Ibérica uma cidade chamada Olissipo ("Ibi oppidum Olisipone Ulixi conditum: ibi Tagus flumen"). Posteriormente, o nome latino teria sido corrompido para "Olissipona". Ptolomeu deu a Lisboa o nome de "Oliosipon". Os visigodos chamaram-na "Ulishbon". e os mouros, que conquistaram Lisboa no ano 714, deram-lhe em árabe o nome ou ainda . Na gíria popular, os naturais ou habitantes de Lisboa são chamados "alfacinhas". A origem da palavra é desconhecida. Supõe-se que o termo se explica pelo facto de existirem hortas nas colinas da primitiva cidade de Lisboa, onde verdejavam "plantas hortenses utilizadas na culinária, na perfumaria e na medicina", vendidas na cidade. A palavra alface provem do árabe e poderá indicar que o cultivo da planta começou aquando da ocupação da Península Ibérica pelos Muçulmanos. Há também quem sustente que, num dos cercos de que a cidade foi alvo, os habitantes da capital portuguesa tinham como alimento quase exclusivo as alfaces das suas hortas. O certo é que a palavra ficou consagrada e que os grandes da literatura portuguesa convencionaram tomar por "alfacinha" um lisboeta. História. Neolítico e fundação. Em Lisboa encontram-se vestígios do neolítico, eneolítico e neoneolítico. Durante o Neolítico, a região de Lisboa foi habitada por povos que também viveram neste período noutros espaços da Europa atlântica. Estes povos construíram vários monumentos megalíticos. É ainda possível encontrar alguns dólmens e menires na atual área metropolitana. Situado no estuário do rio Tejo, o excelente porto de Lisboa tornou-a cidade ideal para abastecer de alimentos os navios que rumavam para as Ilhas do Estanho (actuais Ilhas Scilly) e para a Cornualha. O povo celta invadiu a Península no . Graças a casamentos tribais com os povos ibéricos pré-romanos, aumentou significativamente na região o número de falantes da língua celta. O povoado pré-romano de Olissipo, com origem nos séculos , assentava no morro e na encosta do castelo. A Olissipo pré-romana foi o maior povoado orientalizante de Portugal. Estima-se que a sua população rondasse entre e pessoas. Olissipo seria um bom fundeadouro para o tráfego marítimo e para o comércio com os fenícios. Achados arqueológicos sugerem que já havia trocas comerciais com os fenícios na região de Lisboa em , levando alguns historiadores a admitir que teriam habitado o que é hoje o centro da cidade, na parte sul da colina do castelo. Na praça de D. Luís, em Lisboa, foram localizados vestígios de um fundeadouro com mais de 2000 anos, remontando ao e ao , onde os navios ancoravam para fazer descargas e reparações e também para o trânsito de passageiros e carga. Além de viajarem daí para o Norte, os fenícios também aproveitaram o facto de estarem na desembocadura do maior rio da Península Ibérica para fazerem comércio de metais preciosos com as tribos locais. Outros importantes produtos aí comercializados eram o sal, o peixe salgado e os cavalos puros-sangue lusitanos, bem conhecidos na Antiguidade. Na década de 1990 vestígios fenícios do foram encontrados sob a Sé de Lisboa. Não obstante, alguns historiadores modernos consideram que a ideia da fundação fenícia é irreal, convictos que Lisboa era uma antiga civilização autóctone (chamada pelos romanos de ópido) que se limitava a estabelecer relações comerciais com os fenícios, o que explicaria a presença de cerâmicas e de outros artefactos com tal origem. Uma velha lenda refere que a cidade de Lisboa foi fundada pelo herói grego Odisseu (Ulisses), e que, tal como Roma, o seu povoado original era rodeado por sete colinas. Se todas as viagens de Ulisses através do Atlântico tivessem ocorrido como Théophile Cailleux as descreveu, isso significaria que Ulisses fundou a cidade vindo do Norte, antes de dar a volta ao cabo Malea, (que Cailleux diz ser o cabo de São Vicente), na sua viagem para sudeste, rumo a Ítaca. No entanto, a presença dos fenícios, mesmo ocasional, é anterior à presença helénica neste território. Posteriormente, o nome grego da cidade teria sido corrompido em latim para Olissipona. Outros deuses pré-romanos da Lusitânia são Araco, Carióceco, Bandua e Trebaruna. Período romano. Presume-se que os gregos antigos tiveram na foz do rio Tejo um posto de comércio durante algum tempo, mas os conflitos que grassavam por todo o Mediterrâneo levaram sem dúvida ao seu abandono, devido sobretudo ao poderio de Cartago nessa época. Parece certo no entanto que o território de Lisboa é primordialmente ocupado por populações mediterrânicas organizadas em torno de uma família nuclear. As influências civilizacionais desta região saloia da Estremadura é fenícia, púnica e, sobretudo, em termos estruturais, berbere-moura e latino-romana. Esta última, exógena, mais requintada, dominará enquanto cultura de poder, nas estruturas administrativas e do ensino, quando os legados do Império Romano são apropriados pela Igreja Católica. Após a conquista de Cartago, os romanos iniciam as guerras de pacificação do ocidente. Cerca de , conquistaram Olissipo, durante a campanha de Décimo Júnio Bruto Galaico, que reforçou as muralhas da cidade para se defender das tribos hostis. A Lisboa de então foi depois anexada ao império e recompensada com a atribuição de "cidadania romana", privilégio então raríssimo para povos não romanos. "Felicitas Julia" beneficia assim do estatuto de município, juntamente com os territórios em seu redor, num raio de 50 km, não pagando impostos a Roma, ao contrário do que se passava com quase todos os outros castros e povoados autóctones conquistados. A cidade foi por fim integrada, com larga autonomia, na província da Lusitânia, cuja capital era Emeritas Augusta, a actual Mérida, situada na Estremadura espanhola. A Olissipo romana dispunha-se em anfiteatro desde a colina do Castelo de São Jorge até ao Terreiro do Trigo, o Campo das Cebolas, a antiga Ribeira Velha e a Rua Augusta. Um dos mais antigos e importantes vestígios da presença romana em Lisboa são as ruínas de um magnífico teatro () então construído no local que hoje corresponde ao n.º 3A da Rua de São Mamede, em Alfama, muito frequentado pelas elites da época. No tempo dos romanos, a cidade era famosa pelo fabrico de garum, alimento de luxo feito de pasta de peixe, conservado em ânforas e exportado para Roma e todo o império. Outros produtos comercializados eram o vinho e o sal. Ptolomeu designava essa primordial Lisboa como sendo a cidade de Ulisses. No seu tempo, para além exploração das minas de ouro e prata, a maior receita provinha de tributos, impostos, resgates e saques, que incluíam ouro e prata dos tesouros públicos dos povos da Lusitânia e de outras feitorias peninsulares. No finais do império romano, Olissipo seria um dos primeiros agregados que espontaneamente acolheram o cristianismo. O primeiro bispo da cidade foi São Gens. Em consequência da queda do império, Lisboa foi vítima de invasões bárbaras, dos alanos, dos vândalos e dos suevos, tendo sido parte do seu reino. Foi tomada pelos visigodos de Toledo, que lhe chamavam “Ulishbona”. Período muçulmano. Após três séculos de saques, pilhagens e perda de dinâmica comercial, “Ulishbuna” pouco mais seria que uma vila como muitas outras do início do . Em 711, aproveitando uma guerra civil dos visigodos, tropas mouras lideradas por Tárique invadem a Península Ibérica. O que sobra do ocidente peninsular romano é conquistado por Abdalazize ibne Muça, um dos filhos de Tárique. A cidade pertenceu à primeira Taifa de Badajoz no ano de 1013, criada por Sabur al-Amiri (1013–1022), um "saqaliba", antigo súbdito de . Em 754 houve uma incursão de viquingues na costa de Lisboa. Esta frota nórdica era constituída por 6 navios e cerca de 520 homens e mulheres que se pensa serem originários do que é hoje o sul da Noruega. Esta frota desembarcou e destruiu vilas costeiras. Ficaram 12 dias até o atual governo de Lisboa finalmente agir e organizar uma força de 300 homens do Norte de África que recentemente tinham chegado de Marrocos. Finalmente saíram e navegaram rumo ao Mediterrâneo. Os cristãos de Lisboa foram considerados responsáveis pelos muçulmanos e muitos foram expulsos da região. Diz o geógrafo árabe Alidrissi que em Lisboa descreve Lisboa com mais requinte: O geógrafo Iacute de Hama revela outras coisas ainda: Por seu lado, ibne Saíde Almagribi diz no que Lisboa "é noiva em alcova nupcial". Reconquista. A primeira tentativa de reconquista de Lisboa ocorre em 1137. Fracassa frente às muralhas da cidade. Em 1140, acorrem aos sediantes cruzados em trânsito por Portugal. Juntos, empreendem novo ataque, que também falha. Só sete anos depois, os cristãos reconquistariam a povoação dando graças ao primeiro rei de Portugal, Afonso Henriques. O rei concede-lhe foral em 1179. Em 1255, graças à sua localização estratégica, Lisboa torna-se a capital do reino. Terminada a reconquista, consolidada a religião cristã e instituída a língua portuguesa, é criada a diocese de Lisboa que, no , será elevada a metrópole (arquidiocese). Nos últimos séculos da Idade Média a cidade expandiu-se e tornou-se um importante porto, com comércio estabelecido com o norte da Europa e com as cidades costeiras do Mar Mediterrâneo. Em 1290 o rei Dom Dinis criou a primeira universidade portuguesa em Lisboa que, por causa de um incêndio, foi transferida para Coimbra em (1308), quando a cidade já dispunha de grandes edifícios religiosos e conventuais. Dom Fernando I, "o Formoso", construiu a famosa Muralha Fernandina, já que a cidade crescia rapidamente para fora do perímetro inicial. Começando pelo lado dos bairros mais pobres e acabando nos bairros da burguesia, a maior parte do dinheiro utilizado na execução do projeto veio desta última. Esta estratégia mostrou-se conveniente, já que de outra forma a burguesia deixaria de financiar a obra. O novo capítulo da história de Lisboa é iniciado com a revolução motivada pela crise de 1383–85. Após a morte de Fernando de Portugal, o Reino deveria passar a ter como soberano nominal o rei de Castela, , e ser regido por Leonor Teles. Porém o rei castelhano quis ser soberano efectivo ou, como se costuma dizer, "rei e senhor", persuadindo a sogra e rainha regente a renunciar ao governo e a ceder-lho. Isto, sem o consentimento das Cortes, constituía uma usurpação de poder, o que deu guerra. Depois de cerca de ano e meio de luta, a burguesia da cidade, com as suas ligações inglesas e capitais avultados, seria um dos vencedores: o Mestre de Avis é aclamado reirei, depois de levar a bom termo o cerco de Lisboa de 1384 e antes de ganhar, em 1385, a Batalha de Aljubarrota, sob a liderança de Nun'Álvares Pereira, contra as forças castelhanas reforçadas com militares franceses e apoiadas pelos fidalgos portugueses que prestavam vassalagem ao rei de Castela. Em 1385 Lisboa substitui Coimbra como capital do reino. Era dos Descobrimentos. Os descobrimentos marítimos portugueses eram, nos finais do , uma das prioridades estratégicas de , que ascendeu ao trono em 1481 e que mudou a sua residência do Castelo de São Jorge para o Terreiro do Paço (Paço da Ribeira) que, por esse motivo, assim ficou conhecido: o grande “terreiro” onde e em redor do qual se concentravam os grandes estaleiros de construção naval de Lisboa e onde ficou instalado o paço real, no lado ocidental da “praça do comércio”. Seria esse o melhor local para o jovem soberano vigiar o Tejo, lá do alto de uma fina torre, ali mesmo a dois passos das ruelas de fama duvidosa por ele preferidas em escapadelas nocturnas. Portugal fica na vanguarda dos países seus contemporâneos ao ser o primeiro a transformar a pesquisa tecnológica e científica em política de Estado e ao abrir as portas a especialistas aragoneses, catalães, italianos e alemães com o objectivo de aumentar e enriquecer os conhecimentos náuticos de oficiais e simples marinheiros. Esta política seria incrementada com o saber de pilotos orientais. Várias expedições se fazem com tripulações portuguesas integrando expatriados de outros reinos que levarão à descoberta dos arquipélagos dos Açores, Madeira e Canárias. Com sérios argumentos, afirmam alguns historiadores que caravelas portuguesas terão entretanto alcançado o Brasil. Relacionam-se tais argumentos com projectos secretos de João II que, antes do Tratado de Tordesilhas contratou navegantes e cartógrafos. Um destes, alemão, chamava-se Martin Behaim. Num dos seus mapas, desenhado pouco antes da descoberta "oficial" da América, destaca-se a sul um vasto território no prolongamento da Ásia. Seria intenção do rei ocultar a sua existência com vista a garantir, perante as ambições de Castela, o predomínio de uma área colonial de vital importância para Portugal. Permite o povoamento das ilhas atlânticas a oeste e sudoeste de Portugal fundar cidades-portos necessários para a exploração de novos mercados. De Lisboa partem inúmeras expedições nessa época dos descobrimentos (séculos XV a XVII), como a de Vasco da Gama, em 1497–1498, fazendo melhorar o porto de Lisboa, centro mercantil da Europa, ávida por ouro e especiarias. Na alta da expansão colonial portuguesa, as casas ribeirinhas de Lisboa tinham entre três a cinco andares: uma loja e, acima dela, instalações comerciais. Duas gravuras da Rua Nova dos Mercadores no descobertas em Londres ilustram essa realidade e o importante papel da presença negra na cidade. Lisboa passou a ocupar o lugar de Génova no comércio de escravos provenientes de África, da Península Ibérica e resto da Europa Tornou-se um porto em que circulavam cativos que depois eram vendidos para diversos pontos da Europa. Lisboa era então frequentada por muitos comerciantes estrangeiros. A maior riqueza de Lisboa desde o fim do era o ouro e o monopólio dos produtos do Brasil. Findos os conflitos e guerras entre conservadores e liberais, foi perdido o monopólio e do ouro só uma pequena parte chegava aos cofres reais devido ao contrabando e à pirataria. Encontrava-se o país numa situação económica difícil quando as nações da Europa, iniciando a industrialização, enriqueciam com o comércio das Américas (a Inglaterra viria a dominar o comércio brasileiro) e da Ásia. É entretanto em Lisboa, em 1640, que terá lugar a principal revolta na Restauração da Independência. Os problemas do comércio aumentam quando, em 1636, os Catalães se revoltam, povo mercador como o de Lisboa também oprimido pelas taxas castelhanas. É a Portugal que Madrid vem reclamar homens e fundos para submeter a Catalunha. É então que os mercadores da cidade se aliam à pequena e média nobreza. Tentam convencer o Duque de Bragança, Dom João, a aceitar o trono, mas este, como o resto alta nobreza, é favorecido por Madrid e só a intenção de o tornar rei o convence. Os conspiradores assaltam o Palácio do Governador e aclamam o novo rei (D. João IV), primeiramente com o apoio do Cardeal Richelieu, francês, e depois recorrendo à velha aliança com a Inglaterra, processo este designado como Restauração da Independência (1640). A Lisboa da pós-Restauração será uma cidade cada vez mais dominada pelas ordens religiosas católicas. Mais de quarenta conventos são fundados na cidade, para além dos trinta já existentes. Religiosos ociosos, cujo sustento é assegurado por esmolas e expropriações, contam-se aos milhares, somando mais de 5% da população da cidade. O clima político torna-se cada vez mais conservador, mais autoritário. Reprimindo a classe mercadora, concentra-se a Inquisição no controlo das mentalidades, vigiando ideias e a criatividade, que suprime em nome da “pureza” da fé. Filhos indignos da herança paterna, que antes se dedicavam ao comércio e às empresas de além-mar, refugiam-se nas ordens religiosas e passam a viver à conta de outrem, na maioria dos casos sem convicção religiosa. Lisboa seria então o grande palco de autos-de-fé movidos pela Igreja contra apóstatas, heréticos, cristãos-novos, judeus em particular, acusados de desvios do cristianismo. Além destes, qualquer cidadão podia ser sacrificado por “pecados” irrisórios denunciados por vinganças mesquinhas. A delação era elevada a virtude. Na maior parte dos casos por falsas razões ou por motivos fúteis, as vítimas eram queimadas vivas em aparatosas fogueiras acendidas em locais como o Rossio e a Praça do Comércio, perante multidões excitadas que à vezes apaziguavam a vergonha com churrascadas e vinho. Tais espectáculos, animados por hábeis carrascos da Coroa, em que participavam representantes das autoridades eclesiástica e secular, duraram até 1821. Eram regularmente honrados com a presença do rei , que se empenhava em não ficar aquém da vizinha Espanha e de outros países europeus em obras grandiosas, notáveis feitos e grandes medidas como as do Santo Ofício. Tais práticas repressivas, cultivando o medo, suscitando um estigma na alma de um povo, serviriam de modelo a governantes vindouros, que delas souberam tirar bom partido. Foi ele quem ordenou em 1731 a construção do Aqueduto das Águas Livres. Sismo de 1755 e a Lisboa Pombalina. Lisboa foi quase na totalidade destruída a 1 de Novembro de 1755 por um terrível sismo. Foi reconstruída segundo os planos traçados pelo Marquês de Pombal, Ministro da Guerra e Negócios Estrangeiros. Oriundo da baixa nobreza, depressa reagiu perante as ruínas do sismo logo depois de ter dito ser necessário "enterrar os mortos, cuidar dos vivos e reconstruir a cidade". A parte central reconstruída terá o nome de Baixa Pombalina. A quadrícula adoptada nos planos de reconstrução permitiria desenhar as praças do Rossio e Terreiro do Paço, esta com uma belíssima arcada aberta em frente do rio Tejo. Ainda no e a instâncias de , o papa concedeu ao arcebispo da cidade o título honorífico de patriarca e a nomeação automática como cardeal (daí o título de "Cardeal Patriarca de Lisboa"). Nos primeiros anos do Portugal foi invadido pelas tropas de Napoleão Bonaparte, obrigando o rei a deslocar-se temporariamente para o Brasil. Lisboa ressentiu-se e muitos bens foram saqueados pelos invasores. A cidade viveu intensamente as lutas liberais. Teve início uma época de florescimento dos cafés e teatros. Mais tarde, em 1879, foi aberta a Avenida da Liberdade que iniciou a expansão citadina para além da Baixa. O centro cultural e comercial da cidade passou para o Chiado durante o (cerca de 1880). Com as velhas ruas da Baixa já ocupadas, os donos de novas lojas e clubes estabeleceram-se na colina anexa, que rapidamente se transformou. Aqui são fundados clubes célebres, como o Grémio Literário, afamado pelas histórias de Eça de Queirós, frequentado por Almeida Garrett, Ramalho Ortigão, Guerra Junqueiro, Oliveira Martins e Alexandre Herculano. Surgiram no Chiado lojas de roupas da moda, em particular de Paris, e outros produtos de luxo, grandes armazéns no estilo do Harrods de Londres ou das Galerias Lafayette de Paris, novos cafés de luso-Italianos, como "O Tavares" e o "Café do Chiado". Século XX. Espectáculo típico de tavernas e pequenos recintos dos bairros populares de Lisboa, o fado, a partir do início do século, «… conhece uma gradual divulgação e consagração popular, através da publicação de periódicos que se consagram ao tema e da consolidação de novos espaços performativos numa vasta rede de recintos …». Ao mesmo tempo, em espaços amplos como a Praça de Touros do Campo Pequeno, a tourada torna-se um dos divertimentos populares preferidos. O teatro popular ou teatro de revista, pegando em temas de velhas comédias e dramas eruditos, ocupa novas salas da capital. Outro passatempo, tipicamente português, é a Oratória, praticada por actores que, comentando temas em moda, imitam o Padre António Vieira com uma retórica cheia de floreados, com argumentos superficiais, por vezes cantando, em espetáculos onde se disputa prémios. Matam ainda os alfacinhas os seus ócios em grandes jardins públicos que surgem em Lisboa imitando o Hyde Park de Londres e jardins das cidades alemãs. O primeiro é o Jardim da Estrela. É então, em 1907, que, alarmadas, as elites impõem a ditadura com João Franco, mas é tarde de mais. Em 1908 a família real sofre um atentado (no Terreiro do Paço) em que morrem El-Rei Dom Carlos de Portugal e o herdeiro do trono, o Príncipe Real Dom Luís Filipe de Bragança, numa acção provavelmente executada pelos anarquistas (que neste período atacam figuras públicas em toda a Europa). Em 1909, os operários de Lisboa organizam greves frequentes. Em 1910, em Lisboa, dá-se a revolta que implantaria a república em Portugal. Uma grande quantidade de habitantes da cidade, incitados pelo Partido Republicano Português, formam barricadas nas ruas e são distribuídas armas. Os exércitos ordenados a reprimir a revolução são desmembrados pelas deserções. O resto do país é obrigado a seguir a capital, apesar de continuar profundamente rural, católico e conservador. É proclamada a Primeira República. Em 1912 os monárquicos do norte aproveitam o descontentamento com as leis liberais dos republicanos e tentam um golpe de estado, que falha. Em 1916 Portugal entra, por via da Aliança, na Primeira Guerra Mundial. Em plena crise nacional, mobiliza homens e recursos consideráveis. São muitas as baixas. Perante o desastre do Corpo Expedicionário Português, Sidónio Pais é um dos que se opõem ao Governo do Partido Democrático acabando por liderar novo golpe em dezembro de 1917, protagonizado pela Junta Militar Revolucionária, de que era Presidente. No dia oito é demitido o Governo da União Sagrada chefiado por Afonso Costa e o poder transferido para a Junta. Destituído Bernardino Machado, Afonso Costa assume provisoriamente o cargo de Presidente da República. Emite uma série de decretos ditatoriais que mudam a Constituição e lhe dão poderes acumulados de Presidente e chefe do Governo, fundando uma República Nova que antecipará o Estado Novo. A política torna-se mais tensa. Há fome no país. Sidónio será morto a tiro em dezembro de 1918. O fim da Primeira República tem lugar em 1926, quando a direita conservadora antidemocrática (largamente liderada pelos descendentes da antiga Nobreza do norte do país e pela Igreja Católica) toma por fim o poder, após duas outras tentativas em 1925. Alega pretender acabar com a anarquia, que ela própria tinha criado. Liderado pelo General Gomes da Costa, o novo governo adota uma ideologia fascista, sob a liderança do ditador Salazar. O novo regime governaria impunemente o país durante quatro décadas. Essa impunidade seria justificada pelas muitas e generosas ‘’ofertas” de Salazar ao “bom povo português”, alardeadas pelos meios de comunicação e ilustradas em cerimónias solenes frequentadas pelas elites da época. A maior delas foi a Ponte Salazar (hoje Ponte 25 de Abril), inaugurada em 1966 com toda a pompa e circunstância : tornava real um velho sonho, unia o Norte e o Sul através da capital, era a maior do continente. O Estado Novo foi derrubado pela Revolução dos Cravos, a 25 de Abril de 1974. Ao golpe militar seguiu-se o período conturbado do PREC, marcado particularmente em Lisboa pela propaganda e acção da esquerda, da mais moderada à mais radical. O Comício da Fonte Luminosa seria evento decisivo para o futuro político do país A agitação é ao mesmo tempo agravada por grupos de extrema direita que chegam ao ponto de bloquear os acessos à cidade e de levar a cabo acções terroristas no norte do país com o intuito de travar os progressos da revolução. Durante dois anos, em 1974 e 1975, Lisboa foi invadida por jornalistas estrangeiros e esteve nas luzes da ribalta dos principais meios de comunicação internacionais. O repórter Horst Hano da televisão alemã ARD foi um dos mais importantes, dando cobertura particularmente completa aos principais eventos políticos em Portugal e em Espanha entre 1975 e 1979. Dez anos após a queda do regime fascista, já longe dos dramas do Processo Revolucionário em Curso, é assinado em Lisboa em 1985 o Tratado de Adesão à Comunidade Económica Europeia, no Mosteiro dos Jerónimos pelo então Presidente da República, Mário Soares. Desde então Lisboa e o país têm sido governados, em alternância partidária, por um regime democrático. Lisboa continua a desenvolver-se ao ritmo das mais importantes capitais europeias, melhorando as suas infraestruturas e construindo novas, remodelando o sistema de transportes urbanos, de segurança e saúde. Em 1994 é Capital Europeia da Cultura. Em 1998 inaugura a sua segunda ponte, na altura a mais longa de toda a Europa e a quarta maior do mundo, a Ponte Vasco da Gama. Nesse mesmo ano organiza a EXPO 98, no Parque das Nações, com o tema "Oceanos". O actual Presidente da Câmara de Lisboa (C.M.L), é Fernando Medina, do Partido Socialista ("PS"). Geografia. Localizada na margem direita do estuário do Tejo, a 38º42' N e a 9º00' W, com altitude máxima na serra de Monsanto (226 metros de altitude), Lisboa é a capital mais ocidental da Europa. Fica situada a oeste de Portugal, na costa do Oceano Atlântico. Os limites da cidade, ao contrário do que ocorre em grandes cidades, encontram-se bem delimitados dentro dos limites do perímetro histórico. Isto levou à criação de várias cidades ao redor de Lisboa, como Loures, Odivelas, Amadora e Oeiras, que são de facto parte do perímetro metropolitano de Lisboa. Mais recentemente, a sul do Tejo, mas pertencentes já ao distrito de Setúbal, Almada, Seixal e Barreiro são também casa para a expansão urbanística de Lisboa em particular após 1974, beneficiando da proximidade ao centro nevrálgico de Lisboa, embora com uma identidade claramente distinta da existente a norte do Tejo. O centro histórico da cidade é composto por sete colinas, sendo algumas das ruas demasiado estreitas para permitir a passagem de veículos. A cidade serve-se de três funiculares e um elevador (Elevador de Santa Justa). A parte ocidental da cidade é ocupada pelo Parque Florestal de Monsanto, um dos maiores parques urbanos da Europa, com uma área de quase 10 km². Lisboa tem ganho terreno ao rio com sucessivos aterros, sobretudo a partir do . Esses aterros permitiram a criação de avenidas, a implantação de linhas de caminho-de-ferro e a construção de instalações portuárias e mesmo de novas urbanizações como o Parque das Nações e equipamentos como o Centro Cultural de Belém. Meio ambiente e áreas verdes. Lisboa é uma cidade repleta de espaços verdes, de variadas dimensões. Foi nesta cidade que surgiu o primeiro jardim botânico português: Jardim Botânico da Ajuda. Alguns dos jardins da cidade estão em processo de recuperação, no intuito da criação de um corredor verde na cidade, enquanto outras áreas, anteriormente concentrando elevados níveis de tráfego e poluição, estão a ser requalificadas, sendo o caso mais recente o da CRIL — 2ª Circular. Em temos de qualidade do ar, apresenta níveis progressivamente descendentes de poluição atmosférica, embora ainda com partículas NO2 claramente superiores ao limite legal. Estes valores de partículas decorrem da utilização acima da média europeia de tráfego automóvel, por contraponto à utilização de transportes públicos, o que distingue Lisboa de outras capitais europeias. Em anos recentes, têm sido feitas melhorias dentro e fora de Lisboa no planeamento da rede de transportes públicos ferroviária e rodoviária, permitindo uma utilização mais eficiente e eficaz e, por consequência, menos poluição emitida. Existem em Lisboa mais de uma centena de parques, jardins, quintas e tapadas, entre eles o Parque Eduardo VII, o Parque Florestal de Monsanto, o Jardim Botânico da Ajuda, o Jardim Botânico de Lisboa, o Jardim da Estrela, a Tapada da Ajuda, entre muitos outros. O Parque Florestal de Monsanto é o maior e mais importante parque da cidade, chamado o seu "Pulmão Verde", ao ser a única grande floresta em Lisboa (as outras mais próximas são a Tapada de Mafra, a Tapada da Ajuda e a Serra de Sintra). Por sua vez, destacam-se entre os jardins o Parque Eduardo VII, o Jardim Botânico da Ajuda e o Jardim Botânico de Lisboa. O primeiro por ser a maior zona verde no centro antigo de Lisboa, e os outros dois por possuírem uma variadíssima colecção de espécies arborícolas. Possui um oceanário: o Oceanário de Lisboa. A cidade também possui diversos jardins, sendo de destacar o Jardim Zoológico de Lisboa, o Jardim da Estrela, o Jardim Botânico da Ajuda e o Campo de Santana. Existem ainda importantes parques urbanos como o Parque Eduardo VII, o Parque da Bela Vista e o Parque José Gomes Ferreira. Clima. Lisboa é uma das capitais mais amenas da Europa, com um clima mediterrânico ("Csa" segundo a classificação climática de Köppen) fortemente influenciado pela Corrente do Golfo. A Primavera é fresca a quente (de 8 °C a 26 °C) com sol e alguns aguaceiros. O Verão é, em geral, quente e seco e temperaturas entre 16 °C a 35 °C. O Outono é ameno e instável, com temperaturas entre 12 °C e 27 °C e o Inverno é tipicamente chuvoso e fresco, também com algum sol. A temperatura mais baixa registada foi de -1,7 °C em 11 de fevereiro de 1956 e a mais elevada foi de 44,0 °C, em 4 de agosto de 2018. Demografia. A população de Lisboa é caracterizada por vários altos e baixos ao longo da sua história. Atualmente, a população de Lisboa está em queda. Já a área metropolitana de Lisboa está em crescimento populacional, em decorrência da migração dos habitantes da cidade para as cidades vizinhas. Na atual estrutura demográfica de Lisboa, as mulheres representam mais de metade da população (54%) e os homens 46%. A cidade apresenta uma estrutura etária envelhecida, com 23% de idosos (65 anos ou mais), quando a média portuguesa é de 16%. Entre os mais novos, 13% da população tem menos de 15 anos, 9% está entre os 15 e os 24 anos e 53% dos 25 aos 64 anos de idade. População por freguesia. <small> Religiões. Segundo pesquisa de 2018, pouco mais da metade da população de Lisboa afirmou ser católica (54,9%) e 35% declarou não ter religião (13,1% crentes sem religião, 10% ateus e 6,9% agnósticos). As minorias religiosas somavam 10% da população, sendo metade (5%) pertencentes a igrejas protestantes e os outros 5% divididos entre testemunhas de Jeová, muçulmanos, budistas, ortodoxos e outros. Apenas 11,4% da população de Lisboa declarou frequentar a igreja ou outros locais de culto semanalmente. Administração municipal. É em Lisboa que se localizam os principais órgãos políticos do país (ministérios, tribunais, etc.). O município de Lisboa é administrado por uma Câmara Municipal composta por 17 vereadores. Existe uma Assembleia Municipal que é o órgão legislativo do município, constituída por 75 deputados municipais, 51 dos quais eleitos directamente mais os presidentes das 24 juntas de freguesia do município. O cargo de Presidente da Câmara Municipal ficou vago desde 15 de Maio de 2007, após a demissão de António Carmona Rodrigues que tinha sido eleito pelo PSD. Nas eleições de 15 de Julho de 2007 foi eleito António Costa, pelo PS. Após a renúncia deste ao mandato, em 2015, o vice-presidente Fernando Medina assumiu o cargo, tendo sido posteriormente eleito presidente como resultado das eleições autárquicas de 2017, apesar de o PS ter perdido a maioria absoluta, recebendo 42% dos votos. Subdivisões administrativas. Desde a reorganização administrativa de 2012, Lisboa conta 24 freguesias agrupadas em cinco Zonas (ou Unidades de Intervenção Territorial - UIT). Relações internacionais. A cidade de Lisboa é uma das 7 Cidades Fundadoras da UCCLA, União das Cidades Capitais Luso-Afro-Américo-Asiáticas. A cidade de Lisboa faz parte da União de Cidades Capitais Ibero-americanas. Abaixo está uma lista das cidades geminadas de Lisboa e aquelas com as quais o governo da cidade estabeleceu um acordo de cooperação e amizade: Economia. A região de Lisboa é a mais rica de Portugal e produz um produto interno bruto (PIB) "per capita" acima da média da União Europeia, além de ser responsável pela produção de 45% do PIB português. A economia da cidade baseia-se principalmente no sector terciário. A maioria das sedes das empresas multinacionais que operam em Portugal estão concentradas na Grande Lisboa, especialmente no município de Oeiras. A Área Metropolitana de Lisboa é altamente industrializada, especialmente na margem sul do rio Tejo. A região de Lisboa teve um rápido crescimento económico durante grande parte dos anos 2000 e aumentou seu PIB PPC "per capita" de euros em 2004, para em 2007. Em 2011, a região metropolitana de Lisboa registou um PIB no valor de de dólares e dólares "per capita". O principal porto do país, com uma das maiores e mais sofisticados mercados regionais da Península Ibérica, Lisboa e seus populosos arredores também estão a se desenvolver como um importante centro financeiro e um polo tecnológico e dinâmico. Os fabricantes de automóveis têm construído fábricas nos subúrbios como, por exemplo, a AutoEuropa. A cidade tem o maior e mais desenvolvido sector de meios de comunicação em massa do país e é a sede de várias empresas relacionadas, que vão desde principais redes de televisão e estações de rádio até grandes jornais nacionais e internacionais. A bolsa de valores Euronext Lisboa, que faz parte do sistema financeiro pan-europeu Euronext, juntamente com as bolsas de Amesterdão, Bruxelas e Paris, está associada com a Bolsa de Valores de Nova York desde 2007, quando o grupo multinacional de bolsa de valores NYSE Euronext foi criado. A indústria da cidade tem muito grandes sectores, como refinarias de petróleo, fábricas de produtos têxteis, estaleiros e indústrias de pesca que são encontradas ao longo do Tejo. Próximo de Lisboa existe um dos maiores centros comerciais da Península Ibérica, o UBBO (Amadora), já dentro da cidade estão o Centro Colombo, Amoreiras Shopping Center e o Centro Vasco da Gama. Para compras mais típicas, a Baixa de Lisboa. Existem muitos outros centros comerciais nas periferia de Lisboa, como o Almada Forum (Almada), o Allegro Shopping, o Oeiras Parque (Oeiras), o (Seixal), o Freeport (Alcochete) e outras áreas como no Montijo, em Cascais, em Loures e em Odivelas. Antes da crise da dívida pública da Zona Euro estourar e um plano de resgate financeiro ser implementado pela UE e pelo FMI na década de 2010, a cidade de Lisboa estava prestes a receber muitos investimentos financiados pelo Estado, incluindo a construção de um novo aeroporto, uma nova ponte, uma expansão de 30 km do sistema do metropolitano da cidade, o construção de um hospital central, a criação de duas linhas de TGV para conectar a capital portuguesa à Madrid, Porto, Vigo e ao resto da Europa, a restauração da parte histórica da cidade, a criação de um grande número de ciclovias, além da modernização e reforma de várias instalações. Infraestruturas. Saúde. Em Lisboa existem vários hospitais (quer públicos quer privados), clínicas, centros de saúde, etc. Existe também um projecto em curso, que prevê a construção de um Hospital Central, no Parque da Bela Vista. O Hospital intitulado Hospital de Lisboa Oriental, englobará alguns hospitais existentes no centro de Lisboa (como por exemplo, o Hospital de Dona Estefânia, o Hospital de Santa Marta, etc. A inauguração está prevista para 2019. Em Lisboa existem vários hospitais públicos (do Serviço Nacional de Saúde), hospitais militares, centros de saúde, hospitais privados e clínicas. Existe também um projecto em curso, que prevê a construção de um Centro Hospitalar Oriental, no Parque da Bela Vista. Os hospitais de Santa Marta e Santa Cruz começaram por ser especializados em Cardiologia, posteriormente englobaram outras especialidades. Os hospitais públicos da Cidade de Lisboa estão agrupados em centros: ; ; ; Centros Especializados; e hospitais militares. Educação. A cidade de Lisboa possui escolas e jardins-de-infância, públicas e privadas, de ensino primário, básico e secundário, num total de 312. Na área da Grande Lisboa existem escolas internacionais como a Saint Julian's School, o Carlucci American International School of Lisbon, a St Dominic's International School, a Deutsche Schule Lissabon e o Lycée Français Charles Lepierre. Lisboa dispõe actualmente de duas universidades públicas, a Universidade de Lisboa, criada em 2013 pela junção da Universidade Clássica de Lisboa (também chamada só de Universidade de Lisboa) com a Universidade Técnica de Lisboa, formando assim a maior universidade a nível nacional, e a Universidade Nova de Lisboa, fundada em 1957, Universidade Aberta, assim como diversas universidades privadas, que oferecem cursos superiores em todas as áreas académicas. Existe também o ISCTE-IUL, ISCTE - Instituto Universitário de Lisboa, e o Instituto Politécnico de Lisboa. Neste local, junto ao Hospital de Sta. Maria, destaca-se ainda a existência da Escola Superior de Enfermagem de Lisboa, a maior escola de enfermagem do país. As maiores instituições privadas de ensino superior, incluem a Universidade Católica Portuguesa, a Universidade Lusíada, a Universidade Lusófona e a Universidade Autónoma de Lisboa, entre outras. O total de inscritos nas instituições de ensino superior público e privado foi, no ano lectivo de 2007-2008, de alunos, dos quais em instituições públicas. A cidade está equipada com diversas bibliotecas e arquivos, sendo a mais importante a Biblioteca Nacional. A merecer destaque como um dos mais importantes arquivos do mundo, com mais de 600 anos, está o Arquivo Nacional da Torre do Tombo, arquivo central do Estado Português desde a Idade Média e uma das mais antigas instituições portuguesas activas. Há ainda, entre outros, o Arquivo Histórico Militar e Arquivo Histórico Ultramarino. Transportes. Duas pontes unem Lisboa à margem sul do rio Tejo: a Ponte 25 de Abril que liga Lisboa a Almada, inaugurada em 1966 com o nome de Ponte Salazar e posteriormente rebaptizada com a data da Revolução dos Cravos, e a Ponte Vasco da Gama, com 17,2 km de comprimento, a mais longa da Europa e a quinta mais longa ponte do Mundo, que liga a zona Oriental e Sacavém ao Montijo. Inaugurada em 1998 no âmbito da Expo 98, comemora também os 500 anos da chegada de Vasco da Gama à Índia. Existe já um projecto aprovado para a construção de uma terceira ponte sobre o rio Tejo, prevista para 2013. O aeroporto de Lisboa, Aeroporto Humberto Delgado, situa-se a 7 km do centro, na zona nordeste da cidade. O Aeroporto Humberto Delgado é o maior aeroporto em Portugal, com um volume de tráfego de cerca de 20 milhões de passageiros por ano. Aberto ao tráfego em 1942, o Aeroporto Humberto Delgado é servido por duas pistas e possuí dois terminais: o Terminal 1 para voos internacionais, o Terminal 2 para voos nacionais, incluindo as Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira. Em 2008 foi aprovada a construção de um novo aeroporto na zona do Campo de Tiro de Alcochete, na margem sul, a cerca de 40 km da cidade. A sua conclusão prevê-se para 2017, entretanto o Aeroporto Humberto Delgado permanecerá. O Porto de Lisboa é um dos principais portos turísticos europeus, paragem de numerosos cruzeiros. Está equipado com três cais para navios-cruzeiro: Alcântara, Rocha Conde Óbidos e Santa Apolónia. A cidade tem ainda várias marinas para barcos de recreio, nas docas de Belém, Santo Amaro, Bom Sucesso, Alcântara Mar e Olivais. Existe ainda uma rede de transportes fluviais, a Transtejo, que liga as duas margens do Tejo, com estações em Cais do Sodré, Belém, Terreiro do Paço e Parque das Nações, na margem norte, e Cacilhas, Barreiro, Montijo, Trafaria, Porto Brandão e Seixal, na margem sul. A cidade dispõe de uma rede ferroviária urbana e suburbana com nove linhas (4 de metropolitano e 5 de comboio suburbano) e 123 estações (56 de metropolitano e 67 de comboio suburbano). A exploração da rede de metro é efectuada pela Metropolitano de Lisboa e a rede ferroviária suburbana pela Comboios de Portugal (linhas de Azambuja, Cascais, Sintra e Sado) e pela Fertagus (linha do eixo Norte–Sul, entre Roma-Areeiro e Setúbal). As principais estações do caminho de ferro são: Oriente, Rossio, Cais do Sodré, Entrecampos e Santa Apolónia. Construída por altura da Expo'98, a Gare do Oriente é uma das principais estações terminais e interfaces de transportes de Lisboa. Por ela passam comboios, o metropolitano, autocarros e táxis. A estação, com uma notável arquitectura de vidro e colunas aço a lembrar palmeiras, foi desenhada pelo arquitecto Santiago Calatrava. Mesmo em frente, situa-se o Parque das Nações, e a estação possui ligação ao Centro Comercial Vasco da Gama. Com a sua cor amarela característica, os Elétricos de Lisboa são o transporte tradicional no centro da cidade. São explorados pela Carris, assim como os vários elevadores que galgam as colinas de Lisboa: elevador da Bica, elevador da Glória, elevador do Lavra e elevador de Santa Justa. A rede de eléctricos é composta actualmente por seis carreiras e percorre um total de 48 km de linhas em bitola de 900 mm, sendo 13 km em faixa reservada. Emprega 165 guarda-freios (condutores de eléctricos, funiculares e elevador) e uma frota de 58 veículos (40 históricos, 10 articulados e 8 ligeiros), baseados numa única estação — Santo Amaro. A exploração dos autocarros está também a cargo da empresa Carris. Existe ainda o Terminal Rodoviário de Lisboa, um dos mais importantes do país, onde partem e chegam todos os dias dezenas de autocarros com os mais variados destinos nacionais e internacionais. Os táxis também são muito comuns na cidade, sendo actualmente de cor creme, muitos mantêm ainda as cores emblemáticas dos táxis antigos: preto e verde. Existem várias praças de táxis e circulam centenas de táxis por toda a cidade. Apesar da rede de transportes, todos os dias se deslocam para Lisboa mais de 3 milhões de automóveis. Lisboa e a sua área metropolitana são atravessadas por duas autoestradas circulares, uma exterior e outra interior – a CRIL, Circular Regional Interior de Lisboa e a CREL,Circular Regional Exterior de Lisboa, ou A9. As principais autoestradas que ligam a cidade à envolvente são as A1 (em direcção a norte, por Vila Franca de Xira), A8 (também para norte, via Loures), A5 (em direcção a oeste, até Cascais), A2 (para sul, por Almada) e A12 (para leste, por Montijo). Segundo dados de 2000, da Câmara Municipal de Lisboa, e segundo a tipologia de percursos cicláveis, existiam e estavam em projecto 84 km de percursos de bicicleta, 50 km de pistas cicláveis, 73 km de faixas circuláveis e 74 km de tipologia de coexistência com veículos. Em 2008, dava-se a informação que Lisboa iria fazer um investimento de 5 milhões de euros (parte dele com fundo do Quadro de Referência Estratégico Nacional) com o intuito de serem executados mais 40 km de novas vias cicláveis, havendo também a intenção de fazer recuperação de outras já existentes. Na área ribeirinha da cidade, existe já uma pista entre a Torre de Belém e o Cais do Sodré, que irá mais tarde ligar também a Santa Apolónia e posteriormente até ao Parque das Nações. Estava também previsto a instalação de uma rede de bicicletas, 250 postos de bicicletas e 65 estacionamentos. Em 2009, a informação era a de que já era possível pedalar entre Benfica e Campolide. Em dois anos, a cidade teria 90 km de pistas cicláveis e poderia estar equipada com cerca de 90 km de pistas cicláveis. Nesse mesmo ano, estaria previsto o funcionamento do anel "Palácio da Justiça – Campolide – Benfica – Carnide – Telheiras – Lumiar – Campo Grande" e a entrada em obras do percurso que uniria, em vários troços, Telheiras ao Parque das Nações. Actualmente, existem também a ciclovia de Monsanto, de 6 km de extensão. Cultura. Lisboa é uma cidade com uma intensa vida cultural. Epicentro dos descobrimentos desde o , a cidade é o ponto de encontro das mais diversas culturas, o primeiro lugar em que Oriente, Índias, Áfricas e Américas se encontraram. Mantendo estreitas ligações com as antigas colónias portuguesas e hoje países independentes, Lisboa é uma das cidades mais cosmopolitas da Europa. É possível, numa só viagem de metro ouvir falar línguas como o cantonês, o crioulo cabo-verdiano, o gujarati, o ucraniano, o italiano ou o português com pronúncia moçambicana ou brasileira. E nenhuma delas falada por turistas, mas sim por habitantes da cidade. Música e teatro. A música tradicional de Lisboa é o fado, canção nostálgica acompanhada à guitarra portuguesa. Uma explicação popular da sua origem remete para os cânticos dos mouros, que permaneceram no bairro da Mouraria, após a reconquista cristã. Mais plausivelmente, a origem do fado parece despontar da popularidade nos séculos XVIII e XIX da Modinha, e da sua síntese popular com outros géneros afins, como o lundu, no rico caldo de culturas presentes em Lisboa. Lisboa acolhe a Companhia Nacional de Bailado, a companhia estatal criada em 1977, com vasto reportório de programação de dança clássica e contemporânea. Após a Expo'98, a CNB tornou-se residente do Teatro Camões, no Parque das Nações. Conta com a Fundação EDP como mecenas exclusivo. A Companhia de Dança de Lisboa, CDL, fundada em 1984, tem como objectivo divulgar e descentralizar a dança, ensinando as diferentes técnicas de dança em aulas abertas à população a partir dos 3 anos de idade. Cria e apresenta espectáculos com particular atenção aos temas da cultura portuguesa, a nível nacional e internacional. Eventos. Desde 1994, ano em que foi Capital Europeia da Cultura, Lisboa tem vindo a acolher uma série de eventos internacionais, da Expo 98 ao Tenis World Master 2001, , Gymnaestrada, MTV Europe Music Awards, Rali Dakar, Rock in Rio ou os 50 anos da Tall Ships' Races (Regata Internacional dos Grandes Veleiros). Em 2005, Lisboa foi considerada pela International Congress & Convention Association como a oitava cidade do mundo mais procurada para a realização de eventos e congressos internacionais. O eixo Alfama-Baixa/Chiado-Bairro Alto é palco para a cultura erudita como para a popular. Na noite lisboeta a oferta é variada: a um jantar com fado ao vivo no Bairro Alto pode seguir-se um espectáculo de ópera no São Carlos, ou um concerto no Coliseu dos Recreios. Pode continuar-se com música alternativa na ZDB, ou com uma viagem pelos muitos bares e discotecas do Bairro Alto ou de toda a zona ribeirinha da cidade. Quando o Sol nasce é tempo de ver os habitantes locais e os turistas que enchem os miradouros históricos, como os do castelo, do bairro típico de Alfama do Bairro Alto. O Festival Jazz em Agosto, realiza-se todos os anos em Lisboa, na Fundação Calouste Gulbenkian. Aqui, músicos nacionais e internacionais dão concertos para públicos de todas as idades. Lisboa recebe ainda o "Festival Internacional de Órgão de Lisboa" desde 1998 em órgãos históricos restaurados. Alguns dos locais onde o festival ocorre são a Sé Patriarcal de Lisboa e a Basílica da Estrela. Outro evento relevante no mundo da música é o Super Bock Super Rock, um festival de música de Verão realizado anualmente no "Parque do Tejo", na foz do rio Trancão, junto ao Parque das Nações). Organizado desde 1995, é actualmente um dos mais importantes festivais portugueses. O Rock in Rio é um festival de música originalmente organizado no Rio de Janeiro, de onde vem o nome, que rapidamente se tornou um evento de repercussão mundial e, em 2004, teve a sua primeira edição internacional em Lisboa. Ao longo da sua história, teve 7 edições, três no Brasil, três em Portugal e uma em Espanha. Em 2008, foi realizado pela primeira vez em dois locais diferentes, Lisboa e Madrid, e há intenções em organizar uma edição simultânea em três continentes diferentes. Em 2014, Lisboa voltará a receber o Festival. A cidade de Lisboa é palco de alguns festivais, como o IndieLisboa, um festival internacional de cinema alternativo e independente. O festival é organizado pela associação cultural "Zero em comportamento", e conta já com cinco edições desde 2003. Ao longo do Outono volta o cinema com o DocLisboa (festival internacional de documentário), o Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa além do "Festival "Temps d'Images"". Lisboa possuí um feriado municipal, o 13 de Junho, Dia de Santo António. Porém, o padroeiro da capital é São Vicente. As festas em honra de Santo António de Lisboa, acontecem em toda a cidade e os bairros típicos, como Alfama, Madragoa, Mouraria, Castelo e outros, são enfeitados com balões e arcos decorativos. Neles há arraiais populares, locais engalanados onde se comem sardinhas assadas na brasa, Caldo Verde (uma sopa de couve cortada aos fiapos) e se bebe vinho tinto. A Noite de Santo António, como é popularmente designada, é a festa que começa logo na noite do dia 12. Todos os anos a cidade organiza nesta noite as "marchas populares", grande desfile alegórico que desce a Avenida da Liberdade (principal artéria da cidade), no qual competem os diferentes bairros, um pouco à maneira das escolas de samba, numa espécie de carnaval português. Um grande fogo de artifício costuma encerrar o desfile. Os rapazes compram um manjerico (planta aromática) num pequeno vaso, para oferecer à namorada, o qual traz uma bandeirinha com uma quadra popular, por vezes brejeira ou jocosa. Santo António é conhecido como "santo casamenteiro", por isso a Câmara Municipal de Lisboa costuma organizar, na Sé Patriarcal de Lisboa, o casamento de jovens noivos de origem modesta, todos os anos no dia 13 de Junho. São conhecidos por 'noivos de Santo António', recebem ofertas do município e também de diversas empresas, como forma de auxiliar a nova família. Esta tradição dos casamentos de Santo António, começou em 1958. Já as marchas surgiram em 1932. Todos os anos, de 25 de Novembro a 7 de Janeiro, Lisboa é iluminada por milhões de pequenas luzes. Em 2004, ergueu a Maior Árvore de Natal da Europa. Inicialmente colocada em Belém, passou para o Terreiro do Paço em 2005 e 2006, então com 76 metros de altura, equivalentes a um prédio de 30 andares. Pelas ruas da Baixa, é normal ver-se várias atracções natalícias, como espectáculos de música, animadores disfarçados de Pai Natal, etc (animação de rua). No Ano Novo, são comuns as festas por toda a cidade. A televisão costuma exibir vários programas em directo, e a festa principal da cidade realiza-se no Terreiro do Paço, com vários concertos e um mega-espectáculo pirotécnico à meia-noite em ponto (além do Terreiro do Paço, existem vários pontos de lançamento de engenhos pirotécnicos espalhados por Lisboa e pela margem sul do rio Tejo em frente à capital). O Carnaval em Lisboa é festejado principalmente nas escolas. Algumas escolas organizam desfiles, que percorrem algumas ruas da cidade (principalmente a Rua Augusta). O mais antigo é o desfile da Escola Artística António Arroio. Nas instituições recreativas e, no Bairro Alto também se pode admirar festas relacionadas com o Carnaval. A Moda Lisboa aquece o Inverno mais suave de todas as capitais europeias com vários desfiles de moda, onde vários criadores portugueses e estrangeiros mostram as suas tendências. Lisboa, é também palco de outros inúmeros eventos culturais. O "Lisbonarte", consiste em várias exposições de artes plásticas nas galerias de arte lisboetas. Vários artistas expõem os seus trabalhos ao público. No teatro, a "Mostra de Teatro Jovem" consiste na representação de várias peças teatrais, pelos futuros artistas. Na literatura, a Feira do Livro de Lisboa, um certame que se realiza anualmente desde maio de 1930 em Lisboa. A Feira decorre, em geral, nos últimos dias de Maio. A sua localização actual é o Parque Eduardo VII. Nesta feira são, geralmente, convidados vários autores de diversos livros para sessões de autógrafos. São óptimas ocasiões para comprar livros a preços mais baixos. Outros eventos incluem o Festival dos Oceanos, que ocorre todos os anos em Agosto, no Parque das Nações; o "Experimentadesign", um mega-festival de design realizado de dois em dois anos em Setembro; e a "LisboaPhoto", uma exposição, onde vários fotógrafos podem expor as suas fotos ao público. Desde 2006 que se realiza em Lisboa um evento dedicado exclusivamente à Luz (um evento bianual), o "Luzboa". Pela cidade são espalhados várias instalações criadas por artistas plásticos centradas no tema Luz. Bairro Alto, Baixa, Avenida, são alguns dos locais que recebem este espectáculo. Há vários anos que, no dia 1 de Dezembro, é organizado na Praça dos Restauradores uma grande cerimónia que envolvem várias entidades, políticas, civis e militares, para homenagear a Restauração da Independência de Portugal. Durante 44 anos, Lisboa foi na maior parte das vezes a sede do Festival RTP da Canção. Este festival serve para eleger um representante, que irá representar o país, noutro país europeu, vencedor da edição anterior do Festival Eurovisão da Canção. Espaços públicos e museus. Lisboa dispõe de três universidades públicas, a Universidade de Lisboa, a Universidade Técnica de Lisboa e a Universidade Nova de Lisboa e diversas universidades privadas. A cidade está equipada com diversas bibliotecas, sendo a mais importante a Biblioteca Nacional, e arquivos, nomeadamente o Arquivo Histórico Militar e o Arquivo Histórico Ultramarino entre outros, no entanto o que merece maior destaque, por ser um dos mais importantes arquivos do mundo, é a Torre do Tombo. Entre os museus destacam-se: Museu Nacional de Arte Antiga, com a mais importante colecção nacional de pintura antiga; Museu Calouste Gulbenkian, cuja colecção diversificada inclui seis mil peças de arte de vários períodos históricos; Museu do Chiado, com uma colecção de arte portuguesa a partir do ; Museu-Colecção Berardo, onde é apresentada uma colecção de arte moderna e contemporânea internacional em paralelo com mostras de arte contemporânea; Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão onde, a par de exposições temporárias se expõe um núcleo permanente de arte portuguesa dos séculos XX e XXI; Museu Nacional dos Coches, o mais visitado do país, com a maior colecção de coches do mundo; Museu da Electricidade com uma exposição permanente onde se mostra a produção de energia e a maquinaria da antiga Central Tejo misturando ciência e diversão; Oceanário de Lisboa, com a sua impressionante colecção de espécies vivas; Museu Militar de Lisboa, com uma exposição permanente de armamento de diversas épocas. Outros museus e centros culturais: Museu Arpad Szenes - Vieira da Silva; Museu Rafael Bordalo Pinheiro; Museu do Design e da Moda; Museu de Artes Decorativas; Museu Nacional de Arqueologia; Museu Nacional do Traje; Museu do Oriente; Museu Nacional do Azulejo; Museu da Farmácia; Museu de Marinha; Museu da Água; Museu da Companhia Carris de Ferro de Lisboa; Casa-Museu de Fernando Pessoa; Fundação José Saramago. Nas salas de espectáculos destacam-se o Coliseu dos Recreios, a Aula Magna da Universidade de Lisboa, o Fórum Lisboa, os auditórios da Fundação Calouste Gulbenkian, do Centro Cultural de Belém e da Culturgest, o Pavilhão Atlântico e a Praça de Touros do Campo Pequeno, para além dos diversos teatros e cinemas existentes. Monumentos e bairros históricos. A Baixa Pombalina e Chiado são o "coração" da cidade. Foi edificada sobre as ruínas da antiga cidade de Lisboa, destruída pelo grande Terramoto de 1755. A sua edificação obedeceu a um rigoroso plano urbanístico, segundo um modelo reticular de rua/quarteirão, obedecendo à filosofia do Iluminismo. A reedificação da baixa de Lisboa após o terramoto constituiu o primeiro caso de construção tipificada, normalizada e em "série" da humanidade. Os seus autores foram Manuel da Maia e Eugénio dos Santos e a decisão política deve-se ao Marquês de Pombal, ministro d'El Rei D. José I. A Baixa é também a maior zona comercial da cidade de Lisboa. Nas proximidades e com interesse histórico são ainda a Praça dos Restauradores e o Elevador de Santa Justa, projectado em finais do por Mesnier du Ponsard. Na baixa também se localiza a Praça do Comércio, também conhecida como Terreiro do Paço, o Rossio, ou Praça Dom Pedro V, Chiado, o Convento do Carmo e a Praça dos Restauradores. Alfama é um dos bairros mais típicos de Lisboa, com sua arquitectura típica cidade árabe e medieval com ruas estreitas, sendo um dos poucos sítios de Lisboa que sobreviveu ao Terremoto de Lisboa de 1755. É em Alfama que se encontram a maioria das casas de Fado, onde se pode desfrutar de vários espectáculos ao vivo. Em Alfama, distinguem-se o Castelo de São Jorge, na colina mais alta do centro da cidade, a Sé de Lisboa, o Panteão Nacional e a Feira da Ladra e o Miradouro de Santa Luzia. O Bairro Alto é um bairros típicos de Lisboa, situado no centro da cidade, acima da baixa pombalina. É uma zona de comércio, entretenimento e habitacional. Actualmente, o Bairro Alto é um lugar de "reunião" entre os jovens da cidade, e uma das principais zonas de divertimento nocturno da capital. Aqui concentram-se tribos urbanas, que possuem os seus lugares de reunião próprios. O fado, ainda sobrevive nas noites do bairro. As pessoas que visitam o Bairro Alto durante a noite são uma miscelânea de locais e de turistas. Junto à zona ribeirinha do Tejo, a Poente do centro da cidade, encontra-se a freguesia de Belém, representante da cidade da época dos Descobrimentos. Podemos ver nesta zona duas construções classificadas pela UNESCO como Património da Humanidade: o Mosteiro dos Jerónimos, mandado construir pelo Rei D. Manuel I em 1501 e o melhor exemplo do denominado Estilo Manuelino, cuja inspiração provém dos descobrimentos, estando também associado ao estilo gótico e algumas influências renascentistas. O mosteiro custou o equivalente a 70 kg de ouro por ano, suportados pelo comércio de especiarias. Os restos mortais de Luís Vaz de Camões, autor de "Os Lusíadas", repousam no Mosteiro, e também o grande descobridor Vasco da Gama. Muito perto do Mosteiro dos Jerónimos, encontra-se a Torre de Belém, construção militar de vigia na barra do Tejo, o grande "ex-libris" da cidade de Lisboa e uma preciosidade arquitectónica. Para além disto, é em Bélem que se encontram o Padrão dos Descobrimentos, o Palácio de Belém, residência oficial do Presidente da República, o Museu Nacional dos Coches, o Museu da Electricidade, a Igreja da Memória e o Centro Cultural de Belém. A freguesia da Estrela inclui um dos parques mais famosos e antigos da capital, o Jardim da Estrela, que foi criado há mais de 100 anos, e foi inspirado pelo Hyde Park, em Londres. A Basílica da Estrela, com um estilo Barroco-Neoclássico, é a principal atracção desta zona da cidade. A Assembleia da República e o Cemitério dos Prazeres, são também outros dois pontos importantes da cidade, que se localizam neste zona da cidade. Representante da Lisboa moderna, o Parque das Nações nasceu em 1998, para acolher a exposição mundial Expo 98 subordinada ao tema dos Oceanos. A exposição abriu a 22 de Maio de 1998, dia em que se celebraram os 500 anos da descoberta do caminho marítimo para a Índia por Vasco da Gama. Com tudo isto, a zona oriental da cidade chamada Parque das Nações tornou-se na zona mais moderna de Lisboa e mesmo de Portugal, e Lisboa ganhou imensas estruturas, como a Torre São Rafael e Torre São Gabriel, ambas com 110 metros de altura, as mais altas estruturas de Lisboa e de Portugal). As principais atracções do bairro são: o Oceanário de Lisboa, o Pavilhão Atlântico, o Pavilhão de Portugal, a Torre Vasco da Gama, a Ponte Vasco da Gama e o Gare do Oriente, do arquitecto Santiago Calatrava. A freguesia do Beato destaca-se pela nova dinâmica cultural que tem vindo a conhecer no . Os bairros de manufatura e as instalações industriais à beira-rio são o palco de eleição para galerias de arte contemporânea, vida noturna, mercados, restaurantes e museus, como o Museu Nacional do Azulejo ou o Palácio do Grilo. Do início do o monumento mais significativo é o Aqueduto das Águas Livres. De referir ainda os palácios reais das Necessidades e da Ajuda, na parte Oeste da cidade. Em finais do os planos urbanísticos permitiram estender a cidade além da Baixa para o vale da actual Avenida da Liberdade. Em 1934 é construída a Praça do Marquês de Pombal, remate superior da avenida. No sobressaem os extensos planos urbanísticos das Avenidas Novas, da envolvente da Universidade de Lisboa (Cidade Universitária), e da zona dos Olivais, e os mais recentes do Parque das Nações e da Alta de Lisboa, ainda em construção. Gastronomia. A gastronomia de Lisboa está influenciada pela sua proximidade do mar. Especialidades tipicamente lisboetas são as "pataniscas de bacalhau" e os "peixinhos da horta". Também se pode desfrutar das saborosas sardinhas (principalmente nas épocas festivas, como no Santo António). O famoso bife à café, é outro "ex-libris" alimentar da capital. O doce mais famoso de Lisboa, é o "pastel de nata", cujos mais famosos são os de Belém, que são feitos numa antiga fabrica na freguesia de Belém. Reza a lenda, que há mais de 500 anos, uma cozinheira, não tinha ingredientes suficientes para fazer um doce, e que resolveu inventar, ai nasceram os pastéis de Belém. Foram fabricados durante anos no Mosteiro dos Jerónimos, em Belém, só há poucos anos é que mudaram o seu local de fabricação. Nas salas de espectáculos destacam-se o Coliseu dos Recreios, a Aula Magna da Universidade de Lisboa, o Fórum Lisboa, os auditórios da Fundação Calouste Gulbenkian, do Centro Cultural de Belém e da Culturgest, o Pavilhão Atlântico e a Praça de Touros do Campo Pequeno, para além dos diversos teatros e cinemas. Desportos. O futebol é o desporto mais popular de Lisboa. Os clubes de futebol mais destacados são o Sport Lisboa e Benfica (SLB) e o Sporting Clube de Portugal (SCP), conhecidos apenas por Benfica e Sporting respectivamente. Estes clubes jogam nas mais altas modalidades desportivas nacionais e internacionais: o Benfica joga no Estádio da Luz, com 65 mil lugares sentados e com a distinção de 5 estrelas pela UEFA. Já ganhou duas vezes a Liga dos Campeões da UEFA, tendo já chegado um total de 7 vezes à final. Os seus jogadores mais famosos são Eusébio (Bola de Ouro, Bota de Ouro por 2 vezes), Rui Costa (FIFA 100), Nuno Gomes e Simão Sabrosa. O Sporting joga no Estádio José Alvalade, com uma capacidade para 50 mil pessoas com a distinção de 5 estrelas pela UEFA. Vencedor da Taça dos Clubes Vencedores de Taças e finalista, por uma ocasião, da Taça UEFA, é o segundo clube na Europa com mais títulos no conjunto de todas as modalidades, apenas suplantado pelo FC Barcelona, e o terceiro clube europeu com mais taças europeias conquistadas (25). Os jogadores mais famosos que surgiram no Sporting são Luís Figo e Cristiano Ronaldo, ambos distinguidos como "Melhor Jogador do Mundo" pela FIFA (FIFA World Player) e ambos vencedores da "Bola de Ouro". Outro clube desportivo importante é o Belenenses, com uma grande tradição no desporto português. O Belenenses é a terceira equipa de futebol da cidade, jogando no Estádio do Restelo e competindo na Primeira Liga. Porém, atrás dos clubes anteriores, com um número de sócios muito inferior. O Futsal é, provavelmente, o segundo desporto mais popular da capital, havendo três equipas profissionais na Liga Sport Zone sediadas na cidade: Sporting CP, SL Benfica e Belenenses. O Basquetebol profissional tem cada vez mais seguidores. Belenenses e Benfica possuem equipas profissionais, jogando na primeira divisão, e Lisboa foi a sede do Mundial Masculino de Basquetebol de 2003, disputado no Pavilhão Atlântico. Outro desporto popular é o hóquei: a Selecção Portuguesa de Hóquei ganhou 15 títulos de campeão do mundo e obteve um grande apoio dos cidadãos. Na cidade, praticam-se muitos outros desportos, com destaque para os desportos náuticos, como vela e remo, mas também golfe, ciclismo, etc. As principais instituições desportivas lisboetas além das referidas são: Ginásio Clube Português, Associação Naval de Lisboa, Clube Naval de Lisboa, Casa Pia Atlético Clube, Atlético Clube de Portugal, CDUL – Rugby, Grupo Desportivo de Direito. A Meia Maratona de Lisboa realiza-se todos os anos no mês de Março, e conta com a participação de milhares de concorrentes de vários países, profissionais e amadores. Existem sempre dois estilos de provas, uma curta para amadores que não se sintam muito preparados, e uma mais longa para profissionais, e quem quiser arriscar. A parte principal da corrida/maratona é quando os participantes atravessam a Ponte 25 de Abril. Em 2014, Lisboa sediou a Final da Liga dos Campeões da UEFA de 2013–14 , Final da Liga dos Campeões da UEFA de Futebol Feminino de 2013–14 e em 2020 a Final da Liga dos Campeões da UEFA de Futebol de 2019–20.
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Luiz Inácio Lula da Silva
Luiz Inácio Lula da Silva Luiz Inácio Lula da Silva (nascido Luiz Inácio da Silva; Garanhuns, 27 de outubro de 1945), mais conhecido como Lula, é um ex-metalúrgico, ex-sindicalista e político brasileiro. Filiado ao Partido dos Trabalhadores (PT), é o 39.º presidente do Brasil desde 1.º de janeiro de 2023. Foi também o 35.º presidente da República, de 2003 a 2011. De origem pobre, migrou ainda criança de Pernambuco para São Paulo com sua família. Foi metalúrgico e sindicalista, época em que recebeu a alcunha "Lula", forma hipocorística de "Luís". Durante a ditadura militar, liderou grandes greves de operários no ABC Paulista e ajudou a fundar o PT em 1980, durante o processo de abertura política. Lula foi uma das principais lideranças do movimento Diretas Já, no período da redemocratização, quando iniciou sua carreira política. Elegeu-se em 1986 deputado federal pelo estado de São Paulo com votação recorde. Em 1989 concorreu pela primeira vez à presidência da República, perdendo no segundo turno para Fernando Collor de Mello. Foi candidato a presidente por outras duas vezes, em 1994 e em 1998, perdendo ambas as eleições no primeiro turno para Fernando Henrique Cardoso. Venceu a eleição presidencial de 2002, derrotando José Serra no segundo turno. Na eleição de 2006, foi reeleito ao superar Geraldo Alckmin no segundo turno. O governo Lula teve como marco a consolidação de programas sociais como o Bolsa Família e o Fome Zero, ambos reconhecidos pela Organização das Nações Unidas como iniciativas que possibilitaram a saída do país do mapa da fome. Durante seus dois mandatos, empreendeu reformas e mudanças radicais que produziram transformações sociais e econômicas no Brasil, que acumulou substanciais reservas internacionais, triplicou seu PIB per capita e alcançou o grau de investimento. Os índices de pobreza, desigualdade, analfabetismo, desemprego, mortalidade infantil e trabalho infantil caíram significativamente, enquanto o salário mínimo e a renda média do trabalhador tiveram ganhos reais e o acesso à escola, à universidade e ao atendimento de saúde se expandiram. Na política externa, desempenhou um papel de destaque, incluindo atividades relacionadas ao programa nuclear do Irã, ao aquecimento global, ao Mercosul e aos BRICS. Lula foi considerado um dos políticos mais populares da história do Brasil e, enquanto presidente, foi um dos mais populares do mundo. Foi sucedido no cargo pela chefe da Casa Civil no seu governo, Dilma Rousseff, eleita em 2010 e reeleita em 2014. Após a presidência, Lula manteve-se ativo no cenário político e passou a ministrar palestras no Brasil e no exterior. Candidatou-se à presidência nas eleições de 2018, mas teve indeferida a sua candidatura por ter sido condenado à prisão no âmbito da Operação Lava Jato, em um julgamento controverso. Em 2019, foi libertado com base em decisão do Supremo Tribunal Federal, que anulou paulatinamente suas condenações. Com seus direitos políticos restituídos, candidatou-se à presidência pela sexta vez nas eleições de 2022 e, ao vencer Jair Bolsonaro, tornou-se a primeira pessoa a derrotar um presidente brasileiro candidato à reeleição. Primeiros anos, trabalho e vida sindical. Origens e infância. Luiz Inácio Lula da Silva nasceu em 27 de outubro de 1945 na localidade de Caetés, em Garanhuns, interior de Pernambuco. É o sétimo dos oito filhos de Aristides Inácio da Silva e Eurídice Ferreira de Melo, conhecida como Dona Lindu, um casal de lavradores iletrados que vivenciaram a fome e a miséria na zona mais pobre de Pernambuco. Faltando poucos dias para sua mãe dar à luz, Aristides decidiu tentar a vida como estivador em Santos, levando consigo Valdomira Ferreira de Góis, a "Mocinha", uma prima de Dona Lindu, com quem formaria uma segunda família. Quando viajaram, Mocinha já estava grávida. Aristides e Valdomira tiveram dez filhos juntos. Nos primeiros anos, Aristides enviava dinheiro a Dona Lindu. A casa em que Lula nasceu era uma meia-água construída com estuque, sendo que seu chão era de terra. Possuía um quarto e uma sala. Não havia banheiro, de modo que os banhos ocorriam em açudes que se localizavam de seis a oito quilômetros de distância. Os filhos dormiam juntos em redes. Havia dificuldade em acessar água potável; a água que a família bebia era transportada de açudes ou de barreiros, precisando ser coada diante da quantidade de sujeira. Em dezembro de 1952, Dona Lindu migrou para o litoral do estado de São Paulo com seus filhos para se reencontrar com Aristides. Ela acreditava que seu marido havia feito esse pedido, quando na verdade foi seu filho Jaime, que já morava com o pai, quem escreveu dizendo que esse era o desejo de Aristides. Após treze dias de viagem em um "pau-de-arara", chegaram a Guarujá, onde tiveram que dividir a convivência de Aristides com sua segunda família; ele já os havia visitado no Nordeste em 1950, quando inclusive apresentou seus novos filhos para sua primeira família. A convivência difícil com Aristides, que era obsessivamente controlador, violento e arbitrário, levou Dona Lindu a sair de casa com os filhos, morando inicialmente em um barraco próximo de Aristides e, em 1955, se mudando para a Vila Carioca, um bairro de São Paulo. Lula e seu irmão José Ferreira de Melo — o Frei Chico — moraram algum tempo ainda com o pai, junto com sua segunda família, mudando-se para a capital em 1956. Após a separação, Lula quase não se reencontrou mais com seu pai, que morreu em 1978 e foi enterrado como indigente. Lula e seus irmãos só souberam da morte de Aristides vários dias após o enterro. Educação e trabalho. Durante o período em que as duas famílias de seu pai conviveram, Lula foi alfabetizado no Grupo Escolar Marcílio Dias, apesar da falta de incentivo do pai, analfabeto, que entendia que seus filhos não deveriam ir à escola, mas apenas trabalhar. Ainda quando morava no Guarujá, aos oito anos, trabalhou como vendedor no cais. Tinha que ir ao mangue para retirar lenha, marisco e caranguejo, além de buscar água e trabalhar eventualmente como vendedor nas ruas. Aos doze anos, já em São Paulo, começou a trabalhar como entregador de roupas de uma tinturaria a fim de contribuir na renda familiar. Durante o mesmo período também trabalhou como engraxate e auxiliar de escritório. Em 1960, conseguiu seu primeiro emprego com carteira assinada, como "office boy" nos Armazéns Gerais Colúmbia. Após, passou a trabalhar como aprendiz de torneiro mecânico na metalúrgica Parafusos Marte. Em 1961, foi aprovado em um curso de tornearia mecânica que era mantido por um convênio entre o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) e a Parafusos Marte. Nos próximos dois anos, trabalhava por meio período na Parafusos Marte e no outro meio período estudava no SENAI. Em 1963, recebeu seu diploma de meio-oficial de torneiro-mecânico no SENAI. Posteriormente, refletindo sobre o impacto de sua formação como torneiro mecânico, Lula afirmou: "O SENAI foi a melhor coisa que aconteceu na minha vida. Por quê? Porque aí, eu fui o primeiro filho da minha mãe a ter uma profissão, eu fui o primeiro filho da minha mãe a ganhar mais que o salário mínimo, eu fui o primeiro a ter uma casa, eu fui o primeiro a ter um carro, eu fui o primeiro a ter uma televisão, eu fui o primeiro a ter uma geladeira. Tudo por conta dessa profissão, de torneiro mecânico, por causa do SENAI". Na Parafusos Marte, Lula participou de movimentos grevistas pela primeira vez. Quando sua reivindicação por aumento salarial não logrou êxito, deixou a Parafusos Marte pela Metalúrgica Independência. Foi ali que, em 1964, esmagou seu dedo em um torno mecânico, tendo que esperar horas até que o dono da fábrica chegasse e o levasse ao médico, que optou por cortar o resto do dedo mínimo da mão esquerda. Nos meses iniciais, sentia muita vergonha da mutilação, buscando esconder a mão no bolso. De 1964 a 1965, trabalhou na Fris-moldu-car como meio oficial torneiro. Após não ir trabalhar em um sábado, foi demitido. No ano de 1965, ficou muito tempo desempregado, assim como seus irmãos, época em que passaram por privações, sobrevivendo de trabalhos eventuais, os chamados "bicos". Em 1966, foi admitido nas Indústrias Villares, uma grande empresa metalúrgica de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista. Lula ali trabalhou como torneiro mecânico, recebendo um salário muito mais alto que o dos seus empregos anteriores. Igualmente, as Indústrias Villares era maior e mais organizada se comparada com as metalúrgicas em que havia trabalhado. Lula se manteve ligado à empresa até 1980. Sindicalismo. Quando o golpe de Estado de 1964 foi deflagrado, Lula não se insurgiu; naquele momento, não possuía interesse em temas que envolviam a política e, como descreveu mais tarde, "eu não tinha a menor noção do significado daquilo". Em 1968, filiou-se ao Sindicato de Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema. Lula relutou em filiar-se e candidatar-se a um cargo sindical pois à época tinha uma visão negativa do sindicato e seu grande lazer era jogar futebol. Apesar de não ter qualquer experiência sindical, já era apontado como pessoa carismática, que se destacava e dizia o que os trabalhadores queriam escutar. Convencido a integrar a chapa, sob influência de seu irmão Frei Chico, militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) e do Sindicato dos Metalúrgicos de São Caetano do Sul, elegeu-se no 19.º lugar na lista dos 25 diretores e suplentes, continuando a exercer suas atividades de operário. Empossado suplente no Sindicato de Metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema, Lula passou a gostar das atividades sindicais e, segundo narrou, foi quando obteve "um mínimo de consciência de classe". Tornou-se uma presença ativa na vida sindical, procurando acompanhar o atendimento jurídico conferido aos filiados. Tinha uma abordagem conciliadora com seus adversários durante as negociações, o que lhe garantiu destaque entre as lideranças sindicais da região, mas não era considerado um orador notável. Conforme recordou, "eu era tão inibido que, quando citavam meu nome numa assembleia, eu já ficava vermelho". No decorrer de seu período como sindicalista, participou de inúmeros cursos que abordavam relações entre empresas e trabalhadores, a legislação sobre o tema e estudou ainda oratória. Nas eleições sindicais de 1972, seu trabalho na suplência lhe rendeu a indicação unânime para a primeira secretaria, que na hierarquia era superada apenas pela presidência. Após a vitória de sua chapa, que era liderada por Paulo Vidal, foi dispensado das atividades como operário, recebendo seu salário integral. Foi criada a Diretoria de Previdência Social e FGTS, que lhe foi atribuída. Também viajou pelo Brasil buscando representar o sindicato e defendendo a visão que a entidade possuía sobre o "novo sindicalismo brasileiro". Na época, o líder comunista Emílio Bonfante Demaria tentou convencê-lo a filiar-se ao partido, mas Lula não se interessou nem pelo PCB, nem por "nenhuma outra organização clandestina". Em 1975, Lula foi eleito presidente do sindicato, em um pleito que não contou com chapas opositoras. Nos bastidores do movimento sindical, acreditava-se que Vidal, agora primeiro secretário, continuaria liderando a categoria, enquanto Lula, como uma estrela em ascensão do "novo sindicalismo", exerceria um papel decorativo. A posse da nova diretoria contou com a presença do governador Paulo Egydio Martins; anos depois, Paulo Egydio revelou que decidiu ir na solenidade pois acreditava que Lula era um desafeto dos comunistas. Lula eventualmente afastou a influência de Vidal no sindicato. Na presidência, ganhou projeção nacional ao liderar reivindicações pela reposição dos salários. Lula tentou estabelecer sua imagem como um agente independente, "sem o rabo preso", ao mesmo tempo em que cultivava relações com autoridades da ditadura militar, da indústria e da mídia. Quando o presidente da República, Ernesto Geisel, esteve em São Bernardo do Campo, Paulo Egydio apresentou-lhe Lula, que buscava entregar uma carta com as reivindicações. O governador descreveu Lula como "o mais importante dirigente sindical do país". Nas suas viagens para Brasília, considerou que a representatividade de trabalhadores no Congresso era baixa e, apesar de reiterar que não gostava de política, começou a se aproximar da política convencional; neste período, foi-lhe atribuído um bordão que afirmava que, se alguém quisesse criar um "partido dos trabalhadores", teria que "usar macacão". Lula foi reeleito presidente em 1978, novamente sem oposição. No segundo mandato, com a inflação crescente diminuindo o poder de compra, a campanha pela reposição salarial ganhou força. Lula e o sindicato adotaram uma postura mais assertiva e conflituosa, organizando greves de metalúrgicos da Região do ABC no final dos anos 1970 e início dos anos 1980. A primeira iniciou em 12 de maio de 1978, reivindicando aumento salarial e melhores condições de trabalho. Nos quatro meses seguintes, as paralisações abrangeram 235 000 trabalhadores; em 1978, 539 000 trabalhadores tomaram parte de 24 greves. Em março de 1979, uma greve geral envolveu 600 fábricas da região. No Estádio 1.º de Maio, o sindicato organizou manifestações que reuniram entre 55 000 e 105 000 grevistas, familiares e espectadores. Ao término do movimento, o governo concedeu aumentos salariais superiores ao previsto. O Poder Judiciário declarou ilegais as greves dos metalúrgicos. Por seu papel de liderança, Lula foi detido por 31 dias nas instalações do Departamento de Ordem Política e Social (DOPS) paulista, sob a acusação de violar a Lei de Segurança Nacional. O sindicato sofreu intervenção, aprovada pelo ministro Murilo Macedo, e Lula teve seu mandato suspenso temporariamente. Em 1981, foi condenado pela Justiça Militar a três anos e meio de detenção por incitação à desordem coletiva, tendo, porém, recorrido e sido absolvido no ano seguinte. Por outro lado, as greves no ABC fizeram com que ganhasse proeminência nacional e internacional. O "The New York Times" escreveu em 1981 que "Luiz Inácio da Silva é para o Brasil o que Lech Wałęsa é para a Polônia". Além disso, tais eventos levaram-no a ser conhecido por seu "comando carismático". Em 2010, a historiadora Lilia Schwarcz ressaltou, juntamente com o carisma, sua retórica "sedutora" e "linguagem populista". Início da carreira política e criação do Partido dos Trabalhadores. Apesar de cético em relação aos políticos e partidos dominantes na ditadura, Lula e seus assessores apoiaram candidatos a cargos eletivos — dentre eles, Fernando Henrique Cardoso em sua campanha ao Senado em 1978. Durante a greve de 1979, começou a sugerir a necessidade de estabelecer um partido político. Naquele ano, iniciaram-se as preparações para a criação do Partido dos Trabalhadores, com Lula atuando como um dos principais dirigentes sindicais aliados e assumindo a presidência da executiva nacional em 26 de maio de 1980, uma semana após deixar a prisão no DOI-CODI. Em agosto de 1980, discursou: "O PT é uma coisa muito prática [...] Estamos precisando de um instrumento, uma ferramenta, para abrir espaço pra participação política do trabalhador. E o PT é isso!" O partido gradativamente reuniu personalidades da esquerda, do PCB até a Ação Popular. Com feições radicais, o PT rejeitava todos os modelos de esquerda existentes, adotando um discurso socialista que seria apoiado pelas "massas em luta". Em fevereiro de 1980, Lula anunciou publicamente a criação do PT, e o partido foi reconhecido formalmente pelo Tribunal Superior Eleitoral em 11 de fevereiro de 1982. Candidato a governador de São Paulo na eleição de novembro, Lula ficou em quarto lugar, com 1,1 milhão de votos votos, o equivalente a 10,77%. O resultado, aquém do esperado, levou-o a uma "profunda depressão", sendo questionada sua permanência como liderança política. Acabou decidindo permanecer politicamente ativo, tendo sido aconselhado por Fidel Castro a não abandonar a política. Em 1984, foi uma das principais lideranças das Diretas Já, movimento que buscava reestabelecer o voto direto para presidente. O Congresso não promulgou a Emenda Dante de Oliveira e a eleição presidencial foi novamente indireta. O PT boicotou o processo e a maioria de seus deputados federais se abstiveram na votação que elegeu Tancredo Neves. No pleito de 1986, Lula decidiu disputar uma vaga na Câmara dos Deputados. Eleito com 651 000 votos, a maior votação para o cargo até aquele momento, foi empossado como deputado federal, integrando a Assembleia Nacional Constituinte de 1987, responsável pela elaboração da Constituição Federal de 1988. A experiência como parlamentar não lhe foi gratificante. Considerava os colegas elitistas e sua esposa e família permaneceram residindo em São Bernardo do Campo. Acreditava que os discursos não resolviam os problemas — e sequer eram ouvidos pelos demais deputados. Em meados de 1987, considerou renunciar, mas foi aconselhado a manter o cargo para não prejudicar uma candidatura à presidência. Lula foi assíduo em 95% das votações ocorridas na Câmara; algumas vezes, votava conforme o desejo do PT, ao invés de seu próprio, como forma de incentivar a disciplina partidária. Durante os trabalhos da Constituinte, Lula votou a favor do direito de greve, do aviso prévio proporcional, da reforma agrária, da estabilidade do dirigente sindical, do turno de seis horas de trabalho, do aumento real do salário mínimo, da licença-paternidade, da nacionalização do petróleo, da redução de 44h para 40h da jornada de trabalho e da manutenção do presidencialismo como sistema de governo. Entre 1987 e 1990, encaminhou seis projetos de leis e proferiu 69 discursos na tribuna da Câmara. Também foi favorável à limitação do direito de propriedade privada, ao aborto, ao voto aos 16 anos de idade, à estatização do sistema financeiro, à criação de um fundo de apoio à reforma agrária e ao rompimento de relações diplomáticas com países que adotassem políticas de discriminação racial. Na publicação "Quem foi Quem na Constituinte", produzida pelo DIAP, foi descrito como "[...] incansável na defesa dos direitos sociais dos trabalhadores. Demonstrou habilidade e revelou-se um competente negociador. Votou a favor da nacionalização das reservas minerais, da reforma agrária e da proteção da empresa nacional. Disse não aos cinco anos [de mandato] para [José] Sarney". Campanhas presidenciais. Candidatura à Presidência da República em 1989. Em 1989, realizou-se a primeira eleição direta para presidente da República desde o golpe militar de 1964. Numa disputa fragmentada, as pesquisas de opinião para o primeiro turno revelavam a liderança de Fernando Collor, ex-governador de Alagoas, cuja campanha focava em apresentá-lo como um "candidato contra o sistema" que se empenharia em perseguir os "marajás", e intitulá-lo como "o oposto de José Sarney". As candidaturas de Lula e de Mário Covas, do Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), angariaram sólido apoio de seus respectivos partidos políticos. Outros candidatos incluíram Leonel Brizola, que reivindicava o papel de herdeiro do populismo de Getúlio Vargas, Paulo Maluf, candidato da direita, e Ulisses Guimarães, que presidiu a Assembleia Constituinte e era um símbolo da oposição à ditadura. De acordo com as novas regras constitucionais estabelecidas, era necessário que um candidato recebesse mais de 50% dos votos válidos para vencer no primeiro turno. Lula foi apoiado pela "Frente Brasil Popular", uma coligação de partidos de esquerda — PT, PSB e PC do B. Como companheiro de chapa, escolheu o senador gaúcho José Paulo Bisol. Sua campanha era amadora, não possuindo recursos financeiros suficientes e apoio técnico. Lula chegou a cogitar desistir quando pesquisas indicavam que suas intenções de votos eram de 2,5%. No entanto, com o início da propaganda eleitoral gratuita, atraiu maior apoio do eleitorado. O manifesto do PT advogou pelo desfalque da dívida externa e por uma reforma agrária. Tidas como radicais, as propostas mobilizaram setores da classe média e de conservadores a se oporem à sua candidatura. Em abril de 1989, tornou-se pública a existência de sua filha, Lurian, fruto de um relacionamento com Miriam Cordeiro, assim como a acusação de Miriam de que Lula havia lhe prometido dinheiro para abortar Lurian. A acusação foi explorada pelos adversários e, quando Lurian tentou se suicidar, Lula ficou "severamente depressivo". A campanha de Lula precisou ainda disputar uma vaga no segundo turno com Brizola, pois era improvável que dois candidatos de esquerda avançassem para a etapa final. Neste contexto, Brizola acusou o candidato a vice de Lula de utilizar indevidamente seu cargo de senador para receber empréstimos. Na primeira votação, Collor liderou, com 30,48% dos votos, seguido por Lula (17,19%) e Brizola (16,51); a diferença entre os dois últimos foi de 454 000 votos, num universo de 67,6 milhões de votos válidos. No segundo turno, Lula recebeu apoio do PDT, do PCB, do PMDB e do PSDB, e Collor dos demais partidos. As pesquisas revelavam a vantagem de Collor que, contudo, reduziu-se ao ponto de, às vésperas da votação, haver um empate técnico entre os candidatos. Em uma atmosfera tensa, com troca de acusações mútuas, a campanha petista buscou suavizar a imagem de Lula com uma visão otimista — dentre as iniciativas, lançou o "jingle" "Lula Lá". No último debate, ocorrido na TV Globo, a emissora foi acusada de favorecer Collor e, em 11 de dezembro, o empresário Abilio Diniz foi sequestrado por integrantes do Movimento de Esquerda Revolucionária, sendo libertado um dia antes da votação. Os jornais publicaram que camisetas e faixas do PT foram encontradas com os sequestradores. Em 17 de dezembro, Collor foi eleito presidente da República, derrotando Lula por 53% a 47%, uma margem de quatro milhões de votos. Com exceção da região Sul, Collor venceu no restante do país. Nos estados, Lula ganhou no Distrito Federal (62,7%), em Pernambuco (50,9%), no Rio Grande do Sul (68,7%) e no Rio de Janeiro (72,9%). Campanhas de 1994 e 1998. No governo Collor, Lula se dedicou ao fortalecimento do PT, retornando à presidência do partido em junho de 1990. Em paralelo a seu compromisso com o socialismo, concluiu que, com a derrota no pleito de 1989, necessitava formar alianças com o centro e com a direita. Por meio do manifesto "O Socialismo Petista", o partido se comprometeu com os valores da democracia plural, classificou a União Soviética como antidemocrática, apoiou movimentos como o Solidariedade polonês e criticou o que denominava de imperialismo norte-americano e o capitalismo. Em julho de 1990, o partido formou um "governo paralelo", imitando o "shadow cabinet" inglês, para fiscalizar o governo Collor, apresentar propostas e "treinar" um eventual governo da sigla. Lula foi um dos líderes do governo paralelo. Em 1992, foi um dos articuladores do movimento que culminou no afastamento de Collor. No plebiscito sobre o sistema de governo em 1993, apoiou o parlamentarismo. No mandato de Itamar Franco, manteve boas relações pessoais com o presidente, mas permaneceu na oposição ao seu governo. Em 1993, Lula percorreu o país na "Caravana da Democracia", viajando a 23 estados, com vistas a pavimentar sua segunda candidatura presidencial. Em seus discursos, focava nas necessidades dos pobres e afirmava que a classe política era descolada de suas demandas. O candidato do PT comandou as pesquisas de opinião com folga até meados de 1994, quando o sucesso do Plano Real — que Lula menosprezava e classificava como estelionato eleitoral — fortaleceu a candidatura de Fernando Henrique Cardoso, ministro da Fazenda que foi lançado como o candidato governista. No primeiro turno, FHC foi eleito com 54,3% dos votos, ante os 27% de Lula. A derrota avassaladora da candidatura petista era inconcebível dois anos antes, sendo a vitória de FHC atribuída ao sucesso do Plano Real. Lula continuou sua atuação como opositor e se dedicou a concorrer à presidência novamente. Em 1995, deixou a presidência do PT. Em 1998, Lula concorreu à presidência contra FHC. Desta vez, com o antigo rival Leonel Brizola como candidato a vice-presidente em sua chapa. Buscando construir novos segmentos de apoio, dialogou com representantes de igrejas evangélicas. Lula tentou culpar FHC pela crise econômica, mas a estratégia não funcionou. Novamente, a eleição foi decidida em primeiro turno, com a reeleição de FHC, com 35,9 milhões de votos a 21,4 milhões de Lula. Após a derrota, debateu com assessores sobre a possibilidade de ser substituído por outro nome da esquerda na próxima eleição. Lula incentivou colegas de partido como Tarso Genro e Eduardo Suplicy a percorrerem o país, de modo a testar suas viabilidades eleitorais. Ainda assim, o partido definiu que Lula era a melhor opção, e ele derrotou Suplicy nas prévias presidenciais do PT em 2002 por 84,4% a 15,6%. Vitória em 2002. Decidido a concorrer à presidência pela quarta vez, Lula abdicou dos "erros" cometidos em campanhas anteriores, como manifestações de posições tidas como radicais. Para aumentar sua base de apoio, pactuou os compromissos necessários em termos de alianças e de programa eleitoral. Como marqueteiro, contratou Duda Mendonça, que havia trabalhado em campanhas de Collor e Maluf. No âmbito social, a proposta mais atrativa era acabar com a fome. Em junho de 2002, publicou a "Carta ao povo brasileiro" para acalmar o mercado financeiro. No texto, comprometeu-se a equilibrar o desenvolvimento econômico com a justiça social, a controlar a inflação, a respeitar o equilíbrio fiscal e a administrar a dívida interna e externa. Para a vice-presidência, escolheu o senador e empresário José Alencar, que atuou como ponte entre o petista e o mercado. A campanha de Lula focou nas cidades mais populosas do país. O leque de alianças foi mais amplo, aglutinando forças políticas anteriormente rivais. No primeiro turno, Lula conquistou 39 milhões de votos, representando 46,4% do total de votos válidos, sendo seguido por José Serra, Anthony Garotinho e Ciro Gomes. Candidato do governo FHC, Serra havia recebido 23,2% dos votos. A campanha de segundo turno entre ambos foi estável, com Lula atraindo a declaração de votos de políticos como Antônio Carlos Magalhães. Em 28 de outubro, foi eleito com 61% dos votos, vencendo em todos os estados e no Distrito Federal, salvo em Alagoas. Sua eleição representou a primeira vitória de um candidato presidencial de esquerda no país. No seu discurso de diplomação, afirmou: "E eu, que durante tantas vezes fui acusado de não ter um diploma superior, ganho o meu primeiro diploma, o diploma de presidente da República do meu país". Presidência do Brasil (2003–2011). Primeiro mandato. Lula foi empossado como o 35.º presidente da República em 1.º de janeiro de 2003, tornando-se o primeiro filiado ao PT e o primeiro ex-operário a ocupar o cargo. Em seu discurso de posse, classificou a data como o "dia do reencontro do Brasil consigo mesmo", prometendo combater a fome, gerar empregos, implantar políticas de proteção social, valorizar o comércio exterior e as relações internacionais, tendo a América do Sul como prioridade. Lula proclamou a chegada de uma "nova era" e convocou "todos os homens e mulheres brasileiros, empresários, sindicalistas e intelectuais, a construir uma sociedade mais justa, fraterna e solidária". Desejando estabelecer um governo de coalizão, a composição ministerial contava com 34 pastas, das quais 18 foram destinadas a petistas, englobando ainda membros do PL, PC do B, PPS, PSB, PDT, PTB e PV. Foram nomeados políticos como Dilma Rousseff (Minas e Energia), José Dirceu (Casa Civil), Aloízio Mercadante (Fazenda), Ciro Gomes (Integração Nacional), Celso Amorim (Relações Exteriores), Marina Silva (Meio Ambiente), Gilberto Gil (Cultura) e Cristóvam Buarque (Educação). Na presidência, Lula desejava atingir rapidamente seus objetivos relacionados à justiça social. No entanto, a equação para concretizá-los era "extraordinariamente complicada". Havia a necessidade de que o novo presidente acalmasse o mercado financeiro e ajustasse as contas públicas. A austeridade fiscal era uma exigência do Fundo Monetário Internacional (FMI) para que o Brasil recebesse ajuda. Também eram altas as expectativas entre seus apoiadores, os quais "estavam convencidos de que presenciavam uma alternância histórica comandada por um líder que, pela primeira vez, não era filho de uma família rica, mas vinha das camadas mais humildes da sociedade". A política econômica descartou uma transição para um modelo de Estado intervencionista ou mesmo ao socialismo, assim como rejeitou tendências populistas e atitudes radicais. O governo Lula foi o primeiro desde a redemocratização a não criar um plano econômico próprio. O Plano Real foi mantido e a autonomia do Banco Central, apesar de não garantida por lei, foi respeitada como forma de buscar ativamente as metas de inflação. As reformas consideradas necessárias pela nova gestão foram executadas de modo programático e gradual. A consolidação da estabilidade econômica ocorreu com o respeito à política macroeconômica, baseada no tripé macroeconômico, composto por flutuação cambial, metas de inflação e austeridade fiscal, bem como conciliando políticas de transferência de renda e aquecimento da economia, com vistas a aumentar o poder de compra da classe baixa. A moderação de Lula na economia decepcionou determinadas correntes de seu partido e personalidades mais à esquerda, ao mesmo tempo em que recebeu elogios dos meios de comunicação liberais e financeiros. Para combater a insegurança alimentar, Lula anunciou, em 2003, a criação do Fome Zero. O programa se tornou a principal vitrine do governo, sendo o Bolsa Família seu carro-chefe. O Bolsa Família é um programa de transferência de renda mensal, variável de acordo com a composição da família; a título de exemplo, famílias que possuíam gestantes ou crianças com até 15 anos de idade recebiam mais. Como contrapartida, era necessário que as crianças frequentassem a escola e fossem vacinadas. Para as gestantes, era preciso que continuassem recebendo acompanhamento médico. Em seu primeiro ano, o Bolsa Família abrangia 3,6 milhões de famílias, atingindo 12,5 milhões em 2010. Os gastos com esta política social também se multiplicaram, de 0,03% do produto interno bruto em 2003 (570 milhões de reais) para 0,38% em 2010 (14,37 bilhões de reais). Nas relações internacionais, Lula defendeu um sistema em que os países desenvolvidos do norte dialogassem de modo mais democrático com os em desenvolvimento do sul. Foi contrário à Guerra do Iraque, clamou por uma reforma do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas que incluísse não apenas o Brasil como membro permanente, mas também outros países como a Alemanha, e seguiu a "diplomacia Sul-Sul", priorizando a interação do Brasil com países em desenvolvimento. Lula engajou-se em negociações comerciais multilaterais, reforçou a integração sul-americana, sendo o Mercosul a prioridade mais importante da diplomacia brasileira, e intensificou as relações com países africanos. De 2003 a 2006, Lula realizou 102 visitas a 52 países, mais do que qualquer outro presidente brasileiro. Destas, 40 viagens foram para países da América do Sul e 20 para da África. Eleito presidente com uma bancada minoritária no Congresso Nacional, Lula buscou formar alianças com diversos partidos, inclusive com alguns situados mais à direita no espectro político brasileiro. Conseguiu apoio do PP, PTB e parcela do PMDB, às custas de dividir com estes o poder. Após dois anos de governo mantendo maioria no Congresso, o que facilitava a aprovação de projetos de interesse do executivo, uma disputa interna de poder entre os partidos aliados resultou no escândalo do mensalão, irrompido em 2005, o qual consistia em um esquema de pagamento de propina a parlamentares para que votassem a favor de projetos do governo. Lula negou conhecimento desse esquema e se comprometeu a ajudar com as investigações, bem como a combater a corrupção. Mais tarde, 25 réus foram condenados por crimes como corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato. Lula não foi denunciado criminalmente. Reeleição em 2006. Em julho de 2006, Lula oficializou sua candidatura à reeleição, mantendo José Alencar como vice. Sua coligação "A Força do Povo" contou com o apoio formal de PT, PRB e PC do B. Na mesma época, uma pesquisa do Datafolha apontou sua vantagem como superior a dois dígitos em relação ao oponente mais forte, o tucano Geraldo Alckmin, ex-governador de São Paulo. A retórica de sua campanha foi mais populista do que em 2002 e comparava o primeiro mandato com o governo FHC. Havia a expectativa de que a reeleição fosse garantida em primeiro turno, e as pesquisas de opinião indicavam esse cenário. No primeiro turno, entretanto, Lula recebeu 48,61% dos votos válidos, enquanto Alckmin somou 41,64%, forçando uma nova votação. O escândalo do dossiê, em que petistas foram acusados de encomendar um dossiê contra tucanos, e a ausência de Lula no debate da TV Globo foram considerados fatores que enfraqueceram sua candidatura. A estratégia da campanha mudou, visando apresentá-lo mais uma vez como o candidato "paz e amor", como em 2002. Participou dos debates com Alckmin e permaneceu mais acessível à mídia. Afirmou que Alckmin cortaria gastos da política social — o que o tucano negava — e privatizaria empresas públicas. Em 29 de outubro, Lula foi reeleito com 58,2 milhões de votos, ou 60,83% dos votos válidos. A atuação do governo na área social foi classificada como fundamental para o êxito de sua candidatura, cuja grande bandeira era a continuidade de um "governo para os mais necessitados". Discursando na Avenida Paulista após a confirmação de sua reeleição, Lula prometeu que o Brasil cresceria mais rápido, que "não gastaria mais do que ganha" e que daria mais atenção aos pobres. Referiu que não detinha mais o "direito moral, ético e político de cometer erros daqui para frente". Segundo mandato. Empossado para seu segundo mandato presidencial em 1.º de janeiro de 2007, Lula reiterou como prioridade avançar nos interesses dos mais pobres. O governo rebateu as acusações de que sua política social era um gasto populista, estabelecido para "comprar os pobres", afirmando que se tratava de uma reparação histórica. O salário mínimo cresceu 23,69% em termos reais no primeiro mandato e 20,94% no segundo. Em paralelo, buscava vigorar o crescimento econômico, com taxas mais altas de crescimento anual do PIB. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) foi uma das medidas definidas para este fim. O PAC fixou ações na infraestrutura, estímulo ao crédito e financiamento, desoneração tributária e metas fiscais de longo prazo. Para seu segundo mandato, Lula contou com apoio de uma coalizão formada pelo PT e pela maior parte do PMDB, além do PDT, PSB, PC do B, PR, PP, PTB, PHS, PTC, PV, PRB e PSC. Os líderes de tais partidos possuíam assento no Conselho Político e reuniam-se com o presidente e os ministros de Estado. Dentre os parlamentares aliados, Lula elogiou Fernando Collor, Renan Calheiros e José Sarney, defendendo este último quando fora acusado de corrupção. A base aliada ajudou o governo durante os processos de confirmação de seus indicados para o Supremo Tribunal Federal. De 2003 a 2010, Lula designou oito ministros para a corte, sendo todos aprovados pelo Senado. Dentre eles, Joaquim Barbosa foi o terceiro negro a integrar o STF e Cármen Lúcia a segunda mulher a tornar-se ministra. Sob o governo Lula, o Brasil ampliou ou fortaleceu suas relações com países que não faziam parte do Mundo ocidental. O presidente buscava diversificar as relações exteriores, atuando como um "garoto-propaganda" como meio de vender os produtos brasileiros em novos mercados. A ampliação dos parceiros comerciais incluiu países como Irã, Venezuela, Sudão, Líbia, Cuba e Guiné Equatorial, os quais eram acusados de práticas atentatórias aos direitos humanos. Em 2009, Lula defendeu o direito do Irã de possuir um programa nuclear para fins pacíficos e, no ano seguinte, ajudou a negociar um acordo sobre o tema. Também em seu mandato, o Brasil enviou tropas para o Haiti, inicialmente por conta do contexto social naquele país e, após, para reconstruí-lo em decorrência de um terremoto. Em 2010, o governo criou o Sistema de Seleção Unificada (SISU) no contexto de uma política que buscava facilitar o acesso ao ensino superior. Para este propósito, o Fundo de Financiamento ao Estudante do Ensino Superior (FIES) foi aprimorado, permitindo que mais jovens de baixa renda chegassem às universidades, e foram construídas 18 universidades federais e 173 campus universitários. O Programa Universidade para Todos (PROUNI) foi o principal responsável pela inserção de afrodescendentes no ensino superior; de 2003 a 2010, mais jovens negros ingressaram nas universidades do que nos vinte anos anteriores. Dando continuidade às propostas de política habitacional lançadas nos anos anteriores, com o apoio das aplicações no Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo, do PAC, do Plano Nacional de Habitação (PLANHAB) e do programa Minha Casa, Minha Vida, criado em 2009, os recursos destinados para a habitação popular passaram de cerca de 8 bilhões de reais em 2002 para mais de 90 bilhões em 2010. Segundo Nabil Bonduki, o PLANHAB reconheceu a diversidade da rede urbana e da zona rural brasileira, superando a homogeneidade com que a questão habitacional vinha sendo tratada e, além de identificar os déficits quantitativos e qualitativos, projetou as necessidades futuras, "o que significou uma inovação relevante". Entre 2009 e 2010 o Minha Casa, Minha Vida contratou a construção de mais de um milhão de unidades habitacionais, entregando 237 800 destas até o fim de 2010, enquanto as demais estavam em fase de produção. Contudo, esses programas enfrentaram muitas dificuldades e suas diretrizes não foram implementadas integralmente e, mesmo representando um alívio no déficit habitacional crônico do Brasil, em muitos casos a qualidade das construções foi considerada baixa. O segundo mandato de Lula foi mais calmo. O presidente não apenas era objeto indiscutível da afeição popular, como foi o primeiro presidente a trazer um modesto bem-estar a muitas pessoas e agora estava no controle total de seu próprio governo. Quando a Grande Recessão provocou consequências significativas nos Estados Unidos e na Europa, Lula declarou que o Brasil sentiria apenas "uma marolinha". Em 2008, a economia do Brasil estava em bom estado para resistir à crise financeira global; a expansão da economia brasileira durou pelo menos até 2014. Impacto e legado. Em 2002, o Brasil ocupava a 14.ª posição no ranking global de economias, segundo dados do FMI, chegando a subir para a 7.ª posição em 2011. Geralmente se coloca entre as maiores conquistas dos governos de Lula as que ocorreram na área social, em particular a redução da pobreza e da fome. O índice Gini de desigualdade social caiu de 57,6 em 2002 para 52,9 em 2011. De 2003 a 2014, a quantidade de pessoas abaixo da linha da pobreza caiu de 42 milhões para 14 milhões; no mesmo período, o número de brasileiros na extrema pobreza passou de 13 milhões para 5 milhões. Em 2000, 10,9% da população encontrava-se em estado de desnutrição, reduzindo para 5,6% em 2007 e para 2,5% em 2014. Em 2010, Lula recebeu o título de "Campeão Mundial na Luta Contra a Fome", concedido pela Organização das Nações Unidas. Durante o governo Lula, houve escândalos de corrupção, como o mensalão no primeiro mandato, e o escândalo dos cartões corporativos no segundo. Após deixar o cargo, foram descobertos desvios na Petrobras estimados pela Polícia Federal em 42,8 bilhões de reais. É controversa a atuação de Lula nestes casos: se por um lado os investigadores e a oposição o acusam de ter conhecimento e até de comandar tais esquemas, Lula defendeu a atuação de seu governo, pontuando medidas como a autonomia da Polícia Federal, a escolha do procurador-geral da República dentre o mais votado da lista tríplice e a não obstacularização das investigações. A ênfase nas políticas sociais e a boa repercussão delas foram fatores essenciais para garantir a manutenção da sua popularidade em meio às crises políticas. Ao fim do seu segundo mandato indicadores de diversas áreas registravam desempenho positivo. Além da queda da desigualdade e a redução de pessoas passando fome e vivendo na pobreza, o analfabetismo entre pessoas com mais de 15 anos de idade caiu de 11,6% em 2003 para 8,6% em 2011, as reservas internacionais passaram de 49,3 bilhões de dólares em 2003 para 288,5 bilhões em 2010, o salário mínimo continuava tendo ganho real, o desemprego caiu de 10% em 2003 para 6,9% em 2011, a inflação diminuiu de 14,7% em 2003 para 6,6% em 2011 e a Taxa SELIC, inicialmente em 25,36% em 2003, estava em 11,17% em 2011. Na eleição presidencial de 2010, Dilma Rousseff foi eleita presidente da República. O apoio de Lula foi fundamental para o êxito de sua candidatura. O "Wilson Center" apontou que "pesquisas de opinião pública revelam que o brasileiro médio quer a continuação das políticas de Lula, mais especificamente, sustentando o crescimento econômico, gerenciando os investimentos em infraestrutura e aprofundando a política social". Lula deixou o cargo com aprovação pessoal superior a 80%, a melhor avaliação popular da história do país. Pós-presidência (2011–2022). Após deixar a presidência, Lula iniciou uma carreira como palestrante. Sua primeira palestra foi em março de 2011, para executivos da LG. As estimativas dos valores de suas palestras rondaram a casa dos 200 000 reais no Brasil e 332 000 reais no exterior. Lula manteve-se como articulador político, aconselhando Dilma e seu governo. Entre outubro de 2011 e março de 2012, visitou mais de 30 países. Em 2012, impôs no âmbito interno de seu partido a vitoriosa candidatura de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo, apostando em Haddad como uma renovação. Em 2013, assinou um contrato com o jornal norte-americano "The New York Times" para escrever uma coluna mensal no jornal sobre política e economia internacionais. Em 2014, contrariando rumores, declarou que não disputaria a presidência naquele ano. Operação Lava Jato. Em 2014, com o início da Operação Lava Jato, investigadores passaram a apurar desvios bilionários ocorridos na Petrobras durante os governos Lula e Dilma. O esquema, intitulado "Petrolão", envolvia a cobrança de propina das empreiteiras, assim como lavagem de dinheiro e superfaturamentos de obras públicas, como meio de financiar políticos, funcionários, partidos e campanhas eleitorais. De acordo com investigações e delações premiadas, estavam supostamente envolvidos em corrupção membros da Petrobras, funcionários públicos e políticos eleitos, incluindo Lula. A Operação Lava Jato foi saudada por seu combate à corrupção, mas apontada como uma das causas para a perda de investimentos e de milhões de empregos. A presidente Dilma foi reeleita para seu segundo mandato em 2014, contando com o engajamento de Lula na campanha. No entanto, a crise econômica e política e as revelações da Operação Lava Jato contribuíram para o aumento generalizado da insatisfação popular. A partir do início de 2016, a vida política de Lula passou a mostrar-se conturbada, com investigações contra si por acusações como lavagem de dinheiro, falsidade ideológica e ocultação de patrimônio. Lula eventualmente se tornou réu em dez ações penais no âmbito da Operação Lava Jato. De acordo com os investigadores, Lula recebeu propina de empreiteiras, como a OAS e a Odebrecht. Em março de 2016, o senador petista Delcídio do Amaral afirmou que Lula possuía conhecimento do esquema e agiu direta e pessoalmente para barrar as investigações. No mesmo mês, Lula foi designado pela presidente Dilma para o cargo de ministro-chefe da Casa Civil. Como a função confere a prerrogativa do foro privilegiado, a nomeação foi criticada por alguns juristas, que a consideravam uma tentativa de impedir que os processos contra o ex-presidente fossem julgados pelo juiz Sergio Moro. Houve protestos em 18 estados e no Distrito Federal contra a nomeação. Em 18 de março, o ministro Gilmar Mendes, do STF, suspendeu a nomeação, julgando que Lula tinha a intenção de fraudar as investigações. O "Deutsche Welle" considerou que a indicação de Lula era a "última cartada de Dilma", que buscava dar sobrevida ao seu governo e decidiu conferir amplos poderes ao antecessor em temas como articulação política e economia. Em agosto de 2016, Dilma foi destituída da presidência pelo Senado. Em 2017, Lula foi condenado pelo juiz Sergio Moro a nove anos e seis meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, incluindo o recebimento de propina da OAS no valor de 2,2 milhões de reais. Lula foi o primeiro ex-presidente brasileiro a ser condenado criminalmente desde a redemocratização. No início de 2018, o Tribunal Regional Federal da 4.ª Região, em decisão unânime, manteve a condenação e aumentou a pena para doze anos e um mês. Após a Suprema Corte rejeitar emitir um "habeas corpus" preventivo em seu favor, Lula entregou-se à Polícia Federal em 7 de abril de 2018, passando a cumprir sua pena e convertendo-se no primeiro ex-presidente do Brasil a ser preso por um crime comum. Em 2019, foi novamente condenado, a doze anos e onze meses de reclusão, pelo recebimento de vantagens indevidas. A condenação foi ratificada pelo STJ em julgamento unânime. Durante as investigações e no período em que permaneceu preso, Lula rejeitou as acusações e prometeu que provaria sua inocência. Lula acusava os promotores e o Judiciário, em especial Moro, de serem parciais e lhe condenarem, sem provas, por questões políticas. Em 2019, Moro se tornou ministro do governo Bolsonaro e diálogos divulgados pelo "The Intercept" revelaram um conluio entre o magistrado e promotores no decorrer dos processos envolvendo Lula. Em 8 de novembro de 2019, foi solto após o STF julgar que a prisão em segunda instância era inconstitucional, tendo completado 580 dias na prisão. Em 2021, o ministro Edson Fachin, em decisão mais tarde referendada pela maioria de seus pares, anulou todas as condenações contra Lula em relação à operação Lava Jato, julgando que a Justiça Federal de Curitiba não possuía competência para julgar tais processos. No mesmo ano, a corte decidiu que Moro era suspeito para julgá-lo. Assim, Lula não possui condenação com trânsito em julgado, sendo considerado juridicamente inocente de três acusações; em 23 casos os inquéritos foram arquivados ou as denúncias rejeitadas por prescrição, falta ou nulidade de provas e inépcia. Candidatura presidencial em 2018. Em 2017, Lula anunciou publicamente que seria novamente o candidato do PT à presidência da República. Em setembro daquele ano, saiu em caravana pelos estados do Brasil, começando por Minas Gerais. No ano seguinte, ao atravessar a região Sul do país, a caravana petista foi recebida com protestos. No Paraná, o ônibus da comitiva foi atingido por tiros, e no Rio Grande do Sul, militantes pró-Lula foram atingidos por pedras. Mesmo após sua prisão, o PT insistiu e manteve Lula como candidato do partido à presidência. As pesquisas apontavam Lula na liderança do pleito; em junho de 2018, possuía 33% das intenções de votos, conforme o Ibope, mais que o dobro do segundo colocado, o deputado federal Jair Bolsonaro. De dentro da cadeia, articulou uma aliança nacional com o PC do B e alianças regionais com o PSB, contribuindo para isolar a candidatura de seu maior adversário no campo da esquerda, o ex-governador Ciro Gomes. O PT oficializou a candidatura de Lula em 5 de agosto, em São Paulo. Na impossibilidade da presença física do candidato, uma carta sua foi lida. Fernando Haddad foi oficializado como candidato a vice-presidente, representando Lula em eventos e debates. Esperava-se que, com a declaração da inelegibilidade de Lula, nos termos da Lei da Ficha Limpa, Haddad passaria à condição de presidenciável. Em meados de agosto, o comitê de Direitos Humanos da ONU recomendou que Lula não fosse impedido de concorrer até que sua condenação transitasse em julgado. No entanto, em setembro, o Tribunal Superior Eleitoral indeferiu o registro de sua candidatura. No dia seguinte, o PT anunciou oficialmente que Haddad seria o novo candidato do partido, contando com Manuela d'Ávila como vice. Bolsonaro venceu com 55,13% dos votos válidos, contra 44,87% de Haddad. Campanha presidencial de 2022. Solto da prisão em 2019 e com os direitos políticos restaurados, Lula pavimentou sua campanha pelo retorno à presidência da República na eleição de 2022, buscando uma vitória contra o candidato à reeleição Jair Bolsonaro, cujo governo encontrava-se desgastado, principalmente, por medidas negacionistas tomadas durante a pandemia de COVID-19 e políticas econômicas, ambientais e culturais. O PT reuniu em sua coligação nove partidos, entre os quais o PSB, que integrou a chapa lançando o candidato a vice-presidente Geraldo Alckmin, antigo adversário político de Lula que havia se desfiliado do PSDB, em uma aliança considerada "improvável". Estiveram na coalizão também partidos como o PSOL, que deixou de lançar candidatura própria em contraponto ao programa do PT para apoiar Lula em uma frente de esquerda, afirmando ser parte de um "processo de superação da extrema-direita" que se iniciaria com a derrota de Bolsonaro. Lula defendeu um programa centrado nas questões sociais, em particular no poder de compra, e na proteção ambiental. Nas semanas que antecederam o pleito, Bolsonaro aumentou os benefícios sociais, cortou impostos e pressionou a Petrobras a diminuir os preços dos combustíveis. O governo Bolsonaro gastou, até meados de 2022, cerca de 343,4 bilhões de reais para garantir a reeleição do presidente. Lula criticou o "uso da máquina pública" para fins eleitorais por parte do governo, alegando ser sem precedentes no Brasil. No decorrer da campanha, Lula firmou uma "frente ampla" com o apoio de diversas figuras políticas, incluindo os ex-presidentes Fernando Henrique Cardoso e José Sarney, além de Simone Tebet, terceira colocada no pleito presidencial, que se engajou em sua campanha. Lula terminou o primeiro turno da eleição com 57,2 milhões de votos, ou 48,43%, contra 51 milhões, ou 43,20%, de Bolsonaro, avançando para o segundo turno. Em 30 de outubro, tornou-se o primeiro candidato a derrotar um presidente incumbente ao receber 60,3 milhões de votos (50,9%), ante os 58,2 milhões do adversário (49,1%). Esses resultados tornaram a disputa presidencial a mais acirrada da história. Em seu discurso de vitória, afirmou: "[...] essa não é uma vitória minha, não é uma vitória só do PT. Essa foi uma vitória de todas as mulheres e homens que amam a democracia, que querem liberdade, que querem um país mais justo. Essa foi a vitória das pessoas que querem mais cultura, que querem mais educação, que querem mais fraternidade, mais igualdade". Lula classificou ainda o governo derrotado como fascista. Presidência do Brasil (2023–presente). A transição presidencial para o governo Lula iniciou no início de novembro de 2022. Ainda assim, Bolsonaro não congratulou o presidente eleito nem reconheceu sua derrota. Durante os últimos meses do ano, apoiadores ferrenhos de Bolsonaro realizaram manifestações golpistas em todo o país contra a vitória de Lula e, inflamados pela desconfiança de Bolsonaro no sistema eleitoral e nas urnas eletrônicas, pediram intervenção militar para impedir seu retorno ao Executivo federal. Em 1.º de janeiro de 2023, Lula foi empossado sem receber a faixa presidencial do antecessor; foi encontrada como alternativa a transferência simbólica por pessoas que representavam diferentes setores da sociedade brasileira. Sob o slogan "União e reconstrução", o governo foi composto inicialmente por 37 ministérios, dos quais onze eram comandados por mulheres, o maior número da história política do país. Uma semana depois de sua posse, uma tentativa de golpe contra seu governo acabou não logrando êxito. Vida pessoal. Casamentos e filhos. Em 24 de maio de 1969, Lula casou-se com a operária mineira Maria de Lourdes da Silva, irmã de seu melhor amigo, Jacinto Ribeiro dos Santos, o "Lambari". Lourdes contraiu hepatite no oitavo mês de gravidez, em junho de 1971, vindo a falecer quando os médicos decidiram fazer uma cesariana para tentar salvar mãe e filho, que também não sobreviveu. Em 1974, teve uma filha chamada Lurian com a enfermeira Miriam Cordeiro, sua namorada na época. Mais tarde no mesmo ano, casou-se com a então viúva Marisa Letícia Casa dos Santos, vindo anos depois a adotar o filho dela, Marcos Cláudio, que nem chegara a conhecer o pai biológico. O casamento de mais de trinta anos com Marisa gerou três filhos: Fábio Luís (1975), Sandro Luís (1979), e Luís Cláudio (1985). Marisa faleceu em 2017, em decorrência de um acidente vascular cerebral. Ainda em 2017 Lula iniciou um relacionamento com a socióloga Rosângela da Silva, conhecida como Janja, que só se tornou público em 2019, quando o ex-presidente estava preso em Curitiba. Casaram-se em 18 de maio de 2022. No fim de seu segundo mandato, em 2010, o Ministério das Relações Exteriores concedeu um passaporte diplomático a seu filho Luís Cláudio. O passaporte diplomático destina-se a autoridades, diplomatas ou pessoas que representem o país no exterior, dando privilégios em diversos países. Em decisão judicial de 2012 expedida pela 14.ª Vara Federal do Distrito Federal, o passaporte foi suspenso. A decisão proferida alegou que houve "absoluta confusão de interesses públicos com interesses pessoais". Saúde. Em 29 de outubro de 2011, Lula foi diagnosticado com câncer de laringe pela equipe do médico Paulo Hoff, do Hospital Sírio-Libanês. Fumante durante quarenta anos, após começar a apresentar rouquidão por um tempo prolongado, foi identificado um tumor maligno de tamanho médio (dois a três centímetros) na laringe. A assessoria de imprensa do Instituto Lula, sua organização não governamental, informou que o tratamento iria iniciar com uma sessão de quimioterapia em 31 de outubro, mas, a pedido de Lula, não foi divulgado o número de sessões que foram realizadas. No entanto, foi divulgada a duração aproximada do tratamento, que se estimava de três meses segundo o oncologista Artur Katz, responsável pelo tratamento. Lula realizou o tratamento no Hospital Sírio-Libanês. Antecipando-se aos efeitos adversos da quimioterapia, que incluem a alopecia, cortou a barba e os cabelos, deixando apenas o bigode. Em 28 de março de 2012, o Hospital Sírio-Libanês informou que os exames de Lula mostravam "ausência de tumor visível", demonstrando boa resposta ao tratamento. Em vídeo, Lula disse que sentia intensa náusea, o que o impedia de se alimentar e o fez emagrecer cerca de 16 quilos rapidamente, além de manter uma dieta ausente de sólidos. Em janeiro de 2021, foi diagnosticado com COVID-19 durante uma viagem a Cuba, onde manteve-se em quarentena. Em abril de 2022, recebeu a quarta dose da vacina contra a doença. Em junho de 2022, foi novamente diagnosticado com COVID-19, permanecendo assintomático. Imagem pública. Prêmios e honrarias. Em 2020, Lula foi agraciado com seu 36.º título de doutor "honoris causa". Em 2011, a Fundação Sciences-Po da França concedeu-lhe o título de doutor "honoris causa". Foi o primeiro latino-americano a receber essa distinção. A Sciences Po foi fundada em 1871 e apenas 16 personalidades no mundo possuíam essa premiação até então. Em 2020, foi condecorado pela prefeita Anne Hidalgo como cidadão honorário de Paris. Dentre os prêmios recebidos por Lula no Brasil, estão a Ordem do Mérito Militar, a Ordem do Mérito Naval, a Ordem do Mérito Aeronáutico, a Ordem do Cruzeiro do Sul, a Ordem do Rio Branco, a Ordem Nacional do Mérito e a Ordem do Mérito Judiciário Militar. Em âmbito internacional, foi condecorado com as medalhas da Ordem da Águia Asteca (México), a Ordem Amílcar Cabral (Cabo Verde), a Ordem da Liberdade, a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito e a Ordem de Camões (Portugal), a Ordem Nacional do Mérito (Argélia), a Ordem de Boyacá (Colômbia), a Ordem Nacional do Mérito (Argélia) e a Ordem Marechal Francisco Solano López (Paraguai). Em 2009, a "Forbes" considerou Lula a 33.ª pessoa mais poderosa do mundo, e os jornais "Le Monde" e "El País" classificaram-no como o "homem do ano". Para o "Financial Times", Lula foi uma das 50 pessoas que moldaram a década de 2000 devido a seu "charme e habilidade política" e também por ser "o líder mais popular da história do país". Em 2010, o jornal "Haaretz" escreveu que ele era o "profeta do diálogo" por suas intermediações em busca da paz no Oriente Médio. Nos anos de 2004, 2010 e 2023, foi incluído na lista das cem pessoas mais influentes do mundo, elaborada pela revista "Time" Referências na cultura popular. Em 1995, a banda Os Paralamas do Sucesso lançou a canção "Luís Inácio (300 Picaretas)", que faz alusão ao trecho de uma fala de Lula em 1993. Em 1996, foi lançada a biografia "Lula, o Filho do Brasil", de Antonio Candido. Em 2009, o cineasta Fábio Barreto dirigiu o filme "Lula, o Filho do Brasil", que retrata a vida de Lula até os 35 anos, baseando-se no livro de Candido. O filme foi um fracasso de crítica e público, acusado de ser propaganda política, e os produtores até o exibiram de graça. Alguns observadores no Brasil disseram que o filme foi um sinal de culto à personalidade. Lula foi retratado nos documentários "Peões", que mostra a luta do movimento sindical do ABC Paulista, e "Entreatos", que acompanha sua campanha política de 2002, ambos lançados em 2004. Lula ainda participou de dois documentários dirigidos por Oliver Stone sobre Hugo Chávez: "South of the Border" (2009) e "Mi amigo Hugo" (2014). Em 2017, foi lançado o filme "", retratando a história da Operação Lava Jato da perspectiva de seus autores, com Lula sendo interpretado pelo ator Ary Fontoura. No ano seguinte, foi lançada a série "O Mecanismo", da Netflix, que também trata da Operação Lava Jato e traz um personagem que faz alusão a Lula, João Higino, interpretado por Arthur Kohl. Relações com a imprensa e notícias falsas. Diferentes comentaristas criticaram a relação de Lula com os meios de comunicação, tanto por suas críticas aos veículos da imprensa como por suas propostas de regular a mídia. Em 2004, o governo Lula cogitou expulsar do país o jornalista americano Larry Rohter, do "The New York Times", por escrever uma reportagem sobre a suposta propensão de Lula a beber, mas a decisão foi revogada depois de uma retratação por escrito do repórter. Em 2019, o "site" "Aos Fatos" checou o discurso de Lula no Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, concluindo que este havia feito seis declarações falsas, quatro verdadeiras e uma imprecisa. Em 2020, citou o nazismo para atacar a TV Globo e acabou, em parte, defendendo os ataques de Bolsonaro direcionados a jornalistas. A declaração recebeu críticas da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo e da Federação Nacional dos Jornalistas. Em 2018, a revista "Veja" concluiu que Lula era uma das maiores vítimas de notícias falsas no Brasil, sendo a grande maioria delas de viés negativo. Dentre as de maior repercussão, estava a de que saiu na capa da revista "Forbes" como um dos homens mais ricos do Brasil, a de ser o dono da empresa JBS, de ter um luxuoso avião a jato avaliado em 50 milhões de dólares, de ser dono uma grande mansão no Uruguai, de receber aposentadoria por invalidez, de ter saído na capa da revista "The Economist" como um dos maiores corruptos do mundo e também de ter enviado 30 bilhões de reais para o exterior, além da que o acusa de ter recebido 317 milhões de reais em uma delação premiada. Todas as notícias foram divulgadas por "sites" ou políticos ligados a partidos de direita e circularam em aplicativos de celular como o WhatsApp, em canais do YouTube e por emails.
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Leptão
Leptão
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Lógica Booleana
Lógica Booleana
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Lógica
Lógica Lógica (do grego λογική logos) tem dois significados principais: discute o uso de raciocínio em alguma atividade e é o estudo normativo, filosófico do raciocínio válido. No segundo sentido, a lógica é discutida principalmente nas disciplinas de filosofia, matemática e ciência da computação. Ambos os sentidos se baseando no foco comum referente a harmonia de raciocínio, a proporcionalidade formal entre argumentos, assim sendo, a correta e equilibrada relação entre todos os termos, a total concordância entre cada um deles dentro de um desenvolvimento. A lógica examina de forma genérica as formas que a argumentação pode tomar, quais dessas formas são válidas e quais são falaciosas. Em filosofia, o estudo da lógica aplica-se na maioria dos seus principais ramos: metafísica, ontologia, epistemologia e ética. Na matemática, estudam-se as formas válidas de inferência de uma linguagem formal. Na ciência da computação, a lógica é uma ferramenta indispensável. Por fim, a lógica também é estudada na teoria da argumentação. A lógica foi estudada em várias civilizações da Antiguidade. Na Índia, a recursão silogística, "Nyaya" remonta há 1900 anos. Na China, o Moísmo e a Escola dos Nomes datam de há 2200 anos. Na Grécia Antiga a lógica foi estabelecida como disciplina por Aristóteles, com a sua obra "Organon". Ele dividiu a lógica em "formal" e "material". O estudo da lógica era parte do "Trivium" clássico, juntamente com a gramática e a retórica ("ver: Artes liberais"). A lógica é frequentemente dividida em três partes: o raciocínio indutivo, o raciocínio abdutivo e o raciocínio dedutivo. O estudo da lógica. O conceito de forma lógica é central à lógica, que se baseia na ideia de que a validade de um argumento é determinada pela sua forma lógica, não pelo seu conteúdo. A lógica silogística aristotélica tradicional e a lógica simbólica moderna são exemplos de lógicas formais. História. O primeiro trabalho feito sobre o tema da lógica é o de Aristóteles (na verdade, os sofistas e Platão já haviam se dedicado a questões lógicas, o trabalho de Aristóteles, porém, é mais amplo, rigoroso e sistematizado). A lógica aristotélica tornou-se amplamente aceita em ciências e matemática e manteve-se em ampla utilização no Ocidente até o início do século XIX. O sistema lógico de Aristóteles foi responsável pela introdução do silogismo hipotético, lógica modal temporal e lógica indutiva. Na Europa, durante o final do período medieval, grandes esforços foram feitos para mostrar que as ideias de Aristóteles eram compatíveis com a fé cristã. Durante a Alta Idade Média, a lógica se tornou o foco principal dos filósofos, que se engajaram em análises lógicas críticas dos argumentos filosóficos ("ver: Filosofia cristã"). Lógica aristotélica. Dá-se o nome de Lógica aristotélica ao sistema lógico desenvolvido por Aristóteles a quem se deve o primeiro estudo formal do raciocínio. Dois dos princípios centrais da lógica aristotélica são a lei da não contradição e a lei do terceiro excluído. A lei da não contradição diz que nenhuma afirmação pode ser verdadeira e falsa ao mesmo tempo e a lei do terceiro excluído diz que qualquer afirmação da forma *P ou não P* é verdadeira. Esse princípio deve ser cuidadosamente distinguido do *princípio de bivalência*, o princípio segundo o qual para toda proposição (p), ela ou a sua negação é verdadeira. A lógica aristotélica, em particular, a teoria do silogismo, é apenas um fragmento da assim chamada lógica tradicional. Lógica formal. A Lógica Formal, também chamada de Lógica Simbólica, preocupa-se, basicamente, com a estrutura do raciocínio. A Lógica Formal lida com a relação entre conceitos e fornece um meio de compor provas de declarações. Na Lógica Formal os conceitos são rigorosamente definidos, e as orações são transformadas em notações simbólicas precisas, compactas e não ambíguas. As letras minúsculas "p", "q" e "r", em fonte itálica, são convencionalmente usadas para denotar proposições: Esta declaração define que "p" é 1 + 2 = 3 e que isso é "verdadeiro". Duas ou mais proposições podem ser combinadas por meio dos chamados "operadores lógicos" binários , formando "conjunções", "disjunções" ou "condicionais". Essas proposições combinadas são chamadas proposições compostas. Por exemplo: Na matemática e na ciência da computação, pode ser necessário enunciar uma proposição dependendo de variáveis: Essa proposição pode ser ou verdadeira ou falsa, a depender do valor assumido pela variável "n". Uma fórmula com variáveis livres é chamada função proposicional com domínio de discurso "D". Para formar uma proposição , devem ser usados quantificadores. "Para todo "n"", ou "para algum "n"" podem ser especificados por quantificadores: o "quantificador universal", ou o "quantificador existencial", respectivamente. Por exemplo: Isto pode ser escrito como: Quando existem algumas variáveis livres, a situação padrão na análise matemática desde Weierstrass, as quantificações "para todos ... então existe" ou "então existe ... isto para todos" (e analogias mais complexas) podem ser expressadas. Lógica material. Trata da aplicação das operações do pensamento, segundo a matéria ou natureza do objeto a conhecer. Neste caso, a lógica é a própria metodologia de cada ciência. É, portanto, somente no campo da lógica material que se pode falar da verdade: o argumento é válido quando as premissas são verdadeiras e se relacionam adequadamente à conclusão. Lógica matemática. Lógica Matemática é o uso da lógica formal para estudar o raciocínio matemático — ou, como propõe Alonzo Church, 'lógica tratada pelo método matemático' —. No início do século XX, lógicos e filósofos tentaram provar que a matemática, ou parte da matemática, poderia ser reduzida à lógica.(Gottlob Frege, p.ex., tentou reduzir a aritmética à lógica; Bertrand Russell e Alfred North Whitehead, no clássico Principia Mathematica, tentaram reduzir toda a matemática então conhecida à lógica — a chamada 'lógica de segunda ordem' —). Uma das suas doutrinas lógico-semânticas era que a descoberta da forma lógica de uma frase, na verdade, revela a forma adequada de dizê-la, ou revela alguma essência previamente escondida. Há um certo consenso que a redução falhou — ou que precisaria de ajustes —, assim como há um certo consenso de que a lógica — ou alguma lógica — é uma maneira precisa de representar o raciocínio matemático. Ciência que tem por objeto o estudo dos métodos e princípios que permitem distinguir raciocínios válidos de outros não válidos. Lógica filosófica. A lógica estuda e sistematiza a argumentação válida. A lógica tornou-se uma disciplina praticamente autónoma em relação à filosofia, graças ao seu elevado grau de precisão e tecnicismo. Hoje em dia, é uma disciplina acadêmica que recorre a métodos matemáticos, e os lógicos contemporâneos têm em geral formação matemática. Todavia, a lógica elementar que se costuma estudar nos cursos de filosofia é tão básica como a aritmética elementar e não tem elementos matemáticos. A lógica elementar é usada como instrumento pela filosofia, para garantir a validade da argumentação. Quando a filosofia tem a lógica como objecto de estudo, entramos na área da filosofia da lógica, que estuda os fundamentos das teorias lógicas e os problemas não estritamente técnicos levantados pelas diferentes lógicas. Hoje em dia há muitas lógicas além da teoria clássica da dedução de Russell e Frege (como as lógicas livres, modais, temporais, paraconsistentes, difusas, intuicionistas, etc. ver: Lógica intuicionista), o que levanta novos problemas à filosofia da lógica. A filosofia da lógica distingue-se da lógica filosófica aristotélica, que não estuda problemas levantados por lógicas particulares, mas problemas filosóficos gerais, que se situam na intersecção da metafísica, da epistemologia e da lógica. São problemas centrais de grande abrangência, correspondendo à disciplina medieval conhecida por "Lógica & Metafísica", e abrangendo uma parte dos temas presentes na própria Metafísica, de Aristóteles: a identidade de objetos, a natureza da Necessidade, a natureza da verdade, o conhecimento a prioridade, etc. Precisamente por ser uma "subdisciplina transdisciplinar", o domínio da lógica filosófica é ainda mais difuso do que o das outras disciplinas. Para agravar as incompreensões, alguns filósofos chamam "lógica filosófica" à filosofia da lógica (e vice-versa). Em qualquer caso, o importante é não pensar que a lógica filosófica é um gênero de lógica, a par da lógica clássica, mas "mais filosófica"; pelo contrário, e algo paradoxalmente, a lógica filosófica, não é uma lógica no sentido em que a lógica clássica é uma lógica, isto é, no sentido de uma articulação sistemática das regras da argumentação válida. A lógica informal estuda os aspectos da argumentação válida que não dependem exclusivamente da forma lógica. O tema introdutório mais comum no que respeita à lógica é a teoria clássica da dedução (lógica proposicional e de predicados, incluindo formalizações elementares da linguagem natural); a lógica aristotélica é por vezes ensinada, a nível universitário, como complemento histórico e não como alternativa à lógica clássica.» (Desidério Murcho) "Lógica", depois ela foi substituída pela invenção da Lógica Matemática. Relaciona-se com a elucidação de ideias como referência, previsão, identidade, verdade, quantificação, existência, e outras. A Lógica filosófica está muito mais preocupada com a conexão entre a Linguagem Natural e a Lógica. Lógica de predicados. Gottlob Frege, em sua Conceitografia ("Begriffsschrift"), descobriu uma maneira de reordenar várias orações para tornar sua forma lógica clara, com a intenção de mostrar como as orações se relacionam em certos aspectos. Antes de Frege, a lógica formal não obteve sucesso além do nível da lógica de orações: ela podia representar a estrutura de orações compostas de outras orações, usando palavras como "e", "ou" e "não", mas não podia quebrar orações em partes menores. Não era possível mostrar como "Vacas são animais" leva a concluir que "Partes de vacas são partes de animais". A lógica de orações explica como funcionam palavras como "e", "mas", "ou", "não", "se-então", "se e somente se", e "nem-ou". Frege expandiu a lógica para incluir palavras como "todos", "alguns", e "nenhum". Ele mostrou como podemos introduzir variáveis e quantificadores para reorganizar orações. Frege trata orações simples sem substantivos como predicados e aplica a eles to "dummy objects" (x). A estrutura lógica na discussão sobre objetos pode ser operada de acordo com as regras da lógica de orações, com alguns detalhes adicionais para adicionar e remover quantificadores. O trabalho de Frege foi um dos que deram início à lógica formal contemporânea. Frege adiciona à lógica de orações: Para introduzir um quantificador "todos", você assume uma variável arbitrária, prova algo que deva ser verdadeira, e então prova que não "importa" que variável você escolha, que aquilo deve ser sempre verdade. Um quantificador "todos" pode ser removido aplicando-se a oração para um objeto em particular. Um quantificador "algum" (existe) pode ser adicionado a uma oração verdadeira de qualquer objeto; pode ser removida em favor de um temo sobre o qual você ainda não esteja pressupondo qualquer informação. Lógica de vários valores. Sistemas que vão além dessas duas distinções (verdadeiro e falso) são também conhecidos como lógicas de vários valores (ou lógicas polivaluadas, ou lógicas não aristotélicas, ou polivalentes). No início do século XX, por exemplo, Jan Łukasiewicz investigou a extensão dos tradicionais valores verdadeiro/falso para incluir um terceiro valor, "possível". Lógicas como a lógica difusa foram então desenvolvidas com um número infinito de "graus de verdade", representados, por exemplo, por um número real entre 0 e 1. Probabilidade bayesiana pode ser interpretada como um sistema de lógica onde probabilidade é o valor verdade subjetivo. Outros exemplos de lógicas clássicas em tradições humanas seriam a lógica de quatro valores (verdadeiro, falso, ambos, nem-verdadeiro-nem-falso) ou cinco (adicionando "inefabilidade" às quatro anteriores, vide referência para casuística), conhecidas pela inclusão de paradoxos que não seriam computáveis via lógicas binárias. Lógica e computadores. A Lógica é extensivamente utilizada em todas as áreas vinculadas aos computadores. Partindo-se do princípio que muitas das nossas tarefas diárias são uma sequência que obedecem uma determinada ordem, de um estado inicial, através de um período de tempo finito e que nesse período produzimos resultados esperados e bem definidos, poderíamos classificar essas tarefas dentro de um algoritmo que utilizam o conceito da lógica formal para fazer com que o computador produza uma série sequencial. Nas décadas de 50 e 60, pesquisadores previram que quando o conhecimento humano pudesse ser expresso usando lógica com notação matemática, supunham que seria possível criar uma máquina com a capacidade de pensar, ou seja, inteligência artificial. Isto se mostrou mais difícil que o esperado em função da complexidade do raciocínio humano. A programação lógica é uma tentativa de fazer computadores usarem raciocínio lógico e a linguagem de programação Prolog é frequentemente utilizada para isto. Na lógica simbólica e lógica matemática, demonstrações feitas por humanos podem ser auxiliadas por computador. Usando prova automática de teoremas os computadores podem achar e verificar demonstrações, assim como trabalhar com demonstrações muito extensas. Na ciência da computação, a álgebra booleana é a base do projeto de "hardware". Tipos de lógica. De uma maneira geral, pode-se considerar que a lógica, tal como é usada na filosofia e na matemática, observa sempre os mesmos princípios básicos: a lei do terceiro excluído, a lei da não contradição e a lei da identidade. A esse tipo de lógica pode-se chamar "lógica clássica", ou "lógica aristotélica". Além desta lógica, existem outros tipos de lógica que podem ser mais apropriadas dependendo da circunstância onde são utilizadas. Podem ser divididas em dois tipos: Testes de lógica. Vejam alguns testes simples de lógica: 1.Você está numa cela onde existem duas portas, cada uma vigiada por um guarda. Existe uma porta que dá para a liberdade, e outra para a morte. Você está livre para escolher a porta que quiser e por ela sair. Poderá fazer apenas uma pergunta a um dos dois guardas que vigiam as portas. Um dos guardas sempre fala a verdade, e o outro sempre mente e você não sabe quem é o mentiroso e quem fala a verdade. "Que pergunta você faria?" 2.Você é prisioneiro de uma tribo indígena que conhece todos os segredos do Universo e portanto sabem de tudo. Você está para receber sua sentença de morte. O cacique o desafia: "Faça uma afirmação qualquer. Se o que você falar for mentira você morrerá na fogueira, se falar uma verdade você será afogado. Se não pudermos definir sua afirmação como verdade ou mentira, nós te libertaremos." "O que você diria?" 3. Epiménides era um grego da cidade de Minos. Dizem que ele tinha a fama de mentir muito. Certa vez, ele citou esta passagem: "Era uma vez um" bode "que disse:" - Quando a mentira nunca é desvendada, quem está mentindo sou eu. "Em seguida o" leão "disse:" - Se o bode for um mentiroso, o que o dragão diz também é mentira. "Por fim" o dragão "disse:" - Quem for capaz de desvendar a minha mentira, então, ele estará dizendo a verdade. Qual deles está mentindo? Este teste é mais conhecido como paradoxo de Epiménides. Respostas dos "testes de lógica" citados acima. 1. Pergunte a qualquer um deles: Qual a porta que o seu companheiro apontaria como sendo a porta da liberdade? Explicação: O mentiroso apontaria a porta da morte como sendo a porta que o seu companheiro (o sincero) diria que é a porta da liberdade, já que se trata de uma mentira da afirmação do sincero. E o sincero, sabendo que seu companheiro sempre mente, diria que ele apontaria a porta da morte como sendo a porta da liberdade. Conclusão: os dois apontariam a porta da morte como sendo a porta que o seu companheiro diria ser a porta da liberdade. Portanto, é só seguir pela outra porta. Uma outra opção de resposta seria perguntar a qualquer um deles: A porta que está o guarda que diz a verdade é a porta da liberdade? Explicação: Se você perguntar ao verdadeiro e ele estiver na porta da liberdade dirá que "sim" e se você perguntar ao mentiroso e ele estiver na porta da liberdade também dirá que "sim" pois seria uma mentira já que a verdade seria que ele está na porta da liberdade. Se o guarda que diz a verdade responder "não" seria porque a porta da liberdade estaria com o mentiroso, ou seja a outra porta, e o mentiroso dizendo "não" é porque o verdadeiro estaria na porta da liberdade que também seria a porta oposta. Conclusão: Independente a qual guarda perguntar sempre saia pela mesma porta se a resposta for "sim", e saia pela outra porta se a resposta for "não". 2. Afirme que você morrerá na fogueira. Explicação: Se você realmente morrer na fogueira, isto é uma verdade, então você deveria morrer afogado, mas se você for afogado a afirmação seria uma mentira, e você teria que morrer na fogueira. Conclusão: Mesmo que eles pudessem prever o futuro, cairiam neste impasse e você seria libertado. 3. Ao tentar responder ao enigma, encontram-se informações que se ligam umas às outras e acabam não levando a resposta alguma. Esse enigma pode ser denominado como paradoxo do mentiroso. Veja o exemplo de um paradoxo simples e interessante:
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Lojban
Lojban Lojban é uma língua humana construída sintaticamente sem ambiguidades baseada na lógica de predicados, sucessor do projeto linguístico Loglan. O nome "Lojban" é uma palavra composta a partir de "loj" e "ban", que são formas curtas das palavras "logji" (lógica) e "bangu" (língua; linguagem; idioma), respectivamente. O desenvolvimento do idioma iniciou-se em 1987 por "The Logical Language Group" (LLG), cuja intenção era realizar os propósitos do idioma Loglan, bem como complementá-la ainda mais, tornando-a mais usável e disponível gratuitamente (como indicado pelo seu nome oficial completo em Inglês "Lojban: a realization of Loglan"). Depois de um período inicial de debates e testes, as bases do idioma foram finalizadas em 1997 com a publicação de "The Complete Lojban Language". Numa entrevista em 2010 para o "New York Times", Arika Okrent, autor de "In the Land of Invented Languages", afirmou: "A língua construída com a gramática mais completa é provavelmente Lojban - uma língua criada para refletir os princípios da lógica." As principais fontes de seu vocabulário foram as seis línguas mais faladas em 1987: Mandarim, Inglês, Hindi, Espanhol, Russo e Árabe, escolhidas para reduzir a falta de familiaridade ou estranheza dos radicais para pessoas de diversas origens linguísticas. História. Lojban tem um antecessor, Loglan, um idioma inventado por James Cooke Brown em 1955 e desenvolvido por The Loglan Institute. Loglan foi originalmente concebido como uma forma de analisar a influência do idioma sobre o pensamento do falante (um pressuposto conhecido como a hipótese de Sapir-Whorf). Quando Brown começou a reivindicar os direitos autorais dos componentes do idioma, algumas restrições foram impostas sobre a atividade da comunidade. Para contornar o problema, um grupo de pessoas decidiu iniciar um projeto independente e separado, baseado no léxico da língua Loglan. Desta forma, foi reinventado todo o vocabulário, que, hoje, é todo o vocabulário e léxico atual de Lojban. Então, este grupo se estabeleceu em 1987, com a denominação "The Logical Language Group", cujo sede situa-se em Washington DC. O grupo também ganhou um julgamento que permitiu chamar a versão deste novo idioma criado por eles de "Loglan". Após a publicação de "The Complete Lojban Language", esperava-se que "the documented lexicon would be baselined, and the combination of lexicon and reference grammar would be frozen for a minimum of 5 years while language usage grew." Como previsto, este período expirou em 2002. Os falantes de Lojban agora estão livres para construir novas palavras e expressões idiomáticas, e decidir onde a língua está se dirigindo. Lojban ainda compartilha muitas das características de Loglan: Desenvolvimento literário e vocabulário. Lojban pode ser um excelente instrumento intelectual para a criação literária e é considerada como uma língua de muitos aspectos potenciais a ser descoberto ou explorado. Como a maioria das línguas com poucos falantes, Lojban carece muito de uma literatura e suas extensões criativas não foram plenamente realizados (o verdadeiro potencial do seu sistema de atitudes, por exemplo, é considerado improvável de ser retirado "until and unless we have children raised entirely in a multi-cultural Lojban-speaking environment"). Fontes coletivas ou enciclopédicas, como a , que pode ajudar a expandir o horizonte lexical da língua, não são muito desenvolvidas também. A literatura e escritos em Lojban acessíveis, atualmente, estão principalmente concentrados no website Lojban.org, embora existam também sites jornalísticos e blogs em Lojban. Lojban IRC (ou seus arquivos) também possui um conjunto de expressões em Lojban, mas sua correção gramatical nem sempre é garantido. Fonologia. Lojban possui seis vogais, /a e i o u ə/, sendo representadas na ortografia latina por «a e i o u y», respectivamente. /i/ e /u/ podem funcionar como semivogais. As consoantes são as seguintes: As consoantes /ʔ ʃ ʒ h/ são representadas por «. c j '». O resto é o mesmo que AFI.
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Lista de religiões e tradições espirituais
Lista de religiões e tradições espirituais Embora a palavra religião seja difícil de definir, um modelo padrão de religião usado em cursos de estudos religiosos a define como um Muitas religiões possuem narrativas, símbolos, tradições e histórias sagradas que visam dar sentido à vida ou explicar a origem da vida ou do universo. Eles tendem a derivar moralidade, ética, leis religiosas ou um estilo de vida preferido de suas ideias sobre o cosmos e a natureza humana. De acordo com algumas estimativas, existem cerca de quatro mil e duzentas religiões, igrejas, denominações, corpos religiosos, grupos religiosos, tribos, culturas, movimentos, preocupações últimas, que em algum momento no futuro serão incontáveis. A palavra "religião" às vezes é usada de forma intercambiável com as palavras "fé" ou "sistema de crenças", mas a religião difere da crença privada por ter um aspecto público. A maioria das religiões tem comportamentos organizados, incluindo hierarquias clericais, uma definição do que constitui adesão ou filiação, congregações de leigos, reuniões ou serviços regulares para fins de veneração de uma divindade ou para oração, lugares sagrados (naturais ou arquitetônicos) ou textos religiosos. Certas religiões também têm uma linguagem sagrada frequentemente usada em serviços litúrgicos. A prática de uma religião também pode incluir sermões, comemorações das atividades de um Deus ou deuses, sacrifícios, festivais, festas, transe, rituais, liturgias, cerimônias, cultos, iniciações, funerais, casamentos, meditação, invocação, mediunidade, música, arte, dança, serviço público ou outros aspectos da cultura humana. As crenças religiosas também têm sido usadas para explicar fenômenos parapsicológicos, como experiências fora do corpo, experiências de quase morte e reencarnação, juntamente com muitas outras experiências paranormais e sobrenaturais. Alguns acadêmicos que estudam o assunto dividiram as religiões em três grandes categorias: religiões mundiais, um termo que se refere a crenças transculturais, internacionais; Religiões étnicas, que se refere a grupos religiosos menores, específicos de uma cultura ou de uma nação; e novos movimentos religiosos, que se referem a crenças recentemente desenvolvidas. Uma teoria acadêmica moderna da religião, o construcionismo social, diz que a religião é um conceito moderno que sugere que toda prática espiritual e culto segue um modelo semelhante às religiões abraâmicas como um sistema de orientação que ajuda a interpretar a realidade e definir o ser humano, e, portanto, acredita que a religião, como conceito, foi aplicada de forma inadequada a culturas não ocidentais que não são baseadas em tais sistemas, ou nas quais esses sistemas são uma construção substancialmente mais simples. Religiões teístas. Estas são aquelas que creem em divindades. Costumam ser divididas entre monoteístas (que creem em apenas um deus) e politeístas (que creem em mais de um deus no mundo). Monoteísmo. O monoteísmo (do grego: μόν£ος, transl. mónos, "único", e θεός, transl. théos, "deus": único deus) é a crença na existência de apenas um deus. Diferencia-se do henoteísmo por ser este a crença preferencial em um deus reconhecido entre muitos. Politeísmo. O politeísmo, nativo na maioria das culturas do mundo desde a antiguidade, admite a existência de vários deuses diferentes relacionados a diversos aspectos da natureza, da vida e do sobrenatural. Teísmo indefinido. Seu conceito de Deus é complexo, e está vinculado a cada uma das suas tradições e filosofias. Religiões não-teístas. São religiões que não acreditam em nenhuma forma de divindade, mas admitem a existência de outras características espirituais como reencarnação, energias, entre outros.
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Leão Alácio
Leão Alácio Leão Alácio (; ; Quio, – Roma, ) foi um erudito grego do . Ingressou no Colégio Grego em Roma em 1600, passou três anos na Lucânia com seu conterrâneo Bernard Giustiniani, e depois voltou a Quio, onde foi de grande ajuda ao bispo latino Marco Giustiniani. Em 1616, recebeu o grau de doutor em medicina pela Sapienza, foi nomeado escritor na Biblioteca do Vaticano e, posteriormente, professor de retórica no Colégio Grego, cargo que ocupou por apenas dois anos. Em 1622, o papa Gregório XV o enviou ao Sacro Império Romano-Germânico para trazer a Roma a biblioteca do Eleitorado do Palatinado, que o príncipe-eleitor Maximiliano I da Baviera apresentara ao Papa em troca de subsídios de guerra, tarefa que cumpriu diante de grandes dificuldades. Com a morte de Gregório XV (1623), Alácio perdeu seu patrono principal: mas com o apoio de igrejas influentes, continuou suas pesquisas, especialmente sobre os manuscritos do palatinado. Alexandre VII fez dele o guardião da Biblioteca do Vaticano em 1661, onde permaneceu até sua morte. Alácio combinou uma vasta erudição, que aplicou em questões literárias, históricas, filosóficas e teológicas. Trabalhou arduamente para efetuar a reconciliação da Igreja Ortodoxa de Constantinopla com a de Igreja Católica de Roma e, para esse fim, escreveu sua obra mais importante, "De Ecclesiæ Occidentalisatque Orientalis perpetua consensione" (Colônia, 1648), na qual os pontos de concordância entre as Igrejas são enfatizados, enquanto suas diferenças são minimizadas. Também editou ou traduziu para o latim os escritos de vários autores gregos, correspondeu-se com os principais estudiosos da Europa, contribuiu como editor para o "Corpus Byzantinorum" (Paris) e organizou a publicação de uma "Biblioteca dos Escritores Gregos ("Bibliotheca Scriptorum Græcorum"). Legou seus manuscritos (cerca de 150 volumes) e sua correspondência (mais de cartas) para a biblioteca dos Oratorianos em Roma.
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Linguagem formal
Linguagem formal Entende-se por linguagem formal estudo de modelos matemáticos que possibilitam a especificação e o reconhecimento de linguagens (no sentido amplo da palavra), suas classificações, estruturas, propriedades, características e inter-relacionamentos . A importância dessa teoria na ciência da computação é dupla: ela tanto apoia outros aspectos teóricos da ciência da computação (decidibilidade, computabilidade, complexidade computacional, por exemplo), como fundamenta diversas aplicações computacionais tais como processamento de linguagens, reconhecimento de padrões, modelagem de sistemas. Para definir o que é a teoria das linguagens formais é preciso definir o que é linguagem e o que é linguagem formal. Inicialmente, de maneira bastante informal, podemos definir uma linguagem como sendo uma forma de comunicação. Elaborando um pouco mais esta definição, podemos definir uma linguagem como sendo "um conjunto de elementos (símbolos) e um conjunto de métodos (regras) para combinar estes elementos, usado e entendido por uma determinada comunidade". São exemplos as "linguagens naturais" (ou idiomas), "linguagens de programação" e os "protocolos de comunicação". Assim, podemos dizer que "linguagens formais" são mecanismos formais para representação e especificação de linguagens, baseados na chamada "teoria da computação". As representações podem ser feitas por reconhecedores e geradores. Os reconhecedores são dispositivos formais que servem para verificar se uma frase pertence ou não à determinada linguagem. São os autômatos: autômatos finitos, autômatos de pilha e máquina de Turing. Os sistemas geradores são dispositivos formais que permitem a geração sistemática de todas as frases de uma linguagem. Os principais sistemas geradores disponíveis são as gramáticas, onde se destacam as gramáticas de Chomsky. Então, linguagens formais podem ser representadas de maneira finita e precisa através de sistemas com sustentação matemática. História da linguagem não formal. Acredita-se que a primeira linguagem formal seja a utilizada por Gottlob Frege em seu Begriffsschrift (1879), que literalmente significa "escrita conceito", e que Frege descreveu como uma "linguagem formal do pensamento puro". O sistema Semi-Thue de Axel Thue, que pode ser usado para reescrever cadeias, foi influente em gramáticas formais . Palavras sobre um alfabeto. Um alfabeto, no contexto das linguagens formais, pode ser qualquer conjunto, embora, muitas vezes, faz sentido usar um alfabeto no sentido usual da palavra, ou, mais geralmente, um conjunto de caracteres, como ASCII ou Unicode. Alfabetos também podem ser infinitos, por exemplo, a lógica de primeira ordem é frequentemente expressa utilizando um alfabeto que, além de símbolos tais como ∧, ¬ ∀ e, entre parênteses, contém muitos elementos infinitamente x 0, x 1, x 2, ..., que desempenham o papel de variáveis. Os elementos de um alfabeto são chamados de suas letras. Uma palavra sobre um alfabeto pode ser qualquer sequência finita, ou cadeia de caracteres ou letras, que por vezes podem incluir espaços, e são separados por caracteres de separação de palavras especificadas. O conjunto de todas as palavras sobre um alfabeto Σ é geralmente indicado por Σ *(usando o fecho de Kleene). O comprimento de uma palavra é o número de caracteres ou letras de que é composto. Para qualquer alfabeto só há uma palavra de comprimento 0, a palavra vazia, o que é muitas vezes denotado por e, ε ou λ. Por concatenação pode-se combinar duas palavras para formar uma nova palavra, cujo comprimento é igual à soma dos comprimentos das palavras originais. O resultado da concatenação de uma palavra com a palavra vazia é a palavra original. Em algumas aplicações, especialmente na lógica, o alfabeto é também conhecido como o vocabulário e as palavras são conhecidas como fórmulas ou sentenças, isso quebra a letra/palavra metáfora e a substitui por uma palavra/sentença metáfora. Definição. Uma linguagem formal de L sobre um alfabeto Σ é um subconjunto de Σ *, isto é, um conjunto de palavras sobre um alfabeto. Por vezes, os conjuntos de palavras são agrupados em expressões, que as regras e as constantes podem ser formuladas para a criação de "expressões bem formadas". Em ciência e matemática de computador, que não costumam lidar com linguagens naturais, o adjetivo "formal" é frequentemente omitido como redundante. Enquanto a teoria da linguagem formal, geralmente se preocupa com linguagens formais que são descritas por algumas regras sintáticas, a própria definição do conceito de "linguagem formal" é apenas como mencionado acima: um (possivelmente infinito) conjunto de cadeias de tamanho finito, composto de um determinado alfabeto, nem mais nem menos. Na prática, há muitas línguas que podem ser descritas pelas regras, tais como linguagens regulares e linguagens livres de contexto. A noção de uma gramática formal pode estar mais perto do conceito intuitivo de uma "linguagem", que é descrita por regras sintáticas. Por um abuso de definição, uma particular linguagem formal é muitas vezes considerada como sendo equipada com uma gramática formal que a descreve. Exemplos. As seguintes regras descrevem uma linguagem L formal sobre o alfabeto Σ = {0, 1, 2, 3, 4, 5, 6, 7, 8, 9, +, =}: Sob essas regras, a cadeia "23 +4 = 555" está em L, mas a cadeia "= 234 = +" não está. Esta linguagem formal expressa números naturais, declarações adição bem formadas, e igualdades adição bem formadas, mas estas exprimem apenas o que elas se parecem (sua sintaxe), não o que eles querem dizer (semântica). Por exemplo, em nenhuma parte destas regras existe qualquer indicação de que "0" significa o número zero, ou que "+" significa adição. Construções. Para linguagens finitas, uma pode explicitamente enumerar todas as palavras bem formadas. Por exemplo, pode-se descrever uma língua L somente como L = {"a", "b", "b", "ABC".} O degenerado caso desta construção é a linguagem vazia, que não contém nenhuma palavra (L = ∅ ). No entanto, mesmo ao longo de um alfabeto (não-vazio) finito, como Σ = {a, b} existem infinitamente muitas palavras: "a", "abb", "ababba", "aaababbbbaab", ... Portanto, as linguagens formais são tipicamente infinitas, e descrever uma linguagem formal infinita não é tão simples como escrever L = {"a", "b", "ab", "cba"}. Aqui estão alguns exemplos de linguagens formais: Formalismos de especificações de linguagens. A teoria da linguagem formal, raramente se preocupa com determinadas línguas (exceto como exemplos), mas está preocupada principalmente com o estudo de vários tipos de formalismos para descrever línguas. Por exemplo, uma linguagem pode ser dada como Perguntas típicas feitas sobre tais formalismos incluem: Surpreendentemente, muitas vezes, a resposta a esses problemas de decisão é "não pode ser feito de modo algum", ou "é extremamente custoso" (com uma caracterização de o quão custoso). Portanto, a teoria da linguagem formal é uma grande área de aplicação da teoria da computabilidade e teoria da complexidade. Linguagens formais podem ser classificadas na hierarquia de Chomsky com base no poder expressivo de sua gramática geradora, bem como a complexidade de seu autômato reconhecedor. Gramáticas livres de contexto e gramáticas regulares oferecem um bom compromisso entre expressividade e facilidade de análise, e são amplamente utilizadas em aplicações práticas. Operações em linguagens. Certas operações em linguagens são comuns. Isto inclui as operações padrão de conjuntos, tais como união, interseção e complemento. Outra classe de operação é a de aplicação "element-wise" de operações de cadeia. Exemplos: Tais operações de cadeia são usadas para investigar as propriedades de fechamento das classes de linguagem. A classe das linguagens é fechada sob uma operação em particular quando a operação, aplicada as linguagens na classe, sempre produz uma linguagem na mesma classe. Por exemplo, as linguagens livres de contexto são conhecidas por serem fechadas sob união, concatenação e intersecção com linguagens regulares, mas não fechadas sob interseção ou complemento. A teoria dos trios e famílias abstratas de linguagens estuda as propriedades mais comuns de fechamento de famílias de linguagens em seu próprio direito. Aplicações. Linguagens de programação. Um compilador tem geralmente dois componentes distintos. Um analisador léxico, gerado por uma ferramenta como lex, que identifica os símbolos da gramática da linguagem de programação, por exemplo, identificadores ou palavras-chave, que são eles próprios expressos em uma linguagem formal mais simples, geralmente por meio de expressões regulares. No nível conceitual mais básico, um parser, geralmente gerado por um gerador de parser como yacc, tenta decidir se o programa fonte é válido, isto é, se ele pertence à linguagem de programação para que o compilador foi construído. Claro, compiladores fazem mais do que apenas analisar o código fonte, eles geralmente o traduzem em algum formato executável. Devido a isso, um analisador geralmente produz mais do que uma resposta sim / não, normalmente uma árvore de sintaxe abstrata, que é usado por etapas subsequentes do compilador para, eventualmente, gerar um executável contendo o código de máquina que roda diretamente no hardware, ou algum código intermediário que requer uma máquina virtual para executar. Teorias formais, sistemas e provas. Na lógica matemática, uma teoria formal é um conjunto de sentenças expressas em uma linguagem formal. Um sistema formal (também chamado de cálculo lógico, ou um sistema lógico) é constituído por uma linguagem formal, juntamente com um sistema dedutivo (também denominado aparato dedutivo). O sistema dedutivo pode consistir num conjunto de regras de transformação que possam ser interpretados como regras válidas de inferência ou um conjunto de axiomas, ou tem ambos. Um sistema formal é utilizado para derivar uma expressão de uma ou mais outras expressões. Embora uma linguagem formal possa ser identificada com as suas fórmulas, um sistema convencional pode não ser igualmente identificado pelos seus teoremas. Dois sistemas formais formula_1 e formula_2 podem ter os mesmos teoremas e ainda diferirem em alguma significante prova teórica (uma fórmula A pode ser uma consequência de uma fórmula sintática B em um, mas não no outro, por exemplo). A prova formal ou derivação é uma sequência finita de fórmulas bem formadas (que pode ser interpretado como proposições), cada um dos quais é um axioma ou resulta das fórmulas anteriores na sequência de uma regra de inferência. A última frase da sequência é um teorema de um sistema formal. Provas formais são úteis porque os seus teoremas podem ser interpretados como proposições verdadeiras. Interpretações e modelos. Linguagens formais são totalmente sintáticas por natureza, mas podem ser dadas semânticas que dão sentido aos elementos da linguagem. Por exemplo, em matemática lógica, o conjunto de possíveis fórmulas de uma lógica particular é uma linguagem formal, e uma interpretação atribui um significado para cada uma das fórmulas, geralmente, um valor verdade. O estudo das interpretações de linguagens formais é chamado de semântica formal. Na lógica matemática, esta é muitas vezes feito em termos de teoria dos modelos. Em teoria do modelo, os termos que ocorrem numa fórmula são interpretados como estruturas matemáticas, e regras fixas de interpretação de composição determinam como o valor verdade da fórmula pode ser derivado da interpretação de seus termos; um modelo para uma fórmula é uma interpretação de termos tais que a fórmula se torne verdade.
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Lampião (cangaceiro)
Lampião (cangaceiro) Virgulino Ferreira da Silva, vulgo Lampião, o Rei do Cangaço (Serra Talhada, 4 de junho de 1898 — Poço Redondo, 28 de julho de 1938), foi um cangaceiro brasileiro que atuou na região do sertão nordestino do Brasil. Segundo o biógrafo Cicinato Ferreira Neto, o apelido "Lampião" foi lhe dado devido ter facilidade em manejar o rifle, ""que, de tanto atirar, mais parecia um candeeiro aceso nas escuras noites da caatinga"”. Lampião foi provavelmente o líder banditista de maior sucesso do século XX. Por parte das autoridades este simbolizava a brutalidade, uma doença que precisava ser cortada. Para uma parte da população sertaneja, ele encarnou valores como a bravura, o heroísmo e o senso da honra. Por conta disso, suas façanhas o transformaram em um herói popular no Brasil, principalmente na região Nordeste do país, rendendo-lhe uma reputação equivalente ao contraventor norte-americano Jesse James e ao revolucionário mexicano Pancho Villa. Biografia. Origem. Há controvérsia sobre a data de nascimento de Lampião. As mais citadas são: A questão de sua data de nascimento torna-se ainda mais relevante no contexto em que se instituem datas comemorativas em seu nome (18 de julho), e 7 de julho, que corresponde ao dia do seu registro civil, como o "Dia do Xaxado", pelo projeto da Câmara Municipal de Serra Talhada. Perfil. Nascido na cidade de Vila Bela, atual Serra Talhada, no semiárido do estado de Pernambuco, foi o terceiro filho de José Ferreira dos Santos e Maria Sucena da Purificação. Até os 21 anos de idade trabalhou como artesão. Era alfabetizado e usava óculos para leitura, características bastante incomuns para a região sertaneja e pobre onde ele morava. Uma das versões a respeito de seu apelido é que sua capacidade de atirar seguidamente, iluminando a noite com seus tiros, fez com que recebesse o apelido de lampião. Sua família travava uma disputa com outras famílias locais, geralmente por limites de terras, até que seu pai foi morto em confronto com a polícia em 1919. Virgulino jurou vingança, e junto de mais dois irmãos, passou a integrar o grupo do cangaceiro Sinhô Pereira. Em 1922 Sinhô Pereira abandonou o cangaço e passou a liderança de seu bando para Lampião. A primeira ação do bando comandado por Lampião foi invadir a cidade de Belmonte, Pernambuco, e assassinar o coronel e comerciante Luiz Gonzaga Lopes Gomes Ferraz. Após o ataque a Belmonte, o bando de Lampião foi visto entrando no estado de Alagoas. As ações do bando de Lampião passaram a ocorrer além das divisas de Pernambuco, chegando aos estados da Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará, de forma que em janeiro de 1923 os chefes de polícia destes estados se reuniram pela primeira vez para discutir a criação de uma força-tarefa conjunta de combate ao cangaço. Lampião e seu bando cruzaram a divisa de Alagoas com Pernambuco em junho de 1923 e atacaram o povoado de Belém de São Francisco, próximo a Salgueiro, roubando mercadorias no valor de um conto de réis. Além disso, sitiaram Salgueiro provocando a paralisação do comércio e o desabastecimento da cidade. Posteriormente atravessaram a divisa estadual e ingressaram no Ceará, onde o bando possuía apoio político. Em julho, Lampião atravessa Pernambuco e invade o estado de Alagoas saqueando várias fazendas. Inicialmente as autoridades reagiram tentando perseguir o bando de Lampião a cada relato de sua presença, porém às custas de deixar cidades menores do interior nordestino desguarnecidas. Isso facilitava ataques, quando Lampião despistava a polícia através de mensagens de telégrafo noticiando sua presença em certas cidades que mobilizam grandes contingentes enquanto ele atacava cidades menos guarnecidas. Com isso, os governos da Paraíba e Pernambuco (posteriormente os demais estados aderiram) criaram forças policiais móveis. Chamadas popularmente de "Volantes", essas forças passaram a ter permissão para entrar em estados vizinhos em busca de Lampião e seu bando. Em uma dessas missões em julho de 1925, uma força volante da Paraíba composta de dezenove homens comandados pelo sargento José Guedes combateu parte do bando de Lampião, formado por quinze cangaceiros, na fazenda Serrote Preto (localizada entre Pernambuco e Alagoas). No combate foi morto, Levino, irmão de Lampião. Além do grupo principal, Lampião tinha o comando de diversos subgrupos paralelos, designando outros cangaceiros à frente, a exemplo de Corisco e Antonio de Engracia. Em 1930 se junta afetivamente a Maria Bonita na Bahia. No mesmo ano, aparece no jornal "The New York Times". Em 1936, seu cotidiano na caatinga é fotografado e filmado por Benjamin Abrahão Botto. Durante quase 20 anos, Lampião viajou com seu bando de cangaceiros, todos a cavalo e em trajes de couro, chapéus, sandálias, casacos, cintos de munição e calças para protegê-los dos arbustos com espinhos típicos da vegetação caatinga. Para proteger o "capitão" (como Lampião era chamado) e realizar ataques a fazendas e municípios, todos usavam sempre um poder bélico potente. Como não existiam contrabandos de armas para se adquirir, as mesmas eram, em sua maioria, roubadas da polícia e de unidades paramilitares. A espingarda Mauser e uma grande variedade de pistolas semiautomáticas e revólveres também eram adquiridos durante confrontos. A arma mais utilizada era o rifle Winchester. O bando chamava os integrantes das volantes de "macacos" - uma alusão ao modo como os soldados fugiam quando avistavam o grupo de Lampião: "pulando". Lampião e seu bando atacaram fazendas e cidades em sete estados além de praticar roubo de gado, saques, sequestros, assassinatos, torturas, mutilações e estupros. Sua passagem causava terror e indignação nos moradores, fato citado amplamente na imprensa local: “"Não é uma vergonha o que se está passando ou melhor dizendo continua a ocorrer em o nordeste brasileiro? E os poderes públicos, que garantia offerecem ao sertanejo infeliz e batido por todas as calamidades? Até os magistrados já não escapam às sortidas de Lampeão. (...)" "Eis porque o sertanejo tem sempre nos lábios uma expressão de descrença quando se lhe promette a applicação de providencias no sentido de desinfestar o sertão das hordas de cangaceiros horríveis que tornam a região a mais infeliz do mundo"”.Apesar disso, Lampião e seu bando eram frequentemente protegidos por "coiteiros", conhecidos como fazendeiros, pequenos sitiantes ou mesmo autoridades locais que ofereciam abrigo e alimentos aos bandos por um curto espaço de tempo nos limites de suas terras, facilitando o deslocamento dos cangaceiros pelo Nordeste e sua fuga das forças volantes do Estado. Vida pessoal. Sua companheira, Maria Gomes de Oliveira, conhecida como Maria Déa ou como Maria Bonita conforme apelidada pela imprensa, juntou-se ao bando em 1930, sendo a primeira das mulheres a integrá-lo. Virgulino e Maria Déa tiveram uma filha, Expedita Ferreira Nunes, nascida em 13 de setembro de 1932. O casal teria tido ainda dois natimortos. Religião. Era devoto de Padre Cícero e respeitava as suas crenças e conselhos. Os dois se encontraram uma única vez, no ano de 1926, em Juazeiro do Norte. Morte. No dia 27 de julho de 1938, o bando acampou na fazenda Angicos, situada no sertão de Sergipe, esconderijo tido por Lampião como o de maior segurança. Era noite, chovia muito e todos dormiam em suas barracas. A volante chegou tão silenciosamente que nem os cães perceberam. Por volta das 5:00 h do dia 28, os cangaceiros levantaram para rezar o ofício e se preparavam para tomar café; quando um cangaceiro deu o alarme, já era tarde demais. Não se sabe ao certo quem os traiu. Entretanto, naquele lugar mais seguro, o bando foi pego totalmente desprevenido. Quando os policiais do Tenente João Bezerra e do Sargento Aniceto Rodrigues da Silva abriram fogo com metralhadoras portáteis, os cangaceiros não puderam empreender qualquer tentativa viável de defesa. O ataque durou cerca de vinte minutos e poucos conseguiram escapar ao cerco e à morte. Dos trinta e quatro cangaceiros presentes, onze morreram ali mesmo. Lampião foi um dos primeiros a morrer. Logo em seguida, Maria Bonita foi gravemente ferida. Alguns cangaceiros, transtornados pela morte inesperada do seu líder, conseguiram escapar. Bastante eufóricos com a vitória, os policiais apreenderam os bens e mutilaram os mortos. Apreenderam todo o dinheiro, o ouro e as joias. A força volante, de maneira bastante desumana para os dias de hoje, mas seguindo o costume da época, decepou a cabeça de Lampião. Maria Bonita ainda estava viva, apesar de bastante ferida, quando foi degolada. O mesmo ocorreu com Quinta-Feira, Mergulhão (os dois também tiveram suas cabeças arrancadas em vida), Luís Pedro, Elétrico, Enedina, Moeda, Alecrim, Colchete (2) e Macela. Um dos policiais, demonstrando ódio a Lampião, desfere um golpe de coronha de fuzil na sua cabeça, deformando-a. Este detalhe contribuiu para difundir a lenda de que Lampião não havia sido morto e escapara da emboscada, tal foi a modificação causada na fisionomia do cangaceiro. "Feito isso, salgaram os seus troféus de vitória e colocaram em latas de querosene, contendo aguardente e cal." Os corpos mutilados e ensanguentados foram deixados a céu aberto, atraindo urubus. Para evitar a disseminação de doenças, dias depois foi colocada creolina sobre os corpos. Como alguns urubus morreram intoxicados pela creolina, este fato ajudou a difundir a crença de que eles haviam sido envenenados antes do ataque, com alimentos entregues pelo coiteiro traidor. Percorrendo os estados nordestinos, o coronel João Bezerra exibia as cabeças - já em adiantado estado de decomposição - por onde passava, atraindo uma multidão de pessoas. Primeiro, os troféus estiveram em Piranhas, onde foram arrumados cuidadosamente na escadaria da Prefeitura, junto com armas e apetrechos dos cangaceiros, e fotografados. Depois, foram levados a Maceió e ao sudeste do Brasil. No IML de Aracaju, as cabeças foram observadas pelo médico Dr. Carlos Menezes. Depois de medidas, pesadas e examinadas, os criminalistas mudaram a teoria de que um homem bom não viraria um cangaceiro, e que este deveria ter características "sui generis". Ao contrário do que pensavam, as cabeças não apresentaram qualquer sinal de degenerescência física, anomalias ou displasias, tendo sido classificadas, pura e simplesmente, como normais. Do sudeste do País, apesar do péssimo estado de conservação, as cabeças seguiram para Salvador, onde permaneceram por seis anos na Faculdade de Odontologia da UFBA. Lá, tornaram a ser medidas, pesadas e estudadas, na tentativa de se descobrir alguma patologia. Posteriormente, os restos mortais ficaram expostos no Museu Antropológico Estácio de Lima localizado no prédio do Instituto Médico Legal Nina Rodrigues, em Salvador, por mais de três décadas. Durante muito tempo, as famílias de Lampião, Corisco e Maria Bonita lutaram para dar um enterro digno a seus parentes. O economista Sílvio Bulhões, filho de Corisco e Dadá, em especial, empreendeu muitos esforços para dar um sepultamento aos restos mortais dos cangaceiros e parar, de uma vez por todas, a macabra exibição pública. Segundo o depoimento do economista, dez dias após o enterro de seu pai, a sepultura foi violada, o corpo foi exumado, e sua cabeça e braço esquerdo foram cortados e colocados em exposição no Museu Nina Rodrigues. O enterro dos restos mortais dos cangaceiros só ocorreu depois do Projeto de Lei nº 2.867, de 24 de maio de 1965. Tal projeto teve origem nos meios universitários de Brasília (em particular, nas conferências do poeta Euclides Formiga), e as pressões do povo brasileiro e do Clero o reforçaram. As cabeças de Lampião e Maria Bonita foram sepultadas no dia 6 de fevereiro de 1969. Os demais integrantes do bando tiveram seu enterro uma semana depois. Representações na cultura popular. Compositor. "Mulher Rendeira" é um antigo tema popular, muito cantado nos sertões nordestinos ao tempo de Lampião, e cuja origem é controversa. Segundo a versão mais conhecida do padre Frederico Bezerra Maciel, regionalista pernambucano e biógrafo de Lampião, o mesmo teria escrito os versos da versão original da música. A ele se acrescenta Câmara Cascudo, segundo o qual Lampião teria feito escrito a letra em homenagem ao aniversário de sua avó d. Maria Jocosa Vieira Lopes ("Tia Jacosa") em 15 de setembro, que era uma rendeira. Compôs a música entre setembro de 1921 e fevereiro de 1922, quando apresentou a música em Floresta (Pernambuco). A música tornou-se praticamente um hino de guerra dos cangaceiros do bando de Lampião, tendo inclusive relatos de que o seu ataque a Mossoró em 1927 teria sido feito com mais de 50 cangaceiros cantando "Mulher Rendeira". Por isso foi incluído no premiado filme "O Cangaceiro", de Lima Barreto, que o celebrizou no país e no exterior. Na ocasião, sofreu uma adaptação do compositor Zé do Norte (Alfredo Ricardo do Nascimento), autor de outras músicas do filme, que manteve a sua estrutura original. Há também uma gravação de um antigo cabra do bando de Lampião, o cangaceiro Volta Seca.
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Língua artificial
Língua artificial Língua artificial é todo idioma construído e definido por um indivíduo ou pequeno grupo de pessoas, em vez de ter evoluído como parte da cultura de algum povo. Geralmente, as línguas artificiais têm algum objetivo. Há muitas construídas para a comunicação humana, para servirem como códigos secretos, outras como experimentos lógicos e mesmo algumas construídas apenas por prazer, constituindo assim uma língua artística. O sinônimo linguagem planejada é usado algumas vezes para se referir às línguas auxiliares, e por aqueles que possam fazer objeção ao uso do termo mais comum, "artificial". Alguns falantes do Esperanto evitam a expressão "linguagem artificial" porque negam que exista algo "não natural" na comunicação em sua linguagem. Todavia, fora da comunidade dos falantes de Esperanto, a expressão planejamento de linguagem refere-se a medidas normativas tomadas em relação a uma linguagem natural. A esse respeito, mesmo as "linguagens naturais" podem ser submetidas a um certo montante de artificialidade e, no caso de gramáticas normativas, onde existem regras inteiramente artificiais (como no caso do "split infinitive" no inglês), torna-se difícil traçar uma linha divisória. Panorâmica. Línguas artificiais são frequentemente divididas em linguagens a priori, onde boa parte da gramática e vocabulário é criada do zero (usando a imaginação do autor ou meios computacionais automáticos) e linguagens" a posteriori", onde a gramática e o vocabulário derivam de uma ou mais línguas naturais. Línguas ficcionais e experimentais também podem ser realistas, no sentido de que elas são planejadas para soar de modo natural e, se derivadas "a posteriori", elas tentam seguir regras naturais de mudança fonológica, léxica e gramatical. Visto que estas linguagens não são geralmente planejadas para serem de fácil aprendizado ou comunicação, uma linguagem ficcional realista costuma ser mais difícil e complexa, não menos (porque ela tenta imitar comportamentos comuns de línguas naturais tais como verbos irregulares e substantivos, regras fonológicas complicadas, etc.). À luz do disposto acima, a maioria das línguas artificiais pode ser dividida, grosso modo, da forma como se segue: As fronteiras entre estas categorias, todavia, não são de modo algum nítidas. Por exemplo, para algumas linguagens auxiliares ficcionais, e também algumas linguagens construídas, é difícil decidir se são "artísticas" ou "projetadas". Uma linguagem artificial pode ter falantes nativos se crianças a aprenderem em tenra idade, dos pais que a aprenderam previamente. O Esperanto é citado comumente como tendo um considerável número de falantes nativos. Um membro do Instituto da Língua Klingon, d'Armond Speers, tentou criar o filho como falante nativo do klingon (bilíngue com o inglês). Evan Robertson, o criador do Mosro, ensinou a linguagem com sucesso a seus quatro filhos. Todavia, tão logo uma linguagem construída comece a ter certo número de falantes nativos, ela começa a evoluir e em consequência perde seu caráter artificial ao longo do tempo. Por exemplo, o hebraico moderno foi moldado a partir do hebraico bíblico, em vez de ser projetado do zero, e vivenciou mudanças consideráveis desde que o Estado de Israel foi fundado, em 1948. Os proponentes de linguagens artificiais particulares frequentemente têm muitas razões para usá-las. Entre eles, a famosa e disputada Hipótese de Sapir-Whorf é frequentemente citada; ela afirma que a língua que alguém fala influencia o modo como a pessoa pensa. Assim, uma linguagem "melhor" deveria permitir ao falante atingir um nível elevado de inteligência ou abranger pontos de vista mais diversos. Uma linguagem artificial, ainda por essa hipótese, poderia também ser utilizada para restringir o pensamento, como na Novilíngua de George Orwell. Em contraste, alguns linguistas tais como Steven Pinker, argumentam que tais ideias existem na mente num formato independente da linguagem, de modo que as crianças espontaneamente reinventam a gíria e mesmo a gramática a cada geração (ver Instinto da Linguagem). Se esse argumento é verdadeiro, questiona-se se uma tentativa de controlar o alcance do pensamento humano através da linguagem obteria qualquer sucesso, posto que conceitos como "liberdade" reaparecerão em novas palavras caso as antigas desapareçam. O padrão ISO 639-2 reserva o código de linguagem "codice_1" para indicar línguas artificiais. Todavia, algumas línguas artificiais têm seus próprios códigos de linguagem ISO 639 (por exemplo, "codice_2" e "codice_3" para Esperanto, ou "codice_4" e "codice_5" para Interlingua). Na "mailing list" ("lista postal") da CONLANG, desenvolveu-se uma comunidade de "conlangers" que têm seus costumes próprios, tal como a retransmissão de traduções. Histórico. A especulação gramatical é documentada desde a Antiguidade Clássica, com o diálogo "Crátilo", de Platão. Todavia, os mecanismos sugeridos de gramática foram projetados mais para explicar linguagens existentes (latim, grego, sânscrito), do que para construir novas gramáticas. Grosso modo contemporâneo de Platão, Panini em sua gramática descritiva do sânscrito, construiu um conjunto de regras para explicar a linguagem, de modo que seu texto pode ser considerado uma mistura de linguagem natural e artificial. As primeiras línguas não naturais não eram nem tanto consideradas "construídas", mas "sobrenaturais" ou místicas. A Língua Ignota, registrada no século XII por Santa Hildegard de Bingen é um exemplo disto; aparentemente, é uma forma de jargão místico particular (ver linguagem dos anjos). Especulação gramática cabalística foi direcionada na tentativa de recuperar a língua original falada por Adão e Eva no Paraíso, perdida na confusão das línguas descrita na Bíblia. Um projeto medieval para uma língua ideal foi esboçado na "De vulgari eloquentia" de Dante Alighieri, onde ele procura por um italiano vernacular ideal, talhado para a literatura. "Ars magna" de Ramon Llull foi o projeto de uma língua perfeita com a qual os infiéis poderiam ser convencidos da verdade da fé cristã. Era basicamente uma aplicação de análise combinatória num conjunto dado de conceitos. Durante a Renascença, ideias llullianas e cabalísticas foram transportadas "ad absurdum" para um contexto mágico, resultando em aplicações criptográficas. O Manuscrito Voynich pode ser um exemplo disso. O interesse da Renascença no Egito Antigo, notavelmente a descoberta da "Hieroglyphica" de Horapollo e os primeiros contatos com a Escrita chinesa direcionaram os esforços no sentido de uma língua perfeita de caracteres escritos. Johannes Trithemius, em suas obras "Steganographia" e "Polygraphia", tentou mostrar como todas as línguas podem ser reduzidas a uma. No século XVII, o interesse em línguas mágicas foi continuado pelos Rosacrucianos e alquimistas (como John Dee). Jakob Boehme em 1623 falou de uma "linguagem natural" ("Natursprache") dos sentidos. As linguagens musicais da Renascença foram vinculadas ao misticismo, magia e alquimia, algumas vezes também referenciadas como língua dos pássaros. O projeto Solresol de 1817 reinventou o conceito num contexto mais pragmático. O século XVII também viu o surgimento de projetos para línguas "filosóficas" ou "a priori". Inaugurado por "A Common Writing" (1647) e "The Groundwork or Foundation laid (or So Intended) for the Framing of a New Perfect Language and a Universal Common Writing" (1652) de Francis Lodwick, George Dalgarno ("Ars signorum", 1661) e John Wilkins ("Essay towards a Real Character, and a Philosophical Language", 1668) produziram sistemas de classificação hierárquica que se destinavam a resultar numa expressão tanto falada quanto escrita. Gottfried Leibniz com a "lingua generalis" em 1678 perseguiu um fim similar, visando um léxico de caracteres através do qual o usuário poderia realizar cálculos que produziriam proposições verdadeiras automaticamente, e como efeito colateral, desenvolvendo cálculo binário. Esses projetos não estavam somente ocupados com gramáticas reduzidas ou de modelagem, mas também com o arranjo de todo o conhecimento humano em "caracteres" ou hierarquias, uma ideia que com o Iluminismo acabaria por resultar na "Encyclopédie". Leibniz e os enciclopedistas perceberam que é impossível organizar o conhecimento humano de forma inequívoca num diagrama em árvore, e consequentemente construir uma língua "a priori" baseada em tal classificação de conceitos. Sob a entrada "Charactère", D'Alembert fez uma revisão crítica dos projetos das línguas filosóficas do século anterior. A partir da "Encyclopédie", os projetos para linguagens "a priori" passaram cada vez mais para a esfera dos lunáticos. Autores individuais, tipicamente desconhecendo a história da ideia, continuaram a propor línguas filosóficas taxonômicas até o início do século XX (por exemplo, Ro), mas as linguagens projetadas mais recentes têm tido objetivos mais modestos; algumas estão limitadas a um campo específico, como formalismo matemático ou cálculo (por exemplo, Lincos e outras linguagens de programação), outras são projetadas para eliminar ambiguidade sintática (por exemplo, Loglan e Lojban) ou maximizar a concisão (por exemplo, Ithkuil ou Ygyde). Já na "Encyclopédie", a atenção começou a focar-se nas línguas auxiliares "a posteriori". Joachim Faiguet, no artigo "Langue", também escreveu uma curta proposição de uma gramática "lacônica" ou regularizada do francês. Durante o , uma desconcertante variedade de tais "Línguas Auxiliares Internacionais" (IALs, na sigla em inglês) foi proposta, de modo que Louis Couturat e Leopold Leau na "Historire de la langue universelle" (1903) puderam resenhar 38 projetos. Dentre esses, o primeiro a provocar um impacto internacional foi o Volapük, proposto em 1879 por Johann Martin Schleyer e, no espaço de uma década, 283 clubes "Volapükist" foram organizados ao redor do mundo. Todavia, essa língua, pelo seu próprio sucesso, perdeu sua unidade e após poucos anos caiu na obscuridade, abrindo caminho para o Esperanto, proposto em 1887 por Ludwik Lejzer Zamenhof, a mais bem sucedida IAL até a presente data. Loglan (1955) e suas descendentes constituem um retorno pragmático aos objetivos das línguas "a priori", temperada pela exigência de usabilidade de uma língua auxiliar. Línguas artísticas, construídas para divertimento literário ou com razões estéticas sem quaisquer reivindicações de utilidade, começaram a aparecer no início da literatura moderna (nos contextos de Pantagruel e da Utopia), mas somente ganham notabilidade como projetos sérios a partir do . "A Princess of Mars", de Edgar Rice Burroughs, foi possivelmente a primeira obra de ficção do século XX a caracterizar uma língua construída. J. R. R. Tolkien foi o primeiro a desenvolver uma família de línguas ficcionais relacionadas e foi o primeiro acadêmico a discutir publicamente línguas artísticas, admitindo que isso era "A Secret Vice" ("um vício secreto") seu num congresso de Esperanto em 1930. Quanto à "Novilíngua" de George Orwell, deveria ser encarada como uma paródia de uma IAL em vez de uma língua artística apropriada). Na virada do , tornou-se comum em obras de ficção científica e fantasia passadas em outros mundos, a apresentação de línguas artificiais, e essas tomam parte regular em filmes e séries do gênero, incluindo "Star Wars", "Star Trek", "Stargate SG-1" e ", Star wars e Game of Thrones." Línguas construídas colaborativas. A maioria das línguas construídas tem sido criadas por uma única pessoa. Umas poucas, todavia, têm sido desenvolvidas por um grupo, e isso tem se tornado aparentemente mais comum em anos recentes, à medida que os projetistas de línguas artificiais começaram a usar ferramentas da Internet para coordenar os esforços do projeto. A NGL/Tokcir foi um projeto colaborativo inicial de língua construída pela Internet, cujos projetistas utilizavam uma "mailing list" para discutir e votar sobre questões de planejamento gramático e léxico. Mais recentemente, o Projeto IAL Demos está desenvolvendo uma língua auxiliar com métodos cooperativos similares. Várias línguas artísticas têm sido desenvolvidas em diferentes wikis de línguas artificiais, geralmente envolvendo discussão e votação sobre fonologia, regras gramaticais e assim por diante. Uma interessante variação é a abordagem do corpo de escritos, exemplificada pelo Madjal e mais recentemente pelo Kalusa, onde os contribuintes simplesmente lêem o corpo de frases existentes e acrescentam novas palavras e estruturas. O motor do Kalusa acrescenta a capacidade dos visitantes em classificar as frases como aceitáveis ou inaceitáveis. Não há declaração explícita de regras gramaticais ou definição explícita de palavras nesta abordagem de corpo; o significado das palavras é inferido do seu uso em várias frases do corpo, talvez de formas diferentes por leitores diferentes e contribuintes, e as regras gramaticais podem ser inferidas das estruturas e frases que têm sido classificadas em nível superior pelos contribuintes e outros visitantes.
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Linguística
Linguística é o estudo científico da linguagem. Em outras palavras, trata-se do estudo abrangente, objetivo e sistemático de todos os aspectos das línguas humanas. A depender da teoria empregada, a linguística pode estudar as línguas naturais como sistemas autônomos, sociais, cognitivos, biológicos ou sociocognitivos. Consequentemente, a linguística pode ser considerada parte das ciências sociais, das ciências naturais, das ciências cognitivas e das humanidades. As áreas tradicionais de análise linguística refletem os diferentes fenômenos que compõem os sistemas linguísticos, como sintaxe (estrutura de orações), morfologia (estrutura de palavras), semântica (significado), fonética (os sons da fala), fonologia (os sistemas de sons de cada língua), pragmática (a relação entre significados e o seu contexto de uso). Outras áreas dizem respeito ao contato com outras disciplinas, como a sociolinguística (contato com a sociologia e a antropologia), a psicolinguística (contato com a psicologia) e a biolinguística (contato com a biologia). Há ainda a divisão entre linguística teórica, que tem como objetivos a descrição e a explicação do funcionamento dos sistemas linguísticos, e a linguística aplicada, que se volta ao modo como conceitos e descobertas em linguística podem ser utilizados para fins práticos, como aprimorar o ensino (especialmente de línguas maternas e adicionais), a tradução e o uso de evidências linguísticas em processos judiciais (linguística forense). Divisões da linguística. Os linguistas dividem o estudo da linguagem em certo número de áreas que são estudadas mais ou menos independentemente. Estas são as divisões mais comuns: Nem todos os linguistas concordam que todas essas divisões tenham grande significado. A maior parte dos linguistas cognitivos, por exemplo, acham, provavelmente, que as categorias "semântica" e "pragmática" são arbitrárias e quase todos os linguistas concordariam que essas divisões se sobrepõem consideravelmente. Por exemplo, a divisão gramática usualmente cobre fonologia, morfologia e sintaxe. Ainda existem campos como os da linguística teórica e da linguística histórica. A linguística teórica procura estudar questões tão diferentes sobre como as pessoas, usando suas particulares linguagens, conseguem realizar comunicação; quais propriedades todas as linguagens têm em comum, qual conhecimento uma pessoa deve possuir para ser capaz de usar uma linguagem e como a habilidade linguística é adquirida pelas crianças. A linguística histórica. A linguística histórica, dominante no , tem por objetivo classificar as línguas do mundo de acordo com suas afiliações e descrever o seu desenvolvimento histórico. Na Europa do século XIX, a linguística privilegiava o estudo comparativo histórico das línguas indo-europeias, preocupando-se especialmente em encontrar suas raízes comuns e em traçar seu desenvolvimento. A preocupação com a descrição das línguas espalhou-se pelo mundo e milhares dessas foram analisadas em vários graus de profundidade. Quando esse trabalho esteve em desenvolvimento no início do na América do Norte, os linguistas se confrontaram com línguas cujas estruturas diferiam fortemente do paradigma europeu, mais familiar. Percebeu-se, assim, a necessidade de se desenvolver uma teoria e métodos de análise da estrutura das línguas, por mais que na época ninguém pensava na existência de línguas e culturas próprias entre os índios da América e consideravam os índios como uma criatura selvagem que pensava como animal selvagem. O pensamento de pessoas como Franz Boas caracterizou-se uma grande excepção, já que esse foi quem inventou a ideia de que índios tinham cultura própria, o que vai ser extremamente contrário a Visão Normal de Mundo e as noções científicas da época. Para a linguística histórico-comparativa ser aplicada a línguas desconhecidas, o trabalho inicial do linguista era fazer sua descrição completa. A linguagem verbal era, geralmente, vista como consistindo de vários níveis, ou camadas, e, supostamente, todas as línguas naturais humanas tinham o mesmo número desses níveis. O primeiro nível é a fonética, que se preocupa com os sons da língua sem considerar o sentido. Na descrição de uma língua desconhecida esse era o primeiro aspecto estrutural a ser estudado. A fonética divide-se em três: articulatória, que estuda as posições e os movimentos dos lábios, da língua e dos outros órgãos relacionados com a produção da fala (como as cordas vocais); acústica, que lida com as propriedades das ondas de som; e auditiva, que lida com a percepção da fala. O segundo nível é a fonologia, que identifica e estuda os menores elementos distintos (chamados de fonemas) que podem diferenciar o significado das palavras. A fonologia também inclui o estudo de unidades maiores como sílabas, palavras e frases fonológicas e de sua acentuação e entonação. O terceiro nível é a morfologia, que analisa as unidades com as quais as palavras são montadas, os "morfemas". Esses são as menores unidades da gramática: raízes, prefixos e sufixos. Os falantes nativos reconhecem os morfemas como gramaticalmente significantes ou significativos. Eles podem frequentemente ser determinados por uma série de substituições. Um falante de inglês reconhece que "make" é uma palavra diferente de "makes", pois o sufixo "-s" é um morfema distinto. Em inglês, a palavra "morpheme" consiste de dois morfemas, a raiz "morph-" e o sufixo "-eme", nenhum dos quais tinha ocorrência isolada na língua inglesa por séculos, até "morph" ser adotado em linguística para a realização fonológica de um morfema e o verbo "to morph" ter sido cunhado para descrever um tipo de efeito visual feito em computadores. Um morfema pode ter diferentes realizações (morphs) em diferentes contextos. Por exemplo, o morfema verbal "do" no inglês tem três pronúncias bem distintas nas palavras "do", "does" (com o sufixo "-es") e "don't" (com a aposição do advérbio "not" em forma contracta "-n't"). Tais diferentes formas de um morfema são chamados de "alomorfos". Os padrões de combinações de palavras de uma linguagem são conhecidos como sintaxe. O termo "gramática" usualmente cobre sintaxe e morfologia. O estudo dos significados das palavras e das construções sintáticas é chamado de semântica. Escolas de pensamento. Linguística humanística. O princípio fundamental da linguística humanística é que a linguagem é uma invenção criada por pessoas. Uma tradição semiótica de pesquisa linguística considera a linguagem um sistema de signos que surge da interação de significado e forma. A organização dos níveis linguísticos é considerada computacional. A lingüística é essencialmente vista como relacionada aos estudos sociais e culturais porque diferentes línguas são moldadas na interação social pela comunidade da fala. Estruturas que representam a visão humanística da linguagem incluem linguística estrutural, entre outros. A análise estrutural significa dissecar cada nível linguístico: fonético, morfológico, sintático e do discurso, nas menores unidades. Estes são coletados em inventários (por exemplo, fonema, morfema, classes lexicais, tipos de frase) para estudar sua interconexão dentro de uma hierarquia de estruturas e camadas. A análise funcional adiciona à análise estrutural a atribuição de funções semânticas e outras funções funcionais que cada unidade pode ter. Por exemplo, um sintagma nominal pode funcionar como sujeito ou objeto da frase; ou o agente ou paciente. A linguística funcional, ou gramática funcional, é um ramo da linguística estrutural. No referencial humanístico, os termos estruturalismo e funcionalismo estão relacionados ao seu significado em outras ciências humanas. A diferença entre o estruturalismo formal e o funcional está na maneira como as duas abordagens explicam por que as linguagens têm as propriedades que possuem. A explicação funcional envolve a ideia de que a linguagem é uma ferramenta de comunicação ou que a comunicação é a função primária da linguagem. As formas lingüísticas são, conseqüentemente, explicadas por um apelo ao seu valor funcional, ou utilidade. Outras abordagens estruturalistas assumem a perspectiva de que a forma decorre dos mecanismos internos do sistema de linguagem bilateral e multicamadas. Linguística biológica. Abordagens como a linguística cognitiva e a gramática gerativa estudam a cognição linguística com o objetivo de descobrir os fundamentos biológicos da linguagem. Na Gramática Gerativa, esses fundamentos são entendidos como incluindo o conhecimento gramatical específico do domínio inato. Assim, uma das preocupações centrais da abordagem é descobrir quais aspectos do conhecimento linguístico são inatos e quais não são.. A Lingüística Cognitiva, em contraste, rejeita a noção de gramática inata e estuda como a mente humana cria construções linguísticas a partir de esquemas de eventos, e o impacto das restrições cognitivas e preconceitos na linguagem humana. Da mesma forma que a programação neurolinguística, a linguagem é abordada por meio dos sentidos. Linguistas cognitivos estudam a encarnação do conhecimento, buscando expressões que se relacionam com esquemas modais. Uma abordagem intimamente relacionada é a linguística evolutiva que inclui o estudo de unidades linguísticas como replicadores culturais. É possível estudar como a linguagem se replica e se adapta à mente do indivíduo ou da comunidade de fala. A gramática de construção é uma estrutura que aplica o conceito de meme ao estudo da sintaxe. A abordagem generativa versus evolutiva é às vezes chamada de formalismo e funcionalismo, respectivamente. Esta referência é, no entanto, diferente do uso dos termos em ciências humanas. Falantes, comunidades linguísticas e universais linguísticos. Os linguistas também diferem em quão grande é o grupo de usuários das linguagens que eles estudam. Alguns analisam detalhadamente a linguagem ou o desenvolvimento da linguagem de um dado indivíduo. Outros estudam a linguagem de toda uma comunidade, como por exemplo a linguagem de todos os que falam o inglês vernáculo afro-americano. Outros ainda tentam encontrar conceitos linguísticos universais que se apliquem, em algum nível abstrato, a todos os usuários de qualquer linguagem humana. Esse último projeto tem sido defendido por Noam Chomsky e interessa a muitas pessoas que trabalham nas áreas de psicolinguística e de Ciência da Cognição. A pressuposição é que existem propriedades universais na linguagem humana que permitiriam a obtenção de importantes e profundos entendimentos sobre a mente humana. Fala "versus" escrita. Alguns linguistas contemporâneos acham que a fala é um objeto de estudo mais importante do que a escrita Talvez porque ela seja uma característica universal dos seres humanos, e a escrita não (pois existem muitas culturas que não possuem a escrita). O fato das pessoas aprenderem a falar e a processar a linguagem oral mais facilmente e mais precocemente do que a linguagem escrita também é outro fator. Alguns (veja cientistas da cognição) acham que o cérebro tem um "módulo de linguagem" inato e que podemos obter conhecimento sobre ele estudando mais a fala que a escrita. A escrita também é muito estudada e novos meios de estudá-la são constantemente criados. Por exemplo, na intersecção do corpus linguístico e da linguística computacional, os modelos computadorizados são usados para estudar milhares de exemplos da língua escrita do Wall Street Journal, por exemplo. Bases de dados semelhantes sobre a fala já existem, um dos destaques é o Child Language Data Exchange System ou, em tradução livre, "Sistema de Intercâmbio de Dados da Linguagem Infantil". Descrição e prescrição. Provavelmente, a maior parte do trabalho feito atualmente sob o nome de linguística é puramente descritivo. Há, também, alguns profissionais (e mesmo amadores) que procuram estabelecer regras para a linguagem, sustentando um padrão particular que todos devem seguir. As pessoas atuantes nesses esforços de "descrição" e "regulamentação" têm sérias desavenças sobre "como" e "por que razão" a linguagem deve ser estudada. Esses dois grupos podem descrever o mesmo fenômeno de modos diferentes, em linguagens diferentes. Aquilo que, para um grupo é uso incorreto, para o outro é uso idiossincrático, ou apenas simplesmente o uso de um subgrupo particular (geralmente menos poderoso socialmente do que o subgrupo social principal, que usa a mesma linguagem). Em alguns contextos, as melhores definições de "linguística" e "linguista" podem ser: "aquilo estudado em um típico departamento de linguística de uma universidade" e "a pessoa que ensina em tal departamento". A linguística, nesse sentido estrito, geralmente não se refere à aprendizagem de outras línguas que não a nativa do estudioso (exceto quando ajuda a criar modelos formais de linguagem). Especialistas em linguística não realizam análise literária e não se aplicam a esforços para regulamentar como aqueles encontrados em livros como "The Elements of Style" ("Os Elementos de Estilo", em tradução livre), de Strunk e White. Os linguistas procuram estudar o que as pessoas efetivamente "fazem", nos seus esforços para comunicar usando a linguagem, e não "o que elas deveriam fazer". Estudos inspirados no cérebro. Psicolinguística e a Neurociência da Linguagem fazem pesquisa linguística centrada no cérebro. Segundo Marr é preciso analisar os neurônios em concomitância seu funcionamento durante o processamento da linguagem para que essa relação faça sentido. Por isso, a Neurociência da Linguagem busca relacionar o processamento cognitivo da linguagem ao funcionamento fisiológico do cérebro. Por intermédio de tecnologias de monitoramento online como a eletroencefalografia (EEG) e magnetoencefalografia (MEG) é possível monitorar online — em tempo real — a atividade cerebral no momento da produção ou compreensão de materiais escritos. Atualmente, a Neurociência da Linguagem mapeia as vias do processamento da linguagem.
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Louveira (São Paulo)
Louveira (São Paulo) Louveira é um município brasileiro do estado de São Paulo. Localiza-se a uma latitude 23º05'11" sul e a uma longitude 46º57'02" oeste, estando a uma altitude de 690 metros. Sua população estimada em 2022 era de 51.833 habitantes. Pertence à Região Metropolitana de Jundiaí. Possui uma área de 55,3 km². História. O nome do município é uma referência a árvore louveira e fundada por Gaspar de Oliveira, natural de Logroño, Espanha, que casou-se na cidade de São Paulo com Páscoa da Costa (cf. "Genealogia Paulistana" de Luiz Gonzaga da Silva Leme), na primeira metade do século XVII. O casal radicou-se em Jundiaí, em meados daquele século, e consta ter possuído terras onde mais tarde veio a surgir a atual Louveira. Outros moradores na região, naquela época, teriam sido João Leme do Prado e Manoel Peres Calhamares. Louveira está situada a 690 m de altitude, pouco abaixo da altitude média de Jundiaí. Segundo o censo brasileiro de 2000, a cidade possuía 23.970 habitantes, sendo 21.962 na área urbana e 2044 na área rural. O Censo mais recente aponta que Louveira hoje está com população em torno de 42.796 mil habitantes, ou seja, em pouco menos de 14 anos Louveira teve aumento em sua população de mais de 18 mil novos moradores. Transporte. Louveira conta com linhas regulares de ônibus urbano, operadas pela West Side Viagens e Turismo, do Grupo Belarmino. Curiosamente, não possui ônibus para São Paulo, apenas para cidades vizinhas e Campinas. A ferrovia que corta a cidade oferecia transporte de passageiros para São Paulo e todo o interior até meados dos anos 1990, hoje opera somente transporte de carga, mas a Prefeitura está com novos projetos de reativação da linha, para voltar o transporte de passageiros como antigamente. Há mais de 60 anos existia também a Estrada de Ferro Itatibense, que ligava Louveira a Itatiba. Hoje a ligação é estritamente rodoviária. Turismo. Louveira está localizada no coração do Pólo Turístico do Circuito das Frutas, tendo como principal atrativo o passeio de Agroturismo, uma verdadeira interação entre o ambiente rural e o turista. Os roteiros que atraem inúmeros visitantes oferecem a oportunidade de conhecer atividades agropecuárias, agroindustriais e artesanais que são desenvolvidas nas pequenas propriedades familiares. Outro atrativo é o Artesanato, que se destaca pelos moldes, cores e texturas que caracterizam a cidade de Louveira. As cores das frutas, as paisagens e a criatividade contribuem na confecção dos diversos artesanatos. Geografia. Demografia. Dados do Censo - 2010 População total: 37.125 Densidade demográfica (hab./km²): 673,37 Mortalidade infantil até 1 ano (por mil): 9,9 (2019) Expectativa de vida (anos): 71,81 (2000) Taxa de fecundidade (filhos por mulher): 2,50 (2000) Taxa de analfabetismo: 4,3% Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M): 0,777 Transporte. Como o município de Louveira não possui cursos superiores, a prefeitura do município disponibiliza transportes gratuitos para todos os estudantes que estão cursando em outras cidades, onde todos os moradores podem ter acesso se cadastrando na secretaria de educação. Louveira também era atendida por trens de passageiros de longa distância da antiga Companhia Paulista de Estradas de Ferro (CPEF), posteriormente absorvida como FEPASA, vindos da capital paulista, até o final dos anos 70. Mesmo após a desativação da estação local, esses trens circulariam pela cidade até o ano de 1999, quando foram desativados. Comunicações. A cidade era atendida pela Telecomunicações de São Paulo (TELESP), que construiu a central telefônica utilizada até os dias atuais. Em 1998 esta empresa foi privatizada e vendida para a Telefônica, sendo que em 2012 a empresa adotou a marca Vivo para suas operações de telefonia fixa.
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Leme
Leme Leme é um município brasileiro no interior do estado de São Paulo. Pertence à Região Metropolitana de Piracicaba, à Região Geográfica Intermediária de Campinas e à Região Geográfica Imediata de Araras, localizado a noroeste da capital do estado, distando desta cerca de 190 km. Ocupa uma área de 402,87 km², sendo que 11,101 km² estão em perímetro urbano e os 391,769 km² restantes constituem a zona rural. Localiza-se à latitude 22º11'08" sul e à longitude 47º23'25" oeste, a 619 metros acima do nível do mar. Em 2017, sua população foi estimada pelo IBGE em 101.184 habitantes. O município é formado pelo distrito sede, e também inclui os bairros rurais Taquari, Taquari Ponte e Bairro Caju. História. O município de Leme foi fundado em 29 de agosto de 1895, desmembrado do município de Pirassununga, tendo surgido às margens da ferrovia da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Geografia. Leme possui uma área de 403,1 km².localizada no Centro-Leste do Estado de São Paulo. Localizada na Bacia Hidrográfica do Rio Mogi-Guaçu, Leme possui uma temperatura média anual de 22 °C. Seu clima é seco no inverno e chuvoso no verão. A cidade possui relevo suave na área urbana e em partes da área rural, o que facilita a expansão urbana, o excelente aproveitamento agrícola e o transporte por bicicletas (barato e não poluente), o qual é bastante comum pelo município. Demografia. Dados do Censo - 2010 População total: 91.756 Densidade demográfica (hab./km²): 227,75 Mortalidade infantil até 1 ano (por mil): 13,44 Expectativa de vida (anos): 72,57 Taxa de fecundidade (filhos por mulher): 2,22 Taxa de alfabetização: 90,14% Índice de Desenvolvimento Humano (IDH-M): 0,796 Etnias. "Fonte: Censo 2000" Hidrografia. Principais rios, córregos e ribeirões que passam pelo município: Transportes. Leme é perpassada pela SP-330, mais conhecida como Rodovia Anhanguera, que se inicia em São Paulo e prossegue até Igarapava, na divisa com o estado de Minas Gerais. Há três terminais viários relevantes na cidade: O transporte coletivo de ônibus é feito pela empresa Transbellaflor, ligando o Centro aos bairros urbanos e rurais da cidade. O Terminal Rodoviário faz a conexão com várias cidades do noroeste e do centro-leste do estado de São Paulo, além da Capital Paulista e da cidade de Goiânia, capital do estado de Goiás. Apesar de ser banhado pelos rios Mogi-Guaçu e do Roque, o município não possui muita tradição no transporte hidroviário. Ferrovias. A cidade também já foi atendida por transporte ferroviário, parte do Ramal do Descalvado da antiga Companhia Paulista de Estradas de Ferro, que ligava a cidade aos municípios de Descalvado e Cordeirópolis, onde se entroncava com a linha principal da ferrovia, que segue para as cidades de Campinas e Jundiaí. O ramal ferroviário, inaugurado em 1877, era o grande responsável pelo escoamento da produção cafeeira e leiteira da região, além do transporte de passageiros entre as cidades do Centro-Leste do estado. O último trem de passageiros a trafegar pelo ramal, parou na Estação Ferroviária de Leme pela última vez em fevereiro de 1977, já sob o comando da antiga Fepasa. Porém, o transporte de cargas permaneceria ativo na região até o ano de 1990, quando a estação e o ramal foram desativados e abandonados em seguida. Em dezembro de 1997, os trilhos foram retirados da cidade e, desde 2009, a antiga estação ferroviária abriga um terminal de ônibus urbanos, preservado seu antigo edifício, conseiderado de relevância histórica para Leme. Infraestrutura. Comunicações. No setor de telefonia a cidade foi atendida pela Companhia Telefônica Brasileira (CTB) até 1973, quando passou a ser atendida pela Telecomunicações de São Paulo (TELESP), que inaugurou a central telefônica utilizada até os dias atuais. Em 1998 esta empresa foi vendida para a Telefônica, que em 2012 adotou a marca Vivo para suas operações. Educação. A cidade de Leme tem um sistema de ensino primário e secundário, público e privado, e uma variedade de escolas técnicas. Com 36 estabelecimentos de ensino fundamental, 42 unidades pré-escolares, 15 escolas de nível médio e mais algumas instituições de nível superior. Ao total, são 15 503 matrículas e 1 034 docentes registrados. O município também conta com uma ETEC, escola técnica de nível médio, com cursos nas áreas de desenvolvimento de sistemas, multimídia, farmácia, administração e outros. No ensino superior, destacam-se uma universidade pública e uma privada. As instituições de ensino superior da cidade são a Universidade Anhanguera e a Universidade Virtual do Estado de São Paulo (Univesp). O fator "educação" do IDH no município atingiu em 2013 a marca de 0,665 - patamar considerado médio, em conformidade aos padrões do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), ao passo que a taxa de analfabetismo indicada pelo último censo demográfico do IBGE foi de 8,81%. Quanto ao Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) de 2015, Leme obteve notas de 6,7 na primeira fase do ensino fundamental (anos iniciais) e 5,0 na segunda fase (anos finais). Contudo – e em consonância aos grandes contrastes verificados na capital, em algumas regiões periféricas e empobrecidas, o aparato educacional público de nível médio e fundamental é ainda deficitário, dada a escassez relativa de escolas ou recursos. Nesses locais, a violência costuma impor certas barreiras ao aproveitamento escolar, constituindo-se em uma das causas preponderantes à evasão ou ao aprendizado carencial. Economia. De acordo com dados do IBGE, relativos a 2017, o Produto Interno Bruto do município era de R$ 2.978.265.360,00. A economia do município está baseada na agropecuária, na indústria e no comércio e prestação de serviços. No setor agrícola predominam as culturas da cana-de-açúcar, do milho, da soja, da laranja e do sorgo, havendo ainda a presença de grandes silos e armazéns para estocagem de grãos e uma usina de açúcar e álcool. Na pecuária os maiores destaques são as criações de suínos, gado leiteiro e de corte. O setor industrial é bem variado, com produções nas áreas de alimentos, bebidas, máquinas, insumos agrícolas, química, etanol, cerâmica, telhas, fibrocimento, materiais elétricos, móveis, churrasqueiras e outros. Leme conta com distritos industriais bem próximos da Rodovia Anhanguera (SP-330), onde grande parte das indústrias estão instaladas. O setor de comércio e serviços também vem ganhando destaque. O comércio é bastante diversificado, incluindo unidades de grandes redes varejistas nacionais e algumas internacionais. Segundo dados do Banco Central do Brasil, Leme possui 10 agências bancárias que, juntas, movimentam cerca de 150 milhões de reais em operações de crédito (Cf. Banco Central do Brasil, Registros Administrativos 2007). Turismo. Leme não é uma cidade turística, entretanto possui vários pontos turísticos relevantes: Esportes. Leme conta com o Estádio Municipal Bruno Lazzarini, um estádio de futebol que recebe os jogos do Lemense Futebol Clube, o qual atualmente joga o Campeonato Paulista - Série A3. Ademais, o município conta com diversos campos de futebol, quadras, ginásios e espaços de lazer, dentre estes:
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Latitude
Latitude Latitude é a coordenada geográfica ou geodésica definida na esfera, no elipsoide de referência ou na superfície terrestre, que é o ângulo entre o plano do equador e a normal à superfície de referência. A latitude é medida a partir do equador, varia entre 90° sul, no Polo Sul (ou polo antártico) (negativa), e 90° norte, no Polo Norte (ou polo ártico) (positiva). A latitude no equador é 0°. O modo como a latitude é definida depende da superfície de referência utilizada:
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Laurence Sterne
Laurence Sterne Laurence Sterne (Clonmel, Irlanda, 24 de novembro de 1713 – Londres, 18 de março de 1768) foi um escritor e clérigo anglicano irlandês, famoso pelo seu romance A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy. Aos dez anos de idade, Sterne foi mandado para Halifax, na Inglaterra, para estudar. Anos mais tarde, estudou no Jesus College (Cambridge) e se tornou pastor da Igreja Anglicana em Yorkshire, eventualmente se tornando pastor remunerado da Catedral de Iorque em 1733. O bisavô de Sterne fora ordenado arcebispo de Iorque em 1664. "A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy" foi originalmente publicado em vários volumes, os dois primeiros aparecendo em 1759, e os demais no decorrer dos dez anos seguintes. Controverso, o livro teve reações dissonantes entre os escritores da época, mas o humor grosseiro foi bem aceito pela sociedade londrina. Hoje, o livro é tido como precursor do fluxo de consciência. Mais tarde, Sterne publicou "Jornada Sentimental pela França e Itália" (1768) baseado em suas viagens pela Europa devido à tuberculose, além de diversos sermões. "Tristram Shandy" faz uso de técnicas hostis ao leitor, como sequências de dezenas de asteriscos e páginas em branco. Unidos a esses elementos, com a falta de consistência do enredo e a ausência de uma conclusão satisfatória, Sterne consegue o efeito de paródia do (então recente) romance como forma literária. De especial interesse para leitores de língua portuguesa, "A Vida e as Opiniões do Cavalheiro Tristram Shandy" teve influência decisiva na obra de Machado de Assis, influência admitida livremente em Memórias Póstumas de Brás Cubas. Já a obra "Viagem Sentimental" mistura géneros e estilos, influenciando "Viagens na minha terra" de Almeida Garrett. Sterne morreu em Londres. Seu corpo foi roubado após a morte, tendo sido assunto de uma aula de anatomia em Cambridge, antes de ser devolvido ao túmulo. Ligações externas. Textos "on-line" da obra de Sterne:
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Londres
Londres Londres (, ) é a capital da Inglaterra e do Reino Unido. Por dois milênios, foi um grande povoado e sua história remonta à sua fundação pelos romanos, quando foi nomeada Londínio. O centro de Londres, a antiga "City of London", também conhecida como "The Square Mile" ("a milha quadrada") ou "The City", mantém suas fronteiras medievais. Pelo menos desde o , o nome "Londres" se refere à metrópole desenvolvida em torno desse núcleo. Hoje, a maior parte dessa conurbação constitui a região da Grande Londres, cuja área administrativa tem seu próprio prefeito eleito e assembleia. A cidade abriga a sede da Comunidade das Nações. Londres é uma importante cidade global (ao lado de Nova Iorque, Tóquio e Paris) e é um dos maiores, mais importantes e influentes centros financeiros do mundo. O centro de Londres abriga a sede de mais da metade das 100 melhores companhias do Reino Unido (o índice FTSE 100) e mais de 100 das 500 maiores da Europa. Londres possui forte influência na política, finanças, educação, entretenimento, mídia, moda, artes e cultura em geral, o que contribui para a sua posição global. É um importante destino turístico para visitantes nacionais e estrangeiros. Londres sediou os Jogos Olímpicos de Verão de 1908, 1948 e 2012. Londres tem uma gama diversa de povos, culturas e religiões e mais de 300 idiomas são falados em seu território. Em julho de 2007, a população oficial era de 7 556 900 habitantes dentro dos limites de Londres. Sua área urbana (a segunda maior da UE) tem uma população de 8 278 251 habitantes, enquanto a região metropolitana (a maior da UE) tem uma população total (rural e urbana) estimada entre 12 milhões e 14 milhões de habitantes. O Metrô de Londres, administrado pela "Transport for London", é a mais extensa rede ferroviária subterrânea do mundo, o Aeroporto de Londres Heathrow é o aeroporto mais movimentado do mundo em número de passageiros internacionais. e o espaço aéreo da cidade é o mais movimentado do qualquer outro centro urbano do mundo. A cidade possui quatro Patrimônios Mundiais: a Torre de Londres; os Reais Jardins Botânicos de Kew; o local que compreende o Palácio de Westminster, a Abadia de Westminster e a Igreja de Santa Margarida; e o local histórico de Greenwich (onde o Observatório Real de Greenwich marca o meridiano primário, 0° longitude e GMT). Outros marcos famosos incluem o Palácio de Buckingham, a London Eye, Piccadilly Circus, a Catedral de São Paulo, a Tower Bridge, a Trafalgar Square e o The Shard. Londres é a sede de inúmeros museus, galerias, bibliotecas e outras instituições culturais, como o Museu Britânico, a National Gallery, Tate Modern e a Biblioteca Britânica. O metrô de Londres é a mais antiga rede ferroviária subterrânea do mundo. Etimologia. A etimologia de "Londres" é incerta. O termo é antigo, pode ser encontrado em fontes do . Em 121, a cidade foi registrada como "Londinium" (Londínio), o que aponta para a sua origem romano-britânica. A primeira tentativa de explicação (agora desconsiderada) para o surgimento do nome da cidade é atribuída a Godofredo de Monmouth em sua obra "Historia Regum Britanniae". Monmouth afirma que o nome se originou a partir do hipotético Rei Lud, que havia sido levado para a cidade e a nomeou de "Kaerlud". Em 1898, era comumente aceito que o nome era de origem celta e que significa "lugar pertencente a um homem chamado * Londinos"; esta explicação já foi rejeitada. Richard Coates apresenta uma outra explicação em 1998, dizendo que a palavra "Londres" é derivada do termo do antigo europeu pré-céltico "*(p)lowonida", ou "rio muito largo para vadear", e sugeriu que este era um nome dado para a parte do rio Tâmisa que atravessa Londres; a partir deste termo, o assentamento ganhou a forma céltica de seu nome, "* Lowonidonjon"; no entanto, isso requer uma alteração bastante complexa. A dificuldade reside em conciliar a forma latina "Londinium" com a forma em galês moderno "Llundain", que deveria exigir a forma "*(h)lōndinion" (em oposição a "*londīnion"), a partir de "*loundiniom". Até 1889, o nome "Londres" foi oficialmente aplicado apenas para a cidade de Londres, mas, desde então, também se referiu ao Condado de Londres e, agora, à Grande Londres. História. Pré-história e antiguidade. Duas descobertas recentes indicam prováveis assentamentos muito antigos próximos ao Tâmisa, na área de Londres. Em 1999, os restos de uma ponte da Idade do Bronze foram encontrados na área costeira ao norte da Vauxhall Bridge. Esta ponte ou cruzava o rio Tâmisa, ou era ligada a uma ilha (perdida) no rio. Técnicas de dendrologia dataram as madeiras ao ano de . Em 2010, as bases de uma grande estrutura de madeira, datada de , foram encontradas na área costeira do Tâmisa, ao sul de Vauxhall Bridge. A função dessa estrutura mesolítica ainda não é conhecida. Ambas as estruturas estão em South Bank, em um ponto de cruzamento natural, onde o rio Effra deságua no rio Tâmisa. Embora não haja evidências de assentamentos britânicos dispersos na área, a cidade começou quando foi fundada por volta de 43 com o nome de Londínio, no tempo em que as tropas do exército romano lideradas pelo imperador Cláudio tomaram posse da Inglaterra. Os romanos utilizaram materiais de construção da época para a realização das obras de um porto fluvial na margem norte do rio Tâmisa, que ainda não o era como de hoje. Na verdade, os romanos apontaram esse lugar como propício para a sua construção porque nas margens do rio, a leste desse ponto estratégico, existiam muitas áreas pantanosas. O porto recebeu dos romanos o nome de Londínio, que na língua inglesa quer dizer "London" e na língua portuguesa pode ser traduzido como "Londres". Esta fase durou cerca de 25 anos até a pilhagem pelos icenos, tribo celta, liderada pela rainha Boadiceia. Londres foi reconstruída, possibilitando um rápido desenvolvimento nos anos seguintes. Acredita-se que se tenha tornado a capital da Britânia no , substituindo a antiga capital, Colchester. Nas primeiras décadas do , os soldados romanos serviram como pedreiros nas obras do então chamado Muro de Londres ao redor da cidade, cujo objetivo era uma solução para evitar que a área urbana da época fosse destruída. O Muro de Londres, propriamente dito, e as muralhas posteriores serviram como limites da atual capital do Reino Unido há séculos. Em 410, ocorreu a invasão bárbara em Roma. Naquela época, os soldados da província romana da Britânia foram confiados pela segunda vez para expulsar os invasores, mas nada adiantou. Sua população de aproximadamente a habitantes acabou diminuindo em virtude do domínio bárbaro. De acordo com os historiadores, o ano de 410 é a data que marca a época em que a Inglaterra deixou de ser governada pelos romanos e passou a ser entregue aos bárbaros. Os ingleses nascidos na própria Inglaterra, que já se transferiram com suas bagagens para Londres, firmaram como sua verdadeira morada e fizeram com que a povoação continuasse sendo um . Pouca coisa sobreviveu da Londres romana, menos porções do que era antigamente o Muro de Londres e ruínas de algumas escassas obras da arquitetura romana. Idade Média. Com o colapso do domínio romano no início do , Londres deixou de ser uma capital e a cidade murada de Londínio foi efetivamente abandonada embora a civilização romana tenha se mantido na área de St Martin-in-the-Fields até por volta de 450. Por volta do ano 500, um assentamento anglo-saxão conhecido como Lundenwic desenvolveu-se na mesma área, um pouco a oeste da antiga cidade romana. Em 680, a área tinha sido reavivada o suficiente para tornar-se um importante porto, embora haja pouca evidência de produção em larga escala de produtos. Na década de 820, a cidade entrou em declínio por causa de repetidos ataques de viquingues e a "Crônica Anglo-Saxônica" registra que o povoamento só foi "refundado" em 886, por Alfredo, o Grande. Pesquisas arqueológicas mostram que esse "ressurgimento" envolveu o abandono de Lundenwic e o renascimento da vida e do comércio dentro das antigas muralhas romanas. Londres então cresceu lentamente até cerca de 950, depois que a atividade humana na área aumentou dramaticamente. No , Londres era a maior cidade de toda a Inglaterra. A Abadia de Westminster, reconstruída em estilo românico pelo rei Eduardo, o Confessor, era uma das mais grandiosos igrejas da Europa. A cidade de Winchester tinha sido anteriormente a capital da Inglaterra anglo-saxã, mas a partir deste momento em diante, Londres tornou-se o principal fórum para os comerciantes estrangeiros e a base para a defesa da nação em tempos de guerra. Na visão de Frank Stenton: "Ela tinha os recursos e foi desenvolvendo rapidamente a dignidade e a auto-consciência política apropriada para uma capital nacional". Depois de sua vitória na Batalha de Hastings, Guilherme I foi coroado rei da Inglaterra na Abadia de Westminster, recém-inaugurada no Natal de 1066. Guilherme I construiu a Torre de Londres, o primeiro dos muitos castelos normandos na Inglaterra de ser reconstruído em pedra, na parte sudeste da cidade, para intimidar os habitantes nativos. Em 1097, Guilherme II começou a construção do Westminster Hall, perto da abadia homônima, que se tornou a base do novo Palácio de Westminster. Durante o , as instituições do governo central, que até então tinham acompanhado a corte real inglesa enquanto se movia ao redor do país, cresceram em tamanho e sofisticação, tornando-se cada vez mais fixas em um só lugar. Na maioria dos casos essas instituições foram agrupadas em Westminster, embora o tesouro real tenha sido movido para a Torre. Enquanto a City of Westminster desenvolvia-se como uma verdadeira capital em termos de governo, a sua distinta vizinha, a cidade de Londres, manteve-se como a maior cidade da Inglaterra, seu principal centro comercial e floresceu sob sua própria administração, a Corporação de Londres. No ano de 1100, a população da cidade era de cerca de 18 mil habitantes; em 1300 tinha crescido para cerca de 100 mil pessoas. No entanto, um desastre abateu a cidade durante a Peste Negra, em meados do , quando Londres perdeu quase um terço de sua população. A cidade também foi o foco da revolta camponesa de 1381. Era moderna. Durante o período Tudor, a Reforma Inglesa produziu uma mudança gradual para o protestantismo, sendo que grande parte de Londres passou das mãos da igreja para a propriedade privada. O comércio de lã não saiu de Londres para as praias vizinhas dos Países Baixos, onde era considerado indispensável. Mas os tentáculos do comércio marítimo inglês dificilmente se estendiam para além dos mares do noroeste da Europa. A rota comercial para a Itália e para o Mar Mediterrâneo normalmente era feita através da Antuérpia e dos Alpes; quaisquer navios que atravessavam o Estreito de Gibraltar com destino ou partindo da Inglaterra eram provavelmente italianos ou ragusanos. Após a reabertura dos Países Baixos para o comércio marítimo inglês em janeiro de 1565, imediatamente seguiu-se uma forte explosão da atividade comercial. A Royal Exchange foi fundada. O mercantilismo cresceu e monopólios comerciais, como a Companhia das Índias Orientais, foram estabelecidos, com o comércio em expansão no Novo Mundo. Londres tornou-se o principal porto do Mar do Norte e recebeu migrantes da própria Inglaterra e do exterior. A população aumentou de uma estimativa de 50 mil habitantes em 1530 para cerca de 225 mil pessoas em 1605. No , William Shakespeare e seus contemporâneos viveram em Londres em um momento de hostilidade para o desenvolvimento do teatro. No final do período Tudor, em 1603, Londres ainda era muito compacta. Houve uma tentativa de assassinato contra Jaime VI & I, em Westminster, através da Conspiração da Pólvora, em 5 de novembro de 1605. Londres foi atormentada por uma doença no início do , culminando com a Grande Peste de 1665–1666, que matou cerca de 100 mil pessoas, ou um quinto da população da cidade na época. O Grande Incêndio de Londres começou em 1666 em Pudding Lane e rapidamente varreu as construções de madeira da cidade. A reconstrução levou mais de dez anos e foi supervisionado por Robert Hooke. Em 1708, a obra-prima de Christopher Wren, a Catedral de São Paulo, foi concluída. Durante a era georgiana novos distritos, como Mayfair, foram formados no oeste e novas pontes sobre o rio Tâmisa incentivaram o desenvolvimento no sul de Londres. No leste, o porto de Londres se expandia. ascendeu ao trono em 1760 e ficou no poder ao longo dos próximos 60 anos. Durante o , Londres estava infestada por crimes e os Bow Street Runners foram estabelecidos em 1750 como uma força policial profissional. No total, mais de 200 crimes eram punidos com a morte e até mulheres e crianças foram enforcados por pequenos furtos. Mais de 74% das crianças nascidas em Londres morria antes de completar cinco anos de idade. Os cafés tornaram-se um local popular para debater ideias, com o crescimento da alfabetização e do desenvolvimento da imprensa, que tornou as notícias amplamente disponíveis; Fleet Street se tornou o centro da imprensa britânica. De acordo com Samuel Johnson: Era contemporânea. Londres foi a maior cidade do mundo entre 1831 e 1925. No entanto, a superpopulação da cidade levou a epidemias de cólera, que mataram mais de 14 mil pessoas em 1848 e cerca de seis mil em 1866. O crescente congestionamento do tráfego levou à criação da primeira rede ferroviária urbana do mundo. O Metropolitan Board of Works supervisionou a expansão da infraestrutura da capital e de alguns dos municípios vizinhos, mas que foram abolidos em 1889, quando o Conselho do Condado de Londres foi criado a partir dessas áreas urbanas no entorno da capital inglesa. Londres foi bombardeada pelo Império Alemão durante a Primeira Guerra Mundial, enquanto durante a Segunda Guerra Mundial, a "Blitz" e outros bombardeios pela "Luftwaffe" da Alemanha nazista mataram mais de 30 mil londrinos e destruiu grandes áreas e edifícios por toda a cidade. Imediatamente após a guerra, os Jogos Olímpicos de Verão de 1948 foram realizadas no Estádio Wembley original, em um momento em que Londres mal havia se recuperado do conflito. Em 1951, o Festival da Grã-Bretanha foi realizada na margem sul. O Grande Nevoeiro de 1952 levou ao "Clean Air Act" de 1956, que terminou aos nevoeiros de poluição pelos quais Londres era conhecida. A partir da década de 1940, a cidade tornou-se o lar de um grande número de imigrantes, principalmente de países da "Commonwealth", como Jamaica, Índia, Bangladesh e Paquistão, tornando Londres uma das mais cosmopolitas cidades da Europa. Principalmente a partir de meados da década de 1960, Londres tornou-se um centro para a cultura jovem mundial, exemplificada pela subcultura "Swinging London", associada a King's Road, Chelsea e Carnaby Street. Esse papel de polo cultural foi revivido durante a era punk. Em 1965, os limites políticos de Londres foram expandidos para levar em conta o crescimento de sua enorme área urbana e o novo Conselho da Grande Londres foi criado. Durante os distúrbios na Irlanda do Norte conhecidos como "The Troubles", a cidade sofreu a ataques com bombas promovidos pelo Exército Republicano Irlandês (IRA). A desigualdade racial foi destacada pelo motim de Brixton em 1981. A população da Grande Londres diminuiu de forma constante nas décadas após a Segunda Guerra Mundial, a partir de um pico estimado de 8,6 milhões em 1939 para cerca de 6,8 milhões em 1980. Os principais portos de Londres mudaram-se para Felixstowe e Tilbury, o que tornou a área das Docas de Londres um foco para a regeneração com o desenvolvimento de centro financeiro de Canary Wharf, o que foi consolidado com o papel cada vez maior de Londres como um centro financeiro internacional durante a década de 1980. A Barreira do Tâmisa foi concluída na década de 1980 para proteger Londres contra as marés do mar do Norte. O Conselho da Grande Londres foi abolido em 1986, que tornou Londres uma das únicas grandes metrópoles do mundo, sem uma administração central. Em 2000, o governo em toda a Londres foi restaurado com a criação da Autoridade da Grande Londres. Para comemorar o início do , o Domo do Milênio, a "London Eye" e a "Millennium Bridge" foram construídas. Ao longo da década de 2000, a cidade sofreu dois ataques terroristas — um em julho de 2005 e outro em junho de 2007 — efetuados por fundamentalistas islâmicos. Em agosto de 2011, uma série de tumultos e saques tomaram conta da cidade (e depois de toda a Inglaterra) por conta da morte de Mark Duggan, que foi assassinado por policiais. Em 6 de julho 2005, Londres foi escolhida como sede dos Jogos Olímpicos de Verão de 2012, tornando-se a primeira cidade a sediar os Jogos Olímpicos por três vezes. Geografia. Extensão. A Grande Londres é a subdivisão administrativa superior que abrange toda a cidade. Quarenta por cento da Grande Londres é coberta pelo distrito postal de Londres. O código de área do telefone de Londres (020) cobre uma área maior, semelhante em tamanho da Grande Londres, embora algumas zonas exteriores sejam omitidas e em alguns lugares exteriores estejam inclusos. A área contida dentro do anel formado pela rodovia M25 é geralmente conhecida como "Londres". A expansão da cidade agora é impedida pelo Cinturão Verde Metropolitano, embora a área urbana se estenda além desse limite em alguns lugares, o que faz com que a área urbana da Grande Londres seja definida separadamente. Além disso, há a vasta Área Metropolitana de Londres. A Grande Londres é dividida para alguns propósitos entre Londres "interior" e "exterior". A cidade é dividida pelo rio Tâmisa de norte a sul. As coordenadas do centro original de Londres, tradicionalmente considerado entre as Cruzes de Eleanor, a Charing Cross, próxima a junção da Trafalgar Square e de Whitehall, são . Topografia. A Grande Londres ocupa uma área de km2, continha uma população de de habitantes em 2001 e uma densidade populacional de hab./km2. A área maior, conhecida como Região Metropolitana de Londres, cobre uma área de km2 (3 236 mi2), tem uma população de e uma densidade populacional de hab./km2. A Londres moderna se estende pelo Tâmisa, sua característica geográfica primária, um rio navegável que atravessa a cidade de sudoeste a leste. O Vale do Tamisa é uma planície de inundação cercada por colinas suaves, como Parliament Hill, Addington Hills e Primrose Hill. O Tâmisa já foi um rio raso muito mais amplo, com extensos pântanos; na maré alta, suas costas atingiam cinco vezes a sua largura atual. Desde a era vitoriana, o Tâmisa tem sido extensivamente aterrado e muitos de seus afluentes agora correm no subsolo. O Tâmisa é um rio de maré, o que faz de Londres uma cidade vulnerável a inundações. A ameaça tem aumentado ao longo do tempo por causa de um aumento lento, mas contínuo, no nível da água na cidade, elevado pela leve 'inclinação' da Grã-Bretanha (do norte ao sul), causada por ajustes pós-glaciais. Em 1974, iniciou-se a construção da Barreira do Tâmisa em Woolwich, para lidar com a ameaça de inundação. A construção durou uma década e a barreira foi projetada para funcionar até aproximadamente 2070, mas conceitos para o seu futuro alargamento ou redesenho já estão sendo discutidos. Parques e jardins. Os maiores parques da área central de Londres são três dos Parques Reais: Hyde Park e seu vizinho Kensington Gardens no limite oeste do centro da cidade e Regent's Park, no extremo norte. Dentro do Regent's Park está o Zoológico de Londres, o mais antigo jardim zoológico científico do mundo, próximo ao famoso Museu de Cera Madame Tussauds. Mais perto do centro de Londres estão os Parques Reais menores de Green Park e St. James Park. Hyde Park, em particular, é popular para a prática de esportes e às vezes acolhe concertos ao ar livre. Uma série de grandes parques estão fora do centro da cidade, incluindo os Parques Reais restantes de Greenwich Park, Bushy Park, Richmond Park e Victoria Park. Primrose Hill, ao norte de Regent's Park, é um local popular para ver o panorama urbano da cidade. Alguns espaços abertos seminaturais mais informais também existem, como o Hampstead Heath, um parque de 320 hectares no norte da cidade. O parque incorpora a Kenwood House, uma antiga casa senhorial e um local popular nos meses de verão, onde clássicos concertos musicais são realizadas à beira do lago, atraindo milhares de pessoas todos os finais de semana para desfrutar da música, cenário e fogos de artifício. Clima. Londres tem um clima temperado oceânico (Köppen: Cfb), similar a grande parte do sul da Grã-Bretanha. Apesar de sua reputação de ser uma cidade chuvosa, Londres recebe menos precipitação (com 601 mm por ano) do que Roma (834 mm), Bordeaux (923 mm), Toulouse (668 mm) e Nápoles (1 006 mm). Os invernos são geralmente frios, com geadas ocorrendo geralmente os subúrbios, em média, duas vezes por semana de novembro a março. A neve geralmente ocorre cerca de quatro ou cinco vezes por ano, principalmente entre dezembro e fevereiro. A queda de neve nos meses de março e abril é rara, mas ocorre a cada dois ou três anos. As temperaturas do inverno raramente caem abaixo de -4 °C (24,8 °F) ou acima de 14 °C (57,2 °F). Durante o inverno de 2010, Londres registrou a sua temperatura mais baixa, -14 °C, em Northolt, e a neve mais pesada vista por quase duas décadas, uma enorme pressão sobre a infraestrutura de transportes londrina. Os registros de temperaturas extremas em Londres vai de 38,1 °C (100,6 °F), em Kew durante agosto de 2003, até -16,1 °C (3,0 °F) em Northolt, durante janeiro de 1962. Temperaturas abaixo de -20 °C (-4,0 °F) têm sido observados desde antes do , mas a precisão não pode ser validada. Os verões londrinos são geralmente quentes e, às vezes, o calor é impulsionado pelo efeito urbano de ilha de calor, o que faz com que o centro da cidade fique até 5 °C mais alta do que nos subúrbios e periferias. A temperatura média do verão de Londres é de 24 °C (75,2 °F). Em média, há sete dias por ano com temperaturas acima de 30 °C (86,0 °F) e dois dias por ano acima de 32 °C (89,6 °F). Temperaturas de 26 °C (79 °F) ocorrem semanalmente entre meados de junho e o final de agosto. Demografia. Com o aumento da industrialização, a população da cidade cresceu rapidamente ao longo do e início do XX, sendo durante este período a cidade mais populosa do mundo, até ser ultrapassada por Nova Iorque, em 1925. A população londrina atingiu um pico de habitantes em 1939, imediatamente antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial, mas caiu para habitantes no censo britânico de 2001. No entanto, a população cresceu pouco mais de 1 000 000 entre os censos de 2001 e 2011, chegando a 8,9 milhões na última pesquisa. A área urbana contínua de Londres, porém, se estende além das fronteiras da Grande Londres e era a casa de pessoas em 2001, enquanto a sua área metropolitana tem uma população de mais de 14 milhões de pessoas. De acordo com o Eurostat, Londres é a segunda área metropolitana mais populosa da Europa. Entre 1991 e 2001, 726 mil imigrantes chegaram em Londres. A região abrange uma área de km2. A densidade populacional é de hab./km2, mais de dez vezes superior do que em qualquer outra região do Reino Unido. Em termos populacionais, Londres é a 19ª maior cidade e a 18ª maior região metropolitana em todo o mundo. Londres também é classificada como a primeira no mundo em número de bilionários (em dólar), além de ser considerada uma das cidades mais caras do mundo, ao lado de Tóquio e Moscou. Etnias. De acordo com o Office for National Statistics (ONS), com base em dados do censo de 2011, 59,8% dos habitantes de Londres são brancos (44,9% brancos britânicos, 2,2% brancos irlandeses, 0,1% brancos ciganos e 12,1% classificados como "outros brancos"). Cerca de 20% dos londrinos são de origem asiática (19,7% de descendência asiática completa e 1,2 descendentes miscigenados de asiáticos). Os indianos representam 6,6% da população da cidade, seguidos por paquistaneses e bengaleses com 2,7% cada. Os chineses representam 1,5% e os árabes 1,3% da população da cidade. Há ainda outros 4,9% de londrinos que são classificados como "outros asiáticos". Os negros e seus descendentes representam 15,6% da população de Londres, sendo 13,3% de ascendência completamente negra e 2,3% de multirraciais. Os negros são responsáveis por 7% da população africana da cidade (4,2% são classificados como "negros caribenhos" e 2,1% como "outros negros"). 5% dos londrinos são miscigenados. Já em 1185, o cronista Ricardo de Devizes queixava-se de que em Londres "se amontoavam homens de todos os países que há debaixo do céu". As crianças negras e asiáticas superam as crianças brancas britânicas em cerca de seis para quatro nas escolas públicas da cidade. No entanto, as crianças brancas representavam 62% dos de habitantes de Londres com idade entre 0 e 15 anos em 2009. Segundo estimativas do ONS, 55,7% da população com idade entre 0 a 15 anos é branca britânica, 0,7% é branca irlandesa e 5,6% é de brancos de outras origens da União Europeia. Em janeiro de 2005, um levantamento sobre a diversidade étnica e religiosa de Londres registrou mais de 300 idiomas falados na cidade e identificou mais de 50 comunidades não nativas que têm uma população superior a 10 mil pessoas. Dados do ONS mostram que, em 2010, a população estrangeira de Londres era de (33%), contra em 1997. O censo de 2011 mostrou que 36,7% da população da Grande Londres nasceu fora do Reino Unido. Uma parte da população de origem alemã na cidade é composta por cidadãos britânicos nascidos de pais que servem em bases das Forças Armadas do Reino Unido na Alemanha. Estimativas produzidas pelo ONS indicam que os cinco maiores grupos de estrangeiros que vivem em Londres, no período de julho de 2009 a junho de 2010, foram aqueles que nasceram na Índia, Polônia, República da Irlanda, Bangladesh e Nigéria. Religiões. De acordo com o censo de 2011, os maiores grupos religiosos da cidade são cristãos (48,4%), seguidos por aqueles sem nenhuma religião (20,7%), muçulmanos (12,4%), sem resposta (8,5%), hindus (5%), judeus (1,8%), sikhs (1,5%), budistas (1%) e outros (0,6%). Londres é tradicionalmente uma cidade cristã e tem um grande variedade de igrejas, particularmente no centro. A famosa Catedral de São Paulo e a Catedral Southwark são centros administrativos anglicanos, enquanto o Arcebispo de Canterbury, o principal bispo da Igreja da Inglaterra e da Comunhão Anglicana, tem a sua principal residência no Palácio de Lambeth, no "borough" de Lambeth. As cerimônias nacionais e reais mais importantes são compartilhadas entre a Catedral de São Paulo e a Abadia de Westminster. A abadia não deve ser confundida com a vizinha Catedral de Westminster, a maior catedral católica romana da Inglaterra e do País de Gales. Apesar da prevalência de igrejas anglicanas, frequência à igreja continua em um longo, lento e constante declínio, de acordo com estatísticas da Igreja da Inglaterra. Londres é o lar de consideráveis comunidades de muçulmanos, hindus, sikhs e de judeus. Muitos muçulmanos vivem em Tower Hamlets e Newham; o mais importante edifício muçulmano da cidade é a Mesquita Central de Londres, à beira do Regent's Park. Após o "boom" do petróleo, houve um aumento do número de muçulmanos ricos vindos do Oriente Médio que têm se estabelecido em torno de Mayfair e Knightsbridge, na região oeste da cidade. Londres é o lar da maior mesquita da Europa Ocidental, a Mesquita Baitul Futuh, da comunidade muçulmana ahmadi. A grande comunidade hindu de Londres é encontrada em bairros do noroeste, como Harrow e Brent, sendo o último o lar de um dos maiores templos hindus da Europa, o Templo Neasden. A comunidade sikh está localizada no leste e no oeste da cidade, que também é o lar do maior templo sikh do mundo fora da Índia. A maioria dos judeus britânicos vive em Londres, sendo que as comunidades judaicas significativas localizam-se em Stamford Hill, Stanmore, Golders Green, Hampstead, Hendon e Edgware, no norte da cidade. Stanmore and Canons Park Synagogue tem o maior número de membros do que qualquer outra sinagoga ortodoxa única em toda a Europa, ultrapassando sinagoga de Ilford (também em Londres), em 1998. A comunidade judaica criou o Fórum Judeu de Londres em 2006. Governo. Local. A administração de Londres é feita de duas maneiras: em nível geral e local. A administração de toda a cidade é coordenada pela Greater London Authority (GLA), enquanto que a administração local é realizada por 33 autoridades menores. A GLA consiste de dois componentes eleitos: o prefeito de Londres, que tem poderes executivos, e a Assembleia de Londres, que analisa as decisões do prefeito e pode aceitar ou rejeitar suas propostas orçamentárias a cada ano. A sede da assembleia é o Paço Municipal, em Southwark, e o atual prefeito é Sadiq Khan, membro do Partido Trabalhista. O plano diretor da prefeitura é publicado sob o nome "Plano de Londres", mais recentemente publicado em 2011. As autoridades locais são os conselhos dos 32 "boroughs" de Londres e da City of London Corporation. Elas são responsáveis por serviços regionais, como o planejamento local, a administração de escolas, serviços sociais, estradas e coleta de lixo. Algumas funções, como gestão de resíduos, são fornecidas através de acordos conjuntos. No período 2009–2010 os gastos combinados dos conselhos da cidade e da Assembleia foram de pouco mais de 22 bilhões de libras esterlinas (14,7 bilhões para os "boroughs" e 7,4 bilhões para a GLA). O policiamento na Grande Londres, com exceção da City, é fornecido pela Polícia Metropolitana, supervisionado pelo prefeito. A City tem uma força policial própria: a City of London Police. A British Transport Police é responsável pelos serviços de polícia no National Rail e no metrô da cidade. O Corpo de Bombeiros de Londres é o serviço oficial de resgate e combates a incêndios na Grande Londres. Ele é gerido pela London Fire and Emergency Planning Authority e é o terceiro maior serviço de combate a incêndios do mundo. Os serviços de emergência do National Health Service (NHS) são fornecidos pelo London Ambulance Service (LAS), um dos maiores serviços de emergência do planeta. Nacional. Londres é a sede do Governo do Reino Unido, que está sediado no Palácio de Westminster. Muitos departamentos do governo estão localizados próximo ao Parlamento, particularmente ao longo da Whitehall, incluindo a residência oficial do primeiro-ministro, em 10 Downing Street. O parlamento britânico é muitas vezes chamado de "Mãe dos Parlamentos" (embora este apelido tenha sido aplicado pela primeira vez à própria Inglaterra por John Bright), porque tem sido o modelo para a maioria dos outros sistemas parlamentaristas e suas leis criaram muitos outros parlamentos. Cidades-irmãs. Segundo a "Greater London Authority", existem 46 outras localidades no mundo cujo nome é uma homenagem ou citação a Londres, em seis continentes. Assim como a geminação de Londres, suas cidades irmãs também possuem geminações com partes de outras cidades em todo o mundo. Abaixo está a lista de cidades declaradas "cidades irmãs": As seguintes cidades possuem acordo de amizade com Londres: Subdivisões. A vasta área urbana de Londres é frequentemente descrita através do uso de vários nomes de distritos, como Bloomsbury, Mayfair, Wembley e Whitechapel. Estes são designações informais, que refletem os nomes de vilas que foram absorvidas pela expansão da Grande Londres ou que são substituições de antigas unidades administrativas, como paróquias ou antigos bairros. Esses nomes têm permanecido em uso por tradição, sendo cada um referente a uma área local com características próprias, mas sem limites oficiais. Desde 1965, a Grande Londres é dividida em 32 "boroughs", além da antiga Cidade de Londres (conhecida como "City of London" ou simplesmente "City"). A "City" é o principal centro financeiro, enquanto Canary Wharf se desenvolveu recentemente como um novo centro comercial nas Docklands, a leste. O West End é o principal polo comercial e de entretenimento de Londres, atraindo turistas. West London inclui áreas residenciais caras, onde as propriedades podem valer dezenas de milhões de libras. O preço médio de imóveis em Kensington e Chelsea é de 894 mil libras esterlinas. O East End é a área mais próxima do porto original de Londres e é conhecida por sua numerosa população de imigrantes, bem como por ser uma das áreas mais pobres da cidade. A área de East London circundante experimentou muito do desenvolvimento industrial no início de Londres; agora, zonas industriais em toda a área estão sendo reconstruídos como parte do "Thames Gateway", como o London Riverside e Lower Lea Valley, onde foi desenvolvido o Parque Olímpico Rainha Isabel, construído para os Jogos Olímpicos de Verão de 2012. Economia. Londres gera cerca de 20% de todo o PIB do Reino Unido (ou 446 bilhões de dólares em 2005), enquanto a economia da área metropolitana de Londres, a maior da Europa, gera cerca de 30% do PIB britânico (ou cerca de 669 bilhões de dólares em 2005). Londres é um dos principais centros financeiros do mundo e compete com Nova Iorque, nos Estados Unidos, como o local mais importante das finanças internacionais. A maior indústria de Londres é o setor financeiro e suas exportações financeiras o tornaram um grande contribuinte da balança de pagamentos do Reino Unido. Cerca de 325 mil pessoas estavam empregadas na área de serviços financeiros na cidade em meados de 2007. Londres tem cerca de 480 bancos estrangeiros, mais do que qualquer outra cidade no mundo. Mais de 85% (3,2 milhões) da população ocupada de grande Londres trabalha no setor de serviços. Por causa de seu papel de destaque mundial, a economia de Londres foi afetada pela crise financeira de 2008. A cidade de Londres é o lar de instituições como Banco da Inglaterra, Bolsa de Valores de Londres e Lloyd's of London. Mais da metade das 100 maiores empresas do Reino Unido (de acordo com índice FTSE 100) e mais de 100 das 500 maiores empresas da Europa têm a sua sede no centro de Londres. Mais de 70% das empresas listadas no FTSE 100 estão localizadas dentro da área metropolitana de Londres e 75% das empresas do Fortune 500 tem escritórios na capital britânica. Juntamente com os serviços profissionais, as empresas de mídia estão concentradas em Londres e o setor de distribuição de mídia é o segundo mais competitivo na cidade. A BBC é um importante empregador, enquanto outras emissoras também têm sede na cidade. Muitos jornais nacionais são editados em Londres. A cidade é um importante centro de varejo e em 2010 teve as maiores vendas de varejo não alimentar no mundo, com gastos totais em torno de 64,2 bilhões de libras esterlinas. O Porto de Londres é o segundo maior no Reino Unido, manipulando 45 milhões de toneladas de carga por ano. Londres tem cinco grandes áreas de negócios: City, Westminster, Canary Wharf, Camden & Islington e Lambeth & Southwark. Uma maneira de avaliar a importância econômica da cidade observar a quantidade relativa de espaço de escritórios: a Grande Londres tinha 27 milhões de m² em espaço de escritório em 2001 e a City contém a maior parte deste espaço, com 8 milhões de m². Londres tem alguns dos mais altos preços imobiliários em todo o mundo. Turismo. A capital britânica é um popular polo turístico. O turismo é um dos principais setores econômicos da cidade, empregando o equivalente a 350 mil pessoas em 2003, enquanto a despesa dos turistas rende em torno de 15 bilhões de libras esterlinas anuais para a cidade. Londres atrai mais de 14 milhões de visitantes internacionais anualmente, o que a torna a cidade mais visitada de toda a Europa. Em 2010, as dez atrações mais visitadas em Londres eram: Museu Britânico; Tate Modern; Galeria Nacional; Museu de História Natural de Londres; London Eye; Museu da Ciência de Londres; Victoria and Albert Museum; Madame Tussauds; National Maritime Museum e a Torre de Londres. Segundo da ranking da MasterCard, Londres foi a cidade mais visitada em 2014, mesmo sendo a cidade que tem uma das políticas de imigração mais temida por turistas de todo o mundo que desejam entrar no Reino Unidos, com uma alta taxa de vistos negados. Infraestrutura. Educação. Londres é um importante polo de ensino superior e de pesquisa e suas 43 universidades formam a maior concentração de instituições de ensino superior da Europa. Em 2008/09, a cidade tinha 412 mil estudantes no ensino superior (cerca de 17% do total do Reino Unido), dos quais cerca 287 mil estavam matriculados em cursos de graduação e 118 mil estavam matriculados na pós-graduação. Em 2008/09, havia cerca de estudantes internacionais em Londres, cerca de 25% de todos os estudantes internacionais no país. Várias instituições de ensino superior de renome estão sediadas em Londres. Em 2012, o "QS World University Rankings" classificou a University College London (UCL) como a quarta do mundo, o Imperial College London como o sexto e o King's College de Londres na 26ª posição. A London School of Economics tem sido considerada como uma instituição de ciência social líder mundial, tanto em ensino quanto em pesquisa. A London Business School é considerada uma das principais escolas de negócios do mundo e em 2010 seu programa de MBA foi classificado como melhor do mundo pelo "Financial Times". Com 125 mil alunos, a Universidade de Londres é uma das maiores universidades da Europa. Ele inclui quatro grandes universidades multi-professores — King's College de Londres, Queen Mary, Royal Holloway e UCL — e várias outras instituições menores e mais especializadas, como a Royal Academy of Music e London School of Economics. Há também várias universidades fora do sistema da Universidade de Londres, como a Universidade de Brunel, City University, Imperial College London, Universidade das Artes de Londres (a maior universidade de arte, design, moda, comunicação e teatro da Europa), University of East London, Universidade de Westminster, entre outras. Transportes. O transporte é uma das quatro principais áreas do governo do prefeito de Londres, no entanto o controle financeiro da prefeitura não abrange a rede ferroviária de longa distância que entra na cidade. Em 2007, ele assumiu a responsabilidade de algumas linhas locais, que agora formam a rede London Overground. A rede de transporte público é administrada pela Transport for London (TfL) e é uma das mais extensas do mundo. Andar de bicicleta é uma maneira cada vez mais popular para se deslocar em Londres. A "London Cycling Campaign" foi criada para pedir por uma melhor estrutura aos ciclistas. Por ter sido um dos maiores portos do mundo, o Porto de Londres é atualmente o segundo maior do Reino Unido, movimentando 45 milhões de toneladas de carga anualmente. As linhas que formavam o metrô de Londres, assim como bondes e ônibus, tornaram-se parte de um sistema integrado de transportes em 1933, quando o London Passenger Transport Board (LPTB), ou "London Transport", foi criado. A Transport for London (TfL) é atualmente a empresa oficialmente responsável pela gestão da maioria dos aspectos do sistema de transporte da Grande Londres e é gerida por um conselho e um comissário nomeado pelo prefeito de Londres. Aéreo. A cidade de Londres é um importante polo aeroviário internacional, sendo o espaço aéreo da cidade o maior do mundo. Oito aeroportos usam a palavra "Londres" em seu nome, mas a maior parte do tráfego aéreo passa por seis deles. O Aeroporto de Heathrow, em Hillingdon, na região oeste, é o aeroporto mais movimentado do mundo em tráfego internacional e é o principal "hub" da companhia aérea britânica "British Airways". Em março de 2008 o Terminal 5 do aeroporto foi aberto. Havia planos para uma terceira pista e um sexto terminal de passageiros, porém estes planos foram cancelados pelo governo de coligação em 12 de maio de 2010. Em setembro de 2011 um sistema de trânsito rápido pessoal foi aberto em Heathrow para se conectar a um estacionamento nas proximidades. Um tráfego aéreo de movimento semelhante, com a adição de alguns voos de baixo-custo de curta distância, também passa pelo Aeroporto de Gatwick, no sul da cidade, em West Sussex. O Aeroporto de Stansted, situado em Essex, no nordeste da cidade, é o principal centro aéreo no Reino Unido para a "Ryanair" e o Aeroporto de Luton, em Bedfordshire, norte de Londres, serve principalmente para voos baratos de curta distância. O Aeroporto da Cidade de Londres, um aeroporto menor e mais central, é voltado para viagens de negócios, recebendo voos regulares de curta distância e um tráfego considerável de jatos executivos. O Aeroporto Londres Southend, em Essex, na região leste, é um aeroporto menor e regional que atende principalmente voos baratos de curta distância. Recentemente, passou por um grande projeto de reformulação que incluiu um novo terminal, a ampliação da pista de pouso e uma nova estação ferroviária que oferece ligações rápidas para a capital britânica. A empresa "EasyJet" tem uma base nesse aeroporto. Ferroviário. O Metrô de Londres — também conhecido como "The Tube" — é o mais antigo e o segundo maior sistema de metrô do mundo, entrando em operação em 1863. O sistema possui 270 estações e é formado por várias empresas privadas, incluindo a primeira linha subterrânea elétrica do mundo, a City & South London Railway. Mais de três milhões de viagens são feitas todos os dias na rede do metrô londrino e mais de 1 bilhão anualmente. Um programa de investimento está tentando resolver problemas de congestionamento e confiabilidade, incluindo 7 bilhões de libras esterlinas (10 bilhões de euros) de melhorias voltadas para os Jogos Olímpicos de Verão de 2012. A cidade de Londres tem sido elogiada pela qualidade de seu transporte público. Há também uma extensa rede de trens suburbanos acima do solo, particularmente no sul da cidade, que tem menos linhas subterrâneas. Londres abriga a estação mais movimentada estação da Grã-Bretanha — Waterloo — com mais de 184 milhões de pessoas que utilizam o complexo de transferência a cada ano. As estações dispõem de serviços para as regiões sudeste e sudoeste de Londres e também para as regiões sudeste e sudoeste da Inglaterra. A maioria das linhas ferroviárias terminam em torno do centro de Londres, por dezoito estações e terminais, com exceção dos trens do "Thameslink", que fazem ligação com Bedford e Brighton. Desde 2007 o trem de alta velocidade "Eurostar" liga Londres, através da estação de St. Pancras, com as cidades de Lille, Paris e Bruxelas. O tempo de viagem de pouco mais de duas horas até Paris e de 50 minutos até Bruxelas tornam Londres mais próxima da Europa continental do que o resto da Grã-Bretanha, em virtude do trem de alta velocidade que atravessa o Canal da Mancha. Rodoviário. A rede de ônibus de Londres é uma das maiores do mundo, funcionando 24 horas por dia, com 8 mil ônibus, 700 linhas e mais de 6 milhões de viagens de passageiros feitas todas os dias da semana. Em 2003, a rede teve um número estimado de 1,5 bilhão de viagens suburbanas por ano, mais do que o metrô. Cerca de 850 milhões de libras são geradas em receitas anualmente. A cidade tem a maior rede com acesso para cadeirantes em todo o mundo e, desde o terceiro trimestre de 2007, tornou-se mais acessível para passageiros com deficiências visual e na audição após a introdução de anúncios áudio-visuais. Os característicos ônibus vermelhos de dois andares são reconhecidos internacionalmente e são uma marca registrada do transporte londrino, juntamente com os táxis pretos e o metrô. Londres tem uma rede moderna de bondes conhecida como "Tramlink", com sede em Croydon, no sul da cidade. A rede tem 39 estações, três rotas e transportou 26,5 milhões de pessoas em 2008. Desde junho de 2008, a Transport for London assumiu completamente a "Tramlink" e planeja 54 milhões de libras esterlinas até 2015 em manutenção, renovações, atualizações e melhorias de capacidade do sistema. Desde abril de 2009 todos os bondes foram remodelados. Embora a maioria das viagens que envolvam o centro de Londres sejam feitas através do transporte público da cidade, viajar de carro é comum nos subúrbios londrinos. O anel viário (em torno do centro), as estradas circulares Norte e Sul (na periferia) e a auto-estrada orbital exterior (a M25, fora da área urbana) cercam a cidade e são atravessados por várias rotas-radiais, apesar de muito poucas autoestradas entrarem no interior de Londres. A M25 é o maior rodoanel do mundo, com 195,5 km de extensão. As rodovias A1 e M1 conectam Londres à Edimburgo, Leeds e Newcastle. Um plano para uma ampla rede de autoestradas por toda a cidade (o "Ringways Plan") foi elaborado na década de 1960, mas foi cancelado em grande parte na década de 1970. Em 2003, o pedágio urbano foi introduzido para reduzir o volume de tráfego de veículos no centro da cidade. Com poucas exceções, os motoristas são obrigados a pagar 10 libras por dia para dirigir dentro de uma zona definida que abrange grande parte do congestionado centro de Londres. Os motoristas que são moradores da zona definida podem comprar um passe de temporada de valor muito reduzido, que é renovado mensalmente e é mais barato que uma passagem de ônibus correspondente. A cidade é famosa por seus congestionamentos, sendo a autoestrada M25 o trecho rodoviário mais movimentado do país. A velocidade média de um carro na hora do rush londrina é de 17,1 km/h. O governo da cidade inicialmente previu "Zonas de Taxa de Congestionamento" para aumentar o período de pico metrô e da rede de ônibus em 20 mil pessoas, reduzir o tráfego de 10 a 15%, aumentar a velocidade do trânsito de 10 a 15% e reduzir as filas de 20 a 30%. Ao longo de vários anos, o número médio de veículos que entram no centro de Londres semanalmente foi reduzido de 195 mil para 125 mil carros — uma redução de 35% no número de veículos que circulam por dia. Cultura. Arquitetura. As construções londrinas são muito diversificadas e são caracterizadas por vários estilos arquitetônicos diferentes, em parte por causa da idade das edificações. Muitos casarões e prédios públicos, como a Galeria Nacional, foram construídos a com pedras de Portland. Algumas áreas da cidade, especialmente na região oeste, são caracterizadas por seus edifícios com estuque ou argamassa branca. Poucas das estruturas no centro de Londres são anteriores ao Grande Incêndio de 1666, mas ainda existem vestígios da era romana, como a Torre de Londres, e alguns sobreviventes da Era Tudor ainda estão espalhados pela City. A Hampton Court é o mais antigo palácio da era Tudor na Inglaterra, construído pelo Cardeal Thomas Wolsey, cerca de 1515. Igrejas de Christopher Wren do final do , instituições financeiras dos séculos XVIII e XIX, como a Royal Exchange e o Banco da Inglaterra, e edificações do início do , como Old Bailey e o prédio residencial Barbican Estate, fazem parte da variada herança arquitetônica da cidade. A Usina Termelétrica de Battersea, construída em 1939 e atualmente desativada, é um marco local, enquanto alguns terminais ferroviários são excelentes exemplos da arquitetura vitoriana, principalmente as estações St. Pancras e Paddington. O Monumento ao Grande Incêndio de Londres, na Cidade de Londres, relembra o incêndio que arrasou a cidade em 1666 e que se originou nas suas proximidades. Os arcos Marble e Wellington, no extremos norte e sul da rua Park Lane, têm conexões reais, assim como o Albert Memorial e Royal Albert Hall, em Kensington. A Coluna de Nelson é um monumento reconhecido nacionalmente na Trafalgar Square, um dos pontos principais do centro da cidade. Os edifícios mais antigos são feitos principalmente, de alvenaria, geralmente com tijolos londrinos vermelhos ou alaranjados e são muitas vezes decorados com esculturas e molduras de gesso branco. Nas áreas mais densas há maior concentração de construções médias e altas. Os arranha-céus londrinos, como 30 St Mary Axe, Tower 42, Broadgate Tower e One Canada Square, são normalmente encontrados nos dois distritos financeiros da cidade, a Cidade de Londres e Canary Wharf. O desenvolvimento de arranha-céus é restrito a determinados locais se a construção for obstruir a vista de edifícios famosos, como Catedral de São Paulo, e outros edifícios históricos. No entanto, existem arranha-céus muito altos no centro de Londres, como o Shard London Bridge, com mais de 300 m de altura. Outros edifícios modernos icônicos são a sede da prefeitura, em Southwark, e a Biblioteca Britânica, em Kings Cross. O que antes era conhecido como o Domo do Milênio, localizado às margens do Tâmisa, a leste de Canary Wharf, é agora utilizado como um local de entretenimento chamado "The Arena O2". Entretenimento. Dentro da Cidade de Westminster, o centro de entretenimento de West End tem seu foco em torno da Leicester Square, onde estreias de filmes locais e internacionais são realizadas, e Piccadilly Circus, com seus anúncios eletrônicos gigantes. O distrito dos teatros fica em West End, assim como muitos cinemas, bares, clubes e restaurantes, incluindo o bairro de Chinatown da cidade (no Soho) e a leste de Covent Garden, uma área de lojas especializadas em várias áreas. A cidade é a casa de Andrew Lloyd Webber, cujo musicais têm dominado West End desde o final do . Royal Ballet, English National Ballet, Royal Opera e English National Opera são instituições sediadas em Londres e se apresentam em locais como a Royal Opera House, o Coliseu, o Teatro Sadler's Wells e o Royal Albert Hall. A Upper Street, em Islington, com 1,6 km de extensão, tem mais bares e restaurantes do que qualquer outra rua no Reino Unido. A área comercial mais movimentada da Europa é a Oxford Street, uma rua comercial de 1,6 km de comprimento, o que a torna a maior rua comercial do país. Oxford Street é o lar de um vários varejistas e lojas de departamento, incluindo a mundialmente famosa Selfridges. Knightsbridge é a sede da igualmente famosa loja de departamentos Harrods. Londres é o lar de estilistas como Vivienne Westwood, John Galliano, Stella McCartney, Manolo Blahnik, Jimmy Choo, entre outros, e suas escolas de arte e moda de renome tornam a cidade um centro internacional de moda ao lado de Paris, Milão e Nova Iorque. A capital britânica oferece uma grande variedade de culinárias, como resultado de sua população etnicamente diversa. Centros gastronômicos incluem os restaurantes de Bangladesh em Brick Lane e os restaurantes de comida chinesa de Chinatown. A cidade sedia uma grande variedade de eventos anuais, como a relativamente nova Parada do Dia de Ano Novo, a queima de fogos de artifício na London Eye, o Carnaval de Notting Hill é a segunda maior festa de rua do mundo e é realizado anualmente, durante o final de agosto. Entre os desfiles tradicionais da cidade estão o "Lord Mayor's Show" em novembro, um evento secular celebrando o encontro anual de um novo "Lord Mayor" para Londres, e o "Trooping the Colour", um desfile militar formal realizado por regimentos da "Commonwealth" e por exércitos britânicos para comemorar o Aniversário da Rainha. Literatura, cinema e televisão. Londres foi o cenário de muitas obras de literatura. Os centros literários mais tradicionais da cidade são Hampstead (desde o início do ) e Bloomsbury. Entre os escritores intimamente associados à cidade estão Samuel Pepys, conhecido por seu testemunho do Grande Incêndio de 1666; Charles Dickens, cuja representação de uma Londres coberta por nevoeiros, neve e sujeira, de ruas repletas de varredores de rua e batedores de carteira, foi uma grande influência sobre a visão popular sobre a cidade no início da era vitoriana; e Virginia Woolf, considerada como uma das principais figuras literárias modernistas do . Os peregrinos de "Os Contos da Cantuária", obra de Geoffrey Chaucer do final do , partiram da Cantuária, em Londres — mais especificamente, a partir de Southwark. William Shakespeare passou grande parte de sua vida vivendo e trabalhando na cidade, enquanto seu contemporâneo, Ben Jonson, morou em Londres e alguns de seus trabalhos, mais notavelmente a peça teatral "The Alchemist", se passam na cidade. A obra "A Journal of the Plague Year" (1722), de Daniel Defoe, é uma ficção sobre os acontecimentos da Grande Praga de 1665. Posteriormente, entre as representações mais importantes da cidade de Londres entre os séculos XIX e XX, estão os romances de Dickens e as histórias de Sherlock Holmes, de Arthur Conan Doyle. Entre os escritores modernos que foram difusamente influenciados pela cidade estão Peter Ackroyd, autor de uma "biografia" da cidade, e Iain Sinclair, que escreve no gênero de psicogeografia. Londres tem desempenhado um papel importante na indústria cinematográfica e sedia grandes estúdios em Ealing e centros de efeitos especiais e de pós-produção em Soho. A Working Title Films está sediada na cidade. Londres foi o cenário para filmes como "Oliver Twist" (1948), "Peter Pan" (1953), "The Ladykillers" (1955), "The 101 Dalmatians" (1961), "Mary Poppins" (1964), "Blow-Up" (1966), "The Long Good Friday" (1980), "Secrets and Lies" (1996), "Notting Hill" (1999), "Match Point" (2005), "V for Vendetta" (2005) e "Sweeney Todd: The Demon Barber Of Fleet Street" (2008). Londres é um importante centro de produção de televisão, sediando estúdios como o BBC Television Centre, The Fountain Studios e The London Studios. Muitos programas de televisão também foram criados na cidade, como a popular "soap opera" "EastEnders", transmitida pela BBC desde 1985. Música. Londres é uma das principais capitais da música clássica e popular do mundo e é o lar de grandes corporações musicais, como a EMI, bem como de inúmeras bandas, músicos e profissionais dessa indústria. A cidade também é a sede de muitas orquestras e salas de concerto, como o Barbican Centre (base principal da Orquestra Sinfônica de Londres), o Cadogan Hall (da Orquestra Filarmônica Real) e o Royal Albert Hall (The Proms). As duas principais casas de ópera da cidade são a Royal Opera House e o London Coliseum. O maior órgão de tubos do Reino Unido está localizado no Royal Albert Hall. Outros instrumentos importantes são encontrados nas grandes catedrais e igrejas londrinas. Vários conservatórios estão localizados dentro da cidade: Royal Academy of Music, Royal College of Music, Guildhall School of Music and Drama e Trinity College of Music. Londres tem inúmeros locais para espetáculos de rock e pop, como as grandes arenas de Earls Court, Wembley Arena e a O2 Arena, assim como muitos locais de médio porte, como Brixton Academy, Hammersmith Apollo e Shepherds Bush Empire. Vários festivais de música, como o Wireless Festival, são realizados em Londres. A cidade abriga o primeiro e original Hard Rock Cafe e os estúdios Abbey Road, onde os Beatles gravaram muitos de suas principais canções. Nos anos de 1970 e 1980, músicos e grupos como Elton John, David Bowie, Queen, Elvis Costello, Cat Stevens, Ian Dury and the Blockheads, The Kinks, Pink Floyd, The Rolling Stones, The Who, Electric Light Orchestra, Madness, The Jam, The Small Faces, Led Zeppelin, Iron Maiden, Fleetwood Mac, The Police, The Cure, Cream, Phil Collins e Sade, conquistaram fama mundial inspirando suas músicas nas ruas e ritmos de Londres. A cidade foi fundamental para o desenvolvimento da música punk, sendo que figuras como Sex Pistols, The Clash, e Vivienne Westwood estavam baseada na cidade. Entre os artistas mais recentes a emergir da cena musical de Londres estão George Michael, Bananarama, Bush, East 17, Siouxsie and the Banshees, Spice Girls, Jamiroquai, Blur, The Prodigy, The Libertines, Babyshambles, Bloc Party, Mumford & Sons, One Direction, Coldplay, Amy Winehouse e Adele. Londres também é um centro da música urbana. Em particular, gêneros musicais como "UK Garage", "drum and bass", "dubstep" e "grime" evoluíram na cidade a partir dos gêneros estrangeiros "hip hop" e "reggae", ao lado do "drum and bass" local. Museus e galerias de arte. Londres é o lar de muitos museus, galerias de arte e outras instituições, que são as principais atrações turísticas e também desempenham um importante papel de pesquisa. O Museu de História Natural (Biologia e Geologia), Museu de Ciências e "Victoria and Albert Museum" (moda e design) estão agrupados no "bairro museu" de South Kensington, embora as casas do Museu Britânico abriguem artefatos históricos de todo o mundo. A Biblioteca Britânica é a biblioteca nacional do Reino Unido, abrigando mais de 150 milhões de itens. A cidade também abriga extensas coleções de arte, principalmente na "National Gallery", Tate Britain, Tate Modern. e do Instituto Courtauld de Arte. A cidade abriga cerca de 240 museus, mas o governo publica números de visitantes apenas de suas próprias instituições. A maioria dos museus financiados pelo governo parou de cobrar taxas de visitação em 2001 e, embora isto tenha sido desafiado em 2007, ainda continua em vigor. Após a remoção de taxas, a visitação aos museus de Londres aumentou, com uma grande percentagem dos 42 milhões de visitantes anuais em todo o país. O primeiro museu a ser estabelecido foi o Museu Britânico, em Bloomsbury, em 1753. Originalmente contendo antiguidades, espécimes de história natural e da Biblioteca Nacional, o museu tem agora 7 milhões de artefatos de todo o mundo. Em 1824, a National Gallery foi fundada para abrigar a coleção nacional britânica de pinturas ocidentais e agora ocupa uma posição de destaque na Trafalgar Square. Na segunda metade do a região de South Kensington desenvolveu-se como "Albertopolis" (em referência ao Príncipe Alberto), um bairro cultural e científico. Três principais museus nacionais estão localizados lá: o Victoria and Albert Museum (para as artes aplicadas), o Museu de História Natural de Londres e o Museu da Ciência. A galeria nacional de arte britânica está no Tate Britain, originalmente criado como um anexo da National Gallery em 1897. A Tate Gallery, como era conhecida anteriormente, também se tornou um importante centro de arte moderna, em 2000 transformou-se na Tate Modern, uma nova galeria alojados na antiga estação elétrica de Bankside. Esportes. A cidade de Londres sediou os Jogos Olímpicos em três ocasiões: 1908, 1948 e 2012. A capital britânica foi escolhida em julho de 2005 para sediar os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2012, tornando-se a primeira cidade a sediar os jogos olímpicos modernos três vezes. Londres também foi a anfitriã dos Jogos do Império Britânico de 1934 e irá sediar o Campeonato Mundial de Atletismo de 2017. O esporte mais popular de Londres é o futebol e a cidade tem quatorze clubes de futebol na Football League, incluindo seis na Premier League: Arsenal, Chelsea, Fulham, Crystal Palace, Queens Park Rangers, Tottenham Hotspur e West Ham United. Em maio de 2012, o Chelsea se tornou o primeiro clube de Londres a vencer a Liga dos Campeões da UEFA. A cidade também tem cinco equipes de rugby na Aviva Premiership (London Irish, Saracens, London Wasps, London Welsh e Harlequins), embora apenas os Harlequins e os Saracens joguem em Londres (todos os outros três agora jogar fora da Grande Londres). Outra equipe profissional de "rugby union" da cidade é a London Scottish F.C., que joga na cidade. Londres tem outros clubes de rugby muito tradicionais, como Richmond F.C., Rosslyn Park F.C., Westcombe Park Rugby F.C. e Blackheath F.C Há três clubes profissionais da "rugby league" em Londres: London Broncos, que joga na "Super League", London Skolars e Hemel Stags. Em 1924, o Estádio Wembley original tornou-se a casa da seleção nacional de futebol e serviu como palco para a final da Copa da Inglaterra, bem como do "Challenge Cup" da "rugby league". O novo estádio de Wembley serve exatamente para os mesmos fins e tem capacidade para noventa mil torcedores. O Estádio de Twickenham, na região sudoeste da cidade, é o estádio nacional de rugby e tem capacidade 84 mil pessoas. O críquete em Londres é servido por dois estádios, o Lord's Cricket Stadium (casa do Middlesex C.C.C.) e o The Oval (casa do Surrey C.C.C.), em Kennington. O Lord's já recebeu quatro finais da Copa do Mundo de Críquete. Uma das mais conhecidas competições esportivas anuais da cidade é o Torneio de Wimbledon, realizado pelo All England Club no subúrbio de Wimbledon. Outros eventos periódicos importantes são a Maratona de Londres, que recebe cerca de 35 mil corredores que tentam percorrer os 42,2 km do percurso ao redor da cidade, e a Regata Oxford-Cambridge no rio Tâmisa, entre Putney e Mortlake.
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Lafcádio Hearn
Lafcádio Hearn Patrick Lafcádio Hearn (27 de junho de 1850 - 26 de setembro de 1904), com o nome de batismo grego Πατρίκιος Λευκάδιος Χερν, mas também conhecido como Koizumi Yakumo (小泉八雲 "Koizumi Yakumo"), nome que adotou após adquirir cidadania japonesa, foi um jornalista e escritor conhecido por seus livros a respeito do Japão. Ele é especialmente conhecido pelos japoneses devido às suas coleções de contos de fadas, um dos quais foi transformado em filme por Masaki Kobayashi ("Kwaidan" (1965)). Viveu muito tempo no Japão e conquistou, com sua obra, grande renome internacional. É também conhecido por ter feito um registro escrito da tradição oral de contos em língua crioula da ilha de Martinica, no Caribe. Vida. Hearn nasceu na Grécia, na ilha de Lêucade, uma das ilhas Jônicas (Em grego a ilha se chama Lefkas - de onde se origina seu nome). Filho do major cirurgião Charles Hearn, nascido em King's County na Irlanda e de Rosa Antonia Kassimati nascida em Leocádio. Seu pai estava servindo na ilha durante a ocupação inglesa das ilhas Jônicas. Aos seis anos de idade Lafcádio Hearn mudou-se para a Irlanda. O gosto pelas artes e pela Boemia estava no sangue de Hearn. O irmão de seu pai, Richard, foi um membro renomado do grupo de artistas Barbizon, embora não tenha feito fama como pintor devido à sua falta de energia. O jovem Hearn teve uma educação casual, mas estudou por um curto período (1865) no Ushaw College em Durham. A fé religiosa na qual ele foi criado, foi logo perdida e, aos 19, ele foi enviado para viver nos Estados Unidos, se instalando na cidade de Cincinnati, Ohio. Lá ele desenvolveu uma amizade que durou toda a sua vida com o impressor inglês Henry Watkin. Com a ajuda de Watkin, Hearn iniciou uma carreira no baixo escalão do jornalismo. Devido ao seu talento como escritor, subiu rapidamente e se tornou repórter no "Cincinnati Daily Enquirer", onde permaneceu de 1872 a 1875. Aos 23 anos se casou com a afro-descendente Mattie Foley, que tinha sido escrava, e enfrentou problemas legais por conta das leis racistas da época em Ohio, as quais proibiam o casamento interracial. Com liberdade criativa em um dos maiores jornais em circulação na cidade, ele desenvolveu uma reputação pelos sensíveis, sombrios e fascinantes relatos sobre os desfavorecidos de Cincinnati. Ele continuou a se ocupar do jornalismo, leituras e observações da sociedade local, enquanto suas idiossincrasias românticas e por vezes mórbidas se desenvolviam. Ainda em Cincinnati, casou-se com Mattie, uma mulher negra, o que na época era uma prática ilegal. Quando o escândalo foi descoberto e tornado público, ele foi demitido do Enquirer e foi trabalhar no jornal rival, o "Cincinnati Commercial", mas a poluição da cidade irritava seus olhos sensíveis e ele se mudou para New Orleans, Luisiana em 1877. De 1877 a 1888 permaneceu em New Orleans escrevendo para o "Times Democrat". Seus escritos nessa cidade se concentravam na história creole da cidade, sua culinária peculiar, a marginalidade e o Vodu. Seus artigos para publicações como a "Harper's Weekly" e "Scribner's Magazine" ajudaram a moldar a imagem de New Orleans como um colorido reduto da decadência e do hedonismo. Seu livro mais conhecido sobre a Luisiana é "Gombo Zhebes" (1885). Em 1889 foi enviado pelo jornal Harper's Monthly para as Índias Ocidentais como correspondente. Ele passou dois anos em Saint-Pierre na Martinica e lá produziu "Two Years in the French West Indies" (Dois Anos nas Índias Ocidentais Francesas) e "Youma, The Story of a West-Indian Slave" (Youma, a História de um Escravo das Índias Ocidentais), ambos em 1890. Além disso, recolheu e transcreveu contos da tradição oral, em crioulo martiniques, que só foram publicados após sua morte, um livro reunindo seis contos chamado "Trois fois bel conte" ("Três vezes um belo conto") e um segundo com mais oitos contos intitulado "Contes créoles II" ("Contos Crioulos II"). Em 1891 Lafcádio Hearn foi ao Japão comissionado como correspondente em um jornal, mas o contrato foi logo rompido. Foi no Japão, no entanto, que Hearn encontrou seu lar definitivo e sua maior fonte de inspiração. Durante a década de 1890, ele se tornou professor de literatura inglesa na Universidade Imperial de Tóquio e logo se viu totalmente enfeitiçado pelo Japão. Casou-se com uma japonesa, Koizumi Setsuko, filha de um samurai, se naturalizou japonês sob o nome de "Koizumi Yakumo" e adotou o budismo. Sua saúde tornou-se frágil nos últimos anos de sua vida, forçando-o a parar de dar aulas na Universidade. Morreu em 26 de setembro de 1904 vítima de um ataque cardíaco. No fim do século XIX o Japão era ainda desconhecido e exótico para o mundo ocidental. Com a introdução da estética japonesa, particularmente na Exposição Universal de 1900, em Paris, o Ocidente adquiriu um apetite insaciável pelo Japão e Hearn se tornou mundialmente conhecido pela profundidade, originalidade e sinceridade dos seus contos. Em seus últimos anos, alguns críticos, como George Orwell, acusaram Hearn de transferir seu nacionalismo e fazer o Japão parecer mais exótico, mas, como o homem que ofereceu ao Ocidente alguns de seus primeiros lampejos do Japão pré-industrial e do Período Meiji, seu trabalho ainda é valioso até hoje.
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Luigi Pirandello
Luigi Pirandello Luigi Pirandello (Agrigento, 28 de junho de 1867 — Roma, 10 de dezembro de 1936) foi um dramaturgo, poeta e romancista italiano. Foi um grande renovador do teatro, com profundo sentido de humor e grande originalidade. Suas obras mais famosas são: "Seis personagens à procura de um autor", "Assim é, se lhe parece", "Cada um a seu modo" e os romances "O falecido Matias Pascal", "Um, Nenhum e Cem Mil", "Esta Noite Improvisa-se", etc. Sua primeira peça de teatro foi O Torniquete escrita entre 1899 e 1900 e encenada pela primeira vez em 1910. Sua obra "A Patente", uma comédia de um ato, teve boa repercussão. A 23 de setembro de 1931, foi agraciado com o grau de Grande-Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada, de Portugal. Recebeu o Nobel de Literatura de 1934. Coloca-se que o cômico nasce de uma percepção do contrário (no livro "Do teatro ao teatro", e tem um capítulo que se chama "O Humorismo"). Mas essa percepção pode se transformar- num sentimento do contrário: é quando aquele que ri procura entender as razões da piada. Portanto não existe mais o distanciamento. Pirandello separa o cômico do humorístico, para passar da atitude cômica para a atitude humorística, é preciso renunciar ao distanciamento e à superioridade. Luigi Pirandello participou da campanha "coleta do ouro", organizada pelo ditador italiano Benito Mussolini, que visava levantar fundos para o país. A campanha era uma resposta à Liga Nações que impôs sanções econômicas à Itália após esta ter invadido e declarado guerra a Etiópia, na Segunda Guerra Ítalo-Etíope (1935-36), Pirandello doou sua medalha do Prêmio Nobel. Biografia. Primeiros anos. Pirandello nasceu em uma família de classe alta em Càvusu, um subúrbio pobre de Girgenti (Agrigento, uma cidade no sul da Sicília). Seu pai, Stefano, pertencia a uma rica família envolvida na extração do enxofre, e sua mãe, Caterina Ricci Gramitto, também tinha uma origem abastada, descendente de uma família da classe profissional burguesa de Agrigento. Ambas as famílias, Pirandello e Ricci Gramitto, eram ferozmente anti-Bourbon e participavam ativamente da luta pela unificação e pela democracia (Il Risorgimento). Stefano participou da famosa Expedição dos Mil, depois acompanhou Garibaldi até a Batalha de Aspromonte, e Caterina, que mal tinha completado treze anos, foi forçada a acompanhar o pai a Malta, onde foi mandado para o exílio pela monarquia Bourbon. Mas a participação aberta na causa garibaldiana e o forte senso de idealismo daqueles primeiros anos se transformaram rapidamente, principalmente em Caterina, em um desapontamento profundo e amargo com a nova realidade criada pela unificação. Pirandello acabaria por assimilar esse sentimento de traição e ressentimento, e o expressaria em vários de seus poemas e em seu romance I vecchi e i giovani. É provável também que esse clima de desilusão tenha incutido no jovem Luigi o sentimento de desproporção entre as ideais e a realidade, que é reconhecível em seu ensaio sobre o humorismo (L'Umorismo). Pirandello recebeu sua educação primária em casa, mas ficou muito mais fascinado pelas fábulas e pelas lendas, algum lugar entre o popular e o mágico, que sua velha criada Maria Stella costumava lhe contar, do que por qualquer matéria escolar ou acadêmica. Aos doze anos, ele já havia escrito sua primeira tragédia. Por insistência do pai, matriculou-se em uma escola técnica, mas acabou mudando para o estudo das humanidades no ginásio, algo que sempre o atraíra. Em 1880, a família Pirandello mudou-se para Palermo. Foi ali, na capital da Sicília, que Luigi concluiu o ensino médio. Ele também começou a ler de forma onívora, concentrando-se, sobretudo, em poetas italianos do século XIX, como Giosuè Carducci e Arturo Graf. Ele então começou a escrever seus primeiros poemas e apaixonou-se por sua prima Lina. Durante esse período, os primeiros sinais de sério contraste entre Luigi e seu pai começaram a se desenvolver. Luigi descobriu algumas notas que revelavam a existência de relações extraconjugais de Stefano. Como uma reação à desconfiança e à desarmonia cada vez maiores que Luigi desenvolvia em relação ao pai, um homem de físico robusto e maneiras rudes, sua ligação com a mãe continuou a crescer a ponto de chegar a uma veneração profunda. Isso se expressou posteriormente, após sua morte, nas comoventes páginas do conto Colloqui con i personaggi, em 1915. Seus sentimentos românticos por sua prima, inicialmente vistos com desagrado, foram repentinamente levados muito a sério pela família de Lina. Exigiram que Luigi abandonasse os estudos e se dedicasse aos negócios no ramo de enxofre para que pudesse casar-se imediatamente com ela. Em 1886, durante as férias escolares, Luigi foi visitar as minas de enxofre de Porto Empédocle e começou a trabalhar com o pai. Essa experiência foi essencial para ele e serviria como base para histórias como Il Fumo e Ciàula scopre la Luna, bem como para algumas descrições e história de fundo do romance I vecchi e i giovani. O casamento, que parecia iminente, foi adiado. Pirandello então se matriculou na Universidade de Palermo, nos departamentos de Direito e de Letras. O campus de Palermo, e sobretudo o Departamento de Direito, fora, naqueles anos, o centro do vasto movimento que acabaria por evoluir para o Fasci Siciliani (Liga dos Trabalhadores Sicilianos). Embora Pirandello não fosse um membro ativo do movimento, ele tinha laços estreitos de amizade com seus principais idealistas: Rosario Garibaldi Bosco, Enrico La Loggia, Giuseppe De Felice Giuffrida e Francesco De Luca. Ensino Superior. Em 1887, tendo escolhido definitivamente o Departamento de Letras, mudou-se para Roma para continuar os estudos. Porém, o encontro com a cidade, centro da luta pela unificação da qual as famílias de seus pais participaram com generoso entusiasmo, foi decepcionante e nada próximo do que ele esperava. Pirandello, que era um moralista extremamente sensível, finalmente teve a chance de ver por si mesmo a decadência irredutível dos chamados heróis do Risorgimento na pessoa de seu tio Rocco, agora um grisalho e exausto funcionário da prefeitura que lhe fornecia alojamentos temporários em Roma. O “riso desesperado”, sua única manifestação de vingança pela decepção sofrida, inspirou os versos amargos da sua primeira colecção de poemas, Mal giocondo (1889). No entanto, nem tudo foi negativo; essa primeira visita a Roma proporcionou-lhe a oportunidade de frequentar assiduamente os muitos teatros da capital: Il Nazionale, Il Valle, il Manzoni. Por causa de um conflito com um professor de latim, ele foi forçado a deixar a Universidade de Roma e foi para Bonn com uma carta de apresentação de um de seus outros professores. A estada em Bonn, que durou dois anos, foi fervorosa de vida cultural. Ele leu os românticos alemães, Jean Paul, Tieck, Chamisso, Heinrich Heine e Goethe. Começou a traduzir as Elegias Romanas de Goethe, compôs as Elegie Boreali imitando o estilo das Elegias Romanas e começou a meditar sobre o tema do humorismo por meio das obras de Cecco Angiolieri. Em março de 1891, ele recebeu seu bacharel em Filologia Românica com uma dissertação sobre o dialeto de Agrigento: Sons e Desenvolvimentos de Sons na Fala de Craperallis. Casamento. Após uma breve estadia na Sicília, durante a qual o casamento planejado com sua prima fora finalmente cancelado, ele voltou a Roma, onde fez amizade com um grupo de escritores-jornalistas, incluindo Ugo Fleres, Tomaso Gnoli, Giustino Ferri e Luigi Capuana. Capuana incentivou Pirandello a se dedicar à escrita narrativa. Em 1893, ele escreveu sua primeira obra importante, Marta Ajala, que foi publicada em 1901 como L’Esclusa. Em 1894, publicou sua primeira coleção de contos, Amori senza Amori. E, ainda em 1894, desposou-se. Seguindo a sugestão de seu pai, casou-se com uma jovem tímida e retraída de boa família, de origem agrigentina, educada pelas freiras de San Vincenzo: Maria Antonietta Portulano. Os primeiros anos de matrimônio trouxeram a ele um novo fervor pelos estudos e pela escrita: os encontros com os amigos e as discussões sobre arte continuaram, mais vivazes e estimulantes do que nunca, enquanto a vida familiar, apesar da completa incompreensão de sua esposa no que diz respeito à vocação artística do marido, procedeu de forma relativamente tranquila com o nascimento de dois filhos (Stefano e Fausto) e uma filha (Rosalia "Lietta"). Nesse meio-tempo, Pirandello intensificou suas colaborações com editores de jornais e com jornalistas de revistas como La Critica e La Tavola Rotonda, nas quais publicou, em 1895, a primeira parte do Dialoghi tra il Gran Me e il piccolo me. Em 1897, ele aceitou uma oferta para lecionar italiano no Istituto Superiore di Magistero di Roma, e publicou várias outras páginas do Dialoghi na revista Marzocco. Em 1898, com Italo Falbo e Ugo Fleres, fundou o semanário Ariel, no qual publicou a peça de um ato L'Epilogo (posteriormente alterada para La Morsa) e alguns contos (La Scelta, Se...). O final do século XIX e o início do século XX foram um período de extrema produtividade para Pirandello. Em 1900, publicou na Marzocco alguns de seus mais célebres contos (Lumie di Sicilia, La Paura del Sonno...) e, em 1901, a coletânea de poemas Zampogna. Em 1902, publicou a primeira série de Beffe della morte e della vita e seu segundo romance, Il Turno. Desastre familiar. O ano de 1903 foi fundamental para a vida de Pirandello. A inundação das minas de enxofre de Aragona, nas quais seu pai Stefano havia investido não só uma enorme soma de seu próprio capital, mas também o dote de Antonietta, precipitou o colapso da família. Antonietta, depois de abrir e ler a carta anunciando a catástrofe, entrou em um estado de semi-catatonia e sofreu um choque psicológico tal que seu equilíbrio mental ficou profunda e irremediavelmente abalado. Pirandello, que inicialmente abrigava pensamentos suicidas, tentou remediar a situação da melhor maneira que pôde, aumentando o número de suas aulas de italiano e alemão e pedindo compensação às revistas para as quais havia doado livremente seus escritos e colaborações. Nesse meio-tempo, a revista New Anthology, dirigida por G. Cena, começou a publicar em episódios o romance que Pirandello vinha escrevendo durante essa horrível situação (velando a esposa doente mental à noite após um dia inteiro de trabalho). O título era Il Fu Mattia Pascal. Esse romance contém muitos elementos autobiográficos que foram fantasticamente reelaborados. Foi um sucesso imediato e retumbante. Traduzido para o alemão em 1905, esse romance abriu caminho para a notoriedade e fama que permitiu a Pirandello trabalhar com as editoras mais importantes como Treves, com a qual publicou, em 1906, outra coleção de contos: Erma Bifronte. Em 1908, publicou um volume de ensaios intitulado Arte e Scienza e o importante ensaio L'Umorismo, no qual iniciou o lendário debate com Benedetto Croce que continuaria com crescente amargura e veneno de ambos os lados por muitos anos. Em 1909, foi publicada em episódios a primeira parte de I Vecchi e I Giovani. Esse romance reconstitui a história do fracasso e repressão do Fasci Siciliani no período que vai de 1893 a 1894. Quando o romance foi lançado em 1913, Pirandello enviou uma cópia dele para seus pais por seu quinquagésimo aniversário de casamento junto com uma dedicatória, que dizia que "seus nomes, Stefano e Caterina, vivem heroicamente." No entanto, enquanto a mãe é transfigurada no romance na figura sobrenatural de Caterina Laurentano, o pai, representado pelo marido de Caterina, Stefano Auriti, aparece apenas em memórias e flashbacks, pois, como foi profundamente observado por Leonardo Sciascia: "ele morreu censurado, em um sentido freudiano, por seu filho que, no fundo de sua alma, é seu inimigo." Ainda em 1909, Pirandello iniciou sua colaboração com o prestigioso jornal Corriere della Sera, no qual publicou os contos Mondo di Carta, La Giara, e, em 1910, Non è una cosa seria e Pensaci, Giacomino! Até o presente momento, a fama de Pirandello como escritor continuava a crescer. Sua vida privada, porém, fora envenenada pela suspeita e pelo ciúme obsessivo de Antonietta, que começara a se tornar fisicamente violenta. Em 1911, enquanto continuava a publicação de contos e histórias curtas, Pirandello terminou seu quarto romance, Suo Marito, republicado postumamente (1941), e totalmente revisado nos primeiros quatro capítulos, com o título Giustino Roncella nato Boggiòlo. Durante sua vida, o autor nunca republicou esse romance por razões de discrição; dentro estão referências implícitas à escritora Grazia Deledda. Contudo, a obra que mais roubou suas energias nessa época foi a coleção de contos La Vendetta del Cane, Quando s'è capito il giuoco, Il treno ha fischiato, Filo d'aria e Berecche e la guerra. Todos foram publicados entre 1913 e 1914 e agora são considerados clássicos da literatura italiana. Primeira Guerra Mundial. Quando a Itália entrou na Primeira Guerra Mundial, o filho de Pirandello, Stefano, apresentou-se como voluntário para o serviço e foi feito prisioneiro pelos austro-húngaros. Em 1916, o ator Angelo Musco recitou com sucesso a comédia em três atos que o escritor extraiu do conto Pensaci, Giacomino! e a comédia pastoral Liolà. Em 1917, foi publicada a coleção de contos E domani Lunedì, mas o ano foi marcado principalmente por representações teatrais importantes: Così è (se vi pare), A birrita co 'i ciancianeddi e Il Piacere dell'onestà. Um ano depois, Ma non è una cosa seria e Il Gioco delle parti foram todos encenados. O filho de Pirandello, Stefano, voltou para casa quando a guerra acabou. Em 1919, Pirandello mandou colocar sua esposa em um sanatório. A separação, apesar dos ciúmes mórbidos e alucinações da esposa, causou grande sofrimento a Pirandello que, mesmo em 1924, acreditava que ainda poderia cuidar dela adequadamente em casa. Ela nunca saiu do sanatório. 1920 foi o ano de comédias como Tutto per bene, Come prima meglio di prima e La Signora Morli. Em 1921, a Compagnia di Dario Niccomedi encenou, no Valle di Roma, a peça Sei personaggi in cerca d'autore. Foi um fracasso clamoroso. O público se dividiu em apoiadores e adversários, estes últimos gritaram: “sanatório, sanatório!" O autor, que assistiu à apresentação com a filha Lietta, saiu por uma saída lateral para evitar a multidão de inimigos. O mesmo drama, no entanto, foi um grande sucesso quando apresentado em Milão. Em 1922, em Milão, Enrico IV foi apresentado pela primeira vez e foi aclamado universalmente como um sucesso. A reputação internacional de Pirandello também estava aumentando. Sei personaggi foi apresentado em Londres e Nova York. Itália sob os fascistas. Em 1924, Pirandello escreveu uma carta a Benito Mussolini pedindo-lhe que fosse aceito como membro do Partido Nacional Fascista. Em 1925, Pirandello, com a ajuda de Mussolini, assume a direção artística e a se tornou proprietário do Teatro d'Arte di Roma, fundado pelo Gruppo degli Undici. Ele se descreveu como "um fascista porque sou italiano". Por sua devoção a Mussolini, a revista satírica Il Becco Giallo costumava chamá-lo de P. Randello (randello em italiano significa porrete). Pirandello expressou publicamente uma crença apolítica, dizendo: "Eu sou apolítico, sou apenas um homem no mundo ...", e teve conflitos contínuos com líderes fascistas famosos. Em 1927, ele rasgou seu cartão de membro fascista em pedaços na frente do secretário-geral do Partido Fascista. Pelo resto de sua vida, Pirandello esteve sempre sob vigilância estreita da polícia secreta fascista OVRA. Sua peça, I giganti della montagna, foi interpretada como evidência de sua compreensão de que os fascistas eram hostis à cultura; ainda assim, durante uma aparição posterior em Nova York, Pirandello distribuiu uma declaração anunciando seu apoio à anexação da Abissínia pela Itália. Ele deu sua medalha do Prêmio Nobel ao governo fascista para ser derretida para a Campanha da Abissínia. O apoio de Mussolini lhe trouxe fama internacional e uma turnê mundial, apresentando seu trabalho a Londres, Paris, Viena, Praga, Budapeste, Alemanha, Argentina e Brasil. A concepção de teatro de Pirandello sofreu uma mudança significativa neste ponto. A ideia do ator como um traidor inevitável do texto, como em Sei personaggi, deu lugar à identificação do ator com o personagem que ele interpreta. A companhia se apresentou pelas principais cidades da Europa, e o repertório pirandelliano se tornou cada vez mais conhecido. Entre 1925 e 1926, o último e talvez o maior romance de Pirandello, Uno, Nessuno e Centomila, foi publicado em série na revista Fiera Letteraria. Pirandello foi nomeado Acadêmico da Itália em 1929, e em 1934 ele recebeu o Prêmio Nobel de Literatura após ter sido nomeado, por Guglielmo Marconi, membro da Reale Accademia d'Italia. Ele foi o último dramaturgo italiano a ser escolhido para o prêmio até 9 de outubro de 1997. Pirandello morreu sozinho em sua casa na Via Bosio, Roma, em 10 de dezembro de 1936. Teatro. Pirandello tornou-se famoso graças ao teatro que chama de “teatro do espelho”, porque nele retrata a vida real, aquela nua, amarga, sem a máscara da hipocrisia e das conveniências sociais, de modo que o espectador possa se ver como em um espelho, da forma como é realmente, e torna-se melhor. A crítica o define como um dos grandes dramaturgos do século XX. Ele escreveu muitas obras, algumas das quais reelaborações dos seus próprios contos, que se dividem de acordo com o estágio de maturidade do autor: O interesse de Pirandello pelo teatro geralmente é atribuído aos seus anos de maturidade, mas alguns precedentes mostram como essa convicção precisa de uma reavaliação: durante a juventude, de fato, Pirandello compôs algumas obras teatrais, que foram perdidas porque ele mesmo as queimou (entre outras, o roteiro de Gli uccelli dell'alto). Em uma carta datada em 4 de dezembro de 1887, dirigida a sua família, lê-se:(Luigi Pirandello, de uma carta aos seus familiares datada em 4 de dezembro de 1887) É nessa dimensão que se fala de "teatro da mente": o espetáculo não é aceito passivamente, mas serve de pretexto para dar voz aos "fantasmas" que povoam a mente do autor (no prefácio de Sei personaggi in cerca d’autore Pirandello esclarecerá como a Fantasia apodera-se de sua mente para apresentar-lhe personagens que querem viver, sem que ele os procure).(Luigi Pirandello, de uma carta aos seus familiares datada em 7 de janeiro de 1888) A decepção por não conseguir representar seus primeiros trabalhos afasta-o inicialmente do teatro, levando-o a se concentrar em sua produção de contos e romances. Em 1907 publica o importante ensaio Illustratori, attori, traduttori, em que expressa suas ideias, ainda negativas, sobre a execução do trabalho do ator na obra teatral: esse, na verdade, é visto como um mero tradutor da ideia dramatúrgica do autor, o qual encontra, então, um filtro para a mensagem que pretende comunicar ao público. O teatro é então definido por Pirandello como uma arte "impossível", porque "sofre as condições do seu anfíbio específico": uma traição da escrita teatral, que tem contra "o péssimo regime dos meios representativos, pertencentes à dimensão adúltera do eco". É nesse momento que Pirandello se afasta do pensamento positivista e, apercebendo-se da impossibilidade de representação cênica do "verdadeiro" objetivo, busca, na produção dramatúrgica, escavar a essência das coisas para descobrir uma outra verdade (conforme explicado no ensaio L’Umorismo, com o sentimento do contrário). Em 6 de outubro de 1924, fundou a companhia do Teatro d'Arte de Roma, com sede no Teatro Odescalchi, com a colaboração de outros artistas: seu filho Stefano Pirandello, Orio Vergani, Claudio Argentieri, Antonio Beltramelli, Giovanni Cavicchioli, Maria Letizia Celli, Pasquale Cantarella, Lamberto Picasso, Renzo Rendi, Massimo Bontempelli e Giuseppe Prezzolini: entre os atores mais importantes da companhia figuram Marta Abba, Lamberto Picasso, Maria Letizia Celli, Ruggero Ruggeri. A companhia, cuja primeira criação remonta a 2 de abril de 1925, com Sagra del signore della nave do próprio Pirandello e The Gods of the Mountain, de Lord Dunsany, no entanto, teve uma vida curta: os onerosos ​​custos dos preparativos, que não conseguiam ser cobertos pela receita do teatro meio vazio, obrigaram o grupo, após apenas dois meses do seu nascimento, a renunciar à sede do Teatro Odescalchi. Para economizar nos preparativos, a companhia se apresentou antes em inúmeras turnês pelo exterior, depois foi forçada à dissolução definitiva, que ocorreu em Viareggio, em agosto de 1928. Primeira fase - Teatro Siciliano. Na fase do Teatro Siciliano, Pirandello é iniciante e ainda tem muito o que aprender. Assim como as outras, apresenta várias características relevantes; alguns textos foram escritos inteiramente em siciliano porque o autor o considerava mais vivo do que o italiano e capaz de expressar maior aderência à realidade. Segunda fase - O teatro humorístico/grotesco. À medida que o autor distancia-se do verismo e do naturalismo, e aproxima-se do decadentismo, tem-se início a segunda fase com o teatro humorístico. Pirandello apresenta personagens que comprometem as certezas do mundo burguês: ao introduzir a versão relativista da realidade, invertendo os modelos habituais de comportamento, pretende expressar a dimensão autêntica da vida para além da máscara. Terceira fase - O teatro no teatro. Na fase do “teatro no teatro”, as coisas mudam radicalmente. Para Pirandello, o teatro deve falar também aos olhos e não somente aos ouvidos, e para isso ele resgatará uma técnica teatral de Shakespeare, o cenário múltiplo, onde se pode ter, por exemplo, uma casa dividida em que é possível visualizar várias cenas feitas em várias salas contemporaneamente; além disso, o “teatro no teatro” permite assistir ao mundo que se transforma no palco cênico. Pirandello também abole o conceito de quarta parede, que é a parede transparente que se encontra entre os atores e o público: nessa fase, de fato, Pirandello tende a envolver o público que não é mais passivo, mas que reflete a própria vida naquela representada pelos atores em cena. . Nesse período, Pirandello teve um encontro decisivo com um grande autor teatral italiano do século XX: Eduardo De Filippo. Como consequência, além do nascimento de uma amizade que durou três anos, foi o que o autor napolitano sentiu, como aconteceu no passado com o siciliano, a necessidade de se afastar do "regionalismo" da arte verista, ainda que conservando, no entanto, suas tradições e influências. Quarta fase - O teatro dos mitos. Apenas três obras da produção de Pirandello são associadas a essa fase: Livros publicados em português. Lista parcial:
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Lezíria do Tejo (sub-região)
Lezíria do Tejo (sub-região) A Lezíria do Tejo é uma sub-região portuguesa situada no centro-oeste do país, pertencendo à região do Alentejo. Tem uma extensão total de , habitantes em 2021 e uma densidade populacional de 55 habitantes por km². É composta por onze municípios e 68 freguesias, sendo a cidade de Santarém a cidade administrativa e o principal núcleo urbano da sub-região. Com habitantes na sua área urbana e habitantes em todo o município, é a maior cidade e o maior município da Lezíria do Tejo. A sub-região é limitada a nordeste pelo Médio Tejo, a leste com o Alto Alentejo, a sudeste com o Alentejo Central, a sul e sudoeste com a Área Metropolitana de Lisboa, a oeste com a sub-região do Oeste e a noroeste com a Região de Leiria. Divisões. A Lezíria do Tejo é uma sub-região que compreende onze municípios, que se dividem em 91 freguesias. A sub-região contém cinco cidades. Municípios. Compreende os seguintes onze municípios: Coruche, com mais de mil quilómetros quadrados, é o mais extenso, e a Golegã, com menos de cem quilómetros quadrados, é o mais pequeno, tendo assim todos os municípios uma média de . Em termos populacionais, Santarém, com perto de 60 mil habitantes, é o município mais populoso da Lezíria do Tejo, enquanto Alpiarça, com pouco menos de 7 mil habitantes, é o menos populoso da sub-região. A média populacional dos onze municípios é de 21 mil habitantes por quilómetro quadrado. Cidades. A sub-região compreende as seguintes cinco cidades: Almeirim, Cartaxo, Rio Maior, Samora Correia e Santarém, das quais Santarém é a maior cidade em termos populacionais, com mais de 30 mil habitantes, enquanto o Cartaxo, com pouco mais de 12 mil habitantes, é a cidade menos populosa. A média populacional por cidade situa-se nos 17 mil habitantes. Já na densidade populacional, a cidade de Santarém é a mais densamente populosa, com mais de 500 habitantes por quilómetro quadrado, enquanto Samora Correia, com pouco mais de 50 habitantes por quilómetro quadrado, é a menos densa da sub-região. Freguesias. A sub-região compreende 68 freguesias, dos quais a freguesia da Cidade de Santarém, que é a mais populosa, com mais de 30 mil habitantes. A freguesia de Pombalinho, no município da Golegã, á a freguesia menos populosa, com apenas 395 habitantes. Demografia. A Lezíria do Tejo tem no total habitantes (censos de 2021), tendo uma densidade populacional de 55 habitantes por quilómetro quadrado. A população concentra-se, na sua maior parte, ao longo do Rio Tejo, entre Santarém e Benavente, passando pelos municípios de Almeirim, Cartaxo, Azambuja e Salvaterra de Magos. População. Desde 2011, a população da Lezíria do Tejo regista um crescimento populacional anual negativo, variando entre os até os –1,06%, tendo passado de habitantes em 2010 para habitantes em 2021. Assim, a população diminuiu desde 2010 em cerca de 4,8%, perdendo perto de 12 mil habitantes em pouco mais de dez anos. Os maiores crescimentos populacionais foram registados nos anos de 2009 e 2019, quando a população cresceu perto de 0,20% em cada ano, já os anos de 2014 e 2015 foram os anos de maior perda populacional, quando a população baixou em perto de 1% em cada ano. Grupos etários. Os habitantes da Lezíria do Tejo entre os 25 e os 64 anos representam o maior grupo etário da sub-região, com habitantes e 51% da população total. Seguem-se o grupo etário acima dos 65 anos, com habitantes e 26% da população total; o grupo etário entre os 0 e os 14 anos, com habitantes e 13% da população total; e o grupo etário entre os 15 e os 24 anos, com habitantes e 10% da população total. Educação. Na Lezíria do Tejo existem 124 estabelecimentos pré-escolares com 376 professores, 105 estabelecimentos de 1.° ciclo com 683 professores, 24 estabelecimentos de 2.° ciclo com 522 professores, 34 estabelecimentos de 3.° ciclo e 13 estabelecimentos para a educação secundária com professores. No nível de escolaridade, habitantes dispõe do 1.° ciclo, cerca de 24% da população total acima dos 15 anos, já as pessoas sem nível de escolaridade são , cerca de 7% da população acima dos 15 anos. Em Santarém situa-se o Instituto Politécnico de Santarém, com escolas nas áreas da gestão, administração, saúde, agricultura e educação. Em Rio Maior situa-se a Escola Superior de Desporto de Rio Maior. Saúde. O Hospital de Santarém, localizado na capital da Lezíria do Tejo, é o principal hospital da sub-região. A construção começou em 1978 e iniciou a sua atividade no ano de 1985, tendo agora mais de 500 camas. Economia. Desde 2009, o produto interno bruto (PIB) da sub-região cresceu mais de 15%, passando de pouco menos de 15 mil milhões de euros para mais de 17 mil milhões de euros. Nos anos de 2011 e 2012, o PIB desceu em cerca de 8% devido às consequências da crise financeira de 2007–2008. No entanto, o PIB recuperou rapidamente entre os anos de 2015 e 2017, tendo a cada ano havido um crescimento médio de 5%. Em 2020, viviam na sub-região habitantes empregados, dos quais 19,8% trabalham no comércio, 15,4% na agricultura, 11,1% nas actividades administrativas, 8,3% nas actividades de consultoria e 7,1% na saúde e apoios sociais. Infraestruturas. A Lezíria do Tejo dispõe de uma grande variedade de transportes rodoviários e ferroviários, desde uma rede extensa de autoestradas até às ligações ferroviárias dentro da sub-região, ligando cidades ribatejanas com o resto do país. Autoestradas. Com perto de 150 quilómetros de autoestradas, a sub-região está ligada a várias autoestradas, como a A1, que liga as cidades de Santarém e do Cartaxo em direção a sul, a Lisboa, e em direção a norte, a Coimbra e ao Porto. A autoestrada A15 liga Santarém às Caldas da Rainha, situada no Oeste, passando por Rio Maior, ligando assim a sub-região com o litoral. Já a autoestrada A13 liga Santarém a Almeirim, seguindo em direção a sul, a Salvaterra de Magos e Benavente, até chegar ao nó com a A2, que segue em direção ao Algarve, e com a A6, que segue em direção a Évora, e em direção a Espanha. A autoestrada A10 liga o norte da Área Metropolitana de Lisboa com Samora Correia, onde se encontra o nó com a A13, atravessando o Rio Tejo através da Ponte da Lezíria. Transportes públicos. A Autoridade de Transportes da Lezíria do Tejo é a entidade pública com atribuição e competência em matéria de definição dos objetivos estratégicos para a mobilidade, planeamento, organização, exploração, atribuição, investimento, financiamento e fiscalização do serviço público de transporte de passageiros e contratualização e determinação de obrigações de serviço público e de tarifários. As duas operadoras, a Rodoviária do Tejo e a Ribatejana Verde, servem toda a sub-região, ligando as cidades e vilas da Lezíria com cidades e vilas próximas.
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Lourizela
Lourizela Lugar da freguesia do Préstimo e Macieira de Alcoba, concelho de Águeda, Lourizela é uma aldeia perdida nas faldas das serras de Águeda. Aldeia rústica, com 9 habitantes à semana, é ao fim de semana que ganha o movimento de outrora, nas suas ruas estreitas e sem saída, onde mal cabe um automóvel. Esta aldeia recomeçou a cativar os seus filhos e alguns forasteiros. Têm sido reconstruídas várias casas, o que lhe está a dar uma nova vida.
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Lógica matemática
Lógica matemática A lógica matemática é uma subárea da matemática que explora as aplicações da lógica formal para a matemática. Basicamente, tem ligações fortes com matemática, os fundamentos da matemática e ciência da computação teórica. Os temas unificadores na lógica matemática incluem o estudo do poder expressivo de sistemas formais e o poder dedutivo de sistemas de prova matemática formal. A lógica matemática é muitas vezes dividida em campos da teoria dos conjuntos, teoria de modelos, teoria da recursão e teoria da prova. Estas áreas compartilham resultados básicos sobre lógica, particularmente lógica de primeira ordem, e definibilidade. Na ciência da computação, especialmente na classificação ACM, onde ACM vem do inglês ("Association for Computing Machinery"), lógica matemática engloba tópicos adicionais não descritos neste artigo; ver lógica em ciência da computação para este tópico anterior. Desde o seu surgimento, a lógica matemática tem contribuído e motivado pelo estudo dos fundamentos da matemática. Este estudo foi iniciado no final do século XIX, com o desenvolvimento de arcabouço axiomático para geometria, aritmética e análise. No início do século XX a lógica matemática foi moldada pelo programa de David Hilbert para provar a consistência das teorias fundamentais. Os resultados de Kurt Godel, Gerhard Gentzen, e outros, desde resolução parcial do programa, e esclareceu as questões envolvidas em provar a consistência. O trabalho na teoria dos conjuntos mostrou que quase toda a matemática ordinária pode ser formalizada em termos de conjuntos, embora existam alguns teoremas que não podem ser demonstrados em sistemas axiomáticos comuns para a teoria dos conjuntos. O trabalho contemporâneo nos fundamentos da matemática, muitas vezes se concentra em estabelecer quais as partes da matemática que podem ser formalizadas, em particular, sistemas formais (como em matemática reversa) ao invés de tentar encontrar as teorias em que toda a matemática pode ser desenvolvida. Subáreas e escopo. O "manual de lógica matemática" divide a matemática contemporânea em quatro áreas: Cada área tem um foco distinto, apesar de ter várias técnicas e resultados comuns entre si. A divisão das referidas áreas e os limites que separam a lógica matemática de outros campos de estudo não são bem definidas. A teoria da incompletude de Gödel representa não só um marco na teoria da recursão e teoria da prova, mas também contribuiu para o teorema de Löb da teoria dos modelos. O método do forçamento ("forcing") é aplicada na teoria dos conjuntos, na teoria dos modelos, na teoria da recursão, assim como no estudos da matemática intuiticionística. O campo matemático conhecido como o da teoria das categorias usa muitos métodos axiomáticos formais nos quais se inclui o estudo da lógica categórica, mas essa teoria não é comumente considerada um sub-ramo da lógica. Por causa da sua aplicabilidade em diversos campos da lógica, matemáticos como Saunders Mac Lane propuseram usar a teoria das categorias como fundamentos da matemática, independentemente da teoria dos conjuntos. Essas fundamentações usam tópicos que em muito se parecem com modelos generalizados das teorias dos conjuntos, e empregam lógica clássica ou não-clássica. História. A lógica matemática surgiu em meados do século XIX como um sub-ramo da Matemática e independente do estudo tradicional da lógica (Ferreirós 2001, p. 443). Antes do seu surgimento independente, a lógica foi estudada com a retórica, através do silogismo e a filosofia. Na primeira metade do século XX houve uma explosão de resultados fundamentais, acompanhados por debates vigorosos sobre as bases da matemática. Os estudos sobre o raciocínio foram inicialmente desenvolvidos por filósofos como Parménides e Platão, mas foi Aristóteles quem o elaborou mais detalhadamente e definiu a lógica como se estuda hoje em dia (como se estudava até o século XIX). Para mostrar que os sofistas (mestres da retórica e da oratória) podiam enganar os cidadãos utilizando argumentos incorretos, Aristóteles estudou a estrutura lógica da argumentação. Revelando, assim, que alguns argumentos podem ser convincentes, embora não sejam corretos. A lógica, segundo Aristóteles, é um instrumento para atingir o conhecimento científico, baseando-se no silogismo. Seguidores de Aristóteles reuniram seus princípios sobre lógica em um livro intitulado “Organon”, que significa “Instrumento da Ciência”. História moderna. Teorias lógicas foram desenvolvidas em diversas culturas na história, China, Índia, Grécia e no mundo Islâmico. Na Europa do século XVIII, filósofos matemáticos, como Leibniz e Lambert tentaram representar as operações da lógica formal através de símbolos, de forma algébrica mas seus esforços e trabalhos permaneceram isolados e pouco reconhecidos. Século XIX. Em meados do século XIX, George Boole e posteriormente Augustus De Morgan apresentaram tratamentos matemáticos sistemáticos. Seus trabalhos, alicerçados em trabalhos de algebristas como George Peacock, transformaram a doutrina tradicional de Aristóteles de forma que se encaixasse no estudo dos fundamentos da matemática (Katz 1998, p. 686). Charles Sanders Peirce construiu sobre os estudos de Boole almejando desenvolver uma sistema de relações lógica e quantificadores o qual ele publicou diversas vezes entre 1870 e 1885. Gottlob Frege apresentou um desenvolvimento independente da lógica com quantificadores no seu "Begriffsschrift", publicado em 1879, um trabalho por muitos considerado como uma reviravolta na histórica da lógica. O trabalho de Frege permaneceu incerto, pelo menos até Bertrand Russell começar a promovê-lo no início da virada do século. As notações bidimensionais desenvolvidas por Frege nunca foram vastamente adotadas e caiu em desuso nos artigos e textos contemporâneos. De 1890 a 1905, Ernst Schröder publicou o "Vorlesungen über die Algebra der Logik" em três volumes. Esse trabalho compactava e desenvolvia os trabalhos de Boole, De Morgan, e Peirce e se tornou uma grande referência para lógica simbólica, como era conhecida no fim do século XIX. Fundamentos teóricos. Preocupações com a possível ausência de fundamentos matemáticos acarretaram o desenvolvimento de sistemas axiomáticos para áreas da matemática fundamental como a aritmética, análise e geometria. Em lógica o termo aritmético se refere à teoria dos números naturais. Giuseppe Peano (1889) publicou uma série de axiomas para serem usados pela aritmética que hoje carregam seu nome (Axiomas de Peano), usando variações do sistema lógico de Boole e Schröder, porém adicionando quantificadores. Peano não tinha conhecimento do trabalho de Frege. Contemporaneamente Richard Dedekind mostrou que os números naturais são unicamente caracterizados por suas propriedades da indução. Dedekind (1888) propôs a diferente caracterização na qual não existia a essência da lógica formal dos axiomas de Peano. Todavia, o trabalho de Dedekind's provou teoremas inacessíveis ao sistema desenvolvido por Peano, como por exemplo a inclusão da individualidade dos conjuntos de números naturais (até o isomorfismo) e as definições recursivas de adição e multiplicação da função sucessora e indução matemática. No meio do século XIX, foram descobertas falhas nos axiomas de Euclides para geometria (Katz 1998, p. 774). Além da independência do postulado paralelo, estabelecido por Nikolai Lobachevsky em 1826 (Lobachevsky 1840), matemáticos descobriram que certos teoremas tomadas como certo por Euclides não eram de fato demonstrável a partir de seus axiomas. Entre eles está o teorema que diz que uma linha contem pelo menos dois pontos, ou que círculos de mesmo raio cujo centro é separado pelo raio devem intersectar. Hilbert (1899) desenvolveu um conjunto completo dos axiomas para geometria, construindo nos [axiomas de Pasch] pelo Pasch (1882). O sucesso axiomatização da geometria motivou Hilbert a encontrar axiomatições completas de outras áreas da matemática, assim como os números naturais e da linha real. Isto proveria a maior área de pesquisa na primeira metade do século XX. Lógica proposicional. Proposições. As proposições são determinadas por sentenças declarativas, pertencentes a uma certa linguagem, que formam um conjunto de palavras ou símbolos e expressam uma ideia. As sentenças declarativas são afirmações que podem receber apenas dois valores, Verdadeiro ou Falso. As proposições devem seguir os seguintes princípios: Exemplos: O cachorro é um animal. - Verdadeiro 2 + 2 = 7 - Falso Qualquer sentença que não puder receber a atribuição de verdadeira ou falsa não é uma proposição. Sentenças interrogativas, exclamativas e imperativas não são proposições, pois não é possível dizer se são verdadeiras ou falsas. Exemplos de sentenças que não são proposições: Proposições compostas. Proposição composta é a união de proposições simples por meio de um conector lógico. Este conector irá ser decisivo para o valor lógico da expressão. Precedência de operadores. Em expressões que utilizam vários operadores não é possível saber qual proposição deve-se resolver primeiro. Exemplo: P Λ Q V R. Com isso, usar parênteses é fundamental. A expressão do exemplo poderia ficar assim: (P Λ Q) V R ou P Λ (Q V R). A ordem da precedência de operadores é: Tabela verdade. A tabela verdade é construída para determinar o valor lógico de uma proposição composta. Segue uma excelente estratégia para a construção desta. Exemplo de construção da tabela verdade da proposição composta: p Λ q Primeiramente verifica-se quantas “variáveis”, ou proposições simples que temos na proposição composta do exercício. Neste caso existem duas: p e q. Em seguida elevamos 2 ao número de variáveis, ou seja, 2². Nossa base do expoente é 2 pelo fato de possuir-se apenas 2 valores lógicos possíveis nas proposições (Verdadeiro ou Falso). O resultado de 2² é 4. Então nossa tabela terá 4 linhas, nessas linhas estarão todos os valores lógicos possíveis da nossa proposição composta. Esta é a estrutura da tabela, agora para a preencher com os devidos valores lógicos utiliza-se a seguinte técnica: até a metade da primeira coluna coloca-se Verdadeiro, na outra metade Falso. Já na segunda coluna, intercala-se V e F. Desta forma adquira-se a seguinte tabela: Esta é uma das melhores estratégias para a montagem de uma tabela verdade. Conectivos lógicos. Proposições podem ser ligadas entre si por meio de conectivos lógicos. Conectores que criam novas sentenças mudando ou não seu valor lógico (Verdadeiro ou Falso). Exemplos dos principais conectores lógicos: Exemplos de sentenças formadas com conectores e proposições: (2 + 2 = 4) V (1 < 4) - Valor lógico da sentença: Verdadeiro V (ou) Verdadeiro = Verdadeiro Cachorro é um felino Λ (1 > 0) - Valor lógico da sentença: Falso Λ (e) Verdadeiro = Falso Conector de negação (~). O conectivo de negação (~), nega o valor lógico de uma proposição. Considera-se p como uma proposição de valor lógico igual a verdadeiro, então sua negação é igual a falso. O mesmo seria se a proposição tivesse valor lógico inicial igual a falso, sua negação seria igual a verdadeiro. De acordo com esses conceitos podemos montar a seguinte tabela verdade: Exemplo: Considere p com o valor da seguinte proposição: 2 é um número par. p = Verdadeiro, portanto sua negação: ~p = Falso. Conector e (Λ). O conectivo e, também conhecido como AND e representado pelo símbolo “^” junta proposições as quais somente resultarão em Verdadeiro se todos os valores forem Verdadeiros. Exemplo: Considere as proposições p e q (Conjunção). Observação: Veja que nesta tabela consideramos todos os valores lógicos possíveis para p e q, em outras palavras: temos 2 proposições e estamos em uma base binária (0 ou 1, verdadeiro ou falso) então para se saber o número das possibilidades para essas proposições realiza-se o seguinte cálculo 2n, onde n é o número de proposições. Conector ou (V). O conectivo ou, também conhecido como OR e representado pelo símbolo “V” une proposições que, apenas uma sendo Verdadeiro é suficiente que a expressão inteira também seja. Exemplo: Considere as proposições p e q (Disjunção). Conector condicional (→). O conectivo condicional, representado pelo símbolo “→” une proposições criando uma estrutura condicional onde apenas uma das possibilidades resulta em F o valor lógico da expressão. Exemplo: Considere as proposições p e q (Condição). “Se p então q” Observação: não devemos confundir a operação condicional “→” com o relação implica " => " , pois, enquanto o primeiro representa uma operação entre proposições dando origem a uma outra proposição, o segundo indica apenas uma relação entre proposições dadas. Relação de implicação ( => ): uma proposição p implica q quando em sua tabelas-verdade, não pode ocorrer 1 e 0 nessa ordem. p "não Implica" q, pois, na segunda linha aparece p = V e q = F. Conector bicondicional (↔). O conectivo bicondicional, é lido como “se, e somente se” e é representado pelo símbolo “↔”, ele une proposições onde o resultado lógico da expressão é verdadeiro apenas se os valores lógicos forem iguais. Exemplo: Considere as proposições p e q (bicondicional). “Se p, e somente se q” Ou exclusivo (V). O conectivo ou exclusivo, chamado também de disjunção exclusiva, é representado pelo símbolo “V”. Podemos dizer que ele significa: um ou outro, mas não ambos. Exemplo: Ou o gato é macho ou o gato é fêmea, mas não ambos. A tabela verdade do ou exclusivo esta representada abaixo. Negação conjunta e negação disjunta. A negação disjunta é representada pelo conector ↑, significa a negação de duas proposições envolvendo o conector E (NAND). Exemplo: p ↑ q ⇔ ¬(p Λ q) ⇔ ¬p v ¬q. A negação conjunta é representada pelo conector ↓, significa a negação de duas proposições envolvendo o conector OU (NOR). Exemplo: p ↓ q ⇔ ¬(p v q) ⇔ ¬p Λ ¬q. Abaixo estão representadas as tabelas verdades das duas negações. Tautologia, contradição e contingência. Ao montarmos uma tabela verdade contendo todos os valores lógicos possíveis de uma expressão a poderíamos classificar em tautologia, contradição e contingência. Exemplo: p v ~p (p OU não p) Veja que independente do valor de p a expressão sempre resulta em Verdadeiro, pois para o conector OU possuir um verdadeiro já é suficiente para resultar em Verdadeiro, além disso sempre teremos V em todas as combinações da expressão. Por isso a classificamos como uma tautologia. Vejamos outro exemplo: F → p (F então p) Neste outro caso também se obteve uma tautologia, devido ao fato da última coluna da tabela (resultado da expressão) ter somente Verdadeiro. Exemplo: p ^ ~p Exemplo: p V q (p OU q) Percebe-se que a última coluna não possui apenas um valor lógico, por isso a determinamos uma proposição contingente, ou indeterminada. Implicação lógica ou inferência. Sejam P e Q duas proposições. Diremos que P implica logicamente a proposição Q, se Q for verdadeiro sempre que P for verdadeiro. Quando isso ocorre, dizemos que temos uma implicação lógica ou inferência e denotamos: P => Q (lemos: “P implica Q”). Exemplo: P Λ Q implica P V Q? Neste exemplo podemos dizer que P Λ Q => P V Q, pois onde P Λ Q é verdadeiro P V Q também é. Exemplo: P V Q implica P → Q? Neste exemplo não podemos dizer que P V Q => P → Q, pois temos na segunda linha que onde P V Q é verdadeiro P → Q é falso. Equivalência lógica. Diremos que P é equivalente a Q, se as duas tabelas verdade foram idênticas. Quando isso ocorre, dizemos que temos uma equivalência lógica ou bi-implicação e denotamos P ⇔ Q (lemos: “P é equivalente a Q”). Exemplo: ¬(P Λ Q) é equivalente a (¬P V ¬Q)? Neste exemplo podemos dizermos que ¬(P Λ Q) ⇔ (¬P V ¬Q), pois o resultado da tabela verdade das duas expressões é o mesmo. Exemplo: P → Q é equivalente a Q → P? Neste exemplo não podemos dizer que P → Q ⇔ Q → P, pois o resultado das tabelas verdades das expressões são diferentes, nas linhas 2 e 3. Condições necessárias e suficientes. Temos uma condição suficiente se quando ela ocorrer temos a garantia de que a outra condição ocorrerá. Por exemplo: “Se o cavalo corre então ele está vivo.” O cavalo correr é condição suficiente para ele estar vivo, ou seja, se o cavalo corre podemos garantir que ele está vivo. Por outro lado o cavalo estar vivo não garante que o cavalo corra, pois ele pode estar por exemplo vivo mas descansando, a este tipo de condição dá se o nome de condição necessária. Uma condição é necessária quanto não podemos garantir que a outra condição é valida. Esta relação entre condição suficiente e condição necessária é encontrada quando utilizamos um conector condicional, ou seja, quando temos uma estrutura condicional. O primeiro argumento(que vem antes do →), chamado de antecedente é uma condição suficiente. O segundo argumento, chamado de consequente é uma condição necessária. Entretanto em uma estrutura bicondicional temos uma proposição necessária e suficiente. Proposições associadas a uma condicional. Pegamos uma condicional qualquer como p → q, existem três tipos de proposições associadas a ela que são: Exemplo: “Se a Maria é feia então todos são feios.” A recíproca seria: “Se todos são feios então Maria é feia.” Exemplo: “Se a Maria é feia então todos são feios.” A inversa seria: “Se Maria não é feia então todos não são feios.” Exemplo: “Se a Maria é feia então todos são feios.” A contra positiva seria: “Se todos não são feios então Maria não é feia.”
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Lindóia do Sul
Lindóia do Sul Lindóia do Sul é um município brasileiro do estado de Santa Catarina, próximo à região de Concórdia, no meio-oeste catarinense. Foi fundado em 1 de janeiro de 1990. Sua economia é baseada principalmente na agropecuária e na agricultura. Localiza-se a uma latitude 27º03'12" sul e a uma longitude 52º04'00" oeste, estando a uma altitude de 643 metros. Sua população estimada em 2010 era de 4.632 habitantes. Possui uma área de 190,34 km².
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Leopoldo Miguez
Leopoldo Miguez Leopoldo Américo Miguez (Niterói, — Rio de Janeiro, ) foi um compositor, violinista e maestro brasileiro. Era tio do letrista e poeta Luís Peixoto. Biografia. Filho de pai espanhol e mãe brasileira, aos oito anos tocou no Porto, onde se educava, em concerto público, um solo de violino composto sobre motivos de "La Traviata" por seu maestro Nicolau Medina Ribas. Aos dezessete anos foi obrigado pelo pai a abraçar a carreira comercial. Em 1871 voltou ao Rio, onde trabalhou como guarda-livros. Seis anos depois casou-se com Alice Dantas, senhorita da elite brasileira, que pertencia a uma das famílias mais nobres de São Paulo. Em 1878 associou-se a Alfredo Napoleão, dirigindo um estabelecimento de músicas, do qual se retirou em 1881 para se consagrar exclusivamente à sua arte. Em 1882, foi para Paris onde passou dois anos. Ao regressar, foi, no Rio e em São Paulo, regente da ópera organizada pela Sociedade Claudio Rossi (abril a junho de 1886). Em dezembro de 1889 teve sua composição escolhida no concurso para o Hino da República. Foi então então diretor do Instituto Nacional de Música, a 18 de janeiro de 1890. O prêmio de Cr$ 25.000,00 que então recebeu, consagrou-o à aquisição de um grande órgão para o Instituto. Ocupou a cadeira de composição durante seis anos(1896), abandonando-a par dirigir o curso de violino. Em 1896, foi, comissionado pelo Governo, a estudar o ensino da música em Portugal, Espanha, França, Bélgica, Alemanha e Itália. Presidiu desde 1897 ao Centro Artístico, sociedade que exerceu grande influência no meio musical. Além de compositor inspirado e regente de belas qualidades, foi um administrador de primeira ordem, imprimindo ao Instituto Nacional de Música, que organizara, um espírito e disciplina admiráveis. Sua obra numerosa compreende: Op. I Pressentiment; Op. 20 Souvenirs, Notturno, Mazurka, Scherzetto e Lamento; Op. 31 & 32 Bluettes, Album de jeunesse e Op. 33 Serenada e 34 Morceaux lyriques, todas estas para piano. Para orquestra: Marcha Nupcial, Marcha elegíaca e Camões, Ode funèbre à Benjamin Constant, Sylvia-Elegía, Suite à l'antique, Madrigal, Scena, Liberates, Prometeu, Sinfônicos. Para o teatro: Pelo amor, em 2 atos, e Saldunes, em 3 atos, ambos poemas de Coelho Netto.
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Liero
Liero Liero é um jogo de computador para o DOS. Foi criado pelo programador finlandês Joosa Riekkinen em 1998. O jogo é descrito frequentemente como sendo uma versão em tempo real (isto é, não baseado em turnos ou rodadas) de Worms, ou o Quake III em duas dimensões. 'Liero' é a palavra finlandesa para minhoca. Em Liero duas minhocas lutam entre si até a morte para acumular pontos usando uma ampla variedade de armas numa tela bidimensional. Certas partes do terreno podem ser cavadas ou destruídas por explosões. Somando-se ao armamento, cada jogador tem uma corda ninja que pode ser usada para ir mais rápido no mapa. As modalidades de jogo podem ser deathmatch, game of tag ou capturar a bandeira. Ele pode ser jogado por 2 jogadores humanos simultaneamente em split screen ou no modo de 1 jogador contra a IA do jogo, todavia a popularidade do jogo é originária em sua maior parte da jogabilidade humano vs. humano. A última versão do jogo foi a versão 1.33. No entanto, Liero é um projeto abandonando, e devido à sua natureza de código fechado, nenhuma versão nova do software surgiu. Apesar disso, e contra a vontade do autor, a comunidade dos fãs vêm distribuindo várias versões alteradas (ou hackeadas) do jogo através da Internet, os chamados 'mods', ou 'total conversions' (TCs, conversões totais). A comunidade dos fãs vêm crescendo desde o encerramento do projeto do Liero original, e vários clones do jogo para diferentes plataformas foram feitos, incorporando novas características, não presentes no jogo de Riekkinen.
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Matemática
Matemática Matemática (dos termos gregos: "μάθημα", transliterado "máthēma", 'ciência', conhecimento' ou 'aprendizagem; e "μαθηματικός", transliterado "mathēmatikós", 'inclinado a aprender') é a ciência do raciocínio lógico e abstrato, que estuda quantidades (teoria dos números), espaço e medidas (geometria), estruturas, variações e estatística. Não há, porém, uma definição consensual por parte da comunidade científica. O trabalho matemático consiste em procurar e relacionar padrões, de modo a formular conjecturas cuja veracidade ou falsidade é provada por meio de deduções rigorosas, a partir de axiomas e definições. A matemática desenvolveu-se principalmente na Mesopotâmia, no Egito, na Grécia, na Índia e no Oriente Médio. Após a Renascença, o desenvolvimento da matemática intensificou-se na Europa, quando novas descobertas científicas levaram a um acúmulo rápido de conhecimento que dura até os dias de hoje. Registros arqueológicos mostram que a matemática é tanto um fator cultural quanto parte da história do desenvolvimento da espécie humana. Ela evoluiu por meio de contagens, medições, cálculos e do estudo sistemático de formas geométricas e movimentos de objetos físicos. Há muito tempo, buscam-se um consenso quanto à definição do que é a matemática. No entanto, nas últimas décadas do século XX, tomou forma uma definição que tem ampla aceitação entre os matemáticos: "a matemática é a ciência das regularidades" (padrões). Segundo esta definição, o trabalho do matemático consiste em examinar padrões abstratos, tanto reais como imaginários, visuais ou mentais. Ou seja, os matemáticos procuram regularidades nos números, no espaço, na ciência e na imaginação e formulam teorias com as quais tentam explicar as relações observadas. Uma outra definição seria que a matemática é a investigação de estruturas abstratas definidas axiomaticamente, usando a lógica formal como estrutura comum. As estruturas específicas geralmente têm sua origem nas ciências naturais, mais comumente na física, mas os matemáticos também definem e investigam estruturas por razões puramente internas à matemática (matemática pura), por exemplo, ao perceberem que as estruturas fornecem uma generalização unificante de vários subcampos ou uma ferramenta útil em cálculos comuns. A matemática é usada como uma ferramenta essencial em muitas áreas do conhecimento, tais como: engenharia, medicina, física, química, biologia e as ciências sociais. Em um ponto, a matemática aplicada, ramo da matemática que se dedica a aplicabilidade da matemática em outras áreas do conhecimento, às vezes leva ao desenvolvimento de um novo ramo, como aconteceu com a estatística ou a teoria dos jogos. Em outro ponto, o estudo da matemática pura, ou seja, o estudo da matemática pela matemática, sem a preocupação de uma aplicabilidade, muitas vezes mostrou-se útil anos ou séculos depois. Foi como aconteceu com os estudos das cônicas e da teoria dos números que, explorada pelos gregos, foram úteis respectivamente em descobertas sobre astronomia feitas por Kepler no século XVII, ou para o desenvolvimento de segurança (criptografia) em computadores nos dias de hoje. História. Além de reconhecer quantidades de objetos, o homem pré-histórico aprendeu a contar quantidades abstratas como o tempo: dias, estações e anos. A aritmética elementar (adição, subtração, multiplicação e divisão) também foi conquistada naturalmente. Acredita-se que esse conhecimento é anterior à escrita e, por isso, não há registros históricos. O primeiro objeto conhecido que confirma a habilidade de cálculo é o Osso de Ishango, uma fíbula de babuíno com riscos que indicam uma contagem, que data por volta de 20 000 anos atrás. Muitos sistemas de numeração existiram. O Papiro de Rhind é um documento que resistiu ao tempo e mostra os numerais "escritos" no Antigo Egito. O desenvolvimento da matemática permeou as primeiras civilizações e tornou possível o desenvolvimento de aplicações concretas: o comércio, o manejo de plantações, a medição de terra, astronomia, registro do tempo e, por vezes, a realização de rituais religiosos. A partir de 3000 a.C., quando Babilônios e Egípcios começaram a usar aritmética e geometria em construções, astronomia e alguns cálculos financeiros, a matemática começou a se tornar um pouco mais sofisticada. O estudo de estruturas matemáticas começou com a aritmética dos números naturais, seguiu com a extração de raízes quadradas e cúbicas, resolução de algumas equações polinomiais de segundo grau, trigonometria, frações, entre outros tópicos. Tais desenvolvimentos são creditados às civilizações acadiana, babilônica, egípcia, chinesa, ou ainda, àquelas do vale do Indo. Por volta de 600 a.C., na civilização grega, a matemática, influenciada por trabalhos anteriores e pela filosofia, tornou-se mais abstrata. Dois ramos se distinguiram: a aritmética e a geometria. Formalizaram-se as generalizações, por meio de definições axiomáticas dos objetos de estudo, e as demonstrações. A obra "Os Elementos, de Euclides," é um registro importante do conhecimento matemático na Grécia do século III a.C.. A civilização muçulmana permitiu que a herança grega fosse conservada e propiciou seu confronto com as descobertas chinesas e hindus, notadamente na questão da representação numérica. Os trabalhos matemáticos desenvolveram-se consideravelmente tanto na trigonometria, com a introdução das funções trigonométricas, quanto na aritmética. Desenvolveu-se ainda a análise combinatória, a análise numérica e a álgebra de polinômios. Na época do Renascentismo, uma parte dos textos árabes foi estudada e traduzida para o latim. A pesquisa matemática se concentrou então na Europa. O cálculo algébrico desenvolveu-se rapidamente com os trabalhos dos franceses François Viète e René Descartes. Nessa época também foram criadas as tabelas de logaritmos, que foram extremamente importantes para o avanço científico dos séculos XVI a XX, sendo substituídas apenas após a criação de computadores. A percepção de que os números reais não são suficientes para resolução de certas equações também data do século XVI. Já nessa época, começou o desenvolvimento dos chamados números complexos, apenas com uma definição e quatro operações. Uma compreensão mais profunda dos números complexos só foi conquistada no século XVIII com Euler. No início do século XVII, Isaac Newton e Gottfried Wilhelm Leibniz descobriram a noção de cálculo infinitesimal e introduziram a noção de "fluxor" (vocábulo abandonado posteriormente). Ao longo dos séculos XVIII e XIX, a matemática se desenvolveu fortemente com a introdução de novas estruturas abstratas, notadamente os grupos (graças aos trabalhos de Évariste Galois) sobre a resolubilidade de equações polinomiais, e os anéis, definidos nos trabalhos de Richard Dedekind. O rigor em matemática variou ao longo do tempo: os gregos antigos foram bastante rigorosos em suas argumentações; já no tempo da criação do Cálculo Diferencial e Integral, como as definições envolviam a noção de limite que, pelo conhecimento da época, só poderia ser tratada intuitivamente, o rigor foi menos intenso e muitos resultados eram estabelecidos com base na intuição. Isso levou a contradições e "falsos teoremas". Com isso, por volta do século XIX, alguns matemáticos, tais como Bolzano, Karl Weierstrass e Cauchy dedicaram-se a criar definições e demonstrações mais rigorosas. A matemática ainda continua a se desenvolver intensamente por todo o mundo nos dias de hoje. No Brasil. O ensino da matemática e, na verdade, de outras matérias, desde o descobrimento do Brasil, era ministrado pelos jesuítas até a expulsão deles em 1759. Desta data até 1808, os ex-alunos dos jesuítas ficaram encarregados pelo ensino. De 1808 a 1834, a matéria era ministrada nas escolas do Exército e da Marinha e, a partir de 1873, também nas escolas de engenharia. Em 1874, é criada a Escola Politécnica a partir da Escola Central, ex-Escola Militar. A Escola de Minas de Ouro Preto é criada em 1875 e a Escola Politécnica de São Paulo em 1893. Assim, o ensino de matemática passa também a ser oferecido em escolas não militares. Áreas e metodologia. As regras que governam as operações aritméticas são as da álgebra elementar, e as propriedades mais profundas dos números inteiros são estudadas na teoria dos números. A investigação de métodos para resolver equações algébricas leva ao campo da álgebra abstrata, que, entre outras coisas, estuda anéis e corpos — estruturas que generalizam as propriedades possuídas pelos números. O conceito de vetor, importante para a física, é generalizado no espaço vetorial e estudado na álgebra linear, pertencendo aos dois ramos da estrutura e do espaço. O estudo do espaço se originou com a geometria, primeiro com a geometria euclidiana e a trigonometria; mais tarde, foram generalizadas nas geometrias não-euclidianas, as quais cumprem um papel central na formulação da teoria da relatividade. A teoria de Galois permitiu resolverem-se várias questões sobre construções geométricas com régua e compasso. A geometria diferencial e a geometria algébrica generalizam a geometria em diferentes direções: a geometria diferencial enfatiza o conceito de sistemas de coordenadas, equilíbrio e direção, enquanto na geometria algébrica os objetos geométricos são descritos como conjuntos de solução de equações polinomiais. A teoria dos grupos investiga o conceito de simetria de forma abstrata e fornece uma ligação entre os estudos do espaço e da estrutura. A topologia conecta o estudo do espaço e o estudo das transformações, focando-se no conceito de continuidade. Entender e descrever as alterações em quantidades mensuráveis é o tema comum das ciências naturais e o cálculo foi desenvolvido como a ferramenta mais útil para fazer isto. A descrição da variação de valor de uma grandeza é obtida por meio do conceito de função. O campo das equações diferenciais fornece métodos para resolver problemas que envolvem relações entre uma grandeza e suas variações. Os números reais são usados para representar as quantidades contínuas e o estudo detalhado das suas propriedades e das propriedades de suas funções consiste na análise real, a qual foi generalizada para análise complexa, abrangendo os números complexos. A análise funcional trata de funções definidas em espaços de dimensões tipicamente infinitas, constituindo a base para a formulação da mecânica quântica, entre muitas outras coisas. Para esclarecer e investigar os fundamentos da matemática, foram desenvolvidos os campos da teoria dos conjuntos, lógica matemática e teoria dos modelos. Quando os computadores foram concebidos, várias questões teóricas levaram à elaboração das teorias da computabilidade, complexidade computacional, informação e informação algorítmica, as quais são investigadas na ciência da computação. Os computadores também contribuíram para o desenvolvimento da teoria do caos, que trata do fato de que muitos sistemas dinâmicos não-lineares possuem um comportamento que, na prática, é imprevisível. A teoria do caos tem relações estreitas com a geometria dos fractais, como o conjunto de Mandelbrot e de Mary, descoberto por Lorenz, conhecido pelo atrator que leva seu nome. Um importante campo na matemática aplicada é a estatística, que permite a descrição, análise e previsão de fenômenos aleatórios e é usada em todas as ciências. A análise numérica investiga os métodos para resolver numericamente e de forma eficiente vários problemas usando computadores e levando em conta os erros de arredondamento. A matemática discreta é o nome comum para estes campos da matemática úteis na ciência computacional. Por fim, uma teoria importante desenvolvida pelo ganhador do Prémio Nobel, John Nash, é a teoria dos jogos, que possui atualmente aplicações nos mais diversos campos, como no estudo de disputas comerciais, pois uma de suas principais premissas é a de que todos os participantes querem obter o maior lucro possível. Entretanto, premissas deste tipo levantam restrições para a aplicação desta teoria em outras áreas, como a biologia, por exemplo. Notação, linguagem e rigor. A maior parte da notação matemática em uso atualmente não havia sido inventada até o século XVI. Antes disso, os matemáticos escreviam tudo em palavras, um processo trabalhoso que limitava as descobertas matemáticas. No século XVIII, Euler foi responsável por muitas das notações em uso atualmente. A notação moderna deixou a matemática muito mais fácil para os profissionais, mas os iniciantes normalmente acham isso desencorajador. Isso é extremamente compreensivo: alguns poucos símbolos contêm uma grande quantidade de informação. Assim como a notação musical, a notação matemática moderna tem uma sintaxe restrita e informações que seriam difíceis de escrever de outro modo. A língua matemática pode também ser difícil para os iniciantes. Palavras como "e" e "ou" têm significados muito mais precisos do que a fala do dia-a-dia. Além disso, palavras como "aberto" e "campo" têm recebido um significado matemático específico. O jargão matemático inclui termos técnicos como "homeomorfismo" e "integral". Mas há uma razão para a notação especial e o jargão técnico: matemática requer mais precisão do que a fala do dia-a-dia. Matemáticos se referem a essa precisão da linguagem e lógica como "rigor". Áreas da matemática. A matemática pode, em linhas gerais, ser subdividida nos estudos de quantidade, estrutura, espaço e mudança (i.e. aritmética, álgebra, geometria, e análise). Além desses principais assuntos, também há subdivisões dedicadas a explorar as ligações do cerne da matemática a outros campos: à lógica, à teoria de conjuntos (fundações), à matemática empírica das várias ciências (matemática aplicada), e, mais recentemente, ao estudo rigoroso da incerteza. Enquanto algumas áreas da matemática possam parecer disjuntas, o programa Langlands tem encontrado conexões entre áreas como grupos de Galois, superfície de Riemann e teoria dos números. Fundações e filosofia. Para clarificar as fundações da matemática, desenvolveram-se os campos como a matemática lógica e a teoria dos conjuntos. A lógica matemática inclui o estudo matemático da lógica e as aplicações de lógica formal em outras áreas da matemática; a teoria de conjuntos é o ramo da matemática que estuda conjuntos ou coleções de objetos. A teoria das categorias, que lida de uma maneira abstrata com as estruturas matemáticas e as relações entre elas, ainda está em desenvolvimento. A expressão "crise nas fundações" descreve a busca por uma fundação rigorosa para a matemática ocorrida, aproximadamente, de 1900 a 1930. Algumas discordâncias sobre as fundações da matemática persistem atualmente. A crise de fundações foi estimulada por várias controvérsias à época, incluindo a controvérsia sobre a teoria de conjuntos de Cantor e a controvérsia de Brouwer–Hilbert. A lógica matemática está preocupada com um escopo axiomático rigoroso, e com o estudo das implicações de tal escopo. Tal qual seja, a existência dos teoremas da incompletude de Gödel (informalmente) implicam que qualquer sistema formal efetivo que contém aritmética básica, se todos os teoremas nele contido puderem ser provados são verdadeiros, é necessariamente "incompleto" (significando que há teoremas verdadeiros que não podem ser provados "nesse sistema formal"). Para qualquer coleção finita de axiomas da teoria dos números que seja tomada como fundação matemática, Gödel mostrou como construir um enunciado formal que é um fato verdadeiro na teoria dos números, mas que não decorrem dos axiomas. Logo, nenhum sistema formal é uma axiomatização completa da teoria dos números como um todo. A lógica moderna é dividida em teoria da computabilidade, em teoria dos modelos, e em teoria da prova, e está intrinsecamente relacionada com a ciência da computação teórica, bem como com a teoria das categorias. No contexto da teoria da computabilidade, a impossibilidade de uma axiomatização completa da teoria dos números pode também ser formalmente demonstrado como uma consequência do teorema MRDP. A ciência da computação teórica inclui a teoria da computabilidade, a teoria da complexidade computacional, e a teoria da informação. A teoria da computabilidade examina as limitações de vários modelos teóricos do computador, incluindo o modelo mais bem conhecido: a máquina de Turing. A teoria da complexidade é o estudo da tratabilidade por computador; alguns problemas, apesar de serem teoricamente solúveis por computador, são tão caros em termos de tempo ou espaço que sua resolução é praticamente inatingível, até mesmo com o avanço rápido do hardware dos computadores. Um problema famoso é o problema "", um dos Problemas do Prêmio Millennium. Finalmente, a teoria da informação está interessada com a quantidade de dados que pode ser armazenada em um dado meio, e, portanto, lida com conceitos como compressão e entropia. Matemática pura. Quantidades. O estudo de quantidades começa com os números, primeiro os familiares números naturais, depois os inteiros, e as operações aritméticas com eles, que é chamada de aritmética. As propriedades dos números inteiros são estudadas na teoria dos números, dentre eles o popular Último Teorema de Fermat. A teoria dos números também inclui dois grandes problemas que ainda não foram resolvidos: conjectura dos primos gêmeos e conjectura de Goldbach. Conforme o sistema de números foi sendo desenvolvido, os números inteiros foram considerados como um subconjunto dos números racionais. Esses, por sua vez, estão contidos dentro dos números reais, que são usados para representar quantidades contínuas. Números reais são parte dos números complexos. Esses são os primeiros passos da hierarquia dos números que segue incluindo quaterniões e octoniões. Considerações sobre os números naturais levaram aos números transfinitos, que formalizam o conceito de contar até o infinito. Outra área de estudo é o tamanho, que levou aos números cardinais e então a outro conceito de infinito: os números Aleph, que permitem uma comparação entre o tamanho de conjuntos infinitamente largos. Estrutura. Muitos objetos matemáticos, tais como conjuntos de números e funções matemáticas, exibem uma estrutura interna. As propriedades estruturais desses objetos são investigadas através do estudo de grupos, anéis, corpos e outros sistemas abstratos, que são eles mesmos tais objetos. Este é o campo da álgebra abstrata. Um conceito importante é a noção de vetor, que se generaliza quando são estudados os espaço vetorial em álgebra linear. O estudo de vetores combina três das áreas fundamentais da matemática: quantidade, estrutura e espaço. Espaço. O estudo do espaço originou-se com a geometria - em particular, com a geometria euclidiana. Trigonometria combina o espaço e os números, e contém o famoso teorema de Pitágoras. O estudo moderno do espaço generaliza essas ideias para incluir geometria de dimensões maiores, geometria não-euclidiana (que tem papel central na relatividade geral) e topologia. Quantidade e espaço juntos fazem a geometria analítica, geometria diferencial, e geometria algébrica. Transformações. Entender e descrever uma transformação é um tema comum na ciência natural e o cálculo foi desenvolvido como uma poderosa ferramenta para investigar isso. Então as funções foram criadas, como um conceito central para descrever uma quantidade que muda com o passar do tempo. O rigoroso estudo dos números reais e funções reais são conhecidos como análise real, e a análise complexa a equivalente para os números complexos. A hipótese de Riemann, uma das mais fundamentais perguntas não respondidas da matemática, é baseada na análise complexa. Análise funcional se foca no espaço das funções. Uma das muitas aplicações da análise funcional é a mecânica quântica. Muitos problemas levaram naturalmente a relações entre a quantidade e sua taxa de mudança e esses problemas são estudados nas equações diferenciais. Muitos fenômenos da natureza podem ser descritos pelos sistemas dinâmicos; a teoria do caos descreve com precisão os modos com que muitos sistemas exibem um padrão imprevisível, porém ainda assim determinístico. Matemática discreta. Matemática discreta é o nome comum para o campo da matemática mais geralmente usado na teoria da computação. Isso inclui a computabilidade, complexidade computacional e teoria da informação. Computabilidade examina as limitações dos vários modelos teóricos do computador, incluindo o mais poderoso modelo conhecido - a máquina de Turing. Matemática aplicada. Matemática aplicada considera o uso de ferramentas abstratas de matemática para resolver problemas concretos na ciência, negócios e outras áreas. Um importante campo na matemática aplicada é a estatística, que usa a teoria das probabilidades como uma ferramenta e permite a descrição, análise e predição de fenômenos onde as chances tem um papel fundamental. Muitos estudos de experimentação, acompanhamento e observação requerem um uso de estatísticas. Análise numérica investiga métodos computacionais para resolver eficientemente uma grande variedade de problemas matemáticos que são tipicamente muito grandes para a capacidade numérica humana; isso inclui estudos de erro de arredondamento ou outras fontes de erros na computação.
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Música
Música A música (do grego "μουσική τέχνη" - "musiké téchne", "a arte das musas") é uma forma de arte que se constitui na combinação de vários sons e ritmos, seguindo uma pré-organização ao longo do tempo. É considerada por diversos autores como uma prática cultural e humana. Não se conhece nenhuma civilização ou agrupamento que não possua manifestações musicais próprias. Embora nem sempre seja feita com esse objetivo, a música pode ser considerada como uma forma de arte, considerada por muitos como sua principal função. A criação, a performance, o significado e até mesmo a definição de música variam de acordo com a cultura e o contexto social. A música vai desde composições fortemente organizadas (e a sua recriação na performance), música improvisada até formas aleatórias. Pode ser dividida em gêneros e subgêneros, contudo as linhas divisórias e as relações entre géneros musicais são muitas vezes sutis, algumas vezes abertas à interpretação individual e ocasionalmente controversas. Dentro das "artes", a música pode ser classificada como uma arte de representação, uma arte sublime, uma arte de espetáculo. Para indivíduos de muitas culturas, a música está extremamente ligada à sua vida. A música expandiu-se ao longo dos anos, e atualmente se encontra em diversas utilidades não só como arte, mas também como a militar, educacional ou terapêutica (musicoterapia). Além disso, tem presença central em diversas atividades coletivas, como os rituais religiosos, festas e funerais. Há evidências de que a música é conhecida e praticada desde a pré-história. Provavelmente a observação dos sons da natureza tenha despertado no homem, através do sentido auditivo, a necessidade ou vontade de uma atividade que se baseasse na organização de sons. Embora nenhum critério científico permita estabelecer seu desenvolvimento de forma precisa, a história da música confunde-se com a própria história do desenvolvimento da inteligência e da cultura humana. Definição. Definir a música não é tarefa fácil porque apesar de ser intuitivamente conhecida por qualquer pessoa, é difícil encontrar um conceito que abarque todos os significados dessa prática. Mais do que qualquer outra manifestação humana, a música contém e manipula o som e o organiza no tempo. Talvez por essa razão ela esteja sempre fugindo a qualquer definição, pois ao buscá-la, a música já se modificou, já evoluiu. E esse jogo do tempo é simultaneamente físico e emocional. Como "arte do efêmero", a música não pode ser completamente conhecida e por isso é tão difícil enquadrá-la em um conceito simples. A música também pode ser definida como uma forma de linguagem que se utiliza da voz, instrumentos musicais e outros artifícios, para expressar algo a alguém. Um dos poucos consensos é que ela consiste em uma "combinação de sons e de silêncios, numa sequência simultânea ou em sequências sucessivas e simultâneas que se desenvolvem ao longo do tempo". Neste sentido, engloba toda combinação de elementos sonoros destinados a serem percebidos pela audição. Isso inclui variações nas características do som (altura, duração, intensidade e timbre) que podem ocorrer sequencialmente (ritmo e melodia) ou simultaneamente (harmonia). Ritmo, melodia e harmonia são entendidos aqui apenas em seu sentido de organização temporal, pois a música pode conter propositalmente harmonias ruidosas (que contém ruídos ou sons externos ao tradicional) e arritmias (ausência de ritmo formal ou desvios rítmicos). E é nesse ponto que o consenso deixa de existir. As perguntas que decorrem desta simples constatação encontram diferentes respostas, se encaradas do ponto de vista do criador (compositor), do executante (músico), do historiador, do filósofo, do antropólogo, do linguista ou do amador. E as perguntas são muitas: Mesmo os adeptos da música aleatória, responsáveis pela mais recente desconstrução e reformulação da prática musical, reconhecem que a música se inspira sempre em uma "matéria sonora", cujos dados perceptíveis podem ser reagrupados para construir uma "matéria musical", que obedece a um objetivo de representação próprio do compositor, mediado pela técnica. Em qualquer forma de percepção, os estímulos vindos dos órgãos dos sentidos precisam ser interpretados pela pessoa que os recebe. Assim também ocorre com a percepção musical, que se dá principalmente pelo sentido da audição. O ouvinte não pode alcançar a totalidade dos objetivos do compositor. Por isso reinterpreta o "material musical" de acordo com seus próprios critérios, que envolvem aquilo que ele conhece, sua cultura e seu estado emocional. Da diversidade de interpretações e também das diferentes funções em que a música pode ser utilizada se conclui que a música não pode ter uma só definição precisa, que abarque todos os seus usos e gêneros. Todavia, é possível apresentar algumas definições e conceitos que fundamentam uma "história da música" em perpétua evolução, tanto no domínio do popular, do tradicional, do folclórico ou do erudito. O campo das definições possíveis é na verdade muito grande. Há definições de vários músicos (como Mozart, Beethoveen, Schönberg, Stravinsky, Varèse, Gould, Jean Guillou, Boulez, Berio e Harnoncourt), bem como de musicólogos como Carl Dalhaus, Jean Molino, Jean-Jacques Nattiez, Célestin Deliège, entre outros. Entretanto, quer sejam formuladas por músicos, musicólogos ou outras pessoas, elas se dividem em duas grandes classes: uma abordagem intrínseca, imanente e naturalista contra uma outra que a considera antes de tudo uma arte dos sons e se concentra na sua utilização e percepção. A abordagem naturalista. De acordo com a primeira abordagem, a música existe antes de ser ouvida; ela pode mesmo ter uma existência autônoma na natureza e pela natureza. Os adeptos desse conceito afirmam que, em si mesma, a música não constitui arte, mas criá-la e expressá-la sim. Enquanto ouvir música possa ser um lazer e aprendê-la e entendê-la seja fruto da disciplina, a música em si é um fenômeno natural e universal. A teoria da ressonância natural de Mersenne e Rameau vai neste sentido, pois ao afirmar a natureza matemática das relações harmônicas e sua influência na percepção auditiva da consonância e dissonância, ela estabelece a preponderância do natural sobre a prática formal. Consideram ainda que, por ser um fenômeno natural e intuitivo, os seres humanos podem executar e ouvir a música virtualmente em suas mentes sem mesmo aprendê-la ou compreendê-la. Compor, improvisar e executar são formas de arte que utilizam o fenômeno música. Sob esse ponto de vista, não há a necessidade de comunicação ou mesmo da percepção para que haja música. Ela decorre de interações físicas e prescinde do humano. A abordagem funcional, artística e espiritual. Para um outro grupo, a música não pode funcionar a não ser que seja percebida. Não há, portanto, música se não houver uma obra musical que estabelece um diálogo entre o compositor e o ouvinte. Este diálogo funciona por intermédio de um "gesto" musical formante (dado pela notação) ou formalizado (por meio da interpretação). Neste grupo há quem defina música como sendo "a arte de manifestar os afetos da alma, através do som" (Bona). Esta expressão informa as seguintes características: 1) música é arte: manifestação estética, mas com especial intenção a uma mensagem emocional; 2) música é manifestação, isto é, meio de comunicação, uma das formas de linguagem a ser considerada, uma forma de transmitir e recepcionar uma certa mensagem, entre indivíduos considerados, ou entre a emoção e os sentidos do próprio indivíduo que entona uma música; 3) utiliza-se do som, é a ideia de que o som, ainda que sem o silêncio pode produzir música, o silêncio individualmente considerado não produz música. Para os adeptos dessa abordagem, a música só existe como manifestação humana. É atividade artística por excelência e possibilita ao compositor ou executante compartilhar suas emoções e sentimentos. Sob essa óptica, a música não pode ser um fenômeno natural, pois decorre de um desejo humano de modificar o mundo, de torná-lo diferente do estado natural. Em cada ponta dessa cadeia, há o homem. A música é sempre concebida e recebida por um ser humano. Neste caso, a definição da música, como em todas as artes, passa também pela definição de uma certa forma de comunicação entre os homens. Como não pode haver diálogo ou comunicação sem troca de signos, para essa vertente a música é um fenômeno semiótico. Definição negativa. Uma vez que é difícil obter um conceito sobre o que é a música, alguns tendem a defini-la pelo que não é: Definição social. Por trás da multiplicidade de definições, se encontra um verdadeiro fato social, que coloca em jogo tanto os critérios históricos, quanto os geográficos. A música passa tanto pelos símbolos de sua escritura (notação musical), como pelos sentidos que são atribuídos a seu valor afetivo ou emocional. É por isso que, no ocidente, nunca parou de se estender o fosso entre as músicas do ouvido (próximas da terra e do folclore e dotadas de uma certa espiritualidade) e as músicas do olho (marcadas pela escritura, pelo discurso). Nossos valores ocidentais privilegiam a autenticidade autoral e procuram inscrever a música dentro de uma história que a liga, através da escrita, à memória de um passado idealizado. As músicas não ocidentais, como a africana apelam mais ao imaginário, ao mito, à magia e fazem a ligação entre a potencialidade espiritual e corporal. O ouvinte desta música, bem como o da música folclórica ou popular ocidental participa diretamente da expressão do que ouve, através da dança ou do canto grupal, enquanto que um ouvinte de um concerto na tradição erudita assume uma atitude contemplativa que quase impede sua participação corporal, como se só a sua mente estivesse presente ao concerto. O desenvolvimento da notação musical e a constituição artificial do sistema de temperamentos consolidou na música, o dualismo corpo-mente típico do racionalismo cartesiano. E de tal forma esse movimento se fortaleceu que mesmo a música popular ocidental, ainda que menos dualista, se rendeu à sistematização, na qual se mantém até hoje. Música: um fenômeno social. As práticas musicais não podem ser dissociadas do contexto cultural. Cada cultura possui seus próprios tipos de música totalmente diferentes em seus estilos, abordagens e concepções do que é a música e do papel que ela deve exercer na sociedade. Entre as diferenças estão: a maior propensão ao humano ou ao sagrado; a música funcional em oposição à música como arte; a concepção teatral do Concerto contra a participação festiva da música folclórica e muitas outras. Falar da música de um ou outro grupo social, de uma região do globo ou de uma época, faz referência a um tipo específico de música que pode agrupar elementos totalmente diferentes (música tradicional, erudita, popular ou experimental). Esta diversidade estabelece um compromisso entre o músico (compositor ou intérprete) e o público que deve adaptar sua escuta a uma cultura que ele descobre ao mesmo tempo que percebe a obra musical. Desde o início do século XX, alguns musicólogos estabeleceram uma "antropologia musical", que tende a provar que, mesmo se alguém tem um certo prazer ao ouvir uma determinada obra, não pode vivê-la da mesma forma que os membros das etnias aos quais elas se destinam. Nos círculos acadêmicos, o termo original para estudos da música genérica foi "musicologia comparativa", que foi renomeada em meados do século XX para "etnomusicologia", que apresentou-se, ainda assim, como uma definição insatisfatória. Para ilustrar esse problema cultural da representação das obras musicais pelo ouvinte, o musicólogo Jean-Jacques Nattiez ("Fondements d’une sémiologie de la musique" 1976) cita uma história relatada por Roman Jakobson em uma conferência de G. Becking, linguista e musicólogo, pronunciada em 1932 no Círculo Linguístico de Praga: História da música. A história da música é o estudo das origens e evolução da música ao longo do tempo. Como disciplina histórica insere-se na história da arte e no estudo da evolução cultural dos povos. Como disciplina musical, normalmente é uma divisão da musicologia e da teoria musical. Seu estudo, como qualquer área da história é trabalho dos historiadores, porém também é frequentemente realizado pelos musicólogos. Na Idade Média, foi uma disciplina obrigatória do "Quadrivium" que, junto com o "Trívio", compunha a metodologia de ensino das sete Artes liberais. Este termo está popularmente associado à história da música erudita ocidental e frequentemente afirma-se que a história da música se origina na música da Grécia antiga e se desenvolve através de movimentos artísticos associados às grandes eras artísticas de tradição europeia (como a era medieval, renascimento, barroco, classicismo, etc.). Este conceito, no entanto é equivocado, pois essa é apenas a história da música no ocidente. A disciplina, no entanto, estuda o desenvolvimento da música em todas as épocas e civilizações, pois a música é um fenômeno que perpassa toda a humanidade, em todo o globo, desde a pré-história. Em 1957 Marius Schneider escreveu: “Até poucas décadas atrás o termo ‘história da música’ significava meramente a história da música erudita europeia. Foi apenas gradualmente que o escopo da música foi estendido para incluir a fundação indispensável da música não europeia e finalmente da música pré-histórica." Há, portanto, tantas histórias da música quanto há culturas no mundo e todas as suas vertentes têm desdobramentos e subdivisões. Podemos assim falar da história da música do ocidente, mas também podemos desdobrá-la na história da música erudita do ocidente, história da música popular do ocidente, história da música do Brasil, história do fado e assim sucessivamente. Teoria musical. "Teoria musical" é o nome que é dado a qualquer sistema destinado a analisar, compreender e se comunicar a respeito da música. Assim como em qualquer área do conhecimento, a teoria musical possui várias escolas, que podem possuir conceitos divergentes. Sua própria divisão da teoria em áreas de estudo não é consenso, mas de forma geral, qualquer escola possui ao menos: Análise musical. Apesar de toda a discussão já apresentada, a música quando composta e executada deliberadamente é considerada arte por qualquer das facções. E como arte, é criação, representação e comunicação. Para obter essas finalidades, deve obedecer a um método de composição, que pode variar desde o mais simples (a pura sorte na música aleatória), até os mais complexos. Pode ser composta e escrita para permitir a execução idêntica em várias ocasiões, ou ser improvisada e ter uma existência efêmera. A música dos pigmeus do Gabão, o Rock and roll, o Jazz, a música sinfônica, cada composição ou execução obedece a uma estética própria, mas todas cumprem os objetivos artísticos: criar o desconhecido a partir de elementos conhecidos; manipular e transformar a natureza; moldar o futuro a partir do presente. Qualquer que seja o método e o objetivo estético, o material sonoro a ser usado pela música é tradicionalmente dividido de acordo com três elementos organizacionais: melodia, harmonia e ritmo. No entanto, quando nos referimos aos aspectos do som nos deparamos com uma lista mais abrangente de componentes: altura, timbre, intensidade e duração. Eles se combinam para criar outros aspectos como: estrutura, textura e estilo, bem como a localização espacial (ou o movimento de sons no espaço), o gesto e a dança. Na base da música, dois elementos são fundamentais: O som e o tempo. Tudo na música é função destes dois elementos. É comum na análise musical fazer uma analogia entre os sons percebidos e uma figura tridimensional. A sinestesia nos permite "ver" a música como uma construção com comprimento, altura e profundidade. O ritmo é o elemento de organização, frequentemente associado à dimensão horizontal e o que se relaciona mais diretamente com o tempo (duração) e a intensidade, como se fosse o contorno básico da música ao longo do tempo. Ritmo, neste sentido, são os sons e silêncios que se sucedem temporalmente, cada som com uma duração e uma intensidade próprias, cada silêncio (a intensidade nula) com sua duração. O silêncio é, portanto, componente da música, tanto quanto os sons. O ritmo só é percebido como contraste entre som e silêncio ou entre diversas intensidades sonoras. Pode ser periódico e obedecer a uma pulsação definida ou uma estrutura métrica, mas também pode ser livre, não periódico e não estruturado (arritmia). Também é possível que diversos ritmos se sobreponham na mesma composição (polirritmia). Essas são opções de composição. Enfim é interessante lembrar que, embora pequenas variações de intensidade de uma nota à seguinte sejam essenciais ao ritmo, a variação de intensidade ao longo da música é antes de tudo um componente expressivo, a dinâmica musical. A segunda organização pode ser concebida visualmente como a dimensão vertical. Daí o nome altura dado a essa característica do som. O mais agudo, de maior frequência, é dito mais alto. O mais grave é mais baixo. O elemento organizacional associado às alturas é a melodia. A melodia é definida como a sucessão de alturas ao longo do tempo, mas estas alturas estão inevitavelmente sobrepostas à duração e intensidade que caracterizam o ritmo e portanto essas duas estruturas são indissociáveis. Outra metáfora visual que frequentemente é utilizada é a da cor. Cada altura representaria uma cor diferente sobre o desenho rítmico. Não é à toa que muitos termos utilizados na descrição das alturas, escalas ou melodias também são usados para as cores: tom, tonalidade, cromatismo. Também não deve ser fruto do acaso o fato de que tanto as cores como os sons são caracterizados por fenômenos físicos semelhantes: as alturas são variações de frequências em ondas sonoras (mecânicas). As cores são variações de frequência em ondas luminosas (eletromagnéticas). Assim como o ritmo, a melodia pode seguir estruturas definidas como escalas e tonalidades (música tonal), que determinam a forma como a melodia estabelece tensão e repouso em torno de um centro tonal. O compositor também pode optar por criar melodias em que a tensão e o repouso não decorrem de relações hierárquicas entre as notas (música atonal). A terceira dimensão é a harmonia ou polifonia. Visualmente pode ser considerada como a profundidade. Temporalmente é a execução simultânea de várias melodias que se sobrepõem e se misturam para compor um som muito mais complexo (contraponto), como se cada melodia fosse uma camada e a harmonia fosse a sobreposição de todas essas camadas. A harmonia possui diversas possibilidades: uma melodia principal com um acompanhamento que se limite a realçar sua progressão harmônica; duas ou mais melodias independentes que se entrelaçam e se completam harmonicamente; sons aleatórios que, nos momentos que se encontram formam acordes; e outras tantas em que sons se encontram ao mesmo tempo. O termo harmonia não é absoluto. Manipula o conjunto das melodias simultâneas de modo a expressar a vontade do compositor. As dissonâncias também fazem parte da harmonia tanto quanto as consonâncias. Adicionalmente, pode-se criar harmonias que obedeçam a duas ou mais tonalidades simultaneamente (politonalismo - usado com frequência em composições de Villa-Lobos). Cada som tocado em uma música tem também seu timbre característico. Definido da forma mais simples o timbre é a identidade sonora de uma voz ou instrumento musical. É o timbre que nos permite identificar se é um piano ou uma flauta que está tocando, ou distinguir a voz de dois cantores. Acontece que o timbre, por si só, é também um conjunto de elementos sequenciais e simultâneos. Uma série infinita de frequências sobrepostas que geram uma forma de onda composta pela frequência fundamental e seu espectro sonoro, formado por sobretons ou harmônicos. E o timbre também evolui temporalmente em intensidade obedecendo a uma figura chamada envelope. É como se o timbre reproduzisse em escala temporal muito reduzida o que as notas produzem em maior escala e cada nota possuísse em seu próprio tecido uma melodia, um ritmo e uma harmonia próprias. Segundo o tipo de música, algumas dessas dimensões podem predominar. Por exemplo, o ritmo bem marcado e fortemente periódico tem a primazia na música tradicional dos povos africanos. Na maior parte das culturas orientais, bem como na música tradicional e popular do ocidente, é a melodia que representa o valor mais destacado. A harmonia, por sua vez, é o ideal mais elevado da música erudita ocidental. Estes elementos nem sempre são claramente reconhecíveis. Onde estará o ritmo ou a melodia no som de uma serra elétrica incluída em uma canção de rock industrial ou em uma composição eletroacústica? Mas se considerarmos apenas o jogo dos sons e do tempo, a organização do sequencial e do simultâneo e a seleção dos timbres, a música nestas composições será tão reconhecível quanto a de uma cantata barroca. Gêneros musicais. Assim como existem várias definições para música, existem muitas divisões e agrupamentos da música em gêneros, estilos e formas. Dividir a música em gêneros é uma tentativa de classificar cada composição de acordo com critérios objetivos, que não são sempre fáceis de definir. Uma das divisões mais frequentes separa a música em grandes grupos: Cada uma dessas divisões possui centenas de subdivisões. Gêneros, subgêneros e estilos são usados numa tentativa de classificar cada música. Em geral é possível estabelecer com um certo grau de acerto o gênero de cada peça musical, mas como a música não é um fenômeno estanque, cada músico é constantemente influenciado por outros gêneros. Isso faz com que subgêneros e fusões sejam criados a cada dia. Por isso devemos considerar a classificação musical como um método útil para o estudo e comercialização, mas sempre insuficiente para conter cada forma específica de produção. A divisão em gêneros também é contestada assim como as definições de música porque cada composição ou execução pode se enquadrar em mais de um gênero ou estilo e muitos consideram que esta é uma forma artificial de classificação que não respeita a diversidade da música. Ainda assim, a classificação em gêneros procura agrupar a música de acordo com características em comum. Quando estas características se misturam, subgêneros ou estilos de fusão são utilizados em um processo interminável. Os estilos musicais ao entrar em contato entre si produzem novos estilos e há uma miscigenação entre culturas para produzir gêneros transnacionais. O blues e o jazz dos Estados Unidos, por exemplo, têm elementos vocais e instrumentais das tradições anglo-irlandesas, escocesas, alemãs e afro-americanas que só podem ser fruto da produção do "século XX"(20). Outra forma de encarar os gêneros é considerá-los como parte de um conjunto mais abrangente de manifestações culturais. Os gêneros são comumente determinados pela tradição e por suas apresentações e não só pela música de fato. O Rock, por exemplo, possui dezenas de subgêneros, cada um com características musicais diferentes mas também pelas roupas, cabelos, ornamentação corporal e danças, além de variações de comportamento do público e dos executantes. Assim, uma canção de Elvis Presley, um heavy metal ou uma canção punk, embora sejam todas consideradas formas de rock, representam diversas culturas musicais diferentes. Também a música erudita, folclórica ou religiosa possuem comportamentos e rituais associados. Ainda que o mais comum seja compreender a música erudita como a acústica e intencionada para ser tocada por indivíduos, muitos trabalhos que usam samples, gravações e ainda sons mecânicos, não obstante, são descritas como eruditas, uma vez que atendam aos princípios estéticos do erudito. Por outro lado, uma trecho de uma obra erudita como os "Quadros de uma Exposição" de Mussorgsky tocado por Emerson, Lake and Palmer se torna Rock progressivo não só por que houve uma mudança de instrumentação, mas também porque há uma outra atitude dos executantes e da plateia. Métodos de composição. Cada gênero define um conceito e um método de composição, que passa pela definição de uma forma, uma instrumentação e também um "processo" que pode criar sons musicais. A gama de métodos é muito grande e vai desde a simples seleção de sons naturais, passando pela composição tradicional que utiliza os sistemas de escalas, tonalidades e notação musical e varia até a música aleatória em que sons são escolhidos por programas de computador, obedecendo a algoritmos programados pelo compositor. Crítica musical. "Crítica musical" é uma prática utilizada, sobretudo pelos meios de comunicação para comentar o valor estético de uma obra, intérprete ou conjunto musical. Um texto crítico frequentemente refere-se a um espetáculo ou álbum na época de seu lançamento. O assunto é complexo e polêmico, pois, desde os tempos em que a sua prática era levada a cabo por curiosos frequentadores da vida social e, consequentemente, dos espetáculos musicais, nunca se tornou claro qual o seu objetivo principal, nem mesmo quais os destinatários - o público, o artista ou ambos. Ao longo do século XX, notou-se que, mesmo sem finalidade ou utilidade aparente, a crítica musical passou a despertar forte curiosidade nos que não frequentavam os espetáculos musicais e assim se apropriavam dos pontos de vista emanados nas críticas. Com o estabelecimento do comércio musical, os músicos e produtores musicais, em nome da captura das plateias e dos compradores, passaram a manipular seu conteúdo com diversos tipos de favorecimento aos críticos. Com a vulgarização desta prática, a isenção da crítica passou a ser questionada. Ainda assim, ela consegue influenciar o público e uma crítica em um veículo respeitado pode, dentro de certos limites, promover o sucesso ou o fracasso dos artistas, álbuns e espetáculos. A indústria cultural além de lançar tendências através de bandas pagas, agrupadas por redes de comunicação, também faz uso da crítica para vender sua mercadoria com artigos pagos, manipulação dos meios de comunicação e a massificação de determinados estilos musicais. A prática de comprar a execução de uma música em horários de grande audiência é chamada no Brasil de "jabaculê" ou simplesmente "jabá". Educação musical. "Educação musical" é o conjunto de práticas destinadas a transmitir através da vivência musical a teoria e prática da música nas correntes gerações e inclui: Atuação / Performance. A música só existe quando executada ou reproduzida, por isso a atuação é seu aspecto mais importante. Enquanto não executada a música é apenas potencial. É na execução que ela se torna um existente. A atuação pode se estender da improvisação de solos às bem organizadas apresentações repletas de rituais, como o moderno concerto clássico, o concerto de rock ou festividades religiosas. O executante é o músico, que pode ser um instrumentista ou cantor. Solos e conjuntos. A execução pode ser feita individualmente e neste caso é chamada de solo, palavra que vem do italiano e significa "sozinho". O extremo oposto é a execução em conjuntos vocais, instrumentais ou mistos. Muitas culturas mantêm fortes tradições nas atuações solo como, por exemplo, na música clássica indiana, enquanto que outras, como em Bali, têm ênfase nas atuações de conjuntos. Mas o mais comum é uma uma mistura das duas. Conjuntos podem ter solistas permanentes (como o vocalista ou guitarrista principal da banda de rock) ou ocasionais (como o solista do concerto erudito). Solistas são os encarregados de reproduzir a linha melódica que guia a música naquele instante. A variedade de conjuntos existentes é imensa e as combinações possíveis são ilimitadas. É comum classificar os grupos pelo número de participantes: duos, trios, quartetos, quintetos, sexteto, heptetos e octetos são os mais comuns. Grupos com mais de oito executantes são classificados por sua função: coros, grupo de câmara, bandas, orquestras. Certos grupos têm um nome específico, como o gamelão, conjunto instrumental típico da música de Bali. Outros podem partilhar o nome com outros conjuntos e neste caso são identificados geralmente pelo gênero: Orquestra sinfônica, orquestra de baile, banda de blues, banda de jazz. O evento musical. A execução musical pode ocorrer em um contexto íntimo ou mesmo solitário, mas é comum que ocorra dentro de um evento ou espetáculo. Entre os eventos mais comuns estão as festas, concertos, shows, óperas, espetáculos de dança, entre outros. Cada evento tem características próprias e normalmente obedece a um ritual específico. Eventos mais teatrais como o concerto e a ópera exigem do público uma atitude contemplativa e silenciosa enquanto que um show de rock ou uma roda de samba presumem a participação ativa do público na forma do canto e dança. Festivais de música. Além dos próprios shows e eventos feitos por algumas bandas e grupos isolados, existem também os festivais de música, onde são apresentados diversos grupos e artistas, na maioria das vezes com o mesmo gênero, mas muitas vezes com gêneros diversos. Podem ocorrer uma única vez ou periodicamente. Um dos festivais mais conhecidos foi o de Woodstock, tradicional festival de rock nos Estados Unidos. Alguns festivais como o Live 8 têm abrangência global, outros são limitados à região em que ocorrem, como os brasileiros Chivas Jazz Festival, São Paulo Mix Festival, Abril Pro Rock e Festival Pré Amp e o português Super Bock Super Rock. Em alguns casos, um evento planejado para ter abrangência local ganha importância e é extrapolado para outras localidades, como o famoso Rock in Rio que após três edições no Rio de Janeiro passou a ter edições no exterior, como a de 2004 em Lisboa e as que aconteceram em 2006 e 2007 em Lisboa e Sydney. Existem muitos festivais de música que celebram gêneros particulares de música. Um dos melhores exemplos é o Festival de Bayreuth que se dedica exclusivamente às operas de Richard Wagner. Também podem ser considerados festivais eventos que englobam outras manifestações, como o Carnaval do Brasil ou o Mardi-Gras em Nova Orleans. Composição audiovisual. Composição audiovisual é um tipo específico de composição musical que envolve recursos cênicos ou visuais, tais como a música para dança, a ópera, videoclipe, a banda sonora (ou trilha sonora), entre outras. Banda sonora. Chama-se Banda sonora ou trilha sonora ao conjunto das peças musicais usadas num filme. Pode incluir música original, criada de propósito para o filme, ou outras peças musicais, canções e excertos de obras musicais anteriores ao filme. Ver também. Listas de música
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Marte (planeta)
Marte (planeta) Marte é o quarto planeta a partir do Sol, o segundo menor do Sistema Solar. Batizado em homenagem a divindade romana da guerra, muitas vezes é descrito como o "Planeta Vermelho", porque o óxido de ferro predominante em sua superfície lhe dá uma aparência avermelhada. Marte é um planeta rochoso com uma atmosfera fina, com características de superfície que lembram tanto as crateras de impacto da Lua quanto vulcões, vales, desertos e calotas polares da Terra. O período de rotação e os ciclos sazonais de Marte são também semelhantes aos da Terra, assim como é a inclinação que produz as suas estações do ano. Marte é o lar do Monte Olimpo, a segunda montanha mais alta conhecida no Sistema Solar (a mais alta em um planeta), e do "Valles Marineris", um desfiladeiro gigantesco. A suave Bacia Polar Norte, no hemisfério norte marciano, cobre cerca de 40% do planeta e pode ser uma enorme marca de impacto. Marte tem duas luas conhecidas, Fobos e Deimos, que são pequenas e de forma irregular. Estas luas podem ser asteroides capturados, semelhante ao 5261 Eureka, um asteroide troiano marciano. Marte está sendo explorado por oito espaçonaves atualmente: seis em órbita — "Mars Odyssey", "Mars Express", "Mars Reconnaissance Orbiter", "Mars Atmosphere and Volatile Evolution Missile" – MAVEN, "Mars Orbiter Mission" e "ExoMars Trace Gas Orbiter" — e duas na superfície — "Mars Science Laboratory Curiosity, Perseverance" e o rover chinês Zhurong, como também o "lander InSight". Entre as espaçonaves desativadas que estão na superfície marciana estão a sonda "Spirit" e várias outras sondas e "rovers", como a "Phoenix", que completou sua missão em 2008, e o "Opportunity". Características físicas. Marte tem aproximadamente metade do diâmetro da Terra. Ele é menos denso do que a Terra, tendo cerca de 15% do seu volume e 11% de sua massa, resultando em uma aceleração da gravidade na superfície que é cerca de 38% da que se observa na Terra. A superfície marciana é apenas ligeiramente menor do que a área total de terra firme do planeta Terra. Apesar de Marte ser maior e mais massivo do que Mercúrio, este tem uma densidade mais elevada, com o que os dois planetas têm uma força gravitacional quase idêntica na superfície — a de Marte é mais forte por menos do que 1%. A aparência vermelho-alaranjada da superfície marciana é causada pelo óxido de ferro (III), mais comumente conhecido como hematita, ou ferrugem. Pode também parecer caramelo, enquanto outras cores comuns de superfície incluem dourado, marrom e esverdeado, dependendo dos minerais presentes. Estudo sugere que Marte teve um anel bilhões de anos atrás. Estrutura interna. Tal como a Terra, este planeta sofreu diferenciação, o que resultou em um núcleo metálico denso sobreposto por materiais menos densos, a uma distância estimada entre 1 810 e 1 860 km. Os modelos atuais do interior do planeta implicam uma região central de cerca de 1 794 km ± 65 km de raio, composta principalmente por ferro e níquel, com cerca de 16-17% de enxofre. Este núcleo de sulfureto de ferro é parcialmente fluido e tem duas vezes a concentração dos elementos mais leves que existem no núcleo da Terra. O núcleo está envolvido por um manto de silicato que formou muitos dos acidentes tectônicos e vulcânicos do planeta, mas que parecem agora estar dormentes. Além do silício e do oxigênio, os elementos mais abundantes na crosta marciana são ferro, magnésio, alumínio, cálcio e potássio. A espessura média da crosta do planeta é cerca de 50 quilômetros, com uma espessura máxima de 125 km. A crosta terrestre, com uma média de 40 km de espessura, tem apenas um terço da densidade da crosta de Marte, considerando-se a razão dos tamanhos dos dois planetas. A sonda "InSight", prevista para 2016, irá utilizar um sismógrafo para melhor determinar os modelos do interior do planeta. Geologia da superfície. Marte é um planeta rochoso que consiste em minerais contendo silício e oxigênio, metais e outros elementos que normalmente compõem rocha. A superfície de Marte é composta principalmente de basalto toleítico, embora parte seja mais rica em sílica que o basalto típico e possa ser semelhantes às rochas andesíticas da Terra ou ao vidro de sílica. Regiões de baixo albedo apresentam concentrações de plagioclásios, sendo que as regiões de albedo mais baixo, ao norte, exibem concentrações superiores às normais de silicatos e de vidro de sílica. Partes das terras altas ao sul incluem quantidades detectáveis de piroxênios com alto teor de cálcio. Concentrações localizadas de hematita e olivina também foram encontradas. A maior parte da superfície está profundamente coberta por uma camada de pó de óxido de ferro (III) de textura fina. Embora Marte não apresente qualquer evidência de possuir um campo magnético estruturado global, observações mostram que partes da crosta do planeta foram magnetizadas e que inversões geomagnéticas já ocorreram no passado. Este paleomagnetismo de minerais magneticamente suscetíveis tem propriedades que são muito semelhantes às faixas alternadas encontradas no fundo dos oceanos da Terra. Uma teoria, publicada em 1999 e reexaminada em outubro de 2005 (com a ajuda da "Mars Global Surveyor"), indica que essas faixas demonstram a existência de placas tectônicas em Marte há quatro bilhões de anos, antes de o dínamo planetário ter deixado de funcionar e o campo magnético do planeta ter desaparecido, talvez por causa de um excesso de hidrogênio, liberado pela dissociação da água próximo ao núcleo quente. Durante a formação do Sistema Solar, Marte foi criado como resultado de um processo estocástico de acreção a partir do disco protoplanetário que orbitava o Sol. Marte tem muitas características químicas próprias causadas por sua posição no Sistema Solar. Elementos com pontos de ebulição relativamente baixos, como cloro, fósforo e enxofre são muito mais comuns em Marte do que na Terra. Estes elementos, provavelmente, foram removidos das áreas mais próximas ao Sol pelo vento solar da jovem estrela. Após a formação dos planetas, todos foram sujeitos ao chamado "intenso bombardeio tardio". Cerca de 60% da superfície de Marte mostra registros de impactos dessa época, enquanto a maior parte da superfície restante é provavelmente sustentada por imensas bacias de impacto causadas por esses eventos. Há evidências de uma enorme bacia de impacto no hemisfério norte de Marte, abrangendo km por km, ou cerca de quatro vezes maior do que a Bacia do Polo Sul-Aitken da Lua, a maior depressão de impacto já descoberta. Esta teoria sugere que Marte foi atingido por um corpo do tamanho de Plutão cerca de quatro bilhões de anos atrás . O evento, que se acredita ser a causa da dicotomia hemisférica marciana, criou a suave Bacia Polar Norte, que cobre 40% do planeta. A história geológica de Marte pode ser dividida em vários períodos, mas os seguintes são os três períodos principais: Alguma atividade geológica ainda ocorre no planeta. O "Athabasca Valles" apresenta vestígios de derramamento de lava de cerca de 200 milhões de anos. A água corrente no "Cerberus Fossae" ocorreu há menos de 20 milhões de anos, indicando intrusões vulcânicas igualmente recentes. Em 19 de fevereiro de 2008, as imagens da sonda "Mars Reconnaissance Orbiter" mostraram evidências de uma avalanche a partir de um precipício de 700 metros de altura. Solo. A sonda "Phoenix" enviou dados que mostraram que o solo marciano é ligeiramente alcalino e contém elementos como magnésio, sódio, potássio e cloro. Esses nutrientes são encontrados nos jardins da Terra e são necessários para o crescimento das plantas. Experimentos realizados pela sonda mostraram que o solo marciano tem um pH básico de 7,7 e contém 0,6% do sal perclorato. Estrias são comuns em Marte e novas aparecem com frequência em encostas íngremes de crateras, desfiladeiros e vales. As estrias são escuras no início e ficam mais claras com o tempo. Elas podem começar em uma pequena área e, em seguida, espalhar-se por centenas de metros. Elas também foram vistas seguindo as bordas das pedras e outros obstáculos em seu caminho. As teorias mais comumente aceitas indicam que elas são camadas subjacentes escuras do solo descobertas após avalanches de poeira brilhante ou redemoinhos. Várias explicações têm sido propostas, algumas das quais envolvem água ou mesmo o crescimento de organismos. Hidrologia. Marte já abrigou um ciclo hidrológico ativo, como demonstrado por características geológicas em sua superfície. Porém, ele não possui mais a quantidade de água necessária para produzir essas impressões geológicas. Água líquida não poderia existir na superfície de Marte devido à baixa pressão atmosférica, que é cerca de 100 vezes mais fraca que a da Terra, a não ser em menores elevações por curtos períodos. As duas calotas polares marcianas também parecem ser feitas em grande parte de água. O volume de água congelada na camada de gelo do polo sul, se derretido, seria suficiente para cobrir toda a superfície do planeta a uma profundidade de 11 metros. Um manto de "permafrost" se estende desde o polo até latitudes de cerca de 60°. As observações feitas pela sonda "Mars Reconnaissance Orbiter" revelaram a possibilidade de que exista água corrente no planeta durante os meses mais quentes. Em 2013, o "rover" "Curiosity" da NASA descobriu que o solo de Marte contém entre 1,5% e 3% de água em sua massa (cerca de 33 litros de água por metro cúbico, embora não esteja acessível por estar ligada a outros compostos). Marte pode ser facilmente visto da Terra a olho nu, assim como a sua coloração avermelhada. Sua magnitude aparente atinge -3,0 e é superada apenas por Júpiter, Vênus, Lua e Sol. Telescópios ópticos baseados em terra estão tipicamente limitados à resolução de acidentes geográficos maiores que 300 km quando a Terra e Marte estão mais próximos, devido à atmosfera terrestre. Até o primeiro voo bem-sucedido sobre Marte feito em 1965 pela "Mariner 4", muitos especulavam sobre a presença de água em estado líquido na superfície do planeta. Isto era baseado em variações periódicas observadas em manchas claras e escuras, particularmente nas latitudes polares, que se pareciam com mares e continentes; faixas escuras e longas foram interpretadas por alguns como canais de irrigação para a água líquida. Estas características foram mais tarde explicadas como ilusões de ótica, apesar de evidências geológicas recolhidas por missões não tripuladas sugerirem que Marte já teve uma cobertura de água de grande escala em sua superfície. Em 2005, dados de radar revelaram a presença de grandes quantidades de gelo de água nos polos e em latitudes médias. A sonda robótica "Spirit" coletou amostras de compostos químicos que continham moléculas de água em março de 2007, enquanto a sonda "Phoenix" encontrou amostras de gelo no solo marciano raso em julho de 2008. Em setembro de 2015, cientistas da NASA anunciaram a descoberta de córregos sazonais com água em estado líquido na superfície do planeta com base em dados do "Mars Reconnaissance Orbiter". Acredita-se que grandes quantidades de água congelada estejam presas dentro da espessa criosfera de Marte. Os dados de radar da "Mars Express" e da "Mars Reconnaissance Orbiter" mostram grandes quantidades de gelo em ambos os polos (julho de 2005) e nas latitudes médias (novembro de 2008). A sonda "Phoenix" retirou amostras de água congelada do solo marciano em 31 de julho de 2008. Formas de relevo visíveis em Marte também sugerem fortemente que água em estado líquido tenha existido na superfície do planeta. Faixas lineares enormes de terra lavada, conhecidas como canais de escoamento, atravessam a superfície em cerca de 25 lugares. Acredita-se que essas faixas sejam registros de erosões que ocorreram durante a liberação catastrófica de água de aquíferos subterrâneos, embora haja hipóteses de que algumas dessas estruturas tenham resultado da ação de geleiras ou de lava. Um dos maiores exemplos, "Ma'adim Vallis", tem cerca de 700 km de comprimento e é muito maior que o "Grand Canyon", com uma largura de 20 km e uma profundidade de 2 km em alguns lugares. Acredita-se que tenha sido escavado por água corrente no início da história do planeta. Acredita-se que os mais novos desses canais tenham se formado recentemente, há apenas alguns milhões de anos. Em outros lugares, particularmente nas áreas mais antigas da superfície marciana, redes dendríticas de vales em escala menor estão espalhadas por proporções significativas da paisagem. As características desses vales e sua distribuição indicam fortemente que eles foram escavados pelo escoamento resultante da chuva ou queda da neve no início da história de Marte. Fluxos de água subsuperficiais e subterrâneos podem desempenhar papéis subsidiários importantes em algumas redes, mas a precipitação foi, provavelmente, a principal causa da formação em quase todos os casos. Ao longo de crateras e de paredes de desfiladeiros, há também milhares de acidentes geográficos que parecem semelhantes às ravinas terrestres. As ravinas tendem a surgir nas terras altas do hemisfério sul e próximas ao equador, todas em direção aos polos de 30° de latitude. Vários autores sugeriram que o seu processo de formação envolvia água líquida, provavelmente gelo liquefeito, embora outros tenham defendido mecanismos de formação de geada de dióxido de carbono ou o movimento de pó seco. Não foram observadas ravinas parcialmente degradadas pelo intemperismo ou crateras de impacto sobrepostas, indicando que estes são acidentes muito jovens, possivelmente ainda ativos atualmente. Outras características geológicas, como deltas e leques aluviais preservados em crateras, também apontam para condições mais quentes e mais úmidas em algum intervalo ou intervalos na história antiga de Marte. Tais condições requerem necessariamente a presença generalizada de lagos de cratera em uma grande proporção da superfície, para os quais também há evidências mineralógicas, sedimentológicas e geomorfológicas independentes. Outra evidência de que a água líquida existiu em algum momento sobre a superfície de Marte vem a partir da detecção de minerais específicos, como hematita e goethita, ambos os quais se formam, por vezes, na presença de água. Em 2004, o "Opportunity" detectou o mineral jarosita, que se forma somente na presença de água ácida, demonstrando que a água uma vez existiu em Marte. Evidências mais recentes de água líquida vêm do achado do mineral gipsita na superfície pelo "Opportunity" em dezembro de 2011. O líder do estudo, Francis McCubbin, cientista planetário da Universidade do Novo México em Albuquerque, analisando hidroxilas em minerais cristalinos de Marte, declarou que a quantidade de água no manto superior de Marte é igual ou maior do que a da Terra, entre 50 e 300 partes por milhão, o que é suficiente para cobrir todo o planeta a uma profundidade de 200 a metros. Em 18 de março de 2013, a NASA relatou evidências, encontradas pelos instrumentos do "rover" "Curiosity", de hidratação mineral, provavelmente sulfato de cálcio hidratado, em várias amostras de rochas, incluindo fragmentos das rochas "Tintina" e "Sutton Inlier", bem como em inclusões e nódulos em outras rochas, como "Knorr" e "Wernicke". Análises usando o instrumento DAN do "Curiosity" forneceram evidências da presença de água subterrânea até uma profundidade de 60 cm, num teor de até 4% de água, na travessia do "rover" desde o "Bradbury Landing" até a área do "Yellowknife Bay", na locação Glenelg. Em 28 de setembro de 2015, a NASA anunciou que havia encontrado evidência conclusiva de fluxos sazonais de salmoura hidratada em encostas, com base em leituras espectrométricas das áreas escuras das encostas. Essas observações confirmaram hipóteses anteriores, baseadas na época da formação e taxa de crescimento, de que essas estrias escuras resultaram do fluxo de água na subsuperfície muito rasa. As estrias contêm sais hidratados, percloratos, que possuem moléculas de água em sua estrutura cristalina. As estrias fluem pelas encostas no verão marciano, quando a temperatura está acima de -23 °C, e congelam em temperaturas menores. Pesquisadores acreditam que grande parte das planícies baixas do norte do planeta foi coberta por um oceano com centenas de metros de profundidade, embora esta tese ainda seja controversa. Em março de 2015, cientistas afirmaram que tal oceano pode ter tido o tamanho do Oceano Ártico da Terra. Este achado foi obtido a partir da relação entre a água e o deutério na atmosfera marciana moderna em comparação com a relação encontrada na Terra. Oito vezes mais deutério foi encontrado em Marte do que existe na Terra, o que sugere que antigamente Marte tinha níveis significativamente mais elevados de água. Os resultados do "rover" "Curiosity" já haviam encontrado uma alta proporção de deutério na cratera Gale, embora não significativamente alta para sugerir a presença de um oceano. Outros cientistas advertiram que o estudo não foi confirmado e apontaram que os modelos climáticos marcianos naquele momento não demonstraram que o planeta era quente o suficiente no passado para manter corpos de água líquida. No entanto, a maioria concorda que um oceano existiu há mais de 3 bilhões de anos, mas há uma variedade de opiniões sobre quanto tempo durou. Nenhuma água salgada líquida foi definitivamente encontrada em Marte. Mas houve indícios de água escorrendo do subsolo e um relatório de 2018 controverso da MARSIS de um lago de 20 km de diâmetro, enterrado quase 1,5 km abaixo da superfície, perto do polo sul do planeta. A investigação revelou que o polo sul é composto por várias camadas de gelo e poeira a uma profundidade de cerca de 1,5 km, distribuídos por uma região de 200 km de largura. Os pesquisadores descobriram que um tipo de salmoura poderia permanecer líquido na superfície do planeta e alguns centímetros abaixo por até seis horas consecutivas em 40% do planeta, principalmente nas latitudes médias a altas do norte. No entanto, essas salmouras nunca ficariam mais quentes do que cerca de -48° C, cerca de 25 graus abaixo da tolerância conhecida pela vida na Terra. Calotas polares. Marte tem duas calotas polares de gelo permanente. Durante o inverno em um dos polos, ele fica em escuridão contínua, que resfria a superfície e provoca a deposição de 25 a 30% da atmosfera em placas de gelo de CO2 (gelo seco). Quando o polo é novamente exposto à luz solar, o CO2 congelado sublima, criando enormes ventos que varrem o polo a velocidades de até 400 km/h. Esses ventos sazonais transportam grandes quantidades de poeira e vapor d’água, dando origem a geadas semelhantes às da Terra e de grandes nuvens "cirrus". Nuvens de água e gelo foram fotografadas pelo "rover Opportunity" em 2004. As calotas polares em ambos os polos são compostas principalmente (70%) de gelo de água. Dióxido de carbono congelado acumula como uma camada relativamente fina de cerca de um metro de espessura na calota norte apenas no inverno, enquanto a calota sul tem uma cobertura de gelo seco permanente de cerca de oito metros de espessura. Esta cobertura permanente de gelo seco no polo sul é salpicada por alguns tipos de poços circulares que se repetem e estão se expandindo alguns metros por ano; isso sugere que a cobertura permanente de CO2 sobre o gelo do polo sul está se degradando ao longo do tempo. A calota polar norte tem um diâmetro de aproximadamente mil quilômetros durante o verão do hemisfério norte de Marte e contém cerca de 1,6 milhão de quilômetros cúbicos (km³) de gelo, que, se espalhado uniformemente sobre a calota, teria 2 km de espessura. Em comparação, a camada de gelo da Groenlândia tem um volume de 2,85 milhões de quilômetros cúbicos. A calota polar do sul tem um diâmetro de 350 km e uma espessura de 3 km. O volume total de gelo na calota polar sul, mais os depósitos em camadas adjacentes, foi estimado em 1,6 milhão de quilômetros cúbicos. Ambas as calotas polares apresentam calhas espirais, que recente análise do radar "SHARAD" mostrou serem resultado de ventos catabáticos em espiral devido ao efeito Coriolis. A queda de geada sazonal em algumas áreas perto da calota polar sul resulta na formação de placas transparentes medindo até 1 quilômetro de diâmetro e 1 metro de espessura de gelo seco acima do solo. Com a chegada da primavera, a luz solar aquece o subsolo, e a pressão do CO2 sublimado aumenta sob o bloco, elevando-o e, finalmente, rompendo-o. Isto leva a erupções semelhantes a gêiseres de gás CO2 misturado com areia ou pó de basalto escuro. Este processo é rápido e acontece no espaço de alguns dias, semanas ou meses, uma taxa de variação bastante incomum em geologia - especialmente para Marte. O gás fluindo sob um bloco em direção a um gêiser escava sob o gelo um padrão de canais radiais do tipo teia de aranha, num processo que é o equivalente inverso de uma rede de erosão formada pela água que é drenada por um ralo. Em 2021 cientistas recriaram uma versão parecida com formas de araneiformes negras em seu laboratório. Os experimentos mostram diretamente que os padrões de aranha que observamos em Marte em órbita podem ser esculpidos pela conversão direta de gelo seco de sólido em gasoso. Perda de água. Pensa-se que a perda de água de Marte para o espaço resulta do transporte de água para a atmosfera superior, onde é dissociada ao hidrogênio e foge do planeta. Mas uma observação em 2019 sugere que a súbita perda de água ocorre na atmosfera superior de Marte, aumentando a abundância de hidrogênio. Na atmosfera superior, a luz solar e a química desassociam moléculas de água em átomos de hidrogênio e oxigênio que a fraca gravidade não pode impedir de escapar para o espaço. Um cientista revelou que o vapor de água está se acumulando em grandes quantidades e proporções inesperadas a uma altitude de mais de 80 km na atmosfera marciana. As estimativas indicaram que grandes bolsas atmosféricas estão mesmo em uma condição de supersaturação, com a atmosfera contendo 10 a 100 vezes mais vapor de água do que sua temperatura deveria permitir hipoteticamente. Com as taxas de supersaturação observadas, o limite de fuga de água aumentaria significativamente durante estações específicas. Geografia. Embora sejam mais lembrados por terem mapeado a Lua, Johann Heinrich von Mädler e Wilhelm Beer foram os primeiros "areógrafos". Eles começaram pela constatação de que a maioria dos acidentes geográficos da superfície de Marte eram permanentes e determinaram com mais precisão o período de rotação do planeta. Em 1840, Mädler reuniu dez anos de observações e desenhou o primeiro mapa de Marte. Em vez de dar nomes para as várias marcas na superfície, Beer e Mädler simplesmente designaram-nas com letras; "Sinus Meridiani" foi, assim, o acidente "a". Hoje, as características de Marte são denominadas a partir de uma variedade de fontes. Características de albedo são nomeadas a partir da mitologia clássica. Crateras com mais de 60 km são nomeadas em homenagem a cientistas e escritores já falecidos e outros que contribuíram para o estudo de Marte. Crateras menores que 60 km homenageiam cidades e vilas do mundo com população inferior a 100 mil habitantes. Grandes vales são nomeados pela palavra "Marte" ou "estrela" em várias línguas; pequenos vales são nomeados por rios. As grandes estruturas de albedo mantêm muitos dos nomes antigos, que são frequentemente atualizados para refletir novos conhecimentos sobre a natureza dessas características. Por exemplo, "Nix Olympica" (as neves do Olimpo) tornou-se "Olympus Mons" (Monte Olimpo). A superfície de Marte, vista da Terra, é dividida em dois tipos de áreas, com diferentes albedos. As planícies mais pálidas cobertas de poeira e areia ricas em óxido de ferro avermelhado já foram consideradas como "continentes" marcianos e a elas foram dados nomes como "Arabia Terra" (terra da Arábia) ou "Amazonis Planitia" (Planície Amazônica). Acreditava-se que as características escuras eram mares, daí seus nomes "Mare Erythraeum", "Mare Sirenum" e "Aurorae Sinus". A maior característica escura vista da Terra é "Syrtis Major". A calota polar norte é chamada "Planum Boreum", enquanto a calota sul é chamada "Planum Australe". O equador de Marte é definido por sua rotação, mas a localização do seu “meridiano primário" foi estabelecida, como foi a da Terra (em Greenwich), pela escolha de um ponto arbitrário; Mädler e Beer selecionaram uma linha, em 1830, para os primeiros mapas de Marte. Após a nave espacial "Mariner 9" fornecer grande quantidade de imagens de Marte em 1972, uma pequena cratera (mais tarde chamada de Airy-0), localizada no "Sinus Meridiani" ("Baía Meridiana"), foi escolhida para a definição da longitude 0,0°, de forma a coincidir com a seleção original. Como Marte não tem oceanos e, portanto, não há "nível do mar", uma superfície com elevação zero também teve de ser selecionada para um nível de referência, o que também é chamado de "areoide" de Marte, análogo ao geoide terrestre. A altitude zero foi definida pela altura em que há 610,5 Pa (6,105 mbar) de pressão atmosférica. Esta pressão corresponde ao ponto triplo da água e é cerca de 0,6% da pressão na superfície do nível do mar na Terra (0,006 atm). Na prática, atualmente esta superfície é definida diretamente pela medição da gravidade por satélites. Crateras. A dicotomia da topografia marciana é notável: as planícies do norte são achatadas por fluxos de lava, em contraste com as terras altas do sul, marcadas por crateras de antigos impactos de asteroides. Uma pesquisa de 2008 apresentou evidências sobre uma teoria proposta em 1980 postulando que, quatro bilhões de anos atrás, o hemisfério norte de Marte foi atingido por um objeto de um décimo a dois terços do tamanho da Lua. Se confirmado, isso tornaria o hemisfério norte de Marte o local de uma cratera de impacto de km de comprimento por 8,5 mil quilômetros de largura, ou mais ou menos a área da Europa, Ásia e Austrália juntas, superando a Bacia do Polo Sul-Aitken, na Lua, como a maior cratera de impacto do Sistema Solar. Marte é marcado por um conjunto de crateras de impacto: cerca de 43 mil crateras com um diâmetro de 5 quilômetros ou mais foram encontradas em sua superfície. A maior delas é a bacia de impacto "Hellas Planitia", uma característica de formação de albedo claramente visível a partir da Terra. Devido à menor massa de Marte, a probabilidade de um objeto colidir com o planeta é cerca de metade da presente na Terra. Marte fica mais perto do cinturão de asteroides, por isso tem uma chance maior de ser atingido por materiais oriundos dessa região. O planeta é também mais suscetível a ser atingido por cometas de período curto, ou seja, aqueles que se encontram dentro da órbita de Júpiter. Apesar disso , há muito menos crateras em Marte em comparação com a Lua, porque a atmosfera de Marte fornece proteção contra meteoros pequenos. Algumas crateras têm uma geomorfologia que sugere que o solo se tornou úmido após o impacto do meteoro. Características vulcânicas e tectônicas. O vulcão Monte Olimpo é um vulcão extinto na vasta região de Tharsis, que contém vários outros grandes vulcões. O Monte Olimpo é três vezes maior que o Monte Everest, que por comparação tem pouco mais de 8,8 km de altura. É a primeira ou a segunda montanha mais alta do Sistema Solar, dependendo da forma de medição escolhida, com fontes que vão de cerca de 21 a 27 km de altura. O grande desfiladeiro "Valles Marineris" (latim para Vales "Mariner", também conhecido como Agathadaemon nos velhos mapas dos canais marcianos), tem um comprimento de quatro mil quilômetros e uma profundidade de até sete quilômetros. O comprimento do "Valles Marineris" é equivalente ao comprimento do continente europeu e estende-se através de um quinto da circunferência de Marte. Em comparação, o "Grand Canyon" na Terra tem 446 km de comprimento e quase 2 km de profundidade. O "Valles Marineris" foi formado devido à expansão da área de Tharsis, que causou o colapso da crosta na área do desfiladeiro. Em 2012, foi proposto que o "Valles Marineris" não é apenas um "graben", mas também um limite de placa, onde ocorreu um movimento transversal de 150 km, fazendo de Marte um planeta com, possivelmente, duas placas tectônicas. As imagens do "THEMIS" a bordo de sonda "Mars Odyssey" da NASA revelaram sete possíveis entradas de cavernas nos flancos do vulcão "Arsia Mons". As cavernas, nomeadas em homenagem a entes queridos de seus descobridores, são conhecidas coletivamente como as "sete irmãs". As entradas das cavernas medem de 100 a 252 metros de largura e acredita-se que tenham, pelo menos, de 73 a 96 metros de profundidade. Dado que a luz não atinge o piso da maioria das cavernas, é possível que elas se estendam muito mais profundamente do que as estimativas inferiores e sejam mais largas abaixo da superfície. A caverna "Dena" é a única exceção: o seu chão é visível e tem 130 metros de profundidade. Os interiores destas cavernas podem ser protegidos contra micrometeoritos, radiação UV, erupções solares e partículas de alta energia que bombardeiam a superfície do planeta. Pegadas de dunas em Hellas, também conhecidas como a insígnia da Frota Estelar Star Trek, são grandes dunas em forma de crescente (barchan). A insígnia foi criada quando a lava fluiu sobre a planície e ao redor das dunas, mas não sobre elas. A lava solidificou, mas essas dunas ainda se erguiam como ilhas e o vento continuava a soprar. Ao final, as pilhas de areia que eram as dunas migraram, deixando essas "pegadas" na planície de lava. Elas também são chamadas de "moldes de dunas" e registram a presença de dunas cercadas por lava. Atmosfera. Marte perdeu sua magnetosfera há 4 bilhões de anos, então o vento solar interage diretamente com a ionosfera marciana, diminuindo a densidade atmosférica ao remover átomos da camada exterior. Ambas as sondas "Mars Global Surveyor" e "Mars Express" detectaram partículas atmosféricas ionizadas arrastadas para o espaço a partir de Marte e esta perda atmosférica está sendo estudada pela sonda "MAVEN". Em comparação com a Terra, a atmosfera de Marte é muito rarefeita. A pressão atmosférica na superfície varia hoje entre um mínimo de 30 Pa (0,030 kPa) no Monte Olimpo para mais de Pa (1,155 kPa) em "Hellas Planitia", com uma pressão média ao nível da superfície de 600 Pa (0,60 kPa). A maior densidade atmosférica em Marte é igual à densidade encontrada 35 km acima da superfície da Terra. A pressão de superfície média resultante é de apenas 0,6% a da Terra (101,3 kPa). A altura de escala da atmosfera é cerca de 10,8 km, que é maior do que a da Terra (6 km), porque a gravidade de superfície de Marte é de apenas 38% da gravidade da Terra, o que é compensado tanto pela temperatura mais baixa quanto pelo peso molecular 50% maior da atmosfera de Marte. A atmosfera de Marte é composta por cerca de 96% de dióxido de carbono, 1,93% de argônio e 1,89% de nitrogênio, juntamente com traços de oxigênio e água. A atmosfera é muito empoeirada, contendo partículas de cerca de 1,5 µm de diâmetro que dão ao céu marciano uma cor opaca quando vista da superfície. Metano foi detectado na atmosfera de Marte, com uma fração molar de cerca de 30 ppb; ele ocorre em plumas extensas, e os perfis implicam que o metano foi liberado a partir de regiões distintas. No meio do verão do norte, a pluma principal continha 19 mil toneladas métricas de metano, com uma força de fonte estimada de 0,6 kg por segundo. Os perfis sugerem que pode haver duas regiões de origem, a primeira centrada perto de 30°N 260°W e a segunda perto de 0°N 310°W. Estima-se que Marte deva produzir 270 toneladas/ano de metano. O metano pode existir na atmosfera de Marte por um período limitado de tempo até ser destruído – as estimativas do seu tempo de vida variam entre 0,6 a 4 anos terrestres. A sua presença, apesar desta vida curta, indica a existência de uma fonte ativa do gás no planeta. Atividade vulcânica, impactos de cometas e a presença de formas de vida microbianas metanogênicas estão entre as possíveis fontes. O metano também poderia ser produzido por um processo não biológico chamado serpentinização, que envolve água, dióxido de carbono e o mineral olivina, que se sabe ser comum em Marte. O "rover" "Curiosity", que pousou em Marte em agosto de 2012, é capaz de fazer medições que distinguem entre diferentes isotopólogos de metano; mas mesmo que a missão determine que a vida microscópica marciana é a fonte do metano, essas formas de vida provavelmente residem muito abaixo da superfície, fora do alcance do "rover". As primeiras medições com o Tunable Laser Spectrometer (TLS) indicaram que há menos de 5 ppb de metano no local de pouso no momento da medição. Em 19 de setembro de 2013, cientistas da NASA, com base em outras medições feitas pela "Curiosity", não relataram a detecção de metano atmosférico, com um valor medido de 0,18 ± 0,67 ppbv correspondente a um limite máximo de apenas 1,3 ppbv (limite de confiança de 95%) e, como resultado, concluíram que a probabilidade de atividade microbiana metanogênica atual em Marte é reduzida. A sonda Mars Orbiter Mission, da Índia, está pesquisando metano na atmosfera, enquanto a "ExoMars Trace Gas Orbiter", planejada para ser lançada em 2016, irá estudar mais o metano, bem como os seus produtos de decomposição, como formaldeído e metanol. Amônia também foi detectada em Marte pelo satélite "Mars Express", mas com a sua vida útil relativamente curta, não ficou claro o que a tenha produzido. A amônia não é estável na atmosfera marciana e desintegra-se depois de algumas horas. Uma fonte possível é a atividade vulcânica. A sonda Trace Gas Orbiter (TGO), da Agência Espacial Europeia, chegou a Marte em 2016, e em 2018 começou a escanear a atmosfera por metano. Dois dos espectrômetros do TGO - um instrumento belga chamado NOMAD e um russo chamado ACS - foram projetados para detectar o metano em concentrações muito baixas. No entanto, o satélite europeu não detectou um único vestígio de metano. Enormes plumas semelhantes a nuvens, 260 km acima da superfície de Marte, chegam a entrar na exosfera, onde a atmosfera se funde com o espaço interplanetário. Nenhum dos esclarecimentos costumeiros para tais nuvens faz sentido, uma vez que a água, o gelo de dióxido de carbono, as tempestades de poeira ou as descargas de luz auroral, na maior parte das vezes, não atingem tais alturas. Em 2019, cientistas propuseram que elas devem sua existência ao fenômeno chamado "fumaça meteórica", poeira gelada criada por detritos espaciais que se chocam com a atmosfera do planeta. Cerca de duas a três toneladas de detritos espaciais colidem em Marte todos os dias, em média, e à medida que esses meteoros se desintegram na atmosfera do planeta, injetam um enorme volume de poeira no ar. Auroras. Em 1994 a sonda Mars Express da Agência Espacial Europeia descobriu um brilho ultravioleta proveniente de “guarda-chuvas magnéticos” no hemisfério sul. Marte não possui um campo magnético global que guie as partículas carregadas que entram na atmosfera, mas tem múltiplos campos magnéticos em forma de guarda-chuva, principalmente no hemisfério sul, que são remanescentes de um campo global que decaiu bilhões de anos atrás. No final de dezembro de 2014, a sonda MAVEN da NASA detectou evidência de auroras muito espalhadas pelo hemisfério norte e descendo até aproximadamente 20-30 graus de latitude norte em relação ao equador de Marte. As partículas penetravam na atmosfera marciana, criando auroras abaixo de 100 km da superfície (as auroras da Terra variam de altitude entre 100 e 500 km). Os campos magnéticos no vento solar caem como cortinas sobre Marte, inclusive para a atmosfera, e as partículas carregadas simplesmente seguem essas linhas para a atmosfera, fazendo com que as auroras aconteçam fora dos guarda-chuvas magnéticos. Em 18 de março de 2015, a NASA anunciou a detecção de uma aurora que não é completamente entendida, bem como uma não explicada nuvem de poeira na atmosfera de Marte. As observações anteriores não capturaram nenhum brilho verde em Marte, mas entre 24 de abril e 1 de dezembro de 2019, uma luz verde foi observada na atmosfera de Marte de altitudes de observações que variam de 20 a 400 quilômetros da superfície marciana. A emissão foi mais forte a uma altitude de cerca de 80 quilômetros e variou dependendo da distância variável entre Marte e o Sol. Clima. De todos os planetas do Sistema Solar, Marte é o que possui as estações do ano mais parecidas com as da Terra, devido às inclinações semelhantes de eixos de rotação dos dois planetas. As durações das estações marcianas são cerca de duas vezes as da Terra, já que Marte está a uma maior distância do Sol, o que leva o ano marciano a ter duração equivalente a cerca de dois anos terrestres. As temperaturas de superfície de Marte variam de −143 °C (no inverno nas calotas polares) até máximas de 35 °C (no verão equatorial). A ampla variação de temperaturas é devida à fina atmosfera, que não consegue armazenar muito calor solar, à baixa pressão atmosférica e à baixa inércia térmica do solo marciano. O planeta também é 1,52 vez mais distante do Sol que a Terra, o que resulta em apenas 43% da quantidade de luz solar em comparação com a Terra. Se Marte tivesse uma órbita semelhante à da Terra, as suas estações também seriam semelhantes, porque a sua inclinação axial é próxima à da Terra. A relativamente grande excentricidade da órbita de Marte tem um efeito significativo. O planeta está mais próximo do periélio quando é verão no hemisfério sul e inverno no norte, e próximo do afélio quando é inverno no hemisfério sul e verão no norte. Como resultado, as estações do ano no hemisfério sul são mais extremas e as estações do ano no norte são mais brandas. As temperaturas de verão no sul podem ser até 30 kelvin maiores do que as temperaturas equivalentes de verão no norte. Marte tem as maiores tempestades de poeira do Sistema Solar. Estas podem variar de uma tempestade sobre uma pequena área até tempestades gigantescas que cobrem todo o planeta. Elas tendem a ocorrer quando Marte está mais próximo do Sol e demonstraram aumentar a temperatura global. Órbita e rotação. A distância média de Marte ao Sol é de cerca de 230 milhões de quilômetros (1,5 UA) e seu período orbital é de 687 dias terrestres. O dia solar em Marte é apenas um pouco maior do que um dia na Terra: 24 horas, 39 minutos e 35,244 segundos. Um ano marciano é igual a 1,8809 ano terrestre, ou seja, 1 ano, 320 dias e 18,2 horas. A inclinação do eixo de Marte é de 25,19 graus, semelhante à da Terra. Como resultado, Marte tem estações como a Terra, embora sejam quase duas vezes mais longas, pois seu período orbital é maior nesta proporção . Atualmente, a orientação do polo norte de Marte está próxima da estrela Deneb. Marte passou pelo seu afélio em março de 2010 e pelo seu periélio em março de 2011. Marte tem uma excentricidade orbital relativamente acentuada, de cerca de 0,09; entre os outros sete planetas do Sistema Solar, só Mercúrio mostra maior excentricidade. Sabe-se que, no passado, Marte teve uma órbita muito mais circular do que atualmente. Em um ponto há 1,35 milhão de anos terrestres, Marte tinha uma excentricidade de cerca de 0,002, muito menor do que a da Terra hoje. O ciclo de excentricidade de Marte é de 96 mil anos terrestres, comparado ao ciclo de 100 mil anos da Terra. O planeta tem um ciclo de excentricidade muito mais longo com um período de 2,2 milhões de anos terrestres e isso ofusca o ciclo de 96 mil anos nos gráficos de excentricidade. Durante os últimos 35 mil anos, a órbita de Marte foi ficando um pouco mais excêntrica por causa dos efeitos gravitacionais dos outros planetas. A menor distância entre a Terra e Marte continuará a diminuir ligeiramente nos próximos 25 mil anos. Habitabilidade e procura por vida. O entendimento atual de habitabilidade planetária – a viabilidade de um mundo desenvolver condições ambientais favoráveis ao surgimento de vida – favorece planetas que possuam água líquida em sua superfície. Isto frequentemente requer que a órbita de um planeta esteja dentro da zona habitável, que para o Sol se localiza entre logo depois de Vênus e aproximadamente o semieixo maior de Marte. Durante o periélio, Marte penetra nesta região, mas a fina (baixa pressão) atmosfera do planeta impede a existência de água líquida em grandes regiões por muito tempo. O fluxo de água líquida no passado demonstra o potencial do planeta para a habitabilidade. Evidência recente sugeriu que qualquer água na superfície marciana deve ter sido muito salgada e ácida para suportar uma vida terrestre regular. A falta de uma magnetosfera e a atmosfera extremamente fina de Marte são um desafio: o planeta possui pequena transferência de calor pela sua superfície, pouco isolamento contra o bombardeio do vento solar e pressão atmosférica insuficiente para reter água na forma líquida. Marte está quase, ou totalmente, geologicamente morto, e o fim da atividade vulcânica aparentemente interrompeu a reciclagem de materiais e produtos químicos entre a superfície e o interior do planeta. Existem evidências de que o planeta tenha sido significativamente mais habitável no passado que nos dias de hoje, mas o fato de que tenha albergado vida permanece incerto. As sondas "Viking" da década de 1970 continham dispositivos projetados para detectar microrganismos no solo marciano e tiveram alguns resultados positivos, inclusive um aumento temporário na produção de CO2 com a exposição a água e nutrientes. Este sinal de vida foi mais tarde contestado por cientistas, resultando em um debate intenso, com o cientista da NASA Gilbert Levin sustentando que a Viking pode ter encontrado vida. Uma reanálise dos dados da Viking, à luz do moderno conhecimento de formas extremófilas de vida, sugeriu que os testes da Viking não eram suficientemente sofisticados para detectar essas formas de vida e podem até mesmo ter matado uma hipotética forma de vida. Testes conduzidos pela sonda Phoenix Mars mostraram que o solo tem um pH alcalino e contém magnésio, sódio, potássio e cloro. Os nutrientes do solo podem ser capazes de suportar vida, mas a vida ainda assim teria que ser protegida da intensa luz ultravioleta. Análise recente do meteorito marciano EETA79001 encontrou 0,6 ppm de ClO4−, 1,4 ppm de ClO3− e 16 ppm de NO3−, a maior parte provavelmente de origem marciana. O ClO3− sugere a presença de outros compostos altamente oxidantes de cloro e oxigênio, como ClO2− e ClO, produzidos tanto por oxidação do Cl por ultravioleta quanto por radiólise do ClO4− por raios-X. Portanto, somente substâncias orgânicas ou formas de vida altamente refratárias ou bem protegidas (subsuperficiais) teriam chance de sobreviver. Uma análise de 2014 da Phoenix WCL mostrou que o Ca(ClO4)2 no solo da Phoenix não interagiu com água líquida de qualquer forma talvez nos últimos 600 milhões de anos. Se tivesse, o altamente solúvel Ca(ClO4)2 em contato com água líquida teria formado somente CaSO4. Isto sugere um ambiente extremamente árido, com mínima ou nenhuma interação com água líquida. Foi encontrado, em 2019, um grupo de compostos orgânicos, tiofenos, que normalmente ocorrem na Terra em querogênio, carvão e petróleo bruto, bem como em estromatólitos e microfósseis. Isso sugere um processo biológico, provavelmente envolvendo bactérias. Cientistas propuseram que os glóbulos de carbonato encontrados no meteorito ALH84001, que se acredita ter se originado em Marte, podem ser micróbios fossilizados que existiam em Marte quando o meteorito foi arrancado da superfície de Marte por um choque de meteoro há cerca de 15 milhões de anos. Esta proposta foi recebida com ceticismo e foi sugerida uma origem exclusivamente inorgânica para as formas. Pequenas quantidades de metano e metanal detectadas pelas sondas em Marte foram indicadas como possíveis evidências para a vida, uma vez que esses compostos químicos se decompõem rapidamente na atmosfera marciana. Entretanto, uma alternativa é que esses compostos sejam repostos por vulcões ou outros meios geológicos, como a serpentinização. Vidro formado pelo impacto de meteoros, que na Terra pode preservar sinais de vida, foi encontrado na superfície de crateras de impacto de Marte. Da mesma forma, este vidro poderia ter preservado sinais de vida se esta existisse no local. Em junho de 2018, a NASA informou que o rover "Curiosity" havia encontrado evidências de compostos orgânicos complexos de rochas com idade de aproximadamente 3,5 bilhões de anos, cujas amostras vieram de dois locais distintos em um lago seco na cratera Gale. As amostras de rochas, quando pirolisadas pelo instrumento da "Curiosity", liberaram uma série de moléculas orgânicas; estes incluem tiofenos contendo enxofre, compostos aromáticos tais como benzeno e tolueno, além de compostos alifáticos tais como propano e buteno. Os níveis de compostos orgânicos são 100 vezes maiores que as descobertas anteriores. Os autores especulam que a presença de enxofre pode ter ajudado a preservar os compostos orgânicos. Os produtos de decomposição se assemelham aos gerados pelo querogênio, um precursor do petróleo e do gás natural na Terra. A NASA afirmou que essas descobertas não são evidências de que a vida existiu no planeta, mas que os compostos orgânicos necessários para sustentar a vida microscópica estavam presentes. Devido à forma como a atmosfera marciana pode preservar esses compostos, pode haver fontes mais profundas de compostos orgânicos no planeta. Em julho de 2018, cientistas relataram a descoberta de um lago subglacial em Marte, o primeiro corpo estável de água conhecido no planeta. Ele fica a 1,5 km abaixo da superfície na base da calota polar sul e tem cerca de 20 quilômetros de largura. O lago foi descoberto usando o radar MARSIS a bordo da sonda Mars Express, e os dados foram coletados entre maio de 2012 e dezembro de 2015. O lago está localizado numa área plana que não exibe características topográficas peculiares. É principalmente cercado por terrenos mais altos, exceto em seu lado oriental, onde há uma depressão. Satélites naturais. Marte tem duas luas naturais relativamente pequenas — Fobos, com cerca de 22 quilômetros de diâmetro, e Deimos, com cerca de 12 quilômetros de diâmetro — que têm órbitas próximas ao planeta. Acredita-se que essas luas sejam asteroides capturados pelo campo gravitacional marciano, mas a sua origem verdadeira permanece incerta. Ambos os satélites foram descobertos em 1877 por Asaph Hall e foram nomeados em homenagem aos deuses Fobos (pânico/medo) e Deimos (terror/horror), que na mitologia grega acompanhavam seu pai, Ares, o deus da guerra, durante as batalhas. Marte era a contraparte romana de Ares. No grego moderno, porém, o planeta mantém seu antigo nome, "Ares" (Aris: "Άρης"). Vistos da superfície de Marte, os movimentos de Fobos e Deimos parecem muito diferentes do da Lua. Fobos nasce no oeste, se põe a leste e nasce novamente em apenas 11 horas. Deimos, por estar quase em órbita sincronizada — quando o período orbital iguala o período de rotação do planeta — nasce como esperado no leste, mas lentamente. Apesar da órbita de 30 horas de Deimos, ele leva 2,7 dias entre o nascente e o poente, para um observador no equador. Como a órbita de Fobos está abaixo da altitude síncrona, as forças de maré a partir de Marte estão gradualmente diminuindo a sua órbita. Em cerca de 50 milhões de anos, o satélite ou colidirá com a superfície marciana ou irá desintegrar-se em uma estrutura em forma de anel ao redor de Marte. A origem das duas luas não é bem compreendida. Seu baixo albedo e a composição de condrito carbonáceo foram considerados semelhantes aos de asteroides, apoiando a teoria de captura gravitacional. A órbita instável de Fobos parece apontar para uma captura relativamente recente. Mas ambas têm órbitas circulares, próximas do equador, o que é muito incomum para objetos capturados, já que a dinâmica de captura exigida é complexa. A possibilidade de acreção no início da história de Marte também é plausível, mas não é compatível com uma composição parecida com a de asteroides, em vez de com a do próprio planeta. Uma terceira possibilidade é o envolvimento de um terceiro corpo ou algum tipo de impacto. Linhas mais recentes de evidências sobre Fobos sugerem que o satélite tem um interior altamente poroso e uma composição contendo principalmente filossilicatos e outros minerais conhecidos de Marte, o que aponta a origem de Fobos para o material ejetado por um impacto em Marte e que foi reagrupado na órbita marciana, semelhante à teoria dominante para a origem da Lua da Terra. Embora os espectros VNIR () das luas de Marte se assemelhem aos de asteroides do cinturão externo, o espectro infravermelho termal de Fobos é inconsistente com condritos de qualquer tipo. Marte pode ter luas com menos de 50 ou 100 metros de diâmetro, e prediz-se a existência de um anel de poeira entre Fobos e Demos. Astronomia. Com a existência de várias sondas e "rovers", agora é possível estudar a astronomia do céu marciano. Fobos, uma das duas luas de Marte, tem cerca de um terço do diâmetro angular da Lua cheia como ela aparece na Terra, enquanto Deimos aparece mais ou menos com uma estrela e apenas um pouco mais brilhante do que Vênus na Terra. Vários fenômenos conhecidos na Terra foram observados em Marte, como meteoros e auroras. Uma passagem da Terra vista de Marte ocorrerá em 10 de novembro de 2084. Há também trânsitos de Mercúrio e de Vênus, e as luas Fobos e Deimos são de diâmetro angular tão pequeno que seus "eclipses solares" parciais são melhor considerados como trânsitos (ver Trânsito de Deimos em Marte). Em 19 de outubro de 2014, o cometa Siding Spring passou extremamente próximo a Marte (cerca de 140 mil quilômetros), tão perto que sua coma pode ter envolvido o planeta. Observação. Pela órbita de Marte ser excêntrica, a sua magnitude aparente em oposição ao Sol pode variar de -3,0 a -1,4. O brilho mínimo é de magnitude 1,6, quando o planeta está em conjunção com o Sol. Marte geralmente aparece distintamente amarelo, laranja ou vermelho; a cor real do planeta está mais próximo de caramelo, e a vermelhidão observada é apenas poeira na sua atmosfera. O "rover" "Spirit", da NASA, registrou imagens de uma paisagem marrom-esverdeada com pedras azul-acinzentadas e manchas de areia vermelho-claras. Quando mais distante da Terra, fica a mais de sete vezes mais longe de nosso planeta do que quando está próximo. Quando menos favoravelmente posicionado, ele pode ser perdido no brilho do Sol por meses. Em seus momentos mais favoráveis — em intervalos entre 15 e 17 anos, sempre entre o final de julho e o final de setembro — muitos detalhes de sua superfície podem ser vistos com um telescópio. Especialmente notáveis, mesmo com baixa ampliação, são as suas calotas polares. Conforme Marte se aproxima ao ponto de oposição, começa um período de movimento retrógrado em que o planeta parece se mover para trás, em um movimento de "looping" em relação às estrelas de fundo. A duração deste movimento retrógrado tem a duração de cerca de 72 dias e Marte atinge o seu pico de luminosidade no meio deste movimento. Maiores aproximações. Relativa. O ponto em que a longitude geocêntrica de Marte é 180° em relação ao Sol é conhecido como oposição, que está perto do momento de maior aproximação com a Terra. O momento da oposição pode ocorrer a até 8 ½ dias da maior aproximação. A distância nas maiores aproximações varia entre 54 e 103 milhões de quilômetros, devido às órbitas elípticas dos planetas, o que causa uma variação comparável em tamanho angular. A última oposição de Marte ocorreu em 8 de abril de 2014, a uma distância de cerca de 93 milhões de quilômetros. O tempo médio entre oposições sucessivas de Marte (o seu período sinódico) é de 780 dias, mas o número de dias entre as datas de oposições sucessivas pode variar entre 764 e 812. Absoluta, em torno do tempo presente. Marte fez a sua maior aproximação com a Terra e o seu brilho aparente máximo dos últimos 60 mil anos, km (0,372719 UA) e magnitude -2,88, em 27 de agosto de 2003 às 09h51min13 UTC. Isto ocorreu quando Marte estava a um dia da sua oposição e a cerca de três dias do seu periélio, tornando o planeta particularmente fácil de ver a partir da Terra. Estima-se que a última vez em que o planeta chegou tão perto foi em 12 de setembro de 57 617 a.C.; o próximo momento será no ano 2287. Esta aproximação recorde foi apenas ligeiramente mais próxima do que outras aproximações recentes. Por exemplo, a distância mínima em 22 de agosto de 1924 foi de 0,37285 UA e a distância mínima em 24 de agosto de 2208 será de 0,37279 UA. Estudo e exploração. Antiguidade e Idade Média. A existência de Marte como um objeto errante no céu noturno foi registrada por astrônomos do Egito Antigo e, em 1534 a.C., eles já estavam familiarizados com o movimento retrógrado do planeta. No período do Império Neobabilônico, os astrônomos babilônios faziam registros regulares das posições dos planetas e observações sistemáticas do seu comportamento. Sobre Marte, eles sabiam que o planeta fazia 37 períodos sinódicos, ou 42 circuitos do zodíaco, a cada 79 anos. Eles também inventaram métodos aritméticos para fazer pequenas correções para as posições previstas dos planetas. No século IV a.C., Aristóteles observou que Marte desaparecia por trás da Lua durante uma ocultação, indicando que o planeta estava mais distante. Ptolomeu, um grego que vivia em Alexandria, tentou resolver o problema do movimento orbital de Marte. O modelo de Ptolomeu e sua obra coletiva sobre astronomia foram apresentados no "Almagesto", que se tornou o principal tratado da astronomia ocidental nos quatorze séculos seguintes. A literatura da China antiga confirma que Marte era conhecido pelos astrônomos chineses no século IV. No século V d.C., o texto astronômico indiano "Surya Siddhanta" estimou o diâmetro de Marte. Nas culturas da Ásia Oriental, Marte era tradicionalmente conhecido como a “estrela de fogo”, com base nos Cinco elementos. Durante o século XVII, Tycho Brahe mediu a paralaxe diurna de Marte, que Johannes Kepler usou para fazer um cálculo preliminar da distância do planeta. Quando o telescópio se tornou disponível, a paralaxe diurna de Marte foi novamente medida em um esforço para determinar a distância Sol-Terra. Isto foi realizado pela primeira vez por Giovanni Domenico Cassini em 1672. As primeiras medições da paralaxe foram prejudicadas pela qualidade dos instrumentos. A única ocultação observada de Marte por Vênus foi a de 13 de outubro de 1590, vista por Michael Maestlin em Heidelberg. Em 1610, Marte foi visto por Galileu Galilei, que foi o primeiro a observá-lo através de um telescópio. A primeira pessoa a desenhar um mapa de Marte que exibia características da superfície foi o astrônomo holandês Christiaan Huygens. Canais. Por volta do século XIX, a resolução dos telescópios atingiu um nível suficiente para que as características da superfície de Marte pudessem ser identificadas. Uma oposição periélica de Marte ocorreu em 5 de setembro de 1877 e, naquele ano, o astrônomo italiano Giovanni Schiaparelli usou um telescópio de 22 cm em Milão para produzir o primeiro mapa detalhado do planeta vermelho. Estes mapas continham características chamadas por Schiaparelli de "canali", que mais tarde mostraram ser uma ilusão de óptica. Estes "canali" eram supostamente longas linhas retas na superfície de Marte para as quais ele deu nomes de rios famosos na Terra. Influenciado pelas observações, o orientalista Percival Lowell fundou um observatório que tinha um telescópio de 30 cm e outro de 45 cm. O observatório foi utilizado para a exploração de Marte durante uma última boa oportunidade, em 1894. Ele publicou vários livros sobre Marte e a vida no planeta, que tiveram uma grande influência sobre o público. Os "canali" também foram encontrados por outros astrônomos, como Henri Joseph Perrotin e Louis Thollon em Nice, usando um dos maiores telescópios do mundo naquela época. As mudanças sazonais (a diminuição das calotas polares e a formação de áreas escuras durante o verão marciano), em combinação com os canais, levaram a especulações sobre a presença de vida em Marte e fizeram surgir uma crença, mantida por muito tempo, de que Marte continha vastos mares e vegetação. O telescópio nunca chegou a uma resolução suficiente para provar quaisquer destas especulações. À medida que telescópios maiores foram usados, foram observados menos "canali" retos e longos. Durante uma observação em 1909 por Camille Flammarion com um telescópio de 84 cm, foram observados padrões irregulares, mas os "canali" não foram vistos. Mesmo na década de 1960, artigos foram publicados sobre a "biologia marciana", deixando de lado outras explicações para as mudanças sazonais do planeta. Cenários detalhados do metabolismo e dos ciclos químicos de um ecossistema funcional chegaram a ser publicados. Desde que uma nave espacial visitou o planeta durante as missões "Mariner" da NASA nos anos 1960 e 1970, estes conceitos foram radicalmente quebrados. Além disso, os resultados das experiências de detecção de vida pela "Viking" auxiliaram para que a hipótese de um planeta hostil e morto fosse geralmente aceita. A "Mariner 9" e a "Viking" forneceram dados que permitiram a obtenção de mapas melhores do planeta. Outro grande salto foi a missão "Mars Global Surveyor", lançada em 1996 e que funcionou até o final de 2006, e permitiu a obtenção de mapas completos e extremamente detalhados da topografia, campo magnético e minerais da superfície de Marte. Estes mapas estão agora disponíveis on-line, por exemplo, no Google Mars. O "Mars Reconnaissance Orbiter" e a "Mars Express" continuaram explorando com novos instrumentos e apoiando as sondas na superfície. A NASA fornece duas ferramentas on-line: Mars Trek, que apresenta visualizações do planeta a partir de dados de 50 anos de exploração, e a Experience Curiosity, que simula viagens em Marte em 3-D com a Curiosity. Exploração direta. Dúzias de naves espaciais não tripuladas, como sondas orbitais e "rovers", foram enviadas para Marte pela União Soviética, Estados Unidos, Europa e Índia para estudar a superfície, o clima e a geologia do planeta. Atualmente, a informação está sendo obtida por sete sondas ativas na superfície ou em órbita de Marte, sendo cinco orbitais e dois rovers, quais sejam: 2001 Mars Odyssey, Mars Express, Mars Reconnaissance Orbiter (MRO), MAVEN, Mars Orbiter Mission, Opportunity e Curiosity. O público pode solicitar imagens de Marte da MRO através do programa "HiWish". O "Mars Science Laboratory", chamado de "Curiosity", foi lançado em 26 de novembro de 2011 e chegou a Marte em 6 de agosto de 2012 (UTC). É maior e mais avançado do que os "Mars Exploration Rovers", com uma velocidade de até 90 metros por hora. Os experimentos incluem um analisador químico a laser que pode deduzir a composição de rochas a uma distância de 7 m. Em 10 de fevereiro de 2013, o Curiosity obteve as primeiras amostras de rochas profundas já retiradas de outro corpo planetário, utilizando a sua broca embarcada. A Organização Indiana de Pesquisa Espacial lançou a missão "Mars Orbiter Mission" em 5 de novembro de 2013, com o objetivo de analisar a atmosfera e a topografia marcianas. Equipada com sensores de metano, câmeras multi-espectrais, espectrômetros de imagem em infravermelho termal, fotômetros e outros itens em sua carga útil, a missão procura expandir a compreensão humana do Sistema Solar. Lançado de PSLV-C25, a missão "Mars Reconnaissance Orbiter" usou uma órbita de transferência de Hohmann para escapar da influência gravitacional da Terra e catapultar para uma viagem de nove meses até Marte. Essa é a primeira missão interplanetária bem-sucedida da Ásia e a sonda Mangalyaan estuda o planeta Marte desde 24 de setembro de 2014. A Agência Espacial Europeia, em colaboração com a Agência Espacial Federal Russa - Roscosmos, enviou a sonda ExoMars Trace Gas Orbiter (TGO) e a sonda de superfície Schiaparelli em março de 2016. O orbitador TGO conseguiu entrar na órbita marciana em 19 de outubro. Contudo, o contato com o pousador "Schiaparelli" EDM foi perdido quando este já estava próximo ao solo. Imagens feitas pela MRO da NASA comprovaram que a sonda impactou violentamente contra o solo marciano e foi totalmente destruída. Uma hipótese sugere que os retrofoguetes do pousador, que deveriam reduzir sua velocidade, se apagaram muito antes do esperado. Está planejado para maio de 2018 o lançamento da sonda de superfície InSight, juntamente com dois satélites CubeSats, que vão sobrevoar Marte e fornecer dados de telemetria da superfície. As sondas estão previstas para chegar a Marte em novembro de 2016. Em 2018 a ESA enviará o "rover" ExoMars. A NASA planeja lançar o seu "rover" astrobiológico Mars 2020 em 2020. A sonda Mars Hope, dos Emirados Árabes Unidos, está planejada para lançamento em 2020, atingindo a órbita de Marte em 2021. Ela tem o objetivo de fazer um estudo global da atmosfera marciana. Diversos planos para uma missão tripulada a Marte foram propostos ao longo do século XX e já no século XXI, mas nenhum plano em andamento tem data de chegada anterior a 2025. Impacto cultural. Marte é nomeado em homenagem ao deus romano da guerra. Em diferentes culturas, Marte representa a masculinidade e a juventude. Seu símbolo astronômico, um círculo com uma seta apontando para o lado superior direito, também é usado como símbolo do sexo masculino. As muitas falhas nas sondas de exploração de Marte resultaram em uma contracultura satírica que associa esses acidentes com a existência de um tipo de "Triângulo das Bermudas" entre a Terra e o planeta, alguma "maldição marciana" ou um “grande espírito maléfico das galáxias” que se alimentaria das sondas a Marte. A ideia popular de que Marte era povoado por marcianos inteligentes se popularizou no final do século XIX. As observações dos "canali" por Giovanni Schiaparelli, combinadas com os livros de Percival Lowell sobre o tema, propuseram a noção padrão de um planeta seco, frio e prestes a morrer, com obras de irrigação sendo feitas por civilizações antigas. Muitas outras observações e declarações de personalidades notáveis se somaram ao que tem sido chamado de "febre marciana". Em 1899, enquanto investigava o ruído de rádio atmosférico usando receptores em seu laboratório em Colorado Springs, o inventor Nikola Tesla observou sinais repetitivos que mais tarde ele imaginou serem comunicações de rádio vindas de outro planeta, possivelmente de Marte. Em uma entrevista de 1901, Tesla disse: Foi algum tempo depois que o pensamento passou em minha mente de que os distúrbios que eu tinha observado poderiam se dever a um controle inteligente. Embora eu não tenha conseguido decifrar o seu significado, para mim era impossível pensar neles como sendo inteiramente acidentais. Um sentimento está constantemente crescendo em mim de que eu tenha sido o primeiro a ouvir a saudação de um planeta para outro. As teorias de Tesla ganharam o apoio de Lord Kelvin que, ao visitar os Estados Unidos em 1902, teria dito que achava que Tesla tinha captado sinais marcianos que estavam sendo enviados aos Estados Unidos. No entanto, Kelvin negou "enfaticamente" esta declaração pouco antes de partir do país. "O que eu realmente disse foi que os habitantes de Marte, se houver algum, seriam, sem dúvida, capazes de ver Nova Iorque, especialmente o brilho da eletricidade". Em um artigo do "The New York Times" de 1901, Edward Charles Pickering, diretor do Harvard College Observatory, disse que tinha recebido um telegrama do Observatório Lowell, no Arizona, que parecia confirmar que Marte estava tentando se comunicar com a Terra. No início de dezembro de 1900 recebemos de Lowell, no Arizona, um telegrama afirmando que um raio de luz tinha sido visto projetando-se de Marte (o observatório Lowell tinha Marte como especialidade), com duração de 70 minutos. Eu enviei um telegrama com estes fatos para a Europa e enviei cópias através deste país. O observador é um homem confiável e cuidadoso e não há nenhuma razão para duvidar de que a luz existisse. Foi dada como partindo de um ponto geográfico bem conhecido em Marte. Isso foi tudo. Agora, a história foi para todo o mundo. Na Europa, afirma-se que eu tenho estado em comunicação com Marte e todos os tipos de exageros têm brotado. O que quer que a luz fosse, não há meios de saber. Se tinha inteligência ou não, ninguém pode dizer. É absolutamente inexplicável. Pickering mais tarde propôs a criação de um conjunto de espelhos, no Texas, destinados a sinalizar para os marcianos. Nas últimas décadas, o mapeamento de alta resolução da superfície marciana, culminando na sonda "Mars Global Surveyor", não revelou artefatos de habitação de qualquer tipo de vida "inteligente", mas a especulação pseudocientífica sobre a vida inteligente no planeta continua com comentaristas como Richard C. Hoagland. Remanescente da controvérsia sobre os "canali", algumas especulações são baseadas em características de pequena escala percebidas nas imagens espaciais, como "pirâmides" e a chamada "Face de Marte". O astrônomo planetário Carl Sagan escreveu: A representação de Marte na ficção foi estimulada por sua cor vermelha e pelas especulações científicas do século XIX de que suas condições de superfície não só poderiam suportar a vida, como também a vida inteligente. Isso originou um grande número de cenários de ficção científica, entre os quais está "A Guerra dos Mundos", de H. G. Wells, publicado em 1898, em que os marcianos tentam fugir de seu planeta moribundo e tentam invadir a Terra. Uma adaptação radiofônica posterior de "A Guerra dos Mundos" foi feita no dia 30 de outubro de 1938 por Orson Welles nos Estados Unidos e foi apresentada como um noticiário ao vivo. O episódio tornou-se notório por causar pânico público geral, quando muitos ouvintes confundiram a história com a realidade e saíram desesperados. Obras influentes retratam o planeta, como "Crônicas Marcianas" de Ray Bradbury, em que exploradores humanos acidentalmente destroem uma civilização marciana, a série "Barsoom" de Edgar Rice Burroughs, "Além do Planeta Silencioso" (1938) de C. S. Lewis e uma série de histórias de Robert A. Heinlein de meados dos anos 1960. O autor Jonathan Swift faz referência às luas de Marte cerca de 150 anos antes de sua descoberta por Asaph Hall, detalhando descrições razoavelmente precisas de suas órbitas no capítulo 19 de seu romance "As Viagens de Gulliver". O personagem cômico de um marciano inteligente chamado "Marvin, o Marciano" apareceu na televisão em 1948 como um personagem nos "Looney Tunes", da Warner Brothers, e continuou como parte da cultura popular desde então. Após as naves espaciais "Mariner" e "Viking" terem enviado imagens nítidas de Marte e revelado um mundo aparentemente sem vida e sem canais, essas ideias sobre o planeta tiveram que ser abandonadas e tem se desenvolvido uma moda de representações precisas e realistas sobre a colonização humana de Marte, como na trilogia "Mars" de Kim Stanley Robinson. Especulações pseudocientíficas sobre a "Face de Marte" e outros "monumentos" enigmáticos descobertos por sondas espaciais indicam que a ideia de civilizações antigas no planeta continua a ser um tema popular na ficção científica, especialmente no cinema.
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Metodologias de desenvolvimento de programas
Metodologias de desenvolvimento de programas
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Mercúrio (planeta)
Mercúrio (planeta) Mercúrio é o menor e mais interno planeta do Sistema Solar, orbitando o Sol a cada 87,969 dias terrestres. A sua órbita tem a maior excentricidade e o seu eixo apresenta a menor inclinação em relação ao plano da órbita dentre todos os planetas do Sistema Solar. Mercúrio completa três rotações em torno de seu eixo a cada duas órbitas. O periélio da órbita de Mercúrio apresenta uma precessão de segundos de arco por século, um fenômeno completamente explicado apenas a partir do século XX pela Teoria da Relatividade Geral formulada por Albert Einstein. A sua aparência é brilhante quando observado da Terra, tendo uma magnitude aparente que varia de −2,6 a 5,7, embora não seja facilmente observado pois sua separação angular do Sol é de apenas 28,3º. Uma vez que Mercúrio normalmente se perde no intenso brilho solar, exceto em eclipses solares, só pode ser observado a olho nu durante o crepúsculo matutino ou vespertino. Em uma média ao longo do tempo, Mercúrio (e não Vênus) é o planeta mais próximo da Terra, do que os outros planetas do Sistema Solar, como demostrado em um estudo publicado em março de 2019 na revista "". Segundo os pesquisadores Tom Stockman, Gabriel Monroe e Samuel Cordner, os métodos convencionais para o cálculo do "planeta mais próximo da Terra" são simples demais. Popularizou-se na ciência que Vênus seria o planeta mais próximo da Terra, por uma suposição errônea sobre a distância média entre os planetas. Um método matemático criado pelos pesquisadores, determinou que, quando se calcula a média ao longo do tempo, o vizinho mais próximo da Terra é, na verdade Mercúrio. Essa correção é relevante para mais do que apenas os vizinhos da Terra. A solução pode ser generalizada para incluir quaisquer dois corpos em órbitas aproximadamente circulares, concêntricas e coplanares. Usando o método mais preciso para estimar a distância média entre dois corpos em órbita, a conclusão foi que que essa distância é proporcional ao raio relativo das órbitas internas. Em relação a outros planetas, pouco se sabe a respeito de Mercúrio, pois telescópios em solo terrestre revelam apenas um crescente iluminado com detalhes limitados. As duas primeiras espaçonaves a explorar o planeta foram a Mariner 10, que mapeou aproximadamente 45% da superfície do planeta entre 1974 e 1975, e a MESSENGER, que mapeou outros 30% da superfície durante um sobrevoo em 14 de janeiro de 2008. O último sobrevoo ocorreu em setembro de 2009 e a nave entrou em órbita do planeta em 18 de março de 2011, quando começou a mapear o restante do planeta, numa missão com duração nominal de um ano terrestre. Mercúrio tem uma aparência similar à da Lua com crateras de impacto e planícies lisas, não possuindo satélites naturais nem uma atmosfera substancial. Entretanto, diferentemente da Lua, possui uma grande quantidade de ferro no núcleo que gera um campo magnético, cuja intensidade é cerca de 1% da intensidade do campo magnético da Terra. É um planeta excepcionalmente denso devido ao tamanho relativo de seu núcleo. A temperatura em sua superfície varia de 90 a 700 K (−183 °C a 427 °C). O ponto subsolar é a região mais quente e o fundo das crateras perto dos polos as regiões mais frias. As primeiras observações registradas de Mercúrio datam pelo menos do primeiro milênio antes de Cristo. Antes do século IV a.C., astrônomos gregos acreditavam que se tratasse de dois objetos distintos: um visível no nascer do sol, ao qual chamavam Apolo, e outro visível ao pôr do Sol, chamado de Hermes. O nome em português para o planeta provém da Roma Antiga, onde o astro recebeu o nome do deus romano Mercúrio, que tinha na mitologia grega o nome de Hermes (Ἑρμῆς). O símbolo astronômico de Mercúrio é uma versão estilizada do caduceu de Hermes. Estrutura interna. Mercúrio é um dos quatro planetas telúricos do Sistema Solar e seu corpo é rochoso como a Terra. É o menor planeta do sistema solar, com um raio equatorial de 2 439,7 km. Mercúrio é menor até que os dois maiores satélites naturais do sistema solar, as luas Ganimede e Titã, embora seja mais massivo. O planeta é formado de aproximadamente 70% de material metálico e 30% de silicatos. Sua densidade é a segunda maior do sistema solar, de 5,427 g/cm³, um pouco menor apenas do que a terrestre, de 5,515 g/cm³. Se o efeito da compressão gravitacional fosse retirado, os materiais constituintes de Mercúrio seriam mais densos, com uma densidade não comprimida de 5,3 g/cm³, contra a terrestre de 4,4 g/cm³. A densidade de Mercúrio pode ser utilizada para inferir detalhes de sua estrutura interna. Enquanto a alta densidade terrestre resulta consideravelmente da compressão gravitacional, particularmente no núcleo planetário, Mercúrio é muito menor e suas regiões internas não são tão comprimidas. Portanto, para ter a densidade que apresenta, seu núcleo deve ser relativamente maior e rico em ferro. O núcleo interno de metal preenche quase 85% do volume do planeta. Este grande núcleo - enorme comparado aos outros planetas rochosos do nosso sistema solar - é quase do mesmo tamanho que o núcleo interno sólido da Terra. Os geólogos estimam que o núcleo de Mercúrio ocupe aproximadamente 42% de seu volume, enquanto na Terra a proporção é de 17%. Pesquisas recentes sugerem que seu núcleo seja fundido. O núcleo é cercado por um manto com 500–700 km de espessura constituído de silicatos. Baseado nos dados da missão da "Mariner 10" e de observações terrestres, acredita-se que a crosta do planeta tenha entre 100 e 300 km de espessura. Um dos detalhes característicos da superfície do planeta é a presença de numerosas cristas estreitas, que podem se estender por centenas de quilômetros. Acredita-se que essas estruturas foram formadas quando o núcleo e manto se resfriaram e contraíram, numa época em que a crosta já estava solidificada. O núcleo de Mercúrio tem um teor de ferro maior que qualquer outro planeta no Sistema Solar, e várias teorias foram propostas para explicar esta característica. A mais amplamente aceita sugere que Mercúrio tinha originalmente uma razão metal/silicato similar a meteoros condritos, considerados como típicos da matéria rochosa do Sistema Solar, e uma massa aproximadamente 2,25 vezes a atual. No início da história do Sistema Solar, o planeta pode ter sido atingido por um planetesimal de aproximadamente um sexto de sua massa e várias centenas de quilômetros. Este impacto pode ter removido grande parte da crosta e manto originais, deixando o núcleo como o componente majoritário. Um processo similar, conhecido como a Hipótese do grande impacto, foi sugerido para explicar a formação da Lua ("ver Big Splash"). Outra teoria sugere que Mercúrio tenha sido formado a partir da nebulosa solar antes que a geração da energia solar tenha se estabilizado. O planeta teria inicialmente duas vezes a massa atual, mas à medida que o proto-Sol se contraiu, as temperaturas perto de Mercúrio poderiam estar entre 2 500 e 3 500 K, e possivelmente até superiores a 10 000 K. Grande parte da superfície rochosa do planeta teria se vaporizado a tais temperaturas, formando uma atmosfera de "vapor de rocha" que teria sido levada pelo vento solar. Uma terceira hipótese sugere que a nebulosa solar provocou o arrasto das partículas a partir das quais Mercúrio vinha acretando, o que significa que as partículas leves foram perdidas do material acretante. Cada uma destas hipóteses conduz a uma composição diferente da superfície e duas missões espaciais, MESSENGER e BepiColombo, têm como objetivo fazer observações para verificar sua constituição. A MESSENGER encontrou níveis de potássio e enxofre na superfície superiores aos esperados, sugerindo que a hipótese do impacto gigante e vaporização da crosta e manto não ocorreu, uma vez que o potássio e o enxofre teriam sido removidos pelo calor extremo desses eventos. As observações parecem favorecer a terceira hipótese, em que muitos materiais planetários mais leves foram removidos, levando a maiores concentrações metálicas. Geologia da superfície. A aparência da superfície do planeta é bem similar à da Lua, com extensos mares planos e grandes crateras, indicando que a atividade geológica está inativa há bilhões de anos. Uma vez que o conhecimento obtido da geologia de Mercúrio está baseado nas observações da sonda Mariner em 1975 e de observações terrestres, ele é o planeta telúrico menos compreendido. À medida que os dados da missão MESSENGER sejam processados este conhecimento aumentará. Como exemplo, foi descoberta uma cratera incomum com calhas radiantes, a qual os cientistas batizaram de "a aranha" Ela mais tarde recebeu o nome de Apolodoro. Os nomes de acidentes em Mercúrio têm várias origens, sendo que nomes de pessoas se limitam aos já falecidos. Crateras recebem o nome de artistas, músicos, pintores e autores que apresentaram contribuições fundamentais em seus campos. Cristas (dorsas) recebem nomes de cientistas que contribuíram para o estudo de Mercúrio. Depressões (fossae) recebem nomes de obras de arquitetura, montanhas (montes) pela palavra "quente" em várias línguas e planícies (planitiae) pela palavra "Mercúrio" em várias línguas. Escarpas (rupes) são nomeadas a partir de navios de expedições científicas e vales (valles) como instalações de telescópios. Acidentes de Albedo se relacionam a áreas de refletividade marcadamente diferentes, de acordo com a observação telescópica. Mercúrio possui Dorsas (também chamadas de "cristas enrugadas"), terras altas como as da Lua, Montes (montanhas), planícies ou planos, Escarpas e Vallis (Vales). Mercúrio foi intensamente bombardeado por cometas e asteroides durante e logo depois da sua formação há 4,6 bilhões de anos, como também durante um possível episódio subsequente denominado "Intenso bombardeio tardio", que se encerrou há 3,8 bilhões de anos. Durante esse período de intensa formação de crateras, o planeta recebeu impactos sobre toda a sua superfície, o que foi facilitado pela ausência de qualquer atmosfera que diminuísse os impactos. Durante esse período o planeta teve atividade vulcânica e bacias como a Caloris foram preenchidas por magma do interior planetário, que produziram planícies suaves similares aos mares lunares. Dados do sobrevoo da MESSENGER de outubro de 2008 forneceram aos pesquisadores uma melhor avaliação da natureza confusa da superfície mercuriana. Sua superfície é mais heterogênea que a marciana ou lunar, as quais contêm falhas significativas de geologia similar, como os mares e platôs. Bacias de impacto e crateras. As crateras de impacto em Mercúrio variam desde pequenas cavidades em forma de tigelas até bacias de impacto com multi-anéis de centenas de quilômetros de tamanho. Elas aparecem em todos os estados de degradação, de crateras raiadas relativamente intactas até remanescentes de crateras altamente degradadas. Crateras mercurianas diferem sutilmente das lunares em função de a área coberta pela matéria ejetada ser muito menor, devido à ação de uma força gravitacional mais forte. A maior cratera conhecida é a bacia Caloris, que possui um diâmetro de 1 550 km. O impacto que criou a bacia Caloris foi tão forte que causou erupções de lava e deixou um anel concêntrico com mais de 2 km de altura em volta do local do impacto. Na antípoda da bacia Caloris existe uma grande região conhecida como "Terreno Esquisito". Uma das hipóteses de sua origem seria que as ondas de choque geradas pelo impacto na bacia Caloris viajaram em torno do planeta, convergindo na antípoda da bacia. As altas tensões resultantes fraturaram a superfície. Outra teoria sugere que o terreno foi formado com um resultado da convergência da ejecta nesta antípoda da bacia. Ao todo, aproximadamente 15 bacias de impacto foram identificadas na área mapeada de Mercúrio. Uma bacia notável é a Bacia Tolstoj, com 400 km de tamanho e multi-anéis, que teve material ejetado cobrindo uma extensão de mais de 500 km da sua borda e um piso que foi preenchido por materiais de planícies suaves. A bacia Beethoven tem um tamanho similar de material ejetado e uma borda de 625 km de diâmetro. Assim como a Lua, a superfície de Mercúrio sofreu os efeitos de processos de erosão espacial, incluindo o vento solar e impactos de micrometeoritos. Planícies. Existem duas regiões planas geologicamente distintas em Mercúrio. Planícies suavemente onduladas nas regiões entre as crateras de Mercúrio são as mais antigas superfícies visíveis, anteriores aos terrenos com muitas crateras. Essas planícies inter-crateras são distribuídas uniformemente por toda a superfície do planeta e parecem ter obliterado muitas crateras anteriores; elas apresentam uma escassez geral de crateras de diâmetro menor que 30 km. Ainda não está claro se elas são de origem vulcânica ou originadas de impactos. Planícies suaves são áreas achatadas espalhadas que preenchem depressões de vários tamanhos e têm uma forte semelhança com os mares lunares. Notavelmente, elas preenchem um largo anel em torno da bacia Caloris. Ao contrário dos mares lunares, as planícies suaves de Mercúrio têm o mesmo albedo que as planícies inter-crateras mais antigas. Apesar da ausência de características vulcânicas inequívocas, a localização e o formato arredondado destas planícies sugerem sua origem vulcânica. Todas essas planícies suaves foram formadas significativamente depois da bacia Caloris, como evidenciado pela densidade de crateras menor do que onde houve ejeção de material de Caloris. O piso da bacia Caloris é preenchido por uma planície geologicamente distinta, quebrada por rugas e fraturas em um padrão aproximadamente poligonal. Não está claro se são lavas vulcânicas induzidas pelo impacto, ou um grande lençol de material derretido pelo impacto. Uma característica típica da superfície do planeta são as numerosas dobras de compressão, ou rupes, que cruzam as planícies. À medida que o interior do planeta se resfriou, ele pode ter se contraído e sua superfície começou a se deformar, criando estas formações. As dobras podem ser vistas no topo de outras formações, tais como crateras e planícies, indicando que as dobras são mais recentes. A superfície planetária sofre significativo efeito de marés provocado pelo Sol, que é 17 vezes mais forte que o efeito da Lua sobre a Terra. Superfície e exosfera. A temperatura média da superfície de Mercúrio é de 169,35 °C (442,5 K), mas varia numa faixa de -173,15 °C (100 K) a 426,85 °C (700 K) devido à ausência de atmosfera e a um abrupto gradiente de temperatura entre o equador e os polos. O ponto subsolar alcança aproximadamente 700 K durante o periélio e então cai para 550 K durante o afélio. No lado escuro do planeta, a temperatura média é de 110 K (-163,15 °C). A intensidade da luz solar na superfície varia entre 4,59 e 10,61 vezes a constante solar (1 370 W•m−2). Apesar de as temperaturas serem em geral extremamente altas em sua superfície, as observações sugerem a presença de gelo no planeta. Os pisos de crateras profundas nos polos nunca são expostos diretamente à luz solar, e a temperatura ali permanece abaixo de 102 K, bem abaixo da temperatura média global O gelo reflete com grande intensidade o radar, e observações do Observatório Goldstone e do VLA no início da década de 1990 revelaram a presença de áreas com grande reflexão do radar perto dos polos. Embora o gelo não seja a única causa possível dessas regiões reflexivas, os astrônomos acreditam que seja a mais provável. Acredita-se que as regiões geladas tenham aproximadamente 1014 a 1015 kg de gelo, e podem estar cobertas por uma camada de regolitos que inibe a sublimação. Em comparação, a camada de gelo sobre a Antártica tem uma massa de aproximadamente 4 kg e a calota polar do sul de Marte tem 1016 kg de água. A origem do gelo em Mercúrio ainda não é conhecida, mas as duas fontes mais prováveis são a degaseificação do interior do planeta ou a deposição pelo impacto de cometas. Mercúrio é muito pequeno e quente para sua gravidade reter qualquer atmosfera significativa por um longo período de tempo, entretanto possui uma "tênue exosfera na superfície". A sonda MESSENGER encontrou altas proporções de hidróxidos, magnésio, silício, hidrogênio, hélio, oxigênio, sódio, cálcio e potássio na exosfera. Essa exosfera não é estável — átomos são continuamente perdidos e repostos de várias fontes. O hidrogênio e o hélio provavelmente provêm do vento solar, difundido na magnetosfera mercuriana antes de escapar de volta para o espaço. O decaimento radioativo de elementos do interior da crosta é outra fonte de hélio, assim como de sódio e potássio. O vapor de água presente provém de uma combinação de processos tais como cometas atingindo a superfície, pulverização catódica através do hidrogênio do vento solar e oxigênio das rochas, e sublimação de reservatórios de gelo na sombra permanente das crateras polares. A detecção de grandes quantidades dos íons O+, OH-, e H2O+ foi uma surpresa. Dada a quantidade que foi detectada no ambiente espacial de Mercúrio, os cientistas supõem que essas moléculas foram arrancadas da superfície do planeta ou da exosfera pelo vento solar. O sódio, o potássio e o cálcio foram descobertos na atmosfera durante as décadas de 1980 e 1990 e acredita-se que sejam primariamente o resultado da vaporização de rochas da superfície pelo impacto de micrometeoritos. Estudos indicam que às vezes emissões de sódio são localizadas em pontos que correspondem ao dipolo magnético do planeta, indicando a interação entre a magnetosfera e a superfície do planeta. Campo magnético e magnetosfera. Apesar do seu pequeno tamanho e lenta velocidade de rotação em 59 dias, Mercúrio tem um campo magnético significativo e aparentemente global. De acordo com medições realizadas pela sonda Mariner 10, sua força é de aproximadamente 1,1% do terrestre, sendo de cerca de 300 nT na linha do equador do planeta. Como o da Terra, o campo magnético de Mercúrio é dipolar, mas diferentemente da Terra, os polos de Mercúrio estão quase alinhados com o eixo de rotação do planeta. As medidas feitas pelas sondas Mariner 10 e MESSENGER indicaram que a força e formato do campo magnético são estáveis. É provável que o campo magnético seja gerado por meio de um efeito dínamo, de modo similar ao campo terrestre. Este efeito dínamo seria resultado da circulação do núcleo líquido rico em ferro. O efeito de maré provocado pela alta excentricidade orbital do planeta serviria para manter o núcleo no estado líquido necessário para a existência deste efeito dínamo. O campo magnético mercuriano é forte o suficiente para defletir o vento solar em torno do planeta, criando uma magnetosfera que, apesar de ser menor que a Terra, é forte o suficiente para capturar o plasma do vento solar, contribuindo assim para a erosão espacial na superfície do planeta. Observações feitas pela sonda Mariner 10 detectaram plasma de baixa energia na magnetosfera do planeta no lado escuro e explosões de partículas energéticas foram detectadas na magnetocauda do planeta, o que indica uma qualidade dinâmica da magnetosfera. Durante seu segundo sobrevoo do planeta em 6 de outubro de 2008, a sonda MESSENGER descobriu que o campo magnético pode ser extremamente “furado”. A sonda encontrou “tornados” magnéticos – feixes deformados do campo magnético conectando o campo magnético planetário com o espaço sideral – que tinham até 800 km de largura, ou um terço do raio do planeta. Estes tornados são formados quando campos magnéticos carregados pelo vento solar são conectados ao campo mercuriano. À medida que o vento solar empurra o campo magnético, estes campos magnéticos conectados são carregados junto e misturados em estruturas parecidas com um vórtice. Estes tubos de fluxos magnéticos misturados, tecnicamente conhecidos como eventos de transferência de fluxos, formam aberturas no escudo magnético do planeta através do qual o vento solar pode penetrar e atingir diretamente a superfície de Mercúrio. O processo de ligação dos campos magnéticos planetário e interplanetário, chamado de reconexão magnética, é comum no espaço e ocorre no campo magnético terrestre da mesma forma. Todavia, a sonda MESSENGER observou que a taxa de reconexões em Mercúrio é dez vezes maior que a terrestre. A proximidade do Sol contribui com apenas um terço da taxa observada pela MESSENGER. Órbita e rotação. Mercúrio tem excentricidade orbital de 0,21, a maior entre todos os planetas, com a distância do Sol variando de 46 a 70 milhões de quilômetros; ele leva 87,969 dias terrestres para completar um período de translação. O diagrama à esquerda ilustra os efeitos da excentricidade, mostrando a órbita de Mercúrio sobrepondo uma órbita circular com o mesmo semieixo maior. A velocidade maior do planeta quando está perto do periélio é claramente mostrada pela distância maior coberta num intervalo de cinco dias. O tamanho das esferas é inversamente proporcional a sua distância do Sol e é utilizado para ilustrar a variação da distância heliocêntrica. Esta variação da distância do Sol, combinada com uma ressonância orbital de 3:2 da rotação do planeta em torno de seu eixo, resulta em complexas variações da temperatura da superfície. Esta ressonância faz com que um dia em Mercúrio dure exatamente dois anos, ou seja, cerca de 176 dias terrestres. A órbita mercuriana está inclinada em 7º em relação ao plano da órbita da Terra (a eclíptica), conforme mostrado no diagrama à direita. Como resultado, o trânsito de Mercúrio sobre o Sol ocorre apenas quando o planeta está cruzando o plano da eclíptica terrestre quando está entre a Terra e o Sol, evento que acontece em média a cada sete anos. A inclinação axial mercuriana é quase zero, sendo de 0,027º o melhor valor medido. Este valor é significativamente menor que a inclinação de Júpiter, que ostenta a segunda menor inclinação de todos os planetas, com 3,1 graus. Isto significa que, para um observador no polo de Mercúrio, o centro do Sol nunca ascenderia mais de 2,1 minutos de arco acima do horizonte. Em certos pontos da superfície do planeta, um observador veria o Sol subir até aproximadamente a metade do caminho e então reverter e se pôr antes de nascer novamente, tudo isso no mesmo dia mercuriano. Isto ocorre porque, aproximadamente quatro dias terrestres antes do periélio, a velocidade orbital angular se iguala à velocidade rotacional angular, então o movimento aparente do Sol cessa; no periélio, a velocidade orbital angular então excede a rotacional e assim o Sol aparece num movimento retrógado. Quatro dias após o periélio, o movimento aparente do Sol reinicia-se nesses pontos. Mercúrio atinge a conjunção inferior (aproximação da Terra) a cada 116 dias terrestres, em média, mas este intervalo pode variar entre 105 e 129 dias, devido à órbita excêntrica do planeta. Mercúrio pode se aproximar a até 77,3 milhões de quilômetros da Terra, mas ele só se aproximará a 80 Gm (gigametros) no ano 28 622. A próxima aproximação a 82,1 GM será em 2679, e a 82 Gm em 4487. O seu período de movimento retrógrado, para um observador na Terra, pode variar entre 8 e 15 dias em cada lado da conjunção inferior. Esta grande variação se deve à alta excentricidade orbital do planeta. Ressonância rotação-translação. Por muitos anos acreditou-se que Mercúrio estava sincronizado pelo efeito de maré com o Sol, rotacionando uma vez para cada translação e mantendo sempre a mesma face voltada para o Sol, do mesmo modo que o mesmo lado da Lua está sempre voltado para a Terra. Entretanto, observações de radar em 1965 provaram que o planeta tem uma ressonância roto-translacional de 3:2, rotacionando três vezes para cada duas translações em torno do Sol; a excentricidade da órbita de Mercúrio torna a ressonância estável – no periélio, quando a maré solar é mais forte, o Sol fica quase parado no céu mercuriano. A razão original para os astrônomos acreditarem que Mercúrio estava sincronizado era porque toda vez que ele estava numa condição ótima de observação, estava sempre perto do mesmo ponto da ressonância, portanto mostrando a mesma face. Isto ocorre porque, coincidentemente, a rotação de Mercúrio tem quase a metade do período sinódico em relação à Terra. Devido à ressonância 3:2 roto-translacional mercuriana, um dia solar (o comprimento entre dois trânsitos meridianos do Sol) dura aproximadamente 176 dias terrestres. Um dia sideral (o período de rotação) dura aproximadamente 58,7 dias terrestres. Simulações indicam que a excentricidade orbital de Mercúrio varia caoticamente de quase zero (circular) a mais de 0,45 ao longo de milhões de anos, devido a perturbações provocadas por outros planetas. Acredita-se que isto explique a ressonância 3:2 roto-translacional (em vez da mais usual 1:1), uma vez que este estado é mais provável de surgir num período de alta excentricidade. Simulações numéricas mostram que uma interação orbital ressonante com Júpiter pode levar a excentricidade orbital de Mercúrio a aumentar a ponto de o planeta ter uma probabilidade de 1% de se chocar com Vênus nos próximos 5 bilhões de anos. Avanço do periélio. Em 1859, o matemático e astrônomo francês Urbain Le Verrier relatou que a lenta precessão da órbita de Mercúrio em torno do Sol não poderia ser completamente explicada pela mecânica Newtoniana e por perturbações dos planetas conhecidos. Ele sugeriu, entre as possíveis explicações, que outro planeta (ou talvez uma série de ‘corpúsculos’ menores) poderia existir em uma órbita solar até menor que a de Mercúrio, para dar uma explicação para esta perturbação. O sucesso na busca por Netuno baseada nas perturbações da órbita de Urano levou os astrônomos a dar fé a esta possível explicação, e o hipotético planeta foi até nomeado de Vulcano. Entretanto, tal planeta nunca foi encontrado. A precessão de Mercúrio é de 5 600 segundos de arco (1,5556°) por século em relação à Terra e a mecânica newtoniana, levando em conta todos os efeitos de outros planetas, prevê uma precessão de 5 557 segundos de arco (1,5436°) por século. No início do século XX, a Teoria da Relatividade Geral de Albert Einstein apresentou a explicação para o fenômeno observado da precessão. O efeito é bem pequeno: o avanço relativístico do periélio mercuriano é de apenas 42,98 segundos de arco por século, portanto é necessário um pouco mais de doze milhões de translações para uma volta adicional completa. O efeito ocorre de modo similar em outros planetas, embora seja muito menor, sendo de 8,62 segundos de arco por século para Vênus, 3,84 para a Terra, 1,35 para Marte e 10,05 para Ícarus 1566. A distorção do espaço-tempo do sol também altera a forma como os outros planetas puxam Mercúrio. O efeito combinado estimado da deformação causada pelos planetas é tão pequeno que levaria 2 bilhões de anos para adicionar um grau à rotação da órbita de Mercúrio. Sistema de coordenadas. A longitude de Mercúrio aumenta na direção oeste e uma pequena cratera chamada Hun Kal é o ponto de referência para a medida da longitude. O centro de Hun Kal está a 20° de longitude oeste. Observação. A magnitude aparente mercuriana varia entre -2,6 – mais brilhante que Sirius (a estrela mais brilhante) – e 5,7 (aproximadamente o limite teórico de visibilidade a olho nu), ocorrendo os extremos quando Mercúrio está bem perto do Sol no céu. A observação do planeta é complicada devido a sua proximidade do Sol, já que ele se perde no brilho solar por grande parte do tempo. Mercúrio pode ser observado apenas num curto período durante o crepúsculo matinal ou vespertino. O Telescópio Espacial Hubble não pode observar o planeta, devido a procedimentos de segurança que impedem que seja apontado para tão perto do Sol. Assim como outros planetas e estrelas mais brilhantes, Mercúrio pode ser visto durante eclipses totais do Sol. Como a Lua e Vênus, Mercúrio possui fases quando observado da Terra, sendo a "nova" a conjunção inferior e a "cheia" a conjunção superior. O planeta fica invisível em ambas as ocasiões por causa da proximidade relativa do Sol. Mercúrio é tecnicamente mais brilhante, quando observado da Terra, em sua fase “cheia”. Embora o planeta esteja nesta fase em sua maior distância da Terra, a maior área iluminada visível e o efeito da oposição mais do que compensam a distância. O oposto acontece com Vênus, que aparece mais brilhante na fase crescente, porque está muito mais perto da Terra do que quando está convexa. Entretanto, a aparição mais brilhante de Mercúrio (fase “cheia”) é uma ocasião impossível para a observação prática, por causa da extrema proximidade do Sol. Mercúrio é mais bem observado no primeiro e último quartos, embora sejam fases de menor brilho. Essas fases ocorrem na maior elongação leste e oeste, respectivamente. Nessas duas oportunidades, a separação de Mercúrio do Sol varia entre 17,9° no periélio e 27,8° no afélio. A maior elongação oeste é a ocasião em que Mercúrio nasce mais cedo antes do Sol, enquanto a maior elongação leste é quando ele se põe mais tarde depois do Sol . Mercúrio é mais facilmente visível nas latitudes tropicais e subtropicais do que em latitudes maiores, o que é o resultado de dois efeitos: (i) o Sol ascende e descende em ângulos maiores no horizonte, portanto o período de crepúsculo é menor, e (ii) em certas épocas do ano, a eclíptica faz interseção com o horizonte em um ângulo muito grande, significando que Mercúrio pode estar relativamente alto (a até 28°) em um céu totalmente escuro. Essas condições podem existir, por exemplo, depois do por do sol perto do equinócio da primavera, em março/abril no sul dos Estados Unidos ou em setembro/outubro na África do Sul e Australásia. De forma inversa, a visão antes da alvorada é mais fácil perto do equinócio do outono. Em latitudes temperadas, a observação é frequentemente mais fácil do hemisfério sul terrestre do que do norte, porque no hemisfério sul as elongações máximas a oeste do Sol ocorrem no início do outono e as elongações máximas a leste no final do inverno. Em ambos os casos, o ângulo de Mercúrio com a eclíptica é maximizado, permitindo que ele nasça várias horas antes do Sol na primeira situação e várias horas após o por do Sol em países localizados na zona sul temperada, tais como Argentina e Nova Zelândia. Por outro lado, nos principais centros populacionais das altas latitudes ao norte, Mercúrio nunca está acima do horizonte em condições de luminosidade adequadas. Observações de Mercúrio por telescópio baseadas na Terra revelam apenas um disco parcial iluminado, com detalhe limitado. A primeira das duas naves espaciais a visitar o planeta foi a Mariner 10, que mapeou cerca de 45 % da superfície entre 1974 e 1975. A segunda é a nave MESSENGER que, depois de três sobrevoos de Mercúrio entre 2008 e 2009, entrou em órbita em 17 de março de 2011, para mapear e estudar o restante do planeta. Estudos. Astronomia antiga. As mais antigas observações registradas de Mercúrio são das tabelas de Mul.Apin. Estas observações foram provavelmente feitas por um astrônomo assírio por volta do século XIV a.C. A escrita cuneiforme utilizada para designar o planeta na tabela é transcrita como UDU.IDIM.GU4.UD (“O planeta que pula”) Registros babilônicos de Mercúrio datam do primeiro milênio a.C., quando o planeta era chamado de Nabu, o mensageiro dos deuses em sua mitologia. Os gregos da antiguidade do período de Hesíodo conheciam o planeta como Στίλβων ("Stilbon"), que significa "o resplandecente", e Ἑρμάων ("Hermaon"). Posteriormente, os gregos chamaram o planeta de Apolo quando estava visível no céu da manhã e Hermes quando visível no entardecer. Por volta do século IV a.C. os astrônomos gregos perceberam que os dois nomes se referiam ao mesmo corpo celeste, Hermes (Ερμής: Ermis), nome planetário que foi mantido no grego moderno. Os romanos batizaram o planeta com o nome do seu deus mensageiro com asas nos pés, Mercúrio (em latim, "Mercurius"), equivalente ao grego Hermes, em virtude de o astro cruzar o firmamento mais rápido que qualquer outro planeta. O símbolo astronômico para Mercúrio é uma versão estilizada do caduceu de Hermes. O astrônomo romano-egípcio Ptolomeu escreveu sobre a possibilidade de trânsitos planetários sobre a face do Sol em seu trabalho ‘’’Hipóteses Planetárias’’’. Ele sugeriu que não haviam sido observados trânsitos porque planetas como Mercúrio eram pequenos demais para serem vistos ou porque os trânsitos eram muito pouco frequentes. Na China antiga, Mercúrio era conhecido como Ch’em-Hsing, a estrela da hora, e estava associado com a direção do norte e a fase da água no Wu Xing. A mitologia hindu utilizava o nome Buda para Mercúrio e acreditava-se que este deus presidia a quarta-feira; No paganismo germânico, o astro era representado pelo deus Odin (ou ‘’Woden’’), também associado a este dia da semana. A civilização maia pode ter representado o planeta como uma coruja (ou possivelmente quatro corujas, duas para a manhã e duas para a tarde), que servia com mensageira para o mundo dos mortos. Na astronomia indiana antiga, o Surya Siddhanta, um texto astronômico indiano do século V, estimava o diâmetro de Mercúrio em 3 008 milhas, um erro de menos de 1% do diâmetro atualmente aceito, de 3 032 milhas (4 880 km). Entretanto, esta estimativa se baseava em uma medição imprecisa do diâmetro angular do planeta em 3 minutos de arco. Na astronomia islâmica medieval, o astrônomo de Al-Andalus Abū Ishāq Ibrāhīm al-Zarqālī representou no século XI o epiciclo da órbita geocêntrica mercuriana como uma oval (tal como um ovo ou um pinhão), embora esta indicação não tenha influenciado sua teoria ou seus cálculos astronômicos. No século XII, Ibn Bajjah observou "dois planetas como pontos pretos na superfície do Sol", o que foi posteriormente sugerido como trânsito de Mercúrio e/ou Vênus pelo astrônomo Qotb al-Din Shirazi, do observatório Maragheh no século XIII. Entretanto, a maioria dos registros medievais de trânsitos foram posteriormente interpretados como observações de manchas solares. Na Índia, o astrônomo Nilakantha Somayaji, da escola Kerala, desenvolveu no século XV um sistema planetário parcialmente heliocêntrico em que Mercúrio orbitava o Sol, que por sua vez orbitava a Terra, de forma similar ao Sistema de Tycho proposto no final do século XVI por Tycho Brahe. Pesquisas baseadas em observações terrestres. As primeiras observações telescópicas de Mercúrio foram feitas por Galileu no início do século XVII, e embora ele tenha visto fases em Vênus, seu telescópio não era potente o suficiente para visualizar as fases mercurianas. Em 1631, Pierre Gassendi fez a primeira observação do trânsito astronômico de um planeta sobre o disco solar, quando observou um trânsito de Mercúrio previsto por Johannes Kepler. Em 1639, Giovanni Zupi descobriu que o planeta tinha fases orbitais, tal como a Lua e Vênus. Esta observação demonstrou conclusivamente que Mercúrio orbitava o Sol. Um evento raro na astronomia é a passagem de um planeta à frente de outro (ocultação), quando observado da Terra. Mercúrio e Vênus se ocultam com uma frequência de alguns séculos, e o único evento deste tipo historicamente observado foi em 28 de maio de 1737, por John Bevis do Observatório de Greenwich. A próxima ocultação de Mercúrio por Vênus ocorrerá em 3 de dezembro de 2133. As dificuldades inerentes à observação de Mercúrio implicam que este foi de longe o menos estudado dos planetas. Em 1800, Johann Schröter fez observações de acidentes da superfície, afirmando ter observado montanhas de 20 km de altura. Friedrich Bessel utilizou os desenhos de Schröter e erroneamente estimou o período de rotação em 24 horas e uma inclinação axial de 70º. Na década de 1880, Giovanni Schiaparelli mapeou o planeta com uma exatidão maior e sugeriu que o período rotacional era de 88 dias, o mesmo que o período orbital devido ao efeito de maré. Este fenômeno é conhecido como rotação sincronizada e é observado na Lua terrestre. Os esforços para mapear a superfície de Mercúrio foram continuados por Eugenios Antoniadi, que publicou um livro em 1934 que incluía mapas e suas próprias observações. Muitos dos acidentes da superfície do planeta, particularmente as formações de albedo, têm seus nomes retirados dos mapas de Antoniadi. Em junho de 1962, cientistas soviéticos do Instituto de Rádio-engenharia e Eletrônica da Academia de Ciências da União Soviética, liderados por Vladimir Kotelnikov, tornaram-se os primeiros a enviar sinais de radar para Mercúrio e receber respostas, iniciando as observações por radar do planeta. Três anos mais tarde, observações de radar dos estadunidenses Gordon Pettengill e R. Dyce, utilizando um radiotelescópio de 300 m do Observatório de Arecibo, em Porto Rico, demonstraram conclusivamente que o período rotacional do planeta era de cerca de 59 dias terrestres. A teoria de que a rotação de Mercúrio estava sincronizada tinha se tornado amplamente aceita, e foi uma surpresa para os astrônomos quando estas observações foram anunciadas. Se Mercúrio estivesse sincronizado pelo efeito de maré, sua face escura deveria ser extremamente fria, porém as medições por emissões de rádio revelaram que ela era muito mais quente que o esperado. Os astrônomos foram relutantes em abandonar a teoria da rotação sincronizada e propuseram mecanismos alternativos, tais como poderosos ventos distribuidores de calor, para explicar estas observações. O astrônomo italiano Giuseppe Colombo percebeu que o valor da rotação era aproximadamente dois terços do período de translação mercuriano, e propôs que os períodos de translação e rotação estavam sincronizados numa relação de 3:2, e não de 1:1. Dados da sonda espacial Mariner 10 confirmaram posteriormente este teoria. Isto significa que os mapas de Schiaparelli e Antoniadi não estavam “errados”. Na verdade, os astrônomos viram as mesmas características durante cada “segunda” órbita e as registraram, mas negligenciaram aquelas vistas no meio tempo, quando a outra face de Mercúrio estava voltada para o Sol, uma vez que a geometria orbital implicava em que estas observações fossem feitas sob condições de visibilidade ruins. Observações ópticas terrestres não revelaram muito sobre a estrutura do planeta, mas rádio-astrônomos utilizando interferometria em comprimentos de onda de microondas, uma técnica que permite a remoção da radiação solar, puderam discernir propriedades físicas e químicas de camadas sob a superfície numa profundidade de vários metros. Somente quando a primeira sonda espacial foi enviada é que muitas das propriedades mais fundamentais do planeta foram conhecidas. Todavia, avanços tecnológicos recentes têm melhorado as observações terrestres. Em 2000, observações em alta resolução pelo método "Lucky imaging" foram conduzidas pelo Observatório Monte Wilson e forneceram as primeiras visões com resolução para acidentes da superfície que não foram fotografadas pela missão Mariner. Imagens posteriores evidenciaram uma grande bacia de impacto com um anel duplo, maior ainda que a Bacia Caloris na região não fotografada pela Mariner, a qual foi informalmente apelidada de "Bacia Skinakas". Imagens posteriores mostraram evidência de uma grande bacia de impacto com duplo anel, ainda maior que a bacia Caloris, no hemisfério não fotografado pela Mariner, que foi informalmente denominada bacia Skinakas. A maior parte da superfície foi mapeada pelo telescópio de Arecibo, com uma resolução de 5 km, inclusive depósitos polares nas regiões de sombra das crateras, que podem ser de gelo. Pesquisa com sondas espaciais. Alcançar Mercúrio a partir da Terra apresenta desafios técnicos significativos, uma vez que o planeta orbita o Sol muito mais próximo do que a Terra. Uma espaçonave lançada da Terra precisa viajar por 91 milhões de quilômetros na direção do poço de potencial gravitacional do Sol. A velocidade orbital mercuriana é de 48 km/s, enquanto a terrestre é de 30 km/s, portanto a espaçonave precisa realizar uma grande mudança em sua velocidade (delta-v) para entrar na órbita de transferência de Hohmann que passa perto de Mercúrio, comparada com o delta-v necessário para outras missões planetárias. A energia potencial liberada pelo movimento em direção ao poço de potencial solar torna-se energia cinética, exigindo outra grande alteração no delta-v para evitar passar rapidamente direto por Mercúrio. Para pousar com segurança ou entrar em órbita estável, a espaçonave deve contar com motores de foguetes, pois a aerofrenagem está fora de cogitação por causa da tênue atmosfera. Uma viagem para Mercúrio exige mais combustível do que para escapar completamente do sistema solar. Como resultado, apenas duas sondas espaciais foram enviadas ao planeta até o momento. Uma alternativa de aproximação proposta seria a utilização de velas solares para atingir uma órbita sincronizada à mercuriana ao redor do Sol. Mariner 10. A primeira espaçonave a visitar Mercúrio foi a sonda Mariner 10 da NASA (1974–75), que utilizou a força da gravidade de Vênus para ajustar sua velocidade orbital para se aproximar de Mercúrio, tornando-se a primeira nave espacial a utilizar o efeito da gravidade assistida e a primeira da NASA a realizar uma missão de visita a múltiplos planetas. A sonda forneceu as primeiras imagens próximas da superfície mercuriana, que mostraram sua natureza repleta de crateras e revelaram muitos outros tipos de acidentes geológicos, tais como declives gigantes que foram posteriormente atribuídos ao efeito do planeta encolhendo ligeiramente, em função do resfriamento do núcleo de ferro. Infelizmente, devido ao comprimento do período orbital da Mariner 10, a mesma face do planeta estava iluminada a cada aproximação da sonda, tornando impossível a observação de ambos os lados do planeta e resultando num mapeamento de menos de 45% da superfície planetária. No dia 27 de março de 1974, dois dias antes do primeiro sobrevoo sobre Mercúrio, os instrumentos da sonda começaram a registrar grandes quantidades de uma inesperada radiação ultravioleta próximo a Mercúrio. Isto levou à tentativa de identificação de um satélite mercuriano, mas, pouco depois, a fonte de radiação foi identificada como a estrela 31 da constelação de Crater e a lua mercuriana passou para os livros da história da astronomia como uma nota de rodapé. A sonda realizou três aproximações de Mercúrio e a mais próxima passou a uma distância de 327 km da superfície. Na primeira aproximação, os instrumentos detectaram um campo magnético, para grande surpresa dos geólogos planetários – esperava-se que a rotação mercuriana fosse muito lenta para gerar um efeito dínamo significativo. A segunda aproximação foi utilizada principalmente para obtenção de imagens e a terceira para uma extensiva coleta de dados sobre o campo magnético. Os dados revelaram que o campo magnético é semelhante ao terrestre, defletindo o vento solar em torno do planeta. Entretanto, a origem do campo magnético mercuriano ainda é matéria de muitas teorias. Em 24 de março de 1975, apenas oito dias após sua aproximação final, a sonda esgotou seu combustível. Como sua órbita não podia mais ser controlada com precisão, os controladores da missão instruíram-na a se auto-desligar. A sonda provavelmente ainda está orbitando o Sol, passando próximo ao planeta com uma frequência de alguns meses. MESSENGER. Uma segunda missão da NASA para Mercúrio, nomeada MESSENGER (acrônimo de ), foi lançada em 3 de agosto de 2004 do Cabo Canaveral, a bordo de um foguete Delta II. Ela fez um sobrevoo na Terra em agosto de 2005 e em Vênus em outubro de 2006 e junho de 2007, de modo a estabelecer uma trajetória correta para alcançar a órbita mercuriana. O primeiro sobrevoo em Mercúrio aconteceu no dia 14 de janeiro de 2008, o segundo em 6 de outubro de 2008 e o terceiro em 29 de setembro de 2009. A maior parte da superfície não fotografada pela sonda Mariner 10 foi mapeada durante estes sobrevoos e em 18 de março de 2011 a sonda entrou em órbita elíptica em torno do planeta, tendo a primeira imagem orbital sido obtida em 29 de março de 2011. A sonda realizou uma missão de mapeamento com duração de um ano terrestre e desenvolve atualmente uma missão estendida programada para terminar em 2013. Além de prosseguir na observação e mapeamento de Mercúrio, a MESSENGER vai observar o período de máxima atividade solar de 2012. A missão foi projetada para esclarecer seis pontos chaves: a alta densidade mercuriana, sua história geológica, a natureza de seu campo magnético, a estrutura de seu núcleo, a existência ou não de gelo em seus polos e de onde vem sua tênue atmosfera. Para cumprir esta missão, a sonda está equipada com dispositivos fotográficos que irão coletar imagens com resolução muito maior de muito mais áreas do que a Mariner 10, espectrômetros variados para determinar a abundância dos elementos na crosta e magnetômetros e dispositivos para medição da velocidade de partículas carregadas. Medições detalhadas de pequenas mudanças na velocidade da sonda em sua órbita serão utilizadas para inferir detalhes sobre a estrutura do interior do planeta. BepiColombo. A Agência Espacial Europeia está planejando uma missão conjunta com o Japão chamada BepiColombo, que orbitará Mercúrio com duas sondas: uma para mapear o planeta e outra para estudar sua magnetosfera. O lançamento, que estava previsto para 2015, foi adiado para 2017, com a data provável de chegada em Mercúrio em 2024. A espaçonave liberará uma sonda magnetométrica em um órbita elíptica, e então foguetes químicos serão acionados para colocar a sonda mapeadora em uma órbita circular. Ambas as sondas operarão por um ano terrestre. A sonda mapeadora carregará uma série de espectrômetros semelhantes aos da MESSENGER, que estudarão o planeta em vários comprimentos de onda, incluindo infravermelho, ultravioleta, raio-x e radiação gama. Mercúrio na cultura. Mitologia e astrologia. A origem do nome provém do deus Mercúrio, mensageiro dos deuses da mitologia romana, devido ao movimento rápido do planeta no céu em relação a outros planetas. Higino disse que sua dedicação ao deus se devia ao fato de que ele havia sido o primeiro a estabelecer os meses e a perceber o curso das constelações. Na astrologia, o planeta está associado com a capacidade de aprender, se adaptar, trocar e desenvolver sociabilidade e de se expressar e é o regente dos signos de Gêmeos e Virgem, comandando a terceira e a sexta casas do zodíaco. O movimento retrógado aparente do planeta, creem os astrólogos, influencia tudo que se relaciona a este, de modo a provocar interrupção ou desentendimentos nas formas de comunicação regidas pelo planeta. Ficção científica. O pequeno tamanho de Mercúrio e sua proximidade com o Sol tornaram as observações científicas iniciais difíceis, e isso afetou o modo como foi representado na cultura. Em 1750 o Cavaleiro de Béthune escreveu um livro, "Rélation du monde de Mercure", onde o imaginou habitado por uma população de seres alados, cuja morte não era compulsória, e em perpétuo desfrute beatífico da luz do Sol. No século XIX apareceu mais literatura especulativa, entre elas "Ariel" (1886), de W. D. Lach-Szyrma, que imaginou seres mercurianos vivendo em sofisticados carros voadores nas várias camadas de uma suposta atmosfera planetária. Em 1893 Giovanni Schiaparelli declarou que Mercúrio mantinha sempre a mesma face voltada para o Sol, no que concordou Percival Lowell, gerando um farto imaginário literário de um planeta com um de seus lados extremamente quente e outro extremamente frio. Esta suposição equivocada persistiu até 1965, quando se descobriu a rotação mercuriana, mas então um copioso folclore e literatura ficcional e até mesmo humorística havia sido produzido incorporando este engano. Em algumas novelas o planeta foi apresentado inabitado, em outras como lar de monstros e, em outras mais, povoado por uma diversidade de seres humanoides. Em "The Last Planet" (1934) de R. F. Starzl, e em "Intelligence Undying" (1936) de Edmond Hamilton, Mercúrio foi descrito como o refúgio da humanidade quando o Sol esfria. Na década de 1950, quando o gênero da ficção científica começou a ser mais baseado em fatos, a hostilidade do ambiente mercuriano deu origem a histórias mais violentas, como "Battle on Mercury" (1956), de Lester del Rey, "Lucky Starr and the Big Sun of Mercury" (1956), de Isaac Asimov, "Hot Planet" (1963), de Hal Clement, "The Coldest Place" (1964), de Larry Niven, e "Mission to Mercury" (1965), de Hugh Walter, entre muitas outras. Mesmo quando a rotação planetária foi descoberta e quando em 1975 foi confirmada a ausência de atmosfera, o estilo da geração anterior de novelistas continuou prevalecendo, mas sua concepção como um planeta habitado logo desapareceu da literatura. Em seu lugar, surgiu na ficção uma ideia de que Mercúrio poderia ser uma base para a exploração do Sol, como em "Sundliver" (1980), de David Brin, ou como uma fonte de minerais exploráveis, da forma como Stephen Baxter o mostrou em "Cilia-of-Gold" (1994). Tom Purdom em 2000 publicou "Romance in Extended Time", onde Mercúrio é a base para terraformação, sendo circundado por uma grande estufa, e em "Kath and Quicksilver" (2005), de Larry Niven e Brenda Cooper, Mercúrio aparece lentamente engolfado pelo Sol em expansão.
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Microeletrônica
Microeletrônica A microeletrônica é um ramo da eletrônica, voltado à integração de circuitos eletrônicos, promovendo uma miniaturização dos componentes em escala microscópica. A área engloba tanto os processos físico-quimicos de fabricação dos circuitos integrados como o projeto do circuito em si. São considerados ramos desta área, igualmente, o desenvolvimento de "software" de apoio ao projeto de circuitos, modelagem de componentes, técnicas de teste, entre outras. Os componentes utilizados na microeletrônica são construídos na escala de mícrons ou mesmo nanômetros, tornando-se parte do ramo de nanotecnologia. A redução no tamanho dos componentes utilizados vem, ao longo da história, seguindo a Lei de Moore. O conjunto de componentes usados para um mesmo projeto é tipicamente chamado de circuito integrado (CI), ou ainda, "chip". Alguns exemplos de circuitos integrados são memórias de computadores, processadores, "modems" e conversores analógicos digitais. Os circuitos integrados são produzidos em "wafers", discos de silício, normalmente de 300mm de diâmetro, sobre os quais são fabricadas estruturas laminares, em um processo denominado fotolitografia. Tipicamente, diversos circuitos eletrônicos (idênticos ou não) são fabricados em um mesmo "wafer" por vez, de modo a ocupar toda a área disponível. O custo de produção do circuito será o custo de fabricação do "wafer", dividido pelo número de circuitos nele presentes (excluindo-se os defeituosos). Assim, um circuito é mais caro pelo fato de usar uma maior área do wafer - e, consequentemente, tendo um menor número de circuitos por wafer - e não necessariamente devido ao número de componentes presentes. Circuitos Analógicos x circuitos digitais. O projeto de circuitos integrados possui diferenças significativas quando feitos para circuitos analógicos e digitais. Esta diferença se reflete tanto no mercado de trabalho (profissionais trabalham, normalmente, em apenas um destes ramos) como em ferramentas utilizadas para o projeto dos circuitos. A diferença fundamental entre circuitos analógicos e circuitos digitais é o nível de abstração das grandezas envolvidas. Enquanto que circuitos digitais são elaborados para trabalhar com sinais lógicos, circuitos analógicos são elaborados para processar, criar ou analisar sinais de tensão e corrente. Os circuitos integrados mais conhecidos hoje são circuitos digitais, tais como processadores e memórias. Eles são tipicamente produzidos através da combinação de transistores de modo a formar portas lógicas. O projeto de circuitos digitais permite um alto nível de abstração. Linguagens de descrição de circuitos integrados (tais como VHDL e Verilog) possuem grandes semelhanças com linguagens de programação de "software". Assim,como os circuitos digitais, circuitos analógicos fazem uso de transistores, capacitores e resistores. Entretanto, por trabalhar diretamente com os componentes físicos do sistema,o nível de abstração possível para um circuito analógico é bem menor quando comparado com um circuito digital. Assim sendo, pode-se falar em circuitos digitais com milhões de transistores em estruturas compiladas a partir de descrições em VHDL. Circuitos analógicos, por outro lado, demandam atenção detalhada do projetista - componente por componente. Além destes, são considerados parte da microeletrônica os MEMS (do inglês "MicroElectroMechanical Systems", Sistemas microeletricomecânicos). Estes projetos apresentam apenas em parte uma concepção eletrônica, sendo, em larga medida, projetos mecânicos. Eles são usados para diversas aplicações, tais como micro sensores. Aspectos econômicos. A microeletrônica vem assumindo crescente importância no mundo atual, estando presente na informática, nas telecomunicações, nos controles de processos industriais, na automação dos serviços bancários e comerciais e nos bens de consumo. Quanto a esses últimos, ela aparece não apenas nos tradicionais segmentos de áudio e vídeo, mas de forma disseminada entre os eletrodomésticos, cada vez mais “inteligentes”, e os automóveis. Cursos no Brasil. Existe um curso de graduação na Faculdade de Tecnologia de São Paulo (FATEC-SP) em Tecnologia em Materiais, Processos e Componentes Eletrônicos onde são estudados diversos aspectos da microeletrônica, desde as etapas de microfabricação de componentes eletrônicos até a física dos componentes. Existe também um Programa de Pós Graduação em Microeletrônica (PGMICRO) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) o curso tem natureza multidisciplinar e engloba conhecimentos nas áreas de Engenharia, Informática, Física e Química. Gerando pesquisa e desenvolvimento e adsorvendo profissionais destas áreas.<br> Há também o curso de Sistemas Eletrônicos na graduação da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo(POLI-USP). O estudante é conduzido a uma formação generalista de elétrica e eletrônica, mas aprofundando conceitos importantes da microeletrônica e do desenvolvimento de sistemas integrados.
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Maria Eduarda
Maria Eduarda Maria Eduarda é uma personagem do romance "Os Maias", de Eça de Queiroz. É uma mulher que viveu ao lado de um obscuro brasileiro. Ao voltar para Lisboa conhece Carlos da Maia e torna-se sua amante, mantendo com este, mesmo de forma inconsciente, uma relação incestuosa, uma vez que os dois eram irmãos. Maria Eduarda, fisicamente era uma bela mulher: alta, cabelos castanhos ondeando ligeiramente sobre a testa bem feita, sensual e delicada, "com um passo soberano de deusa", é "flor de uma civilização superior, faz relevo nesta multidão de mulheres miudinhas e morenas", era bastante simples na maneira de vestir, "divinamente bela, quase sempre de escuro, com um curto decote onde resplandecia o incomparável esplendor do seu colo"; psicologicamente, podemos verificar que Maria Eduarda nunca é criticada, é uma personagem delineada em poucos traços, o seu passado é quase desconhecido o que contribui para o aumento e encanto que a envolve. A sua caracterização é feita através do contraste entre si e as outras personagens femininas, e ao mesmo tempo, chega-nos através do ponto de vista de Carlos da Maia, para quem tudo o que viesse de Maria Eduarda era perfeito, "Maria Eduarda! Era a primeira vez em que Carlos ouvia o nome dela; pareceu-lhe perfeito, condizendo bem com a sua beleza serena." Maria Eduarda é sempre apresentada ao leitor como uma "deusa transviada", como um ser superior que se destaca no meio das mulheres lisboetas. Maria Eduarda encarna a heroína romântica, perseguida pela vida e pelo destino, mas que acaba por encontrar, ainda que momentaneamente, a razão da sua vida, na paixão e no amor. Ela é também vítima do seu passado, das circunstâncias em que cresceu e viveu (bem ao jeito naturalista), mas o facto de ser a própria personagem a narrar o seu percurso omitindo, logicamente, aquilo que não sabe, e referindo o seu passado após o leitor já ter conhecimento do seu presente, afasta Maria Eduarda de alguns dos preceitos estruturais do Naturalismo.
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Maria Eduarda Runa
Maria Eduarda Runa Maria Eduarda Runa é uma das personagens do romance "Os Maias", de Eça de Queiroz, é a mulher de Afonso da Maia (que grande parte do romance já é viúvo), portanto avó de Carlos da Maia. Filha do Conde de Runa. É uma personagem bastante doente, fraca e religiosa. Insiste em dar uma educação típica Portuguesa ao seu filho, Pedro da Maia, e Afonso da Maia, seu marido, não concorda mas acaba por ceder. Um tio desta personagem, um dia, julgando-se Judas, enforcou-se numa figueira. Afonso preocupa-se ao descobrir uma parecença entre seu filho Pedro da Maia e um retrato deste tio. Esta peripécia é importante uma vez que Pedro da Maia acaba por cometer suicídio também.
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Mamíferos
Mamíferos Os mamíferos (do latim: Mammalia) constituem uma Subclasse de animais vertebrados do domínio Eukaryota, do reino Animalia e filo Chordata, subdivididos em dois grupos: aquáticos (cetáceos, sirênios e pinípedes) e terrestres (quadrúpedes e bípedes), que se caracterizam pela presença de glândulas mamárias que, nas fêmeas, produzem leite para a alimentação dos filhotes (ou crias), presença de pelos ou cabelos, com exceção dos golfinhos e de algumas baleias, que somente na fase embrionária possuem pelos. São animais endotérmicos, ou seja, de temperatura corpórea constante, chamados também de "animais de sangue quente", graças à sua pele, a qual é formada por duas camadas principais (epiderme e derme), onde se encontram glândulas sebáceas e sudoríparas que auxiliam a regular a temperatura, além das glândulas mamárias, responsáveis pelo nome da classe. O cérebro controla, então, a temperatura corporal e o sistema circulatório, incluindo o coração, que apresenta quatro câmaras. Os mamíferos incluem espécies (incluindo os seres humanos), distribuídas em aproximadamente gêneros, 152 famílias e 46 ordens, de acordo com o compêndio publicado por Wilson e Reeder (2005). Entretanto novas espécies são descobertas a cada ano, aumentando esse número; e até o final de 2007, o número chegava a espécies de mamíferos. Acredita-se que os primeiros mamíferos surgiram no período Jurássico, entre há 176 milhões e 161 milhões de anos, durante o reinado dos dinossauros. Novas evidências científicas, entretanto, sugerem que os precursores dos mamíferos podem ter surgido há pelo menos 208 milhões de anos, durante o período Triássico Superior. Características. O marco inicial para o reconhecimento científico dos mamíferos como grupo foi a publicação por John Ray (1693) da obra "Synopsis Methodica Animalium Quadrupedum et serpentini generis", onde inclui uma divisão dos animais que possuem sangue, respiram por pulmões, apresentam dois ventrículos no coração e são vivíparos. Tal definição ainda hoje se mantém válida, lembrando-se que à época os monotremados não eram conhecidos. Carolus Linnaeus (1758), com a décima edição do Systema Naturae, cunha o termo "Mammalia" para o qual a definição é essencialmente aquela apresentada por Ray. E. R. Hall (1981) caracterizou a classe "Mammalia" como "sendo especialmente notáveis por possuírem glândulas mamárias que permitem à fêmea nutrir o filhote recém-nascido com leite; presença de pelos, embora confinados aos estágios iniciais de desenvolvimento na maioria dos cetáceos; ramo horizontal da mandíbula é composto por um único osso; a mandíbula se articula diretamente com o crânio sem intervenção do osso quadrado; dois côndilos occipitais; diferindo das aves e répteis por possuírem diafragma e por terem hemácias anucleadas; lembram as aves e diferem dos répteis por terem sangue quente, circulação diferenciada completa e quatro câmaras cardíacas; diferem dos anfíbios e peixes pela presença do âmnio e alantoide e pela ausência de guelras". Muitas das características comuns aos mamíferos não aparecem nos outros animais. Algumas delas, porém, podem ser observadas nas aves – uma alta taxa metabólica e níveis de atividade ou complexidade de adaptações, como cuidado pós-natal avançado e vida social, aumento da capacidade sensorial, ou enorme versatilidade ecológica. Tais características semelhantes nas duas classes sugerem que tais adaptações são homoplasias, ou seja, se desenvolveram independentemente em ambos os grupos. Outras características dos mamíferos são sinapomorfias dos amniotas, adaptações partilhadas por causa do ancestral comum. Os amniotas, grupo que inclui répteis, aves e mamíferos, são vertebrados terrestres cujo desenvolvimento embrionário acontece sobre proteção de membranas fetais (âmnio, cório e alantoide). Entres as características herdadas se encontram aumento do investimento no cuidado das crias, fertilização interna, derivados queratinizados da pele, rins metanefros com ureter específico, respiração pulmonar avançada, e o papel decisivo dos ossos dérmicos na morfologia do crânio. Ao mesmo tempo, os mamíferos compartilham grande número de características com todos os demais vertebrados, incluindo o plano corpóreo, esqueleto interno, e mecanismos homeostáticos (incluindo caminhos para regulação neural e hormonal). Os mamíferos exibem também características exclusivas, chamadas de autapomorfias. Essas características únicas servem para distinguir e diagnosticar claramente um táxon. Entre as principais autapomorfias da classe "Mammalia" estão: Diversidade. Os mamíferos apresentam um número relativamente pequeno de espécies se comparado com as aves (9 600) ou com os peixes (35 000), e até insignificante se comparado com os moluscos (100 000) e os crustáceos e insetos (10 000 000). Seus números estão mais próximos aos répteis (6 000) e aos anfíbios (5 200). Entretanto, na diversidade corpórea, tipos locomotores, adaptação ao habitat, ou estratégias alimentares, os mamíferos excedem todas as demais classes. O tamanho corpóreo dos mamíferos é altamente variável, sendo seus extremos a baleia-azul ("Balaenoptera musculus"), maior mamífero marinho, com 30 metros de comprimento e chegando a pesar 190 toneladas, o maior mamífero já existente; o elefante africano ("Loxodonta africana"), maior mamífero terrestre, com 3,5 metros de altura (até os ombros) e 6,6 toneladas, o maior mamífero terrestre atual; até o musaranho-pigmeu ("Suncus etruscus") e o morcego-nariz-de-porco-de-kitti ("Craseonycteris thonglongyai") com cerca de 3-4 centímetros de comprimento e até 2 gramas de peso, os menores mamíferos até hoje descobertos. Distribuição geográfica. Os mamíferos estão distribuídos praticamente em todas as regiões do globo terrestre, incluindo a Antártida, onde focas são encontradas na sua zona costeira. No polo norte, têm sido encontrados ursos-polares ("Ursus maritimus") até 88°N e focas-aneladas ("Phoca hispida") têm alcançado as vizinhanças do Pólo Norte. Mamíferos são encontrados em todos os continentes remanescentes, em ilhas, e nos mares e oceanos da Terra. Mamíferos marinhos podem ser encontrados a uma profundidade de até metros (ex. Cachalote ("Physeter macrocephalus)"), enquanto mamíferos terrestres podem ser vistos do nível do mar até elevações acima dos metros. Eles estão distribuídos em todos os biomas, incluindo tundra, desertos, savanas e florestas. Espécies de várias famílias têm se adaptado ao modo de vida aquático em pântanos, lagos e rios. Eles estão presentes, tanto abaixo da superfície terrestre, no caso de animais subterrâneos e escavadores, quanto acima dela, nos galhos das árvores no caso dos animais arbóreos, ou nos céus, através do voo, no caso dos morcegos. A distribuição geográfica dos mamíferos é muito variada. A ordem Tubulidentata, cujo único representante é o porco-da-terra ("Orycteropus afer") é endêmica da África. Os monotremados (ornitorrinco e as equidnas) e quatro ordens de marsupiais (Dasyuromorphia, Notoryctemorphia, Peramelemorphia, Diprotodontia) estão confinados à Oceania. Duas ordens de marsupiais (Paucituberculata e Microbiotheria) são encontradas somente numa área restrita da América do Sul. As duas maiores ordens, Rodentia e Chiroptera, ocorrem naturalmente em todos os continentes, exceto Antártida, e foram os únicos a terem alcançado muitas ilhas oceânicas. Artiodátilos e carnívoros ocorrem em todos os continentes, exceto Antártida e Oceania, embora representantes de ambos tenham sido introduzidos na Austrália. Os cetáceos e os pinipédios são os grupos mais amplamente distribuídos pelo planeta. Variação similar ocorre no nível de família e espécie. Nenhuma espécie de mamífero é naturalmente cosmopolita, ou seja, ocorre em todo o mundo, embora algumas espécies tenham uma ampla distribuição cobrindo vários continentes. O lobo ("Canis lupus") e a raposa-vermelha ("Vulpes vulpes") são os animais terrestres mais amplamente distribuídos cobrindo grande parte do Hemisfério Norte. No Novo Mundo, a onça-parda ("Puma concolor") apresenta a maior distribuição, ocorrendo do Canadá ao Chile. No outro extremo, certas espécies possuem distribuição restrita, não passando de poucos quilômetros quadrados, como por exemplo, a toupeira-dourada da África do Sul. Outros mamíferos apresentam uma distribuição descontínua. Ela pode ser natural, como é o caso da lebre-da-eurásia ("Lepus timidus") que habita as regiões polares e boreais da Eurásia, mas uma população é encontrada nos Alpes, uma relíquia da última era glacial. Ou pode ser um fenômeno induzido pelo homem, como no caso do leão ("Panthera leo"), que atualmente é encontrado em partes da leste e sul da África e na Índia, mas que já habitou o norte da África, Oriente Médio, sul da Europa e sul da Ásia, e até mesmo a América do Norte, no final do Pleistoceno. A diversidade e a riqueza da fauna mamífera são influenciadas por diversos fatores complexos combinados, entre eles, a história evolutiva, o grau de isolamento e a complexidade do seu habitat. Morfologia e Anatomia. Sistema esquelético-muscular. No crânio dos mamíferos, os ossos dérmicos, originalmente formados na calota craniana, cresceram ao redor de todo o encéfalo, fechando completamente a caixa craniana. Os ossos que formam a extremidade inferior da abertura temporal dos Synapsida são curvados até o arco zigomático. A mandíbula dos mamíferos é formada por um único osso, o dentário, em contraste à mandíbula de ossos múltiplos dos demais vertebrados com mandíbulas. O dentário se articula diretamente com o osso esquamosal, um osso dérmico do crânio. A articulação mandibular dos demais vertebrados é formada pelo quadrado, no crânio, e pelo articular, na maxila inferior. Nos mamíferos, estes ossos se juntaram ao estribo, resultando em uma orelha média com três ossos, único a estes animais. Os mamíferos são os únicos a possuírem músculos de expressão facial, os quais são derivados dos músculos do pescoço dos répteis e inervados pelo sétimo nervo craniano. A dentição dos mamíferos é dividida em diversos tipos de dentes, ou seja são heterodontes: incisivos, caninos, pré-molares e molares. A maioria dos mamíferos possui dois conjuntos de dentições em suas vidas (difiodontia). O primeiro conjunto – os dentes de leite – consiste somente de incisivos, caninos e molares decíduos, embora a forma destes seja bem parecida com a dos molares permanentes no adulto. A dentição adulta permanente consiste do segundo conjunto de dentes originais, os permanentes, com erupção posterior. Os mamíferos são os únicos animais que mastigam e engolem um discreto bolo alimentar. Os térios possuem tipos únicos de molares, chamados de tribosfênicos. Diferentemente da postura reptiliana, os mamíferos apresentam uma postura ereta, com os membros posicionados sob o corpo. Os mamíferos apresentam uma articulação do tornozelo diferenciada, cujo ponto de movimento está entre a tíbia e o astrágalo. Na cintura pélvica, o ílio tem forma de barra e é direcionado para frente, e o púbis e o ísquio são curtos; todos são fundidos num único osso, chamado de pelve. O fêmur apresenta um trocânter distinto sobre o lado lateral proximal, para a ligação dos músculos dos glúteos, que dão aos mamíferos extremidades arredondadas. Com poucas exceções, todos os mamíferos possuem sete vértebras cervicais – peixe-boi ("Trichechus" spp.) e o bicho-preguiça-de-dois-dedos ("Choloepus hoffmanni") possuem seis vértebras, e o bicho-preguiça-de-três-dedos ("Bradypus variegatus"), possui nove. Eles também apresentam um complexo atlas-áxis, único e especializado, nas duas primeiras vértebras cervicais. Podendo rodar suas cabeças de duas formas: na maneira tradicional, de cima para baixo, na articulação entre o crânio e o atlas; e de maneira mais derivada, de lado a lado, na articulação entre o atlas e o áxis. Os mamíferos restringiram as costelas às vértebras mais craniais (torácicas) do tronco. As costelas lombares apresentam conexões zigapofiseais, as quais permitem a flexão dorso-ventral. A capacidade de mover a coluna vertebral de maneira dorso-ventral, nos mamíferos, pode estar relacionada com sua habilidade de deitar sobre o lado de seus corpos, algo que os demais vertebrados não conseguem realizar facilmente. Esta habilidade pode ter sido importante na evolução da amamentação, com mamilos posicionados ventralmente. Sistema cardiovascular. O coração dos mamíferos difere dos demais amniotas por possuir um septo ventricular completo e somente um arco sistêmico, embora o arco duplo original seja aparente durante o desenvolvimento. Uma condição similar é observada nas aves, mas ela claramente surgiu convergentemente nos dois grupos, pois é o arco sistêmico esquerdo que é retido (como a aorta única) nos mamíferos, e o arco direito nas aves. Os monotremados retêm um pequeno sino venoso como uma câmara distinta, os térios incorporaram esta estrutura ao átrio direito, como o nodo sinoatrial, o qual age como o marca-passo do coração. Os mamíferos também diferem dos demais vertebrados quanto à forma de seus eritrócitos (glóbulos vermelhos ou hemácias), os quais não possuem núcleos na condição madura. Sistema respiratório. Os mamíferos apresentam pulmões grandes e com lobos, de aparência esponjosa devida à presença de um sistema de ramificações delicadas dos bronquíolos em cada pulmão, terminando em câmaras fechadas de paredes finas (os pontos de trocas gasosas), chamadas de alvéolos. A presença de uma estrutura muscular, o diafragma, exclusiva dos mamíferos, divide a cavidade peritoneal da cavidade pleural, além de auxiliar as costelas na inspiração. Sistema nervoso e órgãos do sentido. Os mamíferos possuem encéfalos excepcionalmente grandes entre os vertebrados, os quais evoluíram em caminhos, de certa forma, independentes dos demais amniotas. Em seus sistemas sensoriais os mamíferos são mais dependentes da audição e da olfação do que a maioria dos tetrápodes, sendo menos dependentes da visão. Cérebro. A porção aumentada dos hemisférios cerebrais dos mamíferos, o neocórtex, ou neopalio, é formada de forma única. A porção dorsal do córtex é aumentada para a formação do neopalio (enquanto os sauropsídeos aumentam a porção lateral), apresentando uma estrutura laminada complexa. Em mamíferos mais derivados, o neopálio domina todo o encéfalo rostral e se torna altamente invaginado, o que aumenta muito a área de superfície. Outras características únicas do encéfalo mamaliano incluem lobos ópticos divididos na região mediana, um cerebelo não-invaginado, e uma grande representação da área para o sétimo nervo craniano, a qual está associada com o desenvolvimento da musculatura facial. O cérebro dos mamíferos conta ainda com o sistema límbico, responsável pelas emoções e sentimentos. Olfato. O apurado senso de olfato da maioria dos mamíferos está, provavelmente, relacionado ao seu comportamento noturno. Os receptores olfatórios estão localizados em um epitélio especializado, sobre os ossos nasoturbinados no nariz. O bulbo olfatório é uma porção proeminente do encéfalo em muitos mamíferos, mas os primatas apresentam um bulbo pequeno e pouco sentido de olfação, provavelmente associado a seus hábitos diurnos. O senso de olfato também é reduzido, ou ausente, nos cetáceos, em associação com sua existência aquática. Audição. Os mamíferos apresentam uma orelha média mais complexa do que a dos demais tetrápodes, contendo um conjunto de três ossos (estribo, martelo e bigorna), em vez de um único osso. Diversas outras características dos mamíferos térios também contribuem para o aumento da acuidade auditiva. Estas incluem uma longa cóclea, capaz de uma discriminação maior de tons. Além disso, a orelha externa, ou aurícula, ajuda a determinar a direção do som. A orelha, em conjunto com o estreitamento do meato auditivo dos mamíferos, concentra sons oriundos de uma área relativamente grande. A maioria dos mamíferos é capaz de mover a aurícula para captar sons, embora os primatas antropoides não apresentam tal característica. A sensibilidade auditiva de um mamífero terrestre é reduzida se as aurículas são removidas. Mamíferos aquáticos utilizam sistemas inteiramente distintos para ouvir sob a água, tendo perdido ou reduzido suas orelhas externas. Os cetáceos, por exemplo, utilizam a maxila inferior para canalizar ondas sonoras a orelha interna. Visão. Os mamíferos evoluíram como animais noturnos, para os quais a sensibilidade visual (formação de imagens sob pouca luz) era mais importante do que a acuidade (formação de imagens precisas). Os mamíferos possuem retinas compostas, primariamente, de células bastonetes, as quais apresentam uma grande sensibilidade à luz, mas são relativamente fracas para uma visão acurada. A maioria dos mamíferos apresenta um "tapetum lucidum" bem desenvolvido, o qual constitui uma camada refletora por trás da retina, fornecendo uma segunda chance para que um fóton de luz estimule uma célula receptora. Este tapeto provoca o brilho nos olhos que você observa quando aponta uma lanterna em direção a um gato ou a um cão. O tapeto é mais desenvolvido em mamíferos noturnos, e foi perdido nos primatas antropoides diurnos, incluindo os humanos. Sistema tegumentário. Em muitos aspectos, a cobertura externa dos mamíferos é a chave para seu modo único de vida. A variedade de tegumentos dos mamíferos é enorme. Alguns roedores possuem uma epiderme delicada, com apenas algumas células de espessura. Já os elefantes têm diversas centenas de células de espessura. A textura da superfície externa da epiderme também varia, desde a lisa (cobertas ou não por pelos) até as rugosas, secas e enrugadas. Apesar do tegumento mamífero se parecer com o dos demais vertebrados, quanto a sua forma, com camadas epidérmicas, dérmicas e hipodérmicas, há também componentes únicos. Ele apresenta pelos, glândulas sebáceas, glândulas apócrinas, glândulas sudoríparas, e estruturas derivadas da queratina, como unhas, garras e cornos. Os pelos têm uma variedade de funções incluindo a camuflagem, a comunicação e a sensação (tato), por meio das vibrissas (bigodes). Entretanto, a função básica dos pelos é a proteção contra o calor e o frio. As estruturas secretoras da pele se desenvolvem a partir da epiderme. Há três tipo principais de glândulas de pele nos mamíferos: as sebáceas, as apócrinas e as écrinas. Exceto pelas écrinas, as glândulas da pele estão associadas aos folículos pilosos e a secreção em todas elas se dá sob o controle neural e hormonal. As glândulas sudoríparas comuns dos humanos não parecem ser um traço mamífero primitivo, visto que a maioria dos mamíferos não termorregulam por meio da secreção de fluidos pela pele. As glândulas sebáceas são encontradas em toda a superfície do corpo. Elas produzem uma secreção oleosa que lubrifica e impermeabiliza o pelo e a pele. Glândulas apócrinas apresentam uma distribuição restrita na maioria dos mamíferos, e suas secreções parecem ser utilizadas na comunicação química. Muitos mamíferos possuem glândulas de odor especializadas, as quais são modificações das sebáceas ou das apócrinas. A marcação por odor é usada para indicar a identidade do animal e para definir territórios. Glândulas de odor são posicionadas em áreas do corpo que permitem o contato fácil com os objetos, tais como a face, o queixo e os pés. Glândulas écrinas produzem uma secreção aquosa com pouco conteúdo orgânico. Na maioria dos mamíferos, estão restritas às solas dos pés, às caudas preênseis e a outras áreas em contato com superfície do meio ambiente, nas quais elas melhoram a adesão ou a perceção táctil. Glândulas mamárias possuem uma estrutura de ramificação mais complexa do que a das demais glândulas de pele. Elas possuem diversas características básicas em comum com as glândulas apócrinas e sebáceas, entretanto são altamente especializadas. As estruturas queratinizadas da pele são variadas, algumas estão envolvidas na locomoção, nas ofensivas, na defesa e na apresentação, como as unhas, as garras e os cascos; outras na proteção, como as placas dérmicas; outras na alimentação, como o bico córneo do ornitorrinco. Origem e evolução. História evolutiva. Os mamíferos são os atuais descendentes dos sinapsídeos, o primeiro grupo bem estabelecido de amniotas que surgiu no Carbonífero Superior. Os sinapsídeos apresentavam várias características mamíferas, notadamente a existência de uma única fossa temporal de cada lado do crânio e a diferenciação de dentes molares, mas no essencial, a sua anatomia manteve-se tipicamente reptiliana, com membros transversais, coanas e uma pequena cavidade neurocraniana. A classe Sinapsida compreendia duas ordens: a Pelicosauria, um grupo mais primitivo; e a Therapsida, chamada também de répteis mamalianos evoluídos, que representam a transição para os verdadeiros mamíferos. Dentro da última, encontram-se os cinodontes, grupo que serviu de transição entre os répteis e os mamíferos. Nos cinodontes observam-se vários traços mamalianos, como a fossa temporal aumentada, o número de ossos que forma a parte superior do crânio é reduzido, diferencia-se o palato secundário, a parede do neurocrânio modifica a sua organização, e os dentes tornam-se cada vez mais complexos e especializados. Os primeiros mamíferos, ou mammaliaformes como são tipicamente conhecidos, apareceram no período Triássico. Durante todo o restante da era Mesozoica, estes primitivos mamíferos, conhecidos em sua maioria por poucos esqueletos e de considerável número de crânios, mandíbulas e dentes, foram animais de tamanho diminuto e ecologicamente insignificantes. Entretanto, sua contribuição foi especialmente importante para a evolução, pois foi durante o final do Jurássico e início do Cretáceo que estes animais estabeleceram as características básicas mamíferas que levaram a uma tremenda variedade de formas que viveram durante a era Cenozoica. Houve dois grandes períodos de diversificação dos mamíferos durante a era Mesozoica. O primeiro, englobando o final do Triássico e o Jurássico e estendendo-se pelo Cretáceo Inferior, produziu formas de transição do estágio reptiliano para o mamífero, conhecidas como mamaliformes, que em sua maioria, não sobreviveu além da era Mesozoica. A segunda radiação, a qual ocorreu no Cretáceo Médio, foi composta de mamíferos mais derivados, ou seja os verdadeiros mamíferos, incluindo os primeiros térios. Classificação. Modelos classificatórios para a classe "Mammalia" já vem sendo propostos desde 1693, quando John Ray subdividiu os mamíferos em dois grupos: aquáticos ou cetáceos e terrestres ou quadrúpedes (apesar de incluir os peixes-boi no último grupo). Modelos um pouco mais elaborados foram propostos por Linnaeus em 1758, e por Lacépède em 1799. Apenas muitos anos após a descoberta dos monotremados (ca. 1790) e dos marsupiais australianos (ca. 1760), foi caracterizada a grande divergência quanto aos aspectos dos sistemas reprodutores entre esses dois grupos e os placentários. Em 1816, Henri Marie Ducrotay de Blainville dividiu os mamíferos, com base nessas características, em duas subclasses: os monodelfos (placentários) e os didelfos (marsupiais e monotremados). Em 1834, o autor manteve a designação difelfos para os marsupiais e transferiu os monotremados para uma terceira subclasse, a dos ornitodelfos. Theodore Gill, em 1872, criou a divisão Prototheria para incluir os ornitodelfos e a divisão Eutheria para incluir os monodelfos (placentários) e os didelfos (marsupiais). O táxon Eutheria de Gill foi posteriormente rebatizado de Theria, sendo o Eutheria mantido apenas para os placentários. George Gaylord Simpson (1945), em seu "Principles of Classification and a Classification of Mammals" apresentou uma classificação tanto de animais viventes como espécies fósseis e suas inter-relações. Está classificação foi universalmente aceita até ao fim do século XX. Ela trazia o seguinte arranjo (simplificado): Classe Mammalia Linnaeus, 1758 Nos últimos anos, a classificação dos mamíferos vem sofrendo grandes mudanças em função de dois fatores principais: a mudança da filosofia de classificação e o avanço dos estudos moleculares. A filosofia de classificação vem mudando gradualmente da escola de Sistemática Evolutiva (Simpson 1945, por exemplo) para a Sistemática Filogenética (McKenna e Bell 1997, por exemplo). A popularização da utilização de seqüências de DNA (tanto nuclear quanto mitocondrial) para inferir relações de ancestralidade e descendência tem revolucionado a taxonomia, indicando grupos muitas vezes radicalmente diferentes das visões tradicionais. A grande maioria dessas hipóteses vem sendo confirmada com dados adicionais moleculares e/ou morfológicos, muitas vezes incluindo fosseis. Diversos arranjos taxonômicos vêm sendo debatidos, com visões opostas sendo defendidas por diferentes grupos de pesquisadores. Por outro lado, vários consensos sobre a classificação dos mamíferos foram alcançados nos últimos anos e encontram suporte em uma variada gama de dados e análises. A mais recente proposta de classificação baseada em estudos moleculares propõe quatro linhagens ou grupos de mamíferos placentários, que divergiram de um ancestral comum no período Cretáceo, apesar dos registros fósseis ainda não terem corroborado com essa hipótese. Esses achados moleculares são consistentes com os padrões de distribuição dos mamíferos. Entretanto eles não refletem os dados morfológicos, em alguns casos, e por isso não é aceito por muitos estudiosos. Um marco recente na classificação dos mamíferos é a terceira edição de Wilson e Reeder (2005), que apresenta uma listagem de todas as espécies descritas de mamíferos viventes e recém extintos até 2003, contabilizando 5 416. Entretanto, com o desenvolvimento de novos métodos de análise molecular e a descoberta de novas espécies, esse número vem aumentando a cada ano (2004 - 22 espécies; 2005 - 43 espécies; 2006 - 49 espécies; e 2007 - 28 espécies), contabilizando hoje cerca de 5 558 espécies. Entre os principais colaboradores para esse aumento estão a ordem Chiroptera com 43; os roedores com 40; e os primatas com 36 novas espécies. Chave classificatória dos mamíferos viventes (simplificado): Classe Mammalia Três considerações devem ser levantadas:
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Mico-leão-dourado
Mico-leão-dourado O mico-leão-dourado (nome científico: Leontopithecus rosalia) é um primata endêmico do Brasil, da família Callitrichidae e gênero "Leontopithecus". Ocorre exclusivamente na Mata Atlântica brasileira, no estado do Rio de Janeiro, mas alguns autores já consideraram sua ocorrência no sul do Espírito Santo. Atualmente, são encontrados principalmente na Reserva Biológica Poço das Antas e na Reserva Biológica União, e vivem nos estratos mais altos da floresta. Podem ser encontrados em trechos de floresta secundária. Já foi considerado como uma subespécie, hoje é uma espécie propriamente dita, como as outras espécies de micos-leões. Evidências de estudos filogenéticos mostram que o mico-leão-preto é a espécie mais próxima do mico-leão-dourado. Não existem fósseis conhecidos da espécie. Junto com outros micos-leões é o maior membro da subfamília Callitrichinae, podendo pesar até 800g. A pelagem varia do dourado ao alaranjado com uma juba muito característica, que lhe conferiu o nome popular. Apresenta garras em vez de unhas e o terceiro dedo da mão é muito longo e usado para procurar presas. O dimorfismo sexual não é acentuado. O crânio é pequeno e menos robusto, se comparado com outros micos-leões. Possui 30 dentes, sendo os incisivos muito semelhante a caninos. São animais diurnos e muito ativos durante as primeiras horas da manhã. Os comportamentos sociais são muito semelhantes a de outros primatas. Vivem em grupos de até 9 indivíduos, organizados em grupos familiares, sendo comum a poliandria. A poliginia pode ocorrer em menor proporção. Os territórios variam em tamanho, podendo ter até 217 hectares de área. A fragmentação do habitat fez com que muitos territórios se sobreponham sobre de outros. São animais onívoros, se alimentando de frutos, invertebrados e pequenos vertebrados na estação chuvosa e de néctar na estação seca. Tem um repertório variado de vocalizações, que são emitidas em contextos específicos. Dão à luz a gêmeos, depois de uma gestação de 130 dias. Os machos ajudam com o cuidado na prole, assim como crias de anos anteriores. É uma espécie que corre risco de extinção, listada como espécie em perigo tanto pela IUCN quanto pelo ICMBio. Ocorre quase que exclusivamente na Reserva Biológica Poço das Antas, na Reserva Biológica União e em fragmentos florestais nos arredores, na bacia do rio São João, no estado do Rio de Janeiro. Existem cerca de 3 200 indivíduos em liberdade, graças a inúmeros esforços na conservação e reprodução da espécie. As populações em cativeiro são relativamente numerosas e estáveis. O mico-leão-dourado é uma espécie bandeira na conservação da Mata Atlântica brasileira. Etimologia. O mico-leão-dourado também é conhecido simplesmente por "mico-leão", por "saguipiranga" e "sauimpiranga". "Mico" deriva do caribe continental "miko". "Saguipiranga" e "sauimpiranga" vêm do tupi "sa'wi pi'rãga", que significa "sagui vermelho". O nome "mico-leão-dourado", em específico, surgiu quando um espécime foi levado para Paris para Madame de Pompadour, em 1754, e descrito por M.J. Brisson como "le petit singe-lion", que literalmente significa: "o pequeno mico-leão". Mico-leão é uma alusão aos pelos da cabeça, que acabam por formar uma juba como de um leão. Taxonomia e evolução. O mico-leão-dourado pertence ao gênero "Leontopithecus", grupo monofilético da família Callitrichidae. Foi descrito por Carl Linnaeus, em 1766. O gênero "Leontopithecus" foi proposto por Hershkovitz (1977) como monotípico, sendo "Leontopithecus rosalia" a única espécie: o mico-leão-dourado era uma subespécie ("L. r. rosalia"), junto com o mico-leão-preto ("L. r. chrysopigus") e mico-leão-de-cara-dourada ("L. r. chrysomelas"). Essa classificação foi revisada, e atualmente, é considerado, junto com as outras espécies de micos-leões, uma espécie propriamente dita. Evidências genéticas apontam para um período muito recente de diversificação dos micos-leões, a partir de refúgios de floresta no Pleistoceno. A espécie mais aparentada ao mico-leão-dourado é o mico-leão-preto, que provavelmente compartilhou um ancestral que possuía pelagem escura. Não foi encontrado nenhum fóssil da linhagem do mico-leão-dourado. Distribuição geográfica e habitat. Originalmente, o mico-leão-dourado era encontrado nas florestas de terras baixas (até 300 m de altitude) na bacia do rio São João, no Rio de Janeiro. Vários autores já consideraram a ocorrência do mico-leão-dourado no Espírito Santo, mas o primatólogo Adelmar Faria Coimbra-Filho admitiu que não havia dados suficientes para concluir que ele de fato existiu nesse estado. No século XIX, era encontrado em florestas perto de Cabo Frio, especialmente nas margens da lagoa de Araruama e no município de Maricá, ocorrendo nessas localidades até a década de 1940. Alguns autores já citaram que o mico-leão-dourado podia ser encontrado no litoral do estado de São Paulo, mas nunca foi reportada sua presença oficialmente. O habitat está localizado em região de clima quente e úmido, com precipitações de até 1500 mm anuais, com uma estação seca. Ocorre em ambientes de floresta, principalmente ao longo de cursos d'água permanentes. Prefere ficar na copa das árvores, entre três e 10 metros de altura. Pode ser encontrado em fragmentos de floresta secundária. Atualmente, é encontrado apenas em alguns remanescentes de floresta da bacia do rio São João, principalmente na Reserva Biológica Poço das Antas e na Reserva Biológica União. Fragmentos de floresta em Silva Jardim, Cabo Frio, Saquarema e Araruama apresentam populações da espécie, e ela foi reintroduzida com sucesso nos municípios de Rio das Ostras, Rio Bonito e Casimiro de Abreu. Recentemente, foi reportada uma população em Duque de Caxias, sendo a população mais ao sul conhecida atualmente. Descrição. O mico-leão-dourado possui toda a pelagem de cor ruiva a dourada, o que conferiu o nome popular, e possui uma juba derivada de pelos que saem das bochechas, cabeça, pescoço e cobrem as orelhas. Acredita-se que essa cor de pelagem deva-se à ingestão de carotenoides e à exposição à luz solar: observa-se em alguns animais em cativeiro, uma coloração mais clara, e provavelmente isso se deve a dieta deficitária em carotenoides. Os pelos são trocados gradativamente, uma vez ao ano, principalmente na estação chuvosa. Fêmeas grávidas perdem menos pelos no período da troca. A face é negra, quase nua. Tem 26 cm de comprimento sem a cauda e pesa 620 g em média. Animais criados em cativeiro podem chegar até 800 g, o que representa o maior tamanho entre os Callitrichinae. Tem uma taxa metabólica menor do que esperado para um animal de seu tamanho, mas ainda é maior que muitos primatas noturnos com hábitos alimentares semelhantes. A temperatura corporal varia de forma significativa entre 39 °C de dia, e 37,4 °C à noite. Existe órgão vomeronasal, que em indivíduos subadultos é tão desenvolvido quanto em Strepsirrhini. No adulto, o epitélio sensorial desse órgão é entremeado por porções não sensoriais, contrastando com o órgão vomeronasal de "Callithrix jacchus" e se assemelhando ao de "Saguinus geoffroyi". A glande do pênis é em formato esférico, e existem papilas cobrindo o corpo do pênis. Os testículos podem estar dentro do escroto (que não é pigmentado e pode ter até 18 mm de diâmetro), ou em posição inguinal, e parece haver um controle voluntário dessas posições. O báculo é um dos mais especializados entre os calitriquíneos e tem até 3 mm de comprimento por 0,9 mm de largura. A vulva é pouco proeminente e não pigmentada, e os grandes lábios não são tão diferenciados como em outros membros da subfamília. O clitóris compartilha características com de outros primatas, sendo atravessado por um sulco ventro-medial, sensivelmente destacado e séssil, com uma glande dividida ao meio. Como em outros membros da subfamília Callitrichinae, o clitóris é pequeno se comparado com outros primatas sul-americanos, como os cebíneos e atelídeos. As glândulas mamárias são duas, e estão no peito, em posição axial, perto da linha média do corpo. Possui mãos e dedos muito longos, com unhas que lembram garras que são usadas para procurar pequenos vertebrados e artrópodes em orifícios e fendas estreitas, como os espaços entre as folhas de bromélias: o dedo do meio é longo a ponto de ser quase duas vezes mais comprido que a palma da mão. Essa característica nas mãos permite que o mico-leão-dourado agarre-se nos ramos das árvores, apresentando uma locomoção completamente quadrúpede enquanto se movimenta na vegetação. Entretanto, isso é observado mais em cativeiro, ao passo que em estado selvagem, o mico-leão-dourado acaba sendo mais um escalador, se movimentando em ambientes verticalizados. Ademais, os quatro membros possuem mais ou menos o mesmo comprimento, o que é diferente dos outros calitriquíneos, o tornando também, menos saltador e mais escalador em sua locomoção. Não possui dimorfismo sexual, apesar dos machos tenderem a ser maiores. Em cativeiro foi constatado que podem viver até 14,2 anos. Morfologia crânio-dentária. A morfologia do crânio e dos dentes do gênero "Leontopithecus" já foi descrita e serviu como base para filogenias do gênero. O mico-leão-dourado possui crânio pequeno e maxilas pouco proeminentes, se comparado aos outros micos-leões. Também possui a face mais ampla que do mico-leão-de-cara-dourada e o mico-leão-preto. Apesar disso, a caixa craniana é do mesmo tamanho que do mico-leão-de-cara-dourada, medindo cerca de 28,46 mm de comprimento. As medidas morfométricas, principalmente na região da face, são diferentes entre macho e fêmea do mico-leão-dourado (cerca de 41% das medidas são diferentes), e os machos tendem a ter maiores medidas que as fêmeas, com exceção da largura das órbitas (13,32 mm para as fêmeas e 13,2 mm, para os machos). O crânio do macho de mico-leão-dourado tem até 57,52 mm de comprimento, enquanto a fêmea possui 55,66 mm. A mandíbula tem um formato intermediário entre o "V" do gênero "Callithrix" e o "U" do gênero "Saguinus", e mede 33,19 mm no macho e 32,40 mm na fêmea. O processo coronoide é grande e em formato de gancho. Tem 32 dentes, com fórmula dentária de . Os caninos (que possuem forma de sabre) e incisivos (os superiores possuem a coroa expandida e o incisivo externo possui uma disposição oblíqua e posterior ao incisivo interno) são longos e pontiagudos e são quase do mesmo tamanho. Os pré-molares possuem forma molariforme e os molares inferiores são quadrados e simples. O tamanho da dentição anterior do mico-leão-dourado, quando comparada ao das outras espécies de mico-leão, é reduzida. Os pré-molares e molares são grandes quando comparados com outros calitriquíneos: o primeiro molar inferior possui 8,75 mm² de área, enquanto que em "Saguinus oedipus" (que possui tamanho semelhante ao mico-leão-dourado), ele possui 6,29 mm². Esse tamanho nos molares parece ter relação com o formato em "U" do arco dentário da mandíbula. No desenvolvimento dentário, os primeiros molares inferiores são os primeiros a se desenvolver e também os primeiros a nascerem. Os caninos superiores são os últimos. Há um padrão de erupção dos dentes, sendo a seguinte sequência também presente em "Saguinus": m1-i1-i2-m2. Genética. O mico-leão-dourado possui 46 cromossomos, sendo o cromossomo Y e 14 autossomos, acrocêntricos, e o restante, incluindo o cromossomo X, possuem dois braços. O cariótipo é muito parecido com o observado no gênero "Saguinus" e idêntico ao do mico-leão-de-cara-dourada: as diferenças entre os táxons se dão por rearranjos diferentes nas bandas observadas nos cromossomos. Foi observado quimerismo em células XX/XY o que frequentemente é descrito nos representantes da subfamília Callitrichinae. Apesar da semelhança com "Saguinus", os mico-leões são mais próximos aos saguis do gênero "Callithrix" pela análise morfológica dos cromossomos. Foram identificados cinco lócus de microssatélites, sendo que quatro são polimórficos. Apesar de nenhuma das populações livres analisadas por Gravitol et al (2001) não conterem todos os alelos por lócus analisado, e a heterozigose ter sido baixa (principalmente em populações pequenas), existe uma grau de variabilidade genética nas populações selvagens, pois todas apresentaram polimorfismos em todos os lócus. Ademais, as populações analisadas neste trabalho foram significativamente divergentes entre si, o que pode ser um efeito da fragmentação do habitat e isolamento dessas populações entre si. Ecologia e comportamento. Os micos-leões são animais diurnos, sendo mais ativos nas primeiras horas da manhã. Utilizam principalmente buracos em troncos de árvore como sítios de dormida, que mudam diariamente, e eventualmente podem utilizar copas de palmeiras. Esses sítios de dormida se localizam preferencialmente entre 11 e 15m de altura. Passam boa parte do tempo (cerca de 33%) do dia se locomovendo pelo território, usando, geralmente, cerca de 50% dele em suas atividades diárias. O deslocamento médio diário varia entre 1 465 a 2 135 m na Reserva Biológica União. Possuem um repertório limitado de expressões faciais, como os outros macacos Neotropicais, e vocalizações e sinais odoríferos possuem papel importante na comunicação entre os indivíduos. Costumam ser bastante agressivos com indivíduos que não são do mesmo grupo, e interações agonísticas não são frequentes em grupos estáveis, a menos que existam fêmeas no estro. Um dos sinais de conflito entre mico-leões é a exibição do "arch display", que é quando um animal arqueia o dorso numa postura quadrúpede, parecendo maior do que é: essa postura não tem uma natureza necessariamente agressiva e parece regular o contato social, de forma a evitar agressão propriamente dita. Em cativeiro, a agressão entre membros do mesmo grupo é um problema, principalmente quando há a inclusão de animais novos. Machos jovens são os maiores alvos de ataques, e os agressores podem ser outros machos jovens, fêmeas jovens e adultos. Nota-se que machos adultos raramente iniciam ataques a membros do mesmo grupo. A catação é frequente, e é como observada em outros primatas, com as mãos sendo utilizadas para afastar e puxar o pelo de outro indivíduo. Machos costumam cheirar as fêmeas com frequência, principalmente na região ano-genital, quando estas estão no cio. Dentre os predadores do mico-leão-dourado, aves de rapinas e a jaguatirica, são exemplos, conhecidos por predarem calitriquíneos. Cães também são conhecidos predadores, assim como cobras (principalmente jibóias) e corujas (que predam filhotes ao acessarem seus ninhos). O risco de predação por animais noturnos em abrigos é preponderante no comportamento pouco chamativo dos mico-leões antes de irem dormir. Recentemente, foi observado que a maior parte dos micos-leões predados são animais reintroduzidos, e provavelmente, inexperientes quanto às estratégias de fuga e esquiva de predadores. Além disso, o grau de desmatamento de seu habitat tornou os micos-leões mais susceptíveis à predação, principalmente por animais domésticos. Parasitas. O mico-leão-dourado é relativamente livre de ectoparasitas, provavelmente devido à catação, tanto social, quanto solitária. Geralmente, são encontrados carrapatos: foram registradas formas imaturas de três espécies do gênero "Amblyomma" em micos-leões da Reserva Biológica Poço das Antas e duas da família Trombiculidae. "Microtrombiculida brennani" foi um espécie de trombiculídeo descrita no mico-leão-dourado, assim como outra espécie da mesma família, "Speleocola tamarina". Uma espécie de ácaro de folículo foi encontrada também: "Rhyncoptes anastosi". Foi constatado a presença de parasitas no trato gastro-intestinal em animais em liberdade nas reservas de Poço das Antas e União, principalmente acantocéfalos do gênero "Oncicola" (prevalência de até 30%), e duas famílias de nemátodos: Spiruridae e Trichostrongylidae. As fêmeas são mais infestadas por esses vermes do que os machos. Outros helmintos, com uma prevalência menor nessas unidades de conservação foram constatados: nemátodos das famílias Ancylostomatidae e Ascarididae e a espécie "Tripanoxyuris minutus" (um Oxyuridae). "Trypanosoma cruzi" (causador da doença de Chagas em humanos) infecta os micos-leões da Reserva Biológica de Poço das Antas (com prevalência relativamente alta), mas aparentemente, tal infecção não apresenta sinais clínicos. Nota-se, em áreas fora da Reserva Biológica em questão, que a prevalência de indivíduos infectados com "T. cruzi" é menor. Outros protozoários, como "Toxoplasma gondii", conhecido por parasitar saguis, infecta animais em cativeiro na América do Norte e Europa. A infecção por esse protozoário pode ser fatal. Amebíase e giardíase também são doenças que afetam micos-leões. Dieta e forrageamento. São animais frugívoros e insetívoros, se alimentando principalmente de pequenos frutos macios, artrópodes e pequenos vertebrados. Entre 10 a 15% de sua dieta é composta por insetos. Os micos-leões exploram bastante os microhabitats dentro das bromélias para encontrar insetos e pequenos vertebrados utilizando suas garras e longos dedos para explorar tais ambientes. Na estação seca, é comum substituírem parte da dieta por néctar, quando diminui a disponibilidade de frutos maduros. Na Reserva Biológica Poço das Antas foram constatadas até 64 espécies de plantas que são consumidas pelo mico-leão-dourado. Durante a estação seca, o néctar de "Symphonia globulifera" foi largamente utilizado. Outras fontes de néctar são de plantas epífitas como "Combretum fruticosum" e "Monstera sp". Esse padrão de alimentação também foi constatado na Reserva Biológica União. Os frutos são geralmente pequenos e macios, como de "Miconia candolleana" e de "Ficus sp", sendo que frutos maiores, como os de "Genipa americana" são consumidos de forma ocasional. Durante a estação seca, frutos não maduros de "Euterpe edulis", comuns em florestas pantanosas, são ingeridos largamente. Na Reserva Biológica União, plantas da família Myrtaceae, Sapotaceae, Melastomataceae e Rubiaceae têm importância na dieta dessa espécie de mico-leão, sendo responsáveis por até 41% das espécies consumidas. Nesse mesmo ambiente, foi visto que o peso médio dos frutos ingeridos é de 5,6 g e 21,9 mm de comprimento, possuem casca macia, e em sua maior parte, eram coloridos. Os mico-leões acabam por ingerir quase tudo do fruto, inclusive as sementes na maior parte dos casos, e é considerado um bom dispersor de sementes, já que as espécie ingeridas germinam, mesmo que em baixas proporções. Entretanto, Lapenta et al (2008) considera que o mico-leão beneficia algumas espécies e prejudicam outras, não apresentando um efeito consistente na germinação final de sementes. Outro estudo já aponta para um papel preponderante do mico-leão-dourado na regeneração da floresta, visto sua eficiência em dispersar sementes a uma distância considerável. Dentre os itens de origem animal, ovos, pequenos vertebrados, como sapos (do gênero "Hyla" e "Dendrophryniscus brevipollicatus") e filhotes de pássaros, artrópodes e até mesmo caracóis, fazem parte da dieta do mico-leão-dourado. Essas presas são geralmente procuradas entre bromélias e folhas de palmeiras, que são abundantes em florestas pantanosas. A procura é feita com as mãos, principalmente com o dedo mais longo. O consumo de presas é maior durante a estação chuvosa, mas a distribuição e abundância de microhabitats onde podem encontrar presas são preponderantes na busca que esses animais realizam por itens de origem animal. Organização social e território. O mico-leão-dourado é tradicionalmente tido como monogâmico, embora alguns estudos mostrem que a poliandria é relativamente frequente em liberdade (cerca de 40%). A poliginia pode ocorrer também, mas em menor porcentagem (apenas 10%). Neste caso, geralmente, o grupo de fêmeas é composto por uma fêmea mais velha (a mãe) e fêmeas mais novas (filhas), e a fêmea mais velha é a dominante. Se as fêmeas não são parentes, a dominância é conseguida através de comportamentos agonísticos. Na poliandria existe uma relação hierárquica entre os machos do grupo, que podem competir pelas cópulas. Frequentemente, o bando possui dois machos, sendo que o macho dominante possui altas concentrações plasmáticas de andrógenos: interessante notar, que se o macho subordinado for um parente do dominante, não é observado uma concentração menor de andrógenos no subalterno, ao passo que isso é reportado em animais subordinados não parentes ao dominante. A hierarquia entre os machos é sinalizada por meio de marcação de cheiro. Ela não parece ser utilizada para demarcar território, embora sirva para marcar locais em que se encontram recursos alimentícios. As fêmeas-alfa a utilizam para se comunicar com membros de outros grupos, o que não é observado entre os machos. Os bandos possuem entre 2 e 8 membros, e eles costumam abandoná-los quando atingem a maturidade sexual, saindo acompanhados de um ou mais dois irmãos do mesmo sexo. Quando saem do grupo, os machos têm a possibilidade de se tornarem dominantes ao ocupar a vaga de um dominante morto de outro bando. Já a imigração das fêmeas é pouco frequente, que não são somente perseguidas e agredidas pelas fêmeas de outro bando, mas também por machos: deve-se salientar que é difícil a incorporação de fêmeas flutuantes em grupos estáveis, o que não ocorre com os machos. As fêmeas, ademais, podem "herdar" a posição de alfa da mãe, o que aumenta as possibilidades delas continuarem no grupo, algo que não ocorre com os machos quando o dominante do bando em que nasceram morre. Entretanto, a "decisão" de uma fêmea dominante e reprodutora permitir a permanência de outra no grupo parece influenciada pela disponibilidade de recursos no ambiente, visto que é mais frequente bandos poligínicos em florestas pantanosas, onde existe maior quantidade de alimento. Sendo assim, a monogamia ou poliandria é devido mais à competição entre fêmeas e suas restrições sobre os machos do que uma preferência desses últimos pela monoginia. Além disso, associações entre machos são mais duradouras e estáveis do que associações entre fêmeas, o que favorece a poliandria e um cuidado parental compartilhado entre os machos. Cada grupo habita um território entre 21,3 e 73 hectares, como mostrado em estudos na Reserva Biológica Poço das Antas. Tal variação na área de vida está diretamente relacionada à quantidade de alimento no ambiente em que vivem. Na Reserva Biológica União, a área de vida é um pouco maior, possuindo em média, 109,2 hectares (variou entre 68 a 217 ha). É provável que essas diferenças estejam relacionadas à diferenças de produtividade entre as duas unidades de conservação, e na Reserva Biológica União, existe sobreposição nos territórios dos grupos. Trata-se também das maiores áreas de território entre os calitriquíneos, e parece vantajoso que os mico-leões sejam territoriais, visto que seus recursos alimentares são relativamente raros no ambiente em que vivem. Isso se reflete no tempo que o grupo de mico-leão passa em áreas fronteiriças do território, que apesar de serem menos abundantes em alimento, faz com que o bando passe muito tempo patrulhando os limites de sua área de vida, para evitar a entrada de intrusos. Observou-se que o sistema de acasalamento não influencia muito no tamanho do território, já que grupos monogâmicos ou poligínicos possuem mesmo tamanho de território. Entretanto, o tamanho do território de grupos contendo fêmeas reprodutoras é maior do que aqueles em que não possuem nenhuma. Vocalizações. As vocalizações desempenham um papel importante na comunicação entre os calitriquíneos, visto as inúmeras limitações visuais impostas pelo ambiente que vivem. As vocalizações do mico-leão-dourado são complexas e divididas em quatro tipos estruturais: "cacarejos", "ganidos", "trinados" e sons não-tonais, com vários componentes ultra-sônicos. Não há diferenças com relação à idade, sexo e entre grupos no uso de tais vocalizações. Tais vocalizações são emitidas em contexto ecológicos específicos e poucas são emitidas em encontros sociais: os "cacarejos" são comuns durante o forrageamento, os "ganidos" ocorrem frequentemente em atividades locomotoras em grupo pelo território ou quando existe um grupo muito próximo, os "trinados" são comuns quando os animais estão saltando. Acredita-se que muitas vezes essas vocalizações sinalizam estados de excitação nos determinados contextos, como quando indivíduos estão prestes a compartilhar comida. Existem vocalizações com tempo de duração longo, as "chamadas de longa distância", que são vocalizações comuns em contextos de defesa de território. Estudos referentes aos aspectos acústicos de tais chamadas sugerem que elas evoluíram primariamente dentro de contextos de comunicação intragrupo e depois passaram a ser utilizadas na territorialidade. A estrutura dessas vocalizações também é diferente das outras espécies de micos-leões, mas é semelhante a do mico-leão-preto, que possui notas de longa duração e relativamente baixa intensidade. Ao contrário do que se suponha baseado em outros calitriquíneos, é possível diferenciar quais vocalizações são emitidas por machos ou fêmeas, com exceção dos "trinados". Reprodução. Com base nos intervalos entre o acasalamento e o nascimento das crias, calculou-se que a média da gestação é de cerca de 129 dias. O ciclo estral é de 19 dias, sendo o menor dentre os Callitrichinae. As fêmeas não possuem sinais óbvios para os machos de que estão no período fértil, e possivelmente, isso tem relação com o sistema de acasalamento poliândrico ou monogâmico dos micos-leões. Nota-se, que pares recém-formados apresentam atividade sexual 2 a 6 vezes maior que aqueles formados há mais tempo, e nos primeiros, a frequência de cópulas não parece diretamente relacionada ao perfil hormonal da fêmea. As fêmeas estão aptas a se reproduzir com 15-20 meses de idade, mas só vão efetivamente ter filhotes com trinta meses, e os machos alcançam a puberdade com 28 meses de idade. Apenas a fêmea dominante se reproduz, inibindo o estro das outras fêmeas: em geral, as fêmeas jovens ainda residentes em seus grupos familiares de origem não apresentam o ciclo estral. Os micos-leões possuem um estro pós-parto, estratégia que evoluiu como forma de permitir que as fêmeas tenham duas ninhadas consecutivas na estação mais chuvosa do ano, de forma a maximizar a sobrevivência da prole. Os machos perdem peso durante o período de estro da fêmea, o que demonstra que a competição por cópulas é uma atividade desgastante, assim como o cuidado com a prole. Durante o período de estro da fêmea, as concentrações plasmáticas de hormônios andrógenos, como a testosterona, são maiores nos machos dominantes, como previsto pela hipótese do desafio. Existe competição por cópulas, e o macho dominante é responsável pela maior parte das cópulas em grupos poliândricos, apesar de que em alguns grupos, todos copulam com a fêmea reprodutora. Parece mais vantajoso para machos subalternos esperarem a morte do dominante do grupo ou de algum grupo próximo e ajudar no cuidado da prole do dominante, do que sair à procura de bandos longe para subir hierarquicamente. Isso mostra que a estabilidade de grupos com dois machos não necessariamente é devido à incerteza de paternidade por conta do macho subalterno. A cópula é feita como em muitos outros primatas, com o macho montando a fêmea (que se mantém em pé, apoiada nos quatro membros), segurando no quadril e apoiando as patas posteriores em algum galho ou outra superfície. Cuidado parental. Geralmente, dão à luz a gêmeos, sendo mais raros trigêmeos e filhotes únicos. Possuem uma sazonalidade na reprodução, com a maior parte dos nascimentos ocorrendo entre os meses de agosto e fevereiro em animais residentes no hemisfério sul. Em cativeiro, em animais residentes no hemisfério norte, os nascimentos ocorrem entre janeiro e junho. Os filhotes de micos-leões nascem com um peso de 60 g em média, mas esse valor pode variar. Indivíduos nascidos em cativeiro tendem a ser mais pesados que aqueles nascidos em liberdade. Filhotes nascidos na estação mais seca do ano também tendem a ter um peso menor. A taxa de mortalidade de filhotes de mico-leão é alta, tanto em cativeiro, quanto em liberdade. Todos no bando ajudam no cuidado com a prole, porém, a maior parte do cuidado é feito por indivíduos adultos, e em cativeiro, observa-se que há uma predominância no cuidado feito por machos. O filhote é carregado pela mãe até a terceira semana, e a partir dai ele passa a ser quase que exclusivamente carregado pelo macho, sendo que a fêmea só o carrega para amamentá-lo. Apesar de todos os machos em grupos poliândricos ajudarem, ela provavelmente é apenas do dominante. Eventualmente, o filhote não é de nenhum dos machos do bando, o que mostra que existe uma certa porcentagem de cópula extra grupo, e já ocorreu de não ser também da fêmea, evidenciando que existe adoção nesses animais, mesmo em estado selvagem. Durante o tempo que o macho cuida da prole, as concentrações plasmáticas de andrógenos diminuem, ao contrário do que é observado no período de acasalamento. Ademais, a ajuda de outros indivíduos do bando (chamados "helpers") parece preponderante na sobrevivência dos filhotes, visto que bandos em que possuem mais de um macho (ou seja, mais de um "helper") apresentam mais filhotes do que bandos com um macho somente. A ajuda do macho parece importante também na sobrevivência da prole, e não foi observado fêmeas cuidando de filhotes sem machos. Essa parece ser uma das razões pela qual a poliginia nos mico-leões é rara, já que se existem muitas fêmeas reprodutivas no bando, o potencial de ajuda paterna diminui com cuidados e recursos do macho sendo divididos com várias fêmeas. Isso fica evidente com o fato de que bandos poliândricos têm mais filhotes do que os poligínicos. O juvenil vai ficando independente aos poucos, e a partir da 12ª semana, ele quase não é mais carregado pelos adultos do bando. Conservação. O mico-leão-dourado é listado como uma espécie em perigo, tanto pela União Internacional para a Conservação da Natureza e dos Recursos Naturais (IUCN) quanto pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio). Atualmente, sua distribuição geográfica é muito restrita (ela se restringe a uma área de 154 km²) mas graças aos esforços para a sua reprodução e reintrodução, existem cerca de 3200 mico-leões na natureza, sendo que a maior população é encontrada na Reserva Biológica Poço das Antas e em fragmentos nos arredores na bacia do rio São João, que juntos, somam cerca de 500 animais. Na Reserva Biológica União, a população é de pouco mais de 120 indivíduos reintroduzidos, porém, a capacidade de suporte nesta unidade de conservação é de 158 indivíduos, o que mostra que logo ela não pode abrigar mais indivíduos. O desmatamento para retirada de madeira, agricultura e pecuária, e a caça para o comércio ilegal de animais silvestres, contribuíram para uma redução drástica das populações do mico-leão-dourado, principalmente na década de 1960. A paisagem em que habita o mico-leão-dourado atualmente está altamente fragmentada, obrigando as populações remanescentes a viverem em remanescentes isolados e reduzidos, com poucos excedendo 1000 ha, o que dificulta muito as ações conservacionistas. A conservação também é dificultada visto existirem espécies invasoras em seu habitat, como o sagui-de-tufos-brancos e o mico-estrela. Recentemente, em 2002, também foi reportada a introdução do mico-leão-de-cara-dourada, próximo a Niterói, e em 2009 ela tinha resultado em cerca de 107 animais ocorrendo a menos de 50 km da área de ocorrência do mico-leão-dourado. A presença dessa outra espécie de mico-leão é uma ameaça adicional ao mico-leão-dourado, visto que pode ocorrer competição e a hibridização entre elas, descaracterizando geneticamente as populações. A taxa de sobrevivência dos animais reintroduzidos tem sido encorajadora, mas a destruição de habitat desprotegido continua. A maior parte dos fragmentos de floresta estão em propriedades particulares, e a criação de reservas particulares faz parte da estratégia de se conseguir 25 000 hectares de florestas protegidas para o mico-leão-dourado. A intensa fragmentação do habitat dificulta o contato entre populações e o estabelecimento de novas, e trabalhos de reflorestamento, principalmente ligando fragmentos são preponderantes para minimizar esses efeitos. Na bacia do rio São João, foi criada uma área de conservação de uso sustentável em 2002, a Área de Proteção Ambiental da Bacia do rio São João/Mico-leão-dourado, com 150 700 hectares. Esta área visa normatizar o uso da terra na área de distribuição do mico-leão-dourado, minimizando a perda de habitat. Entretanto, deve-se salientar que apenas a Reserva Biológica Poço das Antas e a Reserva Biológica União contribuem significativamente para a meta de 25 000 hectares de florestas protegidas. Enquanto os corredores ecológicos não são devidamente implantados, a translocação de micos-leões entre os fragmentos de floresta tem se mostrado eficiente no repovoamento de áreas em que mico-leão-dourado foi extinto. A educação ambiental e a formação de uma consciência ecológica coletiva é outra importante estratégia na conservação da espécie, pois acaba culminando na colaboração da própria população local. Esta colaboração mostrou-se crucial. Organizações Não-Governamentais, como o SOS Mata Atlântica e a Associação Mico-Leão-Dourado, iniciaram um trabalho na popularização da espécie, e na sua relação com a Mata Atlântica, veiculando informações principalmente por redes de televisão e rádio, fazendo com que a necessidade de preservação do mico-leão-dourado ultrapassasse os limites regionais. A criação de uma mentalidade diferente na gestão da terra, também foi importante, fazendo que um modo de produção agroflorestal seja implementado em alguns assentamentos de reforma agrária, que acaba sendo uma forma mais sustentável de agricultura e mais integrada à conservação dos remanescentes de floresta e do mico-leão-dourado. História da conservação. Em 1969 descobriu-se que o número de indivíduos na Mata Atlântica era menos de 150. Foi entre 1965 e 1970, que foi registrado o maior declínio nas populações do mico-leão-dourado. Graças ao trabalho de Adelmar Coimbra-Filho, na década de 1970 a comunidade científica passou a se interessar pela conservação dessa espécie, culminando na criação da Reserva Biológica Poço das Antas e em um programa bem sucedido de reprodução em cativeiro. Antes dessa mesma década, Coimbra-Filho lutou pela preservação de uma área de 400 km² em Poço D'Anta, ao redor do rio Iguape, para manter uma população viável de mico-leões, entretanto, tal unidade de conservação não se concretizou e a região foi desmatada. Em 1975 a espécie foi listada no "Appendix I" da CITES, categoria dada aos animais ameaçados de extinção que podem ser ou estão sendo afetados pelo tráfico. A espécie foi listada como "em perigo" pela IUCN em 1982, e em 1984 o Smithsonian National Zoological Park e a World Wide Fund for Nature, através da Associação Mico-Leão-Dourado, começaram um programa de reintrodução em 140 zoológicos. Apesar do sucesso do programa, a classificação da IUCN subiu para "em perigo crítico" em 1996. No ano 2000, na primeira lista dos "25 primatas mais ameaçados do mundo", o mico-leão-dourado esteve presente, mas nas publicações seguintes não esteve mais, visto os grandes esforços feitos em sua preservação. Em 2003 o estabelecimento bem sucedido de uma nova população na Reserva Biológica União permitiu rebaixar a espécie para "em perigo", mas com uma advertência de que a extrema fragmentação do habitat pelo desmatamento faz com que a população selvagem tenha pouco potencial para uma expansão territorial adicional. Muitas outras reintroduções tiveram sucesso e aos poucos as populações remanescentes estão sendo conectadas entre si. Apesar de novos problemas surgirem (como a ocorrência de espécies exóticas de primatas em seu habitat), não há dúvidas de que, após seu início 30 anos antes, a conservação do mico-leão-dourado é atualmente um sucesso, e é provável que até 2025 ele já esteja livre da ameaça iminente de extinção. O recente censo que mostrou existirem 3200 micos-leões em liberdade dá esperanças para tal, dado que essa população parece suficiente para manter a espécie viva. Cativeiro e reintrodução. As populações em cativeiro do mico-leão-dourado têm sido gerenciadas globalmente desde 1973. Nos anos 80, a população chegou a 550 indivíduos, mas após várias reintroduções, em 2001, ela era de 489 indivíduos, distribuídos em 143 zoológicos em 29 países e se mantém estável atualmente. O nível de endogamia é adequado, mas a diversidade genética de animais em cativeiro não é alta. O programa de reintrodução dos animais teve seu início em 1984, e dos cerca de 1000 indivíduos na natureza, atualmente, 360 são de animais reintroduzidos. A reintrodução foi feita com sucesso em 21 fazendas na bacia do rio São João. A alta fragmentação do habitat dificulta o retorno de animais à natureza e a translocação, assim como a predação é fonte de perda de muitos animais reintroduzidos. O manejo de animais nascidos em cativeiro e reintroduzidos é feito usando o conceito de "metapopulação". Animais são translocados entre os fragmentos de floresta e entre zoológicos no mundo inteiro, o que faz com que as populações não estejam inteiramente isoladas, permitindo variabilidade genética necessária para a viabilidade das populações de mico-leão-dourado a longo prazo. Aspectos culturais. O mico-leão-dourado é um animal carismático e já foi desejado como animal de estimação, o que por muito tempo foi um grande problema na conservação da espécie, por ser altamente visado no tráfico ilegal de animais silvestres: Adelmar Coimbra-Filho relata que uma única pessoa coletou 300 indivíduos em apenas cinco anos na década de 1960. Sua primeira referência pelos europeus foi em 1519, quando o padre Antonio Pigafetta o descreveu como "lindos gatos próximos a micos e similares a leões". Sua forma peculiar e pelagem vistosa o tornou popular entre os aristocratas no século XVI e século XVII, sendo bastante retratado em pinturas nessa época. Atualmente, se tornou um símbolo de conservação de toda a Mata Atlântica e da preservação do meio ambiente em geral, tanto no Brasil quanto no mundo. É uma das principais "espécies bandeira" na conservação desse bioma altamente fragmentado, junto com o muriqui. Por vezes, acaba sendo um símbolo do Brasil propriamente dito (é representado, inclusive, na cédula de vinte reais), e foi candidato a mascote da Copa do Mundo de 2014.