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https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/audio-de-suposto-medico-de-um-hospital-do-rio-de-janeiro-que-defende-o-fim-da-quarentena-tem-informacoes-falsas/
COMPROVA
Áudio no qual um suposto médico de hospital do Rio de Janeiro defende o fim da quarentena tem informações falsas
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2020-04-03
Não existe a função de chefe de rotina no Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, no bairro de Acari, no Rio de Janeiro, função que o suposto médico diz exercer, e os dados que ele apresenta em áudio compartilhado em redes sociais não condizem com a realidade O áudio que circula pelas redes sociais e aplicativos de mensagens com uma mensagem de um suposto médico de um hospital do bairro de Acari, na Zona Norte do Rio de Janeiro, que recomenda a interrupção das medidas de isolamento social e a volta da população ao trabalho, devido ao baixo número de casos da covid-19 registrados na capital fluminense, apresenta dados falsos. O homem que se apresenta como “chefe da rotina” do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla não diz seu nome, mas, segundo a Secretaria Municipal de Saúde do Rio de Janeiro, não existe essa função no hospital de Acari. O áudio surgiu em grupos de WhatsApp e foi veiculado no canal do YouTube da jornalista Regina Villela, em 27 de março. O conteúdo produzido por ela foi então publicado, no dia 29 do mesmo mês, na página de Facebook do deputado estadual Delegado Cavalcante, do PSL do Ceará. No áudio, um suposto médico, que se apresenta como “chefe de rotina” do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, questiona as medidas de isolamento social impostas pelo poder público. Ele também diz que é chefe da emergência do Hospital Municipal Rocha Faria e que atua no Hospital Estadual Adão Pereira Nunes. Procuradas pelo Comprova, as Secretarias Estadual e Municipal negaram que o suposto profissional faça parte do quadro de funcionários das instituições, e a pasta municipal ressalta que ainda que o áudio fosse realmente de um médico atuante nas instituições, a opinião pessoal de um profissional não refletiria o posicionamento adotado pela Prefeitura e pela Secretaria Municipal de Saúde. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos Em uma busca básica na internet e na rede social do deputado cearense Delegado Cavalcanti (PSL/CE) e a partir da publicação, localizamos a conta de Regina Vilella no YouTube, onde o vídeo ainda estava disponível. Além disso, com outras ferramentas de busca levantamos a origem dos perfis citados na verificação do conteúdo e consultamos as assessorias de imprensa e comunicação das secretarias municipal e estadual de Saúde. No vídeo, Regina Villela começa sua apresentação dizendo que recebeu, pelo WhatsApp, o áudio “trocado entre um médico e os seus amigos, no Rio de Janeiro”. Segundo ela, a voz seria do “chefe de rotina” do Hospital Municipal Ronaldo Gazolla, no Rio de Janeiro, que foi “alocado para ser o centro de referência para o atendimento dos pacientes que chegarem na rede municipal ou estadual com problema pneumológico provocado pelo ‘vírus chinês’”. Entramos em contato com a jornalista, por email, para obtermos mais detalhes sobre a origem do áudio e a identidade do suposto médico, mas não obtivemos resposta. No áudio, o suposto médico diz que tem uma “boa notícia”. “Desde segunda-feira, nós temos no CTI quatro pacientes, nenhum óbito. Desses pacientes, 2 estão no tubo, grave, se mantendo. No quinto andar, onde temos 160 leitos distribuídos em 20 ou 25 enfermarias, cada uma com 4 ou 5 leitos, 8 pacientes internados, todos eles estáveis. Nem mesmo no CTI, são pacientes que não fazem parte da nossa faixa etária, e olha que eu tô com 56 anos“, afirma. O Hospital Ronaldo Gazolla é a principal unidade de saúde que está sendo preparada, na capital fluminense, para receber a maior parte dos casos de coronavírus da cidade. Segundo a Secretaria Municipal de Saúde, a unidade terá 381 leitos para os pacientes da covid-19, que estão sendo preparados e liberados conforme demanda. Ao contrário do que é afirmado pelo suposto médico, os casos registrados no Rio de Janeiro não se restringem a pessoas com comorbidades ou a idosos. O Estado tem, segundo o boletim epidemiológico publicado em 1º de abril, 832 casos confirmados da covid-19, 697 deles na capital. Além disso, pelo menos 28 mortes por coronavírus ocorreram no estado até o dia primeiro. O suposto profissional reforça a volta ao trabalho e diz que tem acompanhado a retomada de atividades nas proximidades dos hospitais onde afirma trabalhar: “Voltem ao trabalho, não fiquem em casa. O que o Bolsonaro falou, ele tá coberto de razão. A gente já está experimentando, dentro das favelas – eu trabalho dentro da favela de Acari [onde fica o hospital], eu sou chefe da vermelha do Rocha Faria, eu estou nesse momento aqui saindo do Hospital Adão Pereira Nunes, que é o de Saracuruna, as imediações desses hospitais é formada [sic] por um povo… Uma população muito pobre, já tá tendo uns ‘piquetezinhos’, pedido de dinheiro, o povo tá começando a entrar em desespero“. Como mencionamos, as Secretarias do Estado e do Município do Rio de Janeiro não reconhecem o vínculo do suposto médico com os hospitais citados. O homem ainda continua sua argumentação: “Não existe risco de coronavírus matar quem quer que seja da faixa etária até 40 anos ou 45 anos“, pontua. Ao contrário do que afirma o suposto médico, o Brasil já registra, conforme boletim do Ministério da Saúde, no dia 1º de abril de 2020, 11% das mortes em pacientes abaixo dos 60 anos. Destes, 15 estavam na faixa entre os 40 e os 59 anos, e 7 tinham entre 20 e 39 anos. A vítima mais jovem da doença no país tinha 23 anos. Outra afirmação do autor do áudio é de que “nós temos a taxa de replicação do vírus muito mais baixa do que as pesquisas mostram. Existem uns gráficos, não sei se vocês já viram, de cor, onde a faixa acima do Equador tá toda vermelha, tomada, porque lá é um ambiente frio. Nós não temos invernos radicais. Então, vamos evitar aí o colapso econômico“. Uma projeção da Imperial College, de Londres, na Inglaterra, aponta que o Brasil terá, pelo menos 44 mil mortes causadas pela covid-19, caso sejam adotadas medidas mais duras de isolamento. Caso se adote o que vem sendo chamado de “isolamento vertical”, ou seja, somente o isolamento de indivíduos que fazem parte de grupos de risco, esse número pode chegar a 529 mil. A respeito da suposta diferença de replicação do vírus no Brasil, por causa do clima tropical do país, não há estudos conclusivos que suportam esta afirmação. Ao contrário, especialistas afirmam que o clima mais quente do país não protege contra a doença. Quem é Regina Villela? No site de Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais, do Tribunal Superior Eleitoral, Regina Maura Villela Barboza, 58 anos, se apresenta como jornalista e redatora, nascida na cidade do Rio de Janeiro, moradora de Fortaleza/CE, e foi candidata do Partido Social Liberal (PSL) à vaga de deputada federal pelo estado do Ceará. Regina já prestou serviços para a Secretaria de Segurança Pública e Defesa Social do estado do Ceará, fornecendo trabalhos na área de comunicação e atualmente mantém um canal no YouTube intitulado “Regina Villela: Informação, Opinião e Gargalhadas”, cujo perfil é conservador e o principal tema é a abordagem de temas políticos. Ela é também autora da divulgação do áudio do suposto médico em seu canal e escreve para o site conservador Terça Livre. Outros conteúdos divulgados por Regina Vilella já foram checados e apontados como inverídicos. Viralização O Comprova encontrou publicações feitas no YouTube, Twitter e Facebook, entre os dias 27 a 29 de março. Até às 20h23 desta quinta-feira (2), o vídeo publicado no canal ‘Regina Villela’ no dia 27 de março, teve mais de 560 mil visualizações, 43 mil reações positivas, 1,5 mil reações negativas, com mais de 1.700 comentários. Na conta oficial de Regina Villela no Twitter, a publicação feita em 28 de março tem 811 retweets e 1.700 curtidas. A publicação da jornalista no Facebook, feita no dia 28, tinha 231 reações, 34 comentários e 140 compartilhamentos até o dia 2 de abril. O vídeo de Regina foi compartilhado no dia 29 de março, na página ‘Delegado Cavalcante’, ligada ao deputado estadual do Ceará, do PSL, no Facebook. A publicação alcançou até esta quinta, mais de 77 mil reações, 18 mil comentários e 117 mil compartilhamentos. O portal de notícias G1 também produziu uma reportagem sobre esta fraude.PAGE_BREAK: PageBreak
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/ministerio-da-defesa-desmente-boato-de-que-exercito-tenha-construido-2-mil-leitos-em-48-horas/
COMPROVA
Ministério da Defesa desmente boato de que Exército tenha construído 2 mil leitos em 48 horas
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2020-04-02
As Forças Armadas têm, de fato, atuado em montagem de hospitais de campanha, mas não é verdade que tenham construído 2.000 leitos em 48 horas como afirmam postagens nas redes sociais. Na China, os primeiros três hospitais de campanha tinham 4 mil leitos e foram feitos em 29 horas São falsas as publicações no Facebook que afirmam que o Exército brasileiro construiu 2 mil leitos em 48 horas para responder à pandemia do novo coronavírus, em comparação com a China, que teria construído 1.000 leitos em 10 dias. Procurado, o Ministério da Defesa assinalou que esta informação não procede, mas que as Forças Armadas estão atuando na montagem de hospitais de campanha. O Exército também foi procurado pelo Comprova para esclarecer o assunto, mas não respondeu até o fechamento deste texto. A afirmação verificada neste artigo foi publicada em 29 de março no Facebook e, desde então, foi replicada no próprio Facebook, além do Instagram e Twitter. Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais. Como verificamos Para esta verificação, foram consultadas as páginas na Internet do Exército e do Ministério da Defesa, os sites da Comissão Nacional de Saúde da China e do jornal China Daily e usada a busca reversa de imagens do Google. Também entramos em contato por e-mail e telefone com o Ministério da Defesa e com o Exército. Atuação do Exército no combate à covid-19 As Forças Armadas brasileiras têm, de fato, atuado no combate à pandemia de coronavírus. De acordo com uma publicação no site do Ministério da Defesa com data de 1º de abril, a chamada “Operação Covid-19” está em seu 10º dia de ação e conta com mais de 22 mil militares. Contudo, diferentemente do que afirmam as publicações viralizadas, não foi registrada até este momento nenhuma construção de 2.000 leitos em apenas 24 horas. Em e-mail ao Projeto Comprova, o Ministério da Defesa indicou que “a informação não procede” e que as Forças Armadas estão trabalhando “no apoio para a montagem de hospitais de campanha”. Nos sites do Governo Federal e do próprio Ministério da Defesa, há matérias a respeito da instalação em Boa Vista, Roraima, de uma “área de proteção e cuidados” para atender, em princípio, 80 brasileiros e venezuelanos com suspeita ou confirmação de coronavírus, e cuja ação faz parte da “Operação Acolhida”. Em confirmação por telefone ao Projeto Comprova, o tenente Edwaldo Costa, da assessoria de comunicação do Ministério da Defesa, explicou que, com a participação do Acnur (Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados), este local de proteção e cuidados será ampliado para 1.200 leitos hospitalares e 1.000 leitos para pessoas infectadas ou com suspeita de infecção, mas ainda não está em funcionamento, pois estão sendo providenciados. Publicações que exaltam o Exército tiram fotos de contexto Várias postagens no Facebook que elogiam a construção de 2 mil leitos pelo Exército brasileiro utilizam duas fotos fora de contexto. A primeira imagem mostra a montagem de uma estrutura para atender pacientes com problemas respiratórios no Pavilhão de Eventos São Sebastião Mártir, em Venâncio Aires, no Rio Grande do Sul. A foto foi publicada no site de notícias local Portal RVA no dia 24 de março de 2020 — a reportagem informa que ali serão instalados 30 leitos, e não 1,2 mil. Nesta outra matéria do Portal RVA, é possível ver outras fotos da estrutura de atendimento. Esta reportagem de outro site local informa que os leitos foram emprestados pelo Exército ao município. A outra foto é do Hospital de Reabilitação Ana Carolina Moura Xavier, em Curitiba. A foto foi tirada no dia 1º de outubro de 2019, data de inauguração de dez novos leitos da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pelo governo do Paraná. O espaço da UTI existia desde 2008, mas estava sem equipamentos. China construiu 13 mil leitos De acordo com a Comissão Nacional de Saúde da República Popular da China, 16 centros médicos temporários foram construídos em ginásios e centros de exposição da cidade de Wuhan, epicentro da pandemia na China. As informações sobre os hospitais foram divulgadas no China Daily, jornal do Partido Comunista Chinês. Treze mil leitos foram disponibilizados para o tratamento de vítimas da covid-19 que apresentavam sintomas leves nesses locais. Os primeiros três hospitais de campanha, de um total de 16, tinham 4 mil leitos e foram feitos em 29 horas. Segundo agências de notícias internacionais, como a BBC, outro hospital, com mil leitos, foi construído em dez dias. Ainda segundo as autoridades chinesas, o tempo médio para a construção dos hospitais de campanha foi de um dia. Os centro médicos funcionaram durante o ápice da epidemia, por um período de 35 dias. Viralização As publicações tiveram grande repercussão desde que foram postadas pela primeira vez, somando, até este momento, mais de 39,5 mil compartilhamentos no Facebook. Embora em menor escala, postagens com alegações semelhantes foram reproduzidas no Twitter e Instagram.
https://i0.wp.com/projet…=448%2C589&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/ao-contrario-do-que-afirma-deputado-estudo-de-vencedor-do-nobel-nao-prova-eficacia-da-ivermectina-contra-a-covid/
COMPROVA
Ao contrário do que afirma deputado, estudo de vencedor do Nobel não prova eficácia da ivermectina contra a covid
null
2021-05-19
São enganosas as afirmações do deputado federal Bibo Nunes em live no Facebook em que ele defende o uso da ivermectina contra o coronavírus. O político se baseia em um estudo de Satoshi Omura, vencedor do Nobel de medicina, que não comprova a eficácia do medicamento. Conteúdo verificado: Em live no Facebook, o deputado bolsonarista Bibo Nunes destaca texto do japonês Satoshi Omura, Nobel de medicina, e afirma que a ivermectina é eficaz contra a covid-19. São enganosas as afirmações feitas pelo deputado federal Bibo Nunes (PSL) em defesa do uso da ivermectina contra a covid-19 em uma live realizada no seu perfil no Facebook em 26 de abril. Ele apresenta o estudo “Global trends in clinical studies of ivermectin in Covid-19” (Tendências globais em estudos clínicos de ivermectina para Covid-19, em tradução livre), que tem entre os autores Satoshi Omura, vencedor do Prêmio Nobel de medicina em 2015 pela pesquisa que levou ao descobrimento do remédio. O estudo tem falhas, como usar dados postados na plataforma ivmmeta.com, um site informal sem nenhum valor de publicação científica, como mostra essa checagem feita pelo Estadão Verifica. Além disso, os próprios autores afirmam que, embora os ensaios clínicos venham mostrando dados positivos, ainda não há estudos que expliquem esses resultados. Por isso mesmo, pedem uma cooperação internacional para acelerar as pesquisas sobre o uso da ivermectina em pacientes com covid-19. Ao contrário do que afirma o deputado, não é verdade que “a ivermectina não tem efeito colateral; só faz bem”. Segundo a bula do medicamento produzido pela Vitamedic, sua ingestão pode causar “reações adversas leve e transitória”, que são “diarreia, náusea, falta de disposição, dor abdominal, falta de apetite, constipação e vômitos”. Ainda de acordo com a bula, “também podem ocorrer: tontura, sonolência, vertigem, tremor, coceira, lesão de pele até urticária, inchaço na face e periférico, diminuição da pressão arterial ao levantar-se e aumento da frequência cárdica”. Ainda há registros de hepatite medicamentosa por uso do chamado “kit Covid”, que inclui a ivermectina. A própria Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) anunciou em comunicado que as “indicações aprovadas para a ivermectina são aquelas constantes da bula” – ou seja, não incluem o combate ao coronavírus. E, em 16 de maio de 2021, a Folha divulgou informações sobre o documento “Diretrizes Brasileiras para Tratamento Hospitalar do Paciente com Covid-19”, que foi elaborado pelo Ministério da Saúde após revisão de estudos com especialistas e que não recomenda o uso de ivermectina, cloroquina e azitromicina, entre outros medicamentos para tratamento de pacientes hospitalizados com covid-19. O Comprova tentou contatar Bibo Nunes, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Como verificamos? Após assistir ao vídeo, o Comprova buscou o estudo citado pelo deputado e analisou o conteúdo do material. Também encontrou a checagem feita pelo Estadão Verifica, que serviu de apoio ao trabalho. Por telefone, a equipe entrevistou Vinícius Medina Kern, professor de Ciência da Informação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Além disso, o Comprova pesquisou comunicados de entidades de saúde em relação ao uso da ivermectina no combate à covid. A equipe ainda tentou contatar a empresa Vitamedic. Por telefone, um funcionário disse que havia recebido o e-mail da reportagem, mas, mesmo após pedidos de retornos, não houve resposta. A equipe também enviou e-mail e mensagens via Facebook para Bibo Nunes e ligou no escritório do deputado. Uma funcionária passou o número do “responsável pelo escritório”. Por WhatsApp, ele respondeu: “Assim que possível repasso ao deputado para ver se ele tem interesse em responder! Vou tentar te dar um retorno o mais breve possível!”. Às 10h30 do dia 19 de maio, o Comprova perguntou se ele iria responder e não recebeu resposta até a publicação desta checagem. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 19 de maio de 2021. Verificação O que diz o artigo O artigo usado pelo deputado Bibo Nunes em sua live no Facebook tem 52 páginas, foi revisado e aceito para publicação no dia 10 de março de 2021 pelo The Japanese Journal of Antibiotics e é assinado por Satoshi Omura, vencedor do Prêmio Nobel de medicina de 2015, e também por Morimasa Yagisawa, Hideaki Hanaki e Patrick J. Foster. Yagisawa é, junto com Foster e Omura, membro do Instituto Memorial Satoshi Omura, da Universidade Kitasato, no Japão. Yagisawa e Foster são professores da Faculdade de Farmácia da Universidade Keio, no mesmo país. Diferente do que diz o deputado, o artigo não prova que a ivermectina é eficaz contra a covid-19, nem que previne a doença. Na publicação, os autores fazem um apanhado geral da situação do uso de drogas para tratamento da covid-19 e afirmam que medicamentos como hidroxicloroquina, cloroquina, a combinação de lopinavir e ritonavir e o interferon tiveram eficácia limitada ou nula no tratamento da covid-19. Sobre outras drogas, como o Remdesivir, falam de limitações, como a melhoria de 30% na recuperação de pacientes críticos, mas o fato de não ser indicado para casos leves e moderados. O argumento utilizado pelos pesquisadores, antes de falarem sobre a ivermectina, é de que não há remédios para pacientes em casos leves e que, por isso, um método de tratamento eficaz ainda está sendo procurado. A ivermectina surge no artigo no momento em que os pesquisadores citam um grupo australiano, que teria registrado que o medicamento suprimiu a replicação do SARS-CoV-2 em um experimento in vitro, ou seja, em laboratório. Em seguida, eles falam sobre o histórico do uso de ivermectina desde 1987 para tratamento de oncocercose e filariose linfática – ambas doenças tropicais –, bem como no tratamento da escabiose em humanos. A partir daí, eles fazem uma ampla defesa da ivermectina para pacientes com covid-19, mas utilizam relatos de ensaios clínicos listados na plataforma ivmmeta.com, um site informal sem valor de publicação científica, com análises enviesadas sobre o medicamento, como mostrado nesta verificação, feita em março, pelo Estadão Verifica. Eles argumentam que os ensaios clínicos começaram a ser publicados por pesquisadores de diversos países no site Clinical Trials.gov (dos Estados Unidos) e na OMS, na área dedicada aos ensaios. O discurso dos pesquisadores é de que esses ensaios clínicos, com cerca de 15 mil pacientes, têm apresentado resultados positivos para a ivermectina tanto no tratamento quanto na prevenção de casos de covid-19 e que a probabilidade de que os resultados desses ensaios sejam um erro é “tão baixa quanto 1 em 4 trilhões”. Eles não deixam de apontar que os resultados encontrados levam em conta altas doses do medicamento, mas mencionam que há relatos de que, na prática médica real, existem respostas eficazes com o uso de doses consideradas normais. Por isso, seria necessário definir qual a sensibilidade do SARS-CoV-2 às doses de ivermectina. Nas considerações finais, os autores afirmam que, embora os ensaios clínicos venham mostrando eficácia da ivermectina, ainda não há achados que expliquem razoavelmente esses resultados. Por isso, eles dizem que vêm buscando o máximo de apoio possível para acelerar as pesquisas sobre o uso da ivermectina em pacientes com covid-19. Qual a validade científica do artigo? Professor de Ciência da Informação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Vinícius Medina Kern observa que o fato de um dos autores ter sido laureado com um Nobel não significa que o estudo não possa ser contestado, particularmente se considerar que Satoshi Omura recebeu o prêmio justamente pelas pesquisas que o levaram à descoberta da ivermectina. Nesse contexto, inclusive, estaria numa condição de conflito de interesses. Artigos científicos costumam mencionar os possíveis conflitos de interesse. O artigo em questão, no entanto, diz que não há conflitos de interesse a declarar. Vinícius Kern, cuja atuação tem foco em avaliação da ciência, ressalta que apenas a publicação do estudo não sustenta uma licença para o uso da ivermectina contra a covid-19. Para validar as informações deste ou qualquer outro estudo, explica Vinicius Kern, é preciso haver consenso científico a partir, por exemplo, de revisões sistemáticas na literatura sobre o tema que, neste caso, é a indicação de ivermectina para prevenir a infecção pelo coronavírus ou tratar pacientes já contaminados. Outra metodologia é a meta-análise, que faz uma avaliação estatística de resultados de vários estudos individuais para se obter uma conclusão geral. O professor buscou referências na PubMed, uma base de dados com resultados de pesquisas médicas, mas encontrou apenas cinco estudos que citam a ivermectina e nenhum, até o momento, tem evidência forte de que a medicação funcione para a covid-19. Em artigo publicado no Blogs de Ciência da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), a farmacêutica e doutora em Genética e Biologia Molecular Tatyana Tavella também aponta que o rigor científico é indispensável para que um estudo seja legitimado, isto é, há critérios que precisam ser observados durante a análise. No texto, ela cita a ivermectina e frisa que não existe tratamento precoce para a covid-19. O Estadão fez a checagem de um vídeo com o mesmo teor e, segundo especialistas consultados, o artigo de Satoshi Omura não é relevante cientificamente para atestar a eficácia da ivermectina. O que dizem as fabricantes Em 4 de fevereiro deste ano, a norte-americana Merck, que fabrica a ivermectina (mas não vende no Brasil), anunciou em um comunicado que não “há base científica para potencial efeito terapêutico do medicamento contra a covid-19 a partir de estudos pré-clínicos”. O texto afirma ainda que não existe “evidência significativa para atividade clínica ou eficácia clínica em pacientes com covid-19” e conclui que a empresa não acredita que haja dados que sustentem a segurança e eficácia da ivermectina além das doses e populações indicadas na bula. Um dia depois, a Vitamedic, que fabrica ivermectina em Anápolis, em Goiás, divulgou que está com a produção em ritmo acelerado porque “é um medicamento que está sendo testado em várias partes do mundo com uma grande expectativa que ela reduza a carga viral do coronavírus impedindo que a infecção causada por ele se desenvolva para quadros graves”. Segundo a bula do medicamento da Vitamedic, a ivermectina é indicada para “o tratamento de várias condições causadas por vermes ou parasitas” e funciona no tratamento de infecções como “estrongiloidíase intestinal, oncocercose, filariose (elefantíase), ascaridíase (lombriga), escabiose (sarna) e pediculose (piolho)”. Ou seja, não há nenhuma referência ao coronavírus. Ainda segundo a bula, no campo “interações medicamentosas” é explicado que “não há relatos sobre interações medicamentosas com a ivermectina; no entanto, deve ser administrada com cautela a pacientes em uso de medicamentos que deprimem o Sistema Nervoso Central, como medicamentos para o tratamento de insônia, ansiedade, alguns analgésicos ou mesmo bebidas alcoólicas. Informe ao seu médico ou cirurgião-dentista se você está fazendo uso de algum outro medicamento. Não use medicamento sem o conhecimento do seu médico. Pode ser perigoso para a sua saúde”. O penúltimo item da bula é a pergunta “Quais os males que este medicamento pode me causar?”. A resposta, diferentemente do que afirma Bibo Nunes no vídeo quando diz que a ivermectina “só faz bem”, é: “as reações adversas são leves e transitórias: diarreia, náusea, falta de disposição, dor abdominal, falta de apetite, constipação e vômitos. Também podem ocorrer: tontura, sonolência, vertigem, tremor, coceira, lesão de pele até urticária. Inchaço na face e periférico, diminuição da pressão arterial ao levantar-se e aumento da frequência cárdica”. O que dizem as entidades de saúde A posição mais recente da Organização Mundial de Saúde (OMS) é de 31 de março de 2021, portanto 21 dias após a revisão e publicação do artigo de Satoshi Omura sobre o assunto. Segundo o órgão, a recomendação ainda é de que a ivermectina seja usada para tratar a covid-19 apenas em ensaios clínicos. “Até que mais dados estejam disponíveis, a OMS recomenda que o medicamento seja usado apenas em ensaios clínicos”, diz a organização, em nota. A recomendação, agora, faz parte das diretrizes para tratamentos de pacientes com covid-19, atualizadas periodicamente, e se aplica àqueles em qualquer gravidade e com qualquer duração de sintomas. Posicionamento semelhante teve a Agência Europeia de Medicamentos (EMA, na sigla em inglês), que, em 22 de março, divulgou um comunicado em que conclui que os dados disponíveis não apoiam o uso do medicamento para covid “fora de ensaios clínicos bem planejados”. O documento afirma ainda que “os medicamentos com ivermectina não estão autorizados para uso na Covid-19 na União Europeia, e a EMA não recebeu nenhum pedido para tal uso”. Ainda antes disso, em 5 de março, a FDA, órgão de saúde dos Estados Unidos, publicou em seu site o texto “Por que você não deve usar a ivermectina para tratar ou prevenir a Covid-19”. No documento, a entidade afirma que o medicamento é usado nos Estados Unidos para tratar ou prevenir parasitas em animais e que “tem recebido inúmeros relatos de pacientes que solicitaram ajuda médica e foram hospitalizadas após se auto medicarem com ivermectina destinada a cavalos”. No Brasil, a ivermectina foi um dos medicamentos sem eficácia comprovada defendidos pelo governo de Jair Bolsonaro (sem partido), ao lado da cloroquina e da azitromicina, entre outros. Em julho do ano passado, a Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) anunciou em comunicado que “é preciso deixar claro que não existem estudos conclusivos que comprovem o uso desse medicamento para o tratamento da Covid-19, bem como não existem estudos que refutem esse uso” e que as “indicações aprovadas para a ivermectina são aquelas constantes da bula do medicamento” – ou seja, não é indicada contra a covid. Embora tenha sido defendida pelo governo, entidades da área da saúde são contra o uso do remédio para conter a pandemia. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a Associação Médica Brasileira (AMB) afirmaram em 19 de janeiro que “as melhores evidências científicas demonstram que nenhuma medicação tem eficácia na prevenção ou no tratamento precoce para a covid-19 até o presente momento”. Além disso, em 16 de maio deste ano, um parecer do Ministério da Saúde contraindica a prescrição da ivermectina, entre outras drogas, para pacientes hospitalizados com Covid, como a Folha informou em 16 de maio. Foi a primeira vez que a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde (Conitec) avaliou o uso desses medicamentos contra o coronavírus. Por que investigamos? O Comprova verifica conteúdos possivelmente falsos ou enganosos, divulgados em redes sociais, sobre a pandemia e que tenham alcançado alto grau de viralização. O vídeo investigado teve mais de 364 mil visualizações, 32 mil interações e 7,2 mil comentários até a tarde do dia 19 de maio de 2021. Conteúdos suspeitos sobre medicamentos sem eficácia comprovada colocam a população em risco, pois podem dar a entender que basta tomar o remédio para estar imune ao coronavírus, o que é mentira. É importante que todos saibam que é preciso seguir as medidas realmente eficazes na redução dos casos de covid-19, como a vacinação, o uso de máscaras e álcool em gel, a lavagem das mãos e o distanciamento social. Nesta fase, o Comprova já investigou outros conteúdos suspeitos relacionados à ivermectina e ao chamado “tratamento precoce”, com uso de substâncias que não têm eficácia comprovada contra a covid-19. No mês passado, matéria destacava que a OMS não indica o uso de ivermectina, após uma publicação no Facebook sugerir que a organização recomendava o remédio. Outra reportagem indicava ser falsa a alegação de que 52 municípios zeraram as mortes provocadas pelo coronavírus devido ao uso de remédios do “tratamento precoce.” Em 7 de maio, o Estadão Verifica também analisou um conteúdo semelhante, que usava o mesmo estudo de pesquisadores japoneses para defender a ivermectina. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/deputado-usa-video-editado-e-fora-de-contexto-para-afirmar-que-governador-admite-uso-da-cloroquina-no-ceara/
COMPROVA
Deputado usa vídeo editado e fora de contexto para afirmar que governador admite uso da cloroquina no Ceará
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2021-05-17
Vídeo postado pelo deputado Capitão Wagner Sousa (PROS/CE), com declaração do governador do Ceará, Camilo Santana (PT), foi editado e tirado de contexto. Conteúdo original é de 2020 e trechos que viralizaram agora não comprovam que o governo cearense admite uso da cloroquina. Não existe recomendação de prescrição rotineira ou de uso domiciliar de cloroquina no estado. Conteúdo verificado: Um vídeo publicado no Instagram mostra o governador cearense, Camilo Santana (PT), afirmando que a cloroquina está no protocolo do Ceará e que todas as decisões tomadas pelo estado estão pautadas nas questões técnicas e científicas. Uma tarja no vídeo tem o seguinte texto: “Camilo Santana admite uso da cloroquina no Ceará. E agora?”. O autor da postagem questiona: “Vai depor na CPI da Pandemia no Senado também?” É enganosa a postagem feita pelo deputado federal Capitão Wagner (PROS/CE), no dia 16 de maio de 2021, segundo a qual o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), teria admitido o uso da cloroquina no tratamento da covid-19 no Ceará. O vídeo, de 12 segundos, engana ao usar trechos recortados e descontextualizados de uma gravação do governador publicada no Instagram em 18 de maio de 2020. No vídeo original, Camilo Santana menciona o protocolo para uso da medicação no estado à época da publicação e reforça a inexistência de evidências científicas que justificassem a adoção da substância. No vídeo verificado aqui, trechos de frases são recortados e unidos para dar a entender que o governador garantiu o uso da cloroquina. O Governo do Ceará, em nota divulgada no dia 16 de maio, afirma que o vídeo é uma montagem, com falas usadas fora de contexto. Como verificamos? Primeiramente o Comprova buscou nos perfis oficiais no Instagram e Facebook do Governo do Ceará, da Secretaria de Saúde do Estado e do governador Camilo Santana, vídeos recentes nos quais o gestor aparecesse e houvesse alguma menção ao uso da cloroquina no tratamento da covid no estado. Não foi registrado nada do tipo. Em paralelo, foi feita uma pesquisa no Google sobre protocolo de uso do remédio no Ceará na pandemia. Os documentos oficiais encontrados foram publicados em 30 de maio de 2020, 17 de abril e 23 de abril de 2020. Com isso, foi feita uma nova busca nos perfis mencionados, nas publicações dos meses em questão. Assim, o Comprova chegou ao vídeo original, publicado no dia 18 de maio de 2020, no Instagram de Camilo Santana. Pelas informações do vídeo, constatamos que o material foi exibido durante uma live promovida por Santana, com duração de 12 minutos e 31 segundos, na data publicada. Ao ouvir a gravação foi possível identificar trechos utilizados no vídeo publicado pelo deputado. Em seguida, o Comprova entrou em contato com o Governo do Ceará, via WhatsApp, ligação e por e-mail. A assessoria confirmou a veracidade do vídeo, mas acrescentou, por meio de nota oficial, que a versão editada – que circula nas redes sociais – está fora de contexto. A assessoria também enviou, por email, uma das notas técnicas emitidas pela Secretaria de Saúde do Ceará, no dia 30 de maio de 2020. O Comprova também procurou o deputado Capitão Wagner Sousa. A assessoria de imprensa informou, por meio de nota no WhatsApp, que o post foi uma crítica “sobre a fala dúbia do Governo do Ceará sobre a utilização do medicamento em questão, independente se o vídeo é de 2020”. A equipe de comunicação do parlamentar informou ainda ter “responsabilidade com as informações postadas como também coerência sobre o que defendem”. Após o contato da equipe de verificação a legenda do post foi alterada duas vezes. O Comprova fez esta verificação com base em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de maio de 2021. Verificação Vídeo original x vídeo manipulado O vídeo original do governador Camilo Santana é de um live feita no dia 18 de maio de 2020 e transmitida pelos perfis do gestor no Facebook e no Instagram. O vídeo real foi publicado no perfil oficial de Camilo Santana (@camilosantanaoficial) no Instagram na mesma data. A gravação original tem duração de 12 minutos e 31 segundos. Na publicação, Camilo fala de algumas ações referentes ao combate à pandemia e, dentre elas, um decreto estadual que, à época, tratava das medidas de isolamento social no Ceará. Na gravação original, aos 10min28, o governador menciona o uso da cloroquina. Ele diz: “Uma outra polêmica também que tem surgido, aliás com muita fake news, muita fake news nas redes sociais, é a questão do uso da cloroquina. Cloroquina é um medicamento que ainda não tem comprovação científica, comprovada no mundo inteiro”. Camilo também afirma: “Quero dizer que o estado não utiliza a cloroquina. A cloroquina está no protocolo do estado do Ceará, agora, ela só é utilizada com a recomendação do médico. Só com a autorização do médico é que é utilizada a cloroquina para os seus pacientes. Então, deixar muito claro que todas as decisões que o estado tem tomado são pautadas nas decisões técnicas e científicas. Não há política. Aliás, eu acho que a política tem que estar fora de qualquer contexto nesse momento de enfrentamento à pandemia”. Já o vídeo publicado pelo deputado federal Capitão Wagner, no dia 16 de maio de 2021, em seu Instagram (@capitaowagnersousa), tem duração de 12 segundos, e nele é possível ouvir trechos recortados do vídeo original do governador. Na publicação editada e descontextualizada, Camilo supostamente disse apenas: “A cloroquina está no protocolo do estado do Ceará. Deixar muito claro que todas as decisões que o estado tem tomado são pautadas nas decisões técnicas e científicas”. No vídeo manipulado é possível perceber um corte brusco de edição entre a finalização de uma frase do governador e o início da outra. Na primeira legenda da postagem, há a seguinte frase: “Vai depor na CPI da Pandemia no Senado também?”. Após o contato feito pela equipe do Comprova, a legenda foi alterada, na tarde do dia 17 de maio de 2021, para: “Repostamos novamente este vídeo, para frisar que, em virtude do tema que voltou à tona, existe uma tentativa de criminalização do Ministério da Saúde por recomendar os uso da Cloroquina, sendo que, os próprios governadores incluíram no auge da pandemia o medicamento em seus protocolos. Camilo Santana governador do Ceará, Flávio Dino governador do Maranhão, João Doria, Governador de São Paulo, dentre outros. Vai depor na CPI da Pandemia no Senado também?”. Horas depois, ainda no dia 17 de maio de 2021, uma nova legenda foi postada: “Esse vídeo é apenas uma crítica sobre a fala dúbia do Governo do Ceará sobre a utilização do medicamento em questão, independente se o vídeo é de 2020. O tema voltou à tona com as discussões da CPI da Pandemia no Senado. Existe uma tentativa de criminalização do Ministério da Saúde por recomendar o uso da Cloroquina, sendo que os próprios governadores incluíram no auge da pandemia o medicamento em seus protocolos. Camilo Santana, governador do Ceará, Flávio Dino, governador do Maranhão, João Doria, Governador de São Paulo, dentre outros. Temos responsabilidade com as informações postadas, como também coerência sobre o que defendemos”. Protocolo de uso da cloroquina no Ceará O Comprova entrou em contato nesta segunda-feira (17) com a Secretaria da Saúde do Ceará, que informou, por meio de nota enviada por e-mail, que nunca existiu recomendação de prescrição rotineira ou de uso domiciliar de cloroquina no estado. No site oficial da Secretaria, há três notas técnicas publicadas em 30 de maio de 2020, 17 de abril e 23 de abril de 2020 sobre o uso dos medicamentos hidroxicloroquina e cloroquina durante a pandemia no Ceará. Na do dia 30 de maio, a secretaria informa que “considerando as melhores evidências científicas disponíveis até a data da publicação desta nota, a Secretaria de Saúde do Estado do Ceará não recomenda a prescrição rotineira de antimaláricos para pacientes ambulatoriais e hospitalizados com diagnóstico suspeito ou confirmado de COVID19”. Contudo, acrescenta a nota, “sendo o ato médico de responsabilidade maior deste profissional, não cabe ao Estado constranger a decisão médica quanto à referida prescrição. Os profissionais de saúde têm como prerrogativa, segundo o julgamento clínico, a perícia profissional e a atitude ética, para tomada de decisões que podem prevalecer as orientações e diretrizes gerais”. Na nota do dia 17 de abril de 2021, o objetivo é orientar e informar os critérios de distribuição e fluxo de acesso à hidroxicloroquina (sulfato) e a cloroquina (Difosfato) para o tratamento de pacientes internados em hospitais públicos privados com Covid. O documento informa que “o uso dessas drogas estará condicionado ao preenchimento do Termo de Consentimento Informado (TCI), que deverá ser aplicado pelo médico responsável, bem como o preenchimento do formulário sobre o uso e as reações adversas”. A nota informa como será a logística para distribuição em hospitais de Fortaleza e do interior do estado e ressalta “não existem evidências científicas disponíveis sobre a utilização de tais medicamentos de forma profilática e por isto recomendamos que estas não sejam utilizadas com essa finalidade”. O documento do dia 23 de abril de 2020, voltado aos profissionais de saúde, trata, de forma técnica, sobre o uso das duas medicações como drogas experimentais para tratamento da covid-19. A Secretaria reitera na nota questões tratadas nas anteriores, e reforça que “o uso seja pautado na segurança do paciente e na busca da observação dos princípios elementares da bioética de beneficência e não maleficência”. A secretaria diz no texto que “compreendendo a legítima angústia de pacientes, familiares e profissionais, além do impulso de possibilitar oferecer a melhor oportunidade possível aos casos que evoluem de forma desfavorável, a Sesa/Ce tomou a iniciativa de fornecer abaixo algumas informações relevantes, que podem ser úteis para médicos e pacientes internados, na decisão conjunta de eventualmente fazer uso de Hidroxicloroquina (HCQ)/Cloroquina (CLQ) para o tratamento de COVID-19”. E acrescenta que “tais orientações levaram em consideração que não há estudos robustos efetivos que demonstrem eficácia da HCQ/CLQ na redução de mortalidade ou melhora dos desfechos clínicos no paciente com COVID-19 e que a prescrição do seu uso deverá ser feita por decisão do médico com o paciente e com familiares”. Conforme já publicado pelo Comprova, o apoio ao uso da cloroquina e da hidroxicloroquina nos casos de covid-19 se disseminou mundialmente após a publicação, em março de 2020, de um estudo conduzido pelo francês Didier Raoult. O então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, passou a apoiar a utilização e, logo depois, no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) encampou o mesmo discurso. Em outubro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) rejeitou de forma conclusiva o uso da cloroquina no combate ao coronavírus. Portanto, no atual cenário, diferentemente da situação de abril e maio de 2020 quando o vídeo original foi publicado e as notas técnicas divulgadas no Ceará, as evidências científicas já comprovam a ineficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da Covid. Quem é o Capitão Wagner O autor do post, Wagner Sousa Gomes, chamado de Capitão Wagner, é um militar da reserva da Polícia Militar do Ceará, eleito deputado federal pelo estado em 2018. No pleito, Wagner foi o deputado federal mais votado do Ceará, com 303 mil votos. Antes, Capitão Wagner, em 2012, foi eleito vereador de Fortaleza. Em 2014, garantiu vaga na Assembleia Legislativa do Estado, e fez oposição à gestão de Camilo Santana. Em 2016, concorreu a Prefeitura de Fortaleza e ficou em segundo lugar. Em 2020, pleiteou novamente o cargo de prefeito de Fortaleza e perdeu, no segundo turno, para Sarto Nogueira (PDT). Na eleição de 2020, o presidente Jair Bolsonaro, em lives, manifestou apoio ao Capitão e pediu votos para o candidato. Wagner também ganhou projeção política por ter liderado o motim da Polícia Militar no Ceará, iniciado em dezembro de 2011 e encerrado em janeiro de 2012. Entre o final de 2019 e o início de 2020, voltou a vivenciar motim de PMs, e na campanha eleitoral de 2020 em Fortaleza, um dos maiores embates públicos ocorreu entre Capitão Wagner e Camilo Santana. O governador, em campanha para o atual prefeito de Fortaleza, Sarto Nogueira, acusou Wagner de ter liderado o último motim de PMs. Wagner negou e afirmou que a paralisação foi espontânea e sua participação se deu apenas para ajudar nas negociações. Em março de 2020, Wagner apresentou à Câmara Federal um projeto que altera a Lei 12.505/2011, para incluir a concessão de anistia aos policiais e bombeiros militares do Ceará, que participaram dos motins a partir de outubro de 2019. Por que investigamos? Em sua 4ª fase, o Comprova verifica conteúdos possivelmente falsos ou enganosos, divulgados em redes sociais, sobre a pandemia ou o governo federal, e que tenham alcançado alto grau de viralização. O vídeo investigado teve mais de 213 mil reproduções, 16,2 mil curtidas e 1,5 mil comentários no Instagram até a tarde do dia 17 de maio de 2021. Conteúdos suspeitos sobre o chamado tratamento precoce e uso de drogas como a cloroquina têm sido recorrentes nas verificações feitas pelo Comprova durante a pandemia. Na terceira fase, das 194 verificações relacionadas à crise sanitária, 52 investigações foram sobre esses temas. Na quarta fase, ao menos três verificações já foram feitas tratando de publicações envolvendo cloroquina. Uma delas mostrou ser enganoso um tuíte de Carlos Bolsonaro afirmando que o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), é defensor da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Em outra, um post também enganoso distorceu a entrevista do médico Roberto Kalil Filho para sugerir que ele apoia uso amplo da cloroquina. Tais publicações editadas e tiradas de contexto são completamente prejudiciais ao debate público. Em se tratando de saúde pública, trazem ainda o agravante de gerar consequências e riscos drásticos e diretos à população, em um momento tão crítico como o da pandemia. Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro, de modo que seu significado sofra alterações.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/site-distorce-noticia-de-tv-australiana-para-alegar-que-china-testou-o-coronavirus-como-arma-biologica/
COMPROVA
Site distorce notícia de TV australiana para alegar que China testou o coronavírus como arma biológica
null
2021-05-14
Relato da jornalista Sharri Markson, do canal australiano de televisão Sky News, sobre livro escrito por cientistas militares chineses, não sustenta a afirmação de que a China teria testado o coronavírus como arma biológica cinco anos antes da pandemia. Para especialistas, evidências certificam que o novo coronavírus é natural, ou seja, não foi criado em laboratório. Conteúdo verificado: Texto do site Terra Brasil Notícias afirma que um canal de TV australiano teria revelado documentos que mostram que a China testou o coronavírus como arma biológica, cinco anos antes da pandemia. Não é verdade que documentos mostrem o coronavírus sendo testado como arma biológica pela China antes da pandemia, como alega um texto do site Terra Brasil Notícias que viralizou nas redes. O conteúdo distorce uma reportagem divulgada pelo canal australiano de televisão Sky News. Não existem evidências que sustentem essa afirmação. O conteúdo faz referência a um comentário da jornalista Sharri Markson, em 9 de maio. Ela relata a existência de um livro escrito por cientistas militares chineses, em 2015, em que é discutida a possibilidade de utilização de patógenos como os coronavírus como estratégias de ataque. O fato de um trabalho acadêmico abordar o assunto, porém, não quer dizer que a China tenha investido na produção de armamento biológico. Esse documento, a que o Comprova teve acesso, defende a tese controversa de que o agente causador da SARS teria sido criado por terroristas e lançado sobre o país asiático, em 2002. Essa afirmação é rebatida por evidências sólidas, desde 2003, e o consenso no meio científico é o de que a mutação se originou naturalmente em morcegos. A página que compartilhou a desinformação ainda usa o termo “coronavírus” de forma enganosa para promover a ideia de que o documento noticiado pela Sky News estaria falando sobre o agente causador da covid-19 antes mesmo do surgimento da pandemia, o que não é verdade. O coronavírus tratado na obra é o Sars-Cov, responsável pela epidemia de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS, ou SRAG). A covid-19, por sua vez, é provocada pelo vírus Sars-Cov-2, agente que ficou conhecido popularmente como o “novo coronavírus” durante a pandemia. Evidências apontam que tanto o Sars-Cov quanto o Sars-Cov-2 têm origem natural. Em relação ao segundo caso, a hipótese de construção artificial foi descartada por um estudo publicado na revista Nature ainda em março de 2020. Especialistas consultados pelo Comprova também refutam a tese de criação do vírus em laboratório. Como verificamos? O Comprova chegou ao vídeo original da jornalista Sharri Markson por meio de uma pesquisa simples no Google. O conteúdo está publicado no site oficial da Sky News, com o título “Documento chinês discutindo coronavírus como arma biológica fornece informações arrepiantes”. A reportagem constatou que Sharri Markson apresenta um programa aos domingos no canal australiano de TV paga, que existe desde 1996. O assunto foi abordado primeiro em uma reportagem do jornal The Australian e também repercutiu em veículos internacionais, como o tabloide britânico The Sun e o chinês Global Times. A checagem então comparou o texto divulgado pelo Terra Brasil Notícias com o relato de Sharri Markson na Sky News e verificou que o site brasileiro distorceu informações. Em novas buscas, o Comprova encontrou uma reportagem do jornal South China Morning Post, de Hong Kong, que ouviu explicações de um dos principais autores do livro e menciona que a obra chegou a ser vendida na internet. Com a ajuda de ferramentas gratuitas de tradução (Google Tradutor e DeepL), a reportagem conseguiu confirmar que o livro foi vendido na Amazon e chegou até a publicação original, compartilhada por usuários em uma plataforma de acesso aberto, em chinês. O Comprova checou o nome e a filiação dos autores no livro e identificou uma das referências citadas pelo pesquisador chinês ao jornal de Hong Kong, um documento desclassificado do Departamento de Defesa dos Estados Unidos. A equipe ainda pesquisou artigos científicos e notícias e entrevistou dois especialistas – Daniel Cláudio de Oliveira Gomes, doutor em Imunologia e professor do Núcleo de Doenças Infecciosas da UFES, e Flávio da Fonseca, virologista do departamento de Microbiologia da UFMG e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia – para entender quais as melhores evidências científicas atualmente sobre a origem do Sars-Cov e Sars-Cov-2, além de contextualizar o assunto. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 14 de maio de 2021. Verificação O relato da jornalista da Austrália Em 9 de maio, Sharri Markson afirmou em seu programa na Sky News que cientistas militares da China discutiram o uso de coronavírus como arma biológica em um documento de 2015. Segundo ela, a informação foi retirada de um livro escrito por cientistas do Exército da Libertação Popular da China e por altos funcionários de saúde pública do país. O nome do livro é “The Unnatural Origin of SARS and New Species of Man-Made Viruses as Genetic Bioweapons” (A origem não natural da SARS e novas espécies de vírus criados pelo homem como armas biogenéticas). Ele foi editado por Xu Dezhong, um professor aposentado da Universidade Médica da Força Aérea (chefe de um grupo de especialistas que analisou a epidemia de Sars), e Li Feng, ex-vice-diretor do Escritório de Prevenção de Epidemias da China. Em nenhum momento do vídeo Sharri Markson afirma que a China testou algum tipo de coronavírus como arma biológica. O seu relato sobre o documento não permite esse tipo de afirmação, assim como os trechos do livro mostrados na reportagem, nem existem provas até o momento de que isso seja verdade. O livro mencionado na matéria defende uma tese controversa de que o vírus da SARS teria sido manipulado por terroristas e lançado em um ataque contra a China, em 2002. O material discute a possibilidade desse modelo de pesquisa estar sendo conduzido no mundo e traz detalhes de como um ataque dessa natureza ocorreria e quais seriam os impactos esperados. Desde 2003, evidências sólidas apontam que o vírus da SARS surgiu em animais. Em 2017, virologistas chineses identificaram todas as “peças genéticas” que compõem o Sars-Cov humano em 15 cepas virais encontradas em uma caverna de morcegos — praticamente encerrando a questão, segundo a Scientific American. A Sky News mostra cinco frases do livro. A primeira fala sobre a existência de uma “nova era de armas genéticas”. A segunda, sobre avanços científicos permitirem hoje o congelamento de agentes biológicos e a sua aerossolização durante ataques. O terceiro trecho aborda condições apropriadas para a liberação de partículas, enquanto o quarto fala sobre as consequências esperadas e o efeito prolongado desse tipo de conflito. Por fim, um parágrafo aborda o terror psicológico que as armas biológicas podem causar na população. Nenhuma dessas frases indica que houve investimento da China na produção de armas biológicas. Críticas ao artigo A reportagem do The Australian repercutida pela Sky News recebeu críticas na China. O jornal Global Times, alinhado com o Partido Comunista Chinês, publicou uma nota afirmando que o veículo australiano escreveu um “artigo embaraçoso para sustentar uma teoria da conspiração de que a China investiu na criação do novo coronavírus como arma biológica anos antes da pandemia”. O tabloide chinês critica o jornal por tratar como um “documento vazado” o que seria apenas “um livro acadêmico que explora o bioterrorismo e as possibilidades de vírus sendo usados na guerra” que chegou a ser vendido na Amazon, ainda que esteja fora de estoque atualmente. O Comprova confirmou que o livro esteve disponível para compra na Amazon, como aponta o Global Times. Com a ajuda do Google Tradutor, a reportagem pesquisou pelo título do livro em chinês e o encontrou em uma página no marketplace da empresa de varejo. A Amazon informa que a obra foi publicada em agosto de 2015, pela Imprensa Militar de Ciências Médicas — uma editora chefiada pelo Exército da Libertação Popular da China e patrocinada pela Academia de Ciências Médicas Militares. Os principais autores são Xu Dezhong e Li Feng. O South China Morning Post, um jornal de Hong Kong, também publicou uma reportagem sobre o caso. Ele afirma ter entrado em contato com o principal autor do livro, Xu Dezhong, que declarou que a sua teoria sobre a origem não natural do vírus da SARS não foi levada a sério. Dezhong alegou ainda que parte dos trechos citados pela mídia australiana foram retirados de um capítulo que comentava sobre um documento desclassificado das Forças Armadas dos Estados Unidos. O Comprova rastreou o documento pelo nome do autor, o coronel Michael Ainscough, do Centro de Contraproliferação da Força Aérea dos Estados Unidos. O artigo é intitulado “Next Generation Bioweapons: The Technology of Genetic Engineering Applied to Biowarfare and Bioterrorism” (A próxima geração de armas biológicas: a tecnologia de engenharia genética aplicada para a guerra química e o bioterrorismo). A origem do novo coronavírus A teoria de que o Sars-Cov-2 pudesse ter sido desenvolvido em laboratório se espalhou ainda no ano passado, com uma contribuição decisiva do ex-presidente dos Estados Unidos Donald Trump. Evidências científicas, no entanto, apontam que o vírus que causa a covid-19 tem origem natural. Ainda em março de 2020, em um estudo publicado na revista Nature, cinco pesquisadores dos Estados Unidos, Reino Unido e Austrália concluíram que “a análise mostra claramente que o SARS-CoV-2 não é uma construção de laboratório ou um vírus propositalmente manipulado”. Para chegar ao resultado, os pesquisadores compararam a estrutura genética do SARS-CoV-2 com a de outros vírus da mesma família. Os cientistas destacam que, se houvesse manipulação genética em laboratório, a estrutura do novo coronavírus seria parecida com a de outros organismos existentes, porque essas alterações partiriam de moldes conhecidos. “As informações genéticas mostram de maneira irrefutável que o SARS-CoV-2 não é derivado de nenhuma estrutura central de vírus usada anteriormente”. Doutor em Imunologia e professor do Núcleo de Doenças Infecciosas da Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), Daniel Cláudio de Oliveira Gomes disse ao Comprova que estudos como o da Nature apontam que o Sars-Cov-2 tem um perfil de mutação muito semelhante a outros vírus naturais encontrados em morcegos, hospedeiros que podem guardar a origem do agente infeccioso da covid-19. Os pesquisadores puderam chegar a essa conclusão, segundo ele, porque o Sars-Cov-2 tem um genoma pequeno (a informação genética do vírus), sendo possível fazer o sequenciamento genético e observar suas mutações. Essas alterações mostraram-se imprecisas, o que não é uma característica de vírus fabricados em laboratório. Estes, ao contrário, apresentam um elevado grau de precisão toda vez que replicam porque os genes podem ser selecionados. “É como se montássemos um quebra-cabeças, colocando as peças onde queremos. Por isso, os vírus fabricados são tão precisos. Os naturais são imprecisos como qualquer vírus circulante”, compara Daniel Gomes. Outra questão, apontada por Flávio da Fonseca, virologista do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV), é que tanto o Sars-Cov quanto o Sars-Cov-2 não têm cicatrizes em seus genomas. “Quando fazemos uma manipulação genética em qualquer pedaço de DNA, a gente utiliza ferramentas que deixam marcas, as cicatrizes”, diz Fonseca. “E nenhum dos vírus tem cicatriz que possa nos levar a pensar que ele foi manipulado geneticamente.” Por que investigamos? Em sua 4ª fase, o Comprova verifica conteúdos de redes sociais ligados à pandemia e a ações do governo federal. Priorizamos informações suspeitas que têm grande alcance, como o texto analisado nesta checagem. Quando um conteúdo tenta associar um vírus que já matou mais de 3,3 milhões de pessoas no mundo todo — 430.596 só no Brasil– a armas biológicas e à China, ele tenta criar uma narrativa política, colocando pessoas contra o país asiático. O texto segue a linha de pensamento do presidente Jair Bolsonaro, que, em 5 de maio, entre outros ataques, sugeriu que a China está fazendo uma “guerra biológica” com a Covid. O conteúdo verificado aqui, que teve mais de 4 mil interações e 2,8 mil compartilhamentos só no Facebook, segundo a ferramenta CrowdTangle, também coloca a população em risco, pois, ao fazer tal associação, sem nenhum embasamento científico, pode sugerir para que as pessoas não se vacinem com a Coronavac, produzida na China. Como o virologista Flávio da Fonseca disse ao Comprova, “qualquer informação falsa é muito ruim para a ciência porque gera descredibilidade, desinformação e confusão”. A postagem do site Terra Brasil Notícias também foi analisada pela Agência Lupa, que classificou o conteúdo como falso. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; aquele que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/post-usa-noticia-de-2019-para-parabenizar-bolsonaro-por-acordo-mercosul-ue-mas-negociacoes-estao-paradas/
COMPROVA
Post usa notícia de 2019 para parabenizar Bolsonaro por acordo Mercosul-UE, mas negociações estão paradas
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2021-05-13
É enganosa uma publicação no Facebook do dia 9 de maio de 2021, em um grupo de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, que utiliza manchete de uma edição impressa do Correio Braziliense para parabenizar Bolsonaro pelo acordo Mercosul-UE. A manchete utilizada no post é de 29 de junho de 2019, quando o acordo foi anunciado durante a cúpula do G20, mas as negociações para que o acordo entre em vigor estão estagnadas. Conteúdo verificado: Publicação de 9 de maio de 2021 no Facebook com foto da manchete “Maior acordo da história pode render US$ 100 bi ao Brasil”, da edição de junho de 2019 do jornal Correio Braziliense. A reportagem fala sobre o acordo entre a União Europeia e Mercosul, e o autor da postagem parabeniza Jair Bolsonaro pelo novo bloco econômico em grupo de apoio ao presidente. É enganosa uma publicação no Facebook feita no dia 9 de maio de 2021, em um grupo de apoio ao presidente Jair Bolsonaro, que utiliza manchete de uma edição impressa do Correio Braziliense para parabenizar Bolsonaro pelo acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. A manchete utilizada no post é de 29 de junho de 2019, quando o acordo foi anunciado durante a cúpula do G20, em Bruxelas, na Bélgica. Apesar de assinado, o tratado ainda não está em execução e as negociações para que o acordo entre em vigor se encontram estagnadas por entraves relacionados à política ambiental do governo Bolsonaro. O acordo foi assinado em 2019, mas as negociações já aconteciam há 24 anos, com início em 1995. Segundo o Itamaraty, as principais discussões, divididas em três fases, ocorreram entre 2000 e 2019, para então consagrar o pacto entre os dois blocos econômicos em 2019, primeiro ano de mandato do presidente Jair Bolsonaro. O Comprova entrou em contato com o autor do post em 13 de maio, via Facebook, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Como verificamos? Inicialmente, o Comprova buscou a capa do jornal Correio Braziliense, cuja foto foi publicada na postagem, e a encontrou no site oficial do jornal, veiculada no dia 29 de junho de 2019. Em seguida, buscou notícias publicadas posteriormente sobre o acordo em questão. Os dois blocos econômicos foram procurados, além do autor do post publicado em 2019, também responsável por compartilhá-la em 2021, mas este não respondeu à mensagem encaminhada via Facebook. Por fim, foi ouvido o especialista Renato Flôres, professor do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV) para comentar o assunto. Verificação O Acordo A manchete do jornal Correio Braziliense, “Maior acordo da história pode render US$ 100 bi ao Brasil”, cuja foto foi publicada na postagem, é verdadeira e foi veiculada em 29 de junho de 2019, dia seguinte ao anúncio do acordo. A notícia detalha o acordo de diálogo político, cooperação e livre-comércio entre os países que compõem o Mercosul e a União Europeia (UE). Ele foi considerado, em junho de 2019, o maior acordo entre dois blocos econômicos da história, já que o Mercosul e a UE somavam um PIB de US$ 20 trilhões e representavam 25% da economia mundial na ocasião, além de terem um mercado de 780 milhões de pessoas, conforme reportagem publicada pela Agência Brasil e replicada no site oficial da Secretaria-Executiva da Câmara de Comércio Exterior (Camex) do Ministério da Economia. Pelo acordo, estariam eliminadas as tarifas de importação para mais de 90% dos produtos comercializados entre os dois blocos. Para os produtos em que as tarifas não fossem eliminadas, elas seriam reduzidas. A eliminação de tarifas não seria imediata – o acordo estipulava que esse prazo levaria até 15 anos, dependendo do produto. Antes do tratado, segundo o Itamaraty, apenas 24% das exportações brasileiras para a União Europeia estavam livres de tarifas. O bloco europeu era o segundo principal parceiro comercial do Mercosul. O bloco sul-americano, por outro lado, era apenas o 8º parceiro da UE, para quem o Brasil exportou, em 2018, mais de US$ 42 bilhões. Um documento divulgado em julho de 2019 pelo Itamaraty expõe as principais regras do acordo e explica, por exemplo, que os países dos dois blocos têm garantido o direito de adotar medidas de defesa comercial previstas da Organização Mundial do Comércio (OMC), como antidumping (que impede a exportação a preços abaixo do valor de mercado), medidas compensatórias e salvaguarda global. O acordo também prevê, segundo o documento do Itamaraty, o combate a práticas anticompetitivas, como a formação de cartéis. As negociações já aconteciam há mais de 20 anos, sendo iniciadas em 1995, com a assinatura de um Acordo-Quadro de Cooperação Interregional entre o Mercosul e a UE, em Madri. Só em 1999, no entanto, é que se fixou o objetivo de iniciar as negociações para um acordo birregional entre os blocos. A decisão foi tomada na Cúpula Mercosul-UE no Rio de Janeiro. A primeira fase das negociações aconteceu entre 2000 e 2004, mas a discussão ficou parada até 2010, quando foi retomado o diálogo. A segunda fase aconteceu entre 2010 e 2012. Uma terceira foi iniciada em 2016 até o anúncio, em junho de 2019, da conclusão da parte comercial do acordo. Esta linha do tempo está disponível no resumo do acordo divulgado pelo Itamaraty. O anúncio de que o acordo havia sido firmado após mais de duas décadas de negociações ocorreu durante a cúpula do G20 em Bruxelas, na Bélgica, onde estiveram presentes o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro (sem partido), e o então ministro das Relações Exteriores do país, Ernesto Araújo. O presidente comemorou o feito e o tratou como uma vitória da equipe liderada por Araújo, afirmando que o acordo traria “benefícios enormes” e admitindo, posteriormente, que o ex-presidente Michel Temer tinha participação na conclusão das negociações. Qual a situação atual? O fechamento do acordo quanto à parte comercial não significa que ele esteja em vigor. Isso porque, após o anúncio, é necessária a revisão técnica e jurídica do documento, além de tradução para os idiomas de todos os países envolvidos. Cada país precisa, individualmente, ratificar o acordo em seus parlamentos para que ele entre em vigor. Na Europa, entretanto, há uma extensa discussão envolvendo descontentamento com a atual política ambiental brasileira. Em outubro do ano passado, o Parlamento Europeu aprovou texto afirmando que o acordo não poderia ser ratificado por este motivo, demonstrando a insatisfação de parte dos parlamentares com a forma como o documento está redigido. No início de maio de 2021, a Folha publicou extensa reportagem avaliando a atual situação do acordo, destacando que a discussão está pausada e aguardando um anexo de compromissos ambientais adicionais que sequer começou a ser negociado. A União Europeia discute, atualmente, legislação para reduzir o desmatamento global e um dos principais pontos é garantir que as cadeias de fornecimento dos países da UE não importem produtos provenientes de áreas desmatadas. No dia 10 de maio de 2021, o presidente da Argentina, Alberto Fernández, presidente temporário do Mercosul, se reuniu com o primeiro-ministro de Portugal, António Costa, e ambos falaram sobre o acordo comercial, segundo noticiado pela imprensa. Em declaração conjunta após a reunião, Fernández lembrou os entraves ambientais que necessitam ser superados para o andamento do acordo. Três dias antes, em 7 de maio de 2021, no Brasil, o presidente Jair Bolsonaro esteve com a ministra das Relações Exteriores da Espanha, Arancha González Laya. Após o encontro, ela declarou à imprensa que a Espanha é a favor da inclusão de um protocolo adicional no pacto que “contemple compromissos em matéria de desmatamento”. O Comprova encaminhou e-mails às assessorias de comunicação do Mercosul e também do Parlamento Europeu. A primeira recomendou estabelecer contato com a Presidência Pro-tempore do Mercosul, mas não conseguimos contacto com a instituição. [ATUALIZAÇÃO: os próximos três parágrafos foram acrescidos à verificação em 18 de maio para incluir a resposta do Parlamento Europeu recebida após a publicação da reportagem] O Parlamento Europeu respondeu em 18 de maio, após a publicação da verificação, informando que, atualmente, a Comissão está finalizando a revisão jurídica do acordo e afinando pormenores técnicos, em conjunto com o Mercosul. O passo seguinte, diz o posicionamento, será traduzir o documento para todas as línguas oficiais da União Europeia antes de ser apresentado ao Conselho e ao Parlamento Europeu para assinatura e conclusão. A assessoria de comunicação afirma, ainda, que a Comissão Europeia, que negociou o acordo em nome da UE, está buscando um acordo paralelo com o Mercosul a ser anexado ao original para dissipar dúvidas com respeito à proteção do meio-ambiente e de direitos trabalhistas. Esse acordo, uma vez alcançado, deverá ser aprovado pelo Conselho e, em seguida, o texto original e o anexo deverão ser aprovados pelo Parlamento Europeu. Ainda não se sabe se os parlamentos de cada país da UE também deverão votar o acordo. Não foram mencionados prazos no posicionamento. O responsável pela publicação no Facebook também foi procurado e não retornou. Ratificação do acordo Apesar de assinado pelos representantes dos países, o acordo ainda não está vigente. Isso porque é necessário que o Parlamento Europeu valide os termos da união dos dois blocos. O especialista Renato Flôres, professor do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas (FGV), explicou ao Comprova que há dois obstáculos para a ação: a pandemia do coronavírus e a política ambiental do governo Jair Bolsonaro. Segundo o professor, a pandemia é um grande dificultador para qualquer operação entre países, já que trouxe demandas mais urgentes para a fila de prioridades de qualquer governo. Sobre a política ambiental, Flôres destaca que a discussão é fator que gera dúvidas na diplomacia internacional, e com o acordo entre a União Europeia e o Mercosul não é diferente. “Há muito ruído. A questão da Amazônia mal explicada, mal compreendida, há grupos de países que questionam isso. Essa é a dimensão que o assunto vem sendo discutido”, afirma. Questionado sobre a previsão de ratificação do acordo, o especialista diz que é para daqui um ano, caso a pandemia já não seja mais uma ameaça para o mundo como hoje. O professor considera que será um importante passo para a recuperação econômica a longo prazo. Por que investigamos? Em sua 4ª fase, o Comprova checa conteúdos possivelmente falsos ou enganosos de redes sociais, sobre a pandemia ou o governo federal, e que tenham alcançado alto grau de viralização. A postagem analisada foi publicada em um grupo de Facebook que reúne 223,5 mil membros, somando 752 comentários, 1,3 mil compartilhamentos e 3,8 mil reações na data da verificação, dia 13 de maio de 2021. Nos comentários, leitores apoiam o acordo como se ele tivesse sido assinado agora e celebram os US$ 100 bilhões mencionados na manchete como se fosse uma receita garantida pelo governo Bolsonaro. Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/post-distorce-entrevista-para-sugerir-que-medico-roberto-kalil-filho-apoia-uso-amplo-da-cloroquina/
COMPROVA
Post distorce entrevista para sugerir que médico Roberto Kalil Filho apoia uso amplo da cloroquina
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2021-05-12
Logo após deixar o hospital em que ficou internado por covid no ano passado, o médico Roberto Kalil Filho deu uma entrevista à Jovem Pan contando ter tomado cloroquina. O título da matéria foi "Recuperado, Dr. Roberto Kalil revela que tomou hidroxicloroquina e defende uso em casos graves". O post verificado aqui, que foi feito no mesmo dia da entrevista e voltou a circular agora, traz como chamada: "Recuperado, Dr. Roberto Kalil revela que tomou hidroxicloroquina e defende: 'Tem que ser utilizada'". O post é enganoso porque em nenhum momento o médico defendeu o uso indiscriminado e, ainda no ano passado, disse "não ser garoto-propaganda de nada". Em maio de 2020, quando o post foi criado, já se sabia da ineficácia do remédio, mas, hoje, um ano depois, os próprios fabricantes e a OMS não recomendam seu uso para covid. Conteúdo verificado: Post de 8 de maio de 2021 no Facebook recupera reportagem de 8 de abril de 2020 da rádio Jovem Pan com o cardiologista Roberto Kalil Filho, alterando o título para afirmar que ele apoia o uso indiscriminado da cloroquina, medicamento sem eficácia comprovada que tomou quando foi infectado pelo coronavírus, para tratar casos de covid. É enganoso o post que usa afirmações do cardiologista Roberto Kalil Filho sobre a cloroquina para sugerir que ele apoia o uso indiscriminado do medicamento em casos de covid. A publicação, que foi feita no ano passado e voltou a circular agora, traz uma fotomontagem com o título alterado de uma reportagem da rádio Jovem Pan. No texto original, a chamada é “Recuperado, Dr. Roberto Kalil revela que tomou hidroxicloroquina e defende uso em casos graves” e, no post, “Recuperado, Dr. Roberto Kalil revela que tomou hidroxicloroquina e defende: ‘Tem que ser utilizada'”. Na entrevista à Jovem Pan, o médico contava como foi sua recuperação da doença e afirmava ter tomado hidroxicloroquina e outros remédios. Já naquela entrevista o diretor-geral do Centro de Cardiologia do Hospital Sírio-Libanês dizia: “Minha opinião é que independentemente das ideologias, devemos procurar minimizar o dano à população e evitar mortes. Se existe medicação com evidências que pode haver benefícios, aliada a outras medicações, numa situação desta, tem que ser utilizada e pronto. Não tem conversa”. Em nenhum momento ele defende a hidroxicloroquina como a única ou principal responsável por sua recuperação. Em 10 de abril, dois dias depois da entrevista, Kalil afirmou para a Folha que não era “garoto-propaganda de nada” e que seu tratamento incluiu uma combinação de remédios, não apenas a cloroquina. O post tira as afirmações de Kalil de contexto e utiliza-as um ano depois, quando o conhecimento sobre o uso da cloroquina contra a covid já está mais avançado. Em outubro de 2020, a Organização Mundial da Saúde (OMS) afirmou que o tratamento é ineficaz e, em março deste ano, passou a contraindicá-lo em casos de covid. No mesmo mês, quatro das seis fabricantes de cloroquina no Brasil já não recomendavam o remédio contra o coronavírus. O Comprova tentou falar com Kalil, mas sua equipe informou que ele não poderia responder às perguntas. Quanto ao autor da postagem no Facebook, a rede social não permitiu o contato direto com o perfil. Como verificamos? Buscamos as reportagens da rádio Jovem Pan sobre as declarações do médico Roberto Kalil, e o vídeo completo da entrevista concedida por ele ao veículo, no ano passado. As assessorias de imprensa do médico e do Hospital Sírio Libanês, onde ele atua profissionalmente, foram procuradas, mas disseram à nossa reportagem que o cardiologista não teria disponibilidade para uma entrevista. O Comprova não encontrou declarações diretas do cardiologista sobre o uso da hidroxicloroquina em pacientes da covid-19 após a publicação de diversos estudos que atestam a ineficácia do medicamento nesses casos. Por isso, buscamos em entrevistas e colunas assinadas por ele, em diferentes veículos, declarações recentes que dessem pistas sobre a visão dele sobre o assunto. Também buscamos os posicionamentos da OMS e de fabricantes da cloroquina e verificações nossas para averiguar o que mudou sobre o conhecimento científico que se havia em maio de 2020 e no mesmo mês deste ano. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 12 de maio de 2021. Verificação Kalil e a cloroquina A matéria publicada no site da Jovem Pan, em 8 de abril de 2020, tem o seguinte título: “Recuperado, Dr. Roberto Kalil revela que tomou hidroxicloroquina e defende uso em casos graves”. O texto se refere a uma entrevista concedida ao programa Jornal da Manhã, da emissora, na mesma data, e cita trechos das respostas do cardiologista sobre o uso da hidroxicloroquina no próprio tratamento, quando ficou internado por causa da covid-19, e no tratamento de outros pacientes infectados pelo novo coronavírus. Na entrevista, Kalil, que ainda estava internado, se recuperando do quadro de covid, afirma que recebeu um coquetel de medicações diante da gravidade do próprio quadro. Entre os fármacos, ele confirma que tomou hidroxicloroquina: “Foram propostos antibióticos, anticoagulantes, oxigenoterapia e a hidroxicloroquina. Obviamente, eu aceitei sim tomar a hidroxicloroquina — embora todos saibam que não tem grandes estudos comprovando o benefício, eu acho que num paciente mais grave tem sim que ser ponderado o uso”. Perguntado sobre o uso do medicamento mesmo em pacientes com quadro leve, o médico ressalta que não é infectologista, mas que acreditava que a hidroxicloroquina poderia ser um dos medicamentos utilizados no tratamento, desde que com acompanhamento médico. Kalil ressalta que a possibilidade deveria ser especialmente considerada diante da gravidade da pandemia e a possível demora até que surgissem estudos científicos robustos sobre a eficácia dos medicamentos. Depois da entrevista, no mesmo dia 8 de abril, o presidente Jair Bolsonaro mencionou a entrevista de Kalil em um pronunciamento oficial em defesa da cloroquina. Dois dias depois, em 10 de abril, a Folha publicou uma entrevista com o médico, em que ele ressaltou que o tratamento incluiu outros medicamentos e a estrutura do Hospital Sírio-Libanês. “Eu não sou garoto-propaganda de nada. Eu sou garoto-propaganda do que salva vidas. […] É verdade que não temos grandes estudos científicos mostrando benefícios, mas é uma doença que mata. Se daqui a seis meses sair um estudo mostrando que a cloroquina não funciona, parabéns, fizemos o que tinha que fazer”, afirmou. Hoje, diante das novas evidências científicas de ineficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, o cenário é bem diferente do de abril de 2020. Roberto Kalil não chegou a declarar de maneira direta, à imprensa, o seu novo entendimento sobre o uso dos fármacos, mas há várias publicações em que ele afirma que não há medicamento contra o novo coronavírus. É o caso, por exemplo, de uma uma coluna publicada no UOL, com uma conversa com a também cardiologista Ludhmilla Hajjar, publicada em 1º de março de 2021. O tema são as novas evidências científicas relacionadas à covid-19, e Kalil diz, ao final da entrevista: “Tratamento? Tem tratamento de suporte. Mas não existe um anti-viral. A arma é a vacina”. No mesmo veículo, em 11 de janeiro, ele já havia conversado com o infectologista David Uip sobre a inexistência de medicamentos. No vídeo da entrevista, Uip diz que “hoje, nós damos suporte à vida. Nos casos graves, o que nós fazemos é isso: suportamos a vida. No sentido de fazer o que é possível para o paciente grave continuar vivo — e estamos conseguindo, na grande maioria dos pacientes, graças a Deus. Mas infelizmente — e eu insisto nisso, infelizmente — ainda nós não temos um medicamento preventivo”. E Kalil completa: “A única medicação pra evitar o vírus chama-se vacina”. O Comprova tentou agendar uma entrevista com Roberto Kalil sobre o tema, mas a assessoria dele disse que o médico estava atarefado com a rotina de trabalho em dois hospitais, e não poderia atender à reportagem. Ineficácia contra a covid-19 O apoio ao medicamento se disseminou após a publicação, em março de 2020 –com o coronavírus já se espalhando pelo mundo–, de um estudo conduzido pelo francês Didier Raoult. Segundo a pesquisa, o uso da cloroquina teria curado 75% dos pacientes com covid-19 em seis dias. Mas o estudo foi alvo de críticas da revista Science, referência em estudos científicos, e seus resultados foram questionados e considerados incompletos. O então presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, passou a apoiar o medicamento e, logo depois, Jair Bolsonaro (sem partido) encampou o mesmo discurso. Já em 21 de março de 2020, Bolsonaro anunciou que o Exército ampliaria a produção do remédio no país para pacientes com o coronavírus. Quatro dias depois, o Ministério da Saúde emitiu uma nota técnica autorizando seu uso em pacientes graves. Nos meses seguintes, Bolsonaro demitiu dois ministros da saúde, Luiz Henrique Mandetta, em 16 de abril, e Nelson Teich, em 15 de maio. Ambos são médicos e se opunham à prescrição de cloroquina para tratar pacientes com quadros leves da doença. Em 20 de maio, o Ministério da Saúde, já tendo como ministro interino o general Eduardo Pazuello, passou a orientar o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no “tratamento medicamentoso precoce” de pacientes com o novo coronavírus, mas ressaltava que “ainda não há meta-análises de ensaios clínicos multicêntricos, controlados, cegos e randomizados que comprovem o benefício inequívoco dessas medicações para o tratamento da covid-19”. Só naquele mês, o Comprova publicou quatro verificações sobre o uso da cloroquina – todas com a etiqueta de conteúdo enganoso. Enquanto o chefe do governo federal defendia o medicamento sem eficácia comprovada, alguns médicos do Brasil todo passaram a fazer o mesmo. Começaram a surgir falsas teorias de que cidades, como Porto Feliz, teria evitado mortes pelo vírus por terem adotado o tratamento com o remédio. Ainda em outubro de 2020, a OMS rejeitou de forma conclusiva o uso da cloroquina no combate ao coronavírus e, quatro meses depois, a Apsen, maior fabricante do medicamento no Brasil, afirmou que não recomendava que ele fosse usado para este fim. Outras três farmacêuticas –Farmanguinhos/Fiocruz, EMS e Sanofi-Medley já haviam feito declarações nesse sentido. A Cristália, outra das seis fabricantes, divulgou um texto em março deste ano em que um representante ressaltou: “Não vendo nenhum produto fora do que a Anvisa autorizou. Ela autoriza para algumas coisas, como malária, mas não tem nada a ver com Covid. Na minha bula, que é dada pela Anvisa, só forneço cloroquina para estes fins específicos”. O sexto produtor é o Laboratório do Exército, pertencente ao governo federal, que continua defendendo o medicamento. Por que investigamos? Em sua 4ª fase, o Comprova verifica conteúdos de redes sociais ligados à pandemia e a ações do governo federal. Priorizamos informações suspeitas que têm grande alcance, como o post analisado nesta checagem. Embora não tenha eficácia comprovada, a cloroquina vem sendo amplamente defendida pelo presidente e seus apoiadores. Isso pode significar um risco para a população já que as medidas eficazes conhecidas até agora, além da vacina, são o distanciamento social, restrição de circulação, uso de máscaras e higienização das mãos. Só assim o país vai diminuir os índices de contaminação e morte pela doença. No ano passado, quando o post com Kalil foi publicado, houve 183 mil compartilhamentos no Facebook. Desde 8 de maio de 2021, quando ele voltou a circular, já foram 6,6 mil compartilhamentos e 12 mil interações. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; aquele que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-enganoso-que-coronavac-foi-proibida-nos-eua-e-na-europa/
COMPROVA
É enganoso que Coronavac foi proibida nos EUA e na Europa
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2021-05-12
É enganoso um vídeo no Facebook que afirma que a vacina Coronavac, do laboratório Sinovac, tenha sido proibida nos Estados Unidos e na Europa. A agência reguladora europeia ainda analisa a segurança e eficácia do imunizante, enquanto a sua semelhante no país americano não fez essa análise e, por ora, há forma de brasileiros entrarem nesses locais, tendo sido imunizados com ele ou não. Conteúdo verificado: Vídeo publicado no Facebook traz uma reportagem em vídeo do Jornal da Record e, em uma legenda sobre as imagens, a inscrição: “CoronaVac é proibido (sic) nos EUA e na Europa. Por isso que Bolsonaro não queria a Vacina Chinesa”. É enganoso um vídeo publicado no Facebook que afirma que a vacina Coronavac tenha sido proibida na Europa e nos Estados Unidos. A agência reguladora europeia ainda analisa a segurança e eficácia do imunizante, enquanto a sua semelhante no país americano não fez essa análise. A alegação enganosa foi inserida em cima de uma reportagem do Jornal da Record sobre um certificado de vacinação que será adotado pela União Europeia. A reportagem diz que o Parlamento Europeu aprovou tirar restrições para viajantes que já tenham sido vacinados com um dos imunizantes autorizados pelo órgão regulador do bloco econômico. A Coronavac não está entre esses imunizantes até o momento de publicação deste texto. Porém, não é possível afirmar que brasileiros não podem entrar nesses locais, já que há outras formas para viajar tanto para a Europa quanto para os Estados Unidos. O Comprova entrou em contato com o autor do post, que compartilhou a publicação em grupo no Facebook chamado “Bolsonaro 2022”, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Como verificamos? Primeiramente, fizemos buscas em sites de notícias para entender o que poderia ser a tal proibição. Também pesquisamos as páginas oficiais da European Medicines Agency (EMA) e do Food and Drugs Administration (FDA), onde são disponibilizados conteúdos sobre o andamento do processo de aprovação de vacinas no bloco europeu e nos Estados Unidos, respectivamente, e o site da Organização Mundial da Saúde (OMS). Entramos em contato, por e-mail, com a Comissão Europeia e o FDA e tentamos falar com o autor do post por mensagem direta no Facebook, mas ele não respondeu até a publicação deste texto. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 12 de maio de 2021. Verificação Coronavac nos Estados Unidos Nos Estados Unidos, o FDA é o órgão regulador equivalente à Anvisa no Brasil. Ele avalia e garante a segurança e eficácia de remédios, produtos biológicos, alimentos e cosméticos. Assim, é ele quem avalia os dados obtidos em testes clínicos por candidatas a vacinas contra a covid-19, por meio de seu Comitê Consultivo de Vacinas e Produtos Biológicos Relacionados. As pautas de todos os encontros do comitê estão disponíveis no site da FDA. O Comprova consultou os encontros de 2020 e 2021 e não encontrou nenhuma menção à vacina da Sinovac. Portanto, a vacina que no Brasil é chamada de Coronavac ainda não passou pela análise e não possui nem autorização nem recusa do comitê. A postagem analisada afirma que ela “foi proibida” e isso pressupõe que ela já teria sido analisada e negada pela FDA, o que é falso. Ela não pode ser aplicada, mas isso pode mudar caso venha a passar pela análise e seja aprovada. O Comprova perguntou ao FDA se a Sinovac já havia feito algum pedido de análise, mas o órgão respondeu por meio de sua assessoria que “não comenta testes clínicos de vacinas de covid-19 nem o contato estabelecido com nenhum dos fabricantes de vacinas sobre seus produtos em investigação”. Até a publicação deste texto, o comitê havia analisado as vacinas das farmacêuticas Pfizer/BioNTech, Moderna e Janssen (Johnson & Johnson). Todas elas foram consideradas seguras e eficientes em proteger contra o novo coronavírus e receberam autorização de uso emergencial, o que significa que elas podem ser aplicadas nos Estados Unidos. Coronavac na União Europeia Usada no Brasil, China, Turquia, Chile, Indonésia e outros países, a Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac e produzida por aqui em parceria com o Instituto Butantan, está sob análise contínua pela EMA (agência regulatória europeia). A análise contínua é um processo pelo qual o órgão analisa dados de segurança e eficácia do imunizante conforme eles vão se tornando públicos. Com isso, é possível acelerar o processo de análise e a possível aprovação. Quando o comitê regulador decide que há dados suficientes, o laboratório ou empresa farmacêutica pode apresentar o pedido formal de autorização para uso. A EMA começou a avaliar os dados da Coronavac no dia 4 de maio. Seu uso não ter passado por análise até agora não quer dizer que ela foi proibida na Europa. Brasileiros na Europa Um ponto que está em discussão é a permissão para entrada de turistas de outros países nas nações que formam a União Europeia. O bloco defende que quem foi imunizado com as vacinas aprovadas para uso na região – BioNTech/Pfizer, Moderna, AstraZeneca e Janssen – possa viajar com o Certificado Digital Verde, que vem sendo chamado de “passaporte da vacina”. Mas quem não tiver sido vacinado e quiser viajar poderá apresentar teste negativo para a Covid ou comprovar que se recuperou da doença. Ou seja, não há uma proibição da Coronavac ou de qualquer outro imunizante. Segundo a Comissão Europeia anunciou em 3 de maio, além de propor a entrada na União Europeia por motivos não essenciais, como turismo, de pessoas que tomaram uma das vacinas autorizadas pelo bloco, a intenção é permitir o acesso também daquelas que vêm de países com uma situação epidemiológica controlada. Além disso, ainda de acordo com o órgão, a proposta pode ser ampliada para pessoas que receberam uma das vacinas que tenham concluído o processo de uso de emergência da OMS. Isso ainda deixaria de fora a Coronavac, mas incluiria a vacina Sinopharm, também fabricada na China. Funcionaria da mesma forma que o imunizante, por exemplo, contra a febre amarela, cujo comprovante de vacinação é exigido para se entrar em alguns países como a Tailândia. Brasileiros em viagem O Departamento de Estado dos Estados Unidos da América concede, atualmente, permissão para a entrada de brasileiros com visto de estudante válido e matriculados em instituições de ensino locais e para viajantes qualificados que procuram entrar no país para fins relacionados a viagens humanitárias, resposta à saúde pública e segurança nacional. Os viajantes internacionais para os Estados Unidos são obrigados a fazer um teste viral três dias antes do voo e fornecer documentação por escrito do resultado do teste de laboratório (papel ou cópia eletrônica) à companhia aérea. Na Europa, a entrada de brasileiros saindo do Brasil também é permitida em alguns casos. Podem entrar, por exemplo, pessoas que têm cidadania de um dos países da União Europeia e essa liberação se estende para os familiares diretos, como filhos e cônjuge. Quem estuda ou trabalha no continente, com uma carta específica do país em questão, e quem trabalha na saúde, com pesquisas ou em funções diplomáticas e militares, também consegue um visto europeu. Mesmo quem mora em um país europeu, entretanto, precisa fazer um exame para detectar a Covid-19 e, em caso positivo, não poderá viajar. Além disso, algumas nações recomendam quarentena compulsória antes de voltarem à rotina. Existem países que fazem parte do território europeu e que estão aceitando a visita de brasileiros. A maioria deles não faz parte da União Europeia ou do Espaço Schengen, o que explica a liberação para os moradores do Brasil que estão viajando a turismo. Entre os países da União Europeia que permitem a entrada de brasileiros em viagem para Europa estão a Croácia, Irlanda e Eslovênia. Além deles, outras nações do Velho Continente estão abertas aos brasileiros, sendo elas a Albânia, Andorra, Bósnia e Herzegovina, Kosovo, Macedônia do Norte e Sérvia. Por que investigamos? Em sua 4ª fase, o Comprova checa conteúdos possivelmente falsos ou enganosos de redes sociais sobre a pandemia ou o governo federal e que tenham alcançado alto grau de viralização. Peças de desinformação sobre vacinas são nocivas porque enfraquecem a confiança da população no principal método disponível para controle da pandemia. Desenvolvida pela empresa biofarmacêutica chinesa Sinovac Biotech e produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, a Coronavac é, até agora, o imunizante mais aplicado no país e, desde que o governo de São Paulo anunciou sua inclusão no plano estadual de vacinação, no ano passado, tornou-se alvo de disputas entre o governador, João Doria (PSDB) e Bolsonaro. Em outubro, o presidente chegou a desautorizar sua compra, já anunciada, pelo Ministério da Saúde. Desde então, apoiadores de Bolsonaro criticam o imunizante, como faz o post verificado neste texto ao dizer “Olha aí o problemão. Depois a culpa é do presidente da República Bolsonaro”. A postagem foi publicada no perfil de um usuário do Facebook e compartilhada no grupo de apoio ao presidente, somando 7,3 mil interações até o dia 11 de maio. No perfil a postagem somava 447 reações, 61 comentários e 2,6 compartilhamentos. Já no grupo foram registradas mais de 2,7 mil reações, 174 comentários e 1,4 compartilhamentos. Enganoso, para o Comprova, é conteúdo que usa dados imprecisos e que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-tuite-afirmando-que-pazuello-viajou-para-os-eua-com-passaporte-diplomatico/
COMPROVA
É falso tuíte afirmando que Pazuello viajou para os EUA com passaporte diplomático
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2021-05-11
É falso o tuíte que afirma que o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, tenha recebido um passaporte diplomático do governo federal e viajado para os Estados Unidos, sem data para voltar. O post usava o nome e o logotipo do site de notícias G1 e foi criado por um perfil já verificado por outras agências de checagem. Logo após tentativa de contato do Comprova, o perfil bloqueou os conteúdos. O Exército confirmou que Pazuello não tem viagem programada. Conteúdo verificado: Post no Twitter, usando logotipo e nome do G1, afirma que o Itamaraty teria concedido passaporte diplomático para Pazuello viajar aos EUA e que o ex-ministro não teria data definida para retorno. É falso o tuíte do dia 10 de maio que afirma que o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, teria recebido um passaporte diplomático do governo federal e viajado para os Estados Unidos, sem data para voltar. A publicação afirmava, erroneamente “#URGENTE – Itamaraty concede passaporte diplomático e Pazuello viaja para os EUA. Assessoria do ex-ministro informa que ‘não há data definida para retorno'”. Nela, havia um link para uma reportagem, de fato, do G1, mas que nada tinha a ver com uma possível saída do país do ex-ministro da Saúde – era sobre o vice-presidente, Hamilton Mourão, dizendo que ter Pazuello como ministro foi “uma decisão de risco”. Outro indício de que a informação era falsa é que o perfil usava o nome e o logotipo do site de notícias G1, da Globo, no post. Contudo, o nome de usuário, precedido pela @, evidenciava não se tratar do perfil oficial do portal de notícias da Globo, que no Twitter tem G1 tanto no nome do perfil, quanto no de usuário, além do selo de conta verificada. Contatado pelo Comprova, o Exército confirmou que “não solicitou passaporte diplomático e não recebeu qualquer comunicação de viagem do militar citado na matéria” e informou também que “não há previsão de viagem oficial do militar”. O Comprova tentou contatar o autor do post, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto. Como verificamos? Para verificar o conteúdo, o Comprova clicou no link colocado no post e logo percebeu que era um conteúdo suspeito, pois ele levava a uma matéria que tratava de outro assunto. Também percebeu que, embora o nome e o logotipo fossem do site G1, a “@” usada pelo perfil não era a do portal e, na definição no campo da biografia, havia apenas a palavra “paródia”. Mesmo assim, a equipe tentou contato no dia 10, com o perfil, enviando uma mensagem direta via Twitter. A página bloqueou o conteúdo minutos depois. O dono do perfil não respondeu à reportagem até a publicação deste texto. O Comprova conversou, por telefone e e-mail, com o Ministério da Saúde, que respondeu que a equipe deveria contatar o Exército. Por e-mail, a instituição respondeu confirmando que não há previsão de Pazuello viajar. Também verificamos informações sobre como funciona a emissão do passaporte diplomático, com base no que diz o decreto federal número 5.978, de 4 de dezembro de 2006. O dispositivo versa sobre a emissão de cinco tipos de passaporte, entre eles o diplomático. Ex-ministros de Estado não estão entre os possíveis contemplados com o documento especial de viagem. Pazuello pode receber o passaporte diplomático desde que o Itamaraty considere que ele representa algum interesse do país. A pasta não respondeu às tentativas de contato do Projeto Comprova. Verificação O post Embora utilize o logo e o nome do G1, o perfil do Twitter que fez a publicação não tem ligação oficial com o veículo. Além disso, o link para o qual o post leva, do portal do grupo Globo, é sobre outro assunto, uma reportagem intitulada “‘Pazuello como ministro da Saúde foi uma decisão de risco’, diz Mourão”, que nada aborda sobre o ex-ministro da Saúde ter recebido passaporte diplomático. Ao afirmar que “Itamaraty concede passaporte diplomático e Pazuello viaja para os EUA” e que “assessoria do ex-ministro informa que ‘não há data definida para retorno'”, o post poderia estar insinuando que Pazuello iria deixar o Brasil para não depor na CPI da Covid, uma vez que, na semana passada, ele alegou contato com servidores infectados pelo coronavírus para adiar seu comparecimento. A nova convocação está marcada para 19 de maio. O Comprova contatou, por e-mail, o Exército, que afirmou não ter solicitado a emissão de passaporte diplomático para o general, ou recebido “qualquer comunicação de viagem do militar citado na matéria”. Acrescentou ainda que “não há previsão de viagem oficial do militar”. A página O perfil @cotore entrou no Twitter em agosto de 2018 e, na tarde desta segunda-feira (10), no campo de descrição sobre a página havia apenas a palavra “paródia”. Além de se identificar com o logotipo e o nome do site de notícias G1, o perfil colocou um símbolo ao lado do nome para parecer um perfil verificado pelo Twitter, mas, já em uma análise superficial, é possível perceber que é um símbolo diferente – inclusive, com a cor, preta, e não azul, como é a oficial dessa rede social. Às 17h30 de segunda, o Comprova enviou uma mensagem pessoal para o perfil, pedindo entrevista. Oito minutos depois, a página tuitou “Imagina os verificandinhos p* da vida no grupo do zap mandando o amigo da agência de checagem vir encher meu saco”, referindo-se aos jornalistas que trabalham em agências de verificação. Por volta das 18h, o perfil mudou a foto para uma imagem de um palhaço e, o nome, para hmm. Também fechou o perfil, permitindo a visualização dos posts apenas para seguidores aprovados. Em junho do ano passado, o mesmo perfil se passou por Donald Trump, usando a foto e o nome do então presidente dos Estados Unidos. No post, o falso Trump chamava o presidente do Brasil de Javier Bolsonaro e criticava-o em relação à gestão da pandemia. O post foi verificado como falso pela agência Lupa e o Boatos.org Passaporte diplomático Ele é um dos cinco tipos de documentos de viagem oferecidos pelo Governo Federal. Os outros são o comum, o oficial, para estrangeiros e de emergência. Segundo o decreto número 5.978, de 4 de dezembro de 2006, passaportes diplomáticos são emitidos pelo Ministério das Relações Exteriores. A Seção I do decreto indica que esta modalidade de passaporte é concedida ao presidente da República, ao vice-presidente e aos ex-presidentes da República. Ministros de Estado, ocupantes de cargos de “natureza especial” e titulares de secretarias vinculadas à Presidência da República, além de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), também estão entre os contemplados. Ex-ministros não são citados nos incisos do decreto. Em 20 de junho de 2020, por exemplo, Abraham Weintraub entrou nos Estados Unidos durante período de restrições ao ingresso de brasileiros naquela nação, uma das formas de combate à disseminação da covid-19. A entrada foi possível porque Weintraub ainda estava na condição de titular da Educação. A exoneração dele foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) somente quando o governo brasileiro recebeu a informação de que havia aterrissado no país. Além do passaporte diplomático, Weintraub não apresentou problemas de saúde, condição que favoreceu sua permanência no país. Há no decreto 5.978 uma brecha por meio da qual é possível inserir pessoas que não ocupam cargos na administração pública, contida no inciso terceiro do artigo 6º. O trecho diz: “Mediante autorização do Ministro de Estado das Relações Exteriores, conceder-se-á passaporte diplomático às pessoas que, embora não relacionadas nos incisos deste artigo, devam portá-lo em função do interesse do País.” Diferentemente dos critérios objetivos relacionados à ocupação de cargos públicos, “interesse do País” é subjetivo. Ou seja, uma pessoa pode ganhar o passaporte diplomático a partir do que o chanceler do momento considere relevante para o País. Com base neste trecho, líderes religiosos já obtiveram passaportes diplomáticos. A prática vem desde o governo Lula (PT) e permanece sob a administração de Jair Bolsonaro (sem partido). O Projeto Comprova entrou em contato com o Itamaraty às 18h28min de segunda-feira, 10. Por e-mail, a reportagem indagou a pasta sobre veracidade do post da conta intitulada “@cotore”. Também foi questionado se Pazuello já teve passaporte diplomático e se ainda o possui. O Comprova obteve somente um retorno automático informando que a mensagem foi recebida e que seria respondida com a “brevidade possível”. O Projeto Comprova ainda enviou outro e-mail, no sentido de reforçar o que havia sido enviado inicialmente e cobrar uma resposta. A reportagem não obteve retorno efetivo até a tarde desta terça-feira, 11. Por que investigamos? Em sua 4ª fase, o Comprova verifica conteúdos de redes sociais ligados à pandemia e a ações do governo federal. Priorizamos informações suspeitas que têm grande alcance, caso do post analisado nesta checagem. Em um período em que Eduardo Pazuello é foco de notícias por não ter comparecido à primeira audiência da CPI da Covid a que foi convocado e ser esperado para o dia 19 de maio, o tuíte, tentando se passar por um veículo de jornalismo, tenta enganar usuários do Twitter inventando que o ex-ministro estaria nos Estados Unidos –e, como tenta insinuar, faltaria à nova convocação da CPI. Apesar de o perfil ter a palavra “paródia” no espaço da biografia no Twitter, o post não pode ser categorizado como “sátira” – uma das etiquetas do Comprova – uma vez que a página se apropriou do nome e do logo do G1, tentando se passar pelo veículo. Dessa forma, o post, que foi compartilhado ao menos 1,2 mil vezes na rede, é falso. A mesma categorização foi usada pela agência Lupa e pelo Boatos.org em verificações do ano passado que envolviam o mesmo perfil, como escrito anteriormente. Falso, para o Comprova, é qualquer conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/postagem-que-associa-doria-e-lulinha-na-compra-da-coronavac-e-falsa/
COMPROVA
Postagem que associa Doria e Lulinha na compra da Coronavac é falsa
null
2021-05-07
No site oficial da Nasdaq, bolsa de valores dos Estados Unidos onde está listada a Sinovac, fabricante da CoronaVac, não constam empresas brasileiras entre as donas de ações da farmacêutica. O número do inquérito da Polícia Federal indicado na postagem verificada não existe. Além disso, Doria e Lula negam qualquer sociedade entre as partes. Conteúdo verificado: Postagem nas redes sociais, também compartilhada em aplicativos de mensagens, sugere que o governador de São Paulo, João Doria, e Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha, filho do ex-presidente Lula, são sócios na empresa fabricante da vacina Coronavac, visando às eleições de 2022. É falso o conteúdo de uma postagem no Facebook segundo a qual o governador de São Paulo, João Doria, e Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, filho do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, seriam sócios. Na mensagem que circula pelo WhatsApp e por redes sociais, a sociedade entre os dois estaria relacionada à CoronaVac, vacina produzida no Brasil numa parceria entre a empresa chinesa Sinovac e o Instituto Butantan – o centro de pesquisa biomédica do governo paulista. Lulinha, segundo o texto verificado, teria destinado R$ 100 milhões para adquirir 20% das ações da empresa em troca de apoio político a Doria. O texto cita como fonte a Polícia Federal, menciona o que seria o número do inquérito e alega que o órgão está investigando o caso. A Sinovac está listada na Nasdaq, um dos mercados de ações baseados nos Estados Unidos, e como todas as companhias nesta condição precisa se submeter a regras de transparência a respeito de quem são seus donos. No site da Nasdaq consta a lista de empresas que possuem ações da Sinovac e nela não aparecem empresas brasileiras. Além disso, todas as alegações foram contestadas pelas pessoas citadas durante a verificação do Comprova, a começar pela Polícia Federal, que ressalta que dados sobre operações estão disponíveis no site do órgão, e qualquer informação que tenha partido de canais não oficiais são de responsabilidade de quem faz a divulgação. Doria e Lula negaram qualquer aliança, e ainda criticaram o que seria uma estratégia de adversários políticos. O Comprova procurou um dos usuários que fez a publicação, mas até a divulgação desta checagem não obteve retorno. O post foi feito em uma página de apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Tanto Doria quanto Lula são adversários políticos de Bolsonaro. Eles são, também, adversários entre si. O conteúdo voltou a circular em abril, mas, em janeiro, a Agência Lupa já havia feito uma verificação em que apontava que era falsa mensagem de que o filho de Lula comprou 20% das ações da Sinovac. Como verificamos? Para verificar o conteúdo, o Comprova entrou em contato com o Departamento de Polícia Federal (DPF), ligado ao Ministério da Justiça e Segurança, solicitando informações sobre a suposta investigação reportada na postagem. A assessoria do órgão não confirma a existência de apuração sobre a compra de ações da Sinovac, fabricante da Coronavac, por Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha. O governo de São Paulo também foi procurado para se manifestar sobre a alegação de que o governador João Doria seria sócio do filho do ex-presidente. As acusações foram refutadas pela administração estadual, à qual está vinculado o Instituto Butantan. Lula foi questionado sobre a relação de seu filho com Doria e a suposta participação societária na Sinovac, e emitiu uma nota desmentindo qualquer envolvimento de Lulinha na empresa. Ainda houve uma tentativa de verificação junto ao usuário do Facebook que postou o conteúdo, com o envio de mensagem pela mesma rede social que usou para a divulgação, mas ele não respondeu. Para a checagem, também foram verificados o site da Sinovac e da Nasdaq, mercado de ações em que a empresa chinesa está listada, de modo a identificar os sócios. Entre os acionistas, nenhuma organização brasileira. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 7 de maio de 2021. Verificação Plano para eleição presidencial O conteúdo que circula nas redes sociais faz conjecturas sobre o suposto acordo de Doria e Lulinha como um plano do governador paulista visando à eleição presidencial, em 2022. Em um dos trechos, a mensagem diz que “uma força-tarefa da Polícia Federal descobriu que a empresa farmacêutica Sinovac Biotech, meses antes de assinar um acordo com o governo do Estado de São Paulo e o Instituto Butantan, teve 20% das ações compradas por um grupo de investidores, aqui do Brasil, cujo maior societário é Fábio Luís Lula da Silva, filho do corrupto condenado Lula.” Os 20%, segundo a postagem, teriam sido adquiridos por R$100 milhões na época, mas já teriam alcançado a marca de R$ 1,5 bilhão. Outro ponto afirma que houve uma tentativa de encobrir o acordo, cujo objetivo seria conquistar o apoio da esquerda ao projeto político de Doria de se eleger presidente. “Ele ganha a eleição e o PT, que não se elege mais, ganha apoio político e também uma parte da venda das ações que o filho do Lula comprou, ou seja, esses políticos safados querem nos aplicar uma vacina vagabunda, sem eficácia alguma, e ainda lucrar em cima do povo doente, sofrido e cheio de medo.” No contato feito com a Polícia Federal, o órgão foi questionado sobre a existência do inquérito 2022 13 45 – o número é a junção do ano da eleição e a representação dos partidos de Lula (PT/13) e Doria (PSDB/45). Também foi perguntado se há investigação sobre a sociedade do governador de São Paulo e Lulinha. Em nota enviada por e-mail, a Polícia Federal informa que as ações e operações do órgão são divulgadas oficialmente no site. “Qualquer informação que circule nas redes sociais que não tenha partido dos nossos canais oficiais de comunicação é de total responsabilidade de quem a divulgou”, diz um trecho. Em pesquisa no site da PF, não há nenhum inquérito com o número indicado na postagem. No site da Sinovac, não há nenhuma menção a Lulinha como sócio e, na seção de relacionamento com o investidor, a empresa ressalta que não oferece atualmente planos de compra direta de ações, uma modalidade de investimento em que uma pessoa interessada poderia adquirir os papéis da fabricante chinesa. Já a página da Nasdaq, mercado de ações na qual se encontra a Sinovac, não inclui nenhum grupo brasileiro, como sugere a postagem do usuário do Facebook. Em outro site de avaliação desse mercado, consta que a maior participação é da 1 Globe Capital, que detém 26% das ações da Sinovac, seguida pela SAIF Advisors, com 15,2%. Há, ao todo, 10 acionistas, com cotas variadas, a partir de 1,72% de participação na Sinovac. Do governo de São Paulo, o Comprova quis saber sobre a relação de Doria com Lulinha e, ainda, sobre a declaração de que a CoronaVac não é eficaz. A resposta, também por nota, enfatiza que a “informação é completamente falsa” e completa: “Esta é mais uma das inumeráveis fake news que têm o objetivo exclusivo de desinformar e confundir a população sobre as necessárias ações de combate à pandemia do coronavírus, que são adotadas pelo governo de São Paulo desde o início do ano passado”, pontua a Secretaria de Comunicação do governo paulista. Procurado para se manifestar sobre o conteúdo divulgado ou intermediar o contato com Lulinha, o ex-presidente Lula sustenta, em nota, que ele e sua família “são vítimas há anos de mentiras divulgadas por grupos políticos adversários, que produzem as mentiras mais absurdas com objetivos político-eleitorais.” Na avaliação do petista, são os mesmos grupos políticos que divulgam informações falsas sobre a pandemia, causando danos para a população brasileira no combate ao vírus que já matou mais de 411 mil brasileiros. “Infelizmente, as autoridades e redes sociais fazem pouco para coibir esse comportamento nocivo para a sociedade brasileira. Lógico que o filho do ex-presidente Lula não tem relação nenhuma com a empresa que produz a vacina CoronaVac”, critica Lula, acrescentando que é importante que os brasileiros tenham acesso às vacinas para superar a pandemia. A CoronaVac no Brasil Produzida pela empresa de biotecnologia Sinovac, sediada na China, a Coronavac está no lote das primeiras vacinas contra a Covid-19 a serem usadas no Brasil ao lado da Astrazeneca/Oxford/Fiocruz. Em junho do ano passado, o governo de São Paulo, ao qual o Instituto Butantan é vinculado, anunciou a parceria para testes e produção do imunizante no país. Três meses depois, Doria assinou um contrato com a companhia chinesa para transferência de tecnologia, possibilitando que o Butantan assumisse a produção para a distribuição da vacina no país. Já em dezembro, foi iniciada a fabricação do imunizante em território brasileiro. No início de janeiro, o instituto divulgou que o resultado dos estudos apontavam para a eficácia da Coronavac, e foi solicitado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) o uso emergencial no Brasil. No mesmo dia em que o órgão aprovou a utilização, em 17 de janeiro, o governo de São Paulo deu início à campanha da vacinação, antes da data que havia sido programada pelo Ministério da Saúde, provocando novos embates entre João Doria e o governo federal. Naquele mesmo mês, começou a circular nas redes sociais a mensagem relacionando o governador de São Paulo a Lulinha, estabelecendo uma conexão com a aquisição da Coronavac. A postagem voltou a ganhar força em abril, especialmente em compartilhamentos por aplicativos de mensagem. Ao longo de todo o processo, a vacina esteve no centro da disputa política de Jair Bolsonaro e João Doria. Por que investigamos? O Comprova investiga informações suspeitas com grande alcance na internet, caso do conteúdo analisado nesta checagem. As postagens circulam no Facebook, Twitter e são compartilhadas pelo WhatsApp. O conteúdo foi considerado suspeito porque estabeleceu uma relação comercial de duas figuras públicas, de espectros políticos distintos, sem apresentar dados confiáveis. O Projeto Comprova verifica também conteúdos que contenham informações duvidosas sobre a Covid-19. Neste caso, a mensagem levanta suspeição sobre a vacina Coronavac, uma das opções de imunização contra a doença no Brasil, e a desinformação pode comprometer a estratégia de vacinação no país. A Agência Lupa já fez a verificação do mesmo boato, ressaltando que Lulinha não comprou 20% das ações da Sinovac. O Estadão e o projeto Fato ou Fake, do G1, também desmentiram o conteúdo ao fazer a checagem. Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-verdadeiro-video-publicado-por-bolsonaro-e-que-mostra-comboio-levando-alimentos-para-araraquara/
COMPROVA
É verdadeiro vídeo publicado por Bolsonaro e que mostra comboio levando alimentos para Araraquara
null
2021-05-06
É verdadeiro o vídeo publicado nas redes sociais do presidente Jair Bolsonaro, que mostra um comboio levando alimentos para serem doados a populações carentes da cidade de Araraquara, no interior paulista. A ajuda foi enviada pela Ceagesp, cujo diretor-presidente foi nomeado por Bolsonaro. O prefeito da cidade, nas redes sociais, chamou a ação de “elogiável”, mas criticou o que considerou ser oportunismo político em sua realização. Conteúdo verificado: Vídeo mostra um comboio de veículos da Polícia Militar de São Paulo e caminhões do Exército brasileiro. A legenda diz que se trata de comboio saindo da Ceagesp, na capital, levando alimentos para a cidade de Araraquara, no interior. É verdadeiro que um vídeo publicado nas redes sociais do presidente Jair Bolsonaro mostre um comboio levando alimentos para serem doados a populações carentes da cidade de Araraquara, no interior paulista. A ação foi articulada pela Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), e foi viabilizada com apoio logístico do Comando Militar do Sudeste, do Exército brasileiro, e da Polícia Militar de São Paulo. O diretor-presidente da CEAGESP é o coronel da reserva da Polícia Militar, Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo. Ele foi indicado pessoalmente pelo presidente Jair Bolsonaro ao cargo. A cidade de Araraquara se destacou por ser a primeira cidade paulista com mais de 100 mil habitantes a proibir a circulação de veículos e pessoas ao longo do dia, a não ser em casos excepcionais. O lockdown rígido durou 10 dias e foi adotado após um aumento expressivo no número de mortes e casos causados pela circulação da variante de Manaus. Todos os estabelecimentos foram fechados, com exceção de unidades de saúde de urgência e emergência. Supermercados só podiam funcionar no modo delivery. Na postagem checada pelo Comprova, o presidente Jair Bolsonaro escreveu que os alimentos iriam para “aqueles que perderam renda vitimados pela política do ‘fique em casa que a economia a gente vê depois’”, fazendo referência às medidas de fechamento da economia como forma de isolamento social. Bolsonaro é contra qualquer medida de restrição nesse sentido, embora seja comprovado que elas impedem que a pandemia saia de controle ao cortar a cadeia de transmissão do vírus. Nas redes sociais, o prefeito de Araraquara, Edinho Silva (PT), chamou a ação de “elogiável”, mas criticou o que considerou ser oportunismo político em sua realização. Ele disse que a prefeitura e as entidades da cidade já prestam o apoio necessário e que “isso é feito todos os dias, não só num dia para criar imagem, viralizar imagem”. Como verificamos? O primeiro passo foi buscar as informações nos canais oficiais da prefeitura de Araraquara, do Comando Militar do Sudeste e da Ceagesp. Também buscamos reportagens em veículos de imprensa profissionais que pudessem dar o contexto dos fatos checados. Entramos em contato com as assessorias de comunicação do Exército e da Ceagesp, mas não tivemos resposta até a publicação desta checagem. Verificação A ação da Ceagesp A Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp) é uma empresa pública federal, vinculada ao Ministério da Economia. Ela faz a ponte entre os produtores agrícolas e a ponta do comércio. Conta com centros de armazenagens e entrepostos para venda dos alimentos. Em nota publicada em seu site, a Ceagesp anuncia o comboio como uma “ação social” que visa ajudar cidades prejudicadas pela pandemia. No Twitter da companhia, é possível ver que ações semelhantes já destinaram mantimentos para as cidades de Potim e Roseira, no interior paulista, para dois hospitais da capital e para uma tribo indígena na região metropolitana de São Paulo. Esta última também foi elogiada por Bolsonaro no Twitter. A ação para beneficiar Araraquara foi realizada em 29 de abril. Os alimentos foram doados pelos comerciantes do entreposto da capital e de unidades do interior, mas também por quaisquer pessoas físicas ou empresas que desejaram participar. Foram colhidas 100 toneladas de frutas, verduras, legumes e cestas básicas, de acordo com o próprio diretor-presidente Ricardo Mello Araújo. É possível ver fotos e vídeos do comboio de caminhões do Exército levando os alimentos no Twitter oficial do Comando Militar do Sudeste (CMSE). Ele saiu do entreposto na capital às 3h30. Nas redes sociais, Mello Araújo diz que a ação em Araraquara foi motivada por pedidos de entidades da cidade e por vídeos enviados pela própria população. “Me estranhou que nessa operação não houve pedido da prefeitura nem de vereadores. Os pedidos são da população”, comentou. Ele também fala que “Araraquara foi fechada num lockdown muito severo e a cidade está passando grande necessidade”. É possível ver imagens da ação nas redes sociais. Em um dos vídeos, uma mulher que seria uma das beneficiadas agradece e diz que “esse alimento vem em um momento de muita necessidade. É a hora mais certa do que nunca para ajudar a gente”. Embora a pandemia tenha atingido desproporcionalmente as populações mais vulneráveis e os trabalhadores informais, a região de Araraquara conhece os problemas da vulnerabilidade social há muito tempo antes da pandemia. O Comprova encontrou uma reportagem do jornal Folha de São Paulo, de 1999, que dizia que 6,77% da população vivia em situação de indigência. Já o portal G1 noticiou que em 2013, 0,6% da população vivia em situação de miséria. A ação da Ceagesp não contou com o apoio da prefeitura de Araraquara. Em vídeo publicado nas redes sociais, o prefeito Edinho Silva (PT) chamou a ação da Ceagesp de “elogiável”, mas não poupou críticas e falou que ela foi feita para “criar imagens”. “Todos os alimentos que foram distribuídos poderiam chegar às mesmas famílias utilizando as redes existentes, as entidades assistenciais e a rede pública. E as pessoas não precisariam se expor ao sol e a horas de fila. Sendo filmadas, sendo expostas”, falou. Citando o número de 250 toneladas doadas pela prefeitura em 2020, Edinho Silva argumentou que a cidade tem uma rede de apoio às populações carentes, seja por meio da assistência social, seja por meio de entidades. Como mostrou o UOL Confere, é possível encontrar informações de doações de alimentos no site da prefeitura desde ao menos 2017. “Isso é feito todos os dias, não só num dia para criar imagem, viralizar imagem. Esse é o conceito: viralizar imagens que não refletem a realidade”, opinou. Araraquara teve lockdown rígido Araraquara é uma cidade do interior paulista, distante cerca de 250 km da capital. Sua população estimada pelo IBGE em 2020 era de 238 mil habitantes. Seu prefeito é o petista Edinho Silva, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social no segundo mandato de Dilma Rousseff. A cidade paulista foi a primeira com mais de 100 mil habitantes a proibir a circulação de veículos e pessoas ao longo do dia, a não ser em casos excepcionais. A medida foi necessária depois que a cidade viu os números de mortes e novas contaminações subirem muito rapidamente. Foi detectada no município a nova variante de Manaus, mais contagiosa, o que teria contribuído para a velocidade de contaminação. O isolamento mais rígido começou em 21 de fevereiro, e terminou em 2 de março. No total, a população ficou sob as condições mais rígidas durante 10 dias, considerando-se um período de abertura gradual a partir do dia 27. Durante o período mais rígido, era liberado apenas o funcionamento de farmácias e unidades de saúde e emergência. Os supermercados podiam funcionar apenas por meio de delivery, o transporte público foi interrompido e todas as atividades comerciais foram barradas, com exceção da área da segurança. Ao fim do lockdown, o município voltou para as regras de restrição do Plano São Paulo, o plano estadual de controle da atividade econômica. No primeiro dia de lockdown, a cidade tinha ocupação de 97% dos leitos de enfermaria e 98% dos leitos de UTI (públicos e privados). Eram 218 pacientes internados, sendo 155 em leitos de enfermaria e 63 de UTI. Destes, 180 eram moradores de Araraquara e 38 de outros municípios, transferidos para lá. Dezesseis dias depois do fim do lockdown rígido, o número de internados baixou para 175. Os índices de ocupação caíram para 67% dos leitos de enfermaria (175 pacientes) e 84% de UTI (74 pacientes). Destes, 125 eram moradores de Araraquara e 50 transferidos de outros municípios. Nesta quarta-feira, 5, o município tinha taxa de ocupação de 60% dos leitos de enfermaria (98 pacientes) e 90% dos leitos de UTI (83). Destes, 86 eram moradores da cidade e 95 eram de outros municípios. As medidas de restrição da locomoção e da atividade comercial popularmente conhecidas como lockdown reduzem a expansão da pandemia na medida em que interrompem a cadeia de transmissão do vírus. A Organização Mundial da Saúde reconhece os impactos negativos para a economia e a sociedade, mas afirma que alguns países não tiveram outra opção que não “decretar lockdown para ganhar tempo”. Por isso, ela reforça que a medida seja adotada quando e onde for necessária, considerando-se a situação de cada local. A Ceagesp e o coronel Araújo Mello O coronel da reserva da Polícia Militar, Ricardo Augusto Nascimento de Mello Araújo, foi indicado pessoalmente pelo presidente Jair Bolsonaro ao cargo de diretor-presidente da Ceagesp. Quando na ativa, foi comandante da tropa das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), unidade de elite da PM de São Paulo. Com o coronel da reserva no comando, a Ceagesp se tornou o principal reduto bolsonarista em São Paulo. Em janeiro, o local sediou um protesto contra o aumento de impostos de alimentos anunciado e posteriormente revogado pelo governador João Doria (PSDB), um dos principais rivais políticos de Bolsonaro. Na ocasião, também houve a doação de 60 toneladas de alimentos à população. Houve aglomeração e confusão devido à grande quantidade de pessoas. Ainda em 2020, o governo de São Paulo discutia com a Secretaria de Desestatização, do Ministério da Economia, a transferência da Ceagesp da Zona Oeste da capital para outro terreno próximo ao complexo viário do Rodoanel Mário Covas, além da privatização do terreno atual. O gesto acabou desautorizado por Bolsonaro, que disse que “nenhum rato vai privatizar isso aqui para beneficiar seus amigos”. Por que investigamos? Em sua 4ª fase, o Comprova verifica conteúdos de redes sociais ligados à pandemia de coronavírus e a ações do governo federal. Damos prioridade para conteúdos que estejam sendo amplamente compartilhados ou que possam causar dano à saúde ou à vida das pessoas. O presidente Jair Bolsonaro tem forte presença nas redes sociais e suas publicações alcançam um grande número de pessoas. O vídeo do comboio com destino a Araraquara foi visto ao menos 169 mil vezes no YouTube. Já no Twitter recebeu 38,8 mil reações até a publicação deste texto. A aplicação de medidas de isolamento social tem sido muito politizada devido aos seus impactos econômicos, sociais e de saúde — por isso, é alvo de desinformação nas redes sociais. Dessa forma, é necessário checar mesmo as postagens feitas por autoridades. O Comprova já checou uma postagem da deputada Bia Kicis (PSL-DF) na qual o posicionamento da OMS sobre isolamento social foi tirado de contexto para apoiar falas de Bolsonaro. Comprovado, para o Comprova, é o conteúdo original publicado sem edição e que mostre um fato ou evento que tenha sido confirmado.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Comprovado']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-governo-bolsonaro-tenha-feito-o-nordeste-colher-trigo-pela-primeira-vez/
COMPROVA
É falso que governo Bolsonaro tenha feito o Nordeste colher trigo pela primeira vez
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2021-05-06
Dados mostram que a Bahia cultiva o grão desde a década de 1980. Postagens distorcem informações divulgadas pelo Ministério da Agricultura em setembro de 2020, sobre uma colheita de trigo no Ceará. Conteúdo verificado: Uma imagem do presidente Jair Bolsonaro com a legenda “Nordeste colhe trigo pela primeira vez. A água vai chegando nas terras secas. E as coisas estão mudando… Adivinhem quem é o culpado?” Não é verdade que o governo de Jair Bolsonaro tenha feito o Nordeste produzir trigo pela primeira vez, como sugerem postagens em circulação nas redes sociais. Dados mostram que agricultores da Bahia já investiam no cultivo do grão em meados da década de 1980. A Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) informa ainda que o plantio de trigo na Bahia está consolidado desde 2016, com uma área que varia entre 3 e 5 mil hectares por ano. Esses conteúdos, na verdade, distorcem informações divulgadas pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), em setembro de 2020. Na época, o governo federal anunciou a primeira colheita do trigo no Ceará — e não no Nordeste — com base em resultados obtidos por uma agroindústria no Estado, com apoio técnico da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). A introdução da cultura no Ceará ocorreu em 2019, quando foram realizados ensaios pela Embrapa em áreas experimentais montadas em parceria com o Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE) nos municípios de Limoeiro do Norte e Tianguá. O fato é mencionado no conteúdo do Mapa e foi confirmado ao Comprova pela instituição de pesquisa. Apesar de a data do primeiro plantio no Ceará coincidir com o primeiro mandato de Bolsonaro, não é possível atribuir unicamente o feito ao seu governo, uma vez que as sementes utilizadas nessas áreas de teste foram desenvolvidas e lançadas em anos anteriores pela Embrapa. A instituição também fez ensaios inéditos em Alagoas nessa mesma época. Procurado pela reportagem, o Ministério da Agricultura não respondeu se divulgou em algum momento que o Nordeste teria plantado trigo pela primeira vez, nem se as informações foram retiradas de contexto pelas postagens na internet. A pasta apenas encaminhou por e-mail o mesmo texto mencionado acima e disse que as informações deveriam ser consultadas com a Embrapa. Como verificamos? O Comprova fez essa verificação a partir de documentos oficiais e consulta a órgãos públicos, como a Embrapa Trigo e o Ministério da Agricultura, além de notícias publicadas pela imprensa. A partir de buscas simples, a reportagem chegou ao texto publicado pelo Ministério, em setembro de 2020, sobre uma colheita de trigo no Ceará. O site da Embrapa também disponibiliza artigos sobre experimentos em Alagoas, assim como estimativas de produção de trigo na Bahia para os próximos anos. O Comprova conversou com uma pesquisadora da Unidade de Execução de Pesquisa de Rio Largo, vinculada à Embrapa Tabuleiros Costeiros, Lizz Kezzy de Morais, responsável por pesquisas no estado alagoano, para entender o contexto dos experimentos, e pediu esclarecimentos para a Embrapa Trigo. A instituição forneceu o sumário executivo dos estudos em novas áreas do Nordeste e esclareceu sobre o plantio anterior do trigo na Bahia, entre outras informações. O Comprova consultou ainda bases de dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para checar o histórico da produção de trigo nos estados. Verificação Trigo no Nordeste O plantio de trigo no Nordeste não é recente, de acordo com a Embrapa Trigo. “Na Bahia, o trigo é cultivado desde meados dos anos 1980, principalmente na região Oeste”, relatou a instituição de pesquisa, em nota enviada por e-mail ao Comprova. Essa informação confere com os dados oficiais de safras no Brasil. A Pesquisa Agrícola Municipal do IBGE informa a produção do cereal na Bahia nos anos de 1986 e 1987. Depois, ela é retomada por um curto período, entre os anos de 2003 a 2005, com o plantio se consolidando a partir de 2015. A série histórica da Conab aponta a existência de produção de trigo na Bahia primeiro em 1986, 1988, 1989 e 1990; depois entre os anos de 2003 e 2005; e finalmente com um investimento contínuo a partir de 2016. A área plantada variou entre 3 e 5 mil hectares nos últimos cinco anos. Histórico do plantio de trigo no Estado da Bahia Infogram Nenhuma dessas fontes aponta a existência de colheita fora da Bahia em toda a série histórica. Porém, de acordo com a Embrapa, já foram realizados plantios em nível experimental nos estados de Alagoas e Ceará. Essas lavouras representam uma novidade na medida que a produção comercial na Bahia ocorre em áreas do Cerrado, bioma que não é compartilhado por esses dois outros estados do Nordeste. Segundo informações publicadas pela Embrapa em setembro do ano passado, o oeste baiano faz parte do Matopiba — região que integra o Cerrado do Maranhão, do Tocantins, do Piauí e da Bahia. O trigo é plantado principalmente em sistema irrigado, em rotação com a soja, o milho ou o algodão, enquanto o trigo em sequeiro é pontualmente testado por alguns produtores e apresenta maior risco por conta dos solos arenosos da região, com menor capacidade de retenção de água. De acordo com a Embrapa, o trigo da Bahia é comercializado em moinhos da região, da mesma forma que o produto oriundo de estados do Centro-Oeste. Experimentos no CE e AL A Embrapa começou a fazer plantios experimentais de trigo em outras regiões do Nordeste, fora da Bahia, a partir de 2019, de acordo com sumário executivo da pesquisa encaminhado pelo órgão ao Comprova. Esse material mostra que os testes estão inseridos em um projeto de tropicalização do trigo, que teve início na década de 1920 e foi intensificado a partir da década de 1980. A pesquisa se concentra em estudos técnicos de viabilidade da cultura e no desenvolvimento de variedades de sementes adaptadas para o Cerrado. Ainda segundo o documento, a Embrapa instalou experimentos em Alagoas e no Ceará. O município de Anadia sediou os testes em Alagoas, em 2019 e 2020. As cultivares, nome dado aos diferentes tipos de sementes comercializadas junto aos agricultores, que mostraram melhor adaptação às condições ambientais da região foram a BRS 264 e a BRS 404. Em conversa por telefone com o Comprova, a pesquisadora Lizz Kezzy de Morais mencionou ainda experimentos no município alagoano de Porto Calvo. Essa cidade também é citada em um artigo da Embrapa sobre o plantio no Estado em 2020, mas não foi incluída no sumário. No Ceará, as pesquisas foram conduzidas primeiro em áreas do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE). As parcelas foram desenvolvidas nos campus localizados nas cidades de Limoeiro do Norte e Tianguá. Foram avaliadas três cultivares: BRS 254, BRS 264 e BR 18. Os melhores rendimentos foram obtidos na região serrana. O sumário executivo mostra ainda que, em 2020, a Embrapa acompanhou outro experimento no município de Tianguá, em uma área de cinco hectares, implantada pela empresa Santa Lúcia Alimentos. Após a colheita, em setembro de 2020, o Ministério da Agricultura soltou uma nota sobre o evento, com o título “Ceará planta trigo pela primeira vez e colheita surpreende”. O texto menciona os testes anteriores como pequenos ensaios exploratórios. Esse é o texto que serve de base para as peças publicadas por sites como Terra Brasil Notícias, Surgiu, Página 1 PB e Fala Meu Ilustre, agora com a falsa indicação de que esta seria a primeira colheita de trigo no Nordeste. É possível notar que são reproduzidos os mesmos números publicados pelo Mapa e até uma declaração na íntegra da ministra Tereza Cristina. Os sites alteraram o título para “Governo Bolsonaro faz com que Nordeste produza trigo pela 1ª vez e colheita é surpreendente”. Ação de longo prazo Mesmo que o experimento no Ceará fosse realmente a primeira colheita de trigo no Nordeste, ignorando o histórico de cultivo na Bahia, não é correto atribuir esse fato unicamente ao governo Bolsonaro. A introdução do cultivo nessas novas regiões só foi possível graças a anos de desenvolvimento e pesquisa da Embrapa para a tropicalização da cultura. Todas as variedades de sementes citadas pela Embrapa e pelo Ministério da Agricultura em seus materiais de divulgação sobre os plantios de Anadia, Porto Calvo, Limoeiro do Norte e Tianguá estão no mercado, no mínimo, há seis anos. A instituição informa as seguintes datas de lançamento dos produtos: BRS 264 e BRS 254 (2005), BRS 404 (2014), BRS 394 (2015) e BR 18 (1986). O Comprova questionou a Embrapa acerca de que projeto especificamente fazem parte as pesquisas em Alagoas e no Ceará. A instituição respondeu que “as pesquisas são custeadas por projetos da Embrapa que trabalham o desenvolvimento do trigo em todo o Brasil” e encaminhou uma página em que estão listados todos os projetos da empresa. Um dos materiais publicados pela instituição aponta que os experimentos em Anadia e Porto Calvo integraram o projeto “Melhoramento genético de trigo para o Brasil 2017-2021”. A reportagem encontrou outro projeto com o nome praticamente idêntico, “Melhoramento genético de trigo para o Brasil 2012-2016”, relativo aos cinco anos anteriores. O Comprova perguntou novamente para a Embrapa se esse seria o principal projeto relacionado aos testes nas novas áreas do Nordeste fora da Bahia. A instituição respondeu que as pesquisas de melhoramento genético de trigo são contínuas, renovadas periodicamente, e que não existe um projeto específico para a região do Nordeste: “Tudo é trigo tropical para nós”. A Embrapa afirmou ainda que está buscando parceiros para ampliar os cultivos experimentais em novas áreas nos estados de Pernambuco, Maranhão e Piauí e que não recomenda o investimento dos agricultores enquanto as análises de viabilidade do grão não forem concluídas e as localidades não estiverem contempladas no zoneamento agrícola de risco climático do trigo. Por que investigamos? O Comprova investiga informações suspeitas com grande alcance na internet, caso do conteúdo analisado nesta checagem. As postagens circulam em diferentes formatos nas redes e foram replicadas por quatro blogs diferentes, acumulando mais de 18,4 mil interações no Facebook e no Twitter, desde o final de abril. O conteúdo foi considerado suspeito porque atribuía, sem apresentar fontes confiáveis, uma realização inédita a uma personalidade política — uma tática comum de desinformação que foi observada em uma série de conteúdos enganosos verificados pelo Comprova anteriormente. A iniciativa já desmentiu boatos sobre uma ciclovia de Boa Vista, em Roraima; sobre uma ponte de concreto em Porto dos Gaúchos, no Mato Grosso do Sul; sobre pavimentações de quatro estradas no Mato Grosso; e sobre a construção de um viaduto em Foz do Iguaçu, no Paraná, entre outros conteúdos virais. Falso, para o Comprova, é qualquer conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/posicionamento-da-oms-e-retirado-de-contexto-para-apoiar-falas-de-bolsonaro-contra-o-isolamento-social/
COMPROVA
Posicionamento da OMS é retirado de contexto para apoiar falas de Bolsonaro contra o isolamento social
null
2021-05-03
Reportagens com falas antigas de representantes da Organização Mundial da Saúde sobre o enfrentamento à pandemia são retiradas de contexto para reforçar o discurso do presidente Bolsonaro sobre o fim das medidas de distanciamento social. Conteúdo verificado: Postagens recentes do vereador Carlos Bolsonaro e da deputada Bia Kicis (PSL-DF) comparam falas do presidente Jair Bolsonaro sobre a duração da pandemia do novo coronavírus e as medidas de isolamento com posicionamentos da OMS publicados em reportagens sobre o tema. As falas do presidente Jair Bolsonaro contrárias às medidas de enfrentamento à pandemia da covid-19 não condizem com o posicionamento da Organização Mundial da Saúde sobre o tema, ao contrário do que sugerem postagens de políticos no Facebook. Em duas publicações recentes, o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (Republicanos) e a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) comparam uma fala de Bolsonaro contrária ao isolamento social, sob a justificativa de que “vamos conviver com o vírus a vida toda”, a posicionamentos de representantes da Organização Mundial da Saúde (OMS) sobre a duração da pandemia, publicados em diferentes veículos no ano passado. Nas postagens há apenas uma referência ao título de cada matéria: “Bolsonaro volta a atacar isolamento: vamos conviver com o vírus a vida toda”, da Istoé; “OMS: não esperem a vacina para acabar com pandemia – Entidade alerta que pessoas terão que conviver com o vírus”, da CNN; e “Coronavírus pode nunca ser erradicado, alerta OMS”, do Poder360. Porém, uma leitura completa dos textos, localizados pela nossa reportagem, mostra que a OMS, na verdade, reforça a importância das medidas adotadas em todo o mundo para o enfrentamento à pandemia, sobretudo nos momentos em que houve aumento do número de casos. Em posicionamentos mais recentes, membros da Organização também já defenderam, por diversas vezes, os protocolos de distanciamento e uso de máscaras, por exemplo. O vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro e a deputada Bia Kicis foram procurados pela reportagem, por e-mail, mas não responderam até a publicação desta verificação. Como verificamos? Os posts dos dois políticos fazem uma comparação entre duas reportagens. Uma, publicada no site da Istoé em 12 de fevereiro, tem o título “Bolsonaro volta a atacar isolamento: vamos conviver com o vírus a ‘vida toda’”. Na publicação de Bia Kicis, o outro trecho mostrado na imagem é de uma matéria do portal Poder360, como mostra a logo no canto da postagem. Uma busca no Google pelo trecho em destaque nos levou a uma publicação do dia 14 de maio de 2020, intitulada “Coronavírus pode nunca ser erradicado, alerta OMS”, e assinada pela Deustche Welle, emissora pública de comunicação da Alemanha. Já no caso da publicação de Carlos Bolsonaro, o segundo conteúdo é uma foto que mostra a correspondente da CNN em Londres, Denise Odorissi, com a legenda “OMS: não esperem a vacina para acabar com a pandemia – entidade alerta que pessoas terão que conviver com o vírus”. O Comprova tentou localizar o vídeo completo da reportagem, mas ele não está disponível nos canais oficiais da CNN. Buscamos, então, por pistas da data em que foi veiculada e em que contexto começou a circular. Imagens semelhantes da transmissão da CNN vêm circulando desde agosto de 2020. A mais antiga encontrada pelo Comprova foi publicada no Twitter pelo perfil @BOLS4KUR4, que tem outro nome atualmente. O tuíte, de 21 de agosto de 2020 às 8h31, destacava duas frases reproduzidas pela geração de caracteres do canal de notícias: “não esperem a vacina para acabar com a pandemia” e “as pessoas terão que conviver com o vírus”. Em seguida, o perfil reclama que o presidente Jair Bolsonaro “foi chamado de genocida por dizer a mesma coisa”. O tuíte teve mais de 7 mil interações. No mesmo dia, prints do tuíte foram compartilhados em várias páginas e grupos de apoio ao presidente Bolsonaro no Facebook. As postagens que tiveram mais engajamento foram feitas por deputados federais: a de Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), publicada às 13h05, recebeu mais de 110 mil interações e a de Bia Kicis (PSL-DF), enviada às 13h38, ultrapassou as 55 mil interações. A postagem mais antiga com a mesma imagem da CNN encontrada pelo Comprova no Facebook foi feita pelo deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), que usou o material para criticar a Organização das Nações Unidas (ONU) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). De acordo com a ferramenta Crowdtangle, a publicação foi feita às 8h38 do dia 21 de agosto de 2020 e recebeu mais de 10 mil interações (reações, comentários e compartilhamentos). Os perfis oficiais de Silveira no Facebook, Instagram e Twitter estão bloqueados por ordem do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), depois que o parlamentar divulgou um vídeo com ataques aos integrantes da Corte e em defesa da ditadura militar. Nessas postagens, ao contrário da publicada por Carlos Bolsonaro, é possível ver a imagem completa da tela da CNN. Outra notícia, na tarja inferior do canal, diz: “Chuva de meteoritos atinge o sertão de Pernambuco”. Com uma busca no Google, localizamos a reportagem da CNN sobre a chuva de meteoritos em questão, que é do dia 20 de agosto de 2020. Como o conteúdo também começou a circular nas redes sociais por volta do mesmo dia, procuramos, então, por pronunciamentos de representantes da OMS que tivessem relação com o conteúdo veiculado na CNN e tivessem uma data próxima a 20 de agosto, e encontramos a transcrição de um discurso do diretor-geral da Organização, Tedros Adhanom, do dia 21 de agosto. A nossa reportagem tentou contato com o vereador Carlos Bolsonaro e com a deputada Bia Kicis pelo e-mail dos respectivos gabinetes dos políticos, mas não tivemos retorno até a publicação deste texto. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 3 de maio de 2021. Verificação “Vamos conviver com o vírus a vida toda” A matéria da Istoé que menciona Jair Bolsonaro e cujo título foi publicado por Carlos Bolsonaro e Bia Kicis é de 12 fevereiro de 2021, e repercute falas do presidente a apoiadores. O texto detalha a declaração do chefe do executivo sobre a permanência do vírus: “Bolsonaro afirmou que, apesar de sua postura contra a quarentena, ele é chamado de ‘genocida’ mas, na sua avaliação, se a população ‘não trabalhar, vai morrer por depressão, praticar suicídio’. ‘Acho que vamos ter que conviver (com o vírus) a vida toda, ele não vai embora’, afirma”. Outro trecho cita outras falas do presidente na mesma ocasião: “Em conversa com apoiadores, o dirigente apontou que, desde o início da pandemia do novo coronavírus, foi contrário ao discurso do ‘fica em casa e a política de que a economia a gente vê depois’. ‘Bateram bastante em mim, mas agora estão cobrando todos os desempregados’, afirmou. ‘Quem mandou ficar em casa não fui eu, fechou comércio e destruiu emprego não fui eu’, enfatizou.” O Comprova localizou um vídeo com as declarações completas de Bolsonaro no dia 12 de fevereiro, para entender todo o contexto da declaração sobre a permanência do vírus. A declaração foi dada a apoiadores, na ocasião, em meio a críticas às ações de isolamento social: “Quem mandou ficar em casa, fechou o comércio e destruiu empregos não fui eu. Querem agora me acusar de genocida. Sempre falei que tínhamos dois problemas: o vírus e o desemprego. ‘Ah, ele é insensível! Vida é uma só’. Ô imbecil, eu sei que a vida é uma só, mas nós temos que trabalhar. Se não trabalhar, vai morrer de depressão, vai praticar suicídio, vai ficar mais propenso a pegar outras doenças. Parece que não tem mais doença no Brasil. Só tem covid. E agora já estão dizendo aí — na imprensa, né, se é verdade não sei — teremos que conviver com o vírus com pelo menos 10 anos. Eu acho que vai ter que conviver a vida toda, não vai embora. Se você vacinar todo mundo no Brasil, alguém num país qualquer fim de mundo aqui, num fim de mundo qualquer, vai sobreviver gente com o vírus e quando acabar o efeito da vacina vem pra cá de novo.” Vírus endêmico Como já mencionado, o outro trecho de matéria destacado pela deputada Bia Kicis é do site Poder360, e traz as informações sobre uma entrevista coletiva concedida por integrantes da Organização Mundial da Saúde em maio do ano passado. Uma leitura do texto completo mostra que, ao contrário do que disse Bolsonaro na ocasião repercutida na matéria da Istoé, a fala de representantes da OMS sobre “convivermos com o vírus” não está ligada a um abandono das medidas de isolamento e restrição de circulação. Em um trecho, a reportagem inclusive fala sobre o grande esforço necessário para que a pandemia fosse controlada: “Ryan [Michael Ryan, diretor de emergências da OMS] reconheceu que o mundo demonstrou que a crise de covid-19 pode ser controlada, mas alertou que isso exigirá 1 “esforço maciço” de líderes e da sociedade, mesmo que uma vacina seja encontrada. Ele lembrou que vacinas existem para outras doenças que nunca foram erradicadas, como o sarampo.” A possibilidade do vírus se tornar endêmico, apontada pela Organização Mundial da Saúde, não significa que devem ser abandonadas as principais medidas adotadas até então para o arrefecimento da pandemia: o distanciamento social, uso de máscaras e vacinação da população. Em outra passagem, o texto traz outro alerta de Michael Ryan, que também demonstra a diferença entre o que diz a OMS e as declarações do presidente Bolsonaro: “Ryan acrescentou que ainda há um “longo caminho a percorrer” até o retorno à normalidade e insistiu que as nações mantenham seu curso no combate à pandemia.” “Não esperem a vacina para acabar com a pandemia” O posicionamento da Organização Mundial da Saúde a que a repórter da CNN se refere é, como também já mencionado, do dia 21 de agosto de 2020. Na ocasião, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, disse que não era possível aguardar uma vacina para adotar ações de combate ao vírus. “Nenhum país pode ultrapassar isso [a pandemia] até que tenhamos uma vacina. Uma vacina será uma ferramenta vital, e esperamos ter uma disponível o mais breve possível. Mas não há uma garantia de que teremos, e mesmo se tivermos, ela não vai acabar com a pandemia sozinha. Nós todos precisamos aprender a controlar e lidar com este vírus usando as ferramentas que temos agora, e fazer os ajustes em nossas vidas cotidianas que são necessários para nos manter e aos outros seguros. Os chamados ‘lockdowns’ permitiram que vários países diminuíssem a transmissão [do vírus] e tirassem a pressão sobre os seus sistemas de saúde. Mas os lockdowns não são uma solução a longo-prazo para nenhum país. Nós não precisamos escolher entre vidas e meios de vida, ou entre a saúde e a economia. Esta é uma falsa escolha. Ao contrário, a pandemia é um lembrete de que a saúde e a economia são indissociáveis”. É importante ressaltar que, em agosto do ano passado eram divulgados os primeiros resultados dos testes da CoronaVac, e a vacina russa Sputnik V havia sido anunciada há poucos dias – nenhum imunizante contra o novo coronavírus, portanto, era aplicado em larga escala no mundo. A primeira vacina só foi aplicada fora do contexto de testes, aliás, em dezembro, no Reino Unido. Luz no fim do túnel As reportagens usadas nas postagens de Carlos Bolsonaro e Bia Kicis são antigas, e a Organização Mundial da Saúde, hoje, diante da existência de várias vacinas eficazes contra o novo coronavírus, já atualizou os prognósticos para o futuro da pandemia. No dia 18 de março, a Organização publicou, em sua página oficial em inglês um vídeo intitulado “As vacinas contra a covid-19 são parte da solução, mas não vão acabar com a pandemia sozinhas”. Na publicação, Mike Ryan diz que “As vacinas são uma parte enorme de uma solução de longo prazo, e quando chegarmos às vacinas de segunda ou terceira geração e melhorarmos o nosso monitoramento, nós vamos conseguir um controle total deste vírus. Há uma luz no fim do túnel”. Segundo ele, porém, os imunizantes não vão ser capazes, por si só, de acabar com a transmissão da doença. “As vacinas vão acabar com a tragédia das mortes e das cenas horríveis de UTIs lotadas em hospitais. Mas não vão acabar com a transmissão. E ainda vão existir pessoas que não estarão protegidas porque elas não podem ou não querem ser vacinadas, ou, mais importante, não tem acesso às vacinas, por causa da forma como estamos distribuindo as vacinas no mundo, que, aliás, é terrivelmente injusto”, ressalta. Na legenda do post, há a recomendação para que continuem a ser adotadas outras medidas de enfrentamento à pandemia, para além da vacinação: “distanciamento físico, máscaras, lavagem das mãos, ventilação e evitar aglomerações”. Carlos Bolsonaro Segundo filho do presidente, Carlos Bolsonaro é vereador da cidade do Rio de Janeiro pelo partido Republicanos. Ele foi reeleito para o sexto mandato na Câmara Municipal em 2020, mas é apontado como um dos responsáveis pela estratégia de comunicação do pai nas redes sociais antes da eleição para presidente em 2018. Outras postagens do vereador já foram checadas pelo Comprova, como um tuíte enganoso que acusava o governador do Maranhão, Flávio Dino, de defender o uso da cloroquina no tratamento da covid-19. Bia Kicis Presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, Bia Kicis (PSL-DF) é aliada do presidente Jair Bolsonaro, e está em seu primeiro mandato como parlamentar. O Comprova já verificou outras postagens feitas pela Deputada durante a pandemia da covid-19, como uma que questionava o uso de máscaras de proteção e um vídeo de médicos e empresários que desqualificava medidas contra a disseminação do vírus e culpava a China pela pandemia. Por que investigamos? O Projeto Comprova verifica conteúdos que viralizaram nas redes sociais e que contenham informações suspeitas sobre o novo coronavírus. É o caso das postagens dos políticos, que, juntas, tiveram mais de 23 mil interações no Facebook, segundo a ferramenta CrowdTangle. As medidas de distanciamento social, restrição de circulação e lockdown têm sido responsáveis, desde o início da pandemia, por evitar o colapso dos sistemas de saúde de vários países e por diminuir os índices de transmissão e as mortes pela doença. O Brasil atingiu a marca de 400 mil mortes por covid-19 em abril. Sem uma quantidade suficiente de vacinas para garantir a imunização da população em ritmo necessário, essas medidas, adotadas de forma isolada por estados e municípios em alguns momentos da pandemia, são a única maneira de evitar uma terceira onda de casos do novo coronavírus nos próximos meses. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; aquele que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i0.wp.com/projet…=545%2C316&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/postagem-sugere-motivacao-politica-para-anvisa-recusar-vacina-sputnik-v-mas-especialistas-apontam-criterios-tecnicos/
COMPROVA
Postagem sugere motivação política para Anvisa recusar vacina Sputnik V, mas especialistas apontam critérios técnicos
null
2021-05-03
A Anvisa não autorizou a importação da vacina russa Sputnik V alegando falta de dados consistentes e confiáveis. Uma postagem feita no Twitter atribui a decisão a posicionamento político, comparando-a com a liberação de agrotóxicos. As áreas da Anvisa responsáveis pela análise de vacinas e agrotóxicos, entretanto, não são as mesmas e especialistas defendem critérios técnicos da agência reguladora. Conteúdo verificado: Tuíte que levanta suspeitas sobre a não liberação da vacina russa Sputnik V pelos técnicos da Anvisa e faz uma comparação com a liberação de agrotóxicos no país. Perfil no Twitter levanta suspeitas sobre a decisão dos técnicos da Anvisa de não liberar para aplicação no Brasil a vacina russa Sputnik V. O tuíte diz que a decisão tem motivação política e faz uma comparação com a liberação de agrotóxicos no país. A Gerência-Geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, entretanto, afirma ter identificado falhas no desenvolvimento do produto, nas três etapas dos estudos clínicos, além de ausência ou insuficiência de dados de controle de qualidade, segurança e eficácia. Segundo o órgão, as células onde os adenovírus são produzidos para o desenvolvimento da vacina permitem sua replicação, o que poderia acarretar infecções em seres humanos. Dois especialistas ouvidos pelo Comprova avaliam que a agência brasileira se baseou em critérios técnicos para a decisão, descartando haver motivação política. Em transmissão realizada no dia 29 de abril, a Anvisa apresentou documentos enviados pela Gamaleya, empresa responsável pela vacina, e trechos de uma reunião entre os brasileiros e os russos na qual foram apontadas as dúvidas, acrescentando que estas não foram respondidas. A agência brasileira afirma, ainda, que a decisão não é definitiva e que a empresa russa pode enviar mais dados e informações a qualquer momento. A publicação no Twitter compara a liberação de vacinas com a de agrotóxicos. De fato, o Brasil autorizou o uso de substâncias que são proibidas na União Europeia, como o caso do herbicida Piroxassulfona, um ingrediente ativo inédito. As áreas técnicas responsáveis pelas liberações, entretanto, não são as mesmas. Além disso, a Anvisa não é o único órgão responsável pelos agrotóxicos, conforme o Decreto nº 4.074/02, que regulamenta a Lei dos Agrotóxicos (Nº 7.802/89). O Comprova procurou o usuário que fez a publicação, mas até o momento não obteve retorno. Como verificamos? O Comprova conversou com a pesquisadora Ethel Maciel, pós-doutora em Epidemiologia pela Johns Hopkins University e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), e com o fundador e ex-diretor da Anvisa, o médico e professor da USP Gonzalo Vecina Neto, além de ter consultado um artigo assinado pela microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência, Natalia Pasternak, e pelo jornalista Carlos Orsi na revista Questão de Ciência. Também foram examinadas as notas à imprensa emitidas pela empresa responsável pela vacina Sputnik V e pela Anvisa. O órgão brasileiro foi procurado e não deu retorno às questões específicas do projeto, mas direcionou para um pronunciamento realizado na tarde do dia 29 de abril, que foi acompanhado pelos verificadores. Ainda foram consultadas legislações e as liberações de agrotóxicos nos dois últimos anos, verificando se há relação entre elas e a liberação de vacinas. O projeto tentou contato, por fim, com o responsável pela publicação, mas não obteve retorno. Verificação Anvisa x Gamaleya No dia 26 de abril, a Diretoria Colegiada (Dicol) da Anvisa decidiu, alegando falta de dados consistentes e confiáveis, não autorizar a importação da vacina russa Sputnik V. O Comprova buscou as justificativas junto à Anvisa, mas o órgão não deu retorno. Buscou-se, então, as notas emitidas pela agência. Segundo a Anvisa, a decisão foi tomada com base em dados levantados e avaliados pelas equipes técnicas das gerências-gerais de Medicamentos e Produtos Biológicos (GGMED), de Inspeção e Fiscalização Sanitária (GGFIS) e de Monitoramento de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária (GGMON). Também participaram do levantamento de informações a Gerência-Geral de Portos, Aeroportos e Recintos Alfandegados (GGPAF) e a Assessoria de Assuntos Internacionais (Ainte). A Gerência-Geral de Medicamentos e Produtos Biológicos afirma ter identificado falhas no desenvolvimento do produto, nas três etapas dos estudos clínicos, além de ausência ou insuficiência de dados de controle de qualidade, segurança e eficácia. Segundo a Anvisa, as células onde os adenovírus são produzidos para o desenvolvimento da vacina permitem sua replicação, o que poderia acarretar infecções em seres humanos. “Esse aspecto foge dos padrões de qualidade recomendados pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e pelo Conselho Internacional para Harmonização de Requisitos Técnicos de Medicamentos para Uso Humano (International Council for Harmonisation of Technical Requirements for Pharmaceuticals for Human Use – ICH), seguidos pelas principais agências reguladoras do mundo, incluindo a Anvisa”, diz o posicionamento da agência. A Anvisa aponta, ainda, ter identificado estudos de caracterização inadequados da vacina, ausência de validação/qualificação de métodos de controle de qualidade, ausência de testes de toxicidade reprodutiva e outros aspectos. No dia 29 de abril de 2021, após o Fundo Russo de Investimento Direto (RDIF), responsável pela produção e distribuição da Sputnik V, ter ameaçado processar judicialmente a agência brasileira, acusando-a de ter espalhado “informações falsas e imprecisas intencionalmente”, a Anvisa fez pronunciamento para tratar especificamente de adenovírus replicantes, transmitido pelo YouTube. Antônio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa, declarou que as informações sobre a presença de adenovírus replicantes constam dos documentos entregues à Anvisa pelo próprio desenvolvedor da vacina Sputnik V. Ele também negou qualquer motivação política para a não liberação, declarando que o trabalho dos técnicos foi norteado pelas informações recebidas, pelas pesquisas efetuadas e pelas viagens feitas, destacando que a decisão não é definitiva. Por fim, acrescentou que se trata de um retrato temporal, que pode ser modificado com dados revistos, corrigidos e reapresentados. Ainda na apresentação, o gerente-geral de Medicamentos, Gustavo Mendes, apresentou prints contendo parte dos dados recebidos pela agência e que, segundo ele, foram essenciais para basear a decisão da Anvisa. No dia 23 de março, a Anvisa se reuniu com os representantes da vacina no Brasil e na Rússia para discutir a questão. A reunião foi gravada em vídeo e partes dela foram transmitidas no comunicado deste dia 29. Há trechos da reunião em russo e que não foram traduzidos e, conforme a Anvisa, após o encontro foram enviadas exigências com pedidos de respostas para as dúvidas. No dia 26 de março houve retorno, mas este não continha as respostas para as questões enviadas, argumenta a Anvisa. O que dizem os especialistas O Comprova procurou três especialistas questionando a opinião deles acerca da não liberação da Sputnik V por parte da Anvisa. A pesquisadora Ethel Maciel, pós-doutora em Epidemiologia pela Johns Hopkins University e professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), observa que a equipe que analisa os pedidos de autorização de uso de vacinas na Anvisa é técnica, composta por servidores públicos concursados e não há indicação política para desenvolver a função. Ethel Maciel ressalta que é obrigação da Anvisa ser criteriosa na análise porque, ao aprovar um imunizante, o órgão deve garantir sua segurança para a população. Ela aponta que os dados fornecidos pela fabricante da vacina não foram suficientes para aprovação da Sputnik V e, dado o tempo que a agência recebeu para fazer a avaliação, não havia condições de aprovação. A pesquisadora acrescenta que a negativa não inviabiliza uma futura autorização de uso da Sputnik V no Brasil pela Anvisa, caso a fabricante atenda às exigências de segurança da vacina. Ethel Maciel lembra que, antes da aprovação da Coronavac, a agência também exigiu apresentação de dados que o Instituto Butantan não havia fornecido. Fundador e ex-diretor da Anvisa, o médico e professor da USP Gonzalo Vecina Neto sustenta que a atuação da agência no pedido de aprovação Sputnik V demonstra a credibilidade da conduta técnica do órgão, afastando a ideia de motivações políticas. Assim como afirma Ethel, para ele a Anvisa está sendo criteriosa ao solicitar os dados brutos do Fundo Russo, que faz a intermediação entre o Instituto Gamaleya (fabricante da vacina) e o Brasil. E reforça que o posicionamento atual não é um veto definitivo. Gonzalo Vecina frisa que, em um país democrático como o Brasil, a solicitação de uma autoridade sanitária deve ser atendida e, neste caso, o pedido que a Anvisa fez para os russos foi de explicações sobre os resultados dos testes que indicam cópias de vírus replicante na vacina, ao passo que deveriam ser não replicantes. Sem as respostas, que podem esclarecer as dúvidas e levar à validação do imunizante, a agência não poderia conceder a autorização, sob o risco de disponibilizar para a população uma vacina que não é segura. A tecnologia da Sputnik é semelhante à da Oxford/AstraZeneca, já aplicada no Brasil. Nesse modelo, é usado um vírus inofensivo para simular no organismo uma ameaça que se deseja combater e, assim, o corpo gera uma resposta imune. O vetor viral da Sputnik, segundo a fabricante, foi modificado e não deveria se multiplicar (não replicante). Entretanto, os testes enviados pelo Instituto Gamaleya indicam o contrário, sendo objeto do questionamento da Anvisa e para o qual não houve resposta. Gonzalo diz ainda que se preocupa com as manifestações do Fundo Russo criando suspeição sobre a Anvisa, numa atitude similar a que já causou atritos com a Agência Europeia. Um artigo assinado pela microbiologista e presidente do Instituto Questão de Ciência, Natalia Pasternak, e pelo jornalista Carlos Orsi na revista Questão de Ciência, também destaca os critérios técnicos adotados pela Anvisa e condena a postura dos fabricantes nas redes socais, afirmando que laboratório e o Fundo Soberano Russo acusaram a agência brasileira sem provas. Agrotóxicos e vacinas A verificação também buscou saber se a Anvisa é a responsável por liberar agrotóxicos no Brasil e se há alguma ligação com a liberação de vacinas. Conforme consta na página oficial da agência, o registro de agrotóxicos é realizado de acordo com a Lei dos Agrotóxicos (Nº 7.802/89) e com o Decreto nº 4.074/02, que estabelece as competências para os três órgãos envolvidos no registro: a Anvisa, vinculada ao Ministério da Saúde; o Ibama, vinculado ao Ministério do Meio Ambiente; e o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. A Anvisa tem, entre outras competências, avaliar e classificar, toxicologicamente, os agrotóxicos, seus componentes e afins, ou seja, não é a responsável por todo o processo de liberação. Conforme divulgado pela Anvisa, a decisão de não liberação da Sputnik V foi tomada com base em dados levantados e avaliados pelas equipes técnicas das gerências-gerais de Medicamentos e Produtos Biológicos (GGMED), de Inspeção e Fiscalização Sanitária (GGFIS) e de Monitoramento de Produtos Sujeitos à Vigilância Sanitária (GGMON). Também participaram do levantamento de informações a Gerência-Geral de Portos, Aeroportos e Recintos Alfandegados (GGPAF) e a Assessoria de Assuntos Internacionais (Ainte). Já a responsável pela liberação da Anvisa de agrotóxicos é a Gerência Geral de Toxicologia (GGTOX). Sputnik V e União Europeia O tuíte também menciona que a vacina Sputnik V é usada na União Europeia. De fato, a substância foi autorizada para uso na Hungria, em posição contrária à Agência Europeia de Medicamentos, que autoriza, conforme consta no site da União Europeia, o uso de vacinas da Pfizer, da Moderna, da AstraZeneca e da Janssen. A Sputnik V consta na lista de vacinas que estão em revisão contínua pela Agência Europeia de Medicamentos (EMA), ou seja, em processo de avaliação das vacinas potenciais para permitir a distribuição na União Europeia (UE) o mais rápido possível. Além da Hungria, a Eslováquia adquiriu doses, mas a decisão foi tomada pelo primeiro-ministro Igor Matovic sem conhecimento de outros segmentos do Governo, o que causou uma crise e a renúncia dele ao cargo. Por que investigamos? O Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia da covid-19 que tenham obtido grande alcance nas redes sociais e em aplicativos de mensagens. A publicação verificada tinha 2.6 mil interações até o dia 3 de maio, gerando amplo debate nos comentários, entre quem concorda e quem discorda do posicionamento. Anteriormente, o projeto já verificou outras postagens referentes à agência brasileira, como um vídeo manipulado que deturpa entrevista do presidente do órgão e mensagens que falam sobre imunogenicidade inadequada da vacina CoronaVac, questionando sua eficácia. Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que use dados imprecisos ou que induza a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-enganoso-post-de-carlos-bolsonaro-que-acusa-flavio-dino-de-defender-uso-da-cloroquina-contra-covid-19/
COMPROVA
É enganoso post de Carlos Bolsonaro que acusa Flávio Dino de defender uso da cloroquina contra covid-19
null
2021-04-30
É enganosa a postagem do vereador Carlos Bolsonaro em que ele usa um vídeo antigo, fora de contexto, para atribuir ao governador do Maranhão conduta de apoio à hidroxicloroquina como remédio eficaz no enfrentamento à covid-19. Conteúdo verificado: Tuíte do vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) compartilha um vídeo em que aparece o governador do Maranhão, Flavio Dino (PCdoB-MA), e pergunta se a CPI investigará também o governador sobre seu posicionamento favorável à hidroxicloroquina. É enganoso um tuíte de Carlos Bolsonaro, filho do presidente da República e vereador pelo Rio de Janeiro, afirmando que o governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), é defensor da hidroxicloroquina no tratamento contra a covid-19. Na postagem, Carlos usa um trecho editado de uma fala de Dino para argumentar que ele teria “posicionamento favorável quanto à hidroxicloroquina”. O Comprova encontrou a íntegra da declaração do governador do Maranhão, feita em maio de 2020, e verificou que Dino, na ocasião, defendia que os médicos tivessem liberdade para ministrar medicamentos para o tratamento da doença, inclusive a hidroxicloroquina, se fosse o caso. No tuíte verificado, do dia 22 de abril deste ano, Carlos Bolsonaro indaga se a CPI da Covid, instaurada no Senado, vai investigar Flávio Dino. “Mais uma questão: será que a CPI do Covid investigará o governador Dino (PCdoB/MA) sobre o posicionamento favorável quanto à hidroxicloroquina? Esse tipo de questão não é mostrado por ai”, questiona o vereador. A fala do vereador se refere ao fato de que os incentivos de Jair Bolsonaro e de seu governo ao uso da hidroxicloroquina e da cloroquina, substâncias cuja ineficácia contra a covid-19 já foi comprovada serão investigados pelos senadores. A fala de Flávio Dino destacada por Carlos Bolsonaro é um trecho de uma entrevista concedida pelo governador do Maranhão ao jornal JMTV 2ª Edição, da TV Mirante, afiliada à TV Globo, em maio de 2020. No tuíte de Carlos Bolsonaro, além de a fala não aparecer na íntegra, não consta a data em que a entrevista foi gravada. Como verificamos? O Comprova buscou o Governo do Maranhão por e-mail para tentar esclarecer qual é – e qual já foi – o posicionamento de Dino e da administração estadual em relação aos medicamentos no contexto do enfrentamento à covid-19. Os endereços do gabinete do governador e da Secretaria de Estado da Comunicação Social (Secom) foram acionados por esta reportagem. A íntegra da entrevista de Dino ao JMTV 2ª Edição foi encontrada no site Globoplay, o serviço de streaming da Rede Globo. Também procuramos o gabinete do vereador Carlos Bolsonaro para esclarecer o teor do tuíte publicado por ele, mas não obtivemos resposta. O Comprova fez esta verificação com base em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 30 de abril de 2021. Verificação Em 19 de maio de 2020, ainda no início da pandemia, o programa “Bom Dia, Mirante” retransmitiu a entrevista de Flávio Dino concedida na noite anterior ao JMTV 2ª Edição, da mesma emissora. O apresentador do “Bom Dia Mirante”, Soares Júnior, anuncia a reprodução da entrevista ocorrida um dia antes. A data exata da entrevista de Dino ao JMTV 2ª Edição, portanto, é 18 de maio de 2020. No mesmo dia, o Maranhão contabilizava 72 casos suspeitos de covid-19, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde do estado (SES). Na ocasião, estava em curso um debate a respeito da utilização da hidroxicloroquina como tratamento para a doença. O presidente Jair Bolsonaro insistia no uso do medicamento, posição que serviu como um dos motivadores para as demissões de dois ministros da Saúde – Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich – que deixaram a pasta em 16 de abril e 15 de maio, respectivamente. Um dos temas da entrevista com Flávio Dino era a politização da cloroquina e da hidroxicloroquina. Dino disse ao JMTV 2ª Edição que a cloroquina poderia ser receitada no Estado. “Nós sempre oferecemos aos médicos a oportunidade de receitar cloroquina, azitromicina, ivermectina, todos esses remédios, kóide-D, todos esses remédios que experimentalmente têm sido vistos por alguns profissionais como eficazes”, afirmou. O tuíte verificado aqui traz uma parte justamente desse trecho para afirmar que Dino é favorável à cloroquina. O tuíte omite, porém, o restante da fala do governador do Maranhão. Na sequência da resposta, Dino afirma que “infelizmente eu não sou médico, quem decide qual o remédio que, concretamente, o médico vai dar para cada paciente” e completa afirmando: “Se o médico achar necessário administrar o medicamento, ele será administrado. Se o médico não considerar cabível, ou que há riscos para os pacientes, é claro que não serei eu nem nenhuma autoridade externa que vai influenciar no conteúdo do trabalho do médico”. A posição de Dino naquele momento era, portanto, de dar liberdade aos médicos para escolher o tratamento. Bolsonaro, por sua vez, defendia abertamente o uso da cloroquina, inclusive para pacientes com sintomas leves. Em nota ao Comprova, a Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão confirmou que a hidroxicloroquina “foi utilizada em pacientes com covid-19 na rede estadual por decisão médica em ambiente hospitalar até o fim de maio de 2020.” A SES também afirmou ter deixado sob critério dos médicos a recomendação a respeito do uso de medicamentos, inclusive ivermectina e cloroquina. A reportagem do Comprova questionou se o posicionamento expressado no ano passado foi revisto pela gestão estadual. A SES afirmou que médicos infectologistas do Maranhão já “emitiram protocolo onde não recomenda o uso da cloroquina/hidroxicloroquina para tratamento dos casos da covid-19.” De fato, uma “Diretriz de Atendimento” para pacientes com síndrome respiratória aguda infecciosa publicada em junho de 2020 mostra que neste momento o Governo do Maranhão já orientava contra a utilização da hidroxicloroquina. O órgão destaca no documento que a hidroxicloroquina, ivermectina e outros medicamentos “não demonstraram benefício em pacientes internados, com aumento do risco de complicações cardiológicas”. Portanto, seu uso não é mais recomendado para o suposto “tratamento precoce” da covid-19. O suposto tratamento, advogado pelo governo de Jair Bolsonaro em diversas ocasiões, seria a causa de graves problemas no fígado em pacientes que o adotaram, alguns dos quais passaram a precisar de transplantes. A terceira e mais recente edição da “Diretriz de Atendimento” é do dia 10 de fevereiro de 2021. Nela é possível notar que o Governo do Maranhão mantém seu posicionamento sobre o uso destes medicamentos. O documento afirma que “a utilização de qualquer outra terapia específica para SARS-CoV-2 (hidroxicloroquina, nitaxonizada, ivermectina e afins) só está indicada mediante estudo clínico devidamente comprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa”. Por que investigamos? O Comprova verifica conteúdos compartilhados sobre a pandemia de covid-19 no Brasil que tenham muita viralização. Até sexta-feira 30, a postagem de Carlos Bolsonaro contabilizava 7.148 curtidas e 2.259 retuítes na rede social. Desde que foi instaurada a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Covid, Carlos Bolsonaro tem publicado posts contra governadores adversários do pai, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O governador de São Paulo, João Doria (PSDB), também foi criticado por Carlos Bolsonaro numa publicação do mesmo gênero. No Twitter, o filho do presidente afirmou que o tucano era defensor da cloroquina e da hidroxicloroquina no combate ao vírus, indagando se a CPI também iria inquiri-lo. Cloroquina e hidroxicloroquina são drogas propagadas por grupos políticos como eficazes no tratamento da covid-19, a despeito de já terem sido rechaçadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que encerrou estudos com a cloroquina, e por outras autoridades sanitárias. Estes fármacos são parte de um receituário falsamente propagado como “tratamento precoce” para a infecção. O conceito inexiste na literatura científica. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/protocolo-italiano-para-atendimento-domiciliar-contra-covid-19-nao-tem-relacao-com-tratamento-precoce/
COMPROVA
Protocolo italiano para atendimento domiciliar contra covid-19 não tem relação com “tratamento precoce”
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2021-04-28
O Senado italiano decidiu em 8 de abril pela criação de um protocolo único para atendimentos domiciliares de pessoas infectadas pela covid-19. Uma postagem do deputado Eduardo Bolsonaro no Facebook celebra a aprovação na Itália do uso de medicamentos para um "tratamento imediato" para a covid-19, o que aproximaria a decisão italiana do "tratamento precoce" defendido por alguns médicos e políticos no Brasil. Mas os protocolos são diferentes. Conteúdo verificado: Postagem no Facebook do deputado federal Eduardo Bolsonaro diz que “o Senado da Itália aprova uso de medicamentos para tratamento imediato contra a COVID-19, através de protocolo único”. O Senado italiano aprovou uma moção no dia 8 de abril que obriga o governo a definir um protocolo único para atendimentos domiciliares de pessoas infectadas pela covid-19. O protocolo libera aos profissionais de saúde a possibilidade de “prescrição de remédios considerados mais adequados ao indivíduo, dentro das indicações da comunidade científica validadas pelos órgãos competentes”. O documento inclui ainda a criação de um comitê de ministros para monitorar o setor, o aumento do fornecimento de aparelhos para a execução da telemedicina e melhorias na rede de cuidados familiares. Uma postagem feita no Facebook pelo deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) celebra a aprovação na Itália do uso de medicamentos para um “tratamento imediato” para a covid-19. Essa definição não é usada no protocolo italiano e nem a Itália faz indicação de qualquer medicação. O post de Bolsonaro, até o momento da publicação desta verificação, foi compartilhado 11 mil vezes e já tem 1,4 mil comentários. Nessas manifestações, usuários têm relacionado o “tratamento imediato”, expressão usada pelo autor do post, como se fosse uma versão italiana para o “tratamento precoce” e um aval para uso de remédios que não têm comprovada a sua eficácia contra o coronavírus. E por isso o Comprova assinalou o post como enganoso. Procurada pelo Comprova por WhatsApp, a assessoria do deputado informou que ele não iria se manifestar e depois bloqueou a repórter no aplicativo. Como verificamos? O Comprova acessou a página oficial do Senado italiano e, com a ajuda da extensão Google Tradutor (que traduz toda a página), leu o relatório da sessão pública realizada no dia 8 de abril. Lemos também a cobertura do Corriere della Sera, principal jornal da Itália, sobre o assunto, além da reportagem da publicação Avvenire, outro veículo de importância no país europeu. O Comprova entrou em contato com a assessoria de comunicação de Eduardo Bolsonaro pelo WhatsApp através de mensagens. Sem obter resposta, a repórter do Comprova ligou para o assessor usando o mesmo aplicativo. O assessor ignorou a ligação e, em seguida, bloqueou o número utilizado pelo Comprova na apuração. Em seguida, a repórter acionou outro membro da equipe de Eduardo Bolsonaro e relatou o bloqueio. Não mais do que um minuto depois, o assessor efetuou o desbloqueio, respondeu que o deputado não comentaria o caso e voltou a bloquear a repórter. Verificação O texto do Senado afirma “dar aos profissionais de saúde a possibilidade de prescrição de remédios considerados mais adequados ao indivíduo, dentro das indicações da comunidade científica validadas pelos órgãos competentes”. O documento inclui ainda a criação de um comitê de ministros para monitorar o setor, o aumento do fornecimento de aparelhos para a execução da telemedicina e melhorias na rede de cuidados familiares. Nem o Senado, nem a imprensa italiana usam termos como “tratamento precoce” ou “imediato”. Trata-se de um novo protocolo de atendimento domiciliar que vigorará em todo o território do país com o fim de desafogar as UTIs e demais leitos italianos. De acordo com a publicação Avvenire, há atualmente mais de 493 mil italianos em isolamento domiciliar por estarem infectados. Os hospitais do país encontram-se “dramaticamente lotados”. O novo protocolo permite que as unidades de saúde retomem gradativamente as intervenções em outras patologias. Não são mencionadas as substâncias comumente associadas ao “tratamento precoce”, como hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina, na moção do senado italiano. Nenhum desses remédios consta na lista oficial de medicamentos aprovados e recomendados para o tratamento da covid-19 no país, criada pela Aifa (Agência Italiana de Medicamentos). O antibiótico azitromicina figura em um documento que afirma que a falta de comprovação científica impede o uso do remédio sozinho ou associado a outros no tratamento de infecções não bacterianas. O denominado “tratamento precoce”, defendido no Brasil por grupos de médicos e por apoiadores do governo Bolsonaro, tem como escopo o uso de hidroxicloroquina, ivermectina e/ou azitromicina ao se experienciar os primeiros sintomas do Covid-19. Não há evidências científicas que demonstrem que esses medicamentos sejam eficazes contra a covid-19 como já manifestaram entidades de referência globais em saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) e o Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos. Por que investigamos? O Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia da covid-19 que tenham obtido grande alcance nas redes sociais e em aplicativos de mensagens. A publicação do deputado Eduardo Bolsonaro foi ao ar em 17 de abril e, até o fechamento desta reportagem, contava com mais de 11 mil compartilhamentos. Diversas pessoas nos comentários interpretaram erroneamente que a Itália havia adotado o protocolo de tratamento defendido por Jair Bolsonaro e seus seguidores. A Agência Lupa, o Aos Fatos, o Fato ou Fake, o Estadão e a Gaúcha ZH verificaram um conteúdo desinformativo cujo teor é semelhante ao aqui verificado. Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que use dados imprecisos ou que induza a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
null
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/oms-nao-indica-ivermectina-para-tratamento-da-covid-19/
COMPROVA
OMS não indica ivermectina para tratamento da covid-19
null
2021-04-22
Publicação que exibe imagem do diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, com uma seta para a legenda “Médicos europeus pedem uso urgente da ivermectina”, não menciona que Adhanom aparece na reportagem em um trecho que fala justamente da não-recomendação da OMS do uso da ivermectina no tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus. Conteúdo verificado – Postagem em um perfil pessoal no Facebook que exibe uma imagem capturada de um vídeo da RedeTV em que aparece o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, com uma seta para a legenda “Médicos europeus pedem uso urgente da ivermectina”. Ao contrário do que sugere uma postagem no Facebook, a Organização Mundial da Saúde (OMS) não recomenda o uso de ivermectina no tratamento da covid-19. No início de março, a OMS, na verdade, descartou qualquer benefício no uso do remédio (que é, na verdade, um vermífugo) nesses casos, com base em estudos científicos rigorosos feitos em várias partes do mundo. O frame que consta no post — de uma reportagem veiculada no programa RedeTV! News — mostra o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, e a legenda “Médicos europeus pedem uso urgente da ivermectina”, mas não menciona que a imagem de Adhanom aparece na reportagem em um trecho que fala justamente da não-recomendação da OMS do uso da ivermectina no tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus. A postagem tampouco explica que o pedido em questão, feito por um grupo de profissionais da saúde portugueses, não foi aceito pela Autoridade Nacional de Medicamentos e Produtos de Saúde, correspondente à Anvisa no país europeu. O Comprova tentou contato com a autora do post pelo Facebook, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem. Já a RedeTV! disse, em nota ao Estadão, que a matéria trazia informações sobre o uso da ivermectina, mas que “em dois momentos destacou a ausência de comprovação científica das agências controladoras sobre a eficácia do remédio”. Como verificamos? Procuramos pela reportagem original da RedeTV!, e encontramos, no site da emissora, o vídeo com o conteúdo completo, veiculado no programa RedeTV! News no dia 11 de março. Entramos em contato com a autora do post no Facebook, mas ela não respondeu à nossa reportagem. Buscamos detalhes sobre a petição dos médicos portugueses para o uso da Ivermectina no tratamento da covid-19, além do posicionamento da Infarmed — Autoridade Nacional de Medicamentos e Produtos de Saúde de Portugal — sobre o pedido. Depois, buscamos informações disponibilizadas pela própria Organização Mundial da Saúde a respeito do uso do medicamento, além de reportagens publicadas sobre o tema em diversos veículos de comunicação. Por fim, entrevistamos, por telefone, o presidente da Sociedade Mineira de Infectologia e integrante do comitê de enfrentamento à covid-19 de Belo Horizonte (MG), Estevão Urbano. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de abril de 2021. Verificação OMS não recomenda Ivermectina O frame da reportagem da RedeTV! usado na publicação do Facebook, com a imagem de Tedros Adhanom, aparece por volta dos dois minutos e meio da matéria (que tem mais de 7 minutos), quando a repórter diz que “a Organização Mundial da Saúde chegou a divulgar estudos que identificavam a ineficácia do medicamento” – o que não é mencionado na postagem na rede social. O trecho é um contraponto à fala de uma das entrevistadas, Tess Lawrie, que defende o uso do medicamento com base em um estudo do tipo meta-análise, que avalia os resultados do trabalho realizado por outros pesquisadores. Outra publicação do tipo, que também defendia o uso da Ivermectina no tratamento de pacientes com covid-19, já foi duramente criticada por pesquisadores brasileiros e tema de reportagens que demonstravam o problema com este tipo de estudo. “A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) não recomendam o uso de ivermectina para quaisquer outros propósitos diferentes daqueles para os quais seu uso está devidamente autorizado, como para tratamento de oncocercose e sarna”, diz o site oficial da OPAS, na seção destinada às informações sobre a covid-19. No dia 31 de março deste ano, a OMS descartou, oficialmente, o uso da Ivermectina no tratamento da covid-19. Ivermectina na Europa e no mundo O “pedido dos médicos europeus”, a que a reportagem se refere, é uma petição, enviada à Infarmed — agência portuguesa com atribuições correspondentes à Anvisa, no Brasil. A matéria não menciona, porém, que o pedido foi negado, e a Comissão de Avaliação de Medicamentos da entidade considerou, em uma publicação de 11 de março, que “não existem evidências que apoiem a utilização deste medicamento na profilaxia e tratamento da COVID-19”. A RedeTV! veiculou outra reportagem, no dia 15 de março, com a informação sobre a negativa da agência portuguesa. A Agência Europeia de Medicamentos (EMA), que na época da reportagem também analisava a solicitação de uso da droga nos casos do novo coronavírus, já se pronunciou sobre o tema, e, em 22 de março, passou a desaconselhar o seu uso no tratamento dos pacientes com a doença. No Brasil, a Anvisa já não recomenda, desde o ano passado, o uso da Ivermectina nos casos de coronavírus. O presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, Estevão Urbano, também explicou à nossa reportagem que estudos rigorosos sobre a eficácia dos medicamentos do chamado “kit de tratamento precoce” da covid-19, incluindo a ivermectina, não tiveram resultados positivos. “Boa parte dos pacientes que vão para CTIs já tomaram ou ivermectina, ou cloroquina, e não deixam de se agravar. Por outro lado, aqueles casos que tomam e melhoram possivelmente já melhorariam independente de tomar a medicação, visto que 85 a 90% das pessoas têm evolução favorável [da covid-19]”, ressalta. Por que investigamos? O Comprova verifica conteúdos que podem contribuir para a desinformação sobre a pandemia da covid-19, que já matou mais de 380 mil brasileiros. Mesmo com a aprovação de vacinas desenvolvidas por diversos laboratórios, o país ainda enfrenta um cenário gravíssimo, com alto número de casos e mortes. A Ivermectina, mesmo com todos os alertas de autoridades internacionais e nacionais em saúde que questionam a sua eficácia, continua sendo apontada por alguns grupos como um possível tratamento para as infecções pelo novo coronavírus. Por isso, postagens que sugerem qualquer tipo de indicação de uso do medicamento, sobretudo pela OMS, podem gerar uma falsa sensação de segurança em que o utiliza, levando ao abandono de medidas realmente eficazes na redução dos casos de covid-19, como a vacinação, o uso de máscaras e o distanciamento social. Só no Facebook, o post, do dia 12 de abril, teve mais de 88 mil compartilhamentos até 22 de abril. A Agência Lupa e o Estadão também verificaram um conteúdo semelhante, e o próprio Comprova já checou, no ano passado, um post que distorcia informações sobre a eficácia da ivermectina e outro, do Pastor Silas Malafaia, que continha dados enganosos sobre o medicamento. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.
https://i0.wp.com/projet…=640%2C496&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-52-municipios-zeraram-o-numero-de-mortes-por-covid-19-ao-adotarem-o-chamado-tratamento-precoce/
COMPROVA
É falso que 52 municípios zeraram o número de mortes por covid-19 ao adotarem o chamado ‘tratamento precoce’
null
2021-04-22
É falso que municípios tenham zerado o número de mortes por covid-19 ao adotarem protocolos de tratamento com hidroxicloroquina e ivermectina. Os números epidemiológicos das cidades listadas desmentem o boato. Além disso, as substâncias não têm eficácia comprovada como tratamento da covid-19 e a conexão com a queda no números de casos é insustentável. Conteúdo verificado: Mensagem distribuída por WhatsApp e também publicada no Twitter afirma que 52 cidades no Brasil zeraram o número de óbitos por covid graças ao tratamento precoce com ivermectina e hidroxicloroquina É falso que 52 municípios zeraram o número de mortes por covid-19 ao adotarem o chamado ‘tratamento precoce’ com hidroxicloroquina e ivermectina contra a covid-19, como sugerem mensagens nas redes sociais. Um levantamento do Comprova com dados do site SUSanalítico mostra que quase todas as cidades citadas registraram notificações de óbitos no mês de março. Os benefícios das duas drogas não foram comprovados por pesquisas científicas confiáveis. A Organização Mundial da Saúde e outras entidades desaconselham o uso dos medicamentos para o tratamento da covid-19, em qualquer estágio da infecção. Além disso, conforme especialistas consultados pelo Comprova, a conexão entre o tratamento precoce e supostas quedas nos números de óbitos nas cidades é insustentável, uma vez que outros fatores influenciam os índices epidemiológicos. Essa verificação foi sugerida por leitores que receberam o conteúdo por WhatsApp. O mesmo conteúdo foi publicado no Twitter pelo perfil @DerlinRod. O Comprova tentou ouvir o autor dessa postagem, mas ele não respondeu até o fechamento da verificação. Como verificamos? Para verificar o conteúdo, o Comprova acessou os dados da plataforma SUSanálitico, do Ministério da Saúde. A pesquisa coletou informações sobre os óbitos por covid-19 acumulados de cada um dos municípios mencionados até a data de referência do dia 15 de abril, a população estimada das cidades e a taxa de mortes por 100 mil habitantes. Também aplicamos um filtro para comparar os números de óbitos registrados no dia 31 de março com as estatísticas do dia 1º de março. Isso permitiu à reportagem conferir a evolução das ocorrências durante aquele mês. É importante ressaltar que o SUSanalítico informa a data de notificação dos óbitos, e não o dia exato em que ocorreram. Os dados da plataforma apresentam números distintos dos boletins epidemiológicos das prefeituras. Essa diferença, entretanto, não impacta no resultado da verificação ou na classificação do conteúdo, conforme verificado individualmente pelo Comprova. Como os números desmentem a publicação, o Comprova não checou, de cidade a cidade, se elas usaram algum protocolo de tratamento precoce como política de atendimento para a covid-19. Após o levantamento, o Comprova consultou dois especialistas na área de epidemiologia para entender se a associação do tratamento precoce com supostas quedas nos números epidemiológicos de cidades é válida. Marcio Sommer Bittencourt, do Centro de Pesquisa de Epidemiologia do Hospital Universitário da USP, e Airton Stein, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), no entanto, argumentam que os apontamentos do post não se sustentam. Também contactamos o autor de uma postagem com o mesmo conteúdo no Twitter, que não respondeu até o fechamento da matéria. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 21 de abril de 2021. Verificação A mensagem enganosa menciona 51 cidades de diferentes proporções populacionais. O município de Uberaba (MG) é repetido duas vezes, nas numerações 15 e 31. O conteúdo ainda menciona uma cidade chamada Taquara, no Paraná, mas a região não configura oficialmente um município. A publicação analisada pelo Comprova foi compartilhada no Twitter no dia 5 de abril. Um levantamento da reportagem com dados da plataforma SUSanalítico mostra que, no mês de março, somente os municípios de São Pedro dos Crentes (MA), Rancho Queimado (SC) e São Pedro do Paraná (PR) não registraram notificações de óbitos por covid-19. As três cidades somam pouco menos de 10 mil habitantes. Na outra ponta, Natal (RN), com população estimada em 884 mil habitantes, lidera o ranking com 385 notificações, seguida por Cascavel (PR) e Chapecó (SC), com 244 e 230, respectivamente. No município gaúcho de Taquara, que também consta da lista, o total de óbitos acumulados quase dobrou. A cidade registrava, em 1º de março, 67 óbitos e fechou o mês com 132 ocorrências acumuladas. Além disso, até o dia 15 de abril, mais de 20 dos municípios listados apresentavam uma taxa de mortes de covid por 100 mil habitantes superior à média nacional de 178, segundo o SUSanalítico. É o caso de Itajubá (MG). Com cerca de 97 mil habitantes, a cidade mineira contabilizava 304 óbitos, aproximadamente 314 vítimas por 100 mil habitantes. Conexão insustentável Além de citar medicamentos sem eficácia comprovada para a covid-19, a associação do uso do tratamento precoce com os números epidemiológicos não é correta, de acordo com especialistas ouvidos pelo Comprova. O médico Márcio Sommer Bittencourt, do Centro de Epidemiologia do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, destaca que outros fatores podem interferir nos números epidemiológicos de uma cidade, desde medidas de restrições adotadas para combater a pandemia até as características da população de cada município. Bittencourt explica que não é possível aferir o impacto do tratamento precoce nas cidades sem um estudo controlado que compare um grupo de pacientes medicados com o protocolo contra um grupo de controle robusto – isto é, pacientes que não recebem os remédios, mas estão sob as mesmas condições do grupo de medicados. Ainda assim, o estudo teria limitações. “Além das cidades não terem reduzido o número de mortes para nada substancial, elas podem estar em momentos de queda nas curvas por outras intervenções, que é o caso de Chapecó (SC), onde isso é muito claro”, destaca o médico. A cidade catarinense promoveu um lockdown parcial durante o mês de fevereiro. O método adequado para gerar evidências confiáveis acerca da eficácia de um medicamento corresponde aos estudos clínicos randomizados, defende Airton Stein, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e médico de família e comunidade do Grupo Hospitalar Conceição. Ele destaca que esse tipo de trabalho estabelece grupos de controle e critérios de seleção para inibir possíveis fatores que possam confundir a análise dos resultados, o que não ocorre nas experiências clínicas individuais de médicos ou na análise proposta na mensagem enganosa. Stein ressalta que até mesmo as desigualdades nos sistemas de saúde poderiam “ser um fator de confusão”. “Quando a cidade tem um serviço de saúde que funciona, acesso a tecnologia para atender casos graves e fatores socioeconômicos melhores, os indicadores podem ser mais positivos.” diz o especialista. As evidências da cloroquina e ivermectina Até o momento, não há evidências confiáveis que confirmem a eficácia do uso da hidroxicloroquina ou ivermectina no tratamento da covid-19, em qualquer estágio da doença. O painel de evidências da Organização Mundial da Saúde desaconselha a aplicação dos dois tratamentos no combate à infecção do novo coronavírus. No caso da ivermectina, a entidade diz que os benefícios e a segurança do tratamento permanecem incertos, ao passo que os dados disponíveis de estudos clínicos com a droga no contexto da covid-19 têm um nível de confiança baixo. A Agência Europeia de Medicamentos também apresenta uma posição semelhante. Os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH), por sua vez, afirmam que há dados insuficientes para estabelecer uma recomendação a favor ou contra o uso da ivermectina no tratamento da covid-19. A Food and Drugs Administration, órgão regulatório do país, alerta que a automedicação com o vermífugo é perigosa. Já os tratamentos com cloroquina e a hidroxicloroquina são fortemente desaconselhados pelo painel da OMS. De acordo com o documento, evidências de nível de confiança moderado mostram que ambas substâncias “provavelmente não reduzem a mortalidade, ventilação mecânica e o tempo de hospitalização”. Além disso, há preocupações em torno da segurança. Segundo a entidade, algumas evidências mostram que os remédios podem, na verdade, aumentar o risco de morte. “Os efeitos em outros resultados menos importantes, incluindo o tempo de resolução de sintomas, admissão hospitalar e o período de ventilação mecânica, seguem incertos”, diz o painel. O NIH desaconselha o uso da hidroxicloroquina isolada ou com outros medicamentos em pacientes hospitalizados com a covid-19. A organização também é contra a aplicação do tratamento para pacientes não hospitalizados fora de estudos clínicos. Por que investigamos? O Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia que tenham obtido grande alcance nas redes sociais e em aplicativos de mensagens. O conteúdo analisado aqui foi sugerido via WhatsApp por leitores do Comprova e alcançou 544 interações no Twitter até o dia 21 de abril de 2021. A mensagem promove desinformação ao espalhar o boato falso de que mais de 50 municípios teriam zerado o número de óbitos, graças ao uso de protocolos com ivermectina e hidroxicloroquina. As duas substâncias não têm eficácia e segurança comprovada no tratamento da covid-19, tampouco podem ser relacionadas com a queda de números epidemiológicos dos municípios citados no post. O tratamento precoce já foi alvo de uma série de verificações do nosso projeto. O boato é potencialmente perigoso porque pode confundir usuários e gerar uma falsa sensação de segurança de que esses medicamentos podem proteger pacientes na pandemia, quando não há evidências confiáveis de que eles realmente funcionem. A desinformação também pode atrapalhar gestores públicos na consolidação de políticas públicas efetivas para combater a crise sanitária. Uma verificação da Agência Lupa a respeito do mesmo boato indica que o conteúdo falso também circula por grupos de WhatsApp. O Aos Fatos e o projeto Fato ou Fake, do G1, desmentiram uma mensagem semelhante, com parte dos municípios listados, que viralizou na plataforma de mensagens. Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/media-de-mortes-em-2020-nao-foi-menor-que-em-2019/
COMPROVA
Média de mortes em 2020 não foi menor que em 2019
null
2021-04-19
Postagem do cantor Roger Moreira no Twitter usa dados antigos e incompletos de mortes por covid-19 no Brasil. Print do cantor usa reportagem que alega que a média diária de mortes em 2020 era menor do que em 2019. No entanto, o texto é de maio do ano passado e apresenta cálculos incompletos não só sobre o mês, que ainda não havia terminado, como também do ano. Conteúdo verificado: Tuíte do cantor Roger Moreira mostra o print de uma pesquisa no Google e de parte de uma matéria de maio de 2020, do site boqnews, que afirma que o número de mortes registradas até ali, naquele ano, resultava num número diário de óbitos menor do que o de 2019. É enganoso o tuíte do cantor Roger Moreira que apresenta o print de uma notícia de maio de 2020 alegando que a média de mortes do ano era menor do que em 2019. O texto reproduzido é equivocado porque busca reduzir o impacto da quantidade de mortes ocorridas pela covid-19 no Brasil ao apresentar cálculos errados sobre as notificações. A publicação apresenta dados de Registro Civil, de responsabilidade da Arpen (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais) e coletados nos cartórios do país, de janeiro a maio de 2020 em comparação ao mesmo período de 2019. Além de apresentar uma soma incompleta, sem considerar o mês cheio, ela também distorce o atraso em registros de óbitos. Contatado pela reportagem, Roger Moreira disse que considera “um desrespeito essa soma diária de mortos”. Ele criticou o trabalho de checagem e disse que, quando fez o print, buscava informações sobre a “taxa normal de óbitos sem pandemia”, ainda que os dados fossem do ano passado. Ele acrescentou que, para fins de comparação, os números de óbitos registrados por outras causas também deveriam ser divulgados pela imprensa. Como verificamos? Procuramos o cantor Roger Moreira, que se justificou sobre a postagem pelo WhatsApp. Depois, buscamos os dados do Portal da Transparência do Registro Civil, que consolida os registros de mortes ocorridos em todo o território nacional. A busca do site permite o acesso aos dados por mês, em diferentes regiões e cidades do Brasil, mas não permite o recorte diário — por isso, entramos em contato com a Arpen, entidade responsável pelos dados fornecidos no portal, para pedir acesso aos números completos. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 19 de abril de 2021. Verificação Publicação alega que pandemia não afetou aumento de mortes A publicação à qual o print tirado por Roger Moreira se refere afirma que não só a quantidade de óbitos no país, entre janeiro e maio de 2020, segue a média de mortes observada no mesmo período em outros anos, como o total de registros era menor do que no ano anterior. “Apesar da incidência do covid-19, o montante total de óbitos ocorridos no Brasil pelos mais variados motivos, de 1 de janeiro a 19 de maio deste ano, de 457.648, ainda são inferiores aos registrados em 2019, de 491.237, no mesmo período, uma diferença de menos 33.598 mortes”, diz trecho do texto. Números de 2020 não foram menores No site do Registro Civil a consulta é feita apenas pelo total de óbitos apresentado no mês inteiro, sem possibilidade de busca por dias específicos. Procurada pelo Comprova, a Arpen afirmou que o levantamento de acordo com a data só pode ser realizado por uma área técnica e que, no momento, as demandas prioritárias são dos governos federal e estadual. Os dados cheios dos meses comparados apontam o contrário: houve, sim, mais mortes registradas em cartórios no ano de 2020 do que em 2019. Para que a verificação fosse mais precisa, o Comprova utilizou apenas os registros entre janeiro e maio, mesma base de comparação do texto compartilhado por Roger Moreira. Vale ressaltar que os números consultados em 2021 têm mais dias de cálculo, já que contabilizam óbitos até o dia 31 do mês, 12 a mais que a publicação, e não apresentam dados atrasados, algo recorrente sobretudo em casos de covid-19, com muitos diagnósticos confirmados só após a morte pela doença. Segundo o Registro Civil, entre janeiro e maio de 2019 foram registrados 518.455 óbitos — média de 3.430 mortes por dia. Já em 2020, no mesmo período, foram 558.464 mortes (média de 3.674 óbitos diários), 40.404 a mais que no ano anterior. O valor é maior do que a diferença entre 2019 e 2018 no mesmo período; 2018 teve 31,5 mil mortes a menos. Só os óbitos pelo coronavírus, entre janeiro e maio de 2020, correspondem a 39.455, sendo que a primeira morte pela doença, no país, data de 12 de março. Ainda no ano passado, uma reportagem do UOL apontou que o mês de maio teve mais mortes por covid-19 no Brasil do que a soma de todos os óbitos provocados por cânceres. Atraso no registro de mortes O Comprova já havia verificado conteúdos sobre os registros de mortes no início de 2020, e explicado que os dados do Portal da Transparência devem ser analisados com cautela, sobretudo quando é feita a contabilização de mortes recentes em relação à data da consulta ao site. Segundo a própria plataforma, “a atualização pelos registros de óbitos lavrados pelos Cartórios de Registro Civil obedece a prazos legais”. Esse prazo leva em conta que “a família tem até 24 horas após o falecimento para registrar o óbito em cartório que, por sua vez, tem até cinco dias para efetuar o registro de óbito”. Considera também que o cartório tem ainda oito dias para enviar o registro à Central Nacional de Informações do Registro Civil, que atualiza o portal. No total, oficialmente, são 14 dias. Além disso, a Lei de Registros Públicos prevê exceções que podem aumentar esse prazo. Como destacou a Agência Lupa, se o local da morte ficar a mais de 30 quilômetros de um cartório, a família pode registrar o falecimento em até três meses — na prática, porém, os prazos ainda são, muitas vezes, descumpridos. A agilidade no registro dos óbitos durante a pandemia também tem variado entre as regiões do Brasil, e produzido distorções nos dados — que se acentuam quando a consulta do Portal é feita para um intervalo curto de tempo. Músico diz que mortes por outras causas também devem ser divulgadas Questionado pela reportagem se havia verificado a data da publicação, de maio passado, Roger Moreira afirmou que havia reparado, sim, e que ele procurava qual a “taxa normal de óbitos sem a pandemia”. “Acho um desrespeito essa soma diária de mortos. É um país gigantesco e é claro que os números serão altos, sempre. Estão usando cadáveres para fazer campanha política”, disse. No Twitter, ele já havia declarado que era “evidente” o aumento de mortes, e defendeu que óbitos por outras causas também fossem reportados a fins de comparação: “Se contasse os infartos, por exemplo, também teríamos um número expressivo diariamente”. Por que investigamos? Os dados diários de casos e mortes da doença servem para que especialistas calculem melhor as taxas de transmissão e mortalidade no país. Diferentemente do infarto, ocorrência usada como exemplo por Roger Moreira para falar sobre altos índices de mortes, a covid-19 é uma doença transmissível pelo ar e que pode ter o contágio reduzido por meio de ações públicas. As autoridades se baseiam nos números e para adotar políticas no combate ao vírus, trabalhando inclusive com a previsão de superlotação em hospitais e cemitérios. O total de óbitos, incluindo outras causas além da covid-19, também auxilia no entendimento de que a pandemia pode ter impacto sobre outras mortes — algumas delas provocadas pela sobrecarga nos sistemas de saúde. Em 2021, a superlotação nos hospitais levou pacientes com covid-19 a ocupar leitos destinados a outras doenças. As informações utilizadas pela publicação à qual o músico se referiu foram apresentadas de forma incompleta e sem a devida contextualização, o que prejudica o entendimento sobre a importância da divulgação de mortes por covid-19. A postagem de Roger, até o dia 19 de abril, já havia ultrapassado 3 mil interações no Twitter. Até a data da publicação deste texto, o Ministério da Saúde contabiliza 1.657 mortes por covid-19 nas últimas 24 horas, números que costumam ser menores aos finais de semana em função do represamento de dados das secretarias estaduais. O país soma 373.335 óbitos e 13.943.071 casos da doença. Segundo o consórcio de veículos de imprensa, que faz o levantamento de notificações diretamente com as secretarias, a média diária de mortes pela doença nos últimos sete dias é de 2.878. Desde o início da pandemia, em março de 2020, o Comprova já verificou diversas postagens e publicações elaboradas a partir de registros de óbitos. Dados incompletos e descontextualizados já foram usados para apontar o declínio da pandemia no Brasil e negar que o país tivesse ultrapassado 100 mil mortes por covid-19. Já foram desmentidas mensagens que alegavam redução de mortes e também que óbitos por outras doenças foram registrados como covid-19 para inflar os números — argumentação recorrente e reproduzida até mesmo por parlamentares. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original, que usa dados imprecisos e que confunde, mesmo que não exista a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/repasse-de-r-89-bilhoes-do-governo-federal-ao-amazonas-nao-foi-exclusivo-para-combate-a-pandemia/
COMPROVA
Repasse de R$ 8,9 bilhões do governo federal ao Amazonas não foi exclusivo para combate à pandemia
null
2021-01-26
Os números são reais, mas se referem à verba geral enviada pela União ao Amazonas em 2020. Os recursos, portanto, não eram exclusivos para o combate à crise sanitária e parte do dinheiro é de transferências obrigatórias, aquelas cuja Constituição Federal estabelece que devem ser feitas pela União. Conteúdo verificado: Postagem no Instagram do vereador de Fortaleza Carmelo Neto sobre repasse de verba do Governo Federal ao Amazonas e a Manaus, e o efeito de um suposto desvio de dinheiro público no estado e na capital no combate à pandemia. É enganosa a postagem de um vereador de Fortaleza que destaca valores de repasses federais ao Amazonas como prova de que o governo federal não teria relação com os graves problemas de saúde pública no estado. Os números que aparecem nos posts são reais, mas se referem à verba geral enviada pela União ao estado em 2020. Os recursos, portanto, não eram exclusivos para o combate à crise sanitária. Além disso, parte do dinheiro é de transferências obrigatórias, aquelas cuja Constituição Federal estabelece que devem ser feitas pela União. É o próprio vereador responsável pela postagem, Carmelo Neto (Republicanos-CE), quem faz a associação entre as verbas repassadas e uma possível culpa pela situação do colapso no Amazonas na crise sanitária. No texto verificado, ele alega que “PR Bolsonaro repassou, somente em 2020, 8,9 bilhões ao Amazonas, sendo 2,3 bilhões exclusivamente para o município (de Manaus)”. Os dados são do Portal da Transparência, mas o vereador ignora no texto que a verba, por seu caráter geral, pode ser utilizada em outras áreas, como educação, mobilidade, infraestrutura, dentre outras. Dos R$ 8,9 bilhões enviados pelo Governo Federal em 2020, conforme a Secretaria da Fazenda do Amazonas, R$ 219,4 milhões foram transferências vinculadas ao SUS, especificamente para combate à pandemia. O estado também recebeu outros R$ 267,5 milhões de verbas vinculadas à saúde para enfrentamento à covid-19, só que de recursos previstos na Lei Complementar nº 173/2020, que garante apoio financeiro a estados e municípios na crise sanitária. O total de receitas para uso exclusivo contra a covid no ano passado foi, portanto, R$ 487 milhões no estado. A publicação verificada também acrescenta que “os culpados pelo caos são aqueles que surrupiaram os repasses da União para interesse próprio, inclusive utilizando adegas de vinhos para superfaturar contratos”. Trata-se de uma referência a uma investigação em curso (“Operação Sangria”), encabeçada pelo Ministério Público Federal e pela Polícia Federal, sobre suposta compra superfaturada de ventiladores pulmonares em abril de 2020, autorizada pelo governador Wilson Lima (PSC-AM). A aquisição, segundo as investigações, foi feita em uma loja de vinhos. Em janeiro de 2021, a Procuradoria-Geral da União (PGR) também determinou a abertura de inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para apurar possíveis responsabilidades dos governos estadual e municipal de Manaus na crise da falta de oxigênio medicinal, e solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF) ação semelhante para apurar a conduta do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, em relação ao colapso em Manaus. O STF autorizou, e o ministro está sendo formalmente investigado no Supremo por conta da crise no Amazonas. Como verificamos? Inicialmente, procuramos notícias sobre o possível repasse de verbas do governo federal ao Amazonas e a Manaus durante a pandemia, mencionados na postagem. Matérias do Poder 360 e da Folha de São Paulo citavam a publicação feita pelo presidente Jair Bolsonaro, com os valores indicados no post de Carmelo Neto. Em seguida, consultamos o Portal da Transparência do Governo Federal, no qual constam as transferências realizadas oficialmente pela União para estados e municípios. Em paralelo, contactamos o governo do Amazonas e a Secretaria da Fazenda, por meio do Whatsapp, para saber os valores das transferências federais em 2020. Usamos também dados do site oficial do Governo do Estado e da Secretaria Estadual da Saúde sobre o assunto. O Portal da Transparência do Amazonas também serviu como fonte de informação. A Prefeitura de Manaus foi contactada e, por e-mail, respondeu algumas questões. Entramos em contato, via Whatsapp, com a assessoria do autor da postagem. O vereador respondeu às questões por meio do aplicativo. Devido à menção na publicação a um suposto superfaturamento de contrato, no combate à crise sanitária no estado, o Ministério Público Federal do Amazonas também foi acionado. O Comprova entrou em contato com a assessoria de imprensa que, via Whatsapp e por e-mail, informou alguns links da página do órgão nos quais há informações sobre a operação contra fraudes e desvios na compra de respiradores no Amazonas. No processo de verificação, o Comprova também tomou como referência alguns procedimentos, como consultas aos portais da transparência, evidenciados em uma matéria do Estadão Verifica, sobre repasses de verba da União ao Amazonas. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 26 de janeiro de 2021. Verificação Crise no Amazonas Durante a pandemia, o Amazonas tem vivenciado situações de colapso da rede hospitalar em alguns municípios, incluindo a capital Manaus. Em janeiro, pela segunda vez, o aumento de internações por covid-19 provocou uma crise de grandes proporções que alarmou o país. Pacientes morreram por falta de oxigênio nos hospitais. Em meio ao caos no sistema de saúde no estado, o governo federal diz ter feito o que pode para ajudar. Um dos argumentos é de que foram transferidos recursos suficientes. Na postagem de Carmelo Neto, os valores mencionados são os mesmos divulgados pelo presidente Jair Bolsonaro, em uma publicação no Twitter, no dia 15 de janeiro. No post de Bolsonaro não há texto, somente uma imagem com dados do Portal da Transparência, administrado pela Controladoria-Geral da União (CGU), na qual consta que o governo federal, em 2020, transferiu R$ 8,91 bilhões de recursos para o Amazonas e seus municípios. A imagem também afirma que Manaus recebeu R$ 2,36 bilhões da União. Em consulta feita pelo Comprova ao Portal da Transparência, no dia 20 de janeiro, os valores que apareceram, após a busca por transferências da União ao estado do Amazonas, são os mesmos que constam na postagem do presidente. Conforme o portal, R$ 6,1 bilhões repassados, do total de R$ 8,9 bilhões, são das chamadas transferências obrigatórias. O montante equivale a 69% do total de dinheiro destinado ao estado. Esses valores são aqueles que a Constituição prevê que a União deve enviar obrigatoriamente aos estados, ao Distrito Federal e aos municípios. Nesse montante estão incluídos, por exemplo, os recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM), do Fundo de Participação dos Estados (FPE) e do Fundo da Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb). Dos R$ 8,9 bilhões enviados ao Amazonas, R$ 2,8 bilhões se referem às transferências voluntárias. Essas são as verbas destinadas pela União aos estados e municípios, conforme o próprio nome pressupõe, de forma não obrigatória, e com base em demandas específicas desses locais. Normalmente, as transferências voluntárias são condicionais, exigindo alguma contrapartida dos beneficiados, como o cumprimento de algum requisito legal. No caso da capital, Manaus, dos R$ 2,36 bilhões destinados pela União em 2020, segundo o Portal da Transparência, 42% foram de transferências obrigatórias. O Comprova buscou saber junto ao Governo Federal e Governo Estadual do Amazonas quanto, dos R$ 8,9 bilhões destinados ao Amazonas, foi exclusivamente para combate à pandemia. O Governo do Amazonas, em diferentes sites oficiais da gestão pública, apresentou valores divergentes. Em publicação no site da Secretaria da Saúde, no dia 11 de novembro de 2020, consta que o Ministério da Saúde destinou ao Amazonas R$ 650 milhões para o enfrentamento da Covid-19. Já em publicação no site do Governo do Amazonas, no dia 15 de janeiro de 2021, consta que R$ 516,6 milhões foram repassados ao Estado para o enfrentamento da pandemia em 2020. O texto menciona os R$ 8,91 bilhões e reitera que desse total “a maior parte foi em repasses constitucionais, que são obrigatórios à União”. O Comprova buscou a assessoria de comunicação da Secretaria da Fazenda do Amazonas e questionou os valores divergentes, inclusive com o envio de links das fontes mencionadas. Por e-mail, a assessoria informou, no dia 25 de janeiro, que “houve um erro em ambos os dados divulgados, tanto pela Secretaria de Comunicação (Secom) quanto pela Secretaria de Estado de Saúde do Amazonas (SESC-AM)” e informou o que, segundo eles, é a informação correta: o valor do repasse específico para combate à pandemia é R$ 487 milhões. Vale ressaltar que desse total mencionado pelo Governo do Amazonas, R$ 267,5 milhões são verbas vinculadas à saúde especificamente para enfrentamento da covid, previstas na Lei Complementar nº 173, de 27 de maio de 2020, de socorro financeiro aos estados e municípios durante a pandemia. Se consideradas somente as transferências específicas para a pandemia, vinculadas ao Sistema Único de Saúde (SUS), seja para custeio ou investimento, o valor repassado pelo Governo Federal é de R$ 219, 4 milhões. O Ministério da Economia também foi procurado pelo Comprova, via e-mail. Diante da indagação sobre o registro de R$ 8,9 bilhões repassados ao Amazonas em 2020 e de quanto dessa verba foi especificamente para combate à crise sanitária, o órgão informou que “o portal da Transparência está sob a gestão da Controladoria Geral da União portanto essa pergunta deve ser direcionada para a CGU”. O Comprova também entrou em contrato com a assessoria da CGU, mas não obteve resposta. A assessoria da Prefeitura de Manaus afirmou, por e-mail, que o valor descrito no post verificado, de R$ 2,3 bilhões para a capital, foi das transferências obrigatórias. E destacou que “são recursos globais, para investimentos em todas as áreas, como saúde, educação, infraestrutura, mobilidade, entre outros”. Portanto, é fato que o governo federal repassou ao Amazonas, e a Manaus, os valores mencionados nas postagens. Contudo, parte dessa transferência era obrigatória – não sendo uma ação voluntária da gestão federal, tampouco do presidente, direcionada ao Amazonas diante das demandas da pandemia. A verba não foi destinada somente à área da saúde. Essas transferências são para uso geral nas unidades da federação e podem ser utilizadas para financiar diversas áreas da administração pública, tanto nos estados, como nos municípios. Outro ponto é que, conforme levantamento da Folha de São Paulo feito com base na postagem do presidente referente ao envio de recursos, Manaus, em 2020, foi a segunda capital que menos recebeu verba federal, se considerado o número de habitantes. Na capital do Amazonas, conforme a publicação, foram R$ 1.063 por habitante. O valor é um pouco maior que na cidade do Rio de Janeiro, com R$ 946,00 por morador. As capitais Vitória (ES) e Palmas (TO) constam no topo da lista de repasse federal por pessoa e, segundo o jornal, receberam mais de R$ 4.000 por morador. Pelo Whatsapp, Carmelo informou que a motivação para a postagem foi “o sentimento de injustiça causado pela campanha da grande mídia interessada em culpar o Pres. Bolsonaro pela falta de oxigênio em Manaus”. Ele diz que a fonte dos valores mencionados foi o Portal da Transparência e, embora na publicação trate de questões específicas da crise sanitária e não faça referência ao orçamento geral, afirma que os números citados no post “referem-se ao total dos repasses do governo federal ao Estado do Amazonas e ao município de Manaus”. Apoio financeiro aos estados Conforme já mencionado, o governo do Amazonas informou que recebeu R$ 267,5 milhões de verbas vinculadas à saúde previstas na Lei Complementar nº 173, que garante apoio para o equilíbrio financeiro de estados e municípios na crise sanitária. Além disso, foi repassado, segundo a gestão estadual, outros R$ 626,3 milhões também inclusos na Lei, mas sem a vinculação obrigatória à saúde. O que resulta em um repasse total de R$ 893.884.088,36 ao Amazonas no programa de auxílio financeiro. A nota da gestão estadual informa ainda que foram recebidos outros R$ 264,1 milhões oriundos da compensação dos repasses do Fundo de Participação dos Estados, previsto na Lei 14.041 de agosto de 2020, também de apoio financeiro aos estados. O Ministério da Economia, por e-mail, disse ao Comprova, no dia 25 de janeiro, que os recursos transferidos ao Amazonas por meio do auxílio financeiro foram cerca de R$ 894 milhões. A pasta federal informou o link para consulta dos valores repassados (item auxílio financeiro – artigo 5º da Lei Complementar nº 173)). Ao consultar, o Comprova constatou que, de acordo com o Ministério da Economia, foram feitos quatro repasses que totalizaram R$ 893.884.088,36 em envios. Denúncias no Amazonas e loja de vinhos O Ministério Público Federal investiga, desde abril de 2020, superfaturamento na compra de ventiladores pulmonares adquiridos de uma importadora de vinhos – “Vineria Adega” que seriam usados para tratamento da covid-19 no Amazonas. A investigação acontece na chamada Operação Sangria, que já prendeu suspeitos em outubro do ano passado. A compra, autorizada pelo governador Wilson Lima, era de 28 respiradores e teria custado R$ 2,9 milhões. As investigações mostraram que Lima indicou um homem de sua confiança para intermediar as aquisições com uma loja de vinhos que vendeu os aparelhos ao estado. Uma perícia da Polícia Federal indicou que o superfaturamento chegava a 133,67%. Em novembro, o Ministério Público, a Polícia Federal e a Controladoria-Geral da União cumpriram outros mandados de prisão e de busca e apreensão na terceira fase de investigação da Sangria. Além da compra superfaturada, a operação investiga lavagem de dinheiro, organização criminosa e montagem de processos para encobrir os crimes praticados. Em vídeo publicado em seu Instagram, Wilson Lima disse estar surpreso com a investigação e que estava tranquilo, pois desde o início da pandemia ele afirmou que tem trabalhado para salvar vidas. Alerta sobre situação de colapso O governo federal estava ciente desde o dia 8 de janeiro sobre um “iminente colapso do sistema de saúde” do Amazonas, 10 dias antes de começar a faltar cilindros de oxigênio nas unidades de saúde do estado. Essa informação foi confirmada por um ofício da Advocacia-Geral da União (AGU), órgão do governo federal, enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF). A informação foi publicada no G1 e confirmada pelo próprio ministro da Saúde, Eduardo Pazuello. Segundo a AGU, na última semana de dezembro de 2020, o Ministério da Saúde constatou, durante estudo para elaboração de um novo plano de enfrentamento da pandemia, uma situação sanitária que “revelou aumento significativo no número de hospitalizações” em Manaus. O ofício descreve que a pasta se reuniu com seus secretários em 3 e 4 de janeiro de 2021 para analisar a situação da capital. Entre as conclusões estava a de que havia a “possibilidade iminente de colapso do sistema de saúde, em dez dias, o que pode provocar aumento da pressão sobre o sistema, entre o período de 11 a 15 de janeiro”. Em entrevista coletiva no dia 18 de janeiro, Pazuello confirmou os fatos narrados no ofício enviado ao STF. “No dia 8 de janeiro, nós tivemos a compreensão, a partir de uma carta da White Martins [empresa produtora do oxigênio], de que poderia haver falta de oxigênio se não houvesse ações para que a gente mitigasse este problema”, disse. Ele explicou que a carta foi “uma surpresa e tanto”, e que apesar da notificação, o assunto estava “equilibrado pela empresa”. Segundo Pazuello, a crise aconteceu porque a velocidade das internações e demanda por oxigênio aumentou abruptamente, e a empresa não deu conta da demanda. A White Martins é uma multinacional brasileira que trabalha com produção de gases para uso industrial e medicinal. A empresa foi contratada pela Secretaria de Saúde do Amazonas para fornecer o oxigênio hospitalar para toda a rede pública do estado. Desde o dia 14 de janeiro, data em que estourou a crise, o governo federal enviou sete usinas geradoras com capacidade de produção de 13 a 22 m³/hora e aviões cargueiros militares levaram 180 toneladas de suprimentos e equipamentos para Manaus, incluindo isotanques com oxigênio. No dia 16 de janeiro, o procurador-geral da República, Augusto Aras, determinou abertura de inquérito no Superior Tribunal de Justiça (STJ) para apurar possíveis responsabilidades do governador do estado do Amazonas, Wilson Lima (PSC), e da Prefeitura de Manaus quanto à adoção das medidas necessárias ao enfrentamento da pandemia, sobretudo no que diz respeito ao fornecimento de oxigênio medicinal. A gestão Bolsonaro, segundo a própria Advocacia-Geral da União, também estava ciente da situação emergencial de Manaus desde 8 de janeiro, seis dias antes do esgotamento dos cilindros no estado. Apesar disso, na ocasião, Aras não pediu a abertura de investigação sobre a atuação de Bolsonaro ou Pazuello. A procuradoria havia solicitado apenas esclarecimentos do Ministério da Saúde, o que gerou uma onda de críticas. No sábado, dia 23 de janeiro, o procurador-geral solicitou ao Supremo Tribunal Federal (STF), conforme notícia no site da PGR, abertura de inquérito para apurar a conduta de Pazuello, em relação ao colapso da saúde pública em Manaus (AM). Segundo a nota, o pedido decorre de representações formuladas por partidos políticos, que relataram conduta omissiva do ministro. Na segunda-feira, dia 23 de janeiro, o ministro do STF, Ricardo Lewandowski, autorizou a abertura de inquérito para investigar a conduta do ministro da Saúde. Com isso, Pazuello passa a ser formalmente investigado no Supremo por conta da crise vivenciada no Amazonas. A investigação vai começar pelo depoimento do ministro à Polícia Federal, que após a intimação oficial terá 5 dias para indicar dia, hora e local que irá falar à PF. O ministro Lewandowski definiu prazo inicial de 60 dias para as investigações da PGR. Quem é o autor do tuíte Carmelo Neto é filiado ao Partido Republicanos e apoiador do presidente Jair Bolsonaro. Em 2020, foi eleito o vereador mais jovem de Fortaleza, com 19 anos. No site DivulgaCand consta que ele disputou a primeira eleição em 2020 para cadeira na Câmara Municipal de Fortaleza. Ele faz parte do Conselho Nacional de Juventude, conforme DO, desde dezembro de 2019, com nomeação assinada por Damares Alves, ministra da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus, principalmente as que têm grande alcance nas redes sociais. A postagem no Instagram de Carmelo Neto chegou a quase 11 mil interações, enquanto que no Twitter teve 3,4 mil. Carmelo teve outra postagem analisada pelo Comprova e classificada como falsa. O Amazonas vive, pela segunda vez durante a pandemia do coronavírus, um colapso nas redes pública e particular de saúde. O mês de janeiro é marcado por mortes por falta de oxigênio no estado, colocando a capital amazonense na imprensa internacional. Publicações como essas são prejudiciais, pois, ao usarem informações de forma enganosa, confundem a população em um momento extremamente delicado. Além disso, podem induzir a erros de interpretação quanto aos reais papéis e responsabilidades dos entes federativos frente a uma crise de dimensões desproporcionais na saúde pública. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/recem-nomeados-medicos-foram-vacinados-no-primeiro-dia-de-imunizacao-em-manaus/
COMPROVA
Recém-nomeados, médicos foram vacinados no primeiro dia de imunização em Manaus
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2021-01-25
Todos os envolvidos citados em um tuíte são médicos. Eles são recém-formados, tiveram suas nomeações publicadas no Diário Oficial da prefeitura de Manaus nos dias 18 e 19 de janeiro de 2021 e foram vacinados no primeiro dia de imunização na capital amazonense. Conteúdo verificado: Post no Twitter que exibe fotos de jovens de famílias conhecidas do Amazonas sendo vacinados no primeiro dia de imunização na capital. Na postagem também é dito que todos foram recém-nomeados a cargos comissionados pelo novo prefeito de Manaus. É verdadeira a publicação feita pelo perfil “Bora Conversar Política” sobre filhos de políticos e de empresários em Manaus terem sido vacinados um dia após suas nomeações a cargos comissionados na prefeitura da capital do Amazonas. O post exibe imagens dos jovens sendo vacinados e mostra, como noticiado por diversas mídias e checado pelo Projeto Comprova, Gabrielle Kirk Lins e Isabelle Kirk Lins, filhas de Niltinho Lins Jr., herdeiro do hospital e da universidade Nilton Lins. O terceiro citado é David Dallas, filho do ex-deputado estadual e empresário Wanderley Dallas. O Comprova confirmou no site do Conselho Federal de Medicina que todos os envolvidos são médicos. Eles são recém-formados e tiveram suas nomeações publicadas no Diário Oficial da prefeitura de Manaus nos dias 18 e 19 de janeiro de 2021. Desse modo, não haveria tempo para os médicos terem trabalhado na linha de frente nos hospitais que estão atuando contra a covid-19. A prefeitura de Manaus, em nota publicada em seu site, disse não haver irregularidade “uma vez que se encontram nomeadas e atuando legitimamente no plantão da unidade de saúde, para a qual foram designadas, em razão da urgência e exceção sanitárias, estabelecidas nos primeiros 15 dias da nova gestão”. O Comprova entrou em contato com as jovens citadas e com o perfil “Bora Conversar Política”, tendo o retorno apenas desse último. Como verificamos? Consultamos o Diário Oficial para confirmar se os três médicos foram nomeados, bem como a data da nomeação. Confirmamos também com o Conselho Federal de Medicina a formação dos jovens em medicina. A consulta também confirmou a veracidade do print da página do Diário Oficial que foi colocada na postagem verificada. Também pesquisamos, na página da Assembleia Legislativa do Estado do Amazonas o sobrenome do médico David Louis de Oliveira Dallas Dias, e confirmamos que ele é filho do ex-deputado estadual Wanderley Dallas. Em seguida, apuramos no portal da Prefeitura de Manaus a nomeação e a vacinação das duas médicas, vacinadas no primeiro dia da imunização no estado. Segundo a nota, a prefeitura afirmou que não há irregularidades na imunização de ambas. Também tentamos contato com as páginas do Instagram de Gabrielle Lins e Isabelle Lins, que não responderam e com a página que viralizou o caso no Twitter, BC Política, que respondeu ao Comprova. Procuramos o Sindicato dos Médicos do Amazonas para comentar a situação da falta de doses de Coronavac na capital, e se as irregularidades estão diretamente ligadas à situação de médicos na linha de frente que ainda não foram vacinados. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 25 de janeiro de 2021. Verificação Pessoas vacinadas na foto são médicos familiares de políticos no Amazonas As duas mulheres nas fotos das postagens são Gabrielle Kirk Maddy Lins e Isabelle Kirk Lins, ambas médicas da família Lins, proprietária da Universidade Nilton Lins na capital amazonense. De acordo com o Diário Oficial, Gabrielle foi nomeada gerente de projetos da Secretaria Municipal de Saúde (SEMSA) no dia 18 de janeiro. A irmã, Isabelle, foi nomeada gerente de projetos na mesma secretaria no dia 19 de janeiro. Como mostrou a Agência Amazônia Real, a família Lins, além de um hospital e uma universidade, mantém negócios com a prefeitura de Manaus e o governo do Amazonas. Desde 15 de outubro de 2012, as gêmeas são sócias da empresa de laticínios Rancho Ing Ferradurinha Agro Industrial, que tem um capital de R$ 1 milhão de reais. Quando da criação da empresa, elas tinham 16 anos. O homem na terceira foto é David Louis de Oliveira Dallas Dias. Ele é médico e foi nomeado gerente de projetos SEMSA, em 19 de janeiro. É filho do ex-deputado estadual Wanderley Dallas, e também se formou no ano passado na mesma instituição que as irmãs Lins. Médicos foram vacinados no primeiro dia da imunização Segundo uma nota publicada pela Prefeitura de Manaus em 19 de janeiro, as duas médicas foram vacinadas no primeiro dia de imunização da capital. Em uma live no Facebook o prefeito de Manaus se pronunciou devido à repercussão do caso. David Almeida disse que as nomeações tiveram que ser urgentes devido à situação da capital. “Nós estamos com aproximadamente 122 médicos afastados, você não tem ideia da dificuldade de conseguir médicos. Nós conseguimos 10 médicos e, pela primeira vez, foram nomeados no gabinete, não dava tempo de fazer contrato”. Isabelle Lins e David Dallas foram nomeados no mesmo dia do início da vacinação na capital, como é possível verificar no Diário Oficial de 19 janeiro. Já Gabrielle Lins foi nomeada no dia 18 de janeiro. A prefeitura diz que houve baixo volume de doses repassadas pelo governo do estado à SEMSA – apenas 40.072 das 282 mil recebidas do Ministério da Saúde, após ter divulgado que o repasse foi de 256 mil doses. A prefeitura reservou 12,2% delas para os profissionais da rede municipal, que estão atuando no enfrentamento à covid-19. O acontecido foi de encontro com as alegações, visto que as médicas não poderiam ter sido vacinadas, pois foram nomeadas apenas a cargos administrativos e não atuando nas Unidades Básicas de Saúde quais as vacinas foram destinadas. Procurado pelo Comprova, o presidente do Sindicato dos Médicos do Amazonas, Dr. Mário Vianna, afirma que também não foi vacinado. “A questão das médicas vacinadas foi um dos pontos que complicaram a imunização em Manaus. Há denúncias sobre outros profissionais da saúde que não estão na linha de frente ou que não seriam prioridade por não serem de áreas de atuação, como UTI, Sala Rosa ou Prontos Socorros. O TCU e o MPF já se meteram, pedindo investigações; a lista de vacinados mostrou uma série de irregularidades, como CPFs falsos e nomes repetidos. Com tudo isso, possivelmente se comprova que houve desvio de vacinas”, defende. O médico, que trabalha como cirurgião na UTI da Maternidade Balbina Mestrinho, conta que há hoje sete internados com covid-19 na unidade. “Na lista de vacinados, há trabalhadores aqui da maternidade que receberam a dose da Coronavac, mas não houve vacinação oficial no hospital”. A vacinação na capital ficou suspensa por dois dias na semana passada, devido às denúncias de irregularidade, conforme publicou o portal G1. Foi dada uma ordem judicial à prefeitura para que abra a lista dos vacinados. A lista foi publicada nesse fim de semana. Quem é BC Política Postagens com referência às irmãs começaram a circular a partir de capturas de tela do instagram. A postagem encontrada pelo Comprova com maior circulação é de uma página de conteúdo político – a maior parte local de Manaus – com cerca de 17 mil seguidores, a @BCPolitica. Procurados, os autores da página responderam que já encontraram o conteúdo circulando e que o objetivo do perfil é discutir política, mas que não são jornalistas. Os perfis no instagram @gablins e @isalins desde que o caso viralizou, estão fechados. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus, principalmente as que têm grande alcance nas redes sociais. O Amazonas vive, pela segunda vez durante a pandemia do coronavírus, um colapso nas redes pública e particular de saúde. O mês de janeiro é marcado por mortes por falta de oxigênio no estado, colocando a capital amazonense na imprensa internacional. O assunto ganhou repercussão nas redes sociais desde que o prefeito de Manaus, David Almeida (Avante), disse em transmissão ao vivo no Facebook na noite da terça-feira, 19, que os profissionais de saúde da cidade não poderão publicar registros da vacinação contra a covid-19 nas redes sociais. A postagem do BC Política de 20 de janeiro, teve mais de 13 mil retweets e cerca de 50 mil interações. A Folha de S.Paulo também noticiou o caso das irmãs Lins. A Revista Fórum noticiou o caso de David. Comprovado, para o Comprova, é o fato verdadeiro; evento confirmado; localização comprovada; ou conteúdo original publicado sem edição.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Comprovado']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-enganoso-que-imunogenicidade-da-coronavac-ofereca-risco-anvisa-pediu-dados-complementares-e-nao-questionou-seguranca/
COMPROVA
É enganoso que imunogenicidade da CoronaVac ofereça risco; Anvisa pediu dados complementares e não questionou segurança
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2021-01-22
Dirigente da Anvisa disse, de fato, que dados de imunogenicidade - a capacidade que uma vacina tem para induzir o sistema imunológico a produzir anticorpos - da CoronaVac eram inadequados. A Anvisa explicou, no entanto, que não há questionamentos em relação à segurança da vacina. Conteúdo verificado: Postagens na rede social Twitter que falam sobre a imunogenicidade inadequada da vacina CoronaVac e questionam sua eficácia. São enganosos os posts no Twitter que lançam dúvidas sobre a CoronaVac por conta de seus dados de imunogenicidade – a capacidade que uma vacina tem para induzir o sistema imunológico a produzir anticorpos. A CoronaVac foi aprovada para uso emergencial no Brasil no dia 17 de janeiro pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). As postagens colocam em dúvida a eficácia e a segurança da vacina com base em uma declaração do gerente-geral de Medicamentos e Produtos Biológicos da Anvisa, Gustavo Mendes, que disse que os dados de imunogenicidade da CoronaVac eram inadequados. De fato, Gustavo Mendes usou estas palavras durante uma entrevista concedida ao portal UOL em 17 de janeiro, para se referir aos dados apresentados pelo Instituto Butantan em relação à imunogenicidade da CoronaVac. Mas, o gerente-geral também disse que a inadequação estava no fato de os dados serem qualitativos e não quantitativos. Por e-mail, a Anvisa explicou ao Comprova que não há questionamentos em relação à segurança da CoronaVac. O que faltou foi a apresentação dos dados detalhados sobre a metodologia do teste de imunogenicidade, além da informação de como se deu a evolução dos anticorpos no grupo que tomou a vacina em relação ao grupo que tomou placebo. O Butantan assinou um termo de compromisso e tem até 28 de fevereiro para enviar os dados complementares à Anvisa. Essas informações são importantes para saber a eficácia da vacina para grupos diferentes como idosos, jovens, pessoas com comorbidades e entre aqueles que já foram infectados, por exemplo. Como verificamos? Inicialmente, procuramos especialistas que explicassem o que é a imunogenicidade de uma vacina e qual a situação da CoronaVac em relação a esse dado. Para isso, ouvimos o imunologista André Báfica, coordenador do Laboratório de Imunobiologia no Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia (MIP) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), e Flávio Fonseca, coordenador do CT-Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e presidente da Sociedade Brasileira de Virologia (SBV). Também consultamos o dicionário de conceitos da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). Entramos em contato com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para esclarecer o significado da fala do gerente Gustavo Mendes e procuramos o Instituto Butantan para que explicasse que dados ainda precisam ser enviados à Agência. Também procuramos os autores dos tuítes que viralizaram. Segundo eles, as informações divulgadas em seus perfis são baseadas em uma matéria do UOL e comunicados da Anvisa. Com um dos três autores não conseguimos contato. No entanto, em seu perfil ele também compartilha as afirmações tirando de contexto os dados publicados pela Anvisa na apresentação da Coronavac. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de janeiro de 2021. Verificação O que é imunogenicidade? Imunogenicidade é a capacidade que uma vacina tem induzir respostas imunes protetoras contra um organismo infeccioso, conforme explica o imunologista André Báfica, coordenador do Laboratório de Imunobiologia no Departamento de Microbiologia, Imunologia e Parasitologia (MIP) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Em outras palavras, é a capacidade que uma vacina tem que induzir o sistema imunológico a produzir anticorpos. Para afirmar que a imunogenicidade de uma vacina é de 100%, é preciso que todas as pessoas vacinadas tenham desenvolvido anticorpos. Se, por exemplo, metade das pessoas os desenvolveu, a imunogenicidade é de 50%. Mais do que produzir anticorpos, uma alta imunogenicidade aponta que os anticorpos são bons. “Quanto mais imunogênica é uma vacina, mais anticorpos ou mais células de defesa, anticorpos de melhor qualidade, células de defesa de melhor qualidade são produzidas. Uma vacina muito imunogênica é uma vacina que produz muitos anticorpos e bons anticorpos, muitas células de defesa e boas células de defesa. Quando eu falo boas são anticorpos e células de defesa adequados ao combate ou o reconhecimento do patógeno contra o qual se vacinou”, detalha o professor Flávio Fonseca, coordenador do CT-Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Segundo a Anvisa, os dados de imunogenicidade apresentados pela CoronaVac são inadequados porque são qualitativos e não quantitativos. Segundo a agência, é preciso que o Instituto Butantan apresente a metodologia e os detalhes de como os testes de imunogenicidade foram feitos. O Instituto Butantan foi procurado pelo Comprova, mas não respondeu até a publicação desta verificação. Em agosto, no entanto, publicou um release em que afirmava que a Coronavac “se mostrou segura e com bom índice de imunogenicidade”, com base em um estudo que analisou o comportamento de 600 voluntários vacinados na China. Os dois especialistas ouvidos pelo Comprova, no entanto, afirmam que os dados de imunogenicidade da CoronaVac são bons. “No caso da covid-19, uma doença viral, a resposta imune protetora aferida em ensaios de vacinas é baseada principalmente na produção de anticorpos neutralizantes. Levando isso em consideração, 100% dos voluntários que foram vacinados em ensaios de fase clínica 2, vacinação nos dias 0 e 28, tiveram anticorpos neutralizantes. Esta resposta se mostrou adequada para que a vacina entrasse em estudos de fase 3”, explica André Báfica, da UFSC. Báfica usa como base os dados divulgados em um artigo publicado em 17 de novembro de 2020 na The Lancet pelos pesquisadores chineses Yanjun Zhang, PhD em Microbiologia e pesquisador do Centro Provincial de Zhejiang para Controle e Prevenção de Doenças; Gang Zeng, também PhD, ligado ao laboratório Sinovac Biotech; Hongxing Pan, do Centro Provincial de Jiangsu para Controle e Prevenção de Doenças; Changgui Li, dos Institutos Nacionais de Controle de Alimentos e Medicamentos, em Pequim, na China; Yaling Hu, da Sinovac Biotech; e Kai Chu, do Centro Provincial de Jiangsu para Controle e Prevenção de Doenças. O artigo mostra os dados de imunogenicidade da CoronaVac para adultos saudáveis entre 18 e 59 anos, nas fases de 1 e 2 de testes, controladas por placebo. Foram estes dados de imunogenicidade que apontaram que a vacina era segura para seguir para a fase 3 de testes. Os dados mostram que houve “soroconversão [produção] de anticorpos neutralizantes” em 100% das pessoas que fizeram uso da dose alta da CoronaVac ao final dos testes, enquanto a geração de anticorpos neutralizantes no grupo que fez uso do placebo foi de 0%. O professor André Báfica explicou que, em tese, os dados de imunogenicidade podem variar de acordo com o país em que os testes foram feitos, mas isso é raro. Eficácia global e segurança não estão comprometidas De acordo com dados divulgados pelo Instituto Butantan em 12 de janeiro, a CoronaVac obteve 50,38% de eficácia global no estudo clínico desenvolvido no Brasil, índice superior ao exigido pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Além disso, o imunizante apresentou 78% de proteção em casos leves e 100% em casos moderados e graves da covid-19. Neste último critério, ainda não há significância estatística para ter certeza sobre o dado, então mais observações precisam ser feitas. Para a Anvisa, não há dúvidas quanto à segurança da vacina, já que as informações colocadas como “inadequadas” dizem respeito à imunogenicidade e são necessárias para se conhecer a eficácia da vacina em grupos com perfis diferentes, como idosos, jovens, pessoas com comorbidades e entre aqueles que já foram infectados previamente e os que não foram. O professor Flávio Fonseca, coordenador do CT-Vacinas-UFMG, discorda que os dados do imunizante produzido pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chines Sinovac, sejam inadequados: “As formas que os cálculos foram feitos são corretos, e mostra que é uma vacina com um potencial de proteção, uma eficácia global limitada, mediana apenas. Mas ela tem eficácia em evitar o surgimento de casos graves, leves e moderados, o que nesse momento de emergência sanitária justifica o uso emergencial dessa vacina”, concluiu. Em relação à segurança da vacina, de acordo com o documento de autorização de uso emergencial da CoronaVac, apresentado pela Anvisa em 17 de janeiro, a reação mais comum observada após a aplicação da segunda dose da vacina foi dor no local, que ocorreu em 40,1% dos adultos e 27,8% dos idosos. Importante dizer que neste momento a vacina aprovada para uso emergencial não pode ser aplicada em pessoas com menos de 18 anos, naqueles que já apresentaram reação anafilática confirmada a qualquer componente da vacina, pessoas com sintomas ou suspeita da covid-19 e em gestantes apenas após avaliação médica. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus que tenham grande alcance nas redes sociais. Os conteúdos verificados somavam até o fim desta reportagem quase 20 mil interações no Twitter. Publicações como essas não têm fundamentos e servem apenas para assustar a população acerca das vacinas e outras medidas que contribuem no combate da disseminação do vírus da covid-19. A vacina já teve sua eficácia comprovada, e as outras recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), como o uso de máscaras, seguem sendo as únicas medidas preventivas contra o coronavírus. O Comprova já verificou outros conteúdos que propagam a desinformação em torno das vacinas, como as postagens enganosas que dizem que os vacinados pela CoronaVac estarão protegidos pela metade, que eficácia da CoronaVac seria apenas 0,38% superior ao placebo, também foi apontado como falso o post que dizia que enfermeira que recebeu a primeira dose da CoronaVac já estava imunizada. Enganoso, para o Comprova é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-eficacia-da-coronavac-seja-apenas-038-superior-ao-placebo/
COMPROVA
É falso que eficácia da CoronaVac seja apenas 0,38% superior ao placebo
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2021-01-20
Diferentemente do que afirma um tuíte verificado pelo Comprova, a eficácia global alcançada nos testes da fase 3 da CoronaVac significa que 50,38% dos vacinados estão totalmente protegidos da covid-19. Os outros 49,62%, apesar de poderem contrair a doença, também desenvolvem anticorpos, o que pode reduzir a incidência de casos moderados e graves. Conteúdo verificado: Post no Twitter que afirma que a CoronaVac é apenas 0,38% superior ao placebo. É falso que a CoronaVac, vacina desenvolvida pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com a chinesa Sinovac, tenha eficácia contra a covid-19 apenas 0,38% superior ao placebo. A eficácia da vacina, na verdade, é 50,38% superior à do placebo – mesmo dado da eficácia geral, divulgada no último dia 12 de janeiro pelo Butantan. A informação de que a vacina seria apenas 0,38% superior ao placebo consta em um tuíte publicado no último dia 14 de janeiro, sugerindo que não há diferença significativa entre a vacina e o placebo, o que não é verdade. A eficácia da vacina é calculada levando em conta o quanto de efeito ela provoca a mais do que o placebo, que tem eficácia zero na proteção contra o vírus. Ou seja: se a eficácia geral da CoronaVac foi de 50,38%, significa que ela teve 50,38% mais efeito do que o placebo administrado nos participantes dos testes da fase 3. No caso da CoronaVac, os testes foram feitos em 9.242 participantes, todos profissionais de saúde que trabalham na linha de frente do combate à covid-19. Destes, 4.653 receberam a vacina e outros 4.599 receberam o placebo. No primeiro grupo, o dos vacinados, 85 pessoas adoeceram, enquanto no segundo, que receberam placebo, 167 contrairam a doença. Além da eficácia global, os testes com a CoronaVac alcançaram outros percentuais secundários de eficácia: 78% para casos leves, em que a pessoa precisa de assistência médica, e nenhum dos que receberam as doses da vacina nos testes da fase 3 apresentou casos moderados a graves em que o paciente precisa de hospitalização e, em alguns casos, de internação em leito de UTI. Isso geraria um índice de 100% de eficácia contra casos graves, mas o próprio Instituto Butantan indicou que, como são poucos casos registrados nesse critério, mais observações precisam ser feitas. Como verificamos? Primeiramente, entramos em contato com o Instituto Butantan, para que explicasse como a eficácia da vacina é calculada em relação ao placebo. Em seguida, ouvimos Luiz Gustavo Almeida, doutor em Microbiologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP e diretor do Instituto Questão de Ciência (IQC), Rafael Dhalia, doutor em biologia molecular e especialista em desenvolvimento de vacinas de DNA pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), e o biomédico e mestre em microbiologia Mateus Falco, integrante da Rede Análise Covid-19. Por fim, consultamos reportagens que explicam o que é a eficácia de uma vacina e como ela se aplica à CoronaVac. Também procuramos a autora do tuíte, identificada na rede social como Paula Marisa, mas não obtivemos resposta até a publicação desta checagem. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 20 de janeiro de 2021. Verificação Eficácia da vacina é 50,38% superior à do placebo É equivocada a afirmação, feita no tuíte verificado, de que a CoronaVac é apenas 0,38% mais eficaz do que o placebo. Especialistas ouvidos pelo Comprova explicam que ela é 50,38% superior ao placebo, que tem eficácia zero em proteger contra a covid-19. Por e-mail, o Instituto Butantan, em São Paulo, nos encaminhou o relatório da pesquisa simplificado, apresentado na coletiva de imprensa que divulgou a eficácia da vacina e reafirmou, por telefone, que a eficácia dela é 50,38%, enquanto o placebo tem efeito zero de proteção contra a covid-19. De acordo com resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o placebo é uma “formulação sem efeito farmacológico, administrada ao participante do ensaio clínico com a finalidade de mascaramento ou de ser comparador”. Luiz Gustavo Almeida, doutor em Microbiologia pelo Instituto de Ciências Biomédicas da USP e diretor do Instituto Questão de Ciência (IQC), explica que, nos estudos clínicos para medicamentos ou vacinas, é sempre medido qual o efeito a mais que eles provocam em relação ao verificado sobre o grupo placebo. No caso da CoronaVac, o placebo tinha uma série de substâncias, mas não o vírus inativado usado na vacina. De uma forma simplificada, pode-se dizer que o placebo não tinha justamente aquilo que era necessário para que o sistema imunológico produzisse anticorpos contra o coronavírus. Ou seja, mesmo que não seja uma substância totalmente inerte, a eficácia do placebo é zero, porque não tem um princípio ativo capaz de proteger as pessoas do vírus. “A vacina CoronaVac tem 50,38% de eficácia em relação ao placebo, ou seja, o placebo tem 0%, portanto a diferença é de 50,38% e não 0,38%, como comentado”, explica Rafael Dhalia, doutor em biologia molecular e especialista em desenvolvimento de vacinas de DNA pela Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Por que não é possível dizer que a diferença é de 0,38%? Para que a eficácia da CoronaVac fosse apenas 0,38% superior à do placebo, seria necessário partir do pressuposto de que cada um dos grupos tem uma eficácia de 50% – e que a vacina teria, após os testes, conseguido ‘avançar’ apenas 0,38% em relação ao placebo, alcançando uma eficácia de 50,38%. Seria como dizer que a proteção seria como um jogo de cara ou coroa. Isso não faz sentido a partir do momento em que se compreende que o placebo não tem qualquer eficácia em proteger as pessoas contra a covid-19. Se ele tem uma eficácia de 0%, a vacina, obviamente, é 50,38% superior a ele. Especialistas ouvidos pelo Comprova explicam que, durante os testes, é feito um cálculo de risco de se contrair a doença a partir do número de pessoas que adoeceram no grupo vacina e no grupo placebo, de forma proporcional. A partir desses resultados é que é calculada a eficácia da vacina, que aponta o quanto ela teve mais sucesso em imunizar as pessoas de seu grupo do que o placebo administrado no outro grupo. A única coisa aleatória nesse processo, explica o biomédico e mestre em microbiologia Mateus Falco, integrante da Rede Análise Covid-19, é a escolha sobre quem vai participar do grupo vacina e quem vai para o grupo placebo. “Não tem como você comparar dois grupos e falar que você jogou uma moeda para cima para selecionar aquele que se infectou ou não. Você pode jogar uma moeda para cima para saber quem vai ficar em cada grupo [placebo ou vacina], mas não para dizer quem se infectou, isso não existe”, afirma. O que significa o resultado da eficácia da CoronaVac No último dia 12 de janeiro, o Instituto Butantan informou que a CoronaVac tinha uma eficácia geral de 50,38%. O Instituto Butantan explica que a taxa geral de eficácia de 50,38% se aplica em pacientes que tenham sintomas muito leves e não dependem de suporte médico. “O estudo verificou que a menor taxa foi registrada em casos de infecções muito leves, considerados score 2 e verificados em pacientes que receberam placebo. De uma amostragem de 9,2 mil participantes, 85 dos casos muito leves foram de pessoas que receberam vacina, e 167 em voluntários que tomaram placebo” apontam o Instituto e o Governo de São Paulo, em comunicado oficial. A mesma taxa de eficácia vai aumentando de acordo com o agravamento dos sintomas e do quadro clínico: em pacientes leves – que precisam de ajuda e suporte médico -, a taxa de eficácia foi de 78%. Para os casos moderados e graves, que precisaram de internação, a taxa de eficácia foi de 100% – nenhum dos voluntários que recebeu a vacina desenvolveu quadros moderados a graves da doença, enquanto no grupo placebo, sete pessoas tiveram quadros assim. Como mencionado acima, no entanto, este resultado ainda não tem significância estatística e precisa ser confirmado com mais observações. “É importante reforçar que essa eficácia diz que 50,38% dos vacinados estão totalmente protegidos em relação à contrair SARS-Cov-2, ou seja pegar a covid-19. Os outros 49,62%, apesar de poderem contrair a doença, também desenvolvem anticorpos. Desses, 78% ficaram protegidos de evoluírem para as formas mais severas e nenhum deles, 100%, foram à óbito”, explica Rafael Dhalia. Nesta reportagem publicada pelo CORREIO, especialistas explicam que há uma série de variantes que influenciam no resultado da eficácia de uma vacina, inclusive o ambiente em que ela foi testada. A CoronaVac mostrou-se uma vacina segura em ambientes de alto risco, já que foi testada apenas em profissionais de saúde na linha de frente de combate à doença. Além disso, a eficácia da vacina é utilizada para definir uma estratégia de vacinação: quanto maior a eficácia, menor o número de pessoas que precisará ser vacinada para se alcançar uma imunidade coletiva. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus que tenham grande alcance nas redes sociais. O conteúdo que motivou esta verificação teve, até o fechamento desta reportagem, 4,1 mil compartilhamentos no Twitter e 19 mil no Facebook. O post que sugere que a vacina é apenas 0,38% superior ao placebo teve mais de 5 mil interações no Twitter em uma semana. Conteúdos como esse são prejudiciais porque ajudam a disseminar a falsa informação de que a vacina não é eficaz ou que não faz diferença tomar ou não o imunizante, enquanto especialistas trabalham para mostrar que a vacinação é a saída para a crise que o mundo vive atualmente com a pandemia. Falso, para o Comprova é, conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/revisao-de-estudo-publicado-no-site-do-ms-nao-garante-eficacia-da-hidroxicloroquina-no-tratamento-preventivo-contra-covid-19/
COMPROVA
Revisão de estudo publicado no site do MS não garante eficácia da hidroxicloroquina no tratamento preventivo contra covid-19
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2021-01-19
O artigo que fala sobre o uso da hidroxicloroquina como tratamento precoce para a covid-19 foi publicado em agosto de 2020 e foi apenas revisado em janeiro deste ano. E não comprova a eficácia do tratamento. Conteúdo verificado: Postagem no Twitter que cobra do Ministério da Saúde a adoção do uso precoce de hidroxicloroquina no combate da covid-19 baseado em publicação do The American Journal of Medicine. O mesmo conteúdo foi publicado no site do Ministério da Saúde. É enganosa uma série de postagens no Twitter que faz referência a um estudo do The American Journal of Medicine publicado em 1º de janeiro deste ano e que recomendaria o uso precoce da hidroxicloroquina na prevenção da covid-19. O mesmo estudo foi citado em uma matéria no site do Ministério da Saúde e em uma coluna de vídeo do jornalista Alexandre Garcia, posteriormente republicada pelo presidente Jair Bolsonaro. O site do Ministério da Saúde diz que na primeira edição de 2021 o jornal americano traz um estudo que “comprova a eficácia do tratamento precoce na evolução da covid-19”. No entanto, o artigo que fala sobre o uso da hidroxicloroquina como tratamento precoce para a covid-19 foi publicado em agosto de 2020 e foi apenas revisado em janeiro deste ano. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma em seu site, em referência ao uso da hidroxicloroquina, que “não há evidência científica até o momento de que esses medicamentos sejam eficazes e seguros no tratamento da doença”. Em conversa com o Comprova, o pesquisador do Laboratório de Imunologia Aplicada da Universidade Federal de Santa Catarina Douglas Bardini afirma que o trabalho acadêmico que embasou a notícia publicada no site do Ministério da Saúde não passa de um “artigo de opinião”, visto que tem como referência uma série de artigos científicos sem evidências conclusivas. O Comprova entrou em contato com um dos autores do estudo, Peter A. McCullough, professor de Medicina na Universidade de Baylor, no Texas (EUA). Ele respondeu informando que as atualizações realizadas no artigo inseridas no mês de janeiro referiam-se a algumas mudanças na pesquisa e nos aumentos de estudos sobre o tratamento precoce em alguns países. Como verificamos? O Comprova buscou a pesquisa na íntegra e entrou em contato com o pesquisador Peter A. McCullough, um dos autores do artigo. Verificamos a autoria e as datas de publicação e atualização do artigo no site do The American Journal of Medicine. Consultamos também o pesquisador Douglas Bardini, cientista do Laboratório de Imunologia Aplicada da Universidade Federal de Santa Catarina, sobre as atualizações do artigo. Em consulta ao site da Organização Mundial de Saúde, coletamos informações sobre a eficácia do uso de hidroxicloroquina para tratamento da covid-19. O Comprova ainda consultou Guilherme Werneck, médico e professor de Epidemiologia da UERJ, e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO. Ele analisou para o Comprova a resposta do autor do estudo. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 19 de Janeiro de 2020. Verificação O estudo comprova a eficácia da cloroquina? O artigo foi publicado pelo “The American Journal of Medicine”, o jornal oficial da “Alliance for Academic Internal Medicine”. O artigo, conforme descrito no site, foi publicado no dia 6 de agosto e revisado em 1º de janeiro de 2021, diferentemente de como publicado na página do Ministério da Saúde, que menciona apenas a data da revisão do estudo. Conforme o pesquisador do Laboratório de Imunologia Aplicada da Universidade Federal de Santa Catarina Douglas Bardini, a revisão do artigo é chefiada pelo médico americano Harvey Risch, professor na Universidade de Yale, e foi publicada no The American Journal of Medicine, que tem um fator de Impacto de 4,5 (método bibliométrico para qualificar a importância de periódicos científicos em suas respectivas áreas), o que pode ser considerado baixo/modesto. Ele avalia que o trabalho acadêmico que embasou a notícia publicada no site do Ministério da Saúde não passa de um “artigo de opinião”, pois tem como referência uma série de artigos científicos sem evidências conclusivas. Douglas aponta que a revisão leva em conta somente as partes dos estudos de observação que convém aos autores para embasar a utilidade do medicamento no tratamento da covid-19. “Aqui, o principal problema que eu vejo é considerar somente a parte da evidência científica que corrobora a opinião dos autores, principalmente quanto à eficácia da hidroxicloroquina”, completa o pesquisador. Bardini ainda relata que o artigo deixou de levar em consideração estudos com outras metodologias, que têm maior relevância científica e que já comprovaram a ineficiência da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Para Bardini, “nessa revisão, os autores citam alguns estudos observacionais, mas desconsideram ensaios clínicos randomizados, que teriam uma ‘força metodológica’ maior”. Em meados de agosto, data em que a revisão foi publicada em “acesso aberto”, ensaios com maior peso de evidência já atestavam a ineficiência da hidroxicloroquina. Essa ineficiência hoje é um consenso na comunidade científica. O estudo chega a citar a interrupção dos testes clínicos com a hidroxicloroquina que foram realizados pelo “National Institutes of Health – NIH” (Centros de pesquisa que formam a agência governamental de pesquisa biomédica do departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos). No site do NIH é possível encontrar um texto publicado no mês de outubro de 2020 que menciona o resultado dos testes e argumenta que “em outro ensaio clínico randomizado conduzido no Brasil, nem a hidroxicloroquina isolada nem a hidroxicloroquina associada à azitromicina melhoraram os desfechos clínicos entre pacientes hospitalizados com covid-19 leve a moderado”. O que diz um dos autores do estudo Em resposta ao e-mail do Comprova, Peter A. McCullough, esclareceu que as atualizações realizadas no artigo, inseridas no mês de janeiro, referiam-se a algumas mudanças na pesquisa e no aumento de estudos sobre o tratamento precoce em alguns países. As maiores mudanças, segundo ele, foram a adição de estudos sobre a proteína spike, que é usada pelo coronavírus para penetrar nas células, e sobre aumento de dosagens de ivermectina em tratamentos da covid-19. Ele diz também que de agosto a janeiro houve um grande aumento no volume de estudos de suporte para poliquimioterapia, uma combinação de medicamentos, sequenciada para covid-19. Para Guilherme Werneck, médico e professor de Epidemiologia da UERJ, e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva – ABRASCO, a revisão feita em janeiro foi de cunho narrativo, alterando apenas sugestão de ‘escolha terapêutica’. “É que essa é uma revisão chamada de revisão narrativa na área científica – não tem método. A pessoa lê, incorpora o que acha relevante, junta evidências na base da experiência e chega às conclusões. No campo científico, as revisões narrativas caíram em grande desuso”, explica o professor. Ele entende que o artigo, bem como sua revisão, expressa a concepção do autor, que lê cada um dos medicamentos e argumenta favoravelmente ao que considera justificativas para usar o medicamento. “Basicamente, a revisão introduziu uma nova escolha terapêutica, que são os anticorpos monoclonais – são subconjunto de anticorpos mais específicos, mais potentes para finalidade de ‘inativar’ o vírus da covid-19 – via injetável. É uma visão particular do autor”, finaliza. O que a ciência diz atualmente a respeito do “tratamento precoce” com cloroquina? A Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) e a Organização Mundial da Saúde (OMS) enfatizam em seu site que o uso da cloroquina e hidroxicloroquina “têm pouco ou nenhum efeito na prevenção de mortes ou na redução de tempo que a pessoa passa hospitalizada. para tratamento contra covid-19. Acrescentam que “a maioria das pesquisas até agora sugere que não há benefício e já foram emitidos alertas sobre efeitos colaterais do medicamento. Por isso, enquanto não haja evidências científicas de melhor qualidade sobre a eficácia e segurança desses medicamentos, a OPAS recomenda que eles sejam usados apenas no contexto de estudos devidamente registrados, aprovados e eticamente aceitáveis”, argumentam as organizações. Quem é o autor do tuíte investigado pelo Comprova? A postagem viralizou no Twitter através da conta de Alessandro Loiola, que apareceu em outras 4 verificações feitas anteriormente pelo Comprova. A primeira em Outubro de 2020 quando o médico tirou de contexto dados de estudo para sugerir que máscaras são ineficientes. Em dezembro um vídeo publicado por deputado no Facebook no qual Alessandro afirma que as vacinas em desenvolvimento para a covid-19 e que utilizam as tecnologias de vetor viral, vacina de DNA e vacina de RNA mensageiro podem provocar danos genéticos potenciais em quem se imunizar. Ainda em dezembro durante uma entrevista ao programa Coliseum o médico e empresarios enganam ao desqualificar medidas protetivas e culpa China pela pandemia. Em Janeiro de 2021 ele descontextualiza manual da Pfizer para sugerir alteração genética pela vacina. Alessandro Lemos Passos Loiola nasceu em 1971, é médico formado pela Escola de Medicina da Santa Casa, no Espírito Santo, e possui dois registros ativos em conselhos regionais de medicina no Brasil: Minas Gerais e São Paulo. Isso é comum porque um médico precisa ter registro em cada estado em que atua. Alessandro Loiola foi também coordenador da Secretaria Especial de Cultura do governo federal. A nomeação para o cargo foi publicada no Diário Oficial da União de 27 de novembro de 2019. Ele foi nomeado pelo ministro do Turismo, Marcelo Henrique Teixeira Dias, para exercer o cargo de Coordenador-Geral de Empreendedorismo e Inovação, do Departamento de Empreendedorismo Cultural, da Secretaria da Economia Criativa, da Secretaria Especial da Cultura. Menos de dois meses depois, no dia 24 de janeiro, ele foi exonerado do cargo também pelo ministro. A exoneração foi publicada no Diário Oficial da União no dia 27 de janeiro de 2020 Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. A repercussão da postagem foi de 7,4 mil curtidas e 2,9 mil compartilhamentos até o fechamento deste texto, além de trazer consigo link da página do Ministério da Saúde. Por se tratar de um portal com conteúdo oficial do governo federal, além da repercussão, acreditamos que a postagem pode ser perigosa, uma vez que vários outros estudos e debates acerca do uso da hidroxicloroquina para tratamento da covid-19 apontam em sentido contrário. O tweet também incentiva que o governo federal faça divulgação desse uso do medicamento na imprensa, o que pode ser prejudicial para os tratamentos. O UOL Confere também apurou a respeito do estudo, após um tweet de Jair Bolsonaro, que continha um vídeo do jornalista Alexandre Garcia falando sobre a mesma publicação. Segundo a investigação, o Ministério da Saúde também defendeu o estudo em nota no dia 2 de janeiro. Na segunda-feira (18), a coluna de Lauro Jardim em O Globo informou que a revista que publicou o estudo usado por Bolsonaro para defender a cloroquina desmentiu o presidente. No fim de semana, o próprio Twitter lançou alerta sobre post feito pela conta do Ministério da Saúde, conforme publicou o site G1. O órgão sugeria urgência na realização de tratamento precoce para quem tiver sintomas da covid-19. Tal tratamento inclui o uso de hidroxicloroquina. O Comprova já verificou outros conteúdos envolvendo a pandemia da covid-19, vários deles a respeito de uma suposta eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19, como um texto enganoso afirmando que a cloroquina seria capaz de curar em 98.7% dos pacientes com a doença, uma fala de Bolsonaro defendendo que o medicamento teria salvado 100 mil vidas no Brasil, e desmentindo um post no Facebook que afirmava que o uso de cloroquina em Porto Feliz (SP) evitou mortes. Enganoso, para o Comprova, é conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-enfermeira-que-recebeu-a-primeira-dose-da-coronavac-ja-estivesse-imunizada/
COMPROVA
É falso que enfermeira que recebeu a primeira dose da CoronaVac já estivesse imunizada
null
2021-01-19
Mônica Calazans participou como voluntária dos estudos clínicos feitos no Brasil da vacina CoronaVac, mas ela estava no grupo que recebeu placebo, substância sem efeito, e não as doses do imunizante. Conteúdo verificado: Publicações de deputado paulista questionam a razão pela qual a enfermeira Mônica Calazans recebeu a primeira dose da CoronaVac se ela já estaria imunizada por ter participado dos testes da vacina do Butantan. É falso que a enfermeira Mônica Calazans, primeira pessoa a receber a vacina contra a covid-19 no Brasil, já estivesse imunizada por ter participado dos testes da vacina do Butantan, como diz o deputado paulista Gil Diniz (sem partido) em postagens no Facebook e Twitter. De fato, Mônica participou como voluntária dos estudos clínicos feitos no Brasil da vacina CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac. Ela recebeu duas aplicações dos testes entre julho e agosto de 2020. No entanto, no dia 17 de janeiro, ela foi informada que estava no grupo que recebeu placebo e não as doses do imunizante. Durante o processo de pesquisa, um grupo recebia a vacina e outro grupo recebia placebo. Nenhum dos participantes sabia de qual grupo fazia parte. Apenas após a conclusão das pesquisas é divulgado quem faz parte de cada grupo. A enfermeira, além de integrar a linha de frente, faz parte do grupo de risco para o coronavírus – é obesa, hipertensa e diabética. Mônica foi auxiliar de enfermagem por 25 anos e se graduou em Enfermagem aos 47 anos. Segundo reportagem da CNN Brasil, Mônica foi aprovada em concurso público para a área da saúde em fevereiro de 2015 e foi chamada em regime de emergência no início da pandemia pelo governo de São Paulo. A postagem ainda afirma que a própria enfermeira postou em suas redes sociais que estava na praia no final do ano. A foto foi postada no Facebook pessoal de Mônica. Em entrevista ao programa Encontro com Fátima, da TV Globo, ela disse que às vezes vai à praia, mas que não participa de aglomerações. Ela defendeu que “o fato de uma pessoa sair, andar na praia, entendo que não é aglomeração”. Como verificamos? Procuramos Mônica Calazans para esclarecer sua participação nos testes da vacina em julho e agosto de 2020. Confirmamos ser dela o perfil no Facebook onde foi publicada em 19 de dezembro de 2020 uma foto de Mônica, com duas amigas na praia. Esta imagem foi reproduzida no post de Diniz. Na publicação do deputado também consta a imagem de uma notícia veiculada no último dia 8 de janeiro, no site do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP). Nela, há relatos de profissionais da área da saúde sobre a vacinação. O depoimento da enfermeira Mônica Calazans está entre eles. Realizamos buscas no Google por outras reportagens sobre Mônica. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 18 de Janeiro de 2020. Verificação A participação de Mônica Calazans nos testes da CoronaVac Mônica Calazans tem 54 anos e é enfermeira da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Emílio Ribas, em São Paulo. Ela realmente participou como voluntária dos estudos clínicos feitos no Brasil da vacina CoronaVac, desenvolvida pelo Instituto Butantan em parceria com o laboratório chinês Sinovac. No entanto, estava no grupo que recebeu placebo, substância sem efeito, e não as doses do imunizante. Em contato com o Comprova, a enfermeira confirmou que tomou as duas aplicações dos testes entre julho e agosto de 2020. Apesar disso, somente no último domingo, dia 17 de janeiro, ela foi informada que estava no grupo que recebeu placebo, e que havia sido escolhida para desta vez receber a vacina, se tornando a primeira brasileira a ser imunizada contra a covid-19. Quem é Mônica Calazans e por que ela foi escolhida para receber a primeira dose da vacina? Mônica Aparecida Calazans, 54 anos, moradora de Itaquera, Zona Leste de São Paulo (SP), é enfermeira na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Instituto de Infectologia Emílio Ribas, em São Paulo. Além de fazer parte da linha de frente, ela também faz parte do grupo de risco para o coronavírus, é obesa, hipertensa e diabética. Mônica foi auxiliar de enfermagem por 25 anos e se graduou em Enfermagem aos 47 anos. Segundo reportagem da CNN Brasil, Mônica foi aprovada em concurso público para a área da saúde em fevereiro de 2015 e foi chamada em regime de emergência no início da pandemia pelo governo de São Paulo. Mônica foi escolhida para ser a primeira brasileira vacinada por ser trabalhadora de saúde e atuar na linha de frente da covid-19, e também por pertencer ao grupo de risco. Também ficou conhecida depois que foi personagem de reportagens na imprensa e venceu o prêmio Notáveis CNN, premiação do canal de notícias que contemplou pessoas que lutam contra o novo coronavírus. Ela foi a vencedora na categoria Heroína do Ano e representou os profissionais da saúde que atuam durante a pandemia. “É toda uma história de vida. Diante dos prêmios e toda minha trajetória profissional e principalmente na pandemia, eu fui a escolhida. Havia outros 100 profissionais lá”, afirma. Sobre o como foi o procedimento para receber o imunizante, Mônica conta que as pessoas que fazem parte do grupo que participou da pesquisa recebem um telefonema semanalmente para saber o estado de saúde de cada um. “Eu tive todo um aparato dos profissionais para qualquer problema que eu tivesse poderia fazer contato, eu tive um respaldo e isso sempre me deixou muito tranquila”. As imagens usadas no post do deputado O deputado Gil Diniz reproduziu duas imagens na publicação investigada pelo Comprova. São capturas de tela de uma notícia e de uma postagem da enfermeira feita em seu perfil no Facebook. A primeira imagem é a reprodução de uma notícia veiculada no dia 8 de janeiro de 2021 no site do Conselho Regional de Enfermagem de São Paulo (Coren-SP). A matéria, intitulada “Covid-19: profissionais de enfermagem contam experiência como voluntários nos testes da vacina”, traz o relato de três profissionais da área da saúde, incluindo a enfermeira Mônica Calazans. Eles contam como foi o processo de vacinação e de monitoramento após receberem as doses. A reportagem informa que que os voluntários não sabem se receberam vacina ou um placebo. A segunda imagem publicada pelo deputado, a reprodução de um post feito por Mônica em seu perfil de Facebook, mostra a enfermeira na praia ao lado de duas mulheres, com a legenda “Oiii, vcs [vocês] que lutem”, em registro de 19 de dezembro de 2020. Ao Comprova, Mônica disse que a foto é de um dia de folga com outras duas amigas também profissionais da saúde na Praia Grande, estadi de São Paulo. “Eu tenho um apartamento na praia, por isso eu fui. Acho que um banho de mar tinha o direito de tomar e foi o que eu fiz”. Ela também reforça que optou por um horário com pouco movimento, pois não participa de aglomerações e disse acreditar que o maior risco são baladas, encontros com muitas pessoas e festas clandestinas que desrespeitam as normas de distanciamento social. O perfil no Facebook divulgado no tuíte do deputado é a conta pessoal da enfermeira. Desde o domingo, no entanto, Mônica relata que foram criadas diversas contas e postagens falsas em redes sociais com o nome dela. Quem é Gil Diniz? Gildevanio Ilso dos Santos Diniz, conhecido também como Gil Diniz, é deputado estadual de São Paulo (sem partido). Foi filiado ao Partido Social Cristão (PSC) de 2015 a 2018. Após sua saída do PSC, foi filiado ao Partido Social Liberal (PSL), até ser expulso em 2020 por disseminação de notícias falsas e ataques a instituições democráticas, como o Supremo Tribunal Federal (STF). Antes de ingressar na carreira política, Gil trabalhava nos Correios, como carteiro na zona leste de São Paulo. Gil Diniz tem ligação com Eduardo e Carlos Bolsonaro desde 2014. No período em que esteve filiado ao partido PSC, Diniz foi assessor da equipe de Eduardo Bolsonaro. Em 2018, foi eleito deputado estadual pelo PSL em São Paulo com 214.037 votos. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus que tenham grande alcance nas redes sociais. O conteúdo que motivou esta verificação teve, até o fechamento desta reportagem, 4,1 mil compartilhamentos no Twitter e 19 mil no Facebook. Após muita repercussão sobre a eficácia da vacina e estudos e testes na preparação da Coronavac no Brasil, o post é problemático pois põe dúvida na efetividade do plano de imunização contra a covid-19. Além disso, usa de informações pessoais de Mônica Calazans – como a foto na praia, por exemplo – para validar seu argumento. O G1 – Fato ou Fake publicou na segunda-feira (18) uma verificação a respeito de mensagem nas redes sociais afirmando que a enfermeira Mônica já havia tomado anteriormente a dose da vacina, e que portanto não precisaria de outra dose. A Agência Lupa, também fez checagem da postagem de Diniz. Falso, para o Comprova é, conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/sao-enganosas-as-postagens-que-dizem-que-os-vacinados-pela-coronavac-estarao-protegidos-pela-metade/
COMPROVA
São enganosas as postagens que dizem que os vacinados pela CoronaVac estarão protegidos pela metade
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2021-01-18
A imunização é uma estratégia coletiva para proteger a sociedade como um todo e os dados da vacina desenvolvida pela Sinovac e pelo Instituto Butantan indicam que ela é capaz de atenuar a crise de saúde pública no Brasil Conteúdo verificado: Tuíte questiona a taxa de eficácia de 50, 38% da vacina CoronaVac, anunciada pelo Instituto Butantan. O autor compara a eficácia da imunização e a possibilidade de diagnóstico positivo da covid-19 com um jogo de cara ou coroa. É enganoso um tuíte de Filipe Martins, assessor especial para assuntos internacionais do presidente Jair Bolsonaro, em que ele compara a CoronaVac, vacina desenvolvida pela companhia chinesa Sinovac e pelo Instituto Butantan, em São Paulo, a um jogo de cara ou coroa, por conta da taxa de eficácia global de 50,38% do imunizante. No tuíte, em uma tentativa de minimizar a possível contribuição da CoronaVac, Martins ignora que as estatísticas apresentadas pela vacina demonstram que ela pode, sim, ajudar a atenuar o problema de saúde pública pelo qual passa o Brasil devido à pandemia de covid-19. No tuíte, Martins afirma: “Como você se sentiria se um médico lhe dissesse que ele pode descobrir se você tem coronavírus com base em um jogo de cara-ou-coroa? (sic) Isso é mais ou menos o que vai acontecer com sua imunização, se você optar por tomar a vacina xing ling de 50,38% de eficácia do João Dória”. Como mostra esta verificação, o comentário não tem sentido, e portanto engana, uma vez que a imunização é uma estratégia coletiva para proteger a sociedade como um todo e não um procedimento realizado para proteger cada indivíduo isoladamente. O conteúdo foi publicado no dia 12 de janeiro e posteriormente apagado pelo autor, mas ainda circula em outros perfis e páginas em várias redes sociais. O Projeto Comprova entrou em contato com a assessoria do governo federal, mas não obteve retorno até o momento da publicação desta reportagem. Como verificamos? Inicialmente, o Comprova buscou esclarecimentos a respeito das estatísticas da CoronaVac com o Instituto Butantan, responsável pelo desenvolvimento da vacina. Em seguida, ouvimos o médico sanitarista e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Reinaldo Guimarães, para averiguar e contextualizar quais são os conceitos necessários para avaliar as taxas de eficácia de vacinas. Também buscamos Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz/Amazônia, que explicou como funciona a eficácia de imunização e como a CoronaVac se aplica ao contexto atual, alertando para a urgência da situação pandêmica no país. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 18 de Janeiro de 2021. Verificação A eficácia global da CoronaVac A pesquisa com a CoronaVac contou com 12,5 mil voluntários em 16 centros científicos no Brasil. Todos os voluntários eram profissionais de saúde, com risco muito alto e contínuo de exposição ao coronavírus. Eles receberam duas doses da vacina, com intervalos de duas semanas entre cada aplicação. A pesquisa demonstrou, em primeiro lugar, que o imunizante é seguro. Nenhuma reação adversa grave foi registrada entre os participantes. O segundo passo necessário diz respeito à eficácia da vacina. A CoronaVac se baseia na inativação do vírus Sars-CoV-2 para induzir o sistema imunológico humano a reagir contra o agente causador da covid-19. A tecnologia é similar à de outras vacinas produzidas pelo Butantan. Em 12 de janeiro, o instituto informou que a CoronaVac obteve 50,38% de eficácia global no estudo clínico desenvolvido no Brasil. Este número é superior ao patamar de 50% recomendado pela Organização Mundial de Saúde para que a CoronaVac seja utilizada no Plano Nacional de Imunização (PNI). Esse número se refere ao contágio da doença e inclui, portanto, os pacientes assintomáticos. É o que explica Reinaldo Guimarães, da Abrasco. “O número de 50,3% diz respeito a casos leves e assintomáticos que só souberam que estavam infectados porque fizeram um teste de PCR durante o ensaio fase 3 dos testes”, afirmou ele ao Comprova. O número de 50,38% não significa, portanto, que metade das pessoas estará imunizada e a outra metade necessariamente vai pegar o vírus. O número significa que a probabilidade de pegar o vírus diminui em 50,38%. Por exemplo, se em um grupo qualquer, em um cenário sem vacina, dez pessoas fossem pegar o vírus, num cenário com a vacina esse número cairia para cinco. A eficácia de 78% da CoronaVac A eficácia global da CoronaVac não é o único número relevante, no entanto. “O que realmente importa é a capacidade da vacina em prevenir casos graves, que exijam internação, UTI e que costumam levar à óbito. Para esses casos, a eficácia da vacina é de quase 100%”, afirma Guimarães, da Abrasco. Além da eficácia global, as estatísticas do Butantan trouxeram os resultados da vacina para casos leves e para casos moderados e graves. No primeiro critério, de casos leves, designados como aqueles em que o paciente precisa de algum tipo de assistência médica, o nível de proteção é de 78%. Ou seja, quem tomar a vacina possui, além de 50% menos risco de ser contaminado pela covid-19, 78% menos risco de ser contaminado e desenvolver sintomas leves. Nos testes da CoronaVac, casos moderados foram considerados aqueles em que o paciente é hospitalizado e casos graves os que os pacientes são hospitalizados e precisam de UTI. Neste critério, a eficácia divulgada foi de 100% – ou seja, nenhuma das pessoas do grupo das vacinadas foi parar na UTI – mas este resultado ainda precisa de mais estudos, pois o número de casos graves na pesquisa foi muito baixo para ter significância estatística, como afirmou Ricardo Palacios, diretor médico de pesquisa do Instituto Butantan. Jesem Orellana, epidemiologista da Fiocruz/Amazônia, explica que a eficácia de uma vacina é a capacidade que esse imunizante tem de proteger as pessoas. Então, quando é atestado que uma vacina é 100% eficaz contra a covid-19, isso significa que a cada 100 pessoas vacinadas, provavelmente nenhuma delas vai adoecer. “Quando você diz que a eficácia é de 70%, é o mesmo raciocínio: de 100 pessoas expostas, 70 serão protegidas, e assim por diante”, afirma. Orellana destaca que as estatísticas da CoronaVac indicam que ela pode ajudar o Brasil a reduzir significativamente o problema de saúde pública pelo qual passa. “Quando estou pensando como um gestor de saúde pública, alguém preocupado, por exemplo, com a pressão que uma doença como a covid-19, emergente e nova, pode causar sobre as unidades básicas de saúde, sobre os hospitais, sobre as demandas por internação em leito de UTI e, principalmente, de mortes, eu não fico tão preocupado com uma vacina que seja super potente e eficaz”, afirma. Segundo ele, o mais importante nesse momento é poupar vidas. “Algumas vacinas que não têm uma taxa de eficácia global tão grande, como a vacina da AstraZeneca e, principalmente, a CoronaVac, são muito úteis para a saúde pública”, diz. “Embora não evitem, digamos, 90% dos casos gerais de covid-19, vão evitar a maior parte dos casos graves e, muito provavelmente, quase todas as mortes por covid-19. Isso é o mais importante, esse é o papel de uma vacina. A taxa de eficácia tem que ser interpretada dessa maneira”, afirma. Na visão do epidemiologista, a afirmação de Martins é essencialmente política e não tem base em conhecimentos sanitários, imunológicos e epidemiológicos. Em suas palavras, trata-se de “uma afirmação vazia, com finalidade política e que desconsidera completamente a interpretação dos resultados específicos da CoronaVac, por exemplo, para proteção de doenças graves, que levaria a internações, gastos milionários com internações por dias e semanas, sejam em leitos clínicos ou leitos de UTI, e principalmente a morte.” Orellana destaca ainda que as análises sobre a CoronaVac precisam ser feitas tendo como pano de fundo a realidade brasileira. “Estamos em momento de emergência sanitária e não temos opções, sejam elas financeiras, operacionais, logísticas, ou de acesso à vacina com eficácia melhor”, afirma ele. “O que temos que fazer nesse momento é ser realistas, olhar para nossa realidade, contexto e infraestrutura e ver o que há disponível nesse momento. Não adianta dizer que a eficácia global da CoronaVac é baixa se você não tem outra proposta viável para proporcionar a imunização de brasileiros em curto espaço de tempo”, conclui. A importância das vacinas Conforme já verificado pelo Comprova em outras checagens, o corpo humano tem um sistema imunológico capaz de identificar células estranhas, reagindo a fungos, bactérias, vírus e parasitas. A resposta biológica e natural é um processo inflamatório que desencadeia uma série de reações às doenças existentes. Por isso, as vacinas são meios eficazes, pois aumentam a imunidade adquirida e evitam o contato com a doença. Além disso, a alta cobertura vacinal protege aqueles que não podem se vacinar, como pessoas mais velhas e com doenças pré-existentes, por cessar ou diminuir drasticamente a circulação de microorganismos. Atualmente, as vacinas protegem milhões de pessoas em todo mundo. É o caso da vacina contra varíola, que erradicou completamente a doença no mundo em 1980. Segundo Tedros Adhanom Ghebreyesus, dietor-geral da OMS, a doença foi erradicada devido a um esforço global, que uniu solidariedade, ciência e uma vacina segura e eficaz. Após a erradicação da varíola, a OMS e o UNICEF lançaram o Programa Expandido de Imunização, no qual 85% das crianças do mundo foram vacinadas e protegidas de doenças debilitantes. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. Conteúdos falsos sobre vacinação prejudicam o trabalho dos pesquisadores e diminuem a confiança das pessoas na ciência e em medidas de benefício geral. O post de Filipe Martins teve 1,1 mil curtidas no Twitter até o dia 12/01. Mesmo tendo sido apagado no mesmo dia, o tweet teve uma visualização expressiva e continua sendo compartilhado em forma de prints e cópia do texto. Consideramos que esse tipo de postagem é perigosa na medida em que coloca sob suspeita a imunização e sua eficácia no combate e tratamento ao coronavírus. Esta solução, segundo os especialistas entrevistados pelo Comprova nesta e em outras verificações sobre a vacina, vem sendo enfaticamente recomendada pela comunidade científica e organismos internacionais de saúde. O Comprova tem desmentido diversas correntes que abordam a vacinação, como a que tira de contexto dados sobre sintomas da vacina da Pfizer, a que afirmava ser possível deixar de vacinar pessoas já diagnosticadas com covid-19; e que a China não usará suas próprias vacinas. Enganoso, para o Comprova é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/segunda-dose-da-coronavac-nao-esta-relacionada-a-taxa-de-eficacia-da-vacina/
COMPROVA
Segundas doses servem de reforço e são comuns em programas de vacinação
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2021-01-18
Doses escalonadas são comuns em programas de vacinação e servem para reforçar a primeira dose. A taxa de eficácia global da CoronaVac, de 50,38%, não indica que metade dos vacinados vai pegar a doença e a outra metade, não. Conteúdo verificado: Postagem do deputado federal Eduardo Bolsonaro sobre a eficácia global da vacina CoronaVac e a necessidade de duas doses do imunizante. É enganoso o tuíte do deputado federal Eduardo Bolsonaro em que ele relaciona a necessidade de aplicação de uma segunda dose da vacina CoronaVac à taxa de eficácia global do imunizante no Brasil, de 50,38%. A segunda dose serve para garantir o índice de eficácia e não para duplicá-lo. Doses escalonadas são comuns em programas de vacinação e servem para reforçar a primeira dose, o que é previsto na cartilha de vacinação do Ministério da Saúde inclusive para imunizantes contra doenças como a febre amarela e a gripe. As vacinas desenvolvidas pelo laboratório Pfizer e pela Universidade de Oxford, em parceria com a Fiocruz, também necessitam de duas doses para a imunização total. Segundo dois especialistas ouvidos pelo Comprova, a taxa de eficácia de 50,38% é muito boa na prevenção de novos casos da doença e para diminuir os casos graves de covid-19. A taxa de eficácia indica a chance que uma pessoa imunizada tem de não contrair a doença. E não significa que metade dos vacinados vai pegar a doença e metade, não. Na verdade, o imunizante diminui em 50,38% a probabilidade de apresentar covid-19. O mínimo estabelecido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) é de 50% – a CoronaVac, portanto, tem grau de proteção satisfatório. Além disso, segundo os especialistas, a taxa de eficácia ajuda a determinar a meta de cobertura vacinal, ou seja, quanto menor a eficácia, mais ampla a vacinação deverá ser. Entramos em contato por e-mail com o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), mas não tivemos resposta até a publicação desta verificação. Como verificamos? Questionamos o Instituto Butantan sobre os dados divulgados quanto à eficácia global da vacina e também sobre um comentário feito na semana passada pelo do ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, sobre a estratégia de priorizar a imunização do maior número de pessoas, antes de pensar na aplicação da segunda dose. Conversamos com os professores e pesquisadores do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública (IPTSP) da Universidade Federal de Goiás (UFG), João Bosco e Moara Borges. Consultamos os estudos e pesquisas sobre as vacinas produzidas no Brasil e as recomendações da Organização Mundial de Saúde sobre as medidas de segurança no período de vacinação. Verificação Estudos científicos da CoronaVac O Instituto Butantan anunciou em 12 de janeiro que a vacina CoronaVac, produzida em parceria com o laboratório chinês Sinovac, obteve 50,38% de eficácia global no estudo clínico desenvolvido no Brasil, além de proteção de 78% em casos leves e 100% contra casos moderados e graves da covid-19. Em nota enviada ao Comprova, o Butantan afirmou que “todos os índices são superiores ao patamar de 50% exigido pela OMS (Organização Mundial de Saúde). Os dados deixam claro a importância do impacto para a saúde pública com o imunizante que impede que a forma grave ou moderada da doença”. Os ensaios clínicos da CoronaVac incluíram a aplicação de duas doses do imunizante com intervalo de 14 dias e, de acordo com o instituto, esse reforço não pode ultrapassar o período de 28 dias entre as aplicações. Segunda dose é reforço da primeira A Organização Mundial de Saúde (OMS), em declarações recentes, diz que as vacinações que já começaram em alguns países não tiveram impacto na diminuição da transmissão de covid-19. A professora Moara Borges lembrou que “para a vacina ter uma efetividade precisa de pelo menos de 10 a 14 dias depois da segunda dose para considerar essa proteção total que foi avaliada pelo Butantan”. Portanto, a recomendação da OMS é que as pessoas mantenham o uso de máscara e o isolamento social. O professor João Bosco, do Instituto de Patologia Tropical e Saúde Pública da UFG, afirma que a segunda dose existe para reforçar os efeitos da primeira dose. “Essa lógica de reforço existe para múltiplas vacinas, agora a expectativa para imunizar um indivíduo uma vacina com mais de 50% de eficácia ela já pode ter uma repercussão muito grande e muito boa na prevenção de novos casos da doença”, afirma. A professora do mesmo instituto da UFG, Moara Borges, afirma que o ideal é que aconteça um reforço com a segunda dose da vacina para que o organismo se especialize mais em se defender do vírus. Para a professora, com as duas doses da vacina o organismo “produz anticorpos mais rápido” e “faz identificar esse vírus mais rápido”. Dessa forma, o corpo consegue produzir a melhor resposta para combater o Sars CoV-2. Além da CoronaVac, as vacinas desenvolvidas pelo laboratório Pfizer e pela Universidade de Oxford, em parceria com a Fiocruz, necessitam de duas doses para a imunização total. As vacinas foram o principal mecanismo de redução da mortalidade por doenças infecciosas no último século. Segundo a professora Moara Borges, é um erro grave acreditar que com uma única dose as pessoas estarão protegidas e não serão capazes de infectar outras pessoas. Ela foi enfática ao afirmar que o objetivo da vacina é diminuir os casos graves. E lembrou que a vacina tem uma grande importância na questão de saúde pública, diminuição da lotação nos hospitais e o número de mortes. Plano do governo para a vacinação contra a covid-19 De acordo com o Plano Nacional de Operacionalização da Vacinação contra a covid-19, publicado em 21 de dezembro de 2020 pelo Ministério da Saúde, a CoronaVac era uma das 13 vacinas em fase 3 de pesquisa clínica, etapa que avalia a segurança e a eficácia do imunizante. A partir dos dados levantados nesse estágio é que é possível submeter uma vacina ao registro e à aprovação para uso. Contudo, no dia 17 de janeiro, em uma reunião da equipe técnica e diretoria da Anvisa, o uso emergencial da CoronaVac foi aprovado por unanimidade. No mesmo documento, o Ministério da Saúde destaca que o esquema vacinal da CoronaVac, assim como a maior parte das vacinas candidatas, exige a aplicação de duas doses, no intervalo de 14 dias. Entretanto, o ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, disse durante uma coletiva de imprensa realizada na cidade de Manaus (AM), em 11 de janeiro de 2019, que o programa de vacinação contra a covid-19 que será implementado pelo governo pretende priorizar a aplicação da primeira dose no maior número possível de pessoas, antes de iniciar a aplicação da segunda dose. No dia 18 de janeiro, o Ministério da Saúde começou a distribuição de doses da CoronaVac pelo Brasil. Em nota, o Instituto Butantan informou que “os ensaios clínicos contemplaram a aplicação de duas doses do imunizante com intervalo de 14 dias, podendo chegar até 28 dias entre as aplicações, não sendo recomendado o ultrapassar o prazo previsto para que os números se assemelham aos apresentados nos testes”. O Instituto disse ainda que o estudo da CoronaVac foi submetido e aprovado por um comitê internacional independente, e apresentado à Anvisa conforme as normas estabelecidas pela Organização Mundial da Saúde. “Os resultados não teriam sido enviados à Anvisa se o índice mínimo de eficácia global não tivesse sido atingido. Quem põe em dúvida o resultado apresentado especula contra a ciência e só favorece teorias conspiratórias”, finaliza a nota. Taxa de eficácia não funciona sozinha Para o professor João Bosco, do IPTSP/UFG, a utilização de qualquer imunizante, independentemente da taxa de eficácia, precisa ser combinada a uma ampla cobertura vacinal. Segundo ele, quanto mais baixa a eficácia, mais ampla deve ser a vacinação para alcançar um impacto similar ao da vacina com eficácia mais alta – e uma cobertura vacinal ampla diminui o surgimento de novos casos. A taxa da eficácia da CoronaVac foi de 50,38%, significa que a cada 100 pessoas vacinadas que tiveram contato com o vírus, 50,38 não vão manifestar sintomas da doença por conta do efeito imunizante da vacina. A eficácia é a taxa calculada a partir da incidência dos casos de covid-19 em pessoas que foram vacinadas em uma pesquisa clínica e a incidência de casos da doença no grupo controle, que recebeu a aplicação de um placebo. A taxa de eficácia serve para o governo planejar a meta de vacinação e chegar à imunidade de rebanho. Contudo, a OMS já declarou que a imunidade coletiva não será alcançada em 2021. O ideal, neste momento da pandemia, é vacinar o maior número de pessoas e diminuir a gravidade da covid-19. A Sociedade Brasileira de Imunizações emitiu nota no dia 13 de janeiro avaliando os estudos científicos das vacinas, e explicando que eles possuem métodos e abordagens diferentes entre si. Por isso, as taxas de eficácia não são comparáveis. A CoronaVac alcançou 78% de eficácia em casos leves e nenhum dos participantes que receberam as doses da vacina apresentou casos graves e moderados. A taxa de eficácia de 50,38% inclui todos os participantes que ficaram doentes independente da gravidade. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. Conteúdos falsos sobre vacinação prejudicam o trabalho dos pesquisadores e diminuem a confiança sobre a necessidade da vacinação. A postagem do deputado Eduardo Bolsonaro alcançou 9,8 mil curtidas e 1,3 mil compartilhamentos até a publicação desta verificação. Ao fazer uma ironia usando um cifrão na pergunta que publicou – “Será que precisaríamos então de duas doses da vacina? $erá?” – levou leitores a acreditar que a segunda dose seria necessária para alcançar a eficácia total de 100% do imunizante, já outros entenderam que a eficácia divulgada serviria para justificar a compra de mais vacinas, fazendo com que o governo gastasse mais dinheiro. Essa não é a primeira vez que o Comprova verifica uma publicação do deputado. No final de julho de 2020, Eduardo Bolsonaro postou o trecho de um vídeo, que retirava de contexto o uso da cloroquina nos hospitais para tratamento de Covid-19. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Correção Alertado por um leitor, o Comprova corrigiu a redação do título desta verificação em 22 de junho de 2021. A versão anterior da checagem trazia como título “Segunda dose da CoronaVac não está relacionada à taxa de eficácia da vacina”.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-ford-vai-deixar-de-produzir-veiculos-de-passageiros-globalmente/
COMPROVA
É falso que Ford vai deixar de produzir veículos de passageiros globalmente
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2021-01-15
Tuíte de um ex-ministro da Educação do governo Bolsonaro esconde que a empresa decidiu aumentar os investimentos para continuar produzindo carros em países vizinhos, como Argentina e Uruguai Conteúdo verificado: Post no Twitter do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub, em que afirma que a saída da Ford não tem relação com o Brasil São falsas as afirmações feitas em um tuíte pelo ex-ministro da Educação Abraham Weintraub de que a Ford não decidiu sair apenas do Brasil, e sim parar de produzir “veículos de passageiros” em todo o mundo. Desde 2018, a empresa vem anunciando a interrupção na fabricação de alguns modelos de carros de passeio – como o Focus e o Fusion – nos Estados Unidos. O anúncio da última segunda-feira (11), no entanto, foi do fechamento das três fábricas que a montadora tem no Brasil, enquanto aumenta os investimentos para continuar produzindo carros em países vizinhos, como Argentina e Uruguai. O tuíte também afirma que a Ford estaria desistindo de competir com outros fabricantes de veículos europeus e asiáticos. Para o coordenador de Cursos Automotivos da Fundação Getúlio Vargas, Antônio Jorge Martins, ouvido pelo Comprova, isso não procede. Para ele, o que está por trás da decisão da Ford é a estratégia de produzir nos locais onde está presente e ofertar mais produtos tecnológicos, escolhendo um nicho de mercado. Também não é verdade que a Ford irá produzir agora “apenas caminhonetes e o Mustang” em todo o mundo, como afirma o ex-ministro. No comunicado em que fala sobre o fechamento das fábricas no Brasil, a Ford diz que continuará atendendo a região da América do Sul com seu “portfólio global de veículos, incluindo alguns dos veículos mais conhecidos da marca como a nova picape Ranger produzida na Argentina, a nova Transit, o Bronco, o Mustang Mach 1, e planeja acelerar o lançamento de diversos novos modelos conectados e eletrificados”. Dos quatro modelos citados, apenas um é uma ‘caminhonete’: a picape Ranger. O Bronco é um SUV e o Transit é um utilitário. Já o Mustang é um esportivo, o carro desse tipo mais vendido do mundo. Por fim, o fechamento das fábricas da Ford no Brasil faz parte, segundo a própria empresa, de um plano de reestruturação da América do Sul e tem a ver com perdas acumuladas nos últimos anos, agravadas com a pandemia. Mais de 12 mil pessoas serão demitidas com a saída da montadora do país. Como verificamos? Primeiro, procuramos a Ford por e-mail para esclarecer se a decisão do fechamento das fábricas era referente apenas ao Brasil ou a outros países, como sugere a publicação do ex-ministro. A fabricante não nos respondeu, então consultamos o comunicado oficial enviado à imprensa sobre o fechamento das fábricas na segunda-feira, 11 de janeiro. Em seguida, buscamos reportagens que mostrassem a repercussão da saída da Ford do mercado brasileiro e com as autoridades do governo. Também consultamos material publicado pelo colunista especializado Fernando Calmon, do UOL, para verificar as informações obtidas para a construção desta reportagem. Por fim, entrevistamos o coordenador de Cursos Automotivos da Fundação Getúlio Vargas, Antônio Jorge Martins, sobre as decisões da Ford em relação a seu posicionamento no mercado. Para esclarecer com o autor da publicação sobre a fonte usada na divulgação das informações, entramos em contato com o Banco Mundial, no qual Abraham Weintraub é diretor-executivo. Até a publicação desta reportagem, o Projeto Comprova não obteve retorno. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais disponíveis no dia 14 de janeiro de 2020. Verificação Ford fecha três fábricas no Brasil, mas investe na Argentina A decisão anunciada pela Ford no último dia 11 de janeiro foi de fechar as três fábricas que tem no Brasil: em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE) – as duas primeiras fecham imediatamente. Países vizinhos, entretanto, como Argentina e Uruguai, permanecem com suas fábricas em funcionamento. Só na Argentina, a empresa anunciou investimento de US$ 580 milhões para ampliar a produção de veículos que serão, inclusive, vendidos ao Brasil. A decisão de fechar fábricas e parar de produzir veículos, entretanto, não é em todo o mundo, como afirma o tuíte verificado. Em 2018, a Ford anunciou que deixaria de produzir dois modelos de veículos de passeio nos Estados Unidos – o Fusion e o Focus -, como mostra esta matéria feita pelo Auto Esporte. No Brasil, com o fechamento das fábricas, saem de linha também os modelos Ka e Ecosport, que eram produzidos em Camaçari (BA). Apesar de deixar de produzir carros no Brasil e interromper a fabricação de alguns modelos nos Estados Unidos, os veículos continuarão sendo produzidos, por enquanto, na Europa, segundo informou o colunista especializado Fernando Calmon, do UOL. Catálogo de veículos As fábricas da Argentina e do Uruguai, diferentemente do que publicou o ex-ministro da Educação, vão continuar fabricando carros “de passageiros”. Em seu site, a Ford fala sobre a reestruturação na América do Sul e afirma que “continuará presente no Brasil” oferecendo um portfólio de “SUVs, picapes e veículos comerciais, provenientes da Argentina, Uruguai e outros mercados”. A montadora confirmou a produção da nova geração do Ford Ranger, o lançamento da inédita família Bronco, da nova geração do Mustang Mach-1 e do utilitário Transit. “A Ford planeja anunciar em breve novos modelos para o Brasil, incluindo um veículo híbrido plug-in, com expansão dos serviços conectados e introdução de novas tecnologias autônomas e de eletrificação”, diz o comunicado. Além de confirmar que vai continuar oferecendo veículos comerciais, a Ford cita quatro modelos específicos em seu comunicado que serão produzidos nas fábricas da Argentina e do Uruguai: a Ranger, o Bronco, o Transit e o Mustang Mach-1. Diferentemente do que diz o tuíte – que a empresa fabricará no mundo todo apenas caminhonetes e o Mustang – somente um dos veículos citados é uma ‘caminhonete’: a picape Ranger. O Bronco é um SUV e o Transit é um utilitário. Já o Mustang é um esportivo, o mais vendido do mundo. Motivos para a saída Não é verdade que a decisão da Ford de sair do Brasil não tenha relação com o cenário brasileiro. O comunicado da empresa à imprensa deixa claro que a Ford fecha as três fábricas da montadora no Brasil “à medida em que a pandemia de covid-19 amplia a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas”. Imediatamente após o comunicado feito pela Ford, o Ministério da Economia e o presidente Jair Bolsonaro acusaram a empresa de não deixar clara a razão da saída do país. O presidente disse que a empresa queria subsídios para manter a operação no país. O vice-presidente, Hamilton Mourão, disse a jornalistas que considerava os motivos para a saída da Ford do país “meio fracos”, mas a própria fala de Mourão deixa claro que houve, sim, uma relação entre o fechamento das fábricas e a economia do país. Esta reportagem publicada pelo CORREIO mostra que, na conversa com jornalistas, Mourão reconheceu as dificuldades enfrentadas pelo setor automobilístico, mas avaliou que o mercado brasileiro teria condições de se recuperar. Mourão repetiu que a Ford ganhou “bastante dinheiro” no Brasil e, a exemplo de Bolsonaro, destacou que ela recebeu incentivos ao longo dos anos em que atuou no país. “A gente entende que no mundo inteiro a empresa está passando por problemas. A indústria automobilística está passando por problemas. Está havendo uma mudança”, disse Mourão. Nesta quarta-feira (13), a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) se pronunciou pela primeira vez após o anúncio de saída da Ford do país e disse que o setor não defende novos subsídios, e sim competitividade. Esta reportagem do jornal O Globo mostra que, segundo dados da Receita Federal, o setor automotivo acumula mais de R$ 50 bilhões em subsídios desde 2002. O presidente da Anfavea, Luiz Carlos Moraes, disse ao jornal O Globo que os incentivos tributários são uma forma de corrigir distorções do sistema de impostos brasileiro. Ao jornal, ele mostrou comparativos que indicam que o custo de produzir no Brasil é, por exemplo, 18% mais caro do que no México. O Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), que tem R$ 335 milhões em empréstimos ainda ativos à Ford, pediu explicações à montadora sobre a saída do país. O Ministério Público do Trabalho (MPT) anunciou que já acompanha três inquéritos civis abertos nos locais onde a Ford anunciou o fechamento de suas fábricas: Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE). Só na Bahia, o fechamento da fábrica deixa cerca de 12 mil desempregados. Plano de reestruturação O plano de reestruturação da Ford para a América Latina deixa o Brasil de fora no que diz respeito à fabricação de automóveis, já que as três fábricas serão fechadas. No entanto, a empresa informou, em um comunicado à imprensa, que vai manter no país a sede administrativa da empresa na América do Sul, o Centro de Desenvolvimento de Produto, em Camaçari (BA), e o Campo de Provas, em Tatuí (SP). “A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável”, disse Jim Farley, presidente e CEO da Ford, no comunicado à imprensa. Ele falou sobre o novo modelo de negócios. “Estamos mudando para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil, atendendo nossos consumidores com alguns dos produtos mais empolgantes do nosso portfólio global. Vamos também acelerar a disponibilidade dos benefícios trazidos pela conectividade, eletrificação e tecnologias autônomas suprindo, de forma eficaz, a necessidade de veículos ambientalmente mais eficientes e seguros no futuro”, diz. Segundo o coordenador de Cursos Automotivos da Fundação Getúlio Vargas, Antônio Jorge Martins, a afirmação do tuíte a respeito de uma desistência da Ford em competir com montadoras da Ásia e Europa não procede. “O que motivou e está motivando essa reestruturação mundial da Ford, não resta dúvida, é uma decisão estratégica no sentido de fazer com que a empresa comece não somente a produzir em todos os locais onde estará presente, mas ofertar produtos com maior conteúdo tecnológico. A empresa soube escolher seu nicho de atuação, pois, na prática, até 2018, trabalhava com caminhões, autopeças e veículos. Em 2019, fecharam a fábrica de caminhões no Brasil e várias partes do mundo, assim como algumas de auto peças na Europa. O foco desde aquele momento foi situar em carros e veículos com maior conteúdo tecnológico, conforme o setor gosta de falar, veículos de maior tecnologia embarcada”, explica. “Na medida em que o setor como um todo está exigindo investimento pesado, principalmente em termos de veículos autônomos e veículos elétricos, não há como todas as empresas caminharem em todas as direções. Isso fez com que a Ford escolhesse um nicho. A reestruturação ser motivada por uma decisão de deixar de competir com Ásia ou Europa, na minha opinião, não faz sentido”, afirma. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos relacionados à covid-19 e a políticas públicas do governo federal. Informações falsas ou enganosas como a checada acima são prejudiciais à sociedade e contribuem para uma interpretação distorcida da realidade – neste caso, da realidade econômica do país. No conteúdo verificado, a afirmação de que a Ford não fechou fábricas apenas no Brasil busca minimizar os danos provocados pela saída do país de uma empresa que gerava milhares de empregos. Até a noite de quinta-feira, 14 de janeiro, a publicação já tinha 35,8 mil interações no Twitter, sendo compartilhada por quase 8 mil pessoas. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
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2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/distribuicao-em-massa-de-ivermectina-nao-esta-ligada-aos-numeros-da-covid-19-na-africa/
COMPROVA
Distribuição em massa de ivermectina não está ligada aos números da covid-19 na África
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2021-01-15
Impacto moderado do novo coronavírus é explicado por experiência com epidemias, pela baixa idade média das populações e pelo fato de a circulação de pessoas entre o continente e o resto do mundo não ser tão significativa Conteúdo verificado: Tuíte do Presidente Jair Bolsonaro sugere que a distribuição de ivermectina em países africanos, por meio de um programa da OMS para o tratamento de Oncocercose, estaria relacionado ao menor número relativo de casos de covid-19 nos países do continente. É enganoso relacionar a incidência relativamente baixa da covid-19 em alguns países africanos com a distribuição de ivermectina para o tratamento de doenças causadas por parasitas. A sugestão foi feita pelo presidente Jair Bolsonaro em um tuíte, no dia 5 de janeiro. Apesar dos números relativamente mais baixos de casos de coronavírus nos países do continente africano – sobretudo na comparação com os registros na Europa e nas Américas -, especialistas descartam qualquer relação com o uso de ivermectina. Para a própria Organização Mundial da Saúde, os resultados positivos no combate à pandemia podem ser atribuídos às medidas de distanciamento físico e social e à ampliação da capacidade do sistema de saúde. Outros fatores, como a experiência com epidemias, o fato da circulação de pessoas entre o continente e outras partes do mundo ser menor e a idade média mais baixa da população, também são apontados como possíveis influenciadores nos níveis da covid-19. Além disso, em vários países africanos, há a possibilidade de subnotificação dos casos do novo coronavírus. O Programa Africano para Controle da Oncocercose (APOC, na sigla em inglês), de fato distribuiu milhões de doses de ivermectina para o tratamento da doença também conhecida como “cegueira do rio” em alguns países africanos, mas a iniciativa, mencionada na postagem, foi interrompida em 2015. No ano seguinte, outro programa da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Projeto Especial Expandido para Eliminação de Doenças Tropicais Negligenciadas, passou a distribuir a ivermectina e outros medicamentos para o combate a outras doenças comuns no continente e em outras partes do mundo. Em 2019, ano anterior à pandemia da covid-19, 152,9 milhões de pessoas receberam tratamento com ivermectina em países da África – em meio a uma população de mais de 1,3 bilhões de pessoas. A droga, porém, não tem eficácia comprovada contra o novo coronavírus. A própria OMS não recomenda a utilização do medicamento para o tratamento da infecção pelo Sars-CoV-2. Como verificamos? O primeiro passo da verificação foi checar os números da covid-19 no continente africano, especificamente nos países listados no tuíte. Para isso, utilizamos os dados disponibilizados pela própria Organização Mundial da Saúde. Em seguida, buscamos reportagens e publicações científicas que tentam explicar o motivo para a incidência relativamente mais baixa da covid-19 na África. Sobre a distribuição de ivermectina, consultamos os registros da OMS relativos ao Programa Africano para Controle de Oncocercose e ao Projeto Especial Expandido para Eliminação de Doenças Tropicais Negligenciadas. Em boletins semanais, a Organização divulgou o número de comprimidos de ivermectina distribuídos globalmente e em países da África. Em uma última etapa, buscamos informações sobre a eficácia da ivermectina no tratamento da covid-19. Consultamos o posicionamento divulgado por órgãos como a OMS, a Anvisa e a FDA, além de entrevistas anteriores feitas pelo Projeto Comprova com diversos especialistas. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 13 de janeiro de 2021. Verificação A covid-19 no continente africano É verdade que os números de óbitos em decorrência da infecção pelo novo coronavírus nos países africanos listados por Bolsonaro são menores do que os registrados no Brasil. Porém, os dados apresentados na tabela anexada ao tuíte não refletem exatamente os dados de covid-19 do dia 4 de janeiro. Os dados atualizados pelo site oficial utilizado pela OMS mostram números superiores já no relatório do dia 3 de janeiro. Segue relação de infectados/vítimas fatais dos países selecionados pelo presidente: PAÍS CASOS CONFIRMADOS MORTES Angola 17.642 408 Camarões 26.848 448 República do Congo 17.997 596 Etiópia 125.622 1.948 Moçambique 19.309 169 Nigéria 90.080 1.311 Quênia 96.802 1.685 África Central 4.963 63 Ruanda 8.676 101 Fonte:Organização Mundial da Saúde| dados de 03/01/2021 Inicialmente, a expectativa de especialistas e analistas de todo o mundo era de que o número de mortes pelo novo coronavírus e as taxas de infecção pela doença no continente africano fossem altas, em função do alto índice de populações vivendo em condição de vulnerabilidade. A dificuldade de acesso aos equipamentos de proteção e higiene supostamente sustentava essas previsões. Porém, os números são outros e não há ainda uma confirmação científica sobre a causa dos números baixos nesta região. Além da possibilidade de subnotificação dos casos e mortes pelo novo coronavírus em vários países da África, apontada desde os primeiros meses de 2020, especialistas também levantam outras hipóteses para a incidência da doença no continente. Em maio, em uma entrevista à BBC, o especialista em saúde global e emergências sanitárias no Centro de Genebra para Educação e Pesquisa em Ação Humanitária, Karl Blanchet, também destacou o fato da população de vários países africanos já ter lidado com outras epidemias graves no passado. Na mesma reportagem, o especialista africano em saúde pública da equipe de medicina tropical e humanitária do Hospital Universitário de Genebra, Frederique Jacquerioz, aponta a “baixa circulação existente entre os países do continente e o resto do mundo”. A capacidade de resposta a pandemias, a imunidade da população, já afetada por outras doenças e a média etária mais baixa – já que o continente possui a população mais jovem do mundo – também são apontadas pelo pesquisador do Centro de Relações Internacionais em Saúde da Fundação Oswaldo Cruz, Augusto Paulo Silva, ouvido em outubro pela Agência Brasil. Uma matéria da revista Época que analisa este mesmo tuíte de Bolsonaro relembra que em junho de 2020, a diretora regional da OMS na África, Matshidiso Moeti, atribuiu o bom desempenho destes países na pandemia às medidas de isolamento implementadas e melhorias realizadas no sistema de saúde. “O que o Brasil pode aprender? Os países da África, desde muito cedo, implementaram medidas muito significativas de distanciamento social e físico. Isso nos deu um tempo a mais. Ao mesmo tempo, esses países trabalharam duro para ampliar a capacidade do sistema de saúde”, afirmou Moeti. O Programa Africano para Controle de Oncocercose A tabela publicada no tuíte do presidente menciona a distribuição em massa de ivermectina feita pelo Programa Africano para Controle de Oncocercose (Apoc, na sigla em inglês), voltado ao combate da doença, também chamada de “cegueira do rio”, por meio da aplicação de ivermectina. No entanto, o programa foi encerrado em 2015, após 20 anos de ações. Os últimos dados disponíveis na página do programa no site da OMS apontam que 100,8 milhões de pessoas nos países que integravam a iniciativa recebiam tratamento regular até o fim de 2012. A partir de 2016, outra iniciativa teve início para suceder o programa – o Projeto Especial Expandido para Eliminação de Doenças Tropicais Negligenciadas (Espen, na sigla em inglês). Este plano também prevê a distribuição de ivermectina, mas também de outros medicamentos para combater outras doenças comuns no continente além da oncocercose, como filariose linfática e esquistossomose. Em 2019, 152,9 milhões de pessoas receberam tratamento com ivermectina em países da África, conforme registro epidemiológico da primeira semana de novembro de 2020, disponível no site da OMS. Nos nove países citados por Bolsonaro na postagem, 105,4 milhões de pessoas receberam a medicação em massa com ivermectina. No entanto, três desses países não tiveram nenhuma pessoa submetida ao tratamento em 2019 porque, segundo o relatório, ele não era mais considerado necessário. São eles: Moçambique, Quênia e Ruanda. O número de pessoas tratadas preventivamente corresponde a uma cobertura de 70,4% do total de 217,2 milhões que requerem tratamento preventivo contra a doença oncocercose. Foi o segundo maior número desde 2011, atrás apenas de 2018, quando o alcance atingiu a marca de 160 milhões de pessoas tratadas. A Nigéria e a República Democrática do Congo foram os países com mais pessoas submetidas à medicação em massa, com 40,7 milhões e 39,8 milhões, respectivamente. Segundo dados de 14 de janeiro de 2021 da OMS, esses países tinham respectivamente o 14º e 15º menor número de mortes por milhão de habitantes por coronavírus na África, com 6,7 e 6,8 óbitos por grupo de 1 milhão. Entre os nove países citados por Bolsonaro, apenas Moçambique aparecia com número proporcionalmente menor de óbitos por covid-19. A ivermectina e a covid-19 O uso de ivermectina como suposto tratamento ou prevenção ao novo coronavírus foi alvo de outras checagens do Comprova. Uma delas, em dezembro do ano passado, mostrou serem enganosas afirmações do pastor Silas Malafaia sobre o medicamento como medida preventiva à covid-19. Nesta verificação, o médico veterinário Marcelo Beltrão Molento, professor e pesquisador na Universidade Federal do Paraná (UFPR) que estuda a ivermectina há mais de 20 anos e é consultor da OMS, definiu como “uma desinformação gigantesca” dizer que o remédio impede a transmissão do vírus. Ele apontou problemas em alguns estudos conduzidos sobre a droga e possível papel de combater a forma grave de infecção pelo Sars CoV-2, como falta de grupo de controle, disse que comparar cidades de dinâmicas diferentes, como ocorreu em um estudo citado pelo pastor, era um tipo de erro que “enfraquece a credibilidade dos estudos”. Molento ainda avaliou um estudo laboratorial australiano, que identificou potencial da ivermectina para inibir a reprodução do novo coronavírus em culturas de células de primatas. Ele afirmou que “o fato de ser antiviral in vitro [em laboratório] não prova em absoluto o mecanismo de ação dela em humanos”, já que estudos laboratoriais ocorrem em condições controladas que não podem ser reproduzidas no corpo humano. Na mesma checagem, a microbiologista clínica e professora da Universidade de Brasília (UnB) Fabiana Brandão, afirmou ao Comprova que muitos dos ensaios clínicos da ivermectina ainda são pré-publicações e precisam passar por revisão por pares. Ela defendeu a necessidade de mais estudos sobre a droga e disse que algumas pesquisas precisam de “metodologias melhor delineadas”. A OMS e a OPAS “aconselham fortemente contra o uso de ivermectina para quaisquer outros propósitos diferentes daqueles para os quais seu uso está devidamente autorizado”. A Organização Pan-Americana de Saúde chegou a analisar a possível eficácia da ivermectina no tratamento da covid-19 com base em estudos publicados entre janeiro e maio de 2020, e concluiu que nenhum deles – nem os realizados em laboratório, in vitro, nem os que chegaram à fase clínica, comprovavam a eficácia da medicação. A agência reguladora dos Estados Unidos, Food and Drug Administration (FDA), afirma em seu site que o uso de ivermectina como prevenção à covid-19 deve ser evitado “uma vez que os seus benefícios e segurança para estes fins não foram estabelecidos.”. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) também se posicionou em nota divulgada em julho de 2020 sobre o fármaco afirmando que “até o momento, não existem medicamentos aprovados para prevenção ou tratamento da Covid-19 no Brasil. Nesse sentido, as indicações aprovadas para a ivermectina são aquelas constantes da bula do medicamento” Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. Postagens imprecisas podem ser um risco adicional no contexto da pandemia, que já provocou a morte de quase dois milhões de pessoas no mundo. O tuíte enganoso do presidente Jair Bolsonaro, do dia 5 de janeiro, teve mais de 38 mil interações, entre retuítes, comentários e curtidas. Em julho do ano passado, o Comprova já havia desmentido vídeos que relacionavam os números da pandemia da covid-19 na África ao uso em massa da ivermectina. A Revista Época também publicou, no começo do mês, uma matéria que questionava a afirmação feita pelo presidente Bolsonaro. Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/medico-descontextualiza-manual-da-pfizer-para-sugerir-alteracoes-geneticas-pela-vacina/
COMPROVA
Médico descontextualiza manual da Pfizer para sugerir alterações genéticas pela vacina
null
2021-01-12
A farmacêutica explicou ao Comprova que a recomendação não é feita para evitar mutações genéticas, mas porque os estudos dessa vacina - como de qualquer outra - não incluem gestantes. Especialistas descartam totalmente que uma vacina para covid-19 seja capaz de causar alterações genéticas nos seres humanos. Conteúdo verificado: Postagem de médico fala sobre orientação de sexo protegido em manual de vacina e engana ao sugerir que isso teria relação com supostas alterações genéticas causadas pelo imunizante. Um médico fez uma postagem enganosa ao sugerir, em seu perfil no Twitter, que a vacina da Pfizer/BioNTech provoca “alterações genéticas” com base em uma ressalva do manual de testes do imunizante voltado aos voluntários. O documento elaborado pela farmacêutica cita um período de 28 dias para que voluntários homens não doem esperma e não façam sexo sem preservativo por um possível “risco de segurança reprodutiva”. Voluntárias mulheres com potencial para engravidar devem manter método contraceptivo. O material está em inglês. Ao Comprova, a farmacêutica explicou que a recomendação não é feita para evitar mutações genéticas, mas porque os estudos dessa vacina – como de qualquer outra – não incluem gestantes. O objetivo, diz a Pfizer, é poupar o feto de qualquer possível efeito que a vacina possa causar – visto que é fase de testes. Apesar disso, os dados disponíveis da pesquisa não indicam preocupações de segurança ou risco à gravidez, segundo a empresa. Especialistas também negaram a questão. Para médicos ouvidos pelo Comprova, a ressalva feita pelo manual tem o objetivo de evitar a exposição de gestantes e fetos a possíveis efeitos da vacina em teste e descartaram totalmente que uma vacina para covid-19 seja capaz de causar alterações genéticas nos seres humanos. Como verificamos? Primeiro, procuramos a Pfizer para esclarecer sobre o que se refere o manual e o que significa o risco indicado na página 132. A farmacêutica respondeu em troca de e-mails e, por fim, enviou um documento consolidando as respostas. Também procuramos o doutor em biologia molecular e especialista em desenvolvimento de vacinas de DNA pela Fiocruz, Rafael Dhalia, e o virologista da Universidade Federal de Minas Gerais e do Centro de Tecnologia em Vacinas da UFMG, Flávio Fonseca, que responderam por mensagens e áudios no WhatsApp sobre as afirmações feitas pelo autor da publicação. O Comprova tentou contato com o autor da postagem, o médico Alessandro Loiola, que já teve outros conteúdos checados pela equipe, mas não obteve sucesso até o fechamento da verificação. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 12 de janeiro de 2020. Verificação Manual da Pfizer e o “risco de segurança reprodutiva” A página do documento mencionado por Loiola apresenta a expressão “risco de segurança reprodutiva”, mas não se refere a risco de alteração genética – suposto efeito do imunizante de alterar o material genético (DNA) das pessoas, possibilidade rechaçada pela farmacêutica e por especialistas. Os critérios do estudo exigem que o voluntário se abstenha de relações sexuais por um período de 28 dias, assim como da doação de esperma. Como alternativa, no caso de uma relação sexual, o uso do preservativo é indispensável. No caso de gravidez, a gestação terá acompanhamento médico. Ao Comprova, a Pfizer garantiu, em troca de e-mails, que “não há qualquer registro de infertilidade ou de problemas relacionados à reprodução entre os voluntários” e informou que as recomendações são feitas não por apresentar risco de fertilidade, mas simplesmente porque o estudo não tem participação de mulheres grávidas. “Em qualquer estudo clínico que não prevê a participação de população grávida, há recomendações para prevenção e sexo seguro. Estudos de vacinas e medicamentos, geralmente, não incluem grávidas, o que foi o caso da vacina da Pfizer e Biontech contra a covid-19”, disse a fabricante. Por comunicado, a Pfizer explicou ainda que, “embora os dados disponíveis não indiquem quaisquer preocupações de segurança ou danos à gravidez”, não há, atualmente, “evidências suficientes para recomendar o uso de vacinas contra a COVID-19 durante a gestação”. Por isso, “o uso de métodos eficazes de contracepção deve ser aplicado para homens e mulheres em idade reprodutiva”. “O objetivo é preservar o feto em todas as fases, desde a sua formação, de qualquer eventual efeito que um medicamento ou uma vacina em estudo possam causar”, afirma a fabricante, que não fala em momento algum de alterações genéticas. “Caso ocorra uma gravidez durante o estudo (seja da participante ou da parceria de um participante) a gestação será acompanhada até o nascimento do bebê”, completa a Pfizer. Risco em caso de gravidez A postagem verificada pelo Comprova, que cita a recomendação para não praticar sexo desprotegido nos 28 dias após a segunda dose da vacina da Pfizer-BioNTech, sugere uma relação dessa orientação a possíveis alterações genéticas causadas pelo imunizante. No entanto, segundo especialistas ouvidos pelo Comprova, a vacina não provoca alterações genéticas e a medida é uma cautela usual em vacinas e medicamentos em fase de desenvolvimento. Além disso, não é possível afirmar que haveria risco de danos ao futuro feto em uma possível gestação. O doutor em biologia molecular e especialista em desenvolvimento de vacinas de DNA pela Fiocruz, Rafael Dhalia, afirma que a orientação de uso de métodos contraceptivos durante um determinado período de avaliação é uma medida recorrente e faz parte das normas de boas práticas clínicas no desenvolvimento de novos medicamentos e vacinas. Segundo ele, a recomendação não é exclusividade da vacina da Pfizer e ocorre como precaução. Vacinas mais conhecidas, que já têm mais estudos concluídos, podem possuir contraindicações para gestantes, enquanto outras são até mesmo recomendadas para esse público. No caso de vacinas novas, de acordo com ele, seria “melhor pecar pelo excesso”. “Por cautela, não se recomenda engravidar nesse período [de 28 dias após a segunda dose], considerado mais crítico, embora não seja possível afirmar que causará algum dano ao futuro feto”, aponta o especialista, frisando que a vacina não provoca alterações genéticas. O prazo em que não é recomendado aos voluntários do estudo engravidar varia conforme o tipo de vacina em desenvolvimento, segundo o pesquisador. No caso de vacinas de vírus atenuado, que possuem o vírus vivo, mas enfraquecido, o período recomendado costuma ser de 21 dias, que é o tempo de replicação do agente no organismo – vale frisar que não há imunizantes deste tipo contra covid-19 nas fases mais avançadas de estudos clínicos. No caso de vírus inativado (que por estar “morto”, não se replica no corpo), o intervalo em que costuma ser recomendado não engravidar é de 14 dias. Vacina com vírus inativado é a técnica usada por exemplo pela vacina CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo. O protocolo de pesquisa divulgado em outubro no repositório do instituto também afirma que o médico responsável pelo estudo poderia iniciar ou manter método contraceptivo para mulheres com potencial de engravidar nos 28 dias posteriores à última vacinação. A medida não seria obrigatória para mulheres que se declararem sem risco de engravidar ou que não pretendam ter prática sexual com fins reprodutivos nas quatro semanas seguintes à aplicação da dose. Segundo checagem do Estadão Verifica, que investigou o mesmo tuíte, protocolos das vacinas da AstraZeneca e Universidade de Oxford, Moderna e Janssen também incluem nos critério para adesão de voluntários o uso de métodos contraceptivos ou a abstinência para mulheres com potencial de gravidez. No caso das vacinas de RNA, como a da Pfizer-BioNTech, o período de 28 dias orientado no manual da farmacêutica equivale ao tempo em que há maior expressão das moléculas de RNA no organismo, para produzir a proteína spike, que vai estimular o sistema imune a desenvolver anticorpos contra o novo coronavírus. Alterações genéticas A postagem verificada também sugere que a vacina da Pfizer-BioNTech provocaria supostas alterações genéticas. O assunto já foi alvo de outras verificações do Comprova, que mostraram que as vacinas não causam câncer, danos genéticos ou homossexualidade e que as vacinas não modificam o DNA. Nessas verificações, especialistas apontaram que o material genético fica protegido no núcleo da célula, com enzimas que protegem o DNA de possíveis mutações, o que impediria modificações a partir das vacinas atuais. O especialista ouvido nesta checagem pelo Comprova, Rafael Dhalia, também desmente a afirmação e diz que ela “mostra um desconhecimento básico de biologia molecular”. Segundo ele, as vacinas são de RNA, que são moléculas compostas de cadeias ou fitas simples, enquanto o genoma humano é formado pelo DNA, de cadeias ou fitas duplas. Por conta disso, uma molécula de RNA não poderia se integrar em uma de DNA para modificá-la, como sugerem teorias antivacinas. Para obter resultados de testes PCR, por exemplo, de acordo com o pesquisador, é preciso usar uma enzima chamada de “transcriptase reversa” para transformar o RNA em DNA e obter o resultado do exame por meio de uma reação. No entanto, essa enzima não existe no corpo humano. Ainda que existisse, para uma suposta integração ao DNA ocorrer seria preciso que o paciente fosse infectado, por exemplo, por um retrovírus, que possui a enzima transcriptase reversa, e sofresse em seguida um fenômeno pouco frequente, chamado de “recombinação homóloga sítio-dirigida” – uma chance raríssima de acontecer, com risco praticamente inexistente a partir de uma vacina com base em RNA, segundo o especialista da Fiocruz. Ainda sobre o risco de segurança reprodutiva, o virologista da UFMG, Flávio Fonseca, aponta que o processo de testes da vacina não levanta dúvidas quanto ao risco de segurança reprodutiva. Ele relembra que o vírus da covid-19 não tem transmissão sexual, e que para que uma modificação genética aconteça e seja transmissível, é necessário que a alteração ocorra nas células germinativas da pessoa, e não em uma célula qualquer – o que não acontece no caso de uma vacina (a menos que seja específica para esse tipo de célula). O que é o manual O manual de testes da vacina se resume no caderno de diretrizes do estudo. O seu uso é importante, uma vez que reúne informações e dados de toda a pesquisa que incidem no processo da imunização de participantes do estudo. Além disso, o manual de testes reúne resultados atualizados sobre efeitos observados em voluntários. A Biblioteca Virtual da Saúde, vinculada ao Ministério da Saúde, disponibiliza um Manual de Normas e Procedimentos para Vacinação. Mesmo que diferente de um manual de testes, o documento segue os mesmos parâmetros que se estendem à preservação de vacina em ambientes refrigerados, fatores relacionados à pessoas vacinadas e organização e processo de vacinação em áreas médicas. Os manuais medicinais de imunização cumprem o papel de divulgação de informações sobre a vacina, com a missão de contribuição para saúde e para o conhecimento geral da população quanto a processos, dados, testes e finalização. Quem é o autor O médico Alessandro Loiola é clínico-geral em São José dos Campos (SP), em um consultório particular. Loiola apareceu em outra verificação recente do Comprova, que apontou que ele também é registrado como profissional no Conselho Federal de Medicina em Minas Gerais, nas áreas de cirurgia geral e proctologia. O médico tem dezenas de milhares de seguidores no Twitter e no Instagram, onde já fez diversas postagens relacionadas à pandemia de covid-19, falando em “riscos da vacina” e contra o uso de máscaras. O médico não tem um currículo cadastrado na plataforma Lattes. Em novembro de 2019, ele foi nomeado pelo então secretário de cultura, Roberto Alvim, como Coordenador-Geral de Empreendedorismo e Inovação, do Departamento de Empreendedorismo Cultural, da Secretaria da Economia Criativa. Ele foi exonerado menos de dois meses depois, em janeiro de 2020, após a saída de Alvim da chefia da pasta. Loiola não atendeu a nosso pedido de esclarecimentos. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. Conteúdos falsos sobre vacinação prejudicam o trabalho dos pesquisadores e diminuem a confiança das pessoas na ciência e em medidas de benefício geral. A postagem, retuitada mais de 2,4 mil vezes, cria suspeitas sobre uma das vacinas que já estão sendo aplicadas globalmente – como fez, aliás, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O Comprova tem desmentido diversas correntes que abordam vacinação, como a que tira de contexto dados sobre sintomas da vacina da Pfizer, a que um imunizante australiano infectou pessoas com HIV e que a China não usará suas próprias vacinas, como a CoronaVac, uma das candidatas aqui no Brasil. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/estudo-sobre-plasma-equino-esta-em-fase-inicial-e-nao-prova-que-e-a-cura-para-covid-19/
COMPROVA
Estudo sobre plasma equino está em fase inicial e não prova que é a cura para covid-19
null
2021-01-11
O Instituto Vital Brazil de fato iniciou estudo em maio de 2020 para produzir anticorpos contra a covid-19 a partir de soro obtido de experimento em cavalos. Embora os resultados dos testes in vitro tenham sido promissores, o tratamento não pode ser considerado como a cura para a covid-19 pois os testes em humanos ainda não foram realizados. Conteúdo verificado: Tuíte que afirma que o Instituto Vital Brasil achou a cura da Covid com um tratamento que usa plasma equino para produzir anticorpos mais potentes do que o humano. É enganosa a mensagem que circula pelo Whatsapp e pelo Twitter afirmando que o Instituto Vital Brazil teria encontrado a “cura” para a covid-19. No Twitter, o texto é acompanhado por um trecho de reportagem da GloboNews, e cita produção de anticorpos “100 vezes mais potentes do que o humano”. A publicação também questiona o que será feito com as vacinas, como se as mesmas não tivessem mais utilidade. O Instituto Vital Brazil, localizado no Rio de Janeiro, de fato iniciou estudo em maio de 2020 para produzir anticorpos contra a covid-19 a partir de soro obtido de experimento em cavalos. Os resultados dos testes in vitro apontam que os animais inoculados apresentaram de 20 a 100 vezes mais anticorpos neutralizantes contra o novo coronavírus do que os plasmas de pessoas que tiveram o vírus. Mas ainda não há qualquer dado sobre a eficácia no tratamento em humanos, já que os ensaios clínicos, aqueles realizados em pessoas, ainda não foram iniciados. Para que isso aconteça, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estão trabalhando para aprovar os protocolos que vão embasar os testes clínicos em 41 voluntários já selecionados pelo instituto. Como verificamos? Inicialmente, fizemos contato com o Instituto Vital Brazil, para saber mais sobre a pesquisa que é desenvolvida pelo laboratório. Em nota, a assessoria esclareceu sobre a soroterapia, o procedimento para realizar os testes em humanos e a sua eficácia. Realizamos pesquisas sobre o instituto para saber mais sobre sua história, o trabalho do laboratório e as pesquisas já desenvolvidas por ele. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 11 de janeiro de de 2021. Verificação Resultado dos estudos O tratamento desenvolvido pelo Vital Brazil replicou a técnica dos estudos sobre “plasma convalescente”. Os pesquisadores inocularam cinco cavalos com a proteína S, recombinante do coronavírus, produzida no Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa em Engenharia, a Coppe da UFRJ. Na biologia, uma proteína recombinante é obtida a partir de um código genético, nesse caso, o do SARS-CoV-2. Elas são extraídas e modificadas em laboratório, para que sejam utilizadas com a finalidade de capturar anticorpos do organismo em que serão injetadas. O estudo revelou que os plasmas de quatro dos cinco animais apresentaram de 20 a 100 vezes mais anticorpos neutralizantes contra o novo vírus do que os plasmas de pessoas que contraíram a covid-19. Apesar do sucesso do estudo in-vitro, realizado apenas no ambiente controlado do laboratório, não há certeza sobre a eficácia da soroterapia contra a doença. Os ensaios clínicos que testam o tratamento em voluntários humanos ainda não foram iniciados. O plasma equino com os anticorpos não é injetado diretamente no corpo humano. Ele passa por diversos processos de purificação, filtragem e diluição até virar o soro. Somente depois desse processo é que o soro pode ser aplicado em pacientes, sendo feita a injeção intravenosa em ambiente hospitalar. Segundo o instituto, o estudo se encontra em fase de delineamento dos protocolos clínicos, que consiste na uniformização do tratamento, na criação de um documento cujo objetivo é orientar decisões e critérios relacionados ao diagnóstico, gerenciamento e tratamento em áreas específicas da saúde. Esse documento está sendo criado junto à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) para iniciar a etapa de testes em 41 voluntários. Tratamento não pode ser considerado “cura” Ao contrário do que afirma a publicação, o tratamento não pode ser considerado como a cura para a covid-19. A eficácia do tratamento em humanos não foi comprovada, pois os testes ainda não foram realizados. Além disso, há diferença entre o tratamento com soro e a vacina. A soroterapia tenta neutralizar o agente causador da a covid-19, o vírus Sars-CoV-2, sendo eficaz somente nos pacientes que estão passando pela infecção. Em contrapartida, a vacina é uma medida que previne que as pessoas sejam contaminadas pelo coronavírus. O que é o Instituto Vital Brazil? É um laboratório que atende o setor público, com a produção de soros, vacinas e medicamentos de uso humano. O instituto realiza estudos e pesquisas no campo farmacêutico, biológico, econômico e social. O Instituto Vital Brazil é um dos 21 laboratórios oficiais brasileiros, um dos quatro fornecedores de soros contra o veneno de animais peçonhentos e produtor de medicamentos estratégicos para o Ministério da Saúde. Desde sua criação fabricava produtos veterinários, biológicos – como soros e vacinas – e farmacêuticos. Também baseou as atividades em pesquisa e formação. Foi fundado em 3 de junho de 1919 em Niterói, no Rio de Janeiro, pelo cientista Vital Brazil Mineiro da Campanha, que integrou a primeira diretoria do Instituto Butantan, em São Paulo. Na década de 30, tornou-se uma propriedade privada, mas manteve o vínculo com o Governo do Estado do Rio de Janeiro. Em 1957, a empresa voltou a ser majoritariamente do Governo do Estado. O processo de venda de parte da instituição só ocorreu após ser firmado um compromisso de que o Instituto manteria, por toda a sua existência, o modelo idealizado pelo fundador. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. A postagem feita no Twitter possui mais de 7 mil interações. O conteúdo engana e traz falsas esperanças em relação à cura da covid-19. Ao questionar as vacinas em estudo, o post também invalida a importância e utilidade dos imunizantes desenvolvidos para proteção contra a contaminação pelo vírus. Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/reportagem-da-globo-que-indica-nao-usar-mascaras-e-de-marco-de-2020-recomendacao-mudou/
COMPROVA
Reportagem da Globo que indica não usar máscaras é de março de 2020; recomendação mudou
null
2021-01-11
Post engana ao divulgar como atual uma reportagem que foi levada ao ar no início da pandemia de covid-19, quando as recomendações da OMS eram diferentes Conteúdo verificado: Postagem na rede social Facebook em que o autor compartilha um trecho de uma reportagem de uma TV local da Rede Globo sobre o uso de máscaras na pandemia da covid-19, onde se fala que o uso só é necessário para profissionais de saúde. É enganosa a publicação no Facebook que utiliza uma reportagem antiga de um jornal regional da Globo para insinuar que máscaras só devem ser usadas por pessoas doentes e profissionais de saúde. A informação de fato foi veiculada, mas em março do ano passado, quando esta era a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS). Novos estudos, no entanto, fizeram com que a OMS ampliasse os critérios para o uso de máscaras. O vídeo foi compartilhado no perfil de Adriano Reis, candidato a vereador de Ribeirão Preto (SP) em 2020 pelo Partido Social Liberal (PSL), com a legenda “Meu Deusssss A globo falando a verdade sobre as máscaras. 2020 ta estranho mesmo (sic)”. No entanto, ao contrário do que a legenda insinua, a recomendação não é atual, mas do começo da pandemia. A Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) ampliou as recomendações para o uso das máscaras para o público em geral, sendo as de tecido indicadas para as pessoas com idade inferior a 60 anos, deixando as máscaras cirúrgicas disponíveis para o grupo de risco e profissionais de saúde. O Comprova buscou conversar com o repórter Wellington Hanna, que aparece no vídeo, para confirmar o período em que a reportagem foi ao ar. O autor da publicação também foi procurado. Como verificamos? Primeiramente, observamos os elementos no vídeo que poderiam nos ajudar a identificar onde a reportagem havia sido feita. Primeiro, ao fundo da imagem, aparece o Congresso Nacional. No canto inferior esquerdo, a sigla DF, ao lado da logomarca do jornal. Foram os primeiros indícios de que a reportagem havia sido transmitida de Brasília, para o Distrito Federal. Na sequência do vídeo, aparece na imagem o nome do repórter, Wellington Hanna, e o local onde ele gravou a passagem, a Asa Norte, um bairro de Brasília. Logo depois, se inicia a entrevista com a médica infectologista Eliana Bicudo. Não há elementos na tela que remetam a uma localização, mas uma busca no Google pelo nome da médica leva a pelo menos três sites que apontam que ela trabalha na capital federal: o site oficial do Clidip – Hospital-Dia, Infectologia e Vacinas, onde ela faz parte do corpo clínico; o site do Hospital Home, também em Brasília, onde ela também trabalha; além do site Doctoralia, que lista a médica como infectologista em Brasília. O próximo passo foi procurar pela Globo Brasília, a fim de confirmar se a reportagem de fato havia sido feita por eles e veiculada lá, além do repórter Wellington Hanna. Conversamos com o repórter Gabriel Palma, da Globo Brasília, que disse ter quase certeza de que a matéria tinha ido ao ar no início da pandemia e que, depois de viralizar, o DFTV deu uma explicação aos telespectadores, afirmando que o material tinha ido ao ar no mês de março. Gabriel, então, nos colocou em contato com Wellington Hanna para que ele próprio desse mais detalhes sobre o ocorrido. Hanna nos enviou um link do material publicado pelo Fato ou Fake, do G1, mostrando que a reportagem tinha ido ao ar em 18 de março e, já em outubro, vinha viralizando como se tivesse informações atualizadas. Entramos em contato, por e-mail, com a Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS) e, por fim, buscamos informações sobre o dono do perfil que compartilhou o vídeo e entramos em contato com ele, mas não recebemos resposta até a publicação desta verificação. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 11 de janeiro de 2021. Verificação Reportagem foi feita em março de 2020 A reportagem compartilhada no perfil do Facebook é real. Ela foi veiculada no jornal Bom Dia DF, da TV Globo em Brasília, mas não agora e sim há dez meses. Quando foi ao ar, em março do ano passado, a Organização Mundial de Saúde (OMS) recomendava o uso de máscaras somente para pessoas doentes e para profissionais de saúde, o que mudou nos meses seguintes. Ao Comprova, o repórter Wellington Hanna, responsável pela reportagem, nos enviou, através do WhatsApp, um material publicado pelo Fato ou Fake, do G1, no dia 14 de outubro do ano passado, explicando que a reportagem tinha ido ao ar em 18 de março e, diferentemente do que diziam postagens que viralizaram ainda em outubro passado, não representava uma recomendação atual sobre o uso de máscaras durante a pandemia. A infectologista Eliana Bicudo, ouvida pela reportagem em março passado, também passou a ser questionada por pacientes depois que o vídeo viralizou, meses depois de ter ido ao ar. À Globo Brasília, ela disse que a situação hoje é muito diferente daquela conhecida em março do ano passado, quando se entendia que só pessoas com sintomas respiratórios ou febre transmitiam a covid-19. “Já em abril, com a detecção de que o paciente assintomático pode transmitir o vírus e a doença também pode evoluir de maneira leve ou até assintomática, isso mudou completamente o discurso e foi máscara para todos”, explicou ela ao Fato ou Fake. OMS atualizou recomendações com base em novos estudos Quando a reportagem foi ao ar, em 18 de março de 2020, a recomendação da Organização Mundial de Saúde (OMS) era de que as máscaras fossem usadas apenas por pessoas doentes, responsáveis por cuidar delas e por profissionais de saúde. Na época, o órgão chegou a recomendar que as pessoas parassem de comprar máscaras cirúrgicas. A grande demanda pelas máscaras, assim como a escassez delas, provavelmente prejudicariam o combate ao coronavírus, informou a OMS, na época. Em 6 de abril de 2020, a OMS fez uma nova recomendação em relação ao uso de máscaras: eles mantiveram a recomendação apenas para doentes e profissionais de saúde, mas admitiram que o uso de máscara por pacientes sintomáticos e pré-sintomáticos ajudava a limitar a transmissão do vírus. Tanto o Ministério da Saúde quanto o Centro de Controle de Doenças (CDC), dos Estados Unidos, já tinham recomendado o uso irrestrito de máscaras caseiras, diante de estudo publicado na Nature Medicine em abril de 2020, que afirmava que o uso de máscaras freava a transmissão pelo SARS-CoV-2. No dia 5 de junho deste ano, a OMS divulgou novamente outras recomendações para o uso de máscaras. Desta vez, além dos doentes e profissionais de saúde, o uso foi ampliado para pessoas em grupos de risco e para a população em geral em áreas onde já havia transmissão comunitária da doença – ou seja, quando não era mais possível dizer qual a origem da contaminação, o que indicava que o vírus já circulava por uma região. Na mesma ocasião, a OMS indicou os tipos de tecido recomendados para a produção de máscaras caseiras. Atualmente, a OMS recomenda o uso de máscaras como medida fundamental para suprimir a transmissão do vírus: “Devem ser usadas como parte de uma abordagem abrangente de ‘Faça tudo’, incluindo manter distanciamento físico de um metro ou mais de outras pessoas, evitar locais com aglomeração e contato próximo, garantir boa ventilação, limpar frequentemente as mãos e cobrir o espirro e a tosse com o cotovelo dobrado”, diz um trecho da recomendação no site oficial da Organização Pan-Americana de Saúde (OPAS), braço da OMS para as Américas. As recomendações mais atuais são do dia 1º de dezembro de 2020. A OMS trata a orientação como provisória, já que é uma atualização das recomendações do dia 5 de junho de 2020 com base em novas evidências científicas sobre o uso de máscaras. A Agência Lupa e o Fato ou Fake também verificaram este conteúdo. O autor da publicação Adriano de Pádua dos Reis foi candidato a vereador em Ribeirão Preto (SP) pelo Partido Social Liberal (PSL), mas não foi eleito. Ele também foi candidato ao mesmo posto na eleição de 2016 pelo Partido Republicano da Ordem Social (PROS), quando chegou a ser eleito suplente. Em seu perfil na rede social Facebook, Adriano se diz empresário e “um cidadão de direita, conservador nos costumes e liberais na economia”. O Comprova tentou contato com o autor, mas não obteve resposta até o momento da publicação deste artigo. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. A postagem publicada no Facebook por Adriano de Pádua dos Reis, dia 24 de dezembro de 2020, teve mais de 5,2 mil comentários e 14 mil curtidas. Em janeiro de 2021, o Comprova verificou o vídeo publicado, pois o conteúdo enganoso, com 136 mil compartilhamentos, já havia viralizado na rede social. Veiculada no jornal Bom Dia DF, da TV Globo em Brasília, a reportagem não recomenda a não utilização de máscaras. Enganoso, para o Comprova, é conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i0.wp.com/projet…=601%2C346&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-a-escultura-diva-foi-feita-com-dinheiro-publico-e-patrocinio-do-sebrae/
COMPROVA
É falso que a escultura “Diva” foi feita com dinheiro público e patrocínio do Sebrae
null
2021-01-05
Sebrae informou ao Comprova que não houve nenhum auxílio financeiro para a realização da obra. Tanto o Serviço quanto a Usina da Arte, entidade que financiou a obra, informaram que existe sim uma parceria entre os dois desde 2017, mas apenas de formação e apoio a empreendedores de comunidades vizinhas. Conteúdo verificado: Um artigo de opinião veiculado no Jornal da Cidade Online afirma que a obra intitulada “Diva”, da artista Juliana Notari, foi feita com dinheiro público, através do patrocínio do Sebrae. É falso que a obra “Diva”, da artista visual Juliana Notari, tenha sido financiada com dinheiro público, através de patrocínio do Sebrae, conforme afirma um artigo de opinião veiculado no site Jornal da Cidade Online. Tanto o Sebrae quanto a Usina de Arte – instituição onde a obra foi produzida e a verdadeira responsável por financiá-la – negaram a existência de qualquer apoio financeiro do Sebrae ou de recursos públicos à obra de arte, instalada em uma usina desativada em Pernambuco. Em resposta ao Comprova, o Sebrae e a Usina da Arte informaram que existe sim uma parceria entre os dois desde 2017, mas apenas de formação e apoio a empreendedores de comunidades vizinhas. Eles acrescentaram que não houve nenhum auxílio financeiro para a realização da obra “Diva”, o que foi confirmado pela artista Juliana Notari. Vale salientar que o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae) é uma entidade privada, embora seja financiada, assim como as outras entidades do chamado Sistema S, com contribuições compulsórias de empresas brasileiras. O Comprova tentou contato por e-mail com o Jornal da Cidade Online, mas não obteve retorno até a publicação. O post foi retirado do ar. Na segunda-feira, 4 de janeiro, mesmo dia da postagem, havia 3,8 mil interações. No Instagram, uma conta chamada União Patriótica Brasil usou a mesma montagem de imagens publicadas no Jornal da Cidade Online (a artista ao lado da obra) para repetir as acusações feitas pelo artigo verificado. O post tinha 585 curtidas até a tarde de terça-feira (5). Como verificamos? Primeiro, fizemos contato com o Sebrae e com a Usina da Arte para entender se, de fato, havia sido feito algum repasse para a realização da obra “Diva”. Questionamos se existia esse patrocínio do Sebrae e, se sim, qual teria sido o investimento para a obra em questão. Também pesquisamos como funciona o sistema S, do qual o Sebrae faz parte. As entidades que fazem parte desse sistema são privadas e administradas por federações ou confederações independentes de empresas brasileiras. Procuramos a artista Juliana Notari, que frisou que a obra “Diva” não teve financiamento do Sebrae, apenas da Usina da Arte, que é uma instituição privada. Ainda sobre os argumentos de que a obra seria criticada por movimentos sociais por não representar mulheres pretas, Juliana afirmou que a cor vermelha foi utilizada para remeter a uma ferida aberta, ao sangue, uma característica importante de seu trabalho. Procuramos também o Jornal da Cidade Online, que não retornou nosso e-mail. Nele, questionamos a fonte das informações sobre o patrocínio do Sebrae para a obra. Verificação “Diva” não foi financiada com dinheiro público Embora o texto publicado pelo Jornal da Cidade Online seja um artigo de opinião, o autor utiliza uma informação falsa para sustentar sua argumentação: a de que a obra, criticada por ele, recebeu dinheiro público em seu financiamento, através do Sebrae. A informação é falsa por dois motivos – primeiro, porque a obra não recebeu financiamento público. Segundo, porque não recebeu patrocínio do Sebrae. A obra é descrita pela autora, Juliana Notari, como “uma enorme escavação em formato de vulva/ferida medindo 33 metros de altura, por 16 metros de largura e 6 metros de profundidade, recoberta por concreto armado e resina”. O trabalho foi executado ao longo de mais de 11 meses e é fruto da residência artística de Juliana na Usina de Arte, em convênio com o Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam), que é parceiro da Usina, em Pernambuco. O Mamam foi responsável por convidar a artista para o Programa de Residência Artística, mas todo o financiamento ficou a cargo da Usina de Arte. Segundo Juliana Notari, em e-mail ao Comprova, “o financiamento e viabilização da obra são de responsabilidade da Usina de Arte, que é um espaço privado”. Ela afirmou que o Sebrae, mesmo sendo parceiro da Usina, não teve nenhuma participação no processo de Residência Artística, “nem financeiramente, nem de nenhuma outra ordem”. A Usina de Arte é descrita por seus responsáveis como um “parque artístico botânico” que vem sendo administrado por uma entidade sem fins lucrativos – a Associação Socioambiental e Cultural Jacuípe. O parque fica numa antiga usina de açúcar localizada no quilômetro 10 da rodovia PE-99, em Água Preta (PE). Em resposta ao Comprova, a Usina de Arte informou que, no espaço, encontram-se instaladas mais de 30 obras de arte de diversos artistas e que “nenhum dinheiro público foi recebido para construção / implantação do jardim nem das obras de arte”. Nos agradecimentos à realização da obra de Land Art – um movimento que funde arte e natureza -, em sua conta no Instagram, a artista Juliana Notari menciona diretamente seis pessoas, ligadas à realização da obra e à administração da Usina de Arte e do Mamam. A obra “Diva” foi a primeira obra a tomar forma na segunda edição do Projeto de Residências Artísticas da Usina de Arte, fruto de um convênio firmado com o Mamam. Ela foi iniciada ainda em janeiro de 2019, mas, segundo a própria Usina, houve uma longa pausa em sua execução por conta do processo de isolamento social demandado pela pandemia da covid-19. No final de dezembro de 2020 foi, finalmente, concluída e inaugurada num antigo canavial, que faz parte da área da hoje Usina de Arte. Em 30 de dezembro, ao postar imagens da obra concluída em seu Instagram, a artista Juliana Notari, indicada como 1ª residente pela Usina de Arte, escreveu um texto sobre o significado da obra. Ela afirma que usa a arte para dialogar, a partir de uma perspectiva feminina, com questões de gênero e com questionamentos da relação entre a cultura e a natureza, numa sociedade ocidental falocêntrica (que põe o órgão sexual masculino como superior) e antropocêntrica (que considera a humanidade superior às demais espécies). “Atualmente essas questões têm se tornado cada vez mais urgentes. Afinal, será através da mudança de perspectiva da nossa relação entre humanos e entre humano e não-humano, que permitirá com que vivamos mais tempo nesse planeta e numa sociedade menos desigual e catastrófica”, afirma. A Usina de Arte também postou, em sua conta oficial no Instagram, imagens da obra de Juliana. “Diva” passou a ser a imagem de perfil da Usina na rede social e uma série de stories defendendo a obra foram repostados pela conta da entidade após uma enxurrada de críticas à produção. “Neste momento o Mamam e a Usina de Arte reiteram sua política de respeito à liberdade artística que é condição inerente a qualquer forma de criação. A escolha de caminhos livres para o exercício da atividade artística é, e sempre foi, caminho norteador das atividades do Mamam. O Museu sempre foi, e será, a ponte de ligação entre as muitas vozes geradoras da(s) História(s), e as discussões transformadoras de uma sociedade democrática e evolutiva”, diz o post feito no dia 3 de janeiro. ‘Toda ferida profunda sangra’ O artigo de opinião verificado afirma que a cor da obra foi problematizado por “coletivos raciais”: o autor diz que, por ela ser rosa, não representaria a mulher preta, embora sejam majoritariamente negros os profissionais que executaram o projeto. Por e-mail, Juliana Notari falou sobre a cor da obra. “Diva é uma ferida. Como toda ferida profunda, sangra”, aponta Juliana. “A intervenção em um dos morros da usina foi pintada de vermelho. Um vermelho vivo que remete a uma ferida aberta, ao sangue, que é um dado importante no trabalho, e fez parte de minha trajetória em outras obras realizadas antes desta – na performance Dra. Diva (2003-2008), na vídeo performance Amuamas (2018), e em outros trabalhos anteriores”, completa. A Folha de S.Paulo publicou uma reportagem com um perfil da artista. Há mais duas polêmicas geradas em torno da obra e citadas no texto do Jornal da Cidade – um possível impacto ambiental gerado pela escavação da montanha e uma exclusão da comunidade trans de uma representatividade a partir da vagina. Juliana respondeu às duas, em entrevista ao jornal O Globo. Para ela, a questão da vagina não se trata de uma disputa. “Ela não anula o pênis ou as pessoas que não têm vulva”. Segundo ela, a vulva é apenas uma das várias potências do corpo humano e sua obra dialoga com as pessoas que vivenciam a força do órgão. Também ao Globo, a artista falou sobre as críticas de impacto ambiental. Ela explicou que o local escolhido para a obra é uma terra já seca e castigada pelo fogo, já que servia de monocultura para a cana. “Aquele lugar ali tinha apenas barro, com mato ainda crescendo”. Juliana acrescentou que a obra não acumula água, pois há um sistema interno de canalização, e que “a acusação de poluição chega a ser um pouco hipócrita”. A Usina de Arte também falou ao Comprova sobre a cor da pele dos trabalhadores envolvidos na execução de Diva. “Sobre os trabalhadores, eram brasileiros comuns, com suas variações de etnias conforme nossa tão conhecida miscigenação”, respondeu, através de mensagem direta no Instagram. Sebrae é parceiro da Usina de Arte, não patrocinador O Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) é parceiro da Usina de Arte desde 2017 – a logomarca do Serviço aparece no site da Usina -, mas não se configura como patrocinador do parque artístico. Por e-mail, o Sebrae-Pernambuco tratou como falsa a informação de que teria patrocinado a obra Diva. “Diante de notícia falsa veiculada na segunda-feira (4), o Sebrae esclarece que não concedeu qualquer apoio financeiro à obra de arte instalada em Pernambuco. De fato existe parceria com a Usina, mas de formação e apoio para empreendedores de comunidades vizinhas”, diz o e-mail. A Usina de Arte informou que a parceria firmada com o Sebrae desde 2017 é “exclusivamente voltada para ações educativas e de empreendedorismo” e que a informação de que haveria um financiamento público para a obra foi usada de forma “inconsequente e leviana”. Como funciona o Sistema S? Em seu próprio site oficial, o Sebrae se identifica como uma “entidade privada que promove a competitividade e o desenvolvimento sustentável dos empreendimentos de micro e pequenas empresas”. Assim como outras entidades do Sistema S, é financiado com contribuições compulsórias de empresas brasileiras. Elas pagam essa contribuição ao governo, que as repassa ao Sistema S. No entanto, esta não é a única forma de financiamento, uma vez que as entidades promovem cursos, alguns deles pagos, como mostrou esta reportagem do UOL. O Sebrae foi criado em 1964 por iniciativa do então Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico (BNDE) – atual BNDES. Como entidade, o Sebrae existe desde 1972 e faz parte do chamado Sistema S, um “termo que define o conjunto de organizações das entidades corporativas voltadas para o treinamento profissional, assistência social, consultoria, pesquisa e assistência técnica, que além de terem seu nome iniciado com a letra S, têm raízes comuns e características organizacionais similares”, conforme consta no Glossário Legislativo da Agência Senado. As nove instituições são prestadoras de serviços e são administradas de forma independente por federações e confederações empresariais dos principais setores da economia. Apesar de prestarem serviços de interesse público, essas entidades não são ligadas a nenhuma das esferas de governo, conforme este texto publicado pela Agência Brasil. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos duvidosos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. Apesar de o texto verificado ser um artigo de opinião, ele utiliza informações falsas para influenciar a opinião pública de forma negativa a respeito de uma obra de arte. O financiamento público para a arte é legal e pode ser obtido por meio de editais públicos com critérios diversos, mas não foi o caso da obra executada em Pernambuco. A informação de que há dinheiro público no trabalho, além de ser falsa, dá a entender que a obra, em função de seu conteúdo, não poderia receber financiamento. O texto no site do Jornal da Cidade Online, publicado em 4 de janeiro, tinha 3,8 mil interações, mas foi retirado do ar. Uma conta no Instagram utilizou as mesmas imagens e informações e tinha, até a tarde desta terça-feira (5), 585 curtidas. No ano passado, o Comprova verificou que publicações enganavam ao associar Bolsonaro à aprovação de verba para um filme sobre sua eleição. Em 2019, mostrou que um filme de Carlos Vereza não havia usado recursos da Lei Rouanet, mas também não se enquadrava nos critérios. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/greta-thunberg-nao-estuda-na-escola-mais-cara-do-mundo-nem-possui-um-veleiro-verificamos-esses-e-outros-boatos-sobre-ela/
COMPROVA
Greta Thunberg não estuda na escola mais cara do mundo nem possui um veleiro; verificamos esses e outros boatos sobre ela
null
2019-09-27
Publicações em redes sociais tentam desqualificar jovem ativista sueca ao apontar posses e relações pessoais que ela não tem. Apoiadores do governo Bolsonaro reproduziram falsidades contra Greta no momento em que o Brasil tem sido criticado por sua atuação no meio ambiente Após discursar, na segunda-feira (23), na Cúpula do Clima da Organização das Nações Unidas (ONU), a jovem sueca Greta Thunberg, de 16 anos, tem sido alvo de uma série de boatos e especulações em redes sociais. Os conteúdos, importados de outros países para o Brasil, atacam a credibilidade da ativista e de sua família. As publicações, sem lastro na realidade, afirmam que a família de Greta tem iate e motorista particular, que Greta estuda na escola mais cara do mundo, que o pai é um cientista social gay que abandonou as filhas e acusam a mãe de ser uma lésbica satanista, entre outras inverdades. Esta verificação do Comprova analisou conteúdos publicados nas páginas Comandante Viegas e Mulheres Unidas A Favor de Bolsonaro no Facebook e nos sites Estudos Nacionais e Pleno News. Falso para o Comprova é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Foto no trem é montagem Uma das montagens falsas viralizadas na internet – e que foi inclusive compartilhada pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL- SP) – mostra Greta fazendo uma refeição a bordo de um trem. Na janela, está um grupo de crianças negras sentadas em um tronco de árvore. A montagem, que ganhou variações após o tuíte do deputado, usa uma foto que Greta publicou em seu Twitter em 22 de janeiro de 2019, com a legenda “Lunch in Denmark” (almoço na Dinamarca, em português). Já a foto das crianças negras é de um slideshow inserido em uma reportagem publicada pela agência de notícias Reuters em 30 de agosto de 2007, sobre a comunidade de Korosigna, na República Centro-Africana. Na mesma postagem compartilhada por Eduardo Bolsonaro, além da montagem, o filho do presidente Jair Bolsonaro inclui a imagem de um texto que diz que Greta é “financiada pela Open Society de George Soros”. Em resposta a seguidores que apontaram que a imagem era falsa, Eduardo postou link para um texto sobre a suposta relação de Greta com Soros. O texto, no entanto, não traz nenhuma ligação direta de Greta com Soros ou com alguma entidade financiada pelo empresário. Para relacionar Greta a Soros, o texto menciona o fato de ela aparecer em eventos junto da ativista alemã Luisa Neubauer, e que, também segundo a publicação, seria “porta-voz de uma ONG fundada com o dinheiro da Open Society, do bilionário George Soros”. Luisa Neubauer é, de fato, jovem embaixadora da ong One, que tem entre seus financiadores a Open Society Foundations, fundada em 1993 por Soros. No entanto, o nome de Greta não está listado entre as pessoas, organizações e grupos que receberam bolsas da Open Society. Ela estuda na escola mais cara do mundo? Em outra publicação, o texto afirma ironicamente que Greta Thunberg teve a infância roubada, em referência ao discurso da sueca na ONU, mas que estuda na escola mais cara do mundo. Isso não é verdade: ela era aluna de uma instituição pública e hoje está sem estudar, após tirar um ano sabático para dedicar-se ao ativismo pelo meio ambiente. Até junho, Greta estava no nono ano da escola Kringlaskolan, em Estocolmo, conforme publicou em seu próprio Instagram, um dia após a formatura. Contatada pelo Comprova, a instituição confirmou que não há cobrança de mensalidade. A escola divulgou em setembro, em seu perfil no Facebook, uma entrevista de Greta à televisão americana na qual se refere à adolescente como ex-aluna. Além disso, a escola mais cara do mundo é a Le Rosey, na Suíça, com anuidade de £ 99,498 (R$ 509,78 mil), segundo levantamento do jornal britânico The Telegraph. Greta tem um veleiro de 2 milhões? A publicação afirma que a adolescente tem um veleiro de 2 milhões, sem especificar em qual moeda seria. Na verdade, Greta não tem um veleiro. A viagem que a ativista fez do Reino Unido a Nova York, onde mais tarde discursaria na ONU, foi de graça, oferecida pelo filho da princesa Caroline de Mônaco, Pierre Casiraghi, e pelo velejador profissional alemão Boris Herrmann, como afirmou o grupo Boris Herrmann Racing em comunicado e conforme noticiaram os jornais franceses Le Monde, Paris Match e Le Figaro. Greta, em seu Twitter, anunciou que havia ganhado uma carona para a viagem. A sueca não usa avião desde 2015 para evitar a forte emissão de gases poluentes. A imagem que circula nas redes sociais, mostrando Greta em um veleiro, foi publicada em 27 de agosto no Instagram da própria Greta, com a legenda: “Dia 14. 119 milhas de Manhattan. Vento bastante leve ao sul de Long Island”. Na embarcação, estavam também o pai de Greta, Svante, e o documentarista Nathan Grossman. Tem motorista particular para dirigir a Mercedes de seu pai? A mesma publicação afirma que o pai de Greta tem um motorista particular. No entanto, o Comprova não encontrou nenhuma imagem ou informação na imprensa internacional ou nas redes sociais de Greta (1 e 2), do Instagram da irmã, Beata, do pai e da mãe registrando que Svante Thunberg tenha uma Mercedes ou motorista particular. A única foto envolvendo carro foi postada em 2018 pelo pai de Greta, do banco de carona, em seu Twitter, mas não é possível identificar que veículo é. Há, nas redes sociais da família, duas menções a “motorista”, mas nenhuma delas se refere a Svante ter uma Mercedes e um motorista particular. A mais recente é de 2018, quando o apresentador de um debate promovido pela The United Planet Faith & Science Initiative (UPFSI) brinca, em 0:52, que o pai de Greta é “relações públicas, motorista, protetor” da filha. A menção mais antiga a um motorista é de 2015: durante uma viagem em turnê no Japão, a mãe de Greta, a cantora de ópera Malena Ernman, publicou uma foto que mostra um homem de traços asiáticos, vestido de terno, ao lado de um veículo preto. Na legenda, ela brinca com o fato de ter um motorista e evidencia que a família não tem um profissional para conduzi-los: “Meu motorista! É apenas no Japão, nos EUA e no @partajofficial que você vai de limusine a todos os lugares”. Partaj é um programa de comédia da televisão sueca, para o qual ela foi convidada no mês anterior e fez uma atuação. Gasta milhares de dólares em compras em shoppings? Para não agredir o ambiente, Greta já afirmou que não compra novos produtos, a não ser que seja absolutamente necessário. Uma análise nas redes sociais de Greta não indica nenhuma imagem com compras – há apenas fotos da natureza e de manifestações em favor da proteção do meio ambiente. A família de Greta Outra publicação que viralizou nas redes sociais foi sobre a origem da família de Greta. O texto dizia que o “pai, cientista social gay, foi morar com o namorado na Alemanha” e que a “mãe, lésbica satanista, dá aulas sobre aborto para adolescentes e fez campanha para Hillary [Clinton]” (candidata à Presidência dos EUA em 2016). Ainda, o texto concluía que Greta é “fruto do desajuste psicomoral (sic) causado por essa extrema esquerda vagabunda na família ocidental”. O Comprova investigou a origem da família da ativista. Seu pai, Svante Thunberg, é um ator de novelas e filmes nascido na cidade de Boo, na ilha de Värmdo, na Suécia, em 10 de junho de 1969. Ele é filho de Olof Thunberg, diretor e ator de cinema, e de Mona Andersson, também atriz. Toda a família de atores é conhecida na Suécia e, recentemente, Svante deixou a carreira para cuidar da carreira de ativista da filha Greta. Por influência da filha, o ator virou vegetariano e depois vegano (confira neste vídeo a partir de 06:08 na entrevista com Greta e seu pai, Svante). Svante é casado desde 2004 com a mãe de Greta, a cantora de ópera Malena Ernman, nascida como Sara Magdalena Ernman em 4 de novembro de 1970, em Uppsala, cerca de 70 km a norte de Estocolmo. Ela é filha de Lars Ernman e Eva Arvidsson. Malena ficou famosa na Europa pela participação no tradicional concurso de música Eurovision Song Contest, na edição de 2009, sediada em Moscou, na Rússia. A cantora de ópera terminou em 4º lugar na competição com a composição “La Voix”. Em 2016, largou sua carreira bem-sucedida e parou de andar de avião a pedido da filha Greta, pois o estilo de vida sustentável que eles pregavam não condizia com a quantidade de voos que Malena pegava para se apresentar ao redor do mundo. Malena também é membro da Academia Real de Música Sueca, como é possível verificar fazendo uma busca rápida por “Ernman, Malena” neste link. O casal ainda tem outra filha, Beata Ernman Thunberg, nascida em 2005, que também é cantora como a mãe. A família vive em Estocolmo, de acordo com um site sueco de registro de pessoas. O texto da publicação ainda dizia que a mãe de Greta havia feito campanha para a candidata à presidência dos Estados Unidos, Hillary Clinton, nas eleições de 2016. Malena compartilhou em sua página oficial no Facebook, em 8 de junho de 2016, um link com uma notícia sobre a candidata. O artigo, do site do jornal sueco Aftonbladet, falava sobre a vitória presumida da candidata nas primárias do partido Democrata nos estados da Califórnia, de Nova Jérsei e do Novo México. Com isso, ficava impossível para o outro candidato democrata, Bernie Sanders, ser escolhido pela sigla para concorrer à presidência. Neste dia, Hillary Clinton foi a primeira mulher na história dos Estados Unidos a ser escolhida como uma das principais candidatas à presidência do país. O artigo do jornal sueco falava sobre a comemoração de Hillary em relação a este ‘marco’ e a mãe de Greta, Malena, compartilhou o link do artigo. Não encontramos nenhum outro registro na internet que a mãe de Greta Thunberg tenha feito qualquer tipo de campanha política para a candidata Hillary Clinton. Contexto Uma onda de desinformação e ataques a Greta Thunberg ganhou corpo nas redes sociais a partir da segunda-feira, 23 de setembro, quando a ativista discursou na Cúpula do Clima, em Nova York, nos EUA. Organizado pelas Nações Unidas, o evento reúne todos os anos nações, especialistas e a sociedade civil para discutir planos e ações de combate à crise climática. A fala de Greta, que viralizou, acusa os líderes mundiais de terem traído a atual geração de crianças e adolescentes por não terem agido o suficiente diante do aquecimento global. “Vocês vêm até nós, os jovens, em busca de esperança. Como ousam?”, criticou. “Vocês roubaram meus sonhos e minha infância com suas palavras vazias. Mas eu tenho sorte. Há pessoas que estão sofrendo, estão morrendo, ecossistemas inteiros estão entrando em colapso.” Uma das principais vozes contra a crise climática, a ativista ganhou notoriedade em 2018, quando, aos 15 anos, decidiu boicotar a aula às sextas-feiras para protestar diante do Parlamento da Suécia. Sozinha, ela segurou um cartaz no qual pedia que os políticos agissem contra o aquecimento global. A ação, que se repetiu nas semanas seguintes, logo trouxe adeptos, tornando-se então um enorme movimento jovem internacional que ficou conhecido como #FridaysForFuture (sextas-feiras pelo futuro). “Não deveríamos estar falando sobre nenhum outro assunto [além da crise do clima]”, disse Greta em uma apresentação TED na Suécia em 2018. Ela defende que é preciso pensar um modelo econômico não poluente e livre da dependência de combustíveis fósseis. Antes de chegar à Cúpula do Clima, Greta esteve em diversas capitais europeias, discursando aos parlamentares, e foi recebida pelo Papa Francisco e pelo secretário-geral das Nações Unidas, o português António Guterres. A jovem ajudou a articular, entre março e setembro deste ano, duas greves mundiais de jovens pelo clima — a mais recente, na última sexta-feira (20), reuniu cerca de 4 milhões de pessoas em mais de cem países. Por seu trabalho de combate à crise climática, ela foi também indicada ao Nobel da Paz. Ativista enfrenta onda de ataques Os ataques à garota vieram de comentaristas, políticos e seus apoiadores em diversos países. As ofensas mais comuns desqualificam a sueca por sua idade, seu gênero, por supostamente ser rica e por e seu comportamento — Greta é diagnosticada com síndrome de Asperger, um tipo leve de autismo. Há também quem desqualifica suas ideias, considerando que não seriam dela. Ao menos 13 links de verificações sobre Greta apurados por agências de checagem no Brasil e em outros países foram localizados pelo Comprova até quinta-feira (26). Os boatos viralizaram entre milhares de pessoas em locais como Alemanha, EUA, Turquia e Índia. Uma reportagem do BuzzFeed News americano mostra que, além da sueca, outras ativistas adolescentes que se juntaram aos protestos pelo clima têm sido atacadas e assediadas nas redes sociais. Algumas delas recebem insultos pessoais constantemente e seus perfis tornam-se alvo de campanhas de destruição, que podem incluir o hackeamento de contas e a divulgação de dados pessoais. Alguns casos incluem ameaças de morte às crianças. Uma parte significativa dos ataques, boatos e ofensas a Greta e outras adolescentes vem de figuras públicas e militantes virtuais ligados ao negacionismo climático – nome que se dá à negação do aquecimento global, apesar das evidências científicas. Uma reportagem publicada no site DeSmog Blog e replicada pela revista Teen Vogue mostra que pessoas que impulsionaram ataques contra a ativista sueca estão ligadas a grupos radicais pró-mercado, uma rede que tem laços firmes com a indústria de combustíveis fósseis. Entre as figuras públicas que atacaram Greta estão políticos de extrema direita como o britânico Arron Banks, que insinuou que “acidentes de iate costumam acontecer em agosto” – mês em que a sueca viajou de barco da Europa aos EUA, o canadense Maxime Bernier, que afirmou que a ativista deveria ser “denunciada e atacada“, e o comentarista conservador indiano, com atuação nos EUA, Dinesh D’Souza, que comparou Greta a crianças que estampavam peças de propaganda na Alemanha nazista. Outro comentarista conservador, convidado para falar na Fox News, nos EUA, a chamou ainda de “doente mental”, em referência ao Asperger. Após o discurso de Greta na ONU, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, ironizou a ativista. “Ela parece uma jovem garota muito feliz, ansiosa por um futuro brilhante e maravilhoso. Que coisa boa de se ver!”, disse ele na terça, 24 de setembro, no Twitter. Na presidência dos EUA, Trump se mostra hostil à preservação do meio ambiente e a ações pelo clima. Greta trocou a descrição na bio do seu perfil no Twitter ironizando o comentário do presidente norte-americano. “Os haters estão mais ativos do que nunca, indo atrás de mim, da minha aparência, meu comportamento e minhas diferenças. Eles têm todas as mentiras e teorias da conspiração imagináveis”, disse Greta sobre os ataques. “Não entendo por que adultos escolhem passar o tempo zombando e ameaçando crianças por promoverem a ciência, quando poderiam fazer algo de bom. Acho que eles devem simplesmente se sentir tão ameaçados por nós.” Ataques a Greta no Brasil O deputado federal e filho do presidente Bolsonaro, Eduardo, tuitou na quarta-feira, 25 de setembro, a imagem falsa de Greta Thunberg no trem e um texto falso que afirma que a ativista é financiada por George Soros. Ele ironizou um trecho do discurso da sueca na Cúpula do Clima em que ela diz que “vocês roubaram minha infância”, referindo-se à crise climática. Ataques do presidente e de sua família a ativistas e ambientalistas não são inéditos. Ao menos desde a campanha eleitoral, em 2018, Jair Bolsonaro critica os “ecoxiitas”, apelido pejorativo para ambientalistas, e a atuação de ONGs na Amazônia. Ele se elegeu falando em priorizar o desenvolvimento econômico no lugar do meio ambiente, defendendo a expansão da agropecuária e a mineração em terras indígenas, por exemplo. Seus três filhos Eduardo, Carlos e Flávio, todos políticos em exercício, negam o aquecimento global. Ao se eleger ao Planalto, Bolsonaro reduziu as competências administrativas do ministério e cortou recursos para órgãos como o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e para áreas como o combate ao desmatamento e à mudança do clima. Ele também assinou um decreto que flexibilizou a cobrança de multas por crimes ambientais. Além disso, demitiu servidores da pasta e reduziu a participação civil em conselhos da área. A manifestação mais recente de Bolsonaro sobre o meio ambiente ocorreu na terça-feira (24), em discurso a outras nações na Assembleia Geral da ONU. Ele reivindicou a soberania brasileira sobre a Amazônia, difundindo mentiras sobre a floresta e as políticas ambientais no Brasil. “É uma falácia dizer que a Amazônia é patrimônio da humanidade”, defendeu. Ele também afirmou que o Brasil é um dos países que mais preservam o ambiente. Além disso, Bolsonaro atacou o cacique Raoni, liderança indígena que critica o governo. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. Os conteúdos sobre Greta Thunberg foram verificados porque o Brasil está, nas últimas semanas, no centro das discussões sobre meio ambiente, em função das queimadas e desmatamento na Floresta Amazônica, cujo combate depende de políticas públicas do Planalto. Muitos boatos sobre o tema foram checados nas últimas semanas pelo Comprova – veja outras checagens aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui Conteúdos sobre Greta também foram checados por Estadão Verifica, AFP, Aos Fatos, Uol, Folha, Agência Lupa (1, 2 e 3), Boatos.org, E-Farsas e Fato ou Fake. As publicações falsas sobre Greta Thunberg foram encontradas nas páginas Comandante Viegas e Mulheres Unidas A Favor de Bolsonaro. Até a sexta-feira, 27 de setembro, cada uma das postagens tinha mais de oitocentos compartilhamentos. Saiba mais Como jovens se mobilizam pelo clima no Brasil e no mundo (Nexo)
https://i1.wp.com/projet…=598%2C609&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/post-atribui-a-maia-declaracao-falsa-sobre-votacoes-no-congresso/
COMPROVA
Post atribui a Maia declaração falsa sobre votações no Congresso
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2019-09-25
Post que atribui a Maia a declaração "O Congresso não é obrigado a ouvir o povo" é falso. A fala foi distorcida e vem sendo usada pelo menos desde 2016 em ataques ao presidente da Câmara Uma imagem publicada no Facebook na madrugada de segunda-feira, 23 de setembro, distorceu uma fala do presidente da Câmara, deputado federal Rodrigo Maia (DEM-RJ), dita há quase três anos. O post atribui a Maia a seguinte declaração: “O Congresso não é obrigado a ouvir o povo. Isto aqui não é como um cartório onde a gente carimba o que o povo está pedindo”. No entanto, Maia não disse que a Câmara não é obrigada a ouvir o povo, mas que a Casa tem independência para debater. “Nós não podemos aceitar que a Câmara dos Deputados se transforme num cartório carimbador de opiniões de parte da sociedade, que são democráticas, que são respeitadas, mas que a Câmara de Deputados tem toda a legitimidade para ratificar, para modificar ou até para rejeitar”, ele disse. “Nós aqui não somos obrigados a aprovar tudo que chega a este Plenário.” A declaração correta está disponível no site da Câmara e em um vídeo do discurso publicado na página do próprio Rodrigo Maia no Facebook em 1º de dezembro de 2016 (a partir de 4min32s). A declaração falsa vem sendo usada pelo menos desde 2016 em ataques a Maia, com diferentes motivações e contextos. Esta verificação do Comprova analisou conteúdos publicados em um perfil pessoal e no grupo Equipe do Bolsonaro de Plantão, no Facebook, e no perfil Nando Moura_Oficial no Twitter. Falso para o Comprova é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos Para verificar esta publicação, o Comprova consultou os registros de discursos feitos em plenário disponíveis no site da Câmara dos Deputados, assim como o vídeo publicado na página de Maia no Facebook. O Comprova também recorreu a verificações feitas anteriormente por Estadão e O Globo sobre a mesma frase distorcida. Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais. O que disse Rodrigo Maia A fala original de Maia foi dita em 30 de novembro de 2016, depois que a Câmara votou o pacote de dez medidas contra a corrupção proposto pelo Ministério Público Federal (MPF). Na ocasião, em uma votação de madrugada, os deputados derrubaram quase todos os pontos do projeto. A menção mais antiga à frase distorcida que o Comprova conseguiu encontrar está em um texto do site Chumbo Gordo. Pelo site, não é possível saber a data exata em que o texto foi publicado. O link traz apenas a informação de que foi publicado “há 3 anos”. No entanto, o link do Chumbo Gordo com a frase errada de Maia também cita conteúdos publicados na imprensa nos dias seguintes à votação do pacote anticorrupção, como uma coluna de Vinicius Mota na Folha do dia 5 de dezembro de 2016 e uma notícia do UOL de 6 de dezembro de 2016. A menção a esses textos pode servir como referência do momento em que a declaração distorcida foi publicada — provavelmente no começo de dezembro de 2016. No Facebook, a página do Chumbo Gordo compartilhou o texto no dia 7 daquele mês. A postagem do Chumbo Gordo sugere que a frase de Maia de que “o Congresso não é obrigado a ouvir o povo” foi publicada na coluna de Vinicius Mota. A coluna de Mota, no entanto, não traz nenhuma referência à frase. Para verificar se em algum momento a Folha publicou sobre o assunto, o Comprova buscou pela frase creditada a Maia e por termos relacionados a ela na busca do Google (veja nos links 1, 2, 3 e 4) e entre as publicações de novembro a dezembro de 2016 no site do jornal. Não foi encontrado nenhum registro. De lá para cá, a distorção da fala de Maia foi usada para criticar o deputado em diversas ocasiões e por diferentes motivos. Em agosto de 2017, conforme noticiou O Globo, a frase voltou a circular nas redes logo antes de a Câmara votar — e rejeitar — uma denúncia criminal contra o então presidente Michel Temer (MDB). Já neste ano, em fevereiro, a reeleição de Maia para o comando da Câmara fez a frase enganosa voltar a circular, mostrou o Estadão Verifica. No fim de março, o presidente da Câmara anunciou que o pacote anticrime proposto pelo ministro da Justiça, Sergio Moro, não era prioridade na Casa — e a declaração distorcida foi vista novamente no Twitter e em grupos bolsonaristas no WhatsApp. Agora, a frase reapareceu depois que a Câmara aprovou, na última quarta-feira (18), projeto de lei que afrouxa regras para o uso de dinheiro público em despesas de partidos e candidatos. Para entrar em vigor, o texto ainda precisa ser sancionado por Bolsonaro — o que foi tema de verificação feita pelo Comprova. Uma busca no Twitter revela que uma das imagens usadas em posts com a hashtag #MaiaTraidordaPatria (que chegou ao topo dos assuntos mais comentados da rede depois da aprovação do projeto) é justamente a que traz a frase enganosa. A imagem foi publicada no Twitter, entre outros usuários, pelo youtuber Nando Moura, que apoia o governo Bolsonaro. Moura tem mais de 300 mil seguidores no Twitter. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. O post de Nando Moura no Twitter com a frase atribuída a Maia foi publicado no dia 19 e, até a tarde do dia 25, teve 3,5 mil retuítes. A mesma imagem com a frase também foi publicada no Facebook em um perfil pessoal na madrugada de segunda, 23 de setembro. Até o dia 25, o post teve 7,6 mil compartilhamentos.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-enganosa-publicacao-que-associa-foto-de-lixo-e-entulhos-a-baderna-feita-por-estudantes-na-ufsc/
COMPROVA
É enganosa publicação que associa foto de lixo e entulhos a baderna feita por estudantes na UFSC
null
2019-09-24
Entulhos foram acumulados em frente ao prédio após um mutirão de limpeza realizado por estudantes em greve na universidade É enganosa publicação nas redes sociais que associa fotografias de pichações e entulhos de lixo em frente a um prédio da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) a baderna na universidade pública. O lixo foi acumulado em frente ao prédio após um mutirão de limpeza feito por estudantes em greve na universidade. Alguns dias depois, o lixo foi retirado do local. As pichações também são verdadeiras, porém o Comprova não conseguiu identificar quando foram feitas. O registro mais antigo das pichações no prédio é de novembro de 2012, segundo um artigo no site oficial da Universidade. Conforme mostra reportagem do telejornal produzido por alunos de Jornalismo da UFSC, a limpeza foi realizada no dia 11 de setembro por estudantes que ocuparam o prédio e decidiram concentrar ali atividades da greve estudantil, iniciada no dia 10. A mobilização é contra os cortes orçamentários do governo federal nas universidades públicas. A informação de que os entulhos foram resultado do mutirão de limpeza feito após o início da greve foi repassada por três estudantes entrevistados pelo Comprova e confirmada pela UFSC no Twitter. O lixo foi retirado da entrada do prédio no dia 20, segundo estudantes ouvidos pelo Comprova, o que pode ser atestado em imagens enviadas por eles (veja a seguir). A pedido do Comprova, o estudante de Jornalismo da UFSC Gabriel Vieira foi ao prédio onde estavam os entulhos e fez um vídeo, às 7h53 do dia 20, do lado de fora do edifício, que mostra o lixo sendo removido por uma empresa de limpeza não identificada. Ele também fez uma fotografia do lugar no mesmo dia, mas no final da tarde, apontando que o prédio estava limpo de novo. A informação da data, associada ao local, está nos metadados dos arquivos checados pelo Comprova. A fotografia dos entulhos viralizou ao lado de outras imagens que mostram pichações nas paredes do centro de convivência, prédio da UFSC que abriga o Diretório Central dos Estudantes (DCE) e uma agência dos Correios, mas antes acomodava também uma livraria e outras áreas de lazer. Ao menos desde 2010, o centro está abandonado, segundo a UFSC, por falta de recursos para infraestrutura. O Comprova não encontrou o autor das imagens das pichações, mas fotos no Google Maps e no Instagram e outras imagens feitas no local para o Comprova confirmam que o prédio está depredado pelo menos há quatro anos. O Comprova verificou o conteúdo de um tuíte publicado pelo empresário Luciano Hang no Twitter e de um post da página República de Curitiba no Facebook. Procurada, a assessoria de imprensa do empresário afirmou por e-mail que as fotos foram recebidas de “um aluno que não quer se identificar para não sofrer represália”. Enganoso para o Comprova é o conteúdo que confunde ou que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos Para esta verificação, o Comprova entrou em contato com o estudante de História Marco Antonio Marcon Pinheiro Machado, representante do DCE da universidade, e os alunos de jornalismo Luiza Morfim e Gabriel Vieira, além das assessorias de imprensa da UFSC e de Luciano Hang. Também usamos a busca reversa de imagens do Google, que permite encontrar imagens semelhantes que já tenham sido publicadas na internet, e pesquisamos fotos do centro de convivência no Google Street View e na ferramenta de localização do Instagram, fazendo uma busca com os termos “centro de convivência UFSC” na rede social. Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais ou visualizar a documentação que reunimos. O que há no centro de convivência Construído em 1979, o centro de convivência é um dos prédios mais antigos da universidade, que foi fundada em 1960. De acordo com a UFSC, os espaços foram desativados aos poucos desde o início dos anos 2000: o restaurante, por exemplo, fechou em 2006 e a galeria de arte deixou de abrigar exposições em 2015. Hoje, apenas o DCE e os Correios funcionam no prédio. Uma publicação na conta oficial da instituição no Twitter foi feita no dia 19 de setembro, após a viralização das fotos da pichação. O texto informa que o acesso ao prédio foi bloqueado devido à necessidade de obras estruturais. “Como estamos enfrentando uma escassez de recursos, especialmente para obras, não foi possível reformá-lo. Uma parte do prédio, no térreo, é liberada para uso”, explicava o tuíte. “Como toda estrutura sem uso em qualquer cidade do Brasil, o prédio sofreu invasões e foi vandalizado ao longo dos anos, tendo suas paredes pichadas, janelas quebradas e estruturas de metal furtadas”. A página República de Curitiba diz que R$ 1,7 bilhão são pagos por ano “para sustentar esta corja”. O valor se aproxima, mas não corresponde ao último orçamento da UFSC. Em 2019, é de R$ 1,5 bilhão e o bloqueio foi de R$ 60 milhões. O orçamento deste ano está dividido em: R$ 1,3 bilhão para pessoal e encargos sociais, mais R$ 227 milhões para outras despesas correntes e R$ 25 milhões para investimentos. O orçamento executado em 2018 foi de R$ 1,67 bilhão e em 2017 foi de R$ 1,58 bilhão. Os números referentes a todos os anos desde 2008 estão no site da própria universidade. A administração da universidade confirma na postagem que o lixo visto na imagem era resultado do mutirão de limpeza feito pelos estudantes. Os alunos que estão em greve ocuparam o prédio “para concentrar as atividades da greve estudantil”. O centro de convivência passou por reformas pontuais. Como mostram textos publicados no site da UFSC, em 2012, foram investidos R$ 90 mil em uma revitalização do prédio para que a 11ª Semana de Pesquisa e Extensão (Sepex) pudesse ser realizada no espaço. Naquele momento, a maior parte do centro já havia sido desativada para uma reforma no telhado, iniciada em abril de 2010 e concluída em fevereiro de 2011, com um custo de R$ 374,6 mil. A ex-reitora Roselane Neckel negou, em 2014, que o prédio estivesse abandonado, mas reconheceu que faltavam projetos complementares para a reforma do prédio. Há cinco anos, ela previa lançar uma licitação para a obra, o que nunca foi feito. A mesma entrevista mostra que os problemas do lixo e das pichações são antigos. Segundo ela, em junho de 2012, quando assumiu a gestão da universidade, foram retiradas 12 caçambas de lixo. “Sobre a pichação é uma coisa complicada. Há um grupo de estudantes em trabalho de oficinas, que fazem grafitagem. Pediram para usar o espaço que estava aberto. Não foi invadido. Está ocupado por estas oficinas”, disse. Em 2016, a universidade fez uma investigação sobre “manifestações nazistas de cunho racista em pichações” encontradas em uma das salas do centro de convivência. Pichações são anteriores à greve e o lixo é proveniente de um mutirão de limpeza Pelo Google Maps, é possível ver o prédio por fora. Na foto tirada em janeiro de 2019, o prédio realmente está pichado e com papéis colados nas paredes. Parece abandonado. No registro mais antigo do local, datado em julho de 2017, as pichações já haviam sido feitas e os vidros já estavam quebrados. No entanto, por meio do aplicativo, não é possível ver os sacos de lixo e a sujeira acumulada em nenhuma das fotos. Pela posição da banca de jornais, é provável que a foto compartilhada por Luciano Hang tenha sido tirada do outro lado do prédio. No mapa da universidade, o centro de convivência é o que aparece com o número 10, onde ficam os Correios e o DCE. O Comprova também pesquisou no Instagram as fotos que haviam sido publicadas no centro de convivência. Uma foto de 2015 já mostrava a mesma pichação em uma das paredes do prédio retratada em uma das imagens da publicação da página República de Curitiba. Numa busca de imagem reversa no Google, enquanto procurávamos imagens semelhantes àquelas do tuíte de Hang, encontramos um artigo do jornal local ND Florianópolis de 2014, que já mostrava pichações no prédio do Centro de Convivência da universidade. A equipe do Comprova entrou em contato com a redação do site em busca de mais informações e eles nos passaram contatos de alunos do DCE. O aluno de História e membro do DCE Marco Antonio Marcon Pinheiro Machado confirma que as pichações nas paredes são mesmo antigas e podem ter sido feitas por qualquer um, já que o campus é aberto ao público. Marco ainda reitera que os estudantes realizaram o mutirão de limpeza iniciado no dia 11 de setembro e que o lixo mostrado nas fotos estava sendo removido do local no dia 19 de setembro. A equipe do Comprova entrou em contato com Luiza Morfim, estudante de Jornalismo da UFSC, que também confirma que o mutirão de limpeza ocorreu durante a greve na universidade e que o prédio está abandonado e com pichações há pelo menos cinco anos. Luiza passou o contato de Gabriel Vieira, aluno de Jornalismo, que fez um vídeo da limpeza na manhã do dia 20 de setembro e, no fim da tarde do mesmo dia, um colega dele fez uma imagem mostrando que todo o lixo havia sido removido pelos funcionários da limpeza. Qual o desempenho da UFSC Na sua publicação no Twitter, Luciano Hang afirma que “enquanto a maioria dos brasileiros paga seus estudos com dificuldade, quem tem a oportunidade de estudar em uma federal faz esta baderna”. Diferentemente do que o tuíte sugere, a UFSC é bem avaliada em diferentes rankings. No ranking mundial da revista britânica Times Higher Education, divulgado em setembro de 2019, a universidade é a quinta brasileira mais bem colocada. Além disso, a UFSC tem nota máxima (5) no Índice Geral de Cursos (IGC), medido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), órgão ligado ao Ministério da Educação (MEC). Neste link, é possível acessar o Conceito Enade (baseado no Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes) dos cursos da universidade, cujas notas também vão até 5. A instituição é a sexta colocada no Ranking Universitário da Folha, com nota final 92.3 (de 100). Nessa classificação, é a 7ª em ensino e internacionalização, 8ª em pesquisa, 13ª em inovação e 26ª em mercado. Contexto As imagens do centro de convivência da UFSC viralizaram após o início de uma greve organizada por estudantes que protestam contra bloqueios no orçamento da universidade determinados pelo MEC. Eles estão parados desde o dia 10 e devem ficar assim por tempo indeterminado, segundo postagem do DCE no Facebook. A UFSC está entre as universidades mais afetadas pelo contingenciamento de recursos das instituições federais de ensino superior anunciado em abril pelo MEC. Os bloqueios, que atingem as chamadas despesas não obrigatórias, dependem da arrecadação do governo, que afirma não ter recursos para bancar os gastos previstos no orçamento de 2019. A medida é temporária, segundo o Planalto, mas já afeta as atividades universitárias. Até setembro, houve corte de R$ 60,1 milhões (35%) dos recursos antes previstos para despesas não obrigatórias da UFSC. A medida atinge o custeio de água, energia, infraestrutura, contratação de serviços terceirizados, pesquisa e atividades de extensão, entre outros. Para o secretário de Planejamento e Orçamento da instituição, Vladimir Arthur Fey, se os valores não forem desbloqueados a UFSC não funcionará até o fim do ano. Além de reivindicar o fim dos bloqueios, a greve estudantil na UFSC protesta contra o Future-se, projeto apresentado em julho pelo governo federal para incentivar as universidades a captar recursos privados, diante da crise no orçamento das instituições. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. As imagens do centro de convivência da UFSC foram publicadas por Luciano Hang no Twitter no dia 16 de setembro e, até o dia 23, acumulavam 1,3 mil retuítes e mais de 5,8 mil curtidas. A página República de Curitiba, no Facebook, publicou as fotografias da universidade no dia 18 de setembro. Até o dia 23, eles tinham 1,1 mil compartilhamentos. Saiba mais O que é um corte orçamentário e quando ele é usado (Nexo) Qual o plano do MEC para as universidades federais captarem recursos privados (Nexo) Bloqueio de verba afeta serviços oferecidos na Universidade Federal de Santa Catarina (G1) UFSC tem site de checagem sobre notícias referentes à instituição (UFSC)
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-davi-alcolumbre-ameacou-paralisar-reforma-da-previdencia-se-houver-protesto-pela-cpi-da-lava-toga-no-dia-25/
COMPROVA
É falso que Davi Alcolumbre tenha ameaçado paralisar reforma da Previdência se houver protesto pela CPI da Lava Toga no dia 25
null
2019-09-24
Em evento, o presidente do Senado mencionou uma possível paralisação das reformas. Ele, porém, não o fez em tom de ameaça e nem se referia às manifestações do dia 25, mas a uma hipotética decisão da maioria dos brasileiros É falso que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), ameaçou paralisar a aprovação da reforma da Previdência se houver manifestação, no dia 25 de setembro, a favor da instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar integrantes do Supremo Tribunal Federal — batizada como CPI da Lava Toga. O texto viralizado utiliza um tuíte que atribui ao senador a fala: “se os brasileiros se manifestarem pela CPI da Lava Toga, a gente para as reformas”, que teria como fonte o Broadcast, serviço de notícias ao vivo do Grupo Estado. No entanto, nem o tuíte nem o material publicado pelo Broadcast fazem menção às manifestações que estão sendo chamadas para esta quarta-feira (25). Apesar de ter, de fato, abordado uma possível paralisação das reformas, o presidente do Senado não se referia às manifestações, mas a uma decisão da maioria dos brasileiros. O Comprova teve acesso ao áudio completo do evento “E agora, Brasil?”, realizado na quinta-feira, 19 de setembro, no qual Alcolumbre falou a jornalistas que seria preciso decidir o que é prioritário para o país: a reforma da Previdência ou a instauração da CPI. As declarações a seguir podem ser ouvidas aos 3:07 e 4:17 deste arquivo de áudio e se referem ao trecho do evento a que o Broadcast faz menção e que foi publicado no Twitter. “Se o Brasil escolher, se tiver uma enquete, e os 200 milhões de brasileiros pedirem a CPI da Lava Toga, que é uma injustiça pelo nome, a gente para as reformas.(…) Qual é prioridade dos brasileiros? Eu acho que é a reforma da Previdência. Ou 120 dias de uma CPI no Senado não vai paralisar o Senado?” O Comprova verificou o conteúdo de um texto do site Movimento Avança Brasil. Falso para o Comprova é um conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos O texto viralizado usa como fonte um tuíte do perfil do empresário Henrique Bredda, no qual consta: “Se os brasileiros se manifestarem por CPI da Lava Toga, a gente para as reformas – Broadcast 19/9”. Primeiramente o Comprova buscou pelo termo Alcolumbre no site do Broadcast e chegou a um texto do dia 19, referente a evento “E agora, Brasil?”, do qual Alcolumbre participou e que foi realizado pelo jornal Valor Econômico e pelo jornal O Globo, em Brasília. O texto, no entanto, não mencionava manifestações ou paralisação das reformas. A única referência ao tema era o seguinte trecho: “Alcolumbre reforçou ser contra a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar o STF, a chamada CPI da Lava-Toga”. O Comprova entrou então em contato com Daniel Weterman, jornalista do Broadcast responsável pelo texto, e com o autor do tuíte, Henrique Bredda. O último enviou uma foto da mensagem recebida pelo Broadcast Político, serviço de cobertura em tempo real disponível apenas para assinantes, na data referida. Já o jornalista confirmou o envio da mensagem, porém destacou que Alcolumbre não fez nenhuma menção às manifestações do dia 25 – o que o Comprova pôde verificar ao ouvir o áudio com a gravação do evento. Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais ou visualizar a documentação que reunimos. O que é a CPI da Lava Toga? Desde fevereiro deste ano, senadores buscam a instalação de uma CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) para investigar a atuação dos tribunais superiores, que ficou conhecida como CPI da Lava Toga. O primeiro requerimento de instalação foi feito em fevereiro pelo senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). O objetivo da CPI é responsabilizar juízes togados (juiz com formação jurídica obrigatória, ocupante do cargo em caráter vitalício), especialmente do Supremo Tribunal Federal (STF), suspeitos de crimes e irregularidades. Se comprovados esses desvios, os ministros podem ser afastados do cargo, uma vez que o Senado é o único órgão que pode pedir o impeachment de integrantes do Supremo. Como a CPI da Lava Toga envolve o Senado? Desde então, senadores tentam instalar a CPI, que depende do apoio de ao menos 27 parlamentares da Casa (de um total de 81), além do aval do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que não é favorável à ideia. Movimentos de apoio à Operação Lava Jato defendem a iniciativa, mas os filhos do presidente Jair Bolsonaro, em especial o senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), têm atuado para barrar seu avanço. Desde o início do ano, Alcolumbre tem segurado reiterados requerimentos para criação da comissão parlamentar de inquérito. No evento da última quinta, o presidente do Senado foi claro ao se posicionar, mais uma vez, contrariamente à criação da CPI da Lava Toga. Como a Folha noticiou, o presidente do Senado afirmou: “Continuo me manifestando contrário a ela [a CPI]. Precisamos ter consciência do momento que estamos vivendo. Eu sou contrário, acho que o Brasil não precisa disso. O Brasil espera muito mais que uma CPI para enfraquecer as instituições, porque, no final, isso é para enfraquecer todos nós”. Quais os últimos acontecimentos referente à CPI da Lava Toga? Na semana passada, Flávio Bolsonaro pediu para colegas não apoiarem a CPI. Ele foi o único dos quatro senadores do PSL que não assinou a petição pela abertura da comissão, o que gerou uma cisma dentro do partido. O deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) compartilhou em suas redes, no dia 15 deste mês, um vídeo da youtuber Paula Marisa contra a instalação da CPI. Segundo a senadora Juíza Selma (Podemos-MT), que deixou o PSL na semana passada, tanto Alcolumbre quanto Flávio Bolsonaro teriam pedido que ela retirasse sua assinatura do requerimento que solicita a criação da CPI. Nas redes sociais, está sendo convocada manifestação em favor à CPI, a ser realizada no dia 25 de setembro, em Brasília. Entre as pautas aparecem também o apoio à Lava Jato e o veto à lei de abuso de autoridade. Parlamentares dizem que a resistência da família Bolsonaro se deve a um acordo com o Supremo. Em julho, o ministro Dias Toffoli suspendeu todas as investigações criminais que usam dados do Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) e de outros órgãos de controle. O pedido havia sido feito pela defesa de Flávio no caso “Queiroz”, que apura irregularidades supostamente cometidas pelo filho de Jair Bolsonaro quando Flávio era deputado estadual no Rio de Janeiro, além de funcionários do seu gabinete na Alerj, sendo Fabrício Queiroz o mais célebre deles. Votação da Previdência Nesta terça, 24 de setembro, Alcolumbre decidiu adiar a votação do primeiro turno da reforma da Previdência para a próxima semana. No horário em que o tema seria votado, ele reuniu líderes partidários e foi ao STF (Supremo Tribunal Federal) conversar com o presidente do Judiciário, Dias Toffoli, para apresentar um recurso à decisão do ministro Luís Roberto Barroso que, na semana passada, determinou busca e apreensão em endereços do líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE). Com o novo adiamento, a PEC só deve ser apreciada na CCJ e, em primeiro turno, no plenário, na terça-feira (1º de outubro). O segundo turno, inicialmente programado para 10 de outubro, agora está previsto para um elástico prazo de “primeira quinzena de outubro”. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. Esta checagem verificou texto do site Movimento Avança Brasil, que teve até o dia 23 de setembro mais de 63 mil interações, sendo 12,5 mil compartilhamentos e 22,8 mil comentários.
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/mudancas-na-lei-eleitoral-nao-valerao-para-2020-se-bolsonaro-aguardar-ate-o-fim-do-prazo-para-vetos/
COMPROVA
Mudanças na lei eleitoral não valerão para 2020 se Bolsonaro aguardar até o fim do prazo para vetos
null
2019-09-19
É verdade que, se o presidente da República aguardar até o final do prazo para vetar o projeto que altera lei eleitoral, a eleição de 2020 será disputada com as regras atuais Um tuíte que viralizou nas redes sociais sugere ao presidente Jair Bolsonaro (PSL) engavetar o projeto de lei 5029/19 —aprovado nesta quarta-feira, 18 de setembro, pela Câmara dos Deputados— e, no último dia do prazo, vetá-lo totalmente. Dessa forma, segundo a postagem, “Rodrigo Maia não vai ter tempo de derrubar o seu veto e a lei não vai valer na próxima eleição”. É verdade que, se Bolsonaro esperar até o último dia do prazo para vetar a lei, as regras aprovadas não valerão para as eleições municipais de 2020. Isso ocorreria mesmo se o Congresso (formado por Câmara e Senado) decidisse derrubar o veto, porque, para valer nas eleições municipais do ano que vem, qualquer medida legislativa sobre as regras eleitorais tem de estar em vigor antes de 4 de outubro deste ano. No entanto, mesmo que Bolsonaro vetasse o projeto com tempo hábil para o Congresso decidir sobre a medida antes do dia 4, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, não poderia derrubar o veto sozinho, como indica o tweet verificado. Nem mesmo a própria Câmara poderia sozinha derrubar o veto. Apenas uma sessão conjunta da Câmara e do Senado pode apreciar e deliberar sobre o veto presidencial. O Comprova verificou o conteúdo de um tuíte publicado pelo perfil @VemPraRua_br. Evidência comprovada para o Comprova é quando a veracidade de um conteúdo é confirmada sem que reste margem de dúvida. Como verificamos Para verificar esta publicação, o Comprova conferiu a regras de tramitação legislativa na Constituição Federal e textos explicativos sobre o veto no site do Congresso. Além disso, verificamos o status do projeto de lei na ficha de tramitação e se ele constava na lista de matérias aguardando sanção presidencial. Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais ou visualizar a documentação que reunimos. Quanto tempo o presidente tem para vetar um projeto de lei? O prazo para o presidente sancionar ou vetar um projeto de lei é de 15 dias úteis, contando a data do recebimento do PL pela Presidência. Apesar de ter sido aprovado pela Câmara nesta quarta (18), o projeto precisa ser oficialmente enviado à Presidência para que o prazo de 15 dias comece a contar, o que ainda não aconteceu. Esse prazo está definido no primeiro parágrafo do artigo 66 da Constituição Federal. Se o projeto fosse recebido pelo presidente ainda nesta quinta (19), ele teria até o dia 9 de outubro para sancioná-lo, vetá-lo ou vetá-lo parcialmente. É verdade, portanto, que, caso o presidente espere até o último dia do prazo para veto, o Congresso não terá tempo de derrubá-lo e fazer com que a lei em questão esteja valendo nas eleições de 2020. Segundo a ficha de tramitação do PL, ele ainda está “Aguardando envio ao Poder Executivo”. Tampouco ele consta na página das matérias que estão aguardando sanção presidencial. Quem pode derrubar o veto do presidente? Se o presidente vetar parcialmente a lei, os trechos vetados voltam para análise do Congresso Nacional, que tem então até 30 dias corridos para analisá-los, em sessão conjunta da Câmara e do Senado. Já os trechos sancionados são publicados e viram lei. Caso os vetos sejam mantidos, a lei fica como saiu da Presidência. Caso sejam derrubados, os trechos antes vetados passam a integrar a lei. Para que o veto do presidente seja rejeitado, é necessária a maioria absoluta dos votos de deputados e senadores, ou seja, 257 votos de deputados e 41 votos de senadores, computados separadamente. Além disso, não caberia ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia, convocar uma sessão conjunta. Apenas o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), pode convocá-la. Segundo o regimento do Congresso, caso seja convocada uma sessão conjunta, ela deve ocorrer na terceira terça-feira do mês ou na terça-feira seguinte à convocação. Além disso, se os vetos presidenciais forem rejeitados pelo Congresso, o presidente ainda tem o prazo de até 48 horas para promulgar a lei. E, caso não promulgue nesse prazo, a promulgação pode ser feita pelo presidente do Senado. Contexto O tuíte acompanhado da hashtag “VetaBolsonaro” faz referência ao projeto de lei 5029/19, aprovado nesta quarta, 18 de setembro, pela Câmara dos Deputados, que afrouxa o controle sobre o uso das verbas públicas pelos partidos. Entre as medidas aprovadas pela Câmara estão a permissão da contratação de consultoria contábil e advocatícia para ações de interesse partidário relacionadas exclusivamente ao processo eleitoral, sem que isso conte para o limite de gastos das campanhas. Pessoas físicas também poderão bancar esses gastos em valores superiores às doações eleitorais que podem fazer hoje. Segundo especialistas, isso amplia as brechas ao caixa dois. Em carta aberta, mais de 20 entidades da sociedade civil pediram a Maia que barrasse os principais pontos do projeto. O texto afirma que a proposta representa “um dos maiores retrocessos dos últimos anos para transparência e integridade do sistema partidário brasileiro”. Essa pressão havia levado o Senado a rejeitar praticamente a integralidade do projeto, na terça-feira. No entanto, um dia depois, a Câmara reabilitou diversos pontos rejeitados pelo Senado, apesar de ter abandonado algumas das principais polêmicas que constavam da versão original do projeto. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. A postagem no perfil do Vem Pra Rua Brasil no Twitter teve, até o dia 19 de setembro, 2,2 mil curtidas e mais de 800 compartilhamentos. Leia mais Entenda o processo legislativo Câmara aprova ‘versão light’ de projeto que afrouxa lei eleitoral O que muda com a reforma eleitoral aprovada para 2020 Câmara recupera pontos polêmicos da Lei Eleitoral Senado avalia projeto que afrouxa regras para prestação de contas de campanha
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['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Evidência comprovada']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-paulo-guedes-tenha-publicado-tuite-criticando-o-congresso/
COMPROVA
É falso que Paulo Guedes tenha publicado tuíte criticando o Congresso
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2019-09-19
O ministro da Economia não tem perfil no Twitter. Uma conta atribuída a ele já foi objeto de diversas verificações nos últimos meses É falso que o ministro da Economia, Paulo Guedes, tenha escrito no Twitter que o Congresso Nacional está enviando o recado “deixe a gente roubar, ou você não governa” ao presidente Jair Bolsonaro (PSL). O ministro não possui conta oficial em nenhuma rede social. Não há, além disso, registro de que Guedes tenha dito esta frase em qualquer outra ocasião. Segundo checagem anterior do site Boatos.org, o tuíte viralizado foi publicado em junho por uma conta de simpatizantes do ministro da Economia, atualmente suspensa da rede social. Desde então, uma captura de tela do tuíte, no qual o nome do usuário está incompleto, passou a circular amplamente no Facebook. Outras imagens de tuítes da mesma conta falsa, @PauloGuedes1234, já haviam sido compartilhadas nas redes sociais e foram desmentidas por diversas agências de checagem. Essas publicações enganosas atribuíam ao ministro da Economia críticas ao jornalista Glenn Greenwald, ao vazamento de conversas da Lava Jato e ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia. O Comprova verificou o conteúdo publicado em uma conta pessoal no Facebook e compartilhado em um grupo chamado Legião Bolsonariana. Falso para o Comprova é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos O Comprova entrou em contato com o Ministério da Economia e pesquisou na imprensa registros de críticas de Paulo Guedes ao Congresso. Também analisamos a tramitação do Projeto de Lei 5029/2019, referente à reforma nas regras eleitorais. Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais ou visualizar a documentação que reunimos. Paulo Guedes não tem contas em redes sociais A mensagem viralizada não poderia ter sido publicada pelo ministro da Economia, uma vez que Paulo Guedes não possui conta em nenhuma rede social. A informação foi confirmada ao Comprova pelo Ministério da Economia. Em 13 de junho, a pasta já havia publicado no Twitter um alerta com os endereços corretos das contas oficiais do ministério. Além disso, personalidades públicas do governo têm contas verificadas no Twitter, sinalizadas com um selo azul ao lado do nome do perfil – símbolo que não aparece na captura de tela viralizada. Ao buscar a mensagem do suposto tuíte no Google, também não encontramos nenhum registro de que ela tenha sido dita por Paulo Guedes. A mensagem com críticas ao Congresso atribuída a Guedes foi desmentida em 27 de junho pelo site Boatos.Org. De acordo com a checagem, o tuíte foi publicado pela conta @PauloGuedes1234. Atualmente, o perfil está suspenso e não é possível acessar seu conteúdo. Ainda é possível ver, contudo, as respostas à publicação. O Comprova pesquisou no Wayback Machine e no Google Web Cache, sites que arquivam páginas da internet, mas não havia registros do tuíte deletado. Na imagem que viralizou no Facebook, o nome da conta está oculto. Ao menos três tuítes da conta @PauloGuedes1234 foram compartilhados como se fossem do ministro da Economia. No dia 14 de junho, a Lupa verificou que era falsa uma publicação com críticas a Glenn Greenwald, com uma foto do jornalista com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O Fato ou Fake checou o mesmo conteúdo três dias depois. Em 25 de junho, a Lupa voltou a desmentir uma mensagem da conta, dessa vez criticando o “governo paralelo” do presidente da Câmara, Rodrigo Maia. A checagem informa que a conta @PauloGuedes1234 estava ativa desde maio. A Agência Lupa verificou um terceiro tuíte atribuído a Guedes em 12 de julho, esse sobre o vazamento de conversas de integrantes da força-tarefa da Operação Lava Jato do Paraná. Quando o Estadão Verifica checou o mesmo conteúdo, no dia 29 do mesmo mês, o perfil falso do ministro havia sido suspenso. Contexto A captura de tela do suposto tuíte de Guedes voltou a viralizar em 17 de setembro, em meio à votação de um contestado Projeto de Lei que altera diversas regras eleitorais. Entre análises na Câmara e no Senado, o PL 5029/19 (antigo PL 11021/18) passou por múltiplas mudanças e foi duramente criticado por parte da população. No último dia 4 de setembro, a proposta foi aprovada na Câmara dos Deputados e posteriormente encaminhada ao Senado Federal. Entre os principais pontos, o projeto previa que o Fundo Partidário poderia ser utilizado para contratar serviços advocatícios para qualquer processo judicial ou administrativo que envolvesse candidatos do partido, eleitos ou não. A proposta estabelecia que essas ações deveriam estar relacionadas ao processo eleitoral, ao exercício de mandato eletivo ou que pudessem acarretar no reconhecimento de inelegibilidade. Esse item fez com que críticos do projeto o apelidassem de “Lei Lula Livre”, em uma referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que é réu em seis processos, além das duas ações nas quais já foi condenado. Em 12 de setembro, organizações da sociedade civil também assinaram uma carta aberta expressando “preocupação extrema” com o PL. Cinco dias depois, o Senado aprovou um substitutivo ao texto original, rejeitando quase todos os itens validados pela Câmara. No entanto, de volta à análise dos deputados, o texto foi em parte restaurado. A versão mais recente permite, entre outros pontos, que o Fundo Partidário seja utilizado para contratar assistência jurídica para qualquer processo judicial que envolva candidatos do partido, eleitos ou não, mas relacionados exclusivamente ao processo eleitoral. Agora, o PL foi encaminhado ao presidente Jair Bolsonaro e depende de sanção para entrar em vigor. Nesta quinta-feira (19), a hashtag #VETABOLSONARO figurou em primeiro lugar nas tendências do Twitter para o Brasil. Críticas de Guedes ao Congresso Apesar de não ter publicado o tuíte viralizado, Guedes já criticou o Congresso em outras ocasiões, como durante a tramitação da reforma da Previdência. Depois da divulgação do relatório aprovado na Comissão Especial da Câmara, que previa uma economia menor do que a proposta inicialmente, Guedes afirmou que os parlamentares mostraram “que não há um compromisso com as novas gerações”. “O compromisso com os servidores públicos do Legislativo parece maior do que com as futuras gerações”, afirmou ele na época. Horas depois, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, reagiu chamando o governo de “usina de crises”. “Vamos aprovar a reforma da Previdência. Nós blindamos a reforma das crises que são geradas todos os dias pelo governo. Cada dia um ministério gerando uma crise”, disse ele na ocasião. Também no contexto de articulação para a reforma da Previdência, Guedes foi acusado de criticar o parlamento uma segunda vez. No final de junho, deputados ameaçaram esvaziar uma sessão da Comissão Especial da Câmara em reação a uma suposta fala de Guedes — ele teria se referido ao Congresso como uma “máquina de corrupção”. Na época, o ministro negou que tivesse usado a expressão naquele contexto. Com a aprovação da reforma, os ânimos entre Guedes e o Congresso esfriaram. Em agosto, o ministro da Economia parabenizou os deputados após a votação da proposta de emenda à Constituição. “Vim aqui cumprimentar o excelente trabalho da Câmara, o excelente trabalho de coordenação pelo presidente Rodrigo Maia. Estou muito feliz com o apoio da Câmara dos Deputados”, disse Guedes em discurso no plenário da Câmara. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. O tuíte falso foi compartilhado por uma conta pessoal no Facebook no dia 17 de setembro e obteve 22 mil compartilhamentos. A mesma publicação foi reproduzida no dia 19 de setembro no grupo “Legião Bolsonariana — A favor do Super Ministro Moro”, com 323 compartilhamentos. No Twitter, a imagem teve 73 retweets.
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-avioes-israelenses-tenham-sido-enviados-para-apagar-incendio-na-amazonia-brasileira/
COMPROVA
É falso que aviões israelenses tenham sido enviados para apagar incêndio na Amazônia brasileira
null
2019-09-17
Vídeo mostra, na verdade, um avião norte-americano apagando incêndios na Bolívia É falso o texto que acompanhava um vídeo publicado no Facebook e que supostamente mostrava um avião israelense apagando incêndio na Amazônia brasileira, em meio à onda recente de queimadas descontroladas na região. O vídeo, na realidade, foi gravado na Bolívia no dia 5 de setembro e mostra o avião Boeing 747 da empresa norte-americana Global SuperTanker. A postagem afirmava: “Brasil e Israel unidos como nunca antes”. No entanto, Israel não enviou aeronaves ao país para combater incêndios. Segundo o Ministério da Defesa, a ajuda israelense ocorreu pelo envio de bombeiros munidos de equipamentos antichamas. O Chile emprestou ao Brasil aeronaves para cessar o fogo — mas o modelo das aeronaves chilenas, o Air Tractor 802, tampouco coincide com o visto no vídeo. O vídeo que viralizou foi feito em Concepción, na Bolívia, no dia 5 de setembro, às 11h09 no horário local. Ele foi gravado pela moradora da cidade María René Céspedes Bazán, com quem o Comprova entrou em contato. Ela estava ajudando a apagar os incêndios em uma propriedade da região, com seu marido e outros voluntários, quando o avião sobrevoou o local. Os dados do vídeo de Bazán são compatíveis com as informações dos voos realizados pela empresa norte-americana contratada pelo governo da Bolívia para combater os incêndios na Amazônia boliviana. Esta checagem verificou uma publicação da página República de Curitiba, no Facebook, cuja legenda já foi alterada. O Comprova manteve a verificação porque várias páginas, como a do Canal Net TV no YouTube a compartilharam sem a correção. Até o dia 12 de setembro, a postagem original tinha mais de 500 mil visualizações e 21 mil compartilhamentos. A versão antiga, com a informação falsa, foi salva pelo Comprova com auxílio do site Wayback Machine. Falso para o Comprova é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos Com o uso do Invid, uma ferramenta que busca (por meio de imagens congeladas) postagens que compartilham determinada gravação, o Comprova localizou o mesmo vídeo viralizado em um site holandês. A postagem era do dia 6 de setembro. Apesar de não parecer ser o registro original, um dos comentários dizia se tratar de um “747 Supertanker”. O Comprova buscou então no Twitter pelos termos “747 Supertanker” e chegou a um tuíte de 6 de setembro com o mesmo vídeo viralizado, com legenda que afirmava se tratar de um 747 Supertanker apagando incêndios na Amazônia boliviana. Como o usuário do perfil informava ser da Venezuela e não possuía outras postagens sobre o tema nem dava fonte do vídeo, não havia evidências de que essa seria a fonte original. No entanto, notícias da CNN e do G1 informavam sobre o uso do Supertanker no combate ao fogo na Bolívia. O presidente da empresa norte-americana Global SuperTanker, Dan Reese, assistiu ao vídeo viralizado, enviado a ele pelo Comprova, e afirmou que a gravação de fato parecia mostrar um de seus aviões do modelos 747. Usando a nova pista, a busca “Supertanker Bolivia” nas diferentes redes sociais levou a diversas postagens. No entanto, cada uma delas creditava o vídeo a locais diferentes no país, ainda que próximos uns dos outros. O registro do vídeo mais antigo que foi localizado é do dia 5 de setembro e foi publicado pela página “boliviaalalucha” no Instagram. A postagem foi enviada ao Comprova por jornalistas locais. Ao entrar em contato com o administrador da página mencionada, o Comprova conversou com duas pessoas até chegar a María René Céspedes Bazán. Ela falou com o Comprova por vídeo e mostrou a gravação original no celular de seu marido, com o qual afirmou ter filmado a cena do avião, que viralizou como sendo no Brasil. É ela quem grita ao fim do vídeo. Bazán também enviou uma gravação ao Comprova mostrando os detalhes da imagem, onde era possível ver a data da gravação e localização na qual foi feita. O vídeo é do dia 5 de setembro, às 11h09, e foi gravado em Concépcion, na Bolívia, onde ela mora. Colaboraram com esta verificação os jornalistas Cecilio Moreno, da revista Vistazo, do Equador, e Fabiola Chambi, de Los Tiempos de Cochabamba, na Bolívia. Dados sobre voos na região são compatíveis Os dados do vídeo de Bazán, tanto horário quanto localização, coincidem com os dados sobre os voos da empresa Global Supertanker na região naquela data. O Comprova localizou no FlightAware (site de rastreio de voos), que, no dia 5 de setembro, o Boeing 747 da empresa Global SuperTanker decolou do Aeroporto Internacional Viru Viru às 10h40 e retornou ao mesmo aeroporto às 11h37. A foto de Bazán consta como tendo sido tirada às 11h09. Além disso, ao comparar o trajeto do voo no site e distância entre o aeroporto e a localidade de Concepción, as informações de Bazán também se mostram compatíveis. A distância apontada no percurso é de cerca de 190 km e a distância real percorrida pelo avião, contando ida e volta, foi de 394 km. Antes de localizar Bazán, o Comprova entrou em contato com diversas páginas e veículos que compartilharam a foto no dia 6 de setembro, mas nenhum deles sabia dizer a autoria do filme. Apenas uma das postagens mencionava um empresário como autor. No entanto, como os arquivos enviados por ele ao Comprova não tinham metadados (dados como data, horário e local onde foram captadas as imagens e permitem confirmar a origem do vídeo) e ele não enviou nada que comprovasse a autoria, a busca prosseguiu. Contexto A viralização do vídeo do avião que sobrevoou a Bolívia acontece em meio a uma crise de queimadas e incêndios florestais que dura desde o início de agosto na Amazônia. Mais de 75 mil focos de incêndios foram registrados pelo Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) de janeiro a agosto de 2019, o maior número em cinco anos. Mais da metade foram encontrados na Amazônia. Uma parte do fogo atingiu também a Amazônia boliviana. Tanto Brasil como Bolívia tentam dar resposta aos incêndios, mas a situação perdura até este mês. A origem dos focos está na ação humana, como de grileiros que buscam ocupar terras onde há florestas, segundo reportagens da imprensa local e nacional. A Polícia Federal e as polícias nos estados amazônicos abriram inquéritos para verificar os casos. O Comprova tem verificado boatos sobre as queimadas desde o início da crise. Em agosto, um vídeo em que uma mulher indígena chorava por causa de um incêndio viralizou como se tivesse ocorrido na Amazônia, mas era de Minas Gerais. Outra postagem também associava erroneamente a prisão de um homem no Amazonas às queimadas recentes e ao MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra). O Comprova verificou ainda que a liberação de R$ 2 bi para a educação e a preservação da Amazônia não são oriundos do orçamento disponível para o governo Bolsonaro, como insinuava uma publicação. A associação de Israel a ações consideradas positivas para o país não é nova e apareceu em outros boatos produzidos por pessoas e páginas pró-governo. Israel é um dos aliados prioritários na política externa de Jair Bolsonaro (PSL). Meses atrás, o governo considerou transferir a embaixada do Brasil de Tel Aviv para Jerusalém, por exemplo, e anunciou que considerava fechar a embaixada da Palestina em Brasília. Nenhuma medida foi tomada. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. A postagem na página da República de Curitiba no Facebook verificada teve, até o dia 17 de setembro, 96 mil curtidas, 50 mil compartilhamentos e 4,6 mil comentários. Não foi possível identificar em que data a legenda do vídeo foi alterada, no entanto, até o dia 12 de setembro, ela ainda apresentava o conteúdo falso e tinha mais de 500 mil visualizações. A postagem original foi também alvo de verificação pelos sites Boatos.org, Aos Fatos, Agência Lupa e Fato ou Fake.
https://i1.wp.com/projet…=601%2C456&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/postagem-exagera-ao-creditar-apenas-a-bolsonaro-liberacao-de-26-bi-para-educacao-e-amazonia/
COMPROVA
Postagem exagera ao creditar apenas a Bolsonaro liberação de 2,6 bi para educação e Amazônia
null
2019-09-13
Os valores que devem ir para ações de educação e preservação da Amazônia não são oriundos do orçamento disponível para o governo Bolsonaro, mas de multas coletadas pela Operação Lava Jato. O governo participou da decisão, no entanto, junto a outros órgãos. O STF ainda precisa dar seu aval ao uso dos recursos Publicação que viralizou no Facebook afirma de forma enganosa que o governo Bolsonaro liberou R$ 1,6 bilhão para a educação e R$ 1 bilhão para a Amazônia. A postagem omite, no entanto, que o dinheiro não é do governo e que a liberação da verba para essas áreas não depende exclusivamente do presidente Jair Bolsonaro. Sem o aval da Procuradoria-Geral da República (PGR), dos presidentes da Câmara e do Senado e a homologação do Supremo Tribunal Federal (STF), a transferência de verbas para esses fins não ocorrerá. Atualmente, falta apenas o aval do STF para que a distribuição do dinheiro possa ser realizada. A verba é proveniente de um acordo firmado entre a Petrobras e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos após as autoridades americanas apontarem violações da estatal no âmbito da Lava Jato e exigirem multa para ressarcir investidores estrangeiros que sofreram prejuízo. Esse acordo levou a um compromisso entre o Ministério Público Federal (MPF) e a Petrobras, que chegou a ser homologado pela 13ª Vara Federal em Curitiba. O termo assinado pela força-tarefa da Operação Lava Jato previa a criação de uma fundação privada para administrar os recursos. Contrária a essa forma de utilização do dinheiro, a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, acionou o STF. Em março de 2019, o ministro Alexandre de Moraes determinou a suspensão do primeiro acordo – entre a Petrobras e os procuradores do Paraná – e, no dia 5 de setembro, foi firmado um novo pacto entre diversos órgãos. O documento ainda não foi homologado por Moraes. Conteúdo enganoso, para o Comprova, é aquele conteúdo que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde ou que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Esta verificação do Comprova checou informações de uma publicação da página de Facebook Presidente Jair Bolsonaro #2022. A postagem foi feita na quinta-feira, 12 de setembro. Como verificamos Para esta verificação, o Comprova entrou em contato com o Ministério Público Federal (MPF), o Palácio do Planalto e o Supremo Tribunal Federal (STF). Também analisou os documentos dos acordos que levaram ao depósito do dinheiro na conta judicial e à destinação dos recursos para a Amazônia e a educação, além da movimentação processual envolvendo o fundo da Lava Jato. Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais ou visualizar a documentação que reunimos. O que é o Fundo da Lava Jato? É uma poupança de R$ 2,6 bilhões formada por multas pagas pela Petrobras após as investigações de corrupção na petrolífera. A força-tarefa da Lava Jato tentou usar o dinheiro para criar uma fundação privada idealizada pelos procuradores – a ideia foi criticada porque, por lei, o dinheiro de multas por corrupção deve ir para a conta da União, e não para uma entidade privada. Além disso, críticos afirmavam que o valor, caso fosse para uma fundação privada, não poderia ser fiscalizado por órgãos públicos, como o Tribunal de Contas da União (TCU). O dinheiro irá mesmo para o meio ambiente e a educação? Se o acordo for homologado pelo ministro Alexandre de Moraes da forma como está, sim. Ao todo, serão R$ 1,6 bilhão para programas da área de educação e outros R$ 1,060 bilhão para programas de preservação da Amazônia. A fiscalização deverá ser feita pela Controladoria-Geral da União (CGU) e pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Onde o dinheiro será aplicado? Segundo o acordo encaminhado para homologação, a divisão será a seguinte: EDUCAÇÃO: R$ 1,6 bilhão R$ 1 bilhão: Ministério da Educação para ações relacionadas à educação infantil. R$ 250 mil: Ministério da Cidadania, para ações relacionadas ao Programa Criança Feliz. R$ 250 mil: Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, para projetos ligados a empreendedorismo, inovação, popularização da ciência, educação em ciência tecnologias aplicadas. O valor poderá ir para o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico Tecnológico (CNPq). R$ 100 mil: ações socioeducativas em cooperação com os estados, preferencialmente por intermédio do Ministério da Mulher, da Família dos Direitos Humanos. AMAZÔNIA LEGAL: R$ 1,06 bilhão R$ 630 mil: governo federal. O valor deve ir para operações de Garantia da Lei da Ordem (GLO), ações do Ministério do Meio Ambiente, do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), de Regularização Fundiária e de Assistência Técnica Extensão Rural. R$ 430 mil: ações entre governo federal e estados da região amazônica. Bolsonaro decidiu que o dinheiro deve ir para essas áreas? O presidente foi ouvido para a decisão, mas a iniciativa não é exclusiva dele. Um pedido para que parte do valor bilionário fosse para a Amazônia foi apresentado pela Câmara dos Deputados no dia 23 de agosto, devido às queimadas na região. Em manifestação ao STF três dias depois, Raquel Dodge defendeu que a sugestão fosse acatada. O presidente Jair Bolsonaro concordou com a transferência do dinheiro para a Amazônia e a educação em reuniões com Dodge, segundo ela, em documentos de dois processos relacionados ao Fundo da Lava Jato. A agenda pública de Bolsonaro mostra dois encontros com a procuradora-geral da República, em 7 de maio e 22 de agosto. Questionado pelo Comprova sobre o assunto das reuniões, o Planalto não respondeu. Por fim, a concordância foi manifestada por meio do advogado-geral da União, André Mendonça – responsável por defender os interesses do governo federal. Ele assinou o acordo que definiu onde o dinheiro seria utilizado. O acordo do dia 5 de setembro não determina de que forma será feita a transferência do dinheiro para a União nem menciona prazos. Segundo o STF, essas informações dependem da homologação por Alexandre de Moraes. Ao ministro, no dia 10 de setembro, Mendonça defendeu que o destino dos recursos seja a conta única do Tesouro Nacional. Quem criou este fundo? O fundo foi criado a partir de um acordo entre a Petrobras e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos (equivalente ao Ministério da Justiça). O governo norte-americano processou a Petrobras porque a estatal perdeu valor de mercado e trouxe prejuízo a investidores estrangeiros devido aos sucessivos escândalos descobertos pela Operação Lava Jato. Segundo o Departamento de Justiça, a Petrobras violou a Foreign Corrupt Practices Act (FCPA, na sigla em inglês, traduzido como “Lei de Práticas Corruptas Estrangeiras”). No acordo, a Petrobras se comprometeu a pagar uma multa, demitir de seu quadro de funcionários investigados pela Lava Jato até a data do acordo e manter padrões de compliance reconhecidos pelas autoridades americanas. Em troca, o Departamento de Justiça se comprometeu a não processar a petrolífera criminalmente ou na área cível. As multas pela violação da FCPA ficaram estimadas em cerca de US$ 853 milhões, dos quais 10% (US$ 85,3 milhões) iriam para o Tesouro dos Estados Unidos, outros 10% (US$ 85,3 milhões) para a Comissão de Valores Mobiliários norte-americana (SEC, na sigla em inglês), e o restante, estimado em US$ 682 milhões, seriam destinados ao Brasil. Este último equivale a R$ 2,6 bilhões e representa o dinheiro do Fundo da Lava Jato, citado na publicação analisada pelo Comprova. A verba foi depositada em janeiro em conta vinculada à 13ª Vara Federal de Curitiba. O Ministério Público Federal (MPF) sugeriu criar uma fundação privada para aplicar os recursos em projetos de saúde, educação e meio ambiente, mas a iniciativa foi criticada por não permitir a fiscalização de órgãos públicos. O dinheiro, então, foi bloqueado pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes, que proibiu qualquer movimentação de valores sem autorização da Corte. A criação da fundação estava prevista no acordo homologado na 13ª Vara Federal de Curitiba e, segundo a força-tarefa da Lava Jato, foi a alternativa encontrada porque os procuradores não concordaram em destinar os recursos para o fundo federal de direitos difusos (dinheiro na conta do Ministério da Justiça que financia projetos sociais), para a União ou para outras entidades. No dia 12 de março, foi anunciado que a instituição da organização seria suspensa, após a ação de Raquel Dodge no STF. Ao STF, a procuradora-geral da República afirmou que a criação de uma fundação do Ministério Público com dinheiro da multa da Petrobras era ilegal e contrariava o princípio da impessoalidade por parte dos promotores. Aqui a íntegra da ação. No dia 1º de abril, o procurador Deltan Dallagnol afirmou que a fundação seria da sociedade civil. “Teria uma cadeira do MP lá. O modelo foi o fundo federal dos direitos difusos, que tem uma cadeira do MP, e o objetivo dessa cadeira era permitir uma fiscalização maior e esperar que a estrutura de gestão desse fundo. Agora, seria uma cadeira de 10, 20 pessoas que teriam no conselho curador. Essa fundação não é do MP, não é da Lava Jato, não seria administrada pela Lava Jato, os recursos não iriam para o MP ao contrário do que originalmente se colocou”. A íntegra do acordo entre a Petrobras e o Departamento de Justiça dos Estados Unidos pode ser consultado aqui. A proposta de uso do fundo para posterior fundação da Lava Jato está aqui. A imprensa cobriu o uso do dinheiro para a Amazônia e a educação? Notícias divulgadas por diversos veículos de imprensa – como o portal jurídico ConJur, a Folha de S.Paulo, revista Veja e o jornal O Globo – já mencionavam um acordo para destinação de verbas da Lava Jato para educação e meio ambiente. São mencionados dois processos no STF: ADPF 568 e a Rcl 33667. Ambos tratam da criação do fundo bilionário da Lava Jato, criado pelos procuradores de Curitiba, para a instituição de uma fundação privada de promoção ao combate à corrupção. Em ambos os processos, a Procuradora-Geral da República, Raquel Dodge, se manifestou pela transferência dos valores para programas ligados à educação e ao meio ambiente. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. A publicação original na página Presidente Jair Bolsonaro #2022 tinha, no dia 13 de setembro, 390 reações e mais de 660 compartilhamentos.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-video-mostra-apreensao-de-diamante-gigante-retirado-da-amazonia-por-ong-estrangeira/
COMPROVA
É falso que vídeo mostra apreensão de diamante gigante retirado da Amazônia por ONG estrangeira
null
2019-09-13
Mineral que aparece em vídeo compartilhado em redes sociais é um tipo de cristal encontrado na Bahia em 2018, e não um diamante contrabandeado da região amazônica São falsas as afirmações associadas a um vídeo publicado nas redes sociais que uma pedra preciosa de mais de duas toneladas teria sido apreendida pelo Exército brasileiro ou pela Polícia Federal (PF) em uma organização não governamental (ONG) estrangeira. A gravação mostra, na verdade, um cristal rutilado encontrado por garimpeiros em 2018 no município baiano de Novo Horizonte. Procurados, o Centro de Comunicação Social do Exército e a assessoria de imprensa da Polícia Federal confirmaram não ter qualquer relação com o vídeo viralizado. Algumas das postagens identificam o mineral incorretamente como um diamante ou como uma esmeralda, enquanto outras dizem que a pedra foi encontrada na Amazônia e que estaria sendo levada para fora do Brasil. Há ainda versões que alegam que a França seria o destino do cristal. A informação de que se trata de um cristal foi passada ao Comprova pela Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM), vinculada ao Estado da Bahia, e confirmada com o geólogo Osmar Martins dos Santos, responsável técnico pela cooperativa de garimpeiros da cidade. Martins dos Santos disse ter analisado o cristal em questão, que foi avaliado em cerca de R$ 1 milhão. De acordo com o geólogo, a pedra pesava em torno de 400 quilos. A identificação do mineral, assim como a localidade onde foi encontrada, foram corroboradas pelos depoimentos de especialistas em Mineralogia consultados pelo Comprova. Esta verificação investigou publicações compartilhadas por múltiplos perfis pessoais no Facebook e no Twitter e no canal BomNotíciasTV, no YouTube, desde 8 de setembro. Falso para o Comprova é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos Para esta checagem, o Comprova entrevistou os professores especializados em Mineralogia Ciro Ávila, do Museu Nacional; Frederico Vilalva, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN); e Heinrich Theodor Frank, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Também conversamos com o geólogo Osmar Martins dos Santos, responsável técnico pela cooperativa de garimpeiros do município de Novo Horizonte e com a assessoria de imprensa da Companhia Baiana de Pesquisa Mineral (CBPM). Ainda foram consultados os setores de comunicação do Exército e da PF. Cristal de Novo Horizonte Por meio do mecanismo de busca reversa de imagens do Google, que permite pesquisar registros anteriores de uma mesma imagem, o Comprova encontrou capturas de tela do vídeo viralizado em uma reportagem de 30 de agosto de 2019. O artigo relata que a gravação já havia circulado com alegação de que mostrava uma pedra encontrada na cidade de Nordestina, na Bahia. Para apurar esta informação, o Comprova procurou a Companhia Baiana de Pesquisa Mineral. A empresa esclareceu que a pedra que aparece no vídeo não é um diamante ou uma esmeralda, mas sim um cristal rutilado, encontrado em 2018 no município de Novo Horizonte, e não na Amazônia. O relato foi confirmado pelo geólogo Osmar Martins dos Santos, responsável técnico pela cooperativa de garimpeiros do município baiano, que afirmou ter analisado o cristal visto no vídeo. “É bastante comum o cristal rutilado em Novo Horizonte”, disse ao Comprova, acrescentando que o tamanho da pedra que aparece no vídeo não é tão frequente. O geólogo disse ter avaliado a pedra em R$ 1 milhão. “Conheço a pedra e quem tirou”. Os professores de Mineralogia Frederico Vilalva, da UFRN, e Heinrich Theodor Frank, da UFRGS, analisaram o vídeo a pedido do Comprova e concordaram com a identificação do mineral feita por Martins dos Santos. “Sim, isso faz sentido”, afirmou Theodor Frank, quando questionado se a pedra vista no vídeo poderia ser um cristal rutilado. “Cristais de quartzo com inclusões de rutilo, na forma de agulhas douradas, são relativamente comuns. Quartzo rutilado se chama isso”, acrescentou. “Rutilo é um mineral de cor castanho-dourada que parece com agulhas. Eles frequentemente são encontrados como inclusões dentro de cristais de quartzo”, disse Frederico Vilalva, acrescentando que este tipo de formação realmente é encontrada em Novo Horizonte. O município baiano, por sua vez, não tem qualquer relação com o bioma amazônico, mencionado nas postagens, estando localizado em uma região de Caatinga, a mais de 500 quilômetros de Salvador. Vilalva acrescentou ainda que cristais muito grandes como o mostrado no vídeo são típicos de rochas chamadas pegmatitos, que não são tão comuns na Amazônia. Apontado como um dos responsáveis pela suposta apreensão do cristal, o Exército informou ao Comprova, por telefone, que não teve participação na atividade vista no vídeo. A Polícia Federal, mencionada em outras postagens, disse não ter chegado ao seu conhecimento “qualquer ocorrência nos moldes da descrita”. Diamante de mais de duas toneladas? Grande parte das publicações viralizadas identifica a pedra vista no vídeo como um diamante — possibilidade descartada por todos os especialistas consultados pelo Comprova. Ciro Ávila, professor do Museu Nacional, destacou o fato de nunca ter visto relatos de um diamante deste tamanho ou forma. O maior diamante já encontrado no mundo pesava aproximadamente 620 gramas. O professor de Mineralogia da UFRGS Heinrich Theodor Frank explicou por que isso acontece. “Diamantes sempre apresentam tamanhos pequenos (…) Quero lembrar que diamante se origina na base da litosfera, a 100 ou mais quilômetros de profundidade, sendo transportado para cima num evento vulcânico catastrófico. Pedra grande nenhuma resiste a esse fluxo ascendente destrutivo”, disse ao Comprova. Além de não ser um diamante, a pedra vista no vídeo não tinha mais de duas toneladas, mas cerca de 400 quilos, como esclareceu o geólogo Osmar Martins dos Santos, responsável técnico pela cooperativa de garimpeiros de Novo Horizonte, onde o mineral foi encontrado. Contexto O boato sobre o cristal rutilado envolve quatro elementos que têm sido citados frequentemente em peças de desinformação recentes: a Amazônia, a França, as ONGs e a exploração mineral. O aumento recente no número de queimadas na Floresta Amazônica levou a uma reação negativa do presidente francês, Emmanuel Macron, que indicou que a política ambiental brasileira poderia colocar em risco o acordo comercial entre os blocos da União Europeia e do Mercosul. Desde então, Macron e o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, têm se desentendido. O brasileiro chegou a dizer que não aceitaria a ajuda econômica para combater incêndios oferecida pelo G-7, o grupo dos países mais ricos do mundo, até que o líder francês retirasse “insultos” contra ele. Outro momento de tensão ocorreu quando o perfil oficial de Bolsonaro no Facebook riu de uma ofensa dirigida à primeira-dama francesa, Brigitte Macron. Em resposta, o presidente francês disse esperar que os brasileiros “tenham um presidente que se comporte à altura”. Bolsonaro também criou antagonismo com as organizações da sociedade civil. O presidente sugeriu — sem provas — que eram as ONGs que estavam por trás das queimadas na Amazônia. O Observatório do Clima, grupo formado por 50 entidades, reagiu e criticou a “irresponsabilidade” do que chamam de “antipolítica ambiental” do governo. A Amazônia é considerada uma área estratégica por Bolsonaro. Em abril, ele defendeu a mineração na região, com exploração da Reserva Nacional de Cobre e Associados (Renca). “A Amazônia pode ser uma solução para o mundo e não um problema para nós”, disse ele. “Vocês não terão problema com o ministro do Meio Ambiente, de Minas e Energia ou de qualquer outro.” A Renca é uma área do tamanho do estado do Espírito Santo, rica em ouro, ferro e cobre. A reserva foi criada em 1984 para assegurar que o governo tivesse monopólio sobre a exploração mineral na região. No entanto, depois foram estabelecidas restrições para a mineração na área, como reservas indígenas e unidades de conservação de proteção integral e de uso sustentável. O Comprova verificou, no final de agosto, uma publicação que sugeria, de forma enganosa, que as organizações não-governamentais que atuavam na Amazônia estavam interessadas em extrair minério da região. Outro boato relacionado desmentido pelo Comprova alegava que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva havia vendido o solo da Amazônia para exploração de uma empresa norueguesa de mineração. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. Localizamos ao menos três perfis pessoais no Facebook que compartilharam o vídeo com legenda falsa e somavam 323 mil visualizações desde o dia 9 de setembro. A gravação também foi compartilhada no Twitter e obteve 17,8 mil visualizações desde 8 de setembro. No YouTube, a publicação no canal BomNoticiasTV, feita em 10 de setembro, alcançou 174 mil visualizações. As medições foram feitas no dia 12 de setembro. Os sites Agência Lupa, Boatos.Org e E-Farsas também checaram esse conteúdo.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/foto-de-catador-de-reciclaveis-e-familia-vestidos-de-verde-e-amarelo-e-de-2016/
COMPROVA
Foto de catador de recicláveis e família vestidos de verde e amarelo é de 2016
null
2019-09-11
A imagem está sendo associada ao governo Bolsonaro, mas há registros da foto desde março de 2016. Família do catador Thiago Santos foi registrada em diversas coberturas de manifestações pró-impeachment Publicação tira de contexto uma fotografia, na qual é possível ver um catador de recicláveis à frente de uma carroça, junto de três crianças e um cachorro, vestindo verde e amarelo e bandeiras do Brasil. A postagem, compartilhada amplamente no Facebook, associa a imagem ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL). “…Parabéns para vocês povo brasileiro elegeram um presidente honesto e verdadeiro”, diz parte da legenda da publicação, feita em 8 de setembro. Nos comentários, muitos usuários atribuem o registro ao momento político atual do Brasil, enquanto outros parecem crer que a foto foi feita no desfile comemorativo da Independência, em 7 de setembro. “Lindo demais ver o patriotismo voltando, de onde nunca deveria ter saído, brava gente brasileira”, escreveu um usuário no Facebook. “O melhor 7 de setembro já visto na história do Brasil”, comentou outro. “Melhor foto de um desfile….essa diz tudo”, diz um terceiro comentário. A foto, contudo, é de 2016 e não tem qualquer relação com o governo Bolsonaro ou com o Dia da Independência. A imagem mostra o catador Thiago Santos e sua família, que foram retratados em diferentes reportagens de veículos de imprensa à época das manifestações a favor do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff. O Comprova localizou foto idêntica à viralizada em reportagem de 14 de março de 2016 no site Jornalistas Livres e em outras postagens da época. Esta checagem verificou uma publicação da página República de Curitiba, no Facebook. Contexto errado para o Comprova é quando um conteúdo é retirado do contexto original para ser usado em outro, com o propósito de mudar o seu significado original. Como verificamos Para esta checagem, o Comprova utilizou o mecanismo de busca reversa para encontrar o primeiro registro da foto viralizada. Também foi empregada a busca avançada do Twitter e a pesquisa por palavras-chave no Google para localizar outras imagens ou registros da mesma família no dia em questão. Além disso, foi usada a ferramenta Street View, do Google Maps, para confirmar o local e o período em que a foto foi tirada. Foto circula na internet desde março de 2016 Utilizando o mecanismo de busca reversa do Google Imagens, o Comprova localizou a foto viralizada em uma reportagem de 14 de março de 2016 no site Jornalistas Livres. O artigo, ilustrado com o retrato agora associado ao governo Bolsonaro, fala sobre as manifestações realizadas um dia antes em diversas cidades do país pelo impeachment da então presidente Dilma Rousseff. Apesar de não comprovar a data real da foto, o registro no portal permite constatar que a foto não é recente. No site Jornalistas Livres, a imagem é creditada à fotógrafa Alessandra Santos. O Comprova entrou em contato com a equipe do portal de jornalismo colaborativo para solicitar o contato de Santos, mas eles não tinham mais essa informação. Por meio da busca avançada no Twitter, analisamos as fotos publicadas na rede social no dia 13 de março de 2016. Uma das postagens encontradas traz uma imagem semelhante à viralizada: o fundo da imagem é o mesmo e, além disso, as roupas e a fisionomia das pessoas parecem iguais às da foto viralizada no último 8 de setembro. Na carroça, é possível ver a mesma propaganda de uma marca de refrigerantes que é vista na foto incorretamente associada ao governo Bolsonaro. Família esteve em diversas manifestações pró-impeachment Ao buscar pelas palavras-chave “catador paulista ato impeachment”, no Google, o Comprova identificou que a família da foto viralizada foi retratada em diferentes textos de veículos de imprensa à época das manifestações pró-impeachment. Segundo os textos, trata-se de Thiago Santos, catador de materiais recicláveis, à época com 28 anos, e sua família. Analisando as roupas da família em cada uma das reportagens encontradas, a única que corresponde a roupas similares à da foto viralizada é a da revista Veja, referente ao ato de 13 de março de 2016. Dias depois, na manifestação de 16 de março de 2016, Santos aparece nas fotos da reportagem da Folha de S.Paulo. Nela também é possível ver a propaganda da Coca-Cola. Santos também aparece em registros de outros protestos favoráveis ao impeachment. Entre eles, o do dia 16 de agosto de 2015, segundo reportagem da Rede Brasil Atual e vídeo dos Jornalistas Livres. A família também foi registrada e mencionada na cobertura da Folha de S.Paulo da manifestação de 26 de março de 2017. Prédio ao fundo em obras já foi inaugurado e árvore derrubada Outro elemento que demonstra que a foto é de 2016 são os arquivos do Google Street View. Analisando a foto viralizada, o Comprova identificou ao fundo da família o que parecia ser a obra do atual Sesc Avenida Paulista, inaugurado em abril de 2018. Procurando no Google Street View pela altura da Avenida Paulista, 202, identificamos os mesmos prédios que podem ser vistos ao fundo da foto viralizada em que aparece o catador de recicláveis e sua família. O único registro em que é possível ver a rede laranja desde os primeiros andares da obra, como na foto viralizada, é o de janeiro de 2016. Em setembro de 2016, os primeiros andares já estavam sem as redes. Além disso, na foto viralizada, é possível ver uma árvore ao fundo. O último registro do Google em que a árvore ainda estava lá é de dezembro de 2016. Em abril de 2017, a árvore já tinha sido removida. A imagem mais recente disponível do local é de fevereiro de 2018. A ferramenta do Google Maps permite ao usuário se colocar no local desejado de determinada rua e observar como era o entorno em qualquer uma das datas em que a rua foi captada. Atos de 13 de março de 2016 Em 13 de março, milhões de brasileiros foram às ruas em ao menos 239 cidades do país em apoio ao impeachment da então presidente Dilma Rousseff, na época em tramitação na Câmara dos Deputados. De acordo com levantamento do jornal Estado de S. Paulo, os atos deste dia superaram em adesão as manifestações das Diretas Já, pelo fim da ditadura militar. Meses depois, em 31 de agosto, Dilma foi destituída pelo Senado, acusada de maquiar contas públicas. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. A publicação da página República de Curitiba foi feita em 8 de setembro e, até 10 de setembro, tinha 2,8 mil compartilhamentos e mil comentários no Facebook.
https://i1.wp.com/projet…=601%2C285&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Contexto errado']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-bolsonaro-tem-cancer-e-nao-levou-facada/
COMPROVA
É falso que Bolsonaro tem câncer e não levou facada
null
2019-09-10
Não é verdade que o presidente da República foi operado por oncologistas e sofre de câncer É falso que o presidente Jair Bolsonaro (PSL) sofra de um câncer e não tenha sido alvo de uma facada. O boato sobre a doença já havia viralizado outras vezes nas redes sociais e voltou a ser compartilhado após a cirurgia a que Bolsonaro foi submetido no domingo, 8. A intervenção médica foi a quarta desde 6 de setembro de 2018, quando o então candidato à presidência da República foi vítima de uma facada durante um ato de campanha em Juiz de Fora (MG). A cirurgia, para corrigir uma hérnia, foi realizada no Hospital Vila Nova Star, em São Paulo. Em entrevista à revista Veja na sexta-feira, 6, o cirurgião geral responsável por esta e outras duas cirurgias no presidente, Antônio Macedo, refutou qualquer possibilidade de Jair Bolsonaro ter câncer. “Vou acabar com qualquer dúvida. Não havia tumor nenhum dentro da barriga do presidente. O que tinha era trajeto de facada”, afirmou. No ano passado, o Comprova verificou o conteúdo de publicações que viralizaram após o médico falar, em tom de brincadeira e fazendo referência aos boatos que já circulavam na internet, sobre um câncer de intestino de Bolsonaro. Um tuíte publicado no domingo, 8, alega que “hoje foram 5h em uma cirurgia de hérnia, em um hospital especializado em câncer e 2 oncologistas participaram da cirurgia”. De fato, o procedimento levou mais tempo do que as duas horas que eram previstas; começou às 7h35 e terminou às 12h40. Apesar disso, o post exagera ao afirmar que a unidade de saúde é especializada em câncer. Ao Comprova, a assessoria de imprensa da instituição afirmou que se trata de um hospital geral, referência em oncologia, cardiologia, neurologia e cirurgias. Além disso, não há especialistas em oncologia na equipe médica responsável pela cirurgia. O cirurgião geral Antônio Macedo e o cardiologista Leandro Echenique são os mesmos que acompanharam outros dois procedimentos cirúrgicos no presidente no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, um ainda em setembro de 2018 e o outro em janeiro de 2019. Esta verificação do Comprova checou informações de uma publicação do perfil @robertabastosn no Twitter. A postagem foi feita no dia 8 de setembro, quando foi realizada a cirurgia de Bolsonaro. Falso para o Comprova é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos Para esta verificação, o Comprova entrou em contato com o Hospital Vila Nova Star, onde Bolsonaro fez a cirurgia, e com o Palácio do Planalto. Também consultamos os boletins médicos divulgados após as quatro cirurgias às quais o presidente foi submetido. Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais ou visualizar a documentação que reunimos. Bolsonaro tem câncer? O cirurgião Antônio Macedo negou que Bolsonaro tenha câncer na entrevista publicada pela revista Veja na última sexta-feira, 6. Em outubro do ano passado, em entrevista ao G1, o médico também desmentiu os boatos. “Ele não tem câncer nenhum. Ele sofreu uma facada, uma tentativa de assassinato”, disse. Macedo enfatizou que “ele nunca teve câncer” e classificou como “completamente ignorantes” os autores dos rumores. Macedo destacou, à época, que não é oncologista, e sim cirurgião-geral do aparelho digestivo. O médico foi gravado pela TV Record dias depois dessa entrevista, ao fazer uma brincadeira sobre as publicações que viralizaram. O cirurgião afirmava, aos risos, antes de fazer um exame na casa de Bolsonaro, que “operou um câncer no intestino” dele. Depois, como o Comprova mostrou, foram compartilhados no Twitter trechos do vídeo com legendas enganosas que diziam que o presidente realmente estava com câncer. O assunto voltou a viralizar em fevereiro de 2019, quando Bolsonaro estava internado após passar por mais uma cirurgia. O porta-voz da Presidência da República, Otávio do Rêgo Barros, leu uma nota em que a equipe médica esclarecia que ele não tinha câncer. O Palácio do Planalto foi questionado na segunda-feira, 9, pelo Comprova e respondeu, por e-mail: “Sem comentários”. De onde surge a informação de que Bolsonaro tem câncer? O boato foi publicado em contas no Twitter e no Facebook após a facada. Em julho de 2019, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), em entrevista, questionou a veracidade do ataque sofrido pelo presidente por não ter visto sangue. Ao rebater, Bolsonaro perguntou: “Alguém acha que eu teria grana e influência para armar isso?”. À BBC, em agosto, Lula reafirmou que não acredita que o presidente foi esfaqueado. A dúvida sobre a ausência de sangue fora do corpo de Bolsonaro após a facada foi levantada ainda no dia 6 de setembro de 2018. “Não é um sangramento como se vê em televisão, que fica aquela roda de sangue. O que sangrará é para dentro do abdômen. Ele poderia ter perdido um volume muito maior, e não seria exteriorizado para o corpo”, explicou ao Estadão o cirurgião Luiz Henrique Borsato, que operou o presidente na Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora. Bolsonaro foi operado por oncologistas? Ao contrário do que afirma a publicação, nenhum dos médicos responsáveis pelo procedimento é oncologista. Antônio Macedo, que chefiou três cirurgias, é presidente do Conselho de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein, mas é cirurgião geral e todos os seus prêmios e publicações são nessa área. Ele também foi responsável por diversas cirurgias de pacientes com câncer, como Hebe Camargo, entretanto, esta não é sua especialidade. Leandro Echenique é cardiologista. Antônio Antonietto, que também assina o boletim médico, é sanitarista e diretor do hospital. Além deles, aparece o nome do médico da presidência da República, Ricardo Peixoto Camarinha, que é cardiologista, segundo informou o Planalto ao Comprova. Por que a cirurgia durou cinco horas? Em coletiva de imprensa após a cirurgia deste domingo, 8, o médico Antônio Macedo explicou que as aderências — ou seja, “ligações” devido às cicatrizes — no intestino de Bolsonaro levaram a um tempo maior do que o previsto de cirurgia. “Normalmente uma hérnia não demora tudo isso que demorou, mas a gente não contava que tinha aderido tudo de novo em relação à cirurgia de 28 de janeiro. Isso que é que faz ir com muito cuidado, porque você não pode machucar o intestino sob hipótese nenhuma”, afirmou. “A gente fala que vai durar duas horas. Mas vai durar o que é necessário. Se precisar durar quatro, que demore. O importante é ficar bem feito”, disse ainda. Por e-mail, o Hospital Vila Nova Star afirmou que “conforme o cirurgião-chefe Dr. Antonio Luiz de Vasconcellos Macedo disse na coletiva de imprensa, cada caso é único e deve ser avaliado separadamente. Neste caso, o procedimento durou o suficiente para ser bem-sucedido de acordo com a técnica utilizada e obter o melhor resultado no quadro clínico do paciente”. Por que Bolsonaro fez uma quarta cirurgia? Após três cirurgias no abdômen (músculo que segura os órgãos dentro da barriga) em virtude do ataque a faca em Juiz de Fora (MG), a região ficou enfraquecida. Parte do intestino, então, escapou para fora da parede do músculo abdominal – esse “escape” recebe o nome de hérnia. A quarta cirurgia foi feita para corrigir esse problema. Macedo destacou que a hérnia incisional, caso de Bolsonaro, é considerada um “evento relativamente prevalente após laparotomias (cirurgias no abdômen)”. O presidente da Sociedade Brasileira de Hérnia da Parede Abdominal (SBH), Christiano Claus, explicou em uma publicação no site da organização que esse tipo de hérnia aparece em cerca de 10% a 15% dos pacientes no mesmo lugar que uma cirurgia anterior. Quais foram as outras cirurgias feitas por Bolsonaro? Bolsonaro ficou internado no Hospital Albert Einstein, em São Paulo, entre os dias 27 de janeiro e 13 de fevereiro, para realizar a cirurgia de reconstrução do trânsito intestinal. A primeira cirurgia à qual o presidente foi submetido ocorreu no dia do atentado, em um hospital em Juiz de Fora. Bolsonaro precisou receber quatro bolsas de sangue e implantou uma bolsa de colostomia. A segunda cirurgia ocorreu dias depois, em São Paulo. Neste procedimento, os médicos reabriram o corte da primeira cirurgia e encontraram uma parte do intestino obstruída. Em janeiro, o presidente realizou a terceira cirurgia, em São Paulo, para retirar a bolsa de colostomia e fazer uma ligação no intestino. Bolsonaro pode voltar a fazer cirurgias? Após a cirurgia, Antônio Macedo afirmou que as chances de Bolsonaro voltar a ter uma hérnia são pequenas. “As hernioplastias incisionais, como essa hérnia, têm um índice de recidiva, mas não é superior a 6%”, explicou na coletiva de imprensa. “O tecido que nós conseguimos unir e reforçar é um tecido já bem mais vivo do que na cirurgia de 28 de janeiro. Ele está bem mais musculoso, bem mais forte, bem mais nutrido”, enfatizou. Repercussão nas redes O post do perfil @robertabastosn no Twitter tinha 2 mil retweets e 10,2 mil curtidas em 10 de setembro, dois dias após ter sido publicado. Leia mais Leia perguntas e respostas sobre conspirações criadas após facada em Bolsonaro
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['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/filme-de-carlos-vereza-indicado-a-premio-nao-usou-a-lei-rouanet-mas-nao-se-enquadrava-nas-regras/
COMPROVA
Filme de Carlos Vereza indicado a prêmio não usou a Lei Rouanet, mas não se enquadrava nas regras
null
2019-09-06
O longa “O Trampo” de fato não foi beneficiado por recursos captados pela Lei de Incentivo à Cultura Dois artigos virais nas redes sociais exaltam o fato de o filme “O Trampo”, dirigido e estrelado por Carlos Vereza, ter concorrido em agosto ao prêmio de melhor filme estrangeiro no Festival Internacional de Cinema de Madri mesmo “sem dinheiro da Lei Rouanet”. Os textos não dizem, no entanto, que, como o filme de Vereza é um longa-metragem de ficção, não poderia ter se candidatado para receber recursos por meio da Lei de Incentivo à Cultura, a Lei Rouanet. Esse mecanismo permite apenas o financiamento de longas-metragens que sejam documentários, de acordo com o professor da Universidade Federal do Ceará Marcelo Ikeda, especialista em política pública cinematográfica. O professor ressalta que, mesmo para documentários, a Rouanet não costuma ser utilizada. Segundo Ikeda, um longa como “O Trampo” poderia pedir apoio da Lei do Audiovisual — que, de forma similar à Rouanet, funciona por meio de incentivos fiscais (fomento indireto) — ou do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), que financia com recursos públicos (fomento direto) os projetos selecionados. De acordo com a Agência Nacional do Cinema (Ancine), órgão que regulamenta essas formas de incentivo público, não há nenhum projeto de nome “O Trampo” em sua base de dados de fomento. O Comprova também consultou o Sistema Ancine Digital (SAD) e não encontrou referências ao filme, a Vereza ou à produtora do longa, Petci Pedron. E é verdade que “O Trampo” foi selecionado para a competição mencionada, mas o texto viralizado exagera a importância do festival. O evento faz parte do circuito independente e não figura entre os mais tradicionais da Europa. Enquanto festivais de renome como Cannes, Veneza e Berlim já tiveram mais de 60 edições, o Festival Internacional de Cinema de Madri teve oito edições. Esta verificação do Comprova investigou artigos publicados pelos sites Notícia Brasil Online e Jornal da Cidade Online. Evidência comprovada, para o Comprova, é quando a evidência do conteúdo é comprovada sem margem de dúvida. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde ou que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos O Comprova consultou a produção do Festival Internacional de Cinema de Madri, a Ancine, a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro e a Empresa Distribuidora de Filmes carioca, a RioFilme. Também entramos em contato com o ator Carlos Vereza, com a produtora de “O Trampo”, Petci Pedron, e com Marcelo Ikeda, professor na Universidade Federal do Ceará e especialista em política pública cinematográfica. O filme ‘O Trampo’ Dirigido, produzido, escrito e estrelado por Carlos Vereza, o filme “O Trampo” conta a história de dois matadores de aluguel que se encontram em um quarto de hotel após assassinarem uma juíza. A atriz Rosamaria Murtinho vive uma cantora de cabaré na trama. Ao Comprova, Vereza afirmou ter financiado a produção usando suas economias, com investimento total de R$ 300 mil. A maioria das cenas do filme foi rodada em estúdio — o diretor contou que a maior parte da história se passa dentro do quarto. O Comprova consultou o Sistema Ancine Digital (SAD) e não encontrou referências a Vereza, à produtora Petci Pedron ou ao filme “O Trampo”. Por e-mail, a assessoria de imprensa da Ancine confirmou que o filme não faz parte da base de dados de fomento da agência. A RioFilme e a Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado, que incentivam a produção de filmes nos âmbitos municipal e estadual, também informaram não terem patrocinado a produção. Crítico das políticas de incentivo fiscal, Vereza disse que não recorrer à Ancine foi uma escolha. “Quando fiz meu filme, tanto a Rouanet quanto a Ancine só estavam privilegiando produções que fossem ligadas à esquerda. Eu sabia que não ia ser beneficiado nisso e preferi fazer com meus próprios recursos”, disse. Vereza não explicou o que seriam produções ligadas à esquerda. Não há levantamentos que indiquem quando um filme está ligado à esquerda ou não, nem comprovação de que Rouanet ou Ancine usassem a “divulgação de ideias de esquerda” como um critério de seleção. Vereza citou ainda que as dificuldades de financiamento impediram que o filme entrasse no circuito comercial de exibição. De acordo com ele, a produção ainda será exibida nos festivais de Brasília, Rio de Janeiro, Mar del Plata e Cuba. O Festival Internacional de Cinema de Madri O Festival Internacional de Cinema de Madri faz parte de um grupo de eventos chamado Film Fest International, que existe há 15 anos e tem sede no Reino Unido. A mesma companhia também produz eventos em Londres (Reino Unido), Nice (França) e Milão (Itália). A capital espanhola sedia muitos outros festivais de cinema, como mostra este documento do governo madrileno. Pelo menos 57 desses eventos têm seleção de filmes internacionais. Os festivais de cinema europeus mais tradicionais são os de Cannes (criado em 1946), Veneza (criado em 1932, o mais antigo do mundo) e Berlim (criado em 1951). Eles são certificados pela Federação Internacional de Associações de Produtores de Filmes (FIAPF), organização reguladora de festivais internacionais de cinema. A entidade, criada em 1933, lista 15 festivais com mostra competitiva de todo o mundo. Apenas um fica na Espanha: o de San Sebastián, inaugurado em 1953. O cinema brasileiro tem tradição de participar de festivais de cinema estrangeiros. Este ano, a produção pernambucana “Bacurau” ganhou o inédito Prêmio do Júri no Festival de Cannes. Por ser um longa-metragem de ficção, o filme também não poderia receber recursos via Lei Rouanet. Ele teve fomento público da Ancine, do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), do Governo de Pernambuco e mais. Outros seis filmes nacionais também foram selecionados para o festival francês. De acordo com a descrição no site, o evento em Madri busca “ajudar cineastas a encontrar distribuição e financiamento para sua próxima produção cinematográfica”. O festival se vende como uma oportunidade de networking na indústria. “Criamos uma rede pequena, mas excepcional, de profissionais do setor que analisarão todos os filmes inscritos e fornecerão conselhos de negócios e comerciais”, afirma a descrição. Um dos coordenadores do festival, Rodrigo Rayón, informou por e-mail ao Comprova que a produção recebe “milhares” de inscrições todos os anos. Segundo ele, mais de 300 filmes são exibidos em Madri ao longo de uma semana. Rayón afirmou que os filmes participantes são selecionados por um painel de cinco jurados. “Eles tomam as decisões finais após um primeiro filtro interno, levando em consideração a qualidade do roteiro e a produção refletida na tela. Nosso júri também leva em consideração o histórico dos criadores, produtores, diretores e elenco dos filmes”, informou o coordenador. “O Trampo” foi exibido em Madri às 13h35 no dia 11 de agosto para cerca de 80 pessoas. O filme de Vereza levou o prêmio de Melhor Trilha Sonora Original e foi indicado nas categorias Melhor Cenografia e Melhor Filme de Linguagem Estrangeira. Ao Comprova, Vereza disse considerar que o festival de Madri é um dos mais importantes da Europa, junto com Cannes, Veneza e Berlim. O diretor afirmou que o evento madrilenho teve a participação de “Wim Wenders, Manoel de Oliveira e Marco Bellocchio”, mas o coordenador da Film Fest International informou que nenhum desses três cineastas fez parte do festival nas oito edições realizadas até aqui. Quem é Carlos Vereza Carlos Vereza atuou em várias produções populares da TV Globo, como Selva de Pedra (1972), O Rei do Gado (1996) e Hilda Furacão (1998). Ele é um dos poucos atores que declararam voto no presidente Jair Bolsonaro. Em setembro do ano passado, ele visitou o então candidato à Presidência no hospital após ele ter sido esfaqueado durante a campanha eleitoral. Nas redes sociais, ele é bastante vocal em defesa de pautas do governo e da Operação Lava Jato. O ator publicou uma foto com Bolsonaro no Facebook em janeiro deste ano. Vereza já teve orientação política bastante diferente. No cinema, o ator é conhecido por ter atuado em “Memórias do Cárcere”, filme de 1984 que adaptou o livro homônimo de Graciliano Ramos sobre o tempo que passou na prisão por ter sido considerado “subversivo” pelo governo. O escritor foi detido em março de 1936 sob suspeita de participar da Aliança Nacional Libertadora, oposição de esquerda ao governo de Getúlio Vargas. Vereza foi militante no Partido Comunista Brasileiro por 20 anos. Em depoimento ao núcleo de memória da Rede Globo, o ator conta que foi apresentado ao Centro Popular de Cultura (CPC), organização composta por artistas e intelectuais de esquerda ligados à União Nacional dos Estudantes (UNE), por Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha. Os dois se conheceram na TV Tupi. Como funciona a Lei Rouanet A Lei de Incentivo à Cultura, mais conhecida como Rouanet, foi sancionada em 1991 pelo presidente Fernando Collor. A legislação estabeleceu três mecanismos para financiamento de produção cultural: o mecenato, o Fundo Nacional de Cultura (FNC) e os Fundos de Investimento Cultural e Artístico (Ficart) — estes últimos não implementados. Em geral, quando se fala da Lei Rouanet, referem-se à primeira opção, de incentivo fiscal. Nesta modalidade de apoio, um produtor cultural, artista ou instituição submete seu projeto à Secretaria Especial da Cultura do Ministério da Cidadania, que pode autorizar a captação de recursos junto a apoiadores. Qualquer pessoa ou empresa pode apoiar um projeto e, em troca, obter desconto no Imposto de Renda (IR). Para pessoas físicas, o abatimento é de até 6%, e para pessoas jurídicas, 4%. No ano passado, o Ministério da Cultura encomendou à Fundação Getúlio Vargas um levantamento sobre o impacto financeiro da Rouanet — o estudo indicou que que cada R$ 1 de renúncia de imposto gera R$ 1,59 de retorno para a economia brasileira. Em abril, o governo anunciou mudanças na Lei Rouanet. O valor máximo por projeto foi reduzido em 98%, de R$ 60 milhões para R$ 1 milhão. O ministro da Cidadania, Osmar Terra, anunciou alterações para incentivar produções fora do eixo Rio-São Paulo e para diminuir o valor dos ingressos. O setor de musicais foi o mais atingido pelas mudanças, por ter produções e entradas mais caras. Produtores e diretores criticaram as alterações. Como financiar um longa de ficção com apoio público federal Para financiar um filme longa-metragem com mecanismos de incentivos fiscais, é possível se valer da Lei do Audiovisual, sancionada em 1993. Para obter apoio, os projetos precisam ser aprovados pela Ancine. Assim como a Rouanet, a legislação permite o abatimento de IR, na cota de 6% para pessoas físicas e 4% para pessoas jurídicas. Inicialmente, essa lei era válida até 2003, mas seu prazo foi prorrogado várias vezes e atualmente vale até o fim de 2019. Em maio deste ano, uma audiência pública no Senado discutiu adiar mais uma vez o fim dos incentivos fiscais. A Ancine também fornece mecanismos de fomento direto, com investimento de recursos públicos por meio de editais. Obras de longa-metragem de ficção costumam receber aporte do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA). Trata-se de um mecanismo criado em 2006 em lei sancionada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De acordo com a Ancine, o FSA contempla várias etapas da cadeia produtiva do setor audiovisual — incluindo produção, distribuição e comercialização, exibição, e infra-estrutura de serviços. O dinheiro do fundo também pode ser aplicado de diferentes maneiras — incluindo o investimento (que tem como contrapartida a participação nos resultados comerciais de projetos) e o financiamento (operação de empréstimo a projetos). O professor da Universidade Federal do Ceará Marcelo Ikeda explica que a modalidade mais utilizada para produções de obras audiovisuais é a de investimento. “Isso significa que uma parte da renda desses produtos retorna para o fundo. A modalidade de financiamento geralmente é para construção e reforma de salas de cinema”, disse. Neste ano, a dotação inicial do fundo era de R$ 724 milhões. A verba para o FSA é composta principalmente da arrecadação da Contribuição para o Desenvolvimento da Indústria Cinematográfica Nacional (Condecine), imposto que incide sobre “a veiculação, a produção, o licenciamento e a distribuição de obras cinematográficas” comerciais. Outra fonte de recursos é o Fundo de Fiscalização das Telecomunicações (Fistel), composto de arrecadação de impostos cobrados pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Os produtores de filmes também podem recorrer a formas de fomento estaduais e municipais. Em 2016, o Sebrae publicou o “Mapeamento e impacto econômico do setor audiovisual no Brasil”. O estudo apontou que o fomento indireto, como a Lei do Audiovisual, era responsável por 78% dos recursos públicos destinados à indústria no período entre 2009 e 2014. No entanto, o levantamento identificou um rápido crescimento no uso do FSA, passando de R$ 4,5 milhões, em 2009, para R$ 98,1 milhões, em 2014, o que representava 26,8% do investimento de recursos públicos federais. A publicação estimou em R$ 20,8 bilhões o valor adicionado pelo setor audiovisual à economia brasileira em 2015, um crescimento de 10% na participação relativa na economia de 2010 a 2014. De acordo com um relatório do Sindicato da Indústria Audiovisual de 2017, o setor era responsável pelo emprego direto de quase 95 mil pessoas, além de outros 240,9 mil empregos indiretos. Qual a situação atual da Ancine? A Ancine vive um momento difícil: a agência é alvo de críticas constantes do presidente Jair Bolsonaro e teve seu presidente, Christian de Castro Oliveira, afastado por denúncia de vazamento de informações sigilosas. Em carta aberta divulgada após sua saída, Oliveira afirmou que uma auditoria interna apontou que “entre 2013 e 2017, o Fundo Setorial do Audiovisual (FSA) pode ter sido desfalcado em mais de R$ 350 milhões”. O ex-presidente também citou supostas irregularidades “na captação de mais de R$ 200 milhões para 64 projetos audiovisuais, além de possível evasão fiscal da ordem de R$ 157 milhões”. Esta reportagem do jornal O Estado de S. Paulo indica que a crise na agência federal é profunda: atrasos e cortes atingem todas as obras cinematográficas e a diretoria está esvaziada. Está no horizonte da Ancine suspender outros festivais e projetos, como ocorreu em agosto. Na ocasião, um edital foi suspenso após Bolsonaro criticar a seleção de obras com temática LGBT. A situação culminou na saída do secretário especial de Cultura, Henrique Pires. Em entrevistas, ele afirmou ter deixado o cargo por não concordar com o que chamou de “censura” do governo. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. O artigo do Jornal da Cidade Online foi publicado em 23 de junho de 2019 e foi compartilhado 116 mil vezes no Twitter e no Facebook. O artigo do Notícia Brasil Online foi publicado sem data, mas obteve 5 mil compartilhamentos desde 1º de setembro. As medições foram feitas no dia 5 de setembro na ferramenta CrowdTangle.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Evidência comprovada']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-lula-vendeu-solo-da-amazonia-para-empresa-norueguesa-em-documento-secreto/
COMPROVA
É falso que Lula tenha vendido solo da Amazônia para empresa norueguesa em documento secreto
null
2019-09-02
No Brasil, as riquezas do subsolo não podem ser vendidas. Elas pertencem à União e empresas podem obter somente os direitos de extração dos minérios Uma foto que mostra um dos depósitos de rejeitos da empresa norueguesa Hydro Alunorte, localizada na cidade de Barcarena, no Pará, foi usada em postagens no Instagram e no Facebook para ilustrar a afirmação de que o ex-presidente Lula “vendeu o solo [da Amazônia] para a Noruega em documento secreto” e que o país arrecada “2 bilhões ao ano” com a companhia, mas devolve “180 milhões” para consertar o “estrago” que teria causado. A afirmação de que a empresa norueguesa Hydro comprou o solo da Amazônia é falsa. Na verdade, a Hydro comprou a empresa brasileira Mineração Paragominas S.A, que tem permissão do governo para extrair minério da mina de bauxita Paragominas, no Pará. Até então, a empresa era controlada pela Vale. Além disso, a Vale também vendeu à norueguesa sua parte na refinaria Alunorte e na Albras, empresa que produz alumínio. Segundo o artigo 20 da Constituição brasileira, os recursos minerais do país, inclusive os do subsolo, pertencem à União. Como explica o Serviço Geológico do Brasil em seu site, o proprietário do solo (terreno, fazenda, sítio), também chamado de superficiário, não é dono do subsolo. Por isso, mesmo que um fazendeiro ou uma empresa encontre minério em seu terreno, para extraí-lo do solo, é preciso solicitar uma concessão ao governo federal, por meio da Agência Nacional de Mineração (ANM). Segundo a ANM, em resposta ao Comprova, essas autorizações não têm prazo determinado e duram até a “exaustão da jazida mineral”, mas podem ser revogadas caso não se cumpra o que determina o Código de Mineração. Outro ponto falso da postagem é que a suposta venda teria sido feita por meio de um documento secreto. De acordo com a verificação do Comprova, as negociações realizadas entre a Hydro e a Vale foram publicadas nos sites de ambas as empresas. De fato, a Hydro é uma empresa norueguesa. O governo da Noruega detém 34,26% das ações da companhia, que tem cerca de 50 mil acionistas individuais e institucionais. A fotografia usada nas postagens viralizadas realmente mostra um depósito de rejeitos de uma empresa norueguesa. Nesse caso, trata-se do DRS-1 da Alunorte, em Barcarena, no Pará. Entretanto, as quantias mencionadas nas publicações, que não especificam a moeda à qual se referem, não correspondem ao faturamento da empresa, nem ao valor que era repassado pelo governo norueguês para conservação da Amazônia. Esta verificação do Comprova investigou o conteúdo de postagens no perfil @direitadaopressao no Instagram e em um perfil no Facebook. As imagens foram publicadas entre os dias 22 e 27 de agosto. Falso para o Comprova é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Evidência comprovada é quando a veracidade é confirmada sem margem de dúvida. O Comprova considera enganoso o conteúdo que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos Para esta checagem, o Comprova entrou em contato com o fotógrafo que registrou a imagem, com a empresa norueguesa Norsk Hydro, com a Vale, a Agência Nacional de Mineração (ANM) e analisou reportagens veiculadas a respeito do suposto transbordamento do depósito após fortes chuvas no Pará em 2018. Operações da Hydro na região da Amazônia A primeira aquisição da Hydro em ações da Alunorte ocorreu em 2000. Naquele ano, a empresa norueguesa adquiriu 34% da refinaria brasileira. Em 2011, após negociação com a Vale, a Hydro passou a controlar 92% da Alunorte, de acordo com informações da empresa. O restante da participação é de propriedade da empresa japonesa Nippon Amazon Aluminium, como foi confirmado por e-mail pela Hydro ao Comprova. No mesmo ano, a Vale negociou com a empresa norueguesa a venda de 51% das ações da Albras e 100% das ações da mina de bauxita Paragominas (a bauxita é utilizada para a produção do alumínio). A transação foi divulgada por ambas as empresas. Faturamento da Hydro Também por e-mail, a Hydro informou ao Comprova que a receita total das operações no Brasil, em 2018, foi de cerca de 22 bilhões de coroas norueguesas, o que equivale a cerca de R$ 10 bilhões (com a cotação de 2 de setembro). O faturamento total da empresa foi de 159 bilhões de coroas norueguesas, ou seja, aproximadamente R$ 72,5 bilhões, conforme informou a própria Hydro por e-mail ao Comprova. Os valores são superiores ao apontado nas publicações viralizadas, que mencionavam 2 bilhões ao ano, sem especificar a moeda. Fundo Amazônia As postagens viralizadas também afirmam que a Noruega “devolve 180 milhões” para o Brasil. Não é possível saber ao certo a que o autor da postagem se refere. No entanto, a referência mais provável é ao Fundo Amazônia – do qual a Noruega foi o maior doador e que atualmente está paralisado após ações e acusações por parte do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Os 180 milhões mencionados não correspondem nem à verba anual, nem a um possível valor constante doado ao longo dos nove anos do Fundo, o que ultrapassaria R$ 1,6 bilhão. De acordo com o site do Fundo Amazônia, foram recebidas do governo norueguês 14 doações, totalizando R$ 3,2 bilhões. O primeiro repasse foi em 2009, no valor de R$ 36,5 milhões, e o último em 2018, no valor de R$ 272,4 milhões. O país é o maior doador do fundo, seguido da Alemanha (R$ 192,6 milhões) e da Petrobras (R$ 17,2 milhões). O Fundo Amazônia tem o objetivo de “captar doações para investimentos não reembolsáveis em ações de prevenção, monitoramento e combate ao desmatamento, e de promoção da conservação e do uso sustentável da Amazônia Legal”. Dentre os beneficiados, estão projetos de ONGs, universidades, prefeituras, governos estaduais e da própria União. Todos devem prestar contas dos gastos. Cabe ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) gerir os recursos. A contribuição é condicionada à redução da emissão de gases de efeito estufa. Essa emissão é calculada pelo Ministério do Meio Ambiente e validada pelo Comitê Técnico do Fundo Amazônia (CTFA). As doações dos países europeus ao fundo foram reavaliadas neste ano. Em maio, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, afirmou que iria propor uma revisão do Fundo Amazônia e mencionou a existência de irregularidades. A embaixada da Noruega no Brasil disse, em nota, não ter recebido informações sobre mudanças e enfatizou que o Tribunal de Contas da União (TCU) avaliou que os recursos são utilizados de maneira adequada. Três meses depois, no dia 15 de agosto, após o ministro brasileiro questionar a gestão ambiental do principal doador do fundo, o ministro do Clima e Meio Ambiente norueguês, Ola Elvestuen, anunciou a suspensão do equivalente a R$ 133 milhões para o Fundo Amazônia. Desde então, vários conteúdos enganosos viralizaram. Um deles, sobre a caça de baleias na Noruega, foi verificado pelo Comprova. Foto mostra depósito de rejeitos As postagens afirmam que a foto mostra “a mineradora da Noruega destruindo o meio ambiente na Amazônia”. Moradores da região de Barcarena, no Pará (onde estão a Alunorte e Albras), denunciaram ao Ministério Público, no dia 16 de fevereiro de 2018, que uma “lama vermelha” teria invadido quintais e poços. Uma semana depois, o site Amazônia Real publicou uma matéria, com a mesma foto utilizada pelas postagens viralizadas, tratando de um suposto vazamento de rejeitos da refinaria Hydro Alunorte. Por e-mail, tanto a companhia quanto o autor da foto usada nas publicações afirmam se tratar de um depósito de rejeitos da Hydro Alunorte. Um álbum foi publicado pelo fotógrafo Pedrosa Neto no Flickr identificando o local como o depósito de rejeitos DRS-1, em Barcarena. Foi possível encontrá-lo fazendo uma busca pelo nome que constava no crédito da foto publicada no site Amazônia Real. Por e-mail ao Comprova, o fotógrafo confirmou ter sido o autor e afirmou que tirou as fotos no dia 20 de fevereiro de 2018, enviando os arquivos originais para que pudesse ser atestada a localização onde as imagens foram feitas. A Hydro também confirmou por e-mail que a imagem em questão mostrava o depósito de rejeitos DRS-1. Divergências sobre vazamento na Hydro Alunorte Sobre um possível vazamento ocorrido, há divergências no caso, e o processo ainda está em andamento na Justiça Federal. A Hydro nega que houve transbordamento e afirma que “todas as fotos mostram que os sistemas de drenagem estão funcionando de acordo com o projeto”. Em nota divulgada em fevereiro de 2018, a Secretaria de Meio Ambiente e Sustentabilidade (Semas) do Governo do Pará afirmou que “inspeções técnicas realizadas por equipes da Semas, em conjunto com outros órgãos, confirmam que não houve rompimento nem transbordamento da chamada ‘lama vermelha’ do depósito da Hydro”. Já o Instituto Evandro Chagas (IEC), órgão vinculado à Secretaria de Vigilância em Saúde do Ministério da Saúde, afirmou em relatórios elaborados após a denúncia do suposto vazamento que houve alterações que comprometeram a água e “impactaram diretamente na comunidade Bom Futuro”. Segundo relatório de fevereiro de 2018, as águas apresentavam altos níveis de alumínio. O trecho do parecer se refere ao depósito de rejeitos DRS-1, onde teria acontecido o vazamento. Na refinaria Alunorte, há ainda o DSR-2, outro depósito, que entraria em operação porque o tempo útil do primeiro estava próximo de se esgotar. Ainda em fevereiro, o Ibama embargou o depósito de rejeitos DSR-2. Em abril de 2018, dois meses após as denúncias, o juiz Arthur Pinheiro Chaves, da 9ª Vara Federal do Pará, determinou a proibição do uso do DSR-2 e a redução da produção de alumínio. Na ação, o Ministério Público Federal (MPF) afirmou que “no desenrolar das investigações restou constatado o galgamento (vazamento) do DRS-2” e que ele não tinha licença de operação. O MPF mantém uma página no seu site sobre o caso Hydro. O embargo para a produção foi suspenso este ano, com parecer favorável do MPF, como mostrou a Folha, mas a vedação ao uso do depósito de rejeitos DRS-2 foi mantida. A Hydro e o MPF fecharam um acordo e apresentaram, no dia 30 de agosto, um pedido para que o embargo fosse retirado. O relatório da Comissão Externa das Bacias de Rejeitos de Mineração em Barcarena (PA) da Câmara dos Deputados apontou que a Alunorte foi responsável por dois acidentes semelhantes, um em 2003 e o outro em 2009. O Ibama aplicou multa de R$ 17,1 milhões por lançamento de rejeitos no rio Murucupi, pelo que houve em 2009. Em seu site, a Hydro afirma que “reforçou o depósito e os canais de água do depósito”. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. A foto verificada de perfil de Facebook foi publicada no dia 22 de agosto. No dia 2 de setembro, alcançava 14 mil compartilhamentos, 495 curtidas e 244 comentários. Na página @direitadaopressao no Instagram, a postagem foi feita no dia 27 de agosto e tinha 12,5 mil curtidas no dia 2 de setembro.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/post-mistura-dados-verdadeiros-com-numeros-incorretos-sobre-financiamentos-do-bndes-nos-governos-do-pt/
COMPROVA
Post mistura dados verdadeiros com números incorretos sobre financiamentos do BNDES nos governos do PT
null
2019-11-28
Publicação acerta empresas que mais receberam financiamentos, principais países e algumas das obras, mas acrescenta empreendimentos que não foram beneficiados e cita valores incorretos. Também afirma enganosamente que dívidas teriam sido perdoadas. Uma publicação feita em janeiro no Facebook, e que voltou a viralizar nos últimos dias nas redes sociais, causa confusão ao misturar dados verdadeiros com números e informações incorretas sobre financiamentos concedidos pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nos governos do PT. A corrente, que atribui ao governo de Jair Bolsonaro o feito de ter aberto a “caixa-preta” do banco de fomento, questiona a atuação do BNDES com perguntas como “Qual o valor do rombo do BNDES?” e “Qual o prejuízo que a esquerda deu em nosso país?”. Na sequência, o post elenca uma lista de obras financiadas e rankings de maiores devedores usando, na maioria dos casos, números enganosos. O Comprova verificou as listas e valores e identificou que a publicação acerta ao elencar as cinco empresas que mais tomaram recursos junto ao BNDES — Petrobras, Embraer, Norte Energia, Vale e Odebrecht —, mas erra ao informar alguns montantes financiados. No entanto, os valores usados por ele chegaram a ser divulgados pelo próprio BNDES no início do ano, como mostra essa reportagem do G1 em 18 de janeiro, e depois foram alterados. O texto traz uma lista de 18 “grandes obras internacionais feitas com o nosso dinheiro” via BNDES. Porém, oito delas não possuem nenhuma ligação com o banco brasileiro. As outras dez até possuem relação com o banco, mas segundo o próprio BNDES, não é correto dizer que foram custeadas pela instituição. O que foi financiado, na verdade, foi “a exportação de bens e serviços produzidos no Brasil”, com o banco emprestando recursos para que empresas brasileiras atuem em outros países. Além disso, essas dez obras no exterior que de fato foram beneficiadas constam na lista com cifras incorretas. A publicação usa valores em reais (R$), quando na verdade todos os contratos desse tipo são firmados e divulgados em dólar. O BNDES não divulga ou sequer faz uma conversão desses valores para reais. O Comprova chegou a converter cada operação do dólar para o real de acordo com a data do contrato, mas nenhum dos valores chegou perto dos afirmados no post. A publicação ainda afirma que R$ 2,6 bilhões de dívidas de países africanos com o BNDES foram perdoadas, o que não procede. Segundo o banco, não houve perdão para nenhuma dívida de países da África. O texto acerta ao citar Angola, Argentina, Venezuela e Cuba entre os países mais beneficiados com os financiamentos de exportações de serviços brasileiros, mas traz valores incorretos. Por fim, são citados totais de empréstimos para as maiores construtoras do país, que também não batem com os dados reais. Embora a publicação fale em caixa-preta, os dados dos empréstimos estão ao alcance de qualquer pessoa desde 2015, quando o BNDES passou a publicar vários detalhes de suas operações, incluindo a identidade dos seus clientes, o valor dos empréstimos, taxas de juros, prazos para pagamento e garantias oferecidas, bem como resumos dos projetos apoiados. Esta verificação analisou um conteúdo publicado em 18 de janeiro por um perfil pessoal no Facebook. O Comprova procurou o autor, chamado Fabio Patriota, que afirmou que suas fontes foram o próprio site do BNDES e reportagens de veículos tradicionais, e explicou que converteu os valores de dólares em reais usando a cotação do dia em que as reportagens foram veiculadas. O Comprova chegou a verificar boatos sobre financiamentos do BNDES em 2018, durante a campanha presidencial. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos Para verificar este conteúdo, o Comprova procurou a assessoria de imprensa do BNDES, que orientou em que locais no Portal da Transparência do banco era possível conferir as informações. Foram filtrados os contratos desde 2003 (primeiro ano de governos petistas) até 2015 (último ano disponível). Também foi utilizada uma resposta da assessoria do BNDES enviada em 22 de agosto ao Estadão Verifica, parceiro do Comprova, que tratava basicamente os mesmos questionamentos. Para comparar os valores em reais usados no post com os dados em dólar fornecidos pelo BNDES, foi usada a calculadora de conversão de moedas do Banco Central e considerada a data de assinatura de contrato de cada empreendimento como data da cotação. A verificação ainda usou reportagens de portais de notícias e contatou o próprio autor do post original para tirar dúvidas sobre o conteúdo. Mesmo após a publicação desta verificação, o Comprova voltou a entrar em contato com o autor do post para questioná-lo sobre os empréstimos às empreiteiras, para entender se o ranking que ele menciona corresponde ao repasse para obras no exterior ou a qualquer tipo de financiamento recebido por essas empresas. Por telefone, ele explicou que como a postagem foi feita em janeiro, ele não lembrava ao certo sobre esses valores, mas que acreditava que eles correspondiam aos financiamentos das empreiteiras para obras no exterior. Acrescentou que iria ler a verificação do Comprova para responder sobre essa questão, mas, até o final da tarde desta terça-feira, dia 3, não obtivemos resposta. Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais. Quais são as empresas que mais receberam recursos do BNDES? A postagem sugere que cinco empresas — Petrobras, Embraer, Norte Energia, Vale e Odebrecht — são as maiores devedores do BNDES. Essas empresas constam na lista das cinquenta empresas tomadoras de recursos do BNDES como as cinco organizações que receberam os maiores recursos, mas isso não quer dizer que elas são as maiores devedoras, ou seja, essas empresas podem ter quitado parte de seus financiamentos e diminuído sua dívida. No entanto, o banco não fornece esses dados de resto de dívida de empresas nem em seu Portal da Transparência. Além disso, os valores apresentados na postagem não batem com a lista disponível no site do BNDES. O banco havia divulgado o ranking em janeiro com outros valores, iguais os usados na publicação verificada pelo Comprova, mas algumas cifras foram atualizadas. Comparando as duas versões, os dados apresentados da Petrobras e da Embraer são verídicos, mas os das demais empresas não batem, como podemos observar no gráfico abaixo: Dados apresentados no post verificado pelo Comprova Dados publicados no Portal da Transparência (BNDES) Quais os países que mais foram beneficiados por financiamentos do BNDES? A publicação traz uma lista dos países que mais teriam sido beneficiados pelos contratos de incentivo à exportação do BNDES e os supostos valores totais dos “empréstimos”. Os números, porém, não batem com informações fornecidas pelo banco público ao Estadão Verifica: O BNDES financiou a comercialização de bens e serviços brasileiros para 15 países ao longo de 20 anos por meio da linha BNDES Exim Pós-embarque. Como já explicado, em caso de inadimplência do devedor, a estrutura de garantias é acionada e o BNDES é ressarcido como, por exemplo, pelo Fundo de Garantia à Exportação (FGE). Esse fundo é vinculado ao Ministério da Economia e tem como finalidade dar cobertura às garantias prestadas pela União nas operações de crédito à exportação. Ou seja, assegura as exportações brasileiras de bens e serviços contra os riscos comerciais e políticos dessas transações. Você pode ter acesso a lista completa dos países que receberam os recursos do BNDES nesse link. Quais obras no exterior citadas na publicação de fato foram financiadas pelo BNDES durante o governo do PT? O BNDES explica que não financia projetos em outros países, mas sim a exportação de bens e serviços produzidos no Brasil. Essa remessa de recursos para o exterior funciona assim: o financiamento é feito em reais para a empresa brasileira que vai executar a obra, exportando seus serviços, e o importador, no caso o governo desses países, torna-se o credor da dívida, sendo o responsável pelo pagamento do financiamento ao BNDES. Embora os empréstimos sejam contratados com as empresas, são sempre vinculados a projetos específicos nos países importadores dos bens ou serviços exportados. Os governos desses países se tornam devedores do banco brasileiro, tendo suas obrigações reguladas por meio de contratos de financiamento, conforme explicou o banco ao Estadão Verifica: “Os desembolsos de recursos são efetuados em reais, no Brasil, diretamente ao exportador brasileiro, com base nas exportações efetivamente realizadas e comprovadas. O importador, ao receber os bens e serviços exportados pela empresa brasileira, em vez de efetuar o pagamento à vista, direto ao exportador, reconhece a dívida correspondente aos bens e serviços exportados e autoriza o BNDES a desembolsar os recursos para o exportador, em seu nome, em reais e no Brasil. Ao desembolsar os recursos ao exportador, o BNDES torna-se credor do importador, que efetuará o repagamento da dívida ao BNDES, conforme disciplinado no contrato de financiamento”. Para checar as obras no exterior que foram beneficiadas e os valores, o Comprova voltou aos dados disponibilizados pelo BNDES no Portal da Transparência. Nele é possível fazer uma busca detalhada sobre o período de contrato das obras em cada país. Veja no infográfico abaixo as obras citadas que realmente foram beneficiadas por financiamentos do BNDES na sequência que aparecem no texto: Venezuela Além das obras citadas acima, o BNDES ainda financiou a execução, no valor de US$ 78 milhões, para a construção do trecho El Valle-La Rinconada, com 6,2 km de extensão, nas estações 1 e 3 intercâmbio intermodal, da linha 3 do metrô de Caracas. Outras obras Vale lembrar que em Cuba, além das obras do Porto de Mariel, o BNDES também forneceu recursos para empresas brasileiras que executaram serviços na construção de uma planta para a produção de soluções parenterais de grande volume (SPGV) e soluções para hemodiálise (SCH) na República de Cuba. Já no Equador, a obra para um projeto de irrigação Trasvase Daule Vinces para otimizar o aproveitamento dos recursos hídricos próximos ao Rio Daule, também recebeu financiamento para prestação de serviços brasileiros pelo BNDES no valor de US$ 136.9 milhões. Quais obras foram citadas na publicação e não receberam repasse do BNDES? Na postagem verificada pelo Comprova, consta repasse do BNDES para uma obra na ponte sobre o rio Orinoco, na Venezuela, com um suposto valor de R$ 1,1 bilhão. Apesar de matérias antigas de grandes veículos como Folha e G1 já terem afirmado que obra tinha recursos do banco, o BNDES diz que o empreendimento não foi beneficiado por seus financiamentos (ver resposta à pergunta 9 desse link). A ponte também não consta no Portal da Transparência do banco. Na África, a obra de implantação de BRT em Maputo (Moçambique), que teria tido repasses no valor de R$ 675 milhões, segundo a publicação verificada pelo Comprova, também não consta na lista do BNDES. Também é citada uma obra Aeroporto de Gana, no valor de R$ 656 milhões, que não consta na lista de repasse no Portal da Transparência do BNDES. Outras obras na América Latina citadas pela publicação verificada pelo Comprova não constam na lista do BNDES de financiamentos à exportação brasileira para obras no exterior. Alguns dos países sequer aparecem entre os beneficiados pelos empréstimos. Veja as obras citadas que não estão na lista do BNDES É verdade que dívidas de países africanos foram perdoadas pelo BNDES? Não. Na postagem checada pelo Comprova, o autor sugere que uma dívida do continente africano no valor de de R$ 2,6 bilhões foi perdoada pelo BNDES, mas isso não procede. De acordo com o BNDES não existe perdão de dívida de qualquer valor a países da África. No site do Portal da Transparência, na sessão de perguntas e respostas, a questão 14 discorre sobre o que acontece quando um país dá calote no BNDES. Grandes empreiteiras brasileiras receberam financiamentos do BNDES? Sim. Assim como na questão anterior, os valores apresentados na publicação como “empréstimos” às empreiteiras não correspondem aos valores fornecidos pelo BNDES. Como podemos observar abaixo: Os financiamentos para exportação de serviços ao exterior ainda existem? Sim. O BNDES chegou a interromper em 2016 o desembolso das operações que já haviam sido feitas e que são alvos de polêmicas e investigações, mas linhas de financiamentos à exportação brasileira para obras no exterior ainda existem. No site do banco é possível ver que ainda há pelo menos seis linhas de financiamentos voltadas para a exportação de bens e serviços brasileiros. Contexto Desde a campanha eleitoral, o presidente Jair Bolsonaro afirma que há uma “caixa-preta” no BNDES e prometeu abri-la. Após assumir a Presidência, o primeiro presidente do banco por ele nomeado, o economista Joaquim Levy, chegou a pedir demissão após pressão do governo nessa questão. Logo nos primeiros dias de janeiro, ainda na gestão Levy, o BNDES lançou em seu site uma seção que traz a lista com seus 50 maiores clientes e todas as operações com eles realizadas nos últimos 15 anos. Os dados já estavam no site antes, mas fragmentados em diversas páginas. Após a queda de Levy, o novo presidente do banco, Gustavo Montezano, que assumiu em julho, afirmou que sua gestão teria como prioridade explicar a “caixa-preta” do BNDES. Em agosto, o BNDES divulgou uma lista de pessoas e empresas que compraram aviões com juro subsidiado. A iniciativa foi vista como uma resposta ao apresentador Luciano Huck, da TV Globo, que naquela semana havia dito em evento que o governo Bolsonaro é o “o último capítulo daquilo que não deu certo”. Apesar dessas ações e de mecanismos em seu Portal da Transparência que permitem a consulta sobre boa parte dos financiamentos do BNDES, a tal “caixa-preta” sempre foi questionada por especialistas. As dúvidas centrais são se existe mesmo uma “caixa-preta’ no banco e se, caso sim, ainda há algo nela que não tenha sido revelado. Vale lembrar que vários governos de outros países e até mesmo de Estados brasileiros, possuem estruturas similares à do BNDES para fomentar negócios através de financiamentos e promover a expansão de empresas, inclusive para o exterior. Um exemplo é o Exim Bank, dos Estados Unidos. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. O post verificado foi compartilhado por um perfil pessoal no Facebook, no dia 18 de janeiro. A postagem voltou a circular nas redes sociais nos últimos dias e acumulou, até o final da tarde desta terça-feira (26), 71 mil compartilhamentos, 526 comentários e 3,6 mil reações. A Agência Lupa e o Boatos.org também checaram conteúdos similares sobre o BNDES. Há ainda uma seção no próprio site do BNDES desmentindo boatos como esse. Atualização Esta publicação foi atualizada em 4 de dezembro para inclusão de informações apuradas após a publicação da primeira versão. O terceiro parágrafo foi modificado para informar que o próprio BNDES havia publicado dados que foram posteriormente alterados; foi incluído um novo parágrafo em “Como verificamos” para trazer informações sobre uma nova entrevista que realizamos com o autor do post verificado; e editamos o terceiro parágrafo da seção “Quais são as empresas que mais receberam recursos do BNDES?” para dar conta da alteração feita pelo banco.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/artigo-manipula-dados-de-pesquisas-de-opiniao-para-fazer-parecer-que-aprovacao-de-bolsonaro-cresceu/
COMPROVA
Artigo manipula dados de pesquisas de opinião para fazer parecer que aprovação de Bolsonaro cresceu
null
2019-11-28
Texto compara pesquisas com metodologias e períodos diferentes e esconde que a desaprovação ao presidente cresceu de forma significativa desde o início do ano nas séries de pesquisas dos três institutos mencionados. Um artigo publicado nos sites Crítica Nacional e Jornal da Cidade Online mistura dados de pesquisas de Ibope, Datafolha e XP/Ipespe sobre avaliação de governo para fazer parecer que a opinião dos brasileiros em relação a Jair Bolsonaro tem melhorado. O texto esconde que a desaprovação a Bolsonaro cresceu de forma significativa desde o início do ano nas séries de pesquisas dos três institutos mencionados. A aprovação ao presidente também oscilou de forma negativa nos três levantamentos. Como cada instituto de pesquisa usa metodologias e amostras distintas, os resultados também não são comparáveis entre si. Além disso, o gráfico que ilustra os artigos usa um truque para parecer que a alta de popularidade alegada foi mais acentuada. Veja o porquê: Por que começar gráficos com zero? Infogram Para reforçar a narrativa de que o presidente tem se tornado mais bem avaliado pelos brasileiros, o texto também compara dados de visualização dos canais de YouTube de Bolsonaro e do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Embora os dados estejam corretos, o desempenho em redes sociais não pode ser considerado como critério único de popularidade, já que nem toda a população brasileira tem acesso à internet — como já mostrou uma checagem anterior do Comprova. Artigos com alegações semelhantes às publicadas por Crítica Nacional e Jornal da Cidade Online também haviam sido anteriormente divulgados pelos sites Movimento Avança Brasil e Liga Patriótica. Depois do contato do Comprova, o Jornal da Cidade Online atualizou o artigo para incluir dados da pesquisa XP/Ipespe de desaprovação e expectativa do governo. O site comunicou ainda que não tem responsabilidade pelos textos que reproduz em sua página. No dia seguinte à publicação da checagem, atualizou mais uma vez a página, dessa vez com o título “Erramos: pesquisas não apontam melhora na avaliação do governo Bolsonaro”. Em um primeiro e-mail, o site comunicou também que não tinha responsabilidade pelos textos de terceiros que reproduz em sua página. Depois, se retificou: “A informação questionada não havia sido coletada por nós e, portanto, a responsabilidade de defendê-la perante os seus questionamentos era da fonte, no caso o Crítica Nacional. Sempre nos responsabilizamos por tudo publicado no nosso site.” Já o Crítica Nacional publicou um segundo texto em que afirma que o artigo original está correto e argumenta, com dados da XP de agosto e novembro, que a rejeição não cresceu. O site adiciona que “cada veículo decide o conteúdo a ser publicado de acordo com sua linha editorial” e afirma que, se houve aumento de rejeição, “cabe ao veículo de imprensa que assim o desejar coletar essa informação e exibi-la para seus leitores”. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos O Comprova consultou os relatórios das pesquisas de opinião feitas pelos institutos Datafolha, Ibope e XP/Ipespe para comparar resultados, metodologias e amostras. Também conversou com o jornalista Daniel Bramatti, editor do Estadão Dados e presidente da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji). Para checar valores de visualizações nos canais de YouTube de Bolsonaro e Lula, utilizou a ferramenta Social Blade. Por que não comparar resultados de pesquisas feitas por institutos diferentes? Cada instituto de pesquisa utiliza um método diferente para selecionar seus entrevistados. No Datafolha, as pessoas são abordadas em pontos de fluxo populacional — como praças ou ruas movimentadas. Os lugares onde são feitas as entrevistas são escolhidos por sorteio: primeiro de municípios, depois de bairros e pontos de aplicação do questionário. Os entrevistados são selecionados de acordo com cotas proporcionais de sexo e idade, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Isso é feito para garantir que as pessoas ouvidas são representativas do total da população brasileira. Na última pesquisa de avaliação do governo, realizada nos dias 29 e 30 de agosto, foram consideradas 2.875 pessoas em 275 municípios. No Ibope, a seleção de pessoas é anterior às entrevistas. A amostra é definida usando o modelo de conglomerados em três estágios. Primeiro, o instituto sorteia municípios com o método estatístico de probabilidade proporcional ao tamanho (PPT), levando em conta os eleitores que votaram nas últimas eleições. Depois, são definidos quais setores censitários daquela cidade serão pesquisados, também pelo método PPT. Esses setores são unidades territoriais demarcadas pelo IBGE — o último Censo dividiu o País em 314 mil unidades. Finalmente, dentro desses setores são escolhidos os entrevistados, seguindo cotas proporcionais de sexo, idade, grau de instrução e setor de dependência econômica. O número de pessoas dentro de cada cota é calculado de acordo com o Censo de 2010, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNADC) de 2017 e dados do TSE de 2019. As entrevistas são então feitas nas residências dos pesquisados. Para a última pesquisa de avaliação do governo, feita de 19 a 22 de setembro, foram entrevistadas 2 mil pessoas em 126 municípios. As entrevistas para a pesquisa de opinião divulgada pela XP Investimentos são feitas por telefone. De acordo com a assessoria de imprensa da instituição, os números são selecionados de forma aleatória a partir do banco de dados do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), fornecedor da XP. Os entrevistadores ligam para fixos e celulares, de pessoas físicas e jurídicas, e procuram pessoas que atendam às cotas proporcionais da população. No último levantamento de avaliação do governo, foram consideradas mil respostas entre os dias 6 e 8 de novembro. “Não é aconselhável comparar resultados de vários institutos em um mesmo gráfico quando eles usam diferentes metodologias e refletem a opinião de diferentes amostras da população”, observou Daniel Bramatti, que escreve sobre pesquisas eleitorais no jornal O Estado de S.Paulo. “Uma pesquisa funciona bem quando a composição do grupo de entrevistados é um retrato, em menor escala, da composição da população, levando-se em conta características como gênero, idade, renda, local de moradia e outras. É esse retrato em miniatura do Brasil que os bons institutos buscam ao constituir suas amostras. Se uma amostra tiver, por exemplo, mais pessoas ricas do que a proporção encontrada no país, o resultado da pesquisa não vai refletir a realidade.” O texto dos sites Crítica Nacional e Jornal da Cidade Online atribui à “agência de dados Top Digital” a análise dos resultados de pesquisas de opinião. O Comprova não encontrou registro dessa empresa em buscas no Google ou em bancos de dados de CNPJ. Pedimos aos responsáveis pelo texto o contato da agência, mas não recebemos resposta. O que as pesquisas de opinião realmente dizem sobre a aprovação de Bolsonaro? Diferentemente do que o texto quer fazer parecer, a aprovação do presidente (porcentagem de pessoas que avaliam o governo como ótimo ou bom) apresenta oscilação negativa nos três levantamentos, ou seja, está em queda. O índice de rejeição cresceu de forma significativa de acordo com todos os institutos. Confira o gráfico abaixo: Pesquisas de avaliação de governo Infogram Na pesquisa de opinião Datafolha, a aprovação a Bolsonaro apresentou oscilação negativa: de 32% após três meses de governo a 29% depois de oito meses. Apesar de o índice de agosto ser mais baixo do que o de abril, a diferença está dentro da margem de erro da pesquisa, de dois pontos percentuais. A rejeição, no entanto, subiu oito pontos entre os dois levantamentos: de 30% para 38%. O Ibope aponta tendência similar. Em abril, o índice de aprovação registrado foi de 35%, e em setembro, 31% — oscilação negativa dentro da margem de erro, que também é de dois pontos percentuais. Já a rejeição aumentou 7 pontos, de 27% a 34%. A pesquisa XP/Ipespe, feita de forma mais frequente e por telefone, também aponta oscilação negativa na taxa de aprovação do presidente. Em janeiro, 40% dos pesquisados opinaram que o governo era ótimo ou bom; em novembro, esse índice foi de 35%. A margem de erro do levantamento é de 3,2 pontos percentuais. Nessa pesquisa, a rejeição apresenta o maior salto, de 19 pontos percentuais: de 20% em janeiro para 39% em novembro. Uma forma de contextualizar a popularidade de Bolsonaro é colocar lado a lado a avaliação de seu governo e a de presidentes anteriores. Para uma comparação correta, consideramos o mesmo período dos primeiros mandatos de cada um. A avaliação do atual presidente só é melhor do que a de Itamar Franco e Michel Temer. Veja o gráfico: Avaliação dos presidentes brasileiros Infogram Qual a popularidade do presidente no YouTube? De fato, o presidente Jair Bolsonaro tem um canal de YouTube mais popular que o do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Até o dia 28 de novembro, Bolsonaro acumulava mais de 125 milhões de visualizações e somava 2,6 milhões de inscritos. Já Lula tem pouco mais de 2 milhões de visualizações, com 89,9 mil inscritos. É necessário ponderar, no entanto, que Bolsonaro tem um canal há mais tempo que Lula: ele criou sua página no YouTube em junho de 2009 e o petista, em junho de 2018. O atual presidente também postou mais vídeos: 1,7 mil, contra 243 de Lula. Essas informações estão disponíveis através de consulta na ferramenta Social Blade e nas páginas dos canais de cada político. Outra ressalva importante é que o alcance em redes sociais não deve ser utilizado como critério único para medir a popularidade de um governante. Como mostrou essa checagem do Comprova, nem todos os brasileiros têm acesso às redes sociais ou até mesmo à internet. O índice de conectividade da população é de cerca de 70%. O texto menciona que o levantamento de desempenho no YouTube foi feito pela empresa Mr. Predictions. A mesma verificação do Comprova citada anteriormente mostrou que a empresa está registrada em Florianópolis, Santa Catarina, e tem como presidente o ex-procurador da Fazenda Hugo Hoeschl. Em 2018, o Comprova desmentiu um vídeo em que Hoeschl usa de forma enganosa um conceito matemático para denunciar fraude na eleição de 2014. O mesmo vídeo foi tema de uma reportagem do site The Intercept Brasil que revelou que o ex-procurador fraudou o próprio currículo. A reportagem tentou contato com Hoeschl mas ele não quis dar entrevista. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. Os artigos nos sites Crítica Nacional e Jornal da Cidade Online tiveram, respectivamente, 387 e 6.289 compartilhamentos desde o dia 24 de novembro.
null
null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/reducao-do-adicional-de-periculosidade-so-valera-para-jovens-que-aceitarem-seguro-opcional/
COMPROVA
Redução do adicional de periculosidade só valerá para jovens que aceitarem seguro opcional
null
2019-11-26
Ao contrário do que um vídeo dá a entender, não haverá mudanças para os trabalhadores que já estão contratados e recebem o benefício É enganoso um vídeo que viralizou nas redes sociais apontando redução de 30% para 5% no adicional de periculosidade pago a trabalhadores expostos a riscos à vida, como vigilantes e motoboys. Na verdade, a mudança só atinge jovens contratados pelo programa Emprego Verde Amarelo que aceitarem a contratação de um seguro opcional para acidentes. Em um vídeo divulgado pela página Desmascarando no Facebook, um homem sugere que a MP 905 – que criou o programa – alteraria diretamente pontos da CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) sobre o adicional de periculosidade, reduzindo o valor do bônus. Segundo o boato, a medida teria efeito imediato e atingiria todos os profissionais que recebem o benefício, em todo o país. A MP de fato abre caminho para redução do bônus, mas apenas em contratações feitas dentro das regras do programa, que só atinge jovens entre 18 e 29 anos que ainda não tiveram o primeiro emprego. Além disso, só estão enquadrados nas regras contratos com prazo de até dois anos e que paguem até 1,5 salário mínimo (R$ 1.497 em 2019). Dispositivos da CLT específicos sobre o benefício não foram alterados. Ou seja, quem já está contratado e recebendo o adicional não será afetado. Além da redução do benefício nos casos em que for feita a contratação do seguro opcional, a única mudança feita pela MP nesse ponto é a exigência, para o pagamento do bônus, da exposição a risco permanente por pelo menos 50% da jornada de trabalho. Lançado em 11 de novembro pelo governo Jair Bolsonaro, o programa Emprego Verde Amarelo prevê medidas como redução da carga tributária de empresas para incentivar a contratação de jovens. Outra mudança da MP, que prevê a possibilidade de redução da multa do FGTS de 40% para 20%, também foi objeto de boato semelhante nas redes. Esta verificação analisou um vídeo da página Desmascarando no Facebook. O Comprova procurou a página sobre o caso, mas não obteve resposta até a manhã desta terça-feira, 26. A equipe também entrou em contato com Elisário Maximus, autor do vídeo, que não nos respondeu até a publicação deste texto. Enganoso para o Comprova é um conteúdo que confunde ou que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos O Comprova analisou a íntegra da Medida Provisória 905/2019, que estabelece os critérios do programa Emprego Verde Amarelo. Foram consultados também trechos da legislação trabalhista que disciplinam o pagamento do adicional de periculosidade, mais especificamente no artigo 193 da CLT. Também ouvimos especialistas em Direito do Trabalho sobre as diferenças entre o texto da MP e o que está previsto na legislação trabalhista anteriormente em vigor. Como é a regra geral para o adicional de periculosidade? De acordo com o artigo 193 da CLT, devem receber 30% de adicional sobre o salário os empregados em “condições de periculosidade”. Originalmente, no texto de 1943, o benefício era concedido apenas para trabalhadores expostos a riscos pelo manuseio de materiais perigosos – inflamáveis, explosivos ou energia elétrica. Com o tempo, os critérios da lei foram sendo alterados para ampliar o número de beneficiados. Em dezembro de 2012, a então presidente Dilma Rousseff (PT) sancionou a lei 12.740/2012, que incluiu atividades com risco de “roubos e outras espécies de violência física” no benefício. A ideia era estender o adicional para a categoria dos vigilantes. Já em junho de 2014 foi sancionada por Dilma Rousseff a lei 12.997/2014, que ampliou o benefício para todas as “atividades de trabalhador em motocicleta”. Segundo a professora Beatriz Furtado, do curso de Direito da Universidade Federal do Ceará (UFC), demais profissões dependem de reconhecimento de periculosidade em portaria da Secretaria do Trabalho, antigo Ministério do Trabalho, para incorporação do adicional. Conforme explica a professora, especialista em direito trabalhista, se um trabalhador se enquadra nos critérios, mas não recebe o benefício, ele pode cobrar o pagamento na Justiça do Trabalho. O que mudou no programa? Segundo a MP que criou o Emprego Verde Amarelo, o jovem de 18 a 29 anos em primeiro emprego pode optar, no momento da contratação, por um seguro privado para acidentes pessoais. O seguro é contratado pela empresa e cobre “morte acidental, danos corporais, danos estéticos e danos morais”. A adesão ao seguro, no entanto, implica na redução do índice do adicional de periculosidade, que passa de 30% para 5% sobre o salário. A contratação do seguro depende ainda de acordo individual por escrito entre empregador e empregado. Além disso, a MP prevê que, nos contratos firmados dentro do programa, o adicional de periculosidade só será devido quando a exposição ao perigo corresponder a mais de 50% da jornada normal de trabalho. Ou seja, em uma jornada total de oito horas, só ocorrerá a obrigação do empregador se houver exposição a perigo por mais de quatro horas diárias. Quem não optar pelo seguro, no entanto, seguirá sujeito ao texto da CLT, mantendo direito ao adicional de 30% previsto na legislação atual. Além disso, mesmo com adesão ao programa, o trabalhador mantém todos os direitos trabalhistas garantidos na Constituição Federal, como férias e 13º salário. Quais serão os novos valores com o adicional reduzido? O salário mínimo vigente em 2019 é de R$ 998. Os trabalhadores contratados sob o novo regime Emprego Verde e Amarelo receberão até 1,5 salário mínimo, ou seja, R$ 1.497. Para os cálculos, vamos usar este valor como a remuneração máxima recebida por trabalhadores contratados pelas regras do programa. Se considerarmos esse valor com o adicional de 30% sobre o salário recebido – equivalente a R$ 449,10 – o valor total final recebido pelo trabalhador será de R$ 1.946,10. Fazendo o cálculo do valor final recebido pelo trabalhador com o adicional de 5% do salário – equivalente a R$ 74,85 – a remuneração final será de R$ 1.571,85. Ou seja, na soma total haveria uma diminuição de R$ 374,25 – o que equivale a uma diminuição percentual de 19,24%. Portanto, não é possível dizer que haverá uma diminuição de 25%, como anunciado no vídeo verificado, no adicional e, sim, de 19,24%. Quando fazemos cálculo de diminuição com porcentagem, precisamos fazer a conta com os valores reais absolutos e não com a porcentagem. O autor do vídeo postado originalmente faz uma conta simples de diminuição: ele diz que, como o adicional passará de 30% para 5%, haverá uma diminuição de 25%, o que não é verdade. O valor do adicional de 30% calculado sobre 1,5 salário mínimo é R$ 449,10 e o valor do adicional de 5% também calculado sobre 1,5 salário mínimo é R$ 74,85. Para saber a diminuição porcentual entre esses dois valores, precisamos considerar os valores absolutos, ou seja, os valores em real e não a porcentagem. Podemos chegar nesse valor por meio de uma regra de três: O novo valor de R$ 74,85 equivale a 16,6% do valor antigo, de R$ 449,10. Ou seja, a redução percentual no valor do adicional em si será de 83,4%, e não de 25%, como o autor do vídeo alega. Se fizermos a conta com todo o valor recebido pelo trabalhador, precisamos somar o valor de 1,5 salário mínimo com o adicional. R$ 1.946,10 = 1,5 salário mínimo (R$ 1.497) + 30% de adicional R$ 1.571,85 = 1,5 salário mínimo (R$ 1.497) + 5% de adicional Pela regra vigente, o trabalhador recebe no máximo R$ 1.946,10. Pela regra do Emprego Verde Amarelo, o trabalhador receberia no máximo R$ 1.571,85. Novamente, precisamos considerar o valor absoluto para descobrirmos qual será a diminuição percentual no valor total recebido pelo trabalhador. Para isso, fazemos novamente uma regra de três: O trabalhador contratado sob o programa Emprego Verde Amarelo (ganhando 5% de adicional) receberá 80,76% do que os trabalhadores recebem hoje (que ganham 30% de adicional). Ao extrairmos 80,76 de 100, o resultado é uma diminuição de 19,24% no valor total do salário recebido com adicional. Portanto, é falso afirmar que o trabalhador terá uma diminuição de 25% nos ganhos. A redução do adicional de periculosidade já pode ser aplicada? Não. Apesar de o programa em si ter entrado em vigor logo após a assinatura da MP, em 11 de novembro, o prazo previsto para a contratação seguindo as regras do Verde Amarelo é para o período entre 1º de janeiro de 2020 a 31 de dezembro de 2022. Como se trata de uma medida provisória, o programa possui validade imediata de 60 dias, podendo ser prorrogado por mais 60 dias. Para se tornar definitiva, no entanto, a MP precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional, sob risco de perder validade. Apesar da expectativa positiva em torno da aprovação do projeto, o histórico do governo Bolsonaro com a votação de MPs não é positivo. Até agora, o Congresso já derrubou nove medidas provisórias do Executivo – uma foi rejeitada e as demais caducaram por falta de votação. Em resposta a outra verificação do Comprova, no entanto, o Ministério da Economia afirmou que os contratos firmados nas regras do Verde Amarelo continuarão valendo ainda que a MP não seja votada pelo Congresso. Uma reportagem de A Gazeta, veículo parceiro da coalizão do Projeto Comprova, abordou as principais regras de contratações feitas pelo programa Verde Amarelo. Em consulta feita na página do Congresso Nacional, 53.709 (96,4%) internautas haviam se manifestado, até às 16h30min desta segunda-feira, 25, contrários à medida, contra 1.959 (3,6%) votos a favor. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. O vídeo verificado foi compartilhado pela página Desmascarando no Facebook e possuía, até a tarde desta segunda-feira, 25, mais de 17 mil compartilhamentos.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C480&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-brasil-tenha-se-tornado-o-maior-exportador-do-mundo-pais-ocupa-26a-colocacao/
COMPROVA
É falso que Brasil tenha se tornado o maior exportador do mundo; país ocupa 26ª colocação
null
2019-11-21
De acordo com dados do FMI, de janeiro a julho de 2019, o país ocupa a 26ª posição entre os exportadores. Em relação ao mesmo período do ano passado, o valor das exportações brasileiras teve queda de 0,7%. É falso que o Brasil se tornou “o maior comerciante do planeta” durante o governo de Jair Bolsonaro como afirma um artigo que viralizou na internet. De acordo com dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) de janeiro a julho deste ano, o país está em 26º lugar no volume de exportações — a primeira colocação pertence aos Estados Unidos. Em relação ao mesmo período do ano passado, o valor das exportações brasileiras caiu 0,7%. O texto afirma ainda que a Ucrânia está interessada em comprar aviões, que o Japão quer negociar nióbio e que a China tem interesse no etanol do Brasil. Essas informações de fato foram noticiadas em reportagens publicadas recentemente, porém até o momento não foram registradas transações desses itens, entre os países citados, pela Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais (Secint). Essa investigação do Comprova analisou um artigo do site “O Alerta”, que não respondeu à tentativa de contato da reportagem. Falso para o Comprova é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos O Comprova analisou dados públicos sobre exportações compilados pelo FMI e pela Secint. Também consultamos os especialistas em comércio exterior Arilda Teixeira, economista e professora da Fucape Business School, e Francisco Américo Cassano, professor de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie de São Paulo. O Brasil é o maior comerciante do mundo? Não. Os dados mais atualizados de exportações mundiais, do Fundo Monetário Internacional (FMI), colocam o Brasil em 26º lugar (US$ 107 bilhões). Essa colocação leva em consideração o valor comercializado em dólares no período de janeiro a julho deste ano. Os países que mais exportam no mundo, segundo o FMI, são Estados Unidos (US$ 1,4 trilhão), China (US$ 1,3 trilhão), Alemanha (US$ 727 bilhões), Reino Unido (US$ 400 bilhões) e França (US$ 397 bilhões). Veja o ranking dos países ano a ano: A Flourish data visualization Em valor de importações no mesmo período, o Brasil está em 24º lugar (US$ 140 bilhões). Nesse ranking, os primeiros cinco colocados são China (US$ 1,4 trilhão), Estados Unidos (US$ 924 bilhões), Alemanha (US$ 727 bilhões), Japão (US$ 382 bilhões) e Holanda (US$ 377 bilhões). Levando em consideração a corrente comercial (o valor somado de exportações e importações), o Brasil fica na 23ª posição (US$ 248 bilhões). As primeiras colocações são da China (US$ 2,8 trilhões), Estados Unidos (US$ 2,3 trilhões), Alemanha (US$ 1,6 trilhão), Japão (US$ 816 bilhões) e França (US$ 751 bilhões). Os dados da Secretaria Especial de Comércio Exterior e Assuntos Internacionais (Secint) também apontam tendência de queda no comércio exterior brasileiro, porém mais acentuada que a taxa de 0,7% apontada pelos dados do FMI, que vão até julho. Segundo os dados da Secint, de janeiro a outubro, as exportações brasileiras caíram 6,8%, em relação ao mesmo período do ano passado — de R$ 198 bilhões em 2018 para R$ 185 bilhões em 2019. A corrente de comércio (soma das exportações e importações) também sofreu queda, de 4% — de R$ 350 bilhões para R$ 336 bilhões. A diferença entre exportações e importações, o chamado saldo da balança comercial, foi de R$ 35 bilhões entre janeiro e outubro. No mesmo período do ano anterior, este valor havia sido 26% mais alto — R$ 47 bilhões. Veja abaixo a série histórica para esses quatro índices. A Flourish data visualization De acordo com Arilda Teixeira, economista e professora da Fucape Business School, o Brasil ainda está muito longe de ser um grande exportador. “Para isso, é preciso investir na base que é a educação, qualificando e especializando a mão-de-obra. Assim, o país conseguirá desenvolver a indústria de transformação e começar a exportar produtos de maior valor agregado”, diz. A economista vê como positivas as políticas para comércio exterior propostas pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, porém alerta que a equipe econômica não consegue fazer “mágica” em tão pouco tempo de governo. O professor do Centro de Ciências Sociais Aplicadas da Universidade Presbiteriana Mackenzie, Francisco Américo Cassano, alerta que o sistema protecionista prejudica as exportações e que o atual governo está tomando medidas importantes para abrir o mercado. “A relação de importação e exportação entre dois países é uma via de mão dupla: temos que abrir nosso mercado para investimentos estrangeiros e, por meio desta parceria, o país que investe aqui pode se tornar um grande importador”, diz. Brasil vende aviões, nióbio e etanol para Ucrânia, Japão e China, respectivamente? Recentemente, reportagens da imprensa apontaram interesse de investidores estrangeiros nos produtos citados no artigo de “O Alerta” — aviões, nióbio e etanol. Em agosto, a agência de notícias Reuters reportou que a China estabeleceu como meta misturar 10% de etanol em toda a gasolina utilizada no país até 2020. Essa iniciativa animou produtores brasileiros, mas fontes ouvidas pela Reuters não preveem alta nas exportações do biocombustível a curto prazo. Em outubro, o jornal Valor Econômico mostrou que empresas japonesas têm interesse em investir em minerais raros brasileiros, como o nióbio e o grafeno. O embaixador brasileiro no Japão, Eduardo Saboia, ouvido pela reportagem, afirmou que os dois países estão aprofundando a cooperação para produção e uso desses materiais. O Brasil detém 76% do comércio global de nióbio, de acordo com o Valor. Também no mês passado, o jornal O Globo divulgou que o presidente ucraniano, Volodymyr Zelenski, demonstrou interesse em adquirir aviões militares brasileiros. A declaração foi feita durante reunião com o presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, quando os dois líderes visitaram o Japão para a entronização do imperador daquele país. Apesar destes acenos positivos, a Secint ainda não registrou venda desses produtos para esses três países até outubro deste ano (confira aqui os produtos exportados para China, Japão e Ucrânia). Em geral, o valor comercializado de ferro-nióbio corresponde a apenas 1% do total das exportações brasileiras. Aviões (sem incluir partes de aeronaves) representam 1,3% do valor das exportações. Os principais produtos exportados pelo Brasil são soja (12%), óleos brutos de petróleo (10%) e minérios de ferro (9%). Segundo a economista Arilda Teixeira, a concentração em produtos de baixo valor agregado coloca o Brasil em uma posição pouco confortável no comércio exterior. Os principais parceiros comerciais do Brasil, segundo dados do Secint de janeiro a outubro deste ano, são a China (28% do valor das exportações), os Estados Unidos (13%), a Holanda (5%), a Argentina (4%) e o Chile (2%). Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. O artigo publicado pelo site “O Alerta” teve cerca de 204 mil interações no Facebook, sendo quase 36 mil compartilhamentos, segundo a ferramenta CrowdTangle. O texto foi publicado no dia 24 de outubro.
https://public.flourish.…sources/bosh.svg
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/com-correcao-pela-inflacao-dolar-sob-bolsonaro-nao-e-o-mais-caro-desde-o-plano-real/
COMPROVA
Com correção pela inflação, dólar sob Bolsonaro não é o mais caro desde o Plano Real
null
2019-11-21
Valores citados em posts que viralizaram não são verdadeiros, e números corrigidos mostram pico ainda no governo FHC, de R$ 7,577 É enganoso que, nesta semana, o dólar tenha atingido seu valor mais alto desde a criação do Plano Real. Apesar de a cotação de R$ 4,20 atingida na última segunda-feira (18), de fato, ser o maior valor nominal (valor sem correção) para o dólar desde que o real foi implantado, ele não leva em conta a inflação tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos. Fazer esta correção é importante porque, ao longo do tempo, a inflação altera o poder de compra das moedas. O que se podia obter com US$ 1 ou R$ 1 em 2002 não é o mesmo que se pode comprar hoje com as mesmas quantidades de cada moeda. Assim, levando em conta a inflação nos EUA e no Brasil, o pico do dólar pós Plano Real ocorreu no fim do governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB), em 22 de outubro de 2002. O valor atualizado é de R$ 7,577. O valor nominal na época foi de R$ 3,9522. Para o Comprova, enganoso é o conteúdo que confunde ou que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos O Comprova recorreu a uma base de dados da consultoria Economatica para identificar os maiores valores nominais (sem inflação) do real frente ao dólar. Estes valores foram conferidos junto a dados de cotação do dólar disponíveis no site do Banco Central. Também ouviu o economista Joelson Sampaio, professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Para fazer a comparação entre os valores corrigidos, usamos uma tabela elaborada pela empresa de publicações financeiras Empiricus, que corrigiu os valores do dólar pelo CPI (Consumer Price Index, ou índice de preços ao consumidor) e pelo IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo) desde 2002. O CPI é um índice de inflação dos EUA, medido pelo governo americano. O IPCA é medido pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). O Comprova também procurou o dono do perfil @FabioLau20, autor de um tuíte com os dados errados que teve quase 20 mil interações. Ele disse que não coletou os números, mas que entendeu que os valores correspondiam ao “pico dos variados picos de valorização do dólar ao longo do governo”. Ele afirmou ainda, que foi alertado por outros internautas, após a postagem, que os valores não tinham sido corrigidos pela inflação. No entanto, até o começo da tarde desta quinta-feira (21), o post continuava no ar. Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais. Esses valores foram realmente os picos do dólar nesses governos? Não. Mesmo em valores nominais — ou seja, sem considerar a inflação –, os valores de cotação para o dólar apontados por um tuíte que vem sendo compartilhado em diversos perfis, inclusive no Facebook, não coincidem com os picos em cada um dos governos, exceto no caso de Bolsonaro. Todos os valores encontrados pelo Comprova e apontados a seguir como pico de cotação do dólar são nominais. Ou seja, sem considerar a inflação do real e do dólar americano. O Comprova levantou as cotações no governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), Dilma Rousseff (2011-2016), Michel Temer (2016-2018) e Jair Bolsonaro (2019) por meio da consultoria Economatica e também no site do Banco Central. A Flourish data visualization Nos oito anos de governo FHC, a cotação mais alta para o dólar foi de R$ 3,9552, no dia 22 de outubro de 2002 — diferente dos R$ 3,53, naquele mesmo ano, apontados pelo tuíte. No caso dos oito anos de governo Lula, o pico foi de R$ 3,6623 no dia 27 de janeiro de 2013. A postagem aponta um valor bem menor, de R$ 1,66, em 2010. Durante o governo Dilma, o valor mais alto alcançado pelo dólar americano foi de R$ 4,1949, no dia 24 de setembro de 2015 – enquanto a postagem verificada pelo Comprova diz que o pico foi de R$ 2,13, em 2013, antes das manifestações. Já ao longo do governo Temer, a cotação mais alta foi de R$ 4,1879, em 14 de setembro de 2018 – e não de R$ 3,70, em 2016. O único valor a coincidir é o do governo Bolsonaro, de R$ 4,2084, em 19 de novembro de 2019. O que é dólar Ptax? Os valores encontrados pelo Comprova junto ao Banco Central correspondem ao chamado “Fechamento Ptax”. Desde julho de 2011, o dólar Ptax corresponde a uma média das cotações de compra e venda do dólar comercial informados pelos negociadores ao longo do dia. De acordo com o economista Joelson Sampaio, que é professor da Fundação Getúlio Vargas (FGV), o Ptax é o valor a ser considerado para se entender o mercado. “O Ptax é uma média que o Banco Central calcula. Mas, se você quer viajar para a Disney, por exemplo, você considera o valor do dólar turismo. Se é para fazer uma operação em uma empresa, é o dólar comercial. Para entender o mercado, você usa o Ptax, que é uma média das negociações”, explicou. Com a inflação (em dólar e real), como ficariam esses valores? Com os valores corrigidos, o patamar de R$ 4,20 atingido nesta semana ainda ficaria abaixo dos valores máximos atingidos em governos anteriores. O valor mais alto após as correções pelo CPI americano e pelo IPCA brasileiro foi o de R$ 7,577 no dia 22 de outubro de 2002, quando o presidente era Fernando Henrique Cardoso. No governo Lula (2003-2010), o valor mais alto após as correções foi de R$ 6,536, no dia 27 de janeiro de 2003. Sob Dilma Rousseff (2011-2016), o dólar teve o seu valor real mais alto em 24 de setembro de 2015, com R$ 4,67. No mandato de Michel Temer (2016-2018), o valor mais alto do dólar, já após as correções, foi de R$ 4,257. Esse patamar foi atingido nos dias 30 de agosto e 14 de setembro de 2018. Contexto Diversas postagens nas redes sociais e até reportagens envolvendo a cotação do dólar começaram a circular depois que a moeda americana alcançou a marca nominal de R$ 4,206, nesta segunda-feira (18) e chegou a R$ 4,2084 na terça (19). De acordo com o economista Joelson Sampaio, da FGV, são os eventos políticos – como eleições, risco político, guerras e picos comerciais– que influenciam na cotação do dólar. No caso do pico de R$ 4,20 da última segunda-feira (18), houve influências tanto da guerra comercial entre Estados Unidos e China, quanto do baixo fluxo cambial do Banco Central. Em 22 de outubro de 2002, quando houve o pico nominal do dólar no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), um episódio chamou a atenção: na véspera, a polícia de São Paulo conseguiu frustrar um atentado a bomba planejado contra a sede da Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa). O ataque estaria sendo orquestrado pela facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC). Naquele mesmo mês, no dia 27 de outubro, Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito presidente do Brasil, com 61,27% dos votos, contra o tucano José Serra. No governo Lula (PT), o pico do dólar em valores nominais aconteceu no dia 27 de janeiro de 2003 – menos de um mês após a posse do presidente petista. Já no governo Dilma (PT), a maior cotação nominal para o dólar foi de R$ 4,1949, no dia 24 de setembro de 2015. Foi a data em que o então presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), leu no plenário o rito do processo de impeachment de Dilma. Naquele mesmo dia, o Ministério de Minas e Energia também decidiu adiar um leilão de hidrelétricas. Por fim, durante o governo de Temer (MDB), o pico do dólar nominal aconteceu no dia 14 de setembro de 2018, a menos de um mês do primeiro turno das eleições presidenciais. Naquele dia, o Instituto Datafolha apontou que Bolsonaro, mesmo afastado da campanha após sofrer uma facada, liderava a corrida presidencial com 26% das intenções de voto. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. O tuíte verificado foi postado pelo Comprova foi compartilhado no Twitter e no Facebook, incluindo a página ‘Capitalistas sem Capital’. Apenas o tuíte original havia recebido 4,2 mil compartilhamentos e 14,7 mil curtidas até o final da tarde desta quarta-feira (20). No Facebook, na mesma data, o post foi compartilhado 373 vezes. Aos Fatos também verificou esse conteúdo.
https://public.flourish.…sources/bosh.svg
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/reducao-da-multa-do-fgts-de-40-para-20-so-valera-para-jovens-e-devera-ser-acordada-em-contrato/
COMPROVA
Redução da multa do FGTS de 40% para 20% só valerá para jovens e deverá ser acordada em contrato
null
2019-11-14
Após MP do governo Bolsonaro, publicações induzem leitor a acreditar que multa em caso de rescisão contratual sem justa causa será reduzida pela metade para todos os trabalhadores. O texto, porém, só abre essa possibilidade para jovens contratados por nova modalidade. Publicações compartilhadas no Facebook misturam prints de notícias sobre a medida provisória 905/2019, assinada pelo presidente Jair Bolsonaro e que cria o programa Emprego Verde Amarelo, e afirmações enganosas sobre mudanças na multa rescisória do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). O Comprova verificou dois posts da página “Todos contra o fim da Aposentadoria” que sugerem, enganosamente, que a multa de 40% — um direito do trabalhador em caso de demissão sem justa causa—, será reduzida para 20% para todos os trabalhadores por conta do programa. Uma das publicações diz que, se o trabalhador for dispensado, o “valor da multa não é mais 40% e sim 20% […] Ajudando os empresários”. A página usa prints de títulos de matérias do Correio e do Metrópoles. As duas reportagens, no entanto, deixam claro que a regra vale para novas contratações. Lançado nessa segunda-feira (11), o programa prevê medidas como redução na carga tributária de empresas para incentivar a contratação de jovens. De fato, o texto abre caminho para redução da multa do FGTS, mas apenas para jovens de 18 a 29 anos que nunca tiveram emprego formal e que forem contratados pelo novo regime de emprego por um prazo de até dois anos, conforme explicado no site do Ministério da Economia. Para que seja possível aplicar a multa de 20% será preciso comum acordo entre o empregador e o jovem empregado no momento da contratação. Já para os demais trabalhadores não haverá nenhuma mudança e a multa seguirá sendo de 40%. Enganoso para o Comprova é o conteúdo que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; que confunde ou que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos O Comprova consultou o texto completo da medida provisória 905/2019, que dispõe sobre as regras gerais do novo programa, a apresentação do governo feita para a imprensa no dia 11, e as reportagens que são usadas em forma de print nas publicações, dos jornais Correio e Metrópoles. Acessamos ainda o texto oficial no portal do Ministério da Economia e buscamos por reportagens de veículos jornalísticos explicando as mudanças. Para tirar dúvidas sobre o conteúdo compartilhado, entramos em contato com a página “Todos contra o fim da Aposentadoria”, mas não obtivemos resposta até a publicação deste texto. Também ouvimos o próprio Ministério da Economia e advogados trabalhistas para falar sobre os efeitos da MP, caso o Congresso a rejeite. Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais. A multa do FGTS na rescisão contratual vai realmente baixar? Em quais casos? A medida provisória nº 905, de 11 de novembro de 2019, que cria o programa Emprego Verde Amarelo, prevê que o valor da multa rescisória poderá sim ser reduzido de 40% para 20% sobre o saldo das contribuições ao FGTS em caso de demissão sem justa causa. Isso, porém, só valerá para jovens de 18 a 29 anos que nunca tiveram emprego formal e que forem contratados pela nova modalidade. Segundo o Ministério da Economia, a redução deverá ser decidida em comum acordo entre o empregado e o empregador, no momento da contratação. Essa multa, porém, passará a ser obrigatória mesmo na hipótese de demissão com justa causa, o que não ocorre com outras modalidades de contratação. Este texto do Agora, faz uma simulação do quanto um trabalhador receberia, do Fundo de Garantia, nas modalidades de contratação atual e a “Verde e Amarelo”. Diferente do que sugerem as publicações da página “Todos contra o fim da Aposentadoria”, nem todos os trabalhadores serão atingidos pela nova regra. A medida vale para remunerações de até um salário mínimo e meio e apenas para novos postos de trabalhos, com prazo de contratação de dois anos. Ou seja, um trabalhador já contratado pelo regime convencional não entrará na nova legislação, portanto as empresas não poderão substituir um trabalhador já contratado por outro do programa Verde Amarelo. E esta modalidade não poderá ultrapassar o limite de 20% do total de funcionários. A redução da multa para esses novos contratos se dá pelo fato que a contribuição das empresas ao FGTS cairá de 8% para 2% para esses jovens. A MP também extingue uma multa adicional de 10% do FGTS que ia para a União. Hoje, a empresa tem que pagar, no ato da rescisão, 50% de multa sobre o saldo de contribuições que fez ao FGTS do trabalhador. Desse total, 40% vai para o trabalhador e 10% para o governo, recurso que era utilizado, por exemplo, no financiamento habitacional. Vale lembrar que a possibilidade de multa de 20% do FGTS existe desde a reforma trabalhista, que criou a demissão por comum acordo (distrato). O trabalhador que optar por essa nova forma de demissão perde o direito ao seguro-desemprego e ganha só metade do aviso prévio e da multa do FGTS (o total é 40%; portanto, o empregado recebe 20%). Quem será afetado pela regra? Esse novo contrato Verde Amarelo só se aplica para pessoas entre 18 e 29 anos no primeiro emprego, jovem aprendiz, trabalho avulso e trabalho intermitente. Não muda nada para quem já está no mercado de trabalho. De acordo com o advogado trabalhista Murilo Cardoso, do escritório Cardoso Advocacia, além da MP não interferir em quem já é contratado, seria inconstitucional reduzir a multa do FGTS para contratos já em vigor, já que se trata de direito adquirido. Mesmo quem for contratado pelo programa continuará tendo os direitos trabalhistas garantidos na Constituição, como férias e 13º salário. Segundo advogados ouvidos pela Folha de S.Paulo, as medidas esbarram na Constituição. Para eles, alteração da multa do FGTS e desonerações por faixa etária não poderiam ser feitas por MP. Quais são as regras previstas para o novo modelo de contratação proposto pelo governo? O pacote de medida provisória nº 905, de 11 de novembro de 2019, para ampliar a contratação de jovens que tenham entre 18 e 29 anos alterou alguns pontos da legislação trabalhista. Essa reportagem de A Gazeta, veículo parceiro da coalizão do Projeto Comprova, discorre sobre as principais regras do programa Verde Amarelo, proposto pelo atual governo, assim como essa reportagem do jornal O Globo. Quem for contratado por meio do plano Verde Amarelo terá um contrato com a empresa de no máximo 24 meses. As novas contratações feitas por este modelo poderão ser realizadas até 31/12/2022. No vídeo-gráfico abaixo, o Comprova reuniu algumas informações importantes sobre o regime de contração do Programa Verde Amarelo. As mudanças já estão valendo? O Emprego Verde Amarelo foi criado por meio da MP em 11 de novembro de 2019 e suas mudanças estão valendo a partir desta data. Medidas provisórias têm validade de 60 dias a partir da data que foram assinadas, com possibilidade de prorrogação para mais 60 e, dentro desse período, o Congresso precisa aprovar para que ela vire lei. Caso não seja aprovada, o programa perde a validade. Segundo o advogado especialista em direito do trabalho Ruslan Stuchi, caso a medida provisória não seja aprovada no Congresso, são os próprios parlamentares que devem decidir sobre o que acontecerá com as pessoas que foram contratadas sob esse regime. “Quando uma MP não é aprovada, o Congresso analisa os efeitos dela na sociedade e decide se mantém as regras, se as adapta ou se as derruba totalmente. Neste caso, é bem provável que esta MP seja aprovada porque ela envolve bem mais do que multa no FGTS; ela propõe mudanças significativas nos débitos trabalhistas, no microcrédito, na reorganização da fiscalização do trabalho, entre outros. É uma MP muito complexa para ser derrubada”, diz. Consultado, o Ministério da Economia disse que, mesmo que a MP 905/2019 não seja votada pelo Congresso, “os contratos já firmados nas regras do contrato Verde e Amarelo continuarão valendo”. O advogado trabalhista Murilo Cardoso explica que o Congresso tem 45 dias para deliberar sobre uma MP a partir da publicação dela. “Os deputados já podem iniciar as discussões após 48 horas da publicação da MP. Caso ultrapasse o prazo de 45 dias sem uma decisão, essa MP tranca a pauta no Congresso, ele não pode deliberar sobre mais nenhuma questão. É uma forma constitucional de forçar o Congresso a decidir”, explica. Apesar da previsão positiva para que a MP seja aprovada pelo Congresso, Jair Bolsonaro tem uma baixa média de aprovação da MPs assinadas por ele. Das 36 propostas neste ano, apenas 3 foram aprovadas e viraram leis e 14 ainda estão em tramitação. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. Os posts verificados foram compartilhados pela página no Facebook ‘Todos contra o fim da Aposentadoria’. As duas postagens acumulavam, até o final da tarde desta quarta-feira (14), 8,2 mil compartilhamentos e outros 3,2 mil comentários. Veja também Entenda o programa Verde Amarelo que prevê abrir emprego para jovens (A Gazeta) Minirreforma trabalhista: Programa Verde Amarelo muda regras que vão além do emprego para jovens (O Globo) Entenda como funciona o FGTS (G1) Multa de FGTS cai de 40% para 20% no novo modelo de contratação do governo (CORREIO) Multa do FGTS será menor em modelo de contratação que será lançado pelo governo (Estadão) Governo: multa do FGTS cairá de 40% a 20% em novas contratações (Metrópoles)
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/audio-inventa-que-producao-de-montadora-esta-esgotada-ate-2021-para-afirmar-que-brasil-pode-se-tornar-maior-economia-do-mundo/
COMPROVA
Áudio inventa que produção de montadora está esgotada até 2021 para afirmar que Brasil pode se tornar maior economia do mundo
null
2019-11-14
Projeções do PIB mostram que a economia brasileira ainda é muito menor do que a maior economia do mundo, os EUA. E também a previsão de crescimento do Brasil para 2020 é menor. Além disso, a empresa negou que o presidente da Mercedes-Benz Brasil tenha afirmado que toda produção da fábrica até 2021 já foi vendida. Não é verdade que toda a produção de caminhões da Mercedes-Benz no Brasil até o início de 2021 tenha sido vendida, informou a própria empresa ao Comprova. O boato viralizou no Facebook e em grupos de Whatsapp desde o fim de semana. O autor de um áudio viralizado diz que foi a Joinville (SC) para uma reunião com o “Grupo Martinelli” e recebeu um “feedback” sobre uma palestra dada no dia 4 de novembro pelo presidente da Mercedes-Benz no Brasil, Philipp Schiemer, na Associação Comercial e Industrial de Joinville (ACIJ). A palestra de Schiemer na ACIJ de fato ocorreu e foi noticiada tanto no site quanto nas redes sociais da associação. Não houve, no entanto, qualquer menção ao conteúdo informado no áudio que viralizou, segundo o qual “a Europa toda está prevendo o Brasil se tornar a maior economia do mundo em pouquíssimo tempo” com as ações tomadas pelo governo Bolsonaro. Considerando a projeção do PIB de 2019 calculada pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), a economia brasileira ainda é muito menor do que a maior economia do mundo, os EUA. O Brasil deve encerrar 2019 como a nona maior economia do mundo, com PIB de US$ 1,85 trilhão. Esse valor corresponde a menos de 10% da projeção para o PIB anual dos EUA: US$ 21,44 trilhões. O narrador do áudio também afirma que é preciso apoiar o programa Mais Brasil, do governo federal, que seria “a pá de cal para desimpedir a economia brasileira”. No entanto, além de o programa precisar da aprovação do Congresso para entrar em vigor, não há estudos aprofundados sobre os possíveis impactos das medidas propostas. Em nota ao Comprova, a assessoria da Mercedes-Benz negou que o conteúdo do áudio seja verdadeiro. “Gostaríamos muito que o mercado brasileiro estivesse tão positivo a ponto de esgotar a nossa produção. Mas reforçamos que estamos diante de mais uma ‘fake news’”. O Comprova solicitou acesso à gravação da fala completa de Schiemer durante o evento, mas tanto a Mercedes-Benz quanto a ACIJ disseram que não possuem arquivo com áudio ou vídeo da palestra. Segundo o conteúdo viralizado, Schiemer teria dito que, “hoje, se algum transportador quiser comprar mais 10 caminhões novos da Mercedes, só a partir de maio de 2021 poderíamos aceitar”. Em nenhum momento, o autor do áudio diz seu nome, nem quando foi a suposta reunião, nem quem participou dela. Falso, para o Comprova, é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos O Comprova entrou em contato com a Mercedes-Benz do Brasil e a ACIJ por e-mail, além de buscar notícias sobre a visita do presidente da montadora à ACIJ no site da própria associação e em veículos de imprensa locais, como o NSC. Além disso, foram consultadas as atuais projeções do PIB de 2019 e de crescimento do PIB em 2020, segundo o FMI. A economia brasileira pode se tornar a maior do mundo? O autor do áudio fala ainda que “a Europa toda está prevendo o Brasil se tornar a maior economia do mundo em pouquíssimo tempo”, sem citar qualquer fonte, estatística ou projeção. As fontes disponíveis publicamente apontam um cenário bastante diferente. Um dos principais indicadores de uma economia é o PIB (Produto Interno Bruto). Ele revela o valor adicionado à economia em um determinado período. Uma das formas de calculá-lo é somar o valor dos bens e serviços finais produzidos pelo país no período de tempo analisado. Considerando o PIB, a economia brasileira ainda é muito menor do que a maior economia do mundo, os EUA. Segundo dados do FMI, o Brasil deve encerrar 2019 como a nona maior economia do mundo. A Flourish data visualization Além disso, a última projeção de crescimento da economia brasileira, publicada pelo FMI, é de 0,9% – ante 2,5% que a entidade previa em janeiro deste ano. Segundo cálculos do FMI divulgados em outubro, a projeção de crescimento da economia americana em 2019 é de 2,4%. Ano passado, os EUA cresceram 2,9%. A projeção da entidade para 2020 aponta crescimento de 2% para o PIB do Brasil e de 2,1% para os EUA. Ou seja: pelo menos no ritmo de crescimento previsto pelo FMI, é impossível que a economia brasileira seja maior que a americana nos próximos anos. O professor Joelson Sampaio, coordenador do curso de economia da FGV/EESP (Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getúlio Vargas), explicou ao Comprova que um país não se torna a maior economia do mundo em tão pouco tempo. “Para o Brasil ser a maior economia do mundo, não basta só ele crescer, os outros países têm que crescer menos. É difícil justificar que você consiga crescer mais que todo o resto por muito tempo. O que faz um país crescer é investir em educação, infraestrutura, mas isso leva muitos anos. Você não consegue um crescimento econômico forte em curto prazo. Isso leva tempo. Não é algo que em dois, três ou dez anos você ultrapassa”, disse Sampaio. O que é o Mais Brasil? O narrador do áudio também afirma que o programa Mais Brasil, do governo federal, “é a pá de cal para desimpedir a economia brasileira”, sem explicar nada sobre como isso poderia acontecer, nem o que seria exatamente “desimpedir a economia brasileira”. O Mais Brasil foi anunciado no começo do mês pelo governo. Trata-se de um pacote de medidas para reduzir as despesas e possibilitar investimento público, mas que ainda precisa do aval do Congresso. Com o Mais Brasil, o governo prevê, por exemplo o repasse de R$ 400 bilhões para estados e municípios em 15 anos e a liberação de R$ 220 bilhões de fundos públicos para pagamento de juros. Ao mesmo tempo, o pacote traz propostas como reduzir as jornadas e salários de servidores quando a despesa pública obrigatória chegar a 95% das receitas; além da extinção de pequenos municípios. Analistas ouvidos pelo Nexo no começo do mês viram com ceticismo a relação entre um ajuste nas contas públicas e o crescimento da economia. Eles alertam que uma redução nos gastos com salários de servidores, por exemplo, pode ter como consequência a retração da economia. O que o presidente da Mercedes-Benz do Brasil disse em Joinville? Nenhuma das fontes consultadas — NSC, ACIJ e Mercedes-Benz — cita a suposta venda de toda a produção de caminhões da montadora no Brasil até 2021. A Mercedes-Benz, inclusive, nega isso: “Essa afirmação não procede”, declarou a empresa em nota. Segundo nota publicada no site da ACIJ, Schiemer disse na palestra em Joinville que a Mercedes-Benz planeja investir R$ 4,8 bilhões no Brasil entre 2016 e 2023. O texto também diz que Schiemer informou a entrada em circulação de 100 mil novos caminhões no país este ano. O executivo indicou que há uma expectativa de crescimento no mercado de caminhões no Brasil nos próximos dois anos. Um texto publicado no dia 4 no site NSC Total traz as mesmas informações da nota da ACIJ. O que é o “Grupo Martinelli”? Eles sabem de quem é a voz no áudio? Em resposta enviada por e-mail pela assessoria de imprensa, a ACIJ disse que não há um “Grupo Martinelli”. O que existe são duas empresas catarinenses chamadas Martinelli Advogados e Martinelli Auditores. Ambas, segundo a ACIJ, são comandadas pelo empresário e advogado João Joaquim Martinelli. João Joaquim Martinelli também é presidente da ACIJ. Segundo a associação comercial, ele afirma que a reunião citada no áudio não aconteceu, e que não sabe a procedência da gravação. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. De acordo com o Monitor de WhatsApp da UFMG, o áudio circulou em 66 grupos públicos no aplicativo até segunda-feira (11). No domingo (10), o áudio foi postado no Facebook, em forma de vídeo, pelo perfil Jose Marcio Castro Alves. O Comprova enviou mensagens para Alves por email e pela rede social, mas não obteve resposta. Até esta quinta (14), o vídeo teve 21,7 mil compartilhamentos e 272 mil visualizações. O vídeo é ilustrado por uma montagem com uma foto da sede da Mercedes-Benz no Brasil, em São Bernardo do Campo (SP), e uma imagem do presidente Jair Bolsonaro (PSL). A montagem é acompanhada pela frase “Ótima notícia”.
https://public.flourish.…sources/bosh.svg
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/contas-de-carlos-bolsonaro-em-redes-sociais-nao-foram-excluidas-por-ordem-de-gilmar-mendes/
COMPROVA
Redes sociais de Carlos Bolsonaro não foram excluídas por ordem de Gilmar Mendes
null
2019-11-13
Plataformas e STF negam ação e, portanto, Carlos não foi alvo de “censura ideológica”. Não é verdade que o vereador do Rio de Janeiro Carlos Bolsonaro (PSC) tenha sido expulso das redes sociais por ordem do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes. Depois que os perfis do filho do presidente Jair Bolsonaro (PSL) desapareceram das redes sociais na manhã desta terça-feira, 12, diversas publicações passaram a sugerir que ele havia sido alvo de retaliação por uma campanha no Twitter contra o magistrado, com a hashtag #ImpeachmentGilmarMendes. Porém, tanto as plataformas de mídia social como o Supremo negam o boato. O STF informou que não há, em seu sistema de acompanhamento processual, “ação que trate desse tema ou decisão nesse sentido”. O Twitter confirmou, em nota, que não tomou nenhuma medida em relação à conta de Carlos Bolsonaro. O Facebook (também responsável pelo Instagram) comunicou que não se pronunciaria publicamente, mas o UOL Confere, um dos parceiros do Comprova, apurou que as contas de Carlos nessas redes não foram suspensas. As agências de fact checking Lupa e Aos Fatos também confirmaram a informação. Ao ser consultada pelo Comprova se havia ou não excluído as contas do vereador, a assessoria parlamentar de Carlos informou que o gabinete ” não tem nada a declarar”. Essa investigação analisou um artigo do site Jornal da Cidade Online que inicialmente sugeria que Carlos era alvo de “censura ideológica”. O texto tratava o caso como uma ameaça à democracia e dizia que era preciso realizar manifestações em apoio ao presidente Bolsonaro, “ou vão derrubar o governo eleito pela maioria dos brasileiros”. No entanto, depois de o Comprova e o Estadão Verifica entrarem em contato com o veículo, o Jornal da Cidade Online mudou a categoria do post de “denúncia” para “opinião” e argumentou em nota que a informação não é falsa porque nem o título nem o texto afirmam categoricamente que houve censura ideológica. “Ambos simplesmente levantam tal hipótese”, disse. Também de acordo com o veículo, o artigo foi publicado antes de Carlos Bolsonaro confirmar que havia desativado os perfis por conta própria. “O texto foi ao ar às 9:11, portanto 31 minutos antes da matéria da Folha [de São Paulo] que trouxe a informação TAMBÉM NÃO CONFIRMADA por Carlos Bolsonaro até aquele momento de que ele mesmo teria desativado as contas. A matéria do Globo foi publicada NO MESMO MINUTO da nossa matéria, portanto ainda não tínhamos aquela informação”, diz a nota. O Comprova também checou uma imagem compartilhada por diversos perfis pessoais no Facebook que responsabiliza Gilmar pelo desaparecimento das contas do filho de Bolsonaro das redes sociais. Para o Comprova, falso é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Embora o Jornal da Cidade tenha feito correções em seu texto, o Comprova mantém a conclusão de falso para o conteúdo verificado originalmente já que ele havia alcançado cerca de 75 mil interações antes que a correção fosse feita. Como verificamos O Comprova entrou em contato com o STF, o Twitter, o Facebook e Carlos Bolsonaro. Também consultamos outras checagens e reportagens publicadas sobre o assunto. O que aconteceu com as contas de Carlos? Na manhã de terça-feira, 12, não era possível acessar as contas de Carlos Bolsonaro no Twitter, Facebook e Instagram. Até a noite anterior, os perfis do vereador ainda estavam no ar — Carlos era muito presente nas redes sociais, sendo apontado como um dos principais estrategistas do pai nesse campo. Carlos já admitiu ter acesso à conta do presidente no Twitter. O gabinete do vereador comunicou ao Comprova que não se pronunciaria sobre esse assunto. No entanto, fontes próximas a Carlos informaram aos jornais Folha de S. Paulo e O Globo que o próprio filho do presidente apagou seus perfis e que pretende ficar afastado das redes sociais por um tempo. O Twitter negou que tenha tomado qualquer medida em relação à conta de Carlos. Ao tentar acessar o perfil @CarlosBolsonaro, é possível ver a mensagem “essa conta não existe”. Em perfis retirados do ar pela plataforma, o aviso mostrado é diferente: “Conta suspensa. O Twitter suspende as contas que violam as Regras do Twitter”. Veja este exemplo do perfil @isentoes. O STF tem alguma relação com isso? A assessoria de imprensa do Supremo negou que o ministro Gilmar Mendes tenha relação com o desaparecimento das contas de Carlos Bolsonaro. Segundo o STF, não há no sistema de acompanhamento processual “ação que trate desse tema, ou decisão nesse sentido”. De fato, não há processos relacionados a esse assunto na consulta pública no site do STF. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. O artigo do site Jornal da Cidade Online somava mais de 75 mil interações no Facebook e Twitter desde o dia 12 de novembro, de acordo com a ferramenta CrowdTangle. Diversos perfis pessoais também compartilharam a acusação falsa contra Gilmar Mendes no Facebook. Atualização Esta verificação foi atualizada às 12h21min do dia 14 de novembro para incorporar informações encaminhadas pelo Jornal da Cidade Online que publicou o conteúdo verificado. O responsável pelo site comunicou ao Estadão Verifica, um dos membros da coalizão do Comprova, que havia feito edições no texto. Em virtude do grande alcance do conteúdo original verificado, cerca de 75 mil interações, o Comprova manteve a conclusão de falso.
null
null
['Projeto Comprova']
['Verificação']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-governo-bolsonaro-tenha-implantado-scanners-de-veiculos-na-prf/
COMPROVA
É falso que governo Bolsonaro tenha implantado scanners de veículos na PRF
null
2019-11-12
Vídeo compartilhado em redes sociais é trecho de reportagem da TV Globo exibida em 2013, quando equipamento que faz raio-x de veículos começava a ser implantado nas fronteiras do país. Em 2019, não houve nenhuma nova aquisição de scanners. É falso que scanners veiculares para uso da Polícia Rodoviária Federal (PRF) tenham sido implantados no governo Bolsonaro. Postagens que circulam nas redes sociais pelo menos desde o dia 2 de novembro utilizam um vídeo que é parte de uma reportagem do telejornal Bom Dia Brasil, da Rede Globo, veiculada no dia 4 de março de 2013. Os vídeos viralizados trazem títulos como o seguinte: “Olha o brinquedinho novo que o governo Bolsonaro implantou na PRF!!!” A matéria do Bom Dia Brasil recuperava parte de uma reportagem especial exibida no dia anterior pelo Fantástico apresentando a novidade e como funciona essa tecnologia. O equipamento é capaz de fazer um raio-x em veículos parados e em movimento e identificar drogas, armas e mercadorias fora do padrão. Além do vídeo ser antigo, a Polícia Rodoviária Federal informou ao Comprova que não foram comprados novos scanners em 2019, durante o governo de Jair Bolsonaro (PSL). O órgão não confirmou se eles ainda são utilizados. Segundo a PRF, por motivos de segurança. O Comprova identificou várias publicações com o mesmo trecho do vídeo e legendas idênticas que foram compartilhadas no Facebook, YouTube e Twitter. Até a tarde desta terça-feira (12), quatro dessas postagens no Facebook somavam quase 12 mil visualizações. Falso, para o Comprova, é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais. Como verificamos Ao assistir o vídeo, o Comprova identificou que se tratava do trecho de uma reportagem da TV Globo a partir de três elementos facilmente encontrados: a marca d’água da emissora no canto direito da tela, o microfone com os símbolos da Globo e da RPC TV, sua afiliada no Paraná, e pela grafia do telejornal Bom Dia Brasil que aparece junto dos créditos do inspetor da PRF Wilson Martines, que foi entrevistado na reportagem. Buscamos palavras-chave do vídeo no Google, como “scanner”, “raio-x” e “PRF” e as reportagens do Bom Dia Brasil e do Fantástico, ambas de março de 2013, apareceram nos primeiros resultados da busca. Ao assistir ambas as reportagens, confirmamos que o vídeo se tratava do trecho de uma reportagem do Bom Dia Brasil veiculada no dia 4 de março de 2013. O vídeo original, que tem 1min52seg, foi recortado e teve utilizado nas publicações que viralizaram apenas o trecho entre 0min13seg e 1min09seg. Comprovado que se tratava de um vídeo antigo, o Comprova procurou a Superintendência da PRF no Paraná, estado onde foram implantados os primeiros scanners – que aparecem na reportagem de 2013 -, e a Polícia Rodoviária Federal, através da sede do órgão em Brasília (DF). Em resposta ao Comprova, por e-mail, a PRF informou que não foram feitas novas aquisições de scanners neste ano. O Comprova também fez uma busca na lista de licitações de 2019 feitas pelo DPRF, entre 1º de janeiro e 6 de setembro – data da última atualização. Não foi localizada qualquer licitação para compra de scanners. Foi procurado ainda o Ministério da Justiça e Segurança Pública, que informou que o tema deveria ser tratado com a PRF. Por telefone, foi procurada ainda a Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp), responsável pela compra de 38 equipamentos em 2013, que também direcionou a equipe à PRF, em Brasília. Bolsonaro implantou scanners na PRF? A tecnologia de scanners veiculares capaz de fazer um raio-x quando os veículos estão em movimento não foi adquirida no governo Bolsonaro. Na verdade, esse tipo de equipamento já havia sido testado em 2012, ainda no mandato da então presidente Dilma Rousseff (PT). De acordo com uma publicação no site oficial do Ministério de Justiça e Segurança Pública, no ano de 2013, o governo investiu US$ 66,5 milhões, sendo US$ 1,75 milhão por scanner. Essa quantia equivale a compra de mais 38 scanners que foram distribuídos, na época, para polícias de todas as unidades da federação, 22 entre os 11 estados de fronteira e 16 para os demais estados e o Distrito Federal. O ministério reforçou em nota publicada em seu site que cinco desses equipamentos já eram utilizados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF) desde 2012. O uso de raio-x móvel fazia parte da Estratégia Nacional de Segurança Pública nas Fronteiras (Enafron), para coibir a entrada de drogas. A assessoria de comunicação da PRF informou que não houve compra de novos equipamentos de scanner este ano. Portanto, o governo Bolsonaro não chegou a investir, pelo menos por enquanto, nessa tecnologia, como diz o boato verificado pelo Comprova. Sob alegação de questões de segurança e eficácia, o órgão não informou se os equipamentos comprados anteriormente continuam em uso pela PRF e em quais locais. Como esses equipamentos funcionam? Os scanners veiculares ou automotivos são aparelhos que fazem uma ‘radiografia’ do interior de veículos parados ou em movimento. O equipamento, que se assemelha a um computador, captura imagens de objetos através da carroceria dos carros. Eles geralmente ficam dentro de um carro da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e funcionam como se fossem um radar. Os scanners começaram a ser utilizados pela PRF principalmente para apreensão de cargas contrabandeadas e de drogas vindas do Paraguai pela fronteira com o Brasil, cobrindo uma área de 16 mil quilômetros de extensão. Além disso, o scanner também é útil para inibir a circulação de quadrilhas organizadas que explodem caixas eletrônicos e fazem assaltos a agências bancárias. De acordo com o Ministério da Justiça e Segurança Pública, o aparelho tem capacidade de operação de 8 horas seguidas, o que possibilita o flagrante imediato. As imagens obtidas são gravadas e armazenadas num banco de dados que serve como base para investigações das Secretarias da Segurança Pública dos Estados. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. O vídeo verificado foi compartilhado por pelo menos 80 perfis no Facebook a partir do dia 2 de novembro de 2019. Quatro postagens somavam, até a tarde desta terça-feira (12), quase 12 mil visualizações. Também foram encontrados compartilhamentos por perfis no Twitter e no Instagram a partir de 2 de novembro e no Youtube, a partir de 9 de novembro. A postagem mais antiga encontrada pelo Comprova foi feita no Twitter pelo perfil @joanklis, mantido desde o dia 11 de outubro por um usuário que faz postagens a favor do governo Bolsonaro. O mesmo conteúdo foi compartilhado por um perfil com o mesmo nome no Facebook. O Comprova entrou em contato com o usuário através do Facebook, mas não obteve retorno. Não foi possível fazer contato no Twitter, uma vez que o envio de mensagens estava bloqueado.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-enganoso-que-fabricas-estejam-fechando-filiais-na-argentina-para-vir-ao-brasil/
COMPROVA
É enganoso que fábricas estejam fechando filiais na Argentina para vir ao Brasil
null
2019-11-08
Site republica texto de maio para dar a entender que empresas estão fechando fábricas na Argentina para se instalar no Brasil Não é verdade que fábricas estejam encerrando suas atividades na Argentina e se instalando no Brasil, como sugere publicação no Facebook que viralizou na internet desde quarta-feira (6). A publicação em questão foi feita pelo perfil do Jornal da Cidade Online. O conteúdo compartilhado é um texto do próprio site com o título “Confiança é tudo: Scania, Hyundai, GM, Carrefour e Honda anunciam investimentos no Brasil” junto à afirmação de que “inúmeras empresas estão anunciando o fechamento de suas fábricas na Argentina e instalação no Brasil”. O texto cita valores de investimentos das empresas no Brasil. Eles são verdadeiros, mas foram anunciados no primeiro semestre de 2019. No entanto, nenhuma dessas empresas anunciou fechamento de suas fábricas na Argentina. A Hyundai informou inclusive que sequer tem fábrica no país vizinho. Tampouco as empresas mencionadas estão se instalando no Brasil, visto que todas já têm unidades no país há anos. Além disso, para aqueles que chegam a abrir o link do texto, consta junto ao título como data de publicação 6 de novembro às 8h20 da manhã. Só os leitores que chegam ao fim do artigo visualizam a informação de que, na verdade, o conteúdo foi publicado originalmente em 31 de maio e atualizado em 6 de novembro. De acordo com o editor do site Jornal da Cidade Online, José Tolentino, a informação de que as empresas estariam fechando suas unidades na Argentina se baseava em um tuíte do presidente Jair Bolsonaro (PSL). Segundo ele, a informação também havia sido adicionada ao site e retirada ainda no dia 6, mas a equipe se esqueceu de atualizar as postagens nas redes sociais. Após contato do Comprova, o texto no Facebook passou a ser apenas “Confiança é tudo”. No dia 6, o presidente tuitou a informação falsa, porém citando outras empresas. A postagem foi apagada pouco mais de uma hora depois, e a informação foi desmentida pelas empresas. A postagem sobre a transferência das empresas foi feita depois de críticas de Bolsonaro ao recém-eleito presidente do país, Alberto Fernández, que tem como vice a ex-presidente Cristina Kirchner. Crítico ao kirchnerismo, Bolsonaro apoiou a reeleição de Mauricio Macri e, na quarta-feira (6), anunciou que enviará o ministro da Cidadania, Osmar Terra, para representá-lo na posse de Fernández. Essa será a primeira vez em 17 anos que um presidente brasileiro não participará da cerimônia no país vizinho. Para o Comprova, enganoso é o conteúdo que confunde ou que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos Por meio da ferramenta Wayback Machine (que salva registros de uma mesma página ao longo do tempo), o Comprova analisou as diferenças entre a publicação no site Jornal da Cidade Online em 4 de junho e em 6 de novembro. Também foram contatadas as assessorias de imprensa de cada uma das empresas mencionadas pela publicação. Você pode refazer o caminho da verificação usando os links para consultar as fontes originais. Boato é do mesmo dia de tuíte de Bolsonaro Apesar de não apontar as mesmas empresas (há apenas uma em comum), a atualização no texto do Jornal da Cidade Online foi no mesmo dia de tuíte do presidente Jair Bolsonaro (PSL) sobre fechamento de fábricas na Argentina e que foi apagado. No tuíte, o presidente brasileiro afirmava: “MWM, fábrica de motores americanos; Honda, gigante dos automóveis; e L’Oréal anunciaram fechamento de suas fábricas na Argentina e sua instalação no Brasil”, insinuando que a razão seria a eleição do candidato à presidência kirchnerista Alberto Fernández. A informação foi manchete dos principais jornais argentinos na manhã da quarta-feira (6) como se fosse verdadeira. No Clarín, o título principal, às 8h era: “Bolsonaro anunciou que três empresas fecham fábricas na Argentina para irem ao Brasil”. Mais tarde, o site publicou texto informando que o presidente apagou o tuíte. A única empresa do tuíte que também aparece no texto do Jornal da Cidade Online é a Honda. Segundo reportagem da Folha, todas as três negaram a afirmação de que estariam encerrando as atividades na Argentina. A fábrica de motores MWM Argentina, sim, fechou sua fábrica em Córdoba no mês passado, mas a empresa comunicou que isso não tinha relação com a vitória do kirchnerismo nas eleições presidenciais do mês passado. A L’Oreál disse não prever o fechamento de nenhuma fábrica na Argentina. No site “Tweets do Bolso”, do Aos Fatos, é possível consultar os tuítes publicados pela conta oficial do presidente, inclusive os apagados. O que dizem as empresas A seguir, as informações fornecidas pelas empresas mencionadas na postagem, em resposta ao Comprova. Scania Iniciou suas operações no Brasil em 1957, e desde 1962 tem uma fábrica em São Bernardo do Campo (SP). O investimento de R$ 1,4 bilhão em São Bernardo do Campo, citado pelo texto checado, foi anunciado pela empresa em maio e deverá ocorrer de 2021 a 2024. De acordo com a empresa, os últimos investimentos no país foram: um aporte de R$ 2,6 bilhões distribuído de 2016 a 2020 e um segundo, no valor de R$ 75 milhões em 2018. Na Argentina, a empresa está presente desde 1976, atualmente voltada principalmente à produção de componentes para exportação. A empresa disse que não pretende fechar sua unidade na Argentina e, pelo contrário, anunciou um novo ciclo de investimento de US$ 35 milhões no país (cerca de R$ 145 milhões). Hyundai Está presente no Brasil desde 2012, quando instalou uma fábrica em Piracicaba, no interior de São Paulo. Em março, deste ano a empresa anunciou investimento de US$ 35 milhões (cerca de R$ 145 milhões) no país. Antes dele, o último investimento da empresa foi em 2017, no valor de US$ 130 milhões (cerca de R$ 538 milhões) para a produção do SUV compacto Hyundai Creta. A empresa afirmou que não possui fábrica ou operação própria na Argentina. General Motors Está presente no Brasil desde 1925 e atualmente possui fábricas em cinco cidades brasileiras. Em março de 2019, a empresa anunciou que investiria R$ 10 bilhões de 2020 e 2024 no país. O anúncio foi realizado durante evento na presença do governador do estado de São Paulo João Doria. Na Argentina, a GM possui uma fábrica, em Rosario, que opera desde 1997. A empresa informou que não fez qualquer anúncio de que pretende fechá-la. A unidade está recebendo atualmente investimento no valor de US$ 500 milhões (cerca de R$ 2 bilhões). Honda A empresa possui três fábricas no Brasil: uma em Manaus e duas no interior de São Paulo. A mais recente foi inaugurada em abril de 2019 e envolveu o investimento de cerca de R$ 1 bilhão, segundo a empresa. Foi anunciado este ano o aporte de R$ 500 milhões na unidade em Manaus, que deve ser realizado até 2021. Em agosto de 2019, a empresa anunciou que deixará de produzir automóveis na Argentina e continuará apenas com a produção de motocicletas. A Honda está presente na Argentina desde 1978, inicialmente com importação de produtos e, desde 2006, com produção local. Carrefour O grupo Carrefour está no Brasil desde 1975 e, conforme a empresa informou, foi anunciado investimento de R$ 2 bilhões em 2019. Além disso, afirma que pretende manter o mesmo valor de investimentos para os próximos cinco anos. Na Argentina, a empresa opera há 37 anos, possui mais de 593 unidades e negou qualquer boato de fechamento de suas lojas no país. O que o Jornal da Cidade Online atualizou As únicas alterações no texto foram referentes a marcas temporais. Na publicação original em 31 de maio, o texto dizia: “Bolsonaro anunciou nesta quinta-feira (30) investimentos nas últimas semanas das seguintes empresas”. Na versão atualizada em 6 de novembro, a data do anúncio é substituída pela palavra ‘recentemente’. Outra alteração foi no parágrafo que citava as manifestações do dia 26 de maio, em apoio ao governo do presidente Jair Bolsonaro (PSL). No novo texto, a referência dá lugar às manifestações da última terça-feira (5). O restante do texto é idêntico. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. A postagem do Jornal da Cidade Online no Facebook no dia 6 de novembro acumulava mais de 24 mil interações até a tarde desta sexta (8). Desde o dia 6, segundo a ferramenta Crowdtangle, mais de 100 páginas e grupos compartilharam o texto, originalmente publicado em maio, como se fosse recente — que resultaram em quase 54 mil interações. Porém nessas outras postagens não há menção à Argentina. A Agência Lupa também verificou o boato.
https://i0.wp.com/projet…=465%2C268&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/para-desqualificar-presidente-da-une-boato-diz-que-ele-estuda-ciencias-sociais-ha-15-anos/
COMPROVA
Para desqualificar presidente da UNE, boato diz que ele estuda Ciências Sociais há 15 anos
null
2019-11-07
Em 2004, Iago Montalvão tinha 11 anos de idade. Ele passou por outros cursos, mas atualmente é estudante de Economia da USP. São falsos os posts de redes sociais que dizem que o presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Iago Montalvão Oliveira Campos, teria 33 anos e seria estudante de Ciências Sociais desde 2004 (ano em que ele completou 11 anos). Na verdade, ele tem 26 anos e, desde 2018, é estudante de Ciências Econômicas na Universidade de São Paulo (USP), no qual foi aprovado por meio do Sistema de Seleção Unificada (SISU). Antes disso, foi estudante de História em três diferentes instituições de ensino superior. A primeira matrícula foi em 2011 na Universidade Federal de Goiás (UFG). Mais tarde, pediu transferência para a Universidade de Brasília (UnB) e em 2017 ingressou na Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo. Além da idade e das informações sobre o ingresso na universidade, a publicação erra o nome de Iago ao chamá-lo de “Tiago” e “Thiago”. Falso, para o Comprova, é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos O Comprova buscou informações sobre a formação acadêmica de Iago Montalvão na página oficial da UNE e também buscou seu nome completo no Google, onde encontrou diversos links de universidades com sua aprovação no vestibular. Para confirmar que ele de fato estudou nas instituições mencionadas, entramos em contato com a Universidade de São Paulo (USP), a Universidade Federal de Goiás (UFG), a Universidade de Brasília (UnB), a Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e a CESMAC (AL). Localizamos, ainda, o Currículo Lattes, usado por acadêmicos, com o nome completo de Iago, atualizado pela última vez em março de 2013. Foram encontradas ainda reportagens na imprensa sobre a eleição de Iago Montalvão para a presidência da UNE e posicionamentos dele a respeito dos bloqueios nas verbas das universidades federais e o programa Future-se. Encontramos também registros das manifestações do dia 13 de agosto, em São Paulo, retratados na imagem usada na postagem. Também foi verificado, junto às páginas oficiais das instituições de ensino, o tempo máximo de permanência em cada um dos cursos iniciados por Iago. A equipe do Comprova entrou em contato com os autores dos posts originais no Facebook por meio de mensagens, mas não obtivemos resposta até a publicação deste texto. Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais. Quem é Iago Montalvão? A UNE publicou, em 14 de julho de 2019, um perfil do presidente Iago Montalvão após sua eleição durante o 57º Congresso da UNE, em Brasília. O texto afirma que Iago é goiano, “conterrâneo e sucessor de Honestino Guimarães e Aldo Arantes”. Iago foi eleito com 4.053 votos (70% do total) pela chapa Tsunami da Educação. No texto, consta que Iago foi membro do Grêmio do Colégio Aplicação, em Goiânia, onde fez toda a formação escolar e onde “sempre esteve na militância”. Ele foi cotista de escola pública na Universidade Federal de Goiás (UFG), onde cursou três anos de História. No texto da UNE, Iago afirma que, embora queira terminar um dia o curso de História, viu na USP a oportunidade de expandir o conhecimento na área de Economia, pois considera que “falta no país uma opinião elaborada de economistas no campo da esquerda, progressista”. Iago Montalvão é filho do professor universitário Romualdo Pessoa, que foi presidente do Sindicato dos Docentes das Universidades Federais de Goiás (Adufg). No site da Associação, há uma publicação noticiando a eleição de Iago e declarações do pai, que, segundo o texto, também fez parte do movimento estudantil desde os tempos de secundarista. Ele tem 33 anos? Não. Iago nasceu em Goiânia (GO) em 14 de maio de 1993 e tem, portanto, 26 anos. O líder estudantil enviou ao Comprova uma imagem de sua carteira nacional de habilitação, que confirmou que as informações de filiação e data de nascimento são as mesmas de outras fontes, como a nota no site da Adufg sobre seu pai e os textos sobre Iago no site da UNE. Ele estuda Ciências Sociais desde 2004? Não. Iago Montalvão é aluno do curso de Ciências Econômicas da Universidade de São Paulo (USP), no qual foi aprovado por meio do Sistema de Seleção Unificada (Sisu) de 2018. Em seu perfil oficial no Twitter, Iago diz que é estudante de Economia da USP “graças ao SISU!”. Ao Comprova, a Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA/USP) confirmou que ele é aluno do curso. Há 15 anos, em 2004, data que a postagem afirma que Iago se matriculou no curso de Ciências Sociais – sem especificar uma instituição –, Iago tinha apenas 11 anos de idade. Que cursos universitários ele já fez? Antes de estudar Economia, Iago também foi aluno de História da Universidade Federal de Goiás (UFG), da Universidade de Brasília (UnB) e da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). A UFG confirmou ao Comprova que Iago ingressou no curso de História em 2011 e informou que ele pediu transferência para outra instituição em 2016. A UnB confirmou que Iago Montalvão foi estudante da instituição “entre o 1º semestre de 2016 e o 1º semestre de 2018, no curso de História, mas não concluiu a graduação”. Um currículo Lattes acessado pelo Comprova na segunda-feira (4), com o nome e a foto de Iago, dizia que ele cursou Engenharia Elétrica na CESMAC, em Maceió, a partir de 2010; e Física na Universidade Federal de Alagoas (UFAL) a partir de 2008. No entanto, ao Comprova, Iago negou ter feito os dois cursos e não soube dizer como a informação foi parar no currículo. Segundo Iago, a última alteração que havia feito em seu Lattes foi para cadastrar um projeto de iniciação científica que fez ainda na UFG, entre 2013 e 2014. Após o contato do Comprova, Iago alterou o Lattes, ainda na segunda-feira (4), e as duas instituições já não aparecem mais no currículo. O nome de Iago não consta das listas de aprovados na Ufal para 2008 e no CESMAC para o segundo semestre de 2010. Em 2008, Iago tinha 15 anos. O que disse sobre políticas públicas de educação do governo? Iago Montalvão tem feito críticas às políticas do governo federal voltadas para a área de Educação. Em 17 de julho deste ano, três dias após a sua eleição como presidente da UNE, interrompeu uma fala do ministro da Educação, Abraham Weintraub, durante a apresentação do programa Future-se para criticar a proposta. “Ministro, cadê o dinheiro da educação? Queremos solução para os estudantes que estão sem bolsa. Queremos uma resposta para isso, uma resposta imediata. Como vamos pensar um projeto para o futuro se no presente não funciona?”, questionou, segundo publicação do site da Revista Fórum. Em entrevista ao Comprova, Iago afirmou que a circulação do conteúdo verificado pelo Comprova começou após um ato em frente ao MEC, que terminou em pancadaria e depois de ele interpelar o ministro Weintraub durante o evento do Future-se no Inep. Em 13 de agosto, o site Vermelho, que é gerido pela Associação Vermelho em convênio com o partido PC do B, também publicou uma matéria sobre o ato “Tsunami da Educação” e apontou que, segundo Iago, o presidente Bolsonaro escolheu a educação como “inimiga”. Dias antes, numa entrevista ao site Rede Brasil Atual, de uma união de sindicatos, Iago Montalvão falou sobre o bloqueio de verbas para as universidades e disse que “atacar as universidades federais é atacar o desenvolvimento do país, é atacar a retomada do crescimento e a perspectiva de futuro que a gente tem”. No site da UNE, há uma série de publicações em que a instituição presidida por Iago se posiciona contra os cortes em orçamento das universidades e o Future-se, além de convocar greve geral de professores, estudantes e técnicos. A foto é verdadeira? Sim. A imagem usada na postagem foi feita em 13 de agosto deste ano em São Paulo, durante a manifestação “Tsunami da Educação”. A mesma imagem é usada como foto de capa da página de Iago Montalvão no Facebook. Outras imagens parecidas foram compartilhadas por ele em seu perfil no Twitter. O Comprova encontrou a fotografia por meio da busca reversa no Google. A mesma imagem foi postada no site Vermelho, com crédito para a fotógrafa Karla Boughoff, que também é autora de outras fotos do mesmo dia, postadas na conta oficial da UNE no Flickr, site de compartilhamento e armazenamento de imagens. Contexto Esta não é a primeira vez que este conteúdo falso viraliza nas redes sociais. No dia 17 de agosto deste ano, quatro dias após a manifestação “Tsunami da Educação”, Iago Montalvão publicou em sua conta no Twitter uma postagem em que desmentia um conteúdo parecido. Usando outra foto de Iago Montalvão, as postagens afirmavam que “Thiego Lula da Silva”, de 33 anos, era estudante e diretor da UNE, estava há 15 anos matriculado no curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Pato Branco, junto com uma declaração atribuída a ele: “Devolvam nosso futuro”. A Universidade Federal Tecnológica do Paraná, que foi criada em 2005 – há 14 anos -, não possui um curso de Ciências Sociais no campus de Pato Branco. Na foto compartilhada em agosto, Iago usava um boné e uma camisa branca com a logo da UNE. Já na postagem compartilhada a partir do dia 1º de novembro, a imagem usada é de uma manifestação em agosto, em que o presidente da UNE usa uma camisa com uma imagem de Fernando Santa Cruz, que foi um estudante e militante do movimento estudantil brasileiro, um dos símbolos da resistência à ditadura militar do Brasil. Ele desapareceu em 22 de fevereiro de 1974, no Rio de Janeiro, aos 26 anos. Registros oficiais vinculados à Comissão Nacional da Verdade indicam que seu desaparecimento ocorreu “em razão de morte não-natural, violenta, causada pelo Estado Brasileiro”. Em julho de 2019, o presidente Jair Bolsonaro (PSL) afirmou que “Santa Cruz foi morto por correligionários que combatiam a ditadura a fim de evitar o vazamento de informações confidenciais”. Seu filho, Felipe Santa Cruz – atual presidente da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), decidiu interpelar o presidente para esclarecimentos por causa das afirmações sobre o paradeiro de seu pai. A família de Santa Cruz foi à Procuradoria Geral da República (PGR) cobrar explicações de Bolsonaro sobre as declarações. As ofensas de Bolsonaro começaram no dia 29 de julho, ao reclamar sobre a atuação da OAB no caso Adélio Bispo, autor do atentado a facadas ao então candidato durante uma passeata na cidade de Juiz de Fora, em 6 de setembro de 2018. O presidente disse que “se o presidente da OAB quiser saber como o pai desapareceu no período militar, eu conto pra ele”. Fernando Santa Cruz é um dos símbolos do movimento estudantil – alguns diretórios estudantis em universidades foram batizados com seu nome: aqui e aqui. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. O texto verificado foi publicado pela página Jovens de Direita, no Facebook, e teve 2,3 mil curtidas e 779 compartilhamentos até o final da manhã da segunda-feira (4). No início da tarde, o post, que havia sido compartilhado de um perfil pessoal no Facebook, foi excluído. O Comprova tentou contato com o dono do perfil e com a página Jovens de Direita, mas não obteve resposta. Conteúdo similar também foi publicado nos perfis @anewellss e @mansi_jose, no Twitter, somando mais de 100 interações, e na página Intervencionistas do Brasil, no Facebook, com 185 curtidas e 187 compartilhamentos até a noite de segunda-feira. Atualização No dia 23 de novembro, a página Jovens de Direita respondeu à equipe do Comprova através do Facebook. Um dos responsáveis pela página disse que há “uma equipe relativamente grande atuando todos os dias” e que, neste caso, não era possível dizer especificamente quem postou ou apagou a postagem. “O conteúdo não era de nossa autoria mas sim compartilhado de outro local. O motivo para ter sido apagado por algum dos editores certamente foi por ser apurado como fake news. Tentamos ser rigorosos com isto, mas nem todos editores tem o mesmo nível de rigor. Sempre que postada informação falsa, o editor é advertido ou punido”, disse.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-a-china-tenha-doado-60-helicopteros-militares-ao-brasil-apos-viagem-de-bolsonaro/
COMPROVA
É falso que a China tenha doado 60 helicópteros militares ao Brasil após viagem de Bolsonaro
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2019-11-06
Nem o Ministério da Defesa nem as Forças Armadas têm qualquer tipo de negociação com o governo chinês para receber helicópteros É falsa a informação que circula nas redes sociais de que o governo da China teria doado 60 helicópteros de uso militar ao Brasil. Em nota enviada ao Projeto Comprova, o Ministério da Defesa informa que nem a pasta nem as Forças Armadas possuem “qualquer negociação para recebimentos de helicópteros” do país asiático. Publicações com o boato circulam nas redes sociais desde o final de outubro, período que coincide com viagem feita por Jair Bolsonaro à China – entre 24 e 26 de outubro. Nota oficial publicada pelo Ministério das Relações Exteriores tampouco cita ganho na área militar em decorrência da reunião entre o presidente brasileiro e o líder chinês. No documento oficial, são apontados acordos em política, economia e comércio, agricultura, ciência e tecnologia, energia e educação. Dentre as conquistas com a visita, o governo brasileiro afirma que haverá maior mobilidade entre cientistas e cooperação na cultura, educação e esportes. Reportagem do jornal Folha de S.Paulo mostra que o presidente brasileiro e o dirigente chinês, Xi Jinping, assinaram 11 atos de cooperação. Dois dos documentos resultarão em aumento imediato de exportações, envolvendo protocolos sanitários para o embarque de farelo de algodão e carne processada. Para o Comprova, falso é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos O Comprova entrou em contato com o governo da China, a Embaixada da China em Brasília, a Força Aérea Brasileira (FAB), o Itamaraty e o Ministério da Defesa. Também consultamos reportagens da imprensa sobre a viagem de Jair Bolsonaro à China e os impactos para o Brasil. O único órgão que respondeu a verificação foi o Ministério da Defesa, em nota. Já o Itamaraty apenas encaminhou o comunicado oficial da pasta sobre a viagem do presidente. Procurada uma vez por e-mail e três vezes por ligações telefônicas, a Embaixada da China em Brasília não retornou o contato do Comprova. Você pode refazer o caminho da verificação usando os links para consultar as fontes originais. Boato semelhante Não é a primeira vez que um boato envolvendo “doação de helicópteros” aparece poucos dias após uma viagem internacional de Jair Bolsonaro. Em abril, menos de um mês após o presidente visitar Israel, circularam nas redes sociais diversas informações falsas apontando doação de 15 helicópteros israelenses para o Brasil. Naquela ocasião, o boato envolvendo Israel foi desmentido pelos sites de checagem Estadão Verifica, Agência Lupa, Aos Fatos e Boatos.Org. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. O texto verificado foi publicado por um perfil no Facebook e obteve mais cerca de 15,9 mil interações até o dia 5 de novembro. No Instagram, publicação semelhante foi curtida por mais de 1,8 mil perfis. A Agência Lupa também verificou o boato.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/pagina-usa-texto-do-inicio-de-janeiro-para-louvar-feitos-do-governo-bolsonaro/
COMPROVA
Página usa texto do início de janeiro para louvar “feitos” do governo Bolsonaro
null
2019-11-06
Post usa trechos de uma coluna do dia 8 de janeiro como se fosse atual para dizer que, ao contrário dos meios de comunicação brasileiros, a imprensa estrangeira vem dando destaque aos feitos importantes do novo governo. Uma publicação que viralizou no Facebook nesta semana tira de contexto uma coluna de opinião da revista Forbes para afirmar que “o Presidente Jair Bolsonaro vem devolvendo a credibilidade e a perspectiva para o nosso país”. Publicado no sábado (2), o post da página do Movimento Avança Brasil usa trechos de um texto do jornalista Kenneth Rapoza para elogiar o governo. No entanto, a coluna é do dia 8 de janeiro – quase dez meses atrás e com cenário econômico bem diferente do atual. A própria expectativa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) para 2019 destacada no texto, à época em 2,4%, foi revista em outubro para no máximo 1%. De lá para cá, o colunista da Forbes alternou entre críticas e elogios ao governo Bolsonaro. O Comprova usa a etiqueta de “contexto errado” para classificar conteúdos retirados do contexto original e usados em outro com o propósito de mudar o seu significado original. Como verificamos O post do Avança Brasil traz um print que mostra o título do texto da Forbes (“Brazil Is The Best Stock Market In The World Right Now”, ou “O Brasil é o melhor mercado de ações do mundo neste momento”). Por meio de uma busca no Google, foi possível encontrar o texto original e verificar se seu conteúdo condiz com a publicação no Facebook. O que diz o artigo destacado? No texto citado na publicação, Rapoza começa dizendo que “com apenas uma semana em 2019, o Brasil já é o melhor mercado de ações do mundo. Parabéns, Jair Bolsonaro”, afirma. Para fazer tal afirmação, o jornalista cita o fundo iShares MSCI Brazil, negociado na bolsa de valores americana e que tem como referência ações negociadas no Ibovespa (principal indicador de desempenho da bolsa brasileira). Naquele momento, segundo Rapoza, o iShares MSCI Brasil tinha desempenho melhor que outros fundos similares. No geral, a coluna é positiva em relação a Bolsonaro, mas o tom elogioso aparece no campo das expectativas com o recém-empossado governo, sobretudo pela agenda defendida pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Diz, por exemplo, que o Brasil “está no caminho para ser o mercado de melhor performance no primeiro trimestre, se não for na primeira metade de 2019.” O colunista também menciona relatório da consultoria Fitch Solutions cujos autores falam em “sentimento positivo para negócios, estimulado pelo governo de Bolsonaro”, e que a recuperação econômica ganharia ritmo nos dois trimestres seguintes. Os índices otimistas, que falavam em até 2,4% de crescimento do PIB no ano, acabaram revistos meses depois. O colunista volta a falar do tema em vários outros artigos, quase sempre destacando a necessidade de aprovação da reforma da Previdência para a continuidade do crescimento. Ao longo do ano, no entanto, o mesmo colunista oscila entre elogiar e criticar o governo. Em maio, ele chegou a escrever um artigo chamando Bolsonaro de “uma decepção”, “ao menos que você goste de ouvir seu presidente desferir golpes contra causas progressistas”. Já em julho, Rapoza afirmou que os avanços econômicos ainda são lentos e não “totalmente impressionantes“. A imprensa e a política econômica do governo Bolsonaro A publicação do Avança Brasil também faz uma crítica à imprensa brasileira, dizendo que “diferentemente da mídia nacional, a imprensa estrangeira vem dando destaque aos feitos importantes do novo governo.” A página do movimento possui diversas publicações dando a entender que há um complô de veículos de imprensa para derrubar o presidente. Recentes resultados positivos da economia, no entanto, têm sido objeto recorrente de cobertura de grandes veículos de imprensa no Brasil, contestando a tese de “boicote” levantada pela página. Maior rede de televisão do Brasil, a Rede Globo, por exemplo, destacou recentemente em reportagem crescimento recorde na Bolsa de São Paulo. Na mesma semana da publicação do Avança Brasil, a Folha de S. Paulo publicou editorial com título “Na direção certa”, destacando agenda econômica do governo e reformas propostas por Paulo Guedes. Além disso, a publicação usa o texto de um único colunista para sugerir que a imprensa internacional teria “se rendido” a Jair Bolsonaro. A tese possui difícil verificação: avaliando grandes veículos de comunicação estrangeiros, é possível encontrar tanto avaliações positivas quanto negativas do governo. Em agosto, por exemplo, o Financial Times registrou redução do risco de recessão diante de crescimentos acima das expectativas no país. Já em outubro, a revista inglesa GlobalMarkets elegeu Paulo Guedes como “o melhor ministro da Economia da América Latina” do ano. Por outro lado, a The Economist, referência internacional em análise de mercados, possui extensa cobertura negativa do governo, chegando a chamar Bolsonaro de “presidente aprendiz” e de “a mais recente ameaça da América Latina”. Um colunista da própria Forbes, destacada na publicação, cita o Brasil em lista recente de “países à beira de uma recessão”. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. O texto verificado foi publicado na página Movimento Avança Brasil no Facebook e obteve cerca de 19,8 mil interações até o dia 6 de novembro.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Contexto errado']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/boato-erra-ao-acusar-greenpeace-navio-da-ong-so-chegou-ao-nordeste-apos-vazamentos/
COMPROVA
Boato erra ao acusar Greenpeace; navio da ONG só chegou ao Nordeste após vazamentos
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2019-11-01
O vazamento teria ocorrido em julho, em navio grego que partiu da Venezuela, segundo Polícia Federal Publicação que circula nas redes sociais pede que o ministro Sergio Moro (Justiça) exija que a Polícia Federal (PF) investigue o Greenpeace. O post sugere, de forma equivocada, que a ONG é responsável pelo vazamento de óleo nas praias do Nordeste. Não há, no entanto, nenhuma prova disso. Até o momento ainda não se sabe quem são os responsáveis pelo vazamento. O boato mente ao afirmar que o navio Esperanza, da ONG, estava no litoral brasileiro na mesma época em que o óleo começou a aparecer em praias do Nordeste. Na verdade, a embarcação passou pela costa brasileira mais de um mês depois do início do desastre ambiental, em 30 de agosto. Além disso, a PF afirmou nesta sexta-feira (1º), ao deflagrar a Operação Mácula, que o principal suspeito pelo vazamento é o navio grego Bouboulina. A embarcação teria parado em Puerto José, na Venezuela, para carregar-se de barris de petróleo e, em 29 de julho, passado a 733 km da Paraíba. A PF diz que “não há indicação de outro navio (…) que poderia ter vazado ou despejado óleo, proveniente da Venezuela”. Segundo a Marinha, o navio já tinha sido detido nos Estados Unidos, por quatro dias, em abril, por risco de vazamento. A única verdade na publicação checada pelo Comprova é sugerir que, caso queira, Moro pode mandar a PF investigar o Greenpeace. De fato, a Polícia Federal é um órgão submisso ao Ministério da Justiça. O ex-juiz, inclusive, já pediu, em outras ocasiões, que a PF abrisse investigações. No desastre ambiental do Nordeste, a Polícia Federal faz a investigação criminal e a Marinha investiga a origem das manchas. O boato checado pelo Comprova foi publicado pelo site Notícias Brasil Online. O G1 já revelou que o site é uma das maiores fábricas de desinformação na internet do Brasil. Para o Comprova, falso é o conteúdo divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Como verificamos O Comprova entrou em contato com a Polícia Federal e o Ministério do Meio Ambiente. Também consultamos reportagens publicadas pela imprensa sobre o assunto. Você pode refazer o caminho da verificação do Comprova usando os links para consultar as fontes originais. O navio do Greenpeace passou pelo Brasil na época dos vazamentos? Não. O vazamento teria ocorrido em 29 de julho, a 733 quilômetros da costa de Sergipe, segundo a Polícia Federal. As manchas de óleo começaram a aparecer em praias brasileiras em 30 de agosto, segundo o Instituto Nacional de Meio Ambiente (Ibama), que mostra os dias em que o óleo começou a aparecer e aponta quais praias foram atingidas Nessa época, o navio estava nas ilhas Bermudas, região próxima aos Estados Unidos. A embarcação se dirigia à Guiana Francesa para realizar uma pesquisa em corais durante agosto e setembro. O Esperanza trafegou pelo Nordeste cerca de um mês depois do desastre ambiental, conforme cruzamento da rota marítima do navio com as datas de registro de cada localidade atingida pelo óleo. Segundo o registro do site Marine Traffic, que acompanha via GPS a localização em tempo real de embarcações pelo mundo, o navio do Greenpeace deixou o porto de Dégrad des Cannes, na Guiana Francesa, em 5 de outubro. O navio transitou pela região costeira no Norte e Nordeste do Brasil entre os dias 6 a 16 de outubro. Além disso, a foto do navio divulgada no post para acusar o Greenpeace é velha. A imagem foi feita em 30 de abril de 2016 e divulgada no site oficial da ONG. É possível verificar que a foto é de três anos atrás ao fazer o download da foto, clicar com o botão direito nela na pasta em que foi salva no computador, escolher a opção “Propriedades”, “Detalhes” e ver a data: 30/04/2016. Em sua página, o Greenpeace explica que o Esperanza é um navio que, desde abril, está viajando pelo mundo para defender a preservação dos oceanos e conscientizar as pessoas sobre o impacto das mudanças climáticas na Terra. MAPA: Veja as praias do Nordeste atingidas pelo óleo Há alguma relação entre o navio e o vazamento? Não há evidências de relação entre a embarcação do Greenpeace e o vazamento. A insinuação de que o Greenpeace esteve relacionado ao vazamento de óleo no Nordeste foi levantada pelo ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. No Twitter, ele sugeriu que o navio estava na costa brasileira antes do desastre ambiental. Salles também compartilhou texto que cita que voluntários precisam “limpar a sujeira do chilique ambiental” do Greenpeace. Ao Comprova, a pasta informou que “não houve nenhuma acusação por parte do ministro, salvo a crítica pela entidade não colaborar consistentemente com a limpeza das praias”. Após a acusação de Ricardo Salles, o Greenpeace emitiu nota repudiando-o por “jogar a culpa nas ONGS que fazem o trabalho que o governo não faz”. A ONG destacou que seus voluntários estão inclusive ajudando na limpeza das praias. “O Greenpeace atua há décadas contra a exploração de petróleo em áreas sensíveis e destaca os riscos que a atividade coloca ao meio ambiente. Há anos vemos paisagens sendo afetadas, a perda de biodiversidade e os impactos sociais causados pelo petróleo, que também é um dos principais causadores das mudanças climáticas no mundo”, diz a ONG. O ministro da Justiça tem competência para determinar a abertura de uma investigação? Em casos de “crime contra a honra do presidente”, se o ministro da Justiça exigir, a Polícia Federal deve instaurar inquérito policial, informou a Polícia Federal ao Comprova. A PF também pode começar uma investigação, a pedido do Ministério da Justiça, em casos de “repercussão interestadual ou internacional que exija repressão uniforme”. Em outros casos, a Polícia Federal tem “autonomia investigativa” – isto é, poder decidir o que será e o que não será investigado. O regimento interno da Polícia Federal diz que a instituição é fundada “na hierarquia e disciplina, com autonomia orçamentária, administrativa e financeira, integrante da estrutura básica do Ministério da Justiça e Segurança Pública”. No entanto, é preciso ressaltar que a PF responde ao Ministério da Justiça: é o presidente da República que nomeia o diretor-geral, e o orçamento da instituição é definido pelo Planalto. Há, portanto, uma relação de hierarquia entre ministro da Justiça e PF. No dia a dia, delegados podem ser retirados de investigações ou serem transferidos para outras cidades. O presidente Jair Bolsonaro foi criticado ao nomear o superintendente da PF no Rio. Após críticas, Bolsonaro disse: “Quem manda sou eu”. Na época, o presidente da Associação dos Delegados da Polícia Federal (ADPF), Edvandir Paiva, disse ao site Congresso em Foco que a PF iria buscar autonomia total para evitar a interferência de Bolsonaro e confessou que a instituição sofre pressão no dia a dia: “Há dez anos dizemos que há possibilidade de interferência política na PF. Nesse caso, agora, foi público. Mas há formas de se fazer isso nos bastidores, com corte de verba, transferências e promoções estratégicas. Ninguém fica sabendo disso”. O ministro da Justiça, Sergio Moro, já determinou, por exemplo, que a PF investigue as queimadas na Amazônia produzidas por fazendeiros, a ameaça de um youtuber ao presidente Jair Bolsonaro, o caso “Hélio Negão” e até autores de um curta sobre a filha de Moro. Mais recentemente, Jair Bolsonaro pediu que Moro faça a PF investigar a citação do presidente no caso Marielle Franco. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. O texto verificado foi publicado no site Notícia Brasil Online e obteve mais cerca de 3,6 mil interações até o dia 1º de novembro, segundo a ferramenta Crowdtangle. O Estadão Verifica, a Agência Lupa e a AFP Checamos também verificaram o boato.
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/meme-confunde-ao-destacar-posicao-do-brasil-em-ranking-de-crescimento-economico/
COMPROVA
Post confunde ao destacar posição do Brasil em ranking de crescimento econômico
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2019-11-01
Uma imagem viralizada nas redes sociais mistura informações verdadeiras e falsas para exaltar a situação da economia brasileira Uma publicação compartilhada no Facebook mistura dados falsos e verdadeiros sobre o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro para exaltar o governo de Jair Bolsonaro. Por um lado, é verdade que, em um ranking elaborado pela agência de classificação de risco Austin Rating, o crescimento da economia do país no segundo trimestre deste ano foi o terceiro maior entre um grupo de 40 nações — atrás apenas de Indonésia e Estados Unidos. É falso, por outro lado, que o aumento do PIB seja o maior desde 2013. Além disso, o post não cita a Austin Rating como fonte. O ranking da consultoria depende do índice de comparação. Enquanto o Brasil é terceiro colocado quando o PIB é medido em relação ao trimestre anterior, na comparação em relação ao segundo trimestre do ano passado o país cai para as últimas posições. Esta investigação do Comprova checou a publicação de uma usuária no Facebook que compartilha uma imagem com o logotipo do “Movimento Avança Brasil”. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde ou que seja divulgado para confundir, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos Buscamos as palavras “PIB”, “crescimento”, “Indonésia” e “Estados Unidos” no Google e encontramos uma reportagem do jornal O Globo que menciona o ranking da Austin Rating. A partir daí, entramos em contato com o economista-chefe da empresa, Alex Agostini. Também consultamos dados do Sistema Nacional de Contas Trimestrais (SNCT), do IBGE e do World Economic Outlook, do Fundo Monetário Internacional (FMI). O Comprova entrou em contato com a autora do post no Facebook e com a página “Movimento Avança Brasil”, mas não obteve resposta. A busca no site Avança Brasil não traz nenhum conteúdo com as palavras mencionadas, mas a mesma publicação foi publicado na página de Facebook do grupo em 24 de outubro. O site do Avança Brasil identifica entre seus integrantes Olavo de Carvalho, ideólogo do círculo presidencial, e o deputado federal Luiz Philippe de Orléans e Bragança, eleito pelo PSL-SP. O que diz o ranking da Austin Rating? O ranking da Austin Rating classifica os PIBs de todos os países que divulgaram resultados e exclui apenas alguns muito pequenos, especialmente africanos, onde os dados são inconsistentes. Na realidade, a consultoria criou dois rankings diferentes, um com o índice trimestre a trimestre e outro com índice anual. O primeiro tinha 40 países e o segundo, 42. De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a economia brasileira cresceu 0,4% no segundo trimestre de 2019 em relação aos três meses anteriores. É este o dado utilizado no post que viralizou. Nesta base de comparação, o Brasil de fato fica em terceiro, atrás da Indonésia e dos EUA. Ocorre que o ranking da Austin Rating aparece de forma descontextualizada na publicação verificada. A publicação não cita a consultoria responsável pelo ranking, impossibilitando que o leitor identifique a fonte, e não menciona que o crescimento trimestre a trimestre foi alto em um contexto de desaceleração da economia global. Além disso, destaca Alex Agostini, economista-chefe da Austin Rating, a posição do Brasil no ranking depende da base de comparação, trimestral ou anual. Enquanto o Brasil é terceiro colocado na base trimestral, o país cai para as últimas posições na base anual. Enquanto na comparação em relação ao três meses anteriores, a economia brasileira cresceu 0,4%, em relação ao mesmo período do ano passado, a alta foi de 1%. Quando se considera este crescimento anual de 1%, o Brasil cai para a 36ª posição entre 42 países. O crescimento é o maior em seis anos? Ao contrário do que afirma o post, as taxas de crescimento do segundo trimestre de 2019 não são as maiores taxas dos últimos seis anos, seja considerando as altas sobre o trimestre imediatamente anterior, sobre o mesmo trimestre do ano anterior ou crescimento acumulado anual. Uma consulta ao Sistema Nacional de Contas Trimestrais (SNCT) do IBGE mostra isso. No primeiro caso, trimestre a trimestre, houve várias altas maiores no período. A maior foi no primeiro trimestre de 2017, de 1,6% com ajuste sazonal. No segundo caso, sobre mesmo período do ano anterior, a maior taxa dos últimos seis anos foi no primeiro trimestre de 2014: 3,5%, além de ter sido maior em outros cinco trimestres em 2017 e 2018. No terceiro caso, de crescimento acumulado em quatro trimestres, foram verificadas taxas maiores nos três primeiros trimestres de 2014 e em todos os trimestres de 2018. A Flourish data visualization A única forma de, como faz a publicação, dizer que se trata do maior crescimento em seis anos, seria considerando apenas o segundo trimestre de cada ano, na comparação com o mesmo período do ano anterior, ou em relação aos três meses anteriores. No entanto, este não é o critério utilizado pela Austin Rating para colocar o Brasil em terceiro lugar globalmente. Qual a projeção de crescimento do Brasil? O Fundo Monetário Internacional (FMI) calcula que o crescimento do Brasil este ano seja de 0,9%, o que colocaria o país no 58º lugar globalmente, junto com Bahamas, Japão e Suécia. A entidade prevê que a economia global cresça 3% em 2019; as economias desenvolvidas devem expandir 1,7% e as emergentes, 3,9%. No ano passado, o FMI registrou alta de 1,1% no PIB brasileiro. A economia global cresceu 3,6% e os países emergentes tiveram variação média de 4,5% no Produto Interno Bruto. Repercussão nas redes O Comprova verifica conteúdos duvidosos sobre políticas públicas do governo federal que tenham grande potencial de viralização. A publicação no Facebook teve mais de 26 mil compartilhamentos entre os dias 25 de outubro e 1º de novembro. Na página do “Movimento Avança Brasil”, a mesma imagem teve 1,7 mil compartilhamentos desde 24 de outubro. Saiba mais Entenda o que é o PIB e como ele é calculado (Estadão)
https://public.flourish.…sources/bosh.svg
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/criticas-aos-direitos-dos-professores-nao-foram-feitas-por-joao-amoedo/
ESTADAO_VERIFICA
Críticas aos direitos dos professores não foram feitas por João Amoêdo
Texto é de André Capella, filiado ao Novo. Amoêdo afirma que as críticas não representam a sua opinião sobre os professores
2018-08-31
SAIBA MAIS A checagem abaixo foi publicada pelo Projeto Comprova. A verificação foi realizada por uma equipe de jornalistas da Folha de S. Paulo, O Povo e UOL. Outras redações concordaram com a checagem, no processo conhecido como “crosscheck”: Estadão, Gazeta Online, Nova Escola, NSC Comunicação, SBT e Poder 360. O Projeto Comprova é uma coalizão de 24 veículos de mídia com o objetivo de combater a desinformação durante o período eleitoral. Você pode sugerir checagens por meio do número de WhatsApp (11) 97795-0022. O material que circula no WhatsApp e nas redes sociais com críticas aos professores da rede pública atribuídas ao candidato a presidente João Amoêdo (Novo) é enganoso. O autor do artigo é, na verdade, André Capella, filiado ao partido. A informação sobre o verdadeiro autor é omitida no viral. No texto intitulado “Como ter um ensino básico de qualidade no Brasil?”, Capella diz que “a educação pública básica brasileira encontra-se em situação de falência em decorrência de um sistema de ensino que oferece muitos direitos aos professores em detrimento do direito de aprender do aluno”. Ele também critica o fato de os professores da rede pública gozarem de estabilidade no emprego. No artigo, Capella usa esta argumentação para propor a transferência gradativa dos alunos para as escolas privadas. “Neste caso, as Secretarias de Educação ofereceriam aos pais desses alunos um voucher (vale) educacional que lhes daria a opção de escolher uma escola particular para matricular seu filho”, diz. Procuradas pelo projeto Comprova, as assessorias de Amoêdo e do Novo enviaram uma nota em que afirmam que as críticas aos professores não representavam a opinião do candidato e do partido. “Este foi um texto escrito por um voluntário do Novo e publicado no blog do partido, tal como diversos outros textos de opiniões pessoais, com um aviso que deixava claro que esta era a opinião pessoal e não representava as ideias do Novo. Para evitar novos desentendimentos já foi retirado do ar.” O projeto Comprova localizou o post original do artigo usando programas que buscam conteúdos removidos da internet, como Wayback Machine e Google. A assessoria de Amoêdo afirma que ele repudia os comentários feitos por Capella. A assessoria do Novo confirma que o artigo foi escrito por Capella e publicado em 2017. Também informa que ele é filiado ao partido, mas não tem cargo na legenda nem participação no programa de governo e na campanha do candidato. O programa de governo de Amoêdo contém a proposta de dar bolsas em escolas particulares para alunos do ensino público, mas o Novo alega que as críticas feitas por Capella aos professores não serviram de base para que o partido viesse a adotá-la. “Esta é uma teoria amplamente discutida entre os especialistas e já aplicada em países como Chile e alguns estados americanos”, diz a assessoria do Novo. O material enganoso foi encaminhado ao WhatsApp do projeto Comprova (11 97795-0022). O Comprova também localizou a publicação em páginas abertas no Facebook. Em uma delas, “Verdade sem manipulação”, capturas de tela de trechos da publicação removida do site do Novo estão acompanhadas de uma foto de Amoêdo. A postagem, que até a publicação deste texto somava mais de 15 mil compartilhamentos, ainda tinha o seguinte texto: “Todos os professores do Brasil precisam saber o que o plano de governo do Amoedo diz sobre eles!”. A publicação da rede social não menciona o nome de Capella, o real autor do texto. A página “Jovens reacionários defensores da liberdade combatendo o mal” também divulga capturas de telas do texto de Capella quando estava no ar no site do Novo, apesar de não aparecer o nome do autor. O texto que acompanha as imagens inclui um link para um tuíte de Amoêdo em que o candidato defende a ideia de vouchers, e para uma página com a íntegra do texto com a assinatura de Capella e a data de publicação, 16 de março de 2017. A publicação tem mais de 10 mil compartilhamentos. SAIBA MAIS
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['joão amoêdo', 'educação']
2021-05-20
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Imagem de Marina Silva ‘invadindo fazenda’ é, na verdade, de ato contra desmatamento
Boato acusa presidenciável de ter organizado ocupações com MST, mas o movimento não tem assentamentos no Acre
2018-08-24
A checagem abaixo foi publicada pelo Projeto Comprova. A verificação foi realizada por uma equipe de jornalistas do Estado e da Gazeta Online. A redação do UOL concordou com a checagem, no processo conhecido como “crosscheck”. O Projeto Comprova é uma coalização de 24 veículos de mídia com o objetivo de combater a desinformação durante o período eleitoral. Você pode sugerir checagens por meio do número de WhatsApp (11) 97795-0022. É enganosa uma imagem que afirma que a candidata à Presidência da República nas eleições 2018 pela Rede, Marina Silva, teria invadido uma fazenda no Acre em 1986 de maneira semelhante ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Na verdade, a foto que circula no WhatsApp mostra um “empate”, manifestação feita por seringueiros para impedir o desmatamento na Fazenda Bordon, em Xapuri. O Comprova entrou em contato com a assessoria de Marina, que negou que a imagem esteja relacionada à invasão de terras ou ao MST. Segundo a nota da candidata, no “empate” os manifestantes se colocavam em frente às árvores para impedir sua derrubada. A assessoria acrescentou que a coordenador do movimento de seringueiros era o ambientalista Chico Mendes, assassinado em 1988. Em um artigo publicado na Revista Brasileira de Ciências Sociais, o antropólogo Mauro de Almeida descreve o empate liderado por Chico Mendes na fazenda Bordon. O acadêmico escreve que o ambientalista coordenou “cerca de cem seringueiros, que caminharam durante três dias pelas coivaras enegrecidas e fumegantes de florestas recém-queimadas”. Entre os participantes do protesto estavam “um fotógrafo, dois agrônomos, um antropólogo e uma jovem professora sindicalizada, Marina Silva”. Documento ARTIGO PDF Marina recordou o episódio em um discurso no Plenário do Senado, em 14 de novembro de 1996, quando ela representava o Acre na Casa. “Após andarmos seis horas a pé, chegamos onde os fazendeiros iriam derrubar ilegalmente 700 hectares de floresta. Enfrentamos os peões e a Polícia — paga com o dinheiro público — que estavam ali de prontidão para defender os interesses dos fazendeiros e percebemos que éramos impotentes para resolver um problema tão grande. Voltamos a pé e foi necessária uma engenharia enorme para permanecermos na luta”. Em uma reportagem publicada em 2013 pelo portal G1, a zeladora Maria Elvana Pereira relembrou sua participação no mesmo empate, quando tinha 15 anos. Assim como nos relatos anteriores, ela indica que os seringueiros não permaneceram ou ocuparam a fazenda. “Foi todo mundo e quando chegou lá tava a peãozada derrubando tudo e o Chico Mendes de frente, para a gente falar com os chefes lá, e eu no meio toda animada. […] Aí voltamos e em seguida o Chico Mendes fez um ato público e disse que estava sendo ameaçado de morte, que sabia que ia morrer e ele não queria que ninguém deixasse. Ele queria que continuasse a luta”. Outro elemento que reforça que a imagem não retrata uma ocupação do MST é o fato de o movimento não estar organizado no Acre. “Não realizamos, até então, nenhuma ocupação por lá. Ou seja, não temos um nível de organicidade construída, nem assentamentos ou acampamentos”, informou a assessoria do grupo, fundado oficialmente em 1984, no Paraná. Portanto, dois anos antes do protesto do qual Marina participou. A foto com a informação falsa apareceu como altamente compartilhada, nos últimos dias, no Monitor de WhatsApp, ferramenta desenvolvida pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) para acompanhar conteúdos difundidos em grupos abertos. Há uma outra versão do boato. A diferença deste é que o texto é mais assertivo. Indica, também falsamente, que a imagem retrata Marina Silva “liderando a quadrilha do MST” em uma invasão de fazenda. O site e-farsas também desmentiu a ligação do empate de Marina com o MST.
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['MST', 'comprova', 'marina silva', 'acre', 'chico mendes']
2021-05-20
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Pesquisador agiu corretamente ao não mostrar questionário de pesquisa eleitoral
Para que o resultado da pesquisa seja considerado válido, o instituto não permite que os entrevistados leiam as perguntas antes de respondê-las
2018-08-24
A checagem abaixo foi publicada pelo Projeto Comprova. A verificação foi realizada por uma equipe de jornalistas de O Povo e Folha de S. Paulo. Outras seis redações concordaram com a checagem, no processo conhecido como “crosscheck”: Estadão, UOL, Poder 360, Gazeta Online, Jornal do Commercio e NSC Comunicação. O Projeto Comprova é uma coalização de 24 veículos de mídia com o objetivo de combater a desinformação durante o período eleitoral. Você pode sugerir checagens por meio do número de WhatsApp (11) 97795-0022. Em vídeo que está sendo compartilhado nas redes sociais, um homem denuncia pesquisa do Datafolha e diz que ela foi fraudada porque o pesquisador se recusou a mostrar o questionário. A acusação não procede. Segundo o instituto de pesquisas, o pesquisador agiu corretamente. O vídeo foi gravado no Rio de Janeiro entre os dias 6 e 7 de junho, quando a pesquisa foi realizada. Na gravação, um homem, que apesar de mostrar o rosto, não se identifica, acusa o entrevistador de fraude. “Foi anulada agora a pesquisa Datafolha porque foi negada a informação de eu ler as perguntas”, diz ele. E questiona: “como é que eu posso dar credibilidade a uma pesquisa onde eu não posso ler as perguntas?”. Enquanto fala para a câmera, o homem grava também o funcionário do instituto. O pesquisador tenta esconder o rosto e, em um momento do vídeo, explica que o questionário não pode ser lido pelo entrevistado. A metodologia da pesquisa não permite que os entrevistados leiam as perguntas antes para que o resultado seja considerado válido. De acordo com o site do Datafolha, “o questionário é o principal instrumento das pesquisas e a ordem das perguntas pode influenciar as respostas dos entrevistados”. O questionário, no entanto, foi publicado no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como manda a lei, quando a pesquisa foi registrada. O registro foi feito dois dias antes do início da consulta, no dia 4 de junho, recebeu o número BR-05110/2018 e pode ser consultado por qualquer pessoa. O Comprova também entrou em contato com o Datafolha, que confirmou que o entrevistador fazia pesquisa para o Instituto. Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, afirmou que o homem agiu corretamente ao se recusar a mostrar o questionário ao entrevistado. O Comprova também questionou o Datafolha sobre o horário da pesquisa. No vídeo, gravado em lugar aberto, o céu está escuro. Paulino explicou que os pesquisadores precisam fazer pesquisas durante manhã, tarde e começo de noite porque o comportamento dos transeuntes muda. Cada entrevistador sai para pesquisa com uma grade de pessoas que precisa abordar. A gravação foi feita no início de junho deste ano, mas voltou a ser compartilhada nas redes após o resultado de nova pesquisa do instituto ser divulgado na quarta-feira, 22 de agosto. O vídeo foi compartilhado pela primeira vez na página Movimento Brasil Contra a Corrupção (MBCC) no dia 8 de junho, às 00h08. Ele voltou a ser difundido nas redes após divulgação de nova pesquisa nesta quarta, 22 de agosto. No dia, às 10h30, a página do Facebook Rio Conservador compartilhou o vídeo, que já conta com mais de 400 mil visualizações e 30 mil compartilhamentos. “Funcionário de instituto de pesquisa é pego em flagrante tentando manobrar pesquisa eleitoral. Eles estão fazendo de tudo para evitar a vitória de Bolsonaro”, diz texto que acompanha o vídeo.
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['Estadão Verifica']
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['comprova', 'datafolha', 'pesquisa eleitoral']
2021-05-20
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Imagem em post sobre ‘relatório da ONU favorável a Lula’ tem conteúdo enganoso
Não se trata de um relatório, e sim de um pedido do Comitê de Direitos Humanos da ONU para Lula poder disputar a eleição presidencial de 2018, dar entrevistas e se reunir livremente com petistas
2018-08-23
A checagem abaixo foi publicada pelo Projeto Comprova. A verificação foi realizada por uma equipe de jornalistas do UOL e Nexo. Outras seis redações concordaram com a checagem, no processo conhecido como “crosscheck”: Estadão, Jornal do Commercio, Gazeta do Povo, Rádio Bandeirantes, Gazeta Online e O Povo. O Projeto Comprova é uma coalização de 24 veículos de mídia com o objetivo de combater a desinformação durante o período eleitoral. Você pode sugerir checagens por meio do número de WhatsApp (11) 97795-0022. É enganosa uma imagem publicada no Facebook e compartilhada no WhatsApp afirmando que o relatório da Organização das Nações Unidas “favorável a Lula” é uma mentira — houve sim um pedido do Comitê de Direitos Humanos da ONU. No entanto, não se trata de um relatório, e sim de um pedido. Além disso, é impreciso dizer que a autoria é da organização como um todo. Na verdade, é de um de seus órgãos internos. Em 17 de agosto, o Comitê de Direitos Humanos da ONU emitiu um pedido (“medida provisória” ou “interim measures”) para Luiz Inácio Lula da Silva, preso e condenado pela Operação Lava Jato, poder disputar as eleições 2018, dar entrevistas e se reunir livremente com petistas antes de se esgotarem todos os recursos na Justiça brasileira. A ideia é que se tribunais superiores do Brasil eventualmente reverterem a condenação de Lula no futuro, ele terá sido prejudicado por não participar da eleição. Documento PEDIDO PDF Lula está preso desde 7 de abril em Curitiba, condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do apartamento tríplex em Guarujá (SP). Por ter sido condenado em primeira e em segunda instâncias, a candidatura do petista pode ser impedida pela Lei da Ficha Limpa. O órgão não pede que o ex-presidente seja solto nem diz se houve violações de direitos humanos no caso (o Comitê julgará o mérito apenas em 2019). Foi a defesa de Lula que, em julho, levou o caso para o Comitê. O órgão é composto por 18 especialistas em direitos humanos, com diferentes nacionalidades e sem vinculação com os governos dos seus países. São eleitos pelos países-membros para mandatos de quatro anos. A função do Comitê é monitorar o cumprimento do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, do qual o Brasil faz parte. É um órgão com status inferior ao Conselho de Direitos Humanos (principal órgão sobre o tema e com representação direta dos governos) e à Assembleia Geral (órgão em que todos os países da ONU estão representados com o mesmo peso). Há anos o Estado e o Judiciário brasileiros não costumam ceder em pedidos ou decisões judiciais internacionais de órgãos multilaterais, encarando como recomendações (exemplos aqui e aqui). Pelo fato de o Brasil ter aderido voluntariamente às normas que regem o Comitê (aqui e aqui) e as incorporado na legislação brasileira, o país está obrigado a cumprir pedidos como o do caso Lula. Mas é uma obrigação teórica e de cunho moral, pois não há modo legal de o Comitê ou mesmo a ONU forçarem o cumprimento do pedido ou de retaliarem o Brasil. Descumprir gera apenas um constrangimento internacional, também na teoria, pois o país está indo contra compromissos que assumiu no passado. A imagem enganosa foi publicada em 19 de agosto no Facebook por Joice Hasselmann, que trabalha como jornalista e é candidata a deputada federal pelo PSL. O post foi compartilhado 20 mil vezes em quatro dias. O Comprova recebeu solicitação de verificação desta informação pelo WhatsApp (11 97795-0022).
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['Estadão Verifica']
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['lula', 'onu', 'comprova', 'psl']
2021-05-20
['ENGANOSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/pesquisa-que-mostra-bolsonaro-vencendo-em-todos-os-estados-e-falsa/
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Pesquisa que mostra Bolsonaro vencendo em todos os Estados é falsa
TSE determina que pesquisas eleitorais sejam registradas e não há registro dessa pesquisa no tribunal
2018-08-23
A checagem abaixo foi publicada pelo Projeto Comprova. A verificação foi realizada por uma equipe de jornalistas do Jornal do Commercio e Bandnews FM. Outras três redações concordaram com a checagem, no processo conhecido como “crosscheck”: UOL, Gazeta do Povo e Poder 360. O Projeto Comprova é uma coalização de 24 veículos de mídia com o objetivo de combater a desinformação durante o período eleitoral. Você pode sugerir checagens por meio do número de WhatsApp (11) 97795-0022. Um texto sobre uma pesquisa que teria sido feita em julho e que afirma que “Bolsonaro está na frente em todos os estados e venceria as eleições no primeiro turno mesmo com Lula sendo candidato”, ganhou novo fôlego nas redes sociais e vem se espalhando rapidamente. O levantamento é falso e não tem registro no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Apesar de, no texto, o autor não identificar qual instituto teria realizado o levantamento (a pesquisa é só referida como “realizadas pela instituição de pesquisas”) os números apresentados são iguais aos de uma suposta pesquisa do Instituto Paraná Pesquisas, que já foi negada pela própria instituição. O Comprova não encontrou quaisquer outras pesquisas de outros institutos e nem tem informações de outra que tenha vindo a público com esses índices. Entre outros dados, a suposta pesquisa aponta que no estado do Rio de Janeiro, o candidato do PSL Jair Bolsonaro teria a preferência de 64,72% do eleitorado, enquanto Lula atingiria 32,61%. Na pesquisa lançada pelo Instituto Paraná na época, Bolsonaro está com 26,6% das intenções de votos, enquanto Lula tem 25,5%. A pesquisa falsa ainda se estende por outros Estados, como Bahia (Bolsonaro: 38,62% x Lula: 23,75%), Minas Gerais (Bolsonaro: 58,81% x Lula: 11,94%), Pernambuco (Bolsonaro: 35,09% x Lula: 23,63%) e São Paulo (Bolsonaro: 61,47% x Lula: 37,27%). Entretanto, em sua nota oficial, o Instituto Paraná afirma que não publicou pesquisa com resultados para todos os estados brasileiros e pede para que as pessoas desconsiderem o conteúdo caso o recebam por se tratar de informação falsa. De acordo com o TSE, entidades e empresas que realizarem pesquisas de opinião pública relativas às “Eleições 2018” ou a candidatos devem registrá-las junto à Justiça Eleitoral, como determina a Res.-TSE nº 23.549, de 18.12.2017. Como explica um material elaborado pela Gazeta do Povo, divulgar levantamentos falsos ou que não foram registrados pode gerar uma multa de até R$ 100 mil para o veículo de comunicação. Levantamentos de abrangência nacional podem ser pesquisados diretamente no site do TSE, enquanto pesquisas estaduais ou municipais estão registradas nas páginas dos TREs. Na Justiça Eleitoral, contudo, só há informações sobre a metodologia da pesquisa; não os resultados. A matéria com a pesquisa falsa foi mais recentemente postada nas redes sociais pelo perfil do jornalista Hélio Nogueira (@HelioNogueiraTV) no último dia 20/08. Até o dia 22/08, esse post contava com 795 retweets e 1,504 curtidas. O conteúdo dessa suposta pesquisa também foi alvo de investigação pelo G1, Folha de S. Paulo, Veja e Boatos.org.
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['pesquisa', 'TSE', 'lula', 'jair bolsonaro']
2021-05-20
['ENGANOSO']
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Pesquisa em presídios que indicaria rejeição a Bolsonaro não tem registro no TSE
Checagem foi feita por meio do projeto Comprova; envie conteúdos suspeitos pelo WhatsApp: (11) 97795-0022
2018-08-09
A checagem abaixo foi publicada pelo Projeto Comprova. A verificação foi realizada por uma equipe de jornalistas da AFP, Nexo e SBT. Outras oito redações concordaram com a checagem, no processo conhecido como “crosscheck”: Estadão, UOL, O Povo, Jornal do Commercio, Folha de S. Paulo, Veja, Poder360 e Gazeta do Povo. O Projeto Comprova é uma coalização de 24 veículos de mídia com o objetivo de combater a desinformação durante o período eleitoral. Você pode sugerir checagens por meio do número de WhatsApp (11) 97795-0022. A informação que circula nas redes sociais sobre uma pesquisa de intenção de voto que teria sido realizada em presídios brasileiros e cujo resultado mostra que o candidato Jair Bolsonaro teria 100% de rejeição entre os presos não é verdadeira. A informação falsa foi compartilhada milhares de vezes em redes como Facebook e Twitter e dá conta de uma consulta que teria sido realizada com 13 mil detentos em 450 presídios e 150 delegacias de todo o país. De acordo com a assessoria de comunicação do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para que uma empresa faça pesquisa nos presídios, ela precisa de autorização da Justiça. E para que a pesquisa eleitoral seja viabilizada, deve ser registrada junto ao TSE pela empresa pesquisadora e os dados sobre sua realização devem estar disponíveis no site do Tribunal. Não há registros de nenhuma pesquisa de intenção de voto realizada em presídios e delegacias no período em que a informação foi publicada nas redes sociais. O Comprova consultou também a editoria de política do portal G1, que negou a publicação da notícia. Foram identificadas duas versões desse boato. Uma tem origem em um post no Facebook, a outra é uma montagem produzida para parecer uma notícia publicada no site G1. A primeira menção a esta falsa notícia que localizamos data de 18 de julho. É um meme divulgado pela página MovimentoIndependentBR. A página SomostodosBolsonaro também replicou a imagem, assim como o perfil “Rosane Stocchero”. Um policial militar e pré-candidato a deputado federal pelo PSL, Daniel Silveira, gravou um vídeo onde divulga a falsa informação.
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['Estadão Verifica']
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['comprova', 'projeto comprova', 'jair bolsonaro', 'TSE']
2021-05-20
['ENGANOSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/maratonas-ocorreram-presencialmente-na-china-e-em-outros-paises-neste-ano/
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Maratonas ocorreram presencialmente na China e em outros países neste ano
Sem contexto, postagens enganam ao afirmar que chineses estariam aglomerando enquanto o ‘resto do mundo’ está em lockdown
2021-04-30
Circula nas redes sociais que a China estaria realizando maratonas enquanto o resto do mundo está em lockdown. Apesar de ser verdade que o país asiático tenha autorizado ao menos quatro eventos com milhares de pessoas em abril, as postagens enganam ao ignorar o fato de que outros países também promoveram corridas de rua em 2021 e que os chineses apresentam baixos níveis de contágio do novo coronavírus desde o ano passado. O Estadão Verifica identificou uma série de conteúdos virais no Twitter e no Facebook mostrando vídeos de maratonas nas cidades chinesas de Xiamen e Wuxi. “Maratona rolando na China. O resto do mundo em Lockdown. E a China crescendo 18%. Tirem suas próprias conclusões…”, afirma uma das versões mais compartilhadas. “Enquanto isso na China mega maratona… e você aí em casa feito um macaquinho acreditando no que falam na TV”, alega outra peça. Sem contexto, postagens enganam ao afirmar que chineses estariam aglomerando enquanto o ‘resto do mundo’ está em lockdown. Foto: Reprodução Facebook / Arte: Estadão Uma notícia publicada pela agência chinesa Xinhua confirma a realização do evento em Xiamen, no dia 10 de abril de 2021, com cerca de 12 mil participantes. A maratona de Wuxi ocorreu três dias depois, com 27 mil atletas, segundo o jornal China Daily. O Verifica ainda encontrou registros de outras duas corridas de rua na China em abril, realizadas nas cidades de Beijing e Shanghai. Porém, a China não é o único país do mundo a ter permitido a realização de maratonas neste ano. No Japão, a Maratona Feminina de Nagoya reuniu 4.651 participantes em 14 de março. A cidade de Atlanta, nos Estados Unidos, também promoveu um evento presencial, com 5.400 participantes, em uma pista de automobilismo, no dia 28 de fevereiro. Também ocorreram provas menores e restritas a atletas de elite em algumas localidades, para possibilitar a conquista do índice olímpico. A manutenção das corridas populares no primeiro semestre de 2021 tem sido uma exceção em meio à pandemia. As maratonas de Boston e de Londres, duas das provas mais tradicionais do mundo, ocorreriam em abril, mas foram adiadas para setembro e outubro, respectivamente. No Brasil, provas internacionais de São Paulo e Rio de Janeiro também já foram transferidas do primeiro para o segundo semestre do ano, diante do agravamento da pandemia no País. Existem diferenças entre o cenário da pandemia na China em comparação com esses três países. De acordo com dados do centro de pesquisa da Universidade Johns Hopkins, o país asiático registrou 6.451 casos de covid-19 e 63 mortes desde o início do ano até esta quinta-feira, 29 de abril. Se considerado apenas o mês, os índices caem para 742 casos e 4 óbitos. Desde o início do ano, o Brasil acumulou mais de 6,9 milhões de casos e 206.237 mortes pela doença. Apenas no mês de abril, 79.671 brasileiros morreram de covid-19, entre 1,8 milhão de novos casos, segundo o levantamento da Universidade Johns Hopkins. Foram 69.389 novos casos no Brasil nesta quinta-feira, enquanto Estados Unidos e Reino Unido registraram 58.199 e 2.459 novos contaminados em 24h, respectivamente. Os posts checados também exageram ao afirmar que o “resto do mundo” estaria em lockdown. Além do fato de haver registros de corridas de rua em outros países neste ano, como demonstrado acima, dados da plataforma Our World In Data mostram que uma série de localidades com menor índice de contágio adotam níveis baixos ou praticamente nenhuma restrição de circulação de pessoas. Nova Zelândia, Arábia Saudita e Rússia são alguns exemplos. A informação de que a China registrou crescimento econômico de 18% é verdadeira: o país asiático teve alta recorde de 18,3% no PIB (Produto Interno Bruto) no 1º trimestre de 2021, em comparação com o mesmo período do ano passado. É preciso considerar, porém, que esse aumento ocorreu em cima de um resultado ruim no primeiro trimestre de 2020, quando a economia chinesa recuou 6,8% por conta das medidas de controle da pandemia. Em relação a 2020, o país asiático foi um dos poucos em todo o mundo a apresentar crescimento, com evolução de 2,3% em relação ao ano anterior, como mostra essa reportagem do jornal Folha de S. Paulo. A notícia aponta que a China conseguiu controlar os surtos através de políticas como a testagem massiva da população e o rastreio de contatos dos contaminados e investiu o equivalente a 4,7% do PIB em um pacote fiscal de resgate para a economia.
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['Samuel Lima']
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['China [Ásia]', 'coronavírus', 'fake news [notícia falsa]', 'estadão verifica', 'maratona', 'quarentena']
2021-05-20
['ENGANOSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/posts-usam-fotos-fora-de-contexto-para-alegar-que-doria-mentiu-sobre-reuniao-com-embaixador-chines/
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Posts usam fotos fora de contexto para alegar que Doria mentiu sobre reunião com embaixador chinês
Imagens do governador paulista com empresários da China são de 2019, anteriores à pandemia
2021-04-30
Conteúdos enganosos nas redes sociais usam imagens fora de contexto do governador de São Paulo, João Doria (PSDB), ao lado de empresários chineses para insinuar que o político mentiu ao negar ter participado de uma conferência ‘fora de agenda’ com outros governadores e o embaixador da China no Brasil. Leitores solicitaram a checagem deste conteúdo por WhatsApp, 11 97683-7490. LEIA TAMBÉM ‘Estadão Verifica’ lança novo serviço por WhatsApp O boato remete a uma entrevista do governador à Jovem Pan em março de 2020, na qual o apresentador Augusto Nunes (por volta do minuto 30:45) questiona Doria a respeito de uma suposta reunião entre ele e outros quatro chefes estaduais com o embaixador chinês, Yang Wanming, sobre assuntos relacionados à pandemia de covid-19. Sites bolsonaristas divulgaram, na época, trechos de uma suposta nota oficial sobre o evento, que teria sido obtida por meio de um “webchat da embaixada da China no Brasil”. Indagado por Nunes, Doria disse que a informação era falsa e que desconhecia o comunicado atribuído à instituição diplomática. “O encontro inexistiu”, disse o governador na entrevista. Consultados pelo Br Político, em março de 2020, Doria e os governadores Helder Barbalho (MDB-PA), Eduardo Leite (PSDB-RS) e Ronaldo Caiado (DEM-GO) disseram ter conversado por telefone com o embaixador Yang Wanming, separadamente, e não em uma reunião secreta. O Estadão Verifica entrou em contato com a Embaixada da China mas não obteve resposta até o momento desta publicação. Um dos conteúdos enganosos analisados pelo Estadão Verifica afirma que João Doria teria mentido em rede nacional e sugere que quatro fotos “desmascaram” o político. As imagens, no entanto, foram registradas em 2019, antes da pandemia e não têm qualquer relação com o assunto da entrevista do governador à Jovem Pan. Quatro fotos apresentadas no post retratam uma viagem internacional de João Doria à China em agosto de 2019. As imagens foram publicadas em uma notícia no site do Governo de São Paulo. A matéria explica que o executivo paulista promoveu reuniões com empresários do setor ferroviário chinês para discutir possíveis investimentos em projetos de infraestrutura no estado. O homem que aparece em destaque em três fotos ao lado do Doria é Chen FengJian, ex-presidente da empresa estatal China Railway Construction Corporation (CRCC). Já a imagem que mostra um grupo de pessoas reunidas em uma mesa com um painel ao fundo escrito “Missão China” corresponde a um registro feito em julho de 2019 de uma reunião preparatória do Governo de São Paulo para a missão internacional no país asiático. O próprio governador divulgou um vídeo em suas redes sociais sobre o evento. Realizamos reunião preparatória p/ a Missão China, que será realizada em agosto. Vamos apresentar as oportunidades de investimento do nosso Estado ao lado de 35 empresas p/ importantes investidores chineses. Planejamento e metas estabelecidas p/ que a viagem renda bons frutos. pic.twitter.com/C1RtECnWeB — João Doria (@jdoriajr) July 23, 2019 Embora tenha sido publicado no Facebook em abril de 2020, o conteúdo analisado pela reportagem voltou a ganhar tração na plataforma recentemente. Até o fechamento deste artigo, o post acumulava mais de 67 mil compartilhamentos na rede social. O boato também é difundido no Twitter e no WhatsApp.
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['Victor Pinheiro']
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['joão doria', 'China [Ásia]', 'coronavírus']
2021-05-20
['FORA DE CONTEXTO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/postagem-exagera-numero-de-inqueritos-contra-renan-calheiros-no-stf/
ESTADAO_VERIFICA
Postagem exagera número de inquéritos contra Renan Calheiros no STF
Senador alagoano responde a nove investigações no Supremo, e não a 17
2021-04-29
Uma postagem no Facebook exagera o número de inquéritos aos quais o senador Renan Calheiros (MDB-AL) responde no Supremo Tribunal Federal (STF) — são nove, e não 17, as investigações abertas contra o parlamentar nesta instância. Desde que se tornou relator da CPI da Covid, o alagoano tem se tornado alvo de diversas publicações nas redes sociais. Para encontrar o número de inquéritos que citam o senador, basta pesquisar no portal do STF pelo nome completo José Renan Vasconcelos Calheiros. É preciso considerar apenas os resultados que ainda estão tramitando e que comecem pela sigla INQ (inquérito). A busca só mostra processos públicos, excluindo os que são sigilosos ou estão sob segredo de justiça. A pesquisa retorna nove resultados: os inquéritos 4851, 4833, 4832, 4492, 4464, 4426, 4326, 4215 e 3993. Outras investigações contra o senador foram arquivadas por falta de provas (caso dos inquéritos 4389 e 4367) ou enviadas a instâncias inferiores (inquérito 4437). Renan é investigado por suspeita de corrupção passiva e lavagem de dinheiro na construção do Canal do Sertão, no Alagoas. Outro inquérito apura a suspeita de pagamentos indevidos em 2014 por parte do Grupo Odebrecht a senadores, em troca da aprovação de legislação favorável à empresa Braskem. Há ainda uma investigação aberta a partir de delação do empresário Marcelo Odebrecht, que disse ter pagado a Calheiros e ao senador Romero Jucá pela aprovação da MP 627/2013, que beneficiaria a empreiteira. Veja os documentos desses inquéritos abaixo. Documento INQ 4464 – CANAL DO SERTÃO PDF Documento INQ 4389 – BRASKEM PDF Documento INQ 4426 – ODEBRECHT PDF Um levantamento do site Congresso em Foco publicado em 2020 também encontrou nove inquéritos aos quais Renan Calheiros responde. De acordo com a reportagem, ele é o senador com maior número de investigações. Como explica a matéria, inquéritos são apurações preliminares que podem ser encerradas sem apresentação de uma denúncia formal. Nesta semana, o Estadão Verifica desmentiu outra postagem que exagerava o número de processos contra os integrantes da CPI da Covid. O Estadão Verifica procurou a assessoria de Renan Calheiros, mas ainda não obteve resposta. Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente. Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
https://politica.estadao…290420212124.png
null
['Alessandra Monnerat']
[]
['renan calheiros', 'cpi da covid', 'fake news [notícia falsa]']
2021-05-20
['ENGANOSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/obras-na-br-101-na-bahia-comecaram-com-dilma-e-nao-com-bolsonaro/
ESTADAO_VERIFICA
Obras na BR-101 na Bahia começaram com Dilma, e não com Bolsonaro
Vídeo que mostra trecho novo da rodovia engana ao atribuir pavimentação apenas ao governo atual; gestão que mais investiu em melhorias na via foi a de Temer
2021-04-29
Não é verdade que as obras de duplicação da BR-101 na Bahia tenham começado no governo de Jair Bolsonaro. Os contratos foram firmados no governo de Dilma Rousseff e se estendem desde então. Um vídeo com esta alegação enganosa viralizou após o presidente inaugurar um trecho de 22 km da rodovia nesta segunda-feira, 26. Obras começaram ainda em 2015, no governo de Dilma Rousseff. Foto: Reprodução LEIA TAMBÉM Comprovado: trecho da BR-163 foi asfaltado no governo Bolsonaro O homem que gravou o vídeo diz que filma o trecho da rodovia federal próximo à cidade de Alagoinhas, sentido Aracaju. “O que o PT nunca fez, Bolsonaro está fazendo em dois anos e meio. Juntamente com o Tarcísio, o rei do asfalto”, diz o narrador. Este vídeo foi compartilhado ao menos 1,1 mil vezes no Facebook. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), ligado ao Ministério da Infraestrutura, possui um Portal Cidadão no qual é possível consultar o andamento das obras de construção rodoviárias. Atualmente há quatro contratos de “duplicação e restauração com melhoramentos” da BR 101, todos eles firmados em 2014, ainda no primeiro mandato de Dilma Rousseff. As obras são divididas nos lotes 1, 2, 3 e 4. Alagoinhas fica na altura do lote 3 da BR-101. Foto: DNIT/Reprodução A cidade citada pelo autor do vídeo, Alagoinhas, está localizada entre os quilômetros 83,58 e 124,6 da BR-101. O contrato de duplicação para esses trechos é do lote 3 — no entanto, essa parte da via ainda não tem revestimento implantado. Até o momento, o lote 3 recebeu investimentos que somam R$ 37,985 milhões (com reajustes e aditivos). Nenhum valor foi destinado durante o governo Bolsonaro. Segundo o cronograma financeiro da obra, as verbas foram distribuídas pelos seguintes governos: A Flourish chart O vídeo compartilhado nas redes sociais mostra uma estrada de concreto — portanto, não poderia ser o trecho da rodovia que passa por Alagoinhas, que está sem revestimento. Por e-mail, o Dnit informou que o governo Bolsonaro priorizou o lote 4 da obra de duplicação — que fica entre os quilômetros 124,6 e 165,4 da BR-101. Essa obra fica próxima a Alagoinhas, embora não passe pela cidade. O governo Bolsonaro investiu R$ 17,3 milhões nesse trecho. Outros trechos tiveram mais investimento de Temer A duplicação da BR-101 na Bahia ganhou destaque após o presidente Jair Bolsonaro participar da inauguração de 22 km no lote 4 nesta segunda-feira, 26. Segundo o Dnit, a atual gestão também entregou 25 km nos lotes 1 e 2. Um comparativo com as gestões anteriores mostra que o governo de Michel Temer foi o que mais investiu valores na duplicação e revestimento da rodovia. O primeiro lote de duplicação tem 84,52% do revestimento e 88,46% da terraplanagem concluídos. Dilma destinou R$ 7,76 milhões para a obra, Temer R$ 103,44 milhões e Bolsonaro, R$ 26,25 milhões. O segundo lote tem 68,93% do revestimento e 84,24% da terraplanagem terminados. Dilma liberou R$ 1,18 milhões, Temer R$ 71,77 milhões e Bolsonaro, R$ 68,26 milhões. No quarto lote, 20,86% do revestimento e 91,30% da terraplanagem estão finalizados. Dilma destinou R$ 505 mil, Temer R$ 73,42 milhões e Bolsonaro, R$ 17,31 milhões. A Flourish chart Em nota, o Dnit informou que está implantando o “pavimento rígido” ao longo dos trechos, como mostrado no vídeo. “Este tipo de pavimento vem conquistando espaço no país devido a uma série de vantagens, como alta durabilidade, baixo custo de manutenção, resistência ao tráfego pesado e melhor qualidade de rolamento e segurança aos usuários”, diz o órgão federal. O governo de Jair Bolsonaro deu prioridade para a inauguração de obras de infraestrutura e Tarcísio Gomes de Freitas é um de seus ministros mais populares. Com isso, muitas obras são alvo de desinformação. O Estadão Verifica já mostrou que uma postagem viral atribuía ao ministério da Infraestrutura uma obra que na verdade era do governo do Piauí. A Agência Lupa também checou este conteúdo. Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente. Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
https://politica.estadao…290420210705.png
null
['Pedro Prata']
[]
['Bahia [estado]', 'fake news [notícias falsas]', 'Dnit [Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes]']
2021-05-20
['ENGANOSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/nao-stf-nao-autorizou-criacao-de-campos-de-concentracao-para-nao-vacinados/
ESTADAO_VERIFICA
Não, STF não autorizou criação de ‘campos de concentração’ para não vacinados
Vídeo no YouTube inventa ação no Supremo sobre estabelecimento de 'centros de detenção' para aqueles que não tiverem recebido vacinas e de 'passaportes covid' para quem estiver imunizado
2021-04-28
É falso que o Supremo Tribunal Federal (STF) tenha autorizado a criação de “campos de concentração” para forçar quarentena de pessoas infectadas com o novo coronavírus. Também não é verdade que o Tribunal tenha decidido sobre o estabelecimento de um “Passaporte Covid” para que pessoas imunizadas voltem à vida normal. Essas informações sem qualquer base na realidade circulam em vídeo publicado no YouTube e enviado ao WhatsApp do Estadão Verifica, 11 97683-7490. LEIA TAMBÉM Veja todas as checagens sobre coronavírus publicadas pelo Estadão Verifica O vídeo afirma que o STF teria referendado uma liminar do ministro Ricardo Lewandowski, que permitiria a criação de “centros de detenção para não vacinados e não testados” em cinco Estados brasileiros. A decisão seria uma resposta à “Ação Direta de Constitucionalidade 3979”, que buscaria confirmar a legalidade de uma norma do governo do Paraná. O vídeo mostra até mesmo uma imagem que teria sido retirada do sistema processual do STF. A grosso modo, uma Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC) busca confirmar a adequação de uma lei à Constituição Federal, enquanto a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) tem o objetivo de declarar que uma legislação não segue a Constituição. O processo citado no vídeo não existe. No portal do STF, é possível pesquisar por todas as ações que tramitam no Tribunal, e o sistema não reconhece nenhuma “ADC 3979”. Os ministros já julgaram uma ADI 3979 — mas esse processo foi aberto em 2007 e tramitou em julgado em 2016. Portanto, não tem nenhuma relação com a pandemia de coronavírus. Também não existe a tal lei nº 153979, que criaria “centros de detenção” ou o “Passaporte Covid” — sobre a qual o vídeo afirma que os ministros do STF teriam deliberado. Não há nenhuma legislação com esse número no Estado do Paraná ou em âmbito federal. O próprio STF já havia desmentido o boato sobre “Passaporte Covid” no início do mês. De acordo com o Tribunal, a imagem com a “Ação Direta de Constitucionalidade 3979” é uma “montagem grotesca, utilizando o padrão visual de seu sistema público de acompanhamento processual com o intuito de disseminar informações falsas”.
https://politica.estadao…280420210256.png
null
['Alessandra Monnerat']
[]
['STF [Supremo Tribunal Federal]', 'fake news [notícia falsa]', 'coronavírus']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/foto-de-rodovia-asfaltada-e-de-obra-do-governo-do-piaui-e-nao-do-ministerio-da-infraestrutura/
ESTADAO_VERIFICA
Foto de rodovia asfaltada é de obra do governo do Piauí, e não do Ministério da Infraestrutura
Postagem compara imagem de estrada com obras não iniciadas, no Mato Grosso, e registro de estrada financiada pelo Tesouro piauiense
2021-04-28
Uma postagem viral no Facebook engana ao comparar imagens de rodovias diferentes, com o objetivo de atribuir a conclusão de obras de infraestrutura ao governo federal. A figura mostra uma foto de veículos em uma via enlameada, seguida de outra que retrata um trecho asfaltado. Há também duas imagens do ministro da Infraestrutura, Tarcisio de Freitas, acompanhadas das mensagens “como a gente recebe” e “como a gente entrega”. As fotos, entretanto, representam rodovias distintas e o trecho asfaltado não é resultado de uma obra do ministério. A imagem da rodovia enlameada mostra um trecho da BR-158 no Vale do Araguaia, no Mato Grosso, após fortes chuvas que atingiram a região no início do ano. Apuração da Agência Lupa indica que o material é de autoria do site Agência da Notícia e foi publicado em 2020. LEIA TAMBÉM Para exaltar governo Bolsonaro, vídeo distorce informações sobre asfaltamento da Transamazônica O traçado dessa rodovia ainda é provisório. O governo federal planeja executar obras para que o percurso da BR-158, que atualmente corta as terras indígenas Marãiwatsédé, passe a contornar o território protegido. O Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) fez, recentemente, obras emergenciais para evitar atoleiros na região. Em março, durante reunião com prefeitos e deputados mato-grossenses, o ministro Tarcísio de Freitas indicou que as obras do empreendimento definitivo deve ser iniciadas somente em 2022. A imagem da via asfaltada, por sua vez, representa um trecho da rodovia PI-301, no Piauí, que liga as cidades de Cocal e Barra Grande. A figura aparece destacada em notícia de junho de 2018, publicada em um site antigo do governo estadual. O artigo informa que 88% do projeto já havia sido concluído na época. Por WhatsApp, uma representante da Coordenadoria de Comunicação Social piauiense confirmou ao Estadão que a imagem retrata a rodovia PI-301 e foi registrada naquele ano. Segundo o Instituto de Desenvolvimento do Piauí (Idepi), órgão responsável pelo empreendimento, o governo estadual liberou trechos da PI-301 em 2018, mas as obras foram concluídas em junho de 2019. A rodovia integra uma rota estadual que liga uma parte da BR-343, próxima à cidade de Piracuruca, ao município de Barra Grande, junto com a PI-309. O último trecho foi inaugurado em janeiro de 2020. Além de ter sido liberado antes do mandato de Jair Bolsonaro, o trecho da PI-301 representado no meme enganoso não foi financiad0 pelo Ministério da Infraestrutura. A assessoria do Idepi informou que as obras da rodovia custaram R$ 29 milhões em recursos do Tesouro estadual, com apoio de um financiamento do Banco de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O Estadão Verifica já desmentiu uma série de conteúdos com falsas atribuições de obras de rodovias à gestão de Bolsonaro. Uma montagem sobre a BR-163, verificada em julho do ano passado, utilizava fotos que não correspondiam à rodovia federal. Também verificamos vídeos que distorciam informações sobre o asfaltamento da Transamazônica para exaltar o presidente. Por outro lado, uma checagem do projeto Comprova confirmou que um trecho da BR-163 entre Novo Progresso e Moraes de Almeida, no Pará, foi de fato asfaltado durante o governo atual. Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente. Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
https://politica.estadao…ansamazonica.jpg
null
['Victor Pinheiro']
[]
['Tarcísio Gomes de Freitas', 'rodovias', 'fake news [notícia falsa]']
2021-05-20
['ENGANOSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/e-falso-video-com-medidas-impostas-por-nova-constituicao-de-maduro/
ESTADAO_VERIFICA
É falso vídeo com medidas impostas na Venezuela por ‘nova Constituição’ de Maduro
Assembleia Constituinte foi encerrada sem propor nova Carta Magna; itens que aparecem em vídeo viral constam de postagens nas redes sociais desde 2012
2021-04-28
É falso um vídeo que circula nas redes sociais com uma série de supostas mudanças constitucionais que teriam sido oficialmente implantadas na Venezuela. “Ouça o áudio de uma brasileira que teve acesso à nova declaração oficial do governo sobre a nova Constituinte da Venezuela”, alega o vídeo. O país de fato teve uma assembleia constituinte entre 2017 e 2020, mas acabou sem promulgar uma nova Constituição. As medidas citadas no vídeo viral têm origem em um post feito no Facebook em 2012. Leitores solicitaram a checagem deste conteúdo pelo WhatsApp do Estadão Verifica, 11 97683-7490. LEIA TAMBÉM Cronologia: 20 anos de chavismo na Venezuela Em 2020, circulou na Venezuela um vídeo no qual se lia “Agora sim acabou-se a Venezuela, a segunda Cuba”. Nele podia-se ouvir o áudio de uma mulher lendo o que seriam 49 medidas econômicas, políticas e sociais que seriam supostamente implementadas. Constituinte foi encerrada sem trazer uma nova Constituição. Foto: Reprodução Naquele ano, a Assembleia Nacional Constituinte realmente discutia uma reforma constitucional. No entanto, acabou em dezembro sem ter promulgado uma nova Carta Magna. Convocada em 2017 por Maduro, a Constituinte teve o principal efeito de anular o poder da oposição, que comandava a Assembleia Nacional desde 2016. Os opositores do governo se abstiveram de participar da Constituinte, considerando-a ilegal. A iniciativa de checagem de fatos Chequéalo, do jornal El Diario, identificou que a lista de medidas citadas no vídeo viral é anterior a esse período e tem origem em um post no Facebook da página Operación Libertad Venezuela, de 13 de novembro de 2012. A postagem dizia que as medidas citadas eram “diretrizes para os anteprojetos de leis a serem promulgadas na Assembleia Nacional nos próximos meses”. A página está ligada a uma ONG chamada Fuerza de Paz Venezuela, opositora ao governo de Nicolás Maduro. A iniciativa de checagem venezuelana Cocuyo Chequea também desmentiu essa peça de desinformação. Eles não encontraram registros das medidas anunciadas no áudio na imprensa local nem entre discursos dos porta-vozes governamentais. O vídeo imputa as supostas alterações ao presidente Nicolás Maduro. Mas, se as medidas estavam sendo cogitadas em novembro de 2012, não poderiam ser promulgadas por Maduro. Isto porque à época ele era vice-presidente e só assumiria o comando do país em março de 2013, quando morreu o então presidente Hugo Chávez. Crise política e social na Venezuela A Venezuela vive uma crise social, política e econômica desde a morte de Hugo Chávez. Manifestantes morreram em protestos de rua, políticos opositores foram cassados ou presos e muitos cumprem exílio. Em janeiro deste ano, um novo parlamento tomou posse após eleições boicotadas pela maioria da oposição e consideradas nulas pelos Estados Unidos, pela União Europeia e por alguns países latino-americanos. Os governistas passaram a ocupar 256 dos 277 assentos. O principal líder da oposição, Juan Guaidó, tenta manter um Congresso paralelo. Enquanto isso, uma pesquisa realizada anualmente por três grandes universidades venezuelanas mostra que a pobreza aumenta no país. Como mostrou o site de checagem Cotejo, em 2020, a pobreza estrutural atingia 96,2% da população e a pobreza extrema, 79,3%.
https://img.estadao.com.…550173328291.jpg
null
['Pedro Prata']
[]
['Venezuela [América do Sul]', 'fake news [notícias falsas]']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/video-de-ala-vazia-em-hospital-da-paraiba-circula-sem-contexto-nas-redes-sociais/
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Vídeo de ala vazia em hospital da Paraíba circula sem contexto nas redes sociais
Equipe de unidade de saúde em João Pessoa comemorava redução em número de atendimentos, mas havia outros pacientes internados no hospital
2021-04-28
Um vídeo em que enfermeiras celebram o esvaziamento de leitos de UTI para pacientes de covid-19 circula sem contexto nas redes sociais. As imagens foram gravadas no Hospital Alberto Urquiza Wanderley, da rede Unimed em João Pessoa, na Paraíba, em plantão entre os dias 30 e 31 de março. Embora a ala filmada estivesse vazia, havia outros leitos de UTI ocupados na mesma unidade. De acordo com a Unimed João Pessoa, eram 148 internados com covid-19 no hospital em 30 de março, dos quais 77 estavam em UTI. No dia seguinte, eram 151 pacientes com coronavírus, 75 deles em UTI. Nesta quarta-feira, 28, são 65 internados na unidade de saúde, 35 em UTI. LEIA TAMBÉM Veja todas as checagens sobre coronavírus publicadas pelo Estadão Verifica No vídeo, enfermeiras cantam uma música religiosa em agradecimento. Uma das profissionais mostra os leitos vazios. É possível reconhecer o símbolo da Unimed em um dos computadores filmados. A operadora de saúde esclareceu que a equipe comemorava uma redução no número de atendimentos, o que possibilitou que aquela ala estivesse sem pacientes. “O uso do vídeo em qualquer outro contexto que procure distorcer o fato em si é tendencioso e não verdadeiro”, informou a Unimed em nota. A Unimed acrescentou ainda que “elaborou um plano de contingência que possibilita que os leitos de enfermaria ou de UTI sejam expandidos ou retraídos de acordo com a demanda de pacientes”. De acordo com a operadora de saúde, essa movimentação é feita quinzenalmente, de acordo com a necessidade e seguindo as tendências de disseminação do coronavírus. Leia a nota completa abaixo. Documento NOTA UNIMED PDF O hospital em João Pessoa lembrou que, apesar do cenário momentaneamente favorável, medidas de contenção do coronavírus ainda são necessárias, como distanciamento social, uso de máscaras e higienização das mãos. João Pessoa registrou 239 casos e 11 mortes por covid-19 nesta terça-feira, 27, segundo a plataforma SUS Analítico. Os dados da capital paraibana indicam que houve um pico de mortes registradas no final de março e no início de abril; ao longo deste mês, os números de óbitos tiveram queda. Ao todo, são 78.136 casos confirmados e 2.341 mortes em João Pessoa. Na Paraíba, foram 1.037 casos e 46 mortes nesta terça-feira. Desde o início da pandemia, foram 289.319 pessoas contaminadas e 6.722 vidas perdidas. ————- Este vídeo foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente. Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
https://img.estadao.com.…617563593097.jpg
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['Alessandra Monnerat']
[]
['coronavírus', 'fake news [notícia falsa]', 'Paraíba [estado]', 'João Pessoa [PB]']
2021-05-20
['FORA DE CONTEXTO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/e-falso-que-coronavac-seja-ineficaz-e-precise-agora-de-terceira-dose/
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É falso que Coronavac tenha se mostrado ineficaz e precise de terceira dose
Em vídeo, influenciador bolsonarista distorce teor de entrevista de um médico do Butantan e faz uma série de afirmações infundadas sobre o imunizante
2021-04-28
Não é verdade que a Coronavac esteja se mostrando ineficaz na prática e que cientistas tenham determinado a aplicação de uma terceira dose do imunizante para proteger a população contra a covid-19. A alegação falsa sobre a vacina produzida pelo Instituto Butantan em parceria com a farmacêutica Sinovac aparece em um vídeo divulgado por uma página bolsonarista, que teve mais de 260 mil visualizações no Facebook. Em uma gravação de sete minutos, um homem que responde por uma página chamada “Fala Miranda” insinua que um diretor médico do Butantan teria admitido que a vacina com duas doses poderia não fazer efeito — o que não é verdade. Em seguida, faz outras afirmações infundadas, como a de que a Coronavac teria menos de 50% de eficácia e não estaria comprovada cientificamente. Leitores solicitaram essa checagem pelo WhatsApp do Estadão Verifica: (11) 99263-7900. Página bolsonarista no Facebook espalha boato de que Coronavac precisa de terceira dose porque estaria se mostrando ineficaz. Foto: Reprodução Facebook / Arte: Estadão Ao contrário do que sugere a peça de desinformação, o imunizante teve eficácia e segurança comprovadas por meio de uma série de etapas rigorosas de ensaios clínicos com milhares de voluntários. Esses dados foram referendados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que concedeu a aprovação para uso emergencial no Brasil ainda em janeiro deste ano. O vídeo viral distorce uma entrevista do diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan, Ricardo Palacios, concedida para a rede de televisão CNN Brasil, em 11 de abril. O pesquisador comentava sobre novos dados preliminares que apontam que a eficácia da Coronavac é maior quando a segunda dose é aplicada com intervalo superior a 21 dias, chegando a 62,3%. Questionado por jornalistas da emissora sobre formas de aumentar essa taxa, Palacios responde que o Butantan estuda a possibilidade de aplicar uma dose de reforço, seja com a própria Coronavac ou com outros imunizantes, mas que isso depende de pesquisas prévias. Ele diz que a situação é comum em produtos com vírus inativado e deixa claro que não existem estudos sustentando uma recomendação de terceira dose neste momento. Nas redes sociais, o Instituto Butantan também desmentiu a informação de que estaria recomendando uma dose extra. “O Butantan esclarece que não será necessária uma 3ª dose da vacina contra a covid-19”, escreveu no Twitter. “A Coronavac é segura e eficaz após o ciclo de duas doses e mais 15 dias, conforme apontam vários estudos.” “O que o Butantan estuda é atualização da vacina, com a possibilidade de, no próximo ano, aplicar uma outra dose, em razão das novas cepas e da evolução da doença, como ocorre com a vacina da Influenza”, acrescenta em nota. Palacios não fala, em nenhum momento da entrevista, que a vacina não estaria funcionando na prática. O Butantan esclarece que não será necessária uma 3ª dose da vacina contra a Covid-19. Afirmar isso é disseminar Fake News. A Coronavac é segura e eficaz após o ciclo de duas doses e mais 15 dias, conforme apontam vários estudos. — Instituto Butantan (@butantanoficial) April 12, 2021 Estudos demonstraram eficácia da Coronavac com duas doses Como já explicou o Estadão Verifica em outras checagens, todas as vacinas aprovadas pelos órgãos regulatórios passam por uma sequência de etapas rigorosas de testes. O desenvolvimento do imunizante começa em laboratório, passa por testes em animais e depois o produto é colocado à prova em ensaios clínicos com milhares de pessoas, que envolvem três fases distintas e ampliam gradualmente o número de voluntários, as faixas etárias e os quadros prévios de saúde. A chamada fase 3 da pesquisa com a Coronavac contou com 12,4 mil voluntários no Brasil. Todos eram profissionais da saúde, com risco mais alto e contínuo de exposição ao novo coronavírus. Metade do grupo tomou o imunizante, e a outra metade, placebo. Eles são monitorados constantemente e orientados para relatar qualquer tipo de efeito adverso. Após a incidência de uma quantidade de casos de covid-19 predeterminada, os dados são abertos e comparados entre os grupos para calcular a eficácia do imunizante. Os resultados dessa etapa final de pesquisa foram divulgados pelo Instituto Butantan em 12 de janeiro de 2021. O estudo demonstrou, primeiramente, que a vacina é segura, pois nenhuma reação adversa grave em decorrência da vacina foi constatada entre os participantes. Além disso, os pesquisadores observaram que, de um universo de 252 infectados, 167 estavam no grupo placebo e 85 haviam sido vacinados. O Instituto Butantan comparou essa relação de contaminados e o tempo de exposição ao risco de contrair o vírus para determinar a eficácia global de 50,38% — número superior ao patamar de 50% recomendado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e suficiente para que a Coronavac fosse introduzida no Plano Nacional de Imunização (PNI). Boatos na internet ignoraram a metodologia prevista no protocolo de pesquisa da Coronavac para contestar os números, dizendo que ela seria de 49,69%. Essa afirmação é falsa, porque desconsidera a variável de tempo de exposição ao risco citada anteriormente, conforme noticiou o Estadão na época. Aos Fatos e Fato ou Fake, do portal G1, também desmentiram conteúdos do gênero. A taxa de 50,38% é referente ao chamado desfecho primário, ou seja, a capacidade de a vacina proteger contra a infecção pelo vírus e prevenir qualquer nível de desenvolvimento da doença — incluindo casos muito leves e assintomáticos. O estudo também revelou que a Coronavac é 78% eficiente em evitar casos leves (pacientes que precisam de algum tipo de assistência médica) e moderados (aqueles que requerem hospitalização, mas não cuidados intensivos). Os dados indicaram ainda que a vacina teve 100% de eficácia para casos graves e mortes, mas os próprios cientistas alertaram no anúncio que essa análise ainda não tinha “significância estatística” e não podia ser considerada uma “promessa de que ninguém vai morrer da doença se for vacinado”, segundo declarações de Ricardo Palacios reportadas pelo Estadão. Isso porque haviam sido registrados apenas sete casos de hospitalização em UTI na amostra, todos no grupo placebo. Apenas com um número mais robusto torna-se possível determinar com precisão o nível de proteção contra casos mais severos de covid-19, que tende a ficar entre as faixas de 78% e 100% mencionadas acima. A Anvisa analisou esses mesmos dados e, em 17 de janeiro, aprovou por unanimidade o uso emergencial da vacina no Brasil. Desde então, já foram aplicadas mais de 30,7 milhões de doses em todo o território nacional, de acordo com a plataforma Localiza SUS, do Ministério da Saúde, que compila registros enviados pelas unidades de saúde. A Coronavac mostrou resultados positivos em um estudo preliminar conduzido em Manaus, com 67 mil profissionais de saúde, e continua sendo avaliada regularmente pelos cientistas, na chamada etapa de farmacovigilância, ou fase 4. Além disso, o Butantan pretende divulgar em maio os primeiros resultados de um estudo inédito de vacinação em massa na cidade de Serrana (SP), onde praticamente toda a população adulta já foi imunizada contra a covid-19. O que disse o pesquisador do Butantan para a CNN Em 11 de abril, o Instituto Butantan divulgou um preprint (artigo científico ainda não revisado por pares) com a análise final sobre os dados da fase 3 de testes em humanos, que contou com 12,4 mil voluntários no Brasil. O estudo confirma uma eficácia global de 50,7% e trouxe uma novidade: a taxa passou para 62,3% com intervalos maiores que 21 dias entre a aplicação das duas doses. O relatório foi enviado para publicação na revista científica The Lancet. O diretor médico de pesquisa clínica do Instituto Butantan, Ricardo Palacios, concedeu entrevista para a rede de televisão CNN Brasil naquele mesmo dia e comentou sobre os resultados. Ele explicou que o novo índice foi constatado a partir da análise de um subgrupo de vacinados após três semanas, enquanto o protocolo previa intervalo de 14 dias para a maior parte dos indivíduos. (A entrevista está disponível na íntegra neste link) Em seguida, um dos jornalistas questiona Palacios sobre o fato de autoridades chinesas estarem buscando alternativas para aumentar a eficácia das vacinas aplicadas no País, o que poderia incluir ajustes nos intervalos de aplicação, aumento de doses ou mesmo combinações entre diferentes imunizantes. “Existem grandes preocupações sobre como melhorar a duração da resposta imune, e uma das alternativas que vem sendo considerada é a utilização de uma dose de reforço, com a própria vacina ou com outros imunizantes”, responde o pesquisador do Butantan. Ele comenta ainda que é comum, entre as vacinas de vírus inativado, que uma dose adicional seja aplicada cerca de um ano após a primeira imunização e que esse tipo de alternativa pode ser importante para proteger contra novas variantes do vírus. Depois, ele faz questão de alertar que se trata de uma hipótese. “A recomendação, como insistimos, é utilizar a vacina com intervalo (entre as duas doses) de 28 dias, preferencialmente. Em relação à terceira dose, ainda não temos estudos para sustentar essa possibilidade. Portanto, não há uma recomendação de terceira dose neste momento, e o que pedimos é um pouco de paciência, que elaboraremos estudos focados nesse sentido.” Possibilidade de ‘terceira dose’ vale para todas as vacinas A eventual introdução de uma dose de reforço não é uma novidade, nem se resume apenas ao caso da Coronavac, como mostra essa reportagem da BBC News Brasil, publicada em fevereiro. Cientistas acreditam que a medida pode ser necessária a depender do desempenho de novas variantes do coronavírus em “driblar” a proteção conferida pelas vacinas, mas nada disso foi comprovado pela ciência até o momento. É possível que a doença passe a exigir atualizações anuais, como no caso da vacina contra a gripe, por exemplo. A pesquisadora do Centro de Tecnologia em Vacinas e Diagnóstico da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Ana Paula Fernandes afirmou à BBC que a Coronavac pode inclusive apresentar vantagem nesse sentido, pois é produzida a partir do vírus inteiro inativado, enquanto outros imunizantes se concentram em pedaços específicos da proteína spike. A explicação é que uma resposta imune mais ampla pode ser mais adequada diante do surgimento de diferentes tipos de mutação. Entramos em contato com a página “Fala Miranda”, mas não recebemos resposta até o momento.
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['Samuel Lima']
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['coronavírus [vacina]', 'estadão verifica', 'fake news [notícia falsa]', 'instituto butantan']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/fila-de-pacientes-na-bahia-nao-zerou-por-causa-de-cpi-numero-estava-em-queda-desde-marco/
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Fila de pacientes na Bahia não zerou por causa de CPI; número estava em queda desde março
Mensagens nas redes sociais afirmam que pessoas intubadas conseguiram vagas em hospitais por causa de criação de comissão no Senado; dados epidemiológicos mostram que número de doentes esperando realocação já vinha caindo
2021-04-27
Atualizada no dia 28/03 com resposta da Secretaria de Saúde do Estado da Bahia. Não é verdade que a criação da CPI da Covid no Senado tenha sido o motivo para o esvaziamento da fila para internação de pacientes intubados na Bahia. Um vídeo compartilhado no Facebook e no WhatsApp afirma que a comissão de inquérito teria promovido um “milagre”. No dia 13 de abril, o governador baiano, Rui Costa (PT), informou que não havia mais pessoas intubadas em UPAs e emergências aguardando transferência para UTIs. Dados epidemiológicos do Estado mostram que, em geral, o número de pacientes aguardando leitos de UTI e enfermaria já vinha caindo nas datas anteriores à criação da comissão. LEIA MAIS CRIANDO SUA CONTA GRATUITAMENTE
https://politica.estadao…270420215321.png
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['Alessandra Monnerat']
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['Bahia [estado]', 'coronavírus', 'cpi da covid']
2021-05-20
['ENGANOSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/e-falso-que-ex-apresentador-tenha-vazado-diretrizes-da-globo-para-criticar-bolsonaro/
ESTADAO_VERIFICA
É falso que ex-apresentador tenha vazado diretrizes da Globo para criticar Bolsonaro
Em nota, emissora desmentiu autenticidade de documento intitulado 'Pauta para Covid', que circula nas redes
2021-04-26
Mensagens no WhatsApp e nas redes sociais espalham um documento falso com supostas diretrizes da Rede Globo para a cobertura jornalística da pandemia de covid-19. Com informações vagas e tom alarmista, as mensagens afirmam que uma “pauta sinistra” foi vazada por um apresentador demitido da emissora. Porém, nada disso é verdade. Leitores enviaram este conteúdo para checagem ao WhatsApp do Estadão Verifica, 11 97683-7490. LEIA TAMBÉM Vídeo de apresentadora da TV Globo festejando com torcedores do Flamengo é de antes da pandemia Em nota divulgada neste sábado, 24, a Rede Globo desmentiu o boato. “[A Globo] reforça que é falso o documento supostamente vazado que está sendo compartilhado nas redes sociais com o que seriam recomendações de pauta sobre a covid-19 assinadas pelo editor-chefe do Jornal Hoje, Cláudio Marques”, disse a emissora. As mensagens enganosas apresentam uma captura de tela com dez orientações. Elas sugerem que a diretoria da emissora atua para superdimensionar a pandemia e produzir notícias desfavoráveis ao governo Bolsonaro. Entretanto, além da ausência de elementos que confirmem a autenticidade do “documento sigiloso”, alguns detalhes indicam erros factuais no material. O conteúdo utiliza um logotipo antigo da Rede Globo, que foi substituído em 2014. Uma verificação do site Boatos.org pontua que o documento recebe a data de abril de 2020, mas cita problemas que ganharam destaque na história mais recente da pandemia, como a escassez de oxigênio e medicamentos para intubação em unidades. A crise nacional no estoque de sedativos para ventilação mecânica ocorreu em 2021. Também vale ressaltar que, ao contrário do que sugere a diretriz número cinco do documento falso, não existem “kits de medicamentos” eficazes para a prevenção da covid-19. O boato ainda compartilha de características comuns de conteúdos enganosos em plataformas digitais. O teor alarmista gerado pela referência a documentos sensíveis e sigilosos, por exemplo, busca despertar um senso de urgência nos usuários para incentivar o compartilhamento do material nas redes. Também já desmentimos outros boatos envolvendo a Rede Globo, como postagens que tiravam do contexto um vídeo de uma apresentadora da emissora festejando com torcedores do Flamengo antes da pandemia.
https://politica.estadao…010320211106.png
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['Victor Pinheiro']
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['coronavírus', 'rede globo', 'fake news [notícia falsa]']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/nao-estudo-da-universidade-de-stanford-nao-concluiu-que-uso-de-mascaras-e-ineficaz-e-perigoso/
ESTADAO_VERIFICA
Não, estudo da Universidade de Stanford não concluiu que uso de máscaras é ineficaz e perigoso
Instituição de ensino negou vínculos com trabalho teórico publicado em revista científica não convencional; entidades de saúde preconizam o uso comunitário de máscara como medida essencial para controlar a pandemia
2021-04-26
É falso que um estudo da Universidade de Stanford, nos Estados Unidos, tenha apontado que o uso de máscaras é ineficaz na prevenção da covid-19 e pode prejudicar a saúde, como sugerem conteúdos enganosos em blogs e aplicativos de mensagem. O boato remete a um artigo divulgado na revista Medical Hypotheses, cuja finalidade é publicar hipóteses científicas “radicais” e “especulações” que contrastam com o conhecimento convencional. Disponível no site dos Institutos Nacionais de Saúde (NIH) dos Estados Unidos, o trabalho informa um único autor que se identifica como membro da divisão de cardiologia do Sistema de Saúde para Veteranos de Palo Alto, na Califórnia. Embora o centro hospitalar tenha ligações com a Universidade de Stanford, a instituição de ensino negou qualquer vínculo com o artigo e ressaltou que “apoia fortemente” o uso de máscaras para diminuir a transmissão do novo coronavírus. LEIA TAMBÉM É falso que máscaras reduzam imunidade e potencializem a proliferação de bactérias Em nota publicada nesta quarta-feira, 21, a universidade esclareceu que o autor não era filiado ao hospital nem ao centro de ensino na data de publicação do trabalho, em novembro. O último vínculo dele com Stanford se encerrou em 2016, após o término de um período como acadêmico visitante em “assuntos não relacionados ao [tema do] artigo”. Stanford Medicine strongly supports the use of face masks to control the spread of COVID-19. pic.twitter.com/DiY3sWezCN — Stanford Medicine (@StanfordMed) April 21, 2021 O comunicado diz que a universidade solicitou que as filiações do autor sejam corrigidas no documento. CDC defende eficácia das máscaras O trabalho enganosamente atribuído à Universidade de Stanford diz que as evidências existentes desafiam a eficácia e a segurança de máscaras faciais. A afirmação, no entanto, contraria referências mundiais de saúde, como o Centro de Controle de Doenças Infecciosas dos Estados Unidos (CDC) e a Organização Mundial da Saúde (OMS). Um informe do CDC divulgado em novembro afirma que os estudos de eficácia do uso de equipamentos de proteção no contexto da covid-19 são limitados a estudos epidemiológicos e observacionais. O órgão defende, no entanto, que os dados já disponíveis sustentam a recomendação de uso universal de máscaras faciais. A nota cita que ao menos sete estudos populacionais confirmaram os benefícios da medida de prevenção em nível comunitário nos Estados Unidos e no Canadá. A OMS também argumenta que as evidências sobre o efeito protetor do uso de máscaras são limitadas. A entidade, porém, recomenda a utilização de equipamentos não cirúrgicos em locais com transmissão comunitária como parte de uma estratégia ampla para combater a pandemia, que também inclui o distanciamento social. Distorções Para sustentar sua hipótese, o autor ainda distorce dados e conclusões de outros artigos que, na verdade, mostram resultados favoráveis ao uso de máscaras. O documento diz, por exemplo, que um trabalho publicado na Nature em abril de 2020 não identificou diferenças no potencial de transmissão entre pacientes que usavam máscaras e voluntários que não usavam. Os autores do estudo da Nature, no entanto, apresentam uma interpretação diferente logo no resumo do trabalho. “Os nossos resultados indicam que as máscaras faciais cirúrgicas podem impedir a transmissão de coronavírus humanos e vírus da gripe de indivíduos sintomáticos”, afirmam os pesquisadores. Na discussão dos resultados eles avaliam que os dados demonstram “a eficácia das máscaras cirúrgicas para reduzir a detecção do coronavírus e cópias virais em grandes gotículas respiratórias e em aerossóis”. “Isso tem implicações importantes para o controle da covid-19, sugerindo que as máscaras cirúrgicas faciais poderiam ser utilizadas por pessoas doentes para reduzir a transmissão posterior”, acrescentam os cientistas. Cartaz recomenda o uso de máscara em Salt Lake City, nos Estados Unidos. Foto: AP Photo/Rick Bowmer Segurança O artigo do Medical Hypothesis diz também que máscaras podem causar danos fisiológicos e psicológicos aos usuários, entre eles hipóxia (oxigenação insuficiente nos tecidos) e hipercapnia (retenção excessiva de gás carbônico no corpo). Ele cita trabalhos em contextos específicos, como o uso de máscaras N95 durante sessões de tratamentos de hemodiálise por pacientes com doenças renais em fase terminal. Não há referências sobre a segurança do uso comunitário da no contexto da covid-19. Outros artigos nem sequer apresentam conclusões sobre eventos adversos dos equipamentos de proteção. A hipótese de que máscaras possam causar problemas respiratórios é rejeitada pela OMS e já foi contestada por especialistas em outras verificações. Uma página da organização dedicada a combater boatos afirma que o uso prolongado de máscaras “não causa intoxicação por dióxido de carbono nem deficiência de oxigênio”. Também não constam eventos adversos semelhantes no quadro de “desvantagens” do uso de máscaras no documento da entidade. Um artigo publicado na revista de medicina JAMA aponta que preocupações sobre a redução da saturação de oxigênio e retenção de dióxido de carbono não têm respaldo nos dados disponíveis sobre o uso de máscaras no contexto da covid-19. Em outra reportagem do Estadão Verifica, publicada em fevereiro, infectologistas afirmaram que o equipamento não retém gás carbônico porque permite a troca gasosa entre a parte interna e externa do produto. A página de orientações do CDC acerca do uso de máscaras destaca que as moléculas de CO2 (dióxido de carbono) são suficientemente pequenas para passarem facilmente através de qualquer material de máscaras de pano. “Em contraste, as gotículas respiratórias que transportam o vírus que causa a covid-19 são muito maiores do que o CO2, pelo que não podem passar tão facilmente através de uma máscara de pano devidamente concebida e devidamente usada”, afirma a agência americana. Especialistas também já contestaram boatos de que máscaras reduzem a imunidade e potencializam a proliferação de bactérias. Também não há evidências de que o uso da proteção provoque a acidificação do sangue. A revista A revista Medical Hypotheses é uma publicação científica incomum que já foi o centro de algumas polêmicas no setor acadêmico. O guia para autores do periódico afirma que o objetivo da revista consiste na divulgação de artigos teóricos “interessantes”. “A revista considerará as ideias científicas radicais, especulativas e não convencionais, desde que sejam expressas de forma coerente”, afirma o texto. Como destaca uma verificação do site Snopes, o jornal já publicou trabalhos que relacionam o uso de salto alto com esquizofrenia. Em 2009, um artigo que negava a epidemia de AIDS causou polêmica na comunidade acadêmica e foi retirado do Medical Hypothesis após uma revisão por uma equipe editorial de outra revista. A publicação lamentou o episódio.
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['Victor Pinheiro']
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['coronavírus', 'máscaras']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/requisicao-de-ambulancias-pelo-governo-da-bahia-esta-previsto-na-constituicao/
ESTADAO_VERIFICA
Requisição de ambulâncias pelo governo da Bahia está prevista na Constituição
Medida circula sem contexto nas redes sociais para sugerir ilegalidade da gestão estadual
2021-04-26
SAIBA MAIS A notícia de uma requisição administrativa de ambulâncias pelo governo da Bahia circula sem contexto nas redes sociais. Na semana passada, a Secretaria de Saúde baiana requisitou a uma concessionária nove veículos já comprados pelo Estado, que tiveram o preço de venda alterado. Postagens no Facebook passaram a chamar a Bahia de “nova Venezuela” e dizem que o governador Rui Costa mandou “tomar ambulâncias à força”, sem dizer que a medida está prevista na Constituição Federal de 1988. LEIA TAMBÉM Bolsonaro compartilha vídeo enganoso com erro de tradução para criticar jornal A comparação da Bahia com uma “nova Venezuela” está no título de um post do blog Terra Brasil Notícias. Embora essa associação seja exclusiva do blog, o restante do texto foi copiado integralmente do portal de notícias G1. A reportagem original tem o título “Sesab faz requisição administrativa de ambulâncias de empresa que quis aumentar preço dos veículos após acordo com o governo” e em nenhum momento informa que haveria alguma ilegalidade na medida. A requisição administrativa está prevista no art. 5º, inciso XXV, da Constituição Federal. Ele diz que “no caso de iminente perigo público, a autoridade competente poderá usar de propriedade particular”. Além disso, é assegurado ao proprietário o direito de indenização posterior caso se constate algum dano ao bem. Veículos serão usados durante a pandemia e serão devolvidos, com direito a indenização. Foto: Reprodução Em nota publicada em seu site, o governo da Bahia disse que as ambulâncias serão destinadas a cidades do interior do Estado e serão devolvidas após o uso necessário e que o proprietário será indenizado em caso de danos pelo uso. “Portanto, inexiste confisco ou qualquer ilegalidade na medida administrativa”, diz a nota. As ambulâncias foram compradas pelo governo estadual em 2020. No começo deste ano, o vencedor da licitação foi chamado a fazer a entrega dos bens. No entanto, ele se recusou e solicitou o aumento do preço anteriormente ofertado. O Estado alega falta de tempo para realizar nova licitação diante da pandemia e adotou a requisição administrativa. A medida foi ordenada por meio do Decreto Estadual Nº 20.328 de 23 de março de 2021. Documento DECRETO ESTADUAL Nº 20.328/2021 PDF As postagens sobre o assunto acompanham um Termo de Requisição de Bens preenchido pelos servidores da Secretaria de Saúde Estadual. Embora o termo traga o nome da concessionária Eurovia Veículos S/A, o governo baiano explica que a empresa não era a proprietária dos veículos, que estavam lá para adaptação. A justificativa para a edição do decreto é a existência de ameaça à coletividade, explica Guilherme Amorim Campos da Silva, professor do mestrado em Direito da Uninove. A requisição administrativa, prevista na Constituição, visa proteger o interesse público primário que, neste caso, é a saúde coletiva e os meios para promover o pronto atendimento. “No presente contexto, é importante assinalar que em situações emergenciais, que muito se assemelham a situações de iminente perigo público ou até mesmo similares à situações de guerra, os particulares são chamados a colaborar com o Poder Público”, disse Silva ao Estadão Verifica. Nas redes sociais O texto no blog Terra Brasil Notícias foi compartilhado 238 vezes no Facebook, segundo a ferramenta de monitoramento de redes sociais Crowdtangle. A mesma associação enganosa foi compartilhada pelo deputado estadual Capitão Alden (PSL), que escreveu “Requisição administrativa. Acha isso normal? Bem-vindo ao comunismo!” Por ser uma figura pública, sua postagem tem mais visibilidade e foi repostada 327 vezes. O blog disse ao Estadão Verifica que nunca disse que a medida seria ilegal. “Porém enfatizamos que a medida é dura e fizemos uma comparação com ações utilizadas na Venezuela que usaram desse expediente para expropriar patrimônio privado para suprir o Estado”, falou. O deputado Capitão Alden foi procurado por e-mail, mas não respondeu até a publicação desta checagem. O espaço está aberto. Em março, o dispositivo de requisição administrativa também foi tirado de contexto em Sergipe. Postagens acusavam o governador Belivaldo Chagas (PSD) de “abolir o direito de propriedade”. Como mostrou o Estadão Verifica, a alegação é falsa. Até esta segunda-feira, 26, o Brasil possuía 390.797 óbitos acumulados pela covid-19 e 14,3 milhões de infectados. A Bahia tinha 884.044 casos confirmados e 18.003 mortos pelo novo coronavírus.
https://politica.estadao…260420210010.png
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['Pedro Prata']
[]
['fake news [notícias falsas]', 'Bahia [estado]']
2021-05-20
['ENGANOSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/bolsonaro-compartilha-video-enganoso-com-erro-de-traducao-para-criticar-jornal/
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Bolsonaro compartilha vídeo enganoso com erro de tradução para criticar jornal
Conteúdo divulgado pelo presidente confunde o sentido do verbo 'anima', em espanhol; autora do artigo já havia alertado filho de Bolsonaro sobre o erro, em 2019
2021-04-26
Não é verdade que a edição brasileira do jornal El País tenha distorcido o título original, em espanhol, de um texto do veículo sobre a participação do presidente Jair Bolsonaro no Fórum Econômico Mundial de Davos, na Suíça, em 2019. Compartilhado pelo próprio presidente nas redes sociais nesta segunda-feira, 26, o boato tem origem em um vídeo no qual o autor comete um erro de tradução do verbo “anima” em espanhol. LEIA TAMBÉM Em pronunciamento, Bolsonaro omite seu desprezo a vacinas da China e da Pfizer, distorce informações e busca se promover com imunização A gravação compara o título da matéria em espanhol “Bolsonaro anima a los ejecutivos de Davos a invertir en el nuevo Brasil”, com a manchete da versão em português “O breve discurso de Bolsonaro decepciona em Davos”. O autor sugere que o primeiro texto indica uma recepção positiva ao presidente na Espanha, enquanto o segundo seria distorcido para criticar Bolsonaro, o que não é verdade. Em janeiro de 2019, a autora do artigo, Alicia González, já havia alertado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, sobre o equívoco em uma postagem do deputado federal. A correspondente internacional do El País destacou que o verbo “anima” foi empregado no sentido de estimular, incentivar — e não de “convencer”. Na época, Eduardo Bolsonaro se defendeu mostrando um print da ferramenta de tradução do Google. O conteúdo do próprio texto espanhol do El País, no entanto, desmente o boato de que o artigo seria positivo ao presidente. Não é por menos que o vídeo enganoso mostra somente o título dos artigos. O primeiro parágrafo do conteúdo aponta que investidores esperavam do discurso do presidente informações concretas sobre reformas econômicas, mas “a decepção foi inevitável”. A tradução do trecho “Bolsonaro ha animado a los inversores a apostar por el nuevo Brasil libre de corrupción y se ha comprometido con la apertura comercial y económica de la primera economía latinoamericana” reforça que o sentido do verbo anima, em espanhol, tem uma conotação diferente da expressão animar, em português. “Bolsonaro estimulou os investidores a apostarem num novo Brasil livre de corrupção e se comprometeu com a abertura comercial e econômica da maior economia latino-americana”, diz a tradução do El País Brasil. Mesmo com o equívoco passado do filho, a nova publicação de Jair Bolsonaro no Twitter, desta segunda-feira, 26, já acumulava mais de 3 mil compartilhamentos e 11 mil curtidas até o fechamento desta reportagem. O boato também foi amplificado por apoiadores em outras plataformas.
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['Victor Pinheiro']
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['bolsonaro']
2021-05-20
['ENGANOSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/e-falso-que-senadores-da-cpi-da-covid-acumulem-mais-de-24-mil-processos-na-justica/
ESTADAO_VERIFICA
É falso que senadores da CPI da Covid acumulem mais de 2,4 mil processos na Justiça
Lista que circula nas redes com número fora da realidade foi criada a partir de buscas imprecisas em um site jurídico; resultados incluem pessoas sem qualquer relação com os 11 parlamentares
2021-04-26
Circula nas redes sociais uma suposta lista de processos envolvendo os 11 integrantes da CPI da Covid no Senado. A peça de desinformação alega que os senadores teriam juntos 2.405 pendências com a Justiça, mas não apresenta nenhuma fonte. O Estadão Verifica descobriu que os números foram coletados através de uma busca superficial em um site jurídico, que retorna uma série de processos sem qualquer envolvimento dos políticos. Post desinforma sobre processos de senadores com números fora da realidade. Foto: Reprodução / Arte: Estadão LEIA TAMBÉM Em discurso na cúpula do clima, Bolsonaro distorce dados sobre preservação ambiental A reportagem questionou por mensagem o perfil bolsonarista @oiluiz, que compartilhou originalmente o conteúdo viral, com mais de 6 mil compartilhamentos no Twitter e no Facebook. Sem obter retorno, passou a pesquisar trechos do conteúdo na internet (nome do senador, número e a palavra “processos”) e chegou ao método duvidoso de busca. As informações constam em páginas da plataforma JusBrasil, sempre no topo da lista de resultados e batendo com os valores mencionados (veja três exemplos abaixo). Esse site faz uma coleta automatizada de dados públicos referentes a processos e publicações em diários oficiais e os disponibiliza na internet para consulta mais prática. O problema é a imprecisão dessa pesquisa genérica que deu origem ao boato. Para sugerir essa quantidade elevada de processos, evidências apontam que o autor do tuíte procurou pelo nome encurtado dos senadores, aqueles pelos quais são conhecidos na vida pública. Assim, acabou somando referências a homônimos, pessoas que têm o mesmo nome dos políticos, ou ao menos parte dele. Alguns dos desconhecidos são advogados, inclusive, e não partes daquelas ações judiciais. Os profissionais aparecem associados a uma série de processos em que atuam, inflando artificialmente os dados. A busca também não é capaz de determinar se o indivíduo é autor ou réu no processo, por exemplo. Nem é suficiente para entender do que se trata o material, que está inserido em diferentes áreas do Direito (cível, trabalhista, criminal, entre outras). A postagem viral ignora todos esses aspectos e investe em uma narrativa enganosa de que todos os políticos seriam corruptos pela suposta alta quantidade de processos. A imagem que acompanha a lista mostra os “Irmãos Metralha”, uma quadrilha de ladrões atrapalhados criada pela Disney na década de 1950. Pesquisa no Google traz indícios de que números da lista foram tirados de uma busca duvidosa no site jurídico JusBrasil. Foto: Reprodução No caso de Marcos Rogério (DEM-RO), os supostos 1.492 processos alardeados na peça aparecem associados no JusBrasil a um nome que nem é dele: “Marcos Rogerio Oliveira”, sendo que o político se chama Marcos Rogério da Silva Brito. Os termos pesquisados abarcam processos de um advogado paulista, o que explica as mais de 800 ações tramitando no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo. Ao procurar pelo nome completo do senador, encontramos um número muito menor: 18 (que podem incluir processos em que ele não é réu e homônimos). Situação parecida ocorre com Humberto Costa (PT-PE), que supostamente responderia a 742 processos na Justiça, segundo o boato. Ao procurar essas informações no Google, a reportagem chegou a outra página do JusBrasil em que a quantidade é mais uma vez influenciada por um advogado de São Paulo, além de um desembargador de Pernambuco, ambos chamados de “Humberto Costa”. O senador Humberto Sérgio Costa Lima é médico e jornalista. A busca pelo nome completo do parlamentar retorna 52 resultados. Outro número que se destaca na lista é o de 306 processos relacionados a Eduardo Braga (MDB-AM), mas essa informação novamente não se sustenta com uma análise mais atenta. A maioria desses processos relacionados ao nome “Eduardo Braga” no JusBrasil tramita em tribunais de São Paulo e do Rio Grande do Sul, enquanto o senador Carlos Eduardo de Sousa Braga é do Amazonas. São apenas quatro processos listados com esse nome completo. JusBrasil alerta sobre pesquisas superficiais no site Procurada pela reportagem, a JusBrasil alertou sobre os problemas de se promover esse tipo de pesquisa apressada no site. “É recomendável que tenha cuidado ao realizar análises superficiais a partir de dados isolados e fora de contexto”, adverte a empresa. “Quando os resultados são dispostos em nosso site, nem sempre há distinção entre homônimos, de forma que o mesmo nome (por ex. João da Silva) pode ter a ele atribuído diversos processos e não se tratar necessariamente da mesma pessoa.” A plataforma afirma ainda que não distingue se o nome associado a um processo figura como réu ou autor da ação. “Em outras palavras, apenas pela contagem inicial, não é possível afirmar que determinado nome figura como réu em todas as ações associadas a seu nome”, destaca. Dessa forma, esse tipo de pesquisa poderia servir, no máximo, como ponto de partida para uma análise mais aprofundada, com o cuidado de se utilizar o nome completo e de separar aqueles nos quais a pessoa figura como réu na Justiça. Da forma como circula nas redes, contém erros e não tem validade alguma. Investigações criminais contra os senadores Não é uma tarefa simples apurar a quantidade de processos envolvendo cada senador da República, pois os dados precisam ser checados em diversas instâncias da Justiça. E mesmo com essa apuração extensa, alguns resultados podem ficar de fora, pois há casos de órgãos que não facilitam a busca em suas páginas na internet e outros em que os processos correm em sigilo. O site Congresso em Foco realiza, todos os anos, um levantamento sobre o assunto, considerando apenas as investigações criminais. O mais recente, publicado em 18 de maio de 2020, revelou que um em cada três senadores é alvo desse tipo de investigação na Justiça — 28 entre 81 parlamentares. A maior parte das apurações, no entanto, ainda estava em estágio de inquérito, ou seja, investigações preliminares que podem resultar em processos ou ser arquivadas sem apresentação de denúncia. Na época em que o levantamento foi publicado, cinco integrantes da CPI da Covid do Senado apareciam entre os investigados: Renan Calheiros (MDB-AL), com nove inquéritos no STF; Ciro Nogueira (PP-PI), com cinco inquéritos; Eduardo Braga (MDB-AM), com um inquérito e uma ação cautelar; Humberto Costa (PT-PE), com um inquérito; e Omar Aziz (PSD-AM), com uma investigação na Justiça do Amazonas. O Estadão Verifica consultou o histórico dos 11 políticos novamente no portal do STF. Renan Calheiros (MDB-AL), indicado para a relatoria da CPI no Senado, é alvo de ao menos oito inquéritos na Corte. Ele já se tornou réu em um deles, pelo fato de o Supremo ter acolhido denúncia da Procuradoria-Geral da República em dezembro de 2019, mas o procedimento ainda se arrasta com recursos. A denúncia é pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro no âmbito da Operação Lava Jato. O número real de processos contra o senador pode chegar a 12, considerando que quatro inquéritos identificados pelo Congresso em Foco no ano passado agora aparecem como sigilosos ou em segredo de Justiça. Opositor declarado do presidente Jair Bolsonaro, ele enfrenta críticas de adversários governistas, que entendem que o alagoano é suspeito para assumir o posto na comissão porque é pai do governador de Alagoas, Renan Filho (MDB). Ciro Nogueira (PP-PI) permanece listado como alvo de cinco inquéritos no portal do STF, os mesmos apontados pelo Congresso em Foco em 2020. As investigações apuram suspeitas de corrupção ativa e passiva, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Eduardo Braga (MDB-AM) aparece como réu na mesma ação cautelar, que na realidade está relacionada a um pedido de prisão temporária feito pela Polícia Federal a partir do inquérito citado anteriormente, que agora também tramita sob sigilo no STF. Um documento do processo detalha que o senador é investigado sob suspeita de ter recebido R$ 6 milhões da JBS em um esquema de compra de apoio político na eleição da ex-presidente Dilma Rousseff. Notícias recentes da CNN Brasil e do jornal Folha de S. Paulo permitem afirmar ainda que o senador Omar Aziz (PSD-AM) continua sendo investigado pela Justiça do Amazonas. O processo apura suspeita de desvios na área da Saúde enquanto o parlamentar era governador no Estado. O caso aparece fechado no STF porque a Corte decidiu, em 2018, que a competência para a apuração e o julgamento era da primeira instância. Ele deve ser escolhido o presidente da CPI da Covid, conforme acordo fechado por senadores independentes e oposição na semana passada. Os demais senadores — Eduardo Girão (PODE-CE), Jorginho Mello (PL-SC), Marcos Rogério (DEM-RO), Otto Alencar (PSD-BA), Randolfe Rodrigues (REDE-AP) e Tasso Jereissati (PSDB-CE) — não aparecem com investigações abertas no Supremo. Humberto Costa (PT-PE), que antes era alvo de investigação no levantamento do Congresso em Foco, teve o inquérito arquivado pela Corte em fevereiro deste ano. O petista era investigado sob suspeita de ter recebido R$ 1 milhão da Odebrecht. Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente. Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
https://politica.estadao…230420212402.png
null
['Samuel Lima']
[]
['fake news [notícia falsa]', 'cpi da covid', 'coronavírus']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/e-falso-que-52-municipios-tenham-zerado-mortes-por-covid-19-ao-adotarem-tratamento-precoce/
ESTADAO_VERIFICA
É falso que 52 municípios tenham zerado mortes por covid-19 ao adotarem ‘tratamento precoce’
Lista que circula no WhatsApp e nas redes sociais tem cidades que registraram sim óbitos causados pelo coronavírus em março
2021-04-22
Esta checagem foi produzida por jornalistas da coalizão do Comprova. Leia mais sobre nossa parceria aqui. Conteúdo verificado: Mensagem distribuída por WhatsApp afirma que 52 cidades no Brasil zeraram o número de óbitos por covid graças ao tratamento precoce com ivermectina e hidroxicloroquina É falso que 52 municípios zeraram o número de mortes por covid-19 ao adotarem o chamado ‘tratamento precoce’ com hidroxicloroquina e ivermectina, como sugerem mensagens nas redes sociais. Um levantamento do Comprova com dados do site SUSanalítico mostra que quase todas as cidades citadas registraram notificações de óbitos no mês de março. LEIA TAMBÉM Em vídeo viral, médica contraria principais entidades de saúde ao afirmar que existem evidências para ‘tratamento precoce’ Os benefícios das duas drogas não foram comprovados por pesquisas científicas confiáveis. A Organização Mundial da Saúde e outras entidades desaconselham o uso dos medicamentos para o tratamento da covid-19, em qualquer estágio da infecção. Além disso, conforme especialistas consultados pelo Comprova, a conexão entre o tratamento precoce e supostas quedas nos números de óbitos nas cidades é insustentável, uma vez que outros fatores influenciam os índices epidemiológicos. Essa verificação foi sugerida por leitores que receberam o conteúdo por WhatsApp. O mesmo conteúdo foi publicado no Twitter pelo perfil @DerlinRod. O Comprova tentou ouvir o autor dessa postagem, mas ele não respondeu até o fechamento da verificação. Como verificamos? Para verificar o conteúdo, o Comprova acessou os dados da plataforma SUSanálitico, do Ministério da Saúde. A pesquisa coletou informações sobre os óbitos por covid-19 acumulados de cada um dos municípios mencionados até a data de referência do dia 15 de abril, a população estimada das cidades e a taxa de mortes por 100 mil habitantes. Também aplicamos um filtro para comparar os números de óbitos registrados no dia 31 de março com as estatísticas do dia 1º de março. Isso permitiu à reportagem conferir a evolução das ocorrências durante aquele mês. É importante ressaltar que o SUSanalítico informa a data de notificação dos óbitos, e não o dia exato em que ocorreram. Os dados da plataforma apresentam números distintos dos boletins epidemiológicos das prefeituras. Essa diferença, entretanto, não impacta no resultado da verificação ou na classificação do conteúdo, conforme verificado individualmente pelo Comprova. Como os números desmentem a publicação, o Comprova não checou, de cidade a cidade, se elas usaram algum protocolo de tratamento precoce como política de atendimento para a covid-19. Após o levantamento, o Comprova consultou dois especialistas na área de epidemiologia para entender se a associação do tratamento precoce com supostas quedas nos números epidemiológicos de cidades é válida. Marcio Sommer Bittencourt, do Centro de Pesquisa de Epidemiologia do Hospital Universitário da USP, e Airton Stein, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA), no entanto, argumentam que os apontamentos do post não se sustentam. Também contactamos o autor de uma postagem com o mesmo conteúdo no Twitter, que não respondeu até o fechamento da matéria. O Comprova fez esta verificação baseada em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 21 de abril de 2021. Verificação A mensagem enganosa menciona 51 cidades de diferentes proporções populacionais. O município de Uberaba (MG) é repetido duas vezes, nas numerações 15 e 31. O conteúdo ainda menciona uma cidade chamada Taquara, no Paraná, mas a região não configura oficialmente um município. A publicação analisada pelo Comprova foi compartilhada no Twitter no dia 5 de abril. Um levantamento da reportagem com dados da plataforma SUSanalítico mostra que, no mês de março, somente os municípios de São Pedro dos Crentes (MA), Rancho Queimado (SC) e São Pedro do Paraná (PR) não registraram notificações de óbitos por covid-19. As três cidades somam pouco menos de 10 mil habitantes. Na outra ponta, Natal (RN), com população estimada em 884 mil habitantes, lidera o ranking com 385 notificações, seguida por Cascavel (PR) e Chapecó (SC), com 244 e 230, respectivamente. Em Taquara (RS), o total de óbitos acumulados quase dobrou. A cidade gaúcha registrava, em 1º de março, 67 óbitos e fechou o mês com 132 ocorrências acumuladas. Além disso, até o dia 15 de abril, mais de 20 dos municípios listados apresentavam uma taxa de mortes de covid por 100 mil habitantes superior à média nacional de 178, segundo o SUSanalítico. É o caso de Itajubá (MG). Com cerca de 97 mil habitantes, a cidade mineira contabilizava 304 óbitos, aproximadamente 314 vítimas por 100 mil habitantes. Conexão insustentável Além de citar medicamentos sem eficácia comprovada para a covid-19, a associação do uso do tratamento precoce com os números epidemiológicos não é correta, de acordo com especialistas ouvidos pelo Comprova. O médico Márcio Sommer Bittencourt, do Centro de Epidemiologia do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo, destaca que outros fatores podem interferir nos números epidemiológicos de uma cidade, desde medidas de restrições adotadas para combater a pandemia até as características da população de cada município. Bittencourt explica que não é possível aferir o impacto do tratamento precoce nas cidades sem um estudo controlado que compare um grupo de pacientes medicados com o protocolo contra um grupo de controle robusto – isto é, pacientes que não recebem os remédios, mas estão sob as mesmas condições do grupo de medicados. Ainda assim, o estudo teria limitações. “Além das cidades não terem reduzido o número de mortes para nada substancial, elas podem estar em momentos de queda nas curvas por outras intervenções, que é o caso de Chapecó (SC), onde isso é muito claro”, destaca o médico. A cidade catarinense promoveu um lockdown parcial durante o mês de fevereiro. O método adequado para gerar evidências confiáveis acerca da eficácia de um medicamento corresponde aos estudos clínicos randomizados, defende Airton Stein, professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e médico de família e comunidade do Grupo Hospitalar Conceição. Ele destaca que esse tipo de trabalho estabelece grupos de controle e critérios de seleção para inibir possíveis fatores que possam confundir a análise dos resultados, o que não ocorre nas experiências clínicas individuais de médicos ou na análise proposta na mensagem enganosa. Stein ressalta que até mesmo as desigualdades nos sistemas de saúde poderiam “ser um fator de confusão”. “Quando a cidade tem um serviço de saúde que funciona, acesso a tecnologia para atender casos graves e fatores socioeconômicos melhores, os indicadores podem ser mais positivos.” diz o especialista. As evidências da cloroquina e ivermectina Até o momento, não há evidências confiáveis que confirmem a eficácia do uso da hidroxicloroquina ou ivermectina no tratamento da covid-19, em qualquer estágio da doença. O painel de evidências da Organização Mundial da Saúde desaconselha a aplicação dos dois tratamentos no combate à infecção do novo coronavírus. No caso da ivermectina, a entidade diz que os benefícios e a segurança do tratamento permanecem incertos, ao passo que os dados disponíveis de estudos clínicos com a droga no contexto da covid-19 têm um nível de confiança baixo. A Agência Europeia de Medicamentos também apresenta uma posição semelhante. Os Institutos Nacionais de Saúde dos Estados Unidos (NIH), por sua vez, afirmam que há dados insuficientes para estabelecer uma recomendação a favor ou contra o uso da ivermectina no tratamento da covid-19. A Food and Drugs Administration, órgão regulatório do país, alerta que a automedicação com o vermífugo é perigosa. Já os tratamentos com cloroquina e a hidroxicloroquina são fortemente desaconselhados pelo painel da OMS. De acordo com o documento, evidências de nível de confiança moderado mostram que ambas substâncias “provavelmente não reduzem a mortalidade, ventilação mecânica e o tempo de hospitalização”. Além disso, há preocupações em torno da segurança. Segundo a entidade, algumas evidências mostram que os remédios podem, na verdade, aumentar o risco de morte. “Os efeitos em outros resultados menos importantes, incluindo o tempo de resolução de sintomas, admissão hospitalar e o período de ventilação mecânica, seguem incertos”, diz o painel. O NIH desaconselha o uso da hidroxicloroquina isolada ou com outros medicamentos em pacientes hospitalizados com a covid-19. A organização também é contra a aplicação do tratamento para pacientes não hospitalizados fora de estudos clínicos. Por que investigamos? O conteúdo analisado foi sugerido via WhatsApp por leitores do Comprova e possuía 544 interações no Twitter até o dia 21 de abril de 2021. A mensagem promove desinformação ao espalhar o boato falso de que mais de 50 municípios teriam zerado o número de óbitos, graças ao uso de protocolos com ivermectina e hidroxicloroquina. As duas substâncias não têm eficácia e segurança comprovada no tratamento da covid-19, tampouco podem ser relacionadas com a queda de números epidemiológicos dos municípios citados no post. O tratamento precoce já foi alvo de uma série de verificações do nosso projeto. O boato é potencialmente perigoso porque pode confundir usuários e gerar uma falsa sensação de segurança de que esses medicamentos podem proteger pacientes na pandemia, quando não há evidências confiáveis de que eles realmente funcionem. A desinformação também pode atrapalhar gestores públicos na consolidação de políticas públicas efetivas para combater a crise sanitária. Uma verificação da Agência Lupa a respeito do mesmo boato indica que o conteúdo falso também circula por grupos de WhatsApp. O Aos Fatos e o projeto Fato ou Fake, do G1, desmentiram uma mensagem semelhante, com parte dos municípios listados, que viralizou na plataforma de mensagens. Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://img.estadao.com.…618602193028.jpg
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['Projeto Comprova']
[]
['coronavírus', 'fake news [notícia falsa]']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/audio-com-criticas-a-partidos-de-esquerda-e-falsamente-atribuido-a-padre-marcelo-rossi/
ESTADAO_VERIFICA
Áudio com críticas a partidos de esquerda é falsamente atribuído a padre Marcelo Rossi
Religioso negou ser autor da gravação que critica governos do PT e faz elogios a Bolsonaro
2021-04-21
É falso que o padre Marcelo Rossi tenha gravado áudio em apoio ao presidente Jair Bolsonaro. Uma gravação compartilhada no WhatsApp e no Facebook atribuída ao religioso diz que o País está “mergulhando numa crise moral” e critica o marxismo e o socialismo. Ao Estadão Verifica, a assessoria do cantor e autor católico negou a autoria do áudio. Este conteúdo foi enviado por leitores do Estadão Verifica ao número 11 97683-7490. No Facebook, o áudio ganhou 48 mil compartilhamentos desde o início de abril. LEIA TAMBÉM Carta de Léo Pinheiro sobre triplex de Guarujá e sítio de Atibaia é de 2019 e não menciona STF A voz na gravação critica partidos de esquerda e afirma que os governos anteriores do PT foram os responsáveis pela “crise moral e financeira” do País. O homem cita o Foro de São Paulo, uma reunião de partidos de esquerda da América Latina, e a construção de um porto em Cuba com recursos emprestados do BNDES. O autor do áudio também fala mal do programa Mais Médicos. O Estadão Verifica não conseguiu identificar o verdadeiro responsável pela gravação. Em 2018, em parceria com o Projeto Comprova, desmentimos outro áudio atribuído a Marcelo Rossi. No clipe, uma voz dizia que o então candidato Bolsonaro era “pró-família, pró-Deus e pró-valores” e acrescentava “quando vejo quem são os inimigos do Bolsonaro, eu falo ‘eu to escolhendo o cara certo para votar’”. Na ocasião, Marcelo Rossi negou ser o autor do conteúdo e disse que nem tinha WhatsApp para enviar áudios. No mês seguinte, o mesmo áudio foi falsamente atribuído ao padre Fábio de Melo. Posteriormente, o pastor Rina Seixas, da igreja evangélica Bola de Neve, informou ser o dono da voz.
https://img.estadao.com.…618700904757.jpg
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['Alessandra Monnerat']
[]
['fake news [notícia falsa]', 'marcelo rossi']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/nao-governo-federal-nao-construiu-fabrica-secreta-para-producao-de-tecnologias-5g/
ESTADAO_VERIFICA
Não, governo Bolsonaro não construiu fábrica secreta para produção de tecnologias 5G no Brasil
Postagens nas redes sociais tiram de contexto vídeo de inauguração de linha de produção em São José dos Campos, em março
2021-04-21
Não é verdade que o governo Bolsonaro tenha construído secretamente uma “fábrica da tecnologia 5G” no interior de São Paulo. Essa alegação enganosa que circula no WhatsApp refere-se à construção de uma nova linha de produção pela empresa sueca Ericsson, como parte de um investimento de R$ 1 bilhão no País. Essa corrente também alega falsamente que a presença da fábrica impede a entrada da companhia chinesa Huawei no leilão do 5G, mas o ministro das Comunicações Fábio Faria já disse que a empresa poderá participar do mercado destinado aos consumidores brasileiros. 5G é o nome dado à tecnologia de quinta geração de conexão móvel. Ela vai reduzir o tempo necessário para downloads e uploads, além de oferecer maior estabilidade para a conexão de internet. O 5G substituirá a tecnologia atualmente utilizada em smartphones, computadores e aparelhos domésticos conectados à internet. Construção da linha de produção já havia sido noticiada em 2019. Foto: Reprodução O texto viral se refere à inauguração de uma linha de produção de placas 5G da Ericsson no dia 19 de março, em São José dos Campos. As placas são uma ferramenta necessária para o funcionamento da tecnologia de conexão móvel. Trata-se da primeira linha de produção de produtos relacionados ao 5G na América Latina. A produção atenderá o mercado brasileiro e também exportará produtos para toda a região. A inauguração é um investimento privado e não tem relação com o governo Bolsonaro. Em 25 de novembro de 2019, o presidente da Ericsson Latam South disse que já exportava 40% do que era montado na fábrica, e que esperava que o mesmo ocorra com os produtos do 5G. Esta informação foi noticiada pelo Estadão, o que desmente que a instalação da linha de montagem seria sigilosa. A corrente de WhatsApp acompanha um vídeo que mostra a inauguração das instalações da nova linha de produção. Compareceram o ministro Fábio Faria (Comunicações) e Leonardo Euler, presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), além de funcionários de ambos os órgãos e do Ministério da Defesa. Este vídeo contém informações verídicas e está disponível no canal do Ministério das Comunicações no YouTube (veja a seguir). Leilão do 5G Os investimentos no País são parte da estratégia da Ericsson em torno da disputa contra a chinesa Huawei e a finlandesa Nokia pela liderança na implantação do 5G no Brasil. O leilão das faixas para o tráfego dos sinais da internet móvel foi politizado durante a gestão Bolsonaro. As alas ideológica e militar do governo pressionavam para que a Huawei fosse barrada do leilão por temores de que a segurança nacional poderia ser ameaçada. Essa posição estava alinhada com o posicionamento dos Estados Unidos durante o governo de Donald Trump, que tentava frear o avanço da influência chinesa no mundo. No entanto, o governo acabou recuando em meio à ausência de meios legais para impedir a participação dos chineses. Além disso, haveria um custo alto para substituir os equipamentos da Huawei que atualmente já são utilizados para a tecnologia 4G. Pesaram, ainda, as implicações comerciais e diplomáticas que um veto aos chineses causaria, tendo em vista que o país asiático exporta para o Brasil boa parte dos insumos necessários para a produção das vacinas contra a covid-19. Nova geração de conexão móvel terá rede privativa para comunicação do governo. Foto: John Sibley/Reuters Em março, o ministro Fábio Faria disse que a Huawei poderá integrar futuras redes 5G voltadas para empresas e consumidores brasileiros, mas está vetada de fornecer equipamentos para a rede privativa de comunicação do governo federal. Ele falou que a empresa chinesa não havia manifestado interesse na rede privativa. O edital do leilão que permite a participação da Huawei foi aprovado pela Anatel e agora aguarda parecer do Tribunal de Contas da União (TCU). Há expectativa para que o leilão ocorra ainda no primeiro semestre de 2021. Tecnologia 5G promete velocidades mais rápidas por meio de antenas menores. Foto: Fabrizio Bensch/Reuters Vacina sigilosa? Outra alegação falsa compartilhada pela corrente de WhatsApp desinforma ao dizer que o governo federal teria desenvolvido uma vacina em sigilo absoluto e que ela seria produzida em uma fábrica secreta da Fiocruz. Esse boato já foi desmentido pelo Estadão Verifica. Na verdade, a única vacina produzida pela Fiocruz é a desenvolvida pela universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca. Ela teve o resultado de todos os seus testes clínicos publicados em revistas científicas e não era secreta. Além disso, diferentemente do que afirma o texto no WhatsApp, o Complexo Tecnológico de Vacinas (CTV) da Fiocruz produz 11 imunizantes diferentes e não exige nenhuma autorização de altas autoridades para ser visitado. Deputado compartilhou corrente no Facebook O texto viral que circula no WhatsApp foi postado no Facebook pelo deputado federal Coronel Chrisóstomo (PSL-RO). A postagem recebeu 148 compartilhamentos e 147 impressões. O Estadão Verifica entrou em contato com o parlamentar, mas não obteve resposta até a publicação desta checagem. O espaço está aberto.
https://politica.estadao…200420213206.png
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['Pedro Prata']
[]
['fake news [notícias falsas]', 'Erickson', 'Huawei', '5G']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/carta-de-leo-pinheiro-sobre-triplex-de-guaruja-e-sitio-de-atibaia-e-de-2019-e-nao-menciona-stf/
ESTADAO_VERIFICA
Carta de Léo Pinheiro sobre triplex de Guarujá e sítio de Atibaia é de 2019 e não menciona STF
Mensagem do empreiteiro enviada à 'Folha' circula fora de contexto nas redes sociais, promovendo associação falsa com decisão recente do STF sobre condenações de Lula
2021-04-20
Circula nas redes sociais que o empreiteiro da OAS Léo Pinheiro teria encaminhado uma “carta aberta” ao jornal Folha de S. Paulo afirmando que as reformas no triplex de Guarujá e no sítio de Atibaia foram propinas para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O fato é verdadeiro, mas ocorreu dois anos atrás e não tem nenhuma relação com o Supremo Tribunal Federal (STF), como sugere uma nova versão viral do meme. Carta de Léo Pinheiro para a ‘Folha’ é de 2019 e não tem relação com STF. Foto: Reprodução / Arte: Estadão A carta foi enviada por Léo Pinheiro e publicada pela Folha em 4 de julho de 2019. De acordo com a reportagem, a manifestação do ex-presidente da OAS foi uma reação a uma reportagem publicada pelo jornal cinco dias antes, com base em mensagens que teriam sido trocadas entre procuradores da Operação Lava Jato, obtidas pelo site The Intercept Brasil. A reportagem do Intercept afirma que o empreiteiro que incriminou Lula foi tratado com desconfiança pela Operação Lava Jato durante quase todo o tempo em que se dispôs a colaborar com as investigações. Ele só teria passado a ser considerado merecedor de crédito após mudar diversas vezes sua versão sobre o apartamento triplex de Guarujá, que a OAS afirmou ter reformado para o líder petista. Testemunha-chave no caso que levou Lula à prisão, Pinheiro começou a negociar acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal (MPF) em 2016. No início, ele teria descrito as reformas do triplex e do sítio de Atibaia apenas como um presente da OAS para agradar Lula, sem contrapartidas, segundo a reportagem publicada pela Folha. A partir de então, o executivo teria mudado de versão duas vezes. Em 2017, durante depoimento ao ex-juiz Sérgio Moro, Pinheiro declarou que Lula era o real proprietário do triplex e que essas reformas foram cobertas pela OAS e descontadas de propina devida ao PT em troca de vantagens concedidas em contratos da empreiteira com a Petrobras. “Afirmo categoricamente que nunca mudei ou criei versão, e nunca fui ameaçado ou pressionado pela Polícia Federal ou Ministério Público Federal”, escreveu Pinheiro na carta em que reage à notícia da Folha. “Não optei pela delação por pressão das autoridades, mas sim como uma forma de passar a limpo erros”. Carta não tem relação com ministros do Supremo As postagens sobre a carta de Léo Pinheiro surgiram ainda em julho de 2019, mas uma nova versão teve mais de 15 mil compartilhamentos no Facebook ao acrescentar as frases “Só tem bandido no STF” e “E agora como fica (sic) os abutres dos ministros do STF?” no entorno da imagem. O objetivo é confundir os usuários ao investir em uma associação falsa entre o documento escrito por Léo Pinheiro, que é de 2019, e uma decisão recente do Supremo que confirmou a anulação das condenações do ex-presidente Lula em processos da Lava Jato. Em nenhum trecho da carta, o ex-presidente da OAS menciona o STF (veja a íntegra do documento nesta notícia publicada pelo jornal O Globo). Naquele momento, a Corte sequer havia derrubado a possibilidade de prisão após segunda instância, decisão que conferiu liberdade ao ex-presidente em 7 de novembro de 2019. Lula deixou a prisão em Curitiba no dia seguinte. STF anulou condenações, mas não inocentou Lula A decisão do STF que confirmou a anulação das condenações de Lula ocorreu em 14 de abril de 2021 — quase dois anos depois da carta. O plenário manteve a decisão do relator da Lava Jato, ministro Edson Fachin, que considerou no mês passado que a 13ª Vara Federal de Curitiba não tinha competência para analisar quatro processos criminais contra o ex-presidente. Na prática, essa decisão também torna o petista elegível e apto a disputar as próximas eleições presidenciais. Por 8 votos a 3, os ministros entenderam que as acusações levantadas contra Lula não diziam respeito diretamente ao esquema bilionário de corrupção na Petrobras investigado pela operação. A decisão do STF tem caráter processual, ou seja, o Supremo não analisou o mérito das condenações. Lula foi condenado em duas ações penais que tiveram origem em investigações da Lava Jato, em Curitiba. Os casos ficaram conhecidos como “triplex do Guarujá” e “sítio de Atibaia”. Esses processos podem agora ser refeitos na Justiça Federal do Distrito Federal ou na de São Paulo. Na denúncia sobre o triplex, a força-tarefa acusou o petista de receber propina da OAS em troca de contratos da Petrobras, em um repasse que teria ocorrido por meio de reformas no apartamento em Guarujá e do armazenamento de bens presidenciais. Lula foi condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro pelo ex-juiz Sérgio Moro e depois novamente pelo TRF-4 e pelo STJ, entre os anos de 2017 e 2019. No caso do sítio de Atibaia, a Lava Jato denunciou Lula por corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Ele foi acusado de receber propina da OAS e da Odebrecht através de reformas em uma chácara no interior de São Paulo. Lula foi condenado pela juíza Gabriela Hardt, em 2019, e novamente pelo TRF-4 no mesmo ano. Além dessas duas ações penais, o ministro Edson Fachin, na decisão que posteriormente foi referendada pelo plenário do STF, anulou outros dois processos que ainda tramitavam na primeira instância da Justiça Federal no Paraná. Ambos eram relacionados ao Instituto Lula. Em um deles, o MPF acusou Lula de receber propina da Odebrecht por meio da compra de um terreno que seria usado para a construção do instituto em São Paulo, além de um apartamento em São Bernardo do Campo. O outro processo alega que a mesma empreiteira fez quatro doações ao Instituto Lula, de R$ 1 milhão cada, entre 2013 e 2014, para pagar propinas por contratos fraudados da Petrobras. Este boato foi checado por aparecer entre os principais conteúdos suspeitos que circulam no Facebook. O Estadão Verifica tem acesso a uma lista de postagens potencialmente falsas e a dados sobre sua viralização em razão de uma parceria com a rede social. Quando nossas verificações constatam que uma informação é enganosa, o Facebook reduz o alcance de sua circulação. Usuários da rede social e administradores de páginas recebem notificações se tiverem publicado ou compartilhado postagens marcadas como falsas. Um aviso também é enviado a quem quiser postar um conteúdo que tiver sido sinalizado como inverídico anteriormente. Um pré-requisito para participar da parceria com o Facebook é obter certificação da International Fact Checking Network (IFCN), o que, no caso do Estadão Verifica, ocorreu em janeiro de 2019. A associação internacional de verificadores de fatos exige das entidades certificadas que assinem um código de princípios e assumam compromissos em cinco áreas: apartidarismo e imparcialidade; transparência das fontes; transparência do financiamento e organização; transparência da metodologia; e política de correções aberta e honesta. O comprometimento com essas práticas promove mais equilíbrio e precisão no trabalho.
https://politica.estadao…200420214139.png
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['Samuel Lima']
[]
['estadão verifica', 'fake news [notícia falsa]', 'STF [Supremo Tribunal Federal]', 'Lula [Luiz Inácio Lula da Silva]']
2021-05-20
['FORA DE CONTEXTO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/e-falso-que-idosa-tenha-sido-enterrada-viva-em-cemiterio-de-sao-paulo/
ESTADAO_VERIFICA
É falso que idosa tenha sido enterrada viva em cemitério de São Paulo
Vídeo que circula no WhatsApp mostra confusão entre familiares, que acreditavam ter visto a vítima se mexendo; posteriormente, confirmaram que ela estava de fato morta
2021-04-20
É falso que um vídeo no WhatsApp mostre uma mulher “viva e se mexendo dentro do caixão” antes de ser transportada para um cemitério de São Paulo. Mensagens afirmam que se trata de uma morte forjada para entrar nas estatísticas do novo coronavírus. Na realidade, as imagens retratam uma confusão causada por familiares, que posteriormente confirmaram que a idosa estava de fato morta. A Prefeitura da Capital esclareceu que a causa do óbito não foi registrada como covid-19. Este conteúdo foi enviado por leitores do Estadão Verifica ao número 11 97683-7490. LEIA TAMBÉM Veja todas as checagens sobre coronavírus publicadas pelo Estadão Verifica Usuários compartilharam as imagens no Facebook, YouTube e WhatsApp com o seguinte texto: “hospital informa que a paciente entrou em óbito por covid. Chama a funerária, joga no caixão e manda enterrar. Os familiares desconfiam e vão conferir”. No entanto, segundo a Secretaria de Saúde de São Paulo, apesar da suspeita de que a vítima estivesse com a doença, foi constatado que a causa da morte foi “derrame pleural, insuficiência cardíaca e septicemia”. O velório de Maria Aparecida Ribeiro ocorreu no dia 26 de março de 2021, no cemitério Dom Bosco, no bairro Perus. Nas imagens, é possível ver familiares da vítima em volta do caixão, alegando que ela estaria se movendo. Em entrevista para o Portal Jaraguá no Facebook, um dos netos de Maria Aparecida esclareceu o ocorrido. Após pedir para que o carro da funerária abrisse a parte de trás para ver o caixão, surgiu a suspeita de que Maria Aparecida estaria sangrando. “Vi aquele sangue escorrendo [da cabeça da avó] e nas pressas fui, peguei o celular e já gravei o vídeo”, conta o neto da vítima. A situação gerou confusão no local e familiares resolveram retirar o caixão do carro e abri-lo para verificar a condição da vítima. Porém, como afirma um dos netos de Maria Aparecida na entrevista, a família percebeu que de fato ela estava morta. Depois disso, segundo a Prefeitura, o sepultamento ocorreu acompanhado pela Guarda Civil Municipal. De acordo com a Subprefeitura de Perus, o falecimento foi atestado no dia 23 de março e o sepultamento, agendado para o dia 26 do mesmo mês. Entenda o caso No dia 14 de março, Maria Aparecida foi internada no Hospital Geral de Taipas, após sofrer um AVC dentro de casa. A Secretaria informou que a equipe de saúde suspeitou que ela também poderia estar com covid-19. “Devido aos sintomas similares aos de covid, foi realizada tomografia e solicitado RT-PCR para o diagnóstico completo”. No entanto, antes de sair o resultado do teste, o quadro da paciente se agravou, resultando em sua morte. Após o enterro, exames concluíram que ela não contraiu a doença causada pelo novo coronavírus. “Em nenhum momento foi registrado que seu óbito estava confirmado para covid-19, mas sim como suspeita. O resultado foi negativo e todos os protocolos foram adequadamente seguidos”, explicou a assessoria da Secretaria. Portanto, o caso de Maria Aparecida não entrou na estatística nos dados do Ministério da Saúde de mortes pela covid-19 em São Paulo. A inclusão de números estaduais e nacionais acontecem somente quando o vírus é detectado. Esta informação também foi verificada pelas agências de checagem Aos Fatos, Fato ou Fake, Boatos.Org e Agência Lupa.
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['Gabi Coelho']
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['fake news [notícia falsa]', 'coronavírus']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/nao-media-de-mortes-em-2020-nao-foi-menor-que-em-2019/
ESTADAO_VERIFICA
Não, média de mortes em 2020 não foi menor que em 2019
Postagem do cantor Roger Moreira no Twitter usa dados antigos e incompletos de óbitos por covid-19 no Brasil
2021-04-19
Esta checagem foi produzida por jornalistas da coalizão do Comprova. Leia mais sobre nossa parceria aqui. Conteúdo verificado: Tuíte do cantor Roger Moreira mostra o print de uma pesquisa no Google e de parte de uma matéria de maio de 2020, do site boqnews, que afirma que o número de mortes registradas até ali, naquele ano, resultava num número diário de óbitos menor do que o de 2019. É enganoso o tuíte do cantor Roger Moreira que apresenta o print de uma notícia de maio de 2020 alegando que a média de mortes do ano era menor do que em 2019. O texto reproduzido é equivocado porque busca reduzir o impacto da quantidade de mortes ocorridas pela covid-19 no Brasil ao apresentar cálculos errados sobre as notificações. LEIA TAMBÉM Veja todas as checagens sobre coronavírus publicadas pelo Estadão Verifica A publicação apresenta dados de Registro Civil, de responsabilidade da Arpen (Associação dos Registradores de Pessoas Naturais) e coletados nos cartórios do País, de janeiro a maio de 2020 em comparação ao mesmo período de 2019. Além de apresentar uma soma incompleta, sem considerar o mês cheio, ela também distorce o atraso em registros de óbitos. Contatado pela reportagem, Roger Moreira disse que considera “um desrespeito essa soma diária de mortos”. Ele criticou o trabalho de checagem e disse que, quando fez o print, buscava informações sobre a “taxa normal de óbitos sem pandemia”, ainda que os dados fossem do ano passado. Ele acrescentou que, para fins de comparação, os números de óbitos registrados por outras causas também deveriam ser divulgados pela imprensa. Como verificamos? Procuramos o cantor Roger Moreira, que se justificou sobre a postagem pelo WhatsApp. Depois, buscamos os dados do Portal da Transparência do Registro Civil, que consolida os registros de mortes ocorridos em todo o território nacional. A busca do site permite o acesso aos dados por mês, em diferentes regiões e cidades do Brasil, mas não permite o recorte diário — por isso, entramos em contato com a Arpen, entidade responsável pelos dados fornecidos no portal, para pedir acesso aos números completos. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 19 de abril de 2021. Verificação Publicação alega que pandemia não afetou aumento de mortes A publicação à qual o print tirado por Roger Moreira se refere afirma que não só a quantidade de óbitos no País, entre janeiro e maio de 2020, segue a média de mortes observada no mesmo período em outros anos, como o total de registros era menor do que no ano anterior. “Apesar da incidência do covid-19, o montante total de óbitos ocorridos no Brasil pelos mais variados motivos, de 1 de janeiro a 19 de maio deste ano, de 457.648, ainda são inferiores aos registrados em 2019, de 491.237, no mesmo período, uma diferença de menos 33.598 mortes”, diz trecho do texto. Números de 2020 não foram menores No site do Registro Civil a consulta é feita apenas pelo total de óbitos apresentado no mês inteiro, sem possibilidade de busca por dias específicos. Procurada pelo Comprova, a Arpen afirmou que o levantamento de acordo com a data só pode ser realizado por uma área técnica e que, no momento, as demandas prioritárias são dos governos federal e estadual. Os dados cheios dos meses comparados apontam o contrário: houve, sim, mais mortes registradas em cartórios no ano de 2020 do que em 2019. Para que a verificação fosse mais precisa, o Comprova utilizou apenas os registros entre janeiro e maio, mesma base de comparação do texto compartilhado por Roger Moreira. Vale ressaltar que os números consultados em 2021 têm mais dias de cálculo, já que contabilizam óbitos até o dia 31 do mês, 12 a mais que a publicação, e não apresentam dados atrasados, algo recorrente sobretudo em casos de covid-19, com muitos diagnósticos confirmados só após a morte pela doença. Segundo o Registro Civil, entre janeiro e maio de 2019 foram registrados 518.455 óbitos — média de 3.430 mortes por dia. Já em 2020, no mesmo período, foram 558.464 mortes (média de 3.674 óbitos diários), 40.404 a mais que no ano anterior. O valor é maior do que a diferença entre 2019 e 2018 no mesmo período; 2018 teve 31,5 mil mortes a menos. Só os óbitos pelo coronavírus, entre janeiro e maio de 2020, correspondem a 39.455, sendo que a primeira morte pela doença, no País, data de 12 de março. Ainda no ano passado, uma reportagem do UOL apontou que o mês de maio teve mais mortes por covid-19 no Brasil do que a soma de todos os óbitos provocados por cânceres. Atraso no registro de mortes O Comprova já havia verificado conteúdos sobre os registros de mortes no início de 2020, e explicado que os dados do Portal da Transparência devem ser analisados com cautela, sobretudo quando é feita a contabilização de mortes recentes em relação à data da consulta ao site. Segundo a própria plataforma, “a atualização pelos registros de óbitos lavrados pelos Cartórios de Registro Civil obedece a prazos legais”. Esse prazo leva em conta que “a família tem até 24 horas após o falecimento para registrar o óbito em cartório que, por sua vez, tem até cinco dias para efetuar o registro de óbito”. Considera também que o cartório tem ainda oito dias para enviar o registro à Central Nacional de Informações do Registro Civil, que atualiza o portal. No total, oficialmente, são 14 dias. Além disso, a Lei de Registros Públicos prevê exceções que podem aumentar esse prazo. Como destacou a Agência Lupa, se o local da morte ficar a mais de 30 quilômetros de um cartório, a família pode registrar o falecimento em até três meses — na prática, porém, os prazos ainda são, muitas vezes, descumpridos. A agilidade no registro dos óbitos durante a pandemia também tem variado entre as regiões do Brasil, e produzido distorções nos dados — que se acentuam quando a consulta do Portal é feita para um intervalo curto de tempo. Músico diz que mortes por outras causas também devem ser divulgadas Questionado pela reportagem se havia verificado a data da publicação, de maio passado, Roger Moreira afirmou que havia reparado, sim, e que ele procurava qual a “taxa normal de óbitos sem a pandemia”. “Acho um desrespeito essa soma diária de mortos. É um País gigantesco e é claro que os números serão altos, sempre. Estão usando cadáveres para fazer campanha política”, disse. No Twitter, ele já havia declarado que era “evidente” o aumento de mortes, e defendeu que óbitos por outras causas também fossem reportados a fins de comparação: “Se contasse os infartos, por exemplo, também teríamos um número expressivo diariamente”. Por que investigamos? Os dados diários de casos e mortes da doença servem para que especialistas calculem melhor as taxas de transmissão e mortalidade no País. Diferentemente do infarto, ocorrência usada como exemplo por Roger Moreira para falar sobre altos índices de mortes, a covid-19 é uma doença transmissível pelo ar e que pode ter o contágio reduzido por meio de ações públicas. As autoridades se baseiam nos números e para adotar políticas no combate ao vírus, trabalhando inclusive com a previsão de superlotação em hospitais e cemitérios. O total de óbitos, incluindo outras causas além da covid-19, também auxilia no entendimento de que a pandemia pode ter impacto sobre outras mortes — algumas delas provocadas pela sobrecarga nos sistemas de saúde. Em 2021, a superlotação nos hospitais levou pacientes com covid-19 a ocupar leitos destinados a outras doenças. As informações utilizadas pela publicação à qual o músico se referiu foram apresentadas de forma incompleta e sem a devida contextualização, o que prejudica o entendimento sobre a importância da divulgação de mortes por covid-19. A postagem de Roger, até o dia 19 de abril, já havia ultrapassado 3 mil interações no Twitter. Até a data da publicação deste texto, o Ministério da Saúde contabiliza 1.657 mortes por covid-19 nas últimas 24 horas, números que costumam ser menores aos finais de semana em função do represamento de dados das secretarias estaduais. O País soma 373.335 óbitos e 13.943.071 casos da doença. Segundo o consórcio de veículos de imprensa do qual o Estadão faz parte, que faz o levantamento de notificações diretamente com as secretarias, a média diária de mortes pela doença nos últimos sete dias é de 2.878. Desde o início da pandemia, em março de 2020, o Comprova já verificou diversas postagens e publicações elaboradas a partir de registros de óbitos. Dados incompletos e descontextualizados já foram usados para apontar o declínio da pandemia no Brasil e negar que o País tivesse ultrapassado 100 mil mortes por covid-19. Já foram desmentidas mensagens que alegavam redução de mortes e também que óbitos por outras doenças foram registrados como covid-19 para inflar os números — argumentação recorrente e reproduzida até mesmo por parlamentares. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original, que usa dados imprecisos e que confunde, mesmo que não exista a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
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['ultraje a rigor', 'coronavírus']
2021-05-20
['ENGANOSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/e-falso-que-senado-da-italia-tenha-aprovado-tratamento-precoce-contra-a-covid-19/
ESTADAO_VERIFICA
É falso que Senado da Itália tenha aprovado ‘tratamento precoce’ contra a covid-19
Boato distorce proposta legislativa que trata de atendimento a pacientes em casa; órgãos de saúde do País não recomendam remédios do ‘kit covid’, que não tiveram eficácia comprovada
2021-04-19
É falso que o Senado da Itália tenha aprovado o “tratamento precoce” contra a covid-19, orientando médicos a prescreverem remédios como a hidroxicloroquina e ivermectina. Textos publicados em sites bolsonaristas e postagens nas redes sociais distorcem o conteúdo de uma proposta recente no parlamento italiano, que trata apenas do estabelecimento de um protocolo único para o atendimento de pacientes em casa, seguindo as diretrizes das autoridades nacionais de saúde — que não incluem o uso de medicamentos sem eficácia contra o novo coronavírus. Leitores do Estadão Verifica solicitaram essa checagem pelo WhatsApp: (11) 97683-7490. Boato distorce proposta sobre tratamento domiciliar na Itália para defender ‘tratamento precoce’. Foto: Reprodução / Arte: Estadão De acordo com a página oficial do Senado italiano, os parlamentares aprovaram uma moção sobre o tema em 8 de abril de 2021, com 212 votos a favor, dois contrários e duas abstenções. A proposta obriga o governo a atualizar os protocolos e diretrizes para o cuidado de doentes de covid-19 em domicílio, por meio do Instituto Superior de Saúde (ISS), da Agência Nacional de Serviços Regionais de Saúde (Agenas) e da Agência Italiana de Fármacos (Aifa), além de criar um grupo de monitoramento e fornecer condições para a prática médica adequada nesse contexto. Não existe nenhuma relação entre o avanço dessa proposta de atendimento domiciliar na Itália e a administração de remédios ineficazes ou sem eficácia comprovada contra a covid-19, prática que ficou conhecida popularmente no Brasil como “tratamento precoce”. Pelo contrário, a Aifa — equivalente no Brasil à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) — suspendeu o uso de hidroxicloroquina ainda em maio do ano passado e não recomenda outras drogas do “kit covid”, como ivermectina e azitromicina. Esse entendimento vale tanto para pacientes hospitalizados quanto para doentes em quarentena domiciliar, conforme documentos atualizados pelo órgão italiano em 9 de dezembro de 2020. Documento AIFA — TRATAMENTO COVID-19 EM AMBIENTE DOMÉSTICO PDF Documento AIFA — TRATAMENTO COVID-19 EM PACIENTES HOSPITALIZADOS PDF Hidroxicloroquina O protocolo mais recente da Aifa desaconselha o uso para prevenção ou tratamento do novo coronavírus. “Numerosos ensaios clínicos randomizados publicados até o momento concluem que a droga é ineficaz, além de aumentar o risco de efeitos colaterais, embora não graves”, diz o órgão italiano. “Isso implica em uma relação de risco/benefício negativa para o uso do medicamento”. A mesma conclusão é feita por entidades de referência globais em saúde, como a Organização Mundial da Saúde (OMS), a Agência Europeia de Medicamentos (EMA), o Food and Drug Administration (FDA), dos Estados Unidos, para os quais a ineficácia está demonstrada na literatura científica. Azitromicina A Aifa também não recomenda o uso de antibióticos, como a azitromicina, em tratamento de rotina contra a covid-19. Isso quer dizer que os médicos italianos não devem prescrever o remédio quando não existirem indícios da presença de complicações causadas por bactérias, que podem aparecer ao longo do período em que o paciente está doente e debilitado. “Como regra geral, o uso de antibióticos nunca é recomendado para tratar infecções virais”, destaca o comunicado. “No curso de uma infecção viral, o uso desses remédios somente pode ser considerado quando os sintomas persistem por mais de 48-72 horas e quando o quadro clínico sugere a presença de sobreposição bacteriana.” O órgão de saúde italiano aponta que não há uma “justificativa sólida” para o uso e faltam evidências de eficácia no tratamento de pacientes infectados pelo novo coronavírus, seja do medicamento sozinho ou em combinação com outras drogas, em particular a hidroxicloroquina. “O uso injustificado de antibióticos pode ainda determinar o início e a disseminação de resistência bacteriana, o que pode comprometer a resposta para terapias com o antibiótico no futuro.” Ivermectina O uso da ivermectina sequer é mencionado nas diretrizes da Aifa para o tratamento da covid-19. Em 22 de março de 2021, o órgão italiano publicou um artigo informando que a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) contraindicou a utilização do vermífugo como forma de prevenção ou tratamento da covid-19 fora de estudos científicos, devidamente autorizados por comitês de ética em pesquisas médicas. “A EMA revisou as evidências mais recentes sobre o uso de ivermectina para a prevenção e tratamento de covid-19 e concluiu que os dados disponíveis não sustentam o seu uso fora de ensaios clínicos bem planejados”, mostra a publicação. A agência destacou ainda que o medicamento não foi autorizado na União Europeia e que não recebeu nenhuma aplicação para tanto, tendo feito a revisão por iniciativa própria diante de notícias recentes e outras publicações sobre o assunto. A EMA afirma que foram revisados estudos de laboratório, observacionais, ensaios clínicos e meta-análises. Os testes de laboratório indicaram que a ivermectina poderia bloquear a replicação do SARS-CoV-2, “mas em doses muito mais altas do que aquelas autorizadas para humanos atualmente”. Já os resultados dos estudos clínicos foram variados, com alguns mostrando nenhum benefício e outros relatando benefício potencial. “A maioria dos estudos revisados pela EMA eram pequenos e tinham limitações adicionais, incluindo diferentes regimes de dosagem e uso de medicamentos concomitantes.” Cuidado com os boatos Os principais órgãos mundiais de saúde são unânimes em apontar que não existe “tratamento precoce” contra a covid-19. Nenhuma droga, até o momento, teve a eficácia e segurança comprovadas para prevenção ou tratamento de sintomas em estágios iniciais da doença. A melhor forma de se proteger contra o vírus é evitar o contágio, por meio de atitudes simples: distanciamento social, uso de máscaras e higienização das mãos. As vacinas também devem ser tomadas assim que estiverem disponíveis para cada grupo, pois elas foram aprovadas após uma série de etapas rigorosas de testes de laboratório e clínicos, envolvendo milhares de voluntários, e provaram nesses estudos que funcionam e são seguras. A proteção ocorre cerca de duas semanas após a aplicação da segunda dose, mas especialistas vêm alertando que as medidas de proteção devem ser mantidas até que grande parte da população esteja imunizada. O Estadão Verifica já desmentiu várias postagens a respeito do “tratamento precoce” e do “kit covid”. Até o momento, nenhum dos medicamentos normalmente citados nesse coquetel teve evidências robustas que justificassem a sua utilização no tratamento do novo coronavírus. Outros, como a hidroxicloroquina, já tiveram a ineficácia comprovada cientificamente por estudos amplos e conclusivos. A prática pode trazer graves danos à saúde, principalmente quando feita sem acompanhamento médico adequado. O boato de que o Senado italiano teria aprovado o “tratamento precoce” surgiu a partir de sites alinhados com o bolsonarismo, como “Brasil Sem Medo”, “Portal Brasil Livre” e “Crítica Nacional”. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é um defensor desse tipo de terapia. Os sites traduzem um texto divulgado pela página Life Site News, ligada a uma organização canadense “pró-vida”, termo que geralmente se refere a grupos conservadores e contrários a práticas como o aborto. Esse mesmo boato foi desmentido por Boatos.org, Agência Lupa e Fato ou Fake. O site Gaúcha ZH também publicou uma notícia esclarecendo o assunto.
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['Samuel Lima']
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['coronavírus [tratamento]', 'estadão verifica', 'fake news [notícia falsa]']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/conta-fraudulenta-atribui-a-diretor-geral-da-pf-denuncia-de-conspiracao-contra-bolsonaro/
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Perfil falso se passa por Paulo Maiurino e inventa plano de Lula e STF contra Bolsonaro
Diretor-geral da PF não publicou mensagens com denúncias de conspiração para matar o presidente
2021-04-19
Uma conta fraudulenta no Twitter atribuída ao diretor-geral da Polícia Federal, Paulo Gustavo Maiurino, publicou uma série de mensagens nas quais alardeia uma suposta conspiração de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva para “matar o presidente Jair Bolsonaro”. A PF desmentiu o teor das denúncias, que viralizaram após divulgação da jornalista Leda Nagle. Este conteúdo foi enviado por leitores para checagem do Estadão Verifica pelo WhatsApp 11 97683-7490. Conta fraudulenta se passa por diretor-geral da PF. Foto: Reprodução LEIA TAMBÉM Boato sobre perícia em celulares de Adélio Bispo volta a circular após desdobramentos do caso Henry O tuíte falso, acompanhado de uma foto do STF, diz o seguinte: “partiu daqui em conjunto com @LulaOficial e outros a ideia de matar BOLSONARO. Por enquanto não posso dizer muito, mas vocês saberão…”. A conta fraudulenta diz ainda que “eles querem destruir @jairbolsonaro porém não vão conseguir porque urubus de capa preta RECEBERAM PROPINA para acabar com o presidente.” A PF informou ao Estadão Verifica que os inquéritos sobre o atentado contra Jair Bolsonaro durante as eleições de 2018 foram “devidamente concluídos e enviados à Justiça Federal”. Também comunicou que a conta oficial de Maiurino no Twitter é @PMaiurino. A conta que aparece nos tuítes virais não é essa. Embora não seja possível identificar o nome de usuário, é possível ver que começa com @d_d… Uma busca por essas letras na rede social permite ver que há comentários contestando a veracidade de tuítes feitos por uma conta identificada como @d_delegado, que foi excluída da rede social. Conta fraudulenta foi excluída da rede social. Foto: Twitter/Reprodução Vídeo de Leda Nagle lendo o tuíte Um vídeo de dois minutos da jornalista Leda Nagle lendo os tuítes viralizou no WhatsApp. Após ler a postagem, ela diz que está “muito assustada com tudo isso. Isso não é política. Isso é tudo, menos política”. Ela enviou nota ao Estadão Verifica na qual afirma que o vídeo foi gravado em grupo de conteúdo fechado no qual ela comenta “as principais notícias do dia”. Ela diz que nesse grupo é feita a checagem de notícias das mídias tradicionais e da internet. “Algum membro do grupo, por má fé ou porque ficou impactado com a notícia, pinçou um trecho de 2 minutos de uma live de 47 minutos e viralizou antes mesmo que eu tivesse voltado com a checagem completa da informação, até porque não tem live no domingo e isto só aconteceria às 20h de hoje na live aberta de toda segunda-feira. Lamento o ocorrido. Agora que vocês já conhecem o que aconteceu, peço desculpas”, diz a nota.
https://politica.estadao…190420210848.png
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['Pedro Prata', 'Tiago Aguiar']
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['fake news [notícias falsas]']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/boato-adultera-capa-de-veja-para-atribuir-a-lula-declaracao-falsa-sobre-favores-do-stf/
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Boato adultera capa de ‘Veja’ para atribuir a Lula declaração falsa sobre ‘favores’ do STF
Montagem circula nas redes sociais após plenário do Supremo confirmar a anulação das condenações do ex-presidente nos processos da Operação Lava Jato
2021-04-16
Circula nas redes sociais uma capa adulterada de uma edição antiga da Veja, contendo uma foto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e supostas declarações sobre troca de favores com ministros do Supremo Tribunal Federal (STF). O Estadão Verifica consultou o acervo digital da revista e confirmou que se trata de montagem. Boato adultera capa da revista Veja para atribuir declaração falsa a Lula. Foto: Reprodução / Arte: Estadão LEIA TAMBÉM Montagem simula capa de revista para insinuar que Lula ameaçou ministro do STF As postagens falsas utilizam a imagem da edição nº. 2436 de Veja, publicada em 29 de julho de 2015. A manchete verdadeira da revista era a frase “A vez dele”, referente a uma reportagem que menciona tratativas para delação premiada do ex-presidente da OAS Léo Pinheiro com o Ministério Público Federal (MPF). Já a montagem modifica digitalmente a foto para que Lula apareça chorando e troca o título para “Lula desabafa: eu botei Tóffoli (sic) no STF, o Gilmar me deve favores, sou amigo do Marco Aurélio, e Lewandowsky (sic) nunca me traiu”. Não há registro dessa declaração atribuída ao petista na imprensa. Os nomes de dois ministros do STF — Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski — estão com a grafia incorreta nas frases atribuídas a Lula na montagem. O cabeçalho também foi alterado para mostrar outras informações que não conferem com o acervo digital da Veja, disponível para assinantes. A edição “1572” foi publicada em 11 de novembro de 1998 e nenhuma revista circulou na data “Abril 26 2016”. Uma das versões do boato teve mais de 3,7 mil compartilhamentos desde quarta-feira, 14 de abril. Na mesma data, o plenário do STF confirmou a decisão que derrubou condenações de Lula impostas pela Operação Lava Jato e manteve o petista elegível e apto a disputar as próximas eleições presidenciais, por 8 votos a 3. O Supremo referendou a decisão do relator da Lava Jato, ministro Edson Fachin, que considerou no mês passado que a Justiça Federal de Curitiba não era competente para investigar Lula. A maioria dos ministros entendeu que as acusações levantadas contra o ex-presidente não diziam respeito diretamente ao esquema bilionário de corrupção na Petrobras investigado pela operação. Em relação aos nomes citados na postagem falsa, votaram a favor de anular as condenações de Lula os ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski e Gilmar Mendes. Marco Aurélio Mello, no entanto, foi contrário à decisão. O Estadão Verifica já desmentiu uma série de conteúdos que falsificaram capas de Veja. Uma delas afirmava que Lula ameaçou Fachin. Outra relacionava a família do presidente Jair Bolsonaro com a apreensão de cocaína em um avião da Força Aérea Brasileira. Uma terceira peça alterou uma captura de tela do site de Veja para dizer que o governador João Doria (PSDB) pensava em restringir a energia elétrica em São Paulo. Esses conteúdos são chamados de impostores, pois imitam fontes genuínas para espalhar desinformação. Desconfie de manchetes alarmistas, denúncias incompatíveis com o noticiário, erros de português e outros elementos estranhos nas imagens, como a presença de letras maiúsculas e sinais de interrogação e exclamação em sequência. Em caso de dúvida, pesquise antes de compartilhar ou encaminhe para o WhatsApp do Estadão Verifica: (11) 97683-7490.
https://politica.estadao…160420213025.png
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['Samuel Lima']
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['estadão verifica', 'fake news [notícia falsa]', 'Lula [Luiz Inácio Lula da Silva]', 'STF [Supremo Tribunal Federal]']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/videos-nao-relacionados-sao-editados-para-simular-repressao-chinesa-a-quem-recusar-vacina/
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Vídeos não relacionados são editados para simular repressão chinesa a quem recusar vacina
Gravações que circulam no WhatsApp foram manipuladas para incluir o som de tiros; imagens foram feitas em cidades diferentes e não têm conexão com vacinação contra covid-19
2021-04-16
Esta checagem foi publicada originalmente pelo site indiano BOOM e traduzida por meio da Aliança CoronavirusFacts, coordenada pela IFCN. Leia mais sobre a parceria aqui e veja a verificação original aqui. Três vídeos não relacionados — incluindo uma gravação que mostra policiais armados e outra que retrata médicos atendendo várias pessoas — foram agrupados para espalhar a informação falsa de que o governo chinês estaria matando pacientes infectados com o novo coronavírus em Wuhan, para espalhar a disseminação da covid-19. LEIA TAMBÉM Veja todas as checagens sobre coronavírus publicadas pelo Estadão Verifica O site BOOM confirmou que os três vídeos não têm relação entre si; dois deles não têm conexão com a epidemia de coronavírus na China. O clipe viral tem sido compartilhado com diferentes legendas em Hindi e em inglês; a maioria delas afirma falsamente que o governo chinês está matando os infectados (nota: no Brasil, o vídeo tem sido repassado com comentários em português de teor semelhante). Primeira sequência de imagens O primeiro trecho, de 55 segundos, é uma gravação vista de cima de três policiais com roupas protetoras. Eles estão perto de uma viatura enquanto um deles carrega uma arma. A câmera então segue este último agente de segurança enquanto ele anda para uma área residencial. Um homem narra o vídeo na língua local. Segunda sequência de imagens A segunda cena do vídeo mostra uma confusão de pacientes no chão de um pátio aberto, enquanto profissionais de saúde as atendem. As pessoas ao redor estão em pânico visível. Não há narração, como na primeira cena. Mas é possível ouvir sons que parecem de tiros à distância. Ainda que as mensagens que acompanham o vídeo afirmem que as pessoas foram mortas, não há sangue nas imagens. Os pacientes parecem estar vivos e respondem aos enfermeiros. Terceira sequência de imagens A terceira cena é de um homem de jaqueta amarela deitado em uma calçada. Uma pessoa se ajoelha perto dele. É possível ver uma ambulância e outros veículos estacionados no fundo. Sons que lembram tiros de armas de fogo também podem ser ouvidos neste terceiro clipe. Checagem Pudemos confirmar que o clipe viral mostra três incidentes separados — dois deles sem conexão com a covid-19 — editados juntos. Sons de fogos de artifícios foram adicionados a algumas cenas para espalhar a informação falsa de que o governo chinês estaria atirando em pacientes. O primeiro vídeo, de policiais armados, é de Yiwu (na região leste da China, a quase 700 km de distância de Wuhan). A gravação mostra o esquadrão especial da cidade atendendo um chamado sobre um cão raivoso na área, em fevereiro de 2020. O terceiro vídeo, de um jovem deitado na calçada, mostra uma vítima de acidente de trânsito (em Wuzu, a cerca de 200km de Wuhan). Também verificamos que o som que parece de tiros neste último trecho é, na verdade, de fogos de artifício, e foi sobreposto às imagens. Primeiro vídeo No primeiro vídeo, em que três policiais aparecem perto de uma viatura, um homem narra as imagens no dialeto local. A tradução livre é a seguinte: “Armas estão a postos, não sabemos para quê. Submetralhadora, pistolas”. Por meio de fontes, BOOM conseguiu ter acesso à captura de tela de uma postagem no WeChat, aplicativo chinês de rede social e mensagens. Em mandarim, um policial de Yiwu comenta que o vídeo tem sido compartilhado fora de contexto. “Se alguém no seu grupo (de mensagens) está espalhando esse vídeo, ajude a esclarecer”, escreveu o policial. “Ao meio-dia, a polícia especial de Yiwu recebeu um chamado do Centro de Comando municipal para dispor de um cão grande (…). Uma ação policial normal, sem qualquer relação com a pandemia”. Também encontramos um tuíte da China Global Television Network, uma rede de televisão chinesa, que disse que a polícia de Yiwu negou que o vídeo estivesse conectado ao coronavirus. A emissora afirmou que a gravação foi editada “maliciosamente” com cenas separadas. Os oficiais armados estavam lidando apenas com um cão raivoso, confirmou a TV. Police in Yiwu, Zhejiang said online video alleging them "shooting people sick with #coronavirus that refuse to be evacuated" is fake The police said the video was "maliciously" manipulated with separate scenes since the armed officers were only dealing with a rabid dog pic.twitter.com/10NLLX7B1I — CGTN (@CGTNOfficial) February 13, 2020 Segundo vídeo Encontramos uma publicação antiga do segundo vídeo, de 25 de janeiro de 2020, no YouTube, com legenda que afirmava que os sons no fundo eram de armas. Uma análise detalhada do vídeo mostra que não eram tiros, e sim fogos de artifício disparados à distância. No dia 25 de janeiro de 2020 foi comemorado o Ano Novo Lunar, amplamente celebrado na China. Embora reportagens da época indiquem que as comemorações foram pequenas naquele ano, encontramos vários vídeos no YouTube do mesmo dia em que pessoas estouram fogos em comemoração. Não conseguimos identificar a localização exata do vídeo. (Nota: o site FactCrescendo, do Sri Lanka, encontrou uma versão mais longa da gravação, que indica que a filmagem foi feita na zona rural de Wuhan durante o Ano Novo Chinês — abaixo). 武汉周圍很多農村人,被感染后进不了医院,只有醫护上门,也無法確診,最終死在家里!這些死亡病例肯定是不会統計进官方肺炎死亡人数的!背景中是欢庆新年的烟花爆空,而他們死得绝望無辜!歷史也許永遠不会有真相! pic.twitter.com/bw5co9vuk3 — 财经冷眼 (@caijinglengyan) January 26, 2020 Terceiro vídeo Analisamos o áudio do terceiro vídeo separadamente, e descobrimos que o sons de tiros foram adicionados às imagens. Um tuíte de 30 de janeiro de 2020 mostra a mesma gravação, sem barulho de armas de fogo. 中国政府在控制疫情的过程中,发生了严重的人道危机。从武汉返乡的村民被邻居举报,不满而把邻居割喉。武汉单亲父亲被强制隔离,脑瘫儿子独自在家被活活饿死。湖北人在全国范围内被围追堵截。视频中的男子因为紧急情况需要通过封锁的路口被打死。这些都是政府制造的人道灾难 pic.twitter.com/YjggUVymxa — 大叔说 (@COOOTV) January 30, 2020 O usuário que tuitou o vídeo errou ao informar que o incidente ocorreu em Wuhan, quando um homem morreu ao tentar passar por um bloqueio policial. Outra conta respondeu que a cena foi filmada em Wuzu, quando dois adolescentes andavam de moto sem permissão e tiveram um acidente. Um deles morreu. Posteriormente, o mesmo usuário disse que a localização era em frente à Escola Siyuan, na cidade de Wuzu, no condado de Huangmei. Diante disso, analisamos o vídeo mais de perto e identificamos que a calçada perto do jovem caído está visivelmente quebrada, como se tivesse sido atingida com força. O site francês France 24 Observers também checou este vídeo, e confirmou com um morador de Wuzu que a gravação é de um acidente de trânsito de 29 de janeiro de 2020. A fonte confirmou que a filmagem foi feita em frente à escolha Siyuan. “Moro ao lado e vários dos meus amigos passaram em frente ao local na hora da tragédia”, disse. “Ao contrário do que tem sido dito no Twitter, a pessoa no chão não é uma mulher, e sim um homem jovem. Ele não foi morto pela polícia, e sim em um acidente de moto”. O diretor da polícia de Wuzu confirmou as informações, de acordo com o France 24 Observers. O comunicado policial acrescenta que “a pessoa envolvida no acidente dirigia uma lambreta e, devido a uma manobra mal feita, se deslocou para o outro lado da estrada e colidiu com os paralelepípedos da calçada”. A polícia comunicou ainda que o motorista foi o único responsável pelo acidente, e que a agentes de segurança e profissionais de saúde chegaram rapidamente ao local. Leitores enviaram este vídeo ao WhatsApp do Estadão Verifica. Entre em contato pelo número 11 97683-7490.
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null
Nivedita Niranjankumar e Swasti Chatterjee, BOOM
[]
['coronavírus', 'fake news [notícia falsa]']
2021-05-20
['FORA DE CONTEXTO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/medico-texano-espalha-informacoes-falsas-sobre-vacinas-mrna-em-video-viral/
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Médico texano espalha informações falsas sobre vacinas mRNA em vídeo viral
Steve Hotze disse que imunizantes da Pfizer e da Moderna são 'tratamentos experimentais perigosos', frase que é contestada por autoridades sanitárias dos EUA
2021-04-15
Esta checagem foi publicada originalmente pelo site espanhol Newtral.Es e traduzida por meio da Aliança CoronavirusFacts, coordenada pela IFCN. Leia mais sobre a parceria aqui e veja a verificação original aqui. Em um vídeo viral nas redes sociais, o médico americano Steve Hotze espalha informações falsas sobre as vacinas mRNA aprovadas contra a covid-19 nos Estados Unidos. Segundo Hotze, estas vacinas são “terapias genéticas experimentais perigosas” que representam “um risco sanitário maior do que a covid-19. Mas isso é falso. Nós explicamos. LEIA TAMBÉM Veja todas as checagens sobre coronavírus publicadas pelo Estadão Verifica Quem é Steve Hotze? O homem que aparece no vídeo, publicado nas redes sociais em inglês com legendas em espanhol (nota: no Brasil, circula com dublagem em português), identifica-se como Steve Hotze, fundador e CEO da clínica Hotze Health & Wellness em Houston, Texas. Embora seu nome apareça no site oficial do Conselho de Médicos do Estado do Texas, as autoridades americanas já afirmaram anteriormente que este médico vendeu tratamentos não aprovados para tratar a covid-19. Especificamente, a U.S. Food and Drug Administration (FDA) e a U.S. Federal Trade Commission enviaram uma carta a Hotze em dezembro pedindo-lhe que parasse de oferecer sua linha de vitaminas para “curar” a covid-19. Outros verificadores de fatos como a AFP — que faz parte da IFCN (International Fact-Check Network) assim como a Newtral.es e o Estadão Verifica — também desbancararam algumas das falsas alegações difundidas por este médico sobre vacinas contra o coronavírus. É falso que vacinas de RNA mensageiro não sejam vacinas O vídeo de Hotze, com cerca de 17 minutos de duração, foi publicado pela primeira vez em 26 de fevereiro em seu próprio site. Naquela época, havia duas vacinas covid-19 aprovadas nos Estados Unidos, a vacina Pfizer/BioNtech e a vacina Moderna, ambas baseadas na técnica do mRNA. Em 27 de fevereiro, o imunizante da Janssen também foi aprovado pela FDA. Hotze começa a gravação dizendo que as vacinas Pfizer e Moderna contra covid-19 não atendem à definição de “vacinas” dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos EUA porque “não fornecem imunidade nem previnem a propagação de doenças”. Entretanto, o CDC considera sim os imunizantes de mRNA como um dos “três principais tipos de vacinas contra covid-19 que são licenciadas ou submetidas a testes clínicos em larga escala (fase 3) nos Estados Unidos”. Além disso, como explica a agência americana, as vacinas ajudam nossos corpos “a desenvolver imunidade ao vírus que causa a covid-19 sem que tenhamos que contrair a doença”. Com relação à prevenção do contágio, as autoridades sanitárias especificam que “ainda não se sabe se a vacinação impede que as pessoas vacinadas sejam infectadas e, mesmo que não adoeçam, podem transmitir o vírus a outras pessoas”, mas isso não significa que esses tratamentos não sejam vacinas. Vacina contra a covid-19 da Moderna. Foto: Eduardo Munoz/Reuters Não, as vacinas aprovadas contra covid-19 não são “terapias experimentais perigosas” Hotze insiste no vídeo que as vacinas contra covid-19 baseadas em mRNA são na verdade “terapias genéticas experimentais perigosas”. A FDA define a terapia genética como “uma técnica que modifica os genes de uma pessoa para tratar ou curar uma doença”. Mas como já explicamos no Newtral.es, estas vacinas não modificam nosso código genético. Além disso, as autoridades sanitárias lembram que todas as vacinas aprovadas contra a covid-19 são seguras. De fato, antes da aprovação, os imunizantes passaram por um rigoroso processo de pesquisa e avaliação no qual a segurança e a eficácia nas pessoas é garantida. O médico questiona este processo de pesquisa, argumentando que as vacinas contra covid-19 da Pfizer/BioNtech e Moderna foram aprovadas nos Estados Unidos “sem nenhum estudo animal publicado ou estudos humanos de longo prazo”. Mas as autoridades encarregadas de aprovar potenciais vacinas contra a covid-19 receberam e analisaram os dados disponíveis de cada fase da pesquisa de vacinas, incluindo os resultados de estudos com animais e humanos. A própria FDA deixou claro no início da pandemia que a obtenção de dados e a caracterização da resposta imunológica induzida pelas candidatas a vacinas contra o SARS-CoV-2 em animais era uma etapa “necessária”. A vacina da Pfizer é considerada por especialistas uma das mais complexas do ponto de vista logístico, pois precisa ser armazenada a uma temperatura de 70°C a 80°C negativos Foto: JEAN-FRANCOIS MONIER / AFP Alegações enganosas de Steve Hotze sobre os supostos riscos das vacinas No vídeo, o médico americano também cita uma série de supostos efeitos adversos sofridos pelos pacientes vacinados e afirma que as vacinas contra o coronavírus “representam um risco muito maior à saúde do que a covid-19”. “No primeiro mês de uso, mais de 40 mil reações adversas foram documentadas nos Estados Unidos, incluindo milhares de reações anafiláticas e graves problemas neurológicos”, diz Hotze, que diz que, até 14 de fevereiro, também houve 934 mortes de pessoas que haviam recebido a vacina. Mas, como explicamos no Newtral.es, as agências reguladoras de medicamentos dos EUA monitoram a segurança das vacinas durante a campanha de vacinação. Para fazer isso, eles registram todas as suspeitas de efeitos adversos relatados por pessoas vacinadas no sistema VAERS para observar quaisquer reações que não tenham sido observadas em estágios anteriores de pesquisa. Ou seja, as pessoas vacinadas podem comunicar à VAERS quaisquer eventos adversos que tenham coincidência temporal com a vacina, mesmo que não sejam problemas causados pela vacina. As autoridades sanitárias então investigam se o evento está de fato ligado à vacinação. Das suspeitas de reações adversas registradas nos Estados Unidos até hoje, “não foram observados novos alertas de segurança” relacionados às vacinas contra o coronavírus, como confirmado pela FDA para a Newtral.es. Além disso, as autoridades sanitárias dos EUA relatam que até agora “nenhum padrão foi detectado em causas de morte que possam indicar um problema de segurança com vacinas contra a covid-19”. Com relação aos casos de anafilaxia, os cientistas do CDC e da FDA relatam que a ocorrência deste tipo de alergia grave após a vacina covid-19 “é muito rara, com aproximadamente 2 a 5 casos por 1 milhão de pessoas vacinadas nos Estados Unidos”. Como funcionam as vacinas contra covid-19 com mRNA? Segundo o Ministério da Saúde espanhol, o que as diferentes vacinas aprovadas até agora contra a covid-19 têm em comum é que elas fazem com que nossas defesas atuem contra uma proteína do vírus chamada proteína S, que é fundamental para que o SARS-CoV-2 se ligue à célula humana. Especificamente, vacinas baseadas na técnica do mRNA injetam o RNA mensageiro do vírus diretamente no corpo para que ele envie a mensagem às células para produzir proteínas similares às do vírus. Desta forma, no caso de uma infecção pelo SARS-CoV-2, o sistema imunológico já saberá como agir, pois conhece o tipo de proteínas que este vírus gera. Hotze diz no vídeo: “Não há como saber por quanto tempo suas células produzirão essas proteínas virais, ou se elas alguma vez deixarão de produzi-las”, diz ele. “Seu sistema imunológico ficará sobrecarregado e reagirá em excesso quando exposto a qualquer tipo de coronavírus no futuro”. Mas o geneticista Lluís Montoliu, do Centro Nacional de Biotecnologia (CNB-CSIC) em Madri, explica a Newtral.es que “o mRNA dá à célula a possibilidade de produzir aquela proteína do vírus, mas depois ela desaparece”. O CDC também explica em seu site que “uma vez que as instruções do mRNA estão dentro das células, as células as utilizam para fazer a proteína”. A célula então quebra as instruções e se livra delas. O SARS-CoV-2, vírus que causa a covid-19. (Foto: Fusion Medical Animation/Unsplash) Até o momento, não há evidências de que as vacinas aprovadas contra a covid-19 aumentem a gravidade da infecção Steve Hotze também argumenta no vídeo que as vacinas baseadas no mRNA causam outros supostos riscos à saúde, tais como o aumento “da capacidade do vírus de infectar células”. “Há evidências convincentes de que esta terapia genética experimental pode desencadear uma resposta intensificada de anticorpos (ADE) e aumentar a capacidade do vírus de infectar células”, diz ele. “Em outras palavras, se você contrair uma infecção por coronavírus após receber a terapia genética experimental, é provável que seu caso seja muito pior do que se você nunca tivesse recebido essa terapia”. Mas como explicamos nesta verificação, até o momento não há evidências de que as vacinas aprovadas contra a covid-19 causem ADE. O que foi demonstrado é que a vacina protege contra a doença na vida real, ou seja, fora dos testes de laboratório, com populações e casos imprevisíveis. De acordo com uma declaração divulgada em 11 de março pela Pfizer, a vacina foi pelo menos 97% eficaz contra casos sintomáticos de covid-19, pacientes hospitalizados em estado grave e mortes, entre os vacinados em Israel. Além disso, dados da campanha de vacinação de Israel obtidos entre 17 de janeiro e 6 de março indicam que “as pessoas não vacinadas tinham 44 vezes mais probabilidade de desenvolver covid-19 sintomática e 29 vezes mais probabilidade de morrer da doença”, de acordo com a Pfizer. Outra pesquisa, publicada em 24 de fevereiro no New England Journal of Medicine, registra dados semelhantes e mostra que a vacina da Pfizer é 94% eficaz em casos sintomáticos. Na Espanha, três meses após o início da vacinação, também houve uma queda nos afastamentos por doença devido a incapacidade temporária dos trabalhadores da área de saúde, de acordo com dados do Ministério da Inclusão, Seguridade Social e Migração. A recomendação original de uso da ivermectina presente em bula é voltada para tratamento de infecções causadas por parasitas Foto: Prefeitura de Itajaí Recomendações sobre o uso de ivermectina e hidroxicloroquina contra a covid-19 No final do vídeo, Steve Hotze também afirma que “foi demonstrado em estudos em todo o mundo que o uso de ivermectina e hidroxicloroquina pode prevenir e tratar com segurança a infecção por covid-19”. Mas a ivermectina (uma droga antiparasitária) e a hidroxicloroquina (medicamento antimalárico) não são aprovadas para uso nos Estados Unidos para tratar ou prevenir a covid-19 em humanos. Em 22 de março, a Agência Europeia de Medicamentos (EMA) também desaconselhou o uso de ivermectina para prevenir ou tratar a covid-19 fora dos ensaios clínicos em pessoas. Quanto ao uso da hidroxicloroquina, a entidade lembra que o medicamento “não demonstrou nenhum efeito benéfico no tratamento da covid-19 em grandes ensaios clínicos”. Resumo: O vídeo do Dr. Steve Hotze sobre as vacinas contra covid-19 baseadas com tecnologia mRNA contém afirmações falsas. Estes tratamentos não são “terapias genéticas experimentais” e a segurança dos imunizantes tem sido comprovada em numerosos estudos e ensaios clínicos.
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null
Elena Turrión, Newtral.Es
[]
['coronavírus', 'coronavírus [vacina]', 'fake news [notícia falsa]']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/video-propaga-denuncias-sem-fundamento-de-fraude-em-registros-de-covid-de-belford-roxo-rj/
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Vídeo propaga denúncias sem fundamento de fraude em registros de covid de Belford Roxo (RJ)
Conselho de Enfermagem e prefeitura de município na Baixada Fluminense desconhecem acusações feitas em conteúdo que viralizou no Facebook
2021-04-15
Circula nas redes sociais e no WhatsApp um vídeo enganoso, em que um suposto enfermeiro acusa hospitais de fraudar os registros de óbitos de covid-19 e negligenciar o atendimento a pacientes com a doença. O conteúdo sugere que o objetivo seria inflar os números de mortes na pandemia. Com imagens fora de contexto, a gravação dissemina alegações vagas e alarmistas, sem apresentar evidências que sustentem as denúncias. Leitores solicitaram a checagem deste conteúdo por WhatsApp, 11 97683-7490. LEIA TAMBÉM Veja todas as checagens sobre coronavírus publicadas pelo Estadão Verifica O suposto enfermeiro diz, no áudio, trabalhar no “Joca”. O nome corresponde ao apelido do Hospital Municipal de Belford Roxo, ou Jorge Júlio Costa dos Santos, no Rio de Janeiro. Procurada pelo Estadão, a prefeitura da cidade afirmou que desconhece as denúncias propagadas no vídeo. Também não há registros em documentos oficiais ou na imprensa que reportem episódios semelhantes. O Conselho Regional de Enfermagem do Rio de Janeiro afirmou não ter recebido “qualquer tipo de denúncia deste teor [das acusações do vídeo]”. Imagens fora de contexto A gravação apresenta uma série de imagens com corpos cobertos acumulados em macas, mas nenhuma delas retrata o Hospital Municipal de Belford Roxo. A primeira mostra cadáveres no necrotério do Hospital Moacyr Rodrigues do Carmo, em Duque de Caxias. Segundo o jornal Extra, a foto foi tirada em abril de 2020 em meio a um impasse entre a prefeitura e uma concessionária de serviços funerários no município. A segunda imagem foi capturada no mesmo hospital em Duque de Caxias, mas não tem relação com a pandemia, segundo reportagem do portal G1. O registro aconteceu em janeiro de 2019, mais de um ano antes do Brasil identificar o primeiro caso de infecção pelo novo coronavírus no País. Já a imagem que mostra corpos enfileirados na área externa de uma unidade de saúde é de abril de 2020 e retrata um momento de transferência de cadáveres da ala hospitalar para o necrotério no hospital Lourenço Jorge, na cidade do Rio Janeiro. A última foto é do Hospital Municipal Salgado Filho, também na capital carioca, como mostra uma matéria do G1 publicada em maio do ano passado. Até a última segunda-feira, 12, Belford Roxo contabilizava 18,1 mil casos confirmados e 482 óbitos por covid-19, segundo dados da prefeitura. O Painel de Monitoramento do Estado indica que na mesma data o município apresentava uma taxa de 100% de ocupação de leitos de UTI e enfermaria. Como funciona a notificação de casos As notificações de óbitos de covid-19 são alvos frequentes de desinformação. Uma característica comum dos conteúdos enganosos é disseminar discursos alarmistas, como acontece no vídeo analisado pelo Estadão Verifica. O que a gravação não menciona, porém, é que as notificações seguem diretrizes definidas pelo Guia de Vigilância Epidemiológica do Ministério da Saúde. A última edição do documento, publicada em março de 2021, determina que unidades de saúde devem considerar quadros clínicos de síndromes gripais (SG) ou síndromes respiratórias agudas graves (SRAG) como casos suspeitos de covid. A orientação da pasta é que esses episódios, independentemente da hospitalização, devem ser notificados em um sistema de vigilância epidemiológica. Documento GUIA DE VIGILÂNCIA EPIDEMIOLÓGICA DA COVID19 PDF Os critérios de confirmação de casos e óbitos de covid, entretanto, levam em consideração uma série de outros fatores. O detalhe é que todos eles, com exceção dos casos assintomáticos, observam os quadros clínicos de pacientes. O principal método de diagnóstico corresponde a exames laboratoriais de pacientes que apresentam sinais de SG e SRAG. “Junto com o exame laboratorial é preciso ter um quadro clínico compatível [com covid]”, esclarece Fábio Gaudenzi, médico infectologista que participou de edições anteriores do Guia do Ministério da Saúde. Ou seja, mesmo que um paciente tenha um resultado positivo no teste, a evolução clínica será determinante para definir se a morte foi provocada por uma complicação da covid ou por outra causa. O RT-PCR ou teste molecular é considerado o padrão ouro dos exames de diagnóstico de covid-19. Foto: Andrea Rego Barros/ Prefeitura de Recife O documento também preconiza o diagnóstico por contexto clínico-epidemiológico, que considera as manifestações de sintomas associadas ao histórico de contato próximo do paciente com outras pessoas já diagnosticadas com a doença. Há ainda a confirmação de diagnóstico por quadro clínico e análise de tomografias dos pulmões. Por fim, o critério puramente clínico observa sintomas de SG e SRAG junto a perda de paladar e olfato “sem outra causa pregressa”. Esses critérios também são fundamentais no preenchimento de atestados de óbitos da doença. Outro guia do Ministério da Saúde cita uma situação hipotética em que um homem diagnosticado com covid-19 sofreu uma queda ao escorregar, foi resgatado e morreu. Nesse caso, o diagnóstico de covid-19 é registrado como fator externo, e não a causa da morte. Documento ORIENTAÇÕES PARA CODIFICAÇÃO DAS CAUSAS DE MORTE NO CONTEXTO DA COVID-19 PDF “O risco maior não é de excesso de notificação, que pode ocorrer em um número ínfimo de casos mais complicados nos quais pode ter ocorrido dúvida”, pontua Gaudenzi. “O grande problema são os casos notificados a menos, seja pela falta de exame ou porque o paciente chega tardiamente numa unidade de saúde e morre sem conseguir fazer o diagnóstico correto”.
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null
['Victor Pinheiro']
[]
['covid', 'coronavírus']
2021-05-20
['ENGANOSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/boato-sobre-pericia-em-celulares-de-adelio-bispo-volta-a-circular-apos-desdobramentos-do-caso-henry/
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Boato sobre perícia em celulares de Adélio Bispo volta a circular após desdobramentos do caso Henry
Polícia investigou bens apreendidos com o homem que atacou Bolsonaro, assim como as mensagens trocadas entre babá e mãe do menino morto no Rio de Janeiro
2021-04-15
Não é verdade que Adélio Bispo de Oliveira — homem que atacou o presidente Jair Bolsonaro durante a campanha eleitoral de 2018 — não tenha tido o celular analisado pela perícia. O boato, que já circulou em outros formatos e foi desmentido antes pelo Estadão Verifica, voltou a circular nas redes ao promover uma comparação infundada com a investigação da morte do menino Henry Borel Medeiros, de 4 anos, no Rio de Janeiro. Boato desinforma ao sugerir que não houve perícia em celular de homem que esfaqueou Bolsonaro. Foto: Reprodução / Arte: Estadão LEIA TAMBÉM É falsa a informação de que sigilo telefônico e bancário de Adélio Bispo é protegido pelo STF “Se a perícia conseguiu extrair as conversas apagadas da babá do Henry, porque até hoje não foi periciado o celular do Adélio?”, questiona a peça de desinformação, que acumulou mais de 25 mil compartilhamentos no Facebook. Ao contrário do que sugere o conteúdo, no entanto, a polícia teve acesso aos dados telefônicos e mensagens do agressor do presidente, assim como da mãe e do padrasto de Henry. A quebra do sigilo de quatro celulares e um notebook de Adélio Bispo foi autorizada pela Justiça em 8 de setembro de 2018 — apenas dois dias depois do atentado à faca contra Bolsonaro em Juiz de Fora. Vinte dias depois, a Polícia Federal divulgou o relatório do primeiro inquérito concluindo que o agressor agiu sozinho e por inconformismo político. De acordo com informações da época, os agentes investigaram 150 horas de vídeo, 600 documentos, 1.200 fotos e 2 terabytes de informações encontradas com Bispo e oriundas de quebras de sigilo telefônico, bancários e telemáticos. No mesmo mês, a PF deu início ao segundo inquérito, com o objetivo de aprofundar a devassa em um escopo de cinco anos. O relatório do segundo inquérito tornou-se público em 14 de maio de 2020, quando foi entregue para a Justiça Federal. Mais uma vez, os investigadores entenderam que Adélio Bispo agiu por iniciativa própria e sem a participação de terceiros no ataque a Bolsonaro. Eles descartaram a participação de agremiações partidárias, facções criminosas, grupos terroristas ou mesmo paramilitares em qualquer das fases do ataque contra Bolsonaro. O autor do atentado foi diagnosticado como portador de transtorno mental em perícia médica, motivo pelo qual foi considerado inimputável e absolvido em ação penal pelo juiz federal Bruno Savino, de Juiz de Fora, em 2019. Ele permanece preso em uma penitenciária federal de Campo Grande, no Mato Grosso do Sul, como internação provisória. Boatos confundem liminar envolvendo advogado Em uma checagem semelhante publicada em 2019, a Polícia Federal confirmou ao Estadão Verifica que todo o material apreendido com Adélio Bispo foi analisado e que não houve qualquer impedimento ao trabalho dos investigadores sobre o conteúdo. Essa verificação mostra que a teoria falsa surgiu por uma interpretação errada sobre uma decisão judicial. O que a liminar proibiu foi a análise de bens apreendidos no escritório do defensor do réu, o advogado Zanone Manuel de Oliveira Júnior. Em dezembro de 2018, a Polícia Federal realizou uma ação de busca e apreensão no escritório de Zanone, sob a justificativa de investigar quem estaria pagando seus honorários e checar supostas ligações com a facção Primeiro Comando da Capital (PCC). A OAB de Minas Gerais entendeu que a ação viola o sigilo profissional do exercício da advocacia e impetrou um mandado de segurança ao Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1) pedindo a suspensão das análises dos materiais. O pedido foi atendido em caráter liminar pelo desembargador Néviton Guedes, em março de 2019. A análise do mérito ainda está pendente no mesmo Tribunal, depois que o ministro do STF, Luiz Fux, devolveu o caso ao TRF-1 por entender que a decisão é de competência da segunda instância, e não da Suprema Corte, como havia julgado o plenário do TRF-1 nesse meio tempo. Depois que Adélio Bispo foi considerado inimputável pela Justiça, uma série de conteúdos virais confundiram o objeto da liminar e passaram a desinformar que o sigilo telefônico e bancário de Adélio Bispo seria protegido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) ou pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Nada disso é verdade. Caso de Henry também teve perícia em celulares Em relação ao caso Henry Borel, a Polícia Civil do Rio de Janeiro acredita que o menino tenha morrido em 8 de março após ser agredido pelo padrasto, o vereador Dr. Jairinho, com o conhecimento da mãe, Monique Medeiros. Os dois alegaram que a criança teria sofrido um acidente doméstico — versão contestada após necropsia do Instituto Médico-Legal (IML), que constatou múltiplos sinais de trauma, como equimoses, hemorragia interna e ferimentos no fígado, típicos de agressão. Durante as investigações, os agentes apreenderam o celular da mãe de Henry e recuperaram mensagens trocadas com a babá, Thayná de Oliveira Ferreira, nas quais ela relatava agressões do político ao menino. Depois que o fato se tornou de conhecimento público, a babá mudou seu depoimento e admitiu que sabia de agressões anteriores de Dr. Jairinho ao menino. O vereador e Monique Medeiros estão presos preventivamente no Rio de Janeiro desde o dia 8 de abril.
https://politica.estadao…150420210730.png
null
['Samuel Lima']
[]
['adelio bispo de oliveira', 'jair bolsonaro', 'henry borel medeiros', 'estadão verifica', 'fake news [notícia falsa]']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/prefeitura-de-sorocaba-divulga-estudo-sem-criterios-cientificos-para-defender-tratamento-precoce/
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Prefeitura de Sorocaba divulga ‘estudo’ sem critérios científicos para defender ‘tratamento precoce’
Após repercussão negativa, administração municipal apagou postagem no Instagram em que defendia uso de medicamentos sem eficácia comprovada contra covid-19
2021-04-14
A prefeitura de Sorocaba divulgou em seu site oficial nesta quarta-feira, 14, uma nota enganosa na qual afirma que um “estudo preliminar” conduzido pela Secretaria Municipal da Saúde aponta 99% de eficácia do chamado tratamento precoce contra a covid-19. Mais tarde, a administração municipal voltou atrás e disse que os dados apresentados não foram obtidos em um estudo científico, e sim em um “monitoramento telefônico”. A prefeitura sorocabana apagou a postagem no Instagram em que divulgava o “estudo” e alterou o comunicado oficial para chamá-lo de “levantamento”. LEIA TAMBÉM Veja todas as checagens sobre coronavírus publicadas pelo Estadão Verifica De qualquer forma, os dados reunidos pela prefeitura não seguem os padrões científicos adequados para atestar os benefícios e a segurança dos medicamentos de “tratamento precoce” no combate à doença. O comunicado do afirmava que foi aplicado um protocolo com ivermectina e azitromicina a 123 pacientes da rede municipal de saúde e, após 10 dias, somente um indivíduo do grupo morreu. O quadro clínico dos participantes foi monitorado por meio de um questionário, com informações sobre o uso dos medicamentos; fatores de risco e melhora clínica. A médica infectologista da Unicamp Raquel Stucchi destaca, no entanto, que os dados não são válidos para confirmar o impacto das substâncias no quadro clínico dos pacientes. “[O levantamento] não diz nada. É apenas propaganda política e falsa”, avalia. Segundo a especialista, cerca de 85% dos pacientes de covid-19 se recuperam da doença sem a necessidade de intervenção médica e a melhor maneira para verificar possíveis benefícios dos medicamentos é por meio de estudos clínicos randomizados bem estruturados. Chamada original da nota da Prefeitura de Sorocaba sobre o estudo preliminar com o protocolo do ‘tratamento precoce no município’. (Reprodução/Prefeitura de Sorocaba) Esse tipo de pesquisa conta com diversos critérios, como regras de seleção de voluntários, para diminuir a possibilidade de interferência de fatores externos nos resultados ou de que os dados sejam fruto do acaso. A prefeitura de Sorocaba, por outro lado, não esclarece quais os parâmetros usados no recrutamento dos pacientes. O comunicado da prefeitura de Sorocaba afirma que o levantamento encontrou uma taxa de letalidade de 0,81% entre os pacientes monitorados, que usaram o “tratamento precoce”. Segundo o governo municipal, o índice de letalidade da população em geral é de 2,7%. Raquel Stucchi cita vícios de análise na comparação entre esses dois números. “O estudo analisa só pacientes com quadros leves, ambulatoriais”, pontua. “A taxa de letalidade do município engloba todos os pacientes. Para comparar, seria necessário analisar a letalidade dos outros (casos) ambulatoriais que não fizeram uso da medicação”. Em nota, o Sindicato dos Médicos de Sorocaba e Cidades da Região criticou o comunicado da prefeitura. A entidade afirmou que o levantamento “não pode ser levado em consideração, pois foi feito de forma preliminar e com amostragem muito baixa”. “A Prefeitura de Sorocaba comete um grande erro ao divulgar à população um estudo preliminar e sem credibilidade científica, especialmente em um momento tão crítico da pandemia”, diz o sindicato. A OAB/Sorocaba enviou um ofício ao prefeito de Sorocaba, Rodrigo Manga (Republicanos), solicitando as fontes de informação do estudo e a metodologia aplicada no levantamento. ‘Não é estudo’ Questionada se a prefeitura de Sorocaba empregou alguma metodologia para minimizar possíveis vieses nos resultados do levantamento, a assessoria de comunicação do município afirmou que a pesquisa “não se trata de um estudo científico. Trata-se de um monitoramento telefônico realizado pela Secretaria da Saúde com pacientes com sintomas da covid-19, após 10 dias do início do tratamento”. Diante da repercussão negativa do comunicado, a prefeitura de Sorocaba alterou o conteúdo da nota. O título original da notícia “Estudo preliminar aponta 99% de eficácia do tratamento precoce” foi alterado para “Levantamento preliminar aponta excelentes resultados entre pacientes monitorados com sintomas da covid-19 que fizeram tratamento precoce em Sorocaba”. Além disso, uma publicação no Instagram que contava com o título original e registrava mais de mil e duzentas curtidas, até a tarde desta quarta-feira, foi excluída do perfil oficial do Município. Posteriormente, a prefeitura fez uma nova publicação com alterações. “A Prefeitura de Sorocaba publica novamente este post sobre levantamento preliminar acerca do tratamento precoce, de forma que as dúvidas geradas pela chamada anterior possam ser esclarecidas”, justificou a administração municipal. As evidências sobre ivermectina e azitromicina Não há, até o momento, evidências científicas confiáveis que comprovem os benefícios e a segurança da ivermectina e da azitromicina em qualquer estágio ou prevenção da covid-19. Em março, a Organização Mundial da Saúde (OMS) divulgou um comunicado em que desaconselha a administração da ivermectina para tratar a doença, uma vez que as evidências disponíveis são “inconclusivas”. Mesmo sem eficácia comprovada, vendas de ivermectina aumentaram 557% em 2020, comparado ao volume no ano anterior. Automedicação é perigosa. Foto: Gerard Julien/ AFP O painel de evidências da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), por sua vez, indica que a azitromicina provavelmente não reduz o tempo de melhora de sintomas, nem previne mortes e necessidade de ventilação mecânica. Um estudo realizado pela Universidade de Oxford e publicado na revista Lancet sugere que o antibiótico não é eficaz para aliviar os sinais clínicos no início dos sintomas. Estudo Lancet Vale ressaltar que faltam dados de segurança sobre os protocolos dessas substâncias no contexto da covid-19. Especialistas já alertaram ao Estadão Verifica que a ivermectina é um remédio seguro para combater algumas infecções parasitárias, mas as prescrições do remédio para tratamento da covid variam e a segurança do produto em doses superiores às previstas na bula e em combinação com outros medicamentos é incerta. A FDA, agência reguladora dos EUA, destaca que a overdose de ivermectina pode ser fatal.
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['Victor Pinheiro']
[]
['coronavírus', 'covid', 'sorocaba']
2021-05-20
['ENGANOSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/e-falso-que-tv-tenha-simulado-enterro-para-causar-panico-no-espirito-santo/
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É falso que TV tenha simulado enterro para causar pânico no Espírito Santo
Imagens eram gravadas para reportagem especial sobre rotina de coveiros do Cemitério da Barra do Jucu durante a pandemia
2021-04-13
O vídeo de um suposto “enterro fake” em Vila Velha, no Espírito Santo, circula fora de contexto nas redes sociais. Postagens afirmam que a gravação é uma manipulação da imprensa para causar pânico sobre o número de mortes de covid-19 no município. Na verdade, as imagens mostram a equipe da TV Vitória, afiliada da Rede Record, produzindo uma reportagem especial para mostrar o dia a dia do trabalho dos coveiros na pandemia. Nenhum enterro foi “encenado” para a matéria. Leitores enviaram o vídeo para checagem por meio do WhatsApp do Estadão Verifica, 11 99265-2846. LEIA TAMBÉM Veja todas as checagens sobre coronavírus publicadas pelo Estadão Verifica O registro é do dia 30 de março, no Cemitério da Barra do Jucu. No vídeo, um homem não identificado alega que a repórter Marla Bermudes e o repórter cinematográfico Wilian O’Brien estariam mostrando uma simulação de enterro, com a cova vazia, com objetivo de enganar o público. Bermudes esclareceu em uma entrada ao vivo na TV Vitória que a reportagem tinha como objetivo homenagear o trabalho dos coveiros em meio à pandemia. A repórter esclareceu que não tinha a intenção de “fingir” estar abrindo uma nova cova ou enterrando alguém. “A cova estava aberta e não a pedido da nossa equipe. Esse já é um procedimento do cemitério”, disse Marla. “As imagens mostradas no momento exato que ela está jogando terra, eram imagens de apoio para ilustrar as atividades que ela exerce no dia a dia”. A emissora também divulgou uma nota afirmando que “os profissionais envolvidos estão sendo atacados nas redes sociais, de maneira covarde. A Rede Vitória tomará todas as medidas cabíveis, seja fortalecendo a transparência, seja via judicial contra a produção e o compartilhamento deste ataque virtual”. Covas previamente abertas Em abril do ano passado, uma foto aérea do maior cemitério da América Latina, localizado na Vila Formosa, em São Paulo, viralizou em todo o mundo. A imagem mostrava cerca de 150 covas rasas abertas. Naquela altura, a demanda de sepultamentos exigia a abertura de 90 covas por dia, o dobro do habitual. A Prefeitura da Capital afirmou que eram abertas 100 covas a cada três dias, o padrão, independentemente da pandemia. Segundo o Município, as sequências de novas valas serviam para “auxiliar na agilidade dos sepultamentos e cada necrópole tem dinâmica própria”. Uma cartilha do Ministério da Saúde sobre o manejo de corpos de vítimas suspeitas e confirmadas da pandemia orienta apenas que não sejam realizados velórios e funerais com familiares e amigos. “A cerimônia de sepultamento não deve contar com aglomerado de pessoas, respeitando a distância mínima de, pelo menos, dois metros entre elas, bem como outras medidas de isolamento social e de etiqueta respiratória”, diz o material. Documento VEJA AS RECOMENDAÇÕES DA CARTILHA PDF Outro boato envolvendo equipe televisiva sobre enterro na pandemia também circulou nas redes sociais em abril de 2020. O Estadão Verifica investigou uma publicação de um vídeo falso no YouTube acusando a prefeitura de Manaus de enterrar caixões vazios para “causar pânico entre as pessoas do Amazonas”. O vídeo creditava a emissora Bandeirantes pela denúncia. No entanto, a prefeitura de Manaus negou a informação e o canal de televisão também negou que tenha publicado esse conteúdo.
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['Gabi Coelho e Marcos Leandro']
[]
['covid-19', 'pandemia', 'Espírito Santo [estado]']
2021-05-20
['FORA DE CONTEXTO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/video-de-confusao-na-praia-de-ipanema-e-de-2012-e-nao-tem-nenhuma-relacao-com-covid-19/
ESTADAO_VERIFICA
Vídeo de confusão na praia de Ipanema é de 2012 e não tem nenhuma relação com covid-19
Gravação mostra briga por proibição de 'altinha' na beira d'água, e não resistência a medidas de restrição de circulação na capital fluminense
2021-04-08
O vídeo de uma briga generalizada na Praia de Ipanema, no Rio de Janeiro, circula fora de contexto nas redes sociais. Postagens afirmam que se trata do “início da desobediência civil” às restrições impostas devido ao avanço da covid-19 na cidade. Na verdade, as imagens foram gravadas em outubro de 2012, em ação da Guarda Municipal para impedir que um grupo de pessoas jogasse “altinha” na beira d’água. Leitores enviaram este conteúdo para o WhatsApp do Estadão Verifica, (11) 97683-7490. LEIA TAMBÉM Veja todas as checagens sobre coronavírus publicadas pelo Estadão Verifica As imagens do post que circula no Facebook, com mais de 10 mil curtidas e quase 8 mil compartilhamentos, foram gravadas por banhistas. Na época, veículos de comunicação também repercutiram a situação. No vídeo, é possível identificar cadeiras e guarda-sóis sendo arremessados no meio da confusão, que acabou com uma pessoa presa. Ao Estadão Verifica, a assessoria da Guarda Municipal do Rio de Janeiro (GM-Rio) confirmou que a ação de 2012 ocorreu devido a proibição de “altinha” e frescobol na beira d’água entre 8h e 17h. O impedimento se manteve durante os últimos anos. Com a pandemia, ainda de acordo com a GM-Rio, “no momento seguem em vigor no município do Rio as medidas restritivas de proteção à vida e a prática de atividades físicas coletivas estão proibidas nas praias”. Restrições Nas redes sociais e no WhatsApp, as imagens circulam com a legenda “Rio de Janeiro 26 de março de 2021” — mesmo dia em que entraram em vigor decretos dos prefeitos do Rio, Eduardo Paes (DEM), e de Niterói, Axel Grael (PDT). Os dois determinaram o fechamento dos serviços não essenciais durante 10 dias. O objetivo era frear a disseminação do vírus em ambos os municípios. Na medida adotada no Rio, também consta que “a prática de atividades físicas individuais em praças, parques, praias e logradouros do município está liberada, desde que não cause aglomerações e atenda às medidas de proteção à vida”. Na data em que foi publicado o decreto, a prefeitura carioca anunciou que a cidade vive o pior momento da pandemia em número de internações por covid-19 em leitos de Centro de Terapia Intensiva (CTI). As restrições foram recebidas com protesto e lojistas burlando as normas. Atualmente, está em vigor na capital fluminense um novo decreto, publicado na última sexta-feira, 2, que mantém a ida a praias, parques e cachoeiras proibidos. O comércio ambulante também não deve funcionar. Porém, uma diferença em relação às outras medidas é o retorno das aulas presenciais. A partir desta sexta-feira, 9, outros estabelecimentos como comércios, clubes, bares, restaurantes e outros serão autorizados a reabrir. O governo do Rio também publicou no Diário Oficial do último sábado, 3, um novo decreto válido entre os dias 5 e 12 de abril. As normas liberam algumas atividades com restrições, mas prevalecem as proibições estabelecidas pelos prefeitos de cada município.
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['Gabi Coelho']
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['Rio de Janeiro [cidade RJ]', 'pandemia', 'covid-19']
2021-05-20
['FORA DE CONTEXTO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/posts-distorcem-lei-que-tipifica-crime-de-stalking-para-incentivar-desrespeito-a-regras-de-isolamento/
ESTADAO_VERIFICA
Posts distorcem lei que tipifica crime de stalking para incentivar desrespeito a regras de isolamento
Matéria de autoria do Congresso e sancionada por Bolsonaro trata de perseguição obsessiva em meios físicos e digitais e não impede fiscalização de agentes públicos durante a pandemia
2021-04-07
Não é verdade que pessoas que furam as regras de quarentena contra a covid-19 agora estejam protegidas por uma lei sobre perseguição, sancionada recentemente pelo presidente Jair Bolsonaro. O boato viralizou nas redes por meio de um youtuber bolsonarista e de uma série de postagens falsas, que promovem uma interpretação equivocada a respeito da nova legislação sobre “stalking“. Especialistas ouvidos pelo Estadão disseram que a tese é “lamentável” e não possui “nenhuma lógica”. A matéria em questão é a Lei nº 14.132/2021, que tipifica no Código Penal o crime de perseguição, prática também conhecida como “stalking”. A legislação é oriunda de um projeto apresentado pela senadora Leila Barros (PSB-DF) em 2019, que foi aprovado pelo Congresso em 9 de março deste ano e sancionado pelo presidente da República no dia 31. No Senado, o texto teve 74 votos favoráveis e nenhum contrário em uma sessão dedicada a questões femininas, alusiva ao Dia Internacional da Mulher. LEIA TAMBÉM Veja todas as checagens sobre coronavírus publicadas pelo Estadão Verifica O novo art. 147-A do Código Penal define como crime o ato de “perseguir alguém, reiteradamente e por qualquer meio, ameaçando-lhe a integridade física ou psicológica, restringindo-lhe a capacidade de locomoção ou, de qualquer forma, invadindo ou perturbando sua esfera de liberdade ou privacidade”. A pena é de seis meses a dois anos de prisão, além de multa. A penalização pode ser aumentada em 50% caso a vítima seja criança, mulher, adolescente ou idosa; se o crime for praticado por duas ou mais pessoas; e se houver emprego de arma. Youtuber espalha desinformação sobre lei que tipifica crime de perseguição no Código Penal. Foto: Reprodução / Arte: Estadão Antes, esse comportamento obsessivo e intimidatório costumava ser enquadrado na infração de perturbação da tranquilidade alheia. Esse delito estava previsto no art. 65 da Lei de Contravenções Penais (Decreto-Lei Nº 3.688/1941) e era punível somente com 15 dias a dois meses de reclusão e multa. O artigo agora foi revogado. A senadora Leila Barros justificou a necessidade de tipificar o crime de perseguição para dar mais segurança às vítimas de um crime que, muitas vezes, começa na internet e migra para o meio físico. Dados divulgados pela organização National Center for Victims of Crime citados durante a tramitação do projeto apontam que 76% das vítimas de feminicídio são perseguidas antes de serem mortas pelos assassinos nos Estados Unidos. Essa mesma fonte indica que cerca de 6,6 milhões de norte-americanos por ano convivem com o stalking, que atinge principalmente mulheres, e 46% das vítimas passam por contatos indesejados ao menos uma vez por semana. Documento STALKING RESOURCE CENTER PDF A expressão stalking começou a ser usada no fim da década de 1980 para identificar o comportamento obsessivo de alguns fãs com famosos, mas encontra paralelo também entre anônimos. Uma série de relatos trágicos já vieram a público sobre pessoas perseguidas por desconhecidos ou por ex-cônjuges inconformados com o término de um relacionamento. No ano passado, uma jovem de 18 anos conseguiu uma medida protetiva na Justiça de São Paulo com base na Lei Maria da Penha contra um homem que a perseguiu durante cinco anos. Eles se conheceram casualmente na internet em 2016 e conversaram de forma superficial. Diante da recusa da jovem de desenvolver um relacionamento amoroso, o stalker passou a procurá-la sem trégua. Usou diferentes números de telefone, criou perfis falsos em redes sociais, difamou a mulher a familiares e fez visitas constantes ao seu local de trabalho. Um dos episódios mais conhecidos de stalking no Brasil foi o ataque de um fã contra a apresentadora de TV Ana Hickmann, em 2016. Armado, o homem invadiu o quarto de hotel onde ela estava, em Belo Horizonte, baleou uma assessora e se envolveu em uma luta corporal antes de ser morto a tiros pelo cunhado da apresentadora, que posteriormente foi absolvido pela Justiça com base na legítima defesa. Alegar ‘perseguição’ ao furar quarentena não faz sentido Depois de a “Lei do Stalking” entrar em vigor no Brasil, grupos nas redes sociais passaram a distorcer o conteúdo da legislação, para sugerir que as pessoas não poderiam mais ser abordadas ao desrespeitar decretos de isolamento social durante a pandemia. “Se você for trabalhar e alguém tentar te impedir e perseguir, é crime”, alega o youtuber Alberto Silva em vídeo com mais de 200 mil visualizações até esta quarta-feira, 7. Outros posts enganosos viralizaram no Facebook com o mesmo teor. Especialistas consultados pelo Estadão, porém, apontam que não existe aplicabilidade dessa nova legislação sobre determinações do poder público para tentar frear a disseminação do novo coronavírus. “Não tem absolutamente nenhuma lógica”, afirma a especialista em Direito Penal Alice Bianchini, vice-presidente da Comissão Nacional da Mulher Advogada da OAB. “O crime novo (perseguição) está trabalhando com a ideia de alguém que esteja sendo perseguido mesmo, por motivações completamente injustas”, avalia a advogada. “Quando uma pessoa está furando o lockdown, essa abordagem é justa. Não existe ilicitude na conduta do agente público”. Outro aspecto que desmente o boato é que a Lei nº 14.132/2021 criminaliza uma prática reiterada, ou seja, a que o infrator recorre mais de uma vez contra a mesma pessoa. Além disso, a legislação apenas transforma uma conduta que era considerada uma contravenção penal e passa para a condição de crime. Caso realmente oferecesse salvo conduto para desrespeitar o isolamento, o que não é verdade, isso já estaria contemplado juridicamente antes. A advogada criminalista Thaís Rego Monteiro, sócia do escritório Feller e Pacífico, afirma que a distorção do crime de perseguição nas redes é uma “interpretação lamentável”. Ela explica que o objetivo da lei é proteger a privacidade e liberdade individual de pessoas que se encontrem em uma situação de risco diante de uma perseguição reiterada. “Não vejo nenhuma relação ou aplicabilidade sobre as determinações que visam a remediar a tragédia humana que assola o Brasil em razão do coronavírus.” Para a advogada, os agentes públicos não podem ser acusados de perseguição quando simplesmente notificam um estabelecimento comercial que está temporariamente proibido de abrir ou quando abordam cidadãos na rua, caso estejam desrespeitando toque de recolher, distanciamento e uso de máscaras na pandemia. Esse tipo de atividade é uma forma de proteger a saúde pública, que ela entende como um bem jurídico que se sobrepõe sobre o individual. “Se colocarmos na balança, todos os bens protegidos pelo Direito Penal possuem uma valoração quando comparados com outros. Por exemplo, o bem jurídico vida é mais importante do que o patrimônio”, explica a advogada. “A proteção da saúde pública, num momento de epidemia, é um bem jurídico quase que acima de todos, porque a pretensão é a manutenção da vida humana.” O desrespeito às regras de quarentena inclusive pode ser enquadrado no Código Penal, dependendo das circunstâncias e da gravidade do caso. O art. 268 diz que é crime “infringir determinação do poder público destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa”, enquanto o art. 267 criminaliza o ato de “causar epidemia, mediante a propagação de germes patogênicos”. Já houve casos de prisões em flagrante de pessoas que organizaram festas clandestinas, por exemplo. As situações corriqueiras, no entanto, costumam gerar apenas consequências na esfera administrativa, como a aplicação de multas, destaca a advogada Alice Bianchini. Elas variam conforme as normas publicadas em cada estado e município. Procurado pelo Estadão Verifica, o youtuber Alberto Silva respondeu com ofensas ao repórter e ameaçou publicar o conteúdo do e-mail em suas redes.
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['Samuel Lima']
[]
['coronavírus', 'estadão verifica', 'fake news']
2021-05-20
['FALSO']
https://politica.estadao.com.br/blogs/estadao-verifica/video-de-pessoa-morta-no-maranhao-circula-fora-de-contexto-para-espalhar-teoria-da-conspiracao/
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Vídeo de pessoa morta no Maranhão circula fora de contexto para espalhar teoria da conspiração
Ao contrário do que afirmam postagens nas redes sociais, hospitais não recebem remuneração de acordo com número de óbitos registrados
2021-04-07
Perfis negacionistas nas redes sociais têm compartilhado o vídeo de uma pessoa morta, retirado de contexto, com o objetivo de espalhar teorias da conspiração sobre a pandemia de covid-19. As postagens sem fundamento alegam que o paciente mostrado na gravação teria sido dado como morto em troca de remuneração para o hospital. Leitores solicitaram a checagem deste conteúdo pelo WhatsApp do Estadão Verifica, 11 97683-7490. Hospitais não são remunerados de acordo com o número de óbitos por covid-19. Esse boato foi espalhado no ano passado para afirmar que Estados e municípios seriam “estimulados” a inflar o número de mortes causadas pelo novo coronavírus por compensação financeira. Nada disso é verdade. A definição dos valores destinados pelo Ministério da Saúde para ações de enfrentamento à pandemia não toma como base o número de pacientes infectados ou mortos. LEIA TAMBÉM Aprenda como identificar e rebater uma teoria da conspiração O vídeo em questão mostra um corpo com os pés e mãos amarrados e algodão nas narinas e na boca. Duas pessoas filmam a cena. Em determinado momento, os braços da pessoa, que estavam cruzados sobre o peito, parecem cair para cima do rosto. Neste momento, um homem fecha um saco em torno do cadáver. Foto: Reprodução Uma das versões do vídeo que circula nas redes foi editada para incluir o áudio de uma mulher. Ela diz que o caso supostamente aconteceu no Maranhão. Alega que a pessoa retratada teria morrido duas horas depois de ter sido levada para uma Unidade de Pronto Atendimento (UPA) com pressão alta. Ela acusa “o povo” de estar “matando para dizer que foi coronavírus”, mas não diz a quem está se referindo. A Secretaria de Estado da Saúde do Maranhão identificou a pessoa gravada. Trata-se de uma mulher que morreu em decorrência de síndrome respiratória aguda grave por covid-19, em 9 de março. Ela teria dado entrada na UPA em estado clínico grave e evoluiu a óbito mesmo após receber assistência médica. “A SES ressalta que toda assistência foi prestada à família da paciente e repudia a exposição da imagem da maranhense para repercussão sensacionalista, desumana e inverídica”, diz a secretaria em nota. O médico legista Celso Domene, presidente da Associação de Médicos Legistas do Estado de São Paulo, analisou o vídeo e afirmou ao Estadão Verifica que o corpo aparenta os sinais imediatos de constatação de morte: perda de consciência, parada de movimentos respiratórios e parada de batimentos cardíacos. Ainda segundo ele, o corpo está sendo manipulado dentro do saco plástico e pode mudar de posição por este motivo. “Creio que seja essa a explicação”, diz Domene. O vídeo foi editado e circula com outras versões nas redes. Uma delas recebeu sobre as imagens a narração de um homem que faz juízo de valor da situação. Ele acredita que a pessoa está “nitidamente viva” e fala que “eles precisam de uma narrativa para o plano deles dar certo. Eles têm que matar o máximo de gente possível”, sem dizer a quem se refere. Ainda afirma que “é por isso que estão proibindo o tratamento precoce, porque senão cai por terra que está morrendo de coronavírus (sic)”. Até o momento, não há qualquer forma de tratamento precoce da covid-19. O kit de medicamentos assim chamado popularmente não tem eficácia comprovada por estudos científicos. Dentre eles, a hidroxicloroquina e a cloroquina já foram provados ineficazes contra o novo coronavírus. O Estadão Verifica já desmentiu postagens que afirmavam que hospitais receberiam R$ 18 mil por cada óbito de covid-19. Além disso, também mostramos como postagens tiram de contexto dados desatualizados da associação de cartórios para negar a real dimensão da pandemia. Este conteúdo contém características comuns a peças de desinformação: Não cita a fonte da alegação; É vago, não informa data nem local da gravação; Contém erros de português; É alarmista e faz acusações de atrocidades, mas não diz quem estaria cometendo essas atrocidades.
https://politica.estadao…090720203612.jpg
null
['Pedro Prata']
[]
['fake news [notícias falsas]', 'Maranhão [estado]', 'coronavírus']
2021-05-20
['FALSO']