text
stringlengths
0
105
Astrônomos modernos calcularam prontamente a época em que tal eclipse,
visível na Babilonia, ocorreu e então estabeleceram uma conhecida relação
entre o calendário deles e o nosso.
Conseguimos portanto provar que há 8.000 anos os sumerianos, que habitaram
a Babilonia, viveram em cidades muradas. Mas só podemos conjeturar sobre
quantos séculos antes essas cidades existiram. Seus habitantes não eram meros
bárbaros vivendo dentro de suas muralhas protetoras. Eram um povo culto e
educado. Até aonde pelo menos a história escrita pode chegar, eles foram os
primeiros engenheiros, os primeiros astrônomos, os primeiros matemáticos, os
primeiros financistas e o primeiro povo a ter uma linguagem escrita.
Já fizemos menção aos sistemas de irrigação que transformaram o vale árido
num paraíso agrícola. O que restou desses canais pode ainda ser acompanhado,
embora quase todos estejam completamente cobertos pela areia acumulada.
Alguns eram tão grandes que, quando sem água, uma dúzia de cavalos poderia
correr lado a lado sobre o seu leito. Em tamanho, não ficam nada a dever aos
maiores canais do Colorado e de Utah.
Além de irrigarem as terras do vale, os engenheiros babilônicos realizaram um
outro projeto de similar magnitude. Por meio de um sofisticado sistema de
drenagem, recuperaram para o cultivo uma imensa área pantanosa na foz dos
rios Tigre e Eufrates.
Heródoto, viajante e historiador grego, visitou a Babilonia em pleno apogeu da
cidade e deu-nos a única descrição que conhecemos feita por um estrangeiro.
Seus escritos fornecem um panorama gráfico da cidade e mencionam alguns dos
extraordinários costumes de seu povo, além dos comentários sobre a notável
fertilidade do solo e as abundantes colheitas de trigo e cevada.
A glória da Babilonia desapareceu, mas sua sabedoria foi preservada para nós.
Para isso, estamos em dívida com sua forma de registros. Naqueles distantes
dias, o uso do papel ainda não tinha sido inventado. Em seu lugar, os babilônios
gravavam laboriosamente seus escritos sobre tabuinhas de argila úmida. Em
seguida, eram cozidas e tornavam-se uma telha dura. Mediam em geral cerca de
seis por oito e uma polegada de espessura.
Essas tabuinhas de argila, como eram comumente chamadas, tinham um uso tão
disseminado quanto o têm hoje nossas modernas formas de escrita. Os
habitantes gravavam sobre as tabuinhas lendas, poesia, história, transcrições
dos decretos reais, as leis da terra, títulos de propriedade, notas promissórias e
até cartas que mensageiros levavam a cidades distantes. Através delas, temos
condições de reconstituir diversos aspectos da vida íntima e pessoal do povo.
Uma tabuinha, por exemplo, eviden-temente saída de um armazém, registra que
na data assinalada um determinado cliente trouxe ao comerciante uma vaca,
trocando-a por sete sacas de trigo, três entregues na hora, e as quatro restantes,
reservadas para quando o cliente quisesse apanhá-las.
Conservadas intactas sob os destroços das cidades, os arqueólogos recuperaram
bibliotecas inteiras dessas tabuinhas, centenas de milhares delas.
Uma das mais notáveis maravilhas da Babilonia eram as imensas muralhas que
cercavam a cidade. Os antigos classificam-nas, como a grande pirâmide do
Egito, entre “as sete maravilhas do mundo”. Atribui-se à rainha Semíramis a
construção das primeiras muralhas durante os primórdios da cidade. Modernos
escavadores não conseguiram achar qualquer traço das muralhas originais.
Não sabemos mesmo quanto mediam de altura. Segundo menção dos primeiros
escritores, estima-se quetivessem entre cingiienta e sessenta pés de altura,
voltadas para o lado de fora com seus tijolos queimados e, além disso,
protegidas por um profundo fosso de água.
As muralhas mais recentes e mais famosas foram iniciadas cerca de seiscentos
anos antes de Cristo pelo rei Nabopolassar. Era de tal envergadura seu projeto
de reconstrução que ele não viveu o suficiente para ver a obra concluída. Esta
foi continuada por seu filho, Nabucodonosor, cujo nome é bastante familiar na
história bíblica.
A altura e a extensão dessas últimas muralhas desafiam a própria credulidade.
Autores idôneos julgam que elas alcançassem a altura de 160 pés, o equivalente
a um moderno prédio de escritórios de quinze andares. Sua extensão total
estaria estimada entre nove e onze milhas. Tão amplo era o topo que uma
carruagem de seis cavalos podia ser conduzida sobre ele. Muito pouco resta
agora dessa tremenda estrutura — alguns pedaços das fundações e o fosso.
Além das devastações provocadas pêlos elementos naturais, os árabes
completaram a destruição, carregando os tijolos para construírem suas próprias
casas.
Contra as muralhas da Babilonia marcharam, sucessivamente, os exércitos
vitoriosos de quase todos os triunfadores dessa época de guerras de conquista.
Uma hoste de reis assediou Babilonia, mas sempre em vão. E não se deve
considerar levianamente os exércitos desses dias. Historiadores referem que tais
unidades contavam com 10.000 cavaleiros, 25.000 carros de guerra, 1.200
regimentos de soldados a pé, cada regimento reunindo 1.000 homens.
Compreende-se que se precisasse de dois ou três anos de preparação para