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COMPROVA
Publicações enganam ao associar Bolsonaro à aprovação de verba para filme sobre sua eleição
null
2020-07-31
Ancine aprovou em 2019 a captação de 530 mil reais para a realização de um filme que trata da eleição de Bolsonaro, mas não liberou recursos diretos para o documentário como dão a entender duas postagens investigadas pelo Comprova Conteúdo verificado: Informação compartilhada no Twitter e no Facebook afirma que Bolsonaro teria liberado, via Ancine, 530 mil reais para a produção de um filme sobre ele mesmo. Duas postagens sobre liberação de verbas da Ancine para um documentário sobre o presidente Jair Bolsonaro trazem informações falsas ou enganosas. Em uma delas, o perfil de Twitter @r_camilotti afirma que “Bolsonaro, via Ancine, libera 560 milhões para um filme sobre ele”. Essa informação é falsa. Na outra, no Facebook, o deputado José Guimarães (PT-CE) publicou uma imagem com o texto “Ancine libera 530 mil para documentário sobre Bolsonaro”. Essa informação é enganosa. O que a Agência Nacional do Cinema (Ancine) de fato liberou foi a captação de recursos, por meio da Lei do Audiovisual, para uma produção que pretende retratar os movimentos políticos do país desde 2013 até a eleição de Bolsonaro. A aprovação para a captação ocorreu em julho de 2019 e não direciona verbas diretamente para o filme: o investimento é indireto, oferecendo aos interessados em contribuir com o filme a possibilidade de deduzir o valor das doações no Imposto de Renda (IR). Além disso, a aprovação ou não de verbas pela Lei do Audiovisual é feita por uma equipe técnica – e não passa pelo crivo direto de Bolsonaro. O presidente, inclusive, se posicionou contra a utilização da verba para a produção do filme. Como verificamos? A partir do texto utilizado na postagem de Guimarães, o Comprova utilizou a ferramenta CrowdTangle para rastrear se o post era novo ou se repetia conteúdo propagado por terceiros. Também foram feitas buscas no site da Ancine, com a qual entramos em contato por e-mail, e no Diário Oficial da União. Entrevistamos o cineasta Josias Teófilo, responsável pelo projeto do documentário, e enviamos mensagens ao deputado José Guimarães, que não nos retornou até a publicação desta investigação. Realizamos buscas em veículos de imprensa para conferir declarações e ações de Bolsonaro a respeito da Ancine. Verificação A primeira postagem mencionando que Bolsonaro teria liberado R$ 530 mil para a produção um filme sobre ele foi compartilhada em 23 de julho pela página Ciro da Massa no Facebook. A descrição a identifica como “página voluntária em apoio ao Projeto Nacional de Desenvolvimento do PDT, liderado por Ciro Gomes”, e o perfil apresenta mensagens de apoio ao pedetista. Enviamos uma mensagem para a página para saber de onde surgiu a informação, mas não obtivemos retorno até a publicação desta investigação. Em 26 de julho, publicação similar foi compartilhada pelo deputado federal Guimarães. Na descrição, o parlamentar afirma que o governo pretendia usar “dinheiro público da cultura para promover Bolsonaro”. Ele citou como fonte uma notícia do UOL, de 24 de julho do ano passado, dizendo que filme sobre eleição de Bolsonaro recebeu aprovação da Ancine para captar R$ 530 mil para sua produção. Questionamos o deputado, por mensagem no WhatsApp, se o caso teve novas atualizações ou se ele estava apenas republicando uma informação antiga. Ele não nos retornou até a publicação deste texto. O que foi omitido pela postagem é que a matéria do UOL cita aprovação para captar recursos, e não para financiar, diretamente, a produção do filme. O texto credita o projeto ao cineasta Josias Teófilo, que chegou a anunciar a aprovação da Ancine em redes sociais. Em uma página criada para o projeto no Twitter, ele é identificado como “documentário ensaístico sobre os desdobramentos políticos das Jornadas de Junho de 2013 que culminaram na eleição de Jair Bolsonaro”. Já o perfil que fez a postagem do Twitter afirmando que Bolsonaro liberou R$ 560 milhões para a produção, pouco depois, publicou outro post corrigindo as cifras e afirmando se tratar de R$ 560 mil, valor ainda errado, mas mais próximo do autorizado para captação. Como funciona a captação da Lei do Audiovisual? A Lei do Audiovisual (8.685/93) não libera recursos para a produção de obras; o que ela faz é autorizar que eles sejam captados por um determinado projeto por meio de patrocínios e investimentos, segundo explicação no site da Ancine. Desta forma, os projetos se submetem à aprovação da Ancine e, caso liberados, podem buscar apoio de terceiros. A vantagem prevista na lei é que quem estiver disposto a investir ou patrocinar projetos audiovisuais aprovados pela Ancine pode deduzir do Imposto de Renda (IR) os valores direcionados à produção das obras audiovisuais. O abatimento não pode passar de 6% do total declarado no IR de pessoas físicas e nem de 4% no caso de pessoas jurídicas. Ou seja: o órgão não injeta recursos públicos diretamente na produção, mas permite que o contribuinte possa abater o valor de tributos pagos ao Estado. Houve aprovação para a captação de um projeto associado a Bolsonaro? Segundo a matéria do UOL, a aprovação para captação de recursos foi publicada no Diário Oficial da União (DOU) em 31 de maio de 2019. O Comprova confirmou, na edição do dia, a autorização obtida pelo projeto de Teófilo para captar R$ 530.100 por meio da Lei do Audiovisual. Procurada por e-mail, a Ancine enviou o link de uma página do site da instituição com as informações sobre a produção de Teófilo. Entre maio e dezembro de 2019, período aprovado para captação, o projeto conseguiu captar R$ 78 mil pela Lei do Audiovisual. Em entrevista ao Comprova, Teófilo confirmou os valores, mas disse que o órgão ainda não liberou o dinheiro. “O filme está sendo montado. Captou R$ 78 mil mas não conseguimos liberar ainda o dinheiro”, disse. Teófilo alega que o filme não será produzido apenas com os recursos da lei, mas também através de financiamento coletivo, disponível no site oficial da produção. De acordo com o site do projeto, foram arrecadados mais de R$ 70 mil até o momento. “O filme trata das manifestações de junho de 2013, do impeachment de Dilma, da ascensão da nova direita e da eleição de Bolsonaro. É dividido em cinco partes, a quinta parte trata da eleição de Bolsonaro. Ainda não temos sinopse”, resumiu ele por e-mail. Em entrevista ao Canal Contracapa, concedida em 27 de julho deste ano, Teófilo declarou que optou por utilizar a lei do incentivo para que as pessoas da direita entendam “que não existe cinema sem lei de incentivo”. O cineasta disse que previa a polêmica em torno do financiamento e ressaltou que isso é ótimo para o projeto. “Quando as pessoas estão debatendo o filme, é sinal que você ganhou”, declarou. Bolsonaro se opôs ao projeto e defende extinção da Ancine Questionado pelo Comprova se obteve a liberação diretamente de Bolsonaro, Teófilo negou envolvimento do chefe do Executivo na decisão. “Não é verdade que Bolsonaro liberou via Ancine. Os projetos da Lei do Audiovisual são aprovados por uma comissão técnica composta por funcionários de carreira. Bolsonaro inclusive se opôs publicamente à aprovação na Ancine desse projeto – ele pensava que o filme era sobre ele, ou sobre sua campanha”, afirmou no e-mail. Em live nas redes sociais, Bolsonaro declarou ter sugerido à Ancine que recuasse na decisão de autorizar a captação de recursos para o filme. “Não queremos filmes de políticos com dinheiro público. O poder público não deve se meter a fazer filme. O estado vai deixar de patrocinar”, disse o presidente no dia 25 de julho de 2019. Naquela mesma época, Bolsonaro disse que pretendia impor um filtro à Ancine, acabar com a agência ou privatizá-la. Ele reclamou do financiamento de diversos filmes nacionais, incluindo o longa “Bruna Surfistinha”, de 2011, que alegou ter “fins pornográficos”. Pouco depois, anunciou um corte de quase 43% no orçamento destinado ao Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), tentou transferir a sede da Ancine para Brasília e indicou um pastor e uma produtora ligada a filmes cristãos para a diretoria do órgão. O que diz a Ancine? Procurada pelo Comprova, a Ancine declarou que “dados sobre projetos aprovados para captação de recursos estão disponíveis no Portal Ancine” e indicou o link para a consulta pública do projeto “Nem Tudo se Desfaz”. O site mostra que, assim como relatado por Teófilo, foram captados R$ 78 mil para a produção. No entanto, o órgão não respondeu se o dinheiro já havia sido liberado para uso pelo cineasta. Outros filmes A produção de Teófilo não é a primeira nacional a ter aporte indireto de recursos com temáticas relacionadas à política. O filme “Polícia Federal: A Lei É para Todos”, que conta como se iniciou a Operação Lava Jato e seus desdobramentos — que levaram à prisão do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), ainda que após os acontecimentos relatados no longa — também contou com auxílio da Lei do Audiovisual, segundo o próprio site da Ancine. Outro filme de tema similar com captação via Lei do Audiovisual foi “Real: O Plano por Trás da História”, que relata os bastidores da criação do Plano Real e dá protagonismo ao economista Gustavo Franco. Alvo de polêmica, o longa “Lula, o Filho do Brasil”, uma biografia de Lula, foi produzido sem o uso de leis de incentivo — ou seja, foi feito por meio do patrocínio direto de empresas. Em reportagem de março de 2009, o Estadão relatou que diversas companhias que não apresentavam envolvimento com a indústria nacional do cinema estavam destinando grandes quantias à realização do filme. O texto destaca que, na maioria, são “empresas com negócios que dependem intimamente de decisões do Executivo e que possuem contratos milionários com o governo federal”. Em 2018, os patrocínios do filme entraram na mira da Lava Jato. Em delação premiada, o ex-ministro Antônio Palocci disse que havia determinado ao grupo Schahin que usasse dinheiro proveniente de propina para financiar a obra. O documentário “Democracia em Vertigem”, indicado ao Oscar em 2020, retrata parte do auge do governo petista, o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e a ascensão de movimentos políticos que levaram à eleição de Bolsonaro. Não há nenhum registro do uso de recursos públicos no site da Ancine. Segundo a diretora Petra Costa, no portal oficial do documentário, parte dos recursos utilizados partiu de sua própria produtora — a Busca Vida Filmes —, enquanto outro aporte financeiro veio de “diversos fundos estrangeiros”. Os fundos, citados no site como Doc Society, Tribeca, Sundance, Berta e Threshold, concedem bolsas a produções audiovisuais que consideram relevantes. Para participar é necessário se inscrever em um processo seletivo. Costa afirma que não houve uso de dinheiro público na produção. Por que investigamos? O Comprova verifica conteúdos de ampla repercussão em redes sociais que apresentem informações erradas ou mesmo fora de contexto sobre determinados assuntos. Em um contexto de polarização política, inflamado pela proximidade com as eleições municipais de 2020, o projeto vê a necessidade de esclarecer se postagens que viralizaram na internet envolvendo agentes públicos são verdadeiras. Outros conteúdos ligados à política foram investigados, como a “sabotagem” do governo do Ceará em canal inaugurado por Bolsonaro, um texto sobre boa aprovação de Lula utilizado para tratar de apoio a Bolsonaro e uma postagem que dizia que o Exército construiu ponte em 24 horas em Goiás. No caso da aprovação de captação de recursos para um documentário que trata da eleição de Bolsonaro, não se trata de uma informação nova. A publicação também omite como é feita a captação via Lei do Audiovisual e induz o leitor a uma interpretação equivocada de que o chefe do Executivo teria interferido diretamente na liberação e que os valores seriam enviados de forma direta à produção. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado e que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor. Até 31 de julho, a postagem no Facebook teve mil comentários e 1,2 mil compartilhamentos. O tuíte foi compartilhado 75 vezes.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/post-mostra-imagens-de-outras-estradas-para-afirmar-que-o-exercito-arrumou-a-transamazonica/
COMPROVA
Post mostra imagens de outras estradas para afirmar que o Exército arrumou a Transamazônica
null
2020-07-31
Parte dos trechos das gravações utilizadas no vídeo verificado pelo Comprova não é da BR-230, segundo um dos autores das imagens. O próprio Exército informou que a força não concluiu nenhuma obra na rodovia Transamazônica durante o governo Bolsonaro Conteúdo verificado: Publicação no Facebook afirmando que o Exército está fazendo melhorias na Transamazônica, após 40 anos sem nenhuma obra. Acompanha um vídeo com imagens do que seria a rodovia em situação precária e, depois, também do que seria a via em boas condições após obras supostamente feitas pelo Exército. É falsa uma publicação que circula no Facebook afirmando que a rodovia Transamazônica (BR-230) está em boas condições de tráfego, após 40 anos, graças a obras do Exército. O post, publicado pelo perfil Brasil Unido, diz que “segundo os governos anteriores, era impossível arrumar a rodovia TransAmazônica”, e é acompanhado por um vídeo, no qual constam imagens de estradas em situação precária, seguidas de gravações do Exército trabalhando em obras rodoviárias e, por último, de pistas em bom estado. Em primeiro lugar, parte dos trechos das gravações utilizadas no vídeo verificado não é da BR-230, segundo um dos autores das imagens e o Exército. Além disso, o próprio Exército disse que a força não concluiu nenhuma obra na rodovia Transamazônica durante o governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Procurado, o autor da postagem no perfil Brasil Unido, Fernando da Silva Ferreira, disse que apenas compartilhou o vídeo. “Não fui ao local averiguar se é correto ou não, mas vi muita gente comentando que realmente fizeram obra lá e que melhorou bastante.” Como verificamos? O primeiro passo foi buscar pelas palavras “exército obras rodovias” no YouTube. A pesquisa trouxe o vídeo intitulado “Obras da BR-163 e BR-116 – Engenharia do Exército”. Trata-se de uma edição que utiliza o áudio de uma live feita em 18 de julho pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e pelo ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, em que eles falam sobre obras na BR-163 (a partir de 13min47s) e também gravações do ministro com representantes do Exército na BR-116. Foi possível verificar que várias das imagens utilizadas neste vídeo encontrado no Youtube foram também enxertadas no vídeo objeto desta verificação. São imagens que mostram o Exército atuando em estradas. Na primeira parte da gravação verificada, que mostra a estrada intransitável, algumas gravações têm marcas d’água, que são dos canais no Youtube Lebrão e Narrador Champz. Ao buscar esses nomes na plataforma, apareceram dois perfis ligados ao universo caminhoneiro. O Comprova assistiu e comparou os vídeos publicados nos canais com o vídeo verificado, mas não encontrou correspondência. Depois disso, enviou mensagens privadas por redes sociais para os dois perfis e conseguiu falar com os responsáveis por eles. A equipe também contatou o responsável pela página Brasil Unido, que teve grande viralização ao compartilhar o conteúdo no Facebook. Também para checar o conteúdo da postagem, o Comprova enviou e-mail para o Exército – algumas imagens do vídeo trazem a marca d’água do órgão – e para o Ministério da Infraestrutura. O último não respondeu até a publicação deste texto. O Comprova fez esta verificação baseado em dados oficiais disponíveis até o dia 31 de julho de 2020. Verificação O Exército e a Transamazônica Além de afirmar erroneamente que o atual governo estaria, com a participação do Exército, concluindo obras na Transamazônica, a postagem mente ao dizer que governos anteriores não trabalharam por melhorias na via – que tem, no total, 4.260 quilômetros. Questionado sobre obras na BR-230 em gestões passadas, o Exército enviou, por e-mail, uma lista com os feitos para o Comprova. Em 1955, por exemplo, a instituição implantou um trecho de 24 quilômetros na rodovia na Paraíba. Durante o governo militar e nos governos Lula e Dilma (PT), também realizou obras de pavimentação e implantação em diversos trechos da rodovia. Segundo o Exército informou, atualmente, ele está executando obras de adequação da BR-230 em um trecho de 8 quilômetros na região da cidade de Cabedelo, na Paraíba. Além de obras realizadas pelo Exército no passado, é importante ressaltar que a Transamazônica teve trechos implantados ou pavimentados por empresas particulares, que atuaram por meio de licitações de governos anteriores. Uma reportagem do G1, de 2009, por exemplo, mostra que o então presidente Lula discursou durante a inauguração de obras de duplicação da BR-230, em Campina Grande, na Paraíba. Sobre o vídeo, o Exército afirmou que “verifica-se que se trata de uma edição em que foram inseridos trechos de diversos vídeos, configurando uma montagem não profissional” e que “a qualidade afeta a identificação de símbolos que aparecem no vídeo, mas existem trechos em que é possível verificar o símbolo do Exército”. Algumas das gravações identificadas pelo órgão foram feitas na BR-163, no trecho entre Novo Progresso e Igarapé do Lauro, no Pará. O Exército informou ainda: “Além de não se tratar da Transamazônica, o período provável das filmagens deve ser de agosto de 2017 a dezembro de 2019” – ou seja, começando no governo de Michel Temer (MDB). A rodovia em situação precária Algumas das imagens que mostram estradas em condições difíceis de tráfego no vídeo verificado trazem as marcas d’água dos canais do YouTube de Lebrão e do Narrador Champz. Segundo o caminhoneiro Marcio de Almeida, dono do perfil Lebrão 001 G.N.A no YouTube, as gravações que contêm a sua inscrição no vídeo verificado “são de 2018, começo de 2019 ou mais antigas”. Ele disse ser o autor de todas as filmagens que posta e que algumas passagens também “não são nem da Transamazônica“. Já o responsável pelo canal Narrador Champz, Diego da Silva, afirmou que os vídeos com a sua marca d’água são mesmo da Transamazônica, e foram feitos em 2014 e 2015 – as filmagens originais já foram deletadas de seu canal. Silva ressaltou que os vídeos não são de sua autoria, mas que ele recebe de outras pessoas e monta os compilados que publica no YouTube. O autor da postagem O post verificado foi publicado pela página Brasil Unido no Facebook. O Comprova entrevistou o autor do perfil por telefone, Fernando da Silva Ferreira. Ele não soube informar a origem do vídeo. “Não me lembro exatamente de onde veio, eu vi no Facebook e compartilhei”, afirmou. “Não fui ao local averiguar se é correto ou não, mas vi muita gente comentando que realmente fizeram obra lá e que melhorou bastante.” No perfil, criado em maio e que já tem 11 mil seguidores, ele publica conteúdos contrários ao Supremo Tribunal Federal (STF), críticas a nomes como o ex-ministro Sergio Moro e a apresentadora Xuxa por ter um projeto de livro infantil com conteúdo LGBT e, principalmente, posts favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro. Por que investigamos? Atualmente em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos que dizem respeito a políticas públicas do governo federal e à pandemia de covid-19. As verificações são feitas em conteúdos que viralizam de forma significativa, caso do vídeo investigado aqui. A postagem falsa teve 75 mil interações no Facebook, além de 8,8 mil comentários, e o vídeo foi visualizado mais de 1,6 milhão de vezes até o dia 31 de julho. Supostas realizações do governo Bolsonaro na área de infraestrutura têm sido objeto de desinformação. Naquele ano, o Comprova mostrou, por exemplo, que uma montagem enganosa atribuía a Bolsonaro obras na BR-163 feitas no governo Dilma e que outra usava foto de obra no governo Lula para elogiar Bolsonaro. Neste ano, o Comprova voltou ao tema ao investigar um post com conteúdo falso que usava fotos de obras da Transposição do Rio São Francisco dos períodos petistas para destacar supostos avanços realizados no atual governo. Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i2.wp.com/projet…=338%2C212&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/eduardo-bolsonaro-posta-video-antigo-sobre-liberacao-da-cloroquina/
COMPROVA
Eduardo Bolsonaro posta vídeo antigo sobre liberação da cloroquina
null
2020-07-31
Em uma publicação no Twitter, o deputado usa como se fosse de agora um vídeo gravado em 9 de abril no qual o prefeito de São Paulo anuncia a inclusão da cloroquina no protocolo de tratamento de pacientes com covid-19 nos hospitais municipais. No post, ele cobra do governador do estado que faça o mesmo, mas isso já é feito desde 5 de maio Conteúdo verificado: Tuíte do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) com um vídeo do prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), anunciando a inclusão da cloroquina no protocolo de tratamento de pacientes com covid-19 nos hospitais municipais. É enganoso o post no perfil do Twitter do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) que apresenta um vídeo no qual o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), anuncia a inclusão da cloroquina no protocolo de tratamento da covid-19 na cidade de São Paulo. E, no texto que acompanha o vídeo, diz: “Resta saber se Doria também cairá na real de que vidas estão acima de política, que para uma doença nova não existe remédio testado e que toda tentativa de cura é válida”. A Secretaria Estadual da Saúde já libera o uso da cloroquina para casos graves de covid-19, de acordo com a avaliação do médico, desde 5 de maio. O trecho, publicado no dia 30 de julho, é de uma gravação de 9 de abril e traz o anúncio feito à época por Covas, durante coletiva de imprensa realizada no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Ao publicá-lo, Eduardo Bolsonaro dá a entender que a adoção do protocolo ocorreu agora. O protocolo, que só foi publicado em 17 de junho, orienta os profissionais de saúde da rede pública municipal sobre o manejo de pacientes com covid-19. Nele, o uso de cloroquina não é recomendado, mas é autorizado — desde que obedecendo critérios médicos e com aval do paciente. Tentamos entrar em contato com o deputado Eduardo Bolsonaro, mas não tivemos resposta até a publicação desta verificação. Como verificamos? Uma verificação já publicada pelo Comprova esclareceu que o anúncio da adoção da cloroquina como parte do protocolo de tratamento da covid-19 na cidade aconteceu no dia 9 de abril. Uma busca no Google confirmou a informação. Com essa data, encontramos o vídeo original no canal do governo do estado de São Paulo no YouTube. O vídeo editado tem uma marca d’água com o nome do deputado federal Luiz Lima (PSL-RJ) e o endereço de suas redes sociais. Na página de Facebook de Lima encontramos uma postagem com as imagens, datada do dia 9 de maio. Pesquisamos a recomendação para o tratamento de pacientes com covid-19 no site da Prefeitura de São Paulo e da Secretaria Municipal da Saúde. Também consultamos a página da Secretaria Estadual da Saúde (SES-SP) para esclarecer qual é a orientação do estado em relação ao uso da cloroquina. Os dados sobre o número de casos confirmados e de mortes são do boletim da Secretaria Municipal da Saúde. As ferramentas Tweetdeck e CrowdTangle foram úteis para mostrar a viralização do conteúdo investigado pelas redes sociais. Por fim, entramos em contato por e-mail com a assessoria de imprensa do prefeito Bruno Covas, que respondeu ao Comprova e esclareceu que a Secretaria Municipal de Saúde não recomenda, mas permite a uso do medicamento na rede hospitalar, mediante prescrição médica e consentimento do familiar ou paciente. E acrescenta que, apesar de o Ministério da Saúde ter ampliado o uso da cloroquina para casos leves e moderados, a Secretaria Municipal da Saúde emitiu recomendação contrária, “em virtude da ausência de evidências científicas robustas que justifiquem tal indicação”. Também tentamos entrar em contato com o deputado Eduardo Bolsonaro por mensagem de WhatsApp e no Instagram, mas não tivemos resposta até a publicação desta verificação. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 31 de julho de 2020. Verificação A equipe do Comprova começou a verificação analisando o vídeo publicado pelo deputado Eduardo Bolsonaro. Bruno Covas está no saguão do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. O logotipo da administração estadual pintado no púlpito junto à hashtag #FiqueEmCasa mostra que as imagens foram captadas em uma das entrevistas coletivas conduzidas pelo governador João Doria para atualizar a situação da pandemia. Chama a atenção o fato de que Covas não está de máscara. O uso do equipamento de segurança é obrigatório em locais públicos no estado desde 4 de maio, mas a gravação aconteceu antes dessa data. Em junho, o Comprova já tinha desmentido uma postagem no Twitter que dizia que a cloroquina era proibida na capital paulista. Na ocasião, informamos que a Secretaria Municipal da Saúde incluiu a cloroquina no protocolo de tratamento da covid-19 em 9 de abril. Buscando por essa data, encontramos o vídeo original no canal do governo do estado de São Paulo no YouTube. “Ainda não é possível ser uma política pública, pois não temos ainda pesquisas concluídas, mas havendo prescrição do médico e a concordância do paciente, a Secretaria Municipal de Saúde passou a integrar esse medicamento [cloroquina] no protocolo de tratamento da covid-19”, anunciou o prefeito aos 39 minutos. O protocolo entrou em prática logo depois do anúncio. Apenas no dia 17 de junho uma recomendação técnica foi publicada detalhando o uso da medicação. O documento sugere uma “análise criteriosa do quadro clínico, o monitoramento do paciente, da resposta em relação à terapêutica selecionada e as reações adversas”. E indica a prescrição de drogas para o tratamento dos sintomas em diferentes momentos da infecção pelo novo coronavírus. O protocolo da prefeitura autoriza, mas não recomenda, o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina. A prescrição deve ocorrer de acordo com o critério do médico e com consentimento do paciente. “Em virtude da ausência de evidências científicas robustas que justifiquem tal indicação. A deliberação ainda recomenda que o uso em casos graves sob regime hospitalar não seja de rotina”, alerta a publicação. O documento segue a posição da Secretaria Estadual da Saúde, que em 5 de maio orientou que o uso das drogas “não seja expandido para casos leves e moderados em acompanhamento ambulatorial. Em 20 de maio, o Ministério da Saúde estendeu o uso da cloroquina para pacientes com sintomas leves. O Conselho Municipal de Saúde de São Paulo criticou a decisão em uma nota técnica divulgada oito dias depois. De lá para cá a situação se agravou na capital paulista. De acordo com o Boletim Epidemiológico do município, em 9 de abril o município registrava 5.832 casos de covid-19, com 386 óbitos. No dia 30 de julho, data em que Eduardo Bolsonaro postou o vídeo, já havia 223.571 casos e 9.547 óbitos confirmados. Vídeo antigo O vídeo editado compartilhado por Eduardo Bolsonaro tem uma marca d’água com o nome do deputado federal Luiz Lima (PSL-RJ) e o endereço de suas redes sociais. Na página de Facebook de Lima encontramos uma postagem com as imagens, datada do dia 9 de maio — um mês depois do anúncio. Naquele momento, a cidade de São Paulo registrava 27.414 casos de covid-19 e 2.268 mortes, de acordo com o boletim da Secretaria Municipal da Saúde. O número de óbitos que aparece no vídeo editado é menor, 2.106. Essa diferença pode acontecer por causa dos casos positivos confirmados posteriormente e somados à estatística. Cloroquina e hidroxicloroquina Até o momento, não há comprovação científica da eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento ou prevenção da covid-19. Pelo contrário, estudos publicados no Journal of the American Medical Association (Jama) e no British Medical Journal (BMJ) apontaram que pacientes tratados com cloroquina e hidroxicloroquina não tiveram melhores resultados que aqueles que não receberam os mesmos remédios. Uma pesquisa realizada em 55 hospitais brasileiros e publicada no New England Journal of Medicine (NEJM) chegou às mesmas conclusões. A Organização Mundial da Saúde (OMS) e o National Health Service no Reino Unido cancelaram estudos com cloroquina e hidroxicloroquina. Em 17 de julho, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) publicou um informe em que afirma ser “urgente e necessário que a hidroxicloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer fase da covid-19” diante das novas evidências científicas. A posição dos médicos não mudou a opinião do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que defende a adoção da cloroquina desde o começo da pandemia. Ele teve covid-19 e declarou que tomou cloroquina para se tratar. Hoje, o Ministério da Saúde tem quatro milhões de comprimidos em estoque. O Comprova já verificou diversos conteúdos que defendiam o uso da cloroquina, como estudos sem comprovação científica e declarações polêmicas de médicos. Por que investigamos? O Comprova verifica informações sobre políticas públicas do governo federal e a pandemia de covid-19 sempre que os conteúdos tenham grande viralização. É o caso do tuíte do deputado federal Eduardo Bolsonaro, que até a data de publicação teve mais de 16 mil interações e 84 mil visualizações do vídeo incluído na postagem. A cloroquina e a hidroxicloroquina se tornaram objeto de discursos políticos desde que os presidentes dos Estados Unidos, Donald Trump, e do Brasil, Jair Bolsonaro, passaram a defender essas drogas como cura para a covid-19. A postagem de Eduardo se insere nesse contexto, ao insinuar que a prefeitura de São Paulo estaria “atrasada” na adoção da hidroxicloroquina em relação ao governo federal. O fato de Bruno Covas ser o alvo é relevante, pois ele é um aliado político do governador de São Paulo, João Doria. No início da pandemia, as medidas de distanciamento social também foram objeto de disputa, pois Bolsonaro se opôs às regras, contrariando recomendações de autoridades de saúde nacionais e estrangeiras. Nesse ponto, Doria se tornou antagonista do presidente e virou alvo de críticas de seus apoiadores. No auge da disputa, o governador chegou a afirmar que o presidente “despreza vidas” e deveria começar “a ser um líder, se for capaz”. Bolsonaro, por sua vez, acusou Doria de usar a crise como palanque para as eleições presidenciais de 2022 e chamou o governador de São Paulo de “bosta” em reunião ministerial tornada pública. Enganoso, para o Comprova, é todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. É o caso do vídeo com as declarações de Covas que, apesar de verdadeiro, é antigo.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
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COMPROVA
Médica cita estudos não conclusivos para sugerir conspiração contra cloroquina
null
2020-07-30
Procurada pelo Comprova, médica enviou 34 estudos para justificar texto que publicou em um site. Nenhum dos estudos é conclusivo sobre a eficácia dos medicamentos citados. Ela também diz que a venda da cloroquina e da ivermectina foi proibida no Brasil, o que não é verdade Conteúdo verificado: Texto publicado no site Diário do Brasil escrito pela médica Helen Brandão, de Goiânia, defende o uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 e sugere haver uma conspiração da indústria farmacêutica para vender medicações mais caras. É enganoso o texto escrito pela médica Helen Brandão defendendo que o uso da cloroquina em pacientes no início da covid-19 elimina o novo coronavírus. No texto, publicado pelo site Diário do Brasil, a médica sugere ainda que a indústria farmacêutica tem conspirado para viabilizar remédios mais caros para tratar a doença. Por isso, segundo ela, há um movimento para proibir a venda de medicações baratas, como a cloroquina e a ivermectina. As informações do texto estão distorcidas ou fora de contexto. Procurada pelo Comprova, Brandão apresentou 34 artigos científicos nos quais afirmou ter se embasado para defender a prescrição da cloroquina e outros compostos, como a ivermectina e o zinco, para pacientes com quadros leves de covid-19. Nenhum deles é conclusivo sobre a eficácia desses medicamentos. Alguns não passaram por teste clínico randomizado, em que voluntários são divididos em dois grupos – um recebe o medicamento em estudo e o outro, placebo. As pessoas dos dois grupos são escolhidas aleatoriamente para evitar que fatores como idade e quadro de saúde influenciem nos resultados. Elas são acompanhados por pesquisadores ao longo de vários meses. Esse tipo de estudo é considerado o melhor para avaliar a eficácia de medicações. Diferentemente do que a médica afirma, a venda da cloroquina e da ivermectina não foi proibida no Brasil. Na verdade, a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou, em 24 de julho, uma norma para que esses medicamentos sejam vendidos com receita médica. E o Ministério da Saúde inclui a cloroquina no protocolo de tratamento para pacientes leves da covid-19. O Comprova fez contato com a médica. Helen Brandão é graduada pela Universidade Federal de Goiás e tem pós-graduação em Dermatologia e Medicina Estética. Como verificamos? O Comprova buscou dados sobre a formação profissional de Helen Brandão na plataforma de currículos acadêmicos Lattes, mantida pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e junto ao Conselho Regional de Medicina de Goiás (CREMEGO). Também encontramos uma página no Facebook da clínica da médica, onde conseguimos o contato telefônico dela. Por WhatsApp, Brandão enviou vários artigos acadêmicos sobre a pandemia. Também buscamos informações online sobre empresas farmacêuticas que a médica citou no texto verificado e no contato por WhatsApp. Além disso, buscamos o posicionamento de autoridades de saúde sobre medicamentos e tratamentos para a covid-19. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 30 de julho de 2020. Verificação Quem é Helen Brandão Helen Brandão é médica e possui registro no Conselho Regional de Medicina do Estado de Goiás (CREMEGO). No Facebook, o Comprova encontrou uma página com seu nome que faz referência a uma clínica privada de procedimentos estéticos em Goiânia. Também encontramos o currículo da médica na plataforma Lattes. De acordo com as informações fornecidas por Brandão, ela possui graduação em medicina pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e pós-graduação em Dermatologia e Medicina Estética. Além disso, informa que fez residência médica em Saúde da Família e Comunidade pela Prefeitura Municipal do Rio de Janeiro. Através de uma troca de mensagens no WhatsApp, Brandão confirmou que faz atendimentos clínicos e de dermatologia em Goiânia. Drogas e estudos Em seu texto, Helen Brandão conta que as discussões envolvendo a hidroxicloroquina a levaram a um “sonho perturbador”, em que ela tinha asas e “conseguia tirar algumas pessoas que ‘subiam’ (…), mas só algumas”. Depois disso, ela escreve, foi pesquisar sobre as drogas e o vírus. “Algumas tabelas e dados me pareciam difíceis de analisar. Mas segui estudando e conversando com colegas que também só queriam entender.” Após falar com o Comprova, Brandão enviou 34 estudos de diversos países para a equipe, sobre variados temas – cloroquina e hidroxicloroquina (12, no total), ivermectina, zinco, colchicina, nitazoxanida, azitromicina e intubação, entre outros. Todos foram analisados e, destes, ao menos 21 têm limitações e são inconclusivos, segundo os próprios autores. É o caso da pesquisa intitulada “Uso preventivo da hidroxicloroquina está associado a um risco reduzido de covid-19 em profissionais de saúde”, que conclui que devem ser realizados estudos mais detalhados, com amostras maiores, utilizando o método do ensaio clínico randomizado controlado – o mais confiável, como o Comprova já explicou. Outro estudo, segundo o qual a cloroquina reduz o risco de morte em pacientes em fase grave da doença se administrada em pequenas doses, foi contestado pelos autores menos de uma semana após a publicação. Também enviado pela médica, o estudo “Eficácia clínica dos derivados de cloroquina na infecção por covid-19: meta-análise comparativa entre o Big Data e o mundo real” tem Didier Raoult entre os pesquisadores – ele é autor de um dos primeiros trabalhos que Brandão leu, como ela conta no site Diário do Brasil. O infectologista francês ganhou projeção internacional durante a pandemia ao propor o uso da hidroxicloroquina contra a covid-19 antes mesmo de ter publicado pesquisa a respeito – o que chegou ao conhecimento de líderes como o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que chamou a droga de “cura milagrosa”. Por isso e por utilizar métodos duvidosos em seus estudos , Raoult, que já apareceu em outras verificações do Comprova, é criticado na comunidade científica. Proibição “Me chamou a atenção a necessidade não só de falar que não funciona mas também proibir o uso das medicações. Medicações que antes eram de venda livre…”, escreve a médica no texto que viralizou. Ela afirma, erroneamente, que a venda, a prescrição ou o uso de algumas drogas teriam sido suspensos no país. Em nenhum momento da pandemia o governo federal, ou qualquer autoridade, retirou medicamentos de circulação. Houve um conflito de ideias entre o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e profissionais da saúde que foram contra a adoção da cloroquina e da hidroxicloroquina no protocolo contra a covid-19. Esse embate levou, inclusive, à demissão do ministro da Saúde Nelson Teich, que se recusou a ampliar o uso da droga para pacientes com quadros leves da covid-19 por falta de evidências científicas. No dia 24 de julho, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) publicou uma resolução que exige que as farmácias retenham receitas das pessoas que queiram comprar cloroquina, hidroxicloroquina, nitazoxanida e ivermectina. Segundo a Anvisa, o objetivo é impedir a compra indiscriminada dos medicamentos. A comercialização deles no país, porém, não está proibida, desde que o paciente apresente a receita médica. Brandão afirma também que pesquisadores não conseguiram documentar ou justificar suas argumentações sobre o “temido efeito” que as drogas causam, as “arritmias graves”. Porém, diversos estudos sobre a cloroquina e a hidroxicloroquina concluem que, além de não serem comprovadamente eficazes contra a covid-19, elas podem causar “eventos arrítmicos potencialmente fatais”, conforme nota da Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac) citada em outra verificação do Comprova. Outros profissionais Além de Didier Raoult, Brandão cita em seu texto o médico Vladimir Zelenko. Ele atua em Nova York e ficou conhecido internacionalmente após afirmar ter obtido “resultados positivos tremendos” em um estudo no qual usou a combinação de hidroxicloroquina, zinco e azitromicina – a pesquisa, porém, sequer foi publicada em um periódico de saúde. A médica brasileira conta ainda ter recebido um alerta ao encontrar em uma edição do livro Princípios de Medicina Interna de Harrison a “descrição da hidroxicloroquina/cloroquina como agente antiviral”. Segundo a 20ª edição da publicação (a mais atual), a hidroxicloroquina pode ser usada com outros remédios para tratar a febre Q crônica. Além de ter publicado diversas verificações mostrando que não há nenhum estudo que comprove a eficácia da cloroquina nem da hidroxicloroquina contra o novo coronavírus, o Comprova conversou com Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, para saber sobre a ação antiviral das drogas. De acordo com ele, “a atividade antiviral da hidroxicloroquina está sendo estudada há décadas; é um medicamento que tem demonstrado atividade in vitro contra uma série de vírus, ou seja, em laboratório, mas essa ação não é vista em humanos”. Conspiração Procurada pelo Comprova, a médica reafirmou que existe uma conspiração contra a cloroquina. “Estão tentando evitar que seja usada. Pois concorre com o Tocilizumabe”, escreveu, por mensagem. Em uma pesquisa sobre o medicamento mencionado, verificamos que, no Brasil, o nome comercial do tocilizumabe é Actemra e a patente é da farmacêutica multinacional Roche. As indicações do laboratório para o uso do remédio são os casos de artrite reumatoide, artrite idiopática juvenil poliarticular e artrite idiopática juvenil sistêmica. Também de acordo com a bula, a ação do tocilizumabe é imunossupressora e não há recomendação de uso quando o paciente apresentar algum tipo de infecção. Durante a pandemia da covid-19, alguns hospitais começaram a utilizar o medicamento no tratamento dos pacientes e relataram bons resultados. A Sociedade Brasileira de Infectologia, a Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e a Associação de Medicina Intensiva Brasileira, porém, publicaram em maio as Diretrizes para o tratamento farmacológico da covid-19, e consideraram que os níveis de confiança nas evidências de eficácia do tratamento com o tocilizumabe eram muito baixas e que o custo era elevado, não recomendando o uso de rotina do medicamento nos casos de covid-19. Além disso, em junho, a Itália descartou o uso da droga no tratamento de pacientes com o novo coronavírus. A médica ainda mencionou no contato com o Comprova, como exemplo da conspiração citada no texto que viralizou, alguns laboratórios farmacêuticos que se beneficiariam com a não indicação da cloroquina no tratamento da covid-19: Gilead, Biotoscana e United Medical. O Gilead é o laboratório que produz o remdesivir, e o Comprova já realizou uma verificação sobre uma suposta conspiração envolvendo a empresa. A Biotoscana, que é colombiana e também foi citada pela médica, registrou, na verdade, prejuízo de mais de R$ 50 milhões no primeiro trimestre de 2020 e atribuiu as perdas financeiras à pandemia da covid-19. A United Medical, de origem uruguaia foi comprada pelo grupo Biotoscana em 2014. Por que investigamos? O Comprova verifica conteúdos de políticas públicas do governo federal e da pandemia de covid-19 que tenham viralizado na Internet. O texto de Helen Brandão publicado no site Diário do Brasil teve 21.917 interações nas redes sociais, segundo a plataforma de monitoramento Crowdtangle, sendo compartilhado por diversas páginas de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no Facebook. Em ao menos dois grupos do Facebook onde a mensagem circulou, o link foi compartilhado junto com uma mensagem que sugeria submeter as pessoas com visão crítica da cloroquina à morte por enforcamento, em referência ao Tribunal de Nuremberg, que julgou crimes de guerras cometidos pelos nazistas durante a Segunda Guerra Mundial. Desde o início da pandemia, o Comprova já mostrou serem enganosos um site com nome de vários médicos que sugeria haver consenso para tratamento do novo coronavírus e vídeos em que médicas sugerem ser comprovado que o uso da hidroxicloroquina e da ivermectina curem a covid-19. Também já mostrou estarem fora de contexto conteúdos que viralizaram recentemente sobre vacinas, medicamentos naturais e sobre o andamento da pandemia no Brasil. Enganoso para o Comprova é todo conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/medica-usa-informacoes-falsas-em-video-para-falar-em-cura-da-covid-19/
COMPROVA
Médica usa informações falsas em vídeo para falar em cura da covid-19
null
2020-07-29
Ao contrário do que afirma uma médica em vídeo que viralizou, tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto as autoridades sanitárias dos Estados Unidos e do Brasil já declararam que ainda não há cura para o novo coronavírus e que as máscaras são uma das poucas medidas eficazes para evitar a propagação do vírus Conteúdo verificado: Um vídeo com informações falsas sobre a covid-19. Nele, uma médica afirma que a doença tem cura: um coquetel de hidroxicloroquina, azitromicina e zinco. Ela também diz que curou mais de 350 pessoas e que as máscaras são desnecessárias. As imagens foram feitas nos Estados Unidos e compartilhadas nos perfis do presidente Donald Trump e de Madonna. Uma versão editada e legendada em português da gravação foi compartilhada pelo Twitter de uma apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O vídeo em que uma médica camaronesa radicada nos Estados Unidos defende um coquetel de medicamentos como cura para a covid-19 e critica o uso de máscaras apresenta informações falsas. Tanto a Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto as autoridades sanitárias dos Estados Unidos e do Brasil já declararam que ainda não há cura para o novo coronavírus e que as máscaras são uma das poucas medidas eficazes para evitar a propagação do vírus. A gravação foi feita nos Estados Unidos e teve ampla viralização em redes sociais, sendo compartilhada até pela cantora Madonna e pelo presidente norte-americano Donald Trump. Twitter, Facebook, Instagram e YouTube derrubaram algumas publicações do vídeo alegando que ele cria desinformação sobre a pandemia. No Brasil, o conteúdo viralizou com legendas em português em uma postagem no Twitter. A equipe do Comprova tentou contato, por meio de mensagem na plataforma, com a mulher que publicou o vídeo, mas não recebeu retorno até a publicação deste texto. Como verificamos? A médica que fala no vídeo aparece nas legendas como Stella Emanuel. Uma busca simples no Google mostrou que a grafia do sobrenome é Immanuel. Com o nome correto, encontramos informações sobre ela em sites de veículos dos Estados Unidos. Também foi possível localizar seu registro profissional no Texas Medical Board (TMB), órgão equivalente ao Conselho Regional de Medicina. Pesquisamos sobre a viralização do vídeo nas plataformas Tweetdeck e CrowdTangle, buscamos informações a respeito do uso de medicações e máscaras no combate à covid-19 em sites oficiais da Organização Mundial da Saúde (OMS), do Center for Disease Control and Prevention (CDC), National Health Service (NHS) e do Ministério da Saúde brasileiro. Também nos embasamos em checagens anteriores feitas pelo Comprova sobre tratamentos para o novo coronavírus. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 29 de julho de 2020. Verificação O vídeo que viralizou pelo Twitter foi gravado em frente ao prédio da Suprema Corte dos Estados Unidos, em Washington D.C., capital do país. Nas imagens, a médica afirma que a covid-19 tem cura, que já tratou mais de 350 pacientes e nenhum morreu. “Esse vírus tem uma cura! Ela se chama hidroxicloroquina, zinco e azitromicina. Eu sei que as pessoas querem falar sobre máscaras. Oi? Vocês não precisa de uma máscara. Tem cura!”, alega. As imagens foram feitas durante o White Coat Summit (Encontro do Jaleco), reunião do grupo de médicos America’s Frontline Doctors (Médicos da Linha de Frente), que questiona o consenso científico sobre o novo coronavírus. O evento foi organizado por um grupo de direita ligado ao Partido Republicano, os Tea Party Patriots. O vídeo foi compartilhado pelo site conservador Breitbart News, chegando a 13 milhões de visualizações. A gravação ganhou ainda mais notoriedade depois que foi postada na página do Twitter do filho mais velho do presidente norte-americano, Donald Trump Jr, que escreveu que as imagens “precisavam ser vistas”. A plataforma tirou o vídeo do ar e suspendeu o acesso de Trump Jr. por 12 horas, alegando que o tuíte disseminava informações falsas. Mas o pai dele, Donald Trump, já tinha compartilhado o conteúdo para mais de 84 milhões de seguidores. Além do Twitter, Facebook e YouTube tiraram o vídeo de suas plataformas também sob a alegação de que ele espalha desinformação sobre a covid-19. Stella Immanuel reclamou da decisão. “Se a minha página não voltar o Facebook vai cair em nome de Jesus”, escreveu. No dia seguinte, a médica publicou uma outra versão do vídeo, gravada de outro ângulo mas com as mesmas informações, em seu perfil no Twitter. Outros famosos compartilharam o vídeo. A cantora Madonna publicou as imagens no Instagram. A plataforma marcou o post como falso e, menos de 24 horas depois, a artista deletou a postagem. Aqui no Brasil, as imagens foram compartilhadas por Paula Marisa, uma apoiadora do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) com mais de 147,9 mil seguidores no Twitter. Seu perfil a identifica como jornalista e especialista em educação e tem, entre os seguidores, o próprio presidente e seus filhos Flávio, Carlos e Eduardo. Os ministros Onyx Lorenzoni (Cidadania) e Ernesto Araújo (Relações Exteriores) também a seguem. Muitas das postagens de Paula minimizam a situação da pandemia. Um dos compartilhamentos feito na rede é de uma postagem do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) creditando o aumento de casos de covid-19 no Rio Grande do Sul ao frio — e não à reabertura do comércio na região. Além de compartilhar o vídeo investigado nesta verificação, Paula publicou uma notícia acusando as redes sociais de censura depois de apresentarem outras checagens em que ele foi considerado falso. O Comprova entrou em contato com ela por meio do Twitter, mas não recebeu retorno até a publicação deste texto. Quem é a médica que aparece no vídeo? Stella Immanuel é médica de Camarões radicada no Texas, nos Estados Unidos. Seu registro no Texas Medical Board (TMB) é válido até novembro de 2020. No vídeo verificado, Immanuel afirma que conhece bem a hidroxicloroquina porque a prescrevia para o tratamento da malária na Nigéria, onde estudou medicina. Segundo o TMB, a médica se formou na University of Calabar, na Nigéria, e fez a residência em pediatria em Nova Iorque. Ela tem uma clínica privada na cidade de Houston. Immanuel também é pastora evangélica e em seus sermões costuma fazer declarações polêmicas sobre assuntos relacionados à medicina. Já afirmou que relações sexuais com demônios são a origem de doenças ginecológicas, que o DNA de aliens é usado em tratamentos médicos e que cientistas estão desenvolvendo uma vacina para acabar com as religiões. “Eles encontraram o gene na mente das pessoas que faz com que você seja religioso e agora podem vacinar contra isso”, disse. Depois da fama conquistada pela gravação verificada aqui, Immanuel publicou um outro vídeo em que exige que jornalistas e médicos, como Anthony Fauci — chefe do National Institute of Allergy and Infectious Diseases, consultor técnico da Casa Branca e um dos principais especialistas em doenças infecciosas nos Estados Unidos —, cedam amostras de urina para provar que não estão tomando hidroxicloroquina secretamente. Ela também pediu que o presidente Donald Trump a recebesse na Casa Branca. Covid-19 tem cura? O Center for Disease Control and Prevention (CDC) dos Estados Unidos e a OMS são categóricos: não há cura para a covid-19. Uma série de medicamentos e vacinas estão em estudo mas, por enquanto, nenhum teve a eficácia totalmente comprovada. Por isso, as medidas indicadas para a prevenção do novo coronavírus são não farmacológicas, como a higienização de mãos e superfícies, o distanciamento social e o uso de máscaras. Hidroxicloroquina não tem eficácia comprovada A médica defende um coquetel para tratar pacientes de covid-19: a hidroxicloroquina, a azitromicina e o zinco. Nenhum desses medicamentos têm eficácia cientificamente comprovada contra o novo coronavírus. O zinco é um suplemento alimentar e a azitromicina é um antibiótico, ou seja, é indicada para o combate de bactérias. Alguns médicos têm prescrito a droga para evitar o surgimento de infecções oportunistas em pacientes de covid-19. A hidroxicloroquina e a cloroquina são drogas para o tratamento da malária e de doenças autoimunes, como lúpus. O uso das substâncias em tratamento de pacientes com covid-19 surgiu por causa de um estudo de 2005, que indicava efeitos positivos contra outros tipos de coronavírus em laboratório. Mas os testes em humanos nunca aconteceram. Em março de 2020, já com a pandemia se espalhando pelo planeta, o médico francês Didider Raoult publicou um estudo afirmando que o uso da cloroquina teria curado 75% dos pacientes com covid-19 em seis dias. A pesquisa foi alvo de críticas da revista Science, referência em pesquisas científicas, e seus resultados foram questionados e considerados incompletos. Mesmo assim as substâncias passaram a ser defendidas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Ele afirmou ter tomado hidroxicloroquina para evitar a infecção pelo novo coronavírus. Ainda assim, a Food and Drugs Administration (FDA), órgão equivalente à Anvisa, revogou a autorização para o uso emergencial da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19 no país. O presidente Jair Bolsonaro seguiu o exemplo e passou a defender o uso da cloroquina no Brasil. Ele ordenou que o Laboratório do Exército produzisse o medicamento e a pressão pela adoção da substância custou o cargo de dois ministros da Saúde. Em 20 de maio, o protocolo adotado pelo Ministério da Saúde brasileiro ampliou a possibilidade do uso das duas drogas para pacientes com sintomas leves da doença – até então, elas eram previstas apenas em casos graves e com monitoramento em hospitais. Estudos publicados no Journal of the American Medical Association (Jama), no British Medical Journal (BMJ) e no New England Journal of Medicine (NEJM) apontaram que pacientes tratados com cloroquina e hidroxicloroquina não tiveram melhores resultados que aqueles que não receberam os mesmos remédios. A OMS e o National Health Service cancelaram estudos com cloroquina e hidroxicloroquina. Neste mês, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) publicou um informe em que afirma ser “urgente e necessário que a hidroxicloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer fase da covid-19” diante das novas evidências científicas. A posição dos médicos não mudou a opinião do presidente Bolsonaro, que teve covid-19 e declarou que tomou cloroquina para se tratar. Hoje, o Ministério da Saúde tem quatro milhões de comprimidos em estoque. O Projeto Comprova já checou conteúdos que defendiam o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina em diversas ocasiões. As verificações mais recentes são sobre um estudo realizado na França e sobre o protocolo de tratamento da covid-19 em Cuba. Máscaras são necessárias Stella Immanuel critica o uso de máscaras alegando que a covid-19 tem cura e, por isso, o equipamento de segurança é desnecessário. Mas em vídeos gravados em sua clínica, Immanuel aparece usando máscara do tipo N95 — que oferece maior proteção. Em outra gravação, publicada em 28 de abril, ela e uma funcionária orientam os pacientes que vão visitar a clínica para que eles higienizem as mãos e usem máscaras. A OMS recomenda o uso de máscaras como parte da estratégia para evitar a transmissão do novo coronavírus, combinado com o distanciamento de pelo menos um metro entre as pessoas, a higienização das mãos e o cuidado para não tocar o rosto ou a própria máscara. A organização reconhece que as máscaras de pano têm efetividade limitada para evitar o contágio, mas recomenda que os governos estimulem o uso em regiões com transmissão comunitária do vírus onde haja capacidade limitada para implementar medidas de controle. A regra vale especialmente para locais onde não é possível manter o distanciamento físico, como transporte público, lojas e ambientes fechados. A OMS também sugere que as máscaras cirúrgicas e N95 sejam destinadas a profissionais de saúde, pacientes com sintomas de covid-19 e familiares e pessoas de grupos de alto risco, como idosos e portadores de comorbidades. O CDC também recomenda o uso de proteções para evitar a disseminação do novo coronavírus. Aqui no Brasil, o Ministério da Saúde passou a recomendar o uso de máscaras caseiras em abril. Elas precisam ser feitas de duas camadas de pano, cobrir totalmente a boca e o nariz e ser justas ao rosto, sem deixar espaço nas laterais. O uso é individual e os equipamentos de proteção não podem ser compartilhados com outras pessoas. Nesta verificação, a equipe do Comprova explica em detalhes como as máscaras ajudam na prevenção. Por que investigamos? Nesta terceira fase, o Comprova faz verificações de conteúdos que versam sobre políticas públicas do governo federal e sobre a pandemia de covid-19 e que tenham grande viralização. O conteúdo verificado aqui, depois de atingir milhões de pessoas ao ser divulgado pelo presidente dos Estados Unidos e por seu filho, continuou circulando nas redes sociais. A publicação no Twitter, objeto da verificação, teve quase 11 mil interações até o dia 29 de julho. O vídeo também apareceu no Facebook, mas com menos alcance — pouco mais de duas mil interações até a mesma data. Pelos comentários é possível deduzir a razão. Um usuário reclama que o conteúdo foi apagado pela plataforma. Mesmo assim ele insistiu, publicando as imagens cinco vezes. “Venci pelo cansaço”, vangloriou-se. No caso do novo coronavírus, a desinformação provocada por conteúdos falsos e enganosos pode promover comportamentos danosos, como uma desmobilização da sociedade diante da suposta existência de uma cura para a doença. Este debate tem sido intenso tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil, uma vez que os respectivos presidentes, Donald Trump e Jair Bolsonaro, têm promovido o uso da hidroxicloroquina apesar da ausência de evidências científicas sobre sua efetividade. A “receita” que Stella Immanuel divulga contra a covid-19, unindo hidroxicloroquina, zinco e azitromicina, circula ao menos desde abril. Naquele mês, o círculo de Donald Trump levou para a fama um médico de Nova Iorque chamado Vladimir Zelenko, que alegava ter “resultados positivos tremendos” com essa combinação. O estudo, entretanto, não fora publicado em nenhum periódico de saúde. Estados Unidos e Brasil são os dois países mais atingidos pela pandemia. De acordo com dados da Universidade Johns Hopkins, até a data desta verificação os americanos haviam registrado 4.396.030 casos de covid-19 e 662.297 mortes. Aqui, 2.483.191 pessoas foram infectadas e o novo coronavírus já custou a vida de 88.539 brasileiros. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. O site norte-americano PolitiFact verificou o vídeo com a fala de Stella Immanuel e concluiu que as alegações são falsas. No Brasil, a Agência Lupa e o Boatos.org também classificaram o conteúdo como falso.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/imagem-de-doria-tomando-vacina-e-de-marco-antes-do-uso-de-mascara-se-tornar-obrigatorio-em-sao-paulo/
COMPROVA
Imagem de Doria tomando vacina é de março, antes do uso de máscara se tornar obrigatório em São Paulo
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2020-07-27
Imagem que circula nas redes sociais é de um trecho de reportagem da Rede Globo que mostra o governador João Doria (PSDB) tomando a vacina anual contra a gripe. A matéria foi veiculada em março, 43 dias antes da publicação do decreto que tornou obrigatório o uso de máscaras em São Paulo Conteúdo verificado: Post no Twitter e no Facebook mostra uma imagem em que o governador de São Paulo, João Doria, é vacinado no braço esquerdo e questiona o fato de ele e a médica não usarem máscara Imagem que mostra o governador de São Paulo, João Doria, sem máscara, tomando vacina está sendo usada fora de contexto e promovendo desinformação nas redes sociais. A foto, que viralizou no Twitter e no Facebook após o início dos testes da vacina contra a covid-19, vem acompanhada de um texto que questiona o fato de o governador e a profissional de saúde que aplica a vacina não usarem máscara. As postagens também sugerem que o tratamento da mídia para este fato seria diferente caso o político vacinado sem máscara fosse o presidente Jair Bolsonaro. A foto que circula nas redes sociais é um frame (imagem estática) de uma reportagem da Rede Globo que mostra Doria tomando a vacina anual contra a gripe. A matéria foi veiculada em março, 43 dias antes do decreto que tornou obrigatório o uso de máscaras no estado de São Paulo ser publicado no Diário Oficial. Ou seja, João Doria não tomou a vacina contra o novo coronavírus que está sendo testada em São Paulo desde o dia 21 de julho. Apenas profissionais da saúde estão recebendo a vacina, ainda em fase de teste – no total, são 9 mil pessoas nesta primeira fase. Como verificamos? No primeiro passo dessa verificação, o Comprova fez uma busca reversa no Google pela imagem que aparece nas redes sociais para descobrir quando ela foi postada na Internet pela primeira vez e em que contexto. Na sequência, para apurar a veracidade do conteúdo investigado, buscamos o decreto que obriga o uso de máscaras em São Paulo e informações sobre quem participará dos testes da vacina contra o novo coronavírus. Por fim, procuramos a assessoria do governador João Doria para verificar se ele participa dos testes da vacina contra a covid-19. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 27 de julho de 2020. Verificação A vacina da gripe As imagens que aparecem nas postagens do Facebook são de uma reportagem do telejornal SP1 exibida pela rede Globo em 23 de março. A matéria anuncia que Doria tomou a vacina da gripe naquela data — que marcou o início da campanha nacional de vacinação, promovida pelo Ministério da Saúde. Ainda no dia 23, no Twitter, Doria postou uma foto recebendo uma dose da vacina. A gripe é causada pelo vírus influenza, enquanto a covid-19 é causada pelo vírus SARS-CoV-2. Hoje começou a campanha nacional de vacinação contra a gripe p/ idosos (a partir de 60 anos) e profissionais da saúde. A vacina não protege contra o coronavírus, mas é essencial para facilitar o diagnóstico, uma vez que os sintomas da Covid-19 são semelhantes aos da gripe comum. pic.twitter.com/g096kJKOAz — João Doria (@jdoriajr) March 23, 2020 O uso de máscaras em São Paulo Os autores da postagem acusam Doria e a profissional da saúde que está aplicando a vacina de descumprirem os protocolos para diminuir a transmissão do novo coronavírus, destacando que ambos não estão utilizando máscaras. Conforme apurado, as imagens datam de 23 de março. A obrigatoriedade do uso de máscaras no estado foi instituída mais de um mês depois, no dia 4 de maio, e passou a valer a partir do dia 7 daquele mês. O descumprimento pode levar à multa que varia entre R$ 524,59 e R$ 1380,50. Os testes com a vacina para o novo coronavírus no estado As imagens de Doria recebendo a vacina da gripe voltaram a viralizar nas redes sociais após o início dos testes de uma potencial vacina da covid-19 em São Paulo, em 21 de julho. Tiradas do contexto, as imagens podem sugerir que, além de desobedecer os protocolos sanitários do estado para o combate da pandemia, o governador tenha participado dos testes e recebido uma dose da vacina experimental. A assessoria do governo de São Paulo afirmou ao Comprova que Doria não tomou a vacina. O governador apenas acompanhou a aplicação das doses nos primeiros voluntários a receberem as doses, no dia 21 de julho Ao todo, nove mil voluntários de seis estados participarão do teste da vacina desenvolvida pelo laboratório chinês Sinovac Biotech no Brasil. Todos precisam ser profissionais de saúde, não podem ter contraído o novo coronavírus e não devem estar participando de outros testes ou tratamentos para prevenção da doença. As mulheres também não podem estar grávidas. Os voluntários se candidataram pela Internet. Por que investigamos? O Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19. Quando se trata de vacinas e tratamentos, a verificação é ainda mais importante porque pode levar as pessoas a tomarem decisões equivocadas que aumentam os riscos de contaminação. Além disso, muitas ondas de desinformação são influenciadas pela polarização ideológica no país. Até o fechamento dessa verificação, no dia 27 de julho, a publicação com a imagem de Doria tinha 66 mil compartilhamentos no perfil de Patrícia Parisotto no Facebook e 1,2 mil curtidas no perfil Paulo de Tarso no Twitter. O Estadão Verifica e a Agência Lupa verificaram este mesmo conteúdo e chegaram a conclusão de que ele é, respectivamente, fora de contexto e falso. O Comprova também já mostrou que os lotes da vacina contra a covid-19 da Sinovac Biotech que chegaram a São Paulo são apenas para testes, e não para imunizar a população, e que o governador João Doria não firmou a parceria para fabricação das vacinas antes do início da pandemia. Enganoso para o Comprova é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/site-engana-ao-afirmar-que-baixa-mortalidade-por-covid-19-em-cuba-e-por-conta-da-hidroxicloroquina/
COMPROVA
Site engana ao afirmar que baixa mortalidade por covid-19 em Cuba é por conta da hidroxicloroquina
null
2020-07-24
Texto distorce declarações de especialista cubano para tentar provar eficácia da cloroquina. Ao Comprova, o próprio médico citado e o coordenador do grupo que enfrenta a covid-19 em Cuba afirmaram que os números do país se devem a um conjunto de fatores Conteúdo verificado: Texto do site Pleno.News que usou trechos de reportagem da agência estatal turca Anadolu sobre a relação da hidroxicloroquina com o baixo número de óbitos por covid-19 em Cuba É enganoso que o bom desempenho de Cuba frente à pandemia de covid-19 seja atribuído ao uso de hidroxicloroquina. É o que afirma, erroneamente, texto do site Pleno.News que viralizou nas redes sociais no Brasil. As informações, baseadas em reportagem da agência de notícias estatal turca Anadolu, foram compartilhadas, por exemplo, pelos deputados federais Carla Zambelli (PSL-SP) e Marco Feliciano (Republicanos-SP). Para fazer a relação entre a hidroxicloroquina e o baixo número de mortes no país, o texto distorce declarações do pesquisador cubano Agustín Lage (grafado como Augustin na postagem veificada), consultor de um grupo de organizações que colabora com o Ministério da Saúde Pública de Cuba. Em entrevista ao Comprova, Lage afirmou ter dito que a droga faz parte do tratamento juntamente com outros medicamentos, mas que não pode ser considerada a única responsável pelo bom desempenho do país no combate à pandemia – informação acrescentada em uma atualização do texto no site Pleno.News em 16 de julho. Entretanto, o Comprova também conversou com Ricardo Pereda, coordenador do grupo para o tratamento da covid-19 no ministério e, de acordo com ele, o protocolo cubano para a doença não inclui a hidroxicloroquina – apenas a cloroquina foi incorporada. Como verificamos? O primeiro passo foi procurar pelos termos “Augustin Lage” e “hydroxychloroquine” no Google para ler a entrevista original do pesquisador cubano. A busca nos retornou uma reportagem publicada pela agência turca Anadolu. O texto afirma que “autoridades médicas cubanas dizem que o país usa a hidroxicloroquina e outras drogas exclusivas para o tratamento contra o novo coronavírus”. Como a Anadolu é estatal, consultamos matérias publicadas em veículos internacionais para saber qual é o posicionamento do governo turco com relação à hidroxicloroquina. Solicitamos informações ao Ministério da Saúde da Turquia em 15 de julho, mas não obtivemos resposta até a publicação desta verificação. O segundo passo foi entrar em contato com Agustín Lage. O texto publicado pela Anadolu diz que ele é consultor do presidente do grupo empresarial BioCubaFarma e ex-diretor do Centro de Imunologia Molecular (CIM) de Havana. Assim, entramos em contato por e-mail e por mensagens no Facebook com as duas instituições, bem como com o Ministério da Saúde cubano, em 16 de julho. Tanto o CIM quanto a BioCubaFarma confirmaram que ele era, respectivamente, ex-diretor e consultor científico. Disseram que passariam nosso contato para o pesquisador, mas não tivemos retorno. O Projeto Comprova, então, solicitou a jornalistas cubanos que participam da aliança de organizações latino-americanas de fact-checking LatamChequea o contato de Lage. Eles nos passaram o e-mail do médico e, assim, conseguimos abordá-lo sobre sua entrevista para a agência turca e também sobre suas afirmações acerca da hidroxicloroquina. Lage ainda nos passou o contato de Ricardo Pereda, coordenador do grupo para o tratamento da covid-19 no Ministério da Saúde Pública de Cuba. Ele nos informou, por e-mail, que o protocolo cubano não inclui a hidroxicloroquina, dado que pudemos confirmar no site Covid19CubaData, enviado por um dos jornalistas cubanos. Com essa informação, tentamos falar novamente com Lage, mas ele não respondeu mais os e-mails até a publicação deste texto. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 24 de julho de 2020. Verificação Texto da agência Anadolu A agência estatal turca Anadolu publicou, em 10 de julho, uma reportagem sobre o tratamento precoce da covid-19 em Cuba. A matéria entrevista o médico cubano Agustín Lage, identificado como “consultor do presidente da BioCubaFarma e ex-diretor do Centro de Imunologia Molecular de Havana”. O conteúdo dá destaque ao uso da hidroxicloroquina no tratamento. Segundo Lage afirma na reportagem, os médicos cubanos estão cientes da “polêmica” envolvendo o medicamento, mas “consideram positivos os resultados” que sua prescrição alcançou. Ainda nas palavras do médico, a hidroxicloroquina “é usada nos estágios iniciais da doença em pacientes sem comorbidades, uma vez que a droga poderia agravá-las”. Em seguida, ele nega que a hidroxicloroquina seja “o principal produto usado no protocolo de tratamento da covid-19” e destaca o papel da BioCubaFarma no combate à pandemia, uma vez que alguns dos remédios são produzidos em Cuba. O governo da Turquia considera a prescrição de hidroxicloroquina como um fator preponderante no combate à pandemia no país, conforme disse à rede norte-americana CBS um dos consultores do grupo montado para atuar contra a pandemia. Já a rede britânica BBC mostrou o entusiasmo do diretor de um hospital onde é utilizado o protocolo de tratamento com o medicamento. Ambos os textos lembram que estudos ao redor do mundo falharam em provar a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 (veja mais abaixo). O que diz Agustín Lage O médico afirmou por e-mail ao Projeto Comprova que o propósito de sua entrevista para a agência Anadolu era falar dos produtos da biotecnologia cubana. “Ao que parece, os jornalistas estavam especialmente interessados nestes dois medicamentos (cloroquina e hidroxicloroquina), por isso, lhe deram maior visibilidade (no texto)”, disse o especialista. Questionado se a hidroxicloroquina é um dos medicamentos responsáveis pelo baixo número de mortes pela covid-19 em Cuba, Lage respondeu falando sobre a cloroquina – os dois medicamentos levam a mesma substância (a cloroquina), mas têm efeitos distintos, segundo reportagem do UOL. Ao Comprova, Lage escreveu: “Eu não disse que a cloroquina foi responsável pela baixa mortalidade da covid-19 em Cuba. Este é um dos medicamentos, dentre outros. Na verdade, a baixa mortalidade no país é resultado da política de saúde estabelecida em plano único que envolve muitos ministérios e organizações do Estado e que inclui ações epidemiológicas e clínicas”. Depois de conversar com Pereda, do Ministério da Saúde Pública de Cuba, e ser informado de que o país não inclui a hidroxicloroquina em seu protocolo, o Comprova tentou falar novamente com Lage, mas ele não respondeu as perguntas enviadas por e-mail. Protocolo da covid-19 em Cuba Diferentemente do que afirma o texto da Anadolu, Cuba não usa a hidroxicloroquina, conforme contou ao Comprova Ricardo Pereda, coordenador do grupo central para tratamento da covid-19 do Ministério da Saúde Pública cubano. A informação também foi confirmada no site Covid19CubaData, que apresenta os medicamentos usados em cada versão do protocolo cubano e é utilizado pelo governo. “A partir da segunda versão do protocolo, utilizamos a cloroquina; não dispusemos de hidroxicloroquina”, afirmou, por e-mail, Pereda. Na quarta atualização do protocolo, o país passou a utilizar a cloroquina em conjunto com outras drogas em pacientes testados positivos para covid-19 e com sintomas clínicos de evolução para uma piora. De acordo com o especialista, os protocolos cubanos se baseiam em terapias combinadas com medicamentos resultantes da biotecnologia nacional e uma nova versão do protocolo vai ser lançada oficialmente nos próximos dias. Questionado sobre se a cloroquina é uma das responsáveis pelo baixo número de vítimas do novo coronavírus em Cuba, como afirma o texto verificado, Pereda foi categórico: “Não é uma droga. É uma estratégia epidemiológica de intervenção em escala nacional, a partir de um plano nacional dirigido pelo estado, no qual todos participam”. E acrescentou que o sucesso também é resultado de medidas como o isolamento de contatos suspeitos e confirmados, o tratamento no início dos sintomas – e tratamentos para as diferentes fases da doença – e a combinação de medicamentos. “Não existe, até agora, um medicamento de total eficácia comprovada, que seja o responsável pelos resultados favoráveis”, esclareceu. No contato com o Comprova, Pereda afirmou que “toda a sociedade, de uma forma ou de outra, participou do combate à covid-19” e exemplificou medidas como “a educação da população, a informação correta, a total transparência da informação a que o povo tem acesso diariamente e as campanhas educativas em todos os meios disponíveis”. BioCubaFarma e Centro de Imunologia Molecular de Havana Segundo Lage, a BioCubaFarma é um grupo de 32 empresas da área farmacêutica e de biotecnologia, que colabora estreitamente com o Ministério da Saúde Pública de Cuba, mas não faz parte dele. A instituição atua em diferentes programas de saúde do governo por meio de pesquisas e fornecimento de diferentes remédios – é responsável pelo fornecimento de 60% dos medicamentos considerados essenciais em Cuba, inclusive de alguns para o tratamento da covid-19, “garantindo a cobertura nacional e o acesso universal gratuito para o paciente”. A empresa não participa da formulação do protocolo de tratamento. Já o Centro de Imunologia Molecular (CIM) de Havana, que Agustín dirigiu até 2018 e atualmente mantém relações como docente, é um centro de pesquisa. Seu campo de atuação é o tratamento de câncer e outras doenças não infecciosas. Por isso, conforme explicou Lage, o papel do CIM no combate da covid-19 tem sido prestar apoio para outras instituições de atuação mais direta. Hidroxicloroquina e cloroquina Em 20 de maio, o protocolo adotado pelo Ministério da Saúde brasileiro ampliou a possibilidade do uso das duas drogas para pacientes com sintomas leves da doença – até então, elas eram previstas apenas em casos graves e com monitoramento em hospitais. A publicação foi uma pressão política do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e custou o cargo do então ministro da Saúde Nelson Teich. O documento, porém, ressalta que não há comprovação da eficácia das medicações e deixa sua prescrição a critério dos médicos. Também em maio, o Journal of the American Medical Association (Jama) e o British Medical Journal (BMJ) publicaram pesquisas questionando a eficácia tanto da cloroquina quanto da hidroxicloroquina. Os resultados dos estudos apontaram que pacientes tratados com essas drogas não tiveram melhores resultados que aqueles que não receberam os mesmos remédios. Em junho, pesquisadores do Recovery, estudo clínico conduzido no Reino Unido, afirmaram não haver benefício no uso da hidroxicloroquina em pessoas com covid-19. A Organização Mundial de Saúde (OMS) informou no dia 4 de julho deste ano que aceitou a recomendação do Comitê Diretor Internacional do Estudo de Solidariedade – grupo de estudos clínicos, do qual participam 5500 pacientes em 21 países – para interromper os estudos sobre hidroxicloroquina devido aos baixos resultados e avanços na redução da mortalidade de pacientes com covid-19 hospitalizados. “Esses resultados provisórios mostram que a hidroxicloroquina e o lopinavir/ritonavir produzem pouca ou nenhuma redução na mortalidade de pacientes com covid-19 hospitalizados quando comparados ao padrão de atendimento. Os investigadores do estudo interromperam os estudos com efeito imediato”, explica a declaração, no site da OMS. No dia 17 de julho, a Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) publicou um informe no qual, diante de novas evidências científicas, afirma ser “urgente e necessário que a hidroxicloroquina seja abandonada no tratamento de qualquer fase da covid-19”. Por que investigamos? O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19 que viralizam nas redes sociais. As ondas de desinformação são pautadas pela polarização e o mesmo padrão se repete na pandemia. A hidroxicloroquina e a cloroquina foram levadas para o centro da disputa ideológica após os presidentes Donald Trump, dos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, do Brasil, defenderem seu uso – mesmo sem comprovação científica. A Organização Mundial da Saúde (OMS) salienta que até o momento não há tratamento ou vacina disponível para a covid-19. Apesar disso, cada país adota um protocolo de tratamento dos sintomas e de apoio aos doentes que considerar melhor. Por isso, os protocolos de outros países são comumente tirados de contexto para avalizar um tipo ou outro de remédio. O Comprova já desmentiu que a África tivesse controlado a pandemia apenas com o tratamento do vermífugo ivermectina. Tampouco o uso da cloroquina seria responsável pela situação da covid-19 no Senegal. O texto publicado pelo site Pleno.News teve mais de 247 mil interações até a publicação desta checagem, segundo a ferramenta de monitoramento de redes sociais CrowdTangle. As informações foram compartilhadas por outros blogs como o Gazeta Brasil e também serviram de fonte para post dos deputados federais Carla Zambelli (PSL-SP) e Marco Feliciano (Republicanos-SP) Enganoso, para o Comprova, é todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. ATUALIZAÇÃO: Esta verificação foi atualizada em 12 de março de 2021 para deixar mais clara a diferença entre o nome correto de Agustín Lage e Augustin Lage, forma como foi mencionado na postagem verificada pelo Comprova.
https://i0.wp.com/projet…=541%2C277&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/vacinas-para-covid-19-que-chegaram-ao-brasil-sao-para-testes-e-nao-para-imunizacao-da-populacao/
COMPROVA
Vacinas para covid-19 que chegaram ao Brasil são para testes e não para imunização da população
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2020-07-24
Publicação no Instagram comemorava a chegada da vacina sem dizer que se tratava de um lote para teste em voluntários. O autor corrigiu a informação depois de alertado pelo Comprova Conteúdo verificado: Post no Instagram do ginasta Diego Hypolito que comemorou a chegada à São Paulo dos primeiros lotes da vacina chinesa contra a covid-19 É enganosa uma postagem no perfil de Instagram do ex-ginasta Diego Hypolito que comemorava a chegada da vacina para a covid-19 no Brasil sem explicar que se tratavam de doses ainda em fase de testes. Após troca de mensagens com o Comprova, em 22 de julho, Hypolito acrescentou na legenda do post a informação de que são vacinas ainda sendo testadas. Embora o ginasta tenha corrigido a informação, o Comprova fez a verificação do conteúdo para alertar as milhares de pessoas que acessaram o post original nos dois dias em que a informação enganosa permaneceu no ar. O post, de 20 julho, apresenta uma montagem com duas fotos e o título “Avião com lotes da vacina chinesa contra a covid-19, (sic) chegou nesta segunda-feira (20) em São Paulo”. As imagens são de uma medicação etiquetada como vacina do novo coronavírus e de um avião sendo descarregado. Na data da postagem, lotes da vacina produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech chegaram ao aeroporto de Cumbica, em São Paulo. Trata-se de um lote que será testado por voluntários brasileiros — parte de um acordo firmado entre a empresa e o governo paulista. Ao mencionar apenas a chegada do lote, o conteúdo induz à interpretação de que se trata de uma imunização definitiva. Ainda há diversas etapas a serem cumpridas no processo de testagem até que a vacina seja aprovada e comercializada. Veja mais abaixo quais são elas. Como verificamos? Para fazer esta verificação, o Comprova buscou informações sobre a chegada das doses de vacina contra a covid-19 produzidas pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech ao Brasil. Pesquisamos sobre o assunto nos sites do Instituto Butantan e do governo de São Paulo que, juntos, fizeram uma parceria com a companhia chinesa para participar dos testes. Procuramos por Diego Hypolito, autor da postagem, para identificar a fonte da informação. Ele alterou a legenda do post após o contato com Comprova e acrescentou se tratar de uma vacina em fase de testes. Por fim, usamos mecanismos de busca reversa do Google para encontrar a origem das duas imagens usadas na publicação de Diego e verificar se elas, de fato, se referiam à chegada da vacina a São Paulo. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 24 de julho de 2020. Verificação A postagem Publicada em 20 de julho no perfil do ex-ginasta Diego Hypolito no Instagram, a postagem era um agradecimento a Deus pela chegada das vacinas ao Brasil. O post apresenta o logo e a marcação da página Fuxiquei na rede social. Ao entrar no perfil, o Comprova encontrou a publicação original, também datada de 20 de julho, que apenas na descrição informava se tratar de uma vacina a ser usada em ensaios clínicos. Procurado pelo Comprova em 22 de julho, Diego confirmou ter retirado o conteúdo do Fuxiquei e perguntou se a notícia era falsa. Ao saber que o título podia render outra interpretação — já que a vacina segue em fase de testes e ainda não é garantida —, alterou a descrição da imagem. Após o agradecimento pela chegada do lote de vacinas, adicionou a frase: “Estão em fase de teste ainda”. Ele declarou, em áudio do WhatsApp, ter ficado feliz com a notícia da chegada das vacinas e disse ter acrescentado a descrição sobre a fase de testes por preocupação com a proliferação de “fake news” em torno do tema. Foto retirada de banco de imagens A imagem utilizada pelo Fuxiquei é uma montagem com duas fotos. Uma delas é de uma medicação que apresenta um rótulo de “vacina para covid-19”. Ao clicar na imagem e realizar a busca reversa no Google, o Comprova chegou ao site Pos Belitung, da Indonésia, que creditava a foto ao banco de imagens iStockPhoto. No iStock, banco de imagens ligado ao Getty Images, encontramos a foto após uma busca pelos termos “vacina” e “coronavírus”. A imagem é descrita como “ilustrativa” e foi publicada em 16 de março de 2020. O fotógrafo Manjurul é creditado como o autor. Já a busca reversa pela foto do avião, também aplicada em busca reversa no Google, levou a uma matéria da TV Globo sobre o descarregamento das vacinas vindas da China no Brasil. A imagem é a mesma que ilustra a notícia do G1 a respeito da chegada do lote no aeroporto de Cumbica, em São Paulo. As vacinas O governo de São Paulo anunciou, em 11 de junho, uma parceria entre o Instituto Butantan e a empresa farmacêutica chinesa Sinovac Biotech para a realização de testes de uma vacina capaz de prevenir a covid-19. Um acordo de confidencialidade com a Sinovac havia sido firmado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) no dia 12 de maio de 2020. O termo foi publicado no Diário Oficial do estado em 5 de junho. O Comprova já havia mostrado que a parceria do governo de São Paulo com a Sinovac não foi firmada antes do início da pandemia. Os testes foram autorizados pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no início de julho. Já havia sido definido que o estudo clínico envolveria nove mil pessoas. O governo paulista passou, então, a recrutar voluntários para os testes. Para se candidatar, era preciso ser profissional de saúde, estar atuando no tratamento de pacientes com o novo coronavírus e ainda não ter sido infectado pelo SARS-CoV-2. Também era necessário não ter se submetido a outros estudos de prevenção à doença, nem ter doenças instáveis ou que demandem medicações capazes de alterar a resposta imune. Além disso, grávidas não podiam participar. O voo que trouxe os lotes da vacina ao Brasil partiu de Frankfurt, na Alemanha, e chegou ao Aeroporto Internacional de São Paulo, em Guarulhos, na madrugada do dia 20 de julho. Imagens publicadas pela TV Globo e pelo jornal Folha de S.Paulo mostram o descarregamento da aeronave da empresa aérea alemã Lufthansa. O ângulo da foto, a máquina de descarga e o transporte são os mesmos que aparecem na imagem do conteúdo verificado. Os primeiros testes clínicos começaram no dia seguinte, 21 de julho, em voluntários que trabalham no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, unidade de referência no tratamento da covid-19. Ao todo, nove mil pessoas participarão do teste em 12 centros de pesquisa de seis estados do país. Metade delas receberá a vacina e outra metade receberá um placebo para que seja possível comparar a resposta imune. Em ambos os casos, os compostos serão aplicados duas vezes, com a diferença de 14 dias entre cada dose. Além do Hospital das Clínicas da USP, que coordena o estudo, também participam da pesquisa no estado o Instituto de Infectologia Emílio Ribas, o Hospital Israelita Albert Einstein, a Universidade Municipal de São Caetano do Sul, o Hospital das Clínicas da Unicamp, a Faculdade de Medicina de Rio Preto e o Centro de Saúde Escola da Faculdade de Medicina da USP de Ribeirão Preto. Nos demais estados, funcionarão como centros de pesquisa o Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), no Rio de Janeiro; a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Belo Horizonte; a Universidade de Brasília (UnB), na capital federal; o Hospital das Clínicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), em Curitiba; e o Hospital São Lucas da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS), em Porto Alegre. Os voluntários serão acompanhados durante três meses por uma equipe científica. Se a imunização se provar segura e eficaz, o Butantan produzirá 120 milhões de doses a partir do início de 2021. Segundo o instituto, nessa fase, a vacina será disponibilizada para todo o país, não só para São Paulo, através do Sistema Único de Saúde (SUS). Por que investigamos? O Comprova verifica conteúdos virais sobre a pandemia do novo coronavírus que pareçam suspeitos ou possam levar a interpretação equivocada das pessoas sobre tratamentos e medidas de prevenção contra a doença. É o caso desta checagem sobre a chegada ao Brasil dos primeiros lotes, ainda em fase de testes, da vacina contra a covid-19 produzida pela farmacêutica chinesa Sinovac Biotech. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que induz a uma interpretação diferente de seu significado original. O Comprova já desmentiu que a parceria com a Sinovac havia sido firmada antes do início da pandemia e verificou boatos sobre a descoberta de curas da doença por meio de anticorpos, corticoides, e de medicamentos como a cloroquina e a ivermectina. Além disso, a Agência Lupa atestou que a primeira voluntária dos testes tomou a vacina, ao contrário do que alegavam postagens nas redes sociais. O Estadão Verifica mostrou que a OMS não recomendou a compra da vacina chinesa e que o composto passou por testes na China antes de chegar ao Brasil. O Aos Fatos e o Boatos.org também já desmentiram conteúdos sobre vacinas contra a covid-19. A publicação de Diego Hypolito somava 3,6 mil interações no Instagram até a publicação desta investigação. O alcance da página Fuxiquei, de onde ele reproduziu o conteúdo, atingiu 55,7 mil curtidas na rede social.
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['Projeto Comprova']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/tuite-engana-ao-afirmar-que-vacinas-usam-celulas-de-fetos-abortados/
COMPROVA
Tuíte engana ao afirmar que vacinas usam células de fetos abortados
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2020-07-24
Linhagens celulares desenvolvidas a partir de tecidos humanos são comuns em pesquisas científicas. As células de uma linhagem servem como “pequenas fábricas” para que os vírus atenuados possam se multiplicar e não fazem parte da composição da vacina Conteúdo verificado: Texto do site Estudos Nacionais afirma que a vacina em testes no Brasil é produzida com células de fetos abortados. O artigo foi publicado originalmente no site Brasil Livre em junho. Mas viralizou na última semana depois de ser reproduzido pelo Estudos Nacionais e divulgado pelo Twitter. Uma postagem que viralizou no Twitter na última semana engana os leitores ao insinuar que a vacina contra a covid-19 desenvolvida pela Universidade de Oxford é “produzidas (sic) a partir de células de bebês abortados”. A postagem traz o link para um artigo na página Estudos Nacionais em que o autor diz que a vacina foi produzida “usando uma linha de células renais fetais humanas chamada HEK-293”. Como o próprio artigo já explica, as células foram retiradas de um feto abortado legalmente na Holanda nos anos de 1970 e desenvolvidas em laboratório a partir da imortalização — ou seja, a capacidade perene de divisão. Elas deram origem à linhagem de células HEK-293 (a sigla vem do inglês “human embryonic kidney”, ou seja, rim de embrião humano), que desde então é usada na indústria farmacêutica em todo o mundo. Linhagens celulares desenvolvidas a partir de tecidos humanos são comuns em pesquisas científicas. A HEK-293 é a mais comum, mas a PER. C6 (também de origem fetal) e a HeLa (feita com tecido retirado de uma mulher adulta) são exemplos de outras linhagens usadas. As culturas servem para que os cientistas entendam como determinada substância age nas células humanas, sem a necessidade de colocar vidas de pacientes em risco. No caso das vacinas, as células da linhagem servem como “pequenas fábricas” para que os vírus atenuados possam se multiplicar (veja mais detalhes abaixo) e não fazem parte da composição do produto final. A postagem é enganosa, pois induz o leitor a acreditar que bebês são abortados para que a vacina possa ser produzida. Essa confusão fica clara nos comentários no Twitter. “Não tomarei”, disse um deles. “Tome a vacina e tenha sangue inocente nas mãos”, escreveu uma mulher. Outra especulou: “Meu Deus, isso tudo pra (sic) liberarem o aborto, tem método”. “Prefiro pegar o (sic) Covid e me tratar com Hidroxicloroquina”, resumiu um dos usuários que comentou o tuíte. Pesquisadores são categóricos ao afirmar que o uso das linhagens celulares não provoca novos abortos. Como verificamos? O tuíte que viralizou nos levou até o texto postado no Estudos Nacionais. Na página há um link, indicando que o artigo foi originalmente publicado pelo portal Brasil Livre. Para analisar se houve alterações entre o texto que viralizou, publicado em julho pelo Estudos Nacionais, e o texto publicado em junho pelo Brasil Livre, comparamos os dois conteúdos. Ao chegar à conclusão de que não houve alterações, entramos em contato por e-mail com as equipes responsáveis pelos dois sites, questionando sobre fontes e referências utilizadas na elaboração do texto. Recebemos um e-mail de resposta do site Estudos Nacionais, em que outras referências foram listadas. Verificamos o conteúdo e a razoabilidade de cada uma dessas referências. Além disso, checamos os hiperlinks presentes no texto publicado pelo Estudos Nacionais. A fonte especificada tanto nesse site quanto no Brasil Livre é um portal chamado Life Site News, dos Estados Unidos. Pesquisamos sobre a orientação ideológica do site, que se diz “pró-vida” e procuramos o conteúdo relacionado, em inglês. A equipe do portal Brasil Livre só respondeu depois de duas semanas. Eles também enviaram uma lista de links, que consultamos, mas em nada mudaram o conteúdo desta verificação. [Atualização: este parágrafo foi incluído em 7 de agosto para incorporar resposta do portal] Para entender sobre como a comunidade científica enxerga o uso de células HEK-293 em pesquisas e o histórico dessa metodologia, acessamos artigos científicos e publicações de veículos jornalísticos sobre o assunto. Também entramos em contato com Cristina Bonorino, imunologista, professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia. A conversa com a pesquisadora também nos ajudou a verificar a razoabilidade dos processos de produção de vacinas mencionados no texto que viralizou. Como o conteúdo publicado pelo Estudos Nacionais menciona a vacina que está sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), entramos em contato com a assessoria da fundação. Também tentamos falar com a assessoria da Unifesp, citada no texto viral como a responsável pela realização dos testes da vacina. Tanto a assessoria da Unifesp quanto a da Fiocruz alegaram que há muita demanda por causa da pandemia e que não poderiam responder até o momento da publicação. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 24 de julho de 2020. Verificação A vacina que está sendo desenvolvida pela Universidade de Oxford em parceria com o laboratório AstraZeneca começou a ser testada no Brasil em junho. A tecnologia utilizada é conhecida como “vetor viral recombinante”. Um adenovírus (grupo de vírus que originalmente causam doenças respiratórias, como resfriados) é modificado e passa a carregar proteínas do SARS-CoV-2. Os vírus modificados são introduzidos em células humanas, que funcionam como pequenas fábricas para produzir adenovírus atenuados, que não podem se multiplicar, mas carregam genes do novo coronavírus. Ao serem introduzidos no corpo humano, os vírus modificados provocam uma resposta do sistema imunológico, que passa a produzir anticorpos e linfócitos T para combater o novo coronavírus. Em entrevista ao Comprova, Cristina Bonorino, imunologista, professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia, explicou: “Um vetor viral é um vírus que não se replica, não se divide: apenas infecta uma célula, levando dentro dele material genético parcial do vírus para o qual você quer gerar a resposta. Ele é útil pois ativa mecanismos que geram tanto anticorpos como linfócitos T, que podem matar as células infectadas”. Células embrionárias A polêmica está na linhagem celular usada nesse processo. De acordo com um artigo publicado em junho na revista Science, pelo menos cinco vacinas contra a covid-19 em desenvolvimento hoje no mundo, inclusive a de Oxford, usam culturas de células de origem embrionária. A mais comum é conhecida como HEK-293, desenvolvida a partir do tecido renal colhido de um feto abortado legalmente na Holanda em 1973. As células foram alteradas geneticamente para que pudessem ser reproduzidas em laboratório. “Uma linhagem celular é algo estabelecido a partir da imortalização – ou seja, a capacidade perene de divisão – de uma célula, em geral usando um vírus, como foi nesse caso, um adenovírus”, afirmou Bonorino. A linhagem HEK-293 é usada até hoje, mundialmente, em pesquisas de medicamentos e vacinas. A importância de utilizar linhagens celulares de origem humana em pesquisas desse tipo, segundo Bonorino, é que “para fabricar proteínas que funcionem em seres humanos, elas precisam ser sintetizadas por células humanas”. A pesquisadora completa: “Há uma série de processos na célula que são necessários para finalizar a proteína. Por exemplo, a vacina da Hepatite B, que consiste em uma única proteína do vírus. Se ela não for fabricada em uma célula humana, ela não vai gerar a resposta adequada na pessoa vacinada”. Bonorino esclareceu também que “as células [embrionárias] não entram na composição da vacina. Apenas a proteína produzida por elas, ou o vírus replicado nelas, que sai da célula e fica no meio de cultura, é coletado e purificado para a formulação vacinal”. Não é necessário mais tecido fetal para manter as células se multiplicando, ou seja, o uso da cultura HEK 293 não provoca novos abortos. O texto que viralizou traz também a informação de que há uma alternativa para a produção de vacinas, a partir do RNA das células, sem a necessidade de utilizar proteínas virais. Elas aparecem na lista publicada pela Organização Mundial da Saúde (OMS) com as vacinas contra a covid-19 em estudo. As vacinas de RNA são sintéticas e não dependem de linhagens celulares para serem produzidas. “Mas são as primeiras de sua geração, então não sabemos ainda como funcionarão a longo prazo”, afirmou Bonorino ao Comprova. Por isso a importância de se utilizar as linhagens celulares durante a pandemia, quando há uma corrida internacional pela produção de uma vacina eficiente contra a covid-19 em tempo recorde. As linhagens celulares não causam novos abortos. Ainda assim, já há alguns anos grupos católicos e antiaborto dos Estados Unidos e do Canadá pressionam governantes a incentivar o desenvolvimento de vacinas que não usem culturas de células de origem embrionária. O lobby se intensificou com a busca por uma vacina contra o novo coronavírus. Em abril e maio deste ano, bispos chegaram a escrever às autoridades sanitárias dos dois países questionando a ética no uso desses tecidos. A Food and Drug Administration (que corresponde à Anvisa norte-americana) afirmou em maio que “a impossibilidade de usar essas células privaria os Estados Unidos de vacinas que salvam vidas”. Em resposta a essas preocupações, no ano passado o governo norte-americano impediu que cientistas ligados à administração pública usem culturas de células retiradas de fetos abortados recentemente, mas não baniu o uso de linhagens que já existem há décadas, como a HEK-293 e a PER. C6. A linhagem PER. C6 foi desenvolvida na década de 1980 por um laboratório do grupo Johnson & Johnson, com material retirado da retina de um feto abortado legalmente em 1985. Outra linhagem importante e mais antiga, mas sem origem embrionária, é a HeLa, derivada de células obtidas a partir do câncer de colo de útero da norte-americana Henrietta Lacks, em 1951. Essa linhagem foi utilizada no desenvolvimento da vacina contra a poliomielite. As linhagens de células embrionárias foram usadas no desenvolvimento de outras vacinas populares no mundo, como contra sarampo, hepatite A, rubéola e catapora. Em 2005, o Vaticano publicou um documento — reafirmado em 2017 — em que dizia que, na falta de alternativas, os católicos poderiam tomar as vacinas desenvolvidas com linhagens de células fetais. A Agência Lupa já checou conteúdos falsos que acusavam um fabricante de refrigerantes de usar “células de bebês abortados” nas bebidas. A verificação explica que um laboratório contratado pela empresa usou culturas HEK-293 para testar produtos, mas que as células não entram na composição das bebidas. Site Estudos Nacionais e Portal Brasil Livre O texto que viralizou foi publicado pelo site Estudos Nacionais em 19 de julho. Ele é uma reprodução do texto publicado no portal Brasil Livre um mês antes. A versão do Estudos Nacionais não alterou nem as datas que apareciam no artigo original. Ambos citam como referência os sites norte-americanos antiaborto Children of God for Life e Life Site News. Na página, há uma seção que avalia vacinas diversas e afirma se elas são ou não feitas a partir de “fetos abortados”. No caso das muitas vacinas para covid-19 em produção, eles fizeram uma lista separando aquelas “moralmente produzidas” das demais. Na lista, há a informação de que a vacina de Oxford utiliza células HEK-293. Um artigo publicado no US National Library of Medicine confirma esse uso. A página de apresentação do Brasil Livre afirma que se trata de “um site de notícias que busca esclarecer a opinião pública sobre temas importantes e polêmicos”. Ainda segundo a descrição, o site tem como princípio editorial o “comprometimento com a verdade e o repúdio do uso de fake news” e como meta “um Brasil Livre do socialismo, do comunismo e das imposições de todo o tipo provenientes das máquinas de controle psicossocial do globalismo.” No cabeçalho do site, numa espécie de slogan, está escrito que o portal Brasil Livre é “o espaço de reflexão e ação da direita conservadora na internet”. O Comprova entrou em contato com o site Estudos Nacionais que informou que, além dos links citados no texto, um artigo publicado na Science no mês passado explica que a vacina para covid-19 em desenvolvimento pela Universidade de Oxford em parceria com a AstraZeneca utiliza as linhas celulares fetais humanas do tipo HEK-293 e, conforme divulgado pela Agência Brasil em junho deste ano, se trata da mesma vacina que está sendo testada em São Paulo. Por que investigamos? Nesta terceira fase, o Comprova verifica conteúdos relacionados à covid-19. Desde que a Organização Mundial da Saúde (OMS) decretou a pandemia, em março, boatos e desinformação sobre a doença e o novo coronavírus se espalharam pelas internet e viraram uma questão de saúde pública. Uma vacina eficaz é a forma mais eficiente de imunizar a população e esforços estão sendo feitos em todo planeta para chegar a essa solução. Mas grupos anti-vacina, comuns nos Estados Unidos, começam a se popularizar no Brasil. O Comprova já verificou uma teoria falsa que dizia que as vacinas contra o novo coronavírus injetariam um microchip para rastrear a população. No dia 21 de julho começaram os testes, em São Paulo, da vacina produzida pelo laboratório chinês Sinovac. A vacina do laboratório AstraZeneca, desenvolvida em parceria com a Universidade de Oxford, também é testada no país. Com isso, conteúdos enganosos sobre as vacinas ganharam força. O texto publicado originalmente no site Brasil Livre em junho teve pouca repercussão. Ao ser replicado pela página Estudos Nacionais, que compartilhou o link em seu perfil no Twitter, o conteúdo ganhou força. Foram mais de três mil interações entre os dias 20 e 24 de julho. O site E-farsas verificou conteúdo semelhante e concluiu que a alegação de que as vacinas são feitas com fetos humanos abortados é falsa. O Comprova considera enganoso todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/brasil-nao-tera-uma-nova-moeda-lastreada-em-niobio-chamada-dim/
COMPROVA
Brasil não terá uma nova moeda lastreada em nióbio chamada “DIM”
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2020-07-24
O Banco Central (BC), responsável exclusivo pela emissão da moeda brasileira, negou de forma taxativa a possibilidade de mudança no sistema financeiro nacional Conteúdo verificado: Vídeo publicado no YouTube que afirma que o real será substituído por uma nova moeda chamada “DIM”. Produzido com base em postagem feita no Facebook, um vídeo publicado em 20 de julho no canal “cristina Daflon chicletinho” no YouTube afirma que o Brasil substituirá o real pelo “DIM”. A nova moeda, que seria lastreada em nióbio, entraria em vigor em 30 de novembro por meio de um “ato interventorial constituinte” assinado pelo “chefe de estado Celio Evangelista Ferreira do Nascimento”. Todo o conteúdo é falso. Constitucionalmente, o Banco Central (BC) é o responsável exclusivo pela emissão da moeda brasileira. O órgão negou de forma taxativa a possibilidade de mudança no sistema financeiro nacional. Além disso, um cidadão brasileiro não pode se auto-proclamar presidente da República sem antes passar por uma série de ritos de eleição e posse descritos nos artigos 57, 77 e 78 da Constituição. Celio Evangelista Ferreira do Nascimento, inclusive, foi indiciado na Lei de Segurança Nacional por ter ameaçado juízes, promotores e procuradores do Distrito Federal. Ele chegou a ser preso pela Polícia Civil do Distrito Federal no âmbito da operação Pátria Amada, mas conseguiu um habeas corpus e responde ao processo em liberdade. Como verificamos? Para esta verificação, o Comprova inicialmente realizou uma busca para tentar identificar quem era a autora do vídeo, Cristina Daflon; o autor do texto que ela lê, Lopes Winner; e o homem que propôs a criação do “DIM”, Celio Evangelista Ferreira do Nascimento. Também tentamos contato com os três por meio de redes sociais e telefones disponibilizados em seus perfis. Depois, procuramos as assessorias de imprensa do Banco Central e do Ministério da Economia para saber se há debates em curso sobre a mudança da moeda no Brasil. A pasta disse que a resposta caberia ao BC. Entrevistamos o economista Jocildo Fernandes Bezerra, professor de Política Monetária na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), sobre o processo de mudança do meio circulante no País. Também procuramos a Polícia Civil do Distrito Federal e a Justiça Federal para levantar informações sobre o processo que investiga Célio Evangelista por uma ameaça de morte enviada para juízes, promotores e procuradores do DF. Por fim, entrevistamos o advogado Marcelo Labanca, professor de Direito Constitucional na Universidade Católica de Pernambuco (Unicap), para entender se qualquer cidadão pode se autodeclarar presidente da República. Verificação Real continua Em resposta ao Comprova, o Banco Central negou a adoção do “DIM” no Brasil em novembro. A Constituição garante exclusivamente ao BC a competência para emissão de moeda. De acordo com o economista Jocildo Fernandes Bezerra, um país só adota uma nova moeda quando a anterior perde valor. “A moeda é um meio circulante cujo valor tem limite de instabilidade. Uma moeda instável é uma moeda cujo valor não é confiável. De modo que, se essa instabilidade for muito elevada, ela gera o fenômeno da inflação. Quanto mais a inflação se agrava, mais a moeda perde valor. Então, nesse caso, você precisa de uma nova moeda”, explica. Segundo Bezerra, as moedas também não podem ser mudadas “da noite para o dia”, porque a estabilidade delas permite que os atores econômicos se planejem para o futuro. “Se eu sei que um bem custa R$ 100 hoje e vai custar os mesmos R$ 100 amanhã, eu posso contratar trabalhadores ou investir, porque eu sei qual o preço que aquele produto vai ter no final. Se, de repente, o Banco Central decidisse trocar de moeda, toda a economia seria perturbada. Imagine que você é fabricante de sapato e eu sou vendedor de banana. Quanto é que serão os preços, na nova moeda, do sapato e da banana? Isso paralisaria a produção, o consumo. E incluiria um grau de incerteza na economia que é indesejável”, argumenta. O professor também diz que lastrear moedas em metais, como sugere a publicação, é uma técnica em desuso há quase 50 anos, quando os Estados Unidos deixaram de basear o valor do dólar nas reservas de ouro. Lastrear significa que o valor de uma nota daquela moeda representa uma quantia de metal, geralmente o ouro, guardada em alguma reserva ou banco. “Em 1971, os Estados Unidos disseram que não tinham mais ouro para lastrear o valor dólar. Isso fez com o que o dólar acabasse? Não. Por causa da solidez da economia americana. Por isso, inclusive, que o Banco Central [brasileiro] se comporta de modo a criar expectativa de que o valor do real não vai oscilar além de um limite aceitável, assegurando a confiança na economia e na sociedade brasileira. Lastrear uma moeda em nióbio não faz sentido”, afirmou. O Brasil tem, no dia 23 de julho, 8,2 bilhões de cédulas e 27,3 bilhões de moedas que, juntas, somam R$ 341,8 bilhões em circulação. “Peso-real” Em junho de 2019, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse ser favorável a estudos para criar uma moeda em conjunto com a Argentina, que seria chamada de “peso-real”. Na época, o chefe do Executivo brasileiro apoiava a candidatura à reeleição do ex-presidente argentino Mauricio Macri, derrotado por Alberto Fernandéz em outubro do mesmo ano. O ministro Paulo Guedes, que chegou a participar das conversas, não deu prazo para implementação do “peso-real”. Na ocasião, o Banco Central do Brasil divulgou uma nota em que afirmava não haver nem projeto, nem estudo para a adoção de uma moeda em conjunto com a Argentina. Desde a independência, em 1822, o Brasil teve nove moedas. Seis delas surgiram em um curto período de dez anos, em que o país passou pela hiperinflação. O Real foi criado em 1º de julho de 1994, após quatro meses de transição com a Unidade Real de Valor (URV), que existiu ao mesmo tempo em que o Cruzeiro Real. O conteúdo falso Responsável pelo conteúdo falso no YouTube, Cristina Daflon é uma pessoa real. O canal “cristina Daflon chicletinho” havia publicado 650 vídeos até esta sexta-feira. Somadas, as gravações — cujos temas variam de receitas culinárias a conspirações sobre queda de OVNIs no Brasil — tinham mais de 2,6 milhões de visualizações. No Instagram, um perfil associado a Cristina Daflon possui informações de contato. O Comprova enviou mensagens pela própria rede social, pelo e-mail e pelo número de WhatsApp (que não pertence a ela), mas não teve resposta. Na quinta-feira, o vídeo foi colocado no modo “privado” no YouTube. Na gravação, a mulher lê um texto sobre o “DIM”, publicado em 19 de julho no perfil “Lopes Winner” no Facebook. O Comprova enviou mensagem para o responsável pela postagem por meio da própria rede social, mas não teve retorno. Na página, há ainda um contato telefônico. O número, porém, não existe. O ‘criador’ do “DIM” O texto lido no vídeo atribui a idealização do “DIM” a Celio Evangelista Ferreira do Nascimento, indiciado na Lei de Segurança Nacional por fazer ameaças de morte a juízes, promotores e procuradores do Distrito Federal. De fato, o homem de 79 anos mencionou a suposta criação da moeda numa publicação na internet datada de 29 de outubro de 2019. Em 21 de maio, Celio Evangelista e Rodrigo Ferreira, de 40 anos, foram presos preventivamente pela Polícia Civil do Distrito Federal no âmbito da Operação Pátria Amada por conta das ameaças. Na semana seguinte, os dois conseguiram habeas corpus e respondem às acusações em liberdade. As ameaças foram enviadas em um e-mail intitulado “Sentença de morte aos traidores da pátria”. No texto, a dupla “convoca a população para matar políticos, juízes, promotores, chefes de gabinetes, assessores, parentes, amigos, protetores e demônios de toda sorte”. Em vídeo publicado na internet, Celio Evangelista fala em “estado de sítio” e ameaça nominalmente políticos como o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), o vice Hamilton Mourão (PRTB), os ex-presidentes Lula (PT), Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). O caso foi investigado pela Delegacia Especial de Repressão aos Crimes Cibernéticos (DRCC). Celio Evangelista e Rodrigo Ferreira foram indiciados no artigo 17 da Lei de Segurança Nacional, que prevê de três a 15 anos de prisão a quem “tentar mudar, com emprego de violência ou grave ameaça, a ordem, o regime vigente ou o Estado de Direito”. O inquérito foi enviado à Justiça Federal, que deve remeter os autos ao Ministério Público Federal (MPF). Após análise, os promotores podem apresentar denúncia. Celio Evangelista se intitula “Presidente Constituinte” do Brasil desde dezembro de 2017. Em vídeo publicado este mês, diz que, com o “DIM”, o país comandaria o “novo sistema financeiro do mundo”. O Comprova tentou contato com Célio por meio de número disponibilizado em seu site, mas os telefonemas foram diretamente para a caixa postal. O presidente no Brasil O artigo 77 da Constituição Federal diz que o presidente da República precisa ser eleito, com maioria dos votos válidos, mesmo que para isso seja necessário realizar um segundo turno de votação. Além disso, o artigo 78 define que, para tomar posse, o presidente eleito precisa prestar um juramento à Constituição e às leis em sessão do Congresso Nacional. Se o eleito não comparecer ao Congresso para tomar posse em até dez dias após a convocação pelo Legislativo, o texto constitucional diz, que o cargo será declarado vago. O professor de Direito Constitucional Marcelo Labanca explica que ninguém pode se autoproclamar presidente sem ter seguido os ritos descritos na Carta Magna. “A Constituição, inclusive, é muito clara em relação a esse rito. Ela diz que a posse tem que ocorrer no dia 1º de janeiro, em uma sessão solene do Congresso Nacional. Ou seja, não pode nem ser uma sessão só da Câmara ou do Senado”, lembra. Outra formalidade, de acordo com Labanca, está descrita no parágrafo 6º do artigo 57, segundo o qual a convocação extraordinária para dar posse ao presidente da República será feita pelo presidente do Senado Federal. Por que investigamos? Nesta terceira fase de combate à desinformação e a conteúdos enganosos na internet, o Comprova analisa postagens com grande circulação sobre políticas públicas do governo federal, eleições municipais e a pandemia de covid-19. Até 21 de julho, antes de ser colocado em modo privado, o vídeo sobre o “DIM” tinha quase 50 mil visualizações no YouTube. A versão do conteúdo em texto no Facebook gerou 116.680 interações (soma de reações, comentários e compartilhamentos) até 24 de julho, segundo a ferramenta CrowdTangle. A verificação é relevante pelas repercussões que a troca de moeda de um país pode causar, como aumento de gastos públicos para impressão de novas notas e os impactos nas políticas externas, além das mudanças no dia a dia até que as pessoas se adaptem ao novo sistema. Recentemente, o Comprova classificou como falso ou enganoso outras publicações sobre políticas públicas do governo federal, como a transposição do Rio São Francisco, a construção de uma ponte em Goiás e um “decreto-lei” para criar um Tribunal Constitucional Militar. O Boatos.org também desmetiu duas versões em texto do conteúdo sobre o “DIM”. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
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2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/publicacao-engana-ao-dizer-que-pandemia-esta-em-declinio-apos-zerar-excesso-de-mortes/
COMPROVA
Publicação engana ao dizer que pandemia está em declínio após zerar excesso de mortes
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2020-07-23
Site usou dados ainda não atualizados do Portal da Transparência do Registro Civil e que não permitem chegar a essas conclusões Conteúdo verificado: Texto do portal Notícias Brasil Online (NBO) que compara óbitos de 2019 e 2020 com base no Portal da Transparência e diz que pandemia entrou em declínio É enganoso o texto apresentado pelo site Notícias Brasil Online (NBO) alegando que a pandemia do novo coronavírus está em declínio e que o Brasil “zerou o excesso de mortes em junho”. Em sua publicação, o site usou dados desatualizados que não permitem chegar a essas conclusões. O texto usa como métrica o chamado “excesso de mortes”, que é a comparação entre o número de óbitos provocados por causas naturais que ocorreram neste ano, em que o mundo foi afetado pela pandemia de covid-19, e em 2019, sem a pandemia. O texto foi publicado pelo NBO em 8 de julho, e o intervalo considerado é o de 16 de março a 7 de julho, tanto em 2019 quanto em 2020. Ocorre que a publicação não poderia ter levado em conta um período que se encerrava tão perto da data de publicação do texto. Isso porque os dados foram retirados do Portal da Transparência, do Registro Civil, que demora 14 dias ou mais para ser atualizado. Um exemplo: quando o NBO publicou o texto, o número de óbitos entre 16 de março e 7 de julho de 2020 era de 388.386. Em 23 de julho, o Comprova verificou que o número de óbitos no mesmo período era de 422.256 mortes, quase 34 mil óbitos a mais do que constava no texto do site NBO. Atualização: Depois que o Comprova publicou esta verificação, o NBO corrigiu a informação. O site mudou o título da reportagem para “Covid-19: Brasil não zerou excesso de mortes em junho” e afirmou ter atualizado as informações a partir do Estadão Verifica, um dos veículos que fazem parte da coalizão do Comprova. Como verificamos? Para confirmar se os números apontados pelo NBO eram verdadeiros, pesquisamos pelos dados disponíveis no Registro Civil e entramos em contato com a assessoria de imprensa do órgão. Por e-mail, explicaram o tempo concedido para resolver os trâmites relacionados ao registro de óbitos em cartórios e confirmaram os números apontados na matéria. O Comprova também realizou buscas sobre mortes por causas naturais nos registros do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Enviamos duas mensagens ao NBO pela aba de “contato” do site, mas não recebemos resposta. Também não encontramos forma de contato ou mesmo o nome do responsável pelo site nas buscas pelo registro. Ao pesquisar no Google sobre o conteúdo, encontramos a mesma notícia na Revista Oeste, também publicada no dia 8 de julho. O texto da revista digital era mais completo — indicando ser o conteúdo original —, contendo gráficos e uma entrevista com o cardiologista Juliano Lara Fernandes. Entrevistamos o médico para entender melhor os números e a metodologia por trás deles, já que o texto do NBO não detalhou como foi feita a pesquisa. Também conversamos com o epidemiologista Paulo Lotufo, professor da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), que nos explicou que a comparação entre março e julho de 2020 com o mesmo período no ano passado é descabida por haver atraso para protocolar os óbitos, algo que escapa a um texto publicado com curto intervalo após os registros analisados. Os dados de óbitos avaliados pela matéria iam até 7 de julho, um dia antes da publicação do texto. Após a conversa com Lotufo, procuramos novamente o Registro Civil e entrevistamos, por telefone, Luis Carlos Vendramin Junior, vice-presidente da Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen). Ele confirmou que o texto publicado pela NBO não poderia levar em consideração óbitos registrados até um dia antes justamente pela demora que alguns levam até serem reconhecidos. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 23 de julho de 2020. Verificação Onde o conteúdo foi publicado O site Notícias Brasil Online (NBO), que viralizou com a notícia, já teve uma publicação checada pelo Comprova. Tratava-se de um boato que acusava equivocadamente o Greenpeace de envolvimento no vazamento de óleo em praias da região Nordeste em 2019. Boa parte das notícias é de teor político e nenhuma apresenta assinatura do autor. Em 2018, reportagem do G1 afirma que o site era responsável por “parte das fake news” que circulava na internet na época. A única forma de contato apresentada pelo NBO é para quem deseja anunciar no site. Não há nomes de funcionários que atuem no portal na seção “Autores”. O Comprova utilizou a caixa de mensagens com pedidos de entrevista entre os dias 15 e 17 de julho para tentar levantar de onde saíram os dados. Não houve retorno até a data da publicação desta investigação. No site Look Up, ferramenta que permite encontrar informações sobre páginas na internet, não há informação sobre o responsável pelo registro do site ou mesmo uma forma de contato. Na consulta do Who Is, ferramenta semelhante, também não consta nenhuma informação. O NBO apresenta muitas publicações com títulos favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e copia conteúdos de outros veículos. É o caso de um texto sobre o diagnóstico negativo da primeira-dama Michelle Bolsonaro para o novo coronavírus, afirmando se tratar de “Coisa de Deus!”. O texto, no entanto, é copiado do jornal O Globo, apresentando as mesmas palavras, estrutura e o indicativo de localização de onde foi escrito — não há outros textos do NBO indicando em que cidade foram produzidos. Não há crédito para a informação do jornal no site. Os dados Como destacado anteriormente, ao afirmar que o Brasil zerou o excesso de mortes, o texto do NBO compara o total de óbitos de causas naturais entre 16 de março e 7 de julho de 2019 com o mesmo período de 2020 (incluindo as vítimas de covid-19). O dia 23 de junho de 2020 é citado como ponto de virada para o declínio no registro de mortes. Isso porque, até aquela data, segundo os dados do Portal da Transparência do Registro Civil, o total de mortes diárias em 2020 era maior do que em 2019. Em 23 de julho, data em que o Comprova publicou esta verificação, os dados de 23 de junho já são diferentes: são 3.629 mortes em 2020 ante 3.391 em 2019. Também na data do levantamento, o suposto “ponto de virada” é o dia 28 de junho, mas, como esses dados estão sendo constantemente atualizados por cartórios no Brasil todo, não é possível, ao menos por enquanto, falar em excesso de mortes “zerado”. O texto do site NBO, verificado aqui, foi publicado em 8 de julho, mas usou informações até o dia anterior, 7 de julho. Assim, desconsiderou semanas de atualizações. Segundo explicou o Registro Civil, “após o falecimento, a família tem até 24 horas para comparecer ao Cartório de Registro Civil; o cartório tem até cinco dias para efetuar o registro e, depois, oito dias para enviar o ato feito à Central Nacional de Informações do Registro Civil, que abastece a plataforma”. Isso significa que os dados só podem ser considerados consolidados depois de pelo menos 14 dias. E o intervalo pode ser ainda maior. “Se você entrar no Portal da Transparência hoje e fizer a mesma pesquisa, vai ver que os dados são diferentes, porque a plataforma é viva, com informação nova disponibilizada automaticamente”, afirma Luis Carlos Vendramin Junior, vice-presidente da Arpen. “Nós sempre orientamos a considerar uma data de corte de 10 a 15 dias [para trás]. E ainda varia um pouco se for dia útil; se houver um feriado, é possível que atrase [o registro no site]”, diz. O Projeto Comprova verificou, também, que há registros também de 2019 ainda atualização. Em 23 de julho, ao buscar no Registro Civil o número de óbitos entre março e julho de 2019, constatamos que ele havia aumentado. Enquanto o texto do NBO informava que o número de mortes por causas naturais em 2019 era de 368.724; passados 15 dias, o registro já apontava 370.134 óbitos no período. Metodologia O que o texto do NBO omite é que os dados partem de um gráfico do site mortalidade.com.br, criado a partir de dados do Registro Civil para analisar os impactos da covid-19. Logo no início da página, há o aviso: “Construímos esta página para propor um novo ponto de vista no entendimento da real mortalidade da pandemia do novo coronavírus, dado o cenário político conturbado, onde os dados divulgados sobre a pandemia oficialmente não são confiáveis (ou estão possivelmente sendo censurados)”. A metodologia do site mortalidade.com.br se baseia na mortalidade por causas naturais e leva em conta o excesso de mortes, “ou seja, o número de mortes acima da média histórica. Ainda que somente das mortes por causas naturais”, como afirma a página. A plataforma informa que veículos estrangeiros como Financial Times, The New York Times e BBC utilizam dados semelhantes. O site do britânico Financial Times começou a usar os gráficos de excesso de mortalidade no dia 29 de abril, afirmando que eles mostram que a contagem de óbitos por covid-19 talvez seja significativamente subestimada. Na página, a comparação é feita entre mortes por todas as causas (não apenas causas naturais, como faz o mortalidade.com.br) em 2020 e em “anos recentes”. A BBC publicou em 18 de junho o texto “Coronavírus: como o ‘excesso de mortes’ pode revelar o verdadeiro número de vítimas da pandemia de covid-19”. O texto apresenta dados de diversos países, incluindo o Brasil. Para dizer que as mortes em excesso “sugerem que o impacto humano da pandemia vai além dos dados oficiais divulgados por governantes pelo mundo”, o veículo conta a história de uma brasileira cuja mãe foi internada após um AVC. Ela foi hospitalizada e teve alta 15 dias depois “porque a Santa Casa ia precisar de leito” para pacientes de covid-19. Ainda de acordo com a filha, a mãe não teria morrido se tivesse continuado no hospital. “Então, ela não morreu com a doença, mas por causa da doença”, conclui a mulher. Já o New York Times publicou, em 29 de abril, gráficos com o total de mortes nos estados mais afetados pela pandemia para indicar uma possível subnotificação dos dados oficiais de óbitos apresentados pelo governo dos Estados Unidos. Segundo a publicação, a cidade de Nova York apresentava, entre 8 de março e 11 de abril, três vezes mais mortes do que o registrado no mesmo período no ano anterior. O texto também alerta para o fato de os números serem preliminares diante da demora em processar e coletar os atestados de óbitos. “Se observarmos as mortes provisórias, por todas as causas, Nova York, Nova Jersey, Michigan, Massachusetts, Illinois, Maryland e Colorado tiveram um salto muito superior aos níveis normais”, diz trecho do texto. O que diz o médico ignorado pelo NBO Juliano Lara Fernandes, cardiologista que atua no Instituto José Michel Kalaf e foi ouvido pela reportagem da revista Oeste e ignorado pelo texto do NBO, disse ao Comprova que, por mais que os dados não estivessem consolidados na época da publicação do texto, eles continuam valendo. “Estamos há quase um mês do final de junho e o cruzamento do excesso de mortes [o ponto de virada] continua naquele mês mesmo”, afirmou. Ele disse ainda que “a curva já vinha em declínio desde o dia 14 de maio, quando ocorreu o pico do excesso de óbitos”. “Não é que não haja mais mortes por covid-19, mas, desde 14 de maio, essa curva é descendente e zerou em excesso de mortes no final de junho.” Questionado se a curva pode voltar a subir, Fernandes reafirmou: “Não. A não ser que seja vista uma segunda onda muito forte, que não é provável”. O epidemiologista e professor da Faculdade de Medicina da USP Paulo Lotufo é mais cauteloso ao analisar os mesmos dados. Em 14 de julho, Lotufo assinou um artigo na Folha de S.Paulo em que defende a métrica do excesso de mortes, como faz o site mortalidade.com.br. Segundo o especialista, “esse indicador é mais preciso do que o número de mortes por casos comprovados pela covid-19, porque mostra a letalidade do coronavírus em outras condições que desconhecíamos, principalmente as cardíacas e renais”. O Comprova entrevistou Lotufo para saber sua avaliação sobre a metodologia usada no texto do NBO. Ele defende um intervalo maior entre publicação do texto e a data de registro dos óbitos em cartórios. “A censura [o dado utilizado] deveria ser 8 de junho ou, no máximo, 15 de junho [e não 7 de julho]. O Registro Civil tem um atraso de, no mínimo, 14 dias – em média, mais do que isso”, afirmou. Lotufo elogia o sistema do Portal da Transparência, porém, para ele, para considerar a subnotificação e o tempo para lavrar os registros, deveria haver um mecanismo automático de censura, ou seja, de congelamento dos dados. “Sem isso, abriu-se uma brecha imensa para os negacionistas”, critica o epidemiologista. Por que investigamos? Conteúdos suspeitos a respeito do novo coronavírus são investigados pelo Comprova desde março deste ano, quando a doença foi decretada pandemia. Desde então, já foi desmentido que um cemitério de São Paulo teria covas vazias para simular o aumento de mortes pela covid-19, que estados receberiam repasses de acordo com número de mortos e infectados, e que hospitais recebiam valores por cada óbito registrado como covid-19. A cautela com informações de saúde pública, que podem colocar em risco a vida das pessoas, levou o Comprova a averiguar conteúdos que apresentam ampla viralização nas redes sociais. Até 23 de julho, o texto do NBO somava 4,1 mil interações no Facebook, de acordo com a medição da plataforma CrowdTangle. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado de forma a induzir a uma interpretação diferente. Postagens utilizando informações fora de contexto para minimizar a pandemia são recorrentes em checagens. É o caso de informação equivocada sobre pesquisadores que estudam a covid-19 e texto que cita o uso de cloroquina a partir de um estudo de metodologia contestada.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/estudo-da-henry-ford-health-system-e-insuficiente-para-provar-eficacia-da-cloroquina-contra-a-covid-19/
COMPROVA
Estudo da Henry Ford Health System é insuficiente para provar eficácia da cloroquina contra a covid-19
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2020-07-23
A conclusão do artigo ressalta que os resultados precisam ser confirmados através de outros testes que permitam avaliar “rigorosamente” a eficácia do tratamento. Especialistas entrevistados pelo Comprova apontam que o método e as conclusões tiradas pelos pesquisadores são frágeis e precipitadas Conteúdo verificado: Post do site Pleno.News afirma que um estudo do Henry Ford Health System comprova a eficácia do tratamento com hidroxicloroquina nos casos de covid-19. O texto se baseia em uma reportagem da Fox News, do começo de julho, que foi publicada por Bolsonaro nas redes sociais. Um texto publicado em 18 de julho, no site Pleno.News, distorce as informações de um estudo sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 ao afirmar que está comprovada a eficácia do medicamento. A publicação cita um estudo do Henry Ford Health System, do começo de julho, que afirma que o tratamento com a droga reduziu significativamente a taxa de mortalidade em pacientes hospitalizados com covid-19, sem causar efeitos colaterais ao coração. A própria conclusão do artigo, porém, ressalta que os resultados precisam ser confirmados através de outros testes que permitam avaliar “rigorosamente” a eficácia do tratamento. Além disso, especialistas entrevistados pelo Comprova apontam que o método e as conclusões tiradas pelos pesquisadores são precipitadas e muito frágeis. Como verificamos? O Comprova buscou o estudo do Henry Ford Health System, uma organização de assistência médica sem fins lucrativos, dos Estados Unidos, e comparou as informações com as que foram publicadas no texto verificado. Buscamos também outras publicações com grande respaldo científico sobre o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com a covid-19, bem como o posicionamento de órgãos e entidades de referência sobre o uso dos medicamentos. Também entrevistamos Carlos Orsi, diretor do Instituto Questão de Ciência e Estevão Urbano, presidente da Sociedade Mineira de Infectologia, que comentaram sobre a metodologia do estudo e sobre os resultados apresentados. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de julho de 2020. Verificação O texto do site Pleno.News fala sobre o estudo por causa de uma reportagem do canal americano Fox News, de 3 de julho, que foi postada pelo presidente Jair Bolsonaro em suas redes sociais. Na matéria da Fox, que anunciou um “novo estudo bombástico sobre a hidroxicloroquina”, a pesquisa do Henry Ford Health System foi comentada pelo médico cardiologista e CEO da Foxhall Cardiology, Ramin Oskui. O Estudo da Henry Ford Health System No estudo publicado pelo Henry Ford Health System no International Journal of Infectious Diseases, médicos analisaram 2.541 pacientes hospitalizados entre os dias 10 de março e 2 de maio de 2020 em seis hospitais que fazem parte da rede de saúde da organização, localizados na região metropolitana de Detroit, nos Estados Unidos. De acordo com os pesquisadores, 13% dos tratados apenas com hidroxicloroquina morreram, enquanto a taxa de mortalidade entre os pacientes não tratados com hidroxicloroquina foi de 26,4%. “Nenhum dos pacientes havia documentado anormalidades cardíacas graves; no entanto, os pacientes foram monitorados quanto a uma condição cardíaca rotineiramente apontada como uma razão para evitar o medicamento como tratamento para a covid-19”, afirma o estudo. Os pesquisadores também analisaram a taxa de mortalidade entre pacientes que receberam uma combinação dos medicamentos hidroxicloroquina e azitromicina e aqueles que receberam apenas o último tipo. O Comprova conversou com o diretor do Instituto Questão de Ciência, Carlos Orsi, que avalia que existem dois problemas nos argumentos apresentados pela pesquisa; um de caráter geral e outro específico do trabalho em questão. Segundo Orsi, trata-se de um estudo observacional, em que os autores apenas observaram os resultados dos pacientes, sem interferir ou controlar os tratamentos. “Estudos observacionais são logicamente incapazes de provar qualquer coisa. Eles apenas sugerem associações (no caso, entre hidroxicloroquina e menor mortalidade) que depois precisam ser validadas em estudos de intervenção, onde os tratamentos são devidamente controlados”, explica ele. Como o Comprova já explicou, em outras verificações, o método científico mais confiável é o chamado de ensaio clínico randomizado controlado, em que um grupo de voluntários é recrutado e acompanhado pelos pesquisadores ao longo de vários meses. Nesse modelo, também é sorteado aleatoriamente quem receberá a medicação, para evitar que fatores externos, como idade e condição de saúde, interfiram no resultado. O estudo Instituto Henry Ford também mostrou que aqueles pacientes tratados apenas com azitromicina ou com uma combinação de hidroxicloroquina e azitromicina tiveram um desempenho um pouco melhor que aqueles não tratados com os medicamentos. A análise constatou que 22,4% dos tratados apenas com azitromicina morreram e 20,1% tratados com uma combinação de azitromicina e hidroxicloroquina morreram, em comparação com 26,4% dos pacientes que morreram e que não foram tratados com nenhum dos medicamentos. Segundo Estevão Urbano Silva, diretor da Sociedade Mineira de Infectologia, o fato de os pacientes analisados no estudo do Henry Ford Health System não terem apresentado efeitos colaterais relacionados à medicação não é definitivo. “Não dá para trazer essa conclusão para todos os outros pacientes e para as situações do dia a dia, porque é um estudo com metodologia científica inadequada”, aponta o médico. No início de junho, uma nova pesquisa da Universidade de Minnesota constatou, após uma experiência com mais de 800 pacientes, que não há nenhum benefício no uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no combate ao novo coronavírus. Além dessa análise, o estudo também apontou para efeitos colaterais graves ou problemas cardíacos com o uso dos dois medicamentos. Para o infectologista, no momento em que a ciência caminha para aperfeiçoar seus estudos sobre o novo coronavírus, é delicado e perigoso acreditar em apenas uma fonte de informação. “Temos que fazer uma avaliação sobre o tema. Tem estudos mais conclusivos falando contra o uso da cloroquina que não adiantou, então temos que nos firmar naqueles estudos que tiveram uma metodologia mais adequada, mais correta.” Embora o neurocirurgião Steven Kalkanis, CEO do Henry Ford Medical Group e vice-presidente sênior e diretor acadêmico do Henry Ford Health System, esteja comemorando que o medicamento tenha ajuado a salvar vidas, ao fazer a leitura dos dados é possível encontrar inconsistência nos perfis dos grupos de pacientes. De acordo com Carlos Orsi, uma das tabelas apresentadas no estudo informa que apenas 38% dos pacientes do grupo que não receberam hidroxicloroquina ou azitromicina tinham menos de 65 anos, enquanto a taxa de pacientes mais jovens medicados, nos outros grupos, era superior a 50%. “A comparação não é justa, é impossível atribuir o progressos dos pacientes que receberam hidroxicloroquina à medicação, já que eles eram mais jovens, estavam recebendo também outros remédios. Os autores do estudo tentam corrigir essas distorções aplicando técnicas estatísticas para estimar o peso relativo de cada fator (como a idade), mas estatísticas não fazem milagres”, avalia Orsi. A emissora norte-americana CNN esteve na coletiva de imprensa em que a equipe do Henry Ford Health System anunciou os resultados. Segundo a reportagem, a equipe que coordenou os estudos destacou que os pacientes foram submetidos ao tratamento no início da manifestação da doença. “Para que a hidroxicloroquina seja benéfica, é preciso que os pacientes tomem antes de seu organismo produzir algumas reações imunológicas severas que podem ocorrer a quem está infectado com a covid-19”, afirmaram os pesquisadores, na apresentação dos dados à imprensa. A reportagem destaca, também, que a pesquisa recebeu críticas da comunidade científica e cita que outros dois estudos de ampla divulgação foram interrompidos porque os resultados sugeriram que a hidroxicloroquina não trazia benefícios aos pacientes. O primeiro, realizado pela Agência Nacional de Pesquisa Médica (National Institutes of Health), testou o medicamento em 470 pacientes. O segundo, realizado pela Universidade de Oxford, no Reino Unido, contou com mais de 11 mil pacientes. Apesar do entusiasmo que acompanhou a publicação da pesquisa realizada pelo Henry Ford Health System, e da ênfase do site Pleno.News sobre a comprovação dos benefícios, os próprios pesquisadores destacaram na conclusão do artigo que “os resultados devem ser interpretados com cautela e o tratamento não deve ser aplicado em pacientes fora do ambiente hospitalar. Os resultados também requerem confirmação através de testes randomizados que permitam avaliar rigorosamente a segurança e a eficácia do tratamento com hidroxicloroquina para pacientes hospitalizados com a covid-19”. A hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 A Fox News, que publicou a reportagem sobre o estudo do Henry Ford Health System, foi a primeira emissora americana a ventilar a possibilidade de uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, ainda em março. O advogado Gregory Rigano foi entrevistado no canal e falou sobre os resultados promissores de um estudo francês, que ainda não havia sido publicado, sobre o uso da droga no tratamento da covid-19. Tratava-se do artigo de Didier Raoult, que, posteriormente, foi criticado pela comunidade científica em decorrência dos métodos duvidosos empregados na pesquisa. O estudo francês já foi alvo de outras verificações do Comprova. Desde então, vários outros estudos já apontaram a ineficácia do tratamento com a cloroquina e a hidroxicloroquina nos pacientes com o novo coronavírus e a Organização Mundial da Saúde suspendeu as pesquisas com o medicamento em pacientes hospitalizados. Na semana passada, a Sociedade Brasileira de Infectologia divulgou uma nota afirmando que dois estudos internacionais comprovaram que não há nenhum benefício clínico da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. No texto, a entidade diz que a substância não é eficaz nem na prevenção nem na cura da doença. A entidade também pede que a cloroquina deixe de ser usada como tratamento da covid-19, que os órgãos públicos reavaliem orientações de uso de medicamentos comprovadamente sem efeito e que os recursos públicos sejam usados em anestésicos, bloqueadores neuromusculares e aparelhos para o tratamento da doença, em falta na rede pública. Nos Estados Unidos, a Food and Drug Administration — órgão governamental responsável pela regulação de medicamentos — revogou, em junho, a autorização emergencial para o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no tratamento de pacientes com a covid-19 — a não ser no caso de ensaios clínicos. Em julho, o órgão atualizou as diretrizes e divulgou um documento com um resumo dos problemas de segurança encontrados durante o tratamento dos pacientes hospitalizados com o novo coronavírus. São mencionados “arritmias sérias”, “problemas hematológicos e linfáticos”, lesões renais e falhas no fígado. Por que investigamos? O Projeto Comprova verifica conteúdos sobre a covid-19 que tenham grande alcance em redes sociais e grupos de mensagem. A checagem de fatos durante a pandemia adquiriu uma importância ainda maior, uma vez que a desinformação afeta diretamente a saúde das pessoas. Nesse caso, a relevância da verificação justifica-se pelo fato de envolver um tratamento que, além de não possuir eficácia cientificamente comprovada, pode ocasionar efeitos colaterais graves aos pacientes que a ele são submetidos. Além disso, no Brasil, o medicamento vem sendo apresentado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como uma possível cura para a doença. Após afirmar ter sido diagnosticado com a doença no início de julho, o presidente disse estar tomando o remédio e defende o uso para pacientes com sintomas leves. Em um encontro com apoiadores no Palácio do Planalto, Bolsonaro exibiu uma caixa do medicamento. Uma pesquisa do Instituto Ipsos mostra que 18% dos brasileiros acreditam que a hidroxicloroquina é uma cura para a covid-19, apesar de não haver qualquer indicação científica a sustentar essa impressão. “Entre os 16 países pesquisados, o brasileiro é a segunda população que mais acredita que há, sim, uma cura para a covid e é a cloroquina. Só perde para a Índia nesse quesito”, disse o presidente do instituto Marcos Calliari em entrevista ao Valor Econômico. De acordo com os dados da plataforma CrowdTangle, o conteúdo verificado conta com mais de 100 mil interações no Facebook, tendo sido compartilhado inclusive pelo deputado Marco Feliciano. O conteúdo também viralizou no Twitter, somando mais de 11 mil interações. O conteúdo do site Pleno.News também foi encontrado em outros blogs como o A Trombeta News, Atualidade em Foco, Opinião Crítica e Mídia News. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/tuite-compara-orcamento-do-stf-para-plano-de-saude-com-arrecadacao-do-patria-voluntaria-mas-omite-dados/
COMPROVA
Tuíte compara orçamento do STF para plano de saúde com arrecadação do Pátria Voluntária, mas omite dados
null
2020-07-21
Os valores que constam de um tuíte de Roberto Jefferson se aproximam dos valores reais, mas ele omite que o orçamento do STF-Med atende a 4.180 pessoas e que parte do valor é paga pelos beneficiários Conteúdo verificado: Tuíte de Roberto Jefferson no qual ele compara os valores arrecadados pelo Projeto Pátria Voluntária, administrado pela primeira-dama Michelle Bolsonaro, com os gastos do STF-Med, plano de saúde que atende funcionários do Supremo Tribunal Federal. Em uma publicação no Twitter, o ex-deputado federal e atual presidente nacional do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Roberto Jefferson, diz que o programa Pátria Voluntária, administrado pela primeira-dama Michelle Bolsonaro, arrecadou R$ 11 milhões em doações para combate à covid-19 enquanto o Supremo Tribunal Federal estaria gastando valor similar com plano de saúde de ministros, familiares e funcionários. Os valores são próximos dos montantes reais, mas a publicação força uma comparação descabida. Jefferson afirma que o STF vai gastar R$ 10 milhões com o plano de saúde. O valor aparece em dois editais do Supremo publicados nos dias 16 de abril e 28 de maio. Trata-se de uma estimativa de custos previstos para ampliar a rede de atendimento médico e odontológico credenciada do STF-Med, plano de saúde que atende a 4.180 pessoas vinculadas ao Supremo e não somente aos 11 ministros, como entendem alguns usuários que responderam ao post de Jefferson no Twitter. De acordo com os editais, o total de gastos pode chegar a R$ 10 milhões por ano, mas nos seis primeiros meses de 2020, mais da metade da despesa do plano foi bancada pelos beneficiários. Parte do orçamento do plano é custeado por meio do auxílio-saúde, um benefício que a legislação garante a todos os servidores públicos da União, não apenas do STF. O resto dos recursos é custeado pelos próprios beneficiados, que recolhem mensalmente entre R$ 121,03 e R$ 1.722,91, dependendo do tipo de vínculo com o plano. Além disso, os segurados pagam do próprio bolso um percentual que varia entre 10% a 40% da consulta, internação ou exame que utilizarem. A comparação é descabida pois equipara uma campanha de arrecadação com o orçamento da União. Além disso, não explica que a assistência médica é um benefício comum a muitas categorias de servidores públicos e não um privilégio do STF. No ano passado, o governo federal gastou mais de R$ 6 bilhões com esse benefício, sendo que quase 44% foram consumidos pelo Ministério da Defesa. A “Arrecadação Solidária”, campanha do programa Pátria Voluntária para aliviar os efeitos da pandemia entre idosos, pessoas com deficiência, população de rua e povos e comunidades tradicionais, de fato arrecadou mais de R$ 10,8 milhões entre os dias 06 de abril e 20 de julho. Como verificamos? A equipe do Comprova usou ferramentas de busca na internet, como o Google, para entender de onde vieram os valores citados no tuíte de Roberto Jefferson, publicado em 13 de julho. E encontramos reportagens com os valores arrecadados pelo Pátria Voluntária e sobre o edital de ampliação da rede do STF-Med, publicadas em datas próximas à da postagem. Com isso, tentamos contato com o Roberto Jefferson por meio da assessoria de imprensa do PTB para saber a fonte das informações que estão no tuíte. A reportagem pesquisou ainda as despesas orçamentárias do STF com assistência médica e odontológica a servidores por meio do site da transparência do órgão. Consulta semelhante foi feita no orçamento público federal a partir de dados disponibilizados no Portal Siga Brasil. Em seguida, entramos em contato com a assessoria de comunicação do STF para esclarecer dúvidas sobre o plano. Para saber como funcionam as doações, quanto foi arrecadado pelo Pátria Voluntária e quanto foi encaminhado para as vítimas da covid-19, buscamos a assessoria de imprensa da Casa Civil, responsável pelo programa, e a Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República (Secom), que atende às demandas relacionadas à primeira-dama. Por e-mail, a Secom informou que todas as informações sobre doações e valores disponíveis no site da campanha “Arrecadação Solidária” estão atualizadas. Por fim, recorremos à ferramenta de monitoramento de redes sociais CrowdTangle para saber o quanto a postagem de Roberto Jefferson havia viralizado. Verificação O Pátria Voluntária foi criado em julho de 2019, a partir do Programa Nacional de Incentivo do Voluntariado, inicialmente subordinado ao Ministério da Cidadania. O conselho é formado por representantes do governo e da sociedade civil, entre eles a primeira-dama Michelle Bolsonaro, que foi designada presidente. Seis meses depois, o Pátria Voluntária passou a ser vinculado à Casa Civil, um dos ministérios que funcionam dentro do Palácio do Planalto. Em 6 de abril de 2020, o programa lançou a campanha “Arrecadação Solidária” para recolher fundos para o combate à pandemia de covid-19. Qualquer pessoa pode participar, com um valor mínimo de R$ 30. O site da campanha informa que, até o dia 20 de julho, foram 3.985 doações, somando R$ 10.842.970 — média de R$ 2.720,94 por doação. Por e-mail, a Secom comunicou que “não há recebimento de orçamento governamental para essa ação, apenas doações privadas e voluntárias”. A secretaria também esclareceu que os dados no site do Pátria Voluntária estão atualizados. O Ministério da Casa Civil, órgão responsável pelo programa Pátria Voluntária, também confirmou que todos os recursos são captados através de doações e que os dados disponíveis no site são oficiais. Uma planilha disponibilizada na página da campanha mostra que 26% deste valor foi repassado a 245 entidades: R$ 2.872.644,55. São 122.810 pessoas beneficiadas, entre idosos, pessoas com deficiência, população em situação de rua e povos e comunidades tradicionais. Nem a assessoria da Casa Civil e nem a Secom informaram quando o restante das doações será repassado às entidades. STF-Med O STF-Med é o plano de Assistência à Saúde e Benefícios Sociais do Supremo Tribunal Federal. Segundo o regulamento geral do STF-Med, aprovado em 16 de abril de 2019, podem ser beneficiários os ministros ativos e inativos do STF, os juízes auxiliares, os magistrados instrutores, os servidores ativos e inativos do quadro permanente do Supremo, os ocupantes de cargo em comissão sem vínculo efetivo com a Administração Pública e os servidores cedidos ao órgão. Eles também podem indicar dependentes e agregados, nos termos da legislação. Com isso, o STF-Med atende 4.180 pessoas, entre titulares, dependentes e agregados, em 20 estados e no Distrito Federal. A contribuição mensal do STF-Med varia entre R$ 121,03 e R$ 654,97, para titulares e dependentes, e entre R$ 512,60 e R$ 1.722,91, para agregados. Além disso, os beneficiários também arcam com de 10% a 20% dos serviços usados na rede credenciada ou conveniada para atendimentos médico-hospitalares ou odontológicos. Para serviços de alto custo ou alta referência, o custeio fica entre 15% e 40% dos procedimentos prestados. O orçamento do plano serve para despesas médicas, hospitalares e odontológicas, reembolsos aos beneficiários e as despesas administrativas. As receitas do STF-Med vêm de recursos próprios, arrecadados por meio da contribuição mensal e da participação de custeio dos beneficiários, rendimentos das aplicações financeiras e recursos da União. Neste ano, a previsão de gastos bancados com o dinheiro público é de R$ 15,85 milhões. STF abriu editais de credenciamento para o plano Por WhatsApp, um assessor de imprensa do PTB disse que Roberto Jefferson retirou as informações de uma matéria do site Metrópoles que noticiou que o STF abriu licitação de R$ 10 milhões para contratar serviços de assistência médica e odontológica. Segundo o assessor, Jefferson “não fez fake news” ao publicar o tweet. O edital citado no site foi publicado em 28 de maio e pode ser encontrado na página do órgão. De acordo com o documento, ele se destina ao credenciamento de pessoas jurídicas para prestação de serviços aos beneficiários STF-Med “com vistas à complementação da rede credenciada”. O documento também informa que “considerando o prazo de 60 meses e a estimativa total de credenciamentos a serem realizados, prevê-se o valor de R$ 10 milhões para o total de serviços”. As despesas da execução do contrato serão custeadas com os recursos consignados ao STF no Orçamento da União de 2020 e, na falta destes, por recursos próprios do STF-Med, ainda segundo o edital. Procurado pela reportagem, o STF comentou, por meio de nota encaminhada pela assessoria de comunicação, que “não houve liberação/acréscimo de valores orçamentários no plano de saúde”. Dessa forma, segundo o órgão, não haveria custo maior para os cofres públicos. O Supremo declarou que o objetivo é credenciar “profissionais de saúde que eventualmente tenham interesse em oferecer os seus serviços aos servidores pelo valor da tabela de referência adotada pelo plano” e que estes receberão pagamentos “de acordo com o uso que os beneficiários do plano fizerem dos serviços oferecidos”. Sobre os R$ 10 milhões publicados no edital, a assessoria de imprensa do STF afirmou que se trata de “estimativa anual que se faz necessária”, sem entrar em detalhes. Argumentou ainda que este não será, necessariamente, o valor total pago pelo plano de saúde aos profissionais credenciados e sugeriu que, em razão do orçamento não ter sido alterado este ano, a diferença será quitada por meio das demais fontes. O Comprova também encontrou outro edital de credenciamento de empresas para prestação de serviços dentro do STF-Med, desta vez para a área odontológica, publicado em 16 de abril. O documento apresenta o mesmo valor — R$ 10 milhões — e a mesma nota de empenho do edital de assistência médica. A assessoria de comunicação do STF informou que a previsão de gastos engloba tanto o edital de credenciamento médico quanto o odontológico, totalizando R$ 10 milhões a cada ano. Até agora, orçamento não sofreu alterações De fato, não houve alteração no recurso orçamentário do STF para a finalidade até o momento, como foi declarado pelo órgão. De acordo com dados do portal de transparência do Supremo, o montante disponível para despesas com assistência médica e odontológica de servidores, até junho, era o mesmo aprovado inicialmente para 2020: R$ 15,85 milhões. Dessa forma, o plano de saúde conta, neste ano, com cerca de 1,7% menos recursos públicos autorizados do que no ano passado, em comparação com o orçamento inicial de 2019, de R$ 16,12 milhões. Posteriormente, o recurso disponível foi atualizado para R$ 17,33 milhões, possibilitando a despesa real de R$ 17,23 milhões naquele ano. Até o mês de junho deste ano, o STF executou R$ 8,45 milhões do orçamento destinado a este propósito. O valor equivale a 53,3% do montante autorizado. A partir de informações prestadas pelo STF-Med e da análise do orçamento público federal, a reportagem pode estimar a participação da União no plano de saúde dos servidores do Supremo. Ela fica em torno de 48,7%, considerando a execução do repasse da União entre os meses de janeiro e junho (R$ 8,45 milhões) e a despesa informada pelo STF-Med no mesmo período (R$ 17,36 milhões). Além disso, cada beneficiário do STF-Med custa, aproximadamente, R$ 336,82 por mês para os cofres públicos. O cálculo foi feito com base no número atual de beneficiários informado pelo STF-Med (4.180 pessoas) e a execução do orçamento no primeiro semestre deste ano (R$ 8,45 milhões). Gasto total da União com assistência médica é de R$ 6,26 bilhões Os funcionários do STF e seus dependentes não são os únicos a receberem o benefício. Dados do Portal Siga Brasil, do Senado Federal, mostram que, apenas no ano passado, a União gastou R$ 6,26 bilhões com assistência médica e odontológica aos servidores civis, empregados, militares e seus dependentes. O STF teve despesa de R$ 17,23 milhões. O Poder Judiciário como um todo gastou, na esfera federal, R$ 966 milhões com o benefício — sendo as Justiças do Trabalho, Federal e Eleitoral as mais caras do grupo. A União ainda custeia assistência médica e odontológica para servidores dos ministérios e do Congresso Nacional. Por que investigamos? Nesta terceira fase, o Comprova verifica postagens com grande viralização que tratam de políticas públicas do governo federal ou relacionadas à pandemia de covid-19, que até o dia 20 de julho já custou a vida de 79.488 brasileiros, de acordo com dados da Universidade Johns Hopkins. A publicação de Roberto Jefferson no Twitter soma as duas questões, ao comparar uma iniciativa beneficente coordenada pela primeira-dama no combate à covid-19 com críticas ao Supremo Tribunal Federal. O tuíte teve 8,1 mil interações em uma semana. A postagem foi reproduzida no Facebook e no Instagram por páginas de direita e de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mas sem tanto alcance. Foram 323 e 826 interações até a data desta verificação. O desempenho do governo Bolsonaro na pandemia é alvo de críticas no Brasil e no exterior. Mesmo depois de infectado pelo novo coronavírus, o presidente insiste em minimizar o impacto da pandemia e pedir a reabertura da economia. A postura gerou atritos com os ministros do STF. Logo nos primeiros meses da crise, o Supremo garantiu a governadores e prefeitos a autonomia para decretar medidas de isolamento social de acordo com a realidade local. A polêmica mais recente envolve o ministro do STF Gilmar Mendes, que afirmou no dia 11 de julho que o “Exército está se associando a genocídio” na pandemia do novo coronavírus. Desde então, Roberto Jefferson posta conteúdo contrário a Gilmar Mendes e ao STF em sua página no Twitter. Jefferson é um aliado recente do presidente Bolsonaro. Velho conhecido na política, foi deputado federal de 1983 a 2005, até ser cassado por envolvimento no escândalo do Mensalão. Nesse período, participou da Assembleia Constituinte e fez parte da base de apoio do ex-presidente Fernando Collor. Voltou ao cenário nacional em abril deste ano, depois da aproximação de Bolsonaro com os caciques do Centrão. O Comprova já verificou outros conteúdos falsos e enganosos envolvendo ministros do STF, como o texto que sugeria um decreto-lei inconstitucional para a criação de um tribunal militar, um áudio que pedia intervenção militar ou o vídeo que alegava que as Forças Armadas iriam prender os magistrados. Enganoso, para o Comprova, é todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/mascaras-sao-eficientes-no-combate-ao-novo-coronavirus-ao-contrario-do-que-diz-influenciador/
COMPROVA
Máscaras são eficientes no combate ao novo coronavírus, ao contrário do que diz influenciador
null
2020-07-18
Ao contrário do que afirma o autor de um vídeo que viralizou no Instagram, o processo de filtragem das máscaras não depende unicamente do tamanho dos poros — o Comprova verificou que existem vários processos físicos envolvidos. Veja quais são eles. Conteúdo verificado: Um vídeo que afirma que o uso de máscaras não ajuda no combate ao novo coronavírus publicado no Instagram pelo perfil rodrigopolesso. É falso que o uso de máscaras, sejam elas caseiras ou profissionais, não ajude a diminuir a transmissão do novo coronavírus. Em vídeo publicado no Instagram, o influenciador e escritor Rodrigo Polesso afirma que a peça de proteção não teria eficácia porque as partículas de saliva expelidas por pessoas infectadas seriam menores do que os poros das máscaras. Ele diz que a transmissão do SARS-CoV-2, o novo coronavírus, se dá por meio de aerossóis — que são partículas com tamanho menor que 5 micrômetros (μm). Porém, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a principal forma de transmissão do vírus é por meio de gotículas de saliva, maiores que 5 μm. Mesmo assim, independentemente do tamanho das partículas, o processo de filtragem das máscaras não depende unicamente do tamanho dos poros — existem vários processos físicos envolvidos. Partículas maiores, de pelo menos um micrômetro, viajam em linha reta e, mesmo que passem pelos poros, irão se chocar com as fibras das máscaras, que possuem várias camadas. Partículas menores que um micrômetro estão sujeitas ao movimento browniano — princípio físico que faz com que a trajetória das partículas seja aleatória e não em linha reta — responsável por fazer com que elas se choquem com as fibras das máscaras. Por fim, partículas ainda menores são atraídas por campos eletrostáticos presentes nos materiais das máscaras. Por isso, é importante que elas tenham, pelo menos, três camadas e sejam feitas com diferentes materiais — a recomendação é da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O vídeo engana também ao tentar relativizar a gravidade da pandemia afirmando que o SARS-CoV-2 está sendo estudado desde, pelo menos, 2015 e que todo ano o planeta enfrenta pandemias do vírus influenza e de outros coronavírus. Procurado pelo Comprova, Polesso afirmou que seu vídeo se baseia em evidências e não em sua opinião sobre o assunto. Segundo ele, o fato de a “OMS [Organização Mundial da Saúde] dizer algo não significa que este algo é verdadeiro ou baseado em evidências”, o que é falso. O trabalho da organização é baseado em expertise técnica e científica, referência para pesquisadores de todo o mundo. O órgão conta, inclusive, com uma Divisão Científica para subsidiar as normas elaboradas pela organização e que produz pesquisa na área da saúde pública . A OMS possui alto caráter técnico-científico, diferentemente de outras organizações internacionais, que têm, principalmente, a participação de diplomatas. Na Constituição da OMS — capítulo 5, artigo 11— é explicitado que as delegações na Assembleia Mundial da Saúde, o órgão máximo de deliberação da organização, devem ser escolhidas entre as personalidades mais qualificadas pela sua competência técnica no domínio da saúde. Como verificamos? A partir das informações presentes no perfil do Instagram de Rodrigo Polesso, o Comprova buscou mais informações sobre ele no Google e chegou ao projeto Emagrecer de Vez — que, segundo a definição do site, é um “movimento que tem com o objetivo quebrar mitos, simplificar e mostrar as verdades sobre o emagrecimento e estilo de vida saudável”. O site indica que Polesso é líder do “movimento” e reúne uma série de informações sobre ele e sua formação. Também buscamos os perfis de Polesso em outras redes sociais, como LinkedIn e Facebook. O Comprova acessou os artigos citados no vídeo por Polesso e outros artigos científicos sobre a eficácia do uso de máscaras para diminuir a transmissão do novo coronavírus. Também buscou informações em órgãos como Anvisa, Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), Organização Mundial de Saúde e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos. Entramos em contato com o médico e professor de infectologia Antônio Carlos Bandeira, integrante do Comitê Científico da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e chefe do Serviço de Infecção e Controle do Hospital Aeroporto — Bahia. Conversamos, também, com o pesquisador do Laboratório de Imunorregulação da Universidade Federal de Santa Catarina Carlos Zárate-Bladés, que é médico com mestrado e doutorado nas áreas de microbiologia e imunologia. Contatamos, ainda, o próprio autor do vídeo, Rodrigo Polesso, que respondeu aos questionamentos do Comprova por e-mail. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de Julho de 2020. Verificação No vídeo publicado no Instagram, o influenciador Rodrigo Polesso afirma que o uso de máscaras não tem eficácia porque as partículas de saliva expelidas por pessoas infectadas seriam menores do que o tamanho dos poros das máscaras. Pelo tamanho, essas gotículas não conseguem ficar suspensas no ar e caem no chão ou em outras superfícies rapidamente. As máscaras servem, principalmente, como uma barreira física para impedir que essas gotículas sejam expelidas por uma pessoa infectada, mas também para proteger a boca e o nariz de pessoas que não foram infectadas. Recentemente, centenas de pesquisadores publicaram um texto no jornal The New York Times pedindo para a OMS considerar que o novo coronavírus também é transmitido em larga escala por aerossóis, ou seja, por partículas menores que 5 micrômetros. A diferença é que essas partículas, por serem pequenas, podem ficar paradas no ar por horas. A OMS, no entanto, sustenta que esses estudos são inconclusivos e que, independentemente do tamanho das partículas expelidas pelos infectados que carregam os vírus, as máscaras ajudam a frear sua transmissão. Tamanho dos poros das máscaras Na sequência do vídeo, Polesso afirma que as partículas dos aerossóis têm um tamanho médio de 2,5 micrômetros e que as máscaras cirúrgicas comuns têm poros que variam de 19 a 51 micrômetros. “As partículas são muito menores que os poros das máscaras cirúrgicas”, conclui ele. Para falar do tamanho dos poros das máscaras, Polesso utilizou um artigo chamado “The Relationship of Fabric Properties and Bacterial Filtration Efficiency for Selected Surgical Face Mask”, publicado no Journal of Textile and Apparel, Technology and Management em 2003. O artigo testou seis modelos diferentes de máscaras e mediu o tamanho, peso, resistências e os poros das máscaras. Os números que Polesso utiliza estão corretos: os poros dos modelos de máscaras analisados variam de 16 a 51 micrômetros, segundo o artigo. Porém, ele deixou de fora uma medida muito importante: a eficácia da filtragem. Os pesquisadores testaram a filtragem com duas bactérias (S. aureus e E. coli), que tem tamanhos variando de 0,5 a 6 micrômetros, e descobriram que as máscaras filtravam, em média, 93% das amostras. Ou seja, mesmo com poros maiores que as bactérias, as máscaras ainda filtravam a grande maioria das amostras. Isso acontece porque a filtragem das máscaras ocorre em diferentes etapas e não depende apenas do tamanho dos poros. “As máscaras não funcionam unicamente através dos poros, mas funcionam de várias formas. É um fenômeno multifatorial que tem a ver com o tamanho das partículas, velocidade das partículas, tipos de tecidos usados, a características desses tecidos e também as cargas [elétricas] das partículas e dos materiais das máscaras”, explica o pesquisador Carlos Zárate-Bladés, do Laboratório de Imunorregulação da Universidade Federal de Santa Catarina. O artigo “Aerosol Filtration Efficiency of Common Fabrics Used in Respiratory Cloth Masks”, publicado na revista da Sociedade Americana de Química em abril, mostra que existem cinco mecanismos básicos que atuam na filtragem. Partículas grandes, com pelo menos um micrômetro, ficam presas nas fibras das máscaras. Isso acontece porque cada camada de máscara é formada por várias camadas de fibras. Ou seja, mesmo que a partícula passe pelo poro da primeira camada, ela ainda pode atingir as fibras da segunda, e assim por diante. As partículas menores, que variam no tamanho de 100 nanômetros até 1 micrômetros, são afetadas por um princípio físico chamado movimento browniano. Resumidamente, por serem muito pequenas, as partículas se chocam com moléculas presentes no ar e têm um movimento aleatório. Por conta disso, elas não se deslocam em linha direta e acabam atingindo as fibras das máscaras e ficando grudadas nelas. Partículas ainda menores que 100 nanômetros são atraídas por uma força eletrostática gerada pelas fibras dos tecidos e também ficam presas nas máscaras. “Os vírus têm proteínas em sua superfície e também tem lipídios na parte externa, e estas substâncias têm cargas elétricas. Então, esses elementos também são atraídos pelos tecidos que compõem as máscaras”, complementa Zárate-Bladés. Estudo publicado por Denis Rancourt Durante o vídeo, Polesso cita um artigo escrito por Denis Rancourt, um cientista e ex-professor de física conhecido por ter sido demitido da Universidade de Ottawa, no Canadá, após ter violado uma série de acordos coletivos de política da universidade. O artigo foi publicado inicialmente no site ResearchGate, mas foi posteriormente removido pelos administradores do site. Rancourt acusa a instituição de censura. A partir do artigo de Rancourt, Polesso extraiu diversos outros que são citados ao longo do vídeo. O Comprova leu todos e concluiu que nenhum afirma que as máscaras não funcionam (análise abaixo). A maioria dos artigos tem diversas limitações, como o não acompanhamento de quem utiliza a máscara para certificar do uso correto, que os próprios autores mostram nos trabalhos. Ou seja, Rancourt tira de contexto vários artigos para tentar provar a ineficácia das máscaras Estudos citados Para sustentar suas afirmações, Rodrigo cita no vídeo uma série de artigos sobre o uso de máscara para proteção de doenças respiratórias publicados entre 2009 e 2020. O primeiro é um teste randomizado feito no Japão sobre a capacidade das máscaras em reduzir a incidência de resfriados entre profissionais de saúde, publicado em 2009. Em um teste randomizado, os integrantes do grupo a ser testado e do grupo de controle são escolhidos aleatoriamente para evitar que outras características, como idade ou condição de saúde, distorçam os resultados. Segundo Rodrigo, o estudo mostra que “o uso de máscara não demonstrou nenhum potencial benefício nos sintomas do resfriado ou no potencial de ser infectado por um resfriado”. Esse trecho foi retirado da conclusão do artigo. Mas a frase seguinte ressalta que “é necessário um estudo maior para estabelecer definitivamente se não há menos risco em não usar máscara”. Outro artigo é uma revisão sistemática, quando o autor analisa estudos já publicados, sobre o uso de máscaras para prevenir a transmissão do vírus influenza, e foi publicado em 2010. Sobre ele, Rodrigo afirma que “nenhum dos estudos revisados mostrou o benefício de usar uma máscara, sendo dentro de hospitais, ambientes de saúde, ou mesmo com membros da comunidade usando”. A conclusão original do texto, porém, cita um vazio na literatura científica sobre esse assunto. “Enquanto há alguma evidência experimental de que as máscaras podem ser capazes de reduzir o potencial de infecção sob condições controladas, há menos evidência se isso pode se traduzir em efetividade das máscaras em um ambiente natural”, afirma. O texto sugere a necessidade de estudos maiores e mais detalhados para avaliar se as máscaras podem reduzir a transmissão dos vírus em um cenário de pandemia, o que descreve como uma prioridade urgente. O terceiro artigo, datado de 2011, é também uma revisão sistemática sobre o uso de máscaras para prevenir a transmissão do vírus influenza. No vídeo, Rodrigo afirma que “nenhum dos estudos estabeleceu uma relação conclusiva entre usar máscara ou respirador em qualquer proteção contra influenza”. De fato, a conclusão do texto afirma que as evidências para sustentar a efetividade do uso de máscaras nos serviços de saúde ou na comunidade são limitadas. Mas registra também que o uso precoce, correto e consistente das máscaras pode melhorar a sua eficiência. Para coletar informações capazes de definir a efetividade das máscaras, o artigo sugere que se financie a adoção de um mesmo protocolo em diferentes locais por vários anos, a fim de verificar a sua eficácia. Após mencionar o quarto artigo rapidamente, Rodrigo argumenta que “não teve diferença entre as duas coisas” ao comparar máscaras N95 e máscaras cirúrgicas para proteger trabalhadores da saúde de infecções agudas respiratórias, objeto do estudo. No entanto, omite que nas conclusões o paper menciona que “mais estudos clínicos randomizados controlados são necessários para detectar uma diferença clínica importante” e “que esses estudos em condições clínicas são as melhores evidências para avaliar a efetividade de informar a formulação de políticas públicas”. Além disso, não há menção ao controle de bactérias pelas máscaras cirúrgicas, assunto sugerido pela abordagem que Rodrigo faz do tema enquanto o estudo é visível na tela. O quinto artigo compara o efeito de proteção contra infecções respiratórias no uso de máscaras e respiradores, a partir de análise de diversos outros papers. O trecho lido por Rodrigo afirma que não houve evidência significativa de proteção de ambos contra infecções respiratórias virais, mas não cita a parte que aponta este tipo de infecção como rara entre as amostras dos estudos. Ele também omite que há uma ressalva no artigo que diz: “É mais provável que essa falta de evidência indique insuficiência no poder estatístico desses estudos do que uma falta de efeito de proteção.” O sexto e o sétimo artigos chegam à conclusão que não há diferença significativa na capacidade de proteção entre os trabalhadores de hospitais que usaram máscaras N95 e máscaras cirúrgicas. Ambos são mencionados por ele muito rapidamente, sem citar todas as limitações constatadas em cada um. Em seguida, Rodrigo diz genericamente ao se referir aos sete estudos que “as melhores evidências publicadas, antes dessa pandemia, estão mostrando claramente que [a máscara comum] não tem eficácia contra vírus respiratórios”, o que é falso, pois nenhum dos estudos permite esta afirmação. O que dizem especialistas e autoridades? A OMS recomenda o uso de máscaras como parte da estratégia para parar a transmissão do vírus. A entidade afirma que o uso de máscara por si só não é suficiente para fornecer um nível adequado de proteção contra a covid-19. Por isso, recomenda também que se mantenha uma distância mínima de um metro de outras pessoas, se lave constantemente as mãos e que se evite tocar o rosto ou a própria máscara. Segundo a OMS, máscaras médicas podem proteger as pessoas que as usam de serem infectadas. A organização recomenda, porém, que esse tipo de equipamento seja destinado a profissionais de saúde, pacientes com sintomas de covid-19, familiares que cuidam desses pacientes e grupos de alto risco, como idosos e portadores de comorbidades. Em relação às máscaras de pano, a OMS afirma que as evidências quanto a sua efetividade são limitadas e não recomenda o seu uso entre o público para o controle da covid-19. A entidade ressalta, por outro lado, que nas regiões com transmissão comunitária do vírus que tenham capacidade limitada para implementar medidas de controle, o seu uso pelo público em geral deve ser incentivado pelos governos. A regra vale especialmente para locais onde não é possível manter o distanciamento físico de um metro, como transporte público, lojas e ambientes fechados. Desde abril, o Ministério da Saúde recomenda o uso de máscaras caseiras para que as pessoas se protejam do novo coronavírus. Segundo a pasta, para que as máscaras caseiras sejam eficientes como uma barreira física, elas precisam ter duas camadas de pano e cobrir totalmente a boca e o nariz, além de ser justas ao rosto, sem deixar espaço nas laterais. Outra recomendação é para que sejam de uso individual, não podendo ser compartilhadas com outras pessoas. O ministério cita tecidos como algodão, tricoline e TNT como opções para confecção dos equipamentos. Em nota, o Inmetro afirmou que desenvolveu, em 2014, um programa para avaliar a qualidade de máscaras, com base em critérios estabelecidos pela Anvisa. A certificação indica que o produto passou por auditorias no processo produtivo e ensaios de inspeção visual, resistência à respiração, penetrações através do filtro, inflamabilidade, resistência da válvula de exalação à tração e vazamento da válvula de exalação. O processo de certificação é feito por organismos acreditados pelo Inmetro e segue os parâmetros de avaliação da Anvisa. Segundo o Inmetro, em 19 de março a Anvisa publicou uma resolução que define procedimentos temporários para equipamentos de proteção individual, incluindo máscaras, em virtude da emergência de saúde pública internacional causada pelo novo coronavírus. O texto diz que esses produtos ficam temporariamente “dispensados de certificação no âmbito do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade (SBAC)”. Por isso, o Inmetro suspendeu por 12 meses a compulsoriedade da certificação das máscaras, já que o suprimento delas é considerado essencial para combater a pandemia. Em entrevista ao Comprova, realizada por meio de áudios no Whatsapp, o médico e diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) Antônio Carlos Bandeira explicou que as máscaras funcionam como um anteparo para o vírus. “O uso da máscara previne a aerossolização dessas gotículas que quando o indivíduo fala, tosse ou espirra ele gera e contamina muito as outras pessoas”, afirmou o médico. A afirmação de Bandeira está em consonância com as recomendações do Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, que produziu a ilustração abaixo para conscientizar as pessoas sobre a importância do uso de máscaras para diminuição do número de infectados pela doença O médico destacou que o uso das máscaras se torna essencial na medida em que pessoas assintomáticas, ou com sintomas leves da doença, também transmitem o vírus. Segundo ele, “o uso de máscara previne a possibilidade de o indivíduo contaminado, mesmo que ele não saiba [que está infectado], de aerossolizar partículas, porque essas partículas vão ficar presas na porção interna das máscaras”. Bandeira afirmou que a máscara também pode proteger o indivíduo que é exposto ao vírus em um ambiente compartilhado com uma pessoa infectada que não usa máscara. O infectologista alertou, ainda, que existem alguns cuidados com as máscaras caseiras para que elas possam fornecer a maior e melhor proteção possível a quem as usa. As máscaras devem ter preferencialmente três camadas de tecido, precisam ser trocadas a cada três horas, e devem cobrir completamente o nariz, a boca e a porção lateral da face, se ajustando bem e incluindo o queixo. Confecção e uso das máscaras A Anvisa possui uma página que reúne as informações sobre máscaras e as indicações para o seu uso. A agência afirma que existem diversos tipos de máscaras para diferentes finalidades, de modo que para cada situação há um tipo apropriado de máscara. No contexto da pandemia do novo coronavírus, a Anvisa destaca três tipos: máscaras de proteção de uso não profissional, máscaras cirúrgicas e equipamentos de proteção respiratória. O primeiro tipo é o daquelas que “são confeccionadas artesanalmente com tecidos como algodão, tricoline, entre outros, e utilizadas para cobrir o nariz e a boca em espaços públicos durante a pandemia”. De acordo com a agência, essas máscaras atuam como barreiras físicas e reduzem a propagação do vírus. O médico e pesquisador Carlos Zárate-Bladés, da UFSC, reforça que é importante que as máscaras tenham, pelo menos, três camadas de tecidos diferentes, como recomenda a Organização Mundial da Saúde.“Que os tecidos sejam diferentes para que consigamos ter uma trama fechada, mas que permita respiração e que consigamos ter uma máscara que atue não unicamente por um só mecanismo”, afirma. “O algodão é um excelente tecido, que tem uma alta compactação, bastante fios e gera uma estrutura de rede que vai impedir a passagem de grandes partículas. Os poros podem ser permissivos para partículas menores, mas aí entram em jogo as outras camadas de tecido que vão estar por trás dessa capa de algodão. Um exemplo é a seda, que é um tecido que se considera que atua basicamente por carga, então a filtragem das partículas virais é melhorada”, complementa. Pesquisadores e professores do Centro de Ciências Biológicas (CCB) da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), entre eles Zárate-Bladés, desenvolveram um passo a passo para a produção de máscaras caseiras visando o melhor aproveitamento das propriedades dos tecidos. Sobre as máscaras caseiras, a Anvisa publicou, em 3 de abril, um documento com orientações gerais para seu uso. A agência afirma que “as máscaras faciais não-hospitalares não fornecem total proteção contra infecções, mas reduzem sua incidência”, e destaca que o “o efeito protetor por máscaras é criado por meio da combinação do potencial de bloqueio da transmissão das gotículas, do ajuste e do vazamento de ar relacionado à máscara, e do grau de aderência ao uso e descarte adequados”. A agência ainda define outros tipos de proteções, como as máscaras cirúrgicas que precisam ser testadas e seguir normas específicas, e máscaras PFF2 e N95 que tem um poder de filtragem superior às outras. Além dos materiais usadas na confecção, a utilização correta das máscaras é muito importante para a efetividade de seu uso. Elas precisam estar bem acomodadas no rosto das pessoas. “Ela precisa vedar os espaços da boca e sobretudo os espaços do nariz de tal forma que a respiração seja feita sempre através da máscara, tanto na inalação quanto na exalação. É muito ruim se ela deixar passar ar pelas laterais, por baixo ou por cima da máscara”, afirma Zárate-Bladés. A parte da costura nos tecidos das máscaras também deve ser feita apenas nas bordas das máscaras e não na região central, para não danificar a continuidade das fibras. As máscaras também devem ser feitas de tecidos que sejam facilmente laváveis e que tenham uma duração mais longa. A recomendação da Anvisa é para que as máscaras sejam utilizadas por, no máximo, três horas e depois sejam lavadas com água e sabão, álcool 70 ou em uma solução com água sanitária. “Você pode ter a máscara mais perfeita do mundo, projetada de diversas formas e testada, mas o mais importante é o uso que a pessoa faz com ela: o bom uso implica em não tocar na máscara, lavar corretamente, saber retirar ela, saber colocar”, reforça Zárate-Bladés. A descoberta do SARS-CoV-2 e o comportamento do vírus influenza Na tentativa de minimizar a gravidade da pandemia, Polesso afirma, sem apresentar evidências, que o agente causador da covid-19, o SARS-Cov-2, é conhecido pelos pesquisadores desde, pelo menos, o ano de 2015. Não é o que apontam as evidências científicas, os especialistas e os órgãos de saúde. A Organização Mundial da Saúde (OMS) afirma que o SARS-CoV-2 era desconhecido antes do surto ocorrido em Wuhan, em dezembro de 2019. Entendimento análogo ao do Ministério da Saúde, do Centro de Controle de Doenças dos Estados Unidos e do médico, professor e diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia Antônio Carlos Bandeira, entrevistado pelo Comprova. O médico explicou que não existe nenhuma documentação que prove que o SARS-CoV-2 circulasse em populações humanas antes de dezembro de 2019 e esclareceu que “nós não sabemos ainda dizer se esse vírus circulava em animais [antes de dezembro de 2019]”. O Ministério da Saúde esclarece que o SARS-CoV-2 pertence à família dos chamados coronavírus, que causam infecções respiratórias. Segundo a pasta, “os primeiros coronavírus humanos foram isolados pela primeira vez em 1937. No entanto, foi em 1965 que o vírus foi descrito como coronavírus, em decorrência do perfil na microscopia, parecendo uma coroa. A maioria das pessoas se infecta com os coronavírus comuns ao longo da vida, sendo as crianças pequenas mais propensas a se infectarem com o tipo mais comum do vírus. Os coronavírus mais comuns que infectam humanos são o alpha coronavírus 229E e NL63 e beta coronavírus OC43, HKU1”. O Comprova verificou, em junho, outro boato que afirmava que o SARS-CoV-2 existia desde 2003. Em outra tentativa de minimizar a gravidade da emergência sanitária causada pelo novo coronavírus, Polesso afirma que todo ano há uma pandemia do vírus influenza, causador da gripe, ou de outros coronavírus — o que, segundo ele, não justificaria as medidas tomadas para o controle da atual pandemia como, por exemplo, o uso de máscaras. Essa informação, no entanto, engana. Segundo os critérios da OMS uma pandemia ocorre quando há disseminação mundial de uma nova doença. Para que a OMS classifique uma situação como pandêmica, portanto, não são levados em conta critérios como o tipo de doença ou sua gravidade — a definição de pandemia diz respeito essencialmente à disseminação de uma doença. O médico e professor de infectologia Antonio Carlos Bandeira esclareceu que não é correto afirmar que todos os anos ocorrem pandemias do vírus influenza. Segundo o especialista “todo ano ocorre a circulação usual do vírus da influenza em níveis não epidêmicos nem pandêmicos. Excepcionalmente em alguns anos, como foi o caso de 2009, houve uma pandemia [causada] pelo vírus H1N1. Mas essa é uma situação que podemos chamar de atípica — o usual são níveis de circulação do vírus em níveis que chamamos de endêmicos.” Quem é Rodrigo Polesso? Rodrigo Polesso se apresenta no Instagram como “especialista em ciência nutricional” e “autor bestseller”. Ele tem 245 mil seguidores no Instagram e 1,37 milhões de inscritos em seu canal no YouTube. Em seu Facebook, diz que estudou Ciências da Computação na Universidade Federal do Paraná (UFPR) — o que foi confirmado pela instituição, por e-mail — e também afirma, na biografia, que estudou nutrition (nutrição, em português) na Universidade Estadual de San Diego, nos Estados Unidos. Porém, na mesma rede social, exibe um certificado do curso “Nutrition for Optimal Health and Wellness” (Nutrição para Saúde Ideal e Bem-estar, em português). O curso é online, tem duração de cinco meses e não exige formação prévia na área de nutrição ou saúde. O Conselho Federal de Nutricionistas (CFN) afirmou, por e-mail, que não existe nenhum registro de Polesso no órgão. Ainda disseram que “a formação em Nutrição é ampla e tem duração de cinco anos” e que “para se tornar nutricionista é preciso ter um registro profissional no respectivo conselho regional”, caso contrário “o indivíduo estará exercendo a profissão de forma irregular, passível de sanções no âmbito civil e até criminal”. Em seu perfil no Facebook, Polesso ainda exibe o endereço de quatro sites distintos, que oferecem cursos variados: como gerar renda na internet, como fotografar e como emagrecer. Ao acessar as plataformas, é possível ver o nome de Polesso como fundador de todos eles. Todos são cursos online e pagos. Em um dos sites relacionados à nutrição e dieta, o Tribo da Forte, Polesso adicionou uma nota evitando o termo “nutricionista” e afirmando que ele “enquanto especialista certificado em nutrição otimizada para saúde e bem-estar pela San Diego State University [Universidade Estadual de San Diego], na Califórnia, é um expert por mérito próprio, tendo construído seu conhecimento na área de nutrição através de suas próprias pesquisas ao redor do mundo, não sendo formado em nutrição nem em qualquer outra área da saúde. Todos os conhecimentos, dicas e métodos compartilhados são de propósito meramente educacional. Nenhuma informação desta página ou do portal Tribo Forte substitui uma consulta com seu médico ou nutricionista. Jamais faça nenhuma mudança na sua alimentação ou estilo de vida alimentar sem antes consultar seu médico ou profissional de saúde. É só ele quem poderá avaliar de perto a sua situação atual e decidir se você está apto ou não á essas alterações”. Procurada por e-mail para comentar sobre o curso, a Universidade Estadual de San Diego não retornou os contatos do Comprova. Polesso também afirma ter estudado administração na Fundação Getulio Vargas. Por e-mail, a instituição afirmou que os funcionários “estão trabalhando remotamente, por isso, não será possível a checagem solicitada”. Procurado por e-mail, Polesso afirmou que por possui formação na área de ciências e exatas teria “grande poder analítico e crítico livre de ideologia para análise de evidência científicos e falácias lógicas em argumento”. Também disse que hoje em dia as pessoas têm acesso às “mesmas evidências que órgãos oficiais têm acesso” e que se estes “têm uma mensagem avessa as evidências, eles são passíveis de serem questionados”. Questionado sobre não ter uma formação na área da saúde, disse que o trabalho se resume “em informar e educar as pessoas sempre baseado em evidências e nunca em minhas opiniões” e afirmou que não prescreve e não consulta e que, por isso, “a questão de formação acadêmica é totalmente irrelevante neste cenário”. Ele voltou a reforçar que possui um certificado em nutrição otimizada para saúde e bem-estar na Universidade Estadual de San Diego, mas disse que o curso o decepcionou. Afirmou, ainda, que tem duas graduações em universidade federais, uma pós-graduação na Fundação Getulio Vargas e outra pós-graduação na Universidade da Califórnia Berkeley. “Nenhuma delas na área de nutrição ou da saúde. Meu conhecimento na área de emagrecimento e ciência nutricional vem das minhas próprias pesquisas baseadas em evidências ao longo dos últimos dez anos ao redor do mundo, coisa que toda e qualquer pessoa pode fazer independente de formação acadêmica na área”, afirmou por e-mail. Por que investigamos? O Projeto Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado na Internet. Quando esses conteúdos tratam da pandemia do novo coronavírus, a checagem é ainda mais relevante, já que pode colocar a saúde das pessoas em risco. É o caso do vídeo em questão, que pode induzir as pessoas a não utilizarem máscara, recurso recomendado por médicos e pelas autoridades de saúde para funcionar como uma barreira física contra a transmissão da covid-19. Desde o início da pandemia, o Comprova já desmentiu diversos boatos sobre o uso de máscaras, mostrando ser falso que elas reduzam a imunidade e potencializem a proliferação de bactérias. Também mostrou não serem verdadeiros um vídeo e um áudio que acusavam máscaras importadas da Ásia de estarem contaminadas. Na última delas, o Comprova desmentiu que máscaras contaminadas fossem ser distribuídas para a população de São Paulo. Até a data de fechamento deste texto, o vídeo somava mais de 31 mil visualizações no Instagram. O Comprova também encontrou a publicação no Facebook, mas com um baixo números de visualizações. Falso, para o Comprova, é um conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira
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['Projeto Comprova']
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2021-07-06
['Falso']
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COMPROVA
Texto engana ao dizer que cloroquina cura 98,7% dos pacientes com covid-19
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2020-07-17
O estudo citado em um texto que circula pelas redes sociais não é conclusivo e foi feito com uma metodologia contestada Conteúdo verificado: Post do site Sappno afirma que estudo provou que o uso de cloroquina e azitromicina é responsável pela cura de 98,7% dos pacientes com covid-19 em um hospital francês Um texto publicado em maio no site Sappno e compartilhado recentemente por páginas do Facebook como “Aliança pelo Brasil” e “Lava Jato Notícias” traz informações equivocadas sobre o uso de medicamentos como hidroxicloroquina e azitromicina. A publicação engana ao sugerir que esses medicamentos têm eficácia comprovada no tratamento da covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, usando como fonte um estudo que não segue métodos capazes de chegar a essa conclusão. Com o título “Estudo diz que a cloroquina ‘é segura’ e aponta cura de 98,7% dos pacientes”, o texto faz referência a um artigo publicado na plataforma ScienceDirect e vinculado à revista Travel Medicine and Infectious Disease em maio de 2020. Porém, o estudo tem qualidade científica questionada, uma vez que a metodologia utilizada não permite conclusões de causa e efeito em relação ao uso do medicamento e o tratamento da covid-19. Entre os autores do estudo está Didier Raoult, infectologista francês criticado na comunidade científica por utilizar métodos duvidosos em suas pesquisas. Raoult ganhou projeção durante a pandemia por propor, na mídia, o uso da hidroxicloroquina para tratar a covid-19 antes mesmo de ter publicado pesquisa a respeito – o que chegou ao conhecimento de líderes como o presidente dos Estados Unidos Donald Trump, que chamou a proposta de “cura milagrosa”. Como verificamos? Para verificar o conteúdo, o Comprova acessou a publicação original do estudo mencionado pelo texto que viralizou, no site ScienceDirect. Depois, comparou o conteúdo do post do site Sappno com o que estava de fato no artigo científico. Para entender sobre a razoabilidade da metodologia científica aplicada, além de pesquisar sobre o assunto em veículos jornalísticos, entrevistamos Natalia Pasternak, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e presidente do Instituto Questão de Ciência – organização dedicada à promoção do pensamento científico e do uso de evidências científicas nas políticas públicas. Além disso, pesquisamos sobre a posição de órgãos de saúde como a OMS (Organização Mundial da Saúde) a respeito do uso da cloroquina. Sobre o medicamento, também entrevistamos o médico Antônio Carlos Bandeira, professor de Infectologia da UniFTC e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Ao analisar os nomes dos pesquisadores envolvidos na produção do artigo, encontramos Didier Raoult. A partir disso, buscamos em publicações na imprensa e nas redes sociais sobre a atuação do pesquisador tanto antes quanto durante a pandemia. Também entrevistamos Pasternak sobre o assunto. Para compreender sobre o processo de aprovação de artigos científicos pela Travel Medicine and Infectious Disease, também tentamos entrar em contato via e-mail com a pesquisadora Patricia Schlagenhauf-Lawlor, editora-chefe. No entanto, não tivemos retorno até o fechamento desta verificação. A credibilidade da revista no meio acadêmico também foi analisada, comparando-a com as revistas mais respeitadas da área, como Lancet e New England Journal of Medicine. É possível medir a credibilidade de revistas científicas a partir do fator de impacto – número calculado a partir de quantas vezes artigos daquela determinada publicação foram citados em outros estudos. Quanto maior o número, maior tende a ser a credibilidade. Enquanto a Travel Medicine and Infectious Disease tem fator de impacto 4.589, a Lancet tem 60.392 e a New England Journal of Medicine tem 74.699. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de julho de 2020. Verificação O texto viral e o estudo O texto que viralizou começa dizendo que “boa parte da mídia parece fazer uma verdadeira campanha contra o uso da cloroquina” para tratar pacientes com covid-19 e que “pesquisadores sérios em várias partes do mundo reconhecem a eficácia do medicamento”. Essa afirmação não é verdadeira. As informações que têm sido veiculadas pela imprensa sobre o uso da cloroquina, e de seu derivado hidroxicloroquina, são baseadas em estudos reconhecidos com credibilidade pela comunidade científica e por órgãos de saúde. A cloroquina é um medicamento antigo usado contra a malária. A hidroxicloroquina é utilizada no tratamento de doenças autoimunes, como artrite reumatoide e lúpus. De acordo com a OMS (Organização Mundial da Saúde), embora a cloroquina possa ter algum impacto sobre alguns pacientes com covid-19, não há, até o momento, tratamento efetivo ou drogas comprovadas contra o novo coronavírus. Sabe-se, ainda, que a cloroquina pode causar efeitos colaterais como arritmias, hepatite, pancreatite e choque anafilático. O estudo citado pelo texto viral é intitulado “Tratamento precoce de pacientes com covid-19 com hidroxicloroquina e azitromicina: uma análise retrospectiva de 1.061 casos em Marselha, França”. O post afirma que “a administração combinada” dos dois medicamentos “antes da ocorrência de complicações com covid-19 é segura e associada a uma taxa de mortalidade muito baixa nos pacientes” – o que, de fato, consta da conclusão da pesquisa. Porém, em entrevista ao Comprova, Natalia Pasternak, pesquisadora do Instituto de Ciências Biomédicas da USP e presidente do Instituto Questão de Ciência, afirmou que esses medicamentos “não funcionam nem separados nem em combinação” no tratamento da covid-19. Sobre o uso em combinação, ainda segundo ela, sabe-se também que há um aumento significativo de risco cardíaco. De acordo com o médico Antônio Carlos Bandeira, professor de Infectologia da UniFTC e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI), “não existe comprovação (da eficácia da cloroquina ou da hidroxicloroquina) até o momento, considerando os estudos que já foram feitos”. “A verdade é que a gente não tem segurança para tratar em massa as pessoas com cloroquina”, diz, em entrevista ao Comprova. O médico lembra ainda que a maior parte dos pacientes com covid-19 se cura sem maiores problemas. “Então, não é porque a pessoa se curou que a cloroquina funciona. É para isso que existem os estudos randomizados e com grupos de controle – para mostrar se, com esse medicamento, as pessoas se curariam mais ou não”, lembra. A SBI afirma que não há evidência para o uso da cloroquina e não apoia o uso do medicamento no tratamento do novo coronavírus. O método utilizado pelo estudo Como o título antecipa, o estudo realizou uma análise retrospectiva. Isso significa que a pesquisa toma como base dados já disponíveis – nesse caso, fichas hospitalares – e não pressupõe uma intervenção direta dos pesquisadores no tratamento. Trata-se de um estudo observacional. O método científico considerado mais confiável é o ensaio clínico randomizado controlado. Para realizá-lo, os pesquisadores recrutam um grupo de participantes voluntários, realizam uma intervenção e acompanham os efeitos por meses. Há algumas características importantes que um estudo desse tipo deve cumprir para seja considerado bom. Uma delas é a existência de um grupo de controle – ou seja, os participantes devem ser separados em no mínimo dois grupos (um recebendo o tratamento e outro não, por exemplo) para que seja possível fazer uma comparação entre eles. A randomização também é importante, isto é, uma alocação aleatória de participantes entre os grupos de controle. Outras características são controle de placebo e duplo-cego (quando, para evitar vieses, nem os pesquisadores nem os participantes sabem quem recebeu placebo). Em entrevista ao Comprova, Pasternak afirmou que o estudo observacional “já não é uma qualidade de metodologia científica que possibilita que a gente tire conclusões sobre qualquer tipo de relação de causa e efeito”. Segundo a pesquisadora, esse tipo de estudo serve para direcionar se vale a pena fazer um estudo “desenhado, direitinho, prospectivo – daí que você olha pra frente –, randomizado, duplo-cego, com grupo placebo, tudo certinho”. Além dessa questão metodológica, o artigo mencionado pelo texto viral é de qualidade questionável. “Nem grupo de controle de comparação eles usaram. Todo mundo no estudo deles tomou [os medicamentos]. Não tem comparação. Numa doença em que você tem 90% de taxa de cura. Então, o que eles estão dizendo? ‘Olha, todo mundo que tomou hidroxicloroquina melhorou. Mas a gente não sabe se quem não tomou também melhorou porque a gente nem olhou isso’. Não faz sentido nenhum”, afirmou Pasternak. Isso também se confirma em relação à faixa etária mais afetada pela covid-19. “Se você for olhar nas tabelas, você vai ver que os pacientes que tiveram um bom desfecho têm a idade média em torno de 40 anos. Os que tiveram um desfecho pior têm a idade média em torno de 60”, disse a pesquisadora. Ou seja, os resultados repetem um padrão da pandemia de covid-19, impossibilitando a associação com o consumo específico de hidroxicloroquina e azitromicina. Quem é Didier Raoult Um dos autores do artigo é o infectologista francês Didier Raoult, que já havia aparecido em verificação do Comprova do 10 de julho. Raoult foi criticado diversas vezes pelos métodos duvidosos (como erros, omissões, mecanismo deficiente de controle, distribuição não randomizada de pacientes para os grupos de controle) de pesquisas e por posicionamentos em relação à cloroquina. É um negacionista do aquecimento global e é contra a vacinação obrigatória. A cloroquina já havia sido considerada para tratamento de infecções de outros tipos de coronavírus após as epidemias de SARS e MERS. Mas, na época, não foram feitos testes clínicos em humanos para confirmar a eficácia da droga. Em março, antes mesmo de publicar seu primeiro artigo sobre o tema, Didier Raoult deu uma entrevista para a rede de TV americana Fox News sobre o uso do medicamento para tratar pacientes com covid-19. Pouco depois, um artigo publicado por ele ainda em março sugeria que a cloroquina poderia ser usada como tratamento para o SARS-CoV-2, o novo coronavírus. Esse estudo, porém, foi muito criticado. Outros pesquisadores questionaram os resultados e os considerados anedóticos, sem comprovação científica. A International Society of Antimicrobial Chemotherapy e a Elsevier, responsáveis pela revista que publicou o artigo, anunciaram um novo processo de revisão independente. Na entrevista que concedeu à New York Times Magazine em maio, Raoult contou que estava concluindo um novo estudo com 1.061 pacientes usando uma combinação de hidroxicloroquina e e azitromicina e cujos resultados preliminares foram publicados em abril. Trata-se do estudo presente no post que viralizou, analisado acima. A versão preliminar havia sido tuitada pelo deputado federal Marco Feliciano. O tuíte, até o fechamento dessa verificação, tinha mais de 1,5 mil compartilhamentos e 3,6 mil curtidas. Na versão anterior do estudo, as drogas foram caracterizadas como “seguras e eficazes”. A versão atual as define apenas como “seguras”. Na época, o Aos Fatos explicou que a pesquisa não tinha um grupo de controle que pudesse ser usado para comparar os resultados. “Papers como este último do francês são chamados de descrições de caso, um tipo de estudo que pode surgir de observações dos médicos em seu dia a dia. Normalmente, essas pesquisas têm um número pequeno de casos, não têm grupo de controle e não permitem tirar conclusões sobre a eficácia de um medicamento”, explicou o site. Segundo a New York Times Magazine, a virologista Christine Rouzioux afirmou que a taxa de cura apontada no estudo é “quase idêntica” à que foi descrita se você deixar a doença seguir o seu curso natural. A virologista Karine Lacombe discordou que o artigo demonstre que a combinação das duas drogas seja eficaz para tratar a covid-19. Raoult também não havia obtido autorização das autoridades competentes para testar a combinação das duas drogas. Em entrevista ao Comprova, Natalia Pasternak afirmou que Raoult é conhecido na comunidade científica como um “publicador em série”. “Ele publica muito mais do que seria humanamente possível, levando a comunidade científica a acreditar que ele simplesmente coloca o nome dele em todos os papers que saem do centro de pesquisa dele, do hospital dele e de trabalhos dos quais ele nunca participou. Então, se fizer a conta da periodicidade com que ele publica, é como se ele publicasse um paper a cada três dias. É uma coisa que é humanamente impossível”, explicou a pesquisadora da USP. Verificação anterior do Comprova mostrou que Raoult já teve 157.174 citações ao seu nome em artigos científicos publicadas desde 1995; ressaltando que ele assina seu nome em quase todos os artigos produzidos em seu instituto. Pasternak também classifica de “antiética” a postura de Raoult sobre a hidroxicloroquina durante a pandemia. “Mesmo antes da publicação daquele primeiro paper infame dele, que deu origem a todo esse hype, ele foi na mídia falar que ele tinha achado a cura. E foi isso, inclusive, que deu origem ao hype, foi isso que chegou aos ouvidos do Trump e depois aqui nos do Bolsonaro. Então é um pesquisador que tem aí sérios problemas éticos passados, de conduta científica mesmo, e que tem publicado na pandemia insistentemente sobre a hidroxicloroquina com papers de baixíssima qualidade”, disse. Bolsonaro e a cloroquina Apenas dois dias após o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, defender pela primeira vez o uso da cloroquina, o presidente brasileiro Jair Bolsonaro anunciou, em 21 de março, que o Exército ampliaria a produção do medicamento no país para pacientes com o novo coronavírus. Já no dia 25, o Ministério da Saúde emitiu uma nota técnica autorizando o uso da medicação em pacientes graves de covid-19. Nos meses seguintes, Bolsonaro demitiu dois ministros da saúde, Luiz Henrique Mandetta, em 16 de abril, e Nelson Teich, em 15 de maio. Ambos são médicos e se opunham à prescrição de cloroquina para tratar pacientes com quadros leves da doença. Em 20 de maio, o Ministério da Saúde, já tendo como ministro interino o general Eduardo Pazuello, passou a orientar o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina no “tratamento medicamentoso precoce” de pacientes com o novo coronavírus. O documento, porém, ressalta que “ainda não há meta-análises de ensaios clínicos multicêntricos, controlados, cegos e randomizados que comprovem o benefício inequívoco dessas medicações para o tratamento da covid-19”. O tema voltou ao debate depois do dia 7 de julho, quando Jair Bolsonaro anunciou que testou positivo para o Sars-CoV-2. No mesmo dia, o presidente postou um vídeo nas redes sociais mostrando que estava tomando doses de hidroxicloroquina. No dia 9, em outra transmissão ao vivo, o presidente segurou uma caixa do medicamento e disse que ela estava sendo “eficaz” para curá-lo. No dia 14, o deputado de oposição Rogério Correia (PT-MG) entrou com uma representação por improbidade administrativa contra Bolsonaro por “incentivar e determinar o aumento da produção de uma substância cuja eficácia é rejeitada por cientistas”. A instauração de um procedimento depende de análise da Procuradoria-Geral da República (PGR). Por que investigamos? O Projeto Comprova verifica conteúdos sobre a covid-19 que tenham grande alcance em redes sociais e grupos de mensagem. A checagem de fatos durante a pandemia adquiriu uma importância ainda maior, uma vez que a desinformação afeta diretamente a saúde das pessoas. Nesse caso, a verificação é importante porque envolve o uso de medicamentos cuja eficácia não foi cientificamente comprovada – como a hidroxicloroquina e a azitromicina – e que podem gerar efeitos colaterais. O conteúdo, sugerido por leitores do Comprova, chegou a ter 1,8 mil compartilhamentos na página “Lava Jato Notícias”, no Facebook. Uma versão preliminar do estudo “Tratamento precoce de pacientes com covid-19 com hidroxicloroquina e azitromicina: uma análise retrospectiva de 1.061 casos em Marselha, França” já havia sido compartilhada pelo deputado federal Marco Feliciano (PSC) em sua conta do Twitter em abril e teve mais de 3,6 mil curtidas e 1,5 mil compartilhamentos. A agência de fact-checking Aos Fatos chegou a citar essa postagem do deputado em um texto, ao falar da problemática dos métodos utilizados por Didier em suas pesquisas. Além disso, verificar o conteúdo passa por uma importância política, uma vez que a defesa do uso da hidroxicloroquina para pacientes com covid-19 faz parte da agenda do presidente Jair Bolsonaro. O post que viralizou faz essa relação e afirma que “a proposta do governo Bolsonaro para a ampliação do uso da cloroquina é justificável, e não uma fantasia”. O Comprova também verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal. Por isso, torna-se necessário contextualizar e contrastar a visão das autoridades de saúde sobre o medicamento e o histórico de defesa desse medicamento não só por Bolsonaro, mas por outras lideranças políticas. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/decreto-lei-para-criar-tribunal-constitucional-militar-e-enganoso-e-inconstitucional/
COMPROVA
“Decreto-lei” para criar Tribunal Constitucional Militar é enganoso e inconstitucional
null
2020-07-16
É enganoso texto apresentado em vídeo no Facebook que trata da criação de um "Tribunal Constitucional Militar". A Constituição de 1988 não prevê, no processo Legislativo, a figura de decreto-lei Conteúdo verificado: Vídeo publicado no Facebook apresenta proposta de texto de um advogado para um decreto-lei que cria um Tribunal Constitucional Militar. É enganoso o vídeo publicado no Facebook sobre um texto que propõe a criação de um Tribunal Constitucional Militar. O autor da gravação, André Basílio, divulga uma proposta de decreto-lei que permitiria que o presidente da República criasse “um tribunal acima do STF”, para “poder julgar e condenar ou absolver, se for o caso, os ministros do STF que têm praticado crimes aqui no Brasil”. No vídeo, André dá a entender que o presidente Jair Bolsonaro poderia assinar o texto e colocá-lo em prática. No entanto, a Constituição de 1988 não prevê a criação de decretos-lei. O autor da gravação, André Basílio, faz referência ao texto proposto pelo advogado Marcos David Figueiredo de Oliveira, que afirma em seu site que o tribunal seria “a única opção constitucional diante da falência comprovada do poder judiciário e do poder legislativo”. O Comprova conversou sobre o conteúdo proposto por Oliveira com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP), Caio Augusto Silva dos Santos. De acordo com ele, o decreto escrito pelo advogado é inconstitucional. O decreto-lei é uma norma expedida em caráter de urgência e de forma excepcional pelo poder Executivo. No entanto, a Constituição Federal de 1988 não prevê mais esse tipo de processo, deixando ao Executivo a possibilidade de elaborar uma Medida Provisória, que pode ser apresentada de forma emergencial com força de lei — mas que, para ser transformada em lei de forma definitiva, precisa ser aprovada pelo Congresso Nacional. Como verificamos? Pesquisamos sobre André Basílio em suas redes sociais e encontrou publicações já desmentidas pelo Comprova e outras agências de fact-checking. No dia 9 de julho, escrevemos uma mensagem direta via Facebook para Basílio pedindo uma entrevista. Foram enviadas outras solicitações, em 13 e 15 de julho – nenhuma foi respondida. Também em 9 de julho, a equipe entrou em contato com Oliveira pelo e-mail informado em seu site. Sem resposta, o Comprova voltou a enviar um e-mail no dia 14, quando o advogado ligou para a equipe. A entrevista foi feita por mensagens de textos no WhatsApp. Também levantamos informações sobre Oliveira em veículos de informação, no LinkedIn e nos sites do Tribunal de Justiça de São Paulo e Diário de Justiça do Estado de São Paulo. Para ter mais informações sobre a constitucionalidade do texto proposto por Oliveira, o Comprova conversou por telefone com o presidente da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo (OAB-SP), Caio Augusto Silva dos Santos. Após a primeira conversa, houve uma segunda entrevista com Santos para esclarecer outros pontos jurídicos fornecidos por Oliveira. A equipe também contatou a Secretaria de Governo, que encaminhou o pedido para a Secretaria Especial de Comunicação Social (Secom). Esta, por sua vez, informou que as informações seriam dadas pelo Ministério da Defesa, que respondeu que “este tema não é de competência” do órgão e que o Comprova deveria falar com a Secretaria de Governo, primeira instituição contatada. Novamente, a equipe enviou e-mail e telefonou para a Secretaria de Governo, que mais uma vez informou que a secretaria de imprensa da Secretaria de Comunicação responderia. Procurado no contato informado, o órgão não retornou aos pedidos do Comprova. Verificação O que diz o decreto-lei? O texto propõe a criação de um tribunal constituído por um procurador-geral constitucional — nomeado pelo presidente — e 33 ministros, sendo cinco militares. O objetivo seria permitir ao tribunal processar e julgar membros dos três poderes. A proposta indica o uso das Forças Armadas no cumprimento de decisões monocráticas — ou seja, aquelas proferidas por um único magistrado. Para isso, o decreto-lei alega “estado de calamidade pública e a desordem institucional dos poderes executivo, legislativo e judiciário” e diz que não há fiscalização ou punição pelos conselhos e órgãos competentes. O decreto-lei prevê a prisão de autoridades judiciárias que admitirem ações apontando a inconstitucionalidade do tribunal. Também apresenta ao presidente da República a opção de “convocar a população por meio de mídias sociais, rádio e televisão para apoio ao referido decreto-lei”. Ficariam sob fiscalização do tribunal: Supremo Tribunal Federal, Superior Tribunal de Justiça, Tribunal Superior Eleitoral, Tribunal Superior do Trabalho e Tribunal de Contas da União; Ministério Público Federal, Ministério Público dos Estados e Conselho Nacional de Justiça; Tribunais de Justiça dos Estados e do Distrito Federal, Tribunais Regionais Federais, Tribunais Regionais Eleitorais e Tribunais Regionais do Trabalho; Senadores e deputados federais e estaduais; Governadores, secretários estaduais e prefeitos; Delegados de polícia e juízes de direito; Membros do Conselho dos Tribunais de Contas dos Estados e dos Municípios. OAB: Decreto não é constitucional O artigo 2º da Constituição afirma que os três poderes que constituem o Estado são o Legislativo, o Executivo e o Judiciário. As leis são criadas pelo Legislativo, que têm seus membros eleitos pela população. Ao Executivo, cabe estabelecer ações para que as leis sejam cumpridas. O Judiciário, por sua vez, deve decidir quem tem razão nos conflitos que surgirem na sociedade. Pela lei, os poderes devem ser “independentes e harmônicos entre si”. Ou seja: um não pode se sobrepor ao outro. A separação de poderes e a independência deles é prevista em cláusula pétrea — o que significa que não pode ser modificada. O presidente da OAB-SP, Caio Augusto Silva dos Santos, vê como “absolutamente inconstitucional” a proposta de criação do Tribunal Constitucional Militar, ainda mais com poder de determinar a prisão de autoridades que o contestarem. “Nos parece muito claro que a tentativa desta sugestão é uma tentativa de usurpação dos poderes constituídos, porque cada qual tem a sua competência. Decretar prisão é competência do Judiciário. Nenhum outro órgão pode se sobrepor a essas circunstâncias”, afirmou em entrevista ao Comprova. O decreto-lei, quando aplicável, foi uma exceção que permitiu ao Executivo apresentar normas em regime de urgência ou emergência. “Os decretos-leis e regulamentos são normas para complementar leis que já existem”, explicou. No entanto, normas do Executivo, como o caso de Medidas Provisórias, não podem “ir além do que a lei autoriza” — neste caso específico, criar um órgão com atuação superior ao Judiciário. Até porque, a aprovação seria a violação de uma cláusula pétrea, algo que não poderia ser modificado na Constituição. “Não tem a possibilidade de isso ser impulsionado por um decreto legislativo, porque o poder do presidente da República não chega a essa possibilidade”, observou. As assinaturas coletadas pelo site só representariam “pressão popular”, de acordo com Santos, embora não façam diferença por esbarrar em uma cláusula imutável. A alegação de que não há fiscalização do Judiciário também não procede. Santos citou a criação do Conselho Nacional de Justiça, outro órgão previsto pela Constituição, “criado para controlar e apresentar ações importantes no âmbito do poder Judiciário”. Quem é o autor da postagem? Autor da postagem, André Basílio mantém um perfil no LinkedIn no qual se apresenta como consultor em gestão empresarial na Tr3de International Business. No Facebook, onde circula o post sobre o decreto-lei, Basílio fez publicações de conteúdos comprovadamente falsos. Em uma delas, diz que uma unidade de saúde de BH “recebe R$ 1.500 por dia por cada leito ocupado com paciente que chega com dengue ou com gripe, e que colocam esta pessoa como sendo suspeita de COVID-19”. Conteúdo semelhante já foi desmentido pelo Comprova. Outro post foi marcado pelo Facebook como conteúdo falso. Outra postagem indica que ele se candidatou a deputado federal por Minas Gerais nas eleições de 2018. Em uma busca no DivulgaCand, site do TSE com informações sobre candidaturas, conferimos que ele concorreu pelo Patriota naquele ano. Não conseguiu a quantidade de votos para se eleger, mas ficou como suplente — o que significa que pode substituir um deputado titular do mandato de forma temporária ou definitiva. O Comprova enviou uma mensagem a Basílio no Facebook, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação. Quem é o responsável por formular o decreto? Marcos David Figueiredo de Oliveira é advogado. O Comprova acessou seu cadastro na OAB Nacional e conferiu que ele possui registro no Mato Grosso e também um cadastro suplementar em São Paulo. Em ambos os estados, ele apresenta situação regular. No seu perfil do LinkedIn, consta que é diretor jurídico na Marcos David Figueiredo Advogados Associados. Ele é o criador do site Moraliza, que traz, majoritariamente, posts e vídeos atacando a Justiça brasileira, como a publicação intitulada “Falência do Judiciário comprovada!”. A página apresenta um perfil em que Oliveira é apontado como sobrinho do general de divisão Nicanor Presídio de Figueiredo, que seria parente do último presidente do Brasil durante o período da ditadura militar, João Batista Figueiredo (1979-1985). O Comprova conferiu na Biblioteca Nacional, acervo digital de jornais do país, e encontrou o nome de Nicanor Presídio de Figueiredo na de 23 de junho de 1934 do Jornal do Brasil, em que ele é anunciado como futuro oficial de saúde do corpo do Exército. Em outra notícia do mesmo jornal, datada de 11 de agosto de 1988, o general é envolvido em uma confusão com uma operação do Detran. No entanto, não foi possível localizar nada que mencionasse o parentesco dele com o ex-presidente Figueiredo. Oliveira ficou conhecido por expor, na década de 1990, um caso de fraudes de títulos da dívida externa brasileira, convertidos em investimentos no país de forma ilegal. Em 1993, ele havia sido contratado para conseguir a liberação de títulos da dívida externa para o banco Paribas (posteriormente BNP Paribas), mas acabou entrando com processo judicial contra a instituição por não receber os honorários. Por meio das disputas na Justiça, foi descoberto que o valor adquirido com os títulos havia retornado para o exterior ficando com uma empresa de paraíso fiscal. Em 1996, a Polícia Federal abriu um inquérito para investigar o caso, levantando informações a respeito de operações supostamente ilegais no Banco Central. O caso é citado por Oliveira como justificativa para a criação do Moraliza, afirmando ter o objetivo de denunciar sentenças ilícitas do Judiciário. O advogado também coleciona polêmicas. Em novembro de 2015, ele entrou com o pedido de suspeição de uma juíza, após a audiência de um caso em que ele se desentendeu com a magistrada e a promotora, alegando que magistradas mulheres “cometem mais erros” e declarou que mulheres têm “agressividade excessiva, em razão da disfunção hormonal causada pela TPM gerando a autodestruição”. O caso tramita em sigilo, mas houve ampla repercussão em coletivos ligados a questões de gênero. Acusado de desacato e injúria pela história mencionada acima, é alvo de um processo que tramita no Tribunal de Justiça de São Paulo desde 2016. O processo, que também corre em sigilo, foi encontrado pelo Comprova ao pesquisar o nome de Oliveira na busca processual do site do TJ-SP, disponível para o público. Com base no número do processo e nas informações a respeito da Vara onde tramita, conseguimos encontrar no Diário de Justiça do estado uma publicação, de 21 de fevereiro de 2020, afirmando que o advogado não havia sido localizado para responder às acusações. Segundo a movimentação processual do TJ-SP, em 10 de março de 2020, o desembargador do caso determinou a suspensão do processo até que Oliveira seja judicialmente encontrado. “Diante do exposto, suspendo o processo e o prazo prescricional (…) Façam-se as devidas anotações e comunicações, aguardando-se o comparecimento espontâneo do réu ou dados que possibilitem localizá-lo em arquivo”, diz. Com isso, o prazo de prescrição também é suspenso. Já em 28 de março de 2018, o site do TJ-SP publicou um texto afirmando que Oliveira agrediu verbal e fisicamente dois magistrados do Fórum da Comarca de Itatiba. Ele teria acusado uma juíza de fraude, dizendo-se “fiscal de todos os juízes do Brasil” e afirmou que daria voz de prisão a ela. Segundo a nota, o juiz diretor do fórum teria sido chamado para interceder e, ao confrontar Oliveira, teria sido empurrado. Um boletim de ocorrência foi registrado pelos dois magistrados contra o advogado. O que diz o autor do texto? No primeiro contato, por telefone, antes que fosse possível fazer qualquer pergunta, Marcos David Figueiredo de Oliveira sugeriu ao Comprova que lesse antes um texto que ele publicou em seu site, intitulado “Breves considerações sobre a constitucionalidade do decreto-lei que cria o Tribunal Constitucional da Ordem Institucional (TCOI)”. Neste texto, ele defende que o presidente da República pode “promulgar as leis“. E continua: “Ora, quem faz leis é o Poder Legislativo. Entretanto, em estado de anormalidade esse direito está implícito nas atribuições do Presidente da República atuando como chefe de estado e comandante supremo das Forças Armadas, em razão do regime presidencialista”. Sem explicar, ele finaliza a resposta com “Regra de hermenêutica jurídica”. Questionado se o seu texto não fere a Constituição, já que promulgar e fazer leis não são a mesma coisa, ele, basicamente, repetiu o texto: “promulgar as leis significa ordenar oficialmente a publicação de uma lei. Só quem ordena a publicação de uma lei tem competência para legislar”. Informado sobre a posição da OAB, que afirmou que decretar prisão é competência do Judiciário e nenhum outro órgão pode se sobrepor a essas circunstâncias, Oliveira disse ser “muita infantilidade da OAB, porque as prisões serão decretadas através de um Tribunal Constitucional legalmente constituído”. Ao Comprova, Oliveira disse ter criado o decreto-lei “em face da desordem institucional, da insegurança jurídica e do estado de calamidade pública”. Em seu site, afirma ainda que “o tribunal é criado para acabar com desvios e corrupção de autoridades que são protegidas pela lei para terem autonomia e segurança em suas funções, mas, quando autoridades abusam dessa proteção, a ordem democrática é destruída e a governabilidade é perdida e quem sofre é a população”. Procurado novamente, o presidente da OAB-SP, Caio Augusto Silva dos Santos, reiterou que a proposta de Oliveira é inconstitucional. “Isso existia lá atrás, em outros momentos, mas não no atual ordenamento constitucional. Ele quase que propõe o presidente com o poder de decretar o que quiser, baixar o Ato Institucional, AI-5, de novo. Aí não existe no ambiente constitucional de hoje”, afirmou. “O que ele propõe é uma quebra do sistema democrático. Ele propõe que o presidente da República assuma o comando de tudo e desrespeite os demais poderes. Isso é ruptura constitucional, isso é revolução”, acrescentou Santos. Santos explicou novamente que o papel do Executivo não é o de criar leis: “O veículo para o presidente da República legislar, baseado em duas expressões, urgência e emergência, é a medida provisória (…) quem legisla é o Legislativo, e o Legislativo pode rejeitar a medida provisória. E aí ela perde a eficácia”. Por fim, acrescentou que as Forças Armadas “devem estar à disposição dos três poderes para controlar a ordem”, sem restrição específica ao comando do presidente da República. Convocação e “libertação” No dia 15 de julho, Oliveira enviou ao Comprova, via WhatsApp, uma mensagem convocando as pessoas a assinarem o texto a partir do dia 16 de julho. É o mesmo texto que está em seu site. “Participe desse momento histórico onde pela primeira vez um Presidente da República fará o desejo do povo! Você guardará uma cópia do requerimento que assinou para conhecimento de suas futuras gerações, como prova de que participou do movimento que restabeleceu a ordem no País”, escreveu. Segundo Oliveira disse ao Comprova, ele vai colher assinaturas (ou “votos”, como ele escreveu) até 6 de setembro. Questionado sobre a validade das assinaturas, o advogado afirmou que “o presidente Jair não estará pedindo a validação do decreto-lei porque não necessita disso, como exposto. Apenas pediu apoio à população para destacar e realçar sua autoridade como comandante supremo das Forças Armadas. Não se trata de referendo ou plebiscito, que é da iniciativa do Congresso Nacional”. O texto do “decreto-lei” é datado de 7 de setembro. Questionado sobre o porquê da data, ele afirmou ser “o dia da nossa liberdade, de fato”. Por que investigamos? Nesta terceira fase do Comprova, o projeto retoma o monitoramento e a verificação de conteúdos suspeitos que obtenham grande alcance sobre políticas públicas no âmbito do governo federal. É o caso do vídeo em que André Basílio apresenta o texto de Marcos David Figueiredo de Oliveira, que teve 448 mil visualizações e 46 mil compartilhamentos só no Facebook até o dia 16 de julho. O conteúdo, encaminhado por leitores do Comprova, circula no momento em que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) está envolvido em manchetes por ter participado de atos pró-golpe militar, sugerido o uso da Força Nacional em protestos contra seu governo e se desentendido com o STF. O Boatos.org desmentiu, no ínicio de julho, que o decreto-lei tivesse sido implementado por Bolsonaro. Usando cinco vezes o nome “Constituição Federal” e 55 a palavra “constitucional” em seu texto, Oliveira fere a Carta Magna brasileira ao defender a criação de um tribunal “com plenos poderes para julgar todas as autoridades do país”. Com o conteúdo em questão, Oliveira e Basílio tentam colocar as conquistas obtidas pelos brasileiros com a Constituição de 1988 em risco. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/site-usa-texto-sobre-boa-aprovacao-de-lula-para-tratar-de-apoio-a-bolsonaro/
COMPROVA
Site usa texto sobre boa aprovação de Lula para tratar de apoio a Bolsonaro
null
2020-07-16
Site publicou texto descrevendo uma suposta pesquisa na qual o presidente da República teria 64% de aprovação, mas era um plágio de reportagem de 2008 sobre a popularidade do ex-presidente Lula Conteúdo verificado: Texto publicado no site Notícias de Direita afirmando que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teria 64% de aprovação É falso que pesquisa recente do Datafolha tenha apontado 64% de aprovação do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O texto publicado pelo site Notícias de Direita, em 13 de julho deste ano e depois retirado do ar, afirmava que houve “recorde de aprovação” do governo atual, mas se trata, na verdade, de cópia de uma matéria do portal G1 de setembro de 2008. A reportagem original mostra os números de aprovação do segundo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), e não de Bolsonaro. Na realidade, a última pesquisa publicada pelo Datafolha, realizada nos dias 23 e 24 de junho, mostra que apenas 32% dos brasileiros aprovam a gestão de Bolsonaro – ou seja, consideram ela “ótima” ou “boa” –, enquanto 44% acreditam que ela é “ruim” ou “péssima”. Como verificamos? O Comprova buscou trechos da matéria publicada no site Notícias da Direita no Google. Um dos primeiros links que surgiram foi da reportagem do portal G1, do Grupo Globo, com um texto quase idêntico, mas com o nome do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Depois disso, procuramos as últimas pesquisas publicadas pelo Datafolha no site do instituto. Verificação O texto publicado pelo site Notícias de Direita é plágio de uma matéria publicada pelo portal G1 em setembro de 2008. A reportagem original mostra, na verdade, os números de aprovação do segundo governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). As informações foram copiadas quase palavra por palavra. Há poucas diferenças, como o nome dos presidentes e a data da publicação (originalmente a pesquisa de 2008 foi feita no mês de setembro). No texto do site Notícias de Direita, a “popularidade” de Jair Bolsonaro é justificada pelo “bom desempenho na pandemia”. No original, do G1, a avaliação positiva do ex-presidente petista é atribuída ao bom desempenho da economia. Veja comparação abaixo: Na época em que o texto original do G1 foi publicado, em setembro de 2008, 64% dos entrevistados consideravam o governo petista “ótimo” ou “bom”, 28% consideravam “regular” e 8% consideravam “ruim” ou “péssimo”. Além disso, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o presidente que teve a melhor avaliação de toda a série histórica do Datafolha atingindo 83% de aprovação no final do segundo mandato, em dezembro de 2010. Pesquisas recentes do governo Bolsonaro A última pesquisa publicada pelo Datafolha, realizada nos dias 23 e 24 de junho, mostra que 32% dos brasileiros consideram que Jair Bolsonaro (sem partido) estava fazendo um governo ótimo ou bom, enquanto 44% acreditam que gestão do presidente era ruim ou péssima. Outros 23% consideram a gestão regular. Desde o começo do mandato, o número de pessoas que desaprovam o governo Bolsonaro cresceu, enquanto os que aprovam o governo continua na mesma faixa. A primeira pesquisa Datafolha realizada no começo de abril mostrava Bolsonaro com 33% de ótimo/bom, 33% de regular e 30% de ruim/péssimo. Gráfico: A Flourish chart No dia 15 de junho, o cientista político e professor da Fundação Getulio Vargas (FGV) Cesar Zucco publicou um artigo na revista piauí em que analisou 127 pesquisas de opinião de diferentes institutos de pesquisa publicadas entre 10 de janeiro de 2019 e 9 de julho deste ano. De acordo com a análise, o número de pessoas que acreditam que Bolsonaro está fazendo um governo “ótimo” ou “bom” está caindo desde a posse — como mostram também os números do Datafolha. Além disso, utilizando um algoritmo capaz de comparar o resultado de pesquisas de opinião diferentes, Zucco mostra que Bolsonaro estaria com uma aprovação na faixa dos 25%, ainda menor do que a mostrado pelo Datafolha. Por que investigamos? O Projeto Comprova verifica conteúdos suspeitos que viralizam na internet e nas redes sociais. Políticas públicas do governo federal são parte do escopo do projeto e, portanto, o mesmo ocorre com a percepção pública sobre a Presidência. De acordo com o CrowdTangle, ferramenta de monitoramento de redes sociais, o link com a informação falsa investigada aqui teve mais de 12,5 mil interações apenas no Facebook, rede pela qual mais circulou. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. A Agência Lupa, o Aos Fatos e o Boatos.org também desmentiram a existência de tais resultados em pesquisa Datafolha sobre a popularidade de Bolsonaro.
https://i1.wp.com/projet…=601%2C377&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/receita-de-medicina-natural-nao-combate-a-covid-19/
COMPROVA
Receita de “medicina natural” não combate a covid-19
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2020-07-14
Não há comprovação científica da eficiência de uma receita natural associada a medicamentos para a covid-19 publicada nas redes sociais. O post investigado pelo Comprova usa indevidamente foto de um infectologista que não reconhece o texto como seu Conteúdo verificado: Texto publicado pela página “Alertando a Cidade” no Facebook explica a ação do coronavírus em três fases e recomenda o uso de uma receita natural combinada com medicamentos para o combate da covid-19, nos primeiros quatro dias da contaminação do vírus. Uma publicação que circula nas redes sociais, desde 10 de junho, engana ao aconselhar uma receita de “medicina natural” para combater os sintomas da covid-19. O texto ressalta que o vírus passaria por “fases de ataque”, antes de ocorrer o risco de morte. Ainda no mesmo texto, há uma recomendação de medicamentos naturais, que seriam eficientes para combater o vírus “nos primeiros quatro dias de contaminação”. O texto não está assinado e o nome do responsável pela receita não é revelado. A publicação usa a foto de um homem com máscara, que seria um profissional de saúde. A foto utilizada é de um infectologista da Paraíba, no nordeste brasileiro. O especialista não tem relação alguma com o texto e a receita não tem provas científicas de cura. Os responsáveis pela página foram procurados pelo Comprova, mas até agora, não responderam às tentativas de contato. Como verificamos? Para fazer a verificação da imagem utilizada no post, foi utilizado o Google Imagens, uma ferramenta de busca reversa que faz a localização de imagens por comparação, semelhança ou igualdade na internet. A única foto que aparecia disponível era a imagem da publicação falsa. Como o primeiro levantamento não foi bem sucedido, foi utilizado o Bing Image Match, que identificou a imagem como sendo compatível com o frame (imagem) do vídeo usado no Twitter do Jornal Nacional, telejornal noturno da TV Globo. Localizada a publicação no microblog do telejornal, foi detectado que a imagem era a mesma do depoimento de Fernando Chagas, que foi ao ar na edição do dia 13 de maio do JN. Após a busca inicial no Bing Image Match, a ferramenta passou a direcionar para o site Globoplay, onde está hospedado o depoimento em vídeo do infectologista. Após a identificação, um nova rodada de buscas foi realizada por meio de ferramentas como Google, para acessar páginas como a do Conselho Regional de Medicina, Currículo Lattes, do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e de notícias locais, no Estado da Paraíba, para levantar informações biográficas, profissionais e autorais sobre o médico foi realizada e, logo depois, foi agendada uma entrevista por vídeo com o especialista. Já para o levantamento de informações a respeito das medicações hidroxicloroquina, azitromicina e ivermectina, foi feita uma pesquisa básica no Google diretamente nas páginas da Organização Mundial da Saúde, Organização Pan-Americana da Saúde e Ministério da Saúde do Brasil. Nessas páginas foram levantados documentos, protocolos e estudos oficiais sobre os medicamentos citados e pesquisados como possibilidades terapêuticas para a covid-19. O Comprova também entrou em contato com a Sociedade Brasileira de Infectologia, e realizou uma entrevista com um médico indicado pela entidade para confirmar a veracidade das informações que constavam no “receituário”. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 14 de julho de 2020. Verificação Homem da foto é médico infectologista O homem mostrado na publicação é o médico-infectologista e farmacêutico Fernando Martins Selva Chagas. Ele é diretor-geral do Complexo Hospitalar de Doenças Infecto-contagiosas Dr. Clementino Fraga, localizado em João Pessoa, capital da Paraíba. Chagas foi nomeado em abril deste ano, na unidade que é considerada uma referência para casos de covid-19 naquela região. A imagem do médico surgiu a partir de um depoimento que ele fez na edição do Jornal Nacional, da TV Globo, no dia 13 de maio. A foto foi copiada de uma captura de tela do depoimento e utilizada na publicação enganosa na rede social. Procurado pelo Comprova, Fernando Chagas confirma que a imagem é dele. Na entrevista, Chagas explica que no período da pandemia ele tem dado várias entrevistas para vários órgãos de imprensa para prestar serviço à sociedade sobre o coronavírus. Além disso, o especialista ressalta que nunca prescreveria online algo “absurdo” como foi colocado na publicação. “Sempre penso as prescrições, elas são feitas individualmente, para cada pessoa. A gente considera a idade, peso, uma série de características. É importante ver o paciente; é importante retornar ao paciente. Você imagina a quantidade de pessoas expostas às ações dos medicamentos e substâncias porque estão lendo isso daí?!”, respondeu indignado. Sobre as fases do vírus, o infectologista afirma que existem etapas do avanço da doença, porém não é como foi colocado na publicação enganosa. A ideia, segundo o especialista, é entender os sintomas para que seja possível atuar com mais eficiência no uso dos medicamentos. “É uma forma conceitual a respeito da doença, na verdade, para gente entender alguns momentos que se pode primeiro entender os sintomas, sinais e sintomas da doença; segundo, que em alguns momentos que se pode atuar com algumas fases específicas de medicamentos. É basicamente isso”, conclui. Sobre a receita natural A receita verificada pelo Comprova menciona uma série de medicamentos e métodos “naturais” que devem ser usados em cada uma das “fases da infecção”. Além de drogas como a hidroxicloroquina e a ivermectina, são mencionadas dicas de medicina natural, que segundo o próprio texto, devem ser usadas de forma complementar. Entre as sugestões estão o chá de cascas de alho, suplementos de vitamina D, uma mistura de mel, açafrão e outras ervas. Cada elemento seria usado para combater um dos sintomas da covid-19. Para abaixar a febre, por exemplo, a publicação recomenda “banho e/ou toalha molhada no corpo”. Segundo o médico infectologista e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, Alexandre Naime, a combinação de medicamentos e compostos de “medicina natural” apresentada no texto que verificamos não tem qualquer eficácia cientificamente comprovada no tratamento de pacientes da covid-19. “Não existe, como já comprovado inclusive para outras patologias, benefício de “shot” de vitamina D; nada de coquetel de imunidade funciona”, afirma Naime. Um dos trechos do “receituário” indica a ingestão de suplemento de vitamina D como forma de “aumentar a imunidade”. A suposta ligação entre a infecção pelo novo coronavírus e a deficiência de vitamina D no organismo é um tema constante de boatos que circulam pelas redes pelo menos desde fevereiro. O Ministério da Saúde também já desmentiu informações a respeito. O açafrão e o alho, outros dos supostos ingredientes do tratamento “natural” sugerido pelo “receituário”, já foram objeto de uma checagem publicada pelo Estadão, em Abril; outra mensagem, de março, que associava a mistura de limão com bicarbonato à cura da covid-19 foi verificada e classificada como falsa pelo Comprova. O fitoterápico Ginkgo Biloba, indicado na prescrição como anticoagulante, tem, na bula padrão divulgada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, contraindicações relacionadas ao uso por pacientes “com coagulopatias ou em uso de anticoagulantes”. O próprio medicamento indicado para “afinar e oxigenar o sangue”, a Aspirina, poderia ter efeitos indesejados na mistura com o fitoterápico. Além da ausência de comprovação de qualquer eficácia no tratamento do novo coronavírus, a Anvisa ainda alerta que, ao contrário da crença popular, as plantas medicinais e os medicamentos fitoterápicos podem provocar “diversas reações como intoxicações, enjoos, irritações, edemas (inchaços) e até a morte, como qualquer outro medicamento.” Sobre a hidroxicloroquina, ivermectina e azitromicina No caso da hidroxicloroquina, a Organização Mundial de Saúde (OMS) informou no dia 4 de julho deste ano que aceitou a recomendação do Comitê Diretor Internacional do Estudo de Solidariedade – grupo de estudos clínicos, que participam 5.500 pacientes, em 21 países – para interromper os estudos sobre hidroxicloroquina devido aos baixos resultados ou avanços na redução da mortalidade de pacientes com covid-19 hospitalizados. “Esses resultados provisórios mostram que a hidroxicloroquina e o lopinavir/ritonavir produzem pouca ou nenhuma redução na mortalidade de pacientes com covid-19 hospitalizados quando comparados ao padrão de atendimento. Os investigadores do estudo de solidariedade interromperam os estudos com efeito imediato”, explica a declaração, no site da OMS. Sobre o uso do antiparasitário ivermectina, a Organização Mundial da Saúde, por meio da Organização Pan-Americana da Saúde (OMS/OPAS) publicou uma recomendação em 22 de junho, apontando que apesar de alguns resultados positivos em testes laboratoriais, com células infectadas, ainda não há resultados suficientes e seguros para indicar o medicamento antiparasitário para o tratamento da covid-19 em humanos. “A ivermectina está sendo usada incorretamente para tratar a covid-19, sem nenhuma evidência científica de sua eficácia e segurança no tratamento desta doença”, conclui o estudo da OPAS. No dia 10 de julho, a Anvisa se manifestou oficialmente contra o uso da ivermectina no tratamento da covid-19. Em relação à azitromicina, apesar da Organização Mundial da Saúde (OMS) não apontar um único remédio ou tratamento eficaz contra a covid-19, o Ministério da Saúde brasileiro elaborou uma cartilha sobre orientações para uso de medicamentos, lançada pela pasta em junho, orienta o uso da azitromicina nos primeiros cinco dias de tratamento da doença, combinado com a hidroxicloroquina. O Comprova publicou em 8 de julho uma investigação que aponta ser falso um texto publicado em uma página de rede social em que o uso dos medicamentos como azitromicina e ivermectina seriam úteis sem consulta médica. Por que investigamos? O Projeto Comprova verifica conteúdos suspeitos que viralizam na internet e nas redes sociais. Quando o assunto está relacionado à pandemia do novo coronavírus, a checagem é ainda mais relevante, já que a saúde das pessoas pode estar em risco. No caso do receituário, a publicação na página “Alertando a Cidade” já ultrapassava os 100 mil compartilhamentos, além de dezenas de milhares de curtidas e comentários. Além de não citar os possíveis efeitos colaterais relacionados ao uso sem prescrição dos medicamentos listados, supostos métodos de combate à covid-19 podem dar aos leitores uma falsa sensação de segurança, que faz com que abandonem práticas realmente recomendadas pelas autoridades de saúde, como o distanciamento social, o uso de máscaras e a higiene das mãos. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-a-africa-tenha-controlado-pandemia-com-ivermectina/
COMPROVA
É falso que a África tenha controlado pandemia com ivermectina
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2020-07-10
Ao contrário do que afirmam vídeos publicados nas redes sociais, a pandemia de covid-19 não está sob controle no continente africano. Países da região aplicaram diversas medidas para tentar segurar o contágio Conteúdo verificado: Vídeos dos médicos Álvaro Galvão (RO) e Rafael Freitas (PR) no YouTube defendem o uso profilático da ivermectina como tratamento para a covid-19, sob o argumento de que a medicação reduziu o número de casos graves da doença na África É falso que a pandemia de covid-19 esteja sob controle na África por causa do uso preventivo da ivermectina, um medicamento contra vermes. Em vídeos publicados em seus canais do YouTube, os médicos Álvaro Galvão, de Rondônia, e Rafael Freitas, do Paraná, afirmam que o consumo profilático de ivermectina pode evitar sintomas e o agravamento da covid-19. Até aqui, não há nenhuma comprovação científica de que a ivermectina seja um medicamento eficiente para tratar pacientes com covid-19. É o que afirmam o Ministério da Saúde, a Food and Drug Administration (FDA), autoridade sanitária dos Estados Unidos, e os próprios pesquisadores que estudam o uso da droga contra o vírus SARS-CoV-2 em laboratório. A pandemia também não está sob controle na África. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), a doença tem avançado numa velocidade acelerada no continente. A Etiópia, citada em um dos vídeos como um país que teria adotado pouquíssimas ações por causa do uso profilático da ivermectina, tomou diversas medidas para tentar controlar o contágio. As autoridades locais fecharam escolas e restaurantes, proibiram aglomerações, decretaram quarentena obrigatória para todos que chegassem ao país e decretaram estado de emergência por causa da pandemia. A Marinha do Brasil também não aprovou um protocolo para o uso de ivermectina para tratar pacientes com covid-19, outra informação difundida em um dos vídeos. Como verificamos? A verificação foi dividida em três partes. Inicialmente, o Comprova buscou informações sobre a situação da pandemia no continente africano e, especialmente, na Etiópia – onde, segundo o médico Álvaro Galvão, os números da doença seriam bastante inferiores em comparação aos demais países. Para checar o número de casos, óbitos e testes realizados para identificar a doença na África foram utilizadas as bases de dados do Centro Africano de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) e do Our World in Data, plataforma ligada à Universidade de Oxford, no Reino Unido. A segunda etapa concentrou-se na investigação do uso da ivermectina no tratamento de pacientes com a covid-19. Foram consultados estudos científicos, notícias e outras verificações realizadas pelo Comprova sobre as relações do medicamento com a doença causada pelo novo coronavírus. Por último, o Comprova entrou em contato com os autores dos vídeos. Tentou localizar Álvaro Galvão por meio do celular da clínica que aparece em seus vídeos no YouTube. E enviou mensagem para Rafael Freitas pelo e-mail cadastrado na conta dele no YouTube e via Twitter. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 10 de julho de 2020. Verificação Situação da África Até a data de fechamento deste texto, 10 de julho, o continente africano contabilizava 543.136 casos e 12.474 óbitos causados pela covid-19, segundo os dados do Centro Africano de Controle e Prevenção de Doenças (Africa Centres for Disease Control and Prevention). Em 8 de julho, quando a África superou a marca de 500 mil casos da doença, a OMS alertou que a pandemia estava se espraiando em uma velocidade acelerada, apesar de esse crescimento não ser uniforme em todo o continente. O informe da organização afirma que os casos mais que dobraram no último mês em 22 países africanos e que em dois terços do continente há transmissão comunitária do vírus, aquela em que não é mais possível localizar a origem da infecção. Segundo os dados da OMS, em menos de cinco meses, as mortes causadas pelo novo coronavírus superaram as causadas pela epidemia de ebola na África Ocidental, que ocorreu entre 2014 e 2016. No mesmo informe, a OMS afirmou que 71% dos casos de covid-19 no continente africano estão concentrados em cinco países: Argélia, Egito, Gana, Nigéria e África do Sul. E que 80% dos infectados possuem 60 anos ou menos. Em uma entrevista coletiva realizada em 9 de julho, John Nkengasong, diretor do CDC africano, endossou o alerta da OMS pedindo atenção ao crescimento do número de casos e óbitos no continente. De acordo com Nkengasong, os dados sobre a doença em muitos países africanos são insuficientes ou não são confiáveis – o que, segundo ele, dificulta o controle da pandemia. O diretor destacou, também, a necessidade de aumentar a capacidade de testagem da população no continente. De acordo com os dados da plataforma Our World in Data, a maior parte dos países africanos não possui capacidade para testar todos que apresentam sintomas da doença. A covid-19 na Etiópia Ao comentar no vídeo enganoso os números da covid-19 na Etiópia, o médico Álvaro Galvão destaca que o aparente sucesso do país no controle da doença estaria exclusivamente relacionado ao uso profilático da ivermectina para o tratamento de outras doenças por grande parte da população. O médico afirma que as únicas medidas tomadas pelas autoridades etíopes para frear a covid-19teriam sido “a lavagem de mãos, o distanciamento social e o controle de temperatura que nos aeroportos”. Essa informação é falsa. Após a confirmação, em 13 de março, do primeiro caso de covid-19, as autoridades da Etiópia rapidamente anunciaram uma série de medidas para tentar controlar o avançoda doença no país. Três dias depois do registro do primeiro paciente infectado pelo novo coronavírus, o governo instituiu o fechamento de escolas, a proibição de aglomerações e o apelo à população para a prática do isolamento social. Em 20 de março, novas medidas foram anunciadas, como a obrigatoriedade do cumprimento de quarentena para todos aqueles que desembarcassem no país, a interrupção dos voos da maior companhia aérea etíope, a Ethiopian Airlines, para 30 países e o fechamento de bares e restaurantes. No dia 8 de abril, o governo decretou estado de emergência em todo o país. As autoridades sanitárias da Etiópia não indicam a ivermectina para a prevenção ou tratamento da covid-19. O portal do governo que reúne as informações sobre a doença no país afirma que, apesar de várias drogas estarem em estudo, até o momento não existe um medicamento eficaz para os pacientes com o novo coronavírus e destaca que, para aqueles que desenvolvem sintomas graves, são administrados os chamados tratamentos suporte. O portal alerta que a prevenção é o método mais eficaz para controlar o contágio da covid-19 e endossa as recomendações da OMS, como lavar as mãos com frequência, evitar tocar o nariz e a boca, usar máscaras e manter distância das demais pessoas. Outro dado falso que o médico Álvaro Galvão apresenta no vídeo diz respeito ao número de casos e óbitos causados pela covid-19 na Etiópia até o dia 31 de maio. Segundo ele, até essa data o país contabilizava 731 casos e 6 mortes. O boletim oficial do Ministério da Saúde etíope revelou números maiores: 1.172 caos e 11 mortes. Para compreender se a população etíope utiliza a ivermectina de modo profilático para o tratamento de outras doenças, conforme apontado no vídeo, a reportagem procurou a Embaixada da República Democrática Federal da Etiópia no Brasil, o Ministério da Saúde da Etiópia e o Instituto Etíope de Saúde Pública. Até o fechamento deste texto os contatos não houve retorno. Até a publicação desta verificação, a Etiópia registrou 7.120 casos e 124 óbitos causados pela covid-19. Os dados são da Universidade Johns Hopkins. Os médicos Segundo o site do Conselho Federal de Medicina, Álvaro Luis Galvão Ignácio é especialista em cirurgia vascular. Atualmente, tem registro médico em Rondônia, mas já atuou em São Paulo e no Rio Grande do Sul. Em seu site pessoal, ele conta que se formou em medicina em Porto Alegre e foi militar, com a patente de tenente médico, quando serviu no Hospital de Guarnição de Porto Velho. Atualmente, trabalha no Day Hospital Center Clínica, do qual é sócio, na cidade de Ji-Paraná, no interior de Rondônia. Em 2019, Álvaro recebeu o título de cidadão do estado da Assembleia Legislativa. No YouTube, ele já fez outros vídeos sobre a pandemia, como os intitulados “O uso da hidroxicloroquina” e “Diferenças do isolamento vertical e horizontal”. Rafael Sousa de Freitas tem registro ativo no Conselho Regional de Medicina do Paraná desde 2014. Na descrição do seu canal do YouTube, ele se apresenta como cristão, formado pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), escritor, palestrante motivacional e treinador de alta performance nos estudos. No Twitter, se descreve como de direita e “pró-vida”. No Instagram, declara apoio ao presidente Jair Bolsonaro e ao presidente americano Donald Trump. Seus vídeos sobre a experiência como médico trazem títulos como “Homem engasga por esconder os dentes” e “Chamei mulher obesa de elefante”. Nenhum deles respondeu às tentativas de contato do Comprova por WhatsApp, e-mail ou Twitter. A ivermectina e a covid-19 A ivermectina está registrada na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) como “medicamento contra infecções causadas por parasitas”. Segundo a Food and Drug Administration, órgão de vigilância sanitária dos Estados Unidos, a ivermectina é liberada para humanos no tratamento de vermes intestinais e de parasitas tópicos, como piolho e rosácea. Além disso, o remédio é usado para o tratamento de vermes em diversas espécies de animais. Possíveis efeitos colaterais incluem vômito, diarreia, dor estomacal, erupções cutâneas, eventos neurológicos ( como convulsões, tontura e confusão), queda repentina da pressão arterial e danos ao fígado. O Ministério da Saúde afirma que “ainda não existem evidências clínicas suficientes que permitam tecer qualquer recomendação quanto ao uso de ivermectina em pacientes com covid-19”. A FDA adota o mesmo posicionamento. Em abril, um estudo da Universidade de Monash, na Austrália, apontou pela primeira vez a possibilidade de a ivermectina atuar como inibidor in vitro do SARS-CoV-2. No início de junho, em e-mail enviado ao Comprova, o Departamento de Medicina, Enfermagem e Ciências da Saúde da instituição explicou que o estudo demonstra apenas a eficiência em laboratório e que “a ivermectina não pode ser usada em pacientes com covid-19 até que outros testes e ensaios clínicos tenham sido conclusivos em estabelecer a eficácia do medicamento em níveis seguros para dosagem em humanos”. Em verificação do Comprova publicada no dia 8 de julho, o infectologista Marcelo Carneiro, professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e integrante da Associação Brasileira dos Profissionais em Controle de Infecções e Epidemiologia Hospitalar (Abih), reforçou que não está comprovada a eficácia da ivermectina em humanos. “Já está provado que as doses de ivermectina precisam ser extremamente altas para funcionar. Então, em laboratório ela funciona como antiviral. Mas não existem doses para humanos e, se existir, será extremamente tóxica”, explicou. A Marinha Álvaro Galvão diz que a Marinha brasileira desenvolveu um protocolo para uso da ivermectina e tratou pacientes com covid-19 com o medicamento. Em uma nota enviada por e-mail ao Comprova, o departamento de imprensa disse que produziu uma “minuta de proposta de protocolo”, mas que não está em uso. A Marinha disse ainda que adota em suas unidades “todos os protocolos clínicos e terapêuticos” divulgados pela OMS, pelo Ministério da Saúde e pela Anvisa “a fim de orientar seus profissionais de saúde quanto às medidas de condução e de tratamento dos pacientes infectados pelo novo coronavírus no âmbito do Sistema de Saúde da Marinha”. Por que investigamos? O Comprova tem investigado conteúdos suspeitos sobre a pandemia que viralizam nas redes sociais. Como ainda não existem vacina ou cura, muitas das verificações têm sido sobre medicamentos que supostamente combatem a covid-19. O tema é de extrema importância porque a automedicação sem orientação médica, além de não curar o novo coronavírus, pode ser prejudicial para as pessoas e colocar a saúde delas em risco. Nesse contexto, a ivermectina tem sido muito citada em conteúdos que sugerem o seu uso preventivo, ainda que não exista nenhuma comprovação científica da sua eficácia. No último mês, o Comprova já mostrou que não havia provas de que o medicamento funcionasse, que entrevistas sobre o remédio estavam sendo retiradas de contexto, e que as autoridades médicas não recomendam a automedicação. Até o fechamento dessa verificação, os vídeos dos médicos Álvaro Galvão e Rafael Freitas tinham, juntos, 336.175 visualizações no YouTube. Eles também atingiram 4.639 e 3.162 interações no Facebook e Twiter, segundo a plataforma de monitoramento Crowdtangle. Falso para o Comprova é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para modificar o seu significado original e divulgado de maneira deliberada para espalhar uma mentira.
https://i0.wp.com/projet…=601%2C306&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-video-mostre-sabotagem-de-governo-do-ceara-em-canal-inaugurado-por-bolsonaro/
COMPROVA
É falso que vídeo mostre “sabotagem” de governo do Ceará em canal inaugurado por Bolsonaro
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2020-07-09
A gravação, na qual uma mulher mostra motoristas de caminhões-pipa jogando fora um grande volume de água, foi feita em junho de 2017 no município de Pariconha, Alagoas, mais de um ano antes da eleição de Bolsonaro Conteúdo verificado: Publicações afirmam que vídeo de motoristas de caminhão-pipa descartando grande volume de água mostra pessoas contratadas pelo governo do Ceará para sabotar canal recém-inaugurado pelo presidente Jair Bolsonaro no estado. É falso que um vídeo compartilhado mais de 18 mil vezes em redes sociais mostre “pipeiros contratados pelo governo” do Ceará, dirigido pelo PT, descartando água retirada de um canal inaugurado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) no estado. A gravação, na qual uma mulher mostra motoristas de caminhões-pipa jogando fora um grande volume de água, foi feita em junho de 2017 no município de Pariconha, Alagoas, mais de um ano antes da eleição de Bolsonaro. Os motoristas gravados nas imagens faziam parte da Operação Carro-Pipa, coordenada pelo Exército em Alagoas para distribuir água potável às populações rurais e urbanas atingidas por estiagem na região. Após a primeira viralização do vídeo, em 2017, eles foram descadastrados do programa, como informou ao Comprova o batalhão responsável pelo projeto. Como verificamos? Para iniciar esta verificação, realizamos buscas reversas no Google Imagens por capturas de tela do vídeo associadas a palavras-chave identificadas na gravação. Essa pesquisa levou a um artigo publicado em 1º de junho de 2017 no portal alagoano Correio Notícia, ilustrado com as imagens viralizadas. Segundo a reportagem, o vídeo havia sido gravado na época em uma área próxima ao Canal do Sertão, em Pariconha, Alagoas. Com base nessas informações e com o intuito de localizar a pessoa responsável pela gravação, buscamos publicações feitas no Facebook em junho de 2017 com os termos “água” e “canal do sertão”. Essa busca levou a uma publicação feita às 10h21 do dia 1º de junho de 2017 por um morador do município alagoano de Piranhas, localizado a 56km, cerca de uma hora de carro de Pariconha. “Olha minha gente so pq está chovendo sertão o qui estão fazendo com a nossa água [sic]”, dizia a postagem. “o qui o exército está fazendo qui não fiscalizar isso minha gente [sic]”, continuava o texto. O Comprova entrou em contato com o usuário para solicitar informações sobre a gravação, mas não obteve resposta até o fechamento deste texto. Em seguida, procuramos a Prefeitura de Pariconha, que confirmou que as imagens foram gravadas no município alagoano em junho de 2017. Também foi consultado o 59º Batalhão de Infantaria Motorizada do Exército, que informou que os motoristas eram cadastrados na Operação Carro-Pipa, mas foram desligados após a viralização do vídeo. Para reiterar a conclusão, consultamos imagens do Canal do Sertão disponibilizadas no Google Maps em busca de semelhanças com o cenário retratado no vídeo. Verificação Um vídeo em que uma mulher filma dois motoristas de caminhão-pipa descartando um grande volume de água em uma área rural foi amplamente compartilhado no Facebook e no Twitter como se mostrasse “pipeiros contratados pelo governo demoníaco do Ceará” pegando água “do canal inaugurado pelo presidente para jogar fora”. “Essa esquerda maldita é o câncer da sociedade”, dizem algumas das postagens. O conteúdo ganhou força após o presidente Jair Bolsonaro inaugurar, no final de junho, um trecho da obra de transposição do Rio São Francisco no Ceará, estado governado por Camilo Santana, do PT. O vídeo não é, contudo, atual, nem retrata uma tentativa do governo cearense de sabotar a obra inaugurada por Bolsonaro. Vídeo de 2017 Uma busca reversa no Google por capturas de tela da gravação associadas a palavras-chave identificadas no vídeo levou a um artigo publicado em 1º de junho de 2017 pelo portal Correio Notícia. O texto diz que o “flagrante ocorreu no sítio Rolas, zona rural de Pariconha, bem ao lado do Canal do Sertão”, em Alagoas. O vídeo foi publicado na mesma data no canal do site de jornalismo no YouTube. De fato, na gravação é possível escutar a mulher que faz a denúncia cobrando um posicionamento do Exército de Maceió, capital do Alagoas, e afirmando: “Isso aqui é o Canal do Sertão”. As informações também foram publicadas em outra reportagem, no mesmo dia, no site GazetaWeb. Uma análise das imagens do Canal do Sertão disponíveis no Google Maps permitiu identificar semelhanças com o vídeo compartilhado nas redes, como as pontes de cor laranja destacadas na comparação abaixo: Para confirmar o local e a data da gravação, o Comprova entrou em contato com a Prefeitura de Pariconha, que informou que o vídeo efetivamente foi gravado “entre os municípios de Pariconha e Delmiro Gouveia” em junho de 2017. A Prefeitura afirmou, ainda, que não puniu os motoristas de carro-pipa na época, porque seus contratos seriam de responsabilidade do Exército. Com esta informação, o Comprova procurou o 59º Batalhão de Infantaria Motorizada do Exército, responsável pela Operação Carro-Pipa em Alagoas, que reiterou que as imagens datam de junho de 2017. “Naquela ocasião, os Pipeiros alegaram que tiveram um problema mecânico e o peso do caminhão estava impossibilitando de prosseguir viagem”, afirmou um porta-voz do batalhão ao Comprova por e-mail. “Todas as medidas administrativas foram tomadas e os Pipeiros foram descadastrados da Operação Carro-Pipa”, completou. Por que investigamos? O Projeto Comprova faz a verificação de conteúdos virais sobre políticas públicas do governo federal. Neste caso, o vídeo de motoristas de caminhão-pipa descartando água obteve mais de 18 mil compartilhamentos no Facebook, Twitter e Instagram, somando mais de 265 mil visualizações em menos de 24 horas. O conteúdo, encaminhado por leitores do Comprova, circula no momento em que as ações de infraestrutura hídricas do governo Bolsonaro estão em alta, com a recente inauguração do Eixo Norte do Projeto de Integração do Rio São Francisco — obra iniciada no segundo mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2007-2010). A conclusão de parte do projeto durante o governo Bolsonaro, opositor público do PT, gerou debates sobre quem seria responsável pela obra, desencadeando outras desinformações verificadas pelo Comprova. A alegação de que o vídeo dos caminhões-pipa seria atual também foi checada pela Agência Lupa. Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i2.wp.com/projet…=521%2C370&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/post-engana-ao-dizer-que-exercito-construiu-ponte-em-24-horas-em-goias/
COMPROVA
Post engana ao dizer que Exército construiu ponte em 24 horas em Goiás
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2020-07-08
O vídeo apresentado é real, mas é de 2019 e os militares levaram uma semana para realizar a instalação. A ponte era provisória e já foi substituída por uma estrutura fixa Conteúdo verificado: Post acompanhado de vídeo afirma que o Exército montou uma ponte em 24 horas a pedido do governo de Goiás. É enganoso um post publicado em 27 de junho sobre a construção de uma ponte pelo Exército em Goiás. Diz o texto: “O governo de Goiás sem dinheiro para construir uma ponte para fazer o escoamento de produtos agrícolas, fez uma solicitação ao governo Bolsonaro e em 24 horas a engenharia do Exército brasileiro compareceu e montou uma ponte ‘Bayley’ (sic). Acorda Brasil. Vamos divulgar porque não vai sair na imprensa…”. A publicação é acompanhada de um vídeo que mostra dois homens próximos a uma das extremidades de uma ponte conversando sobre a estrutura. O vídeo é real, mas é de 2019 e a ponte não foi instalada pelo Exército em apenas um dia. Segundo o governo de Goiás, em 2019 o estado fechou parceria com o Exército, por meio do Ministério do Desenvolvimento, para a instalação de uma ponte metálica entre os municípios de Israelândia e Fazenda Nova. A área, localizada em trecho da rodovia GO-060, estava interditada por causa de fortes chuvas. O Exército iniciou a construção da obra nove dias depois do rompimento da antiga estrutura e construiu uma nova, provisória, em uma semana, e não em 24 horas. [Atualizado em 14 de julho de 2020 – O parágrafo acima foi atualizado para corrigir uma informação sobre o “comparecimento” do Exército ao local de construção da ponte. Na verdade, o Exército foi até o local no dia seguinte para “reconhecimento do local” – como explicado adiante – mas as obras realmente foram iniciadas somente dias depois] Além disso, ao afirmar que é preciso “divulgar porque não vai sair na imprensa”, o post engana ao insinuar que a obra seria atual e deveria ser tema de reportagens. A construção da nova passagem metálica, que era provisória, foi finalizada em 26 de março do ano passado, ou seja, há mais de um ano, e foi noticiada por veículos de comunicação goianos. Como verificamos? O passo inicial foi buscar pelos termos “ponte Bailey Goiás” no Google. Entre os primeiros resultados, apareceram diversas reportagens sobre a construção de uma ponte provisória na rodovia GO-060, no município de Israelândia, no interior do estado. Uma matéria exibida no dia 22 de março de 2019 pelo jornal JA2 da TV Anhanguera, afiliada da Globo em Goiás, mostrava a maquete de uma ponte muito semelhante à apresentada no vídeo do post que viralizou. Outra reportagem, do portal G1, divulgada em 27 de março de 2019, já mostrava a estrutura metálica em funcionamento. Pelas imagens, foi possível confirmar que era a mesma ponte do post. Entramos em contato com a assessoria de comunicação do governo de Goiás no dia 3 de julho por e-mail. Recebemos a resposta no mesmo dia por WhatsApp. Tentamos identificar os homens que aparecem no vídeo e que seriam os autores das imagens, mas não foi possível. O Comprova também entrou em contato com Altaisa Teixeira, responsável pelo post de maior viralização no Facebook, por meio de mensagens diretas no Facebook e no Instagram. Não obtivemos resposta até a publicação desta verificação. O Comprova enviou e-mail para a assessoria de comunicação do Exército em 6 de julho, às 12h27, e não obteve resposta até a publicação da verificação. O órgão respondeu por meio do Departamento de Engenharia e Construção em 14 de julho, depois que a checagem já havia sido publicada. [Atualização em 14 de julho de 2020: o parágrafo acima foi acrescentado após a resposta do Exército] Verificação Ponte provisória Segundo o governo de Goiás, a rodovia estadual GO-060 foi interditada no trecho entre Israelândia e Fazenda Nova em 10 de março de 2019, após fortes chuvas e o rompimento de um bueiro. Ainda de acordo com o governo, o governador Ronaldo Caiado (DEM) contatou o Ministério do Desenvolvimento para efetuar parceria com o Exército Brasileiro e, assim, viabilizar a instalação de uma ponte metálica, tipo Logistic Support Bridge (LSB) – mais moderna e mais leve que a ponte Bailey. Com 32 militares e 17 viaturas, a 23ª Companhia de Engenharia de Combate do Exército começou a obra em 19 de março – nove dias após o acordo com o governo estadual – e liberou a estrutura para o tráfego na noite de 26 do mesmo mês. “A ponte serviu para a passagem de veículos pesados, acima de dois eixos (mais de 16 toneladas), e foi adotado o modo ‘pare e siga’ para atender os dois sentidos da via”, informou o governo. A ponte provisória foi desmontada em setembro de 2019, após a Agência Goiana de Infraestrutura e Transportes (Goinfra), órgão do estado, concluir a recomposição definitiva do bueiro rompido. Após publicarmos a matéria, o Exército respondeu ao pedido de informações da reportagem. Informou que compareceu, sim, no dia seguinte ao rompimento do bueiro para “realizar o reconhecimento do local para posterior montagem da ponte”. Mesmo assim, a nota confirma que a construção da ponte só começaria dias depois. O Departamento de Engenaria e Construção diverge do estado ao dizer que a obra começou em 22 de março, mas confirma que os trabalhos foram concluídos em 26 de março. Falou, por fim, que “o recurso destinado à montagem e operação da ponte foi oriundo do orçamento da Secretaria de Defesa Civil do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR)”. [Atualização em 14 de julho de 2020: o parágrafo acima foi acrescentado após a resposta do Exército] Ponte permanente Ainda de acordo com o governo, a ponte instalada pelo Exército era provisória e “foi desmobilizada em setembro de 2019, após a Goinfra concluir a recomposição definitiva do bueiro rompido”. Em 18 de setembro do ano passado, o site da agência publicou um texto que informava que “a estruturação de um novo bueiro no KM 184 da GO-060, entre Israelândia e o trevo para Fazenda Nova, está em fase final de execução. A 23ª Companhia de Engenharia de Combate, do Exército Brasileiro, concluiu na manhã de hoje (18) a retirada da ponte metálica do local, com o objetivo de liberar a pista para as últimas etapas da obra”. Seguia dizendo que uma equipe da Goinfra trabalhava para pavimentar o trecho e motoristas que precisassem passar pela região poderiam acessar um desvio “até a conclusão dos serviços na rodovia”. No dia 9 de outubro, a Goinfra contava sobre a etapa de concretagem da obra. E acrescentava: “Os próximos passos, que já estão em andamento, são: execução das alas das bocas do bueiro, escalonamento lateral para estabilização de corpo de aterro, pavimentação asfáltica e sinalização viária”. O desvio continuava sendo a opção para os motoristas. A autora do post Altaisa Teixeira, que postou o conteúdo no Facebook, costuma publicar na rede social textos, imagens e vídeos alinhados com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Há posts pedindo intervenção militar e algumas publicações verificadas pelo Comprova e classificadas como falsas – como uma combinação de fotos que usava imagens antigas como sendo obras de Bolsonaro e outra que diz que Ciro Gomes tem caminhões-pipa no Ceará. Em 2018, ela foi candidata a deputada federal no Rio de Janeiro pelo PSL, antigo partido do presidente. Recebeu 1.128 votos, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral, insuficientes para ser eleita. O Comprova tentou contatá-la via Facebook e Instagram, mas não obteve retorno até o fechamento desta verificação. Por que investigamos? O Projeto Comprova faz a verificação de conteúdos virais sobre políticas públicas do governo federal. O vídeo sobre a construção da ponte em Goiás pelo Exército Brasileiro, publicado no Facebook por Altaisa Teixeira em 27 de junho de 2020, recebeu 32,6 mil compartilhamentos e foi visto mais de 561 mil vezes até o fechamento desta verificação. O conteúdo foi compartilhado por páginas como “Bolsonaro Presidente 2022” e “Beto Fontes – FFAA – Brasil”. O Exército Brasileiro ganhou destaque no governo Bolsonaro, ele próprio um capitão reformado, com a indicação de generais da reserva e da ativa para alguns ministérios — como Fernando Azevedo e Silva (Defesa), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Eduardo Pazuello (interino na pasta da Saúde). Além disso, as Forças Armadas foram chamadas a atuar em ações da União, como a Operação Verde Brasil 2, de combate ao desmatamento na Amazônia. Este programa é chefiado pelo vice-presidente, general Hamilton Mourão. A utilização de homens e equipamentos das Forças Armadas em programas federais ou nos estados é alvo de desinformação nas redes sociais. Um boato checado anteriormente pelo Comprova falsamente alegava que o Exército teria refeito trecho da transposição do Rio São Francisco durante o governo Bolsonaro. Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i0.wp.com/projet…=601%2C452&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/automedicacao-e-uso-de-azitromicina-ivermectina-e-nitazoxanida-nao-sao-recomendados-para-tratamento-de-covid-19/
COMPROVA
Automedicação e uso de azitromicina, ivermectina e nitazoxanida não são recomendados para tratamento de covid-19
null
2020-07-08
Recomendação contraria a orientação da ampla maioria das autoridades e entidades de saúde. A orientação para pessoas que apresentam sintomas de covid-19 é procurar assistência médica e não se automedicar Conteúdo verificado: Texto publicado pela página “Um pouco de tudo” no Facebook recomenda os medicamentos azitromicina, ivermectina e nitazoxanida para pessoas com sintomas leves de covid-19 e indica a automedicação para quem não quer ir a um hospital. Uma publicação do dia 25 de junho da página “Um pouco de tudo” no Facebook indica o uso dos medicamentos azitromicina, ivermectina e nitazoxanida para pessoas com sintomas leves de covid-19. O texto sugere que a recomendação parte de “profissionais de saúde”, sem citar nomes, em função de um suposto “colapso no Sistema de Saúde do Brasil” e é direcionada a quem não quiser se “arriscar a ir a um hospital”. Essa recomendação, porém, contraria a orientação da ampla maioria das autoridades e entidades de saúde. Embora haja estudos em andamento sobre a possível ação desses medicamentos contra o vírus que causa a covid-19, o SARS-CoV-2, a eficácia deles não foi comprovada até o momento. Além disso, a orientação para pessoas que apresentam sintomas é procurar assistência médica e não se automedicar. A afirmação de que haveria um “colapso” no sistema de saúde brasileiro também não é verdadeira. Levantamento feito pelo Comprova mostra que, neste momento, todos os estados possuem leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) disponíveis. Como verificamos? Entramos em contato com a responsável pela publicação no Facebook por meio de um número de telefone que consta na apresentação da página. Ela disse não saber a origem do texto que compartilhou. Também consultamos o administrador de um perfil que havia publicado material semelhante mais de dois meses antes, em 3 de maio, mas não obtivemos resposta. Por meio de buscas na internet, não identificamos nenhuma entidade de saúde que tenha reivindicado a autoria. Em seguida, solicitamos por e-mail um posicionamento do Ministério da Saúde em relação às recomendações feitas no texto. Confrontamos essas sugestões com as orientações de entidades médicas, autoridades de saúde e estudos científicos já publicados a respeito da covid-19. Submetemos, ainda, o conteúdo do texto à análise de dois especialistas: os infectologistas Unaí Tupinambás, pesquisador da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Marcelo Carneiro, professor da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e integrante da Associação Brasileira dos Profissionais em Controle de Infecções e Epidemiologia Hospitalar (Abih). Por fim, realizamos um levantamento com base em informações disponibilizadas pelas secretarias estaduais de Saúde para verificar as taxas de ocupação de UTIs em todo o país e entrevistamos o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto para compreender o que significa um “colapso” no sistema de saúde. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 8 de julho de 2020. Verificação O texto faz menção a três “fases” da evolução da covid-19 e lista sintomas e tratamentos associados a cada uma delas. Esse modelo de classificação é citado em revisão publicada em abril na revista Journal of Infection Control, da Associação Brasileira dos Profissionais em Controle de Infecções e Epidemiologia Hospitalar (Abih). Assinado por 28 especialistas, o artigo confirma que a infecção por SARS-CoV-2 pode ser dividida em três estágios. O estágio I é “um período de incubação assintomática com ou sem vírus detectável”; o estágio II é um “período sintomático não grave com presença de vírus” e o estágio III é um “estágio sintomático respiratório grave com alta carga viral”. O estudo, porém, não associa sintomas ou tratamentos específicos a cada uma delas. De acordo com o infectologista Unaí Tupinambás, essa classificação se aplica a apenas algumas situações, já que a ampla maioria dos casos de covid-19 não são graves e, portanto, não atingem a fase mais aguda da infecção. “Aqueles pacientes mais graves talvez possam se enquadrar nas três fases, mas, felizmente, são a minoria. Só os que estão naquela fase mais grave que precisam realmente de internação, de CTI”, explicou. Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), 80% das infecções são “leves ou assintomáticas”. Em nota, o Ministério da Saúde esclareceu que os “sintomas da covid-19 podem variar de um simples resfriado até uma pneumonia severa, sendo os sintomas mais comuns a tosse, coriza, dor de garganta e dificuldade para respirar”. Embora haja relatos de infectados que apresentaram alguns dos demais sintomas citados no texto, eles são menos comuns. De acordo com o infectologista Marcelo Carneiro, que é um dos autores do artigo do Journal of Infection Control, os sintomas mais frequentes apresentados por pacientes da covid-19 são os mesmos de outras infecções gripais. A exceção é a perda do olfato e paladar, registrada em alguns casos e, que parece, conforme o especialista, ser um traço particular da doença causada pelo novo coronavírus. A informação da postagem de que os sintomas de virose aparecem a partir do terceiro dia de infecção também não é necessariamente verdadeira. Conforme Carneiro, os sintomas podem aparecer em até cinco dias após a pessoa ter contato com o vírus. “Isso é muito variável, depende de uma pessoa para outra”, disse. Os medicamentos O conteúdo que viralizou também recomenda a automedicação e indica o uso do antibiótico azitromicina a partir do terceiro dia de sintomas, bem como os medicamentos antiparasitários ivermectina e nitazoxanida (mais conhecido como Annita) “para ser mais rápido na cura”. Essa recomendação, porém, é refutada pela maioria dos profissionais e autoridades sanitárias. Na nota, o Ministério da Saúde reiterou que “até o momento, não há nenhum medicamento, substância, vitamina, alimento específico ou vacina que possa prevenir a infecção pelo coronavírus ou ser utilizado com 100% de eficácia no tratamento”. A Organização Pan-Americana de Saúde (Opas) corrobora o posicionamento e afirma que, por enquanto, “não há vacina nem medicamento antiviral específico para prevenir ou tratar a covid-19.” Em relação à azitromicina, o Ministério da Saúde afirma que as evidências encontradas até agora “não comprovam a eficácia do uso de medicamentos antibacterianos em pacientes com covid-19.” Essa posição é ratificada pela Associação de Medicina Intensiva Brasileira, Sociedade Brasileira de Infectologia e Sociedade Brasileira de Pneumologia e Tisiologia e Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Quanto à ivermectina, o documento do Ministério da Saúde esclarece que “ainda não existem evidências clínicas suficientes que permitam tecer qualquer recomendação quanto ao uso de ivermectina em pacientes com covid-19”. O mesmo posicionamento é adotado pela Food and Drug Administration (FDA, órgão norte-americano equivalente à Anvisa). Um estudo e publicado em junho pela revista Antiviral Research apontou que a ivermectina pode atuar como inibidor do SARS-CoV-2 em laboratório. Segundo o infectologista Marcelo Carneiro, porém, isso não garante a eficácia do medicamento em humanos. “Já está provado que as doses de ivermectina precisam ser extremamente altas para funcionar. Então, em laboratório ela funciona como antiviral. Mas não existe doses para humanos e, se existir, será extremamente tóxica”, explicou. Quanto à nitazoxanida, uma revisão sistemática rápida publicada no dia 9 de junho por pesquisadores dos hospitais Alemão Oswaldo Cruz, Sírio-Libanês e Moinhos de Vento concluiu que, por “ausência de evidência clínica”, não é possível recomendar o uso do medicamento como terapia para covid-19. Atualmente, estão em andamento no Brasil e em outros países pesquisas sobre a possível ação da nitazoxanida contra a covid-19, mas ainda não há comprovação. Automedicação Especialistas também criticam a automedicação, que é sugeridapelo texto. Conforme reforçou o Ministério da Saúde na nota, o diagnóstico da covid-19 deve ser “realizado primeiramente pelo profissional de saúde que deve avaliar a presença de critérios clínicos.” De acordo com o infectologista Unaí Tupinambás, a recomendação é de que pessoas com quadro suspeito evitem a automedicação e procurem assistência médica para receber orientações de como proceder. “É muito importante que todos os pacientes com suspeita de covid-19 tenham acesso a uma consulta médica, mesmo que à distância”, pontuou. O especialista esclareceu ainda que o tratamento da doença envolve repouso e hidratação oral frequente e que medicamentos como dipirona, novalgina ou paracetamol podem ser utilizados para aliviar sintomas como febre, mal estar e dor de cabeça. Nos casos mais graves, o tratamento passa pela oxigenoterapia — o uso de respiradores mecânicos. Unaí Tupinambás citou ainda a dexametasona, que, segundo estudo da Universidade de Oxford, do Reino Unido, apresentou resultados satisfatórios quando ministrada a pacientes em estágios avançados da doença. O uso, porém, só deve ser feito sob orientação médica. A situação do sistema de saúde Ao contrário do que diz o texto publicado no Facebook, não é possível afirmar que o sistema de saúde brasileiro colapsou. Professor da Universidade de São Paulo (USP) e ex-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o médico sanitarista Gonzalo Vecina Neto explicou o que tecnicamente significaria esse colapso, que já atingiu certas regiões, mas ainda não foi observado em cenário nacional. “Colapso é quando você tem que fazer uma escolha entre quem vai para a UTI e quem vai para o cuidado paliativo. Exemplificando: há dois pacientes que precisam entrar na UTI para terem uma chance de salvamento e você tem que escolher um dos dois, porque só tem uma vaga. O Brasil já experimentou [o colapso] em Manaus, em Belém, em algumas cidades do interior do Pará, como Marabá. Colapso geral no Brasil, não (ocorreu)”, explicou. Levantamento feito pelo Comprova com base em dados divulgados pelas secretarias de saúde mostra que todos os estados brasileiros possuem vagas em UTIs. Sergipe (93,8%), Mato Grosso (93,2%) e Acre (92,4%) têm as maiores taxas de ocupação. Portanto, tecnicamente é possível dizer que nenhuma unidade federativa apresenta colapso no sistema de saúde no momento. A página “Um pouco de tudo” Por telefone, a administradora da página “Um pouco de tudo”, Lucia Barros, disse desconhecer o autor do texto e alegou que copiou o material da página de outra pessoa, mas que não se recorda quem. Lucia, que se apresentou como cabeleireira e alegou que divide-se entre Brasília e o Piauí, afirmou que mantém a página “por hobby” e que retirou o texto do ar por recomendação da filha, que é profissional da saúde. Várias versões diferentes do texto foram publicadas no Facebook antes. Por meio da plataforma CrowdTangle, identificamos que a mais antiga é da página “Dr. Mike” e data de 3 de maio. O perfil é administrado pelo dentista Ezequias Nascimento dos Santos, que mantém uma clínica em Manaus (AM) e, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), foi candidato a deputado estadual pelo PSC em 2018. Na postagem – que faz menção à azitromicina, mas não à ivermectina e à nitazoxanida -, a autoria do texto não é atribuída a “profissionais de saúde”. Procuramos a clínica por telefone para solicitar informações sobre a origem do texto, mas não houve retorno. Por que investigamos? O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais. Quando o material aborda assuntos relacionados à covid-19, a verificação se torna ainda mais importante, pois esses conteúdos podem colocar a saúde das pessoas em risco. Até o dia 2 de julho, antes de ser retirada do ar, a publicação da página “Um pouco de tudo” alcançava 76 mil compartilhamentos no Facebook. O conteúdo é perigoso porque atribui a profissionais da saúde recomendações que não são aceitas por autoridades sanitárias e entidades médicas, o que pode induzir pessoas a adotar procedimentos arriscados, como a automedicação ou o uso de medicamentos cuja eficácia contra a covid-19 ainda não é comprovada. A informação de que a rede pública de saúde estaria em colapso também é perigosa pois distorce a realidade e pode fazer com que pessoas potencialmente infectadas deixem de procurar assistência médica. O Comprova já verificou outros conteúdos que se mostraram falsos ou enganosos, como um site que sugere que há consenso médico quanto ao tratamento da covid-19, um texto com conselhos para lidar com a pandemia e um tuíte segundo o qual o uso da hidroxicloroquina nos primeiros sintomas da covid-19 impediria que a doença avançasse para estágios mais agudos. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. O conteúdo já havia sido verificado pelo Estadão e pelo Aos Fatos, que também o classificaram como falso.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/site-engana-ao-afirmar-que-ha-consenso-medico-para-tratamento-de-covid-19/
COMPROVA
Site engana ao afirmar que há consenso médico para tratamento de covid-19
null
2020-07-08
Não há consenso da comunidade médica internacional sobre uma estratégia de tratamento resolutiva para a covid-19 defendida em site lançado no Brasil. O Comprova também conversou com quatro das seis autoridades médicas citadas pelo site e nenhuma delas soube informar quem criou a página ou mesmo quem pagou para que fosse publicada Conteúdo verificado: Site Covid Tem Tratamento Sim, que afirma que “após meses observando o desenvolvimento da covid-19 em vários países, a comunidade médica internacional tem a convicção de uma estratégia de tratamento resolutiva para a covid-19”. A página, que ficou fora do ar entre 3 e 7 de julho, informava os medicamentos para o “tratamento”. São enganosos o conteúdo e a proposta do site “Covid Tem Tratamento Sim”, lançado em junho. A página diz que “após meses observando o desenvolvimento da covid-19 em vários países, a comunidade médica internacional tem a CONVICÇÃO de uma estratégia de tratamento RESOLUTIVA para a COVID-19”. A afirmação foi feita sem comprovação e sem a anuência mesmo de pessoas que supostamente apoiavam a iniciativa. O Comprova conversou com quatro das seis autoridades médicas citadas pelo site e nenhuma delas soube informar quem criou a página ou mesmo quem pagou para ela ir ao ar – uma delas não sabia nem que o endereço tinha sido lançado. Segundo Alla Dolganova, médica que atua na Prefeitura de Porto Alegre desde 2009 e diz fazer parte do grupo central que discute as diretrizes nacionais do movimento #CovidTemTratamentoSim, o objetivo dos profissionais envolvidos era criar um site com apoiadores do tratamento precoce contra a doença. Ao Comprova, a médica afirmou que o conteúdo do site ia além disso. No dia 3 de julho, a página foi tirada temporariamente do ar e, conforme afirmou Alla, a remoção aconteceu porque o site citava um coquetel de medicamentos. De acordo com ela, informar o nome das drogas vai contra o que ela mesma e outros profissionais acreditam. “A ideia não era divulgar remédios. Dar o remédio é decisão médica”, afirmou Alla ao Comprova. O portal retornou ao ar em 7 de julho sem citar as medicações nem os profissionais de cada estado que estariam dispostos a receitá-las. Os medicamentos citados inicialmente pelo site eram a cloroquina, hidroxicloroquina, azitromicina, ivermectina e heparina. Diferentemente do que o endereço insinua, nenhum deles tem eficácia comprovada contra o novo coronavírus em nenhuma fase da doença, segundo órgãos como Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Conselho Federal de Medicina (CFM) e Organização Mundial da Saúde (OMS). Como verificamos? Ao tentar localizar o responsável pelo site, o Comprova levantou dados sobre o registro da página por meio da ferramenta Whois. O conteúdo foi registrado no nome de Maicom França em 12 de junho de 2020. Além do nome, a ferramenta também forneceu o CPF e um endereço de e-mail, informações que, jogadas na busca do Google, levaram até o nome de uma empresa de Maicom – designer gráfico – e contas em redes sociais. Procurado pelo Comprova nas redes, Maicom visualizou, mas não respondeu as mensagens. O registro também apresentou o nome da empresa Dívea como responsável pela hospedagem do portal. O Comprova identificou um perfil da companhia no Instagram, com postagens sobre o site do movimento, e utilizou as informações fornecidas na rede para entrar em contato. O CEO da empresa, Renan Corrêa, disse que não tinha autorização para divulgar quem o havia contratado. O Comprova conversou, por telefone, com Nise Yamaguchi, uma das profissionais que apareciam entre as autoridades médicas. Ela disse não saber que o site havia ido ao ar e que não fazia parte do conselho de médicos do movimento. Informou o nome de colegas que poderiam ter mais informações sobre o site e o movimento: Paulo Porto, Dante Senra e Luciana Cruz. O primeiro conversou com a equipe por telefone. A equipe contatou ainda Luciana Cruz por mensagem direta de Instagram, Facebook e Whatsapp desde o dia 3 de julho e, no dia 7, ela respondeu e conversou com o Comprova por WhatsApp. Paralelamente, o Comprova entrevistou Alla Dolganova – médica citada pelo portal como defensora do “tratamento precoce” –, que indicou outro médico que seria o “Relações Públicas” do grupo. Contatado pela nossa equipe, o profissional afirmou ser apenas um dos responsáveis por reunir as informações médicas do Rio Grande do Sul e disse que a médica Vânia Brilhante, que atua no Pará, era uma das líderes. Consultada por telefone, Vânia negou a informação. O site também fornece depoimentos de pessoas que supostamente teriam obtido sucesso no tratamento da covid-19 seguindo o protocolo defendido pelos médicos. O Comprova conversou por telefone com o autor de um dos depoimentos, Fabricio Oliveira, prefeito de Balneário Camboriú, em Santa Catarina. O depoimento do prefeito foi retirado do site após ele ter ficado temporariamente fora do ar. Também levantamos informações sobre as medicações citadas como eficazes no tratamento contra a covid-19. Utilizamos como base publicações científicas, informações da Organização Mundial de Saúde (OMS), do Ministério da Saúde, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e da Food and Drug Administration (FDA), autoridade sanitária americana. Além disso, recorremos a outras investigações feitas pelo Comprova sobre medicamentos usados no combate à doença. Por fim, questionamos o Ministério da Saúde e o Conselho Federal de Medicina, por e-mail, para saber se os órgãos sabiam da iniciativa. As respostas enviadas apontaram que ainda não há comprovação científica sobre a eficácia das medicações no tratamento da covid-19. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 7 de julho de 2020. Verificação Registro do site Na tentativa de localizar quem colocou o site no ar, com o Whois, o Comprova chegou ao nome de Maicom França. A ferramenta também forneceu o CPF e um endereço de e-mail de França. Fazendo uma busca no Google utilizando o e-mail registrado, o Comprova encontrou um registro de CNPJ no mesmo nome e endereço de e-mail, ligado à empresa “Maicom Fg Designer Gráfico”, localizada em Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Consultamos o CNPJ no site da Receita Federal e encontramos o registro da empresa, de mesmo nome, e-mail e endereço, e um número de telefone para contato. O Comprova tentou entrar em contato com Maicom pelo telefone, mas não foi possível completar a ligação. Pesquisamos o nome completo registrado no CNPJ no Facebook e encontramos o perfil de um designer gráfico em Balneário Camboriú, com informações similares às da empresa pesquisada, incluindo o e-mail. Também encontramos um perfil no Instagram vinculado à conta e enviamos mensagens nas duas redes sociais. Maicom visualizou as mensagens, mas não respondeu até a publicação desta investigação. No registro do domínio também há o contato de uma empresa de nome Dívea. Fizemos uma busca pela empresa no Instagram e encontramos uma postagem em um perfil, datada de 2 de julho, em que a companhia anunciou que estava fazendo a hospedagem do site do projeto. O Comprova digitou o nome completo da empresa no Google e encontrou um número de CNPJ. Ao fazer a consulta no site da Receita Federal, os dados de e-mail do cadastro eram os mesmos informados no registro do domínio. O cadastro da Receita apresentava um telefone, mas ao ligar para o número, o Comprova foi atendido por um escritório de contabilidade que alegou não trabalhar mais com a Dívea há pelo menos três anos. De volta ao Instagram da empresa, o Comprova encontrou um número para contato e telefonou para perguntar quem teria contratado a companhia para colocar a página no ar. Fomos atendidos pelo CEO, Renan Corrêa, que afirmou só prestar “serviço para um grupo de empresários” e que não tinha certeza se poderia divulgar quem o contratou. Ele pediu alguns minutos para falar com o empregador, mas em outra ligação, Renan disse que “não tinha autorização para falar nada sobre isso”. Quem são os médicos citados? O site afirma que há 17 médicos “comprometidos com o tratamento precoce” de seus pacientes. Eles estariam distribuídos entre 12 unidades federativas: Alagoas, Distrito Federal, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Mato Grosso, Minas Gerais, Pará, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul e São Paulo. O Comprova conversou por telefone com uma das profissionais citadas, Alla Dolganova, médica russa especializada em pneumologia e com PhD em virologia que está há 20 anos no Brasil. Alla é integrante do comitê organizador de um estudo sobre a opção médica no tratamento precoce da covid-19, feito no Rio Grande do Sul, estado onde trabalha. Defensora de que há comprovação em certos tratamentos de combate à doença, ela disse em entrevista ao Comprova, por telefone, que não recebeu nenhum convite para integrar o movimento, mas que seu interesse em se unir a outros médicos foi espontâneo. Alla disse ser parte do grupo central que discute as diretrizes nacionais do movimento. “Nossa ideia é criar um site com apoiadores de tratamento precoce. Somos um grupo de oito pessoas à frente desse movimento. Elaboramos orientações para os médicos que querem aderir. Temos quase 400 assinaturas de médicos nos apoiando”, declarou. Alla também observou que o movimento foi dividido nas cinco regiões do país e que cada estado tem um grupo próprio no WhatsApp: “Tem muitas lives saindo sobre este projeto, com médicos, empresários, jamais imaginávamos que iria crescer tanto esse movimento. Só no Rio Grande do Sul, somos oito.” Segundo ela, além dos grupos estaduais e regionais, há um grupo de WhatsApp nacional. Em 3 de julho, o site teve a maior parte do conteúdo removido, incluindo recomendações sobre o uso de determinados medicamentos no tratamento do novo coronavírus e a relação de médicos “comprometidos com o tratamento precoce” em cada estado. “Avisei que não concordava em dar nome de medicações. O site saiu do ar porque vários colegas começaram a reclamar. A ideia não era divulgar remédios. Dar o remédio é decisão médica. O médico tem que analisar e descobrir que fase que está o tratamento e aí tratar. Somos a favor de tratamento precoce, como em qualquer doença viral. Cada vez mais há mais trabalhos sobre isso. Tem de começar o tratamento mais cedo possível para não chegar na UTI. Quando o paciente começa a sentir falta de ar, já está com 50% do pulmão acometido”, disse Alla. A fala da médica russa sobre a existência de um movimento e a divisão dele por estados foi rebatida pela infectologista Vânia Brilhante, que atua no Pará. Vânia foi apontada por um dos médicos que integra as discussões, e preferiu não se identificar, como uma das “cabeças” do movimento no estado – ela negou. “Não sei se tem algum movimento. Tem um grupo de médicos que acredita nisso, não sei se o nome disso é movimento”, disse ela ao Comprova em 3 de julho. Questionada sobre quem colocou o site no ar, disse não saber e não ter autorizado o uso de seu nome: “Não fui eu, nem sei também. Estou tentando entrar em contato com essa pessoa, que botou o meu nome lá, inclusive. Se descobrir você me conta”. Vânia afirmou que há grupos de médicos no WhatsApp discutindo essas questões, mas não respondeu se alguém havia tomado a frente e formalizado a iniciativa de lançar um site. Ela alegou que não tem tempo para ler todas as mensagens que chegam pelo aplicativo. Procurada novamente no dia 7 de julho para saber se havia descoberto quem colocou o site no ar, a médica disse que havia conversado sobre o assunto com o filho advogado. “Quero saber quem autorizou a fornecer meus dados para um site que não tenho ciência”. Questionada se tomaria alguma providência sobre o caso, Vânia se esquivou da resposta e disse que estava muito ocupada. Autoridades médicas O site apresenta seis “autoridades médicas”: Nise Yamaguchi, Roberto Zeballos, José Henrique Andrade Vila, Dante Senra, Paulo Porto, Cassio Prado. O Comprova falou com quatro delas. Nise Yamaguchi disse ser “participante voluntária” do “Covid Tem Tratamento Sim” e não soube dizer quem teve a ideia de colocar a página virtual no ar. “Ainda não vi o site”, disse ela, em entrevista por telefone no dia 3 de julho. Outro médico com quem o Comprova conversou foi o neurocirurgião Paulo Porto. Ele contou que os médicos do “Covid Tem Tratamento Sim” formam um “grupo apartidário, voluntário, sem interesse financeiro e com competências complementares na questão do combate à pandemia”. Porto diz que o colapso no sistema de saúde de Belém, no final de abril, fez com que médicos do país todo começassem a conversar sobre possíveis caminhos. “E, aí, a gente começou a tentar adaptar o que tinha de protocolo e montou um grupo, fez umas lives, umas reuniões no Zoom só para médicos para contar a experiência que o pessoal teve lá, falar um pouquinho de gestão de crise, e a coisa foi ganhando força.” Assim como Vânia Brilhante e Nise Yamaguchi, Porto também não soube informar quem criou o site. “Olha, não sei te dizer [quem criou a página]. Na verdade, eu fui informado que meu nome iria para esse site”, contou. “Não diria que eu sou um dos organizadores, eu sou um dos componentes desse grupo. Não vejo ali uma cabeça. As pessoas foram se agregando por acreditarem em princípios semelhantes e a coisa foi andando.” Ao Comprova, Dante Senra declarou ter sido pego de surpresa com seu nome citado no site. “Eu pertenço a um conselho apartidário, que dá o nome de ‘conselho científico’, cuja função é mostrar a nossa experiência, nada mais do que isso. Não é fazer afirmações categóricas”, disse. “Eu não fui avisado do site, eu não sabia que ele seria criado”, acrescentou. O médico afirmou que integra um grupo no WhatsApp com outros profissionais para trocar informações sobre o uso de medicamentos. “O objetivo era mostrar a experiência, no sentido de mostrar colaboração num momento difícil”, disse ele. Senra relatou prescrever hidroxicloroquina apenas para pacientes internados, de forma que possa monitorá-los diariamente e observar possíveis efeitos colaterais. Ainda, disse que deixa claro que não há comprovação da eficácia e que apresenta todos os possíveis cenários antes de indicar o tratamento com a medicação – que só é realizado com o consentimento do paciente. Resposta semelhante deu Roberto Zeballos, outra das “autoridades médicas” do site. “Não sei quem é o dono. Sei que foi iniciativa de gente que apoio, que quer que o tratamento saia, mas não sei exatamente quem soltou. Me ligaram e perguntaram se eu ajudaria em um site. E, se for para ajudar, estou à disposição”. E, depois, acrescentou: “É um projeto de uma comissão de cientistas que, no caso, me incluíram.” Zeballos não disse quem ligou para ele para informar do site e sugeriu contatar outros colegas para saber de quem era a propriedade da página. O médico já apareceu em duas verificações do Comprova. A primeira delas, de 22 de abril, era sobre um post viral que, com base em uma entrevista com ele, afirmava que infectologistas e imunologistas tinham descoberto a “cura oficial” da covid-19. Na gravação, Zeballos dizia ter resultados animadores, mas ele mesmo rejeitava a tese de que o método pudesse ser considerado uma cura. A segunda investigação, do dia 5 de maio, classificada como enganosa, era sobre o fato de Zeballos ter declarado que o novo coronavírus “veio de um laboratório de Wuhan”. Outra médica com quem o Comprova conversou foi a anestesiologista Luciana Cruz. Segundo Nise Yamaguchi, ela é uma das organizadoras dos médicos que se uniram e estavam listados no site. Questionado se conhecia Luciana, Paulo Porto afirmou que sim e que “ela faz parte do conselho desse grupo, e ela teve uma atuação bastante intensa nesse episódio do Pará”. Mas Luciana disse não ter “nada a ver com o site” e que deveria ter havido algum equívoco, pois seu nome sequer estaria no endereço virtual. O Comprova enviou, então, uma imagem captada antes de a página sair do ar, na qual aparecia o nome e uma foto dela. “Onde é isso? Eu não conheço. Isso é um site?”, perguntou. Luciana declarou não ter autorizado o uso de sua imagem e, depois de ter escrito que não sabia sobre o site, disse que havia visto a página quando foi lançada. Acrescentou que foi apenas moderadora de uma live no canal no YouTube do jornalista Alexandre Garcia, que reuniu vários médicos que aparecem no site e que sua participação na pandemia foi contar o que os profissionais viveram e aprenderam na situação de colapso no Pará. “Eu defendo duas coisas. Primeiro, o direito do médico de ter autonomia na sua prescrição. Segundo, o direito do paciente de receber ou não os tratamentos off label (quando o medicamento é utilizado para um tratamento diferente do recomendado na bula), de acordo com o que desejar”, ela escreveu. E acrescentou: “quanto ao site, não foi ideia minha. Sei, sim, de várias pessoas que queriam um site onde pudessem juntar todas [as medicações] em um único lugar. Essa era a ideia de várias pessoas, não de uma só. Como essa ideia nunca me agradou, eu procurei não me envolver e nunca quis saber muito sobre isso também”. Retirada do ar e retorno Na tarde do dia 3 de julho, o site saiu do ar. Ao clicar no link, surgia a mensagem: “A pedido dos médicos integrantes do CONSELHO CIENTÍFICO e todos médicos envolvidos de vários estados no combate ao COVID-19, o site está temporariamente fora do ar para atualizações de orientações médicas”. De acordo com Roberto Zeballos, o site “foi lançado sem ciência dos médicos” e “retirado do ar para correções”. “A gente sabia que iam fazer, mas vamos fazer uma revisão. Será um site com as abordagens e protocolos que a gente tem, estudos científicos.” Questionado sobre quais informações precisavam ser revisadas, ele respondeu que “algumas”. Ele citou o fato de ter sido incluído o logo do hospital em que ele atua. “Não quero ter logotipo de hospital nenhum”, afirmou ao Comprova. “Os médicos foram pegos de surpresa com a data de lançamento.” A médica Luciana Cruz escreveu ter ficado sabendo que “o site incomodou muitas pessoas por ter muitas informações erradas, e por isso tiraram do ar. “Eu nem sabia que tinha a minha imagem, se não teria sido mais uma a reclamar. Confesso que nem sequer acessei e nem tinha visto isso. Você que acabou de me mostrar agora.” Questionada sobre se tomaria alguma medida legal por terem usado sua imagem sem autorização, afirmou: “Parece que o site não voltará, então talvez eu não precise fazer nada, mas vou até procurar saber”. No dia 7 de julho, o site voltou ao ar com parte do conteúdo modificada. O portal não apresentava mais a relação de médicos que aplicavam o tratamento precoce e nem a lista de medicamentos utilizados no combate à covid-19. O depoimento em vídeo do prefeito de Balneário Camboriú, Fabrício Oliveira, sobre o tratamento também foi removido. Depoimentos Uma das áreas do site trazia três depoimentos em vídeo de pessoas que foram infectadas pelo novo coronavírus e se curaram após tratamento com um dos medicamentos que o site recomendava ou uma combinação deles. O Comprova falou com o autor de um dos depoimentos, Fabricio Oliveira, prefeito de Balneário Camboriú, em Santa Catarina. Oliveira contou ter tomado azitromicina e ivermectina no estágio inicial da doença e não ter tido nenhum sintoma. Ele declarou ter gravado sete ou oito depoimentos em que contava sobre seu processo de cura e, inicialmente, disse ter cedido uma das gravações para o site. O Comprova pediu, então, para que ele fornecesse o contato da pessoa com quem falou sobre a inclusão do vídeo na página. Oliveira disse que buscaria o nome da pessoa em seu celular e pediu que a reportagem ligasse em seguida. No novo contato, Oliveira mudou a versão. Disse que gravou e publicou vídeos em redes sociais e compartilhou em grupos de conversa, mas que não deu nenhuma autorização para que a gravação fosse utilizada no site. “Todos os vídeos que eu publico, que eu mando, eu não tenho problema nenhum que eles sejam publicados. Agora (no caso do site “Covid Tem Tratamento Sim”), ninguém me pediu nada”, afirmou. O que se sabe sobre as medicações listadas? A Organização Mundial da Saúde já divulgou que não existe vacina ou medicamento específico para prevenir ou tratar a covid-19. Os tratamentos aplicados até o momento, explica o órgão, são para “aliviar os sintomas” dos infectados. Os cinco medicamentos listados pelo site são utilizados para tratamentos distintos. A cloroquina e a hidroxicloroquina são usadas no tratamento de malária e doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatóide. A ivermectina é usada em tratamentos de vermes e parasitas. A azitromicina é um antibiótico, utilizada contra bactérias. E a heparina é um anticoagulante. Em maio, o Ministério da Saúde publicou orientações a respeito do uso de medicamentos em pacientes infectados pelo novo coronavírus, ressaltando “que não existem evidências científicas robustas que possibilitem a indicação de terapia farmacológica específica para a covid-19”. A pasta também recomenda que a aplicação da cloroquina seja evitada em associação com determinadas medicações, entre elas a heparina. Um informe da Sociedade Brasileira de Infectologia, publicado em 30 de junho, menciona todos os medicamentos citados acima e reitera que não há comprovação clínica da eficácia de qualquer um deles no tratamento contra a covid-19. O Comprova já realizou checagens envolvendo todas as medicações acima. Cloroquina e Hidroxicloroquina Embora o Ministério da Saúde tenha publicado uma orientação, no início de maio, autorizando o uso de cloroquina e hidroxicloroquina em casos leves de covid-19, a pasta assinalou que não há comprovação da eficácia dos medicamentos em pacientes com a doença. Em março, a falta de comprovação da eficácia já havia sido apontada pela Saúde ao orientar o uso da cloroquina em quadros graves. Após a publicação da orientação, a Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) emitiu uma nota em que “não recomenda o uso da cloroquina e hidroxicloroquina associada, ou não, a azitromicina, enquanto não houver evidências científicas definitivas acerca do seu emprego”. O texto também orienta que, para os pacientes que optarem pelo tratamento, “sejam realizados eletrocardiogramas”, de modo a acompanhar possíveis complicações cardíacas. A Sociedade Brasileira de Arritmias Cardíacas (Sobrac) também emitiu uma nota ressaltando a “ausência de evidências que apontem claramente o benefício do uso deste esquema terapêutico”. A Sobrac recomenda o monitoramento dos pacientes que usem o medicamento para “prevenir a manifestação de eventos arrítmicos potencialmente fatais que podem ocorrer devido a efeitos adversos de um destes fármacos ou da associação entre eles ou com outros fármacos que também possam predispor a distúrbios elétricos cardíacos”. Em abril, o Conselho Federal de Medicina (CFM) emitiu um parecer com critérios e condições para a prescrição de cloroquina em pacientes com covid-19. O texto deixa claro que “não há evidências sólidas de que essas drogas tenham efeito confirmado na prevenção e tratamento dessa doença” e determina que médicos expliquem aos pacientes que a medicação não garante eficácia. “O documento do CFM ressalta que o profissional fica obrigado a explicar ao doente que não existe, até o momento, nenhum trabalho científico, com ensaio clínico adequado, feito por pesquisadores reconhecidos e publicado em revistas científicas de alto nível, que comprove qualquer benefício do uso das drogas para o tratamento da covid-19”, diz o CFM. A cloroquina já havia sido considerada para tratamento de infecções de coronavírus após as epidemias de SARS e MERS. No entanto, não haviam sido feitos testes clínicos em humanos para confirmar a eficácia da droga. Em março deste ano, após a OMS declarar a pandemia do novo coronavírus, um estudo conduzido por médicos do Sul da França sugeriu que a cloroquina poderia ser usada como tratamento para o SARS-CoV-2. Esse estudo foi alvo de diversas críticas e seus resultados foram questionados e considerados anedóticos, ou seja, se tratavam de casos isolados, sem comprovação científica. Mais tarde, em um comunicado, a International Society of Antimicrobial Chemotherapy e a Elsevier, responsáveis pela revista que publicou o artigo, reconheceram a existência de questionamentos quanto ao conteúdo e anunciaram um novo processo de revisão independente. Estudos divulgados por algumas das mais importantes revistas médicas do mundo questionaram a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina contra a covid-19. Em maio, o Journal of the American Medical Association (Jama) e o British Medical Journal (BMJ) publicaram que pacientes tratados com as medicações, associadas ou não ao antibiótico azitromicina, não tiveram melhores resultados que aqueles que não receberam os mesmos remédios. Em junho, pesquisadores do Recovery, estudo clínico conduzido no Reino Unido, afirmaram não haver benefício no uso da hidroxicloroquina em pessoas com covid-19. Dez dias depois, a Food and Drug Administration (FDA), autoridade sanitária americana, revogou a autorização para um uso emergencial da cloroquina e da hidroxicloroquina para o tratamento da doença nos Estados Unidos. A organização alegou ser improvável que os medicamentos sejam efetivos contra a covid-19. A OMS também avaliou o uso da hidroxicloroquina como um dos medicamentos para o tratamento da covid-19 através do estudo clínico Solidariedade, que já recrutou pacientes em 35 países. Mas decidiu encerrar os testes com a hidroxicloroquina no dia 17 de junho por não ter sido capaz de identificar redução no número de óbitos entre os pacientes que fizeram uso da droga. Ivermectina Segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a ivermectina está registrada como “medicamento contra infecções causadas por parasitas”. A FDA libera a ivermectina para humanos no tratamento de vermes intestinais e, também, de parasitas tópicos como piolho e rosácea. A droga também é usada para o tratamento de vermes em diversas espécies de animais. Em abril deste ano, a agência sanitária divulgou uma carta aberta alertando a população a não usar remédios à base de ivermectina como tratamento contra a covid-19. A FDA acrescentou que possíveis efeitos colaterais do uso da ivermectina incluem vômito, diarreia, dor estomacal, erupções cutâneas, eventos neurológicos (tais como convulsões, tontura e confusão), queda repentina da pressão arterial e danos ao fígado. A ivermectina foi testada como medicação em casos do novo coronavírus em estudo conduzido pelo médico Amit Patel, então ligado ao Departamento de Bioengenharia da Universidade de Utah (EUA). Os resultados mostraram que entre os pacientes que precisavam de ventilação mecânica, apenas 7,3% dos que tomaram a medicação morreram — contra 21,3% dos que não utilizaram o medicamento. No entanto, a pesquisa afirmava que os dados “não devem ser considerados conclusivos, pois fatores de confusão desconhecidos nem sempre podem ser contabilizados de maneira confiável, mesmo quando técnicas de correspondência de propensão são empregadas no desenvolvimento de grupos de controle.” Em junho a pesquisa foi retirada do ar, porque os dados foram coletados por empresa envolvida em polêmica sobre base de dados internacional usada em estudos sobre hidroxicloroquina. A companhia responsável é alvo de uma auditoria. Outro estudo sobre ivermectina, feito por pesquisadores da Monash University e do Hospital Royal Melbourne, na Austrália, demonstrou que o medicamento é capaz de matar o novo coronavírus in vitro em 48 horas. Apesar dos resultados, os próprios pesquisadores pediram cautela e alertaram para a necessidade de realizar testes clínicos que avaliem a eficácia do remédio fora do laboratório. Azitromicina e heparina Por se tratar de um antibiótico, a azitromicina é utilizada no combate a bactérias —o que não é o caso do SARS-CoV-2, como explicado pela OMS. Segundo o órgão internacional, a covid-19 é uma “doença infecciosa causada por um coronavírus recém descoberto”. Em e-mail enviado ao Comprova, o Ministério da Saúde endossou o que disse a OMS e se referiu ao SARS-CoV-2 como o “vírus por trás da covid-19”. Já a heparina, por ser um anticoagulante, é indicada na prevenção de tromboses e embolias arteriais ou venosas, segundo a Anvisa. Também é utilizada no preparo de transfusões sanguíneas. Em entrevista ao Comprova, o Dr. Erich Vinícius de Paula, coordenador de hemostasia e trombose da Associação Brasileira de Hematologia, Hemoterapia e Terapia Celular (ABHH), explicou que “tromboses são complicações de quase todas as doenças infecciosas” e que o uso de anticoagulantes busca prevenir a ocorrência delas: “A maioria dos pacientes que está internado em uma UTI, [com um quadro da covid-19] grave ou qualquer outro problema como um AVC ou um infarto, usarão anticoagulantes para a prevenção da trombose”. No entanto, De Paula alerta que a recomendação da maioria das sociedades médicas de todo o mundo é que uma dose maior de anticoagulantes só deve ser ministrada aos pacientes no contexto de estudos clínicos. Em abril deste ano, a revista científica Science publicou um artigo sobre a evolução do tratamento de covid-19 com o uso de heparina. No Brasil, a pneumologista Elnara Marcia Negri, do Hospital Sírio Libanês e da Universidade de São Paulo (USP), administra a medicação em seus pacientes. No entanto, ainda não foram realizados estudos randomizados — ou seja, que ministram o medicamento em um grupo e oferecem um placebo a outro grupo — que comprovem a eficácia do tratamento. O uso de antibióticos, como o caso da azitromicina, foi mencionado pelo médico como um possível complemento a tratamentos de covid-19, já que é possível que o paciente apresente alguma infecção provocada por bactérias ao contrair o novo coronavírus. “Os antibióticos são usados na maioria dos casos graves porque é muito difícil excluir que junto com o vírus não haja uma infecção bacteriana associada, mas é muito importante entender que o antibiótico não é direcionado para tratar do vírus”, explicou. Autoridades não endossam iniciativa Procurado por e-mail, o Ministério da Saúde não respondeu se tinha conhecimento de que o site estava no ar e se limitou a responder sobre a eficácia dos medicamentos descritos no” CovidTemTratamentoSim”. Segundo a assessoria de imprensa da pasta, “até o momento, não há nenhum medicamento, substância, vitamina, alimento específico ou vacina que possa prevenir a infecção pelo coronavírus ou ser utilizado com 100% de eficácia no tratamento” e “a pasta acompanha o desenvolvimento de ensaios clínicos realizados no país para testar a eficácia e segurança do uso de alternativas no tratamento de pacientes com coronavírus (covid-19). Participam destes estudos mais de 100 centros de pesquisas, como universidades e hospitais, reunindo 5 mil pacientes com quadros leves, graves e moderados”. O Comprova consultou, também por e-mail, o Conselho Federal de Medicina (CFM). A respeito do uso dos remédios citados em tratamentos contra a covid-19, o órgão enviou um documento, já usado pelo Comprova em outras verificações, dizendo que o texto continua em vigor. De acordo com a publicação, não há “evidências robustas de alta qualidade que possibilitem a indicação de uma terapia farmacológica específica para a covid-19” e “muitos medicamentos têm sido promissores em testes através de observação clínica, mas nenhum ainda foi aprovado em ensaios clínicos com desenho cientificamente adequado, não podendo, portanto, serem recomendados com segurança”. Questionado sobre um posicionamento frente ao site, o CFM respondeu que “não comenta casos específicos para não comprometer sua atuação prevista em lei”. Por que investigamos? O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais. Quando o material aborda assuntos relacionados à covid-19, a verificação se torna ainda mais importante, pois esses conteúdos podem colocar a saúde das pessoas em risco. Segundo a ferramenta Crowdtangle, a página tinha 38.760 interações no dia 7 de julho. O vídeo com a live feita pelo jornalista Alexandre Garcia tinha 1.751.644 visualizações na mesma data. O site é enganoso porque insinua que médicos do mundo todo chegaram a um consenso sobre o tratamento da covid-19, o que vai contra o que acreditam autoridades sanitárias e entidades médicas, segundo as quais ainda não há um tratamento reconhecidamente eficaz contra o novo coronavírus. Ele engana também ao reunir médicos que nem sabiam que seus nomes estavam na página, entre outros pontos. O Comprova já publicou verificações de boatos com uma lista de conselhos para a pandemia com dados corretos e informações falsas sobre o vírus, que desestimulam o uso de máscara, afirmam que a covid-19 é uma trombose causada por bactéria e que a hidroxicloroquina pode descartar a necessidade de UTI. Enganoso para o Comprova é quando um conteúdo é retirado de seu contexto original e utilizado de forma a modificar seu significado, induzindo a uma interpretação equivocada.
https://i0.wp.com/projet…=601%2C301&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
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COMPROVA
É falso que família de Ciro Gomes tenha 77 empresas de carros-pipa no Ceará e que esse tenha sido o motivo do atraso das obras da transposição
null
2020-07-07
Não há indícios de que a família Gomes participe de qualquer negócio no setor de transporte de água; pipeiros alegam baixo impacto com a inauguração de obra de transposição do Rio São Francisco Conteúdo verificado: Postagens afirmando que 549 empresas de transporte de água vão “quebrar” com a inauguração de obra de transposição do São Francisco no Ceará e que 77 delas seriam da família de Ciro Gomes. Boato em circulação nas redes sociais sugere que a família de Ciro Gomes (PDT), ex-governador do Ceará, possui 77 empresas de carros-pipa e teria sido prejudicada com a inauguração da obra de transposição do Rio São Francisco no estado. Algumas versões dizem ainda que a suposta participação da “família Gomes” no serviço de transporte de água teria sido o motivo para os governos de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010) e Dilma Rousseff (2011-2016), do PT, não terem finalizado a obra. Nada disso é verdade. Não existe qualquer indício de que a família de Ciro Gomes tenha participação no setor de abastecimento emergencial de água no Ceará. A conclusão está apoiada em pesquisas em documentos públicos que listam pessoas físicas e jurídicas credenciadas na Operação Carro-Pipa e nas declarações prestadas por Ciro e outros três parentes políticos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos também afirmou ao Comprova que a alegação é inverídica. Ainda segundo o boato, 549 empresas de transporte de água vão “quebrar” depois da inauguração da obra no Ceará, o que também não é verdade. O Sindicato dos Pipeiros do Estado do Ceará (Sinpece) afirma que existe algum impacto no mercado com a inauguração da obra, mas que ele tende a ser baixo, pois a demanda por carros-pipa na região é incipiente já faz algum tempo. A Operação Carro-Pipa não atende, no momento, os municípios localizados no Cariri, ao sul do Ceará, pelos quais passam as obras da transposição do Rio São Francisco. De acordo com a relação de credenciados do Exército para a operação, apenas 13 empresas estão habilitadas para atuar em Campos Sales e Salitre, as cidades mais próximas, além de 15 pipeiros registrados como pessoa física. Como verificamos? Diante das postagens que traziam a foto de Ciro Gomes ou faziam menção à “família Gomes”, primeiro buscamos a existência de notícias que pudessem tratar de uma possível oposição de Ciro Gomes à transposição ou mesmo que indicassem alguma relação dele com empresas de carros-pipa. Em pesquisa no Google, é possível encontrar inúmeras matérias abordando a defesa do projeto da obra por Ciro, que foi ministro da Integração Nacional no governo Lula, gestão em que a obra foi iniciada. Ele também abordou a participação no projeto na campanha eleitoral de 2018. Em paralelo, buscamos informações com os órgãos responsáveis pela Operação Carro-Pipa na região do Ceará: Exército e Defesa Civil Estadual. Em ambos os casos, fizemos uma análise de documentos públicos que listam pessoas físicas e jurídicas credenciadas para a execução do transporte de água em carros-pipa na região. Além disso, confrontamos os nomes de empresas encontrados com as declarações de bens prestadas por Ciro e outros três integrantes da família Gomes que também são políticos ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Consultamos ainda a Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH) em busca de informações sobre a suposta relação de Ciro com as empresas. Outra fonte buscada foi o Sindicato dos Pipeiros do Estado do Ceará (Sinpece). Verificação O que é a transposição? O Projeto de Integração do Rio São Francisco com Bacias Hidrográficas do Nordeste Setentrional (PISF), popularmente conhecido como “transposição do São Francisco”, é a maior obra de infraestrutura hídrica do país, segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional: são 477 quilômetros de extensão em dois eixos (Leste e Norte). A obra capta água no Rio São Francisco e a transporta para bacias hidrográficas dos estados do Ceará, Paraíba, Pernambuco e Rio Grande do Norte. A ideia da transposição é, por meio da integração de bacias hidrográficas, garantir segurança hídrica as regiões que sofrem com a escassez e a irregularidade das chuvas. O governo federal estima que o empreendimento será capaz de assegurar abastecimento a 12 milhões de habitantes de 390 municípios. A obra é dividida em dois eixos de transferência de água. No Eixo Norte, passa pelos seguintes municípios: Cabrobó, Salgueiro, Terranova e Verdejante em Pernambuco; Penaforte, Jati, Brejo Santo, Mauriti e Barro no Ceará São José de Piranhas, Monte Horebe e Cajazeiras na Paraíba. Já o Eixo Leste do empreendimento atravessa as cidades de: Floresta, Custódia, Betânia e Sertânia em Pernambuco e e Monteiro na Paraíba. O trecho inaugurado no dia 26 de junho de 2020 pelo presidente Jair Bolsonaro fica no Eixo Norte. Na ocasião, ele acionou as comportas do Reservatório de Milagres, na cidade de Verdejantes (PE). De lá, as águas seguem pelo Túnel Milagres (na fronteira entre Pernambuco e Ceará) e enchem o Reservatório Jati (no território cearense). No Ceará,a água captada em Jati seguirá até Missão Velha e será direcionada ao Riacho Seco, seguindo pelos rios Batateira e Salgado — afluente do Açude Castanhão, que abastece Fortaleza e a Região Metropolitana de Fortaleza (RMF). Esse processo utilizará também a estrutura do Cinturão das Águas do Ceará (CAC) — projeto local de transferência de recursos hídricos. Mas, para isso, o trecho emergencial do Cinturão das Águas precisa ser finalizado. A obra conta com planejamento do Governo do Estado e recursos do Governo Federal. No dia da inauguração do trecho da transposição, em postagem no Twitter, o governador do Ceará, Camilo Santana (PT), declarou ser um dia importante para o estado e tratou o empreendimento como “uma obra de imensa relevância” que, segundo ele, “foi concebida e tocada no governo Lula, com apoio do ex-ministro Ciro, e continuada pelos governos Dilma, Temer e, agora, Jair Bolsonaro”. Ciro Gomes, que foi ministro da Integração Nacional no governo Lula entre 2003 e 2006, também comentou a inauguração da obra na rede social. “Hoje é um grande dia! As águas do Rio São Francisco chegam no Ceará após uma luta iniciada lá atrás, com o projeto de transposição do Rio São Francisco que tive a honra de iniciar. Um projeto grandioso que leva água para regiões secas do Nordeste. Essa é uma conquista de todos!”, escreveu. Obra teve problemas de planejamento, verba e execução A obra da transposição teve início em 2007, no segundo mandato do governo Lula, após algumas disputas jurídicas. A projeção do governo, à época, era de que a obra seria inaugurada até 2012. No entanto, atrasos e problemas de planejamento têm marcado a estruturação do empreendimento, orçado inicialmente em R$ 4,5 bilhões, mas que já consumiu, até o momento, R$ 10,9 bilhões. A obra atravessou os governos Lula e Dilma Rousseff (PT), Michel Temer (MDB) e segue na gestão Bolsonaro (sem partido). Devido à relevância da obra e ao volume de recursos destinados à sua implantação, desde 2005 o Tribunal de Contas da União fiscaliza a execução da transposição. A obra tem 14 lotes, todos eles licitados em 2007. No entanto, os lotes 5 e 8 passaram por nova licitação em 2011 e 2012. Em 2012, o ministro do TCU, Raimundo Carreiro, em entrevista ao Jornal Nacional, apontou a ausência de projetos factíveis como uma das irregularidades da obra. À época, o Ministério da Integração Nacional admitiu problemas de gestão. Entre eles, o abandono por parte das construtoras gerando descontinuidade dos trabalhos. A então ministra do Planejamento, Miriam Belchior (atuou no cargo entre 2011 e 2015), informou que a obra havia sido iniciada com um projeto básico e, somente durante a execução de uma parte das atividades, foi feito o projeto executivo, o que provocou necessidade de acréscimo de recursos na execução. Em 2014, em visita às obras no Ceará, a presidente Dilma atribuiu a demora para concluir o projeto à complexidade da construção. “Acho que houve também uma subestimação da obra. Não acredito que uma obra desta, em outro lugar do mundo, leve dois anos para ser feita. Nem tampouco um ano, nem tampouco três”, disse a presidente na ocasião. Segundo o estudo “Grandes obras paradas: como enfrentar o problema”, publicado em 2018 pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), as causas para os atrasos das obras do Eixo Norte, do qual o Ceará faz parte, se referem a problemas com a empresa Mendes Júnior que teria se declarado financeiramente incapaz de cumprir os dois contratos para execução. Outros motivos para o atraso da obra entre 2007 até 2016, ainda de acordo com a CNI, foram: demora na eliminação de interferências de diversas naturezas, especialmente elétricas e hidráulicas; atrasos no licenciamento ambiental, em particular em relação a autorizações para supressão de vegetação e à exploração de jazidas; morosidade no processo de desapropriação, que se mostrou bem mais complicado do que o previsto no estudo de avaliação econômica; e demora na aprovação dos preços de novos serviços pelo Ministério da Integração. A análise também aponta que os gestores públicos responsáveis pela transposição enfatizaram como principais restrições ao avanço do projeto a falta de recursos humanos e equipamentos, a recorrente judicialização dos processos de licitação e a lentidão na obtenção de autorizações complementares para supressão vegetal. Em checagem recente, o Comprova apurou se existem denúncias de corrupção envolvendo os projetos de transposição do Rio São Francisco. O TCU enviou por e-mail três decisões recentes que tratam do assunto. O Tribunal identificou irregularidades na contratação das empresas responsáveis, na execução dos contratos e nas políticas que deveriam ser traçadas em conjunto pelos municípios beneficiados pelas obras. A postagem falsa, além de afirmar que a família Gomes tem 77 carros-pipa, também sugere que, por esse motivo, o PT não teria concluído a obra. Em nota, a assessoria do PT declarou que governos do partido foram responsáveis pela realização de 84,4% da transposição e que seguiram um cronograma de obras e liberações financeiras pré-estabelecido. O percentual é referente ao Eixo Leste e está no sumário executivo do Ministério da Integração Nacional de abril de 2016. No Eixo Norte, era de 87,7%. A assessoria do partido comentou a dimensão do projeto e salientou que “a transposição era uma promessa que vinha dos tempos do Império e que jamais foi empreendida, sequer iniciada por qualquer governo brasileiro anterior”. Além disso, frisou: “Quem assumiu um compromisso dessa envergadura jamais se curvaria a interesses menores de quem quer que seja”. Operação Carro-Pipa não atende, no momento, municípios da obra O acesso à água de modo contínuo em quantidade adequada, assegurado por obras estruturantes como a transposição do São Francisco, em geral, tende a eliminar ou reduzir a dependência da população de uma ação de caráter emergencial como o abastecimento por carros-pipa. No Brasil, o Governo Federal realiza desde 1998, por meio do Ministério da Defesa, a Operação Carro-Pipa. Uma portaria interministerial trata da mútua cooperação técnica e financeira entre o Ministério do Desenvolvimento Regional (antigo Ministério da Integração Nacional) e Ministério da Defesa para a realização da Operação. Segundo a norma, um das atribuições do Ministério da Defesa, por intermédio do Comando do Exército, é a contratação de pipeiros e outros serviços terceirizados de mão de obra necessários para a operação. Enquanto os governos estaduais, por meio dos órgãos de defesa civil, devem “realizar a distribuição de água potável nos Municípios que não puderam ser atendidos pelo Comando do Exército”. No Ceará, conforme informações da Defesa Civil, nas zonas rurais semiáridas o abastecimento por carros-pipas é coordenado pelo Exército. Já nas zonas urbanas ou rurais não semiáridas, é a Defesa Civil que acompanha o processo. Em entrevista ao Comprova, o coordenador de Defesa Civil do Estado do Ceará (CEDEC), tenente-coronel Holdayne Pereira, afirma que a Operação Carro-Pipa existe desde 2013 na região e que os municípios cearenses pelos quais o canal da transposição do Rio São Francisco passa não são atendidos no momento. “A operação funciona da seguinte forma: o município que está com dificuldade de abastecimento de água entra no sistema e solicita a análise da Defesa Civil Estadual. Após a análise, se constatarmos que há risco de desabastecimento, fazemos o sorteio das rotas dos pipeiros que se cadastraram [para o edital de credenciamento]. Eles recebem um contrato de três meses, prorrogáveis por igual período”, explica. O edital de credenciamento dos pipeiros em vigor no Ceará foi publicado no Diário Oficial do Estado em 30 de janeiro de 2019. A lista com o nome das pessoas físicas e jurídicas que tiveram o credenciamento deferido para atuarem na Operação Carro-Pipa está no site do órgão. Em 2019, foram cinco convocações para abastecimento da zonas urbanas de sete cidades: Boa Viagem, Choró, Monsenhor Tabosa, Mombaça e Pereiro, Parambu e Itapiúna. Em 2020, os pipeiros foram convocados para atenderem três municípios: Choró, Mombaça e Monsenhor Tabosa. A obra da transposição do São Francisco não passa por nenhuma dessas cidades. Os municípios com a estrutura da transposição são Penaforte, Jati, Brejo Santo, Mauriti e Barro — todos na Região do Cariri, ao sul do estado. Já o Comando Militar do Nordeste informa que cerca de 420 pipeiros prestam serviço de distribuição de água na Operação Carro-Pipa no Ceará, sendo aproximadamente 150 pessoas jurídicas. O credenciamento é feito pelo Ministério da Defesa, por meio do Exército — e o edital que credenciou interessados em prestar o serviço no ano de 2020 também não indica oferta de carros pipas em nenhuma das cidades beneficiadas pelo trecho da obra de transposição do São Francisco no estado. O documento, publicado em 14 de outubro de 2019, informa outras 16 localidades: Aiuaba, Arneiroz, Campos Sales, Catunda, Cratéus, Independência, Ipu, Ipueiras, Monsenhor Tabosa, Nova Russas, Novo Oriente, Parambu, Quiterianópolis, Salitre, Tamboril e Tauá. Destas, apenas duas estão localizadas no Cariri, mesma macrorregião dos demais municípios cujas obras da transposição passam no território cearense: Campos Sales e Salitre. Não há evidências que integrantes da família Gomes sejam donos de carros-pipa Procurada pelo Comprova, a assessoria da Companhia de Gestão dos Recursos Hídricos (COGERH) informou que os prestadores de serviço de carro-pipa nos municípios do interior assistidos nas operações da Defesa Civil e Exército são, na maioria, pessoas físicas, sendo inverídico que 77 empresas detenham contratos de abastecimento e que elas sejam de propriedade da família Ferreira Gomes. A assessoria de Ciro Gomes também foi procurada e se manifestou por meio de nota abaixo: “Esta é mais uma notícia falsa que circula nas redes sociais contra Ciro Gomes. Ciro não é e nem nunca foi dono de carros-pipa, nem de empresas que prestem esse serviço. Esperamos, agora, que as redes sociais que permitem o compartilhamento dessas mentiras, retirem os posts de circulação e permitam a identificação dos autores para que respondam judicialmente por seus atos”. A assessoria também negou que qualquer familiar detenha participação em empresas do setor. O Comprova consultou as declarações de bens prestadas ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) pelo principais representantes políticos da “família Gomes”. A única participação societária declarada por Ciro Gomes foi a “Xerez Saldanha Vasconcelos e Ciro Gomes Advogados Associados”, quando disputou a Presidência em 2018. A empresa foi aberta em setembro de 2012 e permanece ativa, segundo informações da Receita Federal. Em 2006, quando eleito deputado federal, o político não declarou nenhuma participação em empresas. Entre 2011 e 2017, Ciro Gomes não disputou eleições. As informações do TSE mostram ainda que nem os irmãos de Ciro, Cid Gomes, senador eleito em 2018, e Ivo Gomes, prefeito da cidade Sobral eleito em 2016, declararam qualquer participação societária à Justiça Eleitoral desde 2006. O Comprova também pesquisou as informações do deputado estadual Tin Gomes, primo de Ciro, Cid e Ivo Gomes, e encontrou resultado semelhante. Não há declaração de participação societária. Nas sete atas que listam os resultados do credenciamento de pipeiros pelo Exército, disponíveis no site do 40º Batalhão de Infantaria do Exército, foram encontrados 13 registros diferentes com o sobrenome “Gomes”, sendo que apenas seis foram de fato habilitados. São de pessoas físicas, com exceção do registro de uma empresa: “Magnolia Carla Torres Pereira Gomes”, credenciada para atuar nos municípios de Aiuaba e Tauá, localizados na macrorregião do Sertão dos Inhamuns no Ceará, e não no Cariri. A reportagem não conseguiu contato com a responsável para questionar sobre o possível parentesco. Já a relação de credenciados disponível no site da Defesa Civil, referente a edital de 2019, apresenta outros 13 registros de prestadores de serviço com o sobrenome “Gomes”. Porém, nenhum deles é de pessoa jurídica. A empresa de advocacia da qual Ciro Gomes declarou ser sócio ao TSE não consta em nenhuma das listas. Sindicato de pipeiros desconhece protestos referentes aos efeitos da transposição A postagem verificada também diz que “no Ceará 549 empresas de ‘pipas d’água’ irão quebrar com a chegada da água gratuita”. Consultado sobre a repercussão da chegada da água e a possibilidade da ação ter motivado protestos ou insatisfação entre os donos de carros-pipas ou empresas proprietárias desses veículos, o diretor geral do Sindicato dos Pipeiros do Estado do Ceará (Sinpece), Eduardo Aragão, declarou que essa correlação “não tem nada a ver”. Eduardo explica que, quando há uma obra estrutural como a construção de ramais de água, é evidente que há um efeito para quem trabalha com esse tipo de abastecimento. No entanto, enfatiza ele, na região citada, a demanda por carros pipas é incipiente há muito tempo. “O que acontece, nessa região [sul do Ceará], é que faz tempo que não tem nem carro rodando direito aí. Em Jati já rodou e não está mais rodando. Faz é tempo que está parado. Penaforte também. Então, não tem como afetar se já está parado”, conta. Ele ressalta que é de conhecimento público que uma obra como a transposição tende a diminuir os gastos públicos com carros-pipa. Mas também destaca que, embora uma cidade receba água em suas reservas, é preciso investir na canalização. “Digamos que passe o canal em Penaforte, só que a 30km ou 40 km tem uma localidade que não tem água encanada. Então, teria que ter o caminhão-pipa para pegar água lá no canal e levar para essa localidade. A transposição ajuda porque ao invés de pegar em um manancial há 100 km de distância, pega com 30 km ou 40 km. Aí diminui os gastos para o governo. Mas para acabar mesmo com a Operação-Pipa nessas cidades, tem que ser feita a ligação de água até as casas”, explica. O representante do Sindicato afirmou ainda que não há nenhum movimento oficial dos pipeiros em relação à transposição. Questionado sobre quais as regiões onde os pipeiros mais atuam no Ceará, ele afirma que a maior demanda, no momento, é na Região dos Inhamuns, de Crateús e no Sertão Central. A informação reforça aquilo que o credenciamento do Exército e da Defesa Civil já haviam demonstrado. No Cariri, área cuja obra da transposição passa no Ceará, ele diz que “é muito pouco carro rodando”. Na estimativa feita por Eduardo, há cerca de 30 caminhões-pipa cadastrados para circular no sul do Ceará. Conforme levantamento feito pelo Comprova, na região, o Exército atende as duas cidades, Campos Sales e Salitre, com 28 credenciados ao todo. Por que investigamos? Nesta terceira fase do Comprova, o projeto retoma o monitoramento e a verificação de conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal e eleições municipais, somados ao combate à desinformação sobre a pandemia do novo coronavírus. A coalizão de veículos verifica conteúdos suspeitos que se tornaram virais ou que tenham grande potencial de disseminar informações enganosas ou falsas. O boato sobre a participação da “família Gomes” em 77 empresas de carros-pipa é prejudicial ao denunciar, sem qualquer fundamento, que uma obra de grande interesse público, a transposição do Rio São Francisco, sofreu atrasos em razão de interesses particulares de políticos. Em vez de abordar de forma consciente os reais motivos apontados para o adiamento da entrega e compartilhar outras informações de interesse da sociedade, dissemina teorias da conspiração que apenas atrapalham a análise dos cidadãos. Em pouco mais de uma semana, quatro conteúdos falsos identificados pelo Comprova somaram mais de 24,7 mil compartilhamentos no Facebook e no Twitter. O alcance também motivou checagens do Boatos.org e do Fato ou Fake, do portal G1. A conclusão é a mesma. Diversos conteúdos enganosos apareceram nas redes desde que o presidente Jair Bolsonaro inaugurou trecho da obra em junho. Recentemente, o Comprova mostrou que o Exército não refez todo o trecho da transposição do São Francisco inaugurado por Temer e Lula. Em 2019, a coalizão também investigou postagens que inflavam a responsabilidade do governo Bolsonaro no andamento das obras. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C682&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-verdadeiro-que-bolsonaro-tenha-liberado-auxilio-de-r-160-milhoes-a-asilos-proposto-pelo-congresso/
COMPROVA
É verdadeiro que Bolsonaro tenha liberado auxílio de R$ 160 milhões a asilos proposto pelo Congresso
null
2020-07-06
Projeto foi apresentado no plenário da Câmara pela deputada federal Leandre (PV-PR) em 14 de abril, aprovado pelo Congresso e sancionado pelo presidente da República em 29 de junho, último dia do prazo para tal, com quatro vetos Conteúdo verificado: Texto publicado pelo site Pleno News alegava que o presidente Jair Bolsonaro teria liberado um fundo de R$ 160 milhões a asilos para auxiliar no combate à pandemia do novo coronavírus É verdadeiro que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tenha liberado um fundo de R$ 160 milhões para asilos durante a pandemia de covid-19, conforme divulgado pelo site Pleno News em 30 de junho. O conteúdo, cuja verificação foi sugerida por leitores do Comprova e que teve ampla visualização nas redes sociais, diz que Bolsonaro sancionou uma lei que ajudaria Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) no combate à doença. A lei foi assinada pelo presidente em 29 de junho de 2020. A única informação que não consta do texto é que ela foi elaborada e aprovada pelo Congresso Nacional, apresentada pela deputada federal Leandre (PV-PR), antes de seguir para a sanção presidencial. A notícia diz corretamente que a nova lei também foi assinada pelos ministros Walter Braga Netto (Casa Civil), Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos) e José Levi Mello do Amaral Júnior (Advocacia-Geral da União). Como verificamos? O Comprova pesquisou no site do governo federal se havia sido aprovada alguma lei sobre o tema e encontrou uma notícia do dia 30 de junho anunciando a assinatura da Lei 14.018. O texto fornece o link para o registro da assinatura no Diário Oficial da União, em 30 de junho. Buscamos mais informações sobre a lei e encontramos na Agência Senado uma notícia explicando que o projeto teve origem na Câmara dos Deputados. Em uma busca rápida no site da Câmara foi possível encontrar a data em que o projeto foi apresentado pela primeira vez e todo o processo que percorreu, passando também pelo Senado Federal, até virar lei. Para entender melhor como funciona a tramitação, o Comprova pesquisou, nos sites ligados aos órgãos legislativos, como são feitas as leis no país e quais passos devem ser executados ao longo do processo. Verificação O que é o fundo aos asilos? A lei assinada prevê que a União destinará um auxílio financeiro de R$ 160 milhões para que Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPIs) possam se fortalecer no combate ao novo coronavírus. Para isso, podem ser utilizados recursos do Fundo Nacional do Idoso (FNI), gerenciado pelo Conselho Nacional dos Direitos da Pessoa Idosa, órgão que integra o Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos (MMFDH). O FNI financia ações relativas ao idoso que “assegurem os direitos sociais e criem condições para promover sua autonomia, integração e participação efetiva na sociedade”, segundo o governo federal. A divisão dos valores a serem enviados a cada instituição caberá ao MMFDH e deve considerar o número de idosos atendidos em cada local. Mesmo as instituições que apresentam algum tipo de pendência, sejam débitos ou situação de inadimplência, terão direito a receber o auxílio. Os valores recebidos devem ser utilizados em ações de prevenção e de controle da Covid-19 dentro dos asilos; compra de equipamentos de higiene de residentes e funcionários; compra de medicamentos e adequação dos espaços para isolar casos suspeitos ou leves da doença. No texto de divulgação da assinatura da lei, o governo federal afirma que os recursos devem ser repassados a 2,6 mil asilos, que abrigam mais de 88 mil idosos em todo o país. Quem está por trás do projeto? No Brasil, para uma lei ser aprovada, diversas etapas devem ser cumpridas. Inicialmente, o projeto precisa ser aprovado pelo Congresso Nacional para, depois, ser sancionado ou vetado pelo presidente. Todo o regime de tramitação pode ser acompanhado nos sites da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, desde a apresentação da proposta até a assinatura da lei. A presidência só pode apresentar um projeto de lei que tratar de matéria de administração pública – e, ainda, assim, o projeto precisa ser aprovado pelo Legislativo para virar lei. No caso da lei que prevê auxílio aos asilos, o projeto foi apresentado no plenário da Câmara pela deputada federal Leandre (PV-PR) em 14 de abril de 2020. Depois de apresentado, normalmente ele seria distribuído para comissões temáticas e, posteriormente, para comissões especiais, mas em 29 de abril, Leandre pediu urgência na apreciação do projeto de lei – procedimento que poderia dispensar algumas destas etapas. A urgência foi concedida pelo presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), em 6 de maio, e o texto foi submetido à votação no plenário da Casa. A redação do relatório final foi aprovada em 20 de maio e o projeto de lei foi encaminhado ao Senado no mesmo dia. Sempre que um projeto é aprovado por uma das casas legislativas, ele deve ser submetido à análise da outra antes de seguir para o Executivo – um projeto aprovado pela Câmara, é encaminhado ao Senado, e vice-versa. A aprovação do texto no plenário do Senado foi em 4 de junho. Após a votação de algumas emendas em separado, a redação final foi encaminhada para sanção presidencial em 9 de junho. Qual o papel de Bolsonaro? O artigo 66 da Constituição Federal prevê que o presidente tem um prazo de quinze dias úteis, a partir da data de recebimento, para analisar um projeto de lei aprovado pelo Congresso. Dentro deste período, pode vetar trechos do texto ou mesmo todo o conteúdo. Se, passados os quinze dias, não houver nenhuma manifestação por parte do presidente, o projeto é automaticamente sancionado. A sanção do texto ocorreu na data-limite, dia 29 de junho. A lei foi publicada no Diário Oficial da União do dia 30 de junho. O texto aprovado teve quatro vetos em relação ao conteúdo enviado pelo Congresso Nacional. Foi vetado que o repasse da verba fosse apenas para instituições sem fins lucrativos que estivessem inscritas nos Conselhos de Direito da Pessoa Idosa ou Conselhos de Assistência Social. A alegação do Planalto é de que a medida “contraria o interesse público ao limitar as instituições que serão contempladas pelo auxílio”. Também foi retirado do texto o dispositivo que obrigava instituições beneficiadas a prestarem contas da aplicação dos recursos; segundo a interpretação do governo, a competência de fiscalização cabe ao Congresso Nacional, com o auxílio do Tribunal de Contas da União (TCU) O terceiro item vetado determinava um prazo de 30 dias para o pagamento do auxílio às instituições. A Presidência afirmou que o processo de conferir quais instituições serão beneficiadas e direcionar o pagamento a elas demanda mais tempo que o proposto no projeto. Por fim, o Planalto vetou prazo de 30 dias para que o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos disponibilizasse a relação das unidades beneficiadas pelo auxílio, com informações como CNPJ e valores repassados. A justificativa é de que “já existem normativos que dispõem do assunto” e que isso pode ser consultado via Lei de Acesso à Informação. Por que investigamos? O Comprova investiga conteúdos com potencial de espalhar informações equivocadas ou fora de contexto e que obtenham ampla viralização. Muitos desses conteúdos são sugeridos pelos leitores, como é o caso desta nota publicada pelo site Pleno News. Trata-se de uma informação correta, ainda que não tenha sido explicado ao leitor que o projeto nasceu no Congresso Nacional. Comprovado, para o projeto, é um fato verdadeiro e que apresenta conteúdo original publicado sem edição. Até a publicação desta verificação, o texto teve 52.951 interações no Facebook, segundo a ferramenta de monitoramento Crowdtangle, tendo sido compartilhado por figuras públicas como o deputado federal Marco Feliciano (Republicanos-SP). Diante da pandemia de covid-19, é necessário ter cuidado com as informações apresentadas pelo risco que podem oferecer à saúde pública. Desde que o Comprova passou a realizar checagens relacionadas ao novo coronavírus, diversos conteúdos tinham ligações com questões políticas e econômicas. Já foi desmentido que a Prefeitura de São Paulo tenha feito a compra de caixões sem licitação e que um homem tenha sido preso por criticar a compra de respiradores.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Comprovado']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/exercito-nao-refez-todo-o-trecho-da-transposicao-do-sao-francisco-inaugurado-por-temer-e-lula/
COMPROVA
Exército não refez todo o trecho da transposição do São Francisco inaugurado por Temer e Lula
null
2020-07-04
É verdade que a ideia de transposição das águas do São Francisco remonta ao Império e que o exército participou da execução das obras. O texto que viralizou no WhatsApp, no entanto, engana ao afirmar que as obras ficaram abandonadas por dez anos e que o exército teria refeito trecho inaugurado por Temer e Lula. Veja outras informações checadas pelo Comprova Conteúdo verificado: Texto que tem circulado no WhatsApp e nas redes sociais e que denuncia casos de corrupção na construção da transposição do Rio São Francisco e afirma que “o exército refez todo o trecho com concretagem adequada podendo assim ser finalmente inaugurada” pelo presidente Jair Bolsonaro. Não é verdade que os governos dos ex-presidentes petistas Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff tenham abandonado por dez anos as obras da transposição do Rio São Francisco – depois de terem roubado R$ 7 bilhões dos cofres públicos. Essa alegação enganosa circula em texto no WhatsApp e em redes sociais. O boato afirma que o Exército teria refeito todo o trecho inaugurado em 2017, que teria “desmoronado” — mas isso também não é verdade. A mensagem dá a entender que os ex-presidentes Michel Temer, Lula e Dilma teriam feito questão de inaugurar uma obra ainda inacabada. A construção, apesar de ter tido interrupções, não ficou parada por dez anos. Também é falso que um canal tenha desmoronado. O que ocorreu foi que o Eixo Leste, inaugurado por Temer, e depois por Lula e Dilma de maneira extraoficial, teve problemas de vazamentos. Enquanto a estrutura ficou sem água para realização de reparos, o concreto do leito chegou a rachar, deixando exposta a manta de impermeabilização. Mas o canal nunca desmoronou. Além disso, a inauguração feita por Bolsonaro ocorreu no Eixo Norte, distante 215 quilômetros de onde os ex-presidentes estiveram. O texto traz algumas informações verdadeiras, como o fato de que a ideia da transposição partiu do Imperador Dom Pedro II. Realmente, os primeiros debates sobre a transposição começaram durante o período do Segundo Reinado. Também é verdade que as obras só tiveram início em 2007 e o primeiro trecho foi inaugurado em 2017. Além disso, é verdadeira a afirmação de que o Exército participou do início das obras e ainda atua no Eixo Leste. O texto que viralizou também acusa a “esquerda” de embargar a obra pelos efeitos ambientais e diz que o Partido dos Trabalhadores “não fez nada além de superfaturar e roubar”. Como verificamos? Primeiro, buscamos na Internet matérias de jornais ou sites de órgãos públicos, como o Senado, que ajudassem a recontar a história da transposição do Rio São Francisco. Também lemos um relatório do Comitê Gestor da Bacia do São Francisco, que conta parte da história. E entrevistamos o engenheiro civil Francisco Jácome Sarmento, que atuou no projeto em três governos de partidos diferentes. Em seguida, procuramos a comunicação do Exército Brasileiro para confirmar se a organização havia trabalhado na obra e em que trechos. Entramos em contato como Tribunal de Contas da União (TCU), a Controladoria Geral da União (CGU), a Polícia Federal (PF) e o Ministério Público Federal (MPF) em Pernambuco, Paraíba e Ceará para saber se foram realizados procedimentos ou operações relacionadas a possíveis casos de corrupção no empreendimento. Por fim, procuramos o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR), atual responsável pela obra de transposição. Também usamos recurso do Google Maps para descobrir a distância entre o trecho inaugurado pelo presidente Jair Bolsonaro, no último dia 26 de junho, e aquele que foi inaugurado pelo ex-presidente Michel Temer, e depois por Lula e Dilma Rousseff, em duas diferentes datas de 2017. Verificação A transposição O Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), popularmente conhecido como “transposição do São Francisco”, é uma obra hídrica de 477 quilômetros de extensão que levará água do rio para 390 municípios dos estados de Pernambuco, Paraíba, Rio Grande do Norte e Ceará. A obra se divide em dois canais, o Eixo Leste e o Eixo Norte, e vai ter 13 aquedutos, nove estações de bombeamento e 27 reservatórios, segundo informações do Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). A criação de um canal que leve a água do São Francisco para banhar a região do Nordeste que não tem rios perenes já era uma proposta debatida desde o Império. Na época, porém, não havia recursos financeiros e tecnológicos para concretizar a construção. Ainda no século XIX, o engenheiro alemão Henrique Guilherme Fernando Halfeld percorreu o rio para estudar a viabilidade da obra. O primeiro projeto técnico foi feito durante o regime militar, no governo João Figueiredo, pelo Ministério do Interior, conduzido por Mario Andreazza, segundo relatório produzido pelo Comitê Gestor da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco. No governo Itamar Franco, em 1994, um projeto básico foi elaborado pelo então Ministério da Integração Regional. Na época, o traçado tinha apenas o Eixo Norte. De acordo com o relatório, a transposição só passou a ter um Eixo Leste no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), quando um terceiro projeto foi elaborado, em 2000. A construção dos canais só começou em 2007, no governo Lula (PT), após uma longa disputa jurídica. Francisco Jácome Sarmento, que integrou a equipe técnica da transposição nos governos Itamar, FHC e Lula, contou ao Comprova que liminares judiciais contra a construção foram concedidas em todos os estados que historicamente se opunham à transposição: Alagoas, Sergipe, Bahia e Minas Gerais. “Um belo dia, o STF [Supremo Tribunal Federal] chamou para si a responsabilidade de julgar todos os processos relativos à transposição; ao ser provocado pela AGU [Advocacia-Geral da União]. Foi quase um ano até que o ministro Sepúlveda Pertence desse um parecer monocrático, em março de 2007. Três meses depois, nós demos início à obra”, lembra. Sarmento é engenheiro civil, professor da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e autor dos livros “Transposição do Rio São Francisco – Realidade e obra a construir” (2005) e “Transposição do Rio São Francisco – Os bastidores da maior obra hídrica da América Latina” (2018). Ao contrário do que diz o texto verificado pelo Comprova, a oposição ao projeto não partia apenas da esquerda, segundo conta Sarmento. Opositores do PT, como o ex-senador Antônio Carlos Magalhães (Bahia) e o ex-ministro do Meio Ambiente tucano José Carlos Carvalho (Minas Gerais), ambos de estados contrários ao projeto, também trabalharam contra. “Inicialmente, a gente tinha previsto uma obra que traria água do Rio Tocantins para alimentar o São Francisco. O ministro José Carlos Carvalho protegeu o trecho onde a água seria captada como área ambiental. Aquilo inviabilizou a alimentação do São Francisco. Depois, ele fez de tudo para criar o Comitê Gestor da Bacia do São Francisco. Porque mesmo que o projeto ressurgisse no futuro, a construção precisaria ser aprovada por esse comitê”, lembra. Inaugurações A obra atravessou os governos Lula e Dilma Rousseff (PT). O Eixo Leste foi o primeiro a ser inaugurado, em 10 de março de 2017, pelo então presidente Michel Temer (MDB). Na ocasião, Temer foi até a cidade de Sertânia (PE) para abrir a comporta do reservatório de Campos. Depois, seguiu para Monteiro (PB) para acompanhar a chegada das águas. Na cerimônia, o presidente descreveu o momento como “uma coisa emocionante”, que teria levado parte da comitiva a lacrimejar. Nove dias depois, Lula e Dilma, já ex-presidentes, visitaram o trecho da obra de Monteiro para fazer o que chamaram de “inauguração popular” da obra. Os dois estiveram apenas em Monteiro e chegaram a discursar em cima de um palanque. Mesmo depois de inaugurada, a transposição passou por problemas. O bombeamento de água chegou a ser interrompido por três meses por causa de vazamentos na barragem de Cacimba Nova, em Custódia (PE). Outra bomba passou nove meses em obras por falhas na barragem de Negreiros, em Salgueiro (PE). A falta de água no canal fez o concreto rachar. No dia 26 de junho, o presidente Jair Bolsonaro fez a primeira inauguração no Eixo Norte da transposição. Ele acionou as comportas do Reservatório de Milagres, na cidade de Verdejantes (PE). De lá, as águas seguem para o Reservatório Jati, na cidade de Bela Vista (CE). O local onde Bolsonaro esteve fica a 215 quilômetros da cidade de Monteiro, onde Temer, Lula e Dilma estiveram. Em um e-mail enviado ao Comprova, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) informou que o Eixo Norte está com 97,49% de execução, com previsão de conclusão no primeiro semestre de 2021. Já o Eixo Leste tem execução de 97,11% e deve ser concluído no segundo semestre de 2020. Em ambos, faltam serviços complementares que, segundo a pasta, não comprometem a passagem da água pelos canais. O Exército Em 2007, foi o Exército que deu início às obras da transposição. Segundo Francisco Jácome Sarmento, o objetivo era garantir que o projeto saísse do papel. Em junho daquele ano, o canteiro de obras chegou a ser ocupado por movimentos sociais que temiam uma degradação do rio. A ocupação teve o apoio do então bispo de Barra (BA), dom Luiz Flavio Cappio, que havia feito duas greves de fome contra a construção dos canais. Segundo Sarmento, o Exército teve um papel importante para garantir a segurança da obra e não na sua execução, uma vez que seus opositores ameaçavam invadi-la. O professor afirmou que a participação dos militares deu-se no sentido de “garantir a irreversibilidade das obras”. Em nota enviada ao Comprova por e-mail, o Exército confirmou que atua no Projeto de Integração do São Francisco desde o início das obras. Segundo a assessoria, a Engenharia Militar construiu os dois canais de aproximação, que levam as águas até as primeiras estações de bombeamento de cada eixo, entre 2007 e 2016. Os militares também abriram e pavimentaram a estrada que dá acesso à estação de bombeamento do Eixo Leste. Atualmente, o Exército executa obras obras complementares às barragens de Areias e Tucutu, nos Eixos Leste e Norte do projeto. Além disso, os militares têm pavimentado as estradas que dão acesso a duas estações de bombeamento. As obras têm previsão de término até 31 de dezembro de 2020. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Regional, o Exército foi convidado para dar início às obras pelo Canal de Aproximação e, depois, atuou na primeira barragem do Eixo Leste, por “questões de segurança nacional” e por “atrasos na conclusão de processos licitatórios”. Denúncias de corrupção Para apurar se existem denúncias de corrupção envolvendo os projetos de transposição do rio São Francisco, o Comprova entrou em contato com a Controladoria Geral da União (CGU), o Tribunal de Contas da União (TCU), o Ministério Público Federal (MPF) nos estados de Pernambuco, Paraíba e Ceará — onde ocorreram as obras —, e com a Polícia Federal. Em resposta, a Polícia Federal informou que em 2015 foi declarada a Operação Vidas Secas – Sinhá Vitória, para apurar suspeitas de superfaturamento das obras de engenharia executadas por empresas em dois dos quatorze lotes da transposição do rio São Francisco. Segundo a nota publicada na época no site da PF, os investigadores apuraram que empresários do consórcio responsável pela obra utilizaram empresas de fachada para desviar cerca de R$ 200 milhões das verbas públicas destinadas à transposição, no trecho que vai do agreste no estado de Pernambuco até a Paraíba. A nota diz, ainda, que as empresas de fachada utilizadas para esses desvios estariam em nome de um doleiro e um lobista investigados na Operação Lava Jato. No dia da deflagração da Operação Vidas Secas, a PF realizou uma entrevista coletiva em que informou que as investigações sobre esses desvios começaram em 2014, a partir da análise de relatórios produzidos pelo TCU e pela CGU que apontaram indícios de superfaturamento em dois lotes das obras de transposição do rio São Francisco. A operação culminou na prisão temporária de Elmar Varjão, presidente da construtora OAS na época, e de executivos de outras empresas que participavam das obras. Além disso, a investigação revelou que as construtoras envolvidas utilizaram contas de Alberto Youssef e Adir Assad, presos no âmbito da Operação Lava Jato, para realizar os desvios. Na resposta ao Comprova, a PF informou, ainda, que como as investigações são sigilosas, não é possível informar a existência de novas operações sobre este tema. Sobre denúncias de corrupção envolvendo as obras de transposição do rio São Francisco, o MPF-PE informou por e-mail que não há questionamentos sobre a obra em andamento em Pernambuco. O MPF-CE e o MPF-PB não responderam nosso contato até a data de fechamento deste texto. O TCU, também por e-mail, enviou ao Comprova três decisões recentes do tribunal que tratam do assunto. Nelas, o TCU identificou irregularidades na contratação das empresas responsáveis, na execução dos contratos e nas políticas que deveriam ser traçadas em conjunto pelos municípios beneficiados pelas obras. A CGU não respondeu o contato do Comprova até o fechamento deste texto. O texto verificado afirma que, no início, a obra era estimada em R$ 5 bilhões. E que outros R$ 7 bilhões foram “roubados dos cofres públicos”. Em e-mail enviado ao Comprova, o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR) informou que o orçamento inicial previsto era de R$ 4,5 bilhões. Até o momento, já foram investidos R$ 10,9 bilhões. Só em custos ambientais, foram incorporados R$ 1,5 bilhões, o que a pasta considera “relevante para a revisão orçamentária”. A estimativa do custo final do projeto não foi informada pelo MDR. A postagem também diz que, além do Exército, as empresas “Ecolog” e “Egrar” iniciaram a construção. O MDR enviou ao Comprova uma lista com dezenas de empresas que trabalharam no projeto. Mas nenhum dos nomes consta nessa lista. O ministério também disse não ter conhecimento de desvios ou superfaturamento ocorridos na transposição e ressaltou que “as licitações e execução foram monitoradas e fiscalizadas pelos organismos de controle e os questionamentos apresentados por estes órgãos foram sanados”. Por que investigamos? O Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal de ampla repercussão em redes sociais. É o caso desse texto sobre o Projeto de Integração do Rio São Francisco (PISF), maior obra de infraestrutura hídrica do país, que deve atender 12 milhões de pessoas no semiárido nordestino. No Facebook, a versão desse texto postada pela página Amigos do Presidente teve 116 mil interações, segundo dados da plataforma Crowdtangle. O Estadão Verifica e a Agência Lupa verificaram um conteúdo sobre o trabalho do exército nas obras da transposição do Rio São Francisco. O Estadão também mostrou que fotos dos canais da transposição foram usadas fora de contexto nas redes sociais. Enganoso para o Comprova é todo conteúdo retirado de seu contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado; induzindo a uma interpretação equivocada.
https://i0.wp.com/projet…=596%2C272&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/texto-que-lista-17-conselhos-para-a-pandemia-mistura-dados-corretos-e-informacoes-falsas-sobre-o-virus/
COMPROVA
Texto que lista 17 conselhos para a pandemia mistura dados corretos e informações falsas sobre o vírus
null
2020-07-03
Comprova investigou um por um os 17 conselhos listados em corrente que viralizou no WhatsApp e que usa como base artigo de um site português. Veja o que descobrimos Conteúdo investigado: uma corrente que circula no Whatsapp e traz uma lista de “17 conselhos” sobre a covid-19. É enganoso o texto “17 conselhos para lidar com a pandemia da covid-19”, que vem sendo compartilhado em correntes de WhatsApp e que foi publicado originalmente em uma página do portal português Impala.pt. O conteúdo, que mescla informações corretas com outras total ou parcialmente incorretas, é um compilado de outras publicações – muitas com trechos que também já tinham sido distorcidos – que já circularam na internet. Em uma primeira versão, o site havia publicado que a autoria de 17 conselhos – e não 15 – seria de Robert Ray Redfield, virologista, diretor do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC), órgão do governo americano responsável por dar orientações à população sobre a pandemia de covid-19. O portal também associa o virologista à chefia da Clínica de Doenças Infecciosas da Universidade de Maryland, nos EUA – afirmação que não é verdadeira. Esse cargo pertence à Faheem Younus, que é professor da Universidade de Maryland e chefe do departamento de doenças infecciosas do centro médico Upper Chesapeake Health, associado à Universidade de Maryland. Younus, em sua conta do Twitter, se dedica a esclarecer desinformações relacionadas à pandemia. E alguns dos conselhos presentes no texto, de fato, têm muita similaridade com o que ele já publicou – mas oito deles foram publicados no portal com erros de tradução, interpretação e com informações adicionais. Algum tempo depois, o portal Impala editou o texto publicado, modificando os conselhos de 17 para 15, alterando parte do conteúdo, retirando o nome de Robert Ray Redfield e deixando a autoria dos conselhos apenas como “Chefe da Clínica de Doenças Infecciosas da Universidade de Maryland, nos EUA”, sem mencionar Younus. O Comprova verificou, abaixo, os 17 conselhos, traduzidos para a língua portuguesa do Brasil, cuja fonte foi atribuída ao portal Impala. Como verificamos? Para entender se havia ocorrências desse conteúdo anteriores à publicação do portal Impala, o Comprova pesquisou nas redes sociais. Posts virais que replicaram o conteúdo com a configuração antiga, que mencionava Robert Ray Redfield, foram encontrados no Facebook. Também encontramos o perfil de um homem chamado Luís Martins, que aparece como membro da equipe na página do portal Impala no Facebook. Martins havia compartilhado o post dos conselhos em seu perfil com a configuração antiga – ou seja, com a foto de Redfield e o título “Covid-19: Os conselhos de um dos maiores especialistas do mundo”. O Comprova também pesquisou em sites oficiais, contas verificadas no Twitter e perfis no Linkedin tanto quem é Robert Ray Redfield quanto quem seria o responsável pelo cargo da Universidade de Maryland mencionado no texto viral. E encontrou Faheem Younus, professor da universidade e chefe do departamento de doenças infecciosas do centro médico Upper Chesapeake Health, associado à Universidade de Maryland. A Universidade de Maryland foi contatada por e-mail e esclareceu que Younus não escreveu esse post viral. A assessoria da universidade também recomendou que a versão mais precisa de seus posicionamentos em relação a mitos sobre a covid-19 está em sua conta oficial do Twitter. O Comprova, então, comparou os 17 conselhos com os posts do Twitter de Younus, esclarecendo eventuais desinformações. Por último, para avaliar a razoabilidade e a existência de evidências científicas nas afirmações do post viral, entrevistamos cinco especialistas no tema: Bruno Ishigami, médico infectologista do Hospital Oswaldo Cruz, em Recife; Jean Gorinchteyn, infectologista do Hospital Emílio Ribas; Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia; Patrícia Canto, pneumologista da Fiocruz; Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia. Para questionar o portal Impala sobre a procedência do conteúdo publicado, o Comprova tentou entrar em contato com a administração do site por e-mail e pelo Facebook, mas não obteve resposta até o fechamento desta verificação. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 3 de julho de 2020. Verificação Vírus C19? A versão dos conselhos verificada pelo Comprova errava ao utilizar a expressão “o vírus de C19” diversas vezes. “C19 é uma sigla que tem sido usada por algumas pessoas para designar a doença covid-19. Mas o vírus é o Sars-Cov2, o novo coronavírus”, afirma Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia. Na versão atualizada, disponível no portal Impala.pt, não há nenhuma citação à nomenclatura. O que dizem os conselhos e os especialistas? O Comprova conversou com especialistas da área de infectologia e pneumologia. Segue, abaixo, o que eles dizem sobre cada um dos 17 tópicos publicados no texto do site Impala.pt. 1. Talvez tenhamos que morar com o C19 por meses ou anos. Não vamos negar ou entrar em pânico. Não vamos tornar nossas vidas inúteis. Vamos aprender a conviver com esse fato. O doutor Younus não escreveu sobre isso no Twitter. Para o infectologista Bruno Ishigami, médico do Hospital Oswaldo Cruz, em Recife, a convivência do vírus por um longo período é o cenário “mais provável”. “Assim como aconteceu com o H1N1, zika, dengue, chikungunya. Essas doenças passam a fazer parte da nossa rotina. Comparando com o H1N1, que também é um vírus respiratório, deve acontecer um processo semelhante. O desenvolvimento da vacina e a incorporação da vacina contra a covid-19 no calendário vacinal para as pessoas consideradas do grupo de risco”, afirma. Segundo ele, enquanto não tivermos uma vacina, as únicas medidas comprovadamente eficazes para combater a doença são o distanciamento social, o uso de máscara, evitar aglomerações e lavar as mãos. 2. Você não pode destruir os vírus C19 que penetraram nas paredes das células, bebendo galões de água quente – você só vai ao banheiro com mais frequência. No Twitter, o doutor Younus escreveu que é falso que a ingestão de água quente possa eliminar o novo coronavírus. Segundo Ishigami, é possível que o novo coronavírus seja inativado pela água quente, por meio da destruição da partícula viral. No entanto, a temperatura necessária para que isso acontecesse é alta e causaria queimaduras. “Água e sabão e álcool a 70% também são capazes de inativar o vírus, mas nem por isso se recomenda que faça ingestão dessas substâncias pela toxicidade delas ao nosso organismo. Não existe nenhuma forma comprovadamente eficaz de eliminar o vírus dentro do nosso organismo, a ciência e os pesquisadores ainda estão tentando descobrir algum medicamento que seja capaz de fazer isso”, lembra o médico brasileiro. 3. Lavar as mãos e manter um distância física de dois metros é o melhor método para sua proteção. O doutor Younus escreveu no Twitter que usar máscaras, evitar aglomerações, manter distância e lavar as mãos pode salvar vidas. Para o infectologista Bruno Ishigami, a afirmação do texto está parcialmente correta. “Eu adicionaria (…) evitar locais fechados com pouca circulação de ar, evitar locais com cantoria ou com muitas conversas como igrejas, praças de alimentação de shoppings, shows”, explica. 4. Se você não tem um paciente C19 em casa, não há necessidade de desinfetar as superfícies da sua casa. O doutor Younus não escreveu sobre o cuidado com parentes no Twitter. De acordo com Ishigami, você pode manter a rotina de higiene da casa, sem a necessidade de cuidados extras, se não tiver um morador com covid-19. O médico lembra, porém, que algumas recomendações podem ser importantes para pessoas que têm saído de casa, principalmente àqueles que usam o transporte público. “Tentar dar uma maior atenção aos ambientes de entrada pela possibilidade, ainda que pequena de trazer o coronavírus da rua. Se possível, retirar tapetes, fazer higienização da entrada da casa com solução com água sanitária (uma parte de água sanitária para três partes de água), deixar calçados fora de casa, fazer higienização das mãos com água e sabão ou álcool gel, tomar banho ao chegar de casa e deixar os pertences (bolsas, sacolas) em alguma área específica”, diz o brasileiro. 5. Cargas embaladas, bombas de gás, carrinhos de compras e caixas eletrônicos não causam infecção. Lave as mãos, viva sua vida como sempre. Esse texto é similar à recomendação do doutor Younus no Twitter. Segundo o médico Bruno Ishigami, a taxa de contaminação por superfícies como cargas embaladas e bombas de gasolina realmente é pequena. Mesmo assim, ele considera prudente fazer uma higienização com solução de água sanitária, como descrito na resposta anterior. “Em relação a carrinhos de compras e caixas eletrônicos pela elevada circulação de pessoas que têm acesso a esse tipo de superfície, é recomendado higiene das superfícies pela instituição onde estão os carrinhos e o caixa. Além disso, é importante que ao ter contato com essas superfícies seja realizado higiene adequada das mãos com álcool gel ou água e sabão. Lembrem-se de usar máscara e evitar levar as mãos ao rosto, principalmente, quando estiverem em áreas com grande circulação de pessoas”, lembra ainda o infectologista. 6. C19 não é uma infecção alimentar. Está associado a gotas de infecção como a gripe. Não há risco demonstrado de que o C19 seja transmitido solicitando alimentos. O médico Faheem Younus não publicou nada a respeito disso, mas, em conversa com o Comprova, Leonardo Weissmann, infectologista do Instituto de Infectologia Emílio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia, confirma a afirmação. “Até o momento, nós não temos nenhuma comprovação de que o vírus seja transmitido por alimentos”, diz ele. Uma recomendação que ele destaca é higienizar os alimentos frescos. “Você sempre tem que lavar, independentemente de covid-19.” 7. Você pode perder o sentido do olfato com muitas alergias e infecções virais. Este é apenas um sintoma inespecífico de C19. Faheem Younus escreveu sobre isso. O infectologista Weissmann confirma que a perda de olfato, e de paladar, pode acontecer “com o novo coronavírus e com outras infecções”. 8. Uma vez em casa, você não precisa trocar de roupa com urgência e tomar banho! Pureza é uma virtude, paranóia não é! Em uma lista do que não fazer na pandemia, Younus publicou que é um mito que você precisa sempre trocar de roupa e tomar banho ao chegar. E acrescentou que as melhores medidas são lavar as mãos, distanciamento e evitar aglomerações. Entretanto, de acordo com Weissmann, o ideal é, sim, tomar banho ao chegar da rua. Patricia Canto, pneumologista da Fiocruz, reforça: “Em relação às roupas, a gente ainda sabe muito pouco sobre a propagação da covid-19. Temos algumas ideias, mas mais incertezas do que certezas. Então, precisamos ter excesso de cautela”, afirma ela. “Isso não deve ser encarado como paranóia, mas, sim, como medida de precaução.” 9. O vírus C19 não está no ar. Esta é uma infecção respiratória por gotículas que requer contato próximo. Na mesma lista em seu Twitter, Younus escreveu apenas “mantenha uma distância segura”. Segundo Weissmann e Canto, a afirmação do post está incorreta, pois ignora o fato de que a transmissão do vírus é possível por superfícies, sem que a pessoa tenha contato com ninguém. “Há um consenso cada vez maior de que as fontes de infecção mais importantes sejam pelas vias aéreas, mais do que a questão de superfícies, mas a gente ainda tem que esperar novas avaliações para ver”, declara a pneumologista. 10. O ar está limpo, você pode caminhar pelos jardins (apenas mantendo sua distância de proteção física), pelos parques. No dia 29 de março, Younus publicou em sua conta do Twitter uma afirmação similar a essa. Disse que é um mito que a transmissão do novo coronavírus se dá pelo ar. Na verdade, segundo o professor, trata-se de uma infecção por gotículas, o que requer contato próximo. “Nosso ar está LIMPO! Caminhe em um parque!”, tuitou o professor. Ele também acrescenta um print de um tuíte da Organização Mundial da Saúde, que diz que a covid-19 não é transmitida pelo ar. Em entrevista ao Comprova, Jean Gorinchteyn, infectologista do Hospital Emílio Ribas, alertou que, mesmo com a abertura dos parques, “é importante manter o distanciamento social de pelo menos dois a cinco metros das pessoas, principalmente as que estão caminhando”. No caso das pessoas que estão correndo, segundo Gorinchteyn, o distanciamento mantido deve ser de nove metros – e sempre com máscara. “Lembrando que a duração das máscaras é de duas horas. Não mais do que isso”, disse o infectologista. 11. É suficiente usar sabão normal contra C19, não sabão antibacteriano. Este é um vírus, não uma bactéria. Essa afirmação de fato consta no Twitter de Younus. Também em 29 de março, ele postou que é um mito que usar sabão antibacteriano – mais caro – é melhor na prevenção da covid-19 do que sabão regular. “CoronaVÍRUS não é uma bactéria, lembra?”, tuitou o professor. Jean Gorinchteyn corroborou a eficácia de lavar as mãos apenas com água e sabão. E reforçou: “Mas nem sempre a gente tem a presença de uma torneira e um sabonete. Portanto, o álcool em gel faz essa parte.” 12. Você não precisa se preocupar com seus pedidos de comida. Mas você pode aquecer tudo no microondas, se desejar. Younus, de fato, escreveu isso. Segundo ele, você pode pedir comida e, se mesmo assim continuar preocupado, pode aquecê-la por dois minutos no microondas. Para Gorinchteyn, você pode pedir comida também, mas precisa ter cuidado com o que é trazido por entregadores. “Vá de máscara, mantenha distanciamento e, quando pegar a sacolinha, fique muito atento para não colocar a mão na boca, no nariz e nos olhos”, diz ele. É importante também, antes da higienização com álcool em gel, jogar fora a sacola e lavar a mão com água e sabão.” 13. As chances de levar o C19 para casa com os sapatos são como ser atingido por um raio duas vezes por dia. Trabalho contra vírus há 20 anos — as infecções por gota não se espalham assim! Essa dica foi realmente tirada da lista de Younus. Mas, de acordo com Gorinchteyn, “por uma medida higiênica”, o ideal é deixar os sapatos para fora ou higienizá-los. Ele ressalta que a medida passa a ter mais eficácia caso “você tenha crianças em casa e, principalmente aquelas que rastejam”. 14. Você não pode ser protegido contra o vírus tomando vinagre, suco de cana e gengibre! Estes são para imunidade, não para cura. Em entrevista ao Comprova, Raquel Stucchi, infectologista da Unicamp e consultora da Sociedade Brasileira de Infectologia, afirmou que “até o momento, não existe nenhum alimento a que a gente possa atribuir algum papel na cura ou na prevenção da infecção pelo coronavírus”. Ou seja, não há evidências científicas de que vinagre, suco de cana ou gengibre tenham algum papel na prevenção ou no tratamento da covid-19. Faheem Younus não publicou nada parecido com essa afirmação em sua conta no Twitter. Há alguns tuítes, porém, dizendo que não há evidências científicas de que diversos alimentos atuem no aumento da imunidade. Em 2 de junho, por exemplo, o professor afirmou que é um mito que “vitaminas C e D, zinco, canela, alho, açafrão, ervas, chás” aumentam a imunidade. “A maioria das pessoas saudáveis têm FORTE imunidade. Boas noites de sono, exercícios físicos e dietas balanceadas fortalecem ainda mais.” 15. Usar uma máscara por longos períodos interfere nos níveis de respiração e oxigênio. Use-o apenas na multidão. A afirmação é falsa e não está na versão atualizada do texto publicado no portal Impala, que faz 15 em vez de 17 conselhos. No dia 25 de junho, Younus falou sobre o assunto no Twitter. Afirmou que é um mito que o uso de máscaras reduz o fluxo de oxigênio, aumenta níveis de dióxido de carbono, causa dores de cabeça e ativa o vírus. “Não faz sentido”, ele tuitou. “Máscaras não causam hipóxia ou retenção de CO2. Médicos/cirurgiões as utilizam há anos”. Segundo Stucchi, “o uso correto de máscaras, feitas com tecido correto, que impeçam a passagem do vírus, mas que permitam a respiração, não leva a nenhum problema na respiração em si.” A infectologista, assim como outros especialistas entrevistados pelo Comprova em outras verificações, recomenda o uso de máscaras. “Nós devemos sempre usar as máscaras quando estivermos fora de casa e estivermos em locais que tenham possibilidade de aglomeração de pessoas – farmácias, supermercados, transporte público. Nos locais onde já flexibilizaram [o isolamento social], nos centros comerciais de rua ou de shoppings, sempre devemos usar as máscaras.” A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária), ligada ao Ministério da Saúde, em documento publicado em 3 de abril, reforça que as máscaras “não fornecem total proteção contra infecções, mas reduzem sua incidência”. O órgão recomenda o uso do equipamento em locais públicos. 16. Usar luvas também é uma má idéia; o vírus pode se acumular na luva e ser facilmente transmitido se você tocar em seu rosto. Melhor apenas lavar as mãos regularmente. A afirmação é verdadeira. Em sua conta do Twitter, no dia 22 de maio, Younus diz que usar luvas em locais públicos para prevenir a covid-19 é um mito. Segundo ele, na verdade, o vírus entra no organismo por meio da mucosa nasal, da garganta e dos olhos – e não pela pele. O professor acrescenta que as mãos com luvas “podem acumular mais germes, que podem acabar sendo transportados para o rosto”. Ele lembra da importância de lavar as mãos e recomenda que as pessoas dispensem as luvas, a não ser que estejam cuidando de um paciente com covid-19. Stucchi corrobora com essa informação: “Usar luvas, realmente, não tem nenhum sentido”. A recomendação, segundo ela, é sempre higienizar as mãos. “O que frequentemente acontece é que a pessoa com luva acha que a luva é autolimpante – então ela coloca a mão com a luva em todos os locais, coça olho, sem higienizar.” Stucchi acrescentou que a indicação do uso de luvas existe apenas para profissionais da saúde, em determinados momentos da atenção ao paciente. 17. A imunidade é muito enfraquecida ao permanecer sempre em um ambiente estéril. Mesmo se você comer alimentos que aumentam a imunidade, saia regularmente de sua casa para qualquer parque / praia. A imunidade é aumentada pela exposição a patógenos, não por ficar em casa e consumir alimentos fritos / condimentados / açucarados e bebidas gaseificadas. Tanto a relação com o professor Faheem Younus quanto a afirmação em si são falsas. Faheem Younus não publicou nada parecido com isso em sua conta no Twitter. Vale destacar que esse tópico não consta na versão atualizada do texto publicado no portal Impala, que recomenda 15 em vez de 17 conselhos. “Nós sabemos que a nossa imunidade, mesmo o nosso desenvolvimento de bebê até a idade adulta, vai sendo adquirida conforme a gente vai se expondo aos antígenos, aos germes e aos microorganismos. Isso realmente é verdade”, afirmou Stucchi. “Agora, não é porque nós estamos em casa neste momento que nós teremos a nossa imunidade enfraquecida. Nós devemos ficar em casa porque nós não queremos que haja um grande número de pessoas contaminadas ao mesmo tempo pelo coronavírus.” Enquanto não há uma vacina contra a covid-19, segundo a infectologista, a única maneira de impedir o alto número de casos simultâneos é ficando em casa “na maior parte do tempo e sempre que possível.” Por que investigamos? O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais. Quando o material aborda assuntos relacionados à covid-19, a verificação se torna ainda mais importante, pois coloca a saúde das pessoas em risco. O post compartilhado por uma usuária em 21 de junho e checado pelo Comprova recebeu 34,9 mil compartilhamentos no Facebook e até a publicação desta investigação foi visto mais de 1,4 milhão de vezes. Seu conteúdo é perigoso porque distorce algumas recomendações de autoridades sanitárias, desinformando os leitores. O Comprova já publicou verificações de boatos que desestimulam o uso de máscara, afirmam que a covid-19 é uma trombose causada por bactéria e que a hidroxicloroquina pode descartar a necessidade de UTI. Enganoso para o Comprova é quando um conteúdo é retirado de seu contexto original e utilizado de forma a modificar seu significado, induzindo a uma interpretação equivocada. Outros veículos, como G1, Estadão e Boatos.org já haviam verificado o conteúdo de uma lista semelhante – que, como a primeira versão do texto do Impala.pt, creditava os “conselhos” a Robert Ray Redfield –, classificando-o como falso ou enganoso.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/medico-distorce-informacoes-sobre-a-covid-19-em-video/
COMPROVA
Médico distorce informações sobre a covid-19 em vídeo
null
2020-07-02
Não há evidências de que o uso de máscara torne o sangue ácido e, consequentemente, debilite o sistema imunológico e nem há comprovação da eficácia contra o novo coronavírus dos medicamentos citados pelo médico em vídeo que viralizou Conteúdo verificado: Vídeo gravado pelo médico Ulysses José Guedes Gomes que viralizou no Facebook. O médico Ulysses José Guedes Gomes faz afirmações enganosas sobre a pandemia em um vídeo que obteve mais de 385 mil interações no Facebook até o dia 2 de julho. Na gravação, ele diz, entre outros pontos, que “nosso país continua fazendo esse alarde, aumentando o número de mortos, criando atestados médicos”. Erra ao dizer que o uso da máscara “faz acidificar o sangue” e, consequentemente, “diminui o sistema imunológico”. Gomes acusa “uma esquerda que ficou 30 anos no poder” de ter interesse de derrubar o país e defende o uso de medicamentos como a cloroquina e a ivermectina – que não têm eficácia comprovada contra o novo coronavírus e são apoiados pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O Comprova verificou as afirmações e conversou com especialistas. Eles disseram que é incorreto que a máscara traz malefícios ao organismo, por exemplo. Os poros do tecido permitem as trocas gasosas, fazendo com que a respiração ocorra normalmente. Além disso, o uso prolongado de máscara em locais públicos é recomendado por autoridades sanitárias como a Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Tentamos entrar em contato com o médico, mas ele não retornou nossas ligações. Como verificamos? Buscamos descobrir quem era o homem do vídeo, se era mesmo médico e qual seria sua especialidade. Com base na descrição dada por ele ao se apresentar, encontramos, numa busca pelo Google, outro vídeo com a mesma pessoa em uma postagem do empresário Luciano Hang no Facebook. Nos comentários, uma internauta o identificava como um ginecologista que atua em Taguatinga, no Distrito Federal. A partir do nome e da especialidade, levantamos na busca do Conselho Federal de Medicina o registro do médico para tentar entrar em contato com ele. Paralelamente, procuramos pelas reportagens citadas no vídeo em buscas no Google e em redes sociais, com ferramentas como Tweetdeck e Crowdtangle. Também procuramos pesquisas e orientações de autoridades em saúde que comprovassem as informações do vídeo. Fomos atrás de estudos sobre uso de hidroxicloroquina, cloroquina, azitromicina e ivermectina em tratamentos de covid-19, pesquisamos sobre o que se sabe a respeito da transmissão da doença por pessoas assintomáticas e, por fim, se há algum risco no uso de máscaras de proteção. O Comprova também recorreu a checagens próprias a respeito dos assuntos citados, pois muitos deles foram temas recorrentes em outras investigações realizadas desde março deste ano. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 2 de julho de 2020. Verificação Quem é Dr. Ulysses? O homem que aparece no vídeo se apresenta como “Dr. Ulisses, médico praticante da medicina regenerativa, bacharel em direito”. O Comprova buscou no Google por: “Dr. Ulisses, médico praticante da medicina regenerativa” e encontrou outro vídeo, com o mesmo homem, em uma postagem no Facebook do empresário Luciano Hang, dono das Lojas Havan, datada de 11 de abril. Em um dos comentários do post, uma internauta identifica o médico como “Dr. Ulysses José Guedes Gomes, médico Ginecologista e Obstetra em Taguatinga, Distrito Federal”. O Comprova fez outra busca no Google utilizando as informações fornecidas pela internauta e encontrou um homem que se candidatou a deputado distrital do Distrito Federal em 2018 pelo Partido Progressista (PP). Conferimos no DivulgaCand 2018, portal do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre candidaturas, as informações do candidato em questão. O nome, a foto e as informações de profissão condizem com o que já havia sido levantado a respeito do médico. O registro do site oficial forneceu uma página dele no Facebook. Além disso, o Comprova buscou no site do Conselho Federal de Medicina (CFM) o registro médico de Gomes, que apontou a situação dele como regular. Sua especialidade é ginecologia e obstetrícia e ele atende em Taguatinga, região administrativa do Distrito Federal. O registro do CFM traz dois números de telefone. Ao ligar para um deles, o Comprova foi atendido por uma mulher que se identificou como Ana, confirmou ser o telefone do consultório e afirmou que o médico não se encontrava no momento. Ela disse que ele retornaria a ligação mais tarde mas, até a publicação desta checagem, ele não entrou em contato. O Comprova tentou ligar novamente para os dois números, mais de uma vez, e as chamadas não foram atendidas. Mídia europeia denunciou Brasil? No vídeo, Gomes afirma que o país está “criando atestados médicos com dados que na realidade não condizem com a causa mortis verdadeira”. Ele alega que as informações são de reportagens na Europa: “Portugal, a mídia está mostrando que o Brasil está alterando dados para poder manter a pandemia”. Uma reportagem da emissora portuguesa RTP, transmitida no dia 21 de junho, diz, erroneamente, que hospitais no Brasil estão registrando incorretamente óbitos por covid-19. Não é apresentada nenhuma fonte oficial confirmando as alegações, apenas a história de uma pessoa que faleceu e teve a causa da morte questionada por um familiar, que diz não ter sido pela covid-19. O conteúdo vem se espalhando em perfis bolsonaristas desde a publicação. “Há hospitais brasileiros que estão a registar como óbitos por Covid pessoas que não morreram de Covid. Em causa parecem estar subsídios dados pelo governo federal às câmaras e aos governos estaduais por cada vítima do novo coronavírus. Como há dinheiro a ganhar se declararem óbitos por Covid, muitos médicos registram como morte por Covid óbitos que nada têm a ver com a pandemia. A situação está a inflacionar o número de vítimas no país”, diz um trecho da reportagem. O Comprova já realizou uma investigação desmentindo as informações usadas pela reportagem da RTP. A União disponibiliza verbas para que estados possam usá-las para o combate ao vírus, mas o valor não é definido de acordo com o número de mortes. O vídeo também cita um jornal da Alemanha que teria mostrado o Brasil “com outros interesses fora do interesse realmente médico legal da coisa, protelando essa pandemia”. O Comprova realizou uma busca no TweetDeck e encontrou uma postagem que diz: “Jornal alemão diz que presidente Bolsonaro está correto e mostra que quarentena total é um erro gigantesco”. No link, há um vídeo postado em 14 de maio no Instagram de Carmelo Neto, que se descreve como “Conselheiro Nacional de Juventude do Gov. Bolsonaro”. O vídeo mostra uma página de jornal com o título “Lockdown war ein riesenfehler”, que, em tradução livre, significa “Bloqueio foi um grande erro”. O título em alemão leva até uma reportagem da revista alemã Bild, que apresenta a visão de especialistas questionando o regime de lockdown imposto na Alemanha – e não no Brasil, como sinalizado no vídeo. Máscaras não acidificam o sangue Gomes alega que a máscara abafa a respiração, que seu uso faz com que o indivíduo inale o próprio gás carbônico e que isso acidificaria o sangue. Infectologistas consultados pelo Comprova em outra investigação desmentiram que as máscaras tornam o sangue ácido. Os profissionais afirmaram que o ar entra e sai através dos poros da máscara (ainda que não sejam visíveis) e que não há como inspirar o próprio gás carbônico. A OMS listou algumas das desvantagens do uso contínuo da máscara, que pode agravar quadros de acne e provocar lesões na pele. Em relação à respiração, pode ocorrer algum tipo de dificuldade respiratória. No entanto, não há nada a respeito da inalação de gás carbônico ou acidificação do sangue. A Anvisa reforça que o uso da máscara, embora não forneça total proteção contra o vírus, reduz sua incidência. Assintomáticos transmitem doença Pessoas que não apresentam sintomas da doença, mesmo que tenham contraído o novo coronavírus, podem transmiti-la. A conclusão é da OMS: “É possível pegar covid-19 de alguém com tosse leve e que não se sente doente. Alguns relatórios indicaram que pessoas sem sintomas podem transmitir o vírus. Ainda não se sabe com que frequência isso acontece”. Um estudo publicado pela revista científica Nature em 30 de junho aponta que 40% dos transmissores do novo coronavírus são assintomáticos. A pesquisa foi realizada em Vo’, na província de Pádua, na Itália, onde 86% da população foi testada assim que foi determinada a quarentena na região, em fevereiro – a cidade possui 3.200 habitantes. Passadas duas semanas, 72% dos habitantes foram novamente testados. Nos dois momentos, cerca de 40% dos casos positivos não apresentaram sintomas. Existem tratamentos eficazes? Os medicamentos citados no vídeo são utilizados em tratamentos distintos. A hidroxicloroquina e a cloroquina são usadas em casos de malária e doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatóide. A azitromicina é um antibiótico e, portanto, é recomendada contra bactérias. Já a ivermectina é utilizada no tratamento de condições causadas por vermes e parasitas. A OMS já divulgou que não há vacina ou medicamento específico para prevenir ou tratar a covid-19. Os tratamentos utilizados até então, segundo o órgão, são para “aliviar os sintomas” dos infectados. No caso da cloroquina e hidroxicloroquina, o Ministério da Saúde assinalou que não há comprovação da eficácia da medicação em pacientes com o novo coronavírus. A observação se encontra em orientação divulgada pela pasta, no início de maio, autorizando o uso dos medicamentos em casos leves da doença: “ainda não há meta-análises de ensaios clínicos multicêntricos, controlados, cegos e randomizados que comprovem o benefício inequívoco dessas medicações para o tratamento da covid-19”. Em março, a Saúde já havia orientado o uso da cloroquina em quadros graves da doença. Estudos divulgados por algumas das mais importantes revistas médicas do mundo questionaram a eficácia da cloroquina e da hidroxicloroquina contra a covid-19. Em maio, o Journal of the American Medical Association (Jama) e o British Medical Journal (BMJ) publicaram que pacientes tratados com as medicações, associadas ou não ao antibiótico azitromicina, não tiveram melhores resultados que aqueles que não receberam os mesmos remédios. Um estudo da revista The Lancet foi alvo de polêmica após apontar as mesmas conclusões sobre o uso das medicações. Seu resultado motivou a OMS a interromper ensaios clínicos com a hidroxicloroquina por um período — os estudos foram retomados após a base de dados internacional utilizada pela pesquisa, fornecida pela empresa Surgisphere, ser questionada pela comunidade médica. Há uma auditoria apurando o caso. A Food and Drug Administration (FDA), autoridade sanitária dos Estados Unidos, divulgou uma carta aberta, em abril deste ano, alertando a população a não usar remédios à base de ivermectina como tratamento contra a covid-19. A ivermectina foi testada em estudo conduzido pelo médico Amit Patel, ligado ao Departamento de Bioengenharia da Universidade de Utah (EUA). Os resultados mostraram que entre os pacientes que precisavam de ventilação mecânica, apenas 7,3% dos que tomaram a medicação morreram — contra 21,3% dos que não utilizaram o medicamento. No entanto, o estudo afirma que os dados “não devem ser considerados conclusivos, pois fatores de confusão desconhecidos nem sempre podem ser contabilizados de maneira confiável, mesmo quando técnicas de correspondência de propensão são empregadas no desenvolvimento de grupos de controle.” Além disso, os dados utilizados neste estudo sobre a ivermectina foram fornecidos pela empresa Surgisphere, a mesma envolvida na polêmica de estudos sobre hidroxicloroquina da Lancet. Outro estudo sobre ivermectina, feito por pesquisadores da Monash University e do Hospital Royal Melbourne, na Austrália, demonstrou que o medicamento é capaz de matar o novo coronavírus in vitro em 48 horas. Apesar dos resultados, os próprios pesquisadores pediram cautela: eles alertaram para a necessidade de realizar testes clínicos que avaliem a eficácia do remédio fora do laboratório. Por que investigamos? O Comprova investiga conteúdos suspeitos que viralizam nas redes sociais. Quando o material aborda assuntos relacionados à covid-19, a verificação se torna ainda mais importante, pois coloca a saúde das pessoas em risco. O vídeo checado pelo Comprova tinha mais de 52 mil visualizações no Facebook até a publicação desta investigação e alcançou mais de 4 mil compartilhamentos. Temas relacionados ao novo coronavírus têm sido usados politicamente, seja para reforçar narrativas ou desacreditar recomendações de cientistas, entre outras razões. O autor do vídeo já se candidatou a deputado distrital e, no caso do vídeo, ele fortalece o que tem dito Jair Bolsonaro (sem partido), que sempre se disse contra o lockdown, entre outros pontos que causaram polêmica por não terem respaldo científico. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado de seu contexto original e utilizado de forma a mudar o seu significado. No caso do vídeo, o autor menciona reportagens que foram feitas, embora não tenham sido respaldadas por nenhum órgão oficial. Ele cita ainda tratamentos que não tiveram a eficácia comprovada, induzindo quem o assiste a acreditar no uso das medicações como solução para a doença. Desde o início da pandemia, o Comprova investigou boatos que minimizavam a gravidade do novo coronavírus. Um deles apontava a covid-19 como uma trombose provocada por bactéria, enquanto outro alegava que a principal causa das mortes na Itália não era a doença. Soluções e tratamentos também foram alvos de checagens. O Comprova já desmentiu a existência de resultados em supostos estudos sobre tratamento com corticóide, um vídeo sobre a descoberta de um anticorpo, em Israel, que seria a solução contra o novo coronavírus, além de que o uso da hidroxicloroquina no início do tratamento descartava a necessidade de internação em Unidades de Tratamento Intensivo (UTI).
https://i1.wp.com/projet…=601%2C581&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-prefeitura-de-sao-paulo-tenha-comprado-38-mil-caixoes-sem-licitacao/
COMPROVA
É falso que Prefeitura de São Paulo tenha comprado 38 mil caixões sem licitação
null
2020-07-01
Aquisição foi feita por pregão eletrônico e a compra das urnas já era prevista pela prefeitura, que adquiriu mais de 70 mil caixões no ano passado e optou por antecipar o recebimento neste ano em função da pandemia Conteúdo verificado: Vídeo publicado em uma página no Facebook acompanhado de texto que diz que o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, “previu milhares de mortes pela covid-19 e comprou 38 mil caixões sem licitação para enterrar o povo.” É falsa a afirmação que circula em postagem na página Fiscal do Povo Wellington, no Facebook, alegando que o prefeito de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), adquiriu 38 mil caixões sem licitação durante a pandemia de covid-19. A administração municipal obteve quantidade de urnas próxima da citada no post (37.109), mas, diferentemente do informado, todas as compras foram feitas por meio de pregão eletrônico que pode ser conferido online. Cinco dias após a publicação, o texto do post verificado foi editado e o conteúdo deixou de dizer que as compras haviam sido feitas sem licitação. O vídeo que acompanha a postagem não diz onde e quando as imagens foram feitas. Somente após contato com a assessoria de comunicação da Secretaria Municipal de Subprefeituras de São Paulo foi possível confirmar que o vídeo foi gravado no centro de logística do Serviço Funerário Municipal (SFMSP). A postagem acompanha o comentário de que “a previsão do prefeito deu errado”. No entanto, a compra das urnas já era prevista pela prefeitura, que adquiriu mais de 70 mil caixões no ano passado e optou por antecipar o recebimento neste ano em função da pandemia. Como verificamos? O Comprova pesquisou sobre o Plano de Contingenciamento Funerário da Prefeitura de São Paulo e encontrou um anúncio feito por Bruno Covas, em 23 de abril, mencionando a antecipação da aquisição de 38 mil urnas funerárias “para atender a capital nos próximos meses” em função do novo coronavírus. Procuramos o Serviço Funerário Municipal para questionar a respeito da compra dos caixões e recebemos, por e-mail, links com os detalhes das licitações. Conferimos os contratos junto a publicações no Diário Oficial da Cidade (DO). Nos contratos publicados no DO havia o número de um pregão eletrônico, que pudemos checar no e-negocioscidadesp, sistema de pesquisa sobre licitações do município. Também procuramos em outras redes sociais o vídeo apresentado na postagem. Sem encontrar registros similares, contatamos a página que fez a publicação e não obtivemos retorno até a publicação desta investigação. Pesquisamos a identidade do autor da página por meio de buscas pelo seu nome no Google e conferindo dados apresentados em registros oficiais no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Trata-se de um ex-candidato a vereador de São Paulo que integrou coligação de oposição ao PSDB nas eleições municipais de 2016. Por fim, levantamos os dados oficiais a respeito da pandemia na capital paulista no site do governo do Estado de São Paulo e no site da Universidade Johns Hopkins. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 1º de julho de 2020. Verificação Por que a prefeitura comprou 38 mil caixões? Serviços funerários são de monopólio da Prefeitura de São Paulo – cabe a administração municipal a compra de caixões, por exemplo. A quantidade de urnas funerárias adquiridas não é excepcional. A assessoria de comunicação da Secretaria de Subprefeituras informou que, em 2019, o Serviço Funerário comprou 72.579 urnas. Os 38 mil caixões citados na legenda do vídeo já estavam previstos desde antes da pandemia, e tiveram a compra antecipada pelo Plano de Contingenciamento Funerário do órgão municipal. Divulgado em 23 de abril, o plano previa uma série de medidas para garantir o funcionamento adequado do Serviço Funerário Municipal durante a pandemia de covid-19. Entre as medidas, foram anunciadas a ampliação no horário de sepultamentos diários e a abertura de 13 mil covas em três cemitérios. Dados no site do SFMSP sobre contratos e convênios mostram que neste ano a prefeitura de São Paulo fechou quatro contratos para aquisição de 37.109 urnas funerárias. Diferentemente do informado pela publicação original, todos foram adquiridos por pregão eletrônico 033/SFMSP/2019. A modalidade escolhida foi “menor preço mensal estimado por lote”. O processo foi declarado aberto no DO em 13 de dezembro de 2019, ocorreu em 6 de janeiro deste ano, as empresas vencedoras foram convocadas em 22 de janeiro e a nota de empenho foi emitida em 21 de março. O vídeo engana ao não informar que o fornecimento dos caixões já estava contratado antes da pandemia. Dois dos contratos tiveram aditamento para aumento de 25% dos valores em função da pandemia do novo coronavírus, conforme discriminado abaixo. O que a prefeitura fez no âmbito do Plano de Contingenciamento Funerário foi antecipar a entrega das urnas funerárias, que inicialmente deveria ocorrer de abril a outubro de 2020. Contrato nº 14/SFMSP/2020: firmado com a empresa RAFER IND. E COM. DE ARTEFATOS DE MADEIRA EIRELI. Sua vigência vai de 1º de abril a 31 de outubro. Este contrato representou a compra de 14.550 urnas funerárias. A aquisição foi publicada no Diário Oficial em 1º de abril, mas teve um aditamento em 17 de junho para aumento de 25% no valor total do contrato. O motivo foi “atender demanda de vendas de urnas funerárias desta autarquia, diante da pandemia do novo coronavírus”. O valor total é de R$ 3.360.000,00 Contrato nº 15/SFMSP/2020: firmado com a empresa FAURTIL FÁBRICA DE URNAS TIETE LTDA. Com vigência de 1º de abril a 31 de outubro, estabelece a compra de 4.787 urnas funerárias. Publicado inicialmente em 15 de abril, também recebeu aditamento, em 4 de junho, para aumento de 25% no valor total do contrato devido à pandemia de covid-19. O valor total é de R$ 1.532.788,00. Contrato nº 16/SFMSP/2020: firmado com a GODOY SANTOS INDÚSTRIA LTDA. A vigência é a mesma dos anteriores: 1º de abril a 31 de outubro. Esta empresa ficou responsável pela venda de 5.559 urnas funerárias. Foi publicado no Diário Oficial em 3 de abril. Valor total: R$ 2.279.459,01. Contrato nº 17/SFMSP/2020: firmado com a INDÚSTRIA DE URNAS BIGNOTTO LTDA, com vigência de 1º de maio a 30 de novembro. Também foi publicado no Diário Oficial em 3 de abril. Seu valor total é de R$ 4.040.840,00. São Paulo na pandemia Até o dia 1º de julho, a cidade de São Paulo registrou 7.258 óbitos pela doença e 129.328 casos confirmados. As informações são do boletim divulgado diariamente pelo Centro de Vigilância Epidemiológica do Estado de São Paulo. É o município com maior quantidade de mortes pela covid-19 em todo o estado, seguido por Guarulhos (693 óbitos), localizado na região metropolitana de São Paulo. A postagem foi feita no mesmo dia em que a prefeitura anunciou que a capital passaria para a fase amarela do plano de contingência, com a reabertura de novos setores da economia. Com isso, a administração municipal permite o funcionamento, em horários restritos e respeitando medidas de distanciamento social e higienização, de bares, hotéis, restaurantes, salões de beleza e barbearias. Dados coletados pela Universidade Johns Hopkins apontam que o estado de São Paulo é a segunda pior região no mundo em número de casos confirmados da covid-19, com 281.380 diagnósticos. Apenas o estado de Nova York, nos Estados Unidos, possui mais casos, com 394.079 infectados. Quem é o autor da postagem? A postagem que viralizou vem da página “Wellington Fiscal do Povo”, que pertence a um homem chamado Wellington e foi registrada como “Figura Pública” no Facebook. A página se propõe a fazer denúncias sobre questões cotidianas em bairros da Zona Leste de São Paulo, com o próprio Wellington gravando vídeos e tirando fotos de buracos de ruas, registrando falta de água em residências e divulgando vagas de emprego na página, por exemplo. Vários seguidores utilizam os comentários para apontar irregularidades nas áreas onde vivem e pedem que Wellington as denuncie nas redes. A página faz diversas críticas à prefeitura. Em 1º de julho, cinco dias após a postagem ser feita, Wellington apagou o trecho que dizia que os caixões haviam sido comprados sem licitação. No perfil, há duas formas externas de contato com Wellington, que não apresenta sobrenome na página: um e-mail e um número de telefone. O Comprova entrou em contato com a página por meio do chat do Facebook e pelo número do WhatsApp apresentado na rede social. No aplicativo de mensagens, Wellington chegou a escrever duas respostas mas apagou logo em seguida, ignorando os questionamentos sobre quem gravou os vídeos, onde foram feitos e como havia obtido informações a respeito da suposta compra de caixões sem licitação. Como o email fornece o sobrenome “De Paulo”, o Comprova fez buscas rápidas no Google usando nome e sobrenome e encontrou a candidatura de Wellington de Paulo, registrado como “Wellington de Paula”, ao cargo de vereador pelo PSC em 2016. Ainda, viu que o mesmo candidato já havia sido lotado nos gabinetes dos ex-deputados Lelis Trajano e Fernando Capez na Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp). O histórico da página do Facebook aponta que ela foi criada em fevereiro de 2016 com o nome “Wellington de Paula” (o mesmo apresentado pelo candidato em 2016) e teve o nome alterado para Wellington de Paulo em 2019 — pouco antes de acrescentar a alcunha “fiscal do povo” no lugar do sobrenome. O perfil alega cursar “Gestão Pública” e “Gestão Hospital”. No site do DivulgaCand de 2016, portal do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no qual constam dados sobre todas as candidaturas, o Comprova encontrou o registro de Wellington, que teve a candidatura substituída antes da eleição, e confirmou nos documentos apresentados o mesmo endereço de e-mail fornecido na página do Facebook. Também conferimos se tratar do mesmo e-mail cadastrado no CNPJ apresentado pelo então candidato, disponível no site da Receita Federal. O PSC entrou na coligação do PRB nas eleições municipais em São Paulo no ano de 2016. O candidato à prefeitura foi Celso Russomanno, com quem Wellington ostenta fotos ao lado em redes sociais. Russomanno liderou diversas pesquisas de intenção de votos, mas acabou em terceiro lugar no pleito, com 13,6% dos votos. João Doria (PSDB) foi o eleito. Ele renunciou após 15 meses para concorrer ao governo paulista em 2018, deixando o vice, Bruno Covas (PSDB), como prefeito. As muitas críticas de Wellington à prefeitura são direcionadas a serviços e gastos públicos. Em um dos vídeos da página, Wellington reclama, em vídeo, que sua entrada no hospital de campanha do Anhembi foi barrada; ele alegou que pretendia fiscalizar o local. A gravação foi feita em junho, dois meses após um grupo de deputados estaduais invadir o local e provocar tumulto alegando que os leitos estavam vazios. Por que investigamos? O Comprova investiga conteúdos duvidosos de grande viralização nas redes sociais e que apresentam informações duvidosas sobre a pandemia de covid-19. É o caso deste vídeo, que até 1º de julho somava mais de 426 mil visualizações, 18 mil compartilhamentos e 3,3 mil interações no Facebook. O vídeo também foi compartilhado na página Amigos do Presidente e obteve mais de 2 mil interações. Desde o início da pandemia do novo coronavírus, o Comprova já investigou boatos de que havia covas vazias em cemitérios para simular aumento de sepultamentos. Também já foram desmentidas notícias falsas de supostas denúncias de caixões vazios, parceria por vacina realizada antes da proliferação da doença e que hospitais recebiam quantias por cada óbito registrado como covid-19. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o significado original; no caso do post, a única informação correta é de que a Prefeitura de São Paulo adquiriu 38 mil caixões.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-errado-comparar-letalidade-da-covid-19-com-reacoes-a-vacina/
COMPROVA
É errado comparar letalidade da covid-19 com reações à vacina
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2020-10-30
Tuítes que viralizaram nas redes sociais comparam indevidamente coisas diferentes. A letalidade é o número de pessoas que morreram após contrair o novo coronavírus; as reações adversas da vacina tratam da quantidade de pessoas que apresentaram sintomas como dor muscular no local da aplicação ou perda de apetite após receberem o imunizante Conteúdo verificado: Tuítes destacam a taxa de letalidade da covid-19 e a comparam à taxa de efeitos colaterais da vacina CoronaVac, com o intuito de dizer que tomar a eventual vacina seria mais perigoso do que a doença. São enganosos os tuítes que comparam a taxa de letalidade da covid-19 com a taxa de reações adversas leves registradas nos testes da vacina CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan. As postagens comparam coisas diferentes. A letalidade é o número de pessoas que morreram após contrair o novo coronavírus, que, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), é abaixo de 1%. As reações adversas da vacina, que foram registradas em 5% dos chineses que participaram dos testes, tratam da quantidade de pessoas que apresentaram sintomas como dor muscular no local da aplicação ou perda de apetite após receberem o imunizante. Não há registro de morte de nenhum paciente que participou dos testes da CoronaVac, no Brasil ou na China. Entre os 9 mil brasileiros testados, os principais sintomas foram dor no local da aplicação, dor de cabeça e fadiga. Menos de 0,1% teve febre baixa. O imunizante segue na fase 3 de testes para comprovar sua eficácia em combater a infecção. Em entrevista ao Comprova, o médico Alexandre Naime Barbosa, professor de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), e o pesquisador Jones Albuquerque, professor de Estatística da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE), disseram que não faz sentido comparar a letalidade de uma doença com a reação à vacina. Enquanto qualquer vacina só poderá ser aplicada após a autorização de órgãos sanitários, a covid-19 pode deixar sequelas persistentes nos pacientes mesmo após a recuperação, como fibrose pulmonar, doenças cardiovasculares, disfunção renal ou hepática, síndrome inflamatória sistêmica, síndrome de Guillain-Barré e trombose. Como verificamos? Para essa verificação, procuramos informações sobre as taxas de letalidade da covid-19 no Brasil e no exterior, sobre os anúncios de segurança da vacina CoronaVac e sobre sequelas deixadas pelo novo coronavírus nos pacientes que desenvolveram a doença. Também entrevistamos o médico Alexandre Naime Barbosa, infectologista, professor da Universidade Estadual Paulista e membro da Sociedade Brasileira de Infectologia, e o cientista Jones Albuquerque, pesquisador do Laboratório de Imunopatologia Keizo Asami (Lika) da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e professor do Departamento de Estatística da Universidade Federal Rural de Pernambuco. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 30 de outubro de 2020. Verificação Letalidade da covid-19 A taxa de letalidade diz respeito ao número de mortes em relação ao número de pessoas infectadas pelo coronavírus. Essa medida é diferente da taxa de mortalidade, que leva em conta quantas pessoas morreram em relação a toda a população, ou em recortes específicos (faixa etária, raça e comorbidades, entre outros). Segundo dados do Ministério da Saúde, a taxa de letalidade da covid-19 no Brasil é de 2,9%. Já a taxa de mortalidade é de 75,6 por 100 mil habitantes, de acordo com dados de 29 de outubro de 2020. Painel do Ministério da Saúde mostra taxa de letalidade da covid-19 no Brasil A taxa de letalidade global é difícil de ser observada porque depende de dados concretos sobre número de infectados e número de mortes por covid-19, de acordo com a Revista Pesquisa Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de S. Paulo). Para isso, seria necessário testar a totalidade da população, o que é difícil e caro em muitos países. Essa aferição é ainda mais complicada em relação à covid-19 porque muitos casos são assintomáticos ou apresentam sintomas leves, não chegando a comparecer nos serviços de saúde. Segundo a OMS, a letalidade por coronavírus varia entre 0,5% e 1%, de acordo com levantamentos sorológicos feitos ao redor do mundo. Um estudo de John Ioannidis, professor da Universidade de Stanford, encontrou uma taxa mediana de letalidade de 0,23%. O artigo foi revisado e publicado no boletim da OMS em 14 de outubro de 2020. Ioannis fez uma análise reunindo 61 estudos de soroprevalência e 8 pesquisas nacionais, totalizando 82 estimativas de 51 locais diferentes e calculando a mediana. Isso significa que o estudo colocou em ordem crescente todas as taxas de letalidade (no caso, 82 estimativas) e o número do meio era de 23 mortes para cada 10 mil pessoas. Em alguns cálculos estatísticos, é preferível usar a mediana do que a média porque essa última pode ser distorcida por um ou mais números fora do padrão. Sintomas e sequelas A infecção pelo novo coronavírus (Sars-CoV-2), segundo o Ministério da Saúde, pode apresentar sintomas que variam desde um resfriado a uma síndrome gripal (caracterizada por febre associada a dor de garganta, coriza, dor de cabeça ou tosse), até uma pneumonia severa. Além de dificuldade para respirar, perda de olfato (anosmia), alteração do paladar (ageusia), distúrbios gastrintestinais (náuseas/vômitos/diarreia), cansaço (astenia), diminuição do apetite (hiporexia) e dispnéia (falta de ar). A depender do espectro clínico, que varia de infecções assintomáticas a quadros graves, os sintomas passam ou podem durar por tempo ainda indeterminado. Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz (IOC/Fiocruz) e da Universidade Federal Fluminense (UFF), em artigo publicado na revista Frontiers in Immunology, apontam que a infecção pelo vírus pode impactar em distúrbios psicológicos devido a alterações neurais, imunes e endócrinas. Recordam que pesquisas identificaram danos psiquiátricos, de meses ou anos, após a recuperação do quadro viral em pacientes acometidos de SARS ou MERS (vírus parecidos com o novo coronavírus). De acordo com estudos feitos em pacientes e animais, modelos experimentais, o novo coronavírus tem a capacidade de invadir o sistema nervoso central. A resposta imunológica provoca um aumento na produção de substâncias inflamatórias que reduzem a capacidade do sistema de formar novas conexões entre neurônios e diminui a produção de neurotransmissores. A atividade inflamatória intensa desequilibra a quantidade de hormônio cortisol, desequilíbrio que está associado a transtornos psiquiátricos. O médico e doutor em Epidemiologia Psiquiátrica pela Universidade de Londres, Jair de Jesus Mari, alertou em seminário online da Associação Brasileira de Ciências (ABC), que “o pior da pandemia se dará na saúde mental, porque há um alto índice de fatores estressantes como desemprego, divórcios, suicídios. É uma epidemia paralela, que envolve um aumento de estresse pós-traumático, luto prolongado, depressão, transtornos de ansiedade e de pânico, transtorno obsessivo-compulsivo, abuso de álcool e de drogas”. Sendo o sistema nervoso central invadido pelo vírus de forma aguda ou não, há evidências de lesões que podem atingir também jovens, causando AVCs e outras respostas inflamatórias, é o que relata Fernanda Moll, eleita membro afiliado da ABC para o período 2016-2020. Porém, Moll destaca que ainda há mais perguntas do que respostas, por isso ainda estão em andamento estudos sobre a fase aguda da doença através do acompanhamento de pacientes. Ainda não se sabe até que ponto o coronavírus (Sars-CoV-2) atinge o sistema nervoso central (SNC) ou se os sintomas são atribuíveis a mecanismos secundários. Porém, sabe-se que dois coronavírus semelhantes, a síndrome respiratória do Oriente Médio (MERS-CoV) e síndrome respiratória aguda grave (Sars-CoV-1) foram associados a doenças neurológicas em casos raros. O vírus pode invadir os neurônios de diversas formas. Essa invasão ocasionou diversos relatos de pacientes com perda isolada do olfato e do paladar. A entrada direta ao longo do nervo olfatório é outro mecanismo potencial para que o Sars-CoV-2 atinja o sistema nervoso central. Outra possibilidade de invasão é a barreira hematoencefálica, em que a própria inflamação sistêmica, que caracteriza a covid-19, possivelmente aumenta a permeabilidade da barreira, permitindo que células infectadas, citocinas e, possivelmente, vírus, atinjam o sistema nervoso central. Com o passar do tempo cresce o número de pacientes que relatam sintomas prolongados da doença, por semanas ou até meses. Tim Spector, professor de Epidemiologia Genética do King’s College de Londres, afirmou que mais de 300 mil pessoas do Reino Unido relataram sinais que duraram mais de um mês e, 60 mil delas, mais de três meses. Há registros de pessoas que não conseguem mais realizar tarefas simples do dia a dia, como fazer exercícios ou se alimentar. Também há relatos de condições mais graves, como inflamação cardíaca, depressão, fibrose pulmonar e dificuldade cognitiva. Um dos primeiros estudos feitos com pacientes que haviam acabado de receber alta na China, em abril, indica que a redução da capacidade pulmonar era uma das principais consequências causadas pela covid-19, mesmo entre aqueles que não chegaram a um estado crítico da doença. Em abril, uma pesquisa publicada na European Respiratory Journal, destaca ocorrência de sintomas semelhantes em epidemias causadas por outros coronavírus (Sars e Mers), em que os sintomas duraram meses ou até anos. No Brasil, a faculdade de medicina da UFMG conduz uma pesquisa com pacientes internados no Hospital das Clínicas da universidade, acompanhando, desde julho, 35 pessoas infectadas. A pesquisa relata que um mês após a alta hospitalar os pacientes ainda sentiam dores e impactos no estado emocional, além de fraqueza nos braços, fadiga e falta de ar. A lista publicada pelo sistema de saúde britânico sobre pacientes com sintomas persistentes associados à covid-19 inclui: sinais ou condições respiratórios como tosse persistente, falta de ar, inflamação do pulmão e fibrose pulmonar, e doença vascular pulmonar; doenças ou sinais cardiovasculares, como aperto no peito, miocardite aguda e insuficiência cardíaca; perda prolongada ou mudança no paladar e no olfato; problemas de saúde mental como depressão, ansiedade e dificuldades cognitivas; distúrbios inflamatórios como mialgia, síndrome inflamatória sistêmica, síndrome de Guillain-Barré e amiotrofia nevrálgica; distúrbios gastrointestinais como diarreia e dor de cabeça persistente; fadiga, fraqueza e insônia; disfunção renal ou hepática; distúrbios de coagulação e trombose; linfadenopatia; erupções na pele. Segurança da vacina Em 23 de setembro, o governador de São Paulo, João Doria, anunciou os resultados preliminares de segurança da vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, que tem acordo de transferência de tecnologia e produção com o Instituto Butantan. Dos 50.027 voluntários, foi informado que 94,7% não tiveram nenhum tipo de reação adversa. Os outros 5,36% tiveram “efeitos adversos de grau baixo”, como “dor no local da aplicação, febre moderada e perda de apetite”. Esses dados são de voluntários chineses dos testes, não das pessoas que participam da fase 3 de estudo da vacina no Brasil. Os percentuais de segurança também não confirmam se a vacina é eficaz em garantir a imunidade das pessoas contra o novo coronavírus, nem o tempo de duração dessa imunidade. No dia 19 de outubro, o governo de São Paulo fez uma nova coletiva para apresentar dados de segurança dos testes realizados no Brasil. Dos nove mil voluntários, 35% apresentaram reações adversas leves à vacina. Até então, não houve o registro de efeitos colaterais graves. A lista de reações incluía efeitos como náusea, vômito, febre, diarreia, cefaleia (dor de cabeça), fadiga, mialgia (dor muscular), calafrios, perda de apetite, tosse, artralgia (dor nas articulações), prurido (coceira) e exantema (erupção cutânea). Na primeira dose, as reações adversas mais comuns foram dor no local da aplicação (19%) e dor de cabeça (15%). Na segunda dose, as reações mais comuns foram dor no local da aplicação (19%), dor de cabeça (10%) e fadiga (4%). O governo também divulgou que 0,1% dos participantes apresentaram febre baixa. Comparação Ao Comprova, o infectologista Alexandre Naime Barbosa explicou que não se pode comparar a letalidade do vírus com os efeitos da vacina, já que eles são todos leves. “A letalidade da covid-19 é de 2 a 3% (no Brasil). Isso significa que 2 a 3 pessoas morrem de covid em cada 100. Já a vacina tem 5% de efeitos colaterais, todos eles leves: dor no local, vermelhidão, febre leve passageira. Comparar mortes com eventos adversos leves é no mínimo ingênuo, pra ser educado”, argumenta. Segundo Barbosa, também é impossível que a vacina apresente os mesmos sintomas da doença em si. “A vacina não usa o vírus vivo atenuado, e sim pedaços estruturais do patógeno, que vão ensinar o sistema imunológico a reagir”, explica. Para o pesquisador Jones Albuquerque, a letalidade de uma doença e as reações a uma vacina são fenômenos completamente diferentes. “É como tentar comparar morte por afogamento na praia com a chance de abrir uma Coca-cola e ter uma barata dentro”, avalia. Ele também argumenta que o tipo de reação adversa causada pela vacinação é completamente diferente dos sintomas provocados pela doença. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia ou sobre políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. Quando a publicação fala sobre tratamentos e de imunização contra o novo coronavírus, a checagem se torna ainda mais necessária porque a desinformação sobre medidas de prevenção e tratamento pode colocar a saúde das pessoas em risco, diante de uma doença que já infectou 5,4 milhões de pessoas no Brasil e já causou a morte de 158,4 mil brasileiros, de acordo com o Ministério da Saúde. É o caso dos conteúdos verificados aqui, que levantam dúvidas sobre a segurança das vacinas em teste contra a covid-19. Atualmente, a vacinação em massa é a principal aposta dos cientistas para imunizar a população e encerrar a pandemia. Juntas, as duas publicações dos perfis @MarleneFFL e @TonyStarkMeta tiveram 3,1 mil interações no Twitter. Desde o início da pandemia, as desinformações sobre vacinas têm sido frequentes. Recentemente, o Comprova mostrou ser falso que as vacinas causem câncer, danos genéticos ou transforme as pessoas em homossexuais; que a ex-presidente Dilma Rousseff não falou que a vacina chinesa será eficaz porque o surto da doença começou na China; e que é enganoso dizer que expor a população ao vírus é mais eficiente para acabar com a pandemia do que a vacinação. O Aos Fatos e o Boatos.org checaram conteúdos parecidos ao verificado aqui e chegaram à conclusão de que eles eram falsos. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos, que foi retirado do seu contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações, ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C297&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/nao-e-verdade-que-vacina-contra-a-covid-19-cause-cancer-danos-geneticos-ou-homossexualismo/
COMPROVA
Não é verdade que vacina contra a covid-19 cause câncer, danos genéticos ou ‘homossexualismo’
null
2020-10-29
Um engenheiro que se identifica como "doutor" nas redes sociais divulgou um áudio no qual faz alegações fantasiosas sobre a covid-19 e as vacinas que estão sendo pesquisadas Conteúdo verificado: Em um áudio que circula no WhatsApp e nas redes sociais, homem que se identifica como candidato a prefeito no interior de São Paulo diz que a vacina contra o coronavírus tem como intenção reduzir a população mundial, além de provocar câncer, alterações genéticas, problemas de fertilidade e “homossexualismo”. Ele afirma, ainda, que a covid-19 não provocou nenhuma morte. É falso que a vacina que está sendo desenvolvida contra a covid-19 seja capaz de provocar câncer, alterações genéticas, problemas de fertilidade e “homossexualismo”, ou que o imunizante tenha como intenção reduzir a população mundial e matar seres humanos. As alegações estão em um áudio que circula pelo WhatsApp e nas redes sociais. Ao contrário do que afirma o autor do conteúdo, as vacinas protegem milhões de pessoas em todo o mundo contra doenças graves, e os imunizantes que estão em desenvolvimento contra o novo coronavírus estão sendo testados em conjunto por laboratórios e instituições de pesquisa de várias partes do mundo, com o aval de órgãos regulatórios de diferentes países. A CoronaVac, citada no áudio investigado, é produzida pelo laboratório Sinovac Biotech em parceria com o Instituto Butantan e possui o aval da Anvisa para testes no Brasil. Segundo a professora da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e membro da Sociedade Brasileira de Imunologia, Cristina Bonorino, as afirmações de que a vacina seria capaz de provocar mudanças de gênero e sexualidade são “completamente mentirosas”, e o imunizante do laboratório chinês não é capaz de provocar qualquer alteração genética. A especialista também descarta a relação entre a vacinação e a ocorrência de câncer. O áudio ainda compara a covid-19 a um resfriado, e diz que ninguém morreu por causa da ação da doença – o que não é verdade. Mais de um milhão de mortes causadas pelo novo coronavírus já foram registradas no mundo, segundo a OMS e a Universidade Johns Hopkins. O Comprova entrou em contato com o suposto autor do áudio, pedindo esclarecimentos e provas sobre o que ele alega no material, mas, até a publicação desta checagem, não obteve resposta. Como verificamos? Para checar as informações do áudio, consultamos os sites oficiais da Organização Mundial da Saúde, do laboratório chinês Sinovac Biotech e do Instituto Butantan, nos quais encontramos dados sobre as orientações da OMS para os países durante a pandemia e sobre as vacinas que estão em desenvolvimento contra o novo coronavírus, principalmente a CoronaVac. No site do sistema InfoGripe, da Fiocruz, encontramos os dados sobre os casos e mortes relacionados aos vírus Influenza e SARS-CoV-2 no Brasil, e no portal Our World in Data, da Universidade de Oxford, buscamos informações sobre o tempo de desenvolvimento de vacinas contra outras doenças. O Comprova entrevistou, por telefone, a professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), Cristina Bonorino, que esclareceu pontos sobre os possíveis efeitos causados por uma vacina. Também acessamos reportagens e entrevistas publicadas por diversos veículos sobre a pandemia, as vacinas e o pai do governador de São Paulo, João Doria, mencionado no áudio. O autor do material verificado se identifica como Dr. Marcelo Frazão. Entramos em contato com o engenheiro Marcelo Frazão de Almeida (que se identifica como Dr. Marcelo Frazão nas redes sociais) por e-mail, mas ele não nos respondeu até a publicação deste texto. Para confirmar a autoria, usamos o programa de edição de áudio WavePad, para comparar trechos do material com a fala de Frazão em vídeos no canal dele no YouTube. Também consultamos outras postagens feitas por ele em suas páginas e perfis no Facebook. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 29 de outubro de 2020. Verificação Vacina não vai diminuir a população mundial A vacina a que o áudio se refere está sendo produzida pelo laboratório Sinovac Biotech, uma companhia biofarmacêutica baseada na China, mas de capital aberto em bolsas de valores. Segundo o site da empresa, a missão é “fornecer vacinas para eliminar doenças humanas”. Até hoje, a empresa já comercializou cinco vacinas diferentes: contra hepatite A, hepatite A e B, gripe sazonal, gripe H5N1 e gripe H1N1. O desenvolvimento da vacina apelidada de CoronaVac está sendo realizado pelo laboratório desde o início do ano – em abril, a Sinovac anunciou a autorização para realizar testes em humanos, que faz parte das fases usuais de criação de qualquer imunizante. Em junho, a empresa anunciou uma parceria com o Instituto Butantan para a realização de ensaios clínicos no Brasil, durante a fase 3 de testagem do imunizante. Como contrapartida, a empresa afirmou que, por meio dos acordos, o Instituto Butantan poderia “garantir que a população brasileira tivesse acesso a essa vacina”. O funcionamento das vacinas O corpo humano tem um sistema imunológico capaz de identificar células estranhas, reagindo a fungos, bactérias, vírus e parasitas. A resposta biológica e natural é um processo inflamatório que desencadeia uma série de reações às doenças existentes. Por isso, as vacinas são meios eficazes, pois aumentam a imunidade adquirida e evitam o contato com a doença. Além disso, a alta cobertura vacinal protege aqueles que não podem se vacinar, como pessoas mais velhas e com doenças pré-existentes, por cessar ou diminuir drasticamente a circulação de microorganismos. Atualmente, as vacinas protegem milhões de pessoas em todo mundo. Segundo estimativa da Organização Mundial de Saúde, o número de vidas salvas pelas vacinas é de 2 a 3 milhões por ano – o número é considerado muito baixo por especialistas, por conta da dificuldade de estimar um mundo sem vacinas. Um exemplo é a varíola, que foi erradicada pela ampla vacinação, mas no século XIX e XX matou milhões de pessoas. A partir daí e de várias tecnologias que foram surgindo, as vacinas vêm sendo estudadas para a defesa de agentes infecciosos. No áudio, o autor questiona a segurança da CoronaVac, dizendo que “leva em torno de 15 anos para uma vacina ser produzida”. O desenvolvimento de tecnologias e a realização de estudos científicos sobre as vacinas, ao longo dos anos, foram surgindo em um intervalo de tempo, entre a descoberta do patógeno e vacina, muito menor. O gráfico abaixo foi retirado do site ourworldindata.org e mostra uma linha do tempo do desenvolvimento de vacinas. A contagem inicia no ano em que o agente patogênico foi associado à doença e termina no ano em que a vacinação contra esse patógeno foi certificada nos Estados Unidos. No áudio, o homem que se identifica como Dr. Marcelo Frazão ainda afirma que “qualquer um que toma essa vacina hoje está servindo de cobaia”, mas, no Brasil, a aplicação das doses é feita em milhares de voluntários que se dispuseram a participar da fase 3 de testagem do imunizante, que avalia a eficácia dele. Até agora, aliás, os testes indicam que a vacina é a mais segura contra a covid-19, por não ter causado efeitos colaterais graves. Ainda assim, a vacina ainda não está sendo aplicada fora do contexto controlado dos testes, e só será aplicada na população se for aprovada pela Anvisa. Alterações no organismo No áudio, Frazão afirma que a vacina vai alterar o código genético de quem a tomar e de seus descendentes. “Vocês vão causar síndromes perigosas que vão destruir os seus filhos e netos, inclusive no sentido de fertilidade e de homossexualismo”, diz ele – usando o termo homossexualismo, que é relativo a doença e não é usado há 30 anos, quando passou-se a utilizar o termo “homossexualidade” (com o sufixo que significa comportamento). De acordo com Cristina Bonorino, professora da UFCSPA e membro da Sociedade Brasileira de Imunologia, as afirmações do no áudio são mentirosas e perigosas. “Para alterar o código genético, você precisa de algo que se insira no seu DNA, e a gente sabe que as vacinas não vão fazer isso”, diz. Especificamente sobre a Coronavac, citada no áudio, Cristina afirma que ela usa o vírus inativado, ou seja, “não tem possibilidade nenhuma de alterar o código genético”. Questionada sobre a afirmação de Frazão, de que “menino vai deixar de ser menino e virar menina”, a especialista respondeu: “Bom, hoje em dia o pessoal fala que a Terra é plana, né? Mesmo com evidências de que não é. Então, isso fica muito difícil de rebater… É uma afirmação completamente mentirosa”. Sobre a questão da fertilidade e do câncer, ela comentou que não há estudo que confirme o que Frazão diz e que, se fosse verdade, haveria muito mais gente com câncer e as mulheres não estariam tendo filhos. Ela explicou que os efeitos das vacinas, inclusive as que estão há décadas no calendário, na população são constantemente acompanhados por cientistas. “A gente faz estudos, busca efeitos, ajusta imunizações a partir do que é detectado. É muito perigoso uma pessoa sair por aí fazendo esse tipo de declaração.” Mortes por gripe No áudio, o autor diz que “não é vírus que mata ninguém, nunca ninguém morreu nesse mundo por causa de um resfriado e ninguém morre de resfriado nesse mundo”. A gripe e o resfriado são doenças respiratórias – assim como a covid-19 – causadas por vírus distintos. O resfriado comum é causado pelos rinovírus, pelo vírus parainfluenza e pelo vírus sincicial respiratório, segundo o Ministério da Saúde, e costuma provocar sintomas mais brandos, que se manifestam por menos tempo. A gripe, por outro lado, é provocada pelo vírus Influenza (dos tipos A, B ou C), e pode provocar pneumonia, em caso de agravamento dos sintomas. Não há dados sobre o número de mortes causadas por resfriados, apesar de especialistas alertarem que é possível que ocorram óbitos de pessoas mais fragilizadas. A gripe, porém, que vem sendo comparada ao novo coronavírus desde o início da pandemia, provoca a morte de 250 mil a meio milhão de pessoas por ano, segundo a Organização Pan-Americana de Saúde, braço da OMS nas Américas. No Brasil, a Fiocruz é o órgão responsável por compilar os dados sobre gripe e Síndrome Respiratória Aguda Grave (SRAG), e, segundo o boletim epidemiológico com informações até o dia 17 de outubro, o Brasil registrou pelo menos 187 mortes por Influenza neste ano. O novo coronavírus, porém, não é uma gripe, ao contrário do que sugere o áudio que viralizou. A doença respiratória pode provocar uma ampla gama de sintomas, que vão desde aqueles similares aos de um resfriado até falta de ar, além de sequelas graves que ainda estão sendo estudadas pela comunidade científica. Só no Brasil, até o dia 28 de outubro, a doença provocou 158.456 mortes, segundo o Ministério da Saúde. No mundo, o levantamento realizado pela Universidade Johns Hopkins aponta 1.164.047 mortes, até a mesma data. A OMS e a pandemia No áudio, o homem que seria Marcelo Frazão afirma, também, que “a Organização Mundial da Saúde está repetindo tudo que o presidente Bolsonaro falou lá no início, que essa porcaria desse resfriado não mata ninguém, que o que mata é esse controle populacional, desemprego, fome, miséria”. Isso não é verdade. Além do novo coronavírus não ser uma doença respiratória comparável a um resfriado, como já pontuado, a OMS nunca disse que o vírus não é letal. Ao contrário: a instituição vem empenhando esforços, desde março, para orientar governos e pessoas para as melhores práticas para o combate à doença. No site da OMS é possível encontrar boletins epidemiológicos atualizados semanalmente, com os dados sobre casos de covid-19 e mortes provocadas pela doença em todo o mundo. No material publicado em 27 de outubro, com dados até o dia 25, o órgão internacional contabilizava mais de um milhão e cem mil mortes pela doença. O Projeto Comprova, além disso, já esclareceu que a OMS reconhece os impactos sociais e econômicos negativos causados por medidas como o lockdown, mas que fala de um enviado especial do órgão estava sendo tirada de contexto, nas redes sociais, para sugerir que a entidade condena esse tipo de abordagem durante a pandemia. Doria pai terrorista? Ao se referir a João Doria, governador de São Paulo, Frazão diz que ele é “filho de um terrorista comunista que foi expulso do país porque era um terrorista comunista”. João Agripino da Costa Doria nunca teve relação com o terrorismo. Antes de se tornar político, ele foi um publicitário de sucesso, criador do Dia dos Namorados no Brasil. De acordo com reportagem da Folha de S.Paulo, ele se tornou suplente de deputado federal pelo Partido Democrata Cristão da Bahia em 1962 e assumiu o mandato meses depois. Antiimperialista, defendia o então presidente João Goulart e foi um dos primeiros deputados cassados após o golpe de 1964. Sem direitos políticos, optou por seguir para o exílio em Paris, onde se graduou em psicologia. Dez anos depois, João Doria pai retornou ao Brasil. Morreu em 2000, aos 81 anos. Marcelo Frazão No início do áudio, o homem se identifica como “Doutor Marcelo Frazão”, e se dirige à população de São Simão, no interior de São Paulo. O Comprova procurou Frazão por e-mail, pelo endereço fornecido por ele no Linkedin, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação. Sem a resposta direta dele sobre a autoria do áudio, buscamos outros elementos que pudessem nos confirmar que quem fala realmente é Marcelo Frazão. Analisamos, pela ferramenta WavePad, de edição de áudio, o formato das ondas sonoras correspondentes ao trecho em que ele diz “Doutor Marcelo Frazão”, e comparamos com um trecho em que ele diz a mesma coisa, retirado de um vídeo de apresentação no canal dele no YouTube, o Direita TV News. Nessa primeira observação, não há grandes diferenças de entonação. Em uma segunda análise, comparamos o sotaque das pessoas que falam em cada trecho, e há compatibilidade entre o áudio e o que é dito no vídeo. Na voz, em si, porém, há diferenças, que podem ser explicadas pela distância da boca para o microfone, da diferença dos equipamentos usados na captura do vídeo e do áudio e mesmo do momento em que cada um foi gravado. Em um terceiro momento, verificando as redes sociais de Frazão, encontramos outras postagens, principalmente no Facebook, em que ele repete parte das afirmações do áudio, dizendo que “A VACHINA provoca mudanças genéticas gravíssimas, câncer, lesões cerebrais, síndromes graves e mudanças ligadas a [sic] sexualidade.” Em uma das várias páginas mantidas por ele no Facebook, o áudio foi repostado. Esses elementos já seriam suficientes para atribuir a ele o material, mas, além de tudo isso, Frazão confirmou ao portal Aos Fatos que o áudio é de sua autoria. Marcelo Frazão de Almeida é um engenheiro agrônomo (segundo a página dele no Linkedin) de São Simão, no interior de São Paulo. Também no Linkedin, ele afirma ainda ser “analista de sistemas, economista, ex-professor universitário de teoria econômica, ética e sociedade, político e escritor”, além de “palestrante de política econômica e sociedade”. Não há registro de currículo de Frazão na plataforma Lattes, e ele não especifica a que instituição já esteve vinculado. Neste ano, Frazão concorre ao cargo de prefeito de São Simão, pelo Patriota. Até agora, segundo o portal de divulgação de candidaturas e de contas eleitorais do TSE, o Dr. Frazão, como se identifica na campanha, arrecadou R$ 6.720 para a campanha, sendo que 90% desse total (R$ 6.050) foi doado pela esposa dele, Vanessa Cristiane Morgan Frazão, que é candidata a vereadora pelo mesmo partido. Ela recebeu R$ 650 para a campanha, doados por Marcelo. Em suas várias páginas no Facebook, Marcelo Frazão acumula fotos com figuras que são ou já foram de destaque no meio bolsonarista, como a deputada Carla Zambelli, Rogéria Bolsonaro, primeira esposa do presidente, o blogueiro Allan dos Santos e o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Por que investigamos? Nesta terceira fase, o Comprova verifica conteúdos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia. Em um ano eleitoral em que as disputas políticas estão acirradas, a covid-19 virou tema de debates em todos os campos e a desinformação que circula nas redes sociais pode custar vidas. Confirmar informações sobre a ciência, sobretudo os estudos de vacina, pode aumentar a confiança das pessoas nas pesquisas científicas. Por isso, o áudio, que tenta desacreditar os imunizantes, foi verificado. Publicado em 20 de outubro na página de Facebook de Marcelo Frazão, ele 113 compartilhamentos e também está circulando no WhatsApp. O Comprova já checou outros conteúdos que distorciam fatos para minimizar a importância das vacinas, como o post fazendo uma comparação forçada delas com a cloroquina, o vídeo de um médico dizendo que os imunizantes não passaram pela fase pré-clínica e o tuíte que sugeria que elas são desnecessárias. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i1.wp.com/projet…=601%2C452&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/dilma-nao-disse-que-vacina-chinesa-vai-funcionar-porque-pandemia-comecou-na-china/
COMPROVA
Dilma não disse que vacina chinesa vai funcionar porque pandemia começou na China
null
2020-10-29
A postagem verificada inventou uma declaração sobre a eficácia de vacinas chinesas e a atribuiu à ex-presidente da República Conteúdo verificado: Postagem no Facebook atribui a frase “Se o vírus veio da China e funciona, por que a vacina não funcionaria?” a Dilma Rousseff. É falso que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) tenha dito que as vacinas chinesas contra o novo coronavírus vão funcionar porque a pandemia teve início com um surto na China, como afirma uma postagem no Facebook. Outra versão do mesmo conteúdo, publicada no site Porão da Mamãe, dizia que a frase havia sido dita em uma reunião com “um grupo de pesquisadores encabeçado por Atila Iamarino”. A assessoria de imprensa da ex-presidente negou a reunião e disse que ela não conhece o biólogo. A última menção à palavra “Dilma” no Twitter de Atila é de 2016. Após ser procurado pelo Comprova, o site retirou o texto do ar. O Comprova procurou entrevistas recentes de Dilma Rousseff e também checou todas as menções às palavras “vacina” e “China” no site oficial da ex-presidente e na conta que ela mantém no Twitter. Em nenhum desses canais há registro da frase atribuída a ela na postagem verificada, que circula no Facebook. Tampouco consta algo sobre a frase atribuída à ex-presidente em veículos de imprensa. Em nota, o Partido dos Trabalhadores classificou a informação como mentirosa. A única declaração pública de Dilma sobre as vacinas contra a covid-19 ocorreu no dia 21 de outubro, no Twitter, quando ela criticou o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) por revogar um acordo do Ministério da Saúde para a compra de 46 milhões de doses do imunizante desenvolvido pela farmacêutica chinesa Sinovac em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo. Nas publicações, ela diz que essa é a primeira vacina disponível para a população, mas não menciona sua eficácia, nem a atribui ao fato de o primeiro surto da doença ter ocorrido na China. O Comprova não conseguiu contato com os administradores da página do Facebook. O responsável pelo site Porão da Mamãe alegou que o conteúdo era satírico. Para quem acessava a postagem, no entanto, a única indicação de que poderia ser um conteúdo de humor eram duas tags, no final da página. Como verificamos? Iniciamos a verificação com buscas sobre manifestações da ex-presidente sobre a vacina e a China. Consultamos o site da ex-presidente, sua conta no Twitter com auxílio da ferramenta TweetDeck e questionamos sua assessoria de imprensa por WhatsApp. Fizemos pesquisas na internet sobre páginas que pudessem ter publicado o conteúdo divulgado na imagem veiculada pelo Facebook e alvo desta verificação. Encontramos um segundo registro da afirmação atribuída à ex-presidente, no site Porão da Mamãe. Consultamos o Whois, plataforma que disponibiliza dados sobre donos de domínios, e enviamos e-mail para o proprietário do site pelo endereço informado quando a página foi registrada. Recebemos retorno pelo aplicativo de mensagens do Facebook, por parte de outra pessoa que se apresentou como a verdadeira responsável pelo site. Por este canal, pedimos mais informações sobre a publicação. A versão publicada neste site mencionava também que Dilma teria participado de uma reunião com o biólogo Atila Iamarino. Consultamos postagens de Atila no Twitter que pudessem mencionar algum encontro com Dilma e fizemos contato por e-mail com a assessoria de imprensa do biólogo. Recorremos também a informações nos campos de descrição e em publicações antigas sobre a página do Facebook e o site que divulgaram o conteúdo aqui verificado. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 28 de outubro de 2020. Verificação O que Dilma não disse Não há registro de que a ex-presidente Dilma Rousseff (PT) tenha dito em alguma entrevista ou pronunciamento que a vacina chinesa funcionaria porque a pandemia teve início na China. A declaração não aparece na busca no Google. Também não consta de nenhum dos cinco textos com as palavras “vacina” ou “China” publicados no site dilma.com.br desde o início de 2020. Em abril, a ex-presidente publicou em seu site uma nota assinada por políticos de vários países, inclusive alguns de seus ex-ministros, defendendo que as vacinas contra a covid-19 sejam gratuitas. O texto não menciona a China, mas fala, de forma geral, sobre as “70 vacinas em estudo contra o coronavírus” que estavam em desenvolvimento até aquele mês. Dilma não assina a carta. Em relação à China, a petista publicou, em fevereiro e em março, dois textos criticando a relação entre o governo brasileiro e o país asiático. Ainda no final de março, o site da ex-presidente reproduziu um artigo do Financial Times sobre o papel dos chineses na retomada da economia global no pós-pandemia. Em abril, a página reproduziu uma matéria do site Brasil 247 sobre um manual de prevenção ao novo coronavírus. Nenhum dos quatro textos faz menção à palavra vacina. A frase também não foi publicada no Twitter oficial @dilmabr, segundo a ferramenta TweetDeck. Desde o começo do ano, a ex-presidente publicou três tuítes com a palavra “vacina” e seis com a palavra “China”. Cinco dessas postagens apenas linkam para os textos publicados no site oficial citados acima (em 22/02, 21/03, 27/03, 06/04 e 21/04). Em outros dois tuítes, ela critica posições de Bolsonaro em relação à China (em 19/03 e em 20/03). Procurada, a assessoria da ex-presidente informou que o conteúdo era uma mentira e negou que Dilma conheça o biólogo Atila Iamarino, como dito por um dos sites que publicou o texto. Depois do contato do Comprova, o site do Partido dos Trabalhadores publicou uma nota dizendo que as declarações são falsas e foram inventadas. O TweetDeck mostra que o perfil @oAtila mencionou a palavra “Dilma” pela última vez em abril de 2016; portanto, antes da pandemia. Fizemos contato por e-mail com a equipe do biólogo Atila Iamarino, que não respondeu até a publicação desta verificação. O que Dilma disse Dilma Rousseff expôs suas opiniões sobre a vacina contra a covid-19 em duas postagens no Twitter em 21 de outubro, dia em que o presidente Jair Bolsonaro revogou um acordo do Ministério da Saúde com o Instituto Butantan para a aquisição de 46 milhões de doses da CoronaVac, vacina desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac. “É Bolsonaro que tem feito o povo de cobaia, ao incentivar o uso de remédio inócuo contra a covid-19 e perigoso pelos efeitos colaterais. Agora, atenta contra o conhecimento e a civilização, ao anunciar que vai vetar o uso da primeira vacina disponível contra a doença”, escreveu a ex-presidente. “Por ignorância e fanatismo ideológico, Bolsonaro ameaça a vida da população brasileira. Interditando o uso de uma vacina, será responsável pelas mortes que vierem a ocorrer pela falta de prevenção. Terá de ser julgado por isso”, completou em seguida. Ao Comprova, a assessoria da petista afirmou que esse foi o único posicionamento público dela sobre o tema. Os autores do post O post aqui verificado é da página Movimento Independente BR (M.I.B), que se autodescreve como “criada com objetivo de mobilizar os patriotas da nação além das redes sociais”, e foi feito no domingo, 25 de outubro. Não há permissão para envio de mensagens diretas à página nem e-mail de contato, tampouco informações sobre administradores. A postagem usa a imagem do que parece ser a manchete de um site chamado Desemprego Brasil. Porém, não há registros desse endereço on-line no Google. Trata-se apenas, ao que parece, de uma assinatura colocada nas fotos postadas pela página, com variações do tipo “Desemprego Brasil”, “Desemprego Brasil – Clima”, “Desemprego Brasil – Cinema”. Em fevereiro, a primeira postagem sob o rótulo de “Desemprego Brasil – Notícias” foi sobre a pavimentação de trecho da BR-163 entre Novo Progresso e Moraes de Almeida, no Pará. O post usa foto que mostra quando a rodovia ainda era de chão batido e um texto irônico, como é comum na página: “Mania de Bolsonaro em pavimentar rodovias aumentará o número de acidentes, dizem especialistas”. O Comprova já mostrou, inclusive, que a pavimentação realmente ocorreu na atual gestão do governo federal, mas a obra chamada de “Operação Xingu” teve início com um Termo de Execução Descentralizada entre o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e o Exército, em agosto de 2017, quando o chefe do Executivo ainda era Michel Temer. Na seção de comentários do conteúdo sobre a estrada, a página fez uma postagem alegando se tratar de uma sátira. A página M.I.B, criada em 2017, costuma publicar conteúdo apoiando a agenda do presidente Jair Bolsonaro ou criticando adversários políticos do mandatário em tom satírico. Na segunda-feira (26), o site Porão da Mamãe replicou o material, mas retirou do ar após contato do Comprova pedindo explicações. A página costuma fazer expediente de assuntos políticos e sátiras, descrevendo-se no Facebook como “aqueles que vocês bloqueiam nas suas redes sociais e que mesmo assim sua tia manda um print dos nossos comentários pelo zap”. O Comprova enviou e-mail ao endereço do homem que registrou o site e recebeu retorno de outra pessoa que se apresentou como o verdadeiro responsável pela página, via aplicativo de mensagens do Facebook. Como resposta, ele disse que o conteúdo republicado, com a suposta frase de Dilma e menção a uma reunião dela com Atila Iamarino, tratava-se de uma paródia, e que seria identificada como “humor” e “comédia”, em uma seção do site chamada “word newss”. Para quem acessava a postagem, no entanto, as únicas indicações de humor e comédia apareciam em forma de tags, no final da página. Além disso, não há uma seção “word newss” no Porão da Mamãe, embora essa classificação apareça no topo de algumas publicações, como a verificada. Essa nomenclatura, porém, é de um outro perfil no Twitter com a seguinte descrição: “só humor. nada disso existe. perfil paródia de notícias falsas não afiliado a nenhum veículo de comunicação”. Essa conta replica material produzido pelo Porão da Mamãe. Vírus não foi criado em laboratório As primeiras especulações sobre o coronavírus ter sido criado em laboratório surgiram em março. Naquele mês, após declarações do presidente norte-americano Donald Trump nesse sentido, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) publicou no Twitter que a China era responsável pela pandemia, o que gerou uma crise diplomática entre o Brasil e o país asiático. Na ocasião, o embaixador da China no Brasil, Yang Wanming, postou, também no Twitter, que o filho do presidente Jair Bolsonaro “contraiu um vírus mental”, repudiando veementemente as palavras do deputado e exigindo um pedido de desculpas ao povo chinês. Ainda em março, um artigo publicado na renomada revista científica Nature pelos pesquisadores Kristian G. Andersen (Scripps Research), Andrew Rambaut (University of Edinburgh), W. Ian Lipkin (Columbia University), Edward C. Holmes (University of Sydney) e Robert F. Garry (Tulane University) descartou que o vírus tivesse origem em laboratório. “Ao comparar os dados de sequência do genoma disponíveis para cepas conhecidas de coronavírus, podemos determinar firmemente que o SARS-CoV-2 se originou por meio de processos naturais”, disse na época da publicação Kristian Andersen, PhD, um dos autores do artigo e professor associado de imunologia e microbiologia da Scripps Research, um instituto de pesquisa norte-americano sem fins lucrativos. Mesmo com as evidências científicas publicadas, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse em abril que seu governo estava tentando determinar se o coronavírus saiu de um laboratório em Wuhan, primeiro epicentro da doença. O Ministério das Relações Exteriores da China disse, em resposta, que a Organização Mundial de Saúde (OMS) afirmou não ter evidências de que o SARS-CoV-2 foi criado em laboratório. A porta-voz da organização, Fadela Chaib, disse em 21 de abril: “Todas as evidências que temos sugerem que o vírus era de origem animal e não sofreu manipulação genética”. Trump voltou a falar, em maio, que tinha provas que o vírus tinha sido criado num laboratório chinês, sem, contudo, apresentá-las. Outras insinuações de que a China era responsável por produzir e disseminar o vírus se espalharam nos meses seguintes. Em julho, a Universidade de Hong Kong divulgou uma nota desmentindo a pesquisadora Yan Limeng que disse em uma entrevista a uma emissora de TV que tinha provas da criação do SARS-CoV-2 em laboratório. O Comprova fez pelo menos quatro verificações sobre o assunto: a primeira, em março, mostrou que uma reportagem da TV italiana sobre vírus criado em laboratório não tinha relação com a covid-19. Em abril, revelou que eram falsos os textos que diziam que o Nobel de Medicina Tasuku Honjo havia afirmado que o coronavírus era artificial. Em maio, o áudio de um médico dizendo que o vírus tinha vindo de um laboratório de Wuhan não foi respaldado por evidências científicas e o vídeo “Plandemic” trazia afirmações falsas sobre a origem do SARS-CoV-2. Por que investigamos? Atualmente em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia e sobre políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. Quando a publicação fala sobre tratamentos ou métodos de imunização contra o novo coronavírus, a checagem se torna ainda mais necessária, já que informações falsas podem levar as pessoas a adotar medicamentos sem comprovação científica ou rejeitarem métodos de prevenção recomendados pelas autoridades de saúde. O conteúdo dessa verificação teve 2,2 mil curtidas e 1,8 mil compartilhamentos no perfil M.I.B do Facebook. O texto do site Porão da Mamãe teve outras mil interações nas redes sociais, de acordo com a plataforma de monitoramento CrowdTangle, antes de ser retirado do ar. Desde o início da pandemia, o Comprova já desmentiu várias informações sobre as vacinas contra o novo coronavírus. Recentemente, o Comprova mostrou que um post forçava a comparação entre as vacinas e a cloroquina; que os imunizantes não produzirão danos genéticos; nem terão microchips para rastrear a população. Também mostrou que a China não evita aplicar as vacinas desenvolvidas por farmacêuticas chinesas na própria população. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-enganoso-dizer-que-expor-a-populacao-ao-virus-e-melhor-para-acabar-com-pandemia-do-que-vacinacao/
COMPROVA
É enganoso dizer que expor a população ao vírus é melhor para acabar com pandemia do que vacinação
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2020-10-28
Ao contrário do que afirma deputado, estratégia de imunidade de rebanho prevê a vacinação da população, segundo OMS Conteúdo verificado: Dois tuítes semelhantes em que o deputado Osmar Terra afirma que pandemias acabam antes de as vacinas estarem disponíveis. São enganosos os tuítes do deputado federal Osmar Terra (MDB-RS) afirmando que as pandemias acabam por meio da disseminação da doença, não com vacinas. Ele declara, entre outros pontos, que “não há registro histórico de pandemia de um novo vírus que termina com vacina! Isso só acontece com a imunidade de rebanho”. Diferentemente do que o deputado escreve, o uso da estratégia de imunidade de rebanho prevê a vacinação da população, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS). A imunidade provocada pela própria doença como método para conter o novo coronavírus não é endossado pelos cientistas ouvidos pelo Comprova porque poderia aumentar substancialmente o número de mortes pela covid-19, entre outros motivos. Cristina Bonorino, professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), lembra que a varíola, pandemia que durou milhares de anos, só acabou com a vacinação massiva. De acordo com a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), “a doença foi erradicada graças a um esforço global de 10 anos, liderado pela Organização Mundial da Saúde, que envolveu milhares de profissionais de saúde em todo o mundo para administrar meio bilhão de vacinas para eliminar a varíola”. Outro ponto que vai na contramão do que escreve o deputado é que, em alguns casos, a imunidade de quem foi infectado pelo novo coronavírus é temporária, como explica o médico Marcelo Sommer Bittencourt, da Clínica de Epidemiologia do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (USP). Terra também engana ao escrever que a Suécia alcançou a imunidade de rebanho. Em recente entrevista, o epidemiologista-chefe da Suécia, Anders Tegnell, negou o uso da estratégia, afirmando que “insinuar que deixamos a doença correr livre sem quaisquer medidas para tentar impedi-la não é verdade”. O Comprova tentou contatar o deputado via Twitter, e-mail e telefone da Câmara, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Como verificamos? Inicialmente, pesquisamos informações sobre o que é a imunidade de rebanho em artigos científicos e em reportagens, inclusive algumas publicadas anteriormente pelo Comprova. Também buscamos dados sobre a situação da pandemia na Suécia, citada por Terra em um dos tuítes verificados – os sites da Agência Sueca de Saúde Pública e da Universidade Johns Hopkins, referência na covid-19, foram as principais fontes. O segundo passo foi entrevistar especialistas para entender se as afirmações do deputado faziam ou não sentido. Conversamos com Cristina Bonorino, professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia, e com Luiz Almeida, biólogo formado pela PUC-Campinas, PhD em microbiologia e administrador das mídias sociais do Instituto Questão de Ciência (IQC). O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 28 de outubro de 2020. Verificação Imunidade de rebanho Também chamada de imunidade coletiva, este é um conceito com origem na proteção proporcionada pelas vacinas, e não naturalmente pelas doenças, segundo o qual a partir de um percentual de pessoas imunizadas, outras ainda suscetíveis à doença e que não se vacinaram também ficariam protegidas, porque o agente deixa de circular, como explica a OMS. O Instituto Butantan usa como exemplo da imunidade de rebanho o sarampo: com 95% da população imunizada, o vírus deixou de circular e a doença foi erradicada – acabou voltando recentemente, movimento relacionado à queda na taxa de vacinação. O termo surgiu a partir dos experimentos científicos dos pesquisadores britânicos William Topley e Graham Wilson. Eles observaram o comportamento de ratos enquanto faziam experiências bacterianas nos animais e concluíram que a sobrevivência de um rato dependia exclusivamente da imunidade dos outros animais à sua volta. Embora, segundo a OMS, a imunidade de rebanho só pode ser atingida com vacina, o termo é controverso. Há quem defenda que ela pode ser alcançada também de forma natural, “quando uma grande parte da população é infectada e se torna imune”. Esta é a versão que Terra usa em seus tuítes, já apoiada por Jair Bolsonaro (sem partido) como forma de contrapor ações como isolamento e fechamento do comércio. O presidente disse repetidas vezes que 70% dos brasileiros deveriam pegar a covid-19. Para o diretor científico da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, José David Urbaéz, essa opção é ineficaz. “A circulação do vírus não acontece de maneira homogênea, não é todo mundo que se expõe ao vírus da mesma forma. Por isso que não se pode falar de rebanho”, afirmou em entrevista ao Correio Braziliense. Professor na Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais e também participante de comitês do coronavírus na Prefeitura de Belo Horizonte, Uniaí Tupinambás também declarou que a estratégia da imunidade de rebanho sem vacina seria “catastrófica”. Para o site da Faculdade de Medicina da UFMG, ele explicou que, em 2019, Minas Gerais enfrentou uma epidemia de dengue. Já em 2020, a doença não se alastrou porque a população estava vacinada contra o vírus – o que acaba criando uma proteção àqueles que não conseguiram se imunizar. Já com a pandemia do novo coronavírus, o cenário é outro. Segundo o professor, para atingir um número de imunidade de rebanho, de 60% a 70% da população teria que se infectar com o novo coronavírus. Com isso, ele diz, “em Minas Gerais, por exemplo, morreriam cerca de 150 mil pessoas”. “Em vez de a gente esperar as pessoas pegarem o vírus e esperar o acaso, (porque elas podem) morrer ou ficar resistentes e imunes ao vírus, a gente usa as vacinas. Elas imitam a infecção que a gente vai pegar pelo vírus e engana nosso sistema imunológico, que pensa estar infectado, com a vantagem de que não é o vírus natural, aquele que realmente causa a doença”, explica Luiz Almeida, biólogo e PhD em Microbiologia. Casos de reinfecção A versão que defende a imunidade de rebanho com a disseminação do vírus na população sem vacina (usada pelo deputado nos posts) desconsidera que os estudos científicos ainda não esclareceram se uma infecção pelo novo coronavírus garante uma imunidade duradoura. Conforme já verificou o Comprova, apesar de ainda haver dúvidas sobre a imunidade trazida pela doença, a resposta imune induzida pela vacina é diferente da que é conferida pela própria infecção, sobretudo em relação à eficácia e à longevidade. Enquanto um vírus — como o Sars-CoV-2 — dispõe de várias proteínas que enganam o sistema imunológico do organismo, a vacina não carrega esse componente. Em entrevista ao UOL, Marcio Sommer Bittencourt, médico da Clínica de Epidemiologia do Hospital Universitário da USP, e Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), destacaram as incertezas científicas quanto a uma imunidade duradoura para a doença. Bittencourt citou o resultado de pesquisas que apontaram que a imunidade adquirida por aqueles que foram diagnosticados com a doença é temporária – como o estudo do Imperial College de Londres. “Portanto, uma grande quantidade de pessoas ter contraído a doença não significa que não irão contraí-la novamente, ainda mais se isso for associado aos indícios de que o novo coronavírus é sazonal”, disse. Já Renato Kfouri apontou a questão da imunidade contra a covid-19 como “uma das maiores lacunas de conhecimento” sobre a doença. Segundo o especialista, uma das dificuldades encontradas nos estudos é mensurar a imunização de cada pessoa, uma vez que os que tiveram sintomas mais leves ou sequer manifestaram sinais da infecção tendem a desenvolver menos anticorpos, ainda que adquiram certa resistência celular. Além disso, a depender da gravidade do quadro, os pacientes menos graves perdem esses anticorpos mais rapidamente. “Pode ser que daqui a três ou quatro meses, 30%, 40% não tenham mais anticorpo”, pontua. Ele ainda reitera que há variação na confiabilidade dos testes, que podem apresentar maior ou menor número de resultados falsos, a depender do kit que é utilizado. Casos de reinfecção da covid-19 já foram relatados em vários países, inclusive no Brasil. O primeiro registro ocorreu em Hong Kong, um homem de 33 anos que positivou pela segunda vez, mais de quatro meses após a primeira infecção. Vacina como solução Ao contrário do que afirma o deputado em seus tuítes, de que não há um registro histórico de vacina que tenha acabado com uma pandemia de um vírus, a vacina da varíola, desenvolvida há mais de 200 anos, é exemplo de que a vacinação foi responsável pela erradicação da doença, em 1980. “A gente não tem mais a varíola circulando entre a população, muito por conta das vacinas, a partir do momento que a gente começou a vacinar as pessoas. Antes, as pessoas morriam de varíola muito fácil, crianças, jovens e adultos”, pontuou o biólogo Luiz Almeida. Segundo Cristina Bonorino, professora da UFCSPA e membro da Sociedade Brasileira de Imunologia, a campanha de vacinação da doença foi “massiva e constante no mundo inteiro até que não se detectou nenhum caso de varíola”. Almeida também mencionou a vacina da poliomielite, que quase conseguiu erradicar a doença por meio de uma campanha de imunização coletiva. “A OMS, inclusive, já tinha anunciado que aqui no Brasil a gente estava livre dela. O que acontece é que mesmo que a doença tenha sido erradicada num único país, os países vizinhos podem ainda ter esses vírus. Então, enquanto a gente não fizer a erradicação completa desse vírus, ele vai circular. Por isso que a pólio voltou aqui no Brasil.” Cristina explica que “os únicos lugares onde se tem bolsões de pólio acontecendo hoje são onde as pessoas não estão vacinando obrigatoriamente”. O sarampo, epidemia citada anteriormente, é outro exemplo de doença erradicada com vacina. Declaração de Great Barrington No post, Osmar Terra inclui o link para a Declaração de Great Barrington, idealizada pelos pesquisadores norte-americanos Martin Kulldorff, Sunetra Gupta e Jay Bhattacharya. O manifesto chamado “The Great Barrington Declaration and Petition” foi lançado em 8 de outubro de 2020 e já possui 56 mil assinaturas entre cidadãos comuns, médicos e cientistas. No manifesto, os cientistas alertam para as possíveis consequências das atuais políticas de confinamento. Eles entendem que se pode produzir efeitos devastadores na saúde pública a curto e longo prazo, como taxas mais baixas de vacinação infantil, agravamento dos prognósticos das doenças cardiovasculares, menos exames oncológicos e deterioração da saúde mental, o que causará mais mortes nos próximos anos. O ponto central do documento é a defesa do que os cientistas chamam de Proteção Focalizada. A ideia é que se permita que as pessoas que não fazem parte de grupo de risco mantenham sua rotina para que, assim, haja mais gente imunizada contra o vírus. Já as pessoas que estão no grupo de risco, devem seguir o isolamento, realizar testes PCR frequentemente e evitar contatos, entre outras medidas de proteção. O documento também defende a imunidade de rebanho pela contaminação ao invés da vacinação, na qual, segundo eles, à medida que a imunidade se desenvolve, o risco de infecção diminui. Contraponto Como resposta à Declaração de Grande Barrington, pesquisadores internacionais de diversas áreas, como saúde e matemática, escreveram o memorando John Snow, também publicado em outubro. Snow é considerado um dos fundadores da epidemiologia moderna. Ele desenvolveu a teoria da transmissão da cólera pela água. O memorando já tem mais de 6 mil assinaturas e busca esclarecer sobre a melhor forma de gerir a pandemia. Para os cientistas, qualquer estratégia que seja baseada na imunidade de infecções naturais para a covid-19 é falha, assim como garantir que a transmissão em pessoas jovens é controlada. Eles também afirmam que não existem evidências de imunidade duradoura ao Sars-CoV-2. “Essa estratégia não acabaria com a pandemia da covid-19, mas resultaria em epidemias recorrentes, como era o caso de várias doenças infecciosas antes do advento da vacinação”, afirma o documento. Pandemia na Suécia No post, Terra também engana ao afirmar que a Suécia usou a estratégia da imunidade de rebanho e que, por isso, a pandemia terminou por lá. No início da pandemia, a Suécia se destacou por não impor o isolamento para toda a população, diferentemente de outros países europeus. As autoridades de saúde pública optaram por recomendar distanciamento físico, uso de máscaras e higiene das mãos. Em um comunicado de junho, a Agência Sueca de Saúde Pública afirmou que 80% da população havia se adaptado às medidas, “tanto em ambientes internos como externos” e que o trabalho do órgão era baseado na “forte tradição de voluntariado com ênfase na responsabilidade individual”. Mas, embora não tenha fechado as portas do comércio, o país não adotou a estratégia da imunidade de rebanho, como afirmou Terra. O epidemiologista-chefe da Suécia, Anders Tegnell, afirmou à revista britânica New Statesman que é incorreto afirmar isso. “Em comum com outros países, estamos tentando retardar a propagação (do vírus) o máximo possível. Insinuar que deixamos a doença correr livre sem quaisquer medidas para tentar impedi-la não é verdade.” Em maio, a Suécia foi, inclusive, citada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) como exemplo a ser seguido, mas Tegnell disse à BBC que a estratégia não servia para o Brasil porque cada país deve considerar as circunstâncias locais. Desde o início da pandemia, a Suécia teve 108.969 casos de pessoas infectadas e 5.930 mortes até 22 de outubro, segundo a Universidade Johns Hopkins. De acordo com a Folha, os números de casos e mortes se mostraram equivalentes aos de alguns países que impuseram quarentenas, como França e Reino Unido. Mas, quando comparada aos países nórdicos, dos quais faz parte, ela se sobressai negativamente, com média de 1.098 mortos por milhão de habitantes – enquanto os outros países têm suas taxas de mortes por milhão abaixo de 120. Em meados de outubro, o país, novamente, foi na contramão de vários países europeus e afrouxou as medidas de isolamento ao anunciar que idosos com mais de 70 anos podem sair de casa, para evitar problemas de saúde mental. Contudo, o órgão de saúde não adotou a estratégia da “imunidade de rebanho”. Quem é Osmar Terra Em seu sexto mandato na Câmara dos Deputados, como representante do Rio Grande do Sul, ele foi ministro do Desenvolvimento Social em 2016, no governo de Michel Temer (MDB), e ocupou a pasta da Cidadania já na gestão de Jair Bolsonaro (sem partido), em 2019. O deputado federal é formado em medicina e foi presidente do Grupo Hospitalar Conceição entre 1986 e 1989. Também ocupou o cargo de secretário da Saúde do Rio Grande do Sul de 2003 a 2010, nas gestões de Germano Rigotto (MDB) e Yeda Crusius (PSDB). Terra é um apoiador de Bolsonaro e, seguindo o discurso do presidente, já negou a gravidade da pandemia em diversas ocasiões. Chegou a afirmar, erroneamente, que o distanciamento social não tinha eficácia comprovada, que as mortes pelo novo coronavírus no Brasil não passariam o número de óbitos por H1N1 e declarou que a pandemia terminaria em junho. Em março, o Comprova verificou um vídeo em que Terra defende o isolamento vertical, afirmando que apenas idosos e pessoas de grupos de risco deveriam ficar isoladas. As imagens circularam como se fossem do cardiologista Adib Jatene, falecido em 2014. Ele não retornou os pedidos de entrevista feitos pelo Comprova. Por que investigamos? Nesta terceira fase, o Comprova verifica conteúdos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia. Em um ano eleitoral em que as disputas políticas estão acirradas, a covid-19 virou tema de debates em todos os campos e a desinformação que circula nas redes sociais pode custar vidas. Os posts de Osmar Terra, que enganam o leitor ao afirmar que a vacina não será eficaz para o fim da pandemia, tiveram cerca de 5,1 mil retuítes e quase 18 mil curtidas até 28 de outubro. O Comprova já checou outros conteúdos que distorciam fatos para minimizar a importância das vacinas, como o post fazendo uma comparação forçada delas com a cloroquina, o vídeo de um médico dizendo que os imunizantes não passaram pela fase pré-clínica e o tuíte que sugeria que elas são desnecessárias. Enganoso, para o Comprova, é todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado. É o caso da publicação de Osmar Terra, que usa números reais para chegar a uma conclusão que não é verdadeira.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-usa-acao-coletiva-infundada-para-dizer-que-pandemia-e-crime-contra-a-humanidade/
COMPROVA
Vídeo usa ação coletiva infundada para dizer que pandemia é crime contra a humanidade
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2020-10-27
Vídeo de canal no Youtube resume argumentos de advogado alemão responsável por ação coletiva contra danos provocados pelo coronavírus, mas argumentos dele não se sustentam cientificamente Conteúdo verificado: Vídeo no YouTube com comentários sobre advogado alemão que afirma que a pandemia é um “crime contra a humanidade”. É enganoso o vídeo de um canal do YouTube em que o apresentador diz que a pandemia é uma fraude e um crime contra a humanidade e apresenta os argumentos de um advogado alemão para reforçar sua tese. As alegações do advogado, usadas de forma resumida no vídeo brasileiro, não se sustentam cientificamente. No início do vídeo postado pelo canal Claudio Lessa, no YouTube, ele afirma que o advogado deve ser levado a sério por conta de seu currículo: ações contra a Volkswagen e o Deutsche Bank, além de ser membro do Comitê Investigativo Corona, na Alemanha. O comitê, contudo, não tem qualquer atuação científica e busca, na verdade, aconselhar as pessoas, principalmente empresários, a entrarem com uma ação coletiva contra dois cientistas alemães e contra a Organização Mundial de Saúde (OMS) por danos provocados pelo coronavírus. No vídeo original, Reiner Fuellmich afirma que o “Escândalo Corona” é provavelmente o “maior crime contra a humanidade já cometido” e que este será o “maior caso de tribunal de todos os tempos”. Para isso, ele diz que a pandemia de coronavírus não existe, que os testes PCR não servem para detectar casos da covid-19, que as medidas de isolamento social, confinamento e uso de máscara não são efetivas e não serviram para proteger a população e, por fim, que não houve em nenhum lugar do mundo excesso de mortes pela ‘peste chinesa’. Nenhuma dessas alegações tem base na realidade. A pandemia foi reconhecida desde março deste ano pela OMS. Até a manhã desta terça-feira (27), a OMS havia reportado casos em 218 países, áreas ou territórios, com um total de 1,1 milhão de mortos e 43 milhões de diagnósticos no planeta. Além disso, especialistas e estudos ouvidos e analisados pela reportagem atestam que os testes PCR são confiáveis, que as medidas não-farmacológicas são eficazes e que há, sim, excesso de mortes pela doença. O autor do vídeo original, Reiner Fuellmich, e o responsável pelo canal do YouTube que faz um resumo da argumentação, Cláudio Lessa, foram procurados, mas não responderam até o fechamento desta verificação. Como verificamos? Primeiramente, procuramos o vídeo original utilizado como base para a postagem no canal de Claudio Lessa no YouTube. Em seguida, localizamos, a partir do nome do advogado Reiner Fuellmich, mencionado no vídeo, o site oficial de seu escritório, na Alemanha. A página nos levou a outro site dedicado às ações coletivas e outras reclamações propostas pelo chamado Comitê Investigativo Corona, do qual Fuellmich diz ser membro fundador. Lá, encontramos o mesmo vídeo legendado em outros idiomas. Também entramos em contato com uma agência de checagem alemã, com jornalistas e outros moradores no país e com o Ministério da Saúde da Alemanha, para saber qual a relevância do Comitê Investigativo Corona. Por fim, procuramos especialistas para obter esclarecimentos sobre testes PCR, medidas não farmacológicas, excesso de mortes e direito internacional – neste caso, para falar sobre a acusação de crimes contra a humanidade. Colaboraram nesta investigação: Chrystina Barros, mestre em Enfermagem, pesquisadora do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro (CESS/COPPEAD/UFRJ) e integrante do Grupo Técnico de Enfrentamento à covid-19 da UFRJ, Rafael Galliez, professor de Doenças Infecciosas e Parasitárias da Faculdade de Medicina da UFRJ e Manoel Moraes de Almeida, titular da Cátedra Dom Helder Câmara de Direitos Humanos, da Universidade Católica de Pernambuco (Unicap). Consultamos registros sobre os cientistas apontados pelo advogado como autores dos estudos que guiam as conclusões do Comitê Investigativo Covid e também sobre aqueles que são alvos de suas ações. Procuramos ainda o autor do vídeo, responsável pelo canal Claudio Lessa, no YouTube, onde o material foi postado em 17 de outubro com o título “O Fim da Fraude da Peste Chinesa”, e o advogado alemão Reiner Fuellmich. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 27 de outubro de 2020. Verificação Quem é Reiner Fuellmich Reiner Fuellmich se apresenta como advogado com 26 anos de atuação na Alemanha e nos Estados Unidos. Seu escritório, sediado na cidade de Göttingen, é “especializado na área de proteção ao consumidor e tem experiência em contencioso bancário, bolsa de valores e direito de investimento de capital”, conforme o site oficial. Além disso, há menção de atuação relacionada ao direito médico, ligado à responsabilidade por tratamentos. No vídeo original, utilizado como fonte pela publicação verificada aqui, Fuellmich afirma ser conhecido por sua atuação nos processos contra a fraude nos motores a diesel da Volkswagen e o escândalo de corrupção do Deutsche Bank. O Comprova encontrou referências ao trabalho de Fuellmich nesses casos em duas publicações em seu site, onde afirma ter ganhado as causas. Procurado para confirmar a atuação do alemão no caso, o Deutsche Bank informou por e-mail que não tinha nada a declarar sobre o assunto. A VW não respondeu às tentativas de contato. Na capa do site oficial do escritório de advocacia, há uma publicação aconselhando que as pessoas entrem na Justiça com ações de danos provocados pelo coronavírus. Em tradução livre, a mensagem diz o seguinte: “Aconselhamos e apoiamos ativamente as atividades relacionadas com a reclamação de danos no corona”. O texto contém um link que leva a um site sobre uma ação coletiva de danos provocados pelo coronavírus. Um dos argumentos que aparecem no site é de que o único caminho para enfrentar “uma luta entre Davi e Golias nos tribunais alemães” é por meio de uma ação coletiva. Os interessados devem preencher um formulário com os dados da empresa, fazer uma estimativa dos danos sofridos e pagar uma taxa fixa de 800 euros, além do Imposto sobre Valor Acrescentado (IVA). Os alvos da ação são a Organização Mundial de Saúde (OMS), o virologista do Hospital Charitpe, em Berlim, Christian Drosten, e o veterinário Lothar Wieler, diretor do Instituto Robert Koch (RKI), que registra continuamente a situação da covid-19, avalia todas as informações e estima o risco para a população na Alemanha. No site oficial da ação coletiva, Fuellmich afirma ser membro fundador do Comitê Corona, formado por advogados nos Estados Unidos e na Alemanha. O que é o Comitê Investigativo Corona e quem eles ouvem? Segundo informações do site que trata das ações coletivas, o Comitê Investigativo Corona foi uma estratégia pensada nos Estados Unidos, mas que conta com o trabalho de advogados reconhecidos do Comitê Corona de Berlim, a fim de “encontrar respostas a questões relacionadas com a crise do coronavírus”: quão perigoso é o vírus, qual o significado de um teste PCR positivo e qual o dano colateral causado pelas medidas anti-coronavírus na saúde da população e na economia. A divisão alemã do Comitê Covid é comandada pelos advogados Antonia Fischer, Justus Hoffmann, Cathrin Behn e Tobias Weissenborn – esses dois últimos também membros da equipe do escritório de Fuellmich. De acordo com texto publicado no site, outros advogados também fariam parte do comitê, embora não possam aparecer, por medo de perda de cargos nos setores público e regular, caso suas ações por compensação de danos em decorrência do coronavírus sejam descobertas. Além das ações coletivas por danos causados pela pandemia, o Comitê também concentra queixas referentes à obrigatoriedade do uso de máscara nas escolas da Alemanha. Também há ações relacionadas aos testes PCR e ao adiamento de procedimentos médicos por causa da pandemia. O Ministério da Saúde da Alemanha foi procurado, mas não respondeu qual a relevância do Comitê Investigativo Corona no país. Um jornalista alemão consultado pelo Comprova, Lars Wienand, informou que empresários que aderiram à ação coletiva já fazem questionamentos e que “nenhuma pessoa séria na Alemanha se importa com o Comitê Corona”. Em vídeo gravado por Fuellmich, ele afirma ser um dos quatro membros do Comitê na Alemanha e que, desde o dia 10 de julho, o grupo tem ouvido testemunhos de “um grande número de cientistas e peritos internacionais”, como John Ioannidis, da Universidade de Stanford, na Califórnia; Michael Livitt, Nobel de Química e biofísico na Universidade de Stanford; os alemães Cary Mullen, Sucharit Bhakdi, Knut Wittkowski e Stefan Homburg; e Mike Yeadon, ex-diretor da Pfizer. O epidemiologista John Ioannidis realmente questiona se as medidas drásticas como fechar escolas e empresas são efetivas, mas não coloca em dúvida a existência da pandemia nem a necessidade de adotar medidas para evitar que o vírus se espalhe. Nesta entrevista à Folha de S.Paulo, Ioannidis diz que a letalidade da covid-19 foi menor do que se previu, mas que ainda há muita incerteza e que, enquanto isso, “medidas não muito disruptivas são importantes”. Segundo ele, quando não há muitas informações – como quando as medidas de restrição foram adotadas – “é preciso prever o cenário mais pessimista”. Michael Livitt, britânico vencedor do Nobel de Química em 2013, disse em março que a covid-19 não traria grandes riscos à população e que o alto número de mortes na Itália, naquele período, tinha relação com o estilo de vida da população e que, por isso, era necessário manter o isolamento social. Em maio, ele criticou medidas mais rígidas, como o lockdown, e disse que ela custaria mais vidas em decorrência do alcoolismo, violência doméstica e mortes por outras doenças. Mesmo assim, ele defendeu o uso de máscaras e o distanciamento social. O Comprova não encontrou nenhuma referência a Cary Muellen na ciência – apenas o perfil de um canadense, atleta olímpico de esqui. Sucharit Bhakdi é um microbiologista alemão, coautor do livro “Corona: Alarme Falso?”. Suas declarações foram alvo de checagens na Alemanha, inclusive uma do site Correctiv, que classificou suas declarações numa entrevista sobre o coronavírus e a vacina como “infundadas”. O epidemiologista alemão Knut Wittkowski é um dos críticos ferrenhos às medidas de distanciamento, como o lockdown. Ele afirmou ao NY Post que um de seus vídeos foi censurado pelo YouTube por criticar a medida. Em um artigo publicado no mês de abril, o epidemiologista disse que as melhores estratégias contra a doença eram a vacina ou o tratamento precoce das complicações da doença. No artigo, há um alerta para conflito de interesses: quando fez a publicação, Wittkowski era CEO da ASDERA LLC, empresa que trabalha buscando tratamento para doenças, incluindo a covid-19. Stefan Homburg é economista e professor da Universidade Leibniz de Hanover, na Alemanha. Ele é abertamente crítico das medidas adotadas pelo governo alemão e, no mês de maio, expulsou de uma aula online alunos que foram contrários às suas críticas ao lockdown. Ele disse que esperava um pedido de desculpas dos estudantes. Já Mike Yeadon, ex-diretor da Pfizer, também fez críticas ao lockdown e afirmou, numa entrevista ao canal britânico talkRADIO que o governo vem “usando testes da covid-19 com falsos positivos”. Ele é também citado em textos publicados no site Lockdown Sceptics.org, cujo slogan é “Fique cético. Controle a histeria. Salve vidas”. A pandemia não existe? Reiner Fuellmich afirma que os advogados do Comitê Corona vêm conversando com esses cientistas e peritos internacionais, cujos trabalhos sustentariam três argumentos principais: o primeiro é de que não existe uma pandemia de coronavírus, e sim de testes PCR que, segundo ele, “não têm qualquer significado em relação à infecção por covid-19”. O RT-PCR é um teste molecular indicado para ser realizado logo no início da doença, principalmente na primeira semana. De acordo com o Rafael Galliez, professor de doenças infecciosas e parasitárias da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), as técnicas de diagnósticos molecular da covid-19, os RT-PCR, são baseados nos alvos do vírus N1 e N2, originalmente. Os alvos são as regiões de um gene do novo coronavírus (chamado de gene N) que são amplificadas e avaliadas pelo teste. Galliez explica que todos esses alvos do vírus SARS-CoV-2 foram validados por diferentes técnicas. Ele cita pelo menos duas que foram utilizadas na validação do teste. A primeira é o sequenciamento completo do genoma do vírus, que detecta o código genético completo daquele vírus. E a segunda é o cultivo celular, que permite comprovar o crescimento do vírus em cultivo de células. Ambas as técnicas de validação corroboram com os achados do teste PCR e o uso dos alvos N1e N2 na literatura científica. “A cultura de vírus em cultura de células humanas têm demonstrado correlação com todos esses testes, mostrando sua sensibilidade e especificidade dentro dos parâmetros necessários para aplicação em larga escala”, afirma o pesquisador que integra o Grupo Técnico de Enfrentamento à covid-19, da UFRJ. Efetividade das medidas não farmacológicas O segundo argumento apresentado por Fuellmich e também utilizado por Claudio Lessa em seu vídeo é que as medidas não farmacológicas anticoronavírus, como confinamento, isolamento social, uso de máscara e regras de quarentena, não serviram para proteger a população mundial contra o coronavírus, mas apenas para criar pânico e, assim gerar lucros à indústria farmacêutica e de vacinas e testes, além de colher a “impressão digital genética” das pessoas. A mestra em Enfermagem Chrystina Barros, pesquisadora do Centro de Estudos em Gestão de Serviços de Saúde da Universidade Federal do Rio de Janeiro e também integrante do Grupo Técnico de Enfrentamento à covid-19 daquela universidade, afirma existirem “estudos publicados a respeito com evidências claras da importância do isolamento para redução da disseminação de doença e assim, para salvar vidas”. O mais recente desses estudos, segundo ela, foi publicado na Revista Lancet sobre “A associação temporal de introdução e levantamento de intervenções não farmacêuticas com o número de reprodução variável no tempo”, elaborado com dados de 131 países. Esse trabalho mostra que as medidas de restrição à mobilidade social e consequente aglomeração de pessoas estão associadas à redução da disseminação da covid-19. “É inimaginável que haja uma grande conspiração que tenha conseguido unir todos esses diferentes povos e seus representantes, para a criação de uma doença e uma pandemia, para que alguém obtenha vantagem, ainda mais em um mundo tão conectado onde pessoas se falam a todo o tempo e as dores e o sofrimento de quem contraiu a doença são compartilhados publicamente dia após dia”, afirma Chrystina Barros. Erros recorrentes ao se analisar uma pandemia Há duas décadas, o biólogo evolutivo e filogeógrafo Rob Wallace, autor do livro “Pandemia e agronegócio: doenças infecciosas, capitalismo e ciência” (Ed. Elefante), estuda a forma como a sociedade moderna organiza suas práticas produtivas e a origem dos vírus de potencial pandêmico que circulam pelo planeta, o que caracteriza como um modo capitalista de produção de doenças. Wallace analisa, por exemplo, que o vírus da influenza circula há muito tempo entre as aves migratórias. Nos últimos séculos se adaptaram ao modo de vida industrial da humanidade com diferentes sorotipos, tais como H5N1, H5N2, H7N2, H7N7, H9N2, H1N1. De acordo com o autor, é necessário evitar alguns erros ao analisar uma pandemia. O primeiro é presumir que a humanidade foi vítima de uma histeria alimentada pela mídia. “As pandemias anteriores nos ensinam que se preparar para o pior é a opção mais prudente”, escreve o autor. O segundo erro é aceitar logo de cara que está tudo bem. Ele cita a gripe suína (H1N1) para demostrar que o vírus evolui à medida que se espalha e pode se rearranjar com outras variedades para produzir uma cepa mais infecciosa e mortal. Em outras palavras, ainda é uma incógnita se o H1N1 continuará a imitar os efeitos da gripe sazonal. Ele avalia que o modelo industrial de produção de aves e suínos em cidades de monoprodução de animais em confinamento forma “ecologia quase perfeita” para a evolução de várias cepas virulentas de influenza. De acordo com Wallace, o SARS-Cov-2, causador da pandemia da covid-19, representa apenas uma das novas cepas de patógenos que subitamente surgiram como ameaças aos seres humanos neste século. O estudioso afirma que o surtos decorrentes das pandemias estão ligados, direta ou indiretamente, às mudanças na produção industrial de alimentos e animais em confinamento, as quais estão associadas à agricultura e pecuária intensiva. Por isso, esses patógenos não devem ser tratados unicamente a partir de seus cursos de infecção, quadros clínicos, as mais recentes vacinas e outras profilaxias, por mais importante que sejam essas medidas. Wallace chama atenção para as redes de relações ecossistêmicas que o capital e o poder estatal manipulam para proveito próprio e são fundamentais para o surgimento e evolução dessas novas cepas. Governo alemão pressionado? Por fim, Fuellmich insinua que o governo alemão sofreu pressão maior do que outros países para aderir às medidas de isolamento. Isso porque, segundo ele, a Alemanha é um país disciplinado e serviria de modelo para outros países no respeito às regras. Os membros que seriam responsáveis por essa maior pressão são: Christian Drosten (virologista do Hospital Charité em Berlim), Lothar Wieler ( veterinário e diretor do RKI, equivalente na Alemanha à Anvisa no Brasil) e Tedros Adhanom, (diretor da Organização Mundial de Saúde). Christian Heinrich Maria Drosten, um dos alvos do advogado, é o diretor do Instituto de Virologia de Bonn e virologista do Hospital Charité, de Berlim. De acordo com o site Deutschland.de, criado pela agência de comunicação FAZIT para o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha, ele tornou-se a voz de referência sobre a covid-19 tanto para o público alemão quanto para o governo federal e os governos regionais do país. Ele é o assessor do governo alemão para assuntos relativos à covid-19. Semanalmente, desde que começou a pandemia, Drosten também grava um podcast no qual explica, em linguagem simples, os avanços da ciência em relação ao coronavírus e os cuidados que se fazem necessários. Milhões de pessoas escutam o programa regularmente, de acordo com o governo alemão e a mídia do país. Drosten dirigiu a equipe do Centro Alemão de Pesquisas de Infectologia (DZIF, na sigla em alemão) que, em janeiro de 2020, criou o primeiro teste PCR para diagnóstico do coronavírus. A descoberta foi anunciada no dia 16 de janeiro, conforme o site do DZIF. Outro alvo do advogado, Lothar H. Wieler é, segundo a OMS, o presidente do Instituto Robert Koch, a instituição oficial de Saúde Pública da Alemanha. Wieler é veterinário e especialista em pesquisas de zoonoses, doenças transmitidas entre animais e humanos. Já o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanon, também apontado como um dos responsáveis pelo “Escândalo do Corona”, não é filósofo, como diz Fuellmich em seu vídeo. Adhanom é mestre em doenças infecciosas pela Universidade de Londres e doutor em Saúde Pública pela Universidade de Nottingham, também na Inglaterra. Etíope, ele foi ministro da Saúde do seu país de 2006 a 2011. Segundo o canal de mídia alemão Deustch Welle, ele foi responsável pela expansão da estrutura de saúde nas zonas rurais da Etiópia e a criação de, pelo menos, 30 faculdades de medicina. No entanto, ele também é lembrado por ter minimizado surtos de cólera. Em maio de 2017 foi eleito diretor-geral da OMS pelos países que compõem a Assembleia-Geral da entidade e tomou posse no da 1º de julho daquele ano, conforme o site da instituição. A “peste chinesa” e o excesso de mortalidade Não é verdade que não houve excesso de mortalidade em nenhum país, como afirma Fuellmich no vídeo. Para começar, precisamos entender o que é “excesso de mortalidade”. Esse conceito é um termo usado em epidemiologia e saúde pública que se refere ao número de mortes por todas as causas durante uma crise além do que esperaríamos ver em condições normais. No caso da pandemia, é necessário saber como os números de mortes totais se comparam ao número médio de mortes no mesmo período nos anos anteriores. De acordo com o artigo Excesso de mortalidade durante a pandemia de Coronavírus (covid-19), assinado pelos pesquisadores Charlie Giattino, Hannah Ritchie, Max Roser, Esteban Ortiz-Ospina e Joe Hasell, do projeto “Our World in Data”, da Universidade de Oxford, “o excesso de mortalidade é uma medida mais abrangente do impacto total da pandemia nas mortes do que apenas a contagem de mortes confirmadas por covid-19. Além das mortes confirmadas, a mortalidade excessiva captura as mortes que não foram diagnosticadas e informadas corretamente”. Em outras palavras, aponta a diferença entre o número de óbitos esperados e o total observado em um determinado período, como mostrou esta verificação do Comprova. O trabalho científico desses pesquisadores foi publicado como uma página repleta de gráficos e dados estatísticos atualizados semanalmente com informações do Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças e do Human Mortality Database, centro de estudos mantido pelo Instituto Max Planck de Pesquisa Demográfica, Universidade da Califórnia-Berkeley e do Instituto Nacional de Estudos Demográficos (Ined), da França. Todos os dados e gráficos podem ser usados livremente. E o que dizem esses números? Que houve, sim, excesso de mortalidade em vários países europeus e nos Estados Unidos, comparando-se à média dos cinco anos anteriores. Na semana de 5 a 12 de abril, por exemplo, morreram nos Estados Unidos 78.769 pessoas. A média dos cinco anos anteriores (2015-2019) foi de 54.346 óbitos. Na Espanha, o número de mortes entre 30 de março e 5 de abril foi 154% maior do que a média dessa mesma semana entre 2015 e 2019. Na Inglaterra e País de Gales, o excesso de mortalidade foi de 59% no mesmo intervalo de tempo. Na Noruega, onde o isolamento social e as medidas restritivas começaram mais cedo e foram mais intensas, o excesso foi de 4%, caindo para -1% na semana de 20 a 26 de abril. Outros dois artigos acadêmicos dos economistas Janine Aron, pesquisadora-sênior do Institute for New Economic Thinking e pesquisadora associada do Nuffield College, da Universidade de Oxford, e de John Muellbauer – pesquisador-sênior do Nuffield Colleg e professor de Economia da Universidade de Oxford – também constatam o excesso de mortalidade e comparam os dados de alguns países. No primeiro artigo, publicado em 29 de junho de 2020, a dupla de pesquisadores fez comparações entre países europeus (inclusive a Alemanha) e por faixas de idade. Na Bélgica, o excesso de mortalidade ao longo das semanas de pandemia foi de 110%, na França, 97% e no Reino Unido, 80%. Segundo pesquisadores Aaron e Muellbauer, a Bélgica teve o maior excesso de mortalidade entre os países estudados. Fonte: Our World in Data (Oxford University) Aaron e Muellbauer também compararam o excesso de mortalidade por faixa etária, concluindo que, para a faixa em idade ativa, dos 15 aos 64 anos, a Inglaterra teve as maiores taxas de mortalidade excessiva. A Espanha teve a mortalidade mais alta durante as semanas da pandemia para a faixa acima de 85 anos. Em um segundo artigo publicado três meses depois, em 29 de setembro, os mesmos economistas de Oxford fazem uma análise do excesso de mortalidade nos Estados Unidos e comparam os dados com os dos países europeus. Logo na introdução do artigo, Aaron e Muellbauer afirmam que “ao comparar as taxas de mortalidade excessiva, uma forma mais robusta de relatar mortes por pandemia, a taxa de mortalidade excessiva cumulativa da Europa de março a julho é 28% menor do que a taxa dos EUA, contradizendo a afirmação do governo Trump de que a taxa europeia é 33% maior. O Nordeste dos Estados Unidos – a região mais comparável com países europeus individuais – experimentou mortalidade excessiva substancialmente pior do que os países mais afetados da Europa. Se os EUA tivessem mantido sua taxa de mortalidade excessiva abaixo do nível da Europa, cerca de 57.800 vidas americanas teriam sido salvas”. No trabalho, os economistas usaram os números de excesso de mortalidade do CDC para os Estados Unidos, comparando-os com os dados do Human Mortality Database para a Europa. Em números absolutos, o excesso de mortalidade acumulado da 9º à 30ª semana de 2020 (de março ao final de julho) nos Estados Unidos foi de pouco mais de 207 mil mortes, o que, em termos percentuais, representa uma taxa de excesso de mortalidade de 17,2% em relação aos anos anteriores. Em toda a Europa, incluindo o Reino Unido, essa taxa foi de 12,4%. Crime contra a humanidade Procuramos o jurista Manoel Moraes de Almeida, titular da Cátedra Dom Helder Câmara de Direitos Humanos, da Universidade Católica de Pernambuco, que descartou a possibilidade de que as medidas de distanciamento social e fechamento da economia adotadas em vários países configurassem um crime contra a humanidade. Crime contra a humanidade é um termo do Direito Internacional que, inicialmente, foi estabelecido pelo Acordo de Londres, de 1945, que fundamentou o tribunal de Nuremberg e o julgamento dos criminosos de guerra nazistas. A partir desse julgamento, caracterizou-se que esses crimes não prescrevem e que devem ser julgados a partir de uma base jurídica internacional. Essa base tomou forma e foi consolidada com o Estatuto de Roma, em 1998, assinado por 122 países e que criou a Corte Penal Internacional. “Os crimes contra a humanidade, diferentes dos crimes de guerra, podem ser cometidos tanto em tempos de paz quanto em tempos de guerra. Não são fatos isolados ou esporádicos que caracterizam o crime contra a humanidade, mas sim fatos cometidos sistematicamente por governos e/ou seus agentes contra a população ou parte dela e que resultem em massacres, assassinatos em massa, extermínio, execuções sumárias, sequestros de crianças, uso militar de crianças, estupros sistêmicos, escravidão, canibalismo ou tortura”, explica o jurista. As medidas contra o avanço da pandemia não se enquadram nesses critérios. “Neste caso, as medidas dos governos têm o objetivo definido de salvar vidas e estão amparados pelo direito sanitário, regulamentado a nível global pela OMS. O oposto é que seria condenável”, declarou. A Corte Penal Internacional tem ampliado o entendimento do que é crime contra a humanidade, que passou a ser julgado em níveis continentais. O Brasil foi condenado por crime contra a humanidade pela Corte Interamericana de Direitos Humanos por não investigar, processar e prender os responsáveis pelo assassinato de Vladimir Herzog, em 1975. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia e sobre políticas públicas do governo federal. Quando esses conteúdos tratam de formas de prevenção ou de tratamento da doença causada pelo novo coronavírus, a checagem se torna ainda mais importante, já que a desinformação pode levar as pessoas a deixarem de se proteger e se expor a riscos desnecessários, durante uma doença que já causou 157,1 mil mortes e infectou 5,3 milhões de pessoas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. A publicação do vídeo no YouTube do canal Claudio Lessa teve 168 mil visualizações, o que fez ampliar o acesso ao conteúdo criado pelo advogado Reinner Fuellmich em diversos idiomas, com o intuito de dar mais visibilidade a sua ação coletiva contra o que chama de ‘Pandemia ProCorona’ – os vídeos originais traduzidos para o inglês, espanhol e francês somam quase 100 mil visualizações. Além da importância para a saúde, o tema também se relaciona com a política já que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) adota um discurso contrário às medidas para conter o coronavírus e até contra as vacinas em teste. Esta também não é a primeira vez que um conteúdo produzido na Alemanha ganha corpo no Brasil ao negar as medidas restritivas, como lockdown e uso de máscaras. Recentemente, o Comprova mostrou que eram enganosos os textos que usavam a opinião de uma deputada alemã para sugerir que o país havia colocado em xeque o uso de máscaras após a morte de uma menina – na semana passada, o laudo confirmou que a morte não tem relação com o uso do equipamento de proteção. Outras postagens também foram verificadas recentemente, como a distorção de uma frase de um enviado da OMS para sugerir que a entidade condena o lockdown; um estudo que distorceu que dados para dizer que países que usaram a hidroxicloroquina tiveram 75% menos mortes pela covid-19. O Comprova também mostrou ser falso um vídeo em que Claudio Lessa afirma que as vacinas contra o novo coronavírus serão capazes de provocar danos genéticos e vão monitorar a população. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos, que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i0.wp.com/projet…=601%2C392&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/graficos-usados-em-tuite-nao-comprovam-que-o-brasil-esta-proximo-de-alcancar-imunidade-de-rebanho/
COMPROVA
Gráficos usados em tuíte não comprovam que o Brasil está próximo de alcançar imunidade de rebanho
null
2020-10-26
A imunidade de rebanho sem uma vacina não é apoiada pela comunidade científica, tampouco tem eficiência comprovada — por não haver provas de sua eficácia e por não existir um local que tenha usado o recurso com sucesso. Além disso, não existem dados suficientes para afirmar que a queda de infecções e de mortes por coronavírus no Brasil seja consequência da imunidade de rebanho Conteúdo verificado: Postagem no Twitter afirma que o Brasil poderá ser o primeiro país relevante do mundo, em território e em população, a atingir a “imunidade de rebanho”, utilizando como base gráficos do site Coronavírus Brasil, do Ministério da Saúde. É enganosa a publicação que circula no Twitter afirmando que o Brasil poderia “ser o primeiro país relevante do mundo, em território e em população, a atingir a tão desejada imunidade de rebanho”. O uso deste tipo de imunização coletiva provocada pela própria doença como estratégia para conter a pandemia do novo coronavírus não é endossado pelos cientistas ouvidos pelo Comprova, entre outros motivos porque poderia aumentar substancialmente o número de mortes pela covid-19. Além disso, não há dados que indiquem que o país já teria alcançado os percentuais necessários para uma proteção coletiva capaz de frear o vírus Sars-CoV-2. A imunidade de rebanho é um conceito com origem na proteção proporcionada pelas vacinas, e não naturalmente pelas doenças, segundo o qual a partir de um percentual de pessoas imunizadas, outras ainda suscetíveis à doença e que não se vacinaram também ficariam protegidas, porque o agente deixa de circular. Os gráficos usados na postagem verificada aqui podem ser encontrados no site do Ministério da Saúde. Eles indicam um número menor de casos e mortes nas últimas semanas, mas não que o Brasil estaria próximo de chegar à imunidade de rebanho por vias naturais. Segundo o médico imunologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS), os números do país não indicam um patamar de casos capaz de representar uma imunidade de rebanho. Há também dúvidas que cercam a longevidade da proteção causada pela doença, já que casos de reinfecção são investigados em vários países, inclusive no Brasil. A mensagem foi publicada pelo empresário Winston Ling. A reportagem tentou contato com ele por e-mail para comentar a postagem, mas não obteve retorno. Como verificamos? Iniciamos a apuração tentando contato com o autor do post, o empresário Winston Ling. Para isso, contatamos o Instituto Ling, com sede em Porto Alegre, por e-mail. A instituição, fundada pela família Ling, respondeu informando um e-mail para tentarmos contato. Enviamos mensagem para o endereço eletrônico informado, mas não houve retorno até o fechamento deste material. Também fizemos buscas no Google sobre materiais relacionados à imunidade de rebanho. Com o intuito de compreender melhor essa estratégia como recurso para frear a pandemia, entrevistamos especialistas na área. Os profissionais que nos deram apoio foram Fernando Barros, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), epidemiologista e integrante da pesquisa Epicovid, que estuda a prevalência do vírus entre a população brasileira, e Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). Checamos, também, dados sobre o coronavírus no Brasil, mantidos pelo Ministério da Saúde, e acionamos a assessoria da pasta para questionar sobre a autoria dos gráficos expostos por Ling. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 26 de outubro de 2020. Verificação A polêmica da imunidade de rebanho Em seu tuíte, o empresário escreve que “O Brasil poderá ser o primeiro país relevante do mundo, em território e em população, a atingir a tão desejada imunidade de rebanho.” Na realidade, não há consenso sobre a imunidade de rebanho ser de fato “desejada” como estratégia para frear a pandemia tampouco em relação à sua eficácia. De acordo com Fernando Barros, professor da UFPel, ela ocorre “quando o vírus já não consegue mais circular em uma comunidade porque faltam pessoas suscetíveis” a ele. Segundo Barros, essa terminologia deriva de processos imunizadores que envolvem vacinações em massa. “A imunidade de rebanho se dá quando os níveis de imunização chegam em uma determinada proporção na população; por exemplo, em torno de 90% no caso do sarampo”, diz. “Diante disso, esses 10% das crianças que não estão vacinadas com frequência não se contaminam porque o vírus deixa de circular”, afirma. O médico e pesquisador acrescenta que “numa situação de vacina não há risco” com a imunidade de rebanho, porque as pessoas não vão desenvolver doença grave ou morrer por causa da vacina. No entanto, tentar atingir essa imunização na atual pandemia somente a partir da contaminação é perigoso e poderia provocar alta mortalidade, já que mesmo em populações jovens a doença pode ser grave em alguns casos. “É por isso que não se propõe imunidade de rebanho para a covid-19, porque para que a população tenha imunidade (por intermédio da infecção), vai morrer muita gente, e muita gente vai ficar com muita sequela. Na situação da vacina, não”, compara. “Na situação da covid-19, o risco é que, para se conseguir atingir níveis de imunização de rebanho, tanta gente vai ter de ficar infectada que vai haver muita mortalidade também”, afirma. Um estudo publicado em 19 de outubro no periódico científico Journal of the American Medical Association (JAMA), que discute diferentes níveis de imunidade para doenças infeciosas distintas, estimou que a imunidade de rebanho no caso do novo coronavírus, em um cenário sem vacina, surgiria com no mínimo 60% da população infectada. “Ninguém está recomendando que países ou regiões assumam esse tipo de conduta”, avalia. Barros também pontua que a Suécia, frequentemente apontada por defensores da estratégia como exemplo sobre o tema, não usou essa metodologia para frear o contágio de Sars-CoV-2. O próprio presidente Bolsonaro mencionou o país escandinavo em maio, quando disse que a “Suécia não fechou!”, conforme reportagem da Folha de São Paulo. De acordo com a matéria, “em vez de decretar o fechamento dos estabelecimentos, o governo sueco confiou na população para tomar os cuidados com a infecção e se impor os limites necessários para combater a disseminação do vírus.” “Eles não fizeram nunca uma política, como em outros países, de distanciamento social e lockdown. Mas, em determinado momento, fizeram medidas que eram de restrição, de distanciamento. Eles não deixaram todo mundo ficar no mesmo nível de contato para tentar conseguir uma imunidade de população. E a gente nota que eles têm uma mortalidade maior do que outros países da escandinávia”, afirma Barros. O epidemiologista argumenta também que não há exemplos de locais que tenham usado com sucesso a imunidade de rebanho. “A chance de ser eficiente nessa pandemia de coronavírus é muito pequena. Até agora, não se conhece locais que tenham atingido esse tipo de imunidade e que o vírus deixe de circular. Se vê que na Europa está voltando. Manaus, que é um lugar que tem alta prevalência da população com anticorpos, também tem casos novos. Então, não se conhece nenhum lugar onde isso tenha funcionado. Pelo menos, até agora”, pondera. O médico infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, também contesta o uso da chamada imunidade de rebanho como forma de tentar conter o avanço da covid-19. Um dos problemas dessa proposta está no fato de não se saber por quanto tempo a pessoa permanece imune após a infecção. Outra consequência grave seria o alto número de mortes. “A imunidade coletiva está tendo seu impacto, mas não é estratégia de controle da doença porque custa muitas mortes para grande parcela da população que adoece”, afirma. “Para a gente ter um controle natural da doença, precisaríamos que muitas pessoas morressem. Do ponto de vista ético, a sociedade precisa estar disposta a pagar esse preço com tantas vidas, e acho que a maioria das sociedades não está disposta”, afirmou. A alternativa a essa estratégia, conforme o pesquisador, é o chamado achatamento da curva, com medidas de prevenção como distanciamento social. Isso permite uma menor circulação viral, com menos casos, menos mortes e possibilidade de atendimento médico, enquanto a medicina evolui em direção a tratamentos e vacinas que possam evitar óbitos no futuro. Imunidade coletiva no Brasil A afirmação de Winston Ling, autor do conteúdo investigado aqui, de que o Brasil estaria próximo da imunidade de rebanho, é contestada pelo epidemiologista Fernando Barros. “Não dá pra dizer isso. Nem para o Brasil, nem para outros países. Essa pandemia é muito misteriosa, e sabemos muito pouco sobre esse vírus”, afirma. O tema ganhou destaque recentemente com o lançamento, em 8 de outubro, de um manifesto chamado “The Great Barrington Declaration and Petition”. Segundo o documento, supostamente assinado por cientistas e não cientistas, continuar com políticas de restrições rigorosas até que uma vacina esteja disponível poderia causar “danos irreparáveis, com os menos privilegiados sendo desproporcionalmente prejudicados”. Por isso, grupos com menos possibilidade de contaminação, como os jovens, deveriam retomar a vida normal. Em oposição a esse texto, um grupo de cientistas lançou o memorando John Snow (referência ao médico do século 19 considerado um dos fundadores da epidemiologia moderna). O material, entre outros argumentos, afirma: “A taxa de mortalidade por infecção covid-19 é várias vezes superior à da gripe sazonal e a infecção pode levar a doença persistente, inclusive em pessoas jovens previamente saudáveis (isto é, covid longo). Não é claro quanto tempo dura a imunidade protetora e, como outros coronavírus sazonais, o Sars-CoV-2 é capaz de reinfectar pessoas que já tiveram a doença, sendo a frequência de reinfecção desconhecida. A transmissão do vírus pode ser mitigada por meio do distanciamento físico, uso de máscaras, higiene das mãos, etiqueta respiratória e evitando aglomerações e espaços mal ventilados. Testes rápidos, rastreio de contatos e isolamento também são essenciais para controlar a transmissão. A Organização Mundial de Saúde tem defendido estas medidas desde o início da pandemia.” Casos de reinfecção têm sido noticiados, inclusive no Brasil, colocando em xeque a ideia de imunidade de rebanho. Minas Gerais, por exemplo, investiga seis casos de pessoas que podem ter sido contaminadas mais de uma vez. Em Ribeirão Preto, no interior de São Paulo, um caso foi confirmado pela Universidade de São Paulo (USP), segundo reportagem da CNN Brasil. Fora do país também há confirmações nos Estados Unidos, em Hong Kong e na Europa. Em setembro, no entanto, a OMS chegou a afirmar que os casos seriam “quase irrelevantes estatisticamente falando”, conforme matéria do portal UOL. Julio Croda, da Fiocruz e da UFMS, também questiona a alegação de que o Brasil estaria supostamente próximo de atingir a chamada imunidade de rebanho. Ele defende que não há dados que indiquem isso. Croda estima que seria necessário ter um caso a cada 100 mil habitantes, o que equivaleria a menos de 2 mil casos de média móvel, para atingir uma possível imunidade coletiva no Brasil. Em 21 de outubro, a média móvel de novos casos era de 22,7 mil, mais de 10 vezes maior do que essa marca. “A gente tem parte da imunidade de rebanho, mas não está atingindo o controle da covid-19 por essa imunidade. Ainda está muito longe, ainda tem um número bastante excessivo de óbitos e casos neste momento para a gente afirmar que, como Brasil, a gente está atingindo a imunidade de rebanho. É muito mais um comportamento sazonal”, afirma, ao explicar o número menor de casos no país nas últimas semanas, que aparecem nos gráficos exibidos na postagem investigada pelo Comprova. A diretora científica da Organização Mundial da Saúde (OMS), Soumya Swaminathan, também se pronunciou sobre o assunto. Ela afirmou que a imunidade de rebanho é perigosa, pois 1% da população mundial (77 milhões de pessoas) poderia morrer para que se alcançasse a imunização coletiva natural. Os gráficos Os gráficos exibidos na postagem aparecem, de fato, na página do Ministério da Saúde que reúne dados sobre covid-19 no país (prints abaixo). O primeiro mostra o número de casos novos da covid-19 conforme a semana epidemiológica da notificação. Os dados mostram 15 semanas consecutivas de aumento no número de casos novos notificados, entre a 13ª e 27ª semana, e um pico de casos novos alcançado na 30ª semana epidemiológica, no fim de julho. Na ocasião, o país registrou 319,6 mil casos da doença. Os dados também indicam que houve queda de novos casos nas últimas cinco semanas epidemiológicas. Nas últimas 13 semanas, somente em três houve aumento de novos casos. O segundo gráfico apresenta a evolução de mortes por covid-19 conforme a semana epidemiológica de notificação. O resultado dos óbitos segue padrão semelhante ao de casos confirmados, com crescimento durante 11 semanas, da 13ª até a 24ª semana epidemiológica, e pico de mortes também atingido na 30ª semana, com 7,6 mil óbitos notificados. O número de mortes também está em queda nas últimas cinco semanas consecutivas e, das últimas 12 semanas, apresentou alta de óbitos em apenas duas. Os prints abaixo já possuem dados da 43ª semana epidemiológica, que não aparecem no print usado na postagem verificada. É, aparentemente, nessa queda de casos e também de óbitos em que o autor se baseia para sugerir que o país estaria perto de “atingir a tão desejada imunidade de rebanho”. Como destacam os especialistas ouvidos pelo Comprova, a afirmação de Ling não tem qualquer base. Procurado pelo Comprova, o Ministério da Saúde não chegou a confirmar se o gráfico foi retirado do site e informou que “a queda no número de casos, mesmo em cenários onde está havendo liberação das medidas de isolamento social, pode sugerir a existência de um grupo de indivíduos imunes à doença, permitindo uma redução na transmissibilidade média na população. No entanto, não se pode afirmar, ainda, que há uma imunidade de rebanho. Cabe destacar que, como se trata de uma doença nova, ainda existem incertezas a respeito da imunidade ao SARS-CoV-2”. Quem é o autor do tuíte Winston Ling é empresário e investidor brasileiro, hoje morando em Hong Kong. Ele ganhou visibilidade por ter apresentado o ministro da Economia Paulo Guedes ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Em abril, posicionou-se publicamente contra a acusação do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) de que a China seria responsável pela pandemia. “A diplomacia foi inventada para evitar a guerra, por isso existe uma série de regras e etiqueta que devem ser seguidas pelos homens públicos, mas que não precisam ser seguidas por cidadãos comuns. O fato do Eduardo ser filho do presidente agravou a situação”, afirmou, ainda em abril, em matéria da Folha. Contrário à indicação do desembargador Kassio Marques ao Supremo Tribunal Federal (STF) feita por Bolsonaro, chegou a anunciar via Twitter seu desembarque do governo. Porém, voltou atrás em seguida. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova investiga conteúdos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia. Conteúdos equivocados em relação à covid-19, como o verificado aqui, são perigosos porque colocam a saúde da população em risco e podem custar vidas. Como demonstram especialistas abordados para esta verificação, a imunidade de rebanho sem uma vacina não é apoiada pela comunidade científica, tampouco tem eficiência comprovada — por não haver provas de sua eficácia e por não existir um local que tenha usado o recurso com sucesso. Além disso, não existem dados suficientes para afirmar que a queda de infecções e de mortes por coronavírus no Brasil seja consequência da imunidade de rebanho. O tuíte de Winston Ling teve mais de 1,9 mil interações (entre curtidas, comentários e replicações) até 22 de outubro. O Comprova já verificou outros conteúdos que podem colocar em risco a saúde da população. Entre eles, o que sugere que pode haver vacina somente quando boa parte da população já estiver sido contaminada (o que tem relação com imunidade coletiva); o que sugere que as vacinas em teste no Brasil não passaram por ensaios pré-clínicos e o que questiona eficiência das máscaras. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos, que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i1.wp.com/projet…=364%2C465&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/post-forca-comparacao-entre-vacinas-em-teste-e-a-cloroquina-que-nao-tem-eficiencia-comprovada-contra-a-covid-19/
COMPROVA
Post força comparação entre vacinas em teste e a cloroquina, que não tem eficiência comprovada contra a covid-19
null
2020-10-23
É falso que São Paulo tenha proibido a cloroquina e a hidroxicloroquina como afirmam postagens no Facebook e Twitter. As publicações fazem uma comparação forçada entre o medicamento, usado há muitos anos para tratamento de outras doenças mas que não tem eficiência comprovada contra o novo coronavírus, e as vacinas que estão em teste Conteúdo verificado: Publicações no Facebook e no Twitter criticam a defesa da vacina e a condenação da hidroxicloroquina no cenário da pandemia da covid-19, alegando que enquanto o medicamento é estudado e usado há décadas, a Coronavac tem caráter experimental. São falsas as informações veiculadas em postagens nas redes sociais que sugerem uma contradição entre defender a aplicação de uma vacina contra o novo coronavírus e condenar o uso da hidroxicloroquina em pacientes da pandemia. Para tal, a publicação alega que o medicamento “está em uso há mais de 70 anos” e que o imunizante “é experimental, com menos de 8 meses”. O uso do remédio não tem eficácia comprovada contra a covid-19, e a utilização dele, por décadas, é para o tratamentos de outras doenças, principalmente as autoimunes. Estudos recentes, aliás, indicaram que o uso da hidroxicloroquina em pacientes com o novo coronavírus pode aumentar o risco de efeitos colaterais. A informação de que o governador João Doria (PSDB), de São Paulo, proibiu o uso do medicamento também não procede. Quanto à vacina, nenhuma ainda foi aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), já que a o novo coronavírus foi descoberto há menos de um ano e elas ainda estão em desenvolvimento. Somente após esta etapa – realizada depois de inúmeros testes que atestem a segurança do imunizante – é que a população brasileira poderá tomá-la. Atualmente, quatro vacinas estão sendo testadas em voluntários no país. Por causa do texto e da montagem utilizada para ilustrar a publicação, que tem a bandeira da China ao fundo e Doria em primeiro plano, é possível concluir que o texto faz menção à CoronaVac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo. Semelhante a esse post também há outro que viralizou no Twitter, sugerindo que a cloroquina seria muito mais segura que a vacina. Isso porque a droga já é “testada, estudada e usada há mais de 50 anos”, enquanto a “vacina da China” existe há “6 meses, não finalizada”. O Comprova tentou contato com os autores de ambas as publicações, mas não obteve retorno até o fechamento desta verificação. Como verificamos? Para verificar as informações relativas à cloroquina e à hidroxicloroquina, procuramos saber quais são os protocolos e as recomendações atuais nos sites da Anvisa e da Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), braço da Organização Mundial da Saúde (OMS) na América do Sul. Por meio de pesquisas no Google, também chegamos a dois estudos sobre a eficácia dos medicamentos em pacientes com a covid-19: um realizado no Reino Unido e outro, no Brasil. também encontramos várias reportagens que tratam de episódios envolvendo os remédios, publicadas ao longo da pandemia. Para descobrir o histórico da aplicação de ambas as drogas, realizamos novas buscas, que nos levaram a um artigo publicado na National Center for Biotechnology Information (NCBI) e ao livro “Chemistry of Antibiotics and Related Drugs” (“Química dos antibióticos e medicamentos relacionados”, na tradução livre), de autoria do Mrinal K. Bhattacharjee. No que diz respeito à vacina – tanto ao processo regulatório, quanto aos atuais estágios de desenvolvimento – também procuramos informações no site oficial da Anvisa e consultamos matérias publicadas na imprensa nacional, além da página dedicada à Coronavac, disponível dentro do site do governo do estado de São Paulo. Para esclarecer o contexto da obrigatoriedade ou não da vacinação e o uso da cloroquina em território paulista, utilizamos mais uma vez as reportagens publicadas sobre o assunto. Como a mais recente delas ainda era do primeiro semestre, acionamos a Secretaria de Comunicação e a assessoria da Secretaria de Saúde do estado. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 23 de outubro de 2020. Verificação Cloroquina e covid-19 Segundo a OMS, “embora a hidroxicloroquina e a cloroquina sejam produtos licenciados para o tratamento de outras doenças – respectivamente, doenças autoimunes e malária –, não há evidência científica até o momento de que esses medicamentos sejam eficazes e seguros no tratamento da covid-19”. Ao contrário, a entidade lembra que “a maioria das pesquisas até agora sugere que não há benefício e já foram emitidos alertas sobre efeitos colaterais do medicamento”. No Brasil, a Anvisa “não recomenda o uso indiscriminado desse medicamento, sem a confirmação de que realmente funciona”. A agência também aumentou o controle sobre a venda da medicação, ao exigir que as farmácias retenham uma cópia da receita especial no momento da venda do produto. A cloroquina começou a ser comumente usada para tratar a malária a partir da década de 1940. Durante as epidemias de SARS e MERS, a cloroquina chegou a ser considerada como uma opção de droga mas, na época, não foram feitos testes para confirmar sua eficácia. Em março deste ano, médicos franceses passaram a defender o uso da cloroquina contra a covid-19 após testes iniciais que, depois, foram criticados e considerados anedóticos. Apesar da falta de comprovação científica, o tratamento foi encampado politicamente pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e, logo em seguida, pelo brasileiro Jair Bolsonaro (sem partido). No dia 25 de março, o Ministério da Saúde autorizou o uso da cloroquina para tratar pacientes com casos graves da covid-19. Favorável ao uso do medicamento, o presidente demitiu dois ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, e nomeou para o cargo o general Eduardo Pazuello, que autorizou o uso precoce da droga em pacientes com sintomas leves da doença, em 20 de maio. Pouco tempo depois, em 5 de junho, pesquisadores do Recovery, estudo clínico do Reino Unido para encontrar medicamentos contra a covid-19, disseram não haver benefício no uso da hidroxicloroquina. Os resultados foram reformados dez dias depois, quando a autoridade sanitária americana, a Food and Drug Administration (FDA), revogou a autorização emergencial para uso da cloroquina em pacientes com o novo coronavírus porque seus estudos mostraram ser improvável que ele fosse efetivo no tratamento. A FDA também disse que a medicação pode provocar “eventos adversos cardíacos graves e contínuos” e “outros efeitos colaterais sérios”. Depois, em 17 de junho, a OMS retirou a cloroquina do seu estudo clínico Solidariedade, também destinado a descobrir drogas contra a covid-19, por não ter sido capaz de identificar redução no número de óbitos entre os pacientes submetidos ao tratamento. Em julho, foi publicado o maior estudo brasileiro sobre a eficácia do uso da hidroxicloroquina em pacientes leves e moderados da covid-19. O estudo durou três meses e contou com 665 pessoas, em 55 hospitais. Entre os que lideravam a pesquisa estão os hospitais Albert Einstein, Sírio Libanês e Oswaldo Cruz. A conclusão é que o uso do medicamento, sozinho ou associado com azitromicina, não melhorou a evolução clínica dos pacientes. E ainda destacou dois efeitos adversos: a maior frequência de alterações em exames de eletrocardiograma e a maior recorrência de alterações em exames que mostram lesão hepática. Vacinas contra o novo coronavírus Atualmente, quatro vacinas estão sendo testadas no Brasil. Juntos, serão 33.720 voluntários; metade recebeu os imunizantes e a outra metade, placebo. Os compostos não estão disponíveis para toda a população, mas para voluntários previamente selecionados. As duas vacinas com mais voluntários, a da Sinovac e a da AstraZeneca em parceria com a Universidade de Oxford, recrutaram profissionais de saúde que estão atuando no cuidado de pacientes de covid-19 como voluntários. Para permitir a realização dos testes no Brasil, a Anvisa analisou quatro critérios: dados de segurança que o imunizante demonstrou nas etapas anteriores, de testes pré-clínicos (quando ele é aplicado em animais, ainda em laboratório, para atestar sua segurança) a robustez científica dos estudos, o que inclui a quantidade de voluntários, a faixa etária estudada, a abordagem estatística e os parâmetros que serão usados para determinar se a vacina é eficaz e segura. as condições técnicas e operacionais do local de fabricação dos compostos a experiência dos centros de pesquisa e as condições deles de monitorar a execução do estudo, garantindo que os dados sejam rastreáveis e confiáveis. As propostas de estudo e de registro das vacinas contra o novo coronavírus são analisadas por um comitê com dez especialistas rotativos, composto por farmacêuticos, médicos, biólogos e estatísticos. Eles precisam ter, pelo menos, dez anos de experiência na aprovação de protocolos de estudo ou registro de imunizantes. A Anvisa também pode interromper os estudos no Brasil a qualquer momento caso seja registrado algum evento adverso grave durante os testes. Caso os resultados dos testes indiquem que a vacina é eficaz contra o vírus, é preciso solicitar o registro à Anvisa, que, novamente, vai avaliar todos os documentos técnicos, incluindo os dados de segurança e eficácia e a qualidade do imunizante. Apenas com o registro da Anvisa é que o imunizante pode ser comercializado e disponibilizado no Brasil. No último dia 21, o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, afirmou que, até o momento, não houve o pedido de registro de nenhuma vacina contra a covid-19 no Brasil. Ele também afirmou que “não há nenhuma data predefinida para a conclusão de estudos ou para o fornecimento de registro a qualquer uma das quatro vacinas em análise neste momento na Agência”. Obrigatoriedade em São Paulo No dia 16 de outubro, Doria afirmou que a vacinação será obrigatória em todo o estado, com exceção de pessoas que apresentem alguma restrição indicada por um médico. A expectativa era que a vacinação começasse ainda em dezembro deste ano, no entanto já existe a possibilidade disso acontecer apenas em janeiro por causa do trâmite de aprovação da vacina e de compostos dela por parte da Anvisa. Três dias depois, a obrigatoriedade da vacina foi negada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido). A decisão sobre o processo de vacinação, no entanto, cabe ao Ministério da Saúde – que, por sua vez, protagonizou um atrito com o governo federal ao anunciar um compromisso de compra de 46 milhões de doses da CoronaVac. O Comprova já verificou que, apesar das falas do presidente, Jair Bolsonaro (sem partido) assinou uma lei em fevereiro deste ano que prevê a vacinação compulsória. Doria não proibiu cloroquina No site oficial do governo de São Paulo, a notícia mais recente sobre o uso da cloroquina é de abril deste ano. Ela esclarece que na época o estado tinha recebido cerca de 200 mil comprimidos da cloroquina, que já estavam à disposição para uso. No entanto, deixa claro que, por causa da falta de estudos que comprovem a eficácia do medicamento, o uso precisava ser autorizado pelo paciente. Na época Secretário estadual de saúde, José Henrique Germann afirmou que: “É feito através de um consentimento informado do paciente de que ele aceita as condições de risco que ele pode estar correndo, frente a essa prescrição. Esse termo é assinado pelo médico e pelo paciente, ou por um familiar”. Em maio, o membro do Centro de Contingência de São Paulo, Carlos Carvalho, afirmou que o uso da cloroquina estava sendo discutido desde março, mas que estudos demonstraram que a cloroquina e a hidroxicloroquina não faziam efeito contra a covid-19 e que poderiam até prejudicar a saúde de pacientes. No entanto, embora o comitê não tenha recomendado o uso, os médicos nunca foram proibidos de receitar o remédio. Ao UOL, ele explicou que “se um médico entender, acreditar em um estudo, explicar isso para a família, [falar sobre] os efeitos colaterais e entrarem em um acordo e quiserem usar, é totalmente permitido”. Em nota, o governo de São Paulo disse que, em nenhum momento, o uso da cloroquina ou da hidroxicloroquina foi proibido no Estado. “No entanto, em SP, os gestores de saúde deliberaram pela não recomendação do uso da cloroquina/hidroxicloroquina em casos leves, moderados ou graves de covid-19, devido à insuficiência de evidências sobre a eficácia”, explicou, por meio de nota. Embora seja apenas um remédio, a cloroquina acabou sendo politizada. Protagonizando em lados opostos, o governador de São Paulo, João Doria, declarou, algumas vezes, frases que iam na contramão do que era defendido pelo presidente Jair Bolsonaro. Em abril, por exemplo, ele afirmou que não iria recomendar o uso da cloroquina por meio de um decreto. No mês seguinte, ele disse que não haveria “distribuição indiscriminada” de cloroquina nos postos de saúde no Estado. Apesar dos posicionamentos, o medicamento nunca foi proibido. Publicações que traziam essa informação incorreta, aliás, já foram verificadas pela agência Lupa e classificadas como falsas. Vale ressaltar também que proibir ou permitir o uso de um medicamento no Brasil é atribuição exclusiva da Anvisa. Por que investigamos? Atualmente em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19 ou sobre as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. Quando a publicação trata de medidas de proteção contra o novo coronavírus, a verificação é ainda mais necessária, já que ela pode colocar a vida das pessoas em risco. Os conteúdos verificados aqui podem levar as pessoas a evitarem tomar uma vacina, quando disponível, ou a apostar em um medicamento sem comprovação científica. As publicações verificadas tiveram 27,6 mil interações no Twitter e 30,7 mil interações no Facebook. Desde o início da pandemia, o Comprova já mostrou que as vacinas não produzirão danos genéticos, nem terão microchips para rastrear a população. Também mostrou que todos os imunizantes em teste no Brasil foram testados em animais antes dos estudos clínicos em humanos e que a China não evita aplicar os compostos desenvolvidos no país em sua própria população. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/documento-nao-prova-fraude-nas-eleicoes-de-2018-e-nem-comprova-vitoria-de-bolsonaro-no-1o-turno/
COMPROVA
Documento não prova fraude nas eleições de 2018 e nem comprova vitória de Bolsonaro no 1º turno
null
2020-10-22
Denúncia de fraude nas eleições foi baseada em coleta equivocada de dados. É falso também que as urnas eletrônicas sejam produzidas na China, como afirma um vídeo no YouTube Conteúdos verificados: Postagem em um site apresenta suposta comprovação de que o primeiro turno das eleições presidenciais de 2018 teria sido fraudado, e que Jair Bolsonaro deveria ter sido eleito sem a necessidade de segundo turno. Um vídeo, publicado no YouTube, se baseia na mesma publicação para questionar o resultado das eleições e afirma que as urnas eletrônicas usadas no Brasil são produzidas por uma empresa chinesa. É falso que um documento prove que houve fraude na apuração dos votos do primeiro turno da eleição presidencial de 2018, ao contrário do que afirma uma postagem no site O Antiagonista, uma paródia do portal O Antagonista. O texto trata de uma denúncia, elaborada por um advogado e um engenheiro, enviada ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que provaria, por projeções matemáticas com base nos resultados parciais divulgados pela imprensa ao longo do dia 7 de outubro de 2018, que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) teria sido eleito no primeiro turno. A denúncia faz contas com os percentuais divulgados a partir das 19h da data mencionada no estado de São Paulo e conclui falsamente que Bolsonaro teve 50,59% dos votos – e não 46,03%, como indicou o resultado ao fim do dia. Uma análise feita pelo TSE em 2019 concluiu que houve um problema técnico na divulgação dos resultados parciais da apuração para a imprensa por causa do alto número de acessos e, por isso, a conta “é fruto de uma coleta de dados equivocada”. Na denúncia apresentada, os reclamantes usam como argumento apenas os dados parciais divulgados pela Rede Globo – e não a totalidade dos votos. As mesmas alegações foram feitas em um vídeo do canal Papo Conservador com Gustavo Gayer, que ainda afirma – também de forma equivocada – que as urnas eletrônicas usadas no Brasil são produzidas na China. Segundo o TSE, os equipamentos usados nas eleições de 2018, que também serão usados em 2020, foram fabricados pela empresa norte-americana Diebold Nixdorf, gigante do sistema bancário, com algumas peças feitas na China. A tecnologia usada para o funcionamento é exclusivamente brasileira e a finalização da montagem acontece só no Brasil. Em março, Bolsonaro havia prometido que teria provas sobre a vitória no primeiro turno. O Comprova entrou em contato com o Palácio do Planalto a fim de ter acesso a tais documentos, mas não obteve resposta até a publicação deste texto. Como verificamos? O primeiro passo foi procurar o TSE para saber se a denúncia era verdadeira. Por e-mail, o órgão confirmou que o documento havia sido recebido logo após o segundo turno das eleições de 2018 e já havia sido analisado pelo órgão. Também por e-mail, solicitamos os documentos que mostravam a análise feita pela Secretaria de Tecnologia de Informação do TSE e recebemos a análise inicial, divulgada em fevereiro de 2019, e o relatório final da Coordenadoria de Infraestrutura, divulgada em abril do mesmo ano. Por meio de pesquisas no Google, encontramos outras agências de checagem que já haviam feito apuração semelhante, tanto em 2019, quando a denúncia passou a circular, quanto neste ano. Por WhatsApp e por e-mail, conversamos com representantes de Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) e com o setor de tecnologia da Informação do TSE, que informaram a origem das urnas eletrônicas produzidas nas eleições passadas. Por e-mail e telefone, procuramos a assessoria do Planalto, questionando sobre as provas que o presidente Jair Bolsonaro afirma ter sobre a fraude no primeiro turno, mas não tivemos nenhum retorno. Verificação Pedido foi feito por eleitores em 2018 O caso divulgado pelo site verificado aqui realmente existe, embora não seja novidade. A denúncia sobre uma possível divergência de dados no pleito de 2018 foi protocolada pelo advogado Ricardo Freire Vasconcelos e pelo engenheiro Vicente Paulo de Lima no dia 26 de outubro de 2018. Após investigação, aberta em 2018, o TSE divulgou, em 15 de fevereiro de 2019, um documento de apuração inicial que indicava que a denúncia tinha “total improcedência”. “A divulgação da evolução dos resultados não tem qualquer impacto no resultado final, visto que o resultado final é definido pela situação imposta pelas urnas e materializada pelos boletins de urna. A evolução da divulgação dos resultados depende de fatores aleatórios, como questões operacionais, técnicas e geográficas”, afirma o documento. Empresa contratada para distribuição de conteúdo apresentou instabilidade no 1º turno Em análise final, divulgada no dia 26 de abril de 2019, a Coordenadoria de Infraestrutura de Tecnologia de Informação, área vinculada à Secretaria de TI do TSE, explica que a empresa contratada para fazer a divulgação da apuração do primeiro turno, chamada Singular, “não suportou o volume de acessos”. Isso fez com que, a partir das 17h daquele 7 de outubro, quando a divulgação dos resultados parciais foi liberada, o portal passasse a apresentar “instabilidades severas que impediam o correto acesso aos dados da Justiça Eleitoral”. O período de instabilidade é detalhado no documento, e foi maior entre as 18h e 21h – horário indicado pelo texto verificado como momento da suposta fraude. O documento do TSE destaca ainda que tanto a Rede Globo, citada no texto alvo desta verificação, como outras agências e veículos reclamaram com o TSE sobre a dificuldade no acesso aos dados, em especial por volta das 19h e nos estados de São Paulo e Minas Gerais, que são citados diretamente no documento enviado ao Tribunal. “É possı́vel observar que a Rede Globo registra às 18h43 que os dados referentes a São Paulo e Minas Gerais foram digitados manualmente. Devido a essa ocorrência, nem a Globo nem qualquer outra agência de notı́cias possuı́a dados com total coerência em tempo real”, afirma o documento do TSE. “Conclui-se que as divergências percentuais apontadas na [reclamação] inicial são fruto de uma coleta de dados equivocada, causada pela falha da empresa contratada pelo TSE para distribuição dos dados”, finaliza o texto. É possível checar o total de votos A teoria de alteração da contagem de votos no meio do processo de apuração, chamado pelos autores do texto e do vídeo de “não auditável”, não se sustenta. Isso porque o total de votos já é impresso e assinado digitalmente por cada urna eletrônica no momento em que a votação acaba. O resultado pode ser checado por qualquer cidadão. Funciona assim: ao final do perı́odo de votação, cada urna eletrônica apura os votos registrados nela e imprime os resultados em pelo menos cinco vias do boletim de urna. Estes boletins são distribuídos, no ato, para mesários, fiscais dos partidos, Ministério Público e qualquer cidadão que queira registrá-lo. Estes mesmos dados, com a totalização de votos de cada urna, são enviados digitalmente, criptografados, para os respectivos Tribunais Regionais Eleitorais e o TSE. Cada urna tem uma assinatura única para que seja possível uma checagem futura. Posteriormente, estes boletins são divulgados no portal do TSE para que qualquer cidadão ou interessado faça sua apuração e auditoria paralela. Por isso, explica o órgão, não seria possível fazer uma alteração – manual ou digital – dos resultados em meio à apuração dos votos. “Qualquer possível ou eventual fraude no procedimento de totalização seria facilmente detectável pela conferência do boletim de urna impresso com o boletim de urna divulgado pelo TSE”, afirma a Corte. “No entanto, não houve qualquer registro de divergência”, conclui o órgão. Urnas foram feitas por empresa dos EUA com peças da China e tecnologia brasileira No vídeo, o autor afirma, mais de uma vez, que as urnas eletrônicas usadas no Brasil são produzidas por uma empresa chinesa. Por e-mail, o TSE informou que as urnas utilizadas nas eleições de 2018 foram fabricadas pela Diebold Nixdorf, empresa norte-americana de capital aberto na bolsa de Nova York. A Procomp Indústria Eletrônica Ltda, que venceu a licitação e mantinha contrato com o TSE para fornecimento das urnas, faz parte da Diebold do Brasil. Segundo o TSE, alguns componentes da urna, como a placa-mãe, foram montados na China, por empresas que prestam serviços para a Diebold Nixdorf. No entanto, a produção das urnas é feita exclusivamente no Brasil com a presença de servidores do TSE que auditam tanto a qualidade quanto a segurança. Um dos requisitos mais importantes é que a carga dos firmwares (espécie de software residente nos chips) de segurança da placa-mãe sejam carregados somente no Brasil. O motivo do cuidado se dá porque os firmwares são responsáveis pela geração das chaves criptográficas de hardware. O TSE destacou ainda que a tecnologia é inteiramente brasileira. “A empresa fornecedora das urnas faz somente o equipamento e porções de software chamada drivers, responsáveis pela comunicação entre os dispositivos de hardware da urna e o sistema operacional. No TSE são desenvolvidos o sistema operacional, baseado em Linux e denominado UENUX, e os aplicativos de votação e auxiliares. A empresa tem acesso somente a uma porção do sistema operacional e não tem acesso a qualquer aplicativo de votação”, explicou a equipe de Tecnologia da Informação do tribunal. Nas eleições de 2020, serão usados dois modelos de urnas que também foram fabricados pela Diebold Nixdorf entre 2009 e 2015. Os modelos de 2006 e 2008 serão aposentados. A partir das eleições de 2022, as urnas serão produzidas no Brasil, pela Positivo. As urnas eletrônicas são seguras As urnas eletrônicas, ao contrário do que afirma o autor do vídeo, possuem diversos mecanismos que garantem a segurança e integridade do processo de votação. Além de criptografados, os dados são protegidos por assinatura digital e por resumo digital. Com isso, segundo o Tribunal Superior Eleitoral, “somente o software desenvolvido pelo TSE, gerado durante a Cerimônia de Lacração dos Sistemas Eleitorais, pode ser executado nas urnas eletrônicas devidamente certificadas pela Justiça Eleitoral”. A segurança do processo de votação também é garantida pela Cerimônia de Votação Paralela, que é realizada na véspera da eleição, em uma audiência pública. Na ocasião, urnas que já estavam instaladas no local de votação são sorteadas, levadas para o Tribunal Regional Eleitoral e substituídas por outros equipamentos, que receberão os votos no dia seguinte. No dia das eleições, então, o TSE explica, em seu site oficial, que as urnas são submetidas “à votação nas mesmas condições em que ocorreria na seção eleitoral, mas com o registro, em paralelo, dos votos depositados na urna eletrônica. Cada voto é registrado numa cédula de papel e, em seguida, replicado na urna eletrônica, tudo isso registrado em vídeo. Ao final do dia, no mesmo horário em que se encerra a votação, é feita a apuração das cédulas de papel e comparado o resultado com o boletim de urna.” O TSE destaca ainda que “os requisitos da urna eletrônica brasileira superam aqueles exigidos pelo Instituto Nacional de Tecnologia da Informação para dispositivos criptográficos (tokens) de assinatura digital da ICP-Brasil (Infraestrutura de Chaves Públicas Brasileira, responsável pelas cadeia de certificação digital brasileira que tem validade jurídica)”. Além disso, a urna eletrônica está subordinada a uma Autoridade Certificadora residente na Sala-Cofre do TSE. “Sem as assinaturas feitas na sala-cofre do TSE, não é possível rodar qualquer software diferente do oficial nas urnas eletrônicas”. O autor do vídeo ainda questiona a inconstitucionalidade declarada pelo STF sobre o “voto impresso”, sugerindo que a decisão estaria ligada a uma ameaça à democracia e à lisura do processo eleitoral. Como o Comprova já esclareceu em uma verificação de setembro, o que o Supremo Tribunal Federal considerou incompatível com o ordenamento constitucional foi a impressão de comprovantes de votação nos moldes da lei aprovada pelo Congresso em 2015, no âmbito da “Minirreforma Eleitoral”, por considerar que haveria risco ao sigilo do voto. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais tratando sobre políticas públicas do governo federal ou sobre a pandemia de covid-19. O vídeo publicado no canal “Papo Conservador com Gustavo Gayer” teve quase 109 mil visualizações até o dia 21 de outubro, e desinforma ao colocar em xeque o sistema eleitoral brasileiro ao afirmar que houve fraude nas urnas eletrônicas quando não há qualquer prova disso. Gustavo Gayer, o responsável pelo canal, que aparece no vídeo, é candidato à prefeitura de Goiânia (GO) pelo partido Democracia Cristã, e, mesmo assim, questiona o mecanismo de votação usado no país. O próprio presidente Jair Bolsonaro já estimulou essa desinformação ao afirmar, em março deste ano, que teria provas de que o pleito de 2018 teria sido fraudado -sem apresentar evidência alguma. Sete meses depois, o presidente ainda não mostrou qualquer prova ou indício das acusações feitas. A notícia falsa já havia sido checada e desmentida – pelo Estadão Verifica, UOL Confere, Agência Lupa, G1, Aos Fatos e Boatos.org. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i1.wp.com/projet…=601%2C297&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/todas-as-vacinas-em-teste-no-brasil-passaram-por-fase-pre-clinica-ao-contrario-do-que-diz-medico/
COMPROVA
Todas as vacinas em teste no Brasil passaram por fase pré-clínica, ao contrário do que diz médico
null
2020-10-21
Todos os compostos que estão em testes no Brasil passaram pelo estágio pré-clínico, etapa na qual o imunizante é aplicado em animais, ainda em laboratório, para saber se ele é seguro para ser testado em humanos Conteúdo verificado: Trecho de entrevista para a jornalista Leda Nagle em que o médico Anthony Wong afirma que “nenhuma vacina de coronavírus passou pela fase pré-clínica”. É falsa a afirmação feita em vídeo pelo médico Anthony Wong segundo a qual “nenhuma vacina contra o novo coronavírus passou pela fase pré-clínica” de testes. Na verdade, todos os compostos que estão em testes no Brasil passaram por essa etapa. O estágio pré-clínico é aquele em que o imunizante é aplicado em animais, ainda em laboratório, para saber se ele é seguro para ser testado em humanos. Como a covid-19 é uma pandemia com mais de 40,9 milhões de infectados e 1,1 milhão de mortes em todo o mundo, segundo dados da Universidade Johns Hopkins, o processo de desenvolvimento das vacinas teve que ser acelerado, como informou a Organização Mundial da Saúde (OMS). “Todas as vacinas passaram por testes em animais”, afirma Jorge Venâncio, coordenador da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), um dos órgãos responsáveis por autorizar pesquisas dos imunizantes no país. A Coronavac, da farmacêutica chinesa Sinovac, foi a primeira a se mostrar eficaz contra o vírus SARS-CoV-2 em um macaco, segundo publicou a revista Science em abril. O imunizante da empresa belga Janssen-Cilag foi aplicado primeiro em hamsters e macacos antes de ser testado em humanos. Os compostos da AstraZeneca (em conjunto com a Universidade de Oxford) e da BioNTech e Pfizer também foram testados em animais em seus estágios pré-clínicos. Como verificamos? O primeiro passo foi procurar no YouTube o vídeo cujos trechos são reproduzidos no Twitter para saber em que contexto as falas foram proferidas. Isso foi possível já que a marca d’água indica que o vídeo é do canal Leda Nagle. A partir daí, nós procuramos o registro do médico Anthony Wong nos sites do Conselho Federal de Medicina e do Conselho Regional de Medicina de São Paulo. Como ele não autorizou a divulgação dos contatos através de nenhuma das entidades de classe, nós tentamos ouvi-lo por meio da assessoria de imprensa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP), onde ele trabalha. Também tentamos contactá-lo através do perfil no Instagram, mas ele não respondeu até a publicação desta verificação. Paralelamente, consultamos informações sobre o desenvolvimentos de vacinas contra a covid-19 no banco de dados elaborado pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e procuramos por matérias sobre as fases pré-clínicas das quatro vacinas que estão sendo testadas no Brasil. Para uma delas, a da AstraZeneca, nós também entramos em contato, por e-mail, com a farmacêutica fabricante. Além disso, conversamos por telefone com Jorge Venâncio, coordenador da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, órgão do Conselho Nacional de Saúde (CNS), que, como a Anvisa, autoriza pesquisas de vacinas no país. Por fim, entrevistamos Daniel Mansur, professor de Imunologia da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e membro do Comitê Científico da Sociedade Brasileira de Imunologia; e Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 21 de outubro de 2020. Verificação Vacinas contra a covid-19 Segundo levantamento da OMS, há 198 vacinas contra a covid-19 em desenvolvimento no mundo. Dessas, 154 ainda estão em fase pré-clínica e 44 já avançaram para alguma das fases de estudos clínicos, quando a segurança e a eficácia dos imunizantes passam a ser testadas em seres humanos. Os imunizantes que já estão em testes em humanos usam técnicas diferentes para provocar a resposta imune: o vírus inativado, trechos de RNA, adenovírus não replicantes ou proteínas que podem servir de portadores do material genético do novo coronavírus para que o corpo o reconheça e aprenda a combatê-lo antes de ser infectado. No documento da OMS também é possível saber como serão realizados os testes clínicos para determinar a eficácia das vacinas, em que países elas serão aplicadas e quantas pessoas receberão as doses. Da mesma forma, é possível saber como foram as fases 1 e 2 de testes dos imunizantes, como os da Sinovac e da AstraZeneca, ambos com parceria para distribuição no Brasil pelo governo federal ou o estado de São Paulo. O desenvolvimento das vacinas para a covid-19 tem como base estudos e pesquisas sobre a Sars e a Mers, duas doenças provocadas por outros tipos de coronavírus, que já estavam com estudos em andamento. Segundo o diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), Renato Kfouri, “existem quatro diferentes tecnologias para o desenvolvimento da vacina: vacinas que usam vírus inativado, vacinas que são fragmentos do vírus, vacinas genéticas e vacinas que usam outro vírus como vetor.” Vacinas em teste no Brasil Das 44 vacinas que estão em ensaios clínicos no mundo, quatro estão sendo desenvolvidas em parceria com o Brasil. Todas elas passaram por estágios de testes pré-clínicos. A CoronaVac, criada pela empresa chinesa Sinovac e produzida em conjunto com o Instituto Butantan, de São Paulo, está na fase final de testes em humanos, mas também passou por ensaios em animais, como afirma texto da Agência Brasil. Ela, inclusive, foi a primeira a se mostrar eficaz contra o novo coronavírus em um animal, conforme publicação da revista Science, uma das principais publicações de divulgação científica. Em abril, o veículo divulgou que a vacina protegeu um macaco da infecção. Outro imunizante que está sendo desenvolvido com a participação do Brasil é a vacina de Oxford, da empresa biofarmacêutica anglo-sueca AstraZeneca em parceria com a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Em junho, a Fiocruz anunciou que “os estudos agora avançam para a fase pré-clínica, na qual aspectos de segurança são avaliados em modelo animal”. Por e-mail, a AstraZeneca confirmou que o desenvolvimento da vacina segue “investigações pré-clínicas em vários modelos com animais”. Em comunicado publicado em seu site em julho, a Anvisa afirmou que, para autorizar os ensaios do imunizante das farmacêuticas BioNTech e Pfizer, vacina que também está sendo testada por aqui, “analisou os dados das etapas anteriores de desenvolvimento dos produtos, incluindo estudos não clínicos in vitro e em animais, bem como dados preliminares de estudos clínicos em andamento”. A informação sobre o uso de animais também está no site da Pfizer. Como as outras, a vacina da farmacêutica belga Janssen-Cilag, que faz parte do grupo Johnson & Johnson e está em testes no Brasil – com o apoio do Instituto Butantan –, também utilizou testes em animais antes de disponibilizá-las para os voluntários – por aqui, são 7 mil pessoas. Os pesquisadores tiveram bons resultados após imunizarem hamsters e macacos. As informações foram confirmadas por Jorge Venâncio, coordenador da Conep que afirmou ao Comprova que “todas as vacinas tiveram fase pré-clínica com animais”. Etapas da vacina As vacinas passam por uma série de etapas para garantir que são eficazes e seguras para os humanos antes de chegar à população. De acordo com Daniel Mansur, professor de Imunologia da Universidade Federal de Santa Catarina e integrante do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia, a primeira etapa é descobrir qual parte do vírus é o melhor alvo para a vacina, o que aconteceu ainda em janeiro, quando cientistas identificaram qual o receptor de entrada do vírus na célula e qual era a proteína do vírus que se ligava nesse receptor. “A partir daí, sabemos que se conseguirmos bloquear essa proteína, impedimos que o vírus entre na célula. Esse é o objetivo de todas as vacinas em desenvolvimento hoje”, afirma. A partir da descoberta desse alvo, os pesquisadores começam a pensar qual é a melhor estratégia para entregar o antígeno (molécula capaz de despertar a resposta imune) no corpo. “Então, você começa a fazer ensaios pré-clínicos em animais. Obrigatoriamente, tem que ser dois animais. O primeiro é um roedor, normalmente um camundongo. Se a vacina tiver eficácia nesse roedor, ela é testada em um primata não humano, um macaco. Em ambos os animais, o que se está verificando é, entre outros pontos, se ela causa efeitos colaterais graves e a sua eficácia”, explica o professor. Se a vacina não gerar efeitos colaterais nesses animais, os pesquisadores dão início à fase 1 de testes em humanos, com grupos com menos de 100 pessoas. Entre os objetivos desta etapa está avaliar se existem efeitos colaterais. Se a fase 1 funcionar, a vacina entra na segunda etapa, quando o número de testados é expandido para centenas. Nesse estágio, os pesquisadores buscam entender se pessoas de diferentes etnias, gêneros e nacionalidades têm reações diferentes ao antígeno. Isso porque a humanidade é diversa e uma vacina precisa ser eficiente nos diferentes grupos. Se essa fase também tiver resultados positivos, os pesquisadores avançam para a terceira, em que milhares de pessoas são vacinadas. Esse último estágio é decisivo para comprovar a eficiência das vacinas e a inexistência de efeitos colaterais graves. Por fim, mesmo com todas essas etapas e com os resultados publicados para serem avaliados por outros cientistas, a vacina só pode ser administrada para a população se for autorizada pela autoridade sanitária competente de cada país – Anvisa, no Brasil. Entidades internacionais como a OMS podem, no máximo, ajudar com a logística de campanhas de vacinação. Mas o governo do país é soberano para aprovar a vacina ou não. Quem é Anthony Wong Anthony Wong é médico, registrado no Conselho Regional de Medicina de São Paulo desde agosto de 1973. Ele não possui nenhuma especialidade registrada junto à entidade de classe. Segundo o currículo acadêmico na plataforma Lattes, mantida pelo CNPq, ele se formou em Medicina pela USP em 1972 e fez doutorado em Pediatria pela mesma instituição entre 1994 e 2000. Atualmente, é médico do Instituto da Criança do Hospital das Clínicas. Como o médico não autorizou a divulgação dos seus contatos pelo Conselho de Medicina, o Comprova procurou Wong por meio da assessoria de imprensa do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). A unidade de saúde respondeu, por email, que as opiniões de Anthony Wong “não representam a posição institucional do hospital”. Por telefone, a assessoria de imprensa da unidade de saúde também disse não estar autorizada a passar o contato do médico. O Comprova, então, enviou mensagem para Wong por seu perfil no Instagram, mas também não teve retorno. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova investiga conteúdos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia. Conteúdos que trazem desinformação relacionada à covid-19, como o verificado aqui, são ainda mais perigosos pois colocam a saúde da população em risco e podem custar vidas. Uma vacina é a forma mais eficiente de imunizar a população e esforços estão sendo feitos em todo planeta para chegar a essa solução. Mais do que gerar medo e desconfiança, o tuíte com o vídeo coloca a saúde da população em risco ao fazer a população se questionar sobre se devem ou não se imunizar. A edição com trechos da fala de Wong foi assistida 6,3 mil vezes no Twitter. O vídeo original da entrevista, no YouTube, teve 46 mil visualizações. Conteúdos falsos ou enganosos sobre as vacinas contra o novo coronavírus têm sido comuns desde o início da pandemia. Recentemente, o Comprova mostrou que um político usava dados imprecisos para sugerir que apenas parte da população de São Paulo deveria ser vacinada; que as vacinas não produzirão danos genéticos; que os imunizantes não terão microchips para rastrear a população; e que a China não evita aplicar as vacinas desenvolvidas por farmacêuticas chinesas. Em junho, o Aos Fatos verificou um post que afirmava o contrário: que a CoronaVac havia sido testadas apenas em macacos. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições de modo a mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/tuite-engana-ao-sugerir-que-vacina-contra-a-covid-19-e-desnecessaria/
COMPROVA
Tuíte engana ao sugerir que vacina contra a covid-19 é desnecessária
null
2020-10-21
Pesquisas indicam que parcelas pequenas da população foram infectadas pelo novo coronavírus. Assim, se uma vacina surgir e for eficaz, ela pode servir para proteger grandes contingentes da população Conteúdo verificado: Postagem no Twitter afirma que quando a vacina contra covid-19 for desenvolvida, “a maior parte das pessoas já terá contraído a doença” e a imunização não será mais necessária. É enganoso um tuíte do perfil intitulado “Médicos pela Liberdade” afirmando que quando a vacina contra a covid-19 for desenvolvida “a maior parte das pessoas já terá contraído a doença” e, por isso, ela não será mais necessária. Embora ainda não seja possível apontar quando a imunização estará disponível e qual será sua eficácia, dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, na maioria dos países, menos de 10% da população foi infectada pelo novo coronavírus até o momento. Isso significa que as pesquisas com a vacina são importantes pois, se tiverem resultado positivo, podem ajudar a imunizar grandes contingentes da população. No Brasil, a mais recente fase da pesquisa Epicovid-19 BR, da Universidade Federal de Pelotas (UFPel), apontou prevalência de 1,4% de infectados na população, em um retrato de desaceleração da pandemia ao final de agosto.Mesmo em Manaus, onde uma pesquisa coordenada pelo Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (IMTSP) e pela Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) indicou que 66% da população na cidade pode ter sido infectada desde o início da pandemia, a vacina continuará sendo importante, segundo a coordenadora da pesquisa, a imunologista e pesquisadora Ester Sabino, que foi ouvida pelo Comprova. Isso porque a capital amazonense ainda teria 33% da população suscetível ao Sars-CoV-2, e também porque não se sabe quanto tempo dura a imunidade de pessoas que já contraíram a doença. Outro trecho da postagem afirma que se a doença não conferir imunidade, a vacina provavelmente também não irá garantir. Flávio Guimarães da Fonseca, virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas (CT Vacinas) e pesquisador do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explicou em entrevista ao Comprova que a resposta imune induzida pela vacina é diferente da provocada pela própria infecção, principalmente em relação à eficácia e à longevidade. Ele ressaltou que a ciência ainda busca respostas sobre a atuação do novo coronavírus no sistema imunológico, mas que há uma “chance muito grande” de que o efeito da vacina seja melhor do que a imunização causada pela doença. O Comprova fez contato com o perfil “Médicos pela liberdade” por mensagem no Twitter. O canal respondeu questionando a legitimidade do trabalho de agências de checagem e se recusou a repassar quais seriam as fontes das informações sustentadas na postagem verificada. Como verificamos? Iniciamos a verificação do conteúdo consultando publicações do perfil “Médicos pela Liberdade” no Twitter e um vídeo de apresentação do grupo em um canal do YouTube, além de pesquisas no Google de conteúdos divulgados pela conta. Recorremos ao cadastro de inscrições do Conselho Regional de Medicina de São Paulo (Cremesp) e do Conselho Federal de Medicina (CFM) para confirmar a inscrição do médico Carlos Henrique Oliva, que no vídeo de apresentação se identifica como integrante do grupo. Também enviamos mensagem privada no Twitter para o perfil. Para checar a procedência das afirmações feitas na postagem, buscamos, por meio de consulta ao Google, dados e pesquisas que apontassem a soroprevalência de pacientes infectados por covid-19 no Brasil e no mundo. Chegamos a uma estimativa da Organização Mundial da Saúde (OMS) presente em um discurso do diretor-geral Tedros Adhanom do último dia 12 de outubro, que indicava a média de menos de 10% da população na maioria dos países. Consultamos também outras pesquisas, como a Epicovid-19 BR, da Universidade Federal de Pelotas, o inquérito sorológico feito pela prefeitura de São Paulo e a pesquisa coordenada pelo Instituto de Medicina Tropical de São Paulo (IMTSP) e pela Faculdade de Medicina da USP. Entrevistamos por e-mail a pesquisadora responsável pelo estudo do IMTSP e FMUSP. Também entrevistamos o virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas e pesquisador do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais, Flávio Guimarães da Fonseca, sobre a relação entre a imunidade causada pela doença e a que deve ser gerada pela vacina, e o médico infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS). O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 20 de outubro de 2020. Verificação Maioria das pessoas terá contraído covid-19 quando houver vacina? O tuíte verificado afirma que “quando ela (a vacina) for desenvolvida, a maior parte das pessoas já terá contraído a doença e não precisaremos mais dela”. No entanto, dados e fontes consultados pelo Comprova apontam que a maior parte dos países ainda está longe de ter a maioria da população infectada pelo vírus. Ainda não é possível indicar quando a vacina estará disponível para a população. Sobre a segunda parte da afirmação verificada, que sustenta que a maior parte das pessoas já terá contraído a doença quando a imunização estiver desenvolvida, dados apontam que isso ainda está distante de ocorrer na maioria dos locais. Em discurso feito à imprensa no último dia 12 de outubro, o diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, Tedros Adhanom, afirmou que “pesquisas de soroprevalência sugerem que na maioria dos países, menos de 10% da população foi infectada pelo vírus da covid-19.” No mesmo comunicado, o diretor-geral da OMS destacou também que a maioria dos infectados desenvolve imunidade nas primeiras semanas, mas que “não sabemos quão forte ou duradoura é esta resposta imunológica, ou como ela age em pessoas diferentes”. Adhanom lembrou ainda que já houve registros de reinfecção pela covid-19. No Brasil, um dos estudos de maior abrangência, que buscou medir a prevalência de pessoas já infectadas no país foi a pesquisa Epicovid-19 BR, da Universidade Federal de Pelotas. Na terceira fase da pesquisa, em junho, a média entre as cidades pesquisadas apontava prevalência de 3,8% de população já infectada no país e, na quarta fase, no fim de agosto, de 1,4%. Nas regiões, o percentual de infecção variou de 0,5% (Sul, Centro-Oeste e Sudeste) a 2,4% (Norte). Nesta quarta fase, as cidades com o maior percentual de pessoas que haviam sido infectadas foram Juazeiro do Norte, com 8%, e Sobral, 7,2%, ambas no Ceará, conforme divulgado em setembro no site da UFPel. No entanto, o estudo identificou que os anticorpos detectáveis pelos testes duram apenas algumas semanas. Com isso, pessoas que foram infectadas há mais tempo passaram a ter resultados negativos nas últimas pesquisas. Isso faz com que o dado não represente o total de brasileiros que já tiveram contato com o vírus desde o início da pandemia, mas aponte o percentual de pessoas infectadas recentemente – o que mostrou uma desaceleração da pandemia na maior parte do país, segundo esta última fase da pesquisa. O estudo alerta que o fato de os anticorpos caírem ao longo do tempo não significa que as pessoas deixam de estar protegidas porque “os organismos guardam memória imunológica para produzir anticorpos rapidamente em caso de uma nova infecção”. O tempo de duração da imunidade em pacientes já infectados ainda é alvo de estudos científicos. Uma pesquisa coordenada pelo Instituto de Medicina Tropical de São Paulo e pela Faculdade de Medicina da USP, divulgada em setembro, estimou que Manaus já poderia ter atingido 66% da população infectada pelo coronavírus e São Paulo, 22,4%. A pesquisa se baseou em anticorpos da covid-19 presentes em doadores de sangue e também está analisando a prevalência de infectados no Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Curitiba. Mesmo nesses locais com maior incidência de pessoas já infectadas, como Manaus, a vacina continua sendo fundamental, conforme informou a imunologista e pesquisadora Ester Sabino, que coordenou a pesquisa do IMTSP e FMUSP, em resposta por e-mail ao Comprova. A informação da especialista desmente a afirmação da postagem verificada, de que a vacina não seria mais necessária quando a maioria das pessoas estiver infectada. “Mesmo para Manaus 33% das pessoas ainda são sensíveis ao vírus e podem contrair a doença. Também não sabemos quanto tempo dura a imunidade das pessoas que se infectaram, portanto há uma necessidade muito grande de vacinas”, afirmou. O médico infectologista Julio Croda, pesquisador da Fiocruz e professor da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, reforça que o tempo de duração da imunidade de quem é infectado ainda é desconhecido. “A vacina, mais do que ser uma ferramenta de controle imediato da doença, é um controle a longo prazo, porque a gente não sabe por quanto tempo após uma infecção a pessoa fica imune. As inverdades da afirmação (verificada): lógico que existe um impacto da imunidade individual que gera essa imunidade coletiva ou de rebanho, isso contribuiu para o controle da doença porque você tem menos pessoas suscetíveis, mas você não zera o risco de pessoas mais vulneráveis adquirirem a doença e virem a óbito”, aponta. O professor afirma que a mortalidade da covid-19 é de 10 a 15 vezes maior do que a da influenza, que possui política de vacina anual no país. “Se a gente seguir a lógica da influenza, a gente vai precisar de vacina (contra a covid-19)”, compara. Imunidade da vacina é diferente da causada pela infecção Outro trecho da publicação sugere que a vacina poderia não funcionar ao fazer uma relação com a proteção obtida por quem já pega a doença: “E se a doença não conferir imunidade? A vacina provavelmente também não”. No entanto, especialistas explicam que há diferenças entre esses dois tipos de imunização. Apesar de ainda haver dúvidas sobre a imunidade trazida pela doença, a resposta imune induzida pela vacina é diferente da que é conferida pela própria infecção, sobretudo em relação à eficácia e à longevidade. Enquanto um vírus — como o Sars-CoV-2 — dispõe de várias proteínas que enganam o sistema imunológico do organismo, a vacina não carrega esse componente. Qualquer imunizante possui elementos do vírus, mas este costuma ser usado na forma desativada. Assim, é incapaz de confundir o organismo. “Na vacina, tudo que temos são antígenos e componentes que induzem uma maior resposta imune”, explica Flávio Guimarães da Fonseca, virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas e pesquisador do Departamento de Microbiologia da Universidade Federal de Minas Gerais. O especialista reforça que a situação é incerta, já que a ciência ainda busca respostas sobre a atuação do vírus contra o sistema imunológico. Fonseca considera, porém, que a chance de a vacina representar um avanço na prevenção ao novo coronavírus é bastante alta. “Dá para garantir, com 100% de certeza, que as vacinas terão uma resposta imune diferente da que é gerada pela doença. Não dá para garantir que essa resposta será melhor, mas existe uma chance muito grande”, afirma. Julio Croda, da Fiocruz e UFMS, acrescenta que a imunização da vacina também dura um tempo específico, e, ainda, não está associada a um custo, que seriam os óbitos causados quando um grande número de pessoas precisa se infectar para garantir a chamada imunidade coletiva. “A magnitude de qualquer vacina que tenha pelo menos uma eficácia igual à da influenza, de 70%, e que você possa vacinar todo ano, tem um impacto enorme”, aponta. Quem são os “Médicos pela liberdade”? O perfil “Médicos pela liberdade” se define na descrição do Twitter como “grupo em prol das liberdades individuais e contra o totalitarismo disfarçado de ciência”. Em um vídeo de agosto deste ano, publicado no canal do Youtube, o médico psiquiatra Carlos Henrique Oliva diz que faz parte do grupo, criado por “quatro ou cinco médicos” que se revezavam em publicações no Twitter, e que um grupo de Whatsapp foi criado e teria “de 150 a 200 participantes”. Afirma também que alguns integrantes não se manifestariam por receio de represálias. No vídeo, ele chama o novo coronavírus de “vírus chinês”, termo popularizado pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, e faz críticas à mídia e a “alguns governadores” que, segundo ele, não estariam “respeitando a divergência”. Carlos Henrique Oliva aparece como médico com inscrição principal no Conselho Regional de Medicina de São Paulo e secundária no Conselho Regional de Medicina do Paraná, ambas ativas. Nesses cadastros, não há menção a especialidades do profissional. O perfil também já fez publicações criticando o uso de máscaras e o isolamento social – que são outras medidas defendidas por especialistas e autoridades da área da saúde para prevenir a transmissão da Covid-19. Além de criticar a vacinação obrigatória, a página já saiu em defesa do ideólogo Olavo de Carvalho, que foi considerado o “guru intelectual” do governo Bolsonaro e chegou a afirmar que “a pandemia do novo coronavírus não existe”. Por que investigamos? Nesta terceira fase, o Comprova verifica conteúdos relacionados a políticas públicas do governo federal e à pandemia do novo coronavírus. Conteúdos que questionam a necessidade de uma vacina e defendem o controle da covid-19 apenas por meio de uma imunidade coletiva, adquirida via infecções causadas pelo vírus, podem incentivar um comportamento que descumpra as normas sanitárias como distanciamento social e uso de máscara, até agora as principais medidas para controlar a disseminação da doença, segundo os estudos científicos. A postagem do “Médicos pela Liberdade” no Twitter teve 2,1 mil curtidas e 522 retuítes até as 16h do dia 19 de outubro de 2020. O Comprova já verificou conteúdos falsos e enganosos que questionavam a necessidade de vacinação contra covid-19 para pessoas com menos de 35 anos, insinuavam que a China não iria utilizar a própria vacina, alegavam que as vacinas poderiam causar danos genéticos e monitorar a população e diziam que um projeto de lei previa a prisão da população que não tomar vacina contra covid-19. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos, que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C377&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/medico-tira-de-contexto-dados-de-estudo-para-sugerir-que-mascaras-sao-ineficientes/
COMPROVA
Médico tira de contexto dados de estudo para sugerir que máscaras são ineficientes
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2020-10-19
O estudo de onde foram extraídos os dados reproduzidos no tuíte de um médico não prova que as máscaras são ineficientes. Pelo contrário, mostra que pessoas que frequentam bares e restaurantes estão mais propensas ao contágio porque não podem consumir alimentos e bebidas usando máscaras Conteúdo verificado: Post no Twitter cita dados sobre uso de máscara por pacientes com sintomas de covid-19 nos Estados Unidos para insinuar que a proteção é ineficaz É enganoso o tuíte que insinua que o uso de máscara é ineficaz contra o novo coronavírus com base em dados de 154 pacientes que testaram positivo para o novo coronavírus nos Estados Unidos coletados no mês de julho deste ano. O tuíte compartilha parte de uma tabela publicada em um artigo do Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e destaca os dados sobre o uso de máscara: 85% dos novos casos eram pacientes que usavam a máscara sempre ou com frequência nos 14 dias que antecederam o início da doença, 7% usavam eventualmente e 8% usavam raramente ou nunca. O tuíte, contudo, omite a informação de que a tabela foi publicada em um estudo que afirma que a exposição da comunidade e o contato próximo entre as pessoas contribui para a disseminação de covid-19. O artigo leva em conta o processo de reabertura em bares e restaurantes e conclui que os pacientes infectados tinham, aproximadamente, duas vezes mais chances de frequentar estes locais, onde é mais difícil manter o uso de máscaras e outros tipos de cobertura facial. Ou seja, quando as pessoas tiram a máscara, aumenta o risco de contaminação. O autor do post não respondeu às tentativas de contato do Comprova até o fechamento desta verificação. Como verificamos? Primeiramente, buscamos o artigo original que contém a tabela compartilhada pelo usuário do Twitter @AlessandroLoio2. Na rede social ele não cita sua formação, mas a imagem de capa do perfil mostra a ‘orelha’ de um livro de sua autoria em que ele afirma ser médico, formado em 1996 pela Escola de Medicina da Santa Casa, no Espírito Santo, e ex-coordenador da Secretaria Especial da Cultura do governo federal. Em seguida, buscamos por registros com o nome de Alessandro Loiola no Conselho Regional de Medicina do Espírito Santo e por menções a seu cargo como coordenador na Secretaria Especial de Cultura. Procuramos ainda os responsáveis pela publicação do artigo onde consta a tabela publicada no Twitter, o autor do tuíte, além dos médicos infectologistas Edimilson Migowski, que é professor de Doenças Infecciosas da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e Alberto Chebabo, diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho/UFRJ. Até o fechamento desta verificação, os responsáveis pelo artigo não tinham respondido aos e-mails enviados pelo Comprova. Procurado através de seu e-mail pessoal e de outro contato usado em seu portal, Alessandro Loiola também não retornou. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 19 de outubro de 2020. Verificação Os dados são reais? As informações do tuíte são verdadeiras, mas foram tiradas de contexto para levar a uma conclusão enganosa. Os dados constam em uma tabela que faz parte de um artigo publicado no dia 11 de setembro no site do CDC. A publicação original, no entanto, não faz menção a uma eventual ineficácia do uso de máscaras. Pelo contrário: os pesquisadores mostraram que, entre as pessoas que relataram exposições semelhantes durante os 14 dias antes do início da doença, aquelas que testaram positivo tinham aproximadamente duas vezes mais chances de terem frequentado bares ou restaurantes neste período. O problema é que, nestes lugares, apontam os pesquisadores, não se pode usar máscaras com eficácia durante refeições e ingestão de bebidas. “Relatos de exposições em restaurantes foram relacionados à circulação de ar. A direção, a ventilação e a intensidade do fluxo de ar podem afetar a transmissão do vírus, mesmo se medidas de distanciamento social e uso de máscara forem implementados de acordo com as orientações atuais. As máscaras não podem ser usadas com eficácia durante as refeições e bebidas, ao passo que fazer compras e muitas outras atividades internas não impedem o uso da máscara”, diz um trecho do artigo assinado por 24 pesquisadores, incluindo Kiva Fisher, da Escola de Saúde Pública de New Orleans e membro da Equipe de Resposta CDC Covid-19. Ida a restaurantes, bares e cafés Os pesquisadores ouviram 314 pacientes adultos com mais de 18 anos atendidos em 11 unidades de saúde ambulatoriais dos Estados Unidos no mês de julho. Do total, 154 testaram positivo para a covid-19. Os números destacados pelo tuíte aparecem na continuação de uma tabela que mostra as características desses pacientes. Sobre o uso de máscaras, eles relataram o seguinte: 70,6% disseram ter usado máscara sempre nos 14 dias que antecederam o início da doença; 14,4% afirmaram que usaram frequentemente; 7,2% usaram algumas vezes; 3,9% usaram raramente e outros 3,9% disseram não ter usado. O que o tuíte não mostra é que, destes mesmos 154 pacientes que testaram positivo, 40,9% disseram ter ido a restaurantes neste mesmo intervalo de 14 dias e 8,5% afirmaram ter ido a bares ou cafés. É um percentual maior do que os outros 160 pacientes entrevistados e que testaram negativo. Entre eles, 27,7% foram a restaurantes e 5% a bares e cafés. Esses dados significam que o uso de máscaras é inútil? A conclusão do artigo aponta que a frequência em locais onde não é possível manter o uso de máscaras corretamente é um fator de risco para contaminação, e é necessário fazer uma avaliação contínua sobre os vários tipos de exposição aos vírus, à medida que locais reabrem – como bares, restaurantes, escolas e igrejas. “Exposições e atividades nas quais o uso de máscara e o distanciamento social são difíceis de manter, incluindo ir a locais que oferecem refeições e bebidas no local, podem ser fatores de risco importantes para infecção por SARS-CoV-2. A implementação de práticas seguras para reduzir a exposição ao coronavírus durante as refeições e bebidas no local deve ser considerada para proteger os clientes, funcionários e comunidades e retardar a disseminação da covid-19”, conclui o artigo. Para o infectologista Alberto Chebabo, diretor médico do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, na Universidade Federal do Rio de Janeiro, os dados não apontam que o uso de máscaras seja ineficaz. “Não tem o menor sentido isso que o tuíte afirma. O estudo prova exatamente o contrário. Nos momentos em que tiramos a máscara estamos mais expostos e com maior risco de nos infectarmos. O estudo recomenda o uso da máscara e distanciamento social em suas conclusões”, afirma. O também infectologista Edmilson Migowski, professor de doenças Infecciosas da UFRJ, explica que a máscara só oferece risco se for mal utilizada. “Por exemplo, eu peguei uma máscara, espirrei, tossi, estou com a covid-19, coloco a minha mão na máscara de uma forma errada, contamino as coisas. Quando a máscara é utilizada dentro dos critérios de utilização, ela é protetora. Ela não seria e não vai ser uma ameaça para as pessoas”, explica. A própria página do CDC recomenda o uso de máscaras para proteger as pessoas e tem postagens indicando os melhores tipos de máscara e como se proteger, o que inclui cobrir a boca e o nariz com a proteção quando estiver próximo de outras pessoas. Quem é Alessandro Loiola Alessandro Lemos Passos Loiola nasceu em 1971, é médico formado pela Escola de Medicina da Santa Casa, no Espírito Santo, e possui dois registros ativos em conselhos regionais de medicina no Brasil: Minas Gerais e São Paulo. Isso é comum porque um médico precisa ter registro em cada estado em que atua. O registro mais antigo é de Minas Gerais, feito em 7 de fevereiro de 1997 – a foto foi apresentada ao Conselho em 2008. Nele, constam duas especialidades, ou áreas de atuação: cirurgia geral e coloproctologia. O segundo registro é de 18 de março de 1999, feito no Conselho Federal de Medicina do Espírito Santo, com as mesmas especialidades. Este registro, no entanto, consta como ‘Transferido’. O terceiro registro, ainda ativo, é do Conselho Regional de Medicina de São Paulo, feito em 7 de janeiro de 2010, mas não há especialidades ou áreas de atuação cadastradas. A exibição de telefones e endereços onde ele poderia trabalhar não foi autorizada pelo usuário e, por isso, eles não aparecem em suas fichas profissionais. O Comprova não conseguiu encontrar um currículo do médico na Plataforma Lattes, que reúne pesquisadores do país. Em sua conta no Twitter, ele publica o link para um site com conteúdo de direita voltado para o público masculino, como um curso para discutir “as falácias esquerdistas”. Entre as publicações, há outras que se posicionam contra o uso de máscaras de pano. A imagem de capa do perfil mostra a ‘orelha’ de um livro de sua autoria, em que, além de se apresentar como médico, ele diz que foi, também, coordenador da Secretaria Especial de Cultura do governo federal. A nomeação para o cargo foi publicada no Diário Oficial da União de 27 de novembro de 2019. Alessandro Loiola foi nomeado pelo ministro do Turismo, Marcelo Henrique Teixeira Dias, para exercer o cargo de Coordenador-Geral de Empreendedorismo e Inovação, do Departamento de Empreendedorismo Cultural, da Secretaria da Economia Criativa, da Secretaria Especial da Cultura. Menos de dois meses depois, no dia 24 de janeiro, ele foi exonerado do cargo também pelo ministro. A exoneração foi publicada no Diário Oficial da União no dia 27 de janeiro de 2020. No mesmo dia, foram exonerados também outros dois funcionários da Secretaria Especial da Cultura que eram próximos e tinham sido nomeados pelo ex-secretário Roberto Alvim. Este havia sido demitido dez dias antes, após fazer um pronunciamento oficial com referências nazistas, como mostra esta reportagem publicada por O Globo. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova checa conteúdos virais que possam espalhar desinformação nas redes sociais sobre a pandemia da covid-19. O tuíte investigado pelo Comprova teve mais de 4 mil interações na rede social até o dia 19 de outubro. Conteúdos com alegações enganosas, como essas feitas pelo médico, questionando o uso de máscaras, enfraquecem a confiança da população em instituições sanitárias e podem dificultar os esforços de combate à pandemia. Autoridades médicas e acadêmicas defendem o uso de máscara como uma das formas de se voltar à normalidade sem aumentar a disseminação da doença. Esta não é a primeira vez que as máscaras foram alvo de desinformação. O Comprova já checou boatos que negavam a eficácia das máscaras em proteger as pessoas, outros afirmavam que seu uso era nocivo à saúde e até que insinuavam que a máscara tinha sido responsável pela morte de uma estudante na Alemanha. Também verificamos postagens alarmistas com alegações de que máscaras exportadas pela China estariam contaminadas. Tais alegações não encontram respaldo científico. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/comprovado-trecho-da-br-163-foi-asfaltado-no-governo-bolsonaro/
COMPROVA
Comprovado: trecho da BR-163 foi asfaltado no governo Bolsonaro
null
2020-10-19
Trecho que aparece em montagem compartilhada nas redes sociais foi de fato asfaltado no governo Bolsonaro, mas operação para pavimentar a BR-163 teve início ainda na gestão de Temer Conteúdo verificado: Meme publicado no Twitter e no Facebook compara o estado de conservação de um trecho da BR-163 durante os governos Lula, Dilma e Temer com o governo Bolsonaro. O meme usa duas imagens. Em uma delas aparecem os ex-presidentes Lula, Dilma e Temer juntos com a estrada ao fundo e a legenda “16 anos”; a outra imagem mostra o trecho já pavimentado e nela está aplicada a foto de Jair Bolsonaro com a legenda “8 meses”. O Comprova confirmou que um trecho da BR-163 entre Novo Progresso e Moraes de Almeida, no Pará, que aparece em um meme que viralizou nas redes sociais foi asfaltado durante o governo de Jair Bolsonaro (sem partido). Apesar de a publicação verificada não indicar a exata localização do trecho, o Comprova conseguiu identificar a rodovia a partir de vídeos no YouTube e confirmou com moradores e empresários da região que se trata do km 376 da BR-163 na região entre Novo Progresso e Moraes de Almeida (PA). A partir da identificação do trecho exato da rodovia, o Comprova entrou em contato com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), que informou que o trecho foi pavimentado em julho de 2019. As informações batem com outras notícias publicadas no site do Dnit no ano passado e, além disso, diversos vídeos de caminhoneiros que trafegaram na região entre julho e agosto do ano passado mostraram as obras realizadas. Apesar de ter sido concluída e totalmente atribuída ao governo Bolsonaro pela montagem, a obra chamada de “Operação Xingu” teve início com um Termo de Execução Descentralizada entre o Dnit e o Exército, em agosto de 2017, quando o chefe do Executivo ainda era Michel Temer. Reportagens também revelam que, com exceção do trecho, grande parte da BR-163 já estava asfaltada em 2018. O Comprova encontrou versões desse mesmo meme publicadas desde agosto de 2019. A página “Eu Sou de Direita” e o perfil que compartilhou a publicação no “Grupo da Página Jair Bolsonaro Presidente 2018”, que republicaram o meme recentemente, não responderam as tentativas de contato do Comprova. Como verificamos? A publicação investigada não deixa claro qual estrada está retratada na montagem feita com duas fotografias diferentes. Por isso, começamos por uma busca reversa no Google Imagens, que nos levou a publicações semelhantes e que haviam sido postadas anteriormente. Entre as encontradas, destacamos uma em que um internauta indicava ser a BR-319; e outra em que uma página afirmava ser a BR-163. Em nova busca reversa realizada no Yandex, um buscador de informações russo, chegamos a frames de dois vídeos que mostravam trechos de estrada muito semelhantes aos da publicação verificada. É possível vê-los aqui e aqui. As filmagens são de julho e agosto de 2019, e indicam ser a BR-163, especificamente entre a cidade de Novo Progresso e o distrito de Moraes Almeida, no Pará. Assim, entramos em contato com o Ministério da Infraestrutura e o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), responsáveis pelas rodovias federais e com o Exército Brasileiro, que realizou obras no trecho ao longo dos últimos anos. Também procuramos proprietários de estabelecimentos comerciais e moradores da região retratada no vídeo. A partir destes últimos contatos, conseguimos identificar a quilometragem exata do trecho. Com isso, voltamos a entrar em contato com o Dnit. Além disso, fizemos diversas consultas a reportagens publicadas na imprensa e em órgãos oficiais sobre a pavimentação da BR-163. Verificação Identificando a rodovia Embora não haja qualquer menção à rodovia que está sendo retratada na montagem e os autores das publicações não tenham respondido às tentativas de contato, o Comprova conseguiu confirmar que ambas as imagens são da BR-163 – especificamente no trecho entre o município de Novo Progresso e o distrito de Moraes Almeida, em Itaituba, no Pará. Por meio de uma busca reversa no Yandex, a equipe encontrou um vídeo cujo título faz menção à BR-163. A 1min58, o vídeo mostra uma imagem muito parecida com a da estrada asfaltada utilizada no meme verificado. Na montagem abaixo, feita pelo Comprova, é possível ver o trecho do vídeo à esquerda e a imagem investigada à direita. No final do mesmo vídeo, durante uma conversa, os motoristas relatam passar perto do restaurante Altas Horas. Já outro vídeo publicado no mesmo perfil faz referência à pavimentação da BR-163, especificando o trecho entre Novo Progresso e Moraes Almeida. Durante a gravação também é citado o Posto Sitras. Percorrendo o trecho entre Novo Progresso e Moraes Almeida pelo Google Maps, localizamos alguns estabelecimentos comerciais, incluindo os dois citados. Pelos telefones indicados, conseguimos contato com os proprietários da Fazenda Manguaba e da Voltrucks, uma oficina mecânica de veículos pesados, localizados à margem da BR-163. Por WhatsApp, o fazendeiro Thiago Galhardo confirmou que as duas imagens utilizadas na montagem verificada são do mesmo trecho da rodovia, a cerca de 1 km de onde mora. “Na medição antiga é o quilômetro 1151, de Cuiabá a Santarém. Ou o 624 km, de Santarém a Cuiabá. Depois que passou o asfalto, eu não sei”, afirmou. Por meio de Galhardo, o Comprova conseguiu o telefone de Adirceu Rodrigues, proprietário do restaurante Altas Horas, localizado na BR-163 e citado no vídeo. Morador da região há 35 anos, ele confirmou que as duas imagens são do mesmo trecho da BR-163, que fica a aproximadamente 7 km do estabelecimento, sendo a de terra “do ano passado”. Proprietário da oficina, Vanderson Lautert da Cruz indicou que a subida nas fotos é conhecida como “Morro da Santa, pelos caminhoneiros, porque em frente à árvore grande tem a casinha de uma santa”. Ele também enviou ao Comprova uma foto de dezembro de 2018 (abaixo) que mostra o mesmo local, mas de um ângulo mais distante. Na época, a estrada estava sem asfalto. Confirmações semelhantes foram buscadas junto a órgãos oficiais. Porém, tanto o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes quanto o Ministério da Infraestrutura responderam que não seria possível identificar qual era a rodovia ou o trecho em questão, mesmo após consultados com detalhes sobre a identificação da região. Uma das fotografias publicadas na página do restaurante Altas Horas no Google Maps mostra um carro do Dnit estacionado no local. O Comprova pediu ajuda do órgão para localizar o fotógrafo ou os ocupantes do automóvel, mas também recebeu uma negativa. Alguns dias depois, Vanderson Lautert da Cruz, o proprietário da oficina, enviou uma nova fotografia (abaixo) mostrando o trecho da rodovia ao Comprova indicando se tratar do km 376. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) do Pará, o Exército e a Prefeitura de Novo Progresso não responderam os contatos feitos pelo Comprova até o fechamento desta reportagem. O andamento da obra Como a montagem verificada indica que a pavimentação da rodovia teria acontecido ainda nos primeiros oito meses do governo Bolsonaro, pesquisamos reportagens que tratavam do andamento das obras na BR-163 no Pará, tanto na imprensa, quanto em órgãos oficiais, a fim de confirmar a data do asfaltamento no trecho específico das fotos. De acordo com uma notícia publicada no site oficial do Dnit, a rodovia federal se tornou completamente pavimentada no final de novembro de 2019, justamente com a conclusão das obras nos 51 km entre Moraes Almeida e Novo Progresso (ao sul). Porém, alguns trechos foram concluídos antes disso. Em agosto, por exemplo, o trecho que interliga Moraes Almeida ao distrito de Miritiuba (ao norte) já havia sido pavimentado, conforme divulgado pelo Dnit, em outra notícia. Depois, na primeira quinzena de setembro (9º mês da gestão Bolsonaro), outros 35 km já haviam sido finalizados – incluindo um trecho entre Moraes Almeida e Novo Progresso. Sem as informações detalhadas solicitadas ao Dnit e ao Exército, cujo 8º Batalhão de Engenharia e Construção (BEC) foi o responsável pela execução de tais obras na BR 163, o Comprova não conseguiu verificar exatamente a data em que o trecho mostrado na montagem foi asfaltado. No entanto, o fazendeiro e os dois empresários locais consultados pela equipe confirmaram que a pavimentação ocorreu durante o ano passado, ainda que sem precisarem o mês. Além disso, vídeos de caminhoneiros publicados no final de julho, como os já citados nesta verificação, mostravam o trecho já coberto com asfalto. Vale ressaltar que, embora o crédito da obra seja todo atribuído a Jair Bolsonaro pela montagem, a “Operação Xingu” começou em agosto de 2017, por meio da assinatura de Termo de Execução Descentralizada entre o Exército e o Dnit. Nessa época, o Executivo ainda era chefiado por Michel Temer, que permaneceu como presidente do país até o final de 2018. Em janeiro de 2018, por exemplo, uma reportagem do G1 revelou que a maior parte da BR-163 estava pavimentada “desde Mato Grosso até Pará, restando poucos trechos em obras”, conforme informado pelo Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil à época. Os governos de Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul também informaram que a rodovia, nos respectivos trechos estaduais, já era asfaltada desde antes de 2018. A entrega oficial da BR-163 asfaltada aconteceu em 14 de fevereiro deste ano. A rodovia possui cerca de 3.500 km e corta o Brasil de norte a sul: passando por Rio Grande do Sul, Paraná, Santa Catarina, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Pará. A BR-163 é um importante corredor de escoamento de grãos e dá acesso ao Porto de Miritituba (PA), que faz parte da rota para exportação do centro-norte do país. Por que investigamos? Na terceira fase, o Comprova verifica conteúdos sobre a pandemia da covid-19 e as políticas públicas do governo federal. Uma publicação falsa ou enganosa sobre essas realizações resulta em interpretações equivocadas sobre a realidade e a efetividade dos representantes políticos, os quais são escolhidos por meio das eleições. Até o dia 15 de outubro, a publicação original tinha 41 mil compartilhamentos. Só um deles, feito no Facebook, registrou mais 2.200 reproduções e mais de 6 mil interações. Durante o ano passado, dezenas de posts semelhantes, com as mesmas imagens, também circularam pelas redes sociais. No ano passado, a BR-163 já havia sido alvo de uma verificação do Comprova, por causa de uma publicação que atribuia, equivocadamente, melhorias na rodovia ao Governo Bolsonaro. Neste ano, o Comprova verificou diversas publicações envolvendo estradas, entre elas: alegações de que o Exército teria arrumado a rodovia Transamazônica e imagens de obras de governos petistas sendo atribuídas a Bolsonaro. Mais recentemente, um tuíte enganoso também foi investigado, por dizer que a Ferrovia do Sol estava prestes a ser implementada. Comprovado, para o Comprova, é um fato verdadeiro; evento confirmado; localização comprovada.
https://i1.wp.com/projet…=598%2C456&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Comprovado']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/frase-de-enviado-da-oms-e-retirada-de-contexto-para-sugerir-que-entidade-condena-lockdown/
COMPROVA
Frase de enviado da OMS é retirada de contexto para sugerir que entidade condena lockdown
null
2020-10-16
A fala de um enviado especial da OMS, tratado em um post no Twitter como diretor da entidade, foi tirada de contexto. A entidade admite que há impactos econômicos e sociais negativos com a adoção de lockdown, mas isso não significa que a OMS tenha mudado de opinião. Políticas de isolamento continuam sendo parte da estratégia de contenção de contágio, para “achatar a curva” de contágio e evitar a superlotação de hospitais Conteúdo verificado: Post da deputada federal Major Fabiana usa fala de um representante da OMS para sugerir que a entidade mudou de opinião em relação à adoção de políticas de como meio de controle do vírus da covid-19 É enganoso o tuíte de uma deputada federal do PSL que imputa à Organização Mundial de Saúde (OMS) uma mudança de posição a respeito da utilização de lockdowns no controle da pandemia da covid-19. Em seu post, a parlamentar tira de contexto uma frase de um representante da OMS proferida durante entrevista a um site britânico em 9 de outubro. Na ocasião, David Nabarro – que é enviado especial da organização e não seu diretor, como afirma a deputada –, de fato destacou os impactos econômicos e sociais negativos dos lockdowns. Isso não significa, no entanto, que a OMS tenha mudado de posição. Na mesma entrevista, Nabarro afirmou que os lockdowns são justificados em momentos de crise, para reorganizar os sistemas de saúde e proteger os profissionais que estão na linha de frente do combate à doença. A ideia desta prática é “achatar a curva” de contágio, evitar a superlotação de hospitais e, depois, permitir a reabertura das economias. Nas redes sociais, a declaração crítica aos lockdowns de Nabarro foi utilizada para referendar de maneira retroativa a posição de determinados líderes políticos que eram contrários a esta prática mesmo nos momentos iniciais de crise da pandemia, quando as autoridades sanitárias recomendavam o fechamento de diversos setores da economia. A deputada federal cujo tuíte foi verificado é major da Polícia Militar do Rio de Janeiro e se define como “deputada federal da base do presidente” Jair Bolsonaro (sem partido). Três dias depois da entrevista de Nabarro, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, criticou a dicotomia entre o fechamento das economias por tempo indeterminado e deixar a circulação do vírus livre – defendida por Bolsonaro e também por Donald Trump nos Estados Unidos, por exemplo. De acordo com Tedros, a entidade recomenda como forma principal de combate à pandemia medidas como detecção de casos, testagem em massa, rastreamento de contatos, quarentena para os infectados, higienização e máscaras. Ao Comprova, a epidemiologista Denise Garrett, que atua no Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos, destacou que os lockdowns e essas medidas de contenção citadas pelo diretor da OMS são parte da mesma estratégia. “O que precisamos é um plano, uma estratégia e articulação, de preferência a nível nacional, o que infelizmente não temos no Brasil”, afirmou. Como verificamos? Inicialmente, fizemos uma busca no Google para saber se algum representante da OMS havia falado recentemente sobre os lockdowns como uma estratégia de enfrentamento à pandemia. Por meio de uma matéria da revista Veja, descobrimos que a declaração havia partido de David Nabarro, enviado especial da OMS para lidar com a crise da covid-19, em uma entrevista ao site The Spectator. A partir daí, localizamos uma matéria do site britânico e um vídeo da entrevista, por meio do qual foi possível saber exatamente o contexto em que Nabarro usou a frase. Paralelamente, conseguimos confirmar as credenciais de Nabarro no site oficial da OMS. A partir daí, enviamos questionamentos à assessoria de imprensa da OPAS, entidade que representa a OMS nas Américas, para saber qual o posicionamento da entidade sobre o uso de lockdowns e quais são as estratégias recomendadas pela entidade para enfrentar o novo coronavírus. Também buscamos no site da OMS o último comunicado sobre as estratégias para conter o SARS-CoV-2 divulgado pelo diretor da entidade, Tedros Adhanom. Entrevistamos a epidemiologista Denise Garrett, que há mais de 20 anos é afiliada ao Centro de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) dos Estados Unidos e o mestre em saúde pública Márcio Sommer Bittencourt, pesquisador do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP (CPCE-USP) e membro do grupo de pesquisa Infovid, sobre a adoção de lockdowns e medidas de fechamento das atividades econômicas adotados no Brasil. Também procuramos a assessoria da deputada federal Major Fabiana, que publicou o tuíte, mas ela não respondeu até a publicação desta verificação. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 16 de outubro de 2020. Verificação A fala de Nabarro Embora esteja ligado à OMS, David Nabarro não é um dos diretores da organização. Ele atua como enviado especial da OMS para assuntos relacionados à pandemia. Nabarro e outras cincos pessoas integram um grupo de enviados especiais da OMS que tem por objetivo promover conselhos estratégicos a governos. O anúncio com os nomes dessa equipe ocorreu em 21 de fevereiro de 2020. No vídeo da entrevista, a resposta de Nabarro sobre o tema lockdown na pandemia é um pouco mais completa do que a transcrição que viralizou. Ele diz que o lockdown deveria ser usado para ganhar tempo até que os governos desenvolvam estratégias melhores de controle do vírus. Em tradução livre, a fala do enviado especial começou assim: “Um ponto realmente importante (…). Eu gostaria de afirmar novamente: nós, da Organização Mundial de Saúde, não defendemos o lockdown como o primeiro meio de controle do vírus. O único momento em que nós acreditamos que o lockdown é justificado é para ganhar tempo para reorganizar, reagrupar e rebalancear seus recursos; proteger seus profissionais de saúde que estão exaustos. Mas, em geral, nós preferimos não fazer isto”. Nabarro segue sua resposta pedindo para que se olhe “o que está acontecendo com a indústria do turismo no Caribe ou no Pacífico porque as pessoas não estão tirando suas férias”. Ele também menciona a situação dos “pequenos proprietários agrícolas em todo o mundo porque seus mercados foram fechados” e os níveis de pobreza, que segundo ele, em 2021, podem dobrar no mundo. Na sequência, ele reforça que talvez dobremos também o número de crianças mal nutridas “porque as crianças não estão se alimentando nas escolas e os seus pais, nas famílias mais pobres, não são capazes de pagar por isso”. Ele define a situação como “uma terrível e medonha catástrofe global”. Ele finalizou dizendo: “Nós realmente pedimos a todos os líderes mundiais: parem de usar o lockdown como o seu primeiro método de controle. Desenvolvam sistemas melhores para fazer isso. Trabalhem juntos e aprendam uns com os outros. Mas se lembrem que lockdowns têm uma consequência que você nunca deve menosprezar. E ela é fazer pessoas pobres ainda mais pobres.” O que a OMS pensa sobre lockdown Quatro dias após a entrevista de Nabarro, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom, leu um comunicado criticando a ideia de deixar as pessoas expostas ao vírus para atingir a imunidade de rebanho. “Não é uma escolha entre deixar o vírus livre para circular ou fechar nossas sociedades. O vírus é transmitido entre contatos próximos e causa surtos que podem ser controlados através de medidas direcionadas. Prevenir eventos amplificadores; proteger os mais vulneráveis; empoderar, educar e engajar comunidades. E persistir com as mesmas ferramentas que nós temos defendido desde o primeiro dia: encontrar, isolar, testar e cuidar dos casos, encontrar e pôr em quarentena seus contatos”, afirmou. No mesmo comunicado, também disponível em vídeo no site da entidade, ele lembrou que há várias ferramentas disponíveis para combater a pandemia. “A OMS recomenda a identificação dos casos, isolamento, testagem, cuidado compassivo, rastreamento de contatos, quarentena, distanciamento físico, higienização das mãos, máscaras, etiquetas respiratórias, ventilação, evitar multidões e mais”, afirmou. Adhanom também disse reconhecer que, em certos momentos, alguns países não tiveram escolha a não ser emitir ordens para que as pessoas permanecessem em casa como uma medida para ganhar tempo. “Muitos países usaram esse tempo para desenvolver planos, treinar profissionais de saúde, distribuir suprimentos, aumentar a capacidade de testagem, reduzir o tempo dos testes e melhorar o cuidado com os pacientes. A OMS está esperançosa que os países irão utilizar as intervenções onde e quanto necessárias, baseados em suas situações locais”, prosseguiu. Procurada pelo Comprova, a OPAS enviou uma nota por e-mail afirmando que os lockdowns voltaram a ser um tópico de discussão no momento em que os países voltam a enfrentar picos da covid-19. Embora veja essa medida como “não sustentável”, a OMS entende que ela pode ser necessária para suprimir rapidamente o vírus e evitar que o sistema de saúde do país seja sobrecarregado. “Lockdowns não são soluções sustentáveis devido a seus impactos econômicos, sociais e de saúde mais amplos. No entanto, durante a pandemia de covid-19, houve momentos em que as restrições foram necessárias e pode haver outros momentos no futuro”, afirma a OMS. A entidade defende que, por causa dos seus impactos econômicos e sociais, os lockdowns precisam ter duração limitada e devem ser utilizados para que o país possa preparar medidas de saúde pública de longo prazo e buscar soluções mais sustentáveis. A OPAS também enviou ao Comprova uma lista de orientações e precauções relacionadas à pandemia que devem ser seguidas por cidadãos e governos. Orientações da OMS: Identificar casos da covid-19 Isolar pessoas com casos confirmados Testar e cuidar de cada pessoa com caso confirmado Rastrear e colocar em quarentena todos os contatos dessas pessoas Equipar e treinar profissionais de saúde Educar e capacitar as comunidades a protegerem a si e aos outros Precauções relacionadas à covid-19: Distanciamento físico (pelo menos 1 metro) Lavar/higienizar as mãos Usar uma máscara quando o distanciamento físico não for possível Tossir e espirrar a uma distância segura das outras pessoas Evitar aglomerações Manter as janelas e portas abertas quando você não puder encontrar amigos e familiares do lado de fora Especialistas A epidemiologista Denise Garrett, filiada há mais de 20 anos no Centro de Controle e Prevenção de Doenças, em Atlanta, nos Estados Unidos, explicou por que as adoções de lockdowns foram importantes no início da pandemia: “Foram importantes para nos dar mais tempo de aprender a tratar melhor os pacientes e preparar o sistema de saúde. Salvaram milhões de vidas e temos vários estudos científicos mostrando esse impacto.” Garrett, que também é vice-presidente do Sabin Vaccine Institute, reforçou que o lockdown não é uma medida a ser adotada por longo tempo. “Essa é uma medida temporária para criarmos uma estratégia de controle e nos prepararmos”, disse. “Mas também não podemos simplesmente deixar o vírus correr solto. O que precisamos é um plano, uma estratégia e articulação, de preferência a nível nacional, o que infelizmente não temos no Brasil.” Para a médica é preciso ‘abordagens mais diferenciadas e direcionadas usando dados sobre nossas epidemias locais’, o que consequentemente exigirá investimentos, sobretudo, em testes. Desta maneira é possível elaborar intervenções para abordar o que está acontecendo nas comunidades, adaptando as intervenções e realizando alterações necessárias à medida que as evidências também mudam. Ela finalizou enfatizando que, “até termos uma vacina efetiva e segura, nós precisamos desacelerar a transmissão com medidas restritivas planejadas e direcionadas”. O Comprova ouviu também o mestre em saúde pública Márcio Sommer Bittencourt, pesquisador do Centro de Pesquisa Clínica e Epidemiológica da USP (CPCE-USP) e membro do grupo de pesquisa Infovid. Ele acredita que as pessoas estão usando o lockdown de forma política, até mesmo porque não se tem uma definição homogênea da OMS do que é o lockdown. “Lockdown é uma expressão que as pessoas inventaram e que não tem uma definição tão clara do que é. Em alguns países está se chamando de lockdown uma intervenção muito mais intensa que em outros países que também estão adotando lockdown com uma intervenção muito menos intensa”. Bittencourt explicou que a OMS propõe uma “estratégia multifacetada de intervenções comunitárias, também chamada de intervenções não-farmacológicas, que atuam em várias direções”. Ele também expôs quais são os pilares dessa estratégia. “O primeiro pilar é o isolamento de caso, depois vem a quarentena de contatos, seguido das medidas de bloqueio físico e bloqueio químico e o quarto pilar é evitar medidas de super disseminação”. Ele reforçou que os quatro pilares são a parte principal da estratégia de manutenção de controle para Covid-19. E que existe um quinto pilar, o do distanciamento físico, que segundo ele é mais flexível. “Nele você inclui desde pedir para as pessoas ficarem a dois metros umas das outras até pedir para fechar estabelecimentos, proibir viagem, reduzir o número de pessoas no restaurante e etc. Ou num caso muito extremo, particular e por período curto de tempo, quando está muito intenso, pedir até fechamento completo de uma cidade e todo trânsito não essencial”. O pesquisador enfatizou que a adoção de lockdown não é a primeira estratégia, não é primordial e não é obrigatoriamente necessária. “É uma medida de exceção, quando os outros quatro pilares não podem ser implementados adequadamente ou ainda não foram implementados adequadamente. Ou até mesmo, quando já foram e não estão dando conta, você vai intensificando as medidas de distanciamento. Idealmente, você não deveria chegar num lockdown ou num fechamento tão extremo. Essa seria uma medida de último recurso que pode sim ser necessária e que é sim eficaz” Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia e sobre políticas públicas do governo federal. Quando esses conteúdos tratam de formas de prevenção ou de tratamento da doença causada pelo novo coronavírus, a checagem se torna ainda mais importante, já que a desinformação pode levar as pessoas a deixarem de se proteger e se expor a riscos desnecessários, durante uma doença que já causou 152,4 mil mortes e infectou 5,1 milhões de pessoas no Brasil, segundo o Ministério da Saúde. A publicação da deputada federal Major Fabiana teve 1,1 mil compartilhamentos e 5,8 mil curtidas no Twitter. Conteúdo similar publicado no site Frontliner teve 3 mil interações nas redes sociais, segundo a plataforma de monitoramento CrowdTangle. O tema também tem importante repercussão política, uma vez que o presidente Jair Bolsonaro e diversos governadores entraram em atrito durante a pandemia por causa de medidas de fechamento da economia para conter a propagação do Sars-CoV-2. Recentemente, o Comprova mostrou que um tuíte enganou ao questionar a compra de vacinas pelo governo de São Paulo; que um post distorceu informações para insinuar que China não usará a própria vacina; que um estudo distorce dados para dizer que países que usaram a hidroxicloroquina tiveram 75% menos mortes pela covid-19; e que vacinas contra o novo coronavírus não serão capazes de provocar danos genéticos nem vão monitorar a população. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/deputado-usa-dados-imprecisos-para-colocar-em-duvida-a-eficiencia-de-medidas-de-distanciamento-social/
COMPROVA
Deputado usa dados imprecisos para colocar em dúvida a eficiência de medidas de distanciamento social
null
2020-10-16
Tuíte mistura dados corretos com outros imprecisos, exagerados ou não consolidados para criticar medidas de isolamento tomadas por estados brasileiros Conteúdo verificado: Tuíte do deputado e ex-ministro Osmar Terra que coloca em dúvida eficácia de quarentena e lockdown ao comparar dados sobre excesso de mortalidade É enganoso o tuíte em que o deputado federal Osmar Terra (MDB) questiona a eficácia das medidas de distanciamento social. No post que viralizou nas redes, ele argumenta que alguns estados tiveram mortes a mais do que outros apesar de todos terem colocado em prática quarentena e lockdown. Segundo especialistas ouvidos pelo Comprova, o argumento não faz sentido, pois as medidas foram aplicadas de maneiras diferentes em cada estado. Terra também exagera ao escrever, sem citar fontes, que 90% das mortes pela covid-19 na Itália aconteceram no Norte do país. As duas regiões que compõem o norte italiano registraram, até 4 de outubro — data em que parlamentar fez a postagem —, segundo dados oficiais do governo, 30.464 mortes, o equivalente a 84,2% das mortes registradas no país até a data (90% seriam 32.387 vidas perdidas). A diferença entre a porcentagem apontada pelo parlamentar e a constatada pelo Comprova equivale a mais de 2 mil mortes. O deputado usa ainda a porcentagem de excesso de mortes (comparação entre o número de óbitos por causas naturais que ocorreram neste ano, com a pandemia, e em 2019) em locais pontuais do país, como Amazonas e região Sul, mas o “Painel de análise do excesso de mortalidade por causas naturais no Brasil em 2020”, criado pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass) para monitorar óbitos em tempos de coronavírus, apresenta números diferentes do que os utilizados pelo ex-ministro. Já no Registro Civil o levantamento apresenta dados praticamente iguais aos dele. No entanto, no Registro Civil os dados são atualizados com atraso, ou seja, é incorreto chegar a conclusões a partir do excesso de mortes com as informações disponíveis. O Comprova entrou em contato com Osmar Terra, mas não recebeu retorno até a publicação desta reportagem. Como verificamos? Para entender as comparações que o ex-ministro faz nas redes sociais, entramos em contato com seu gabinete por meio do e-mail disponível em sua página na Câmara de Deputados e também via WhatsApp. Não houve retorno até o momento da publicação desta reportagem. Procuramos, então, órgãos que monitoram dados sobre óbitos, em tempos de pandemia e também em anos anteriores. Consultamos o “Painel de análise do excesso de mortalidade por causas naturais no Brasil em 2020” do Conselho Nacional de Secretários da Saúde (Conass), o Portal Transparência do Registro Civil e o DataSUS. Buscamos ainda auxílio de especialistas para tentar interpretar o conteúdo criado por Osmar Terra. Colaboraram o professor titular de epidemiologia do Instituto de Saúde Coletiva da Universidade Federal da Bahia (ISC/UFBA) e vice-presidente da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Naomar de Almeida Filho; a epidemiologista e consultora-sênior da organização global de saúde pública Vital Strategies, Fatima Marinho; o epidemiologista e professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Paulo Petry; e o epidemiologista professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Fernando Barros. Também nos apoiamos em verificações anteriores feitas pelo Comprova, como a que contesta que os registros de óbitos em cartórios confirmam dados da pandemia no Brasil e a que aponta erroneamente que a pandemia estaria em declínio após zerar excesso de mortes. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 15 de outubro de 2020. Verificação Quarentena e lockdown Osmar Terra minimiza os efeitos do distanciamento social ao escrever no tuíte o que parece ser um questionamento, mesmo sem ponto de interrogação: “Se todos Estados brasileiros fizeram quarentena e lockdown, por quê uns tiveram muito mais mortes do que outros. (sic)”. Vale lembrar que quarentena e lockdown são recursos distintos, porém, ambos usam o artifício do isolamento social. Para a OMS, distanciamento social são as medidas aplicadas a entornos sociais específicos, ou à sociedade em sua totalidade, para reduzir o risco de adquirir ou difundir a covid-19. O lockdown é a forma mais radical, quando as pessoas são proibidas de sair de casa — salvo exceções, como atendimento médico. Já o isolamento, também chamado de confinamento ou quarentena, é a separação de pessoas doentes para não propagar a infecção. De acordo com a assessoria de imprensa da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), braço pan-americano da OMS, “distanciamento social e isolamento são algumas das medidas não farmacológicas recomendadas no contexto da covid-19”. No Brasil, como afirma Terra, todos os estados decretaram, em algum momento, quarentena ou lockdown. Porém, alguns usaram o termo quarentena para instaurar o fechamento de serviços não essenciais, como São Paulo e Roraima. O epidemiologista Naomar de Almeida Filho avalia que o distanciamento social foi uma medida importante para evitar maior contágio e consequentemente novas mortes. “O fato é que houve enorme variação na natureza e intensidade das medidas, e em pouquíssimos lugares houve lockdown efetivo”, diz. Almeida Filho destaca que fez parte de uma equipe que pesquisou a situação nos estados do Nordeste. “A conclusão foi de que, apesar de as respostas terem sido bastante distintas pelos estados, dada a ausência de medidas centralizadas emanadas do governo federal, houve uma importante redução no número de óbitos pela covid-19 na região, como resultado das medidas de distanciamento físico e de ações na saúde tomadas pelos governos estaduais”, afirma. Circulação prévia e frio Ao fim do texto, Osmar Terra diz que “no Sul o vírus não circulou como no restante do país e só aumentou o contágio com o frio do inverno.” A metodologia mais adequada para medir circulação do Sars-CoV-2 são os estudos de prevalência (pesquisa que rastreia a covid-19 na população). Conforme matéria de GZH de setembro, a quarta fase do estudo epidemiológico sobre a covid-19 no país coordenado pela Universidade Federal de Pelotas (UFPel), a Epicovid, mostrou que “o maior percentual de infecção (número de pessoas que testaram positivo) foi registrado nas regiões Norte (2,4%) e Nordeste (1,9%). No Sul, Centro-Oeste e Sudeste, ficou em 0,5%”. O epidemiologista Paulo Petry explica que a data de chegada do vírus ou os locais onde circulou não devem ser fatores primordiais de análise. “O que interessa não é quando o vírus chegou, mas sim que medidas tomamos para enfrentar o vírus”, afirma. Sobre o frio, ele alerta que o “vírus não respeita temperatura”. O também epidemiologista Fernando Barros, professor da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) e um dos integrantes do Epicovid, acrescenta que a circulação do vírus tem se dado em momentos diferentes em cada região. “O vírus está circulando no país desde março. Em alguns locais esta circulação já foi muito intensa, como foi o caso do Norte, Nordeste e Sudeste. A circulação diminuiu em grande parte devido às medidas de distanciamento social. No Sul e no Centro-Oeste a circulação mais intensa começou mais tarde.” Sobre a questão do frio, o médico afirma que doenças respiratórias têm, em geral, uma maior prevalência nos meses de inverno no Sul do país. “Mas a temperatura tem pouca influência na covid-19, como vimos pelas altas taxas nos estados da Região Norte. O aumento da mortalidade por covid-19 no RS coincidiu com o inverno, mas não há como saber se foi pelo frio e maior contaminação intradomiciliar. No Sudeste, o pico da mortalidade foi no fim do outono.” Barros arremata pontuando que “doenças respiratórias costumam ser sazonais, mas o distanciamento social pode modificar este comportamento”. Na Itália No tweet verificado aqui, Osmar Terra afirma também que “a Itália concentrou 90% das mortes por covid no norte do país”. Na divisão administrativa da Itália não consta uma região norte, mas entende-se este termo como uma referência às oito regiões que ficam na porção mais ao norte do país. Há na Itália cinco macrorregiões: noroeste, nordeste, centro, sul e as ilhas. A macrorregião noroeste é composta por quatro regiões (Piemonte, Lombardia, Liguria e Valle d’Aosta) e a nordeste por outras quatro (Emilia-Romagna, Trentino-Alto Adige, Veneto e Friuli-Venezia Giulia). Juntas, essas regiões registraram, até 4 de outubro, segundo dados oficiais do governo italiano, 30.333 mortes. Isso corresponde a 84,2% das 35.986 mortes registradas em todo o país até a mesma data. Reprodução de mapa do site http://opendatadpc.maps.arcgis.com/ que usa dados oficiais do governo italiano Os dados A postagem de Osmar Terra vem acompanhada de uma imagem. Nela, o parlamentar segue o raciocínio iniciado no tuíte. Entre as afirmações, está a de que “No Brasil acontece um aumento médio anual de 4%”, referindo-se à série histórica de mortalidade para comparar com o que chama de mortes excedentes. Esse excesso de mortalidade é a diferença entre o número de óbitos esperados e o observado em determinado período. Não fica claro qual o recorte dado por Terra para o índice de 4%. Contudo, levando em conta dados do mesmo Portal Transparência de registros de óbitos, a porcentagem mencionada por Terra não está correta. Em um recorte anual, feito em 15 de outubro, do total de mortes no país desde 2015, primeiro ano de registro no portal, até 2019 (ano mais recente com informações completas), o crescimento de mortes foi de: 13,6% entre 2015 e 2016 (879.181 para 998.977), 4,02% entre 2016 e 2017 (998.977 para 1.039.147), 13,9% entre 2017 e 2018 (1.039.147 para 1.184.544) 5,4% entre 2018 e 2019 (1.184.544 para 1.249.039). De acordo com DataSUS, ferramenta de estatísticas do Ministério da Saúde para obter dados de morbidade hospitalar no Sistema Único de Saúde (SUS), e com números consolidados mais recentes de 2018 – a conta também não fecha. Os acréscimos foram: 3,6% entre 2015 e 2016 (1.264.175 para 1.309.774) 0,2% entre 2016 e 2017 (1.309.774 e 1.312.663) 0,3% entre 2017 e 2018 (1.312.663 para 1.316.719) O epidemiologista Naomar de Almeida Filho vê inconsistência na comparação feita pelo deputado. “O problema em usar indicadores de excesso de mortalidade comparativamente com anos anteriores está no atraso na consolidação dos dados, que demoram no SIM (Sistema de Informações de Mortalidade) para estabilizar”, afirma. “Os coeficientes de mortalidade infantil, geral e proporcional por causas só são publicados com um ‘atraso’ de em média dois anos. (…) Todo mundo sabe que leva um tempo longo (até dois anos) para os certificados serem auditados, compilados e, finalmente, chegarem ao registro de óbitos. Por isso, o SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade), que pertence ao DataSUS, só tem fechado o ano de 2018.” Fatima Marinho também contesta o que escreve o deputado emedebista. Para ela, quando se trabalha com a mortalidade média do país existe um comportamento diferente de quando se avalia partes da nação. “Não se pode aplicar um raciocínio para o geral e depois por estado. Como é dito, se a mortalidade aumenta 4% ao ano, não se pode atribuir isso a todos os estados. Se 4% é a média, vai ter gente com mais e gente com menos”, explica Fatima, acrescentando: “Aí ele pega os 4% e vai comparar com o Amazonas que diz ser de 33%. Não se pode aplicar um raciocínio para o todo, que é média, para parte do todo”. Fatima complementa ainda indicando o Painel de Monitoramento de Excesso de Mortalidade. Trata-se de um compilado de análises feitas do início da primeira semana epidemiológica de 2020 (29/12/2019) até o fim da 36ª semana epidemiológica (05/09/2020). Para isso, o monitoramento usa três diferentes fontes de dados: Portal da Transparência dos Cartórios do Registro Civil do Brasil, Sistema de Informação sobre Mortalidade (SIM) e as estimativas populacionais preliminares elaboradas pelo Ministério da Saúde. “Observem o Piauí, como é sub-registrado o óbito no cartório. Vejam os estados com sub-registro e com bom registro. Qualquer análise e conclusão que use o dado do portal da transparência sem correção está errada”, avalia Fatima. Estados e seus índices Em determinado trecho do tuíte, Osmar Terra elenca estados e regiões com porcentagens que, ao que tudo indica, fazem referência ao excesso de mortalidade. Conforme o deputado: “o aumento maior em 2020 foi no Amazonas (33%), Ceará (32%) e Maranhão (27%). Os 3 Estados do Sul não tiveram aumento em relação ao número previsto, sem pandemia, e o Piauí teve menos 6% de mortes do que em 2019”. A origem dos dados é desconhecida. Entretanto, fizemos uma análise com base em duas fontes: o painel de análise do excesso de mortalidade por causas naturais no Brasil em 2020 do Conass e o Portal Transparência do Registro Civil. No primeiro os números diferem completamente com os colocados pelo deputado, já o segundo é praticamente igual. Conforme informações do Conass (que tem compiladas métricas até agosto), as porcentagens de excesso de mortalidade neste ano são 74% para o Amazonas, 58% para o Maranhão e 53% para o Ceará. O Piauí, onde o parlamentar diz ter menos mortes na comparação com 2019, aparece no painel do Conass com aumento de 8%. A região Sul também teve alta no índice, ainda que pequena, de 5%. O Rio Grande do Sul teve acréscimo de 2%, já Santa Catarina e Paraná, de 7% cada. Considerando-se todo o território nacional houve um salto de 22%, conforme o Conass. No Portal da Transparência do Registro Civil selecionamos os meses de janeiro a setembro, considerando que os dados mencionados por Osmar seriam desses meses, já que o tuíte data de 4 de outubro. O site não oferece registros de mortes por dia, como contabiliza Terra ao afirmar: “Como 2020 nao se completou é possível calcular pela taxa/dia e comparar com os anos anteriores, para ver as mortes excedentes causadas pela Covid.” Então, usamos as informações sobre os meses fechados (de janeiro a setembro) e comparamos 2019 com 2020 para os estados e regiões mencionadas pelo ex-ministro. Os resultados, desta vez, apresentam pouca variação se comparados ao que informou o ex-ministro. Houve realmente aumento das mortes em 33% no Amazonas e 32% no Ceará, bem como redução em torno de 6% no Piauí. Já o Maranhão apresentou acréscimo de 28% nos óbitos e a região Sul de 2%. Esse cálculo foi feito com base nos dados do portal em 15 de outubro. Mesmo que os índices sejam similares com os apontados por Terra, vale lembrar que o site tem atualizações constantes e há atraso nos registros. O portal é mantido pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais (Arpen-Brasil) que em verificação anterior, por meio de nota, afirmou ao Comprova que o site é alimentado de “hora em hora” em dias úteis. A entidade diz que a recomendação é de que as análises dos dados disponíveis considerem os números anteriores a um intervalo de 15 dias — contados retroativamente a partir do dia presente. O Portal da Transparência informa que “a atualização pelos registros de óbitos lavrados pelos Cartórios de Registro Civil obedece a prazos legais”. Esse prazo leva em conta que “a família tem até 24 horas após o falecimento para registrar o óbito em cartório que, por sua vez, tem até cinco dias para efetuar o registro de óbito”. Considera que o cartório tem ainda oito dias para enviar o registro à Central Nacional de Informações do Registro Civil, que atualiza o portal. No total, oficialmente, são 14 dias. Quem é Osmar Terra Osmar Terra exerce o sexto mandato na Câmara dos Deputados, representando o Rio Grande do Sul. Em 2016, foi Ministro do Desenvolvimento Social no governo de Michel Temer (MDB) e ocupou a pasta da Cidadania já na gestão de Jair Bolsonaro, em 2019. O deputado federal é formado em Medicina e foi presidente do Grupo Hospitalar Conceição entre 1986 e 1989. Também ocupou o cargo de secretário da Saúde do Rio Grande do Sul de 2003 a 2010, nas gestões de Germano Rigotto (MDB) e Yeda Crusius (PSDB). Terra é um apoiador de Jair Bolsonaro e, seguindo o discurso do presidente, já negou a gravidade da pandemia em diversas ocasiões — inclusive no post verificado aqui, em que usa o termo “epidemia” e não pandemia. Chegou a afirmar que o distanciamento social não tinha eficácia comprovada, que as mortes pelo novo coronavírus no Brasil não passariam o número de óbitos por H1N1 e declarou que a pandemia terminaria em junho. Já em agosto, compartilhou imagens antigas para criticar o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PHS). Por que investigamos? Nesta terceira fase, o Comprova verifica conteúdos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia. Em ano de eleitoral, quando disputas políticas estão acirradas, o coronavírus tornou-se tema de debates em campos ideológicos opostos. É preciso atenção para que informações não comprovadas influenciem a população a diminuir cuidados básicos para frear a continuidade do contágio, como o distanciamento social e as etiquetas de saúde (higiene das mãos e uso de máscara, por exemplo). O post do deputado Osmar Terra subestima a tragédia de 152.460 mortos e mais de cinco milhões de infectados, conforme informações do Ministério da Saúde. A publicação do parlamentar no Twitter teve mais de 2,5 mil interações de acordo com a ferramenta CrowdTangle — entre curtidas, comentários e compartilhamentos. Em março, o Comprova verificou um vídeo em que Terra defende o isolamento vertical, afirmando que apenas idosos e pessoas de grupos de risco deveriam ficar isoladas. As imagens circularam como se fossem do cardiologista Adib Jatene, falecido em 2014. O Comprova também checou outro conteúdo lançado na rede pelo parlamentar em que ele usa dados de internações por covid-19 no Grupo Hospitalar Conceição (GHC), em Porto Alegre, para afirmar que a epidemia estaria reduzindo no Rio Grande do Sul. O projeto averiguou ainda materiais que tentam diminuir ou subestimar a força do coronavírus. Entre eles, sobre posts que distorcem dados de 2019 e 2020 para negar as então mais de 100 mil mortes por covid-19, a que contesta os registros de óbitos em cartórios confirmam dados da pandemia no Brasil e a que aponta erroneamente que a pandemia estaria em declínio após zerar excesso de mortes. Enganoso, para o Comprova, é todo o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro com o propósito de mudar o seu significado. É o caso da publicação de Osmar Terra, que usa números reais para chegar a uma conclusão que não é verdadeira. Aviso de atualização: Esta verificação foi atualizada em 20 de outubro para corrigir uma informação que constava do segundo parágrafo do texto. Ao fazer os cálculos sobre mortes por Covid-19 no norte da Itália, o Comprova considerou a data de 14 de outubro, quando foi feita esta verificação. Na versão atual, refizemos os cálculos considerando a data de 4 de outubro, quando o post de Osmar Terra foi publicado. Com isso, foi dada nova redação ao segundo parágrafo da seção “Na Itália” que reproduzia os mesmos dados. Essa atualização não muda as conclusões da verificação.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C488&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/bolsonaro-nao-e-o-primeiro-presidente-a-visitar-a-ilha-de-marajo-com-primeira-dama-e-ministros/
COMPROVA
Bolsonaro não é o primeiro presidente a visitar a Ilha de Marajó com primeira-dama e ministros
null
2020-10-15
Ao contrário do que afirma uma publicação de grande alcance no Twitter, Lula também esteve na ilha acompanhado da primeira-dama e de ministros. Antes dele, há registros de visitas de Médici, Geisel e Figueiredo ao Marajó Conteúdo verificado: Tuíte com vídeo sobre a chegada de Bolsonaro à Ilha de Marajó, no Pará, afirma que é a primeira vez que um presidente visita o local acompanhado da primeira-dama e de ministros. É falso que Jair Bolsonaro (sem partido) tenha sido o primeiro presidente a visitar a Ilha de Marajó, no Pará, com primeira-dama e ministros, como afirma um tuíte que viralizou nas redes sociais. O post é acompanhado de um vídeo mostrando a chegada da comitiva de Bolsonaro, que desce de um dos carros com Michelle e vai cumprimentar o público à beira de uma estrada (o casal está sem máscara). Em dezembro de 2007, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve no local acompanhado de Marisa Letícia, sua mulher à época (falecida em 2017), e dos então ministros Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário), Tarso Genro (Justiça) e Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Bolsonaro chegou à ilha no dia 8 de outubro para cumprir uma agenda de inaugurações. Ele foi com a primeira-dama, Michelle, e com os ministros Damares Alves (Mulher, Família e dos Direitos Humanos), Fábio Faria (Comunicações) e Bento Albuquerque (Minas e Energia). O Comprova tentou contato com o perfil @9876mel, que fez a publicação no Twitter, mas não obteve resposta até a publicação deste texto. Como verificamos? Por meio de pesquisas no Google com o nome de cada presidente brasileiro desde o período da ditadura militar (1964-1985) relacionados à Ilha de Marajó, encontramos reportagens e fontes oficiais que indicavam que dois presidentes já haviam visitado o arquipélago no exercício do mandato: o general Ernesto Geisel, em 1974, e Lula, em 2007. Os textos não informam, no entanto, que a então primeira-dama Marisa Letícia também estava na comitiva. Em busca nos acervos dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo, o Comprova encontrou fotos do evento, em que Lula aparece com Marisa e com o então ministro da Justiça, Tarso Genro. No site do Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil, da Fundação Getulio Vargas, encontramos a imagem de uma placa que registra a visita de Geisel à Fazenda Santa Cruz da Tapera, na Ilha de Marajó, em 27 de setembro de 1974, quando era presidente. O registro da visita também está no livro Saberes de Vaqueiros, de Josebel Akel Fares, cujo pdf foi enviado por Venize Rodrigues, coordenadora do curso de Licenciatura em História da Universidade Estadual do Pará, contatada pelo Comprova em entrevista por telefone. A visita de Geisel, no entanto, não contou com a presença da primeira-dama, Lucy, conforme encontramos em uma reportagem do Diário do Paraná de 28 de setembro de 1974. Via Twitter, tentamos contato com a autora do tuíte, mas ela não respondeu até a publicação desta checagem. Verificação Bolsonaro na Ilha de Marajó O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) visitou o arquipélago na última semana. Ele desembarcou em 8 de outubro no município de Breves, onde cumprimentou moradores, e hospedou-se em um navio da Marinha do Brasil, atracado na ilha. Bolsonaro estava acompanhado da primeira-dama Michelle e dos ministros Damares Alves (Mulher, Família e Direitos Humanos), Fábio Faria (Comunicações) e Bento Albuquerque (Minas e Energia). O presidente promoveu o programa “Abrace o Marajó”, lançado em março deste ano, que isenta o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) de operações realizadas na região, e visitou ainda a agência-barco da Caixa Econômica Federal com o presidente do banco, Pedro Guimarães. A visita de Lula O então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) esteve no município de Breves, no sudoeste da Ilha de Marajó, em dezembro de 2007. Segundo reportagens da época, ele visitou o destino com três ministros: Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário), Tarso Genro (Justiça) e Paulo Vannuchi, da Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Nas buscas de fotos desta viagem nos acervos da Folha de S.Paulo e O Estado de S. Paulo foi possível confirmar que a primeira-dama estava na comitiva. Durante a visita, o então presidente participou do lançamento do Plano Social de Registro Civil de Nascimento e Documentação Básica e da entrega de títulos de terras para populações ribeirinhas. Outros presidentes Ernesto Geisel foi à ilha em 27 de setembro de 1974 para lançar o Programa de Polos Agropecuários e Agrominerais da Amazônia (Poloamazonia) em uma feira agropecuária no município de Soure. Ele estava acompanhado dos ministros Alisson Paulinelli (Agricultura), Reis Veloso (Planejamento), Rangel Reis (Interior) e Chigeaki Ueki (Minas e Energia). Também estava presente o então governador do Pará, Fernando Guilhon. A primeira-dama, Lucy Geisel, não participou da visita. Além de Geisel, o livro Saberes de Vaqueiros informa que Emílio Garrastazu Médici e João Baptista de Oliveira Figueiredo também estiveram na ilha, mas não foi possível confirmar a época nem se foram com suas esposas e seus ministros ou mesmo durante o exercício de seus mandatos. Reprodução de notícia publicada no Diário do Pará sobre a visita de Geisel à Ilha do Marajó em 1974 Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais tratando sobre políticas públicas do governo federal ou sobre a pandemia de covid-19. O post verificado aqui, que teve 1,8 mil curtidas e cerca de 600 compartilhamentos no Twitter, desinforma ao dizer que Bolsonaro é o primeiro presidente a visitar a ilha com tal comitiva, na tentativa de qualificá-lo como especial por tal ação, quando, na verdade, não foi o que ocorreu. Com a proximidade das eleições municipais, tuítes como esse podem contribuir negativamente para o debate político no país. Quando a desinformação passa a integrar o cenário eleitoral, discussões sobre os projetos e agendas dos candidatos são prejudicadas, dificultando a escolha dos eleitores. Outras postagens exaltando enganosamente os feitos de Bolsonaro já foram verificadas pelo Comprova, como a que creditava ao presidente a construção de um viaduto no Paraná, feito com recursos do governo do estado e outra que usava fotos de outras estradas para afirmar que o Exército teria feito reparos na Transamazônica. O Comprova já verificou, inclusive, publicações envolvendo Lula e o Pará, como a que usava uma foto de uma obra na BR-163 feita na gestão do petista dizendo que era uma realização do atual governo. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i1.wp.com/projet…=430%2C500&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/tuite-engana-ao-afirmar-que-a-ferrovia-do-sol-esta-em-vias-de-ser-implementada/
COMPROVA
Tuíte engana ao afirmar que a “Ferrovia do Sol” está em vias de ser implementada
null
2020-10-14
Publicação que viralizou no Twitter e que anuncia uma estrada de ferro que ligaria as capitais do Nordeste é apenas a ideia de um senador e que resgata um projeto de 2013 que nunca teve o estudo de viabilidade técnica realizado Conteúdo verificado: Post no Twitter diz que vem aí a Ferrovia do Sol, obra do governo federal que cortaria todas as capitais do Nordeste Não estão em construção e nem em vias de início as obras pelo governo federal de uma ferrovia que ligaria todas as capitais do Nordeste. O tuíte que viralizou afirmando que a estrada de ferro “vem aí”, na verdade, resgata a ideia de um projeto antigo, chamado de Trem do Sol, que vem sendo discutido desde 2013, mas que, no entanto, nunca teve o estudo de viabilidade técnica realizado, de acordo com a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e com o Ministério do Desenvolvimento Regional (MDR). O Ministério da Infraestrutura também disse que atualmente não há obra em andamento para implantação da ferrovia. A Sudene e o MDR informaram que desejam retomar os estudos de viabilidade do projeto, mas não há previsão para que isso aconteça e, portanto, também não há previsão para início das obras. A publicação que trata da obra como algo próximo de acontecer é, portanto, enganosa. O vídeo, que circulou junto com o conteúdo que viralizou, foi feito pela equipe do senador Roberto Rocha (PSDB-MA), que é favorável à ideia do circuito ferroviário. Não é, portanto, um vídeo de anúncio das obras pelo governo federal. No entanto, procurada pelo Comprova, assessoria do senador disse que a Ferrovia do Sol é idealizada pelo parlamentar e “não tem ligação com projetos anteriores que versam sobre o mesmo assunto”. Questionado sobre a existência de algum projeto desse empreendimento, o senador, via assessoria, afirmou que faz uma mobilização política com parlamentares para viabilizar a obra e esta, segundo ele, é “a fase inicial” do empreendimento. Como verificamos? Inicialmente, o Comprova fez uma busca no Google para averiguar se já havia menção ao projeto da Ferrovia do Sol ou do Trem do Sol. A busca resultou, dentre outras, em notícias recentes publicadas em agências de checagem de informação nas quais o assunto é tratado como boato. Em publicações mais antigas, datadas de 2013, alguns veículos mencionam a existência de um projeto com esse nome. Depois, o Comprova procurou as assessorias de imprensa de órgãos do governo federal que poderiam estar à frente ou ter conhecimento da existência da iniciativa, como o Ministério da Infraestrutura, o Ministério do Desenvolvimento Regional, a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene) e a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT). Também ouvimos a Universidade Federal do Ceará (UFC), que, conforme reportado em notícias de 2013, participou das primeiras discussões sobre o estudo de viabilidade técnica da obra. Em paralelo, procuramos o senador Roberto Rocha (PSDB-MA), que divulgou um vídeo recente sobre o projeto, e a autora da postagem que viralizou no Twitter. Ela não respondeu até a publicação desta verificação. Verificação A ideia de uma ferrovia ligando as capitais do Nordeste As primeiras menções a uma ferrovia passando por todas as capitais do Nordeste é de 2013, ano em que a Sudene e a ANTT assinaram um termo de cooperação para estudar a viabilidade técnica da obra durante o II Fórum Nordeste 2030, realizado em João Pessoa (PB). O projeto era chamado de Trem do Sol e tinha um traçado com origem em Salvador (BA) e seguiria até São Luís (MA). O acordo previa que um comitê técnico seria formado por representantes da Sudene, da ANTT, dos ministérios dos Transportes (hoje Infraestrutura) e da Integração Nacional (hoje Desenvolvimento Regional), além das nove secretarias estaduais de transporte dos estados nordestinos. Os serviços técnicos contariam com a participação de pesquisadores das universidades federais do Ceará (UFC), de Pernambuco (UFPE) e da Bahia (UFBA). Esse grupo deveria analisar a movimentação de cargas e o transporte de passageiros na região para identificar se o projeto era ou não viável. Em 2015, o então superintendente da Sudene, José Márcio de Medeiros Maia, chegou a se reunir com o então secretário de Transportes do Rio Grande do Norte, Ruy Gaspar, para discutir a proposta. Na época, a Sudene previa que o primeiro trecho ligaria Recife (PE) a João Pessoa e que as obras poderiam ser feitas através de Parcerias Público-Privadas (PPPs). O valor inicial do projeto, orçado em R$ 10 bilhões, já carecia, naquele momento, de adequação orçamentária, segundo as autoridades à época. Estudo ficou paralisado Desde então, o governo federal teve duas trocas de comando: de Dilma Rousseff (PT) para Michel Temer (MDB) e, depois, para Jair Bolsonaro (sem partido). O estudo de viabilidade foi interrompido antes de ser concluído. A obra nem sequer começou a sair do papel. Em nota enviada ao Comprova, no dia 9 de outubro, o Ministério da Infraestrutura informou que tem trabalhado para viabilizar projetos de obras ferroviárias, mas ressaltou que “não existe nenhum projeto, no âmbito do Ministério da Infraestrutura, sobre a Ferrovia do Sol”. O Ministério do Desenvolvimento Regional e a Sudene, também procurados, enviaram notas semelhantes ao Comprova. No texto, os órgãos reconhecem que o termo de cooperação técnica para estudar a viabilidade do empreendimento, procedimento que antecede qualquer obra física, “não teve prosseguimento”. Também disseram que “há discussões” para que a Superintendência retome os estudos de viabilidade da ferrovia, mas não definiram nenhuma data para retomada dos trabalhos. O Departamento de Engenharia de Transportes (DET) do Centro de Tecnologia da UFC informou por email que o projeto, em 2013, buscava integrar trechos independentes e não utilizados da malha ferroviária em toda a região para finalidade turística e enviou um relatório de 2013/2014 do Grupo de Trabalho criado para discutir a necessidade dos trens de passageiros. Na época, existiam análises de viabilidade pré-aprovada de alguns trechos e a ideia era que o trem fosse de média velocidade, a exemplo de trens de passageiros usados na Europa, conforme explicou a universidade. Apesar da intenção inicial, não houve a formalização de parcerias com a universidade, nem a destinação de recursos para que a instituição desse início ao estudo do trecho entre o Ceará e o Maranhão, segundo a UFC. Por telefone, a assessoria de imprensa da ANTT indicou o Ministério da Infraestrutura para responder pelo projeto. O vídeo compartilhado pelo tuíte A obra voltou ao debate depois que o senador Roberto Rocha publicou no Facebook, no dia 25 de setembro de 2020, um vídeo com a seguinte descrição: “Você já ouviu falar da Ferrovia do Sol? Assista ao vídeo até o final e confira esse projeto monumental para o desenvolvimento do nosso Nordeste”. Esse vídeo, com a marca d’água do mandato do senador Roberto Rocha, é reproduzido no tuíte verificado pelo Comprova. Em contato via whatsapp com a assessoria de imprensa do parlamentar, o Comprova questionou a autoria do vídeo e a assessoria confirmou que a peça audiovisual foi produzida pelo parlamentar. Outra indagação é se o vídeo se baseia em algum projeto já elaborado e, nesse caso, se poderíamos ter acesso ao documento. Em resposta, a assessoria explicou que “a Ferrovia do Sol está na fase de mobilização política entre parlamentares do Nordeste, liderada pelo senador Roberto Rocha, para viabilizar recursos para o projeto junto ao Orçamento Geral da União (OGU). Essa é a fase inicial”. O Comprova informou à assessoria que durante a apuração foi constatado que, há alguns anos, um projeto com características semelhantes havia sido discutido por órgãos como a Sudene, mas não se materializou. O parlamentar foi questionado se retomou essa ideia e se há algum estudo de viabilidade da atual proposta. A assessoria respondeu que “a Ferrovia do Sol, idealizada pelo senador Roberto Rocha, não tem ligação com projetos anteriores que versam sobre o mesmo assunto”. Também foi questionado se já houve algum diálogo oficial do senador com o Governo Federal para proposição do projeto, e se houve, quando e com qual órgão. A assessoria comunicou apenas que “o senador tem conversado com parlamentares, seja da base ou oposição ao governo. É um projeto de caráter nacional que, ao se materializar, representa um passo gigantesco para atividade turística, por exemplo. Obviamente, que o Governo Federal é favorável a modelos de desenvolvimento como este. O congressista vai trabalhar para que o Congresso Nacional aloque recursos para o projeto. Sem projeto não há obra. A obra em si seria em PPP”. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais tratando sobre políticas públicas do governo federal ou da pandemia de covid-19. É o caso da publicação verificada aqui, feita em um perfil de Twitter, que teve 2,1 mil curtidas no site e mais de 700 compartilhamentos. O vídeo sobre a ferrovia foi assistido 18,6 mil vezes nas páginas do senador Roberto Rocha no Facebook e no YouTube. A área de infraestrutura ganhou destaque na gestão Bolsonaro. O Comprova já mostrou que a ponte entre o Acre e Rondônia não é obra apenas do atual governo; que um novo viaduto em Foz do Iguaçu não tem relação com a gestão atual; que uma rodovia no Pará foi usada erroneamente para elogiar o presidente; e que imagens antigas estavam sendo utilizadas como se fossem obras do governo Bolsonaro. No Nordeste, o Comprova também verificou que o Exército não refez o trecho da transposição do Rio São Francisco inaugurado por presidentes anteriores e que não há provas de que o rompimento em uma barragem no Ceará tenha sido causado por uma sabotagem. O Aos Fatos e o Boatos.org verificaram o mesmo conteúdo analisado aqui e concluíram que ele é, respectivamente, falso e um boato. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/publicacao-mistura-informacoes-verdadeiras-com-dados-imprecisos-sobre-meio-ambiente-no-brasil/
COMPROVA
Publicação mistura informações verdadeiras com dados imprecisos sobre meio ambiente no Brasil
null
2020-10-13
Sequência de tuítes que lista "10 coisas que todo brasileiro deveria saber antes de querer lacrar sobre o tema meio ambiente" usa dados imprecisos e enganosos para defender políticas ambientais Conteúdo verificado: Sequência de tuítes faz 10 afirmações sobre a questão ambiental no Brasil Uma publicação com 10 afirmações sobre o meio ambiente no Brasil mistura dados verdadeiros com imprecisos. A sequência de mensagens no Twitter defende que o Brasil tem a mais limpa matriz energética dos países do G-20, o que é verdade se considerados dados de energia renovável da Agência Internacional de Energia (IEA) consultados pelo Comprova, mas também aponta que a agropecuária brasileira é a mais limpa dentre as maiores economias do mundo e que o Brasil é o país que mais tem feito no âmbito do Acordo de Paris, o que não se sustenta com base em dados e avaliações de órgãos independentes. A série de publicações também afirma que o etanol seria uma fonte de energia mais limpa que a usada em carros elétricos na maioria dos países europeus. A informação é correta segundo especialistas ouvidos pelo Comprova, mas apenas quando comparada a países com geração baseada em fontes de energia não renováveis, como o carvão. Os tuítes também sustentam que a Amazônia teria 84% de mata nativa preservada, mas, segundo informado pela MapBiomas ao Comprova, o percentual de área não desmatada seria de 78%, sendo que desse total, uma parte já sofreu algum nível de degradação por queimadas e exploração madeireira. As postagens ainda sustentam que o país tem 60% de área ocupada por florestas, o que está correto segundo dados do MapBiomas. Porém, afirmam que o país possui “a legislação ambiental mais restritiva dos países do G20”, o que encontra divergências em estudos sobre legislação florestal e preservação de áreas ambientais consultados pelo Comprova. O texto foi publicado como uma sequência de postagens no Twitter por Vicente Santini, ex-secretário executivo da Casa Civil e nomeado em setembro como assessor especial do Ministério do Meio Ambiente (MMA). Procurado, não respondeu até a publicação desta checagem. Como verificamos? Começamos consultando reportagens sobre o tema, que levaram a estudos e rankings sobre os investimentos e os avanços dos países em energia limpa. As fontes utilizadas para comparação entre países foram o Balanço Mundial de Energia, da Agência Internacional de Energia, e dados da British Petroleum (BP), divulgados no site Our World in Data. Também consultamos especialistas na área de energia e questionamos o Ministério do Meio Ambiente sobre comparativos entre a matriz energética brasileira e de outros países. Verificamos também checagens semelhantes sobre outras afirmações da publicação, como a do Fakebook.eco, do Observatório do Clima, que já havia apontado inconsistências na afirmação de o Brasil ter o agronegócio mais sustentável do mundo. Recorremos também a documentos como o Climate Action Tracker e o Relatório Sobre a Lacuna de Emissões, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, que monitoram as políticas adotadas pelos países para cumprir as metas estabelecidas no Acordo de Paris. Entrevistamos um dirigente da Associação de Engenharia Automotiva e o Observatório do Clima para verificar pontos como a afirmação de o etanol ser menos poluente do que a energia de carros elétricos usados em países europeus. Consultamos dados do MapBiomas para encontrar percentuais de áreas florestais preservadas no país e um estudo comparativo sobre legislações ambientais em diferentes países, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) e Proforest. Ainda consultamos dados internacionais do Banco Mundial e da Global Forest Watch, da ONU, para comparar a porcentagem de área protegida em diferentes países. Também fizemos contatos por e-mail com o Ministério do Meio Ambiente para questionar o assessor especial sobre a fonte das informações afirmadas por ele nas postagens, mas não obtivemos resposta até a publicação desta verificação. Verificação A matriz energética mais limpa? Uma das postagens verificadas afirma que “o Brasil tem a mais limpa matriz energética dentre os países do G20”. Segundo dados do Balanço Energético Mundial 2020, da Agência Internacional de Energia, o Brasil tem, de fato, o maior percentual de energia renovável na matriz energética entre as nações do G20 que aparecem no relatório, com 44,9% de fontes renováveis. Logo atrás do Brasil estão Indonésia (25%) e Índia (22%), que fecham as três melhores posições neste quesito entre as principais economias do mundo, segundo o IEA. Com esses percentuais, o Brasil também supera a média mundial, que tem apenas 13,8% de energia renovável. A relação traz dados de países da OCDE e outras nações associadas, o que exclui Rússia, Argentina e Arábia Saudita, dentre os integrantes do G20. No entanto, mesmo considerando dados desses três países disponíveis no site da IEA, as primeiras posições entre países com maior percentual de fontes renováveis não se alteram. Os dados são referentes a 2018 e consideram o total de energia fornecida. Dados de outra instituição, a British Petroleum, divulgados no site Our World in Data, também mostram um maior percentual de energia renovável na matriz energética brasileira em comparação com as do G20. São 45% de origem em fontes renováveis no Brasil, à frente de Canadá (27,6%) e Turquia (18,4%), compondo as três primeiras posições. Esta pesquisa não inclui biocombustíveis entre as fontes renováveis, o que ajuda a explicar a mudança nas primeiras posições em relação ao balanço do IEA. Na comparação entre todos os países, incluindo os que não integram o G20, o Brasil aparece em terceiro, atrás de Islândia e Noruega, no mapa de matrizes com mais fontes renováveis da BP. Procurado, o Ministério do Meio Ambiente também enviou à reportagem dados sobre a proporção de fontes renováveis na matriz energética brasileira e em países do G20. Os números do governo também mostram Brasil, Indonésia e Índia nas três primeiras posições, como o estudo do IEA, mas com pequenas diferenças nos percentuais – 43,4%, 33,2% e 23,4%. Os números repassados pelo Ministério consideram a oferta interna de energia dos países. Os dados também são do IEA, de 2017. É importante ressaltar também que os dados do IEA se referem à energia renovável – fontes hídrica, geotérmica, eólica, solar, das ondas e marés, biocombustíveis e resíduos. Ao falar de energia limpa, como mencionado na postagem, há quem defenda que seria possível incluir a energia nuclear, que não provoca emissão de CO2, mas que possui outras implicações ambientais e não é considerada renovável. Nesse caso, a França, que tem a maior dependência da energia nuclear na matriz, ficaria à frente do Brasil na análise de fontes “limpas” (renováveis somada à nuclear), segundo os mesmos dados do IEA de 2018. Importante destacar que o Brasil possui a maior quantidade proporcional. Em termos absolutos, a China lidera a quantidade de energia renovável. O professor Nivalde J. de Castro, do Grupo de Estudos do Setor Elétrico, ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), explica que a alta incidência de energia hidrelétrica favorece o percentual de fontes renováveis acima de outros países na matriz brasileira, sobretudo na parte elétrica. Agropecuária mais limpa? A publicação também afirma que “o Brasil tem a agropecuária mais limpa dos países do G20”. O assunto já foi alvo de uma checagem recente do Fakebook.eco, do Observatório do Clima, que apontou ausência de indicador para comparar a sustentabilidade das áreas produtivas entre os países e apresentou dados como uso de agrotóxicos e fontes de emissões de gases do efeito estufa para avaliar o impacto gerado pela atividade no Brasil. A verificação do Fakebook.eco aponta que a Agenda 2030, da Organização das Nações Unidas (ONU), estabeleceu um indicador de proporção de área sob agricultura produtiva e sustentável para avaliar o setor em países sob o aspecto da sustentabilidade ambiental, econômica e social. O indicador, no entanto, ainda está sendo testado em países selecionados de diferentes regiões, segundo o site da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO, na sigla em inglês). Por isso, para avaliar a sustentabilidade da agropecuária brasileira, o Fakebook.eco recorreu a outros indicadores. Um deles é o uso de agrotóxicos. O Brasil aparece como o terceiro país que mais usa agrotóxicos em número absoluto no mundo, conforme dados da mesma FAO. Na análise por área plantada, está entre os 28 países com maior utilização – das nações do G20, apenas China, Japão e Coreia aparecem com maior utilização por área cultivada. O país também utiliza pesticidas proibidos em nações da Europa e é o segundo maior comprador destes insumos, conforme reportagem recente da Galileu. Além disso, a agropecuária foi responsável, diretamente, por 22% do total das emissões de gases do efeito estufa no Brasil em 2018, segundo dados do Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa do Observatório do Clima (Seeg Brasil). É o segundo maior fator, atrás apenas da mudança de uso do solo, que inclui desmatamento e queimadas. A redução dessas emissões é o principal compromisso assumido pelo país no Acordo de Paris. Um estudo da Embrapa sobre sustentabilidade na agricultura também aponta que, apesar de ter tido avanços, o país “continua incorporando cerca de 1 milhão de hectares de áreas de vegetação nativa ao sistema de produção agropecuária a cada ano”. Brasil e o Acordo de Paris Outro trecho da postagem afirma que “o Brasil é o país que mais tem feito no âmbito do Acordo de Paris”. No entanto, relatórios que avaliam o desempenho dos países no tratado mostram que o Brasil pode não atingir a meta de 2030 e teve projeção de emissões ampliadas por fatores como o desmatamento. O Acordo de Paris foi firmado por 195 países para reduzir a emissão de gases de efeito estufa e, desse modo, manter o aumento da temperatura média global abaixo de 2°C até o final do século – se possível, menor que 1,5°C. O tratado completa cinco anos em dezembro de 2020, quando países devem informar se renovarão as metas. Segundo reportagem do Valor, o Brasil até agora não deu sinais do que pretende na sequência do acordo. A avaliação mais recente da Climate Action Tracker, consórcio científico que faz análises independentes sobre as propostas dos países no Acordo de Paris, classifica como “insuficientes” as metas apresentadas pelo Brasil para promover a contenção no aquecimento do planeta. O órgão aponta também que “existem lacunas significativas na formulação de políticas brasileiras para conter o crescimento das emissões”. As medidas de isolamento social motivadas pela pandemia da covid-19 frearam a atuação de setores como transporte e indústria, o que gera expectativa de queda de 4% nas emissões de gases do efeito estufa nesses segmentos em 2020 no país, segundo a organização. Mesmo assim, a análise aponta que o desempenho brasileiro é prejudicado por pontos preocupantes como a falta de políticas para mitigar emissões no setor agrícola e as taxas de desmatamento cada vez mais altas – aumento de 34% em 2019 e perspectiva de crescimento ainda maior este ano, segundo a avaliação. De acordo com a análise, a redução de emissões causada pela crise da covid-19 poderia permitir ao Brasil cumprir a meta para 2025. No entanto, sem uma queda sustentada a partir da pandemia, o país estaria fora do caminho para cumprir a meta de 2030. Outros compromissos, como reduzir o desflorestamento e alcançar o desmatamento ilegal zero na Amazônia até 2030, também devem ser perdidos, conforme o Climate Action Tracker. A Índia, que também integra o G20, tem metas que são consideradas “compatíveis” com o objetivo de conter o avanço da temperatura em até 2ºC e deve conseguir cumprir a meta estabelecida de redução de emissões até 2030, segundo a última avaliação do Climate Action Tracker. Os motivos devem ser a redução de emissões durante a pandemia e as políticas até aqui adotadas, apesar de ressalvas feitas no estudo sobre os planos de expansão da energia a carvão no país asiático. O último Relatório Sobre a Lacuna de Emissões, do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), publicado antes da pandemia, em novembro de 2019, avalia as ações dos países e aponta que apenas seis integrantes do G20 deveriam atender as metas do Acordo de Paris com as políticas atuais adotadas: China, Índia, México, Rússia e Turquia, além da União Europeia. Outros sete países, incluindo o Brasil, precisariam de ações adicionais para atingi-las. No caso do Brasil, diz o relatório, as projeções de emissões de publicações atualizadas anualmente foram revisadas para cima por causa, entre outros motivos, de mudança na tendência de desmatamento. Uma nota explicativa do Observatório do Clima também avalia o cumprimento das metas do Brasil no Acordo de Paris e aponta que o país ainda não havia apresentado um plano de implementação das metas propostas em 2015. O órgão expõe, entre outros pontos, uma das principais preocupações: o aumento do desmatamento. O texto indica ainda que medidas como a redução do orçamento de prevenção a incêndios florestais, a suspensão do Fundo Amazônia e a tentativa de abrir terras indígenas para mineração “ajudaram a desviar o Brasil de seu NDC (as metas) ao acelerar o desmatamento”. Etanol versus carros elétricos europeus Outro tuíte verificado afirma que “o etanol é uma fonte de energia mais limpa que a maioria usada nos carros elétricos europeus”. A informação é correta, conforme fontes consultadas, desde que a comparação seja com países que tenham a geração de energia elétrica baseada em fontes poluentes como o carvão. O Comprova consultou o vice-presidente da Associação Brasileira de Engenharia Automotiva (AEA), Edson Orikassa, para apurar o tema. Ele confirmou que o etanol pode ser uma fonte mais limpa do que a usada em carros elétricos europeus. Mas é preciso observar algumas condições. A principal delas é que a comparação deve ser com fontes de energia não renováveis, como o carvão, predominante em alguns países europeus. Em comparação com a energia elétrica em países como o Brasil, onde prevalece a energia hidrelétrica (renovável), o carro elétrico gera menos emissões do que o etanol. O dirigente explica que o assunto é complexo porque é preciso considerar todo o ciclo envolvendo a produção do etanol e da energia elétrica (análise chamada de “do poço à roda”), e não apenas a partir do abastecimento (“do tanque à roda”). No entanto, segundo ele, esse cálculo geral de emissão de gases de efeito estufa é menor no caso dos carros a etanol do que nos elétricos quando considerada a energia termelétrica como fonte, como ocorre em parte dos países europeus. “Considerando todo o ciclo, apesar de você ter variação dependendo do tipo de adubo, do combustível usado na produção do etanol, mesmo assim nesse cômputo geral realmente os veículos flex são melhores do que os elétricos da Europa, se você considerar a principal fonte de energia na Europa, que é a termelétrica”, disse Orikassa. A situação muda ao comparar o etanol com veículos elétricos abastecidos em países com maior participação de energia renovável. “Se considerar a energia elétrica gerada no Brasil, de maioria hidráulica, vamos imaginar trazer o veículo da Europa e carregar com energia gerada no Brasil, nesse caso os elétricos seriam um pouco melhores do que o híbrido flex, e também que o flex, mesmo considerando do poço à roda”, afirma. O coordenador de Comunicação do Observatório do Clima, Claudio Angelo, também confirma que no balanço de emissões o etanol emite menos gases que carros elétricos em países que têm a energia a carvão como predominante na matriz de eletricidade. Segundo dados da Agência Internacional de Energia (IEA), a energia a carvão foi a segunda maior fonte de energia elétrica em países da Europa, com 21% do total em 2018, atrás apenas da energia nuclear. Países como Alemanha, Polônia e Turquia detêm os maiores volumes desta geração no continente, segundo o IEA. Em alguns países, no entanto, a transição para fontes renováveis começa a diminuir a proporção das termelétricas, o que dificulta uma análise sobre o etanol ser mais limpo que a energia elétrica na rigorosa “maioria dos países europeus”, conforme mencionado na postagem. 84% da mata nativa da Amazônia segue preservada? A série de tuítes afirma que “84% da mata nativa da Amazônia segue preservada”, mas especialistas e a base de dados consultados afirmam que este número está exagerado. A Coleção 5 do MapBiomas, publicada em agosto de 2020, indica que, no ano passado, 83,3% do bioma Amazônia, no território brasileiro, era coberto por vegetação nativa, sendo 79,8% de floresta e 3,5% de vegetações não florestais. O MapBiomas estima que 20% dessa área que mantém cobertura nativa já tenha sofrido algum nível de degradação por fogo ou exploração madeireira. “Portanto, a área da Amazônia que não foi desmatada é de 78% e a área que está preservada e não sofreu nenhum tipo de degradação é menor que isso”, disse a iniciativa. Fonte: MapBiomas O MapBiomas reúne mapas anuais de uso e ocupação de terra que cobrem o período de 1985 a 2019 e permite ver que, ao longo da série histórica, o bioma perdeu 44 milhões de hectares de floresta natural – uma perda de 11,5%, equivalente a 289 vezes a área da cidade de São Paulo. Já a Coleção 2 do MapBiomas, com dados de 1985 a 2018, analisa a cobertura vegetal na Pan-Amazônia, isto é, em todos os países que ela cobre. Sob este ângulo, 84% do bioma era ocupado por floresta natural (76%) ou formação natural não florestal (8%). O Brasil possui mais de 60% de sua área ocupada por florestas nativas? A afirmação de que “o Brasil possui mais de 60% de sua área coberta por mata nativa” está correta. De acordo com a Coleção 5 do MapBiomas, em 2019, 66,5% do território brasileiro era coberto por vegetação nativa, que engloba floresta natural e formação natural não florestal. Quando se olha apenas a cobertura de floresta natural, chegamos a 60,27% do território nacional. Apesar de sermos o país com a maior área absoluta de florestas tropicais, somos também os que mais desmatam este tipo de bioma. Segundo a iniciativa Global Forest Watch, que monitora os índices de perda de cobertura florestal no mundo, o Brasil perdeu 1,361 milhão de hectares de florestas tropicais úmidas primárias em 2019. Isto equivale a mais de um terço do observado em todo o mundo (3,8 milhões de hectares). O país liderou o ranking de perda de florestas primárias. Fonte: MapBiomas O Brasil tem a mais restritiva legislação ambiental dos países do G20? A série de tuítes afirma que “o Brasil tem a mais restritiva legislação ambiental dos países do G20”, mas estudos comparativos entre a legislação estrangeira e a nossa mostram que outros países preservam mais do que o Brasil. No país, a preservação das áreas de vegetação em propriedades rurais segue o estabelecido pela Lei de Proteção da Vegetação Nativa. Aprovada em 2012, estabelece que 20% da mata de uma propriedade deve ser preservada. As regras são diferentes caso a propriedade esteja no território da Amazônia legal: 80% deve ser preservada em áreas de floresta; 35%, em área de cerrado; e 20% em áreas de campos. Isto não quer dizer que apenas 20% do território amazônico estaria sujeito a perder sua cobertura vegetal. Isso porque “tem anistias a desmatamentos passados e vários jeitos de burlar o limite de 20% dependendo do Estado e do tamanho da propriedade”, disse o assessor do Observatório do Clima, Claudio Angelo. Para comparar com outros países, o Comprova consultou um estudo, de 2011, do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon) com o Proforest, que analisou a legislação florestal de 11 países, dos quais 8 pertencem ao G20. Na Índia, por exemplo, o governo tem o poder de impedir a conversão de floresta para outros usos em propriedades privadas. No Japão e no Reino Unido, a conversão de florestas para agricultura é proibida. Já na Alemanha, a exploração da madeira é permitida desde que haja recomposição e manejo. Estudo Imazon e Proforest É possível olhar a questão sob a perspectiva das áreas nacionais de conservação. Segundo o último Censo Agropecuário do IBGE, feito com dados até 30 de setembro de 2017, 31,6% do território nacional está em Terras Indígenas ou Unidades de Conservação. A maior parte se encontra na Região Norte (24,9%). O site Protected Planet, mantido pelo Centro Mundial de Monitoramento da Conservação (ONU-WCMC), contabiliza a porcentagem que cada país destina de seu território para a preservação natural. O Brasil ocupa a segunda colocação dentro do G20 com 30,28%, perdendo apenas para a Alemanha (37,8%). O resultado brasileiro é próximo do encontrado em Japão (29,39%), Reino Unido (28,73%) e França (27,28%). A Agência de Agricultura e Alimentação da ONU calcula os dados de cobertura florestal em todo o mundo. Na Ásia Leste, região que engloba China, Coreia do Sul, Japão, Coreia do Norte e Mongólia, sendo que os três primeiros pertencem ao G20, a área de floresta aumentou 61,497 milhões de hectares entre 1990 e 2020. Já na Europa, a área de floresta cresceu 23,142 milhões de hectares no mesmo período. Seguindo tendência contrária, a América do Sul perdeu 129,48 milhões de hectares de florestas. O Brasil liderou a perda de florestas no mundo na última década, com uma média de 1,496 milhão de hectares perdidos por ano. Quem é Vicente Santini Em janeiro, o presidente Bolsonaro demitiu Santini do cargo de secretário-executivo da Casa Civil após ele utilizar um avião da Força Aérea Brasileira (FAB) para viajar de Davos, na Suíça, onde participou do Fórum Econômico Mundial, para Nova Délhi, na Índia, para acompanhar o presidente em viagem oficial. Na ocasião, ele ocupava o cargo de ministro no lugar de Onyx Lorenzoni, que estava de férias. Mas outros ministros, como Tereza Cristina (Agricultura) e Paulo Guedes (Economia), fizeram o mesmo trajeto por meio de vôo comercial. Atualmente, Santini é assessor especial do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles. Ele foi nomeado, em 16 de setembro, com aval do Palácio do Planalto, após os três processos contra ele serem arquivados. O MPF considerou, em um dos processos, que ele estava a serviço da Presidência e que, por isso, não haveria imoralidade nem ilegalidade no gesto. Em seu Twitter, Santini utiliza como imagem de capa uma foto em que aparece ao lado do deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre políticas públicas do governo federal. As equipes do Comprova checam áudios, imagens e textos compartilhados nas redes sociais e que alcançaram alto grau de viralização. O tuíte do assessor especial do Meio Ambiente foi retuitado 2,6 mil vezes e curtido 12,4 mil até a publicação desta checagem. O governo federal sofre pressão para preservar o meio ambiente em meio a grandes queimadas que devastam o Pantanal e a Floresta Amazônica. A política ambiental brasileira atraiu de forma negativa a atenção de bancos, grandes empresas, fundos de investimentos e ameaça o acordo entre o Mercosul e a União Europeia. O mesmo conteúdo verificado pelo Comprova chamou a atenção do Fakebook.eco, iniciativa de checagem do Observatório do Clima com foco em peças de desinformação sobre o meio ambiente. O projeto já tinha checado informações abordadas nesta verificação em outras ocasiões. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos e que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C337&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/tuite-engana-ao-questionar-compra-de-vacinas-pelo-governo-de-sp/
COMPROVA
Tuíte engana ao questionar compra de vacinas pelo governo de SP
null
2020-10-08
Com números equivocados e afirmações desconectadas dos fatos, ex-ministro do governo Bolsonaro insinua que pessoas abaixo de 35 anos não deveriam ser vacinadas contra a covid-19 Conteúdo verificado: Publicação de Abraham Weintraub no Twitter questionando a necessidade de vacinação contra a covid-19 para quem tem menos de 35 anos. É enganoso o tuíte em que o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub questiona se a vacinação contra o novo coronavírus deveria ser para toda a população do estado de São Paulo, insinuando que alguém estaria lucrando com a compra de 46 milhões doses da CoronaVac feita pelo governo paulista. “Precisa vacinar todos os paulistas? Metade tem menos de 35 anos! Baixo risco”, escreveu. Weintraub também pergunta se “não seria prudente ‘apenas’ 10 milhões de doses para todos com mais de 50 anos?”. Os recortes de idade feitos por ele não têm sentido, como explica Renato Kfouri, pediatra, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). “Não há diferença entre quem tem 28, 40, 45, 35 ou 50 anos. O grupo de risco etário no Brasil é acima de 60 anos, mas a covid-19 pode ser grave em todas as idades”, diz ele. Além disso, Weintraub desconsidera que o objetivo do governo de São Paulo não é vacinar toda a população, mas distribuir as doses de CoronaVac entre os brasileiros, priorizando determinados grupos. Contatado pelo Comprova, o Instituto Butantan, parceiro da empresa farmacêutica chinesa Sinovac Life Science no desenvolvimento do imunizante, afirmou que, após aprovação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a vacina “poderá ser disponibilizada para toda a população brasileira” e que “quem define as políticas de distribuição nas campanhas vacinais é o Ministério da Saúde”. Outro ponto levantado pelo ex-ministro é o de que a vacina “pode ter efeitos adversos”. Os testes ainda estão sendo realizados, mas, de acordo com o Butantan, “estudos preliminares com 50 mil voluntários na China demonstraram que a vacina é segura e não apresentou reações adversas significativas”. O Comprova entrou em contato com Weintraub, mas não recebeu retorno até a publicação deste texto. Como verificamos? Por meio de pesquisas no Google, buscamos reportagens e publicações em fontes oficiais, como o site do Instituto Butantan, do governo paulista e da Universidade Johns Hopkins, referência na covid-19, sobre a vacina em questão. Por e-mail, entramos em contato com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para obter números sobre projeções da pirâmide etária das populações brasileira e paulista. Também contatamos o governo paulista com alguns questionamentos sobre a verificação e entrevistamos, por telefone, Renato Kfouri, pediatra, infectologista e diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações. Tentamos fazer contato com Weintraub por meio de mensagens no Twitter e no Instagram, mas ele não respondeu. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 8 de outubro de 2020. Verificação Coronavac Os testes da vacina produzida pelo Butantan em parceria com a Sinovac estão na fase três, a última etapa para verificar sua segurança e eficácia. Eles envolvem cerca de 9 mil profissionais de saúde que se apresentaram voluntariamente em 12 centros de pesquisa de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná e Distrito Federal. O governo paulista pretende iniciar a vacinação contra a covid-19 com a CoronaVac na segunda quinzena de dezembro. Segundo o órgão, a prioridade serão “os profissionais de todas as unidades públicas e privadas de saúde de São Paulo”. Questionado, o governo não informou quem mais terá prioridade, mas sabe-se que, depois dos profissionais de saúde, deverão ser imunizadas pessoas que estão nos grupos de risco da doença, como idosos (quem tem mais de 60 anos) e pessoas com doenças crônicas, e, em sequência, agentes de segurança, profissionais da educação e a população indígena. João Doria, governador paulista, já indicou que quer distribuir a vacina para os outros estados, não apenas para São Paulo. No início de outubro, o governo enviou os dados da CoronaVac ao Ministério da Saúde para agilizar o registro do produto. No dia 30 de setembro, em entrevista coletiva no Palácio dos Bandeirantes, em São Paulo, Weining Meng, diretor do laboratório Sinovac, afirmou: “Trabalhando em conjunto com o Butantan, nossa meta é simples: nós vamos trazer vacina suficiente para o Brasil“. Entretanto, vale ressaltar, como o próprio Butantan informou, que quem define o público-alvo e as políticas de distribuição de vacinas no país é o Ministério da Saúde, por meio do Programa Nacional de Imunização (PNI). Além das 46 milhões de doses já anunciadas, o governo paulista prevê receber mais 15 milhões até março do próximo ano. Outras 100 milhões podem ser adquiridas ainda em 2021, “a depender de suporte do Ministério da Saúde”. Efeito colateral Weintraub escreve, na publicação verificada, que “a vacina pode ter efeitos adversos” insinuando que nem todos deveriam se imunizar. A alegação, no entanto, não tem evidências. Conforme o Butantan informou ao Comprova, os resultados demonstrados a partir de estudos preliminares realizados com 50 mil voluntários na China “mostraram um excelente perfil de segurança, com índice de 5,36% de efeitos adversos de grau baixo”. Entre as reações mais frequentes estão dor no local da aplicação (3,08%), fadiga (1,53%) e febre moderada (0,21%). As outras reações foram perda de apetite, dor de cabeça e febre. De qualquer forma, não é o governo de um estado que libera a distribuição de uma vacina. Ela só poderá ser oferecida com a autorização da Anvisa, que revisa todos os documentos técnicos e regulatórios e verifica os dados de segurança e eficácia, bem como avalia a qualidade da vacina. “O registro, concedido pela Anvisa, é o sinal verde para que a vacina seja comercializada e disponibilizada no país”, informa o site do órgão regulador federal. Perda de doses Se, como Weintraub sugere, apenas as pessoas com mais de 50 anos fossem receber a Coronavac, seriam necessárias mais de 30 milhões de doses, e não 10 milhões, como ele escreve. Ele ignora o fato de que a CoronaVac é oferecida em duas doses e que há uma margem de perda da vacina, como explica Renato Kfouri, da SBim. “O frasco vem com uma quantidade de doses e, na hora em que você abre e manuseia, perde cerca de 20%”, afirma o profissional. O cálculo das 30 milhões de doses foi feito pelo Comprova considerando essa perda e que a população paulista com mais de 50 anos representa 12,8 milhões de pessoas, segundo projeção da população para o período de 2020 realizada pelo IBGE. Em seu tuíte, Weintraub insinua ainda que quem já foi infectado pelo novo coronavírus não precisaria se imunizar. Mas, segundo um estudo da Universidade Johns Hopkins sobre alocação e distribuição de vacinas nos Estados Unidos, os “testes de anticorpos podem fornecer evidências de infecção anterior, mas não necessariamente prova de imunidade eficaz”. O texto da instituição, que se tornou uma referência mundial sobre a covid-19, conclui que, “neste ponto, não é possível saber se um resultado sorológico positivo deve alterar a prioridade de vacinação de um indivíduo” – inclusive, já foram divulgados casos de reinfecção ao redor do mundo. Outro ponto importante e ignorado no tuíte de Weintraub é que, embora atinja mais os idosos, a covid-19 também mata pessoas com menos de 60 anos. Segundo a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade), do governo de São Paulo, dos 36.699 óbitos informados no estado até 8 de outubro, 23,7% eram de pessoas com até 59 anos. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova investiga conteúdos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia. Conteúdos que trazem desinformação relacionada à covid-19, como o verificado aqui, são ainda mais perigosos pois colocam a saúde da população em risco e podem custar vidas. Uma vacina é a forma mais eficiente de imunizar a população e esforços estão sendo feitos em todo planeta para chegar a essa solução. A postagem em questão – que teve cerca de 3 mil compartilhamentos no Twitter e quase 12 mil curtidas até 8 de outubro – gera dúvidas sobre o processo de desenvolvimento da vacina e pode levar pessoas a decidirem não se vacinar quando a proteção estiver disponível para os brasileiros. Publicações que tentam desacreditar a importância da vacina já foram verificadas pelo Comprova, como o post que insinua que a China não usará a própria vacina, o vídeo que afirma que as vacinas produzirão danos genéticos, o tuíte que diz que imunizantes usam células de fetos abortados e uma teoria conspiratória segundo a qual a proteção teria um microchip para rastrear a população. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos; ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i1.wp.com/projet…=601%2C322&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-exercito-tenha-apreendido-madeira-ilegal-ligada-a-ongs-e-mst/
COMPROVA
É falso que Exército tenha apreendido madeira ilegal ligada a ONGs e MST
null
2020-10-08
O Exército informou que não há registros de nenhuma apreensão de madeira recente nas condições descritas pelas publicações verificadas pelo Comprova. Algumas postagens usaram uma foto que mostra caminhões carregados de toras de madeira. A imagem, no entanto, é de 2015 Conteúdo verificado: Publicações no Twitter e no Facebook afirmam que madeira ilegal apreendida no Pará pelo Exército seria de fundador de uma ONG ligada à proteção ambiental na Amazônia, que também teria envolvimento com o MST no estado. É falso que o fundador de uma ONG ligada à proteção ambiental na região amazônica seria dono de um carregamento ilegal de madeira apreendido em ação do Exército no Pará. As afirmações circulam em uma série de postagens virais no Twitter e no Facebook. As publicações afirmam ainda que a entidade estaria ligada ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST-PA). Não há evidências de que uma apreensão do tipo tenha sido feita na região nas últimas semanas, e nem o Comprova encontrou qualquer ligação recente entre o MST ou ONGs ambientais com o desmatamento ilegal na região. O Exército informou que divulga suas operações no site oficial e não há registros de nenhuma apreensão de madeira recente nas condições descritas pelas publicações verificadas pelo Comprova. O MST também nega qualquer ligação com madeireiras. Como verificamos? Entramos em contato com o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e com o Exército, que são diretamente mencionados nas publicações, para saber a veracidade das alegações. Consultamos os sites oficiais do Exército, do governo federal e do Ministério da Defesa, além de reportagens publicadas neste ano sobre a ação dos militares na região da Amazônia. Além disso, para checar a origem da imagem que circulou em outras postagens sobre o mesmo conteúdo, usamos a ferramenta de busca reversa de imagens do Google, que resultou em uma foto com a logo da “Máfia da Tora” — que foi, então, localizada nas redes sociais. Também entramos em contato com o usuário que fez a postagem no Twitter, @Gabriel08819060, por meio de mensagem direta na rede social, mas, até a publicação desta checagem, não tivemos resposta. Verificação Foto de toras de madeira é antiga O mesmo conteúdo circulou no Facebook. Na rede social, a alegação falsa sobre a apreensão de madeira pelo Exército foi compartilhada em algumas postagens com uma foto que mostra caminhões carregados de toras de madeira. A imagem, no entanto, é de 2015 e foi reproduzida em outras postagens nos anos posteriores. O Comprova usou a ferramenta de busca reversa de imagem do Google para encontrar fotos semelhantes publicadas antes de 2020. Em um dos resultados, aparece a inscrição “Máfia da Tora”. Encontramos uma página de Facebook de mesmo nome, que publicou a mesma foto em novembro de 2017. O site E-Farsas, que também investigou a origem da fotografia, encontrou uma postagem na mesma página ainda mais antiga, de janeiro de 2016. O post atribui o registro ao leitor Alessandro Antoniazzi, durante festejo da padroeira da cidade de Cláudia, no Mato Grosso. A reportagem do E-Farsas conversou com Antoniazzi, que é cantor. Ele confirmou que fez a foto em 2015, e que as toras mostradas na imagem foram presenteadas à paróquia Nossa Senhora da Glória por madeireiras da região. O Comprova entrou em contato com Alessandro e com a igreja de Cláudia, mas não obteve retorno. Operação Verde Brasil 2 O Exército, de fato, tem atuado no combate ao desmatamento ilegal e aos incêndios na região da Amazônia Legal. A “Operação Verde Brasil 2” foi iniciada no dia 11 de maio, e é encabeçada pelo Conselho Nacional da Amazônia, chefiado pelo vice-presidente Hamilton Mourão, e formada por onze outras organizações, como o Ibama e o Instituto Chico Mendes (ICMBio). A ação vai até o dia 11 de novembro. Desde o início das atividades, a força-tarefa resultou na apreensão de 28,7 mil metros cúbicos de madeira, com a realização de mais de 26 mil inspeções navais e terrestres e 712 apreensões. O Comprova entrou em contato, via assessoria de imprensa, com o Exército, que informou que “as operações realizadas pelo Exército Brasileiro, bem como os resultados obtidos, são os divulgados no site da Força”. Na busca, no site oficial, pelos conteúdos relacionados à operação, estão listadas algumas ações conjuntas no Pará, ligadas ao combate à extração ilegal de madeira, mas não há menção à suposta origem relacionada ao MST ou a ONGs de preservação ambiental, já que o Exército não divulga esse tipo de informação. O Comprova perguntou especificamente sobre as alegações feitas no tuíte e nos posts verificados, mas a assessoria de imprensa não nos forneceu detalhes do tipo. Postagens acusam, sem provas, marido de Marina Silva A alegação falsa sobre a apreensão de madeiras pelo Exército também foi compartilhada em postagens com acusações ao marido da ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, Fábio Vaz de Lima. Os posts reciclam um boato de que Lima seria “um dos maiores desmatadores da Amazônia”. Em 2018, o site Aos Fatos mostrou que a acusação distorcia uma investigação do Tribunal de Contas da União (TCU). O Comprova checou, no mesmo ano, um boato semelhante. Fábio é um dos fundadores do Grupo de Trabalho amazônico (GTA). Esse grupo era ligado a uma ONG chamada Fase, que, em 2003, recebeu do Ibama a doação de 5,7 mil toras de mogno ilegais apreendidas na Amazônia. A investigação do TCU ocorreu porque havia divergências entre o valor atribuído às madeiras e o valor real. Marina explicou que o marido deixou o GTA em 1999 para trabalhar no governo do Acre. MST nega envolvimento Procurado pelo Comprova, o MST disse não ter qualquer ligação com madeireiras. “Desde a semana passada temos sido alvo de uma série de informações falsas que têm circulado deliberadamente na internet”, comunicou o movimento. De fato, o MST tem sido acusado nas redes sociais de envolvimento com as queimadas na Amazônia e no Pantanal. O Comprova desmentiu uma postagem que afirmava que um dos fundadores do movimento, João Pedro Stédile, estaria sendo investigado pela Polícia Federal por envolvimento em queimadas. Não há registro que tal investigação exista. Na contramão das acusações e “como resposta ao desmatamento”, a organização afirma que está encabeçando uma campanha nacional de plantio de árvores. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica postagens suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais que tenham ligação com políticas públicas do governo federal ou com a pandemia do novo coronavírus. O tuíte analisado aqui teve mais de 16,9 mil interações desde o dia 5 de outubro. A informação falsa foi reproduzida em postagens no Facebook, onde ganhou mais de 1,3 mil compartilhamentos. A preservação da floresta amazônica é um dos maiores desafios para o governo — um estudo publicado na revista Science Advance indica que, se o desmatamento atingir 20% da bacia Amazônica, atingiremos um ponto irreversível de savanização do bioma. Atualmente, 17% da floresta já foi desmatada. Os sites Aos Fatos, E-Farsas e Lupa também publicaram verificações semelhantes. O Comprova já checou vários conteúdos relacionados à Amazônia, a ONGs e ao MST. Na semana passada, mostramos que não havia provas de que o MST tivesse relação com as queimadas na Amazônia ou no Pantanal. Outros exemplos incluem uma verificação sobre um vídeo lançado pela Associação de Criadores do Pará que afirma que a Amazônia não está queimando e outra sobre postagem que afirmam que indígenas prenderam em flagrante integrantes de ONGs que seriam incendiários. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C269&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/post-distorce-informacoes-para-insinuar-que-china-nao-usara-a-propria-vacina/
COMPROVA
Post distorce informações para insinuar que China não usará a própria vacina
null
2020-10-07
Ao contrário do que afirma uma publicação no Facebook, os chineses têm realizado testes de suas vacinas na população. O post também desconsidera que vários países além da China têm buscado diversificar seus fornecedores de vacinas Conteúdo verificado: Postagem no Facebook afirma que a China comprou vacina da Suécia para aplicar nos chineses, enquanto vendeu para o Brasil os imunizantes desenvolvidos na Ásia Uma publicação distorce informações sobre as negociações para aquisição de vacinas contra a covid-19 sugerindo que há algo de errado com os imunizantes desenvolvidos por empresas chinesas, já que um laboratório do país fechou acordo com a AstraZeneca, empresa parte britânica e parte sueca, para que a China receba 100 milhões de doses do composto desenvolvido em parceria com a Universidade de Oxford, caso ele se prove eficaz para combater a doença. O post questiona por que os chineses estariam em busca dessas vacinas enquanto vendem os seus produtos para o Brasil. Apenas uma das 13 vacinas desenvolvidas por chineses tem acordo para distribuição no Brasil: a CoronaVac, da Sinovac Biotech. O acordo com o governo de São Paulo prevê a importação de 60 milhões de doses, mas também que a tecnologia será transferida para o Instituto Butantan, que produzirá a vacina no país. Até dezembro deste ano, o Butantan pode produzir até 40 milhões de ampolas. O conteúdo verificado desconsidera ainda que a China já concedeu autorização especial para que as vacinas da Sinovac e da Sinopharm – ambas desenvolvidas lá – sejam aplicadas na população do país considerada de alto risco, caso dos médicos e profissionais de saúde. O material não leva em conta, também, que vários países têm buscado diversificar seus fornecedores de vacinas. A China não é o único país que desenvolve vacinas contra covid-19 a comprar imunizantes produzidos por outras nações. Estados Unidos e Reino Unido, por exemplo, têm, cada um, acordos com seis diferentes fornecedores de vacinas contra o novo coronavírus, segundo levantamento do jornal Financial Times. Como ainda não é possível saber quais das 42 vacinas em fase de testes serão eficazes para imunizar o vírus, o país que conseguir fechar acordos de fornecimento com mais de uma empresa farmacêutica tem mais chances de ter um imunizante eficiente disponível para sua população, mesmo que um deles não seja aprovado. A publicação também desconsidera que 12 das 13 vacinas desenvolvidas por empresas ou institutos de pesquisa chineses foram aplicadas primeiro em cidadãos da própria China, em suas fases 1 e 2 de testes em humanos. A Coronavac, vacina da Sinovac que está sendo testada no Brasil em conjunto com o Instituto Butantan, veio realizar a fase 3 do ensaio clínico na América do Sul porque, na época, o número de novos casos na China havia caído substancialmente, o que tornaria difícil saber se as pessoas não se infectaram por causa do imunizante ou simplesmente porque não tiveram contato com o vírus. Como verificamos? Para essa verificação, primeiramente buscamos por notícias sobre acordos feitos pela China com laboratórios de fora do país para negociar a pré-aquisição de doses de vacina contra a covid-19. Também buscamos matérias detalhando as negociações entre os países e fornecedores de imunizantes. Ao ver que alguns países estavam trabalhando para diversificar os seus fornecedores de vacinas, procuramos a imunologista Viviane Boaventura (Fiocruz) e o epidemiologista Eduardo Martins Netto (UFBA) para entender a estratégia por trás dos acordos prévios para a compra desses produtos com mais de um fornecedor. Depois, buscamos na lista da Organização Mundial da Saúde (OMS) todas as 42 vacinas contra o novo coronavírus que já estão em estágio de ensaio clínico. Elas foram desenvolvidas por 74 empresas ou institutos de pesquisa. Procuramos os sites de cada uma dessas companhias ou entidades para saber quais delas eram chinesas e se tinham relações conhecidas com o governo chinês. Depois que encontramos 13 vacinas com a participação de instituições chinesas, usamos o banco de dados da OMS para ver em que país foram realizados os testes clínicos de cada um desses imunizantes. Por fim, procuramos a autora da postagem, que não respondeu até a publicação desta verificação. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 07 de outubro de 2020. Verificação Acordo com a AstraZeneca Em agosto, a AstraZeneca, uma empresa parte sueca, fechou um acordo com o laboratório chinês Shenzhen Kangtai Biological Products para produzir 100 milhões de doses por ano da vacina contra a covid-19, desenvolvida junto com a Universidade de Oxford. A produção ainda depende da comprovação da eficácia da vacina, atualmente em fase 3 de testes – o último estágio dos ensaios clínicos que envolve milhares de voluntários. Esse, porém, não é o único imunizante no radar do governo chinês. Desde julho, a TV estatal chinesa informou que vacinas experimentais estavam sendo administradas em grupos de risco, como profissionais de saúde. Esses imunizantes foram desenvolvidos por companhias chinesas, de acordo com a CCTV. Os nomes dos laboratórios não foram especificados na época. Mas várias vacinas passaram por fases anteriores de testes na China, incluindo a CoronaVac, que está realizando a sua fase 3 no Brasil em parceria com o Instituto Butantan. No mês passado, a chefe de biossegurança do Centro de Controle de Doenças e Prevenção chinês, Wu Guizhen, anunciou que o país pode ter uma vacina contra o coronavírus disponível para o público em novembro. Ela não explicou, porém, a qual vacina se referia. Vacinas da Sinovac e da Sinopharm já receberam uma aprovação para uso especial no país por pessoas que são grupos de alto risco, como médicos e profissionais de saúde. Além disso, as vacinas da AstraZeneca, por si só, não seriam suficientes para imunizar a população chinesa. O acordo prevê a produção de 100 milhões de doses em um ano e a China tem uma população de quase 1,4 bilhão de pessoas. Diversidade de fornecedores Países têm apostado em diversificar seus fornecedores de vacina, segundo levantamento do Financial Times. Os Estados Unidos e o Reino Unido pré-encomendaram vacinas de seis fornecedores. O Canadá e o Japão encomendaram imunizantes de quatro laboratórios. A Austrália, a Índia e o Brasil fizeram compra antecipada de doses de dois fornecedores. Além da CoronaVac, o Brasil fechou um acordo com a AstraZeneca para produção dos imunizantes. No caso da CoronaVac, o governo de São Paulo informa que 60 milhões de doses serão importadas da China e, desde que seja comprovada a eficácia, serão distribuídas gratuitamente à população através do Sistema Único de Saúde (SUS). Mas não só. O acordo também prevê que a Biovac transfira para o Brasil a tecnologia para que o Instituto Butantan seja capaz de produzir os imunizantes em território nacional. Até dezembro deste ano, o governo paulista espera receber 6 milhões de doses da Sinovac e produzir outras 40 milhões no Butantan, segundo uma matéria da BBC News Brasil. O objetivo é imunizar toda a população do Estado. O Brasil também aderiu à Covax, uma coalizão global para a compra e distribuição de vacinas contra a covid-19 que está sendo liderada pela Gavi (aliança para a vacinação mundial da Fundação Bill e Melinda Gates) e pela OMS. A meta da Covax é viabilizar a compra de 2 bilhões de doses até o final de 2021. Para o professor Eduardo Martins Netto, que é médico-epidemiologista do Hospital Universitário Professor Edgard Santos (Hupes) e chefe do Laboratório de Pesquisa em Infectologia na mesma unidade, da Universidade Federal da Bahia (UFBA), além de coordenador do Comitê de Ética da Faculdade de Medicina da Bahia (Famed), é normal que os países busquem, neste momento, uma diversidade de fornecedores de vacinas. “Não existe ainda nenhuma vacina licenciada em nível mundial. Só existe investigação, pesquisa para vacina. Os países estão diversificando os possíveis fornecedores. Isso é muito natural, porque se você não tem nada, você pode comprar de uma determinada fábrica ou de outra. Você pode dizer: ‘olha, se essa vacina não deu certo, não protegeu, tem uma perspectiva para outra vacina”, aponta. Para o epidemiologista, o que os países podem fazer, neste momento, é se comprometer a comprar uma vacina, se ela funcionar. “Já houve investimento em fábricas, como Butantan, Manguinhos, que investiram em aumentar as instalações para produção da vacina”, completa. Pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e professora de Imunopatologia da Faculdade de Medicina da Bahia (Famed/UFBA), a imunologista Viviane Boaventura explica que “há normas de ética e boas práticas em pesquisa clínica que tornam necessário que as primeiras etapas de estudos de desenvolvimento de medicamentos e vacinas sejam testadas necessariamente no país que desenvolveu”. Sobre a diversidade de fornecedores, ela disse acreditar que os países possam, sim, comprar de outros. “Mesmo porque devem ser tecnologias diferentes e podem facilitar a produção e distribuição para um grande número de pessoas. Pode ser o caso”, sugere. Testes na China Segundo o levantamento da Organização Mundial da Saúde, atualmente, 42 vacinas candidatas estão em ensaio clínico (isto é, sendo testadas em humanos), enquanto 151 estão em estágio pré-clínico. Entre as vacinas que já estão em teste clínico, 13 foram desenvolvidas por companhias chinesas ou institutos de pesquisa da China (veja detalhes de cada uma delas no próximo tópico). Cidadãos chineses foram os primeiros a serem inoculados com os imunizantes desenvolvidos por empresas locais. Das 13 vacinas em fase de ensaio clínico desenvolvidas por empresas ou instituições chinesas, 12 tiveram testes realizados na própria China. É o caso das cinco vacinas que chegaram à fase 3: Sinovac, Wuhan Institute of Biological Products, Beijing Institute of Biological Products, CanSino Bio e Fosun Pharma. Todas elas tiveram suas fases 1 e 2 realizadas com voluntários chineses. Só a fase 3 foi sediada em outros países, possivelmente por causa da queda no número de infectados na própria China. Esse foi o caso da Coronavac, que veio para o Brasil quando havia poucos casos ativos entre os chineses. “Não podemos fazer isso (os testes) quando não há casos”, afirmou o presidente da Sinovac, Yin Weidong, em maio. Os imunizantes da Anhui Zhifei Longcom Biopharmaceutical e da Chinese Academy of Medical Sciences, que ainda não chegaram à fase 3, realizaram os testes das fases 1 e 2 na China. As vacinas da Beijing Minhai Biotechnology, da Academy of Military Medical Sciences, do West China Hospital, da Beijing Wantai Biological Pharmacy e da Walvax Biotech também recrutaram voluntários chineses para a fase 1 de testes. Elas ainda não avançaram para a segunda etapa do ensaio clínico. De todos os imunizantes com participação de empresas chinesas, o único que não teve nenhuma fase da testagem realizada na China foi o da Clover Biopharmaceuticals. A vacina, que tem participação da empresa americana Dynavax e da britânica GSK, está realizando a fase 1 do ensaio clínico na Austrália. Vacinas chinesas A Sinovac é uma empresa biofarmacêutica criada em 2001 com foco no desenvolvimento de vacinas e com ações negociadas na bolsa de valores americana Nasdaq. Atualmente, a vacina está na fase 3 de testes. Ela usa o vírus desativado e exigiria a aplicação de duas doses com 14 dias de diferença entre cada aplicação. O Wuhan Institute of Biological Products é um braço da Sinopharm, uma estatal chinesa que atua em toda a cadeia do ramo farmacêutico, incluindo desenvolvimento, produção e distribuição de medicamentos. A vacina, que usa o vírus inativo, está em fase 3 de testes e exigiria duas doses de aplicação, com intervalo de 21 dias entre cada uma delas. O Beijing Institute of Biological Products também é uma subsidiária da estatal chinesa Sinopharm. Eles tentam desenvolver uma vacina que usa o vírus desativado e que já está na fase 3 de testes. Seria necessário tomar duas doses com 21 dias de distância entre cada aplicação. A CanSino Bio foi fundada em 2009 e tem suas ações negociadas na bolsa de valores de Hong Kong. A vacina que eles estão desenvolvendo está na fase 3 e usa um adenovírus para estimular a resposta imune no corpo. Seria necessária apenas uma dose. A Fosun Pharma é uma companhia chinesa fundada em 1994 com ações negociadas nas bolsas de Shanghai e Hong Kong. Ela é uma das fundadoras da Sinopharm, farmacêutica estatal, junto com a China National Pharmaceutical Group Corporation. A Fosun Pharma é uma das parcerias da americana Pfizer e da alemã BioNTech no desenvolvimento de uma vacina à base de RNA que está na fase 3 de testes. Ela exigiria a aplicação de duas doses, tomadas com uma diferença de 28 dias. Anhui Zhifei Longcom Biopharmaceutical é uma companhia chinesa fundada em 2002 com ações negociadas na bolsa de valores de Shenzhen. A empresa desenvolve uma vacina em conjunto com o Institute of Microbiology da Chinese Academy of Sciences. O instituto surgiu em 1958. A academia data de 1949 e foi berço de parte dos projetos de planejamento de longo prazo do governo chinês. A vacina está na fase 2 e usa uma proteína como estimulante da resposta imune. Ela pode exigir duas ou três doses para ser eficaz, com 28 dias de distância na aplicação de cada uma delas. O Institute of Medical Biology da Chinese Academy of Medical Science, uma instituição pública, foi fundado em 1958 para produzir e comercializar vacinas contra vírus. A vacina desenvolvida lá usa o vírus inativo e está na fase 2 de testes. Ela exigiria a aplicação de duas doses e 28 de intervalo entre uma aplicação e outra. A Beijing Minhai Biotechnology é uma subsidiária da Shenzhen Kangtai Biological Products, empresa fundada em 1992 com ações negociadas na bolsa de valores de Shenzhen. A vacina usa vírus inativo e ainda está na fase 1 de testes. A aplicação pode ter 1, 2 ou 3 doses. O Institute of Biotechnology da Academy of Military Medical Sciences, PLA of China é uma instituição pública ligada às Forças Armadas chinesas. A vacina está na fase 1 de testes e utiliza um vetor viral não-replicante. Ela exigiria duas doses de aplicação, com 28 dias de diferença entre uma e outra. A Clover Biopharmaceuticals é uma companhia chinesa, que desenvolve uma vacina em parceria com a americana Dynavax e com a britânica GSK. A vacina usa proteína para gerar a resposta imune. Ela está na fase 1 de testes e deve exigir duas doses de vacinação, com 21 dias entre as duas aplicações. O West China Hospital da Sichuan University é uma instituição de ensino que existe desde 1892. Eles trabalham em uma vacina que está na fase 1 de testes e utiliza uma proteína para ativar a resposta imune. Ela exigiria duas doses com 28 dias de diferença entre uma aplicação e outra. A Beijing Wantai Biological Pharmacy é uma empresa fundada em 1991 com ações sendo negociadas na bolsa de valores de Shanghai. Ela está trabalhando em uma vacina com a Xiamen University, uma universidade pública chinesa fundada em 1921. A vacina está na fase 1 de testes e usa um vetor viral republicante. Ela exigiria apenas uma dose para ser aplicada. A Walmax Biotechnology é uma empresa chinesa fundada em 2001 que tem ações sendo vendidas na bolsa de valores de Shenzhen. A vacina está sendo desenvolvida em conjunto com a Academy of Military Sciences, ligada às Forças Armadas. Ela usa RNA e está na fase 1 de testes. A vacina exigiria duas aplicações, com 14 ou 28 dias de intervalo entre ambas. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia de covid-19 e sobre políticas públicas do governo federal que tenham ampla repercussão nas redes sociais. Quando a publicação envolve medicamentos ou métodos de imunização contra o novo coronavírus, a checagem é ainda mais importante porque o conteúdo enganoso pode levar as pessoas a deixarem de tomar medidas para se proteger contra a infecção. Atualmente, as vacinas são um dos meios mais promissores para o controle definitivo da doença, que já causou 147,4 mil óbitos e infectou 4,9 milhões de pessoas apenas no Brasil, de acordo com o painel do Ministério da Saúde. O mesmo conteúdo foi verificado por Aos Fatos, que classificou de distorcido, pelo Estadão Verifica, que apontou como enganoso, e pelo Boatos.org, que tratou como um boato. A publicação no perfil pessoal do Facebook que foi verificada aqui teve mais de 41 mil compartilhamentos. O texto teve 9,4 mil interações na rede social, após ser compartilhado por páginas de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido), segundo a ferramenta de monitoramento CrowdTangle. O presidente disse, em setembro, que não podia obrigar ninguém a tomar a vacina, embora uma lei assinada por ele em fevereiro preveja a possibilidade de vacinação compulsória contra o novo coronavírus, como mostrou o Comprova. O Comprova verificou recentemente publicações que tentavam desacreditar a importância da imunização, mostrando que as vacinas não vão ser usadas para monitorar a população, não causarão danos irreversíveis ao DNA, nem poderão rastrear as pessoas. Desde o início da pandemia, o Comprova também verificou peças de desinformação sobre a China, como a de que o país contaminou máscaras, que as principais cidades chinesas não tiveram casos de covid-19 e que o novo coronavírus teria sido criado num laboratório chinês. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos; ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-apenas-tres-paises-inclusive-o-brasil-utilizem-urnas-eletronicas/
COMPROVA
É falso que apenas três países, inclusive o Brasil, utilizem urnas eletrônicas
null
2020-10-01
Urnas eletrônicas são utilizadas em 15 países além do Brasil. Em Cuba, votações usam cédulas de papel Conteúdo verificado: Postagem no Facebook afirma que, além do Brasil, apenas Cuba e Venezuela usam urnas eletrônicas É falso o conteúdo de uma publicação que viralizou no Facebook afirmando que, apesar de existirem 193 países no mundo, as urnas eletrônicas só são utilizadas em Cuba e na Venezuela, além do Brasil. Dados do Institute for Democracy and Electoral Assistance (IDEA) mostram que ao menos 46 países utilizam votação eletrônica em algum tipo de eleição (seja nacional, regional ou para escolha de dirigentes sindicais). Desses, ao menos outros 15 países, além do Brasil, utilizam máquinas de votação eletrônica de gravação direta (não usam boletins de papel e registram os votos eletronicamente, sem que o eleitor interaja com qualquer cédula física). Também é falso que Cuba utilize urnas eletrônicas. A Lei Eleitoral do país prevê a votação por meio de cédulas de papel em eleições ou referendos. Na Venezuela, urnas eletrônicas são utilizadas desde 2004 com equipamentos fornecidos pela empresa Smartmatic. Em relação à quantidade de países, não há um levantamento único de quantos existem, já que cada governo é livre para reconhecer ou não a existência de outras nações e estabelecer relações diplomáticas com elas. Hoje, a Organização das Nações Unidas (ONU) possui 193 estados-membros. O Brasil reconhece a existência de 196 nações, inclusive algumas que não têm assento na ONU, como o Vaticano e a Palestina. Como verificamos? Primeiro, buscamos verificações anteriores sobre temas similares, as quais nos serviram como ponto de partida. Por meio de uma checagem feita pelo Estadão Verifica, chegamos ao Institute for Democracy and Electoral Assistance, que possui um levantamento sobre a digitalização de processos eleitorais. Acionamos o IDEA por e-mail e recebemos um retorno de Peter Wolf, especialista sênior em Eleições, Democracia e Tecnologia, que nos passou os dados mais recentes da entidade e nos ajudou a interpretá-los. Depois, consultamos os sites do Conselho Eleitoral Nacional de Cuba, onde encontramos a Lei Eleitoral cubana e outras informações sobre a eleição mais recente no país, e do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela, que lista várias informações sobre o histórico de digitalização local. Também consultamos o site da Smartmatic, empresa que forneceu urnas eletrônicas para a Venezuela, onde encontramos dados sobre o rompimento da companhia com as autoridades venezuelanas e sobre sua atuação no Brasil. Consultamos o site da ONU para saber quantos são os estados-membros que integram a entidade e consultamos o site do Ministério das Relações Exteriores para saber quantos países têm sua existência reconhecida pelo Brasil. Também pesquisamos quais os sistemas de segurança da urna brasileira no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Por fim, enviamos mensagem para a autora do conteúdo verificado, mas ela não respondeu até a publicação dessa verificação. Verificação O uso de urnas eletrônicas não é exclusividade do Brasil. Levantamento do IDEA mostra que ao menos 45 outros países utilizam algum tipo de votação eletrônica. A maioria deles (26), em eleições nacionais. Os dados do instituto também mostram que, além do Brasil, outros 15 países utilizam urnas eletrônicas com gravação direta. Mas existem outros modelos de votação eletrônica, como o voto pela Internet, que é regulamentado em 10 países. “Veja que máquinas de votação são certamente utilizadas em muito mais do que três países. […] Se você incluir todos os tipos de máquinas de votação, achará inúmeros exemplos: Estados Unidos, Canadá, Venezuela, Bélgica, França, Índia, Filipinas, República Democrática do Congo e Namíbia”, afirma Peter Wolf, especialista sênior da IDEA. Ele lembra, porém, que há especificidades nas urnas eletrônicas brasileiras. “Notadamente a ausência de comprovante de papel, que é menos comum. É possível que o conteúdo que você está verificando se refira a isso. Em alguns locais nos Estados Unidos, na Namíbia e parte da França são os únicos exemplos de sistemas sem comprovante de papel que me vêm à mente agora. Além, é claro, de sistema de votações on-line que, obviamente, não possuem uma função de registro em papel”, explica Wolf. Uma lei de 2015 previu a emissão de um comprovante de votação pelas urnas brasileiras, mas o trecho foi considerado inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por colocar em risco o sigilo do voto, como mostrou o Comprova recentemente. Eleições em Cuba Cuba não utiliza urnas eletrônicas em suas votações. A Lei Eleitoral cubana prevê o uso de cédulas de papel (boletas, em espanhol) para eleições e para a realização de plebiscitos ou referendos. As cédulas devem conter os nomes e sobrenomes dos candidatos, além dos cargos aos quais eles estão concorrendo, segundo as regras complementares das eleições de janeiro. Elas devem ser impressas com tinta preta em papel branco. Os delegados, então, devem marcar um xis do lado direito do candidato em quem desejam votar. A lei determina que a marcação seja feita em um lugar reservado, em que o eleitor possa votar de forma secreta, como explica uma cartilha elaborada pelo Conselho Eleitoral Nacional. A apuração é feita pelo Conselho Eleitoral Municipal, que verifica quantas cédulas haviam na urna, quantas delas são votos válidos, em brancos ou anulados e, por fim, a quantidade de votos de cada candidato. No caso de referendos e plebiscitos, o eleitor também deve marcar um xis ao lado das palavras SIM ou NÃO. Eleições na Venezuela A Venezuela usa urnas eletrônicas em suas eleições desde 2004, com máquinas que imprimiam o comprovante dos votos. A partir de 2012, passou a adotar a identificação biométrica para liberar o funcionamento das máquinas, segundo informa o Conselho Nacional Eleitoral do país. As máquinas foram desenvolvidas pela empresa Smartmatic. A Smartmatic foi fundada nos Estados Unidos, mas hoje tem sede no Reino Unido. A empresa trabalhou em 15 eleições venezuelanas entre 2004 e 2017. Em agosto de 2017, o CEO da companhia, Antonio Mugica, realizou uma coletiva de imprensa em que informou que a taxa de comparecimento dos eleitores anunciada pela Comissão Eleitoral nas eleições de 30 de julho daquele ano não correspondia aos números que haviam sido registrados pela empresa, com a taxa de participação tendo sido inflacionada em pelo menos um milhão de eleitores. Por isso, a companhia suspendeu suas atividades no país. A Smartmatic também informa no seu site que nunca forneceu urnas para as eleições brasileiras. A empresa atuou no Brasil nas eleições de 2012, 2014 e 2016 fornecendo comunicação de dados em áreas remotas do país para que os votos pudessem ser transferidos ao TSE. Especificamente em 2012, ela também treinou operadores de campo e prestou serviços de manutenção e testes para urnas. A Smartmatic não forneceu urnas ou prestou outros serviços durante as eleições do Brasil de 2018. Quantos países existem? A ONU é composta por 193 estados-membros desde que a República do Sudão do Sul se separou do Sudão em 9 de julho de 2011, como resultado de um referendo realizado em janeiro do mesmo ano que contou com observadores internacionais. Para que um país possa ser aceito como estado-membro da ONU, suas credenciais precisam ser recomendadas pelo Conselho de Segurança da entidade e, depois, aceitas pela Assembleia Geral, órgão que reúne todos os membros atuais. A própria ONU, porém, explica que reconhecer a existência de um país ou governo é um ato que apenas outro país pode conceder; o que, em geral, implica no estabelecimento de relações diplomáticas entre ambos. Por não ser um estado ou governo, tecnicamente a ONU não tem autoridade para reconhecer se um país existe ou não. Hoje, o Brasil reconhece e, por sua vez, possui relação diplomática com 196 países, além de um representante junto à União Europeia. A lista inclui autoridades nacionais que não integram a Assembleia Geral da ONU, como a Palestina e o Vaticano. Igualmente, existem 197 embaixadas e consulados estrangeiros no Brasil (incluindo a representação da União Europeia). Segurança da urna brasileira A Justiça Eleitoral brasileira utiliza uma série de mecanismos para garantir a segurança e a confiabilidade das urnas e, consequentemente, das eleições no País. O equipamento utiliza criptografia, assinatura digital e resumo digital para garantir que somente o software criado pelo TSE possa ser usado nas urnas. A tentativa de executar qualquer outro programa bloqueia a máquina. O software oficial também não pode ser rodado em outro equipamento. A assinatura digital também protege contra modificações os dados sobre cada candidato e eleitor, assim como o resultado da votação e os registros das operações. A urna eletrônica também não possui mecanismos que permitam conectá-la a redes de computadores, como a internet, para evitar ataques de hackers. O aparelho também registra qualquer alteração feita em seu código, para evitar tentativas de alterar o software por pessoas que tenham acesso às urnas no dia da votação. O desenvolvimento do programa utilizado pela Justiça Eleitoral pode ser acompanhado pelos partidos políticos, pelo Ministério Público e pela Ordem dos Advogados do Brasil por meio de inspeções para verificar a sua confiabilidade. O TSE também realizou testes públicos de segurança em 2009 e 2012, nos quais ninguém conseguiu adulterar os sistemas, nem o resultado das votações. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova monitora e verifica conteúdos sobre a pandemia do novo coronavírus, eleições municipais de 2020 e políticas públicas do governo federal que podem causar desinformação nas redes sociais. É o caso do conteúdo objeto desta verificação, que reproduz uma informação falsa sobre as urnas eletrônicas para questionar a confiabilidade dos resultados das votações. De acordo com os dados da plataforma CrowdTangle, até a data de publicação deste texto, o conteúdo somava mais de 4,4 mil interações no Facebook. O mesmo conteúdo foi verificado pela Agência Lupa, que concluiu que ele é falso. Conteúdos semelhantes à este também viralizaram nas redes sociais às vésperas da eleição presidencial de 2018. À época, o Tribunal Superior Eleitoral concluiu se tratar de um conteúdo falso e o Estadão Verifica classificou o boato como uma mentira. O Comprova já mostrou que o STF não decidiu que o voto impresso é inconstitucional; que as Forças Armadas não solicitaram perícia nas urnas eletrônicas; que os códigos usados no aparelho não foram entregues aos venezuelanos; que a Polícia Federal não apreendeu uma van com urnas adulteradas e que a Polícia Militar não apreendeu um carro com votos já preenchidos dentro do equipamento. Falso para o Comprova é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/estudo-distorce-dados-para-dizer-que-paises-que-usaram-a-hidroxicloroquina-tiveram-75-menos-mortes-pela-covid-19/
COMPROVA
Estudo distorce dados para dizer que países que usaram a hidroxicloroquina tiveram 75% menos mortes pela covid-19
null
2020-10-01
A pesquisa, anônima e manipulada, foi divulgada por um site de extrema-direita com histórico de publicação de conteúdos distorcidos Conteúdo verificado: Postagem de Arthur Weintraub no Twitter mostrava o resultado de um estudo que afirmava que países que usaram a hidroxicloroquina tiveram 75% menos mortes. Um estudo sobre o uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 usa dados e informações incorretas para concluir que países que usaram a droga tiveram 75% menos mortes. Tanto a hidroxicloroquina quanto a cloroquina não possuem eficácia comprovada contra o novo coronavírus. Os dados foram compartilhados no Twitter por Arthur Weintraub, antigo assessor especial do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Para atingir os resultados, os responsáveis pelo estudo excluíram países que adotaram as medidas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), como distanciamento social e o uso de máscaras. Os autores, que não se identificaram, também manipularam termos científicos e editaram o texto da pesquisa sem sinalizar aos leitores. “A quantidade de variáveis confundidoras é tão grande que esse desenho de estudo é inadequado para abordar essa pergunta científica (se a cloroquina é eficaz como tratamento precoce). A forma adequada e com menor risco de ruído de variáveis confundidoras é fazer um estudo clínico randomizado [quando um grupo aleatório toma o remédio e outro grupo, um placebo]”, explica Letícia Kawano-Dourado, pneumologista e pesquisadora da Universidade de Paris, na França. Como verificamos? A publicação de Arthur Weintraub levava para um tuíte da médica Simone Gold, que havia colocado o link de uma notícia do site norte-americano de extrema-direita WND, publicação que possui histórico de notícias falsas. Ao acessar a matéria, encontramos o link do estudo que embasou a publicação. Procuramos pelos autores no site HCQTrial.com, mas, na página de “perguntas frequentes”, eles afirmam que querem seguir anônimos. Ainda assim, enviamos uma mensagem no campo de “feedback” e não tivemos retorno. Na sequência, procuramos no Google matérias que tivessem relação com o que foi publicado na página do estudo. Encontramos um texto de David H. Gorski, pesquisador e médico oncologista da Universidade Wayne State, nos Estados Unidos, com longas críticas ao artigo. Também encontramos a conta do Twitter do biologista Carl Bergstrom, da Universidade de Washington, nos Estados Unidos. Ele também fez críticas ao estudo. Depois, entramos em contato com o infectologista Gerson Salvador, da USP. Ele analisou parte do estudo e nos indicou a médica Letícia Kawano-Dourado, pneumologista e pesquisadora da Universidade de Paris. As duas entrevistas foram feitas por WhatsApp. Tentamos contato com Arthur Weintraub, mas não tivemos resposta. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 30 de setembro de 2020. Verificação O estudo e suas limitações O site HCQtrial apresenta sua análise como um “estudo randomizado de países”. A proposta é comparar a mortalidade (óbitos por milhão) da covid-19 entre diferentes grupos de nações, a depender do uso de hidroxicloroquina no combate à doença. De acordo com os responsáveis, países que adotaram “amplamente” a substância como “tratamento precoce” têm taxa 73,1% menor que as nações onde o uso precoce da medicação foi limitado. Os números foram atualizados pela última vez em 27 de setembro, três dias depois da publicação de Weintraub. “Eles não randomizaram ninguém. Randomizar é sortear um indivíduo ou um hospital, por exemplo, para receber uma intervenção. O estudo deles não sorteou ninguém, apenas analisou o que aconteceu. É um estudo observacional, com todos os vieses dos estudos observacionais”, explica Letícia Kawano-Dourado. Os pesquisadores não detalham o que seria o tratamento precoce ou tardio, quais os protocolos utilizados por cada país nem há quanto tempo cada tipo de procedimento foi adotado. Eles excluíram países com menos de 1 milhão de habitantes e em que menos de 0,5% da população tenha mais de 80 anos. De acordo com os pesquisadores, também ficaram de fora países que adotaram rapidamente o uso de máscaras e estratégias de isolamento, afirmando que nesses casos “há baixa dispersão do vírus no momento”. O Brasil, por exemplo, não foi considerado na análise, apesar de ser o 2º com mais mortes por covid-19 e estar entre os cinco países onde há mais óbitos por milhão de habitantes. O HCQtrial justifica a exclusão pelo “uso muito variado” da hidroxicloroquina durante o surto no país. Desde maio, o governo brasileiro permite a administração de cloroquina para o tratamento de casos leves da doença. O médico David H. Gorski, que analisa pesquisas “pseudocientíficas” há cerca de 20 anos, e o biologista Carl Bergstrom, da Universidade de Washington (EUA), são alguns dos especialistas que criticam severamente o artigo do HCQtrial. De acordo com ambos, o problema começa já na caracterização da análise. Gorski explica o funcionamento dos estudos randomizados: “Por exemplo, se você quiser determinar se a droga X pode servir de tratamento para a condição Z, a forma clássica seria aleatoriamente escolher indivíduos com essa condição para receber ou a droga X ou um placebo [grupo de controle]. Idealmente, o estudo seria duplamente cego: nem os voluntários nem os pesquisadores saberiam quem está recebendo o quê”. O médico ressalta ainda que, nesse tipo de teste, os participantes aderem ao estudo antes de o tratamento ser administrado e que existe um esforço para manter o mesmo tamanho e características entre os dois grupos que serão analisados. “Nenhuma dessas características se aplica ao estudo do HCQTrial”, explica Gorski. “Não há como alguém ‘randomizar’ países para usar ou não determinada substância. Não faz sentido.” Bergstrom acrescenta que a caracterização de “estudo randomizado de países” parece ter sido inventada para essa pesquisa específica, “feita para confundir”. Gorski acrescenta: “Se você não sabe nada sobre epidemiologia, essa caracterização pode soar razoável e te levar a concordar com a conclusão”. Ele ressalta ainda que a análise não considera sequer os diferentes usos da substância em um mesmo país. Gorski e Bergstrom também constataram que o texto do artigo muda com frequência, sem sinalizar as edições aos leitores. Por exemplo, em determinado momento, o HCQTrial afirmou que cerca de 2,7 bilhões de pessoas fazem parte do grupo de tratamento. Até a publicação deste texto, a amostra foi reduzida e está em 1,8 bilhão. A nomenclatura dá a entender que 1,8 bilhão é a quantidade de pessoas sujeitas ao uso da cloroquina contra a covid-19, quando, na verdade, é a população somada dos países onde a substância é aceita amplamente como tratamento precoce. Não há indicação de quantas pessoas efetivamente usaram o medicamento em nenhum dos dois grupos analisados. Autores anônimos Não é possível saber quem está por trás dos sites C19Study.com, C19HCQ.com e HCQTrial.com, que compõem o grupo verificado. Na página “perguntas frequentes”, a explicação seria um possível medo de retaliação. “Somos pesquisadores PhDs, cientistas e pessoas que esperam dar uma contribuição, mesmo que pequena. (…)Temos pouco interesse em aumentar nossas listas de publicações, estar no noticiário ou na TV (já fizemos todas essas coisas antes, mas sentimos que há coisas mais importantes na vida agora)”, informa a página citando possíveis casos de ameaças a Didier Raoult e Simone Gold, médicos defensores do uso da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. Didier Raoult foi responsável por publicar em março um estudo afirmando que o uso da cloroquina teria curado 75% dos pacientes com covid-19 em seis dias. A pesquisa foi alvo de críticas da revista Science, referência em estudos científicos, e seus resultados foram questionados e considerados incompletos. Simone Gold é uma médica norte-americana. Em suas redes sociais, ela costuma postar diversas matérias em defesa da hidroxicloroquina. Algumas delas possuem alerta de conteúdo falso pelo Instagram. A postagem de Arthur Weintraub teve como base um tuíte de Simone Gold, que continha um link que levava para uma matéria sobre o site HCQTrial. Tentamos contato com o ex-assessor especial de Jair Bolsonaro (sem partido), mas não obtivemos respostas. “Alguém trabalhou muito nesse falso relatório, e é alguém que não quer ser identificado. Não apenas não há autores ou entidades listadas, como a informação sobre o registro do site estão protegidos. Isso – junto com a análise terrivelmente enganada – deveria ser uma enorme bandeira vermelha”, criticou o biologista Carl Bergstrom. O grupo responsável pelo site HCQTrial.com mantém uma conta no Twitter com pouco mais de 3 mil seguidores, também sem identificação alguma sobre seus autores. Na página, costumam publicar textos defendendo a hidroxicloroquina. O infectologista Gerson Salvador aponta a ausência de informação dos autores como um dos problemas presentes no site. “Salta aos olhos quatro coisas: 1) não haver descrição da metodologia; 2) não haver exposição de quem são os investigadores; 3) não haver menção de submissão a comitê de ética; 4) o produto estar publicado no próprio site do projeto ao invés de uma plataforma científica”, afirma. Cloroquina e hidroxicloroquina A ideia de que a cloroquina e a hidroxicloroquina pudessem ser prescritas para pacientes infectados pelo novo coronavírus surgiu por causa de uma pesquisa de 2005, que indicava efeitos positivos contra outros tipos de coronavírus em laboratório. Mas os testes em humanos nunca aconteceram. Em junho, a Organização Mundial da Saúde suspendeu em definitivo os testes com as duas drogas. Os testes feitos pela entidade mostraram que as substâncias não reduzem a mortalidade em pacientes internados com a doença. Estudos realizados de acordo com o padrão ouro para pesquisa com medicamentos — que exige testes com grupos de controle e o uso de placebos — publicados no Journal of the American Medical Association (Jama) e no British Medical Journal (BMJ) apontaram que pacientes tratados com cloroquina e hidroxicloroquina não tiveram melhores resultados que aqueles que não receberam os mesmos remédios. Uma pesquisa realizada em 55 hospitais brasileiros e publicada no New England Journal of Medicine (NEJM) chegou às mesmas conclusões. Cloroquina no Brasil O uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19 é amplamente defendido pelo presidente Jair Bolsonaro. Mesmo as drogas não tendo comprovação científica, em março, ele ordenou que o Laboratório do Exército produzisse os medicamentos. A pressão para que as substâncias fossem adotadas custou o cargo de dois ministros da Saúde: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Desde que assumiu a função interinamente, Eduardo Pazuello alterou o protocolo do Ministério da Saúde e ampliou a possibilidade do uso dos medicamentos para pacientes com sintomas leves – até então, eram recomendados apenas em casos graves e com monitoramento em hospitais. Agora efetivado como novo ministro da Saúde, Pazuello planeja um “Dia D” de enfrentamento da covid-19, em 3 de outubro. De acordo com o Estadão, a pasta planeja uma série de ações, entre elas, turbinar a distribuição de medicamentos do “kit covid-19”, que reúne além da cloroquina e da hidroxicloroquina, a azitromicina e ivermectina. Essas duas também não possuem eficácia comprovada no combate à doença. Por que investigamos? A terceira fase do Comprova verifica postagens suspeitas envolvendo a pandemia da covid-19 e políticas públicas do governo federal. A publicação de Arthur Weintraub no Twitter teve, até o fechamento deste texto, 7,5 mil interações, entre curtidas, compartilhamentos e comentários. Postagens como essa são perigosas porque alimentam a esperança da população em um remédio que não tem eficácia comprovada no tratamento de uma doença que não tem cura e já matou mais de 1 milhão de pessoas no mundo e mais de 143 mil no Brasil. Além disso, a hidroxicloroquina possui efeitos colaterais, que podem ser prejudiciais sem um acompanhamento médico. O Comprova já verificou outros conteúdos envolvendo estudos sobre a hidroxicloroquina. Mostramos que um artigo belga não comprovava a eficácia da droga no tratamento precoce da covid-19, assim como pesquisadores de um estudo italiano não propunham o uso da hidroxicloroquina no tratamento da doença. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C342&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/postagem-acusa-sem-provas-mst-de-ter-relacao-com-as-queimadas-na-amazonia-e-no-pantanal/
COMPROVA
Postagem acusa sem provas MST de ter relação com as queimadas na Amazônia e no Pantanal
null
2020-10-01
Texto com afirmações sem base tem como origem a página de Facebook de um general da reserva do Exército que afirma desconhecer a fonte do conteúdo Conteúdo verificado: Post com conteúdo atribuído a general e publicado em página de apoio ao vice-presidente Hamilton Mourão afirma que a Polícia Federal investiga MST e João Pedro Stédile por conexão com incêndios no Pantanal. É falso um texto disseminado via redes sociais segundo o qual João Pedro Stédile, um dos fundadores do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), teria relação com incêndios no Pantanal. A postagem afirma que a Polícia Federal (PF) investiga, além do MST, ONGs pela autoria de queimadas. A PF não comenta casos em andamento, mas informou que todas suas operações deflagradas envolvendo casos recentes na Amazônia e no Pantanal estão no site oficial da entidade. Em consulta ao site, o Comprova não encontrou menções ao MST ou a Stédile no que diz respeito aos incêndios nesses dois biomas. O post menciona, ainda, que há detidos na Amazônia, e que ONGs e tribos indígenas teriam envolvimento em possíveis crimes ambientais. Essas informações também não são verdadeiras. A peça também pontua que Stédile vive na Venezuela, o que não é verdade, e classifica o líder do movimento como terrorista – acusação imprópria juridicamente neste caso, conforme especialista. A autoria do material é atribuída a um general da reserva do Exército. Ao Comprova, ele confirmou que postou o conteúdo no Facebook após receber pelo WhatsApp, mas não sabe sua origem. “Compartilhei como recebi. Não sei qual é a fonte”, disse ele. A página que divulgou o material verificado aqui foi acionada pelo Comprova, mas não retornou o contato. Como verificamos? Recorremos ao Google para mapear possíveis acusações ambientais contra o MST ou João Pedro Stédile, bem como encontrar reportagens sobre tais questões para auxiliar na apuração. Serviram de apoio a esta checagem, ainda, verificações prévias das agências Lupa e Boatos.org sobre o assunto — ambas apontando que o conteúdo não é verdadeiro. Contatamos também a assessoria da Polícia Federal via e-mail questionando sobre investigações de incêndios na Amazônia e no Pantanal, além de possíveis inquéritos envolvendo MST e seu integrante fundador. Para complementar, acionamos um especialista em Direito para compreender se é pertinente considerar Stédile terrorista do ponto de vista legal. Quem nos trouxe esclarecimentos foi o professor de Processo Penal da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Matheus Felipe de Castro. Durante o processo, localizamos o militar da reserva apontado como autor do texto, general Paulo Chagas, e pedimos esclarecimentos via Facebook à página que divulgou as informações. Verificação De onde vem? Em 28 de setembro, a página “General Mourão – Eu Apoio” fez uma publicação com o título: “Polícia Federal na cola de João Pedro Stédile do MST”. Nela, o texto é acompanhado por uma montagem que traz o rosto do economista à frente do Movimento Sem Terra com aplicações de desenho que aludem a chamas. O conteúdo é atribuído ao general da reserva Paulo Chagas, que realmente divulgou o material no mesmo dia, pela manhã, às 9h02. Contatado via WhatsApp pelo Comprova para saber a origem do que está escrito, o militar retornou dizendo que apenas compartilhou. “Não sei qual é a fonte. Recebi em um grupo de Zap e compartilhei no FB”, afirmou o general. A possível origem das acusações contra o integrante da direção do MST é uma peça anterior que o acusava de ter declarado que o movimento estaria disposto a “incendiar o Brasil para derrubar Bolsonaro”. Em 21 de setembro, a Agência Lupa mostrou que a frase não foi encontrada em nenhuma entrevista concedida por Stédile, nas redes sociais do MST ou no site oficial do movimento. O mesmo tema foi objeto de análise do Boatos.org, que destacou que a mensagem se baseia em uma informação sem comprovação: a de que o MST seria responsável pelos incêndios no Pantanal. O mesmo texto da publicação analisada, sobre a suposta participação do líder do MST nos incêndios, também apareceu seis dias antes, em 22 de setembro, em um blog e, um dia depois, em 23 de setembro, em uma série de postagens no Twitter, com link para um grupo fechado de Facebook chamado “Grupo Elas e Eles com Bolsonaro”. Investigações A postagem verificada aqui destaca que “a Polícia Federal está investigando os incêndios criminosos que estão acontecendo no Pantanal, segundo superintendente da PF, há fortes indícios de que o MST e ONGs ligadas ao terrorista João Pedro Stédile estejam agindo ilegalmente, devemos ressaltar que Stédile já fez graves ameaças no sentido de ‘incendiar o Brasil’ caso Bolsonaro vencesse as eleições.” Porém, não há fontes dessas afirmações. Questionada pelo Comprova via e-mail, a PF respondeu, por meio de sua assessoria, que tem deflagrado diversas operações para combater crimes ambientais, tanto na Amazônia quanto no Pantanal e que “todas elas foram divulgadas amplamente para toda a imprensa”. Em busca no site do órgão, responsável por investigações de possíveis crimes ambientais, o Comprova não encontrou citações a Stédile ou ao MST nos links que tratam de operações deflagradas a respeito de incêndios no Pantanal e na Amazônia. A única menção a investigações sobre incêndios no Pantanal no site da PF é uma nota sobre a Operação Matáá, deflagrada em 14 de setembro nas cidades de Corumbá e Campo Grande, no Mato Grosso do Sul. O texto aponta que a investigação identificou o início e a evolução diária dos focos de queimada na região por meio de imagens de satélite e sobrevoos. A nota diz que foram cumpridos 10 mandados de busca e apreensão, mas não divulga os nomes dos investigados. Segundo reportagem do portal G1 de 24 de setembro, os incêndios “começaram em quatro fazendas de grande porte em Corumbá (MS)”, conforme a investigação da PF. Ainda de acordo com a matéria, “a suspeita é que produtores rurais tenham colocado fogo na vegetação para transformação em área de pastagem”. Sobre investigações de incêndios na Amazônia, a notícia mais recente no site da PF é de outubro de 2019 e versa sobre cumprimento de mandados para “colher novas provas em investigação que apura associação criminosa suspeita de praticar crimes ambientais em reservas e Unidades de Conservação Federais na Amazônia.” O The Intercept, em reportagem de novembro de 2019, apontou que entre os suspeitos pelo ‘Dia do Fogo’ na Amazônia “não há nenhuma organização não-governamental”. Também não há material que indique culpa de populações indígenas. Stédile terrorista? A postagem verificada aqui também classifica João Pedro Stédile como “terrorista” ao culpá-lo por queimadas no Pantanal. O Comprova consultou o professor de Processo Penal no curso de Direito da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) Matheus Felipe de Castro para saber se o fundador do MST poderia ser considerado terrorista segundo a lei brasileira. O professor apontou que a chamada Lei Antiterrorismo (Lei 13.260/2016, artigo 2º) define o que é considerado terrorismo no país, como a prática de atos “por razões de xenofobia, discriminação ou preconceito de raça, cor, etnia e religião”. Essa mesma lei diz, no entanto, que isso “não se aplica à conduta individual ou coletiva de pessoas em manifestações políticas, movimentos sociais”, entre outros. Para o advogado, seria impróprio pela tipificação penal brasileira chamar o líder de um movimento social de terrorista mesmo se houvesse suspeita de um incêndio, por exemplo, já que este crime possui outra legislação específica. “Não estou dizendo que um movimento social não poderia começar a praticar o terrorismo, mas você precisaria ter totalmente caracterizado o ato de terrorismo, com razões de xenofobia, discriminação, preconceito de raça, cor, etnia e religião. E nenhuma dessas razões é mencionada naquele artigo (objeto desta verificação). Ele simplesmente diz que a Polícia Federal o investiga [a Stédile] por incêndio no Pantanal e já o chama de terrorista. Só como está colocado ali, é uma utilização indevida e sensacionalista, que não está baseada na legislação” afirmou, em entrevista por telefone. Na Câmara e no Senado existem projetos de lei que tentam incluir movimentos sociais entre os grupos enquadrados na Lei Antiterrorismo, mas nenhum deles já foi, ou está em vias de ser, aprovado. As situações dos projetos foram consultadas no site das duas Casas. O Comprova ainda enviou e-mail à PF perguntando se havia investigações contra João Pedro Stédile e se alguma poderia ser tipificada como terrorismo. A PF respondeu que “não se manifesta sobre nomes de investigados, tampouco sobre eventuais investigações em andamento”. Também checamos o Banco Nacional de Mandados de Prisão, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), e o banco de procurados da Interpol e não há qualquer menção ao nome do líder do MST. Stédile mora na Venezuela? A assessoria de comunicação do MST informou ao Comprova por mensagem no WhatsApp que Stédile não mora na Venezuela, como pontua o material verificado, mas sim no Brasil. Também reafirmou que ele não ameaçou “incendiar o Brasil” em caso de vitória de Bolsonaro. Stédile também aparece como membro em situação regular de filiação ao Partido dos Trabalhadores (PT) em Cachoeirinha (RS). Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica postagens suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais que tenham ligação com políticas públicas do governo federal ou com a pandemia do novo coronavírus. É o caso do post verificado aqui. O Brasil padece de uma série de problemas ambientais, principalmente em decorrência das queimadas que consomem a Amazônia e o Pantanal. Segundo matéria da Folha de S.Paulo, os 14 dias de setembro deste ano já registraram mais focos de incêndio na floresta amazônica do que em todo o mesmo mês no ano passado. Já o Pantanal — apontado como maior planície alagada do Planeta e com um bioma que cobre Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bolívia e Paraguai — é vítima de um dos maiores incêndios da história. O post divulgado pela página “General Mourão – Eu Apoio” teve mais de 2,5 mil interações no Facebook até 30 de setembro. O Comprova já verificou outros conteúdos relacionados às queimadas na Amazônia e no Pantanal. Entre eles, um vídeo lançado pela Associação de Criadores do Pará afirma que a Amazônia não está queimando, que o Brasil é o país que mais preserva áreas nativas do mundo, outro sobre publicações nas redes sociais dizendo que indígenas prenderam em flagrante membros de ONGs que seriam incendiários e uma filmagem mostra brigadistas usando técnica de fogo controlado sugerindo que seriam os próprios combatentes responsáveis por incêndios. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C520&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/demarcacao-de-terra-indigena-em-roraima-nao-tem-relacao-com-alta-do-preco-do-arroz/
COMPROVA
Demarcação de terra indígena em Roraima não tem relação com alta do preço do arroz
null
2020-09-30
Vídeo atribui inflação do arroz à Terra Indígena Raposa Serra do Sol, mas desconsidera fatos básicos a respeito da produção de grãos no Brasil Conteúdo verificado: Vídeo que relaciona a alta do preço do arroz verificado ao longo deste ano no Brasil com a demarcação e homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, realizadas na década passada. É enganoso o conteúdo do vídeo que relaciona a alta no preço do arroz ocorrida neste ano com a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, localizada em Roraima. A terra indígena foi identificada pela Fundação Nacional do Índio (Funai) em 1993, demarcada ainda no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e homologada em 2005 pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Corroborada por decisões do Supremo Tribunal Federal (STF), a demarcação promoveu a expulsão dos arrozeiros da região e a queda da produção do grão em Roraima, como alegam as imagens. O vídeo, no entanto, não leva em conta que o arroz produzido em Roraima representou apenas 0,79% da safra brasileira, na média dos últimos 20 anos – ou seja, desde antes da homologação; e desconsidera que agricultores têm preferido investir na soja, devido à maior rentabilidade. A própria Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), fonte dos dados utilizados nos gráficos apresentados, destacou que a alta acumulada de 19,25% no preço do arroz desde o início do ano é resultado de seis fatores, entre eles a alta do dólar, a maior exportação e a pandemia da covid-19. Diretor de assuntos internacionais da Associação Brasileira da Indústria do Arroz (Abiarroz), Mário Eduardo Figueira Pegorer esclareceu que a produção de Roraima já foi mais expressiva, mas que “ela não tem nada a ver com a alta do preço do arroz neste ano”. “Se tem um culpado, é o novo coronavírus”, diz. Como verificamos? O primeiro passo foi verificar as informações divulgadas sobre a produção de arroz em Roraima. Como os dados eram creditados à Conab, entramos no site da companhia. Nele, é possível encontrar a série histórica das safras de arroz, desde 1976, tanto por área plantada quanto por produção. Depois, fizemos o levantamento de qual o aumento do preço do arroz em 2020 no Brasil e a que essa alta é atribuída. Para isso, usamos os levantamentos mensais do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) e reportagens feitas por A Gazeta, pelo Jornal CORREIO, pelo G1 e pelo Fantástico. Também buscamos informações sobre a Terra Indígena Raposa Serra do Sol, por meio do portal Terras Indígenas do Brasil, do Instituto Socioambiental (ISA). Nele, há informações sobre a demarcação de terras indígenas e notícias relacionadas. Nessa última página, uma matéria do Conselho Indigenista Missionário traz os números da petição e da portaria relacionadas à Raposa Serra do Sol e uma reportagem especial do Estadão. Para analisar as informações encontradas e as divulgadas feitas por meio do vídeo investigado, entrevistamos ainda um especialista da Abiarroz. Também questionamos, por e-mail, a própria Conab sobre o cenário nacional; e acionamos o Governo de Roraima, que deu detalhes sobre a produção de arroz e a agricultura no estado. Verificação Por que o arroz aumentou? De acordo com as informações mais recentes do IBGE, divulgadas no dia 9 de setembro e referentes ao mês e agosto, o preço médio do arroz subiu 19,25% desde o início deste ano. Consequentemente, diversos veículos de comunicação, como o G1, A Gazeta, CORREIO e o Fantástico, fizeram matérias repercutindo a alta e explicando os fatores que a motivaram. Entre eles estão: Valorização do dólar frente ao real, que encareceu insumos agrícolas, deixou o arroz brasileiro mais barato para o mercado internacional e tornou mais vantajosa a exportação do grão; Período de entressafra do arroz, que acontece no segundo semestre de cada ano; Aumento da demanda por causa da pandemia do novo coronavírus. Além desses três motivos, a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), procurada pelo Comprova, também citou: Patamares elevados do preço internacional antes da crise da covid-19; Menor disponibilidade de importação de arroz dos parceiros do Mercosul; Redução da área de arroz no Brasil nas últimas duas safras, como consequência do resultado das baixas rentabilidades identificadas nos últimos anos. Diretor de assuntos internacionais da Associação Brasileira das Indústrias de Arroz (Abiarroz), Mário Eduardo Figueira Pegorer explicou a dinâmica do mercado. “Em termos de preço internacional, o arroz não teve uma variação muito grande. Porém, a tendência é o preço do arroz no Brasil ir para a cotação média internacional. Como houve uma desvalorização muito forte do real bem no início da nossa safra, houve essa alta expressiva aqui”, esclareceu. A demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol Diferentemente do que sugere o vídeo, a demarcação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol não é resultado de uma “canetada do governo Lula” – mas, sim, de um processo judicial que durou anos no Supremo Tribunal Federal (STF) e que teve como origem a portaria 820 do Ministério da Justiça, em 1998. A judicialização do caso aconteceu no ano seguinte, 1999, ainda no governo de Fernando Henrique Cardoso. Somente em 2005 o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou um decreto que homologava de forma contínua o território da terra indígena, atendendo a uma demanda dos próprios índios da região. A portaria 534/2005 alterava a anterior, de 1998. Dois anos depois, o STF determinou a saída dos outros povos, incluindo os rizicultores – produtores de arroz -, que pediam que fosse esperado o período da colheita. Após a safra, os produtores de arroz permaneceram no local e o Instituto Nacional de–Colonização e Reforma Agrária (Incra) deu início ao reassentamento. Líder dos arrozeiros e então prefeito do município de Pacaraima (RR), Paulo César Quartiero acabou preso pela Polícia Federal, após um atentado contra indígenas, ocorrido em maio de 2008. Em março de 2009, o STF encerrou o julgamento da petição 3388, que questionava a demarcação da Raposa Serra do Sol, e a manteve contínua. Relator do caso, o ministro Ayres Britto declarou no voto que “a presença dos arrozeiros subtrai dos índios extensas áreas de solo fértil, imprescindíveis às suas atividades produtivas, impede o acesso das comunidades indígenas aos rios Surumu e Tacutu e degrada os recursos ambientais”. No mesmo julgamento, o STF também decidiu que os produtores deveriam sair imediatamente da região. O ministro Gilmar Mendes foi um dos que votou a favor desta retirada: “Uma vez reconhecida a ilegalidade da ocupação deles, acho que não se justifica qualquer prazo para que eles continuem produzindo ilegalmente dentro da terra indígena e causando danos às comunidades”. Atualmente, a Terra Indígena Raposa Serra do Sol abriga mais de 26 mil índios de cinco povos, conforme levantamento feito neste ano pelo Instituto Socioambiental (ISA). O território tem 1.747.000 hectares e fica dentro da Amazônia Legal. No extremo norte de Roraima, ela faz parte de três municípios: Normandia, Pacaraima e Uiramutã. O impacto na produção de arroz de Roraima Por causa da demarcação e homologação da terra indígena, o vídeo afirma que “os arrozeiros viram as áreas plantadas encolherem pela metade” – o que não é verdade. De acordo com dados históricos da Conab, havia 25.500 hectares de plantação em 2005. Essa área só chegou à metade entre 2015 e 2016, mais de cinco anos após a retirada dos produtores da região. No que diz respeito à produção em si, houve três reduções significativas. A primeira aconteceu entre as safras de 2004/05 e 2006/07; e a segunda na de 2008/09. “Eu me lembro que, na época, havia alguns projetos de expansão e produtores foram afetados. Esses pontos de queda podem ser em virtude da Raposa Serra do Sol”, explicou Mário Pegorer, da Abiarroz. A preferência pela soja Desde 2001, a menor produção de arroz aconteceu na safra de 2015/16. Nesse período, a produção de soja em Roraima apresentou o quinto crescimento consecutivo, superando a do arroz em 19 mil toneladas. Essa mudança do cenário agrícola no estado é mencionada pelo vídeo, mas também é atribuída – equivocadamente – à demarcação da terra indígena. “Esse ponto de inflexão e esse preterimento do arroz está acontecendo em várias regiões, porque a soja tem um atrativo muito forte. A remuneração é melhor, os preços são maiores. Então, os produtores optam por ela”, explicou Mário Pegorer, da Abiarroz. Segundo a Conab, a nível de produtor, o preço da saca (60 kg) do arroz era R$ 66 e da soja, R$ 112 no último mês de agosto, em Roraima. “Em 2020, a soja teve um salto de área de 50 milhões de hectares, mais que dobrou”, afirmou o governo de Roraima, por meio de nota. De acordo com a Secretaria Estadual de Planejamento e Desenvolvimento, esse investimento na soja é um dos principais fatores que contribuíram para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) do estado. Qual a importância diante da produção e do consumo nacionais? Na média dos últimos 20 anos, a produção de arroz de Roraima representou apenas 0,79% de toda a produção brasileira. Nesse período, a maior representatividade aconteceu na safra de 2007/08 – após a homologação da terra indigena, mas com a questão ainda judicializada -, quando chegou a 1,05% da nacional, com 127 mil toneladas produzidas. Em termos absolutos, a maior safra aconteceu três anos antes, com 135 mil toneladas. “Se você pensar que o Brasil vai precisar importar cerca de 200 mil toneladas de arroz de países de fora do Mercosul, essa produção (antiga, de 135 mil toneladas) é significativa. Tem a sua importância para o abastecimento interno. Apesar disso, ela não tem nada a ver com a alta do preço do arroz neste ano”, afirmou Mário Pergorer. Já o governo de Roraima ressaltou que o arroz produzido no estado tem, tradicionalmente, a Venezuela como principal destino. No ano de 2018, as exportações também foram significativas para a Holanda e Guiana. Além disso, o grão serve apenas ao mercado local e do Amazonas. Por que investigamos? Na terceira fase, o Comprova verifica postagens suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais e que tenham ligação com políticas públicas do governo federal ou com a pandemia da covid-19. É o caso do vídeo que relaciona a alta no preço do arroz brasileiro neste ano com a demarcação e homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em 2005. As disputas por terras indígenas têm aparecido com frequência em postagens nas redes sociais que questionam ou criticam o direito das comunidades indígenas de permanecerem nas próprias terras – que, neste caso, faz parte da Amazônia Legal, que tem sofrido com diversas queimadas e informações falsas sobre a respectiva preservação. Esta também não é a primeira vez que conteúdos tentam atribuir problemas enfrentados na região da Amazônia aos povos indígenas. O Comprova verificou recentemente conteúdos relacionados à questão, como um vídeo que deturpava informações sobre a atuação do governo na preservação da Amazônia e uma fotografia retirada de contexto para afirmar que ONGs provocavam queimadas na Amazônia. Em 2019, o Comprova também mostrou que era falso um texto compartilhado no Facebook afirmando que terras indígenas em Rondônia tinham sido vendidas a uma empresa irlandesa. Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo que usa dados imprecisos e induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou que confunde, com ou sem a intenção de causar dano.
https://i1.wp.com/projet…=601%2C241&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-de-homem-implorando-por-banho-de-mar-foi-gravado-um-dia-depois-do-anuncio-de-reabertura-da-orla/
COMPROVA
Vídeo de homem implorando por banho de mar foi gravado um dia depois do anúncio de reabertura da orla
null
2020-09-28
Fechada para banhos de mar desde março, a orla de Salvador foi reaberta dois dias depois da gravação. Três praias, incluindo o local em que o vídeo foi gravado, permaneceriam fechadas por conta da estreita faixa de areia Conteúdo verificado: Tuíte exibe um vídeo em que um homem de sunga é impedido de entrar no mar para afirmar que suas liberdades individuais estariam sendo sufocadas. Postagem que afirma que um homem está tendo as liberdades individuais sufocadas ao ser impedido por dois guardas municipais de entrar na praia do Porto da Barra, em Salvador, omite o fato de que as praias da cidade, fechadas desde março por conta da pandemia do novo coronavírus, estavam em processo de reabertura no momento da gravação do vídeo. No dia anterior à gravação das imagens, a prefeitura havia anunciado que quase todas as praias de Salvador estariam liberadas para banhistas de segunda a sexta-feira. A liberação, seis meses após a interdição, no entanto, não incluiu as praias do Porto da Barra, da Paciência e do Buracão – as duas últimas no bairro do Rio Vermelho – porque elas têm uma faixa de areia pequena. A autorização foi suspensa novamente no dia 28 de setembro, porque o decreto foi desrespeitado e as pessoas frequentaram as praias no final de semana. O vídeo foi postado originalmente no perfil do Facebook do homem que aparece nas imagens. De sunga e sem máscara, ele alega que quer dar apenas um mergulho e que precisa tomar banho de mar diariamente por recomendação médica. Na postagem original, feita no sábado (19), o vídeo tem 1 minuto e 36 segundos. No dia 22 de setembro, a deputada federal Bia Kicis (PSL-DF) postou o vídeo em sua conta no Twitter, com 36 segundos a menos – foi cortado o início, em que o homem diz o seu nome. Ele é candidato a vereador em Salvador. Procurado pelo Comprova, o homem que aparece de sunga no vídeo disse que adquiriu um problema de saúde depois de um assalto e que o tratava com banhos de mar. Apesar da interdição ter sido feita em março, o homem declarou que se banha todos os dias na praia do Porto da Barra e que não sabia que o local estava interditado. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos? Primeiro, o Comprova buscou por vídeos e outras publicações na internet que levassem a um homem que protestava contra a proibição do banho de mar em Salvador. Foram localizados outros vídeos de protesto durante a pandemia. Em um deles, o homem usava um megafone para protestar na porta do prédio onde mora o prefeito ACM Neto e se identificava. A partir do nome dito pelo homem em um dos vídeos, localizamos o perfil dele no Facebook. Lá, encontramos o vídeo original gravado na praia do Porto da Barra e outras postagens feitas no local, ao vivo, no mesmo dia. Procuramos ainda a Guarda Civil Municipal de Salvador, responsável pela fiscalização do acesso às praias e o homem que aparece nas imagens, além do Ministério Público Estadual (MP-BA) e Federal (MPF), citados por ele no vídeo. Também foi procurada a deputada federal Bia Kicis, que compartilhou o vídeo viralizado. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 28 de setembro de 2020. Verificação Porto da Barra, 19 de setembro, praia interditada O vídeo foi gravado no dia 19 de setembro de 2020, um sábado, na praia do Porto da Barra, uma das mais frequentadas de Salvador (BA), e postado originalmente no perfil de Facebook do homem que aparece de sunga nas imagens. As imagens são feitas por uma outra pessoa, que não aparece nas gravações. Procurado pelo Comprova, o homem disse não saber quem gravou o vídeo, embora ele o tenha postado diretamente em sua conta no Facebook. No mesmo dia, o usuário fez uma transmissão ao vivo na mesma praia, às 9h52. Um pouco mais tarde, às 11h41, ele também fez uma transmissão ao vivo na entrada do Shopping Barra, que fica no mesmo bairro que a praia em questão. Em postagens nos dias seguintes, ele afirma que se dirigiu ao Porto da Barra, no sábado (19), e que foi impedido de acessar o local pela Guarda Municipal. No vídeo, é possível perceber que, diante do pedido do homem para entrar na praia, os dois guardas respondem que “infelizmente, não é possível”. O acesso de banhistas ao local está proibido desde 21 de março. No dia em que as imagens foram feitas, a interdição valia para o Porto da Barra e outras cinco praias da capital baiana: Farol da Barra, Rio Vermelho, Itapuã, Piatã e Ribeira. Nas demais, não havia proibição, mas recomendação para que as pessoas não as frequentassem para evitar aglomerações. As operações de fiscalização feitas pela prefeitura nas praias foram batizadas de ‘Tira o pé da areia’. No vídeo, o homem cobra providências de deputados, promotores e do Ministério Público Federal. O decreto que interdita as praias de Salvador, no entanto, é municipal e não tem interferência de deputados. Por e-mail, o Ministério Público Federal disse que, “por não envolver autoridades com foro por prerrogativa de função em tribunais superiores, a Procuradoria-Geral da República não atua no caso das praias de Salvador”. O Ministério Público Estadual informou, por e-mail, que o Grupo de Trabalho de Enfrentamento do Novo Coronavírus (GT Coronavírus) “recebeu reclamações de cidadãos quanto à restrição do acesso às praias” e que “o GT enviou ofício à prefeitura pedindo informações sobre o protocolo de reabertura das praias, dos estudos técnicos que vão baseá-lo”. A assessoria de comunicação da Prefeitura de Salvador informou que “todas as ações são amplamente divulgadas em todos os canais oficiais da Prefeitura, além da imprensa, e que o MP tem acesso através do Diário Oficial do Município, onde são publicados todos os protocolos”. Abertura parcial As imagens foram feitas no Porto da Barra no dia seguinte ao anúncio feito pelo prefeito ACM Neto (DEM) de que o acesso à maioria das praias de Salvador seria liberado, mas somente de segunda a sexta-feira. Ou seja, a determinação passou a valer no dia 21 de setembro, seis meses após as interdições e dois dias após a gravação do vídeo. Apesar da liberação, três praias seguiram interditadas, mesmo durante a semana: o próprio Porto da Barra, a Praia da Paciência e a praia do Buracão – estas duas últimas no bairro do Rio Vermelho. Apesar do bloqueio para banhistas, as praias estiveram liberadas para pescadores neste período. Por e-mail, a Guarda Civil Municipal, responsável por fiscalizar o acesso, informou que estas três praias ficaram fora da liberação, neste primeiro momento, porque “possuem uma faixa de areia pequena, logo sendo ambientes com facilidades para gerar aglomerações”. A Guarda acrescentou que “em tempos comuns, sem a atual pandemia, [esses locais] recebem uma grande quantidade de público”. Outras opções O mesmo homem que foi barrado no Porto da Barra no dia 19 de setembro voltou ao local na segunda-feira, 21 de setembro. Neste dia, no entanto, ele e outros banhistas tinham uma alternativa: a praia do Farol da Barra, vizinha ao Porto, estava liberada por decreto municipal. O acesso fica a cerca de 800 metros do local onde foi gravado o vídeo. Incluindo as três ilhas que compõem o território de Salvador – Ilha dos Frades, Ilha de Maré e Ilha de Bom Jesus dos Passos – a capital baiana possui 64 quilômetros de orla marítima. Dentro da cidade, são 50 quilômetros de praias, que lotaram no final de semana em que o vídeo foi gravado. Por causa do desrespeito ao decreto que permitia a liberação das praias somente durante a semana, a prefeitura decidiu interditá-las novamente. O anúncio foi feito no dia 28 de setembro e, a princípio, a interdição tem o prazo de validade de uma semana. Que doença ele tem que pede um tratamento com banho de mar? Procurado pelo Comprova e questionado sobre qual doença ele tinha que necessitava de banhos de mar, o homem informou que foi assaltado, “pegou pânico e se curou tomando banho de mar”. “Todos os dias tenho que toma banho de mar sempre tomei banho de mar no Porto não sabia que estava proibido (sic)”, declarou. Ele acrescentou que ele e mais pessoas tomam banho de mar no Porto da Barra todos os dias, que 60 idosos se reúnem no lugar para “curar tudo” e que o banho de mar “relaxa, dá saúde em todo o corpo, tira manchas e tira covid-19 (sic)”. O homem não respondeu que médico lhe fez a recomendação, nem explicou como não sabia que a praia estava interditada, mesmo tendo informado que ia lá todos os dias. O homem ainda disse que em outra praia da cidade, no Jardim de Alah, teve o mesmo problema. Questionado se foi em outra praia, disse que não por ser “homem idoso” e alegou que frequenta o Porto da Barra por morar no bairro de Brotas. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), ainda não há cura para a covid-19. Procurada pelo Comprova, a deputada federal Bia Kicis informou que não sabia detalhes sobre a situação, mas que “é nítido pelo vídeo que essa informação [interdição] não foi passada a esse senhor”, disse a assessoria da parlamentar, em nota. Apesar disso, no dia 20 de março, o acesso à praia foi fechado por tapumes e uma placa foi instalada no local informando que a praia estava interditada por força do decreto 32.272/2020. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova checa conteúdos virais que possam espalhar desinformação nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19. O vídeo compartilhado pela deputada teve mais de 31 mil curtidas no Twitter até o dia 28 de setembro, além de ter sido retuitado 3,8 mil vezes até a mesma data. Embora o vídeo seja verdadeiro, ele omite a informação de que um homem estava tentando acessar uma praia que foi interditada por decreto municipal devido à pandemia do novo coronavírus, para evitar aglomerações que possam disseminar ainda mais a doença. Outras praias da cidade não foram interditadas, mas havia a recomendação de também evitar aglomerações. Como o homem que aparece nas imagens é candidato a vereador em Salvador, o Comprova omitiu seu nome desta verificação. Não é a primeira vez que medidas de proteção contra a covid-19 são atacadas nas redes sociais. O Comprova mostrou que eram enganosas as postagens que relacionavam a morte de uma menina na Alemanha ao uso de máscara e que equipamentos de proteção exportados pela China estavam contaminados.
https://i1.wp.com/projet…=601%2C389&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/texto-usa-erroneamente-dados-preliminares-para-ligar-queda-de-homicidios-a-aumento-de-armas-de-fogo/
COMPROVA
Texto usa erroneamente dados preliminares para ligar queda de homicídios a aumento de armas de fogo
null
2020-09-28
Texto compara dados preliminares com dados consolidados – um erro metodológico – e não leva em conta diversos aspectos relevantes para correlacionar números de armas vendidas com números de homicídios. O próprio Ministério da Saúde afirmou ao Comprova que “os dados de óbitos levam dois anos para serem consolidados” e que “não é correto comparar dados fechados com preliminares” Conteúdo verificado: Publicação em site que divulga uma análise do Centro de Pesquisa em Direito e Segurança (Cepedes), na qual o autor relaciona a queda de homicídios no Brasil com a alta do registro de armas de fogo durante os últimos anos. É enganosa uma publicação segundo a qual o Brasil teve, em 2019, o menor índice de homicídios por armas de fogo desde 1999 e que isso ocorreu a despeito do aumento do número de armas de fogo em circulação. O texto é baseado em um estudo, de responsabilidade do Centro de Pesquisa em Direito e Segurança (Cepedes, uma organização independente e sem relação com o governo), que compara dados preliminares com dados consolidados – um erro metodológico – e não leva em conta diversos aspectos relevantes para correlacionar números de armas vendidas com números de homicídios. Os assassinatos com arma de fogo, de acordo com documentos consultados pelo Comprova, ainda são uma parcela significativa do total de homicídios no Brasil, mas seu crescimento vem desacelerando desde que o Estatuto do Desarmamento entrou em vigor, em 2003. Além disso, especialistas afirmam que o efeito do maior número de armas só poderá ser avaliado a médio e longo prazos. O autor do artigo do Cepedes não considera nenhum dos aspectos listados acima. A análise se apoia em números oficiais, mas preliminares. O próprio Ministério da Saúde, órgão responsável pelas informações, afirmou ao Comprova que “os dados de óbitos levam dois anos para serem consolidados” e que “não é correto comparar dados fechados com preliminares”. Os dados consolidados mais recentes disponibilizados pelo Datasus são referentes a 2018. Eles são utilizados por pesquisas como o Atlas da Violência, feito por especialistas do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP), lançado no final do mês de agosto. Como verificamos? A verificação começou com a busca das informações que embasam a análise feita pelo Cepedes. O próprio autor do estudo, Fabrício Rebelo, destaca que utiliza “dados preliminares” do ano passado, disponíveis no Sistema de Informação de Mortalidade (SIM), do Ministério da Saúde. Por meio do Datasus, foram levantados os números de óbitos nas 12 categorias relacionadas a armas de fogo, chegando ao total preliminar de 2019. Na mesma página é possível levantar as mortes por tais causas ocorridas durante os anos anteriores. No que diz respeito ao armamento da população, o Projeto Comprova entrou em contato com a Polícia Federal, que disponibilizou o número de registros de armas de fogo feitos no país desde 2009 – com uma categoria específica relacionada a pessoas físicas. Além de consultas ao Atlas da Violência de 2020 do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, foram ouvidos quatro especialistas: Luiz Cláudio Lourenço, do Laboratório de Estudos sobre Crime e Sociedade da Universidade Federal da Bahia; Leonardo Carvalho, do Instituto Sou da Paz; Jose Ignacio Cano Gestoso, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj); e Daniel Cerqueira, do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Verificação Os números Os dados levantados pelo Cepedes existem e estão disponíveis no site do Ministério da Saúde (MS), mas não são dados definitivos. Segundo o próprio ministério, os números de óbitos levam dois anos para serem consolidados e, por isso, não é correto comparar dados fechados com preliminares, como feito pelo artigo em questão. Rebelo aponta, fazendo essa comparação, que os homicídios registraram a maior queda desde 1999 no Brasil, sobretudo os cometidos com arma de fogo. A queda, comparando os números preliminares de 2019 com os consolidados de 2018, seria de 26,65%, saindo de 41.179 registros de mortes intencionais com emprego de arma de fogo em 2018, para 30.206 em 2019 – ainda maior do que os 13,33% de queda no mesmo item comparando dados, agora consolidados, de 2018 com relação a 2017. O pesquisador usa esses resultados para falar que dois anos de uma série consolidada mostram recordes inversos: enquanto o número de homicídios com emprego de armas de fogo vem caindo, o número de vendas de armas vem subindo no mesmo período. “A relação entre armas legalmente postas em circulação e quantidade de homicídios se revelou inversamente proporcional”, afirma Rebelo, na conclusão do artigo. Para especialistas ouvidos pelo Comprova, a conclusão é enviesada e não leva em conta o impacto do Estatuto do Desarmamento, de 2003, na queda do número de homicídios com emprego de arma de fogo. Estatuto do Desarmamento Divulgado no mês de agosto deste ano, o Atlas da Violência 2020 tem um trecho dedicado ao número de mortes por armas de fogo. Os pesquisadores apontam dados que mostram como o Estatuto do Desarmamento, de 2003, foi fundamental para frear a escalada de homicídios que ocorria desde 1980 no Brasil. De acordo com o Atlas da Violência, a taxa de homicídios por arma de fogo a cada 100 mil habitantes teve um crescimento médio de 5,8% entre os anos de 1999 e 2003; de 5,9% entre 1989 e 2003; e de 6% de 1980 a 2003. Nos quinze anos após o Estatuto (entre 2003 e 2018), a velocidade média de crescimento anual dessas mortes diminuiu para 0,9%. Os pesquisadores concluem que, antes de 2003, quando foi sancionado o Estatuto do Desarmamento, “a velocidade de crescimento das mortes era cerca de 6,5 vezes maior do que a que passou a vigorar no período subsequente”. Apesar disso, não houve tanta alteração na velocidade de crescimento das mortes por outros meios, que não a arma de fogo. O sociólogo Luiz Cláudio Lourenço, coordenador do Laboratório de Estudos sobre Crime e Sociedade, da Universidade Federal da Bahia (Lassos/Ufba), rejeita a declaração de que a venda de armas não tem efeito sobre as mortes por arma de fogo. “A finalidade da arma de fogo é matar. É como você falar que um explosivo não serve para explodir”, declarou. Ignacio Cano, do Instituto de Ciências Sociais da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), considera “oportunista” dizer que uma queda de homicídios em 2019 está ligada ao porte de armas. Segundo Leonardo Carvalho, coordenador de projetos e pesquisador do Instituto Sou da Paz, também não há ainda um estudo que aponte que a política apoiada pelo governo federal, de liberação de mais armas para civis, redunde em mais segurança para a população. “Não tem ainda nenhum estudo que mostre que esse tipo de iniciativa política redundou em mais segurança para a população. O que a gente teme é justamente o contrário, que mais armas redundem em mais violência. Para você ter causalidade, você tem que ligar uma coisa à outra, usar o dado isolado é uma falácia”, completa. Na edição de 2020, o Atlas da Violência reafirma uma conclusão já consolidada em edições anteriores e bastante debatida na publicação do ano passado: a de que a flexibilização da política de acesso a armas e munição tem uma forte influência no aumento dos índices de crimes violentos letais intencionais, os chamados CVLIs. Venda de armas de fogo O artigo de Rebelo cita números corretos de registros de novas armas de fogo no País. O autor usou como fonte uma reportagem do jornal O Globo, que indicou alta de 24% entre o número de armas novas registradas de janeiro a novembro de 2019 e todo o ano de 2018. No período coberto pela matéria, o presidente Jair Bolsonaro editou oito decretos sobre posse de armas de fogo que facilitaram o acesso da população a revólveres e pistolas. O Comprova também analisou os dados de registros de armas de fogo fornecidos pela Polícia Federal. No total, o número de armas novas registradas por pessoas físicas em 2019 foi de 61.821, um salto de 67% em relação ao ano anterior. Em nosso levantamento, consideramos armas compradas por cidadãos comuns, servidores públicos e caçadores de subsistência. Todas essas categorias estavam englobadas na nomenclatura “pessoa física” em 2018. O aumento no número de registros de novas armas de fogo em 2020 deve ser ainda maior. Considerando apenas o período de janeiro a maio — meses dos dados mais recentes disponibilizados pela Polícia Federal — a alta neste ano é de 184%, em comparação com o mesmo período de 2019. Dos civis para o mercado ilegal Segundo Leonardo Carvalho, do Instituto Sou da Paz, quanto mais armas circulando, mesmo que legalmente, maior a chance de elas irem parar no mercado ilegal. O efeito disso não vai ser visto imediatamente. “Essas armas que estão hoje no mercado legal, de repente são subtraídas e vão parar no mercado ilegal. A vida útil dela vai de 60 a 80 anos”. “Se você tira a arma de circulação, acabou. Mas enquanto ela está circulando, ela está sendo usada. A gente já viu apreensão de arma da Segunda Guerra Mundial. Com o avanço tecnológico, tem armas com uma vida útil muito grande”, completa Leonardo. Ou seja, o impacto da circulação dessas armas sobre os dados de letalidade ainda vai demorar um pouco a aparecer. É uma conclusão parecida com a do professor Ignacio Cano, da Uerj. “As armas que estão sendo difundidas vão provocar violência a longo e médio prazo. O impacto dessas armas não se mede a curto prazo. Quanto mais armas circularem no mercado formal, mais armas vão aparecer no mercado ilegal e mais baixo vai ser o preço dessas armas no mercado ilegal”, explica. Números preliminares Embora os números apresentados por Fabrício Rebelo existam e estejam disponíveis no site do Ministério da Saúde, eles são ainda preliminares. Pesquisadores ouvidos pelo Comprova não recomendam o uso destes para fazer comparações, uma vez que pode haver variação até a consolidação, em um prazo de dois anos. O Comprova questionouRebelo quanto ao uso de dados preliminares. Ele afirmou que as informações do Datasus apresentam “variação mínima entre a divulgação preliminar e os definitivos”. Leonardo Carvalho, do Instituto Sou da Paz, considera a posição de Rabelo “bem equivocada”. Carvalho explica que o Datasus libera dados preliminares “como uma medida de engajar os estados” e afirma que “nenhum estudo sério considera esses dados”. Segundo Ignacio Cano, os números não costumam variar muito nacionalmente, mas podem apresentar discrepâncias regionais. Leonardo Carvalho exemplifica: “Pelos dados preliminares do Datasus, o Rio de Janeiro teria uma redução de 56% de mortes por arma de fogo e 54% no total, comparando 2019 a 2018. Eu queria muito que fosse verdade, mas não vai ser. Historicamente, o RJ e nenhum outro estado teve uma queda tão grande de um ano para outro”. Daniel Cerqueira, que é técnico de planejamento e pesquisa na Diretoria de Estudos e Políticas do Estado, das Instituições e da Democracia (Diest) do Ipea e coordenador do Atlas da Violência 2020, ressaltou que não existem dados revisados do Ministério da Saúde sobre óbitos de 2019. “Os dados de óbitos que os estados começam a enviar preliminarmente referentes a 2019 estão muito longe de serem adequados para análise, porque existem muitas informações que precisam ser checadas pelo MS, principalmente a causa básica da morte (se foi agressão, violência auto infligida ou acidente). É um trabalho difícil e cuidadoso que o MS faz, motivo pelo qual demora quase dois anos para liberar os dados oficiais revisados”, destacou Cerqueira. Para ele, o pesquisador que faz análise com dado preliminar está cometendo um “erro grosseiro” e, por isso, “qualquer análise dessa natureza não pode ser levada a sério”. Leonardo Carvalho defende o uso dos números do Datasus, mas diz que é preciso aguardar a publicação dos dados definitivos. “O Datasus é uma referência para a gente falar de homicídio no país, é uma metodologia conhecida e que está rodando desde a década de 1970. Mas você não vai ver nenhum estudo sério usando dados preliminares”, afirma. Qualidade dos dados Há duas fontes de dados principais no Brasil usadas para tratar de números da violência: o Datasus, do Ministério da Saúde, e os dados enviados pelas secretarias estaduais de Segurança Pública, com números de crimes. Para pesquisadores, no entanto, os números do Datasus são os mais consistentes e confiáveis, já que têm abrangência nacional e são alimentados seguindo uma mesma metodologia – o que não acontece com a contabilização dos estados. Apesar disso, segundo texto publicado no Atlas da Violência, até mesmo os números do Datasus têm perdido qualidade por causa do não preenchimento correto das informações sobre vítimas e incidentes e, sobretudo, porque em alguns casos não se consegue estabelecer a causa básica do óbito ou a motivação que gerou o fato. Ou seja, não dá para dizer se a pessoa cometeu suicídio, foi vítima de acidente de trânsito ou de uma agressão por terceiros ou por intervenção legal (homicídios). “Nesse caso, o óbito fica classificado como uma morte violenta com causa indeterminada (MVCI), e a sociedade e o Estado ficam sem saber por que o cidadão morreu. Com isso, muitos casos de homicídio ficam ocultados, fazendo com que o principal termômetro da violência letal nos estados deixe de funcionar adequadamente. Entre 2017 e 2018, o número de MVCI aumentou 25,6%”, aponta o Atlas da Violência. O Atlas considera alguns resultados “escandalosos”. Por exemplo, a taxa de MCVI em São Paulo em 2018 foi de 9,4 para cada 100 mil habitantes, enquanto a taxa de homicídios foi menor, de 8,2 para cada 100 mil habitantes. Em publicação de 2013, Daniel Cerqueira, coordenador do estudo, estimou que, no Brasil, “73,9% das MVCI eram, na verdade, homicídios que ficaram ocultos, em face do desconhecimento da informação correta”. O autor e a página Coordenador do Centro de Pesquisa em Direito e Segurança (Cepedes) e autor do artigo verificado, Fabricio Rebelo já foi diretor do Movimento Viva Brasil, que se descreve como “associação civil sem fins lucrativos em defesa do direito de possuir e portar armas” e é presidido por Bene Barbosa, um dos principais nomes contra o desarmamento da população no Brasil. Tratando-se como amigos, os dois já realizaram palestras juntos em prol do armamentismo, em um evento realizado em fevereiro deste ano em Mato Grosso do Sul. Questionado pelo Comprova, Rebelo declarou que não considerou o aumento de mortes por causas violentas indeterminadas ao analisar a evolução de homicídios por arma de fogo. Ele argumentou que “os dados analisados são objetivos, considerando as variações diretas dos indicadores disponibilizados no Datasus”. Rebelo disse ainda que “a pesquisa não busca causas ou determinantes sociais, mas, apenas, evidenciar que a relação ‘armas x homicídios’ é imprópria”. Os demais especialistas consultados nesta verificação criticaram a ausência de contexto dos dados. Já o site Senso Incomum, que divulgou o artigo, se coloca como publicador de “notícias e opiniões contra a corrente”. No entanto, essa não é a primeira vez que a página publica conteúdos problemáticos. No último dia 15 de setembro, a página compartilhou uma informação enganosa sobre a inconstitucionalidade do voto impresso, que chegou a ser verificada e esclarecida pelo Projeto Comprova. Por que investigamos? Na terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos relacionados à covid-19 e a políticas públicas do governo federal. Informações falsas ou enganosas como a checada acima são prejudiciais à sociedade e contribuem para uma interpretação distorcida da realidade. No conteúdo verificado, a relação equivocada entre a queda de homicídios e a alta de registros de armas de fogo pode afetar discussões de temas importantes à sociedade, como segurança pública. Incluindo Facebook e Twitter, as publicações foram curtidas por cerca de 2,5 mil pessoas. No ano passado, o Projeto Comprova fez duas verificações semelhantes. A primeira de um artigo que enganava os leitores ao vincular o maior número de armas a menores índices de violência, por meio de estatísticas incompletas do Brasil e dos Estados Unidos. Já a segunda, de uma publicação enganosa que atribuía melhorias nos índices de segurança ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos, que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-deturpa-informacoes-sobre-a-atuacao-do-governo-na-preservacao-da-amazonia/
COMPROVA
Vídeo deturpa informações sobre a atuação do governo na preservação da Amazônia
null
2020-09-25
Bolsonaro não foi o responsável por criar Conselho da Amazônia e seu governo não foi o que mais destinou verba aos indígenas Conteúdo verificado: Vídeo que circula nas redes sociais defende a atuação do governo Jair Bolsonaro na preservação da Amazônia usando dados enganosos. Vídeo que viralizou nas redes sociais traz informações deturpadas sobre a atuação do atual governo no combate às chamas e na preservação da Amazônia brasileira. A produção audiovisual “Preservar a Amazônia” afirma que Jair Bolsonaro (sem partido) criou um conselho para atuar na proteção da floresta e que “é a primeira vez na história que um governo mobiliza todas as suas forças para combater, de verdade, os ilícitos ambientais.” Não é verdade. Bolsonaro reformulou o Conselho Nacional da Amazônia Legal, órgão regulamentado em 1993 por Itamar Franco. Ao afirmar que a gestão atual prestou mais assistência em saúde aos povos indígenas do que nos últimos cinco anos, a gravação desconsidera os recursos voltados a essa população. Segundo o site Siga Brasil, sistema de informações sobre orçamento público federal, a verba destinada à assistência aos indígenas em 2020 é a menor desde 2015 (R$ 1,4 bilhão). A peça alega, ainda, que o “país irá prover a segurança alimentar do mundo. Já somos responsáveis por alimentar 1 bilhão de pessoas no planeta”. Segundo a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), essa conta teria como base dados da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Porém, o órgão, braço das questões ligadas à fome na ONU afirma que é difícil estabelecer essa estatística de maneira precisa. A FAO tem dados sobre a quantidade nutricional necessários ao ser humano, mas não estudos que indiquem o potencial de pessoas que cada país consegue alimentar com sua produção. Além disso, especialistas contestam a metodologia da Embrapa argumentando que não é possível comprovar quantas pessoas são beneficiadas por alimentos oriundos do Brasil, já que muitos produtos exportados – grãos, principalmente – são usados para alimentar animais, não humanos. O papel do Brasil na segurança alimentar do planeta também é posto em cheque pela FAO e por pesquisadores. O mesmo vídeo, que viralizou nas redes via Twitter, foi publicado anteriormente pelo deputado federal Coronel Armando (PSL-SC). Ele não soube informar a origem da gravação e, questionado sobre as informações distorcidas, negou qualquer desinformação e disse que o material não tem “a distorção produzida por uma parte da grande imprensa”. Como verificamos? Por meio de pesquisa de imagem reversa nas ferramentas InViD e Google Imagens, foi possível encontrar a primeira vez em que o vídeo aparece, na página do deputado coronel Armando, com quem conversamos por mensagem no Facebook. Em sites como Google e Siga Brasil, fizemos buscas sobre o papel do país na segurança alimentar do planeta, a atuação do governo federal da proteção dos índios e na preservação da Amazônia. Também conversamos com especialistas para abordar esses tópicos e esclarecer dúvidas. Entrevistamos o professor de sociologia de desenvolvimento rural da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Sergio Schneider, e o professor de Economia Agrícola do Instituto de Economia da Unicamp, Walter Belik. Falamos ainda com o Instituto de Estudos Socioeconômico (Inesc) e Greenpeace — ONGs que trabalham na preservação dos povos indígenas e do meio ambiente —, e com a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura. Acionamos, ainda, órgãos do governo para confirmar informações, como Embrapa, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), Ministério da Saúde e Fundação Nacional do Índio (Funai). Verificação Criação do conselho O vídeo afirma que “Jair Bolsonaro criou um conselho para atuar na proteção da floresta brasileira” e que “é a primeira vez na história que um governo mobiliza todas as suas forças para combater, de verdade, os ilícitos ambientais”. O Conselho Nacional da Amazônia Legal foi regulamentado em 1993, pelo então presidente Itamar Franco. Um dos objetivos era coordenar uma “política nacional integrada para a região amazônica” e, para isso, era composto por ministros e representantes dos governos dos estados que compõem a Amazônia. Em junho de 1995, Fernando Henrique Cardoso publicou um novo texto, com algumas mudanças – como a inclusão do novo nome do ex-Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal, que passou a se chamar Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal, e da sigla Conamaz para designar o conselho. No mês seguinte daquele mesmo ano, ao discursar em uma audiência do Conamaz, FHC falou sobre o surgimento do conselho: “Este órgão, em si mesmo, já mostra a importância que o governo da República – não o meu, mas em geral, desde o governo anterior, quando já tínhamos essa organização – atribui à questão da região amazônica. Este tipo de conselho é uma peculiaridade na nova organização política-administrativa brasileira, porque aquela é a única região do Brasil onde há formalmente um mecanismo de entrelaçamento do governo federal com os governos estaduais e com os vários níveis de administração”. O que Bolsonaro fez foi reinstalar o órgão, apesar de tê-lo anunciado como novidade em resposta às cobranças de entidades ambientais. Em janeiro deste ano, no Fórum Econômico de Davos, ele afirmou que criaria um conselho para a proteção da Amazônia. Segundo ele, o objetivo é “coordenar as diversas ações em cada ministério voltadas para a proteção, defesa e desenvolvimento sustentável da Amazônia”. Menos de um mês depois, em 11 de fevereiro, Bolsonaro assinou o decreto que dispõe sobre o Conselho Nacional da Amazônia Legal, revogando o decreto de FHC, de 1995 – que, por sua vez, anulou o de Itamar, de dois anos antes. A sigla do órgão passou a ser CNAL. Se em seu formato anterior, o conselho ficava sob o guarda-chuva do Ministério do Meio Ambiente, agora ele foi transferido para a vice-presidência da República – Hamilton Mourão é o seu presidente. Além disso, os governadores da região amazônica, que faziam parte do conselho, foram excluídos do texto de Bolsonaro. Questionado sobre essa mudança, o presidente afirmou que ter governadores no grupo “não resolveria nada”, mas que não tomaria decisões sem falar com eles. Povos indígenas “Hoje, o Brasil é um país que cuida não só do seu território, mas da sua gente. Os índios que vivem na Amazônia e em outras partes do país querem proteção, como todos nós, mas querem, acima de tudo, liberdade.” Assim o vídeo introduz a afirmação de que Bolsonaro prestou mais assistência em saúde aos indígenas do que nos últimos cinco anos e ataca as ONGs. O Ministério da Saúde, por meio da Secretaria Especial de Saúde Indígena, informou que desde 2019 foram realizados 21 milhões de atendimentos, enquanto que, entre 2014 e 2018, foram 19,6 milhões. Mas, ao informar apenas sobre o número de procedimentos, o órgão não leva em conta os recursos voltados às populações indígenas. Uma consulta simples no site Siga Brasil, que reúne informações sobre orçamento da União, mostra que o orçamento planejado para assistência aos povos indígenas neste ano, de R$ 1,4 bilhão, é o menor desde 2015. Em 2017, na presidência de Michel Temer, os recursos planejados foram de R$ 1,8 bilhão. Em nota enviada ao Comprova, o Instituto de Estudos Socioeconômicos, afirma que houve uma redução nos valores do programa “Promoção, Proteção e Recuperação da Saúde Indígena”, do governo federal: “Houve uma queda de 9% no valor autorizado entre 2019 e 2020. Isto, seguido de uma queda de 5% entre 2018 e 2020, totalizando um corte de 14% se comparado ao orçamento autorizado para 2018”. Sobre assistência durante a pandemia, o Ministério da Saúde afirmou que “foram realizadas 14 missões interministeriais de atendimento em áreas indígenas, garantindo reforço aos atendimentos realizados pelos 14 mil profissionais” e que enviou “mais de 2,5 milhões de equipamentos de proteção individual, medicamentos, insumos e testes rápidos”. Entretanto, a nota do Inesc ressalta ainda que “apesar da chegada do novo coronavírus, não houve recomposição orçamentária nem mesmo através de créditos extraordinários, o que seria tanto justificado pela vulnerabilidade indígena diante da pandemia, como autorizado pelo regime fiscal especial decorrente da emergência sanitária”. Para Leila Saraiva e Alessandra Cardoso, assessoras políticas do instituto que assinam a nota, “o governo federal tem falhado seriamente no enfrentamento do novo coronavírus entre os povos indígenas”. Danicley Aguiar, porta-voz da campanha de Amazônia do Greenpeace, fala em incompetência do governo. “A verdade é que o governo se preparou para enfrentar uma gripe e não foi capaz de propor um plano eficiente de combate à covid-19, do contrário, não teria sido instado pelo STF a fazê-lo”, afirmou O papel do Brasil na segurança alimentar mundial Em determinado trecho do vídeo verificado, há a afirmação de que o Brasil “é o país que irá prover a segurança alimentar do mundo. Já somos responsáveis por alimentar um bilhão de pessoas no planeta”. Não há menção à fonte desses dados. Questionamos Embrapa e Ministério da Agricultura sobre qual o papel do Brasil nessa questão mundial e se há algum tipo de estudo sobre isso. Também indagamos os dois órgãos sobre quantas pessoas o país é responsável por alimentar no planeta e como é feita essa mensuração. Somente a Embrapa retornou ao pedido do Comprova por e-mail. A mensagem da empresa explica que “a informação de que a agropecuária brasileira alimenta hoje mais de 1,5 bilhão de pessoas em todo o mundo a partir de um dado da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO-ONU), de que uma pessoa precisa de 250 kg de alimentos por ano para ter segurança alimentar. A partir desse dado, foi feito o seguinte cálculo: só com a produção de grãos (250 milhões de toneladas por ano), o Brasil alimenta 1 bilhão de pessoas. Se for somado a esse total 30 milhões de toneladas de tubérculos (mandioca, batata, batata doce, inhame etc), 35 bilhões de litros de leite, 60 milhões de toneladas de frutas e hortaliças e 31 milhões de toneladas de açúcar, chega-se ao redor de 1,5 bilhão de pessoas. Não está incluída no cálculo a produção brasileira de proteína animal (bovinos, caprinos, ovinos, suínos, aves, ovos, pescado). Para chegar a esta estimativa de 250 kg por habitante: a FAO calcula que uma pessoa precisa, por dia, no mínimo (varia com idade, peso, atividade, por exemplo), de 2,5 mil calorias/dia. Para obter 2,5 mil calorias/dia, uma pessoa precisa, em média, de 0,70 kg de grãos (arroz, feijão, trigo, milho, soja, por exemplo) por dia. Em 365 dias são aproximadamente 250 quilos por habitante.” De acordo com Carlo Cafiero, gerente do projeto Voices of the Hungry (Vozes da Fome, em tradução livre) e líder da equipe de segurança alimentar e estatísticas nutricionais da FAO, é impreciso dizer quantas pessoas os alimentos produzidos no Brasil são capazes de alimentar. Em resposta ao Comprova, por e-mail, ele explica que é extremamente complexo rastrear dados e fazer essa avaliação: “Existem muitas etapas intermediárias da produção agrícola ao consumo de alimentos, especialmente para commodities comercializadas internacionalmente”. Para o professor de sociologia de desenvolvimento rural da UFRGS, Sergio Schneider, afirmações assim não são precisas e tendem a ser equivocadas. “’O Brasil produz uma quantidade x de toneladas de grãos, por exemplo. Mas essas toneladas são transformadas em alimentos não para seres humanos, mas para animais. A soja é transformada em farelos para bovinos e suínos. Essa estatística eu temo que ela seja muito difícil de ser estabelecida.”, pondera o docente. Para Schneider, que também coordena o Grupo de Estudos e Pesquisas em Agricultura, Alimentação e Desenvolvimento (Gepad), não há clareza em como o cálculo foi feito: “Suponho que, simplesmente, tenha sido tomado a quantidade de toneladas produzidas e dividida por uma quantidade de calorias/dias que uma pessoa deve consumir. Não esqueçamos que, do ponto de vista nutricional, as pessoas não devem comer só um tipo de comida. Por exemplo, derivados de grão ou de proteína animal. É muito complicado pegar essas informações sobre a quantidade produzida de grãos e de carnes que o Brasil exporta e dizer que isso gera um abastecimento para um número x ou y de pessoas. Essa informação não é usada no mundo acadêmico, nem entre pesquisadores e cientistas, porque é de difícil comprovação e não é uma estatística adequada que possa servir para medir a eficiência de um determinado sistema de produção.“ O professor de Economia Agrícola do Instituto de Economia da Unicamp, Walter Belik, reforça a avaliação do colega gaúcho. “Não existe essa estatística de que o Brasil alimenta tantas pessoas no planeta. Os indianos não comem carne, os chineses não tomam café e o mundo está diminuindo o consumo de açúcar. Cada país tem o seu sistema alimentar e suas preferências. Somar todos os produtos, mesmo que seja em termos calóricos, e dividir pelo número de habitantes do planeta não quer dizer nada”, exemplifica Walter Belik. Ele também rebate a alegação de que o Brasil vai prover segurança alimentar para todo o planeta: “A alimentação do mundo não depende do Brasil. O nível de autossuficiência alimentar é elevado e apenas poucos e pequenos países dependem de importações. Ocorre que, como o comércio internacional derrubou boa parte das barreiras, o que acaba valendo são as vantagens competitivas de cada país, e o Brasil, dada a geografia, mantém vantagens competitivas enormes na área agrícola. […] Hoje o mundo convive com o fantasma da superprodução e do desperdício, não precisamos produzir mais e, sim, produzir com qualidade”. Schneider tem raciocínio na mesma linha. Ele alega que existem alimentos suficientes no mundo para que todas as pessoas possam se alimentar a uma quantidade de 2,7 mil calorias/dia. “O Brasil certamente tem papel importante na oferta de alimentos, é um dos principais produtores mundiais de alimentos. Isso é reconhecido tanto por organizações internacionais, como a FAO, quanto por organizações do comércio. Mas a discussão sobre segurança alimentar propriamente dita não é exclusivamente sobre quantidade. A segurança alimentar do mundo depende, e está fundamentalmente ligada, a questões de como se distribuem os alimentos. De como as pessoas acessam os alimentos. Então, você pode ter uma superoferta de alimentos, um quantidade enorme de comida disponível, mas as pessoas podem não ter acesso a ela”, analisa o professor da UFRGS. O chefe da equipe de segurança alimentar e estatísticas nutricionais da FAO referenda a posição dos especialistas afirmando não estar ciente de nenhum estudo específico que discuta a contribuição do Brasil ou qualquer outro país para a segurança alimentar do planeta. “O conceito de segurança alimentar (a definição internacional endossada pela FAO) refere-se à habilidade de as pessoas terem acesso à alimentação de que precisam, e não simplesmente a disponibilidade geral de comidas. Embora se possa presumir que a maior disponibilidade local de alimentos pode contribuir para o combate à insegurança alimentar, a verdade é que a oferta atual de alimentos no mundo, em termos quantitativos, supera em muito as quantidades necessárias para garantir uma vida ativa e saudável a todos. O problema da segurança alimentar hoje tem mais a ver com as desigualdades no acesso aos alimentos disponíveis para as pessoas do que com a falta de suprimentos baratos”, reforça Cafiero. Postagem O vídeo viralizou no Twitter a partir do dia 20 de setembro, mas circula na internet pelo menos desde o dia 8, quando foi postado no YouTube do deputado federal Coronel Armando (PSL-SC). Ao Comprova, ele disse que não sabe a origem do material – apenas o compartilhou. Avisado sobre a conteúdo enganoso, ele enviou o link de uma reportagem sobre o anúncio da criação do Conselho da Amazônia feito por Bolsonaro. Sobre a assistência aos indígenas, disse: “Da mesma forma que você tem a impressão de que os índios não estão sendo melhor atendidos, nós temos a impressão oposta, já que vivenciamos diariamente todas as ações que o governo federal vem tomando em prol do Brasil e dos índios, e nos informamos diretamente pelos sites dos Ministérios, sem a distorção produzida por uma parte da grande imprensa”. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica postagens suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais que tenham ligação com políticas públicas do governo federal ou com a pandemia. É o caso do vídeo verificado aqui, que desconsidera informações para afirmar que Jair Bolsonaro é o presidente que mais se preocupou com a floresta amazônica e seus moradores. Enquanto a floresta está sob ameaça, sofrendo incêndios criminosos, Bolsonaro enfraquece a gestão ambiental do país afirmando em discurso na ONU que as queimadas ocorrem “onde o caboclo e o índio queimam seus roçados”. No mês passado, inclusive, ele chegou a afirmar que “essa história de que a Amazônia arde em fogo é uma mentira”. Conteúdos como a gravação investigada, que teve, 1,9 mil visualizações no Twitter até 25 de setembro (e 10 na página do coronel Armando no YouTube), disseminam versões distorcidas da realidade, agravando o risco que a floresta e a população indígena correm. O Comprova já investigou conteúdos relacionados aos indígenas e à Amazônia, como o post que usa uma foto antiga de madeireiros para acusar ONGs por incêndios, o vídeo que distorce dados sobre queimadas na região e o que mostra fogo controlado feito pelo Ibama, e não incêndio provocado para culpar o presidente. Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo que usa dados imprecisos e induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou que confunde, com ou sem a intenção de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/texto-engana-ao-comparar-aumento-na-venda-de-armas-com-queda-dos-assassinatos-por-arma-de-fogo/
COMPROVA
Texto engana ao comparar aumento na venda de armas com queda dos assassinatos por arma de fogo
null
2020-09-25
O texto verificado afirma que o número de homicídios por arma de fogo está no “menor patamar em 21 anos”, e que esse dado se deu mesmo diante de um aumento de 200% na venda de armas de fogo. A publicação, no entanto, compara dados de anos diferentes e usa números preliminares, ainda não consolidados Conteúdo verificado: Conteúdo que circula em formato de imagem e de texto afirma que o número de homicídios por arma de fogo está no “menor patamar em 21 anos”, e que esse dado se deu mesmo diante de um aumento de 200% na venda de armas de fogo. É enganoso um conteúdo que circula nas redes sociais afirmando que os homicídios com armas de fogo caíram ao “menor patamar em 21 anos” ao mesmo tempo em que a venda de armas de fogo aumentou 200% no Brasil. O texto verificado compara dados de anos diferentes e usa números preliminares, ainda não consolidados. O dado sobre o crescimento no número de registros de armas de fogo é real e foi verificado entre o primeiro semestre de 2019 e 2020. A informação sobre os homicídios, no entanto, se refere a um outro período; utiliza números preliminares, e que, portanto, não podem ser utilizados como finais; e ainda é atribuído a um instituto que não pesquisa mortes por armas de fogo. Consultado pelo Comprova, o Instituto Sou da Paz, ONG dedicada a debater criminalidade e violência, destacou que as mortes por arma de fogo são um fenômeno complexo e influenciado por vários fatores. Como verificamos? Para checar a veracidade das afirmações deste conteúdo procuramos, por e-mail, a Polícia Federal e o Exército para que pudessem nos auxiliar a interpretar os dados do Sistema Nacional de Armas (Sinarm), da PF, e do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma), do Exército. Para entender a relação entre número de armas de fogo em circulação e as taxas de homicídio no Brasil, conversamos com o Instituto Sou da Paz. Procuramos também o Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes), grupo de pesquisas vinculado à Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que é citado no texto como fonte das informações. Por e-mail, o coordenador do grupo, o professor Carlos Machado de Freitas, negou que eles desenvolvam pesquisas sobre mortes por armas de fogo. Utilizando o Google, descobrimos a existência do Centro de Pesquisa em Direito e Segurança, que também tem a sigla Cepedes, e enviamos e-mail para o idealizador do projeto, o advogado Fabrício Cardoso Rebelo. Por fim, procuramos a equipe do site TerraBrasil Notícias, responsável por divulgar o conteúdo verificado aqui. Verificação Venda de armas O primeiro número citado pelo texto verificado refere-se ao aumento na quantidade de armas registradas no Brasil. De fato, houve uma elevação de quase 200% entre o primeiro semestre de 2019, em que 24.663 unidades foram registradas, e o primeiro semestre de 2020, no qual o número de armas registradas chegou a 73.985. Esses dados são do Sistema Nacional de Armas (Sinarm), da Polícia Federal. Procurada pelo Comprova, a PF enviou os dados mais atualizados, segundo os quais a tendência de alta continua. De janeiro a agosto deste ano, 105.603 novas armas entraram legalmente em circulação no Brasil; o que já supera todas as armas compradas legalmente em 2019. Os dados da PF incluem armas compradas por cidadãos em geral, empresas de segurança privada e algumas categorias especiais, como servidores da segurança pública, magistrados e membros do Ministério Público. Não entram nessa conta os armamentos adquiridos pelas Forças Armadas, por órgãos de segurança pública e pelos colecionadores, atiradores e caçadores (CACs), cujo controle é feito pelo Exército. Ao Comprova, o Exército informou que o número de armas liberadas para os CACs também vem crescendo – 33,47% entre 2018 e 2019. Até agosto de 2020, 75.202 novas armas foram autorizadas para os CACs, número praticamente igual ao verificado nos 12 meses de 2019. Mortes por armas de fogo O segundo número que o texto verificado traz diz respeito ao número de homicídios por armas de fogo no Brasil. De acordo com o conteúdo, o aumento do número de armas seria coincidente com o “menor patamar” de homicídios em 21 anos. Há aqui vários problemas com essa afirmação. O primeiro é com relação à fonte do suposto dado. Procuramos o site responsável pela publicação e este informou, por e-mail, que o texto foi baseado em “informações jornalísticas” e nos enviou o link para um conteúdo de outro portal, o site Gazeta Brasil, que também já teve conteúdo verificado pelo Comprova. Ambos os textos citam como fonte o Centro de Estudos e Pesquisas em Emergências e Desastres em Saúde (Cepedes), um grupo de pesquisas vinculado à Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Ocorre que este centro de estudos nem mesmo pesquisa mortes provocadas por armas de fogo. A informação foi confirmada por e-mail pelo coordenador do grupo, o professor Carlos Machado de Freitas. Por meio de uma pesquisa no Google, descobrimos a existência de uma outra entidade que atende pela sigla Cepedes. Trata-se do Centro de Pesquisa em Direito e Segurança, cujo idealizador é o advogado licenciado Fabricio Cardoso Rebelo, um colecionador e atirador desportista que tem atuação pública contra o desarmamento civil. Por e-mail, Rebelo afirmou que o Cepedes não possui qualquer material publicado apontando aumento de 200% na venda de armas em 2020 ou mesmo sobre homicídios para este ano. “Desconhecemos – e desautorizamos – nossa indicação como fonte dessa afirmação”, disse. Rebelo também afirmou que o último texto publicado no site do Cepedes comparou os homicídios de 2017 a 2019, utilizando dados do Datasus “que somente são disponibilizados, em versão preliminar, nove meses após o ano de ocorrência e consolidados como definitivos seis meses depois (15 meses após tal ano)”. O segundo problema está justamente nos dados apresentados por Rebelo. Como ele próprio afirma, são dados preliminares, que portanto ainda serão atualizados e não podem ser considerados como finais. De acordo com os números do Datasus, plataforma do Ministério da Saúde, 2017 foi o ano recorde de assassinatos por armas de fogo no Brasil, com 47.510 óbitos. Em 2018, essas mortes recuaram, com o registro de 41.179 óbitos. Para 2019, os dados preliminares do Datasus apontam ao menos 30.206 óbitos desta natureza. Esses números, porém, podem ser alterados porque os estados ainda podem incluir registros de mortes na plataforma. Deste modo, é enganoso afirmar que 2019 registrou o “menor patamar” de assassinatos por armas de fogo desde 1999. O Instituto Sou da Paz destaca que o Datasus leva, geralmente, dois anos para consolidar a sua base. “A partir do segundo semestre inicia-se a liberação de dados preliminares do ano anterior, mas como os estados ainda estão inserindo informações, esses números não correspondem à totalidade das mortes. Somente depois de consolidada, a base do Datasus pode ser utilizada para estudos e pesquisas como o texto em questão”, afirma a entidade. Uma terceira questão envolvendo a afirmação feita no conteúdo verificado foi levantada pelo Instituto Sou da Paz. Tanto em 2018 quanto nos dados preliminares de 2019 foram registrados aumentos expressivos dos registros de mortes por causas externas com intenção indeterminada – isso significa que não foi possível saber se a causa foi uma agressão, um acidente ou suicídio. “Se as agressões diminuíram 12% em 2018 em relação ao ano anterior, as mortes cuja intenção é indeterminada aumentaram 26%. Já no ano de 2019, preliminarmente, observa-se redução de 23% nas mortes por agressão e aumento de 61% nas mortes cuja intenção é indeterminada em relação a 2018. As mortes cuja intenção é indeterminada representaram 14% das mortes por causas externas em 2019, o dobro do valor médio observado na série 2010-2018, que é de 7%”, afirma a ONG. “O recorte das mortes por arma de fogo acentua essa diferença: agressões por arma de fogo caíram 13%, mas as mortes por disparo de arma cuja intenção é indeterminada subiram 63% entre 2017 e 2018, variação que entre 2018 e 2019 foi de -27% e +77%, respectivamente”, argumenta a Sou da Paz. Ao Comprova, o Sou da Paz destacou ainda que a variação na taxa de homicídios é um fenômeno que pode ser afetado por diversos fatores além da compra de armas, como a desigualdade econômica, a atuação da polícia e a disputa de grupos criminais. A organização lembrou que, em 2013, um estudo do Ipea mostrou que, isolando-se os demais fatores, a maior disponibilidade de armas tende a gerar maiores taxas de homicídios. “A hipótese de que a simples venda de armas leve à redução de crimes de maneira quase imediata é irracional. Ela presume, por exemplo, que uma venda genérica de armas leve roubadores contumazes a rapidamente exercerem outras formas de obter renda. Mesmo tentando exercitar a hipótese de efeito dissuasório, presume-se que as armas que entram em circulação para legítima defesa demorem, em média, vários meses para serem legitimamente utilizadas e supostamente gerarem algum efeito dissuasório àquele perfil de vítima”, pontuou a entidade. Enquetes são diferentes de pesquisas No texto verificado, o Terra Brasil Notícias afirma ainda que uma enquete realizada pelo próprio site teria mostrado o apoio da população à posse e ao porte de armas. Uma enquete, porém, é um levantamento com pouco rigor metodológico, que mede apenas as opiniões daqueles que responderam as questões. Ela difere de uma pesquisa, que usa métodos estatísticos para representar o pensamento de toda a população. Para isso, a proporção de homens e mulheres e as diferentes faixas de idade e de renda do público que responde a pesquisa devem ser equivalentes às da população que ela busca representar. Em junho de 2019, uma pesquisa do Ibope mostrou que 73% dos brasileiros são contra a flexibilização do porte de armas. Um mês depois, outra pesquisa feita pelo instituto Datafolha mostrou que 66% dos brasileiros são contra a posse de armas e 70% rejeitam a flexibilização do porte de armas. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova monitora e verifica conteúdos sobre a pandemia do novo coronavírus, eleições municipais de 2020 e políticas públicas do governo federal que podem causar desinformação nas redes sociais. É o caso do conteúdo em questão que engana ao relacionar erroneamente o aumento no número de registro de armas de fogo à diminuição dos homicídios no Brasil. Segundo dados da plataforma CrowdTangle, o texto do site Terra Brasil Notícias somava mais de 4,6 mil interações no Facebook, até a data de fechamento deste texto. O link do site também circula no Twitter, com menor viralização e interações. Um conteúdo com as mesmas afirmações também foi publicado na página da organização política Aliança Pelo Brasil no Facebook, recebendo 6,9 mil curtidas e 1,9 mil compartilhamentos. Com a proximidade das eleições municipais, conteúdos como este podem contribuir negativamente para o debate político brasileiro. Quando a desinformação passa a integrar a gramática da disputa eleitoral, discussões sobre os projetos e agendas dos candidatos são prejudicadas, dificultando a escolha dos eleitores. Sobre o tema da segurança pública, o Comprova já mostrou ser enganoso um artigo que associa mais armas a menos violência e falso que scanners veiculares para uso da Polícia Rodoviária Federal (PRF) tenham sido implantados no governo Bolsonaro. O Comprova também já mostrou ser falsa uma publicação do site Terra Brasil Notícias. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos e que induzam a uma interpretação diferente da intenção do seu autor; ou ainda o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/decisoes-do-stf-contra-bolsonaro-estao-dentro-das-atribuicoes-da-corte/
COMPROVA
Decisões do STF contra Bolsonaro estão dentro das atribuições da Corte
null
2020-09-23
Tuíte distorce fatos para sugerir uma atitude de inconstitucionalidade do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação a ações envolvendo o governo de Jair Bolsonaro. As decisões, porém, se basearam em artigos da Constituição Conteúdo verificado: Post sugere que o STF está agindo de maneira inconstitucional para limitar os poderes do presidente Jair Bolsonaro. Uma publicação feita no Twitter distorce fatos para sugerir uma atitude de inconstitucionalidade do Supremo Tribunal Federal (STF) em relação a ações envolvendo o governo de Jair Bolsonaro (sem partido). No texto, a autora levanta suspeita sobre alguns atos recentes do Poder Judiciário: a suspensão da nomeação do diretor da Polícia Federal; a decisão de que os estados e municípios têm “competência concorrente” para tomar providências no enfrentamento ao novo coronavírus; a afirmação que as Forças Armadas não exercem o poder moderador entre os poderes; a audiência pública promovida pelo órgão para discutir a captação de recursos para o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo do Clima). Todas essas decisões, porém, se basearam em artigos da Constituição. Especialistas ouvidos pelo Comprova consideraram que nenhum dos atos citados representa uma ação inconstitucional por parte do STF. Na visão deles, o único ponto que não é pacífico é o que trata da nomeação para o comando da PF. Ainda assim, o ministro Alexandre de Moraes seguiu entendimento que a Corte já havia usado recentemente em dois episódios durante os governos dos ex-presidentes Dilma Rousseff (PT) e Michel Temer (MDB). Como verificamos? Por meio do Google, procuramos notícias sobre os temas levantados pela postagem verificada e quais foram os posicionamentos do Supremo Tribunal Federal em cada um deles. Depois, procuramos na Constituição Federal quais são as atribuições do STF. Na sequência, entrevistamos advogados constitucionalistas para saber se houve algum ato inconstitucional por parte do STF. Por telefone, falamos com Pietro Alarcon, professor de Direito Constitucional da Faculdade de Direito na PUC-SP, e com Marcelo Labanca, professor de Direito Constitucional da Universidade Católica de Pernambuco. Também tentamos contato com a autora do tuíte, mas não tivemos resposta até o fechamento deste texto. Verificação As atribuições do Supremo Tribunal Federal são definidas pelo artigo 102 da Constituição Federal, que descreve o órgão como o guardião da Constituição. Ao todo, o artigo cita 22 frentes em que a Suprema Corte brasileira pode atuar. As principais delas são julgar a inconstitucionalidade de leis federais; julgar o presidente da República, o vice e todos os deputados ou senadores por crimes comuns; julgar habeas corpus e julgar conflitos entre a União e os estados. Quarentena No dia 15 de abril, o plenário do STF decidiu que a União, os estados e os municípios têm “competência concorrente” para tomar providências no enfrentamento ao novo coronavírus. O entendimento dos ministros foi de que se o presidente definisse sozinho por decreto quais serviços essenciais deveriam continuar funcionando, afrontaria o princípio da separação de poderes. O argumento é que apenas a União teria as prerrogativas de isolamento, quarentena, interdição da locomoção e de serviços públicos e atividades essenciais. Estavam em discussão a Medida Provisória 926/2020 e o artigo 3º da Lei Federal 13.979/2020. Bolsonaro criticou algumas vezes a decisão e chegou a dizer que o STF havia decidido que cabia apenas aos governadores e prefeitos as ações de combate a pandemia; embora a decisão da Justiça diga que os entes têm “competência concorrente”. Na época, o ministro Luiz Fux fez questão de frisar que o STF não eximiu o governo federal de responsabilidade nas ações de combate à pandemia. O artigo 23 da Constituição diz ser competência comum da União, dos estados e dos municípios cuidar da saúde e o artigo 24 afirma que os três entes podem legislar sobre a “proteção e defesa da saúde”, lembra Marcelo Labanca. “O federalismo brasileiro tem competências que são compartilhadas entre a União, estados e municípios. E outras que são exclusivas. No caso da União, por exemplo, só ela pode legislar sobre direito penal. Mas, em relação à saúde, todos os entes podem legislar”, explica. Labanca lembra ainda que a Lei Federal 12.608/2012, que criou a Política Nacional de Defesa Civil, estabeleceu o papel de cada ente em situações de emergência e calamidade, cabendo ao governo federal a função de coordenar e centralizar as ações. A Lei que estava em discussão no STF prevê medidas para combater a pandemia por considerá-la, juridicamente, uma emergência de saúde pública. Para Pietro Alacon, a decisão do STF não é uma invenção, apenas a interpretação lógica do que está previsto no artigo 23. “Nesses casos específicos, como a questão da crise sanitária, existe uma questão que se denomina — um elemento importantíssimo — que é a forma federativa de Estado, uma cláusula pétrea da Constituição. A forma federativa de Estado determina competências para cada um dos entes federativos. Uma dessas competências é a competência comum, que foi reconhecida pelo STF para que governadores e autoridades municipais realizassem atos de gerenciamento da crise”, explica o professor. Forças Armadas Uma liminar do ministro Luiz Fux, de 12 de junho, decidiu que as Forças Armadas não podem exercer o poder moderador entre os poderes Executivo, Legislativo e Judiciário. A decisão afirma que, embora o presidente da República seja o chefe das Forças Armadas, esse poder é limitado pela Constituição e não pode ser usado para “indevidas intromissões no independente funcionamento dos outros Poderes”. Ele também esclareceu que a prerrogativa do presidente de autorizar o emprego das Forças Armadas, ainda que por intermédio dos presidentes do STF, do Senado ou da Câmara, “não pode ser exercida contra os próprios Poderes entre si”. A liminar foi concedida dentro da ação direta de inconstitucionalidade 6457, que pede que o Supremo interprete os dispositivos da Constituição que tratam do emprego das Forças Armadas. Em julho, a Advocacia-Geral da União (AGU), órgão que representa o Poder Executivo, enviou parecer ao STF defendendo que as Forças Armadas não podem atuar como poder moderador. O processo já foi incluído na pauta do plenário para que uma decisão final seja concedida pelo conjunto dos ministros do STF. Na visão do professor Alarcon, a interpretação de que as Forças Armadas podem intervir em outros poderes é um “desafio à Constituição”. “Tentar desprender do artigo 142 da Constituição que existe um tal poder moderador das Forças Armadas é uma forçação de interpretação. Não há nenhum exercício hermenêutico sadio que possa te conduzir a isso dentro da Constituição de 1988. O STF, nesse caso, a única coisa que fez foi reconhecer exatamente qual é a atribuição das Forças Armadas”, avalia. Segundo Labanca, a decisão do STF é acertada porque a função definida na Constituição para as Forças Armadas é a de defender o Brasil perante ameaças externas e proteger as fronteiras. “A corporação militar é muito nobre. Ela tem que ser muito aplaudida pela população, porque eles pagam com a vida pela nossa proteção. Mas não existe nenhuma possibilidade de que o Supremo esteja indo além da sua competência porque simplesmente ele disse uma coisa que é muito clara, como a luz do dia, de que as Forças Armadas não têm um poder moderador”, argumenta. Diretor da Polícia Federal Diferentemente dos outros dois casos citados, a suspensão do decreto que nomeou o delegado Alexandre Ramagem como novo diretor-geral da Polícia Federal (PF) é vista como polêmica pelos especialistas ouvidos pelo Comprova. O caso aconteceu no final de abril deste ano. O ministro Alexandre de Moraes atendeu um pedido do PDT por meio de um mandado de segurança. Na decisão, o magistrado citou falas do ex-ministro Sergio Moro, que acusou o presidente Jair Bolsonaro de tentar interferir politicamente na Polícia Federal. Para Pietro Alarcon, a decisão do STF nesse caso está aberta a uma discussão sobre interferência em um direito presidencial. No entanto, ressalta ele, a decisão de Alexandre de Moraes não foi inconstitucional. “Esse é um ponto polêmico, que tem a ver com a discricionariedade presidencial para essa nomeação. Nesse caso, pode até se discutir se houve em algum momento uma interferência do Supremo. Entretanto, daqui não pode se desprender uma generalidade, uma avaliação geral de que o Supremo Tribunal Federal seja um desafiador, por assim dizer, do ordenamento constitucional ou da Constituição. Não. Esse é um ponto polêmico, mas um ponto com o qual você tem pontos de vista, interpretações variadas”, analisa. A decisão de Alexandre de Moraes não é uma novidade em relação à suspensão de nomeações presidenciais pelo STF, como lembra Marcelo Labanca. Durante o governo de Dilma Rousseff (PT), o ministro Gilmar Mendes suspendeu a nomeação de Lula para a Casa Civil, em 2016. Dois anos depois, a ministra Carmen Lúcia impediu a posse de Cristiane Brasil no Ministério do Trabalho, no governo de Michel Temer (MDB). “O STF vem, já há algum tempo, exercendo um controle desproporcional em relação a essas nomeações discricionárias dos presidentes. Os requisitos para ser ministro, de acordo com a Constituição, são três: idade, ter nacionalidade brasileira e estar no exercício dos direitos políticos. Na hora que o STF diz que não pode nomear, eu acho que ele está ultrapassando o seu poder. (…) O STF fez isso com Dilma, fez isso com Temer. Então não se pode dizer que ele fez isso [suspender a nomeação da PF] contra o Bolsonaro”, afirma. “Sobre nomear ou não o diretor da Polícia Federal, o que está em jogo aí é se o presidente da República deixou de ser imparcial para poder manobrar dentro da Polícia Federal pessoas que pudessem beneficiar sua família. É isso o que está no contexto dessa decisão. Do ponto de vista formal, ele pode nomear o diretor da PF, porque é um cargo de confiança, assim como ele pode nomear um ministro”, prossegue. Meio ambiente Ao falar sobre o meio ambiente, a postagem verificada faz referência à audiência pública promovida pelo STF nos dias 21 e 22 de setembro. O encontro tinha como intuito debater a captação de recursos para o Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo do Clima). O ministro Luís Roberto Barroso é relator do processo que acusa o governo de ter paralisado o projeto. O evento contou com depoimentos de Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), e de Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente. Ao encerrar a audiência, Barroso criticou o que chamou de “realidade imaginária paralela” no enfrentamento da questão ambiental no Brasil. “Há um capítulo dentro do título da Ordem Social que nos fala sobre o meio ambiente: todos nós temos direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida. Temos aqui, no artigo 225 em diante, uma regulamentação do meio ambiente como autêntico direito fundamental. No momento em que uma lei ou um ato do poder público contradiz aquela pretensão constitucional, o Supremo Tribunal Federal pode ser invocado para poder decidir sobre o assunto, sobre o tema”, explica Pietro Alarcon. Tramitam no STF duas ações parecidas envolvendo as políticas em relação ao meio ambiente. Uma delas, a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental 708, relatada por Barroso, questiona a suposta falta de iniciativa do governo de Jair Bolsonaro para o funcionamento do Fundo do Clima. Já a Ação Direta de Inconstitucionalidade por Omissão (ADO) 59, sob relatoria da ministra Rosa Weber, pede que seja reconhecida a omissão da União em relação à paralisação do Fundo Amazônia e do Fundo Nacional sobre Mudança do Clima (Fundo Clima). O pedido foi feito pelo PSB, PSOL e PT. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham tido ampla viralização nas redes sociais e que tratem de políticas públicas do governo federal ou da pandemia da covid-19. É o caso desse conteúdo, que questiona decisões do Supremo Tribunal Federal em ao menos quatro políticas públicas federais. O tuíte, publicado pelo perfil @mitags, teve 3,1 mil curtidas e 1,1 mil compartilhamentos no mesmo dia em foi postado, 23 de setembro. Informações falsas ou enganosas envolvendo o Supremo Tribunal Federal levantam dúvidas sobre a lisura de um dos poderes da República. O Comprova verificou outras afirmações recentes envolvendo o STF. Uma delas dizia que o órgão havia decidido que o voto impresso é inconstitucional. Outra omitia que o governo de Jair Bolsonaro liberou R$ 12 milhões para o tratamento de uma criança por causa de uma ordem judicial. Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo que usa dados imprecisos e induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou que confunde, com ou sem a intenção de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/nao-ha-evidencias-que-liguem-morte-de-menina-alema-ao-uso-de-mascaras/
COMPROVA
Não há evidências que liguem morte de menina alemã ao uso de máscaras
null
2020-09-22
O questionamento foi feito por uma deputada alemã de extrema-direita que chegou a ser censurada por um líder de seu partido. Ela insinuou que a morte de uma estudante de 13 anos num ônibus escolar poderia ter sido motivado pelo uso de máscara Conteúdo verificado: Postagens dizem que o uso de máscaras foi posto em xeque na Alemanha após garota de 13 anos morrer em ônibus escolar São enganosas as postagens que afirmam que o uso de máscaras de proteção facial contra a covid-19 foi colocado em xeque na Alemanha. O questionamento contra o equipamento de proteção foi feito somente por uma deputada da extrema-direita que insufla boatos sobre a morte de uma estudante de 13 anos num ônibus escolar. Ela foi censurada por um líder de seu partido, uma vez que a relação entre o óbito e o uso da máscara não foi feita nem por autoridades nem pela imprensa local. O caso ocorreu na cidade de Germersheim, no estado da Renânia-Palatinado, sudoeste da Alemanha, em 7 de setembro. A garota desmaiou dentro de um ônibus escolar, foi socorrida e morreu no hospital. A notícia foi publicada nos sites de pelo menos quatro jornais que cobrem a região onde o incidente aconteceu. Nenhum deles menciona a suposta influência da máscara. Apesar disso, o posicionamento da parlamentar foi suficiente para incentivar que blogs replicassem a interpretação equivocada do incidente, incluindo em outros países. Na França, um deles publicou um texto com o título “Trágico: uma estudante de 13 anos teria morrido na Alemanha por causa da obrigatoriedade do uso de máscara”. Uma versão muito semelhante a este texto repercutiu em sites brasileiros, como o Conexão Política e o Terça Livre – que cita o conteúdo do primeiro. Ao Comprova, o Conexão Política disse que “a matéria gira em torno do questionamento feito pela parlamentar alemã”. Ressalta que seu texto não traz nenhuma “conclusão ou afirmação a respeito do caso concreto” e que “a morte ainda está sendo investigada”. ATUALIZAÇÃO: Na terça-feira, 20 de outubro, mais de um mês após a morte da menina, a promotora pública chefe do Ministério Público de Landau, Angelika Möhlig, divulgou um comunicado em que descarta que a morte da garota tenha sido provocada pelo uso da máscara. “De acordo com os especialistas médicos forenses, não há indícios de que o uso de proteção para a boca e o nariz possa estar causalmente relacionado à ocorrência de óbito. Os especialistas afirmam que a proteção bucal e nasal usada normalmente não leva ao acúmulo excessivo de dióxido de carbono, como ao respirar para fora de uma bolsa, por exemplo”, diz o texto, com base no laudo da autópsia, publicado no site oficial do Ministério Público de Landau, que investiga as causas da morte da estudante. Como verificamos? O Comprova buscou pelos três jornais alemães citados pelo site Conexão Política como sendo fontes da publicação. Em seguida, a verificação procurou pelos órgãos oficiais citados nas publicações originais: o departamento de Polícia de Renânia-Palatinado, o Ministério Público de Karlsruhe – responsável pela investigação das causas da morte –, a Brigada Voluntária de Bombeiros de Büchelberg – que prestou apoio aos 32 estudantes que também estavam no ônibus – e a DRK, a Cruz Vermelha alemã, que socorreu a garota até o hospital. Foram procurados pelo Comprova também a deputada Birgit Malsack-Winkemann, que insinuou que a garota teria morrido por causa do uso da máscara, e o partido ao qual ela é filiada, a Alternativa para a Alemanha (AfD). O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 22 de setembro de 2020. Verificação A causa da morte ainda não foi definida No texto em que dá destaque ao boato propagado pela deputada alemã, o Conexão Política cita três jornais como fontes de suas informações. O Comprova encontrou as publicações sobre o assunto feitas pelo Die Neue Welle, pelo Die Rheinpfalz e pelo Allgemeine Zeitung, todas publicadas entre 7 e 9 de setembro deste ano. O site brasileiro usa informações dos sites alemães sobre a ocorrência e as investigações, mas em nenhum desses veículos há qualquer menção ao uso de máscara ou à suspeita de que a criança pudesse ter morrido por fazer uso do acessório. Os sites também não mencionam que o uso obrigatório de máscaras esteja sendo questionado no país. Segundo a imprensa alemã, a causa da morte da menina está sendo investigada pelo Ministério Público de Landau, onde ela morava. Inicialmente, o caso ficou a cargo do Ministério Público de Karlsruhe, onde fica o hospital para onde a garota foi levada e acabou morrendo. No dia 9 de setembro, o Die Neue Welle informou que a promotoria aguardava o resultado da autópsia para uma semana, no mínimo. O resultado ainda não foi publicado no site do escritório da promotoria. O jornalista Ralf Wittenmeier, editor do Die Rheinpfalz, jornal que primeiro noticiou o caso, disse ao Comprova por e-mail que o resultado da autópsia foi inconclusivo. Depois disso, o caso passou à promotoria de Landau, que pediu mais exames. Estes resultados, segundo Wittenmeier, podem levar semanas. Por e-mail, o chefe da assessoria de imprensa da sede da polícia do estado da Renânia-Palatinado, Thorsten Mischler, divulgou apenas as informações preliminares da ocorrência – e ela não cita máscara ou qualquer outra possível causa: “Na tarde de 7 de setembro de 2020, por volta das 13h45, houve uma emergência médica em um ônibus escolar perto de Wörth. Uma menina precisava de atendimento médico e foi levada a um hospital. A menina morreu no hospital”, diz a nota oficial. O Comprova entrou em contato com jornalistas na Alemanha e constatou que esse comunicado não chegou a ser publicado na plataforma utilizada para comunicados de imprensa da polícia, embora a informação tenha sido confirmada a jornais locais. Isso porque não é comum que a polícia publique comunicados sobre casos em que não há indício de crime. A Brigada de Incêndio de Büchelberg, que também esteve no local, postou em sua página no Facebook uma foto do local da ocorrência, informando que a equipe esteve lá junto com a polícia e a DRK cuidando de 32 pessoas após uma emergência médica. O Comprova questionou a Brigada sobre a presença de máscara na garota, pelo Facebook, mas a equipe respondeu que não teve contato com a menina, apenas com os demais estudantes que estavam no ônibus. A DRK foi procurada para falar sobre possíveis causas para a morte, mas também respondeu, por e-mail, que não tem mais informações sobre o caso. Como surgiu a relação da morte com o uso de máscaras No dia seguinte à morte da estudante, a deputada Birgit Malsack-Winkemann, filiada ao partido AfD, publicou em sua conta no Facebook uma fotografia de uma criança usando máscara e com a seguinte legenda: “A culpa foi da máscara? Aluna de 13 anos desmaiou no ônibus escolar na segunda-feira ao meio-dia e faleceu pouco tempo depois. Acabou com a loucura! Pelo menos poupe as crianças, pois elas não conseguem resistir!”. O que não aparece na legenda, mas está escrito sobre a imagem da postagem é outra insinuação: “Primeira vítima de morte por máscara? Quando será a autópsia?”. No mesmo dia da postagem feita pela deputada, o primeiro jornal a noticiar a morte da garota, o Die Rheinpfalz, publicou um artigo criticando a relação feita entre a morte da garota e o uso de máscaras. O editor Ralf Wittenmeier, que tem 52 anos e está no jornal desde 1999, não cita diretamente a postagem da parlamentar, mas os comentários feitos por leitores do jornal. “Negacionistas do uso de máscaras, fanáticos por conspiração e outros pensadores inovadores adorariam ver que usar a máscara foi uma das razões pelas quais uma garota de 13 anos morreu. Essas pessoas e aqueles que compartilham seus argumentos on-line não têm decência”, escreve Wittenmeier. No dia 11 de setembro, um outro jornal alemão, o t-online, publicou um artigo sobre a repercussão da postagem da deputada. No texto “Política da AfD instrumentaliza criança morta para lutar contra máscaras”, Lars Wienand, responsável por verificar a autenticidade de informações no veículo, afirma que não há menções a uma relação entre o uso de máscaras e a morte da menina por nenhuma das autoridades que prestaram o socorro. O artigo diz ainda que a promotoria vem evitando falar com jornalistas e que apenas a família da menina tem o direito de conhecer a causa da morte. Uso de máscara é obrigatório na Alemanha Desde abril deste ano, ainda nos primeiros meses de pandemia, a Alemanha tornou obrigatório o uso de máscaras no país. Em julho, o secretário estadual da Economia do estado de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental, Harry Glawe, afirmou que não via necessidade de manter a obrigatoriedade da máscara em lojas. A chanceler Angela Merkel defendeu a permanência da obrigatoriedade e o Ministério da Saúde e secretários estaduais mantiveram o uso obrigatório. Em agosto, o governo de Merkel negociava multa de pelo menos 50 euros para quem desrespeitasse a regra, segundo noticiou o portal G1. Quem é Birgit Malsack-Winkemann Birgit Malsack-Winkemann foi eleita para o Bundestag, o parlamento alemão, em 2017. Em seu site, ela afirma que escolheu o partido de extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD) por rejeitar “fundamentalmente” a política europeia. “Eu estava firmemente convicta de que era a forma errada de forçar Estados com condições tão diferentes a um sistema econômico tão estreito e, além disso, com uma moeda única, o euro”, explica. Na postagem feita pela deputada no Facebook sobre a morte da estudante, o líder do partido AfD no estado de Renânia-Palatinado, Uwe Junge, repudiou a insinuação. Ele escreveu nos comentários: “Vergonha alheia! A esse nível não devemos fazer política. Por favor, peça desculpas e exclua!”. O comentário foi feito no dia 8 de setembro, às 18h12. A postagem não foi excluída. No dia 14 de setembro, a deputada voltou a atacar o uso das máscaras e citou um experimento de um perito austríaco que diz que o equipamento aumenta a concentração de CO2 e que isso é “abuso infantil”. A experiência foi publicada no site “A Áustria é livre”, com um aviso de que os “testes realizados correspondem a um teste preliminar” e que “não deve ser avaliado como um estudo”. O site é definido pela própria fundadora Edith Brötzner como uma “iniciativa que pretende lembrar aos cidadãos que o pensamento livre, independente e crítico é desejado, permitido e agora mais do que nunca necessário”. Para ela, “especialistas cujas ideias e percepções diferem das do governo são degradados a ‘teóricos da conspiração’”. O vídeo dos “autotestes” foi checado pelo site alemão Mimikama. Ele publicou a entrevista com o professor Uwe Pliquett, do Instituto de Bioprocessos e Metrologia Analítica. Segundo ele, o equipamento é utilizado para “medições do ar ambiente” por meio da concentração do CO2 e também da pressão de ar. Quando o equipamento é colocado debaixo da máscara, muito próximo do nariz, a quantidade de CO2 exalada e a pressão extra fazem o equipamento soar o alarme. No entanto, o especialista explicou que o instrumento mostrado no vídeo “não é adequado para analisar o ar que você respira, pois os valores mudam muito rapidamente durante a expiração e a inspiração. A umidade mais alta e o aumento da pressão do ar ao respirar também falsificam maciçamente os resultados do dispositivo”. Outros comentários também criticam a postagem da parlamentar. Procurada, ela não respondeu aos questionamentos do Comprova até a publicação deste texto. O que afirmam os especialistas As máscaras têm filtros que impedem a passagem das gotículas e partículas maiores, mas permitem a troca de gases como o gás carbônico (CO2) e o oxigênio (O2), explicou o infectologista do Instituto Emílio Ribas Jean Gorinchteyn, em maio. “Os poros não evitam a passagem do ar, são filtros, filtram partículas. Os gases têm tamanho muito menor e conseguem passar”, ressaltou o médico e atual secretário de Saúde de São Paulo, contrariando o experimento do perito austríaco citado pela deputada alemã. Em entrevista ao Comprova em agosto, a professora e pesquisadora Giliane Trindade, do Departamento de Microbiologia do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), explicou que o uso de máscaras impede que pessoas pré-sintomáticas ou assintomáticas liberem partículas virais ao falar, tossir ou espirrar. “A finalidade do uso da máscara é justamente evitar a pulverização dessas gotículas de saliva, evitando que elas atinjam a superfície do rosto de outras pessoas ou superfícies inanimadas, como por exemplo, corrimão, assento de ônibus, lugares em que as pessoas vão ter mais contato”, esclareceu. O Centro de Controle de Doenças (CDC) dos Estados Unidos mantém uma página com dicas para o uso de máscaras como forma de “desacelerar a disseminação da covid-19”. O órgão informa que “máscaras são recomendadas como uma simples barreira para impedir que as gotículas respiratórias” se espalhem toda vez que uma pessoa “espirrar, tossir ou falar”. Essas gotículas são as responsáveis por transportar o novo coronavírus de uma pessoa infectada a outra. O órgão ainda traz links para estudos que comprovaram a eficácia das máscaras na contenção da disseminação da doença. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomenda o uso de máscaras em áreas onde o distanciamento social não é possível e onde há disseminação da covid-19. É o caso, por exemplo, de meios de transporte coletivo, estabelecimentos comerciais e locais de trabalho. A OMS ainda faz um apelo: “Por favor, siga as recomendações das autoridades locais sobre o uso de máscaras. Juntos, podemos vencer a covid-19.” O que diz o partido AfD sobre a pandemia? O partido de Birgit Malsack-Winkemann não vem adotando uma postura negacionista sobre a pandemia do novo coronavírus. No dia 4 de março, o conselho federal do partido, em Berlim, mandou cancelar todos os eventos públicos, inclusive nos conselhos estaduais, por causa dos riscos de contaminação: “No momento, porém, o perigo de uma pandemia real parece alarmantemente real em grande escala. Não podemos e não devemos ignorar isso. Temos o dever de responder de forma responsável e adequada. Vamos cumprir esse dever juntos”, diz o comunicado. Membros do partido, como a vice-presidente federal Alice Weidel, criticam a postura do governo de Merkel em relação ao plano de combate ao coronavírus. “Há sete anos, o governo federal determinou corretamente as consequências de uma pandemia para o nosso país — e reconheceu os problemas que surgiriam em tal situação. Mas, embora Angela Merkel, que já era chanceler e permanece no cargo, tenha sido informada sobre o problema, nem ela nem o Ministério da Saúde agiram de acordo”, disse Weidel, em um comunicado disponível no site oficial do AfD. O programa do partido defende um “retorno aos princípios e raízes que resultaram em seu milagre econômico [da Alemanha], seguido de êxito social, econômico e em sua sociedade”. O programa é contrário à União Europeia como uma aliança econômica e defende a realização de um referendo sobre o euro. O partido defende reforço na polícia e melhoria na justiça penal e “proteção às vítimas no lugar de proteção aos delinquentes”. Também defendem uma reforma nas Nações Unidas, a OTAN como uma coalizão de defesa, o reforço no Exército alemão e a retomada do serviço militar obrigatório. No campo econômico, defendem reforma dos sistemas de previdência social. Também são defensores do que chamam de “família tradicional” e contrários à imigração em massa. Na loja virtual do partido, está à venda um folheto contrário ao movimento antifascista e também máscaras com seu logotipo. O Comprova entrou em contato com o partido sobre a postagem de sua parlamentar, mas não obteve resposta até a publicação deste texto. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova checa conteúdos virais que possam espalhar desinformação nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19. O texto do Conexão Política teve mais de 8 mil interações no Facebook até o dia 22 de setembro e ganhou visibilidade após ser retuitado pelo deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). A postagem do parlamentar foi retuitada 1,8 mil vezes até a mesma data. Conteúdos com alegações enganosas enfraquecem a confiança da população em instituições sanitárias e podem dificultar os esforços de combate à pandemia. Autoridades médicas e acadêmicas defendem o uso de máscara como uma das formas de se voltar à normalidade sem aumentar a disseminação da doença. Não é a primeira vez que essa técnica de proteção foi alvo de desinformação. O Comprova já checou boatos que negavam a eficácia das máscaras em proteger as pessoas, enquanto outros afirmavam poder ser nociva sua utilização. Também verificamos postagens alarmistas com alegações de que máscaras exportadas pela China estariam contaminadas. Tais alegações não encontram respaldo científico. Este conteúdo cruzou fronteiras e também foi checado pelas agências Boatos.org no Brasil, Newtral na Espanha, Polígrafo em Portugal, e pelo jornal Le Monde na França. Todos concluíram que o uso de máscaras como medida de proteção contra o novo coronavírus não foi colocado em xeque por causa do incidente. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-verdade-que-o-ensino-medio-apresentou-melhor-resultado-em-15-anos-do-ideb/
COMPROVA
É verdade que o Ensino Médio apresentou melhor resultado em 15 anos do Ideb
null
2020-09-21
O índice é divulgado a cada dois anos. O resultado de 2019 foi maior que o de 2017 (3,8), mas o número ficou abaixo da meta prevista pelo governo, que era de 5. O resultado segue uma tendência do Ensino Médio brasileiro, que não bateu a meta nos últimos quatro resultados do Ideb Conteúdo verificado: Texto diz que o resultado do Ideb teve o maior salto dos últimos 15 anos no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (sem partido). São verdadeiras as informações de um texto do site Jornal da Cidade Online que diz que a avaliação do Ensino Médio teve no primeiro ano do governo de Jair Bolsonaro (sem partido) o maior salto desde 2005. A notícia usa os dados do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) de 2019, que apresentou uma nota de 4,2, em uma escala de 0 a 10. O índice é divulgado a cada dois anos. O resultado de 2019 foi maior que o de 2017 (3,8), mas o número ficou abaixo da meta prevista pelo governo, que era de 5. O resultado segue uma tendência do Ensino Médio brasileiro, que não bateu a meta nos últimos quatro resultados do Ideb. O Ideb faz parte do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE) e calcula a qualidade do ensino com base nos dados do Censo Escolar e médias de desempenho nas avaliações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), como a Prova Brasil. Os índices consideram os anos iniciais do Ensino Fundamental (do 1º ao 5º ano), anos finais (6º ao 9º ano) e Ensino Médio. Como verificamos? O primeiro passo da verificação foi acessar o site do Inep para saber se os dados eram reais. Lá, encontramos os resultados e as metas estipuladas desde 2005. Na sequência, fomos em busca de especialistas para repercutir os resultados do instituto. Fizemos uma entrevista por e-mail com Maria Teresa Gonzaga Alves, professora do departamento de ciências aplicadas à educação da faculdade de educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e uma por WhatsApp com Ana Helena Rodrigues, assessora de políticas educacionais da Campanha Nacional pelo Direito à Educação – nesta última, as respostas foram enviadas em um arquivo de Word. Enviamos e-mails para o Inep e para o Ministério da Educação com questões envolvendo o resultado do Ideb, mas não obtivemos resposta. Verificação O que é o Ideb? O Índice de Desenvolvimento da Educação Básica é um indicador criado em 2007, ainda na gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como parte do Plano de Desenvolvimento da Educação (PDE). Apesar de lançado em 2007, o programa usou o mesmo método para calcular as notas de 2005 e colocá-las como base para as metas dos anos seguintes. Os resultados do Ideb são a combinação dos índices de rendimento escolar (taxas de aprovação, reprovação e abandono) e médias de desempenho. A taxa é calculada a partir dos dados do Censo Escolar e das médias de desempenho no Sistema de Avaliação da Educação Básica. A responsabilidade pelos resultados do Ideb acaba sendo dividida entre poderes estaduais e municipais. Isso porque as escolas, as cidades e os estados têm metas individuais a serem atingidas a cada dois anos. É com base nesses dados que o Ministério da Educação traça o planejamento de distribuição de recursos. Ana Helena Rodrigues, assessora de políticas educacionais da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, faz ressalvas ao Ideb como instrumento de avaliação da educação brasileira. “É um modelo de avaliação extremamente limitado, por considerar somente as notas de Matemática e Língua Portuguesa na avaliação do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) e índices de aprovação do Censo Escolar para analisar o desenvolvimento da educação básica brasileira. Ainda que as notas tenham apresentado aumento, isso não significa melhora na qualidade da educação como um todo. Para avaliar a qualidade ou o desenvolvimento da educação é necessário considerar uma série de outros fatores, como infraestrutura das escolas, formação e valorização dos profissionais da educação, gestão escolar, etc.”, explica. A cada dois anos, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, vinculado ao Ministério da Educação, divulga os resultados do Ideb dos anos iniciais do ensino fundamental (do 1º ao 5º ano), anos finais (6º ao 9º ano) e ensino médio. O ciclo do índice chegará ao fim em 2021, com a meta do ensino médio fixada em 5,2. “Seria muito bom se os educadores de fato pudessem influenciar no que irá suceder o Ideb, no seu aperfeiçoamento ou na proposição de outros indicadores para uma avaliação educacional mais relevante para as escolas”, analisa Maria Teresa Gonzaga Alves, professora do departamento de ciências aplicadas à educação da faculdade de educação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Abaixo da meta A nota do ensino médio em 2019 realmente foi superior aos números anteriores apresentados pelo Ideb. Ainda assim, o valor de 4,2 ficou abaixo da meta estipulada no Plano de Desenvolvimento da Educação, que era de 5. “Se aceitarmos que os componentes do Ideb refletem uma concepção de qualidade – isto é, qualidade significa mais aprendizado com menos reprovação –, essa qualidade estava um pouco melhor somente nos anos iniciais do ensino fundamental devido, sobretudo, ao aumento da taxa de aprovação. (…) A elevação da média pode não ter um significado substantivo que aparenta”, analisa Maria Teresa Gonzaga Alves. Esse é o quarto ano seguido que a nota do Ensino Médio fica abaixo da meta estipulada. O mesmo aconteceu em 2013, 2015 e 2017. “O Ensino Médio é uma etapa que tem sido negligenciada pelas políticas educacionais. A própria reforma do Ensino Médio não trouxe melhora, pois a exclusão se mantém com a carência de políticas intersetoriais mais robustas, com programas de aprendizagem, de proteção social etc.”, opina Ana Helena Rodrigues, da Campanha Nacional pelo Direito à Educação. Em entrevista coletiva depois da divulgação dos resultados, Carlos Eduardo Moreno Sampaio, diretor de Estatísticas Educacionais do Inep, considerou “expressivo” o aumento do índice do Ensino Médio. “Temos de comemorar, sobretudo porque o ensino médio vinha em um ritmo bem lento de crescimento Posição semelhante teve Fernando Haddad (PT), ministro da Educação na época da criação do PDE:, “Havia (e há) grande preocupação com o Ensino Médio, que reagia pouco aos estímulos oferecidos. Só os desinformados, contudo, podem considerar o recém-divulgado aumento de 0,4 ponto do Ideb um fato menor”, escreveu em sua coluna na Folha de S. Paulo. Ele considerou ser normal uma demora na evolução do Ensino Médio, em comparação com os resultados apresentados pelo Fundamental. “A onda de melhoria tinha que começar pelos anos iniciais e só com o tempo chegaria ao ensino médio.” Limitações O índice deveria servir apenas como um auxílio, mas adquiriu protagonismo político ao ser incluído na Meta 7 do Plano Nacional de Educação. Especialistas citam uma série de falhas e de limitações no uso do Ideb como ferramenta para avaliar o Ensino Médio brasileiro. A começar pela periodicidade do índice, divulgado apenas nos anos ímpares. De acordo com pesquisadores da área, sistemas de ensino podem “burlar” o Ideb ao adotar critérios diferentes conforme o ano em questão. Segundo eles, nos pares, emprega-se um nível mais exigente, com maiores taxas de reprovação para estudantes com desempenho mais fraco; nos ímpares, quando o índice é calculado, evita-se a reprovação. “Essa hipótese nos leva ao problema das trajetórias escolares que não são consideradas no índice. Esse é um problema invisibilizado no Ideb. O indicador é calculado com dados transversais. Ele não capta as trajetórias escolares, que só podem ser estudadas com dados longitudinais”, explica Maria Teresa Gonzaga Alves. Sinaeb O impacto do resultado do Ideb esbarra em outras limitações. O índice não mede ítens importantes como infraestrutura das escolas, formação e valorização dos profissionais da educação e gestão escolar. Para contemplar esses aspectos, especialistas defendem a implementação do Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Sinaeb), previsto na lei 13.005/2014. Ele consta na EC 108/2020, que regulamentou o novo Fundeb. “Celebrar um avanço tão pequeno em uma avaliação tão limitada é, no mínimo, insensato. Ainda que tenha havido uma melhora, esse dado vale para um período pré-pandemia. Vivemos em uma realidade em que as políticas de continuidade das atividades escolares de forma remota excluíram e discriminaram uma grande parcela dos estudantes. Esses resultados do Ideb 2019 já não têm valor. Houve uma quebra de continuidade no processo do desenvolvimento da educação que está sendo ignorada”, analisa Ana Helena Rodrigues. Os microdados do Ideb de 2019, com o detalhamento de todos os resultados que compuseram a nota, ainda não foram divulgados. Sem eles, para Maria Teresa Gonzaga Alves, é difícil analisar o atípico crescimento em Matemática e em Língua Portuguesa no Saeb. Por que investigamos? A terceira fase do Comprova visa verificar postagens suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia da covid-19 e de políticas públicas do governo federal. Apesar da melhora apresentada no último resultado divulgado pelo Inep, o Brasil tem tido dificuldade para atingir as metas recentes do Ideb para o Ensino Médio. Esta verificação foi sugerida por leitores do Comprova. A postagem do Jornal da Cidade Online teve 25 mil curtidas e mais de 1 mil comentários no Facebook até o fechamento deste texto. O Comprova já fez outras verificações envolvendo o site. Durante as eleições de 2018, mostrou ser falso que códigos das urnas eletrônicas haviam sido entregues a venezuelanos. No ano passado, um artigo publicado no site de notícias misturava dados para fazer parecer que a avaliação do presidente Jair Bolsonaro havia melhorado. Mais recentemente, um texto do Jornal da Cidade Online distorcia declarações da Organização Mundial da Saúde sobre a hidroxicloroquina. Comprovado, para o Comprova, é o fato verdadeiro ou o conteúdo original publicado sem edição.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Comprovado']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/post-diz-que-governo-liberou-r-12-milhoes-para-tratamento-de-crianca-mas-omite-que-se-trata-de-ordem-judicial/
COMPROVA
Post diz que governo liberou R$ 12 milhões para tratamento de criança, mas omite que se trata de ordem judicial
null
2020-09-18
Governo federal só pagou o tratamento de R$ 12 milhões para criança após recorrer e perder na Justiça Conteúdo verificado: Postagem publicada pelo site Gazeta Brasil indicando que o Governo Federal liberou R$ 12 milhões para família poder comprar um remédio para tratar criança com atrofia muscular espinhal (AME). É enganosa uma postagem do site Gazeta Brasil em sua página no Facebook a respeito de um repasse feito pelo governo federal à família de uma garota que sofre de atrofia muscular espinhal (AME) e que precisava de um tratamento médico avaliado em R$ 12 milhões. O repasse, de fato, foi feito, mas ocorreu após ordem judicial da qual o governo recorreu e foi derrotado, o que foi omitido no texto. A omissão da informação levou muitos leitores a interpretarem o repasse como uma ação voluntária da União, o que não é verdade. O recurso do governo foi apresentado ao Supremo Tribunal Federal (STF) e tinha o objetivo de não realizar o pagamento. Em um primeiro momento, o STF acatou os argumentos da União, mas posteriormente voltou atrás na decisão e decidiu que o governo deveria pagar o tratamento para a menina. A primeira decisão favorável à menina é de março deste ano, mas por conta dos recursos o dinheiro só foi transferido entre o final de agosto e o início de setembro. Procurada, a Gazeta Brasil afirmou que a matéria teve como base uma outra reportagem, de título parecido, feita pelo jornal Metrópoles e que não suprimiu a informação sobre a decisão judicial. O objeto da verificação feita pelo Comprova é, no entanto, a publicação no Facebook do portal, que não faz referência às decisões judiciais. Devido a isso, várias pessoas acreditaram se tratar de um ato de caridade direto do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), como pode ser observado na imagem abaixo. Como verificamos? Iniciamos a verificação por meio de uma pesquisa no Google sobre o caso da menina. Assim, chegamos a diversas reportagens, entre elas as publicadas pelo jornal Correio Braziliense e pelo site G1 do Distrito Federal. Baseados nas informações encontradas, acessamos a página do Fundo Nacional de Saúde, do Ministério da Saúde. Nela é possível verificar todos os repasses feitos pelo governo federal. Assim, localizamos as datas dos repasses feitos à família. No detalhamento dessas transferências, consta o número do processo judicial. Em consulta ao site do Supremo Tribunal Federal (STF), instância em que o processo também tramitou, o Comprova conseguiu identificar o advogado da família. Os telefones dele foram obtidos por meio de uma pesquisa no Cadastro Nacional dos Advogados da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). Em contato com o advogado, conseguimos os números de todos os processos em primeira e segunda instâncias, acessíveis em consulta à ferramenta Processo Judicial Eletrônico (PJe) do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1). No Sistema Eletrônico de Informações também é possível consultar o processo administrativo do Ministério da Saúde. Verificação Realização do pagamento Segundo informações divulgadas em reportagens, o pagamento dos R$ 12 milhões havia sido realizado em dois depósitos: um de cerca de R$ 10 milhões e outro de aproximadamente R$ 2 milhões. O primeiro datava no mês de agosto deste ano. Com esses recortes, por meio da consulta a repasses por dia na página do Fundo Nacional de Saúde, foi possível verificar que o primeiro repasse do Ministério da Saúde à família aconteceu no dia 17 de agosto, na quantia de R$ 10.008.250. Já o segundo ocorreu no dia 25 de agosto, no valor de R$ 1.991.750. A família confirmou o recebimento dos valores. Em entrevista ao Projeto Comprova, a servidora pública Deilla Macedo Lima, mãe da criança, contou que “esses depósitos foram efetuados em conta judicial no mês de agosto; e em setembro, logo em seguida, transferiram para a minha conta corrente”. O valor do remédio Considerado o medicamento mais caro do mundo, o Zolgensma foi registrado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no dia 17 de agosto deste ano. Segundo o próprio laboratório Novartis, que fabrica a droga, este é o “primeiro passo para a comercialização” no Brasil. Porém, a aprovação de preço na Câmara de Regulação do Mercado de Medicamentos (Cmed) deve acontecer apenas nos próximos meses. Atualmente, o remédio injetável é fabricado nos Estados Unidos e comercializado no próprio país, além de Japão e Europa. Para justificar o alto valor de compra, o fabricante esclareceu que o método “reflete décadas de pesquisas científicas, investimentos em cadeia logística e manufatura em larga escala”. Bem como “custos diretos e indiretos com capacitação de centros de referência, hospitais e profissionais de saúde”. No entanto, a cifra milionária já foi abordada e criticada em artigo publicado pela Fundação Oswaldo Cruz, em 27 de maio do ano passado. Coordenador do Departamento de Política de Medicamentos e Assistência Farmacêutica da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (NAF/ENSP), Jorge Bermudez afirmou que “cada vez mais” as grandes empresas farmacêuticas estabelecem “preços fictícios”, havendo uma “diferença muito grande entre custos e preços”. A doença De acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), a atrofia muscular espinhal (AME) é uma doença genética que interfere na produção de uma proteína pelo organismo. Sem ela, os neurônios motores morrem e os portadores vão perdendo a capacidade de se mover e utilizar os músculos. Isso afeta os movimentos, incluindo a mastigação e a respiração. Degenerativa, a doença rara tem incidência de um caso para cada 6 a 11 mil nascidos vivos. Conforme a própria bula do remédio Zolgensma, ele precisa ser aplicado em crianças com até dois anos de idade. A menina que receberá o tratamento está, atualmente, com um ano e dez meses, de acordo com o próprio pai. A página de publicação Procurada, a Gazeta Brasil afirmou que a matéria em questão teve como base a reportagem de título parecido, feita pelo jornal Metrópoles e que ela não é enganosa, porque consta a informação da Justiça. Porém, diferentemente do Metrópoles, o texto cita a decisão judicial apenas no final do terceiro parágrafo, em vez da primeira linha da reportagem. A informação relativa às decisões judiciais também não aparece na publicação da Gazeta Brasil no Facebook. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos relacionados à covid-19 e a políticas públicas do governo federal. Informações falsas ou enganosas como a checada acima são prejudiciais à sociedade e contribuem para uma interpretação distorcida da realidade. Comentários do post mostram que internautas entenderam como uma “boa ação” o pagamento dos R$ 12 milhões à família, em vez de compreenderem que se tratava do cumprimento de decisão judicial da qual o governo chegou a recorrer. Até a tarde de 17 de setembro, a notícia tinha 300 interações no site, além de quase 7 mil compartilhamentos nas redes sociais, incluindo Facebook e Twitter. A ação judicial aberta pela família e o recurso apresentado pelo governo são parte de um fenômeno conhecido como “judicialização da saúde”. Ele se dá quando os cidadãos acionam judicialmente, ou um plano de saúde ou a União, para obter acesso a tratamentos, algumas vezes de alto custo. Quando o governo é obrigado a financiar determinados tratamentos, como o deste caso, os recursos precisam sair de outros pontos do orçamento, criando uma oposição entre direitos individuais e direitos coletivos. De acordo com um levantamento feito em 2019 pelo Insper para o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), entre 2009 e 2017 o número de processos em primeira instância relacionados à saúde aumentou 198%. Enganoso, para o Projeto Comprova, é um conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i0.wp.com/projet…=601%2C545&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/tuite-engana-ao-dizer-que-o-stf-decidiu-que-voto-impresso-e-inconstitucional/
COMPROVA
Tuíte engana ao dizer que o STF decidiu que voto impresso é inconstitucional
null
2020-09-17
Na realidade, o STF não decidiu que o voto impresso era inconstitucional, mas sim um artigo da reforma eleitoral segundo o qual deveria ser feita a impressão de um comprovante após o voto nas urnas eletrônicas Conteúdo verificado: Um tuíte que questiona o motivo de o STF ter dito que o voto impresso era inconstitucional, argumentando que em 1988, ano da promulgação da carta magna, os votos eram no papel e não havia urna eletrônica. Uma postagem feita no Twitter engana ao questionar o Supremo Tribunal Federal (STF) por ter, supostamente, considerado o voto impresso inconstitucional. O que o órgão declarou foi a inconstitucionalidade de um artigo da reforma eleitoral de 2015, que previa a impressão de um comprovante após os registros dos eleitores nas urnas eletrônicas. Trata-se de coisas diferentes. O autor do tuíte confundiu a possibilidade de um comprovante de voto na urna eletrônica ser impresso com a votação realizada em cédulas de papel, utilizada antes da criação dessas urnas. A impressão do voto eletrônico seria equivalente à possibilidade de o eleitor que votava utilizando as cédulas deixar o local de votação com uma cópia de seu voto. Haveria a possibilidade de quebra do sigilo do voto – daí a decisão do STF sobre a inconstitucionalidade da medida. Como verificamos? Buscamos a lei 13.165/2015 (Minirreforma Eleitoral) e a Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIn) 5889, nos sites oficiais do Planalto e do Supremo Tribunal Federal. Acessamos o material sobre eleições e urnas eletrônicas disponível no site do Tribunal Superior Eleitoral e reportagens sobre a reforma eleitoral. Verificação O comprovante de votação A determinação da impressão do voto surgiu no Brasil com a minirreforma eleitoral de 2015, que modificou vários dispositivos do Código Eleitoral. O artigo 59-A da lei 13.165/2015 prevê que “no processo de votação eletrônica, a urna imprimirá o registro de cada voto, que será depositado, de forma automática e sem contato manual do eleitor, em local previamente lacrado.” O parágrafo único do artigo ainda dispõe: “O processo de votação não será concluído até que o eleitor confirme a correspondência entre o teor de seu voto e o registro impresso e exibido pela urna eletrônica”. Em 2015, o trecho havia sido vetado pela então presidente Dilma Rousseff (PT), que alegou o alto custo para implementação da medida. O veto foi derrubado pelos parlamentares. A ideia, portanto, não era que a votação voltasse a ser realizada em cédulas de papel, mas que um comprovante impresso fosse emitido após o registro dos eleitores nas urnas eletrônicas. Em fevereiro de 2018, a norma foi questionada no Supremo Tribunal Federal pela então procuradora-geral da República, Raquel Dodge, por meio de uma Ação Direta de Inconstitucionalidade. Em junho daquele ano, o plenário do STF decidiu, em uma liminar, pela suspensão do dispositivo – que não valeu para as eleições de 2018. A decisão final se baseou no voto do ministro Alexandre de Moraes, que considerou que a medida colocava em risco o sigilo do voto, fundamental para o caráter “secreto, universal e livre” do processo eleitoral. Na ocasião, o relator do processo, ministro Gilmar Mendes, ainda considerou que a mudança tinha como base alegações falsas de fraudes em eleições anteriores. Mendes, no entanto, votou pela manutenção da regra aprovada pelo Legislativo, que deveria ser aplicada de forma gradual. A decisão liminar foi proferida após a manifestação de várias instituições da sociedade civil, que enviaram amici curiae (manifestação para ajudar o órgão a entender questões técnicas ou específicas) ao STF. Um dos pareceres aceitos foi o do Instituto Resgata Brasil, criado pela ex-procuradora do Distrito Federal e hoje deputada federal pelo PSL Bia Kicis. Em 2020, o assunto voltou à pauta do STF e, de forma unânime, os ministros declararam a inconstitucionalidade do artigo 59-A do Código Eleitoral, o que significa que ele não vai entrar em vigor. Na decisão, o ministro Gilmar Mendes ressaltou que a impressão do comprovante teria que ser realizada por um equipamento especial, capaz de emitir o recibo e o inserir em um local previamente lacrado que, além de tudo, precisaria ser totalmente seguro. No voto, Mendes escreveu: “Se assim não for, em vez de aumentar a segurança das votações, a impressão do registro será frágil como meio de confirmação do resultado e, pior, poderá servir a fraudes e a violação do sigilo das votações”. Isso porque, segundo ele, a impressora poderia acabar sendo usada como uma forma de hackear a urna em si, e os comprovantes seriam a “comprovação” de que não houve problemas no processo. Além disso, na decisão final sobre o tema, ficou mantido o entendimento de que a impressão dos comprovantes poderia ser uma forma de violar o sigilo da votação. As eleições no ano da Constituição O usuário responsável pelo tuíte verificado aqui questiona a inconstitucionalidade alegando que, no ano da promulgação da Constituição, 1988, ainda não existiam urnas eletrônicas. As eleições de 1988 foram reguladas pela lei federal 7.664/88, que previa eleição para prefeitos, vice-prefeitos e vereadores em todas as cidades do país no dia 15 de novembro daquele ano. Na página 97 do livro “Eleições no Brasil – Uma História de 500 Anos”, lançado pelo TSE, há uma reprodução de uma cédula usada nas eleições de 1988. De fato, a votação ocorreu em cédulas de papel. A urna eletrônica foi desenvolvida em 1995 e utilizada pela primeira vez nas eleições municipais do ano seguinte. As especificações de segurança do aparelho foram desenvolvidas por uma comissão técnica com pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e do Centro Técnico Aeroespacial (CTA) de São José dos Campos. Em 1996, apenas um terço dos eleitores usaram a urna eletrônica. Na eleição seguinte, em 1998, o equipamento chegou a dois terços dos eleitores. Em 2000, todos os prefeitos e vereadores do país foram eleitos de forma eletrônica. Em março de 2009, o TSE recebeu um prêmio na área de tecnologia pela contribuição no desenvolvimento de urnas eletrônicas. A premiação foi resultado de uma parceria entre a Universidade de São Paulo (USP), a George Washington University e a Business Software Aliance (BSA). A BSA é uma entidade que reúne instituições e empresas da área de tecnologia da informação e promove o evento para destacar ideias que sejam inéditas em todo o mundo. Por que verificamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica postagens suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais e que tenham ligação com a pandemia da covid-19, com políticas públicas de âmbito nacional ou com as eleições municipais. É o caso do tuíte em questão, que questiona a “proibição ao voto impresso” fazendo confusão entre cédula de votação e comprovante do voto eletrônico. A publicação teve 2,7 mil curtidas e 853 compartilhamentos no Twitter. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e seus aliados são defensores do voto impresso desde a época da campanha eleitoral. Neste ano, ele afirmou que teria provas de que a eleição de 2018 foi fraudada e que, se não fosse isso, teria sido eleito no primeiro turno. Disse ainda acreditar ter feito mais votos no segundo turno do que foi contabilizado. O presidente, no entanto, ainda não apresentou provas da acusação que fez. Além de ser a favor do voto em cédula, Bolsonaro também era a favor do voto impresso em urna eletrônica. Em 2018, criticou o sistema de votação brasileiro e a liminar que suspendia a obrigatoriedade de impressão do voto eletrônico: “É um sistema eleitoral que não existe em nenhum lugar do mundo. Eu apresentei um antídoto para isso. A senhora Raquel Dodge [procuradora-geral da República] questionou. O argumento dela é que a impressão dos votos comprometeria a segurança das eleições. Pelo amor de Deus. Inclusive estava acertado que em 5% das seções teríamos impressão do voto”. Durante as eleições de 2018, o Comprova verificou diversas desinformações relacionadas às urnas eletrônicas. Mostrou que as Forças Armadas não solicitaram perícia nos equipamentos, que códigos de urnas eletrônicas não foram entregues aos venezuelanos, que a Polícia Federal não apreendeu uma van com urnas adulteradas e que a Polícia Militar não apreendeu um carro que transportava os aparelhos já preenchidas com votos no Amazonas. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C452&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-e-tirado-de-contexto-para-dizer-que-brigadistas-estariam-causando-incendio-no-pantanal/
COMPROVA
Vídeo é tirado de contexto para dizer que brigadistas estariam causando incêndio no Pantanal
null
2020-09-17
Vídeo mostra, na verdade, uma equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) combatendo fogo com uma técnica de queima controlada que consiste em queimar pequenas áreas, de modo planejado e monitorado, para eliminar pasto seco que pode servir de combustível para incêndios florestais Conteúdo verificado: Vídeo mostra brigadistas colocando fogo em pasto sugerindo que seriam os próprios combatentes responsáveis por incêndios. São enganosas as postagens que circulam pelas redes sociais que acusam brigadistas de provocar incêndios no Pantanal. O vídeo que aparece nesses posts foi tirado de contexto e mostra uma equipe do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) combatendo o fogo, com uma técnica chamada queima de expansão, uma técnica de queima controlada. Esse recurso consiste em queimar pequenas áreas, de modo planejado e monitorado, para eliminar pasto seco que pode servir de combustível para incêndios florestais. O próprio ICMBio confirma a ação, que foi realizada entre os dias 12 e 13 de setembro na Estação Ecológica de Taiamã, na cidade de Cáceres, em Mato Grosso. As informações estão em nota oficial de esclarecimento do órgão rebatendo a divulgação de maneira equivocada das imagens. “O controle dessa técnica exige pessoal treinado e experiente, pontos de ancoragem muito bem definidos e condições meteorológicas favoráveis para que o fogo não se alastre e inicie um novo incêndio. Todas essas condições foram obedecidas e a queima foi considerada um sucesso”, explica a declaração. Essa informação foi reiterada pelo analista ambiental do Centro Nacional de Prevenção e Combate aos Incêndios Florestais (o PrevFogo, ligado ao Ibama) no Mato Grosso do Sul, Alexandre Pereira, que analisou o vídeo viralizado a pedido do Comprova. Como verificamos? Começamos a apuração por buscas no Google. Mapeamos outras verificações sobre o mesmo tema, feitas pelo Estadão Verifica e pelo site Aos Fatos, que ajudaram a nortear o trabalho do Comprova. Além disso, consultamos o portal ICMBio, autarquia federal vinculada ao Ministério do Meio Ambiente, que atua no combate às chamas no Pantanal. Também procuramos um especialista em incêndios florestais para entender a técnica que aparece no vídeo e outras maneiras de combater fogo com fogo. O analista ambiental do PrevFogo Alexandre Pereira foi quem nos trouxe explicações técnicas. Por último, fizemos contato via Messenger com o perfil que divulgou vídeo no Facebook, mas não obtivemos retorno até o fechamento desta reportagem. Verificação O vídeo No vídeo compartilhado nas redes, cinco homens andam por uma área de vegetação rasteira, queimando pequenos trechos de plantas secas. Atrás deles, um sexto homem grava a ação e pode ser ouvido dizendo: “Os brigadistas, ao invés de apagar o fogo, tão tacando fogo. É brincadeira? Quem é que taca fogo no Pantanal?”. Na parte de trás de seus uniformes é possível identificar o nome do ICMBio. Em nota publicada em 15 de setembro, o ICMBio confirmou que as imagens viralizadas mostram uma operação de seus agentes realizada na Estação Ecológica de Taiamã, unidade de conservação federal localizada em Cáceres, no Mato Grosso, entre os dias 12 e 13 de setembro. Ao contrário do sugerido pelo narrador da gravação e por usuários em redes sociais, no entanto, o ICMBio explicou que os homens do vídeo não estavam provocando um incêndio florestal, mas realizando uma manobra de combate indireto das chamas conhecida como “queima de expansão”. Essa técnica, segundo o instituto, “consiste em eliminar o combustível (a vegetação seca) em pequenas faixas do terreno através da aplicação do fogo”. Sobre as publicações viralizadas nas redes, o instituto afirmou que “um vídeo que circula pela internet tem gerado diversos mal-entendidos sobre as ações do ICMBio. Ele foi produzido e divulgado por um brigadista que esteve em campo, trazendo uma versão errônea sobre a prática de que ele participara”. Queima de expansão A pedido do Comprova, o analista ambiental do PrevFogo Alexandre Pereira avaliou o vídeo compartilhado nas redes e confirmou que as imagens mostram uma técnica de combate às chamas. Segundo Pereira, a tática funciona queimando de maneira controlada a vegetação do local para impedir que ela possa servir de combustível para a queimada descontrolada, de proporção bem maior, que se aproxima. Como explicou o analista, ao queimar a vegetação mais seca, os brigadistas expandem a faixa de segurança, formada naturalmente pela vegetação verde e úmida, para impedir que a frente principal do incêndio entre na unidade de conservação. “Depois que aquela vegetação foi queimada pelo fogo da queima de expansão que eles aplicaram ali, a frente de incêndio vai chegar, não vai ter mais combustível, que já foi consumido pelo fogo, evitando que o fogo adentre a unidade”, acrescentou. A prática da “queima de expansão” é prevista no Manual de Formação de Brigadistas do ICMBio. Como explica o guia, “para apagar o fogo é preciso neutralizar ao menos um dos lados do triângulo do fogo”, sendo eles o combustível (ou seja a vegetação), o calor e o oxigênio. Para eliminar o combustível, o manual recomenda a construção de uma linha de controle, ou seja, de um perímetro de segurança ao redor do setor afetado pelo incêndio para impedir sua propagação. Isso pode ser feito com diversas técnicas, entre elas a queima de expansão. “Pode-se empregar o fogo e apagá-lo quando a faixa queimada atingir a largura desejada para a eliminação de combustíveis no lado da linha que irá queimar (queima de alargamento ou de expansão)”, detalha o documento. A queima de expansão não é uma técnica exclusiva do Brasil, sendo utilizada em diversos outros países, como o Chile, segundo detalha a Corporação Nacional Florestal do país. “A linha de fogo é uma faixa estreita de terreno onde é eliminada, com fogo, a vegetação combustível que está na trajetória do incêndio […]. O fogo aplicado desta maneira é chamado de queima de expansão que, ao avançar contra o vento, poderá ser apagado depois de alguns metros, mas que, mesmo que isso ocorra, cumprirá seu objetivo de expandir a faixa carente de combustível”. A tática também é mencionada em manuais de combate a incêndios da Argentina e da Espanha. Fogo amigo Não é apenas a queima de expansão que faz uso do próprio fogo para conter as chamas. Conforme explica Alexandre Pereira, existem outros métodos que também envolvem chamas para controlar incêndios florestais. Entre eles, o fogo contra fogo e o aceiro negro. O fogo contra fogo, segundo o analista ambiental, consiste em provocar um “incêndio controlado à frente de um grande queimada, de modo a causar a interacção entre ambos e a alterar a direção da propagação ou a extinção desse incêndio.” Já o aceiro negro é uma “técnica que usa o fogo controlado para criar uma faixa sem vegetação, que impeça do avanço das chamas. Difere do aceiro comum, que é feito por meio de tratos ou outras máquinas como motoniveladoras.” De acordo com o Código Florestal Brasileiro, o uso de fogo em vegetação é proibido. Porém, a lei permite algumas exceções, entre elas o “emprego da queima controlada em Unidades de Conservação, em conformidade com o respectivo plano de manejo e mediante prévia aprovação do órgão gestor da Unidade de Conservação, visando ao manejo conservacionista da vegetação nativa, cujas características ecológicas estejam associadas evolutivamente à ocorrência do fogo”. Por que investigamos? O Comprova em sua terceira fase faz verificações de conteúdos produzidos por usuários da internet sobre a pandemia de covid-19 e as políticas públicas do governo federal. Os incêndios no Pantanal se inserem neste segundo grupo, pois a resposta a eles passa por decisões tomadas em Brasília. O vídeo verificado aqui circulou de maneira acelerada, aparecendo em diversas postagens diferentes em redes sociais como Twitter e Facebook. No post que fez o Comprova iniciar esta verificação, o vídeo teve pelo menos 8,1 mil visualizações. Em algumas das postagens, os autores davam a entender que a suposta ação criminosa dos brigadistas teria como intuito prejudicar o presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Trata-se de uma lógica semelhante à verificada pelo Comprova ao investigar vídeos sobre queimadas na Amazônia. Recentemente, o Comprova revelou que um vídeo mostrava um outro tipo de queima controlada feita pelo Ibama e não um incêndio provocado para culpar o presidente e que um post usava uma foto antiga de madeireiros para acusar ONGs por incêndios na Amazônia. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações.
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null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-irmaos-morreram-apos-se-vacinarem-contra-a-covid-19/
COMPROVA
É falso que irmãos morreram após se vacinarem contra a covid-19
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2020-09-17
Mulher fez acusação, sem apresentar qualquer prova, em vídeo que viralizou nas redes sociais, mas a Anvisa informa que só maiores de idade podem receber os testes das vacinas e que não houve nenhum relato de mortes ou reações adversas graves relacionadas aos testes feitos no Brasil Conteúdo verificado: Em uma transmissão ao vivo que ficou gravada no YouTube, uma mulher conta a história de uma família brasileira que teria tomado vacina contra a covid-19 para poder viajar ao exterior e diz que três jovens morreram depois disso. Não é verdade que três irmãos morreram após receber uma dose da vacina contra a covid-19, como afirma uma mulher em um vídeo que viralizou no Youtube. Ela faz diversas alegações no vídeo, mas sua história tem vários furos ou pontos que não fazem sentido, como verificou o Comprova. A autora do vídeo diz que os jovens tinham 13, 16 e 18 anos e não especifica qual das quatro vacinas em teste no Brasil teria sido responsável pelo ocorrido – ela nem usa a palavra “vacina”, alegando que, caso falasse, seu vídeo seria derrubado. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que autoriza as pesquisas clínicas sobre a proteção no país, informou que apenas maiores de idade podem receber as doses. Além disso, a Anvisa afirmou que não houve nenhum relato de mortes nem de reação adversa grave relacionadas às imunizações. Ainda segundo a autora do vídeo, a suposta família teria decidido se imunizar porque ia viajar para fora do Brasil. Também segundo a Anvisa, “as vacinas em teste estão restritas ao protocolo de pesquisa e aos voluntários selecionados previamente para a pesquisa”. Vacinas em fase de testes não podem ser exigidas como pré-requisitos para viagens ao exterior – ou seja, a família não poderia ter acesso ao medicamento. A pessoa que gravou o vídeo se apresenta como terapeuta. O Comprova entrou em contato com ela, que afirmou não ter “mais nada a acrescentar”. Como verificamos? O Comprova entrou em contato, por e-mail, com a Anvisa e com as quatro instituições que coordenam testes com vacinas contra a covid-19 no Brasil – apenas a Iqvia não respondeu até a publicação desta verificação. Também consultamos a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) sobre critérios e exigências desse tipo de estudo. Por fim, consultamos o Ministério de Relações Exteriores. Enviamos um pedido de entrevista pelo Facebook à autora do vídeo. Ela respondeu o primeiro contato e depois bloqueou a jornalista da equipe que enviou a mensagem. Uma outra repórter fez nova tentativa, mas não houve retorno até a publicação deste texto. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 17 de setembro de 2020. Verificação Testes no Brasil e reações adversas Em princípio, a autora do vídeo diz que não sabe informar qual foi a vacina contra covid-19 usada pela família. Segundo a Anvisa, quatro substâncias diferentes estão sendo testadas no Brasil. O Comprova consultou as instituições responsáveis pelos experimentos sobre os critérios para adesão de voluntários e os efeitos adversos. O Instituto Butantan informou que 4 mil voluntários (do total de 9 mil) já tomaram a primeira das duas doses da CoronaVac, desenvolvida em parceria com a farmacêutica chinesa Sinovac Life Science. Segundo a instituição, eles “são monitorados e, até o momento, não foi reportado nenhum efeito colateral grave, muito menos óbito”. O órgão classificou como “irresponsável e totalmente inverídico o depoimento que atribui a morte de pessoas ao uso da CoronaVac”. No vídeo verificado aqui, a autora faz menção ao governador de São Paulo, João Doria. Agências de checagem, como o Aos Fatos, verificaram um post no Facebook escrito pela autora do vídeo em que ela afirma que a família teria tomado a CoronaVac. O Butantan ressaltou ainda que “qualquer estudo sério é interrompido imediatamente assim que identificada qualquer anomalia”. Este foi o caso da vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e a companhia AstraZeneca, depois que uma voluntária do Reino Unido teve complicações. Os testes foram interrompidos em 8 de setembro, inclusive no Brasil, onde são conduzidos pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) em 5 mil voluntários. Após ter sido considerada segura, a testagem foi retomada no dia 14. A Unifesp afirmou que “o estudo clínico envolve adultos acima dos 18 anos e as reações até o momento foram as esperadas, como dor temporária no local da aplicação, dor de cabeça e febre passageira”. A universidade acrescenta que “não houve intercorrências graves no Brasil”. Outro órgão que está trabalhando a vacina é a Iqvia. A imunização chamada de Janssen-Cilag será testada em 7 mil voluntários – o que deve começar em breve. A farmacêutica não respondeu o pedido do Comprova até o fechamento deste texto, mas, no dia 18 de agosto, a Anvisa permitiu que a empresa, que faz parte do grupo Johnson & Johnson, iniciasse estudos clínicos no Brasil. A testagem conduzida pelo Centro Paulista de Investigação Clínica (Cepic), da vacina Pfizer/Wyeth, tem a menor amostragem: mil voluntários. Os responsáveis declararam que “nenhum participante do estudo de vacina contra covid-19 da Pfizer/BioNtech morreu”. Viagem para o exterior A autora do vídeo diz que a família tomou a vacina porque queria viajar para a Europa. Contudo, a Anvisa diz que imunizações em fase de testes não podem ser exigidas como pré-requisito de viagens para fora do país. As substâncias “estão restritas ao protocolo de pesquisa e aos voluntários selecionados previamente para a pesquisa”. O órgão declarou ainda que as vacinas “não estão disponíveis para uso fora do protocolo de pesquisa e fora das instituições que fazem parte do estudo”. O Comprova também questionou o Ministério de Relações Exteriores. Não houve retorno até a publicação desta reportagem. Critérios de idade e ética das testagens De acordo com o vídeo, os jovens que supostamente foram vítimas tinham 13, 16 e 18 anos. Mas todas as autoridades de saúde consultadas declararam que menores de idade não são admitidos nos testes com a vacina contra a covid-19. O coordenador da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa, Jorge Venâncio, explica que “se as pesquisas da vacina fossem incluir menores, teria que ter uma emenda ao protocolo”. Ele também afirmou que o novo critério não poderia ser uma exceção a poucos participantes, mas uma norma geral. E acrescenta: “Se alguma das pesquisas tentasse inserir crianças [sem notificar] seria uma violação grave ao protocolo, que poderia gerar uma denúncia na Anvisa por violação das boas práticas clínicas”. Venâncio explica ainda que menores de idade só são inseridos em testes quando os exames em pessoas adultas não são suficientes ou quando o objeto de estudo é próprio do grupo etário – como doenças ou medicações infantis. Pesquisas com menores de idade exigem “o consentimento dos pais e do menor, e todos os critérios de segurança”. O coordenador da Conep observa também que “a pandemia atinge muito menos crianças que adultos. Não tem lógica fazer testes com crianças”. A autora do vídeo, em uma segunda transmissão, deu a entender que a família tinha se submetido a algum tipo de acordo para não comentar possíveis efeitos adversos da vacina. Venâncio afirma que a prática é proibida. “Ainda que existisse esse tipo de acordo, não teria validade jurídica”, acrescenta Venâncio. A autora do vídeo A autora do vídeo afirma que é terapeuta e mora em Portugal. Segundo seu perfil no Linkedin, trabalha com “terapias holísticas e vibracionais” desde 1998. Em uma live de junho deste ano, ela contou ter sido cantora, mas que, após ouvir uma palestra do médium Luiz Antonio Gasparetto, procurou se aprofundar no tema da mediunidade. Ao primeiro contato do Comprova, ela agradeceu, declarou que não tinha “mais nada a acrescentar” além do relatado na gravação e que “não iria expor ninguém sem autorização”, pois tem “ética e respeito pela dor da família”. O Comprova voltou a entrar em contato com a terapeuta, apresentando as informações da Anvisa que contradizem seus vídeos. Ela não respondeu. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova investiga conteúdos relacionados às políticas públicas do governo federal e à pandemia. Conteúdos que trazem desinformação relacionada à covid-19, como o verificado aqui, são ainda mais perigosos pois colocam a saúde da população em risco e podem custar vidas. Uma vacina é a forma mais eficiente de imunizar a população e esforços estão sendo feitos em todo planeta para chegar a essa solução. Mais do que gerar medo e desconfiança, o vídeo coloca a saúde da população em risco ao incentivar que as pessoas não se vacinem contra a doença. A gravação teve 97.834 visualizações no YouTube até 16 de setembro e, segundo a ferramenta CrowdTangle, foi republicado 133 vezes no Twitter e teve 11.350 interações no Facebook. Fato ou Fake, e-farsas, Aos Fatos e Lupa também investigaram esse conteúdo e classificaram como falsos os posts que circularam nas redes sociais. Publicações que tentam desacreditar a importância da vacina já foram verificadas pelo Comprova, como a que dizia que a vacina causava danos irreversíveis ao organismo, o tuíte que afirmava que a imunização usa células de fetos abortados e uma teoria conspiratória segundo a qual a proteção teria um microchip para rastrear a população. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/tv-alema-exibiu-elefantes-ao-falar-sobre-queimadas-na-amazonia/
COMPROVA
TV alemã exibiu elefantes ao falar sobre queimadas na Amazônia
null
2020-09-17
Emissora alemã confirmou ao Comprova a exibição da imagem para ilustrar uma matéria sobre queimadas na Amazônia veiculada em 2019 e disse que retirou do site a reportagem tão logo os produtores se deram conta do erro Conteúdo verificado: Postagens nas redes sociais com fotografia de uma reportagem da rede de televisão alemã N-TV, que utilizou uma imagem de elefantes para falar sobre o incêndio na Amazônia É verdadeira a publicação que mostra uma televisão transmitindo reportagem da emissora alemã N-TV sobre as queimadas na Amazônia. Na matéria, é exibida uma imagem de elefantes em um rio com as legendas ‘Feuerkatastriophe im Amazonas’ (catástrofe do fogo no Amazonas) e ‘Sorge un bedrohte Tierarten’ (preocupação com espécies ameaçadas de extinção). A publicação, que circulou em diversas contas em redes sociais, acrescenta a legenda: “TV Alemã mostrando os animais fugindo do incêndio na Amazônia. É pra rir ou não?”. A emissora N-TV, que costuma cobrir o impacto dos incêndios na Amazônia, confirmou ao Comprova por e-mail que realmente utilizou a imagem dos elefantes na reportagem sobre as queimadas, mas que ao perceber o erro – já que não há elefantes na fauna brasileira – retirou o material do ar. Por isso, não é mais possível encontrá-la no site da emissora. A fotografia dos elefantes exibida na matéria foi tirada pela fotógrafa Charmaine Noronha, da agência Associated Press (AP), em Botswana, na África, em 2013. A reportagem alemã foi veiculada em agosto de 2019, quando as queimadas na Amazônia brasileira estavam em evidência ao redor do mundo. A imagem começou a circular com tom de sátira já no mês seguinte, no Reddit e também no site MEME, mas só apareceu em publicações brasileiras em setembro deste ano – quando incêndios voltaram a ser assunto. Como verificamos? O Comprova realizou uma busca reversa de imagens utilizando Google, Bing, TinEye, Baidu e Yandex para identificar diferentes versões da publicação e qual teria sido a primeira aparição da fotografia da televisão exibindo a reportagem. Procuramos, ainda, o vídeo no site oficial da N-TV e da Heute TV, uma emissora de televisão de Viena, na Áustria, que havia republicado o vídeo da reportagem sobre incêndios. Também buscamos pela fotografia dos elefantes com uma pesquisa simples no Google. Em seguida, o Comprova procurou a porta-voz da N-TV, o repórter responsável pela matéria sobre as queimadas na Amazônia e o profissional responsável por fazer verificações na emissora. Também entrou em contato com uma agência de checagem alemã, a Correctiv. Verificação Imagem é verdadeira, mas vídeo foi retirado do ar A N-TV, emissora privada alemã que integra o grupo RTL de mídia, foi o primeiro canal de notícias 24 horas em alemão e chegou a pertencer ao mesmo grupo da CNN. Além de cobrir assuntos locais, a N-TV possui um noticiário internacional e, desde o ano passado, tem publicado diversas reportagens sobre incêndios na Amazônia. Essa reportagem foi ao ar no dia 23 de agosto de 2019. O Comprova a localizou pelo título que aparece na chamada da televisão: ‘Feuerkatastriophe im Amazonas’ (catástrofe do fogo no Amazonas). Logo abaixo, consta mais uma informação sobre a reportagem: ‘Sorge un bedrohte Tierarten’ (preocupação com espécies ameaçadas de extinção). A segunda chamada, na sequência das informações sobre os animais ameaçados de extinção, também é real: ‘Nawalny verlässt nach 30 Tagen Gefängnis’ (Nawalny deixa a prisão após 30 dias), se referindo à soltura do líder opositor russo, crítico de Vladimir Putin. Esta notícia também foi publicada no dia 23 de agosto de 2019 no site da N-TV. O texto sobre os incêndios no Amazonas foi publicado no site da emissora no mesmo dia, assinado pelo repórter Roland Peter, correspondente da N-TV na América Latina, mas não faz nenhuma menção a elefantes. O Comprova entrou em contato com Peters, mas ele não soube dizer se a imagem era real ou não. Apesar de todas as informações de datas baterem, o vídeo em que os elefantes aparecem não foi localizado no site da N-TV. O Comprova encontrou uma checagem sobre o mesmo assunto no site Boa Informação, que classifica a reportagem como verdadeira, mas não poderia confirmar se os elefantes tinham sido usados na imagem porque o vídeo tinha sido excluído. O link divulgado pelo Boa Informação levava até o site da austríaca Heute TV, que havia republicado a reportagem. No entanto, ao clicar no endereço, fomos redirecionados para a capa do site. Por uma semana, tentamos contato com os dirigentes na Heute TV, mas não tivemos retorno. O Comprova procurou pela porta-voz da N-TV, Bettina Klauser, por e-mail. Ela repassou a demanda a Alessia Gerkens, gerente de comunicação e relações públicas na RTL, grupo do qual a emissora faz parte. A reportagem também entrou em contato, por e-mail e via Twitter, com Andreas Greuel, o responsável por fazer verificações na emissora. Por e-mail, Gerkerns confirmou que a imagem dos elefantes foi utilizada pela N-TV, mas que a reportagem foi retirada do ar ainda em 2019 depois que a produção percebeu o erro. Por isso, não é possível encontrar o vídeo original. Também por e-mail, Andreas Greuel agradeceu o contato e o interesse em esclarecer os fatos e disse que “infelizmente, erros acontecem”. Elefantes não são nativos do Brasil Não há elefantes nativos na fauna brasileira, embora existam animais no país em situação de cativeiro. A fotografia usada pela emissora de TV alemã foi feita em 2013 em Botswana, na África, por Charmaine Noronha. A imagem está publicada no site da agência Associated Press (AP). Viralização da publicação no Brasil A reportagem alemã foi exibida no final de agosto de 2019, quando os focos de incêndio e as queimadas na Amazônia brasileiras estavam em evidência e eram tema de debate ao redor do mundo. Porém, a publicação em tom de sátira só começou a viralizar no Brasil em 2020. O primeiro registro encontrado pelo Comprova em português é de 6 de setembro deste ano. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica postagens suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais e que tratam das políticas públicas do governo federal ou da pandemia da covid-19. Questões relativas à Amazônia estão no centro do debate político e são constantemente objeto de desinformação. Em 2019, o Comprova mostrou que não era verdadeira a acusação de que o governo do ex-presidente Lula teria vendido terras para uma empresa da Noruega e que imagens de um avião combatendo incêndios não tinham sido gravadas no Brasil Neste ano, o Comprova fez outras verificações envolvendo a Amazônia, como a de um vídeo que mostra uma queima controlada feita pelo Ibama e não um incêndio provocado para culpar o presidente, a de um post que usa uma foto antiga de madeireiros para acusar ONGs por incêndios na Amazônia e a de um vídeo que distorce dados sobre queimadas na Amazônia. O post verificado pelo Comprova foi publicado pelo perfil @direitadaopressao e teve 9,8 mil curtidas no Instagram. No Facebook, foi compartilhado por vários perfis pessoais e em um deles teve 1,1 mil compartilhamentos. Comprovado, para o Comprova, é o evento confirmado ou o conteúdo original publicado sem edição.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Comprovado']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-distorce-dados-sobre-queimadas-na-amazonia/
COMPROVA
Vídeo distorce dados sobre queimadas na Amazônia
null
2020-09-16
Diferentemente do que mostra o vídeo, houve um aumento do número de focos de incêndio na Amazônia em relação a 2019 e o Brasil não é o país com produção mais sustentável de alimentos no mundo. Está na 40ª posição entre 67 países em um ranking da The Economist Conteúdo verificado: Vídeo lançado pela Associação de Criadores do Pará afirma que a Amazônia não está queimando, que o Brasil é o país que mais preserva áreas nativas do mundo e que os alimentos brasileiros são os mais sustentáveis do planeta Um vídeo produzido pela Associação dos Criadores do Pará (AcriPará) que viralizou nas redes sociais usa informações distorcidas, fora de contexto ou dados questionáveis para afirmar que a Amazônia brasileira não está sendo alvo de queimadas e que o Brasil é o país mais sustentável do mundo na produção de alimentos. A peça também afirma que o Brasil é a nação que mais preserva áreas de vegetação nativa em todo o mundo, o que não está correto. Além de divulgado por diversos usuários na internet, o vídeo foi compartilhado pelo ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e pelo vice-presidente Hamilton Mourão (PRTB), presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal. O monitoramento feito pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) mostra um aumento de 11% no número de focos de queimada na Amazônia do início do ano até 14 de setembro em comparação com o mesmo período do ano passado. Dos 64.498 pontos de calor identificados na região em 2020, 49.792 ocorreram em agosto e setembro. Embora o Brasil preserve 66,5% de cobertura vegetal nativa – dado usado corretamente no vídeo –, segundo o Projeto MapBiomas, o país perdeu 87 milhões de hectares de vegetação nativa desde 1985, considerando áreas que foram desmatadas e nunca recuperadas. O Brasil também está longe de produzir os alimentos mais sustentáveis do mundo: ocupa o 40º lugar entre 67 países no Food Sustainability Index, elaborado pela revista The Economist e pelo Barilla Center for Food & Nutrition. No quesito agricultura sustentável, o Brasil ainda perde posições no ranking, ficando na 51ª colocação. O vídeo cita como fonte para a maioria dos dados mencionados a Embrapa Territorial, braço de análises geográficas da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa). As informações da Embrapa Territorial já haviam sido questionadas no ano passado por um artigo divulgado na revista científica Environmental Conservation, publicada pela Cambridge University Press. Os autores do artigo afirmaram que alguns dados apresentados por Evaristo de Miranda, chefe da empresa pública, não apresentam referências científicas. Nesta terça-feira (15), o vídeo foi retirado do ar após o Greenpeace Brasil notificar plataformas como Twitter, Facebook e YouTube que a peça usava imagens da ONG sem autorização. Como verificamos? A ferramenta de busca do Google foi o ponto de partida desta verificação. Por meio desse recurso, mapeamos estudos e reportagens sobre preservação ambiental, sustentabilidade alimentar e destruição do bioma brasileiro. Para checar as informações sobre queimadas na Amazônia, acessamos o site do Inpe. Lá encontramos dados mensais sobre os focos de incêndio. Sobre a parte de preservação ambiental, pesquisamos no Projeto MapBiomas, uma das referências na área. Também consultamos o Banco de Dados sobre Áreas Protegidas, mantido pela ONU Meio Ambiente. Ainda sobre esse tema, encontramos o artigo de autores brasileiros para a revista Environmental Conservation, uma publicação da Cambridge University Press e que contestava dados da Embrapa Territorial, uma das bases para as informações contidas no vídeo. Realizamos uma entrevista com o biólogo Fábio Angeoletto, um dos autores do estudo. Ele nos enviou respostas elaboradas em conjunto com os demais responsáveis pela publicação: Marcelo Vacchiano, Jeater Santos e Normandes Matos da Silva. Em seguida, fomos em busca de informações com entidades que cuidam do meio ambiente no país, como Embrapa Territorial e Ministério da Agricultura. Durante a verificação, consultamos alguns documentos que trouxeram respostas sobre as afirmações feitas no vídeo: relatório Food Sustainability Index, censo agropecuário do IBGE (2017) e o Environmental Performance Index (EPI). Procuramos, ainda, o auxílio de especialistas para avaliar dados citados no vídeo e explicar alguns conceitos sobre controle ambiental. Fizemos uma entrevista por telefone com Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas. Verificação Quem produziu o vídeo? O vídeo verificado foi produzido pela Associação de Criadores do Estado do Pará (AcriPará), uma associação de pecuaristas fundada em 2017. Em contato por WhatsApp com o Comprova, o presidente da entidade, Maurício Pompéia Fraga Filho, afirmou que o material foi criado como resposta a um vídeo feito pela Articulação dos Povos Indígenas do Brasil, que afirmava que a Amazônia estava “em chamas”. “Esse vídeo foi feito de uma maneira despretensiosa para rebater esse outro vídeo, que recomenda que não se consumam produtos agropecuários do Brasil. O nosso vídeo foi feito só para pôr nas redes sociais e acabou viralizando”, explicou Fraga Filho. A gravação da AcriPará ainda conta com um erro de localização. Entre as imagens há um mico-leão-dourado, animal existente apenas na Mata Atlântica. Em entrevista à Globo, ele admitiu ter sido uma “gafe”. Ao Comprova, Fraga Filho disse que não duvida dos dados sobre queimadas na Amazônia, mas não quer que o setor produtivo “seja prejudicado pelo erro de uma minoria”. “Nós vivemos na Amazônia, conhecemos o problema. Não somos negacionistas, conhecemos e acreditamos nos números do Inpe. Somos legalistas, brigamos pela regularização fundiária e ambiental. Mas não podemos aceitar que todo o setor produtivo brasileiro seja prejudicado pelo erro de uma minoria”, diz. Fraga Filho é presidente da AcriPará desde a criação da entidade. No último dia 10 de setembro, a revista Veja mostrou que já foi processado por submeter trabalhadores em uma de suas fazendas a condições análogas à escravidão. Ele fez um acordo e pagou R$ 1,5 milhão. Queimadas A principal afirmação do vídeo verificado é que “a Amazônia não está queimando novamente”. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais mostram que foram registrados 20.485 focos ativos de queimadas na Amazônia entre os dias 1º e 14 de setembro, o que já é superior aos 19.925 focos de calor identificados em setembro de 2019. Um foco de queimada é um sinal de fogo detectado pelos satélites da Nasa que tiram fotos da Terra a partir do espaço. Outros 29.307 focos de queimadas foram identificados em agosto de 2020; número ligeiramente inferior aos 30.900 pontos de incêndios identificados no mesmo mês do ano anterior. Ao longo de todo este ano, o Inpe identificou 64.498 focos de queimada na Amazônia. Esse dado é 11% superior ao que foi registrado, em 2019, entre os dias 1º de janeiro e 14 de setembro. Em 2020, 77,19% dos incêndios realizados no bioma ocorreram nos meses de agosto e setembro. Análise feita pelo Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam) sobre os focos de calor na Amazônia em 2020 aponta que a maior parte deles está relacionada ao desmatamento, não à severidade da época seca do ano. “O indicador principal é a alta proporção de focos em propriedades privadas (PP) e assentamentos (ASR) possivelmente devido à conversão de florestas em outros usos, e em florestas públicas não destinadas (ND), como resultado da grilagem e da ação de criminosos interessados em especular com a terra”, informa a nota técnica divulgada pelo Ipam. A divulgação de dados de queimadas e desmatamento já provocou vários embates entre o governo federal e o Inpe. Em julho de 2019, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse que a divulgação dos números faz com que o país seja “malvisto” no exterior. Logo depois, em agosto, o então diretor do instituto Ricardo Galvão foi exonerado. Em 2019, o Inpe registrou 89.176 pontos de calor na Amazônia; o que representa 30% a mais do que o instituto havia identificado em 2018. Em julho de 2020, após o Inpe divulgar um relatório que mostrava dados recordes de desmatamento na Amazônia, o governo exonerou Lubia Vinhas do cargo de coordenadora-geral de Observação da Terra, departamento do instituto responsável por monitorar o desmatamento. Em 15 de setembro, o vice-presidente Hamilton Mourão disse que há alguém dentro do Inpe “que faz oposição ao governo”, divulgando dados apenas quando eles são desfavoráveis à atual gestão. Na verdade, todos os dados sobre queimadas no país são públicos e atualizados diariamente pelo instituto em um site que pode ser consultado por qualquer pessoa. Líder de preservação? O vídeo faz duas afirmações em relação à preservação ambiental. Na primeira, diz que o Brasil preserva 66,3% de sua mata nativa. O número é próximo dos 66,5% apresentados no relatório do Projeto MapBiomas, uma das referências atualmente em dados sobre vegetação nativa. De acordo com o projeto, desde 1985 o país registrou uma perda líquida de 87 milhões de hectares de sua vegetação nativa – a perda líquida é o balanço entre perda com desmatamento e o ganho com a regeneração no período. A segunda afirmação do vídeo é de que o Brasil é “o país que mais preserva mata nativa no mundo”, citando a Embrapa como fonte dos dados. Questionada pelo Comprova, a empresa enviou um relatório feito pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente de 2016 para corroborar suas afirmações. O documento da ONU, no entanto, não fala sobre área preservada, mas área protegida, que leva em consideração unidades de conservação e terras indígenas. Não necessariamente todas as áreas protegidas estão preservadas no país. “O que estamos vendo nesses últimos dois anos é um forte processo de degradação dentro das áreas protegidas, de desmatamento dentro das áreas protegidas, garimpo dentro das áreas protegidas. Então não dá para a gente falar que estamos protegendo e conservando as áreas quando nós estamos deixando acontecer esse tipo de coisa dentro dessas áreas protegidas”, explica o engenheiro florestal Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas. “A gente observou que uma coisa é você ter cobertura de vegetação nativa, a outra coisa é saber o quanto disso está preservado. O que é estar preservado? É aquilo que não sofreu nem desmatamento anterior e cresceu de novo e também não foi degradado. Tem diferentes formas de se medir isso, mas a gente já demonstrou esse ano que pelo menos 9% da cobertura de vegetação nativa do Brasil é de vegetação secundária, que são áreas que já deixaram de ser floresta alguma vez e voltaram a crescer. Portanto, não são áreas que foram preservadas, são áreas que foram desmatadas e que voltaram a crescer”, continuou. O Brasil só aparece na liderança em áreas protegidas apenas quando são considerados os dez maiores países em extensão territorial. Os 30,28% do Brasil ficam à frente de Austrália (19,39%), China (15,62%), Estados Unidos (11,79%), Rússia (9,7%), Canadá (11,04%), Argentina (8,48%), Argélia (4,64%), Índia (5,97%) e Cazaquistão (3,31%). Os dados estão no Banco de Dados sobre Áreas Protegidas, mantido pela ONU Meio Ambiente. Ao fazer a comparação com todos os países do mundo, porém, o Brasil cai para a 32ª colocação em proporção de área protegida, como mostra a tabela abaixo. As posições da Embrapa Territorial já haviam sido questionadas em um artigo brasileiro publicado na revista Environmental Conservation, uma das publicações da Cambridge University Press, em junho do ano passado. No material intitulado “Os dados confirmam que Brasil lidera o mundo em preservação ambiental?”, os autores dizem que Evaristo de Miranda, chefe da Embrapa Territorial, apresenta “estatísticas criativas, influenciadas por uma narrativa ideológica que distorce a realidade ambiental brasileira”. O Comprova conversou com o biólogo Fábio Angeoletto, um dos autores do artigo. “Nossa crítica à essa afirmação também decorre pelo fato de desconhecermos em que ranking (global ou mesmo regional) o Brasil é classificado como líder em preservação ambiental. Parece-nos que tal avaliação é apenas uma propaganda ideológica, porque é destituída de referências científicas”, explica. “Se tomarmos como referência o Environmental Performance Index (EPI), que é organizado pelas universidades de Yale e Columbia nos Estados Unidos, o qual classifica a partir de consistente metodologia científica o desempenho ambiental de 180 países do globo, o Brasil não figura como líder nem em nível regional e muito menos global, seja no índice EPI global, ou seja, nos índices temáticos (florestas, por exemplo). Além disso, desde o relatório de 2016 o Brasil tem caído significativamente de posição neste ranking, já refletindo o desmonte que está ocorrendo nas políticas de preservação e conservação ambiental com os governos Temer e Bolsonaro”, completa. O relatório citado por Angeoletto realmente mostra o Brasil muito longe da liderança em diversos índices. Na edição 2020 do EPI, o país aparece apenas na 114ª posição entre 180 países no quesito “perda de cobertura vegetal”. No ranking geral, que inclui saúde e vitalidade do ecossistema, o Brasil está em 55º. Ao longo do relatório, o Brasil é mencionado de maneira negativa em duas oportunidades, além de um ponto sobre o desmatamento da Amazônia. “O desmatamento e a expansão agrícola continuam a ameaçar os ecossistemas exclusivos desta região [América Latina], contribuindo para as pontuações regionais médias baixas em Biodiversidade e Habitat e Serviços de Ecossistema. Embora eventos muito recentes, como a queima da Amazônia no Brasil, Bolívia e Peru no final de 2019, não tenham sido incluídos nas pontuações do EPI de 2020, esses eventos seguem uma tendência preocupante de aumento da destruição e deterioração do ecossistema”, diz um trecho do relatório. O texto ainda faz uma crítica à política ambiental do governo de Jair Bolsonaro . “À medida que as mudanças climáticas e o desmatamento aumentam a frequência e a gravidade das secas — e à medida que o governo do Presidente Bolsonaro reverte as proteções ambientais — incêndios como os vistos em 2017 e 2019 podem se tornar ainda mais generalizados e devastadores”. Produção e sustentabilidade A definição de alimento sustentável — conceito mencionado no vídeo analisado — envolve aspectos que vão desde a plantação até a chegada ao prato de quem consome. O Ministério da Agricultura informou ao Comprova por e-mail que trata-se de um conceito que permeia questões econômicas, sociais e ambientais. “Quando as condições de produção viabilizem o equilíbrio econômico/financeiro dos produtores e agentes da cadeia produtiva, respeitando as condições trabalhistas e sociais dos trabalhadores e, mantendo o respeito e garantia de meio ambiente preservado, temos uma produção de alimentos perfeitamente sustentável”, afirmou a assessoria. Em resumo, um mantimento sustentável é aquele cuja cadeia produtiva (que engloba processos como plantio, colheita, embalagem e distribuição) busca gerar o menor impacto possível no meio ambiente. Além disso, a produção leva em conta questões sociais, éticas e relacionadas à saúde do consumidor. Questionada, também por e-mail, sobre o que caracteriza um alimento sustentável, a Embrapa Territorial respondeu: “O que é sustentável não é o alimento em si, mas a maneira de produzi-lo. A diversidade de alimentos e das formas de produzi-los no Brasil varia muito. Até para um mesmo alimento, as práticas e os sistemas de produção variam.” Sobre se os alimentos produzidos no Brasil seriam os mais sustentáveis do mundo, como sugere o vídeo verificado, o órgão explica que depende do item a ser analisado e sugeriu outras fontes. “Para que se afirme que os alimentos produzidos no Brasil são os mais sustentáveis do mundo, há necessidade de uma avaliação a partir do estabelecimento de índices capazes de classificar uma série de padrões submetidos à atividade agropecuária mundial” De acordo com o relatório Food Sustainability Index, organizado pela unidade de inteligência da revista The Economist e pelo Barilla Center for Food & Nutrition, o país não é líder em sustentabilidade. O documento leva em consideração 37 indicadores divididos em três grandes áreas: perda de comida e desperdício, agricultura sustentável e desafios nutricionais. O Brasil aparece em 40º lugar no ranking geral, que reúne 67 países. Quando o tema é agricultura sustentável, o Brasil aparece na posição 51. Entre os indicadores, as melhores notas do país são em política de resposta à perda de comida, sustentabilidade da retirada de água, manejo da água, mitigação da mudança climática e política de resposta a padrões alimentares. As piores notas são em diversificação do sistema de agricultura, número de pessoas por restaurante de fast food, impacto comercial, composição da dieta e prevalência da subnutrição. Área territorial Dependendo da origem dos dados, há uma pequena variação no total de área usada para agropecuária no Brasil. Para a Embrapa Territorial, conforme estimativas de 2019, as lavouras ocupam 66 milhões de hectares, ou 7,8% do território nacional. Ainda segundo a Embrapa Territorial, o censo agropecuário do IBGE (2017) calculou a área dedicada a plantações em 7,5% do território nacional. Já um estudo da agência espacial americana National Aeronautics and Space Administration (Nasa), da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) e outras instituições internacionais feito em 2018 estimou, com outros métodos, a área cultivada em lavouras do Brasil em 7,6% do território nacional. Em relação à produção de alimentos de origem animal, a área dedicada a pastagens plantadas e nativas é da ordem de 180 milhões de hectares (21,2% do território nacional), segundo a Embrapa. Segundo o órgão, a soma das áreas dedicadas à produção de alimentos de origem vegetal e animal totaliza cerca de 246 milhões de hectares no Brasil, o equivalente a 29% do território nacional. Esse é o número apontado pelo vídeo verificado pelo Comprova. Outro dado que aparece no vídeo é que produtores rurais teriam adquirido 218 milhões de hectares para preservação de florestas. O tamanho da área é confirmado pela Embrapa Territorial. Contudo, a entidade não especifica se esse território fica apenas na Amazônia, como sugere o vídeo. “O total das áreas destinadas à preservação da vegetação nativa pelos produtores rurais em todo o Brasil — a título de áreas de preservação permanente (APPs), reservas legais (RLs) e vegetação excedente — resulta em 218 milhões de hectares.” Os dados são referentes aos cadastros feitos até janeiro de 2018, os mais atualizados até o momento. “Se você pegar e olhar para as áreas que estão conservadas… falam de ‘200 milhões que os agricultores compraram para proteger’… é outra leitura bem estranha, né? Porque se você pegar as áreas privadas no Brasil e comparar com as áreas protegidas, nas áreas de terra indígena nos últimos 35 anos, o desmatamento foi meio de 0,5%. Se você pegar as áreas privadas, o desmatamento da área que existia de floresta em 1985 foi de 20%. Daí você vê a diferença que tem entre o que está sendo conservado em áreas protegidas e aquilo que está sendo conservado nas propriedades rurais”, ressaltou Tasso Azevedo. A ferramenta usada para mensurar as áreas de preservação e reserva é o SiCAR, um sistema autodeclaratório de registro. Conforme Fábio Angeoletto, é preciso cautela com essa metodologia. “O SiCAR e os mecanismos que ele possui (a exemplo do CRA — Cota de Reserva Ambiental) é sem dúvida um avanço em termos de ferramenta de monitoramento e gestão do patrimônio ambiental do Brasil, sobretudo por se tratar de um país com dimensões continentais. Contudo, por ser autodeclaratório (o detentor do imóvel rural é que diz o que está ou não preservado da vegetação nativa em seu interior) ele precisa ser validado (…). Se esta fase de validação não é realizada ele tem sua eficácia extremamente prejudicada”, destaca o biólogo. Ele complementa que o SiCAR é uma ferramenta desenvolvida com o fim de gestão: “Querer transformá-lo em ferramenta de regularização fundiária é um erro que abre margem à oficialização da grilagem de terras devolutas no Brasil.” O SiCAR foi criado em 2012, mas ficou ativo apenas em 2014. Em outubro de 2019, o presidente Jair Bolsonaro sancionou a lei que retira o prazo para que os agropecuaristas criarem seus registros. Antes disso, datas limites para adesão ao sistema foram criadas e acabaram prorrogadas. “A lei diminui o alcance e a efetividade do CAR na proteção da flora nativa do Brasil. Ao retirar o prazo para a inscrição no SiCAR, haverá menos dados disponíveis para a gestão ambiental adequada de milhões de hectares de florestas nativas do Brasil”, avalia Angeoletto. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica postagens suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais que tenham ligação com políticas públicas do governo federal ou com a pandemia do novo coronavírus. O vídeo verificado aqui é um exemplo. O Brasil vive uma série de problemas ambientais, principalmente em decorrência das queimadas que consomem a Amazônia e o Pantanal. Segundo matéria da Folha de S.Paulo, os 14 dias de setembro deste ano já registraram mais focos de incêndio na floresta amazônica do que em todo o mesmo mês no ano passado. Já o Pantanal — apontado como maior planície alagada do Planeta e com um bioma que cobre Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Bolívia e Paraguai — é vítima de um dos maiores incêndios da história. O vídeo, publicado pelo usuário @Jouberth19, já foi assistido 38,8 mil vezes no Twitter. Também foi curtido 35,4 mil vezes e compartilhado por 9,9 mil usuários ao ser reproduzido nos perfis do Twitter do ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles e do vice-presidente Hamilton Mourão, que é presidente do Conselho Nacional da Amazônia Legal. A Agência Lupa chegou o mesmo conteúdo e chegou a conclusão de que ele é falso. A iniciativa Fakebook de verificação de informações ambientais checou informações semelhantes às do vídeo, como a de que o Brasil possui a maior área protegida do mundo e a que dizia que o agronegócio brasileiro é o mais sustentável do mundo. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
null
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/post-usa-foto-antiga-de-madeireiros-para-acusar-ongs-por-incendios-na-amazonia/
COMPROVA
Post usa foto antiga de madeireiros para acusar ONGs por incêndios na Amazônia
null
2020-09-11
Post reproduz uma publicação feita no Facebook por outro perfil, no ano passado, e usa uma foto verdadeira, de indígenas detendo madeireiros, para acusar ONGs por queimadas Conteúdo verificado: Publicações nas redes sociais reproduzem postagem de Facebook que diz que indígenas prenderam em flagrante membros de ONGs que seriam incendiários. São falsas as postagens que acusam ONGs de serem responsáveis pelas queimadas na Amazônia. Nas publicações, é usada uma foto antiga de indígenas prendendo madeireiros ilegais. A viralização da mesma imagem já havia ocorrido em agosto do ano passado, quando o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) disse, sem provas, que poderia “estar havendo ação criminosa desses ongueiros para chamar a atenção contra o governo”. Tanto naquela época quanto agora, o clique vem acompanhado da legenda: “Lembram que caíram de pau em cima de Bolsonaro, quando disse suspeitar que ONGs estariam envolvidas nos incêndios na Amazônia? Índios prenderam incendiários em flagrante. Outro preso pela polícia em Iranduba”, insinuando que os indígenas estariam prendendo membros de organizações não governamentais. Não é verdade. A imagem foi registrada pelo fotógrafo Lunaé Parracho para a agência Reuters e mostra uma operação de indígenas da etnia Ka’apor na terra indígena Alto Turiaçu, no Maranhão, contra a exploração ilegal de madeira em 7 de agosto de 2014. Com membros de outras tribos, eles prenderam e expulsaram desmatadores daquele local – e não funcionários de uma ONG. Uma das páginas que viralizou a foto no Instagram desta vez, o perfil @Galeradadireita retirou o post do ar após constatar que seu conteúdo era falso, conforme contou ao Comprova, e postou uma errata após entrevista com a equipe. Outros internautas que publicaram a foto com a legenda falsa foram contatados, mas não deram retorno ao Comprova até a publicação desse texto. Como verificamos? O Estadão Verifica, um dos 28 veículos parceiros do Projeto Comprova, havia feito uma investigação da mesma imagem no ano passado. Por meio desse trabalho, conseguimos identificar a foto e o fotógrafo, com quem fizemos contato via Instagram. Na sequência, mandamos mensagem para o perfil do Instagram @Galeradadireita, que publicou o conteúdo verificado e retirou-o do ar. Também tentamos falar com outros perfis que compartilharam o post, mas não obtivemos resposta. Verificação A foto A imagem foi feita pelo fotógrafo Lunaé Parracho, da agência Reuters, em 7 de agosto de 2014. Ela mostra membros da etnia Ka’apor detendo madeireiros que atuavam ilegalmente dentro da terra indígena Alto Turiaçu, nas imediações da cidade de Centro do Guilherme, no Noroeste do Maranhão. De acordo com Parracho, a operação foi feita porque os indígenas, também chamados de Caapores, estavam cansados da falta de assistência do governo para acabar com a exploração ilegal da madeira e se juntaram a outras tribos para expulsar os desmatadores. O caso virou notícia na época. Em 5 de setembro daquele ano, a Folha de S. Paulo publicou reportagem com o título: “Índios prendem e agridem madeireiros invasores no Maranhão”. No site de fotografia da Reuters é possível ver a sequência com a foto verificada aqui. Há imagens dos indígenas tirando as roupas dos desmatadores, de um caminhão carregado de toras, de tratores usados para desmatar e de caminhões sendo queimados. A série, chamada de “Guerreiros da Amazônia lutam contra madeireiros”, foi premiada no China International Press Photo Contest, em 2015. Parracho é gaúcho e se dedica desde 2011 a questões sociais e ambientais do Brasil – a Amazônia é um de seus principais focos. Colabora com a agência Reuters desde 2012 e já teve seus trabalhos publicados em veículos como The Guardian, The Wall Street Journal, Al Jazeera e The Washington Post, entre outros. “Quando fiz essa foto, sentia esperança ao ver aqueles guerreiros protegerem suas terras. É o contrário do que sinto ao vê-las sendo usadas nessas fake news, que passam por cima de todos nós como um rolo compressor. Elas roubam a verdade daquele povo em resistência, e isto é uma síntese do genocídio que estamos vivendo. Sinto que estamos sendo esmagados, como todos provavelmente estão se sentindo, tendo clareza ou não do que está acontecendo”, afirmou Parracho sobre o uso de sua foto no conteúdo verificado aqui. Bolsonaro x ONGs As críticas do presidente Jair Bolsonaro às ONGs vêm desde 2019, quando as queimadas na Amazônia viraram notícia em todo o mundo. Em agosto do ano passado, ele acusou, sem provas, as organizações de estarem por trás dos incêndios na floresta. Três meses depois, o presidente pediu em uma de suas lives para que as pessoas não fizessem doações para ONGs. “Logicamente o mundo não está vendo o que eu estou falando aqui, mas não doem dinheiro para ONG. ONGs não estão lá [na Amazônia] para preservar ambiente, mas em causa própria.” Recentemente, em nova live, disse que não conseguia “matar esse câncer chamado ONG”. “Você que está numa ‘ONGzinha’ aí pegando grana de fora. Vocês sabem que as ONGs, em grande parte, não têm vez comigo, a gente bota para quebrar em cima desse pessoal lá. Não consigo matar esse câncer em grande parte chamado ONG que tem na Amazônia.” O perfil Contatado pelo Comprova, o perfil @galeradadireita no Instagram, que republicou o post que já havia circulado no ano passado, informou que retirou o conteúdo do ar após constatar “que era fake”. Sobre publicar sem checar a veracidade, Julio Cesar, responsável pela página, disse que “esta vez, infelizmente, passou” e que vai redobrar a atenção. No dia 10 de setembro, após contato com o Comprova, o perfil publicou uma errata. Na legenda, escreveu: “Boa tarde a todos!! A página Galera da Direita publicou esse post ontem (e) foi constatado que se trata de notícia fake. Peço desculpa a todos seguidores e vamos tomar mais cuidado com nossas publicações!! (Jo 8,32) ‘conhecereis a verdade e a verdade vos libertarás!!!’. Apesar da correção, há outros conteúdos considerados falsos e enganosos na página, como o que distorcia informações para afirmar que a Organização Mundial da Saúde havia pedido desculpa por reviravoltas com hidroxicloroquina e o que dizia que a OMS concluiu que pacientes assintomáticos não transmitem a covid-19. O perfil posta conteúdos favoráveis a Bolsonaro, contra o ex-presidente Lula e a TV Globo. De acordo com o autor, ele não tem ligação com nenhum partido. “Sou somente um brasileiro que está cansado de ver o país ser saqueado por políticos ladrões e uma imprensa totalmente complacente”, afirmou ao Comprova. Já o perfil do Facebook que escreveu o post original não respondeu ao pedido de entrevista do Comprova. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica postagens suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais que tenham ligação com políticas públicas do governo federal ou com a pandemia. É o caso do post do @Galeradadireita, que distorce a informação de uma foto verdadeira para enganar os leitores e acusar ONGs pelos incêndios na Amazônia. Vivemos um momento delicado, em que a maior floresta do mundo está sob ameaça, sofrendo incêndios criminosos, e o presidente minimiza o perigo. No mês passado, ele chegou a afirmar que “Essa história de que a Amazônia arde em fogo é uma mentira“. A disseminação de conteúdos que reforçam essa visão, falsa, apenas agrava os riscos que a Amazônia corre. Não foi possível medir a viralização do post do @Galeradadireita no Instagram, mas, no Facebook, o conteúdo já foi compartilhado mais de 91 mil vezes desde 26 de agosto de 2019, quando começou a se espalhar. Além do Estadão Verifica, a Agência Lupa e o AFP Checamos também investigaram o post no ano passado. E o Comprova já mostrou outros conteúdos ligados a queimadas, como o vídeo que mostrava fogo controlado feita pelo Ibama, e não incêndio provocado para culpar o presidente. Falso, para o Comprova, é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original.
https://i0.wp.com/projet…=601%2C214&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/tuite-diz-que-matematica-nao-aceita-fake-news-mas-erra-ao-comparar-salarios/
COMPROVA
Tuíte diz que matemática não aceita fake news, mas erra ao comparar salários
null
2020-09-11
Tuíte verificado pelo Comprova usa valores incorretos para comparar o salário mínimo em 2012 e 2020 e desconsidera o contexto econômico dos dois períodos Conteúdo verificado: Post no Twitter compara o valor do salário mínimo em dólar entre os anos de 2012 e 2020 e diz que a “matemática não aceita fake news”. Tuíte que traz uma comparação entre o salário mínimo de 2012 com o de 2020 engana ao desconsiderar a manutenção do poder aquisitivo. A postagem viralizou no Twitter ao comparar o valor em dólares do salário mínimo dos dois anos, sugerindo que as pessoas passaram a ganhar menos no atual governo. A publicação afirma que o valor era de US$ 400 em 2012 e de US$ 187 em 2020. O Comprova fez os cálculos com base em informações do Banco Central e na legislação que regula o reajuste do salário mínimo. As quantias divergem do indicado na postagem. O salário mínimo de 2012 oscilou entre US$ 365,88 e US$ 297,60. Em 2020, o valor ficou entre US$ 247,04 e US$ 176,22 até 10 de setembro. Além disso, o tuíte não considera o contexto econômico do período. Especialistas consultados pelo Comprova confirmam que a política monetária do governo atual contribuiu para a desvalorização do real frente ao dólar, mas também afirmam que a pandemia, o desemprego e a queda de juros iniciados nos governos anteriores contribuíram significativamente para este cenário. Enquanto 2012 era o segundo ano de mandato da ex-presidente Dilma Rousseff (PT), 2020 é o segundo ano de gestão do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O Comprova tentou contatar o autor da postagem pelo Twitter e Instagram para entender a base do cálculo e o objetivo da mensagem. Não houve resposta até a publicação desta reportagem. Como verificamos? O Comprova buscou informações em sites de notícias sobre o valor do salário mínimo definido para os anos de 2012 e 2020. No site do Banco Central, pesquisou informações sobre a cotação do dólar nos dois anos. Também buscamos as leis federais 12.382/11 e 13.152/15, que definiram a política de valorização do salário mínimo entre os anos de 2012 e 2019. Ouvimos ainda a análise de dois economistas: Jocildo Fernandes Bezerra, professor de Política Monetária da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), e Clemente Ganz Lúcio, diretor técnico do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) até fevereiro deste ano. Verificação Valor do salário mínimo O salário mínimo em 2012 era de R$ 622. Segundo os dados do Banco Central, o dólar teve a menor cotação de 2012 em 29 de fevereiro, quando foi negociado a R$ 1,70. A maior cotação da moeda naquele ano foi de R$ 2,09, em 18 de dezembro. O que significa que o salário mínimo de 2012 oscilou entre US$ 365,88 e US$ 297,60. Já em 2020, o valor do salário mínimo é R$ 1.045. Neste ano, o menor valor do dólar foi registrado em 2 de janeiro, quando a moeda foi negociada a R$ 4,02. O salário mínimo de 2020, porém, só começou a vigorar em fevereiro. Desde então, o menor valor do dólar foi de R$ 4,23, em 4 de fevereiro e o maior foi de R$ 5,93, em 14 de maio. Isso significa que o salário mínimo deste ano oscilou entre US$ 247,04 e US$ 176,22 até agora. Em 2011, entrou em vigor a lei 12.382, que determinava a política de valorização de longo prazo do salário mínimo, com regras para o reajuste da remuneração a ser paga entre 2012 e 2015. Por essa política, o salário mínimo era reajustado de acordo com a inflação do último ano mais a variação do Produto Interno Bruto (PIB) dos dois anos anteriores. A política de valorização do salário mínimo foi renovada em 2015, pela lei 13.152, com as regras para reajuste entre 2016 e 2019. A partir de 2020, o governo federal passou a adotar uma nova regra de reajuste do salário mínimo, que levava em consideração apenas a inflação do último ano, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Com isso, o reajuste do mínimo deixou de conceder um aumento real no valor recebido pelos trabalhadores anualmente. O que dizem os especialistas Em entrevista ao Comprova, o professor da UFPE Jocildo Bezerra disse que é comum que se compare o valor do salário mínimo com o dólar para poder analisar o poder de compra dos trabalhadores em diferentes países, por exemplo. Para esclarecer esse ponto, ele citou um levantamento feito, no ano passado, pelo site Picodi, que compara o poder de compra dos salários mínimos de 52 países. Segundo Bezerra, é preciso lembrar que há muitas diferenças no ambiente econômico entre 2012 e 2020. “Em parte, o elevado desemprego que nós temos hoje no Brasil é derivado da política econômica do governo Dilma [Rousseff, do PT, presidente entre 2011 e 2016]. Desse ponto de vista, não dá muito para desacreditar o governo atual em relação ao governo Dilma. E nós também tivemos um choque externo que foi a pandemia”, afirma. Ele acredita, porém, que um dos principais fatores para a alta do dólar foi a queda na taxa de juros, que teria ocorrido de forma excessiva e numa velocidade muito grande nos últimos anos. Como juros menores significam ganhos menores para quem investe em títulos e mercado de capitais, muitos investidores foram retirando seu dinheiro do Brasil, argumenta Bezerra. “O dólar já vinha subindo antes da pandemia por causa dessa aceleração na queda da taxa de juros que começou em 2016, mas se acentuou a partir de maio de 2019”, diz. O Comprova também consultou Clemente Ganz, que foi diretor técnico do Dieese até fevereiro deste ano. Ele ressalta que a redução do salário mínimo em dólares não implica na queda do poder aquisitivo: “Você não pode dizer que o valor do salário mínimo hoje é metade do poder de compra que ele tinha em 2012, isso não é verdade. O salário mínimo não teve uma redução a metade, pelo contrário, a média do poder de compra foi preservado”. Clemente explica ainda que a comparação pela taxa de câmbio é “correta, do ponto de vista formal”, mas que há metodologias mais adequadas para comparar o salário mínimo entre nações. Uma delas é o câmbio de paridade do poder de compra, que consiste em pegar um produto – que não se altere entre os países analisados – e ver quantas unidades podem ser compradas com o salário mínimo de cada país. “Um sanduíche do McDonalds é o mesmo em qualquer lugar. Por exemplo, nos Estados Unidos, com um salário mínimo, eu compro 100 sanduíches; na Nigéria eu compro 20, e assim por diante”. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica postagens suspeitas que tenham viralizado nas redes sociais que tratam das políticas públicas do governo federal ou da pandemia da covid-19. É o caso desse tuíte publicado pelo perfil @pedromachadobr, que tenta comparar a política econômica de salários aplicada pelos governos Dilma Rousseff e Jair Bolsonaro. A publicação teve 73,4 mil curtidas e 11,9 mil compartilhamentos no Twitter. Recentemente, o Comprova fez outras verificações sobre políticas públicas do governo federal e mostrou que, com a correção pela inflação, o dólar sob Bolsonaro não é o mais caro desde a criação do Plano Real; ser enganoso que o Exército teria refeito todo o trecho da transposição do Rio São Francisco inaugurado pelos ex-presidentes Michel Temer (MDB) e Lula (PT) e ser falsa uma publicação que usava dados da aprovação de Lula para tratar do apoio popular ao presidente Jair Bolsonaro. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Políticas públicas']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/tuite-engana-ao-afirmar-que-sol-mata-o-coronavirus/
COMPROVA
Tuíte engana ao afirmar que sol mata o coronavírus
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2020-09-10
Tuíte faz referência a estimativas de um estudo que se baseia em modelos antigos, criados para outros vírus. Especialistas ouvidos pelo Comprova dizem que estudo não tem nenhuma conclusão nova Conteúdo verificado: Tuíte afirma que, segundo cientistas, o sol do meio-dia é eficaz na erradicação do SARS-CoV-2 e mata o vírus em 34 minutos. É enganosa uma postagem no Twitter que aponta possíveis benefícios da exposição ao sol contra a covid-19. De autoria do perfil @AlanLopesRio, a postagem diz que cientistas teriam afirmado que permanecer 34 minutos no sol seria suficiente para “matar o vírus” (inativá-lo no organismo humano). Especialistas atestam que essa relação não tem embasamento científico. O Comprova localizou um artigo publicado, em junho, na revista “Photochemistry and Photobiology” que menciona a relação entre exposição ao sol e inativação do vírus, citando um intervalo de tempo de 34 minutos. No entanto, nele existem problemas metodológicos que inviabilizam o estabelecimento dessa relação. “Não tem nenhuma conclusão nova e nenhum dado real nesse estudo. Aí eles jogam com esse tipo de argumento, que é ‘ruim para a saúde não tomar sol’. Claro, é mesmo”, avalia o professor do Instituto de Física da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e integrante do grupo de estudos de desinformação em redes sociais da Unicamp, ouvido pelo Comprova, Leandro Tessler. Como verificamos? Para checar as informações no tuíte de @AlanLopesRio fizemos, em primeiro lugar, uma busca no Google para entender a possível eficácia da exposição à luz solar no tratamento da covid-19. Por meio dela, encontramos notícias em sites brasileiros, como o portal IG Saúde, e americanos, como NY Post, datados da segunda quinzena de junho, que tratam dessa relação. As reportagens mencionam o estudo citado acima, que aborda a mesma duração de exposição ao sol do post. Com a leitura das matérias, chegamos a um estudo publicado em 5 de junho na revista “Photochemistry and Photobiology”, da Sociedade Americana de Fotobiologia, sobre a “Inativação estimada dos coronavírus por radiação solar, com foco em especial na covid-19”. Procuramos, então, especialistas que pudessem comentar as conclusões da pesquisa. Conversamos com o infectologista Eduardo Sprinz, professor de medicina da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e chefe do Serviço de Infectologia do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA), com o professor Leandro Tessler, do Instituto de Física da Unicamp, e com a professora de virologia Ana Claudia da Franco, também da UFRGS. Procuramos, ainda, o autor da postagem no Twitter, pela rede social e por e-mail. Até a data de publicação desta checagem, ele não retornou os contatos. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 10 de setembro de 2020. Verificação 34 minutos de sol O estudo publicado na revista da Sociedade Americana de Fotobiologia é assinado por Jose-Luis Sagripanti e C. David Lytle, dois pesquisadores aposentados. O Comprova entrou em contato com Leandro Tessler, professor do Instituto de Física da Unicamp e integrante do grupo de estudos de desinformação em redes sociais da universidade, para saber mais sobre as conclusões do artigo. Em junho, quando as notícias sobre a pesquisa foram divulgadas, ele publicou no Twitter alguns questionamentos sobre o que estava sendo veiculado na imprensa. Na postagem alvo desta verificação, o autor escreve que “cientistas afirmaram que sol do meio-dia é extremamente eficaz na erradicação do vírus. Segundo o estudo, o sol mata o coronavírus em 34 minutos”. À nossa reportagem, Tessler explicou, porém, que os dados apresentados no artigo “não medem, apenas estimam a sensibilidade do SARS-CoV-2 à radiação UVC. Além disso, o período de exposição de 11 a 34 minutos ao sol do meio-dia valeria para a maioria das cidades norte-americanas durante o verão. Para São Paulo, eles fazem o cálculo, o período seria bem mais curto se isso fosse correto”, afirma Tessler. Por causa do método utilizado pelos pesquisadores, Tessler diz que é preciso “olhar com cuidado” para o estudo. Segundo o professor, o artigo não chega a detalhar se a ação dos raios ultravioleta seria eficaz contra o vírus encontrado em superfícies ou como uma forma de tratamento para pessoas infectadas. “Eles não fazem nenhuma medida do efeito. Eles fizeram um modelo anos atrás, […] para o vírus da gripe. E não tem nenhuma medida nem para o SARS-CoV nem para o SARS-CoV-2. Se olhar a tabela 1, onde está ‘D37’, está em branco. Então, não é um resultado. Tudo isso é uma estimativa feita com modelos para outros vírus”, completa. Fica em casa No mesmo tuíte, o perfil ainda afirma que “quem determinou a prisão domiciliar queria um genocídio em massa. O ‘fica em casa’ é uma fraude”. No estudo, Jose-Luis Sagripanti e C. David Lytle fazem considerações sobre medidas como lockdown e campanhas para que os cidadãos fiquem em casa. Segundo os pesquisadores, “dados epidemiológicos disponíveis gratuitamente (em 29 de maio de 2020) demonstram que as medidas de bloqueio que impedem indivíduos saudáveis de permanecerem ao ar livre não resultaram em uma diferença óbvia e estatisticamente significativa nas infecções por milhão de habitantes quando comparados aos países onde indivíduos saudáveis estavam livres para permanecer ao ar livre, com potencial exposição à radiação solar. Se o aprisionamento de cidadãos saudáveis pode não ser determinante como essas estatísticas sugerem, então o papel potencial de estar fora de casa, exposto à luz solar direta ou espalhada, na pandemia de covid-19 não deve ser subestimado”. Para Tessler, os autores fizeram analogias que são pouco críveis. “Eles citam Suécia, Bielorrússia, Nicarágua, Uruguai, Indonésia, Coréia do Sul e Namíbia. Tem de olhar com cuidado o que aconteceu em cada um desses países. O Brasil tem muito sol e a pandemia está correndo solta. A Índia também. Então, não é parâmetro importante o que eles estão argumentando”, conclui o professor. O pesquisador da Unicamp acrescenta que há fatores importantes que não foram considerados: “Tem outra questão que acho ser muito mais relevante, que é a umidade do ar. Ele (o vírus) é desativado em ambiente seco. Isso é muito mais ativo contra o vírus do que essa suposta exposição ao ultravioleta. Inclusive, porque se você ficar exposta ao sol por 34 minutos ao meio-dia todos os dias, é muito provável que desenvolva câncer de pele. Não é só o vírus que é sensível à radiação ultravioleta do sol, sua pele também é.” O Comprova já fez verificações relacionadas ao distanciamento social, como a que apresenta somente parte de uma entrevista do governador de Nova York para afirmar que o isolamento foi em vão e a que trata sobre uma pesquisa de Harvard que teria concluído que isolamento seria capaz de piorar a pandemia. Vitamina D Estudos já mostraram que a exposição ao sol é fonte de vitamina D. Entretanto, segundo as pesquisas, a falta de vitamina D está relacionada à resposta imune do organismo ou a problemas respiratórios. Isso não quer dizer que sua presença seria suficiente para eliminar o novo coronavírus. Os estudos não são conclusivos, apenas estabelecem correlação, não causa e efeito. “O que existe é uma associação de quadros mais graves (de covid-19) em pessoas com baixa quantidade de vitamina D”, pontua o infectologista Eduardo Sprinz. “As vitaminas são essenciais para o bom funcionamento do sistema imune, mas não há comprovação de que a vitamina D seja mais importante do que outras”, complementa a professora Ana Claudia Franco. A vitamina D envolve dois compostos: D2 e D3, obtidos principalmente com a exposição à luz solar. Para que corpo seja capaz de produzir essas substâncias da maneira correta, o ideal é que tronco, braços e pernas recebam raios de sol, sem filtro solar, por cerca de 15 minutos por dia. A deficiência de vitamina D é comumente ligada a problemas ósseos, mas recentemente também tem aparecido como relacionada a dificuldades pulmonares. Uma pesquisa de 2018 apontou que a falta da vitamina D é capaz de influenciar no mau funcionamento respiratório e na saúde de adultos de meia-idade. Uma publicação feita em 28 de agosto por endocrinologistas e pneumologistas da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) pontua que “dados clínicos mostram benefícios na prevenção de infecções respiratórias e melhora da função pulmonar quando pacientes com deficiência de vitamina D são suplementados. No momento da redação deste artigo, não havia dados publicados sobre a suplementação de vitamina D para pacientes com covid-19.” Em outro trecho, afirma que a “prevenção de infecções respiratórias e a melhora da função pulmonar são benefícios adicionais observados quando a deficiência de vitamina D é tratada. Até agora, qualquer efeito protetor da vitamina D especificamente contra covid-19 grave permanece obscuro.” O autor do post O conteúdo investigado foi encontrado no perfil @AlanLopesRio no Twitter e também em um perfil com o mesmo nome no Facebook. O mesmo homem aparece nas fotos de perfil e de capa das duas redes sociais e as postagens têm praticamente os mesmos conteúdos. Ambas também contêm indicações ao “Movimento Direita Inteligente”. Na descrição da página do movimento encontram-se os dizeres “conservador nos costumes e liberal na economia” e o destaque do apoio de mais de 14 anos ao presidente Jair Bolsonaro, ex-deputado federal. No Twitter, além da postagem em que o autor do perfil afirma que “o fica em casa” é uma fraude, há outros conteúdos que desacreditam a gravidade da emergência sanitária e disseminam informações falsas. Em um deles, ele comenta uma imagem de uma aglomeração em uma praia carioca com a legenda “O Rio de Janeiro finalmente acordou!”. Evitar aglomerações é uma das recomendações das principais autoridades de saúde do mundo para evitar a transmissão do novo coronavírus. Em outra postagem, o perfil defende o uso da cloroquina para pacientes com o novo coronavírus. Ele diz que a atriz Camila Pitanga fez uso do medicamento, insinuando que ela apresentou sintomas da covid-19, e afirma que a mídia, os governadores, os prefeitos e o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, “fizeram uma propaganda genocida contra o medicamento e impediram o povo de se salvar”. Lopes omite que a atriz, na verdade, contraiu malária – cujo tratamento padrão é realizado com a cloroquina. Pitanga, em entrevista à TV Globo, afirmou ter tido seu nome vinculado à desinformação nas redes sociais. Conteúdos alegavam que a atriz estava com a covid-19 e fez uso do medicamento. À época, as agências Aos Fatos e Lupa verificaram algumas dessas postagens, mostrando se tratar de conteúdos falsos. Até o momento, apesar de eficaz contra a malária, não existem evidências científicas robustas que atestem a eficácia da cloroquina no tratamento de pacientes com o novo coronavírus. Nas páginas, há também um vídeo em que o autor do tuíte investigado pelo Comprova anuncia sua pré-candidatura a vereador no Rio de Janeiro sem, no entanto, indicar por qual partido. Com o adiamento das eleições municipais de 2020, o prazo para registo de candidaturas foi estendido para o dia 26 de setembro. Lopes não respondeu aos contatos do Comprova. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova monitora e verifica conteúdos suspeitos que circulam nas redes sociais sobre políticas públicas do governo federal, eleições municipais e a pandemia de covid-19. Postagens falsas ou enganosas envolvendo o novo coronavírus causam ainda mais danos nas redes sociais porque podem colocar a saúde das pessoas em risco. É o caso do conteúdo em questão que, ao propagar uma informação sem embasamento científico sobre uma doença contra a qual não há vacina nem tratamento eficaz, pode incentivar o descumprimento das recomendações das principais autoridades sanitárias do mundo para o controle da pandemia. Até a data de publicação deste texto, a postagem de @AlanLopesRio somava mais de 16 mil interações no Twitter. No Facebook, a publicação tinha sido compartilhada 315 vezes. Não é a primeira vez que conteúdos sugerindo tratamentos sem eficácia comprovada contra o coronavírus viralizam nas redes sociais. O Comprova já verificou conteúdos falsos e enganosos sobre a ozonioterapia, ivermectina, hidroxicloroquina e sobre o chamado tratamento precoce contra a covid-19. Em junho, o Coletivo Bereia checou um conteúdo similar à postagem objeto desta verificação, concluindo ser enganoso. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/post-confunde-ao-comparar-letalidade-da-covid-19-com-outras-doencas/
COMPROVA
Post confunde ao comparar letalidade da covid-19 com outras doenças
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2020-09-08
Tweet que minimiza a pandemia esconde que tanto a mortalidade quanto o total de óbitos e de casos diagnosticados da doença provocada pelo novo coronavírus são altos Conteúdo verificado: Post no Twitter afirma que o tratamento ou a vacina contra febre amarela, dengue, tuberculose, aids e sífilis não são obrigatórios e que por isso a vacina contra covid-19 não deveria ser compulsória. A publicação cita que a “taxa de morte” do novo coronavírus é baixa. Um tuíte viral faz uma comparação enganosa entre os índices de mortes da covid-19 e os de febre amarela, dengue, tuberculose, aids e sífilis para minimizar os impactos da doença causada pelo novo coronavírus. De fato, a letalidade (razão entre número de mortes e o total de pacientes) da covid-19 é menor do que as de febre amarela, tuberculose e aids, mas outros indicadores – como mortalidade (mortes em relação ao total da população) e o total de óbitos e de casos diagnosticados – são muito maiores para a covid-19, fazendo com que a doença seja tratada como uma emergência no mundo todo. O tuíte analisado compara diferentes doenças para questionar a possível obrigatoriedade de uma vacina contra o novo coronavírus. Apesar de ainda não existir um imunizante aprovado contra a covid-19, a possibilidade de vacinação compulsória está prevista em lei sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em fevereiro. Além disso, duas das doenças citadas – febre amarela e tuberculose – têm vacinas disponíveis. O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) estabelece a obrigatoriedade da vacinação das crianças nos casos recomendados pelas autoridades sanitárias. É importante destacar ainda que as enfermidades mencionadas no tuíte têm formas de transmissão bastante diferentes, o que dificulta a comparação entre elas. Apenas na tuberculose o contágio é por via aérea, como na covid-19. Febre amarela e dengue têm transmissão por vetores contaminados (mosquitos). Já aids e sífilis podem ser transmitidas por sexo desprotegido ou de mãe para filho, durante a gestação, entre outras formas. !function(e,i,n,s){var t=”InfogramEmbeds”,d=e.getElementsByTagName(“script”)[0];if(window[t]&&window[t].initialized)window[t].process&&window[t].process();else if(!e.getElementById(n)){var o=e.createElement(“script”);o.async=1,o.id=n,o.src=”https://e.infogram.com/js/dist/embed-loader-min.js”,d.parentNode.insertBefore(o,d)}}(document,0,”infogram-async”); Números de cada doença Infogram Como verificamos? O Comprova buscou dados de números de mortes, casos diagnosticados e outros indicadores relevantes das doenças citadas no portal do Ministério da Saúde. Os boletins epidemiológicos mais recentes estão disponíveis neste link. O site do Departamento de Condições Crônicas e Infecções Sexualmente Transmissíveis também foi fonte de informações adicionais. A reportagem também consultou o DataSUS, ferramenta de estatísticas do Ministério da Saúde, para obter dados de morbidade hospitalar no Sistema Único de Saúde (SUS). Os números consolidados mais recentes disponíveis nessa plataforma são de 2018. Por fim, conversamos por telefone com Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), e com Fernando Carvalho, epidemiologista da Universidade Federal da Bahia (Ufba), para contextualizar os números consultados. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 8 de setembro de 2020. Verificação Letalidade da covid-19 A taxa de letalidade da covid-19 no Brasil, de 3,4%, realmente é baixa em comparação com a da febre amarela, da aids e da tuberculose. No entanto, o número de casos confirmados é muito maior do que o número de diagnósticos das outras doenças citadas. De acordo com especialistas ouvidos pelo Comprova, os mais de 4 milhões de infectados pelo novo coronavírus fazem com que ela seja mais preocupante que a febre amarela, por exemplo, que possui uma vacina obrigatória no calendário de vacinação do ECA, e, mesmo com uma taxa de letalidade de 16,7%, registrou apenas 18 casos entre julho de 2019 e maio de 2020, com três mortes. “A covid ainda é uma doença nova para nós e que a gente ainda está aprendendo, mas, ao mesmo tempo, nós temos 4 milhões de pessoas infectadas no Brasil e mais de 120 mil mortos. Então, a gente não pode desprezar, como sendo uma doença sem repercussão. Pode até, comparada com outras, ter uma letalidade menor, mas com esse número tão grande de pessoas infectadas, uma letalidade que pode não ser tão grande se transforma em um absurdo como esse que a gente tem”, explica Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm). “Fica difícil comparar letalidade por letalidade. Por exemplo, febre amarela é uma doença que tem uma letalidade bem mais alta, mas esse ano tivemos 18 casos no Brasil com três óbitos. Então, não dá para comparar com 4 milhões de casos, mesmo com a letalidade mais baixa. Os números que a gente tem são incomparáveis com qualquer uma dessas aí, tanto tuberculose, aids, febre amarela. Qualquer uma delas a gente não consegue comparar esses números”, prosseguiu. Diferenças entre as doenças citadas A covid-19 é uma doença nova: os primeiros casos foram registrados na China em dezembro de 2019. Ainda não há vacina ou tratamento reconhecidamente eficaz contra o novo coronavírus. A aids é uma doença causada pelo vírus HIV, que ataca o sistema imunológico. A transmissão ocorre por sexo sem proteção, uso compartilhado de seringas, transfusão de sangue ou de mãe para filho, durante a gravidez. O tratamento, disponível gratuitamente no SUS, é feito com medicamentos antirretrovirais, que impedem a multiplicação do vírus no organismo. A estimativa mais recente do Ministério da Saúde é que, ao final de 2018, havia 900 mil pessoas vivendo com HIV no país. Dessas, 85% estavam diagnosticadas, 81% estavam vinculadas a algum serviço de saúde e 66% faziam uso dos medicamentos antirretrovirais. Ainda segundo o ministério, a política pública de combate ao HIV/Aids nas últimas três décadas tem se baseado na universalização do acesso à terapia antirretroviral, na testagem em massa nos serviços públicos, especialmente para as populações-chave, e na campanha de conscientização sobre prevenção. Assim como a aids, a sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST). Uma das formas mais importantes de prevenção é o uso de camisinha masculina ou feminina. A infecção é causada por uma bactéria chamada Treponema pallidum e é curável, com uso da penicilina benzatina (benzetacil). A sífilis congênita é transmitida para a criança durante a gestação e pode causar uma série de complicações. Por isso, é importante que a mulher faça o exame de sífilis durante o pré-natal para começar o tratamento. O Ministério da Saúde estimula a testagem e o uso de preservativo como forma de prevenção. A dengue, por sua vez, é causada por um arbovírus, transmitida pela picada do mosquito Aedes aegypti. Não existe um tratamento específico para essa doença — em geral, a assistência médica é feita de forma a aliviar os sintomas, com repouso e hidratação. Na maioria dos casos, há cura espontânea depois de 10 dias. A política do Ministério da Saúde contra dengue gira em torno do combate ao mosquito transmissor: tanto no trabalho de campo contra o Aedes como na conscientização da população sobre as formas de eliminá-lo. Em 2016, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou o uso da vacina Dengvaxia (CYD-TDV) para o combate à dengue. A imunização é voltada para pessoas de 9 a 45 anos. Além dela, o Instituto Butantan entrou na terceira fase de testes de uma outra vacina. Essa etapa deve terminar em 2024. A febre amarela também é causada por um vírus transmitido pela picada de mosquitos (dos gêneros Haemagogus e Sabethes em áreas silvestres e do Aedes aegypti em áreas urbanas). Em geral, ocorre em surtos de forma sazonal, de dezembro a maio. A vacina contra febre amarela, disponível no Calendário Nacional de Vacinação, protege contra a infecção durante a vida toda. Em março deste ano, o Ministério da Saúde iniciou uma campanha de vacinação contra a febre amarela em seis estados. “A febre amarela apresenta alta letalidade, por isso é importante que a população atenda aos alertas dos serviços de saúde para vacinação, e desta forma prevenir a ocorrência de casos, óbitos e surtos de maior magnitude. A vacina é segura e altamente eficaz (acima de 95%)”, disse, em nota oficial, Rodrigo Said, coordenador-geral de vigilância em arbovirose do Ministério da Saúde. Além da vacinação, o Ministério da Saúde também aposta na vigilância de primatas não-humanos que possam carregar o vírus causador da doença. A tuberculose é a única entre as doenças citadas no tuíte analisado que é transmitida pelo ar, assim como a covid-19. Diferentemente da doença causada pelo novo coronavírus, a tuberculose tem cura. O tratamento dura seis meses e está disponível gratuitamente no SUS. A infecção é causada pelo bacilo de Koch e geralmente afeta os pulmões, mas pode atingir outros órgãos. A vacina BCG, também ofertada no Calendário Nacional de Vacinação, protege as crianças das formas mais graves da doença. Em 2017, o Ministério da Saúde lançou o Plano Nacional de Combate à Tuberculose, baseado em pilares definidos pela Organização Mundial da Saúde (OMS) — entre as ações previstas, estão o incentivo à testagem e ao tratamento continuado até o fim. Movimento antivacina A onda antivacina que tem tomado o mundo preocupa os profissionais de saúde. Em pesquisa recente feita pelo Datafolha, 9% dos entrevistados disseram que não tomariam a vacina da covid-19 quando ela estivesse disponível, 89% disseram que tomariam e 3% não souberam responder. “O movimento antivacina é algo que você não consegue discutir, porque é mais ideológico, ele não consegue fazer uma discussão com base na ciência. Mas a gente tem o grupo dos hesitantes, que são aqueles que estão na dúvida sobre a vacina, ou por causa da eficácia, ou da segurança, ou têm medo dos eventos adversos. Essas declarações antivacina podem impactar esse grupo que, em geral, a ciência sempre consegue responder o que ele quer saber”, salienta Juarez Cunha, presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. O epidemiologista Fernando Carvalho acredita que, mesmo com o movimento antivacina, a procura para ser vacinado ganhará força na população. “Com uma doença como a covid, é importante que grande parte da população seja vacinada, principalmente aqueles que não tiveram contato com a doença. Como a gente não sabe se a doença deixa imunidade duradoura, então vai ser uma vacinação, ao que tudo indica, para os grupos de risco, os idosos, pessoas com comorbidade, pessoal de saúde. Não tenha dúvida de que, quando abrir a vacinação, vai ter candidatos em massa. Somente os malucos que estão querendo criar um clima”, disse. O debate sobre a obrigatoriedade da vacina voltou a ser assunto depois que o presidente Jair Bolsonaro disse que ninguém seria obrigado a se vacinar. A opinião foi corroborada pela Secretaria de Comunicação do Governo Federal (Secom), em posts nas redes sociais, e pelo vice-presidente Hamilton Mourão. “O que é que eu posso dizer: está errada essa afirmativa do presidente de que ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina. Pode, por lei pode. É recomendável, inclusive, que as pessoas tomem para não se prejudicar a si e aos outros. Inclusive, a lei vem, principalmente, por causa dos outros. A saúde é pública, não é do cidadão libertário individual”, prossegue Carvalho. Como o Comprova mostrou, a lei nº 13.979/20, de iniciativa do governo federal e sancionada por Bolsonaro, prevê a obrigatoriedade da vacinação enquanto seguir o estado de calamidade pública. O autor do tuíte O tuíte analisado foi publicado pelo perfil @canalCCore2, que tem 39,5 mil seguidores. Esse usuário faz postagens frequentes de apoio a Jair Bolsonaro e de divulgação de uma rede social para conservadores. Procurado pelo Comprova, ele argumentou que o tuíte analisado expressava sua opinião. “Usei essas doenças como exemplos de coisas que matam, sempre mataram, e ninguém nunca ligou”, disse. Ele citou uma reportagem do Estadão de janeiro de 2018 sobre um surto de febre amarela, que informava que o índice de letalidade da doença em São Paulo naquela ocasião era de 40%. Entre dezembro de 2017 e janeiro de 2018, foram registradas 81 mortes por febre amarela no país. Por que investigamos? A terceira fase do Projeto Comprova investiga conteúdos relacionados às políticas públicas e à pandemia do novo coronavírus. Conteúdos enganosos sobre a covid-19 são perigosos porque podem custar vidas. Até 8 de setembro, mais de 127 mil pessoas morreram no Brasil por causa da doença. A vacina é a maneira mais eficiente de imunizar a população. Postagens como a verificada levantam conspirações que não possuem embasamento científico. Isso pode levar as pessoas a optar por não se vacinarem, mesmo com uma possível obrigatoriedade. A postagem verificada teve mais de 4,6 mil interações até o momento da publicação deste texto. O Comprova já fez outras verificações envolvendo a vacina para a covid-19. Uma delas afirmava que a vacina causaria danos irreversíveis ao DNA, o que não é verdade. Outra mostrou que é falso que um projeto de lei previsse a prisão para quem se recusasse a ser vacinado. Enganoso, para o Comprova, é conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/projeto-de-lei-nao-preve-prisao-para-quem-se-recusar-a-tomar-vacina-contra-a-covid-19/
COMPROVA
Projeto de lei não prevê prisão para quem se recusar a tomar vacina contra a covid-19
null
2020-09-04
O que o projeto de lei em tramitação na Câmara propõe é a definição de uma lista de pessoas prioritárias para uma possível campanha de imunização. A possibilidade de adoção de vacinação obrigatória contra covid-19 já está prevista em lei sancionada pelo presidente da República em fevereiro Conteúdo verificado: Post no Facebook afirma que um projeto de lei em tramitação na Câmara dos Deputados quer obrigar as pessoas a tomarem a vacina contra a covid-19, sob pena de serem detidos por até um ano. É falso um post que afirma que o projeto de lei nº 3.982/20, protocolado pelo deputado federal Wolney Queiroz (PDT-PE) em 29 de julho de 2020, torne obrigatória a vacinação para covid-19. O PL prevê uma lista de pessoas prioritárias para uma possível campanha de imunização e sujeita o descumprimento das regras ao crime de “infração de medida sanitária preventiva”, descrito no Código Penal. A proposta de Queiroz acrescenta artigos a uma lei que já prevê a possibilidade de que a vacinação contra a covid-19 seja compulsória. Ela foi apresentada pelo próprio governo federal e sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro em fevereiro. Segundo o texto, a decisão se a vacina deve ou não ser obrigatória cabe às autoridades de saúde. O Ministério da Saúde já informou que não tornará a vacina compulsória. Especialistas em Direito ouvidos pela reportagem confirmaram que a proposta que tramita na Câmara não torna obrigatória a imunização. Dessa forma, as penas previstas no Código Penal para o crime de infração de medida sanitária preventiva só poderão ser aplicadas caso as autoridades assim determinarem. Ao Comprova, o deputado Wolney Queiroz disse que o objetivo do projeto é, apenas, definir uma lista de prioridade para a vacinação, considerando que milhões de pessoas devem querer se imunizar. Segundo o deputado, a punição valeria para agentes públicos que descumprissem a ordem de prioridade para beneficiar algum conhecido. O autor da postagem, o cantor gospel Sérgio Lopes, afirmou que após contato com a equipe do Comprova, fez pesquisas na internet e reconheceu que a postagem era falsa. Sérgio pediu desculpas pelo ocorrido e solicitou que sua assessoria retirasse o conteúdo das redes sociais (Instagram e Facebook). Como verificamos? O Comprova buscou o projeto de lei original no site da Câmara dos Deputados. A reportagem entrou em contato com a Casa para saber sobre a tramitação do PL. Também falamos com o autor do texto para saber mais detalhes. Em paralelo, o Comprova também entrevistou por WhatsApp três advogados sobre o argumento do post de que o “PL quer tornar a vacinação contra covid-19 obrigatória” e eles deram sua avaliação sobre o assunto. Também entramos em contato com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), que publicou uma nota oficial intitulada “declarações sobre a obrigatoriedade da vacinação no Brasil”. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 4 de setembro de 2020. Verificação O projeto de lei O PL foi protocolado em 29 de julho de 2020. Ele acrescenta trechos à lei 13.979, de 6 de fevereiro de 2020, de autoria do Governo, para “estabelecer procedimentos e ordem de prioridade para vacinação contra a covid-19”. A redação original determina que o Ministério da Saúde distribua gratuitamente a vacina em até 15 dias após a aprovação pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como “segura e eficaz”. Também estabelece a seguinte ordem de prioridade para a imunização: profissionais da saúde, idosos, pessoas com doenças do grupo de risco, profissionais de escolas e de atendimento ao público, jornalistas e pessoas saudáveis de idade inferior a 60 anos. O PL ainda prevê que “o descumprimento das medidas elencadas” será considerado “infração de medida sanitária preventiva”. Este é um dos crimes contra a saúde pública previstos no Código Penal. Na prática, estipula pena de detenção, de um mês a um ano, e multa para quem “infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa”. Até o dia 4 de setembro, a proposta só foi apresentada à Mesa Diretora e não recebeu nenhum encaminhamento. As comissões temáticas da Câmara estão com as atividades paralisadas por causa da pandemia. Sem o parecer das comissões, é necessária a aprovação de um requerimento de urgência para que a proposição seja apreciada pelo Plenário da Câmara, que está funcionando de forma virtual. O que diz o autor Em conversa com o Comprova, o deputado federal Wolney Queiroz disse que o objetivo do projeto de lei é estabelecer uma regra definindo quem terá preferência na vacinação, com a suposição de que grande parte da população deva buscar essa imunização contra o novo coronavírus. Segundo o parlamentar, ele nunca pensou na hipótese de que as pessoas sejam obrigadas a se vacinar e esse não é o intuito do projeto de lei apresentado. “Meu projeto, em hora nenhuma, quer obrigar ninguém a nada. O meu espírito é apenas de dar essa preferência no uso da vacina. Quem não quiser se vacinar, eu não fiz com essa preocupação. Eu mesmo não sei se vou me vacinar. Só imaginei que milhões de pessoas iam querer tomar a vacina no mesmo dia, no mesmo mês, e não teria para todo mundo. Aí, escolhi priorizar os mesmos grupos que já são escolhidos em outras vacinações, como a da gripe, por exemplo. A vacina da gripe tem critérios para ela. No entanto, ninguém é obrigado a se vacinar contra a gripe”, explicou. De acordo com Queiroz, o projeto de lei prevê a detenção apenas para quem tentar beneficiar alguém que não se encaixa na prioridade para vacinação do momento. “O objetivo da sanção era para o agente público que descumprisse o critério e quisesse proteger um conhecido. Um secretário de saúde que quisesse proteger um político, um cara famoso ou um cara rico, e quer colocar alguém de 18 anos para tomar a vacina na frente dos velhinhos do povo pobre porque o cara tem uma posição social, tem dinheiro, ou porque deu R$ 50 lá para furar a fila da vacina. É para esse tipo de gente, para o agente público, esse é o objetivo da lei. Fico perplexo como é que isso tomou um volume e um entendimento tão diverso daquele com o qual eu estava inspirado”, justificou. O deputado lembrou ainda que o artigo 268 do Código Penal tem um parágrafo que trata especificamente dos funcionários da saúde pública e de profissionais de saúde que tentem infringir uma determinação que busque conter a propagação de doença contagiosa. O que dizem os especialistas Em entrevista ao Comprova, o mestre em Processo Penal Daniel Bialski, explica que as leis têm o princípio da “taxatividade”. Isso quer dizer que só se poderia dizer que o PL torna a imunização obrigatória caso a obrigatoriedade estivesse expressamente escrita. “O legislador, quando impõe qualquer criação de nova ou retificação de norma já existente, precisa ser absolutamente claro nisso. Teria que implementar a lei prevendo, por exemplo, ‘quando disponível a vacina, ela também passa a ser item obrigatório’”, explicou Bialski. São as autoridades competentes que poderão determinar, ou não, a compulsoriedade da vacina, bem como a amplitude dessa eventual obrigatoriedade, afirmou ao Comprova, a especialista em direito administrativo Cecilia Mello. “Portanto, a penalidade prevista no PL somente terá incidência em relação à vacina se essa se tornar obrigatória”, disse. O texto do PL fala dos deveres do poder público quanto à distribuição do imunizante, pontua Fernanda Tórtima, advogada criminalista. Ela ainda ressalta que o texto em vigor da Lei nº 13.979/2020 determina apenas que as autoridades competentes poderão adotar medida de vacinação compulsória. “Não é possível extrair do texto legal, nem daquele já em vigor, nem do que poderá alterar a lei vigente, a conclusão de que a vacinação passará a ser compulsória.” Vacinas são obrigatórias? A Sociedade Brasileira de Imunizações publicou nota reiterando seu posicionamento em favor da vacinação e lembrando que a imunização já é obrigatória em alguns casos previstos em lei, cabendo punição em caso de desobediência: “É dever das autoridades públicas e dos profissionais da saúde conscientizar a população acerca da importância da vacinação, independentemente da obrigatoriedade, sob pena de vivermos retrocessos como a volta do sarampo devido às baixas coberturas vacinais. [A SBIm] Entende também que é dever de cada pessoa buscar a vacinação com o objetivo não apenas da proteção individual, mas também coletiva. É essencial lembrar que o artigo 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente (lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990) define a obrigatoriedade da vacinação para este grupo, cabendo a aplicação de penalidades pelo descumprimento” Lei assinada por Bolsonaro já prevê obrigatoriedade Também conhecida como “Lei do Coronavírus”, a lei nº 13.979 assinada em 6 de fevereiro de 2020 foi proposta pelo governo e sancionada por Bolsonaro. O artigo 3º diz que “para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional de que trata esta Lei, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competências, entre outras, as seguintes medidas: I – isolamento; II – quarentena; III – determinação de realização compulsória de: a) exames médicos; b) testes laboratoriais; c) coleta de amostras clínicas; d) vacinação e outras medidas profiláticas; ou e) tratamentos médicos específicos.” O Ministério da Saúde, no entanto, já antecipou que não irá adotar a compulsoriedade da vacina contra a covid-19 mas que irá incentivar a imunização. Uma das postagens investigadas e com o maior número de compartilhamentos foi a do cantor gospel Sérgio Lopes, que afirmou que fez a publicação a partir do que havia visto nos stories de um dos seguidores. Após contato com a equipe do Comprova, ele disse ter feito pesquisas na internet e reconheceu que a postagem era falsa. Sérgio pediu desculpas pelo ocorrido e solicitou que sua assessoria retirasse o conteúdo das redes sociais (Instagram e Facebook). Por que investigamos? O Projeto Comprova checa conteúdos virais nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19 e também sobre políticas públicas. Publicações duvidosas enfraquecem a confiança da população em autoridades sanitárias e dificultam os esforços oficiais de combate à doença. O post analisado teve mais de 1,5 mil interações no Facebook, segundo a plataforma de monitoramento CrowdTangle, até a publicação deste texto. Ainda não há substância ou medicamento que seja capaz de prevenir a contaminação pelo novo coronavírus. Por isso, a vacinação é a única alternativa para salvar vidas e permitir à população retomar as atividades econômicas de forma segura. Esta não é a primeira vez que as candidatas a vacina para a covid-19 foram alvo de desinformação. Há boatos que enganam ao apontar utilização de células de feto abortado, enquanto outros falsamente alertam para o risco de danos irreversíveis ao DNA. Em outros casos, as pesquisas por imunizantes são relacionadas em teorias da conspiração. O post checado pelo Comprova viralizou no momento em que Jair Bolsonaro disse a uma apoiadora que “ninguém pode obrigar ninguém a tomar vacina”. A fala do presidente foi repercutida pela Secretaria de Comunicação (Secom) no Twitter. Apesar disso, uma lei assinada pelo próprio presidente em fevereiro dá a possibilidade para as autoridades determinarem o caráter compulsório da imunização. Bolsonaro prometeu vetar o projeto de lei de Wolney Queiroz, caso ele passe no Congresso. Este conteúdo também foi checado pelo Boatos.org. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C145&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-dissemina-informacoes-falsas-para-afirmar-que-a-pandemia-e-um-plano-de-controle-populacional/
COMPROVA
Vídeo dissemina informações falsas para afirmar que a pandemia é um plano de controle populacional
null
2020-09-03
É falso que os testes não funcionam e que as vacinas que estão sendo desenvolvidas contra a covid-19 sejam parte de um plano para reduzir a população Conteúdo verificado: Vídeo que circulou em várias redes sociais mostra um italiano lendo e comentando um texto com o objetivo de afirmar que pandemia é um plano de controle e redução populacional, desencorajando as pessoas a fazerem testes para diagnosticar a doença e tomar uma possível vacina. São falsas as informações existentes em um vídeo no qual um homem afirma que a covid-19 é a sigla de “conspiração para vacinação com inteligência artificial”. Ele também afirma que existe um plano para controlar e reduzir a população mundial em 80% e que nenhum dos testes é capaz de identificar com precisão o vírus SARS-CoV-2. O nome da doença, covid-19, é uma abreviação de coronavirus disease 2019, algo como “doença do coronavírus de 2019” em inglês. O nome foi dado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), seguindo a orientação internacional para denominação de doenças que existe desde 2015. O nome do vírus, SARS-CoV-2, significa Severe Acute Respiratory Syndrome-related Coronavirus 2, ou, em tradução livre, “Coronavírus 2 relacionado à Síndrome Respiratória Aguda Grave”. O vírus foi batizado pelo Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus. Em relação às vacinas, antes de serem aprovadas, elas são submetidas a uma longa série de testes em células, em dois tipos de animais e, por fim, em três fases de ensaios clínicos em humanos. Todas essas etapas buscam identificar se o composto é eficaz e garantir que ele não produza efeitos colaterais graves. Depois que esses estudos são concluídos e os resultados são publicados, as autoridades sanitárias de cada país também avaliam o resultado para decidir se a vacina é segura antes de autorizar a imunização da população. Por fim, os quatro tipos de testes disponíveis no mercado brasileiro são capazes de identificar marcadores genéticos específicos do SARS-CoV-2, segundo a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). Alguns testes identificam proteínas específicas do novo coronavírus, enquanto outros rastreiam anticorpos criados após o contato dele com o corpo. Como verificamos? Para investigar a veracidade das afirmações do vídeo, dividimos a verificação em três blocos. Primeiro, consultamos as normativas da OMS, do Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus e do Código Internacional de Classificação e Nomenclatura de Vírus para compreender quais são os critérios para estabelecer o nome de uma nova doença. Na sequência, entrevistamos Daniel Mansur, professor de Imunologia da UFSC e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia, para compreender como funcionam as vacinas e os testes que estão sendo realizados com possíveis imunizantes contra o novo coronavírus. Entramos em contato com o Ministério da Saúde e a Anvisa para entender como funcionam os testes para o diagnóstico da covid-19 no Brasil. Sobre esse assunto, conversamos também com a professora Clarice Weis Arns da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e com Paulo Vitor Simas, pós-doutor em Virologia no Instituto Pirbright, na Inglaterra. Ele também trabalha com a validação de métodos moleculares de diagnóstico da covid-19 no Instituto Nacional de Saúde do Peru. Por fim, procuramos o perfil que divulgou o vídeo no Instagram. Além de não responder aos questionamentos do Comprova, a página bloqueou o perfil de um dos verificadores que tentou o contato.Também questionamos um perfil do Facebook que reproduziu o conteúdo. Até a publicação deste texto, não houve retorno. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 3 de setembro de 2020. Verificação O significado da covid-19 O argumento central do homem que aparece falando italiano no vídeo – há uma voz sobreposta que dubla em português – é que a pandemia do novo coronavírus seria, na verdade, um “plano internacional de controle e redução de populações”. Segundo ele, as vacinas contra a covid-19 que estão sendo testadas têm por objetivo enfraquecer o sistema imunológico das pessoas, deixando-as mais suscetíveis a outras enfermidades. Nesse sentido, os governos da maioria dos países estariam apoiando o desenvolvimento dos imunizantes para reduzir suas populações. Apoiando-se nesse argumento, o homem afirma que covid-19 não seria o nome da doença causada pelo vírus SARS-CoV-2, mas uma sigla para “Certificado de Identificação de Vacinação de Inteligência Artificial” — que, segundo ele, seria o nome dado ao plano de redução populacional. O homem afirma ainda que o número 19 faria referência ao ano em que o plano foi criado. Tais informações são falsas. Covid-19 quer dizer 2019 coronavirus disease, expressão em inglês que significa doença do coronavírus de 2019. Isso porque a enfermidade foi identificada no ano de 2019, a partir de um surto na cidade de Wuhan, na China. Esse nome foi dado pela OMS, em 11 de fevereiro de 2020. O nome oficial das doenças é definido pela entidade porque é ela quem organiza a Classificação Estatística Internacional de Doenças e Problemas Relacionados com a Saúde (CID). A nomenclatura segue as determinações de boas práticas para nomear novas doenças humanas infecciosas, reunidas em um relatório elaborado pela OMS, em colaboração com a Organização Mundial de Saúde Animal (OIE, na sigla em inglês) e com a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, também na sigla em inglês). O documento sugere que os nomes de doenças incluam termos descritivos genéricos como síndrome, doença ou febre (syndrome, disease ou fever); patógenos associados como coronavirus, salmonella ou parasitic; e o ano da primeira vez em que a doença foi detectada ou reportada. A data deve ser usada quando houver necessidade de diferenciar eventos similares que aconteceram em anos diferentes. Para evitar estigmatização de países, populações, culturas ou animais, o relatório determina que os nomes de novas doenças não podem conter localizações geográficas, como “gripe espanhola”; nomes de animais, como “gripe suína” e “gripe aviária”; nem termos que possam incitar medo como morte, fatal, e epidemia (death, fatal e epidemic). O vírus causador da covid-19 O nome do vírus que causa a covid-19 é SARS-CoV-2, que significa Severe Acute Respiratory Syndrome-related Coronavirus 2, ou Coronavírus 2 relacionado à Síndrome Respiratória Aguda Grave em tradução livre. Ele leva esse nome porque pertence à mesma família do vírus SARS-CoV, responsável pela epidemia de SARS ocorrida em 2003. O nome foi dado pelo Comitê Internacional de Taxonomia de Vírus (ICTV, na sigla em inglês), que existe desde 1966. O Código Internacional de Classificação e Nomenclatura de Vírus, editado pela ICTV, prevê que os nomes dos vírus sejam identificações internacionais e, por isso, não devem ser traduzidos para outras línguas ou alfabetos. Segurança das vacinas As vacinas passam por uma série de etapas para garantir que são eficazes e seguras para os seres humanos antes de chegar à população. De acordo com o imunologista Daniel Mansur, a primeira etapa, ainda no plano da biologia, é descobrir o que no vírus é o melhor alvo para a vacina. “No caso do SARS-CoV-2, a gente descobriu desde janeiro que o receptor de entrada na célula é o ECA2 e que a proteína do vírus que se liga nesse receptor era a spike. A partir daí, sabemos que se conseguirmos bloquear essa proteína, impedimos que o vírus entre na célula. Esse é o objetivo de todas as vacinas em desenvolvimento hoje”, afirma. A partir da descoberta desse alvo, os pesquisadores começam a pensar qual é a melhor estratégia para entregar o antígeno (molécula capaz de despertar a resposta imune) no corpo. É nesse ponto que as vacinas em teste atualmente se diferenciam, segundo Mansur. A vacina da chinesa Sinovac, que está sendo testada em parceria com o Instituto Butantan, em São Paulo, usa o vírus inativado, incapaz de fazer mal ao corpo. A vacina de Oxford, em parceria com o Bio-Manguinhos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), pega outro vírus que não faz mal aos seres humanos e adiciona uma proteína do SARS-CoV-2 dentro dele. Já a vacina da Pfizer usa o RNA para levar essa proteína para o corpo sem usar um vírus. As três estratégias podem ser capazes de gerar anticorpos. “Depois que você consegue comprovar em laboratório que células humanas reagem à vacina, você começa a fazer ensaios pré-clínicos em animais. Obrigatoriamente, tem que ser dois animais. O primeiro é um roedor, normalmente um camundongo. Se a vacina tiver eficácia nesse roedor, ela é testada em um primata não humano, um macaco. Em ambos os animais, o que se está verificando é se ela causa efeitos colaterais graves”, explica o professor. Se a vacina não gerar efeitos colaterais nesses animais, os pesquisadores dão início à fase 1 de testes em humanos, com grupos com menos de 100 pessoas. O objetivo é, também, avaliar se existem efeitos colaterais à imunização. “Por exemplo, é normal as pessoas terem febre leve ou vermelhidão no local da injeção. Isso são reações inflamatórias que a gente quer que a vacina induza para que o corpo possa reagir. Agora, se ela tiver uma Síndrome de Guillain-Barré [um distúrbio autoimune], é um efeito colateral grave. E a gente não quer que essa vacina continue”, diz Mansur. Se a fase 1 funcionar, a vacina entra na segunda etapa, quando o número de testados é expandido para as centenas. Nesse estágio, os pesquisadores buscam entender se pessoas de diferentes etnias, gêneros ou nacionalidades têm reações diferentes ao antígeno. Isso porque a humanidade é muito diversa e uma vacina precisa ser eficiente nesses diferentes grupos. Se essa fase também der resultados positivos, os pesquisadores avançam para a terceira, em que milhares ou dezenas de milhares de pessoas são vacinadas. Esse último estágio é decisivo para comprovar a eficiência das vacinas e a inexistência de efeitos colaterais graves. Por fim, mesmo com todas essas etapas de testes e com os resultados publicados para serem avaliados por outros cientistas, a vacina só pode ser administrada para a população se for autorizada pela autoridade sanitária competente de cada país, que deve revisar os resultados dos testes e decidir se o composto é seguro. No caso do Brasil, essa competência é da Anvisa, órgão do governo federal vinculado ao Ministério da Saúde. Entidades internacionais como a OMS podem, no máximo, ajudar com a logística de campanhas de vacinação. Mas o governo do país é soberano para aprovar a vacina ou não. De acordo com a professora Clarice Weis Arns, a validade de uma vacina não deveria ser um tema discutível. “Uma vacina, na verdade, nunca vai causar mal, porque ela já foi comprovada por vários testes”, afirma. Ela lembra que algumas pessoas podem ter alergias a componentes da vacina, mas são grupos minoritários. “Por exemplo, para o vírus da [gripe] influenza, uma parte importante da vacina é produzida em ovos embrionados de galinha. E, às vezes, o que pode acontecer é a pessoa ter uma alergia à albumina do ovo”, explica. Segundo Mansur, é difícil de imaginar que uma conspiração consiga passar por todas essas etapas e entregar uma vacina capaz de prejudicar a saúde de milhões de pessoas. “Imagine o tanto de gente que você teria que manter em silêncio em todos esses órgãos para não vazar uma informação como esta. Além disso, nós temos cerca de 200 vacinas em desenvolvimento. Todas elas estão competindo pelos mesmos mercados. As estratégias são muito diferentes umas das outras e os processos são muito diferentes uns dos outros”, lembra. De acordo com a OMS, existem — na data de publicação deste texto — 143 vacinas contra a covid-19 em estágio pré-clínico e 33 que já avançaram para os estudos em humanos, das quais 8 já estão na fase 3 de testes. Efetividade dos testes O vídeo afirma que os testes para diagnóstico da covid-19 não são capazes de detectar o novo coronavírus, mas que identificam outros organismos. Não é verdade. A professora Clarice Arns e o pesquisador Paulo Vitor Simas explicam que existem diferentes tipos de exames para detectar a presença do SARS-Cov-2. Os exames podem identificar partes específicas do material genético do vírus (biologia molecular) ou a resposta imunológica do organismo (presença de anticorpos). No caso dos testes moleculares, os cientistas pegam uma parte específica do sequenciamento genético do antígeno e comparam com a amostra do paciente. A técnica permite não apenas detectar a presença do SARS-CoV-2, como também diferenciá-lo de outras versões de coronavírus. Arns acrescenta que, mesmo em caso de mutação do SARS-CoV-2, a técnica molecular permanece eficaz: “São pequenas mutações, que o organismo ainda não percebe a diferença. O teste molecular usa aquela parte do genoma do vírus conservada, que não muta”. A professora também explica que os testes sorológicos se baseiam na resposta imunológica. ”Se uma pessoa tem contato com o vírus, o seu corpo irá produzir uma resposta imunológica que pode ser medida por diferentes ferramentas”, pontua Arns. Estudar a presença e quantidade dos anticorpos permite não apenas determinar se o organismo foi infectado pelo novo coronavírus, como também as características do contágio. A Anvisa faz uma ressalva quanto aos testes sorológicos: “existe a possibilidade de resultados falso positivos, isto é, do teste detectar a resposta imunológica (anticorpos) orientados para outras cepas de coronavírus, por exemplo, que não seja o Sars-Cov-2, devido a similaridade entre elas”. A pesquisadora afirma ainda que tanto os testes moleculares quanto os sorológicos são específicos para o antígeno estudado. Ou seja: “quando um teste é específico para SARS-CoV,-2 ele só vai identificar SARS-CoV-2”, afirma Arns. Portanto, não é possível que os exames para diagnosticar covid-19 detectem “pequenos vírus inofensivos ou detritos celulares que naturalmente fazem parte da nossa microbiota”, como defende o vídeo. Simas destaca que cada Estado faz suas próprias análises para atestar a eficácia dos exames: “Vale ressaltar que os testes são validados considerando critérios rigorosos exigidos pela legislação sanitária de cada país e que somente são aprovados aqueles que realmente são sensíveis e específicos”. Em resumo: os testes para diagnosticar a covid-19 não detectam o vírus em si, mas parte do seu material genético ou anticorpos produzidos pelo organismo em resposta a presença do antígeno. As características dos exames são específicas para SARS-CoV-2. Eventuais mutações do vírus não afetam a efetividade dos testes moleculares, que trabalham com o material genético. Os exames sorológicos, porém, podem identificar anticorpos de outros antígenos que não o novo coronavírus. Os fabricantes trabalham para minimizar essas ocorrências. Leia na íntegra a explicação da Anvisa sobre os tipos de testes para diagnosticar a covid-19. Propagadores do vídeo O vídeo foi publicado em 29 de agosto no Instagram pelo perfil @verdadeforadamidia. O conteúdo foi dublado por uma mulher por cima do áudio em italiano e traz legendas em português. Enviamos uma mensagem em 2 de setembro informando que a gravação estava sendo verificada pelo Comprova. Também questionamos qual era a fonte do material e se os responsáveis pelo perfil tinham atestado a veracidade das informações antes de compartilhá-lo. Em menos de 24 horas, a conta bloqueou o perfil que enviou as mensagens, sem retornar o contato da equipe. O mesmo vídeo, com a marca do @verdadeforadamídia, foi publicado por um canal do YouTube em 1º de setembro. A publicação foi removida da plataforma no dia seguinte por ferir os termos de serviço do site. Encontramos o contato do proprietário do canal no Facebook e enviamos uma mensagem no dia 2 de setembro. Até o momento da publicação deste texto, não houve resposta. Por que investigamos? A terceira fase do Comprova verifica publicações suspeitas sobre as políticas públicas do governo federal e sobre a pandemia de covid-19 que tenham tido grande viralização nas redes sociais. É o caso desse vídeo, que teve mais de 75 mil visualizações no YouTube e no Instagram. Diversos leitores do Comprova também receberam o vídeo pelo WhatsApp e sugeriram a verificação. Quando a publicação trata de medicações ou de vacinas contra a covid-19, a checagem é ainda mais importante. Informações equivocadas sobre esses temas pode colocar as pessoas em risco por estimulá-las a evitar tomar alguma medida de proteção contra o novo coronavírus. Uma nota técnica da Sociedade Brasileira de Imunologia afirma que a existência de mais de uma vacina é mais do que bem-vinda, considerando todas as incertezas sobre a disponibilidade de vacinas contra a covid-19 e quanto ao tempo de duração da resposta imune a esses compostos, além da quantidade de pessoas no mundo que precisarão ser imunizadas. As vacinas voltaram a ganhar destaque no debate nacional depois que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que não podia obrigar ninguém a tomar a vacina, o que é enganoso. A fala foi reproduzida, em seguida, pela Secretaria de Comunicação da Presidência da República. Desde o início da pandemia, o SARS-CoV-2 já levou a morte de 123,7 mil pessoas no Brasil e infectou ao menos 3,9 milhões de brasileiros. O Comprova já mostrou ser falso que a vacina contra a covid-19 cause danos irreversíveis ao DNA e que ela tenha um microchip para rastrear a população. O site italiano Facta e os brasileiros Aos Fatos, Boatos.org, Lupa e Fato ou Fake checaram o mesmo conteúdo e concluíram que ele é falso. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira. Atualização Esta verificação foi atualizada em 4 de setembro para inclusão de uma resposta da Anvisa.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/lei-assinada-por-bolsonaro-em-fevereiro-preve-vacinacao-compulsoria-diferentemente-do-que-ele-afirmou/
COMPROVA
Lei assinada por Bolsonaro em fevereiro prevê vacinação compulsória, diferentemente do que ele afirmou
null
2020-09-03
A Lei 13.979, de iniciativa do governo federal e sancionada pelo presidente da República em 6 de fevereiro de 2020, prevê em seu artigo terceiro a vacinação como uma das medidas compulsórias que podem ser adotadas pelo governo Conteúdo verificado: Presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou que ninguém pode obrigar ninguém a tomar a vacina contra a covid-19. O presidente Jair Bolsonaro (sem partido) afirmou nesta semana que “ninguém pode obrigar ninguém a tomar a vacina” contra a covid-19. Porém, uma lei de fevereiro deste ano, assinada por ele, prevê a possibilidade de realização compulsória da imunização. A declaração de Bolsonaro foi dada depois de uma apoiadora pedir para que o governo “não deixe fazer esse negócio de vacina”. A opinião do presidente ainda foi corroborada pela Secretaria de Comunicação do Governo Federal (Secom), em publicações nas redes sociais, e pelo vice-presidente Hamilton Mourão. A lei que prevê a obrigatoriedade da vacinação foi iniciativa do próprio governo federal e sancionada em fevereiro, ainda na época em que Luiz Henrique Mandetta era o ministro da Saúde. Atualmente, o cargo é ocupado de maneira interina pelo general Eduardo Pazuello. Ainda não há previsão de quando uma vacina contra a covid-19 estará disponível no mundo. Enganoso, para o Comprova, é conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano. Como verificamos? Alguns posts nas redes sociais diziam que a fala de Bolsonaro contrariava a lei nº 13.979/20. Procuramos, então, saber se a norma realmente existe e se prevê uma possível obrigatoriedade da vacinação. Por meio de pesquisa no Google, encontramos no site do Planalto, a lei assinada por Bolsonaro. Ao procurar mais informações, encontramos uma notícia na página da Câmara dos Deputados sobre o projeto de lei do deputado federal Wolney Queiroz (PDT-PE). Fizemos uma entrevista com ele por WhatsApp. Na sequência, consultamos a secional de São Paulo da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB SP) em busca de um porta-voz que pudesse comentar sobre a constitucionalidade da lei. Falamos com Caio Augusto Silva dos Santos, presidente do órgão paulista. Por último, entramos em contato com a Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), que publicou uma nota oficial sobre a declaração do presidente. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 3 de setembro de 2020. Verificação O que diz o governo A polêmica envolvendo a obrigatoriedade da vacina passou a ser assunto depois de uma declaração do presidente Jair Bolsonaro em 31 de agosto. Em um vídeo que circulou nas redes sociais, uma apoiadora pede que para que ele “não deixe fazer esse negócio de vacina, não, porque é perigoso”. Na sequência, Bolsonaro responde: “Ninguém pode obrigar ninguém a tomar a vacina”. No dia seguinte, a Secretaria de Comunicação do Governo Federal manifestou-se nas redes sociais reiterando a fala: “O governo do Brasil investiu bilhões de reais para salvar vidas e preservar empregos. Estabeleceu parceria e investirá na produção de vacina. Recursos para estados e municípios, saúde, economia, TUDO será feito, mas impor obrigações definitivamente não está nos planos”, dizia o texto, junto com uma imagem com a frase de Bolsonaro e o complemento: “O governo do Brasil preza pelas liberdades dos brasileiros”. O vice-presidente da República, Hamilton Mourão (PRTB), também endossou a defesa da desobrigatoriedade da vacina. Questionado por repórteres em Brasília, respondeu: “Acho que você pode encontrar gente que não quer tomar a vacina. É o que eu te digo: você vai agarrar à força? Foi isso que ele [Bolsonaro] quis dizer”. “Não quer dizer que ninguém vai tomar. O que ele quis colocar é que você não consegue ter a coerção para obrigar todas as pessoas a se vacinarem”, completou Mourão. Lei assinada por Bolsonaro prevê obrigatoriedade O artigo 3º da lei nº 13.979/20 dá respaldo para a realização compulsória de vacinação contra a covid-19. O texto, publicado em 6 de fevereiro, foi assinado pelo presidente Jair Bolsonaro. O trecho da lei diz o seguinte: “Para enfrentamento da emergência de saúde pública de importância internacional de que trata esta Lei, as autoridades poderão adotar, no âmbito de suas competências, entre outras, as seguintes medidas: I – isolamento; II – quarentena; III – determinação de realização compulsória de: a) exames médicos; b) testes laboratoriais; c) coleta de amostras clínicas; d) vacinação e outras medidas profiláticas; ou e) tratamentos médicos específicos”. Já o artigo 8º afirma que a lei permanecerá em vigor enquanto estiver vigente o decreto legislativo nº 6, de 20 de março de 2020, que reconheceu estado de calamidade pública por causa da pandemia do novo coronavírus. Além de Jair Bolsonaro, o texto da lei foi assinado por Sérgio Moro, então ministro da Justiça e Segurança Pública, e Luiz Henrique Mandetta, na época responsável pela Saúde. Moro, inclusive, citou o artigo 268 do Código Penal após ter sido criticado por Jair Bolsonaro por uma matéria que dizia que a polícia poderia impor coercitivamente medidas de isolamento social. A parte citada na lei prevê pena de um mês a um ano para quem “infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença contagiosa”. Tramita na Câmara dos Deputados um projeto de lei para alterar parte da lei nº 13.979 e adicionar uma ordem de prioridade para a vacinação. A proposta do deputado Wolney Queiroz (PDT-PE) prevê a seguinte sequência de vacinados: profissionais das áreas de saúde e segurança pública, pessoas com idade acima de 60 anos, pessoas do grupo de risco da covid-19 (como cardiopatas e obesos), profissionais de escolas públicas e privadas, pessoas que atendem o público em locais públicos e privados, jornalistas e pessoas saudáveis de idade inferior a 60 anos. O artigo 3º do texto novo deixaria como responsabilidade das secretarias de saúde estaduais a distribuição da vacina e a imunização da população regional. Em conversa por telefone, a Secom disse não ter um posicionamento oficial sobre os questionamentos enviados pelo Comprova por e-mail e que não se manifestaria. Obrigatoriedade fere a liberdade individual? Um dos pontos levantados contra a obrigatoriedade da vacina seria uma possível violação das liberdades individuais. O texto da Secom chega a dizer que “o governo do Brasil preza pelas liberdades dos brasileiros”. O presidente da OAB-SP, Caio Augusto Silva dos Santos, acredita, no entanto, que esse caso não configura crime contra a liberdade individual. Um dos motivos é que uma pessoa que não toma a vacina corre o risco de contaminar outra. “De fato, nós temos a liberdade individual de tomar decisões para a nossa vida. Quando isso influencia na vida dos outros, vamos ter que minimizar um pouco essa liberdade. Não significa dizer anulá-la. No caso de uma pandemia, em que se fala em contágio a outras pessoas, essa liberdade individual de dizer ‘não’ não me parece que prevalecerá em relação à proteção de toda a coletividade”, explica. A questão sobre liberdade individual mudaria, contudo, em casos em que a decisão não afete outras pessoas. Por exemplo, na escolha em não se submeter a uma transfusão de sangue durante uma cirurgia. “Essa é uma decisão na seara da liberdade, mas que impacta na vida dela mesma. Agora, a questão envolvendo a vacinação e a pandemia impacta na vida dos outros. Por isso, é importante que nós façamos esse tipo de comparação. A liberdade individual vai até onde nós não violemos a liberdade do outro”, prossegue. O que diz quem defende a obrigatoriedade Procurado pelo Projeto Comprova, o deputado federal Wolney Queiroz (PDT-PE), autor do projeto que propõe alterações na lei 13.979/20, afirmou que texto não teria como “espírito” a obrigatoriedade da vacinação contra o novo coronavírus e acrescenta que “por desconhecimento, o presidente criticou algo que foi criado pelo seu próprio governo”. A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) publicou nota à imprensa dizendo que “A SBIm entende que é dever das autoridades públicas e dos profissionais da saúde conscientizar a população acerca da importância da vacinação, independentemente da obrigatoriedade, sob pena de vivermos retrocessos como a volta do sarampo devido às baixas coberturas vacinais. Entende também que é dever de cada pessoa buscar a vacinação com o objetivo não apenas da proteção individual, mas também coletiva. É essencial lembrar que o artigo 14 do Estatuto da Criança e do Adolescente (lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990) define a obrigatoriedade da vacinação para este grupo, cabendo a aplicação de penalidades pelo descumprimento”. Importância das vacinas Ainda na nota da SBIm, é possível compreender a importância das vacinações em massa para o bem-estar coletivo: “A vacinação está entre os instrumentos de maior impacto positivo em saúde pública em todo o mundo, contribuindo de forma inquestionável para a redução de mortalidade e o aumento da qualidade e da expectativa de vida. Graças à vacinação foi possível erradicar a varíola e praticamente erradicar a poliomielite, presente, hoje, em apenas dois países; O Programa Nacional de Imunizações (PNI) brasileiro é considerado um dos mais bem‐sucedidos do mundo. Além da varíola e da pólio, foram eliminadas do território nacional a rubéola, a síndrome da rubéola congênita, o tétano materno e o tétano neonatal. Estas e outras tantas conquistas estão atreladas à adesão do brasileiro à vacinação e ao reconhecimento por estes da importância das vacinas na prevenção de graves danos à saúde”. Especialistas acreditam que Bolsonaro fragiliza esforço por vacinas Além da frase contradizer lei assinada pelo presidente para o combate ao vírus, especialistas de diversas áreas afirmaram que a declaração pode trazer graves prejuízos ao combate à pandemia e outras doenças, assim como instigar parte da população a se opor às campanhas de vacinação. Nos últimos anos, foram registradas algumas ocorrências de descumprimento da vacinação nos casos em que ela é obrigatória: uma decisão liminar da Justiça determinou que um casal de Gaurama, no Norte do Rio Grande do Sul, fosse obrigado a vacinar o filho recém-nascido. O pedido foi do Ministério Público da cidade, que alegou que a não-vacinação é descumprimento de obrigações legais dos pais em relação ao filho. Em outro caso, a Justiça mineira obrigou um um casal de Poços de Caldas (MG) a vacinar os dois filhos menores, colocando em dia a carteira de imunização e aplicando as próximas doses previstas no Calendário Nacional de Vacinação do Ministério da Saúde. O casal havia alegado questões religiosas e também de saúde para a recusa. Em relação à covid-19, a 8.ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal determinou que o marido de uma paciente com o novo coronavírus confirmado fosse obrigado a fazer de imediato o exame de sorologia. O pedido havia sido formulado após ele se recusar a fazer o teste. Vacinas em desenvolvimento Dentre as 176 vacinas que estão em desenvolvimento no mundo, há pelo menos cinco em fases avançadas de testes, como a CoronaVac e a vacina de Oxford, que deverá ter 30 milhões de doses produzidas no Brasil pela Fundação Oswaldo Cruz, com previsão de início de produção a partir de dezembro deste ano ou início de 2021. Já o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, em inglês) enviou um plano inicial de vacinação contra a Covid-19 para os 50 estados americanos prevendo o início da campanha de imunização em novembro, com uma aplicação mais massiva em 2021. Por que investigamos? A terceira fase do Projeto Comprova investiga conteúdos relacionados às políticas públicas e à pandemia do novo coronavírus. Conteúdos que trazem desinformação sobre a covid-19 são perigosos porque podem custar ainda mais vidas – até o dia 2 de setembro, mais de 123 mil pessoas já morreram por causa da doença. Uma vacina é a forma mais eficiente de imunizar a população. Falas como a do presidente criam um ar de desconfiança que pode levar pessoas a optar por não se vacinarem, mesmo com a obrigatoriedade. A publicação da Secom no Facebook, que afirma que o governo não irá obrigar ninguém a se vacinar, teve mais de 13,7 mil interações até o fechamento deste texto. A verificação sobre a fala do presidente Jair Bolsonaro foi feita também pelo UOL Confere.
https://i2.wp.com/projet…=601%2C297&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/estudo-belga-nao-comprova-eficacia-do-tratamento-precoce-da-hidroxicloroquina-para-covid-19-diferentemente-do-que-afirma-deputado/
COMPROVA
Estudo belga não comprova eficácia do tratamento precoce com hidroxicloroquina para covid-19, diferentemente do que afirma deputado
null
2020-09-02
O estudo foi feito com base em prontuários de pacientes hospitalizados e que estavam em diversos estágios da doença. Uma das autoras do artigo, disse ao Comprova que, apesar dos resultados, são necessários estudos clínicos mais avançados para comprovar eficácia da hidroxicloroquina Conteúdo verificado: Post do deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP) no Facebook afirmando que “mais um estudo comprova a eficácia do tratamento precoce da hidroxicloroquina contra o COVID-19”. Ele dá o link para um artigo no site Conexão Política sobre um estudo belga que apontou redução na taxa de mortalidade com pacientes de covid-19 tratados com a hidroxicloroquina. Não é verdade que um estudo belga tenha comprovado a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento precoce da covid-19. A afirmação foi feita pelo deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP) em sua página no Facebook. O deputado compartilha o link de um texto do site Conexão Política, sobre um estudo realizado na Bélgica, com 8.075 participantes. A pesquisa realmente existe, mas, apesar de apontar uma redução da mortalidade por covid-19 em pacientes medicados com doses baixas de hidroxicloroquina, é insuficiente para levar a qualquer mudança quanto a recomendação da droga no combate ao novo coronavírus – o medicamento continua sem ter sua eficácia comprovada. Além disso, o estudo analisou pacientes em diferentes fases da doença, e não apenas os que receberam a droga no início da manifestação dos sintomas. O estudo é retrospectivo e foi feito a partir de uma base de dados de pessoas que haviam sido hospitalizadas. Nesse caso, foram analisados pacientes diagnosticados com covid-19 na Bélgica, divididos entre os que foram medicados com a hidroxicloroquina e os que não foram. Em contato com o Comprova, Lucy Catteau, uma das autoras do artigo, disse que, apesar dos resultados, estudos clínicos randomizados – quando os dois grupos de pacientes são divididos de maneira aleatória entre os que receberão o medicamento e os que receberão um placebo – ainda são necessários para comprovar a eficácia da hidroxicloroquina. O deputado Marco Feliciano foi procurado, mas não respondeu os e-mails enviados pelo Comprova. Como verificamos? Para comprovar a existência da pesquisa, recorremos à ferramenta de busca do Google. O estudo completo foi publicado no site Science Direct. A partir daí, entramos em contato, por e-mail, com os responsáveis pelo artigo – apenas Lucy Catteau, uma das principais pesquisadoras, respondeu. Também por e-mail falamos com o Sciensano, instituto de pesquisa e de saúde pública da Bélgica que opera sob a autoridade dos Ministérios da Saúde Pública e da Agricultura – foi a partir dos dados coletados pelo órgão que os cientistas fizeram o estudo. Depois, procuramos especialistas que pudessem nos ajudar na análise sobre o estudo belga. Falamos por WhatsApp com os infectologistas Guilherme Spaziani, do Instituto de Infectologia Emilio Ribas, de São Paulo, e Leonardo Weissmann, também do Emilio Ribas e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Também tentamos contato com o deputado Marco Feliciano (Republicanos-SP), que compartilhou a notícia do Conexão Política em suas redes sociais dizendo que o estudo comprovava a eficácia da cloroquina, o que não é verdade. O parlamentar não nos respondeu. Por último, entramos em contato com o Conexão Política, que afirma em seu título ser o maior estudo retrospectivo envolvendo a hidroxicloroquina e a covid-19. O site nos respondeu por e-mail. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 2 de setembro de 2020. Você também pode refazer o caminho da verificação acessando os links disponíveis nesta reportagem. Verificação O impacto da pesquisa Em documento de 14 de agosto, intitulado Procedimento para médicos gerais em caso de suspeita da covid-19, o Sciensano trata de medicamentos que podem ser usados no tratamento e não cita, em nenhum momento, a hidroxicloroquina. Informa que o uso de drogas sem indicação ou experimentais para tratar a covid-19 é reservado a pacientes hospitalizados. E, em texto anterior, que foi revisado em 18 de julho, “lopinavir/ritonavir, hidroxicloroquina e bloqueadores IL1/IL6 são drogas registradas na Bélgica para outras indicações (uso off label), a menos que sejam prescritas no contexto de teste clínico”. Ao Comprova, o órgão afirmou que o estudo em questão “mostrou uma associação entre baixas doses de hidroxicloroquina e redução da mortalidade”, mas, que, “a partir do resultado de outros estudos e recomendações internacionais, a hidroxicloroquina não é mais indicada na Bélgica para o tratamento da covid-19, exceto em casos de ensaios clínicos registrados”. E completou que “os resultados mostram novas hipóteses em relação à ação anti-inflamatória da hidroxicloroquina para a covid-19” e que “sem estudo clínico, as recomendações belgas no tratamento da covid-19 não serão colocadas em questão”. O potencial poder anti-inflamatório da droga também foi destacado por Lucy Catteau, uma das autoras da pesquisa. “Como a associação entre baixas doses de hidroxicloroquina e redução da mortalidade foi percebida em pacientes tratados cedo ou tarde a partir do surgimento dos sintomas, nós levantamos a hipótese de o efeito da droga não ser antiviral, mas, sim, anti-inflamatório”, afirmou ao Comprova. Grupos de estudo Os pesquisadores analisaram dois grupos: um que recebeu pequenas doses da droga e, outro, que não recebeu hidroxicloroquina. Entretanto, é possível verificar que há diferenças maiores que 10% entre os dois perfis. Entre os que não receberam, 40,9% tinham problemas cardiovasculares, contra 30,7% no grupo que foi medicado. Além disso, 44,6% tinham mais de 80 anos no grupo sem a droga, enquanto entre os que receberam essa taxa era de 23,6%. Sobre essa discrepância, a pesquisadora Lucy Catteau afirmou que isso foi levado em conta na análise e que, portanto, não se trata de uma falha da pesquisa. Ela afirma que se trata de um estudo observacional, que não permite nenhuma conclusão sobre a eficácia da hidroxicloroquina. “Para provar isso, são necessários os testes clínicos randomizados (os mais confiáveis, como o Comprova já explicou)”, diz. Também questionamos a cientista sobre o trecho do estudo citado pelo Conexão Política, que afirma que “finalmente, uma análise de sensibilidade rigorosa levando em consideração os dados censurados e o viés imortal, todos confirmaram o impacto positivo da HCQ na mortalidade hospitalar”. A pesquisadora afirmou que “De fato, as análises estatísticas aprofundadas levando em conta numerosos vieses possíveis foram efetuadas e sempre mostraram uma associação entre a hidroxicloroquina e uma redução da mortalidade em hospitais. Entretanto, para provar a eficácia da hidroxicloroquina, estudos clínicos randomizados são necessários… por isso não podemos concluir sobre a eficácia da cloroquina”. Equipe O estudo tem 11 autores e um grupo de colaboração sobre vigilância hospitalar. Desses 11, sete trabalham no Sciensano e oito possuem PhD, o título acadêmico mais alto que alguém pode conquistar. Lucy Catteau, uma das principais autoras, é cientista e trabalha na Sciensano como gerente da EARS-Net, sigla para Rede Europeia de Vigilância de Resistência Antimicrobiana, que é um banco de dados científicos da União Europeia focado em bactérias. Segundo o site Open Researcher and Contributor ID (Orcid), que identifica acadêmicos e pesquisadores, ela tem quatro trabalhos publicados. O outro autor principal é Nicolas Dauby, especialista em doenças infecciosas do CHU Saint-Pierre, centro hospitalar universitário em Bruxelas referência em novos agentes infecciosos. De acordo com o Orcid Dauby tem 40 artigos publicados – dois deles na The Lancet, revista respeitada mundialmente. O periódico O International Journal of Antimicrobial Agents (IJAA), onde o estudo foi publicado, é uma publicação da Sociedade Internacional de Quimioterapia Antimicrobiana, que foi fundada em 1961 e reúne médicos de diversos países. O periódico é publicado em colaboração com a Elsevier, empresa global de informações analíticas fundada em 1880 e baseada em Amsterdã. Os jornais parceiros, como o IJAA, possuem uma espécie de selo de qualidade de confiança. Em junho, o Jornal da USP publicou uma reportagem sobre a SciVal, plataforma de pesquisas e análises científicas desenvolvida pela Elsevier. A reportagem destaca que, segundo o Relatório SciVal, “11,6% dos trabalhos produzidos por autores da universidade encontram-se entre as top 10% melhores publicações do mundo”. Em abril, a Sociedade Internacional de Quimioterapia Antimicrobiana teve que se posicionar sobre um estudo do infectologista francês Didier Raoult, que trazia os benefícios da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19 – a pesquisa foi alvo de críticas da revista Science, referência em estudos científicos, e seus resultados foram questionados e considerados incompletos. Além de a droga não ter eficácia comprovada, um dos coautores, Jean Marc Roulain, é editor-chefe do IJAA. A Sociedade Internacional de Quimioterapia Antimicrobiana declarou que a pesquisa não atendia ao “padrão esperado” para o periódico. O maior estudo retrospectivo? A pesquisa belga não foi a que contou com o maior número de pacientes. No dia 22 de maio, a renomada revista Lancet publicou um estudo retrospectivo com 96 mil pacientes de 671 hospitais ao redor do mundo. O estudo da Lancet, no entanto, causou controvérsia depois que um pedido de retratação foi feito por seus autores. Eles diziam não poder mais garantir a veracidade dos dados usados para fundamentar a pesquisa. No caso do estudo belga, foram utilizados dados de 8.075 pacientes de 109 hospitais do país. A afirmação de “maior estudo retrospectivo” foi feita pelo site Conexão Política, que noticiou o estudo. Em contato por e-mail com o Comprova, o site respondeu que “com relação à matéria publicada em nosso portal, cabe esclarecer que o termo ‘maior estudo retrospectivo’ foi utilizado por Didier Raoult”. Acrescentou que “o uso do termo se dá pelo número de pacientes envolvidos e, também, por ser um estudo nacional, feito em vários hospitais daquele país. A maioria dos estudos do tipo são feitos com pacientes de uma única unidade hospitalar. O estudo mencionado na matéria ocorreu em toda a Bélgica, com milhares de pacientes”. Não há milagre O estudo belga não muda o entendimento sobre a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da covid-19. “O método usado por ele tem baixa qualidade científica”, explicou o infectologista Guilherme Spaziani, do Instituto Emílio Ribas, um dos principais locais de combate ao novo coronavírus em São Paulo, em entrevista por WhatsApp com o Comprova. “Os estudos têm vários níveis de qualidade científica. Os melhores são aqueles chamados ensaios clínicos, onde damos um remédio para um grupo e outro grupo recebe um placebo. Depois, analisamos em qual grupo ocorreu mais mortes e mais curas e, assim, entendemos se o remédio é bom ou não”, explica. O estudo belga não realizou ensaios clínicos. No caso deles, foi feita uma pesquisa chamada “retroativa”, que analisa dados de pacientes para chegar a uma conclusão. “Há vários estudos desse tipo. Pela primeira vez, os estudos científicos estão em evidência para a mídia e a população. Isso é importante para a valorização da ciência, mas a metodologia científica é extremamente complexa. Então, aos olhos leigos, com base nesse artigo, parece que a cloroquina é milagrosa. E isso não é verdade, como já foi comprovado em estudos de boa qualidade”, explica Spaziani. “Não estou querendo dizer que o autor é ruim e, por isso, faz um trabalho de baixa qualidade. Mas os melhores estudos – e o ensaio clínico é um deles – são muito difíceis de fazer. É preciso acompanhar os doentes, convencê-los a tomar um remédio novo ou um placebo, coletar exames. É algo que leva muito tempo. Para fazer esse estudo igual ao belga é só pegar um monte de prontuários, os papéis, analisar e escrever”, completou. O infectologista Leonardo Weissmann reforça que o estudo tem falhas metodológicas e diz que “infelizmente, o uso da hidroxicloroquina tornou-se uma discussão política interminável”. Segundo ele, “o que se pode afirmar no momento é a necessidade de se manter as recomendações para prevenção: distanciamento de pelo menos 1,5 metro de outras pessoas, o uso de máscara por todas as pessoas e a higienização das mãos com frequência”. Cloroquina no Brasil O uso da cloroquina e da hidroxicloroquina para o tratamento da covid-19 é amplamente defendido pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), mesmo as duas drogas não tendo comprovação científica. Em março, ele ordenou que o Laboratório do Exército produzisse os medicamentos. A pressão para que as substâncias fossem adotadas no tratamento da covid-19 custou o cargo de dois ministros da Saúde: Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich. Em maio, já sob a gestão do interino Eduardo Pazuello, o Ministério da Saúde alterou o protocolo e ampliou a possibilidade do uso dos medicamentos para pacientes com sintomas leves – até então, eram recomendados apenas em casos graves e com monitoramento em hospitais. Em agosto, Jair Bolsonaro usou uma de suas lives para defender o uso da cloroquina e da hidroxicloroquina. “Quem não quer tomar cloroquina, não tente proibir, impedir quem queira tomar, afinal de contas, ainda não temos uma vacina e não temos um remédio comprovado cientificamente”, disse, ao lado de pazuello. Quando o governo chinês publicou novas diretrizes envolvendo o medicamento, Bolsonaro disse em uma live: “A nossa cloroquina chegou na China. Vamos ver o que a grande mídia vai falar sobre isso aqui”. Um dia depois, a hashtag #mandettagenocida ficou entre os trending topics no Twitter. Apoiadores do presidente atacaram o ex-ministro da Saúde porque ele resistiu a adotar a cloroquina e a hidroxicloroquina no protocolo da doença, como era a vontade de Bolsonaro. O Comprova verificou recentemente as novas diretrizes chinesas. Por que investigamos? A terceira fase do Comprova busca verificar conteúdos relacionados às políticas públicas e à pandemia do novo coronavírus. A covid-19 já causou mais de 120 mil mortes no Brasil e ainda não há cura ou vacina para ela. Mentiras e boatos sobre substâncias que ajudariam no tratamento podem ser ainda mais perigosos porque desinformam a população e podem custar mais vidas. No caso da publicação do deputado Marco Feliciano, ela é prejudicial pois leva a crer que um remédio que não tem eficácia comprovada poderá curar pessoas diagnosticadas com a covid-19, além de incentivar a automedicação, como já observado desde o início das discussões sobre o remédio. A postagem até o momento desta publicação somava 14 mil curtidas, 5 mil compartilhamentos e mais de 1 mil comentários. Diversos estudos estão sendo feitos para verificar os remédios que podem ajudar no tratamento da covid-19. No caso da hidroxicloroquina, os mais conceituados, aqueles feitos com ensaios clínicos, concluíram que não há eficácia da droga para o novo coronavírus. A própria OMS (Organização Mundial da Saúde) suspendeu os estudos com o medicamento. Em julho, a Sociedade Brasileira de Infectologia divulgou uma nota sugerindo que o medicamento não fosse mais usado no tratamento da covid-19. O estudo belga tem pouca qualidade científica, segundo os especialistas ouvidos pelo Comprova. Sozinho, não é capaz de comprovar a eficácia da hidroxicloroquina no tratamento da doença. O Comprova já mostrou ser enganoso que a cloroquina seja capaz de curar 98,7% dos pacientes com covid-19. Também verificou um estudo italiano que, assim como o belga, não confirma a eficácia da droga. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/artigo-nao-prova-impossibilidade-de-transmissao-da-covid-19-por-assintomaticos/
COMPROVA
Artigo não prova impossibilidade de transmissão da covid-19 por assintomáticos
null
2020-11-30
Os próprios autores do artigo, ouvidos pelo Comprova, dizem que os dados não permitem comprovar que indivíduos sem sintomas não sejam capazes de infectar outros Conteúdo verificado: Postagem do site Terça Livre diz que estudo feito na China prova que pessoas assintomáticas não transmitem o novo coronavírus. É enganoso afirmar que um estudo feito na China prove que pessoas assintomáticas não são capazes de transmitir o novo coronavírus. O artigo, publicado na revista acadêmica Nature Communication, mostrou que durante uma pesquisa de prevalência sorológica realizada em Wuhan os pesquisadores encontraram 300 casos de pacientes assintomáticos. Eles testaram 1.174 contatos próximos desses pacientes e nenhum deles testou positivo. No entanto, os próprios autores do artigo dizem que os dados não permitem comprovar que indivíduos sem sintomas não são capazes de infectar os outros. De acordo com o doutor Fujian Song, autor do artigo, é preciso diferenciar pacientes assintomáticos dos pré-sintomáticos. Os primeiros são pessoas que se recuperam da infecção pelo novo coronavírus sem apresentar nenhum sintoma. Já os segundos são aqueles que foram infectados e ainda não desenvolveram sintomas. De acordo com Song, já está demonstrado que pessoas pré-sintomáticas podem transmitir o SARS-CoV-2 antes mesmo de começar a demonstrar sinais da doença. Além disso, o autor do artigo lembra que a pesquisa foi feita em Wuhan apenas algumas semanas após um rígido lockdown e, portanto, seus resultados não podem ser transferidos para um país onde o surto da covid-19 não está sob controle. Ele também recomenda que, mesmo com o resultado do seu estudo, as pessoas devem manter medidas de contenção do vírus, como a higienização das mãos e o distanciamento social. Ao Comprova, o professor de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) e coordenador de um estudo com doentes assintomáticos, Ivo Castelo Branco também disse que ainda não há consenso na comunidade científica sobre a transmissão do vírus por assintomáticos. “Há alguns meses, acreditava-se que as crianças infectadas mas com nenhum ou poucos sintomas tinham transmissão baixa. No entanto, foi comprovado posteriormente que nada disso é verdade, pois com a abertura das escolas, a contaminação aumentou mesmo com as crianças assintomáticas”, exemplifica. Como verificamos? Primeiramente, o Comprova leu o artigo científico citado pelo site e entrou em contato com um dos autores da pesquisa por meio do e-mail listado no artigo. Também procuramos os posicionamentos da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) sobre a possibilidade de assintomáticos transmitirem ou não o vírus que causa a covid-19. Entrevistamos ainda o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, Ivo Castelo Branco. Também enviamos um e-mail para o site Terça Livre, que publicou o conteúdo verificado, mas não recebemos retorno até a publicação dessa verificação. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 30 de novembro de 2020. Verificação O que diz o estudo? O artigo, publicado em novembro, analisa dados de um estudo feito com quase dez milhões de moradores de Wuhan, na China, cidade que foi o primeiro epicentro da covid-19 no mundo, para entender a prevalência do vírus na população. O levantamento, feito pelo governo chinês, detectou, entre outras coisas, a existência de 300 casos assintomáticos na cidade (e nenhum caso sintomático) na segunda quinzena de maio. O governo chinês colocou em isolamento por duas semanas 1.174 contatos próximos dos assintomáticos, mas nenhum deles apresentou resultados positivos nos testes para o SARS-CoV-2. Os testes de prevalência que embasam o estudo foram realizados entre cinco e oito semanas após o fim do lockdown em Wuhan, em abril. Embora os resultados reforcem que a carga viral (quantidade de vírus) com que uma pessoa tem contato pode influenciar no desenvolvimento de sintomas e, posteriormente, na transmissão entre indivíduos, o estudo defende a manutenção de medidas de saúde pública de prevenção e controle da covid-19, “incluindo o uso de máscaras e a manutenção de um distanciamento social seguro”. Segundo os autores, populações vulneráveis, com baixa imunidade ou comorbidades, devem continuar a ser apropriadamente blindadas contra o novo coronavírus. O que dizem os pesquisadores? Em e-mail enviado ao Comprova, Fujian Song, professor titular na University of East Anglia (Reino Unido) e um dos autores do estudo, demonstrou preocupação com a interpretação que as pessoas possam dar ao resultado da pesquisa. Ele explicou que os casos assintomáticos identificados no estudo são de pessoas que não apresentaram sintomas clínicos antes ou durante o período em que ficaram isoladas para acompanhamento. “Alguns casos assintomáticos podem se tornar sintomáticos após alguns dias e esses indivíduos serão capazes de infectar outras pessoas antes mesmo do início desses sintomas”, afirma. O médico também lembrou que esses casos assintomáticos foram identificados apenas algumas semanas após um rigoroso lockdown que durou mais de 70 dias em Wuhan; o que fazia com que a pandemia estivesse efetivamente sob controle naquele momento. “É provável que a carga de vírus dos casos assintomáticos identificados no programa de triagem em Wuhan possa ser baixa, em comparação com os casos em locais com alta transmissão do vírus SARS-CoV-2. Portanto, é problemático aplicar os resultados do artigo a países onde os surtos de covid-19 não foram controlados com sucesso”, adverte. Por fim, Song também reiterou que os resultados do artigo não devem ser utilizados para contrariar a implementação de medidas de intervenção não farmacêutica, como a cobertura facial e o distanciamento social. Medidas como estas vinham sendo adotadas pela população chinesa quando os testes foram feitos e o uso de máscaras em lugares públicos continua sendo uma prática comum em Wuhan até hoje. Autoridades de saúde Em junho, o tema dos assintomáticos veio à tona depois que a infectologista Maria Van Kerkhove, chefe do departamento de doenças emergentes da Organização Mundial da Saúde, afirmou que a transmissão do novo coronavírus a partir de pessoas “genuinamente assintomáticas” era rara. Um dia depois, para evitar mal entendidos, ela voltou a se pronunciar sobre o assunto dizendo que é preciso ter cuidado ao tirar conclusões a partir de dados iniciais. “Estamos absolutamente convencidos de que a transmissão por casos assintomáticos está ocorrendo, a questão é saber quanto”, ponderou Kerkhove na ocasião. De acordo com a OMS, “quer apresentem sintomas ou não, pessoas infectadas podem ser contagiosas e o vírus pode se espalhar para outros a partir delas”. Segundo a entidade, dados de laboratório sugerem que as pessoas infectadas aparentemente são mais capazes de transmitir o vírus em um período de dois dias antes de desenvolver os sintomas e no início da doença. Aqueles que desenvolvem casos mais graves podem permanecer infecciosos por mais tempo. “Embora alguém que nunca desenvolverá os sintomas possa transmitir o vírus para outras pessoas, ainda não está claro com que frequência isso ocorre e são necessárias mais pesquisas nessa área”, admite a OMS. Em seu site, a Fundação Oswaldo Cruz explica que, embora, em média, pessoas infectadas por coronavírus transmitam a doença durante uma semana após o início dos sintomas, dados preliminares do SARS-CoV-2, o vírus que causa a covid-19, indicam que a transmissão pode ocorrer mesmo sem o aparecimento de sinais e sintomas. “Ou seja, a doença pode ser transmitida mesmo em casos assintomáticos ou antes que a pessoa comece a apresentar sintomas mais claros”, diz a Fiocruz. Transmissão depende do período da infecção Procurado pelo Comprova, o professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará Ivo Castelo Branco explica que a probabilidade de uma pessoa transmitir vai depender mais do período da infecção no qual ela se encontra do que da presença ou não de sintomas. “A pessoa com covid já pode transmitir o vírus na primeira semana antes do início dos sintomas, ou seja, quando ainda está assintomática”, explica. “Na segunda semana, ela apresenta os sintomas e diminui a carga viral. Na terceira semana, a carga viral praticamente desaparece”. O médico coordena o “Projeto Avisa: Avaliação de Incidência de Infecção por SARS-CoV-2 e de Covid-19 no Brasil” em parceria com o Instituto Butantan, e estuda a evolução dos sintomas, a possibilidade de reinfecção e o tempo de imunidade à covid-19, tendo como foco as pessoas assintomáticas ou com manifestações leves da doença. “A maioria dos estudos sobre a covid é sobre pacientes sintomáticos, e ainda por cima, sobre aquelas com sintomas mais graves e que necessitam de hospitalização. Há, portanto, uma insuficiência de informações no meio científico sobre essa parcela de assintomáticos, que representa uma grande parcela dos infectados”, aponta. “Mas o consenso é que é essencial seguir os protocolos de higiene para evitar a infecção pelo novo coronavírus, ou seja, usar máscaras e higienizar as mãos”, acrescenta. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre a pandemia, as eleições 2020 e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. É o caso dessa publicação do site Terça Livre, que teve 1,6 mil interações no Twitter e 1,2 mil interações no Facebook, de acordo com a plataforma de monitoramento CrowdTangle. Quando os conteúdos tratam de métodos de prevenção ou disseminação do novo coronavírus, a verificação se torna ainda mais necessária porque informações erradas sobre a doença podem levar as pessoas a não adotarem medidas adequadas de proteção e se exporem a riscos de contaminação. Desde o início da pandemia, o Comprova já mostrou que as máscaras são eficientes no combate à covid-19; que as vacinas não causam câncer ou danos genéticos; e que que é enganoso dizer que expor a população ao vírus é melhor do que a vacinação para acabar com a pandemia. O Estadão Verifica e o Boatos.org já fizeram checagens sobre a transmissão do vírus por pessoas assintomáticas. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-cabos-eleitorais-de-sarto-tenham-transportado-urna-adulterada/
COMPROVA
É falso que cabos eleitorais de Sarto tenham transportado urna adulterada
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2020-11-29
Vídeo mostra urna conduzida em uma picape cedida à Justiça Eleitoral pelo DNOCS, no Ceará. O equipamento é uma urna de contingência, utilizada para substituir unidade que apresentou defeitos no início da votação Conteúdo verificado: Vídeo no Facebook que mostra urna eletrônica em uma picape, com legenda que diz que o equipamento foi adulterado e transportado por cabos eleitorais do prefeito eleito de Fortaleza José Sarto (PDT) É falso que um vídeo viral no Facebook mostre cabos eleitorais do prefeito eleito de Fortaleza José Sarto (PDT) transportando uma urna eletrônica adulterada em um carro particular. Na verdade, a gravação mostra um equipamento trazido em uma picape cedida à Justiça Eleitoral pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). A máquina é uma urna de contingência, utilizada para substituir um equipamento que apresentou defeitos no início da votação. De acordo com Edna Saboia, coordenadora de Eleições do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), o procedimento de substituição de urnas é “correto, dentro da legalidade e comum nas eleições”. Ao todo, 42 urnas foram substituídas na capital cearense. O Tribunal afirmou que o tumulto foi gravado por uma eleitora que não entendeu o transporte da urna. “Ressalta-se que o vídeo está editado e não mostra o momento em que uma servidora explica o processo de troca”, comunicou o TRE-CE. Como verificamos? Entramos em contato com o TRE-CE, que divulgou uma nota sobre o ocorrido. Também questionamos Edna Saboia, coordenadora de Eleições do TRE-CE. O editor-chefe do site de checagem E-Farsas Marco Faustino cedeu ao Comprova áudios de uma conversa com uma auxiliar convocada pela Justiça Eleitoral que presenciou o incidente, Ana Cristina Rodrigues. Verificação Em que contexto foi gravado o vídeo? De acordo com o Tribunal Regional do Ceará, o vídeo mostra um tumulto causado por uma eleitora que não aceitou o processo de troca de uma urna eletrônica defeituosa. A confusão ocorreu em um local de votação da 85ª zona eleitoral de Fortaleza, na escola Professor César Campelo. Uma auxiliar convocada pela Justiça Eleitoral presenciou o incidente e conversou com o editor-chefe Marco Faustino, do site de checagem E-Farsas. Ana Cristina Rodrigues disse que uma urna da seção 141 estava apresentando defeitos pela manhã. “Quando isso acontece, o presidente da mesa tem que reiniciar a urna e se ela continuar travando, tem que substituir”, disse ela. “Mas isso é último caso, porque nós só temos duas urnas de reposição”. De acordo com a auxiliar, por volta das 11h30 uma eleitora viu uma urna de contingência chegando para a substituição. Ainda segundo Ana Cristina, essa mulher começou a fazer acusações de fraude contra o candidato a prefeito Capitão Wagner (PROS). Uma segunda eleitora filmou, do lado de fora da escola, a picape em que a urna de contingência foi transportada. “Mostramos para que ela (a mulher que filmava) pudesse ver que era uma urna de reposição, um procedimento normal”, disse Ana Cristina. “Ela continuou gritando dizendo que a gente tava roubando. Ela filmou e editou, deixou só a parte que interessava.” Segundo o TRE-CE, algumas das pessoas mostradas em torno da picape faziam parte da equipe de apoio da Justiça Eleitoral. O carro utilizado para transporte da urna de contingência foi cedido pelo Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS) e estava identificado com adesivos. “A equipe estava em carro adesivado pelo TRE-CE que foi requisitado ao DNOCS, visto que a Justiça Eleitoral não possui carros suficientes para abranger todas as rotas, sendo necessária a requisição de veículos de outros órgãos públicos”, informou o Tribunal. Urnas de contingência São aparelhos reservas, preparados para substituir equipamentos que apresentem algum defeito no dia da votação. Elas são preparadas e lacradas na mesma audiência que as demais e, portanto, apresentam como opções os mesmos candidatos de uma urna “normal”. Caso a urna original apresente problemas após o início da votação, a Justiça Eleitoral transfere o flash card e o disquete do aparelho com defeito para a urna de contingência, garantindo que os votos já registrados não sejam desconsiderados. A nova urna é, então, lacrada novamente e passa a ser a urna da seção eleitoral. Caso os problemas persistam, a Justiça Eleitoral prevê também a possibilidade de se utilizar um flash card de contingência, também preparado previamente, ou, se não houver alternativa para usar a urna eletrônica, de coletar os votos manualmente através de cédulas. De acordo com Edna Saboia, coordenadora de Eleições do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE), o vídeo em questão gravou o transporte de urnas para substituição, procedimento que é usual em todas as eleições. “Há mais de 600 urnas de contingência, que são as urnas reservas que ficam em pontos específicos. Quando tem uma ocorrência [de mau funcionamento da urna em uso] em algum local de votação, as equipes de apoio do TRE transportam essas urnas de contingência para substituição. Quem transporta essas urnas são os veículos requisitados pela Justiça Eleitoral. A frota (para as eleições atuais) é de uns 500 veículos, só aqui em Fortaleza, e os carros são requisitados de vários órgãos. O veículo que aparece no vídeo é do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (DNOCS). O procedimento é correto, dentro da legalidade e comum nas eleições”. Registros de denúncia Segundo a Polícia Militar do Ceará, apenas seis ocorrências foram encaminhadas à superintendência da Polícia Federal em Fortaleza por irregularidades no dia da votação. Os registros são de suspeita de distribuição de material de campanha, realização de carreata, apreensão de folhetos e dinheiro (sem comprovação de compra de votos) e outras três ocorrências em Fortaleza e em Caucaia, município da Região Metropolitana, classificadas como “tentativas de atrapalhar os trabalhos eleitorais” que não foram especificados pelo TRE-CE. Para Saboia, esta foi uma das eleições mais tranquilas que a servidora já vivenciou. “A quantidade de ocorrências foi bem menor do que na eleição passada”, destaca. Quem é o Inspetor Alberto? O vídeo com maior viralização no Facebook foi divulgado pela conta do Inspetor Alberto, nome de urna do servidor público aposentado José Alberto Bastos Vieira Júnior, de 59 anos. Ele foi eleito vereador em Fortaleza com 7.301 votos pelo Partido Republicano da Ordem Social (PROS). Essa foi a quinta eleição que ele disputou e a primeira em que teve sucesso – desde 2006, quando concorreu a deputado estadual, vem se candidatando a cargos proporcionais. Em suas redes sociais, onde ostenta foto ao lado do presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido), ele se define como “armamentista, conservador e antiesquerdista”. Nos documentos disponíveis no sistema de divulgação de candidaturas do TSE (DivulgaCand), os três números de telefones fornecidos são do partido PROS. Tentamos contato com o Inspetor através de uma pessoa chamada Tancredo Santos, seu correligionário, que não respondeu às mensagens do Comprova. No início da noite, Alberto voltou ao seu perfil no Facebook para postar em letras maiúsculas, sugerindo estar gritando: “O Facebook está tentando manipular as pessoas! Está alegando que a notícia é falsa! Contra fatos não há argumentos!” Por que investigamos? Atualmente em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre as eleições 2020, a pandemia e as políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. A verificação de conteúdos que tratam de apuração é importante porque conteúdos inverídicos podem atingir a confiança das pessoas nas eleições. O vídeo que viralizou teve 121,6 mil interações no Facebook, segundo a plataforma de monitoramento de mídias sociais CrowdTangle. O Aos Fatos, o E-farsas e a Agência Lupa verificaram o mesmo conteúdo e o classificaram como falso. Durante a eleição de 2020, o Comprova mostrou que as justificativas dos eleitores não podem ser transformadas em votos válidos; que a apuração brasileira é aberta a qualquer pessoa; que é possível realizar recontagem dos votos; e que o sistema que aparece em um vídeo para simular fraude não é o mesmo das urnas eletrônicas. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-manuela-davila-tenha-liderado-protestos-no-carrefour-de-porto-alegre/
COMPROVA
É falso que Manuela D’Ávila tenha liderado protestos no Carrefour de Porto Alegre
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2020-11-29
Ao contrário do que uma postagem sugere, a rede de supermercado Carrefour nunca anunciou fechamento ou demissão de seus funcionários Conteúdo verificado: Publicação em grupo de Facebook afirma que o Carrefour de Porto Alegre onde João Alberto Silveira Freitas foi morto será fechado por conta de protestos liderados pela candidata a prefeita Manuela D’Avila (PCdoB) É falsa a publicação no Facebook que afirma que o Carrefour da Zona Norte de Porto Alegre, onde ocorreu a morte de João Alberto Silveira Freitas, será fechado por conta de protestos liderados pela candidata a prefeita Manuela D’Avila (PCdoB). Na verdade, os atos foram organizados e convocados por entidades e coletivos do movimento negro, movimentos sociais e integrantes da torcida do time São José. Ao contrário do que a postagem sugere, a rede de supermercado Carrefour nunca anunciou fechamento ou demissão de seus funcionários. Após a morte, o mercado anunciou no Twitter que no dia 20 de novembro a loja não iria abrir: “em respeito à vítima, a loja será fechada”. A decisão ocorreu um dia depois do espancamento de João Alberto por dois seguranças. No dia 26 de novembro, sete dias depois da morte de João Alberto, a unidade também ficou fechada. Em post no Twitter, a rede de mercados informou que “em respeito ao luto da família de João Alberto Freitas e à sociedade brasileira, nossas lojas estarão fechadas na quinta até as 14h” . Não há registro de que funcionários do Carrefour tenham sido demitidos ou que a unidade tenha sido fechada em decorrência dos protestos. Segundo a assessoria da empresa, “a loja segue operando normalmente”. Já o Sindicato dos Empregados do Comércio de Porto Alegre comunicou que não recebeu nenhuma denúncia referente à demissão de funcionários ou sobre a possibilidade de fechamento da loja. Até o momento, foram demitidos apenas os seguranças envolvidos no espancamento: os terceirizados Giovane Gaspar da Silva e Magno Braz Borges. O Carrefour, em nota, afirmou que terminou o contrato com o Grupo Vector, empresa responsável pela segurança. Como verificamos? Procuramos o posicionamento oficial do Carrefour e do Sindicato dos Empregados do Comércio de Porto Alegre. Questionamos a assessoria da própria Manuela D’Ávila sobre sua participação no protesto e entramos em contato com os movimentos e grupos que organizaram os atos realizados em prol de João Alberto. Um dos verificadores foi presencialmente a um dos protestos entrevistar os manifestantes. O Comprova também tentou contato com a página responsável pela publicação. Não obteve retorno. Posteriormente, a postagem foi apagada, mas outras publicações com o mesmo conteúdo continuam circulando nas redes sociais. Verificação A morte de João Alberto desencadeou diversos protestos, que inicialmente foram convocados para o dia 20 de novembro. A reportagem conversou pessoalmente com participantes de uma das manifestações. De acordo com os entrevistados, os atos foram criados pelos seguintes grupos: Torcida Os Farrapos (torcedores do clube Esporte Clube São José, do qual João Alberto fazia parte), Movimento Negro Unifcado (MNU), Movimento Revolucionário de Trabalhadores (MRT), Juntos, Alicerce, Renagro Casa do Babá Giba de Yemanjá, Pastorais da Criança e do Negro Paróquia Santo Antônio, Articulação Popular Gaúcha, Partido Unidade Popular, Movimento de Alabês Velha África. Manuela D’Ávila, candidata à prefeitura de Porto Alegre pelo PCdoB, chegou a participar de uma manifestação na unidade do Carrefour, mas não fazia parte da organização do ato. A mídia local informou que a manifestação foi “convocada por entidades e coletivos ligados ao movimento negro”. O fato foi corroborado ao Comprova por representantes de coletivos presentes no local. Os protestos Manuela D’Ávila esteve presente em apenas um protesto contra o racismo após a morte de João Alberto na unidade do Carrefour à qual a postagem analisada faz menção. Foi no dia 20 de novembro, quando se celebra o Dia da Consciência Negra no Brasil. Até a publicação desta verificação, quatro protestos foram feitos em Porto Alegre contra a morte de João Alberto. Na sexta-feira, 20 de novembro, cerca de 2,5 mil manifestantes, segundo a Guarda Municipal de Porto Alegre, se reuniram em frente ao supermercado. Um grupo pequeno de manifestantes tentou invadir o mercado, que estava fechado, gerando confronto com a Brigada Militar. No sábado, 21 de novembro, 50 pessoas protestaram pacificamente no mesmo local por aproximadamente duas horas. Na segunda-feira, 23, o protesto aconteceu em outro local, em frente ao Carrefour da Avenida Bento Gonçalves, zona leste da cidade. Já no dia 27 de novembro, ocorreu um ato ecumênico no final da tarde, em frente à Igreja São Jorge. Manifestantes caminharam cerca de 3km até o Carrefour da Avenida Bento Gonçalves. Ao Comprova, a assessoria de Manuela D’Ávila negou que ela tenha convocado o ato e informou que a candidata “apenas passou pelo protesto, no primeiro dia, muito antes de haver qualquer tipo de confusão”. Posicionamento do Carrefour Não há evidência de que funcionários do Carrefour tenham sido demitidos em decorrência dos protestos. Segundo a assessoria de comunicação do Carreforur, a informação de que a loja da Zona Norte de Porto Alegre será fechada não é verdadeira. “A informação não procede. A loja segue operando normalmente”, afirmou a empresa, por e-mail. Já o Sindicato dos Empregados do Comércio de Porto Alegre informou ao Comprova que não recebeu nenhuma denúncia referente à demissão dos funcionários e nem sobre a possibilidade de fechamento da loja. Após o ocorrido, o mercado anunciou em seu perfil no Twitter que no dia 20 de novembro a loja não iria abrir, “em respeito à vítima, a loja será fechada”. A decisão foi um dia depois do espancamento que levou João Alberto a óbito. No dia 26 de novembro, sete dias depois do espancamento, o mercado também ficou fechado. Em post no Twitter, a rede informa que “Em respeito ao luto da família de João Alberto Freitas e à sociedade brasileira, nossas lojas estarão fechadas na quinta até as 14h” . Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais referente à pandemia, a políticas públicas do governo federal e às eleições de 2020. A postagem analisada nessa verificação se enquadra no último caso: difunde informações falsas sobre uma candidata e pode afetar o processo eleitoral. O conteúdo foi divulgado em pelo menos quatro publicações no Facebook, que somaram mais de 7 mil interações, entre curtidas, comentários e compartilhamentos. Também registrou 50 curtidas em uma publicação no Instagram. O Fato ou Fake, Aos Fatos e AFP também checaram este conteúdo como falso. Outros candidatos à prefeitura de capitais foram alvos de desinformação. O Comprova já demonstrou que Boulos não cobrou aluguel de moradores sem-teto e que panfletos distorceram frase de Marília Arraes sobre a Bíblia. Uma frase de Ana Arraes também foi tirada de contexto em vídeo para implicar que seu neto e candidato à prefeitura de Recife, João Campos, teria lhe agredido fisicamente. Sobre Porto Alegre, o Comprova demonstrou que a diferença entre os resultados do primeiro turno e de uma pesquisa realizada na cidade não implica em fraude do levantamento. Falso: Conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-hacker-tenha-atacado-sistema-de-votos-do-tse/
COMPROVA
É falso que hacker tenha atacado sistema de votos do TSE
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2020-11-29
Os dados vazados eram da área de Recursos Humanos e os hackers não chegaram a invadir o sistema de apuração dos votos ou as urnas eletrônicas. Além disso, a urna não é conectada à internet. O sistema operacional instalado nela impede a conexão com qualquer rede ou acesso remoto Conteúdo verificado: Post no Twitter diz que um jovem de 19 anos atacou o sistema do TSE e que um sistema sem auditoria não tem segurança É falso que um hacker tenha atacado o sistema de votos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), como afirma um tuíte que viralizou neste domingo (29), dia do segundo turno das eleições. Nesse sábado, a Polícia Federal cumpriu quatro mandados de busca e apreensão em São Paulo, Minas Gerais e em Portugal contra programadores acusados de integrar o grupo hacker que vazou dados administrativos do TSE no primeiro turno das eleições de 2020. Os dados vazados eram da área de Recursos Humanos e os hackers não chegaram a invadir o sistema de apuração dos votos ou as urnas eletrônicas, de acordo com a Justiça Eleitoral, a Polícia Federal e quatro especialistas em cibersegurança que, a pedido do Comprova, analisaram as informações vazadas no dia em que a falha de segurança se tornou pública. Também não é verdade que o sistema de votação brasileiro não seja seguro por não ter uma auditoria através de votos impressos. As urnas eletrônicas, a rede que transmite os votos e o programa que faz a totalização da votação de cada candidato têm uma série de mecanismos de segurança, como criptografias e chaves de segurança às quais apenas o TSE tem acesso. A Justiça Eleitoral também realiza auditorias das urnas eletrônicas em todos os estados, no primeiro e no segundo turno das eleições, com participações de fiscais dos partidos políticos, de representantes da sociedade civil e de qualquer cidadão interessado em acompanhá-las. Como o Comprova já mostrou, a impressão de um comprovante com os votos de cada eleitor foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) porque poderia violar o sigilo do voto, que é definido como direito fundamental pela Constituição de 1988. Como verificamos? Para essa verificação, inicialmente buscamos informações sobre a prisão do hacker que vazou dados da Justiça Eleitoral. Também procuramos o TSE para saber sobre a segurança das urnas e o processo de apuração dos votos. Entrevistamos Emanuel Bezerra, professor do Departamento de Computação da Universidade Federal do Ceará (UFC), para entender como funciona o tipo de ataque que resultou no vazamento de dados da Justiça Eleitoral. Por fim, entramos em contato com o autor do tuíte. Verificação Como foi a ação do hacker preso? De acordo com matéria publicada pelo Estadão, que entrevistou o hacker, o ataque foi do tipo DDoS (do inglês Distributed Denial-of-Service attack) e realizado por meio de uma “botnet” (controle de uma rede de dispositivos com internet), o que gerou instabilidade no site. O ataque de DDoS, também conhecido como ataque de negação de serviço, atinge seu objetivo excedendo os limites do servidor. Para isso, os hackers criam programas maliciosos que são instalados em diversas máquinas, as quais realizarão múltiplos acessos simultâneos ao site ao qual o ataque é direcionado. A mesma estratégia foi utilizada nos ataques aos sites da Receita Federal, da Presidência da República, do Portal Brasil e da Petrobras ocorridos em junho de 2011. Na segunda-feira (16), o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso, afirmou que o ataque não afetou as urnas eletrônicas nem o resultado das eleições. No entanto, a ação resultou em lentidão nos serviços remotos do TSE em todo o Brasil, devido a solicitações oriundas de 435 mil conexões — que além do território nacional, partiram de países como Estados Unidos e Nova Zelândia. Segundo Emanuel Bezerra, professor do Departamento de Computação da Universidade Federal do Ceará (UFC), esse tipo de ataque só é possível ser feito com uma rede articulada de computadores, ao contrário do que afirmou o hacker, que disse ter feito a operação sozinho e com auxílio apenas de um celular. “É muito difícil só uma pessoa com o celular conseguir derrubar uma rede. Geralmente são muitas máquinas infectadas trabalhando ao mesmo tempo, e elas não precisam ser do hacker. O que os hackers fazem é contaminar as máquinas (computadores e celulares) de outras pessoas ao redor do mundo, que ficam como se fossem ‘zumbis’ no momento do ataque e iniciam os disparos em massa na rede que o hacker quer derrubar. Essa contaminação de máquinas pode ser causada por sites ou links maliciosos e resultam no que a gente chama de botnet (rede de robôs), que obedecem as ordens do atacante”, explica. Quem é o hacker? O hacker português identificado como Zambrius, líder do grupo local CyberTeam, suspeito de ter atacado os dados da Justiça Eleitoral do Brasil, foi preso sábado, 28, pela Polícia Federal em Portugal. O hacker tem 19 anos e se diz “viciado” em programação de computador. Estava detido em casa desde março, com uma tornozeleira eletrônica, após efetuar um ataque aos sistemas de uma empresa de energia elétrica local. Em entrevista ao Estadão, feita entre os dias 17 e 18 de novembro, mas publicada após a prisão, ele contou que agiu por “diversão” e por ser contra governos. Ele acrescentou que o objetivo principal era demonstrar que o TSE continuava vulnerável mesmo depois de ter sido anunciado que tinha reforçado a segurança. Sobre o fato de o ataque ter feito com que os apoiadores do presidente Jair Bolsonaro acusassem fraude no sistema eleitoral do Brasil, o hacker disse que a intenção do grupo não era propulsionar o que chamou de “desinformação de fraudes”, e que a invasão não afeta ou causa fraudes nas eleições. “Eu não tenho envolvimento em atos políticos, tenho apenas protestos antigoverno, nunca apoiei partidos, governos ou o quer que seja relacionado ao governo”, afirmou. No dia 15, o Comprova entrou em contato com a página do CyberTeam e a pessoa que respondeu às mensagens e trocas de e-mails se apresentou como Zambrius e disse ser o jovem que já havia sido preso em abril deste ano em Portugal. Ele disse que o ataque teria ocorrido na data do primeiro turno das eleições, não anos antes. Quando questionado sobre a avaliação de especialistas ouvidos pelo Comprova, segundo a qual o vazamento não teve ligação com dados da eleição, Zambrius respondeu: “Eu não explorei por completo o TSE e só me foquei em reunir os dados de utilizador”. Sistema de votos não foi invadido O TSE afirmou ainda no dia 15 de novembro, data do primeiro turno, que o vazamento envolvia apenas dados administrativos do tribunal, com informações de funcionários e ex-ministro da Corte. As informações são referentes ao período de 2001 a 2010. A falha não comprometeu o sistema de votação, que funciona à parte e possui várias travas de segurança, inclusive utilizando chaves e criptografia. O ataque também não poderia afetar as urnas eletrônicas, que estavam recebendo o voto dos eleitores naquele momento, porque elas não são conectadas à internet. Ainda no dia 15 de novembro, o Comprova pediu a quatro especialistas em cibersegurança que avaliassem os dados vazados para saber se eles poderiam comprometer o resultado das eleições. Todos foram unânimes em afirmar que o sistema de votos não foi afetado e que o ataque não violou a segurança da eleição. Foram ouvidos Paulo Lício de Geus, professor do Instituto de Computação e CIO da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e representante da Sociedade Brasileira de Computação nos testes públicos de segurança do sistema eletrônico de votação do TSE; Hiago Kin, presidente da Associação Brasileira de Segurança Cibernética e CEO da Deepcript; Thiago Tavares, presidente da SaferNet; e Márcio Correia, analista de sistemas da Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor de Tecnologia de Informação da Faculdade Cearense (FaC). Posição do TSE e segurança da eleição Desde o dia do primeiro turno da eleição, as informações iniciais passadas pelo ministro Luís Roberto Barroso eram de que o vazamento de dados havia partido de Portugal. O ministro da Justiça, André Mendonça, também afirmou, no dia da votação, que a Polícia Federal estava investigando o caso e não havia encontrado “qualquer indicativo de prejuízo ao pleito eleitoral”. Além de garantir que a falha de segurança não afetou o resultado das eleições por conta das medidas de proteção, o TSE também instituiu uma Comissão de Segurança Cibernética para trocar informações com a PF e acompanhar a apuração do caso. As urnas eletrônicas possuem comandos que garantem que apenas softwares assinados digitalmente pelo TSE possam ser executados. Também são programadas barreiras de segurança que fazem com que tentativas de ataque ou de executar um software não autorizado bloqueiem o aparelho. O programa oficial do TSE também para automaticamente de ser executado caso alguém tente executá-lo em um hardware não certificado. Além disso, a urna não é conectada à internet. O sistema operacional instalado nela impede a conexão com qualquer rede ou acesso remoto. As urnas passam por testes públicos em que especialistas tentam quebrar as barreiras de segurança. Em nenhuma das cinco edições (realizadas em 2009, 2012, 2016, 2017 e 2019) os programadores conseguiram quebrar o sigilo ou desvirtuar a destinação dos votos. Se houver qualquer suspeita em relação à autenticidade do software utilizado em qualquer aparelho, as assinaturas digitais também podem ser conferidas pela Justiça Eleitoral. Por fim, o TSE realiza auditorias para testar a segurança e a lisura da votação. Os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) sorteiam ao menos seis urnas em cada turno da eleição. Em três delas são conferidos os sistemas instalados no equipamento. Fiscais da sociedade civil, de partidos políticos e cidadãos podem conferir se a assinatura digital que consta nas urnas é a mesma que foi lacrada anteriormente em uma cerimônia feita pela Justiça Eleitoral. Nas demais urnas, é feita uma votação paralela. Em um local público, com a participação de fiscais dos partidos políticos e de qualquer cidadão que tenha interesse em acompanhar, é feita uma votação simulada, em que os representantes dos partidos preenchem cédulas em papel e, depois, registram esses votos nas urnas. Ao final, as cédulas em papel são contadas para verificar se os votos batem com o boletim impresso ao final pela urna eletrônica. O autor do post O Comprova entrou em contato com o autor da postagem, um ex-agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) com atuação pró-Bolsonaro nas redes sociais. “Eu não disse que ela (a urna eletrônica) não é auditável. Eu disse que sem o voto impresso, não há segurança 100%. (…) Não é voltar ao sistema anterior, mas adicionar outra camada de segurança”, afirmou, defendendo a impressão do voto, medida declarada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por riscos de fraude e quebra de sigilo. Logo após o contato do Comprova, o autor restringiu o acesso à publicação, que já havia sido curtida por mais de duas mil contas e compartilhada por quase 500. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre as eleições de 2020, a pandemia de covid-19 e políticas públicas do governo federal. É o caso do tuíte verificado aqui, do perfil @pacefeco, que teve 2,2 mil interações nas redes sociais. Conteúdos sobre a eleição são importantes porque a desinformação pode afetar a credibilidade dos resultados das urnas. Recentemente, o Comprova mostrou que as justificativas dos eleitores não podem ser transformadas em votos válidos; que a apuração brasileira é aberta a qualquer pessoa; que é possível realizar recontagem dos votos; e que o sistema que aparece em um vídeo para simular fraude não é o mesmo das urnas eletrônicas. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Eleições']
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2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/tratamento-precoce-com-hidroxicloroquina-nao-evitou-mortes-em-porto-feliz/
COMPROVA
‘Tratamento precoce’ com hidroxicloroquina não evitou mortes em Porto Feliz
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2020-11-27
A cidade no interior de São Paulo registrou mortes por covid-19 e o "tratamento precoce" com hidroxicloroquina não cobriu toda população Conteúdo verificado: Post no Facebook atribui reeleição de prefeito de Porto Feliz (SP) a suposto tratamento precoce de 100% da população com hidroxicloroquina e ausência de óbitos após adoção do protocolo São falsas as informações divulgadas em um post no Facebook sobre a situação da covid-19 na cidade de Porto Feliz, no interior de São Paulo. A cidade não é referência no combate à doença por ter tratado “precocemente” toda a população com hidroxicloroquina. De fato, o medicamento passou a ser adotado pela cidade em abril, junto com outros remédios também sem eficácia comprovada contra a doença causada pelo novo coronavírus, como a ivermectina. No entanto, para a comunidade científica, não existe tratamento precoce para a enfermidade e não há, ainda, um tratamento com eficácia comprovada. Tampouco é verdade que a cidade tenha tratado 100% da população com o medicamento, como afirma o post. É falsa, também, a informação de que o município não tenha registrado nenhum óbito da doença após o “tratamento precoce” ser adotado. A cidade só começou a divulgar boletins em agosto. No dia 1º daquele mês, a cidade já tinha 10 óbitos. Desde então, mais 6 pessoas morreram de covid-19 em Porto Feliz, totalizando 16 vítimas até esta quinta-feira (26). A única informação verdadeira do post é sobre a reeleição do prefeito, o médico Dr. Cássio (PTB). Segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele recebeu 92,1% dos votos no dia 15 de novembro deste ano. Como verificamos? Primeiramente, buscamos o resultado da votação para a eleição municipal em 1º turno, no dia 15 de novembro, no app de Resultados do Tribunal Superior Eleitoral. Em seguida, localizamos os boletins epidemiológicos divulgados pela Prefeitura Municipal de Porto Feliz, cidade a cerca de 100 km de São Paulo, e também pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. Procuramos por informações sobre a situação em Porto Feliz em reportagens publicadas desde o início da pandemia e, em seguida, buscamos a Prefeitura Municipal de Porto Feliz, que nos respondeu por meio da coordenadoria de Comunicação Social. Também contatamos, via Facebook, moradores da cidade que comentaram em uma postagem sobre o cancelamento – por causa da pandemia – de um show, que aconteceria no dia 21 de novembro, no Porto Feliz Tênis Clube. Três pessoas aceitaram falar com a reportagem, sendo uma a respeito do uso da cloroquina e outras duas sobre como funcionou o protocolo na cidade. Ouvimos o médico epidemiologista Eduardo Martins Netto, que é professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia (UFBA), e consultamos as publicações da Organização Mundial de Saúde (OMS) a respeito do uso da cloroquina e da hidroxicloroquina, que é derivada da primeira. Por fim, entramos em contato com o responsável pela publicação no post no Facebook. Ele respondeu que fez uso da hidroxicloroquina e acredita na eficácia científica do tratamento. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 27 de novembro de 2020. Verificação ‘Tratamento precoce’ A expressão “tratamento precoce”, usada no post verificado, não é correta. Outras verificações feitas pelo Comprova mostram que a comunidade científica não reconhece a existência de um tratamento precoce contra a covid-19. É o que afirma, também, o médico epidemiologista Eduardo Martins Netto, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia. “Não existe tratamento precoce contra a covid. E os riscos [do uso de remédios] são atribuídos ao tipo de medicação que você está tomando. Além do risco de a pessoa ser enganada”, afirma, referindo-se à não comprovação científica de que o uso desses medicamentos tem eficácia contra a covid-19. Mesmo sem essa comprovação, uma reportagem publicada pela Agência Pública em outubro mostrou como o prefeito da cidade distribuiu a cloroquina e outros medicamentos numa espécie de coquetel para “tratar” a população contra a doença. Outra reportagem do Estadão mostrou que o protocolo era adotado desde abril. 100% da população tomou cloroquina? Não. No mês de junho, segundo a reportagem da Agência Pública, o prefeito Dr. Cássio disse, numa entrevista via live ao jornalista Alexandre Garcia, que havia distribuído 1.500 kits à população da cidade e que nenhuma das pessoas que fez uso deles morreu ou foi intubada. Essa informação também foi fornecida pela prefeitura a agências de checagem em julho (Estadão, Aos Fatos e Fato ou Fake). Mas nem todo mundo recebeu ou mesmo fez uso dos medicamentos – a população estimada da cidade, em 2020, é de 53,4 mil habitantes, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O Comprova conversou com três moradores da cidade que comentaram no post de uma página do Facebook sobre o cancelamento de um show no dia 21 de novembro, justamente por conta da pandemia. Procurada pelo Comprova, a coordenadoria de Comunicação Social da Prefeitura de Porto Feliz respondeu que a informação de que “toda a população fez uso precoce da cloroquina para o tratamento da covid-19 é fake”. A coordenadoria também tratou como falsa a alegação “sobre a cidade não ter tido nenhuma morte”. Sobre os moradores Realizamos contato por meio de uma página no Facebook com moradores da cidade de Porto Feliz e os questionamos sobre a distribuição de medicamentos para ‘tratamento precoce’ da covid-19. Eles confirmaram a distribuição pelos postos de saúde e nas residências. Segundo eles, essa medida alcançou boa parcela da cidade, que a tomou como medida preventiva. Segundo moradores, a prefeitura e unidades de saúde pedem para a população que, no primeiro sintoma, procure de imediato uma “unidade de saúde Sentinela” e a “Santa Casa”. Logo depois, a pessoa é encaminhada para a realização de uma bateria de exames, como hemograma, tomografia pulmonar e eletrocardiograma. Caso não haja alteração nos exames, a pessoa está apta a recorrer aos medicamentos para ‘tratamento preventivo’ e já sai do local com o kit em mãos, antes mesmo do resultado oficial. Dentre os medicamentos fornecidos pelas unidades de saúde para o tratamento estão azitromicina, ivermectina e cloroquina, além de anti-inflamatório, coagulantes e remédio para febre. Uma das moradoras da cidade com quem conversamos disse que tem histórico de arritmia cardíaca e, por isso, se pegar covid, precisa usar outro medicamento. Segundo especialistas, ivermectina não é indicada para o tratamento da doença. “Eu não fiz uso da ivermectina quando o pessoal do posto de saúde passou na minha casa. Se fosse vacina, eu tomaria”, declara. Cidade tem 16 mortes pela covid-19 O post verificado aponta que Porto Feliz não registrou nenhuma morte após adotar o protocolo de “tratamento precoce” com hidroxicloroquina. A informação também não é verdadeira, e a própria prefeitura da cidade a desmentiu. Para que isso fosse verdade, era preciso que Porto Feliz não tivesse registrado nenhuma morte desde abril, quando iniciou o protocolo. Os boletins começaram a ser divulgados pela prefeitura em agosto e, naquele mês, já havia 10 óbitos. Até as 18h desta quinta-feira (26), a cidade tinha 1.441 casos de covid-19 e 16 óbitos, segundo dados do boletim epidemiológico divulgado pela Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo. A taxa de letalidade na cidade é de 1,12% e o índice de óbitos por 100 mil habitantes, de 29,96. O índice é menor do que o da maior parte das cidades da mesma região – de Sorocaba – com um total aproximado de população. É o caso de Piedade, que tem 40 óbitos e índice de 72,02 para cada 100 mil habitantes; de Salto de Pirapora, com 23 mortes e 50,15 para cada 100 mil; e de Mairinque, com 21 óbitos e índice de 44,27 para cada 100 mil habitantes. Passa à frente, no entanto, de outras cidades paulistas maiores, como Assis, que tem mais casos, mais óbitos e população maior, embora um índice de mortes por 100 mil habitantes menores (26,64) e de São Carlos (22,79). A capital, São Paulo, tem letalidade de 4,13% e índice de 116,09 óbitos para cada 100 mil habitantes. Esta não é a primeira vez que circula nas redes a informação de que Porto Feliz não registrou mortes pela covid-19. Em julho, o Estadão Verifica, o Aos Fatos e o G1 fizeram checagens que mostravam que a informação era falsa. Naquela ocasião, dia 16 de julho, o Estadão Verifica mostrou que a cidade tinha oito mortes. Pouco antes, em 11 de junho, quando a informação falsa começou a circular, o total era de seis. O site oficial da prefeitura mostra os boletins epidemiológicos divulgados a partir do dia 1º de agosto. Naquela data, Porto Feliz tinha 10 óbitos confirmados. Em 10 de agosto, o número chegou a 11 e saltou para 12 em 13 de agosto. O 13º óbito ocorreu em 19 de agosto; o 14º em 29 de outubro; o 15º em 4 de novembro e o mais recente, o 16º, em 26 de novembro. O que a ciência diz a respeito do uso precoce de cloroquina Segundo a OMS, não há evidência científica de que a cloroquina ou a hidroxicloroquina seja eficaz no tratamento da covid-19. Apesar disso, o Sindicato da Indústria de Produtos Farmacêuticos (Sindusfarma) indica que o consumo da cloroquina cresceu 358% na pandemia. No Brasil, o uso do medicamento foi amplamente incentivado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que mostrou a hidroxicloroquina em reunião do G20, em março, e lançou uma campanha do governo federal para incentivar o uso do medicamento, além de ter exibido a caixa do remédio em aparições públicas. Antes da campanha, a OMS já alertava sobre os efeitos colaterais e o risco do uso sem comprovação científica. Prefeito reeleito O médico Dr. Cássio (PTB) foi mesmo reeleito prefeito na cidade de Porto Feliz, com 92,1% dos votos válidos no dia 15 de novembro deste ano. Ele recebeu 25.318 votos. Os outros candidatos a prefeito foram Marola (DEM), que recebeu 5,70% dos votos (1.566) e Miguel Arcanjo (Rede), com 2,21% (607 votos). Antonio Cássio Habice Prado é médico com CRM 49282-SP no Conselho de Medicina desde 1984, sem especialidade registrada. Formou-se na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, em São Paulo. Dr. Cássio é um dos apoiadores do movimento “Médicos contra a Covid-19” que em agosto de 2020 fez uma caravana pedindo a hidroxicloroquina nas farmácias populares. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o projeto Comprova verifica conteúdos duvidosos que viralizaram na internet relacionados a políticas do governo federal, à pandemia ou às eleições municipais de 2020. A publicação investigada é falsa por afirmar não haver nenhuma morte pela covid-19 na cidade de Porto Feliz, São Paulo, depois de a população ter sido tratada precocemente por hidroxicloroquina. Nesse sentido, a verificação se torna fundamental e ajuda pessoas a não se exporem a medicações sem eficácia comprovada. O conteúdo verificado pelo Comprova teve 2,1 mil interações no Facebook, na página Bolsonaro presidente 2022. Na publicação, há uma foto do prefeito recém eleito, Dr. Cássio Prado, com a mensagem de que ele é “ignorado pela grande mídia”. Na imagem há uma marca d’água do lado direito com o texto ‘Capitão Assumção, deputado estadual do Espírito Santo’. O texto apresenta a cidade de Porto Feliz como referência no combate à covid-19 com tratamento precoce da hidroxicloroquina. Outras páginas no Facebook fazem essa mesma afirmação – a que teve mais interações foi publicada no dia 26 com mais de 1.000 compartilhamentos. No entanto, essas alegações não são novas. O Estadão Verifica investigou o boato de que Porto Feliz não teria tido nenhum óbito com protocolo de tratamento em julho. A Agência Pública apontou em outubro que a hidroxicloroquina chegou a ser distribuída de porta em porta. Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Pandemia']
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2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/bolsonaro-nao-se-beneficiou-de-fraude-eleitoral-em-1994/
COMPROVA
Bolsonaro não se beneficiou de fraude eleitoral em 1994
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2020-11-27
Notícia de 1994 compartilhada agora nas redes sociais é verdadeira, mas não indica qualquer evidência de que Bolsonaro tenha participado da fraude. Nas eleições daquele ano, ele foi o terceiro candidato mais votado no Rio de Janeiro Conteúdo verificado: Tuíte usa recorte de um jornal da década de 1990 para afirmar que Jair Bolsonaro já se envolveu em fraude eleitoral É enganoso afirmar que o atual presidente, Jair Bolsonaro (sem partido), participou de fraude em eleições nos anos 1990. A alegação viralizou no Twitter no início da semana (23/11). A postagem apresenta uma notícia da época, em que Bolsonaro, então candidato a deputado federal, é citado como um dos favorecidos pelo uso de cédulas falsas. O tuíte desconsidera que, de acordo com a própria reportagem, Bolsonaro só teria angariado um voto a mais caso a Justiça Eleitoral não tivesse descoberto as irregularidades nas cédulas naquele ano. Nas eleições de 1994, ele foi o terceiro candidato mais votado no Rio de Janeiro. Além disso, a notícia não indica qualquer evidência de que ele tenha participado do episódio. Contudo, o Comprova verificou que a notícia é verdadeira e que as irregularidades citadas no jornal não foram as únicas registradas na ocasião. A eleição chegou a ser anulada e uma segunda votação foi realizada. Em 1996, porém, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) restabeleceu o resultado do primeiro pleito por entender que a maioria dos votos foi válida. De acordo com especialistas consultados pela reportagem, as fraudes no período foram facilitadas pelo fato do voto ser impresso. Os métodos para fraudar eram inúmeros: cédulas depositadas em branco nas urnas pelos eleitores poderiam ser preenchidas irregularmente durante a apuração; lotes inteiros de cédulas não utilizadas poderiam ser extraviadas; e os formulários chamados “boletins de urnas” poderiam ser alterados após a apuração com informações falsas, tidas como autênticas por não haver registro eletrônico. O voto em papel é a tecnologia defendida diversas vezes pelo presidente Bolsonaro, mas, segundo o TSE, as urnas eletrônicas vieram para dar mais segurança e confiabilidade às eleições. Como verificamos? Na publicação verificada, internautas comentaram que o recorte da reportagem seria do Jornal do Brasil de 1994. O Comprova confirmou a informação após pesquisas no arquivo da Biblioteca Nacional. Por meio das edições antigas do periódico, também fizemos um retrato das fraudes ocorridas naquelas eleições. A fim de comentar como era o cenário da votação e da apuração na época, entrevistamos por telefone o cientista político David Fisher, que foi observador da Organização dos Estados Americanos (OEA) em São Paulo; e o procurador regional eleitoral aposentado Alcir Molina da Costa, que foi responsável pelo pedido de anulação daquela eleição. Detalhes sobre a investigação das fraudes e o desfecho dela foram solicitados à assessoria de imprensa do Tribunal Superior Eleitoral. Os resultados das eleições do Rio de Janeiro em 1994 estão disponíveis no próprio site do TSE. Por estes meios, também foram obtidas informações sobre a adoção e a segurança das urnas eletrônicas. Para contextualizar a verificação, o Comprova buscou notícias no Google sobre o voto impresso, encontrando declarações favoráveis de Jair Bolsonaro (sem partido) e contrárias do ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE. Pelo buscador também detalhamos quem eram os outros deputados citados na reportagem presente no tweet. Verificação A reportagem antiga é real O recorte do jornal mostrado no tuíte verificado é real. Trata-se de uma reportagem publicada no Jornal do Brasil, no dia 17 de novembro de 1994. Ela aparece na quinta página do periódico, na seção “Política e Governo”, que naquele dia cobria, principalmente, as eleições. Naquele ano, a votação ainda era feita por meio de cédulas de papel. Conforme o texto, foram constatadas fraudes em quatro zonas eleitorais no Rio de Janeiro. Na 70ª, cerca de 200 votos foram anulados devido à caligrafia idêntica. Na 25ª, havia 16 votos fantasmas, 15 com assinaturas falsificadas e 79 preenchidos com a mesma letra. Na 77ª zona, 28 votos para um candidato a deputado não foram contabilizados. Já a tentativa de fraude envolvendo o agora presidente Jair Bolsonaro – na época, candidato a deputado federal – aconteceu na 24ª zona, onde foram descobertas quatro cédulas falsas, feitas com papel mais fino. Também seriam beneficiados Álvaro Valle (PL), Vanessa Felippe (PSDB) e Francisco Silva (PP). Na ocasião, Jair Messias Bolsonaro (PPR) foi o terceiro candidato a deputado federal mais votado no Rio de Janeiro, com 111.927 votos (2,48%), de acordo com o resultado divulgado no site do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O mais votado, Oliveira Franciso da Silva (PP), teve 141.880 votos (3,14%). Os dois foram eleitos. Outros dois candidatos que teriam recebido os votos falsos –caso os mesmos não tivessem sido detectados– também se elegeram. Vanessa Felippe (PSDB), que angariou 44.822 votos (0,99%), e Álvaro Bastos do Valle (PL), com 38.247 votos (0,85%). Na lista dos candidatos mais votados no Rio de Janeiro, eles aparecem nas posições 24ª e 34ª, respectivamente. As fraudes nas eleições de 1994 no Rio de Janeiro Os jornais da época relatam vários casos diferentes de fraude ou suspeita de fraude, com métodos diferentes. O primeiro indício da fraude generalizada foi o baixo percentual de votos em branco, que havia caído pela metade: de 20,8% em 1990 para 10,8% em 1994, no caso da eleição para deputado estadual. À medida que a apuração avançava, fiscais e juízes também perceberam a grande quantidade de cédulas preenchidas com a mesma caligrafia. A 25ª zona, em Santa Cruz, teria sido a região com maior número de votos fraudados, mas as denúncias recebidas pela Justiça Eleitoral e pelo Ministério Público chegavam de vários bairros da capital e de municípios da região metropolitana e interior. Em pelo menos quatro urnas, havia mais votos do que eleitores registrados. Em um caso, o presidente da 58º seção da 117ª zona eleitoral, na Ilha do Governador, desapareceu levando urnas, cabine de papelão, livro de votação, 500 cédulas de votação para governador e 500 para deputado federal e estadual. Na 7ª zona, um escrutinador (voluntário credenciado pela Justiça Eleitoral para contar os votos) suspeito de alterar oito boletins de urna foi preso duas semanas após a eleição do primeiro turno, quando foi ao fórum participar de uma audiência do próprio divórcio. Em Nova Iguaçu, um juiz eleitoral chegou a ser investigado por envolvimento com uma quadrilha de fraudadores. Ele teria violado o código eleitoral ao nomear dois parentes para atuar na mesma junta apuradora. As pessoas nomeadas pelo juiz, dois irmãos, foram flagrados alterando boletins de urna em favor de um candidato do PPR, apoiado pelo então presidente da Assembleia Legislativa, José Nader (PDT). Desfecho: houve anulação, mas foi revertida Por causa das fraudes, a eleição foi anulada e houve uma nova votação para os cargos proporcionais junto com a votação do segundo turno para governador, no dia 15 de novembro. No entanto, em 1996, a segunda votação é que foi anulada e os resultados da primeira votação foram homologados pelo TSE. Em e-mail enviado ao Comprova, o Tribunal Superior Eleitoral explicou que as eleições proporcionais foram anuladas pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ) porque “entendeu que o índice de votos em branco poderia ser uma evidência de fraude na votação”. Porém, “essa anulação foi revertida em 1996 pelo plenário do TSE”. “Para os ministros da Corte Eleitoral, não ficou provado que o total de votos supostamente fraudados seria o suficiente para determinar anulação de todo o pleito. É importante esclarecer que o voto fraudado é retirado do cômputo dos votos válidos, mas isso não necessariamente conduz à anulação de toda a votação. Para que isso ocorra, é preciso ter a comprovação de fraude substancial acima de 50% dos votos válidos”, esclareceu o TSE. Procurador regional eleitoral naquela eleição e hoje aposentado do Ministério Público Federal (MPF), Alcir Molina da Costa, contou que, naquele ano, a decisão do TRE-RJ de anular as eleições para deputado federal e estadual foi inédita e surpreendente. “Desde os anos 1960 e 1970, havia no Rio um ditado entre candidatos e cabos eleitorais que dizia ‘eleição não se ganha na votação, se ganha na apuração’. Era verdade. O ambiente da apuração, primeiro no Maracanãzinho e, depois, no Riocentro, era uma grande confusão, com centenas de mesas apuradoras cercadas por fiscais dos partidos, com as contagens das cédulas de papel e preenchimento de boletins oficiais acontecendo ao mesmo tempo”, recordou. Em 1994, contudo, as denúncias que surgiam a todo instante e vindas de todos os locais do estado indicavam que as fraudes tinham se tornado a regra e não a exceção. “Então, eu e o juiz-corregedor eleitoral, Paulo César Salomão, entendemos que não podíamos homologar aquele absurdo. Mesmo sabendo que seria difícil o TRE concordar, pedimos a anulação”. Para surpresa de ambos, foram sete votos a zero pela suspensão da primeira votação. Qual o envolvimento de Jair Bolsonaro? Apesar do nome do atual presidente aparecer na reportagem, não é possível afirmar que ele tenha tido envolvimento direto com a ação. Ele é citado apenas em um caso isolado, exatamente o do recorte do Jornal do Brasil mostrado no conteúdo verificado. Conforme relata o próprio texto, ele poderia ter recebido somente um voto fruto de fraude, elaborado em uma cédula de papel que era mais fina que a oficial. O mesmo aconteceu com Álvaro Valle (PL), Vanessa Felipe (PSDB) e Francisco Silva (PP). As suspeitas mais graves, já citadas acima, recaíram sobre diversos outros candidatos e candidatas. Também de acordo com o ex-procurador regional eleitoral Alcir Molina, a quantidade de cédulas com o nome de Bolsonaro era irrelevante e restrita a uma seção eleitoral. Aliás, o atual presidente teve cerca de 23 mil votos a mais na segunda eleição do que na primeira. Além dele, os outros três candidatos em igual situação também foram eleitos em ambas as votações. Quem são os outros candidatos citados? Mais votado entre todos os candidatos, Oliveira Francisco da Silva era empresário e radialista. Nascido na cidade de Cunha (SP), ele foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro a primeira vez em 1990, pelo PDC. Nas eleições de 1994, ele foi reeleito. No ano seguinte, ele foi um dos fundadores do Partido Progressista Brasileiro (PPB). Novamente reeleito em 1998, Oliveira Francisco da Silva deixou o cargo em janeiro de 1999 para assumir a Secretaria de Habitação do Rio de Janeiro, na gestão de Anthony Garotinho. Em outubro de 2017, aos 79 anos, ele morreu e foi velado na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj). Ele é pai do atual deputado estadual Fábio Silva. Já Álvaro Bastos do Valle era professor, diplomata e bacharel em direito. Antes das eleições de 1994, ele já tinha sido eleito deputado federal cinco vezes consecutivas pelo Rio de Janeiro, sendo a primeira delas em 1974. Nas décadas de 1960 e 1970, ele foi também deputado estadual pela UDN e pela ARENA. Em junho de 1985, ele fundou o Partido Liberal (PL) e, no ano seguinte, foi o quinto candidato à deputado federal constituinte mais votado de todo o país, com mais de 320 mil votos, fazendo parte, assim, da Assembleia Constituinte. Nascido no Rio de Janeiro em 1934, ele morreu na capital em janeiro de 2000, aos 65 anos. Nascida em outubro de 1972, Vanessa Poyares Tuffy Felippe foi deputada federal pelo Rio de Janeiro entre os anos de 1995 e 1999, iniciando o mandato como a mais jovem congressista do país, com apenas 26 anos. Ela é filha do também político Jorge Miguel Felipe, que foi três vezes vereador da capital fluminense. Atualmente empresária, ela foi novamente candidata a deputada federal pelo Rio nas eleições de 2018, pelo Partido da Mobilização Nacional (PMN), terminando a disputa como suplente. Em 2016, ela se candidatou à vereadora na capital fluminense pelo Partido Trabalhista do Brasil (PTdoB), mas não foi eleita. Votação em papel facilita fraudes e manipulações Cientista político da Universidade de Brasília (UnB), David Fisher foi categórico ao afirmar que o voto por meio de cédulas de papel “abre muito espaço para manipulação e falsificação”. Como exemplo, ele citou experiências que viveu durante as eleições de 1994 em São Paulo, quando foi observador da Organização dos Estados Americanos. “Era complicado porque tinha que apurar votos para cargos majoritários e proporcionais. Teve uma mesária que foi ao banheiro quatro ou cinco vezes. O juiz desconfiou e mandou uma oficial ir atrás dela. A apuradora havia pego votos em branco sorrateiramente, colocado na calcinha e estava no banheiro preenchendo”, exemplificou. “Naquela época, nas cidades menores, tinha o fenômeno que o cabo eleitoral guardava o título eleitoral dos eleitores e depois levava o eleitor para votar. Chegava lá, entregava o título e a chamada marmita (envelope com todas as cédulas de papel). Era muito mais produtivo você comprar o cabo eleitoral que os eleitores. O Mário Palmério, que foi um deputado federal de Minas Gerais, publicou um livro chamado ‘Vila dos Confins’ que descreve uma eleição. A maior corrupção que ele já tinha visto”, contou Fisher. Outro exemplo dado por ele é o de um juiz eleitoral que pediu a opinião dos fiscais para saber como contabilizar os votos. “Fernando Henrique Cardoso não era candidato, deveria ser voto nulo. Mas podia contar como voto partidário ao PSDB. Mesma coisa no caso do Lula e do Brizola: acabou contando como voto de legenda”, contou. O próprio TSE admitiu que houve “várias denúncias de fraudes antes da adoção da urna eletrônica pela Justiça Eleitoral”. No entanto, o Tribunal não tem um levantamento específico sobre essas ocorrências. “Esclarecemos que todos os votos que comprovadamente decorriam de fraude eram anulados e excluídos da contagem dos votos válidos”, garantiu por e-mail. O procurador aposentado Alcir Molina conta que a fraude generalizada de 1994 estimulou o TSE a acelerar o processo de adoção do voto eletrônico no país, que passou a ser testado já na eleição seguinte. Adoção das urnas eletrônicas As urnas eletrônicas passaram a ser adotadas nas eleições brasileiras em 1996. Ou seja, na seguinte à relatada nesta verificação. De acordo com o próprio Tribunal Superior Eleitoral, ela foi desenvolvida “com o objetivo de garantir mais segurança, rapidez e transparência ao processo eleitoral – diminuindo a intervenção humana dos procedimentos de apuração e totalização dos resultados”. Assim como “impedir interferências na vontade do eleitor” e “assegurar o sigilo do voto”. Desde que a urna eletrônica começou a ser utilizada, “não houve qualquer comprovação de fraude envolvendo o sistema eleitoral brasileiro”. Gradualmente implantado a partir das eleições de 1996, o voto eletrônico passou a estar presente em todo o país em 2000. “A partir de 2008, a Justiça Eleitoral iniciou o cadastro biométrico dos eleitores, aumentando ainda mais a segurança do pleito”, afirmou o TSE. Recentemente, o Comprova já realizou diversas verificações que mostram a segurança e a confiabilidade das urnas e do atual sistema de votação do país, tais como: a que mostrou ser possível auditar e realizar a recontagem de votos; a que esclareceu que a apuração é aberta para qualquer pessoa; e a que garante que as justificativas dos eleitores não podem ser transformadas em votos válidos. Bolsonaro é a favor do voto impresso Atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro já se declarou a favor do voto impresso inúmeras vezes, inclusive durante a campanha à presidência. Recentemente, no dia 5 deste mês, em transmissão ao vivo pela internet, ele voltou a defender a mudança já para as próximas eleições, em 2022. Vale lembrar também que, em março deste ano, Bolsonaro afirmou – sem apresentar provas – que a eleição de 2018, na qual ele saiu vencedor, teria sido fraudada. Até hoje as provas que ele garantiu possuir nunca foram apresentadas. Também com a alegação de “evitar fraudes”, ele defendeu o voto impresso em outubro. No último domingo (22), o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente, também defendeu que um Projeto de Emenda Constitucional (PEC) para a impressão de comprovantes de urna junto aos votos seja tratado como prioridade. No mesmo dia, apoiadores do governo federal se manifestaram em apoio no Planalto do Palácio. É importante ressaltar que o Supremo Tribunal Federal (STF) decidiu, em setembro deste ano, que a impressão do registro do voto eletrônico é inconstitucional, porque poderia colocar em risco o sigilo e a liberdade do voto. Sobre a decisão, o Comprova chegou a esclarecer que era enganosa a afirmação de que o voto impresso seria inconstitucional. Rebatendo as afirmações de Bolsonaro, o ministro Luís Roberto Barroso, atual presidente do TSE, reiterou que “de 1996 para cá nunca se documentou nenhum tipo de fraude associada às urnas eletrônicas”, que não tem “paixão pelas urnas, mas apreço por eleições limpas” e declarou que “retornar ao voto impresso é um retrocesso, é como comprar um videocassete na era do streaming”. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos duvidosos que viralizaram na internet, relacionados a políticas do governo federal, à pandemia ou às eleições municipais de 2020. A publicação aqui verificada engana ao usar uma reportagem real para afirmar que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) já se envolveu em fraude eleitoral. Até o início da tarde de 26 de novembro, o tuíte em questão já tinha mais 3.300 curtidas, além de 690 retweets e mais de 240 comentários. De acordo com a ferramenta CrowdTangle, o conteúdo poderia ter atingido até 280 mil internautas, apenas no Twitter. A publicação também foi compartilhada no Facebook, mas em menor número. Recentemente, em maio ao período eleitoral, o Comprova já mostrou que o software usado nas urnas eletrônicas brasileiras não é o mesmo que o utilizado nos EUA, que diferenças entre o resultado da pesquisa e da eleição não significa fraude, que o TSE não atualizou o resultados das eleições com base em um portal de notícias e que o sistema usado em um vídeo que sugere fraudes não é o mesmo usado nas urnas eletrônicas do Brasil. Enganoso, para o Comprova, é todo conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos ou que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; conteúdo que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/panfletos-distorcem-frase-de-marilia-arraes-sobre-a-biblia/
COMPROVA
Panfletos distorcem frase de Marília Arraes sobre a Bíblia
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2020-11-26
Os conteúdos verificados foram retirados de contexto para dar a entender que a petista seria contra a Bíblia, mas escondem que a frase destacada envolvia uma defesa do estado laico e não uma ação anti-Bíblia Conteúdo verificado: Panfletos e posts no Facebook segundo os quais Marília Arraes, candidata à Prefeitura do Recife, quis proibir a leitura da Bíblia na Câmara dos Vereadores e que é impossível cristãos apoiarem sua eleição São enganosos os panfletos e posts afirmando que a deputada federal Marília Arraes (PT), candidata à Prefeitura do Recife, quis proibir a leitura da Bíblia nas sessões da Câmara dos Vereadores da capital pernambucana quando era vereadora. Os materiais alegam que “cristão de verdade” não vota na petista e estampam um trecho de uma fala da candidata retirada de contexto. Os conteúdos verificados dão a entender que a petista seria contra a Bíblia, mas escondem que a frase destacada envolvia uma defesa do estado laico e não uma ação anti-Bíblia. A frase de Marília que aparece no panfleto é a seguinte: “Inclusive, na edição do novo regimento, me posicionei contra se manter o costume de se ler passagens da Bíblia e se falar em nome de Deus”. A candidata fez essa declaração em 2017, em entrevista à Folha de Pernambuco, ao comentar a decisão do Ministério Público de Pernambuco (MPPE) de recomendar a proibição de práticas religiosas na Câmara. Os panfletos não são assinados e, após um pedido da candidata, a Justiça Eleitoral determinou que eles não fossem mais distribuídos. O site do PT, partido da candidata, publicou um texto afirmando ser falso que Marília seja contra a Bíblia e os cristãos. O Comprova procurou a assessoria de imprensa da candidata, mas não obteve retorno até a publicação deste texto. Como verificamos? O Comprova buscou reportagens antigas, em jornais de Pernambuco e nos sites e redes sociais da Câmara de Vereadores do Recife, para descobrir se a frase atribuída a Marília Arraes existia e qual o contexto em que teria sido dita. A reportagem buscou também o Ministério Público de Pernambuco (MPPE), para ter acesso à resolução que motivou a declaração da candidata, e o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-PE), para saber quais as medidas judiciais em torno da distribuição dos panfletos e publicações na internet. A página que publicou as postagens foi procurada, bem como a assessoria de comunicação da petista e do candidato do PSB, João Campos. Também foram consultadas publicações nas páginas de redes sociais de ambos, e entrevistas anteriores, para saber o posicionamento de Marília sobre temas correlatos ao da declaração mencionada nas postagens checadas. O programa de governo da candidata e o site do PT também foram usados para a checagem. Verificação Marília e a leitura da Bíblia na Câmara dos Vereadores A declaração de Marília Arraes, que aparece nas imagens publicadas na internet, foi extraída de uma reportagem publicada na Folha de Pernambuco, no dia 21 de abril de 2017. O jornal repercutiu entre os parlamentares uma resolução do Ministério Público de Pernambuco que recomendava que o presidente da Câmara de Vereadores do Recife se abstivesse de “autorizar/permitir a realização naquela casa legislativa e/ou seus anexos, de reunião/encontro ou assemelhado, em que haja a prática de liturgias e rituais próprios de cultuação religiosa.” Marília Arraes foi consultada sobre a recomendação do MPPE por, na época, ocupar o cargo de líder da oposição na Câmara. De acordo com a reportagem, a frase completa dita por ela foi: “A defesa do Estado Laico é uma luta que vem sendo travada desde o primeiro mandato. Inclusive, na edição do novo regimento me posicionei contra se manter o costume de se ler passagens da Bíblia e se falar no nome de Deus. A gente tem que prezar pelo Estado Laico, principalmente pelo momento de retrocesso que a gente vive no Brasil”, ressaltou. Segundo a reportagem, em continuação, Marília Arraes disse que iria estudar uma forma de retirar a Bíblia do plenário, porém que era “importante frisar que esse posicionamento nosso não é contra qualquer religião. Ele é, sim, a favor de todas elas e para que a gente tenha um Estado sem discriminação”. A TV Câmara do Recife registrou os posicionamentos dos parlamentares no plenário, no dia em que foi expedida a recomendação do MPPE, mas lá não consta a frase de Marília Arraes nem qualquer manifestação da petista. O contexto da fala de Marília Arraes A frase foi dita por Marília Arraes no contexto da recomendação número 002/2017, publicada pelo Ministério Público de Pernambuco no Diário Oficial do dia 20 de abril de 2017. Na época, a 27ª Promotoria de Justiça de Defesa da Cidadania da Capital Promoção e Defesa do Patrimônio Público fez a recomendação considerando um procedimento preparatório para apurar “o pretenso uso das dependências da Câmara Municipal do Recife para a realização de evento religioso.” O MPPE deu 20 dias para que a Câmara dos Vereadores, na figura do presidente, informasse à Promotoria de Justiça sobre as providências adotadas em face da recomendação. O tema foi alvo de matérias na imprensa local, na Folha de Pernambuco, Diario de Pernambuco e no Blog do Jamildo, do Jornal do Commercio. O tema também motivou manifestações dos parlamentares em reuniões ordinárias de abril de 2017. O regimento da Câmara dos Vereadores do Recife diz que “a Bíblia Sagrada deverá ficar, durante todo o tempo da reunião, aberta sobre a mesa, à disposição de quem dela pretender fazer uso” e também diz que “achando-se presente na Casa, pelo menos, a quinta parte do número total de Vereadores, desprezada a fração, o Presidente declarará aberta a reunião, proferindo as seguintes palavras: ‘Sob a proteção de Deus e em nome do povo recifense, iniciamos nossos trabalhos’”. Por e-mail, o Ministério Público afirmou que “a recomendação foi feita em caráter preventivo e que o MPPE não tomou conhecimento de que a Câmara de Vereadores do Recife tenha descumprido a recomendação.” Cartazes apócrifos motivaram ações Os panfletos não possuem assinatura. A candidatura de Marília Arraes apresentou uma representação à Justiça Eleitoral para impedir a circulação desses panfletos e informou que eles estariam sendo entregues em frente a uma igreja no dia 22 de novembro. A defesa da candidata alegou que a campanha do adversário João Campos (PSB) “foi responsável pela confecção e patrocínio da entrega do material, pois os adesivos colados no carro utilizado na distribuição e o material elogioso do candidato entregue com a publicidade combatida apresentam design típico de sua campanha impresso em alta qualidade”. Na decisão, a juíza da 7ª Zona Eleitoral de Recife, Virgínia Gondim Dantas, deferiu liminar em favor da candidata petista proibindo a distribuição do material e acolheu o argumento da coligação que sustentava se tratar de propaganda irregular, ao dizer que a distribuição dos materiais impressos foi “levada a efeito de forma irregular, por não constar em nenhum deles a identificação do responsável pela confecção, assim como quem o contratou e a tiragem”. Essas informações são obrigatórias em materiais de propaganda de candidaturas, segundo resolução do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A magistrada também apontou na liminar que a propaganda “não poderia ser divulgada porque, além da característica [de campanha] negativa, apresenta contornos de fake news, uma vez que induz o eleitor que professa a fé cristã a ter sentimentos de ódio e ojeriza pela candidata, porquanto imputa fatos notadamente inverídicos e ensejadores do repúdio da população”, segundo um trecho da decisão. A coligação liderada por João Campos se manifestou ao ser citada na representação da candidatura adversária e negou qualquer relação com os materiais. O grupo disse tratar-se de “propaganda apócrifa, sem qualquer informação acerca da coligação ou do responsável pela confecção”, e que não há prova de autoria ou de conhecimento do fato por parte da campanha de Campos. Em uma série de postagens no Instagram no dia 23 de novembro, João Campos também negou relação com os materiais e disse que “jamais autorizaria qualquer tipo de ataque de baixo nível”. Ele afirmou ainda que foi “o primeiro a pedir ao Ministério Público a apuração de denúncias sobre materiais apócrifos vistos no Recife. De minha parte, nunca irão surgir ataques pessoais, baixarias, acusações ou notícias falsas.” Procurado pelo Comprova, a assessoria de Campos não retornou a mensagem até a publicação desta verificação. Além da representação com pedido de liminar para proibir a circulação dos panfletos, a campanha de Marília Arraes também moveu uma Ação de Investigação da Justiça Eleitoral (Aije) contra Campos e sua candidata a vice Isabella de Roldão (PDT) por suposta prática de abuso de poder econômico na distribuição dos materiais. Esta ação ainda não havia sido analisada pela Justiça eleitoral até as 13h de 26 de novembro de 2020. Onde os panfletos foram compartilhados As informações de que Marília Arraes teria tentado proibir a leitura da bíblia na Câmara de Vereadores foram publicadas em uma montagem com a foto da candidata à prefeita, acima da imagem de uma bíblia com sinal de proibição e uma frase entre aspas atribuída à Marília, dizendo que ela teria se posicionado contra a leitura da Bíblia “na edição do novo regimento”. Este mesmo panfleto que circulou em versão impressa em Recife aparece publicado por usuários no Facebook em um grupo de apoio à candidata a prefeita de Recife, Delegada Patrícia (Podemos), que ficou em quarto lugar no primeiro turno e que recebeu apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido). Um usuário publicou no mesmo grupo outra versão do panfleto com informações semelhantes, de que Marília Arraes “tirou a bíblia da Câmara do Recife”, de que o “PT persegue cristãos em todo o Brasil”, entre outras acusações. A postagem do primeiro cartaz também foi replicada em um grupo chamado “Bolsonaro Pernambuco”. A fotografia desta montagem em formato impresso foi compartilhada ainda pela página “Assembleianos de VALOR” no Facebook. Neste caso, a imagem foi publicada junto com uma frase questionando se “um grande número de ‘cristãos’ votarão nela [Marília Arraes]?”. A postagem também copia um texto do jornal Folha de Pernambuco sobre o apoio do pastor Cleiton Collins (Progressistas), que é deputado estadual e tem influência no meio evangélico, à candidatura de João Campos (PSB). Procurada pelo Comprova, a página que compartilhou a foto do panfleto respondeu que o conteúdo estaria publicado no jornal Folha de Pernambuco. A página foi questionada se possuía alguma comprovação de que um pedido de retirada da Bíblia haveria partido de Marília Arraes, mas, até a publicação desta checagem, não enviou novas mensagens. A página Assembleianos de VALOR tem 881 mil curtidas e publica a maior parte do conteúdo sobre religião. No entanto, no último mês há postagens favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro e a candidatos apoiados pelo mesmo grupo religioso em capitais do país, como Bruno Covas, em São Paulo (SP). Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos que viralizam nas redes sociais ligados às eleições municipais, às políticas públicas do governo federal e à pandemia. Esta verificação é inédita para o Comprova, pois iniciou-se com panfletos distribuídos fisicamente – é o primeiro caso de desinformação checado pela equipe que não começou nas redes sociais. Ao descontextualizar afirmações de Marília e acusar indevidamente uma candidata ao segundo turno, os conteúdos colocam o processo democrático em risco. Somados, os posts tinham, até 26 de novembro, mais de 500 compartilhamentos. O Comprova já averiguou outros conteúdos relacionados às eleições deste ano, como o de um vídeo que retira de contexto uma frase de Ana Arraes sobre ‘agressão’ do neto João Campos, uma postagem que acusou, também erroneamente, o candidato paulistano Guilherme Boulos de cobrar aluguel de moradores sem-teto, e o que enganava ao afirmar que votos recebidos por vereadora no Tocantins teriam diminuído durante a apuração. O processo eleitoral também esteve presente nas checagens da equipe, que produziu investigações desmentindo que o software usado nas urnas brasileiras seria o mesmo dos Estados Unidos e que o ataque de hackers no sistema do TSE violaria a segurança da eleição (produzido em parceria com a agência Aos Fatos). Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos; que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano; ou que é retirado de seu contexto original e usado em outro, de modo que seu significado sofra alterações.
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['Projeto Comprova']
['Eleições']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/video-retira-de-contexto-frase-de-ana-arraes-sobre-agressao-do-neto-joao-campos/
COMPROVA
Vídeo retira de contexto frase de Ana Arraes sobre ‘agressão’ do neto João Campos
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2020-11-26
Vídeo compartilhado no WhatsApp e Instagram reproduz alguns segundos de uma entrevista de 14 minutos em que Ana Arraes se queixa de uma briga pública entre seu neto João Campos, candidato à Prefeitura de Recife, e o advogado Antônio Campos, presidente da Fundação Joaquim Nabuco. Antônio é filho de Ana Arraes e tio do candidato Conteúdo verificado: Vídeo em que Ana Arraes, ministra do Tribunal de Contas da União (TCU), diz ter sido agredida pelo neto, o deputado federal e candidato à prefeitura de Recife João Campos É enganoso um vídeo que sugere que o deputado federal João Campos (PSB), candidato à Prefeitura do Recife, agrediu fisicamente a própria avó, a ministra do Tribunal de Contas da União (TCU) Ana Arraes. O vídeo reproduz apenas alguns segundos de uma entrevista de 14 minutos em que Ana Arraes se queixa de uma briga pública entre João e o tio, o advogado Antônio Campos, presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), órgão ligado ao Ministério da Educação. Na época, João afirmou que o tio era “um sujeito pior” do que o então ministro da Educação Abraham Weintraub, que participava de uma audiência pública na Câmara Federal. Nas duas vezes em que se manifestou sobre esse episódio, em dezembro de 2019 e em janeiro de 2020, Ana Arraes defendeu o filho e disse se sentir agredida pela fala do neto. Procurada pelo Comprova, Ana Arraes disse que não iria se manifestar sobre o episódio. Também procuramos a assessoria de imprensa de João Campos, mas não recebemos resposta até a publicação desta verificação. O blogueiro Ricardo Antunes, que publicou o vídeo nas redes sociais, disse que estava apenas buscando informar sobre uma peça de desconstrução de imagem, feita contra o candidato. A postagem dele, porém, não deixa claro que a declaração foi retirada do seu contexto original. Atualização [em 27 de novembro] Um dia após o Comprova publicar a verificação, a ministra Ana Arraes divulgou uma nota à imprensa confirmando que não houve agressão física e que o trecho da gravação que tem circulado nas redes sociais está fora de contexto. “Não admito a utilização de meu nome, sobretudo em peças com viés claro de fake news, tentando prejudicar alguém da minha família. Nunca fui agredida por nem um (sic) dos meus netos, com os quais tenho uma relação de amor profundo e carinho”, afirma no texto. Na nota, Ana Arraes ainda lembra que, como ministra do TCU, é impedida pela legislação de assumir posições políticas ou pessoais no processo eleitoral. Como verificamos? Para essa verificação, o Comprova resgatou matérias publicadas na imprensa sobre as críticas mútuas feitas por João Campos e o tio, Antônio Campos, e sobre as declarações de Ana Arraes na época. Também ouvimos na íntegra a entrevista em que a ministra do TCU profere as frases ressaltadas no vídeo verificado, para entender em que contexto ela afirmou que o neto a “agrediu”. Procuramos a ministra Ana Arraes pelo WhatsApp e pela assessoria de imprensa do Tribunal de Contas da União (TCU). Também entramos em contato com a assessoria de João Campos. Por fim, conversamos com o blogueiro Ricardo Antunes, que publicou o vídeo nas redes sociais. Verificação Contexto da fala de Ana Arraes Em dezembro de 2019, o deputado federal João Campos criticou a gestão do então ministro da Educação, Abraham Weintraub, durante uma reunião da Comissão de Educação da Câmara dos Deputados. Ao responder às críticas do parlamentar, Weintraub lembrou que um tio de João, o advogado Antônio Campos, conhecido como “Tonca”, ocupa o posto de presidente da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), órgão ligado ao MEC. O deputado pernambucano, então, respondeu: “Eu nem relação eu tenho com ele. Ele é um sujeito pior do que você”. O episódio deu início a uma crise interna na família, tradicional na política pernambucana. Um dia após a troca de ataques entre João e o tio, a ministra do Tribunal de Contas da União, Ana Arraes, avó de João Campos e mãe de Antônio Campos, se manifestou pela primeira vez, dizendo que não admitiria grosserias entre os familiares. “Eu não vou admitir agressões suas contra Tonca. Ele nunca lhe agrediu”, afirmou a ministra, que disse se sentir desrespeitada pelo neto. Em janeiro de 2020, Ana Arraes deu uma longa entrevista ao Blog de Jamildo, do Sistema Jornal do Commercio de Comunicação. O áudio verificado pelo Comprova é um trecho dessa entrevista que foi retirado de contexto. Questionada sobre o episódio e se ainda estava magoada com o neto, a ministra respondeu: “Eu espero que ele me peça desculpas. Se ele não me pedir, nem me procurar, o problema é dele. Quem me agrediu foi ele. Eu não o agredi. Nunca agredi nenhum neto. Pelo contrário, sempre fui avó. (risos) Eu sou uma pessoa calma, uma pessoa que tem tranquilidade para resolver as coisas. Mas tem coisas que a gente não pode admitir. Porque eu fui criada e aprendi desde cedo a ter respeito às pessoas.” Em outro momento da entrevista, quando perguntada se a família não fez as pazes durante o Natal, ela nega. “Ele não me procurou. Ele é quem tem que me procurar. Porque o agressor é quem tem que procurar o agredido.” Em todos os momentos em que fala sobre ter se sentido agredida, portanto, a ministra se refere, então, às críticas públicas que o neto fez ao próprio tio, não a uma eventual agressão física. Procurada para comentar sobre o assunto, a ministra disse que não iria se manifestar. Até a publicação desta verificação, a assessoria de imprensa de João Campos também não se manifestou. Vídeo e autor O vídeo reproduz apenas alguns segundos da entrevista com as mensagens “João Campos agrediu a própria avó” e “quem agride a própria avó não respeita ninguém”. A peça viralizou no momento em que o deputado federal do PSB disputa o segundo turno das eleições no Recife com uma prima, a também deputada federal Marília Arraes (PT). O conteúdo chegou ao Comprova por sugestão dos leitores, após ter circulado no WhatsApp, e também no monitoramento de redes sociais. No Instagram, o vídeo foi publicado pelo blogueiro Ricardo Antunes. Ao Comprova ele disse que tem reproduzido memes criados durante a campanha eleitoral e vídeos produzidocriados com a função de atacar os concorrentes. “O critério, nesse caso, é que ela tenha algo verdadeiro (como essa briga que ele teve com a avó durante a questão do tio) e se encaixe como peça de ‘desconstrução de imagem’ do candidato”, explicou. O objetivo seria mostrar até onde os candidatos vão para tentar desconstruir o adversário. No caso desse vídeo específico, o blogueiro informou que o recebeu por WhatsApp de várias fontes diferentes. A proposta, porém, não é explicada na publicação dele. O perfil de Antunes costuma ter conteúdos noticiosos e a única indicação de que a postagem do vídeo é um conteúdo distorcido é a expressão “Guerra de Propaganda” na legenda. No entanto, uma pessoa que olhar apenas essa postagem isolada dificilmente entenderá esse contexto. Antunes já foi preso em flagrante, em 2012, acusado de extorsão. Ele foi solto após quatro meses e, na época, alegou que a prisão teria motivações políticas. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre as eleições 2020, a pandemia de covid-19 e políticas públicas do governo federal que tenham viralizado nas redes sociais. Peças de desinformação sobre a eleição podem levar as pessoas a decidirem o seu voto a partir de informações incorretas. O vídeo verificado aqui foi compartilhado por WhatsApp e teve 1,7 mil visualizações no Instagram até o dia 26 de novembro. Trechos da entrevista também foram publicados no Twitter, com menor alcance. Sobre candidatos, o Comprova já mostrou ser falso que Guilherme Boulos (PSOL), candidato à Prefeitura de São Paulo, tenha cobrado aluguel de moradores sem-teto; e que o prefeito da capital paulista, Bruno Covas (PSDB), tenha proibido o uso de hidroxicloroquina na cidade. O Comprova também já mostrou que o ataque hacker a sistemas do TSE não viola a segurança da eleição; que a justificativa dos eleitores não pode ser transformada em voto válido; e que o sistema de voto eletrônico do Brasil pode ser auditado. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos; que induz a uma interpretação diferente da intenção de seu autor; ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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['Projeto Comprova']
['Eleições']
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2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-boulos-tenha-cobrado-aluguel-de-moradores-sem-teto/
COMPROVA
É falso que Boulos tenha cobrado aluguel de moradores sem-teto
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2020-11-24
Postagem no Facebook faz referência ao edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou em 2018 após um incêndio causado por um curto-circuito, mas o imóvel era ocupado pelo Movimento Luta por Moradia Digna (MLMD), que não tem ligação com o Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), do qual Boulos era coordenador Conteúdo verificado: Post no Facebook afirma que Guilherme Boulos alugava quartos para moradores em ocupações no centro de São Paulo, citando prédio que pegou fogo É falso que o candidato a prefeito de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos, “alugava quartos nos prédios abandonados” no centro da capital. A alegação circula em postagem viral no Facebook. O post se refere ao edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou em 2018 após um incêndio causado por um curto-circuito. O imóvel era ocupado pelo Movimento Luta por Moradia Digna (MLMD), que não tem ligação com o Movimento dos Trabalhadores sem Teto (MTST), do qual Boulos era coordenador e se afastou durante a campanha eleitoral. Após o desabamento, moradores da ocupação no centro da cidade disseram que pagavam até R$ 400 de aluguel. Um ano depois, quatro pessoas ligadas aos movimentos Moradia Para Todos e ao Movimento dos Sem Teto do Centro foram presas por quatro meses, acusadas de extorsão, o que elas negam. Essa acusação já havia sido feita contra Boulos em 2018, quando o líder do movimento sem-teto concorreu à Presidência pelo PSOL. O candidato negou reiteradas vezes que ele ou o MTST cobre aluguel em ocupações. Ao Comprova, disse que a alegação difundida no post de Facebook é mentirosa. Como verificamos? Ao iniciar esta checagem, pesquisamos reportagens sobre a cobrança de aluguel feita a moradores do edifício Wilton Paes de Almeida, que desabou em São Paulo, há dois anos. Nenhuma delas ligava o MTST ao local e, por meio de buscas on-line, verificamos que a falsa acusação envolvendo Boulos já vinha desde 2018 e foi requentada na campanha eleitoral para a Prefeitura de São Paulo – ele concorre no segundo turno. Procuramos a assessoria de imprensa da campanha do político, que nos respondeu por WhatsApp, e tentamos contato com a autora do post, que não nos retornou até a publicação deste texto. Verificação Acusação antiga Em seu post, a autora relembra o episódio de um imóvel que “pegou fogo”, quando “faleceu um rapaz”. Em 1º de maio de 2018, o edifício Wilton Paes de Almeida, no centro de São Paulo, desabou após um incêndio, causado por um curto-circuito. Sete pessoas morreram e 291 famílias ficaram desabrigadas. O prédio, de 24 andares, havia sido construído nos anos 1960 e pertencia ao governo federal, mas estava abandonado desde o fim dos anos 2000 e começou a ser ocupado por sem-tetos. Desde 2010, era ocupado pelo Movimento Luta por Moradia Digna (MLMD). Logo após o desabamento, moradores afirmaram em entrevistas que líderes da ocupação cobravam uma taxa de aluguel de quem vivia ali, entre R$ 200 e R$ 400. Mais de um ano depois do acidente, algumas pessoas apontadas como líderes ficaram cerca de quatro meses presas, acusadas de extorsão, o que negam. Elas eram ligadas ao Movimento Moradia Para Todos e ao Movimento dos Sem Teto do Centro. Os presos não eram ligados ao movimento que organizou a ocupação do edifício Wilton Paes de Almeida, o MLMD, mas a denúncia do Ministério Público que motivou a prisão englobava ocupações de outros prédios, segundo o site Ponte Jornalismo. Ou seja, diferentemente do que afirma o post verificado aqui, o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto, do qual Boulos era coordenador, não teve relação nenhuma com a acusação de cobrança de aluguel. Na época do desastre, Boulos era pré-candidato à Presidência pelo PSOL, e disse desconhecer o MLMD e repudiou a taxa. “O MTST reconhecidamente não faz qualquer tipo de cobrança; esse não é um método que a gente ache adequado. Depende muito de cada movimento, mas desde a formação do MTST, há mais de 20 anos, esse é nosso entendimento”, afirmou. Já como candidato, em setembro de 2018, ele criticou os casos de desinformação sobre esse assunto em entrevista à Jovem Pan. “A sociedade está doente. Eu estou tendo que processar muita gente porque inventaram a história de que o MTST cobra aluguel. Isso é uma mentira deslavada, absurda, que ‘virou verdade’”, disse. E acrescentou: “Aquela ocupação não era organizada pelo MTST. Existem centenas de movimentos no país e cada um tem seus critérios. Ao que parece, naquele caso, tinha gente explorando a miséria. Tanto que os organizadores vazaram. Nós nunca fizemos isso. Alguém que está nessa situação não tem como pagar nada”. Na eleição de 2020 No dia 11 de novembro de 2020, quatro dias antes do primeiro turno, a Justiça Eleitoral mandou que Celso Russomanno, então candidato à Prefeitura de São Paulo pelo Republicanos, fosse investigado por suposta desinformação envolvendo o nome de Boulos. O pedido havia sido feito pela campanha do candidato psolista, que afirmou que o adversário havia propagado informações falsas sobre Boulos invadir casas e cobrar aluguel em imóveis em situação irregular – em um vídeo, Russomanno dizia que a cobrança foi feita aos moradores do edifício Wilton Paes de Almeida. Antes de ser retirada do ar pela Justiça, a desinformação foi disseminada por Russomanno na propaganda eleitoral no rádio, na TV e nas redes sociais. O que Boulos diz sobre a volta da desinformação Além de ter entrado na Justiça contra a desinformação espalhada por Russomanno, em 7 de outubro de 2020, Boulos postou um vídeo em seu canal no YouTube sobre esse assunto. Na gravação, que entrou no site de sua campanha na aba “Fake News”, ele repete que nunca cobrou aluguel de sem-teto. Contatada pelo Comprova, a assessoria de imprensa do candidato acusou a campanha do adversário na corrida à Prefeitura de São Paulo, Bruno Covas (PSDB), de espalhar mentiras. Questionada se teria alguma prova de que o tucano tenha disseminado desinformação sobre o assunto verificado aqui, a equipe do psolista respondeu apenas: “É essa a resposta por enquanto”. Recursos do MTST e da campanha Na página “Fake News”, em que publicou o vídeo sobre o assunto verificado aqui, a campanha de Boulos explica de onde vêm os recursos do MTST: “De doações, campanhas de financiamento online e também de produtos produzidos pelo próprio movimento, como bonés e camisetas”. O texto cita como exemplo uma ação criada pelo movimento durante a pandemia, o Fundo Solidário, que arrecadou mais de R$ 1 milhão “para comprar alimentos, produtos de higiene e proteção” que foram distribuídos em comunidades mais carentes de São Paulo. Já a campanha eleitoral de Boulos é financiada, segundo o site de Divulgação de Candidaturas e Contas Eleitorais, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), principalmente pelo fundo eleitoral (dinheiro público a que os partidos têm direito em eleições). O financiamento coletivo aparece em segundo lugar e, a partir do terceiro, são doações de pessoas físicas. Por que investigamos? O Projeto Comprova, em sua terceira fase, verifica conteúdos que viralizam nas redes sociais ligados às políticas públicas do governo federal, à pandemia do novo coronavírus e às eleições municipais. Postado no grupo de Facebook “Caio Copolla no Senado” em 21 de novembro, ou seja, depois de a informação disseminada ter sido desmentida pela Justiça Eleitoral, o conteúdo verificado aqui teve mais de 3 mil compartilhamentos e 1,4 mil reações até 24 de novembro. O nome de Boulos esteve em uma verificação recente do Comprova, que mostrou ser falso que ele decretaria que os paulistanos abrissem suas casas para abrigar pessoas em situação de rua. Além disso, o Comprova já verificou outros conteúdos ligados às eleições, como os que mostraram que um recente ataque hacker ao STJ não era ameaça à segurança das eleições e que o sistema de voto eletrônico brasileiro pode ser auditado, ao contrário do que afirmava um post nas redes sociais. Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Eleições']
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2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/software-usado-em-urnas-eletronicas-brasileiras-nao-e-o-mesmo-que-dos-eua/
COMPROVA
Software usado em urnas eletrônicas brasileiras não é o mesmo que dos EUA
null
2020-11-23
O software usado nas urnas eletrônicas do Brasil foi integralmente desenvolvido e é mantido pela equipe técnica do TSE e não foi cedido para uso nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, ao contrário do que afirma jornalista em vídeo publicado no YouTube Conteúdo verificado: Vídeo publicado por uma jornalista afirmando que as eleições norte-americanas fizeram “test drive” de um software usado nas eleições municipais brasileiras em 2020 É falso que as eleições de 2020 no Brasil usaram o mesmo software utilizado no pleito presidencial norte-americano, conforme afirma uma jornalista em um vídeo publicado no YouTube. Isso não ocorreu em 2020 nem ocorrerá na próxima votação. O Brasil tem um sistema próprio e único utilizado na urna eletrônica, desenvolvido pelo próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Em nota ao Comprova, o Tribunal afirmou que o software usado nas urnas eletrônicas do país “é integralmente desenvolvido e mantido pela equipe técnica do TSE” e que “ele não foi cedido para uso nas eleições presidenciais dos Estados Unidos”. O vídeo traz ainda outras informações inverídicas, como a de que a empresa Lenovo iria fornecer as novas urnas a serem usadas na eleição de 2022 no Brasil. Os equipamentos serão fabricados pela Positivo Tecnologia, companhia brasileira de capital aberto que não tem relação com a Lenovo. Também é falso que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, que perdeu as eleições para o democrata Joe Biden, esteja provando que houve fraude no pleito – o atual presidente tem perdido judicialmente recursos que move para tentar comprovar fraude. Segundo a jornalista, no Brasil seria impossível questionar o resultado da votação pois as urnas não são auditáveis. Isso também é falso. O TSE divulga todos os boletins de urnas eletrônicas e qualquer um pode ter acesso e conferir a votação de todos os candidatos. No vídeo, a jornalista, que já foi candidata a deputada federal pelo PSL, questiona ainda a inviolabilidade das urnas eletrônicas por usarem sistema operacional baseado em Linux, que seria “sem segurança e facilmente adulterável”. Segundo especialistas, nenhum sistema é 100% seguro, mas o fato de o Linux ser um sistema aberto oferece mais segurança, pois mais programadores podem verificar seu código e melhorá-lo. Além disso, o TSE faz testes e atualizações regulares para aumentar a segurança das urnas. O Comprova tentou contato por e-mail com a autora do vídeo, mas não obteve retorno até a publicação. Como verificamos? Primeiramente, acionamos o TSE via e-mail para entender se o sistema usado no Brasil já foi ou será compartilhado com os Estados Unidos. Também questionamos a segurança do sistema usado nas urnas eletrônicas e se a Lenovo tem qualquer relação com a produção. Consultamos também as assessorias das empresas Positivo e Lenovo para confirmar se haveria alguma relação entre ambas. Procuramos por especialistas em tecnologia da informação para saber mais sobre a segurança do sistema Linux. Foi entrevistado, por e-mail, o diretor técnico do Departamento de Tecnologia da Informação (DTI) do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP), Fabio Correa Xavier, que trabalha no departamento há 17 anos. Também fizemos contato com o diretor da empresa Linux Solutions, Paulo Henrique Oliveira, que trabalha com o sistema operacional Linux há 23 anos. A entrevista foi realizada via e-mail. Consultamos também o professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e representante da Sociedade Brasileira de Computação nos testes do TSE, Paulo Lício de Geus. Pesquisamos ainda notícias em portais jornalísticos sobre os temas abordados no vídeo e no próprio Comprova, que já verificou uma série de correntes que questionam a segurança das urnas eletrônicas e a lisura do processo eleitoral brasileiro. Para saber mais sobre a identidade da jornalista, procuramos no Google e no registro de candidatura divulgado pelo TSE. Verificação Os softwares do Brasil e dos Estados Unidos Em um trecho do vídeo, a autora denuncia, sem apresentar provas, uma suposta fraude na eleição norte-americana. Segundo ela, “votos dados ao presidente Trump foram lidos como se tivessem sido dados a Biden”, e “fizeram lá [nas eleições americanas] um test drive do software que seria usado aqui nas eleições municipais de 2020”. A afirmação, no entanto, é falsa. Procurado pelo Comprova, o TSE afirmou em nota que o software utilizado nas urnas eletrônicas é integralmente desenvolvido e mantido pela equipe técnica do Tribunal e que ele não foi cedido para uso nas eleições presidenciais dos Estados Unidos. “O software utilizado no Brasil não possui qualquer relação com sistemas informatizados utilizados nas eleições americanas. O software desenvolvido pelo TSE nunca foi submetido a qualquer tipo de teste nos EUA”, afirma um trecho da resposta. Em um comunicado divulgado em 2018, o TSE já informava que equipes de desenvolvimento de software do próprio tribunal desenvolvem os programas de eleições, inclusive os que são utilizados nas urnas. O material também reforça que os sistemas passam pelos chamados Testes Públicos de Segurança (TPS), em que especialistas em tecnologia e órgãos públicos e privados auxiliam na melhoria dos sistemas. Um artigo publicado na revista da Escola Judiciária Eleitoral afirma que o software inicialmente era desenvolvido pela vencedora da licitação para fabricar as urnas, com acompanhamento do TSE, mas que passou a ser desenvolvido por técnicos da própria Corte no ano de 2005. “Em 2005, diante da impossibilidade de a empresa contratada para a fabricação da urna 2004 fazer as adaptações necessárias no software para o referendo sobre a proibição da comercialização de armas de fogo e munições, foi preciso que a equipe da Seção de Voto Informatizado (Sevin), da Secretaria de Tecnologia da Informação do TSE, assumisse o desenvolvimento do software”, diz um trecho do artigo. Uma possível origem do boato pode estar em outras notícias falsas que circulam nas redes sociais desde o fim das eleições presidenciais nos Estados Unidos. Uma delas dá conta de que a empresa Dominion, que fornece software para as eleições em alguns estados norte-americanos, teria deletado 2,7 milhões de votos para Donald Trump. A acusação, sem provas, foi publicada no próprio Twitter do atual presidente norte-americano. O tema já foi alvo de outras verificações, como a da Agência Lupa, que mostrou ser falsa a afirmação, e do Aos Fatos, que indicou não haver evidências desta suposta fraude. Segundo uma verificação da Reuters, a Dominion, que é alvo das críticas de Trump, atuou em pelo menos 24 estados norte-americanos nas eleições presidenciais de 2020. Dados da Verified Voting Foundation, organização não governamental que acompanha o uso da tecnologia nas eleições do país, indicam que ela foi a empresa presente no segundo maior número de estados, atrás apenas da Election Systems & Software, que atuou em 43 unidades da federação. A Dominion é uma empresa de origem canadense e a Election Systems & Software, norte-americana. Outras 19 empresas ainda aparecem como fornecedoras de soluções usadas na votação deste ano nos EUA, segundo a ONG. No Brasil, o sistema operacional da votação (baseado em Linux e chamado de Uenix) e os softwares utilizados nas urnas são os mesmos em todo o país. As soluções são desenvolvidas pelos próprios técnicos do TSE e não têm relação com sistemas usados na eleição norte-americana, conforme apontou o tribunal. Consultado pelo Comprova, o professor da Universidade Estadual de Campinas e representante da Sociedade Brasileira de Computação nos testes do TSE como avaliador, Paulo Lício de Geus, reforçou que não há relação entre o sistema das urnas brasileiras e tecnologias usadas nos Estados Unidos. Ele diz que toda a relação que pode existir entre algumas urnas americanas e a brasileira é que a empresa que fabrica o hardware (o equipamento em si) no Brasil foi comprada pela norte-americana Diebold. A partir de 2022, no entanto, a produção ficará a cargo da empresa brasileira Positivo (veja mais abaixo). “Mas o que importa é o sistema de software, feito pelo TSE, um para cada eleição (obviamente aprimoramentos das versões anteriores)”, explicou o professor, em conversa pelo aplicativo WhatsApp. Lenovo não irá fornecer urnas eletrônicas Em outro trecho do vídeo, a autora afirma que “aqui [no Brasil], o plano [de fraude] começou a ser articulado com a compra de novas urnas eletrônicas da Lenovo, empresa chinesa, que serão usadas somente em 2022”. A informação também é falsa. Em julho deste ano, o TSE confirmou o nome da empresa Positivo Tecnologia como vencedora da licitação para a fabricação de novas urnas eletrônicas, a serem usadas a partir de 2022. Outros conteúdos falsos que circulam nas redes sociais já sugeriram uma suposta compra da Positivo pela Lenovo, o que não procede. Em nota enviada ao Comprova, a Positivo desmentiu rumores sobre uma suposta venda à Lenovo e disse que “não existe qualquer negociação neste sentido”. Checagens da Agência Lupa e do Estadão Verifica já haviam apontado como falso o conteúdo que afirmava ter ocorrido uma compra da Positivo pela Lenovo. Segundo o site da empresa para relações com investidores, a Positivo é uma empresa de capital aberto com 55,4% das ações negociadas em mercado (free float), 43,8% pertencente a um grupo de controladores e o restante ligado a ações em tesouraria da própria empresa. A Positivo Tecnologia foi fundada no Brasil, em 1989, conforme informado no site da empresa. O Comprova também consultou a assessoria da Lenovo, que igualmente negou a suposta aquisição da Positivo Tecnologia. Em nota, a empresa também informou que não participou da concorrência pública para fornecimento de urnas eletrônicas ao TSE e que não tem acordo para oferecer esses equipamentos. “Além disso, a companhia não fornece tecnologia voltada ao processo eleitoral”, aponta um trecho da resposta. Em resposta ao Comprova, o TSE afirmou que em 2012 a Lenovo fez uma oferta de compra da Positivo, mas que o negócio não foi efetuado porque a empresa brasileira não aceitou. O Tribunal reforçou também que a Lenovo não fornece equipamentos ou softwares para uso nas eleições. Disse que a empresa foi contratada em uma licitação apenas para o fornecimento de estações de trabalho para áreas administrativas do TSE. Trump não provou fraude nos EUA A jornalista afirma ainda que Donald Trump está conseguindo comprovar fraudes nas eleições dos Estados Unidos graças à recontagem dos votos impressos. Na verdade, o que tem acontecido é o contrário. O presidente norte-americano perdeu mais de 20 ações que moveu em diferentes estados questionando o resultado das eleições. No Geórgia, estado tradicionalmente republicano, as autoridades eleitorais já afirmaram que a recontagem não tirará a vitória de Joe Biden. Na semana passada, a Agência de Cibersegurança e Segurança de Infraestrutura dos Estados Unidos (CISA, na sigla em inglês) afirmou que a eleição de 2020 teria sido a “mais segura da história”. Trump, que, como a jornalista no vídeo, insiste que houve fraude sem apresentar provas, reagiu à publicação demitindo o diretor da agência, Chris Krebs, nesta semana. Urnas eletrônicas são auditáveis A informação de que as urnas eletrônicas não podem ser auditadas é falsa e já foi verificada pelo Comprova e por outros veículos de checagem, como UOL Confere. As urnas não só são auditadas no dia da eleição como todos os votos ficam registrados e podem ser checados por qualquer um. No dia da votação, todos os tribunais regionais eleitorais (TREs) fazem um processo de votação paralelo ao oficial, chamado Auditoria de Funcionamento das Urnas Eletrônicas. Para mostrar que as urnas estão funcionando e apurando os votos corretamente, pessoas registram os votos em uma planilha e digitam o mesmo número na urna. Todo o processo, incluindo a cabine de votação, é filmado, para garantir que os representantes digitaram os números certos, e acompanhado por empresas terceirizadas. Ao final, faz-se uma comparação entre o boletim da urna e a planilha do TRE. Além disso, ao fechar a votação, todas as urnas emitem boletins com todos os votos registrados nelas. Entre cinco e dez cópias desses documentos são impressas, registradas em cartório e entregues a representantes dos partidos, da Justiça Eleitoral, do Ministério Público Eleitoral (MPE) e podem ser fotografadas por membros da sociedade civil. Alguns dias após as eleições, todos os boletins de urnas são publicados on-line, respeitando o sigilo de voto, mas com o número exato de cada voto registrado em cada urna. Caso um candidato, partido ou membro da sociedade civil queira fazer uma contagem própria, é possível. STF barrou impressão de comprovante de voto Conforme diz a jornalista, a impressão do voto pela urna eletrônica de fato foi considerada inconstitucional pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A decisão foi dada por maioria em setembro deste ano. A proposta, presente na minirreforma eleitoral de 2015, já estava suspensa por liminar desde 2018 a pedido da então procuradora-geral da República, Raquel Dodge. Segundo a Agência Brasil, em seu voto, o ministro Gilmar Mendes, relator do processo, destacou que não se pode utilizar “uma impressora qualquer” para a emissão do voto. Ele avaliou que seria necessário o desenvolvimento de um equipamento ao mesmo tempo “inexpugnável” e capaz de inserir o comprovante de votação em um invólucro lacrado. Mendes também colocou em xeque a segurança das urnas. “De outra forma, a impressora poderia ser uma via para hackear a urna, alterando os resultados da votação eletrônica e criando rastros de papel que, supostamente, os confirmassem”, declarou o ministro. Na manhã do domingo das eleições municipais (15), o sistema do TSE sofreu um ataque hacker que roubou dados atualizados do Tribunal, segundo investigação da Polícia Federal. Isso, no entanto, nada teve a ver com as urnas eletrônicas. Conforme o Comprova já checou, elas são dispositivos completamente isolados, sem qualquer conexão com redes externas – e é exatamente isso que a torna inviolável. A segurança do Linux O Linux é um sistema operacional de código aberto que utiliza o Kernel Linux, um núcleo que comporta outros subsistemas e permite que várias aplicações sejam executadas de modos independente e concorrente por usuários diferentes. Isso possibilita a interação de outros usuários, o que também contribui para sua maior segurança. Um software livre como o sistema Linux possui os códigos abertos, visíveis aos usuários, onde é permitido realizar mudanças no sistema, a fim de propor melhorias. “A segurança no Linux é bem completa e totalmente configurável. O sistema de segurança foi criado pela NSA [Agência Nacional de Segurança dos EUA], e impõe regras em arquivos e processos em um sistema Linux”, explica Fábio Correa Xavier, diretor técnico do Departamento de Tecnologia da Informação (DTI) do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE-SP). De acordo com o TSE, o sistema das urnas, baseado em Linux, está sempre em monitoramento. “Por ser aberto, o sistema está sob permanente escrutínio e teste por especialistas de todo o mundo (inclusive do Brasil)”, afirmou o Tribunal, em resposta ao Comprova. “A visão do Linux como um sistema seguro é uma posição fortemente defendida pela comunidade técnica e acadêmica especializada”. Para o analista de sistemas e diretor da Linux Solutions, Paulo Henrique Oliveira, não existe um sistema cem por cento seguro. O diferencial no sistema de segurança do Linux se dá pelo fato de ser um software de código aberto, o que gera a facilidade em resolver seus problemas de segurança rapidamente. “Como o Linux é aberto, mais programadores podem verificar seu código e melhorá-lo. Isso acaba tornando o Linux um sistema bem seguro.” O mecanismo de segurança das urnas foi colocado à prova durante testes públicos de segurança realizados em 2009, 2012, 2016, 2017 e 2019, quando nenhuma tentativa de fraude e adulteração dos sistemas obteve êxito. No ano de 2016 tornaram-se obrigatórios, pela Resolução nº 23.444, do TSE, os testes nas urnas eletrônicas. A urna eletrônica utiliza as tecnologias de criptografia, assinatura digital e resumo digital. Durante todo o processo de votação são utilizadas tecnologias pelo hardware e pelo software da urna eletrônica que criam uma cadeia de confiança, garantindo que somente o software desenvolvido pelo TSE possa ser usado nos equipamentos. “O TSE tem uma versão própria do Linux, o UENIX, com diversas alterações que foram feitas para melhorar a segurança. Esse código é alterado, e os drivers e aplicativos desenvolvidos são proprietários. Além disso, o código-fonte que vai para a urna é lacrado digitalmente com uma assinatura digital que permite identificar qualquer adulteração que venha a ser feita posteriormente”, ressalta Xavier. Segundo verificações do UOL, a Corte eleitoral permite que mais de 15 instituições (entre elas estão OAB, MP, STF) tenham acesso ao código-fonte durante os seis meses anteriores às eleições para uma auditoria. Esse processo está previsto pela resolução nº 23.603, de 12 de dezembro de 2019. Durante o processo de carregamento das urnas eletrônicas com os softwares, o código-fonte é compilado, transformado em código binário (linguagem para a máquina entender e rodar os devidos comandos), e os arquivos recebem uma identificação. Depois desse processo, as instituições que compõem a corte assinam digitalmente o arquivo, e ele é lacrado publicamente. Quem é Regina Villela Regina Villela é uma jornalista e radialista carioca que se candidatou a deputada federal pelo PSL, então partido do presidente Jair Bolsonaro (hoje sem partido), em 2018 no Ceará. Com pouco menos de 3 mil votos, ela não foi eleita. Em seu canal do YouTube, com mais de 165 mil inscritos, ela trata majoritariamente de política, com visão à direita. Regina já veiculou informações contestáveis e inflou números de desvios na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Em 2019, ela foi investigada pela Polícia Civil após divulgar informações falsas sobre a prefeitura de Fortaleza. Conteúdos compartilhados por ela já foram checados por diversos veículos. O Comprova enviou mensagem ao e-mail indicado no canal da jornalista no YouTube, mas não obteve retorno até a publicação desta verificação. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova monitora e verifica conteúdos sobre a pandemia, eleições municipais e políticas públicas do governo federal que possam causar desinformação nas redes sociais. É o caso do vídeo compartilhado pela jornalista. Com mais de 73 mil visualizações e 16 mil curtidas, Regina passa uma série de informações falsas com intuito de questionar a lisura do sistema eleitoral brasileiro, como já fez o próprio presidente Jair Bolsonaro, que, como ela, também não apresentou provas. O Comprova tem verificado uma série de postagens que questionam a eficiência das urnas eletrônicas, como a corrente que afirma que um documento prova fraudes nas eleições de 2018 e a que diz que apenas três países no mundo usam urnas eletrônicas, ambas apontadas como falsas Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/diferenca-entre-resultados-de-pesquisa-e-de-eleicao-nao-implica-fraude/
COMPROVA
Diferença entre resultados de pesquisa e de eleição não implica fraude
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2020-11-23
Embora o resultado da eleição não tenha confirmado os índices de uma pesquisa feita para a Prefeitura de Porto Alegre em 14 de novembro, a consulta confirmou os dois nomes que já vinham liderando as pesquisas anteriores. Além disso, a desistência de um dos candidatos na semana da eleição pode ter provocado mudanças nas intenções de voto Conteúdo verificado: Tuíte sugere que pesquisa eleitoral em Porto Alegre é falsa porque percentuais estimados foram diferentes dos resultados das urnas É enganoso o tuíte do ex-deputado Roberto Jefferson (PTB) sugerindo ser falsa pesquisa eleitoral em Porto Alegre ao comparar o percentual apontado pelo estudo com o resultado das urnas. O atual presidente do PTB escreve ainda, na rede social, que “algo tem que ser feito contra pesquisas fake”, mas a análise prévia sobre intenção de votos é válida e registrada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), passando por todos os ritos legais. O resultado da votação ficou realmente fora da margem de erro do levantamento feito pelo Ibope e divulgado em 14 de novembro, um dia antes do pleito. No entanto, segundo especialistas consultados para esta verificação, essa variação é sempre uma possibilidade e não prova que houve erro, tampouco intenção de fraude. Além disso, o cenário projetado pelo Ibope desde 5 de outubro, data da primeira pesquisa tornada pública, se confirmou: decisão no segundo turno entre Manuela D’Ávila (PCdoB) e Sebastião Melo (MDB). Este último apresentava intenção de votos crescente nos últimos levantamentos do Instituto. A renúncia de um candidato poucos dias antes da votação é outro fator que pode ter alterado o cenário. Bem como a questão de Porto Alegre ter a maior taxa de abstenção entre municípios com mais de 200 mil eleitores — um a cada três votantes não compareceu às urnas. Apesar de não serem comuns, discrepâncias assim podem ocorrer. Não apenas em outras cidades, mas em outros países. É o caso da eleição de 2016 nos Estados Unidos. Jefferson também menciona o DataFolha, mas o instituto não realiza pesquisas na capital gaúcha. Pelo Twitter, ele afirmou que “uma pesquisa assim, na véspera, não pode ser considerada séria”. Também disse que os membros do Comprova, “em vez de se preocuparem em comprovar a pesquisa, atacam quem critica”. Só depois respondeu ao contato direto da reportagem, acrescentando que a pesquisa não pode ser considerada séria: “não por ser divulgada na véspera, mas por produzir números tão discrepantes“. Posteriormente, o tuíte que originou esta verificação foi deletado. Como verificamos? A reportagem comparou percentuais citados no tuíte com o indicado na pesquisa do Ibope e os resultados do 1º turno do site do TSE. Também verificamos as informações da pesquisa no site do Tribunal para atestar a veracidade do levantamento. O Ibope foi questionado sobre a discrepância entre o resultado da pesquisa e o percentual observado nas votação em si. O Comprova também consultou Marcelo Tokarski, sócio-diretor do FSB Pesquisas, e Paulo Peres, professor do Departamento de Ciência Política da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Os dois especialistas explicaram a dinâmica de pesquisas eleitorais e os fatores específicos do cenário de Porto Alegre que podem justificar porque a pesquisa divulgada na véspera das eleições não refletiu com precisão a escolha dos eleitores. A reportagem buscou outros exemplos de diferença entre pesquisas de intenção de votos e os resultados reais para determinar se o fenômeno pode ser considerado incomum ou indicativo de fraude. Por fim, também fizemos contato com o autor da postagem. Verificação Credibilidade da pesquisa Roberto Jefferson usou seu perfil no Twitter em 17 de novembro, dois dias após a votação em primeiro turno, escrevendo que “algo tem que ser feito contra pesquisas fake”. Porém, não há provas de que a pesquisa a qual ele se refere seja falsa. O ex-deputado menciona Ibope e DataFolha, no entanto, somente o primeiro fez estudos sobre intenção de votos na capital gaúcha. Em resposta ao Comprova, o Datafolha destacou que “não fez pesquisas eleitorais em Porto Alegre este ano.” Já o Ibope retornou ao nosso contato por e-mail justificando a diferença entre a previsão e o resultado final com o argumento de que “eleições municipais, especificamente, são bastante dinâmicas, pois lidam com assuntos que impactam diretamente o eleitor e ele deixa para decidir seu voto na última hora”. O instituto também alegou que trabalha dentro de trâmites legais para garantir idoneidade. Em posicionamento enviado ao Comprova, afirmou que “a empresa tem suas normas certificadas e cumpre rigorosamente os códigos de autorregulação e ética da Esomar (associação mundial de profissionais de pesquisa)”. Em consulta ao registro de pesquisas eleitorais no site do TSE, pode-se acessar os dados da análise sobre intenção de votos em Porto Alegre — registrada sob o código RS-02998/2020 — e conferir o questionário aplicado, metodologia e outros detalhes. O TSE informou que não divulga os resultados das pesquisas em seu portal, apenas informações metodológicas. Os números As porcentagens apontadas no tuíte de Roberto Jefferson são verdadeiras, tanto as que fazem referência à pesquisa quanto à apuração que levou ao segundo turno. “Pesquisas do Ibope e do DataFolha no sábado mostravam Manuela D’Ávila com 40% e Sebastião Melo com 25%. Aí sai o resultado e dá Melo com 31% e Manuela com 29%. Onde foram parar ”os votos descritos por Ibope e DataFolha um dia antes?”, escreveu o ex-deputado. Ele não menciona, contudo, que as três pesquisas divulgadas pelo Ibope (em 5 e 29 de outubro, e em 14 de novembro, respectivamente) sempre apontaram Manuela D’Ávila e Sebastião Melo como principais concorrentes ao segundo turno. Esse cenário aparece tanto nas avaliações que consideram votos totais (usam o total de menções aos candidatos e também brancos, nulos e os indecisos) e votos válidos (corresponde à proporção de votos do candidato sobre o total de votos, excluídos os votos brancos, nulos e indecisos). Jefferson lançou dúvida sobre a pesquisa com as intenções de votos válidos. Nesse ponto, Paulo Peres, professor de Ciência Política da UFRGS faz uma observação: “A outra pesquisa, com todas as informações (a referente aos votos totais), dava Manuela com 35%. Não ficou muito fora da margem de erro, portanto.” O Ibope considera como margem de erro três pontos percentuais para mais ou para menos sobre os resultados encontrados no total da amostra. Neste caso, realmente houve discrepância de dois pontos percentuais em relação ao resultado do pleito para Manuela D’Ávila e de seis pontos percentuais para Sebastião Melo. O instituto alega que a diferença pode ter ocorrido porque pesquisas mostram “a movimentação das intenções de voto e, não raro, os candidatos podem subir ou descer na reta final da eleição. Para fazer uma comparação direta com os resultados das urnas seria necessário uma pesquisa de boca de urna, que não foi realizada na cidade.” Paulo Peres indica razões que podem ter levado à disparidade: “Tais falhas podem envolver problemas operacionais e conjunturais, sem ter nenhuma relação com manipulações ou desonestidade por parte dos institutos de pesquisa. Uma coisa é dizer que houve erros nas projeções, outra coisa é supor que tais erros tenham sido intencionais para favorecer candidaturas, e outra, ainda, é supor que esses erros, sejam intencionais ou não, causaram, de maneira isolada, a eleição de alguém.” O sócio-diretor da FSB Pesquisas, Marcelo Tokarski, concorda. Ele considera que, quando os resultados ultrapassam a margem de erro, “houve uma discrepância”. Mas acrescenta: “não necessariamente porque houve uma discrepância, significa que houve erro na pesquisa. Ainda mais hoje, com as redes sociais. A população muda muito rapidamente de opinião, e uma eleição municipal mobiliza menos que uma nacional”. A disparidade entre projeção de uma pesquisa e o resultado das urnas já ocorreu, inclusive, nos Estados Unidos. Em 2016, a democrata Hillary Clinton era apontada como favorita em praticamente todos os levantamentos de intenção de voto e nas projeções feitas por institutos e pela imprensa. Porém, quem venceu a corrida para assumir a Casa Branca foi o republicano Donald Trump. Em Vila Velha (ES), neste ano, porcentagem apontada por pesquisa também não bateu com a quantidade de votos no pleito. O primeiro colocado na eleição foi Arnaldinho Borgo (Podemos), com 36%, seguido de Max Filho (PSDB) com 22,9%. No estudo de intenção de votos Borgo aparecia na terceira colocação, com 20%, e Max liderava com 30% — empatado com Neucimar Fraga (PSD). Possíveis justificativas Neste caso da capital gaúcha, dois fatores são apontados como preponderantes para que os números da pesquisa pré-eleição sejam diferentes dos confirmados pela urna: a desistência do candidato do PTB (mesmo partido de Roberto Jefferson) à prefeitura e o alto índice de abstenção. O petebista José Fortunati, que já foi prefeito de Porto Alegre, fez sua renúncia oficial em 11 de novembro, a quarta-feira que antecedeu o domingo de eleições. Após sair da disputa pela prefeitura, ele anunciou apoio a Sebastião Melo. “Certamente, a saída de Fortunati da competição, em especial, às vésperas da eleição, provocou um rearranjo no quadro eleitoral. Melo foi favorecido, como mostraram os resultados do primeiro turno. Em primeiro lugar, Melo se descolou do bloco de centro-direita, que estava embolado na corrida pela segunda vaga ao segundo turno”, avalia o professor Paulo Peres. Tokarski observa que Sebastião Melo já vinha ganhando espaço nas últimas pesquisas e que a escalada do candidato do MDB “não é surpreendente”. Ele acrescenta que, caso houvesse tempo para outra pesquisa antes do pleito, a tendência é que a migração de votos fosse melhor assimilada e que os percentuais ficassem mais próximos aos das urnas. Em sua resposta, o Ibope lembra que Fortunati deixou a disputa um dia antes do início da última pesquisa e que “seu eleitorado teve pouco tempo para rever sua intenção de voto”. O instituto enfatiza também que “27% dos entrevistados afirmavam que ainda podiam mudar de voto”. Marcelo Tokarski recorda ainda que é comum que os votos sejam decididos tardiamente, sem que as pesquisas possam mensurar as escolhas de último momento. Em 2018, 20% dos eleitores decidiram o voto para deputado estadual e federal nas últimas 24 horas. “A pesquisa é a fotografia de um momento. Para fazer um filme você tem que fazer várias”, observa o pesquisador. “Só pesquisas diárias poderiam refletir com mais precisão a opinião do eleitorado”. Porto Alegre também apresentou outro fator atípico no 1º turno: Mais de 1/3 dos eleitores de Porto Alegre não compareceram às urnas no domingo (15). É a maior taxa de abstenção entre as cidades com mais de 200 mil votantes. Segundo reportagem de GZH, a pandemia e a descrença na política seriam as razões para que mais de 358 mil eleitores não fossem às urnas (33% da população votante). Os dois especialistas consultados pelo Comprova acreditam que o alto índice de abstenções pode ter influenciado o resultado. O Ibope afirmou que “não é possível compreender o impacto do perfil do eleitor que deixou de comparecer às urnas, em função da pandemia, nos índices dos candidatos”. “Você tem algum indicativo de informações sobre renda pelas zonas eleitorais. Mas não há como saber as abstenções por sexo ou etnia”, pontua o sócio-diretor do FSB. “Se mais mulheres deixaram de votar, podemos imaginar, por exemplo, que uma candidata mulher seria mais prejudicada”. Tokarski observa ainda que é difícil prever o nível de abstenção no Brasil: “Nos Estados Unidos, os institutos trabalham com o que chamam de likely voter. Aqui no Brasil, o voto é obrigatório, embora tenha abstenção média de 16%”. Peres ressalta que, apesar da diferença dos percentuais além da margem de erro, a pesquisa do Ibope projetou corretamente o cenário do segundo turno: “O que sempre esteve claro, desde o início da campanha, era que Manuela teria uma vaga. Inclusive, as pesquisas mostraram isso em todas as suas ondas de coleta de dados. As pesquisas também mostraram, corretamente, que havia uma disputa acirrada pelo segundo lugar, até a saída de Fortunati. Manuela recebeu uma proporção de votos menor do que o previsto, e Melo ficou à sua frente. No caso de Manuela, sua votação ficou próxima à margem de erro da última pesquisa do Ibope. No caso de Melo, a diferença foi maior. Mas, esse pequeno erro não alterou a projeção principal, ou seja, Manuela e Melo foram ao segundo turno“. Roberto Jefferson O advogado Roberto Jefferson é o atual presidente do PTB, sigla da qual faz parte desde o começo dos anos 1980 (antes, integrou PMDB e PP). Exerceu seis mandatos como deputado federal pelo Rio de Janeiro. Só deixou a vaga na Câmara, ocupada desde 1983, em 2005, quando foi cassado no episódio do Mensalão, no qual foi delator. Ao tuitar sobre a verificação – antes de responder diretamente à equipe —, Jefferson disse que o Comprova não atestou a veracidade da pesquisa e sugeriu que a margem de erro foi desconsiderada. As declarações são anteriores à publicação desta reportagem. O presidente do PTB só retornou ao contato do Comprova no fim da tarde de 20 de novembro, por meio de assessoria de imprensa, sem responder à maioria das perguntas da reportagem. Em maio, Roberto Jefferson foi alvo de mandados de busca e apreensão referentes a inquérito de fake news conduzido pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Roberto Jefferson também é pai da deputada federal Cristiane Brasil (PTB), que figurou em checagem recente do Comprova que relaciona, sem provas, suposto vazamento de dados administrativos do Tribunal Superior Eleitoral que poderiam transformar as justificativas dos eleitores ausentes de seus domicílios eleitorais em votos válidos. O conteúdo foi classificado como falso. Por que investigamos? O Projeto Comprova está em sua terceira fase, em que verifica conteúdos que viralizam nas redes sociais ligados às eleições municipais, às políticas públicas do governo federal e à pandemia. Ao comparar uma pesquisa devidamente registrada e dentro dos procedimentos legais com o resultado da votação e sugerir que “algo tem que ser feito contra pesquisas fake”, Roberto Jefferson estimula desconfiança na democracia brasileira. Ao levantar dúvidas sem apresentar provas, ele dá seguimento à agenda do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) de duvidar do resultado das urnas. Até 20 de novembro, o tuíte com conteúdo verificado aqui tinha mais de 2,7 interações (entre curtidas, comentários e republicações). Posteriormente, a postagem foi deletada. O Comprova já averiguou outros conteúdos que colocam em xeque o processo eleitoral, como o que atestou que o ataque de hackers no sistema do TSE não viola a segurança da eleição (produzido em parceria com a agência Aos Fatos), o que mostra que a apuração é aberta a qualquer cidadão, o que mostra ser falso que votos recebidos por candidata a vereadora no Tocantins tenham reduzido durante apuração e o indicando que a Votação estável ao longo da apuração não configura fraude em São Paulo. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos; que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano; ou que é retirado de seu contexto original e usado em outro, de modo que seu significado sofra alterações.
https://i1.wp.com/projet…=601%2C405&ssl=1
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['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-boulos-tenha-falado-em-obrigar-paulistano-a-receber-morador-de-rua-na-pandemia/
COMPROVA
É falso que Boulos tenha falado em obrigar paulistano a receber morador de rua na pandemia
null
2020-11-20
Postagem foi feita por perfil que tentava copiar a página real do político e foi suspenso pelo Twitter Conteúdo verificado: Perfil no Twitter que tenta se passar pelo candidato à Prefeitura de São Paulo Guilherme Boulos escreveu que decretaria um lockdown diferente no qual os paulistanos deveriam abrir suas casas para receber moradores de rua É falso que Guilherme Boulos, candidato do PSOL à Prefeitura de São Paulo, tenha tuitado sobre abrigar pessoas em situação de rua em quartos vagos nas casas de paulistanos. O perfil @boulos50, que tentava copiar a página real do político e foi suspenso pelo Twitter, publicou em 18 de novembro que o candidato faria um lockdown “diferente”, decretando que cidadãos com um ou mais quartos vazios em casa teriam que abrigar moradores de rua em seus imóveis, “pela segurança de todos”. Não é verdade. Ele trata sobre a população de rua e a pandemia em seu programa de governo, publicado antes do primeiro turno das eleições. Entre as propostas apresentadas, estão o “reforço nas medidas de prevenção em ambientes públicos e coletivos” e a “instituição da Renda Solidária para cerca de um milhão de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade”. Contatamos a equipe do candidato, que afirmou: “Infelizmente, nossa campanha tem sido alvo de inúmeras fake news. Não podemos permitir que mais uma eleição seja marcada por elas”. Não conseguimos contatar o autor do tuíte falso pois, como afirmado anteriormente, sua conta havia sido suspensa. Como verificamos? Primeiramente, buscamos no Twitter o nome de usuário que aparece no print que viralizou, o @Boulos50. Na data da nossa busca, a conta já estava suspensa. Depois, entramos em contato com a assessoria de campanha do PSOL, partido de Guilherme Boulos, que nos disse que a conta dele na rede social é @GuilhermeBoulos, que inclusive tem o selo de verificação do Twitter. Por WhatsApp, nos enviaram uma nota sobre o caso. Também pesquisamos o plano de governo do candidato e afirmações que ele já fez em sua conta oficial no Twitter e em reportagens sobre pessoas em situação de rua, invasões e pandemia. Verificação Perfil No Twitter, o nome dos usuários faz parte do link de acesso ao perfil. Portanto, a conta que postou aparece no print que viralizou, @Boulos50, deveria estar disponível no endereço twitter.com/boulos50. O link, porém, mostra que ela foi suspensa, por violar regras da rede social. No perfil, não há detalhes sobre quais regras teriam sido violadas, mas, no Twitter, há regras ligadas à autenticidade das contas: “não é permitido assumir a identidade de indivíduos, grupos ou organizações com a intenção de iludir, confundir ou enganar.” Buscando pelo nome de Guilherme Boulos no Twitter, fomos direcionados a outra conta, @GuilhermeBoulos, que possui o selo de autenticidade concedido pela própria rede social. Segundo o Twitter, o selo azul “informa às pessoas que uma conta de interesse público é autêntica”. Na conta verdadeira de Boulos, não encontramos nenhuma postagem com o mesmo conteúdo do print que viralizou, e a grafia equivocada da palavra “lockdown” – que no tuíte aparece como “lookdow” é mais um elemento que indica a inautenticidade da publicação. Moradores em situação de rua e invasões Além de falar sobre moradores em situação de rua em seu plano de governo, no dia 1ª de novembro, Boulos abordou o assunto em seu Twitter, afirmando: “nos primeiros 180 dias, vamos implantar o Plano Vida e Renda SP, com combate de verdade à pandemia”. E, em 19 de novembro, na mesma rede, escreveu que “se houver uma segunda onda (da covid-19), para evitar o contágio em casas com muita gente, onde o isolamento é impraticável, podemos acolher familiares provisoriamente em equipamentos da Prefeitura”. Por ser coordenador do Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST) e uma das principais lideranças da esquerda no país, Boulos costuma ter seu nome ligado a esse tipo de conteúdo falso e já tratou em um vídeo no YouTube sobre desinformação. Ele afirma que atua em movimentos sociais há 20 anos e que “o MTST, ao contrário do que diz a fake news, nunca invadiu casa de ninguém”. “O que ele faz é identificar imóveis (em situação irregular, como os que estão abandonados há mais de uma década, sem pagar imposto) e ocupar, junto com as pessoas, para pressionar o poder público para cumprir o seu papel”, diz ele. Por que investigamos? O Projeto Comprova, em sua terceira fase, verifica conteúdos que viralizam nas redes sociais ligados às políticas públicas do governo federal, à pandemia do novo coronavírus e às eleições municipais. A desinformação é sempre perigosa, mas, quando envolve candidatos às eleições, ela se torna ainda mais problemática pois pode alterar o resultado das urnas com base em mentiras. No geral, concorrentes a cargos públicos têm qualidades, mas também defeitos, e não é necessário inventar histórias para que eles sejam descredibilizados. O tuíte verificado, que atribui falsamente uma postagem polêmica a um dos candidatos que concorrem no segundo turno à prefeitura da maior cidade do país, teve mais de 1.500 interações só no grupo Aliança pelo Brasil, formado por apoiadores do presidente Jair Bolsonaro (sem partido) – embora tenha o mesmo nome do partido em processo em formação no TSE, o grupo não tem ligação formal com a associação política. O conteúdo também foi replicado por vários outros perfis no Facebook e no próprio Twitter. A agência Aos Fatos também verificou o conteúdo, classificando-o como falso. O Comprova já verificou outros conteúdos ligados às eleições, como os que mostraram que um recente ataque hacker ao STJ não era ameaça à segurança das eleições e que o sistema de voto eletrônico brasileiro pode ser auditado, ao contrário do que afirmava um post nas redes sociais. Falso, para o Comprova, é todo o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-o-tse-atualizou-apuracao-baseado-em-informacoes-de-site-de-noticias/
COMPROVA
É falso que o TSE atualizou apuração baseado em informações de site de notícias
null
2020-11-20
É o TSE que fornece informações da apuração aos sites de notícias e não o contrário, como afirma um vídeo publicado no Facebook. Também são falsas as afirmações de que “o resultado pode ser modificado após a votação” e que “os votos nulos e abstenções podem ser distribuídos para candidatos” Conteúdo verificado: Vídeo publicado no Facebook sugere fraude ao afirmar que o portal de notícias G1 divulgou resultado das eleições antes do TSE. Além disso, o vídeo afirma que urnas são inauditáveis e o voto de um candidato pode ser dado para outro São falsas as afirmações de um vídeo publicado no Facebook alegando que o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atualizou os dados das eleições municipais de 2020 conforme os números eram antecipados pelo portal de notícias G1. No dia da votação, o G1 divulgou a apuração a partir de dados informados pelo próprio Tribunal Superior Eleitoral. Segundo o TSE, empresas jornalísticas não conseguem exibir dados da apuração antecipadamente. De acordo com o tribunal, os arquivos para divulgação dos resultados disponibilizados para as empresas jornalísticas são os mesmos acessíveis para qualquer cidadão, que são liberados à medida que o TSE consegue somá-los. Ainda segundo a Justiça Eleitoral, só é possível ter acesso a um resultado antes do TSE através dos boletins de urna impressos em todas as sessões quando a votação se encerra. Também são falsas as afirmações de que “o resultado pode ser modificado após a votação” e que “os votos nulos e abstenções podem ser distribuídos para candidatos”. O próprio TSE esclarece em seu portal e em seu canal oficial no YouTube que a urna eletrônica possui diversas barreiras de segurança e que “tanto o voto nulo como o voto em branco não são considerados na soma dos votos válidos”. Entrevistado pelo Comprova, Paulo Lício de Geus, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e representante da Sociedade Brasileira de Computação nos testes do TSE como avaliador, ressaltou que “a quantidade de obstáculos e o grau de dificuldade para ultrapassá-los impossibilitam a violação das urnas tanto para a alteração de votos entre candidatos quanto a direcionar votos brancos, nulos e abstenções”. Também é falso dizer que “a urna é inauditável”, pois, de acordo com o artigo 66 da lei nº 9.504/1997, que estabelece normas para as eleições, “os partidos e coligações poderão fiscalizar todas as fases do processo de votação e apuração das eleições e o processamento eletrônico da totalização dos resultados”. Contatamos o responsável pela página e pela postagem no Facebook, mas até a publicação não recebemos resposta. Como verificamos? Para esta verificação, consultamos a legislação eleitoral brasileira, mais especificamente a resolução N° 23.603, que versa sobre os procedimentos de fiscalização e auditoria do sistema eletrônico de votação, e a lei nº 9.504/1997, que estabelece normas para as eleições. Entramos em contato com o Tribunal Superior Eleitoral para entender a situação dos votos nulos e brancos, a falha que ocorreu no “supercomputador” comprado pela corte e a centralização da totalização dos votos. A assessoria do tribunal encaminhou links das notas emitidas pela corte e a coletiva de imprensa concedida pelo ministro Luís Roberto Barroso sobre os temas. O TSE também enviou uma nota explicando como é feita a divulgação dos resultados pelas empresas de imprensa. Também entramos em contato com um especialista em computação que participou dos testes regularmente realizados pelo TSE, para saber sobre a possibilidade de alteração dos votos já computados nas urnas. Realizamos pesquisas em ferramentas de buscas na internet (Bing, Google, DuckDuckGo) e redes sociais, mas não encontramos nenhuma informação que indicasse que o portal de notícias G1 teve acesso às informações das apurações antes do Tribunal Superior Eleitoral. Verificação Divulgação não ocorreu antes Em nota enviada ao Comprova, o TSE disse ser falso que empresas jornalísticas conseguiram exibir dados da apuração do primeiro turno, em 15 de novembro, antecipadamente. “Os arquivos para divulgação de resultados, disponibilizados a empresas jornalísticas, são os mesmos do site de resultados acessíveis por qualquer cidadão e são liberados somente após o TSE totalizar (somar) os votos” explica o tribunal. Televisões, sites e a imprensa em geral recebem os arquivos através de uma rede de distribuição chamada CDN, uma técnica para enviar grandes quantidades de dados através de uma rede de computadores. A CDN a que os veículos de imprensa têm acesso “replica o site de resultados para impedir sobrecarga e garantir que mais pessoas tenham acesso”, explicou o tribunal. Segundo o TSE, a única forma de ter acesso aos resultados da eleição antes da Justiça Eleitoral é através dos boletins de urna. Quando a votação é encerrada, os boletins são emitidos em todas as sessões eleitorais, para garantir a transparência do resultado, e podem ser utilizados para auditar a apuração feita pelo próprio tribunal. Na nota enviada ao Comprova, a Justiça Eleitoral também explicou que, no último domingo, devido a uma lentidão enfrentada na divulgação pelo site que ocorreu por causa do atraso na totalização dos resultados, o TSE disponibilizou o acesso ao sistema interno de contagem dos votos em um telão posicionado no Centro de Divulgação das Eleições (CDE), que fica no térreo do prédio do TSE, em Brasília. G1 usou dados do TSE No link de divulgação dos resultados de todos os municípios, o G1 informa que “a fonte das informações desta página é o Tribunal Superior Eleitoral”. Os veículos de imprensa que acompanham a corrida da apuração, porém, não tiram os dados do aplicativo do TSE, mas sim de um data center (centro de processamento de dados) disponível na nuvem, ou seja, que pode ser acessado remotamente. Assim, emissoras de TV, rádio e portais de internet podem desenvolver suas próprias plataformas de divulgação dos números, desde que atendam às regras do TSE. Os artigos 210 a 213 da Resolução 23.611/2019 determinam as regras para que os veículos de imprensa façam a divulgação desses dados. Uma delas é que “é vedado às entidades envolvidas na divulgação oficial dos resultados promover qualquer alteração de conteúdo dos dados produzidos pela Justiça Eleitoral”. Em 2020, o TSE disponibilizou no YouTube um vídeo de uma hora e 11 minutos explicando o passo a passo de como essas informações podem ser acessadas. Também foram feitos dois simulados, em outubro e novembro, para que cada veículo pudesse testar se os seus programas de captação e divulgação dos dados estavam funcionando corretamente. Dia da Eleição Durante a apuração do primeiro turno das eleições, em 15 de novembro, houve uma falha em um dos computadores da rede do TSE que fez o sistema ficar lento e sem atualizar por algumas horas. Consequentemente, os portais de notícias ficaram sem reportar a atualização dos votos, e as notícias que circularam foram justamente sobre a demora do sistema de votação. Para portais como UOL e BBC, o Tribunal Superior Eleitoral admitiu a demora na apuração do resultado das eleições, mas garantiu que os dados chegaram normalmente aos Tribunais Regionais Eleitorais (TREs). Em coletiva de imprensa ainda na manhã do dia 15, o ministro Luís Roberto Barroso, presidente do TSE, fez um balanço das primeiras horas das eleições. Segundo ele, houve um ataque ao site do TSE, com milhares de acessos simultâneos, para tentar retirar a página do ar, mas a área de tecnologia do tribunal e empresas de telefonia conseguiram solucionar o problema. Auditorias O TSE realiza testes públicos permanentes (que acontecem regularmente todos os anos, não apenas próximo do período eleitoral) que buscam aprimorar os sistemas eleitorais. Esses testes contam com a participação de especialistas, que buscam identificar problemas e fragilidades que serão resolvidas antes da realização das eleições. De acordo com Paulo Lício de Geus, professor da Unicamp, a possibilidade de alteração do voto na urna “é tarefa dificílima”. O professor explica que o teste é feito por investigadores tentando comprometer o sistema de votação. Posteriormente, a comissão avaliadora do TSE analisa o resultado dos investigadores, faz críticas e estuda as consequências e soluções. “Em geral contamos com os apontamentos da equipe “moderadora” e com os desenvolvedores do TSE para explicar pontos ou responder perguntas nossas. Ao final geramos um relatório sintetizando tudo que foi obtido e respectivos impactos, assim como possíveis soluções e recomendações em geral”, complementa. Legislação As audiências de auditoria das urnas são públicas e podem ser realizadas por técnicos dos partidos políticos e por entidades fiscalizadoras dispostas no artigo 5º da Resolução do TSE 23.603/2019. A lei nº 9.504/1997, que estabelece normas para as eleições, em seu artigo 66 também afirma que “os partidos e coligações poderão fiscalizar todas as fases do processo de votação. A urna é um arquivo histórico que mudou o sistema eleitoral brasileiro e evita fraudes e manipulações”. Voto nulo e voto em branco Um texto no site do TSE explica que, após o encerramento da votação, “os dados são assinados digitalmente, gravados em uma mídia de resultado, destacando-se que o boletim de urna (BU), além de assinado, é criptografado”. Feito isso, “as mídias de resultado são encaminhadas ao local próprio para transmissão”. O texto também explica que, no caso dos locais de difícil acesso, como aldeias indígenas e certas comunidades ribeirinhas, “a transmissão é feita via satélite para o respectivo tribunal ou zona”. De posse dos dados, os TREs “dão início ao procedimento de totalização dos votos (soma de todos os boletins de urna) e, em seguida, à divulgação dos resultados”. O TSE enfatiza que “tanto o voto nulo como o voto em branco não são considerados na soma dos votos válidos”. Nessas eleições municipais, como medida de segurança, ocorreu a centralização dos votos no TSE. Isso se deu por recomendação da Polícia Federal, como explicou em entrevista coletiva o presidente do TSE, o ministro Luís Roberto Barroso. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos que viralizam nas redes sociais ligados às eleições municipais, às políticas públicas do governo federal e à pandemia. É o caso deste vídeo que foi publicado no Facebook, um dia após o primeiro turno das eleições municipais, e já contabilizou mais de 7,8 mil interações. O autor do vídeo traz uma série de comentários colocando em dúvida a lisura do processo eleitoral brasileiro, dentre eles, ele diz, sem provas, que “o resultado pode ser modificado após a votação”, “os votos nulos e abstenções podem ser distribuídos para candidatos”, “a urna é inauditável” e, que no domingo, “o TSE atualizou os dados conforme o G1”. Nesta semana o Comprova verificou que o sistema de voto eletrônico brasileiro pode ser auditado, ao contrário do que afirmava um post nas redes sociais e, que a votação estável ao longo da apuração não indica fraude em São Paulo. E também no 15, dia da votação, o Comprova verificou, em parceria com a agência Aos Fatos, que um ataque de hackers no sistema do TSE não viola a segurança da eleição. A Agência Lupa também fez a checagem do vídeo investigado pelo Comprova. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-possivel-sim-auditar-e-realizar-recontagem-dos-votos-ao-contrario-do-que-afirma-video/
COMPROVA
É possível, sim, auditar e realizar recontagem dos votos, ao contrário do que afirma vídeo
null
2020-11-20
Ao contrário do que afirma youtuber, existem várias formas de auditar o processo eleitoral brasileiro, antes, durante e após o pleito e a recontagem de votos é prevista no Código Eleitoral Conteúdo verificado: Vídeo publicado no YouTube no qual um homem diz que o sistema eleitoral no Brasil é fraudulento, que não há como fazer recontagem ou auditoria e que a Smartmatic está envolvida no processo eleitoral. Um vídeo publicado no YouTube engana ao dizer que não há como fazer recontagem e auditoria nas eleições brasileiras para tentar sustentar argumento de que a votação em São Paulo foi fraudada. Existem várias formas de auditar o processo eleitoral brasileiro, antes, durante e após o pleito, estabelecidas na Resolução 23.603/19. A recontagem de votos é prevista no Código Eleitoral, porém, sob circunstâncias específicas. Em seu portal, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) esclarece e disponibiliza informações sobre as auditorias e o funcionamento das urnas eletrônicas. A publicação também engana ao falar sobre a centralização da totalização e divulgação dos votos. Em entrevista coletiva, o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, e o secretário de Tecnologia da Informação do Tribunal, Giuseppe Janino, explicaram que a concentração dos dados se tratou de uma ação estratégica de segurança. “A centralização, no TSE, da totalização dos votos foi adotada a partir de uma recomendação da Polícia Federal para reduzir a quantidade de superfícies de ataque”, disse o ministro Barroso. O autor do vídeo também afirma, sem apresentar provas, que “todo o sistema é fraudado”. De acordo com o TSE, nenhum caso de fraude foi identificado e comprovado no sistema eleitoral eletrônico desde que ele foi adotado, em 1996. Também é enganoso afirmar que a Smartmatic está envolvida no processo eleitoral brasileiro. O Comprova já verificou isso e constatou que a Smartmatic, que forneceu urnas para a Venezuela, nunca vendeu aparelhos para o Brasil. Como verificamos? Para essa verificação, o Comprova entrou em contato com o Tribunal Superior Eleitoral, que respondeu por e-mail enviado pela assessoria de comunicação com alguns links do site do órgão sobre como funcionam as auditorias e recontagem de votos. Também buscamos informações com o secretário de tecnologia da informação e comunicação no Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco (TRE-PE), George Maciel, e o advogado especialista em direito eleitoral Hugo Souza. Também procuramos reportagens sobre a contagem e divulgação dos votos no primeiro turno, que explicam a lentidão e as falhas no sistema do TSE. Fez parte ainda da verificação a busca de checagens anteriores do Comprova sobre a empresa Smartmatic. Contatamos ainda a plataforma YouTube a fim de entender por que o canal envolvido nesta verificação foi desmonetizado, informação que o próprio criador menciona ao longo do vídeo verificado. Tentamos contato com o youtuber, mas até o fechamento desta verificação não obtivemos retorno. Verificação Auditoria e recontagem de votos podem ser realizadas Há várias formas de fazer auditoria no processo eleitoral brasileiro, previstas na Resolução 23.603/19 e realizadas antes, durante e após o pleito. De acordo com o TSE, é possível auditar sob oito aspectos: verificação do resumo digital (hash); reimpressão do boletim de urna; comparação entre o boletim impresso e o recebido pelo sistema de totalização; verificação de assinatura digital; comparação dos relatórios e das atas das seções eleitorais com os arquivos digitais da urna; auditoria do código-fonte lacrado e armazenado no cofre do TSE; recontagem dos votos por meio do Registro Digital do Voto (RDV); e comparação da recontagem do RDV com o boletim de urna (formato PDF). Os dois principais sistemas são a auditoria de funcionamento das urnas eletrônicas em condições normais de uso (conhecidas antes como “votação paralela”) e a auditoria de verificação da autenticidade e da integridade dos sistemas instalados nas urnas eletrônicas. “Todas as cerimônias de preparação de urna são públicas. A gente divulga um edital e tem dia, local e hora para acontecer, para que os interessados possam participar. Convocamos partidos, Ministério Público e outras entidades interessadas. Toda cerimônia tem a presença do juiz e do MP, às vezes a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e a Polícia Federal também comparecem. Acontece em todo o Brasil”, explica o secretário de tecnologia da informação e comunicação no Tribunal Regional Eleitoral de Pernambuco, George Maciel. No dia anterior às eleições, tanto para primeiro quanto para segundo turno, uma comissão realiza um sorteio das seções eleitorais que serão submetidas às auditorias, que pode ser acompanhado por qualquer cidadão. No caso da auditoria de funcionamento das urnas eletrônicas em condições normais de uso, as urnas sorteadas são submetidas a uma votação simulada – respeitando as mesmas condições de uma seção eleitoral oficial. São usadas cédulas de papel, preenchidas por representantes de partidos e entidades públicas. Cada voto é registrado na urna eletrônica e em um computador à parte, com outro sistema. Ao final da votação (no mesmo horário do pleito oficial), são comparados os dois resultados. O processo é filmado e acompanhado por uma empresa de auditoria externa contratada pelo TSE. Já na auditoria de verificação da autenticidade e integridade dos sistemas, são analisadas se as assinaturas digitais dos sistemas instalados nas urnas eletrônicas são iguais aos sistemas lacrados em cerimônia pública realizada anteriormente pelo TSE. Essa auditoria é realizada no dia da votação, antes do início oficial, em seções eleitorais sorteadas na véspera, também em audiência pública. Cada urna emite um relatório de resumos digitais dos arquivos instalados nela, que podem ser conferidos a qualquer momento pelos fiscais dos partidos, representantes da Ordem dos Advogados do Brasil e do Ministério Público. “Além disso, no ano anterior à eleição, a gente chama a comunidade científica para tentar hackear a urna. A gente coloca ela à prova, para corrigir eventuais falhas a tempo, mas até hoje ninguém conseguiu vulnerabilizá-la”, acrescenta George Maciel, do TRE-PE. A Justiça Eleitoral divulga detalhes sobre esse teste em um site. Além das auditorias, é possível pedir recontagem dos votos. Desde 2004, a urna eletrônica tem um dispositivo, o Registro Digital do Voto (RDV), que guarda as informações dos votos dos eleitores de forma aleatória. Por meio dele, é gerado um boletim de urna, um relatório com a apuração dos votos da seção, que fica à disposição para consulta dos representantes dos partidos. Com o RDV, é possível fazer a recontagem, a apuração e totalização dos votos. A recontagem é prevista no Código Eleitoral, porém sob circunstâncias específicas. Pode ser solicitada por partidos, coligações ou candidatos por meio de requerimentos aos tribunais regionais ou superior ou por uma Ação de Investigação Judicial Eleitoral (Aije). “A Aije é uma ação judicialmente legal, prevista na legislação eleitoral, em que o partido, a coligação ou o candidato podem entrar com o pedido de revisão, desde que comprovem o tipo de abuso que está ensejando a ação”, explica o advogado especializado em direito eleitoral Hugo Souza. O TSE divulga os pedidos de recontagem já realizados no país. Centralização dos votos Nessas eleições, pela primeira vez, a contagem dos votos de todas as regiões brasileiras foi centralizada no TSE, o Tribunal Superior Eleitoral. Em eleições anteriores, o Tribunal Regional Eleitoral de cada estado e do Distrito Federal era responsável pelo processo de envio dos votos da região para serem somados nacionalmente pelo TSE e, posteriormente, realizar a divulgação dos votos. Neste ano, o próprio TSE fez toda a soma antes da divulgação dos votos. A centralização no TSE gerou atraso de mais de duas horas na totalização dos votos. De acordo com esclarecimentos do TSE, essa centralização foi uma recomendação da Polícia Federal, visando, de maneira estratégica, reduzir a possibilidade de ataques ao sistema eleitoral. Em entrevista coletiva, o ministro Luís Roberto Barroso explicou que “um supercomputador foi fornecido pela empresa Oracle para computar, de forma centralizada, os dados provenientes das urnas eletrônicas de todo o país”. Na mesma coletiva, o secretário de Tecnologia da Informação, Giuseppe Janino, assegurou que “os peritos da Polícia Federal trataram a totalização da distribuição, no âmbito dos 27 Tribunais Regionais Eleitorais, como uma tática chamada de redução de superfície de ataque”. Janino disse também que “quando se têm 27 pontos, em tese, você teria o mesmo número de chances de pontos para atacar. Mas quando você concentra em um ponto e, nesse ponto, se concentram vários requisitos de segurança, como uma sala cofre de segurança, além de vários softwares, gestão e um serviço de vigilância 24 horas por sete dias na semana, se tem uma possibilidade menor de ataques”. Sobre a lentidão e falhas no sistema utilizado pelo TSE, o presidente do Tribunal disse, também em coletiva, publicada em texto no site do órgão, que “em razões de limitações nos testes prévios, no dia da eleição a inteligência artificial do equipamento demorou a realizar o aprendizado para processar os dados num volume e velocidade com que chegavam, daí sua lentidão e travamento que exigiu que a totalização fosse interrompida e reiniciada”. No Brasil nunca foi comprovada fraude no sistema eleitoral O Comprova não encontrou nenhum indício de que existam provas de fraude no sistema eleitoral brasileiro. Segundo o TSE, desde implantado, em 1996, o sistema nunca foi fraudado. Em vídeo publicado no Youtube, no canal da Justiça Eleitoral, em 31 de agosto deste ano, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, o ministro Luís Roberto Barroso, enfatiza que o sistema eletrônico de votação é seguro e que no Brasil nunca foram constatadas fraudes que interfiram no resultado das eleições. “A votação por meio da urna eletrônica, que já vigora no Brasil há mais de duas décadas, já passou por diversas auditorias nos últimos anos e jamais foi constatada qualquer fraude”. O ministro pontua ainda que “tudo que é humano está sujeito ao aperfeiçoamento, mas nunca se documentou nenhum tipo de fraude relevante que pudesse comprometer o resultado das eleições”. Em outro vídeo, também disponível no canal da Justiça Eleitoral, o TSE traz de uma maneira didática, em menos de um minuto, informações sobre a segurança da urna, destacando que “a urna eletrônica tem mais de 30 barreiras de segurança”, “todos os programas utilizados na urna ficam disponíveis e são lacrados em uma cerimônia específica”, e que “não é possível mudar os dados que estão nela [urna] após a lacração”. Autor do vídeo e desmonetização do canal Renato Barros é um youtuber declaradamente apoiador da direita. Ele é criador de alguns canais disponíveis na plataforma YouTube. Em julho de 2019, Renato e outros youtubers de direita se encontraram com o presidente Jair Bolsonaro (sem partido), como mostra esta matéria de “O Globo”. O canal verificado pelo Comprova está desmonetizado há pouco mais de três meses. De acordo com explicações dadas pelo youtuber no próprio canal, a plataforma Youtube classificou o conteúdo como nocivo. Sobre a questão, o YouTube afirmou que “para que um canal gere receita, ele primeiro precisa ser aceito no Programa de Parcerias do YouTube (YPP, na sigla em inglês)” e atender alguns critérios. A empresa afirmou que “todos os canais no Programa de Parcerias da plataforma são revisados por um ser humano para garantir que atendem os critérios de aprovação. Além disso, passam por revisão periódica, podendo ser removidos do programa”. A remoção pode acontecer, entre outras questões, por tentar gerar receita com vídeos que não são próprios ou não atendem às diretrizes de conteúdo adequado para publicidade. Sobre conteúdos nocivos, a empresa afirmou que opera com diretrizes da comunidade, ou seja, políticas que descrevem qual conteúdo não é aceitável na plataforma. “Trabalhamos para remover rapidamente material que viola nossas políticas. Usamos uma combinação de pessoas e aprendizado de máquina para detectar, em escala, conteúdo potencialmente problemático”, diz o YouTube, em nota. Por que investigamos? Na terceira fase, o Projeto Comprova investiga conteúdos suspeitos relacionados à pandemia da covid-19, a políticas públicas e às eleições. No dia do primeiro turno deste ano, viralizaram postagens a respeito de possíveis fraudes, usando como argumento o atraso que ocorreu na totalização dos votos. As postagens não tinham provas concretas sobre a acusação. Embora o autor enfatize no vídeo que não tem provas quanto às questões que traz e que se trata da sua opinião, o conteúdo investigado é perigoso pois levanta diversas questões para desacreditar o sistema eleitoral brasileiro e confirmar uma eventual fraude nas eleições de São Paulo. A publicação no YouTube teve mais de 155 mil visualizações. O Comprova já mostrou, neste ano, que o sistema eletrônico de votação pode ser auditado e checou boatos sobre a possibilidade de a apuração dos votos ser secreta, sobre violação da segurança da eleição por hackers e sobre a transformação da justificativa em votos válidos. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos; que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano; ou que é retirado de seu contexto original e usado em outro, de modo que seu significado sofra alterações.
null
null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/sistema-usado-em-video-para-simular-fraude-nao-e-o-mesmo-de-urnas-eletronicas/
COMPROVA
Sistema usado em vídeo para simular fraude não é o mesmo de urnas eletrônicas
null
2020-11-19
Equipamento usado para simulação de fraude em um vídeo antigo que voltou a circular nas redes sociais não é uma urna eletrônica. É também falsa a informação de que três venezuelanos e um português seriam os responsáveis pela elaboração do código-fonte das urnas eletrônicas do Brasil Conteúdo verificado: Vídeo afirma que urnas eletrônicas seriam fáceis de serem fraudadas por meio do código-fonte e que este seria elaborado por estrangeiros que não estariam preocupados com a segurança e confiabilidade do processo eleitoral do Brasil. São falsas as informações veiculadas em um vídeo no YouTube, insinuando que as urnas eletrônicas usadas nas eleições brasileiras são fáceis de serem fraudadas por meio de alterações no código-fonte. Na filmagem, o autor se apresenta como desenvolvedor de sistemas operacionais e mostra o que seria uma simulação computadorizada da urna. No entanto, de acordo com o próprio Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e um especialista em tecnologia ouvido pelo Comprova, o programa que é utilizado no vídeo como simulador da urna eletrônica é muito mais simples que o equipamento em si, que conta com inúmeros dispositivos de segurança que impedem que ela funcione com um arquivo modificado. Além disso, é falsa a informação de que três venezuelanos e um português seriam os responsáveis pela elaboração do código-fonte das urnas eletrônicas do Brasil. Essa responsabilidade é de apenas um grupo restrito de servidores públicos da Justiça Eleitoral, no qual não há estrangeiros. Vale ressaltar que este vídeo foi originalmente postado por outro canal no Youtube, entre o primeiro e o segundo turno das eleições de 2018. A página que o publicou desta vez posta apenas conteúdos de cunho conservador e de apoio ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O Comprova fez contato com o canal, mas não obteve retorno. Como verificamos? Para esclarecer quem são os responsáveis pela elaboração do código-fonte das urnas eletrônicas usadas no Brasil, averiguar a possibilidade dele ser alterado e saber quais os mecanismos de segurança existentes, o Comprova acessou documentos elaborados e publicados no site oficial do Tribunal Superior Eleitoral, incluindo uma nota de esclarecimento sobre o vídeo verificado. Além disso, a equipe também entrevistou Paulo Lício de Geus, professor do Instituto de Computação e diretor de informática (CIO) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) que também é representante da Sociedade Brasileira de Computação nos testes públicos de segurança do sistema eletrônico de votação do TSE. Ele detalhou o que seria necessário para alterar o código-fonte e como o trabalho seria complexo. Já para explicar qual a origem da falsa informação de que três venezuelanos e um português estariam por trás da elaboração do código-fonte das urnas eletrônicas, foi feita inicialmente uma pesquisa no Google com essa associação de palavras que resultou em diversas verificações realizadas há dois anos. Em busca reversa no Google Images, com um frame do vídeo, o Comprova também chegou à publicação original, de 2018. Verificação TSE é o responsável pelo código-fonte das urnas Conforme indica o próprio Tribunal Superior Eleitoral, responsável pelas eleições, as urnas brasileiras têm código-fonte. De acordo com o órgão, “somente um grupo restrito de servidores e de colaboradores do Tribunal Superior Eleitoral tem acesso ao repositório de código-fonte e está autorizado a fazer modificações no software (…) que é o mesmo em todo o Brasil”. No documento Sistema Eletrônico de Votação: Perguntas Mais Frequentes, o TSE também esclarece que “a Justiça Eleitoral utiliza ferramentas modernas de controle de versão do código-fonte dos sistemas eleitorais” e que por meio delas “é possível acompanhar toda modificação feita sobre o código-fonte, o que foi modificado e por quem”. Outro mecanismo de segurança se dá com a segregação dentro do Tribunal. “A equipe responsável pelo software da urna não é a mesma que cuida do sistema de totalização”, exemplifica. “A quantidade de sistema eleitorais envolvidos na realização de uma eleição é tão grande que se torna impraticável a um agente interno ter grau de conhecimento do todo que lhe permita realizar algum tipo de ataque”, garante. Em uma nota de esclarecimento publicada no dia 17 de novembro de 2020 sobre as falsas informações veiculadas pelo vídeo em questão, o TSE ainda afirma que na filmagem “é exposta, de forma didática, uma maneira de se fazer uma urna usando um kit simples, como é o caso de placas com processador Arduino (plataforma de prototipagem)” e que “uma urna eletrônica não é tão simples”. Sem estrangeiros Diferentemente do que afirma o autor do vídeo, o código-fonte utilizado nas urnas eletrônicas das eleições brasileiras não é elaborado por “três venezuelanos e um português, pessoas que não têm obrigação nenhuma com a política brasileira”. Essa responsabilidade, na verdade, é exclusiva do próprio TSE, que garantiu ao Comprova que “não há estrageiro na equipe, formada por servidores públicos da Justiça Eleitoral”. A informação falsa tem origem provável em outro vídeo, que circulou na internet em 2018, ano de Eleições Gerais. Na época, esse conteúdo foi verificado por diversos veículos de comunicação como UOL Confere, Agência Lupa, Boatos.org e Aos Fatos. Em todos, ele foi classificado como falso, distorcido ou boato. A afirmação distorcia uma fala do então professor Pedro Antônio Dourado de Rezende, que atuava no Departamento de Ciência da Computação da Universidade de Brasília (UnB) até 2019. Durante uma audiência pública na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), ele criticou o resultado do edital nº 106 de 2017, que visava a contratação de módulos impressores para as urnas. Na ocasião, em meio às críticas, o professor afirmou que a empresa vencedora da licitação “pertencia a três venezuelanos e um português”. Embora tenha venezuelanos entre os fundadores, a empresa Smarmatic é estadunidense e acabou desclassificada após uma análise técnica do TSE, que chegou a emitir uma nota na qual esclareceu nunca ter entregue o código-fonte da urna eletrônica para qualquer empresa privada, nacional ou estrangeira. Vale lembrar que em junho de 2018, o Supremo Tribunal Federal (STF) suspendeu a regra da chamada Minirreforma eleitoral que previa a impressão do voto eletrônico. O plenário entendeu o dispositivo como inconstitucional por colocar em risco “o sigilo e a liberdade do voto, contrariando a Constituição Federal”. Neste ano, uma decisão unânime reafirmou o posicionamento. O parecer do último mês de setembro, aliás, foi distorcido por um tuíte que dizia que o voto impresso era inconstitucional. O que, por sua vez, foi verificado pelo Comprova e classificado como enganoso. Recentemente, outra verificação também mostrou ser falsa a informação de que a empresa Smarmatic, que forneceu urnas eletrônicas para a Venezuela, tinha vendido os equipamentos ao Brasil. Os mecanismos de segurança das urnas Ainda de acordo com a nota de esclarecimento do TSE, cada urna é identificada de forma única e protegida contra tentativas de invasão que, se forem tentadas, serão evidenciadas. Para a identificação são gerados parâmetros criptográficos ainda na fabricação, que nunca são expostos. Como essa identidade é conferida antes e depois da votação, se a urna não for exatamente aquela que foi carregada, há meios para que ela não seja considerada válida. O TSE também explica que as urnas eletrônicas têm firmwares – classificações de softwares – que iniciam operacionalmente a urna e softwares básicos que carregam o sistema operacional. Porém, de forma diferente dos computadores comuns, cada urna conta com uma “cadeia de confiança” que verifica a autenticidade e a integridade de cada componente. Ou seja, impede que softwares alheios à Justiça Eleitoral sejam carregados e executados na urna. Além disso, “os códigos-fonte dos softwares e dos firmwares são abertos à consulta durante seis meses antes das eleições, para qualquer pessoa que queria encontrar algum mecanismo malicioso e comunicar sua existência à Justiça Eleitoral”, seja ele na geração de mídias, na votação, na apuração, na transmissão ou no recebimento de arquivos. É o chamado Teste Público de Segurança (TPS). Para atestar a idoneidade do sistema e descartar a possibilidade de uma alteração no período entre a realização desta consulta pública e o início da votação, o TSE também realiza um procedimento que pode ser acompanhado pelos próprios eleitores, chamado de “cerimônia de votação paralela”. “Na véspera da eleição, em audiência pública, são sorteadas urnas para verificação. Estas urnas, que já estavam instaladas nos locais de votação, são conduzidas ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e substituídas por outras, preparadas com o mesmo procedimento das originais. No dia da votação, em cerimônia pública, às urnas sorteadas são submetidas à votação nas mesmas condições em que ocorreria na seção eleitoral, mas com registro, em paralelo, dos votos que são depositados na urna eletrônica. Cada voto é registrado em uma cédula de papel e, em seguida, replicado na urna eletrônica. Tudo é registrado em vídeo. Ao final do dia, no mesmo horário em que se encerra a votação, são feitas a apuração das cédulas de papel e a comparação do resultado com o boletim da urna”, explica o TSE. Desde a implementação das urnas eletrônicas nas eleições brasileiras, em 1996, o TSE garante que foram frequentes os casos de suspeita de fraude, mas que “nenhum caso até hoje foi identificado e comprovado”. A conclusão de que a urna é segura é também de outros órgãos que têm a prerrogativa de investigar o processo eleitoral brasileiro e já realizaram auditorias independentes na urna eletrônica, como o Ministério Público e a Polícia Federal”. Especialista: “urna não roda com bit modificado” O Projeto Comprova consultou o professor do Instituto de Computação e CIO da Universidade Estadual de Campinas, Paulo Lício de Geus, que esclarece não ser possível programar votos como mostra o vídeo. Segundo o especialista, as imagens foram usadas para enganar pessoas que não entendem de computação por meio de um programa de demonstração, mas que não têm relação com o sistema do TSE, exceto a aparência do painel. O autor do vídeo afirma que o Linux, um dos sistemas operacionais mais conhecidos no mundo, é o mesmo usado pelo TSE. Entretanto, Paulo Lício, que também é representante da Sociedade Brasileira de Computação nos testes públicos de segurança do sistema eletrônico de votação do Tribunal Superior Eleitoral, nega a informação e comenta que mesmo com a eficiência desta tecnologia, ela apresenta vulnerabilidades que poderiam comprometer seu uso nas urnas, não fossem outros mecanismos. “A urna só roda programas criados dentro do TSE, graças a um dispositivo de hardware chamado de HSM (hardware security module), embutido em todas as urnas. A criptografia garante que só os programas criados lá – assinados com a chave privada que fica trancada na sala forte do Tribunal – sejam aceitos para execução”. O especialista aponta que, mesmo que nenhum sistema computacional seja 100% seguro, criar um procedimento interno reduz a possibilidade de alteração dos votos das urnas no Brasil. “A urna sequer roda se tiver qualquer um de seus arquivos modificados por um bit sequer (a menor unidade de informação, dentre gigabytes de código)”, garante. No vídeo, o autor também sugere que seria possível “driblar” a auditoria – uma verificação dos arquivos de programas presentes nas urnas – com o código já alterado, mas Paulo explica que a auditoria, por si só, não garante segurança à urna, sendo essencial também para a confiabilidade do sistema, a arquitetura interna dos sistemas de software e hardware. E, diferentemente da simplicidade sugerida pelo vídeo, alterar o código para comandar uma fraude nas eleições exige alta complexidade. “Para se ter alguma chance de alterar a contagem de votos é necessária uma quantidade de recursos de todos os tipos muito grande, especialmente de tempo. Não é uma empreitada para amadores. Teria que ser algo feito por equipes especialistas que hoje só se encontram em exércitos de países líderes mundiais. E não sei se teriam sucesso dentro do tempo de uma eleição (um ano)”, afirma. Vale lembrar que, de acordo com o TSE, “a urna eletrônica não é vulnerável a ataques externos”. “Ela é um equipamento que funciona de forma isolada. Ou seja, não possui nenhum mecanismo que possibilite sua conexão a redes de computadores, como a internet. Além disso, não possui o hardware necessário para se conectar a uma rede ou mesmo a qualquer forma de conexão com ou sem fio.” Vídeo de 2018 republicado Apesar de ter sido publicado no dia 11 de novembro deste ano, exatamente quatro dias antes da eleição, na qual os brasileiros votaram para prefeitos e vereadores, o vídeo “DENÚNCIA GRAVE! Veja como são feita as fraudes nas urnas eletrônicas do Brasil” foi publicado originalmente em 16 de outubro de 2018, entre o primeiro e segundo turno das eleições para presidente. O próprio homem que aparece no vídeo – e se apresenta como Jeterson, desenvolvedor de sistemas – usa como exemplo a votação para presidente no simulador simplificado da urna eletrônica e fala, por volta do minuto oito, que “as pessoas vão ficar mais atentas no próximo dia de votar, no dia 28”. Dia 28 de outubro foi a data do segundo turno das últimas eleições de 2018. Com o título “Explicação simples da fraude das eleições 2018”, ele também foi publicado no YouTube pelo canal de Ana Calheiros. Nele já foram publicados dezenas de vídeos, mas o mais recente já tem mais de dois anos. Entre os conteúdos, destacam-se outros que apontam supostas fraudes em eleições ou que criticam membros do PT ou são favoráveis ao presidente Jair Bolsonaro (sem partido). O perfil da página Criado em 20 de junho deste ano, o canal Geração Patriotas já publicou 77 vídeos no YouTube. De forma geral, os conteúdos apoiam politicamente a direita, os militares e o presidente Bolsonaro, que já afirmou ter havido fraudes nas eleições brasileiras sem apresentar qualquer prova e se declara a favor da volta do voto impresso. Conforme links nas descrições dos vídeos, o Geração Patriotas tem grupos no WhatsApp e no Telegram; e perfis no Instagram e no Twitter, criados em setembro deste ano. Há ainda um grupo público no Facebook que é descrito como “grupo de direita em apoio ao nosso governo conservador” e cita o lema de campanha de Bolsonaro: “Deus acima de tudo, Brasil acima de todos”. O único moderador e administrador da página é Ivan Souza. O Comprova entrou em contato com ele por meio de uma mensagem privada no Facebook e enviou outra no perfil do Instagram do Geração Patriotas, ambas enviadas na manhã do dia 19 de novembro. Porém, até o momento em que esta verificação foi publicada, a equipe não tinha recebido qualquer retorno. Por que investigamos? Na terceira fase, o Comprova verifica conteúdos duvidosos que estejam viralizando nas redes sociais e que trate de políticas do governo federal, da pandemia ou das eleições de 2020. Até a data de publicação deste texto, o vídeo verificado tinha mais de 2.800 compartilhamentos apenas no YouTube. Conteúdos falsos, como esse, colaboram para que as pessoas fiquem em dúvida sobre a segurança e a confiabilidade das urnas eletrônicas utilizadas nas eleições do Brasil há mais de 20 anos, prejudicando o processo eleitoral e colocando em xeque um dos mecanismos mais importantes da nossa democracia. Falso, para o Comprova, é qualquer conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/apuracao-da-eleicao-brasileira-e-aberta-a-qualquer-pessoa-ao-contrario-do-que-afirma-post/
COMPROVA
Apuração da eleição brasileira é aberta a qualquer pessoa, ao contrário do que afirma post
null
2020-11-18
Post sugere que apuração das eleições municipais deste ano foi secreta e que isso configura fraude, mas o processo é aberto e qualquer cidadão tem acesso aos resultados das seções eleitorais Conteúdo verificado: Postagem no Facebook sugere que apuração dos votos foi realizada de forma secreta no primeiro turno das eleições deste ano e afirma que isso configuraria fraude É falsa a afirmação, em um post no Facebook, de que houve “apuração secreta” dos votos nas eleições municipais e que isso configuraria fraude. Na verdade, a apuração não é secreta, já que, quando encerrado o horário de votação, os mesmos dados que são transmitidos ao sistema de totalização são impressos na forma de boletins de urna e podem ser conferidos por qualquer pessoa. Neste ano, houve atraso na divulgação dos resultados das eleições municipais, mas, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), a apuração ocorreu normalmente e o atraso ocorreu por lentidão no sistema responsável pela totalização dos votos, que é a soma da apuração de cada urna. Como verificamos? Entramos em contato com o Tribunal Superior Eleitoral, para saber como funcionam os sistemas de apuração e totalização dos votos. A corte respondeu por e-mail, por meio da assessoria de imprensa, e encaminhou um vídeo que explica a diferença entre os dois procedimentos. Também consultamos reportagens com detalhes sobre o tema e sobre o atraso na totalização dos votos que ocorreu neste ano, no primeiro turno. Contatamos a página do Movimento Avança Brasil, responsável pela postagem no Facebook, mas não tivemos resposta até a publicação deste texto. O post, de 16 de novembro, já não estava disponível no dia seguinte, mas não conseguimos confirmar se foi retirado do ar pelo Facebook ou pelos donos da página. O conteúdo ainda está disponível em outras publicações compartilhadas. Verificação A apuração de domingo foi secreta? Apesar de o voto ser secreto, a apuração é feita de forma transparente, em tempo real, e a contabilização é passível de auditoria. Antes do início da votação, informa o TSE, o chefe de cada seção eleitoral emite um boletim chamado zerésima, que assegura que nenhum voto foi computado ali antes da abertura do processo. Qualquer cidadão, inclusive representantes de partidos e do poder público, pode participar de duas auditorias que são feitas nas urnas imediatamente antes da votação – uma de funcionamento, que simula uma votação, e outra de verificação de autenticidade, que permite conferir as assinaturas digitais. Quando a votação chega ao fim, o chefe da seção digita uma senha na urna eletrônica que impede que novos votos sejam computados ali. O equipamento emite o Boletim da Urna, com o total de votos recebidos naquele aparelho por cada candidato, partido político, votos brancos, nulos, número da seção, identificação da urna e a quantidade de eleitores que votaram naquela seção. Esse boletim é impresso e fixado na porta da seção. Assim, qualquer pessoa que queira conferir o resultado daquela urna tem acesso ao material. Outras cópias desse boletim são entregues pelo chefe da seção a pessoas que acompanham a votação no local: os representantes dos partidos políticos e o Ministério Público, por exemplo. Os votos de cada urna são gravados num arquivo chamado Registro Digital de Voto (RDV) e enviados a um ponto de acesso, mas não antes de receber uma assinatura digital, um ato público. Os boletins de urna estão, também, disponíveis no site oficial do TSE. Em termos práticos, portanto, a apuração dos votos é feita na própria seção, a partir do boletim emitido pela urna. Já a divulgação oficial é parte do processo de totalização dos votos – a soma dos votos apurados em cada seção e zona eleitoral. Neste ano, pela primeira vez, a totalização foi centralizada pelo TSE. Antes, cada Tribunal Regional Eleitoral (TRE) fazia esse processo e enviava os dados ao Tribunal Superior. Reportagem publicada pela BBC Brasil, em 13 de novembro deste ano – dois dias antes da votação – mostra que uma série de procedimentos é feita pelo TSE para garantir a segurança no processo de votação e que a maior parte dos especialistas concorda que a segurança das votações aumentou desde a adoção da urna eletrônica no país. Qual a diferença entre totalização e apuração? Em um vídeo postado em seu canal oficial do YouTube em 26 de outubro deste ano, o TSE explica a diferença entre apuração e totalização dos votos. Após encerrada a votação, a urna eletrônica faz a apuração dos votos e emite o chamado boletim de urna. “Depois de receber os dados enviados pelas zonas eleitorais ou diretamente via satélite, os TREs dão início ao processo de totalização dos votos”, diz um trecho do vídeo. Neste ano, no entanto, o processo de totalização foi feito pelo próprio TSE, em uma tentativa de gerar mais economia, segundo o tribunal. “A mudança é justamente a centralização desse processo. Foi formada uma nuvem computacional e essa nuvem permite a chamada elasticidade ou o compartilhamento de recursos em termos de processamento. Isso significa que todos têm as mesmas condições e capacidade e recebem o potencial de processamento à medida em que houver a demanda”, explica Giuseppe Janino, secretário de TI do TSE. Para somar os votos, a informação armazenada na urna – a mesma que foi impressa no boletim ao final da votação – é gravada na mídia de resultados, assinada digitalmente e criptografada. Essa mídia, então, é levada a um ponto de transmissão, conectada via rede privativa. Lá, as informações são transferidas para o TSE. À medida que esses resultados vão chegando, eles são captados pelo sistema de divulgação de resultados, que é quem faz a divulgação para a população através do aplicativo Resultados TSE. Demora Nos últimos anos, a totalização dos votos foi concluída rapidamente e, cerca de duas horas após ser encerrada a votação, os brasileiros já sabiam quem eram os eleitos no pleito. Neste ano, no entanto, houve um atraso na divulgação. A cidade de São Paulo, por exemplo, levou algumas horas até que a totalização saísse de 0,39% das urnas e chegasse até 37,77%, o que aconteceu somente por volta das 22h20. Um pouco mais tarde, a totalização chegou a 57,77%. Ainda na noite do último domingo (15), por volta das 19h30, o TSE informou, em nota, que uma lentidão na totalização dos votos estava provocando uma demora na divulgação dos resultados por meio do site e aplicativo do Tribunal. O TSE informou ainda que o problema não era nos tribunais regionais, que estavam remetendo os dados normalmente para a nuvem, mas no banco de totalização, que estava fazendo a soma com lentidão. Segundo o TSE, o atraso não tinha a ver com a tentativa de ataque cibernético sofrida durante a manhã de domingo, que foi neutralizada e não comprometeu a segurança das eleições, como mostrou esta verificação do Comprova. Na segunda-feira (16), o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, informou que contratou uma empresa, a Oracle, para fornecer um supercomputador para desempenhar a tarefa da totalização de votos – como mostrou esta outra verificação do Comprova. No entanto, devido à pandemia, houve demora na entrega do equipamento — a compra ocorreu em março e o supercomputador só chegou em agosto. Por isso, a equipe técnica do tribunal diz não ter conseguido fazer testes prévios suficientes. Barroso informou que parte dos testes foram feitos por videoconferência, o que prejudicou a organização. Por que investigamos? Na terceira fase, o Projeto Comprova investiga conteúdos suspeitos relacionados à pandemia da covid-19, a políticas públicas e às eleições. No dia do primeiro turno deste ano, viralizaram postagens a respeito de possíveis fraudes, usando como argumento o atraso que ocorreu na totalização dos votos. As postagens não tinham provas concretas sobre a acusação. O post investigado sugere problemas na contabilização dos votos no pleito deste ano, e desinforma ao falar em “apuração secreta”. A publicação alcançou mais de 11 mil interações no Facebook. O discurso que tenta desacreditar o sistema eletrônico de votação usado no Brasil é frequente, e adotado inclusive pelo presidente Jair Bolsonaro. Nos meses anteriores à eleição, o Comprova já checou boatos sobre a suposta procedência venezuelana das urnas eletrônicas, sobre um documento que, ao contrário do que afirmava o autor de um vídeo, não comprova irregularidades nas eleições presidenciais de 2018, e já esclareceu que o sistema de votação pode sim ser auditado. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Eleições']
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2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-enganoso-que-laudo-do-iml-descarte-suicidio-de-voluntario-da-coronavac/
COMPROVA
É enganoso que laudo do IML descarte suicídio de voluntário da CoronaVac
null
2020-11-18
A hipótese de suicídio foi levantada pela Polícia Civil desde o início do caso, por conta de indícios coletados no local onde o corpo foi encontrado. O exame do IML detectou a presença de opióides, sedativos e álcool no sangue da vítima Conteúdo verificado: Postagem no Twitter afirma que o laudo do IML mostrando que um voluntário da CoronaVac morreu por “intoxicação por agentes químicos”, o que apontaria que o caso não foi um suicídio, como registrou a polícia É enganoso o tuíte segundo o qual um laudo do Instituto Médico Legal (IML) de São Paulo havia demonstrado que a morte de um dos voluntários que participava dos testes da CoronaVac, uma das vacinas contra a covid-19, não foi decorrência de um suicídio. O laudo deixa evidente que a pessoa não morreu por conta do imunizante. A postagem verificada descartava a possibilidade de suicídio ao enfatizar que o laudo apontava morte por “intoxicação exógena”, em uma tentativa de atribuir a morte à vacina. Esse tipo de intoxicação, porém, é compatível com a possibilidade de suicídio e não tem nenhuma relação com a aplicação da vacina. A hipótese de suicídio foi levantada pela Polícia Civil desde o início do caso, por conta de indícios coletados no local onde o corpo foi encontrado. O exame do IML detectou a presença de opióides, sedativos e álcool no sangue da vítima, como confirmou ao Comprova a Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo. Também ouvidos pela reportagem, o médico perito legista José Mário de Lima Júnior e o médico e diretor científico da Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas (ABMLPM), Jozefran Berto Freire, esclarecem que esse resultado apenas determina o que causou a morte de uma pessoa. Somente a investigação da Polícia Civil, que considera outros elementos da ocorrência, pode indicar, de fato, se uma intoxicação química ocorreu por tentativa suicida, acidente ou homicídio. O Comprova também tentou contato, por e-mail, com o blogueiro Oswaldo Eustáquio, que publicou o conteúdo verificado, mas não teve retorno até a publicação deste texto. Como verificamos? Para essa verificação, o Comprova procurou por matérias na imprensa a respeito do boletim de ocorrência sobre o falecimento do voluntário e os laudos produzidos pelo IML e pelo Instituto de Criminalística (IC) de São Paulo. Em seguida, buscamos a assessoria de imprensa da Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo, que confirmou o conteúdo dos documentos, e o 93º Distrito Policial, responsável pelo caso. A Delegacia informou que a investigação segue em andamento. Para entender como os laudos são usados na investigação e se eles podem descartar a hipótese de suicídio, entrevistamos o médico José Mário de Lima Júnior, integrante da Associação dos Médicos Peritos Legistas do Ceará (Ampelce), e Jozefran Berto Freire, diretor científico da Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas. Por fim, buscamos a posição do Instituto Butantan, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) sobre a retomada dos testes com a CoronaVac, na verificação publicada pelo Comprova em 13 de novembro. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 18 de novembro de 2020. Verificação Investigação e laudo A Polícia Civil de São Paulo registrou como suicídio a morte do voluntário que participava dos testes da vacina CoronaVac, como noticiaram, no dia 10 de novembro, O Estado de S. Paulo, UOL e Rede Globo, veículos que tiveram acesso ao boletim de ocorrência número 2.460/2020, registrado pelo 93º Distrito Policial. De acordo com as reportagens, o boletim de ocorrência foi registrado às 16h02 do dia 29 de outubro na delegacia da Zona Oeste de São Paulo. Trechos do documento foram exibidos pela Globo, mostrando que os policiais encontraram uma seringa e diversas ampolas de remédio próximas ao braço da vítima. No dia 12 de novembro, o UOL e a GloboNews noticiaram que os laudos do IML e do IC apontaram, segundo o exame toxicológico, que o voluntário de 32 anos faleceu por consequência de uma intoxicação aguda por agentes químicos. No sangue da vítima foram detectados álcool, uma grande quantidade de sedativos e um analgésico usado em procedimentos cirúrgicos. A ocorrência com o voluntário fez a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) suspender, no dia 9 de novembro, temporariamente os testes da CoronaVac. Após uma ampla repercussão do caso e algumas manifestações públicas das entidades envolvidas no processo de teste da vacina no Brasil, a Anvisa afirmou ter recebido detalhes sobre o caso, fornecidos pelo Instituto Butantan e pelo Comitê Independente de Monitoramento e Segurança da vacina e, no dia 11 de novembro, determinou a retomada dos testes. O que dizem as autoridades Em nota enviada ao Comprova, a Secretaria de Segurança Pública (SSP) de São Paulo confirmou que a morte do voluntário ocorreu por uma “intoxicação exógena”, isto é, causada por substâncias químicas externas ao corpo e que nada têm a ver com a vacina CoronaVac, cujo voluntário participava dos testes. Segundo a secretaria, “foram constatadas a presença de opióides, sedativos e álcool no sangue na vítima”. Por telefone, o escrivão do 93º Distrito Policial, no Jaguaré, em São Paulo, disse que o inquérito segue em andamento. O delegado responsável pelo caso não foi localizado. Legalmente, o prazo para a conclusão do inquérito é de 30 dias, a contar da data da instauração do procedimento. Avaliação de peritos Por e-mail, o médico perito legista, integrante da Associação dos Médicos Peritos Legistas do Ceará (Ampelce), José Mário de Lima Júnior, explicou que o laudo cadavérico só aponta a causa da morte e o instrumento ou meio que levou ao falecimento. “Essa conclusão, porém, não significa, nem reforça necessariamente, que houve suicídio. Tampouco descarta esta hipótese: tudo dependerá da análise de todas as informações produzidas na investigação do caso, bem como das perícias feitas no local de encontro do corpo”, exemplificou. Portanto, ao contrário do que alega a postagem verificada, o laudo não indica se a ocorrência foi um suicídio ou um homicídio, por exemplo. Segundo Lima Júnior, a diferenciação entre as diversas hipóteses pode ser feita analisando imagens de circuitos de segurança, registros de entrada e saída da portaria, impressões digitais, entre outras possibilidades. O perito afirma que uma série de elementos pode levar à conclusão de que a causa da morte foi suicídio, como a ausência de vestígios de violação do domicílio, de sinais de luta corporal ou a falta de indícios sobre a presença de terceiros no local da morte. “Caso haja suspeita de morte provocada por uso de agentes químicos, faz-se necessário confirmar a presença de vestígios destas substâncias no local da morte ou no organismo, além da confirmação da presença destes agentes em níveis letais nas amostras biológicas recolhidos do corpo durante a necropsia”, lembra Lima Júnior. Por telefone, o médico Jozefran Berto Freire, diretor científico da Associação Brasileira de Medicina Legal e Perícias Médicas (ABMLPM), reiterou que, ao indicar que uma morte foi provocada por intoxicação química, o laudo pericial não descarta, nem reforça, que foi suicídio. O que vai apontar isso é a investigação, assegura ele. O médico também explicou que, em situações semelhantes ao caso do voluntário da vacina, quando um corpo é encontrado, o primeiro passo é acionar a polícia, responsável por chamar o serviço de perícia criminal. “Depois que tudo é feito no local, esse corpo é transportado para o IML, onde é feita a necropsia”, informa. No local da ocorrência vão os peritos criminais. No IML, o trabalho fica a cargo do médico legista. Ambos emitem laudos a serem considerados pela autoridade policial que investiga o caso. O médico reforça que quem estabelece essa relação entre as provas e a causa da morte são os investigadores da polícia. “Tem que haver uma relação que se faz tecnicamente para dizer da possibilidade disso ou daquilo, a partir da prova constituída por exames que justifiquem. A prova é o meio que a gente usa em busca da verdade. A prova tem que ser científica, consistente. Não é por opinião: ‘eu acho que’. O delegado tem elementos técnicos, tem laudos, para concluir a investigação”, afirma. O mais comum é que, durante o inquérito, a autoridade policial chame os peritos que estiveram no local da ocorrência para conversar e orientar a investigação. Retomada dos testes No dia 13 de novembro, o Instituto Butantan afirmou ao Comprova ser inverídico que a morte do voluntário tenha sido causada pela CoronaVac. De acordo com o órgão de pesquisa, já foi esclarecido amplamente que o evento adverso grave ocorrido com um participante dos estudos clínicos não teve qualquer relação com a vacina, “como já chancelado pelo órgão regulador e comitês internacional e nacional que acompanham os estudos”. Testes feitos com 50 mil voluntários na China mostraram que apenas 5,36% deles tiveram reações adversas de grau baixo, como dor no local a aplicação, fadiga, estado febril e perda de apetite. No mesmo dia, a Conep, entidade que acompanha os testes de vacinas contra a covid-19 no país, disse que, até o momento, em nenhum dos “eventos adversos graves” ocorridos durante os testes dos quatro imunizantes em curso no Brasil, houve a confirmação de que a vacina teria sido o causador do evento. “Ao contrário, nos casos estudados sempre foram encontrados outros elementos relacionados com os indivíduos vacinados, que explicariam a ocorrência do problema com mais argumentos do que pela vacinação”, assegura. Na ocasião, a Anvisa informou ao Comprova que “teve subsídios suficientes para permitir a retomada da vacinação” no caso da CoronaVac, embora lembre que a medida não dispensa o aprofundamento da investigação sobre a morte pautada pelos protocolos de segurança e eficácia de vacinas. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais sobre a pandemia de covid-19, as políticas públicas do governo federal ou as eleições municipais de 2020. Quando a publicação envolve tratamentos e vacinas contra o novo coronavírus, a checagem se torna ainda mais importante, já que a informação equivocada pode levar pessoas a não se protegerem ou a adotarem tratamentos sem comprovação científica. O conteúdo verificado pelo Comprova teve 29,4 mil interações no Twitter e 2,8 mil interações no Facebook. À medida em que avançam os testes de eficácia e segurança de vacinas contra o novo coronavírus, peças de desinformação têm tido amplo alcance, principalmente após a suspensão temporária de testes pela Anvisa, prática comum no processo de testagem de imunizantes. Na última semana, o Comprova mostrou que a CoronaVac não matou um voluntário; que a morte do homem não está relacionadas a alterações neurológicas e que o Instituto Butantan informou o evento às autoridades, ao contrário do que circulou na Internet. O Comprova também mostrou que um voluntário da vacina de Oxford morreu após contrair a covid-19, não por efeitos adversos do imunizante. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos, que é retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
null
null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-falso-que-votos-recebidos-por-candidata-a-vereadora-no-tocantins-tenham-reduzido-ao-longo-da-apuracao/
COMPROVA
É falso que votos recebidos por candidata a vereadora no Tocantins tenham reduzido ao longo da apuração
null
2020-11-18
Imagem que circula em publicações e vídeos em redes sociais foi manipulada digitalmente para representar uma votação que a candidata a vereadora em Palmas, no Tocantins, na realidade não obteve Conteúdo verificado: Vídeo que alega que uma candidata a vereadora de Palmas começou a apuração das urnas com 1.111 votos e terminou com 58, sugerindo fraude no pleito. É falsa a denúncia sobre uma suposta fraude nas eleições municipais de Palmas presente em um vídeo baseado em duas capturas de tela do aplicativo Resultados, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Na primeira imagem, feita durante a apuração das urnas, a candidata a vereadora pelo Republicanos Rose Ribeiro parece estar com 1.111 votos. Na segunda, do resultado final do pleito, Rose tem apenas 58. A primeira imagem foi, contudo, alterada digitalmente e não representa a votação da candidata, que não foi eleita. A manipulação pode ser percebida ao comparar a captura de tela viralizada com a interface do aplicativo do TSE em diferentes sistemas operacionais. Como verificado pelo Comprova, qualquer número superior a 999 aparece com um ponto de separação de milhar no aplicativo da corte, ao contrário do que é visto na captura de tela dos supostos votos iniciais de Rose Ribeiro. O padrão pode ser visto na captura de tela abaixo. No Twitter, o Comprova também localizou dois registros de como estava a apuração de votos em Palmas em horários próximos ao da captura de tela compartilhada nas redes. Nenhum dos dois mostrava Rose com 1.111 votos. Em nota oficial, o Tribunal Regional Eleitoral de Tocantins (TRE-TO) negou a alegação viralizada, afirmando não ser possível “alterar os dados inseridos nas urnas eletrônicas pelos eleitores”. Como verificamos? Para analisar a veracidade das capturas de tela, consultamos o portal de resultados do Tribunal Superior Eleitoral, confirmando que Rose Ribeiro terminou a votação do último dia 15 de novembro com 58 votos. Em seguida, comparamos a captura de tela na qual Rose parecia ter 1.111 votos com a interface do aplicativo em diferentes sistemas operacionais: iOS, da Apple, Android, do Google, e a versão para desktop. Para consultar como ocorreu a distribuição de votos ao longo da apuração das urnas na capital do Tocantins, buscamos no Twitter por publicações feitas no próprio dia 15 de novembro com as palavras-chave “Palmas + vereadores”. Essa pesquisa permitiu localizar dois registros de como estava a apuração às 17h37 e às 18h04 do dia do primeiro-turno. Também consultamos o posicionamento oficial do TRE de Tocantins, publicado em seu site e, por fim, procuramos a candidata a vereadora Rose Ribeiro por e-mail e mensagem no Facebook, mas não obtivemos retorno até a publicação deste artigo. Verificação Em um vídeo de 35 segundos, um homem é ouvido dizendo: “Esse é o print da candidata Rose Ribeiro […] onde mostra que, antes da paralisação do sistema, ela tinha 1.111 votos e, quando o sistema voltou, ela ficou com apenas 58 votos. Então, o TSE tem por obrigação de responder essa pergunta: para onde foram os votos da candidata a vereadora Rose Ribeiro?”. Ao longo da gravação, são exibidas duas capturas de tela do aplicativo do TSE: uma, das 17h39, em que Rose parece ter 1.111 votos, e outra do resultado da eleição, que ela terminou com 58 votos. Em um segundo vídeo também compartilhado nas redes, uma mulher que se identifica como Rose Ribeiro aparece junto a um grupo de pessoas em frente a uma unidade da Polícia Federal e afirma ter sido responsável por fazer o print viralizado. “Às 17h39, eu estava com 1.111 votos. Finalizou a eleição eu estou com 58 votos. Então, nós, que estamos aqui, nós queremos saber o que aconteceu. Nós queremos saber onde estão esses votos, não só o meu. O meu caso é o caso que eu consegui, por Deus, ter tirado o print no momento que eu vi a quantidade de votos”, diz. A captura foi, no entanto, alterada digitalmente. Como demonstrado na comparação abaixo, qualquer número superior a 999 aparece com um ponto de separação de milhar no aplicativo Resultados do TSE, independentemente do sistema operacional utilizado. Isso não ocorre, contudo, com os supostos “1111” votos atribuídos a Rose na captura de tela compartilhada nas redes. Publicações localizadas no Twitter fornecem mais um indício de que Rose Ribeiro não contabilizava 1.111 votos às 17h39 de 15 de novembro. Após o fechamento das urnas do primeiro turno, um usuário publicou no Twitter uma captura de tela do aplicativo do TSE, feita apenas dois minutos antes do horário citado no vídeo – às 17h37 – na qual é possível ver a quantidade de votos dos candidatos a vereadores em Palmas. Listado em primeiro lugar, com 1.042 votos, estava Marilon Barbosa (DEM). Como explicou a assessoria do TSE ao Comprova, durante a apuração das urnas o aplicativo da corte exibe os candidatos por ordem decrescente de votos. Ou seja: se Rose estivesse com 1.111 votos naquele momento, ela apareceria em primeiro lugar na lista. Nesta captura, como nos testes realizados pelo Comprova, o número de votos superior a 999 também aparece com o ponto de separação de milhar. Às 18h04, uma outra usuária compartilhou no Twitter capturas de tela de como estava a apuração de votos da cidade, segundo o Jornal do Tocantins. Como é possível verificar em seu site, este periódico também exibe os candidatos por ordem decrescente de votos. Nos prints, Marilon Barbosa aparece em primeiro lugar, com os mesmos 1.042 votos. Da mesma maneira, Rose não aparece antes de Barbosa, ou mesmo figura na lista que apresentava os 25 candidatos mais votados naquele momento. Em posicionamento oficial, o TRE de Tocantins negou que os votos de Rose Ribeiro tenham diminuído durante a apuração das urnas. “O Tribunal Regional Eleitoral do Tocantins esclarece que o processo eleitoral é totalmente transparente e que não há como alterar os dados inseridos nas urnas eletrônicas pelos eleitores. Para conferir a lisura do processo, basta comparar a soma dos resultados dos boletins de urna, impressos na frente dos fiscais de partidos, ainda na seção eleitoral, com os dados disponibilizados pelo sistema da Justiça Eleitoral”, diz a nota, publicada neste dia 18 de novembro. O vídeo viralizado nas redes possui uma marca d’água do usuário do TikTok “meupartidoeobrasil”. Uma busca na rede social de vídeos por esse nome mostra, contudo, que o perfil não está mais disponível. O Comprova entrou em contato com a Polícia Federal em Tocantins para saber se o órgão apura alguma irregularidade no pleito, mas não obteve retorno até a publicação deste artigo. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos que viralizam nas redes sociais ligados às eleições municipais, às políticas públicas do governo federal e à pandemia, como, por exemplo, o tuíte que afirmava que as justificativas de eleitores estavam sendo transformadas em votos válidos e a postagem que dizia que a votação estável ao longo da apuração em São Paulo era indício de fraude. Apesar de apresentar uma denúncia local, o vídeo aqui verificado reflete um movimento amplo de descrédito de instituições eleitorais, que coloca em crédito a confiança dos brasileiros no sistema de votação como um todo e, por consequência, na democracia. Em poucas horas, o vídeo foi visualizado dezenas de milhares de vezes no Twitter e sua alegação central foi replicada em diversas outras publicações no Facebook, YouTube e Instagram. Esse conteúdo também foi verificado pelo site de checagem e-Farsas. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu conteúdo original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
https://i1.wp.com/projet…=216%2C469&ssl=1
null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/votacao-estavel-ao-longo-da-apuracao-nao-indica-fraude-em-sao-paulo/
COMPROVA
Votação estável ao longo da apuração não indica fraude em São Paulo
null
2020-11-17
As porcentagens de votos válidos para cada candidato permaneceram estáveis durante a apuração porque não houve grande variação nos votos de cada zona eleitoral, como mostra a apuração do Comprova Conteúdo verificado: Post no Facebook usa os resultados das apurações parciais da eleição na capital paulista para afirmar que houve fraude no primeiro turno Um post no Facebook afirma, sem evidências, que o resultado das parciais de votação das eleições à Prefeitura de São Paulo aponta para uma fraude eleitoral – o mesmo conteúdo está se espalhando em correntes no WhatsApp. O texto lista as porcentagens de votos dos quatro primeiros concorrentes a prefeito na capital paulista em diferentes momentos da apuração e argumenta que seria impossível que os porcentuais para cada candidato permanecessem os mesmos durante toda a noite. Não há nenhuma prova para essa alegação. As porcentagens de votos válidos para cada candidato permaneceram estáveis durante a apuração porque não houve grande variação nos votos de cada zona eleitoral. O postulante à reeleição, Bruno Covas (PSDB), venceu em todas as regiões da cidade. Guilherme Boulos (PSOL) ficou em segundo lugar em quase todas as zonas eleitorais – exceto em Parelheiros e no Grajaú, na zona sul paulistana, onde Jilmar Tatto (PT) conquistou essa colocação. O Tribunal Superior Eleitoral (TSE) explicou que “a estabilidade no percentual de votos em candidatos durante a totalização não constitui indício de fraude e indica apenas homogeneidade nos votos recebidos durante a totalização”. O tribunal comunicou ainda que “os resultados da totalização das eleições são completamente transparentes e podem ser verificados por qualquer cidadão”. Como verificamos? Buscamos os resultados parciais do primeiro turno em reportagens sobre a marcha da apuração publicadas em diferentes veículos de imprensa e também utilizamos informações de outras verificações feitas pelo Comprova sobre temas relacionados a supostas fraudes nas eleições. Entrevistamos, por telefone, o cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira, coordenador do curso de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), e contatamos, por e-mail, o TSE. Reforçamos a checagem com declarações que o presidente do órgão, ministro Luís Roberto Barroso, fez em coletivas de imprensa nos últimos dias. Verificação Números do post Os dados dos resultados parciais divulgados no post estão corretos. O TSE confirmou que a votação foi mesmo homogênea, e também foi possível verificar os números comparando-os com notícias publicadas ao longo do dia do primeiro turno. O UOL informou que a primeira parcial divulgada pelo TRE-SP foi às 17h32, com 0,39% das urnas apuradas. Os resultados são iguais aos informados no post verificado aqui. Por volta das 22h15, Jovem Pan e Estadão reportaram os resultados com 37,7% das urnas apuradas e a porcentagem de votos dos quatro primeiros candidatos bate com o informado nas redes. Cerca de 20 minutos depois, a CNN informou a atualização, com 57,7% das urnas apuradas e os números também são os mesmos dos do post. Para o cientista político Marco Antonio Carvalho Teixeira, coordenador do curso de Administração Pública da Fundação Getulio Vargas de São Paulo, “a explicação é que os eleitores da cidade tiveram a mesma percepção dos candidatos”. Segundo ele, a população votou “independentemente da classe social ou do território”. “Não tivemos aquela história de que, ao entrar as urnas da Capela do Socorro, tal candidato vai ser mais beneficiado; ou que com as urnas de Itaquera, tal candidato vai ter mais votos e pode virar o jogo”, diz ele. Para Teixeira, “ao que parece”, foi a primeira vez que a votação ocorreu de forma tão estável em uma grande capital brasileira. “Talvez uma das razões seja o fato de que não houve uma discussão acalorada em que a dimensão ideológica, classista, separou muito as pessoas. O primeiro turno não foi pautado pela opção por esse ou aquele candidato porque ele representa melhor determinada região. Pode ser que o segundo turno promova isso.” O porcentual de votos de Covas variou entre 44,52% (Jardim Paulista) e 25,39% (Valo Velho). No total, o tucano conquistou 32,85% dos votos válidos. Os votos para Boulos variaram de 31,89% (Pinheiros) a 15,85% (Vila Maria). O candidato do PSOL obteve 20,24% dos votos válidos. TSE teve dificuldades técnicas na divulgação dos resultados Na noite deste domingo, 15, o TSE admitiu ter tido dificuldades técnicas na divulgação dos resultados, por causa de uma lentidão no processo de totalização dos votos. O TSE afirmou que os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) remetiam normalmente os dados, e que o banco de totalização do Tribunal recebia essas informações. No entanto, esse banco somava os totais de votação de forma mais lenta que o previsto. São Paulo foi uma das cidades em que a divulgação de resultados demorou mais do que em anos anteriores. A apuração ficou estacionada em 0,39% das urnas totalizadas durante o início da noite. Em 2016, às 20h40 todos os votos já tinham sido apurados, e João Doria (PSDB) foi eleito prefeito da capital. Neste ano, a apuração só foi concluída por volta de 0h20. O processo de totalização dos votos foi feito de forma diferente neste ano. Essa etapa passou a ser concentrada no centro de dados do TSE. Nas eleições passadas, o processamento desses dados era feito pelos TREs. Ou seja, houve uma redução de 27 pontos de totalização para um. De acordo com o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, a mudança foi adotada por recomendação de segurança da Polícia Federal. Em coletiva de imprensa nesta segunda-feira, 16, Barroso explicou que o TSE contratou a empresa Oracle para fornecer um supercomputador para desempenhar a tarefa da totalização de votos. No entanto, devido à pandemia de covid-19 houve demora na entrega do equipamento — a compra ocorreu em março e o supercomputador só chegou em agosto. Dessa forma, a equipe técnica do tribunal não conseguiu fazer testes prévios suficientes. Barroso informou que parte dos testes foram feitos por videoconferência, o que prejudicou a organização. O atraso no processamento de dados foi de 2 horas, informou Barroso. “Em razão das limitações dos testes prévios, a inteligência artificial do equipamento demorou a aprender como processar os dados no volume e velocidade. Daí a lentidão, que exigiu que a totalização fosse reiniciada”, afirmou o ministro. O presidente do TSE voltou a afirmar que a segurança da votação não foi comprometida. “Em nenhum momento a integridade do sistema esteve em risco. O que houve foi um atraso na totalização”, disse. Ataque hacker não comprometeu segurança da votação No domingo da votação, um grupo hacker disse ter obtido acesso a dados do TSE. Especialistas em segurança digital ouvidos pelo Comprova e pelo site de fact checking Aos Fatos foram unânimes ao avaliar que as informações vazadas não têm qualquer relação com as eleições 2020 – eram documentos administrativos e antigos. Na noite do domingo, Barroso descartou que o ataque hacker tenha tido alguma influência no processo de totalização de votos. “Esse sistema de onde se teriam extraído esses dados dos velhos funcionários é um sistema antigo e que não tem nenhuma relação com os servidores onde são processados os dados do sistema eleitoral”, disse ele em coletiva. As urnas eletrônicas não funcionam em rede e não podem ser acessadas pela internet. Só depois que a votação termina, quando o boletim de urna é impresso, é que a memória em que os votos são salvos é conectada a um sistema para que os votos sejam totalizados pela Justiça Eleitoral. Um sistema de criptografia impede que dados falsos sejam inseridos no momento em que os votos são somados. As várias cópias do boletim de urna, registradas em cartório, permitem que o resultado seja auditado, se necessário. Os resultados dos boletins de urna ficarão disponíveis neste link a partir da próxima quarta-feira (18), segundo o TSE. Para acessá-los, é preciso selecionar “Boletins de Urna” em “Tipo de Consulta”. O Tribunal explica como ler os dados dos boletins neste artigo. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos que viralizam nas redes sociais ligados às eleições municipais, às políticas públicas do governo federal e à pandemia. Ao afirmar que houve fraude na contagem dos votos, o post segue a campanha que o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) tem feito, questionando a lisura do sistema de urnas eletrônicas. Isso coloca em risco a credibilidade do resultado das eleições. O post, que teve mais de 550 compartilhamentos até 17 de novembro, é apenas uma das publicações que estão viralizando na rede, na contramão do fato de que o Brasil usa as urnas eletrônicas há 24 anos e nunca houve nenhum caso de fraude comprovado, segundo o TSE. O Comprova já verificou conteúdos semelhantes, em artigos como o que checou que o ataque de hackers no sistema do TSE não viola a segurança da eleição (produzido em parceria com a agência Aos Fatos) e o que mostrou que o sistema de voto eletrônico brasileiro pode ser auditado, ao contrário do que afirmava um post nas redes sociais. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos; que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano; ou que é retirado de seu contexto original e usado em outro, de modo que seu significado sofra alterações.
null
null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/coronavac-nao-matou-voluntario-nem-doria-anunciou-aplicacao-da-vacina-em-novembro/
COMPROVA
CoronaVac não matou voluntário nem Doria anunciou aplicação da vacina em novembro
null
2020-11-16
Morte não teve relação com a vacina e o que o governador de São Paulo anunciou foi a chegada de um lote de vacinas em 20 de novembro, não o início da vacinação Conteúdo verificado: Texto cujo título afirma que a CoronaVac teria causado a morte de um homem e cujo conteúdo diz que a suspensão dos testes da vacina pela Anvisa teria acontecido um dia após o governo de São Paulo anunciar a aplicação das primeiras 120 mil doses para o dia 20 de novembro. É falso que a CoronaVac teria causado a morte de um homem e que o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), tenha anunciado a aplicação das primeiras doses da vacina para 20 de novembro. A afirmação consta em um texto do site Estudos Nacionais publicado em 10 de novembro, dia seguinte ao da suspensão dos testes do imunizante pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). A interrupção realizada pela Anvisa aconteceu por causa de um evento adverso grave, que depois ficou claro ser um óbito ocorrido no final de outubro, em decorrência de uma morte que está sendo investigada como suicídio por intoxicação de um dos voluntários da vacina. Nenhuma outra morte foi verificada. A paralisação durou dois dias e os testes no Brasil já foram retomados, após ficar comprovado que o óbito não tinha relação com a CoronaVac. Apesar disso, a Anvisa informou que seguirá acompanhando o desfecho do caso “para que seja definida a possível relação de causalidade entre o EAG [evento adverso grave] inesperado e a vacina”. Nesse período, a Anvisa e o Instituto Butantan concederam entrevistas coletivas e documentos oficiais da Polícia Militar e da Polícia Civil vieram a público com esclarecimentos sobre o caso. O episódio se tornou mais um da politização da pandemia, inclusive com o presidente Jair Bolsonaro comemorando que “teria ganhado mais uma”. Reportagens que cobriram o avanço da vacina no Brasil e o próprio Instituto Butantan afirmaram que, por enquanto, apenas a compra das doses do imunizante foi realizada e que a aplicação depende da aprovação da Anvisa, que ainda está em análise e sem data para ocorrer. O acordo é entre o Governo de São Paulo e o laboratório Sinovac. Como verificamos? Para verificar a causa da morte do voluntário da CoronaVac e elucidar a suspensão feita pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária, o Comprova procurou no Google por notícias divulgadas em veículos de imprensa que acompanharam o caso de perto. Também procuramos as notas oficiais publicadas pela Anvisa e acionamos o Instituto Butantan. Com o objetivo de esclarecer se a interrupção dos testes da vacina teria se dado de maneira correta e entender como funcionam as etapas anteriores à aprovação e à comercialização de imunizantes no Brasil, a equipe também entrevistou Valéria Vianna, coordenadora de Pesquisa Clínica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (URFJ), por telefone. Por fim, para analisar o autor e a página do texto verificado, o Comprova recorreu às informações que constam no próprio site que publicou o conteúdo, às reportagens de outros veículos, encontradas por meio de uma pesquisa no Google com os respectivos nomes, e à consulta da lista de mestres da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 16 de novembro de 2020. Verificação Suspensão dos testes da CoronaVac: causas e desdobramentos Em nota publicada no dia 9 de novembro, a Anvisa informou ter interrompido os estudos clínicos da CoronaVac “após a ocorrência de um evento adverso grave” em 29 de outubro. O objetivoera “avaliar os dados observados até o momento e julgar o risco/benefício da continuidade do estudo”. Por medidas de segurança, durante esse período, nenhum voluntário novo poderia ser vacinado. De acordo com a Resolução da Diretoria Colegiada nº 9 de 2015 do Ministério da Saúde, são considerados eventos adversos graves: óbito, evento potencialmente fatal, incapacidade ou invalidez persistente ou significativa, exigência de internação hospitalar ou prolongamento da internação, anomalia congênita ou defeito de nascimento, suspeita de transmissão de agente infeccioso por meio de dispositivo médico e evento clinicamente significante. Neste caso específico, trata-se da morte de um voluntário de 32 anos. Durante a manhã do dia 10 de novembro, Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan, parceiro da fabricante chinesa Sinovac para produzir o imunizante no Brasil, afirmou, em entrevista coletiva, que era “impossível que haja relacionamento desse evento com a vacina”, sem detalhar por qual motivo ou qual havia sido a causa do óbito. Embora a suspensão dos testes da vacina tenha gerado grande repercussão no mundo político, o diretor-presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, alegou que a medida foi técnica, devido às informações insuficientes repassadas pelo Instituto Butantan. A declaração foi dada durante outra entrevista coletiva, também no dia 10 de novembro. Durante a tarde do dia 10, UOL e Estadão reveleram que o óbito era tratado como suicídio pelas autoridades. De acordo com o registrado pela Polícia Militar, o voluntário foi encontrado morto no chão do apartamento, com uma seringa no braço. Para o Estadão, a Polícia Civil de São Paulo afirmou não ter dúvidas de que foi um suicídio, mas esclareceu que ainda aguarda o exame toxicológico. Além do Brasil e da China, a CoronaVac é testada na Turquia e na Indonésia. Veículos de imprensa mostraram que nesses outros países não houve interrupção dos testes. Responsável pela avaliação ética das pesquisas envolvendo humanos no Brasil, a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) também foi comunicada sobre o óbito e recomendou a continuidade do estudo. Já na manhã do dia 11 de novembro, menos de 48 horas depois do anúncio da suspensão, a Anvisa autorizou a retomada dos estudos da CoronaVac. De acordo com a agência, a mudança foi possível graças a novas informações enviadas pelo Instituto Butantan, como a provável causa da morte, o boletim de ocorrência e o parecer do Comitê Independente de Monitoramento de Segurança. “Após avaliar os novos dados apresentados pelos patrocinador depois da suspensão do estudo, a Anvisa entende que tem subsídios suficientes para permitir a retomada da vacinação (…) É importante esclarecer que uma suspensão não significa necessariamente que o produto sob investigação não tenha qualidade, segurança ou eficácia”, afirma o texto. Depois, no dia 12 de novembro, a GloboNews teve acesso ao laudo do exame toxicológico do Instituto Médico Legal (IML), no qual consta que o voluntário morreu por intoxicação aguda causada por agentes químicos. Foi detectada a presença de álcool, grande quantidade de sedativos e um analgésico cirúrgico cem vezes mais potente que a morfina CoronaVac não matou voluntário e Doria não anunciou a aplicação da vacina Diferentemente do que afirma o título do texto “Vacina chinesa mata homem após Doria gastar meio milhão em doses”, não é possível afirmar que a CoronaVac foi a causa da morte do voluntário e nenhuma autoridade chegou a dizer isso. Pelo contrário, as informações indicam que não há relação. Publicado no dia 10 de novembro, dia da suspensão dos testes da CoronaVac pela Anvisa, o texto verificado até cita que as causas da morte ainda eram investigadas e que o Instituto Butantan afirmou que não era um óbito relacionado à vacina. No entanto, nas publicações nas redes sociais da página, apenas o título fica disponível para os internautas, que acabam recebendo uma informação distorcida. Aliás, no post no Facebook, o único trecho citado do texto diz respeito a um anúncio que teria sido feito pelo governador João Doria da “aplicação do primeiro lote de 120 mil doses, que são parte de um acordo firmado pelo governador com o governo chinês, em 2019”. Essa informação também está incorreta. Na verdade, o governador de São Paulo anunciou que as primeiras 120 mil doses da CoronaVac chegarão ao estado no dia 20 de novembro. No entanto, a aplicação delas depende da aprovação da Anvisa. Por outro lado, corretamente, o texto afirma que essas 120 mil doses fazem parte da aquisição anterior de 46 milhões de doses, com custo de U$ 90 milhões. Na época, o valor equivalia a cerca de R$ 505 milhões. Porém, a assinatura do contrato se deu entre o governo de São Paulo e a Sinovac (não o governo chinês) e ocorreu em setembro deste ano, e não em 2019 – antes da pandemia – como afirma o texto. Por meio de nota, o Instituto Butantan reforçou que é “totalmente inverídica a informação de óbito de voluntário em decorrência da vacina CoronaVac” e que “em nenhum momento o Governo de São Paulo ou o Instituto Butantan confirmaram a vacinação sem a aprovação e registro da Anvisa”. Assim como detalhou os eventos adversos leves mais comuns e esclareceu que “a parceria efetiva para produção e testes em estágio avançado de uma vacina contra o coronavírus foi firmada somente em junho de 2020, entre o Governo de São Paulo, por meio do Instituto Butantan, e a farmacêutica chinesa Sinovac”. O Comprova enviou questionamentos sobre o conteúdo ao site Estudos Nacionais no dia 12 de novembro pelo e-mail disponível na página de contato. Embora não tenha obtido retorno, parte do texto passou a ficar disponível apenas para assinantes. Até a data, ele não havia sido atualizado nenhuma vez com as novas informações. No período, o site apenas publicou novos textos relacionados ao caso, mas ainda tratando a morte como “misteriosa”. Conhecendo o autor e a página Autor do texto verificado e editor-chefe do site Estudos Nacionais, Cristian Derosa é mestre em jornalismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e “aluno do seminário de filosofia de Olavo de Carvalho”. Em entrevista à Folha de S.Paulo em julho do ano passado, Cristian Derosa afirmou que a editora catarinense foi criada em 2016 e “tem como como principal foco a produção de pensamentos alinhados a valores conservadores”. Na mesma época, ele publicou um texto que leva a um documento com produções que receberam recurso da Agência Nacional do Cinema (Ancine), mas que “não deviam ter sido aprovadas”. Dois dias depois, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) declarou o desejo de mudar a política do patrocínio federal. Cristian Derosa também distorceu uma notícia da BBC News sobre mentiras a respeito das vacinas contra a covid-19, como o suposto uso de células de fetos abortados em imunizantes. Ao contrário do que afirma o autor, o Comprova conseguiu mostrar que era falsa a afirmação de que as vacinas serão capazes de provocar danos genéticos e vão monitorar a população. Segundo a revista Carta Capital, o site Estudos Nacionais teria sido um dos portais que impulsionou uma antiga notícia falsa que relacionava a esquerda política à tentativa de descriminalizar a pedofilia. Em 2018, o Comprova já havia mostrado ser inverídico que um projeto de lei queria tornar legal o abuso sexual de crianças. Politização da pandemia e visão do especialista Desde o início, com a recomendação do uso de máscara e do distanciamento social até a defesa ou não de remédios como cloroquina e ivermectina, a pandemia passou por um processo de politização no Brasil, dos quais os protagonistas foram o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) e o governador de São Paulo, João Doria. No próprio dia da suspensão dos testes da CoronaVac pela Anvisa, o presidente escreveu no Facebook que “ganhou mais uma”. Apesar de fazer a ressalva de que a emergência sanitária global obriga os pesquisadores a abrirem mão de parte das exigências científicas – como encurtamento de prazos e aceleração de análises, por exemplo, Valéria Vianna, coordenadora de Pesquisa Clínica na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), acredita que a interrupção dos estudos decretada pela agência se deu dentro deste cenário politizado. “Eu entendo que o Butantan, com o respeito e prática que eles têm, tenha reportado dentro do intervalo de tempo exigido para o laboratório; e não acredito. Ao longo de todos os meus anos de pesquisa clínica, nunca passei pela situação da Anvisa suspender um estudo por conta de um evento, até porque esse evento, pelo que a mídia publicou, foi um suicídio”, comentou. Para Valéria Vianna, “a gente ficou no meio de uma briga política, porque a vacina deixou de ser contra a covid-19, deixou de ser uma vacina conduzida por pesquisadores, por um instituto muito sério, que é o Butantan, e outros hospitais da rede, para se tornar a vacina do governador X que é contra o presidente Y. Eu vejo muito mais como uma questão política”, opinou. Por que investigamos? Na terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos relacionados a políticas públicas do governo federal ou à pandemia. Neste caso, a divulgação de informações enganosas ou falsas é ainda mais grave, porque pode colocar a saúde das pessoas em risco. Nesta verificação, o texto falso contribui para o descrédito das vacinas contra a covid-19, apontadas por especialistas como o meio mais promissor controlar à doença que já tirou a vida de mais de 165 mil brasileiros, de acordo com os dados do Ministério da Saúde. Até o dia 13 de novembro, o texto publicado no site Estudos Nacionais tinha mais de 47 mil interações no Facebook e mais de 1.500 compartilhamentos, principalmente em grupos ou páginas de apoio ao presidente Jair Bolsonaro. De acordo com a ferramenta CrowdTangle, também tiveram compartilhamentos menos numerosos no Twitter e na rede social Reddit. Recentemente, o Comprova já mostrou ser falso que um médico morreu por efeitos adversos da vacina de Oxford; já esclareceu não ser necessário dez anos de pesquisa para que uma vacina seja segura; e já provou que a CoronaVac não matou mais de 2 mil voluntários e que as vacinas não causam danos neurológicos ou de DNA. Falso, para o Comprova, é qualquer conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/justificativas-dos-eleitores-nao-podem-ser-transformadas-em-votos-validos-como-sugere-tuite/
COMPROVA
Justificativas dos eleitores não podem ser transformadas em votos válidos, como sugere tuíte
null
2020-11-16
De acordo com o TSE, os votos registrados no dia da eleição e as justificativas de abstenções são registradas no mesmo banco de dados, mas são arquivos diferentes. Além disso, especialistas ouvidos pelo Comprova dizem que o vazamento de dados por um ataque hacker não seria capaz de alterar os resultados da eleição Conteúdo verificado: Tuíte diz que Justiça Eleitoral pode aproveitar números de abstenção para fabricar votos e que ataque hacker seria prova de fraude É falsa a publicação no Twitter afirmando ser possível às autoridades eleitorais transformarem as justificativas dos eleitores ausentes dos seus domicílios eleitorais em votos válidos. A afirmação do jornalista Oswaldo Eustáquio e da ex-deputada federal Cristiane Brasil (PTB) relaciona o suposto vazamento de dados administrativos do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) à “descoberta” de que votos e justificativas são registrados em separado – informação, aliás, que é pública. De acordo com o tribunal, os votos registrados no dia da eleição e as justificativas de abstenções são registradas no mesmo banco de dados, mas são arquivos diferentes. Todas estas informações, seja qual for o arquivo, vão para o Cadastro Nacional de Eleitores. Além disso, o vazamento de dados por um ataque hacker que, segundo os autores, comprovaria a tentativa de fraude, não seria capaz de alterar os resultados da eleição, conforme quatro especialistas em cibersegurança ouvidos pelo Comprova. Como verificamos? Para verificarmos se havia alguma possibilidade de justificativas de ausência serem computadas como votos, consultamos o TSE, que emitiu nota de esclarecimento detalhando os fluxos desse processo. Para comentar o conteúdo do ataque dos hackers, entrevistamos Fernando Amatte, diretor de Inteligência da Cipher, empresa de consultoria de segurança da informação, e fontes ouvidas para uma verificação publicada mais cedo neste domingo de eleições. Foram elas: Thiago Tavares, presidente da SaferNet, Paulo Lício de Geus, representante da Sociedade Brasileira de Computação nos testes públicos de segurança do TSE, Márcio Correia, analista de sistemas da Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor de Tecnologia de Informação da Faculdade Cearense (FaC), e Hiago Kin, presidente da Associação Brasileira de Segurança Cibernética e CEO da empresa Deepcript Segurança Digital. Também dessa verificação utilizamos as afirmações do responsável pelo grupo que vazou os dados do TSE. Por fim, o Comprova procurou Cristiane Brasil e Oswaldo Eustáquio. Esta verificação foi feita em conjunto com Aos Fatos. Verificação A origem da acusação Dois dias antes da votação de 2020, Cristiane Brasil deu uma entrevista para Oswaldo Eustáquio e levantou suspeitas sobre o modo como é feita a justificativa dos votos. Com base numa experiência pessoal, Cristiane disse que, quando uma pessoa justifica não ter votado, esse registro leva um mês para ser computado pela Justiça Eleitoral porque as informações sobre a apuração dos votos e a da justificativa eleitoral ficam salvas em banco de dados diferentes. Sem apresentar provas, ela diz, então, que isso abriria brecha para que inventassem votos equivalentes à quantidade de pessoas que decidiu se abster. Segundo Cristiane, várias pessoas do Nordeste se mudam para o Sudeste, mas mantém o seu título no estado de origem; ela disse isso também sem apresentar provas. No Twitter, após um grupo de hackers divulgar dados do TSE não relacionados à apuração das eleições, Oswaldo escreveu que a existência de dois bancos de dados diferentes permitiria que se “descarregasse na esquerda” os votos de quem vai justificar. Ele faz tal afirmação sem apresentar qualquer evidência. Justificativas não podem ser computadas como votos Por volta das 20h de domingo (15), o TSE divulgou nota de esclarecimento explicando que os arquivos gerados pelos votos são gravados na urna eletrônica de forma separada dos arquivos de justificativa. Desta forma, não haveria como justificativas serem computadas como votos. Além disso, o tribunal lembra que há uma razão bastante simples para que justificativas eleitorais não sejam computadas como votos: “O eleitor que justifica a ausência nas eleições, obviamente, não vota. Assim, não há votos a serem “descarregados” a quem quer que seja” . Segundo o TSE, “a urna eletrônica só computa os votos que foram efetivamente recebidos, digitados por quem compareceu à seção eleitoral e teve o seu acesso liberado após a identificação pelos mesários.” “Da mesma forma, o Cadastro Nacional de Eleitores é atualizado com a informação de que o eleitor fez sua justificativa. Nesse sentido, havendo justificativa de ausência às urnas e votação ao mesmo tempo, a situação é facilmente identificada e a Corregedoria-Geral da Justiça Eleitoral – em seu papel de fiscal do cadastro – pode adotar medidas de apuração quanto ao fato”, afirma o tribunal. Banco de dados é um só O tribunal diz ainda que “não há separação de banco de dados em relação aos votos, abstenções e justificativas.” “Todas essas informações são tratadas em um mesmo sistema de totalização, devidamente auditado e com assinaturas digitais lacradas em audiência pública com a participação de partidos políticos, Ministério Público e Ordem dos Advogados do Brasil”, afirma o TSE. “É importante lembrar que toda urna eletrônica emite um boletim de urna com os votos coletados ao longo do dia. Assim, eventual tentativa de alteração de banco de dados seria rapidamente identificada com uma simples conferência do Boletim de Urna, que é impresso e entregue a representantes de partidos políticos presentes nos locais de votação e disponibilizado posteriormente na internet.” No dia da eleição, quem não estiver no seu local de votação pode justificar a ausência pelo aplicativo e-Título ou pelo formulário de Requerimento de Justificativa Eleitoral (RJE), informa o TSE em seu site. O formulário de RJE pode ser obtido online ou nos locais de votação, e deve ser entregue também nos locais de votação. Quem não justificou a ausência no dia da eleição pode fazê-lo em até 60 dias após cada turno de votação, entregando o RJE presencialmente em uma zona eleitoral ou o Sistema Justifica, que permite a entrega do RJE pela internet. Ataque de hackers Neste domingo, um grupo de hackers disse ter obtido dados do TSE. Eles afirmam ter acessado “sete arquivos com dados de utilizador de diferentes sistemas”. Segundo eles, isso significaria que os sistemas do Tribunal tiveram as credenciais comprometidas. O Comprova entrevistou Fernando Amatte, diretor de Inteligência da Cipher, empresa de consultoria de segurança da informação. Segundo ele, o link divulgado pelos hackers traz “várias tabelas de um banco de dados”. De acordo com ele, entre as informações vazadas há registros sobre auxílio farmácia, atestado, afastamentos, benefícios e rotina de cálculo de aposentadoria, o que leva a crer se tratar de um banco de dados da área de recursos humanos. Thiago Tavares, presidente da SaferNet, associação que promove a defesa dos direitos humanos na internet, tem a mesma opinião. “A invasão se limitou a um servidor que hospedava informações do sistema de Recursos Humanos do tribunal”, disse ele, conforme outra verificação do Comprova e da agência Aos Fatos publicada neste domingo (15). Sobre a data em que os dados foram coletados, Amatte diz que não é possível determiná-la com as informações do link: “É prática comum de criminosos pegar uma informação em um determinado dia e requentar quando eles acham ser interessante, mas, a partir desses dados que temos aqui, não tenho como falar qual é a data.” Em uma coletiva de imprensa neste domingo, o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso garantiu que “nada ocorreu hoje, nem tampouco nos últimos dias relativamente a ataques” e disse ter “muitas razões para supor que estas informações vazadas se refiram a ataques antigos”. Um desses indícios é que os e-mails que aparecem no material divulgado têm o final “.gov”, embora há bastante tempo o TSE use a extensão “.tse.br”. Outro é que os servidores que tiveram os seus nomes listados são antigos funcionários da Justiça Eleitoral. Horas depois, durante a divulgação, Barroso voltou a comentar o fato acrescentando mais detalhes: “Esse sistema de onde se teriam extraído esses dados dos velhos funcionários é um sistema antigo e que não tem nenhuma relação com os servidores onde são processados os dados do sistema eleitoral.” Também diferentemente do que os hackers afirmam, não é possível ligar os dados à insegurança das urnas eletrônicas, pois são sistemas diferentes, separados. “São dados pessoais de saúde, de idade das pessoas. Pelas características dos dados, fica claro que não tem nada a ver com o sistema de votação eletrônico, que é totalmente diferente. É como se aqui na Unicamp você conseguisse acesso aos dados de recursos humanos. Mas a nossa base de dados de pesquisa está salva em outro lugar”, completa o professor Paulo Lício de Geus, representante da Sociedade Brasileira de Computação nos testes públicos de segurança do TSE. Além disso, as urnas são aparelhos que funcionam sem nenhuma conexão com a Internet. Só depois que a votação termina, quando o boletim de urna é impresso, é que a memória em que os votos são salvos é conectada a um sistema para que os votos sejam totalizados pela Justiça Eleitoral. Um sistema de criptografia impede que dados falsos sejam inseridos no momento em que os votos são somados. As várias cópias do boletim de urna, registradas em cartório, permitem que o resultado seja auditado, se necessário. Márcio Correia, analista de sistemas da Universidade Federal do Ceará e professor de Tecnologia de Informação da Faculdade Cearense, também disse se tratar de arquivos que não são relacionados à votação. “O hacker mostrar que teve acesso a esses arquivos administrativos e de configurações dos sites do TRE e TSE não significa nada e não tem força alguma para colocar em dúvida a segurança da votação, apesar de não ser interessante que tenha havido essa brecha de segurança no site do TSE, ainda que pequena”, explica o professor, que já foi convidado para testar a segurança do sistema. “Os bancos de dados das eleições são outros, alheios aos dos sites. Dizer que uma coisa está relacionada à outra é especular sem provas. Os IPs expostos pertencem unicamente aos sites”, reforça Hiago Kin, presidente da Associação Brasileira de Segurança Cibernética e CEO da Deepcript. Em contato com a reportagem via Facebook, o grupo que vazou os dados do TSE, CyberTeam, afirmou que o ataque é de hoje e que “não explorou o TSE por completo”. “Só me foquei em reunir os dados de utilizador”, afirmou a pessoa, identificada como Zambrius. O Twitter retirou a página do ar. À noite, o ministro Barroso afirmou que a Polícia Federal já apurou o vazamento e descobriu que o ataque não ocorreu hoje. “O que a PF apurou é que esse vazamento ocorreu anteriormente a 23 de outubro passado e provavelmente se refere a fatos bastante pretéritos, porque as informações que foram vazadas são informações entre 2001 e 2010, e informações absolutamente irrelevantes. O que vazou foram informações administrativas sobre ministros aposentados e sobre antigos funcionários do TSE. (Um vazamento) sem qualquer consequência para o processo eleitoral”, afirmou o ministro. Cristiane Brasil O Comprova entrou em contato por telefone com Cristiane Brasil para falar sobre o post de Oswaldo Eustáquio compartilhado por ela no Twitter. Questionada sobre como obteve informações sobre a suposta fraude na apuração dos votos, Cristiane alegou que estava dentro do Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro (TRE-RJ), na condição de presidente do PTB-RJ, e que a falha aconteceria na retirada do flash card (cartão de memória com registro eletrônico dos votos da urna) – sem no entanto ter presenciado alguma falha onde se encontrava. “Se eles (TRE) não têm condição de garantir a estabilidade do sistema porque estão sendo frequentemente invadidos por hackers, eles não tem condição de tocar o processo eleitoral sozinhos”, afirmou. Segundo o TSE, a lentidão na divulgação dos resultados não aconteceu por ataques de hackers e sim, por atraso no processamento dos dados no sistema central, em Brasília. Procurado por meio do Twitter, Oswaldo Eustáquio não respondeu até a publicação dessa verificação. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos que viralizam nas redes sociais ligados às eleições municipais, às políticas públicas do governo federal e à pandemia. Ao questionar a lisura do processo eleitoral, Cristiane Brasil e Oswaldo Eustáquio, apoiadores de Jair Bolsonaro (sem partido), seguem a campanha que o presidente vem fazendo desde antes de ser eleito, colocando em dúvida o sistema de urnas eletrônicas. Os autores dos posts colocam em risco a confiança dos brasileiros nos resultados das eleições e, por consequência, na democracia. Só o tuíte de Eustáquio teve 2,8 mil repostagens e quase 10 mil curtidas até o dia 15 de novembro. Ainda neste domingo o Comprova verificou, em parceria com a agência Aos Fatos, que um ataque de hackers no sistema do TSE não viola a segurança da eleição e, recentemente, mostrou que um recente ataque hacker ao STJ não podia ser visto como sinal de ameaça à segurança das eleições, que o sistema de voto eletrônico brasileiro pode ser auditado, ao contrário do que afirmava um post nas redes sociais, e que a empresa que forneceu urnas para as eleições na Venezuela nunca vendeu seus aparelhos para o Brasil. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu conteúdo original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/ataque-de-hackers-no-sistema-do-tse-nao-viola-seguranca-da-eleicao/
COMPROVA
Ataque de hackers no sistema do TSE não viola segurança da eleição
null
2020-11-15
Hackers expuseram dados administrativos antigos do TSE em links para download. Os bancos de dados acessados não têm, portanto, nenhuma relação com as eleições. Além disso, o sistema das urnas eletrônicas não funciona em rede Conteúdo verificado: Duas postagens, no Twitter e Facebook, de um grupo hacker que afirma ter conseguido vazar dados do TSE É enganoso que um suposto ataque hacker tenha violado a segurança do sistema do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ameaçado a votação das eleições municipais. Apesar de o presidente do próprio Tribunal, ministro Luís Roberto Barroso, ter admitido que houve uma tentativa de invasão, o ataque foi neutralizado e não afetou o sistema de totalização dos votos e, muito menos, o sistema das urnas eletrônicas, que não funcionam em rede. Ainda hoje (15), um grupo de hackers expôs dados do TSE em links para download. A ação foi reconhecida pelo tribunal, mas os especialistas ouvidos pelo Comprova foram unânimes em avaliar que se tratam de dados administrativos antigos ou mesmo informações públicas, disponíveis no Portal da Transparência. Os bancos de dados acessados não teriam, portanto, nenhuma relação com as eleições. A postagem do grupo de hackers é considerada enganosa porque seus autores inflaram e distorceram as características do ataque com objetivo de confundir e lançar dúvidas infundadas sobre a segurança do sistema de votação do TSE. Em contato com o Comprova via Facebook, o grupo que vazou os dados do TSE, CyberTeam, afirmou que o ataque é de hoje e que “não explorou o TSE por completo”. “Só me foquei em reunir os dados de utilizador”, afirmou a pessoa, identificada como Zambrius. Como verificamos? Para esta verificação, primeiro fizemos download do conteúdo divulgado para saber de que tipo de dados se tratava. Depois, procuramos entender quem eram os grupos CyberTeam e Noias do Amazonas, por meio dos conteúdos divulgados anteriormente em suas páginas e de matérias anteriores sobre os dois grupos. Ouvimos a posição oficial do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) através de uma coletiva de imprensa feita pelo ministro Luís Roberto Barroso, presidente da Corte. Também ouvimos especialistas em cibersegurança: Paulo Lício de Geus, professor do Instituto de Computação e CIO da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e representante da Sociedade Brasileira de Computação nos testes públicos de segurança do sistema eletrônico de votação do TSE; Hiago Kin, presidente da Associação Brasileira de Segurança Cibernética e CEO da Deepcript; e Márcio Correia, analista de sistemas da Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor de Tecnologia de Informação da Faculdade Cearense (FaC). Por fim, conversamos com o grupo CyberTeam por meio de mensagens particulares no Facebook. O perfil Noias do Amazonas não respondeu ao pedido de contato da reportagem. Esta é uma verificação feita em conjunto por Aos Fatos e Comprova. Verificação O que diz o TSE? Em uma coletiva de imprensa, o ministro Luís Roberto Barroso disse que o TSE ainda está apurando o que aconteceu, mas garantiu que “nada ocorreu hoje, nem tampouco nos últimos dias relativamente a ataques” e disse ter “muitas razões para supor que estas informações vazadas se refiram a ataques antigos”. Um desses indícios é que os e-mails que aparecem no material divulgado têm o final “.gov”, embora há bastante tempo o TSE use a extensão “.tse.br”. Outro é que os servidores que tiveram os seus nomes listados são antigos funcionários da Justiça Eleitoral. “As urnas já estão todas devidamente carregadas, e estão todas elas fora de rede. Portanto, eventuais ataques cibernéticos não têm o condão de afetar o processo de votação, porque as urnas não funcionam em rede”, lembrou ainda o ministro. Sobre a instabilidade no sistema, o ministro Barroso disse que “houve instabilidade pela grande quantidade de acessos relativamente a duas situações: informação sobre local de votação (…) e a justificativa de quem esteja fora do seu estado, do seu local de votação”. O que dizem os especialistas? Segundo o professor Paulo Lício de Geus, representante da Sociedade Brasileira de Computação nos testes públicos de segurança do TSE, o vazamento deve ter ocorrido dias antes da eleição porque, na véspera da votação, a rede do tribunal é isolada em um esquema especial para as eleições. “São dados pessoais de saúde, de idade das pessoas. Pelas características dos dados, fica claro que não tem nada a ver com o sistema de votação eletrônico, que é totalmente diferente. É como se aqui na Unicamp você conseguisse acesso aos dados de recursos humanos. Mas a nossa base de dados de pesquisa está salva em outro lugar”, afirma. Segundo Geus, não é possível alterar o resultado da eleição porque a urna eletrônica é autônoma e funciona desconectada da Internet. Quando a votação termina, o flash da urna, uma espécie de cartão de memória, é levado para um sistema que envia esses dados para o TSE usando criptografia. “Se alguém tentar inserir dados de votação falsos, eles não serão aceitos por causa da criptografia”, diz. Além disso, ele lembra que todos os boletins de urna são disponibilizados publicamente na Internet. Por isso, qualquer candidato ou partido que suspeitar de problemas no resultado pode conferir por conta própria se a totalização foi feita corretamente. Márcio Correia, analista de sistemas da Universidade Federal do Ceará (UFC) e professor de Tecnologia de Informação da Faculdade Cearense (FaC), analisou os arquivos das postagens a pedido do Comprova e disse se tratar de arquivos que não são relacionados à votação. “Os TREs e TSE têm, nos sites deles, espaços para veicular informações sobre processos administrativos internos, como salários de servidores, dados que estão à disposição no que eles chamam de ‘portal da transparência’. O que eu vi nestas postagens foram essas informações, ou seja, nada relacionado à votação”, afirma. “O sistema de apuração dos votos é offline, as urnas não estão ligadas à internet e nem o sistema de apuração, que é em uma rede privada”, completa. “O hacker mostrar que teve acesso a esses arquivos administrativos e de configurações dos sites do TRE e TSE não significa nada e não tem força alguma para colocar em dúvida a segurança da votação, apesar de não ser interessante que tenha havido essa brecha de segurança no site do TSE, ainda que pequena”, explica o professor, que já foi convidado para testar a segurança do sistema. O Comprova também enviou os arquivos para Thiago Tavares, presidente da SaferNet, associação que promove a defesa dos direitos humanos na internet. Como os dados disponibilizados nas publicações trazem informações como folhas de pagamentos, afastamentos e transferências de servidores, ele acredita que “a invasão se limitou a um servidor que hospedava informações do sistema de Recursos Humanos do tribunal, e não tem relação alguma com as urnas eletrônicas nem com a segurança do sistema usado na apuração e totalização dos votos”. De acordo com Hiago Kin, presidente da Associação Brasileira de Segurança Cibernética e CEO da Deepcript, os dados divulgados são de banco de dados dos sites da Justiça Eleitoral, que são diferentes daqueles onde são processados os resultados da votação. Segundo Kin, os hackers usaram uma técnica que permite ler o conteúdo de alguns bancos de dados mais vulneráveis, mas que não poderia ser usada para alterar o resultado da apuração de votos. “O comando de escrita (utilizado no desenvolvimento do site) provavelmente não tenha sido permitido e sequer explorado, porque dispararia alguns alertas de segurança”, explica. Segundo Kin, a maioria dos dados vazados são informações pessoais de servidores e não de sistemas ou pessoas que apuram as eleições. “Os bancos de dados das eleições são outros, alheios aos dos sites. Dizer que uma coisa está relacionada à outra é especular sem provas. Os IPs expostos pertencem unicamente aos sites”, afirma. Segurança das eleições Segundo o TSE, a segurança do sistema eletrônico de votação é feita em camadas, ou seja, por meio de dispositivos de segurança de tipos e com finalidades diferentes, são criadas diversas barreiras que, em conjunto, não permitem que o sistema seja violado. Em resumo, qualquer ataque ao sistema causa um efeito dominó e a urna eletrônica trava, não sendo possível gerar resultados válidos. Para afastar esses questionamentos sobre a segurança das urnas, o TSE promove um desafio desde 2009, ocasião na qual especialistas colocam a segurança de urnas eleitorais à prova para tentar invadir o sistema – seja na parte da votação, apuração, transmissão e recebimento de arquivos. É o que o TSE chama de TPS (Teste Público de Segurança), em que grupos de hackers “do bem” se reúnem para fazer ataques variados aos dispositivos. Eles acontecem, normalmente, no ano anterior às eleições. O último foi concluído em 29 de novembro de 2019, e contou com a participação de 25 especialistas, entre professores, estudantes e peritos (veja aqui o relatório técnico). No documento Sistema Eletrônico de Votação: perguntas mais frequentes, publicado no site do TSE, o órgão responde questões sobre o processo eleitoral e dúvidas em relação à segurança da votação. Na resposta da primeira pergunta, “Como o eleitor pode ter certeza de que a urna eletrônica é segura?”, o documento explica que “há diversos mecanismos de auditoria e de verificação dos resultados que podem ser efetuados pelos candidatos, pelas coligações, pelo Ministério Público”, entre outras entidades. Ainda de acordo com o tribunal, as urnas eletrônicas começaram a ser utilizadas no Brasil em 1996 e, “em 24 anos de existência, nunca foi comprovada nenhuma fraude no equipamento”. Para as eleições de 2020, o TSE preparou a série “Desvendando a Urna”, com reportagens sobre o assunto. Uma delas é sobre o tema abordado no post verificado aqui e traz a pergunta “É verdade que a urna eletrônica não é auditável?”. O texto, então, explica que o equipamento possui “diversos recursos que possibilitam e fortalecem a possibilidade de auditagem”. Entre os recursos, estão auditorias pré e pós-eleição e lacração dos sistemas. “Além disso, os sistemas podem ser requisitados para análise e verificação, não somente no período de seis meses que antecedem o pleito, mas a qualquer tempo e pelo prazo necessário para se proceder a uma auditoria completa”, finaliza a reportagem. No dia da votação De acordo com verificação do Comprova de 13 de novembro, uma auditoria ocorre no dia da eleição, quando o TSE promove um sorteio de urnas eletrônicas que serão fiscalizadas. A ação é para verificar a autenticidade e demonstrar a integridade do processo eleitoral “para eleitores sem conhecimentos específicos em tecnologia”, como afirma o site do órgão. As urnas sorteadas são encaminhadas para os tribunais regionais eleitorais, onde é feita uma simulação de voto. “Cédulas em papel são preenchidas e depositadas em uma urna de lona, para que os participantes digitem esses votos tanto na urna eletrônica quanto em um sistema específico que computará os votos consignados em paralelo”, explica o TSE. Também no dia da eleição, cada urna eletrônica emite um comprovante com os votos recebidos, chamado de Boletim de Urna (BU). Esse documento é impresso pelos mesários e se torna público logo após o fim da votação – qualquer pessoa pode verificá-lo, inclusive no celular, com o aplicativo Boletim na Mão, desenvolvido pelo TSE. O grupo de hackers O CyberTeam é um grupo de hackers com base em Portugal, de acordo com o site Tecmundo e segundo confirmou o perfil de mesmo nome no Facebook, por meio de mensagens privadas. Também conforme publicado pelo Tecmundo, os hackers invadiram o site oficial do então deputado federal Beto Mansur (PRB-SP) em 2017 e, anteriormente, já haviam derrubado o Skype por algumas horas. O link verificado aqui lista ataques recentes do grupo contra o Conselho Nacional de Justiça, o Tribunal de Justiça do Estado do Pará, entre outros órgãos brasileiros, e ressalta que nem o CyberTeam nem seus aliados foram responsáveis pelo ataque Superior Tribunal de Justiça. De acordo com o site, neste caso do suposto ataque ao TSE, o CyberTeam agiu em parceria com o perfil Noias do Amazonas – que o Comprova tentou contatar via Twitter, mas não recebeu resposta até a publicação deste texto. A pessoa do CyberTeam que trocou mensagens com o Comprova se apresentou com o apelido Zambrius e confirmou ser o jovem que foi detido em Portugal em abril deste ano por crimes ligados à cibersegurança. Questionado sobre as afirmações de Barroso, que disse que “esse vazamento não é produto de um ataque atual”, que é “um ataque antigo que nós ainda não fomos capazes de precisar, se foi antigo de dez dias ou antigo de cinco anos”, Zambrius confirmou que “o ataque é de hoje”. Quando confrontado com a avaliação de especialistas ouvidos pelo Comprova, segundo a qual o vazamento não tem ligação com dados ligados à eleição, Zambrius respondeu: “Eu não explorei por completo o TSE e só me foquei em reunir os dados de utilizador”. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova verifica conteúdos virais sobre as eleições 2020, a pandemia de covid-19 e as políticas públicas do governo federal. Conteúdos que questionam a segurança das urnas eletrônicas ou do sistema de apuração podem colocar em risco a confiança dos cidadãos nos resultados das eleições e, por consequência, na democracia. O caso é ainda mais grave por ocorrer no dia das eleições municipais, quando milhões de pessoas foram às ruas em todo o país para eleger prefeitos e vereadores. Recentemente, o Comprova mostrou que um recente ataque hacker ao STJ não podia ser visto como sinal de ameaça à segurança das eleições. Também mostrou que o sistema de voto eletrônico brasileiro pode ser auditado, ao contrário do que afirmava um post nas redes sociais e que a empresa que forneceu urnas para as eleições na Venezuela nunca vendeu seus aparelhos para o Brasil. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos; que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano; ou que é retirado de seu contexto original e usado em outro, de modo que seu significado sofra alterações.
null
null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/morte-de-voluntario-nao-esta-relacionada-a-alteracoes-neurologicas-causadas-por-vacina/
COMPROVA
Morte de voluntário não está relacionada a alterações neurológicas causadas por vacina
null
2020-11-13
A publicação cita estudos feitos com poucos casos e que não são conclusivos. Especialistas dizem que não há comprovação na literatura médica de que uma vacina possa causar danos neurológicos Conteúdo verificado: Texto publicado em site fala de uma possível relação entre a CoronaVac e a morte de um voluntário da vacina por suícidio. É enganoso que a morte de um voluntário de testes da vacina CoronaVac esteja relacionada a alterações neurológicas causadas pelo imunizante. A possibilidade foi levantada em um post no site Estudos Nacionais, que especula que a vacina poderia ter causado “danos psíquicos graves”. A hipótese também chegou a ser levantada pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), sem apresentar qualquer evidência. Especialistas ouvidos pelo Comprova descartam essa possibilidade. A causa provável da morte do voluntário foi suicídio, de acordo com a Polícia Civil. Segundo a imunologista Cristina Bonorino, não há comprovação na literatura médica de que uma vacina possa causar danos neurológicos. Até o momento, os voluntários que participaram do teste não apresentaram danos neurológicos. No texto verificado pelo Comprova, o autor afirma que, de acordo com essas pesquisas, “alterações neurológicas podem ser causadas por inflamações geradas por vacinas da gripe ou da febre tifóide, como já foi registrado no passado e foi objeto de pesquisas. A inflamação é uma reação do sistema imunológico”. Em coletiva realizada no dia 9 de novembro, o governo de São Paulo disse que, no caso em questão, houve um “evento externo” não relacionado com a vacina que gerou a notificação ao órgão regulador de que um participante do estudo clínico teve um efeito adverso grave. O Instituto Butantan, questionado pelo Comprova, afirmou ser inverídico que a morte de um voluntário tenha sido causado pela CoronaVac. O episódio ocorreu 25 dias após o voluntário receber o composto. O Butantan não informou se, nesse caso, foi aplicada a vacina ou o placebo. O jornalista Cristian Derosa, que respondeu ao Comprova em nome do site Estudos Nacionais, afirmou que “os motivos que levam jornalistas a ligar hipóteses de causa sobre determinado fato diz respeito a escolhas editoriais previstas pela liberdade de imprensa. Em nenhum momento afirmou-se taxativamente a causa, mas buscou-se, como eu disse, estudos já consagrados sobre o tema”. Como verificamos? Para esta verificação, consultamos reportagens sobre a CoronaVac e sobre a morte de um dos mais de nove mil voluntários do imunizante desenvolvido pela empresa chinesa Sinovac com o Instituto Butantan. Também fomos em busca de esclarecimentos do próprio Butantan, da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Buscamos ainda a avaliação de especialistas em vacinas. Entrevistamos a imunologista Cristina Bonorino, professora titular da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e membro do comitê científico da Sociedade Brasileira de Imunologia (SBI), e Mellanie Fontes-Dutra, doutora em Neurociências pela UFRGS, idealizadora e coordenadora da Rede Análise covid-19. Acionamos o site que publicou o artigo “Morto após tomar vacina pode ter sofrido alterações neurológicas graves”. O jornalista responsável pela página, Cristian Rosa, respondeu por e-mail. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 13 de novembro de 2020. Verificação A paralisação dos testes A Anvisa suspendeu os testes da CoronaVac em 9 de novembro. Em coletiva realizada na mesma data, o governo de São Paulo disse que, no caso em questão, houve um “evento externo” não relacionado com a vacina, que gerou a notificação ao órgão regulador de que um participante do estudo clínico teve um efeito adverso grave. O episódio ocorreu 25 dias após o voluntário ser inoculado. O Instituto Butantan não informou se, nesse caso, foi aplicada a vacina ou o placebo. A Polícia Civil registrou o caso como suicídio, como noticiaram O Estado de S. Paulo, UOL e Rede Globo, veículos que tiveram acesso ao boletim de ocorrência número 2.460/2020, registrado pelo 93º Distrito Policial. Trechos do documento foram exibidos pela Globo, incluindo detalhes de como o corpo foi encontrado. Em 10 de novembro, o coordenador da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), Jorge Venâncio, afirmou que o órgão analisou os dados iniciais sobre a morte do voluntário e avaliou que não havia necessidade da suspensão dos testes. Após receber detalhes sobre o caso, fornecidos pelo Instituto Butantan e pelo Comitê Independente de Monitoramento e Segurança da vacina, a Anvisa determinou a retomada dos testes no dia 11 de novembro. “Após avaliar os novos dados apresentados pelo patrocinador depois da suspensão do estudo (conforme listado na tabela), a Anvisa entende que tem subsídios suficientes para permitir a retomada da vacinação e segue acompanhando a investigação do desfecho do caso para que seja definida a possível relação de causalidade entre o EAG inesperado e a vacina”, informou a agência. Em nota, a Sinovac afirmou que está confiante na segurança da vacina. “Acreditamos que uma vacina com bom perfil de segurança e eficácia pode ser fornecida apenas se os estudos clínicos forem conduzidos de acordo com padrões elevados”, diz o texto. O que dizem os órgãos públicos Procurado pelo Comprova, o Instituto Butantan afirmou ser inverídico que a morte de um voluntário tenha sido causado pela CoronaVac. De acordo com o órgão de pesquisa, já foi esclarecido amplamente que o evento adverso grave ocorrido com um participante dos estudos clínicos não teve qualquer relação com a vacina “como já chancelado pelo órgão regulador e comitês internacional e nacional que acompanham os estudos”. O Butantan também lembrou que testes preliminares realizados com 50 mil voluntários na China apresentaram um índice de apenas 6,36% de efeitos adversos, todos de grau baixo. Os mais frequentes foram dor no local da aplicação, fadiga, febre e perda de apetite. Nenhum deles foi relacionado com problemas neurológicos. “Vale ressaltar que a formulação da CoronaVac utiliza técnica de inativação do vírus. Ou seja, a formulação do imunizante contém coronavírus mortos num processo de inativação química para que apenas estimulem a proteção imunológica do organismo sem causar a infecção”, explica a nota do instituto. Em nota enviada ao Comprova, a Conep, entidade que acompanha os testes de vacinas contra a covid-19 no Brasil, disse que, até o momento, “nada foi encontrado com respeito a um risco digno de nota de que estas vacinas possam causar danos cerebrais ou neurológicos, mesmo já tendo sido vacinados em ambiente das pesquisas, milhares de indivíduos”. Segundo a entidade, em nenhum dos “eventos adversos graves” ocorridos no Brasil durante os testes do imunizante contra o novo coronavírus houve a confirmação de que a vacina teria sido o causador do evento. “Ao contrário, nos casos estudados sempre foram encontrados outros elementos relacionados com os indivíduos vacinados, que explicariam a ocorrência do problema com mais argumentos do que pela vacinação”, assegura. Segundo a Conep, as vacinas são responsáveis por salvar uma quantidade enorme de vidas em todo o mundo. De acordo com a comissão, o imunizante é uma intervenção no organismo e, como tal, está sujeita a riscos. “Muito raras são as ocorrências graves (como as neurológicas, por exemplo) e mais raros ainda são os óbitos”, explica. De acordo com a Conep, autores que publicaram artigos associando a vacina a esses eventos tiveram seus trabalhos retirados de publicação ou retratados por “insuficiência de evidências que amparassem suas conclusões”. Ao Comprova, a Anvisa informou que “teve subsídios suficientes para permitir a retomada da vacinação”, embora lembre que a medida não dispensa o aprofundamento da investigação pautada pelos protocolos de segurança e eficácia de vacinas. O que pensam os especialistas De acordo com Mellanie Fontes-Dutra, coordenadora da Rede Análise covid-19, atualmente não há nenhum registro de uma causalidade confirmada entre efeitos adversos neurológicos e vacinas. Ainda que alguns relatos relacionem a presença da síndrome de Guillain-Barré em pessoas que se vacinaram com a vacina do vírus influenza, da gripe, ela lembra que o Manual de Eventos Adversos Pós-Vacina do Ministério da Saúde afirma que o próprio vírus da gripe pode desencadear essa síndrome e que não há nenhum trabalho que demonstre que a vacina seria capaz de aumentar o risco para esta doença. “A única relação é de os dois eventos terem acontecido em tempos próximos, porém, não há causalidade entre eles estabelecidas. É como dizer que sempre que chove, eu encontro uma moeda de 25 centavos no chão. Pode ter ocorrido de os dois eventos acontecerem ao mesmo tempo. Mas eu poderia ter encontrado a moeda num dia sem chuva. Ou chover e não ter encontrado nada. Só existe aqui associação temporal, e não causalidade”, explica Fontes-Dutra. A imunologista Cristina Bonorino afirma desconhecer qualquer registro na literatura vacinal de que tenha ocorrido algum dano neurológico em seres humanos causado por imunizantes. “Um efeito psiquiátrico, que eu saiba, nunca foi relatado para nenhuma vacina. O que pode causar efeito psiquiátrico é o vírus vivo, não a vacina. Essa vacina CoronaVac é o vírus inativado (agentes mortos ou apenas partículas do vírus, sem capacidade infecção), então não tem como ele fazer isso. O vírus tem essa característica de infectar neurônios, diferentes tipos deles. Inclusive os do olfato e do paladar, que são sintomas nos pacientes (com covid-19). Então, o vírus vivo poderia fazer. O que é mais uma razão para se tomar a vacina. O vírus morto vai te proteger e ele não pode fazer isso. Um vírus que não está vivo não consegue infectar um neurônio”, lembra Bonorino. Estudos citados no texto O primeiro estudo usado como referência no texto analisado é o artigo Neural Origins of Human Sickness in Interoceptive Responses to Inflammation (Origens neurais da doença humana em respostas interoceptivas à inflamação, em tradução livre), publicado em 2009 no site Biological Psychiatry, o jornal oficial da Society of Biological Psychiatry, dos Estados Unidos. O estudo aborda a associação de inflamações a distúrbios psicológicos, emocionais e comportamentais, conhecidos como comportamento doentio. A pesquisa em questão, porém, realizou testes em 16 homens jovens e saudáveis. Além da amostra ser pequena e não representar todos os estratos sociais, a próprio conclusão do artigo diz que “nosso experimento não pode provar que a inflamação cause diretamente os padrões verificados”. O segundo artigo se chama Comparison of cytokine levels in depressed, manic and euthymic patients with bipolar disorder (ou Comparação dos níveis de citocinas em pacientes deprimidos, maníacos e eutímicos com transtorno bipolar, na tradução livre), publicado no Journal of Affective Disorders. Esse estudo avaliou a associação entre a mania e a depressão bipolar com o estado pró-inflamatório em 61 pacientes bipolares. Mas também não é conclusivo, com os autores indicando que o estudo fornece subsídios para investigações futuras. O site O artigo “Morto após tomar vacina pode ter sofrido alterações neurológicas graves” foi publicado no Estudos Nacionais. Em sua página no Facebook, o portal se descreve como “Observatório de mídia, com artigos, vídeos, palestras e cursos e lançamento de projetos editorais [sic]”. Suas publicações costumam ser mais conservadoras e alinhadas ao governo Bolsonaro, como contestações da vitória de Joe Biden sobre Donald Trump na eleição estadunidense e críticas à mídia tradicional. Também há outras publicações sobre vacinas, algumas contestando a efetividade dos imunizantes. Questionado se não seria cedo para associar a morte do voluntário com alterações neurológicas em consequência da vacina, já que ainda não é público se a vítima tomou o medicamento ou placebo, o jornalista Cristian Derosa, cofundador do portal, disse que a “busca por esclarecimento inclui a consulta de fontes científicas e estudos anteriores que lancem luz sobre as hipóteses que envolvem o ocorrido”. “Os motivos que levam jornalistas a ligar hipóteses de causa sobre determinado fato diz respeito a escolhas editoriais previstas pela liberdade de imprensa. Em nenhum momento afirmou-se taxativamente a causa, mas buscou-se, como eu disse, estudos já consagrados sobre o tema, assim como há estudos que lançam suspeita sobre medicamentos diversos, frequentemente usados no jornalismo, inclusive no contexto da pandemia”, complementou. O jornalista respondeu às perguntas com uma série de informações questionáveis – algumas já desmentidas – e sem apresentar provas. Já sobre a menção no texto sobre a CoronaVac, que usa a tecnologia do vírus inativado ou atenuado, Cristian alegou que “a sociedade espera do jornalismo uma cobertura completa e que atenda os diversos pontos de vista.” Usando a ferramenta Whois, que verifica informações sobre o domínio de sites, não há dados que indiquem o nome de quem é responsável pelo site. Porém, o recurso revela que a cidade onde o registro foi feito é Burlington, nos Estados Unidos. Por que investigamos? O Comprova está em sua terceira fase. Nessa etapa, verifica conteúdos suspeitos sobre a covid-19 ou sobre políticas públicas do governo federal que tenham alcançado grande repercussão nas redes sociais. As publicações que veiculam informações falsas relacionadas a vacinas contra o novo coronavírus são bastante prejudiciais. Isso porque podem desencorajar a população a se imunizar – meio apontado por especialistas como o mais efetivo para conter a pandemia que já causou a morte de mais de 164 mil brasileiros, de acordo com os últimos dados do Ministério da Saúde, atualizados em 12 de novembro. É desaconselhável, portanto, ensejar sem comprovação a possibilidade de que vacinas em teste no Brasil, como é o caso da CoronaVac, possam causar efeitos colaterais graves. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo que usa dados imprecisos; ou que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/smartmatic-que-forneceu-urnas-para-a-venezuela-nunca-vendeu-aparelhos-para-o-brasil/
COMPROVA
Smartmatic, que forneceu urnas para a Venezuela, nunca vendeu aparelhos para o Brasil
null
2020-11-13
A Smartmatic atuou nas eleições de 2012, 2014 e 2016 no Brasil, mas em nenhuma dessas ocasiões forneceu urnas – a empresa prestou serviços de conexão de dados e voz em estados isolados do Brasil Conteúdo verificado: Post sugere que eleições no Brasil podem ser fraudadas por empresa que, no passado, forneceu urnas para a Venezuela O TSE nunca comprou urnas eletrônicas da empresa Smartmatic, que forneceu urnas para eleições venezuelanas e teve a credibilidade colocada em dúvida em uma suposta entrevista concedida por Miguel Ángel Martin, presidente da Suprema Corte da Venezuela no exílio, ao site Terça Livre. A Suprema Corte no exílio é uma instituição paralela surgida em meio à crise política no país. Não há provas de que ocorreram fraudes nas eleições brasileiras de 2018 e a própria Smartmatic denunciou suspeita de fraude nas eleições de 2017 na Venezuela, o que resultou na suspensão unilateral do contrato por parte da própria empresa. A entrevista foi registrada em vídeo, mas Martin não aparece nas imagens – ele fala ao telefone por meio de viva-voz. Durante cerca de 17 minutos, o entrevistado faz acusações à Smartmatic, afirma que as urnas eletrônicas não são seguras, que há manipulação em todas as fases do processo e que a única forma de evitar fraude em um processo eleitoral que utilize urnas eletrônicas é registrar uma votação massiva. O exemplo, segundo ele, seria a eleição de 2018, que Bolsonaro “só ganhou porque o povo brasileiro o elegeu de forma massiva”. Jair Bolsonaro levantou a hipótese de fraudes nas urnas após o primeiro turno de 2018 e reafirmou isso em março de 2020. Em nenhum momento, no entanto, o presidente da República apresentou evidências de suas alegações. Em outubro, o Comprova mostrou que era falso um conteúdo que supostamente provaria tais fraudes. Quanto à Smartmatic, a relação feita entre a companhia e o processo eleitoral do Brasil também não se sustenta. A Smartmatic esteve envolvida nas eleições venezuelanas entre 2004 e 2017 e abandonou o contrato após ela própria denunciar a suspeita de fraude na divulgação oficial dos resultados por parte da Comissão Eleitoral da Venezuela nas eleições de 2017. Mesmo que a empresa estivesse envolvida nas fraudes, isso não teria relação alguma com as eleições brasileiras, como sugere o conteúdo verificado aqui. A Smartmatic atuou nas eleições de 2012, 2014 e 2016 no Brasil, mas em nenhuma dessas ocasiões forneceu urnas – a empresa prestou serviço de conexão de dados e voz em estados isolados do Brasil. Como verificamos? Primeiramente, buscamos as informações que constam na entrevista publicada pelo Terça Livre em outros sites que pudessem tê-la replicado. Em seguida, procuramos por perfis oficiais nas redes sociais de Miguel Ángel Martin a fim de questioná-lo se ele, de fato, concedeu a entrevista – o vídeo mostra uma conversa feita por telefone em que não aparecem imagens em vídeo do magistrado venezuelano. A conta que era utilizada por Ángel Martin no Twitter pelo menos até o ano passado foi suspensa e um novo perfil, com nome de usuário parecido, foi criado em março de 2020. Ele tem pouco mais de 8 mil seguidores e foi mencionado por Allan dos Santos em um tuíte do dia 9. Nesta conta, há um email de contato para a presidência do Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela no exílio. Enviamos um email para o endereço indicado, mas não obtivemos resposta. Também buscamos informações na imprensa sobre o processo de nomeação do Tribunal Supremo de Justiça da Venezuela no exílio. Procuramos, ainda, a empresa Smartmatic, acusada de fraude nas eleições da Venezuela durante a entrevista publicada, e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no Brasil, a fim de falar sobre quais as relações entre a Smartmatic e a eleição brasileira. Por fim, procuramos o site Terça Livre, que não respondeu até a publicação dessa verificação. ATUALIZAÇÃO – Apesar de não ter respondido ao nosso pedido de esclarecimentos, o site investigado publicou um texto comentando esta postagem. Em função disso, o Comprova acrescentou a esta verificação, em 20 de novembro, a sessão “Resposta do Terça Livre” com comentários e respostas ao texto publicado pelo site. Verificação A Smartmatic e o Brasil A Smartmatic foi fundada nos Estados Unidos, mas hoje tem sede no Reino Unido. A empresa trabalhou em 15 eleições venezuelanas entre 2004 e 2017. Em agosto de 2017, o CEO da companhia, Antonio Mugica, realizou uma coletiva de imprensa em que informou que a taxa de comparecimento dos eleitores anunciada pela Comissão Eleitoral nas eleições de 30 de julho daquele ano não correspondia aos números que haviam sido registrados pela empresa, com a taxa de participação tendo sido inflacionada em pelo menos um milhão de eleitores. Por isso, a companhia suspendeu suas atividades na Venezuela. Em e-mail enviado ao Comprova, a Smartmatic informou que atuou nas eleições brasileiras de 2012, 2014 e 2016, fornecendo conexão de dados e voz em estados isolados do Brasil. Em 2012, a companhia também atuou no suporte da eleição, com serviços como a manutenção das baterias das urnas eleitorais. A empresa diz que não tem nenhum contrato com o TSE desde 2016 e que nunca forneceu softwares ou hardwares para as urnas eletrônicas brasileiras. A Smartmatic também disse ao Comprova que, enquanto atuou nas eleições venezuelanas, partidos políticos de todas as matizes venceram e perderam disputas. Em 2015, inclusive, a oposição venceu a maioria dos assentos na Assembleia Nacional. Em 2017, a empresa tornou público que o Conselho Eleitoral Nacional anunciou resultados diferentes daqueles registrados pelo sistema de votação eletrônico durante a votação para a Assembleia Nacional Constituinte. Por isso, em março de 2018, a companhia encerrou unilateralmente a sua atuação na Venezuela. A empresa também informa que já prestou serviço para 5 bilhões de eleitores na Bélgica, Noruega, Estônia, Estados Unidos, Itália, Armênia, Filipinas, Argentina e México. Em agosto de 2017, quando as primeiras peças de desinformações sobre a companhia surgiram, o TSE elaborou uma nota pública afirmando que a Smartmatic não forneceu urnas eletrônicas para as eleições brasileiras ou trabalhou na programação desses aparelhos, mas no treinamento de profissionais que prestaram suporte técnico e operacional para as urnas brasileiras. Procurado pelo Comprova, o TSE detalhou, em um e-mail, que a Smartmatic prestou serviços em três contratos, todos resultados de licitações realizadas em 2012 e 2014. Em dois desses contratos, a Justiça Eleitoral apenas alugou equipamentos de transmissão via satélite. “Não seria possível realizar qualquer fraude, pois os dados gerados pela urna são cifrados e assinados digitalmente”, informa o TSE. No terceiro, que envolvia a prestação de mais serviços, a Justiça Eleitoral afirma que “várias interpretações erradas” foram feitas porque a descrição do objeto do contrato incluía termos como “atualização de software embarcado e certificação digital nas urnas”, assim como testes de operacionalização, geração e transmissão de boletins de urna. De acordo com o TSE, porém, todos os procedimentos são meramente operacionais: “ou seja, dependem apenas de seguir um passo a passo, tanto que o perfil exigido para o técnico era de conhecimentos básicos de microinformática”. Segundo a Justiça Eleitoral, seja naquele contrato ou em qualquer outro nível, não é possível adulterar informações ou o software da urna para que se troque os votos legitimamente registrados pelo aparelho. Smartmatic e eleições 2020 Em 2020, a Smartmatic participou de um consórcio que disputou uma licitação do TSE para o fornecimento de urnas eletrônicas para as eleições municipais. Os preços cobrados pelo consórcio, porém, eram maiores do que os da empresa brasileira Positivo. Em julho, o TSE homologou a vitória da Positivo, mas não havia mais tempo hábil para a construção e programação das urnas ainda para as eleições municipais deste ano. Por isso, a empresa brasileira deve fornecer os equipamentos para o próximo pleito, em 2022, e neste ano serão usados os que já estavam disponíveis. O TSE deve adquirir 180 mil urnas. O valor da proposta da Positivo é de R$ 799,9 milhões, mas o pagamento dependerá da encomenda ser efetivada ou não pela Justiça Eleitoral. No e-mail enviado ao Comprova, o TSE enviou a lista de todas as empresas de tecnologia de quem o tribunal comprou urnas eletrônicas desde 1996. A lista inclui as empresas Unisys (1996 e 2002); Procomp Indústria Eletrônica (1998); e Diebold (2000, 2004, 2006, 2008, 2009, 2010, 2011, 2013 e 2015). Além da Positivo, que, como dito acima, só terá seus aparelhos utilizados a partir da eleição de 2022. De acordo com a Justiça Eleitoral, a arquitetura da urna eletrônica é especificada pelos técnicos do TSE e não depende do fabricante. “Isso significa que nem o próprio fabricante pode fraudar o equipamento ou a votação e, portanto, é indiferente qual o país de origem de qualquer empresa contratada. Essa segurança é possível porque o TSE define todos os requisitos de segurança, desenvolve o projeto em conjunto com a empresa, e realiza diversas verificações e auditorias durante todo o processo, incluindo a presença de técnicos do TSE durante toda a fabricação”, explica a nota. Segurança das urnas As urnas eletrônicas brasileiras têm uma série de medidas de confiabilidade que foram desenvolvidas e aprimoradas ao longo dos últimos 24 anos. De acordo com o TSE, a lista de controles de segurança incluem: O hardware da urna contém dispositivos criptográficos que implementam: garantia que a urna execute somente software oficial e garantia de que esse software somente seja executado em uma urna eletrônica. A urna é totalmente off-line (não possui dispositivo de rede ou sem fio). Todo o projeto de hardware é de conhecimento e domínio do TSE. Todo o software é desenvolvido por técnicos do TSE; É permitido o acesso aos códigos-fonte às entidades fiscalizadoras nos seis meses que antecedem as eleições. Essas entidades são: partidos políticos, Ordem dos Advogados do Brasil, Ministério Público, Congresso Nacional, Supremo Tribunal Federal, Controladoria-Geral da União, Polícia Federal, Sociedade Brasileira de Computação, Conselho Federal de Engenharia e Agronomia, Conselho Nacional de Justiça, Conselho Nacional do Ministério Público, Tribunal de Contas da União e Forças Armadas. Vários procedimentos de verificação de integridade são permitidos às entidades, boa parte deles definidos na Resolução TSE nº 23.603. Há a Auditoria de Funcionamento das Urnas Eletrônicas em condições normais de uso (votação paralela), onde urnas, já preparadas, são ligadas no mesmo dia e horário da eleição, e votos escolhidos aleatoriamente são inseridos em um ambiente totalmente filmado. Desde 2002 esse procedimento é feito e nunca houve qualquer divergência entre o que foi inserido na urna e o resultado por ela computado. O Boletim de Urna é impresso na seção eleitoral, em várias cópias, que podem ser entregues aos fiscais de partidos e, obrigatoriamente uma cópia é afixada na seção eleitoral para que qualquer pessoa possa verificar o resultado de uma urna e compará-lo ao que chega no TRE ou TSE (resultado efetivamente totalizado). Quem é Miguel Ángel Martin? Miguel Ángel Martin é presidente da Suprema Corte da Venezuela no exílio, um tribunal paralelo, nomeado em julho de 2017 pelo parlamento venezuelano em meio a uma crise institucional. Isso aconteceu porque o governo de Nicolás Maduro nomeou os juízes do Tribunal Supremo de Justiça (TSJ) antes que a maioria opositora no parlamento tomasse posse. Uma vez empossada, a Assembleia Nacional nomeou 33 magistrados para um tribunal paralelo, que passou a ser chamado de Suprema Corte no Exílio ou de Tribunal Supremo de Justiça no exílio. Conforme explica esta reportagem publicada em agosto de 2018 pela Folha de S.Paulo, a corte paralela é formada por 13 magistrados e 20 suplentes que estão exilados na Colômbia, Chile, Estados Unidos e Panamá. O objetivo do tribunal nomeado pela Assembleia é corrigir supostas irregularidades na designação de juízes do TSJ, que, segundo os opositores, estaria a serviço do chavismo. Em julho de 2017, após a nomeação do tribunal paralelo, Miguel Ángel Martin e outros membros foram presos pela Inteligência venezuelana. Eles afirmaram que, juntamente com suas famílias, estavam sofrendo uma “guerra psicológica” para impedi-los de assumir seus cargos. As atividades de Ángel Martin no exílio começaram em outubro de 2017. Em agosto de 2018, a Suprema Corte no exílio condenou o presidente Nicolás Maduro por corrupção no caso da Odebrecht. A decisão foi respaldada dias depois pelo Parlamento venezuelano. O tribunal no exílio é reconhecido pela Federação Interamericana de Advogados e pela Organização dos Estados Americanos (OEA). Seus membros costumam ser recebidos por chefes de estado. No ano passado, Bolsonaro disse que reconheceria o Supremo Venezuelano no exílio. O próprio Miguel Ángel Martin e outros opositores venezuelanos foram recebidos, no ano passado, pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), pelo ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, e pelo então ministro da Justiça, Sérgio Moro, em Brasília. A entrevista A entrevista foi feita pelo próprio Allan dos Santos, responsável pelo site Terça Livre, e tem 17 minutos e 36 segundos de duração. Ela não mostra imagens do presidente da Suprema Corte no exílio em vídeo, apenas uma série de fotografias do magistrado em diversos momentos. No vídeo, aparece apenas Allan dos Santos. Isso porque a entrevista foi feita por celular, através do viva-voz. No vídeo, Allan dos Santos afirma estar ao vivo e chama o entrevistado pelo nome de “Doutor Miguel”, que o atende e segue respondendo às perguntas. Não é a primeira vez que o magistrado venezuelano é entrevistado pelo Terça Livre. Em dezembro de 2018, o blogueiro viajou a Foz do Iguaçu (PR) para a Cúpula Conservadora das Américas e, lá, entrevistou Miguel Ángel Martin para o canal do YouTube do Terça Livre. No mesmo dia em que fez a entrevista mais recente, 9 de novembro, Allan dos Santos publicou o vídeo na sua conta do Twitter dizendo ser um alerta do presidente da Suprema Corte de Venezuela sobre a Smartmatic e marcando um perfil denominado como @miguelmartint1. Resposta do Terça Livre (trecho acrescentado em 20 de novembro) Cinco dias após a publicação da nossa verificação, o Terça Livre publicou um texto argumentando de modo contrário à conclusão a que o Comprova chegou. No texto, o site diz que a Smartmatic comprovou ter fornecido “tecnologia das urnas eletrônicas” ao Brasil, em referência ao trecho em que a companhia diz ter prestado serviços de conexão de dados e voz nas eleições brasileiras de 2012, 2014 e 2016. A conexão de dados e voz, porém, não representa “tecnologia das urnas eletrônicas”, como afirma o Terça Livre. Ela apenas permite que os resultados da eleição sejam enviados à Justiça Eleitoral para serem contabilizados no processo de totalização. Como o TSE explicou previamente, esses dados possuem criptografia cuja chave para leitura é de posse exclusiva da Justiça Eleitoral e, portanto, não podem ser adulterados no processo de transmissão. Além disso, os boletins de urna, impressos após o encerramento da votação, permitiriam auditar os resultados de cada sessão, se necessário. O Terça Livre sugere ainda que a empresa estrangeira tinha acesso ao software das urnas eletrônicas ao citar um dos três contratos da Smartmatic com o TSE que previa a preparação das urnas para a votação tais como “procedimento de atualização de software” e “carga de software de eleição”. O TSE já havia esclarecido o objeto desse contrato na verificação publicada pelo Comprova. Segundo a Justiça Eleitoral, os procedimentos eram meramente operacionais, nos quais o técnico seguia um passo a passo para fazer a atualização dos componentes. O Comprova mostrou recentemente que as únicas pessoas que têm acesso ao software das urnas eletrônicas são servidores da Justiça Eleitoral, sob rígidas regras de segurança e que nenhum desses funcionários é estrangeiro. Além disso, qualquer alteração externa na programação das urnas eletrônicas levaria ao bloqueio do equipamento, de acordo com o TSE. O Terça Livre também cita uma entrevista de uma advogada do presidente americano Donald Trump, Sidney Powell, à Fox News, no dia 15 de novembro, em que ela questiona a credibilidade dos resultados da eleição por causa da prestação de serviços da Smartmatic em alguns estados. A entrevista não poderia ter sido abordada na verificação do Comprova, publicada dois dias antes. Mas as declarações foram classificadas como “não acuradas” pelo jornal americano The New York Times. As apurações nos Estados Unidos são feitas na presença de fiscais dos dois partidos, Republicano e Democrata, e os votos em papel podem ser recontados a pedido dos candidatos. Além disso, a Smartmatic, como dito pela própria empresa e pelo TSE, não presta serviços à Justiça Eleitoral brasileira desde 2016 e, portanto, não poderia colocar em questão os resultados das eleições municipais de 2020. Por fim, o Terça Livre cita a existência de empresas com a razão social Smartmatic na Venezuela para contrapor a informação de que a companhia teria sido fundada nos Estados Unidos. O fundador da Smartmatic é venezuelano, mas a empresa foi fundada em 2000 no condado de Palm Beach, no estado americano da Flórida, como informa seu site oficial. Em e-mail enviado ao Comprova, o jornalista Arturo Wallace, que escreveu uma matéria sobre a origem da Smartmatic quando era correspondente da BBC News na Colômbia, repetiu a mesma informação. Além disso, como dito, a Smartmatic não prestou nenhum serviço à Justiça Eleitoral brasileira em 2020 e, portanto, não poderia interferir nos resultados da votação. Por que investigamos? Atualmente em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos sobre eleições 2020, políticas públicas do governo federal e a pandemia de covid-19, que tenham viralizado nas redes sociais. É o caso desse conteúdo. O vídeo da entrevista no canal do Terça Livre no YouTube teve 99,2 mil visualizações. A publicação do perfil @allanldsantos no Twitter teve 4 mil interações, de acordo com a ferramenta de monitoramento CrowdTangle. O conteúdo também circulou no Facebook, com menor engajamento. Conteúdos que desinformam sobre o processo eleitoral podem incentivar pessoas a deixarem de votar ou levantar suspeitas sobre a lisura da votação, colocando em xeque o processo democrático. Conteúdos que sugerem erroneamente a possibilidade de fraude nas eleições brasileiras ganharam engajamento às vésperas das eleições municipais de 2020 e, no momento momento em que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, acusa, sem apresentar provas, a existência de fraudes na disputa que elegeu o candidato de oposição Joe Biden. Recentemente, o Comprova já mostrou que urnas eletrônicas não existem em apenas três países do mundo e que o STF não decidiu que o voto impresso é inconstitucional. Falso, para o Comprova, é o conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu conteúdo original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
null
null
['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/e-enganosa-postagem-que-sugere-que-instituto-butantan-nao-informou-morte-de-voluntario-da-vacina-coronavac/
COMPROVA
É enganosa postagem que sugere que Instituto Butantan não informou morte de voluntário da vacina CoronaVac
null
2020-11-13
Ao contrário do que sugere a postagem, o Instituto Butantan comunicou a Anvisa sobre o chamado “evento adverso grave” envolvendo um dos voluntários. A notificação foi enviada no dia 6 de novembro, dentro do prazo de uma semana estabelecido pela agência Conteúdo verificado: Publicação afirma que Instituto Butantan e governo de São Paulo estariam fingindo “que nada está acontecendo” após morte de voluntário da vacina chinesa CoronaVac. É enganosa a publicação que compara condutas dos desenvolvedores de vacina contra a covid-19 e afirma que o Instituto Butantan e o governo de São Paulo “fingem que nada está acontecendo” após a morte de um voluntário da terceira fase de testes da CoronaVac. O óbito provocou a interrupção da pesquisa pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que autorizou a retomada dos estudos dois dias depois. Ao contrário do que sugere a postagem, o Instituto Butantan comunicou a Anvisa sobre o chamado “evento adverso grave” envolvendo um dos voluntários. A notificação foi enviada no dia 6 de novembro, dentro do prazo de uma semana estabelecido pela agência. A Anvisa alegou que só teve acesso às informações três dias depois, mas que isso ocorreu por um problema de tecnologia no sistema do governo federal, e que o envio das primeiras informações pelo Butantan ocorreu dentro do período exigido pelo órgão. O caso também foi comunicado pelo Butantan à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), que, no mesmo dia 6, buscou mais informações junto aos pesquisadores. Com os novos dados, o órgão avaliou que o evento adverso não tinha ligação com a vacina. O Butantan também nega relação do óbito com a CoronaVac. A Anvisa informou em nota que ainda pretende avaliar o desfecho do caso. A postagem verificada também afirma que “quando um voluntário morreu, mesmo tomando placebo, a própria Oxford pediu a suspensão dos testes para a Anvisa”. A vacina desenvolvida pela Universidade de Oxford e pela farmacêutica AstraZeneca teve, de fato, os testes interrompidos pelos próprios responsáveis em setembro, mas isso ocorreu após um caso de doença em um participante do Reino Unido. Quando os pesquisadores responsáveis por essa vacina registraram um óbito entre os voluntários, o que ocorreu em outubro, no Brasil, os testes não chegaram a ser paralisados. A publicação foi feita pela advogada Flávia Ferronato, no site Jornal da Cidade Online. Flávia coordena um grupo chamado Movimento dos Advogados do Brasil e divulgou as mesmas informações em seu perfil no Twitter. Procurada pelo Comprova, ela preferiu não responder questionamentos sobre a publicação. Após o contato, ela fez publicações em suas redes sociais criticando o trabalho de agências de checagem e procurando intimidar a verificadora que a contatou. Como verificamos? Para verificar este conteúdo, entramos em contato com o Instituto Butantan, a Anvisa e a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) para questionar como e quando ocorreram as comunicações do evento adverso grave que causou a suspensão dos testes da vacina. Recorremos também a comunicados publicados no site da Anvisa, de farmacêuticas que desenvolvem vacinas e a entrevistas coletivas em que foram dados detalhes do caso. O Comprova também entrevistou o professor Flávio Fonseca, virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Foram consultadas ainda a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo e publicações de veículos de imprensa, sobre a possível causa da morte do voluntário. Buscamos também o cadastro da advogada que assina a publicação no site da OAB e o perfil dela no Twitter e no Facebook, por onde tentamos contato. O Comprova fez esta verificação baseado em informações científicas e dados oficiais sobre o novo coronavírus e a covid-19 disponíveis no dia 12 de novembro de 2020. Verificação O Butantan comunicou a Anvisa? Um trecho da publicação verificada afirma que o Instituto Butantan e o governo de São Paulo teriam fingido “que nada estava acontecendo” após a morte do voluntário da vacina chinesa CoronaVac. A informação, no entanto, é enganosa. Isso porque o Instituto Butantan informou a Anvisa sobre o evento adverso grave ocorrido com o voluntário, dentro do prazo estabelecido pela agência, que é responsável por autorizar as etapas de testagem. Esta comunicação foi reforçada em nota pelo Butantan e confirmada pela própria Anvisa em entrevista coletiva. Ocorre que o órgão afirmou que devido a um problema no sistema do governo federal causado por ataques sofridos na primeira semana de novembro, a informação só teria sido acessada por eles ao ser enviada uma segunda vez, três dias depois. Na nota em que comunicou a suspensão dos testes da CoronaVac, a Anvisa afirmou que foi, sim, comunicada do “evento adverso grave”, e que por isso pediu a interrupção dos estudos. No entanto, não deu detalhes sobre quem comunicou a agência e de que forma isso foi feito. “O evento ocorrido no dia 29/10 foi comunicado à Agência, que decidiu interromper o estudo para avaliar os dados observados até o momento e julgar o risco/benefício da continuidade do estudo”, diz um trecho do texto. Em entrevista coletiva no dia 10 de novembro, o gerente-geral de Medicamentos da Anvisa, Gustavo Mendes, deu mais detalhes e disse que o Instituto Butantan informou o evento adverso grave no dia 6 de novembro, dentro do prazo de sete dias após a intercorrência em que a comunicação é necessária, conforme normas da agência. Entretanto, segundo ele, por causa de um ataque hacker sofrido pelo governo federal e pelo Judiciário, a agência só teve conhecimento da notificação três dias depois, no dia 9 de novembro, às 18h, quando o Butantan reenviou as informações após receber ofício da agência questionando sobre possíveis eventos graves. Na coletiva, Mendes também negou que tivesse ocorrido algum erro de notificação fora do prazo pelo Butantan. Procurado pelo Comprova, o Instituto Butantan enviou uma nota em que confirma ter repassado a comunicação do evento adverso grave no dia 6, e que precisou reenviá-las no dia 9, após receber ofício e e-mail da Anvisa. “No dia 30 de outubro, o HC [Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo, centro de estudo do qual o voluntário fazia parte] informou a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e a Farmacovigilância do Instituto Butantan (patrocinador do estudo). No dia 6 de novembro, dentro do prazo, a farmacovigilância do Instituto Butantan comunica a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), conforme preconizado em protocolo oficial. Na conclusão constava que o óbito não era relacionado à vacina em teste”, diz um trecho da nota. O Comprova questionou a Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep), ligada ao Conselho Nacional de Saúde (CNS), se a notificação do caso foi recebida de fato no dia 30 de outubro, como dito na nota do Butantan. O órgão informou que foi comunicado do episódio no dia 6 de novembro, mesma data da notificação à Anvisa. O Conep diz ter feito já no dia 6 à noite uma audiência com os pesquisadores para solicitar os documentos que faltavam. “Na conversa, com o conjunto de dados que foram trazidos, ficou claro que o evento adverso não tinha relação com a vacina, então não se justificava a suspensão do estudo”, pontuou o coordenador da Conep, Jorge Venâncio, via assessoria de imprensa. Após a suspensão, a Conep emitiu nota defendendo a continuidade dos estudos clínicos da CoronaVac. O Comprova também solicitou mais informações à Anvisa sobre como se deu a comunicação do evento adverso grave e que informações foram repassadas. A agência respondeu replicando o link de uma nota emitida no dia 11, em que autoriza a retomada dos testes da CoronaVac após a polêmica suspensão. No texto, ela afirma que não possuía no momento da paralisação informações sobre a causa do evento adverso grave, recebidas somente no dia 10. Por que a Anvisa suspendeu os testes da CoronaVac? Na nota em que comunicou a suspensão dos testes da CoronaVac, a Anvisa afirmou que a paralisação foi motivada pela ocorrência de um “evento adverso grave” e que a medida seria “para avaliar os dados observados até o momento e julgar o risco/benefício da continuidade do estudo”. O órgão também frisou que os dados dos voluntários devem ser mantidos em sigilo, mas que a interrupção é prevista pelas normas da Anvisa e faz parte dos procedimentos de Boas Práticas Clínicas. Dois dias após a suspensão, a Anvisa autorizou a retomada dos estudos da CoronaVac. Em nova publicação no site, a agência alegou que “após avaliar os novos dados apresentados pelo patrocinador depois da suspensão do estudo (…), a ANVISA entende que tem subsídios suficientes para permitir a retomada da vacinação”. Nessa mesma publicação, a Anvisa argumenta que a suspensão, agora revogada, ocorreu considerando “1) A gravidade do evento; 2) A precariedade dos dados enviados pelo patrocinador naquele momento; 3) A necessidade de proteção dos voluntários de pesquisa; e 4) A ausência de parecer do Comitê Independente de Monitoramento de Segurança”. Na nova nota, a Anvisa afirma ainda que a causa do evento adverso grave não havia sido informada até o dia 9 de novembro, quando houve a suspensão. Diz também que o boletim de ocorrência relacionado à provável motivação do evento e a manifestação do Comitê Independente de Monitoramento de Segurança não haviam sido enviadas até a mesma data. Entretanto, o órgão aponta que essas informações foram repassadas à agência no dia seguinte, em 10 de novembro, permitindo então a retomada dos estudos. O Butantan afirma em nota que na primeira comunicação do caso, enviada à Anvisa no dia 6 de novembro e reenviada no dia 9, já “constava que o óbito não era relacionado à vacina em teste”. Essa informação foi ratificada também pelo diretor do Butantan, Dimas Covas, em entrevista coletiva sobre o caso concedida no dia 10. “Do ponto de vista clínico do caso, e nós não podemos dar detalhes, infelizmente, é impossível que haja relacionamento desse evento com a vacina. Impossível”, defendeu. A morte teve relação com a vacina? Uma das principais dúvidas sobre o caso é se o evento adverso grave que causou a suspensão dos estudos teve ou não ligação com a vacina aplicada ao voluntário. O Instituto Butantan nega qualquer relação do episódio com o imunizante, enquanto a Anvisa diz que ainda irá acompanhar o caso para analisar este ponto. A Anvisa não revelou se o evento adverso grave que provocou a suspensão dos testes da CoronaVac foi de fato uma morte de um participante. Tampouco informa as circunstâncias do caso, em razão da confidencialidade dos voluntários. No dia 10, no entanto, após a interrupção dos estudos da vacina chinesa no Brasil, veículos de imprensa divulgaram que o caso se trataria de uma morte de um homem de 32 anos, que tem como provável causa o suicídio. Reportagem do jornal O Globo citou informações de um boletim de ocorrência registrado na delegacia do 93º DP e de uma nota da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo (SSP-SP), que afirma que o caso foi registrado e está sendo investigado como suicídio. Ainda assim, exames periciais ainda estão em andamento, segundo a nota. As informações do boletim de ocorrência também foram divulgadas por veículos como o jornal O Estado de S.Paulo, Uol e TV Globo. O Comprova fez contato com a Secretaria de Segurança Pública de SP e confirmou as informações da nota. Na nota enviada ao Comprova, o Instituto Butantan confirma que o evento adverso grave se refere a uma morte de um participante dos ensaios clínicos, mas garante que o óbito não teve nenhuma relação com a vacina. A instituição afirma que o voluntário foi encontrado morto 25 dias depois de receber a dose de vacina ou placebo – não foi informado a qual grupo ele pertencia. Apesar das informações do Butantan, que foram enfatizadas na entrevista coletiva do órgão, e dos veículos de imprensa, a Anvisa afirmou na nota em que autorizou a retomada dos testes da CoronaVac que seguirá acompanhando a investigação do desfecho do caso “para que seja definida a possível relação de causalidade entre o EAG [evento adverso grave] inesperado e a vacina”. Diferenças entre as interrupções de vacinas O Comprova ouviu também o professor Flávio Fonseca, virologista do Centro de Tecnologia de Vacinas da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Ele preferiu não comentar os prazos das comunicações ocorridas entre Butantan e Anvisa, mas explicou que, quando há um evento adverso grave, como a morte de um voluntário, os casos são comunicados e há painéis de observadores, até mesmo internacionais, que julgam se o evento pode ou não ter ligação com a vacina. No caso da CoronaVac, o especialista frisa que tanto a Conep quanto observadores internacionais julgaram que esse efeito adverso não seria relacionado ao imunizante, e que por isso não exigiria a suspensão. Ele explica que o episódio da CoronaVac tem diferenças em relação aos que causaram as interrupções dos testes das outras duas vacinas no país. “Tanto em Oxford quanto na Johnson e Johnson, as pessoas tiveram problemas clínicos. Quando você tem um problema clínico, tem que investigar a origem daquilo, para entender se aquele problema clínico pode ter sido gerado a partir da administração da vacina. Em algumas circunstâncias, no entanto, a não ligação da vacina com o evento adverso é tão óbvia que o próprio observador internacional vai olhar a natureza daquele evento e falar: isso não tem ligação com a vacina, portanto não suscita suspensão do estudo. Isso tem que ser visto de forma prática”, avalia, citando atropelamentos e assassinatos como exemplos de eventos passíveis de ocorrer com voluntários, mas sem ligação com os imunizantes. O virologista também criticou o uso do termo “vachina” que a advogada usa para se referir à CoronaVac na publicação. “Esse comentário da advogada vem tachado de xenofobia. Ela pode ter a convicção política que ela quiser, o que ela não pode é desqualificar uma vacina por causa de sua origem. Isso é xenofóbico, inadmissível, ainda mais diante da emergência sanitária atual. Todos os indícios que a gente tem até agora são de que a vacina chinesa é tão boa e tão promissora quanto as outras que estão sendo testadas”, afirmou. As outras desenvolvedoras interromperam os testes? A postagem verificada compara ainda a situação da CoronaVac com a paralisação dos estudos de outras duas vacinas, da Universidade de Oxford e de empresa ligada à Johnson & Johnson. A publicação afirma que essas desenvolvedoras teriam comunicado à Anvisa e interrompido por conta própria as testagens quando houve intercorrências com pacientes. A postagem da advogada diz que no caso do imunizante desenvolvido em parceria entre a farmacêutica AstraZeneca e a Universidade de Oxford, a suspensão ocorreu “quando um voluntário morreu mesmo tomando placebo”. Na verdade, os testes foram de fato suspensos pelos próprios desenvolvedores, mas quando foi identificado um evento adverso em uma voluntária da Inglaterra – que não resultou em morte. A AstraZeneca informou em nota no dia 9 de setembro que a pausa ocorreria para análise de dados de “um único evento de uma doença inexplicável que ocorreu no estudo de Fase III do Reino Unido”. Não foram divulgados oficialmente detalhes do caso, mas o CEO da AstraZeneca afirmou em uma videoconferência tratar-se de um caso de mielite transversa, segundo informou o site americano especializado em saúde StatNews. Três dias depois, a AstraZeneca publicou nova nota comunicando a retomada dos testes. Nesta ocasião, os estudos também foram paralisados no Brasil. O caso em que houve morte de voluntário que integrava os testes da vacina da Oxford-AstraZeneca ocorreu no Brasil, mais de um mês depois, em 15 de outubro. No entanto, neste caso os testes não chegaram a ser suspensos pela Anvisa, que seguiu recomendação de comitê internacional para manter o prosseguimento dos estudos. Este participante morreu de pneumonia viral causada por covid-19, como já mostrou outra verificação do Comprova. Ele estaria no grupo dos que tomaram placebo, segundo fontes relataram a veículos como a TV Globo – o Comprova não conseguiu confirmar a informação. No caso da vacina da farmacêutica Janssen-Cilag, braço farmacêutico da empresa Johnson & Johnson, os testes foram de fato interrompidos pela própria empresa após evento adverso grave com voluntário do exterior, conforme afirma a postagem verificada. O caso ocorreu em 12 de outubro e foi informado em notas no site da Janssen e no site da Anvisa. A agência autorizou a retomada dos estudos da vacina da Janssen no país em 3 de novembro, após analisar dados do Comitê Independente de Segurança e da autoridade regulatória norte-americana, a Food and Drugs Administration (FDA, na sigla em inglês). Quem é a autora do texto Flavia Ferronato é advogada, possui cadastro nacional da OAB. Também é coordenadora nacional do Movimento Advogados do Brasil, organização composta por advogados de todo país. Na sua biografia do Twitter, Flávia se intitula como “Palpiteira no Jornal de Cidade online”. No dia 10 de novembro a advogada fez um tweet com o mesmo texto do Jornal da Cidade Online. Também foi encontrado o canal do Youtube da advogada, em que o vídeo mais recente critica a possível vacinação obrigatória contra covid-19. Durante a verificação buscamos contato via Twitter e WhatsApp com a advogada. Ela se negou a responder às perguntas enviadas. Nos seus últimos tweets a advogada postou prints da conversa com o verificador do Comprova que a procurou. Também fez postagens criticando o trabalho de agências de checagem. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Comprova verifica conteúdos suspeitos que tenham viralizado nas redes sociais tratando sobre políticas públicas do governo federal ou sobre a pandemia. Interesses políticos têm sido colocados à frente da ciência, gerando uma “politização da vacina” durante a fase de estudos e produções de uma possível cura para o covid-19. Essa polarização, que também é chamada de “Guerra da vacina”, tem como consequência o aumento de produções de conteúdos enganosos e/ou falsos. A publicação analisada no portal “Jornal da Cidade” foi um artigo da advogada Flavia Ferronato, onde a mesma afirma que “Butantan e o Governo de São Paulo fingem que nada está e se fingem surpresos com a suspensão?”. Mesmo tal afirmação sendo enganosa, a advogada compartilhou as mesmas informações em seu twitter. Enganoso, para o Comprova, é o conteúdo retirado do contexto original e usado em outro de modo que seu significado sofra alterações; que usa dados imprecisos; ou ainda que confunde, com ou sem a intenção deliberada de causar dano.
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null
['Projeto Comprova']
['Pandemia']
[]
2021-07-06
['Enganoso']
https://projetocomprova.com.br/publica%C3%A7%C3%B5es/sistema-de-voto-eletronico-pode-ser-auditado-ao-contrario-do-que-afirma-post/
COMPROVA
Sistema de voto eletrônico pode ser auditado, ao contrário do que afirma post
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2020-11-13
Há diversos mecanismos de auditoria e de verificação dos resultados que podem ser efetuados. Além disso, Ministério Público e Polícia Federal também têm a prerrogativa de investigar o processo eleitoral brasileiro e já realizaram auditorias independentes. Em 24 anos nenhum caso de fraude foi identificado e comprovado Conteúdo verificado: Post em grupo de Facebook segundo o qual as urnas eletrônicas não podem ser auditadas, o que seria um “crime perfeito” em caso de fraude É falsa a afirmação de um post no Facebook dizendo que as urnas eletrônicas não podem ser auditadas no país. A postagem no grupo Aliança pelo Brasil ironiza um tuíte em que Gilmar Mendes, ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), diz que o que ocorreu na eleição dos Estados Unidos seria impensável no Brasil graças às urnas eletrônicas e ao papel da Justiça Eleitoral. O post, incorreto, concorda de maneira irônica com o tuíte do ministro afirmando que, “em caso de fraude, não tem como auditar (a urna eletrônica)” e termina com a expressão “crime perfeito”. Não é verdade, pois as urnas são auditáveis. Em seu site, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) afirma que, em 24 anos de urnas eletrônicas, as suspeitas de fraude foram frequentes, mas que “nenhum caso, até hoje, foi identificado e comprovado” e que órgãos como o Ministério Público e a Polícia Federal “têm a prerrogativa de investigar o processo eleitoral brasileiro e já realizaram auditorias independentes”. O Comprova tentou contatar o autor do post pelo Facebook. Questionado sobre se é filiado a algum partido político, respondeu que não e, em seguida, nos bloqueou. Como verificamos? Em primeiro lugar, pesquisamos documentos e reportagens no site do Tribunal Superior Eleitoral que abordam o tema da segurança das urnas eletrônicas. No site do TSE há uma gama de conteúdos sobre processo eleitoral. Pesquisamos também como está o andamento do partido em formação “Aliança pelo Brasil”. Buscas em veículos de comunicação como Folha de S.Paulo, UOL e O Estado de S. Paulo ajudaram a entender o início das acusações de fraude, com comentários de Bolsonaro quando ainda era candidato. O canal do YouTube do presidente também foi utilizado para confirmar as informações. Via Facebook, entramos em contato com o autor do post e com um dos responsáveis pelo grupo Aliança pelo Brasil, que disse não ter nenhuma ligação formal com a organização política homônima (que tenta se tornar um partido), apenas ser apoiador. O site do TSE divulga a quantidade de apoiadores do partido em formação Aliança pelo Brasil por estado. Fizemos um pedido via Lei de Acesso à Informação para o TSE pedindo a lista dos nomes, UF e cidade, mas não obtivemos retorno até o fechamento desta verificação. Verificação Urnas auditáveis No documento Sistema Eletrônico de Votação: perguntas mais frequentes, publicado no site do TSE, o órgão responde questões sobre o processo eleitoral e dúvidas em relação à segurança da votação. Na resposta da primeira pergunta, “Como o eleitor pode ter certeza de que a urna eletrônica é segura?”, o documento explica que “há diversos mecanismos de auditoria e de verificação dos resultados que podem ser efetuados pelos candidatos, pelas coligações, pelo Ministério Público”, entre outras entidades. Ainda de acordo com o tribunal, as urnas eletrônicas começaram a ser utilizadas no Brasil em 1996 e, “em 24 anos de existência, nunca foi comprovada nenhuma fraude no equipamento”. Para as eleições de 2020, o TSE preparou a série “Desvendando a Urna”, com reportagens sobre o assunto. Uma delas é sobre o tema abordado no post verificado aqui e traz a pergunta “É verdade que a urna eletrônica não é auditável?”. O texto, então, explica que o equipamento possui “diversos recursos que possibilitam e fortalecem a possibilidade de auditagem”. Entre os recursos, estão auditorias pré e pós-eleição e lacração dos sistemas. “Além disso, os sistemas podem ser requisitados para análise e verificação, não somente no período de seis meses que antecedem o pleito, mas a qualquer tempo e pelo prazo necessário para se proceder a uma auditoria completa”, finaliza a reportagem. No dia Uma auditoria ocorre no dia da eleição, quando o TSE promove um sorteio de urnas eletrônicas que serão fiscalizadas. A ação é para verificar a autenticidade e demonstrar a integridade do processo eleitoral “para eleitores sem conhecimentos específicos em tecnologia”, como afirma o site do órgão. As urnas sorteadas são encaminhadas para os tribunais regionais eleitorais, onde é feita uma simulação de voto. “Cédulas em papel são preenchidas e depositadas em uma urna de lona, para que os participantes digitem esses votos tanto na urna eletrônica quanto em um sistema específico que computará os votos consignados em paralelo”, explica o TSE. Também no dia da eleição, cada urna eletrônica emite um comprovante com os votos recebidos, chamado de Boletim de Urna (BU). Esse documento é impresso pelos mesários e se torna público logo após o fim da votação – qualquer pessoa pode verificá-lo, inclusive no celular, com o aplicativo Boletim na Mão, desenvolvido pelo TSE. Em linha com o presidente O post segue o que tem dito Bolsonaro, que já questionou a lisura do processo eleitoral brasileiro diversas vezes. Entrevistado no programa Roda Viva, da TV Cultura, em abril de 2018, o então candidato do PSL à presidência disse que as eleições estavam “sob suspeição”. Segundo ele, as urnas eletrônicas eram suscetíveis a fraudes e o Supremo Tribunal Federal não deveria ter anulado um dispositivo da lei eleitoral que previa a impressão do voto. Mais tarde, em 16 de setembro de 2018, dez dias depois de receber uma facada e semanas antes do primeiro turno da eleição presidencial, o ainda candidato, da cama do hospital, sugeriu a possibilidade de fraude no processo eleitoral em uma live em seu perfil no Facebook. De acordo com Bolsonaro, a fraude seria parte de um plano para que Lula, preso desde abril, pudesse ser libertado com a eleição de um de seus oponentes na disputa, o petista Fernando Haddad. Na transmissão ao vivo, ele novamente defendeu o voto impresso. Logo após a definição do segundo turno contra Haddad, Bolsonaro afirmou, sem apresentar provas, suspeitar de fraudes nas urnas eletrônicas. “Lamentavelmente, o sistema derrotou o voto impresso”, disse, declarando que teria sido eleito no primeiro turno. Aquela primeira votação foi alvo de queixas de eleitores bolsonaristas, que disseram ter encontrado falhas ao votar – alguns registraram o ocorrido em boletim de ocorrência. A partir das reclamações, tribunais eleitorais de cinco estados fizeram uma auditoria nas urnas que teriam dado problema, mas não foi encontrado nenhum indício de fraude. Em 25 de outubro, o TSE determinou a retirada do ar de links com o vídeo em que Bolsonaro questionava, do hospital, a lisura do processo. Mais tarde, já como presidente, ele voltou a falar sobre fraude no pleito que o elegeu. “Pelas provas que tenho em minhas mãos, que vou mostrar brevemente, eu fui eleito no primeiro turno mas, no meu entender, teve fraude”, afirmou Bolsonaro em um evento para apoiadores no dia 9 de março de 2020 em Miami. Até hoje, o presidente não apresentou nenhuma prova ou indício. E seguiu: “E nós temos não apenas palavra, temos comprovado, brevemente quero mostrar, porque precisamos aprovar no Brasil um sistema seguro de apuração de votos. Caso contrário, passível de manipulação e de fraudes. Então acredito até que eu tive muito mais votos no segundo turno do que se poderia esperar, e ficaria bastante complicado uma fraude naquele momento”. Recentemente, em 5 de novembro, ele voltou às acusações em uma live em seu canal no YouTube. “A gente espera ano que vem mergulhar na Câmara e no Senado para que a gente possa ter um sistema eleitoral confiável em 2022.” Apesar das diversas acusações, ele não apresentou nenhuma evidência no evento. E continua sem apresentar. Em março, ele abandonou duas entrevistas ao ser questionado por jornalistas sobre as provas da fraude na eleição. Dois meses depois, uma apoiadora perguntou a ele, na saída do Palácio do Alvorada: “Quando o senhor vai apresentar as provas da fraude eleitoral?”. O presidente, então, questionou se ela era jornalista e ignorou a pergunta. Em maio, após processo apresentado pelo deputado federal Célio Studart (PV-CE), a 4ª Vara Federal do Ceará determinou que o presidente mostrasse as tais provas em cinco dias. Sem apresentar nenhuma evidência, o prazo se passou e a defesa do presidente procurou desacreditar a ação. O Comprova verificou, em outubro, uma denúncia de fraude nas eleições, que era falsa, pois se baseava na coleta equivocada de dados. Grupo Aliança pelo Brasil Criado em janeiro de 2018, o grupo Aliança pelo Brasil no Facebook faz parte de uma rede de páginas que apoia o presidente Bolsonaro. Já teve o nome alterado várias vezes; alguns deles foram Equipe do Bolsonaro de Plantão e Faço Parte dos 57.713.001 de Brasileiros. Atualmente, o grupo possui mais de 600 mil membros na rede social. Apesar de levar o nome de um partido em processo em formação no TSE, o responsável pelo perfil disse ao Comprova que apoia a associação política, mas não tem ligação formal com ela. Uma das regras do grupo é “Se fizer denúncias em publicações a favor do presidente, será banido(a) do grupo imediatamente”. Por que investigamos? Em sua terceira fase, o Projeto Comprova monitora e verifica conteúdos sobre a pandemia, eleições municipais e políticas públicas do governo federal que possam causar desinformação nas redes sociais. É o caso do post do perfil Aliança pelo Brasil, que questiona a lisura do processo eleitoral brasileiro ao afirmar, erroneamente, que as urnas eletrônicas não são auditáveis. A publicação tinha mais de 3,8 mil interações, entre curtidas, comentários e repostagens até o dia 12 de novembro. Conteúdos sobre supostas falhas no sistema eleitoral vêm sendo divulgados desde a última eleição presidencial. Em outubro de 2018, o Comprova mostrou que a Polícia Federal não havia apreendido uma van com urnas adulteradas nem a Polícia Militar. Dois anos depois, em 2020, verificou um tuíte que enganava ao dizer que o STF decidiu que voto impresso é inconstitucional, publicou a verificação sobre uma denúncia de fraude nas eleições baseada em uma coleta equivocada de dados e mostrou ser falso que apenas o Brasil e outros dois países usem o sistema eletrônico. Falso para o Comprova é todo conteúdo inventado ou que tenha sofrido edições para mudar o seu significado original e divulgado de modo deliberado para espalhar uma mentira.
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['Projeto Comprova']
['Eleições']
[]
2021-07-06
['Falso']